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EDITORIAL

II Série, n.º 23, tomo 1, Janeiro 2020

Proprietário e Editor |Centro de Arqueologia de Almada,Apartado 603 EC Pragal, 2801-601 Almada PortugalNIPC | 501 073 566Sede (proprietário, editor e redacção) |Travessa Luís Teotónio Pereira, Cova da Piedade, 2805-187 AlmadaTelefone | 212 766 975E-mail | [email protected] | www.almadan.publ.ptISSN | 2182-7265Estatuto editorial |www.almadan.publ.ptDistribuição | http://issuu.com/almadanPeriodicidade | SemestralPatrocínio | Câmara M. de AlmadaParceria | ArqueoHoje - Conservaçãoe Restauro do PatrimónioMonumental, Ld.ª / CâmaraMunicipal de Oeiras / Associação dosArqueólogos Portugueses Apoio | Neoépica, Ld.ªDirector | Jorge Raposo([email protected])Publicidade | Centro de Arqueologiade Almada ([email protected])Conselho Científico |Amílcar Guerra, António Nabais, Luís Raposo, Carlos Marques da Silvae Carlos Tavares da Silva

Resumos | Jorge Raposo (português),Luisa Pinho (inglês) e Maria Isabel dosSantos (francês)Modelo gráfico, tratamento de imageme paginação electrónica | Jorge RaposoRevisão | Rui Eduardo Botas, FernandaLourenço e Sónia Tchissole SilvaColaboram neste número |Sérgio Amorim, José Arrais, LuísaBatalha, Nuno Bicho, Rogério P. deCampos, Fábio Capela, GuilhermeCardoso, António Carneiro, Aníbal

Costa, Ana Cruz, Pedro Cura, Pedro Dâmaso, Diogo T. Dias, Mª Isabel Dias, José d’Encarnação, Rui R. Filipe, José P. Francisco,Cristina Gameiro, M. García-Heras, D. García Rivero, Tiago Gil, CéliaGonçalves, Gerardo V. Gonçalves,Florian Hermann, Carlos Jorge,Francisco Leal, Marta I. C. Leitão,Virgílio Lopes, Isabel Luna, AndreaMartins, César Neves, Mª de FátimaPalma, Dina B. Pereira, FranklinPereira, Rui Pinheiro, Eduardo Porfírio,

Capa | Jorge Raposo

Montagem sobre fotografia da Necrópole das Touças, sítio arqueológicode cronologia predominantementemedieval localizado no Município deSabrosa. Observam-se alguns dosortostatos ou pedras fincadas queacompanham as sepulturas e sarcófagosescavados na rocha e, em segundo plano,vê-se ainda um marco de demarcação daOrdem de Malta datado de 1776.

Foto | © Gerardo Gonçalves e Dina Pereira.

José C. Quaresma, Jorge M. Resende,Fernanda Rodrigues, Nuno Santos,Miguel Serra, Fernando R. Silva, Pedro da Silva, Vanessa Sousa, Telma Tavares, Ruth Taylor, Félix Teichner, Marco Valente eHumberto Varum.

Os conteúdos editoriais da Al-Madan Onlinenão seguem o Acordo Ortográfico de 1990.No entanto, a revista respeita a vontade dosautores, incluindo nas suas páginas tantoartigos que partilham a opção do editorcomo aqueles que aplicam o dito Acordo.

A s presentes diversidade e proficiência da Arqueologia portuguesa estão bem patentesnas páginas deste tomo da Al-Madan Online. Aqui encontramos os resultados detrabalhos de natureza preventiva, mas também de projectos de investigação plurianual,

em sítios como a Necrópole das Touças (Sabrosa), o Castro das Coroas (Cinfães), as estruturasdefensivas do Cerro do Castelo de Alferce (Monchique) e do Castelo de Miranda do Douro, o povoado fortificado do Outeiro do Circo (Beja), ou os contextos urbanos da Rua de SantaMargarida, em Santarém. À diversidade geográfica e de realidades crono-culturais associam-sediferentes enquadramentos institucionais e abordagens técnico-científicas e metodológicasmultidisciplinares. Estas vão da prospecção de superfície às sondagens de diagnóstico e aoacompanhamento de obras, incluindo a incorporação da Geofísica, da aerofotogrametria com drones e da modelação tridimensional de terreno no processo de intervenção einvestigação arqueológica. Sem esquecer a necessária sociabilização do conhecimento assim produzido através da Educação Patrimonial.A abrangência geográfica é alargada ao mundo da lusofonia, através de artigo dedicado aos fornos de cal artesanais de Estaquinha, em Moçambique, que traça paralelos com osconhecidos em território português, em destaque no tomo anterior. Seguem-se estudos sobre os botões de uniformes militares ao tempo da Guerra Peninsularresultante das invasões francesas (1807-1814), o sinete municipal de Vila Franca do Campo, na Ilha de S. Miguel (Açores), e a porcelana decorada de uma tipologia muito particular –kinrande – identificada entre o espólio da Rua da Judiaria, em Almada.Três temas justificam a livre expressão da opinião de investigadores portugueses: osmecanismos de valoração do Património, tendo por base a arte rupestre do Vale do Rio Côa,em Portugal, e de Siega Verde, em Espanha; as dinâmicas de (re)construção e interpretação do Passado em Arqueologia; e o movimento cidadão gerado por obra que afecta a Anta 1 de Vale da Lage (Tomar).A arte de trabalhar o couro volta a merecer publicação, agora com um texto dedicado aos estojos dos séculos XIII-XIV; outro artigo analisa o impacto das reformas pombalinas emLisboa, após o terramoto de 1755, no modelo urbano de outras cidades portuguesas ebrasileiras; um terceiro cruza várias fontes para perceber o que sucedeu à comunidademuçulmana de Alcácer do Sal após a reconquista cristã, em 1217.Como é habitual, o tomo encerra com noticiário arqueológico variado, recensões e destaquesde livros e revistas apresentados nos últimos meses. Dedica ainda espaço à partilha deinformação sobre eventos científicos e patrimoniais, com balanço de alguns já realizados e agenda dos entretanto anunciados.São 180 páginas onde, creio, se encontrarão bons momentos de leitura.

