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360360EDIÇÃO 39 •FEVEREIRO/MARÇO DE 2020

SINDHOSP completa 82 anosTradição em representatividade e conquistas históricas para a saúde privada

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O último Boletim Econômico da FEHOESP, que traz dados de janeiro a dezembro de 2019, traz dados interessantes e que merecem uma análise mais profunda. O Cadastro Na-cional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) mostra que o número de estabelecimentos de saúde cresceu no ano pas-sado 4,1% no Brasil, totalizando 344.203 empresas. Desse total, 24,8% são estabelecimentos públicos (85.492), 73,2% são privados (251.700) e só 2% filantrópicos (7.011). Apesar de representar a menor fatia de estabelecimentos do país em percentual, o setor filantrópico (que também é privado, mas sem fins lucrativos), detém 27,2% do total de hospitais, o que mostra a importância deste segmento na assistência médico-hospitalar da população. Dos 6.742 hospitais brasi-leiros, 1.831 são filantrópicos, 2.448 são públicos (36,3%) e 2.463 privados (36,5%).

Esse crescimento absoluto no número de empresas foi puxado, principalmente, pela abertura de 8.563 consultórios médicos (crescimento de 5,2% no ano), de 1.109 policlíni-cas (13,8% de aumento) e de 1.442 clínicas especializadas (2,8%). Apesar de representar apenas 129 novas empresas, o setor de assistência domiciliar (ou home care) registrou crescimento de 17,5% no período, mostrando tendência à desospitalização, ou seja, cuidados no domicílio ou em ou-tros serviços de transição e retaguarda.

O número de hospitais cresceu 0,8% no ano passado, com a “abertura” de 55 novas unidades. Esse dado merece aten-ção especial. A administração pública abriu três unidades em 2019 e o setor privado, 61. Então, por que a conta não fecha, já que a soma deveria totalizar 64 novos hospitais? Ocorre que o setor filantrópico perdeu nove unidades hospitalares no período. O fechamento de hospitais da rede filantrópica mostra, principalmente, o que as entidades representativas da saúde vêm denunciando há anos: o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS), pois a maioria desses hospi-

tais depende quase que exclusivamente do sistema público. O fechamento de hospitais filantrópicos explica a que-

da na oferta de leitos públicos. O SUS perdeu 3.959 leitos, uma redução de 1,2% de dezembro de 2018 a dezembro de 2019. Do total de 490.397 leitos existentes no país, 327.035 (66,7%) atendem ao SUS e 163.362 são destinados à saúde suplementar ou particulares (33,3%). Claro que o SUS têm papel assistencial importantíssimo, afinal, 77,6% dos brasi-leiros dependem exclusivamente dele. De uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 210.147.125 pessoas, apenas 47.039.728 (22,4%) são vinculadas ao setor suplementar. E esse dado mostra outra discrepância: 22,4% da população têm 33,3% do total de leitos à disposição, enquanto a grande maioria (77,6% das pessoas) dispõe de 66,7% dos leitos SUS.

Um setor que movimenta mais de 9% do Produto Inter-no Bruto (PIB) do país também é um grande empregador. O número de postos de trabalho na saúde apresentou cresci-mento de 4% no país no ano passado, totalizando a abertu-ra de 90.125 novas vagas com carteira assinada, ou 2.319.231 trabalhadores.

Esses dados mostram a pujança da saúde brasileira e seu importante papel socioeconômico. Enfim, a saúde é um setor com papel social inquestionável e com enorme im-portância na economia. Investir em saúde é garantir não só melhores condições de vida e bem-estar aos cidadãos, mas também emprego, problema sério que o Brasil precisa resol-ver. É por tudo isso que defendemos uma reforma tributária que não onere ainda mais o setor de saúde, que simplifique a gestão das empresas, diminua a desigualdade social e co-labore com o crescimento sustentável do país.

Yussif Ali Mere JrPresidente

O importante papel socioeconômico da Saúde

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ÍNDICEÍNDICE 050608

SINDHOSP 82: um panorama das conquistas e resultados de

um Sindicato voltado para o futuro e novas oportunidades

CAPA 26

Evento Welcome 2020 debate perspectivas econômicas para o Brasil de hoje

Diversificar serviços é um dos caminhos para empresas se manterem firmes na crise e continuarem a crescer

Os efeitos do Coronavírus na economia mundial

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Destaque on-line

Na seção de Notas, veja os principais acontecimentos do setor

Confira o Boletim Econômico da Federação

Relação médico-paciente valoriza a empatia e o atendimento humanizado

Lei Geral de Proteção de Dados começa a valer em agosto e exige atenção de gestores

Para Fernando Silveira Filho, maior integração entre players da saúde é fundamental para o sucesso do setor

Mercado de fusões e aquisições movimentou a economia brasileira e setor da Saúde teve destaque

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PORTAL FEHOESP 360

Confira no Portal:

As principais notícias do setor

Informações jurídicas, contábeis e tributárias

Convenções coletivas

Informativo Notícias Jurídicas

Versão eletrônica da Revista FEHOESP 360

Acesse www.fehoesp360.org.br

Este mês o destaque o Portal FEHOESP 360 foi a matéria so-bre a vitória do SINDHOSP contra a Resolução CMED que impedia os hospitais de venderem remédios por valor acima do adquirido. O Juiz da 25ª Vara Federal de São Paulo julgou parcialmente procedente a ação proposta pelo SINDHOSP e outros sindicatos que representam o setor patronal da saúde, no Estado de São Paulo, contra a Resolução CMED 02/2018, que proibiu os hospitais de ofertar medicamentos aos pacientes e às operadoras de planos de saúde por valor superior ao de compra.

A ação foi proposta em 2018, obtendo liminar que sus-pendeu a proibição de cobrança de valor superior ao de compra na utilização de medicamentos, exigência imposta pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, inclusive com imposição de penalidade para o caso de des-cumprimento da referida Resolução.

Contra a liminar então deferida, a União interpôs recurso, mas a ordem judicial foi mantida pelo Tribunal Regional Fe-deral da 3ª Região, São Paulo.

Em seus fundamentos, o Juiz da 25ª Vara Federal acolheu os argumentos apresentados pelo SINDHOSP em relação ao custo da cadeia de procedimentos, bem como do emprego de meios materiais e humanos que os hospitais dispendem até que o medicamento seja entregue ao paciente, consis-tindo a proibição da CMED em inconstitucional, ilegal e arbi-trária interferência na atividade econômica do setor de saú-de, declarando nulas as regras inseridas no artigo 5º, I, “d”, II ”c” e § 2º, da Resolução CMED 2/2018 .

Com a decisão, fica assegurado aos hos-pitais, clínicas e outros serviços de saúde que ministram medicamentos de uso restrito associados ao SINDHOSP, ao SINDJUNDIAÍ, ao SINDRIBEIRÃO, ao SINDPRUDENTE, ao SINDSUZANO o direito de cobrar dos pacientes e das operadoras de planos de saúde o custo pela utilização de medica-mentos e insumos em pacientes, não se aplicando as regras dos dispositivos acima mencionados da Resolução CMED 2/2018.

Ação do SINDHOSP contra CMED é julgada procedente

DESTAQUE ON-LINE

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06

NOTAS

O Comitê de Saúde Mental da FEHOESP se reu-niu no início do mês para retomar as atividades do grupo em 2020. Entre os vários temas discuti-dos, está a melhoria da performance das clínicas e hospitais especializados. O encontro contou com a participação de gestores da área de saúde mental.

"Nosso objetivo é melhorar a assistência que está à disposição dos portadores desse tipo de transtorno, independentemente da fonte de fi-nanciamento e da natureza jurídica do prestador", explica Ricardo Mendes, coordenador do grupo.

Comitê de Saúde Mental discute melhoria para o segmento

Com realização do SINDHOSP, da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), da Federação Na-cional dos Estabelecimentos de Serviços de Saú-de e organização do IEPAS, a segunda edição do Congresso Brasileiro de Gestão em Saúde será re-alizada no próximo dia 21 de maio, durante a Hos-pitalar, maior feira de produtos e serviços para o setor de saúde na Amèrica Latina e segunda do mundo. As entidades divulgaram o programa pre-liminar do evento, que está dividido em quatro jornadas: do Colaborador, do Cliente, da Informa-ção e da Operação. "Teremos, ainda, uma palestra com um profissional renomado sobre a saúde ba-seada em valor, desafios e oportunidades", desta-ca José Carlos Barbério, presidente do IEPAS.

IEPAS divulga programa preliminar do 2º Congresso Brasileiro de Gestão em Saúde

Diante de inúmertas consultas feitas pelos esta-belecimentos representados pelos sindicatos que compõem a FEHOESP, o departamento Jurídico da Federação lembra que as empresas estão de-sobrigadas de considerar os acidentes de trajeto como acidentes de trabalho, excluindo, portanto, a emissão de CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho. A MP 905 retirou a obrigatoriedade

Acidente de trajeto não é considerado acidente de trabalho

de ser considerado como acidente de trabalho o acidente ocorrido com o trabalhador no trajeto residência trabalho e vice-versa, e o Congresso Nacional prorrogou a MP 905 por mais 60 dias.

A obrigação está suspensa até que seja votada a MP , já que esta revogou o item do artigo da Lei nº 8.213/1991 que equiparava o acidente de traje-to ao acidente de trabalho.

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Prestadores e operadoras de planos de saúde que possuem contratos de prestação de serviços baseados na Livre Negociação, terão até 30 de março, para concluírem as tratativas referentes a forma de reajuste do período (12 meses do con-trato), devendo o reajuste definido, ser aplicado na data de aniversário do contrato.

Caso não haja consenso entre as partes, nos primeiros noventa dias do ano, período de ne-gociação estabelecido na Resolução Normativa Nº 363/2014, as operadoras de planos de saúde deverão utilizar o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA para o reajuste, confor-me estabelecido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS por meio da Resolução Nor-mativa n° 364/2014.

Ainda ao índice definido pela ANS, é aplicado o Fator de Qualidade. Este fator, está alocado em níveis de 115%, 110%, e 105% a depender do tipo de prestador de serviços, combinado ao cumpri-mento de requisitos que representam iniciativas relacionadas à qualidade da assistência prestada aos beneficiários de planos de saúde como tais como: possuir certificado de acreditação, núcleo de segurança do paciente implantando e cadas-trado na ANVISA, participação em projetos de indução à qualidade da DIDES/ANS, títulos de es-pecialista e ainda capacitação em cursos na área de saúde.

FEHOESP orienta prestadores de serviços em contratos de Livre Negociação

Os critérios a serem utilizados para aplicação do Fator de Qualidade estão dispostos na Reso-lução Normativa Nº 436, publicada em novembro de 2018.

Importante ressaltar que os contratos de pres-tação de serviços que contemplarem índices de reajustes específicos, deverão obedecer aos ter-mos já pactuados.

Os prestadores de serviços de saúde associa-dos aos sindicatos filiados a FEHOESP, que tive-rem dificuldades ou dúvidas no processo de nego-ciação, poderão receber orientações necessárias no e-mail: [email protected].

07

ÍNDICE DE INFLAÇÃO

Índice de Inflação dos Serviços de Saúde FEHOESP – IISSF – janeiro 2020

% Índice Indicador Cálculo

Salários e encargos 55,00 INPC-IBGE 0,1900% 0,1045%

Materiais médicos de uso do paciente 20,00 IPC-FIPE 0,0800% 0,0160%

Materiais de consumo geral 2,00 IPCA-FIPE 0,2100% 0,0042%

Serviços de nutrição e dietética 4,00 IPCA-FIPE Alimentação 0,6000% 0,0240%

Manutenção de edifício e equipamentos 4,00 IGPM-FGV 0,4800% 0,0192%

Limpeza 3,00 INPC-IBGE 0,1900% 0,0057%

Despesas gerais 12,00 IGPM-FGV 0,4800% 0,0576%

Total 0,2312%

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BOLETIM ECONÔMICO

08

Boletim Econômico de número 9 da FEHOESP realizou um balanço do setor da saúde em 2019, apurando crescimento do segmento privado, tanto em número de serviços e leitos como em geração de empregos. Segundo a publicação, foram abertos no país 12.364 novos estabeleci-mentos de saúde privados no ano de 2019 (da-dos do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - CNES), apontando um aumento de 5,2%.

