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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PREVALÊNCIA DE LESÕES PARASITÁRIAS DE CISTICERCOSE BOVINA EM CARCAÇAS DE BOVINOS ABATIDOS EM FRIGORÍFICOS COM INSPEÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO PARANÁ EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

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Page 1: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PREVALÊNCIA DE LESÕES PARASITÁRIAS DE CISTICERCOSE BOVINA

EM CARCAÇAS DE BOVINOS ABATIDOS EM FRIGORÍFICOS COM

INSPEÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO PARANÁ

EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO

CURITIBA

2012

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EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO

PREVALÊNCIA DE LESÕES PARASITÁRIAS DE CISTICERCOSE BOVINA

EM CARCAÇAS DE BOVINOS ABATIDOS EM FRIGORÍFICOS COM

INSPEÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO PARANÁ

Monografia apresentada para obtenção do

título de Especialista em Inspeção de Produtos

de Origem Animal, no Curso de Pós Graduação

em Ciências Veterinárias, Setor de Ciências

Agrárias, Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Michele Garcia Medeiros

CURITIBA

2012

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Page 4: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus que me deu força para transpassar por esta

tarefa.

Page 5: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

RESUMO

O presente estudo analisou a incidência de cisticercose bovina em dois

frigoríficos sob o Serviço de Inspeção Federal no Estado do Paraná no ano de

2005.

Os dados foram obtidos através dos mapas nosográficos mensais, os quais

alimentava o sistema do SIGSIF, onde continham registros do número de

animais abatidos e a quantidade de animais positivos para cisticercose.O SIF

641 apresentou uma prevalência de 2,52% e o SIF 3910 7,63% de casos de

cisticercose, demonstrando uma disparidade na ocorrência da doença entre os

dois estabelecimentos. Os dados analisados demonstram altos índices médios

de cisticercose bovina (5,06%), quando comparados a outros estudos no

Estado. Quando comparados a estudos anteriores no estado de São Paulo

demonstra-se uma certa igualdade nos índices de prevalência da doença. A

partir dos resultados obtidos, conclui-se que os índices de prevalência da

cisticercose bovina para o Estado do Paraná foram altos, o que significa que

trabalhos educativos e instrutivos quanto ao problema devem ser

intensificados.

Palavras-chave: cisticercose, mapas nosográficos

Page 6: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

ABSTRACT

This study examined the incidence of bovine cysticercosis in two cold-storage-

slaughterhouses under Federal Inspection Service in the State of Parana in

2005.

The data were obtained from the monthly maps nosographic, this eatng in the

system SIGSIF, which contained records of he number of animals slaughtered

and the number of animals positive for cysticercosis.O SIF 641 showed a

prevalence of 2.52% and the SIF 3910 prevalence 7,6% of cases of

cysticercosis, demonstrating a disparity in disease occurrence. The data

demonstrate high rates of bovine cysticercosis average (5.06%) when

compared to other studies on State.Whose compared to previous studies in São

Paulo shows is a certain equality in rates of disease prevalence. From the

results, we conclude that the prevalence rates of bovine cysticercosis in the

State of Paraná were high, which means that instructional and educational work

on the problem should be intensified.

Key-words: cysticercosis, maps nosographic.

Page 7: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Taenia saginata. (Fonte: NUNES, 2008, p.13 ) ............................................ 3

Figura 2. Presença de cistos (cisticercose) na musculatura de bovino. (Fonte:

ARÇARI, 2008, p.19) ................................................................................................... 4

Figura 3: Cisticercose em músculo de bovino. (ARÇARI, 2008, p.20) ......................... 5

Figura 4: Neurocisticercose. Corte sagital do cérebro em que pode ser

observado um cisticerco no interior do ventrículo lateral e outro no lobo frontal

(setas). (LINO et al., 1999, p. 497) ............................................................................ 10

Figura 5: Cisticercose cardíaca. Corte sagital, no qual pode ser observado um

cisticerco no terço superior do septo interventricular (seta). (LINO et al., 1999,

p. 497) ....................................................................................................................... 11

Figura 6: Ranking de ocorrência de cisticercose bovina por município no período de

2005 no Estado do Paraná de animais abatidos nos frigoríficos do Serviço de Inspeção

Federal números 641 e 3910........................................................................................19

Page 8: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Prevalência da cisticercose bovina por localização, de um total

92.994 bovinos abatidos em Matadouro Frigorífico com Inspeção Federal,

localizado no município de Teixeira de Freitas, no período de janeiro a

dezembro de 2007. ..................................................................................................... 7

Tabela 2: Dados e resultados obtidos na linha de inspeção em matadouro

frigorífico – Serviço de Inspeção do estado de Santa Catarina no ano de 2006. ...... 13

Tabela 3: Prevalência de cisticercose bovina em municípios da Bahia,

detectada em Matadouro Frigorífico com Inspeção Federal, localizado no

município de Teixeira de Freitas, no período de janeiro a dezembro de 2007. ......... 14

