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Editorial exemplo

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Editorial: A diferença entre os jornais independentes e os diários amestrados24/3/2013 16:04

Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro

O aparato repressivo do Estado expulsou violentamente os índios que ocupavam a Aldeia Maracanã

Institutos de pesquisa ligados à mídia conservadora, Ibope e Datafolha iniciaram, há alguns dias, uma

série de sondagens junto à opinião pública em relação a quem a maioria do eleitorado gostaria de ver no

lugar da atual presidenta, Dilma Rousseff, em outubro do ano que vem. Cerca de 20 meses, portanto, da

data das eleições. A discussão, aos olhos do leitor mais atento, sugere o que na verdade ela é: estéril e

manipuladora. Interessa apenas e tão somente às hordas reacionárias que perderam as eleições no ano

passado, há nem seis meses, para ser exato. A tentativa de se adiantar o calendário eleitoral foi a forma

encontrada pelas forças antidemocráticas, que comandam a imprensa extensiva, de evitar uma reflexão

maior sobre a derrota fragorosa das trevas, nos maiores centros urbanos do país. À exceção do neto de

ACM, em Salvador, nenhum outro expoente da extrema-direita conseguiu convencer o eleitor que era

melhor para o país a fórmula aplicada à política brasileira no período pós-ditatorial do neoliberalismo,

encerrado com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início deste século.

Nas demais cidades, salvo aquelas que subsistem sob os domínios da direita mais arraigada, atoladas no

lodo do conservadorismo extremado, a leve brisa dos governos populares começa a soprar, a expulsar a

poeira que restou dos atos ditatoriais, acumulada sobre a estante de livros outrora impensáveis, como

aquele que desvenda o saque e os assassinatos patrocinados pelas forças de ocupação, durante os Anos

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de Chumbo, e mesmo após o fim dos militares no comando, na onda de privatizações que exauriu a

economia do país. Quanto mais se desvenda a participação civil no golpe militar de 64 – a exemplo da

extinta Panair – no trabalho minucioso realizado pela Comissão Nacional da Verdade, mais arejada é a

sociedade brasileira. E menos espaço nas urnas resta aos antigos detentores de um poder ancestral, que

remonta a UDN, a Arena e, por fim, DEM, PSDB, o recém-criado PSD e uma miríades de associações

anãs, mas não menos virulentas.

A linha patrimonialista das elites brasileiras, no entanto, esta sobrevive mais revigorada do que nunca,

aninhada sob as espaçosas asas da chamada ‘base aliada’, que sustenta o governo frágil, mas bem

intencionado, da presidenta. Ficou assim: enquanto ela não incomodar os donos das fortunas amealhadas

durante os séculos de espoliação dos trabalhadores, em nome da família, tradição e propriedade,

conseguirá ir em frente, em um esforço absurdo para reduzir a miséria no Brasil. Cada passo, no sentido de

levar a cidadania e o direito a viver feito gente, e não igual a bicho, a todos os brasileiros, é uma vitória

imensa contra o domínio cruel dessa gente endinheirada, egoísta, gananciosa, que ocupa o poder de

facto no país. Reduzir os juros de níveis alucinados para escorchantes já foi motivo de uma comemoração

sem precedentes nas salas refrigeradas do Banco Central. Manter e ampliar programas sociais como Bolsa

Família e Minha Casa, Minha Vida, contam quase como a conquista da Taça Jules Rimet.

Não é exagero dizer que as grandes fortunas brasileiras, como observou um graduado desembargador do

Estado do Rio de Janeiro, “foram embora faz tempo”. Estão abrigadas nos paraísos fiscais e, seus

proprietários, em apartamentos de luxo na Avenue Foch, em Paris, ou outro endereço elegante qualquer

em Nova York, Londres etc. Colocaram-nas a salvo do fisco e das intempéries políticas que, mais dia,

menos dia, vai levar aquela brisa socialista aos mais recônditos vilarejos. É questão de tempo, e eles

sabem disso. O desespero já é visível. Chegam a fazer manobras ousadas em campos minados como o

Judiciário, em uma sanha que a História se debruçará sobre o episódio, em breve, para desvendar os

meandros que sincronizaram o julgamento da Ação Penal 470 e o calendário eleitoral do ano passado, com

a precisão dos maias sobre o universo. E, obviamente, rever uma a uma das sentenças propaladas para,

mais uma vez, o país fazer aquele papel de republiqueta das bananas, perante uma corte internacional.

Matreiros que são, os artífices do conluio entre os velhos militares, as classes dominantes e a imprensa

maniqueísta que as atende buscam alternativas para se manter no domínio da planície fértil e tentar deter,

nas montanhas da indignação, aqueles guerrilheiros que lutam por um país mais justo e igualitário. Sabem

que o fim deste Estado, benevolente com os ricos e mortal para os pobres, está mais próximo do que

podem imaginar. A América Latina socialista está aí para não deixá-los dormir sossegados. Portanto,

agradeço aos leitores que apoiam o Correio do Brasil por evitar as matérias que atendam a esse jogo

estúpido, de se tentar antecipar as eleições marcadas para daqui a quase dois anos. Acreditamos que esta

é a fronteira que divide os jornais independentes dos diários amestrados.

Preferimos cobrir o dia a dia real à república imaginária que amanhece estampada nas capas da mídia

conservadora. Optamos por noticiar o Brasil da maioria dos brasileiros, sob a ótica dos índios na Aldeia

Maracanã, que apanharam feio do aparato repressivo; jamais sob o ponto de vista dos coturnos dos

agressores. Em vez de fazer exercício de futurologia em pesquisas de encomenda, levamos aos nossos

leitores a realidade que os meios de comunicação identificados com o capital internacional tentam

esconder, a qualquer preço.

Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.