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Vol. XXI • N° 376 • Lagoa (Montreal), 30 de agosto de 2017 EDITORIAL Edição Especial Com mais esta iniciativa – única, cremos, no contexto da imprensa de língua portuguesa do Canadá – publicamos este número especial do LusoPresse, na Lagoa, São Miguel, Açores, dedicado à geminação desta cidade com a cidade canadiana do Quebeque, Sainte-Thérèse. No ano passado, em julho, pub- licámos também com uma edição especial, bi-lingue, no Quebeque, para celebrar esta amizade entre as duas cidades. Muitas e várias iniciativas se foram sucedendo, ao longo dos anos, para selar e evocar este pacto de colaboração mútua e intercâmbio, entre a Lagoa e Sainte- Thérèse. Entre elas, como não podemos deixar de sublinhar, se encontram as ini- ciativas do nosso jornal que, desde 1993, se empenhou, em particular na pessoa do seu editor, a estreitar estes laços transatlân- ticos. Estas duas edições especiais, tanto a canadiana como a portuguesa, são uma prova concreta disso. Evidentemente que iniciativas deste teor exigem muito esforço, muito investi- mento e muita dedicação. O nosso jornal não se limitou, tão somente, a fazer mais uma edição, rotulada de “Lagoa”. Para a sua realização, deslocámos de facto uma equipa de quatro colaboradores até aos Açores, para que este jornal, no seu núme- ro de hoje, fosse um produto original, feito localmente, e inteiramente dedicado à população da Lagoa. Deste modo, e de acordo com as nossas capacidades, estamos contribuin- do para que a promoção do intercâmbio direto entre estas duas cidades irmãs, seja mais que um voto piedoso e se transforme numa realidade palpável. Em todo o caso, é nesse sentido que temos vindo a trabalhar desde o início da geminação Lagoa-Sainte-Thérèse. LP FÁBRICA DO ÁLCOOL, O CALCANHAR DE AQUILES DE LAGOA? Leia textos nas páginas interiores. Foto LusoPresse. Foto LusoPresse. COM A “FRENTE MARÍTIMA”... SANTA CRUZ GANHA IMPORTÂNCIA - Cristina Calisto, presidente da Câmara, pág. 26 Destaque: Entrevista com Rui Bettencourt, secretário para as Relações Exteriores • Leia na pág. 25 A N I V E R S Á R I O . . º º Por Carlos DE JESUS COM A “FRENTE MARÍTIMA”... SANTA CRUZ GANHA IMPORTÂNCIA - Cristina Calisto, presidente da Câmara, pág. 26 FÁBRICA DO ÁLCOOL, O CALCANHAR DE AQUILES DE LAGOA? Leia textos nas páginas interiores. FÁBRICA DO ÁLCOOL, O CALCANHAR DE AQUILES DE LAGOA? Leia textos nas páginas interiores.

Editorial Edição Especial - LusoPresselusopresse.com/Jornal - LusoPresse.pdf · da cerâmica manual em S. Miguel. O processo de produção continua inalterado. Dois tipos de barro

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Vol. XXI • N° 376 • Lagoa (Montreal), 30 de agosto de 2017Editorial

Edição Especial

Com mais esta iniciativa – única, cremos, no contexto da imprensa de língua portuguesa do Canadá – publicamos este número especial do LusoPresse, na Lagoa, São Miguel, Açores, dedicado à geminação desta cidade com a cidade canadiana do Quebeque, Sainte-Thérèse.

No ano passado, em julho, pub-licámos também com uma edição especial, bi-lingue, no Quebeque, para celebrar esta amizade entre as duas cidades.

Muitas e várias iniciativas se foram sucedendo, ao longo dos anos, para selar e evocar este pacto de colaboração mútua e intercâmbio, entre a Lagoa e Sainte-Thérèse. Entre elas, como não podemos deixar de sublinhar, se encontram as ini-ciativas do nosso jornal que, desde 1993, se empenhou, em particular na pessoa do seu editor, a estreitar estes laços transatlân-ticos. Estas duas edições especiais, tanto a canadiana como a portuguesa, são uma prova concreta disso.

Evidentemente que iniciativas deste teor exigem muito esforço, muito investi-mento e muita dedicação. O nosso jornal não se limitou, tão somente, a fazer mais uma edição, rotulada de “Lagoa”. Para a sua realização, deslocámos de facto uma equipa de quatro colaboradores até aos Açores, para que este jornal, no seu núme-ro de hoje, fosse um produto original, feito localmente, e inteiramente dedicado à população da Lagoa.

Deste modo, e de acordo com as nossas capacidades, estamos contribuin-do para que a promoção do intercâmbio direto entre estas duas cidades irmãs, seja mais que um voto piedoso e se transforme numa realidade palpável.

Em todo o caso, é nesse sentido que temos vindo a trabalhar desde o início da geminação Lagoa-Sainte-Thérèse. LP

Fábrica do álcool, o calcanhar dE aquilEs dE lagoa?leia textos nas páginas interiores.

Foto

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Foto LusoPresse.

com a “FrEntE marítima”...

santa cruz ganha importância- cristina calisto, presidente da câmara, pág. 26

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ANIVERSÁRIO

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Por Carlos de Jesus

com a “FrEntE marítima”...

santa cruz ganha importância- cristina calisto, presidente da câmara, pág. 26

Fábrica do álcool, o calcanhar dE aquilEs dE lagoa?leia textos nas páginas interiores.

Fábrica do álcool, o calcanhar dE aquilEs dE lagoa?leia textos nas páginas interiores.

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o quE os açorEs dEvEm à Emigração

Q uando a Lagoa se geminou com Ste-Thérèse (Canadá), nos anos 90, já eu tinha participado numa experiência semelhante, nos anos 80, ao presidir à Comissão das Cidades Irmãs Ribeira Grande-East Providence (EUA).

Foi uma jornada fantástica de intercâmbios entre as duas cidades, aos mais variados níveis, como por exemplo uma que permitiu que o Centro de Saúde da Ribeira Grande tivesse a sua primeira cadeira de dentista e outros equipamentos, oferecidos pelas gentes de East Providence.

As geminações não podem - ou não devem ser apenas para ostentação de títulos. São mais do que isso, como bem provam as experiências da Lagoa, concelho que deverá ter o maior número de geminações dos Açores, entre as mais de 40 que existem na nossa região.

Este irmanar de comunidades é o cimento das relações históricas com destinos de acolhimento de milhares de açorianos, provando que o fenómeno emi-gratório é, provavelmente, uma das maiores riquezas da nossa História, a que a nossa região deve aproveitar em todos os sentidos.

Os Açores são uma região muito mais forte com a diáspora e é nessa força que deveremos assentar o privilégio das relações com o exterior, atraindo para as nossas ilhas todo o potencial da vasta comunidade espalhada pelos quatro cantos do mundo.

Quando desembarcamos nas sete partidas do mun-do, mesmo com todas as dificuldades, os açorianos são logo reconhecidos como gente de trabalho, humilde e de uma seriedade invulgar.

Foram estas características que desembocaram no sucesso da nossa emigração, em vários sectores de atividade.

Para todo o lado que vai um açoriano é logo bem acolhido, porque toda a história da emigração com origem nestas ilhas tem um marco de carácter muito forte, como muito bem retratou Herman Melville, no célebre romance “Moby Dick”, em 1851, quando elogia o pescador baleeiro açoriano.

O escritor micaelense Cristóvão de Aguiar conta que Alice Baker, uma famosa jornalista e escritora americana, quis vir aos Açores em 1882, conhecer de onde vinha essa gente de coragem e tão requisitada nas fábricas e pradarias dos EUA.

O que ela descreve nos jornais de então, em Nova Iorque, é de uma realidade cruel, mas que explica porque tantos açorianos emigraram.

Escrevia ela: “A agricultura de hoje nas ilhas dos Açores é a mesma que era no tempo de Davide e dos Profetas. A canga, o arado, a grade, a eira, a debulha e a joeira, tal como vêm descritas no Velho Testamento”.

Acerca das habitações das classes mais pobres, faz a seguinte descrição: “Os interiores são nus e vazios: um quarto, com os barrotes do teto a aparecer; chão térreo; ramos de árvores ocupando às vezes uma extremidade do aposento, à laia de quarto de cama; um sótão por cima, acessível por uma escada de mão e no chão um enxergão de palha. Não há chaminé nem fogão. A lareira não tem haste para suspender as panelas, nem trempa, constando apenas de uma pedra larga saída da parede e sobre ela lume de tojo e achas”.

Sobre a alimentação: “Entre os camponeses a carne é género de alimentação muito raro. Bolo grosseiro de milho cozido numa tripeça por cima das brasas, duro, ácido, pesado e fumoso, com um pedacito de queijo, de peixe ou uma pimenta e uma tijela de água fria”.

Com este retrato é fácil perceber a razão por que milhares e milhares de açorianos foram à procura das “Califórnias perdidas de abundância”, de que falava o poeta florentino.

Foi assim que os Açores contribuíram com um quarto da emigração total do nosso país, a maior de todas as regiões de Portugal.

Tivemos de tudo. Emigração por razões económicas e sociais, por razões familiares e até políticas, para fugir à guerra colonial e também para fugir aos cataclismos vulcânicos, como foi o célebre vulcão dos Capelinhos, no Faial, em 1957, com esta história magnânima de um Presidente dos EUA, John Kennedy, embora ainda senador, ao aprovar o “Azorean Refugge Act”, autorizando a concessão de 1.500 vistos definitivos à população desalojada.

Imaginem se fosse hoje, com um Presidente que faz exata-mente o contrário, querendo erguer muros e fechar fronteiras...

Esta magia das grandes califórnias perdidas de abundância, enfeitiçada por cartas de chamada recheadas de tentadores dólares e sacas de roupa cheirando à América, faz hoje com que a nação açoriana se estenda por um imenso rio através do Atlântico, apesar deste dilema doloroso de ter tudo, ter atingido o sonho, mas não ter a sua ilha.

O grande ribeiragrandense da Maia, o nosso querido Daniel de Sá, fez a descrição mais magistral deste dilema do emigrante, ao dizer que “sair da ilha, é a pior maneira de ficar nela!”.

Hoje evocamos a Emigração com um Museu na Ribeira Grande, temos uma Direção Regional das Comunidades exclu-sivamente dedicada à diáspora, uma transportadora regional que liga as principais cidades dos EUA e Canadá às nossas ilhas, mas é preciso mais.

Precisamos, por exemplo, de criar condições para atrair as segundas e terceiras gerações, os mais jovens das nossas comu-nidades.

Não faz sentido a quantidade de burocracias que atiramos aos emigrantes quando pretendem deixar uma marca na sua terra.

A Região - ou até mesmo cada município - deviam ter um Gabinete de Apoio ao Emigrante, local onde cada um se pudesse dirigir para receber apoio, orientações, sugestões ou mesmo re-solver problemas, desde os mais básicos aos mais complicados.

Se o Prémio Nobel da Medicina, nos EUA, Craig Melo, não se envergonhou de vir até à nossa ilha conhecer as origens da sua família, temos que agarrar este exemplo para outras empreitadas mais ambiciosas.

É preciso reativar os programas das Cidades Irmãs, porque é deste relacionamento, aprofundando os contactos com os açorianos que vivem nessas paragens, que poderemos criar programas de intercâmbio em diversas áreas e com benefícios para ambas as partes.

Nas relações económicas é difícil compreender como é que os Açores, tendo uma história com esta riqueza de emigração, com uma comunidade forte, influente e rica, não consegue atrair investimento nem tão pouco criar motivação para que a corrente económica entre os dois lados seja mais facilitada e desburocratizada.

As próprias autarquias têm que olhar de outra forma para este potencial que temos na nossa emigração, facilitando, por ex-emplo, a recuperação das moradias antigas dos nossos emigrantes ou dos seus familiares, ou até mesmo daqueles que pretendam ter uma casa aqui na sua terra.

Eu só ouço palavras de desmotivação pela enorme buroc-racia que todos encontram nesta terra quando se metem num empreendimento.

É justo que olhemos com outra dinâmica para as nossas comunidades.

Como dizia o poeta, há sempre uma ausência na alma açoriana.

Até criámos uma palavra intraduzível – a Saudade – esta palavra que imortalizou um dos mais bonitos poemas de Vitorino Nemésio, exatamente a propósito da emigração, ele que foi um emigrante à sua maneira:

Tenho uma saudade tão brabaDa ilha onde já não moroQue em velho só bebo a babaDo pouco pranto que choro

* Diretor Executivo do “Diário dos Açores” LP

cErâmica viEira

um Ex-libris dE lagoa

Fundada em 1862 por Bernardino da Silva, a Cerâmica Vieira é uma indústria artesanal emblemática não só da Lagoa como da ilha de S. Miguel e, igualmente, dos Açores. Ao cabo de 155 anos de intensa atividade, ela continua a manter-se na mesma família. Foi o que nos foi explicado com certo orgulho por Teresa Vieira e por sua irmã Manuela Vieira, trinetas de Bernardino da Silva, a quinta geração que lidera esta empresa familiar que é a única no domínio da cerâmica manual em S. Miguel.

O processo de produção continua inalterado. Dois tipos de barro vêm do continente em contentores e um terceiro é oriundo de Santa Maria. A pasta vermelha utilizada resulta da mistura destes 3 barros. Depois vai para a secção da olaria onde a peça é molda-da, secam depois dentro da própria olaria. Em seguida a peça vai cozer e em seguida é vidrada e pintada e torna a cozer novamente. Os fornos a gás que utilizamos representam a maior inovação relativamente às décadas anteriores, em que se usavam fornos a lenha. Os artistas são pessoas que já trabalham na Cerâmica há 20 ou 30 anos. Com exceção das encomendas específicas, os artistas têm carta-branca para escolherem os motivos pictóricos a utilizar. Apesar de tudo têm aparecido alguns jovens que têm permitido dar a necessária continuidade. Entre outras formas cerâmicas, o azulejo tem-se tornado muito popular, sendo particularmente utilizado para nomes de ruas e nomes de casas, para decorarem as cozinhas e as casas de banho. A clientela oriunda do estrangeiro é muito atraída pelos motivos do azulejo português.

É produzida uma razoável variedade de peças perfeitamente aceitável face à procura que inclui os lagoenses e sobretudo os nossos emigrantes e os estrangeiros. A política seguida tem sido a de inovar mas sempre mantendo a tradição. A grande época de vendas é, naturalmente, o Verão. Com o desenvolvimento da in-dústria turística a Cerâmica tem tido algum acréscimo nas vendas. A Cerâmica Vieira vende igualmente os seus produtos no exterior de S. Miguel em 2 pontos de venda: em Lisboa, na Catarina Portas e na Portugália, na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos. Não existem outros pontos de venda neste momento, designadamente noutros países da União Europeia e no Canadá por falta de representantes comerciais e também devido ao limitado volume de produção, pois que se trata de cerâmica manual. LP

Teresa Vieira, Foto LusoPresse

Por Osvaldo Cabral*

Por Joaquim Eusébio

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Fiche téchnique

LusoPresseLe journal de la Lusophonie

Siège SociaL6475, rue Salois - AuteuilLaval, H7H 1G7 - Québec, CanadaTéls.: (450) 628-0125 (450) 622-0134 (514) 835-7199courriel: [email protected] Web: www.lusopresse.com

editor: Norberto AGUIARadministradora: Anália NARCISOcontabilidade: Petra AGUIARPrimeiros Diretores: • Pedro Felizardo NEVES • José Vieira ARRUDA• Norberto AGUIAR

Diretor: Carlos de Jesus cf. de Redação: Norberto Aguiaradjunto/Redação: Jules NadeauConceção e Infografia: N. Aguiar

escrevem nesta edição:• Carlos de Jesus• Norberto Aguiar• Joaquim Eusébio• Raul Mesquita• Jules Nadeau• Humberta Araújo• Osvaldo Cabral• Adelaide Vilela• Anália Narciso

Revisora de textos: Vitória Faria

Societé canadienne des postes-Envois de publications canadiennes-Numéro de convention 1058924Dépôt légal Bibliothèque Nationale du Québec et Bibliothèque Nationale du Canada.Port de retour garanti.

Lusaq tVProdutor executivo:• Norberto AGUIARContatos: 514.835-7199 450.628-0125Programação:• Segunda-feira: 21h00 às 22h00• Sábado: 11h00 ao meio-dia(Ver informações: página 34)

Dra. Carla Grilo, d.d.s.

Escritório1095, rue Legendre est, Montréal (Québec)Tél.: (514) 385-Dent - Fax: (514) 385-4020

Clínica Dentária Christophe-Colomb

Dentista

arquitEto igor França:

dEmocratizar a Educação E a cultura

O concelho de Lagoa tem um pro-jeto de oferta museológica que se singulariza relativamente aos outros concelhos vizinhos.

Em conversa com o arq. Igor França, coordenador da Educação e da Cultura da Câ-mara Municipal da Lagoa, ficamos a saber que uma das suas principais valências contempla os conhecimentos ancestrais. Merecem aqui particular destaque o Núcleo Museológico do Cabouco, a Mercearia Tradicional que se pode visitar em Água de Pau e a exposição ligada às romarias tradicionais micaelenses patente na Casa do Romeiro de Santa Cruz. Esta última sublinha a profunda religiosidade das populações da região desde o século XVI, particularmente nos momentos de cataclismos. Todos estes núcleos foram perspetivados tendo em vista a visita não só dos visitantes locais como de turistas tanto nacionais como estrangeiros. Daí a realização de um suporte audiovisual, um documentário em português e legendado em inglês.

Outra importante valência referese a ex-posições de arte contemporânea. Incluem-se neste âmbito 2 exposições Âncora de longa duração.

Uma delas terá lugar no Convento de Santo António, em Santa Cruz, e abordará a importância que desde o século XVII teve este convento franciscano tanto em S. Miguel como no resto dos Açores, designadamente no âmbito educativo. No mesmo local, o visitante terá oportunidade de visitar outra exposição, a partir do Natal deste ano, desta feita evocativa dos presépios da Lagoa. É uma forma de sali-entar a importância que a olaria tem na cultura tradicional lagoense; ainda hoje, de resto, aqui trabalham vários bonecreiros.

Outra exposição de longa duração terá lugar em 3 salas da Casa da Cultura Carlos César e permitirá reunir a coleção de arte pertencente à Câmara Municipal que se en-contrava dispersa; vai ser igualmente dotada de informação adequada de acordo com as mais modernas normas museológicas.

Paralelamente vão funcionar mensal-mente várias exposições efémeras, estando desde já prevista para setembro uma de foto-grafia de Paulo Monteiro, intitulada A alma e o Povo, que visa homenagear a memória de atividades tradicionais que correm o risco de extinção. Estas exposições efémeras visam fomentar o hábito da visita a pessoas que nor-malmente o não fazem. Por outro lado, todas as exposições aqui mencionadas contêm infor-mação acessível a todos, independentemente do respetivo nível de educação. O grande objetivo é democratizar o acesso à cultura.

Outra grande preocupação tem sido a sensibilização para o património material. Nesse sentido, no Dia Mundial do Património, foi produzido e divulgado um cartaz com os diversos fontanários das 5 freguesias do con-celho contando um apelo ao respeito por essas peças patrimoniais. Por outro lado, está-se a promover a Tenda do Ferreiro Serrador, Sr. Benevides. O apoio camarário concedido visa contribuir para a preservação da materialidade daquele espaço.

Os diferentes núcleos museológicos lagoenses estão muito dispersos. Pretende-se criar uma articulação entre eles através de um programa informático que permita que por telemóvel e em diferentes línguas o visitante tenha uma ampla informação sobre cada núcleo e possa aceder a informação comple-mentar que o dirija para outros núcleos da La-goa. Entre esses núcleos, merecem menção a exposição de arte sacra na Igreja de Santa Cruz; uma outra na igreja da Ribeira Chã, a partir das tradições recolhidas pelo padre João Flores no século passado e a da Cerâmica Vieira sobre a atividade desta unidade artesanal.

O arquiteto Igor França salientou-nos igualmente um projeto que pretende desen-volver e que consiste na concessão de isenção de IMI aos proprietários de edifícios já classi-ficados ou a classificar como possuindo valor patrimonial.

No que respeita ao associativismo está a ser preparado um projeto envolvendo as filarmónicas.

Salientemos ainda a preocupação que tem havido na articulação com as escolas dos diferentes níveis de ensino. Nesse sentido, as bibliotecas das escolas secundárias da Lagoa, Fisher e de Água de Pau foram dotadas no início do ano letivo com novas coleções de livros. Por seu turno, as escolas do 1º ciclo do concelho receberam painéis com a imagem e um texto explicativo sobre o patrono de cada uma delas.

Uma referência ainda para as Sessões de Cidadania que têm sido promovidas junto dos alunos da Escola Secundária da Lagoa. Diferentes protagonistas nas áreas sociais, culturais e políticas têm participado em conferências seguidas de debate com 2 turmas. No final do ano haverá uma sessão de apresentação de conclusões. Visa-se com esta iniciativa contribuir para a criação duma massa crítica nos alunos e simultaneamente para a desconstrução de um conjunto de preconceitos que circulam frequentemente, tendo em vista a criação de uma mentalidade de intervenção e de participação na vida pública.

Arquiteto Igor França.

Fraternidade rural…mulher jovem é presidente

existe desde 1863 a banda Fraternidade Rural de Água de Pau que tem o privilégio de ser dirigida por uma presidente: Graça Andrade, 37 anos, que está ligada aquela filarmónica há cerca de 20, onde foi secretária, tesoureira e depois de 6 anos, presidente.

Nas suas preocupações actuais conta-se a necessidade de desenvolver e aumentar os efectivos da banda, para o que fazem anúncios na igreja da Vila, convidando jovens e menos jovens a aproximarem-se e inscreverem-se na escola de música da Sociedade.

Dos objectivos para o ano corrente, conta-se a viagem feita aos Estados Unidos. Feito o orçamento das despesas da viagem organizaram campanhas de financiamento e a diferença foi paga pela banda. Estiveram em Nova Bedford, Nova Iorque, Newport e confraternizaram com a Banda da Nossa Senhora dos Anjos (USA).

O segundo objectivo está quase a ser alcançado. Trata-se de adquirir novos fardamentos para os músicos com a ajuda da Câmara Municipal.

Entretanto e ainda graças à boa vontade e colaboração da municipalidade, está em fase avançada a aquisição de um imóvel para as novas instalações da Filarmónica, o que espera possa ainda acontecer durante o ano em curso.

Graça Andrade, mulher dinâmica e cheia de garra, à frente da Fraternidade Rural onde desenvolve excelente trabalho.

Publicidade:(514) 835-7199

LP

LP

Por Joaquim eusébiO

Por raul MesQuita

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de sainte-thérèse e lagoa

os clubes lions seguem o exemplo

O Clube Lions de Sainte-Thérèse associa-se plenamente ao Pacto de Amizade concluído entre esta municipalidade e a de Lagoa, nos Açores. Um protocolo de geminação foi assinado entre os dois Lions a 6 de outubro último, recorda Maude Gauthier, responsável do dossiê iniciado em abril de 2015. As comunicações estão bem estabelecidas dos dois lados. A próxima etapa a planificar será a troca de delegações – o que deverá fazer-se até 2018.

Para consolidar as relações, os amigos de Lagoa puderam ver a bandeira dos Açores num suporte do clube do Quebeque, gesto que se repetiu em cada evento do Clube Lions de Sainte-Thérèse.

Os dois clubes começaram a fazer trocas a partir de 2015 e uma conferência Skype teve lugar em outubro de 2016. Mme Maude Gauthier gostaria de ter formado mais cedo um grupo de representantes para ir a São Miguel e começar a estabelecer laços de pessoa a pessoa, mas esta primeira viagem não deve tardar, explicou a promotora das trocas numa entrevista ao LusoPresse. Testemunho da vitalidade das relações, a presidente da Câmara, Sylvie Surprenant, efetuou uma viagem além Atlântico, em junho último.

O Clube Lions de Sainte-Thérèse foi fundado em 1968 e, desde o início do seu mandato, a atual presidente, Danielle Corbeil (2017-2018), tem orgulho de poder afirmar: «Estamos presentes desde há 50 anos». Ela própria possui a carta de membro há 20 anos numa organização que esteve na origem reservada unicamente aos homens, coisa que mudou completamente. Sainte-Thérèse conta agora mais de 70 membros.

Pelo seu lado, o Lions de Lagoa conta 25 anos de existência. A presidente da Câmara, Cristina Calisto, honrou a instituição portuguesa com a sua presença e fez uma teleconferência com a sua homóloga Sylvie Surprenant no dia do aniversário.

De passagem, mencionemos a notícia da primavera passada deixada na página Facebook de Sainte-Thérèse. No momento das tristes inundações desta localidade, Armando Melo, então presidente da Câmara substituto, entregou pessoalmente aos Lions das Lauren-tides um cheque de assistência destinado aos sinistrados. Personalidade desportiva bem conhecida, o Sr. Melo é originário de Lagoa e tem um papel importante nas relações bilaterais.

Desde a fundação, a 14 de maio de 1968, o clube «deu 1,3 milhões de dólares à comunidade». Uma das suas obras consiste em fazer reciclar os óculos usados a fim de lutar contra a cegueira, uma colheita de cerca de 5 000 pares por ano, pode ler-se no portal:

www.clublionssaintetherese.com.Em todo o mundo, podem contar-se cerca de 46 000 clubes que

agrupam o número impressionante de 1,4 milhões de participantes. Trata-se da maior organização filantrópica que existe desde 1917.

Em sainte-thérese…

Flutua a bandeira do lions clube de lagoa

LP

José Manuel Baião, o nosso entrevistado, na companhia de Cristina Calisto, presidente da Câmara. Foto de arquivo.

Procurámos o caríssimo senhor José Manuel Baião - até muito recentemente presidente da Direcção do Clube Lions de lagoa e no momento actual, secretário da prestigiosa instituição. Porque estamos numa fase muito atarefada na confecção deste jornal especial sobre a geminação de Lagoa com a cidade quebequense de Santa Teresa, este contacto surgiu pelo telefone na dificuldade de conciliarmos tempos disponíveis para o fazer pessoalmente. Valeu-nos porém a extraor-dinária simpatia e compreensão do senhor José Manuel Baião, que permitiu este alinhavado de palavras em forma de texto explicativo sobre as actividades sócio-comunitárias do Lions Clube de Lagoa.

Em traços gerais sabemos que o Lions Clube da Lagoa existe desde 1992 e que em janeiro passado completou 25 anos, comemorados com grandes festejos.

E s t á i n t e g r a d o n a A s s o c i a ç ã o Internacional dos Lions e apoia vertentes que são comuns entre os clubes de orientação lionistica que passam pelos cuidados a dispensar às crianças, aos idosos e às famílias com carências financeiras, salientando-se a valência em Santa Cruz da Casa Lions que em colaboração com a CATL – Centro de Actividades Tempos Livres - recebe crianças em idade escolar, para complemento alimentar e de escolaridade.

Normalmente a Casa Lions recebe 43 cri-anças que saindo da escola vão até lá todos os dias, recebendo formação e lanche facilitados pela municipalidade de Lagoa.

O Lions Clube organiza igualmente um Rastreio de Saúde sob a bandeira “Educação para a saúde” permitindo derivar para vertentes

de diversas especialidades como, doenças da visão; doenças cardio-vasculares; diabetes; obesidade; alteração arterial e doenças dentárias, entre outras, facilitando a detecção de doenças até aí desconhecias pelos inspeccionados. De notar todavia que em caso de dificuldades financeiras o Lions ajuda sempre que necessário. Neste aspeto social, o Lions Clube da Lagoa, tem um programa de ajuda alimentar mensal a várias famílias da região e neste ano lionístico que vai do 1 de julho ao 30 de junho tiveram larga actividade e já foi determinado manter o dito programa para o ano em curso.

Estes são, em termos gerais, os objectivos e realizações do Lions Clube da Lagoa.

Quisemos depois informar-nos sobre o intercâmbio e resultados da geminação da instituição lagoense e a sua congénere de Santa Teresa, no Quebeque, ocorrida a 6 de outubro do ano passado, ao que o nosso correspondente amavelmente acedeu dizendo que no Lions Clube da Lagoa entendem ser interessantíssimo organizar encontros com o Lions Clube de Sainte-Thérèse, fazendo trocas de programas existentes e, em contactos informais estabelecidos entre as duas instituições caritativas, soube-se da amabilidade do clube quebequense em apresentar e saudar a bandeira da Lagoa em certas manifestações onde estão representados. A ideia de se visitarem foi por assim dizer formalizada e decidiram efectuar intercâmbios de delegações, sendo esperada brevemente, na Lagoa, a primeira visita dos Lions de Ste-Thérèse, estando prevista para o ano que vem a deslocação a esta cidade, duma delegação da Lagoa.

Apenas nos faltava agradecer a generosa colaboração do senhor José Manuel Baião pelas gentilezas com que fomos presenteados.

Danielle Corbeil, presidente do Club Lions de Ste-Thérèse.

LP

no nElag – núcleo de empresários da lagoa…

queremos recuperar os associados perdidos

Numa curta visita a nosso pedido, Pedro Rodrigues, atual presidente do Nelag, forneceu-nos algumas explicações que permitem dar a conhecer aos nossos leitores o campo de ação daquele organismo de interesse comercial e público.

Soubemos assim que o número de membros se situa entre 80 e 90 comércios e que o novo presidente foi eleito, por unanimidade, numa assembleia-geral, a 26 de julho último.

Dado que por razões diversas alguns associados desistiram da sua afiliação, uma das primeiras metas a atingir para o novo dirigente é a de reconquistar a simpatia e patrocínio desses membros, inserindo-os de novo no seio do núcleo.

Uma das justificações que animam os dirigentes é o facto de se tratar de uma equipa jovem e dinâmica, preocupada com a expansão do comércio local e não apenas no ramo da restauração. Pensam, considerando a centralidade da cidade de Lagoa, que serão capazes de atrair mais empresas para o concelho.

Acreditam que deve ser o sector privado a ter iniciativas de de-senvolvimento e querem fazer uma carta de intenções, na qual conste que deve haver um limite para o ajuste directo, quando se tratar duma média de empresas.

A nossa óptica é a de facilitar as empresas. Talvez fosse bom instaurar um sistema de transporte, possivelmente privado, de forma a mobilizar serviços que expansionem o comércio local.

Como exemplo da eficácia privada, salien-temos o caso das Portas da Lagoa, que gerem sem problemas o Tecnoparque, segundo con-trato assinado com a Câmara, demonstrando o dinamismo que envolve aquele espaço.

Possuindo todas as condições que se impõem deve considerar-se que há outras assinaturas garantindo colaborações a difundir, como o caso de um eventual espaço para um hospital privado.

Ora neste pequeno alinhavado pro-curámos demonstrar as intenções da dinâmica direção da Nelag, esperando que ela possa contribuir a aumentar o número de associa-dos que o organismo que conta com várias valências, procura estabelecer. LP

Por Jules Nadeau

Por raul MesQuita

Por raul MesQuita

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a casa dos vulcõEs:

dEsmistiFicar a vulcanologia

O edifício foi inaugurado em 2006, embora o grupo de trabalho do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (OVGA), dirigido pelo professor Victor Hugo Forjaz (das Universidades de Aveiro e dos Açores), tenha iniciado a sua atividade em 2000. Trata-se de uma associação geológica sem fins lucrativos que integra a rede de Cen-tros de Ciência dos Açores, sendo subsidiado pelo Governo Regional dos Açores através da Direção Regional da Ciência e Tecnologia. Entre os seus objetivos contam-se a divulgação científica em áreas tão diversas como afins tais como são a Geologia, a Vulcanologia, a Sismologia, a Energia Geotérmica, a Petr-ologia, a Paleontologia e os Geoambientes, particularmente no que concerne aos Açores tanto junto dos açorianos, mas igualmente junto dos restantes visitantes nacionais e es-trangeiros. Tem uma média mensal de mais de 300 visitantes, chegando nos meses de verão a receber mais de 1000 visitantes. O OVGA está integrado na Organização Mundial de Obser-vatórios Vulcanológicos. Para lá da missão de divulgação e de vulgarização científicas, pratica a investigação trabalhando em estreita ligação com os congéneres da China e da Islândia, bem como protocolos com diversas universidades estrangeiras. Dispõe de um aparelho protótipo de tecnologia chinesa que permite detetar os movimentos das ilhas com uma precisão in-vulgar (existem apenas 2 outros semelhantes no Zanzibar e nas Canárias).