Dos 12.364 novos serviços privados, destacam- se a abertura de 8.554 consultórios, 1.315 clínicas e ambulatórios especializados e 827 empresas dedicadas à prestação de serviços de apoio à diagnose e terapia. Os segmentos de home care e policlínicas privados apresentaram crescimento idêntico, de 15,9%.

O setor privado de saúde abriu, em 2019, 3.463 novos leitos, com crescimento de 2,2%, enquanto o Sistema Único de Saúde (SUS) fechou 3.959 lei-tos, o que significa redução de 1,2% no número total de leitos no Brasil.

Saúde privada no País apresenta crescimento

Segundo Yussif Ali Mere Jr, presidente da FEHOESP, a iniciativa privada da saúde tem inves-tido muito na saúde brasileira, trazendo os mais inovadores tratamentos e respondendo por 65% dos investimentos em saúde no país. Ele alerta que a proposta de unificar PIS e COFINS na Re-forma Tributária, e criar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), pode aumentar significativamen-te a carga tributária para as empresas de saúde, que são extremamente dependentes de mão de obra. “A reforma tributária não pode desestimular a manutenção e até mesmo o incremento de pos-tos de trabalho”, destaca.

O setor da saúde brasileiro encerrou o ano de 2019 com pelo menos 80 fusões e aquisições en-volvendo operadoras, hospitais, clínicas e labora-tórios, sendo o maior volume de transações des-de 2000. Segundo especialistas, este movimento deve continuar em 2020. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) registrou 31 pedidos de aprovação de compra de controle em 2019, um aumento de 24% quando comparado a 2018.

O

Setor apresenta expansão com fusões e aquisições

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09

LeitosSUS Não SUS

Saldo no ano Variação % Saldo no ano Variação %

Dez19 Dez18 Dez19/Dez18 Dez19 Dez18 Dez19/Dez18

Leitos gerais 294.968 300.280 -1,8% 135.634 132.508 2,4%

Cirúrgicos 74.454 74.744 -0,4% 42.199 41.926 0,7%

Clínicos 106.794 107.812 -0,9% 47.433 46.617 1,8%

Obstétricos 38.799 39.535 -1,9% 13.098 13.075 0,2%

Pediátricos 38.191 39.302 -2,8% 10.353 10.271 0,8%

Outras Especialidades 31.827 33.640 -5,4% 16.571 15.075 9,9%

Hospital/Dia 4.903 5.247 -6,6% 5.980 5.544 7,9%

Leitos complementares 32.067 30.714 4,4% 27.728 27.391 1,2%

Unidade intermediária 5.548 4.964 11,8% 3.427 3.711 -7,7%

Unidade intermediária neonatal 354 530 -33,2% 19 25 -24,0%

Unidade isolamento 3.288 3.203 2,7% 1.097 1.088 0,8%

UTI adulto 14.925 14.371 3,9% 16.044 15.646 2,5%

UTI pediátrica 2.617 2.504 4,5% 2.225 2.036 9,3%

UTI neonatal 4.875 4.722 3,2% 4.196 4.209 -0,3%

UTI de queimados 158 164 -3,7% 78 75 4,0%

UTI coronariana tipo II e III 302 256 18,0% 642 601 6,8%

Total de leitos 327.035 330.994 -1,2% 163.362 159.899 2,2%

Tabela 1 - Brasil: Leitos hospitalares por especialidades e complementares - SUS e Não SUS

Edição nº 9 - fevereiro de 2020Dados de janeiro a dezembro de 2019

LeitosSUS Não SUS

Saldo no ano Variação % Saldo no ano Variação %

Dez19 Dez18 Dez19/Dez18 Dez19 Dez18 Dez19/Dez18

Leitos gerais 52.441 53.682 -2,3% 38.582 38.506 0,2%

Cirúrgicos 13.097 13.156 -0,4% 11.809 11.876 -0,6%

Clínicos 16.266 16.494 -1,4% 13.786 13.810 -0,2%

Obstétricos 5.536 5.586 -0,9% 3.538 3.644 -2,9%

Pediátricos 5.053 5.173 -2,3% 2.893 2.950 -1,9%

Outras Especialidades 10.749 11.478 -6,4% 4.657 4.423 5,3%

Hospital/Dia 1.740 1.795 -3,1% 1.899 1.803 5,3%

Leitos complementares 7.358 7.153 2,9% 8.312 8.037 3,4%

Unidade intermediária 1.213 1.018 19,2% 944 1.104 -14,5%

Unidade intermediária neonatal 114 193 -40,9% 0 0 N/D

Unidade isolamento 523 507 3,2% 301 329 -8,5%

UTI adulto 3.521 3.477 1,3% 4.734 4.406 7,4%

UTI pediátrica 727 733 -0,8% 809 732 10,5%

UTI neonatal 1.160 1.135 2,2% 1.280 1.233 3,8%

UTI de queimados 62 62 0,0% 18 30 -40,0%

UTI coronariana tipo II e III 38 28 35,7% 226 203 11,3%

Total de leitos 59.799 60.835 -1,7% 46.894 46.543 0,8%

Tabela 2 - São Paulo: Leitos hospitalares por especialidades e complementares - SUS e Não SUS

Fonte: Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil (CNES) - Consulta 16/01/2020

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A tendimento humanizado é aquele que leva em conta os anseios, medos, emoções e sentimentos do paciente e que faz a união entre a qualidade do tratamento técnico e o atributo do relacionamento que se desenvolve entre pa-ciente, familiares e equipe médica. Há alguns anos havia o médico da família, aquele profissional de confiança que ti-nha uma forte relação com o paciente e conhecia o histórico médico dele e de todos os familiares. O médico que conver-sava, ouvia e questionava hábitos de vida, trabalho, rotinas, entre outras coisas. Atualmente, essa prática se tornou rara e as consultas médicas, cada vez mais impessoais.

A tecnologia, muito presente hoje nos diagnósticos, tem certa responsabilidade nesse “distanciamento” entre médi-co e paciente. Com a ressonância magnética, por exemplo,

A delicada relação

médico-paciente

10

POR VIVIAN MARTINS

É tênue a linha que define os encontros humanos. A relação médico-paciente está cada vez mais em foco,

valorizando a empatia e o atendimento humanizado

o médico consegue ver o que acontece por dentro do corpo do paciente, mas não consegue saber quais são suas con-dições sociais e culturais. “A tecnologia vem para ajudar e quando bem aplicada, ela é uma poderosa auxiliar, pois a medicina demanda técnica. Com essa evolução, a Inteligên-cia Artificial (IA) pode substituir procedimentos, mas não a relação humana. Vai chegar o tempo em que seremos subs-tituídos por máquinas de IA que vão tomar decisões muito melhor que nós. Então, precisamos desenvolver o diferen-cial empático. Nós, como profissionais e nossas equipes, só temos a ganhar com isso. As máquinas não conseguem utilizar práticas empáticas e na minha formação médica, por exemplo, eu não lembro de ter aprendido isso. Não há disciplinas formais, precisamos ensinar os alunos a ter uma

ASSISTÊNCIA

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11

boa relação médico-paciente, com metodologia”, enfatiza Marcel Vella Nunes, psiquiatra, diretor do Hospital Vera Cruz, especialista em Psicogeriatria e médico socorrista do SAMU.

O fato é que a tecnologia revolucionou o setor da saúde e as relações humanas. O que antes parecia ficção científi-ca hoje se aproxima da realidade, por meio de uma corrida para descobertas de interações entre médico e máquinas, robôs e telemedicina, além do constante aperfeiçoamento de técnicas que já se estabeleceram como promissoras no tratamento medicamentoso e cirúrgico. O neurocirurgião Cezar de Oliveira, especialista em coluna e chefe de equipe no Hospital Sírio-Libanês, acredita que “com o auxílio das tecnologias e possibilidades de telemedicina, os médicos vão se aproximar do paciente de forma mais humanizada, com resgate de valores, como empatia e atuação preventiva para evitar que a doença aconteça”.

Empatia: afinal, o que é?

Se tem uma palavra que está em foco na área da saúde, in-clusive em grandes congressos e eventos, é esta: empatia. Para a professora doutora em enfermagem pela USP e auto-ra de livros como “Comunicação tem remédio: a comunica-ção nas relações interpessoais em saúde” e “Qual o tempo de cuidado – saúde para todos”, Maria Julia Paes da Silva, empatia nada mais é do que se interessar no outro. “A co-municação com o paciente é o ponto chave no atendimento empático e na criação de vínculo. O ponto de partida do pro-fissional de saúde é a clareza de que escolheu estar ali. E por que isso importa? Porque não são todos que querem estar com pessoas quando elas estão em seus piores momentos e, por exemplo, no hospital, você escolheu estar com as pes-soas em seus piores momentos. Isso é um ponto importan-te porque partimos do princípio de que o profissional está interessado em se fazer entender e também em entender, colocando a atenção no outro, para que essa pessoa, que

não está em seu melhor momento, também seja claro na-quilo que precisa”, enfatiza Maria Julia. Ela acredita que há situações em que o paciente nem mesmo sabe o que está sentindo, por isso é preciso fazer as perguntas adequadas, se interessar por ouvi-lo. “Se ele veio até mim, significa que não está firme e que, talvez, eu me torne até mesmo a ben-gala que ele precisa para se tornar firme novamente”.

O psiquiatra Marcel Vella Nunes explica que a empatia é uma palavra que se originou da fusão de duas palavras gregas: in – para dentro; e pathos – sentimento. “Então, na saúde, empatia é entrar na vivência de sentimento da outra pessoa. Eu vou mergulhar no universo do outro, me desprendendo dos meus padrões morais, dos meus pre-conceitos e pré-julgamentos para respirar a perspectiva do próximo, vivenciar a realidade dele”. Ele esclarece que a em-patia é uma das qualidades do ser humano ligadas à inteli-gência emocional e pode, portanto, ser desenvolvida. “Pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva - relacionada com a capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a afetiva - relacionada com a habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia”.

Qual a importância da empatia

na relação médico-paciente?

Para o psiquiatra, há dois grandes pontos positivos para o médico que é empático: menor taxa de desenvolver a sín-drome de Burnout, que é o esgotamento físico e emocio-nal, e o aumento da colaboração em equipe. “Quando estamos dentro da prática empática, precisamos muito mobilizar recursos inter-

Marcel Vella Nunes, psiquiatra

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nos, descobrir o que nos afeta e quais são os pontos difíceis de lidar, promovendo assim, um autoconhecimento. Estu-dos mostram que o desfecho clínico mais favorável é aquele em que, além da parte técnica, o médico tem uma atitude empática. Do ponto de vista de satisfação, o paciente fica mais contente com o atendimento e do ponto de vista ju-rídico, há uma diminuição do número de queixas por más práticas clínicas”, defende Marcel.

Ele também diz que algumas técnicas podem ser utiliza-das como facilitadoras e, praticando, é possível exercitar a empatia. “Isso inclui olhar no olho da pessoa, tentar sorrir, ter uma postura ativa em relação à mímica, não ficar abai-xado anotando no prontuário e evitar expressões de debo-che ou tédio. A postura também é relevante, como não ficar com os braços cruzados e se projetar para frente do paciente demonstrando que está aberto e receptivo ao que ele está falando. Além disso, usar o tom de voz adequado, ouvir o paciente e não focar na questão da sua especialidade em si, pois isso é um diferencial”, conclui.