Tabela 4: Estudos de pesquisadores, referentes à inviabilização da cisticercose

bovina, relacionando a temperatura e o tempo de exposição. .................................. 17

Tabela 5. Prevalência de cisticercose bovina em animais abatidos em

frigoríficos sob inspeção federal no Estado do Paraná, de janeiro à dezembro

de 2005 . ................................................................................................................... 19

Page 9: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 2

2.1 HISTÓRICO ................................................................................................ 2

2.2 TAXONOMIA .............................................................................................. 3

2.3 DISTRIBUIÇÃO .......................................................................................... 5

2.4 IDENTIFICAÇÃO ........................................................................................ 5

2.5 LOCALIZAÇÃO DO HOSPEDEIRO ........................................................... 6

2.6 CICLO EVOLUTIVO ................................................................................... 7

2.6.1 TAENIA NO HOMEM ............................................................................... 7

2.6.2 CISTICERCOSE BOVINA ...................................................................... 8

2.6.3 CISTICERCOSE HUMANA ..................................................................... 8

2.7 PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA ........................................... 9

2.7.1 TENÍASE NO HOMEM ....................................................................... 9

2.7.2 CISTECERCOSE BOVINA................................................................. 9

2.7.3 CISTICERCOSE HUMANA ................................................................ 9

2.8 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................... 11

2.8.1 SITUAÇÃO NO BRASIL ................................................................... 12

2.9 DIAGNÓSTICO......................................................................................... 14

2.10 TRATAMENTO ....................................................................................... 15

2.11 PREVENÇÃO E CONTROLE ................................................................. 15

3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 17

4. RESULTADOS ...................................................................................................... 18

5. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 20

6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 21

7. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 21

Page 10: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

1

1. INTRODUÇÃO

A teníase e a cisticercose são duas entidades distintas causadas pelo

mesmo gênero de Cestódeos, porém, em fases de ciclo evolutivo distintas. A

teníase é uma doença provocada pela presença da forma adulta da Taenia

solium ou Taenia saginata, no intestino delgado de seu hospedeiro definitivo, o

homem. A cisticercose, por sua vez, é uma entidade causada pela presença da

forma larvária das Taenias, nos tecidos de seus hospedeiros intermediários

que são o suíno e o bovino (LINO et al., 1999).

Na cisticercose humana, o homem está na posição de hospedeiro

intermediário anômalo. A infestação humana tem sido relacionada aos

precários hábitos higiênicos, a condições sanitárias adversas e ao regime de

criação extensiva dos suínos e bovinos, a doença apresenta importância

mundial, uma vez que milhões de indivíduos são acometidos por esta

zoonose.A ocorrência desta enfermidade reflete seriamente na pecuária

brasileira por atingir várias espécies de animais e ser problema para a saúde

pública pela possibilidade de infecção do homem (LINO et al.,1999).

Segundo Almeida et al. (2002), o Brasil possui o segundo maior rebanho

de gado bovino do mundo, ficando atrás apenas da Índia, bem como ocupa a

segunda posição mundial em relação ao abate de bovinos, antecedido pela

China. Almeida et al. (2002) ainda relata que a cisticercose é a doença mais

freqüentemente diagnosticada durante o abate de bovinos e a principal causa

de condenação.

O Brasil é um país provido de inspeção sanitária em matadouros

frigoríficos, onde o Serviço de Inspeção Federal, fiscaliza cerca de 49% dos

animais abatidos .A intervenção do médico veterinário na prevenção da

cisticercose deve ser no sentido de interromper o ciclo evolutivo do parasito,

reduzindo, assim, pouco a pouco, a freqüência da teníase no homem, o

hospedeiro definitivo,sendo a inspeção de carnes um dos meios mais práticos

capazes de interromper a cadeia de transmissão da T. saginata, porém deve ser

enfatizada que ela sozinha não evita a teníase humana (MOREIRA et al., 2002).

Page 11: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

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O objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica sobre

o tema e um estudo relativo a incidência de cisticercose bovina em dois

abatedouros no Estado do Paraná, através de práticas usuais de inspeção

sanitária em bovinos abatidos em frigoríficos no Paraná. O presente estudo

fundamentou-se na avaliação dos dados compilados de abate do Serviço de

Inspeção Federal, podendo subsidiar ações de prevenção e controle da zoonose

em questão.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 HISTÓRICO

As infecções parasitárias são conhecidas desde o tempo da pré-história.

Segundo Nunes (2008) o medo da cisticercose já existia há 300 anos antes de

Cristo, pois a lei dos judeus proibia a ingestão da carne suína devido a descrição

de Aristóteles sobre a carne de suínos. Moisés e Maomé também colaboraram

para que o conceito de que o suíno era transmissor da cisticercose.

