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A Reforma do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação Editorial Pedro Sáragga Leal / Maria José Verde As Alterações ao Regime de Controlo Prévio de Operações de Loteamento José Filipe Abecasis As Alterações ao Regime de Controlo Prévio de Obras de Edificação Paulo de Moura Marques A Figura do Gestor do Procedimento Andreia Candeias Mousinho As Alterações ao Regime dos Procedimentos Especiais José Filipe Abecasis Execução e Fiscalização de Obras Manuel da Silva Gomes As Alterações ao Regime de Tutela da Legalidade Urbanística e Garantias dos Particulares Paulo de Moura Marques Isabel Simões, 2005 Acrílico, lápis de cera e óleo s/ tela 120 x 162 cm Obra da Colecção da Fundação PLMJ EDITORIAL Nesta edição da NewsLEXtter abordar-se-á a sexta alteração ao Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação (doravante abreviadamente “RJUE”), a qual, no âmbito das alterações legislativas que têm sido aprovadas ao longo de 2007, de forma a concretizar o Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa SIMPLEX iniciado pelo Governo em 2006, veio a ser corporizada pela Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro. Esta alteração legislativa entrará em vigor no dia 3 de Março de 2008 e será aplicada a todas as operações urbanísticas cujos processos se iniciem a partir dessa data, sem prejuízo, contudo, de todos os interessados com processos pendentes relativos a obras de edificação, operações de loteamento, obras de urbanização e trabalhos de remodelação de terrenos poderem requerer a sujeição destes ao novo regime. O novo RJUE avoluma mudanças bastantes substanciais ao anterior regime, visando responder à muito reclamada necessidade de efectiva agilização dos processos de licenciamento e simplificação procedimental, mormente através da redefinição dos modelos de controlo prévio administrativo. Assim, e não cabendo nesta sede grandes desenvolvimentos, assiste- se, agora, (i) ao alargamento das situações de isenção de licença (donde se destaca, nomeadamente, o novo tipo de «obras de escassa relevância urbanística», bem como as obras de conservação e as obras de alteração no interior de edifícios ou suas fracções que não impliquem modificações na estrutura de estabilidade, das cérceas, da forma das fachadas e da forma dos telhados, ou as operações urbanísticas promovidas por empresas públicas relativamente a parques empresariais e similares) e (ii) das situações de mera comunicação prévia (designadamente, quando se pretende a execução de obras de reconstrução com preservação das fachadas, obras de urbanização e de trabalhos de remodelação de terrenos em área abrangida por operação de loteamento, obras de construção, alteração ou ampliação que ocorram em área abrangida por operação de loteamento ou por plano de pormenor com especificações que regulem antecipadamente tais operações), (iii) à implementação da informatização dos processos e consequente desmaterialização destes (cujo sistema informático carece ainda de ser aprovado por portaria), e (iv) à criação da figura do «gestor de procedimento» que deve assegurar o desenvolvimento da tramitação processual, a promoção das consultas às entidades externas e a prestação de informações e esclarecimentos aos interessados. Outubro de 2007 Pedro Sáragga Leal [email protected] Maria José Verde [email protected]

EDITORIAL - plmj.com · ao regime dos procedimentos especiais. Debruçar-nos-emos, ainda, sobre a execução e fiscalização de obras, bem como as alterações ao regime de tutela

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A Reforma do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação

EditorialPedro Sáragga Leal / Maria José Verde

As Alterações ao Regime de Controlo Prévio deOperações de LoteamentoJosé Filipe Abecasis

As Alterações ao Regime de Controlo Prévio deObras de EdificaçãoPaulo de Moura Marques

A Figura do Gestor do ProcedimentoAndreia Candeias Mousinho

As Alterações ao Regime dos ProcedimentosEspeciaisJosé Filipe Abecasis

Execução e Fiscalização de ObrasManuel da Silva Gomes

As Alterações ao Regime de Tutela da LegalidadeUrbanística e Garantias dos ParticularesPaulo de Moura Marques Isabel Simões, 2005

Acrílico, lápis de cera e óleo s/ tela120 x 162 cm

Obra da Colecção da Fundação PLMJ

EDITORIAL

Nesta edição da NewsLEXtter abordar-se-á a sexta alteraçãoao Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação (doravanteabreviadamente “RJUE”), a qual, no âmbito das alteraçõeslegislativas que têm sido aprovadas ao longo de 2007, deforma a concretizar o Programa de Simplificação Administrativae Legislativa SIMPLEX iniciado pelo Governo em 2006, veioa ser corporizada pela Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro.

Esta alteração legislativa entrará em vigor no dia 3 de Marçode 2008 e será aplicada a todas as operações urbanísticascujos processos se iniciem a partir dessa data, sem prejuízo,contudo, de todos os interessados com processos pendentesrelativos a obras de edificação, operações de loteamento,obras de urbanização e trabalhos de remodelação de terrenospoderem requerer a sujeição destes ao novo regime.

O novo RJUE avoluma mudanças bastantes substanciais aoanterior regime, visando responder à muito reclamadanecessidade de efectiva agilização dos processos delicenciamento e simplificação procedimental, mormenteatravés da redefinição dos modelos de controlo prévioadministrativo.

Assim, e não cabendo nesta sede grandes desenvolvimentos, assiste-se, agora, (i) ao alargamento das situações de isenção de licença(donde se destaca, nomeadamente, o novo tipo de «obras deescassa relevância urbanística», bem como as obras de conservaçãoe as obras de alteração no interior de edifícios ou suas fracçõesque não impliquem modificações na estrutura de estabilidade, dascérceas, da forma das fachadas e da forma dos telhados, ou asoperações urbanísticas promovidas por empresas públicasrelativamente a parques empresariais e similares) e (ii) das situaçõesde mera comunicação prévia (designadamente, quando se pretendea execução de obras de reconstrução com preservação das fachadas,obras de urbanização e de trabalhos de remodelação de terrenosem área abrangida por operação de loteamento, obras de construção,alteração ou ampliação que ocorram em área abrangida poroperação de loteamento ou por plano de pormenor comespecificações que regulem antecipadamente tais operações), (iii)à implementação da informatização dos processos e consequentedesmaterialização destes (cujo sistema informático carece aindade ser aprovado por portaria), e (iv) à criação da figura do «gestorde procedimento» que deve assegurar o desenvolvimento datramitação processual, a promoção das consultas às entidadesexternas e a prestação de informações e esclarecimentos aosinteressados.

