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A CRISE DAS CIÊNCIAS EUROPEIAS E A FENOMENOLOGIA TRANSCENDENTAL Uma Introdução à Filosoa Fenomenológica Edmund Husserl FORENSE UNIVERSITÁRIA Todos os direitos reservados ao GEN | Grupo Editorial Nacional. Estão proibidas a impressão, reprodução e comercialização deste material.

Edmund Husserl - A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental

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Husserl considera que a ciência faz parte integrante da origem e do destino da humanidade europeia. Por esta razão, a crise das ciências europeias, muito mais do que uma crise epistemológica, é uma crise espiritual e existencial da Europa. No entanto, dadas a crescente europeização das outras humanidades e a cientifização e tendencial modernização de todas as outras culturas, a crise europeia é, além disto, uma crise da humanidade como um todo. Esta crise, de acordo com o autor, é uma decisão acerca do sentido da história europeia e humana em dois níveis. Em primeiro lugar, saber se é possível uma fundamentação última da razão e da ciência por ela produzida; em segundo lugar, trata-se de saber se a humanidade, podendo encontrar um solo comum onde se radicar, saberá conduzir-se “no esforço infinito de autonormatização por meio desta verdade e genuinidade da humanidade”.

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A CRISE DASCIÊNCIAS EUROPEIASE A FENOMENOLOGIA

TRANSCENDENTALUma Introdução à Filoso a Fenomenológica

Edmund Husserl nasceu em Prossnitz, em 1859, na região da Morávia, então parte do Im-pério Áustro-Húngaro. De família judaica, Hus-serl estudou em escola pública na vizinha cidade alemã de Olmütz. Posteriormente estudou física, matemática, astronomia e loso a nas universi-dades de Leipzig, Berlim e Viena.

Em Viena doutorou-se em Filoso a em 1882, com a tese sobre a Teoria da Variação dos Cálculos (Beiträge zur Theorie der Variationsrechnung). Em 1883, em Viena, Husserl passou a estudar com Franz Bretano e, como o mestre, desenvol-veu aversão à linha orientada exclusivamente pela crença no fato psicológico como fundamento de todo conhecimento. O ideário de Brentano acer-ca de uma psicologia descritiva teve signi cativa abrangência e in uência sobre Husserl.

No círculo de admiradores de Brentano espargia-se o espírito iluminista da tolerância re-ligiosa e da loso a racional. Husserl se inscreve como um de seus seguidores, e na Viena de 1887 converte-se ao luteranismo e casa-se com Mal-vine Steinschneider, sua dedicada mulher por toda a vida.

Após muitos anos explorando estudos sobre loso a lógico-matemática, Husserl tornou-se professor orientador na Universidade de Fribur-go, em 1916, o que signi cou um renascimen-to losó co. Neste ponto, Husserl desenvolve a base de sua loso a fenomenológica, com o ensaio sobre a “Fenomenologia Pura, Área de Pesquisa e Método” (Die reine Phänomenologie, ihr Forschungsgebiet und ihre Methode).

Com o advento da Primeira Guerra, Husserl identi ca o colapso da civilização europeia cal-cada até aqueles áureos tempos no ideário da cultura, da loso a e da ciência. Com o efeito desagregador da guerra, Husserl repensa a fundamentação epistemológica de sua loso a fenomenológica. Doravante, ele empreende a tarefa de investigação dos sentidos e signi cados do mundo da vida e da história.

Seus ensaios sobre A Primeira Filoso a (1923-1924) demonstram que a Fenomenologia, com seu método de redução, é o único meio de alcançar a essencialidade da vida, a realização da autonomia ética do homem. Nesse sentido, ele desenvolve a relação entre a análise psicológica e a análise fenomenológica da consciência, com pesquisas sobre a fundamentação lógica com sua “Lógica formal e transcendental” (Formale und transzendentale Logik: Versuch einer Kritik der logischen Vernunft, 1929).

Husserl passa a se dedicar cada vez mais no desenvolvimento de seu pensamento fenome-nológico, sem a pretensão de originalidade. Re-cebe vários títulos de universidades europeias, inclusive da Universidade de Direito de Bonn. É convidado para substituir Ernst Troeltsch como professor na prestigiada Universidade de Berlim, mas recusa o convite para se dedicar ao estudo da Fenomenologia.

Na década de 1930, ensina em Amsterdã e na Sorbonne. Nesses anos ele prepara uma nova sistematização de sua Fenomenologia, publican-do em francês Méditations Cartésiennes (1931).

Na era nacional-socialista, mesmo com o silêncio imposto a pensadores judeus (e a não judeus desalinhados), Husserl passa a produzir mais escritos em seus anos de retiro e é convida-do para conferenciar em Viena e Praga no turbu-lento ano de 1935.

A partir desses seminários, Husserl desen-volve a primeira parte de sua atual obra (Die Krisis der Europäischen Wissenschaften und die Transzendentale Phänomenologie: Eine Einlei-tung in die Phänomenologische Philosophie, 1936). Completa seu estudo em 1937, antes de adoecer no início de 1938. Husserl falece em 27 de abril de 1938.

Edmund Husserl“Husserl considera que a ciência faz parte integrante da origem e do desti-no da humanidade europeia. Por esta razão, a crise das ciências europeias, muito mais do que uma crise epistemológica, é uma crise espiritual e exis-tencial da Europa. No entanto, dadas a crescente europeização das outras humanidades e a cienti cização e tendencial modernização de todas as outras culturas, a crise europeia é, além disto, uma crise da humanidade como um todo. Na medida em que a palavra krísis signi ca originalmente escolha ou decisão, tratava-se, no momento histórico que a Europa viveu naqueles anos, de decidir acerca do sentido da Europa e da humanidade. Tratava-se de saber se a humanidade europeia fracassaria perante o ideal da ciência, que é a sua de nição como humanidade de matriz grega, e que a distingue entre as outras culturas historicamente situadas. Ou se, pelo contrário, a humanidade encontraria os meios de levar à prática o ideal da ciência. ‘Só assim se decide se o telos que, com o nascimento da loso a grega, se tornou inato à humanidade europeia, o telos de […] querer ser uma humanidade a partir de uma razão losó ca, e de só poder ser como tal, é um mero delírio histórico-fático, uma aquisição acidental de uma humanidade acidental […].’”