Comunicação

não-verbal do médico

A professora doutora da USP, Maria Julia Silva, explica que a comunicação interpessoal aborda a dimensão verbal e não verbal. “O profissional é treinado durante o curso principal-mente para a dimensão verbal, enquanto, na verdade, é a dimensão não verbal que qualifica as relações. Isso englo-ba os gestos, reações, posturas, distância que mantemos do paciente, expressões faciais, tom de voz, capacidade de identificar o significado dos silêncios. Quando uma pessoa não está bem ela fica mais atenta a essa dimensão porque inconscientemente ela sabe que se houver contradição entre o verbal e o não verbal, ou seja, entre o discurso e a prática, ela acaba acreditando no não verbal, pois é uma linguagem difícil de controlar”. Para Maria Julia, o médico e

o enfermeiro precisam ser capacitados para identificar essa dimensão não-verbal, que na verdade é identificada mais rapidamente pelo leigo. “Por exemplo, em uma viagem, você pode até não entender a linguagem do outro, mas en-tende suas expressões. Uma pessoa fragilizada se volta para a linguagem mais primitiva, humana, é por isso que uma mãe é capaz de identificar no bebê os diferentes tipos de choro, porque vem antes mesmo da própria verbalização”, conclui a especialista.

Como ser empático em

tempos tão corridos?

Nossa rotina diária, segundo a mitologia nos ajuda a des-crever, é marcada por dois tempos. Ora vivemos o tempo “chronos”, o tempo cheio de burocracia, controlado por cronogramas, pelas horas, por prazos determinados para finalizar algum trabalho. Outras vezes o tempo “kairos”, vi-venciados com qualidade, com valorização e qualificação daquele instante, daquele momento específico, mudando o sentido interior das nossas atividades diárias, fazendo com que o nosso dia a dia se torne mais leve, com menos regras, livre de pressão, mais ameno e feliz.

Fazer com que esses dois tempos caminhem juntos, com certeza, não é uma tarefa das mais fáceis. “Não tenho dúvidas de que somos escravos do ‘chronos’, mas o que importa e as lembranças que ficam são do tempo ‘kairos’, o tempo do coração. Se eu disser: ‘sinto muito, tenho apenas cinco minutos para ficar com você, mas quero saber o que importa, o que mudou de ontem para hoje’, quando termi-narmos o tempo, o paciente vai saber que tive uma postura de interesse sobre seu quadro, fizemos um acordo antes e provavelmente ele se lembrará destes cinco minutos pelo resto do seu dia”, defende Maria Julia, que argumenta que o erro do profissional está quando, por exemplo, ele atende o celular durante a consulta, quando aceita ser interrompido

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ASSISTÊNCIA

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na sala, quando fica olhando para o computador e não para a pessoa que está sendo atendida. “Mesmo que o ‘chronos’ seja um fator dificultador, isso não impede que o profissio-nal deixe claro qual o tempo disponível e o que podem fazer juntos com esse tempo. Isso muda totalmente a qualidade da relação”.

Empatia baseada em evidências

Empatia é tão importante nos tratamentos médicos, que é tema de estudos em centros médicos mundo afora. O Mas-sachussetts General Hospital, localizado em Boston, nos Es-tados Unidos, possui o “Programa de Empatia e Ciência Re-lacional”, que estuda por décadas a experiência acadêmica e pedagógica na otimização da relação médico-paciente. A doutora Helen Riess, diretora do Programa, é uma psiquiatra que desenvolveu uma abordagem de treinamento de em-patia com base em pesquisas de ponta em neurobiologia e fisiologia da interação e emoção humanas. O Hospital ofe-rece educação sobre empatia baseada em evidências que otimiza a experiência do paciente, promovendo uma comu-nicação respeitosa, compassiva e eficaz em todos os níveis da assistência médica.

Estudos demonstraram que o grau de empatia do médico desempenha um papel significativo na melhoria dos resul-tados na medicina, na previsão da qualidade do atendimen-to, na segurança e satisfação do paciente e na redução de alegações de negligência médica. O Programa de Empatia e Ciência Relacional oferece ensino, treinamento, consulta e pesquisa para melhorar a empatia na área da saúde.

O Hospital Geral de Massachusetts treinou mais de 1.500 médicos. O exame minucioso das classificações de satisfa-ção do paciente levou a esforços de liderança para melhorar a maneira como os pacientes recebem atendimento. Esses esforços resultaram em maior satisfação do paciente com seus profissionais de saúde.

Qualidade como foco do

atendimento em hospitais

Maria Julia defende a ideia de que a qualidade é sempre uma busca contínua, um horizonte possível. “Se tenho algo, que-ro mais. A possibilidade de melhora é característica do ser humano. Se os hospitais se preocupam com a qualidade do atendimento é inevitável não se preocupar com a questão da humanização e, portanto, da comunicação. A maior parte dos hospitais atualmente trabalha com pesquisa de satisfa-ção como indicador importantíssimo, por exemplo. Se você tem vários hospitais de qualidade na mesma cidade o que te faz escolher entre um e outro? O gestor precisa conquistar a fidelidade de seu cliente", acredita ela. Com todos seus anos de experiência em atendimento em hospitais, a doutora da USP acredita que, além do cliente, ter uma equipe fiel e mo-tivada faz toda diferença. “Quando trabalhamos a comunica-ção e humanização também precisamos ter qualidade de es-cuta das pessoas que trabalham conosco, assim diminuem índices de rotatividade e absenteísmo. O foco é escutar as pessoas que são do meu time, pois quanto mais elas estive-rem envolvidas mais se atentarão à dimensão do cuidado e aí os resultados são a diminuição de quedas, dores, medica-mentos. Temos até mesmo altas precoces e tudo isso porque fomos capazes de nos entender e nos fazer entendidos”.

Para além de palestras motivacionais, o estudo científico da felicidade tem ganhado os laboratórios e as salas de aula de diferentes instituições acadêmicas. Nos EUA, berço da psicologia positiva (estudo dos aspectos positivos da vida), as disciplinas que discutem a felicidade são oferecidas desde o início dos anos 2000 e, de longe, são as matérias mais concorridas em universidades como Harvard e Yale.

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Harvard e Yale “ensinam” empatia

e felicidade para alunos

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Durante o Congresso Nacional de Hospitais Privados, que aconteceu em São Paulo no mês de novembro de 2019, o pesquisador da Universidade de Harvard e autor do livro “O Jeito Harvard de Ser Feliz”, Shawn Achor, ressaltou como a área da saúde está focada e comprometida com as relações humanas, procurando entender como o paciente deve ser o centro de tudo.

Archor, durante o evento, fez um experimento com a pla-teia, separando o público em duplas. A ideia era olhar com a mente vazia por sete segundos para a pessoa do lado e aguentar ficar sem sorrir assim que ela desse um sorriso ge-nuíno. Apenas 1% da plateia conseguiu ter a autodisciplina de não sorrir junto com o parceiro, resultado refletido em outras ocasiões com o mesmo experimento. “A experiência é hoje uma técnica aplicada inclusive em hospitais e que já rende resultados mensuráveis. Em uma das instituições hospitalares, metade da equipe foi instruída a sorrir nos corredores, sem motivo, apenas sorrir para os outros. Após seis meses, o tempo médio de internação diminuiu e os diagnósticos ficaram 90% mais rápidos”, comentou o pro-fessor de Harvard.

O paciente no centro

do cuidado

57,4 milhões de pessoas possuem pelo menos uma doença crônica não transmissível no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Elas são responsáveis por 72% dos óbitos no país, sendo as principais a hipertensão arterial, diabetes, cânce-res e as doenças respiratórias crônicas. E são elas também que exigem um relacionamento médico-paciente a longo prazo, um acompanhamento durante e após a terapia inten-siva. “O paciente crônico possui um perfil diferenciado, pois há um maior número de consultas e mais contato. Se tiver só o atendimento técnico, a relação fica superficial e o paciente não volta. A própria psiquiatria já é uma especialidade de doenças crônicas, doenças que a pessoa vai carregar pelo

resto da vida, como: transtorno bipolar, transtorno de personalidade e outros. Como vou ter esse paciente por muito tempo co-migo, preciso mergulhar a fundo no sofrimento dele, porque a medicina extrapola a questão de olhar para o paciente e prescrever uma medicação. É preciso ter um olhar integrado para o paciente, para poder intervir em vários âmbitos. É o modelo de intervenção biopsicossocial, que é um conceito amplo que visa estudar a causa ou o progresso de doenças utilizando-se de fatores biológicos (genéticos, bioquímicos), fatores psicológicos (estado de humor, de personalidade, de comportamento) e fatores sociais (culturais, familiares, socioeconômicos, médicos). E se não temos um olhar em-pático e holístico para isso, podemos fazer uma análise bem superficial do paciente e ‘comer bola’”, explica Marcel Vella Nunes, psiquiatra do Hospital Vera Cruz.

Maria Julia corrobora com essa ideia: “Nos últimos 40 ou 50 anos, as terapias intensivas foram criadas e assim am-pliou-se as técnicas terapêuticas, mas técnica não é ética. Avançamos em uma, mas não em outra. A comunicação tem a ver diretamente com ética. Se isso não for discutido na for-mação do profissional, não adianta ser apenas competente tecnicamente, porque a maioria dos pacientes não precisa de alta tecnologia, mas sim de cuidados”, finaliza a profes-sora da USP.

O Hospital do Câncer de Barretos recentemente mudou seu nome para Hospital do Amor. Na ocasião, o hospital in-formou que a ideia foi tirar o peso da palavra câncer e home-nagear os doadores da instituição. Em vídeo institucional, o hospital transmite a seguinte mensagem: “O Hospital de Barretos mudou... porque vencer o câncer é mais fácil quan-do estamos cercados de amor”.

A empatia, aliada a técnica e tecnologia, segundo os es-pecialistas do setor de saúde, é o caminho certo a seguir.

Maria Julia Paes da Silva, professora doutora da USP

ASSISTÊNCIA

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LGPD: com prazo batendo

à porta, setor busca adequação

Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entra em vigor em agosto deste ano, ainda gera dúvidas e desconfian-ças. Com informações desencontradas, a União estima arre-cadar pelo menos R$ 20 bilhões em multas nos primeiros 12 meses de sua vigência. As grandes empresas, sobretudo as de telefonia e os bancos, devem ser as mais atingidas, mas os grandes hospitais não estão de fora dessa lista.

A empresa que não se adequar, fizer mau uso dos dados ou se envolver em um incidente de segurança pode receber punições que vão desde uma advertência até multa pecuniá- ria de até R$ 50 milhões (até 2% do faturamento), além da publicização da infração e do bloqueio e eliminação de da-dos da base da instituição. Estima-se que 68% dos vazamen-tos de bases de dados não são intencionais, mesmo assim qualquer um será passível de penalidade.

O setor de saúde deve ter atenção especial em relação aos impactos da nova lei. Isso porque o tratamento dos da-

Em vigor a partir de agosto, nova Lei ainda gera dúvidas

dos coletados, armazenados e processados pelas institui-ções do segmento são considerados pessoais e sensíveis e, portanto, requerem um cuidado ainda mais rigoroso.

Segundo o presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr, a saúde deve analisar o rigor da LGPD com bons olhos, apesar das dificuldades. “O que é certo, e passa a ser mandatório, é o aprimoramento das boas prá-ticas de privacidade no trata-mento de dados. Desta forma, você aumenta o nível de con-fiança de potenciais clientes e traz vantagem competitiva no mercado”, diz.