Outubro de 2007

Pedro Sáragga [email protected]

Maria José [email protected]

AS ALTERAÇÕES AO REGIME DE CONTROLO PRÉVIO DE OPERAÇÕES DE LOTEAMENTO

De mãos dadas com estas medidas, e uma vez que as mesmasde nada valem sem a eficiência real das entidades envolvidas,o diploma em apreço, ao invés de encurtar prazos já de sicurtos, opta pela responsabilização das câmaras municipais,sobretudo mediante o agravamento dos incumprimentospraticados pelas mesmas. Ademais, e talvez para compensaro facto de as vistorias das autarquias deixarem de serobrigatórias (presentemente, as mesmas acontecem,nomeadamente, quando não exista um termo deresponsabilidade assinado por técnico ou quando a câmaramunicipal em causa disponha de indícios sérios de que aobra se encontra em desconformidades com o projecto oucondições pré-estabelecidas), na nova redacção do RJUEdenota-se também a preocupação pelo agravamento daresponsabilidade dos técnicos autores dos projectos eresponsáveis técnicos pela direcção das obras.

Sem prejuízo do bom andamento, em geral, da revisão doRJUE, a verdade é que a mesma não se encontra isenta decríticas. Neste sentido, refira-se, a título de exemplo, amanifesta incongruência associada à figura da autorizaçãoadministrativa, que, embora se tenha mantido por referência

a escassas operações urbanísticas - utilização de edifícios ou suasfracções, e alterações da utilização dos mesmos – viu as suas regrasde tramitação arredadas da nova redacção daquele Regime.

Perante tal, temos, pois, que questionar como será tramitado esteprocesso de obtenção de autorização administrativa e, de certa forma,agoirar que esta inconsistência legislativa não deixará certamente de,a breve trecho, suscitar dúvidas no seio das câmaras municipais quese vejam confrontadas com a mesma.

À parte das críticas, a verdade é que a sexta alteração é, sem dúvida,uma alteração bastante profunda cujo estudo urge antecipar de modoa, designadamente, prevenir possíveis problemas que a sua aplicaçãoprática poderá trazer. Assim, pretendemos nesta NewsLEXtter abordaros principais aspectos do novo RJUE, começando pelas alterações aoregime de controlo prévio de operações de loteamento e de obras deedificação, passando à figura do gestor de procedimento e às alteraçõesao regime dos procedimentos especiais. Debruçar-nos-emos, ainda,sobre a execução e fiscalização de obras, bem como as alteraçõesao regime de tutela da legalidade urbanística e garantia dos particulares.

Os objectivos desta reforma são efectivamente de louvar, sendo queas novas formas concebidas para os atingir sempre necessitam depassar o crivo da respectiva aplicação prática.

Um dos traços essenciais da reforma do Regime Jurídico daUrbanização e Edificação (RJUE) introduzida pela Lei nº.60/2007, de 04/09 – sexta alteração ao Dec.-Lei nº. 555/99,de 16/12 - foi o da simplificação dos procedimentos, sobo ponto de vista da sua regulamentação, mas, sobretudo,da dispensa de novos procedimentos de controlo préviorelativamente àquelas operações urbanísticas sobre as quaisjá tenha havido um pronunciamento por parte daAdministração ou às que não se justifique tal sujeição.

Assim, desde logo, a definição de “operações de loteamento”constante da alínea i) do artº. 2º do RJUE foi alterada nosentido de dela ser retirada a menção a operações deemparcelamento. Com efeito, enquanto a divisão do solopara efeitos de edificação urbana – loteamento oureparcelamento – carece de um controlo administrativoprévio, que assegure os objectivos de ordenamento doterritório, a prática cedo revelou que a sujeição a umprocedimento de licenciamento, para mais tão complexocomo o de operação de loteamento, de uma junção de duasparcelas já existentes e já destinadas à edificação constituíaum excesso injustificável. Já quanto às operações dereparcelamento, a sua sujeição imperativa a licenciamentodepende da destinação das novas parcelas à edificação;

caso contrário, nos termos do nº. 3 do artº. 4º do RJUE, só a vontadedos proprietários sujeitará a licenciamento essa operação.

Por outro lado, ainda na mesma linha estrutural da reforma, a alíneae) do nº. 1 do artº. 6º vem atribuir à prévia existência de uma operaçãode loteamento o efeito de dispensar de licenciamento as obras deconstrução, de alteração ou de ampliação que estivessem previstasno acto de licenciamento da operação de loteamento.

Na outra vertente de simplificação procedimental, a Lei nº. 60/2007veio enfatizar, designadamente nos artºs. 8º-A e 9º, a necessidade dorecurso a meios informáticos para a apresentação dos requerimentosiniciais do procedimento e respectiva documentação instrutória, bemcomo para a subsequente tramitação, incluindo a promoção deconsultas a entidades externas ao município e a prestação deinformação ao interessado acerca da evolução da sua pretensão.

