169

Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

  • Upload
    vodan

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja
Page 2: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Editorial O Centro Universitário UniAGES apresenta para a comunidade acadêmica e para a sociedade em geral a edição especial da Revista Saberes SPC 2016. Para este volume foram aceitos trabalhos de estudos relacionados à temática “Educação para os valores humanos”, bem como outros de tema livre, com ênfase em estudos sobre as ciências humanas e sociais.

Este início de século aponta para uma necessidade desafiadora: os responsáveis pela educação precisarão fazer o exercício da reflexão a partir do conhecimento das circunstâncias históricas das quais a nossa sociedade é fruto, atentando ainda para as profundas transformações políticas, sociais, econômicas, culturais e ambientais que têm nos assolado nessas últimas décadas. É competência desses profissionais, bem como dos demais envolvidos nas instituições educacionais, formar novos cidadãos que, em pouco tempo, gerenciarão os mais diversificados departamentos da sociedade brasileira.

Neste sentido, pretende-se, com esta edição, refletir acerca de como o norteamento da educação fundamentada em valores – tais como a ética, a solidariedade, o amor, a honestidade, a tolerância, o respeito e a responsabilidade – podem indicar novos rumos para o modo como pensamos e agimos nesse novo milênio.

Além deste, há também no presente volume uma significativa parcela de trabalhos produzidos por estudiosos e pesquisadores que levantam questões extremamente relevantes para as suas respectivas áreas.

Agradecemos aos autores pela colaboração neste número, bem como convidamos os leitores, sejam estudantes, pesquisadores ou docentes, para uma leitura multidisciplinar sobre os estudos relacionados à educação para os valores humanos, tendo em vista a própria complexidade que estas áreas englobam.

Ramon Ferreira

Rusel Barroso Organizadores

Page 3: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Sumário

UNIVERSIDADE E A AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR .................................................................................................2

Jayme Ferreira Bueno

ÉTICA NA CAPTAÇÃO DE TALENTOS ATRAVÉS DO E –RECRUITMENT ..........................................................................18

Silvia Manoela Santos de Jesus

ÉTICA PROFISSIONAL NO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: ELISÃO FISCAL COMO GESTÃO EMPRESARIAL E SOBREVIVÊNCIA DAS EMPRESAS.......................................................................................................................................................................26

Marcos Vinícius Gomes Reis e Graziela Alves de Amorim

RESPONSABILIDADE: A GESTÃO PÚBLICA QUANTO AOS RECURSOS HÍDRICOS NO MUNICÍPIO DE TUCANO-BA ......36

Silvia Manoela Santos de Jesus

A INSTRUÇÃO PRIMÁRIA EM PARIPIRANGA (1870-1920): QUANDO A ESCOLA NÃO TINHA PROFESSOR, E O PROFESSOR NÃO TINHA ESCOLA ........................................................................................................................................................................................46

Ana Maria Ferreira de Oliveira

USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL NO CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES ....................57

Francielly Vieira Fraga e Fernando Santana Santos

BOAS AÇÕES: A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA PARA FORMAÇÃO DE UMA LIDERANÇA SUSTENTÁVEL .................65

Thales Brandão

USANDO JOGOS CONFECCIONADOS COM MATERIAS RECICLICLADOS PARA ENSINAR MATEMÁTICA .................... 74

Creilson de Jesus Conceição, Renilson Andrade Costa e Helena Tavares de Souza

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ..............................82

Francielly Vieira Fraga, Babara Bispo de Santana e Paulo Thomaz Oliveira Felix

POLUIÇÃO HIDRICA: UM ALERTA SOCIAL, ÉTICO E ECOLÓGICO .................................................................................87

Vanessa Cruz dos Santos e Daniel Delgado Queissada

TRATAMENTOS BIOLÓGICOS DE CHORUME: AÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE, VALORIZAÇÃO DA VIDA E DOS VALORES HUMANOS ....................................................................................................................................................................106

Maria da Paz Oliveira de Santana, Cristinaldo da Conceição Soares, Jamile Santos Amorim, Juliana de Jesus Santos e Daniel Delgado Queissada

A FUNÇÃO SOCIAL E DESAPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL RURAL PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA ............................114

José Lucas Rodrigues de Oliveira

A IDEOLOGIA PUNITIVISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO E SEUS EFEITOS ......................................................................124

José Lucas Rodrigues de Oliveira

O DIREITO À SAÚDE E SUA JUDICIALIZAÇÃO ...............................................................................................................140

José Lucas Rodrigues de Oliveira

PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO: A RECATEGORIZAÇÃO E O GÊNERO CRÔNICA ......................................................150

Deborah Andrade Leal e Mateus Andrade Silva

UM OLHAR PARA O PAPEL SOCIAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA CONTEMPORÂNEA .........................................................160

Nívia Mirella N. Meireles e Thais Almeida Purificação

ANALISAR O PERFIL E COMPORTAMENTO DE COMPRA DOS ALUNOS INGRESSANTES 2015.2 DOS CURSOS DE LICENCIATURA DA FACULDADE X DE PARIPIRANGA (BA) ..............................................................................................................................................163 Graziela Alves de Amorim e Marcos Vinícius Gomes Reis

Page 4: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 2

UNIVERSIDADE E A AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR

Jayme Ferreira Bueno*

RESUMO: Este artigo tem como foco principal a

avaliação da instituição universidade e do ensino

superior. Subsidiariamente, abordará temas como a

história da universidade e a evolução da avaliação, como

meio de aperfeiçoamento da educação. Nele, serão

comentadas as principais iniciativas no sentido de

romper a resistência apresentada pelas Instituições de

Ensino Superior à ideia de serem elas suscetíveis de

avaliação, considerando-se que mantinham a

proclamada autonomia universitária. Enfoca-se também

de passagem aspectos da avaliação da instituição e do

curso de Letras da Faculdade, atualmente, Centro

Universitário UniAGES.

PALAVRAS-CHAVE: Universidade. História da universidade.

Avaliação da universidade. Avaliação da Educação

Superior. Centro Universitário UniAGES.

RESUMEN: Este artigo tiene como foco principal la

evaluación de la institución universidad y de la enseñanza

superior. Subsidiariamente, abordará temas como la

historia de la universidad y la evolución de la evaluación,

como medio de perfeccionamiento de la educación. En

ello, serán comentadas las principales iniciativas en el

sentido de romper la resistencia presentada por las

Instituciones de la Enseñanza Superior a la idea de ser

ellas susceptibles de evaluación, considerando-se que

mantenían la proclamada autonomía universitaria.

Enfoca-se también de pasaje aspectos de la evaluación

de la da institución y del curso de Letras de la Facultad,

actualmente, Centro Universitario UniAGES.

PALABRAS-LLAVE: Universidad. Historia de la universidad.

Evaluación de la universidad. Evaluación de la Educación

Superior. Centro Universitário UniAGES.

*Doutor em Letras pela USP – Universidade de São

Paulo, professor da UFPR e da PUC/PR. Foi membro

de Comissões de Avaliação no MEC de 1998 a 2006.

Page 5: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 3

I - INTRODUÇÃO

Este artigo foi escrito especialmente para a

Revista Saberes, do Centro Universitário UniAGES,

da cidade de Paripiranga, na Bahia. Dentro de

seus estreitos limites de espaço e de

profundidade, tem por fim apenas apontar para o

conhecimento da universidade como instituição

de ensino superior na história do mundo

ocidental e, mais recentemente, em nosso país,

principalmente enfocando a avaliação da

educação superior no Brasil.

A universidade em todos os tempos, desde

que surgiu, é uma das entidades de maior

reconhecimento público. É procurada e

respeitada por estudantes, professores,

autoridades e por pessoas em geral. Sempre foi e

continua a ser um sonho de todo jovem

estudante ingressar em uma universidade, fazer

um curso superior, receber um diploma, obter

uma profissão.

Atualmente, as Instituições de Ensino

Superior, as chamadas IES, dividem-se, de modo

geral e de forma mais conhecida, em Faculdades,

Centros Universitários e Universidades,

propriamente ditas. Essa classificação depende

dos objetivos e do alcance de atuação de cada

uma das instituições em particular.

Assim, classicamente, as Faculdades são

mais direcionadas ao ensino, e sua atuação não

prevê necessariamente grandes compromissos

com a pesquisa e com a extensão. O Centro

Universitário, por sua vez, já assume uma feição

de entidade que deve promover a pesquisa e a

extensão, embora em grau inicial, para gerar o

próprio conhecimento e buscar a melhoria da

sociedade e da região em que se situa. A

Universidade, como escala mais elevada, deve

voltar-se precipuamente à pesquisa, de

preferência, à pesquisa de ponta, em seus

programas de pós-graduação, nos cursos de

mestrado e de doutorado. A extensão deve

abranger amplo campo de experiência para a

própria instituição e para a melhoria de sua área

de atuação, assumindo um caráter de

responsabilidade social.

Outro aspecto a ser aqui enfocado, como

anunciamos, será o da avaliação do ensino

superior e da avaliação institucional. Ambas

constituem parâmetros de aferição da qualidade

de determinada instituição de ensino. A

avaliação, modernamente, tem se constituído em

pilar da própria educação. É ela que garante o

bom e o perfeito funcionamento de um curso ou

de um a instituição. Sem ela, o barco institucional

poderia ficar à deriva.

II - A UNIVERSIDADE

A universidade como instituição de ensino,

embora de caráter particular, surgiu na Idade

Média, uma época teocêntrica em que tudo

dependia da aprovação do clero católico para

funcionar. De certo modo, portanto, essa

instituição nasceu à sombra da Igreja Católica. Daí

possuir ela essa aura de entidade universal

(universitas). Exatamente por esse motivo o título

de universidade sempre esteve ligado à ideia de

universalidade, o mais amplo, o superior, o que

abrange o todo. Nela, desenvolveram-se os

estudos das leis, da medicina, da astronomia, da

lógica. Desses ramos básicos do saber, a

universidade, ao longo do tempo, passou a

desenvolver outros: pelo caráter teocêntrico, a

teologia; a filosofia, derivada da antiga lógica; e,

mais tarde, a química, nascida da antiga alquimia;

Segundo narra a história, a primeira

universidade, consagradamente aceita em nosso

mundo ocidental é a Universidade de Bologna.

Situada na cidade que lhe dá o nome, no norte da

Itália, foi fundada ainda no séc. XI, no ano de

1088. Portanto, em plena e alta Idade Média. Ela

foi o berço das Humanidades e do Direito,

principalmente o Direito Civil e, um pouco mais

Page 6: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 4

tarde, do Direito Canônico. Um de seus

fundadores e também professor, Irnério, foi

cognominado Lucerna Iuris, a “Luz do Direito”

(DIZIONARIO BIOGRAFICO DEGLI ITALIANI, verbete

Irnério, 2004).

Há registros que indicam a existência de

universidades anteriores a esta no mundo

oriental. Conhecidas e aceitas seriam, pelo

menos, três: uma no Marrocos, na cidade de Fez,

do séc. IX, ano de 859; outra no Egito, do séc. X,

fundada entre os anos de 970 e 972; e a terceira,

uma que ficava em território que hoje pertence

ao Irã, esta do séc. XI, ano de 1065.

A primeira Universidade do Ocidente, a de

Bologna, assumiu tamanha importância e

respeito na própria cidade-sede, como em toda a

Itália. Em reconhecimento ao elevado papel que

desempenhava no campo do saber, o Imperador

Frederico I, no ano de 1158, promulgou uma lei,

na realidade seria mais um regimento, a

Constitutio Habita, que elevava a Universidade de

Bologna a uma espécie de Cidade-Estado. Assim,

ela se encontrava protegida de pressões e de

políticas externas. Era, portanto, independente e

soberana.

Até os nossos dias, é grande a fama dessa

Universidade. É conhecida como a Alma Mater

Studiorum, ou seja, a “Alma-Mãe dos Estudos”.

(UNIVERSITÀ DI BOLOGNA, 2016). Por ela passaram

os mais afamados professores das diferentes

ciências. Como exemplo, e para ilustrar, até

recentemente, quando veio a falecer, nela

lecionava o grande linguista, semiólogo e escritor

italiano Umberto Eco. Ele era titular da cadeira de

Semiologia, assim conhecida pelos europeus,

ciência que as correntes norte-americanas

denominam Semiótica.

Tanto a de Bologna, quanto as duas outras

que se seguiram, a Universidade de Paris, na

França, e a Universidade de Oxford, na Inglaterra,

pertencem a esse mesmo séc. XI, mas de 1096,

respectivamente. As que se seguiram: a

Universidade de Montpellier, na França; a de

Cambridge, na Inglaterra; e a de Salamanca, na

Espanha, surgiram já em séculos posteriores.

É bom lembrar que Portugal teve a sua

Universidade muito cedo no contexto dos países.

A Universidade de Coimbra é do séc. XIII, 1290, e

foi fundada pelo rei e poeta D. Dinis. Esta foi a

que formou os primeiros legisladores e letrados

brasileiros, no período colonial do nosso país e

depois no séc. XIX. Lembra-se, por exemplo, de

Gonçalves Dias, que lá, naquela cidade, escreveu

o poema dos mais conhecidos da literatura

brasileira, a Canção do Exílio, aquela que se inicia

com os versos “Minha terra tem palmeiras / Onde

canta o sabiá...”.

No Brasil, infelizmente, só viemos a ter os

primeiros cursos superiores, principalmente de

Direito, apenas no séc. XIX. Em 1827, D. Pedro I

fundou as Faculdades Jurídicas, uma em São

Paulo, e outra em Olinda. Esta última mais tarde

foi transferida para Recife. Algumas experiências

anteriores, ou eram instituições portuguesas, ou

cátedras isoladas, sem o caráter de faculdades,

como algumas que funcionaram no Rio de Janeiro

e na Bahia.

Até o aparecimento da República, em 1889,

havia no Brasil apenas 24 instituições de ensino

superior, e os estudantes não passavam de

10.000. Com a abertura republicana da

Constituição de 1891, começaram a surgir

iniciativas privadas. De modo geral, foram

realizações de algumas classes sociais, ou de

determinadas confissões religiosas,

principalmente as católicas. Mas quem de fato

saiu à frente nessa empreitada foi a Igreja

Presbiteriana de São Paulo, que criou, em 1896,

os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Elétrica

e Engenharia Mecânica. Esses cursos deram

origem à atual Universidade Mackenzie. Desde

então, começou a grande expansão do ensino

superior no Brasil.

Page 7: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 5

Nos anos de 1920, já eram 133 as escolas

superiores particulares. Mas há de se notar

também o aparecimento da primeira

universidade brasileira, em 1912: a Universidade

do Paraná, com funcionamento em Curitiba. A

Universidade de São Paulo, a maior do Brasil, só

veio a aparecer em 1934. Esta, porém, surge

bastante completa, como resultado de um amplo

planejamento e importação de professores

estrangeiros para as diferentes áreas do saber.

Algumas outras iniciativas de criação de

universidades foram: Universidade do Rio de

Janeiro, de 1920, e a Universidade de Minas

Gerais, criada 1927. Mas a primeira que surgiu

realmente como um conceito e com estrutura

propriamente universitária, foi a Universidade de

São Paulo, a conhecida USP.

E o diferencial mais importante desta nova

instituição é que a Universidade de São Paulo

iniciou suas atividades de ensino com vários

cursos distribuídos por diversas faculdades. E

tanto as faculdades quanto esses cursos se

encontravam devidamente estruturados,

funcional e institucionalmente. E, para isso, conta

muito a experiência de professores e intelectuais

trazidos de outros países, principalmente, da

França e de Portugal.

Assim, a USP iniciou suas atividades, em

1934, com as seguintes faculdades e seus

respectivos cursos: 1. Faculdade de Direito; 2.

Faculdade de Medicina; 3. Faculdade de

Farmácia e Odontologia; 4. Escola Politécnica; 5.

Instituto de Educação, transformada em 1969 em

Faculdade de Educação; 6. Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras; 7. Instituto de Ciências

Econômicas e Comerciais, que, em 1940,

transformou-se na Faculdade de Ciências

Econômicas e Administrativas; 8. Escola de

Medicina Veterinária, evolução do antigo

Instituto de Veterinária; 9. Escola Superior de

Agricultura “Luiz de Queiroz”, que funciona em

Piracicaba, no estado de São Paulo; e 10. Escola

de Belas Artes.

III - A AVALIAÇÃO DA UNIVERSIDADE BRASILEIRA

Como vimos brevemente, a universidade

nasceu e prosperou sob uma aura de

independência e até mesmo de soberania

absoluta. Modernamente, esse aspecto se

transformou em outro conceito, o da autonomia

da universidade. E por ele se considera que nada

pode e deve interferir na instituição universitária.

Qualquer ação que vise, ou visasse, atingi-la

sempre foi e é considerada uma agressão à

independência da universidade.

Porém, com o avançar do tempo e as

consequentes mudanças na sociedade, a

universidade teve também de, aos poucos,

adequar-se. Começaram a surgir então os

primeiros movimentos no sentido de avaliar a

universidade.

E talvez o primeiro desses movimentos, no

Brasil, tenha sido o Grupo de Trabalho para a

Reforma Universitária de 1968. Esse Grupo faz

um amplo levantamento sobre as condições e as

necessidades de aumentar o número de

matrículas no ensino superior. O objetivo era

fazer o Brasil acompanhar as tendências que

obtinham sucesso em outros países com o que os

críticos chamam de massificação do ensino

superior.

Por ter surgido na década de 1960 e,

portanto, em pleno regime militar, todo o

Programa de Avaliação da Reforma Universitária

sofre duras críticas. Autores condenam o fato de

se querer buscar a modernização e a eficiência da

universidade, sujeitando a educação brasileira a

um modelo produtivista”. Ainda, segundo tais

autores, inicia-se assim uma noção que perdura

fortemente na atualidade, que é comparar as

Page 8: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 6

funções e as atividades de uma universidade

àquelas de uma empresa. Os mais conservadores

veem isso como um defeito e não uma qualidade

do ensino superior. É a crítica daqueles que se

voltam contra o liberalismo na educação,

principalmente na superior.

Relacionam-se, a seguir, os principais

programas:

1. PARU – Programa de Avaliação da

Reforma Universitária

Depois dessa primeira manifestação, ou

seja, o Grupo de Trabalho para a Reforma

Universitária de 1968, há um interregno de

aproximadamente 20 anos, para o surgimento de

outras propostas de avaliação da universidade

brasileira. Em 1983, surge o PARU – Programa de

Avaliação da Reforma Universitária. Embora

parecesse uma iniciativa promissora, logo em

seguida o Programa foi desativado.

Mesmo assim, Gladys Beatriz Barreyro e

José Carlos Rothen, no ensaio Para uma História

da Avaliação da Educação Superior Brasileira:

análise dos documentos do Paru, Cnres, Geres e

Paiub, consideram esse Programa como o

precursor de outros que vieram a surgir, como o

PAIUB e o SINAES, e que inauguraram, segundo

esses autores, a concepção de avaliação

“formativa e emancipatória” (BARREIRO e

ROTHEN, 2008, p. 131-152).

2. COMISSÃO DE NOTÁVEIS

Foi por esse nome que se tornou conhecida

a Comissão Nacional de Reformulação da

Educação Superior, surgida em 1985, no Governo

José Sarney. A Comissão era composta por 24

membros das mais diferentes instituições e

entidades:

1. Caio T.S P. de Vasconcelos, Presidente,

membro do Conselho Federal de Educação; 2.

Amílcar Tupiassu, professor da Universidade

Federal do Pará; 3. Bolívar Lamounier, professor

da USP e PUC-SP; 4. Carlos Nelson Coutinho,

professor das Faculdades Integradas Benett; 5.

Clementino Fraga Filho, do Hospital Universitário

da UFRJ; 6. Edmar Lisboa Bacha, Professor na PUC-

RJ e presidente do IBGE; 7. Eduardo de Lamonica

Freira, Reitor da UFMT; 8. Fernando J. Lessa

Samento; Pró-reitor da UFBA; 9. Francisco Javier

Alfaya, estudante; 10. Guiomar Namo de Mello,

Professora na PUC-SP e Secretária de Educação do

Município de São Paulo; 11. Haroldo Tavares,

Empresário, ex-Diretor da Escola de Engenharia da

UEMaranhão; 12. Jair Pereira dos Santos, Ex-

Diretor do DIEESE, sindicalista; 13. Jorge Gerdau

Johanpeter, empresário, presidente do Grupo

Gerdau; 14. José Leite Lopes, Professor na UFRJ e

presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas

Físicas; 15. José Arthur Gianotti, Professor da USP

e presidente do CEBRAP; 16. Dom Lourenço de

Almeida Prado, Professor de Filosofia e Teologia

no Mosteiro de São Bento, Rio de janeiro; 17. Luiz

Eduardo Wanderley, Reitor da PUC-SP; 18. Marly

Moysés Silva Araújo, Secretaria de Educação de

Minas Gerais; 19. Paulo da Silveira Rosas,

Professor da UFPE; 20. Roberto Cardoso de

Oliveira, Professor na UNICAMP; 21. Romeu Ritter

dos Reis, Presidente da Sociedade de Educação

Ritter dos Reis, de Porto Alegre; 22. Simon

Schwartzmann (relator), professor e diretor do

IUPERJ; 23. Ubiratan Borges de Macedo, membro

do Conselho Federal da Cultura e professor na

UFPR; e 24. José Eduardo Campos de Oliveira

Faria, assessor da Presidência do Banco Itaú,

posteriormente nomeado. (MEC, 1985).

Essa Comissão apresentou o documento

intitulado Uma Nova Política para a Educação

Superior, que destacava como grave problema da

educação superior no Brasil a falta de parâmetros

para se saber como ela se situava no contexto da

educação brasileira.

Esse ambicioso documento previa

“avaliação dos cursos, avaliação dos alunos,

avaliação dos professores, avaliação didático

pedagógica do ensino, avaliação dos servidores

técnicos e administrativos, e avaliação das

carreiras”. Foi talvez o primeiro passo mais bem

embasado e que demonstrava firme vontade no

sentido de se alterar os rumos da educação

superior no Brasil. Mas, talvez, pela dificuldade de

ser implantado e gerenciado, no sentido de

Page 9: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 7

colocá-lo em prática, foi logo modificado pelo

movimento seguinte, o GERES;

3. GERES – Grupo Executivo para a

Reformulação da Educação Superior

Simultaneamente ao PARU, interligada à

Comissão de Notáveis, já referida, instalou-se em

1985, no Governo Sarney, sendo ministro da

Educação, Marco Maciel, a Comissão Nacional de

Reformulação do Ensino superior – CNRES. Essa

Comissão tinha a atribuição de “propor uma nova

política da educação superior” e, dentre outros

importantes temas da educação superior, previa

também a avaliação da universidade,

considerando-se uma nova feição para educação,

que deveria tronar-se redemocratizada,

renovada, considerando-se a instauração da Nova

República.

Na visão da CNRES, a avaliação da

universidade foi concebida como contraponto à

sua autonomia. Assim, os resultados da avaliação

passariam a vincular a educação a programas de

incentivo, como o FIES. E para operacionalizar as

propostas vindas do CNRES, foi instituído em

1986 o Grupo Executivo para a Reformulação da

Educação Superior – GERES. Para este Grupo, a

universidade não deve ser o único modelo de

instituição do ensino superior desejável. Deve

haver outras que cumpram a mesma função. E ia

além. Defendiam que a universidade, pelo

privilégio de autonomia, deveria, sim, prestar

contas de suas atividades, pois a autonomia da

universidade seria “uma concessão da sociedade

em troca de altos padrões de qualidade no

desempenho institucional. A sociedade, que

financia a universidade, teria o direito de exigir a

prestação de contas da aplicação dos recursos e

do desenvolvimento do ensino e da pesquisa”

(Documento do CNRES). Por isso, ela deveria ser

avaliada, e por órgãos externos a ela.

Por outro lado, e opondo-se ao conceito de

autonomia da universidade, veio à tona na

modernidade, corroborando a necessidade de

avaliação na universidade, outro conceito muito

forte na sociedade, que é o da transparência. As

instituições e os órgãos com que nos

relacionamos devem ser transparentes, para

serem críveis. Portanto, na atualidade, não basta

uma instituição parecer acreditável. Ela tem que

provar que realmente o é.

Tal situação de credibilidade só pode ser

demonstrada por intermédio de algum tipo de

avaliação, quer as internas, mas

preferencialmente as externas. Estas realizadas

por algum órgão sério externo à instituição de

ensino. Assim, aos poucos, a universidade teve de

abandonar a ideia de que a avaliação seria uma

forma de intromissão em sua autonomia, ou de

controle de suas atividades. E, como

consequência, deveria aceitá-la como algo que

vinha para ajudar a sua imagem e torná-la

transparente.

Em setembro de 1986, esse Grupo

Executivo fez publicar um minucioso relatório,

que enfocava vários problemas-chave da

educação superior brasileira, questionando o

próprio Sistema de Educação Superior,

Autonomia e Avaliação; Conselho Federal de

Educação; Gestão da Universidade; e o

Financiamento.

Foi considerada uma proposta

intervencionista e, por esse motivo, o GERES

sofreu forte crítica pelas associações de docentes

e pelos próprios professores individualmente.

Fragilizado, o Grupo Executivo não encontrou

forças e meios suficientes para implantar algum

sistema de avaliação pela total falta de apoio,

inclusive institucional;

4. PAIUB – Programa de Avaliação

Institucional das Universidades Brasileiras

Este Programa surgiu no âmbito do próprio

MEC – Ministério da Educação, em 1993. Por

Portaria da SESu – Secretaria de Educação

Superior, foi criada a Comissão Nacional de

Page 10: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 8

Avaliação das Universidades Brasileiras.

Concentrava-se na SESu e era por ela gerida.

O documento elaborado por essa Comissão

se denominava Programa de Avaliação

Institucional das Universidades Brasileiras. Daí, a

sigla PAIUB. Ao contrário de outras, esta procurou

reunir entidades representativas da educação

superior e tinha por objetivo principal, de acordo

como o seu art. 1.º: “estabelecer diretrizes e

viabilizar a implementação do processo de

avaliação institucional nas universidades

brasileiras” (MEC, 1993).

Talvez tenha sido ela a primeira tentativa a

alcançar certo êxito, por contar com o apoio da

comunidade acadêmica. Assim, prosperou e

chegou a constituir marco na história da avaliação

da universidade brasileira.

Depois do PAIUB, a noção de se avaliar a

universidade e a educação superior ganhou

corpo. E, e eu diria, que a própria aceitação pela

universidade de se autoavaliar se consolidou.

Assim, vários outros programas ou sistemas de

avaliação começaram a aparecer. Mas agora, já

estávamos em plenos e avançados anos de 1990.

IV – EXPERIÊNCIA PESSOAL EM PROGRAMAS DE

AVALIAÇÃO DA UNIVERSIDADE E DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR

Como professor do ensino médio,

primeiramente, e depois professor de

universidade particular, eu já havia passado por

vários programas de avaliação. Inicialmente,

foram os Exames de Admissão, lá pelo início dos

anos de 1960. Depois, vieram os Exames

Vestibulares na PUCPR. Portanto, essa função não

iria me pegar de surpresa.

As atividades desenvolvidas e

desempenhadas por professores em uma

instituição privada são muito diferentes daquelas

que os docentes das universidades públicas

exercem. Os das públicas se dizem e se

consideram mais intelectualizados, mais voltados

para a pesquisa. Segundo eles, nós professores

das particulares somos mais burocráticos.

Ciente da minha capacidade tanto na área

da pesquisa, da extensão e do ensino, nunca dei

atenção a essas manias de colegas do magistério.

Sempre procurei exercer minhas atividades com

empenho, lisura e determinação. E foi isso que

procurei fazer também no MEC/SESu e depois no

MEC/INEP, pois participei nesses dois setores em

diferentes programas de avaliação da educação

superior.

SESu/MEC – Comissão de Especialistas em

Ensino de Letras

Em 1997, fui nomeado para a Comissão de

Especialistas no Ensino de Letras, um novo

programa de avaliação de cursos e de instituições

que surgiu no âmbito da SESu. A Portaria

SESu/MEC n.º 146 da nomeação, porém só foi

publicada em 10 de março de 1998. As Comissões

de Especialistas dos diferentes cursos haviam sido

criadas um pouco antes, mas não haviam sido

instaladas, ou por falta de designação de seus

membros, ou por falta de apoio das

universidades, que deviam indicar professores

para delas participarem. A devida efetivação só

veio a acontecer por volta de 1995. Mas, mesmo

oficializadas, elas pouco funcionaram, não sei se

por culpa das instituições, ou do MEC, ou mesmo

por culpa dos próprios membros que a

constituíam.

Quando a nossa Comissão assumiu no início

de 1998, praticamente, todos os membros da

Comissão anterior haviam se demitido. Ficara

apenas o presidente, um professor de Linguística

da Universidade Federal de Pernambuco, que

respondia pela Comissão, mas sem comparecer a

Brasília, apenas a distância.

Page 11: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 9

A Comissão de que tomei parte e a qual tive

a honra de presidir, designada pela Portaria

SESu/MEC n.º 146/98, estava assim constituída:

1. Jayme Ferreira Bueno - Presidente -

Pontifícia Universidade Católica do

Paraná;

2. Denise de Aragão Costa Martins -

Secretária - Universidade de Brasília;

3. Veronika Benn-Ibler - Universidade

Federal de Minas Gerais;

4. Maria Bernadete Marques Abaurre -

Unicamp

5. Ana Zandwais – Universidade Federal do

Rio Grande do Sul.

Éramos todos professores com um vasto

currículo na educação superior e que havíamos

nos destacado em nossas respectivas

universidades. O único membro de universidade

particular era eu. E, por esse motivo, ao início,

percebi certa desconfiança quanto à minha

capacidade frente à Comissão. Mas não demorou,

para as minhas colegas perceberem que eu não

estava ali por acaso. Eu mostrara a elas de que eu

era capaz e a que vinha.

Superada essa fase inicial, lançamo-nos ao

trabalho, eu à frente. Pouca informação nós

havíamos recebido. Apenas fomos encaminhados

a uma sala de uns 4 x 4 metros completamente

cheia de processos, que subiam do piso ao teto.

Não havia praticamente lugar para nos instalar.

Começou então a nossa tarefa: despachar o

máximo daqueles processos, pelos quais as

instituições requerentes aguardavam ansiosas.

Ao início, éramos convocados, ao menos

duas vezes por mês, quando permanecíamos em

Brasília pelo menos três dias em contínuas

reuniões de trabalho. A cada reunião, a pilha de

processos diminuía a olhos vistos. Nós

analisávamos e emitíamos pareceres sem parar.

Eram solicitações para autorização ou para

reconhecimento de cursos de Letras.

E no meio dessa imensa quantidade de

processos, havia um perdido por lá. Era uma

solicitação para curso de Letras em uma

denominada Faculdade AGES, de Paripiranga, na

Bahia. Confesso que nunca ouvira falar nesse

lugar, nem fazia idéia de onde fosse. Como

muitos colegas não gostavam de se deslocar para

lugares pequenos e desconhecidos, assumi eu

mesmo a responsabilidade de visitar essa cidade

de nome estranho. Olhei no mapa e percebi que

ficava mais próxima de Aracaju, em Sergipe, do

que de Salvador, na Bahia.

Convoquei uma colega, professora de Inglês

da PUCPR de Curitiba, Cláudia Marina Riva de

Paiva, e viajamos para lá quando autorizados pelo

mantenedor, que, inicialmente, havia criado uma

série de pequenos problemas: por que uma

comissão de tão longe; por que gastar tanto com

passagens aéreas e ainda ter de ir buscar em

Aracaju, dentre outras. Mas tudo, com paciência,

foi sendo explicado, e as questões, devidamente

aplainadas.

Voltei ainda mais uma vez a Paripiranga,

dessa vez para verificar as condições para

reconhecimento do curso de Letras. A Comissão

Verificadora de 2005 era composta por mim e

pela professora Raquel Illescas Bueno da UFPR.

Nessa oportunidade, o curso de Letras - na

habilitação Português e Literaturas da Língua

Portuguesa - recebeu parecer favorável,

devidamente encaminhado ao MEC.

Oficialmente, a autorização do curso se deu

pela Portaria MEC n.º 389, de 5 de março de

2001, como se comprova pela transcrição abaixo:

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

GABINETE DO MINISTRO

Portaria MEC n.º 389, de 05 de março de 2001

O Ministro de Estado da Educação, usando da

competência que lhe foi delegada pelo Decreto

n.º 1.845, de 28 de março de 1996, e tendo em

vista o Parecer n.º 150/2001, da Câmara de

Educação Superior, do Conselho Nacional de

Educação, conforme consta do Processo nº

Page 12: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 10

23000.003151/2000-23, do Ministério da

Educação, resolve:

Art. 1.º Autorizar o funcionamento do curso de

Letras, licenciatura plena, com a habilitação

Português e Literaturas da Língua Portuguesa, a

ser ministrado pela Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais, mantida pela AGES

Empreendimentos Educacionais S/C Ltda., ambas

com sede na cidade de Paripiranga, no Estado da

Bahia.

Art. 2.º Esta Portaria entra em vigor na data de

sua publicação.

PAULO RENATO SOUZA (AGES. Curso de Letras,

2016).

E esse mesmo curso e na mesma habilitação

foi reconhecido em 17 de outubro de 2005,

conforme Portaria a seguir transcrita:

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

GABINETE DO MINISTRO

PORTARIA N.º 3.634, DE 17 DE OUTUBRO DE

2005.

O Ministro de Estado da Educação, Interino,

usando da competência que lhe foi delegada pelo

Decreto no 3.860, de 9 de julho de 2001, alterado

pelo Decreto no 3.908, de 4 de setembro de 2001,

e tendo em vista o Despacho no 1554/2005, da

Secretaria de Educação Superior, conforme consta

do Processo nº 23000.015892/2003-08, Registro

SAPIEnS nº 20031008932, do Ministério da

Educação, resolve:

Art. 1o Reconhecer o curso de Letras, licenciatura,

habilitação em Português e Literaturas da Língua

Portuguesa, com 150 (cento e cinquenta) vagas

totais anuais, nos turnos diurno e noturno,

ministrado pela Faculdade de Ciências Humanas e

Sociais, no Parque das Palmeiras, n.º 23, Bairro

Centro, na cidade de Paripiranga, Estado da Bahia,

mantida pela AGES Empreendimentos

Educacionais S/C Ltda., com sede na cidade de

Paripiranga, Estado da Bahia.

§ 1.º O reconhecimento a que se refere esta

Portaria é válido exclusivamente para o curso

ministrado no endereço citado neste artigo.

§ 2.º A renovação do reconhecimento do curso

referido nesta Portaria se dará nos termos do

disposto na Portaria Ministerial nº 2.413, de 07 de

julho de 2005.

Art. 2.º Esta Portaria entra em vigor na data de

sua publicação.

JAIRO JORGE DA SILVA (AGES. Curso de Letras,

2016).

O que se seguiu é de conhecimento dos

dirigentes e de muitos professores e mesmo de

alunos da AGES, que nasceu, cresceu, frutificou e

continua a formar pessoas e a dar trabalho para

muitos brasileiros. A empresa - e a educação é

campo fértil - pode desenvolver políticas de

responsabilidade social. E é o que tem feito esta

Instituição de Ensino Superior, agora elevada a

Centro Universitário.

Note-se que das aproximadas 50

instituições visitadas por mim no Sistema SESu,

uma foi a Faculdade AGES. Pode ter sido apenas

uma coincidência, mas coincidência que se

transformou em amizade com seus

administradores e admiração pelo projeto que

prosperou. O Parque das Palmeiras, que nem

pertencia ainda a AGES, e que foi apresentado

como futuro campus, mas que, em realidade era

apenas um sonho, esse sonho tornou-se

realidade. Hoje aquele parque abandonado é

sede deste Centro Universitário. Transformação

de sonho em realidade. É isso que engrandece os

empreendimentos.

Mas as nossas funções na Comissão de

Especialistas em Ensino de Letras não se

restringiam a autorizar ou reconhecer cursos.

Participávamos ativamente na elaboração de

documentos para avaliação. Na época,

praticamente, nada havia. Nós deixamos uma

gama extensa de formulários e de técnicas

inovadoras na avaliação de cursos e de

instituições: minuta para as atuais Diretrizes do

Curso de Letras, que foram aprovadas pelo

Conselho Federal de Educação, sem nenhuma

restrição; formulário de Avaliação para

Autorização de Cursos de Letras, que vigorou por

muito tempo; formulário para Avaliação para

Reconhecimento de Cursos de Letras, também

Page 13: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 11

por muito tempo adotado; primeira avaliação

total dos Cursos de Letras em todo o Brasil, o

maior e mais importante projeto de avaliação já

realizado para avaliar cursos no Brasil.

As Diretrizes Curriculares do Curso de

Letras, ainda em vigor, são uma mostra de nossa

participação na orientação dos cursos dessa área

do saber. A proposta que encaminhamos ao

Conselho Federal de Educação foi aprovada em

sua totalidade. Ainda se comentou no âmbito do

MEC, que foi a Comissão de Letras aquela que

melhor soube interpretar o espírito das Diretrizes

Curriculares, quando nos foi solicitado o envio de

contribuições para o estabelecimento desse

importante guia do futuro perfil do curso e dos

docentes de Letras.

Eu permaneci na presidência da Comissão

de Especialistas até 2003, quando todos nós

fomos substituídos por outros membros. Houvera

mudança na SESu, e o novo Secretário, ex-reitor

da UFMG, resolveu levar professores de sua

Universidade e do estado de Minas Gerais para lá.

É o que acontece com administradores que levam

mais a sério a função política do que a

administrativa. Mas eu já me encontrava, desde

1999, na Comissão de Especialistas em Letras do

ENC- Exame Nacional de Cursos, o Provão, do

MEC/INEP. Mais tarde, integrei a CTA - Comissão

Técnica de Avaliação, também do MEC/INEP.

Continuei em Brasília até o ano de 2006 e tive

ainda a oportunidade de ver surgir e ajudar a

constituir o SINAES – Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior, criação do

Governo Lula.

Tive a oportunidade de trabalhar no MEC

numa época de profundas alterações, e não só na

educação, mas em toda a administração pública

do Brasil. Era o Governo FHC. À frente do MEC,

estava um dos mais capacitados professores e

executivos da área da educação, o Prof. Paulo

Renato Souza, da Unicamp, que permaneceu no

Ministério de 1995 a 2003. O Secretário de

Educação Superior era o Prof. Abílio Afonso Baeta

Neves, que exerceu esse cargo de 1996 a 2000; e

o meu chefe direto era o Gerente de Projetos, Cid

Santos Gesteira.

Foi sob essa alta cúpula do ensino superior

no MEC/SESu, em Brasília, que eu tive a honra de

emprestar o meu esforço e contribuir para

aqueles que eram elevados ideais para a

educação brasileira. Depois de 2003, o MEC/INEP

assumiu a responsabilidade de formar, indicar as

comissões verificadoras para avaliação de cursos

e avaliação institucional. Nesse sistema, visitei

aproximadamente 70 instituições de ensino

superior com a avaliação de inúmeros cursos,

tanto para autorizá-los, como para reconhecê-los.

Mais tarde, vieram novos programas dos

quais também tive a honra de participar, mas

nenhum me motivou tanto como esse primeiro.

Notava-se que eu e minhas colegas de Comissão

estávamos prestando um serviço significante para

a educação e para o próprio país.

MEC/INEP – Comissão de Especialistas em

Ensino de Letras no ENC – Exame Nacional de

Cursos – Letras, o Provão.

Ao início do ano 1999, ao chegar ao MEC

para reunião da Comissão de Especialistas em

Ensino de Letras, na SESu, fui avisado de que eu

havia sido nomeado para a Comissão de

Especialistas em Ensino de Letras no ENC – Exame

Nacional de Cursos, Letras, mais conhecido por

Provão. Esse exame no curso de Letras iria

acontecer pela segunda vez.

Da Comissão para as provas do ano de 1999

constavam os seguintes professores:

Francis Henrik Aubert, da Universidade de São

Paulo; Jayme Ferreira Bueno, da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná; José Luís Jobim

de Salles Fonseca, da Universidade do Estado do

Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense;

Maria Elias Soares, da Universidade Federal do

Page 14: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 12

Ceará; Marisa Philbert Lajolo, da Universidade

Estadual de Campinas; Raquel Figueiredo

Alessandri Teixeira, da Universidade Federal de

Goiás; Tania Mariza Kuchenbecker Rosing, da

Universidade de Passo Fundo. (MEC/INEP,

1999).

A Comissão tinha por atribuição, segundo o

Art. 4.º da Portaria: proceder “à avaliação de todo

o processo relativo à realização do Exame”.

Tivemos a satisfação e a felicidade, então, de

organizar o nosso primeiro Exame, com a análise

das questões, acolhendo ou não a prova aplicada,

e finalmente supervisionar juntamente com as

autoridades do INEP todo o esquema de

concretização e realização das provas. E tudo

correu em perfeita ordem e pleno sucesso. Do

mesmo modo, sucedeu com os Exames seguintes.

O Diretor do DAAES/INEP, Prof. Tancredo Maia

Filho, em reunião, tinha o costume de brincar e

nos atribuir notas, e nunca éramos reprovados,

embora ele costumar ser muito rigoroso.

Além disso, eu, em particular, fui o Relator

da Comissão e participei da organização das

seguintes realizações do INEP na área da

avaliação: Congresso do Curso de Letras –

Recife/PE; Congresso do Curso de Letras – Rio de

Janeiro/RJ; Congresso do Curso de Letras –

Fortaleza/CE; e Congresso do Curso de Letras –

Brasília/DF.

Nesses congressos, participávamos da

programação, convidávamos conferencistas,

colaborávamos na organização desde a ideia

inicial, passando pelo processo de inscrições,

supervisão do andamento e emitíamos relatórios.

Era um trabalho complexo, importante, e que

irradiava a concepção, os propósitos, a

importância e, mesmo, a necessidade da

avaliação para a melhoria da educação superior.

Para cada ano, a Comissão era refeita e

renovada: alguns membros saíam, outros eram

incluídos. Eu, porém, permaneci até o final delas

em 2003, quando o Governo Lula extinguiu o ENC

– Exame Nacional de Cursos e criou, em

substituição, o SINAES - Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior. O novo Sistema,

instituído em 2004, estabeleceu, como uma das

formas de avaliação, o ENADE – Exame Nacional

de Desempenho do Estudante.

Dessa forma, substituiu-se uma avaliação

abrangente e com parâmetros altamente

definidos, por um exame restrito, com poucos

alunos por instituição. Desse número reduzido de

alunos, a avaliação, generalizando, procura

atribuir um conceito à própria Instituição. As

distorções, como não poderiam deixar de

acontecer, são muitas. Se alunos não

comparecem às provas, esse fato negativo recai

sobre a avaliação da instituição em que eles

estudam. Ou, ao contrário, há os casos em que

instituições dão cursinhos especiais aos alunos

selecionados, além de prometem prêmios

valiosos para que esses alunos se saiam o melhor

possível.

Como membro da CTA – Comissão Técnica

de Avaliação, criada pelo INEP, em 2005,

participei da implantação do novo sistema de

avaliação, o SINAES. Inclusive, fui um dos

participantes da elaboração do Instrumento de

Avaliação.

No INEP - Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais, tive a honra e a

satisfação de trabalhar sob a supervisão da

Professora Maria Helena Guimarães de Castro,

Presidente; do Professor Tancredo Maia Filho,

Diretor de Avaliação e Acesso ao Ensino Superior;

do responsável direto pela realização das

avaliações, Professor Jocimar Archangelo,

Coordenador do ENC - Exame Nacional de Cursos

e do DAES/INEP, e, mais diretamente, da

Professora Sheyla Carvalho Lira, Coordenadora

Geral das Comissões do ENC. Mas nesse

momento a minha participação no MEC/INEP ia

aos poucos chegando ao fim.

Page 15: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 13

MEC/INEP- CTA – Comissão Técnica de Avaliação

Em 2005, quando já me considerava

afastado das comissões, em Brasília, certa noite

recebi um telefonema de Brasília. Era a

professora Lena Cavalcante Falcão do MEC/INEP,

que, em nome da professora Iara de Moraes

Xavier, fazia-me um convite para eu ingressar em

uma nova comissão que estaria sendo instalada

no INEP. Seria a CTA – Comissão Técnica de

Avaliação. Esta nova comissão seria agora nos

moldes do novo Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Superior, o SINAES.

A essa Comissão se conferiam três

principais atribuições: 1.ª - “apreciar, em grau de

recurso, as solicitações de reconsideração das

avaliações institucionais e dos cursos de

graduação, tecnológicos e sequenciais, nas

modalidades presenciais e a distância”; 2.ª –

“propor produtos relacionados com a

operacionalização das diversas modalidades

avaliativas”; e 3.ª – “emitir pareceres e elaborar

relatórios referentes aos processos avaliativos

resultantes das avaliações in loco”.

A reprodução abaixo da Portaria que criou a

Comissão atesta a importância que ela assumiria na

avaliação da Educação Superior e aminha

participação como membro:

CTA - COMISSÃO TÉCNICA DE AVALIAÇÃO

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS

EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA

PORTARIA N.° 9, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2005

O Presidente do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), no uso

de suas atribuições, tendo em vista a Lei n.º 10.861,

de 14 de abril de 2004, a Portaria Ministerial n.º

3.643, de 9 de novembro de 2004 e a Portaria

Ministerial n° 4.362, de 29 de dezembro de 2004,

resolve:

Art. 1.° Designar para compor a Comissão Técnica em

Avaliação Institucional e dos Cursos de Graduação, os

seguintes membros: Iara de Moraes Xavier,

Coordenadora Geral de Avaliação Institucional e dos

Cursos de Graduação, da Diretoria de Estatísticas e

Avaliação da Educação Superior (DEAES) do INEP;

Eleuda Coelho de Oliveira, Coordenadora de Avaliação

Institucional da DEAES/INEP; Lena Cavalcante Falcão,

Coordenadora dos Cursos de Graduação da

DEAES/INEP; Ana Maria Costa de Sousa, Centro

Universitário do Triângulo; Ana Maria Ferreira de

Mattos Retti, Universidade Federal de Santa Catarina;

Celso Spada, Universidade Federal de Santa Catarina;

Cosme Damião Bastos Massi, Centro Universitário

Positivo; Fátima Teresinha Scarparo Cunha,

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro;

Geraldo Vieira da Costa, Universidade Federal do

Amazonas; Guilherme Marback, Universidade de

Salvador; Jayme Ferreira Bueno, Pontifica Universidade

Católica do Paraná; Letícia Soares de Vasconcelos

Sampaio Suñé, Universidade Federal da Bahia e Paulo

César Martinez Y Alonso, Centro Universitário da

Cidade.

Parágrafo único: Fica estabelecido que a coordenação

desta comissão será exercida por Iara de Moraes

Xavier, como representante deste Instituto.

Art. 2.° Esta Comissão, instituída no âmbito da

Coordenação Geral de Avaliação Institucional e dos

Cursos de Graduação, da Diretoria de Estatísticas e

Avaliação da Educação Superior (DEAES) do INEP, tem

as seguintes atribuições:

- apreciar, em grau de recurso, as solicitações de

reconsideração das avaliações institucionais e dos

cursos de graduação, tecnológicos e sequenciais, nas

modalidades presenciais e a distância;

- propor produtos relacionados com a

operacionalização das diversas modalidades

avaliativas;

- emitir pareceres e elaborar relatórios referentes aos

processos avaliativos resultantes das avaliações in

loco;

Art. 3.° Esta Portaria entra em vigor na data de sua

publicação, revogada a Portaria INEP n.º 7, de 3 de

fevereiro de 2005.

ELIEZER MOREIRA PACHECO (MEC/INEP, 2005).

Quanto à primeira das atribuições, nós

apreciamos, demos pareceres e julgamos

recursos de inúmeras instituições sobre a

avaliação realizada em seus cursos; com

referência à segunda, organizamos e propusemos

documentos de avaliação de cursos e de

Page 16: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 14

avaliação institucional, que, muitos deles,

continuam em vigor até hoje; elaboramos

inúmeros pareceres e relatórios sobre os

processos de avaliação, que acabava de entrar em

vigor, o SINAES.

Foi a CTA que redigiu e apresentou o

Instrumento Único de Avaliação de Cursos de

Graduação, que ainda se encontra em vigor.

Transcreve-se parte do início do documento:

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teixeira

INSTRUMENTO ÚNICO DE AVALIAÇÃO DE CURSOS DE

GRADUAÇÃO

Brasília | DF | janeiro | 2006

Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz

Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação, Fernando Haddad

Secretário Executivo, Jairo Jorge

Presidente do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP,

Reynaldo Fernandes

Diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação

Superior do INEP, Dilvo Ristoff

Presidente da Comissão Nacional de Avaliação da

Educação Superior, Hélgio Henrique Casses Trindade

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira – INEP, Coordenadora

Geral de Avaliação Institucional e dos Cursos de

Graduação, Iara de Moraes Xavier

Coordenador Geral do Exame Nacional de

Desempenho dos Estudantes, Amir Limana

Coordenador Geral de Estatística da Educação

Superior, Jaime Giolo

Comissão Técnica de Avaliação (CTA)

Iara de Moraes Xavier – Presidente da CTA,

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e

DEAES/INEP

Ana Estela Haddad - Universidade de São Paulo

Ana Maria Costa de Sousa – Centro Universitário do

Triângulo

Ana Maria de Mattos Rettl – Universidade Federal

de Santa Catarina

Celso Spada – Universidade Federal de Santa

Catarina

Cosme Damião Bastos Massi – Centro Universitário

Positivo

Eleuda Coelho de Oliveira – Coordenação

Geral/DEAES/INEP

Fátima Teresinha Scarparo Cunha – Universidade

Federal do Estado do Rio de Janeiro

Geraldo Vieira da Costa – Universidade Federal do

Amazonas

Guilherme Marback Neto – Universidade Salvador

Jayme Ferreira Bueno – Pontifícia Universidade

Católica do Paraná

José Janguiê Bezerra Diniz – Faculdade Maurício de

Nassau

Lena Cavalcante Falcão – Coordenação

Geral/DEAES/INEP

Letícia Soares de Vasconcelos Sampaio Suñé –

Universidade Federal da Bahia

Paulo César Martinez Y Alonso – Centro

Universitário da Cidade

Assessoria Técnica

Giovanni Silva Paiva – DEAES/INEP

Renata de Paiva Silva – DEAES/INEP

Comissão Nacional de Avaliação da Educação

Superior (CONAES)

Hélgio Henrique Casses Trindade – Presidente

Nelson Maculan Filho - Representante do MEC

Eliezer Moreira Pacheco - Representante do MEC

Ronaldo Mota - Representante do MEC

Jorge Almeida Guimarães - Representante da CAPES

Dilvo Ristoff – Representante do INEP

Léia de Souza Oliveira Viana – Representante do

corpo técnico-administrativo

Daniele Costa Silva – Representante do corpo

discente

Madalena Guasco Peixoto – Representante do corpo

docente

Isaura Belloni – Membro com notório saber

científico, filosófico e artístico

Maria Isabel da Cunha – Membro com notório saber

científico, filosófico e artístico

Maurício Garcia – Membro com notório saber

científico, filosófico e artístico

Nadja Maria Valverde Viana – Membro com notório

saber científico, filosófico e artístico

Consultores da CONAES

José Ângelo Belloni - Universidade de Brasília

Page 17: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 15

Silke Weber - Universidade Federal de Pernambuco

Assessoria Técnica da CONAES

Adalberto Carvalho

Fabiane Robl

Francisco Heitor de Magalhães

Maria Regina Xausa

Stela Maria Meneghel

Tattiana T. Freitas da Silva

APRESENTAÇÃO

Em continuidade à implementação dos

instrumentos que permitirão operacionalizar o

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

(SINAES), criado por meio da Lei nº 10.861, de 14 de

abril de 2004, instituindo a avaliação das instituições

de educação superior, de cursos e do desempenho

dos estudantes de forma integrada, apresento à

sociedade brasileira o novo Instrumento Único de

Avaliação de Cursos de Graduação.

É resultado do trabalho coletivo da Comissão

Nacional de Avaliação da Educação Superior

(CONAES) e da Diretoria de Estatísticas e Avaliação

da Educação Superior (DEAES), do Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(INEP). Sua formulação teve como referência as

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos, os

padrões de qualidade da educação superior e os

princípios e diretrizes do SINAES.

O Instrumento Único de Avaliação de Cursos de

Graduação será utilizado para o reconhecimento e

renovação de reconhecimento dos cursos de

Bacharelado, Licenciatura e Tecnológicos, nas

modalidades presencial e a distância. (...); Avaliação

Institucional, nas suas vertentes de Auto-Avaliação e

Avaliação Institucional Externa; Exame Nacional de

Desempenho de Estudantes – ENADE e a Avaliação de

Cursos, esta última expressa o compromisso com uma

Política de Estado da Educação Superior que tem

caráter sistêmico (...)

Cumpre-se, com a implementação do novo

Instrumento Único de Avaliação de Cursos de

Graduação, sob responsabilidade do INEP, mais uma

etapa do processo avaliativo integrado do SINAES,

assegurando a oferta de cursos de educação

superior com qualidade acadêmica e compromisso

social com o desenvolvimento do país.

Brasília, 31 de janeiro de 2006

Fernando Haddad

Ministro da Educação (MEC/INEP, 2006).

Além do trabalho de produção de

documentos para a avaliação superior, participei,

como membro da CTA - Comissão Técnica de

Avaliação, além dessa, de outras atividades,

como as que listo: Congresso do Curso de Letras –

Brasília/DF, nas instalações do Hotel América;

Congresso do Curso de Letras – Florianópolis/SC;

na UFSC – Universidade Federal de Santa

Catarina; Congresso do Curso de Letras –

Fortaleza/CE, na UNIFOR – Universidade de

Fortaleza; Congresso do Curso de Letras –

Aracaju/SE, na UNIT – Universidade Tiradentes;

Congresso do Curso de Letras – Curitiba/PR, na

Universidade Positivo.

A participação na CTA – Comissão Técnica

de Avaliação foi mais uma contribuição que dei

aos trabalhos da avaliação da universidade e da

educação superior. O que aí realizamos fica a

testemunhar a nossa ação em empreitada de

tamanha importância e de tão grande significado.

V – REMATE

Hoje, passados já dez anos de minha

participação em diversas comissões de avaliação

dos órgãos MEC/SESu e MEC/INEP, o tempo me

fornece as condições necessárias para fazer um

balanço dessa minha atuação. Inicialmente,

posso avaliar que foi um trabalho altamente

dignificante para mim e penso que de

importância para a avaliação da universidade e

da educação superior e para o próprio país.

Ao encerrar, por dever de consciência e,

como preito de reconhecimento e de profundo

agradecimento, eu não poderei deixar de citar

algumas pessoas importantes da educação que

me proporcionaram essa oportunidade. E

também aquelas que me apoiaram nessa minha

caminhada como um prestador de serviço

público no Ministério da Educação, SESu -

Page 18: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 16

Secretaria da Educação Superior, e no INEP -

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira.

O primeiro a quem devo agradecer, in

memoriam, é ao ilustre reitor da PUCPR,

Professor Euro Brandão. Grande humanista

dirigiu a PUCPR em três mandatos, de 1986 a

1997. Nesse cargo, eu tive a honra de trabalhar a

seu lado durante todo o seu reitorado como

Assessor Especial. Artista plástico, além de altos

cargos públicos no Paraná e no âmbito Nacional,

Euro Brandão foi Secretário da Educação

Superior na gestão do Ministro Ney Aminthas de

Barros Braga, de 1974 a 1978. Em seguida, ele

próprio, assumiu o Ministério da Educação, no

período de 1978 e 1979. Foi ele quem me

indicou e quem me apoiou sempre para que eu

pudesse exercer essas elevadas funções e

ajudasse, juntamente a ele, a dignificar a

Pontifícia Universidade Católica do Paraná no

cenário nacional.

Na SESu, foi muito bom ser chefiado e

apoiado pelo Diretor de Projetos, Professor Cid

Santos Gesteira. Este reconhecimento,

agradecimento e homenagem também in

memoriam.

No INEP, sob a chefia do Professor Jocimar

Archangelo, Coordenador do DAES/INEP, e,

diretamente, da Professora Sheyla Carvalho Lira,

Coordenadora Geral das Comissões do ENC, nós,

membros das Comissões, pudemos exercer com

pleno êxito nossas funções nas diferentes tarefas

de avaliação. Fica a ele e a ela, o agradecimento

sincero.

Finalmente, foi útil, proveitoso e instrutivo

trabalhar sob a direção do Professor Dilvo

Ristoff, que além de ser o Diretor de Estatísticas

e Avaliação da Educação Superior, sempre foi um

estudioso de sistemas de avaliação universitária.

Sem esquecer a Professora Iara de Moraes Xavier

– Coordenadora Geral de Avaliação Institucional e

dos Cursos de Graduação do INEP e Presidente da

CTA – Comissão Técnica de Avaliação. Fica, aqui, o

agradecimento a ela, como também às suas duas

principais colaboradoras, as professoras Eleuda

Coelho de Oliveira e Lena Cavalcante Falcão,

ambas da Coordenação Geral da DEAES/INEP.

Sem essa declaração de reconhecimento e

sem o agradecimento e a gratidão, a minha parte

nesse ingente trabalho de avaliação no MEC/SESu

e MEC/INEP não ficaria completo. Foi o nosso

trabalho em equipe, sempre guiados por direções

competentes, que fez vingar projetos que muitos

consideravam impossíveis, por demasiado

ambiciosos para a realidade brasileira. A nossa

ação, porém, mostrou que era possível

desenvolver com sucesso bons e proveitosos

projetos, planos de avaliação da universidade

brasileira e da educação superior em nosso país.

REFERÊNCIAS

AGES. Faculdade AGES. Curso de Letras.

http://www.faculdadeages.com.br/faculdadeages/letra

s/ – Acesso 14.04.2016.

BARREIRO, Gladys Beatriz e ROTHEN, José Carlos. Para uma história da avaliação da educação superior brasileira: análise de documentos do Paru, Cnres, Geres e Paiub. Em Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 13, n. 1, p. 131-152, mar. 2008.

BARREIRO, Gladys Beatriz e ROTHEN, José Carlos. Política de avaliação e regulação da educação superior brasileira. Cultura Escolar Migrações e Cidadania Actas do VII Congresso LUSOBRASILEIRO

de História da Educação. Porto, Portugal: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (Universidade do Porto), 20-23.jun.2008.

DIZIONARIO BIOGRAFICO DEGLI ITALIANI.

http://www.treccani.it/enciclopedia/irnerio/ –

Acesso 14.04.2016.

Page 19: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 17

EDUCAÇÃO PÚBLICA. Avaliação ao longo da história: breve histórico. http://www. educacaopublica.rj.gov.br/oficinas/ed_ciencias/avaliacao/avaliacao_historia.html – Acesso 13.04.2016.

ESTEVES, Vera Vergara; PEREIRA, Wally Chan; SIANO,

Lucia Maria. Avaliação da universidade brasileira:

algumas considerações.

http://www.sbec.org.br/evt2008/trab40.pdf – Acesso

em 13.04.2016.

JOBIM. José Luis. A formação profissional em Letras: do currículo à avaliação. Acta Scientiarum 22(1):127-133, 2000.

MANUAL DO ENADE. http://www0.ufu.br/enade2009/enade/Manual_2009

_ atualizado. Pdf – Acesso em 13.04.2016.

MARTINS, Maria do Carmo Fernandes. Avaliação da universidade: uma análise das publicações no Brasil. Revista Educação e Filosofia 12 (24).11-47, jul-dez. 1998.

MEC - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Documento básico avaliação das universidades brasileiras: uma proposta nacional. Brasília: MEC, 1993.

http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/

docbas.pdf – Acesso 13.04.2016.

___________. Uma nova política para a educação superior. Relatório final da Comissão Nacional -

Comissão de notáveis. Brasília, 1985. http://www.schwartzman.org.br/ simon/

comissao.htm – Acesso em 13.04.2016.

__________. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Instrumento único de avaliação de cursos de graduação. Brasília: MEC, 2006.

__________. __________. Ata da primeira jornada de trabalho da comissão de avaliação do curso de letras – Enc/2002. Brasília, 12.12.2001.

REVISTA GALILEU. http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,EMI343904-17770,00-

AS+UNIVERSIDADES+MAIS+ANTIGAS+DO+MUNDO.ht

ml – Acesso em 13.04. 2016.

REVISTA MUNDO ESTRANHO.

Mundoestranho.abril.com.br/materia/onde-e-quando-surgiu- a-primeira-universidade – Acesso

em 13.04.2016.

REVISTA SABERES. Centro Universitário UniAGES.

http://faculdadeages.com.br/saberes/ - Acesso 13.04.2016.

SANTOS, Silvio Carlos dos e outros. Avaliação no mundo hodierno: um intervir sobre a produção do conhecimento. Em Revista Iberoamericana de Educación / Revista Ibero-americana de Educação. http://rieoei.org/deloslectores/3769Santos.pdf –

Acesso 13.04.2016.

SOUZA, José Geraldo. Evolução histórica da universidade brasileira: abordagens preliminares.

http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/

viewFile/ 461/441 – Acesso em 14.04.2016.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR. A mais

antiga do Brasil. http://www. ufpr .br/portalufpr/a-mais-antiga-do-brasil/– Acesso em 14.04.2016.

UNIVERSITÀ DI BOLOGNA. Alma Mater Studiorum

A. D. 1088. http://www.unibo.it/it – Acesso

13.04.2016.

ZAINKO, Maria Amelia Sabbag. Avaliação a educação superior no Brasil: processo de construção histórica. Em Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 13, n. 3, p. 827-831, nov. 2008.

ZANDAVALLI, Carla Busato. Avaliação da educação superior no Brasil: os antecedentes históricos do SINAES. Em Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 14, n. 2, jul. 2009.