Diogo Falcão Ferrer

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A CRISE DASCIÊNCIAS EUROPEIASE A FENOMENOLOGIA

TRANSCENDENTALUma Introdução à Filoso a Fenomenológica

Edmund Husserl nasceu em Prossnitz, em 1859, na região da Morávia, então parte do Im-pério Áustro-Húngaro. De família judaica, Hus-serl estudou em escola pública na vizinha cidade alemã de Olmütz. Posteriormente estudou física, matemática, astronomia e loso a nas universi-dades de Leipzig, Berlim e Viena.

Em Viena doutorou-se em Filoso a em 1882, com a tese sobre a Teoria da Variação dos Cálculos (Beiträge zur Theorie der Variationsrechnung). Em 1883, em Viena, Husserl passou a estudar com Franz Bretano e, como o mestre, desenvol-veu aversão à linha orientada exclusivamente pela crença no fato psicológico como fundamento de todo conhecimento. O ideário de Brentano acer-ca de uma psicologia descritiva teve signi cativa abrangência e in uência sobre Husserl.

No círculo de admiradores de Brentano espargia-se o espírito iluminista da tolerância re-ligiosa e da loso a racional. Husserl se inscreve como um de seus seguidores, e na Viena de 1887 converte-se ao luteranismo e casa-se com Mal-vine Steinschneider, sua dedicada mulher por toda a vida.

Após muitos anos explorando estudos sobre loso a lógico-matemática, Husserl tornou-se professor orientador na Universidade de Fribur-go, em 1916, o que signi cou um renascimen-to losó co. Neste ponto, Husserl desenvolve a base de sua loso a fenomenológica, com o ensaio sobre a “Fenomenologia Pura, Área de Pesquisa e Método” (Die reine Phänomenologie, ihr Forschungsgebiet und ihre Methode).

Com o advento da Primeira Guerra, Husserl identi ca o colapso da civilização europeia cal-cada até aqueles áureos tempos no ideário da cultura, da loso a e da ciência. Com o efeito desagregador da guerra, Husserl repensa a fundamentação epistemológica de sua loso a fenomenológica. Doravante, ele empreende a tarefa de investigação dos sentidos e signi cados do mundo da vida e da história.

Seus ensaios sobre A Primeira Filoso a (1923-1924) demonstram que a Fenomenologia, com seu método de redução, é o único meio de alcançar a essencialidade da vida, a realização da autonomia ética do homem. Nesse sentido, ele desenvolve a relação entre a análise psicológica e a análise fenomenológica da consciência, com pesquisas sobre a fundamentação lógica com sua “Lógica formal e transcendental” (Formale und transzendentale Logik: Versuch einer Kritik der logischen Vernunft, 1929).

Husserl passa a se dedicar cada vez mais no desenvolvimento de seu pensamento fenome-nológico, sem a pretensão de originalidade. Re-cebe vários títulos de universidades europeias, inclusive da Universidade de Direito de Bonn. É convidado para substituir Ernst Troeltsch como professor na prestigiada Universidade de Berlim, mas recusa o convite para se dedicar ao estudo da Fenomenologia.

Na década de 1930, ensina em Amsterdã e na Sorbonne. Nesses anos ele prepara uma nova sistematização de sua Fenomenologia, publican-do em francês Méditations Cartésiennes (1931).

Na era nacional-socialista, mesmo com o silêncio imposto a pensadores judeus (e a não judeus desalinhados), Husserl passa a produzir mais escritos em seus anos de retiro e é convida-do para conferenciar em Viena e Praga no turbu-lento ano de 1935.

A partir desses seminários, Husserl desen-volve a primeira parte de sua atual obra (Die Krisis der Europäischen Wissenschaften und die Transzendentale Phänomenologie: Eine Einlei-tung in die Phänomenologische Philosophie, 1936). Completa seu estudo em 1937, antes de adoecer no início de 1938. Husserl falece em 27 de abril de 1938.

Edmund Husserl“Husserl considera que a ciência faz parte integrante da origem e do desti-no da humanidade europeia. Por esta razão, a crise das ciências europeias, muito mais do que uma crise epistemológica, é uma crise espiritual e exis-tencial da Europa. No entanto, dadas a crescente europeização das outras humanidades e a cienti cização e tendencial modernização de todas as outras culturas, a crise europeia é, além disto, uma crise da humanidade como um todo. Na medida em que a palavra krísis signi ca originalmente escolha ou decisão, tratava-se, no momento histórico que a Europa viveu naqueles anos, de decidir acerca do sentido da Europa e da humanidade. Tratava-se de saber se a humanidade europeia fracassaria perante o ideal da ciência, que é a sua de nição como humanidade de matriz grega, e que a distingue entre as outras culturas historicamente situadas. Ou se, pelo contrário, a humanidade encontraria os meios de levar à prática o ideal da ciência. ‘Só assim se decide se o telos que, com o nascimento da loso a grega, se tornou inato à humanidade europeia, o telos de […] querer ser uma humanidade a partir de uma razão losó ca, e de só poder ser como tal, é um mero delírio histórico-fático, uma aquisição acidental de uma humanidade acidental […].’”