Quanto à necessidade de apreciação técnica dos diversos projectosde especialidades respeitantes a obras de urbanização, a conjugaçãodos artºs. 10º e 20º, nº. 8 veio concluir um caminho que já vinhasendo percorrido, desde 1991, dispensando essa apreciaçãorelativamente aos projectos subscritos por técnico inscrito emassociação pública de natureza profissional e que se mostremacompanhados por declaração do mesmo, de observância das normaslegais e regulamentares aplicáveis. Se, pelo contrário, tal declaraçãomencionar a inobservância de alguma norma – caso em que deveráfundamentar esse facto – então tornar-se-á necessário proceder à

José Filipe [email protected]

I. Licença, Autorização e Isenção

O novo regime jurídico da urbanização e da edificação,que a Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro imporá, assimproduzindo a sexta alteração ao Decreto-Lei n.º 555/99, de16 de Dezembro, irá reformular, com profundidadeassinalável, o regime do controlo prévio das obras deedificação.Numa lógica de simplificação do regime jurídico de controloprévio, entendida como a adopção de formas deprocedimentos mais simples do que aquelas que, na versãoanterior do regime jurídico da urbanização e da edificação,regulavam as mesmas situações, o legislador entendeusuprimir largamente a figura da autorização administrativae verter as situações que conheciam uma autorização nofinal do procedimento, em situações a regular pelomecanismo de comunicação prévia.

Deixou o diploma de referir que a realização das operaçõesurbanísticas deixam de depender de prévia licença ou deautorização administrativas, para passar a mencionar apenasa prévia licença – art. 4.º.

A figura da autorização administrativa, figura-chave nosprocedimentos regulados pela versão anterior do diploma

quando a licença não fosse aplicável e em regra quando existissemplanos a prever, enquadrar e regular a operação urbanística previstarealizar, fica agora reservada apenas para a utilização de edifíciosou fracções ou alteração dessa utilização (cfr. art. 4.º, n.º 4).

Porém, não se pode concluir que o legislador operou uma simplessubstituição dos casos anteriormente regulados por autorizaçãoadministrativa, para passar a regulá-los pelo mecanismo decomunicação prévia. O caminho escolhido pelo legislador foi maislonge e optou também por reformular os casos que entendeusubmeter a licença, reduzindo-os e clarificando-os, pois que adescrição destes na anterior versão do diploma obrigava a variadasreferências cruzadas entre diplomas e mesmo dentro deste mesmodiploma.

Esse esforço de clareza recolheu frutos, porquanto o n.º 2 do art.4.º, na redacção conferida pela Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembropermite identificar, com facilidade, as situações em que uma licençaserá exigida, a saber: · Operações de loteamento; · Obras de urbanização e trabalhos de remodelação de terrenos em área não abrangida por operação de loteamento; · Obras de construção, alteração e de ampliação em área não abrangida por operação de loteamento; · Obras de reconstrução, ampliação, alteração, conservação ou demolição de imóveis classificados ou em

análise técnica do projecto. Esta dispensa justifica-se, porum lado, porque os projectos de especialidade não têmreflexo nas questões de ordenamento do território e deinserção das edificações no ambiente urbano e na paisagem,que constituem os propósitos salvaguardados pelosprocedimentos administrativos em causa; por outro lado,por se considerar que o objectivo de garantia de qualidadetécnica fica assegurado pela responsabilidade assumida portécnico legalmente habilitado para o efeito.

Como está bem de ver, esta dispensa de apreciação técnicados projectos de especialidade carece do contrapeso deuma efectiva responsabilização daqueles que subscrevamprojectos nos quais venham a ser detectadas inobservânciasde normas legais ou regulamentares aplicáveis. Para esseefeito, o nº. 6 do artº. 10º prescreve às câmaras municipaisque comuniquem tais factos às associações públicas emque se encontrem inscritos os técnicos responsáveis, paraefeitos de procedimento disciplinar. A prática futura revelará

se este e outros mecanismos de responsabilização (processos contra-ordenacionais e acções judiciais de responsabilidade civil e/ou penal)funcionarão efectivamente, para defesa de todos os interesses empresença.

Uma última nota, nestas escassas linhas, para abordar a relevânciada obtenção de uma informação prévia acerca da viabilidade derealização de uma operação de loteamento pretendida, bem comosobre os respectivos condicionamentos legais ou regulamentares, nostermos dos artºs. 14º e seguintes.

Obtida uma informação prévia favorável à realização de uma operaçãode loteamento, na qual se definam as normas legais e regulamentaresaplicáveis; os parâmetros urbanísticos delas resultantes; infra-estruturasurbanas existentes e as que devam ser construídas; áreas de cedênciaaplicáveis; alinhamentos, cérceas e implantações dos edifícios; ocontrolo prévio de operação de loteamento a efectuar nesses exactostermos ficará sujeito ao regime de comunicação prévia, não sendorealizadas novas consultas externas.

Paulo de Moura [email protected]

AS ALTERAÇÕES AO REGIME DE CONTROLO PRÉVIO DE OBRAS DE EDIFICAÇÃO

v ias de c lass i f icação e as obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação ou demolição de imóveis situados em zonas de protecção de imóveis classificados, bem como dos imóveis integrados em conjuntos ou sítios classificados, ou em áreas sujeitas a servidão administrativa ou restrição de utilidade pública; · Obras de reconstrução sem preservação das fachadas; · Obras de demolição das edificações que não se encontrem previstas em licença de obras de reconstrução; e · Outras operações urbanísticas que não estejam isentas de licença.

O legislador confinou a licença aos casos em que entendeuque, para preservação de valores essenciais, como seja ocorrecto ordenamento do espaço ou a preservação depatrimónio relevante, devam as entidades administrativascontinuar a exercer o nível de controlo mais exigente quea lei prevê: o licenciamento.

Para além de um movimento no sentido de se aumentaremas situações a serem tratadas por comunicação prévia,assiste-se também a uma reformulação –no sentido doincremento- das situações isentas de licença.

Esta matéria continua a ser tratada no art. 6.º, n.º 1, masconhece na versão mais recente do diploma a previsão deobras de reconstrução com preservação de fachadas, obrasde urbanização e trabalhos de remodelação de terrenos emárea abrangida por operação de loteamento, edificação depiscinas quando associadas a uma edificação principal, asobras de escassa relevância urbanística (outra inovação dodiploma), as alterações à utilização de edifícios earrendamento para fins não habitacionais de prédios oufracções não licenciados (sob algumas condições) e váriassituações de obras de construção, alteração ou de ampliação.