Foster (1965), considerando as descrições sobre as tênias encontradas

nos trabalhos da antigüidade, somadas aos conhecimentos modernos sobre a

história natural destes parasitas e sobre os hábitos modernos alimentares dos

povos que viviam ao redor do Mediterrâneo, concluiu que as espécies de tênias

prevalentes naquela época eram a Taenia solium e a Taenia saginata.

O ciclo da T. saginata foi estabelecido por Leuckart, (1861, citado por

Dewhirst, 1975), que administrou proglotes por via oral a bezerros, obtendo a

forma larvar e, por Oliver, em 1869, que reverteu o procedimento de Leuckart,

obtendo a forma adulta ao infectar homens com cisticercos de bovinos.

O nome de Cisticercus foi dado por Laennec em 1804 e deriva das

palavras gregas “Kystic” = vesícula e kercos = apêndice ou cauda. Van Beneden

(1853) foi o primeiro a suspeitar da relação do cisticerco com as tênias,estando

relacionadas as observações Kucknmeister (1855) e a Leuckart (1856) a melhor

identificação e caracterização dos cisticercos e a Virchow (1860) a definição de

seu ciclo de vida (PAWLOWSKI e SCHULTZ, 1972).

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2.2 TAXONOMIA

As tênias pertencem classe Cestoda, a ordem Cyclophyllidea, família

Taenidae e gênero Taenia.Esta classe possui estrutura achatada e sem canal

digestivo, o corpo é segmentado e cada segmento contém um ou dois conjuntos

de órgãos reprodutores masculinos e femininos (URQUHART et al.,1998).

Figura 1. Taenia saginata. (Fonte: NUNES, 2008 )

Os Cestodas possuem escólex com quatro ventosas, poros genitais laterais

(FORTES, 1997). Em relação a estrutura do sistema genital, à medida que o

segmento amadurece, sua estrutura interna desaparece e o proglote gravídico

contém apenas resquícios de útero cheio de ovos. Estes segmentos grávidos

saem intactos do estróbilo e são eliminados com as fezes. Estes ovos são

constituídos de: Embrião hexacanto (6 ganchos) ou oncosfera, uma casca

espessa denominada embrióforo e uma delicada membrana ( URQUHART et al;

1998).

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4

Os adultos da família Taenidae são encontrados em carnívoros domésticos

e no homem. O estágio intermediário é denominado cisticerco, estrobilocerco,

cenuro ou cisto hidático, ocorrendo apenas em mamíferos( URQUHART et al;

1998).

O cisticerco pode medir de 5 a 6 milímetros comprimento e possui uma

cápsula delgada rodeada por tecido conjuntivo, onde em seu interior há presença

de um líquido translúcido ( FORTES, 1997). As figuras 2 e 3 ilustram a presença

de cistos da cisticercose na musculatura do bovino.

Figura 2. Presença de cistos (cisticercose) na musculatura cardíaca de bovino. (Fonte: ARÇARI, 2008)

Page 14: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

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Figura 3: Cisticercose em músculo de bovino. (ARÇARI, 2008)

2.3 DISTRIBUIÇÃO

O complexo teníase/cisticercose determinado pela Taenia saginata

apresenta distribuição cosmopolita estando difundido na maioria dos países onde

há criação bovina (UNGAR e GERMANO,1992).

A doença é endêmica na América Latina e no Brasil foi detectada numa

freqüência média de 1% entre os anos de 1965 a 1968 e de 3% entre os anos de

1986 a 1989 (GEMMELL et al., 1983).

2.4 IDENTIFICAÇÃO

A taenia saginata mede 6 a 7 metros e não possui ganchos no rostro

(HUGGINGS, 1989). Suas proglotes são notadas pelo hospedeiro por serem

eliminadas ativamente do organismo com movimentos perceptíveis mostrando

ramificações segmentares (HUGGINGS, 1989).

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No bovino, o cisticerco maduro é de cor branca-acinzentada, com

aproximadamente 1 cm de diâmetro e encontra-se cheio de líquido e seus

músculos de predileção são: coração,língua,masseter e intercostais (URQUHART

et al.,1998).

Segundo Rey (1992) Cada proglote grávida contém em torno de 80.000

ovos, sendo que uma pessoa parasitada pode eliminar no meio ambiente cerca

de 70.000 ovos por dia.

2.5 LOCALIZAÇÃO DO HOSPEDEIRO De acordo com Fortes (1997), a forma adulta da Taenia saginata é

encontrada somente no ser humano, sendo este o hospedeiro definitivo, aderida a

mucosa do intestino delgado, denominando-se, desta maneira, teníase ou

“solitária”. O autor também comenta que a forma larvar acomete os bovinos

(hospedeiro intermediário) e raramente outras espécies, onde a larva de

cisticercos (Cysticercus bovis) é encontrada principalmente na musculatura do

masseter, diafragma, coração, língua, sistema nervoso central, fígado e

pulmões.Atribui-se o tropismo deste parasita por estes órgãos em decorrência do

maior aporte sangüíneo (ALMEIDA et al, 2002).