Jorge Raposo

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Françoise Mayet integrou, de seguida, o projectodas escavações de São Cucufate no plano gizadopela Mission Archéologique Luso-Française em

Portugal.Jorge Alarcão completou, na in -tervenção a que deu o título de“O Projecto Arquitectónico In -ter rompido de S. Cucufate”, oque já se escrevera sobre a arqui-tectura da villa, anotando duasoutras hipóteses de reconstituiçãode ambientes, resultantes da refle-xão posterior à publicação dosdois volumes que reúnem os re -sultados obtidos na escavação, LesVillas Romaines de São Cucufate(Portugal) [Paris, 1990].Nesse mesmo plano da arquitec-tura, interveio depois GérardChar pentier, da Maison de l’Ori -ent et de la Méditerranée (Uni -versité Lyon 2), que foi o arqui-tecto deste projecto, dando contado estudo arquitectónico dos ves-tígios de São Cucufate e das ino-vadoras hipóteses de restituiçãoencetadas.Ricardo González Villaescusa(Université Paris - Nanterre) en -quadrou a investigação feita em

Comemoraram-se, a 21 e 22 de Setembrode 2019, na Vidigueira, os 40 anos do início

dos trabalhos arqueológicos na villa romana deSão Cucufate, iniciativa conjunta da DirecçãoRe gional da Cultura do Alentejo, do CEAACP - - Centro de Estudos de Arqueologia, Artes eCiên cias do Património (Faculdade de Letras daUni versidade de Coimbra) e da Câmara Muni -cipal de Vidigueira.A villa já era conhecida antes dessas campanhaslevadas a efeito pela equipa luso-francesa, a partirde 1979. Fora D. Fernando de Almeida quem,mais detidamente, até aí a explorara; contactado,não teve a menor dúvida em apoiar a realizaçãode novos trabalhos, agora a cargo, pela parte por-tuguesa, de membros do Instituto de Arqueologiada Faculdade de Letras da Universidade de Coim -bra, sob orientação do Doutor Jor -ge de Alarcão; e, pela parte fran-cesa, do Centre Pierre Paris (Uni -versité de Bordeaux III), sob a res -ponsabilidade do Professor Ro -bert Étienne e da Doutora Fran -çoise Mayet.Depois de um “itinerário urba-no”, que se centrara na escavaçãosistemática da área político-admi-nistrativa de Conimbriga, quise-ram os arqueólogos conhecer me -lhor a ruralidade da Lusitânia ro -mana. Daí, a escolha. Realizaram--se campanhas de um mês noVerão, até 1984, que vieram ater continuidade através da acti-vidade complementar do Ga -binete de Arqueologia da CâmaraMunicipal da Vidigueira, o pri-meiro gabinete do género a sercriado em Portugal.

Teve dois momentos a evocação ora levada a ca -bo.No primeiro dia, uma sessão de cariz científicointernacional, no Salão Nobre dos Paços do Con -celho, em que se enquadraram os resultados obti-dos no âmbito geral dos conhecimentos agoraal cançados. Após as intervenções – que, subli-nhe-se, não foram meramente protocolares – doPresidente do Município de Vidigueira, Rui Ma -nuel Serrano Raposo, e da Directora Regionalda Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira,começou-se por chamar a atenção para um as -pecto nem sempre tido em consideração, numcaso, como este, em que era preciso prever, emtempo oportuno, a logística necessária ao bomfuncionamento de uma equipa que ultrapassousempre a meia centena de participantes.

São Cucufate

villa romana que é do Povo!

José d’Encarnação[Catedrático de História, aposentado, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra]

Por opção do autor, o texto não segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990.

Aspecto da assistência à sessão científica e intervenientes

na mesma.