Nesta nova versão do diploma, as obras de edificação oude demolição promovidas pelos institutos públicos quetenham por atribuições a salvaguarda de património culturalou a promoção e gestão do parque habitacional do Estado,bem como as obras de edificação ou de demolição e ostrabalhos promovidas por concessionárias de obras ouserviços públicos, quando no objecto da concessão, ficamigualmente isentas de licenciamento (art. 7.º, n.º 1). Omesmo regime é aplicável a operações urbanísticaspromovidas por empresas públicas, relativamente a parquesempresariais e similares.

Constata-se, no entanto, que o legislador não desobrigouas entidades que beneficiam do regime de isenção do art.7.º de cumprirem as normas aplicáveis, designadamente asnormas referentes a instrumentos de gestão territorial (cfr.art. 7.º, n.º 6).

II. Responsabilidade do Presidente da Câmara Municipal e o Gestor do Procedimento

No novo figurino procedimental, o presidente da câmaramunicipal prossegue como responsável último pelo bomdesenrolar do procedimento, mas o tratamento diário domesmo passa a estar confiado a um gestor do procedimento.

O gestor do procedimento passa a estar contactável para osinteressados e é conhecido logo que o requerimento inicial sejaapresentado.

O procedimento continua a ser iniciado com a apresentação dorequerimento competente, mas a lei já prevê que o mesmo se façacom recurso a meios electrónicos, por intermédio de um sistemainformático.

Quando um requerimento contenha pedidos que impliquem aaplicação de dois tipos de procedimentos distintos, deixa de seoptar pela aplicação da forma de procedimento mais complexa,antes aplicando-se a forma de procedimento devida a cada tipo deoperação, ainda que apreciados conjuntamente.

III. O Procedimento de Licença e o Procedimento de Comunicação Prévia

No que respeita à tramitação do procedimento de licenciamento,sublinha-se que a falta de apresentação de especialidades no prazode seis meses desde a notificação da aprovação do acto de aprovaçãodo projecto de arquitectura deixou de ter por efeito a caducidadedo acto que aprovou o projecto de arquitectura, para determinara suspensão do procedimento de licenciamento por seis meses.Findo esse prazo e mantendo-se a situação, haverá a caducidadedo acto sujeita a audiência prévia do interessado.

O procedimento de comunicação prévia, por seu lado e como atrásreferido, ganhou uma nova dimensão com a alteração legislativa.De forma de procedimento residual, foi erguida a uma posição deforma principal. O mesmo enceta-se com a apresentação de umrequerimento acompanhado da documentação referida na lei (art.35.º, n.º 1) que permita conhecer a operação urbanística que sepretende levar a cabo, bem como o seu enquadramento comocomunicação prévia.

No prazo de 20 dias desde a entrega da comunicação prévia e seuselementos anexos (extensível a 60 dias quando haja que consultarentidades externas) deverá existir uma decisão do presidente dacâmara municipal, caso haja que rejeitar a comunicação prévia(cfr. art. 36.º, n.º 1).

Esta decisão será fundamentada na violação de instrumentos degestão territorial ou na violação dos termos de um pedido deinformação prévia antecedente.

Não existindo rejeição da comunicação prévia, o requerente poderáencetar a operação urbanística, assumindo a mesma deferida. Essainformação de não rejeição estará disponível no sistema informáticoe a realização da operação urbanística fica dependente, no entanto,de prévio pagamento das taxas devidas.

De acordo com o que fica visto acima e segundo a técnica deredacção implementada com a Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro,serão regulados pela comunicação prévia todas as situações paraas quais não esteja prevista a isenção de licença ou não estejaprevista a necessidade de licenciamento ou autorização (nos casos,reduzidos, em que a mesma ainda subsiste).

Em conclusão, a reforma do regime jurídico da urbanização e daedificação desenvolve-se sob o signo da simplificação das formasde procedimento, com diminuição substancial das situações sujeitasa licenciamento.

A FIGURA DO GESTOR DO PROCEDIMENTO

Uma das grandes novidades trazidas pela Lei n.º 60/2007,de 4 de Setembro, consubstancia-se na criação de uma novafigura com um papel que se quer extremamente activo nopalco do controlo prévio das operações urbanísticas: o “gestordo procedimento”.

O gestor do procedimento surge-nos como o funcionáriopúblico ao qual é atribuída a função de “ponte” entre aAdministração e os interessados no âmbito dos processos decontrolo prévio de operações urbanísticas, cabendo-lhe, nostermos da nova redacção dada ao Regime Jurídico daUrbanização e Edificação, “assegurar o normaldesenvolvimento da tramitação processual, acompanhando,nomeadamente, a instrução, o cumprimento de prazos, aprestação de informação e os esclarecimentos aos interessados”(artigo 8.º, n.º 3).

Para o efeito, veio a nova lei estabelecer que é logo no recibode apresentação de requerimento para licenciamento,informação prévia ou comunicação prévia que o particularé notificado da identificação do gestor do procedimento quecuidará do seu processo, bem como do local, hora e formade o contactar, assegurando-se que, no caso deste sersubstituído, a identidade e demais dados respeitantes ao novogestor do procedimento serão igualmente comunicados aoparticular interessado.

O seu papel no processo de controlo prévio de qualqueroperação urbanística inicia-se logo nos primórdios desteprocesso, cabendo-lhe, num primeiro momento, não só afaculdade de indicar ao presidente da câmara respectiva –ao qual, sem prejuízo dos poderes atribuídos ao gestor,continua a caber a competência para instruir tais processos– quais as questões de ordem formal e processual que possamobstar ao conhecimento de qualquer pedido ou comunicação(artigo 11.º, n.º 1), podendo, em consequência, ser proferidodespacho de aperfeiçoamento, bem como a existência deelementos resultantes da análise dos elementos instrutóriosque permitam concluir que um pedido é manifestamentecontrário às normas legais e regulamentares aplicáveis,devendo concluir-se pela rejeição liminar do pedido (artigo11.º, n.º 4).