Diogo Falcão Ferrer

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ÍNDICE GERAL

Apresentação da Tradução Portuguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XI

Primeira ParteA CRISE DAS CIÊNCIAS COMO EXPRESSÃO DA CRISE RADICAL DA VIDA DA HU-

MANIDADE EUROPEIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1§ 1. Há efetivamente, em face de seus constantes êxitos, uma crise das ciências? . . . . . . . . . . 1§ 2. A redução positivista da ideia de ciência a uma mera ciência de fatos. A “crise” da ciência

como perda da sua signi� cância para a vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2§ 3. A fundamentação da autonomia da humanidade europeia pela nova concepção da ideia

de � loso� a no Renascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4§ 4. O fracasso da nova ciência, de início bem-sucedida, e o seu motivo não esclarecido . . . . 7§ 5. O ideal da � loso� a universal e o processo da sua dissolução interna . . . . . . . . . . . . . . . . 8§ 6. A história da � loso� a moderna como combate pelo sentido do homem . . . . . . . . . . . . . . 10§ 7. O propósito das investigações deste escrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Segunda ParteELUCIDAÇÃO DA ORIGEM DA OPOSIÇÃO MODERNA ENTRE OBJETIVISMO FI-

SICALISTA E SUBJETIVISMO TRANSCENDENTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15§ 8. A origem da ideia moderna da universalidade da ciência na transformação da matemática 15§ 9. A matematização galilaica da natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 a) A “geometria pura” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 b) O pensamento fundamental da física galilaica: a natureza como universo matemático. . 21 c) O problema da matematizabilidade dos “plena” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 d) A motivação da concepção galilaica da natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 e) O caráter con� rmativo da hipótese cientí� co-natural fundamental . . . . . . . . . . . . . . . 32 f) O problema do sentido de “fórmula” da ciência da natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 g) O esvaziamento de sentido da ciência matemática da natureza pela “tecnicização” . 36 h) O mundo da vida como fundamento esquecido de sentido da ciência da natureza . . 38 i) Erros funestos que se seguem da falta de clareza sobre o sentido da matematização . 42 j) O signi� cado fundamental do problema da origem da ciência matemática da natureza . 45 k) Característica metódica da nossa interpretação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45§ 10. A origem do dualismo na modelaridade dominante da ciência da natureza. A raciona-

lidade do mundo “more geometrico” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47§ 11. O dualismo: razão da inapreensibilidade dos problemas da razão, pressuposto da espe-

cialização das ciências e alicerce da psicologia naturalística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49§ 12. Característica geral do racionalismo � sicalista moderno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52§ 13. As primeiras di� culdades do naturalismo � sicalista na psicologia: a inapreensibilidade

da subjetividade realizadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54§ 14. Caracterização preliminar do objetivismo e do transcendentalismo. O combate destas

duas ideias como o sentido da história do espírito moderno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55§ 15. Re� exão sobre o método do nosso modo histórico de consideração . . . . . . . . . . . . . . . . 56§ 16. Descartes como instituidor original tanto da ideia moderna do racionalismo objetivista

quanto do motivo transcendental que o ultrapassa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

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A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental • Edmund Husserl

VI

§17. O retorno de Descartes ao “ego cogito”. Explicitação do sentido da “epoché” cartesiana . . . 60§ 18. A autointerpretação errônea de Descartes: a falsi� cação psicologista do puro ego alcan-

çado pela “epoché” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63§ 19. O interesse premente de Descartes pelo objetivismo como fundamento da sua errônea

autointerpretação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65§ 20. A “intencionalidade” em Descartes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66§ 21. Descartes como ponto de partida para as duas linhas de desenvolvimento: a do raciona-

lismo e a do empirismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67§ 22. A psicologia naturalístico-gnosiológica de Locke . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68§ 23. Berkeley – A psicologia de David Hume como teoria � ccionalista do conhecimento: a

“bancarrota” da � loso� a e da ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70§ 24. O abalo do objetivismo, verdadeiro motivo � losó� co oculto no contrassenso do ceticis-

mo de Hume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72§ 25. O motivo “transcendental” no racionalismo: a concepção de Kant de uma � loso� a

transcendental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74§ 26. Discussão prévia do conceito, para nós, orientador, de “transcendental” . . . . . . . . . . . . 79§ 27. A � loso� a de Kant e dos seus seguidores da perspectiva do nosso conceito diretor de

“transcendental”. A tarefa de uma tomada de posição crítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

Terceira ParteA CLARIFICAÇÃO DO PROBLEMA TRANSCENDENTAL E A FUNÇÃO CORRES-

PONDENTE DA PSICOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

A. O caminho para a � loso� a transcendental fenomenológica a partir da questão retros-pectiva acerca do mundo da vida pré-dado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

§ 28. O “pressuposto” não explícito de Kant: o mundo da vida circundante dado como óbvio . . 83§ 29. O mundo da vida é acessível como um domínio de fenômenos que permanecem “anô-

nimos” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90§ 30. A ausência de um método intuitivo-mostrativo como razão das construções míticas de

Kant . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92§ 31. Kant e a insu� ciência da psicologia de então. A opacidade da diferença entre subjetivi-

dade transcendental e a mente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94§ 32. A possibilidade de uma verdade escondida na � loso� a transcendental de Kant: o problema

de uma “nova dimensão”. O antagonismo entre “vida super� cial” e “vida profunda” . . . . . 96§ 33. O problema do “mundo da vida” como uma parte do problema geral da ciência objetiva . . 98§ 34. Exposição do problema de uma ciência do mundo da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 a) Diferença entre ciência objetiva e ciência em geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 b) A utilização das experiências relativas ao sujeito para as ciências objetivas e a ciência

dessas experiências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 c) Será que o relativo ao sujeito é objeto da psicologia? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 d) O mundo da vida como universo da intuitividade principial – o mundo “objetiva-

mente verdadeiro” como substrução “lógica” principialmente não intuível . . . . . . . . . . . 103 e) As ciências objetivas como con� gurações subjetivas – como con� gurações de uma

práxis particular, a práxis lógico-teorética, pertencente ela própria à concreção completa

do mundo da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 f) O problema o mundo da vida, não como um problema parcial, mas como problema

� losó� co universal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107§ 35. Analítica da “epoché” transcendental. Primeiro ponto: a “epoché” da ciência objetiva . . . 110

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Índice Geral

VII

§ 36. Como pode o mundo da vida tornar-se o tema de uma ciência, após a “epoché” das ciências objetivas? Distinção de princípio entre o “a priori” lógico-objetivo e o “a priori” do mundo da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

§ 37. As estruturas mais formalmente gerais do mundo da vida: coisa e mundo, por um lado, consciência da coisa, por outro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

