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Prezados Associados da SBNp, Nesta nova edição do Boletim de Abril, temos o texto do Prof. Guilherme Me- nezes Lage, intitulado “Dimensões da impulsividade: o bom, o mau e o feio no controle motor”, no qual discorre sobre um belíssimo trabalho sobre neuropsi- cologia, impulsividade e controle motor, com resultados interessantes para a literatura sobre funções executivas. Na edição deste mês ainda temos a entrevista do Prof. Dr. Rohde relatando o papel essencial da neuropsicologia no contexto clínico para diagnóstico e es- tudo do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Na sessão de relatos, temos o relato de pesquisa I “Funções executivas em crianças de 3 a 7 anos: “Jogo das Cartas Mágicas” doutoranda Emmy Ueha- ra. Já o relato de pesquisa II “Funções Executivas e Transtornos Emocionais em Populações Clínicas” é escrito pela Profa. Da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rosa Maria Martins de Almeida que aborda resultados sobre a relação entre as funções executivas e pacientes com Parkinson. Ainda nesta edição inauguramos uma nova sessão chamada “perspectivas profissionais em neuropsicologia”. O objetivo é poder discutir a respeito da prática do neuropsicólogo, mostrando a diversidade de atuações e o campo de atuação da área. Iniciamos nossa sessão com o relato do Alexandre Ferreira Campos, que é Psicólogo e atua na Secretaria da Educação do Estado de Mi- nas Gerais. Temos também na sessão de eventos, a notícia sobre o I Congresso Mineiro de Neuropsicologia, bem como informações para o próximo evento da área, o 8º Congresso Brasileiro de Cérebro Comportamento e Emoções, que terá sua edição realizada em São Paulo-SP no próximo mês. Desejamos a todos uma excelente leitura! Equipe Boletim da SBNp Editorial Nesta edição: BOLETIM SBNp Gestão 2011-2013 -Edição Abril - 2012 Dimensões da impulsivida- de: o bom, o mau e o feio no controle motor Relato de pesquisa I Projeções metonímicas em afásicos de Broca Relato de pesquisa II Funções Executivas e Transtornos Emocionais em Populações Clínicas Entrevista do mês Luís Augusto Paim Rohde Perspectivas profissionais em neuropsicologia Alexandre Ferreira Campos NEUROeventos Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

Editorial - SBNp

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Page 1: Editorial - SBNp

Prezados Associados da SBNp,

Nesta nova edição do Boletim de Abril, temos o texto do Prof. Guilherme Me-

nezes Lage, intitulado “Dimensões da impulsividade: o bom, o mau e o feio no

controle motor”, no qual discorre sobre um belíssimo trabalho sobre neuropsi-

cologia, impulsividade e controle motor, com resultados interessantes para a

literatura sobre funções executivas.

Na edição deste mês ainda temos a entrevista do Prof. Dr. Rohde relatando o

papel essencial da neuropsicologia no contexto clínico para diagnóstico e es-

tudo do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Na sessão de relatos, temos o relato de pesquisa I “Funções executivas em

crianças de 3 a 7 anos: “Jogo das Cartas Mágicas” doutoranda Emmy Ueha-

ra. Já o relato de pesquisa II “Funções Executivas e Transtornos Emocionais

em Populações Clínicas” é escrito pela Profa. Da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul Rosa Maria Martins de Almeida que aborda resultados sobre a

relação entre as funções executivas e pacientes com Parkinson.

Ainda nesta edição inauguramos uma nova sessão chamada “perspectivas

profissionais em neuropsicologia”. O objetivo é poder discutir a respeito da

prática do neuropsicólogo, mostrando a diversidade de atuações e o campo de

atuação da área. Iniciamos nossa sessão com o relato do Alexandre Ferreira

Campos, que é Psicólogo e atua na Secretaria da Educação do Estado de Mi-

nas Gerais.

Temos também na sessão de eventos, a notícia sobre o I Congresso Mineiro

de Neuropsicologia, bem como informações para o próximo evento da área, o

8º Congresso Brasileiro de Cérebro Comportamento e Emoções, que terá

sua edição realizada em São Paulo-SP no próximo mês.

Desejamos a todos uma excelente leitura!

Equipe Boletim da SBNp

Editorial

Nesta edição:

BOLETIM SBNp

Gestão 2011-2013 -Edição Abril - 2012

Dimensões da impulsivida-

de: o bom, o mau e o feio

no controle motor

Relato de pesquisa I

Projeções metonímicas em

afásicos de Broca

Relato de pesquisa II

Funções Executivas e

Transtornos Emocionais

em Populações Clínicas

Entrevista do mês

Luís Augusto Paim Rohde

Perspectivas profissionais

em neuropsicologia

Alexandre Ferreira Campos

NEUROeventos

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

Page 2: Editorial - SBNp

impulsividade. Em inúmeros contextos

observa-se uma alta demanda temporal

e/ou espacial sobre o controle motor,

exigindo assim diferentes níveis de

compromisso (trade-off) entre velocida-

de e acurácia. Alguns estudos têm sido

conduzidos nesse sentido. Lage et al.

(2012a) observaram que em uma tarefa

de deslocamento rápido da mão a um

alvo (tarefa de apontamento), a impulsi-

vidade motora (caracterizada por défi-

cits no controle inibitório) está mais

associada ao controle motor do que a

impulsividade por falta de planejamen-

to.

As associações encontradas entre a

impulsividade motora e o controle motor

em uma população não-clínica (Lage et

al., 2012a) podem ser em parte inferi-

das a partir de análises anátomo-

funcionais do cérebro. Áreas críticas

para o controle inibitório como o córtex

pré-frontal dorsolateral (CPFD) estão

interconectadas tanto no sentido funcio-

nal como anatômico com áreas associ-

adas ao controle motor, tais como o

córtex pré-motor e a área motora suple-

mentar (Tanji, 1994). Por outro lado, a

impulsividade por falta de planejamento

parece não estar diretamente associa-

da ao controle motor tanto no aspecto

A impulsividade pode ser entendida

como um fenótipo composto por do-

mínios relativamente independentes.