Ademais, cabe ao gestor do procedimento, até à decisão finalde um qualquer processo, dar a conhecer ao presidente dacâmara municipal qualquer questão que prejudique odesenvolvimento normal do procedimento ou impeça atomada de decisão sobre o objecto do pedido (artigo 11.º,n.º 6).

Outras das funções do gestor do procedimento constantesdo novo Regime Jurídico da Urbanização e da Edificaçãoconsistem na promoção das consultas às entidades que, nostermos da lei, devam emitir parecer, autorização ou aprovaçãosobre um determinado pedido, devendo comunicar os pedidosfeitos à CCDR (artigo 13.º, n.ºs 1 e 2), bem como, no âmbitode pedidos de alteração dos termos e condições de uma

licença de operação de loteamento, na elaboração da notificaçãodos proprietários dos lotes constantes do alvará respectivo para queestes se possam pronunciar relativamente à alteração requerida(artigo 27.º, n.º 2).

Além do já referido, também cumpre ao gestor do procedimento,em sede de concessão de autorizações de utilização, requerer aopresidente da câmara municipal a realização de vistoria, caso (i)verifique que o pedido de autorização de utilização não está instruídocom os termos de responsabilidade subscritos pelos autores deprojecto de obra e pelo director de fiscalização; (ii) considereexistirem indícios sérios de que a obra se encontra emdesconformidade com o respectivo projecto ou condiçõesestabelecidas; ou (iii) nas situações em que não haja lugar à realizaçãode obras ou quando se trate de alteração de utilização ou deautorização de arrendamento para fins não habitacionais de prédiosou fracções não licenciados, entenda existirem indícios sérios deque o edifício, ou a sua fracção autónoma, não é idóneo para o fimpretendido (artigo 64.º, n.º 2).

Por outro lado, e em coerência com os fins visados com a criaçãodesta figura, atribuiu-se-lhe a função de acompanhamento econsequente actualização de dados do processo, mormente medianteo registo no processo da junção de quaisquer novos documentos,da data das consultas a entidades exteriores ao município e darecepção das respectivas respostas, bem como da data e do teordas decisões dos órgãos municipais (artigo 8.º). Por este motivo,pode, pois, compreender-se que, aquando da substituição dorequerente, do comunicante, do responsável por qualquer dosprojectos apresentados ou do director técnico da obra, deva havercomunicação de tal facto ao gestor do procedimento para que esteproceda ao respectivo averbamento.

Ora, quanto a esta função de “diário do processo” - associada aofacto de tal processo se encontrar informaticamente disponível -,consideramos que a mesma é de aplaudir, principalmente porquepermite que o interessado num determinado processo tenha acessoa informação sempre actualizada do mesmo, o que releva, porexemplo, para efeitos de verificação do cumprimento de prazospelas autarquias ou pelas entidades exteriores. Com efeito, ao nãoser possível tal verificação, muitas vezes ocorre a paralisação deprocessos, a qual abre a porta aos deferimentos tácitos, como últimorecurso para permitir o andamento do processo.

Atento o teor das disposições legais que regulam o papel do gestordo procedimento pode, em suma, concluir-se que este visa protegeressencialmente os interesses dos particulares no âmbito dos processosde controlo prévio, assumindo-se como uma espécie de longamanus do particular nestas matérias, não deixando, todavia, de serfuncionário da autarquia – razão, pela qual, a sua responsabilidade(por exemplo, por não ter procedido às consultas a entidadesexteriores) é solidária com o município a que pertence.

Por estes motivos, entendemos que a criação da figura do gestor doprocedimento é uma iniciativa positiva e merecedora de aplausosem sede de reforma do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação,a qual, a funcionar na prática, poderá realmente alcançar osalmejados objectivos de simplificação e celeridade procedimentalque balizaram as últimas alterações legislativas.

Andreia Candeias [email protected]

AS ALTERAÇÕES AO REGIME DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Para os efeitos do Regime Jurídico da Urbanização eEdificação (RJUE) e nos termos do seu artº. 37º, nº. 1,Procedimentos Especiais são os respeitantes a operaçõesurbanísticas cujo projecto, por força de legislação especial,careça de aprovação da administração central. Tal é o caso,designadamente, dos imóveis classificados, dosempreendimentos industriais ou turísticos, dosestabelecimentos comerciais ou dos recintos de espectáculose divertimentos públicos. Essas operações urbanísticas ficam,assim, sujeitas a um duplo controlo prévio: o de aprovaçãopela administração central e o de licenciamento oucomunicação prévia pela administração municipal.

A coordenação destes dois âmbitos de controlo prévio deuma mesma operação urbanística é regulada pelos nºs. 2e 3 do mesmo artº. 37º, ao estabelecer que qualquerprocedimento de controlo prévio municipal – informaçãoprévia, licenciamento ou recepção de comunicação prévia– não poderá ser objecto de decisão final favorável semque o requerente apresente documento comprovativo de aoperação urbanística em causa ter sido aprovada pelaadministração central. Por isso, os prazos de decisão finaldos procedimentos de controlo prévio municipal apenas secomeçam a contar após a data da entrega daqueledocumento comprovativo.

Em homenagem ao princípio de que o ordenamento doterritório se contém, primacialmente, nos instrumentos degestão territorial válidos e eficazes, o artº. 38º vem estabelecerque, às operações de loteamento a que deve ser sujeita adivisão jurídica do terreno de implantação deempreendimentos turísticos, não será aplicável a proibiçãode realização de operações de loteamento fora de terrenosurbanos ou urbanizáveis por força de plano municipal deordenamento do território, constante do artº. 41º, desdeque esse empreendimento turístico se situe em áreaqualificada para o uso turístico, em instrumento de gestãoterritorial.

Um novo afloramento da linha de simplificaçãoprocedimental por dispensa de repetições depronunciamentos administrativos sobre matérias já antesdecididas, um dos que presidiu à reforma legislativa aquiem análise, encontra-se no artº. 39º. Por força destadisposição, quando uma determinada operação urbanísticase situe em área expressamente afecta ao uso proposto porplano de urbanização, plano de pormenor ou alvará deloteamento, então será dispensada a necessidade de obtenção

de autorização prévia de localização por órgãos da administraçãocentral que seja exigida por lei especial. Isto sem prejuízo de outrasautorizações ou aprovações legalmente exigíveis.