POR REBECA SALGADO

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GESTÃO

Yussif Ali Mere Jr, presidente da FEHOESP e do SINDHOSP

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Embora não haja fórmulas mágicas para se preparar para o novo cenário, algumas medidas tecnológicas po-dem minimizar possíveis impactos, como explica Rogério Pires, diretor de Healthcare da TOTVS. “O uso de tecno-logia, como softwares de gestão e soluções de segurança da informação, pode ser um grande aliado ao ajudar no controle e proteção dos dados de operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas e consultórios médicos. Torna- se imprescindível, também, estabelecer regras a fim de se evitar infrações, pois, além do dano financeiro e à imagem, apenas um incidente pode ser suficiente para culminar na inviabilidade ou descontinuidade do negócio”.

Segundo levantamento da Serasa Experian, em setembro de 2019 o setor da saúde ocupava a última posição entre as áreas mais preparados para a LGPD, com apenas 8,7% das companhias em conformidade com as novas obrigações, que entram em vigor em agosto próximo. Foram ouvidas 508 empresas, de todos os portes e segmentos.

Pensando nisso, a FEHOESP iniciou discussões com o se-tor para entender as principais dúvidas e dificuldades, além de oferecer suporte para a implantação correta da seguran-ça de dados nas instituições de saúde. De acordo com Luiz Fernando Ferrari Neto, diretor da Federação e vice-presiden-te do SINDHOSP, o setor deve se manter alinhado. “Quere-mos falar em uníssono e nortear a saúde de modo pertinen-te e seguro para que a lei seja cumprida adequadamente e sem prejuízos para nossos representados”.

Para ele, há um consenso de que além da preocupação com um sistema digital, os hospitais, clínicas e laboratórios devem preparar seus colaboradores para lidar com todas as informações que trafegam na saúde. “Se faz necessário pen-sar em como será o atendimento na ponta, quais dados po-dem ser coletados do paciente e como será feita essa coleta. É mais do que pensar em codificações, firewalls e senhas. É capacitar o colaborador para compreender que a segurança do paciente é inegociável e merece ser preservada”.

De mesma opinião, Glauco Libório, presidente do Conse-lho de Administração do Instituto Ética Saúde, afirma que é preciso altos investimentos no pouco tempo de adequação

que resta às empresas. Para ele, as organi-zações devem levar em conta que

sua reputação, neste novo ce-nário, também é afetada.

“É preciso trazer insti-tuições profissionais com-petentes para realizar um

diagnóstico minucioso dos sistemas da empresa e iden-tificar quais dados serão tra-tados, quais os processos do negócio, suas vulnerabilidades, entender quando será necessário consentimento para captação de da-dos pessoais. O plantio é trabalhoso e longo, principalmente para o setor da saúde, mas necessário nes-ses novos tempos onde aquilo que sempre pregamos é ética e transparência”.

Medida Provisória

Em dezembro de 2018, foi publicada a Medida Provisória (MP) n.º 869 alterando alguns dispositivos da LGPD e uma das novidades foi a criação da Autoridade Nacional de Pro-teção de Dados (ANPD), órgão da administração pública res-ponsável por zelar, implementar e fiscalizar o cumprimento da nova lei. A ANPD estabelecerá padrões técnicos, avalian-do cláusulas referentes à proteção de dados, determinando a elaboração de Relatórios de Impacto, além de atribuições que objetivem a efetiva aplicação da lei e dos princípios de proteção de dados pessoais. O órgão é diretamente ligado à Presidência da República e ganhará diversas competências e poderes para gerir os dados dos cidadãos brasileiros.

A LGPD exercerá ainda mais pressão no mercado de saú-de suplementar e os desafios do setor não se restringirão aos esforços técnicos e investimentos à implementação da lei no prazo estabelecido. A vigência da lei, inclusive, pode ser adiada em dois anos, diante da proposição na Câmara dos Deputados do Projeto de Lei - PL nº 5762/19, com a jus-tificativa de que apenas uma pequena parcela das empresas se adaptou às novas regras.

A FEHOESP continuará debatendo o tema em reuniões, cursos e eventos para a categoria. Para obter mais infor-mações, entre em contato com a Federação pelo telefone (11)3226-9444 ou pelo site www.fehoesp360.org.br.

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Glauco Libório, presidente do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde

Luiz Fernando Ferrari Neto, diretor da Federação e vice-presidente do SINDHOSP

Rogério Pires, diretor de Healthcare da TOTVS

GESTÃO

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Carlos Sampaio, gerente de Tecnologias da Infor-mação (TI) do CESAR, um dos principais centros de inovação do Brasil, criou um passo a passo rápido para que as empresas possam começar a se organi-zar quando o assunto é a proteção de dados.

De acordo com ele, o Brasil tem um histórico mui-to fraco de respeito às informações dos usuários. “Somos uma das nações que mais sofrem ataques cibernéticos do mundo. Segundo o Comitê Gestor da Internet (CGI), estrutura multissetorial responsá-vel por coordenar e integrar as iniciativas relaciona-das ao uso e funcionamento da internet no Brasil, recebemos cerca de 7 ataques por semana por em-presa”, destaca.

O mais recente Relatório de Riscos Globais 2020, do Fórum Econômico Mundial, corrobora com a im-portância de políticas de segurança da informação mais eficientes nas empresas. De acordo com o le-vantamento, os ciberataques estão entre os cinco maiores riscos de curto prazo que as nações devem enfrentar nos próximos anos.

Para fortalecer a segurança dos dados que a sua empresa coleta e administra, adaptando os proces-sos internos e externos à LGPD, Sampaio elenca 5 dicas fundamentais. Confira:

Crie um comitê de adequação à LGPDA primeira etapa para realizar qualquer tarefa deve ser sempre traçar uma estratégia. Desta forma, construir um comitê, que será responsável por este processo, é fundamental. É importante que ele seja composto de membros de tecnologia, processos, do jurídico e de consultores externos.

Mapeie todos os seus dadosÉ essencial saber onde estão armazenados os dados coletados e por onde eles passaram até chegar no

servidor, criptografados. A empresa que coleta os dados dos seus clientes, fornecedores e funcioná-rios, por exemplo, assumirá o papel de “controlador” pela LGPD, independentemente de quem será o “operador” - aquela figura responsável por transfor-mar os dados em informações. “Se o operador fizer mau uso ou perder os dados, a culpa recairá sobre o controlador. Portanto, é extremamente importante mapeá-los e fazer um acompanhamento constante”, pondera Sampaio.

Reforce sua política de segurançaCapriche no Termo de Uso dos dados da empresa e torne público aos usuários, sejam eles internos ou externos. Explique quais serão os dados coleta-dos, como eles ficarão armazenados, quem mais terá acesso a eles, por quanto tempo serão retidos e como eles serão destruídos após o uso. Não colete nenhuma informação que não seja extremamente necessária para o negócio.

Crie uma cultura de conscientizaçãoA empresa, que será a “controladora” dos dados, pre-cisa repassar suas normas de segurança para todos os seus funcionários e fornecedores, para que eles estejam em conformidade com os procedimentos. “Investir numa cultura de segurança é fundamental, para que ninguém, do menor ao maior nível hierár-quico da empresa, infrinja a LGPD”, afirma.

Faça uma auditoria externaSegundo Sampaio, por mais que os profissionais de TI e segurança da informação estejam a par dos processos, uma auditoria externa e especializada é imprescindível para apurar se os processos estão re-almente adequados à LGPD e quais são as possíveis falhas e riscos.

Organizando a proteção de dados na sua empresa

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omo presidente da Abimed (Asso-ciação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde), Fernando Silveira Filho representa um

dos mercados mais destacados na saú-de: o de tecnologia em equipamentos. O setor engloba 14 mil empresas de dispositivos médicos e gera 140 mil

postos de trabalho. À frente da entida-de, que hoje congrega cerca de 200 as-sociados, ele traz sua experiência de 25 anos como executivo para a gestão e a

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ENTREVISTA

cooperação e integração

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POR ELENI TRINDADE

Na opinião de Fernando Silveira Filho,

presidente da Abimed, complexidade da Saúde

exige que players se integrem cada vez mais

O momento pede O momento pede

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eficiência do mercado de saúde, mas ressalta que os pilares que jamais devem ser esquecidos são a centra-lidade no indivíduo e a cooperação entre diferentes players do setor.

Segundo ele, é enxergando as pessoas, e não apenas as doenças, que todo o planejamento pode ser executado, que toda ação pode ser bem implementada e que a quali-dade do atendimento é percebida. “Atuar na área de saúde é muito apaixonante porque nos vemos o tempo todo não apenas contribuin-do como profissional, mas trazendo nossa própria visão pessoal do que é a saúde”, afirma ele, que assumiu o posto no final de 2019.

Bacharel em Administração de Empresas pela FAAP, com pós-gra-duação em Marketing pela FGV e MBA em Gestão Empresarial e Mes-trado em Gestão Organizacional, ambos pela Universidade Macken-zie, Fernando Silveira Filho atuou nos últimos 25 anos como principal executivo de empresas no Brasil e no

Exterior. A mais recente foi a Isdin Pro-dutos Farmacêuticos Ltda.

Nesta entrevista, ele analisa o mer-cado de tecnologia no Brasil, os rumos da saúde e ainda comenta importan-tes aspectos de gestão que empresas de todos os segmentos da saúde po-dem e devem seguir para se manterem competitivas mesmo em cenários ain-da flutuantes como o do Brasil atual. Confira:

FEHOESP 360: Com sua experiência de executivo no mercado farmacêutico e sua formação em gestão, como ava-lia o mercado brasileiro de tecnologia e produtos para a saúde? Ele tem se expandido? O Brasil é competitivo se comparado a outros mercados? Quais os principais entraves para a expansão desse segmento?Fernando Silveira Filho: O Brasil é um país de grandes diferenças e dis-paridades. Depende do momento que você toma para analisar. Se tirarmos uma "fotografia" de hoje, diremos que o país está com vários problemas, mas tem muita coisa para avançar. Caso nos debrucemos sobre "o filme do Brasil", começando antes do Descobrimento, veremos que a nação sempre evoluiu

bastante, o mercado cresceu. Por isso costumamos dizer que o país tem grande potencial. Mas não só por isso: por ter uma população bas-tante grande e uma renda média que está se esforçando para sair de uma das mais graves crises da sua histó-ria. Tudo isso tem reflexos porque ainda apresentamos uma taxa de desemprego muito alta e ajustes de contas públicas sendo feitos. Mesmo assim, nosso setor cresceu em meio à crise. Não dentro da expectativa, obviamente, mas dentro de um pro-cesso de instabilidade que já dura mais de 5 anos - e isso é importan-te. Temos expectativas de continuar crescendo porque as empresas do nosso setor abrangem desde dis-positivos médicos mais simples até aos mais sofisticados e inovadores. Eu diria que só não estamos ainda mais atualizados em relação ao Exte-rior porque o Brasil tem suas regras e condicionantes para registros de novas tecnologias e isso gera um es-paço temporal de três a cinco anos

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Quanto mais

entendimento,

melhor. Mesmo

sabendo que

os players têm

objetivos diferentes,

o propósito maior é

a melhoria da

saúde no país,

o que reflete

positivamente

no setor"

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ENTREVISTA

Constituição, que prevê saúde univer-sal. O setor privado, por sua vez, tem diferentes interesses e busca lucro, mas o alinhamento que precisa haver entre esses dois lados deve ser com princípio na centralidade, no indiví-duo. Pensar nele saudável para depois considerá-lo paciente, de tal forma que a gente tenha esse processo de saúde para as pessoas bem estabelecido e o foco dos gestores possa ser direciona-do para boas propostas para o setor.