Por exemplo, Barrat e colegas

(Patton, Stanford e Barrat, 1995) pro-

põem a existência de três diferentes

dimensões da impulsividade: (1) a

impulsividade atencional caracteriza-

da pela emissão de comportamentos

inadequados, descontextualizados

devido a déficits na capacidade de

atenção sustentada, (2) a impulsivida-

de motora revelada pela emissão de

comportamentos de rompante, moti-

vados pelo “calor” do momento e (3) a

impulsividade por falta de planeja-

mento observada na tomada de deci-

são pautada nas recompensas mo-

mentâneas sem um julgamento ade-

quado das possíveis consequências

negativas a longo prazo.

A maioria dos estudos aborda a im-

pulsividade como algo negativo, dis-

funcional, independente do contexto

ou do domínio humano em que está

sendo analisada. Quando ações rápi-

das, automáticas, apresentam resulta-

dos positivos, as pessoas tendem a

classificá-las não como sinal de impul-

sividade, mas como um indicativo de

espontaneidade, rapidez, coragem ou

criatividade. Uma exceção observada

na literatura é o modelo de Dickman

(1990), o qual propõe a existência de

dois tipos de impulsividade. A impulsi-

vidade disfuncional está associada ao

conceito clássico de impulsividade.

Por outro lado, é também proposto o

conceito de impulsividade funcional, o

qual relaciona-se à tendência que o

sujeito tem para pensar, agir e falar

rapidamente sem perdas consistentes

na acurácia. Nesse modelo, assume-

se que diferenças individuais no traço

de personalidade impulsivo estão

associadas a diferentes níveis de

comprometimento entre acurácia e

velocidade de resposta.

O domínio motor parece ser um inte-

ressante campo para a avaliação das

possíveis propriedades adaptativas da

estrutural quanto funcional. No aspecto

funcional, por exemplo, parece que a

habilidade para postergar gratificação

não é uma variável de influência no de-

sempenho de tarefas de apontamento

rápido.

Mas o achado mais interessante é que a

demanda percepto-motora da tarefa pode

influenciar a emergência de aspectos

funcionais ou disfuncionais da impulsivi-

dade motora. Como esperado, sujeitos

mais impulsivos apresentaram pior de-

sempenho comparado a sujeitos menos

impulsivos em condições de execução

que demandavam inibição de resposta e

precisão espacial no acerto ao alvo. En-

tretanto, foi observado que em uma situa-

ção experimental específica, na qual os

sujeitos deveriam executar o movimento

sobre uma maior pressão de espaço e

tempo, os sujeitos mais impulsivos apre-

sentaram melhor desempenho. Em con-

dições onde a demanda espacial e tem-

poral é alta, é provável que o processa-

mento implícito/automático observado

nos sujeitos mais impulsivos seja mais

efetivo, ou seja, apresente uma caracte-

rística funcional, adaptativa. Por outro

lado, o planejamento controlado e refleti-

do de sujeitos menos impulsivos, que

envolve consciência e lentidão, pode ser

contraprodutivo (Lage et al., 2012a).

Esses achados devem ter um impacto

interessante em determinados esportes,

já que em determinadas situações a de-

manda espacial e temporal sobre a ação

do atleta é extremamente alta. Um pri-

meiro passo na investigação sobre o pa-

pel da impulsividade no desempenho

técnico de atletas foi dado em um estudo

exploratório (Lage et al., 2011). Nesse

estudo realizado com atletas de hande-

bol, foi correlacionado o desempenho

motor avaliado durante partidas de um

campeonato com os níveis de impulsivi-

dade atencional, motora e por falta de

planejamento avaliados através de testes

neuropsicológicos. A impulsividade aten-

cional e motora .

Dimensões da impulsividade: o bom, o mau e o feio no controle motor

Guilherme Menezes Lage

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Page 3: Editorial - SBNp

Referências

Dickman, S.J. (1990). Functional and

dysfunctional impulsivity: personality

and cognitive correlates. Journal of

Personality and Social Psychology,

58, 95-102.

Lage, G.M.; Gallo, L.G.; Junqueira, G.C.;

Lobo, I.B.B.; Vieira, M.G.; Salgado,

J.V.; Fuentes, D.; Malloy-Diniz, L.F.

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handball female athletes. Psychol-

ogy, 2, 721-726.

Lage, G.M.; Malloy-Diniz, L.F.; Moraes,

P.H.P.; Neves, F.S ; Corrêa, H.

(2012a). A kinematic analysis of the

association between impulsivity and

manual aiming control. Human

Movement Science.

Lage, G.M.; Malloy-Diniz, L.F.; Fialho,

J.V.A.; Gomes, C.M.; Albuquerque,

M.R.; Corrêa, H. (2012b). Correla-

ção entre as dimensões da impulsi-

vidade e o controle em uma tarefa

motora de timing. Brazilian Journal

of Motor Behavior, 6, 39-46.

Patton, J.H.; Stanford, M.S.; Barrat, E.S.

(1995). Factor structure of the Bar-

ratt impulsiveness scale. Journal of

Clinical Psychology, 51, 768-774.

Tanji, J. (1994). The supplementary motor

area in the cerebral cortex. Neuro-

science Research, 19, 251-268.

estiveram associadas a compor-

tamentos disfuncionais, enquan-

to a impulsividade por falta de

planejamento associada a com-

portamentos funcionais. Os re-

sultados divergentes que foram

encontrados entre um estudo

com tarefa motora de laborató-

rio (Lage et al., 2012a) e um

estudo com tarefas mais ecoló-

gicas (Lage et al., 2011) refor-

çam a noção de que a impulsivi-

dade funcional está associada à

demanda percepto-motora da

tarefa avaliada. No caso do han-

debol, o arremesso ao gol sob

forte marcação da defesa, por

exemplo, apresenta diferentes

demandas cognitivas quando

comparado ao deslocamento da

mão a um simples alvo. No pri-

meiro caso, aspectos como a

escolha pela recompensa imedi-

ata (ex. arremessar e tentar fa-

zer o gol) ou pela postergação

da gratificação (ex. passar a

bola a um companheiro melhor

posicionado, para que ele faça

o gol) são fatores que parecem

influenciar a qualidade da res-

posta, já esse tipo de tomada

de decisão não parece ter im-

pacto direto no caso da tarefa

de apontamento manual.