Por último, a principal alteração nesta matéria introduzida pela Leinº. 60/2007, de 04/09 diz respeito ao licenciamento de utilizaçãode edifícios ou suas fracções.

Por efeito da revogação do artº. 40º do RJUE este licenciamento deutilização não só é unitário em termos de procedimento – no sentidode ambas as licenças de utilização serem tratadas em paralelo esimultâneo -, como já sucedia desde o início de vigência do RJUE,mas também passa a ser unitário enquanto acto administrativo erespectivo título.

Assim, presentemente, uma vez concluída a operação urbanísticasujeita a procedimento especial, o interessado requererá ao municípioa autorização da sua utilização, nos termos dos artºs. 62º e seguintesdo RJUE. Obtido o alvará de autorização de utilização, o requerentedirigirá, aos órgãos da administração central competentes em razãodo tipo de empreendimento ou estabelecimento em causa, umadeclaração prévia (à abertura do estabelecimento) pela qual seresponsabiliza pelo cumprimento dos requisitos adequados aoexercício da actividade, como a que é prevista no Dec.-Lei nº.259/2007, de 17/07 em linha com o que se prevê que venha a serlegislado, em outros diplomas, para a generalidade das actividadeseconómicas.

José Filipe [email protected]

Rosa ReisBica, 2002

p/b virada a selénio, 40 x 50 cmobra da colecção da Fundação PLMJ

EXECUÇÃO E FISCALIZAÇÃO DE OBRAS

A sexta alteração ao Regime Jurídico da Urbanização eEdificação, decorrente da Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro(adiante abreviadamente designado por NRJUE), veioconsagrar um conjunto de alterações relevantes em matériade Execução e Fiscalização de Obras. A presente nota, aindaque sem pretensão à exaustividade, pretende aludir àsmodificações mais salientes que se verificaram nesse âmbito.Para maior comodidade iremos adoptar a ordem de exposiçãoseguida no Capítulo III do NRJUE.

I- Início dos Trabalhos

. Início das obras e trabalhos sujeitos ao regime de comunicação prévia

Fruto da nova sujeição do procedimento de comunicaçãoprévia ao pagamento de taxas, o NRJUE determina que, nafalta de rejeição da comunicação prévia, o interessado deveefectuar, previamente ao início das obras e os trabalhos, opagamento das taxas devidas através de autoliquidação(artigo 80.º, n.º 2 do NRJUE1)

. Informação sobre o início dos trabalhos e o responsável pelos mesmos

Trata-se de uma nova obrigação do promotor que deve, atécinco dias antes do início dos trabalhos, informar a câmaramunicipal da sua intenção de iniciar as obras assim comoa identidade da pessoa, singular ou colectiva, encarregadapela respectiva execução (Artigo 80.º-A, n.º 1).

II - Execução

. Dever de conservação

O NRJUE manteve a obrigação de proceder a obras deconservação pelo menos uma vez em cada período de oitoanos, acrescentando a obrigação de, independentementedesse prazo, realizar todas as obras necessárias à manutençãoda sua segurança, salubridade e arranjo estético (artigo 89.º,n.º 1).Além da câmara municipal continuar a poder determinar, atodo tempo, oficiosamente ou a requerimento de qualquerinteressado, a execução de obras necessárias à correcçãode más condições de segurança ou de salubridade passatambém a poder fazê-lo para efeitos de melhoria do arranjoestético.________________________________1De notar que o Artigo 80.º, n.º 2 remete para o artigo 36.º-A, n.º 3, o qualnão existe pelo que admite-se que o legislador terá querido remeter parao artigo 36.º-A, n.º 2. Tal como ocorreu com a anterior (quinta) alteraçãodo RJUE, decorrente do Decreto-Lei n.º 177/2001, de 4 de Junho,provavelmente será publicada uma declaração de rectificação deste diplomapara corrigir as inúmeras gralhas.

. Proibição de deterioração

O novo artigo 89.º-A, veio consagrar a proibição para o proprietáriode, dolosamente, provocar ou agravar uma situação de falta desegurança ou de salubridade, provocar a deterioração do edifícioou prejudicar a seu arranjo estético.

Estabelece, ainda, presunções ilidíveis relativamente à violação dareferida nova obrigação. Assim, salvo prova em sentido contrário,presume-se existir violação da mencionada obrigação nas seguintessituações:

a) Quando o edifício, encontrando-se total ou parcialmente devoluto, tenha apenas os vãos do piso superior ou dos pisos superiores desguarnecidos;b)Quando estejam em falta elementos decorativos, nomeadamente cantarias ou revestimento azulejar relevante, em áreas da edificação que não sejam acessíveis pelos transeuntes, sendo patente que tal falta resulta de actuação humana.

. Vistoria prévia referente à conservação do edifício

A nova redacção do artigo 90.º, n.º 1, vem estabelecer uma novaexigência de qualificação dos técnicos que participam na vistoriaprévia referente ao estado de conservação do edifício: passa-se aexigir que dois dos três técnicos nomeados pela câmara municipaldetenham habilitação legal para ser autor de projecto,correspondentes à obra objecto de vistoria, segundo o regime dequalificação profissional dos técnicos responsáveis pela elaboraçãoe subscrição dos projectos.

III - Fiscalização

. Âmbito

O NRJUE estende o âmbito da realização de fiscalizaçãoadministrativa a qualquer operação urbanística. Logo, além dasoperações sujeitas a prévio licenciamento, ficam também abrangidasa admissão de comunicação prévia, a autorização de utilização oumesmo os casos de isenção de controlo prévio (artigo 93.º, n.º 1).

