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Editorial - FUNCEB · Forte do Presépio, ao longo da sua história, teve diversos nomes: Forte do Presépio de Belém, Forte do Senhor Santo Cristo, Forte do Castelo do Se-nhor Santo

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PAULO ROBERTO RODRIGUES TEIXEIRA

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OForte do Presépio, ao longo da sua história, teve

diversos nomes: Forte do Presépio de Belém, Forte

do Senhor Santo Cristo, Forte do Castelo do Se-

nhor Santo Cristo e Forte do Castelo. Atualmente

é conhecido pelo nome original, escolhido pelos

portugueses, no ano de 1616.

A maior ameaça que tiveram os nossos co-

lonizadores, nessa época, foram os índios tupi-

nambás. No início, havia um convívio amigável

entre eles, especialmente por terem ajudado na

construção do forte. Entretanto, com o decorrer

do tempo, as atitudes dos colonos mudaram e

passaram a abusar das mulheres e escravizar os

homens, despertando um ódio contra o invasor

português, que culminou com uma sangrenta

batalha que durou 12 horas, com muitas perdas

para ambos os lados.

Quanto aos invasores estrangeiros que son-

davam a região nada ocorreu e nenhum com-

bate travou-se.

Somente no século XIX irrompeu a revol-

ta chamada Cabanada. Tratava-se de um movi-

mento civil contra a elite portuguesa. O forte ser-

viu de aquartelamento para os revoltosos (1835-

1840). Durante a troca de tiros com a armada do

inglês John Taylor, contratado pela regência para

dar fim à insurreição, a estrutura do forte ficou

abalada, necessitando realizar restaurações, entre

outras já ocorridas.

Mais tarde foi usado como hospital militar,

arsenal de guerra, círculo militar e, atualmente, é

um dos pontos mais importantes do polo turís-

tico da cidade de Belém, atraindo diariamente

um grande número de visitantes.

O ForteEstá localizado na Ponta de Maúri, na con-

fluência do Rio Guaianá com a Baía de Guajará,

dominando a entrada do porto e o canal de na-

vegação que costeia a Ilha das Onças, em Belém,

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no Estado do Pará. Debruçado sobre o

rio, tinha o domínio de fogos sobre qual-

quer embarcação que estivesse ao al-

cance de seus canhões, utilizando o aces-

so pela Baía de Guajará.

Uma fossa profunda em quase to-

da a extensão do forte proporcionava

proteção contra os indígenas ou qual-

quer ameaça de força militar externa.

Uma ponte de madeira conduzia

à porta de entrada, onde localizavam-

se o aquartelamento, o corpo da guar-

da e a casa do comandante. Hoje são

ocupados pelo museu e administração

do forte.

De forma irregular, as suas mura-

lhas eram compactas e ofereciam boa

segurança contra os impactos dos tiros

e também contra os índios.

As peças de artilharia posiciona-

vam-se nas plataformas à frente e na

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lateral esquerda. Em 1868, o forte dispu-

nha de 52 peças de canhões de diver-

sos calibres.

O parapeito envolvia a maior par-

te do forte, de onde os soldados se posi-

cionavam para observação e combate.

História

A chegada dos portugueses à Ama-

zônia deu-se em 1616, após terem der-

rotado os franceses no Maranhão, no mês

de novembro do ano anterior.

Ingleses e holandeses, sabedores

do potencial da região amazônica, ini-

ciaram aproximação com os indígenas,

negociando com eles e conhecendo gra-

dativamente a riqueza da terra.

Portugal, sentindo a ameaça, no-

meou Francisco Caldeira de Castello

Branco, ex-capitão-mor do Rio Gran-

de do Norte, para comandar a expedi-

ção de exploração da área assediada pe-

los estrangeiros, na boca do Rio Ama-

zonas, recebendo o título de Descobri-

dor e Primeiro Conquistador do Rio

das Amazonas.

Partiu de São Luís do Maranhão em

25 de dezembro de 1615, com três navi-

os e duzentos homens, atingindo a re-

gião habitada pelos índios tupinambás.

Ao desembarcar, iniciou a cons-

trução de uma frágil fortificação de tai-

pa, armando-a com 12 peças de artilha-

ria, sendo chamada de Forte do Presé-

pio de Belém, em homenagem ao dia

de Natal, quando partira a expedição do

Maranhão. No seu interior foram cons-

truídos alojamentos para a guarnição,

cuja cobertura era de palha. O objetivo

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era o de conter eventuais agressões dos indígenas

e ataques dos corsários ingleses e neerlandeses.

Em 1619, os índios tupinambás, aliados dos

portugueses na sua chegada e que os havia ajuda-

do a construir o forte, enfurecidos, desencadea-

ram um violento ataque ao povoado. Queriam

expulsar os conquistadores portugueses que vio-

lentavam suas filhas e mulheres e ainda os escra-

vizavam. O ataque ocorreu de madrugada, quan-

do centenas de índios atiravam flechas incendiá-

rias e venenosas, surpreendendo os colonos e a

guarnição do forte. A batalha durou quase 12 ho-

ras e só terminou quando o cacique Guaiamiaba,

o líder do ataque, tombou depois de um tiro cer-

teiro de arcabuz.

Depois da guerra com os tupinambás, o forte

não participou de qualquer ataque militar para

repelir invasor estrangeiro. Danificada, essa pri-

mitiva fortificação foi substituída por outra mais

sólida, de taipa de pilão.