Parece que um fator-chave para

a emergência da impulsividade

funcional é a forte demanda por

tempo e espaço. Quando a tare-

fa motora não requer velocida-

de, mas sim a execução em um

tempo-alvo (tarefa de timing

coincidente) a impulsividade

funcional não emerge em ne-

nhuma das possíveis dimen-

sões (Lage et al., 2012b). Ao

menos no domínio motor, é pos-

sível que passemos a observar

a impulsividade não só sob a

perspectiva do mau e do feio,

mas também a do bom.

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Guilherme Menezes Lage

Bacharel em Educação Física (1999),

especialista em Treinamento Esportivo

(2001), mestre em Educação Física

(2005) e doutor em Neurociências pela

UFMG (2010). É professor Assistente III

da Universidade FUMEC. É pesquisa-

dor do: 1) Grupo de Estudos em Desen-

volvimento e Aprendizagem Motora

(GEDAM) da UFMG; 2) Grupo de Pes-

quisa em Ensino, Controle e Aprendiza-

gem na Performance Musical da UFMG

(ECAPMUS); (3) Laboratórios Integra-

dos de Neurospicologia (LINEU) (UFMG

Page 4: Editorial - SBNp

Na compreensão da patofisiologia do

transtorno, portanto, a Neuropsicologia

é uma ferramenta fundamental e acre-

dito que com a evolução de determina-

ções fenotípicas mais homogêneas

poderemos trabalhar com a Neuropsi-

cologia como uma ferramenta que atin-

ja, assim como a neuroimagem, um

status clínico importante. Isso na medi-

da em que ela possa sair dos estudos

que avaliam indivíduos afetados versus

controles com desenvolvimento típico e

possa auxiliar a definir fronteiras entre o

t ranstorno e as d iversas co -

morbidades. Nesse ponto, será impor-

tante associar elementos da Neuropsi-

cologia que nos indiquem qual o trata-

mento mais indicado e qual a probabili-

dade de resposta. A evolução do co-

nhecimento cada vez mais vai torná-la

próxima no sentido de nos ajudar a

entender a clínica do TDAH, sendo uma

ferramenta de diagnóstico e de determi-

nação de qual conduta clínica a ser

tomada. Então, nesse momento, a Neu-

ropsicologia é importante no entendi-

mento da fisiopatologia. Em relação à

Psiquiatria do Desenvolvimento, nós

estivemos trabalhando com diversas

baterias neuropsicológicas a fim de

compreender melhor quais fatores do

processamento neuropsicológico colo-

cam o indivíduo em risco para que um

transtorno mental progrida até o trans-

torno mental completo. Então nós esta-

mos preocupados com marcadores

genéticos, marcadores neuropsicológi-

cos e marcadores de neuroimagem

para entender as trajetórias dos trans-

Atualmente, qual é o seu contato

com a Neuropsicologia?

O meu contato com a Neuropsicologia

se dá em dois campos. Em primeiro

lugar, no campo de pesquisa. As mi-

nhas áreas principais de pesquisa

hoje se relacionam com o Transtorno

de Déficit de Atenção e Hiperatividade

(TDAH), que é o meu foco principal há

mais de 15 anos. Em segundo lugar,

tenho trabalhado, nos últimos cinco

anos, com a perspectiva da Psiquiatri-

a do Desenvolvimento com a criação,

através do suporte do CNPq e da

FAPESP, do Instituto Nacional de

Psiquiatria do Desenvolvimento, onde

atuo como vice-líder com o Prof. Eurí-

pedes Miguel Filho. Também tenho

trabalho em função das minhas cone-

xões com os sistemas classificatórios

internacionais, principalmente o DSM-

V, nas questões de diagnóstico psi-

quiátrico com enfoque maior na infân-

cia e na adolescência. Em qualquer

dessas áreas, a Neuropsicologia tem

um papel essencial. No caso do

TDAH, embora os testes neuropsico-

lógicos não tenham um valor preditivo

positivo e negativo suficiente a ponto

de serem incorporados como ferra-

mentas diagnósticas, eles são de ex-

trema importância para que possamos

compreender os processos fisiopato-

lógicos que estão determinando o

TDAH. Hoje sabemos, por exemplo,

que os aspectos genéticos têm uma

relevância muito grande na etiologia

do TDAH, só que devido à heteroge-

neidade clínica do transtorno, é muito

difícil encontrar associações, então

buscamos endofenótipos intermediá-

rios e, nesta definição, as avaliações

neuropsicológicas são fundamentais.

Por exemplo, sabemos que uma ca-

racterística clara de crianças, adoles-

centes e adultos com TDAH é uma

variabilidade no tempo de reação (TR)

em diversos testes neuropsicológicos.

As pesquisas genéticas correlacio-

nando essas variações de TR são

muito mais promissoras que quando

se analisa fenótipos como um todo.

tornos mentais na infância e adolescên-

cia. No âmbito do diagnóstico psiquiátri-

co, vale a mesma coisa que para o

TDAH, ou seja, a Neuropsicologia cola-

bora no sentido de ser uma ferramenta

diagnóstica auxiliar, aumentando sua

validade preditiva negativa e positiva

para que vários transtornos façam parte

dos sistemas classificatórios. No âmbito

do atendimento clínico, utilizo a Neurop-

sicologia em todas as minhas avalia-

ções, pois faz parte da avaliação padrão

a solicitação de uma avaliação para um

neuropsicólogo, seja para ter uma infor-

mação do desenvolvimento cognitivo

através do WISC e do WAIS ou outros

testes neuropsicológicos, seja para ter

uma ideia do desenvolvimento cognitivo,

que é fundamental quando se faz um

fechamento do caso e para poder enten-

der quais são as dificuldades e potenciali-

dades daquele indivíduo e fazer um pla-

nejamento. É claro que, dependendo da

patologia em questão, os testes nos auxi-

liam também na compreensão e podem

nos dar ainda uma informação que auxilia

no entendimento completo do indivíduo

que tem a doença.

Quais são as mudanças previstas para

os critérios diagnósticos do TDAH no

DSM-V?