FEHOESP 360: Um país que investe em tecnologia, pesquisa e inovação colhe bons frutos no longo prazo. No Brasil, há muito a ser feito e o setor privado ainda está distante dos centros univer-sitários. No entanto, algumas iniciativas têm chamado atenção. A entidade tem firmado acordos com outros centros de pesquisas? Como o senhor vê o momen-to científico brasileiro nesse contexto?Fernando Silveira Filho: Nós não temos uma posição no ranking inter-nacional de inovação que seja efetiva-mente justa com a capacidade de cria-ção e desenvolvimento do brasileiro. Nós temos centros de pesquisa e exce-

maior em relação ao lançamento de tecnologias de ponta lá fora. No setor que atuamos, o avanço da tecnologia é muito intenso: a cada 18 ou 24 meses, em média, há um novo ciclo de inova-ção se fechando.

FEHOESP 360: Ao assumir esse man-dato quais os principais objetivos da sua gestão à frente da Abimed?Fernando Silveira Filho: É muito difí-cil falar em objetivos de gestão. Obvia- mente que, entre as metas de longo prazo, o foco é que a entidade con-tinue sendo cada vez mais atuante e contribuinte para o setor público, para as agências e para a indústria da saúde como um todo. Que possamos colaborar de forma ativa e proativa na formulação de novas políticas que facilitem o acesso aos serviços e recursos. Tenho conversado com representantes da saúde e percebido que uma coisa é ser cooperativo e outra é trabalhar pensando no futu-ro, 10 anos à frente, e perceber que se pode contribuir efetivamente. Outra grande meta é manter e intensificar o alinhamento e a cooperação entre as diversas associações do setor. Quan-to mais entendimento, melhor. Mes-mo sabendo que os players têm ob-jetivos diferentes, o propósito maior é a melhoria da saúde no país, o que reflete positivamente no setor.

FEHOESP 360: Como o senhor vê o re-lacionamento da indústria de alta tec-nologia com os demais players e pres-tadores de serviços do mercado? Existe uma boa colaboração entre as partes? Fernando Silveira Filho: É impor-tante ter o entendimento do que é o processo de saúde do país. Temos dois grandes elementos que o compõem: o público e o privado. O público tem as suas características e dimensão em função da disponibilidade orçamen-tária, além da obrigação de cumprir a

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O Brasil tem uma

dívida consigo ao

ter dificuldade de

estabelecer políticas

de longo prazo.

Não só para a saúde

ou pesquisa, mas

para quase tudo"

lência muito bons no país compatíveis com os melhores do mundo. A capaci-dade dos nossos técnicos e cientistas é fantástica, mas, evidentemente, a gente tem que estabelecer projetos de longo prazo. E o Brasil tem condições e tem universidades listadas entre as melhores do mundo com profissionais reconhecidos internacionalmente. Po-rém, o país tem uma dívida consigo ao ter dificuldade de estabelecer políticas de longo prazo. Não só para a saúde

ou pesquisa, mas para quase tudo. Inovação e pesquisa passam por isso com entraves para recursos pú-blicos que precisam ser alocados e a falta de relação empresa-escola, ou indústria e universidade, que o Bra-sil não tem tradição de cooperação. Mas a quarta revolução industrial está aí e realmente há a necessida-de dessa aproximação. O que temos visto são algumas iniciativas, como os esforços do Governo Federal com o Governo do Estado de São Paulo de criar um polo de desenvolvimen-to de tecnologias em que a saúde está incluída. Além disso, existe a Frente Parlamentar Mista de Tecno-logia e Inovação, que tem tentado desenvolver um trabalho de ampliar recursos para essas áreas, além de políticas públicas de financiamento

do Finep e do BNDES.

FEHOESP 360: Após um ano do novo governo e algumas medidas específicas para a saúde (foco na atenção primária e reformulação dos Mais Médicos, por exemplo) sendo elogiadas por expo-entes do setor, qual a visão da Abimed sobre o governo Bolsonaro e quais as perspectivas para a Saúde em 2020?Fernando Silveira Filho: O nosso momento é de saída de crise. Um grande sinalizador de como nós va-mos caminhar daqui para a frente foi a abertura econômica do país. Um movimento mais liberalizante da eco-

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nomia que vem se manifestando em todos os setores como a diminuição de aspectos burocráticos, como a Reforma da Previdência. Conside-ro promissores os próximos anos se nós seguirmos numa linha pró- mercado no que se refere à saúde. A atenção primária é um ponto de partida. Se pegarmos como exemplo a Inglaterra, que é um modelo bas-tante interessante de universalidade de saúde, lá a atenção primária é a chave de todo o modelo. Por isso, considero um caminho interessan-te. Começamos o ano com expecta-tiva bastante boa, mas em poucas semanas surgiu o coronavírus, que demanda muita atenção e não sa-bemos como vai impactar o país em termos de saúde e de foco ou quanto vai ocupar da agenda, mas a reação do governo está coerente com a si-tuação. É uma crise internacional de saúde e não ficamos esperando para ver o que vai acontecer, tomamos as medidas que deveriam ter sido toma-das e isso é fundamental. Não parece ser uma epidemia tão grave quanto outras que ocorreram, mas precisa-mos ver os desdobramentos. Além disso, os trabalhos que estão sendo feitos na Anvisa para registros de me-dicamentos e outros produtos são animadores para o setor. Outro as-sunto que tem sido alvo de conversas e expectativas é a reforma tributária. Dependendo de como se desenvol-ver esse processo e o tipo de reforma que for aprovada, podemos ter impac-to importante na área de saúde. Por nosso turno, manteremos um elevado padrão de cooperação com todos os órgãos legisladores para levar nossa contribuição para essa reforma, de maneira que seja realmente voltada para o processo de simplificação dos processos tributários e unificação de impostos sem que isso impacte na car-ga tributária do setor.

FEHOESP 360: Com a economia brasi-leira ainda buscando entrar nos eixos, quais os conselhos que o senhor pode dar para os gestores de saúde mante-rem-se no mercado? É preciso buscar inovação e ampliar participação no mercado ou seria melhor fidelizar os clientes e investir em especialização para se diferenciar?Fernando Silveira Filho: A maioria dos nossos associados, cerca de 200, é de pequenas e médias empresas. Elas são bem variadas: nem todas são fabricantes, pois temos importadores que distribuem; outros que fabricam no Brasil; distribuidores locais que importam os produtos para fazer a distribuição; pequenos fabricantes locais etc. Cada um deles busca a sua atualização de várias maneiras. Existe cooperação com empresas no Exte-rior e existe importação de insumos de outros países para fabricação local. Nos próximos anos entendemos que com as healthtechs e start ups atuan-tes nesse setor, veremos muito mais inovação de pequenas e médias em-

presas. Para elas, o caminho da ino-vação passa por essas iniciativas. A geração de tecnologia do setor, seja em softwares ou equipamentos, tem uma evolução rápida com o ba-rateamento na cadeia produtiva. E isso faz com que mais empresas te-nham acesso sem necessariamente precisar investir.

FEHOESP 360: A Abimed tem parti-cipação no Instituto Coalizão Saúde, que pretende em sua missão formu-lar políticas públicas para contri-buir com a saúde brasileira. Quais os principais avanços obtidos e por que é tão importante que os players da cadeia se mantenham atuantes agindo, propondo e trazendo insights para políticas públicas eficientes? Fernando Silveira Filho: A cadeia produtiva do setor de saúde tem que

trabalhar de uma forma articulada e cooperativa para trazer avanços e sim-plificação ao setor. Essa cooperação com o ICOS tem a ver com o encontro entre nossas expectativas como orga-nização, já que a proposta do Instituto é ser uma instituição propositiva para aprimoramento da construção de um novo sistema de saúde, seja propondo políticas públicas, seja trabalhando na disseminação de conceitos, na propo-situra de novas aproximações.

FEHOESP 360: Como a Abimed atua para promover a transparência em toda a cadeia produtiva? Quais os principais efeitos e benefícios que uma gestão pautada pela ética traz para o mercado, para a economia e para a so-ciedade? Fernando Silveira Filho: Ética e transparência na gestão são dois dos pilares que mais a gente enfatiza na nossa atuação. Fomos a primeira en-tidade do setor a ter um código de conduta para os associados, lançado em 2006, e criamos um canal de de-

O nosso momento

é de saída de crise.

Um grande

sinalizador de

como nós vamos

caminhar daqui

para a frente

foi a abertura

econômica do país"

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núncias independente da associação. Estamos caminhando para o primeiro terço do século 21 discutindo ética. É um desafio de longo prazo e precisa ser uma mudança de cultura. Temos que fazer com que seja mais presente nas organizações em geral, não só de saúde, mas toda entidade associativa, governamental, empresarial, sem fins lucrativos e as universidades. A saúde é um tema sensível, todas as pessoas pensam sobre ela e todos em algum

momento vão ficar doentes, então, nunca se pode parar de discutir a ética. Isso é cada vez mais necessário porque a forma como vamos lidar com a saúde muda o tempo todo: o envelhecimento populacional traz novas perspectivas com mais dispositivos e equipamen-tos contribuindo para isso, os estudos científicos avançam, as pessoas vivem mais. Todas essas mudanças precisam ser pautadas pela ética para que a as-sistência seja cada vez melhor.

Nos próximos anos

entendemos que

com as healthtechs

e start ups atuantes

nesse setor,

veremos muito

mais inovação de

pequenas e médias

empresas"

ENTREVISTA

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MERCADO

O

Setor da saúde movimenta

mercado de fusões e

aquisições em 2019

ano de 2019 foi marcado por um grande volume de tran-sações financeiras, registrando no primeiro semestre um aumento de mais de 45% no total de fusões e aquisições englobando todos os setores, se comparado com o mesmo período de 2018. Os dados são da KPMG e se referem ao nú-mero de fusões e aquisições domésticas, ou seja, aquelas realizadas entre empresas brasileiras.

Ainda de acordo com a KPMG, no primeiro semestre fo-ram feitas 340 transações do tipo domésticas, contra 232 em 2018. Já o número total de negócios fechados nesse período, em 2019, foi 543 contra 461 em 2018, um aumento de 17%.

De acordo com o levantamento, do total de fusões e aquisições registradas no primeiro semestre do ano passa-do (543), foram registradas, ainda, transações do tipo CB1 (realizadas por empresa estrangeira adquirindo brasileira),

Após as negociações que aqueceram área da saúde, demanda do setor para 2020 deve continuar em alta

que chegaram a 140; 31 do tipo CB2 (brasileira comprando de estrangeiro empresa no Exterior); 8 CB3 (brasileira adqui-rindo de estrangeiros empresa no Brasil); 11 CB4 (estran-geira adquirindo, de estrangeiros, empresa no Brasil); e 13 CB5 (estrangeiro adquirindo, de brasileiros, empresa no Ex-terior), fator que aqueceu a economia no primeiro semestre de 2019.

A pesquisa mostrou, ainda, os segmentos que mais se destacaram durante o ano: o setor de empresas de internet manteve a liderança, saltando de 169 operações em 2018 para 293 em 2019, uma alta de 73%; seguida pelas áreas de tecnologia da informação (158), hospitais e laboratórios de análises clínicas (87), imobiliária (77), outros setores (72), alimentos, bebidas e fumo (52) e companhias de energia (51).

POR VIVIAN MARTINS

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Com o quarto lugar no ranking geral, o número de fusões e aquisições de hospitais e laboratórios de análises clínicas aumentou 67% em 2019, se comparado ao ano anterior. Com um acréscimo de 35 operações em relação ao volume registrado em 2018 (52), o segmento concretizou 87 transa-ções no último ano, sendo o maior volume de transações desde 2000. Os dados são de pesquisa da KPMG realizada com 43 setores da economia brasileira.