Page 20: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 18

ÉTICA NA CAPTAÇÃO DE TALENTOS ATRAVÉS DO E –RECRUITMENT

Silvia Manoela Santos de Jesus*

RESUMO: Muitos ainda não acreditam na força da internet. No entanto, a cada dia que passa novos negócios são criados e novas oportunidades surgem. O recrutamento online surgiu da observação da possibilidade de utilizar a web para realizar negócios e atrair profissionais qualificados. Dessa forma, esta obra tem como objetivo principal demonstrar como é feito o recrutamento de pessoas online, ou seja, através do E-Recruitment. Com isso, aborda-se sobre as vantagens e desvantagens de recrutar pessoas de forma tradicional e no modelo online. No campo metodológico, no estado da arte, foi demonstrado que os bancos de dados são bastante utilizados para encontrar profissionais e que as redes sociais são um dos canais mais utilizados para se encontrar profissionais capacitados, sendo que o Linkedin, rede social online voltada para profissionais, acumula mais de 100 milhões de usuários no mundo, e destes, 3 milhões são brasileiros. Sobre as redes sociais, é apresentado nesse estudo que 75% dos recrutadores preferem utilizar o Facebook. Pode-se observar a força das redes sociais, além de ficar visível que seu objetivo não é apenas interligar pessoas, mas também ser utilizado para interagir com profissionais, divulgar oportunidades de emprego e encontrar pessoas com o perfil adequado para determinada vaga. PALAVRAS-CHAVE: e-recruitment, recrutamento tradicional, redes sociais

ABSTRACT: Many still do not believe in the power of the internet. However, every day new businesses are created and new opportunities arise. The online recruitment came from the observation of the possibility of using the web to conduct business and attract qualified professionals. Thus, this work aims to show how the people online recruitment is done, ie via e-Recruitment. Thus, it is approached on the advantages and disadvantages of recruiting people traditionally and online model. In the methodological field, the state of the art, it was shown that the databases are often used to find professional and social networks are one of the most used channels to find qualified professionals, and LinkedIn, online social network dedicated to professionals , has more than 100 million users worldwide, and of these, 3 million are Brazilian. On social networks, it is presented in this study that 75% of recruiters prefer to use Facebook. One can observe the power of social networks, and stay visible to your goal is to not only connect people but also be used to interact with professionals, promotion of employment opportunities and finding people with the right profile for a given job. KEY WORDS: e-recruitment, traditional recruitment, social networking

* Mestra em Ciências da Educação, Especialista em Gestão

Ambiental, Bacharela em Administração. Professora e Coordenadora da UniAGES.

Page 21: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 19

I - MARCO INTRODUTÓRIO

Atualmente, a Gestão de Pessoas consolida

um conjunto de instrumentos e técnicas que

auxiliam e permitem às organizações atraírem,

manterem e desenvolverem pessoas dentro de

uma organização empresarial.

A busca por profissionais qualificados é

constante nas empresas, na era em que vivemos,

onde o conhecimento é bastante importante, ter

pessoas qualificadas no quadro de colaboradores

das organizações acaba se tornando uma

vantagem competitiva. O recrutamento

tradicional de pessoas já é bastante conhecido. As

organizações anunciam o perfil do profissional

procurado, e assim ele é colocado para preencher

as vagas dentro das empresas ou quando se quer

substituir outro profissional. Entretanto, esse

modelo é bastante complexo e acaba se tornando

caro para as empresas, pois demanda muito de

tempo e dinheiro.

Diversos fatores influenciam e acabam

sendo determinantes na prática de gestão de

pessoas. Com o crescimento da internet surgiram

diversos tipos de empreendimentos que

incentivam a competitividade dentro das

empresas, o e-business (negócios eletrônicos) e o

e-commerce (comércio eletrônico) são exemplos

de empreendimentos bem-sucedidos. Essas

evoluções levaram ao surgimento do e-RH, ou

seja, a prática de Recursos Humanos na internet,

que se refere a utilização de sistemas, mídias e

redes sociais para melhorar o desempenho das

pessoas dentro das empresas.

Por volta da década de 90 e o início dos

anos 2000 iniciou-se o recrutamento e seleção de

profissionais pela internet aqui no Brasil. O e-

Recruitment, termo inglês que define

“recrutamento de pessoas online”, se inspira nos

modelos norte-americanos, onde empresas e

pessoas cadastram seus currículos nos sites de

busca de emprego. A diferença é que no modelo

de recrutamento norte-americano quem custeia a

manutenção do sistema são as empresas, já aqui

no Brasil, a estratégia utilizada pelas empresas é

inicialmente conceder alguns dias de acesso

gratuito ao sistema, e após esse acesso ser

bloqueado, se o indivíduo quiser continuar tendo

acesso, tem que pagar.

Dessa forma, esta obra tem como objetivo

principal demonstrar como é feito o

recrutamento de pessoas online, ou seja, através

do E-Recruitment. Com isso, os objetivos

específicos se traduzem em: abordar sobre as

vantagens e desvantagens de recrutar pessoas de

forma tradicional e no modelo online; perceber os

comportamentos das pessoas recrutadas pelo

método online.

Assim, é possível observar que o e-

Recruitment é a forma mais eficiente e eficaz de

recrutar profissionais nos dias de hoje, haja vista

que a internet em si, é uma área promissora e um

grande percentual dos profissionais disponíveis

está inserido nela, com isso as empresas serão

obrigadas a se adaptarem ao novo cenário,

construindo seus planejamentos com base no

melhoramento do sistema, dessa forma será

possível atrair mais talentos para as organizações.

Com todo esse desenvolvimento digital,

onde existem diversas redes sociais, muitas das

pessoas que fazem parte dessas redes geram

conteúdos e os compartilham também. As

empresas vislumbraram a força do mundo digital,

com isso muitas criam perfis a fim de promover

os seus produtos e serviços, além de utilizar-se

dessa ferramenta como instrumento de captação

de talentos.

Cada empresa utiliza-se de uma técnica

diferente para atrair os profissionais. Algumas

preferem utilizar cadastro em bancos de dados de

sites especializados, a exemplo da Catho online,

CIEE e Curriculum web, outras preferem divulgar

recrutar a partir do seu próprio site ou de redes

sociais voltadas para o mundo dos negócios:

Linkedin.

Page 22: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 20

Para esta pesquisa foi utilizado o Estado

da Arte, como instrumento prático, através de

casos reais de empresas que utilizam a

ferramenta das redes sociais como artifício para

recrutar pessoas, ou seja, o e-recruitment.

II - MARCO TEÓRICO

Recrutamento e Seleção: uma abordagem histórica

Sabe-se que o mercado hoje disponibiliza

profissionais de diversos perfis e com

qualificações diversificadas, com isso, muitas

vezes contratar um profissional com um currículo

extenso não significa que esse irá atuar de forma

eficaz na empresa ou que irá se adaptar à política

organizacional da mesma. Por isso, é necessário

que a empresa ao recrutar exponha o perfil

procurado por ela.

Com o passar dos anos, o surgimento e

desenvolvimento de novas tecnologias, a

concorrência nas empresas está se tornando

acirrada a cada dia que passa. A necessidade de

se aplicar instrumentos de avaliação que

possibilitem a empresa atrair e selecionar

profissionais que se enquadrem com o perfil da

empresa é importante, tendo em vista as

consequências futuras que esses processos

geram.

Nesse contexto, o recrutamento e a seleção

de pessoas se tornam indispensáveis a toda e

qualquer organização, esse possibilita que o

gestor atraia e analise se o candidato tem o perfil

necessário para ocupar a vaga em aberto. Assim,

o recrutamento pode ser visto como um objeto

que permite o desenvolvimento e o sucesso das

empresas, e é através dele que as empresas

escolhem os melhores profissionais disponíveis

no mercado.

Com a mudança do mercado, os métodos

de recrutamento também mudaram. Existem

empresas que preferem utilizar os métodos

tradicionais, os anúncios em jornais e rádios, mas

também há empresas adaptadas as novas

tendências utilizando-se da internet para atrair

profissionais.

As redes sociais são os canais de

comunicação mais utilizados para recrutar

pessoas, visto que o número de pessoas

qualificadas que estão presentes é bastante

grande. Pode-se observar que as empresas estão

tentando procurar o perfil ideal nessas redes e

esses canais de comunicação possibilitam que

essas empresas atendam suas necessidades e

consequentemente aloquem o melhor

profissional para a função.

Existem três tipos de recrutamento de

pessoas: interno, externo e misto. O interno é

quando a empresa procura preencher as vagas

com pessoas que já trabalham na empresa, assim

seus funcionários podem ser promovidos,

remanejados ou transferidos. O recrutamento

interno é mais econômico em termos de tempo e

dinheiro comparando com o recrutamento

externo, visto que dispensa custos com anúncios.

Já o recrutamento externo realiza-se

quando se pretende preencher o cargo vago com

candidatos externos à organização, sendo estes

atraídos pelas técnicas de recrutamento. Trata-se,

portanto de uma procura de candidatos no

mercado de trabalho. Chiavenato (2012, p. 176)

aborda que “o recrutamento externo funciona

com candidatos vindos de fora. Havendo uma

vaga, a organização procura preenchê-la com

pessoas estranhas, ou seja, com candidatos

externos atraídos pelas técnicas de

recrutamento”.

Para Araújo (2014), o recrutamento misto é

a junção do recrutamento interno e externo. É

utilizado por empresas de grande e médio porte.

Como todos os outros tipos, esse também trata

de preencher vagas, só que nesse caso pode ser

com pessoas que já trabalham na empresa e

querem mudar de cargo (recrutamento interno)

Page 23: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 21

ou com pessoas novas que queiram se candidatar

ao emprego (recrutamento externo).

A seleção de pessoas é um processo

utilizado pelas empresas para alocar as pessoas

com as competências que estejam sido exigidas

no recrutamento. A seleção também pode ser

entendida como um processo de comparação

entre perfil dos candidatos, com o perfil exigido

pela vaga.

Pode-se observar que a seleção é uma

complementação do recrutamento, tendo em

vista que um visa atrair, e o outro funciona como

uma ferramenta de escolha dos candidatos

selecionados, após algumas etapas dentro da

própria seleção, é que o profissional de recursos

humanos escolhe o candidato que melhor se

enquadre no perfil procurado.

Recrutamento online

Segundo Mitter e Orlandini (2005),

“Recrutamento on-line, também denominado de

recrutamento através da Internet são designações

que representam uma das mais atuais, úteis e

dinâmicas aplicações das tecnologias de

informação no domínio da gestão das pessoas”

(p. 20). Essa nova tendência de recrutamento

surgiu com a chegada da internet no Brasil nos

anos 1990 e, com isso, as empresas observaram

na web a oportunidade de criar novos negócios.

Inicialmente foi criado o do e-commerce,

modalidade de compra pela internet, e depois

veio o e-business, esse inclui todas as aplicações e

os processos que permitem a uma empresa

realizar uma transação de negócios (KALAKOTA,

2012, p. 24). Com a aceitação dos negócios

online no Brasil, as empresas observaram que elas

poderiam buscar profissionais na web, sendo que

estes poderiam ser atraídos independentes dos

mercados que eles estejam inseridos, daí surgiu o

e-recruitment ou recrutamento online.

Diferente do recrutamento tradicional, que

é conhecido como um processo de identificação e

atração de um grupo de candidatos, entre os

quais serão escolhidos alguns, para futuramente

serem selecionados, sendo que todo o processo é

presencial, o e-recruitment, recrutamento online

ou virtual, refere-se à utilização da internet para

atrair profissionais para as empresas (TORRES,

2012).

O recrutamento online surgiu no Brasil

entre o final dos anos 1990 e o início dos anos

2000, eles se baseavam nos métodos norte-

americanos, onde os candidatos se cadastravam

em um site e esses os encaminhavam as vagas

disponíveis nas empresas. O recrutamento online

desde aquela época foi tão bem aceito nas

empresas que houve uma grande demanda por

parte dos profissionais, eles enviavam seus

currículos através da rede interessados em:

estágios, trainees, e também de um emprego fixo.

Os resultados começaram a aparecer logo, a

redução do tempo dos processos de

recrutamento ficou visível a todos. Empresas que

gastavam em média sessenta dias desde a

divulgação da vaga até o final do processo

reduziram, em média, para quarenta dias, com

isso as empresas ganharam tempo e

consequentemente reduziram seus custos

financeiros.

Com isso, as barreiras estão sendo

rompidas com esse novo modo de recrutar, hoje

as empresas que utilizam o recrutamento virtual

não veem mais problema em encontrar mão-de-

obra qualificada, tendo em vista que após

anunciar uma vaga na internet, profissionais de

outras cidades ou estados são atraídos. É

importante salientar que o e-recruitment não se

restringe apenas a uma ou duas técnicas de atrair

profissionais. Atualmente as empresas se utilizam

de várias ferramentas, entre as principais podem

ser destacadas: os bancos de dados de empresas

de recrutamento de pessoas, e a mais nova

modalidade de atração, as redes sociais.

Page 24: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 22

III - MARCO ANALÍTICO

Bancos de dados

Os bancos de dados são sistemas que

armazenam os currículos dos candidatos. Os

currículos são geridos em um software que tem a

finalidade de contribuir para a tomada de decisão

na hora de indicar um profissional a uma vaga de

emprego.

A empresa Catho Online é a líder no

mercado de recrutamento de pessoas através da

internet. A organização existe há mais de quinze

anos, e tem como objetivo intermediar o

processo de contração entre profissionais e

empresas que possuem vagas disponíveis.

Segundo os dados da própria Catho, são mais de

10 mil contratações todo mês realizadas por meio

do site, que hoje conta com mais de 230 mil

anúncios de vagas.

A Catho Online fornece em seu site serviços

direcionados para profissionais e empresas. Os

profissionais têm a oportunidade de cadastrar

seus currículos, com sete dias de anúncio para

que o mesmo teste o sistema. Daí a Catho

possibilita ao candidato concorrer a processos

seletivos nas principais empresas do Brasil. Outro

benefício oferecido é a possibilidade de participar

de cursos, palestras e eventos em geral

oferecidos pela própria Catho. Já as empresas

cadastradas no sistema Catho, dispõem das

ferramentas de anúncio de vagas, treinamento

empresarial, busca de currículo, testes online e

busca salarial.

Consoante ao exposto vale a pena

acrescentar que empresas como a Catho têm

tudo para continuarem crescendo no país, haja

vista a popularização da internet. No Brasil já são

mais de 78 milhões conectadas, e com grande

quantidade de profissionais qualificados, a

competitividade por emprego só vai aumentar a

cada dia que passa. A internet acaba sendo a

solução dos problemas, visando à diversidade de

ferramentas disponíveis nela.

A Catho Online, hoje, dispõe de mais 1

milhão e 900 mil currículos cadastrados em seus

bancos de dados, com isso, há um custo pequeno

para a empresa e ela consegue encontrar um ou

vários profissionais que se enquadrem no perfil

procurado. Assim, o recrutamento acaba sendo

mais rápido e menos custoso financeiramente.

Redes Sociais online

No final dos anos de 1960 surgiu a

ARPANET, uma rede de internet que se originou a

partir do Ministério de Defesa dos Estados Unidos

da América. Entretanto só a partir de 1974 que foi

disponibilizado o primeiro serviço de internet

comercial nos Estados Unidos. A primeira rede

social online que chegou aqui no Brasil foi o

Orkut, entre os anos de 2005 e 2006, ela tinha o

objetivo de compartilhar fotos e mensagens com

os amigos. Foram se criando várias outras redes

sociais, mas nenhuma tinha o caráter profissional.

Posteriormente, vieram Facebook, Instagram e

WhatsApp.

Daí surgiu o Linkedin. Criado no ano de

2003, essa rede social tem a missão de interligar

profissionais a outros profissionais, e as

empresas. Pode-se dizer que o Linkedin é uma

rede social voltada para o mundo dos negócios.

Segundo a pesquisa da Wave.3, da Universal

McCann, o Linkedin detém cerca de 6% do

mercado mundial, o que é um número bastante

expressivo se considerarmos que ele é muito

dedicado ao nicho profissional (TORRES, 2012).

Para Carvalho (2010), apesar de ser uma

rede social, o Linkedin dispõe de ferramentas

totalmente diferentes das outras redes utilizadas

pelo brasileiro. Ao invés de relacionamentos,

conexões é o nome dado quando um profissional

está interligado a outro. No Linkedin, um

profissional só pode se conectar a outro, caso

eles compartilhem algo, seja amizade, o mesmo

Page 25: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 23

local de emprego ou estudem na mesma

instituição. Assim, as conexões são feitas a partir

de interesses e não porque você achou outra

pessoa interessante pela foto.

O Linkedin tem um sistema que lembra

bastante o do Facebook, outra rede social

bastante popular em todo mundo. Além da

possibilidade de encontrar amigos de trabalho no

próprio sistema do Linkedin a partir da digitação

do local onde trabalhou ou estudou, essa rede

social permite encontrar as pessoas com a

importação de sua lista de contatos, assim ocorre

uma busca dos e-mails disponíveis por você que

está no banco de dados do Linkedin.

Nesse sentido, por ser uma rede social

online onde o objetivo é interligar profissionais, o

Linkedin é uma das novas tendências do e-

recruitment. Por acumular hoje mais de 100

milhões de usuários, sendo que no Brasil já são

mais de 3 milhões de pessoas e dispor de um

sistema de busca, onde é possível delimitar o

perfil do profissional procurado, ele já é utilizado

por empresas de recursos humanos. Com isso, ao

invés de contratar uma empresa especializada em

recrutar profissionais, ou pagar a consulta em um

banco de dados de currículo, o Linkedin acaba

sendo mais barato e mais eficiente para

encontrar pessoas qualificadas (CARVALHO,

2010).

Outra rede social que está se tornando

importante para empresas de Gestão de Pessoas

é o Facebook. Essa rede social surgiu no ano de

2004, inicialmente era restrita a estudante da

universidade de Harvard, mas com o passar do

tempo o seu fundador Mark Zuckerberg resolver

expandir e daí todas as pessoas e empresas

tiveram acesso ao Facebook.

Por ter uma estrutura diferenciada, em que

é permitido que pessoas criem páginas pessoais,

como também pode-se inserir contatos

profissionais, além da possibilidade das empresas

criarem as chamadas Fan Pages (páginas com

uma estrutura voltada para o mundo

corporativo), essa rede social é considerada a

maior rede social online do mundo.

A pesquisa da consultoria Right

Management destacou recentemente que 75%

dos recrutadores do continente Asiático preferem

recrutar pelo Facebook, e na Europa são 62%, no

Brasil ainda não existem dados concretos, mas o

que sabemos é que o número de empresas

tradicionais que estão migrando de plataforma é

muito grande. A tendência é que um dia o

recrutamento por meios tradicionais como

anúncios em jornais, panfletos, rádio e televisão

chegue a um percentual muito pequeno, se

comparado com os meios online.

Com a internet o processo é muito rápido

e mais preciso. As empresas cadastram em

bancos de dados de currículos, e assim realizam

uma seleção preliminar através dos candidatos já

cadastrados. Essa seleção é feita a partir da

comparação do perfil procurado pela empresa e

os perfis disponíveis. Na verdade, o que

diferencia a seleção online do modo tradicional, é

que essa além de ser mais rápida por ter menos

processos, é mais eficaz, tendo em vista que os

candidatos só são credenciados a participar da

entrevista, se esses se enquadrarem no perfil, ou

se pelos menos cheguem o mais perto possível

das competências exigidas. O ponto negativo

desse processo é a pequena falta de contato

entre empregador/candidato. Para Gomes (2014),

a impessoalidade, ou seja, os contatos feitos pela

rede ainda são pouco afetivos, valor importante

para a empresa, uma vez que é no contato

pessoal mais estreito que se conhece o futuro

funcionário e que se pode estabelecer um bom

relacionamento.

IV - CONCLUSÃO

Diferente de anos atrás o mercado

modifica-se constantemente. Com isso, as

empresas estão procurando se adaptar às novas

tendências e novas formas de gestão, tudo isso

Page 26: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 24

para que possam atender os anseios dos clientes

e alcançar resultados satisfatórios. A verdade é

que o sucesso hoje depende muito das pessoas e

tecnologias que as empresas têm ao seu despor.

Nesse sentido, as empresas estão atuando

para migrar do modelo burocrático e mecanicista,

para um modelo de gestão mais flexível

(LACOMBE, 2013). Há décadas atrás o setor de

recursos humanos era apenas um departamento

que cuidava de pagamentos e contratações, hoje

esse é chamado de departamento de gestão de

pessoas, visto que esse modelo de gestão busca

capacitar o seu colaborador, dando-lhe

oportunidade de se capacitar e se envolver no

processo, haja vista que este tem a oportunidade

de opinar e participar ativamente do processo de

gestão.

É notório que a tecnologia foi uma das

grandes responsáveis pelo sucesso da gestão de

pessoas. Com a chegada da banda larga aqui no

Brasil e o bom momento em que a economia

daqui vem vivendo, proporcionou a proliferação

de pessoas na internet, daí no início do século XXI

foram criadas redes sociais online que tinham o

objetivo de interligar pessoas e compartilhar

fotos, vídeo e todo tipo de conteúdo.

As empresas por sua vez aproveitaram

essas redes online a seu favor. Primeiro foram

criados o e-commerce e e-business, e em seguida

o E-Rh, que por sua vez resultou no e-

recruitment. Com o surgimento do e-recruitment

pode-se observar que empresas tradicionais do

mercado de recursos humanos em sua grande

maioria migraram para o modelo online, pois

essas estão observando a importância de estarem

conectadas e que virtualmente os processos são

mais rápidos e baratos.

Em meio ao e-recruitment estão os

caçadores de talentos, denominados headhunter.

Esses profissionais são contratados pelas

empresas com a missão de encontrar outros

profissionais com o perfil desejado pelas mesmas

dentro de um mercado com tantas opções de

escolha. A rede de contato é a principal aliada de

um headhunter, por conta disso observa-se que

esse profissional não perde espaço com as novas

tecnologias, na verdade ele acaba ganhando mais

ferramentas que o possibilita encontrar mais

talentos de forma mais rápida (ALMEIDA, 2009).

Dentro do recrutamento online estão em

destaque as redes sociais. O Linkedin e Facebook

são as duas principais redes online de pessoas

onde as empresas estão se inserido, haja vista a

quantidade de indivíduos conectados, com isso as

organizações divulgam suas oportunidades de

emprego, além de disseminarem informações.

Enfim, conclui-se que a diminuição das

barreiras geográficas, um maior número de

profissionais qualificados, rapidez e diminuição de

custos são o que difere o e-recruitment do

recrutamento tradicional. O primeiro possibilita à

empresa que utiliza buscar profissionais em

qualquer lugar do mundo. Enquanto o tradicional

restringe apenas a empresas ao mercado onde o

anúncio está sendo veiculado, além de já

funcionar como ferramenta de seleção, haja vista

que uma vez que é definido o perfil procurado e

cadastrado no sistema, o profissional só

participará da próxima etapa se esse tiver as

competências exigidas.

Page 27: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 25

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Walnice. Captação e seleção de talentos: com foco em competências. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

ARAÚJO, Luís César G. de. Gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 2014.

CARVALHO, Ieda Maria Vecchioni. Recrutamento e seleção por competências. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

CATHO ONLINE. Sobre a Catho Online. Disponível em: < http://www3.catho.com.br/institucional/ >. Acesso em 06 de maio de 2016

CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 8 ed. – 4. Reipr. São Paulo: Atlas, 2012.

GOMES, Ana Filipa Pinho. Recrutamento nas redes sociais online. Lisboa: 2014.

KALAKOTA, Ravi. ROBINSON, Marcia. E-business: estratégias para alcançar o sucesso no mundo digital. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

LACOMBE, Francisco José Masset. Recursos humanos: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2013.

MITTER, Gabriela Vilharquide. ORLANDINI, Jean Marcel. Recrutamento on-line/internet. Maringá Management: Revista de Ciências Empresariais. Maringá, n° 2, p. 19-34, 2005.

SANTOS, José Wilson dos; BARROSO, Rusel Marcos Batista. Manual de Monografia: Graduação e Pós-graduação. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade, 2005.

TORRES, Claudio. A Bíblia do marketing digital: tudo o que você queria saber sobre marketing e publicidade na internet e não tinha a quem perguntar. São Paulo: Novatec Editora, 2012.

Page 28: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 26

ÉTICA PROFISSIONAL NO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: ELISÃO FISCAL COMO GESTÃO

EMPRESARIAL E SOBREVIVÊNCIA DAS EMPRESAS

Marcos Vinícius Gomes Reis* Graziela Alves de Amorim**

RESUMO: O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica, a qual tem por objetivo analisar a ética no planejamento tributário, alguns aspectos referentes à utilização da elisão fiscal, como ferramenta para redução de pagamento dos tributos de forma lícita dentro das empresas, auxiliando na gestão empresarial e sobrevivência das empresas. No decorrer do trabalho, são abordados os tributos desde a sua origem e chegada ao Brasil, passando por uma abordagem teórica do planejamento tributário ético, além de destacar os conceitos mais variados, fazendo uma distinção entre a elisão fiscal e a evasão fiscal. Por fim, discute-se a licitude e os princípios éticos dentro do uso da elisão fiscal para redução ou não pagamento dos tributos, chegando à conclusão de que, sendo as medidas tomadas de maneira planejada, de modo a não permitir a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, seja por meio de lei ou de “brechas” deixadas pela lei, não se há o que falar em ato ilícito. PALAVRAS-CHAVE: Ética; Planejamento tributário; Elisão Fiscal; Evasão Fiscal. ABSTRACT: This work it is a bibliographical research, which aims to examine ethics in tax planning, some aspects of the use of tax avoidance as a tool for payment reduction of taxes lawfully within companies, assisting in the management business and corporate survival. During the work, the taxes are covered from its origin and arrival in Brazil, through a theoretical approach to ethical tax planning, in addition to highlighting the various concepts, making a distinction between tax avoidance and tax evasion. Finally, we discuss the legality and ethical principles in the use of tax avoidance reduction or non-payment of taxes, coming to the conclusion that, with the measures taken in a planned way so as to not allow the occurrence of the triggering event the tax obligation, either by law or "gaps" left by law, not there to talk about in tort. KEYWORDS: Ethic; Planning Tributary; Tax Avoidance; Tax Evasion.

* Graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade AGES e Especialista em Gestão Fiscal e Planejamento Tributário

pela Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe – FANESE.

** Graduada em Comunicação Social com ênfase em

Publicidade e Propaganda pelo Instituto Baiano de Ensino Superior e MBA em Marketing Executivo pela Faculdade de

Administração e Negócios de Sergipe – FANESE.

Page 29: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 27

I - INTRODUÇÃO

Em tempos de crise as empresas precisam

se munir de ferramentas que venham a auxiliar a

sua sobrevivência dentro de um mercado cada

dia mais competitivo, proporcionando uma

melhor estrutura de dados que tragam um

suporte para a tomada de decisão empresarial.

A alta carga tributária do Brasil, tem levado

as empresas, para se manterem lucrativas e

atrativas, procurarem cada vez mais diminuir o

choque dos tributos na composição dos custos.

Tendo como embasamento, dados obtidos

através da Associação Comercial de São Paulo

(ACSP), o impostômetro brasileiro, no ano de

2015, atingiu a marca recorde de R$ 2 trilhões.

Perante a alta carga tributária, torna-se

necessário implantar ações que possibilitem às

empresas a redução dos custos e das despesas de

forma ética. Desse modo, objetiva-se maior lucro

e crescimento, em consonância com as leis que

conduzem o sistema tributário nacional, de forma

estratégica, planejando reduzir o valor da carga

tributária.

O Planejamento Tributário versa em um

conjunto de meios utilizados para buscar sucesso

e crescimento nas empresas visando à economia

no pagamento dos tributos, sem infringir a lei.

Esse ato de planejar, é capaz até mesmo de

intervir na estabilidade das corporações com

eficácia.

O planejamento tributário, chamado

também de elisão fiscal procura adiar, reduzir, e

até mesmo levar ao não pagamento de tributos,

diminuindo despesas e assim, aumentando a

lucratividade de forma aceita pela legislação, já a

evasão fiscal, o oposto da elisão, é uma prática

que contravém a lei. Partindo dessas afirmações,

nasce o seguinte questionamento: a elisão fiscal

constitui uma forma de sonegação? O qual

constitui a problemática desse estudo, que possui

como objetivo, analisar a possibilidade de o uso

da elisão fiscal, como forma ética de

planejamento tributário. Para isso, serão

trabalhadas as concepções de ética, elisão e

evasão fiscal, as quais darão norte para responder

ao referido questionamento.

Nesse contexto, percebe-se a relevância de

um estudo que esclareça as diferenças entre

elisão e evasão fiscal, o qual gerará a transmissão

de procedimentos protegidos pela legislação que

auxiliem contadores e empresários a aumentar as

possibilidades de reduzir o pagamento de

tributos, através de informações precisas,

embasamento teórico e princípios éticos.

Inicialmente, o presente estudo, apresenta

uma explanação acerca da origem dos tributos,

trazendo a abordagem para o Planejamento

Tributário e a elisão fiscal, revelando a sua

importância, utilizando-se de estudos já

realizados. Em seguida, traz-se um enfoque,

visando demonstrar a finalidade ética do

Planejamento Tributário de maneira que

possibilite a redução dos gastos com os encargos

tributários. E por último, são apresentados os

resultados e as novas diretrizes que poderão

modificar o patamar descrito neste artigo diante

da atual conjuntura brasileira.

II - METODOLOGIA

Para julgar a importância da diferenciação

entre a elisão e a evasão fiscal, bem como a

conceituação e entendimento sobre ética, se fez

necessário realizar uma pesquisa, composta de

embasamento científico, evidenciando os

conceitos mais importantes, através de

bibliografias e leis relacionadas ao tema,

objetivando o enriquecimento do conhecimento

científico acerca do assunto trabalhado.

A metodologia da pesquisa, para MINAYO

(2003) é o caminho do pensamento a ser seguido.

Ocupa um lugar central na teoria e trata-se

basicamente do conjunto de técnicas a ser

adotada para constituir uma realidade. Na qual se

baseia uma investigação exploratória e descritiva

Page 30: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 28

que se almeja recolher, selecionar, avaliar e

interpretar as contribuições já existentes.

O procedimento técnico aplicado no

referido trabalho identifica-se através de análise

bibliográfica organizada a partir de livros, artigos

de periódicos, matérias já publicadas.

III - TRIBUTOS

Os tributos tiveram a sua origem na

antiguidade, como meio de contribuição

obrigatória de alguns indivíduos para o Estado. Os

impostos de modo geral seguem a evolução

humana organizada. Inicialmente se cobravam

altos tributos pela classe vitoriosa aos povos

derrotados em guerra, como forma de evitar

novos conflitos. Com o tempo o pagamento do

tributo passa a ser obrigatório e atualmente é um

dever do estado, transformando os valores

arrecadados em obrigações sociais. Para

MACHADO (2008, p. 65),

A primeira preocupação do legislador foi

de estabelecer que se trata de prestação

pecuniária, ou seja, é através dela que o estado

arrecadaria fundos para manutenção da

máquina administrativa e a consequente

execução de suas atividades.

No Brasil podemos dividir os impostos

historicamente nos 3 modelos políticos básicos:

Colônia, Império e República. Na era colonial se

tinha os tributos ditados por Portugal, dividindo-

se em três modalidades: quinto, direitos régios e

dízimo real, em que a metrópole brasileira era

explorada pela coroa.

Com a independência do Brasil, o governo

passou a ter autonomia para delimitar os seus

próprios impostos em suas províncias. No

entanto, a legislação tributária se transformou

em uma bagunça, de modo que passaram a ser

cobrados pelas províncias impostos abusivos e

numerosos sobre produtos que já eram

tributados pela União. Na tentativa de regular

essa questão, com o passar do tempo, foram

criadas emendas constitucionais, as quais

dividiam o que pertencia à União e às Províncias.

Ao passar para a República, forma de

governo adotado até os dias atuais, os tributos

que cabiam a cada nível do poder público

passaram a ser descriminado rigorosamente pela

carta constitucional de 24 de fevereiro de 1891,

que traz em seu corpo, no art. 10º, a criação da

imunidade recíproca, tendo como fundamento do

princípio federativo da autonomia aos entes da

federação e no art. 72, § 30º o princípio da

legalidade, no qual institui que todos os tributos

só podem ser criados por meio de lei:

Art. 10 - É proibido aos Estados tributar

bens e rendas federais ou serviços a cargo da

União, e reciprocamente.

Art. 72 - A Constituição assegura a

brasileiros e a estrangeiros residentes no país a

inviolabilidade dos direitos concernentes à

liberdade, à segurança individual e à

propriedade, nos termos seguintes:

[...]

§ 30. Nenhum imposto de qualquer

natureza poderá ser cobrado senão em virtude

de uma lei que o autorize.

Com o passar dos anos as mudanças na

maneira dos impostos serem cobrados e nos

próprios impostos foram muitas, dentre elas, a

mais importante foi trazida pela Constituição

Brasileira de 1946 que, em seu art. 5º, inciso XV,

alínea “b” coloca o Congresso Nacional como

único órgão competente a legislar sobre direito

financeiro:

Art. 5º - Compete à União:

[...]

XV - legislar sobre:

[...]

Page 31: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 29

b) normas gerais de direito financeiro; de

seguro e previdência social; de defesa e

proteção da saúde; e de regime penitenciário;

Enfim, o divisor de águas na política

tributária nacional foi a Lei n° 5.172/66, trazida

pela emenda Constitucional n° 18 de 1º de

dezembro de 1965, mais conhecida como Código

Tributário Nacional. Obra que foi resultado do

trabalho de inúmeros juristas, possibilitando ao

Brasil fazer referência a um “sistema tributário”.

O Código Tributário Nacional (CTN) em seus

arts. 3 a 5 conceitua tributo como:

Art. 3º Tributo é toda prestação

pecuniária compulsória, em moeda ou cujo

valor nela se possa exprimir, que não constitua

sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada

mediante atividade administrativa plenamente

vinculada.

Art. 4º A natureza jurídica específica do

tributo é determinada pelo fato gerador da

respectiva obrigação, sendo irrelevantes para

qualificá-la:

I - a denominação e demais

características formais adotadas pela lei;

II - a destinação legal do produto da sua

arrecadação.

Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e

contribuições de melhoria.

Ao analisar o art. 3º do CTN, foi possível

concluir que tributo é sempre um pagamento

compulsório em moeda, de modo que, se a lei

autorizar, em outro valor que se consiga

expressar em moeda. Continuando a análise do

art. 3º do CTN, podemos considerar que a

prestação pecuniária compulsória é uma forma

de pagamento obrigatório em dinheiro.

Para FABRETTI (2007, p. 110),

Tributo é gênero e as espécies são impostos,

taxas e contribuições. De acordo com os incisos I e II

do art. 4º, a natureza jurídica específica do tributo, ou

seja, se é imposto, taxa ou contribuição, é

determinada por seu fato gerador. Este é a

concretização de determinada hipótese prevista na lei

que faz nascer (gerar) a obrigação de pagar o tributo.

Por exemplo: hipótese de incidência: prestar serviços.

Prestado o serviço, ou seja, concretizada a hipótese de

incidência prevista na lei, segue-se o mandamento:

pague Imposto sobre Serviços (ISS).

No âmbito do planejamento tributário, a

concepção de tributo pode sofrer diversas

definições, a depender da ótica que o agente faz

uso. Do mesmo modo, que para o contribuinte, o

tributo na maioria das vezes não é visto com bons

olhos, de maneira que é tido como uma

intervenção do Estado no seu patrimônio, diante

disso, precisa ser feito nos rigorosos limites da lei.

Ética e planejamento tributário

A diminuição de custos dentro das

empresas é o sonho e objetivo de todos os

empresários que procuram condições para

manterem-se competitivos dentro do mercado,

atém de ser uma forte ferramenta diante da crise

que o mercado brasileiro vem passando. Por isso,

que não economizam forças para descobrir

lacunas nas leis que os possibilitem alcançar os

seus objetivos.

Desde o começo do século XX, Taylor e

Fayol com a Teoria Geral da Administração,

defendem que o processo administrativo deve ser

adotado por todas as empresas, para que possam

ter o mínimo de probabilidade de conseguirem

ser bem-sucedidas no mercado e em seus

objetivos, partindo da organização empresarial,

passando pelo processo de controle com

informações pontuais, assim podendo chegar a

um planejamento ideal.

O Brasil é um país com umas das maiores

cargas tributárias do mundo, forçando seus

administradores a buscar ferramentas baseados

em aspectos legais, objetivando garantir a

Page 32: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 30

sustentabilidade do negócio. Nesse sentido, o

Planejamento Tributário consiste na incessante

busca de um conjunto de medidas sucessivas que

visam à redução de tributos, sem infringir a lei,

com o objetivo de refletir positivamente nos

resultados de uma empresa. Esse é um

instrumento de extrema importância, que se faz

necessário dentro das organizações, devido à

grande competitividade que atinge os

empreendimentos.

CASTRO (2002, p.6), comenta que:

Ninguém se organiza para pagar mais

impostos. No mercado competitivo das

modernas relações empresariais, o processo de

planejamento, como um todo, passou a ser

necessidade básica. O planejamento tributário

insere-se em um procedimento amplo e geral

que deve preceder a qualquer novo negócio ou

alteração de rumo no mundo empresarial. Ele

objetiva o que qualquer outro planejamento

visa: a eficiência, em termos de dispêndio com

tributos significará sempre pagar menos, dentro

dos limites da lei.

Segundo Chaves (2009, p. 5), o

planejamento tributário é: “o processo de ação,

não simulada, anterior à ocorrência do fato

gerador, visando direta ou indiretamente à

economia de tributos. ”

Assim, para Chaves o planejamento

tributário deve ocorrer antes do fato gerador, ou

seja, antes da concretização do evento que gera a

obrigação tributária principal que é dar dinheiro

aos cofres públicos, justificando desta forma o

termo planejamento.

Para Ching (2010, p. 170) o planejamento

tributário é: “o planejamento do negócio

objetivando carga tributária adequada aos

negócios e observando os limites legais. Ele se

fundamenta na esfera mínima de liberdade que

tem o empresário para planejar seus negócios”.

Ainda, para Ching (2010), o planejamento

tributário pode levar a eliminação do fato gerador

(ele não ocorre), a redução da carga tributária, o

adiamento do fato gerador e o ganho financeiro.

Portanto, o planejamento tributário não

deve se confundir com a sonegação fiscal,

planejar é levantar opções lícitas, que possam

proporcionar melhores resultados para a

empresa. De modo que sonegar, é valer-se de

meios ilícitos para deixar de pagar um tributo

devido, igualmente à fraude, à simulação ou à

dissimulação, constituindo o uso destes meios

considerados como omissão dolosa com a

finalidade de retardar ou impedir o conhecimento

do fato gerador da obrigação fiscal.

O crime de sonegação fiscal é definido pelo

Art. 1°, da lei nº. 4.729, de 14 de julho de 1965,

como:

Art. 1º Constitui crime de sonegação

fiscal:

I – prestar declaração falsa ou omitir,

total ou parcialmente, informação que deva ser

produzida a agentes das pessoas jurídicas de

direito público interno, com a intenção de

eximir-se, total ou parcialmente, do pagamento

de tributos, taxas e quaisquer adicionais

devidos por leis;

II – inserir elementos inexatos ou omitir

rendimentos ou operações de qualquer

natureza em documentos ou livros exigidos

pelas leis fiscais, com a intenção de exonerar-se

do pagamento de tributos devidos à Fazenda

Pública;

III – alterar faturas e quaisquer

documentos relativos a operações mercantis

com o propósito de fraudar a Fazenda Pública;

IV – fornecer ou emitir documentos

graciosos ou alterar despesas, majorando-as,

com o objetivo de obter dedução de tributos

devido à Fazenda Pública, sem prejuízo das

sanções administrativas cabíveis;

V – exigir, pagar ou receber, para si ou

para o contribuinte beneficiário da pagam

qualquer porcentagem sobre a parcela

dedutível ou deduzida do Imposto sobre a

Renda como incentivo fiscal.

Page 33: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 31

Contudo, o planejamento tributário,

conhecido também como elisão fiscal, pode ser

difundido em duas classes: a que decorrente da

lei e a que deriva de brechas e lacunas existentes

na lei. A empresa elege opções, de ação ou

omissão lícita, que evita ou adia o fato gerador de

maneira não simulada, anterior à sua ocorrência,

visando direta ou indiretamente à economia de

tributos.

De acordo com FABRETTI (2006, p. 32):

O estudo feito preventivamente, ou seja,

antes da realização do fato administrativo,

pesquisando-se seus efeitos jurídicos e

econômicos e as alternativas legais menos

onerosas, denomina-se Planejamento

Tributário, que exige antes de tudo, bom senso

do planejador.

Quando se trata de planejamento

tributário, procura-se por meio de ações do

contador ou de um conjunto de profissionais,

causar o menor impacto dentro do caixa da

empresa. Ele tem por finalidade:

Evitar a incidência do tributo – adotar

meios a fim de evitar o acontecimento do fato

gerador;

Reduzir o valor do tributo – buscar

medidas para diminuir a base de cálculo ou

alíquota do tributo a ser aplicado;

Retardar o pagamento do tributo -

procurar formas de adiar o pagamento do tributo,

sem gerar multa.

O planejamento tributário é a única

ferramenta que pode alcançar a real economia

para as organizações, sem a apreensão com

futuras complicações com o Fisco. Mas para se

chegar a um bom resultado se faz indispensável

que a empresa apresente uma contabilidade

confiável, seguindo os princípios e normas

contábeis.

Elisão fiscal

O debate sobre os métodos utilizados pelos

contribuintes para evitar o recolhimento do

tributo é fulcro de uma discussão ousada e

inflamada entre as partes que se dizem no direito

de cobrar, o que se diz no direito de não pagar e a

que julga quem tem razão. Pode-se dizer que se

trata de uma guerra entre contribuinte e Estado.

Para a produção de um planejamento

tributário é indispensável se fazer a distinção

entre os significados da evasão fiscal e da elisão

fiscal, no entanto, a linha que os separa é

delicada. A elisão fiscal na ótica de ROSA JUNIOR

(2009, p. 505),

Corresponde à economia de imposto

mediante planejamento fiscal, quando o

contribuinte disponha seus negócios “de modo

a pagar menos tributos. Nada o impede, desde

que não ocorra aquela manipulação do fato

gerador, no que toca ao seu revestimento

jurídico. A doutrina reconhece como válido e

perfeitamente legítimo aquilo que se denomina

de economia fiscal.

Ampliando o conceito e significado de elisão

tributária, JAMES (2002, p. 31),

A adoção pelo contribuinte de

condutas lícitas que tenham por finalidade

diminuir, evitar ou retardar o pagamento do

tributo é considerada como prática elisiva.

Dá-se através de expedientes omissivos ou

comissivos, que evitam licitamente a prática

do fato imponível de obrigação tributária.

Como citado pelo autor, o ato do

contribuinte pode ser de fazer ou deixar de fazer,

de forma que nos dois casos sejam lícitas, de

modo que, elas estejam respaldadas no direito e

passem a ser válidas.

A elisão fiscal para o sujeito passivo torna-

se uma saída eficaz na economia fiscal. Elidir é

Page 34: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 32

evitar, reduzir o montante ou retardar o

pagamento do tributo por meio de ações ou

omissões legais por parte do contribuinte, prévias

à ocorrência do fato gerador da obrigação

tributária. Como mostra FABRETTI (2007, p. 137),

[...] devem-se estudar e identificar todas

as alternativas legais aplicáveis ao caso ou a

existência de lacunas (“brechas”) na lei [...] A

economia tributária resultante da adoção da

alternativa legal menos onerosa ou da lacuna da

lei denomina-se elisão fiscal. [...] A elisão fiscal é

legítima e lícita, pois é alcançada por escolha

feita de acordo com o ordenamento jurídico,

adotando-se a alternativa legal menos onerosa

ou utilizando-se de lacunas da lei.

Trata-se do ato de se valer das “brechas”

deixadas na lei, de modo que a situação é

aproveitada como meio de redução dos tributos a

serem pagos ao governo. A sua diferença está na

esperteza dos seus aplicadores, valendo-se de

meios lícitos ou não previstos na lei, buscando o

menor custo possível para a organização.

As medidas realizadas pelos

administradores são praticadas antes da

ocorrência do fato gerador do tributo, não

permitindo o evento causador da obrigação

tributária, e desse modo, não havendo prestação

a ser paga. O CTN em seu art. 114 traz fato

gerador da obrigação principal como sendo a

situação definida em lei como necessária e

suficiente à sua ocorrência.

Evasão fiscal

Ao contrário da elisão fiscal, a evasão

consiste na prática que viola as normas legais. Em

sua grande parte, praticada após a ocorrência do

fato gerador da obrigação tributária, visando de

maneira ilícita à redução ou ocultação tributária,

correspondendo à sonegação ou fraude do

contribuinte.

Para OLIVEIRA (2005, p. 169),

[...] o divisor de águas entre a economia

legítima de tributos e a evasão fiscal encontra-

se na licitude dos meios utilizados pelo

contribuinte para evitar o pagamento de

tributos.

A Lei 8.137/90, que trata os crimes contra a

ordem tributária em seus arts. 1º e 2º tipifica a

evasão fiscal como:

Art. 1° - Constitui crime contra a ordem

tributária suprimir ou reduzir tributo, ou

contribuição social e qualquer acessório,

mediante as seguintes condutas:

I - omitir informação, ou prestar

declaração falsa às autoridades fazendárias;

II - fraudar a fiscalização tributária,

inserindo elementos inexatos, ou omitindo

operação de qualquer natureza, em documento

ou livro exigido pela lei fiscal;

III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura,

duplicata, nota de venda, ou qualquer outro

documento relativo à operação tributável;

IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir

ou utilizar documento que saiba ou deva saber

falso ou inexato;

V - negar ou deixar de fornecer, quando

obrigatório, nota fiscal ou documento

equivalente, relativa à venda de mercadoria ou

prestação de serviço, efetivamente realizada,

ou fornecê-la em desacordo com a legislação.

Parágrafo único. A falta de atendimento

da exigência da autoridade, no prazo de 10

(dez) dias, que poderá ser convertida em horas

em razão da maior ou menor complexidade da

matéria ou da dificuldade quanto ao

atendimento da exigência, caracteriza a

infração prevista no inciso “V”.

Art. 2° - Constitui crime da mesma

natureza:

I - fazer declaração falsa ou omitir

declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou

empregar outra fraude, para eximir-se, total ou

parcialmente, de pagamento de tributo;

Page 35: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 33

II - deixar de recolher, no prazo legal,

valor de tributo ou de contribuição social,

descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito

passivo de obrigação e que deveria recolher aos

cofres públicos;

III - exigir, pagar ou receber, para si ou

para o contribuinte beneficiário, qualquer

percentagem sobre a parcela dedutível ou

deduzida de imposto ou de contribuição como

incentivo fiscal;

IV - deixar de aplicar, ou aplicar em

desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou

parcelas de imposto liberadas por órgão ou

entidade de desenvolvimento;

V - utilizar ou divulgar programa de

processamento de dados que permita ao sujeito

passivo da obrigação tributária possuir

informação contábil diversa daquela que é, por

lei, fornecida à Fazenda Pública.

De tal modo, a evasão versa em empregar

métodos que contravenham diretamente a lei ou

o regulamento fiscal, com a finalidade de diminuir

o ônus da tributação.

Distinta da elisão, a evasão fiscal de modo

geral, é um problema que meche com a

economia. Inicialmente por recolher abaixo do

estimado, de certa forma gerando uma lesão na

economia, posteriormente transformando-se em

uma arma de concorrência desleal entre as

empresas, já que alguns empresários passam a

trabalhar na informalidade, prejudicando os

outros empresários do ramo.

IV - CONCLUSÃO

Como visto, o Brasil é o país com uma das

maiores cargas tributárias do mundo, fazendo

com que as empresas sofram com essa carga

excessiva de impostos. Para buscar uma redução

do impacto causado dentro das organizações

pelos altos impostos, foi apresentado o

Planejamento Tributário e ética como ferramenta

fundamental na “batalha” pela economia

tributária, consecutivamente maximizando os

lucros.

Dentro da ética do planejamento tributário

contém as medidas elisivas, focam no

aproveitamento máximo dos incentivos e

“brechas” deixadas dentro da legislação. Que

podem ser usadas pelas corporações, de forma

ética, com a finalidade de reduzir os impactos

causados pela alta carga tributária e servir como

ferramenta de auxílio na gestão empresarial e

sobrevivência das empresas.

Diante das abordagens feitas se questiona:

O não pagamento de tributos necessariamente é

uma prática ilícita ou antiética? Planejar de forma

lícita os pagamentos dos impostos, almejando a

sua redução e consecutivamente o aumento dos

lucros, é uma conduta ilegal?

Como resposta esses questionamentos,

pode-se dizer que sendo o planejamento

realizado antes, ou seja, não permitindo a

geração do fato gerador da obrigação tributária,

não existirá a necessidade do pagamento. Não se

obriga a fazer o pagamento de algo que não se

deve, se por meio do planejamento eficaz o

administrador conseguiu de forma licita e dentro

dos princípios éticos, se utilizando da lei ou de

“brechas” deixadas por ela, o mesmo não terá

nada a recolher para os cofres do Estado.

A nossa carta magna de 1988, em seu art.

5º, nos respalda legalmente em seu texto,

afirmando que “ninguém será obrigado a fazer ou

deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de

lei”, por essas razões a lei não pode obrigar o

contribuinte a praticar o fato gerador do tributo.

Esta é uma das características do planejamento

tributário: ter a liberdade de praticar ou não o

fato que gera a obrigação tributária.

Em face da realidade econômica vivida no

país, o planejamento tributário, por parte dos

empresários, passa a se tornar uma obrigação. O

uso dessa ferramenta permitirá que o empresário

torne a sua empresa mais competitiva dentro do

Page 36: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 34

mercado, maximizando os seus ganhos e

reduzindo os impostos pagos de maneira lícita.

Page 37: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 35 REFERÊNCIAS

Brasil. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em 10/11/2013. ______. Constituição dos Estados Unidos do Brasil (de 18 de setembro de 1946). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em 10/11/2013. ______. Lei n° 4.729 – de 14 de Julho de 1965 – Sonegação Fiscal. Disponível em: <http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1965/4729.htm>. Acesso em 08/03/2014. ______. Lei nº 8.137 – de 27 de dezembro de 1990 – Crimes contra a ordem tributária. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8137.htm>. Acesso em 08/03/2014. CASTRO, Flávia de Almeida Viveiros de. Planejamento Tributário: A Lógica do Sistema e o Manicômio Jurídico Tributário. Ordem dos Advogados do Brasil / Seção Santa Catarina. Nº 106. Caderno de Temas Jurídico, p. 6/7. Florianópolis: Maio de 2002. CHAVES, Francisco Coutinho. Planejamento Tributário na Prática: gestão tributária aplicada. -1ª ed.- 2. Reimpr. - São Paulo: Atlas, 2008. CHING, Hong Yuh; MARQUES, Fernando; PRADO, Lucilene. Contabilidade e Finanças para não especialistas. 3ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. E&N. ‘Impostômetro’ atinge a marca de R$ 2 trilhões. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,impostometro-atinge-a-marca-de-r-2-tri-hoje--imp-,1816515> FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributaria. 10. ed. São Paulo, Atlas, 2006. G1. Brasileiros já pagaram R$ 500 bilhões em impostos em 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2014/04/brasileiros-ja-pagaram-r-500-bilhoes-em-impostos-em-2014.html>. Acesso em 18/04/2014.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direto Tributário. 28 ed.. São Paulo: Malheiros, 2008. MARTINS, James. Elisão tributária e sua regulação. São Paulo: Dialética, 2002. MINAYO, M.C. de S. (Org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 22 ed. Rio de Janeiro, Vozes, 2003. OLIVEIRA, Gustavo de. Contabilidade Tributária. São Paulo, Saraiva, 2005. ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de direito tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

Page 38: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 36

RESPONSABILIDADE: A GESTÃO PÚBLICA QUANTO AOS RECURSOS HÍDRICOS NO

MUNICÍPIO DE TUCANO-BA

Silvia Manoela Santos de Jesus*

RESUMO: A região de Tucano-BA apresenta uma quantidade de mananciais aquáticos distribuídos por uma pequena parte da cidade, quais são responsáveis por manter a vida de grande parte da população nas atividades do dia-a-dia. Sendo assim, este trabalho objetiva analisar as ações da administração pública do município de Tucano-BA com relação à gestão ambiental, enfocando as práticas poluentes e desperdício dos recursos hídricos existentes em boa parte dessa região, como também sugerir ações para que estas práticas possam ser minimizadas ou solucionadas. O estudo foi baseado em pesquisa de campo, utilizou-se também de pesquisa bibliográfica, exploratória e explicativa, a amostragem definida foi a gestão pública municipal (secretaria do meio ambiente e poder legislativo) e população (ribeirinhos que se utilizam dos recursos hídricos para desenvolvimento de atividades laborais). Como resultados foram constatados que a administração pública é a principal responsável pela má gestão dos recursos hídricos do município, sendo um dos motivos para tal situação o aumento das atividades turísticas na região o que resulta em uma omissão pelos órgãos públicos não sendo efetivada uma fiscalização de como alguns produtos ligados ao artesanato, os quais serão destinados aos turistas, estão sendo produzidos, a partir da poluição das águas do rio Itapicuru.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Recursos Hídricos, Gestão Pública

ABSTRACT: The region of Tucano-BA has a number of water fountains spread over a small part of the city, which are responsible for maintaining much of the population living in the day-to-day. Thus, this work aims to analyze the actions of the public administration of the Tucano-BA municipality with respect to environmental management, focusing on pollution and waste of water resources existing practices in much of this region, but also suggest actions so that these practices can be minimized or resolved. The study was based on field research was also used bibliographical, exploratory and explanatory research, defined sampling was the municipal public administration (department of the environment and legislative power) and population (riverine that use of water resources for development of work activities). The results were found that the government is primarily responsible for the mismanagement of water the city resources, and one of the reasons for such a situation the increase of tourist activities in the region resulting in an omission by public agencies not being carried out an inspection as some crafts related products, which will be used to tourists, they are being produced from the pollution of the river water Itapicuru.

KEY WORDS: Sustainability, Water Resources, Public Management

* Mestra em Ciências da Educação, Especialista em Gestão Ambiental, Bacharela em Administração. Professora e Coordenadora da UniAGES.

Page 39: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 37

I – MARCO INTRODUTÓRIO

Desde os primórdios o ser humano através

de suas atitudes intervém na vida do meio

ambiente, importando-se apenas com si próprio,

melhor dizendo, no capital próprio, sempre com o

interesse de se aproveitar de todas as situações,

não se preocupando com sua sobrevivência e de

seus semelhantes no presente e no futuro.

O processo de globalização a cada dia vai

tornando a convivência homem e meio ambiente

ainda mais difícil, e os recursos hídricos, por sua

vez, são uns dos principais ameaçados devido à

poluição e a má utilização dos mesmos. Seja por

meio da irresponsabilidade e ausência de

fiscalização por parte dos gestores públicos ou

pela falta de consciência dos próprios civis. A

sociedade está diante do principal problema que

aflige o século XXI, no entanto, em hipótese

alguma pensa em sair da zona de conforto a qual

se encontra inserida. Na verdade, as ações

voltadas para uma boa gestão ambiental focada

na preservação dos mananciais aquáticos ainda

são tímidas e praticadas por uma parte

insignificante de pessoas se comparada à

quantidade de indivíduos que povoam o planeta.

O estudo aqui desenvolvido permitiu uma

identificação de como a gestão pública municipal

da cidade de Tucano-BA tem gerido os recursos

hídricos de boa parte da região que é rica em

mananciais aquáticos utilizados entre outras

atividades para o turismo, sobrevivência e até

mesmo atividades laborais. Algumas atitudes no

decorrer dos anos já foram tomadas pela gestão

municipal, porém ao avaliarmos, percebe-se que

diante da situação existente o que já foi feito não

representa tanto assim diante da grandiosidade

do problema.

Sendo assim, este trabalho tem como

objetivo geral: analisar as ações da administração

pública do município de Tucano-BA com relação à

gestão ambiental. Como objetivos específicos:

apresentar as práticas poluentes e desperdício

dos recursos hídricos existentes em boa parte

dessa região; sugerir ações para que estas

práticas possam ser minimizadas ou solucionadas.

No campo metodológico, o estudo foi

baseado em pesquisa de campo, utilizou-se

também de pesquisa bibliográfica, exploratória e

explicativa, a amostragem definida foi a gestão

pública municipal (secretaria do meio ambiente e

poder legislativo) e população (ribeirinhos que se

utilizam dos recursos hídricos para

desenvolvimento de atividades laborais). Os

elementos da pesquisa responderam às

perguntas do roteiro de entrevista.

Muitas ações podem ser desencadeadas

para que haja um melhor aproveitamento dos

recursos hídricos de uma boa parte da região

tucanense e que estejam condizentes com as

políticas de preservação ambiental qual estão

impostas por lei no país, no entanto, para que as

devidas políticas possam ser cumpridas faz-se

necessário uma maior supervisão por parte das

autoridades ambientalistas e logicamente uma

conscientização da gestão pública municipal, para

que assim, o poder executivo e legislativo possam

enxergar que os mananciais aquáticos presentes

na cidade podem ser melhores aproveitados

gerando renda ao município mantendo o devido

respeito ao meio ambiente e agindo de acordo

com os critérios que preservam as questões

sustentáveis.

Temas relacionados à gestão ambiental há

alguns anos vem se tornando rotineiro na vida

social, sendo discutida nos diversos segmentos

que compõem a sociedade, colégio, igreja,

esportes e assim por diante, são muitas as

informações levantadas sobre os perigos que a

intervenção do homem na vida ambiental pode

auferir, principalmente, quando um dos recursos

naturais, é justamente a água, os recursos

hídricos potáveis.

A relevância do determinado estudo que

aqui está sendo realizado, encontra-se

intrinsecamente ligado para a identificação e

Page 40: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 38

conscientização de possíveis métodos que podem

ser considerados capazes de minimizarem ou até

mesmo acabarem com situações referentes ao

desperdício e poluição por parte da gestão

pública municipal e pela própria população dos

recursos hídricos da região, resultando dessa

forma, em um melhor aproveitamento desse bem

natural, estimulando dessa maneira a formação

de cidadãos com mentes ambientalmente

corretas, capaz de gerar o desenvolvimento

sustentável da região respeitando o meio natural.

O tema proposto é imprescindível, isto

porque, o problema estudado é algo que

preocupa a todos, tanto ser humano como

natureza, buscando agregar resultados positivos

para a sociedade, além de trazer para o ambiente

acadêmico um problema real e atual,

disponibilizando de conhecimentos de diversos

teóricos que se preocupam em desenvolver seus

estudos baseados nos problemas ambientais

existentes e também apresentando casos reais

que acontecem na região de Tucano-BA.

Oferecendo dessa maneira ao pesquisador a

capacidade de desenvolver competências que

possam respaldar na tomada de decisões através

da troca de informações entre profissionais que

compõem a gestão pública municipal.

II – MARCO TEÓRICO

Gestão ambiental

De uma maneira geral pode-se identificar a

gestão ambiental em si como uma maneira de

administrar o ambiente, os recursos naturais, de

forma a minimizar a interferência das atividades e

atos do ser humano sobre a natureza. De acordo

com Dias (2011, p. 102) “gestão ambiental é a

expressão utilizada para denominar a gestão

empresarial que se orienta para evitar na medida

do possível problemas para o meio ambiente”.

No contexto mundial, identifica-se que as

primeiras ações que podem ser apontadas como

características de atos relacionados à gestão

ambiental datam do século XIV na Inglaterra,

onde houve a proibição de serras hidráulicas e

mais adiante a criação de leis francesas no século

XVII que objetivavam proteger as florestas e

águas do país por conta da grande exploração de

determinados recursos e por consequência a

escassez dos mesmos, principalmente com

relação às florestas, visto que, desde os tempos

medievais a intensificação na exploração da

madeira crescia em índices alarmantes devido à

construção de moradias, fortificações e várias

outras obras. A partir das informações prestadas,

é possível analisar que na verdade essa

preocupação em si, não estava voltada com o

interesse de preservar o meio ambiente, mas sim,

uma preocupação com o interesse próprio, com a

estagnação dos recursos no país, qual gerava

lucros enormes (ACOT, 1990 apud BARBIERI 2007,

p.25).

Recursos Hídricos

O estudo da gestão ambiental remete a

uma enorme quantidade de tópicos de muitos

fatores que afetam os recursos naturais, seja o

solo, o ar ou a água. Esta última tem importância

significativa e indispensável na vida humana,

sendo que, na maioria das atividades

desenvolvidas pelo homem os recursos hídricos

estão sempre presentes, seja no consumo, na

higiene ou na produção agrícola. A água é o maior

tesouro existente no planeta e o que mantém o

organismo humano ativo, por isso a grande

preocupação com o desperdício e poluição desse

recurso.

Os recursos hidrológicos é objeto de estudo

na gestão ambiental em duas vertentes, no que

compreende a qualidade e quantidade de água

presente no planeta. Os pontos analisados nas

duas vertentes estão inseridos em um campo de

estudo desenvolvido por engenheiros, visando

através de métodos específicos, identificar a

Page 41: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 39

quantidade de água existente em determinadas

regiões e a viabilidade de consumo desta.

No que se pode discorrer quanto ao estudo

da quantidade de água no planeta, os números

apresentados evidenciam a ideia que o grau de

preocupação quanto a esse recurso é de nível

alarmente, visto que os resultados obtidos forma

os seguintes; as águas de oceanos representam

97%, a que se encontra em forma de gelo

icebergs são 2,4%, e na atmosfera a quantidade é

de 0,6%, as duas últimas evidenciam a

quantidade de água potável, doce do planeta.

Nesse sentido, observa-se que essa pequena

quantidade de água 0,6%, a qual se encontra

disponível ao ser humano, está sendo utilizada

em todas as atividades do dia-a-dia, e por pura

hipocrisia esta pequena quantidade vem sendo

desperdiçada com frequência e poluída (BRUNA,

ROMÉRO E PHILIPPI JR. 2004, p.56).