§ 38. Os dois modos possíveis fundamentais de tornar temático o mundo da vida: a tomada de atitude direta natural ingênua e a ideia de uma atitude consequente re� exiva sobre o como do modo subjetivo de doação do mundo da vida e dos objetos do mundo da vida . . . . . . . . . 117

§ 39. A especi� cidade da “epoché” transcendental como alteração total da atitude natural da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

§ 40. As di� culdades do sentido genuíno da efetivação da “epoché” total. A tentação de com-preendê-la erroneamente como uma abstenção, a ser realizada passo a passo, de todas as validades particulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

§ 41. A “epoché” transcendental genuína possibilita a “redução transcendental” – a descoberta e a pesquisa da correlação transcendental entre o mundo e a consciência do mundo . . . . . 123

§ 42. A tarefa da indicação concreta de caminhos para uma execução efetiva da redução transcendental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

§ 43. Caracterização de uma nova via para a redução, em contraste com a “via cartesiana” . . . 125§ 44. O mundo da vida como tema de um interesse teórico, determinado por uma “epoché”

universal em relação à efetividade das coisas do mundo da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126§ 45. Início de uma explicitação concreta das dações da intuição sensível puramente como tal . 128§ 46. O “a priori” universal da correlação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129§ 47. Indicação de outras direções de pesquisa: os fenômenos subjetivos fundamentais da sineste-

sia, da mudança de validade, da consciência de horizonte e da comunidade da experiência 131§ 48. Todo o ente, de qualquer sentido e região, como índice de um sistema subjetivo de cor-

relações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134§ 49. Conceito prévio da constituição transcendental como “constituição original de sentido”.

A limitação exemplar das análises efetuadas; indicação de horizontes mais vastos de explicitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

§ 50. Primeira subordinação de todos os problemas de trabalho aos títulos: ego – “cogito” – “cogitatum” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

§ 51. A tarefa de uma “ontologia do mundo da vida” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141§ 52. Emergem incompreensibilidades paradoxais. A necessidade de novas re� exões radicais . . 142§ 53. Os paradoxos da subjetividade humana: o simultâneo ser sujeito para o mundo e ser

objeto no mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146§ 54. A resolução dos paradoxos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 a) Nós, como homens e como sujeitos em última instância funcional-realizadores . . . . . 149 b) O eu como eu originário constitui o meu horizonte do outro transcendental como

cossujeito da intersubjetividade transcendental constituinte do mundo . . . . . . . . . . . . . 150§ 55. A correção de princípio da nossa abordagem inicial da “epoché” pela redução da mesma

ao ego absolutamente único e em última instância funcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153

B. O caminho para a � loso� a transcendental fenomenológica a partir da psicologia . . . . . 155§ 56. Caracterização do desenvolvimento � losó� co depois de Kant sob o ponto de vista da

luta entre o objetivismo � sicalista e o “motivo transcendental” sempre novamente anun-ciado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155

§ 57. A separação funesta entre � loso� a transcendental e psicologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161§ 58. Geminação e distinção da psicologia e da � loso� a transcendental. A psicologia como o

campo decisivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

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A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental • Edmund Husserl

VIII

§ 59. Análise da mudança de atitude, da atitude psicológica para a atitude transcendental. A

psicologia “antes” e “depois” da redução fenomenológica. (O problema do “a� uxo”.) . . . 169§ 60. A razão do fracasso da psicologia: os pressupostos dualistas e � sicalistas . . . . . . . . . . . . 171§ 61. A psicologia na tensão entre a ideia da ciência (objetivístico-� losó� ca) e o proceder

empírico: a incompatibilidade das duas direções da pesquisa psicológica (a pesquisa psi-

cofísica e a “psicologia a partir da experiência interior”) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173§ 62. Discussão prévia do contrassenso da equiparação principial das mentes e dos corpos

como realidades: referência à diferença de princípio da temporalidade, da causalidade e

da individuação nas coisas da natureza e na mente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174§ 63. Questionabilidade dos conceitos de “experiência exterior“ e “interior”. Por que não

pertence até aqui ao tema da psicologia a experiência da coisa corpórea do mundo da

vida, como experiência de algo “meramente subjetivo”? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177§ 64. O dualismo cartesiano como fundamento do paralelismo – Do esquema: ciência descri-

tiva e ciência explicativa, só está justi� cado o aspecto mais formal-geral . . . . . . . . . . . . 179§ 65. Exame da correção de um dualismo empiricamente fundado pela familiarização com o

procedimento fático dos psicólogos e � siólogos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181§ 66. O mundo da experiência geral; a sua tipologia regional e as abstrações universais nela

possíveis: a “natureza” como correlato de uma abstração universal, o problema da “abs-

tração complementar” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183§ 67. O dualismo das abstrações fundadas na experiência. O continuado efeito histórico da

abordagem empírica (desde Hobbes até Wundt). Crítica do empirismo dos dados . . . . 186§ 68. A tarefa de uma explicitação pura da consciência como tal: a problemática universal da

intencionalidade. (O ensaio de Brentano de reforma da psicologia.) . . . . . . . . . . . . . . . 188§ 69. O método psicológico fundamental da “redução fenomenológico-psicológica”. (Primeira

característica: 1. O ser referido intencional e a “epoché”; 2. estádios da psicologia descri-

tiva; 3. estabelecimento do “observador desinteressado”.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190§ 70. As di� culdades da abstração psicológica. (Os paradoxos do “objeto intencional”, o fenô-

meno intencional originário do “sentido”.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195§ 71. O risco da compreensão errada da “universalidade” da “epoché” fenomenológico-psico-

lógica. A signi� cação decisiva da compreensão correta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197§ 72. A relação da psicologia transcendental com a fenomenologia transcendental como o

acesso genuíno ao puro autoconhecimento. Abandono de� nitivo do ideal objetivista nas

ciências da mente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208§ 73. Conclusão: A � loso� a como automeditação humana. Autoefetivação da razão . . . . . . 214