A tabela 1 mostra a prevalência da cisticercose bovina por localização, de

um total 92.994 bovinos abatidos em Matadouro Frigorífico com Inspeção Federal,

localizado no município de Teixeira de Freitas, no período de janeiro a dezembro

de 2007. (ARÇARI 2008).

Raramente ovinos e caprinos podem ser hospedeiros intermediários e

excepcionalmente o humano (FORTES, 1997).

Tabela 1. Prevalência da cisticercose bovina por localização, de um total 92.994 bovinos abatidos em Matadouro Frigorífico com Inspeção Federal, localizado no município de Teixeira de Freitas, no período de janeiro a dezembro de 2007.

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Peças Inspecionadas Número de Casos Prevalência (%)

Cabeça 43 0,05

Coração 228 0,24

Fígado 536 0,58

Carcaça 22 0,02

Total 829 0,89 * Cabeça: Músculos Masséteres e Pterigóides. (Fonte: Arçari, 2008, p.12).

2.6 CICLO EVOLUTIVO

2.6.1 TENÍASE NO HOMEM

O homem adquire a tênia ao ingerir carne contaminada crua ou mal cozida

contendo cisticercos (GEMMELL et al., 1983). Os cisticercos são liberados

durante a digestão da carne e o escólex desenvagina sob ação da bile, fixando-se

no intestino delgado. As primeiras proglotes são eliminadas dentro de 60 a 70

dias. A tênia vive no intestino delgado do homem e, normalmente, o hospedeiro

alberga apenas um parasita. Isso poderia ser devido à imunidade desenvolvida

pelo próprio hospedeiro, impedindo o desenvolvimento de outras tênias da

mesma espécie (REY, 1992).

Estão mais sujeitas à teníase as pessoas que preparam alimentos e

provam a carne antes de cozinhar e indivíduos que fazem as refeições fora de

casa. Fatores econômicos, culturais (hábitos alimentares) e religiosos tendem a

expor certos grupos de indivíduos em maior ou menor grau. Na culinária

tradicional de muitas culturas, há pratos que utilizam carne crua, por exemplo o

quibe cru. (REY, 1991). De acordo com Urquhart et al. (1996) do desenvolvimento

até a patência da enfermidade dura em torno de dois à três meses.

2.6.2 CISTICERCOSE BOVINA

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Borchert (1983) e Fortes (1997) relataram que os bovinos se infectam com

os ovos da tênia ao ingerir pastagem ou água contaminada.Estes, ao ganhar o

trato gastrointestinal, não sofrerão nenhuma alteração pelo suco gástrico. Ao

chegar no intestino, sob a ação dos sucos pancreáticos, eclodirão liberando os

embriões.

O contágio em bovinos pode ocorrer logo após o nascimento, através da

lambedura das tetas contaminadas de fezes, provenientes das mãos sujas dos

ordenhadores (FORTES, 1997).

Os embriões ficarão livres no intestino, fixando e penetrando à mucosa

intestinal, onde posteriormente ganharão a corrente sangüínea apresentando

tropismo por alguns tecidos, sendo os de maior predileção a musculatura do

masseter, diafragma, língua e coração (FORTES, 1997).

2.6.3 CISTICERCOSE HUMANA

O homem adquire cisticercose através da ingestão de alimentos

contaminados (frutas e verduras) com ovos de tênia, através do uso de água de

irrigação contaminada com água de esgoto, ou ainda pela utilização de fezes

humanas como adubo. Também pode ocorrer a ingestão de ovos através de água

contaminada. Uma outra fonte importante de contaminação são os manipuladores

de alimento, que contaminam os alimentos através de maus hábitos higiênicos. O

próprio portador de teníase, através de maus hábitos de higiene, também pode se

auto-contaminar (REIFF, 1994).

Outra hipótese é a possibilidade de uma auto-contaminação interna através

de movimentos anti-peristáticos, onde os ovos voltam do intestino delgado ao

estômago e sofrendo ação do suco gástrico liberam as oncosferas para a corrente

circulatória, porém este fato não está completamente elucidado (REY, 1991).

Segundo Organização Panamericana de saúde (1994), a ingestão de

alimentos artesanais, os quais não passam por uma fiscalização de um sistema

da inspeção são favoráveis a infecção.

2.7 PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA

Page 18: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

9

2.7.1 TENÍASE NO HOMEM

De acordo com Nascimento (1985) um tempo prolongado de parasitismo

resulta em reações tóxico- alérgicas, além de provocar hemorragias no ponto de

fixação do parasita que é a mucosa intestinal, a qual tem seu epitélio destruído e

em conseqüência disto a mucosa se torna inflamada ocorrendo secreção de

muco.