Luís Miguel Almeida, técnico de Geolo-gia e o sociólogo Pedro Correia de Almeida, receberam o LusoPresse e amavelmente dispuseram-se a responder a todas as nossas questões. Ficámos assim a saber que os vul-cões das zonas do Nordeste e da Povoação estão extintos. Os outros existentes, embora não estejam ativos, são potencialmente ativos. Recordemos o que ocorreu em 1957/58 com o vulcão dos Capelinhos, no Faial, por exemplo. Já em contrapartida as regiões do Havai, de Stromboli, do Etna, da Islândia são

consideradas como ativas. Os Açores são uma região muito peculiar pois se encontra no meio de 3 placas tectónicas (euro-asiática, africana e norte-americana) que fazem da região um verdadeiro livro aberto de Geologia e de Vul-canologia, dada a sua extrema geodiversidade. Aqui existem todos os tipos de vulcanismo que existem a nível mundial. Através das publi-cações do OVGA procura-se explicar quem somos, donde viemos, quais as características geológicas do arquipélago.

Os técnicos do Observatório vão regular-mente às escolas e acolhem os estudantes na Casa dos Vulcões. São também organizados trilhos, uma atividade que visa promover o conhecimento da Geologia. A parte principal da exposição está voltada para a Geologia em geral e para a geologia açoriana em particu-lar. Por outro lado, o Observatório fornece pareceres às câmaras municipais em assuntos ligados à Proteção Civil e faz a formação de agentes turísticos.

Um dos grandes objetivos dos técnicos que orientam as visitas é o de desmitificar a Vulcanologia. À partida as pessoas temem os vulcões, mas a maioria desconhece que um grande número dos minerais utilizados no quo-tidiano tem uma origem vulcânica ou termal.

Outros pontos igualmente muito inter-essantes na exposição permanente são uma magnífica coleção de fósseis que remontam a muitos milhões de anos bem como uma excelente coleção de minerais onde se incluem muitos sob a forma de belos cristais.

Sabia que... nas Furnas não há caldeiras, mas fumarolas? uma cratera e uma caldeira não são a mesma

coisa? se pode prever um vulcão? quando utiliza um tablete ou um telemóvel está a

usar micro silícios que são de origem vulcânica? a ilha de S. Miguel resulta da união de 2 ilhas? as lagoas das Furnas, das Sete Cidades e do Fogo

resultam apenas da acumulação da água das chuvas?

O geólogo Luís Miguel Almeida e o sociólogo Pedro Correia do OVGA. LusoPresse.

LP

na Freguesia de santa cruz…

a coleção visitável da matriz de lagoa

a Coleção Visitável da Matriz de Lagoa constitui para nós uma verdadeira surpresa. Inaugurada em maio passado por ocasião do Dia Internacional dos Museus, é acessível por uma parte lateral próxima da en-trada principal da Matriz. Este magnífico mu-seu de arte sacra cumpre integralmente a sua missão de permitir o estudo e a preservação do património histórico e artístico que pertencia a esta igreja, que como é sabido foi criada na 2ª metade do século XVI, tendo sofrido ao longo dos tempos inúmeras remodelações, particularmente no século XIX, quando é dotada de nova fachada e da atual torre sineira. No entanto, o templo quinhentista é já uma substituição de uma igreja mais pequena ex-istente nos meados do século XV e insuficiente

para a população existente nessa altura. Assim o acervo da Coleção reflete este périplo pelo tempo, juntando igualmente algum espólio vin-do da Igreja e do Convento de Santo António da Lagoa, extinto em 1832.

O mais original desta coleção reside no facto de terem sido constituídos vários espaços diversificados, seis núcleos expositivos que se articulam entre si e com a Matriz. Neles é possível observarmos peças de ourivesaria, de faiança, de azulejaria, de escultura, têxteis e mesmo a tradicional arte bonecreira.

Ciceroneados pelo padre Nuno Maiato, começámos por visitar na torre sineira o Nú-cleo da Imaginária – a escultura com função cultural. Mereceu-nos particular atenção a magnífica imagem da Imaculada Conceição, uma peça dos finais do século XVI, bem como um relicário setecentista do Sagrado Coração de Jesus; ambas as peças são em madeira poli-cromada. Passámos seguidamente ao Núcleo da Ourivesaria que se encontra próximo da Pia Batismal e que é composto por interessantes peças ligadas aos diversos sacramentos min-istrados na Igreja. Por seu turno, apreciámos num anexo da sacristia, o Núcleo de Cerâmica e Azulejaria, em especial o exemplar de azulejo hispano-árabe do século XVI aí exposto e que é oriundo da Ermida de Nossa Senhora dos Remédios e um outro do século XVII. Estes azulejos fazem contraponto a peças litúrgicas dos nossos dias, pintadas em azul e branco,

feitas pela Cerâmica Vieira, numa homenagem à Louça da Lagoa. O Núcleo Processional foi talvez um dos que mais nos encantou. Uma dramática Virgem da Soledade abre uma fictícia procissão, seguindo-se o Senhor Morto sob um belo pálio. A procissão segue por cima de uma reprodução fotográfica de um belo tapete de flores que é acompanhado por um molde de fabrico desse tapete tão característico nas procissões micaelenses. Nas paredes da sala estão expostos os elementos tão frequentes nestas ocasiões: a lanterna e a cruz processionais, o saxofone das bandas de música, as opas e as roupinhas de anjo. Daí passámos ao Núcleo da Paramentaria, talvez o menos conseguido, mas onde uma roda das cores e um jogo de caixas permite elucidar sobre a simbologia das cores dos paramentos. O Núcleo da arte bonecreira encerra de forma magnífica esta exposição. Duas salas da antiga

catequese contêm 33 quadros do Novo Tes-tamento desde o Anunciação até à Ascensão. São uma obra adorável do bonecreiro lagoense António Alberto Cordeiro Amaral que tocou profundamente a nossa sensibilidade pela sua ingenuidade e pela riqueza iconográfica que possuem.

Em conversa com o padre Maiato ficámos a saber que a ideia da criação deste museu nas-ceu da necessidade que sentiu da preservação dum património que estava em riscos a que se associou em boa hora a Dra. Joana Simas. Por outro lado, receberam igualmente uma grande colaboração da Dra. Susana Goulart Costa e do arquiteto Igor França (que integram a Comissão Diocesana para os Bens Culturais da Igreja). Houve igualmente um precioso apoio da Câmara Municipal de Lagoa em termos das pequenas obras que foram feitas. Foi igualmente estabelecido um protocolo com a Secretaria das Obras Públicas do Governo Regional a nível de obras. Esperam no entanto que outros apoios possam surgir.

Nota alta para este verdadeiro museu de arte sacra que se visita com muito agrado, que possui uma excelente informação em português e inglês junto de cada peça, que une a arte religiosa e a museologia, que celebra a religiosidade dos lagoenses, mas também a sua sensibilidade artística e os seus valores antropológicos e etnográficos numa exposição de alto valor museológico. LP

Por Joaquim eusébiO Por Joaquim eusébiO

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Página 730 de agosto de 2017 LusoPresse

instituto cultural padrE João José tavarEs…

uma lição dE história da lagoa

a equipa do LusoPresse, em força, esteve no Instituto Cultural Padre João José Tavares, onde encontrou o dinâmico e apaixonado de história de arte e presidente do organismo senhor Rui Câmara, que estava acompanhado pela professora Maria Palmira Bettencourt, responsável pelo departamento de Música do referido instituto cultural.

O senhor Rui Câmara é uma fonte inesgotável de conhecimentos históricos da Lagoa, a cidade que conhece e ama, para a qual tem projectos que apenas deseja e espera colaboração, compreensão e sensibilidade de autarcas e demais responsáveis culturais, da gente interessada em deixar para os vindouros reflexos da vida actual e passada, escrevendo a história da cidade nos seus aspectos urbano, patrimonial, social e cultural, considerando que “como não será possível vivermos sempre, deixemos algo que ateste termos vivido”.

O Instituto existe desde 7 de Abril de 2008 e até 2016 realizaram 36 eventos culturais de grande envergadura, consagrando exposições – sobre jornais, fotografias e literatura, filmes antigos, sessões musicais, etc.

Têm publicado vários livros e revistas sobretudo dedicados a assuntos relacionados com a defesa do Património e um dos próximos objectivos será reescrever a História da Lagoa, suas antigas fábricas e diferentes indústrias do passado. As fábricas de cal, de telha, de cerâmica de boa qualidade e como exemplos falou-se da Cerâmica da Guia, do mestre António Rouxinol, do mestre Renato, que fez grande parte dos lustres, portais e outros trabalhos de serralharia artística executados na sua oficina, do mestre Lima, figura que como tantos outros merece realce, destaque, e ser lembrado por quem não teve o privilégio de com ele conviver; do carpinteiro ou do tanoeiro que se tornou famoso…

Depois de termos passado em revista a toponímia da cidade e a grande variedade de naturais ilustres que parecem estar esquecidos pelos responsáveis urbanísticos, citaram-se alguns erros em que as figuras escolhidas não coincidem com as datas que lhes são atribuí-das. É o caso do imbróglio à volta da rua do Conselheiro José Eusébio Poças Falcão e os nomes dos seus dois filhos.

Isto, possivelmente, fará parte do con-teúdo duma revista, pensada e provavelmente a publicar ainda este ano, com o nome de Laguna, a ser impressa e divulgada anualmente.

Entre os vários temas que iam sendo propostos ao ritmo de um sulfuroso caudal saindo da encosta duma das serras da ilha, relembrou a existência de tantas ermidas dis-persas um pouco por todo o lado, às quais já foram dados nomes diferentes e cujas histórias estão ainda por contar.

A Rota das Ermidas – livro a fazer e a publicar. Falámos da Ermida do Lugar dos Remédios, cujo traçado e aparência geral é respeitadora do traçado original. Os azulejos “hispano mourisco” no frontal da ermida são originais da época. Porém, foram para lá levados, retirados duma outra ermida que entretanto desapareceu.

Outro tema digno de registo será a história a fazer da rua dos fontenários, muitas vezes pesquisados sob o nome da rua Antó-nio Pacheco Pereira, quando se encontram informações espalhadas por nomes diferentes, o que é desconhecido para muita gente. De-vemos aqui fazer uma observação pertinente: por vezes a Câmara, onde trabalha muita gente capaz e bem-intencionada, publica bro-churas de carácter histórico apoiadas em más informações. Ou seja, na opinião do nosso interlocutor, as entidades municipais deveriam ouvir o parecer de gente mais preparada para fornecer opinião abalizada sob a historiografia local, a serem debatidos. Porque tudo quanto caia no âmbito do património, no sentido

largo, é preocupação do Instituto Cultural. E, segundo o presidente, casos deste género, fo-ram já sugeridos por ele junto das autoridades respetivas. Esperemos que não tenham caído nas orelhas de surdos…

E por falar em ouvidos, lembramos que o Instituto organiza regularmente espectáculos musicais, por vezes recorrendo a artistas es-trangeiros, tanto no campo instrumental como no vocal, que recebem sempre um público entusiasta e numeroso, obrigando por vezes a pedidos de desculpas por não terem lugar para tanta gente interessada. Este sector é dirigido e apresentado pela senhora professora Palmira, a “alma-mater” da música clássica.

Teríamos continuado com os nossos ilus-tres anfitriões, não fora a urgência de acelerar

a composição do jornal.Mas gostaríamos de ter continuado a

sonhar com a construção ou organização de um espaço destinado à realização do Museu da Lagoa, aproveitando todos os doadores que acabarão por desaparecer, falta de apoios e sen-sibilidade das autoridades. É mais que tempo de pensar-se nisso a sério. A cidade merece mais que aquilo que tem. E pode ter. Deixar para as novas gerações o cordão umbilical que os una às gerações passadas. Enquanto é tempo. E urge.

Muitíssimos gratos à professora Palmira Bettencourt e ao presidente do Instituto, que é uma enciclopédia ambulante, sobretudo da História da Lagoa, senhor Rui Câmara, pelas atenções recebidas.

Rui Câmara, presidente do Instituto Cultural Padre João José Tavares. Foto LusoPresse.

Filarmónica lira do rosário

com novos fardamentos e estandarte

a Filarmónica Lira do Rosário foi fundada a 20 de abril de 1920 e é dirigida por Paulo Cordeiro desde há 18 anos, sendo director há 22.

A Filarmónica conta com 33 músicos, 3 porta-estandartes e 7 directores.

Atua na grande região micaelense nas procissões e concertos, tendo-se já deslocado aos Estados Unidos e Canadá (Toronto, Montreal…), gravando um CD na cidade-rainha. Visitaram já, também, o Continente, o Arquipélago de uma forma geral e a Madeira.

Tem como objectivo permanente manter intercâmbio com o Continente mesmo se, na época presente, não seja fácil devido à crise que se instalou o que, logicamente limita quaisquer deslocações.

De notar que todos os músicos – e diz-se aqui apenas em jeito de informação – são da freguesia do Rosário.

Foi feito um apelo à Asdep para ajuda na compra de fardamentos, para o que também se espera participação camarária.

A ideia do pessoal da direção da

Filarmónica, que tem desde algumas semanas um novo estandarte adquirido e pago pelos diretores, é a de inaugurar o fardamento e estandarte no próximo mês de outubro, no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário.

Eis, pois, um pequeno apontamento sobre uma instituição de grande relevo na vida social da população da freguesia do Rosário, no centro da aglomeração da cidade de Lagoa. LP

Palmira Bettencourt e Rui Câmara, dois grandes promotores da música, da história e do património no concelho de Lagoa através do Instituto Padre João José Tavares. Foto LusoPresse.

Por raul MesQuita

LP

raul MesQuita

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Página 830 de agosto de 2017 LusoPresse

nos rEmédios, santa cruz…

José raul, homEm da tErra E dE tradiçõEs

José Raul é figura de empreendedor e colaborador exaustivo das muitas actividades que regularmente projecta e constrói, sempre com a boa vontade que o caracteriza e cuja entidade que mais o anima é sempre o povo, a quem se tem dedicado.

Foi há 26 anos que começou nestas an-danças, imaginando, auscultando, consultando o maior número possível de colaboradores, indo ao fundo das origens de cada um, na procura de um consenso que pudesse satisfazer a maioria e, desse modo, retratar as imagens das tradições que habitam cada cidadão, cada natural ou residente dos Remédios.

Pequena nesga de terreno incorporado na freguesia de Santa Cruz, concelho da Lagoa, Remédios começou assim há quase 30 anos a organizar a Procissão, que voa hoje pelas suas próprias asas, graças aos apoios e participação dos vários voluntários que entretanto foram surgindo, embalados pelo dinamismo e espírito de equipa que José Raul conseguiu imprimir no grupo, que realiza o Festival das Cantorias ao Desafio, Império de Pentecostes e Festas da Padroeira Nossa Senhora das Neves.

Nessa época foi o Império de Pentecostes que despoletou tudo. O interesse destacou-se, as pessoas motivaram-se e a obra começou a surgir. Como quem sobe uma escadaria de mármores exuberantes, degrau a degrau, para apreciar a finação, assim nasceu 12 anos mais tarde a Associação Cultural, que reúne novos e velhos no mesmo espírito de abertura e colaboração, a fim de partilhar e manter os Valores e Tradições da Região e Nacionais.

Daí a origem do Festival de Cantorias ao Desafio que contou já com as presenças de cantadores de vários sítios do país e, em cada mês de Fevereiro realizam um programa no campo de futsal cuja existência soma já 21 anos. Este terreno serve igualmente para outros tipos de eventos.

Entretanto outras ideias, outros projectos surgem e vão fazendo o seu percurso. Neste campo, encontra-se a recuperação da escola pública, abandonada pelas autoridades esco-lares devido à falta de alunos, transformando-a numa sala de actividades comunitária, dando continuidade a projectos de recuperação como aqueles que já foram efectuados com a ajuda da

Junta de Freguesia e Câmara Municipal. José Raul sente-se orgulhoso pelos protocolos que assinou neste sentido, tendo a Junta passado à Câmara, que fez as obras nos prédios cedidos para a Associação.

O presidente da Associação Recreativa e Cultural dos Remédios após estes 26 anos à frente desta instituição e organizador de todos os eventos que ali se realizam começa a sentir-se cansado e a necessitar de alguém que o substitua nestes encargos. É este o ponto negativo que consegue perturbá-lo. Apesar das muitas tentativas que tem feito, ainda não encontrou a pérola rara que o possa substituir.

Em todas as outras situações sempre tem encontrado gente e apoios que necessita nas suas actividades. E sente-se satisfeito com as amizades que vai encontrando, tanto no campo recreativo como no pessoal, já que José Raul cria gado expressamente para oferecer para

banda Estrela d‘alva de santa cruz

apoio precisa-se

uma outra mulher é presidente duma filarmónica. Desta vez trata-se de Sandra Moniz, alegre e conciliadora na presidência da Banda Estrela d‘Alva de Santa Cruz, que soma já 130 anos de actividade.

A Sandra Moniz colabora com esta filarmónica desde 1994, quando começou como secretária e foi subindo os escalões até ao posto de Presidente, que ocupa desde 2003.

A Estrla d‘Alva tem cerca de 40 músicos, vários outros como alunos na Escola de Música e, para satisfação de todos, tem acontecido que alguns dos seus músicos acabam por ser recrutados para certas orquestras e passam pelo Conservatório para “afinação” de capacidades, muitos deles tornando-se assim profissionais.

Como objetivos principais, a filarmónica quer comprar novos fardamentos, tendo já conseguido obter alguns, mas ainda faltam outros a substituir.

O segundo objetivo é a compra de instrumentos, pois os actuais são demasiados velhos, caso das tubas que custam cada uma cerca de 6 mil euros, uma pequena fortuna para pequenos orçamentos. Pedem a ajuda de quantos os possam ajudar já que a situação é dramática. Neste caso, torna-se indispensável, pelo menos, a compra duma tuba. E necessitam também de um bombo. (De preferência 2).

Todavia, apesar destas contrariedades, Sandra Moniz tem muito orgulho em ser Presidente da Banda e continuará a fazer os impossíveis para a levar a bom porto.

Coragem, Sandra, e boa sorte.

as Festas e além disso possui um café, com larga clientela. Não esquecer que para além disto, José Raul é funcionário da Câmara Mu-nicipal de Ponta Delgada, onde é motorista de viaturas pesadas, utilizadas nas obras de manutenção urbana.

Este foi um pequeno resumo sobre a vida sócio-comunitária de um homem da terra e das Tradições que orgulha e honra os seus concidadãos. José Raul, um nome a não esquecer.

Publicidade:(514) 835-7199

LP

as gEminaçõEs dE lagoaO concelho de Lagoa, situado na costa sul da Ilha de

São Miguel, no Arquipélago dos Açores, desenvolve-se a leste de Ponta Delgada e tanto pela organização do povoamento como pelas infraestruturas rodoviárias, integra a expansão da cidade.

Constituído por cinco freguesias, Rosário e Santa Cruz, zonas urbanas mais centralizadas e três outras mais dispersas, sendo Cabouco a mais distante e as duas restantes, Ribeira Chã e Água de Pau, têm as especificidades característias de freguesia mais isolada e a segunda, a mais periférica sendo uma vila piscatória.

A cidade de Lagoa, nos Açores, está geminada às seguintes cidades no país e estrangeiro:

1994 – Sainte-Thérèse – Quebeque - Canadá2003 – Dartmouth – EUA2005 – Rehoboth – EUA2006 – Bristol – EUA2007 – New Bedford – EUA2008 – Taunton – EUA2008 – Lagoa – Algarve2010 – Biguaçu – Sta. Catarina – Brasil2013 – Santa Cruz – Ilha de Santiago – Cabo Verde. LP

Por raul MesQuita e Norberto aguiar

LP

Por raul MesQuita

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Página 930 de agosto de 2017 LusoPresse

Freguesia da ribeira chã

José pacheco…

tem liderança da ribeira chã como objectivo

na ribEira chã:

«para crEscEr prEcisamos dE mais habitação»

t em apenas 366 pessoas num espaço geográfico de 2,52 quilómetros quadrados. Tornou-se freguesia a 18 de maio de 1966 por impulso do padre João Caetano Flores, natural da Fajã dos Vimes, na ilha de São Jorge. De resto, se a Ribeira Chã se tornou freguesia naquela altura e é o que é hoje, muito deve àquele malogrado padre, um dos mais ativos sacerdotes da ilha no nosso tempo de jovem adulto.

O padre João Flores chegou à Ribeira Chã em 1956 e logo dinamizou o curato de Nossa Senhora da Ajuda. Primeiro construiu, com a ajuda da população, que chegou a dar dinheiro do seu parco salário, uma igreja nova (passou a ser dedicada a São José), pois até então apenas ali havia uma ermida. Depois criou vários museus etnográficos, dando à Ribeira Chã ares de freguesia cultural. E sempre com a preciosa colaboração dos residentes e emigrantes, o padre Flores foi sempre elevando o nome da freguesia, a mais pequena de São Miguel – mas

José Pacheco, 46 anos, designer gráfico, no plano profissional é membro da Associação dos Designers, foi responsável de duas editoras, de revistas e de vários sítios que ainda mantém. Tem ainda uma revista em papel que trata de automobilismo.

Desenvolveu um projecto na Ribeira Chã de um grupo musical, “Os filhos da Terra”, composto por elementos nascidos e criados na região, que obteve razoável êxito. É fotógrafo e faz vídeos descritivos e paisagísticos da região, incluindo a demonstração das Festas Populares.

No campo político, José Pacheco é candidato à presidência da Junta de Freguesia de Ribeira Chã e preconiza as seguintes medidas para atingir os seus objectivos:

- Reabilitação das habitações que se encontram degradadas- Lançar um verdadeiro loteamento para os jovens a fim de que

eles criem raízes na terra- Envolver os jovens e os mais idosos no progresso da freguesia- Instalação de um multibanco- Envolvimento da Freguesia na dinamização do nosso património

museológico- Manter em bom estado os caminhos rurais e encontrar soluções

para as ruas que estão há muito tempo em estudo.- Proporcionar actividades lúdicas para as crianças- Criar uma infraestrutura turística que estimule a economia local

e gere empregos.- Concretizar com eficácia os necessários cuidados de saúde.

ribeira Chã é uma freguesia rural açoriana do concelho da Lagoa, ilha de São Miguel, com 2,52 km² de área e 396 habitantes (2011), o que corresponde a uma densidade populacional de 157,1 hab/km².

Apesar do povoamento ser antigo, existindo antes de 1637, o povoado apenas foi elevado a curato em 1902 e a freguesia e paróquia em 1966, tendo funcionado sempre na área de influência da antiga vila de Água de Pau. O desenvolvimento do lugar gan-hou grande dinamismo a partir da década de 1960, em boa parte por influência do padre João Caetano Flores, com a elevação a freguesia, a construção de uma moderna igreja, a criação de um invejável núcleo museológico e o aparecimento de diversas insti-tuições, entre elas um jardim-de-infância pioneiro na educação pré-escolar na ilha de São Miguel.

O Museu da Ribeira Chã, criado em 1977, é constituído por vários espaços museológicos, designados por museus: o Museu de Arte Sacra e Etnografia; o Museu Agrícola e Quintal Etnográfico e de Endemismo Açórico; o Núcleo Museológico da Cultura do Pastel nos Açores; o Museu do Vinho e a Casa Maria dos Anjos Melo.

Principais actores da vida social, comunitária e cultural:Centro Social e Paroquial da Ribeira Chã; Associação de Jovens da

Ribeira Chã; Agrupamento de Escuteiros – 1333 - Ribeira Chã. LP

Em suma, é tempo de pensar e projectar esta terra para o futuro.

Raul Mesquita

LP

mesmo assim com quase as mesmas pessoas de toda a ilha do Corvo, cerca de quatro centenas – até ao seu falecimento.

É esta freguesia que tem por atual presidente a professora primária – tem formação em Educação Infantil – Vitória Francisca Couto, jovem (31 anos) nascida na Bermuda e que chegou à Ribeira Chã com a tenra idade de 9 anos.

Dizendo-se amante da coisa política, Vitória Couto diz-nos que apesar de inexperiente tem tido muito apoio dos seus colaboradores, grande parte transitou da equipa de Albertina Oliveira que chefiou a freguesia durante 16 anos e é agora a presidente da Assembleia Municipal.

«Comecei como independente. Em 2013 aderi ao Partido Socialista. Mas a minha formação cívica começou pela igreja ao fazer parte do grupo coral; fui catequista, fiz parte dos grupos de jovens. Sempre gostei de me implicar».

«Acho que tenho vindo a fazer um bom trabalho, com a ajuda de toda a equipa. Estamos cá para ajudar na melhoria das condições de vida da nossa população. Os nossos principais problemas? A falta de habitação, pois precisamos de loteamentos, que não os há e quando os há, alguns pertencem a emigrantes que não os querem vender ou são muito caros. A falta de uma escola, a que havia fechou por uma má de-cisão do governo. Ainda não digerimos essa história das nossas crianças terem de ir para Água de Pau para se escolarizarem. Vamos continuar a lutar para que a escola volte a ser uma realidade na Ribeira Chã».

Estava embalada, a jovem presidente. E não era para menos, pois tratava-se de reais problemas vividos no quotidiano pela sua população... Mas disse mais Vitória Couto.

«Para que a nossa juventude não abandone a freguesia, que hoje está a pouco mais de 15 minutos de Ponta Delgada, tem a sede do concelho (de Lagoa) a poente e Vila Franca a nascente a escassos minutos; tem a Praia de Água d’Alto praticamente a seus pés, dizia, para que a nossa juventude fique cá é preciso projetos de retenção e estes passam forçosamente por haver mais e melhor habitação», reforça a decidida presidente.

No aspeto cultural já falámos nos museus etnográficos, quase todos virados para o plano da agricultura, não fosse a Ribeira Chã um aglomerado essencialmente rural. E quanto a animação cultural e artística tanto do gosto dos mais novos?

«A freguesia tem, para além de ser um presépio vivo, como deve ter visto – vimos sim, senhora –, muita animação festiva. Desde as nossas célebres noites de fado, concursos diversos, como o da Malassada; temos várias provas desportivas durante o ano. O polidesportivo e a sua equipa de futsal estão sempre muito ativos. Há espetáculos musicais. Temos o concorrido Dia do Idoso. Há teatro, a começar pelas crianças. Os nossos emigrantes também colaboram, principalmente no mês julho, quando a freguesia está em plena ebulição. Chegam a estar na freguesia 500 a 600 emigrantes ao mesmo tempo, o que dá animação e colorido à Ribeira Chã. E contamos com muito apoio do povo».

A entrevista, feita na sede da Junta, estava a terminar quando ainda tivemos tempo para mais isto: – É minha convicção, apesar de alguns problemas, que a Ribeira Chã vai continuar a crescer, pois criaremos condições para reter a nossa juventude, que é o futuro da nossa comunidade.

Com uma mercearia e um snack bar, um polidesportivo, uma igreja nova, vários museus, ruas todas asfaltadas e a autoestrada ali à mão de semear, não temos dúvidas que a Ribeira Chã tem todas as condições para continuar na senda do progresso.

Vitória Couto prepara-se para concorrer às eleições de outubro próximo. Ela lidera a lista do Partido Socialista à Junta.

entrevista de Norberto aguiar

LP

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Página 1030 de agosto de 2017 LusoPresse

Em água dE pau…prEsidEntE dE clubE dEsportivo é candidato

à Junta dE água dE pau

candidato ps dEFinE prioridadEs

O LusoPresse teve oportunidade de contactar o candidato do Partido Socialista, Paulo Ricardo Melo, procurando inquirir das suas motivações.

Considera esta ocasião como uma oportunidade para pôr ao serviço de Água de Pau a sua seriedade, o seu dinamismo e o seu empenhamento no trabalho. Apresentou-nos de seguida as principais medidas que propõe, que não considera serem promessas, mas autênticos desafios. Se for eleito, pretende que a Junta de Freguesia apoie as festas de Nossa Senhora dos Anjos, bem como as instituições, grupos e associações da vila de Água de Pau.

Na sua opinião, urge melhorar o jardim de Nossa Senhora dos Anjos, reforçando a iluminação e fazer novas casas de banho. Por seu turno, defende o apoio ao artesanato local, pois há muito para crescer nesta área. É fundamental modernizar e ampliar o parque infantil, garantindo um maior conforto às crianças que utilizam aquele espaço, bem como a construção de um parque pedagógico a elas destinado. Outros importantes desafios que propõe são: incentivar novas zonas destinadas a

construção; melhorar a zona balnear do Cerco; recuperar as festividades da nossa freguesia; criar o roteiro turístico da vila de Água de Pau; proporcionar convívios com os mais idosos, e tentar fazer com que entrem em atividades, para que não se sintam sós nem desprezados, mas úteis na sociedade; melhorar caminhos agrícolas e promover medidas de apoio à habitação degradada.

Paulo Ricardo Melo.

LP

água dE pau – candidato do psd

mikE soarEs E as suas propostas

Mike Soares é candidato à presidên-cia da Junta de Freguesia de Água de Pau e tem muita vontade em se aplicar no desen-volvimento da sua freguesia, apresentando-se sob a bandeira do PSD e tem ideias bastante concisas sobre o que deve fazer se os eleitores da sua localidade decidirem apoiá-lo no dia 1 de outubro próximo.

Conversámos um pouco sobre a cam-panha em curso procurando realçar os pontos mais importantes do seu programa.

Entre os vários temas elaborados, Mike Soares quer recuperar o Cine Teatro de Água de Pau, a fim de devolver aos cidadãos pau-enses o prazer que esta sala lhes deu durante tantos anos.

Pensa igualmente dedicar especial atenção à manutenção de ruas e caminhos para benefício dos respetivos utentes.

Pretende garantir uma boa informação dos assuntos da freguesia junto da população.

E por último oferecer serviços adequados à juventude e pessoas idosas, com espaços próprios e bem estruturados. LP

Chama-se Octávio Manuel Borges Cabral e é Presidente do Santiago Futebol Clube há 9 anos, tendo o clube sido criado

há 54 anos. É portanto um clube com sólidos alicerces, que tem uma equipa sénior a jogar no Distrital de São Miguel e onde tem demonstra-do forte aplicação, mantendo-se no grupo do topo e sendo uma séria alternativa para o título.

Cont. na página a seguir...

Por Joaquim eusébiO

Por raul MesQuita

Por raul MesQuita

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Página 1130 de agosto de 2017 LusoPresse

Freguesia de água de pau água dE pau

a FrEguEsia quE não dormE

a nossa conversa com o presidente da Junta de Freguesia de Água de Pau, José Fernando Costa, teve lugar no seu escritório, na sede da Junta, por sinal, arrumado quanto baste. Água de Pau tinha acordado e no exterior começava um lindo dia de sol. Antes da conversa propriamente dita, José Fernando Costa, na casa dos 50 anos, dá-nos a conhecer o edifício da Junta e suas valências. Há museu no interior, a fazer lembrar Água de Pau de tempos remotos, e mais recentes, como das décadas de 50 e 60 do século passado. Além disso, no rés-do-chão do antigo, mas impecável imóvel, há um espaço dedicado à venda de produtos usados: calças, camisas, roupa e brinquedos de bebé, etc... «As pessoas habituaram-se a não pôr fora o que já não usam. Aqui, recolhe-se tudo, trabalha-se o que há a trabalhar e depois vende-se a quem precisa por preços módicos», diz José Costa com um sorriso nos lábios. No vai-vém, muita gente que entra e sai do edifício. Jovens e menos jovens. «Estamos fora de mão em relação à Câmara Municipal e como somos uma freguesia grande e de muita vida, as pessoas vêm aqui tratar dos seus problemas. Pode ser de toda a ordem, como sejam pagar a água, luz, impostos, etc..».

a entrevista começa.«Água de Pau é uma freguesia de cariz rural e vive

do setor primário. É uma aglomeração com muita vida, sobretudo no aspeto cultural. Produzimos de tudo! Laranjas, melancias, morangos, uvas, beterraba, tabaco.... Temos vários grupos de teatro, de música, uma equipa (Santiago) de futebol federada desde 1979. E possuímos infraestruturas muito boas, como o parque desportivo José Mestre; temos boas escolas, creche, a sede da Filarmónica Pauense, a mais antiga do concelho e dos Açores; a Casa do Pescador, visto termos o segundo porto de pesca do concelho. Por outro lado, falta-nos reabilitar o antigo cineteatro Ferreira da Silva, que com a ajuda da Câmara queremos transformar num centro multiusos, com sala para congressos e outras valências. E temos intenções de relocalizar o parque temático para animais na zona poente da freguesia. Um trilho pedestre que nos leve à Lagoa do Fogo também está nos nossos planos. E depois há o Centro de Saúde da Casa do Povo e o Centro Comunitário J.B.M. Amaral. Como pode ver, Água de Pau oferece aos seus residentes boas condições», afirma convictamente José Costa.

