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Pedagogia PONTA GROSSA - PARANÁ 2012 LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Paola Andressa Scortegagna Rita de Cássia da Silva Oliveira Flávia da Silva Oliveira FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Educacao de Jovens e Adultos (2)

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Educação

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  • Pedagogia

    PONTA GROSSA - PARAN2012

    LICENCIATURA EM

    EDUCAO A DISTNCIA

    Paola Andressa Scortegagna Rita de Cssia da Silva Oliveira

    Flvia da Silva Oliveira

    FUNDAMENTOS TERICOS E METODOLGICOS NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS

  • CRDITOS

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSANcleo de Tecnologia e Educao Aberta e a Distncia - NUTEAD

    Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PRTel.: (42) 3220 3163

    www.nutead.org2012

    Todos os direitos reservados ao Ministrio d EducaoSistema Universidade Aberta do Brasil

    Colaboradores em InformticaCarlos Alberto Volpi Carmen Silvia Simo CarneiroAdilson de Oliveira Pimenta Jnior

    Projeto GrficoAnselmo Rodrigues de Andrade jnior

    Colaboradores em EADDnia Falco de BittencourtJucimara Roesler

    Colaboradores de PublicaoRosecler Pistum Pasqualini RevisoVera Marilha Florenzano RevisoPaulo Henrique de Ramos IlustraoVilmar Wrobel Diagramao

    Colaboradores OperacionaisCarlos Alex CavalcanteEdson Luis MarchinskiThiago Barboza Taques

    Joo Carlos GomesReitor

    Carlos Luciano Santana VargasVice-Reitor

    Ficha catalogrfica elaborada pelo Setor Tratamento da Informao BICEN/UEPG.

    Pr-Reitoria de Assuntos AdministrativosAriangelo Hauer Dias Pr-Reitor

    Pr-Reitoria de GraduaoGraciete Tozetto Ges Pr-Reitor

    Diviso de Educao a Distncia e de Programas EspeciaisMaria Etelvina Madalozzo Ramos Chefe

    Ncleo de Tecnologia e Educao Aberta e a DistnciaLeide Mara Schmidt Coordenadora Geral

    Cleide Aparecida Faria Rodrigues Coordenadora Pedaggica

    Sistema Universidade Aberta do BrasilHermnia Regina Bugeste Marinho Coordenadora Geral

    Cleide Aparecida Faria Rodrigues Coordenadora AdjuntaElenice Parise Foltran Coordenadora de CursoClcia Bhrer Martins Coordenadora de Tutoria

    Colaborador FinanceiroLuiz Antonio Martins Wosiack

    Colaboradora de PlanejamentoSilviane Buss Tupich

    Scortegagna, Paola andreSSa S423f fundamentoS tericoS e metodolgicoS na educao de JovenS e adultoS / Paola andreSSa Scortegagna e rita de cSSia da Silva oliveira. Ponta groSSa, uePg/nutead, 2011 122P.il licenciatura em Pedagogia - enSino a diStncia. 1. educao de JovenS e adultoS. 2. PolticaS PblicaS. 3. ProfeSSoreS da eJa. 4. currculo e a avaliao da eJa. i. oliveira, rita de cSSia da Silva. ii. t. cdd: 372.414

  • APRESENTAO INSTITUCIONAL

    A Universidade Estadual de Ponta Grossa uma instituio de ensino

    superior estadual, democrtica, pblica e gratuita, que tem por misso

    responder aos desafios contemporneos, articulando o global com o local,

    a qualidade cientfica e tecnolgica com a qualidade social e cumprindo,

    assim, o seu compromisso com a produo e difuso do conhecimento,

    com a educao dos cidados e com o progresso da coletividade.

    No contexto do ensino superior brasileiro, a UEPG se destaca tanto

    nas atividades de ensino, como na pesquisa e na extenso Seus cursos

    de graduao presenciais primam pela qualidade, como comprovam os

    resultados do ENADE, exame nacional que avalia o desempenho dos

    acadmicos e a situa entre as melhores instituies do pas.

    A trajetria de sucesso, iniciada h mais de 40 anos, permitiu que

    a UEPG se aventurasse tambm na educao a distncia, modalidade

    implantada na instituio no ano de 2000 e que, crescendo rapidamente,

    vem conquistando uma posio de destaque no cenrio nacional.

    Atualmente, a UEPG parceira do MEC/CAPES/FNED na execuo

    do programas Pr-Licenciatura e do Sistema Universidade Aberta do

    Brasil e atua em 40 polos de apoio presencial, ofertando, diversos cursos

    de graduao, extenso e ps-graduao a distncia nos estados do

    Paran, Santa Cantarina e So Paulo.

    Desse modo, a UEPG se coloca numa posio de vanguarda,

    assumindo uma proposta educacional democratizante e qualitativamente

    diferenciada e se afirmando definitivamente no domnio e disseminao

    das tecnologias da informao e da comunicao.

    Os nossos cursos e programas a distncia apresentam a mesma

    carga horria e o mesmo currculo dos cursos presenciais, mas se utilizam

    de metodologias, mdias e materiais prprios da EaD que, alm de serem

    mais flexveis e facilitarem o aprendizado, permitem constante interao

    entre alunos, tutores, professores e coordenao.

    Esperamos que voc aproveite todos os recursos que oferecemos

    para promover a sua aprendizagem e que tenha muito sucesso no curso

    que est realizando.