Diante de todas as situações que ocorrem e

que podem vir a ocorrer em meio a sociedade é

que se instituiu a Constituição Federal, com o

intuito de regulamentarem normas que

permitissem uma vida harmonizada entre todos

os indivíduos e o meio quais residem. Assim,

tornou-se necessário também elaborar leis que

fossem capazes de proteger o meio ambiente e os

recursos hídricos, já que, esse bem natural está

disponível a todos e insere-se como direito de

todos. De acordo com a CF 88 art. 225 “Todos

tem direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se o

poder público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações”. Fica explícita a notoriedade da

lei, onde especifica que todos podem usufruir o

meio ambiente, salvo que, as atividades

realizadas neste sejam ecologicamente corretas.

É sabido de todos do grande potencial

geográfico que nosso país possui, tanto em faixas

litorâneas compostas por a água salobra, como

diversos reservatórios e lençóis freáticos de água

doce, no entanto existe uma grande contradição,

visto que, a boa parte da população brasileira, em

uma faixa de 40% da população não possuem

abastecimento de água, nesse sentido percebe-se

que a causa para o determinado problema

encontra-se ligado a má administração dos

recursos hídricos do país, mesmo havendo leis

que discorrem sobre como gerenciar esses

recursos.

A lei qual foi mencionada anteriormente é a

nº 9.433/97, onde fica criado o SNGRH (Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos)

estabelecendo diretrizes que buscam uma melhor

gestão dos mananciais aquáticos do país. É

abordado no art. 1° os fundamentos, sendo estes:

I- Água é um bem de domínio público;

II- A água é um recurso natural limitado,

dotado de valor econômico;

III- Em situações de escassez, o uso

prioritário dos recursos hídricos é o consumo

humano e a dessedentação de animais;

IV- A gestão dos recursos hídricos deve

sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

V- A bacia hidrográfica é a unidade

territorial para implementação da Política

Nacional de Recursos Hídricos e atuação do

Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos;

VI- A gestão dos recursos hídricos deve

ser descentralizada e contar com a participação

do poder público dos usuários e das

comunidades.

Ainda compreende também o art. 3° da

mesma lei as diretrizes que devem ser aplicadas

para que aconteça uma melhor gestão desses

recursos, sempre com a preocupação com as

futuras gerações, evidenciando assim a

necessidade de práticas sustentáveis voltadas

para os recursos hídricos (SEIFFERT, 2007, p.133-

134). Faz-se de fundamental importância

salientar também aqui a lei nº 9984/00 qual

dispõe sobre a criação da ANA (Agência Nacional

de Águas) apresentando em seu art. 3º o

Page 42: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 40

seguinte: Fica criada a Agência Nacional de Águas

- ANA, autarquia sob regime especial, com

autonomia administrativa e financeira, vinculada

ao Ministério do Meio Ambiente, com a

finalidade de implementar, em sua esfera de

atribuições, a Política Nacional de Recursos

Hídricos, integrando o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos. A criação

da ANA vem ainda mais fortalecer essa luta

interminável para a preservação dos recursos

hídricos presentes no meio natural,

determinando normas quais devem ser

cumpridas pelos diversos órgãos responsáveis

pela gestão desse bem tão precioso.

III – MARCO METODOLÓGICO

Descrição da pesquisa

O estudo do tema proposto foi baseado em

pesquisa de campo, sendo esta capaz de

disponibilizar informações ou até mesmo

conhecimentos sobre um determinado problema,

o qual necessita de uma possível resposta ou

comprovação de uma hipótese, sendo possível

também que aconteça descobertas sobre novos

fenômenos ou relações ligadas a ele (MARCONI E

LAKATOS, 2005, p.188).

Utilizou-se também de pesquisa

bibliográfica para a execução do presente estudo,

esta se trata de bibliografia já publicada por

outros autores que discorrem sobre determinado

tema, podendo ser encontrada em revistas,

jornais e até mesmo material disponível na

internet. A importância de tal pesquisa está no

fato de que a mesma é capaz de proporcionar ao

pesquisador o conhecimento de uma quantidade

incalculável de informações e assuntos que no

decorrer da execução do trabalho permite a

construção de novas ideias e a possibilidade de

construir uma pesquisa mais rica em informação,

ou seja, mais completa. De acordo com Gil (2010):

A pesquisa bibliográfica é elaborada com

base em material já publicado.

Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa

inclui material impresso, como livros, revistas,

jornais, teses, dissertações e anais de eventos

científicos. Todavia, em virtude da disseminação

de novos formatos de informação, estas

pesquisas passaram a incluir outros tipos de

fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, bem

como o material disponibilizado pela Internet

[...] A principal vantagem da pesquisa

bibliográfica reside no fato de permitir ao

investigador a cobertura de uma gama de

fenômenos muito mais ampla do que aquela

que poderia pesquisar diretamente. A pesquisa

bibliográfica também é indispensável nos

estudos históricos. Em muitas situações, não há

outra maneira de conhecer os fatos passados se

não com base em dados bibliográficos (p. 30).

A pesquisa social divide-se em diversas

formas, porém a que se aplica no trabalho em

evidência é a do tipo exploratória e explicativa,

onde a primeira apresenta como propósito

ocasionar uma maior intimidade com o problema

em tela, podendo utilizar-se de diversos meios,

como por exemplo, entrevistas ou levantamento

bibliográfico, caracteriza-se por ser um tipo de

pesquisa flexível o que a torna complexa, já a

segunda tem sua preocupação voltada para a

identificação de quais fatores apresentam-se

como responsáveis por ocasionar vários

fenômenos. De tal forma, esse é um tipo de

pesquisa que contém um grau de dificuldade mais

elevado que as outras duas, exigindo assim do

pesquisador atenção e comprometimento no

decorrer desta (GIL, 2010).

A pesquisa de campo foi aplicada na cidade

de Tucano qual se encontra localizado no

nordeste do estado da Bahia, cobrindo uma área

equivalente a 2.799,152 km², tendo uma

população aproximada em 2013 de 55.923

habitantes, onde o que move a economia

municipal é a agricultura e pecuária, destacando-

Page 43: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 41

se também o artesanato de peles de animais em

algumas localidades (IBGE, 2014).

Descrição da população de amostra

A amostragem definida para o seguinte

estudo foi a seguinte: gestão pública municipal

(secretaria do meio ambiente e poder legislativo)

e população (ribeirinhos que se utilizam dos

recursos hídricos para desenvolvimento de

atividades laborais). Percebe-se dessa forma, que

a amostragem a ser utilizada não é de cunho

aleatório e sim intencional. De acordo com

Marconi e Lakatos (2005, p.165) “amostra é a

parcela convencionada do universo (população);

é um conjunto do universo”. Assim a pesquisa foi

aplicada a 10 representantes do poder legislativo

e 2 da secretaria do meio ambiente do município,

e a 12 ribeirinhos que trabalham com a atividade

coureira.

Instrumento e coleta de dados

Foram aplicados questionários específicos

para cada classe de indivíduos como técnica de

investigação destinada exclusivamente às partes

ligadas ao tema de estudo, com o interesse de

obter informações sobre diversos pontos como

conhecimento, valores, crenças e etc., para que

assim, possa ser entendida a realidade da região

(GIL 2010).

Os questionários foram compostos por

questões específicas destinadas a gestão pública

municipal (questionamentos relacionados ao

tema proposto gestão ambiental dos recursos

hídricos, as quais serão capazes de apresentar

informações precisas para que seja feita a análise

do problema em evidência), perfazendo um total

de 8 questões, possibilitando apenas três

alternativas de resposta. Segundo Marconi e

Lakatos (2010, p.184) “questionário é um

instrumento de coleta de dados, constituído por

uma série ordenada de perguntas, que devem ser

respondidas por escrito e sem a presença do

entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o

questionário ao informante”.

Também foi usado o recurso de entrevista,

aplicado exclusivamente aos ribeirinhos que

trabalham com a atividade coureira, sendo um

total de 9 perguntas. Além dos referenciais

bibliográficos presentes em livros, artigos,

revistas e sites que comportam uma grande

quantidade de pontos fundamentais sobre a

temática abordada.

IV – MARCO ANALÍTICO

Desperdício e poluição dos recursos hídricos

O maior problema que atinge os mananciais

aquáticos do Brasil e principalmente da uma

parcela da região de Tucano-BA diz respeito ao

desperdício de uma grande quantidade de água

potável, própria para o consumo. É recorrente na

cidade que os gestores do poder executivo

engendrem poços artesianos ou bicas em distritos

e povoados do município que possuem grandes

lençóis freáticos de água doce e até mesmo

salobra, tendo como intuito, o turismo e em

muitas vezes a melhoria de vida das pessoas.

Porém, o que implica nesta situação é uma

enorme quantidade dos recursos hídricos que

acabam sendo desperdiçados, pois, as famosas

bicas de Tucano-BA, em sua maioria ficam ligadas

dia e noite, não havendo um controle e nem uma

preocupação em preservar este bem, percebe-se

que a criação dessas bicas acontece de maneira

desorganizada, como de improvisação. Para

Rebouças (1997, p. 143): “As condições de

utilização das águas subterrâneas são também

das mais precárias, de tal forma que, salvo em

poucas e honrosas exceções, predomina o

empirismo e a improvisação, resultando no

desperdício de recursos hídricos e financeiros

com graves consequências para o aquífero e para

Page 44: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 42

a economia”. Concretiza-se assim, que não há um

estudo sobre os impactos ambientais que podem

ser gerados a partir das atitudes tomadas pelos

gestores. De acordo com Guerra et al, impactos

ambientais são:

1-Ações que promovem a alteração do

meio ambiente ou em parte dele (FEEMA 1990)

2- É a alteração no meio ou em algum de seus

componentes por determinada ação ou

atividade.[...]4- Qualquer alteração das

propriedades físico-químicas e biológicas do

meio ambiente causada por qualquer forma de

matéria ou energia resultante das atividades

humanas que direta ou indiretamente, afetam a

saúde, a segurança e o bem estar da população,

as atividades sociais e econômicas, a biota, as

condições estéticas e sanitárias do meio

ambiente, enfim, a qualidade dos recursos

ambientais (2009, p.165).

Faz-se necessário saber que um impacto

ambiental, como explicitado pelo pensamento de

Guerra, só acontece devido um aspecto

ambiental realizado. Os aspectos são todas as

atitudes que o ser humano toma frente ao meio

ambiente, estes podem ser positivos ou

negativos, que resultará em um impacto também

positivo ou negativo. Percebe-se então que a

atitude da gestão pública de perfurar um poço

em determinados povoados da cidade aconteceu

visando melhorar a vida da população. Seria este,

um exemplo de aspecto positivo. No entanto, tal

decisão gerou dos impactos ambientais, um

positivo, ao resolver o problema da escassez de

água nessas regiões, porém originou-se também

um impacto negativo, visto que não houve um

estudo detalhado na região, e não há um

esquema para desligar o poço, fazendo com que a

água esteja sendo desperdiçada, caindo dia e

noite sem parar.

O outro problema que atinge os mananciais

aquáticos da região está relacionado com a

poluição, principalmente do rio Itapicuru, qual

passa na região tucanense. A devida poluição

acontece por conta de despejo de redes de

esgotos no rio e o procedimento de “curtição” de

couro de animais bovinos para a fabricação de

peças artesanais como bolsas, sandálias, quais

são vendidas aos turistas do distrito de Caldas do

Jorro.

A questão poluição está ligada

intrinsecamente a qualidade dos recursos hídricos

existentes, ou seja, se a água realmente é

disponível para consumo ou para práticas

agrícolas. Quando se fala em poluição de águas,

deve-se entender que a ideia é evidenciar que o

recurso hídrico poluído sofreu alterações em

todas as características que o compõe, sejam elas

físicas, químicas ou biológicas, fazendo com que o

uso da água fique comprometido, impróprio,

alterando assim sua utilização que acontece de

forma preestabelecida, ou seja, a utilização desta

deve estar associada ao uso de necessidade tanto

na atualidade como futuras, precisando assim ter

sua qualidade compatível com o que se

estabelece como necessário hoje e futuramente

(BRUNA, ROMÉRO E PHILIPPI JR. 2004, p.58).

Aplicação do EIA e RIMA

Para que possa haver o detalhamento

específico das atitudes que promovem o

desperdício e poluição dos recursos ambientais,

os governos e conselhos ambientais criaram o

EIA/RIMA (Estudo dos Impactos Ambientais e

Relatório dos Impactos Ambientais). O EIA

permite a identificação de todos os detalhes do

ambiente que está sendo analisado, podemos

especificá-lo como a parte teórica, é os estudos

dos processos, dos impactos que certa atitude

humana provoca na natureza, ficando assim mais

fácil focalizar justamente a raiz do problema.

Segundo Barbieri (2007, p.291):

EIA é importante não só para o país, a

região e o município, mas também para o

próprio proponente do projeto, que pode ser

Page 45: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 43

inclusive uma entidade do próprio poder

público. Seu objetivo é tomar ciência

antecipadamente das agressões ao meio

ambiente físico, biótico e social decorrentes da

implantação de certos tipos de

empreendimentos e atividades. Para o órgão

governamental ambiental, esse estudo orienta

suas decisões quanto à aprovação ou não do

projeto em questão; para o proponente,

permite que o projeto seja aperfeiçoado, o que

aumenta sua segurança e possibilita a

elaboração de medidas de mitigação e de

programas de monitoramento dos impactos

negativos identificados nos estudos de

avaliação prévia.

Já o RIMA apresenta-se como o relatório do

que foi observado, é a conclusão do estudo,

ambos são instrumentos da Política Nacional do

Meio Ambiente. Sendo os mesmos criados de

acordo com a Lei Federal n.º 6.938/81,

responsáveis pela instituição da Política Nacional

do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto

Federal 99.274/90, que exige a aplicação desses

instrumentos baseando-se na resolução CONAMA

n.º 001 de 23/01/1986.

V – CONCLUSÃO

Tendo em vista tudo o que foi exposto no

decorrer do trabalho, torna-se perceptível que

são muitos os problemas ambientais que atingem

os recursos naturais disponíveis a sociedade, em

especial os que abrangem as bacias hidrográficas

e balneários aquáticos, sendo que a razão para a

determinada situação sempre é a mesma, a

interferência do ser humano por conta do

desenvolvimento de atividades laborais ou de

interesses próprios.

A gestão ambiental atualmente aparece

como tema de diversas discussões em todos os

setores da sociedade, em todos os modelos de

gestão de empresas, sejam elas de patrimônio

público ou particular. Gerir um negócio

respeitando as legislações que protegem o meio

ambiente requer um estudo e conhecimento

aprofundado do tema e uma conscientização por

parte dos indivíduos para o desenvolvimento do

ideal sustentável, mostrando uma preocupação

com as gerações vindouras no decorrer da

realização das ações executadas a cada dia. Como

é de conhecimento de todos que a grande

maioria não respeita as leis voltadas às questões

ambientais, necessita-se dessa forma, de uma

maior fiscalização dos órgãos responsáveis.

Tratando-se então da esfera pública,

percebe-se que a supervisão existente nesse

sentido é mínima ou até mesmo não acontece

principalmente no que diz respeito às gestões

públicas municipais.

Baseando-se nesse pressuposto, nota-se

nitidamente que de acordo com os resultados

obtidos por meio de formulários e questionários

aplicados a incidência de um mau gerenciamento

por parte da gestão pública municipal tucanense

no que se refere ao desperdício e poluição dos

recursos hídricos existentes na cidade, além da

falta de conscientização dos próprios cidadãos.

Evidencia-se que a gestão pública

municipal não realiza a supervisão e

gerenciamento adequado dos recursos hídricos,

realizando ações que prejudicam ainda mais o

contexto existente, percebe-se que não há o

conhecimento de como aplicar projetos ou

estudos como o EIA/RIMA buscando executar

ações que venham a beneficiar a preservação das

águas. Sabe-se que os recursos disponíveis não

são dos melhores, porém a situação vivida deve-

se ao fato da falta de comprometimento de

maneira geral de todos que vivem na região,

principalmente os representantes do povo e as

entidades criadas para a proteção ambiental, é

possível afirmar que estes não possuem a

consciência do papel que devem desempenhar

muito menos como fazer para solucionar ou

lançar medidas mitigadoras quanto ao processo

de desperdício e poluição dessas águas.

Page 46: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 44

Trazendo para o contexto dos cidadãos

que trabalham com a atividade coureira, através

dos resultados obtidos foi possível identificar que

em sua maioria esses indivíduos não possuem

ideia ou conhecimento nenhum sobre as práticas

e leis ambientais, e que mesmo sendo informados

por meio do questionário aplicado sobre os

malefícios oriundos do desempenho de suas

atividades, estes se comportam como se a

poluição das águas do rio não existisse ou fosse

um pequeno problema sem capacidade de fazer

mal algum tanto a eles como as futuras gerações

ou ainda a própria natureza.

Os objetivos do estudo em questão foram

alcançados condicionados a aplicação do

preenchimento dos formulários e aplicação dos

questionários voltados para o problema da

deficiência na gestão pública municipal em

relação aos recursos hídricos e a poluição causada

pela atividade coureira, além, das pesquisas

bibliográficas feitas.

Enfim, é notório que as condições

pertinentes para o curso natural das bacias

hidrográficas da região de Tucano não acontecem

como deveria, sendo a gestão pública apontada

como o principal sujeito responsável por conta do

problema em questão. Certamente não é fácil

gerenciar de maneira eficaz tal situação, e como

ficou claro que a mesma não pode ter uma

solução definitiva, recomenda-se pelo menos que

aconteça a aplicação de medidas mitigadoras

para reduzir os impactos sofridos pelo meio

ambiente de forma geral, por exemplo, com

relação aos balneários que jorram água noite e

dia, estes poderiam funcionar com um horário

determinado, sendo desligados em certos

momentos, porém, como alguns deles não

podem ter o fluxo de água interrompido por risco

de explosão do poço, então os responsáveis

deveriam reduzir o fluxo de água jorrado por cada

torneira.

Com relação à poluição pela atividade

coureira, a gestão pública municipal precisaria

intervir, fazendo com que a atividade fosse

desenvolvida respeitando as leis ambientais. Uma

das medidas mitigadoras que poderiam ser

adotadas seria o processo de (P+L), Produção

mais Limpa, utilizado por muitas empresas para

solucionar ou reduzir os impactos que as mesmas

exercem sobre o meio ambiente. A (P+L) trata-se

de um processo pelo qual é elaborado um

conjunto de práticas e estratégias capazes de

solucionarem ou reduzir os impactos causados

pela ação humana no ambiente. Tratando-se da

cadeia coureira a aplicação do processo em

questão beneficiaria os efluentes e bacias

hidrográficas do município de Tucano-Ba no que

diz respeito a uma menor utilização dos banhos

das peles de animais, redução na aplicação de

alguns produtos, cujo são utilizados em uma

quantidade exagerada, ou até mesmo a

substituição por alguns dos produtos e ácidos que

possuem um teor de poluição muito alto, por

outros que em sua composição apresentam

menores impactos ao ambiente.

Sabe-se que a situação existente na cidade

não é fácil de ser solucionada ou gerenciada,

porém, não é algo também impossível de

acontecer, sendo necessário assim o

comprometimento de todos os envolvidos no

processo para que pelo menos as águas e

efluentes não cheguem a se esgotarem ou fiquem

impróprios para uso.

Page 47: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 45

REFERÊNCIAS

BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

BRUNA, G. C.; ROMÉRO, M. A.; PHILIPPI JR, A. Curso de Gestão Ambiental. Barueri, SP: Manole, 2004

CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988

DIAS, R. Gestão Ambiental: Responsabilidade social e sustentabilidade. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 2011.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. -6. ed. São Paulo: Atlas, 2010

GUERRA, A. J. T.[et al]. Dicionário de Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Thex, 2009.

MARCONI, M. D. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia científica. -6 ed. São Paulo: Atlas, 2005

REBOUÇAS, A. C. Água na região Nordeste: desperdício e escassez. São Paulo: Estudos Avançados, 1997.

SANTOS, José Wilson dos; BARROSO, Rusel Marcos Batista. Manual de Monografia: Graduação e Pós-graduação. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade, 2005.

SEIFFERT, M. E. B. Gestão Ambiental: Instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. São Paulo: Atlas, 2007.

APÊNDICES QUESTIONÁRIO

1. Os balneários de água que jorram dia e noite perfurados em determinadas

localidades desperdiçam água sem necessidade, e em certos locais não há nem a

necessidade de serem perfurados, visualizando apenas questões políticas para tal

ato por parte da gestão pública.

( ) concorda ( ) discorda ( ) não se aplica

2. O poder legislativo municipal não apresentou nenhum projeto quanto à

preservação das águas e contra o desperdício e poluição dos recursos hídricos.

( ) concorda ( ) discorda ( ) não se aplica

3. As questões ambientais voltadas aos recursos hídricos da cidade de Tucano-BA

como outras questões que poderiam beneficiar tanto o meio ambiente como o

município não são aplicadas devido a jogo político e as alianças políticas existentes.

( ) concorda ( ) discorda ( ) não se aplica

4. Investimentos em irrigação por parte da gestão municipal para apoiar pessoas

que moram próximas aos poços perfurados seria uma maneira de aproveitar a água

desperdiçada todos os dias, assim como foi feito investimentos no tratamento da

rede de esgoto do município para gerar benefícios com uma água que estava sem

serventia.

( ) concorda ( ) discorda ( ) não se aplica

5. É perceptível que não há uma preocupação por parte da gestão municipal quanto

a poluição do Rio Itapicuru causada pela prática da atividade coureira na região.

( ) concorda ( ) discorda ( ) não se aplica

6. A gestão publica municipal não respeita as leis que apontam como e até que

ponto o homem pode interferir ou utilizar-se dos recursos hídricos existentes em

determinado local.

( ) concorda ( ) discorda ( ) não se aplica

7. A secretária do meio ambiente localizada no município não realiza supervisões

quanto a perfurações de novos poços artesianos e desperdício das águas destes,

nem a poluição ocorrida no Rio que corta a cidade. *

( ) concorda ( ) discorda ( ) não se aplica

8. Não há aplicação do EIA/RIMA Estudo dos Impactos Ambientais/Relatório de

Impactos ao Meio Ambiente e nem promoção de campanhas realizadas por parte

da gestão municipal que busquem solucionar os problemas existentes nos recursos

hídricos da cidade.

( ) concorda ( ) discorda ( ) não se aplica

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1º) Qual sua idade?

2º ) Qual seu sexo?

3º ) Qual seu estado civil?

4º ) A quantos anos trabalha coma a atividade coureira?

5º ) A atividade de curtição de pele de animais é sua o único meio de sobrevivência?

6º ) O senhor tem ideia que a atividade com couro é causadora de grande poluição do

rio da região, dessa forma, o senhor não se preocupa com o mal feito ao recurso

natural como a sua própria saúde por ficar exposto ao odor insuportável e em

contato com animais que rodeiam seu local de trabalho por conta dos restos das

peles como porcos e urubus?

7º ) O senhor não se preocupa com a poluição gerada em diversos aspectos

ambientais por conta de sua atividade?

8º ) Há alguma possibilidade de desenvolver a atividade de processamento de couro

em outro local que não fosse o rio?

9º ) Em algum momento algum órgão municipal ou estadual veio a você informar que

sua atividade não poderia ser desenvolvida neste local, ou chegaram a impedir o

senhor de desenvolver seu trabalho, alertando que você e seus colegas poderiam ser

punidos?

Page 48: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 46

A INSTRUÇÃO PRIMÁRIA EM PARIPIRANGA (1870-1920): Quando a escola não tinha

professor, e o professor não tinha escola

Ana Maria Ferreira de Oliveira*

RESUMO: A proposta desse trabalho é analisar o movimento histórico de desenvolvimento das políticas púbicas do Ensino Primário em Paripiranga, no início de sua formação triotrial e social; situando-a no cenário regional do período, principalmente no que diz respeito ao estado da Bahia, em reorganização. Partindo de um referencial teórico cujas premissas fundamentais residam na não linearidade do processo histórico, mas na concepção da história como substrato para o entendimento de todo o processo. Assim, as fontes básicas e constitutivas da pesquisa foram as leis e resoluções aprovadas pela Assembleia Provincial da Bahia; os Relatório dos Presidentes de Província e as correspondências oficiais entre setores da administração da província e suas vilas e cidades, de 1870 a 1920. Considerou-se para tanto, as leis que interferiram diretamente no desenvolvimento do ensino primário na Bahia e consequentemente em Paripiranga. Dessas fontes, puderam ser extraídos os dados documentais essenciais ao estudo do processo de escolarização da população de Paripiranga no final do século XIX, que se percebeu marcado por iniciativas individuais, precariedade estrutural e elitização do acesso ao saber. PALAVRAS-CHAVE: Paripiranga, escolarização, formação social, movimento histórico

RESUMEN: El propósito de este estudio es analizar el movimiento histórico del desarrollo de las políticas públicas de educación primaria en Paripiranga, al principio de su formación trriotrial y social; colocándolo en la configuración regional de la época, especialmente en relación con el estado de Bahía, en situación de reorganización. A partir de un marco teórico cuyas instalaciones fundamental residir en la no linealidad del proceso histórico, sino en la concepción de la historia como un sustrato para la comprensión de todo el proceso. Por lo tanto, las fuentes básicas y cosntituitivas la investigación fueron las leyes y las resoluciones aprobadas por la Asamblea Provincial de Bahía; la Provincia de presidentes de los sectores de la administración provincial entrre informe y la correspondencia oficial y sus pueblos y ciudades, de 1870 a 1900. Se consideró por tanto las leyes que interferían directamente en el desarrollo de la educación primaria en Bahía y en consecuencia, en Paripiranga. Estas fuentes, podrían extraerse de las pruebas documentales esencial para el estudio del proceso de escolarización de la población Paripiranga a finales del siglo XIX, se observó marcada por iniciativas individuas, inestabilidad estructural y el elitismo de acceso al conocimiento. PALAVRAS CLABE: Paripiranga, la educación, la formación social, el movimiento histórico

* Formanda em Letras Vernáculas pela UniAGES; Formanda

em História pela Universidade Federal de Sergipe; Pós-

Graduanda em História de Cultura Afro-Brasileira pela

Faveni.

Professor Marcionillo – Fonte: Acervo

Pessoal

Page 49: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 47

INTRODUÇÃO

A compreensão dos processos sociais e

históricos que marcaram o desenvolvimento da instrução primária da população de Paripiranga, perpassa pela análise de importantes aspectos da história da educação no Brasil e na Bahia oitocentista. Os olhares voltados para a educação pública e as medidas administrativas adotadas desde a pós Independência até a Primeira República, se refletem nos lugares mais longínquos da nação.

Os princípios liberais e democráticos que fundamentavam o novo regime proclamado mediante o processo de independência; impulsionaram as discussões acerca da educação popular brasileira durante o Império. Inflamaram-se os discursos sobre a escassez de mestres, dada falta de incentivo financeiro e condições propícias à sua boa formação, a precariedade das instalações escolares ou a ausência delas; e a necessidade urgente de investimento na instrução popular, considerando-a aspecto de grande importância para a viabilidade de um governo constitucional.

Apesar dos discursos, primeira constituição brasileira, outorgada em 24 de março de 1824, deu à educação, status de instrução popular; porém, limitou-se apenas à formalização da educação como direito subjetivo dos cidadãos, inserido no texto constitucional, sem especificar as incumbências efetivas do Estado dentro do processo de organização e oferta de instrução pública. O texto trata apenas do estabelecimento da gratuidade da instrução primária para todos os cidadãos e prevê a criação de colégios e universidades, em seu artigo 179:

A inviolabilidade dos direitos civis e políticos

dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte:

XXXII - A instrução primária e gratuita a todos

os cidadãos. XXXIII - Colégios e Universidades, aonde serão

ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras e Artes. (CONSTITUIÇÃO DE DO IMPÉRIO DO BRASIL. 1824. p. 54)

Assim, firma-se “a inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros”, mas ao mesmo tempo permite-se a oferta de “instrução” pela iniciativa privada; sem o devido esclarecimento acerca preceitos de cidadania, ou definições no que tange aos aspectos estruturais e legais para a educação. A constituição, apesar das lacunas, gerou importantes discussões acerca do ensino, ao demonstrar interesse e preocupação com a popularização da instrução primária; porém, na prática, o acesso à educação ficou reduzido aos grupos das camadas sociais mais privilegiadas que dispunham de recursos financeiros para ingressar no universo das primeiras letras.

Carneiro (2015) em seus estudos sobre os níveis de alfabetismo na Bahia entre 1857-1878; tendo como foco a região nordeste da província 1; nos dá a dimensão do nível de instrução da população de Bom Conselho, qual Paripiranga estava interligada no período; ao verificar, a partir da análise de Registros Eclesiásticos ou Paroquiais de Terras e Livros de Notas de Municípios, a percentagem de gabinetes da região capazes de assinar o próprio nome. Dados estes que, segundo a autora, mostram que havia uma prática de escrita na região, realizada por uma classe social específica detentora de terras e de poder aquisitivo elevado em consideração à maioria.

A capacidade de assinar dos indivíduos

envolvidos na documentação gerada no âmbito do registro de terras nas localidades de Bom Conselho, 73/159 (45,91%), Tucano, 63/124 (50,80%) e Itapicuru, 76/88 (86,36%) é relativamente alta em relação aos dados do Censo de 1872 para a região Nordeste, o que parece indicar se tratar de um grupo específico, com posses, representando uma especialização da escrita e, também, uma escrita majoritamente escrita por homens (64,08% - 207/323 e 10,4% - 5/48) (CARNEIRO, 2015. p. 153).

1 Denominação dada à cidade de Cicero Dantas, até 1905;

quando teve seu nome alterado Pela Lei Estadual n.º 583, de 30-05-1905; e desde então o Município de Bom Conselho passou a denominar-se Cícero Dantas, em homenagem ao Barão de Jeremoabo (CERQUEIRA, 1989. p.88-89).

Page 50: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 48

A autora traz ainda os resultados do censo de 1872, que apresentam um índice de 25,44% de alfabetizados em Bom Conselho, e referem-se à capacidade uso da escrita da população, destacando ser esta, “uma especialização da escrita entre fazendeiros, configurando possivelmente, uma elite local”. Sendo que essa capacidade de escrita não de dava na mesma proporção entre homens e mulheres; pois, ainda que as mulheres representassem à quase metade dos inventariantes, representavam manos de um terço das pessoas aptas para assinar.

Entendendo a educação como uma experiência e prática social histórica, percebe-se que, na Bahia do final do século XIX, a educação se constituiu numa necessidade geral, independente de sexo, porém com superioridade masculina, dado o contexto sociocultural; como numa força impulsionada pelas necessidades sociais de seu tempo. Assim, prática educativa, se produziu do estabelecimento das relações que os gêneros estabeleceram entre si na cultura; sob o signo das ideologias e das relações de cultura e de poder, estabelecidas entre os sexos, classes, etnias e gerações.

Os Relatórios de Trabalhos do Conselho Interino de Governo2, mostram que até a primeira República (1889); em quase todas as regiões brasileiras, em especial no sertão baiano, a maioria das escolas funcionava em residências particulares cedidas ou pertencentes ao próprio professor. As turmas eram separadas sexualmente; sendo que o número de meninos era sempre muito superior ao de meninas, dado o contexto cultural onde a figura feminina estava associada ao recato, à maternidade ao serviço do lar. No início, o ensino era ministrado por professores leigos, e aos poucos chegam os mestres formados que, em sua maioria, se desdobram para atender às necessidades de instrução de uma cidade inteira.

Nas ausências que, ao abrir a Assembleia Legislativa Provincial, d’esta solicitei para dar ordem e incremento a este reamo de serviço e mediante as

2 Criado em 20 de agosto de 1822, a partir da união

administrativas das Vilas da província, como forma de fortalecimento do processo de Independência, consolidação e organização administrativa da Regência e do Império do Brasil. (ALMEIDA, 1822. p. 04).

quaes podesse conseguir melhor distribuição das escolas. Bom preparo dos pro0fessores, prédioas, mobílias, livros e utensílios, e fiscalização local, que é actualmente nulla, sou obrigado a dizer que a instrção definha e está muito a quem das necessidades do cultivo intelectual dos habitantes d’esta nobre província, não mpassando de uma realidade puramente orçamentária. (PORTELLA. 1889. p. 72-73).

Os Presidentes de Província tinham por

obrigação de seus cargos, apresentar anualmente à Assembleia Legislativa, relatando do ocorrido em sua administração no ano anterior. Tais relatos constituem preciosas fontes de informação acerca da estrutura social, política, cultural e administrativa da província; de modo que os registros relacionados à instrução pública na Bahia oitocentista, sobretudo na microrregião de Bom Conselho; apontam para à existência de uma estrutura educacional bastante precária e muito abaixo do vislumbrado pela administração provincial; que constantemente salientava a necessidade de mais investimentos e a realizações práticas.

Os estudos historiográficos da educação brasileira nesse período, deixam evidentes os esforços do Governo Imperial na instituição de leis que viabilizassem o acesso ao ensino no país, a partir da promulgação da Lei de 15 de outubro de 1827; apontada como a primeira lei da educação no Brasil; que vigorou por mais de cem anos, e regulamentou a tomada de importantes medidas educacionais; como a construção de prédios escolares, remuneração de mestres, definição do Método Lancaster3 como padrão de ensino, estruturação curricular e admissão e escolas do sexo feminino; esforços estes, que favoreceram implantação de uma educação elitizada e voltada para a formação de bacharéis, deixando à margem da educação nacional.

Paripiranga, nesse período de constantes mudanças administrativas e reformas educacionais; surge como povoação, em meados do século XIX; como resultado de um processo

3 Esse método, inventado na Inglaterra, consistia no

preparo dos alunos mais capazes, que se tornavam monitores para os demais. Os resultados obtidos foram péssimos, o que não impediu sua adoção durante quinze anos 1923-1838. (SAVELI 2010. P.146).

Page 51: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 49

de ocupação das terras do sertão baiano, marcado pela doação de terras e prática da pecuária extensiva. De início, as terras de Malhada Vermelha (hoje Paripiranga) integravam a totalidade do território Jeremoabo; passando; depois passou a pertencer a Bom Conselho, e compunha dos dados de alfabetização apresentado por Carneiro (2015); até sua emancipação política em 1886.

Silva (1982), historiador paripiranguense, em sua obra Roteiro de Vida e Morte; um estudo sobre a expansão do catolicismo no sertão baiano; nos apresenta dados que sobre o povoamento de Malhada Vermelha em meados do XVII, e descreve traços da população que habitou região de Jeremoabo a qual Paripiranga pertencia no período, ao relatar a existência de população muito pequena, em relação à ares de terra, assim como o estado de pobreza e servidão em que viviam:

Todos entregues à roça de mantimentos para

a dieta ordinária, plantando a mandioca, o milho , e o feijão; espalhando pequenos cafezais no sombreado da mata ou no cinturão das árvores fruteiras adjacentes às moradias e destinados ao consumo doméstico; aplicados à cultura da mamona para o lume, e do algodão para roupa grosseira, e quando o comércio abriu condições, passaram a fornecer para fora... Trata-se evidentemente de um mundo rural, cujos limites naturais e sociais estiveram sempre agravados pela peculiaridade ecológica e por instituições inadequadas. Uma população que vive do campo ou em função dele. Os censos de 1872 e 1892 apenas registram o cômputo geral, respectivamente 13 034 e 17 278 habitantes. (SILVA, 1982. p. 11-12).

O contexto apresentado por Silva (1982) nos traz uma noção da precariedade da vida da população de Paripiranga, no início de sua formação; em um ambiente rural, desprovido das estruturas administrativas e sociais que permeiam o universo urbano. Um ambiente em que as reformas educacionais promovidas pelo governo ainda não haviam chegado, e a população vivia em condições de extrema simplicidade e analfabetismo; uma vez que o conhecimento da leitura e da escrita era privilégio dos mais abastados donos de terras, que gozavam de condições financeiras e base familiar que

sustenta a formação educacional de sua prole; um reflexo do que ocorria no grande sertão da Bahia Imperial.

AS REFORMAS DA EDUCAÇÃO PRIMÁRIA NO IMPÉRIO E SEUS REFLEXOS NA ESCOLARIZAÇÃO POPULAÇÃO DE PARIPIRANGA

Historiando o processo de escolarização da

população de Paripiranga no final do século XIX; nos primeiros tempo de sua organização territorial e administrativa; quando era conhecida como Arraial de Malhada Vermelha; vemos que, assim como ocorria em quase todos os arraiais e vilas so sertão da Bahia, o processo de estruturação da instrução pública da população foi marcado pela precariedade em todos os aspectos de sua estrutura; em um período em que os olhos do Estado ainda não haviam alcançado os mais distantes recantos do sertão. Os registros de documentos, correspondência e imprensa local, demonstram o desejo latente da população pela instrução de seus filhos, e a inquietação diante das faltas de prédios públicos, e de mestres que condicionassem o acesso da maioria de baixo poder aquisitivo ao universo da educação formal.

O decreto 1.331A, de 17 de fevereiro de 1854, traz a proposta se uniformização do ensino, como forma de suprir as carências de uma estrutura educacional nacional verdadeiramente eficiente. O decreto de 1854 contempla a regulamentação da Instrução Primária e Secundária pública e privada, que ficam sob a vigilância da Inspetoria Geral da Instrução Primária e secundária (PERES, 2005). Desde então o ensino primário divide-se em elementar caracterizado pela educação moral e religiosa e outras quatro matérias consideradas básicas e fundamentais para a construção do conhecimento; e o superior, que contempla as disciplinas básicas e outras dez. (PILETTI, 2006).

As reformas ficaram inicialmente restritas ao Município da Corte, e somente após intensificação de protestos reivindicações a sua aplicação, foi estendida a todas as províncias e houve então a uniformização das medidas e do ensino a nível nacional; para o qual também foi

Page 52: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 50

estendido alcance da Inspetoria Geral; ampliando assim o rigor e as exigência sobre magistério público e particular.

Como nos aponta Peres (2005. p. 16-17), entre 1878-1789, ocorreram novas modificações na normatização do ensino primário, secundário e superior; que estabeleceram a não obrigatoriedade de frequência aos exames preparatórios aos cursos superiores e de participação nas aulas de ensino religioso, reforçando em conformidade com a proposta de laicidade do Estado Brasileiro. Entre às ações educacionais trazidas pela reforma de 1854, estão ainda: a liberdade para abrir escolas e o livre exercício da docência, sem a obrigatoriedade das provas de capacidade. Porém segundo a autora, “muito pouco do que contava no Decreto de 1879, foi executado”.

ASPECTOS DA POPULAÇÃO DE PARIPIRANGA NO INÍCIO DO SÉCULO XIX E A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO COM PROFESSORES SEM ESCOLAS E ESCOLAS SEM PROFESSORES

Em meio a tantas outras povoações

surgidas a partir da ocupação do sertão Baiano no início do século XIX; num processo marcado pela imposição da pecuária extensiva, e pela violência no trato com indígenas; o Arraial de Malhada Vermelha4 desenvolvia-se na lavoura. Abatiam-se as matas para o arroteamento dos terrenos, e Erguia-se o Arraial a cada edificação construída, a cada melhoramento social alcançado. De modo que já pelo idos de 1840; por necessidade e desejo de seus habitantes, representados pelo Major José Antônio de Menezes, em solicitação ao Vigário de Bom Conselho dos Montes do Boqueirão, se fez construir a Capela de Nossa Senhora do Patrocínio.

O processo civilizatório que ali se desenvolvia e a situação de abandono intelectual em que viviam os habitantes de Malhada Vermelha, fomentava a necessidade de um sistema de instrução pública. Como o modelo de colonização Portuguesa não contemplava grandes

4 Primeira denominação dada à cidade de Paripiranga, no

início do processo de povoamento, em decorrência das condições geográficas do lugar e da coloração avermelhada de suas terras (SILVA, 1982, p. 05)

investimentos na educação dos colonos, deixada a cargo da igreja católica desde o início da ocupação da terra; que apesar da forte atuação os jesuítas, não abarcavam a todas as localidades; até meados do século XVIII, o que se via nas pequenas povoações como Malhada Vermelha, onde a presença da igreja se fazia através da figura do vigário, acumulando funções de líder espiritual e político, sem que houvesse maior atenção à educação escolar; as crianças eram iniciadas nas letras por professores leigos com instrução mínima, que lecionavam em casa, a meninos e meninas cujos pais possuíam condições financeiras para o financiamento das aulas; aos demais, restavam às lições que a vivência social cotidiana lhes proporcionava.

As mudanças na instrução pública efetivadas pela Carta Régia de 06/11/1772, e posteriormente a organização das Escolas Públicas Primárias, também tiveram reflexo no já Distrito de Malhada Vermelha; que 1869, não possuía ainda uma escola pública, e o ensino primário era ainda mínimo e continuava a cargo de educadores leigos; havia uma escola pública na sede da Freguesia, em Bom Conselho, 15 léguas distante, como nos mostra o Jornalista paripiranguense Francino Silveira Déda, em seus textos de memórias publicados no jornal local.

Em 1869, o Distrito de Malhada Vermelha não

possuía ainda uma escola pública, o ensino primário era em parte mínima, ministrado por leigos; havia uma escola pública na sede da Freguesia, a 15 léguas distante. Por isso, em 15-2-1869, os Irmãos Paulo Cardoso de Menezes, Vitor Marculino de Menezes e Lourenço Justino de Menezes, com apoio de Estanisláo Garcia de Carvalho e outros, pediram ao Governo da Bahia a criação de uma escola no Povoado Malhada Vermelha onde residiam e no pedido, ofereciam uma casa pronta, com todos os utensílios necessários. Grande gesto daqueles conterrâneos e parentes e afinal, veio à primeira escola primária. (DÉDA 1953. P. 04).

O cenário descrito por Déda (1953), caracteriza a realidade educacional de Paripiranga na primeira metade do Século XIX, onde o processo educativo de se dava por iniciativas particulares, com aula ministradas por leigos em residências cedidas por membros da população ou pelos próprios professores que ministravam

Page 53: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 51

aulas em suas casas. Em suas crônicas recheadas de memórias da antiga Malhada Vermelha ou da Villa de Patrocínio do Coité.

Voltando à nossa quase mania de recordar o passado de nossa terra, vamos relembrar aquele velho método de ensino rotineiro de Patrocínio do Coité, de Professores Públicos ou particulares, com escolas em casa inaptáveis, onde se viam bancos toscos, compridos e duros, sem encosto e sem apoiamento para o busto das crianças, que por vezes, escreviam nos acentos dos próprios bancos, ajoelhadas no piso batido e fio do alojamento. O Mestre-Escola, sentado numa banca ordinária, onde ficavam lápis, papéis, um tinteiro de barro, e uma pedra redonda que os meninos conduziam quando saíam para necessidade fisiológicas. Uma régua grossam, com a qual o professor avivava os alunos com pancadas na cabeça e a célebre palmatória para os castigos corporais que consistiam em “bolos” ou palmatoadas contadas contadas por dúzias, e, os alunos humilhados enfezados, olhavam o professor, mais como uma fera humana duque um Mestre amigo; estudavam pelo receio, com aquele barulho infernal, com as pernas penduradas nos bancos altos, em movimentos de balanço e a vozeria ensurdecedora, que ai se estabelecia, com a cantilenas ritimadas do; - “Um B cum A ...B. A...ba... Um B cum E... B. E.... be...”. Ou o “2 e 1... 3 e 2... e 2....4”. Até o “ 2 e 7....9.... noves fora nada”. Outros mais adeantados cantavam com voz mudada: “ - Antão, Ana, Andei....Bento, Brito, Buscar...”. Adeante um ou dois decuriões, apontavam com palitos aos iniciantes o: ....”A.....B.....C.....D.....E”. Esse barulho infernal era comandado pelo professor rotineiro que, com reguadas e palmatoadas estridentes sobre o lastro da banca, amedrontava os alunos para ativarem os estudos. (DÉDA. 1954. p. 02)

Vemos no texto, uma descrição com detalhes ricos sobre o ambiente das salas de aulas, dos recursos e da metodologia de ensino empregada pelos chamado Mestre-Escola; em uma época onde a figura do professor era dotada de respeito e autoridade fornecida pelo sistema educacional vigente e pelo prestígio social dado á figura do professor, apesar da baixa remuneração e das péssimas condições de trabalho as quais estava submetido.

Como mencionado por Déda (1953), a instalação da Primeira escola pública na povoação ocorreu em 15 (quinze) de fevereiro de 1869, por iniciativa de alguns jovens como os irmãos Paulo Cardoso de Meneses, Victor Marcionillo de Meneses e Lourenço Justiniano de Meneses, que dignaram-se em escrever ao Conselho Municipal

de Geremoabo ao qual pertencia o Distrito, pedindo a criação de uma escola onde residiam e no pedido, ofereciam uma casa pronta, com todos os utensílios necessários; conforme ofícios transcritos abaixo:

Illmo. Srs. Presidente e Senadores da Câmara

Municipal. Os abaixo assinados moradores na povoação

denominada Malhada Vermelha, (Coité), compreensiva dos districtos do Coité e Sabão, na Freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho deste município, convictos de que a instrução pública é uma das necessidades mais palpitantes de que devem curar as autoridades constituídas, como o primeiro complemento da sociedade e felicidade dos seus membros, pois muita vez a ignorância é a causa efficiente dos desvios do homem, que por ella não compreende os deveres que tem consigo mesmo, para com seus semelhantes e para consigo mesmo, para com seus semelhantes e com Deus, á esta Illustríssima Câmara, como fiel e legítima representante de seus munícipes, se dirigem, pedindo pelos termos competentes a criação de uma escola primaria na referida povoação. Distando ela da sede da Freguesia 15 léguas, onde existe uma escola e sendo a sua população de muitos habitantes, e absolutamente impossível que os abaixo assinados e mais de famílias deem o devido ensino a seus filhos, que por essa forma ficam privados desse beneficio tão salutar e eficaz, quanto necessário. Para consecução desse fim, os abaixo assinados oferecem ao governo uma casa pronta de todos os utensílios precisos para funcionar a escola e esperam que esta Illustríssima Câmara, compenetrada do que vem eles expor, se digne de fazer chegar esta sua solicitação no Exmo. Governo da Província para prover essa necessidade tão urgente reclamada – Pede a V. S. deferimento. (LIMITES DO ESTADO DA BAHIA. 1916. P. 406)

O ofício emitido pela Câmara de Geremoabo em 18 e março de 1869, transmitindo ao governo do Estado o pedido feito pelos habitantes do districto de Malhada Vermelha (Coité) a respeito da necessidade de construção de uma escola para instrução da população, e informando a favor, por pertencer o districto ao termo da citada Villa, conforme Lei da Regência de 1831:

Illmo. Exmo. Conselheiro Presidente da

Província A Câmara Municipal desta Villa,

acompanhando a justa solicitação de seus munícipes

Page 54: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 52

os habitantes da Povoação de Malhada Vermelha (Coité), faz chegar à alta presença de V. Ex.ª a inclusa petição em original que os mesmos lhe dirigiram, afim de que V. Ex.ª se digne provê-la com a creação de uma cadeira para o ensino público primário da referida povoação. Não é preciso que esta Câmara mostre os resultados benéficos a salutares que se colhem do ensino do povo e por isso, sem addir mais palavras. Requer e pede a V. Ex.ª deferimento. (LIMITES DO ESTADO DA BAHIA. 1916. Pag. 407. of. Nº. 161)

Enquanto a população aguardava a chegada de um Mestre enviado pelo governo da província, as aulas na nova escola eram ministradas pelos próprios irmãos Menezes em residência da família. Finalmente em 1879, chega o tão aguardado mestre, designado pelo estado, para a cadeira de escola primária do sexo masculino criada para Malhada Vermelha. Conforme consta no Relatório dos Trabalhos do Conselho Interino do Governo da Província da Bahia – Dados da Secretaria Geral da Instrução Pública, publicado em 31 de dezembro 1878, onde foi registrada a nomeação o Professor Marcionillo Pedrilliano de Vasconcelos, para a cadeira de professor regente da então Freguesia; que se tornou mestre de várias gerações; de Malhada Vermelha a Patrocínio do Coité.

A escola pública, primeira existente na época, localizada na sede do município, regida pelo Prof. Marcionillo a partir de 1879, veio curar os anseios daqueles que tinham vontade de aprender. Marcionillo enfrentou problemas estruturais, como falta de estrutura física adequada, já que não havia prédio público com instalações específicas para funcionamento da escola; e as aulas continuaram a ser ministradas em espaços cedidos e adaptados com mobilha alguns materiais fornecidos pela população.

Já velho e no final da carreira, aposentou-se, como após 30 anos de serviços prestados à educação dos paripiranguenses. Enquanto não vinha o seu sucessor, ministrou seus ensinamentos a jovem Professora Emerentina Maria de Meneses; que anos depois, dedicou seus esforços à educação dos moradores do recém-surgido povoado Maritá.

Déda (1953) relata a existência de apenas dois mestres e de duas escolas públicas na

povoação, no final do século XIX; ambas funcionando em espaços improvisados, e exalta a figura da Professora leiga Olímpia Garcia as Silva, sua tia-avó; falecida em 12 de setembro de 1923, que ministrou aulas particulares e por décadas à parcela da população que possuía condições de pagar por suas aulas, transcrevendo em sua coluna, nota publicada pelo semanário local, O Paladino, na ocasião se sua morte, noticiou aos seus assinantes, com extremo pesar, a passagem da Professora Olímpia; exaltando de forma bastante enfática, seus atributos enquanto educadora e cidadã, e um exemplo de mestra a ser admirado e seguido.

Era professora particular, e naquela época, a

imprensa local publicava o seu falecimento com a seguinte nota: “A Extinta exercia o magistério particular e gozava de gerais simpatias pelo seu bom coração”. Efetivamente aquela boa criatura gozava de real estima por parte de toda a população da vila, dado o seu caráter sem jaça e a sua lhaneza de trato; e muito devemos ao magistério particular de D. Olímpia Garcia as Silveira, principalmente naqueles tempos em que na vila existiam duas escolas públicas e mui particularmente a uma professora particular como era a solteirona D. Olímpia, possuidora de uma moral irrepreensível e bôa educação. Era ela leiga em pedagogia, mas possuidora de um espírito rico em compreensão, esclarecida e inteligente, sabia pela moral e pela prática, ministrar o ensino primário adequado áqueles tempos, e muitos são os velhos de hoje que devem o que sabem a D. Olímpia Garcia da Silveira. Coração magnânimo, espírito lúcido, critério irrepreensível e francamente religiosa, não se limitava unicamente ao ensino do B-a-bá, e das quatro operações de aritmética, ensinava a ler e escrever corretamente amestrava os discípulos em redação de cartas, ensinava moral e religião; e os seus inúmeros discípulos tinham pela mestra verdadeira admiração e respeito. (DÉDA.1953 p. 03)

Nota-se no discurso transcrito por Déda

(1953), a importância da á figura do professore na sociedade Paripiranguense do período. Um misto de exemplo de retidão moral, ética e capacidade intelectual. No caso da mulher, a imagem da educadora se mistura à figura maternal, e símbolo do dos valores femininos defendidos na época, marcados pela delicadeza, a pureza e o recato, bem como o maternalismo presente na metodologia de ensino aplicada.

Professor Marcionillo – Fonte: Acervo

Pessoal

Professor Marcionillo – Fonte: Acervo

Pessoal

Professor Marcionillo – Fonte: Acervo

Pessoal

Page 55: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 53

No início do ano de 1909, para maior desenvolvimento do ensino primário e em substituição ao professor Marcionillo, chegou vindo de Mirandela, para a então Patrocínio do Coité, o Professor Francisco de Paula Abreu. Com o Professor Abreu, o ensino primário tomou novos rumos. Português, Geografia, Aritmética, História do Brasil, eram matrículas do currículo, além de noções de História Natural.

O Professor Abreu como era conhecido, conforme biografia publicada no semanário local, O Ideal de 1953, nasceu na cidade de Salvador, em 16 de março de 1879, na antiga Rua da Poeira. Filho do Sr. Inocêncio Joaquim Abreu e de Úrsula Maria de Abreu; órfão de pai e mãe aos quinze anos de idade foi obrigado a trabalhar, começando sua vida como empregado na Fábrica de Cigarros Leite e Alves. Após conclusão do Curso Preparatório para estudar Direito já lecionava particularmente, para completar a renda, e custear a compra de livros e os gastos com os estudos.

Formou-se professor aos 22 anos, em 1901. Lecionou durante um ano como professor na cidade de Pojuca. A primeira nomeação para exercer sua nobre função foi para o Arraial de Mirandela, onde conheceu e casou-se com D. Cantionila de Carvalho Abreu, com quem teve cinco filhos.

Chegou a Paripiranga em 30 de abril de 1909, onde ministrou seus ensinamentos a três gerações. Homem de fina inteligência e um talento excepcional. Astrônomo, botânico, geógrafo, jornalista e filosofo; por várias vezes foi convidado a ministrar seus ensinamentos na capital. Membro da sociedade astronômica do Brasil era um intransigente admirador da França. Jornalista de mérito e com estilo de pura erudição, dirigiu como redator-chefe do jornal O Paladino, da então Patrocínio do Coité, até a sua última publicação. Viveu em Paripiranga até o seu falecimento em 1958, CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de estruturação da educação

em Malhada Vermelha teve início na segunda metade do século XIX. O cenário socioeconômico era marcado pela prática da agricultura, e um

comércio eu supria as necessidades básicas da população de grande maioria analfabeta; que de forma lenta, tratou de organizar estruturas educacionais pela iniciativa de representantes da parcela mais abastada da população, ansiosa pela presença de um mestre formado e apto ao exercício do magistério, já até então contavam com os esforços de leigos que ministravam aulas particulares, para os filhos daqueles que podiam pagar.

Durante décadas, dois mestres se destacaram na tarefa de iniciar as crianças de Patrocínio do Coité no universo da Educação Formal. Pelo menos duas gerações de Coiteenses ou Paripiranguenses tiveram acesso ao conhecimento das letras através dos professores Marcionillo Pedriliano de Vasconcelos e do Professor Francisco de Paula Abreu. Este último com grande participação na formação de uma elite intelectual da cidade; colaborando nas discussões políticas e no desenvolvimento da imprensa local.

Pela ausência de escolas de ensino secundário e de cursos profissionalizantes; diversos jovens representantes dessas gerações, cujas famílias possuíam situação financeira privilegiada; tiveram que completar seus estudos em cidades vizinhas, ou até mesmo em outro estado; sendo que muitos deles retornaram depois de formados, e substituíram seus mestres, dando início a um novo ciclo de desenvolvimento do processo de desenvolvimento da educação formal em Paripiranga.

Page 56: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, Abílio César (Barão de Macahúbas). Relatorio sobre a instrucção pública da Provincia da Bahia, apresentado ao Illmo. e. Exmo. Snr. Presidente Commendador Alvaro Tiberio de Moncorvo e Lima. Typographia de Antonio Olavo da França Guerra, 1856. 74p. Limites do estado da Bahia – Bahia e Sergipe. Imprensa Oficial do Estado. Vol. I. Salvador. Bahia. 1916. Pag. 406. Of. Nº. 160 ARQUIVO NACIONAL, Cêntro de Documentação e Informação do. Constituição do Império do Brasil. Fundo: Constituições e Emendas Constitucionais. Cod: DK. 1824. 58 p. DÉDA, Francino Silveira. As Escolas Pimárias. O Ideal, ano I. Nº 05. Pag. 04. Paripiranga, Bahia. 31 de maio de 1953.

DÉDA, Francino Silveira. Magister. O Ideal, ano II. Nº 61. Pag. 02. Paripiranga, Bahia. 27 de junho de 1954. DÉDA, Francino Silveira. Magister. O Ideal, ano I. Nº 20. Pag. 03. Paripiranga, Bahia. 13 de setembro de 1953. SANTANA, Sebastião Araújo. Professor Francisco de Paula Abreu. O Ideal, ano I. Nº 02. Pag. 02-04. Paripiranga, Bahia. 10 de maio de 1953. PORTELLA, Cons. Dr. Manuel do Nacimento Machado. Relatório do Conselho Interino de Governo: Relatório de 01 de abril de 1989. Província da Bahia; 1889. Typographia Nacional; 1889. Acervo Digital da Biblioteca Nacional: Acesso em:15 de janeiro de 2016. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=130605&PagFis=5382&Pesq=LEIS%20E%20RESOLU%C3%87%C3%95ES%20DA%20ASSEMBL%C3%89IA%2

0PROVINCIAL%20DA%20BAHIA. ALMEIDA, Miguel Calmon Du Pin e. Relatório da Província da Bahia em Prol da Regência, e Império de sua Magestade Imperial D. Pedro I e da Independência Política do Brasil. Província da

Bahia; Typographia Nacional; 1823. Acervo Digital da Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital Brasileira. Acesso em15 de janeiro de 2016. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=130605&PagFis=5382&Pesq=LEIS%20E%20RESOLU%C3%87%C3%95ES%20DA%20ASSEMBL%C3%89IA%2

0PROVINCIAL%20DA%20BAHIA. MARTINS, Francisco Gonçalves. Relatório Apresentado á Assembleia Legislativa da Bahia em 06 de março de 1870. Província da Bahia; 1870. Bahia; Typographia do jornal da Bahia; 1870. Acervo Digital da Biblioteca Nacional. Acesso em15 de janeiro de 2016. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=130605&PagFis=5382&Pesq=LEIS%20E%20RESOLU%C3%87%C3%95ES%20DA%20ASSEMBL%C3%89IA%20PROVINCIAL%20DA%20BAHIA CERQUEIRA, Telma Antonieta Sousa. Bom conselho dos montes do Boqueirão: Cícero Dantas. Salvador, Ba: Arco-Íris, 1989. PILETTI, N. & PILETTI, C. História da Educação. 7ª.

Ed, São Paulo, Ática, 2006.

PERES, T. R. Educação Brasileira no império. Palma Filho, J. C. Pedagogia Cidadã – Cadernos de Formação - História da Educação – 3. ed. São Paulo: PROGRAD/UNESP/Santa Clara Editora, 2005, p. 29-47. SILVA, Cândido da Costa e. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. São Paulo: Ática, 1982. 88 p. FREIRE, Ana Maria Araújo. Analfabetismo no Brasil: da ideologia da interdição do corpo à ideologia nacionalista, ou de como deixar sem ler e escrever desde as Catarinas (Paraguaçu), Filipas, Madalenas, Anas, Genebras, Apolônias e Grácias até os Severinos, 1534-1930. São Paulo, SP: Cortez Editora; Brasília: INEP, 1989 Biblioteca da educação. Série 1, Escola ; v. 4 COSTA, Isabel Maria Vilella. Uma leitura sobra a História da política provincial baiana de

Page 57: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 55

formação de professores: A Escola Normal 1836-1862. 1988. 194 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia; Salvador. BITTENCOURT, Raul. A educação brasileira no Império e na Repíblica. Revista brasileira de estudos Pedagógicos. Rio d ejaneiro: INEP, v, 19, n. 49, p.41-76. 1953. FARIA FILHO, Luciano Mendes (org.) Pesquisa em história da educação: perspectivas de análise, objetos e fontes. Belo Horizonte: HG Edições, 1999. 210 p. MENEZES, Jaci Maria Ferraz de (coord.) Legislação da Educação na Bahia: 1920-1980. Salvador: EDUNEB, 2009. 498 p. (11-VI). NUNES, Antonietta de Aguiar. “Educação na Bahia durante a primeira República” in Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia nº 96, 2001c, 219-252 _____. “Educação na Bahia no século XIX: algumas considerações” in Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, nº 93, jan/dez 1997, pp 165-203. _____. “Política educacional do segundo governo republicano na Bahia (1890)” in Revista Gestão em ação v. 5, jul/dez 2002d, pp. 111-126. Publicado também nos Anais do XX Simpósio Brasileiro de Política e Administração da Educação, Salvador, novembro 2001 em CD TAVARES, Luís Henrique Dias. Fontes para o estudo da Educação no Brasil – Bahia. 2ª ed. Salvador: UNEB, 2001/2002. 500 p. CARNEIRO, Zenaide de Oliveira Novaes. Mensuração de níveis de alfabetismo no Nordeste da Bahia (1857-1878). SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 18/2, p. 149-166, dez. 2015. DOI: 10.5433/2237-4876.2015v18n2p149 SAVELI, Esméria Lourdes. A educação obrigatória nas constituições brasileiras e nas leis educacionais delas derivadas. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 10 - n. 2 - p. 129-

146 / mai-ago 2010. Hitpages. https://www.hitpages.com/doc/6109661040214016/

1. Acesso em 20 de janeiro de 2016.

Page 58: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 56

Foto: Professor Marcionillo Pedrilliano de Vasconcelos com alunos - Acervo Digital do LEPH/ UniAGES.

Foto: Professor Abreu e alunos - Foto Acervo Digital do LEPH/ UniAGES.

Arquivo Digital da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro. Brasil. Ed. 00001. 1879. Pag. 6. Serviço de Reprografia. http://hemerotecadigital.bn.br/ Acesso em 28 de janeiro de 2012.

Page 59: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 57

USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL NO CONTROLE DAS INFECÇÕES

HOSPITALARES

Francielly Vieira Fraga *

Fernando Santana Santos ** RESUMO: Esta pesquisa tem como objetivo conhecer a

utilização dos equipamentos de proteção individual pela equipe de Enfermagem, atuante em um Pronto Socorro de um hospital regional. Adotou-se uma pesquisa exploratório descritiva, com análise quantitativa, baseada no estudo de campo de forma objetiva e através da observação não participativa. A etapa quantitativa do estudo demonstrou que complicações relacionadas ao sexo, tempo de serviço, falta de treinamento e adequabilidade dos Equipamentos de proteção individual (EPIs) interferem diretamente na utilização dos mesmos pela equipe de enfermagem, principalmente os óculos de proteção e as luvas, bem como, o descarte das mesmas e da máscara, representando riscos para os profissionais e pacientes, que podem ser acometidos assim por infecções hospitalares. Os achados desse trabalho evidenciaram associações significativas entre as más condições de trabalho e o não uso de EPIs. Observa-se que os profissionais com treinamento exercem suas atividades com maior segurança, contribuindo para o bem-estar do paciente. PALAVRAS-CHAVE: EPIs; infecção hospitalar; prevenção; enfermagem.

