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18 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política Terça-feira 3 de novembro de 2015 Editora: Paula Coutinho [email protected] CPI da Funai Depois de muitas articula- ções, o deputado federal Alceu Moreira (foto), do PMDB, conse- guiu emplacar a CPI da Funai, que estava na fila há mais de dois anos. A comissão, que de- verá ser presidida por Moreira, irá investigar os critérios utili- zados pelo órgão e uma série de episódios de supostas fraudes em processos demarcatórios de áreas indígenas e quilombolas. “A Funai, com o dinheiro e a estrutura pública do governo, representa os índios, demarca as terras e ainda julga as con- testações a seu próprio trabalho. Enquanto isso, os proprietários ficam sabendo apenas quando o laudo já está pronto, sem serem avisados antes”, disse o parlamentar. Defesa dos ricos A criação da CPI foi polêmica. “Os milhões de reais do pre- sidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no exterior, na visão destes parlamentares, não apresentam nada de irregular, agora o Incra e a Funai, que possuem um pequeno orçamento para colocar em prática políticas de atendimento aos pobres des- se País, estes sim merecem serem alvos de CPI. Isso é uma ver- gonha e demonstra que parte dos parlamentares da Câmara tem o objetivo de apenas defender os ricos e poderosos”, disse o de- putado federal Marcon (PT). Corte covarde O deputado federal Heitor Schuch (PSB) atacou o relator da Comissão Mista do Orçamento, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), por querer cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família. A quantia equi- vale a 50% dos recursos do programa. “Esse corte vai atingir justamente a camada mais desprotegida da nossa população, além de ser um duro golpe nos programas de transferência e de distribuição de renda. Tem um outro setor que, até o final do se- tembro, já consumiu R$ 773 bilhões e que, provavelmente até o final do ano, deverá ultrapassar a casa de US$ 1 bilhão, que é o pagamento de juros e serviços da dívida. Infelizmente, neste nin- guém tem coragem de cortar”, afirmou Schuch. Condições do discurso A defesa da proibição do aborto feita pelo deputado federal Ronaldo Nogueira (PTB) foi por um caminho mais existencial. “Eu provavelmente não estaria aqui me manifestando em nome daqueles que me escolheram para representá-los se a minha vida não fosse garantida desde quando estive na barriga da minha mãe pelo País em que nasci”, disse o parlamentar, enquanto pe- dia a rejeição de uma série de projetos de lei que querem legalizar a prática. “Devemos levar em consideração que a concepção gera um sujeito de direitos e garantias como qualquer outra pessoa, não podendo haver distinção entre um nascituro e um já conce- bido, como eu e como você”, completou. PF confirma soltura de delator e lobista de José Dirceu Um dos delatores da Operação Lava Jato, Fernando Moura, ligado ao PT e ao ex-deputado e ex-minis- tro José Dirceu (PT), foi solto ontem, às 8h, por decisão da Justiça. A sol- tura foi confirmada pela Polícia Fe- deral (PF). Moura foi preso com Dirceu na Operação Pixuleco, des- dobramento da Operação Lava Jato, deflagrada em 3 de agosto. Em troca de benefícios da Jus- tiça, Moura fez delação premiada e revelou detalhes do esquema de corrupção instalado na Petrobras entre 2004 e 2014. No fim de se- tembro, o juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, ho- mologou a delação de Moura. A força-tarefa da Lava Jato chegou ao nome de Moura a partir da de- lação do lobista Milton Pascowitch, que atuava para a Engevix e usa- va a própria empresa, Jamp Enge- nheiros, para lavagem de dinhei- ro de propina, de acordo com a operação. No depoimento, Pascowitch re- latou ter conhecido Moura depois de a Engevix ter vencido uma lici- tação da estatal para a expansão do terminal do gasoduto de Cacim- bas 2, em 2004, no valor de R$ 