    A Coordenao

  • PALAVRAS DOS PROFESSORES 7

    OBJETIVOS E EMENTA 9

    EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS: TRAJETRIA HISTRICA DA MODALIDADE NO BRASIL 11

    SEO 1- OS PRIMRDIOS DA EDUCAO DE ADULTOS NO BRASIL 13 SEO 2- EDUCAO DE ADULTOS NA REPBLICA 15 SEO 3- EDUCAO DE ADULTOS APS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 19 SEO 4- EDUCAO DE ADULTOS E DITADURA MILITAR 23 SEO 5- A EJA NAS DCADAS DE 1990 E 2000 27

    POLTICAS PBLICAS PARA A EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS 35

    SEO 1- EDUCAO E POLTICAS PBLICAS: UM DEBATE NECESSRIO 37 SEO 2- EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS E O CONTEXTO DAS POLTICAS

    PBLICAS 39

    SEO 3- INICIATIVAS EM FAVOR DA EJA 48 SEO 4- POLTICAS EDUCACIONAIS E A EJA 53

    OS PROFESSORES DA EJA: PERSPECTIVAS DE FORMAO INICIAL E CONTINUADA 65

    SEO 1- OS PROFESSORES DA EJA: DESVELANDO A FORMAO 67 SEO 2- A FORMAO DOS PROFESSORES DA EJA: ENTRE O REAL E O IDEAL 72 SEO 3- A FORMAO DO PROFESSOR REFLEXIVO 79

    O CURRCULO E A AVALIO DA EJA: FUNDAMENTOS TERICO-PRTICOS 87

    SEO 1- CONSIDERAES SOBRE A ELABORAO DO CURRCULO PARA A EJA 89 SEO 2- CURRCULO E A EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS 95 SEO 3- AVALIAO NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS 100

    PALAVRAS FINAIS 113

    REFERNCIAS 114

    NOTAS SOBRE OS AUTORES 121

    SUMRIO

  • PALAVRAS DO PROFESSOR

    Caro(a) aluno(a)

    Voc est iniciando uma nova etapa de sua formao. Este livro

    foi organizado com o objetivo de oferecer subsdios relevantes da

    rea da Educao de Jovens e Adultos (EJA), para que voc, futuro(a)

    pedagogo(a), possa conhecer e compreender os principais fundamentos

    tericos desta importante modalidade de ensino.

    Por muitos anos, a Educao de Jovens e Adultos foi considerada

    como compensatria, destinada a pessoas com poucas condies

    financeiras, num sentido discriminatrio e marginalizante. Hoje, esta

    modalidade mais valorizada e possibilita que muitas pessoas que no

    tiveram acesso ao ensino regular ou que o deixaram por diversos motivos,

    tenham acessibilidade educao e permaneam na escola.

    Entretanto, preciso ter em mente que o presente estudo no

    esgota todas as possibilidades de interpretao e aprofundamento

    terico referentes Educao de Jovens e Adultos. Logo, voc poder

    complementar seus estudos por meio de outras leituras sobre a

    modalidade.

    Este livro organizado em quatro unidades, permitindo uma melhor

    compreenso e reflexo dos temas.

    Na Unidade I, voc ter a oportunidade de conhecer o histrico

    da EJA, no contexto brasileiro, entender como esta modalidade foi se

    estruturando e assumindo relevncia em nosso pas, com o objetivo

    primeiro da erradicao do analfabetismo.

    Sero abordadas, na Unidade II, as polticas pblicas em prol da

    EJA desde sua criao e implementao. Focalizam-se as diferentes

    iniciativas para garantir o direito de todos educao, conforme prescreve

    a Constituio Federal.

    Voc ir refletir, na Unidade III, sobre as perspectivas da formao

    inicial e contnua do professor da EJA. Tal formao precisa estar

    ancorada em slidos conhecimentos sobre a realidade social, para que se

  • possa ter maior clareza de propsitos e dar um direcionamento s aes,

    mesmo reconhecendo os condicionantes histricos, sociais e culturais

    que interferem no trabalho docente.

    Na ltima unidade, voc poder ampliar seus conhecimentos

    sobre o currculo e a avaliao da Educao de Jovens e Adultos. Na

    perspectiva apresentada, voc ir refletir sobre a importncia da proposta

    pedaggica para a EJA, na qual se articulam tanto a proposta curricular

    como a avaliao.

    A partir das unidades apresentadas, ser possvel entender como

    esta modalidade est estruturada atualmente e perceb-la como mais um

    possvel espao de atuao aps sua formao, seja enquanto docente nas

    sries iniciais ou como gestor de escola que oferte a modalidade. A EJA

    representa atualmente um rico e amplo espao de trabalho e pesquisa, no

    qual voc pode se inserir.

    Boas leituras e timo trabalho!

  • ObjetivOs

    Objetivos:

    Compreender a educao como um processo histrico, vinculado a uma determinada viso de homem e de sociedade.

    Analisar as principais polticas pblicas relacionadas Educao de Jo-vens e Adultos no contexto histrico brasileiro.

    Ampliar a compreenso das dificuldades e perspectivas concernentes Educao de Jovens e Adultos, a partir da anlise da realidade social e educacional brasileira.

    Compreender a Educao de Jovens e Adultos como processo funda-mental na construo de uma sociedade democrtica.

    Refletir sobre a necessidade de formao especfica do professor de Educao de Jovens e Adultos.

    Identificar a relevncia do currculo enquanto norteador das atividades da EJA.

    Reconhecer os diferentes tipos de avaliao e sua aplicao na EJA.

    ementaTrajetria da Educao de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil. Legislao educa-cional e EJA. Sociedade civil e Estado: debate sobre a EJA nos ltimos anos. Tendncias tericas e prticas da EJA. Formao e prtica do educador de EJA. Experincias com a EJA no Brasil.