A Websetorial, responsável pela realização do Boletim Econômico FEHOESP, afirmou que este movimento deve continuar em 2020, pois é a expectativa apontada por espe-cialistas do setor. Informou também que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) registrou 31 pedidos de apro-vação de compra de controle em 2019, um aumento de 24% quando comparado a 2018. “Esses investidores acreditam no aumento do emprego e da renda no médio prazo. Essas transações representam um voto de confiança”, opina Patri-cia Marrone, sócia da Websetorial.

Os dados divulgados pela Websetorial apontam que, dentre as transações realizadas na saúde, a corrida pelo crescimento e consolidação da saúde suplementar foi pu-xada pelas operadoras de planos de saúde Hapvida e Notre-Dame Intermédica. Ambas abriram o capital em abril do ano passado e, desde então, já levantaram R$ 20 bilhões.

No final do ano passado, a Hapvida anunciou a aquisi-ção da Plamed por R$ 57,5 milhões e pagou R$ 5 bilhões pelo Grupo de Hospitais São Francisco. O Grupo NotreDame Intermédica anunciou a aquisição da Ecole Serviços Médi-cos, com carteira de 45 mil beneficiários, por R$ 49 milhões. Outro investimento da NotreDame Intermédica foi a aqui-sição do Grupo Clinipam, operadora verticalizada de plano de saúde do Paraná, por R$ 2,6 bilhões. Com a aquisição, a Intermédica já enxerga oportunidade para outras aquisi-

ções e sinergias para expandir o negócio de plano odonto-lógico, já que o Clinipam só possui 10 mil usuários nessa modalidade.

A Websetorial apontou que a Rede D’Or, por sua vez, ad-quiriu a Perinatal, o Hospital Santa Cruz e uma fatia de 10% da Qualicorp. Ao total, essas três transações são avaliadas em mais de R$ 3 bilhões. Ainda segundo informou a Web-setorial no Boletim Econômico FEHOESP número 9, a Dasa se uniu à Ímpar, segunda maior rede hospitalar, dona do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, e do São Lucas, no Rio. Para a transação foi criada uma holding que terá as duas empresas de saúde sob seu guarda-chuva e um valor de mercado estimado em R$ 29 bilhões. No ano passado, o fa-turamento combinado de Dasa e Ímpar foi de R$ 7,1 bilhões.

Seguindo o ritmo de expansão, a Dasa (Diagnósticos da América) anunciou, em 18 de dezembro de 2019, a aquisi-ção de quatro companhias: a Genia – Genética Molecular, localizada em Porto Alegre; a Nobeloy e a Optiren, do Uru-guai; e a Genia S.A., da Argentina. No entanto, a empresa não deu detalhes financeiros das operações. Outro investi-mento da Dasa foi a compra de 80% do laboratório Bioclí-nico em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, que conta com 11 unidades próprias e sete unidades de atendimento no Estado.

O presidente da FEHOESP e SINDHOSP, Yussif Ali Mere Ju-nior, acredita que tal cenário reflete a realidade brasileira. “A população está envelhecendo a curto e médio prazo e con-sumirá mais serviços de saúde. Em contrapartida há uma enorme fatia da população sem planos privados de saúde e um sistema público superlotado que não conseguirá aten-der a toda essa demanda”.

Acompanhe, na tabela a seguir, as principais fusões e aquisições na área da saúde em 2019:

# Setor

1º Empresas de internet

2º Tecnologia de informação

3º Imobiliário

4º Hospitais e Labs. de Análises Clínicas

Tabela - Ranking setorial de transações

Fusões e aquisições na Saúde cresceram 67% em 2019, aponta KPMG

Setor da saúde bateu recordes

de fusões e aquisições

MERCADO

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Empresas que fizeram aquisições ou fusões Operação Empresa Comprada Valor do

aporte em R$1º Trimestre 2019

Hospital Esperança Comprou Hospital Cardio Pulmonar da Bahia Não informado

Fleury Comprou Santécorp R$ 15,5 milhões

Fleury Comprou Newscan R$ 170 milhões

Rede D'Or Comprou 48% Hospital Cardio Pulmonar da Bahia Não informado

Sabin Comprou Laboratório JP Mansor Não informado

Sabin Comprou 10% Amparo Rede de clínicas de atenção primária Não informado

Athena/Pátria Comprou Operadora verticalizada Multivida Não informado

Athena/Pátria Comprou 49,99% Hospital Fundação do Cancêr Não informado

2º Trimestre 2019

Hapvida Comprou Infoway R$ 12,5 milhões

Hapvida Comprou Grupo de hospitais São Francisco R$ 5 bilhões

Hapvida Comprou Grupo América Planos de Saúde R$ 426 milhões

Rede D'Or Comprou Perinatal R$ 800 milhões

Dasa Comprou 100% Diagnósticos Maípu Não informado

NotreDame Intermédica Comprou Hospital Amiu (Assistência Médico Pediátrica de Urgência Ltda) R$ 40 milhões

Gestora Kinea Comprou Operadora Centro Clínico Gaúcho R$ 150 milhões

Athena/Pátria Comprou Operadora São Bernardo Saúde Não informado

NotreDame Intermédica Comprou Operadora Belo Dente R$ 80 milhões

Hapvida Comprou Hospital Cariri R$ 816,5 milhões

3º Trimestre 2019

Hapvida Comprou 75% RN Saúde R$ 53 milhões

KINEA Adquiriu fatia minoritária Centro Clínico Gaúcho (CCG) R$ 150 milhões

Rede D'Or Comprou 10% das ações Qualicorp R$ 623 milhões

NotreDame Intermédica Comprou Laboratório Ghelfond R$ 420 milhões

Rede D'Or Comprou Maternidade Perinatal Não informado

Dasa Comprou Laboratório Maipú (Argentina) Não informado

Hermes Pardini Comprou Laboratório Solução, de SC Não informado

NotreDame Intermédica Comprou SMEDSJ R$ 105 milhões

UnitedHealth Comprou Eye Clinic Não informado

UnitedHealth Comprou Radium Não informado

4º Trimestre 2019

Dasa Fusão Rede Ímpar Não informado

Rede Ímpar Comprou 20% Hospital Santa Paula Não informado

NotreDame Intermédica Comprou Clinipam Saúde R$ 2,6 bilhões

Hapvida Comprou 15% Agemed de Santa Catarina R$ 19 milhões

NotreDame Intermédica Comprou São Lucas Saúde R$ 312 milhões

Fleury Comprou Laboratório Digmax R$ 112 milhões

Fleury Comprou Laboratório CPC R$ 12 milhões

Hermes Pardini Comprou Laboratório Labfar Não informado

Hapvida Comprou Hospital Parauapebas R$ 16 milhões

Tabela - Principais fusões e aquisições na área da saúde, em 2019

Fonte: Valor/ Elaboração Websetorial

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Fevereiro é o mês que marca o aniversário do SINDHOSP, maior sindicato patronal da área na América Latina, que se solidificou ao longo dos anos por meio da qualidade, competência e am-pliação na gama de serviços para seus associa-dos e contribuintes.

Em 2020, o Sindicato completa 82 anos de existência representando, no Estado de São Pau-lo, todos os estabelecimentos de saúde privados de caráter lucrativo. Além de hospitais, há no qua-dro de representação mais de 40 mil instituições de saúde como, por exemplo, clínicas médicas, clínicas e empresas de odontologia, laboratórios clínicos e empresas de serviços de apoio à saúde, como remoção e assistência domiciliar.

Para atender a essa demanda, o SINDHOSP, com sede fixa na cidade de São Paulo, possui re-presentantes e escritórios regionais localizados no ABC, em Bauru, Campinas, Santos, São José do Rio Preto, São José dos Campos e Sorocaba, com infraestrutura para a realização de cursos, eventos, reuniões setoriais e assembleias.

Entre os serviços prestados, destacam-se assessoria jurídica, patrocínio de causas coleti-vas, cível e trabalhista, análise de legislações da saúde, representação política, cursos e eventos, comitês de saúde mental, assistência à saúde suplementar e administração médica/SUS, co-missão de recursos humanos, publicações espe-cializadas e informações em tempo real sobre as principais notícias do setor.

Luiz Fernando Ferrari Neto, vice-presidente do SINDHOSP, exalta o trabalho que vem sendo feito em prol do setor da saúde. “É por meio de enti-dades representativas como o SINDHOSP que os

Tradição em representatividade:

SINDHOSP completa 82 anos

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CAPA

setores conseguem reivindicar e obter conquistas, mudar realidades. Esse caminho nem sempre é fá-cil, mas a representatividade política é o caminho para as mudanças e o Sindicato, como integran-te do sistema confederativo, é uma entidade que pode abrir portas e trazer conquistas para o setor”.

No ano passado, o SINDHOSP representou os prestadores de serviços da área da saúde frente às instabilidades econômicas, principalmente após a reforma trabalhista, atuou nos bastidores pela aprovação da Reforma da Previdência e lu-tou pela categoria, conseguindo acordos coleti-vos condizentes à situação econômico-financeira da maioria das empresas do setor. São esperadas ainda outras mudanças importantes no atual go-verno, como um programa de privatizações e a reforma tributária.

“Estamos acompanhando o avanço nas ne-gociações da reforma tributária para que nossos representados tenham suas atividades simplifica-das e não sejam prejudicados com aumento de impostos. Em várias situações fomos decisivos e atuantes em negociações desse tipo, como por exemplo, quando ações do SINDHOSP frearam o aumento do PIS/COFINS para a saúde. Sem-pre fomos assertivos na tomada de decisões ao defender o interesse do setor, tanto em Brasília, quanto na articulação com outras entidades da

saude", afirma Yussif, acrescentando que são ações como essas, contra o aumento de im-

postos, que mostram a importância de fa-zer parte de um sindicato forte e atuante.

Histórico

Em 12 de fevereiro de 1938, representantes de sete instituições de saúde da Capital paulista (Casa de Saúde Santa Rita, Hospital de Carida-de do Brás, Hospital Samaritano, Instituto Godói Moreira, Instituto Paulista, Maternidade São Paulo e Sanatório Jabaquara), motivados pelo cresci-mento da atividade hospitalar e a necessidade de terem representação efetiva, já que o sindicato dos empregados do setor já existia, fundaram o Sindicato Patronal dos Estabelecimentos Hospi-talares de São Paulo.

Em 1939, em função do decreto-lei nº 1.402, que deu início à ordenação da organização cor-porativa da economia nacional, o Sindicato adap-tou-se às exigências e incorporou à sua represen-tação as clínicas e casas de saúde, passando a ser denominado Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do Estado de São Paulo, com sede na Rua Barão de Itapetininga, no Centro da Capital. Ali, dividia o espaço com mais 13 sindica-tos, onde permaneceu por quase 40 anos.

A primeira associada ao SINDHOSP foi a Casa de Saúde Santa Rita, conforme consta no livro de registro de sócios. Em 1940, instituições impor-tantes tornaram-se associadas, como a Associa-ção Santa Catarina, os hospitais Oswaldo Cruz e Samaritano, Instituto Paulista e a Maternidade São Paulo, dando início à efetiva história do Sin-dicato. A união dos hospitais e clínicas fez com que a Carta Sindical, documento que legitimava a atuação do sindicato, fosse oficializada.

O crescimento dos hospitais, a introdução do computador e de novas tecnologias na medicina,

Luiz Fernando Ferrari Neto, vice-presidente do SINDHOSP

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o nascimento da medicina de grupo, o primeiro transplante cardíaco da América Latina, a

descoberta da vacina contra a poliomielite são alguns dos fa-

tos que ocorreram, até a década de 1960, paralelamente à história do

Sindicato, que também evoluía.Na década seguinte, os laboratórios de pes-

quisa e análises clínicas foram incorporados ao SINDHOSP, que passou a ser denomina-do Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Ser-viços de Saúde do Estado de São Paulo, e adquiriu sua sede própria, na Rua 24 de Maio, também no Centro da Capital.