. Livro de obra electrónico

De mencionar que o livro de obra passa a revestir uma formaelectrónica (artigo 97.º, n.º 3). Trata-se aqui de uma novidadeconsentânea com outras alterações consagradas no NRJUE destinadasa informatizar diversos procedimentos2. Esta desmaterialização deelementos e procedimentos prossegue um objectivo de maior eficáciana movimentação e fiscalização dos processos.

. Contra-ordenações

De modo a sancionar eventuais violações das novas obrigaçõesimpostas no RJUE foram tipificados, no artigo 98.º, n.º 1, os novosilícitos de mera ordenação social seguintes:

Manuel da Silva [email protected]

- Execução de trabalhos em violação da nova obrigação de informação sobre o início dos trabalhos e o responsável pelos mesmos;- Não manutenção, de forma visível do exterior do prédio, do aviso que publicita a admissão da comunicação prévia;- Deterioração dolosa da edificação pelo proprietário ou por terceiro ou a violação grave do dever de conservação.

Apesar de não terem sido aumentados os montantes máximosdas coimas dever-se-á, contudo, salientar um importanteagravamento dos montantes mínimos das mesmas3. Trata-se de uma inequívoca alteração no sentido da consagraçãode um regime mais penalizador para os infractores.

. Sanções acessórias

As sanções acessórias também foram sensivelmente agravadas(artigo 99.º). Por um lado, o período de interdição deexercício, no município, da profissão ou actividade conexascom a infracção foi duplicado e passa, com o NRJUE apoder ser de quatro anos. Por outro lado, a aplicação dequalquer sanção a industriais da construção civil passa aser comunicada ao novo Instituto da Construção e doImobiliário, I.P.4.

Por fim, a eventual interdição de exercício de actividade,quando aplicada a pessoa colectiva, passa a estender-se aoutras pessoas colectivas constituídas pelos mesmos sócios.

___________________________

2A esse propósito mencione-se que os procedimentos previstos noNRJUE, salvo disposição em contrário, passam a iniciar-se através derequerimento ou comunicação apresentados com recurso a meioselectrónicos (artigo 9.º, n.º 1). 3Montantes mínimos das coimas que foram, em certos casos,multiplicados por doze. A título exemplificativo, o montante mínimoda contra-ordenação para os casos de realização, por pessoas colectivas,de operações urbanísticas em desconformidade com o respectivo projectoou com as condições do licenciamento foi aumentado de 250,00€ para3.000,00€.

. Embargo

Com o NRJUE passa a ser suficiente para obrigar à suspensão dostrabalhos qualquer notificação ao responsável pela direcção técnicada obra, titular do alvará de licença, apresentante de comunicaçãoprévia, proprietário ou quem se encontre a executar a obra no local(artigo 102.º, n.º 2). Simetricamente, também se consagrou que oconjunto dessas mesmas pessoas devem passar a ser notificadas doauto de embargo (artigo 102.º, n.º 6). Inovou-se, ainda, com a novaimposição de registo da cessação ou caducidade do embargo (artigo102.º, n.º 8).

Tudo indica que estas alterações destinam-se, por um lado, acontribuir para obviar as dificuldades frequentemente ressentidaspela Administração na concretização da necessária notificação paraobrigar à suspensão dos trabalhos e, por outro lado, alargar o âmbitoda obrigação de notificação, por parte da Administração, deste actoparticularmente lesivo para os interessados.

. Intervenção da CCDR em matéria de tutela da legalidadeurbanística

De destacar a relevante e nova competência atribuída ao presidenteda CCDR5 territorialmente competente que passa a poder determinaro embargo, a introdução de alterações, a demolição do edificadoou a reposição do terreno em quaisquer operações urbanísticasdesconformes com o disposto em plano municipal ou plano especialde ordenamento do território, sempre que não se mostre asseguradapelo município a adopção das referidas medidas de tutela dalegalidade urbanísticas (artigo 108.º-A).

________________________________4Nos termos do artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 144/2007, de 27 de Abril, o Institutoda Construção e do Imobiliário, I.P. (InCI,I.P.) sucedeu ao Instituto dos Mercadosde Obras Públicas e Particulares e do Imobiliário (IMOPPI).5Comissão Coordenadora e Desenvolvimento Regional.

Indoor_Project #7, 2001Prova lambda, 40 x 102,5 cmObra da Colecção da Fundação PLMJ

AS ALTERAÇÕES AO REGIME DE TUTELA DA LEGALIDADE URBANÍSTICAE

GARANTIAS DOS PARTICULARES

O regime jurídico da urbanização e da edificação, aprovadopelo Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, na suaactual redacção, prevê um conjunto de medidas de tutelada legalidade urbanística nos arts. 102.º a 109.º.O conceito de medidas de tutela da legalidade urbanísticacorresponde a uma universalidade de meios legais postosao dispor das entidades administrativas para promoverema cessação ou corrigirem situações de violação de normasurbanísticas, sejam essas derivadas do desrespeito por essemesmo diploma ou por outros, como é o caso dosinstrumentos de gestão territorial.

No essencial, a Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro não veioalterar o elenco de meios que o legislador criou. Por essarazão, continuamos a encontrar no texto resultante dareforma agora conhecida, a figura do embargo de obra pelopresidente da câmara municipal e seu regime (cfr. art. 102.ºa 104.º), bem como a possibilidade de determinação detrabalhos de correcção ou de alteração de obras, ou, quandotal não for possível, a ordem de demolição - total ou parcial- ou de reposição do terreno nas condições em que seencontrava antes da data de início dos trabalhos ou dasobras executadas (art. 105.º e 106.º).

No que respeita à posse administrativa e à execução coercivade uma ordem de demolição ou de alteração, a revisão dodiploma de 1999 agora levada a cabo deixa intacto esseregime, só tratando de operar pequenas alterações nostermos da cessação de utilização, regulada pelo art. 109.º.

No geral, as medidas de tutela da legalidade urbanísticaregistam uma adaptação dos seus termos, de modo a acolhera expansão e dignificação da figura da comunicação préviaque se verifica em sede de controlo prévio das operaçõesurbanísticas.