ABSTRACT: This research aims to evaluate the use of

personal protective equipment by the nursing team, active in the emergency department of a regional hospital. Adopted a descriptive exploratory research with quantitative analysis, based on an objective field of study and through non-participant observation. The quantitative stage of the study showed that complications related to sex, length of service, lack of training and adequacy of personal protective equipment (PPE) directly interferes with the use of them by the nursing staff, especially goggles and gloves, as well as the disposal thereof and the mask, representing risks to practitioners and patients, who may be so affected by nosocomial infections. The findings of this study showed significant associations between poor working conditions and non-use of PPE. It is observed that training professionals perform their activities with greater safety, contributing to the wellbeing of the patient. KEYWORDS: PPE; hospital infection; prevention; nursing.

* Bacharel em Enfermagem, pós graduada em Enfermagem do Trabalho, e graduanda em Auditoria

em Enfermagem. ** Graduando em Enfermagem.

Page 60: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 58

INTRODUÇÃO

O ambiente hospitalar constitui o principal

campo de atuação dos profissionais de

Enfermagem, bem como os procedimentos

específicos e as técnicas invasivas. A combinação

desse ambiente com as particularidades dos

pacientes quanto ao estado de saúde, as técnicas

realizadas e o uso inadequado de equipamentos

de proteção individual (EPIs) acabam propiciando

o aparecimento de infecções hospitalares.

Entende-se por infecção hospitalar toda infecção

adquirida após a admissão do paciente e que se

manifesta durante a internação, ou mesmo após

a alta, quando puder ser relacionada à

permanência na unidade (BRASIL, 2007).

O grande número de procedimentos

realizados rotineiramente acaba criando certos

vícios que, aliados à falta de capacitação ou de

recursos, ocasionam a utilização inadequada dos

EPIs, o que influi, diretamente, no aparecimento

das infecções hospitalares, que aumentam o

tempo de internação dos pacientes e a demanda

de atendimento, bem como os altos custos para o

hospital. Os equipamentos de proteção individual

(EPIs) são compostos, basicamente, por: luvas

(estéreis ou de procedimento), máscaras, gorros,

óculos e propé, sendo utilizados, segundo

procedimento realizado, de modo a proteger

tanto o profissional como os pacientes. Todos

esses EPIs são utilizados para prevenir o usuário

de adquirir doenças em virtude do contato

profissional-paciente e contra riscos de acidentes

de trabalho visando à conservação da sua própria

saúde (BEZERRA, 2004).

Estudos feitos em todo o país pela

Associação Nacional de Biossegurança (ANBIO)

revelaram que morrem no Brasil, anualmente,

cerca de 100 mil pessoas vítimas de infecções

hospitalares e, em média, 80% dos hospitais

brasileiros não têm controle adequado sobre as

infecções. Além disso, o índice de infecção

hospitalar varia entre 14% e 19% entre os

pacientes. Em algumas unidades a taxa pode

chegar a 88,3% (BENEVIDES, 2011). A ocorrência

de infecção hospitalar determina um aumento no

tempo de internação (de quatro dias, em média),

dos custos de internação e nos índices de

mortalidade na população acometida

(AZAMBUJA, 2004).

As poucas pesquisas atualizadas acerca do

tema comprometem a utilização de estratégias

adequadas no controle das infecções

hospitalares, de modo que, mesmo com o

conhecimento adquirido pelos profissionais

durante sua formação, a aplicação de tais

conceitos na prática ainda é inadequada e

ineficiente. Muito ainda precisa ser feito no país,

pois, apesar da existência de políticas voltadas à

prevenção e controle das infecções hospitalares,

tanto a exigência externa (dos órgãos

competentes) quanto a exigência interna (própria

de cada trabalhador), ainda não estão voltadas ao

cumprimento de tais políticas (AZAMBUJA, 2004).

Dentro desse contexto, o objetivo desse estudo

foi conhecer a utilização dos equipamentos de

proteção individual pela equipe de Enfermagem,

atuante em um Pronto Socorro de um hospital

regional.

Assim, trata-se de uma pesquisa de caráter

exploratório-descritivo, a análise dos dados foi

realizada através de método quantitativo e as

informações foram representadas, graficamente

por tabelas. Desse modo, a pesquisa ocorreu por

meio de investigação indireta no caráter

bibliográfico e de forma direta quanto ao estudo

de campo. A população participante desse

trabalho de pesquisa foi composta por auxiliares

de enfermagem, técnicos de enfermagem e

enfermeiros, que fazem parte da equipe de

funcionários do Hospital Dr. Pedro Garcia Moreno

Filho, localizado em Itabaiana/SE e

desempenhavam suas funções no setor do Pronto

socorro, atuando diretamente com os pacientes,

manuseando e utilizando os EPI’s em sua rotina

de trabalho. A amostra se caracterizou por 30

Page 61: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 59

membros da equipe de enfermagem (auxiliares,

técnicos e enfermeiros). Para coleta de dados foi

utilizada a aplicação de questionários,

estruturados quanto à identificação pessoal,

dados da ocupação e percepção sobre o uso de

EPIs, o que permitiu o conhecimento

aprofundado sobre a população que está em

estudo. Esse questionário foi aplicado de forma

direta, disponibilizado um termo de

consentimento assinado pelos entrevistados.

O USO DE EPIS E AS INFECÇÕES HOSPITALARES

Fatores que predispõem a não utilização de EPIS

Com o consentimento e a colaboração da

equipe de Enfermagem durante a coleta, foram

detectados possíveis fatores quanto ao uso dos

EPIs que podem desencadear a ocorrência de

Infecções Hospitalares.

Em relação à faixa etária e sexo, mostra-se,

na Tabela 1, que 13 profissionais (43,3%) têm

idade entre 26 e 34 anos e desses 05 (17,9%) são

mulheres, enquanto que 9 (30,0%) apresentam

idade entre 34 e 42 anos e desses 13 (46,7%) são

mulheres. Além disso, 5 (16,7%) estão na faixa

etária de 18 a 26 anos, com distribuição de 2

(100%) dos homens e 7 (25,0%) mulheres nessa

linha e 2 (6,7%) têm entre 42 e 50 anos com 2

(7,1%) do sexo feminino, apenas 1(3,3%)

participante tem 50 anos ou mais com 1 (3,6%)

mulher.

Diante da maior quantidade de profissionais

do sexo feminino, observa-se a relação de tais

dados com o não uso dos EPI’s, o maior

coeficiente de risco para erros e contaminação

entre as mulheres parece estar relacionado ao

papel que estas assumem, culturalmente, na

sociedade: cuidam da casa, dos filhos e, muitas

vezes, têm mais de um emprego, o que causa

uma sobrecarga que proporciona falhas no uso de

EPIs (SARQUIS E FELLI, 2006). Já em relação a

idade, os trabalhadores com a faixa etária entre

os 21 e 30 anos possuem menor frequência de

erros e maior adesão aos EPIs, pois possuem

conhecimentos atualizados obtidos nos cursos de

formação e procuram aplicá-los nos

procedimentos (MOURA, 2004).

Relação do trabalho com a não adequação

Em relação ao tempo de serviço, verificou-

se, na Tabela 2, que 14 (46,7%) dos participantes

têm de 0 a 4 anos de exercício profissional e

desses 10 (52,5%) nunca receberam treinamento,

10 (33,3%) têm de 4 a 8 anos e 05 (26,3%) nunca

foram capacitados, 2 (6,7%) têm de 8 a 12 de

profissão e 1 (9,1%) foi treinado para uso de EPIs,

enquanto que 1 (3,3%) apresenta de 12 a 16 anos

de serviço , 1 (3,3%) de 16 a 20 anos e 2 (6,7%)

trabalham há mais de 20 anos, e dentre esses

apenas 1 recebeu treinamento para manuseio

dos equipamentos.

A relação entre tempo de serviço e falta de

treinamento apresentados também são fatores

preponderantes na utilização de EPIs, de modo

que, a capacitação e o treinamento dos

funcionários são importantes para uma

instituição de saúde, bem como, para sua equipe

e seus pacientes, visto que é, através dela, que os

trabalhadores conhecem o perigo do ambiente

hospitalar de forma a se prevenir dos acidentes e

diminuir os riscos de transmissão e ocorrência de

Infecções Hospitalares (BRASIL, 2005).

Dificuldades na utilização de EPIS

O uso dos equipamentos de proteção

individual diminui o risco de contaminação e

disseminação de fluidos, secreções e material

contaminado. Diante disso, a Tabela 3 demonstra

que 16 (73%) dos entrevistados referem não

haver, na unidade, materiais (EPIs) adequados e

suficientes, desses, 17 (56,%) apontam como

maior dificuldade para utilização dos

Page 62: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 60

equipamentos as barreiras relacionadas a

inexistência ou qualidade do EPI.

Adequabilidade

A adequabilidade de tais materiais

demonstrados na tabela 3 deve ser provida pelo

empregador seguindo a NR 32, que dispõe sobre

as diretrizes básicas para a implementação de

medidas de proteção à segurança e à saúde dos

trabalhadores dos serviços de saúde, enfatizando

os EPIs deverão estar à disposição em número

suficiente nos postos de trabalho, de forma que

seja garantido o imediato fornecimento ou sua

reposição (SKRABA; NICKEL; WOTKOSKI, 2006).

Utilização dos EPIS pela equipe de enfermagem

Mediante os dados elencados na Tabela 4,

identifica-se, no uso de jaleco, que 21 (70%) dos

participantes usam este material, enquanto que 9

(30%) não fazem o seu uso. Quanto ao sapato

fechado, percebeu-se que 28 (93,3%) obedecem

às normas, enquanto que 2 (6,7%) não usam o

sapato fechado. Em relação ao uso da máscara,

verifica-se que 20 (66,7%) dos entrevistados usam

o EPI e 10 (33,3%) não fazem o seu uso, ainda,

referente ao uso da máscara, no descarte da

máscara, observou-se que 23 (76,7%) dos

participantes não realizavam o descarte e 7

(23,3%) o fazem.

O uso do gorro demonstrou que 22 (73,4%)

não executam os procedimentos, utilizando tal

material, 8 (26,6%) dos entrevistados o utilizam.

Quanto aos óculos de proteção, constatou-se que

30 (100,0%) dos partícipes não usavam o

equipamento de proteção em nenhum

procedimento.

Sobre a utilização e descarte das luvas pela

equipe, observou-se que no(uso de luva de

procedimento, 21 (70%) dos profissionais as e 9

(30%) não fazem seu uso; quanto ao descarte

demonstra-se que 20 (66,7%) fazem o descarte

das luvas após uso e 10 (33,3%) não o realizam;

na realização de procedimentos com luvas

esterilizadas, notou-se que 27 (90%) dos

participantes não realizam os procedimentos

portando tal EPI, enquanto que 3 (10,0%) fazem

seu uso.

Durante a investigação da utilização dos

EPIs pode-se observar que dentre os profissionais

73,7% não trocam a mascara entre um

procedimento e outro, apesar de 66,7% a

utilizarem. Outro fator agravante foi o uso de

óculos de proteção em procedimentos específicos

por 0,0% da equipe de enfermagem, e a falta das

luvas esterilizadas durante o procedimento por

90,0% dos profissionais, o que contraria as

normas apresentadas na NR-6 da Portaria Nº.

3.214, de 08.06.78 que ressaltam o uso das

precauções padrão, essas medidas devem gerar

melhorias na qualidade da assistência e

diminuição de custos e infecções cruzadas

advindas da prática hospitalar e ambulatorial,

tanto para os profissionais como para os

pacientes e seus familiares (NEVES, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo possibilitou o conhecimento

acerca da adesão e utilização dos Equipamentos

de Proteção Individual pela equipe de

Enfermagem do Pronto Socorro do Hospital Dr.

Pedro Garcia Moreno Filho, em Itabaiana (SE).

Desse modo, esse estudo possibilitou o

conhecimento da utilização de EPIs pela equipe

de Enfermagem evidenciando que o mesmo se

torna um importante assunto de avaliação, tendo

em vista as dificuldades para adesão dos

profissionais e os riscos crescentes relacionados à

contaminação do trabalhador, dos pacientes e até

de seus familiares, levando-se em conta o alto

grau de contaminação presente em unidades

hospitalares, principalmente, nas de urgência e

emergência.

Evidencia-se, dessa forma, a necessidade e

importância de criação e aplicação de estratégias

Page 63: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 61

eficazes para utilização adequada dos

Equipamentos de Proteção Individual, bem como

da investigação e atualização dos dados acerca

das Infecções Hospitalares no país. Algumas

condutas podem ser adotadas para tal finalidade

como aprimoramento de políticas públicas

direcionadas aos profissionais de saúde, sendo

que o hospital poderia realizar cursos de

capacitação da equipe de Enfermagem, prover

materiais adequados e fiscalizar a sua utilização

pelos funcionários, através do enfermeiro gestor

da referida unidade.

Através de outras pesquisas, busca-se

aprimorar o conhecimento dos trabalhadores

sobre o uso dos EPIs, utilizando a apresentação

de dados como instrumento para o

desenvolvimento de estratégias para intervenção

frente aos riscos que os profissionais de

Enfermagem e os pacientes, dentre outros, estão

expostos e, com isso, despertar a necessidade de

mudança neste cenário para a promoção

adequada e eficaz de saúde.

Page 64: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 62

REFERÊNCIAS

AZAMBUJA, Eliana Pinho de; PIRES, Denise Pires

de; VAZ, Marta Regina Cezar. Prevenção e

controle da infecção hospitalar: as interfaces com

o processo de formação do trabalhador. Texto

contexto – enfermagem. 2004, vol.13, pp.79-85.

Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/tce/v13nspe/v13nspe

a09.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2013.

BENEVIDES, Carolina. Sem controle eficiente,

infecções hospitalares causam cem mil óbitos por

ano. O Globo. Rio de Janeiro: 18 Set. 2011.

Disponível em:

<http://oglobo.globo.com/politica/sem-controle-

eficiente-infeccoes-hospitalares-causam-cem-mil-

obitos-por-ano-2697060>. Acesso em: 20 mar.

2013.

BEZERRA, Claudia Nivia Paula; PEREIRA, Maria

Lucia Duarte. Utilização do equipamento de

proteção individual pela equipe de enfermagem

em uma unidade de clinica cirúrgica. Revista

RENE. Fortaleza, v.5, n.1, pp. 56-61, jan/jul, 2004.

Disponível em:

<http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.ph

p/revista/article/download/847/pdf>. Acesso em:

26 abr. 2013.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Ministério da Saúde. Higienização das mãos em

serviços de saúde. Brasília: 2007. Disponível em:

<http://www.anvisa.gov.br/hotsite/higienizacao_

maos/manual_integra.pdf>. Acesso em: 20 mai.

2013.

______________ Ministério do Trabalho e

Emprego. Norma Regulamentadora No 32.

Brasília: 2005. Disponível em: em:

<http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D36

A280000

138812EAFCE19E1/NR-

32%20%28atualizada%202011%29.pdf>. Acesso

em: 20 mai. 2013.

MOURA, Josely Pinto de. A adesão dos

profissionais de enfermagem às precauções de

isolamento na assistência aos portadores de

microrganismos multirresistentes. Dissertação

(Mestrado em Enfermagem Fundamental) Escola

de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade

de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004. Disponível

em:

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/2

2132/tde-12082004-125447/>. Acesso em: 22

mai. 2013.

NEVES, Zilah Cândida Pereira das et al.

Higienização das mãos: o impacto de estratégias

de incentivo à adesão entre profissionais de

saúde de uma unidade de terapia intensiva

neonatal. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2006,

vol.14, n.4, pp. 546-552. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n4/pt_v14n4a

12.pdf>. Acesso em: 20 mai. 2013.

SARQUIS, Leila Maria Mansano ; FELLI, Vanda

Elisa Andres. Acidentes de trabalho com

instrumentos perfuro cortantes entre os

trabalhadores de enfermagem. Rev. esc.

Enfermagem USP. 2002, vol.36, n.3, pp. 222-230.

Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v36n3/v36n3a

02.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2013.

SKRABA I; NICKEL, R; WOTKOSKI, SR. Barreiras

de contenção: EPI e EPCs. In: Mastroeni MF.

Biossegurança aplicada a laboratório e serviços

de saúde. São Paulo (SP): Atheneu; 2006.

Page 65: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 63

Page 66: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 64

Page 67: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 65

BOAS AÇÕES: A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA PARA FORMAÇÃO DE UMA LIDERANÇA

SUSTENTÁVEL

Thales Brandão*

RESUMO: Este artigo procurou estabelecer uma

relação entre educação, empreendedorismo, ética e

liderança sustentável para formação humana na

construção de uma sociedade justa e coletiva.

Utilizaram-se métodos de pesquisa bibliográfica como

destaques mencionam-se os conceitos de

empreendedorismo, os índices da pesquisa GEM

(Global Entrepreneurship Monitor), habilidades

empreendedoras e os princípios para formação

humana no contexto empreendedor – integridade,

responsabilidade, compaixão e perdão.

PALAVRAS-CHAVE: Administração, Empreendedoris-

mo, Ética, Liderança e Sustentabilidade.

ABSTRACT: This article aims to establish a relationship

between education, entrepreneurship, ethics and

sustainable leadership for human development in the

building of a just society and collective. We used

methods of literature as highlights cited the concepts

of entrepreneurship, the contents of the GEM

research (Global Entrepreneurship Monitor),

entrepreneurial skills and the principles for human

development in the entrepreneurial context -

integrity, responsibility, compassion and forgiveness.

KEY WORDS: Administration, Entrepreneurship,

Ethics, Leadership and Sustainability.

* Professor Universitário da UniAGES;

Graduado em Administração com ênfase em

Marketing pela Faculdade de Sergipe;

MBA em Administração com ênfase em Marketing

pela FGV/RIO

Mestrando em Comunicação e Sociedade pela

Universidade Federal de Sergipe.

Page 68: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 66

I - INTRODUÇÃO

O individualismo elevado, amparado à falta

de ética, tem levado as pessoas a buscarem

defender seus interesses particulares acima dos

propósitos sociais. As questões éticas na

sociedade atual encontram-se deteriorada devido

ao egoísmo humano formado por uma sociedade

deseducada.

A formação empreendedora com foco em

uma liderança sustentável depende dos aspectos

éticos para guiar as mudanças em nossa

sociedade, que servirão de alicerce para construir

uma um espaço coletivo, colaborativo, justo e

digno para todos os interessados. Diante do

exposto, encontramos diversos desafios, entre os

quais destacamos os aspectos humano, ético e

educacional trazendo mudanças de paradigmas

que nos levam a repensar as ações em nosso

cotidiano, cabendo ao professor e escola valorizar

o indivíduo por meio de um amplo acesso ao

conhecimento desenvolvendo uma cultura pela

paz; ao futuro profissional avaliar, refletir e

revisar suas ações, constantemente, visando

recuperar os valores humanos voltado para

utilização do conhecimento de forma adequada.

Este artigo reúne informações sobre os

temas empreendedorismo, educação e liderança

com foco na sustentabilidade. Aborda aspectos

relevantes relacionados aos temas através de

seus conceitos e sua importância na sociedade

contemporânea. Traz respostas às seguintes

perguntas: Será que as pessoas nascem

empreendedoras? Qual o papel das instituições

de ensino para formação empreendedora? Como

os aspectos éticos estão relacionados com a

conduta do empreendedor? Qual a relação entre

a liderança sustentável e empreendedorismo?

II - HISTÓRIA DO EMPREENDEDORISMO, CONCEI-

TOS E O MERCADO BRASILEIRO

O termo empreendedorismo surgiu no

século XVII na França, através de pessoas que,

compravam produtos, e nele desenvolviam

alguma melhoraria, e o renegociavam por um

preço superior. Os EUA é um dos percursores

que através do seu regime capitalista e

abrangência econômica, o entrepreneurship faz

parte do cenário de negócios há muito tempo. No

Brasil, os debates começaram a surgir no final da

década de 90, com o processo evolutivo da

economia através da globalização e impacto no

mercado local.

O conceito de empreendedorismo foi

disseminado pelo economista Joseph

Schumpeter, em 1945, com um viés de inovação e

baseado na sua teoria da Destruição Criativa, que

tem lugar numa economia de mercado em que

produtos e serviços novos destroem modelos

antigos de negócios. Para Nazir e Ramzan (2012)

o conceito de empreendedorismo atualmente é

visto como algo que gera inovação e que acarreta

risco. Segundo Schumpeter, o empreendedor é

alguém versátil, que possui as habilidades

técnicas para saber produzir, e capitalista, que

consegue reunir recursos financeiros, organizar as

operações internas e realizar as vendas de sua

empresa. No conceito de Bucha (2009), o autor

reforça a relação da terminologia com a França e

afirma que empreendedor deriva do francês

entrepreneur, o que significa assumir riscos e

iniciar algo novo.

Segundo Fillion (1997 apud Dolabela,

1999a, p 69), “os empreendedores podem ser

voluntários (que têm motivação para

empreender) ou involuntários (que são forçados a

empreender por motivos alheios à sua vontade:

desempregados, imigrantes, etc.) ”.

No tocante ao assunto empreendedorismo,

diversas são as fontes bibliográficas que podem

ser consultadas, mas nos últimos anos o tema

Page 69: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 67

vem ganhando força e credibilidade no meio

acadêmico através das publicações da pesquisa

GEM (Global Entrepreneurship Monitor)

conduzidas pela Babson College, Instituição de

Ensino Inglesa e no Brasil, os trabalhos são

orientados pelo Instituto Brasileiro da Qualidade

e Produtividade (IBQP), FGV e conta com a

parceria do SEBRAE. A pesquisa GEM

demonstrou em 2014 que no Brasil a Taxa Total

de Empreendedores (iniciais e estabelecidos com

percentual da população entre 18 e 64 anos foi

de 34,5% crescente desde 2011 (26,9%), superou

a de 2014 (32,3%) em 2,2 pontos percentuais.

A pesquisa revela ainda que a cada 100

brasileiros que começam um negócio próprio no

Brasil, 71 são motivados por uma oportunidade

de negócios e não pela necessidade. Na

composição sociodemográfica os

empreendedores no Brasil são distribuídos

conforme figura 2.

III - O PAPEL DA ESCOLA NO ENSINO

EMPREENDEDOR

A ideia de democratização de

conhecimentos, está orientada à emancipação

das pessoas e ao desenvolvimento sustentável

dos diferentes povos e culturas em todo o

mundo. A democratização do ensino no Brasil

não é suficiente se a família, educador e escola

não estiverem preparados para formar pessoas

respeitosas e preocupadas com o bem da

sociedade. Para que isso ocorra é preciso

repensar as políticas educacionais.

Dolabela (2001) conta que a primeira

iniciativa de ensino do empreendedorismo no

Brasil surgiu em 1981 no curso de Especialização

em Administração da Escola de Administração de

Empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São

Paulo. Após três anos, seu conteúdo foi estendido

para a graduação, por meio da disciplina Criação

de Negócios – Formação de Empreendedores.

Ainda em 1984, disciplinas semelhantes foram

criadas na Faculdade de Economia, Administração

e Contabilidade da Universidade de São Paulo

(USP) e no Departamento de Ciência da

Computação da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul. Nesse sentido, as ações iniciais

sobre a importância da educação empreendedora

no país aconteceram no ensino de nível superior,

nas escolas de administração (GEM, 2009).

Dolabela (2003) ressalta a importância de um

ambiente que estimule desenvolvimento de

características empreendedoras nas crianças e

afirma que é essencial para o desenvolvimento

empreendedor e as capacidades do sujeito para

que este possa empreender sua própria vida e

sociedade. Além disso, o autor reforça que as

pessoas nascem empreendedoras, mas falta um

ambiente que estimule a criatividade e

autonomia, que garanta um processo

democrático de conhecimento que promova a

cooperação e a participação.

Diferente do pensamento de Dolabela,

existe um consentimento que não se nasce

empreendedor. Podemos, sim, herdar algumas

características que certamente nos ajudarão nas

nossas incursões na formação de carreira e no

mundo dos negócios. De acordo com Ferreira,

Santos e Serra (2010) ninguém nasce

empreendedor, nem com genes

empreendedores. O que define um

empreendedor é o seu comportamento e atitudes

e não os traços de personalidade ou quaisquer

outras características inatas. É através desses

conceitos que reforçamos a importância da escola

na formação do sujeito empreendedor

desenvolvendo competências e habilidades que

sejam necessárias para atuar em uma sociedade

cada vez mais dinâmica. Volkmann (2004)

corrobora com o pensamento quando afirma que

o empreendedorismo não é algo que se adquira à

nascença, algo inato, mas sim desenvolvido pela

educação, tal como pelas experiências vividas ao

longo da vida.

Page 70: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 68

Moretto (1999) considera que as

habilidades estão associadas ao saber-fazer: ação

física ou mental que indica a capacidade

adquirida. Assim, identificar variáveis,

compreender fenômenos, relacionar

informações, analisar situações-problema,

sintetizar, julgar, correlacionar e manipular são

exemplos de habilidades. Competência é

compreendida como a “capacidade de mobilizar,

articular e colocar em ação valores,

conhecimentos e habilidades, visando ao

desempenho eficiente e eficaz de atividades

ligadas ao mundo do trabalho. Ou seja,

competências são um conjunto de habilidades

harmonicamente desenvolvidas e que

caracterizam, por exemplo, uma função/profissão

específica: ser arquiteto, médico ou professor de

química. As habilidades devem ser desenvolvidas

na busca das competências. Hisrich e Peters

(2004) ressaltam três tipos de habilidades

essenciais para o empreendedor, o quadro 1,

apresenta o comparativo das habilidades

técnicas, administrativas e empreendedoras

pessoais.

Todo ser humano nasce um aprendiz. A

aprendizagem é própria do ser humano. “Se

ninguém lhe ensina nada, aprende com as

próprias experiências”, dizia Içami Tiba,

reforçando o fato de que todos nós aprendemos

com o ambiente social em que estamos

envolvidos através da interação com as atitudes

das pessoas e com os valores reinantes. Por outro

lado, a escola e a família precisam direcionar o

aprendizado da nova geração para que não seja

desperdiçada com a construção de ações

corruptas, violentas e que descaracterize a

cultura empreendedora. A criatividade e a

conectividade dos jovens no cenário digital e

acelerado é uma composição essencial para a

solução de problemas sociais que podem ser

aproveitados no berço escolar. A era do

compartilhamento através do modelo de “muitos

para muitos” possibilita a entrega de uma

educação distribuída através de grupos

colaborativos.

Nesse contexto, as instituições de ensino é

atualmente um espaço de inteligência em rede,

indispensável para os jovens universitários que

buscam compreender a importância da liderança

sustentável através de uma cultura

empreendedora que envolve um diálogo sobre

autonomia, risco e inovação.

Segundo Lévy (2003, p. 28), a inteligência

coletiva é “[...] uma inteligência distribuída por

toda parte, incessantemente valorizada,

coordenada em tempo real, que resulta em uma

mobilização efetiva das competências”. Ela visa

ao reconhecimento das habilidades que se

distribuem nos indivíduos, a fim de coordená-las

para serem usadas em prol da coletividade. A

coordenação dos inteligentes coletivos ocorre

com a utilização das tecnologias da informação e

comunicação.

IV - EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA, ÉTICA E

LIDERANÇA SUSTENTÁVEL

Mintzberg (1998), propõe as seguintes

competências, como essenciais para uma

liderança efetiva:

a) Criar alinhamento sobre objetivos

e estratégias organizacionais;

b) Aumentar entusiasmo e excitação

nos seguidores para a importância do trabalho;

c) Ajudar pessoas a entender e

apreciar uma à outra, construtivamente;

d) Ajudar pessoas a achar caminhos

para coordenar atividades e fazê-las eficazmente;

e) Representar interesses do grupo

ou organização

f) Criar identidade de grupo.

Além dessas competências sugeridas por

Mintzberg, acredito que o maior desafio das

instituições de ensino é fazer com que a nova

geração faça parte de ambiente educacional

Page 71: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 69

participativo colocando-os no centro do processo

do ensino aprendizado, debatendo os problemas

globais e locais. Envolver o sujeito com problemas

de sua realidade é estimular o poder de

observação através da busca de soluções e fazê-lo

protagonista da escola e sociedade.

Entendendo a educação como um resultado

de longo prazo e coletivo. Não adianta apenas

boa vontade do educador para ensinar se não

existir estratégias de ação para estimular jovens

desinteressados, com pouca motivação para

aprender, e que buscam resultados imediatos, em

muitos casos apenas um diploma. É preciso

descontruir o ensino tradicional em que os alunos

saem preparados apenas para concursos

(marcadores de X), mas não preparados para a

vida. Jovens que tocam à vida a sua maneira sem

uma orientação e estimulo geralmente são

influenciados pelo ambiente hostil social, sem

futuro. Para agregar esse pensamento o

idealizador do site Administradores.com.br,

Leandro Vieira, reforça “’que os gênios

americanos criam empresas fantásticas que

mudam os rumos da humanidade e os gênios

brasileiros passam em concursos públicos

gerando em nosso país um desperdício de

talentos, pois nossas empresas precisam de

pessoas capacitadas, talentosas e criativas para

gerar emprego, inovar e desenvolver

economicamente o país”.

De acordo com Ferreira, Santos e Serra

(2010) a sociedade exige cada vez mais das

empresas comportamentos éticos e socialmente

responsáveis, surge uma nova cultura empresarial

que contempla a dimensão ética nas atuações

empresariais, que não se limita apenas o

cumprimento da lei, mas também ao dever cívico

de contribuir para uma maior criação de valor

para a sociedade (acrescentar valor na tripla

dimensão - econômica, social e ambiental) e

garantir a sustentabilidade. Para Lennick e Kiel

(2009) os empreendedores que pretendam ter

sucesso, terão que alinhar os negócios a

princípios como a integridade, a

responsabilidade, a compaixão e o perdão. Esses

quatros princípios se relacionam com outras

competências também criadas pelo autor e que

podem ser visualizados no quadro 2.

V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O empreendedorismo quando incorporado

no sistema de educação valoriza os processos

educacionais desenvolvendo pessoas em todas as

suas dimensões, gerando um desenvolvimento do

autoconhecimento, criatividade associadas à

inovação através de um olhar focado nos

problemas sociais.

Para formar líderes sustentáveis é preciso

embaralhar as cadeiras enfileiradas da escola

tradicional, colocando os jovens com uma visão

ampla do todo, mostrando que a mudança

depende da autonomia de cada indivíduo, da

vontade de arriscar e criar, entendendo que

somos uma unidade comum cercados de

problemas que precisam ser resolvidos com ações

do bem na geração de impacto social. Penso que

a escola precisa mostrar exemplos reais de

grandes líderes sustentáveis para servirem de

fonte de inspiração para que a nova geração faça

mais e melhor. A nova economia mundial precisa

ser baseada na formação de lideranças

responsáveis através de mecanismos coletivo e

colaborativo que se transformem em produção

do bem social – educando pessoas não apenas

com conhecimento instrumental, mas, com

competências e habilidades que busquem

integridade, sensibilidade e capazes de atuar por

um mundo melhor. A educação empreendedora

precisa ajudar no desenvolvimento humano na

busca de resolver problemas sociais diversos

devido ao próprio destino comum de todos nós

em uma condição de indivíduo e sociedade. O

ensino de uma compreensão coletiva é a base

para o progresso de uma cultura de paz formando

pessoas que constroem conhecimento e que

Page 72: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 70

apreendem conhecimento entendendo o errado

para construir o certo.

Page 73: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 71

REFERÊNCIAS

BUCHA, A. I. (2009). Empreendedorismo, aprender a saber ser empreendedor (1ª ed.). Lisboa: Editora RH, Ltda.

CASTRO, B.V,J., ZUGMAN, F. Dicionário de Termos de Estratégia Empresarial, Editora Atlas, p89-91, 2009

DOLABELA, Fernando Celso. Empreendedorismo: uma forma de ser. Brasília: AED, 2003.

DORNELAS, J. C.A. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

FERREIRA, M. P., SANTOS, J. C. & SERRA, F. R. (2010). Ser Empreendedor - Pensar, Criar e Moldar a Nova Empresa (2ª ed.). Lisboa: Edições Sílabo.

FILION, L. J.; Dolabela, F. Boa Idéia! E Agora? Plano de Negócio, o caminho seguro para criar e gerenciar sua empresa. São Paulo: Editora de Cultura, 2000.

GEM - Global Entrepreneurship Monitor (2014). GEM Brasil 2014 - Estudo sobre o Empreendedorismo. Acessado em 25 de Abril de 2016 em <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Estudos%20e%20Pesquisas/gem%202014_relat%C3%B3rio%20executivo.pdf>

HISRICH, Robert D.; PETERS, Michael. Empreendedorismo. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.

LENNICK, D., e Kiel, F. (2009), Inteligência Moral, Editorial Presença, Lisboa

LENNICK, D., e Kiel, F. (2011), Moral Intelligence 2.0: Enhancing Business Performance and Leadership Success in Turbulent Times, Pearson Prentice Hall, Boston, EUA.

LÈVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2003.

MINTZBERG, H. A criação artesanal da estratégia. In: MONTGOMERY, C.; PORTER, M. Estratégia: a busca da vantagem competitiva. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

MORETTO, V. P. (1999), Construtivismo: a produção do conhecimento em aula. Rio de Janeiro: DP&A.

NAZIR, M. A., & Ramzan. (2012). Contribution on entrepreneurship in economic growth. Interdisciplinary Journal of Contemporary Research in Business, 4, 3, 273- 294.

VOLKMANN, C. (2004). Entrepreneurial studies in higher education. Higher Education in Europe, 29, 177-185.

Page 74: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 72 Figura 1 – Evolução da atividade empreendedora

Fonte: GEM Brasil, 2014. Figura 2 – Distribuição¹ dos empreendedores segundo características sociodemográficas

Fonte: GEM Brasil, 2014

¹ Distribuição Percentual dos empreendedores em cada categoria ² Nível de escolaridade: Nível 1 inclui: nenhuma educação formal; O Nível 2 inclui: primeiro grau incompleto e segundo grau incompleto; O Nível 3 inclui: segundo grau completo e superior incompleto; O Nível 4 inclui: superior completo, especializações, mestrado incompleto, mestrado completo e doutorado completo e incompleto

Page 75: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 73

Quadro 1 – Comparativo entre as habilidades do empreendedor

Habilidades Técnicas

Habilidades Administrativas

Habilidades Empreendedoras

Pessoais

Redação Expressão oral Monitoramento

do ambiente Administração

comercial técnica

Tecnologia Interpessoal

Capacidade de Ouvir

Capacidade de Organizar

Construção de Rede de

Relacionamento Estilo

Administrativo Treinamento

Capacidade de Trabalho em

Equipe

Planejamento e estabelecimento

de metas Capacidade de tomar decisões

Relações humanas Marketing Finanças

Administração Controle

Negociação Lançamento de

empreendimentos Administração do

crescimento

Controle interno e de disciplina

Capacidade de correr riscos

Inovação Orientação para

mudanças Persistência Liderança visionária

Habilidade para administração

mudanças

Fonte: Hisrich & Peter (2004, p. 39).

Quadro 2 – Princípios do empreendedor

Integridade

Agir em consonância com princípios, valores

e crenças; Dizer a verdade;

Defender o que está certo;

Cumprir promessas. Resulta em: Confiança

Responsabilidade Assumir a responsabilidade

por escolhas pessoais; Admitir erros e fracassos; Aceitar a responsabilidade

de servir os outros. Resulta em: Inspiração

Perdão Relevar os próprios

erros; Relevar os erros dos

outros. Resulta em: Inovação

Compaixão Importar-se ativamente com

os outros. Resulta em: Retenção

Fonte: Adaptado de Lennick e Kiel (2011)

Page 76: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 74

USANDO JOGOS CONFECCIONADOS COM MATERIAS RECICLICLADOS PARA ENSINAR

MATEMÁTICA

Creilson de Jesus Conceição* Renilson Andrade Costa*

Helena Tavares de Souza** RESUMO: O objetivo desse artigo é trazer os resultados das atividades aplicadas em uma comunidade referente à disciplina do Estágio Supervisionado I do Centro Universitário Ages na Bahia. O trabalho foi desenvolvido com crianças da comunidade do Centro de Convivência e Fortalecimento de Simão Dias em Sergipe. Abordamos o ensino da matemática por meio de jogos construídos com materiais reciclados. Os jogos auxiliam no aprendizado das crianças, pois atuam como uma ferramenta interativa em consequência de seu caráter lúdico. Com aplicação do projeto percebemos uma participação ativa das crianças e, a matemática torna-se mais atraente e em consequência a criança toma gosto pelo aprendizado da disciplina. PALAVRAS-CHAVE: Jogo; Ensino; Matemática. ABSTRACT: The purpose of this article is to bring the results of activities applied in a community related to the Supervised Internship I discipline Ages University Center in Bahia. The study was conducted with children in the community of Living Center and Simon Day Strengthening in Sergipe. We approach the teaching of mathematics through games built with recycled materials. The games help in the learning of children, because they act as an interactive tool as a result of their playfulness . With implementation of the project we realized an active participation of children and the math becomes more attractive and as a result the child takes a taste for learning the discipline. KEYWORDS: Game ; Teaching; Mathematics.

* Acadêmico do Curso de Licenciatura em Matemática

da UniAGES; ** Doutoranda em Educação Matemática pela PUC/SP

e coordenadora do curso de Licenciatura em Matemática do UniAGES.

Page 77: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 75

APRESENTAÇÃO

Culturalmente, a Matemática é vista por

vários alunos brasileiros como uma disciplina de

difícil entendimento. Esta dificuldade encontra-se

em vários estudantes e, termina transformando

este saber em campo de temores.

O ensino desta ciência é bastante

complexo, uma vez que a sua aprendizagem

depende de uma variedade de fatores. Nesta

perspectiva, buscam-se alternativas para que o

ensino da matemática seja de fácil entendimento

e, que proporcione aos estudantes momentos

prazerosos, ou seja, momentos em que eles

possam aprender se divertindo.

Ensinar matemática é desenvolver o

raciocínio lógico, estimular o pensamento

independente, a criatividade e a capacidade de

resolver problemas. Partindo desse pressuposto,

o objetivo geral deste projeto dentro da

comunidade a qual foi implantado, foi

desenvolver o ensino da matemática por meio de

jogos didáticos confeccionados com materiais

reciclados. Esse projeto foi importante para o

público participante, pois aliou a atividade lúdica

com a aprendizagem.

O projeto foi desenvolvido no Centro de

Convivência e fortalecimento de Simão Dias no

período 30/03/2015 a 27/05/2015, sempre nas

segundas e quartas-feiras, das 13:00 às 17:00. A

turma que participou deste projeto foi composta

de 25 alunos com a faixa etária entre 08 e 14

anos, que residem na Cidade de Simão Dias - SE.

O nosso trabalho teve como foco principal o

desenvolvimento das habilidades matemáticas e

do raciocínio lógico, sendo que o principal

componente para a obtenção deste objetivo foi à

utilização de jogos matemáticos.

As crianças que participaram tiveram a

tarefa de construir seus próprios jogos, os quais

foram confeccionados com a utilização de

materiais recicláveis. Portanto, além de aprender

a Matemática de forma lúdica contribuiu-se com

a preservação do meio ambiente, reutilizando

materiais que certamente seriam jogados em

locais inadequados.

MARCO TEÓRICO

Há vários anos existe uma discussão em

torno da aprendizagem Matemática sobre o

porquê o aluno deixa o ambiente escolar sem

saber e sem entender os assuntos matemáticos.

A tentativa de incorporação dos jogos como

estratégia de aprendizagem pode ser evidenciada

há vários séculos. Segundo Kishimoto (Apud

FERRAREZI, 2005) Platão utilizava os jogos para

mostrar a matemática de forma concreta para

mais adiante em um segundo nível de

aprendizagem usar as abstrações. Também na

Roma Antiga os jogos eram utilizados para

transmitir costumes e valores. Ainda nesta

perspectiva, Os Jesuítas, em suas aulas

praticavam jogos de emulação, com objetivo de

melhorar a oratória dos alunos. Portanto, a

utilização de jogos para facilitar a aprendizagem

não é nenhuma novidade, independentemente

da área do saber a ser ensinada.

Mas, o que são jogos? Segundo o

minidicionário Luft (2000, p. 407) a palavra

significa: s.m. 1. Ação ou efeito de jogar. 2.

Balanço; oscilação. 3. Passatempo; brinquedo;

divertimento; esporte. 4. Vício de jogar; jogatina.

5. Peças que servem para jogar. 6. Cartas ou

peças que tocam a cada jogador. 7. Séries de

coisas emparelhadas que constituem um todo. 8.

Manha; astúcia. 9. Combinações artísticas (de

movimentos, coloridos etc.). 10. Coleção de

objetos ou utensílios domésticos. 11. Articulação,

lugar ou parte onde dois ossos se encaixam com

movimento. 12. Disposição mecânica que facilita

o movimento de um carro, de um maquinismo.

13. Manejo de um instrumento ou de arma

branca. PI.: jogos [ó].

As ciências exatas nasceram da necessidade

do homem em compreender os fenômenos que

Page 78: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 76

ocorriam ao seu redor. Neste sentido, essas áreas

do conhecimento ao serem ensinadas nas

escolas, deveriam ter como objetivo principal, a

sua aplicabilidade dentro do contexto social ou de

modo que esses fenômenos pudessem ser

visualizados no dia a dia. Entretanto, os

professores dessas disciplinas recorrem ao

método tradicional para ministrarem suas aulas,

no qual expõe o conteúdo de maneira abstrata,

fazendo com que seus alunos decorem um monte

de fórmulas, gerando como principal

consequência um ensino insignificante. Pois, “(...)

para o aluno, a matemática não faz sentido além

dos limites do universo escolar. ” (SILVA, 2009, p.

35).

O ensino da matemática deve ser feito de

forma com que os alunos sintam prazer em

estudar, ou seja, uma forma que proporcione

divertimento e desperte a curiosidade nesses

educandos. Entretanto, “(...) Se o aluno achar que

nem todo mundo pode ser bom em matemática,

desistirá mais facilmente dos esforços necessários

para entender a matéria e entrar nas atividades

intelectuais que ela requer (...). ” (SILVA, 2009, p.

57). Mas, podemos reverter esse quadro com a

incorporação de jogos nas aulas de matemática

que atuarão como uma ferramenta interativa no

processo de ensino.

Alguns entendem que os jogos são apenas

atividades recreativas, servem para passatempo.

Para outros os jogos são poderosas ferramentas

que favorecem a aprendizagem. Assim,

Para uns, o jogo apresenta a possibilidade

de eliminar o excesso de energia represado na

criança (Spencer). Para outros prepara a criança

para a vida futura (Gross) ou, ainda, representa

um instinto herdado do passado (Stanleyhall) ou

mesmo um elemento fundamental para o

equilíbrio fundamental da criança (Freud,

Claparéde, Erikson, Winicott). Entre

representantes da psicologia cognitiva, o

fenômeno jogo assume os seguintes significados;

para Wallon (1975) é uma forma de infração do

cotidiano e suas normas. Bruner (1976) tem

interpretação semelhante ao atribuir ao ato

lúdico o poder de criar situações exploratórias

propícias para a solução de problemas

(KISHIMOTO, 1994, p.10)

O jogo pode ser considerado como uma

atividade indispensável para o desenvolvimento

da aprendizagem Matemática. Para Piaget (1971)

os jogos são de extrema importância na vida da

criança, sendo uma atividade lúdica,

indispensável à prática educativa.

Os jogos quando aplicado no contexto

matemático é de grande valia para o

desenvolvimento do ensino-aprendizagem, em

especial, aqueles com fins pedagógicos, pois,

motiva a criança ao aprendizado de forma lúdica,

prazerosa, possibilitando a criança desenvolver

vários conhecimentos e múltiplas habilidades.

Segundo Borin (1996) com a utilização de jogos

no processo de aprendizagem, o aluno passa a ser

um indivíduo ativo na aprendizagem, vivenciando

a construção do seu conhecimento, deixando de

ser um mero ouvinte passivo. Assim, o jogo

quando acoplado ao ensino, favorece a

criatividade e o raciocínio dedutivo da criança.

Para Malba Tahan (1968), os jogos para que

produzam os objetivos esperados, faz-se

necessário que sejam aplicados pelos educadores.

Presumindo que as crianças pensam

diferentemente dos adultos e que o objetivo não

é ensiná-las a jogar, deve haver um

acompanhamento por partes dos educadores

sobre a maneira como elas estão jogando, para a

partir deste ponto, mostrar a forma com que elas

estão pensando e o conteúdo matemático que

existe por trás daquele determinado jogo.

Dentre todas as modalidades existentes de

jogos, os de estratégias merecem destaque, pois

o fator sorte não influencia no resultado, ou seja,

dependem exclusivamente do jogador para

vencer. Portanto a criança ao traçar estratégias,

no intuito de vencer o jogo, desenvolve o

Page 79: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 77

raciocínio lógico-dedutivo, essencial para o ensino

da Matemática.

Este projeto tem como um de seus

objetivos, mostrar aos alunos do Centro de

Convivência e Fortalecimento de Simão Dias, que

a matemática pode ser aprendida através de uma

educação sem formalidade científica. Entretanto,

“(...) não se trata, portanto, aqui, de opor a

educação formal à educação não formal. Trata-se

de conhecer melhor suas potencialidades e

harmonizá-las em benefício de todos (...). ”

(GADOTTI, 2005, p. 3).

O ponto chave deste projeto é a

Matemática dentro do contexto social

vivenciados pelos alunos do Centro de

Convivência da Cidade de Simão Dias. “(...) Por

que não estabelecer uma “intimidade” entre os

saberes curriculares fundamentais aos alunos e a

experiência social que eles têm como indivíduos?

(...).” (FREIRE, 2001, p. 32). Analisando este

questionamento de Paulo Freire, montamos o

projeto levando em consideração a realidade dos

alunos envolvidos e, isso é comprovado na

escolha dos materiais que utilizaremos para a

confecção dos jogos, os materiais reciclados.

A coletividade proposta por esse projeto

aos alunos é mais uma peça fundamental no

desenvolvimento das atividades. A interação de

todos proporcionará uma relação escola e

sociedade, abrido espaço para as relações sociais

entre os indivíduos participantes. As duas atuam

juntas para a formação de um cidadão crítico e

cumpridor de suas responsabilidades diante da

sociedade a qual estão inseridos.

O ensino que estamos proponho neste

projeto não é de transferência de conhecimento

e, nem passar experiências, pois experiência é

algo que só se pode adquirir com a vivência.

Nesta perspectiva, é indispensável levar em

consideração os conhecimentos de vida trazidos

por estes estudantes e, a partir disso buscar

meios para o desenvolvimento da construção do

conhecimento.

(...) é preciso, sobretudo, e aí já vai um

destes saberes indispensáveis, que o formado,

desde o princípio mesmo de sua experiência

formadora, assumindo-se como sujeito também

da produção do saber, se convença

definitivamente de que ensinar não é transferir

conhecimento, mas criar as possibilidades para a

sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996,

p.22).

Os jogos dentro do contexto do ensino da

Matemática desperta o interesse e a curiosidade

dos alunos, fazendo-os gostarem de aprender

essa disciplina, devido a seu caráter lúdico,

desenvolvedor de técnicas intelectuais e

formador de relações sociais.

MARCO METODOLÓGICO

No desenvolvimento desta investigação, foi

realizada uma pesquisa qualitativa. Qualitativa

porque, estávamos fazendo observações e a

partir dessas observações tentamos interpretar o

fenômeno visualizado. Nesta perspectiva tanto

Mayring (2002) quanto Flick e Cols. (2000)

consideram o estudo de caso como a essência da

pesquisa qualitativa, ou seja, o estudo de caso é

como se fosse o ponto de partido para a

pesquisa. A pesquisa ocorreu através de

observações e questionamentos junto às pessoas

que trabalhavam no Centro de Convivência e

Fortalecimento de Simão Dias, além desses

fizemos alguns questionários com os alunos que

frequentam este ambiente.

Uma investigação qualitativa é

indispensável, pois abordamos todos os pontos

da pesquisa em toda a sua complexidade e no seu

contexto natural. Por isso, faz-se necessário uma

fez-se necessário esse tipo de abordagem para

compreender os sujeitos da investigação que

fizeram parte do projeto.

Realizamos o trabalho de investigações nos

dias 30 e 31 de março de 2015, das 13:00 às

Page 80: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 78

17:00. Inicialmente, ficamos restritos a

observações do local e do público alvo. Com o

decorrer do tempo, começamos a perguntar aos

colaboradores do local sobre o convívio deles

com os alunos, qual o modo de vida das mesmas

e várias outras questões. Mas, o que realmente

nos interessava era uma pesquisa com os

próprios estudantes.

Os alunos nos dias em que estávamos

realizando a pesquisa estavam participando de

jogos recreativos, para podermos nos aproximar

das crianças, tivemos que entrar na brincadeira e,

com isso, conseguimos colher várias informações

que foram de grande ajuda para o

desenvolvimento do projeto.

A pesquisa nos revelou que as crianças que

entramos em contato tem uma faixa etária que

varia dos 08 aos 14 anos. Mostrou também, que

essas crianças vão ao Centro de Convivência em

busca de um contato afetivo, pois se não existisse

esse local certamente, todos ficaram o dia inteiro

pelas ruas da cidade. Elas são adoráveis, e neste

espaço, encontram o que lhes faltam em suas

casas, carinho e afeto.

Essas crianças vão para Centro de

Convivência a pé, e sem nenhum

acompanhamento de um adulto responsável e,

isso pode se tornar um grande perigo, pois, elas

caminham por uma longa distância cruzando ruas

e avenidas, e em consequência disso, correm o

risco de serem atropelados.

Conversando com Carol, uma das

coordenadoras do local, percebemos que

realmente o que falta para essas crianças, além

de uma condição financeira melhor é o carinho e

a afetividade dos pais. Ela me contou que as

crianças se divertem muito no Centro de

Convivência e criam relações de amizades, ou

seja, desenvolvem relações sociais.

JOGOS UTILIZADOS

O Jogo ASMD

Este jogo é muito interessante. Ele atua no

desenvolvimento do raciocínio lógico, pois, para

jogá-lo o participante tem que pensar rápido e

efetuar algumas das quatro operações

fundamentais da matemática (Adição, Subtração,

Multiplicação e Divisão). Neste jogo poderá

participar até 7 jogadores. Cada jogador dispõe

de uma coluna numerada de 1 a 10. Por meio de

um sorteio feito com três dados, o participante

terá a missão de fazer operações para que a soma

dê o número que desejado, sendo que o primeiro

número é o 1. Toda vez que o participante

consegue avançar uma casa. Ganha o participante

que conseguir chegar à última casa, que no caso é

o número 10 e, efetuar a operação que resulte

em 10.

Dominó das Cores Reciclado

Neste jogo, os materiais que serão

utilizados para a sua confecção são cola quente,

EVA e tampinhas de garrafa pet. Esse jogo

funciona como um dominó só, que ao invés dos

pontinhos usaremos as cores. Os principais

objetivos deste jogo são a estimulação a

percepção visual e capacidade de observação.

Boliche da Soma

Os principais objetivos deste jogo são

explorar a operação de soma e, desenvolvimento

do cálculo mental e consequentemente

desenvolve o raciocínio lógico, além, de ser um

incentivo para o trabalho em equipe. O jogo era

uma réplica do boliche original, entretanto, os

alunos teriam que fazer a somas dos números

que estavam grudados no corpo das garrafas.

Page 81: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 79

25 25 25 25 25 25 25 25

Jogo do Hexágono Reciclado

Preencha o hexágono reciclado é um jogo

em que as crianças se divertem muito durante a

partida, pois, é impossível prevê quem será o

vencedor do jogo. Esse jogo é composto por um

hexágono regular, que foi divido em seis

triângulos equiláteros (lados de medidas iguais) e

cada criança tentará preencher um desses

triângulos para vencer a partida.

Multiplicação Com Dominó

Um jogo no qual a criança por meio da

tábua multiplicativa confeccionado com papelão

e dominós aprendem a operação de

multiplicação. Nesse jogo retiram-se duas peças

do dominó e a criança posiciona dois números

das peças sobre os seus respectivos na tábua de

multiplicação e com isso ao fazer-se o

cruzamento da linha com a coluna encontrava o

resultado da operação. Assim, a criança ia

desenvolvendo aos pouco o cálculo mental na

operação de multiplicação.

Jogo Feche a Caixa

Esse jogo estimula o aluno a traçar

estratégias de preenchimento de números de 1 a

12. Ele pode ser jogado por duas pessoas com o

auxílio de dois dados. O jogador lançar os dados e

dependendo da quantidade que saia pode

sobrepor sobre os números do jogo totalizando a

soma das faces dos dados. Por exemplo, se a

criança tirar o número 8 no lançamento dos

dados, ela tinha a opção de fechar o número 8 ou

1, 2 e 5. Quem cobrir primeiro todos os números

ganha o jogo.

RESULTADOS

Antes da aplicação do projeto perguntamos

aos estudantes sobre o gosto deles quanto

estudar a matemática.

Gráfico 1: Número de estudantes que

gostam ou não de matemática

Elaborado pelos autores.

Perguntamos também sobre o motivo pelo

qual a maioria não gostava de matemática?

Gráfico 2: Número de alunos que acham

que a matemática é difícil ou não entendem.

Elaborado pelos autores

O gráfico a seguir corresponde a quantidade

de estudantes que participaram das atividades

propostas.

Gráfico 3. Número de alunos presentes nas

oito semanas de aplicação do projeto

Elaborado pelos autores

8

17

Gostam Não Gostam

20

5

Difícil Não entende

Page 82: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 80

Após a aplicação das atividades propostas

refizemos a primeira pergunta só que com o uma

nova roupagem, levando em consideração o

ensino da matemática através dos jogos. Os

resultados foram os seguintes:

Gráfico 4: Números de alunos que gostam

ou não do ensino da matemática por meio de

jogos

Elaborado pelos autores

Por fim, perguntamos por que eles

gostavam da matemática quando aplicada por

jogos?

A resposta foi unânime. Todos disseram que

aprender matemática brincando é mais divertido.

CONCLUSÃO

Os alunos que participaram das atividades

propostas tiveram outra visão sobre o aprender

matemática por meio de jogos. As incorporações

dos jogos matemáticos neste projeto

contribuíram para facilitar o entendimento dos

alunos em conteúdos matemáticos que são

ensinados por vários professores com pouca

fundamentação plausível.

O caminho para a conquista de um

aprendizado de sucesso é um processo complexo

e dinâmico, que vai envolver caminhos e tempos

individuais. Desta forma, vão existir diferentes

maneiras e fatores fundamentais para que a

aprendizagem se concretize.

Portanto, essa maneira divertida em se

estudar matemática quebra com o paradigma de

que essa ciência é de difícil entendimento e que

não serve para aplicações práticas no dia a dia

social e educacional do indivíduo. Os meios que

utilizamos no desenrolar do projeto mostraram

aos alunos outro lado do ensino da matemática:

uma matemática que se pode ser estudada de

maneira divertida e curiosa. Contribuindo assim,

para um ensino que tenha significado e que possa

ser aplicado no contexto social.

Concluímos que o sucesso ou fracasso

escolar é complexo e de difícil diagnóstico mais

não é impossível de resolver, basta saber o

caminho certo a percorrer.

23

2

Gostam Não gostam

Page 83: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 81

REFERÊNCIAS

BORIN, Júlia. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de matemática. 5ª. ed. São Paulo: CAEM / IME-USP, 2004, 100p.

CASTRO,M. A. C. D. Abrindo espaço no cotidiano para o estágio supervisionado – uma questão do olhar e da relação – na formação inicial e em serviço. Tese (Doutorado). 230. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2000.

D`ABRÓSIO, Ubiratan. Da realidade a ação: reflexão sobre educação e matemática. São Paulo: Summus, 1986.

FARIA, Anália Rodrigues de. O desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. Ed. Ática, 3º edição, 1995.

FERRAREZI, Luciana Aparecida. Criando novos tabuleiros para o jogo Tri-Hex e sua validação didático-pedagógica na formação continuada de professores de Matemática: uma contribuição para a Geometria das séries finais do Ensino Fundamental. UNESP -Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, 2005. Dissertação de Mestrado. Orientador: Laurizete Ferragut Passos.

Flick, U., von Kardorff, E. & Steinke, I. (Orgs.) (2000). Was ist qualitative Forschung? Einleitung und Überblick. [O que é pesquisa qualitativa? Uma introdução.]. Em U. Flick, E. von Kardorff & I. Steinke, (Orgs.), Qualitative Forschung: Ein Handbuch [Pesquisa qualitativa - um manual] (pp. 13-29). Reinbek: Rowohlt.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia, saberes necessário á prática educativa. 1996.

FREIRE, Paulo. Teoria e prática em educação popular. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

FREITAG, Barbara. Escola, estado e sociedade. 4 ed. São Paulo: Morães. 1980

GADOTTI, Moacir. A questão da educação formal/não formal. Institut International Des Droits de L’Enfant (IDE) Droit à èducacion à tous les problèmes ou problème sans solution? Sion (Suisse), 18 au 22 octubre 2005.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil.1ª edição. São Paulo: Pioneira Thonsom Learning, 2003. 63 p.

Mayring, Ph. Einführung in die qualitative Sozialforschung [Introdução à pesquisa social qualitativa]. 5ª ed.. Weinheim: Beltz, 2002.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

PIMENTA, Selma Garrido e Lima, Maria do Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2014.

SILVA, Veleida Anahi da. Porque e para que aprender matemática?. São Paulo: Cortez, 2009.

Page 84: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 82

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Francielly Vieira Fraga*

Babara Bispo de Santana**

Paulo Thomaz Oliveira Felix**

RESUMO: As neoplasias são classificadas como um problema de saúde pública, pois incide sobre as situações socioeconômicas e as desigualdades regionais. Assim é necessária que seja ofertada uma assistência em saúde a essa população acometida por determinados tipos de neoplasias, cabendo ao enfermeiro, o papel de desenvolver habilidades para saber lhe dar com essas situações. Tendo como objetivo, a importância do ensino da oncologia nos cursos de graduação em enfermagem. O presente estudo foi realizado de acordo com uma revisão sistemática de literaturas, de artigos pesquisados na base de dados SciELO e Lilacs a partir dos descritores: educação em enfermagem, oncologia, formação do enfermeiro, assistencia especializada. No Brasil o ensino da oncologia na graduação é realizado de maneira isolada, não estando inserida na grade curricular do curso, mas há evidencias de políticas governamentais sobre o seu ensino. Assim, este estudo evidenciou que o ensino da oncologia é insuficiente, comprometendo a formação dos futuros profissionais. Desta forma, é importante a inclusão do ensino da oncologia nos cursos de graduação em enfermagem, para que esses profissionais possam suprir as necessidades dos usuários que procuram o sistema de saúde, e que precisam de pessoal capacitado para prestar uma assistência multiprofissional e especializada. PALAVRAS-CHAVE: Educação em Enfermagem. Oncologia. Formação do Enfermeiro. Assistência Especializada. ABSTRACT: Neoplasms are classified as a public health problem, as it focuses on the socio-economic situations and regional inequalities. So it is necessary to be offered a health care to this population affected by certain types of cancer, leaving the nurse, the role of developing skills to know how to give you those situations. With the goal, the importance of education in oncology nursing undergraduate courses. This study was conducted according to a systematic review of literature, articles surveyed in the database SciELO and Lilacs the descriptors: nursing education, oncology, nurse training, specialized assistance. In Brazil the oncology education in graduation is held in isolation, not being inserted in the curriculum of the course, but there is evidence of government policies on their teaching. This study showed that the oncology education is insufficient, compromising the training of future professionals. Thus, the inclusion of oncology education in undergraduate courses in nursing is important for these professionals to meet the needs of users who seek the health system, and need skilled personnel to provide a multi-professional and expert assistance. KEYWORDS: Nursing Education. Oncology. Training for nurses. Specialized assistance.

*Bacharel em Enfermagem, pós-graduada em Enfermagem

do Trabalho, e graduanda em Auditoria em Enfermagem. ** Graduandos em Enfermagem pela UniAGES.

Page 85: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 83

I – INTRODUÇÃO

O câncer é considerado a segunda causa de

mortes no Brasil, passando nos últimos 25 anos,

do 5º para o segundo lugar, e encontra-se atrás

somente das doenças cardiovasculares. De

acordo com dados do INCA, estima-se que em

2016/2017, haverá no país um registro de 596 mil

casos de câncer, dentre eles, espera-se 300.800

do sexo feminino e 295.200 do sexo masculino. E

segundo a OMS (Organização Nacional de Saúde),

o número de óbitos por câncer em 2030 deve

chegar 23,4 milhões. A incidência de câncer no

Brasil está associada pelo aumento da expectativa

de vida, hábitos de vida, urbanização acelerado,

envelhecimento populacional, sendo considerado

um problema de saúde pública. (SANTOS, 2011)

[...] o desenvolvimento econômico,

avanço tecnológico, crescimento industrial,

ingresso da mulher no mercado de trabalho,

envelhecimento populacional, são fatores que

desprovidos de condições educacionais capazes

de gerarem na população consciência dos

fatores de risco relacionado ao câncer [...]

(GUTIERREZ et al, 2009. Pág. 706).

A maioria das ações de combate ao câncer

depende do nível educacional da população, e

dos profissionais da saúde que devem estar

capacitados a aturar na prevenção, no

diagnóstico e na reabilitação dos casos. Pois, com

a incidência cada vez mais aumentando, e os altos

custos com o tratamento, a doença requer de

assistência multiprofissional e especializada.

(MEDEIROS, 2010).