Os sintomas desta parasitose são perda de peso, náusea, perda de apetite,

dores de cabeça, diarréia, constipação e tonturas. Não existe um sinal

patognomônico específico (PAWLOWSKI e SCHULTZ, 1972)

Fortes (1997) relata que uma pessoa aparentemente sadia e bem nutrida,

geralmente apresenta-se assintomática.

2.7.2 CISTICERCOSE BOVINA

A presença de cisticercos nos músculos bovinos, não está associada a

ocorrência de uma sintomatologia clínica, porém estudos feitos com bezerros

submetidos a infecções maciças por ovos de T. saginata demonstraram que estes

animais desenvolveram grave miocardite e insuficiência cardíaca decorrente da

presença de cisticercos no coração (URQUHART et al.,1998).

2.7.3 CISTICERCOSE HUMANA

Segundo Pfuetzenreiter e Pires (2000), a importância da cisticercose na

patologia humana depende da localização do parasita nos tecidos nobres como

os do globo ocular e do sistema nervoso central, sendo que a neurocisticercose é

considerada a mais grave doença de origem parasitária humana.

Urquhart et al (1998), relatam que quando o cisticerco se aloja na

musculatura dificilmente apresentam sinais. No entanto, BORCHERT (1981)e

Fortes (1997), comentam que estas estruturas podem permanecer no sistema

nervoso central ocasionando quadro de convulsão e ataques epiléticos. As figuras

Page 19: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

10

4 e 5 mostram respectivamente um corte sagital do cérebro e do coração humano

em que podem ser observados cistos de cisticercose.

Figura 4: Neurocisticercose. Corte sagital do cérebro em que pode ser observado um cisticerco no interior do ventrículo lateral e outro no lobo frontal (setas). (LINO et al., 1999)

Page 20: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

11

Figura 5: Cisticercose cardíaca. Corte sagital, no qual pode ser observado um cisticerco no terço superior do septo interventricular (seta). (LINO et al., 1999, p. 497)

2.8 EPIDEMIOLOGIA

Segundo Carvalho et al.(2005) pelas estimativas conservadoras da

Organização Mundial da Saúde (OMS), há pelo menos 2,5 milhões de pessoas

infectadas com teníase no mundo, distribuídas principalmente na América Latina,

na antiga União Soviética, no Extremo Oriente incluindo a Índia, e no Continente

Africano. A teníase/cisticercose está demarcada geograficamente dentro daqueles

países que têm como denominador comum à pobreza e a falta de educação e de

infra-estrutura sanitária adequada.

Os valores da prevalência de cisticercose bovina (Cysticercus bovis)

provêm dos serviços de inspeção veterinária em matadouros. Esta inspeção é

Page 21: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

12

realizada em vários países do mundo, porém os métodos diagnósticos "post

mortem" utilizados, geralmente possuem diferenças entre si. Desta forma, torna-

se difícil a comparação dos resultados obtidos pelos diferentes países, podendo

os mesmos ser discutidos apenas de uma maneira genérica. (PAWLOWSKI e

SCHULTZ, 1972)

Urquhart et al (1998), apontam dois modelos epidemiológicos distintos:

países em desenvolvimento e países desenvolvidos. Os países em

desenvolvimento como África, Ásia e América Latina, apresentam em sua maioria

criação extensiva de bovinos, as condições de higiene são mais precárias e há

uma falta de conhecimento da população. Estes fatores fazem com que a

incidência de infecção humana seja mais elevada e como conseqüência da má

higiene destas pessoas os animais acabam sendo infectados.

Já em países desenvolvidos como os da Europa, América do Norte,

Austrália e Nova Zelândia, além de os padrões de higiene serem mais altos que

os dos países em desenvolvimento, a carne é inspecionada mais criteriosamente,

por isto a taxa tanto de infecção humana quanto de infecção bovina são

consideradas baixas (URQUHART et al.,1998).

2.8.1 SITUAÇÃO NO BRASIL

Nunes (2008) desenvolveu no ano de 2008 um trabalho sobre os achados

de cisticercose bovina em estabelecimento oficial no estado de Santa Catarina e

concluiu que as lesões de cisticercose foram umas das mais freqüentes

encontradas na linha de inspeção no matadouro e apresentaram um alto índice de

prevalência (1,405%). A tabela 2 mostra os dados e resultados obtidos na linha de

inspeção em matadouro frigorífico – Serviço de Inspeção do Estado de Santa

Catarina no ano de 2006.

Em contrapartida, (Arçari 2008) desenvolveu um estudo com bovinos

abatidos em frigorífico com Inspeção Federal, em Teixeira de Freitas – BA e

constatou que de acordo com seus dados obtidos a prevalência da cisticercose

bovina avaliada correspondia aos índices de prevalência de países

desenvolvidos. A tabela 3 mostra os índices obtidos pelo autor da prevalência de

cisticercose bovina em municípios da Bahia.