«E porque o nosso povo sai à rua e apoia temos vários festivais na Baixa da Areia – bela praia, que desconhecíamos – no Porto de Pesca, com artistas e bandas vindas de vários pontos da ilha e não só. Julho e agosto, por exemplo, são meses muito festivos aqui. E nem se fala na Festa de Nossa Senhora dos Anjos – a segunda maior da ilha, logo depois do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada. Temos as Festas das Vindimas (6 de setembro), também um cartaz de Água de Pau, onde toda a gente participa, sejam homens ou mulheres. Há nessa altura muito vinho doce, e o célebre Vinho de Cheiro, este uma especialidade da nossa freguesia. A Caloura, para além de ser um dos maiores pontos turísticos do concelho e de S. Miguel, produz vinho de qualidade. Turisticamente? Claro que a Caloura está bem preparada. Tem várias estruturas, como a praia (Baixa da Areia), a piscina (no Porto), restaurantes de qualidade, casas de veraneio, dois hotéis-bungalows, e um hotel com 300 camas. Chegamos a ter no Verão mil a dois mil turistas por dia. E temos ainda a vista maravilhosa do Monte Santo. Quer mais?»

«Mas também temos problemas. O maior está rela-cionado com os donos das vivendas na Caloura, que não votam na freguesia – votam nas localidades de origem – mas estão sempre a reclamar...».

Agora que fala de problemas, digame lá o que mais falta faz a Água de Pau para que a freguesia atinja a sua maturidade, digamos assim...

«Faltam-nos mais empresas de todo o tipo, bancos, escritórios, etc. de maneira a criarmos mais emprego, pois também nesta freguesia há gente que quer trabalhar e não tem onde. A baixa na construção veio criar uma série de difi-culdades que não estávamos à espera. É a crise, dizem-nos e com alguma razão. Esperemos que venham dias melhores».

E depois de outra pergunta nossa...«Fui eleito à segunda tentativa. Na primeira concorri

com o apoio do PSD. Desta vez apresentei-me como inde-pendente, mas nas listas do Partido Socialista. Se estamos a fazer um bom trabalho? Eu penso que sim, a julgar pelo que ouço das pessoas, talvez satisfeitas com o cumpri-mento das nossas promessas; promessas que sabíamos que podíamos cumprir. Mas isso é tudo relativo. Só no próximo ato eleitoral é que podemos ter a certeza de que tivemos bom desempenho se voltarmos a ser eleitos, caso nos apresentemos, claro.»

Já nos preparávamos para as despedidas quando o presidente José Fernando Costa ainda nos fez parte de mais uma série de considerandos sobre a sua freguesia.

– Água de Pau tem uma muito boa relação com os seus emigrantes e seus descendentes. Daí que de há dois anos a esta parte organizemos o Dia do Emigrante; uma grande Festa na praia da Baixa da Areia, em vésperas (dia 13 de agosto) das Festas de Nossa Senhora dos Anjos (dia 15 de agosto), que é altura de muitos emigrantes virem à terra. Para além disso, estamos a preparar para 2017 um grande encontro de pauenses na cidade de New Bedford (Nova Inglaterra). Nessa viagem contamos levar a Filarmónica Fraternidade Rural, o grupo «Os Quiridos», a equipa de futebol do Santiago e, naturalmente, o executivo da Junta. Ao todo, para aí umas 200 pessoas. Porquê o nome de Água de Pau?

Diz-se que os primeiros povoadores ao arribarem à zona do Paúl se aperceberam que havia um giro de água abundante que corria sobre um pau... Vai daí, nomearam a povoação, ainda hoje questionada nas suas próprias origens, de Água de Pau.

Na altura que passámos por Água de Pau para realizar este trabalho, a freguesia, uma das mais dinâmicas do con-celho de Lagoa, da ilha e dos Açores, estava comemorando os seus 500 anos (1515 - 2015). Várias promoções foram levadas a cabo pela Junta e pela Câmara Municipal. Uma medalha foi cunhada para marcar tão importante efeméride. Os três elementos do LusoPresse que fizeram parte da equipa que se deslocou aos Açores também tiveram direito a uma medalha.

Água de Pau foi a primeira vila sede do concelho de Lagoa. Depois perdeu-a para o conjunto das freguesias do Rosário e Santa Cruz. Hoje, Água de Pau recuperou o título de vila sem, contudo, ter acedido a sede de concelho.

nota – Abordámos José Fernando Costa para pôr esta entre-vista em dia, por ter sido realizada algum tempo a esta parte. Mas o atual presidente da Junta de Freguesia de Água de Pau mostrouse indisponível.

Água de Pau é uma vila que integra o concelho da Lagoa, na costa Sul da ilha de São Miguel, na Região Autónoma dos Açores, em Portugal. Está situada a cerca de 17 km de Ponta Delgada e a 7 km da sede do concelho.

Grande parte da sua população dedica-se à agropecuária e à agricultura, sendo também de registar o número daqueles que têm a sua ocupação na construção civil, nos serviços e no comércio. O artesanato tem forte implantação na localidade, sendo de realçar os trabalhos em vime e em tecelagem.

Apresenta 17,43 km² de área e cerca de 3 000 habitantes, com uma densidade populacional de 175,4 hab./km².

Casa do Pescador - inaugurada a 6 de agosto de 2003, para além da sua vertente museológica, tem por objectivo dar assistência aos pescadores da Caloura, promovendo encontros, colóquios e outros meios de formação

O Museu das Lavadeiras - reconstruído a partir dos lavadouros públicos Tanques do Paúl, constituídos por doze pias de pedra basáltica.

Os principais actores da Freguesia são: Casa do Povo; Associação Cultural Grupo Jovem Pauense; Banda

Filarmónica Fraternidade Rural; Clube Desportivo; Santiago Futebol Clube; OS QUIRIDOS – Associação Criativa e Promotora de Eventos.

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De realçar que nesta equipa os atletas não têm qualquer remu-neração a não ser sob a forma de prémios, quando a equipa atinge os objectivos fixados.

No ano passado fez boa impressão na Taça de S. Miguel onde evoluiu contra as melhores equipas regionais, colocadas 2 ligas acima daquela onde evolui regularmente e no último jogo em que participou, aguentou até ao final os embates adversários que soube conter, apenas cedendo no prolongamento, a apenas três minutos do fim do jogo.

O presidente Octávio Cabral sente-se satisfeitíssimo pelas ajudas que recebe da Câmara Municipal, cuja colaboração é inestimável para técnicos e jogadores, sendo no caso destes últimos, ponto de honra agradecer todas as facilidades concedidas na estruturação do regime de estudos e das infraestruturas que permitem um melhor aproveitamento escolar aos jogadores, que são também estudantes.

Procurámos saber o porquê da candidatura de Octávio Cabral como independente às eleições de outubro próximo. A isto responde o interessado que não receia a força que os partidos possam dar aos seus candidatos porque ele é suficientemente conhecido da população, não só pela sua participação no meio desportivo como, também, em diversas actividades públicas em que participa como o Grupo de Romeiros ou nas festas populares e religiosas.

Para além disso, como empresário da construção civil, tem procura-do emprego a muita gente que conhece, e o conhecem, afirmando que até hoje já empregou mais de 250 pessoas.

Logo teremos um presidente desportivo e empresário da construção civil por entre os candidatos à Presidência da Junta de Freguesia de Água de Pau.

Cont. da página anterior...

Octávio Cabral e o seu Santiago. Foto Jornal Diário da Lagoa.

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entrevista de Norberto aguiar

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José raimundo…

apresenta programa para santa cruz

No seu Cartão de Cidadão, o seu nome completo consta como sendo José Fran-cisco Ventura Raimundo, 37 anos de idade, administrativo no Centrum-Açores, sendo responsável pela Associação de Patinagem de Ponta Delgada, organismo que conta com 63 anos ao serviço do público.

Tem presentemente cerca de 600 atletas com idades compreendidas entre os 4 e os 40 anos em práticas na patinagem artística ou de velocidade.

Tem participado em competições locais, regionais e algumas nacionais, como no caso de torneios de patinagem.

A Associação de Patinagem de Ponta Delgada é fundamentalmente representante do Grupo Oriental do Arquipélago (São Miguel e Santa Maria). No próximo ano está prevista a realização dum campeonato nacional de patinagem artística, na qual a Lagoa estará representada através do Clube de Patinagem de Santa Cruz.

O nosso interlocutor, nascido e criado nesta freguesia, tem gosto em se implicar na vida ativa da região, procurando os meios necessários ao seu desenvolvimento.

Assim, quer ser voz ativa na defesa dos santacruzenses, de modo a transformar a freguesia em moldes mais adaptados às suas necessidades sociais.

O lema da campanha é “Respeito e igualdade pela nossa gente”, lema que quer definitivamente respeitar e dar a conhecer à população.

Formação/emprego/acção socialÁreas de formação/emprego: informáti-

ca, bordados e agricultura.Promover através de prog ramas

governamentais o ensino básico e secundário, reforçando a empregabi l idade local , acompanhamento de famílias em sistema de emergência social, ações de sensibilidade a uma boa gestão familiar e criação de um projeto destinado à reinserção de toxidependentes.

turismo, desporto e juventude• Criação e divulgação de um roteiro

museológico da freguesia de Santa Cruz• Criação e divulgação duma agenda

de festas religiosas e profanas• Reanimação de Santa Cruz pelas

Noites de Verão • Apoio às instituições culturais e

desportivas da freguesia• Criação de um posto de Turismo• Dinamização possível das diversas

modalidades desportivas• Encorajamento das actividades físi-

cas.

infraestruturas, habitação, modern-ização, dinamização e dinâmica local

• Empreender e investir para que Santa Cruz e o lugar dos Remédios tenham um parque infantil.

• Ser voz ativa no programa de re-estruturação da baixa de Santa Cruz, há muito prometida.

• Apoiar a recuperação e a reabilitação da dignidade através dos programas do Governo.

• Reabilitar do Polidesportivo dos Remédios.

Saúde• Lançamento de uma linha de trans-

portes ao hospital ou clínica, através duma viatura da Junta de Freguesia

• Campanha de sensibilização ao ras-treio junto da população.

Estes são alguns pontos do programa de José F. V. Raimundo, como candidato à presidência da Junta de Freguesia de Santa Cruz. LP

«desemprego e falta de habitação social, os nossos flagelos»

Telefone e fax: (514) 849-9966Alain Côté O. D.

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Poucos sabem que nasci em Santa Cruz, na rotunda da Canada Larga – não sei se ainda se chama assim... – no dito Cabo da Vila. A minha bisavó materna, que adorava minha querida mãe, morava a 50 metros, na inclinada descida para o centro da freguesia, isto de quem vinha do lado de Água de Pau.

Santa Cruz é uma localidade de pouco mais de 4 mil pessoas – em número é a terceira do concelho, atrás do Rosário, a maior, e de Água de Pau. Mas, bem vistas as coisas, é nesta freguesia que está –– estava porque já secou há muito – a lagoa que lhe deu nome. Fica à beira-mar, nos baixos terrenos diante da Igreja Matriz de Santa Cruz. Outra particularidade é que é em Santa Cruz que está o poder político do concelho, como seja a Câmara Municipal. Outros pontos importantes, como o Convento dos Frades, agora uma imponente biblioteca e sítio de grandes promoções culturais, a Casa da Cultura Carlos César – sim, sim, esse mesmo, o do até há quatro anos presidente do Governo dos Açores – ficam situados nesta freguesia que não se safa do estereotipo de «freguesia dormitório» do Rosário, a mais industrial, comercial, e cosmopolita do concelho.

Veio do canadá para assumir a JuntaNasceu em Terrace (Colômbia Britânica)

– cidade que conheço por lá ter passado a caminho de Kitimat integrado na comitiva de Carlos César numa digressão que fez, em 2003, de costa a costa do Canadá – e com 20 anos regressou a Santa Cruz, terra dos pais. Adriana Rebelo – não sei se é da família, pois minha mãe era Rebelo por parte de sua mãe, e que já disse que era dali, do Cabo da Vila – ao chegar aos Açores confrontou-se com o problema da língua, muito embora falasse o português que os pais lhe tinham ensinado... Pouco para a nova realidade. Mas ela já tinha passado pela ilha antes. Isto de certa forma ajudou. Depois, os amigos e o trabalho acabaram por fazer o resto. E hoje, Adriana Rebelo não só é uma empresária de sucesso no ramo do imobiliário, como é presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz. Substituiu um dinossauro (António Augusto) da política local e vai a caminho do fim do seu primeiro mandato. E pelo andar das coisas é possível que em 2017 ela se apresente de novo como candidata, muito embora não deixe parecer isso ao jornalista.

«Em Santa Cruz temos alguns problemas, como penso acontece em todo o lado. E os mais recorrentes são o desemprego e a falta de habitação social. Isso causa desconforto aos que têm necessidade, e a nós, que somos contactados para resolvermos os problemas. Há falta de dinheiro para pagar a eletricidade e a água. Há ações de despejo.... Felizmente que vamos arranjando saída para alguns pedidos. Mas há outros com que nada podemos fazer, como os bancos reaverem as casas por falta de pagamento. Uma desgraça. Já temos trabalhado com a Câmara e com o governo regional para acudir na habitação social, única saída para os mais pobres. É isto que nos moraliza para continuarmos o nosso trabalho», diz-nos Adriana Rebelo com algum brilho

nos olhos.«A nossa função de presidente é quase

como que a de uma pessoa que tem de ter conhecimentos de assistente social de maneira a perceber os dramas da freguesia. E tudo temos que fazer para evitar isso», reforça a política mãe de família.

Pondo de lado essas duas grandes problemáticas, que fazem parte das suas maiores preocupações diárias, Adriana Rebelo mostra-se contente com o estado geral da freguesia, a qual tem boas infraestruturas, tanto no plano cultural como no desportivo. No plano cultural já falámos na Casa da Cultura Carlos César, no Convento dos Frades; a freguesia também está bem servida de grupos musicais e no desporto tem campeões nacionais na patinagem artística. De resto, no seu polidesportivo já se assistiu à disputa de campeonatos nacionais e finais de Taças de Portugal.

Cartaz festivo importante é a realização todos os anos das Festas de Santo António, das melhores que se realizam na ilha. Este ano comemoraram-se os 25 anos.

Depois de ter nascido no Canadá, ter servido de intérprete em jovem a quem precisava na zona de Terrace, eis que Adriana Rebelo regressa aos Açores para ser presidente da Junta de Freguesia da terra dos pais. «Um orgulho para eles», assume com firmeza.

Mas Adriana Rebelo também singrou na primeira profissão que abraçou, sendo hoje uma empresária de sucesso.

Curiosamente, Adriana tem um irmão a viver na região de Montreal, depois de também ele ter passado por um largo período de vivência em São Miguel.

nota: Fizemos diligências junto de Adriana Rebelo para atualização desta entrevista. Mas, de marcação em marcação, não foi possível chegar à fala com ela…

Adriana Rebelo. Foto LusoPresse (Arquivo)

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Por raul MesQuita

entrevista de Norberto aguiar

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Página 1330 de agosto de 2017 LusoPresse

sérgio costa, candidato Em santa cruz…

honrarEi os mEus compromissos Em caso dE vitória ou dErrota

Freguesia de santa cruzsanta Cruz é uma freguesia do

concelho de Lagoa, com 14,26 km² de área e 3 671 habitantes (2011). A sua densidade populacional é de 257,4 hab/km².

Os principais actores sócio-comunitários e cultural são:Agrupamento de Escuteiros 1290 - Santa Cruz; Clube de

Patinagem de Santa Cruz; Santa Casa da Misericórdia; Centro de Karaté da Lagoa; Judo Clube da Lagoa; Clube de Pesca Desportiva da Lagoa; Clube de Pesca Desportiva de Lagoa; Clube de Ténis da Lagoa; Associação Cultural e Recreativa dos Remédios; Grupo de Cantares Tradicionais de Santa Cruz; Sociedade Filarmónica Estrela d‘Alva; Grupo de Jovens Som do Vento; Associação Mu-sical Novos Criativos.

ser-se candidato é sempre um ato de coragem, tanto mais que frequentemente a classe política é mal vista socialmente. O que poderá levar uma pessoa ainda jovem a interessar-se pela intervenção política? Sérgio Costa, candidato independente do Partido So-cialista à Junta de Freguesia de Santa Cruz é um «caloiro» nestas andanças. Daí que tenhamos começado a nossa entrevista por inquirir das suas motivações.

LusoPresse – Você é um jovem candidato. Por que é que se candidata?

Sérgio costa – Em primeiro lugar, recebi um convite da Presidente da Câmara que achou que eu era a pessoa indicada para ser candidato pelo Partido Socialista.

LP – É membro do Partido Socialista?Sc – Não, sou independente, mas

neste momento revejo-me no PS. Não faria qualquer sentido se tal não acontecesse, pois caso contrário integraria uma candidatura de independentes. Aceitei o convite com muito gosto. Embora nunca tenha feito parte de nenhuma lista nem de nenhuma Junta de Freguesia, tenho alguns conhecimentos. A Odete, a minha mulher, fez parte da Junta e eu desde há 3 anos integro o Conselho Económico da Igreja de Santa Cruz e estive 10 anos ligado à organização das Festas de Santo António, nomeadamente à Feira de Artesanato, ao Desfile das Marchas. Fui tesoureiro das festas durante 3 anos. Deixei essa comissão para evitar um conflito de interesses com a minha candidatura, embora ainda este ano tenha continuado a dar o meu contributo. Tudo isso me permite afirmar que me sinto perfeitamente integrado no contexto social da freguesia.

LP – Quais são os grandes desafios que se põem à freguesia de Santa Cruz?

Sc – A freguesia tem-se convertido progressivamente em dormitório. A ação desenvolvida por vários executivos da Câmara tem levado a uma grande concentração dos serviços na vizinha freguesia do Rosário. Foi o caso, por exemplo, do Centro de Saúde. Não contesto essa decisão e reconheço que o Rosário oferecia melhores condições para a construção de um novo edifício. Agora penso

que se torna necessário promover a dinam-ização de Santa Cruz.

LP – Mas existe uma grande rivalidade entre Santa Cruz e o Rosário?

Sc – Existiu de facto uma grande rivalidade e durante muitas décadas, que deu, inclusivamente, origem a brigas. Mas hoje os tempos são outros. Agora as duas freguesias estão irmanadas num projeto comum que é a cidade da Lagoa. Mas há que promover o dinamismo de Santa Cruz através do apoio a projetos da iniciativa privada. Acreditamos que Santa Cruz vai crescer. Temos aqui a 1ª Exposição de Arte Sacra dos Açores. Nos Frades será instalado futuramente o Museu do Presépio. A dinamização da Biblioteca permitirá igualmente revitalizar culturalmente esta freguesia e inserila no desenvolvimento económico proporcionado pelo crescimento turístico.

LP – Indique-nos, por favor, outros pro-jetos que propõe para Santa Cruz?

Sc – Depois da era da vaca passámos à era do turismo. Mas há que promover um turismo de qualidade. Santa Cruz tem uma população envelhecida. Tem no entanto também bastante gente nova, sobretudo no bairro social da Nogueira. Cabe à Junta de Freguesia criar estruturas que enquadrem esses jovens.

LP – Julgamos que a juventude de Santa Cruz tradicionalmente se dedica bastante ao desporto...

Sc – I s so é bem verdade. Veja o caso da patinagem, com uma posição invejável em termos nacionais e mesmo internacionais, pois já receberam vários troféus europeus.

LP – Quais são os grandes organismos que estão instalados em Santa Cruz?

Sc – Santa Cruz é uma freguesia rica em associações. Pos-so mencionar, en-tre as mais antigas, a Filarmónica Estrela

d´Alva. Pretendemos continuar a apoiar todas essas associações, abrindo-lhes novos horizon-tes, nomeadamente através de apoio nas suas deslocações. A grande maioria dessas institu-ições já tem a sua sede. Na antiga Casa do Povo estão alojadas 4 associações. Mas, por exemplo, os escuteiros estão provisoriamente instalados na antiga escola primária dos Remédios.

LP – Considera que um dia os Remédios poderão a vir ser freguesia?

Sc - Não creio. Não têm população nem serviços suficientes para isso. Nesse sentido, por exemplo, a Atalhada teria muito mais condições para ser freguesia. No entanto, a população dos Remédios é muito unida e or-ganiza com toda a paixão, por exemplo, a festa de Nossa Senhora dos Remédios e o Festival de Cantigas ao Desafio. A Associação Cultural dos Remédios é muito ativa.

LP – Não considera que com mais fregue-sias o poder político poderia aumentar?

SC – Penso que sim. No entanto, como sabe, a tendência nacional tem sido a redução do número de freguesias, mas as forças políti-cas dos Açores ofereceram resistência a esse movimento de junção de freguesias.

LP – Acha que valeu a pena a Lagoa ter passado a cidade?

SC – Embora seja sempre alvo de polémi-ca, considero que temos de partir da realidade dos nossos dias. Claro que temos um problema que é o de estarmos muito próximos de uma grande cidade, Ponta Delgada. Mas a Lagoa é uma cidade e julgo que temos de defender aquilo que somos.

LP – Quais são as suas possibilidades de ser vencedor nas próximas eleições? Reconhece algumas qualidades ao seu principal adversário?

SC – Quanto ao meu adversário José Raimundo é uma pessoa com quem tenho relações de amizade bem como com a sua família. Creio que vai ser uma campanha lim-pa, sem ataques pessoais, até porque somos ambos candidatos pela primeira vez. Eu nasci no Livramento, mas já vivo em Santa Cruz há mais tempo que no Livramento, a minha família é do Cabouco, a minha perfeita inte-gração na vida social e comunitária de Santa Cruz, contrariamente ao José Raimundo, permitem-me antever uma forte possibili-

dade de vitória. Mas se tal não acontecer, estou disposto a defender ativamente os interesses de Santa Cruz na Assembleia de Freguesia. Sempre gostei de honrar os meus compromissos e de ser coerente, pois embora seja independente, o meu cargo de chefe de setor de Obras e de Estradas no Governo Regional é de nomeação política. Sinto que chegou o momento de pôr todas minhas energias na defesa de Santa Cruz. Se for eleito, o que espero, assumirei o cargo de Presidente da Junta em regime de part-time.

Judo clube de lagoa – Judolag

com asas para voar

é presidente do Judo Clube de La-goa Bruno França, ilustre representante das Forças Armadas Portuguesas que tem dirigido com eficacidade os destinos da colectividade, que existe desde os princípios dos anos 90. Inicialmente começaram a evoluir na Junta de Freguesia do Rosário passando depois a participar sob o nome do Clube Operário Desportivo, continuando com este clube na vertente manutenção.

Estão compenetrados, centralizando as energias disponíveis no sentido de apostarem nas competições da modalidade, utilizando os meios conseguidos e em desenvolvê-los para poderem competir a outros níveis mais avançados.

O clube que tem cerca de 90 associados, aos quais não se exige o pagamento de quotas, foi há anos vice-campeão por equipas, sendo todos os membros originários do Rosário. Mo-tivo de orgulho e de incentivo para os novos atletas, ao saberem serem continuadores desses campeões que tão boas recordações deixaram na juventude da época.

Entretanto, o Judo Clube de Lagoa tem participado em provas de nível associativo, em competições regionais e mesmo nacionais.

Paralelamente tem tido figura de relevo em provas do calendário europeu, com a representação de atletas cadetes (15-18 anos) e juniores.

Como normalmente acontece na área de organizações escolares ou associativas, a Câmara Municipal participa e fornece substancial ajuda, o que permite a manutenção e perenidade desses organismos.

O Judo Clube de Lagoa é uma instituição com asas para voar, que apenas necessita de inscrever um maior número de alunos prati-cantes a fim de se desenvolver e dar espaço para se espreguiçar, no bom sentido.

Desejamos assim ao seu Presidente, o caríssimo senhor Bruno França e aos seus associados, uma maior abertura junto da população, recordando a necessidade da prática de desportos, entre os quais, o Judo, tem aqui lugar de relevo. LP

LP

Por Norberto aguiar e Joaquim eusébiO

LP

Por raul MesQuita

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Página 1430 de agosto de 2017 LusoPresse

FrEguEsia dE nossa sEnhora do rosário

«Faltam Estruturas hotElEiras para um maior dEsEnvolvimEnto»

g ilberto Borges está à frente da maior freguesia do concelho, que é Nossa Senhora do Rosário. Ela tem um pouco mais de cinco mil pessoas, num espaço geográfico de cerca de 6,5 quilómetros quadrados. A sul tem o mar, a norte a freguesia de Cabouco. Fica a poente da sua freguesia-irmã, Santa Cruz, com quem partilha o aglomerado de cidade – elevada a esse estatuto em 2013, era presidente o engenheiro João Ponte –, enquanto fica a nascente da freguesia do Livramento, esta já fazendo parte do município de Ponta Delgada.

Tendo substituído Durval Faria, que mais atrás no tempo havia tomado o lugar de Jorge França, Gilberto Borges está reformado, mas ligado à Junta como presidente a meio-tempo. «Passo parte do meu dia-a-dia aqui, na sede da Junta», começaria por nos dizer o homem que também tem no desporto um passatempo de todos instantes. Chegou a dar uns toques nos juniores da equipa de futebol do Operário do seu tempo. Mas foi como treinador de basquetebol, também no Clube Operário Desportivo, que deu o seu melhor, isto para além de a dado momento do seu percurso também ter sido dirigente desportivo. Tudo isto para dizer que não admira que Gilberto Borges seja, hoje, o dirigente máximo do Rosário.

«Antes de chegar a presidente passei por todos os cargos políticos desta freguesia. Che-guei a ser o seu presidente da Assembleia... São já seis anos nesta vida, que é stressante, mas ao mesmo tempo apaixonante. Embora renitente, decidi aceitar o convite do meu antecessor e aqui estou. Concorri como independente pelo Partido Socialista», informanos Gilberto Borges sentado à sua secretária, no edifício de dois andares da Rua Doutor Botelho, a dois passos do centro económico, social, e cultural da freguesia.

«Sabes, não é fácil estar à frente duma freguesia destas, onde há uma série de problemas, a começar pela pobreza que existe, muita dela escondida. E a crise por que passamos só veio agravar a situação. Há muita falta de emprego. Todos os empregadores, principalmente os da construção civil, reduziram o seu pessoal ou fecharam portas. Essas medidas vieram naturalmente complicar a vida de quem precisa de trabalhar para satisfazer as suas necessidades. A Junta, a Câmara e mesmo o Governo Regional têm implementado algumas medidas de apoio. Mas, de momento, não chega. Há que criar mais postos de trabalho. Como e para quando? Fala-se que a crise vai passar. Estamos à espera que isso aconteça. Não se esqueçam que também somos uma freguesia de pescadores, que também têm os seus problemas, principalmente no inverno, quando há mau tempo e eles não vão ao mar. Há mesmo pescadores a mudar de vida, optando por outras profissões... O resultado disto tudo é muita gente remetida ao Rendimento Mínimo de Inserção Social. Mas isso não pode continuar indefinidamente... Essas pessoas precisam de trabalho. Para remediar, isto como medida

transitória, convidamos esses beneficiários para trabalhos ligeiros da Junta, por períodos diários de quatro horas e um dia obrigatório de formação para os mantermos ativos e com a maior das dignidades. Assim, quando aparecer uma oportunidade de trabalho efetivo, eles estarão melhor preparados. Eles ou elas, claro».

Agora virando a nossa atenção mais para os grandes projetos da freguesia.

«O que falta à freguesia do Rosário e por conseguinte à Lagoa, são mais e melhores in-fraestruturas hoteleiras. Neste momento não temos sequer um hotel na cidade. Temos uma Pousada (da Juventude) – pertence à Câmara e é a única nos Açores que não é propriedade do Governo dos Açores, soubemo-lo durante a nossa recente digressão ao arquipélago a convite de Paulo Teves, diretor regional das Comunidades – com 50 camas, uma residencial (Arcanjo, 33), um aldeamento turístico (Nossa Senhora da Estrela, 94) e um Resort (Paladares da Quinta, 30). No total são 207 camas. É muito pouco para podermos reter os turistas na cidade de maneira a que o comércio, os restaurantes e afins possam beneficiar de din-heiro novo. No resto temos bons restaurantes – Traineira, Borda d’Água, Cruzeiro, Paladares da Quinta, José do Rego, O Alambique, Ra-baça, Q’ é Nosso, Porto dos Carneiros, O Carlos, Félix... Um complexo de piscinas de mar que é o melhor dos Açores – tem piscina aquecida e ginásio –, igrejas lindíssimas, per-manentemente abertas ao público, a reputada Cerâmica Vieira, com todo o seu historial de mais de 100 anos, o Centro Vulcanológico, o Expolab, e para quem gosta de desporto há o campo João Gualberto, e ainda os campos de ténis no lugar de Atalhada. Há também outras ofertas desportivas ou de cariz cultural», relata-nos Gilberto Borges, nosso conhecido desde a nossa pré-adolescência.

Mas, em termos de projetos, Gilberto Borges ainda tinha mais para nos «dar»...

«Ainda relativamente à atração turística, com projeto já previsto, está a construção

Gilberto Borges. Foto LusoPresse (Arquivo).

do Passeio Marítimo entre o Por t inho de São Pedro e o lugar de Atalhada, uma obra que pela s u a d i m e n s ã o e e spe t acu l a r idade só vem beneficiar a nossa zona da Orla Marítima, uma das mais bonitas dos Açores e que certamente muito vai agradar aos residentes da ilha, dos Açores e dos turistas que nos possam visitar. A amp l i a ç ão do Porto dos Carneiros, que virá oferecer melhores condições de trabalho para os nossos pescadores, a começar por um melhor atracamento dos seus barcos entre saídas e entradas, é

outra medida de grande alcance para a freguesia e para a Lagoa na sua total dimensão. São dois projetos que implicam avultados investimentos. Daí que estejam dependentes dos apoios do novo quadro comunitário».

Em termos mais imediatos, Gilberto Borges centrou o seu discurso na reconstrução e manutenção de habitações degradadas, outro dos grandes problemas da localidade. «Sabes, há casas onde moram dois e três casais com filhos. Temos de pôr cobro a isso. E todos têm de colaborar. Curiosamente, até os emigrantes que têm casas fechadas e que as podem pôr à disposição da comunidade, alugando-as. Ou, porque não?, investindo na sua freguesia. E eu acho que neste momento até se está num bom período para se investir no conjunto de freguesias que forma a Lagoa».

Sem se deter, o presidente rosarense continuaria dizendo que «investimento, sim, mas sem descaraterizar a freguesia». Para depois insistir que «a nossa prioridade está totalmente voltada para a parte social da nossa população. Habitação e criação de emprego continuarão forçosamente a fazer parte das

nossas preocupações diárias, já que os eleitores do Rosário nos elegeram para que tivéssemos em consideração o seu bem-estar».

Nesta demorada conversa ficamos com a sensação de que entre todas as preocu-pações de Gilberto Borges há uma boa dose de otimismo sobre o que pensa do futuro da freguesia do Rosário e suas gentes. Vejam se não temos razão.

– A construção do Tecnoparque foi o melhor que aconteceu para a freguesia. Lá está o Nonagon, complexo onde estão insta-ladas muitas empresas ligadas ao Saber, onde há bons empregos e excelentes salários. E, a breve trecho, vai ali ser construído um impor-tante hospital privado (São Lucas), com uma unidade de medicina nuclear. Tudo isso vai se transformar em mais criação de emprego, consequentemente com benefícios para toda a comunidade. E esta crise que se vive não ficará cá para sempre.

A entrevista, de certa forma alongada, termina aqui. Porém, ainda deixamos nestas páginas mais alguns considerandos impor-tantes, extraídos do nosso bate-papo com Gilberto Borges.