Textos Complementares

A. TRATADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221Ciência da Realidade e Idealização – A Matematização da Natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221Atitude Cientí� co-Natural e Atitude Cientí� co-Espiritual. Naturalismo, Dualismo e Psico-

logia Psicofísica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232A Crise da Humanidade Europeia e a Filoso� a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249

B. ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277Anexo I ao § 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277Anexo II ao § 9a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284Anexo III ao § 9a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292Anexo IV ao § 12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 314

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Índice Geral

IX

Anexo V aos §§ 16 e segs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 318Anexo VI aos §§ 16 e segs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328O Percurso Original da Iª Meditação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337Anexo VII ao § 18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337Anexo VIII ao § 18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339Anexo IX ao § 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 342Anexo X ao §§ 21 e segs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 343Anexo XI ao § 23 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355Anexo XII ao § 23 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 357Anexo XIII à Crise, III A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 358Prefácio à Continuação da “Crise” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 358

Anexo XIV ao § 28 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 369A Reação do Empirismo contra o Racionalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 369Anexo XV ao § 28 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 373Anexo XVI ao § 29 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 378Anexo XVII aos §§ 33 e segs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 380Anexo XVIII ao § 34 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 384Anexo XIX ao § 34e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 387Anexo XX ao § 39 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 389Atitude Natural e “Epoché”. A “Efetuação” da Validade do Mundo: Qual a Efetuação Inibida

na “Epoché” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 389Anexo XXI ao § 46 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393Anexo de Fink sobre o Problema do “Inconsciente” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393Anexo XXII ao § 62 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 395Anexo XXIII ao § 65 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400Anexo XXIV ao § 73 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 403Anexo XXV ao § 73 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 408Anexo XXVI ao § 73 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 419Estádios da Historicidade. Historicidade Primeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 419Anexo XXVII ao § 73 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 421Anexo XXVIII ao § 73 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 425Anexo XXIX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 430Esboço de Fink para a Continuação da “Crise” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 430

Glossário Alemão-Português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 433

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APRESENTAÇÃO DA TRADUÇÃO PORTUGUESA

1. Acerca do Texto

Proibido de qualquer atividade pública na Alemanha nazi, Husserl foi convidado a proferir, em 7 de maio e em novembro de 1935, conferências em Viena e em Praga sobre o tema da “Filoso  a na Crise da Humanidade Euro-peia”. O texto da conferência de Viena foi publicado pela primeira vez em 1954, incluído no volume VI da Husserliana. As conferências de Praga, por sua vez, serviram de base a Husserl para a redação de A Crise das Ciências Filosó cas e a Fenomenologia Transcendental: Uma Introdução à Filoso  a Fenomenológica. Esta foi a obra derradeira e o testamento   losó  co de Husserl, que a fez publicar em Belgrado, em 1936, na Revista Philosophia – testamento que contém um último esforço crítico contra os contrassensos   losó  cos que, no entender do autor, impedem o acesso ao verdadeiro sentido da   loso  a.

Desta primeira edição constavam somente as partes I e II, ou seja, até o parágrafo 27. Husserl viria a adoecer e morrer em 1938, ainda antes da catástro-fe maior da civilização europeia que se seguiria, sem poder publicar as partes III A e III B, ou redigir outras partes que estariam projetadas. Na sua forma atual, a Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental foi trazida à es-tampa somente em 1954, editada por Walter Biemel, como o volume VI da Hus-serliana. As partes I e II (parágrafos 1 a 27) correspondem ao texto publicado em 1936, em Belgrado, cujo manuscrito não foi encontrado pelo editor. Da parte III (parágrafos 28 a 72), não foi encontrado o original redigido em estenogra  a por Husserl, mas somente a cópia passada a limpo por Eugen Fink e anotada pelo autor, cópia que serviu de base à edição de Walter Biemel. Essa cópia chegou a ser enviada por Husserl ao editor. Pretendendo fazer ainda alterações de monta, Husserl pediu, contudo, o manuscrito de volta, não tornando a enviá-lo.

O volume da Husserliana que ora apresentamos em tradução portuguesa inclui (1) a totalidade do texto tal como publicado em 1936 (partes I e II), (2) as partes III A e III B conforme a cópia de Eugen Fink, com acréscimos de Husserl, (3) o texto da conferência de 1935, em Viena, sobre “A Crise da Humanidade Europeia” e (4) uma seleção, feita por Walter Biemel, de diversos outros manus-critos de investigação datados entre 1926 e 1938. Dois desses manuscritos, pela sua extensão e completude, surgem agrupados com a conferência de Viena, e classi  cados pelo editor como “Tratados Independentes”. Os restantes são apre-sentados como Anexos. O parágrafo numerado 73, que antecede imediatamente os textos complementares e que se apresenta como conclusão da Crise das Ciên-

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A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental • Edmund Husserl

XII

cias Filosó� cas é também um manuscrito independente que o editor considerou, por razões de conteúdo, apropriado para funcionar como fecho da obra.

2. A Obra

Husserl considera que a ciência faz parte integrante da origem e do destino da humanidade europeia. Por esta razão, a crise das ciências europeias, muito mais do que uma crise epistemológica, é uma crise espiritual e existencial da Eu-ropa. No entanto, dadas a crescente europeização das outras humanidades e a cienti  zação e tendencial modernização de todas as outras culturas, a crise euro-peia é, além disto, uma crise da humanidade como um todo. Na medida em que a palavra “krísis” signi  ca originalmente escolha ou decisão, tratava-se, no momen-to histórico que a Europa viveu naqueles anos, de decidir acerca do sentido da Eu-ropa e da humanidade. Tratava-se de saber se a humanidade europeia fracassaria perante o ideal da ciência, que é a sua de  nição como humanidade de matriz gre-ga e que a distingue entre as outras culturas historicamente situadas. Ou se, pelo contrário, a humanidade encontraria os meios de levar à prática o ideal da ciência. “Só assim se decide se o telos que, com o nascimento da   loso  a grega, se tornou inato à humanidade europeia, o telos de […] querer ser uma humanidade a partir de uma razão   losó  ca, e de só poder ser como tal, é um mero delírio histórico-fático, uma aquisição acidental de uma humanidade acidental […].”1