O DSM-V será publicado em maio de

2013. Avanços em termos de pesquisas

de neuroimagem, genéticas e neuropsi-

cológicas em todos os transtornos, com

exceção da Doença de Alzheimer, não

estão ainda suficientemente maduras

para serem incorporadas como parte do

sistema classificatório. Então vamos ter

um DSM-V com melhoras em relação a

aspectos inadequados da descrição feno-

típica dos transtornos mentais, mas que

ainda vai estar longe de aproximar o di-

agnóstico em Psiquiatria e aspectos fisio-

patológicos. Precisamos avançar muito

na pesquisa para poder incorporar mar-

cadores biológicos advindos da neuroi-

magem, neuropsicologia e genética no

diagnóstico psiquiátrico.

Luís Augusto Paim Rohde Por: Juliana Sbicigo

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Page 5: Editorial - SBNp

permitam colocar uma ferramenta que é

inequívoca na eficácia. Posso dizer que

o treinamento atencional e de memória

de trabalho é uma área que nós temos

nos interessado em trabalhar na pes-

quisa, pois achamos que pode ter um

espaço como ferramentas de tratamen-

to. Contudo, ainda precisam de evidên-

cias científicas para que possamos

determinar seu lugar no tratamento do

TDAH.

Em sua equipe, quais especialidades

estão envolvidas no estudo do

TDAH?

Nossa equipe conta com psiquiatras,

alunos do mestrado e doutorado em

Psiquiatria, Neuropsicologia e Psicolo-

gia da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS), geneticistas,

alunos do Departamento de Genética e

Biologia Molecular da UFRGS, profis-

sionais que trabalham com neuroima-

gem, pedagogos, psicoterapeutas cog-

nitivo-comportamentais, profissionais

mais voltados a elementos educacio-

nais e auxiliares de pesquisa. Então é

uma equipe interdisciplinar estudando o

TDAH. O diálogo entre eles ocorre a

partir de pontos de aproximação no

estudo do transtorno.

Quais são os desafios para quem

pretende trabalhar com o TDAH?

O primeiro conselho é se aproximar de

grupos produtivos na área de TDAH no

país. Existem vários grupos produtivos

bem estabelecidos como o grupo do

Prof. Paulo Mattos, no Rio de Janeiro, o

grupo do professor Guilherme Po-

lanczyk, na Universidade de São Paulo,

e o nosso grupo, na UFRGS, dentre

outros grupos que são produtivos. O

primeiro passo é se apropriar do que

está sendo discutido a respeito do as-

sunto. Áreas de desafio ou áreas novas

em termos de TDAH consistem na ava-

liação de determinantes genéticas que

chamamos de “variantes raras” do

TDAH. Essa é uma área promissora, na

qual se busca associações entre altera-

ções de neuroimagem, genéticas e

neuropsicológicas, como dito antes,

para que possamos entender a fisiopa-

tologia do transtorno. Estamos em um

momento de renovação dos critérios

No DSM-V haverá melhoras no caso

do TDAH, pois há uma proposta de

adequação dos critérios para idade

adulta e de revisão do critério de ida-

de de início dos sintomas antes dos

sete anos buscando expandir até 12

anos. Isso porque a pesquisa mostra

que não há justificativa para determi-

nar a presença de sintomas causan-

do prejuízos antes dos sete anos.

Além disso, haverá eliminação do

critério de exclusão da possibilidade

do diagnóstico na presença de qua-

dros de Transtorno Global do Desen-

volvimento. Então haverá uma série

de melhoras quanto ao ajuste dos

critérios fenotípicos baseados nas

evidências disponíveis atualmente.

Como se configura o tratamento

do TDAH? Há alguma proposta de

intervenção direcionada às habili-

dades cognitivas?

O tratamento do TDAH deve ser indi-

vidualizado, dependerá do estágio do

desenvolvimento em que o indivíduo

está para que se possa ter uma idéia

baseada em evidências sobre qual é

a intervenção mais adequada. Para

uma criança em idade escolar, antes

dos seis anos, provavelmente a pri-

meira indicação é o treinamento de

pais, uma técnica comportamental de

treino parental. No caso de uma cri-

ança em idade escolar, dependendo

das co-morbidades, a primeira indica-

ção pode ser o uso de medicação ou

pode ser uma indicação de tratamen-

to combinado. Um adulto pode ter

uma indicação de tratamento psicote-

rápico cognitivo-comportamental, já

que existem ensaios clínicos rando-

mizados demonstrando a eficácia da

combinação de terapia junto à medi-

cação. Quanto a intervenções especi-

ficamente neuropsicológicas, o que

temos de mais recente é o treinamen-

to atencional. Existem programas

como o Cognitive Plus, alguns pro-

gramas de treinamento cognitivo que

visam a trabalhar aspectos atencio-

nais e aspectos de memória de traba-

lho para ajudar no TDAH. As pesqui-

sas iniciais com essas técnicas tem

sido promissoras, mais ainda não

temos uma quantidade de estudos

randomizados controlados que nos

diagnósticos da Associação Americana

e da Organização Mundial da Saúde,

então determinações fenotípicas, por

exemplo, do diagnóstico em adultos é

uma área bastante promissora, já que

o diagnóstico foi sempre estabelecido

com base na discussão dos achados

fenotípicos em crianças e adolescen-

tes. Então precisamos evoluir para

verificar como são essas manifesta-

ções, se elas se modificam em adul-

tos. Então penso que a área mais de-

safiadora é a do diagnóstico fenotípico

na idade adulta.

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Prof. Dr. Luís Augusto Paim Rohde

Professor Associado de Psiquiatria da

Infância e da Adolescência do Depar-

tamento de Psiquiatria da Universida-

de Federal do Rio Grande do Sul e

diretor do Programa de Déficit de

Atenção/Hiperatividade no Hospital

de Clínicas de Porto Alegre

Page 6: Editorial - SBNp

Os seres humanos são capazes de lidar

com novas situações e se adaptar às

mudanças de forma rápida e flexível. As

habilidades cognitivas que permitem ao

indivíduo controlar e regular seus pensa-

mentos e comportamentos são denomi-

nadas funções executivas – FE (Zelazo,

Muller, Frye e Marcovitch, 2003). As FE

englobam um conjunto altamente com-

plexo de habilidades inter-relacionadas

tais como flexibilidade cognitiva, controle

inibitório e memória de trabalho(Garon,

Bryson e Smith, 2008).