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primeira realizada em Portugal) e a série de son-dagens em parte dos mais de meia centena de sítiosde tipologia diversificada, entre os quais algumasvillae, que permitiram uma leitura mais correctada história rural romana da zona”. E lembrou osnomes dos membros da equipa que, além delepróprio, se ocuparam dessa investigação: AntónioNunes Monteiro, Jean-Gérard Gorges e PierreSillières.No segundo dia, domingo, 22 – sempre acom-panhados, como, aliás, acontecera no dia anterior,pelo presidente da autarquia, Rui Raposo, porSusana Damas, presidente da Junta de Freguesiade Vila de Frades, e pela Directora Regional daCultura, Ana Paula Amendoeira –, todos os actosdecorreram nas ruínas.O povo acorreu em massa para admirar a inter-venção artística INTEMPORAL - estratégias parahabitar um monumento, da autoria da artistaco lombiana Alejandra González Soca, de queconstavam também testemunhos de vizinhos ede trabalhadores, assim como para ver a exposiçãoem que se incorporaram trabalhos de utentes doCentro de Dia; efectuar a visita guiada ao sítio;e assistir, no pequeno auditório do centro de

São Cucufate no plano geral dosnovos olhares com que hoje seencaram as villae: “De la villaagrícola a la arqueogeografía: 40años de evolución del patrimonioarqueológico” foi o título da suacomunicação.João Pedro Bernardes (Universi -dade do Algarve / Centro de Es -tu dos de Arqueologia, Artes eCiências do Património), fez oponto da situação dos conheci-mentos que ora já se têm acercadas villae marítimas no Algarve,uma comparação útil com a villa de cariz agrárioem análise.Inês Vaz Pinto integrou o estudo que fizera eque constituiu a sua tese de doutoramento – ACerâmica Comum das Villae Romanas de SãoCucufate (Beja), Lisboa, Universidade LusíadaEditora, 2003 –, no horizonte da investigaçãoem curso sobre as cerâmicas comuns romanasdo Alentejo.Ricardo Cabral e Martino Correia, da empresaTHEIA - Tecnologia, Património e Investigaçãoem Arqueologia, e também investigadores doCentro de Estudos de Arqueologia, Artes eCiências do Património, apresentaram “Senseos,um Projecto Inovador na Monitorização doPatrimónio e na Protecção do Território”, cujoalcance nesses dois domínios é, de facto, consi-derável, especialmente tendo em conta que seutilizam, em tempo real, imagens colhidas porsa télite.Por fim, Cláudio Torres, do Campo Arqueo ló -gico de Mértola / Centro de Estudos de Arqueo -logia, Artes e Ciências do Património, contou –na comunicação que intitulou “A Arqueologia eos Problemas de História Rural” – de que estra-tagemas se lança mão em Mértolapara que os vestígios arqueológi-cos sejam devidamente aprecia -dos e se incluam no dia-a-dia dapopulação.Vasco Gil Mantas – que não este-ve presente nas comemorações –enviou, a esse propósito, umamensagem para o fórum Arch -port, no dia 22 de Setembro, emque, após referir o seu regozijopela celebração dos 40 anos dasescavações luso-francesas, recor-dou “o programa paralelo de pros-pecção sistemática em cerca de2600 hectares em torno da villa (a

EVENTOS

interpretação, à projecção decenas do que o seu autor e pro-dutor, Tiago Pereira, designou“es cultura sonora: Memórias deS. Cucufate”, cuja finalidade éregistar os depoimentos de quan-tos colaboraram nas escavações edaqueles que sentem São Cucu -fate como pertença sua.

Depois de se terem ouvido dois grupos corais –um deles dirigido pelo Padre Reis, prior da Vi -digueira nos primeiros anos das campa nhas –,todos os presentes foram convidados a participarna adiafa. Celebrava-se, desta sorte, a iniciativaque a equipa de arqueólogos instituiu desde oprimeiro ano: no último dia da campanha, o tra-balho terminava mais cedo e trabalhadores e ar -queólogos confraternizavam, comendo e bebendoà saúde! E, de novo, os componentes dos gruposcorais não hesitaram em cantar, sendo uma dasmodas mais aplaudidas a que directamente enal-tece o significado das ruínas de São Cucufate.

Escreveu Jorge Alarcão, na colecção Roteiros doPatrimónio, o livrinho sobre São Cucufate quetermina assim: “Ficou deserto o casarão, pasmado,amargurado de tanta solidão. Agora, quem o visita,se o souber entender, o ressuscita”. Ressuscitou-se.Falou-se em povo: gente, pessoas, habitantes;não em povo / povoado. Que as ruínas da villaro mana de São Cucufate estão longe do povoado,mas encontram-se bem no coração do Povo. Ese algo de mui relevante há a reter destas come-morações é essa evidente verificação: o Povo de

Vila de Frades e da Vidigueirasente as ruínas como suas, a pon-to, como se disse, de lhes dedicarmodas.Juntou-se o Povo aos membrosda equipa. Fez-se a adiafa. Confir -mou-se: a villa romana é do Povo!Assume, desta forma, todo o seusortilégio o sentido etimológicoda palavra “Património”: a heran-ça que se quer salvaguardar!

174 II SÉRIE (23) Tomo 1 JANEIRO 2020online

Actuação de um dos grupos corais.

Panorâmica sobre oestabelecimento termal.