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XIV Encontro Nacional Metodista de Educadores – ENAME UMESP - 25-26 de Setembro de 2015

Educação Confessional – a concretização dessa marca no

processo educativo

Prof. Nicanor Lopes


O QUE É CONFESSIONAL ? CONFESSIONALIDADE ?

• CONFESSIONAL : latim confessio)

• Adjetivo atribuído a instituições comprometidas com uma religião ou ideologia.

• CONFESSIONALIDADE é portanto a IDENTIDADE CONFESSIONAL de uma instituição. Exemplo: Universidade Metodista; Pontifícia Universidade Católica, etc.


Augsburger Religionsfrieden

• É conhecido como Paz de Augsburgo o tratado assinado entre Carlos V, imperador do Sacro império Romano-Germânico e as forças da Liga de Esmalcalda [Schmalkalden]. O tratado foi assinado em 25 de Setembro de 1555 na cidade de Augsburgo. Este tratado de paz consagrou o estatuto legal do Protestantismo na Alemanha.


CONFESSIONALIDADE X CONFESSIONALISMO

• Por razões históricas no mundo cristão e tendo como pano de fundo a Declaração de Paz de Augsburgo é preciso entender que CONFESSIONALISMO não é sinônimo de CONFESSIONALIDADE.

• A confessionalidade é a identidade/pertença confessional que reconhece outras confissões.

• O confessionalismo é o enrijecimento de uma identidade confessional em uma atitude de auto justificação.


Confessionalidade no contexto Educacional Metodista: Visão e Ação.

• As origens da Confessionalidade na gênese do

movimento metodista: Século XVIII;

• A Educação no metodismo brasileiro: Confessionalidade presente na implantação e desenvolvimento;

• Robert Benne e a tipologia do processo de secularização em escolas confessionais.


As origens da Confessionalidade na gênese do movimento metodista: Século XVIII

• Só para nos localizarmos na história, o movimento missionário wesleyano, já no seu período inicial [século XVIII] assumiu a Educação como elemento essencial de seu projeto de missão.

• Seu nascedouro se dá com estudantes da Universidade de Oxford, sob a liderança dos irmãos e professores John e Charles Wesley. Esse grupo passou a se reunir para o cultivo da piedade cristã, através da leitura da Bíblia, da prática da oração, do jejum, da visita aos presos e aos enfermos.


• O compromisso com a educação no movimento metodista, pelo fato de ter surgido num ambiente universitário, não ficou apenas nas reflexões acadêmicas, pois “com relação à perspectiva social e educacional, Wesley observou com interesse a educação nas comunidades moravianas, especialmente em Herrnhut, e a tradição pietista na Universidade de Halle”¹.

• ¹ NASCIMENTO, Amós. John Wesley, o Iluminismo e a Educação Metodista na Inglaterra. Revista de

Educação do COGEIME, Piracicaba, ano 12, n. 22, p. 89, jun. 2003.


• Neste contexto, John Wesley, em 24 de junho de 1748, fundou a Kingswood School, uma escola de ensino básico para crianças. Em seus primórdios, a Kingswood tinha sessenta alunos, na sua maioria, pobres.


• “Wesley sempre pensou que educação e religião deveriam andar de mãos dadas, assim como fé e conhecimento, sabedoria e ciência, a graça e a diligência nos estudos; isso foi expresso clara e poeticamente no célebre hino composto para a inauguração da Kingswood School”².

² JOSGRILBERG, Rui de Souza, Celebrar a educação na visão metodista: a propósito do 45 anos do COGEIME in Revista de Educação do Cogeime – Ano 21 – n. 41 – julho/dezembro 2012.


• Wesley “foi pioneiro da educação popular, com as escolas dominicais, salas de leitura para o povo, livros populares. Uma antiga edição da Enciclopédia Britânica registrou que ninguém fez mais pela educação do povo britânico, durante o século XVIII, do que John Wesley”³

³ JOSGRILBERG, Rui de Souza, Celebrar a educação na visão metodista: a propósito do 45 anos do COGEIME in Revista de Educação do Cogeime – Ano 21 – n. 41 – julho/dezembro 2012.


A Educação no metodismo brasileiro: Confessionaliade presente na implantação e desenvolvimento

• Uma leitura histórica da implantação do metodismo no Brasil não pode deixar de fora o valor da Educação já com a presença do primeiro missionário residente – Justin R. Spaulding.

• Em 04 de julho de 1836 Relatou que um caminho foi aberto para a difusão de Bíblias Portuguesas, e foram introduzidos nas escolas - escreveu para o Conselho enviar uma professora qualificada para trabalhar na área da educação.


• Atendendo a um pedido de Spaulding, a família Kidder vem colaborar com a abertura de uma escola, que teve seu início no bairro da Glória e depois se mudou para o Engenho Velho (1838);

• A retomada missionária se dará em 1886, com a chegada de Junius E. Newman, não por iniciativa da junta missionária, porém por iniciativa do próprio pregador metodista, que “resolveu acompanhar seus compatriotas sulistas que emigraram o Brasil após a guerra civil”*

* LUCCOK, Halford E. Linha do esplendor sem fim. São Paulo: Junta Geral de Educação Crista Igreja

Metodista do Brasil, [s.d.], p. 88.


