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editor responsávelWellington Souza

produção editorialKalyne Vieira

projeto gráficoWellington Souza

diagramaçãoEditora Trevo

revisãoRafael Gimenez

© Lucas Assed© Editora Trevo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Índice para catálogo sistemático1. Literatura Brasileira: Poesia.2. Literatura: poesia (Brasil).

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846

[email protected]

A844p Assed, Lucas.

Palavras sem retoques / Lucas Assed. – 1. ed. – São Paulo : Editora Trevo, 2021. 92 p.; 14x21 cm. ISBN 978 65 991219 2 0

1. Poemas. 2. Poesia Brasileira. 3. Versos. I. Título. II. Assunto. III. Assed, Lucas.

cdd b869.91 20-30219015 cdu 82-1(81)

Todos os direitos desta edição reservados à editora trevorua delmar soares, 65

02635-170 são paulo – sp

À minha avó Regina Cœli, que me ensinou todas as palavras que sei, desde a primeira, que me ensinou todas as letras do alfabeto e a

amar como jamais imaginei que seria possível.

Ao meu avô Paulo Roberto, meu maior exemplo, o homem de maior fibra moral que já tive o prazer de conhecer, que me segurou

nos braços ainda quando recém-nascido.

“Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata.”

Carlos Drummond de Andrade

“De qualquer palavra profunda todos os homens são discípulos.”

Victor Hugo

“Ser poeta não é sobre saber o que dizer, mas como e por que fazê-lo.”

Lucas Assed

s u m á r i o

13 prefácio17 Sonhei com você19 Preâmbulos de uma jornada sem fim21 Reflexos23 Vento25 Detalhes27 O ser contínuo29 O Floco de Neve31 Devaneios33 A Estrada35 Espelho37 Sabiá39 As Pedras Douradas da joalheria41 Soneto à chuva42 Soneto às flores43 O escultor44 A balada da Gota d’água45 Café46 Tinta47 No banco da praça52 O sumiço de Adão54 Fuja56 Valsa57 Liberdade58 O Rondel do Navegante59 Um prólogo chamado Saudade60 Fragmentado62 Tremor64 Cinza

67 Carta ao meu eu do passado69 A ampulheta71 Cientista73 O rico 74 O conto das Três Criaturas78 Vida79 Nome82 À poética84 Ponte85 Aurora86 A cidade deserta89 Foi assim

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p r e fác i o

Caro leitor, a obra que está prestes a conhecer trata-se de in-finitamente mais que apenas palavras bem dispostas, sonoras ou belas. Tudo aqui escrito está intrinsecamente ligado a vivências, memórias e sentimentos dos mais intensos e genuínos, que venho, por meio deste livro, proporcionar em natureza de leitura àqueles que desejarem abandonar seu invólucro cotidiano e estimular-se a pensar. Ao longo de toda a escrita, minha intenção é que haja uma interação direta entre locutor e interlocutor. Desejo, pura e simplesmente, que estas palavras transcendam seu estado de dicio-nário, tornem-se cada vez mais repletas de inúmeros significados e diferentes semânticas, que derivam inteiramente da expressividade e cuidado com que foram escolhidas. A leitura aqui concebida, em breve, caro leitor, ficará inteiramente clara, que, em seus propó-sitos, o principal é estimular a reflexão e a recuperação da paixão pelas letras, muito mais do que determinar arbitrariamente inter-pretações, sentidos ou caracteres específicos a elas.

Nesta peça, busquei demonstrar que, em seu decorrer, a exis-tência pode vir a ser, muitas das vezes, ínscia; isto porque igno-ramos o verdadeiro significado de elementos cruciais em nossas vidas, e até mesmo da vida em si, que varia de um indivíduo para outro. Enganamos a nós mesmos quando nosso autoconhe-cimento é exíguo; em certas ocasiões é preciso compreender nos-sas origens, antes de tentar auferir significado ao entendimento de nós mesmos.

As palavras são um meritório exemplo disso, formaram-se derivadas de dialetos nativos, miscigenações e unificação de cul-turas, que, quando combinados, formam possivelmente a carac-terística mais importante de toda e qualquer etnia, o idioma.