    OBJETIVOS E EMENTA

  • UN

    IDA

    DE IEDUCAO DE JOVENS

    E ADULTOS: TRAJETRIA HISTRICA DA MODALIDADE NO BRASIL

    ObjetivOs De aPRenDiZaGemReconhecer o carter histrico-social da educao.Conhecer as primeiras aes educacionais para adultos no Brasil, noperodo imperial.Identificar a educao de adultos na Repblica.Entender a interferncia da estrutura do Estado no perodo ps-guerra, na educao de adultos no Brasil.Identificar as principais aes e programas para a Educao de Jovens e Adultos durante a Ditadura Militar e os anos subsequentes at os diasatuais.

    ROteiRO De estUDOsSEO 1 Os primrdios da Educao de Adultos no BrasilSEO 2 Educao de Adultos na RepblicaSEO 3 Educao de Adultos aps a Segunda Guerra MundialSEO 4 Educao de Adultos e Ditadura MilitarSEO 5 A EJA nas dcadas de 1990 e 2000

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    12UNIDADE I

    PARA INCIO DE CONVERSA

    Voc com certeza j deve ter se perguntado sobre o que a Educao

    de Jovens e Adultos (EJA), se ela sempre existiu, como organizada e a

    quem realmente atende. So as respostas a estas perguntas e a muitas

    outras que este livro pretende apresentar ou, pelo menos, contribuir para

    suas reflexes sobre a EJA.

    Precisamos conhecer a histria desta modalidade de ensino

    brasileiro que, inicialmente, era destinada apenas aos excludos e, por

    muito tempo, foi considerada uma educao de pouca qualidade.

    Desde suas primeiras organizaes at hoje, a EJA sofreu grandes

    mudanas, assegurando-lhe uma nova percepo, pois passou de

    educao compensatria para uma educao que atende a todos aqueles

    que no tiveram acesso ou que, pelos mais variados motivos, abandonaram

    o ensino regular.

    Vamos conhecer a EJA?

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    13UNIDADE I

    SEO 1OS PRIMRDIOS DA EDUCAO DE ADULTOS NO BRASIL

    Para podermos entender a Educao de Jovens e Adultos, preciso

    mergulhar na histria do Brasil e da educao brasileira, e refletir sobre

    como este tipo de educao comeou a ser pensada.

    As primeiras iniciativas aconteceram no

    perodo jesutico, no tendo como objetivos a

    escolarizao ou difuso de conhecimentos,

    mas sim o processo de domesticao dos

    ndios, pautada em valores religiosos da

    igreja catlica. (Ver seu livro de Histria da

    Educao Brasileira).

    No decorrer dos anos seguintes, desde

    a expulso dos jesutas pelo Marqus de

    Pombal (sculo XVIII) at a chegada da

    famlia imperial ao Brasil (1808), a educao

    brasileira estava desorganizada, com muitas

    rupturas e descontinuidade.

    Com o incio do Imprio, a educao comeou a ser reorganizada,

    logo a educao de adultos tambm, por meio das escolas noturnas para

    estas pessoas.

    A primeira Constituio (1824) garantia uma instruo primria e

    gratuita para todos os cidados. Apesar desta garantia, a instruo

    primria no se concretizou, pois no era destinada a todas as pessoas

    e a responsabilidade da oferta da educao primria foi transferida s

    Provncias (Ato Adicional de 1834) que por possurem poucos recursos,

    no cumpriam a lei. Assim, o ensino permanecia sendo responsabilidade

    do governo federal, mas de maneira desigual e descontnua.

    A elite imperial, influenciada por um pensamento moderno e liberal,

    acreditava que ao oferecer instruo para todas as pessoas, a educao

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    14UNIDADE I

    possibilitaria amenizar ou impedir as

    iluses do entusiasmo destes sujeitos, o

    que impediria toda e qualquer desordem,

    facilitando assim a ao do governo.

    Por todo perodo imperial aconteceram

    reformas educacionais, sendo que algumas

    preconizavam classes noturnas para o

    ensino de adultos analfabetos. Em um

    relatrio apresentado em 1876, pelo ento

    ministro Cunha Figueiredo, havia 200

    mil alunos frequentando escolas, o que

    evidenciava o ensino noturno para adultos.

    Quando falamos de educao para todos at o perodo imperial, considera-se apenas os chamados cidados, ou seja, homens que faziam parte da sociedade, no considerando escravos, estrangeiros ou analfabetos.

    O Ato Adicional, de 12 de agosto de 1834, criou a Regncia Una e alterou a organizao poltica

    e administrativa do Imprio, conferindo maior autonomia s

    provncias. Dentre as mudanas e adies, no que diz respeito educao,

    coube a cada provncia:Art. 10 - Compete s mesmas

    Assembleias legislar: 2 - Sobre instruo

    pblica e estabelecimentos prprios a promov-la, no

    compreendendo as faculdades de medicina, os cursos

    jurdicos, academias atualmente existentes e outros quaisquer

    estabelecimentos de instruo que, para o futuro, forem criados

    por lei geral.

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    15UNIDADE I

    Tropas republicanas festejam o fim da Monarquia, no final da madrugada, em Campo de Santana, no Rio de Janeiro, em detalhe de quadro de Benedito Calixto, conservado na Prefeitura de So PauloImagem: 100 Anos de Repblica, vol. I (1889-1903), ed. Nova Cultural: So Paulo/SP, p.13.

    Para poder entender como a educao de adultos se deu no perodo

    republicano preciso refletir sobre a educao de modo geral neste

    momento histrico brasileiro.