• Newman, nomeado Superintendente em 1879, juntamente com a família, mudou-se para Piracicaba (SP). Após, aproximadamente, um ano, entre 1879-1880, suas filhas Annie e Mary organizaram um internato e externato para meninas. O "Colégio Newman" é considerado a gênese do Colégio Piracicabano.


• Martha Watts será um ícone no cumprimento missionário por meio da educação. Em 1881 ela foi designada pela Sociedade Missionária Internacional de Mulheres para iniciar um trabalho educacional na cidade de Piracicaba. Martha Watts foi pioneira como missionária solteira.


• Ao marcar esse movimento de missão, ela trouxe em seus ideais, como mulher e educadora, o propósito de educar as mulheres brasileiras e, como mulher e missionária, o de transformar todo aquele que cruzasse o seu caminho em cristãos protestantes.


• A evidência de que o trabalho educacional significava uma ação confessional se pode observar no livro de matrícula, no qual as alunas são denominadas discípulas e não alunas, conforme cópia do livro abaixo:


Figura 1 — Primeira página do livro de matriculas aberto por Martha Hite Watts, em 1881.

Fonte: ELIAS, Vieram e ensinaram, p. 58.


Robert Benne e a tipologia do processo de secularização em escolas

confessionais.

Benne (2001) propõe a análise de

dois extremos na educação. Por um

lado [extremo] situa-se uma escola

completamente secularizada. Por

outro lado [extremo] uma

completamente cristã (ortodoxa).

Entre esses extremos encontramos

uma mais próxima da ortodoxia,

chamada de massa crítica e outra

mais próxima da totalmente

secularizada, chamada

de intencionalmente pluralista.

Qualidade com a alma: Como seis faculdades e

universidades confessionais mantem a fé e suas

tradições religiosas.


Robert Benne e a tipologia do processo de secularização em escolas confessionais.



• Conclui-se, nesta pesquisa [Qualidade com a alma: Como seis faculdades e universidades confessionais mantem a fé e suas tradições religiosas] que, apesar de muitas evidências em contrário, ainda existem Universidades confessionais de elevada qualidade acadêmica e, que também, mantem sua herança religiosa publicamente de forma relevante.


A concretização da confessionalidade no processo educativo

a) O Marco Regulatório: Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista;

b) O Projeto Pedagógico Institucional (PPI) da UMESP 2013-2017;


O Marco Regulatório: Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista;

• Primeira premissa:

• A ação educativa da Igreja acontece de diversas maneiras: por meio da família, da igreja local em todas as suas agências (comissões, Escola Dominical, o púlpito, os grupos societários, etc.), das suas instituições de ensino secular, teológico, de ação comunitária e de comunicação.


• Segunda Premissa:

• A ação educativa da Igreja, entretanto, deu muito mais valor às atitudes individualistas em relação à sociedade. O mais importante era uma participação pessoal e isolada. No caso específico das nossas escolas, à medida que a sociedade brasileira foi se desenvolvendo, elas perderam suas características inovadoras e passaram a ser reprodutoras da educação oficial.


• Terceira Premissa:

• Toda a ação educativa se baseia numa filosofia, isto é, numa visão a respeito do mundo e das pessoas. Em nosso caso, a filosofia é iluminada pela fé, estando por isso sempre relacionada com a reflexão teológica à luz da revelação bíblica, em confronto com a realidade.


• Quarta Premissa:

• Nenhum desses elementos, abaixo, está de acordo com as bases bíblico-teológicas sobre as quais se deve fundamentar a prática educativa metodista. – preocupação individualista com a ascensão social;

– acentuação do espírito de competição;

– aceitação do utilitarismo como norma de vida;

– colocação do lucro como base das relações econômicas.


Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista;

• A partir dessas diretrizes, a Igreja desenvolverá sua prática educativa, de tal modo que os indivíduos e os grupos:

– desenvolvam consciência crítica da realidade;

– compreendam que o interesse social é mais importante que o individual;

– exercitem o senso e a prática da justiça e solidariedade;

– alcancem a sua realização como fruto do esforço comum;

– tomem consciência de que todos têm direito a participar de modo justo dos frutos do trabalho;

– reconheçam que, dentro de uma perspectiva cristã, útil é aquilo que tem valor social.


O Projeto Pedagógico Institucional (PPI) da UMESP 2013-2017;

• O ser humano emancipado pela educação é um ser capaz de decidir tanto por assumir os caminhos da fé como o de transformar o seu mundo. Com essa convicção, desde sua origem, a educação e as escolas metodistas fazem parte da missão da Igreja Metodista e são marcas da confessionalidade e da vocação bem expressas na letra de um hino escrito em 1738, que diz: “unir o par há tanto separado: conhecimento e piedade vital´´.