A flexibilidade cognitiva diz respeito à

capacidade de alternar o curso das a-

ções ou dos pensamentos de acordo

com as exigências do ambiente

(Diamond, 2006). É considerada um dos

principais componentes de controle cog-

nitivo juntamente com a capacidade de

atualização da memória de trabalho

(manipulação e utilização de informa-

ções retidas na mente) e inibição

(supressão de estímulos irrelevantes ou

respostas inapropriadas)(Huizinga, Do-

lan e van der Molen, 2007).

Uma série de paradigmas foi desenvolvi-

do para investigar a flexibilidade cogniti-

va em crianças e adultos, onde a medida

mais conhecida é o Teste Wisconsin de

Classificação de Cartas – WCST (Grant

e Berg, 1948). Já em pré-escolares, a

flexibilidade tem sido investigada usando

tarefas parecidas com o WCST, em que

as crianças devem ordenar os cartões

(Frye, Zelazo e Palfai, 1995; Zelazo,

Müller, Frye e Marcovitch, 2003) ou es-

colher os itens com base em várias ca-

racterísticas perceptivas, normalmente

cor e forma(Chevalier e Blaye, 2008;

Deak, 2000). A tarefa mais difundida em

pré-escolares é o Dimensional Change-

CardSort (DCCS), infelizmente, ainda sem

tradução para o português(Frye et al,

1995).

Portanto, com base nessa última tarefa,

nosso objetivo foi desenvolver um teste

computadorizado para avaliar habilidades

executivas em crianças de 3 a 7 anos

intitulado "Jogo das Cartas Mágicas

(JCM)". O teste é uma versão adaptada e

computadorizada do DCCS tendo como a

temática: o circo. Ele é dividido em seis

partes: dados de identificação da criança,

treinamento da tarefa, três fases do jogo,

resultado geral, feedback da criança e

feedback do comportamento da mesma

enviado pelo avaliador e dados brutos tais

como tempo de duração e de reação.

O Jogo das Cartas Mágicas pode ser exe-

cutado em qualquer navegador e sistema

operacional com os programas Adobe

Flash Player 9 e Adobe AIR 2.3 instala-

dos. Os dados de input podem ser inseri-

dos por mouse ou teclado, dependendo

da faixa etária ou acurácia que o exami-

nador necessitar. Com o layout dinâmico

e colorido, o JCM oferece elementos atra-

tivos para crianças nessa faixa etária, o

que auxilia na motivação e no interesse

na tarefa. Ao mesmo tempo, o teste em

formato de jogo, mantém as medidas de

confiabilidade e validade psicométricas do

presente instrumento.

Referências

Chevalier, N., &Blaye, A. (2008).Cognitive flexi-

bility in preschoolers: The role of repre-

sentation activation and maintenance.

DevelopmentalScience, 11, 339–353.

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Huizinga, M., Dolan, C. V.,&Van DerMolen, M.

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latent variable analysis. Neuropsycholo-

gia, 44, 2017-2036.

Zelazo P.D., Muller, U. Frye, D., &Marcovitch,

S. (2003). The development of executive

function in early childhood. Monographs

of the Society for Research on Child

Development, 68 (3, Serial No. 274).

Funções executivas em crianças de 3 a 7 anos: “Jogo das Cartas Mágicas” Emmy Uehara

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2012

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

Emmy Uehara

Psicóloga formada pela UFRJ. Doutoranda e

Mestre em Psicologia Clínica e Neurociências

pela PUC-Rio.

Figuras: 1) Tela inicial com as instruções do jogo; 2) início do jogo e 3) tela do jogo

Page 7: Editorial - SBNp

al., 2008). Estes pacientes, apesar

de apresentarem a maior parte das

funções cognitivas preservadas, não

são capazes de desempenhar ativi-

dades que envolvam iniciativa ou

planejamento, resultando em auto-

cuidado insatisfatório, dificuldades

em realizar um trabalho de forma

independente e de sustentar relacio-

namentos sociais. Na pesquisa da

Mestranda Greici Rössler Macuglia

foram avaliadas FE e alterações de

humor em Pacientes com doença de

Parkinson. Para a avaliação das FE

foi feita primeiramente a adaptação e

validação do instrumento Behavioural

Assessment of Dysexecutive Syndro-

me (BADS), que apresentou validade

de conteúdo aceitável (> 0,80) para

todos os subtestes e questionário

disexecutivo (DEX). No estudo empí-

rico, foi comparado o desempenho

nas FE e alterações do humor em

um grupo de pacientes com doença

de Parkinson (n= 40) e num grupo

controle (n= 30). Os resultados evi-

denciaram um percentual elevado de

indivíduos com ansiedade e depres-

são. 72,5% de pacientes apresenta-

ram disfunção executiva (DE), os

quais tiveram também uma associa-

ção significativa com o sexo e esco-

laridade, mas não com o comprome-

timento motor e o estágio da doença.

O estudo concluiu que DE e as alte-

rações de humor estão presentes

desde os primeiros estágios da doen-

ça de Parkinson, independentemente

do comprometimento motor e estágio

da doença, com pacientes do sexo

feminino e com baixa escolaridade

sendo os mais afetados.