A partir dos anos 80, os desafios impostos à iniciativa privada da saúde fizeram o Sindica-to intensificar sua representatividade política e criar departamentos, como o Jurídico, e serviços, como a promoção de cursos e eventos para pro-fissionais da saúde. Juntamente com outras en-tidades representativas, o SINDHOSP contribuiu para a inclusão da iniciativa privada na Constitui-ção de 1988. Também foi neste ano que o Jornal do SINDHOSP, antes chamado de Sindicato Hos-pitalar, foi lançado. Foi publicado até 2016, quan-do completou 33 anos.

Em 1994, o SINDHOSP patrocinou institucio-nalmente a primeira feira Hospitalar, atualmente o maior evento especializado do continente ame-ricano, e no ano seguinte criou a Comenda Grã Cruz de Ouro, que em 2015 teve seu nome altera-do para Comenda Grã Cruz de Ouro Dante Anco-

na Montagnana, em reconhecimento ao trabalho de personalidades e instituições que contribuem com o setor.

Em 1999, o Sindicato lançou o seu próprio site, um veículo hoje considerado indispensável para consultas sobre notícias do setor, legislações, acordos coletivos da categoria, agenda de cur-sos e eventos, entre outras notícias de relevância para hospitais, clínicas e laboratórios.

A Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) nasceu dentro do SINDHOSP, que sempre enxer-gou a necessidade de o setor da saúde ter uma representação de terceiro nível, em Brasília, para tratar das questões políticas junto ao Executivo, Legislativo, Judiciário e agências reguladoras. Após a criação da CNSaúde, para que o Estado de São Paulo pudesse ter assento nas discussões de ordem política e representativa nacional, o SINDHOSP criou a FEHOESP.

Ao longo dos anos, outros serviços foram sendo incorporados ao SINDHOSP como, por exemplo, os comitês e comissões de recursos humanos, segurança e saúde ocupacional, os Congressos de Gestão em Clínicas e Laboratórios de Saúde, realizados anualmente durante a Feira Hospitalar, além de iniciativas como orientação contábil e facilidades em acreditação para clí-nicas. Hoje, além da consolidação de sua repre-sentatividade política para a defesa dos interes-ses dos representados no Congresso Nacional e demais esferas de discussões, como convenções coletivas e outros acordos jurídicos, o SINDHOSP se firma como fonte de informações e prestador de serviços para seus associados.

Yussif Ali Mere Jr, presidente da FEHOESP e do SINDHOSP

clique aqui para ver o vídeo comemorativo de 82 anos de fundação do sindhosp

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O

Em debate, os desafios para o

futuro do Brasil

que os próximos meses nos reservam? Quais as perspec-tivas e caminhos devem ser trilhados em 2020 na Saúde e na Economia? Essas e outras questões foram temas de debate no evento Welcome 2020, realizado pelo Grupo Mídia, em São Paulo, no final de janeiro. Players da saúde e analistas de mercado estiveram presentes levantando importantes questões para o setor. O presidente da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr, abordou as questões políticas brasileiras em sua participação no evento, realizado no Hotel Renaissance. Ele foi um dos debatedores da mesa “Quais os reflexos na Saú-de com as Reformas de 2019 e o que esperar para 2020?” e destacou os processos que o Brasil vem passando nos últi-mos anos e outros pelos quais o país ainda precisa passar. “Todo esse debate começou muito antes das reformas, com a PEC 241 (Proposta de Emenda Constitucional que colocou

Os rumos da Saúde no país e seus impactos foram temas do evento Welcome 2020

um teto para os gastos com Saúde e Educação, em 2016), pois era preciso mudar a qualidade do gasto do governo”, explicou.

SegundoYussif Ali Mere Jr, uma das principais mudanças é acabar com privilégios no Brasil. “A Reforma da Previdên-cia começou a mexer em alguns deles e foi um bom começo, mas precisamos continuar o processo para mudar essa cul-tura de privilégios e não estou falando apenas do funciona-lismo ou dos casos de corrupção, mas fazer mudanças de cima para baixo nos três poderes da República”, salientou. De acordo com o presidente da Federação, é de se ques-tionar como é possível que exista um teto salarial de R$ 39 mil nessas esferas, mas que ainda seja possível que pessoas recebam salários acima de R$ 100 mil. “Levar a sério o com-promisso com a ética e a governança, sermos mais coletivos

POR ELENI TRINDADE

MERCADO

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e menos individuais e fazer uma maior integração entre o público e o privado são algumas formas para construirmos as mudanças positivas que esperamos”, concluiu.

Sobre as reformas, Pedro Westphalen, deputado pelo Partido Progressista (RS), outro debatedor da mesa, decla-rou que as reformas do atual governo dão mais credibilida-de ao país em assuntos estratégicos. “Elas são fundamentais no país, que vive um novo momento, e são importantes para mostrar a nossa seriedade para investidores estrangeiros que estão chegando cada vez mais”, afirma. Wilson Pollara, superintendente do Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público) e ex-secretário de Saúde do Município de São Paulo, destacou durante a mesa que o atual governo está fazendo mudanças importantes ao reestruturar a for-ma de distribuição de recursos e de obrigações. “O custeio e o investimentos foram divididos em dois blocos, o que é importante para facilitar a realocação de recursos nas áre-as com maior necessidade. Outra medida importante foi a distribuição dos recursos do plano de assistência básica para as prefeituras apenas de acordo com os munícipes ca-dastrados, o que é fundamental para gerar indicadores de gestão e, consequentemente, um atendimento mais eficaz”, destacou.

Rumos da economia

O evento trouxe debates também sobre a economia do Bra-sil e seus impactos na saúde. De acordo com Wilson Rezen-de, economista e mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, que fez a apresentação “Pers-pectivas para a Saúde em 2020”, pode-se ver de forma positi-va o ano de 2020 porque, segundo ele, o governo Bolsonaro veio com uma nova visão de mundo voltada ao mercado, o que agrada aos investidores privados. “Isso é importante

para o incremento de parcerias público-privadas, algo que não deslanchou na saúde e deveria ser mais usado, até por-que já tem normas para isso”, explicou. Nesse novo cenário, acredita o professor Rezende, a alteração dos limites de gas-tos da educação, graças à PEC 241, deverá favorecer a saú-de, porque os jovens vão crescendo e não precisam tanto de escola, ao passo que a população está envelhecendo e precisará de mais serviços de saúde. “Haverá mais pressão por investimentos nesses serviços”, declarou. É importante lembrar que 2020 passa por eventos de ciclo longo que im-pactam na saúde, explicou o professor. “O aumento dos cus-tos médicos acima da inflação, a consolidação de mercado, financiamento do setor e investimentos em inovação são alguns exemplos. Aliado ao fato de que está havendo uma consolidação de fusões em um setor ainda fragmentado, visto que muitos hospitais têm menos de 50 leitos, tornando a operação deles ineficiente”, argumentou ele, enfatizando que a dinâmica atual na saúde é de concentração com fun-dos de investimentos, como Goldman Sachs, PAtria Investi-mentos e BTG, entre outros, fazendo aquisições.

Segundo o professor da FGV, o Brasil apresenta inflação controlada, a situação fiscal equilibrada e vem num pro-cesso de economia forte, embora com a infraestrutura ain-da aquém do que deveria e com indicadores sociais ruins, mas é preciso diferenciar se devemos ser otimistas ou pes-simistas. “No atual cenário, muito se discute sobre eleições municipais e elas só devem ter repercussão local, mas deve se levar em conta que o governo é liberal na economia e conservador no comportamento, levando a medidas estru-turais que têm sido aprovadas. Mudanças econômicas dão abertura para a iniciativa privada. Por isso, a perspectiva é de um ciclo sustentado de crescimento para quem souber se adaptar à conjuntura e escolher o segmento de mercado”, afirmou.

Autoridades do setor debatem os impactos da política na economia da Saúde durante o Welcome 2020

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MERCADO

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Cooperação

Dentro das discussões sobre as perspectivas para mais um ano desafiador para o Brasil, um tema nem tão novo assim também foi abordado por meio de análises e algumas pro-postas. Na mesa “A urgente necessidade de políticas para promover a cooperação entre os setores público e privado, universidade e indústria para a saúde em 2020”, os deba-tedores levantaram propostas importantes para organizar melhor o setor, como mudanças culturais para educar o cidadão para prevenir doenças desde a escola, ter uma ali-mentação saudável e fazer atividade física, além de trazer esses conceitos para as empresas por meio de esforços dos empregadores.

Mauro Junqueira, secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), destacou a importância de promover cuidado integrado e próximo do cidadão na atenção primária, ampliar o acesso a medicamentos para garantir maior adesão a tratamentos, desenvolver e implantar modelos inovadores de atenção ao cidadão e tecnologia de inovação e investir em PPPs interse-toriais para desenvolvimento de cidades saudáveis. Segun-do ele, os desafios também passam por áreas não ligadas diretamente à Saúde, mas que a impactam profundamente, como Saneamento Básico, Segurança Pública e Habitação. Outra questão que precisa ser abordada é a longevidade da população e como cuidar dela. “Há carência de geriatras no país e é fundamental implantar um modelo assistencial fo-cado na atenção ao idoso e em doenças crônicas. O modelo de pagamento também precisa ser aperfeiçoado. A qualida-de assistencial deve ser estimulada", explicou.

O tema da necessidade de parcerias e políticas públicas e privadas com universidades também teve destaque. Pau-lo Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológi-cos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), destacou como a interligação entre esses setores funciona bem, citando o exemplo da Embraer, empresa brasileira da área de aero-naves, que teve alguns grandes projetos de aviões iniciados dentro de universidades. “Podemos citar outros exemplos

importantes, como o desenvolvimento de vacinas no Instituto Butantã e na

Fundação Oswaldo Cruz, que são modelos para o mundo. Muitos

projetos podem ser desenvol-

vidos, mas por falta de recursos e de uma política bem defi-nida é que não avançamos mais”, disse.

Futuro

A saúde 5.0 também foi debatida no evento e levantou ques-tões importantes sobre como aproveitar melhor toda essa tecnologia que permeia de forma avassaladora todas as áreas da economia, inclusive a saúde. Na opinião de Clau-dia Cohn, diretora executiva de Alta Excelência Diagnóstica e Operações Hospitalares na Dasa, não se pode perder de vista que essa inovação foi criada para melhorar o atendi-mento às necessidades dos humanos em qualquer área da sociedade. “Hoje podemos dizer que os principais desafios que essa nova geração tecnológica precisa atender é a di-minuição da natalidade, aumento do envelhecimento, pro-blemas ambientais, concentração de pessoas em alguns lugares, falta de mão de obra especializada, terrorismo e desastres”, destacou.

Importante destacar que o valor em saúde muda com tanta tecnologia disponível, salientou Irene Minikovski Hahn, presidente da Qualirede. “Vou citar o exemplo da geração millenials: o jovem quer dinamismo como, por exemplo, re-ceber medicamentos com agilidade entregues por drones e um atendimento médico disponível no horário que ele tem vago entre a faculdade e o trabalho, pois está acostumado a informações muitos rápidas na palma da mão e espera essa transferência de instantaneidade para tudo. Isso é valor em saúde para esse público”, afirmou.

Francisco Balestrin, presidente do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBex), alerta que toda essa inovação é fundamental, mas não se pode perder a empatia com a questão individual porque isso transforma a assistência à saúde. “A solução para aliar esses dois pontos, alta tecno-logia e assistência, é a governança, pois com a sociedade e empresas mais organizadas, todo o processo é feito com qualidade, as pessoas ficam mais atentas ao que precisam e os serviços de saúde poderão atuar com transparência e de olho na sustentabilidade", destacou.