A assistência a um paciente oncológico é

tida como um desafio para a equipe de saúde, em

especial a enfermagem, cujo atendimento é

direcionado principalmente a essa clientela. A

equipe de enfermagem deve prestar a assistência

atendendo as necessidades do paciente, não se

limitando as técnicas e procedimentos. Devem

ser analisados as suas dimensões biopsicossociais

como o estado emocional, suas dificuldades

relativas ao tratamento, o apoio familiar e o

impacto que a doença causa à sua vida. Assim, o

profissional de enfermagem deve possuir

habilidades para lhe dar com a demanda dos

pacientes, necessitando de conhecimento

especializado na área da oncologia. (MEDEIROS,

2010).

A partir dessas perspectivas, vale ressaltar:

as Instituições de Ensino Superior se preocupam

com a formação profissional do indivíduo

compatibilizada com a realidade a qual está

exposta? A graduação em enfermagem possui

recursos suficientes para que o acadêmico possa

exercer a função de um enfermeiro oncológico?

Na grade curricular dos cursos de enfermagem há

disciplinas voltadas a oncologia? Caso não

apresentem, qual a dificuldade de

implementação?

Sobre a implementação do ensino da

oncologia, cita-se a pesquisa de Vianna e

Schirmer, de 1994, que teve como objetivo,

acompanhar a adesão das instituições de ensino a

implementação do ensino da oncologia vinculado

ao curso de graduação em enfermagem. Esse

estudo apresentou que as instituições de ensino

relataram dificuldades na implantação do ensino,

pela falta de professores especializados, carga

horaria deficiente e dificuldade em realizar

atividades assistências (estágios e práticas). A

evolução da profissionalização do enfermeiro se

permeia em currículos simples, que não condizem

com a realidade a qual se vive, sendo assim, as

instituições de ensino devem preocupar-se com a

situação atual do país, aderindo ao ensino da

oncologia como prática assistencial, que necessita

de conhecimento especializado para atender a

demanda da população. (MEDEIROS, 2010).

Realizar um atendimento de qualidade ao

paciente oncológico significa atingir as

necessidades e perspectivas. Pois, essa eficiência

no atendimento está sujeita à estrutura com a

qual o profissional foi instruído. Vale ressaltar,

Page 86: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 84

que no Brasil houve empenhos do Núcleo de

Enfermagem em Oncologia (N.E.O) da

Unifesp\EPM e do Pro-Onco do Instituto Nacional

do Câncer (INCA), que estimularam a necessidade

de incluir a oncologia na graduação em

enfermagem na década de 1990. Após duas

décadas dessas propostas, nota-se que a

discussão sobre a implementação dessa disciplina

no ensino superior ainda é pouco analisada,

faltando incentivos e repercussões de órgãos

como o Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira

de Enfermagem Oncológica e do Conselho

Federal de Enfermagem. (GUTIERREZ et al, 2009),

(MEDEIROS, 2010).

Assim, tais conceitos objetivam construir a

formação de competência para o ensino da

oncologia na graduação de enfermagem. Pois,

esse desenvolvimento fornece dos alunos

experiências significativas, com o objetivo de

desenvolver capacidade de pensamento crítico,

tomada de posição, utilização de estratégias e

cuidado especializado para saber lhe dar com os

três estágios do desenvolvimento da doença: a

fase de crise, crônica e terminal. (PEDRO, 2008).

Quando um indivíduo é acometido pelo

câncer, ocorrem várias repercussões para aqueles

que assistem todo o processo, já que as

perspectivas quanto ao seu futuro são objetos de

questionamento. O processo de adoecimento

mobiliza toda a família, fazendo com que todos os

seus membros tenham que alterar o seu papel,

com o objetivo de se readaptar a nova realidade.

(PEDRO, 2008).

Assim, é de fundamental importância à

relação profissional-paciente no processo de

adesão ao tratamento, visto que existem

fatores ai envolvidos que são próprios do

contexto onde o paciente está inserido. (SILVA;

CRUZ. 2011. pag. 182).

Portanto, vale destacar sobre a importância

do ensino da oncologia nos cursos de graduação

em enfermagem, uma vez que, esse estudo

capacita e possibilita o profissional a

desempenhar suas funções, levando em

consideração todo o contexto biopsicossocial do

paciente, reconhecendo suas limitações,

necessidades, e exercendo um atendimento de

forma integral e universal.

II – ENSINO DA ONCOLOGIA NA FORMAÇÃO DO

ENFERMEIRO

A portaria 2.439/2005 que institui a política

nacional de atenção oncológica traz em seu artigo

10, que deve ser incentivado o desenvolvimento

na formação e especialização de recursos

humanos para a rede de atenção oncológica.

Dessa forma é imprescindível que o enfermeiro

saia da graduação devidamente preparada para

prestar os cuidados aos pacientes oncológicos de

maneira humanizada e eficaz, tendo em vista que

este é o profissional de maior contato com os

pacientes em qualquer nível de atenção. A lei de

diretrizes e bases da educação nacional (LDB) - lei

n.9.394 de 20 de dezembro de 1996, traz que

entre as finalidades da educação superior

encontra-se, estimular o conhecimento dos

problemas do mundo presente, além de prestar

serviços especializados à comunidade. Assim

tendo em vista que de acordo com projeções da

organização mundial da saúde estima-se que em

2030 o número de mortes por câncer chegue a

23, 4 milhões, contra 7,4 em 2004, é de dever das

IES preparar os graduandos, de maneira a lançar

no mercado de trabalho profissional qualificado

para atender as necessidades dos pacientes

oncológicos, que vem aumentando em proporção

considerável na população mundial.

“VI - estimular o conhecimento dos

problemas do mundo presente, em particular os

nacionais e regionais, prestar serviços

especializados à comunidade e estabelecer com

esta uma relação de reciprocidade. ” (Lei

n.9.394 de 20 de dezembro de 1996, Capítulo IV

- Da Educação Superior).

Page 87: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 85

Vale ressaltar que a LDB de acordo com

Calil, 2009, sugere a adoção de diretrizes

curriculares para cada curso de graduação, o que

permite um aperfeiçoamento na formação dos

profissionais que prestarão serviços a sociedade.

No que condiz às diretrizes curriculares do curo

de graduação em enfermagem, este aponta para

a formação de enfermeiros generalistas, capazes

de intervir nos problemas de saúde mais

prevalentes na população nacional. Desta forma

considerando que de acordo com o INCA, em

2017 o número de casos de câncer registrados no

país será de 596 mil casos, é inegável a

necessidade da inserção do ensino de oncologia

nas IES, para que assim os profissionais possam

atender ao perfil traçado nas diretrizes

curriculares de ensino em enfermagem, que é

aquele profissional capacitado para atuar de

forma humanista, critica e reflexiva, pautado em

princípios éticos, e com reponsabilidade social,

para que dessa forma seja oferecida a população

serviços de qualidade respeitando os princípios e

diretrizes do SUS.

Tendo em vista que a atenção básica

representa o primeiro contato dos usuários aos

serviços de saúde, nem sempre as pessoas que

apresentam neoplasias terão acesso ao

acompanhamento com um oncologista se esta

situação de saúde não for suspeitada pelo clinico

geral, ou enfermeiro, considerando que este é

responsável pela consulta de enfermagem, bem

como pelo acompanhamento do paciente dentro

da unidade hospitalar, realizando entre outros

procedimentos a administração de

quimioterápicos, tendo assim o enfermeiro que

conhecer o caso dos pacientes, e ser capaz de

identificar possíveis erros de diagnostico, que

podem comprometer a saúde dos indivíduos.

Responsabilidades e deveres: “Art. 21 –

Proteger a pessoa, família e coletividade contra

danos decorrentes de imperícia, negligência ou

imprudência por parte de qualquer membro da

equipe de saúde. ” (RESOLUÇÃO COFEN

311/2007).

Em 2002 foi lançado o projeto de lei n.163,

o qual determina a inclusão da disciplina

oncologia em todos os cursos de medicina das

universidades públicas do estado de São Paulo,

tendo entre as justificativas o grande número de

erros de diagnóstico de câncer, onde houve casos

de quimioterapia indicada para pessoas que não

possuíam a doença. E esses fatores reforçam

ainda mais a necessidade de serem lançados no

mercado profissionais de saúde capacitados, e

com conhecimentos específicos voltados para a

oncologia, para que assim sejam capazes de

identificar corretamente os casos de câncer, além

de enfermeiros com rigor cientifico e intelectual

capazes de avaliar, se os procedimentos que

realizarão trarão algum tipo de prejuízo à saúde

do paciente.

Calil, 2009 traz que se verificou que grades

curriculares de algumas universidades do Brasil

não trazem a disciplina de oncologia, e não se

encontrou dados na literatura que apresentassem

o percentual de IES que oferecem um ensino

especifico para o cuidado de pacientes

oncológicos. Dessa forma, conclui-se que para

melhorar o atendimento prestado a população

com câncer, é necessária que os profissionais de

enfermagem encontrem dentro da graduação

uma formação adequada, que permita a

resolução de problemas da população, seja esta

através de terapias visando à cura, ou cuidados

paliativos, mantendo uma visão holística do

indivíduo e utilizando todo o conhecimento

técnico e cientifico oferecido na graduação, para

a prestação de um humanizado.

III – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destaca-se que o ensino da graduação do

curso de enfermagem deve ser direcionado aos

problemas mais complacentes do país, baseado

nos mais diferentes níveis de atuação que o

Page 88: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 86

enfermeiro possa subsidiar no exercício de sua

função. Assim, se tem estabelecido no âmbito do

sistema educacional, estratégias que possam

adequar currículos, métodos de ensino

pedagógico e de avaliação, enfim, a maneira de

aprender neste novo contexto de acordo com as

necessidades da comunidade.

Mas, o cenário que se encontra é outro.

Enquanto os casos de neoplasias vêm crescendo

em grande escala, as instituições de ensino

superior parecem fechar os olhos para esta

realidade, continuando a formar profissionais que

não estão devidamente preparados para atender

as necessidades de saúde da população. Logo, se

compreender que essa assistência prestada esteja

comprometida com a falta de qualificação do

enfermeiro na sua graduação, com exceção dos

acadêmicos que podem investir num curso de

pós-graduação.

Contudo, a importância da inserção do

ensino de oncologia nos cursos de graduação em

enfermagem, se torna necessária, e a sua

aplicação depende do suporte de toda a estrutura

educacional do país, com o objetivo de oferecer

uma melhor qualidade na assistência ao paciente

que sofre com determinada neoplasia.

REFERÊNCIAS

BIFULCO, Vera Anita. JUNIOR, Hezio Jadir Fernandes. Câncer uma visão multiprofissional. 2 ed. Minha Editora. Barueri - São Paulo. 2014.

CALIL, Ana Maria. PRADO, Claudia. O ensino da Oncologia na formação do enfermeiro. Centro Universitário São Camilo. Curso de Pós-Graduação. São Paulo, SP Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem. Departamento de Orientação Profissional. São Paulo, SP. 2009.

Decreto-Lei 163/2002 de 11 de Julho

GUTIERREZ, Maria Gaby Rivero. DOMENICO, Edvane Bivelo Lopes. MOREIRA, Marlén Chagas. SILVA, Lúcia Marta Giunta da. O ensino da cancerologia na enfermagem no Brasil e a contribuição da escola Paulista de Enfermagem-Universidade Federal de São Paulo. Florianópolis. 2009.

INCA – Instituto Nacional do Câncer. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/agencianoticias/site/home/noticias/2015/estimativa_incidencia_cancer_2016. Acesso em 30-04-2016.

Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa

MEDEIROS, Amanda Oliveira. O ensino de oncologia em enfermagem: um panorama do Brasil, Estados Unidos e outros. Botucatu, 2010.

Parecer CNE/CES 1133/2001

PEDRO, Iara Cristina da Silva. Apoio social e rede social as famílias com câncer. Ribeirão preto, 2008.

RESOLUÇÃO COFEN 311/2007 - Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem

SANTOS, Valdelice Oliveira. Formação da enfermeira em pesquisa clínica na área de oncologia: suas competências. Rio de Janeiro: UFRJ, EEAN, 2011.

SILVA, Rita de Cassia Velozo da Silva. CRUZ, Enêde Andrade da. Planejamento da assistência ao paciente com câncer: reflexão teórica sobre as dimensões sociais. 2011.

Page 89: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 87

POLUIÇÃO HIDRICA: um alerta social, ético e ecológico

Vanessa Cruz dos Santos

Daniel Delgado Queissada*

RESUMO: A poluição hídrica é um dos maiores problemas os quais passa a humanidade, devido a importância desse recurso natural à vida humana e ao meio ambiente. Instituições como as Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde já alertam sobre a crescente escassez de água e o aumento da poluição que afetam diretamente esse recurso. As águas não têm sua importância somente no âmbito da saúde fisiológica, mas também se relacionam com a saúde psicológica e espiritual. Além de serem fontes econômicas industrias e no ecoturismo, possuem uma grande importância como fonte de informações históricas e culturais, parâmetros esses fortemente ligados aos valores humanos. Assim é de suma importância que os recursos hídricos sejam corretamente utilizados e tratados para um posterior descarte em corpos d’água ou reuso. Contudo, além da atuação dos poderes públicos em colocar em prática e fiscalizar ações acerca do uso racional da água, a conscientização popular ainda é o ponto primordial para que isso ocorra. A poluição hídrica é crescente, aumentando a cada dia nossa preocupação em torno da sociedade e do meio ambiente. PALAVRAS-CHAVE: Poluição hídrica. Prejuízo social. Tratamento de efluentes. Saneamento básico.

ABSTRACT: The water pollution is a major problem of humanity, due to importance of this natural resource to human life and the environment. Institutions such as the United Nations and the World Health Organization already warn about the growing scarcity of water and the increased pollution that directly affect this feature. The waters do not have its importance only in the context of physiological health, but also relate to the psychological and spiritual health. Besides being economic industries and sources in ecotourism, have a great importance as a source of historical and cultural information, these parameters strongly linked to human values. This is of paramount importance that water resources are properly used and processed for further disposal in water bodies or reuse. However, in addition to the action of public authorities in putting into practice and enforce actions about the rational use of water, popular awareness is still the primary point for this to occur. The water pollution is growing, increasing every day our concern around the society and the environment. KEYWORDS: Water pollution. Social impairment. Effluent treatments. Basic sanitation.

*Docente do curso de Ciências Biológicas da

UniAGES. Pós-doutor e Bioprocessos.

Page 90: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 88

INTRODUÇÃO

Cuidados com as fontes de águas são uma

preocupação em todo o mundo. As Nações

Unidas e a Organização Mundial de Saúde

alertaram a comunidade internacional acerca da

crescente escassez de água e da deficiência do

cuidado com a poluição das fontes disponíveis

(CASARIN; SANTOS, 2011). A falta de

infraestrutura para o saneamento básico

contribui anualmente para a morte de milhões de

pessoas, principalmente crianças com diarreia

(JORDÃO, 1995). Para tratar corretamente os

recursos hídricos há necessidade do

desenvolvimento de novos paradigmas

tecnológicos biológicos voltados para a

sustentabilidade e tratamento de águas e

esgotos, que deverão estar adequados à cultura

local de modo a não interferir drasticamente com

as tradições sociais e não ser dependentes de

mecanismos externos de transferência de

equipamentos e outros insumos (BRASIL, 2005).

Andrade e Romeiro (2009) destacam que

outro fator importante que deve ser observado e

avaliado é a capacidade de os ecossistemas

hídricos naturais colaborarem para a manutenção

da saúde humana, não só pelo fato da não

contaminação nas águas potáveis, mas também

oportunizando momentos de reflexão,

enriquecimento espiritual, desenvolvimento

cognitivo e recreação. Nesta categoria incluem-se

o ecoturismo, a inspiração cultural e artística,

além de informações históricas e culturais.

Entretanto, essas funções dos recursos hídricos

são fortemente ligadas aos valores humanos, o

que muitas vezes dificulta a sua correta definição

e avaliação pelos pesquisadores.

O uso ético da água e a mesma como um

recurso de uso comum remete à ideia de

sustentabilidade. Na busca pelo uso sustentável a

reflexão ética deve ultrapassar questões legais e

científicas, e fundamentar-se na solidariedade,

justiça social e equidade. Contudo, para que isso

ocorra, o gerenciamento da água deve buscar o

equilíbrio entre o papel tradicional do Estado e a

ética comunitária. A busca por esse equilíbrio

requer mudanças de atitudes e pensamentos

originados em ideias consistentes e viáveis,

partindo do pressuposto que toda mudança se

inicia com ideias sobre como eram, como está

sendo e como serão as relações entre as pessoas,

os recursos naturais e o meio ambiente.

Desta forma é necessário conhecer os

princípios éticos envolvidos em cada situação

em relação aos recursos hídricos, de modo a

refletir os diferentes interesses das

comunidades (SILVA; FRANÇA, 2004).

As mudanças de atitudes necessárias para

minimizar ou solucionar o problema da poluição

hídrica tem que partir do princípio de que

nenhum setor da sociedade está isento às

influencias da natureza e à crise hídrica mundial.

Contudo, o problema evidenciado desse recurso

natural por vezes, ocorre não devido à falta

absoluta de água para diversos fins, e sim pela má

distribuição da mesma. Por isso, é preciso

conhecer os principais fatores que envolvem a

relação do homem e do meio ambiente com os

recursos hídricos, sendo esses éticos, sócias e

ecológicos. Esse tipo de visão e percepção

holística do mundo é um parâmetro fundamental

para que o problema da poluição hídrica tenha

fim (SILVA; FRANÇA, 2004; LEFF, 2001).

De acordo com Baumgarten e Pozza (2001),

a qualidade dos ecossistemas aquáticos tem sido

alterada em diferentes escalas nas últimas

décadas. Fator este, desencadeado pela

complexidade nas utilizações múltiplas da água

pelo homem, as quais acarretaram em

degradação ambiental significativa e diminuição

considerável na disponibilidade de água de

qualidade, produzindo inúmeros problemas

ecológicos, éticos e sociais ao seu

aproveitamento. A água pode ter sua qualidade

Page 91: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 89

afetada pelas mais diversas atividades do

homem, sejam elas domésticas, comerciais ou

industriais, cada uma dessas atividades

antrópicas gera poluentes característicos que têm

uma determinada implicação na qualidade do

corpo receptor. Essa diversidade dos poluentes e

das implicações que os mesmos causam no meio

ambiente e no homem ocorrem devido suas

origens diversas, que podem ser química, física ou

biológica (BAUMGARTEN; RODRIGUEZ, 1993).

As águas, sejam tanto para consumo, como

para recreação, precisam estar no nível de

qualidade que exige a legislação. Assim, o

tratamento adequado das mesmas é de suma

importância. Além disso, industrias e instituições

governamentais de grande porte necessitam de

ações e processos ativos visando a reutilização da

água utilizada pelos mesmos. Atualmente mais

importante do que o tratamento de águas pelas

grandes indústrias antes do descarte é a sua

reutilização, diminuindo drasticamente assim a

captação dessas águas em corpos receptores

como rios, e, consequentemente, reduzindo o

impacto causado em populações circunvizinhas

com a escassez desse recurso (QUEISSADA, 2009).

Mesmo com toda a preocupação sobre o

tratamento adequado de águas e seu reuso pelas

indústrias, um dos parâmetros mais nocivo e de

difícil alteração, devido a cultura, é o uso

irracional desse recurso nos domicílios. Uma

política estável de conservação e uso racional da

água envolve a redução de perdas e dos usos

abusivos nos domicílios. Contudo, essa gestão

adequada só ocorre integradamente com ações

de governantes municipais e de planejamento

metropolitano. Medidas como a inibição de uso

da vassoura em lavagens de calçadas e quintais e

uso de mangueiras na lavagem de veículos,

somente se concretizam com a atuação dos

poderes públicos municipais mediante a

existência de uma política metropolitana

especificamente voltada a estes objetivos, como

por exemplo a existência de leis para inibir essas

ações e propagandas de conscientização do uso

racional da água (SILVA e PORTO, 2003; SILVA et

al., 2002).

DESENVOLVIMENTO

Compostos poluentes podem ter origem

química, física ou biológica. Entre os compostos

químicos existem dois tipos de poluentes,

consistindo em biodegradáveis, os quais são

produtos químicos que ao final de um

determinado período, são decompostos pela ação

de organismos como plantas e micro-organismos.

Entre esses tipos de poluentes estão os

detergentes, inseticidas, fertilizantes, etc. O outro

tipo são os persistentes ou não biodegradáveis,

que são compostos que se mantém por longo

tempo no meio ambiente e nos organismos vivos,

podendo bioacumular. Estes poluentes podem

causar graves problemas como a contaminação

de alimentos, peixes e crustáceos. São exemplos

de poluentes persistentes ou não biodegradáveis

o DDT (diclodifenitricloroetano), o mercúrio, íons

metálicos, etc. (BAUMGARTEN e POZZA, 2001).

Esses poluentes podem causar inúmeros

prejuízos ambientais e sociais. A poluição oriunda

dos mesmos pode ser classificada dependendo do

efeito negativo que os poluentes geram. Entre as

tipologias de poluição temos as físicas, que

alteram as características físicas da água, entre as

principais estão a poluição térmica e a poluição

por sólidos. A poluição térmica decorre do

lançamento de água aquecida usada no processo

de refrigeração de refinarias, siderúrgicas e usinas

termoelétricas. Já a poluição por resíduos sólidos

pode ser oriunda de sólidos suspensos, coloidais e

dissolvidos geralmente provenientes de

ressuspensão de fundo dos copos d’água devido à

circulação hidrodinâmica intensa, derivada de

esgotos industriais e domésticos e da erosão de

solos carregados pelas chuvas ou erosão das

margens (FREITAS; FREITAS, 1992).

Page 92: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 90

A água ainda pode ser contaminada

biologicamente por organismos patogênicos,

existentes nos esgotos e efluentes industriais.

Assim, de acordo com Baumgarten e Pozza

(2001), ela pode conter bactérias que provocam

infecções intestinais, epidérmicas e endêmicas

como a febre tifóide, cólera, shigelose,

salmonelose, leptospirose, etc.; vírus que podem

provocam hepatites e infecções oculares;

protozoários responsáveis pelas amebiases e

giardíases entre outras patologias.

Esses problemas ocorrem principalmente

em regiões com populações mais pobres onde o

saneamento básico é insuficiente ou, até mesmo,

inexistente, ocorrendo a disseminação dessas

doenças através de vetores como ratos e insetos.

Por isso, as principais ações de saneamento são a

coleta e o tratamento de resíduos sólidos e

líquidos, consequentemente, preservando o meio

ambiente, controlando vetores de doenças e

garantindo a qualidade da água de consumo, bem

como seu fornecimento constante. O saneamento

ainda atua na drenagem das águas pluviais, e

limpeza de galerias de esgoto, prevenindo

enchentes, que também são disseminadores de

vetores de doença, como os ratos (BARBOSA

2010; CAVINNATO, 1992).

De acordo com as Nações Unidas (2011),

estima-se que, 884 milhões de pessoas em todo

mundo não tem acesso à água potável, e que 1,5

milhões de crianças morrem a cada ano vítimas

de doenças causadas por microrganismos e

outros patógenos através de águas não potáveis.

Ainda há uma estimativa que em 2025, 1,8

bilhões de pessoas viverão em países com

escassez absoluta de água, e dois terços da

população mundial estará vivendo sob condições

de estresse hídrico.

A poluição das águas deriva da adição de

substâncias ou de formas de energia que,

segundo Teixeira (1999), diretamente ou

indiretamente alteram as características físicas e

químicas do corpo d’água de uma maneira tal,

que prejudique a utilização das suas águas para

usos benéficos, como consumo e recreação.

Muitos produtos químicos usados em indústrias e

em residências são descartados no mar e em

águas superficiais, direta ou indiretamente,

acidental ou deliberadamente. Os mais comuns

são sabões, detergentes e outros produtos de

limpeza; óleos, tintas, baterias e outros contendo

hidrocarbonetos e metais (VON SPERLING, 2005).

Assim, principalmente as atividades

antrópicas emite poluentes característicos, e cada

um destes contaminantes causa um efeito, com

diferentes graus de poluição, conforme pode-se

observar na Tabela 1 (BARBOSA; BARRETO, 2008).

Essas atividades são potencialmente geradoras de

poluição, principalmente em sistemas hídricos, e

são oriundas geralmente de depósitos de lixo e

indústrias como a de mineração e siderúrgicas

(BRASIL, 2004).

Dentre as atividades antrópicas mais

prejudiciais está a Agricultura com seus

agroquímicos empregados no controle de pragas.

O maior problema observado é a falta de

especificidade do mesmo, destruindo

indiferentemente espécies nocivas e úteis

(SANTOS 2012). Outro problema é o acúmulo ao

longo das cadeias alimentares de substâncias

presentes nos agroquímicos. Os inseticidas

quando usados de forma indevida acumulam-se

no solo e nas plantas, os animais se alimentam da

vegetação prosseguindo o ciclo de contaminação

e bioacumulação. Com as chuvas, os produtos

químicos usados na composição dos pesticidas se

infiltram no solo, podendo contaminar os lençóis

freáticos e, consequentemente, escorrendo para

os rios contaminando também esses corpos

d’água (GENRICH, 2002).

Em relação aos fertilizantes, também

usados no setor agrícola, o principal problema é a

alta concentração de nitrogênio e fósforo, que

são nutrientes para as plantas aquáticas,

especialmente para as algas podendo acarretar a

eutrofização, com o crescimento descontrolado

Page 93: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 91

das mesmas e, consequentemente, uma redução

drástica de oxigênio dissolvido, originando uma

enorme mortandade de peixes e outros

organismos aeróbios (SOARES; PORTO 2007).

As indústrias são uma das principais fontes

de poluentes que existe. Estas causam grande

devastação dos ambientes, por meio de efluentes

contaminados e poluídos lançados em rios e

mares. Entre as principais indústrias poluentes

estão as refinarias, que descartam efluentes que,

quando não são devidamente tratados e lançados

em corpos d’água, formam uma camada

superficial que impede as trocas gasosas e a

passagem da luz solar, provocando uma enorme

redução da fotossíntese e da concentração de

oxigênio dissolvido. Essa alteração prejudicial

provoca asfixia nos seres aeróbios presentes

nesse nicho. Indústrias como siderúrgicas e

metalúrgicas contribuem igualmente para o

agravamento da degradação ambiental, liberando

também substâncias altamente tóxicas como íons

metálicos e outros compostos não-

biodegradáveis (MARCHESAN et al., 2009).

Infelizmente, percebe-se que a

contaminação de recursos hídricos tem

aumentado cada vez mais. Segundo Gunther

(2005), nas últimas décadas, os problemas

ambientais têm se tornado cada vez mais críticos

e frequentes, principalmente devido ao

desmedido crescimento populacional e ao

aumento da atividade industrial. Jacobi (2003)

relata que vários pesquisadores buscam novas

técnicas e ferramentas que visem à remoção de

contaminantes de forma mais viável,

principalmente economicamente, desses

compostos mostrando principalmente que a

atuação de microrganismos na busca da

autopreservação, degrada diversos poluentes,

utilizando-os como fonte de nutrientes. Assim,

estes microrganismos constituem uma poderosa

ferramenta para tratamentos dos ambientes

poluídos através da biorremediação dos

compostos (DAMS, 2006).

O tratamento biológico é uma das

alternativas mais econômicas e eficientes para a

degradação da matéria orgânica de efluentes

biodegradáveis, ocorrendo a ação de agentes

biológicos como bactérias, protozoários e algas.

Contudo, há uma grande rejeição por parte das

indústrias em utilizar esses e outros processos

devido ao custo inicial para a implementação dos

sistemas de tratamento (NOVA et al.,1996).

Assim, há necessidade de uma preocupação

maior com essas questões, pois à degradação de

ecossistemas aquáticos, afeta não só o meio

ambiente, como o ser humano. Vale destacar que

já é possível utilizar diversos métodos de

remediação de ambientes aquáticos, apenas o

que falta é a sensibilização das indústrias e

governantes para a aplicação desses métodos

para o melhoramento desses ecossistemas. Além

disso é de suma importância que nos domicílios a

preocupação com o uso racional da água seja

constante.

CONCLUSÃO

A poluição hídrica pode ocorrer devido à

inúmeras fontes e tipologias de poluentes, o que

dificulta sua avaliação e remediação.

A grande variedade de poluentes pode

acarretar inúmeros prejuízos ecológicos e sociais

no meio ambiente, como a degradação de nichos

ambientais e a proliferação de doenças.

Os recursos hídricos são de extrema

importância ecológica e econômica, mas também

para a saúde humana como um todo, seja ela

fisiológica, psicológica e espiritual. Essa visão

holística de mundo é necessária para que o

problema da poluição desses recursos seja

solucionado.

Entre as ações eficientes para a prevenção

da poluição hídrica estão os tratamentos

adequados de efluentes industriais e domésticos,

ações eficientes de saneamento básico e

conscientização popular acerca do despejo dos

resíduos sólidos (lixo) em lugares adequados.

Page 94: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 92

A conscientização da população sobre o uso

racional da água nos domicílios é de suma

importância, mas de difícil implantação devido a

cultura impregnada e inadequada do uso da água

que perpetua na sociedade.

Dessa forma é necessária uma maior

execução efetiva das metas e tópicos que são

abordados, para melhorar a fiscalização do uso,

tratamento e reuso dos recursos hídricos,

reduzindo assim a poluição que afeta esse bem

tão precioso e limitado da sociedade.

Page 95: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 93

Tabela 1. Fontes de poluição e significância dos tipos de poluentes

Significâncias: (1) significância local; (2) moderada significância local/regional; (3) significância regional; (G)

significância global. Fonte: Adaptado de Tucci, 1998.

Page 96: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 104

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ANDRADE, D. C.; ROMEIRO, A. R. Serviços ecossistêmicos e sua importância para o sistema econômico e o bem-estar humano. São Paulo: Unicamp. 2009. p. 155.

BARBOSA, F.; BARRETO, F. C. Diferentes visões da água. Belo Horizonte: UFMG, 2008. 366 p.

BAUMGARTEN, M. G. Z.; RODRIGUEZ, R. M. Identificação das possíveis fontes de contaminação das águas que margeiam a cidade do Rio Grande (RS). Oceanografia, Rio Grande d Sul, v.33, n.1, p. 30, 1993.

BAUMGARTEN, M. G.; POZZA, S. A. Qualidade de águas. Descrição de parâmetros químicos referidos na legislação ambiental. Rio Grande: FURG, 2001. 166p.

BRASIL, M.S.; MATOS, A.T.; SOARES; A.A.; FERREIRA, P.A. Qualidade de efluente de sistemas alagados construídos, utilizados no tratamento de esgoto doméstico. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.9, n.1, p.137, 2005.

BRASIL. Portaria ANVIS. n. 518, de 25 de março de 2004. Ministério da Saúde, 2004.

CASARIN, F. SANTOS, M. Água: Ouro azul usos e abusos dos recursos hídricos. Coleção do século XXI. Rio de Janeiro: Garamod, 2011. 114 p.

CAVINNATO, V. M. Saneamento básico: fonte de saúde e bem-estar. São Paulo: Moderna, 1992. 36 p.

DAMS, R. I. Pesticida: usos e perigos à saúde e ao meio ambiente. Revista Saúde e Ambiente, Joinville, v. 7, n. 2, p. 44, 2006.

FREITAS, V. P.; FREITAS, G. P. Crimes contra a natureza. 3. ed. São Paulo: RT, p. 135, 1992.

GENRICH, A. V. S. Análise de impactos ambientais na cabeceira de drenagem da bacia do córrego Vilarinho. Minas Gerais: RMBH-MG, 2002. 96 p.

GUNTHER, W. M. R. Poluição dos solos. In: PHILIPPI JÚNIOR, A.; PELICIONI, M. C. (Org.). Educação ambiental e sustentabilidade. São Paulo: Manole, 2005. p.215.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 2, n. 118, p. 205, 2003.

JORDÃO, E.P., PESSOA C.A. Tratamento de Esgotos Domésticos. Rio de Janeiro: ABES, 1995. 115 p.

MARCHESAN, E.; SARTORI, G.M.S.; REIMCHE, G.B.; AVILA, L.A.; ZANELA, R.; MACHADO, S.L.O., MACEDO, V.R.M.; COGO, J.P. Qualidade de água dos rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim no Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural, Rio Grande do Sul, v.39, n.7, p. 2056, 2009.

NAÇÕES UNIDAS. 2011. World Urbanization Prospects The 2011 Revision.

NOVA, V.N.A.; BACCHI, O.O.S.; REICHARDT, K. Potencial da água no sistema solo-planta estimado através da fase vapor. Science Agricultural, Piracicaba, v. 53 n. 1, p. 215, 1996.

QUEISSADA, D. D. Isolamento e seleção de microrganismos para remediação de efluente oleoso da indústria metal-mecânica. 2009. 121 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Universidade de São Paulo, Lorena, 2009.

RIBEIRO, J. W. ROOKE, J. M. S. Saneamento básico e sua relação com o meio ambiente e a saúde pública. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, p.230, 2010.

SANTOS, S.; OLIVEIRA, L. C.; SANTOS, A.; ROCHA, JC.; ROSA, A. H. Poluição aquática. In: André Henrique Rosa; Leonardo Fernandes Fraceto; Viviane Moschini-Carlos. (Org.). Meio ambiente e sustentabilidade. Bookman, Porto Alegre, v. 1, n.1, p. 46, 2012.

SILVA, R. J.; FRANÇA, V. A ética e o uso da água doce na margem esquerda da represa Capivara, município de Porecatu, estado do Paraná. Geografia. Vol. 13. N 2, 2004.

SILVA, R. T.; PORTO, M. F. A. Gestão urbana e gestão das águas: caminhos da integração. Estudos Avançados. V. 17. n 47, p. 143, 2003.

SILVA, R. T.; FONSECA, R. B.; DAVANZO, A. M. Q.; NEGREIROS, R. M. C. Gestão hidrográfica de bacias densamente urbanizadas. Livro verde. Desafios para a gestão da Região Metropolitana

Page 97: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 105

de Campinas. Campinas: Ed. Unicamp, p. 245, 2002.

SOARES, W.L.; PORTO, M.F. Atividade agrícola e externalidade ambiental: uma análise a partir do uso de agrotóxicos no cerrado brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva, São Paulo, v.12, n.1, p.143, 2007.

TEIXEIRA, O. A. Quando poluído e poluidores. Cadernos de Ciência e Tecnologia, São Paulo, v.16, n.2, p. 68, 1999.

TUCCI, C. E. M. Modelos Hidrológicos. Porto Alegre: UFRGS/ABRH, p. 669, 1998.

VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo Horizonte: Editora Universidade Federal de Minas Gerais, 2005. 243 p.

Page 98: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 106

TRATAMENTOS BIOLÓGICOS DE CHORUME: ações para preservação do meio ambiente, valorização da vida e dos valores humanos

Maria da Paz Oliveira de Santana Cristinaldo da Conceição Soares

Jamile Santos Amorim Juliana de Jesus Santos

Daniel Delgado Queissada*

RESUMO: O Brasil é um dos países mais rígidos legislativamente em relação ao tratamento de efluentes industriais e domésticos. Contudo, ainda existe uma fraca fiscalização pelos órgãos públicos responsáveis dessas práticas, podendo chegar a nenhuma fiscalização em alguns municípios e estados brasileiros. Os efluentes uma vez descartados de forma inadequada no meio ambiente trazem enormes prejuízos ao mesmo e, consequentemente, à população, indo contra as ações que norteiam o respeito ao próximo e os valores humanos. Entre os efluentes com maior poder poluente está o chorume, produzido em lixões e aterros sanitários, que deve ser tratado adequadamente antes de ser descartado no meio ambiente ou reusado. Entre as principais tipologias de tratamentos utilizados para a remediação desse tipo de poluente estão as lagoas de estabilização e a fitorremediação. Assim, o presente trabalho teve como objetivos conhecer a definição de chorume, descrever os principais métodos de tratamento do mesmo e os seus respectivos processos. PALAVRAS-CHAVE: Chorume. Tratamento. Lagoas de estabilização. Fitorremediação. Valores humanos. ABSTRACT: The Brazil is one of the strictest countries legislatively in relation to the treatment of industrial and domestic effluents. However, there is still a weak public body responsible oversight of these practices, and can reach any oversight in some municipalities and Brazilian states. Effluent once improperly discarded in the environment bring huge losses to the same and, consequently, to the population, going against the actions that guide the respect to the next and the human values. Among the most polluting effluents is the leachate, produced in dumps and landfills that must be treated properly before being discarded in the environment or reused. Among the main types of treatments used for the remediation of such pollutants are the lagoons of stabilisation and phytoremediation. Thus, the present work had as objectives to meet the definition of manure, describe the main methods of treatment and their respective processes. KEYWORDS: Leachate. Treatment. Stabilization ponds. Phytoremediation. Human values.

*Docente do curso de Ciências Biológicas da

UniAGES. Pós-doutor e Bioprocessos.

Page 99: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 107

INTRODUÇÃO

O chorume é o líquido escuro gerado pela

degradação dos resíduos orgânicos em lixões e

aterros sanitários, contém alta carga poluidora,

por isso, deve ser tratado adequadamente

(SERAFIM et al., 2003). O impacto produzido pelo

chorume no meio ambiente é bastante

acentuado. Estudos recentes demonstram que

efeitos adversos podem ser observados no solo,

mesmo a distâncias superiores a 100 m do aterro,

assim como alterações na biota aquática,

principalmente nas imediações do local onde é

descartado. Por isso, a implementação de

sistemas de coleta e tratamento é essencial

(MORAIS; PERALTA-ZAMORA, 2006). Além disso,

o tratamento de todo lixo, seja da parte sólida,

como da líquida é um fator preponderante para a

saúde e bem-estar de uma população, levando

em consideração a ética, o respeito ao próximo e

os valores humanos.

Anualmente 30 bilhões de toneladas de lixo

são despejados na natureza em todo o mundo

(...). Em menos de vinte anos, o volume de água

distribuída sem tratamento aos brasileiros

aumentou mais de 3%, indo de 3,9% em 1989

para 7,2% em 2000 (...). Por estes motivos, a

Organização das Nações Unidas (ONU) espera que

20% da população mundial se transformem em

“refugiados ambientais” nos próximos 20 anos,

devido aos danos ambientais causados em suas

áreas de origem, tais como a (...) carência de água

(COELHO; GOUVEIA; MILFONT, 2006, p-p. 199-

200).

De acordo com Silva e França (2004), a ética

e o respeito aos valores humanos, além da

preservação da natureza através do

desenvolvimento sustentável, devem ser

parâmetros de partida para a gestão dos resíduos

líquidos contaminados como o chorume. Essas

ações devem ser fundamentadas partindo do

princípio de que nenhum setor da sociedade está

isento a esses parâmetros culturais e ecológicos.

Salientando-se que a crise hídrica mundial, por

vezes, em algumas regiões, ocorre não devido à

escassez absoluta desse recurso natural, e sim

pela má distribuição do mesmo. Assim, é

necessário conhecer os princípios éticos, morais e

ecológicos envolvidos em cada situação em

relação aos recursos hídricos, de modo a refletir

os diferentes interesses das comunidades. Esse

discurso vai de encontro com Leff (2001, p. 123)

que diz que “entre os princípios morais e

conceituais que devem sustentar o

desenvolvimento, uma percepção holística e

integradora do mundo reincorpora os valores da

natureza e da democracia participativa em novos

esquemas de organização social”.

Entre os resíduos líquidos mais nocivos ao

meio ambiente está o chorume. Os parâmetros

que resultam na síntese do mesmo são a umidade

do ar e da decomposição da matéria orgânica,

além de enzimas bacterianas que irão compor o

líquido. Segundo Serafim et al. (2003), a

composição físico-química do chorume é

extremamente variável dependendo de vários

fatores que vão desde as condições ambientais

locais, tempo de disposição, forma de operação

do aterro e até características do próprio despejo.

O chorume pode conter altas concentrações de

sólidos suspensos, metais pesados, compostos

orgânicos originados da degradação de

substâncias que facilmente são metabolizadas

como carboidratos, proteínas e gorduras.

Observa-se ainda, que o chorume pode

contaminar águas subterrâneas, lençóis freáticos,

poços artesianos e até mesmo o solo e o subsolo

próximo ao aterro. Dessa forma, o mesmo pode

ser bem mais agressivo do que o esgoto por

conter metais pesados e bactérias. Outro ponto

importante é o descarte de lixo domésticos a céu

aberto ou em locais inapropriados, que pode

resultar em enfermidades causadas por vetores

como barata, ratos, moscas e etc. A construção,

uso e a manutenção de aterros sanitários é uma

Page 100: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 108

medida de proteção tanto ambiental quanto para

a população (LOUREIRO et al., 2005).

DESENVOLVIMENTO

Mesmo com o uso e a manutenção

adequada dos aterros sanitários, o tratamento de

águas contaminadas com chorume é de suma

importância, pois essas descartadas de forma

inadequada, ou seja, sem tratamento, podem

contaminar de forma vigorosa o meio ambiente

(MUÑOZ, 2002).

Além da preocupação ambiental, os

princípios éticos e o respeito aos valores

humanos devem ser levados em consideração

para uma adequada e eficiente gestão dos

resíduos poluentes, pois não só a saúde do

homem, mas de todo ambiente existente tem

que ser observado através de uma visão holística

de mundo. Isso fará com que haja um

desenvolvimento realmente sustentável e,

especificadamente, em relação à saúde humana,

que a mesma não seja somente analisada

focando-se no agente etiológico da doença, mas

sim no todo (holístico) que envolve o

desenvolvimento da mesma, como, por exemplo,

na redução drástica do acesso à agua tratada e ao

saneamento básico (SILVA et al., 2012; SILVA;

FRANÇA, 2004).

No Brasil, o tratamento mais acessível e

mais utilizado para águas contaminadas é o

biológico, por ser considerado simples, de baixo

custo, eficiente e sem necessitar de muitos

equipamentos. Este sistema é muito favorável ao

Brasil por possuir temperatura e insolação

elevadas (parâmetros importantes para o

metabolismo microbiano e de plantas). Para

estabelecer qualquer tratamento de chorume,

anteriormente o mesmo deve ser coletado e

caracterizado física e quimicamente, isso fará

com que se escolha o tipo de tratamento mais

específico e que terá assim uma maior eficácia

(JUCÁ, 2003).

Tratamentos Biológicos

As técnicas de tratamento que aplicam os

processos biológicos são denominadas de

biorremediação, que por definição são sistemas

que empregam organismos vivos com potenciais

metabólicos para remoção dos poluentes-alvo

(PEREIRA; LEMOS, 2004).

Os tratamentos biológicos de solos, águas e

efluentes estão presentes, geralmente, no nível

secundário do processo, pois quando há

poluentes grosseiros (sólidos sedimentáveis) ou

compostos tóxicos aos microrganismos ou

plantas, há a necessidade de um tratamento

primário para a remoção dos mesmos

(QUEISSADA, 2009).

Geralmente, no início do sistema de

tratamento biológico de águas contendo

chorume, a mesma é captada em drenos e

conduzida a um tanque de equalização, cuja

principal função é reter os íons metálicos (metais

pesados) e homogeneizar o efluente. Após a

homogeneização, o mesmo é conduzido aos

tratamentos biológicos para a remoção da

matéria orgânica através da biodegradação

(BAHÉ, 2008).

Figura 1. Tanque de equalização.

Fonte: Revista TAE, 2016.

Entre os tratamentos biológicos mais

utilizados para águas e efluentes estão as lagoas

de estabilização, realizado nas lagoas

anaeróbicas, aeróbicas e nas facultativas, já a

fitorremediação, tratamento utilizando plantas, é

utilizada tanto para águas e efluentes como para

solos contaminados (ROCHA, 2005).

Page 101: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 109

Lagoas de Estabilização

De acordo com Serafim et al. (2003) os

sistemas de lagoas de estabilização constituem

um processo biológico de estabilização da

matéria orgânica que é realizada pela oxidação

bacteriológica e/ou redução fotossintética das

algas. Nas lagoas anaeróbias são usados tanques

de grande profundidade (2,0 a 5,0m), a

profundidade é de suma importância para reduzir

a possibilidade de penetração do oxigênio

produzido na superfície para as outras camadas,

tem a função de tratar o efluente primário com

chorume. As lagoas facultativas são tanques de

menor profundidade (1,0 a 2,5m) e são

responsáveis pelo tratamento secundário do

efluente com chorume e a sua principal

característica é o processo aeróbio na superfície e

anaeróbio no fundo, sendo que esse tratamento

é dependente de luz solar. Já as lagoas aeróbias

são totalmente dependentes de luz solar e com

pouca profundidade (0,5 a 1,5m), o que faz com

que o metabolismo aeróbio domine todo o

volume existente (Figura 2).

Figura 2. Lagoas de estabilização: lagoa anaeróbia (A);

facultativa (B) e aeróbia (C).

Fonte: Wikimedia Commons, 2016.

As lagoas de estabilização, assim como

qualquer outro processo de tratamento, possuem

vantagens e desvantagens na sua aplicabilidade

(Tabela 1).

Tabela 1. Vantagens e desvantagens do tratamento de

águas e efluentes por lagoas de estabilização

Aplicabilidade simples

Não necessita de operadores com

qualificação profunda

VANTAGENS Custo baixo

Manutenção simples

Muito eficaz para remoção de

matéria orgânica dissolvida

Requer uma área de uso extensa

DESVANTAG

ENS Probabilidade de maus odores

Processo relativamente lento

Fonte: Adaptado de Serafim et al., 2003.

O tipo de lagoa utilizada, levando em

consideração as vantagens e desvantagens do

processo, precisa, ao final do tratamento deixar

os parâmetros de qualidade da água em níveis

adequados para o descarte, reuso ou

encaminhamento para sistemas de tratamentos

terciários (QUEISSADA, 2009; ROCHA, 2005).

Fitorremediação

O processo de fitorremediação é definido

como a utilização do conjunto solo/

plantas/microrganismos com a finalidade de

remover, degradar ou isolar substâncias tóxicas

do ambiente. No Brasil a espécie mais utilizada é

a Typha domingensis conhecida vulgarmente por

Taboa (SERAFIM et al., 2003). Outras espécies

como a Juncus acutus (junco agudo), Typha

angustifolia (taboa), Cyperus longus – (junça-

longa), dentre outras também são utilizadas

nesse tipo de tratamento para chorume e outros

poluentes (Figura 3).

A

A

C

B

Page 102: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 110 Figura 3. Espécies de plantas utilizadas na fitorremediação

de poluentes: Typha domingensis (A); Juncus acutus (B) e

Cyperus longus (C).

Fonte: Wikimedia Commons, 2016.

Segundo Newman (2004), existem vários

tipos de fitorremediação, o processo escolhido irá

depender de alguns parâmetros como as

propriedades do poluente a ser degradado ou

removido e da planta utilizada, e de alguns

objetivos como a porcentagem de eficiência do

tratamento e se, por exemplo, a água poluída irá

ser descartada ou reusada após o tratamento.

Sempre ressaltando que, o processo de

fitorremediação escolhido, assim como qualquer

outro tipo de tratamento, tem por finalidade

tratar corpos d’água, efluentes ou solos para que

os mesmos atinjam os parâmetros de qualidade

explícitos na legislação, tanto para descarte como

reuso dessas amostras (QUEISSADA, 2009).

Dentre os tipos de fitorremediação temos a

fitoextração, sendo o processo que envolve a

absorção dos contaminantes, como íons

metálicos, pelas raízes, sendo então

transportados e acumulados nas partes aéreas

(folha, flor, fruto e caule). Já na fitovolatilização,

os poluentes são absorvidos pela raiz

transformando-se em formas não toxicas e depois

liberados na atmosfera. Na fitoestimulação,

através de estímulos como otimização dos

nutrientes, ocorre um maior desenvolvimento da

planta e crescimento da raiz, esse crescimento

estimulado promove uma maior proliferação de

microrganismos degradativos na rizosfera, que

usam os poluentes no ambiente como fonte de

carbono e energia. Já a rizofiltração trabalha com

plantas aquáticas, as quais usam seu sistema

radicular absorvendo poluentes resistentes como

os íons metálicos e elementos radiativos. Por fim,

na fito-estabilização as plantas são utilizadas para

limitar a mobilidade e a biodisponibilidade de

poluentes em solos (GRATÃO et al., 2005;

NEWMAN; REYNOLDS 2004; CARL; KINGSCOTT,

1997).

Segundo Lamego e Ribas (2007), algumas

características particulares das plantas são alvos

para a aplicação das mesmas nos tratamentos de

águas poluídas, como por exemplo com chorume.

Entre elas estão a produtividade alta de

biomassa, desenvolvimento acelerado de diversas

espécies usadas e, utilizando a espécie adequada,

uma enorme tolerância ao poluente-alvo. Além

disso, a fitorremediação pode ser utilizada tanto

para degradação de poluentes orgânicos, como

para remediação de inorgânicos e íons metálicos.

Contudo, como qualquer técnica de

biorremediação, a fitorremediação apresenta

vantagens e desvantagens (Tabela 2).

A

B

C

Page 103: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 111 Tabela 2. Vantagens e desvantagens do

processo de fitorremediação

Redução de impactos ambientais

Custo baixo

VANTAGENS Operação simples

Capacidade de remediar várias

tipologias de poluentes

Pode ser utilizada em áreas poluídas

de grande extensão

Pode ser usada tanto para o

tratamento de águas como de solo

Pode acarretar contaminação da

cadeia alimentar

DESVANTAG

ENS

Dependendo da espécie o potencial

despoluidor é limitado

Processo relativamente lento

Dependente do clima

Fonte: Adaptado de Lamego e Ribas, 2007.

A grande eficácia no tratamento na maioria

das aplicações e seu custo relativamente baixo faz

com que microrganismos e plantas sejam uma

ferramenta biológica poderosa para o tratamento

de efluentes contendo poluentes como o

chorume. Entretanto, a capacidade de certos

organismos, sejam microrganismos ou plantas,

para degradar substâncias orgânicas tóxicas pode

ser limitada. Além de estarem sujeitos a

quaisquer variações de pH, clima ou de cargas

tóxicas, que podem reduzir, ou até mesmo

paralisar o metabolismo, outras dificuldades

também são comumente encontradas. Entre os

principais inconvenientes destaca-se a

necessidade de um tempo relativamente longo

para que os efluentes atinjam padrões aceitáveis

(QUEISSADA, 2009; BERTAZZOLI; PELEGRINI,

2002).

Na maioria das vezes, o sistema de

tratamento deve ser complementado por um

tratamento terciário para otimizar o processo,

removendo componentes tóxicos os quais o

tratamento biológico não foi capaz de remover ou

não removeu com total eficácia. Uma das

principais alternativas utilizadas atualmente,

devido à grande eficácia, são os Processos

Oxidativos Avançados (POA), podendo o efluente

em seguida ser descartado ou reusado

adequadamente, minimizando ao máximo os

danos ao meio ambiente (ALMEIDA et al., 2015;

QUEISSADA, 2009).

Os POA são sistemas terciários de

tratamentos de águas contaminadas com

compostos resistentes aos tratamentos

convencionais, como é o caso, na maioria das

vezes, do chorume. Esses sistemas são, por

definição, processos em que o principal agente

oxidante corresponde é o radical hidroxila (OH),

o qual não é seletivo, e com isso promove a

degradação, em maior escala, de grande parte

dos compostos orgânicos, reagindo de 106 a 1012

vezes mais rápido que oxidantes tradicionais

como o ozônio (DUTTA et al., 2001; MALATO et

al., 2000; PERALTA-ZAMORA et al., 1999).

CONCLUSÃO

O Brasil é um dos países com a legislação

ambiental mais rígida, porém a falta de

fiscalização na maioria dos casos faz com que

efluentes tóxicos sejam descartados no ambiente

sem o devido tratamento prévio. Esse descarte

polui de forma significativa o ambiente, trazendo

um enorme prejuízo a saúde e bem-estar da

população indo contra as ações que norteiam o

respeito ao próximo, a ética, a preservação

ambiental e os valores humanos.

A saúde do ambiente e do ser humano

necessita de uma visão holística de mundo, para

que, em relação as doenças, não seja destacado

somente o agente etiológico da mesma e sim o

todo (holístico) que desencadeou o problema,

como a falta de acesso à água tratada.

Um dos efluentes mais nocivos ao meio

ambiente é o que contém chorume, o líquido

produzido por lixões e aterros sanitários, por

conter íons metálicos e uma alta carga orgânica,

devendo o mesmo ser tratado adequadamente

antes do descarte ou reuso.

Page 104: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 112

Entre os tratamentos biológicos mais

utilizados e eficazes estão as lagoas de

estabilização e a fitorremediação, que devem, na

maioria das vezes, serem seguidos de um

tratamento terciário como o POA.

Em qualquer tipo de tratamento devem ser

levados em consideração suas vantagens,

desvantagens e objetivos do tratamento

(descarte ou reuso). Contudo, sempre tendo

como padrão os parâmetros de qualidade de

águas que preconiza a legislação.

A integração entre tratamentos

adequados e uma fiscalização mais intensa faz

com que os impactos ambientais oriundos de

efluentes tóxicos sejam drasticamente

minimizados, além de já ser observado uma

crescente preocupação das indústrias em relação

a esses impactos independentemente das

obrigações legais. O principal objetivo em um

futuro próximo é que todos os geradores de

resíduos tóxicos tratem de forma adequada os

mesmos pelo simples fato de preservarem o

ambiente em que vivem, serem éticos e

respeitarem os valores humanos, e que estes

princípios gerem ações praticadas por toda

população, independentemente do volume e tipo

de resíduo gerado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, C. V. S.; MACEDO, M. S.; EGUILUZ, K. I. B.; SALAZAR-BANDA, G. R.; QUEISSADA, D. D. Indanthrene Blue Dye Degradation by UV/H2O2 Process: H2O2 as a Single or Fractioned Aliquot? Environmental Engineering Sciense. Vol 32, n° 11, 2015.

BAHÉ, J. M. C. F. Estudo da Evaporação de Lixiviados de aterros sanitários como alternativa tecnológica de tratamento: testes em bancada. Disponível em: www.repositorio.ufpe.br. Acessado em 27/04/2016 as 14:49.

BERTAZZOLI, R.; PELEGRINI, R. Descoloração e Degradação de Poluentes Orgânicos em Soluções Aquosas Através do Processo Fotoeletroquímico. Química Nova, Vol. 25, n° 3, 477-482, 2002.

CARL, M. A.; KINGSCOTT, J. Recent developments for in situ treatment of metal contaminated soils, EPA, March, 104 p., 1997.

COELHO, J. A. P. M.; GOUVEIA, V. V.; MILFONT, T. L. Valores humanos como explicadores de atitudes ambientais e intenção de comportamento pró-ambiental. Psicologia em Estudo, Maringá, Vol. 11, n. 1, p. 199-207, 2006.

DUTTA, K.; MUKHOPADHYAY, S.; BHATTCHARJEE, S.; CHAUDHURI, B. Chemical oxidation of metilene blue using a fenton-like reaction. Journal of Hazardous Materials, vol. 84, p. 57-71, 2001.

GRATÃO, P. L.; PRASAD, M. N. V.; CARDOSO, P. F.; LEAD, P. J.; AZEVEDO, R. A. A. Phytoremediation: green technology for the clean up of toxic metais in the environment. Brazilian journal of Plant Physiology, Campinas, Vol.17, n.1, p. 53-64, 2005.

JUCÁ, T. F. J. Disposição Final dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil. In: V Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental – Porto Seguro, 2003.

LAMEGO, F. P.; RIBAS, A. V. Fitorremediação: Plantas como agentes de despoluição? Revista de ecotoxicologia e meio ambiente, Curitiba, Vol. 17, p. 9-18, 2007.

LEFF, E. Epistemologia ambiental. Tradução de Sandra Valenzuela. São Paulo. Cortez, 2001.

Page 105: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 113

LOUREIRO, S. M. Índice de qualidade no sistema da gestão ambiental em aterros de resíduos sólidos urbanos. 2005. 485 f. Dissertação (Mestrado em Ciências e Engenharia Civil) -Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

MALATO, S.; BLANCO, J.; FERNÁNDEZ-ALBA, A.R.; AGÜERA, A. Solar photocatalytic mineralization of commercial pesticides: Acrinathrin. Chemosphere, v. 40, p. 403-409, 2000.

MORAIS, Josmaria Lopes; PERALTA- ZAMORA, Patrício G; SIRTORI, Carla. Tratamento de Chorume de Aterro Sanitário por Fotocatálise heterogênea Integrada a Processo Biológico Convencional. Química Nova, vol. 29, nº 1, 20-23, 2006.

NEWMAN, L. A.; REYNOLDS, C. M. Phytodegradation of organic compounds. Current Opinion in Biotechnology, Vol. 15, n. 3, p. 225-230, 2004.

MUÑOZ, S. I. S. Impacto ambiental na área do aterro sanitário de Incinerador de resíduos sólidos de Ribeirão Preto, SP: avaliação dos níveis de metais pesados. 2002. 131 f. Tese (Doutorado em Enfermagem em Saúde Pública) – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2002.

PERALTA-ZAMORA, P.; ESPOSITO, E.; REYES, J.; DURAN, N. Remediação de efluentes derivados da indústria de papel e celulose: Tratamento biológico e fotocatalítico. Química Nova, v. 20, p. 186-190, 1999.

PEREIRA, L.T.C.; LEMOS, J.L.S. Degradação de Hidrocarbonetos de Petróleo por Aspergillus niger e Penicillium corylophilum. Rio de Janeiro: Centro de Tecnologia Mineral – CETEM, 2004. p. 1-11. Artigo Técnico.

QUEISSADA, D. D. Isolamento e seleção de microrganismos para remediação de efluente oleoso da indústria metal-mecânica. 2009. 121 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Universidade de São Paulo, Lorena, 2009.

REVISTA TAE. Disponível em: www.revistatae.com.br. Acessado em: 27/04/2016 as 11:39.

ROCHA, E. M. R. Desempenho de um sistema de Lagoas de Estabilização na Redução da Carga Orgânica do Percolado Gerado no Aterro da Muribeca (PE). Recife: O autor, 2005.

SERAFIM, A. C.; GUSSAKOV, K. C.; SILVA, F.; CONEGLIAN, C. M. R; BRITO, N. N.; SOBRINHO, G. D.; TONSO, S.; PELEGRINI, R. Chorume, Impactos Ambientais e Possibilidades de Tratamentos. In: III Fórum de Estudos Contábeis. Faculdades Integradas Claretianas. Rio Claro, 2003.

SILVA, R. J.; FRANÇA, V. A ética e o uso da água doce na margem esquerda da represa Capivara, município de Porecatu, estado do Paraná. Geografia. Vol. 13. N 2, 2004.

SILVA, P. A. S.; FURTADO, M. S.; GUILHON, A. B.; SOUZA, N. V. D. O.; DAVID, H. M. S. L. A saúde do homem na visão dos enfermeiros de uma unidade básica de saúde. EscAnna Nery. Vol 16. N. 3. 561-568, 2012.

WIKIPEDIA COMMONS. Disponível em: www.commons.wikimedia.org. Acessado em: 27/04/2016 as 12:28.

Page 106: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 114

A FUNÇÃO SOCIAL E DESAPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL RURAL PARA FINS DE REFORMA

AGRÁRIA

José Lucas Rodrigues de Oliveira*

RESUMO: O presente trabalho visa apresentar características referentes às principais questões envolvendo o imóvel rural e sua função social, abordando desde aspectos históricos, conceitos e determinações legais, como também o ato da proteção possessória exercida pelo possuidor até chegar à desapropriação como meio principal de efetivação da Reforma Agrária tanto almejada e discutida no país. PALAVRAS-CHAVE: Imóvel Rural. Função Social. Desapropriação. Reforma Agrária. Proteção Possessória.

ABSTRACT This paper presents characteristics about the main issues facing the rural property and its social function, addressing the historic aspects, concepts and legal requirements, as well as the act of possessory protection exercised by the holder to reach the dispossession as the primary means of execution Agrarian Reform both desired and discussed in the country. KEYWORDS: Rural Property. Social role. Expropriation. Land reform. Possessory protection.

* Acadêmico de Direito.

Page 107: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 115

NOTAS INTRODUTÓRIAS

As teorias que buscam explicar o

surgimento da sociedade civil já nos impulsionam

a reflexões quando a situação em que os

indivíduos existiam isoladamente em estado de

natureza na famosa “guerra de todos contra

todos” tendo a propriedade privada como

desencadeadora. Hobbes, no século XVII, dizia

que, em tal estado, o medo constante da morte

violenta fazia com que os indivíduos tentassem se

proteger inventando armas e cercando a terra

que ocupava, logo, isto gerava tamanha

desconfiança no outro que os levava a tomar a

iniciativa na agressão como meio de evita-la a si.

Não havia nenhuma garantia de vida, a posse não

existia e a lei era a de poder conquistar tudo que

possa conservar, sem limites. Já Rousseau5,

século XVIII, defendia que o homem nascia bom,

desconhecia a luta e era um ser dócil, mas apenas

até o momento em que se passou a tentar

conquistar e determinar áreas. Fora o surgimento

da propriedade privada que levou o homem ao

estado hobbesiano da lei do mais forte. O mundo

tinha liberdade, mas era muito inseguro. Diante

de um pacto firmado entre todos garantiriam os

direitos e as relações entre as pessoas, decidindo

assim, entregar a sua liberdade em detrimento de

mais segurança. Criaram o leviatã, ou o Estado, o

qual teria o poder de punir todos que não sigam

as regras sociais.

Os embates envolvendo a propriedade

continuam em alta mesmo diante da evolução da

sociedade, ainda mais no contexto brasileiro

marcado desde logo pela exclusão e criação de

grandes proprietários em desarmonia total com o

restante da sociedade. É facilmente notável a

enorme discrepância na divisão de terras entre os

latifundiários e os pequenos trabalhadores ou até

5 ROUSSEAU. Jean-Jacques. Do contrato social ou Princípios do

direito político. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras,

2011.

mesmo aqueles chamados “sem terra”. Os

embates judiciais colocam de um lado os

trabalhadores sem terra e as ONG’s e do outro os

grandes fazendeiros que têm seus terrenos

ameaçados, turbados ou esbulhados. Tais

questões incorporam diretamente a tese da

denominada Teoria da Posse Agrária, mais

especificamente ao efetivo cumprimento da

função social da posse, esta prevista nos artigos

184 e 186, I a IV, da Constituição Federal de 1988,

além da desapropriação para fins de Reforma

Agrária e dos meios de defesa da propriedade

frente às possibilidades previstas na legislação.