O Laboratório de Psicologia Ex-

perimental, Neurociências e Com-

portamento (LPNeC- https://

sites.google.com/site/lpneclab/) e

mais, recentemente, o Núcleo de

Pesquisas em Neurociência Clíni-

ca – NUPENC da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS) coordenado por mim,

Profa. Dra Rosa Maria Martins de

Almeida, têm investigado Funções

Executivas (FE) em diversas popu-

lações clínicas e não clínicas. As

FE são atividades complexas que

resultam diretamente da atividade

desempenhada pelas áreas pré-

frontais do cérebro (Barkley, 2001;

Goldberg, 2002), constituindo habi-

lidades que permitem a um indiví-

duo direcionar seu funcionamento

cognitivo, comportamental e emo-

cional a metas (Rzezak, 2009). O

conjunto de prejuízos das FE é

denominado “síndrome disexecuti-

va” (Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes,

& Leite, 2008; Zinn, Bosworth, Ho-

ening, & Swartzwelder, 2007). Esta

síndrome pode estar presente em

diversos quadros psicopatológicos

e neurológicos (Verfaellie & Heil-

man, 2006). Pacientes com um

quadro de síndrome disexecutiva

podem apresentar dificuldades na

tomada de decisão, impulsividade,

desatenção, insens ib i l idade,

traçam metas irrealistas, não avali-

am as consequências de seus atos

e procuram solucionar seus pro-

blemas através de tentativa e erro.

Alterações de humor como apatia,

euforia, sintomas depressivos e

afeto descontextualizado também

podem ser comuns (Malloy-Diniz et

Referências:

Barkley, R. (2001). The executive functions and self-regulation: an evolutionary neuropsychologi-cal perspective. Neuropsychol-ogy Review, 11(1), 1-29.

Goldberg, E. (2002). O cérebro exe-cutivo: lobos frontais e a mente civilizada. Rio de Janeiro: Imago.

Malloy-Diniz, L. F., Sedo, M., Fuen-tes, D., & Leite, W. B. (2008). Neuropsicologia das funções executivas. In D. Fuentes, L. F. Malloy-Diniz, C. H. P. Camargo, & R. M. Cosenza (Eds.). Neuropsi-cologia: teoria e prática (pp. 187-206). Porto Alegre: Artmed.

Rzezak, P. (2009). Avaliação das fun-ções executivas e mnésticas de crianças e adolescentes com epi-lepsia do lobo temporal. Tese de doutorado, Programa de Pós-Graduação em Medicina, Universi-dade de São Paulo, São Paulo.

Verfaellie, M., & Heilman, K.M. (2006).

Neglect syndromes. In P.J.

Snyder, P.D. Nussbaum, & D.L.

Robins (Eds.). Clinical

Neuropsychology (pp. 489-507).

Washington: APA.

Zinn, S., Bosworth, H. B., Hoening, H.

M., & Swartzwelder, S. (2007).

Executive function deficits in acute

stroke. Archives of Physical Medi-

cine and Rehabilitation, 88, 173-

180.

Funções Executivas e Transtornos Emocionais em Populações Clínicas

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2012

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

Rosa Maria Martins de Almeida

Professora da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul (UFRGS). Atua principalmente, nos temas

comportamento, agressividade, impulsividade e

ansiedade; atenção e memória; e uso de drogas.

Page 8: Editorial - SBNp

Seguindo o compromisso da

SBNp de discutir o campo da

atuação da neuropsicologia

tanto teoricamente quanto na

prática profissional, estreamos

hoje uma nova coluna

“perspectivas profissionais em

neuropsicologia”, que tem por

objetivo trazer profissionais do

campo da neuropsicologia que

atuam em diversas práticas

tanto consagradas quanto ino-

vadoras. Iniciamos nossa ses-

são entrevistando Alexandre

Ferreira Campos, que é Psicó-

logo e atua na Secretaria da

Educação do Estado de Minas

Gerais.

Alexandre, tendo em vista seu

papel dentro da educação, qual

sua atuação nessa interface neu-

ropsicologia x educação?

A minha atuação em Neuropsicolo-

gia concentra-se basicamente no

desenvolvimento infantil. Traba-

lho na área educacional e coor-

deno, desde 2006, juntamente

com o Dr. Leandro Fernandes

Malloy-Diniz (UFMG), o serviço

de Neuropsicologia do Ambula-

tório da Criança de Risco do

Hospital das Clínicas da Univer-

sidade Federal de Minas Gerais

(ACRIAR/UFMG), que acompa-

nha, longitudinalmente, crianças

nascidas prematuras e com

baixo peso.

Qual sua formação e seu percur-

so dentro da neuropsicologia?

Formei-me em Psicologia pela

Universidade FUMEC (2005) e,

durante a graduação, sempre tive

interesse em desenvolvimento

infantil. Ainda na graduação fui

monitor do Núcleo de Intervenções

Clínicas e bolsista de iniciação

científica em uma pesquisa na área

da Neuropsicologia. Depois de

formado, tive a oportunidade de me

vincular a uma conceituada clínica

de avaliação neuropsicológica em

Belo Horizonte/MG. A experiência

e contatos estabelecidos nessa

clínica abriram as portas para o

serviço de Neuropsicologia do

ACRIAR/UFMG e para atuar como

psicólogo na área educacional.

Ao mesmo tempo em que procura-

va me estabelecer profissionalmen-

te, fui dando continuidade à minha

formação. Cursei um Mestrado

(2007-2009) em Ciências da Saúde

– área de concentração em Saúde

da Criança e do Adolescente – pela

Faculdade de Medicina da UFMG e,

atualmente, estou no último ano do

Doutorado em Psicologia do Desen-

volvimento (UFMG). Tanto no mes-

trado, quanto no doutorado, meu

interesse foi avaliar o possível im-

pacto da prematuridade sobre o

desenvolvimento cognitivo, neurop-

sicológico e acadêmico das crian-

ças.

Atualmente qual é sua linha de

pesquisa?

Como já comentei, minha linha de

pesquisa principal é o desenvolvi-

mento cognitivo de crianças de

risco ao nascimento. O alto índice

de prematuridade constatado nos

últimos anos identifica uma popula-

ção de recém-nascidos com condi-

ções desfavoráveis de saúde. Por

isso, no Mestrado enfatizei os as-

pectos neurológico e neuropsicoló-

gico das crianças nascidas prema-

turas e no Doutorado estou avalian-

do, por meio de um estudo longitu-

dinal, o processo de aquisição das

habilidades de leitura e escrita nes-

sa população. Minha questão norte-

adora é entender quais aspectos

específicos dificultam a aprendiza-

gem dos prematuros, mesmo quan-

do estes apresentam desenvolvi-

mento típico para a idade e tiveram

a oportunidade de serem acompa-

nhados por um programa de follow-

up desde a alta neonatal. Além do

ACRIAR/UFMG e da Secretaria da

Educação do Estado de Minas Ge-

rais, também estou vinculado ao

Laboratório de Investigações Neu-

ropsicológicas (LIN), coordenado

pelo Prof. Leandro Fernandes Mal-

loy-Diniz, e ao Laboratório de De-

senvolvimento Cognitivo e Lingua-

gem, conduzido pela Profa. Cláudia

Cardoso-Martins.