Page 22: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

13

Tabela 2: Dados e resultados obtidos na linha de inspeção em matadouro frigorífico – Serviço de Inspeção do estado de Santa Catarina no ano de 2006.

Região conforme Número de animais abatidos Quantidade % administração regional

Chapecó 1575 4 0,254 Concórdia 21 1 4,762

Campos Novos 2309 58 2,512 Caçador 411 3 0,73 Mafra 1943 26 1,338 Lages 5038 66 1,31

Rio do Sul 34 0 0 Itajaí 67 0 0

São José 0 0 0 Crisciúma 0 0 0 Tubarão 110 0 0 Joinvile 372 7 7

São Miguel do Oeste 246 2 2 Central 0 0 0

Terminal Graneleiro 0 0 0 Posto Agropecuário de

Indaial 0 0

0 Dragagem do Tubarão 0 0 0

Videira 314 3 0 Xanxerê 3361 35 1,041 Blumenal 902 27 2,993 Joaçaba 1270 24 0,787 Canoinhas 710 6 0,845 São Joaquim 433 6 1,386

TOTAL 19072 268 1,405 Fonte: Nunes (2008, p.26)

Page 23: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

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Tabela 3: Prevalência de cisticercose bovina em municípios da Bahia, detectada em Matadouro Frigorífico com Inspeção Federal, localizado no município de Teixeira de Freitas, no período de janeiro a dezembro de 2007.

Municípios Bov. Abatidos Cisticercose Prevalência (%) Alcobaça 1401 16 1,14 Caravelas 2892 16 0,56 Guaratinga 452 2 0,44 Ibirapuã 2095 17 0,81

Itabela 401 13 3,24

Itamarajú 6096 46 0,75 Itanhem 9128 91 0,99 Jucuruçu 2095 43 2,05 Lajedão 2674 34 1,22 Mascote 101 0 0

Medeiros Neto 6705 45 0,67 Mucuré 2455 17 0,69

Porto Seguro 976 6 0,61 Prado 1823 18 0,99

Teixera fe Freitas 50548 505 1 Vereda 3305 36 1,09 TOTAL 92994 850 0,91

Fonte: Adaptado de Arçari, 2008 p.12

2.9 DIAGNÓSTICO

Fortes (1997) comenta que o diagnóstico da teníase se baseia nos sinais

clínicos, onde geralmente o principal é a presença do proglótides junto às fezes

ou nas roupas íntimas do hospedeiro. Os exames laboratoriais baseiam-se nos

métodos de sedimentação e tamisação.

Segundo Borchert (1981 ) há dificuldade de diagnosticar a cisticercose em

animais vivos, e relata que em animais abatidos os cisticercos podem ser

visualizados nas regiões de maior aporte sanguíneo e, em caso de cisticerco

calcificado a utilização de raios-x é indicada na identificação do mesmo. Germano

(2001) ressalta que a tomografia computadorizada é um excelente auxílio no

diagnóstico da cisticercose humana.

Minozo et al. (2004) desenvolveram um teste de ELISA indireto para

pesquisa de anticorpos contra o C.bovis em bovinos infectados

Page 24: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

15

experimentalmente e naturalmente e com este teste pesquisaram-se anticorpos

contra C. bovis. em soro de bovinos não portadores de cisticercos pelo serviço de

inspeção. Foi observado que em animais considerados negativos, quando feito

cortes paralelos aos tecidos foram encontrados cisticercos. Com isto conclui-se

este teste traz inúmeras vantagens, pois com a realização do mesmo há a

possibilidade de monitorar a prevalência da teníase humana baseando-se na

sorologia, realizar exames do rebanho para indicar o período de introdução da

patologia na propriedade. Outra vantagem seria a possibilidade dos animais que

vão para o abate com sorologia positiva sofrerem uma inspeção diferenciada.

2.10 TRATAMENTO

Tanto para a cisticercose animal quanto para a humana, o quimioterápico

Praziquantel é a droga de escolha. Comentam ainda, que o mesmo poderá ser

preconizado na forma adulta do parasita (GERMANO et al 2001).

Segundo Arçari (2008), as drogas de escolha para eliminar o parasita são:

Mebendazol, Niclosamida ou Clorossalicilamida, Praziquantel, Albendazol, sendo

que todas devem ser administradas por via oral.

2.11 PREVENÇÃO E CONTROLE

Os ovos de todas as tênias são sensíveis à dessecação e à temperatura

elevada, podendo permanecer viáveis na pastagem por até 12 meses

(HUGGINGS, 1989). Os ovos são resistentes ao tratamento convencional de

esgotos, porém o tratamento de água por sedimentação, floculação e filtração é

suficiente para eliminar os ovos (PFUETZENREITER e PIRES, 2000).