1,3 bilhão. Moura disse que participou de campanhas eleitorais do PT e citou, em especial, a de 2002, quan- do o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito pela primeira vez. O papel de Moura era organizar eventos. De acordo com ele, como auxiliar do ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, ajudou a montar a equipe de governo. João Augusto Henriques procurou filho do presidente do TCU Alvo de processo no Tribunal de Contas da União (TCU), o lobista João Augusto Henriques, preso na Operação Lava Jato, procurou o es- critório de advocacia do filho do atual presidente do órgão, Aroldo Cedraz, depois que soube “dos vín- culos” que o advogado tinha no TCU. Henriques, detido na mais re- cente fase da operação, em setem- bro, disse à PF que tinha sido con- siderado responsável por irregularidades na BR Distribuidora nos anos 1990 e podia ser obrigado a ressarcir os cofres públicos. Jorge Luz, um outro lobista com atuação na Petrobras, teve a ideia de procurar Tiago Cedraz, filho do ministro Aroldo Cedraz, para ajudar a “encerrar o processo no TCU”. Tiago virou alvo de investiga- ção na Lava Jato depois de ter sido citado pelo empreiteiro Ricardo Pes- soa. O delator contou que pagava R$ 50 mil por mês ao advogado para receber informações do TCU. GUSTAVO LIMA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC Nada mudou no processo do mensalão tucano contra o ex-gover- nador Eduardo Azeredo (PSDB) des- de março de 2014, quando foi en- viado do Supremo Tribunal Federal (STF) à Justiça de Minas Gerais. A ação já saiu do Supremo pronta para julgamento, mas demo- rou um ano até chegar às mãos da juíza substituta da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte, Melissa Pinheiro Costa Lage. Na sexta-feira passada, o caso completou sete meses em suas mãos à espera de sentença. O mensalão tucano, mais anti- go e considerado um embrião do mensalão petista, é apontado pelo Ministério Público Federal como um esquema de desvio de R$ 3,5 milhões (cerca de R$ 14 milhões, corrigidos) de empresas públicas mineiras para financiar a fracassa- da campanha de reeleição de Edu- ardo Azeredo, em 1998. Em 2014, ele era deputado fe- deral e renunciou ao cargo para que o processo voltasse à primeira ins- tância, onde é possível um número maior de recursos. Com 67 anos completados em setembro, Azeredo chegará aos 70 em 2018, quando as acusações apontadas pela Procura- doria-Geral da República prescre- verão e ficarão impunes. Desde março, o ex-governador é diretor executivo da Fiemg (Fede- ração de Indústrias de Minas) e tem MENSALÃO TUCANO Processo continua parado na Justiça de Minas Gerais Eduardo Azeredo completa 70 anos em 2018 e acusação prescreverá um salário de R$ 25 mil. Ele e os outros réus do caso sempre nega- ram as acusações. A assessoria do Tribunal de Jus- tiça mineiro diz que o próximo pas- so que a juíza tomará no processo será a sentença. Desde março, ela tem frisado a extensão da ação, com 52 volumes, e diz que a decisão será tomada após a leitura de cada um. Em comparação, o mensalão petista, cujo julgamento aconteceu em 2012 pelo Supremo, tinha 147 volumes. Outro réu no mensalão tucano que tinha foro privilegiado e seria julgado no Supremo, o empresário Clésio Andrade (PMDB), renunciou ao Senado em julho de 2014. O pro- cesso de Clésio também está na 9ª Vara e pouco avançou. O depoimento do ex-senador estava marcado para julho, mas ele faltou à audiência sob a alegação de que só compareceria após o de- poimento da última de suas teste- munhas, que deve acontecer em dezembro. Um terceiro processo do mes- mo caso com oito réus, incluindo o empresário Marcos Valério Fernan- des de Souza, condenado no men- salão petista, foi desmembrado em dois após pedido da defesa do ex- -presidente do Bemge (antigo banco estatal) José Afonso Bicalho. GUSTAVO LIMA/AGÊNCIA CÂMARA/JC Ação contra ex-governador está esperando sentença há sete meses