POSSE E PROPRIEDADE

A origem da posse traz é bastante

controversa, admitindo alguns que o seu

desenvolvimento se deu em Roma. O seu estudo

traz diversas teorias, mas é possível reduzir o seu

estudo em duas principais: subjetiva, sustentada

por Friedrich Karl Von Savigny, e a objetiva,

defendida por Rudolf Von Ihering.

Para Savigny, a posse é caracterizada por

dois elementos, um de natureza objetiva, o

corpus, e outro de natureza subjetiva, o animus.

O primeiro é a detenção física da coisa e o

segundo se apresenta com a intenção de tê-la

como sua. Tais elementos são indispensáveis, pois

sem o corpus não há posse e sem o animus

haverá mera detenção. Esta prevista no artigo

1.198 do CC: “Considera-se detentor aquele que,

achando-se em relação de dependência para com

outro, conserva a posse em nome deste e em

cumprimento de ordens ou instruções suas”. É

notável, entretanto, que tal conceito se baseou

na teoria objetiva, como veremos a seguir. Para a

teoria objetiva de Ihering, o animus não tem

tanta importância em referência à intenção do

agente, exigindo somente a presença do corpus.

“Com relação à posse, a vontade desempenha

simplesmente o papel de um representante que

quer ter a coisa não para si, mas para o

Page 108: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 116

proprietário”.6 Para ele, o corpus é a visibilidade

de propriedade, ou seja, é possuidor aquele que

age como tal. Diferente da teoria subjetiva, nesta

o corpus não significa a detenção física da coisa,

mas sim a conduta de dono. Desta maneira,

“chamar a posse de exterioridade ou visibilidade

do domínio é resumir, numa frase, toda a teoria

possessória”7. O nosso Código Civil adota em

regra a teoria objetiva, como é perceptível em

alguns artigos, como nos artigos. 1.196:

“Considera-se possuidor todo aquele que tem de

fato o exercício, pleno ou não, de algum dos

poderes inerentes à propriedade”; 1.204:

“Adquire-se a posse desde o momento em que se

torna possível o exercício, em nome próprio, de

qualquer dos poderes inerentes à propriedade”; e

1.223: “Perde-se a posse quando cessa, embora

contra a vontade do possuidor, o poder sobre o

bem, ao qual se refere o art. 1.196”. Se divide

ainda em posse direta, aquele que exerce

diretamente sobre a coisa os poderes de

proprietário, e indireta, daquele que tem a coisa

em seu poder, temporariamente, em virtude de

direito pessoal ou real previstos nos artigos 1.196

e 1.197. Há ainda teorias sociológicas que são

consideradas importantes por sua profundidade

filosófica e autonomia dada a posse. Nesse

sentido Carlos Roberto Gonçalves explica que a

teoria da apropriação econômica de Saleilles

preconiza a independência da posse em relação

ao direito real, tendo em vista que ela se

manifesta pelo juízo de valor segundo a

consciência social considerada economicamente.

O critério para distinguir a posse da detenção não

é o da intervenção direta do legislador para dizer

em que casos não há posse, como entende

Ihering, mas sim o de observação dos fatos

sociais: há posse onde há relação de fato

6 IHERING, Rudolf Von. Teoria simplificada da posse. Belo

Horizonte: Ed. Líder, 2004. p. 20. 7 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 5:

direito das coisas. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 52

suficiente para estabelecer a independência

econômica do possuidor.8

Não se pode falar em posse omitindo-se

sobre a detenção, logo, é a dificuldade em

distinção do estado de fato que se configura cada

uma. Para Ihering, ambas possuem os mesmos

elementos: corpus e animus, no entanto, é tida

como uma posse degenerada, que em

consonância com a lei se transforma em

detenção. Ocorre quando outra pessoa exerce a

posse em nome de outrem, subordinado a tais

ordens ou instruções devido a uma relação

existente entre ambos, como prevê o art. 1.198

do Código Civil. A grande diferença se mostra na

possibilidade dos efeitos jurídicos pertinentes a

cada um, pois apenas o possuidor pode conferir

direitos e pretensões possessórias em nome

próprio.

No que se refere à propriedade, o art. 1.228

do Código Civil não apresenta diretamente uma

definição, mas expressa os poderes que possui o

proprietário, tendo este à faculdade de usar,

gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do

poder de quem quer que injustamente a possua

ou detenha. É um direito real elencado no artigo

1.225, inc. I do CC, garantindo ao seu titular um

poder direto e imediato sobre a coisa, sobretudo,

o direito de sequela, além de possuir efeito “erga

omnes”. Outros ainda defendem ser um direito

sui generis, por possuir regulamento próprio.

Além do mais, a propriedade presume-se plena e

exclusiva, até prova em contrário (art. 1.231).

Vale lembrar que, como leciona Carlos

Roberto Gonçalves, o fundamento jurídico da

propriedade é algo altamente controverso,

existindo várias teorias a respeito, como: a teoria

da ocupação, remonta aos romanos sustentando

o fundamento na ocupação das coisas, quando

não pertenciam a ninguém; teoria da

8GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 5:

direito das coisas. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 57.

Page 109: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 117

especificação, diz respeito ao trabalho, isto é,

para justificar o direito de propriedade deve-se

ter o trabalho humano transformando a natureza

e a matéria bruta; teoria da lei, defendida por

Montesquieu, dizendo que a sociedade existe

porque a lei a criou e a garante; e teoria da

natureza humana, a mais aceita entre todas, se

referindo a propriedade como algo inerente à

natureza humana para nutrir suas necessidades.

O direito e uso da propriedade está ligada a uma

série de requisitos, reza o artigo 1.228, § 1º do

Código Civil de 2002, por exemplo, que “o direito

de propriedade deve ser exercido em

consonância com as suas finalidades econômicas

e sociais de modo que sejam preservados, de

conformidade com o estabelecido em lei especial,

a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio

ecológico e o patrimônio histórico e artístico,

bem como evitada a poluição do ar e das águas”,

além de que “são defesos os atos que não trazem

ao proprietário qualquer comodidade, ou

utilidade, e sejam animados pela intenção de

prejudicar outrem” (§ 2º). Importante lembrar

que se pode dizer que a propriedade também é

perpétua, logo, não é extinta sem o uso, mas

somente quando ocorrer algum dos modos de

perda previsto em lei previsto no artigo 1.275,

como a alienação, a renúncia, a desapropriação, o

perecimento etc.

ASPECTOS HISTÓRICOS DA FUNÇÃO SOCIAL DA

PROPRIEDADE

No que se refere ao surgimento e evolução

da função social da propriedade, este se mostra

muito antigo, encontra-se dado pelos fisiocratas o

conceito de economia rural. Benedito Ferreira

Marques9 sustenta que foi Aristóteles, filósofo

grego, o primeiro a se manifestar dizendo que aos

bens se devia dar uma destinação social. Este

9 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. 10. ed.

São Paulo: Atlas, 2012. p. 35

pensamento, a partir de Santo Tómas de Aquino,

ganhou mais impulso com a Igreja Católica, a qual

propagou o sentido do bem comum, estando o

homem livre para adquirir bens, mas submetido

ao bem estar social, ao dever de satisfazer

também a coletividade. Foi com o Código de

Napoleão que a propriedade ganhou caráter de

direito absoluto, influenciando então outros

códigos, inclusive o do Brasil. Alguns autores

ainda apontam o Código de Hamurábi, 1690 a.C.,

como o primeiro diploma que, em 65 dos seus

280 dispositivos, tratava sobre o Direito Agrário,

além da abordagem também feita na Lei das XII

Tábuas, em 450 a.C.

Karl Marx considerava a propriedade

privada a maior causa das injustiças sociais. O

pensamento marxista se preocupou muito com os

acontecimentos diversos da sua época.

Influenciado pelas ideias da filosofia de Hegel,

partiu do pressuposto básico da dialética sendo a

história um processo contraditório e em

permanente modificação. Idealizava uma

sociedade justa e equilibrada por meio da forte

crítica ao capitalismo. Desta forma, junto com o

revolucionário alemão Friedrich Engels, defendeu

o socialismo científico, também conhecido como

comunismo, o qual seria caracterizado pela

superação da propriedade privada dos meios de

produção e por promover a diminuição da

desigualdade social. No entanto, fora com Pierre

Marie Nicolas Léon Duguit, jurista francês

especializado em direito público, que a função

social obteve seu grande impulso a partir de uma

palestra proferida em 1911 na Faculdade de

Direito de Buenos Aires, na Argentina. Duguit foi

inspirado pelo positivismo de Augusto Comte e

defendia que o governo poderia intervir de forma

legítima se o proprietário não atendesse aos

requisitos de cumprimento da função social.

No direito brasileiro, desde a concessão das

Sesmarias no período colonial em 1375

continuando com as Ordenações do Reino –

Afonsinas em 1494, Manuelinas em 1512 e

Page 110: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 118

Filipinas em 1603 – já havia certa preocupação

com o cumprimento da função social, logo, uma

das obrigações impostas aos sesmeiros era de

cultivar a terra impondo sentido de

aproveitamento econômico. Ressalta Silvia e

Oswaldo Opitz que “a finalidade da Lei das

Sesmarias era aumentar a produção, pois, se

todas as terras que haviam no Reino fossem

cultivadas, haveria pão de sobejo para toda a

gente, e não seria necessário trazê-lo de fora”.10

No chamado “império da posse”, de 1822 a 1850,

o único jeito de se demonstrar domínio de certa

porção territorial de propriedade imobiliária era a

posse, sendo que em 1850, com a Lei 601, foi

vedada a ocupação das terras devolutas, as quais

foram passadas aos estados diante da

Constituição Republicana de 1891. Em 1934

estava prevista a expressão bem-estar social no

texto da Constituição, tratando ainda da

usucapião, da proteção ao trabalhador e da

colonização. Apresentou-se com nova força na de

1946, a qual ainda trouxe a desapropriação por

interesse social e por necessidade ou utilidade

pública, não perdendo assim mais seu lugar na

nossa Carta Magna e tendo a expressão função

social integrada ao ordenamento por meio do

Estatuto da Terra. Hoje, o mencionado princípio

está solidificado na nossa Lei Maior nos artigos

5º, inc. XXIII e 170, inc. III, além de se referir

diretamente ao imóvel rural em seu artigo 186

como já se apresentava no artigo 2º caput e § 1º

do Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, de 30 de

novembro de 1964.

O IMÓVEL RURAL E SUA FUNÇÃO SOCIAL

Oito meses após o Golpe Militar, em

novembro de 1964, o governo aprovou a lei

4.504, na tentativa de diminuir problemas no

10

OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 8. ed. São

Paulo: Saraiva, 2014. p. 49

meio rural existentes até hoje. Como bem relata

Eduardo Scolese11, no papel, o Estatuto da Terra

foi algo de primeira qualidade, inclusive com

definições usadas até hoje para latifúndio, por

exemplo. Hoje, quando o MST invade uma

propriedade rural, ele o faz com base em artigo

do Estatuto que aponta as terras improdutivas

como passíveis de desapropriação para a reforma

agrária. Com o texto em mãos, os trabalhadores

rurais passaram então “apenas” a cobrar o seu

cumprimento, pois a base legal eles já tinham.

O ET determina para efeitos legais o que é o

imóvel rural em seu artigo 4º, inciso I, como o

prédio rústico, de área contínua, qualquer que

seja a sua localização, que se destine a exploração

extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial,

quer através de planos públicos de valorização,

quer através da iniciativa privada. Ressalta

também quando será cumprida a função social

comm base em requisitos, vejamos: Art. 2º É

assegurada a todos a oportunidade de acesso à

propriedade da terra, condicionada pela sua

função social, na forma prevista em lei. § 1º A

propriedade da terra desempenha integralmente

a sua função social quando, simultaneamente: a)

Favorece o bem-estar dos proprietários e dos

trabalhadores que nela labutam, assim como de

suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de

produtividade; c) assegura a conservação dos

recursos naturais; d) observa as disposições legais

que regulam as justas relações de trabalho entre

os que a possuem e a cultivam.

Diante do elevado índice de concentração

de terras nãos mãos de poucos sem o exigido

cumprimento da função social, há uma real

necessidade de reforma agrária no país, podendo

a própria União desapropriar por interesse social,

para fins de reforma agrária, o imóvel rural que

não esteja cumprindo sua função social mediante

prévia e justa indenização, é o que reza o artigo

11

SCOLESE, Eduardo. A reforma agrária. São Paulo: Pubifolha,

2005. p. 37.

Page 111: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 119

184 da CF/88. Benedito Ferreira Marques12

explica que, com certo exagero, alguns estudiosos

do tema chegam a afirmar que a propriedade é a

própria função social, sendo que não deveria

existir a indenização em favor do proprietário em

caso de desapropriação, logo, não estaria fazendo

a terra cumprir o seu papel como bem de

produção e o direito a propriedade garantida está

condicionada ao cumprimento de tal função.

Desta maneira, a indenização se mostraria como

um enriquecimento sem causa para o

expropriado.

A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA EXERCIDA PELO

POSSUIDOR

É rotineiramente noticiado casos em que

alguns indivíduos invadem terras com diversas

finalidades, algumas amparadas por ONG’s

através de movimentos sociais como o MST. É

dada como o principal efeito da posse a

possibilidade de defesa direta da mesma,

segundo o que preceitua o art. 1.210, § 1º do

Código Civil: “O possuidor turbado, ou esbulhado,

poderá manter-se ou restituir-se por sua própria

força, contanto que o faça logo; os atos de

defesa, ou desforço, não podem ir além do

indispensável à manutenção, ou restituição da

posse”. No que se refere aos atos de defesa

direta, se diferem a legítima defesa e desforço

imediato. Este se apresenta quando o possuidor

esbulhado (já perdeu a posse) reage logo que lhe

seja possível, podendo fazer justiça com as

próprias mãos, estando limitado ao indispensável

para retomar a posse. Já a legítima defesa se

apresenta na possibilidade de repelir enquanto a

turbação (continua na posse da coisa) começar ou

continuar. Mesmo podendo ser auxiliado por

outras pessoas ou empregados, deverá agir com

suas próprias forças fazendo uso de meios

12

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. 10. ed.

São Paulo: Atlas, 2012. p. 34.

proporcionais, logo, o excesso poderá se

transformar numa indenização contra danos

causados a terceiro. Quando se fala em interditos

possessórios fica demonstrado ações em que o

proprietário poderá usufruir para a defesa da

posse frente a ordens judiciais, estas sendo a

manutenção, a reintegração e o interdito

proibitório. Esta se refere a quando há ameaça

que se configure num justo receio de turbação ou

esbulho, isto é, tem caráter preventivo. A

manutenção, como o próprio nome já diz, é um

meio de manter a posse frente à turbação que se

apresenta, enquanto que a reintegração tem

como finalidade a recuperação da posse já

perdida em razão do esbulho. Vale ressaltar que é

licito ao autor cumular ao pedido possessório o

de condenação em perdas e danos, cominação de

pena para caso de nova turbação ou esbulho, e

desfazimento de construção ou plantação feita

em detrimento de sua posse (art. 921 do Código

de Processo Civil).

A DESAPROPRIAÇÃO COMO INSTRUMENTO DA

REFORMA AGRÁRIA

Pode-se afirmar que a desapropriação no

direito brasileiro teve sua inclusão diante de

grande influência portuguesa. A Constituição

Imperial de 1824 expressava em seu art. 179, nº

22, que “É garantido o direito de propriedade em

toda a sua plenitude. Se o bem público,

legalmente verificado, exigir o uso e emprego da

propriedade do cidadão, será ele previamente

indenizado do valor dela. A lei marcará os casos

em que terá lugar esta única exceção e dará

regras para se determinar a indenização”. Dois

anos depois, uma lei em 9 de setembro

determinou a desapropriação por necessidade ou

utilidade pública, além das formalidades do

processo. Já na Carta de 1891 trouxe grande

avanço, “o direito de propriedade se mantém em

toda a sua plenitude, salvo desapropriação por

necessidade ou utilização pública, mediante

Page 112: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 120

indenização prévia”. Em contrapartida, a

Constituição de 1937 restaurou estes institutos

anteriormente citados e retirou dos Estados à

competência de legislar a respeito. As mudanças

não pararam de ocorrer, e a Constituição de 1946

inovou. Esta impôs que o pagamento fosse a

dinheiro, além de ligar o uso da propriedade ao

bem-estar social e instaurou outro motivo para a

desapropriação: o interesse social.

A Constituição Federal de 1988 exige, em

seu artigo 186, que a propriedade rural

apresente, simultaneamente, aproveitamento

racional e adequado, utilização adequada dos

recursos naturais disponíveis e preservação do

meio ambiente, observância das disposições que

regulam as relações de trabalho, e a exploração

que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos

seus trabalhadores. No caso de descumprimento

de algum desses requisitos, de acordo com o

artigo 184 da CF/88, o imóvel ficará sujeito à

desapropriação por interesse social mediante

prévia e justa indenização, ou seja, o imóvel que

não cumpre tal função perde a proteção

constitucional. É assim que o Estado aplica a

reforma agrária visando uma melhor distribuição

da terra improdutiva atendendo aos princípios da

justiça social e ao aumento da produtividade.

Como bem lembra Silvia e Oswaldo Opitz, “a

desapropriação não é limite ao direito de

propriedade, mas uma forma de sua aquisição

originária, de um lado, e de perda, do outro”13. A

venda da propriedade é forçada sempre que tiver

que realizar a justiça social, mas necessita de

justificativa e deve ser mediante a indenização

devida, haja vista o respeito ao princípio que

garante o direito de propriedade (art. 5º, inc.

XXII).

Sabendo das dificuldades facilmente

perceptíveis e falta de efetividade e cumprimento

do texto constitucional, de acordo com o que

13

OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 8. ed. São

Paulo: Saraiva, 2014. p. 201.

sustenta José Isaac Pilati14, acreditar em

cumprimento e aplicação efetivos da função

social com o uso tão só de instrumentos de

direito público administrativo, dos moldes

individualistas, como a desapropriação ou então,

de procedimentos do Código de Processo Civil,

voltados para conflitos individuais, tem sido erro

comum, que explica o fracasso do postulado

constitucional. A função social somente será

efetiva com o resgate institucional da dimensão

participativa da CFRB/88, pois é ela que

corresponde a dimensão coletiva. A função social

não tem natureza de público-estatal: ela é antes

de tudo espaço coletivo; carece de estrutura

participativa e democrática.

De acordo com Informativo/MIRAD, Revista

Guia Abril Rural nº 3, 1988, 98% das propriedades

rurais brasileiras estariam excluídas para fins de

desapropriação em relação a reforma agrária,

logo, como prevê o art. 185, a pequena e média

propriedade rural, assim definida em lei, é

insuscetível de desapropriação desde que seu

proprietário não possua outra e a propriedade

produtiva. A classificação em pequena, média ou

grande propriedade rural se dá, segundo o art.

50, §3º do Estatuto da Terra, no número de

módulos fiscais que é obtido dividindo-se a área

aproveitável do imóvel pelo módulo fiscal do

Município. O art. 4º da Lei 8.629/93 relata como a

pequena propriedade aquele imóvel rural que se

compreende entre 1 e 4 módulos, enquanto o

médio será aquele com área superior a 4 e até 15

módulos fiscais. A referida Lei ainda traz o

conceito de propriedade produtiva como “aquela

que, explorada economicamente e

racionalmente, atinge, simultaneamente, graus

de utilização da terra e de eficiência da

exploração, segundo índices fixados pelo órgão

federal competente”. O artigo 7º da mesma Lei

traz também a impossibilidade para o imóvel que

14

PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-

modernidade. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013. p. 78.

Page 113: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 121

comprove estar sendo objeto de implantação de

projeto técnico que atenda aos seguintes

requisitos: I – seja elaborado por profissional

legalmente habilitado e identificado; II – esteja

cumprindo o cronograma físico-financeiro

originalmente previsto, não admitidas

prorrogações dos prazos; III – preveja que, no

mínimo, 80% da área total aproveitável do imóvel

esteja efetivamente utilizada em, no máximo, 3

anos para as culturas anuais e 5 anos para as

culturas permanentes; IV – haja sido aprovado

pelo órgão federal competente, na forma

estabelecida em regulamento, no mínimo seis

meses antes da comunicação de que tratam os §§

2º e 3º do art. 2º. Importante lembrar que os

prazos previstos no inciso III deste artigo poderão

ser prorrogados em até 50% (cinquenta por

cento), desde que o projeto receba, anualmente,

a aprovação do órgão competente para

fiscalização e tenha sua implantação iniciada no

prazo de 6 (seis) meses, contado de sua

aprovação (parágrafo único). Além do exposto, no

que se refere à empresa rural, Silvia e Oswaldo

Opitiz sustentam que não poderá ser objeto da

desapropriação, logo, a regra do art. 19, §3º, b,

do ET, a isenta, englobando-a desde que explore

economicamente e racionalmente o imóvel rural

dentro das condições de cumprimento da função

social.15

No que diz respeito à indenização, o

pagamento é feito em títulos e dinheiro. A

Constituição possibilita à lei definir a utilização

dos títulos, estes resgatáveis no prazo de até

vinte anos, a partir do segundo ano de sua

emissão. A Lei 8.629/93 dita os critérios de

resgate dos títulos em acordo com a área

desapropriada, é o que versa o artigo 5º, sendo

do segundo ao quinto ano quando a área for

inferior a quarenta módulos fiscais; do segundo

ao décimo, quando acima de quarta e até

15

OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 8. ed. São

Paulo: Saraiva, 2014. pp. 212-213.

setenta; do segundo ao décimo quinto, quando

acima de setenta e até cento e cinquenta; e do

segundo ao vigésimo, quando a área for superior

a cento e cinquenta módulos fiscais. Vale lembrar

que, de acordo com o art. 184, § 1º, e Lei n.

8.623/93, art. 5º, § 1º, as benfeitorias necessárias

e úteis serão indenizadas em dinheiro. Além do

mais, é viável ressaltar o que se leva em

consideração para a fixação do valor do imóvel, a

saber: a localização do imóvel; aptidão agrícola;

dimensão do imóvel; área ocupada e ancianidade

(se refere a tempo) das posses; e a

funcionalidade, tempo de uso e estado de

conservação das posses.

OBJETIVOS DA DESAPROPRIAÇÃO E SEUS

BENEFICIÁRIOS

O Estatuto da Terra, em seu art. 16,

expressa que “a Reforma Agrária visa a

estabelecer um sistema de relações entre o

homem, à propriedade rural e o uso da terra,

capaz de promover a justiça social, o progresso e

o bem-estar do trabalhador rural e o

desenvolvimento econômico do País, com a

gradual extinção do minifúndio e do latifúndio”.

Considera-se a desapropriação como o

instrumento mais utilizado na tentativa de

promover a Reforma Agrária, tal meio por

interesse social tem por objetivo final condicionar

o uso da terra a sua função; promover a justa e

adequada distribuição da propriedade; obrigar a

exploração racional da terra; permitir a

recuperação social e econômica da região;

estimular pesquisas pioneiras, experimentação,

demonstração e assistência técnica; efetuar obras

de renovação, melhoria e valorização dos

recursos naturais; incrementar a eletrificação e a

industrialização no meio rural; e facultar a criação

de áreas de proteção à fauna, à flora ou a outros

recursos naturais, a fim de preservá-los de

atividades predatórias (art. 18, ET).

Page 114: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 122

Diante de todo esse processo marcado pela

exclusão, a má distribuição de terra acarreta uma

série de discussões e problemas. Tal instituto

jurídico procura alcançar à tão almejada reforma

agrária brasileira. Ao conseguir a desapropriação

da terra respeitando os limites impostos pela

legislação, é de suma importância ressaltar que,

de acordo com o art. 19 da Lei nº 8.629/93, há

certa ordem de preferência aos beneficiários.

Para o homem ou a mulher, independentemente

de seu estado civil: I – o desapropriado, a quem é

assegurada a preferência para a parcela na qual a

sede do imóvel; II – os que trabalham no imóvel

desapropriado, tais como posseiros; assalariados,

parceiros e arrendatários; III – os que trabalham

como posseiros, assalariados, parceiros ou

arrendatários, em outros imóveis; os agricultores

cujas propriedades não alcancem a dimensão da

propriedade familiar; e os agricultores cujas

propriedades sejam, comprovadamente,

insuficientes para o sustento próprio e de sua

família. Lembrando ainda que, em tal ordem, as

famílias numerosas na qual os membros irão ou

se dispunham a exercer atividades agrárias terão

a prioridade.

NOTAS CONCLUSIVAS

Nota-se que desde o período de

colonização portuguesa no Brasil, ao dividir o

território em grandes propriedades produtivas

criando as capitanias hereditárias e o sistema de

sesmarias, as marcas das desigualdades foram

impostas e a concentração de terras nas mãos de

poucos se mostrou próprio e talvez irreversível à

sociedade mesmo com o passar dos séculos. As

brigas por terras tem se mostrado ainda mais

presentes ao cotidiano, logo, inúmeras

propriedades de terras não estão cumprindo com

sua função social enquanto que milhões de

outros indivíduos procuram acesso às terras

improdutivas.

No que diz respeito às invasões de terras

sob o fundamento de não cumprimento da

função social, as ações possessórias de imóveis

rurais não depende do cumprimento da Teoria da

Posse Agrária. A própria jurisprudência (TJ-PA –

Agravo de Instrumento nº 20083004291- 3) diz

que não há necessidade do cumprimento da

função social, além do mais, a concessão da

liminar está condicionada à comprovação dos

requisitos descritos no art. 927 do CPC, não

devendo então ser apreciada a discussão acerca

do cumprimento ou não da função social da

propriedade. Desta forma, seria ilegal a exigência

de outros aspectos senão, depois de comprovada

a posse, a turbação ou esbulho praticado pelo

réu; a data da turbação ou do esbulho; e a

continuação da posse, embora turbada, na ação

de manutenção, ou a perda da posse, na ação de

reintegração.

Desta maneira, diante dos embates

frente a um jogo de interesses, é plausível que se

enxergue a propriedade como um direito a todos,

até mesmo como meio de efetivação dos

princípios constitucionais e dos direitos inerentes

à dignidade da pessoa humana. No mais, apesar

de previsão legal, além da reforma agrária se

mostrar como excelente meio de reorganização

fundiária mais justa, as dificuldades ainda são

claramente expressas na prática. Os movimentos

sociais como o MST ajudam na medida em que

exercem pressão ao Estado para dar uma maior

visibilidade e garantir o cumprimento do que reza

a Constituição Federal, logo, a propriedade rural

deve satisfazer aos interesses da coletividade

afastando então a sua inutilidade, haja vista os

princípios basilares do Estado Democrático de

Direito.

Page 115: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 123

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 5: direito das coisas. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

IHERING, Rudolf Von. Teoria simplificada da posse. Belo Horizonte: Ed. Líder, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013.

ROUSSEAU. Jean-Jacques. Do contrato social ou Princípios do direito político. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011.

SCOLESE, Eduardo. A reforma agrária. São Paulo: Pubifolha, 2005.

Page 116: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 124

A IDEOLOGIA PUNITIVISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO E SEUS EFEITOS

Uma análise crítica a respeito da sua (im)parcialidade e função no sistema criminal

José Lucas Rodrigues de Oliveira*

RESUMO: O artigo apresenta a evolução do Ministério Público desde suas raízes até seu atual perfil institucional no ordenamento jurídico brasileiro. Ademais, ressalta críticas quanto a sua pseudoimparcialidade e crença no endurecimento da legislação como causa diminuidora dos índices de criminalidade. Retrata ainda as consequências da ideologia punitivista em sua atuação e o seu importante papel no sistema carcerário além de propor possíveis mudanças que amenizariam a falência da pena privativa de liberdade.

PALAVRAS-CHAVE: Ministério Público. Imparcialidade. Ideologia punitivista. Sistema carcerário. Penas alternativas.

ABSTRACT: The paper presents the evolution of the prosecution from its roots to its present institutional profile in the Brazilian legal system. Moreover, says criticism regarding its pseudoimparcialidade and belief in the hardening of the legislation as a cause diminuidora crime rates. Also portrays the consequences of punitivista ideology in its activities and its important role in the prison system and to propose possible changes that amenizariam bankruptcy of deprivation of liberty. KEYWORDS: Public Ministry. Impartiality. Ideology punitivista . Prison system. Sentencing Alternatives.

* Acadêmico de Direito.

Page 117: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 125

NOTAS INTRODUTÓRIAS

Em virtude das mudanças constitucionais

desde o surgimento do Brasil, o Ministério

Público ora assumia funções como órgão do

judiciário, ora do executivo, não obstante, a partir

da promulgação da Carta Magna de 1988, diante

da sua independência funcional, alguns autores o

definiram como uma espécie de quarto poder

pelo fato de não mais estar vinculado a nenhum,

mas sim com a função de zelar e efetivar o

respeito entre os poderes. Além do mais, recebeu

o título de instituição permanente essencial à

função jurisdicional do Estado encarregado da

defesa da ordem jurídica, do regime democrático

e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis.

No que diz respeito à tendência moderna

de mudanças legislativas para maior rigor e

severidade das penas, nota-se uma interferência

ideológica de teses acolhedoras ao

endurecimento da legislação e aumento

constante da repressão na grande maioria

daqueles que compõe o Ministério Público,

crenças que podem comprometer seu papel de

defensor da democracia. Além do mais, diante do

preocupante índice de reincidência, fica

perceptível que o direito penal, arbitrariamente

seletivo, é incapaz de prevenir a prática de novos

delitos, haja vista que a o sistema de execução de

pena não funciona, tanto é que já somos a

terceira maior população carcerária do mundo,

superando os 715 mil presos, e mesmo assim os

níveis de violência e a sensação de segurança

crescem demasiadamente. Apesar do princípio da

humanidade ser considerado um dos norteadores

do cumprimento de pena, a realidade vivenciada

pelos detentos vai de encontro total aos direitos

humanos e fundamentais. O Parquet possui

fundamental papel também na execução penal

conforme o artigo 61, inciso III, da LEP. Sua

presença mensal nos presídios deve resultar

numa forma de prevenção do abuso de

autoridade, tortura e quaisquer outras formas de

maus tratos que ocorrem diariamente em tais

estabelecimentos no intuito de garantir a

integridade física e moral dos indivíduos.

Conforme as garantias funcionais previstas

na Carta Maior, o Ministério Público também é

parte imparcial, no entanto, já fica perceptível

uma clara falta de concordância semântica, já

que: se é parte, como pode ser imparcial?

Abordaremos adiante uma análise crítica mais

aprofundada sobre tal antinomia, partindo, para

isso, desde sua gênese. Trataremos ainda das

consequências da interferência ideológica

punitivista em sua atuação, bem como no seu

papel diante da falência do sistema prisional.

ASPECTOS HISTÓRICOS – A GÊNESE

Os estudiosos da área divergem no que se

refere à gênese do Ministério Público. No

entanto, é notória uma proximidade consentida

nas opiniões apresentadas, fazendo com que

possamos chegar ao menos a sua origem

próxima.

Partindo da controvérsia inserida, alguns

defendem a sua origem há, aproximadamente,

quatro mil anos na figura do Magiaí, funcionário

real do Faraó no Antigo Egito. Este, considerado

como “a língua e olhos do Rei”, possuía alguns

deveres que “assemelham-se” até mesmo com a

sua atual posição, como por exemplo, para uma

possível analogia: castigar os criminosos no

intuito de reprimir atos violentos e por

consequência proteger os demais cidadãos se

colocando como parte nas instruções para

descobrir a verdade; considerado o pai do órfão e

o marido da viúva, protegendo, então, os

interesses dos mais frágeis e da própria

coletividade, entre outros.

Ainda na antiguidade, outros autores

defendem a similaridade nas figuras presentes na

Grécia Antiga, século VIII a.C, um conselho de seis

membros chamado de themotetis ou tesmotetas,

Page 118: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 126

responsáveis pela fiscalização para uma mais

efetivada execução das leis em Atenas. Já em

Roma existia o chamado advocati fisci, censores,

defensor civitatis, ou até procuratores Caesaris,

que possuíam a função da manutenção da ordem

pública, ao ponto que Esparta tinha os

denominados Éforos com funções similares.

Frente a tais posicionamentos, alguns autores,

como o renomado no assunto Roberto Lyra16

(Lyra, apud Jatahy, 2006), questionam quanto a

real existência da instituição até na Grécia

Clássica, séculos VI a IV a.C, na qual ocorrera o

revezamento de soberania entre as cidades-

estado Atenas e Esparta, conhecido como o

“Período das Hegemonias”, logo, o acusador

público ainda não existia em tal período. O que

ocorria de fato era a entrega à própria vítima do

poder de iniciativa do processo contra o

criminoso. Feito isso, notáveis oradores movidos

pelo interesse na causa ou até por motivos

sentimentais resultantes da natureza do delito

desempenhavam a acusação. De certa forma,

nem sempre agiam com a imparcialidade hoje,

em tese, inerente ao Ministério Público.

Conforme o supracitado, apesar da

similaridade entre algumas funções

desempenhadas no Egito, Grécia, Atenas e Roma,

é notável que os indivíduos que as exerciam não

tinham ao seu lado um estatuto ou normas

estruturadas que garantissem ou ditassem seu

papel e seus limites previamente para que

atuasse em conformidade com as mesmas, se

distanciando um pouco do Ministério Público

contemporâneo.

Conforme sustenta Uadi Lammêgo Bulos,

sem embargo dos antecedentes remotos,

a origem do Ministério Público, tal qual

16

JATAHY, Carlos Roberto de C. O Ministério Público e o

Estado Democrático de Direito: Perspectivas

constitucionais contemporâneas de atuação em defesa da

sociedade. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro, 2006.

p. 17.

conhecemos hoje, parece estar na ordonnance

de 1302, de Felipe, o Belo, Rei da França. Nela

encontramos a figura dos procuradores da

Coroa – os procureurs du roi. Tais procuradores

integravam os corps de magistats, imcumbindo-

lhes, na fase de substituição do processo

acusatório pelo inquisitório, representar os

interesses sociais. 17

A origem das expressões Parquet e

“Ministério Público” se dão na tradição francesa

no momento em que os procuradores visam

distinguir sua função do ofício privado dos

advogados. Para isso, os agentes do Rei ficavam

sentados num pequeno espaço de assoalha

cercados por uma balaustra no intuito de não

serem confundidos com a magistratura de pé,

pois estes se mostravam opostos à representação

dos interesses da Coroa. Ficou então consagrada

tal denominação em referência ao local especial

onde ficavam na corte. Através de um decreto

editado em 1690 também na França, fora

introduzida a vitaliciedade atribuída até hoje aos

membros do Parquet.

SURGIMENTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO

BRASIL

No período pré-colonial em que o direito

brasileiro era orientado pelo português ainda não

se via o Ministério Público como instituição. Em

1521, nas Ordenações Manuelinas, e em 1603,

nas Ordenações Filipinas, cita-se, na primeira, o

papel do promotor de justiça na figura de alguém

com notório entendimento capaz de alegar

causas e razões que proporcione clareza e

conservação a justiça. Passam a prever, a partir

da segunda, a atuação do Promotor de Justiça da

Casa da Suplicação, este que era indicado pelo Rei

e possuía funções no que se refere à fiscalização

17

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional.

8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 1398.

Page 119: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 127

das leis e da formulação da acusação criminal nos

processos. Além do mais, coloca-se ao lado deste

as figuras do Procurador dos Feitos da Coroa e da

Fazenda e a do Solicitador de Justiça da Casa.

Já no período Colonial, até o início de 1609

só existia a justiça de primeira instância no Brasil,

sendo que os processos criminais eram iniciados

pelas próprias vítimas ou pelo juiz, enquanto que

o recurso cabível era endereçado a relação de

Lisboa, em Portugal. Ainda não existia o

Ministério Público. Não obstante, foi o Alvará de

7 de março de 1609 que criou o Tribunal de

Relação da Bahia prevendo as figuras do

procurador dos feitos da Coroa e do promotor de

Justiça. No Código de Processo Criminal do

Império, em 29 de novembro de 1832, houve

referência ao denominado “promotor da ação

penal”. Ficou sistematizado assim o nascimento

de tal Instituição no Brasil colocando-os como

“fiscais da lei”, sendo que, com a reforma pela lei

n. 261 de três de dezembro de 1841 de tal

Código, o Ministério Público obteve todo um

capítulo denominado “Dos Promotores Públicos”.

O capítulo III prescrevia:

Art. 22. Os Promotores Publicos serão

nomeados e demittidos pelo Imperador, ou

pelos Presidentes das Provincias, preferindo

sempre os Bachareis formados, que forem

idoneos, e serviráõ pelo tempo que convier. Na

falta ou impedimento serão nomeados

interinamente pelos Juizes de Direito. Art. 23.

Haverá pelo menos em cada Comarca um

Promotor, que acompanhará o Juiz de Direito:

quando porém as circumstanciaes exigirem,

poderão ser nomeados mais de um. Os

Promotores venceráõ o ordenado, que lhes fór

arbitrado, o qual, na Côrte, será de um conto e

duzentos mil réis por anno, além de mil e

seiscentos por cada offerecimento de libello,

tres mil e duzentos réis por cada sustentação no

Jury, e dous mil quatrocentos réis por

arrazoados escriptos.”

Nota-se a falta de estabilidade e

independência e a sua forte vinculação ao

Executivo. Bulos leciona que, durante a primeira

República, por obra do Ministro da Justiça do

Governo Provisório, Campos Salles, fora editado o

Decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890, o qual

atribuiu grande importância a instituição

ministerial para época, criando e regulamentando

também a Justiça Federal. Além disso, no mesmo

ano, o Decreto n. 1.030 implantou

definitivamente o Ministério Público no Brasil. A

Constituição de 1891, apesar de não mencionar

diretamente o Parquet, dava ao Presidente da

República, em seu Art. 58, § 2º, o poder de

designar, dentre os membros do Supremo

Tribunal Federal, o Procurador-Geral da

República, este possuindo a legitimidade da

propositura da revisão criminal (Art. 81, § 1º).

EVOLUÇÃO NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

No que diz respeito à evolução

constitucional, esta fora lentamente gradativa.

Com a Carta de 1934, o Ministério Público

transformou-se num dos órgãos de cooperação

nas atividades governamentais, colocando-o,

assim, em nível constitucional positivo, prevendo

sua organização e funções no Capítulo VI, artigos

95 a 98. Na ditadura de Getúlio Vargas, momento

de grande autoritarismo político além da

influência externa do fascismo de Mussolini, bem

como do nazismo de Hitler em que nem mesmo o

princípio da separação de poderes era respeitado

fora o momento em que o retrocesso se deu. O

Texto de 1937 apenas previa-o de forma esparsa

em alguns artigos. Em contrapartida, mesmo com

a influência italiana, em 1941, no “Estado Novo”

de Getúlio Vargas, foi editado o Código de

Processo Penal conferindo ao Ministério Público a

titularidade da ação penal pública e outorgando-

lhe o poder de requisitar a instauração de

inquérito policial e de requisitar diligências.

Page 120: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 128

A sua retomada ao texto constitucional em

título próprio se deu com a Constituição

Democrática de 1946 nos artigos 125 a 128. Esta

lhe trouxe inovações e preceitos de organização,

como a necessidade do concurso público para

ingresso, garantias de estabilidade e

inamovibilidade, além de ser determinada a

representação da União através dos Procuradores

da República, sendo que em 1951, a criação do

Ministério Público da União se consolida com a lei

federal nº 1.341, a qual o vincula ao Poder

Executivo e traz disposições a respeito do

Ministério Público Federal, Militar, Eleitoral e do

Trabalho.

Frente ao golpe militar de 1964, editaram a

Carta de 24 de janeiro de 1967, a qual manteve as

evoluções e conquistas até o momento e colocou-

o como seção do Capítulo do Poder Judiciário,

artigos 137 a 139. Entretanto, com a Emenda

Constitucional n. 1/69, fez com que o mesmo

retornasse ao âmbito do Poder Executivo (artigos

94 a 96) e impôs um aumento de atribuições ao

chefe da instituição, sendo este livremente

determinado pelo Presidente da República, tanto

na nomeação quanto na demissão a qualquer

tempo. Logo depois, em 1973 foi editado o

Código de Processo Civil colocando-o nas funções

clássicas de Órgão Agente (Autor) e Órgão

Superveniente, fiscal da lei. Ainda, com a Emenda

Constitucional n. 7/77, fora conferida mais

poderes ainda ao Procurador-Geral da República.

A redação do artigo 96 previa a existência de lei

complementar de iniciativa do Presidente que

estabeleceria normas gerais a serem adotadas na

organização do Ministério Público estadual, o que

viera a ocorrer em 1981 com a Lei Complementar

n. 40, organizando a nível nacional os estaduais e

instituindo aos mesmos garantias, vedações e

atribuições, sendo que, em 1985 com a Lei 7.347

de Ação Pública, a sua área de atuação fora

ampliada a função de defesa dos interesses

difusos e coletivos.

Frente à eleição de Tancredo Neves no

pleito presidencial indireto de 1984, a ideia de

convocação de uma Assembleia Nacional

Constituinte se apresentou ainda mais fortalecida

conforme a necessidade de mudança legítima da

ordem jurídica vigente. Criaram uma Comissão de

Notáveis, composto de cinquenta pessoas, e

elaboraram o denominado “Anteprojeto Afonso

Arinos”, além de ser realizado em São Paulo, em

1985, o VI Congresso Nacional do Ministério

Público, o qual apresentou teses preparatórias

para aos trabalhos da Constituinte no que se

refere a Instituição. Em junho de 1986, na cidade

de Curitiba, ocorreu o 1º Encontro Nacional de

Procuradores de Justiça, tendo em vista analisar

as ideias já existentes e que resultaram na

vocação primordial do Parquet como defensor do

povo e dos interesses individuais e coletivos, o

grande defensor da sociedade. O documento

criado a partir do mencionado encontro ficou

chamado como “Carta de Curitiba” e teve papel

fundamental nos trabalhos da Assembleia

Nacional Constituinte que teve início em 1987.

A “Constituição do Ministério Público”,

como apelida Bulos18, certamente fora a Carta de

Outubro de 1988, em que, em 12 de abril, os

constituintes aprovaram por votação histórica em

Primeiro Turno, 350 votos favoráveis, 12

contrários e 21 abstenções, os atuais e

consagrados preceitos relativos ao mesmo. Como

leciona o citado autor, na área penal, foi atribuído

o encargo privativo de demandar a ação penal

pública; o controle externo da atividade policial; o

poder de requisitar diligências investigatórias; a

determinação de instaurar inquérito policial; o

dever de indicar os fundamentos jurídicos das

manifestações processuais, etc.. Enquanto que,

na área cível, o direito de promover ações

interventivas e de inconstitucionalidade; o direito

18

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional.

8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 1400.

Page 121: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 129

de defender em juízo os interesses das

populações indígenas; o encargo de promover

inquéritos cíveis e ações civis públicas para a

proteção do meio ambiente, do patrimônio

público e social; entre outros.

FUNÇÕES E PERFIL CONTEMPORÂNEO

Conforme o exposto anteriormente, as

Constituições brasileiras ora colocavam-no como

órgão do Judiciário, ora como órgão do Executivo.

Em contrapartida, a Carta Magna de 1988 não o

vinculou a qualquer dos poderes, mas, sim, com a

função de zelar e efetivar o respeito entre os

mesmos, não constituindo órgão auxiliar de

Governo. Como bem sustenta Bulos, “[...] os

membros do Parquet integram a categoria de

agentes políticos. Atuam sem ingerências

externas, porque possuem responsabilidades

constitucionais próprias, além de outras previstas

na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público”19.

Como a nova Carta elencou princípios e

valores que consolidam o Estado Democrático de

Direito, necessitava-se de um órgão que

efetivasse as bases fundamentais garantidas ao

povo brasileiro. O Ministério Público fora o

escolhido, passando a ser instituição permanente,

essencial à função jurisdicional do Estado,

encarregado da defesa da ordem jurídica, do

regime democrático e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis, tendo princípios

institucionais a unidade, a indivisibilidade e a

independência funcional (CF, art. 127, caput e §

1º). O primeiro prevê que os membros da

instituição integram um só órgão, enquanto que o

segundo diz respeito da impossibilidade de

subdivisão interna em outras instituições

autônomas e desvinculadas entre si (é onde fica

explicado a possível substituição de um promotor

19

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional.

8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 1402.

por outro, logo, não há alteração subjetiva, pois

quem está na relação processual é o Ministério

Público e não a pessoa física do seu

representante). Já a independência funcional

impõe que, no desempenho de suas funções

típicas, o membro do MP não se subordina a

nenhuma autoridade, nem mesmo a Chefia da

Instituição no que diz respeito à ordem funcional,

havendo apenas uma hierarquia administrativa

que nem mesmo tais possíveis orientações

possuem caráter imperativo, haja vista a

necessidade apenas de satisfações a Carta Maior,

às leis e ao bom senso como aplicador das

normas. Tal independência também está no

âmbito infraconstitucional no artigo 28 do Código

de Processo Penal na medida em que assegura ao

Promotor discordar do Procurador-Geral de

Justiça. Esta independência visa assegurar o

desempenho em sua plenitude das atribuições

conferidas ao mesmo. O § 2º do artigo 127

assegura ainda a sua autonomia funcional e

administrativa, o que garante a possibilidade de

propor ao Poder Legislativo, de acordo com o

artigo 169 da CF, a criação e extinção de seus

cargos e serviços auxiliares, promovendo-os por

concurso público de provas ou de provas e títulos,

a política remuneratória e os planos de carreira. É

previsto ainda sua autonomia orçamentária e

financeira (art. 127, §§ 3º a 6º), podendo elaborar

sua proposta de orçamento dentro dos limites

estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e

capacidade de gerir e aplicar os recursos

destinados ao bom funcionamento de suas

atividades e serviços. No entanto, importante

relatar que o seu papel é na fase pré-legislativa

quando apresenta sua proposta, pois a

competência para instaurar o processo de criação

de leis orçamentárias é exclusiva do Poder

Executivo.

O ingresso na carreira do Ministério Público

far-se-á mediante concurso público de provas e

títulos, assegurada a participação da OAB em sua

realização, exigindo-se do bacharel em direito, no

Page 122: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 130

mínimo, três anos de atividade jurídica e

observando-se, nas nomeações, a ordem

classificatória (CF, art. 129, § 3º - redação dada

pela Emenda Constitucional n. 45/2004). O artigo

128 da Constituição vigente confere a instituição

a seguinte estruturação orgânica: “I – O

Ministério Público da União, que compreende: a)

o Ministério Público Federal; b) o Ministério

Público do Trabalho; c) O Ministério Público

Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal

e Territórios; II – os Ministérios Públicos dos

Estados”.

No que se refere a suas funções

institucionais, o artigo 129 da Constituição

Federal prevê as seguintes: I - promover,

privativamente a ação penal pública, na forma da

lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes

Públicos e dos serviços de relevância pública aos

direitos assegurados nesta Constituição,

promovendo as medidas necessárias a sua

garantia – função denominada de “ombudsman”

de origem remota na Constituição sueca de 1809

- ; III – promover o inquérito civil e a ação civil

pública para a proteção do patrimônio público e

social, do meio ambiente e de outros interesses

difusos e coletivos; IV – promover a ação de

inconstitucionalidade ou representação para fins

de intervenção da União e dos Estados, nos casos

previstos nesta Constituição; V – defender

judicialmente os direitos e interesses das

populações indígenas; VI – expedir notificações

nos procedimentos administrativos de sua

competência, requisitando informações e

documentos para instruí-los, na forma da lei

complementar respectiva; VII – exercer o controle

externo da atividade policial, na forma da lei

complementar mencionada no artigo anterior;

VIII – requisitar diligências investigatórias e a

instauração de inquérito policial, indicados os

fundamentos jurídicos de suas manifestações

processuais; e IX – exercer outras funções que lhe

forem conferidas, desde que compatíveis com sua

finalidade, sendo-lhe vedada a representação

judicial e a consultoria jurídica de entidades

públicas.

Há prerrogativas inerentes e necessárias à

função desempenhada pelos membros da

instituição denominada como Garantias

Funcionais. Estas são divididas como garantias

funcionais de liberdade e garantias funcionais de

imparcialidade. A primeira corresponde à

vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade

de subsídios (CF, art. 128, §5º, I, a, b, c). A

segunda se apresenta por meio de vedações

constitucionais que proíbem certas condutas,

sendo estas previstas no artigo 129, §5º, II: a)

receber, a qualquer título e sob qualquer

pretexto, honorários, percentagens ou custas

processuais; b) exercer a advocacia; c) participar

de sociedade comercial, na forma da lei; d)

exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer

outra função pública, salvo uma de magistério; e)

exercer atividade político-partidária; f)

recebimento de auxílios e contributos; e advogar

no juízo ou tribunal do qual se afastou antes de

três anos (CF, art. 128, §6º).

O Ministério Público pode atuar ainda

promovendo ação direta de inconstitucionalidade

e ação declaratória de constitucionalidade;

representação para intervenção federal nos

Estados e Distrito Federal; impetrar habeas

corpus e mandado de segurança; mandado de

injunção; promover inquérito civil e ação civil

pública para proteger os direitos constitucionais,

patrimônio público e social, meio ambiente,

patrimônio cultural e interesses individuais

indisponíveis, homogêneos e sociais, difusos e

coletivos; é o titular da ação penal pública; pode

expedir recomendações, visando à melhoria dos

serviços públicos e de relevância pública;

notificações ou requisições (de informações, de

documentos, de diligências investigatórias, de

instauração de inquérito policial à autoridade

policial).

Page 123: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 131

O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO PARTE

(IM)PARCIAL

Como já exposto, em tese e de acordo com

as garantias funcionais previstas na Carta Maior,

o Parquet é parte imparcial. O problema não

reside apenas em termos técnicos e no problema

semântico, mas também, diante de uma

conclusão a respeito de seus aspectos históricos,

em entender que o Ministério Público é uma

parte fabricada frente à necessidade de um

contraditor natural do imputado no sistema

acusatório, este que sobreveio ao inquisitório, o

qual foi responsável por tantas barbaridades

resultantes do seu poder arbitrário. Neste, a

iniciativa probatória estava nas mãos do juiz, não

possuindo assim a separação das funções de

acusar e julgar, podendo atuar de ofício e, em

resultado, não sendo imparcial. Além do mais,

não havia contraditório pleno, o procedimento

era secreto com um sistema de prova tarifada

com extremo poder atrelado à confissão, o duplo

grau de jurisdição possuía restrições mesmo não

havendo a figura da coisa julgada. Já no sistema

acusatório, o juiz é mero espectador e garantidor,

pois a gestão probatória está nas mãos das partes

que possuem tratamento igualitário frente a um

procedimento regido pela publicidade e a

oralidade além do pleno contraditório e ampla

defesa. O duplo grau de jurisdição é respeitado

assim como a coisa julgada, não havendo ainda a

figura da prova tarifada, mas, em contrapartida, o

princípio do livre convencimento motivado, todos

com intuito de garantir o devido processo legal e

a imparcialidade do julgador. Desta maneira,

necessitando de meios que garantissem a

imparcialidade do julgador, cria-se o órgão do MP

com o encargo da persecução penal, logo, como

sustenta Werner Goldschmidt, quanto mais

parciais forem às partes, mais imparcial é o juiz.

Partindo do exposto, com o magistrado

devidamente alheio a gestão da prova, tal função

fica entre o Parquet e a Defesa. A busca por

provas e sua devida administração por estes é

contrário à utopia da imparcialidade, basta

fazermos uma analogia quanto ao juiz inquisidor

e ao do sistema acusatório. Aury Lopes Jr.

declara: “[...] e sempre tivemos uma posição de

desconfiança em relação ao acusador oficial, até

porque ele não passa disso: uma parte acusadora,

cuja tal imparcialidade só é alardeada por quem

não sabe o que fala”20. Eis que surge o principal

argumento de quem defende essa pseudo-

imparcialidade: Qual a razão então da parte

acusadora depois de analisar as provas, requerer,

ao final do processo, a absolvição do acusado?

Este questionamento se apresenta bastante

fragilizado. Como já mencionado no tópico

referente às funções e perfil contemporâneo do

MP, a sua atividade como ente público deve

manter respeito total as leis. Como acusador

público, sua conduta deve estar ligada

intrinsecamente a legalidade e impessoalidade,

pois é um órgão criado para defender a ordem

jurídica zelando pela aplicação correta e

harmoniosa da mesma. Os princípios que regem o

Estado Democrático de Direito determinam a

proibição de levar adiante acusações infundadas

sem razoáveis indícios de autoria e materialidade.

Sem este lastro probatório mínimo para o início

do próprio processo, deve o promotor de justiça

requerer o arquivamento e o juiz concedê-lo. Se

oferecida a denúncia e, durante o devido

processo legal investido de contraditório e ampla

defesa, ficar aparente a inocência do imputado,

não houver provas ou até mesmo culpabilidade

suficiente para justificar uma condenação, deverá

pedir a absolvição. Portanto, toda sua conduta

deve estar pautada em estrita consonância com o

bom senso e respeito ao próprio ordenamento

jurídico do qual extrai a legitimidade e legalidade

de seus atos, pois, se assim não for, sua existência

20

LOPES Jr., Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São

Paulo: Saraiva, 2014. p. 344.

Page 124: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 132

se torna inútil, haja vista que estará indo de

encontro à necessidade natural a que se baseou

sua própria criação.

Apesar de aparentar uma discussão

puramente acadêmica que pouco importará ou

não trará consequência alguma para a prática, tal

crença pode levar a um desequilíbrio entre as

partes a partir do momento em que a defesa será

sempre parcial e, se a própria acusação é

imparcial como o magistrado que irá prolatar a

sentença, caso o promotor no fim de uma

instrução criminal insista na condenação,

presume-se a existência da sua total convicção

não fazendo vistas ao princípio da presunção de

inocência e da máxima do “in dúbio pro réu”.

Desta forma, sendo o contraditor natural do

imputado, mas devendo, sobretudo, observância

e cumprimento das leis, nascerá o conflito entre

as partes (tese e antítese) para a decisão

motivada do juiz (síntese).

ENCARCERANDO OS “CLIENTES PREFERENCIAIS”

DO SISTEMA PENAL

Partindo da interferência ideológica

dominante daqueles que compõem o Ministério

Público, é notável um caminho oposto ao que se

entende por democracia, haja vista que

sustentam teses acolhedoras ao endurecimento

da legislação com regime de execução mais

severo, ampliação do rol dos tipos penais e

aumento constante da repressão, o que leva o

indivíduo desviante a ser encarado como inimigo

do Estado e, por consequência, a implantação de

um Direito Penal Máximo. De acordo com

Alexandre Moraes da Rosa, “[...] há uma

tendência rumo ao Direito Penal do Inimigo,

baseado no fomento de um perigosismo

generalizado impregnado no imaginário coletivo

que demanda, assim, por segurança.”21

A equação aumento e alarma (midiático) da

criminalidade = medo e insegurança = demanda

por segurança = expansão do controle penal”

obedece às ilusões da infância criminológica

(Criminologia positivista) em que se acreditava no

Papai Noel (sistema penal) distribuindo presentes

(combatendo e reduzindo a criminalidade,

ressocializando criminosos e promovendo

segurança).22

No que diz respeito à tendência moderna

de mudanças legislativas para maior rigor e

severidade das penas, importa o comparativo

principalmente com a Europa no período em que

a repressão fora instalada como meio coibidor da

criminalidade. De Acordo com Loic Wacquant, em

1999, apontando um discurso ideológico

altamente conservador que atinge a Europa, faz

menção às consequências em levar o Estado

Social a ser amplamente punitivista em resultado

ao senso comum penal que criminaliza a miséria.

Sua obra intitulada “Prisões da Miséria23” faz

referência a tal panorama frente às realidades

que surgiram em consequência das políticas

implantadas pelos governos, apontando maior

ênfase a medida tomada que impôs a

globalização da tolerância zero como forma de

conter atos desviantes da sociedade em geral, a

prisão como novo lugar dos miseráveis e a sua

superlotação e consequente precariedade

constante em pouco tempo, resultados da

transformação do Estado-providência no Estado-

21

ROSA, Alexandre Morais da. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.

22 Depois do grande encarceramento, seminário.

Organizado por Pedro Vieira Abramovay e Vera Malaguti Natista. Rio de Janeiro: Revan, 2010. pág. 255.

23 WACQUANT, Loic. As prisões da miséria. Tradução de

André Telles, digitalizado em 2004.

Page 125: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 133

penitência, do Estado-social para o Estado-penal.

Diante da credibilidade imposta à medida, em

janeiro de 1999, Joaquim Roriz, na época

governador de Brasília, anunciou a aplicação

também no Brasil e, como resposta aos críticos,

dizia que bastaria criar novas prisões caso o

número de submetidos à mesma crescesse ainda

mais. O que restou então diante da forte

sensação de insegurança frente ao pensamento

midiático e das grandes autoridades fora a crença

no fortalecimento do Estado penal reforçado e

ostensivo como a melhor saída para combater

tais precariedades.

Ainda fazendo comparação do senso

comum da esmagadora maioria da sociedade ao

quadro apresentado por Wacquant, nota-se na

realidade norte-americana, frente às medidas de

encarceramento dos pobres, o grande

crescimento das populações aprisionadas que

triplicou em 15 anos. Tal mudança extrema

explica-se na sua grande maioria pelo

encarceramento dos pequenos delinquentes e os

toxicômanos. Passam então a não terem mais o

ideal da reabilitação, mas em isolar grupos e

neutralizar seus membros mais perigosos numa

espécie de reciclagem. Como bem critica

Zaffaroni24, o Estado de Direito é incompatível

com o Estado de Polícia, logo, este adota o direito

penal do inimigo como tratamento punitivo que

deve ser usado até também como meio na

prevenção de crimes. Tal diferenciação

transforma a condição de pessoa na de inimigo

perigoso para a sociedade, a não-pessoa que

deve ser eliminada, exclusa do meio social.

O constante crescimento da massa

carcerária como política de luta contra a pobreza

resultou em gastos imensos, tanto é que em 1993

os EUA gastaram 50% a mais com as prisões do

que a administração judiciária sendo que os

orçamentos dos dois eram idênticos 10 anos

24

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. O inimigo no direito penal. 2º ed. Rio de Janeiro: Revan, 2007.

atrás. Partindo para métodos então que

diminuíssem os imensos gastos do Estado social

para o Estado penal, foram empregadas quatro

técnicas: diminuir o nível de vida e serviços nos

estabelecimentos penitenciários limitando ou

suprimindo as já escassas “regalias”; diminuir a

inovação tecnológica que melhorava a

produtividade da vigilância; transferir certa parte

dos custos da carceragem para os presos e sua

família; e reintroduzir o trabalho desqualificado

em massa nas prisões. No mais, com ideais de

mercantilização, privatizar o encarceramento o

que a transformaria numa indústria de futuro

empreendedor e próspero. Se não bastasse, por

consequência há o “escurecimento” contínuo

dessa população fazendo com o que afro-

americanos, apesar de representarem apenas 2%

da população do país, fossem os majoritários

entre os novos encarcerados nas prisões

estaduais. A conclusão de tamanha discrepância

deve ser explicada com base em que a cor de pele

não significaria uma propensão maior a cometer

crimes, mas, a partir dela, nota-se o caráter

intrinsecamente discriminatório das práticas

policiais e judiciais que foram defendidas e tidas

como corretas na política lei e ordem implantada.

O autor traz então que o efeito do

encarceramento em massa tem efeitos diretos

sobre o mercado de trabalho, logo, aceleram o

desenvolvimento do trabalho assalariado da

miséria e da economia informal, haja vista a

certeza em que os antigos detentos não poderão

pretender mais do que empregos degradantes

em resultado do seu status judicial de ingresso

frente a uma sociedade altamente

preconceituosa. Portanto, é claro que os Estados

Unidos optou pela criminalização da miséria

frente à insegurança salarial e social. Não muito

diferente tem ocorrido no Brasil. De acordo com

uma pesquisa sobre “a aplicação de penas e

medidas alternativas” feito pelo Ipea (Instituto de

Pesquisa Econômica Ampliada), a Justiça Criminal

é bem mais rigorosa com os negros, onde a prisão

Page 126: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 134

se tornou a regra, do que com os acusados

brancos onde há prevalência da aplicação de

penas alternativas.

Em contrapartida as inquietações do senso

comum social imposto pela forte indústria

midiática bem como aos juristas que possuem a

crença na punição de forma mais severa como a

necessidade do atual contexto brasileiro, foi

organizado, em 2008 no Hotel Glória, um

seminário multidisciplinar que partiu do

pressuposto estadunidense de combate ao crime

acima mencionado. Foi denominado como

“Depois do grande encarceramento25” devido à

criminalização generalizada ocorrida na virada do

século XX para o XXI, a qual expandiu, a partir da

era FHC, de forma extraordinária o sistema

penitenciário que possuía em 1994 cerca de

110.000 presos para uma margem superior aos

712.000 hoje. Sustentando uma crítica ao modelo

de aprisionamento em massa que tem se

apresentado como única alternativa, em tese,

eficiente, médicos, psicólogos, sociólogos,

antropólogos e advogados, se reuniram para uma

reflexão a respeito da política criminal atual,

defendendo, sobretudo, a prisão como não sendo

a única forma que a sociedade tem e deve ter

para lidar com o delito, mas enxergando-o como

reprodutor de desigualdades e índices

elevadíssimos de insegurança e criminalidade

devido ao altíssimo índice de reincidência. A

problemática discutida é, então, a tentativa de

responder aos questionamentos críticos frente

aos inúmeros e sucessivos insucessos das políticas

públicas no Brasil, seja no âmbito da educação e

assistência social ou até da repressão pela polícia

e justiça.