    A herana do Imprio oferece um quadro melanclico do ensino no Brasil. Logo aps a proclamao da Repblica, a Constituio de 1891 reafirmara o processo de descentralizao do ensino, atribuindo Unio a incumbncia da educao superior e secundria e, aos estados, a elementar e a profissional (ARANHA, 1989, p. 242).

    Neste momento inicial da Repblica brasileira foram iniciadas

    muitas campanhas educativas, porm, geralmente, eram aes de curta

    durao, sem continuidade, no havia sistematizao do ensino. Todas

    estas campanhas buscavam o apoio e a parceria de diferentes instncias

    SEO 2EDUCAO DE ADULTOS NA REPBLICA

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    16UNIDADE I

    da sociedade civil. Essa situao reflete como a falta de compromisso

    do poder pblico impossibilitou uma poltica de educao institucional

    para adultos, no ocorrendo o desenvolvimento de nenhum tipo de

    atividade sistemtica como da rede de ensino regular, em outros nveis

    de escolarizao.

    As primeiras iniciativas desse perodo se

    estendem at a Revoluo de 1930, e os formuladores

    de polticas e responsveis pelas aes tomam a

    alfabetizao de adultos como aquisio de um sistema

    de cdigo alfabtico, tendo como nico objetivo

    instrumentalizar a populao com os rudimentos da

    leitura e da escrita.

    Devido s mudanas organizacionais na poltica

    brasileira, na dcada que sucedeu Revoluo de

    1930, outra ideia educacional comea a ser difundida:

    preparar os sujeitos para as responsabilidades da

    cidadania, ampliando-se este direito a muitas pessoas

    (homens e mulheres).

    O pas, sob a ditadura de Getlio Vargas, foi

    conduzido pela centralizao das aes e a formao

    de um estado moderno nacional. Percebe-se neste momento a constituio

    das leis trabalhistas, a normatizao dos sindicatos e a expanso do

    sistema educativo, confirmando a busca por um crescimento nacional,

    porm regido e controlado pelo governo federal.

    O processo de industrializao e a concentrao populacional em

    centros urbanos ocasionaram grandes transformaes. Com a migrao

    campo-cidade, as necessidades urbanas aumentaram juntamente com a

    populao que comeava a crescer rapidamente.

    A oferta do ensino bsico gratuito acolhia vrios setores, e o governo

    federal impulsionava a ampliao da educao e traava as diretrizes

    educacionais para todo o pas, com responsabilidade dos estados e

    municpios. As aes educacionais procuravam atender s necessidades

    emergentes da indstria, que buscava profissionais adequados para atuar

    neste espao. Como grande parte dos funcionrios das indstrias era

    proveniente de reas rurais, a escolarizao era necessria e urgente.

    Neste momento, como aponta Cambi (1999, p. 587 e 588),

    A Revoluo de 1930 foi um movimento armado, liderado pelos estados

    de Minas Gerais, Paraba e Rio Grande do Sul,

    que culminou no Golpe de 1930, o qual deps o presidente Washington

    Lus e acabou com a chamada Repblica Velha. Em 1929, houve a ruptura da aliana de paulistas e

    mineiros, acabando assim com a poltica do caf-com-leite. Jlio Prestes

    ganhou a eleio de 1930, mas foi exilado e Getlio

    Vargas assumiu o Governo Provisrio neste mesmo

    ano.

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    17UNIDADE I

    A educao v-se atingida por novos problemas, como a alfabetizao em massa nos pases ainda ligados a culturas arcaicas, como a formao em curto espao de tempo dos tcnicos necessrios ao desenvolvimento do pas, e se coloca em condies de extrema dramaticidade: dentro de situaes coloniais ou imediatamente ps-coloniais, de conflitos entre o norte (industrializado e rico) e o sul (atrasado e pobre) do mundo, de lutas de etnias, de grupos religiosos, de grupos sociais nos vrios pases em desenvolvimento, de um processo de modernizao desequilibrado e superficial que acolhe e promove os aspectos mais deletrios do desenvolvimento (o consumo, o lazer). , porm, um fato que os problemas da educao/pedagogia sofreram radical mudana e renovao, fazendo emergir novos modelos educativos e novos horizontes de teorizao pedaggica.

    Em 1938, foi criado o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

    Educacionais Ansio Teixeira (INEP), o que permitiu a instituio, em

    1942, do Fundo Nacional do Ensino Primrio, o qual deveria, com um

    programa de ampliao da educao primria, incluir o Ensino Supletivo

    para adultos e adolescentes.

    Nos anos de 1940, segundo Freire (apud GADOTTI, 1979, p. 72), a

    Educao de Adultos era entendida como uma extenso da escola formal,

    principalmente para a populao que se encontrava nas reas rurais do

    pas.

    Neste momento, ocorre a efervescncia da Segunda Guerra Mundial, fato que interfere nas relaes, nas polticas nacionais e consequentemente no contexto educacional.

    Depois da Segunda Guerra, houve a necessidade no s de uma

    reorganizao poltica e econmica em todo o mundo, como tambm

    de apoio e incentivo ao desenvolvimento humano. Assim, em 1945, foi

    criada a Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e

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    18UNIDADE I

    a Cultura (UNESCO), a qual divulgou e promoveu, em mbito mundial,

    uma educao voltada para a paz de todas as naes e a educao de

    adultos como uma forma de contribuir com o desenvolvimento dos povos

    subdesenvolvidos.