Na “razão   losó  ca”, conforme a entende Husserl, está implicado mui-to da história humana. No impulso, originalmente   losó  co, da ciência e da autorre� exão do homem decidiram-se, e continuam a decidir-se, traços fun-damentais da história do Ocidente. Isto é assim em especial sob a forma da Mo-dernidade e da Contemporaneidade, que partiram do impulso originariamente grego,   losó  co e europeu do saber cientí  co – embora saibamos hoje que esse impulso, no seu estado nascente, foi partilhado por algumas outras culturas –, que depois se torna matemático e técnico, e que incluiu também, a cada passo, o concurso do esclarecimento e da autorre� exão teorético-cognoscitivos. Uma parte da crise retratada na obra deriva justamente da inadequação desta última autorre� exão perante o êxito galopante das ciências positivas. Em virtude dessa inadequação, as ciências perderam rapidamente o seu fundamento de sentido.

A crise retratada por Husserl é, nestes termos, uma decisão acerca do sen-tido da história europeia e humana em dois níveis. Em primeiro lugar, trata-se de saber se é possível uma fundamentação última da razão e da ciência por ela produzida. Em caso negativo, a ciência é uma mera simbologia e técnica cegas, às quais não subjaz nem deve subjazer nenhuma inteligência acerca da verdade, do signi  cado e da   nalidade do seu uso. Ao longo da obra, Husserl acentua

1 P. 13, infra.

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Apresentação da Tradução Portuguesa

XIII

repetidamente que a intenção da Fenomenologia transcendental é, pelo contrá-rio, a de fornecer os meios para uma re� exão e uma responsabilidade integrais pelo signi� cado da humanidade que domina e usa a técnica. Trata-se, a� nal, de ver para que serve a ciência, para onde nos conduz, quais as suas limitações, de onde provém, por que e como se transformou em técnica, com as suas virtudes, de� ciências e consequentes riscos.

Mas trata-se também de saber, em segundo lugar, se a humanidade, po-dendo encontrar um solo comum onde se radicar, saberá conduzir-se “no es-forço in� nito de autonormatização por meio desta verdade e genuinidade da humanidade”.2 Husserl toma partido na decisão, muito atual, de saber se a razão – ou alguma forma do que se possa chamar razão – pode e deve reivindicar vali-dade como solo comum de toda a humanidade, ou se a razão � losó� ca, o princi-pal produto europeu, é somente um fenômeno histórico localizado, um aciden-te cultural que em nada se distingue de todas as outras peculiaridades locais. Na verdade, a questão é a de saber se o solo em que as humanidades estão radicadas é o da sua nação, da sua raça, da sua cultura, idioma ou religião especí� cos, ou quaisquer outras particularidades, segundo os acidentes históricos e potências fáticas, ou se há um outro solo para a humanidade regular a sua vida. Trata-se de saber “se a humanidade europeia transporta em si uma ideia absoluta, não sendo um tipo antropológico meramente empírico”,3 e, por conseguinte, se a existência de um solo comum à humanidade, idealizado pela razão � losó� ca, é mais do que um “delírio histórico-fático”.

Husserl pretende que o verdadeiro solo da humanidade está presente no ideal � losó� co do entendimento na razão e pela razão. A crise das ciências eu-ropeias e respectiva civilização, transformadas e submetidas a técnicas cegas, deve-se à perda desse solo. A ciência tecnicizada funciona como uma máqui-na4 sem atenção a qualquer outra fonte de signi� cação vital. A perda do solo comum da sua genuína radicação é a ruína da humanidade e, por isso, “os ver-dadeiros combates do nosso tempo, os únicos signi� cativos, são os combates entre a humanidade já arruinada e a que ainda se mantém radicada, e que luta por essa radicação, ou por uma nova.”5 Essa nova radicação corresponde a uma nova racionalidade � losó� ca, esboçada pela Fenomenologia transcendental.

Dado este quadro da situação, a problemática da Crise das Ciências Eu-ropeias e a Fenomenologia Transcendental pode ser exposta num esquema sim-ples: (1) a apresentação do diagnóstico da crise; (2) a busca da sua etiologia; e (3) as propostas da sua superação.

2 Loc. cit.3 P. 14, infra.4 V. p. 52, infra.5 P. 13, infra.

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A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental • Edmund Husserl

XIV

(1) O diagnóstico. A crise é uma crise dos fundamentos das ciências: falta uma compreensão das suas bases e do seu signi� cado. É uma crise da � loso� a, desencaminhada, segundo Husserl, numa � oresta de contrassensos, ceticismos e irracionalismos. É, também, uma crise existencial da civilização europeia, que abandonou a sua matriz � losó� ca. É ainda, e � nalmente, uma crise da subjetivi-dade, do ser sujeito em geral. Se ser sujeito envolve a capacidade de conhecer-se e julgar-se re� exivamente na sua atitude perante o mundo e si mesmo, então uma � loso� a que nunca encontrou, por diversos acidentes históricos, os meios de uma compreensão adequada do sujeito é o espelho de uma subjetividade aporética e desencaminhada. O motivo de A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental é que a crise, que já vinha de trás, chegou, no presente de Husserl, a uma “escalada violenta”, perante a qual a Fenomenologia se apresenta como restituição da fonte primeira de toda a signi� cação.6