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Nossas raízes nos unem a partir de nossas diferenças e indi-vidualidades, seja fisicamente ou culturalmente. Nós, humanos, somos iguais e simultaneamente diferentes. Antes de tudo, nos-sas diferenças nos fazem únicos, assim como o amor e a empatia nos tornam um só organismo.

No século XVI, durante o período de ascensão do humanismo e do antropocentrismo, no qual a classe artística era extremamente detalhista, idólatra da beleza humana, havia o intuito de represen-tá-la o mais fielmente possível. Posteriormente esse movimento foi batizado de Renascentismo. “Sem cera”, ou do original em latim, “Sine cera”, era uma das diversas técnicas utilizadas para encobrir os defeitos das obras. Consistia na aplicação de cera e lascas de pedra onde desejava-se realizar a reparação. Essa prática era extre-mamente repudiada, uma vez que, pelos princípios do movimento renascentista, o artista deveria, acima de tudo, refletir em sua obra a verdade que buscava dentro de si; ainda que houvesse imperfei-ções, a autenticidade seria incondicionalmente preservada. Essa é a expressão que deu origem à palavra que hoje conhecemos como “sincera”, e tem “sinceridade” como derivante.

Por essas razões, dentro desta obra que tenho como o feito mais importante da vida, cuja produção demandou incontáveis lágrimas e muito suor, reside o mais profundo âmago do meu eu literário. Procurei ser especialmente imagético e alegórico, a fim de expor todos os ideais aqui contidos, de tal forma que sejam os mais pessoalizados, reflexivos e tangentes à participação, tão primordial, do interlocutor neste projeto. O leitor será, funda-mentalmente, parte imprescindível e indispensável da mensagem literária aqui contida. Toda a elocução inerente a essa produção foi constituída de modo que fosse factível transmitir a originali-dade e prazer que a leitura provê a mim todos os dias, e proverá até seu fim. Palavras sinceras não precisam de retoques.

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so n h e i co m v o c ê

“Sonhei com você hoje”, eu disse, honesto, mas sem querer transparecer nervosismo algum, ou sinal de fraqueza. Meu desejo era que fosse trivial, normal, mas, afinal, sonhos não são normais, são? No fim todos sonhamos, de uma maneira ou de outra, o curio-so dos sonhos é que você é imerso num imenso lago negro e cauda-loso, profundo, que pode tanto te levar para um harmônico e lúdico oceano, ou cada vez mais fundo, onde as trevas se escondem.

No meu caso, era só um sonho, um sonho qualquer que qualquer pessoa sonha. Mas, pensando bem, não existe pessoa qualquer, e, portanto, não existe qualquer sonho. O sonho de uma criança é cheio de vida, fantasia e castelos, ou de horrores que residem na mais complexa imaginação, como o bicho-pa-pão. O interessante, entretanto, é que vivemos um momento em que, na maioria das vezes, não nos lembramos logo após vivê-los; é um enigma, sabemos que vivemos, mas nos esquecemos deles segundos após serem vividos.

O meu sonho, no entanto, era diferente, talvez fosse mais um sonho, desses que sonhamos e nos esquecemos; não, era de fato um sonho que eu não conseguia esquecer, em que eu não poderia deixar de acreditar, de perseguir. Era um sonho real, um sonho factível, uma verossimilhança externa.

Talvez, realmente, se sonhássemos, fosse possível dar ouvi-dos a nós mesmos. Por isso meu sonho era diferente, era um sonho que eu podia realizar. Meu sonho era diferente porque eu sonhei com você, mas sonhei acordado.

Fiz possível a ingenuidade em meio à falta de amor, fiz possí-vel a distinção de um só sentimento em meio a um grande caos de nossas vidas. Sonhei com você, mas não pra você. Talvez devêsse-mos falar o que por vezes pensamos e não temos coragem de dizer.