    Por meio de uma concepo funcional do processo educacional,

    a organizao naquele momento defendia a educao como forma de

    integrao social, mas de maneira passiva e instrumental, sem buscar

    uma viso crtica. Mesmo assim, a criao da UNESCO e de todas as

    aes que ocorreram posteriormente contriburam significativamente

    para a discusso sobre o analfabetismo e a implementao de aes para

    sua erradicao, como tambm a organizao e implantao de educao

    de adultos e a minimizao das desigualdades sociais mundiais,

    especialmente em pases subdesenvolvidos (UNESCO).

    Com o fim da Segunda Guerra, o Brasil passa a viver um marcante

    momento histrico. Voc sabe qual era?

    A Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO) foi fundada em 16 de novembro de 1945 com o objetivo de contribuir para a paz e segurana no mundo mediante a educao, a cincia, a cultura e as comunicaes.

    Busca o xito da educao elementar adaptada s necessidades atuais. Co-labora, entre outros, com a formao de docentes e administradores educacionais e d subsdios construo de escolas e aquisio de equipamento necessrio para o seu funcionamento.

    Acesse: .

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    19UNIDADE I

    Aps a ditadura Vargas, o pas vivenciou a efervescncia poltica da

    redemocratizao. A educao comeou a ganhar novos impulsos sob o

    ideal de que era necessrio educar o povo tanto para o desenvolvimento

    do pas como para a participao poltica por meio do voto, o que

    ocorreria pela incorporao de analfabetos, que representavam uma

    expressiva populao. Os educadores da poca estavam to empolgados,

    que esse perodo ficou conhecido como o do entusiasmo pela educao.

    (ARANHA, 1989).O signo ensino primrio supletivo fixado, sobretudo, a partir da Lei Orgnica do Ensino Primrio, de 1946, representou, em ltima, instncia, a institucionalizao da educao de adultos como uma modalidade de ensino integrada ao sistema educacional brasileiro, distinta da educao infantil (CARLOS, 2006, p. 9).

    Em 1947, foi criado o Servio Nacional da Educao de Adultos

    (SNEA), com o intuito de orientar e coordenar os trabalhos do Ensino

    Supletivo, conseguindo gerar vrias aes que possibilitaram a realizao

    da 1 Campanha Nacional de Educao de Adolescentes e Adultos (CEAA).

    Esta campanha atendia s solicitaes da UNESCO e, juntamente com

    a perspectiva de redemocratizao do pas, cumpria com os objetivos de

    preparar mo de obra, pois o Brasil estava passando por um processo

    exponencial de industrializao e urbanizao; atingir a populao rural

    e os imigrantes do sudeste e sul; e melhorar as estatsticas em relao ao

    analfabetismo.

    Em 1950, a educao de adultos passou a ser entendida como

    educao basilar, com desenvolvimento comunitrio. Neste momento

    emergem duas tendncias: como educao libertadora nas concepes

    freireanas e como educao profissional, pensada para a formao de

    mo de obra (GADOTTI, 1979).

    SEO 3EDUCAO DE ADULTOS APS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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    20UNIDADE I

    Dadas tais tendncias, a CEAA iniciou seus trabalhos quando os

    delegados dos Estados apresentaram no Congresso suas teses para a

    elaborao de uma Lei Orgnica de Educao de Adultos.

    A Campanha numa primeira etapa destinava-se alfabetizao

    em nvel primrio (atualmente Anos Iniciais do Ensino Fundamental),

    em dois perodos de sete meses. A segunda etapa estava voltada para a

    profissionalizao e o desenvolvimento comunitrio.

    Nos primeiros anos a campanha conseguiu resultados significativos,

    articulando e ampliando os servios j existentes e estendendo-os s

    diversas regies do pas. Num curto perodo de tempo, foram criados vrios

    supletivos, mobilizando esforos das diversas esferas administrativas, de

    profissionais e voluntrios.

    A Campanha de Educao de

    Adolescentes e Adultos, no decorrer dos anos,

    foi enfraquecendo, pois tinha grande nfase

    no espao rural e, sem apoio do Departamento

    Nacional de Educao, acabou se extinguindo

    em 1963. Logo, as aes que acontecem neste

    perodo so discutidas luz das reflexes sobre

    o analfabetismo pautadas em Paulo Freire, que

    consolidou um paradigma pedaggico sobre a

    educao de adultos no Brasil.

    Freire, ao trazer este novo esprito da poca, acabou por se tornar

    um marco terico na Educao de Adultos. Desenvolveu uma metodologia

    prpria de trabalho que enfocava, pela primeira vez, a especificidade dessa

    modalidade de educao em relao a quem, para qu e como educar, a

    partir do princpio de que a educao era um ato poltico, podendo servir

    tanto para a submisso como para a libertao do povo.

    Em sua opinio, a educao como ato poltico est agindo em prol

    da submisso ou da libertao dos educandos?

    O paradigma pedaggico pensado por Freire estava pautado em

    um novo entendimento entre a educao e sua relao com as questes

    sociais. Ao pensar o adulto, que enquanto educando, atua sobre o mundo

    por meio de suas aes e consequentemente de suas reflexes, aponta

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    21UNIDADE I

    uma relao dialgica, entre o educando e o seu educador. Assim, o

    processo educacional ocorria por meio da problematizao de situaes

    reais, que originavam reflexes, permitindo o que Freire aponta como

    leitura de mundo. Este educando podia ampliar seus horizontes e

    descobrir a palavra como elemento de significado, experincia e cultura,

    na humanidade prpria do homem, ou na sua desumanidade (FREIRE,

    1979, 1996, 2005).

    Freire trabalhou com a concepo de que o adulto analfabeto no

    era a causa do subdesenvolvimento do Brasil, mas sim uma de suas

    consequncias, uma vez que era vitimizado por uma sociedade injusta e

    reprodutora de um sistema desigual, que se utilizava da educao como

    seu instrumento de reproduo (teorias crtico-reprodutivistas, situando-

    se entre os estudiosos Bourdieu, Passeron, Althusser).