– São 21 instituições que a freguesia apoia anualmente. Começa no Clube Operário, o maior baluarte desportivo de todo o concelho, prossegue com os clubes de Judo, Ténis, Náutico, Pesca Desportiva, Atalhada Futebol Clube; e termina nos organismos (vários) de cariz social ligados, nomeadamente, aos jovens, aos idosos, às igrejas, etc... Musicalmente estão na linha da frente «O Grujola», Orfeão N. S. do Rosário, e a centenária Filarmónica Lira do Rosário.

– Esse apoio, no valor de 10 porcento do orçamento anual da Junta, é efetivo porque «achamos que tem um papel determinante junto da comunidade, servindo a nível social, cultural e desportivo».

– «Não. Apesar do seu crescimento, a Atalhada não está na lista para ser elevada à condição de freguesia».

– «As Socas estão previstas para desen-volver no próximo Plano Diretor Municipal. É que a freguesia começa a ter falta de espaço.

– «Temos intenção de reativar o Mercado, uma boa recordação do passado».

nota: Tentámos pôr esta entrevista em dia junto de Gilberto Borges. No entanto, os contactos não deram nenhum resultado.

Freguesia do rosárioLP

a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário pertence ao concelho de Lagoa – com a freguesia de Santa Cruz forma a cidade do mesmo nome, com 6,21 km² de área e 5 396 habitantes (2011). A sua densidade populacional é 868,9 hab/km².

Principais actores da vida social comunitária, social e cultural:Centro Social Nossa Senhora do Rosário; Orfeão Nossa Senhora do Rosário; Socie-

dade Filarmónica Lira do Rosário, Instituto Cultural Pe. João José Tavares; Clube Operário Desportivo; Associação Juvenil do Clube Operário Desportiva; Associação de Veteranos do Clube Operário Desportivo; Associação Atalhada Futebol Clube; Clube Náutico de Lagoa; Centro Social e Cultural da Atalhada; Centro Sócio-Cultural de S. Pedro; Associação Cultural e Recreativa dos Funcionários da CML; Associação Musical da Lagoa; Associação de Jovens de Lagoa “O Grujola”. Associação de Pescadores de Lagoa; Grupo Musical Nova Geração; NELAG; Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores,; Associação Motard Gravediggers, Lions Clube de Lagoa. LP

entrevista de Norberto aguiar

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Página 1530 de agosto de 2017 LusoPresse

candidato João silva:

quEr novas valências

C hama-se João Silva, tem 46 anos e é técnico farmacêutico há 25 anos. Nascido e criado na sua freguesia, João Silva, tem ideias próprias de como dirigir a Junta e de participar com os seus concidadãos no desenvolvimento da região. Por isso decidiu candidatar-se à presidência da Junta de Freguesia, o que espera conseguir graças ao apoio e colaboração de vários parceiros que, com ele, formam a sua comissão eleitoral.

É sua intenção procurar obter a participação da população a fim de encontrar os apoios necessários ao desenvolvimento da freguesia, tentando responder às preocupações da população.

Dar atenção especial às famílias carenciadas que existem na freguesia.

Fazer, com a colaboração da Câmara, projectos dedicados a fornecer os alojamentos que tanta falta fazem.

Manter e desenvolver os apoios de que a freguesia necessita para a sua expansão.

Incentivar o ensino escolar, criando estruturas adequadas e adaptadas aos jovens, insistindo com programas de segurança social e de saúde. Pretende, também, durante o seu primeiro mandato, reactivar os torneios de futebol que existiram há tempos e que entretanto foram extintos.

Dar continuidade às promoções de novas actividades que favoreçam as pessoas da terceira idade, ocupando os seus tempos livres com valências educativas e de agradável conteúdo.

Dispor de uma carrinha para transportar as crianças às escolas e idosos autónomos a actividades socio culturais, considerando a hipótese de ter nessa carrinha condições de transporte para pessoas fisicamente diminuídas.

Determinar que seja feita a limpeza regular na orla marítima para benefício da população em geral e dos turistas que nos visitam.

Este o resumo do programa do senhor João Silva, candidato à presidência da Junta de Freguesia do Rosário, em outubro próximo.

no concElho dE lagoa…

durval Faria marcou uma época!

durval Faria é uma figura muito respeitada em todo o concelho. Primeiro como profissional – trabalhou muitos anos nos escritórios da Sociedade Açoriana de Sabões , depois como agente desportivo e, finalmente, como político. Foi com o intuito de trazer à estampa um pouco de quem é o homem, que o LusoPresse marcou encontro com ele.

De uma delicadeza a toda a prova, Durval Faria marcou encontro com o jornalista na Casa da Cultura Carlos César, em Santa Cruz. Depois das apresentações da praxe, a conversa resultou no texto que vem a seguir.

- Trabalhei 35 anos na “Fábrica do Sabão”, como era popularmente conhecida a Sociedade Açoriana de Sabões, situada na Freguesia do Rosário, começa por nos dizer o Senhor Durval Faria, casado e pai dum filho; também morador daquela freguesia. Logo acrescentando que «Foram anos de muita atividade, a começar pela minha implicação social e desportiva no interior da própria companhia. Lembro-me bem quando criei, na fábrica, por volta de 1966, mais o Carlos Filipe, o Centro de Alegria no Trabalho, que deu origem à criação de um grupo de futebol e um conjunto musical. O conjunto serviu para animar as festas dos trabalhadores, com particular relevo para as festas de Natal, e o grupo de futebol desembocou numa equipa de futebol inscrita no INATEL. No âmbito da equipa, que nos primeiros anos ainda utilizou o nome de Centro de Alegria no Trabalho, rapidamente levámo-la para a Associação de Futebol de Ponta Delgada, ingressando na Segunda Divisão. Resta, porém, dizer que ainda chegámos a ganhar o campeonato da INATEL por duas vezes.

Assim sendo, porquê então o salto?- Queríamos ir mais adiante no futebol

da ilha. Assim, inscrevemos a equipa na Associação. Naturalmente que fomos para a Segunda Divisão. E demo-nos bem. Não levou muito tempo para marcarmos uma presença positiva no futebol da AFPD. Lembro-me, de resto, dum ano em que fomos à final da Taça Fosfato Tomás, e logo contra o valoro-so Grupo Desportivo Santa Clara, a melhor equipa na época. Na altura já jogávamos sob o nome de Grupo Desportivo Industrial Provimi, por proposta do grande patrão da fábrica, o Engenheiro Jaime de Sousa Lima. Provimi era nome de rações e nada melhor que promover os produtos da empresa, aplicando o nome à equipa.

Segundo sei, o Senhor era o presidente…Fui presidente do início ao fim do projeto

equipa de futebol. Mas também cheguei a ser treinador, isto depois de ter seguido um curso dado por Ted Smith - o inglês que deu uma Taça Latina ao Benfica nos anos 50 e que ter-minou a sua carreira de técnico em São Miguel, acrescento eu.

Apesar de tudo, a Provimi desapareceu; durou poucos anos…

- Sim, é verdade. Começámos para aí em 1966 e fechámos portas em 1977/78… A causa? O contínuo aumento dos custos da Polícia de Segurança Pública aos jogos e

dos árbitros de futebol deram cabo de nós. A Fábrica, que nos tinha atribuído um subsídio de quatro contos mensais não quis acompanhar no aumento do apoio… E como não quisemos entrar em despesas superiores às receitas, decidimos acabar com a equipa de futebol. De resto, nunca sentimos muito entusiasmo por parte dos patrões da empresa em apoiar o futebol. Fizeram-no enquanto pensaram que a equipa servia para promoção dos produtos Provimi. Mas logo que lhes foi pedido apoio adicional, a resposta foi totalmente negativa.

Tivemos muita pena, até pela qualidade que a equipa chegou a atingir. Mas não tivemos outra alternativa.

Como lhe veio esse gosto pelo futebol?- Embora não tenha sido grande jogador, fiz parte da equipa dos

Leões (Grupo Desportivo) no princípio dos anos 50… Virando agora a nossa atenção para a política. Como e porquê você aparece

ligado a esse desiderato?- Já antes do 25 de abril distribuía propaganda contra o governo.

Isso valeu-me alguns dissabores quando quis visitar familiares nos Estados Unidos. Soube depois que fui seguido pela PIDE. Entretanto, veio a Democracia e com ela me impliquei totalmente. Estive na Câmara Municipal logo no primeiro mandato após o 25 de abril. Concorri pelo Partido Socialista, numa altura em que o presidente era o Senhor José Guerreiro (PSD). Mas durou pouco tempo, visto ele se ter demitido em poucos meses. Em seu lugar, assumiu o cargo o vice Professor Leonel Silveira, depois de me ter consultado.

Em 1980, já com o Engenheiro Luís Martins Mota como líder do PS Lagoa voltei a ser vereador numa lista que foi derrotada pelo PSD de Raulino Anselmo. Mas em 1984, finalmente, formámos o elenco camarário sob a liderança de Martins Mota. Foram mais quatro anos como vereador. Em 1988, deixei a vereação e passei para a Assembleia camarária.

Entretanto, já nos anos 90 e depois de ter sido tesoureiro da Junta de Freguesia do Rosário no mandato de Jorge França, decidiu abraçar o desafio de ser presidente da freguesia. Foi assim que de repente estive 16 anos à frente dos seus destinos. Dezasseis anos, não, porque me demiti um pouco antes para dar lugar ao presidente atual, o Gilberto Borges de forma que ele se ambientasse para as eleições de outubro próximo.

Quais foram, numa palavra só, as maiores realizações feitas no seu consulado?- Poderia evocar aqui uma série delas, pois em 16 anos deu para

muita coisa… Mas ficarei pela informatização dos serviços da Junta, pelo processamento do recenseamento da freguesia, pela rega da água na Praça de Nossa Senhora da Graça e pelo arranjo das Poças do Cruzeiro. Importante também foi adquirir as instalações novas da Junta com a colaboração da Câmara Municipal. Não esquecer ainda a substituição

LP

Durval Faria, ex-presidente da Junta de Freguesia do Rosário. Foto LusoPresse.

e regulação nova dos sinos e relógio da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, numa feliz colaboração com o Padre Silvano.

Tem saudades da política ativa?- Considero que não. Fiz o que tinha a fazer e por isso sinto-me

compensado. Não. Não tenho saudades da política. LP

Pousada da Juventude, em Atalhada. Foto LusoPresse.

entrevista de Norberto aguiar Por raul MesQuita

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Página 1630 de agosto de 2017 LusoPresse

Filomena amorim

a maestrina que une através da música

Filomena Amorim é uma das pedras base da comunidade portuguesa em Montreal, sendo assinalável o seu trabalho na comuni-dade, muito especialmente no arranque da Missão de Santa Cruz, como recentemente foi reconhecida.

Filomena Amorim é bem conhecida pelo seu talento ao piano, sendo atualmente a pia-nista e maestrina do coro da Igreja da Missão de Santa Cruz.

É natural do Cabouco e que chegou a Montreal em 26 de agosto de 1964 com 10 anos de idade. Nasceu com uma missão: a música. Como ela própria nos explica, o amor pela música está intimamente ligado à sua atividade religiosa. «Com a tenra idade de 7 ou 8 anos, tive a oportunidade de assistir a um ensaio do coral na igreja da Senhora das Misericórdias, padroeira do Cabouco. O sen-hor padre Simas, então pároco da freguesia, fazia ensaio com as cantoras para a animação das novenas do mês de Maio. Ao ouvir os sons do melodio (instrumento da família do órgão) fiquei maravilhada a tal ponto que não queria voltar para casa. Só queria ficar ali na igreja para assimilar e deliciar-me com aqueles sons maravilhosos que saiam daquele instrumen-to. Assim foi o meu primeiro contacto com esta arte que ainda hoje continua a encher-me a alma de esperança e beleza».

A arte musical fazia também parte da infância da então pequena Filomena. «A minha família sempre foi apaixonada pela música. O meu avô paterno tocava guitarra portuguesa e a minha avó materna tinha o dom de uma linda voz», recorda.

Assistir aos seus concertos faz a delícia de quem fielmente assiste todas as semanas às missas na igreja de Santa Cruz ou a celebrações especiais.

«Tenho muito cuidado na escolha do repertório para as celebrações. Para que um determinado cântico ou música sejam escolhidos, têm que me tocar no íntimo tanto a nível da melodia como da poesia. Tenho um carinho especial pelo repertório litúrgico clássico. Adoro interpretar e dirigir o Panis Angelicus ou o Coro dos Hebreus de Verdi.»

O seu talento tocou também a terra de origem, o concelho da Lagoa, onde se tem

deslocado com alguma frequência. «A última vez que estive na minha terra natal foi em 2008, quando me fiz acompanhar da Tuna d’Oiro. Fizemos várias representações em São Miguel, nomeadamente no Nordeste, Ribeira Grande, Ponta Delgada, Santa Cruz e Água de Pau».

Nestes regressos, Filomena Amorim contempla não só o passado, percorrendo as memórias dos lugares e das gentes, mas também o desenvolvimento que chegou ao concelho e a toda a ilha.

«A Lagoa de hoje não é mesma da minha infância. Todas as vezes que regresso vejo a diferença. É positivo observar esta evolução, que traz beleza e bem-estar ao turista, assim como ao emigrante que volta para matar sau-dades da terra e das suas raízes».

A renovação dos laços com o concelho e o relacionamento entre os naturais que emigraram e a Lagoa contemporânea são de louvar e incentivar, defende a maestrina. «Sou de opinião que todos devemos voltar. É preciso regressar às raízes. Temos que respirar o salgado do mar, nos maravilhar com a beleza da natureza e nos deixarmos embriagar pelo perfume das flores. Tenho um sonho que espero um dia realizar. Quero levar as minhas filhas, genro e netos à terra que me viu nascer para que eles possam apreciar o cantinho de paraíso que me embalou nos primeiros anos da minha vida».

E neste renovar de laços a comunicação social comunitária tem também um papel importante. «Acho que esta deslocação do LusoPresse ao concelho é de felicitar. Parabéns por esta iniciativa». LP

norbErto martins…

das bErmudas para o quEbEquE

Nascido em Água de Pau em 1951, o empresário da construção civil Norberto Mar-tins emigra pela primeira vez em 1965 rumo às Bermudas, onde viveu cerca de 10 anos, iniciando então a sua profissão de pedreiro. Decide-se por Montreal em 1975, onde se encontra desde então.

«Comecei a trabalhar aos 15 anos e a

minha vinda para o Quebeque surge na se-quência dos Jogos Olímpicos. Eu estava muito bem nas Bermudas e gostava de lá estar porque é parecido com os Açores. Mas esta foi uma oportunidade imperdível numa altura em que havia muito trabalho. Gostei logo muito de Montreal. Assim que cheguei, fui trabalhar como pedreiro e, ao fim de algum tempo, o patrão decidiu que se queria reformar e deu-me a oportunidade de abrirmos uma outra companhia com o filho».

Depois de um trabalho em equipa durante

3 anos chegou a altura de cada um procurar o seu próprio caminho e Norberto Martins formou a sua própria empresa em 1990.

Os seus negócios nunca envolveram muito a comunidade portuguesa, tendo desde sempre trabalhado para clientes quebequenses. Depois dos grandes projetos de construção de luxo fora do centro da cidade, agora o negócio floresce na área da renovação e situa-se geo-graficamente mais perto da tradicional comu-nidade portuguesa.

«Em termos de negócios nunca estive muito perto da comunidade portuguesa, mas no desporto sim, pois durante muitos anos andei envolvido no futebol», explica.

«Fiz parte do Oriental de Montreal. Sou um dos seus primeiros sócios, fui jogador e dirigente desportivo de uma secção que infe-

lizmente já não existe no clube», desabafa com alguma mágoa.

Os regressos à Lagoa são frequentes. Num destes últimos, participou num torneio de golfe. Em cada visita renova recordações, num concelho que mostra um rosto moderno.

«A diferença é muito grande entre os tempos de hoje e a época em que eu lá vivia. Por exemplo, na altura, só havia dois ou três au-tomóveis. Agora chega-se lá e é dificil arranjar um espaço para estacionar. É impressionante o desenvolvimento da Lagoa».

Filhos e netos estreitam também laços com a ilha dos pais e avós. Entretanto, mo-bilizam-se intercâmbios institucionais entre a ilha e o Quebeque que reconhecem o trabalho dos emigrantes e as oportunidades oferecidas pela província. LP

sara Franco...

nasceu uma estrela em sainte-thérèse

estava escrito no céu que alguns meses depois sairia do digno repouso e, rapidamente, já na cadeira de encosto, com os olhos postos no céu, viria a cochichar com os botões mágicos e guardadores de segredos, os quais pareciam querer desejar-me felicidades e boa saúde. Caiu a noite e logo me aconselhou a escrever mais e melhor. Ora, enquanto o nosso leitor dorme e sonha no dia seguinte, curiosamente penso e dou-me conta de que a comunidade portuguesa de Montreal envelhece a passos de gigante. Sem dúvida que necessitamos de gente que nos represente nas sociedades de acolhimento. Contudo, há que deixar aos jovens o maior legado que é a língua portuguesa e, eles saberão quem fomos e o esforço que fundámos para que Portugal pulse a bom ritmo aquém-fronteiras. Porque o futuro é já amanhã, que aprendam quem são, de onde vêm e para onde vão, como lusodescendentes. Estando certos de que Sara Franco sabe para onde vai e o que deve construir, fica hoje aqui escrito, a preto e branco, o nome desta jovem dando-lhe o máximo de atenção.

Sara é uma artista luso-canadiana que se revelou como cantora lírica e romântica no desabrochar da sua meninice. Diz que a mãe a incentivou a cantar pois, para ela também foi um grande sonho que vê realizado a cada espetáculo de sua filha.

A Sara nasceu na bela cidade de Sainte-Thérèse, há umas três décadas. Agora vive dividida entre duas culturas, a canadiana e a portuguesa. A mãe é quebequense e o pai vem de Água de Pau. Conta-nos a jovem que foi viver para Portugal tinha 3 anos de idade. O pai, crente em Deus, tomou a decisão de in-gressar num instituto de formação religiosa, e nada melhor do que estudar a palavra do Pai na sua própria língua. Assim sendo, o Sr. Manuel Franco resolve estabelecer-se em Lisboa com a esposa e as duas filhas. Mal sabia ele que viria a render um grande serviço à Pátria, quando a esposa decide pintar a língua portuguesa com os olhos do coração. Anne Caron Franco seguiu o ensino e saiu mestre em pouco tempo! Para as meninas foi tarefa fácil, aprender a língua, para orgulho e contentamento dos pais, que consideraram o sucesso da família como

um marco de amor, no início, naquela capital portuguesa. A família regressou ao Canadá 12 anos depois. Foi uma viagem rápida, mas valeu a pena.

Sara Franco é uma jovem dotada de mui-tos talentos, toca piano desde a sua tenra infân-cia, assim como a irmã Elisabeth. Ao escutá-la, pensamos… não é segredo para ninguém! A Sara tem voz de ouro, é muito apreciada e bem organizada! Já a ouvimos cantar em diversas línguas, em Montreal e arredores e podemos afirmar: é mais uma luso-canadiana que nasceu para cantar! E se quiser pode erguer e elevar longe e bem os seus dotes e dons artísticos.

Sara não vive com os olhos virados para o passado, diz sentir-se feliz ao conviver com a comunidade lusa de Montreal, à qual agradece pelo facto de a receberem sempre bem, em todos os lugares onde tem atuado. Claro que o seu maior gosto seria regressar aos Açores e logo a seguir até Lisboa, a fim de apresentar o trabalho discográfico que sairá em breve. Ora vejamos alguns dados que dão vivas à carreira artística de Sara Franco:

Em 2004 fez parte do espetáculo do artista André-Philippe Gagnon. Em 2011 cantou e encantou o grande Pauleta, no décimo quinto aniversário do LusoPresse. Participou ainda em vários festivais, tai como: o Festival dos Ritmos do Mundo de Montreal, tomou parte na programação estival da cidade de Mirabel em 2012. Nesta altura conseguiu, por mérito próprio, o título do espetáculo do ano. Em 2014 partilhou o palco com Roberto Leal, aquando do Festival Portugal Internacional de Montreal. Nesse mesmo ano foi escolhida para escrever e compor uma canção para a cidade de Laval, cujo tema foi intitulado “Donnons l’Espoir”. Para além de outros eventos, em 2016 fez a primeira parte do concerto de Agata, na 3ª. edição do Festival Portugal Internacional de Montreal.

Acreditamos que em breve aplaudiremos a nossa artista assistindo aos seus espetáculos, já com o seu novo álbum. E que todos sejam dignos de destaque.

A cultura portuguesa vive incorporada na única epopeia marítima, que deu mundos ao Mundo e mais terra aos homens, nada melhor do que partilhá-la com outros povos nesta grande Nação canadiana, seguindo o exem-plo de Sara Franco enlaçada nas suas raízes açorianas e quebequenses. LP

Por Humberta araúJO

Por Humberta araúJO

entrevista de adelaide Vilela

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Página 1730 de agosto de 2017 LusoPresse

Freguesia do cabouco…

adriano costa é candidato à sua sucessão

t ivemos ocasião de encontrar o senhor Adriano Costa, 49 anos, actual Presidente da Junta de Freguesia de Cabouco e recandidato pelo PS às próximas eleições autárquicas do 1º de Outubro.

António Costa exerce o posto de presidente depois da renúncia de mandato do eleito em 2013.

Sendo o segundo na lista do PS nas últimas eleições, Adriano Costa passou a presidente da Junta do Cabouco em maio de 2016, ou seja, a meio do mandato oficial. É portanto, a primeira vez que se submete ao sufrágio universal e à decisão do eleitorado.

Por ser candidato oficial concorrendo à sua própria sucessão, quisemos ouvir os principais temas da sua campanha. Soube-mos assim que esta assenta em 3 pilares:

• Ajudar as pessoas no seu dia a dia• Engrandecer o Cabouco num projeto

socio-económico e cultural• Trabalhar com as instituições da

freguesia para a projecção do Cabouco no exterior.

Desenvolvendo estes temas vamos de seguida tentar explicitálos.

1) Assim, continuar os programas de emprego, oriundos sobretudo da Direcção-Geral de emprego, insistindo na formação profissional com a ajuda do Governo. Um olhar sensível para esta situação.

2) Do ponto de vista cultural prevê-se a criação da Biblioteca da Freguesia. Na parte económica, destacamos a requalificação do Parque Industrial da Chã do Rego d´Água e no futuro, uma limpeza periódica deste espaço. Dinamização das áreas de utilidade

Freguesia do caboucoCabouco é uma freguesia

do concelho da Lagoa, com 5,15 km² de área e 1 895 habitantes (2011). A sua densidade popula-cional é 368 hab/km².

Localiza-se a uma latitude 37.7667 (37°46’) Norte e a uma longitude 25.5667 (25°34’) Oeste, estando a uma altitude de metro.

Foi criada a 15 de setembro de 1980 com território da freguesia de Nossa Senhora do Rosário (Lagoa).

Os principais actores da vida social e desportiva:Casa do Povo; Centro Social e Cultural, Centro Social e

Paroquial; Agrupamento de Escuteiros 798. LP

pública.3) Projecção da Freguesia do

Cabouco (elevada a freguesia em 15 de Setembro de 1980).

Em colaboração com as instituições (quantas existam) para a divulgação dos produtos e serviços que a freguesia oferece; lembra-se a existência de um Museu Etnológico, que conta com razoável e interessante espólio.

Salienta-se a manutenção duma boa rede de transportes urbanos que beneficia a população de todas as idades e, em especial, a clientela escolar, na sua deslocação de ida e retorno à escola. De resto, já no passado ano foram transportadas 43 crianças no itinerário das residências à escola, confirmando a existência de uma bem estruturada rede de transportes que serve bem grandes e pequenos, numa preocupação de bem servir em paz e tranquilidade. LP

candidato nuno rego…

na mira estão a juventude e os idosos

tem 32 anos e é militante do PSD desde há 17. Seu nome completo: Nuno Miguel Pimentel Rego.

A vontade de ajudar e de colaborar no desenvolvimento das gentes da sua terra, fêlo inscrever-se e aceitar a candidatura à presidência da Junta de Freguesia de Cabouco. Na sua opinião, o Cabouco necessita de sangue novo, de novas ideias e de quem as aplique quase com devoção.

Numa conversa informal e de agradável contorno, quisemos ouvir alguns dos temas do seu programa.

Este tem diversas vertentes que se estendem da juventude aos idosos, passando pelas crianças do pré-primário e à população em geral. No respeitante aos idosos, patamar ao qual entende dedicar grande parte da sua

Nuno Rego tem também ideias bem assentes no que se refere a medidas ligadas à infância. Pretende fornecer transporte gratuito para as creches e para as escolas, às famílias que dele necessitem bem como, criar espaços de jogos com mobiliário adequado às suas idades, a implementação de um parque infantil no Polidesportivo da freguesia, entre outros.

Na vertente da população em geral, quer facultar acessos à documentação oficial gratuita, quando possível e promover a limpeza das ruas para justificar a bandeira “ruas sempre limpas”. Melhorar a segurança de pessoas e bens e completar a asfaltagem do acesso do Parque Industrial à cidade da Ribeira Grande - (troço de ligação das Soluções M às Alminhas).

Estava terminado o nosso encontro com este candidato, que se apresenta de face erguida aos eleitores da Junta de Freguesia do Cabouco, concelho de Lagoa.

atenção, Nuno Rego entende criar centros comunitários para actividades lúdicas, que poderão passar por encontros sociais, jogos familiares ou passeios pela região com transporte fornecido pela Junta em colaboração com a Câmara Municipal. Igualmente pretende fornecer transportes a idosos nas suas idas ao médico ou à farmácia.

No campo da juventude pensa facultar actividades ao ar livre, reservar espaços para prática informática, ao mesmo tempo que quer facilitar as actividades desportivas em consenso com eventuais participantes.

Nuno Rego. Foto LusoPresse.

LP

operário... com melhorias no campo

lUSOPRESSE - No âmbito das renovações que têm beneficiado o campo João Alberto Borges Arruda, foi inaugurado no passado domingo, dia 20 de agosto, a bancada destinada à imprensa.

Estiveram presentes ao ato a presidente da Câmara Municipal, Cristina Calisto e a sua chefe de gabinete, Verónica Almeida e como anfitriões o presidente da Direção da equipa lagoense, Gilberto Branquinho, o presidente da Assembleia Geral do clube e vice-presidente da Câmara Municipal, Fernando Jorge Moniz, bem como os restantes membros da Direção e vários jornalistas. Na oportunidade foi descerrada uma placa onde se encontram inscritos os nomes de todos os jornalistas que passaram pelo campo. Trata-se de um melhoramento que constitui a última

fase de outros que o precederam.

Este ato solene precedeu o encontro da 1 ª j o r nada do Campeonato Nacional da Liguilha Ledman/Pr io, vu lg ar mente conhec ida por 3 ª divisão, que opôs o Operário da Lagoa a o C l u b e S p o r t Armacenenses, que viajaram do Algarve, mais especificamente de Armação de Pera. O resultado assinalava no final um empate a 2 bolas. LP

Foto LusoPresse.

Instalações da Junta de Freguesia de Cabouco, situadas na rua do Tanque. Foto LusoPresse.

Por raul MesQuita Por raul MesQuita

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Página 1830 de agosto de 2017 LusoPresse

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Página 1930 de agosto de 2017 LusoPresse

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Página 2030 de agosto de 2017 LusoPresse

FErnando JorgE moniz…

Estou na política para sErvir

Conheci o Fernando Jorge Moniz quando adolescente acompanhava o pai nas lides desportivas no Clube Operário Despor-tivo. Era eu então um jovem adolescente que dava os primeiros passos como futebolista do clube. Ele, dois anos mais novo, ocupava-se dos equipamentos, da venda de bilhetes, en-tre outras tarefas. Podia dizer-se que o jovem Fernando Jorge era pau para toda a obra, tal era o seu amor pelo Operário. Nessa lufa-lufa, Fernando Jorge acabava por ser o braço-direito do pai, o Senhor Dorvalino Moniz, a verdadei-ra alma-mater de toda a organização! Daí que não tenha sido novidade o facto de Fernando Jorge ter subido todos os escalões diretivos na estrutura do Clube Operário Desportivo.

Fernando Jorge Moniz foi seccionista, vogal de direção, tesoureiro, chefe do departa-mento de futebol, secretário-geral, presidente do Conselho Fiscal, e presidente da Direção em ocasiões várias, algumas com o Clube a viver verdadeiros momentos de glória, como aconteceu nos finais dos anos 90, com as subidas de divisão (Série Açores e Segunda Divisão Nacional).

Hoje, Fernando Jorge Moniz é presidente da Assembleia-geral do Clube, e chega a ser um dos principais, senão mesmo o principal conselheiro do atual presidente, na pessoa de Gilberto Branquinho. Há mesmo quem diga que o Fernando Jorge é a mais segura reserva do Clube Operário em caso de necessidade. E, conhecendo o visado, não nos custa, com verdade, acreditar nessa possibilidade.

Falámos com Fernando Jorge num destes dias. A nossa conversa foi, como não podia deixar de ser, muito agradável. Falámos do passado e do presente. E vieram à baila muitas recordações dos tempos da nossa juventude.

o clube operário Desportivo- Liguei-me ao Operário no fim dos meus

estudos, com 16 anos de idade e por influência de meu pai. Trilhei o seu caminho no Clube Operário. Fiz o meu papel e estarei sempre pronto para ajudar dentro das minhas possi-bilidades, embora hoje as minhas obrigações sejam outras.

E respondendo a outra pergunta nossa: - Não é fácil dirigir um clube como o nosso, onde os recursos financeiros não abundam e

Dorvalino Moniz Barreto, já falecido, alma mater do Clube Operário Desportivo. Foto LusoPresse.

cuja população, por vezes, não colabora como gostaríamos. Daí que tenhamos que viver de alguns apoios institucionais, os quais têm vindo também a diminuir.

A vida dos clubes, com a crise, passou por um período muito difícil. Espera-se que com a retoma da economia as coisas possam vir a melhorar…

- O Gilberto Branquinho tem sido um presidente muito dedicado. Considero que ele merece ser ajudado, mesmo se de vez em quando tenho discordado de algumas decisões. Mas percebe-se. Muitas vezes ele tem de tomar decisões sozinho por terem necessidade de ser tomadas rapidamente e nem sempre essas decisões são bem vistas. Mas o Gilberto Bran-quinho tem dado muito de si ao Clube. Ele merece o nosso apoio. Da minha parte tentarei sempre ajudar no que eu puder.

- Considero que um dos problemas do Operário está na falta de meios financeiros. É que se num ano se tem uma boa equipa, no ano a seguir há que a voltar a construir porque os melhores jogadores se vão embora para equipas com melhores recursos. Chego a não perceber como é que o nosso presidente, a cada ano, descobre jogadores em equipas inferiores para depois os tornar apetecíveis a outros grupos… Assim sendo, é reconstruir, reconstruir… Mesmo assim, o Operário acabou de ser considerado a terceira melhor equipa do país no conjunto de resultados dos últimos cinco anos!

No plano profissionalMas Fernando Jorge Moniz é também um

profissional realizado. Formado em contabili-dade, ele começou a sua carreira de contabilista como funcionário do Azevedos & Companhia Limitada. Mais tarde ingressou no Andrade & Irmão. Aqui tornou-se acionista e, mais tarde, entrou de sociedade no Restaurante Traineira e na Andrauto. Hoje, Fernando Jorge é sócio da Bruno e Fernando Jorge Moniz Contabilidade Limitada.

a entrada na política Não satisfeito com a sua atividade laboral

e de lazer (desporto, nomeadamente), Fernan-do Jorge Moniz envereda surpreendentemente pelo campo da política. Primeiro como man-

datário da candidatura de Luís Martins Mota, isto apesar de ser social-democrata, quando este era (e é) socialista. Depois deixa o PSD e torna-se independente, até hoje. Esta mudança de paradigma faz dele candidato pelo Partido Socialista nas listas de João Ponte há dois man-datos. E neste momento é o atual vice-presi-dente da Câmara. Para as eleições do mês de outubro, Fernando Jorge já foi convidado por Cristina Calisto para fazer parte da sua lista.

- A política agrada-me porque me dá a possibilidade de lidar com as pessoas. Servi-las dá-me muito prazer. Cada vez que ajudo alguém sinto enorme satisfação. É por isso que aceitei mais uma vez concorrer a um ato eleitoral, beneficiando agora do convite que

me fez a presidente Cristina Calisto.Como candidato a novo mandato na lista

socialista encabeçada pela Cristina Calisto, quais os projetos que pensas merecerão da tua equipa a melhor das prioridades?