Como você percebe a neuropsico-

logia brasileira hoje e suas pers-

pectivas dentro do contexto esco-

lar?

Percebo a Neuropsicologia em fran-

ca expansão no Brasil. A cada dia

aumenta o número de pessoas inte-

ressadas e o volume de pesquisas

acadêmicas envolvendo a Neuropsi-

cologia. Além disso, há nomes e

grupos importantes se consolidando

na área. Em relação ao contexto

escolar a situação é bem diferente.

Há tempos a Psicologia estabelece

um importante diálogo com a educa-

ção. Essa relação vem sendo re-

forçada pelos conhecimentos atu-

ais trazidos pela Neurociência, no

entanto, a presença do psicólogo

no contexto escolar ainda é pouco

frequente. Na verdade, as Escolas

públicas de educação regular de

Minas Gerais ainda não contam

com psicólogos no seu quadro de

funcionários. Meu caso, portanto, é

bastante atípico! Apesar de nortear

minha atuação pela Neuropsicolo-

gia, enquanto Psicólogo, atuando

dentro de uma instituição escolar,

tenho que estar pronto para atender

distintas demandas (dificuldades de

aprendizagem e comportamentais;

indisciplina; orientação aos alunos,

familiares e professores; inclusão;

encaminhamentos; relatórios; reuni-

ões pedagógicas; busca de parceri-

as com outros profissionais da edu-

cação e saúde etc.).

Existem muitas pesquisas envolven-

do Neuropsicologia e Educação,

mas acredito que uma participação

regular da Neuropsicologia direta-

mente dentro no contexto escolar

poderia contribuir para a transforma-

ção do cenário que encontramos

nas escolas.

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2012

Perspectivas profissionais em neuropsicologia

Alexandre Ferreira Campos

Por: Cristina Yumi N. Sediyama

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

Alexandre Ferreira

Campos é Psicólogo da

Secretaria da Educação

do Estado de Minas

Gerais e doutorando em

P s i c o l o g i a d o

Desenvolvimento pela

Faculdade de Filosofia e

Ciências Humanas da

Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG).

Continua

Page 9: Editorial - SBNp

Como você concilia sua á-

rea de formação com a prá-

tica clínica e acadêmica em

neuropsicologia?

Considero que meu trabalho

como um todo (pesquisa-

clínica-educação) esteja bem

entrelaçado. Tenho grande

preocupação que minhas pes-

quisas tenham relevância so-

cial e que tragam implicação

direta para minha área de atu-

ação. A melhor forma de auxi-

liar no desenvolvimento da

criança, as variáveis interveni-

entes no processo de aprendi-

zagem, as intervenções psico-

pedagógicas mais adequadas,

como orientar a família quanto

ao processo de aprendiza-

gem, dentre outras, são ques-

tões que me interessam.

O que você considera ser o

diferencial de sua área de

formação para a sua prática

clínica?

A ênfase na Neuropsicologia

infantil é o diferencial na mi-

nha formação, principalmente

considerando minha tentativa

de direcionar esse conheci-

mento para dentro do contex-

to escolar. A possibilidade de

identificar precocemente difi-

culdades nos alunos pode

favorecer medidas pedagógi-

cas mais aptas a potencializar

a s o p o r t u n i d a d e s

de aprendizagem durante os

primeiros anos escolares. Em

relação ao ACRIAR/UFMG a

resposta é similar. Apesar do

enfoque preventivo do ACRI-

AR/UFMG e das inúmeras

evidências de problemas cog-

nitivos associados às crianças

nascidas prematuras, o ambu-

latório ainda não contava com

o trabalho de um Neuropsicólo-

go na equipe multidisciplinar.

Qual a sua opinião sobre a

neuropsicologia no contexto

multidisciplinar e a utilização

de testes neuropsicológicos

por esses profissionais?

Vejo o caráter multidisciplinar

da Neuropsicologia como algo

positivo. Profissionais de áreas

distintas falando a “mesma lín-

gua” podem ajudar muito na

compreensão de determinado

fenômeno. Concordo com o

fato de que um profissional ca-

pacitado poderia aplicar, corri-

gir e interpretar um teste sem

maiores dificuldades. Entretan-

to, considero importante que as

particularidades de cada profis-

são sejam respeitadas. A op-

ção por uma “formação” em

Neuropsicologia deveria “tocar”

cada profissional naquilo que é

específico de sua área de atua-

ção. Ser psicólogo direciona

meu foco para determinados

processos, eleitos em virtude

de minha formação. Um Fono-

audiólogo, por exemplo, elege-

ria outros processos. Apesar de

formações distintas, a “opção”

por Neuropsicologia estaria

como pano de fundo para o

entendimento desses pro-

cessos. É isso que torna a

multidisciplinaridade pro-

posta pela Neuropsicologia

algo diferenciado. Portanto,

como a atuação em Neu-

ropsicologia extrapola o uso

de testes, não vejo muito

problema nessa questão.

Qual conselho você daria

para alguém que está ini-

ciando na neuropsicologi-

a?

Se existisse uma fórmula

mágica, creio que seria:

teoria, prática, supervisão e

atualização. Para mim, es-

tudar profundamente o de-

senvolvimento humano típi-

co e os processos patológi-

cos é o início de tudo. Aliar

o conhecimento teórico às

atividades clínicas, ao con-

tato direto com as pessoas,

procurando perceber sem-

pre as especificidades de

cada caso é outro ponto de

investimento essencial. A-

lém disso, a possibilidade

de participar de um grupo

de discussão e/ou supervi-

são também traz um grande

diferencial para o profissio-

nal. Trocas com profissio-

nais de diferentes áreas de

formação e contato direto

com profissionais mais ex-

perientes fazem toda a dife-

rença. Claro que tudo isso

apoiado à atualização conti-

nuada...