    Neste sentido, transps a viso do analfabeto enquanto sujeito

    sem cultura para um sujeito produtor de cultura que, a partir de suas

    prprias vivncias cotidianas, poderia pensar na alfabetizao como

    um instrumento para leitura do mundo, no apenas decodificao de

    smbolos.

    Voc consegue perceber como a atuao de Paulo Freire foi

    fundamental para a educao de adultos? Converse com seus

    colegas sobre as aes desse grande educador nacional.

    Naquela sociedade em constante movimento entre o final dos anos

    1950 e incio de 1960, Freire mostrou o papel poltico que a educao

    pode desempenhar, pois para uma sociedade aberta, no se pode pensar

    seno em educao como ato poltico. Para ele, a construo de uma nova

    sociedade no poder ser conduzida pelas elites dominantes, incapazes

    de oferecer as bases de uma poltica de reformas, mas apenas pelas

    massas populares que so a nica forma capaz de operar a mudana

    (FREIRE, 2005, p.34).

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    22UNIDADE I

    Por meio da educao seria possvel ampliar a participao consistente das massas e levar sua organizao crescente (FREIRE, 1979, 2005).

    A educao popular foi sendo divulgada atravs de inmeros

    agentes: intelectuais, artistas, estudantes, militantes da igreja, militantes

    polticos, enfim, segmentos da populao que se sentiam comprometidos

    politicamente com as classes populares e buscavam uma real

    transformao, construda no respeito mtuo, na solidariedade humana,

    na reflexo coletiva, no compromisso de cada um com a aprendizagem

    de todo o grupo.

    No decorrer dos anos da dcada de 1950, algumas aes ligadas

    Campanha de Educao de Adultos aconteciam em todo o Brasil, como a

    criao do Sistema de Rdio Educativo Nacional e tambm a realizao

    do II Congresso Nacional de Educao de Adultos. Segundo Souza (2007,

    p. 33),

    Em 1958, realizou-se o II Congresso Nacional de Educao de Adultos, cujo objetivo era a busca de novas diretrizes e perspectivas tericas para a educao de adultos. Nele se destacou Paulo Freire, o qual chamava a ateno para os problemas sociais que geravam o analfabetismo e para o mtodo de alfabetizao. Com relao metodologia, havia a preocupao de que o mtodo envolvesse estratgias de ensino com o homem, e no para o homem. Portanto, anuncia-se o princpio da pedagogia dialgica freireana que, na dcada de 1960, ser aprofundada: a valorizao do ser humano que aprende como algum que j traz uma bagagem de experincias, e no como algum ignorante.

    Em 1961, o Movimento de Educao de Base (MEB), convnio

    entre governo federal e Conselho Nacional dos Bispos (CNBB), passou a

    atuar na educao de adultos no Brasil. As atividades realizadas buscavam

    no s o desenvolvimento das comunidades, a partir da politizao dos

    educandos, como tambm a educao sindicalista (SOUZA, 2007).

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    23UNIDADE I

    Com a Ditadura Militar, em 1964, os movimentos de conscientizao

    popular e educao de adultos so desativados e seus lderes comeam a

    ser punidos por serem considerados subversivos e contrrios ao governo.

    Em 1967, criou-se o Movimento

    Brasileiro de Alfabetizao (MOBRAL),

    o qual foi considerado como a primeira

    iniciativa importante na Educao de Jovens

    e Adultos durante o perodo da ditadura.

    O objetivo central do movimento era a

    erradicao do analfabetismo e a educao

    continuada de adolescentes e adultos.

    A prpria estrutura do MOBRAL vinculou-se at meados de 1969 ao

    Departamento Nacional de Educao, bem como promoveu atividades de

    alfabetizao e programas articulados nos campos de sade, recreao e

    civismo, mediante convnios com entidades pblicas e privadas.

    Como afirma Souza (2007, p. 35), o MOBRAL possua trs

    caractersticas fundamentais: independncia institucional e financeira

    se comparada aos demais segmentos de ensino e s demais aes

    educacionais de adultos, articulao de uma organizao operacional

    descentralizada e a centralizao das orientaes do processo educativo.

    O Movimento desenvolvia trs programas: alfabetizao funcional,

    educao integrada e desenvolvimento comunitrio. Dentre os trs,

    o prioritrio foi o programa de alfabetizao funcional. Segundo o

    Documento Base do MOBRAL (BRASIL, 1973), funcional porque faz com

    que o aluno no se limite a aprender a ler e escrever, mas sim a descobrir

    sua FUNO, seu papel no TEMPO e no ESPAO em que vive.

    De acordo com o mesmo documento, o mtodo o ecltico, baseado

    na decomposio das PALAVRAS GERADORAS, que se fundamenta no

    mtodo lingustico da segmentao. As palavras geradoras so escolhidas

    SEO 4EDUCAO DE ADULTOS E DITADURA MILITAR

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    24UNIDADE I

    a partir das NECESSIDADES

    BSICAS DO HOMEM

    (BRASIL, 1973, p.33)

    O MOBRAL, em 1970,

    comeou a atuar a partir de

    convnios estabelecidos com

    as Secretarias de Educao

    e Comisses Municipais,

    atravs do Programa de

    Alfabetizao e do Programa

    de Educao Integrada (PEI),

    com verso compactada das

    4 sries iniciais do ensino

    primrio (Sries Iniciais do

    Ensino Fundamental). Os

    convnios se estenderam a

    outras entidades pblicas e

    privadas.