- À frente de todos está o projeto relacio-nado com a frente marítima da cidade. De resto já apresentado recentemente pela nossa presidente em sessão pública. Depois estarão o contínuo desenvolvimento do Tecnoparque e criação de melhores estruturas turísticas para a Lagoa.

Ainda com muito mais para questionar, e naturalmente para responder, demos assim por finda a nossa entrevista, limitados por absoluta falta de espaço.

FEstas dE nossa sEnhora dos anJos

água dE pau Engalanou-sEFernando Jorge Moniz, atual vice-presiden-te da Câmara Municipal de Lagoa. Foto LusoPresse.

LP

a Vila de Água de Pau vestiu as suas melhores vestes para celebrar as tradicionais festas de Nossa Senhora dos Anjos. Quem vem de fora (e tantos foram, dos mais diversos pontos de S. Miguel e um grande número de emigrantes que labutam nos Estados Unidos, no Canadá, nas Bermudas, por esse mundo além) vê bem ao longe a inscrição em grandes letras afixada no Monte Santo. As estradas de acesso ficam congestionadas e viam-se carros estacionados a grande distância do centro da vila tanto no domingo, dia 13 de agosto, como na 3ª feira, no dia da Padroeira.

O cortejo alegórico teve lugar ao fim da tarde no domingo e nesta sua 11ª edição foi escolhida a temática televisiva: «Quando a televisão era a preto e branco». Ao longo das ruas centrais da vila foram circulando pelo meio de uma grande afluência de público vários carros alegóricos onde um elevado número de figurantes recrearam os Jogos Sem Fronteiras, o Festival da Canção, o Preço Certo, a Canção de Lisboa e a Aldeia da Roupa Branca. A encerrar a ‘’emissão’’ vinha a banda dos Num-Nuns, uma banda original e engraçadíssima que desfilava soprando em improvisados instrumentos de cana. Embora tenhamos ouvido comentários denotando a sua preferência por cortejos realizados em anos anteriores, julgamos que os organizadores, a Casa do Povo de Água de Pau e a Comissão de Festas da Paróquia de Nossa Senhora dos Anjos estão de parabéns.

Ficámos verdadeiramente maravilhados

com a dimensão e o esplendor da procissão em honra de Nossa Senhora dos Anjos. Treze bandas filarmónicas abrilhantaram este mo-mento tão particular da profunda religiosidade pauense: Banda Filarmónica Lira do Norte (Rabo de Peixe), Banda Filarmónica Lealdade (Vila Franca do Campo), Sociedade Recreativa Filarmónica Santíssimo Salvador do Mundo (Ribeirinha), Banda Filarmónica Harmonia Mosteirense (Mosteiros), Banda Filarmónica do Senhor da Pedra (New Bedford, Massa-chusetts, Estados Unidos), Banda Marcial Gueifães (Porto), Banda Lira Nossa Senhora da Estrela (Candelária), Banda Sociedade Recreativa Nossa Senhora das Vitórias (Santa Bárbara), Banda Filarmónica Estrela d’Alva (Santa Cruz), Banda Filarmónica Lira do Sul (Ponta Garça), Banda Filarmónica Aliança dos Prazeres (Pico da Pedra), Banda Filarmónica Marcial União Progressista (Vila Franca do Campo) e a Banda Filarmónica Fraterni-dade Rural (Água de Pau). Dezoito andores acompanhados por um grande número de fiéis foram desfilando pelas ruas decoradas com belos tapetes de flores nesta grande procissão presidida pelo Bispo da Diocese de Angra do Heroísmo (Terceira), Dom João Lavrador e onde se integraram as autoridades civis, designadamente a presidente da Câmara Municipal de Lagoa. Os arcos de oferendas recolhidos pela imagem de Nossa Senhora dos Anjos estavam repletos de notas de euros, de dólares americanos e canadianos. Já caía a noite quando a imagem da padroeira regressou à sua igreja e todos deram atenção às palavras do Bispo Diocesano. LP

Por Norberto aguiar

reportagem de Joaquim eusébiO

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Página 2130 de agosto de 2017 LusoPresse

sylvie surprenant, presidente da câmara de ste-thérèse

geminação foi passo normal

«estamos sempre à procura de ino-vação e de formas de permitir às pessoas experiências inesquecíveis.”

Com uma grande comunidade de emi-grantes da Lagoa, a geminação foi um passo normal, o resultado do trabalho de um grupo de lagoenses que se animaram em torno desta ideia. Para a presidente da Câmara de Sainte-Thérèse, o impato desta presença lagoense é muito positiva.

“O fato destes lagoenses terem escolhido Sainte-Thérèse para viver e de se terem integra-do, geração após geração, só mostra que é pos-sível ter sucesso. A autarquia de Sainte-Thérèse encoraja a difusão e a participação de toda a população da cidade e das suas comunidades. Incentivamos todos a fazerem parte das ativi-dades e eventos específicos que a Associação Portuguesa organiza em Sainte-Thérèse, a qual existe há mais de 50 anos.»

Em entrevista ao LusoPresse, Sylvie Surprenant adiantou ainda que os laços de amizade que unem as duas autarquias permitem conservar a relação com as raízes da maioria dos portugueses que nasceram no arquipélago e, particularmente, os de Lagoa. “O ano passado, a presidente Cristina Calisto e eu própria convidamos a população originária da Lagoa a virnos encontrar no decorrer duma conferência sobre o desenvolvimento e os programas em curso na Lagoa, enquanto ao mesmo tempo apresentavamos projetos futuros a desenvolver entre as duas edilidades.”

Estas oportunidades de desenvolvimento de contactos e conhecimentos são benéficas, considera a presidente da Câmara. “Os im-pactos positivos envolvem não só o facto de descobrirmos e partilharmos a riqueza das gentes, do seu espaço e história e da sua cultura dentro de um contexto social, cultural, despor-tivo,” referiu ainda a autarca Sylvie Surprenant.

Neste sentido e para amenizar as distâncias e manter viva esta aliança «temos uma página no Facebook que serve como ponto de encontro entre a Lagoa e Sainte-Thérèse. Assim podemos ilustrar e partilhar as nossas informações. Recebemos artesãos, artistas, grupos de folclore, teatro e desportos de

ambas as partes. Este intercâmbio possibilitou igualmente experiências profissionais importantes tais como aquelas que foram realizadas em 2003 e 2004 em que dois grupos de estudantes no setor da hotelaria vieram aqui estagiar.”

Estas experiências profissionais são para continuar, afirma Surprenant «pois estamos sempre à procura de inovação e de formas que permitam às pessoas experiências inesquecíveis.»

No domínio público, a autarca recorda o papel do lagoense Armando Melo, eleito para o concelho municipal da Sante-Thérèse em 2013 para um mandato de 4 anos, e que vai concorrer às eleições de novembro próximo. “Ele deixou a Lagoa quando tinha 9 anos para viver em Sainte-Thérèse. Aqui casou com a sua esposa, também de origem lagoense, e continua a viver nesta cidade com os seus filhos e os seus pais.”

O futuro desta relação entre municípios é promissor e vai evoluir entre as duas comuni-dades. “Da nossa parte, desejamos encontrar ações concertadas visando o futuro, de modo a que nos possamos conhecer melhor e, igualmente, abrir as nossas portas a atividades e eventos que partilhem a amizade entre as nossas comunidades”, declarou Surprenant.

LP

Jornais Em lagoa E saintE-thérèsE

missão cumprida!

Prometemos lançar um número especial do LusoPresse sobre a particular ligação que existe entre a Lagoa, na ilha de São Miguel, e Sainte-Thérèse, no Quebe-que. Este desiderato obedeceu a proposta apresentada a Sylvie Surprenant, «mairesse» da Ville de Sainte-Thérèse, e João Ponte, então presidente da Câmara Municipal de Lagoa e na ocasião de visita ao Quebeque.

Depois de selado o acordo tripartido entre as duas câmaras e o LusoPresse, alguns contratempos surgiram, como o da saída de João Ponte da Câmara Municipal para ir dirigir a Atlânticoline, fator esse que atrasou sobremaneira a efetivação do projeto.

Devido à nova situação, acabámos por entrar em contacto com Cristina Calisto, a nova presidente da Câmara Municipal de Lagoa, para sabermos se o «acordo assina-do» pelo seu antecessor continuaria de pé.

Não foi preciso elaborar muito para que Cristina Calisto dissesse que sim, que o acordo era para ser respeitado.

Resolvida a situação, o LusoPresse começou por ser lançado em Sainte-Thérèse, em julho de 2016, com 28 páginas – a nossa promessa foi de 16! –, com mais cor e com papel de melhor qualidade do que o da edição tradicional.

Entretanto, hoje, lançamos, aqui, na sede deste concelho, o jornal LusoPresse Lagoa/Ste-Thérèse, que é, como se pode calcular, o culminar do acordo estabelecido em tempo oportuno.

Esta edição do LusoPresse acaba, também, por ultrapassar as expetativas mais otimistas. Inicialmente prevista para conter 28 páginas, este número foi aumentado para 36. Fomos assim e mais uma vez, para além da nossa promessa, o que só nos pode orgulhar.

Com a distribuição desta edição espe-cial do LusoPresse em Lagoa, damos por terminada a nossa missão. Contudo, res-tanos agradecer a todos aqueles e aquelas que nos permitiram terminar este trabalho de forma agradável, por positiva. Desde logo em Sainte-Thérèse, onde contámos com gente muito diligente, e terminando em Lagoa, a terra de todas as colaborações. Realmente, só temos elogios a fazer a toda a equipa camarária que nos assessorou, do mais simples trabalhador ao mais qualifi-cado dos seus funcionários.

E por ser de justiça, não poderíamos aqui e agora deixar de agradecer ao ex-presidente João Ponte e a Sylvie Surprenant pela confi-ança que depositaram em nós na consecução deste ambicioso e inédito projeto. Claro que neste rol de agradecimentos também entra Cristina Calisto, a presidente que selou sem hesitações a nossa delicada safra.

Uma última palavra de agradecimento vai para todos aqueles que participaram como atores neste duplo projeto.

Por fim, um gesto de simpatia para todos aqueles elementos que deviam ter integrado esta iniciativa e que por uma qualquer razão ficaram de fora.

Ponto essencial. Queria, neste tex-to, salientar a grande importância que os nossos colaboradores, os que assinam os textos (edições Sainte-Thérèse e Lagoa) e os que trabalharam na retaguarda, tiveram na preparação e feitura destes dois jornais especiais. LP

o sEu a sEu dono!

No texto «Retrospetiva histórica», publicado no interior deste jornal, fala-se que o primeiro passo da geminação entre Sainte-Thérèse e Lagoa foi dado no momento da visita que o então «maire», Senhor Élie Fallu, fez à Lagoa na primavera de 1993. Ora isso é inexato, pois a ida do Senhor Fallu aconteceu somente a 18 de julho de 1993. O Senhor Fallu, depois de ter sido convidado por nós a acompanhar a equipa de futebol veterano da grande região de Montreal (com vários jogadores oriundos da comunidade portuguesa de Sainte-Thérèse), apresentou como condição para nos acompanhar receber um convite formal e oficial da Câmara de Lagoa. Assim sendo, encarregámo-nos de fazer as diligências junto da Câmara e a pessoa contactada não foi outra que Jorge França, que na altura desempenhava as funções de vice-presidente, se a memória me não atraiçoa.

Depois de alguma surpresa, Jorge França prometeu dar andamento ao assunto. Mas ainda antes que a nossa conversa telefónica terminasse, fizemos-lhe uma sugestão: se se confirmar a ida do presidente de Sainte-Thérèse aí, arranjai-lhe uma rua, um beco... que quando a visita for retribuída, cá, ele será obrigado a fazer o mesmo...

A comitiva chegou à Lagoa no dia 18 de julho. A 24, pelas 18h00 locais, procedia-se à inauguração da bela Praça de Sainte-Thérèse com pompa e circunstância, na presença do «maire» Élie Fallu, do presidente lagoense, Luís Martins Mota, e de João Bosco Mota Amaral, na altura presidente do Governo dos Açores. LP

Por Humberta araúJOPor Norberto aguiar

Por Norberto aguiar

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Página 2230 de agosto de 2017 LusoPresse

guarda-rEdEs isaías da pontE...

sE hoJE, sEm dúvida quE Jogaria numa qualquEr Equipa dE primEira liga!

ainda criança habituei-me a assistir aos jogos do Clube Operário Desporti-vo – onde joguei mais tarde. Muitas vezes acompanhado de amigos já adultos. Porque naquela época, não sendo o futebol, como divertimento só podia ser o cinema. Mas havia o problema da idade neste último caso...

Agora, recuando no tempo, lembro-me da equipa do Operário com o guarda-redes Eduíno – vive em Nicolet, no Quebeque (Canadá)! – porque é de um guarda-redes que vamos hoje aqui tratar. Mais tarde vimos e gostámos de outros, como por exemplo do Gilberto, antecessor, precisamente, de Isaías da Ponte, de quem vamos falar, na defesa das redes do «Pica-Ferrugem», nome por que era também conhecida a equipa e que só por si mereceria um escrito.

quem é este grandalhão...Nasceu em Água de Pau em 14 de maio

de 1949, de gente simples, por isso com necessidade de trabalhar muito jovem, no campo, cujo maior salário que recebeu foi de 15 escudos por dia... Trata-se de Isaías da Ponte, o desalmado extremo esquerdo que Francisco Laranja, conhecido por «Pelica», descobriu em Água de Pau, freguesia onde namorava. Tinha ele na altura 17 anos, jogava naturalmente na rua, pois a freguesia não tinha equipa de futebol e vir até ao Rosário – sensivelmente 10 quilómetros de distância – para jogar nos juniores da única equipa do concelho (Operário) era deveras difícil, por falta de transportes e pelo dinheiro que não havia.

«Lenha ao mato»«A primeira vez que vim aos treinos do

Operário foi muito caricato. A minha mãe mandou-te ir buscar lenha ao mato – era assim que os pobres faziam por falta de meios... – e, eu, em vez disso, meti-me à boleia num camião e vim direito ao Rosário. O problema é que nem sabia onde era o campo... Acanhado, lá pedi a alguém que me levasse lá. Não fui

Isaías Ponte atento ao fotógrafo, no momento que prestava declarações ao chefe de redação do LusoPresse, Norberto Aguiar. Foto LusoPresse.

para o campo porque, no caminho, como tu sabes, há a Fábrica do Álcool e como o clube pertencia à fábrica, deixaram-me lá. Era para aí uma hora da tarde... Mandaram-me esperar. O primeiro jogador a chegar foi o Guilherme Fragoso. Trocámos algumas conversas e comecei a equipar-me. Logo aí demonstrei que não tinha sequer a noção em que situação me metia. Ao equipar-me, o Fragoso repara que tenho as joelheiras ao contrário... Fiquei ainda mais nervoso. Depois chegaram outros jogadores e eu passei a ser motivo de surpresa e risota, até pela minha altura, que é de 1,92 cm. Todos ficaram na expetativa do que faria numa baliza...».

É preciso dizer aqui que o Clube Operário Desportivo estava nessa altura bem servido com o Gilberto. Ele tinha feito uma carreira excecional nos juniores da célebre equipa treinada pelo professor Jorge Amaral e que contava com Viola, Norberto, Ernesto, entre outros belíssimos valores. Não admira que as hipóteses de Isaías fossem praticamente nulas. Houve mesmo chacota, da parte do público adepto e até da maior parte dos jogadores. Refira-se que nessa ocasião o Operário tinha

acabado com o departamento júnior, que a haver, podia ter sido um bom trampolim de aprendizagem para o «Grandalhão», como bem me lembro o tratavam pejorativamente.

emprego garantidoDecidido a jogar futebol a sério, mesmo

se a mãe tudo tivesse feito para que isso não acontecesse, acabando por exigir que o filho fosse pago pelos transportes, dias de treinos e em todas as situações em que não pudesse trabalhar por causa do futebol, exemplo lesões... O engenheiro diretor da Fábrica do Álcool e presidente da equipa, acalmou todas as preocupações da mãe, dando-lhe emprego na fábrica, que era o sonho de muitos!

Tornaram-se assim as coisas muito favoráveis ao novel jogador do Operário. Fu-tebolística e profissionalmente, como era seu desejo e da família. «Primeiro, diz de sorriso largo na face, pequena para o seu gabarito, que apesar de muito esforço fui ganhando a confiança do treinador dos guardes-redes, que era o jogador mais respeitado da equi-pa e também o mais velho e capitão, José Eleutério – treinou (Clube Pimentel), e viveu em Montreal os restantes dias da sua vida. A seguir, ganhei a estima do treinador principal, o Senhor João Gualberto».

Lembro-me das «tareias» que o Isaías, mais o Gilberto, levavam nos treinos, num espaço na parte de fora do terreno de jogo. Era num retângulo assaz importante, cheio de areia, de forma que as quedas sugeridas fossem amortizadas... Nessa altura já se começava a ver que o futuro das redes do Operário iriam parar às mãos do «Grandalhão» de Água de Pau...a titularidade e portentosa exibição diante da cuF

Foi assim que no decorrer da época de 1966/67, a três jogos do fim, um penalty seguido de lesão de Gilberto e eis que Isaías é chamado a defender a baliza. É preciso dizer que nesse momento já todos viam que o Isaías era um predestinado para a posição de guarda-redes. «Estava tão nervoso e só queria que o Gilberto recuperasse e voltasse para a baliza. Felizmente que depois nunca mais

deixei o lugar de guardião. Foram três épocas maravilhosas, com grandes jogos, alguns diante da grande equipa do Santa Clara».

Nos três anos de Operário – primeira passagem, pois há uma segunda – curiosamente não se passou de camisola do Operário vestida o seu momento mais determinante como guarda-redes. O seu momento mais fabuloso deu-se diante da CUF, de Capitão-Mor, Arnaldo, Conhé, Manuel Fernandes... quando à baliza da Seleção das Vilas e Freguesias de São Miguel, fez uma exibição espantosa, digna de guardiões internacionais, quando parou o ataque da CUF até 10 minutos do fim, quando saiu para dar lugar ao guarda-redes do Águia dos Arrifes... Na altura da sua substituição, o placard acusava 2-1 para o então quarto classificado da Primeira Divisão de Portugal. O desafio terminou em 4-1...

campeão açoriano no PraienseA tropa levou-o para a ilha Terceira, antes

de ser mobilizado para Angola. Logo que a notícia chegou àquela ilha, as equipas locais correram a contratá-lo – e ao ponta de lança Costa Pedro. Foi o Sport Praiense a ganhar a corrida. O homem vindo do Santa Clara acabou por assinar pelo Sport Angrense, pois também nesta ilha ele ia vestir à Benfica.

Teve mais sorte o guardião lagoense, que logo nesse ano ganhou o Campeonato da Ter-ceira, e mais importante ainda, o Campeonato Açoriano. Decorria a época de 1970/71. E para maior gozo, o Sport Praiense foi arrebatar o troféu a Ponta Delgada, diante do favorito Santa Clara. Por acaso vimos o jogo e, como toda a gente – o estádio estava cheio – vimos o Santa Clara dominar claramente a partida. No entanto, foi o Praiense a levar a taça, mercê da grande exibição de Isaías e da dupla de pontas de lança Valentim/Eduardo. Escu-sado será dizer que o Isaías foi recebido em herói na Praia da Vitória! Ainda hoje o Isaías é reconhecido pelo feito. E passados 46 anos da conquista daquele campeonato, fizeram-lhe uma grande receção.

em angolaVeio pouco tempo depois a mobilização

para Angola. Nesta antiga colónia portuguesa, acompanhado de Fernando Costa Pedro, Isaías alinhou no Sporting do Negaje. Começou como suplente de um guarda-redes vindo do Famalicão. Mas, certo dia, num jogo em Luanda, contra o ASA, no Estádio dos Co-queiros, um zero quatro ao intervalo fez o treinador enviá-lo para o «inferno...». Depois dessa segunda parte nunca mais o Isaías saiu da baliza do Sporting. Pior estava o Costa Pedro, grande ponta de lança nos Açores, ali metido a central...

Levado pelo calor dos adeptos, Isaías surpreendia tudo e todos. O seu valor não deixava dúvidas a ninguém e isso levou-o para o Benfica de Huambo, onde foi ganhar 25 contos angolanos. O treinador era Filipe Conde. «Fomos campeões de Uíge e, depois, chegámos ao quarto lugar do campeonato provincial logo nesse ano. Um grande feito!»

o regresso a casa«Joguei ali dois anos e voltei a casa porque

Cont. na página seguinte...

entrevista de Norberto aguiar

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Página 2330 de agosto de 2017 LusoPresse

tivemos um agradável batepa-po com o actual presidente do Clube Náutico de Lagoa, Rui Dias, dirigente desde o ano passado, depois de ter sido tesoureiro eleito em 2007.

Como se depreende este clube privado, subsistindo por quotas anuais dos seus membros, tem como finalidade a prática de actividades náuticas para gente de todas as idades, de preferência que saibam nadar, e tanto tempo quanto possível ou tenham forças para remar.

Isto, no caso da canoagem. Todavia, existe a modalidade da vela, direcionada para os mais jovens que, naturalmente, têm todas as atenções da parte de treinadores, principalmente desde os primórdios da aprendizagem até que possam navegar com segurança e independência.

No Clube Náutico de Lagoa não há faixas etárias para associados, mesmo se dum modo geral, na vela, são inscritos os jovens com idades a partir dos 6 anos e até os 16, enquanto que na canoagem começam aos 10 até, normalmente, aos 60. De notar que no momento atual o atleta mais velho do Clube tem 56 anos de idade e continua a remar e a transmitir às novas gerações o seu saber e experiência.

Promovendo actividades durante o ano inteiro, já que a Natureza o permite, os atletas do Clube Náutico de Lagoa, fundado em 1995 e contando com 140 associados, tem competido em provas locais e regionais, incluindo, neste campo, competições através do arquipélago.

Entre os objectivos determinados para este ano, conta-se a continuação da campanha de novos membros, o que permitirá ter mais peso no sector naval e a requalificação de equipamentos e materiais.

Quisemos conhecer os métodos utilizados nessa aproximação de angariação de associados, a que o nosso interlocutor nos informou ser através de eventos especiais, abertos a toda a Ilha, fazendo demonstrações e encorajando experiências nos aparelhos postos à disposição dos candidatos. Outras vezes, fazem promoções nas escolas ou marcando presença numa feira pública.

Salientamos o facto de qualquer novo associado não ter acesso a qualquer aparelhagem, sem previamente, receber a formação adequada.

Por outro lado, os associados e amigos do Clube, mantêm a sua ligação à instituição mesmo após terem “arrumado” os remos, participando com alegria em diversos passeios e convívios pela bela Natureza micaelense, seguindo trilhos preparados pela municipalidade em benefício dos seus concidadãos.

Após todas estas informações que nos foram fornecidas pelo amável presidente do Clube Náutico de Lagoa, que permitiu a execução deste texto, apenas nos restava agradecer a gentileza e deixar os nossos votos de progresso e prosperidade.

rui dias e clube náuticomembros de todas as idades

o opErário da lagoa - um vivEiro dE mais dE 200 atlEtas

a minha comissão terminou. Mas deixei cartaz no futebol angolano, ao ponto de ter recebido proposta de contrato para voltar para Benguela. Mas a família e a possibilidade de emigrar para o Canadá deitaram por terra essa possibilidade. Ainda voltei a jogar no Operário. Mas alguns meses depois estava de abalada para a cidade de Vitória, na Colômbia Britânica. Aqui fui jogador-treinador por carolice. O trabalho na construção era duro e não dava para muito mais. Felizmente que cinco anos depois entrei na Câmara como canalizador, depois cheguei a inspetor das águas. Não me realizei como jogador profissional de futebol, mas realizei-me profissionalmente. Hoje, reformado há oito anos, vivo entre o Canadá e a Lagoa, onde tenho uma boa casa. Os filhos estão orientados. Agora, na minha idade, tenho de gozar o fruto do meu trabalho. Passo quatro meses na ilha e depois volto para a minha casa, em Vitória, para lidar com as minhas três netas e um neto. Quantos filhos tive? Só deu para três raparigas», diz-nos ao mesmo tempo que terminamos a entrevista.

Prometido há muito, este bate-papo acabou por ser longo, precisamente porque levou anos para ser realizado. Mas sempre conseguimos dar à estampa a carreira fute-bolística daquele que consideramos o melhor guarda-redes que vimos atuar nos Açores cá vivemos. De resto, diz-nos a experiência e o conhecimento que se Isaías aparecesse hoje no mundo do futebol, com aquelas mesmas características, era certo e sabido que tinha condições para estar entre os postes de qualquer baliza.

O Clube Operário Desportivo da Lagoa (S. Miguel, Açores) foi fundado em 1948 e de início era constituído por operários da Fábrica de Álcool da Lagoa. Sessenta e nove anos mais tarde agrega mais de 200 atletas distribuídos por diferentes modalidades (atletismo, basquetebol, judo e maioritariamente futebol). O basquetebol, o atletismo e o judo são hoje secções autónomas, com gestão própria. No que diz respeito ao futebol, tem presentemente cerca de 200 atletas distribuídos por 8 escalões de formação, para lá dos veteranos e dos seniores. O Operário, que está filiado na Associação de Futebol de Ponta Delgada, ganhou a sua primeira competição oficial na década de 1960

com a conquista do Campeonato Distrital da I Divisão assim como a Taça de São Miguel, tendo sido igualmente campeão açoriano. De destacar a prestação da equipa sénior na época 1990/91 onde ganhou todas as provas a nível de ilha e também o Campeonato dos Açores, tendo por isto ingressado na época seguinte no Campeonato Nacional da III Divisão. Duas salas da sede do clube estão ornamentadas com centenas troféus granjeados ao longo da sua história.

A equipa sénior participa actualmente no Campeonato Nacional de Seniores (2ª divisão). Segundo o presidente da Direcção Gilberto Branquinho, a maior ambição que a actual direcção tem é manter de forma digna a equipa de seniores neste campeonato, onde já se encontra orgulhosamente e de forma ininterrupta desde há 14 anos e onde tem obtido classificações muito honrosas quer para a Lagoa quer para o Arquipélago dos Açores. Com efeito, nos últimos 5 anos, foi classificada como a melhor equipa sénior açoriana e ficou em 3º lugar a nível nacional entre as 80 equipas que militam neste escalão. Cerca de 50% dos jogadores da equipa de seniores são originári-os da Lagoa e os restantes são recrutados no Continente.

A equipa de futebol disputa os seus jogos caseiros no Estádio João Gualberto Borges Arruda, na vila da Lagoa. Foi construído em 1986 e requalificado em 2005 e tem capacidade para 2.500 espectadores. João Gualberto Bor-ges Arruda foi treinador emérito do Operário durante cerca de 30 anos, tendo-se consagrado como um dos maiores técnicos de S. Miguel e mesmo dos Açores.

A emigração lagoense fez com que muitos dos atletas do Operário se dispersassem pelo mundo e promovessem na diáspora merito-riamente o futebol. Muitos nomes poderiam ser citados; o nosso interlocutor, Gilberto Branquinho, apontou-nos, entre outros, os nomes de Isaías, Simão, Bernardino, Norberto Machado, Francisco Pelica, António Canhoto, António Eleutério, José Machado, João Manuel Tavares, Humberto Diogo, Manuel Gazeia ‹‹Capacheira›› e Manuel Augusto ‹‹Viola››. A melhor expressão do amor pela camisola do

Gilberto Branquinho, presidente do Clube Operário Desportivo. Foto LusoPresse.clube, reside na fundação do Clube Operário de Toronto por antigos jogadores lagoenses o que é um motivo de orgulho para o Clube Operário Desportivo e justificou a presença do presidente do clube da Lagoa no 40º aniversário do clube de Toronto. Os veteranos, promovendo actividades de angariação de fundos e com fundos próprios, já têm ido ao Canadá e designadamente a Toronto.

A equipa de juniores do Operário foi campeã açoriana no seu escalão.

Se os atletas do Operário dão o melhor do seu esforço, a Direcção mantem uma dura luta para manter o clube. O Operário tem conseguido sobreviver, apesar da grave crise financeira que afecta a região e o país. As di-ficuldades financeiras são muitas. O Operário tem recebido subsídios para a formação desportiva por parte do Governo Regional dos Açores, e tem igualmente apoio financeiro da Câmara Municipal da Lagoa e da Fábrica da Moaçor (antiga Fábrica do Sabão). Para lá destas entidades, algumas empresas têm dado igualmente o seu apoio e há naturalmente as receitas das quotas dos sócios do clube, muitos dos quais são emigrantes.

O nosso agradecimento a Gilberto Bran-quinho, presidente da Direcção do Operário da Lagoa desde 2000, pelas informações prestadas.

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entrevista de Joaquim eusébiO

Por raul MesQuita

Cont. da página anterior...

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patinagEm artística Em santa cruz…

daniEl moniz a caminho da china

dEpois do êxito quE Foi a organização da taça dE portugal…

agora quErEmos organizar o campEonato da Europa

O Clube de Patinagem de Santa Cruz é presentemente um digno embaixador internacional da patinagem artística portu-guesa. As suas origens são, no entanto, muito modestas. Para o conhecermos melhor as suas atividades entrevistámos Geraldo de Andrade, o jovem mas experiente treinador e diretor técnico desta coletividade que honra não só Santa Cruz e a os Açores.

LusoPresse – Falenos um pouco do historial do seu Clube.

Geraldo Andrade – O Clube de Patinagem de Santa Cruz foi fundado em 1994. Mas tudo começou no ano anterior quando recebemos no Polidesportivo de Santa Cruz um grupo de 10 ou 12 crianças convidadas pelo padre José Pires. O objetivo era começar a prática da patinagem, nessa altura sem grandes hori-zontes. A Susana Andrade, minha irmã, foi a primeira treinadora. Entretanto, eu comecei aí a treinar os rapazes em hóquei em patins, em juvenis e iniciados. Jogávamos contra o União Micaelense e o Santa Clara. O sucesso foi grande e começamos a fazer alguns fes-tivais de patinagem artística. Por outro lado, estávamos sempre limitados pelas condições meteorológicas, pois a patinagem fazia-se ao ar livre. O hóquei em patins, no entanto, acabou por ser encerrado por falta de condições em 2009-2010. Em 2002 passámos a treinar no pavilhão da Escola do Fisher. Presentemente temos 74 atletas federados de ambos os sexos a nível da patinagem artística. Os êxitos têm recheado a nossa história.

LP – Qual o nível etário dos vossos atletas?ga – Os 74 atletas do nosso clube

pertencem a todos os escalões etários, dos 4 aos 25 anos, desde os benjamins aos seniores. A maioria é do sexo feminino. Somos sempre o clube com mais atletas e com mais vitórias nos campeonatos regionais. Participamos sempre nos campeonatos nacionais com uma média de participação em média de 20 atletas em todos os escalões. Este ano, entre 81 clubes, ficámos em 11º lugar.

LP – Como conseguem sobreviver financeira-mente?

ga – Temos o apoio da Câmara Munici-pal da Lagoa que tem sido incansável desde o início. Temos igualmente o apoio da Direção Regional do Desporto do Governo Regional dos Açores para o escalão de formação.

LP – É o único treinador da equipa?ga - Sou, embora tenha a ajuda pontual

de outras pessoas. Mas pretendo formar alguns treinadores no futuro.

LP – Os atletas são apenas da Lagoa?ga – Temos atletas de toda a ilha (Ponta

Delgada, Vila Franca, Ribeira Grande e Rabo de Peixe). São atraídos pelo prestígio adquirido pelo nosso clube. Mas acredite que receber atletas que já estiveram noutros clubes exige um grande trabalho de adaptação. Por outro lado aceitamos todas as idades, embora acon-selhemos que se inscrevam com baixa idade. Os horários variam em função do desenvolvi-mento técnico dos atletas.

LP – Falenos agora da equipa diretiva.

ga – O Sr. António Augusto Borges é o nosso presidente. A secretária e a tesoureira são antigas atletas do Clube. Eu ocupo os cargos de treinador e de diretor técnico.