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Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

“Se existisse uma fór-

mula mágica, creio

que seria: teoria, práti-

ca, supervisão e atua-

lização.”

Page 10: Editorial - SBNp

A neuropsicologia tem ganhado

força em todo o Brasil e não poderia

ser diferente em Minas Gerais. Para

tanto, o I Congresso Mineiro de Neu-

ropsicologia – III Carl Wernicke, que

ocorreu no Colégio Salesiano nos

dias 29, 30 e 31 deste ano, serviu

como mais um marco da importância

e do crescimento do trabalho realiza-

do nesta área no estado. O Congres-

so foi organizado pelo Laboratório de

Neuropsicologia do Desenvolvimento

e pelo Laboratório de Investigações

Neuropsicológicas, coordenados,

respectivamente, pelo Prof. Dr. Vitor

Haase e pelo Prof. Dr. Leandro Mal-

loy-Diniz, ambos da Universidade

Federal de Minas Gerais.

O Congresso contou com cerca de

400 participantes, sendo quase um

terço deste público formado por parti-

cipantes advindos, dentre outros, de

São Paulo, Rio de Janeiro, Pernam-

buco, Rio Grande do Sul e Paraná,

mostrando a difusão e o interesse na

Neuropsicologia em todo o Brasil e a

oportunidade de interação e parceri-

as entre os laboratórios destas regiões.

Os participantes ainda participaram em

massa no envio de trabalhos. No total,

94 pôsteres foram apresentados.

Demarcado por uma variedade de te-

mas e por um público amplo de diferen-

tes áreas acadêmicas, o Congresso

contou com a interdisciplinaridade tão

característica da Neuropsicologia. O

Congresso foi precedido por oficinas

que abordaram o tema de Avaliação

Neuropsicológica na Infância, Avaliação

Neuropsicológica em Idosos e Treina-

mento de Pais. Além disso, ao longo

dos três dias, foram abordados os te-

mas de Avaliação Neuropsicológica,

Linguagem, Intervenções e Interfaces

da Neuropsicologia com a Psiquiatria e

com a Educação, com palestras que

conseguiram se aprofundar na teoria e

na prática dos temas abordados.

Dentre as palestras, destaca-se a Con-

ferência Magna, ministrada ao final do

primeiro dia do Congresso pelo Deputa-

do Eduardo Barbosa e pelo Prof. Dr.

Paulo Eduardo Luiz de Mattos. O Dep.

Eduardo Barbosa versou sobre a impor-

tância de se utilizar o conhecimento e

os avanços científicos, e não apenas

posições filosóficas, para o desenvolvi-

mento de Políticas Públicas nas áreas

da Educação e da Saúde. Já o Prof. Dr.

Paulo Mattos discursou sobre a avalia-

ção neuropsicológica na prática clínica,

seus potenciais e seus limites.

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2012

8º Congresso Brasileiro de Cérebro Compor-

tamento e Emoções

O Congresso Brasileiro de Cérebro Comportamento e

emoções chega em sua oitava edição! Nesse ano, o

evento ao invés de ser sediado em Gramado—RS,

ocorrerá no próximo mês, dos dias 02 a 05 de maio,

no Centro de Convenções frei Caneca—São Paulo-SP! Vale a

pena conferir!!!

Para mais informações:

http://www.cbcce.com.br/

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

Notícia: I Congresso Mineiro de Neuropsicologia

Isabela Sallum Guimarães

Abertura do I Congresso Mineiro de Neuropsicologia

Page 11: Editorial - SBNp

Vitor Geraldi Haase (MG-UFMG)

Conselho Fiscal:

Carina Chaubet D’Alcante (SP-USP)

Gabriel C. Coutinho (RJ– Instituto D`OR)

Neander Abreu (BA-UFBA)

Representações Regionais:

Alagoas: Katiúscia Karine Martins da Silva

Bahia: Tuti Cabuçu

Ceará: Silviane Pinheiro de Andrade

Centro Oeste: Leonardo Caixeta

Minas Gerais: Jonas Jardim de Paula

Paraná: Amer Cavalheiro Handan

Pernambuco: Lara Sá Leitão

Rio de Janeiro: Flávia Miele

Rio Grande do Norte: Katie Almondes

Rio Grande do Sul: Rochele Paz Fonse-ca

Presidente:

Leandro Fernandes Malloy-Diniz (MG-UFMG)

Vice-Presidente:

Lúcia Iracema Zanotto Mendonça (SP-PUC-SP;USP)

Secretário:

Thiago S. Rivero (SP-UNIFESP)

Tesoureira:

Deborah Azambuja (SP)

Secretária Geral:

Camila Santos Batista (SP)

Tesoureira Geral:

Eliane Fazion dos Santos (SP)

Conselho Deliberativo:

Daniel Fuentes (SP-USP)

Jerusa Fumagalli de Salles (RS-UFRGS)

Paulo Mattos (RJ-UFRJ)

Santa Catarina: Rachel Schlindwein-Zanini.

São Paulo: Juliana Góis

Equipe do Boletim SBNp:

Coordenadora:

Cristina Yumi N. Sediyama (MG—Coordenadora)

Alexandre Nobre (RS)

Carina Chaubet D’Alcante (SP)

Gabriel Coutinho (RH)

Giuliano Ginani (York-UK)

Jessica Fernanda (RO)

Jonas Jardim de Paula (MG)

Juliana Burges Sbicigo (RS)

Maicon Albuquerque (MG)

Marcus Vinicius Costa Alves (SP)

Ricardo Franco de Lima (SP)

Sabrina Magalhães (PR)

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOLOGIA (SBNp)

GESTÃO 2011-2013

TORNE-SE SÓCIO DA SBNp!

Para você que quer se tornar sócio da SBNp,

confira algumas das vantagens:

Desconto no Congresso Brasileiro de Neuroposicologia

Acesso ao conteúdo em áudio e vídeo do XI Congresso Bra-

sileiro de Neuropsicologia

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Para maiores informações, consulte:

www.sbnp.com.br

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Tel: 0xx(11) 3031-8294

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