A concretização dessa marca no processo educativo

• Quanto à confessionalidade, o Núcleo de Formação Cidadã é um dos segmentos articuladores da identidade confessional da Universidade, expressa na sua missão institucional, que se concretiza por meio da coordenação e da atuação dos temas Filosofia e Eletivas de Formação Cidadã, presentes em todos os projetos pedagógicos dos cursos vigentes na Instituição. Ao implantar o Núcleo, a Universidade garante seus princípios fundamentais de confessionalidade e autonomia, realçando o seu engajamento com o contexto social e cultural em que está inserida.


A concretização dessa marca no processo educativo

• Conforme definição da Igreja Metodista, as “Pastorais Escolares e Universitárias são uma das expressões da missão da Igreja, marca da confessionalidade que caracteriza as Instituições Metodistas de Educação”.


• É tarefa da Pastoral Universitária, ao lado dos demais segmentos da Instituição: • Fomentar a consciência crítica em todas as áreas

da vida institucional.

• Fortalecer todas as ações que despertem o sentido da confessionalidade metodista.

• Estar presente na construção e na avaliação do saber pedagógico, nos colegiados decisórios internos, a fim de marcar, com a dimensão ética do Evangelho, todas as atividades e atitudes institucionais.


• Eixos de Trabalho

• Buscando cumprir essa missão, a Pastoral Universitária articula sua atuação em torno de três eixos: • Evangelização, compreendida como vivência e proclamação dos

valores do Evangelho, de tal maneira que Jesus Cristo seja conhecido no meio universitário e que as pessoas possam livremente aderir a sua mensagem ou entender o sentido de uma universidade confessional cristã, sempre respeitando todas as demais orientações religiosas ou identitárias.


• Pastoreio, por meio do qual propõe-se zelar pelo cuidado da vida no ambiente universitário e escolar, abarcando todas as suas dimensões, tanto pessoal (espiritual, relacional, física etc...) como comunitária;

• Solidariedade, buscando incentivar e promover projetos e ações solidárias no ambiente universitário e escolar.


• Joaquim Garcia Roca no seu livro: La Educación en el cambio de milenio apresenta quatro sentidos para a educação confessional:

a. O sentido compassivo;

b. O sentido libertador;

c. O sentido habilitador;

d. O sentido mediador;


• Falando de confessionalide e sua concretização no processo educativo, utilizarei o conceito sentido de Garcia Roca como ATITUDE.

• ATITUDE DE COMPAIXÃO:

– Compaixão é uma atitude Evangélica, nosso modo de fazer Educação deve pautar por um processo de ensino e aprendizagem que gere este tipo de sensibilidade e atitude na vida humana.


• ATITUDE DE LIBERTAÇÃO – Libertação é um termo bíblico e evangélico. Desde o

início da história da salvação, com Moisés até o movimento messiânico judaico que culmina com Jesus, a mensagem de libertação pode ser considerada a razão de ser do campo religioso.

– A Educação deve assumir o sentido libertador e ocupar o seu papel crítico diante da globalização que impõe um único modelo de vida. O sentido libertador da Educação pode garantir a esperança como horizonte de vida.


• ATITUDE HABILITADORA

–Habilitação significa tornar alguém capaz, é o ato de qualificar uma pessoa para uma determinada tarefa e concomitantemente oferecer autonomia.

– Isto significa que a Educação assume um papel essencial para a formação da identidade humana. Compromisso com o ser humano emancipado.


• ATITUDE DE MEDIAÇÃO

– A mediação é um caminho de mão dupla. As reflexões contemporâneas sobre educação aprofundam as investigações nos papeis entre alunos e professores. Não há mais espaço educacional de relação unidirecional.

– A relação entre os envolvidos nesse movimento de aprendizagem se constrói em redes de interação multidirecionais (estudante-estudante, estudante-professor, estudante-professor-mundo-conhecimento).


Considerações Finais:

• Portanto, reafirmo que confessionalidade não é sinônimo de confessionalismo.

• A Confessionalidade está presente na gênese do movimento metodista do Século XVIII, na implantação do metodismo brasileiro e na consolidação do Sistema Educacional Metodista no Brasil.


• A tipologia criada por Robert Benne (2001) propõe a análise de dois extremos na educação. Por um lado [extremo] situa-se uma escola completamente secularizada. Por outro lado [extremo] uma completamente cristã (ortodoxa). Segundo Benne a secularização distanciou as escolas confessionais de seus objetivos missionários. Mas, ainda existem Universidades confessionais de elevada qualidade acadêmica e, que também, mantem sua herança religiosa publicamente de forma relevante.


• Para o sistema de Educação Metodista brasileiro dois marcos regulatórios são norteadores de sua política confessional;

a) O documento Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista;

b) E, os Projetos Pedagógicos Institucional das unidades da Rede Metodista de Educação.


• Quanto a valorização da concretização da confessionalidade no processo educativo , propomos a partir de Joaquim Garcia Roca quatro ATITUDES para a educação confessional:

a. ATITUDE DE COMPAIXÃO

b. ATITUDE DE LIBERTAÇÃO;

c. ATITUDE HABILITADORA;

d. ATITUDE MEDIADORA;


Obrigado!

Prof. Nicanor Lopes

[email protected]

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