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18 Jornal do Comércio - Porto Alegre

Política

Terça-feira3 de novembro de 2015

Editora: Paula [email protected]

CPI da FunaiDepois de muitas articula-

ções, o deputado federal AlceuMoreira (foto), do PMDB, conse-guiu emplacar a CPI da Funai,que estava na fila há mais dedois anos. A comissão, que de-verá ser presidida por Moreira,irá investigar os critérios utili-zados pelo órgão e uma série deepisódios de supostas fraudesem processos demarcatórios deáreas indígenas e quilombolas.“A Funai, com o dinheiro e aestrutura pública do governo,representa os índios, demarcaas terras e ainda julga as con-testações a seu próprio trabalho. Enquanto isso, os proprietáriosficam sabendo apenas quando o laudo já está pronto, sem seremavisados antes”, disse o parlamentar.

Defesa dos ricosA criação da CPI foi polêmica. “Os milhões de reais do pre-

sidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no exterior, navisão destes parlamentares, não apresentam nada de irregular,agora o Incra e a Funai, que possuem um pequeno orçamentopara colocar em prática políticas de atendimento aos pobres des-se País, estes sim merecem serem alvos de CPI. Isso é uma ver-gonha e demonstra que parte dos parlamentares da Câmara temo objetivo de apenas defender os ricos e poderosos”, disse o de-putado federal Marcon (PT).

Corte covardeO deputado federal Heitor Schuch (PSB) atacou o relator da

Comissão Mista do Orçamento, senador Acir Gurgacz (PDT-RO),por querer cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família. A quantia equi-vale a 50% dos recursos do programa. “Esse corte vai atingirjustamente a camada mais desprotegida da nossa população,além de ser um duro golpe nos programas de transferência e dedistribuição de renda. Tem um outro setor que, até o final do se-tembro, já consumiu R$ 773 bilhões e que, provavelmente até ofinal do ano, deverá ultrapassar a casa de US$ 1 bilhão, que é opagamento de juros e serviços da dívida. Infelizmente, neste nin-guém tem coragem de cortar”, afirmou Schuch.

Condições do discursoA defesa da proibição do aborto feita pelo deputado federal

Ronaldo Nogueira (PTB) foi por um caminho mais existencial.“Eu provavelmente não estaria aqui me manifestando em nomedaqueles que me escolheram para representá-los se a minha vidanão fosse garantida desde quando estive na barriga da minhamãe pelo País em que nasci”, disse o parlamentar, enquanto pe-dia a rejeição de uma série de projetos de lei que querem legalizara prática. “Devemos levar em consideração que a concepção geraum sujeito de direitos e garantias como qualquer outra pessoa,não podendo haver distinção entre um nascituro e um já conce-bido, como eu e como você”, completou.

PF confirma soltura de delator e lobista de José DirceuUm dos delatores da Operação

Lava Jato, Fernando Moura, ligadoao PT e ao ex-deputado e ex-minis-tro José Dirceu (PT), foi solto ontem,às 8h, por decisão da Justiça. A sol-tura foi confirmada pela Polícia Fe-deral (PF). Moura foi preso comDirceu na Operação Pixuleco, des-dobramento da Operação Lava Jato,deflagrada em 3 de agosto.

Em troca de benefícios da Jus-tiça, Moura fez delação premiadae revelou detalhes do esquema decorrupção instalado na Petrobras

entre 2004 e 2014. No fim de se-tembro, o juiz Sérgio Moro, queconduz as ações da Lava Jato, ho-mologou a delação de Moura. Aforça-tarefa da Lava Jato chegouao nome de Moura a partir da de-lação do lobista Milton Pascowitch,que atuava para a Engevix e usa-va a própria empresa, Jamp Enge-nheiros, para lavagem de dinhei-ro de propina, de acordo com aoperação.

No depoimento, Pascowitch re-latou ter conhecido Moura depois

de a Engevix ter vencido uma lici-tação da estatal para a expansãodo terminal do gasoduto de Cacim-bas 2, em 2004, no valor de R$ 1,3bilhão. Moura disse que participoude campanhas eleitorais do PT ecitou, em especial, a de 2002, quan-do o ex-presidente Luiz Inácio Lulada Silva foi eleito pela primeira vez.