De acordo com Pfuetzenreiter e Pires (2000), fatores econômicos, culturais

(hábitos alimentares) e religiosos, podem ser determinantes na contaminação de

um indivíduo. Contudo, a prevenção é um excelente meio para o controle da

infestação por tênia e cisticerco, sendo as principais: educação sanitária do

homem; tratamento de indivíduos parasitados uma vez que são disseminadores

da doença; implantação de fossa e rede de esgoto (saneamento básico); lavar

Page 25: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

16

bem os alimentos antes do seu consumo; não ingerir carnes cruas ou mal

passadas e implantação de inspeção sanitária em matadouros

frigoríficos.(BORCHERT, 1981).

URQUHART et al, (1998), relata que o uso do esterco humano como

fertilizante deve ser restrito à áreas onde não são ocupadas por bovinos. Já Rieif

(1994) explica que na utilização de fezes como fertilizantes, a maneira mais

prática de eliminar os ovos de tênia são pela absorção de temperatura através da

compostagem aeróbica.

Segundo Arçari (2008), deve ser realizado um bloqueio de foco onde

serão identificados indivíduos eliminando proglótides, animais com cisticercose e

familiares envolvidos, dessa forma executando o tratamento dos envolvidos.

O matadouro deve desempenhar duas funções básicas no que se refere ao

complexo teníase/cisticercose (T. saginata). A primeira é participar da prevenção

da teníase humana, através da destinação adequada de carcaças e órgãos

bovinos cisticercóticos. A segunda é atuar como fonte de dados estatísticos e

nosogeográficos, função esta primordial dentro da vigilância sanitária. O

diagnóstico da cisticercose, somado à informação de origem do animal, possibilita

definir as áreas de ocorrência da doença, bem como a sua quantificação

(GERMANO et al 2001).

Urquhart et al. (1998) ressalta que em países desenvolvidos o controle da

cisticercose bovina depende das condições de higiene da população as quais são

de alto padrão, inspeção compulsória da carne e do cozimento completo da

carne, onde a temperatura para morte dos cisticercos é de 570C. Além disso onde

são detectadas carcaças com mais de 25 cisticercos é comum a destruição da

mesma.

O congelamento da carne bovina por mais de quatro dias a temperaturas

de – 50 e a salga inviabilizam os cisticercos. Por este motivo, recomenda-se que

carcaças de bovinos com cisticercose com número pequeno de cistos sejam

tratadas por 21 dias em salmoura (PFUETZENREITER e PIRES, 2000). A tabela

4 mostra um estudo feito por pesquisadores referente à inviabilização da

cisticercose bovina, relacionando a temperatura e tempo de exposição.

Page 26: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

17

Tabela 4: Estudos de pesquisadores, referentes à inviabilização da cisticercose bovina, relacionando a temperatura e o tempo de exposição.

Autores/ Local Temperatura de Tempo de Ano estudado Inviabilização Exposição

Barlels e Tandler Alemanha -50C 10 horas

1963

Benesson EUA -50 C 4 dias

1962

Rey Brasil -150C 6 dias

1991

Barlels e Tandler Alemanha -15oC 1 hora

1963

Barlels e Tandler Alemanha -30oC 20 minutos

1963

Aljadar Iraque -20oC 3 dias

1988 Fonte: Adaptado de Arçari, 2008 .

3. MATERIAL E MÉTODOS

Os dados foram obtidos através de mapas nosográficos do Serviço de

Inspeção Federal, disponibilizados na área do endereço eletrônico:

www.agricultura.gov.br no link Sistema de Informações do Serviço de Inspeção

Federal (SIGSIF)/área restrita.

Foram analisados dados de 2 frigoríficos que abatem bovinos no estado do

Paraná sob serviço de Inspeção Federal.

Todo o processo de abate e a realização do exame post mortem, consistiu

nos procedimentos previstos em normas oficiais do Ministério da Agricultura

pecuária e Abastecimento- RIISPOA (BRASIL, 1971), executados sob o controle

do Médico Veterinário Fiscal Federal Agropecuário.

A inspeção post mortem obedeceu as seguintes normas:

1- Cabeça – observam-se e incisam-se masseteres e pterigóideos internos e

externos.

Page 27: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

18

2- Língua – o órgão deve ser observado externamente, palpado e praticados

cortes quando surgir suspeita de existência de cistos ou quando encontrados

cistos nos músculos da cabeça.

3- Coração – examina-se a superfície externa do coração e faz-se uma incisão

longitudinal, da base à ponta, através da parede do ventrículo esquerdo e do

septo interventricular, examinando-se as superfícies de cortes, bem como as

superfícies mais internas dos ventrículos.A seguir praticam-se largas incisões em

toda a musculatura do órgão, tão numerosa quanto possível, desde que já tenha

sido verificada a presença de “ Cysticercus bovis” na cabeça ou na língua.