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pr e â m b u lo s d e u m a j o r n a da s e m f i m

Eu sou a tortuosa estrada sem fimNão te acanhes Faça de mimO que precisares

Não tema o agora,Nem o mais tardarPreocupa-te com o teu coração E a quem ele deseja amar

Pois espinhos, tenhoNuvens trevosasLadeiras nebulosas Que parecem sem final

Mas sem fim é só a vidaReflita sobre o honorável Pois acima do firmamentoNão há lugar para o abominável

Não temas, viajanteVós sois meu suseranoEu, teu vassalo,Lapida-me como um diamante

Constrói- me com as pedras que desejares, poisDir-te-ei que todos os caminhos levam a um fim

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Escolha o que queres, flores ou espinhosPois aquilo que plantares Também deverás colher.

Não te enganes com riquezas,Mármore, rubis, adornose brilhantes cintilantes

Falsas conquistas,Ilusões desimportantes.

Faça da tua vida, nobre transeunteA mais preciosa herança que puderes deixar

Do contrário, perderá uma lição A mais importanteDeste caminhoQue estás a passar

O importante não é receber, e sim presentear.

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re f l e xo s

Era uma vez uma história. Uma história que vagava sozinha, sem um início, meio ou fim. Por vezes, chegava ao ponto de questionar-se se seria, realmente, de maneira prática e resoluta, uma história que pudesse ser contada.

Afinal, uma história digna de ser lida deve ser aquela em que nosso coração se integra com cada palavra; cada mensagem é uma descoberta, amor e ódio devem ser experimentados ao lon-go do curso desse enorme rio chamado por nós de imaginação.

Mas essa história vivia perdida além da compreensão de qualquer pessoa. Não podia ser contada, não por qualquer pes-soa; deveria ser alguém cuja alma fosse capaz de traduzir a imen-sa gama de sentimentos, e diferentes nuances de pensamentos e emoções que essa história continha. Alguém que fosse capaz, antes de qualquer coisa, antes de tornar-se capaz de entoar essa história, de entendê-la.

Essa história, guardada a sete chaves no mais profundo ca-labouço de nossos corações, era inteligível, intocável, mas não intransmissível. Poderíamos, caso quiséssemos, alcançá-la, talvez não da forma como gostaríamos, pois sua própria forma é desco-nhecida, sua estrutura e origem são um mistério, e não há tradu-ção capaz de decifrá-la.

Essa história não é contada em letras, símbolos, hieróglifos ou o que quer que seja: ela só poderia ser lida através dos sen-timentos, os mais ingênuos e complexos, os mais profundos, os mesmos que foram capazes de criar essa mesma história.

Essa história tem muitos nomes e definições, quase indefini-das. Dependendo da perspectiva, um nome diferente, um pro-tagonista diferente, não se sabe ao certo onde ela começa, nem como termina, nem se ela termina.

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Essa história é nossa própria história, onde por vezes procu-ramos tanto, almejamos tanto, que não somos capazes nem de reconhecer nosso próprio reflexo na água, nos tornamos inócuos, sem propósito, vazios.

Finalizo com uma das melhores definições de nossa jornada interior, proposta por Arthur Schopenhauer: “A melhor de todas as maravilhas não é o conquistador do mundo, mas o dominador de si próprio”.

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ve n to

Ó vento frio,Senhor dos mares,Do farfalhar sombrioDe nossas árvores.

Zéfiro etéreo,Monumento icônico,Daquilo que é aéreo,Que observamos atônitos.

Espírito santo és,És a sorte em meio ao revés,És o prazer da solidão,Por vezes me vi em tuas mãos.

Triste sinfonia,De momentos melancólicos,Onde procuramos a sintonia,E continuamos hiperbólicos.

Exagerado vento,Abre janelas e portas,Traz a chuva e o tormento,As trevas mais nebulosas.

A tempestade consigo trazA incandescente lança,A esperança que jazDe que virá a bonança.

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Ó vento fugaz,Nunca corri de ti!Tua presença me fazTer vontade de prosseguir.

Como tua cabeleira,Teus sons cantantes,Tua presença passageira,Tua abstração apaixonante.

Ó vento frio,Sanctum da liberdade,Temoroso calafrioQue instiga santidade.

Leva-me contigoPara longe do inverno,Ó vento amigo!Para junto do pai eterno.