Yussif Ali Mere Jr defendeu que é preciso acabar com

os privilégios no Brasil

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NEGÓCIOS

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S

Diversificar

para crescer e aparecer

eja durante ventos favoráveis ou no meio de uma tempestade econômica, qualquer empresa precisa ficar atenta a oportunidades de novos negócios e tendências para seguir firme no mer-cado. Na área de saúde não é diferente e muitas companhias têm buscado diversificar seus ne-gócios para se manterem sustentáveis. “A diver-sificação é uma estratégia clara de crescimento das empresas ou uma defesa de uma perda de receita no negócio principal e faz parte de qual-quer tipo de atividade econômica, uma vez que

Empresas de saúde ampliam portfólio de serviços para fortalecer negócios e superar crises

as organizações crescem por meio de produtos ou outros serviços”, explica Marcelo Caldeira Pe-droso, coordenador do Programa de Mestrado Profissional em Empreendedorismo da Faculda-de de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). Se-gundo ele, ela gera um aumento de volume de atividades e, consequentemente, de eficiência se for bem feita.

De acordo com Fábio Patrus, diretor de Uni-dades Externas do Hospital Sírio Libanês, a di-

POR ELENI TRINDADE

Fábio Patrus, diretor de Unidades Externas do Hospital Sírio Libanês

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versificação veio motivada pelo fato de a orga-nização também ter passado por dificuldades semelhantes às de muitas empresas brasileiras nos últimos anos. “Diante de um sinistro crescen-te e inflação médica aumentada para os serviços de saúde, entre outros fatores, nos vimos desa-fiados a pensar novas estratégias”, conta ele. No princípio, os gestores avaliaram a importância de gerir a saúde dos seus colaboradores e buscaram experiências no Sistema Único de Saúde e nos modelos inglês e canadense, em que a atuação tem uma vinculação entre a população atendida e o médico da família, que acaba sendo um es-pecialista em resolver a maior parte das queixas dos doentes. “Fizemos uma reviravolta no nosso modelo de saúde e começamos a abrir nossos ambulatórios dentro do hospital, integrando me-dicina do trabalho e medicina de família, além de avaliar cada um dos pedidos de casos mais com-plexos, como os cirúrgicos, para ter uma segunda opinião. Assim, obtivemos redução de custos”, explica Patrus.

Segundo o professor da USP, Marcelo Pedro-so, a empresa precisa estar bem estruturada, é pré-requisito, porque o crescimento aumenta a complexidade da operação. “Não adianta querer sair crescendo ou tentar ampliar sem ter os ins-

trumentos gerenciais necessários. Uma clínica menor acaba ficando vulnerável nesse

tipo de operação em comparação com os estabelecimentos maiores”,

destaca ele.

Em 2018, o modelo testado no Sírio foi para o mercado com o nome Saúde Corporativa, com atuação no cuidado da atenção primária e na gestão da saúde, oferecendo às empresas um modelo de atenção primária à saúde in loco ou em unidade externa exclusiva para atendimento dos colaboradores e dependentes. “Precisamos estar do lado das empresas porque elas são os agentes que estão sofrendo com esse custo ele-vado da saúde, além de fortalecer a relação com as operadoras, que passam a gerir melhor o seu sinistro. Entendemos que o processo pode envol-ver manter a população saudável para que não precise tanto de hospital, a não ser em situações em que haja necessidade, uma vez que em torno de 60% a 70% dos casos que chegam no pronto atendimento são de baixa complexidade”, afirma Patrus.

É importante lembrar que quando decidem fazer essa ampliação de produtos ou de serviços, salienta Pedroso, a empresa fica menos imune a variações do mercado. Outro possível efeito colateral é a perda de foco e aumento na com-plexidade das suas operações, diminuindo sua eficiência.

Quando a empresa faz uma diversificação mui-to próxima da sua atividade principal (do core), o risco é menor. “Um risco maior, por exemplo, seria um laboratório de análises clínicas passar a oferecer serviços de odontologia, que é dentro da saúde, mas de um ramo diferente”, exemplifi-ca. Esse é um movimento típico de empresas que crescem, segundo ele. “É preciso investir para crescer, é a lógica do crescimento. A empresa precisa ter recursos disponíveis, particularmente financeiros e gerenciais, principalmente financei-ros porque em geral, no curto prazo, elas perdem

Marcelo Caldeira Pedroso, coordenador do Programa

de Mestrado Profissional em Empreendedorismo da FEA-USP

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rentabilidade sobre o capital investido", ensina Pedroso, da FEA-USP.

No caso do Grupo Fleury, que diversificou serviços com modelos como Day Clinic (procedi-mentos na área ortopédica, com resolubilidade no mesmo dia); Centros de Infusões (oferecen-do aplicação de medicamentos intravenosos e subcutâneos para pacientes com doenças au-toimunes e inflamatórias crônicas) e Genômica (com estudos e serviços de medicina de precisão e exames genéticos), o ponto de partida, por as-sim dizer, foram as mudanças que impactaram o mercado, como envelhecimento populacional e as diversas discussões sobre a sustentabilidade do setor.

“Avaliamos o mercado e vimos oportunida-des de criar uma plataforma de negócios em que passamos a atuar oferecendo outras soluções que vão além da medicina diagnóstica, mas que têm tudo a ver com os desafios que a população vive em termos de saúde”, explica Jeane Tsutsui, diretora-executiva de Negócios do Grupo Fleury, destacando que o novo posicionamento envol-veu as áreas de Inteligência de Negócios, clientes e área médica. Em termos de impacto no negócio, a executiva esclarece que a empresa só fornece informações gerais para o mercado, mas que a área genômica, por exemplo, já tem papel expres-sivo no portfólio do grupo e triplicou a receita nos últimos três anos desde que começou a operar.

Pequenas

Diversificar significa investir e se planejar, por isso é mais comum que empresas de grande porte consigam passar por esse processo com mais facilidade. De acordo com o professor Caldeira Pedroso, o que acontece com as empresas de

menor porte é que elas não têm tantos recursos financeiros disponíveis e gerenciais com conheci-mento de como fazer gestão do negócio compa-rativamente às maiores. De acordo com ele, com o crescimento do mercado, o que acaba aconte-cendo com as pequenas e médias é que elas se tornam alvos de aquisições e fusões. (ver matéria na página 23)

Jeane Tsutsui, do Fleury, acredita, no entanto, que mesmo as empresas de pequeno e médio portes da saúde devem mirar sempre em inova-ção porque há oportunidades para todos. “Não importa o tamanho e onde atue. As empresas menores não possuem áreas estruturadas de in-teligência de negócios, mas têm a vantagem de conseguir maior agilidade na implementação de suas iniciativas pelo próprio porte. Analisando o mercado, as melhores chances de investimento hoje são para iniciativas voltadas para atender as demandas geradas pelo envelhecimento popula-cional”, sugere ela.

Em uma contração do mercado, como ainda estamos vivendo no Brasil, os mais fortes ten-dem a ficar mais fortes. “Durante as crises todos são afetados, mas em geral elas abalam os que estão menos preparados gerencialmente e, nor-malmente, são empresas de pequeno e médio porte", destaca o professor da USP. “A diversifi-cação é super importante, mas precisa ser bem planejada porque a empresa pode perder o foco e perder foco pode significar desperdiçar recur-sos. Numa crise, os recursos são mais escassos e não deve ser uma decisão automática. Precisa ter uma estratégia clara para isso", aconselha Caldei-ra Pedroso.

Jeane Tsutsui, diretora-executiva de Negócios do Grupo Fleury

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No setor de transportes internacionais de cargas, tanto as companhias aéreas quanto os armadores marítimos já apresentam tarifas mais elevadas para cargas originárias da Ásia, especial-mente da China. Além disso, por conta do corona-vírus, o feriado do ano novo chinês que acabaria no dia 30 de janeiro foi prorrogado para o dia 3 de fevereiro, aumentando a inflação no momento de reservas de espaços em navios ou aeronaves em decorrência do acúmulo de cargas. Por tudo isso, o momento demanda maior esforço e energia de trabalho em todos os setores envolvidos que de-pendam de matérias-primas, ou mesmo produ-tos acabados, de origem do maior país asiático.

JOÃO MARCOS ANDRADE

ARTIGO

s efeitos do coronavírus já são sentidos em boa parte do mundo. Além das vidas perdidas, o problema se estende também aos aspectos eco-nômicos. As tratativas internacionais de comércio já estão sendo severamente atingidas em um cur-to espaço de tempo, por conta dos efeitos da glo-balização no comércio internacional. Um exem-plo é o de transportes internacionais, uma vez que os critérios de inspeção por órgãos sanitários dos países se acentuam e provocam revisões em procedimentos que há pouco eram tratados como rotina operacional e que agora precisam de novas práticas.

Qualquer negociação com regiões da China — especialmente na região de Wuhan, onde o surto da epidemia se destacou — já passam por proces-sos de revisão, várias delas, inclusive, canceladas, promovendo prejuízos e perdas significantes.

O comércio Exterior e as consequências do efeito

coronavírus

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Os critérios de

inspeção por órgãos

sanitários dos países

se acentuam e

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exemplo, já operava em queda acentuada des-de o dia 28 de janeiro. A confirmação do primei-ro caso de coronavírus no Brasil fez a Bovespa despencar, alavancando desconforto e gerando incertezas no mercado financeiro — fator nada salutar ao mercado em geral.

O câmbio também apresenta efeitos temerá-rios com índices que podem alcançar a maior alta de cotação do real frente ao dólar americano na história.

A Anvisa adotou procedimentos padrões em casos de qualquer suspeita do vírus em tripula-ção de navios ou aeronaves vindas da China e agora outros países, com rigor bem elevado, in-clusive impedindo ou paralisando as operações de navios para evitar qualquer propagação do vírus em casos de confirmação de sua presença em membros da tripulação.

As expectativas são de que o vírus seja con-tido o mais breve possível, tanto para estancar o terrível números de vítimas fatais quanto para manifestar segurança à população mais afetada e a certeza de que todos os esforços são válidos para que o vírus seja exterminado, ou diminuído ao máximo, no menor tempo possível.

*João Marcos Andrade é professor de Comércio Exterior e Global Trading no Centro Universitário Internacional Uninter

A cidade do “epicentro” do vírus concentra aproximadamente 230 das 500 maiores indús-trias da China, o que naturalmente causa efeitos devastadores no fornecimento de materiais, pois as empresas que dependem de recursos de pro-dução daquela região já estão sendo obrigadas a reformularem seus PCP’s (Planejamento e Con-trole da Produção), justamente pelos atrasos nos embarques.

Há incerteza quanto à volta e normalização das práticas logísticas, anteriormente tão comuns e ajustadas. O fato é que as bolsas de valores já sentem impactos muito pesados. A Bovespa, por

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A Anvisa adotou

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padrões em casos de

qualquer suspeita do

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vindas da China, com

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CHARGE

A Revista FEHOESP 360 é uma publicação da FEHOESP, SINDHOSP,

SINDJUNDIAÍ, SINDMOGI, SINDPRUDENTE, SIND- RIBEIRÃO, SINDSUZANO e IEPAS

Periodicidade: mensal

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Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.

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2º Diretor Tesoureiro - Paulo Roberto Grimaldi Oliveira

Diretores Suplentes - Elucir Gir, Hugo Ale-xandre Zanchetta Buani, Carlos Eduardo Lich-tenberger, Armando de Domenico Junior, Lui-za Watanabe Dal Ben, Jorge Eid Filho e Michel Toufik Awad

Conselheiros Fiscais Efetivos - Antonio Car-los de Carvalho, Ricardo Nascimento Teixeira Mendes e João Paulo Bampa da Silveira

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