4- Inspeção final – na inspeção final identifica-se a lesão parasitária

inicialmente observada na inspeção de rotina e examinam-se sistematicamente os

músculos mastigadores, coração, porção muscular do diafragma, inclusive seus

pilares, bem como os músculos do pescoço, estendendo-se o exame aos

intercostais e a outros músculos, sempre que necessário, devendo-se evitar tanto

quanto possíveis cortes desnecessários que possam acarretar maior depreciação

à carcaça.

O controle de abate de bovinos, nos dois estabelecimentos sob controle

do Serviço de Inspeção Federal, foi realizado mediante mapas de abate diários

onde se anotava a quantidade de bovinos abatidos, o número de casos de

cisticercose observados .

A partir destas anotações diárias o inspetor responsável pelo abate

alimenta sistema do SIGSIF, no qual as informações encontram-se disponíveis

para conhecimento dos Técnicos do Ministério da Agricultura.

4. RESULTADOS

Os resultados obtidos referem-se ao número de animais abatidos, aos

índices de incidência de cisticercose bovina nos dois estabelecimentos e sua

distribuição de ocorrência por município. Os dados adquiridos seguem na tabela

abaixo.

Page 28: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

19

Tabela 5. Prevalência de cisticercose bovina em animais abatidos em frigoríficos

sob inspeção federal no Estado do Paraná no ano de 2005.

SIF Animais abatidos Animais positivos % Animais

positivos

641 3995 101 2,52 3910 5118 391 7,63 Média 5,06

Os resultados referentes à ocorrência de cisticercose bovina por município no

período de 2005, estudados em 2 estabelecimentos frigoríficos sob Inspeção Federal do

Estado do

Paraná estão contidos na Figura 6.

Figura 6. Ranking de ocorrência de cisticercose bovina por município no período de 2005

no Estado do Paraná de animais abatidos nos frigoríficos do Serviço de Inspeção Federal

números 641 e 3910.

Page 29: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

20

5. DISCUSSÃO

Nos países da América latina a infecção do homem e animais pela

cisticercose encontra-se amplamente difundida. Em alguns, esta zoonose se

encontra de forma generalizada em seu território, enquanto que em outros

aparece de maneira esporádica ou localizada (LUARCA, 1984).

No Brasil, no Estado de São Paulo, estudos relacionados à cisticercose

bovina demonstraram índice de prevalência no ano de 1986 de 5,5% (UNGAR et

al.,1992), e no de 2000 no Estado do Paraná prevalência média de 3,82%

(SOUZA,2002).

Os resultados observados no presente estudo demonstram que o SIF 641

apresentou uma incidência de cisticercose de 2,52%, e o SIF 3910 apresentou

incidência de 7,63%, demonstrando uma disparidade na ocorrência da doença

entre os dois estabelecimentos observados no ano de 2005.

Os índices de cisticercose bovina do presente estudo verificaram uma

prevalência média de 5,06% no ano de 2005, em animais procedentes do estado

do Paraná, índice superior em relação a (SOUZA, 2002) e inferior a (UNGAR et

al.,1992) citados acima.

De acordo com Zampini (1994), em estudo realizado no estado do Paraná

no período de 1982 a 1988, foi verificado um índice de 2,79% para a cisticercose

bovina enquanto que no presente trabalho foi observado uma prevalência de

5,01%.

Observa-se através da Figura 6 a distribuição de ocorrência de cisticercose

bovina por município , onde Cianorte apresenta os mais altos índices;podendo

estar relacionado ao baixo saneamento básico e falta de tratamento de efluentes

no município ou ao maior número de animais abatidos no frigorífico nº 3910

oriundos deste município em relação as outras cidades analizadas ,pois o

abatedouro encontra-se localizado neste município,

Page 30: EDUARDO GONÇALVES PINHEIRO CURITIBA 2012

21

6. CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos no presente levantamento

epidemiológico, sobre cisticercose bovina, fundamentado em dados de animais

procedentes de municípios do Estado do Paraná e abatidos em dois frigoríficos do

Estado, sob o controle do SIF, no período de janeiro à dezembro de 2005,

concluiu-se que:

A prevalência média da cisticercose bovina para os dois frigoríficos no

presente estudo (5,06%) foi superior a observada por outros estudos anteriores

no Estado do Paraná, mas quando comparado a estudos anteriores no Estado de

São Paulo a prevalência equiparou-se.

Os índices de ocorrência da cisticercose bovina nos dois Frigoríficos

demonstra grande disparidade, a qual pode ser atribuída a diferenças regionais

de origem dos animais abatidos em cada abatedouro, cabendo uma investigação

e mensuração da distribuição da doença por região de origem dos animais, porém

estes estudos devem ser abordados em outra ocasião.

Os índices médios de cisticercose bovina (5,06%) do presente estudo

demonstram que trabalhos educativos e instrutivos devem ser continuados e

intensificados no Estado.

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