I. A Intervenção da CCDR

Regista-se, na nova versão do diploma, que a par dospoderes que já eram consagrados em favor do presidenteda câmara municipal, para decretar a cessação de utilizaçãode edifícios ou de suas fracções autónomas, quando sejamocupadas sem a sua autorização de utilização ou estejama ser afectos a um fim diverso do fim previsto no alvará, olegislador quis também consagrar poderes ao presidente daComissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional

(CCDR) que seja territorialmente competente (cfr. art. 108.º-A).Ao fazê-lo, o legislador não se limitou, contudo, a estabelecer umafórmula legal habilitante, similar àquela de que já gozavam ospresidentes das câmaras municipais. Pelo contrário, o legisladorquis, por um lado limitar os poderes dos presidentes das CCDRsquando comparados com os dos presidentes das câmaras municipais,já que não lhes concedeu poderes para determinarem a cessaçãoda utilização. Por outro, conferiu-lhes poderes de intervençãoresidual, ficando os presidentes das CCDRs como uma reserva delegalidade ou de aplicação subsidiária, já que determinou que estesusassem os poderes conferidos apenas na condição de o municípionão ter utilizado as medidas de tutela de legalidade urbanística aoseu dispor perante situação de violação de lei, de licenças ouautorizações ou de planos reguladores.

Trata-se da inovação mais significativa neste âmbito, mas o legisladornão resolveu a questão fundamental de se saber se os presidentesdas CCDRs podem entender que certas medidas de tutela dalegalidade urbanística não foram suficientes ou adequadas, assimexercendo uma censura e afastando, agravando ou substituindo asdecisões municipais na matéria, o que corresponderá a um juízode mérito sobre a acção autárquica, por parte de um agente daadministração directa do Estado, o que levantará questões quantoà sua compatibilidade com a autonomia das autarquias locais.

O legislador também não regulou outro aspecto crítico para umbom funcionamento desta inovação e que tem que ver com aarticulação entre a acção ou inacção do presidente da câmaramunicipal e a do presidente da CCDR. Dito de outra forma, odiploma não trata de determinar qual o período que tenha opresidente da CCDR de aguardar até poder considerar que opresidente da câmara municipal não teve a intervenção desejada,nem regulou se o presidente da CCDR tem de dar prévioconhecimento ou mesmo direito de audiência ao município facea um projecto de decisão ao abrigo do art. 108.º-A.

Na mesma linha ficou por regular se o presidente da câmaramunicipal pode revogar ou alterar uma medida de tutela de legalidadeurbanística que o presidente da CCDR possa tomar.

II. Garantias dos Particulares

Na matéria de garantia dos particulares, verifica-se que o direito àinformação tratado no art. 110.º passou a conhecer a faculdade deos particulares passarem a consultar os processos por via electrónica,alteração que acompanha a possibilidade de se proceder àapresentação de requerimentos também nesse suporte.

Paulo de Moura [email protected]

Avenida da Liberdade n.º 2241250-148 Lisboa

Tel: (351) 21.319 73 00Fax: (351) 21 319 74 00

Avenida da Boavista n.º 2121, 4.º- 4074100-137 Porto

Tel: (351) 22 607 47 00Fax: (351).22 607 47 50

Rua Pinheiro Chagas, 16, 2.º Dto. (à Pç. da Liberdade)8000 - 406 Faro Tel: (351) 289 80 41 37Fax: (351) 289 80 35 88

PortoLisboa Faro Coimbra

Rua João Machado nº 100Edifício Coimbra, 5º Andar, Salas 505, 506 e 5073000-226 CoimbraTel: (351) 239 85 19 50Fax: (351) 239 82 53 66

email geral: plmjlawplmj.com Escritórios em Angola, Brazil e Macao (em parceria com Firmas locais)

Com maior relevo, verifica-se que no art. 111.º, relativo aovalor agregado aos silêncios da administração, foi revogadaa alínea b), a qual associava a formação de acto dedeferimento tácito a um silêncio da administração, quantoà decisão de um procedimento que resultasse na prática deuma autorização administrativa.

No actual figurino legal, os silêncios administrativos emcasos sujeitos a licenciamento continuam a obrigar aorecurso ao mecanismo da intimação judicial para a práticado acto legalmente devido, mas com o desaparecimentoda categoria da autorização administrativa, fica apenas odeferimento tácito para todas as demais situações, ou seja,para as formas de autorização (escassas), comunicaçãoprévia ou outras situações reguladas ou que surjam aoabrigo do diploma.

No que se refere aos meios contenciosos, a Lei n.º 60/2007,de 4 de Setembro, operou uma revisão da linguagem queera usada no art. 115.º, passando agora a referir a acção

administrativa especial, onde anteriormente se aludia ao recursocontencioso, mas continuou a tratar a parte que terá de respondercomo recorrente e a usar o termo interposição, quando esses termoseram conexos com a consagração de um recurso contencioso,denominação agora ultrapassada.

Em conclusão, podemos dizer que a Lei n.º 60/2007, de 4 deSetembro, veio adequar os termos das medidas de tutela da legalidadeurbanística e das garantias dos particulares às alterações que levoua cabo em termos das formas de procedimento, inovando com aconsagração de poderes em favor do presidente da CCDRterritorialmente competente para decretar medidas de legalidadeurbanística, ainda que não tivesse ido tão longe quanto o desejável,pois que ficaram por tratar as relações entre o presidente da câmaramunicipal e o presidente da CCDR, em face da relação subsidiáriaentre esses que a lei criou, circunstância que não deixará de causardúvidas quanto à admissibilidade jurídica de um elemento afectoà administração central do Estado alterar uma decisão de um órgãoautárquico ou superar a inacção deste, em face do princípio deautonomia autárquica.

“Melhor Departamento Fiscal do Ano” - International Tax Review - Tax Awards 2006

“Sociedade de Advogados Portuguesa do Ano” - IFLR Awards 2006 & Who’s Who Legal Awards 2006

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