(2) A etiologia. A necessidade de buscar as causas da crise contemporâ-nea conduz Husserl a um estudo (i.e., a uma questão retrospectiva e re� exiva pelo sentido, que Husserl designa “Besinnung”) histórico-sistemático acerca das di� culdades e desenvolvimentos � losó� cos que, no passado, conduziram ao re-ferido extravio da ideia da � loso� a e da compreensão da subjetividade. Esse estudo do sentido parte da de� nição do ideal da ciência como � loso� a. Husserl percorre o modo como a arte da agrimensura se transforma em técnica e ciência geométrica por uma crescente idealização até à Modernidade, quando a reali-dade construída matemática e geometricamente substituiu, como um ser em si, a realidade de onde partiu, numa � gura de pensamento que Husserl denomina “substrução”. Aquilo que era somente um método, uma técnica de produção teórica, transformou-se na realidade em si. O culminar deste processo coincidiu com a � loso� a de Descartes, que aparece como � gura bifronte, inaugural da Mo-dernidade. Se, por um lado, foi o genial iniciador do caminho para uma correta interpretação da subjetividade segundo as exigências da ideia mais autêntica da � loso� a, por outro lado deu também início a um dualismo funesto que, através de várias modi� cações, desembocou no contrassenso psicologista. As duas pos-sibilidades essenciais da Modernidade – o descobrimento re� etido do sentido do ser e a tentação da substituição desse sentido pela tecnicização e objetivação de tudo – estavam desde logo reunidas no pensamento cartesiano. O dualismo mente-corpo cartesiano começou por isolar a objetividade cientí� ca de tudo o que fosse relativo ao sujeito; esse dualismo procurou em seguida elaborar, com os empiristas britânicos, uma psicologia objetiva, como se a mente pudesse ser tratada com um estatuto análogo à ciência objetiva dos corpos físicos; para acabar por tentar atribuir funções teorético-cognoscitivas de fundação das ci-ências objetivas à ciência objetiva que trata da subjetividade, a psicologia, com

6 P. 14 e 15, infra.

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Apresentação da Tradução Portuguesa

XV

o denominado psicologismo.7 A Fenomenologia transcendental não pôde, por isso, deixar de começar justamente por uma crítica ao Psicologismo, conforme elaborada nos Prolegômenos à Lógica Pura, de 1900. Estas falsas interpretações, objetivistas e dualistas, que confundiram a mente com uma substância objetiva e culminaram no psicologismo, impediram uma efetiva autocompreensão da subjetividade humana, e não foi por isso possível compreender a fonte de senti-do de todas as ciências.

(3) Propostas teóricas renovadas. Husserl apresenta a Fenomenologia transcendental numa perspectiva de unidade. As inovações que aparecem na Crise das Ciências Europeias devem ser, segundo o autor, entendidas como ex-tensões e aprofundamento da intenção originária da Fenomenologia. Assim, sob a forma da referida “nova radicação” para as ciências e para a ideia da � loso-� a, é exposta uma racionalidade de� nida, na continuidade do seu trabalho an-terior, segundo uma redescoberta das próprias bases a priori da constituição da intencionalidade. Para além do ego transcendental, como única fonte de sentido para toda a � loso� a e ciência e já largamente tematizado em outras obras, como as Ideias para uma Fenomenologia Transcendental e Filoso� a Fenomenológica, de 1913, ou as Meditações Cartesianas, de 1929, novos temas e conceitos são introduzidos. O mais conhecido dentre eles é o de mundo da vida, que parece disputar agora com o ego transcendental o lugar de fonte originária de sentido. O mundo da vida é entendido como o horizonte pré-cientí� co de sentido prévio a toda e qualquer idealização cientí� ca. Trata-se do mundo da doxa, relativo aos propósitos e � ns humanos, da intuição sensível não “substruída” por cons-truções idealizadas. Compõe-se de teleologias, de corpos, e corpos somáticos, causalidades, signi� cações e indutividades próprias da práxis humana. Toda a ciência, pelo contrário, vive da suspensão, da epoché deste mundo pré-cientí� co. A condição da iluminação objetiva do mundo pela ciência é o obscurecimento do seu signi� cado relativo ao sujeito. Mas esta relatividade é, pelo contrário, constitutiva do mundo da vida. Ora, o mundo não é uma hipótese em nenhum sentido, mas estrutura transcendental a priori, o que quer dizer, inultrapassável. A intencionalidade do ego transcendental manifesta-se, em última instância, como estrutura do mundo da vida. Deste mundo da vida fazem parte outras estruturas fundamentais de sentido, como a do corpo somático, a da intersub-jetividade, a da linguagem ou a da comunidade de cientistas como constitutivos de uma racionalidade não mais unilateralmente encurtada como objetivismo � sicalista ou substrução idealizada. Se a crise da ciência é “a perda da sua signi-� cação para a vida”, o restabelecer da sua signi� cação para a vida deve consistir no reatar da ligação da ciência, pela � loso� a, com as evidências originariamente signi� cativas para a vida. E essas se localizam no mundo da vida, da intersub-

7 V. p. 450, infra.

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A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental • Edmund Husserl

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jetividade ou do corpo. O sentido transcendental a priori deste novo campo da racionalidade é, segundo Husserl, que “nenhum homem imaginável, e por mais transformado que o pensemos, poderia experienciar um mundo noutras maneiras de doação, a não ser na relatividade incessantemente mutável, por nós em geral circunscrita, como um mundo previamente dado na vida da sua cons-ciência e em comunidade com a sua co-humanidade.”8

Mas, ao integrar o mundo da vida como elemento de sentido fundamental, Husserl acabou, então, por ­ car preso à situação no mundo concreto como hori-zonte último, à relatividade situacional, antropológica ou outra, que sempre re-cusou? Ficou em causa o “privilégio absoluto da razão objetiva” que defendia em 1901, na sua 1ª Investigação Lógica, perante a necessária relatividade ao sujeito de todo o mundo da vida? É possível fazer ainda um último esforço re� exivo que dê à Fenomenologia um acesso não meramente factual à relatividade inerente ao mundo da vida, ou seja, uma descrição universalmente válida para a relatividade do mundo da vida? Como relativizar mais uma vez este horizonte último e inul-trapassável de relatividade? Husserl projeta na Crise das Ciências Europeias uma “ontologia do mundo da vida”, uma ciência eidética deste objeto especí­ co, que atenda, na sua evidência própria, à sua relatividade ao sujeito do mundo como fenômeno. A nova questão da Fenomenologia será a racionalidade da história e, como se disse, a do corpo, da intersubjetividade ou da comunidade de investi-gação. A Fenomenologia busca agora uma racionalidade ­ nalmente última, ou seja, que não se abstraia do horizonte mais vasto de sentido, o mundo da vida. Visado é então um conhecimento integral da intencionalidade mais vasta de to-das, a do homem concreto, histórico e social nas suas evidências especí­ cas.