Em 1621, realizaram-se obras de restaura-

ção e ampliação do forte, sendo construídos um

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dreiro Francisco Martins, em Lisboa, para execu-

tar o trabalho, sob a direção do engenheiro e sar-

gento-mor engenheiro Carlos Varjão Rolim, tra-

zido de São Luís do Maranhão.

Em 1753, o Forte do Castelo passaria a fun-

cionar pela primeira vez como hospital, para aten-

der mais de trezentas pessoas acometidas de um

surto epidêmico na viagem da metrópole portu-

guesa para Belém.

A partir de 1759, passa a funcionar como hos-

pital militar, e a ser conhecido como Hospital do

baluarte, um alojamento para sessenta praças, um

torreão e ainda foram trazidas quatro peças de

artilharia, aumentando seu poder de fogo. Nessa

época passou a chamar-se Forte do Castelo do

Senhor Santo Cristo, mais tarde também Castelo

São Jorge e, finalmente, Forte do Castelo, sendo

atualmente chamado de Forte do Presépio, o seu

primeiro nome.

A Carta-Régia de 30 de maio de 1721, pelas

más condições em que se encontrava o forte, au-

torizava a sua reparação, sendo contratado o pe-

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Castelo. Essa função não perdurou muito,

uma vez que o Governador Fernando da

Costa Ataíde Teivi comprou do proprie-

tário do engenho, Domingos Bacelar, o

imóvel que viria a sediar o Hospital Mi-

litar e hoje é conhecido como Casa das

Onze Janelas.

Em 1832, estando em más condições

de conservação, foi desarmado, contribu-

indo para que o Movimento Cabanada to-

masse as suas instalações, transformando-

o em aquartelamento de resistência contra

a dominação portuguesa. O movimento ci-

vil cobrava maior direito de liberdade e ex-

pressão e protestava contra a presença por-

tuguesa na cidade (1835-1840).

O forte foi ainda restaurado em 1850,

acrescentando novas instalações, entre elas,

novos quartéis para a tropa, casa do coman-

dante, ponte sobre o fosso e portão com

muralha de cantaria do lado ao Rio Guaianá.FO

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Em 1868, o forte prosseguia em obras de res-

tauração, ocasião em que dispunha de 52 peças

de canhões de diferentes calibres.

Em 1876, foi desarmado, sendo instalado

nele o Arsenal de Guerra, por determinação do

Ministério da Guerra, permanecendo em ativi-

dade apenas durante um ano.

Em 1878, em virtude da quantidade de fla-

gelados provenientes do nordeste, o forte os aco-

lheu, voltando novamente a ser utilizado para

fins hospitalares.

Em 1907, o governo federal autorizou a em-

presa privada Port of Pará a se instalar no forte e

fazer transformações que lhe fossem conveni-

entes, desde que se comprometesse a devolvê-

lo com as muralhas reconstruídas e reformá-lo.

Em 1920, voltou a ser administrado pelo

Exército.

Em 1962, foi tombado pelo IPHAN, já

bastante descaracterizado, transformando-se

em atração turística na cidade, acomodando o

Círculo Militar de Belém.

A partir de 1997, deixa de sediar o Círcu-

lo Militar e se inicia uma intervenção arquite-

tônica, transformando-o em espaço cultural

com museu e aproveitando as suas instalações

para apresentação de espetáculos musicais, tea-

trais, exposições temporárias e atividades sociais.

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Encerramento

O Forte do Presépio foi um marco na histó-

ria da cidade de Belém, pois ela começou com a

criação do forte em 1616.

A cidade velha, de grande importância no ce-

nário turístico atual, é o retrato do que ela foi, no

início do século XVII, e mostra a importância que

tinha o forte, proporcionando a segurança necessá-

ria para o seu crescimento, uma vez que havia uma

grande ameaça ao povoado – os índios tupinambás.

Ao longo da sua existência, nenhuma agressão ex-

terna ocorreu, em que pese a presença de corsá-

rios holandeses e franceses na foz do Rio Ama-

zonas. O inimigo principal foram os indígenas

que, com o passar do tempo, se adaptaram e convi-

veram com a população que, por sua vez, passou

a respeitá-los.

Na Cabanada, revolta do povo contra a elite

política do Pará, os revoltosos utilizaram o forte

para aquartelamento, porém, o movimento civil

foi derrotado. No decorrer dos anos, ao encerrar

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PAULO ROBERTO RODRIGUES TEIXEIRA – Coronel de Infantaria e

Estado-Maior, é natural do Rio de Janeiro. Tem o curso de Estado-Maior

e da Escola Superior de Guerra. Atualmente é

assessor da FunCEB e redator-chefe da revista DaCultura.

as suas atividades operacionais de defesa da área

estratégica, que exercia desde a sua criação, foi

usado como hospital militar, arsenal de guerra,

círculo militar e, finalmente, como um dos mais

importantes pontos turísticos da cidade de Belém,

passando a ser administrado pelo Estado.

Hoje, visitado diariamente por inúmeros es-

tudantes da rede de ensino público e particular,

turistas nacionais e estrangeiros, oferece dados

históricos valiosos, como peças e objetos dos ín-

dios e dos colonizadores. Tudo faz parte do pre-

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cioso acervo do museu, localizado no interior do

forte, que ainda dispõe da beleza arquitetônica

da fortificação, com suas muralhas debruçadas

sobre o rio e os canhões de diversos calibres, com

as respectivas munições, que ali sempre estive-

ram para defender o território contra o invasor.