Em conformidade com as ideias expostas no

seminário, a cultura jurídica e religiosa está

25 Depois do grande encarceramento, seminário.

Organizado por Pedro Vieira Abramovay e Vera Malaguti Natista. Rio de Janeiro: Revan, 2010.

associada ao processo de legitimação da violência

no sistema penitenciário brasileiro, são

derivações das tradições punitivas ancoradas em

penas muito antigas, exílio e morte. É certo que o

campo de maior visibilidade e imposto como o da

desordem e criminalidade que requer limpeza,

esconderijo, varredura e eliminação se apresenta

através da extrema criminalização da pobreza,

mas, em contrapartida, há ainda aquela

indignação contra as elites ilesas que depois se

resumem na sua, quando se dá, simbólica

punição. É o denominado encarceramento de

legitimação que se apresenta com prisões

espetaculosas da classe dominante, as quais

apenas servem para encobrir ideologicamente a

seletividade do sistema, procurando se passar,

assim, como igualitário. Em um campo

contradiscursivo, Vera Regina Pereira de Andrade

sustenta que o encarceramento é finito como são

todos os métodos punitivos na história, apesar da

impossibilidade de saber exatamente até quando

se dará a sua longevidade, a prisão não ficará,

mas, sim e somente, a vergonha da mesma.

Como relata Cláudio Alberto Gabriel

Guimarães

Os membros do Ministério Público, de uma

maneira geral, não se dão conta das

interferências da ideologia dominante no agir das

agências de controle do sistema penal,

absorvendo de maneira acrítica o saber

elaborado para legitimar as flagrantes injustiças

por ele produzidas e, de boa-fé – na maioria das

vezes -, no exercício de suas atribuições, acabam

por comprometer o exercício de seu mister

constitucional de defensor da democracia.26

26

GUIMARÃES, Cláudio Alberto Gabriel. Constituição,

Ministério Público e direito penal: a defesa do Estado

Democrático no âmbito punitivo. Rio de Janeiro: Revan,

2010. p. 260.

Page 127: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 135

É notável que o direito penal mostra-se

incapaz de prevenir a prática de novos delitos, e,

como leciona Paulo Queiroz, “é um sistema

arbitrariamente seletivo; recruta sua clientela

entre os mais miseráveis. É um sistema injusto,

produtor e reprodutor das desigualdades

sociais”27, com tendências a privilegiar as classes

dominantes isentando-os, de certa forma, da

fiscalização e criminalização de condutas que

representam danos muito maiores a sociedade ao

sonegarem impostos, desviarem verbas da

educação, da saúde etc., que resultam numa

maior desigualdade social diante do monopólio

capitalista e por consequência desvia classes

inferiores ao cometimento de crimes, para que

posteriormente sejam jogados em presídios

insalubres, sem as mínimas condições de

dignidade e higiene com outros tantos presos

numa mesma cela. Se não bastasse, juntam

sujeitos de periculosidades diferentes

transformando o presídio na chamada “escola do

crime”, fator que aumenta em extremo a

criminalidade, tanto é que os níveis de

reincidência é um dos maiores do mundo,

chegando a incrível margem de 70%. O processo

penal e a execução da sanção no caso de

condenação representam consequências

extremas ao indivíduo, pois, até mesmo quando

ocorre à absolvição, há um enorme e irreparável

dano à imagem do acusado, uma forma de

etiquetamento que traz consigo alto sofrimento

psíquico, o qual, como relata Erving Goffaman28,

resulta numa identidade deteriorada e

estigmatizada geradora de consequências

altamente danosas a sua reputação e

27

QUEIROZ, Paulo. Funções do direito penal: legitimação

versus deslegitimação do sistema penal. 3. ed. São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 89.

28 GOFFAMAN, Erving. Estigma – notas sobre a

manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Mathias Lambert. Publicação original em 1891, digitalizado em 2004.

credibilidade. Deste modo, os órgãos

encarregados de sua aplicação devem ter um

mínimo de razoabilidade e bom senso, pois a

implantação da verdadeira democracia está

atrelada ao uso diminuto do direito punitivo.

O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DIANTE DO

SISTEMA CARCERÁRIO

Sendo o Ministério Público órgão que atua

na defesa da ordem jurídica e fiscaliza o

cumprimento da lei defendendo os interesses

sociais e individuais indisponíveis, o seu dever

estende-se também a Execução Penal conforme o

artigo 61, inciso III, da Lei de Execuções Penais

(LEP), Lei n. 7.210 de 11 de julho de 1984. O

capítulo IV da mesma, mais precisamente em

seus artigos 67 e 68, prevê que o seu

representante visitará mensalmente os

estabelecimentos penais, registrando sua

presença em livro próprio, para fiscalizar a

execução de pena e da medida de segurança e a

regularidade formal das guias de recolhimento e

de internamento, além de outros importantes

deveres. O dever de visita também é atribuído

aos Conselhos Penitenciários e da Comunidade,

além do Juiz e da Defensoria Pública.

Como defensor e garantidor do

cumprimento das leis, cabe também ao Parquet à

defesa dos direitos humanos visando garantir a

integridade física e moral dos presos. Sua

presença mensal nos presídios deve resultar

numa forma de prevenção do abuso de

autoridade, tortura e quaisquer outras formas de

maus tratos que ocorrem diariamente em tais

estabelecimentos, encarregando-se à promotoria

e aos demais órgãos encarregados à apuração

inicial do ocorrido e consequente

responsabilização dos autores no âmbito civil,

administrativo e penal. Além do mais, a partir das

visitas, espera-se que o mesmo se informe a

respeito das assistências que são devidas pelo

Estado e que são direitos do preso (Artigo 38 do

Page 128: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 136

Código Penal). O artigo 41 da LEP determina:

“Constituem direitos do preso: I - alimentação

suficiente e vestuário; II - atribuição de trabalho e

sua remuneração; III - Previdência Social; IV -

constituição de pecúlio; V- proporcionalidade na

distribuição do tempo para o trabalho, o

descanso e a recreação; VI - exercício das

atividades profissionais, intelectuais, artísticas e

desportivas anteriores, desde que compatíveis

com a execução da pena; VII - assistência

material, à saúde, jurídica, educacional, social e

religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de

sensacionalismo; X - entrevista pessoal e

reservada com o advogado; X - visita do cônjuge,

da companheira, de parentes e amigos em dias

determinados; XI - chamamento nominal; XII -

igualdade de tratamento salvo quanto às

exigências da individualização da pena; XIII -

audiência especial com o diretor do

estabelecimento; XIV - representação e petição a

qualquer autoridade, em defesa de direito; XV -

contato com o mundo exterior por meio de

correspondência escrita, da leitura e de outros

meios de informação que não comprometam a

moral e os bons costumes. XVI – atestado de

pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da

responsabilidade da autoridade judiciária

competente. Parágrafo único. Os direitos

previstos nos incisos V, X e XV poderão ser

suspensos ou restringidos mediante ato motivado

do diretor do estabelecimento.” Tais direitos

mencionados, são vistos como necessários para o

cumprimento de pena com dignidade em

consonância com a sua reinserção futura ao

convívio social. Entretanto, enquanto busca-se a

ressocialização, o que há de fato é a violação dos

Direitos Humanos pelo próprio sistema, o qual

nunca foi capaz de cumprir suas promessas

ficando apenas no mundo do “dever ser”.

O Brasil, por ser considerado um Estado

Democrático de Direito, deve garantir o respeito

pelos direitos humanos e pelas garantias

fundamentais em conformidade Constituição

Federal que está situada no ápice da pirâmide e

que serve de legitimação para todo o

ordenamento jurídico e consequente legitimação

dos atos estatais. O termo como é reconhecido

hoje teve decorrência de um grande processo de

evolução oriundo dos povos gregos e seus

pensadores criando a ideia do “Estado ideal”, mas

foi no final do século XIX que as suas bases foram

consolidadas e que hoje, com os avanços através

das análises em meio há esse tempo, garante não

só a proteção aos direitos de propriedade, mas

também várias garantias fundamentais baseadas

no que chamamos de “Princípio da Dignidade

Humana”. Tal princípio está previsto no artigo 1°,

inciso III da Constituição Federal e é considerado

o núcleo exegético norteador de todo nosso

ordenamento jurídico. Não obstante, a

superpopulação nos presídios representa extrema

afronta aos direitos fundamentais, logo, a própria

Carta Maior em seu artigo 5º, inciso XLIX,

assegura aos presos o respeito à integridade física

e moral. Além do mais, o artigo 85 da Lei de

Execuções Penais (LEP), impõe que o

estabelecimento penal deverá ter lotação

compatível com sua estrutura e finalidade

enquanto que o artigo 88 determina que o

condenado fique alojado em cela individual com

dormitório, aparelho sanitário e lavatório

elencando, ainda, requisitos básicos de

salubridade do ambiente para ocorrência dos

fatores de areação, insolação e condicionamento

térmico adequado à existência humana numa

área mínima de seis metros quadrados. Nota-se

claramente a discrepância entre o texto

normativo e a prática vivenciada pelos detentos.

Já somos a terceira maior população

carcerária do mundo ultrapassando uma marca

de 715 mil pessoas privadas de liberdade, atrás

apenas dos Estados Unidos (2,2 milhões) e da

China (1,7 milhão). No entanto, apesar dos

números alarmantes, os níveis de violência não

diminuem e a sensação de insegurança cresce

demasiadamente. O déficit atual de vagas supera

Page 129: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 137

os 210 mil, segundo dados do CNJ, e se

considerarmos as prisões domiciliares, este

número salta para 358 mil vagas. Além do mais,

há em torno de 373 mil mandados de prisão em

aberto, o que pode fazer com que tenhamos mais

de 1,08 milhão de pessoas detidas. Com as

prisões superlotadas, os graves problemas na

gestão do sistema penitenciário brasileiro tomam

diâmetros incontroláveis e o efeito imediato é o

afastamento do objetivo primordial da pena

privativa de liberdade, qual seja: o ideal da

reabilitação.

Os séculos XX e XXI caracterizam-se por

apresentar os mais elevados índices históricos de

violência carcerária. Se não bastasse o sistema ser

falido e o assunto ser demasiadamente político, o

apelo tradicional midiático, a ansiedade popular e

por consequência pressão, contribuem para

superlotação e para as penosas condições de

reclusão. O que chama bastante atenção é que

cerca de 40% da população carcerária brasileira

está presa provisoriamente. São indivíduos que

ainda não foram julgados e que, em alguns casos,

acabam cumprindo totalmente a sua pena antes

mesmo da condenação. Como bem ressalta

Alexandre Moraes da Rosa, “a mais violenta é a

prisão cautelar. A prisão do indiciado/acusado é

modalidade de guerra com tática de aniquilação,

uma vez que os movimentos de defesa estarão

vinculados à soltura”29. Tais prisões têm virado

regra no direito brasileiro, no entanto, ela deve

ser adotada como cautelar ao processo, em

garantia da instrução criminal na prova e na

aplicação da lei penal, e não a sociedade. Há uma

grave violação aí da presunção de inocência. Em

contrapartida, há casos até mesmo de pessoas

que estão presas suspeitas de terem cometido

29

ROSA, Alexandre Morais da. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. p. 165.

crime cuja própria sanção não prevê uma pena de

prisão. Assim, ainda em conformidade com o

autor, entendemos que se deve negar a prisão

com base em mera suspeita. Com o atual estado

do cárcere e toda árdua evolução das punições, o

tempo em que as pessoas são presas para

investigar já deveria ter acabado. No entanto,

esta é a mentalidade de muitos que operam no

direito penal, pois, na grande maioria dos casos,

foram seduzidos pelos discursos fáceis de “lei e

ordem” atrelados a política de tolerância zero.

Além do mais, a falta de agilidade processual e a

situação subumana das prisões têm sido as mais

cruéis penas impostas, pois acabam

“qualificando” os criminosos não perigosos e

impõem depravação aos presos provisórios

constituindo típicas espécies de “sobrepena”.

NOTAS CONCLUSIVAS

Com base em uma análise que fora iniciada

com o estudo da gênese do Ministério Público no

mundo até seu perfil e funções atuais no

ordenamento jurídico brasileiro, fica notável a

sua pseudo-imparcialidade. Tal entendimento

necessita ser superado, pois o motivo da sua

própria criação fazia vistas a consequente

necessidade de um contraditor natural do

imputado diante da imposição do sistema

acusatório, logo, com o magistrado alheio a

gestão da prova, tal função deveria ficar

necessariamente entre o Parquet e a Defesa (tese

e antítese) na intenção de garantir uma maior

imparcialidade do juiz garantidor nas suas

decisões (síntese). Observando na prática o

pensamento e a atuação do promotor, é possível

concluir que o mesmo atua de forma amplamente

parcial acumulando tão somente provas contra o

denunciado enquanto que, em tese, também é

seu dever diligenciar para obtenção de eventuais

elementos que favoreçam a defesa.

Diante da situação horrenda das prisões

brasileiras, importa ressaltar que boa parte da

Page 130: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 138

população carcerária é composta de indivíduos

que cometeram crimes sem violência ou grave

ameaça a pessoa, aos quais seria mais viável a

aplicação de alternativas penais como a

interdição temporária de direitos e a prestação

de serviço à comunidade ou a entidades públicas,

até porque, segundo o Ministério da Justiça,

quem fica recluso tem mais chances de voltar a

cometer crimes do que aqueles que cumpriram

penas alternativas. Enquanto na primeira espécie

de pena o nível de reincidência é superior a 70%,

na outra os níveis variam entre 2% e 12%. Em

uma reflexão da ideologia dominante entre os

Promotores de Justiça que visam caminho oposto

ao que se entende por democracia, ao ponto

sustentam teses acolhedoras da política

tolerância zero com regime de execução mais

severo e ampliação do rol dos tipos penais, um

entendimento equivocado e pejorativo do real

significado da teoria garantista levou a rotulação

crítica negativa daqueles membros do Parquet

que não se importavam apenas com a acusação,

mas que vão além se preocupando com a correta

aplicação da lei em conformidade com os

princípios constitucionais, consequências tanto

do processo como da condenação e até mesmo

com os efeitos da execução. Entendem, e

corretamente, que a ressocialização é a atividade

fim que o Estado deve buscar, mas, para que isso

ocorra, é necessária à efetivação dos direitos

subjetivos e garantias fundamentais previstas no

ordenamento jurídico que são intrínsecos

universalmente a todos os seres humanos.

Os problemas que envolvem o sistema

carcerário vão muito além da atuação dos

membros do Parquet. É clara a falência dos

presídios e a necessidade de sua melhoria, bem

como a construção de novos para amenizar o

problema da reincidência. Em contrapartida, o

relatório anual da auditória de gestão da

Controladoria Geral da União (CGU) apresentou

que dos R$ 310 milhões destinados à melhoria

das penitenciarias em 2013, apenas R$ 12,6

milhões foram aplicados de fato, isto representa

apenas 4,5% dos recursos, sendo que o restante

ficou disponibilizado para outros gastos segundo

o Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Ainda de acordo com o exposto, a não aplicação

dos recursos é resultado de três principais

situações: contingenciamento orçamentário do

Ministério da Justiça, ligado a problemas dos

projetos nos Estados, e inadimplência ou

irregularidades dos Estados. Além do mais, nada

do que foi empenhado para construção de

Centros de Detenção foi aplicado nos Estados.

Tais situações são alarmantes, há total

necessidade de políticos comprometidos com sua

real função, bem como de indivíduos que

exerçam seu papel de cidadão ao reivindicar

cobrando as melhorias necessárias ao atual

quadro.

É certo então que o Estado deve procurar

solucionar essas situações com mecanismos

anteriores que diminuam a possibilidade de

delitos, isto é, que atue dando uma base sólida

para que as pessoas não sejam motivadas ao

crime. Tentar diminuir as desigualdades sociais

por meio de políticas públicas ou até de

investimentos para proporcionar educação e

possibilidade de trabalho aos indivíduos, bem

como avaliar meios mais eficazes de prevenção

da criminalidade e efetivar uma mudança drástica

no cumprimento de pena. As dificuldades

enfrentadas não surgiram de uma hora pra outra,

no entanto, é incrível como em 1764, com 25

anos, Beccaria ao publicar sua famosa obra

estudada até hoje na área jurídica, a renomada

“Dei delitti e delle pene” (dos delitos e das

penas), em análises críticas sobre questões

referentes ao sistema penal do antigo regime, já

trazia soluções e meios para que o Estado se

mostrasse eficiente garantindo os direitos

fundamentais as pessoas. Defendia que o método

mais seguro de prevenir crimes é aperfeiçoar o

sistema educacional e que não seria o rigor das

penas que preveniriam o crime, logo, a

Page 131: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 139

severidade das penas deve ser proporcional ao

estado da nação e determinada a menor possível

aplicável ao caso, desde que seja proporcional ao

delito, imediata e prevista em lei, pois a

prevenção ocorre com maior eficiência quando

de fato há a certeza da punição.

Conforme todo supramencionado,

entendemos que deve haver maior racionalidade

na imputação das penas por todos os operadores

do sistema penal, logo, após o cumprimento da

pena de prisão em companhia de líderes de

facções criminosas e de autores dos mais

horrendos crimes, será devolvido a sociedade

largamente preconceituosa que não dará

nenhuma chance de inserção e ressocialização ao

meio - tanto é verdade que algumas empresas

solicitam certidão de antecedentes criminais aos

postulantes da vaga – e por consequência

voltarão as práticas criminosas na falta de outras

oportunidades, tanto é que a população

carcerária cresce demasiadamente sem controle.

Diante do altíssimo nível de reincidência, pode-se

afirmar que há total falência das políticas de

reinserção do Estado.

Sustentamos a tese que esse difícil contexto

pode ser amenizado com a redução do alto

número de prisões provisórias, bem como pela

aplicação racional de alternativas penais aos

crimes cometidos sem violência. Para que isso

ocorra é necessário o rompimento da barreira de

conforto ideológico que compõe grande parte

dos membros também do Ministério Público,

pois, boa parte das injustiças e dá aplicação

errônea da lei penal são advindas das suas

atitudes, de regra com boa-fé, que não possuem

o padrão esperado de racionalidade e justiça

necessário aos operadores do direito acabando

por comprometer o seu papel de defensor da

democracia.

REFERÊNCIAS

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

Depois do grande encarceramento, seminário. Organizado por Pedro Vieira Abramovay e Vera Malaguti Natista. Rio de Janeiro: Revan, 2010.

GOFFAMAN, Erving. Estigma – notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Mathias Lambert. Publicação original em 1891, digitalizado em 2004.

GUIMARÃES, Cláudio Alberto Gabriel. Constituição, Ministério Público e direito penal: a defesa do Estado Democrático no âmbito punitivo. Rio de Janeiro: Revan, 2010. p. 260.

JATAHY, Carlos Roberto de C. O Ministério Público e o Estado Democrático de Direito: Perspectivas constitucionais contemporâneas de atuação em defesa da sociedade. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro, 2006. p. 17.

LOPES Jr., Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014

QUEIROZ, Paulo. Funções do direito penal: legitimação versus deslegitimação do sistema penal. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 89.

ROSA, Alexandre Morais da. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.

WACQUANT, Loic. As prisões da miséria. Tradução de André Telles, digitalizado em 2004.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. O inimigo no direito penal. 2º ed. Rio de Janeiro: Revan, 2007.

Page 132: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 140

O DIREITO À SAÚDE E SUA JUDICIALIZAÇÃO

José Lucas Rodrigues de Oliveira*

RESUMO: O artigo apresenta o direito constitucional à saúde rotineiramente violado como corolário da situação orçamentária pública e a judicialização como alternativa para garantir sua efetividade. Retrata ainda a respeito do financiamento do Sistema Único de Saúde e sua descentralização, a qual redistribui poderes e responsabilidades aos três níveis de governo, analisando também, e com maior ênfase, a assistência no âmbito municipal.

PALAVRAS-CHAVE: Direito à saúde. Sistema Único de Saúde. Financiamento. Judicialização. Assistência Municipal.

ABSTRACT: This article presents the constitutional right to health routinely violated as a consequence of public budget situation and the judicialization as an alternative to ensure their effectiveness. Still portrays about the financing of the National Health System and its decentralization, which redistributes powers and responsibilities of the three levels of government, analyzing also, and more emphasis on assistance at the municipal level. KEYWORDS: Right to health. Health System. Financing. Legalization. Municipal assistance.

* Graduando em Direito.

Page 133: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 141

NOTAS INTRODUTÓRIAS

A Constituição Federal de 1988 preceitua

em seu artigo 6º que são direitos sociais a

educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o lazer, a segurança, a previdência

social, a proteção à maternidade e à infância,

além da assistência aos desamparados. Estes

direitos, em consequência da necessidade de

disponibilidade financeira do Estado para sua

efetivação, estão sujeitos à cláusula (ou princípio

implícito) que se denomina como “reserva do

financeiramente possível”, isto é, o Estado deve

garantir a concretização destes direitos, mas na

medida do realizável conforme a existência de

recursos públicos disponíveis. Desta maneira, o

não cumprimento, ou a parcial efetivação, apenas

ficará justificado se for possível demonstrar a real

impossibilidade de sua execução pelo Poder

Público.

O Brasil, por ser considerado um Estado

Democrático de Direito, deve garantir o respeito

aos direitos humanos e as garantias fundamentais

baseadas no que chamamos de “Princípio da

Dignidade Humana”. Tal princípio está previsto no

artigo 1°, inciso III da Constituição Federal e é

considerado o núcleo exegético norteador de

todo nosso ordenamento jurídico. Acerca de tais

premissas, importa destacar que, apesar de não

haver vantagem expressa na fixação das cláusulas

pétreas (CF, art. 60, §4º), entende-se a respeito

da prevalência da dignidade da pessoa humana

em caso de colisão de direitos fundamentais e

eventual juízo de ponderação. No que se refere à

exigibilidade do mínimo imprescindível de

efetivação dos mesmos, discute-se muito a

respeito do direito fundamental à saúde,

considerado núcleo essencial que deve ser

concretizado e bem de maior valor ao ser

humano, tema central deste artigo, o qual a

Constituição assegura expressamente como

direito de todos e dever do Estado.

A crise no sistema de saúde pública no

Brasil atinge os mais diversos e importantes

setores, quais sejam: estrutura física, escassez de

recursos humanos e a falta de materiais,

equipamentos e medicamentos. Todos estes

fatores são resultado da carência de reais

investimentos destinados a sua melhoria, o que

acaba por agravar ainda mais o sucateamento, a

superlotação e as consequentes precariedades no

atendimento em geral. Com isso, nos casos mais

complexos e urgentes, há necessidade da questão

ser levada ao Judiciário para que possam ser

utilizados todos os mecanismos capazes de dar

efetividade, como, por exemplo, os institutos da

antecipação da tutela, em outros, a dificuldade

em arcar com os empecilhos do acesso à justiça

coloca-os em situação de vulnerabilidade e

aceitação do quadro caótico das unidades

hospitalares nas quais há longas filas para os

atendimentos, superlotação, falta de

medicamentos e de suporte necessário,

infecções, desvio de materiais, entre outros, que

resultam em corredores lotados e indivíduos

padecendo da forma mais horrenda e

humilhante.

O DIREITO À SAÚDE

A Constituição Federal de 1988, em seu

artigo 6º, determina a saúde como um dos

direitos sociais, sendo que, em disposições mais

específicas nos artigos 196 e seguintes, assegura

como um direito de todos e dever do Estado que

deve ser garantido mediante políticas sociais e

econômicas que visem à redução do risco de

doença e de outros agravos e ao acesso universal

e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação. Além do

mais, por ser de relevância pública tais ações e

serviços, cabe ao Poder Público dispor sobre sua

regulamentação, fiscalização e controle. Nesse

sentido, importante relatar a respeito da Lei

Orgânica de Saúde (LOS), Lei nº 8.080 de

Page 134: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 142

19/09/1990, que regulamentou os artigos 196 a

200 da CF/8, alterados pelas Leis nº 9.832/99, nº

10.424/2002 e nº 11.108/2005.

A LOS é clara ao determinar, no seu artigo

2º, a saúde como direito fundamental em que o

Estado deve prover as condições indispensáveis

ao seu pleno exercício, garantindo assim o direito

à saúde através da criação e efetivação de

políticas econômicas e sociais que visem à

redução de doenças e de outros agravos além de

assegurar o acesso universal e igualitário a tais

serviços. Desta maneira, entende-se que o

mesmo é responsável pelo fornecimento gratuito

de medicamentos, com base no que preceitua as

previsões constitucionais (artigos 196 a 198) e a

referida lei, aos que não possam arcar com as

despesas de tratamento.

A LOS criou o CNS, sucedido pelos

conselhos estaduais e municipais com a função

primordial de elaborar a Política, o Plano e o

Fundo Nacional de Saúde e seus consentâneos,

estaduais e municipais. Ao Poder Público,

determinou regras básicas dos serviços de

saúde, sua fiscalização e controle, tanto em

nível federal, como estadual e municipal e do

Distrito Federal, sob controle da comunidade

interessada, por meio de seus representantes.

Isso significou a coordenação entre o controle

governamental e as entidades privadas,

integradas no sistema único, e não mais com a

divisão anterior de dois ministérios, o da saúde

e o da previdência social (INAMPS).30

Prevê o artigo 198 da Carta Maior que as

ações e serviços públicos de saúde integram uma

rede regionalizada e hierarquizada e constituem

um sistema único organizado com base na

descentralização, com direção única em cada

esfera de governo; no atendimento integral, com

prioridade para as atividades preventivas, sem

prejuízo dos serviços assistenciais; e na

30

SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. 7.

ed. São Paulo: Cortez, 2014. p. 130.

participação da comunidade. Além do mais, traz

ainda que o Sistema Único de Saúde será

financiado com recursos do orçamento da

seguridade social, da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, sem retirar

outras fontes de custeio. Desta maneira, percebe-

se que os pilares desse direito estão baseados nos

princípios da Universalidade, Equidade e

Integralidade da prestação a saúde, estes

princípios, além de outros, são encontrados no

artigo 7º da Lei 8.8080/1990. Em rápida síntese,

pelo primeiro, entende-se que o sistema deve

estar acessível à população em geral, haja vista

ser financiado através do dinheiro público. O

segundo retrata a ideia de, como bem sustentara

Aristóteles, “tratar igualmente os iguais e

desigualmente os desiguais, na medida de sua

desigualdade”, ou seja, não se refere a uma

igualdade absoluta, assim, deve disponibilizar os

recursos e serviços da forma mais justa levando

em consideração, para tanto, as necessidades de

cada um. Já o terceiro diz respeito ao conjunto de

ações e serviços desenvolvidos para promover os

devidos cuidados alcançando desde o nível

preventivo até o curativo, em qualquer escala de

complexidade. Vale destacar ainda a participação

social como direito e dever da sociedade de

partilhar das gestões públicas em geral e da

saúde pública em particular, bem como a

descentralização, o qual se apresenta pela

transferência de responsabilidades de gestão

para os municípios definindo atribuições e

competências específicas ao mesmo, à União, aos

estados e ao Distrito Federal. O princípio da

Universalidade não está expresso na Constituição,

mas é decorrência clara do que dispõe o artigo

196 que possibilita o ingresso de qualquer pessoa

no Sistema Único de Saúde. O mesmo fora

implantado diante da influência do movimento

sanitarista na Assembleia Constituinte de 1987,

sendo que, entre 17 e 21 de março de 1986, em

Brasília, se realizara a VIII Conferência Nacional

de Saúde que visou, dentre outros temas, a

Page 135: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 143

discussão acerca da reformulação do sistema

nacional de saúde pública buscando, sobretudo,

sua máxima abrangência.

Nesse mesmo sentido, sustenta Bernardino

que

A saúde é um direito fundamental do ser

humano, devendo o Estado prover as condições

indispensáveis ao seu pleno exercício, por meio

de políticas sociais e econômicas que visem à

redução dos riscos de doenças e de outros

agravos e no estabelecimento de condições que

assegurem acesso universal e igualitário às

ações e serviços para a promoção, proteção e

recuperação da saúde individual e coletiva (art.

2o e parágrafo 1o da Lei n. 8.080/1990 e art.

196 da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988). A União não intervirá nos

Estados nem no Distrito Federal, exceto para

assegurar a observância dos direitos da pessoa

humana (art. 34, VII, alínea“b”, da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988).31

A situação orçamentária pública vem

resultando numa violação direta a tal direito

constitucional, em especial no que se refere à

integralidade do atendimento. Dos mais de 200

milhões de residentes no Brasil, segundo dados

do Censo 2013 do IBGE, divulgado dia

02/06/2015, 71,2% (142,8 milhões) consultaram o

médico nos últimos doze meses anteriores à data

de referência da Pesquisa Nacional de Saúde32

2013. No que diz respeito aos serviços

preventivos, do total, 53,4% dos domicílios

estavam cadastrados em Unidades de Saúde da

Família. Dentre os que se registraram há um ano

ou mais, 17,7% nunca receberam visita de agente

comunitário de saúde ou de um membro de

equipe de saúde da família. No que diz respeito

ao saneamento, apenas 60,9% dos domicílios

31

COSTA, Alexandre Bernardino. DELDUQUE, Maria

Célia. [et al]. O Direito achado na rua: Introdução crítica

ao direito à saúde. Brasília: CEAD/UnB, 2009. p. 196. 32

http://www.pns.icict.fiocruz.br/ (Último acesso em

08/11/2015).

(39,7 milhões) possuem banheiro ou sanitário e

esgotamento sanitário por rede geral de esgoto

ou pluvial. Até mesmo a situação financeira

reflete no acesso aos serviços de saúde no país,

pois, enquanto que os 10% mais ricos da

população detêm 46,1% da renda familiar per

capita, os 20% mais pobres detêm apenas 2,9%

da renda, sendo que a mencionada pesquisa

retrata que 10,6%, 15,5 milhões, da população

brasileira adulta já se sentiram discriminadas na

rede de saúde, seja ela pública ou privada, 53,9%

em função da falta de dinheiro e 52,5% por

consequência da classe social. Como bem relata

Viviane Forrester, “o desemprego invade hoje

todos os níveis de todas as classes sociais,

acarretando miséria, insegurança, sentimento de

vergonha em razão essencialmente dos

descaminhos de uma sociedade que o considera

uma exceção à regra geral estabelecida para

sempre”33, milhões de destinos são destruídos e

aniquilados pelo que denomina como o mais

sagrado tabu: o trabalho.

O FINANCIAMENTO DA SAÚDE PÚBLICA

O Projeto de Lei Complementar n. 01/2003,

regulamentando a Emenda Constitucional n. 29,

aprovada em 2000, qualifica, na esfera do SUS, as

políticas voltadas à saúde como de Estado e não

de governo, melhorando, ainda, os mecanismos

de controle governamental e social no que se

refere à aplicação dos recursos do sistema.

Vinculando os recursos nas três esferas

federativas, tal emenda modificou o artigo 198 da

Constituição Federal certificando os recursos

mínimos necessários aos financiamentos destes

serviços. Com isso, determinou-se que o gasto

anual mínimo de saúde seja fixado em 10% das

receitas correntes da União, continuando os

33

FORRESTER, Viviane. O horror econômico. Tradução

Álvaro Lorencini. São Paulo: Editora da Universidade

Estadual Paulista, 1997. p. 125.

Page 136: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 144

Estados e os municípios obrigados a destinar o

mínimo de 12% e 15%, respectivamente, dos seus

orçamentos para a saúde.

Em 16 de janeiro de 2012 foi editada, após

nove anos de tramitação, a Lei Complementar nº

141 que “regulamenta o § 3o do art. 198 da

Constituição Federal para dispor sobre os valores

mínimos a serem aplicados anualmente pela

União, Estados, Distrito Federal e Municípios em

ações e serviços públicos de saúde; estabelece os

critérios de rateio dos recursos de transferências

para a saúde e as normas de fiscalização,

avaliação e controle das despesas com saúde nas

3 (três) esferas de governo; revoga dispositivos

das Leis no 8.080, de 19 de setembro de 1990, e

8.689, de 27 de julho de 1993; e dá outras

providências”. No seu artigo 6º prevê que “os

Estados e o Distrito Federal aplicarão,

anualmente, em ações e serviços públicos de

saúde, no mínimo, 12% (doze por cento) da

arrecadação dos impostos a que se refere o art.

155 e dos recursos de que tratam o art. 157,

a alínea “a” do inciso I e o inciso II do caput do

art. 159, todos da Constituição Federal, deduzidas

as parcelas que forem transferidas aos

respectivos Municípios”. Já os Municípios e o

Distrito Federal aplicarão anualmente, no

mínimo, 15% (quinze por cento) da arrecadação

dos impostos a que se refere o art. 156 e dos

recursos de que tratam o art. 158 e a alínea “b”

do inciso I do caput e o § 3º do art. 159, todos da

Constituição Federal (art. 7º), enquanto que o

Distrito Federal aplicará, anualmente, no mínimo,

12% (doze por cento) do produto da arrecadação

direta dos impostos que não possam ser

segregados em base estadual e em base

municipal (art. 8º), sendo que os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios deverão observar

o disposto nas respectivas Constituições ou Leis

Orgânicas sempre que os percentuais nelas

estabelecidos forem superiores aos fixados nesta

lei para aplicação em ações e serviços públicos de

saúde (art. 11). Portanto, em rápida síntese, a

União deverá disponibilizar do valor aplicado no

ano anterior somando a variação nominal do PIB

do ano anterior, vale ressaltar que, caso o PIB

venha a ter variação negativa, não se poderá

reduzir o seu valor. Os Estados aplicarão 12% e os

Municípios 15% da receita de sua competência,

enquanto que o Distrito Federal aplicará 12% e

15% das receitas de competência estadual e

municipal, respectivamente. Importante a

ressalva que esses percentuais mínimos podem

ser alterados, logo, de acordo com a Constituição

no seu artigo 198 §3º, a Lei complementar será

reavaliada pelo menos a cada cinco anos.

Outra conquista da Emenda nº 141 fora

detalhar quais despesas são consideradas como

gastos com a saúde, como bem preceitua o seu

artigo 2º: Para fins de apuração da aplicação dos

recursos mínimos estabelecidos nesta Lei

Complementar, considerar-se-ão como despesas

com ações e serviços públicos de saúde aquelas

voltadas para a promoção, proteção e

recuperação da saúde que atendam,

simultaneamente, aos princípios estatuídos no

art. 7º da Lei nº 8.080 (...)”. Desta forma,

determina o artigo 3º que serão consideradas

despesas com ações e serviços públicos de saúde

as referentes a: I - vigilância em saúde, incluindo

a epidemiológica e a sanitária; II - atenção

integral e universal à saúde em todos os níveis de

complexidade, incluindo assistência terapêutica e

recuperação de deficiências nutricionais; III -

capacitação do pessoal de saúde do Sistema

Único de Saúde (SUS); IV - desenvolvimento

científico e tecnológico e controle de qualidade

promovidos por instituições do SUS; V - produção,

aquisição e distribuição de insumos específicos

dos serviços de saúde do SUS, tais como:

imunobiológicos, sangue e hemoderivados,

medicamentos e equipamentos médico-

odontológicos; VI - saneamento básico de

domicílios ou de pequenas comunidades, desde

que seja aprovado pelo Conselho de Saúde do

ente da Federação financiador da ação e esteja de

Page 137: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 145

acordo com as diretrizes das demais

determinações previstas nesta Lei

Complementar; VII - saneamento básico dos

distritos sanitários especiais indígenas e de

comunidades remanescentes de quilombos; VIII -

manejo ambiental vinculado diretamente ao

controle de vetores de doenças; IX - investimento

na rede física do SUS, incluindo a execução de

obras de recuperação, reforma, ampliação e

construção de estabelecimentos públicos de

saúde; X - remuneração do pessoal ativo da área

de saúde em atividade nas ações de que trata

este artigo, incluindo os encargos sociais; XI -

ações de apoio administrativo realizadas pelas

instituições públicas do SUS e imprescindíveis à

execução das ações e serviços públicos de saúde;

e XII - gestão do sistema público de saúde e

operação de unidades prestadoras de serviços

públicos de saúde. Além disso, apresenta ainda,

no seu artigo 4º, quais não serão consideradas

como tais despesas.

A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE

A fragilidade do sistema público de saúde

em consonância com a insuficiência no

fornecimento de medicamentos gratuitos

resultou no que se denomina “judicialização da

saúde”. Cresce em demasia a procura pelo

Judiciário para dar efetividade a este direito

fundamental assegurado pela Constituição em

contrapartida à reiterada e contínua omissão do

Estado na sua prestação. Nesse sentido, sustenta

Ballerini que

Surge destas constatações a necessidade

de se colocar à disposição da garantia do direito

à saúde todos os mecanismos assecuratórios

desta efetividade, incluindo-se as chamadas

tutelas de urgência e, com maior razão o

próprio instrumento da antecipação de tutela,

devendo-se recomendar sua disseminação, em

detrimento de outras formas de tutela

emergencial, ao menos por um aspecto de

economia processual (já que todas já visariam a

uma celeridade).34

Rogério Gesta Leal, Desembargador do

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e

Professor universitário, autor e organizador de

diversos livros jurídicos, em seu livro intitulado

“Condições e possibilidades eficaciais dos direitos

fundamentais sociais35”, apresenta as principais

dificuldades e as possíveis melhoras que o

Judiciário se pôs a buscar por meio de medidas

sociais compensatórias ou até mesmo satisfativas

para certas demandas, sejam elas individuais ou

coletivas, citando até mesmo casos reais, no

intuito de assegurar ao máximo o entendido

como mínimo existencial que configura e dá

efetividade ao princípio da dignidade humana.

Sabe-se que efetivação dos direitos fundamentais

e sociais exige disponibilidade financeira e isso

tem se tornado o argumento de defesa do Estado

para se omitir da responsabilidade, no entanto, é

certo que os mesmos estarão sujeitos a um

princípio implícito denominado como “reserva do

possível”, o qual assegura que tais direitos

constitucionais só podem ser realizados na

medida em que isso é possível. Segundo ele,

É claro que o simples argumento da

escassez de recursos dos cofres públicos não

pode autorizar o esvaziamento de direitos

fundamentais, muito menos os relacionados à

saúde, eis que diretamente impactantes em

face da vida humana e sua dignidade mínima, e

por isto estarão sujeitos ao controle

jurisdicional para fins de se aferir a

razoabilidade dos comportamentos

institucionais neste sentido, devendo inclusive

34

BALLERINI, Júlio César, Silva. Direito à Saúde,

Aspectos Práticos e Doutrinários no Direito Público e no

Direito Privado. São Paulo: Habermann Editora, 2009. p. 10.

35 LEAL, Rogério Gesta. Condições e possibilidades

eficaciais dos direitos fundamentais sociais: os desafios

do poder judiciário no Brasil. Porto Alegre: Livraria do

Advogado Editora, 2009.

Page 138: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 146

ser aprimorados os parâmetros, variáveis,

fundamentos e a própria dessimetria

concretizante do direito em xeque.36

Em análise a descentralização de

competências, há diversas dúvidas quanto quem

deve figurar no polo passivo na prestação do

serviço público de saúde. O artigo 23, inciso II, da

Constituição Federal determina como

competência comum da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, cuidar da saúde

e assistência pública, além da proteção e garantia

das pessoas portadoras de deficiência. Desta

maneira, a responsabilidade pela assistência

integral à saúde está regulamentada de forma

tríplice por interessarem simultaneamente a

todas as entidades estatais. Assim, o SUS é

formado por várias instituições dos três níveis de

governo e pelo setor privado, que dele participa

por meio de contratos e convênios, para a

realização de suas finalidades públicas. Em

decorrência, um serviço privado, como um

hospital conveniado, deve atuar como se fosse

um hospital público37.

A responsabilidade solidária dos entes

federados também é tema sedimentado no

âmbito do Superior Tribunal de Justiça e no

Supremo Tribunal Federal:

ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE.

FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS.

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES

FEDERATIVOS. 1. O funcionamento do Sistema

Único de Saúde. SUS é de responsabilidade

solidária da união, estados-membros e

municípios, de modo que qualquer destas

36

LEAL, Rogério Gesta. Condições e possibilidades

eficaciais dos direitos fundamentais sociais: os desafios

do poder judiciário no Brasil. Porto Alegre: Livraria do

Advogado Editora, 2009. p. 158.

37 SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. 7.

ed. São Paulo: Cortez, 2014. p. 136.

entidades tem legitimidade ad causam para

figurar no polo passivo de demanda que

objetiva a garantia do acesso à medicação para

pessoas desprovidas de recursos financeiros.

Precedentes do STJ. 2. No julgamento do RMS

38.746/RO, em 24.4.2013, pela primeira seção

do STJ, foi reconhecida a legitimidade passiva

do secretário de estado de saúde de Rondônia

para figurar como autoridade coatora em

mandado de segurança impetrado em prol do

fornecimento de medicamentos. 3. Agravo

regimental não provido. (STJ; AgRg-RMS 42.313;

Proc. 2013/0123509-3; RO; Segunda Turma; Rel.

Min. Herman Benjamin; DJE 17/09/2013; Pág.

3299)

ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE.

DEVER DO ESTADO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA

UNIÃO. SOLIDARIEDADEENTRE

OS ENTES FEDERATIVOS. EXISTÊNCIA.

LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

DISCUSSÃO. FORNECIMENTO DE

MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO.

REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.

DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM. ARTIGO

543-B DO CPC E ART. 328 DO RISTF. 1. Incumbe

ao Estado, em toda as suas esferas, prestar

assistência à saúde da população, nos termos

do art. 196 da Constituição Federal,

configurando essa obrigação, consoante

entendimento pacificado nesta Corte,

responsabilidade solidária entre os entes da

Federação. 2. O Supremo Tribunal reconheceu a

existência da repercussão geral das questões

relativas à legitimidade ativa do Ministério

Público e ao fornecimento de medicamentos de

alto custo. Aplicação do art. 543-B do CPC. 3.

Agravo regimental não provido na parte relativa

à ilegitimidade passiva da União e prejudicado

no tocante às questões relativas à ilegitimidade

ativa do Ministério Público e ao fornecimento

de medicamentos de alto custo. (STF - AG.REG.

NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO RE 755485 SC;

Primeira Turma; Relator Min. Dias Toffoli; DJe-

199 DIVULG 10-10-2014 PUBLIC 13-10-2014)

Page 139: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 147

Posto isso, é certo que, diante de tamanha

omissão, é de suma importância que o Judiciário

atue como órgão controlador da atividade

administrativa. Ana Paula de Barcelos, em seu

livro intitulado “A eficácia Jurídica dos Princípios

Constitucionais38”, sustenta que a prestação

concedida por um magistrado a determinado

indivíduo deveria poder ser concedida também a

todas as demais pessoas na mesma situação, pois

todos têm direito ao mínimo existencial e não

somente aqueles que recorrem ao Judiciário para

sua efetivação, logo, partindo desse pressuposto,

toda sociedade está comprometida a custear e

assegurar a dignidade a todos os indivíduos que

necessitem, ao menos em patamares mínimos,

deve-se assegurar o núcleo exegético de

ordenamento jurídico: a dignidade da pessoa

humana. Além do mais, devemos ter atenção que

estamos falando de direitos sociais, os quais só

estão sendo efetivados de forma individual na

medida em que conseguem uma sentença

favorável através do Judiciário ficando

necessitado ainda o amparo da assistência

federal, estadual e municipal através de políticas

públicas e investimentos reais. Fazendo uma

analogia às ideias de Anthony Giddens, sociólogo

britânico considerado por alguns como o mais

importante filósofo social inglês contemporâneo,

pode-se afirmar que há “defeito de projeto” e

“falha do operador”39.

A ASSISTÊNCIA MUNICIPAL

Como já supracitado nos tópicos anteriores,

um dos princípios que norteia o Sistema Único de

Saúde é a descentralização. Este, em consonância

38

BARCELLOS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos

Princípios Constitucionais. 2. ed. Renovar.

39 GIDDENS, Anthony. As consequências da

modernidade. Tradução Raul Fiker. São Paulo: Editora

UNESP, 1991.

com outros princípios organizativos, redistribui

poder e responsabilidade aos três níveis de

governo no intuito de assegurar uma prestação

de serviços de maior qualidade e eficiência além

de ampliar a possibilidade de fiscalização e

controle pela sociedade. De acordo com que se

denomina “comando único”, cada ente estatal é

autônomo e soberano em suas atividades, desde

que haja respeito aos princípios gerais,

determinações legais e a participação da

sociedade. Com isso, a autoridade sanitária é

representada na União pelo Ministro da Saúde,

nos Estados pelos secretários estaduais de saúde,

e nos Municípios pelos secretários municipais de

saúde.

O administrador municipal, no intuito de

assegurar tal direito a seus munícipes, deve

assumir a responsabilidade pelos resultados e

visar sempre à redução dos riscos assegurando a

qualidade na oferta de ações e serviços que

promovam e protejam a saúde dos indivíduos,

bem como que previnam as doenças e os agravos

além da recuperação dos enfermos. Desta

maneira, para que sejam cumpridos os pilares

básicos de atenção à saúde, exige-se que sejam

assumidas as atribuições de gestão, incluindo: a

execução dos serviços públicos de

responsabilidade municipal; a destinação de

recursos do orçamento municipal e utilização do

conjunto de recursos da saúde, com base em

prioridades definidas no Plano Municipal de

Saúde; o planejamento, organização,

coordenação, regulação, controle, avaliação e

auditoria das ações e dos serviços de saúde sob

gestão municipal; e a participação no processo de

integração ao SUS, em âmbito regional e

estadual, para assegurar a seus cidadãos o acesso

a serviços de maior complexidade, não

disponíveis no município40, não obstante, na

40

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva.

Departamento de Apoio à Descentralização. O SUS no seu

município : garantindo saúde para todos / Ministério da

Saúde, Secretaria-Executiva, Departamento de Apoio à

Page 140: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 148

realidade, “além da fragilidade da integração de

políticas públicas, a descontinuidade

administrativa verificada na sucessão de governos

e administradores, na ausência de um

planejamento a longo prazo, nos diversos níveis e

esferas, colabora para o abandono de

programas/projetos”41

Nesse contexto, importa mencionar, a título

de exemplo, as dificuldades enfrentadas pelos

indivíduos nas gestões municipais do interior

baiano. Em um projeto de pesquisa efetuado em

2015 pelos estudantes do colegiado de Direito da

UniAges, que visava averiguar a eficácia das

políticas públicas quanto à assistência social,

tendo como campo de observação a assistência

municipal promovida na região, observou-se o

grau de insatisfação da população acerca dos

serviços prestados, pois, segundo eles, faltam

recursos, atendimentos específicos,

medicamentos, infraestrutura, entre outros. No

entanto, como argumento para algumas ocasiões,

especificamente em Paripiranga, o diretor e

secretário de saúde relata que o município é de

gestão plena de atenção básica e, por isso, não

provém de recursos para procedimentos

complexos, sendo estes encaminhados a outras

localidades42.

Nesta perspectiva, vale ressaltar que tais

medidas realmente não são estruturadas apenas

na escala municipal, pois há no território

brasileiro milhares de pequenas cidades que não

possuem as mínimas condições de oferecerem

serviços de média e alta complexidade. Com isso,

alguns municípios “referências” que recebem

Descentralização. 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde,

2009. 41

COSTA, Alexandre Bernardino. DELDUQUE, Maria

Célia. [et al]. O Direito achado na rua: Introdução crítica

ao direito à saúde. Brasília: CEAD/UnB, 2009. p. 276.

42 Projeto Integrador. Assistência municipal nos

municípios da região. Faculdade de Ciências Humanas e

Sociais – AGES. Paripiranga/BA, 2015.

mais recursos e maiores demandas acabam por

abarcar e garantir o atendimento da sua

população e da vizinha, acontecendo até mesmo,

em áreas de divisas estaduais como no campo de

pesquisa acima citado, “intercâmbio” entre

estados diferentes. Tais estratégias se

apresentam como melhor solução e medida

emergencial em contrapartida à falta de recursos

e outras tantas precariedades já mencionadas.

NOTAS CONCLUSIVAS

A saúde, sendo direito de todos

garantido por meio de políticas sociais e

econômicas baseadas em princípios norteadores,

é dever do Estado, o qual deve assegurar o acesso

igualitário e universal às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação. Em direção

oposta, apesar de ter sido triplicado os gastos

com a saúde nos últimos dez anos, sua qualidade

e integralidade é altamente discutível, logo, os

usuários do SUS se deparam com a falta de leitos

e equipamentos, superlotação, longas filas de

espera, pessoas sendo atendidas nos corredores

devido à falta de infraestrutura, falta de

medicamentos, e outras tantas mazelas que tem

se tornado característica do sistema.

A descentralização de competências por

meio de uma rede regionalizada e hierarquizada

como princípio do Sistema Único de Saúde é de

suma importância na medida em que distribui os

serviços de acordo com a proximidade ao

indivíduo buscando amparar suas necessidades.

Desta maneira, para melhoria do quadro

desafiador em que se encontra a saúde pública,

mostra-se necessário a participação da

comunidade na política sanitária, bem como

maior esforço do Poder Público, pois, em

contrapartida, os gestores municipais, na grande

maioria dos casos, escolhem seus secretários não

por critérios técnicos como competência e

comprometimento, mas sim por questões

políticas, se utilizando de importantíssimos cargos

Page 141: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 149

como meio de negociação. A fiscalização pelo

Estado e pela própria sociedade é de extrema

necessidade, sendo possível que os próprios

usuários indiquem e denunciem problemas de

acesso ou restrições ao seu direito diretamente

na ouvidoria do SUS (Disque Saúde – 136), o qual

fora criado pela Secretária de Gestão Estratégica

e Participativa (SGEP) e que, segundo o Ministério

da Saúde, foram registradas, só em 2013, mais de

17 mil reclamações acerca dos mais diversos

quadros englobados pela integralidade do

sistema. Além do mais, necessita-se de maiores

recursos provindos da União, melhor capacitação

dos profissionais, políticas de Estado a curto e

longo prazo, e alternativas emergenciais para

mudança deste panorama.

Em um país com mais de 200 milhões de

habitantes a efetivação dos direitos sociais exige

ampla disponibilidade financeira do Estado. Com

isso, vem sendo utilizada a chamada “reserva do

financeiramente possível”, tida como cláusula ou

princípio implícito, como argumento para a

omissão do Poder Público sob a alegação da falta

de recursos suficientes. Não obstante, essa

impossibilidade econômica deve ser demonstrada

pelo fato de ir ao encontro do mínimo existencial,

o qual pode (e deve) ser exigido diante do

Judiciário por força constitucional. O processo

denominado como “Judicialização da saúde” tem

se apresentado como uma alternativa eficaz na

medida em que atua como controlador da

atividade administrativa. Na maioria das vezes,

buscam-se remédios e/ou tratamentos não

oferecidos pelo SUS em relevante urgência, sendo

determinada a tutela antecipada e a cominação

de multa diária como meio coercitivo de

cumprimento.

REFERÊNCIAS

BALLERINI, Júlio César, Silva. Direito à Saúde, Aspectos Práticos e Doutrinários no Direito Público e no Direito Privado. São Paulo: Habermann Editora, 2009.

BARCELLOS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais. 2. ed. Renovar.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Apoio à Descentralização. O SUS no seu município : garantindo saúde para todos / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Departamento de Apoio à Descentralização. 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009.

COSTA, Alexandre Bernardino. DELDUQUE, Maria Célia. [et al]. O Direito achado na rua: Introdução crítica ao direito à saúde. Brasília: CEAD/UnB, 2009.

FORRESTER, Viviane. O horror econômico. Tradução Álvaro Lorencini. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Tradução Raul Fiker. São Paulo: Editora UNESP, 1991.

LEAL, Rogério Gesta. Condições e possibilidades eficaciais dos direitos fundamentais sociais: os desafios do poder judiciário no Brasil. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009.

OLIVEIRA, James Eduardo. Constituição federal anotada e comentada: doutrina e jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense, 2013.

Projeto Integrador. Assistência municipal nos municípios da região. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – AGES. Paripiranga/BA, 2015.

SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2014.

Page 142: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 150

Processos de referenciação: a recategorização e o gênero crônica

Deborah Andrade Leal*

Mateus Andrade Silva**

RESUMO: Este artigo analisa, sob a perspectiva teórica de selo sociocognitivo-interacionista e discursivo do fenômeno referencial da linguagem, os processos de referenciação, especificamente a recategorização, e seus efeitos de sentido no gênero crônica. O corpus escolhido foi a crônica de Zeca Camargo sobre a morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo, que gerou grande repercussão depois de proferida no jornal Globo News. Trata-se de uma análise de texto que identifica descritivamente os fenômenos da linguagem e procura compreendê-los a partir das categorias e relações propostas pela Linguística Textual. PALAVRAS-CHAVE: Referenciação; re-categorização; crônica. ABSTRACT: This article analizes, from the theoretical perspective of social cognitive-interactive and disc ursive Seal language frame work phenomenon, referral processes, specifically the re-categorization, and its effects of sense on chronic gender. The chosen corpus was Zeca Camargo’s chronic on the death of countryman Singer Cristiano Araújo, which generated great repercussion after given on Globo News newspaper. This is a text analysis that identifies descriptively the phenomeno of language and seeks to understand them from the categories and relations proposed by the Textual Linguistics.

KEY-WORDS referral; re-categorization; chronic.

*Mestranda em Linguística Textual pela UFAL.

Especialista em Docência do Ensino Superior e

graduada em Letras pela Faculdade Ages.

Professora da Faculdade Ages.

**Especialista em Docência do Ensino Superior e

em Estudos Linguísticos e Literários aplicados ao

Ensino da Língua Portuguesa; graduado em Letras

pela Faculdade Ages. Professor da Faculdade

Ages.

Page 143: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 151

INTRODUÇÃO

A referenciação tem sido um dos principais

temas estudados em Linguística Textual. A partir

da última década do século XX, a referência como

objeto de pesquisa passou a ser constante, tendo

em vista o caráter cognitivo-discursivo do

referente que é acionado no texto. Mondada e

Dubois (2003) consideram que língua e realidade

são instâncias constitutivamente instáveis, de

modo que a atividade de interação linguística é

um momento de construção de versões do real,

mais que de representação fidedigna desse

suposto real.

A partir da noção de texto/discurso como o

lugar de produção interacional de sentidos e

tendo os sujeitos como ativos, este artigo propõe

uma análise das expressões recategorizadoras da

crônica de Zeca Camargo sobre a morte do cantor

sertanejo Cristiano Araújo. As formas nominais

anafóricas revelam os processos de

recategorização, correferenciação e

cossignificação, os três aspectos fundamentais da

referenciação, sendo que será dada especial

atenção à recategorização, porque ela “envolve

seleções de natureza semântica ou cognitiva e se

baseia em inferenciações fundadas em índices

lexicais contextualizados” (MARCUSCHI; KOCH,

2002, p. 46).

A análise dos percursos argumentativos, da

progressão referencial, das anáforas nominais

etc. pode revelar importantes estratégias de

construção referencial, que, por sua vez,

manifestam pontos de vista, ideologias, valores e

crenças dos locutores/enunciadores, isso porque,

ao escolher um objeto de discurso e não qualquer

outro, o sujeito mostra sua intencionalidade e sua

visão de mundo. As anáforas nominais

recategorizadas estão mais intimamente

relacionadas a propósitos e recursos

argumentativos.

Para tanto, parte-se de uma perspectiva

teórica de selo sociocognitivo-interacionista e

discursivo do fenômeno referencial da linguagem,

a qual convida a pensar que a língua produz

referentes “através de práticas discursivas e

cognitivas social e culturalmente situadas”.

(MONDADA; DUBOIS, 2003, p. 17). A

referenciação é compreendida como um processo

em permanente reelaboração, tendo em vista

que “o referente advém do efeito da interação

entre enunciadores e coenunciadores em

atividades sociais conjuntas”. (CAVALCANTE et al

apud BENTES; LEITE, 2010, p. 234) e que, embora

opere cognitivamente, é indicado por pistas

linguísticas e completado por inferências várias.

Aplicam-se, particularmente, as considerações de

Apótheloz (2003) e Koch (2004; 2005) sobre os

tipos de anáforas nominais, tendo em vista que

também já se hipotetiza que o nome tem o poder

de expressar um juízo de valor, um ponto de vista

sobre a realidade, de maneira a guiar o discurso

conforme um propósito.

Base teórica e conceitual

A relação entre a linguagem e o mundo

sempre intrigou os filósofos e remonta às origens

do surgimento da própria Lógica. Durante a Idade

Média, ela foi objeto de um longo debate,

conhecido como o “problema dos universais”,

que opôs nominalistas, realistas e conceitualistas

(GILSON, 1995). Mas é na Filosofia da Linguagem

contemporânea que ela ganha maior

especificidade, passando de reflexões

gniosiológicas para questões linguísticas

propriamente ditas, principalmente com o

desenvolvimento das “teorias da referência”, isto

é, propostas de explicação sobre o modo como a

linguagem representa a realidade.

O problema da referência já havia sido

levantado pelos estoicos, que dividiam o signo em

três elementos: semaînon (significado),

semainómmenon (significante) e prâgma (objeto,

referente). Santo Agostinho possuía uma visão

semelhante a essa, mas decompôs o significado

Page 144: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 152

em verbum (palavra) e dictio (expressão),

chamando os outros dois de dicibilis (exprimível)

e res (coisa), respectivamente. De modo

semelhante, os escolásticos aristotélicos falavam

em vox, conceptus e res, e os lógicos do Port

Royal em nome, idée e chose, perspectivas que se

caracterizam pela relação de identidade entre

conceito mental e representação objetal

(FIDALGO, 1998; BLINKSTEIN, 1995 apud KOCH,

2004).

Frege (1978), por sua vez, procurando

compreender o signo individual (nomen) a partir

das proposições lógicas e estudando as descrições

nominais sobre coisas inexistentes, a exemplo da

famigerada sentença “o atual rei da França é

calvo”, postulou a distinção entre sentido, isto é,

a comunicação de um determinado conteúdo

proposicional (significado), e referência, a alusão

a um objeto do mundo. De modo geral, contudo,

predomina na perspectiva filosófica a

pressuposição da transparência: o signo é uma

espécie de espelho do real (quando possui um

referente) ou do imaginário (quando não há um

objeto correspondente no mundo).

No primeiro momento da Linguística, a

questão da referência é posta de lado, já que para

Saussure (2006) o signo é compreendido como

uma conjunção entre um conceito (significado) e

uma imagem acústica (significante), e a língua é

considerada como um sistema fechado em si

mesmo e que deve ser estudado sem qualquer

vinculação com a realidade empírica. Peirce

(2005), por sua vez, retoma o problema da

referência, ao substituir a visão diádica do signo

pela triádica: o signo stricto sensu ou

representamen (significante), o interpretante

(significado) e o objeto (referente), elementos

que formam o “triângulo semiótico” (OGDEN;

RICHARDS, 1989). A partir de então, ela vai ser

compreendida, sobretudo, pela Semiótica, como

“a função pela qual um signo linguístico se refere

a um objeto do mundo extralinguístico, real ou

imaginário” (DUBOIS et al., 2014, p. 478).

A Linguística Textual, por seu turno, desloca

seu foco da referência propriamente dita para

aquilo que ela denominou de referenciação,

enquanto atividade de linguagem realizada por

sujeitos históricos e sociais em interação

(MONDADA, 2001 apud KOCH, 2005) que diz

respeito à construção de objetos cognitivos e

discursivos na intersubjetividade das negociações,

das modificações, das ratificações de concepções

individuais e públicas do mundo, isto é, o

conjunto de atividades e estratégias que tornam

possível a função referencial, e que, consoante a

perspectiva sociocognitivo-interacionista, sofrem

a interferência da interação e da cultura, já que a

determinação referencial implica na tomada dos

referentes como objeto de discurso (MONDADA;

DUBOIS, 2003).

O sujeito interage com o mundo e, a

depender de como, sociocognitivamente, o faça,

pode construir, manter ou alterar a realidade.

Sendo assim, a referência se dá pela “relação

intersubjetiva e social no seio da qual as visões do

mundo são publicamente elaboradas” (KOCH;

MORATO; BENTES, 2005, p. 7), de modo que

contexto social integra o texto ao influenciar

palavras e estruturas empregadas pelo produtor

(EGGINS; MARTIN, 1997). Nesse sentido, Koch

(2005) e Koch e Marcuschi (1998) advogam por

uma visão processual da referenciação em

relação à significação, considerando aquela como

uma atividade discursiva realizada por sujeitos

ativos e que a discursivização do mundo por meio

da linguagem consiste em um processo de

(re)construção do próprio real.

Koch (2005) destaca que a referência

resulta da ação de representar, por intermédio de

uma situação discursiva, entidades que são vistas

como objetos de discurso, que, no texto, são

concebidos como produtos físico, social e cultural

da atividade cognitiva e interativa dos sujeitos

falantes, e não como objetos do mundo. Assim,

“ao usar e manipular uma forma simbólica,

usamos e manipulamos tanto o conteúdo como a

Page 145: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 153

estrutura dessa forma. E, deste modo, também

manipulamos a estrutura da realidade de maneira

significativa. ” (KOCH, 2005, p. 81). Dessa forma, a

referenciação também diz respeito às operações

mentais efetuadas pelos sujeitos à medida que o

discurso se desenvolve (APOTHÉLOZ; REICHLER-

BÉGUELIN, 1995).

Os processos de referenciação são

considerados escolhas que o sujeito faz diante da

sua vontade de dizer e das múltiplas

possibilidades que a língua proporciona. O modo

de dizer ou de escrever se dá por escolhas

realizadas pelo produtor do texto orientadas pelo

princípio da subjetividade, razão pela qual os

referentes são construídos e reconstruídos ao

longo do processo de escrita (KOCH, 2009). O

sujeito, na interação, opera sobre o material

linguístico que tem à sua disposição, realizando

escolhas significativas para representar estados

de coisas, com vistas à concretização do seu

projeto de dizer. Isso quer dizer que a realidade

percebida é fabricada por toda uma rede de

estereótipos culturais, que condicionam a própria

percepção e que, por sua vez, são garantidos e

reforçados pela linguagem, de modo que o

processo de conhecimento é regulado por

interação contínua entre nossas práticas

culturais, percepção e linguagem (KOCH, 2005).