Como entende Husserl a integração desta relatividade mais radical no projeto originariamente eidético da Fenomenologia, projeto esse dotado da sua evidência própria? Também esta relatividade deve ser eideticamente descrita e compreendida ao seu nível de evidência fenomenológica adequado. Para o ­ lósofo, “toda evidência é o nome de um problema, exceto a evidência fenome-nológica, depois de se ter clari­ cado re� exivamente a si mesma e demonstrado como evidência última.”9 Mas esta evidência última caracteriza a ­ loso­ a não como esfera de certezas absolutas, mas como projeto de compreensão do sentido num horizonte in­ nito. Assim, “é, naturalmente, um erro risível, embora infeliz-mente habitual, querer combater a fenomenologia transcendental consideran-do-a como um “cartesianismo”, como se o seu “ego cogito” fosse uma premissa ou esfera de premissas, a partir da qual fossem, com absoluta “segurança”, de-duzidos os restantes conhecimentos […]. Não importa assegurar a objetividade, mas compreendê-la [...]. Deduzir não é explicar. Prever, ou conhecer formas ob-

8 P. 168, infra.9 P. 192-193, infra.

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Apresentação da Tradução Portuguesa

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jetivas de construção de corpos físicos ou químicos e fazer previsões de acordo com isso – nada disto explica coisa alguma, mas necessita de explicação. A única explicação efetiva é tornar transcendentalmente compreensível.”10 A “ontologia do mundo da vida” assim esboçada consiste na descrição que permitirá tornar compreensível, como estrutura transcendental, a partir da teleologia da razão que se torna explícita através da história, até o modo como se constitui necessá-ria e fundadamente o ego na sua concretude mundana.

A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental é um estudo transcendental-histórico que visa a tornar compreensível a crise, exis-tencial e histórica, bem como os fundamentos necessariamente � losó� cos das ciências europeias. A obra culmina os esforços fenomenológicos para de� nir a fonte da signi� cação dos modos da intencionalidade do ego puro. Perante a crise europeia, uma coisa é clara: “não podemos prosseguir seriamente com o nosso � losofar como até aqui”.11 A resposta, para Husserl, não poderia estar em substituir o jugo da razão europeia que, apesar dos descaminhos, deve ser o jugo da responsabilidade perante a humanidade, por um outro, porventura mais pesado ainda, mas em levar até o � m a responsabilidade inerente a essa ra-cionalidade. A tarefa era para Husserl, então, a de encontrar uma racionalidade apropriada para tornar compreensíveis os fenômenos signi� cativos da existên-cia humana, sem abandonar a responsabilidade de uma � loso� a preocupada com a fundamentação última das suas teses. Este esforço � nal de alargamento e aprofundamento da Fenomenologia em direção à história, ao problema do eventual sentido universal da racionalidade europeia e a um questionamento sem restrições – em parte explícito, em parte implícito – acerca do valor das � loso� as relativistas e irracionalistas, conduziu a temas e problemas que se tor-naram centrais para o século XX, e continuam vivos ainda hoje.

A Crise das Ciências Europeias persegue, à maneira fenomenológica, uma verdadeira dialética da Au lärung. Trata-se de indagar se é assim e de iluminar os motivos historicamente esquecidos pelos quais “sempre a razão terá de se tor-nar o sem-sentido, a benfeitoria uma praga”.12 A resposta para este enigma histó-rico, que parece ser comum tanto à razão europeia quanto ao irracionalismo em geral, não passa, segundo Husserl, pela renúncia tout court à ideia europeia da razão, mas pela aprendizagem, por ela, dos novos territórios próprios da relativi-dade, que são inerentes ao mundo da vida e aos temas a ele associados. Especial-mente no momento da crise da razão “é de qualquer maneira necessário o estudo [a questão re� exiva ao sentido, “Besinnung”], para que nos encontremos.”13

10 Ibidem.11 P. 14, infra.12 P. 4, infra.13 P. 510, infra.

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A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental • Edmund Husserl

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3. Sobre a Tradução

A tradução para a língua portuguesa que trazemos agora a público segue a edição da Husserliana, volume VI: Edmund Husserl, Die Krisis der europäis-chen Wissenscha� en und die transzendentale Phänomenologie. Eine Einleitung in die phänomenologische Philosophie, org. por Walter Biemel, 2. Au� age, Haag, Martinus Nijho� , 1962. A tradução procura um compromisso entre a legibilida-de e a literalidade. Julgamos que em quase todos os casos foi possível encontrar uma via sem sacri� car essencialmente nem a língua portuguesa, nem o pensa-mento, a escrita e o estilo do autor. Em diversas passagens de maior di� culdade socorremo-nos do auxílio das seguintes traduções: Edmund Husserl, La Crise des Sciences Européennes et la Phénoménologie Transcendantale. Traduzida do alemão por Gérard Granel. Paris: Gallimard, 1976; e Edmund Husserl, � e Cri-sis of European Sciences and Transcendental Phenomenology. An Introduction to Phenomenological Philosophy. Traduzida por David Carr. Evanston: Northwes-tern Univesity Press, 1970.

A terminologia foi bastante melhorada com o auxílio do Doutor Pedro Alves, a quem dirijo o respectivo agradecimento. Ao Doutor Pedro Alves deve-se também a tradução incluída neste volume da conferência de Viena “A Crise da Humanidade Europeia e a Filoso� a”.

As notas de rodapé acrescentadas pelo tradutor estão assinaladas com as iniciais N.T. São as notas com as considerações estritamente indispensáveis para a boa leitura da tradução.

Completa a tradução um Glossário Alemão-Português, onde reunimos diversos termos técnicos, peculiaridades que se revelaram necessárias para a tradução ou termos de tradução menos fácil ou menos óbvia.

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