O papel de Moura era organizareventos. De acordo com ele, comoauxiliar do ex-secretário-geral doPT Sílvio Pereira, ajudou a montara equipe de governo.

João Augusto Henriques procurou filho do presidente do TCUAlvo de processo no Tribunal

de Contas da União (TCU), o lobistaJoão Augusto Henriques, preso naOperação Lava Jato, procurou o es-critório de advocacia do filho doatual presidente do órgão, AroldoCedraz, depois que soube “dos vín-culos” que o advogado tinha noTCU.

Henriques, detido na mais re-cente fase da operação, em setem-bro, disse à PF que tinha sido con-siderado responsável porirregularidades na BR Distribuidoranos anos 1990 e podia ser obrigadoa ressarcir os cofres públicos.

Jorge Luz, um outro lobista comatuação na Petrobras, teve a ideia

de procurar Tiago Cedraz, filho doministro Aroldo Cedraz, para ajudara “encerrar o processo no TCU”.

Tiago virou alvo de investiga-ção na Lava Jato depois de ter sidocitado pelo empreiteiro Ricardo Pes-soa. O delator contou que pagavaR$ 50 mil por mês ao advogadopara receber informações do TCU.

GUSTAVO LIMA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC

Nada mudou no processo domensalão tucano contra o ex-gover-nador Eduardo Azeredo (PSDB) des-de março de 2014, quando foi en-viado do Supremo Tribunal Federal(STF) à Justiça de Minas Gerais.

A ação já saiu do Supremopronta para julgamento, mas demo-rou um ano até chegar às mãos dajuíza substituta da 9ª Vara Criminalde Belo Horizonte, Melissa PinheiroCosta Lage. Na sexta-feira passada,o caso completou sete meses emsuas mãos à espera de sentença.

O mensalão tucano, mais anti-go e considerado um embrião domensalão petista, é apontado peloMinistério Público Federal comoum esquema de desvio de R$ 3,5milhões (cerca de R$ 14 milhões,corrigidos) de empresas públicasmineiras para financiar a fracassa-da campanha de reeleição de Edu-ardo Azeredo, em 1998.

Em 2014, ele era deputado fe-deral e renunciou ao cargo para queo processo voltasse à primeira ins-tância, onde é possível um númeromaior de recursos. Com 67 anoscompletados em setembro, Azeredochegará aos 70 em 2018, quando asacusações apontadas pela Procura-doria-Geral da República prescre-verão e ficarão impunes.

Desde março, o ex-governadoré diretor executivo da Fiemg (Fede-ração de Indústrias de Minas) e tem

MENSALÃO TUCANO

Processo continua paradona Justiça de Minas GeraisEduardo Azeredo completa 70 anos em 2018 e acusação prescreverá

um salário de R$ 25 mil. Ele e osoutros réus do caso sempre nega-ram as acusações.

A assessoria do Tribunal de Jus-tiça mineiro diz que o próximo pas-so que a juíza tomará no processoserá a sentença. Desde março, elatem frisado a extensão da ação, com52 volumes, e diz que a decisão serátomada após a leitura de cada um.

Em comparação, o mensalãopetista, cujo julgamento aconteceuem 2012 pelo Supremo, tinha 147volumes.

Outro réu no mensalão tucanoque tinha foro privilegiado e seriajulgado no Supremo, o empresárioClésio Andrade (PMDB), renunciou

ao Senado em julho de 2014. O pro-cesso de Clésio também está na 9ªVara e pouco avançou.

O depoimento do ex-senadorestava marcado para julho, mas elefaltou à audiência sob a alegaçãode que só compareceria após o de-poimento da última de suas teste-munhas, que deve acontecer emdezembro.

Um terceiro processo do mes-mo caso com oito réus, incluindo oempresário Marcos Valério Fernan-des de Souza, condenado no men-salão petista, foi desmembrado emdois após pedido da defesa do ex--presidente do Bemge (antigo bancoestatal) José Afonso Bicalho.

GUSTAVO LIMA/AGÊNCIA CÂMARA/JC

Ação contra ex-governador está esperando sentença há setemeses