Dentre as estratégias de referenciação,

ganham destaque as formas nominais anafóricas,

isto é, os grupos nominais com função de

remissão a elementos presentes no cotexto ou

detectáveis a partir de outros elementos nele

presentes (KOCH, 2004), as quais são comuns nos

discursos de natureza argumentativa, tendo em

vista que, por meio do processo de

encapsulamento anafórico, elas julgam, rotulam

conteúdos antes apresentados, participando da

progressão referencial do texto (KOCH, 2005;

KOCH; MARCUSCHI, 1998), testemunhando a

representação do ponto de vista nesse processo

de representação, e fornecendo ao leitor

informações sobre opiniões, crenças e atitudes do

produtor do texto, auxiliando-o na construção do

sentido (KOCH, 2004). Essa função avaliativa das

formas nominais anafóricas mostra, portanto,

que a interpretação referencial não consiste na

simples localização de “um segmento linguístico

no texto (um antecedente) ou um objeto

específico no mundo, mas sim, algum tipo de

informação anteriormente alocada na memória

discursiva (KOCH, 2005).

O fenômeno da recategorização

Os primeiros autores a falarem sobre a

recategorização lexical foram Apothéloz e

Reichler-Béguelin (1995). Segundo estes, trata-se

de uma estratégia para designação por meio da

qual os interlocutores transformam os referentes,

quer dizer, reapresentam os objetos de discurso

de acordo com as condições do contexto. E,

conforme defendeu Lima (2009), a

recategorização não se caracteriza por um grau

de explicitude absoluto, quando é vista numa

perspectiva cognitivo-discursiva e não somente

textual-discursiva. O que se nota aqui é que a

recategorização é muito abrangente. É tão

abrangente que uma expressão recategorizadora

não precisa ser linear no texto. Quando se levam

em consideração modelos cognitivos, uma

expressão recategorizadora pode vir antes

mesmo da introdução referencial, pois o contexto

traz âncoras tais que revelam os sentidos e as

intencionalidades do texto.

Pela complexidade da recategorização, Lima

sugere redimensionar a sua concepção:

i) a recategorização nem sempre pode ser

reconstruída diretamente no nível textual-

discursivo, não se configurando apenas pela

remissão ou retomada de itens lexicais; ii) em se

admitindo (i), a recategorização deve, em alguns

casos, ser (re)construída pela evocação de

elementos radicados num nível cognitivo, mas

sempre sinalizados por pistas lingüísticas, para

Page 146: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 154

evitar-se extrapolações interpretativas; iii) em

decorrência de (ii), a recategorização pode ter

diferentes graus de explicitude e implicar,

necessariamente, processos inferenciais (LIMA,

2009, p. 57).

Como se vê, não é uma necessidade o

referente estar lexicalizado para que possa ser

recategorizado, basta que o interlocutor

compreenda a relação que há no texto com

elementos também que estão implícitos, seja se

forma direta ou indireta. Também não há uma

linearidade quando se fala em recategorização,

como já afirmou LIMA (2009), sua configuração

está mais propícia a um movimento de

circularidade do que de linearidade que passa

não somente pelo cotexto, mas também pelo seu

entorno sociocognitivo.

Tome-se o exemplo:

A mulher chega para o marido e fala:

– Amor, temos que avisar ao nosso filho,

para não se casar com aquela bruxa com quem

ele namora!

O marido responde:

– Não vou dizer nada. Quando foi minha

vez, ninguém me avisou. (http://http://contaoutra.com.br. Acesso em 29/1/2015)

A comicidade do texto se deu devido às

recategorizações presentes nele. Há as explícitas,

que é “amor”, palavra dita pela esposa se

referindo ao seu marido; e “aquela bruxa”, dita

também pela esposa, mas se referindo à sua

nora. E há a implícita, a qual é motivo para o riso:

“– Não vou dizer nada. Quando foi minha vez,

ninguém me avisou”. Ou seja, quando foi a vez de

ele se casar com uma bruxa, ninguém o avisou.

O exemplo 2 é o poema Psicologia de um

vencido, de Augusto dos Anjos:

Psicologia de um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênese da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

Produndissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme -- este operário das ruínas --

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

No próprio título, já se vê uma expressão

recategorizadora (“um vencido”). Como é fácil de

notar, ela se refere ao eu do poema, que só

aparece depois, um exemplo de que, para haver

recategorização, não há necessidade de

linearidade. Outra expressão recategorizadora

referente ao eu do texto de Augusto dos Anjos é

“monstro de escuridão e rutilância”, a qual, como

se nota facilmente, é explícita no texto. E a última

expressão recategorizadora (também explícita) é

referente ao verme (“este operário das ruínas

que o sangue podre das carnificinas come e à vida

em geral declara guerra”). Ela faz entender que a

voz do poema considera o ser humano inferior ao

verme, este que pode acabar com o homem, de

quem só restarão os cabelos. Há também uma

expressão que encapsula a primeira estrofe (“este

ambiente”), não apenas encapsula como também

mostra seu juízo sobre tal ambiente, dizendo que

causa repugnância.

Page 147: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 155

PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO E SEUS EFEITOS

DE SENTIDO: ANÁLISE DE UMA CRÔNICA DE

ZECA CAMARGO SOBRE A MORTE DO CANTOR

SERTANEJO CRISTIANO ARAÚJO.

Pegamos uma Crônica de Zeca Camargo,

transmitida pelo Jormal da Globo News e postada

em seu blog, na qual ele fala sobre a morte de

Cristiano Araújo, cantor sertanejo que morreu

num acidente de carro com sua namorada. Sua

crônica gerou uma polêmica a nível nacional e os

processos de referenciação do seu texto ajudam a

explicar o motivo disso.

Muita gente estranhou a comoção nacional

diante da morte trágica e repentina do cantor

Cristiano Araújo. A surpresa maior, porém, não é

o fato de ele ser ao mesmo tempo tão famoso e

tão desconhecido. O Brasil felizmente tem um

punhado de artistas que não passam pelo radar

da grande mídia nem são um consenso popular,

mas que levam multidões para seus shows.

Essa é uma consequência natural do talento

que nós temos para a música cruzado com o

tamanho e a diversidade do nosso território. O

que realmente surpreende nesse evento triste da

semana foi a comoção nacional. De uma hora

para outra, na última quarta-feira, fãs e pessoas

que não faziam ideia de quem era Cristiano

Araújo, partiram para o abraço coletivo, como se

todos nós estivéssemos desejando uma catarse

assim, um evento maior que nos unisse pela

emoção.

Nós sempre precisamos disso. Grandes

funerais públicos vêm em ciclos, expurgar nossas

dores, como se tivessem uma capacidade

purificadora. É só lembrar de despedidas que,

dependendo da sua geração, ainda estão na sua

memória: Cazuza, Kurt Cobain, Ayrton Senna,

Mamonas Assassinas, princesa Diana, Michael

Jackson.

Mas, Cristiano Araújo? Sim, Lady Di,

Mamonas, Senna, todos esses eram, guardadas

as proporções, ídolos de grande alcance. Como

então fomos capazes de nos seduzir

emocionalmente por uma figura relativamente

desconhecida? A resposta está nos livros para

colorir! Sim, eles mesmos. Os inesperados vilões

do nosso cenário pop, acusados de, entre outras

coisas, destacar a pobreza da atual alma cultural

brasileira.

Não vale a pena aqui discutir o verdadeiro

valor desses produtos – se é que ele existe. Mas

eles vêm bem a calhar para que a gente faça um

paralelo com a ausência de fortes referências

culturais que experimentamos no momento. A

morte de Cristiano Araújo e a quase insana

cobertura de sua despedida vestiu a carapuça de

um contorno de linhas pretas no papel branco, só

esperando a tinta da emoção das pessoas para

ganhar tons e, quem sabe, um significado.

Como robôs coloristas, preenchemos

aqueles desenhos na ilusão de que estamos

criando alguma coisa. Assim como, ao nos

mostrarmos abalados com a ausência de

Cristiano, acreditamos estar de fato comovidos

com a perda de um grande ídolo. Todos sabemos

que não é bem assim. O cantor talvez tenha

morrido cedo demais para provar que tinha

potencial para se tornar uma paixão nacional,

como tantos casos recentes.

Nossa canção popular é hoje dominada por

revelações de uma música só, que se entregam a

uma alucinada agenda de shows para gerar um

bom dinheiro antes que a faísca desse sucesso

singular apague sem deixar uma chama mais

duradoura. E nesse cenárioqualquer um pode,

ainda que por um dia, ser uma estrela maior.

Seria esse o caso de Cristiano Araújo? O

mais inquietante de tudo isso é que nosso pop

não precisa ser assim. Nossa história musical, e

mesmo o passado recente, prova que temos tudo

para adorarmos ídolos de verdade, e para chorar

de verdade, seja pela presença deles no palco ou

na saudade da perda. Mas agora, olhando em

volta, parece que não vemos nada disso.

Page 148: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 156

Não precisa ser assim. Contradizendo o

famoso refrão de Tina Turner, “we do

needanotherhero”: precisamos, sim, de um outro

herói, de mais heróis. Mas está todo mundo

ocupado pintando jardins secretos.”

(Disponível em:

<http://www.dm.com.br/cotidiano/2015/07/cronica-

de-zeca-camargo-sobre cristiano-araujo-vai-parar-na-

justica.html. Acesso em 06/01/2016. Destaques em

negritos nossos.)

Nota-se uma orientação argumentativa no

texto de Camargo, de modo que os objetos de

discurso articulam o texto numa posição matriz,

apontando para a subjetividade do

locutor/enunciador. Dessa maneira, esses objetos

de discurso evidenciam a indignação do

locutor/enunciador diante da comoção dos

brasileiros com a morte do cantor Cristiano

Araújo.

As formas nominais “a surpresa maior” e “o

fato de ele ser ao mesmo tempo tão famoso e tão

desconhecido” referem-se à morte do artista já

mencionado. “A surpresa maior” é tanto

anafórica quanto catafórica, visto que faz alusão

ao estranhamento das pessoas quanto à

“comoção nacional diante da morte trágica e

repentina do cantor Cristiano Araújo” no que

tange ao fato de este ser muito famoso, mas

também muito desconhecido. E as formas “um

punhado de artistas” e “um consenso popular” já

revelam o parecer do locutor/enunciador diante

do acontecido.

A expressão encapsuladora “essa é uma

consequência” confirma o desdém do

locutor/enunciador no que tange à comoção

nacional da qual trata seu texto. “Nesse evento

triste da semana”, expressão nominal anafórica,

mostra o lamento do locutor/enunciador. Mas a

expressão “o abraço coletivo” (exemplo de que a

expressão recategorizadora nem sempre é linear)

revela quão irônico está sendo o

locutor/enunciador, criticando abertamente o

fato de milhares de pessoas se comoverem com a

morte de um cantor desconhecido.

O objeto de discurso “ídolos de grande

alcance” (anáfora) refere-se aos artistas Lady Di,

Mamonas Assassinas, Senna, o que demonstra a

não aceitação do enunciador que Cristiano Araújo

seja comparado a esses artistas só porque seu

funeral ganhou uma grande repercussão. Isso se

confirma com a forma nominal anafórica “uma

figura relativamente desconhecida” se referindo a

Cristiano Araújo.

Segundo o locutor/enunciador, através da

anafórica “os inesperados vilões do nosso cenário

pop”, que se refere aos livros para colorir, estes

seriam os responsáveis por destacar “a pobreza

da atual alma cultural brasileira”. Ele continua

deixando claro que não gosta desses livros,

quando traz “o verdadeiro valor desses produtos”

e coloca entre parênteses “se é que ele existe” e

completa com o objeto de discurso “ausência de

fortes referências culturais”.

Para ele, “a quase insana cobertura de sua

despedida”, expressão referencial nominal

anafórica aludindo à repercussão da morte do

cantor sertanejo Cristiano Araújo, vestiu “a

carapuça de um contorno de linhas pretas no

papel branco, outra forma nominal anafórica (e

metafórica) que se refere aos livros para colorir.

São muitas as evidências do parecer do

locutor/enunciador sobre o que é por ele mesmo

relatado. Sua ironia continua ao usar outra

expressão referencial nominal fazendo alusão aos

que compram os livros para colorir (“robôs

coloristas”). O locutor/enunciador afirma que,

assim como esses livros ludibriam muitos que os

usam, muitos que, ao se perceberem abalados

com a falta do cantor Cristiano Araújo, pensam

estar realmente comovidos com “a perda de um

grande ídolo”.

Fica claro, em todo o texto, que o

locutor/enunciador não considerava Cristiano

Araújo um grande ídolo, “uma paixão nacional”.

Page 149: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 157

Para ele, a canção popular é dominada por

“revelações de uma música só, as quais se

entregam a “uma alucinada agenda de show”

(mais um exemplo de expressão recategorizadora

não linear). “A faísca desse sucesso singular”

encapsula tudo que deixou claro em seu texto: “a

cultura brasileira tem uma alma pobre, marca

disso é o grande número de pessoas que

compram livros para colorir”.

No final da crônica o locutor/enunciador

deixou ainda mais claro o seu parecer com a

expressão encapsuladora “o mais inquietante de

tudo isso” é que as pessoas precisam adorar

“ídolos de verdade” e, quando chorarem, chorar

de verdade. Ele encerra confirmando tudo dito na

sua crônica com a forma nominal “um outro

herói” defendendo que precisamos de heróis “de

verdade”. E insiste em justificar que a falta de tais

verdades ocorre devido as pessoas estarem muito

ocupadas pintando “jardins secretos”, outra

forma nominal anafórica, que se refere mais uma

vez aos livros para colorir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem é encantadoramente

complexa. Ela desnuda o ser humano, mostra

suas belezas e suas fealdades, suas crenças e seus

costumes. Ela o denuncia e pode fazê-lo ganhar

ou perder muito. E por isso se deve ter uma

cautela especial, ao proferir e ao escrever

palavras. A produção dos textos oral e escrito

pode desvelar a intencionalidade do autor, isso,

em especial, por meio dos referentes expostos.

Essa é uma das muitas razões para se falar em

complexidade da linguagem. Afinal, não poderia

existir significado se não existisse um referente, e

por isso o conhecimento não era consequência

das palavras e expressões, mas sim da referência

que elas faziam a algo. “A palavra, que, antes de

aprendizado era som, torna-se sinal, não pelo

fato de se aprender o seu significado, e sim pelo

fato de se aprender a que ela se refere, sua

denotação” (ARAUJO, 2004, p. 22).

A elaboração do ponto de vista em contexto

narrativo/argumentativo está fortemente ligada à

maneira de exposição e à articulação das formas

nominais. A seleção do léxico para a construção

das expressões nominais e criação de

determinados efeitos de sentido na crônica de

Zeca Camargo resultou o posicionamento do

locutor/enunciador. Esse posicionamento é o

responsável pelas formas nominais escolhidas,

denunciando pontos de vista. O que se percebe

com a análise da crônica é o poder das

expressões referenciais recategorizadoras em, ao

reconstruir o termo, revelar o ponto de vista, as

crenças, os valores, os costumes do

locutor/enunciador e de outros enunciadores

também. Confirmou-se aqui que as expressões

referenciais recategorizadoras envolvem escolhas

semânticas ou cognitivas, de modo a se basear

em inferenciações procedentes de um léxico

contextualizado.

Page 150: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 158

Referências Bibliográficas

APOTHÉLOZ, D. Papel e funcionamento da anáfora na dinâmica textual. In: CAVALCANTE, Mônica Magalhães; RODRIGUES, Bernadete Biasi; CIULLA, Alena (Orgs.). Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003. p. 53-84.

ARAÚJO, I. L. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem. São Paulo: Parábola, 2004.

______; REICHLER-BÉGUELIN, M. J. Construction de La référence et stratégies de désignation. In: BERRENDONNER, A.; REICHLER-BÉGUELIN, M. J. (Orgs.)Du sintagme nominal auxobjets-de-discours. Neuchâtel: Université de Neuchâtel, 1995. p. 142-73.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 3003.

BENTES, A. C.; LEITE, M. Q. Linguística de texto e análise da conversação: panorama das pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 20 out. 2015.

______. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>. Acesso em: 20 out. 2015.

BRITO, E. Limites da revisão constitucional. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1993.

CHALITA, G. A sedução no discurso: o poder da linguagem nos tribunais de júri. São Paulo: Planeta, 2012.

CORACINI, M. J. Um fazer persuasivo: o discurso subjetivo da ciência. São Paulo: Pontes, 1991.

CORTEZ, S. L. A construção textual-discursiva do ponto de vista: vozes, referenciação e formas nominais. 2011. 249f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011.

DUBOIS, J. et al. Dicionário de Linguística. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 2014.

EGGINS, S.; MARTIN, J. Genres and registers os discourse. In: VAN DIJK, T. A. Discourse as structure and process. London, Thousand Oak, New Delhi: SAGE Publications, 1997. v. 1, p. 230-256.

FIDALGO, A. Semiótica: a lógica da comunicação. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 1998.

FREGE, G. Sobre o sentido e a referência. In: ______. Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: Cultrix, 1978. p. 61-86.

FUZER, C. Linguagem e representação nos autos de um processo penal: como operadores do direito representam atores sociais em um sistema de gêneros. 2008. 269f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade de Santa Maria, Santa Maria, 2008.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GILSON, E. A filosofia na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1995

KLATT, M. Normatividade semântica e a objetividade da argumentação jurídica. RECHTD, São Leopoldo, v. 2, n. 2, p. 201-213, jul./dez. 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.4013/rechtd.2010.22.11>. Acesso em: 13 out. 2015.

KOCH, I. G. V. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. 2. ed. São Paulo: Editora: WMF Martins Fontes, 2009.

______. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

______. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2005.

______; MARCUSCHI, L. A. Processos de referenciação na produção discursiva. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 14, n. especial, 1998. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/ S0102-44501998000300012>. Acesso em: 13 out. 2015.

______; MORATO, M. E; BENTES, A. C. (Orgs.). Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2005.

LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

Page 151: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 159

LIMA, M. P. Manual de Processo Penal. 5.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

MARCUSCHI, L. A.; KOCH, I. G. V. Estratégias de referenciação e progressão referencial na língua falada. In: ABAURE, M. B. M.; RODRIGUES, Â. C. S. (Orgs.). Gramática do português falado. Campinas: Editora da UNICAMP/FAPESP, 2002. v. 8, p. 31-56.

MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção de objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos processos de referenciação. In: CAVALCANTE, M. et al (Org.). Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003. p. 17-52.

OGDEN, C. K.; RICHARDS, I. A. The meaning of meaning: a study of the influence of language upon thought and of the science of symbolism. 8. ed. Orlando: HarcourtBraceJovanovich, 1989.

PASSOS, J. J. C. Instrumentalidade do processo e devido processo legal. Revista de Processo, São Paulo,v. 102, p. 55-67, abr./jun. 2001.

PEIRCE, C. S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2005.

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

SILVA, W. B. A relação entre referenciação e argumentação. 2008. 193f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008.

Page 152: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 160

UM OLHAR PARA O PAPEL SOCIAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA CONTEMPORÂNEA

Nívia Mirella N. Meireles*

Thais Almeida Purificação**

Atualmente, muito tem se discutido sobre

saúde, prática de exercícios, alimentação

saudável, principalmente pelo número alarmante

de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes

e até mesmo pela busca incessante de um corpo

dito "perfeito", que a sociedade tanto impõe

através da mídia. Com isso, tem aumentado

também a procura pelos cursos de graduação em

Educação Física e seu público, na maioria das

vezes, com perspectivas de atuação em

academias, clubes etc. visa apenas a um corpo

biológico.

Essa realidade muito presente nos cursos

de Licenciatura faz com que muitos alunos não

percebam a real importância do seu papel como

líder natural em sociedade (MEDINA, 2010),

deixando de apreciar e adquirir conhecimentos,

desenvolvendo competências e habilidades

através das disciplinas de cunho pedagógico,

necessárias e fundamentais a sua formação

enquanto professor. Isso parece acontecer,

porque muitos ainda possuem uma mentalidade

“fechada” sobre a diversidade dos campos de

atuação profissional, como reforça Medina (1990,

p.21): ”É, no mínimo, interessante perceber que

determinados assuntos relevantes, e mesmo

decisivos para a realização plena do homem e da

sociedade são simplesmente marginalizados,

como se houvesse coisas mais importantes". A

partir disso nos perguntamos: Para que serve a

Educação Física?

É preciso compreender que vivemos em

uma sociedade diversificada e que as pessoas se

desenvolvem em contextos diferentes, no que diz

respeito aos poderes econômicos, socioculturais,

costumes, etnias. Sendo necessário saber lidar

Page 153: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 161

com essas diferenças e buscar entender o sujeito

a partir das suas experiências e contexto social no

qual está inserido. Por isso, Medina (1990) diz

que é preciso observar os fenômenos sociais que

nos cercam e planejar ações que promovam a

melhoria na qualidade de vida das pessoas, sendo

que, para que isso aconteça, deve existir

primeiramente o respeito aos indivíduos, às

pessoas na sua realidade. Neira e Uvinha (2009,

p. 18) completam que “toda ação social é cultural

e todas as práticas sociais expressam e

comunicam um significado, configurando-se em

práticas de significação".

Pensar este sujeito é levar em consideração

a cultura como algo que nos remete ao processo

histórico das relações desiguais entre os povos,

suas diferenças culturais. Nesse sentido, todo ser

social produz cultura, faz parte dela, a qual se

pretende compreender, por ser uma realidade

que impõe novas responsabilidades à escola e aos

professores (NEIRA; UVINHA, 2009).

É a partir dessas responsabilidades de

conhecer e fazer cultura que deve surgir um novo

olhar dos profissionais acerca da Cultura

Corporal. A Cultura Corporal, como base para a

Educação Física, deve possibilitar ao ser sua

comunicação com o mundo, através do

movimento (BRACH, 1997 apud NEIRA; UVINHA,

2009), articulada com os elementos que a

compõe como os jogos, as danças, as lutas, os

esportes, a ginástica, os quais devem estar

inseridos no contexto sociocultural de modo a

contribuir na formação sujeito, face ao exercício

da cidadania. É possível perceber que a cultura

recebeu fortes influências ao longo do tempo,

possuindo grande significado, refletindo no modo

de vida das pessoas, na sua formação e hoje a

escola é o elo entre o conhecimento e esses

processos históricos culturais.

Ao voltar à análise de como as pessoas

pensam e fazem a Educação Física na atualidade,

percebe-se que, durante o processo de formação,

existem muitas dúvidas quanto aos campos de

atuação e, muitas vezes ainda, se pensa em

Educação Física enquanto Esporte ou ¨remédio”

para as doenças do século XXI. Medina (1990),

fala da necessidade da Educação Física entrar em

crise, visto que muitos profissionais ainda se

confundem sobre o seu real papel, precisando

diferenciar o educativo do alienante, discordar

mais, criticar, buscar outras possibilidades. Vale

destacar que os campos de atuação são amplos,

sendo necessário trabalhar de forma

interdisciplinar, tornando-se fundamental

compreender o sujeito em sua totalidade, sendo

inviável analisar apenas a dimensão corpo ou a

dimensão mente. O sujeito em sua totalidade,

sujeito social face as suas vivências, não é apenas

o biológico, deve ser analisado e compreendido.

Diante dessas indagações sobre o real papel

da Educação Física, percebe-se que é preciso ter

um olhar mais amplo e claro, visto que compete à

área possibilitar ao sujeito diversas possibilidades

de interagir com o meio social e buscar a

transformação da realidade a partir das

intervenções do professor de Educação Física.

Desse modo, contemplar essas possibilidades é

contribuir com ações e projetos que permitam

desenvolver cidades mais saudáveis.

Westphal E Mendes (2000, p. 51)

comentam:

Reconhecer a multiplicidade de olhares

sobre a realidade, tal como é exigido na

construção da cidade saudável, requer um

esforço de interdisciplinaridade e significa

assumir uma perspectiva de trabalho que leve

em conta as relações de reciprocidade, de

cooperação, que garantam o

redimensionamento dos papéis sociais nas

cidades.

Pensar numa nova perspectiva para a área

baseada nas concepções transformadoras para

uma Educação Física Revolucionária, que procura

“interpretar a realidade dinamicamente e dentro

da sua totalidade (...) deve ser refletida

Page 154: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 162

diariamente. O ser humano é entendido em suas

dimensões, e no conjunto de ralações com os

outros" (MEDINA, 1990, p.81). Dessa forma, o

professor deve buscar a partir da realidade, as

estratégias que melhor atendam às necessidades

da comunidade em que atua. Freire (1996, p. 76)

comenta que "A capacidade de aprender, não

serve apenas para nos adaptar, mas, sobretudo

para transformar a realidade, para nela intervir,

recriando-a (...)". Assim Neira e Uvinha reforçam

que:

(...) a função pedagógica desse

componente é integrar e introduzir aos alunos e

alunas no mundo da cultura física, formando o

cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir,

reproduzir, e transformar as formas culturais da

atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a

ginástica. (2009, p.37)

Nessa perspectiva, vale ressaltar que é

diante das novas propostas que o professor deve

promover a construção da identidade do aluno,

do indivíduo em sociedade, promovendo ações

sociais de forma articulada e interdisciplinar

visando atribuir significados e sentido a partir da

construção do conhecimento que envolve as

expressões naturais dos seres, através da cultura

do movimento.

Assim, é possível despertar um olhar mais

crítico, autônomo, reflexivo para o exercício da

cidadania, tornando os indivíduos capazes de

intervir em sociedade, dando opiniões sobre o

meio em vivem, e esclarecendo que o papel da

Educação Física na sociedade não apenas se

restringe a formar um corpo preparado para a

prática de uma modalidade esportiva ou para

tratar uma doença; a Educação Física tem

também o papel social, enquanto ciência, de

transformar e reformar uma sociedade por meio

de uma ação consciente responsável mediada

pelo professor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 1996

MEDINA, João Paulo S. A Educação Física cuida do corpo e mente. Campinas – SP: Papirus, 1990.

NEIRA, Marcos Garcia: UVINHA, Ricardo Ricci. Cultura Corporal – Diálogos entre Educação Física e lazer. Petrópoles – RJ:Vozes, 2009.

WESTPPHAL, Márcia Faria; MNDES, Rosilda. Cidade Saudável: uma experiência de Interdisciplinaridade e intersetorialidade. Ver. De Administração Pública – RAP – Rio de Janeiro, FGV, 34 (6):47-61, Nov/DEZ. 2000.

* Acadêmica do 7° período do Curso de Licenciatura em Educação da Faculdade AGES

** Profa. Msc. da disciplina de Estágio Supervisionado I da Faculdade Ages.

Page 155: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 163

ANALISAR O PERFIL E COMPORTAMENTO DE COMPRA DOS ALUNOS INGRESSANTES 2015.2

DOS CURSOS DE LICENCIATURA DA FACULDADE X DE PARIPIRANGA (BA)

Graziela Alves de Amorim* Marcos Vinícius Gomes Reis**

RESUMO: O presente estudo teve como objetivo geral analisar as características do aluno ingressante de 2015.2 dos cursos de licenciatura da Faculdade X de Paripiranga (BA). Os objetivos específicos foram: caracterizar o perfil socioeconômico do público em questão, verificar como os ingressantes souberam da Faculdade X de Paripiranga (BA), bem como do programa FORMED, identificar os aspectos valorizados pelos ingressantes no processo de escolha da referida IES como formadora de nível superior, verificar a opinião dos alunos ingressantes após processo de contratação dos serviços da X de Paripiranga (BA) (pós-compra). Para tal, os dados foram coletados através de fontes primárias e secundárias. Para a coleta de dados primários utilizou-se a pesquisa de levantamento, do tipo exploratória. A pesquisa foi quantitativa e qualitativa. Os questionários foram respondidos através de pesquisa de marketing on-line, com auxílio da internet. Os dados observados indicam que este público é composto por mulheres solteiras, com idade entre 17 e 26 anos, que fazem parte de famílias numerosas, sendo compostas por 4 ou 5 familiares, advindas de origens que não possuem um nível de escolaridade, a exemplo de educação superior; em sua grande maioria não possuem renda ou adicionais que variam de R$ 678,00 a R$ 1.210,00, são estudantes ou professores da rede pública ou privada. PALAVRAS-CHAVES: Comportamento. Consumidor. Faculdade X. FORMED

ABSTRACT This study aimed to analyze the new students the characteristics of 2015.2 of the degree courses of the Faculty X Paripiranga (BA). The specific objectives were: to characterize the socioeconomic profile of the public concerned, to see how the freshmen knew the Faculty X Paripiranga (BA) and the FORMED, program identifying the aspects valued by entering in the choice of that IES as training of upper level, check the opinion of students entering after hiring process services of X Paripiranga (BA) (post-purchase). To do this, the data were collected through primary and secondary sources.

* Graduada em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda pelo Instituto Baiano de Ensino

Superior e MBA em Marketing Executivo pela Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe – FANESE.

** Graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade AGES e Especialista em Gestão Fiscal e Planejamento Tributário

pela Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe – FANESE.

Page 156: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 164 For primary data collection used the survey research, exploratory. The survey was quantitative and qualitative. The questionnaires were answered by online marketing research, with the help of internet. The observed data indicate that the public is made up of single women aged between 17 and 26, who are part of large families, being composed of 4 or 5 families, which come from sources that do not have a level of education, the example of college education; mostly do not have income or additional ranging from R $ 678.00 to R $ 1,210.00, are students or teachers of public or private network. KEYWORDS: Behavior. Consumer. Faculty X. FORMED

I - INTRODUÇÃO

As instituições de ensino superior, que

desejam atuar de forma contínua e consistente

no mercado, devem preocupar-se com a

qualidade de seus serviços e satisfação de seus

clientes, para tanto, necessitam ser administradas

como uma empresa. Uma empresa que produz

serviços e massa crítica de conhecimentos por

meio de seu processo acadêmico-científico e por

meio da cultura institucional.

O marketing aplicado às instituições de

ensino superior funcionará como instrumento

que permitirá a melhoria da qualidade dos

serviços, fortalecimento da marca, melhor

relacionamento com clientes e

consequentemente, aumento do número de

alunos.

Uma forte e incessante mudança no setor

de ensino superior no Brasil, desde o início dos

anos 1990 até os primeiros anos do século XXI

correspondentes às mudanças nas necessidades

dos alunos; um crescimento na expectativa da

comunidade, o constante aumento da

concorrência; os altos níveis de inadimplência; a

situação econômica do país e ainda, as

oportunidades de mercado concedidas pelo

Governo Federal, fazem parte da realidade atual

do administrador educacional (Faria, VI SEMEAD).

Como oportunidade de mercado, a

Faculdade X de Paripiranga (BA) firmou um

programa juntamente com o Ministério da

Educação/FIES - o FORMED, que visa à formação

de professores sem custos com a mensalidade

durante todo o curso, orientado pela Portaria

Normativa MEC 04, de 02/03/2011, art. 3º, que

assegura os estudantes que, após a conclusão do

curso, os mesmos ficarão desobrigados de pagar

a prestação do financiamento se estiverem no

exercício do magistério na rede pública de

educação básica.

Fazendo um breve diálogo entre os fatores

abordados e os objetivos de marketing da

Faculdade X de Paripiranga (BA), em se tornar o

maior centro de referência em formação de

professores no nordeste da Bahia e centro sul de

Sergipe, percebe-se que, segundo Kotler, quanto

mais informações referente a todos os níveis,

sejam eles, necessidades e desejos dos

consumidores e abundantes informações sobre

concorrentes, revendedores e outros

participantes, bem como sobre as forças de

mercado, facilitam as tomadas de decisões de

uma empresa.

Neste contexto, o presente estudo tem

como objetivo analisar o perfil e comportamento

de compra dos alunos ingressantes 2015.2 dos

Page 157: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 165

cursos de licenciatura da Faculdade X de

Paripiranga (BA), buscando um entendimento

minucioso sobre o mercado, bem como ponderar

sobre os dados relevantes de uma situação

específica com a qual a referida organização se

depara, podendo detectar oportunidades e

ameaças aos seus negócios com a possível

insatisfação ou recusa de seus clientes.

A Faculdade X, localizada no município de

Paripiranga (BA), divisa Sergipe-Bahia, pioneira

como instituição de ensino superior na região,

completou em 2015, 14 anos de existência,

atuando no mercado com oferta de vinte e

quatro graduações: Administração, Arquitetura e

Urbanismo, Ciências Biológicas, Ciências

Contábeis, Direito, Educação Física (bacharelado e

licenciatura), Enfermagem, Engenharia

Agronômica, Engenharia Civil, Farmácia, Física,

Fisioterapia, Geografia, História, Letras,

Matemática, Nutrição, Odontologia, Pedagogia,

Psicologia Química, Serviço Social e Sistemas de

Informação, com previsão de inclusão para

2016.1 de mais 3 novos cursos: medicina

veterinária, filosofia e gastronomia.

Atualmente a Faculdade X de Paripiranga

(BA) abrange a região do nordeste da Bahia e

centro sul de Sergipe, atingindo cerca de 60

municípios, dentre os principais: Bahia (Adustina,

Antas, Araci, Banzaê, Cansanção, Canudos, Cícero

Dantas, Cipó, Conceição do Coité, Coronel João

Sá, Crisópolis, Euclides da Cunha, Fátima,

Heliópolis, Jeremoabo, Monte Santo, Nova Soure,

Novo Triunfo, Olindina, Paripiranga, Paulo

Afonso, Pedro Alexandre, Ribeira do Pombal,

Santa Brígida, Sítio do Quinto, Tucano) e

municípios de Sergipe (Arauá, Boquim, Carira,

Itabaiana, Itabaianinha, Lagarto, Pedrinhas,

Pinhão, Poço Verde, Riachão do Dantas, Simão

Dias, Tobias Barreto e Umbaúba), além de alguns

municípios de Alagoas que estão próximos a

Paulo Afonso (BA).

Paripiranga (BA), cidade situada na fronteira

do estado da Bahia e Sergipe, limita-se com os

municípios de Poço Verde, Pinhão e Simão Dias,

no estado de Sergipe, e com Adustina e Fátima,

no estado da Bahia. A distância do município em

relação à capital do estado da Bahia é de 364 km

e 110 km em relação à capital de Sergipe,

Aracaju.

A pesquisa foi motivada pelo interesse em

descobrir o alcance e representação quantitativa

e qualitativa dos serviços de ensino superior, em

especial dos cursos de licenciatura, ofertado pela

Faculdade X de Paripiranga (BA), podendo ser os

cursos com maior potencial para contribuir com o

desenvolvimento social dos municípios da região,

por serem cursos voltados exclusivamente para a

formação de professores.

Desse modo, a pergunta guia foi: Quais as

características dos alunos ingressantes 2015.2 dos

cursos de licenciatura da Faculdade X de

Paripiranga (BA)?

Page 158: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 166

III - OBJETIVOS

Objetivo geral:

Analisar as características do aluno

ingressante 2015.2 dos cursos de licenciatura da

Faculdade X de Paripiranga (BA).

Objetivos específicos:

a) Caracterizar o perfil socioeconômico

dos ingressantes 2015.2 dos cursos de

licenciatura da Faculdade X de

Paripiranga (BA).

b) Verificar como os ingressantes

souberam da Faculdade X de

Paripiranga (BA), bem como do

FORMED;

c) Identificar os aspectos valorizados

pelos ingressantes no processo de

escolha da referida IES como

formadora de nível superior.

d) Verificar a opinião dos alunos

ingressantes após processo de

contratação dos serviços da X de

Paripiranga (BA) (pós-compra).

II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Decorridos, aproximadamente 66 anos, da

chamada de Era do Marketing que teve seu início

a partir de 1950, quando os empresários

tomaram consciência de que precisavam dar

atenção à satisfação dos desejos dos

consumidores e que, para tal, teriam que

imprimir certo esforço para descobrir o que os

consumidores desejam. Forçar o consumo não é

mais considerada uma opção inteligente.

Atualmente, não se pode considerar o

marketing como uma atividade isolada ou

departamental, mas sim, como ações que

interagem com a organização como um todo,

sendo assim, para Kotler (2007, p.4), marketing é

“o processo pelo qual as empresas criam valor

para os clientes e constroem fortes

relacionamentos com eles para capturar seu valor

em troca”.

Portanto, as IES devem direcionar o foco de

marketing para a observação constante das

necessidades e informações do mercado, sendo

importante estudar se o que está sendo

desenvolvido em termos de marketing é

percebido pelo público-alvo.

Com a necessidade de se obter informações

sobre tudo, sobre as necessidades e os desejos

dos consumidores, informações sobre

concorrentes, revendedores e outros

participantes, forças do mercado, enfim,

informações tangíveis e intangíveis dos ambientes

interno e externos, é utilizada a pesquisa de

marketing, uma excelente ferramenta que ajuda

os profissionais de marketing em suas decisões.

Segundo Kotler (2007, p.87) pesquisa de

marketing é “a elaboração, coleta, análise e

registros sistemáticos de dados relevantes sobre

Page 159: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 167

uma situação específica de marketing com a qual

uma organização se depara”.

Os consumidores ao redor do mundo

variam muito em relação à idade, à renda, ao

nível de instrução e aos gostos, portanto,

compreender como essas diferenças afetam o

comportamento de compra do consumidor é um

dos maiores desafios enfrentados pelos

profissionais de marketing.

Para Lacerda (2007) o comportamento do

consumidor é considerado um campo

multidisciplinar, pois não diz respeito apenas ao

pensamento. Refere-se também à pesquisa,

abraçando ideias de áreas diversas como a

psicologia, sociologia, antropologia, além de

conceitos importantes como aprendizado,

motivação, percepção, atitude, personalidade,

grupos sociais, classes sociais e cultura. Tais

conceitos têm sido consagrados a fim de

assessorar o entendimento de cada elemento do

composto de marketing oferecido ao consumidor.

Um outro ponto relativo ao

comportamento do consumidor é que ele não

trata apenas do que se desenvolve antes da

compra ou somente no processo que originará a

compra. Quando se pretende aprofundar por esse

caminho, fatores como satisfação e expectativa

do consumidor devem ser valorizados para que se

atinja o objetivo de compreender o

comportamento de compra de um determinado

grupo de consumidores (Silveira, Oliveira e

Honorio, 2010).

As medidas de satisfação abrangem o nível

de satisfação do estudante com toda a

experiência de formação e também aspectos mais

específicos ligados á qualidade do ensino, ao

currículo, relacionamento com os professores e

colegas, a administração, as instalações e

recursos da universidade, além da percepção do

estudante sobre o ambiente acadêmico e

intelectual da instituição (Schleich, Polydoro,

Santos, 2006).

Percebe-se atualmente uma mudança no

cenário educacional do país, onde o número das

instituições privadas de nível superior tem

aumento consideravelmente. Segundo dados o

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais (INEP, 2010) revelam que em 2009

no Brasil existiam 1.004 instituições de nível

superior, já em 2010, esse número saltou para

2.069, registrando um crescimento de 106,1%

(Revista Gestão Educacional, ano 07, nº 75).

O crescente interesse das IES privadas e do

governo em facilitar o acesso ao nível superior

para classe C, está centrado no boom da

população da referida classe, que, segundo

estudo do Data Popular, a partir dos dados da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) a ascensão desse alunado de

classe C passou de 39% em 2002, para 58% em

2009.

Para atender esse público em específico as

IES recorrem aos programas de financiamento do

governo, dentre eles: Programa Universidade

Page 160: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 168

para Todos (PROUNI), Fundo de Financiamento

ao Estudante do Ensino Superior (FIES), dentre

outros.

Para tanto, a Faculdade X de Paripiranga

(BA) firmou um programa juntamente com o

Ministério da Educação/FIES - o FORMED, que

visa à formação de professores sem custos com a

mensalidade durante todo o curso, orientado

pela Portaria Normativa MEC 04, de 02/03/2011,

art. 3º, que assegura os estudantes que, após a

conclusão do curso, os mesmos ficarão

desobrigados de pagar a prestação do

financiamento se estiverem no exercício do

magistério na rede pública de educação básica,

programa este, que visa a oferta de cursos para a

classe que está em elevação, a C.

IV - MÉTODO DA PESQUISA

Para obter as informações necessárias, os

dados serão coletados através de fontes

primárias e secundárias. Primeiramente consultar

o banco de dados interno da empresa, através

dos relatórios e detalhamentos.

Para a coleta de dados primários

utilizaremos a pesquisa de levantamento, do tipo

exploratória, pois será feita pela primeira vez na

Faculdade X de Paripiranga (BA) possibilitando

descrever fatos e características de um

determinado grupo perguntando diretamente a

ele, o que dialoga com o objetivo delimitado que

é analisar o perfil e comportamento de compra

do aluno ingressante 2015.2 dos cursos de

licenciatura da Faculdade X de Paripiranga (BA).

A pesquisa é quantitativa e qualitativa, além

da quantificação, se terá informações mais

amplas, e uma base disponível para entender as

relações de consumo com mais profundidade. Os

questionários serão respondidos através de

pesquisa de marketing on-line, com auxílio da

internet.

Como definição do plano de amostragem

tem-se: alunos ingressantes de 2015.2 dos cursos

de licenciatura da Faculdade X de Paripiranga

(BA), que atualmente representam 464

estudantes. O questionário on-line será

disponibilizado no período de 5 de agosto a 2 de

setembro de 2015.

O instrumento, como dito anteriormente,

será estruturado, um questionário com perguntas

abertas e fechadas.

V - QUADRO VARIÁVEL

QUADRO DE VARIÁVEIS X INDICADORES

VARIÁVEIS INDICADORES

Socioeconômicas

Sexo

Estado civil

Faixa etária

Renda

Ocupação

Residência

Quantidade de pessoas na família

Motivacionais Metodologia

Page 161: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 169

Localização

Resultados das avaliações do MEC

Indicação de amigos

Condições físicas/Estrutura

Docentes

Propaganda

Rádio

Indicação de amigos

Carro de som

Jornal

Panfleto

Através da escola/ Sec. de Educação

Internet

Finalidade do nível

superior

Inserção no mercado de trabalho

Só pelo diploma

Status

Aprofundar os estudos

Fatores de

qualidade

Rapidez no atendimento

Atenção pessoal dos funcionários

Facilidade no atendimento

Presteza dos funcionários em ajudar

Confiança nos funcionários

Fatores de escolha

Metodologia

Localização

Resultados das avaliações do MEC

Indicação de amigos

Condições físicas/Estrutura

Docentes

Empregabilidade dos egressos

Comportamento

Faria outro curso na Faculdade X de

Paripiranga (BA)

Se a Faculdade X de Paripiranga

(BA) oferecesse Pós-graduação

Indicaria a Faculdade X de

Paripiranga (BA) para outros

Vontade de não utilizar os serviços

Pós-compra Satisfação pessoal

VI - INSTRUMENTO

FANESE – FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E

NEGÓCIOS DE SERGIPE

MBA EM MARKETING EXECUTIVO

Questionário

1. Sexo: 1. ( ) Masculino 2. ( ) Feminino 2. Estado Civil: 1. ( ) Solteiro 2. ( ) Casado 3. ( ) Divorciado 4. ( ) União estável 5. ( ) Viúvo 6. ( ) Outros ______________ 3. Faixa etária: 1. ( ) 17 a 21 2. ( ) 22 a 26 3. ( ) 27 a 31 4. ( ) 35 a 39 5. ( ) 40 a 44 6. ( ) 45 a 49 7. ( ) Acima de 50 4. Quantas pessoas moram em sua casa contando com você? 1. ( ) 2 2. ( ) 3 3. ( ) 4 4. ( ) 5 5. ( ) mais de 6

Prezado (a) Senhor (a),

O presente questionário é um instrumento de pesquisa que tem

como objetivo coletar dados para o trabalho de pós-graduação

em Marketing Executivo da FANESE – Faculdade de

Administração e Negócios de Sergipe.

As informações aqui coletadas serão devidamente tratadas a

fim de analisar o perfil e comportamento de compra dos alunos

ingressantes 2015.2 da Faculdade X DE PARIPIRANGA (BA). A

veracidade de suas informações será de fundamental

importância para o sucesso deste estudo.

Graziela Alves de Amorim - Pós-graduada em Marketing Executivo – FANESE

Marcos Vinicius Gomes Reis – Pós-graduado em Gestão Fiscal e Planejamento Tributário - FANESE

Page 162: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 170 5. Quantas pessoas em sua casa tem nível superior completo? 1. ( ) 0 2. ( ) 1 3. ( ) 2 4. ( ) 3 5. ( ) 4 6. ( ) mais de 4 6. Renda 1. ( ) Sem renda 2. ( ) De R$ 510,00 a 1.010, 00 3. ( ) De R$ 1.020,00 a 2.040,00 4. ( ) De R$ 2.050,00 a 3.570,00 5. ( ) De R$ 3.580,00 a 4.650,00 6. ( ) Acima de R$ 4.650,00 7. Ocupação 1. ( ) Estudante 2. ( ) Professor da rede pública 3. ( ) Professor da rede privada 4. ( ) Funcionário público 5. ( ) Autônomo 6. ( )Trabalha em empresa privada 7. ( ) Outros ________________ 8. Cidade onde reside: __________________________ 9. O que levou a escolher a Faculdade X de Paripiranga (BA)? 1. ( ) Metodologia 2. ( ) Localização 3. ( ) Resultados das avaliações do MEC 4. ( ) Condições físicas/Estrutura 5. ( )Currículo dos docentes 6. ( ) Indicação de amigos 7. ( ) Outros _____________________________ 10. Como ficou sabendo da Faculdade X de Paripiranga (BA)? 1. ( ) Carro de som 2. ( ) Rádio 3. ( ) Internet 4. ( ) Jornal 5. ( ) Panfleto 6. ( )Indicação de amigos 7. ( ) Outros __________________________ 11. Como ficou sabendo do FORMED? 1. ( ) Carro de som 2. ( ) Rádio 3. ( ) Internet 4. ( ) Jornal 5. ( ) Panfleto 6. ( )Através da Escola/Secretaria Municipal de Educação 7. ( )Indicação de amigos 8. ( ) Outros __________________________ 12. Qual a sua finalidade com um curso de nível superior? 1. ( ) Inserção no mercado de trabalho 2. ( )aprofundamento nos estudos/conhecimento 3. ( ) Adquirir um diploma 4. ( ) Status 5. ( ) Outros ___ 13. Qual a importância dos itens abaixo ao contratar os serviços da Faculdade X de Paripiranga (BA)? 1. Irrelevante 2. Pouco importante 3. Importante 4. Muito importante

Indicadores/Escala 1 2 3 4

Localização

Avaliações do MEC

Currículo dos docentes

Empregabilidade dos egressos

Método de ensino diferenciado

14. Qual a importância dos itens abaixo com relação ao

atendimento da Faculdade X de Paripiranga (BA)?

1. Irrelevante 2. Pouco importante 3. Importante 4.

Muito importante

Indicadores/Escala 1 2 3 4

Confiança nos colaboradores

Rapidez nos processos

Facilidade de atendimento

Presteza do colaborador

Atenção do colaborador

15. Comportamento do consumidor

1. Discordo totalmente 2. Discordo 3. Concordo 4.

Concordo totalmente

Indicadores/Escala 1 2 3 4

Faria outro curso na Faculdade X

de Paripiranga (BA)

Se a Faculdade X de Paripiranga

(BA) oferecesse pós-graduação

você daria continuidade em seus

estudos na Faculdade X de

Paripiranga (BA)

Indicaria a Faculdade X de

Paripiranga (BA) para outras

pessoas

16. Pós-compra

1. Discordo totalmente 2. Discordo 3. Concordo 4.

Concordo totalmente

Indicadores/Escala 1 2 3 4

Está satisfeito com a escolha do

seu curso

Trocaria de curso

Está satisfeito com a escolha da

Faculdade

Page 163: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 171

VII - ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo tem por objetivo apresentar

os resultados levantados em pesquisa realizada

com 140 ingressantes 2015.2 dos cursos de

licenciatura da Faculdade X de Paripiranga (BA).

Perfil dos ingressantes 2015.2 dos cursos de

licenciatura da Faculdade X de Paripiranga (BA)

Nesta etapa, são expostas as características

sociais e econômicas dos ingressantes 2015.2 dos

cursos de licenciatura da Faculdade X de

Paripiranga (BA). Para avaliar essas

características, dados como sexo, estado civil,

faixa etária, renda bruta individual, ocupação, a

cidade onde reside e quantidade de pessoas que

residem na mesma casa foram levantados e

servirão à análise e conclusão deste estudo.

Sexo

No que diz respeito ao gênero, observou-se

uma população amostral predominantemente

feminina, pois do total de 140 entrevistados,

houve número absoluto de 91 mulheres,

enquanto 49 homens responderam a pesquisa.

Estado Civil

Tendo em vista que o público-alvo, do

segmento de educação superior, em sua grande

maioria são jovens, 68% destes, são solteiros,

somando 32% entre casados, divorciados e união

estável.

Faixa Etária

Os resultados obtidos acima, no gráfico

sobre o estado civil dos ingressantes da

Faculdade X de Paripiranga (BA) dos cursos de

licenciatura reforçam os dados apresentados

abaixo, pois revelam que 80% do deste público

possuem idade entre 17 e 26 anos, grande

parcela jovem que não possui um relacionamento

mais sério (casamento). E, segundo o registro civil

de 2010 registrado no Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de

casamento da população brasileira é de 25 anos.

68%

21%

4% 7% 0% 0%

0

20

40

60

80 Gráfico 2 - Estado Civil

Solteiro Casado Divorciado União Estável Viúvo Outros

65%

35%

0

20

40

60

80 Gráfico 1 - Sexo

Feminino Masculino

36%

44%

14%

4% 2% 0% 0% 0

10

20

30

40

50 Gráfico 3 - Faixa Etária

17 a 21 22 a 26 27 a 31 35 a 39 40 a 44 45 a 49 Acima de 50

Page 164: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 172

Moradores que residem na casa

Os dados indicam que 63% dos

entrevistados residem em casa com cerca de

quatro ou cinco pessoas, característica própria de

famílias grandes, levando a indicar que se trata de

um público com perfil de baixo poder aquisitivo,

onde toda a família mora na mesma casa ou

possuem muitos filhos.

Nível superior/família

Os estudos levam a pensar que este público

tem baixo poder aquisitivo, pois, outra

característica peculiar da classe é o acesso

restrito à educação, pois, além de não possuírem

oportunidades de estudo, precisam ir trabalhar

cedo, influenciando no baixo nível educacional. O

gráfico mostra que 66% das famílias entrevistadas

não possuem nenhuma pessoa com nível

superior. Neste caso, esse estudante seria o

primeiro a ingressar na educação superior.

Renda brutal individual

Os dados estudados até o momento

indicam que o perfil estudado compõe a classe de

pessoas com baixo poder aquisitivo, e esta

suspeita foi comprovada com a sondagem da

renda bruta familiar, onde metade (50%) não

possuem renda, seguido de 34% que possuem

renda de um salário mínimo a R$ 1.210,00 (um

mil e duzentos e dez reais).

Ocupação

É possível observar no Gráfico 7 que 43%

dos entrevistados são estudantes, seguido por

23% de professor da rede pública e 17% que

trabalham em empresa privada. Pode-se

perceber que a oportunidade oferecida pelo

Programa FORMED atendeu às expectativas de

10%

18%

39%

24%

9%

0

10

20

30

40

50Gráfico 4 - Moradores da casa

2 3 4 5 mais de 6

66%

21%

10% 2% 1% 0

0

20

40

60

80Gráfico 5 - Nivel superior/Família

0 1 2 3 4 mais de 4

50%

34%

14%

2% 0% 0% 0

20

40

60Gráfico 6 - Renda bruta individual

Sem renda De R$ 678,00 a 1.210,00

DE R$ 1.220, 00 a 2.240,00 De R$ 2.250,00 a 3.770,00

De R$ 3.780,00 a 4.850,00 Acima de R$ 4.850,00

Page 165: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 173

estudantes que estão fora do mercado de

trabalho, bem com oferecer oportunidade de

qualificação e de possuir o diploma de nível

superior para os professores da rede pública e

privada que possuem apenas o magistério em seu

currículo.

Cidade onde reside

O gráfico ficou bastante equilibrado,

informando que os estudantes residem em

cidades que estão no nordeste do Estado da

Bahia e centro-sul do Estado de Sergipe, regiões

de abrangência da atuação da Faculdade X de

Paripiranga (BA), informado no início do trabalho

quando foi feita a pesquisa bibliográfica. A cidade

que teve um pouco mais de destaque foi

Paripiranga (BA), município sede da X de

Paripiranga (BA), isso se justifica pela demanda e

facilidade de acesso, quanto a deslocamento.

Motivo que escolheu a X de Paripiranga (BA)

No gráfico 9, as pesquisas informam que

cerca de 44% dos entrevistados escolheram a

Faculdade X de Paripiranga (BA) motivados pela

indicação de amigos, seguidos por 21% pela

localização, Isso se dá pela pouca penetração de

instituições de ensino superior na região.

Como ficou sabendo da X de Paripiranga (BA)

Mais da metade dos acadêmicos entrevistas

informaram que conheceram a Faculdade X de

Paripiranga (BA) através de amigos, sendo

representado por 55%, além desse dado,

43%

23%

12%

3% 2%

17%

0

10

20

30

40

50Gráfico 7 - Ocupação

Estudante Professor da rede pública

Professor da rede privada Funcionário Público

Autônomo Trabalha em empresa privada

9%

4% 4% 5%

3%

8% 8% 9%

8%

4% 5%

14%

5% 6% 6%

2%

0

5

10

15Gráfico 8 - Cidade onde reside

Lagarto Sitio do Quinto Adustina Antas

Araci Cícero Dantas Cipó Fátima

Heliópolis Nova Soure Olindina Paripiranga

Pinhão Poço Verde Simão Dias Tobias Barreto

8%

21%

10% 12%

5%

44%

0% 0

10

20

30

40

50Gráfico 9 - Motivo que escolheu a

Faculdade X

Metodologia Localização Resultados do MEC

Condições físicas Currículo dos docentes Indicação de amigos

Outros

Page 166: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 174

observou-se que 19% ficaram sabendo através da

internet. Numa breve análise, foi percebido que

Faculdade X de Paripiranga (BA) possui uma

relevante atuação neste meio, pois interage com

o público nas redes sociais como: facebook,

twitter e youtube; além do site institucional.

Como ficou sabendo do FORMED

Os dados informam que 39% do público

ficou sabendo da X de Paripiranga (BA) através de

indicação de amigos, 22% panfleto, 19% internet

e 18% Secretaria de Educação/Escola. Os dados

reforçam o empenho do Setor de Comunicação

da Faculdade X de Paripiranga (BA), pois segundo

informações da coordenação, a comunicação é

realizada com a finalidade que se colonize a boa

propaganda de boca em boca, seguido de

esforços com a distribuição de

panfletos/prospectos do referido programa

(FORMED), bem como na internet e na divulgação

nas escolas e secretarias de educação dos

municípios que são cobertos pela IES.

Finalidade do curso superior

67% dos acadêmicos entrevistados

apontaram a inserção no mercado de trabalho

como a principal finalidade de ingressar em um

curso de nível superior e 21% como forma de

aprofundamento de estudos. Esse grafico 12

dialoga com outras dados pesquisados, pois,

como em sua grande maioria, este público é

composto por jovens, na faixa etária de 17 a 26

anos e não possuem renda ou recebem seus

vencimentos no valor máximo de R$ 1.210,00,

vislumbram o ingresso no ensino superior como a

possibilidade de poder se inserir no mercado de

trabalho e assim possuir ou aumentar sua renda.

6% 10%

19%

0%

11%

55%

0% 0

10

20

30

40

50

60

Gráfico 10 - Como ficou sabendo da Faculdade X

Carro de som Rádio

Internet Jornal

Panfleto Indicação de amigos

Outros

0% 2%

19%

0%

22% 18%

39%

0% 0

20

40

60Gráfico 11 - Como ficou sabendo do

FORMED

Carro de som Rádio

Internet Jornal

Panfleto Através da Escola/Sec.de Educação

Indicação de amigos Outros

67%

21%

8% 4% 0% 0

20

40

60

80Gráfico 12 - Finalidade do curso

superior

Inserção no mercado de trabalho Aprofundamento de estudos

Adquirir um diploma Status

Outros

Page 167: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 175

Importância para contratar os serviços

As informações abaixo elencam quesitos

apontados pelos acadêmicos como importantes

no momento em que contrataram os serviços,

dos cinco itens, 62% consideraram muito

importante a empregabilidade do egresso, 82%,

que é importante a localização, 77%, é

importante o método de ensino diferenciado; os

entrevistados apontaram, como o quesito pouco

importante o item sobre as avaliçoões do MEC.

Os dados apresentado até o momento se cruzam.

Esta informação do Gráfico 13, reforça o que os

jovens que não possuem renda, combaixo poder

aquisitivo é que ver no ensino superior a

possibilidade de ingresso no mercado de

trabalho, indicam que a empregabilidade dos

egressos da Instituição é considerado muito

importante no momento de contratação dos

serviços.

Itens importantes no atendimento

A tabela 14 demonstra que todos os itens

são considerados importantes pelo grupo

pesquisado, o iten que liderou a pesquisa foi a

facilidade do atendimento, logo em seguida a

atenção do colaborador que ultrapassou o item

que ficou no terceiro lugar apenas por 3%, que foi

a rapizez nos processos; respostas estas que

reforçam o perfil estudado, pois com a dinâmica

acelerada da vida, e até mesmo pelo estilo

agitado do público eles priorizam a facilidade e

celeridade dos processos.

Comportamento

Os dados analisados afirmam que 82% do

público indicariam a Faculdade X de Paripiranga

(BA) para outras pessoas; 65% afirmaram que

realizariam outro curso na Faculdade X de

Paripiranga (BA) e 58% continuariam seus estudos

se a Faculdade X de Paripiranga (BA) oferecesse

curso de pós-graduação. Estes elevados índices

informam que a Instituição possui uma boa

imagem perante ao público estudados.

Pós-compra

Dos entrevistados, 65% afirmaram que

estão satisfeitos com o curso escolhido, seguido

de 58% que estão satisfeitos com a escolha da

Faculdade; cruzando os dados, 55% afirmaram

que não trocariam de curso.

Indicadores/Escala Resultados

Localização 82% afirmam que é importante

Avaliações do MEC 71% afirmam que é pouco importante

Currículo dos docentes 65% afirmam que é importante

Empregabilidade dos egressos 62% afirmam que é muito importante

Método de ensino diferenciado 77% afirmam que é importante

13 - IMPORTÂNCIA PARA CONTRATAR OS SERVIÇOS

Indicadores/Escala Resultados

Confiança nos colaboradores 58% afirmam que é muito importante

Rapidez nos processos 64% afirmam que é muito importante

Facilidade de atendimento 84% afirmam que é muito importante

Presteza do colaborador 52% afirmam que é muito importante

Atenção do colaborador 67% afirmam que é muito importante

14 - ITENS IMPORTANTES NO ATENDIMENTO

Indicadores/Escala Resultados

Está satisfeito com a escolha do seu curso 65% afirmam concordo

Trocaria de curso 55% afirmam discordo

Está satisfeito com a escolha da Faculdade 58% afirmam concordo

16 - PÓS-COMPRA

Page 168: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 176

VIII - CONCLUSÃO

Respondendo aos problemas levantados

identificou-se que o perfil socioeconômico dos

ingressantes 2015.2 dos cursos de licenciatura da

Faculdade X de Paripiranga (BA) são sexo

feminino, solteiras, com idade entre 17 e 26 anos,

fazem parte de famílias numerosas, sendo

compostas por 4 ou 5 familiares, advindas de

famílias que não possuem um nível de

escolaridade, a exemplo de educação superior,

em sua grande maioria não possui renda ou

possuem adicionais que variam de R$ 678,00 a R$

1.210,00, são estudantes ou professores da rede

pública ou privada.

Os motivos que levaram a optar pela

Faculdade X de Paripiranga (BA) foram influência

de indicações de amigos e localização da IES.

Ficaram sabendo da IES e do programa FORMED

através dos amigos.

Os aspectos valorizados pelos ingressantes

no processo de escolha da referida IES foram os

índices de empregabilidade dos egressos, além da

localização estratégica. Referente ao

atendimento, priorizam a facilidade e rapidez no

atendimento.

No quesito pós-compra, os entrevistados

afirmaram que indicariam a X de Paripiranga (BA)

para outras pessoas, realizariam outro curso e

também continuariam seus estudos se a X de

Paripiranga (BA) oferecesse curso de pós-

graduação. Afirmaram também que estão

satisfeitos com o curso escolhido, com a escolha

da Faculdade e que não trocariam de curso.

REFERÊNCIAS

FARIA, Sergio Enrique. Aplicação do composto de

marketing nas Instituições de Ensino Superior.

Ensaio Marketing - VI SEMEAD.

KOTLER, Philip, ARMOSTRONG, Gary. Princípios

de Marketing. São Paulo: Ed. Aplicada, 2007.

LACERDA, T.S. Teorias Da Ação E O

Comportamento Do Consumidor: Alternativas E

Contribuições Aos Modelos De Fishbein E Ajzen.

In: ANPAD, 31., 2007. Rio de Janeiro. Anais...Rio

de Janeiro, 2007.

SILVEIRA, Ecio Eudifas Viana, OLIVEIRA, Rodrigo

Cesar Reis de, HONORIO, Jose Bezerra.

Comportamento do consumidor de crédito:

estudo de caso do segmento de construção no

município de Maruim (SE). Graduação em

Administração, 2010.

Revista Gestão Educacional. Da punição ao

debate: especialistas apontam como melhorar a

gestão de conflitos. Ano 07/Nº 75, 2011.

Fontes eletrônicas

Faculdade X DE PARIPIRANGA (BA). Disponível

em: http://www.faculdadeX de Paripiranga

(BA).com.br. Acesso em maio/2013.

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais - INEP. Disponível em:

http://www.inep.gov.br. Acesso em 07/09/2011.

Page 169: Editorial · A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ONCOLOGIA NO CURSO DE ... tem por fim apenas apontar para o conhecimento da ... instituição nasceu à sombra da Igreja

Revista Saberes Especial SPC 2016 177

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -

IBGE. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home. Acesso

07/09/2011.