LP – Dispõem de excelentes instalações...ga – Estivemos bastante tempo numa

arrecadação sob as bancadas do Polidesporti-vo de Santa Cruz. Depois de 8 de dezembro de 2015 estamos muito bem instalados num espaço da antiga Casa do Povo. Este edifício foi recuperado e remodelado e aloja, não apenas o Clube de Patinagem como o Grupo de Jovens Som do Vento, o Centro de Karaté e o Grupo de Cantares Tradicionais. Temos uma bela sala com os nossos troféus. Tivemos a oferta de inúmeros acessórios. Estamos muito bem organizados administrativamente (conservamos o 1 ofício que enviámos e o 1º que recebemos...).

LP – Quais são os grandes marcos do vosso historial?

ga – O 1º grande marco foi em 2006 com a conquista do 3º lugar na Taça de Portugal de Patinagem Artística que teve lugar em Vieira de Leiria. Começámos a participar na Taça de Portugal de Patinagem Artística em 2002, tendo conseguido obter o 3º lugar nos anos de 2006, 2010, 2011, 2013, 2014 e 2015; em 2012 conseguiu o 2º lugar. Em 2008 conseguimos que a Ana Vitória fosse a primeira açoriana a ser campeã nacional e a representar Portugal na Taça da Europa. Ela continuou a ser campeã nacional até 2012. Desde 2008 temos participado em competições europeias (Taças ou Campeonatos da Europa) em representação nacional. Outro grande marco foi a organização na Lagoa da Taça de Portugal em 2015, com a participação de 29 equipas.

Alguns atletas têm-se destacado particu-larmente como são os casos da Cátia Rebelo em iniciados e cadetes, da Lia Raposo que é ainda atleta sénior e agora vamos ter a presença do Daniel Moniz que tem 17 anos e nos vai representar no escalão júnior no Campeonato do Mundo de 28 de Agosto a 12 de Setembro em Najing, na China.

Geraldo Andrade, treinador. Foto LusoPresse.

Fomos recipiendários do Diploma de

Mérito Municipal da Câmara Municipal da Lagoa em 2010 e este ano do Diploma de Mérito Desportivo conferido pela Junta de Freguesia de Santa Cruz.

Todos os grandes eventos da história do nosso clube estão referidos no livro «Nota Dez» do nosso antigo atleta internacional Idalécio Pacheco, publicado em 2010.

LP – Próximos desafios?ga – Encaramos a possibilidade de o

Gonçalo Pereira, um atleta de 13 anos, repre-sentar Portugal na Taça da Europa de Patin-agem Artística no escalão de cadetes de 31 de outubro a 4 de novembro na cidade de Tomar. É o atual campeão regional no seu escalão e foi 4º classificado no Nacional da presente época. Este ano, em abril, foi-nos oferecido pela Câ-mara Municipal de Lagoa o novo fato treino dos nossos patinadores. Na cerimónia de en-trega, foi anunciado que Portugal vai receber a organização do Campeonato da Europa de 2018. Nós estamos fortemente interessados em promover a sua realização na Lagoa, dada a experiência adquirida e o êxito alcançado com a organização da Taça de Portugal em 2015.

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O LusoPresse não poderia deixar de contactar com Daniel Moniz, um jovem patinador de 17 anos do Clube de Patinagem de Santa Cruz, que muito brevemente integrará a representação nacional no Campeonato do Mundo de Patinagem Artística que terá lugar na China longínqua. Quisemos conhecê-lo e, naturalmente, desejar-lhe boa sorte nesta verdadeira odisseia.

LusoPresse – O que te despertou o interesse pela patinagem?

Daniel Moniz – Fui influenciado pela minha mãe e pela minha irmã. Ela também patina. Pela minha parte, já pratico desde os 10 anos.

LP - E tens tido muitas vitórias?DM – Desde cadete que tenho sido

campeão regional. Já ganhei a Taça de Portugal e fui vice-campeão no último Campeonato Nacional.

LP – Como aparece esta possibilidade de par-ticipar no Campeonato do Mundo?

DM – Sou o primeiro açoriano a par-ticipar a este nível. O ano passado participei no campeonato da Itália e as pessoas ficaram satisfeitas comigo e convidaram-me a integrar a seleção nacional que participará no Mundial.

LP – Quais são aí os teus objetivos?DM – Dar o meu melhor e conseguir

classificar-me entre os 10 primeiros.LP – O que aconselhas aos jovens da tua idade

a nível desportivo.DM – Que se dediquem a esta modali-

dade, com uma entrega absoluta e não como um passatempo.

LP – Quantas horas treinas? Consegues conciliar

os treinos com os estudos?DM – Normalmente 4 horas por dia, ex-

ceto ao domingo. Não tenho tido problemas e estou a concluir o 12º ano. O meu objetivo será continuar a patinar no Clube de Santa Cruz e fazer o curso de Desporto de Alto Rendimento em termos universitários. LP

Daniel Moniz e Ana Vitória Soares.

Por Joaquim eusébiO e Norberto aguiar

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sEcrEtário rEgional da prEsidência para as rElaçõEs ExtEriorEs

rui bEttEncourt quEr dar prioridadE à JuvEntudE da diáspora

Neste número especial que o jornal LusoPresse dedica à Lagoa, não poderíamos deixar de entrevistar um ilustre lagoense que ocupa um lugar de relevo no Governo Regional dos Açores, o Dr. Rui Bettencourt, Secretário Regional da Presidência para as Relações Exteriores. Mas como se isso não bastasse, acresce o facto de as suas funções estarem intimamente ligadas à diáspora açoriana o que redobra o interesse pela entrevista que nos concedeu.

LP – Quais são os projetos para a emigração em grandes linhas?

Rb – A grande questão que se coloca neste mandato e para os próximos anos é não só preservar as ligações com os açorianos da diáspora, mas sobretudo trazer os jovens açorianos da 2.ª e 3.ª gerações ao arquipéla-go. Essa grande obra é a única garantia de preservação da diáspora no mundo. Isso serve os interesses dos Açores e permite, por outro lado, que os jovens conheçam as suas raízes e as integrem nos seus projetos de vida. É esse o apelo que tenho feito por todos os países por onde tenho viajado. Constatei, por exemplo, quer em Montreal ou em Toronto, que estes jovens têm um grande potencial e um grande desejo de conhecerem a terra dos pais e dos avós. Por outro lado, o Governo Regional tem acarinhado as estruturas sociais que permitem a integração na sociedade de acolhimento e, sobretudo, as Casas dos Açores. Pretendemos igualmente continuar a apoiar as nossas universidades de Verão, summer schools. Gostaríamos de dispor do máximo transportes para podermos trazer aos Açores os jovens da diáspora. Contamos também com o apoio dos meios de comunicação social das Comu-nidades. Torna-se necessário que os pais e os avós se consciencializem que os filhos, apesar de serem diferentes, também são semelhantes, também são açorianos.

LP – Como é que os nossos emigrantes reagem a esses projetos? Como são acolhidos quando visitam os Açores?

Rb – Há um orgulho dos açorianos aqui residentes na sua diáspora. Nós próprios, nos contactos que temos tido aqui, sempre temos afirmado que é necessário olhar com grande orgulho para os nossos emigrantes. Há igual-mente um grande orgulho dos açorianos da diáspora em relação os Açores.

LP – Mas não foi sempre assim...Rb – Não foi, mas é o agora e cada vez

mais. Tem sido igualmente uma tónica comum nos contactos públicos e privados que estabe-lecemos no nosso périplo pela diáspora. São os açorianos espalhados pelo Mundo que dão uma dimensão mundial aos Açores. Eles são os embaixadores do arquipélago no Mundo e esse papel será continuado pelos seus filhos e netos. Tudo isso exige uma articulação com as entidades locais, com as associações, com a imprensa. Conseguido isso, conseguiremos uma dimensão mundial dos Açores efetiva. Há que tomar consciência da riqueza dos Açores, nomeadamente no campo patrimonial – tem

História, tem Património. É interessante que esses jovens açorianos se sintam parte inte-grante do futuro dos Açores no Mundo.

LP – Isso passa também pela língua...RB – Sem dúvida e passa pela possibili-

dade de os jovens açorianos virem aos Açores e dizermos-lhes que acreditamos neles e que eles se sintam implicados.

LP – Como podem participar os meios de comu-nicação social nesse projeto, para além de divulgarem as notícias dos Açores? Não há uma grande divulgação da diáspora nos media açorianos...

Rb – Estamos perante 2 problemas. Por um lado, toda a imprensa a nível mundial está a sofrer uma grande transformação (a Internet, as redes sociais) que perturba a im-prensa clássica. Além disso, os jovens vêm a imprensa como uma coisa dos avós. Por outro lado importa que a nossa imprensa regional (e muitos já o fazem) veja o que está a acon-tecer na diáspora. A projeção dos Açores no Mundo passa pela imprensa. Claro que aqui incluímos a Internet e as redes sociais, bem como a televisão e a imprensa escrita. Penso que esse deverá ser um tema importante de debate no próximo Conselho Mundial das Casas dos Açores.

LP – Pensa que as Casas dos Açores têm cabalmente desempenhado o papel que lhes é exigido?

Rb – Penso que isso será debatido no Conselho Mundial das Casas dos Açores. Tudo está a mudar. Há novos desafios que se põem. Há uma nova geração que está a chegar à vida ativa. As Casas dos Açores têm de estar atentas a este problema. Nas minhas viagens tenho encontrado Casas dos Açores com diferenças nas suas atuações.

LP – Há quem considere que a Casa dos Açores do Quebeque é apenas mais uma associação...

Rb – Há coisas locais que têm de ser resolvidas. Há assuntos que localmente têm de ser discutidos e resolvidos. Nas minhas viagens de 2018 pretendo reunir com todas as pessoas e aprofundar a ideia de que as Casas dos Açores deverão ser embaixadas dos Açores no Mundo. Esse debate tem de ser feito com toda a comunidade açoriana, para

que ela se sinta implicada nessas atividades. Cada Casa dos Açores deverá ser o detonador da comunidade em que está inserida. O nosso papel é juntar todos os açorianos da diáspora. Os açorianos serão muito mais fortes se estiverem unidos. Evidentemente que há coisas que nos dividem, mas há coisas que estão muito acima disso tudo, sobretudo quando estamos no estrangeiro. É esse o papel do Governo Regional – encontrar esses pontos comuns, essa matriz comum. Isso só se pode fazer juntando as pessoas.

LP – Não acha que deveria haver um mecanismo que representasse os açorianos da diáspora junto do Governo Regional, a exemplo do Conselho das Comu-nidades a nível nacional ou do Conselho Consultivo que os madeirenses têm junto do seu Governo Regional?

Rb – Estamos a preparar 2 diplomas nesse sentido: o primeiro é um Conselho das Migrações que congregue os representantes quer das emigrações quer das imigrações, que aborde a problemática dos açorianos no estrangeiro e dos estrangeiros nos Açores. O segundo tem a ver com uma estratégia de internacionalização; pretendemos que as en-

tidades representativas dos açorianos estejam implicadas.

LP – Será durante o seu mandato que será incluída na Constituição uma emenda quer permita um representante da diáspora na Assembleia Regional?

Rb – Essa questão é muito complexa. Não sei se será possível. Agora o que prome-to é que tudo farei para que tal se estude em concertação com a diáspora.

LP – Por que é que os Açores não fazem parte do CPLP, tal como o Quebeque e a Nova Brunswick fazem parte da Francofonia?

Rb – Eu sou francófilo, mas nada impede que lá estejamos. Penso que não há nenhum impedimento. Em todo o caso, há aqui todo um conjunto de questões importantes e seria importante que quando houvesse algo a comu-nidade açoriana na diáspora ache importante para o nosso desenvolvimento, para a nossa projeção, me façam chegar para a podermos integrar na nossa atuação.

LP – Por exemplo, Portugal participa nos Jogos da Lusofonia, mas suponho que não haverá partici-pantes açorianos ou o seu número será reduzido...

Rb – Eu penso que é uma dificuldade que temos nesse tipo de atividades, mas que temos de resolver e que se prende com a representatividade. Temos que ver, cada vez que há a possibilidade de termos representantes da diáspora, como é que se encontra a questão da representatividade. Teremos talvez que começar pelas 3 ou 4 comunidades mais relevantes tanto nos Jogos da Lusofonia como nos Jogos das Ilhas. Prometo contactar nesse sentido o Secretário Geral da Educação indagando da possibilidade de integrar elementos da diáspora nos Jogos das Ilhas. A 10ª ilha seria a da diáspora... É um caso a estudar. E o mesmo se poderá dizer de outros fóruns a promover. Tudo isto se insere na estratégia de aproximar a juventude da diáspora.

LP – O que é que se espera da reunião do Conselho Mundial das Casas dos Açores, a realizar proximamente em Toronto?

Rb – Espero que se discutam as coisas que temos aqui falado: o futuro da diáspora, as estratégias para o futuro, os caminhos a inovar e como implicar os jovens.

caracterização do concelho de lagoaO Concelho de Lagoa situa-se na costa sul da ilha de São Miguel, a maior

e mais populosa das nove ilhas dos Açores. Este Concelho, um dos seis em que está dividida a ilha de São Miguel, é limitado pelos municípios de Ponta Delgada (a oeste), Ribeira Grande (a norte) e Vila Franca do Campo (a leste), ficando a sua sede a cerca de nove quilómetros da principal cidade micaelense (Ponta Delgada).

Este Concelho, criado a 11 de Abril de 1522 por carta régia de D. João III, conta com 14.442 habitantes, de acordo com os censos do ano de 2011, e apresenta uma área global de 45.6km², que se reparte por cinco freguesias:

nossa Senhora do RosárioSanta cruzÁgua de PaucaboucoRibeira chã

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Por Joaquim eusébiO e Norberto aguiar

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cristina calisto, prEsidEntE da câmara...

na cadEira do podEr dEvE sEmprE impErar a sEnsatEz

O presente é sempre a separação entre o passado e o futuro. No presente, entrevistámos Cristina Calisto, a presidente do município lagoense, para que nos faça um balanço da sua ação política, dos desafios que se põem ao concelho bem como do seu pro-grama de candidatura nas próximas eleições de outubro.

LusoPresse – Podenos fazer um balanço síntese do seu mandato que vai terminar brevemente?

cristina calisto – Foram 2 anos em que aproveitámos não só para dar continuidade a um conjunto de projetos que tínhamos entre mãos, mas também para redefinir novas estratégias, novas orientações que, do meu ponto de vista pareciam necessárias serem feitas atendendo ao momento atual que es-tamos a viver. Desde logo, para aproveitar o investimento, a captação de investimentos para a Lagoa, a Câmara concebeu um documento inédito chamado Locoinvest e que se destina precisamente a esse fim. Na área da Educação demos passos importantes; em termos da orgânica da Câmara, juntámos os serviços da Educação e da Cultura num único setor, pois para mim era o que fazia sentido, estarem es-tas duas áreas a trabalharem par a par uma da outra. Ao mesmo tempo estivemos a trabalhar muito de perto com as escolas no sentido de melhorar os resultados escolares, atendendo a que os números relativos ao absentismo escolar ainda são preocupantes e mesmo ao nível do sucesso escolar. Tudo isto requer um maior investimento da parte de todas as pessoas. Isto não é apenas um trabalho da Câmara Municipal, não é um trabalho só da responsabilidade do Governo Regional, nem só dos professores; é de toda a comunidade e temos que estar todos envolvidos. Ao nível do turismo também demos alguns passos nesse sentido e abrimos uma rede de trilhos também com este propósito, uma vez que o turismo da Natureza é aquele que neste momento está em voga aqui nos Açores.

LP – E na parte social? cc – Eu acabo de referir as coisas novas.

Tudo o resto é um trabalho de continuidade. O apoio social é uma grande marca do nosso trabalho junto da comunidade. Temos, desde há muitos anos, apoiado as famílias mais carenciadas. Houve anos muito difíceis, particularmente com a crise de 2008, as famílias passaram por momentos complicados, sobretudo por via do desemprego. Reforçámos as verbas destinadas ao apoio às famílias e criou-se um fundo de emergência também com o propósito de apoiar pontualmente as famílias em relação a situações inesperadas que lhes tenham ocorrido na vida. O trabalho na área social nunca perdeu a sua intensidade. Fazemo-lo de várias maneiras: temos um regulamento de apoio à habitação degradada e destina-se a apoiar as famílias na recuperação das suas habitações; temos um fundo de emergência social que se destina a apoiar pontualmente situações graves pontuais no âmbito financeiro que ponham em causa a subsistência da família. Outro aspeto, um pouco ligado a este âmbito são as bolsas de estudo. Nós tínhamos

bolsas que se destinavam às pessoas com mais carências económicas; não as renovámos no ano letivo de 2016-17 e com a sua verba criámos os estágios profissionais para 35 jovens da Escola Secundária da Lagoa com fraco aproveitamento escolar e que deixam o sistema educativo sem qualquer tipo de formação profissional, tendo sido colocados em ateliers quer da Câmara quer de entidades particulares no sentido de aprenderem uma profissão.

LP – E relativamente aos adultos?cc – Segundo as normas do Governo

Regional, as pessoas que estão desempregadas e estão Inscritas no Centro de Emprego, estão a ser chamadas para a escola para completarem um ciclo de estudos ou de formação profis-sional. Muitas vezes as pessoas têm alguma dificuldade em compreender isto quando já têm 45 anos e vêm da construção civil, por exemplo. É importante sabermos passar esta mensagem, de que isto é um passo para con-seguirem arranjar um trabalho.

LP – Quais são os grandes projetos em vista para a Lagoa?

cc – Temos vários projetos que dependem largamente da aprovação dos fundos comunitários. Quer isto dizer que o orçamento de qualquer um deles excede as capacidades financeiras da autarquia, sendo apenas exequível com a comparticipação comunitária; não sendo aprovado, pode-se, no entanto, fasear o projeto, estabelecer prioridades e começar a trabalhar em algumas áreas e tentá-lo fazer com o menor custo possível. Temos assim a requalificação da orla marítima entre a zona do Cruzeiro na Atalhada até à zona da igreja matriz de Santa Cruz que visa a criação de zonas de passeio pedonal e ciclovias, perfeitamente seguro, com iluminação, apontamentos para descanso. Haverá igualmente a passagem do Centro de Formação e Educação Ambiental para um bloco a construir junto à orla marítima. Este projeto tem duas fases: a primeira entre o Cruzeiro e o Portinho de S. Pedro onde está o Clube Náutico – é uma zona mais virgem, com poucas edificações; toda a intervenção é feita

sobre terra, não entra no circuito urbano da cidade, o que torna o trabalho muito mais fácil, não cria tanto transtorno. Haverá aqui uma retificação da rampa do Clube Náutico que é presentemente muito inclinada. Por seu turno a 2ª fase, entre o Portinho e a igreja de Santa Cruz, tem outros contornos, pois entramos na malha urbana e já a confluir com o trânsito, implicando alguns cortes. Tentaremos também criar uma passagem entre a Piscina coberta e a Piscina descoberta e a Relvinha de maneira a que também em termos de estacionamento facilite a vida das pessoas e culminará com uma obra muito esperada que é uma intervenção na Baía de Santa Cruz. Temos para aqui 2 hipóteses: ou a Câmara faz tudo ou então, a mais viável, um sistema idêntico ao que temos para o Tecnoparque (a autarquia tem a propriedade do terreno e é feita uma captação dos investimentos com contrapartidas, por exemplo nos acessos, etc., mas tudo isto devidamente estabelecido por acordo entre as partes). Esta 2ª hipótese parece-nos a mais plausível e está a despertar o interesse de vários investidores. Temos estado a recolher ideias e sugestões dos potenciais investidores que permitam melhorar o próprio projeto.

LP – Considera que esse projeto consegue conciliar o interesse de aproximar os lagoenses e os visitantes do mar e por outro lado salvaguardar um espaço neutral ecologicamente muito importante?

cc – Sem dúvida. O nosso projeto equilibra estas duas parcelas. Não há abertura de circulação automóvel, não há abertura de eixos rodoviários, ou seja, a costa vai-se manter exatamente como é. O que pretend-emos é o embelezamento da costa e não a sua destruição. Pretendemos que, mais do que um local que atraia turistas, dar por intervenções minimalistas, dar um novo espaço à população da Lagoa. Hoje circula-se na Lagoa sem haver um contacto próximo com o mar e quando se circula junto ao mar isso não é feito nas melhores circunstâncias.

LP – A população como reage?cc – Todas a gente quer que isto seja

aprazível. Hoje cada vez há mais consciência do valor do contacto com a natureza.

Consideramos, no entanto, que deve haver tempo para que haja uma ampla discussão em torno deste projeto quer por parte das populações quer por parte dos potenciais investidores.

LP – Os opositores criticam esse projeto...cc – Os opositores nunca estão de acor-

do com nada...LP – Acha que será o ato eleitoral a decidir?cc – Eu acho que não é o ato eleitoral

que vai decidir esta matéria específica, ou o mercado ou outra medida em particular. As eleições de 1 de Outubro irão sim decidir se a forma como o concelho está a ser conduzido tem condições para seguir, para avançar. Penso que os lagoenses, de uma forma geral, estão satisfeitos com o que temos feito. Obviamente nem tudo é perfeito. Há sempre necessidade de fazermos ajustamentos pontuais, mas também há sobretudo, necessidade de sensibilizarmos as pessoas para determinadas posições e nem sempre a política ajuda nisso. Quando se está em períodos eleitorais até se fazem contracorrentes, o que não é bom. Dou-lhe um exemplo muito específico: quando alguém em período eleitoral vem contrariar políticas ambientais, não vejo como se poderá assim contribuir para uma melhoria da Lagoa. Falo especificamente do modelo de recolha seletiva de lixo. Ele foi montado para quem faz reciclagem. Quem não faz, não pode gostar. Mas cabe a quem tem ou pretende ter funções políticas de ter uma função pedagógica, mostrando a importância do ato de reciclar, de como há metas em termos europeias a atingir até 2020 e de que se elas não forem cumpridas irão penalizar os municípios e os munícipes. Quando se afirma que a Lagoa deixou de ter interesse para os investidores, não se está a contribuir para a Lagoa crescer em termos regionais, mas apenas a prejudicar o seu crescimento. Todos sabemos que os resultados escolares na Lagoa não são os melhores, mas a minha função é a de dizer que estamos a trabalhar para melhorar e nunca que deixou de ser interessante de estudar nas escolas lagoenses. Assim não se serve bem a Lagoa.

LP – Há outros grandes projetos da Câmara a nível dos fundos comunitários?

cc – Além do projeto da orla costeira, temos o Mercado Municipal, cuja candidatura já está neste momento submetida a fundos comunitários e aguardamos a resposta. O local previsto é o Tecnoparque. Pretende-se que seja um espaço polivalente onde seja ponto de ven-da dos produtos locais dos nossos agricultores, mas também um local de restauração e de lazer. O Hospital de S. Lucas teve um pequeno volte face porque teve de ser realinhado para um outro lote no Tecnoparque atendendo ao aparecimento de mais um grupo na área da saúde interessado em investir no concelho. Há o Hospital de S. Lucas, cujo projeto está na Câmara e está a ser completado. O novo grupo, o Hospital Internacional dos Açores, que é do grupo de Hospitais do Algarve, detem mais de uma centena de hospitais, pretende igualmente criar um hospital. Este grupo apresentou logo a candidatura ao Lagoa Investe, candidatou-se logo aos apoios comunitários por parte do Governo Regional e já entregou na Câmara o

No seu escritório, Cristina Calisto quando prestava declarações ao LusoPresse. Foto LusoPresse.

Por Norberto aguiar e Joaquim eusébiO

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seu projeto. Em resumo, podemos mesmo vir a ter 2 hospitais. Podernos-emos interrogar se fará sentido tudo isto. Talvez não, mas não me compete dar tal resposta, mas sim ao investidor se considera rentável a aposta. O que a Câmara pretende é que haja investimentos naqueles espaços, que haja empregos. Temos também a Isopor, uma unidade de isótopos, que também tem o seu processo aqui na autarquia e aguarda o completamento e aprovação.

Temos também toda a área da Smart City, a modernização administrativa que tem também uma candidatura, pois hoje em dia o município necessita de se adaptar aos novos tempos, podendo o munícipe resolver os seus contactos com a Câmara sem necessitar de sair da sua casa.

Temos igualmente investimentos privados em zonas camarárias, como é o caso do Hospital de S. Lucas. Temos no Tecnoparque aquela área onde está o Expolab e o Nonagon, faltando ao Governo Regional construir a fase seguinte deste grande projeto (o segundo e o terceiro blocos) e isto é insistentemente pedido pelas empresas que têm interesse em estarem instaladas no Parque Tecnológico e se o Governo não der rapidamente este passo, corremos o risco que essas empresas se vão sediar noutro concelho. É urgente pois o Nonagon neste momento está cheio e já não há espaços para acolher mais empresas.

LP – Será mais uma maneira de atrair inves-timento e criar emprego, destruindo a ideia da Lagoa como dormitório de Ponta Delgada...

cc – Se já o fomos, neste momento não somos dormitório. Há apenas uma exceção no concelho, a Atalhada, onde as populações têm pouca relação com os equipamentos dis-poníveis, com a igreja, mas fazem toda a sua vida em Ponta Delgada. No resto do concelho o panorama é exatamente ao contrário.

LP – Será que a Atalhada se tornará um dia uma nova freguesia?

cc – Não creio, até porque a tendência legislativa nacional nesse domínio é a oposta, ou seja, congregar freguesias.

LP – Falemos agora em termos culturais. Há quem reclame pelo Museu da Lagoa...

cc – A Câmara Municipal, no último ano, redefiniu o conceito de museu na Lagoa. O modelo que seguimos e que é coordenado pelo professor Igor França, pessoa reconheci-da nesta área da Cultura, é definido pela rede de núcleos museológicos como constituindo o Museu da Lagoa. Não é um museu físico sob um único teto.

LP – Mas colhemos a ideia de que haverá museus fechados...

cc – Todos os museus e núcleos dependentes da câmara estão abertos, garanto-lhe. Têm horário e funcionários. Há museus que estão afetos a algumas instituições; por exemplo, o de Ribeira Chã, ligado ao Centro Social e Paroquial, está aberto. Mas há espaços privados que apresentam aspetos ligados aos nossos costumes e às nossas tradições, não estão sempre abertos (a Tanoaria, o Ferreiro Ferrador), mas não pertencem à Câmara Municipal. No passado, havia um acordo entre a Câmara e os proprietários para que mantivessem a porta aberta, que deixou de ser feito nos últimos anos. O projeto do Museu da Lagoa que defendemos foi apresentado no início deste ano pelo professor Igor França e aglomera todos esses núcleos; pretende-se voltar a integrálos na nossa rede. É também pegar no Centro Cultural da Caloura que é também privado, do Tomás Borba Vieira. Pretende-se criar um circuito cultural que

seja interessante. Se eu quiser ver património religioso, tenho um circuito; outro, sobre costumes; outro sobre arte... Tudo sobre a designação única de Museu da Lagoa. Há igualmente a Associação Palavras Sábias liderada pela professora Susana Goulart da Costa que conseguiu criar um entendimento com a Cerâmica Vieira, para que seja instalado o Centro de Interpretação da Cerâmica nos barracões que antigamente eram usados para o fabrico da telha. Por outro lado, vamos reabrir a Exposição Permanente de Presépios.

LP – Há muita gente que acha que a praça do Rosário é feia. Há algum projeto para a transformar?

cc – Eu sei que muita gente a acha feia, embora não seja essa a minha opinião. Penso que precisa de uma nova iluminação. Creio que tudo depende do que se pretenda para aquela praça. Se se quiser colocar qualquer coisa no centro da praça, isso impedirá a utilização do palco... Na minha opinião ela oferece todas as potencialidades: permite espaço para as pessoas se sentarem, um palco para se ouvir música e um centro aberto para permitir a montagem de qualquer estrutura amovível.

LP – Há uma pedra no sapato: a Fábrica do Álcool...

cc – Eu já tive a oportunidade de ser ouvida sobre esse assunto na Comissão de Economia da Assembleia Legislativa Regional. Desde 2014 que contactamos o Governo para saber qual a possibilidade da cedência da Fábri-ca à Câmara Municipal. Era a altura em que se previa a abertura dos fundos comunitários para que nós pudéssemos revitalizar a Fábrica, nem que fosse devagarinho, de forma faseada, como aconteceu no processo do Convento dos Frades. Foi criada uma comissão, fizemos um parecer final, propusemos ao Governo vários fins para a Fábrica, mas a verdade é que nunca teve acolhimento, porque a dívida que a Fábri-ca tem em relação à banca é muito grande. Face ao momento que estamos a viver, acho que aquele grande espaço tem um enorme potencial turístico.

LP – Não acha que esse imbróglio financeiro poderá pôr em risco um património que tanto diz aos lagoenses?

cc – O papel que cabe à autarquia foi fei-to – foi classificar a chaminé da Fábrica e mais alguns edifícios à volta como monumento, o que vai permitir a salvaguarda desse patrimó-nio, não impedindo a sua futura utilização eventualmente como um espaço turístico.

LP – Falemos agora das geminações...cc – Assinámos em 20 de Junho a

10ª geminação da Lagoa com Fairhaven, nos Estados Unidos. Na oportunidade, promovemos um fórum cultural e económico com todas as outras cidades geminadas com a Lagoa. Foi a primeira vez, pois até aqui apenas se tinham realizado contactos bilaterais. Esta nova fórmula permite um diálogo muito mais enriquecedor para todas as partes. Para lá dos executivos, algumas delegações trouxeram empresários e até já

começaram a surgir resultados palpáveis das negociações estabelecidas (um empresário americano entrou numa sociedade para um companhia de transportes turísticos). Todas as delegações tiveram a possibilidade nas Festa do Espírito Santo de S. Pedro, uma organização da autarquia. Entre outras decisões, foi acordada a criação de uma página de Facebook com todas estas cidades geminadas com a Lagoa, para lá da já existe entre a Lagoa e Sainte-Thérèse no Quebeque. Ficou também decidido que receberemos uma equipa de futebol desta cidade canadiana e já estamos a tratar das datas em junho do próximo ano.

LP – Há, portanto, apoio para delegações da diáspora...

cc – Com certeza que sim. Continuaremos a dar o apoio logístico necessário, com o autocarro, com passeios a grupos e o alojamento na Pousada da Juventude.

LP – Não acha que seria interessante um congresso que reúna aqui os lagoenses da diáspora?

cc – Com certeza. Mas como sabe vai haver eleições e caberá à nova equipa estabe-lecer a calendarização de um evento como esse.

LP – As eleições estão à porta... Equipa reno-vada? Para vencer?

cc – Claro que sim. Uma equipa reno-vada e para vencer.

LP – Admitamos que tal não acontece. Estará disposta a ser vereadora na oposição?

cc – Claro, obviamente. Eu tenho uma realidade muito particular. Eu sou funcionária desta autarquia. Eu mesmo que perca as eleições, eu vou trabalhar aqui nestes corre-dores com o futuro presidente da Câmara e vou estar com o mandato na oposição. Eu sou uma pessoa que entende que na política só se deve reagir nos momentos certos mesmo quando se é bombardeada em todos os mo-mentos. Acho que a política deve ser feita com sensatez. Nem tudo o que é feito é mal feito. Eu percebo o papel da oposição. Nós tivemos nestes 4 anos uma relação com a oposição que foi extraordinária; o seu representante sempre soube dar uma opinião sobre os assuntos, nós ponderámos sempre os seus pontos de vista em tudo o que pôde ser melhorado. Estamos sempre disponíveis para trabalhar em con-junto. A sensatez deve imperar quer se esteja na cadeira do poder quer na oposição. Mas não acredito que serei oposição... E falando de eleições, as minhas últimas palavras são no sentido de sensibilizar os eleitores a irem votar. Não pode haver desinteresse. Eu entendo que o trabalho realizado por esta Câmara tem sido positivo indo ao encontro das expectativas da população. Acredito, pois, na vitória. Mas acho que importa muito apelar à participação dos eleitores. Temos uma abstenção de cerca de 40% nas eleições autárquicas, o que é dema-siado. Há que atualizar os cadernos eleitorais. Há que sensibilizar sobretudo as camadas jovens para o valor da participação cívica nas eleições. Eles serão os agentes do futuro. Será assim que a Democracia ganha.

Cristina Calisto em Ste-Thérèse, com Sylvie Surprenant, «mairesse» local. Foto de arquivo (LusoPresse).