    Para saber mais sobre o MOBRAL, Consulte o Documento Base, no site: .

    Em relao a este perodo, a Educao de Jovens e Adultos, que

    passava a ser conhecida como ensino supletivo, estava prescrita em

    captulo prprio da Lei 5.692/71, recomendando aos estados atenderem

    jovens e adultos que no foram matriculados ou, por diversas razes, no

    concluram o ensino de primeiro grau da poca, hoje denominado ensino

    fundamental. A seguir, segue o captulo que trata do ensino supletivo na

    referida lei:

    Retirado do Documento Base do MOBRAL (MEC, 1973)

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    25UNIDADE I

    Captulo IV Do ensino supletivo

    Art.24 - O ensino supletivo ter por finalidade: a) Suprir a escolarizao regular para os adolescentes e adultos que no tenham seguido ou concludo na idade prpria.b) Proporcionar, mediante repetida volta escola, estudos de aperfeioamento ou atualizao para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte.

    Pargrafo nico - O ensino supletivo abranger cursos e exames a serem organizados nos vrios sistemas de acordo com as normas baixadas pelos respectivos Conselhos de Educao. Art.25- O ensino supletivo abranger, conforme as necessidades a atender, desde a iniciao no ensino de ler, escrever e contar e a formao profissional definida em lei especfica at o estudo intensivo de disciplinas do ensino regular e a atualizao de conhecimentos. 1- Os cursos supletivos tero estrutura, durao e regime escolar que se ajustem s suas finalidades prprias e ao tipo especial de aluno a que se destinam. 2- Os cursos supletivos sero ministrados em classes ou mediante a utilizao de rdio, televiso, correspondncia e outros meios de comunicao que permitam alcanar o maior nmero de alunos. Art.26- Os exames supletivos compreendero a parte do currculo resultante do ncleo-comum, fixado pelo Conselho Federal de Educao, habilitando ao prosseguimento de estudos em carter regular, e podero, quando realizados para o exclusivo efeito de habilitao profissional de 2 grau, abranger somente o mnimo estabelecido pelo mesmo Conselho. 1- Os exames a que se refere este artigo devero realizar-se: Ao nvel de concluso do ensino de 1 grau, para os maiores de 18 anos; Ao nvel de concluso do ensino de 2 grau, para os maiores de 21 anos.2- Os exames supletivos ficaro a cargo de estabelecimentos oficiais ou reconhecidos, indicados nos vrios sistemas, anualmente, pelos respectivos Conselhos de Educao. 3- Os exames supletivos podero ser unificados na jurisdio de todo um sistema de ensino, ou parte deste, de acordo com normas especiais baixadas pelo respectivo Conselho de Educao.

    Art.27- Desenvolver-se-o, ao nvel de uma ou mais das quatro ltimas sries do ensino de 1 grau, cursos de aprendizagem, ministrados a alunos de 14 a 18 anos, em complementao da escolarizao regular, e, a esse nvel ou de 2 grau, cursos intensivos de qualificao profissional.

    Pargrafo nico - Os cursos de aprendizagem e os de qualificao daro direito a prosseguimento de estudos quando inclurem disciplinas, reas de estudos e atividades que os tornem equivalentes ao ensino regular, conforme estabeleam as normas dos vrios sistemas.

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    26UNIDADE I

    Art.28- Os certificados de aprovao em exames supletivos e os relativos concluso de cursos de aprendizagem e qualificao sero expedidos pelas instituies que os mantenham.

    A Lei 5.692/71 conferiu autonomia e flexibilidade aos Conselhos

    Estaduais de Educao a fim de organizarem e aplicarem determinadas

    normas para o tipo de oferta de cursos supletivos, o que provocou muitas

    diferenas nas modalidades inseridas nos estados brasileiros. Algumas

    Secretarias Estaduais de Educao, para poderem praticar a legislao

    vigente, criaram o Departamento de Ensino Supletivo (DESU), estimando a

    grande importncia que esta modalidade de ensino estava adotando.

    Neste mesmo tempo, houve a introduo de

    tecnologias como possveis meios de solues para os

    problemas educacionais compreendidos neste perodo,

    resultantes de acordos entre o MEC e a Agncia Norte-

    Americana para o Desenvolvimento Internacional

    (USAID).

    Durante todo o perodo de ditadura, o MOBRAL

    manteve suas atividades, tendo em 1980 mais de 80

    centros de estudos supletivos.

    Em 1985, o MOBRAL foi extinto em razo de sua organizao e

    substitudo pela Fundao Educar. Esta fundao funcionava em parceria

    com municpios e associaes da sociedade civil. Mesmo possuindo uma

    orientao de educao funcional, a descentralizao possibilitou uma

    maior diversidade de prticas pedaggicas. Trabalhava com a alfabetizao

    e ps-alfabetizao.

    importante tambm destacar que neste perodo de redemocratizao

    brasileira, a prpria Constituio Federal reza em um artigo prprio (208)

    a obrigatoriedade do ensino fundamental gratuito, inclusive para todos

    aqueles que no tiveram acesso na idade prpria.

    No final dos anos 1980, um novo movimento em prol da educao de

    adultos comea a ser organizado, numa parceria entre o governo e a sociedade

    civil. O Movimento de Alfabetizao (MOVA) iniciou suas atividades na

    cidade de So Paulo e, em pouco tempo, conseguiu atingir muitos objetivos,

    motivando outras cidades a desenvolverem programas semelhantes.