LP

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Página 2830 de agosto de 2017 LusoPresse

carlos Furtado, candidato do psd à câmara…o concElho tEm dE sEr rEpEnsado

F igura já conhecida da política lagoense, com um percurso ligado ao Partido Social Democrata, Carlos Augusto Furtado apresenta-se como candidato à Câmara Municipal. O jornal LusoPresse não poderia deixar de o entrevistar neste momento que precede o ato eleitoral de 1 de outubro.

LusoPresse – Quem é o Carlos Augusto Furtado?

cF – Sou um comerciante e estou há mais de 30 anos nesta atividade. Isso permitiu que fosse conhecendo muitas pessoas e me fosse tornando conhecido de muitas pessoas. O con-vite surgiu para liderar este projeto à Câmara e creio que foi em boa altura. Começaram entretanto a surgir os apoios. Estou profun-damente sensibilizado com a aceitação de muitas pessoas em integrarem as nossas listas. Isto mostra que ainda há gente decidida a participar na comunidade e a constituir uma equipa muito boa.

LP - Quando surgiu a ideia de se lançar na política?

cF – Eu já pertenci a 2 listas do PSD para a freguesia do Rosário. Entre 2009 e 2013 fui o número 2 da lista dirigida do PSD para a Câmara Municipal. Não ganhámos, mas fui eleito como vereador sem pelouros e a quali-dade da minha participação enquanto vereador da oposição foi reconhecida pelo próprio engenheiro João Pontes. Saí, pois, em 2013 com a consciência de ter bem representado os lagoenses.

LP – E porquê o PSD?cF – Eu não me identifico com a

esquerda, mas sim com as ideologias que valorizam a iniciativa de cada um. Procuro a verdade e considero que, no espetro político atual, o centro-direita é mais objetivo e mais verdadeiro no que transmite ao eleitorado. Na minha opinião, os políticos de esquerda não cumprem com os princípios que defendem. Por outro lado, não conheço nenhum país rico que seja dirigido pela esquerda. A esquerda no poder tende a asfixiar a democracia e a capacidade de iniciativa de cada um. Daí que concorra pelo PSD. De resto, a minha família sempre foi conotada com o PSD, embora eu só me tenha filiado há 7 ou 8 anos. O meu pai e a minha mãe foram as pessoas que mais me influenciaram politicamente.

LP – O concelho parece ter uma certa tendência para o Partido Socialista. Confirma?

cF – Não sou dessa opinião. Creio que tem funcionado muito o marketing... A população não é de esquerda. Ninguém é verdadeiramente de esquerda, pois toda a gente tem algo de bairrismo, toda a gente pretende defender a sua família e isso não se compa-dece com aquilo que são tendencialmente os valores da esquerda. Tentou-se ao longo dos anos influenciar as pessoas no sentido que só os partidos de esquerda faziam justiça e de que só os partidos de esquerda é que davam oportunidades às pessoas. Isso para mim é uma falácia. O que se tem visto nos últimos anos é que de facto algumas pessoas têm tido oportunidades, mas são as pessoas que estão mais ligadas à máquina.

LP – Mas isso não faz parte do poder propria-

mente dito, seja que partido for?cF – Eu já não tenho idade para ser

anjinho. Isso de facto tende a tocar todas as forças partidárias. Agora a grande diferença é que no centro-direita normalmente não se omite essa informação ao eleitorado, enquanto que na esquerda se propagandeia que há uma universalidade de direitos que depois não existe na prática.

LP – Qual a análise que faz deste último exec-utivo camarário de maioria socialista?

cF – Eu não estaria a bem com a minha consciência se dissesse que a gestão iniciada por João Ponte e finalizada por Cristina Calisto tinha falhado em todos os níveis. Temos de perceber, e eu percebo isso, que não há mila-gres. Quando se veio dos mandatos liderados pelo engenheiro Martins Mota onde conseguiu, com outras realidades e endividando o mu-nicípio, realizar obras que projetaram bastante o concelho na altura, tudo o que vier depois disso, obviamente o eleitorado tem que estabe-lecer uma comparação com os anos dourados. A governação iniciada por João Ponte e termi-nada por Cristina Calisto, quando comparada com esses anos dourados, é desastrosa. Mas também faço justiça e considero que não se po-dem fazer grandes milagres porque os recursos são outros, as capacidades de endividamento, os balizamentos que a própria Administração Central impõe aos municípios não permitem grandes margens de manobra. No entanto, também não posso dizer, porque também não estaria a bem com a minha consciência se o não dissesse, que há falta de objetividade. A gestão do município tem sido feita como uma gestão doméstica. Governa-se para ganhar eleições e não se ganham eleições para governar. Isto é, faz-se aquilo que o eleitorado gosta, mas não se faz aquilo que se deveria fazer. Nas nossas casas muitas vezes tomam-se iniciativas que poderão não agradar aos nossos filhos ou à nossa esposa mas que são necessárias.

LP – Quais são as grandes diretrizes que o concelho deve seguir?

cF - Penso que há que traçar planos objetivos de crescimento, seja na área do empresariado, seja na área de darem sinais à sociedade em geral de que o concelho se pre-

ocupa com determinadas matrizes. Estou-me a lembrar, por exemplo, do turismo, do em-preendedorismo a nível de pequenas e médias empresas de toda a natureza. Eu não diferencio os investimentos na Lagoa, contrariamente à minha adversária que, no meu entender e

rochoso na Atalhada que é impressionante. Tudo isso deve ser valorizado. O turista não vem para ver grandes edifícios, mas sim para fazer uma ligação à terra, à natureza. É isso que teremos de explorar.

LP – Está de acordo com o projeto que se prevê para a baía?

cF – Não estou de acordo e já publicamente o exprimi. Eu sou uma pessoa cautelosa. Eu acho que quem tem a obrigação de fazer a gestão de recursos que não são seus, porque são de todos nós, tem a obrigação moral de fazer uma gestão cautelosa e criteriosa do dinheiro que é investido em tudo o que é feito no nosso concelho. É preciso lembrarmo-nos que o nosso concelho tem muito dinheiro para investir, como já referi, na valorização da orla costeira, na Fábrica do Álcool. Esta Fábrica é um património que todos queremos devidamente valorizar. Toda a população tem as melhores impressões daqueles edifícios que ali estão, mas que precisam de ser potenciados, valorizados e recuperados. Também precisamos e temos ainda capacidade para fazer mais valorização a nível do nosso turismo de natureza. Temos a zona da serra de Água de Pau para aí criar um conjunto de trilhos pedestres. Falta-nos também um parque de campismo. Há um grande volume de investimentos que tem de ser feito num timing muito curto. No meu entender seria um erro crasso investir grande capacidade de endividamento do município numa única obra esquecendo todas as outras. Daí que defenda que as intervenções naquela zona de costa devam ser feitas com intervenções minimalistas e objetivas. Sendo iniciativas feitas num prazo de 2, 3 ou 4 anos vão-se percebendo as dinâmicas que elas vão gerando. Só assim se poderão dar os passos certos para não se fazerem investimentos que depois fiquem abandonados no tempo a exemplo de tantos outros que existem por esse país.

LP – Então qual é a alternativa?cF – Quando foi apresentado o projeto

da Câmara, tive a oportunidade de declarar que a achava nada aí haver de especial, pois era a intervenção óbvia em vários aspetos: a ligação entre as piscinas e a zona da Relvinha é con-sensual; o mesmo acontece com a envolvente à zona da rua do Biscoito em Santa Cruz que permita ligar essa zona à Avenida do Mar. Mas não concordamos com a construção daquela praia que se pretende fazer na Baía de Santa Cruz, com a piscina de marés que também se pretende fazer porque vai trazer aquela zona uma carga de betão que não se compadece, no meu entender, com o nosso património natural. Defendo que essa ligação entre as Poças do Cruzeiro e a Baía de Santa Cruz tem que ser realizada. Mas creio que tudo é pos-sível com recursos muito menores, deixando a possibilidade e a capacidade do município para a realização de outras obras importantes no concelho como referi.

LP – E qual a sua perspetiva sobre a Fábrica do Álcool?

cF – Penso que se deveria propor à banca a sua compra, na medida em que aquele imóvel se encontra hipotecado e com um valor jurídico acima do seu valor comercial. Essa compra deveria ser faseada num contrato de promessa de compra e venda em que o município adquiria em 10 anos o imóvel, mas com a posse imediata do imóvel. Durante esses 10 anos, o município com as suas equipas de trabalhadores iria recuperando aqueles edifícios, não excluindo

Carlos Augusto Furtado, candidato do PSD à Câmara, na companhia de Roberto Oliveira, número dois da sua lista, e um residente de Água de Pau. Foto LusoPresse.

mal, desvaloriza investimentos de pequena dimensão e sem matriz tecnológica. Defendo que cada investidor pode e deve investir à sua dimensão, à sua capacidade e àquilo que é a natureza dos investimentos que idealiza para si. Nesse aspeto o nosso concelho tem estado muito mal, sobretudo se compararmos com o concelho da Ribeira Grande. Há 4 anos este concelho estava apático, tendencialmente voltado para a agricultura e para a construção civil e nos últimos 4 anos deu um grande salto que cria inveja, se calhar, a todas as outras cidades dos Açores.

LP – Como poderá esse exemplo ser seguido na Lagoa?

cF – Eu tenho um projeto para a cidade da Lagoa que será apresentado nos próximos dias que tem a ver com projeção económica. Será um misto de projeção económica mas que funcionará em parceria com as famílias do concelho. O que nos mostrou o turismo nos últimos 2 anos é que os Açores nunca mais serão iguais após a entrada das low cost. Hoje vemos como impensável a saída desses operadores turísticos e de transportes. Os Açores abriram-se basicamente a um mercado europeu de 500 milhões de pessoas; quando antes estávamos muito cingidos ao mercado nacional, hoje os horizontes abriram-se e de que maneira. Mediante isso, o concelho tem que ser repensado porque temos a concorrên-cia direta dos outros concelhos. Aqueles que tomarem a dianteira, as diretivas certas que valorizem os seus concelhos terão um avanço considerável e por isso urge que sejam tomadas medidas enérgicas e adequadas e céleres para que o concelho da Lagoa, que tem todas as condições para vingar nessa área, se projete.

LP – O concelho da Lagoa tem essas condições?cF – Tem sim. O concelho está no meio

de 4 dos maiores concelhos de S. Miguel...LP – Isso não será uma desvantagem?cF – É certo que é um pau de 2 bicos,

mas a nossa proximidade ao aeroporto de Ponta Delgada já por si só é uma vantagem, pois estamos a 10 quilómetros. Além disso temos uma costa rasa aqui na cidade, com aproximadamente 3 quilómetros que é im-portantíssima e lindíssima. Temos um maciço

Por Joaquim eusébiO e Norberto aguiar

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o centro de karaté de lagoa

ocupar a juventude através do desportoa possibilidade de que, em determinada altura, pudesse pelo concessionamento ou pela venda daquele espaço se fazer ali um hotel charme. O edifício reúne todas as condições para isso: a proximidade do mar, a carga histórica que o edifício representa e até pela tipologia dos próprios edifícios. Esse era o meu sonho, um hotel charme como existem tantos outros no País e com sucesso. A Lagoa tem necessidade de uma unidade hoteleira de dimensão média. Por outro lado há poucos hotéis charme nos Açores. O modelo de turismo que se está a formar é o de pessoas que aqui procuram uma paz espiritual e um contacto com a natureza e penso que muitas poderão procurar aqui fixar-se de forma temporária o que poderá trazer um certo desenvolvimento económico.

LP – Tem ideias parecidas para o resto do concelho?

cF – Eu tenho uma ideia semelhante para a vila de Água de Pau. Esta vila tem um importante polo de valorização que é a Calou-ra. Embora a Caloura represente bastante na economia de Água de Pau, mas não dinamiza o suficiente esta economia. É preciso fazer mais por aquelas gentes. Vejo com bastante alegria que os resultados da Escola de Água de Pau têm sido um sucesso. Essa Escola trará outro nível de formação às pessoas, trará outra forma de encarar a sociedade porque a Água de Pau ainda é uma freguesia muito fechada à rurali-dade. Logo a seguir ao padre João Mota, a Es-cola foi a segunda melhor coisa que aconteceu a Água de Pau. Esta vila tem comportamentos muito bairristas o que é muito saudável. Esses comportamentos protegem as populações do exterior e ao mesmo tempo motivam as pessoas em prol de um objetivo comum. Um bom exemplo disso é a organização das festas de Nossa Senhora dos Anjos.

LP – Há no entanto críticas da Ribeira Chã, porque perderam os alunos, perderam a juventude do seio da sua comunidade.

cF – Partilho dessa queixa das pessoas da Ribeira Chã, até porque em 2012 fiz parte integrante das reivindicações que se fizeram nos Remédios quando foi encerrada a sua escola. Não sou contra a existência de uma concentração escolar, mas considero que nos primeiros anos de vida era importante manter essas crianças no seu meio, nos dois casos, sobretudo durante os dois primeiros anos de escolaridade.

LP – O que é que se passa com o Hospital de S. Lucas?

cF – Ninguém pode estar contra um

investimento dessa grandeza. No entanto ten-ho algumas dúvidas sobre esse investimento. A informação recebida até agora tem sido muito difusa, escassa em pormenores básicos e contraditória. Chegou-me aos ouvidos que os investimentos só irão avançar se por parte da União Europeia houver o apoio total. Claro que são rumores, mas espero que se venha a concretizar esse investimento seja em que dimensão for. Todos os investimentos são bem-vindos, porque o nosso concelho, a nos-sa comunidade, as taxas de desemprego que temos, a falta de perspetivas de futuro que o concelho atravessa, não se pode dar ao luxo de escolher investimentos. Se eu ganhar a Câmara, não vou escolher investimentos; quando muito poderemos direcionar esses investimentos.

LP – O NONAGON está a preencher as funções para que foi criado?

cF – Creio que sim, face às informações de que disponho. Mas estamos apenas a falar de um dos quatro blocos que foram previstos. Tenho no entanto a ideia de que o NONAGON foi um favor feito pelo Governo Regional a uma câmara socialista, mas que obviamente está a trazer benefícios ao concelho. Mas creio que dificilmente serão construídos os blocos que faltam, até porque há outras necessidades prementes tanto na ilha como no resto do arquipélago, como é o caso da recuperação do porto de Ponta Delgada e de outras situações graves a nível do sistema de saúde.

LP – Qual a perspetiva que tem do desenvolvi-mento cultural do concelho?

cF – Para mim, o desenvolvimento cultural passa principalmente por potenciar, valorizar e dignificar os nossos valores tradi-cionais, as festas religiosas e todo um conjunto de atividades que se foram desenvolvendo ao longo dos séculos. Muitos desses eventos não dispõem de grandes recursos e nem sequer são potenciadores de grandes despesas. O que é preciso, em muitos dos casos, é asse-gurar a logística, assegurar alguma promoção publicitária desses eventos. Outro aspeto que defendo é a concentração dos núcleos mu-seológicos na Lagoa. A sua dispersão afeta o interesse dos eventuais visitantes e aumenta os custos. Há alguns que estão lamentavelmente fechados, como são os casos da Tenda do Ferreiro Ferrador e da Tenda da Tanoaria. Tem que haver pessoas que estejam afetadas permanentemente a esses serviços e tem que haver alguma concentração.

LP – E a nível desportivo?

Carlos Augusto Furtado, na companhia da esposa, no interior do seu estabelecimento comercial. Foto LusoPresse.

cF – Encaro com muita simpatia e mui-to gosto a participação que muitas pessoas do nosso concelho dedicam a essas causas. Acho que é obrigação de quem está no poder autárquico fazer um bom trabalho por que é por isso que é pago, mas não posso esquecer que há muitas outras pessoas que se implicam nessas causas (atividades religiosas, culturais, de cidadania e desportivas) trabalhando de graça, tirando muitas horas às suas famílias e ao seu repouso. Tenho um carinho muito especial por essas pessoas e que se expressam através dos clubes. A Câmara do PSD não se negará para dar todo o apoio a essas organizações.

LP - Está otimista face às eleições?cF – Não estou otimista nem pessimista.

Concorri para participar porque senti essa obrigação moral de o fazer. Tenho a noção

de que farei melhor do que se tem feito nos últimos anos. O concelho precisa de mudar de gestores, as pessoas têm direito a uma alternância. O tempo demasiado na política provoca apatias que não são saudáveis para as populações. Sei que, uma vez eleito, me aguarda muito trabalho, mas quem me conhece sabe que eu sempre me entreguei em pleno a tudo em que me meto.

LP – Se não ganhar as eleições, está disposto a ser vereador da oposição?

cF – Há duas respostas para isso. Eu já fiz esse papel durante 4 anos e tenho orgulho no trabalho que fiz. Tenho a certeza que sou mais útil como Presidente do que como vereador na oposição. Os Lagoenses assim o decidirão e eu estou aqui para respeitar a posição deles. LP

tivemos uma agradável conversa telefónica com o Senhor António José Moniz, fundador e actual dirigente das actividades de karaté da instituição, que existe desde 2000. Mesmo se é sempre difícil em vésperas de uma nova sessão antecipar o número de inscrições para o ano a abrir, pode afirmar-se que no ano passado tiveram 53 inscritos, com idades compreendidas entre os 4 e os 53 anos.

A ideia que presidiu à decisão da sua fundação prendeu-se com a necessidade de ocupar a juventude em actividades lúdicas saudáveis e úteis, para o desenvolvimento desses jovens, retirando-os dos jogos virtuais, que de um modo geral absorbem a gente nova em qualquer parte do mundo.

Daí, portanto, a ideia mestra do senhor António Moniz, que tem merecido a consideração e apoio das entidades oficiais, destacando-se os Serviços camarários dirigidos pela senhora presidente Cristina Calisto, pessoa que granjeou grande simpatia por entre colaboradores e população em geral.

Utilizando espaços na Escola Se-cundária de Lagoa, o Centro de Karaté tem participado em vários eventos desportivos, num dos quais, no ano transacto, ganhou um honroso terceiro lugar, motivo de legítimo orgulho do responsável do grupo de jovens participantes do Centro de Karaté de Lagoa.

O senhor António Moniz considera, a justo título, que a prática de karaté deve

ser acompanhada pela família, mantendo o clima de disciplina e respeito mútuo que procura imprimir nos seus alunos. E, acrescenta com regozijo, que a prática do desporto e os trabalhos escolares funcionam com razoável êxito, demonstrando os jovens a aquisição de experiências comuns que tanto os beneficiam.

Podemos dizer, sem risco de come-termos erro, de que o concelho de Lagoa é hoje uma potência no campo desportivo, graças às facilidades concedidas pela direção e outras entidades, que têm dado excelentes resultados. De agradecer também, a facili-dade de transportes concedidos pela Câmara Municipal.

Salienta ainda o senhor António Moniz a necessidade de compreensão e colaboração dos familiares no acompanhamento dos jovens atletas, transmitindo-lhes as noções de disciplina e respeito mútuo, valores im-portantes nas vidas de cada um, salientando que há cerca de 5 anos uma das suas alunas foi campeã nacional.

Felicitamos o trabalho e a persistência do senhor António Moniz, que lhe permitem obter tão excelentes resultados com a juven-tude de Lagoa. LP

Foto jornal Diário de Lagoa.

Por raul MesQuita

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armando melo:

Futebol, política, e honra maior, «cidadão de sainte-thérèse»

Por si só, Armando Melo representa muito bem o vivido e o futuro da comunidade portuguesa, exatamente como o progresso do futebol no Quebeque. O açoriano de Atalhada chegou no seu novo país com a idade de 9 nos e depressa se integrou na maioria francófona da escola de Sainte-Thérèse. Um aluno trabalhador com boas notas e que lia muito.

Apaixonado pelo desporto, continuou a ter um papel de primeiro plano no ensino do futebol e da sua promoção. Uma espécie de Sr. Futebol português das Laurentides. O local da Associação Portuguesa de Sainte-Thérèse expõe a sua fotografia de 1990: de uniforme vermelho e azul doa Braves de Sainte-Thérèse, campeões da Taça do Quebeque. Vimo-lo entusiasta e resplandecente em 2011 quando da visita muito mediatizada da vedeta da bola Pauleta ao Quebeque, a grande vedeta do arquipélago.

imigrante e depressa casadoFiel às suas origens, Armando Melo

casou-se com uma jovem de Santa Cruz, Filomena Fonseca. Aos 26 anos, o jovem papá já tinha quatro filhos. Agora, três netos. O ano passado, cruzamos o casal por puro acaso nas ruas de Água de Pau no dia de uma grande festa religiosa. O casal pode assim falar com conhecimento de turismo na sua ilha de origem.

Atributo mais significativo, em 2013 Ar-mando Melo foi eleito conselheiro municipal de Sainte-Thérèse. Um compromisso social na sua cidade de adoção. Nas publicações ofi-ciais, o pequeno português de 1974 age como representante das autoridades nas diferentes manifestações e pelas boas causas. Há cinco anos, foi escolhido cidadão honorário.

Encontramo-nos com ele no Deux, nome de um dos restaurantes populares da rua Tur-geon. Descontraído, no meio de muitos convi-dados, o conselheiro do distrito de Blanchard veste uma simples camisa desportiva e mostra o seu sorriso habitual. «Foi agradável encon-

trarmo-nos nas festas de Água de Pau». Temos mesmo conhecidos comuns na freguesia de Atalhada (onde estive durante duas semanas). Falando de turismo, facilmente acreditamos nos pontos fortes de São Miguel. «Fui a Havaí e por muito mais barato tinha tido muito mais lá», afirma o futebolista. É muito difícil com-parar as enormes porções (sic) dos restaurantes portugueses e o preço imbatível do vinho com a gastronomia quebequense, mas estamos de acordo que Sainte-Thérèse tem tudo o que é preciso para agradar aos visitantes.

bons restaurantesNuma primeira sondagem, simples

opinião pessoal, Armando Melo dá-me a sua lista dos bons restaurantes da cidade das Lau-rentides. Uma meia dúzia de boas moradas: uma escolha fácil de verificar. A começar pela rua Turgeon, depressa achamos a excelente cozinha italiana assim como super hamburgos estilo caseiro. Dirigindo-se para o outro lado, o turista apercebe-se da variedade que é ofere-cida. Sem esquecer um restaurante libanês, um chinês e um sushi.

«O que nos falta verdadeiramente aqui é um restaurante português! Já falei a um pro-prietário no Bairro português de Montreal», suspira o desportivo entre dois golos de café. Esta lacuna é realmente surpreendente numa cidade tão aberta ao país de Camões. Levando um pouco mais longe a nossa volta pelas boas coisas a provar, encontramos mesmo assim três proprietários de origem portuguesa. (Texto separado: Casanova, Marcelino, Furtado).

turismo culturalAs comunidades culturais? Armando

Melo começa por insistir sobre o lado muito francófono e muito católico da cidade. «Mui-tas igrejas aqui, donde Santa Teresa de Ávila, Sagrado Coração e Coração Imaculado de Maria. Um fator importante de integração. Sobretudo para os Portugueses», sublinha Armando. Naturalmente, os seus compatriotas depressa contribuíram para enriquecer a vida religiosa com as suas procissões de São Pedro e do Espírito Santo. As famílias italianas? Ele

Armando Melo, Cidadão Honorário de Ste-Thérèse, na companhia de Sylvie Surprenant, presidente da edilidade. Foto LusoPresse.

calcula uma dúzia. No tempo em que era es-tudante, quatro ou cinco famílias vietnamitas enviaram os filhos para a sua escola.

Continuando com o turismo, o jovem quinquagenário (que mais parece ter 40), conclui insistindo nos atrativos culturais da sua cidade. «A cidade tem uma vocação de cultura», insiste. Nem Sainte Thérèse nem a Lagoa têm grandes hotéis para alojar os turis-

tas, mas aqui come-se bem e são sobretudo os espetáculos, os festivais, os concertos e outras manifestações artísticas que justificam uma estadia do lado do Quebeque. Agora tanto no varão como no inverno. «E continua a mudar. A rua Turgeon mudou completamente, exceto a livraria Bertrand que lá continua». De facto, um pouco mais longe, em face da padaria Marcelino, está em construção uma nova sala de espetáculos. Abertura prevista para setembro. «As pessoas apropriam-se o centro da cidade a que chamamos le Village. Não é preciso ir a Terre-bonne para o cultural», acrescenta feliz o avô no meio do seu feudo.

LP

FEsta branca do convEnto :

com êxito assinalávEllUSOPRESSE - No passado dia 19

de agosto teve lugar no antigo Convento dos Franciscanos a 7ª edição da Festa Branca do Convento. Largas centenas de pessoas preencheram de branco o magnífico jardim e o claustro daquele monumento do século XVIII. Entre as 23 horas e as 6 da manhã, os participantes tiveram ocasião de se divertir e de dançar junto dos dois palcos instalados e onde atuaram os conjuntos Banda.com e Oceanus bem como os DJ’s lagoenses Kevin Piques e Fábio S. A organização esteve uma vez mais a cargo da Câmara Municipal, sob a coordenação da Dra. Verónica Almeida, que se esmerou na decoração do recinto a partir de elementos decorativos recolhidos da azulejaria portuguesa bem como do artesanato lagoense, nomeadamente das flores em folha de milho, tão típicas da freguesia de Ribeira Chã. O ambiente descontraído, mas exuberante, permitiu um agradável convívio entre todas as gerações não só da Lagoa como de muitos outros pontos da região micaelense. Trata-se de um modelo que tem largo sucesso na ilha (Ponta Delgada e Vila Franca do Campo) e que se inspira nos bailes de verão das grandes capitais da Europa.

O LusoPresse agradece o convite feito para que estivesse presente. LP

Por Jules Nadeau

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Página 3130 de agosto de 2017 LusoPresse

dEputado E prEsidEntE da câmara:

éliE Fallu Foi tEstEmunha E promotor da intEgração

élie Fallu recebe-nos no moderno 7º andar da sua casa com vista para as Lauren-tides. Do sétimo cheio de sol, nós distinguimos ao longe o estádio olímpico. O nosso anfitrião dispôs sobre a mesa meia dúzia de porcelanas de que tem muito orgulho. A recordação de quatro ou cinco viagens a Portugal. Depois de ter sido deputado do Parti Québécois (1976-85), Élie Fallu foi presidente da câmara de Sainte-Thérèse durante 19 anos (1987-2005). O doutor em história foi testemunha da vivên-cia dos Portugueses na sua cidade. Também, artesão direto da sua integração.

«Em 1963, rua Lonergan, era vizinho do primeiro português imigrado em Sainte-Thérèse: facilmente reconhecível porque era o único a ter transformado o seu terreno (riso) numa horta. Depois, a imigração dos Açores começou de modo massivo no fim dos anos 1960. A Associação Portuguesa de Santa Teresa (APST) data de 1974. Os membros alugaram, depois compraram o local». Novo deputado, Élie Fallu participou em seguida às primeiras etapas da sua implementação (ani-mação, financiamento, incluindo a autorização da venda de bebidas alcoólicas) o que criou sólidos laços de amizade.

«Um grupo como este que vem para aqui em grande número, às centenas, não é sem significado. Que não se colaram uns aos outros num mesmo bairro. Foram para todo o lado, a Boisbriand, sobretudo a Sainte-Thérèse e também a Blainville por razões de disponi-bilidade de habitação. O grupo de imigrantes o mais numeroso aqui. Porquê aqui? Tenho a impressão que foi um cacho humano. Vem um e os outros seguem. Os parentes. Eles trabalhavam no Dion, a fundição, o asfalto, a fundição e o betão», continua o reformado aparentemente em grande forma.

exclusão e promoção«Não tenho medo de o dizer, era a reali-

dade da época, imigrantes com problemas de exclusão quase total porque havia muito pouco contacto com o conjunto da sociedade. A di-ficuldade de só acharem pequenos empregos. A maior parte não tinha feito senão um pouco da escola primária. Era preciso fazer com que os jovens conhecessem uma promoção social», recorda-se o homem de 84 anos – que nasceu filho de camponês na Gaspésie.

«Eles desembaraçaram-se por intermédio da associação. Fizeram-se adotar pela paróquia do Coração Imaculado de Maria. Em seguida, foi a ascensão social. O primeiro conselhei-ro municipal foi eleito em Blainville cerca de 1976-77 e o segundo, Luís da Costa em Sainte-Thérèse quando eu era o presidente. Igualmente, estudos superiores. Um primeiro conseguiu chegar à universidade do tempo em que eu era deputado: recuperamo-lo para um gabinete do governo do Quebeque. Era um grande orgulho para eles: a inclusão», especifica o professor que foi por um curto tempo ministro da Imigração (1985).

«Era preciso dar-lhes uma ajuda por que viviam fechados entre si. Apesar da associação não ser um local de isolamento. Eram muito

acolhedores, convidavam-nos para as suas cerimónias religiosas, as procissões na vila. A geminação de 1994 foi uma escolha natural e espontânea, pois cerca de metade vinham de São Miguel. Mais particularmente de Lagoa. Donde, uma relação serrada, encadeia o tere-siano. Pensava-se no aspeto cultural, mas havia todos os outros, como o desporto. Foram eles que nos trouxeram o futebol. Já em 1974, as primeiras equipas semiprofissionais. Foram os primeiros atletas que ensinaram às nossas crianças. Uma das minhas filhas fez durante muito tempo parte do primeiro clube femi-nino: o seu treinador Armando Melo é agora conselheiro municipal».

Francês e português«A lei sobre as línguas do Quebeque per-

mitiu a sua integração linguística. Houve du-rante muito tempo no CLSC uma empregada de origem portuguesa para fazer a ligação entre os idosos e os serviços públicos. Uma vontade de agir em concerto. Era o mesmo por todo o lado. A ajuda direta à comunicação: ir até fazer com que os avós fossem incitados a ensinar o português aos netos porque havia a quebra de uma geração. É uma riqueza uma língua: não se evacua uma cultura assim.

O contexto do pacto de amizade de 1994? Catorze municipalidades das Laurentides foram geminadas com municipalidades francesas. Sainte-Thérèse é o com Annecy desde 1987 (sem que haja nenhum núcleo de imigração do Hexágono no nosso lado). Annecy foi assim um modelo de funcionamento. Aliás, Sainte-Thérèse é a única do Quebeque geminada a uma cidade de Portugal. «Só duas, pois custa caro uma geminação, não se pode fazer muito», avisa M. Fallu.

«Lagoa era excecional, ia naturalmente. Era uma espécie de reconhecimento dum grupo humano que escolheu imigrar para aqui, mas que ao mesmo tempo, digamo-lo entre aspas, tinha dificuldades. É uma verdade histórica, eles eram muito pobres, pouco instruídos. Era ao mesmo tempo uma homenagem que lhe rendíamos e sobretudo uma vontade de integração.

«O não dito é importante aqui. Quando uma sociedade é rica, instruída, com um seminário desde há 200 anos, uma facilidade

intelectual, bibliotecas, níveis de escolaridade elevados… E lá tu tens uma comunidade que tem falta de recursos intelectuais, que tem pouco enquadramento. Só pequenos trabalhos. Sem liderança que se possa recuperar. Mas

lusófonos, donde alguns conhecem o francês. Eles estavam longe da anglicizarão. Tínhamos vantagem em estar perto deles, em apoiá-los, a ajudá-los, eu diria mesmo, a amá-los (risos). Era preciso ver a atual composição aqui da sociedade portuguesa… a mixagem francófona e lusófona. Houve uma mistura importante.

«Estou muito feliz. É um belo sucesso de integração e de acolhimento», conclui o octogenário de cabelos brancos.

Elie Fallu, ex-presidente da Câmara de Ste-Thérère. Foto LusoPresse.

LP

Em sainte-thérèse...

«se há hoje uma associação, isso deve-se ao futebol»

Quem o diz, com verdade com-provada por muitos, é Luís Martins, o maior cabouqueiro da Comunidade Portuguesa da Baixa Laurentides.

Chegou ao Quebeque, mais precisamente a Sainte-Thérèse, em janeiro de 1965. Tinha 18 anos e muitos sonhos no horizonte. Esse rapaz da época era Luís Martins, natural de Santa Cruz, na Lagoa. Veio para a família. Casou cá poucos anos depois, também com uma jovem (Maria Varão) natural do Rosário, igualmente oriunda de Lagoa. Aquela que deveria ser sua esposa já vivia com os pais em Ste-Thérèse. Tiveram dois filhos, o rapaz, Nelson – hoje homem, claro – vive na região das Laurentides. Quanto à rapariga, Elsie, tem a cidade de Londres por residência, visto que trabalha para a BBC. Já agora, num acrescento, e para quem não saiba, a Elsie Martins antes de chegar àquela famosa rádio de ressonância mundial, foi animadora no canal Music-Plus, em Montreal.

Voltando ao Luís, pai da elsie. Amante de futebol, modalidade rainha em

Portugal, mas sem nunca ter jogado futebol federado, Luís Martins tem necessidade de fazer qualquer coisa para divertimento seu e dos seus novos amigos. Nessa altura, verão de 1965, a comunidade portuguesa de Ste-Thérèse era pujante, com a contínua chegada de emigrantes. Daí a formar-se uma equipa de futebol foi um pequeno passo. Primeiro jogavam uns contra os outros, nos baldios da cidade, mas depois foram aventando hipóteses até chegarem ao aluguer de um local. Neste aspeto teve influência decisiva Angelino Cabral, outro lagoense, ao receber o recém-criado grupo de futebol, ora nas traseiras da sua mercearia, ora na sua garagem.

De grupo ad hoc, a equipa foi-se organ-izando, ao ponto de pouco depois já ter um treinador, António Raposo, já falecido, e uma direção formada por José Fonseca, Manuel Santos, Manuel Paulo, José Cebola – citado noutro texto deste jornal Especial – Henrique Catarino e, claro, o jovem Luís Martins, que por jogar, mesmo se mexia os cordelinhos, tinha deixado a presidência do time para António Paulo, que não jogava...

Depois de fartos dos jogos amigáveis, em 1967, os Bravos, nome que tem também a sua história, ingressaram numa liga em Laval para, em 1969, passarem para a Liga Nacional, composta por equipas de localidades situadas fora da cidade de Montreal. E quando tudo parecia funcionar, eis que a liga desaparece por falência... mais uma dor de cabeça para a

direção do jovem grupo de atletas.Mas um ano depois (1970) as coisas

entram de novo no bom caminho, com a adesão à 2ª. Divisão da Ligue Metropolitain, de certa forma uma extensão da Nacional, mas agora em moldes muito mais sólidos. Nesta liga, os Bravos passaram a defrontar sobretudo equipas com ascendência nas comunidades britânicas, viajando para Dorval, West Island, Pointe- Claire, Pierrefonds, etc. E deram-se bem os Bravos nesta liga, onde dois anos mais tarde foram coroados campeões. Subiram por isso de divisão em 1973; «contrataram» um novo treinador na pessoa de Guilherme Fragoso – também referido noutro artigo desta edição do LusoPresse – que acabava de colocar pé no Quebeque. Este novo impulso dos Bravos teve a sua génese na presidência, agora oficial, de Luís Martins, escolhido presidente já no dealbar de 1970.

De 1973 a 1975, os Bravos foram marcan-do cada vez mais uma presença futebolística com alguma segurança. Foi nessa altura que apareceu a compra das instalações em que hoje está instalada a Associação Portuguesa. Mas essa compra teve as suas peripécias, com «zaragatas» à mistura, mas que não foram sufi-cientemente nefastas para que os portugueses de Ste-Thérèse tivessem o seu local de reunião, de ponto de encontro.

Foi, outra vez, o Luís Martins a tomar a dianteira. Um local que passa ao fogo muito perto da Mercearia de Angelino Cabral, o tal local onde se reuniam os Bravos antes e depois dos jogos, uma oferta de venda que aparece... De compra, em concreto, só podia aparecer um grupo motivado, pois os obstáculos eram muitos, a começar pelo preço elevado que

Luís Martins, fundador da Associação Portuguesa de Ste- Thérèse.

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Por Jules Nadeau

Por Norberto aguiar

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Se hÁ hoJe...Cont. da pág 31

era pedido.Reunidas todas as forças vivas à volta

da equipa de futebol, e com o Luís Martins como presidente, o negócio só tinha que dar certo. Como deu. Para isso, os dirigentes tiveram que avançar com dinheiro do próprio bolso, para custear a primeira entrega e que, ao mesmo tempo, desse para caucionar o empréstimo a pedir – exigido! – pela entidade bancária envolvida na transação. Alguns ainda assustaram com as suas maledicências. Mas a crença de gente motivada resultou na compra do almejado prédio.

1974, ano de fundação O grupo de fundadores foi composto

de Luís Martins, Imitério Soares, Adriano Pereira, já falecido, Manuel Paulo, José Cebola, Fernando Lúcio, António Raposo, também já falecido, Gil Cabral, Manuel Matos, José Gonçalves, José Fonseca e René Epinard, o único não português. Foram estes homens que adiantaram 100 dólares cada um para caucio-nar um empréstimo de mais 50 mil... Naquela

armando arruda…

a saudadE das rEFEiçõEs Em Família

Quando Armando Arruda evoca os anos da sua juventude em Água de Pau, a recordação mais profunda, «inesquecível» mesmo, são as festas de família ao fim do dia na cozinha. Sentia-se o calor humano duma família numerosa de oito filhos que gozavam também do amor dos avós maternos, priva-dos dos seus próprios filhos que já viviam no estrangeiro. Por outro lado, a recordação mais penosa na terra da emigração é o facto de ver partir dum dia para o outro os amigos e os vizinhos para as Bermudas, o Canadá e os Estados Unidos. As ruas despejavam-se nos anos 60.

Nos Açores era o trabalho nas terras do avô onde se cultivavam as vinhas. Ia-se de burro. Na natureza, as refeições de peixe ainda quente preparado e trazido pela avó – e para sobremesa, laranjas ou melões colhidos à mão. Igualmente, era o lugar onde as casas não se fechavam à chave e onde se ia comer sem convite a casa dos vizinhos. Mais tarde, para o jovem Arruda, foram três anos bons no seminário e outros no liceu.

quase meio séculoDuma certa maneira, Armando Arruda

não é fiel só aos seus concidadãos de Água de Pau. Ele é o também ao seu patrão. «Cheguei a Montreal a 25 de agosto de 1969 e dez dias depois comecei a trabalhar como bus boy no Reine-Elizabeth, na Dorchester. E 46 anos mais tarde, ainda aí estou», diz-me a rir o açorquebequense no Bistro Montréalais do venerável hotel da avenida que agora comem-ora René Lévesque. O empregado modelo ocupa aí um posto elevado. Não foi fácil para o jovem que chegou ao Quebeque com 15 anos.

«Tenho particularmente orgulho de che-fiar o departamento do Serviço de traiteur do Reine-Elizabeth que criei em 1992 e que serve agora mais de 130 000 refeições por ano, para eventos prestigiosos como o Grande Prémio do Canadá desde há 15 anos. Ou seja, mais de 6 000 refeições por dia», acrescenta ele para o LusoPresse.

Armando Arruda conhece o sentido profundo do termo emigration, pois a família completa mudou as raízes. A partir de 1953, primeiro foi um dos tios no primeiro barco de pioneiros para Halifax. Para evitar o serviço militar ao seu irmão José que se aproximava dos 16 anos, o papá Carlos Arruda (cobrador de bilhetes para a companhia de autocarros Varela) mandou-o estudar para o Quebeque. Depois, quatro anos mais tarde, os pais e os outros sete filhos também fizeram as malas. Em 1969, no pequeno avião da SATA, havia suficientes Arrudas para encher o aparelho que partiu no primeiro voo efetuado do aeroporto da Portela, de Ponta Delgada, uma hora antes da inauguração oficial. Parentes próximos tinham-lhe desaconselhado de tentar a aventura na América por causa do desafio de fazer viver uma família tão numerosa.

Entre outras boas recordações, Armando Arruda fala com afeição duma personalidade marcante, o padre João Caetano Flores, um

homem de ideia largas. Uma vez, o estudante de 14 anos precisou da sala paroquial para uma representação teatral. Este vigário disse-lhe «sim» (contrariamente ao «não» de um outro padre) e toda a população se deslocou para assegurar o sucesso da festa. Originário de Ribeira Chã, este promotor da educação insistiu para que as famílias rurais fornecessem engenheiros, advogados e médicos à sociedade. O padre Flores fez construir a partir do nada a igreja super-moderna de Ribeira Chã. Para o financiamento, ele distribuía pequenos mealheiros de loiça às famílias e depois recuperava-os com os seus dons em escudos.

Pessoas e coisasA saudade das pessoas, mas também a

nostalgia das coisas. O homem do Reine-Elizabeth não voltou ao berço senão três vezes. «Gosto de me fazer desejar!», diz-me ele a rir. A última vez, em 2014, com a família de onze pessoas ao todo, incluindo três filhos, dois genros e quatro netos, sobretudo para mostrar o mais possível a terra aos mais novos. Espe-cialmente, ele queria «comer verdadeiramente português».

Foi a ocasião para rever a casa do avô que se tornou o restaurante Paraíso de Milénio, vizinho da igreja (onde eu próprio comi uma deliciosa feijoada). Depois, saboreou o melhor do Bar-Esplanada Caloura, propriedade de um antigo pescador, regressado das Bermudas. «Eu adoro o polvo. Quando era criança, depois do meu pai ter retirado a tinta, era eu que o batia com um pau em cima da tábua de lavar do tanque em cimento para o amaciar», confia-me o pauense.

Durante a nossa curta conversa bem rega-da de café, o jovem sexagenário cita frequente-mente o nome do seu cúmplice e colega Rober-to Medeiros. O seu companheiro de escola primária (que foram quatro anos simpáticos) é a sua enciclopédia para a terra açoriana. «O Roberto tem uma verdadeira paixão por Água de Pau. É o seu guia turístico. Viaja regular-mente para os Estados Unidos para promover trocas culturais. É um especialista da cerâmica da Casa Vieira.» O Armando não é o único a fazer referência ao sr. Medeiros. A presidente da Câmara Sylvie Surprenant também nos fala com frequência da «ponte viva» entre Sainte-Thérèse e Lagoa.

Madame Papineau, o grande Pauleta, Armando Arruda, Norberto Aguiar e José Silva. Foto do arquivo do LusoPresse.

LP

altura uma verba muito avultada!Depois vieram as discussões sobre o

nome e o lugar do futebol no interior do novo organismo. A escolha de cargos na direção também teve o seu momento de fricção. Imitério Soares chefiou a primeira direção até 1976. O seu vice foi José Cebola. Nesse perío-do apareceram, segundo Luís Martins, algumas desavenças entre açorianos e continentais. Essa situação manteve-se até à tomada de posse de Luís Martins como novo presidente, em 1977. Uma das principais razões do conflito estava centrada no futebol... Tudo se recompôs com a direção de Luís Martins, na altura com 30 anos e julgado pelos seus opositores como muito novo para dirigir os destinos da novel Associação Portuguesa.

valentina barbosa…

a ação social é crucial

Valentina Barbosa é uma lagoense nascida no Cabouco «onde os meus pais e avós também nasceram», que desempenha um importante papel no campo social. Valentina chegou a Montreal em 1963 na companhia da mãe e dos dois irmãos. «Viemos ter com o meu pai que já tinha emigrado dois anos antes».

Atualmente Valentina Barbosa é uma das mulheres que conhece melhor do que ninguém as mudanças sócio-económicas da comunidade, muito especialmente das mulheres e dos idosos.

«Sempre tive interesse pela ação comu-nitária. Já na minha adolescência tinha uma preocupação pelas questões de justiça social, de discriminação e de direitos humanos. Estas preocupações nunca desapareceram; pelo con-trário, aumentaram com o tempo.»

A curiosidade levou-a a escolher estudos no campo social. «Na universidade decidi-me pelo ramo do desenvolvimento comunitário». Esta sensibilidade levou-a também a um en-volvimento político-comunitário. «Participei em diferentes manifestações durante os meus anos de universidade e, ainda hoje, me preocu-po com as questões do foro social».

O seu empenhamento e trabalho levaram-na ao lugar onde se encontra hoje. Valentina Barbosa é diretora geral do Centro de Ação Socio Comunitária de Montreal e testemunho das mudanças nesta área.

«Recebemos imigrantes de todas as ori-gens aqui no organismo onde trabalho. Isto não é só agora, pois já recebemos pessoas de outras origens há mais de 25 anos. Tenho que salientar que recebemos anualmente no nosso organismo aproximadamente 3 mil pessoas de origem portuguesa. Segundo as estatísticas, há mais de 35 mil pessoas de origem portuguesa em Montreal. Portanto, a grandemaioria vem consultar-nos, o que é ótimo».

As problemáticas são muitas e diversas. «As pessoas que vêm ao CASCM estão con-frontadas com diferentes problemáticas, em particular, o desconhecimento dos seus direi-tos, dos serviços e programas que existem para as ajudar e muitas vezes simplesmente, para um esclarecimento sobre dúvidas.»

Apesar de a comunidade ter celebrado já seis décadas de implementação na província, ela ainda se confronta com o desconhecimento dos direitos, deveres e dos serviços, que afeta de forma muito particular a comunidade idosa. «A nossa comunidade lida com os mesmos problemas que o resto da sociedade. Claro, existem problemáticas relacionadas com a violência conjugal, o alcoolismo, a pobreza, a saúde mental, e muitos outros. São os mesmos desafios que existem na sociedade em geral» realça Valentina Barbosa.

O estreitamento de relações com o ar-quipélago na área social é crucial, uma vez que a maioria da comunidade é de origem açoriana. «Claro que é sempre bom ter um apoio financeiro para permitir a implemen-tação de programas que possam ajudar a comunidade. Contudo, não podemos esperar que o governo dos Açores venha “resolver” os problemas dos açorianos espalhados pelo

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Por Jules Nadeau

LP

Por Humberta araúJO

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saintE-thérèsE/lagoa

rEtrospEctiva históricasanta-Teresa de Blainville está situada

na região emblemática das Laurentides, sendo sede duma municipalidade regional de território, implantada na região administrativa do Quebeque, composta de oito municipalidades regionais e 83 municipalidades.

No início, o Domínio foi fortemente dependente do turismo dado o interesse e procura pelos cidadãos mais ao Sul, duma região pouco afastada, que fosse relativamente selvagem, mas agradável. Porém, com o correr dos anos, soube criar importantes infra-estruturas industriais e comercias, – para além dos setores residencial e sócio desportivos, que sendo bastantes atraentes, desenvolvem a economia local, misturando a proximidade das grandes cidades com os seus grandes espaços onde, quais papoilas saltitantes, pululam por entre baixas montanhas, pequenas vilórias cheias de garbo e beleza.

Foi aqui que em 1991 membros do Governo Regional dos Açores estiveram em visita e endereçaram convite ao então presidente da Câmara de Santa Teresa, senhor Élie Fallu, para visitar a então Vila da Lagoa na Ilha de S. Miguel, o que aconteceu na verão de 1993, tendo sido ali inaugurada nessa altura, o largo de Sainte-Thérèse.

Cor respondendo à genti leza, foi inaugurada em 26 de junho de 1994 frente ao edifício da Câmara Municipal de Santa-Teresa, a Praça Lagoa. No dia seguinte, foi assinado o Acordo de Amizade e Cooperação.

Neste contexto, foram acolhidos por famílias de Santa Teresa, seis estudantes lagoenses por um período que se estendeu de 22 de junho a 5 de julho de 1996, e no ano seguinte, a 28 de junho, partiram para a Lagoa seis estudantes da região de Santa-Teresa.

Dando continuação ao acordo de colaboração estabelecido, a Câmara Municipal de Santa Teresa foi anfitriã, entre o primeiro e o dezasseis de março de 2003, duma equipa de estudantes de hotelaria acompanhados de dois responsáveis do curso.

A 21 de fevereiro de 2004 partiu para a Lagoa um grupo de políticos e sua comitiva acompanhados de seis estudantes do Centre Multisservices de Sainte-Thérèse, que ali se mantiveram até o 6 de março desse ano.

Mais tarde, a 27 de junho, a Câmara Municipal de Santa Teresa assinala numa cerimónia protocolar, o décimo aniversário da assinatura do Acordo de Amizade e Cooperação. Meses depois, em dezembro, a Câmara Municipal de Santa Teresa recebeu uma coleção de trabalhos de olaria, vindos da Lagoa, que posteriormente foi exposta na “Maison Lachaine”.

O presidente da Câmara Municipal da Lagoa foi acolhido, entre 29 de junho e 6 de julho de 2006 pela Câmara Municipal de Santa Teresa, para depois, a 3 de setembro, ser recebido o grupo de dança “Som do Vento”, composto de 20 elementos, que atuou na Praça da Cidade.

O tempo passando no seu ritmo normal foi a vez, do Município da Lagoa, de receber de 7 a 21 de agosto, a presidente da Câmara Municipal de Santa Teresa, Sylvie Surprenant. Num ambiente de grande cordialidade, a sua

presença foi bastante apreciada e rodeada de grande carinho e amabilidade.

No ano seguinte, a 27 de junho, foi adotada uma moção que assinalou o décimo quinto aniversário da assinatura do prolífero Acordo, e um ano depois, de 24 de junho a 1 de julho, deslocou-se a Santa Teresa uma delegação da Lagoa presidida por João António Ferreira Ponte, tendo sido acolhida numa elegante receção nos Paços do Concelho.

Uma delegação composta de quatro dirigentes de Santa Teresa dirigida por Sylvie Surprenant, desta vez na sua qualidade de Presidente da Municipalidade Regional territorial de Santa Teresa de Blainville foi recebida na Lagoa, entre 9 e 16 de outubro de 2010.

Entre 28 de abril e 6 de maio de 2012, o grupo de teatro Faísca da Escola Secundária da Lagoa, composto de 13 estudantes, dois professores e por Verónica Almeida, foi acolhido pela Academie Sainte-Thérèse, em cujo anfiteatro apresentou uma peça teatral. Por sua vez, em abril de 2013, um grupo de teatro da Academie de Sainte-Thérèse foi recebido na Lagoa e apresentou um espectáculo na Escola Secundária.

Para assinalar a efeméride da assinatura do vigésimo aniversário do Acordo e Pacto de Amizade estabelecido entre as duas cidades, realizou-se um encontro em Santa Teresa que contou com a presença de uma comitiva da Municipalidade da Lagoa, composta pelo Presidente João António Ferreira Ponte e por Odete Cabral, chefe de gabinete, Teresa Viveiros, coordenadora de serviços no Centro de Educação e Formação Ambiental e responsável da Biblioteca da Lagoa e Palmira Bettencourt.

Durante a sua estadia, o grupo assistiu no Estádio Richard-Garneau às atividades do Campeonato Canadiano de Atletismo Juvenil, tendo participado na atribuição das medalhas aos vencedores das provas. No mesmo espaço de tempo, entre 4 e 11 de julho de 2014, os Lagoenses inauguraram oficialmente a “Promenade Lagoa”, foram convidados de honra na antestreia da exposição “20 anos-20 fotos-Lagoa-Sainte Thérèse”, assim como participaram no lançamento de um livro infantil da autoria de Teresa Viveiros, traduzido em Língua Francesa por Palmira Bettencourt, na Biblioteca de Sainte-Thérèse. Os cidadãos foram convidados a visitar a exposição, que ficou aberta ao público até finais de agosto.

Os membros da Comissão da Lagoa realizaram reuniões de trabalho para definir e promover os próximos intercâmbios de nível desportivo, cultural e económico, estabelecendo projetos e datas de realização.

Finalmente, de 24 de agosto a 5 de setembro desse mesmo ano, a Câmara Municipal da Lagoa teve o ensejo de acolher Sylvie Surprenant, Presidente da Câmara de Santa Teresa, que encabeçava uma delegação de nove individualidades. Esta visita inseriu-se no âmbito do vigésimo aniversário do Pacto de Amizade.

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pEixaria s. miguEl

um símbolo da ilha E da lagoa

emigrou para Montreal no ano de 1970 e direitinho dos Remédios da Lagoa. É uma figura típica e bem conhecida no icónico Plateau, área onde a comunidade portuguesa começou por se instalar e que é agora uma das zonas mais cobiçadas da cidade.

«Decidi vir com o meu pai naquele tempo, que era ainda o tempo em que se vivia o salazarismo. Vim com 14 anos ainda muito jovem e não tinha ainda nenhuma profissão definida.»

E como salta um peixe dos mares da Lagoa para Montreal para se dedicar à venda de… peixe?

«Vim jovem com 14 anos e na Lagoa na altura fazia pouco ou nada. Mas aqui decidi com um padrinho e sócio começar esta empresa de venda de peixe que começou no número 159 da rua de Duluth. E assim foi até hoje.»

Montreal mudou muito o seu rosto desde os anos 70 assim como os seus clientes. «Temos muitos clientes agora do Quebeque que procuram a nossa peixaria para a compra de peixe, em especial a sardinha que se está a tornar muito famosa na mesa das pessoas de Montreal e que não são de origem portuguesa.»

O sucesso é bem visível no seu pequeno comércio onde algumas espécies dos Açores podem ser compradas, a par do salmão. Todavia, o bacalhau e um parente próximo do nosso inhame são outros produtos sempre à espera dos seus fregueses.

Eduardo Barbosa é uma figura bem típica da zona, muito especialmente da portuguesa rua St. Urbain, acompanhando na cavaqueira os clientes portugueses, mas também com os naturais a quem fala das suas ilhas e dos peixes e pratos típicos dos Açores. E, tal como não podia deixar de ser, a Lagoa continua sempre perto.

«Em dez anos fui lá 10 vezes. A Lagoa hoje está muito desenvolvida e é um orgulho para nós emigrantes, que nascemos na Lagoa ver este desenvolvimento.»

Nesta ordem de ideias, Eduardo Barbosa considera crucial que os lagoenses regressem à terra natal.

«Já lá levei a minha família toda, assim como os meus netos e espero continuar a ir à minha freguesia.»

Para Eduardo Barbosa, o contato e a renovação de laços com a ilha trazem-lhe sempre oportunidades de seguir de perto as novidades da terra. «Acho por isso que a ideia do LusoPresse fazer este jornal na Lagoa e incentivar o intercâmbio entre o Quebeque e a ilha de S. Miguel é muito bom para todos, especialmente o relacionamento entre a Lagoa e Santa Teresa, aqui no Quebeque.»

Com o avançar da idade, Eduardo Barbosa pensa cada vez mais em deixar a vida à volta das guelras e das escamas, aquela que sempre lhe traz o cheiro da maresia lagoense.

«Ao fim de 50 anos nesta carreira de vender peixe, já estou farto de vender peixe …para dizer a verdade», diz com um sorriso farto que faz parte da sua personalidade.

LP

As bandeiras na casa da família Pimentel (Rosário, Lagoa) assinalam olaço de união entre os Açores e o Canadá graças à emigração. Foto LusoPresse.

Por raul MesQuita

LP

Por Humberta araúJO

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leonardo soares... lagoense que levou a curiosidade pela construção mais longe

O interesse pela engenharia, pelo imaginar e pelo construir do nada é algo que acompanha Leonardo Soares, que confessa que desde muito jovem se interessava «pela forma como os materiais e a mão de obra se complementavam e, como unidos, eram capazes de construir monumentos, casas e prédios altos. As grandes escavações e toda a estrutura que acompanha a edificação de uma obra interessavam-me, pois era tudo uma questão de colocar um bloco em cima do outro para se chegar a elaborar um elemento integrado.»

A construção de um novo edifício começa então a tomar forma na vida do jovem Leonar-do ao deixar a freguesia do Rosário em 1964, com a idade de 6 anos, juntando-se a muitas outras crianças, que acompanhadas da família chegavam ao Canadá, para se darem conta de um mundo novo.

Hoje, longe da então pequena freguesia lagoense, este engenheiro filho das ilhas, tem o nome da sua empresa Altapex ligado a algumas das mais emblemáticas e modernas construções em Montreal, entre elas o Centro Canadiano de Arquitetura, o Museu do Holo-cauto, o Centro de Artes Segal e o edifício do Centro Artístico Saidye Bronfman, os quais envolveram investimentos entre os 33 aos 6 milhões de dólares.

Mas Leonardo Soares não coloca direta-mente «blocos em cima uns dos outros». O seu envolvimento no setor centra-se na gestão de projetos. «Eu sou um engenheiro de estrutura civil, com especialização em gestão e adminis-tração de projetos de construção.»

Hoje, o presidente da Altapex Construc-tion Corporation, empresa sediada em Mon-treal, especializa-se em serviços que vão desde o design, a estimativa de custos, a gestão de empreendimentos, entre muitos outros.

«Somos mais do que simples contratores. Nos 25 nos de história da nossa empresa cria-mos um sistema integrado de gestão inovador, que permite aos clientes acesso aos recursos, assim como conhecimentos gerais a par dos

mecanismos que envolvem a execução dos seus projetos, nomeadamente o controlo de custos, cumprimento de calendários, sem pôr em causa a qualidade. O nosso lema tem sido estar sempre no lugar do proprietário.”

Com uma equipa direta entre 6 a 20 pes-soas a trabalhar para a empresa, Altapex conta ainda com os serviços de sub-contratores.

O nome da empresa deste lagoense está igualmente ligada aos setores institucional, residencial, industrial, comércio a retalho, hotelaria e restauração, estabelecimentos de ensino e projetos especiais.

Um audacioso projeto onde Leonardo Soares assumiu a direção de operações foi a reabilitação do “Dominion Square Building”, um dos icons da cidade de Montreal construí-do nos anos 20 por um grupo de investidores, e desenhado pela famosa firma de arquitetos Ross & Macdonald, num total de mais de 125 milhões de dólares.

A sua relação com o concelho da Lagoa continua nas diversas visitas que efectua desde 1971 à ilha, a última em 2016 durante as Festas do Sr. Santo Cristo.

“Acho absolutamente importante regres-sar pois é o lugar onde os lagoenses encon-tram as suas raízes e são momentos para se conhecerem melhor a si próprios e para quem visita as ilhas perceberem como os açorianos são pessoas humildes e respeitosas. Temos uma rica cultura e estamos espalhados por todo o mundo.»

Quanto à possibilidade de viver e investir no concelho?

«Oxalá fosse possível mas é um lugar um pouco remoto do resto do mundo. Preferiria estar no continente e visitar as ilhas com fre-quência tendo ao mesmo tempo a flexibilidade de me deslocar ao resto do mundo sem estar sujeito a transportes aéreos limitados. Mas claro se a vida fosse outra, sem dúvida que escolheria a ilha. Relativamente aos negócios nos Açores, a falta de transportes aéreos fre-quentes a a perca de tempo, transformam-se num grande handicap. Leva muito tempo ter-mos de sair de Montreal para Ponta Delgada, sem voos diretos o ano inteiro. Embora tenha pensado na questão ela não é economica-mente viável.” LP

mundo. Cada comunidade deve encontrar as soluções adequadas para solucionar os proble-mas da sua comunidade local. Estamos a viver fora dos Açores, temos uma realidade que é diferente dos açorianos nos Açores, portanto pertence-nos, a nós fora dos Açores, trabalhar com as outras comunidades na nossa cidade ou no nosso bairro», acrescenta.

Valentina Barbosa realça, todavia, «devo salientar que o governo do Açores tem uma preocupação constante com o bem-estar das comunidades açorianas espalhadas através do mundo, coisa que não se constata com o governo da República».

A sua ligação com as ilhas, muito particular-mente com o concelho, continua. «Já voltei à minha freguesia e à Lagoa, 3 vezes nos últimos 54 anos. A última vez foi em novembro de 2015. Quando regresso aos Açores, há qualquer coisa que se passa dentro de mim. É um sentimento estranho. Sinto que estou na minha terra, que faço parte daquele sítio. É um sentimento muito forte e que fica comigo muito tempo depois de ter regressado a Montreal. Não sei se as outras pessoas têm este mesmo senti-mento, mas para mim, é fortíssimo. Gostaria de acreditar que os outros passam por este sentimento também e que é por isso, em parte, que voltam à sua terra».

Esta renovação de laços que o Lusopresse leva a peito é importante, diz Valentina Barbo-sa. «A realidade económica e social de Portugal fez com que o país se tivesse esvaziado de uma grande percentagem da sua população nos anos 1950. Agora mais de 60 anos mais tarde, é importante criar laços entre os que ficaram e os que emigraram. Creio que estamos no bom momento para esse trabalho».

VaLentina...Cont. da pág 32

criatividadE: algo quE transporta no sanguE

o violino E as histórias do avô

s ão Medina chegou a Montreal em 1975, tinha então 9 anos de idade, na companhia de sua mãe, avó materna e irmãs. Filha de Santa Cruz, Lagoa, por via materna, a artista tem igualmente raízes na ilha das Flores. «O meu pai é natural das Flores e também do concelho de Santa Cruz, tendo vindo para S. Miguel aos 16 anos”.

O gosto pela viagem começa no deam-bular da família de ilha para ilha, o que a leva «às vezes a pensar que a busca do estrangeiro ou da viagem se inscreveram na minha vida desde criança. Hoje, faz-me compreender que nasci numa terra onde vivi e cresci com muitas questões existênciais. Nasci num lugar, que embora pequeno, me deu acesso a importantes elementos naturais como o mar, terra, fogo e o ar. Vejo que o vulcão interior que herdei foi a sensibilidade da emoção, do sentimento e da saudade».

E a partida deixa rastos e heranças na vida de São Medina. «Quando partimos ex-perimentamos o sentimento de solidão, da distância e o medo do desconhecido. O que tive de deixar para me reconstruir numa nova terra de acolhimento foi a minha liberdade de criança. De poder brincar e correr, saltar paredes e contemplar o que a natureza tem de bom e maravilhoso».

A sensibilidade encontrou uma voz na criatividade desta filha com raízes lagoenses. «A música que ouvia, o folclore das vilas e as festas paroquiais possibilitou-me uma forma de identificação, construindo um banco de lembranças do passado. O que os meus pais me legaram, de uma forma singela, foi a minha criatividade. Naturalmente que a música fazia parte integrante do meu quotidiano pelo facto de que a mamã cantava, o vovô cantava e tocava guitarra portuguesa e o papá, de vez em quando, ia à flauta».

Sendo a música uma realidade na vida desta lusocanadiana, o que mais a tocava eram «as histórias do passado que adorava ouvir. Os casos do tempo do meu avô Vitorino (que não conheci) que tocava guitarra e violoncelo, mas que me impulsionaram a tocar violino. O som das cordas fazia-me vibrar de emoção. Foi com esta mesma sensibilidade que continuei a explorar os meus talentos, tanto musicais como artísticos».

Esta herança cultural e artística que herdou da terra açoriana leva-a a querer par-tilhar a sua cultura com as outras pessoas. «A vontade de dar a conhecer o nosso país, levou-me a traduzir certos fados e a compor também em francês. Estes trabalhos são pedaços da minha própria expressão e senti-mento e formas de aproximação à minha terra e à sua beleza natural da qual hoje me sinto ainda mais próxima».

Já com vários trabalhos editados, entre eles, Sãozinha: Elle (1992), Paixão do Fado/ Passion Fado (1997) e São canta Amália, (2000), São Medina confessa ter sempre sen-tido «uma certa predileção pelo sentimento e emoção encarnando a saudade e tocando a tristeza. Sentia que a forma musical do fado me dava a possibilidade de exprimir a minha própria dor».

Na sua viagem aos meandros da emoção, São Medina enveredou por estudos na área da acompanhamento psicólogico de adultos, acompanhando o Centro de Relação e Ajuda de Montreal, o que «me permite responder perfeitamente bem às minhas questões de criança, sentido-me assim mais perto do ser humano, do mundo interior e emotivo, não só pessoal, mas também do outro».

A Lagoa como parte desta herança criativa e emocional é um espaço de memórias que acarinha. «Tenho saudades da Lagoa, do can-tinho que me viu crescer. É a infância que me inspira quando lá estou presente. Embora não viva na Lagoa, ela foi e é a minha referência identitária. Nestes últimos anos, tive a opor-tunidade de ver a evolução da vila, os caminhos por onde andava e a simplicidade, a beleza da transformação guardando sempre a sua pró-pria identidade e forma de ser».

Estar sempre a par do que acontece no concelho é importante. «Porque não posso lá ir todos os anos, sinto a falta do mar, esse elemento importante, mas tal não me impede de ter informação do que se passa, não só pelos amigos como também pelos meios de informação, como é o caso do LusoPresse. Aproveito para reconhecer o trabalho do Norberto Aguiar por ter sido uma pessoa que sempre mostrou valor e empenho na nossa comunidade em Montreal. LP

Por Humberta araúJO

Por Humberta araúJO

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Página 3630 de agosto de 2017 LusoPresse