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    27UNIDADE I

    Em 1990, a Fundao Educar foi extinta durante o governo

    Collor. Houve o lanamento do Programa Nacional de Alfabetizao e

    Cidadania (PNAC), proveniente das discusses da Conferncia Mundial

    de Educao para Todos (Tailndia, 1990). Este ano foi considerado o Ano

    Nacional da Alfabetizao (SOUZA, 2007).

    Uma vez extinta a Fundao Educar, o ensino supletivo transferido

    para os estados e municpios, ficando o governo federal isento de

    responsabilidades.

    Durante o governo de Itamar Franco (1992-1994), as formulaes em

    relao ao Plano Decenal de Educao apontavam para a necessidade de

    examinar as diretrizes de uma poltica educacional, para jovens e adultos.

    Nesta gesto, nada de inovador concretizou-se na prtica educacional

    pelo descomprometimento da Unio.

    Em 1995, foi criado e implantado o Programa Comunidade

    Solidria, presidido pela ento primeira-dama, Ruth Cardoso, visando

    minimizar a excluso social e a pobreza. Alm deste, foi tambm criado o

    Programa Universidade Solidria.

    Em 1996, a professora Ruth cria a Alfabetizao Solidria e o

    Programa Capacitao Solidria. Neste mesmo ano, lanado o Programa

    Voluntrios, buscando fortalecer o voluntariado e alcanar as metas

    propostas pelos demais programas que estavam sendo implantados em

    todo o pas (CENTRO RUTH CARDOSO).

    O Programa Comunidade Solidria, juntamente com a Alfabetizao

    Solidria, foi uma das mais importantes aes educacionais para jovens

    e adultos da dcada de 1990, buscando a alfabetizao de adultos em

    parceria com universidades, prefeituras, empresas e a sociedade civil.

    Atendia principalmente s regies Norte e Nordeste, que apresentavam

    ndices extremamente altos de analfabetismo.

    SEO 5A EJA NAS DCADAS DE 1990 E 2000

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    28UNIDADE I

    O Programa Alfabetizao Solidria transformou-se posteriormente em ONG (Alfasol) e com apoio do Programa Brasil Alfabetizado e inmeras parcerias ainda atua em diversas regies do pas.

    Para saber mais, acesse: .

    Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional n. 9.394/96 trouxe em seu texto

    dois artigos que prescrevem sobre a Educao de

    Jovens e Adultos, entendida a partir de ento como

    modalidade de ensino (no mais considerada como

    ensino supletivo). Vamos discutir mais sobre as

    questes legais da EJA no captulo sobre polticas.

    Voc consegue perceber o quanto a Educao de Jovens e Adultos

    passou por diferentes etapas at este momento?

    Apesar da incluso da EJA na LDB 9.394/96, ainda muitas questes

    sobre a modalidade no foram esclarecidas, pontuando divergncias

    entre as necessidades e as questes legais postas.

    Entretanto, a lei, ao tratar a EJA como parte do ensino fundamental

    e do ensino mdio, permitiu uma nova postura em relao a esta

    modalidade de ensino, apontando sua especificidade prpria. Considera

    os conhecimentos prvios dos alunos, para que a partir dos mesmos toda

    ao educacional possa ocorrer. A Educao de Jovens e Adultos no

    poderia mais ser considerada como uma reposio do ensino regular,

    conforme o que o ensino supletivo apregoava, mas sim uma modalidade

    prpria.

    Em 1997, aconteceu em Hamburgo, na Alemanha, a V Conferncia

    Internacional de Educao de Adultos (CONFINTEA). Esta conferncia

    representou um grande marco da educao de adultos, uma vez que

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    29UNIDADE I

    estabeleceu o vnculo entre a educao deste pblico

    e o desenvolvimento sustentvel.

    At o final da dcada de 1990, as aes em relao

    Educao de Jovens e Adultos mantiveram-se nas

    discusses da sociedade civil, nos espaos acadmicos

    e na pauta das polticas pblicas.

    Em 2000, foram aprovadas as Diretrizes

    Curriculares Nacionais para a Educao de Jovens e

    Adultos. Desde ento, so realizadas conferncias e

    encontros nacionais de EJA em todo Brasil, com apoio

    de diversas universidades e da sociedade civil.

    Na primeira dcada deste sculo muitos programas para a

    EJA foram criados ou ampliados. Conhea mais sobre eles a seguir.

    No Plano Nacional de Educao de 2001 (Lei 10.172/2001), a

    Educao de Jovens e Adultos esteve presente, com 26 metas prprias. Foi

    entendida a necessidade de amenizar e sanar o analfabetismo no Brasil e

    possibilitar a escolarizao de todos aqueles que no foram matriculados

    ou que, por diferentes razes, saram do sistema regular de ensino, alm

    do progressivo atendimento de jovens e adultos no primeiro segmento da

    EJA (Anos Iniciais do Ensino Fundamental).

    Neste mesmo ano, o ndice do analfabetismo no Brasil foi de

    12,4%, apontado como grande avano. Tal ndice, porm, no se deve

    apenas pela ampliao da EJA, mas sim pelo esforo da ltima dcada

    pela ampliao e universalizao do ensino fundamental, juntamente

    com programas de acelerao e correo de fluxo (DI PIERO, 2003, p. 8).

    Ainda em 2001, houve a implantao do Programa Recomeo,

    ampliando significativamente o oramento para a modalidade de ensino,

    que at o momento era mantida pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento

    do Ensino Fundamental e Valorizao dos

    Professores (FUNDEF). Os fundos destinados

    EJA continuaram a crescer, chegando em

    2002 a mais de 140 mil dlares (Idem, p. 15

    e 16).

    No ano de 2003, iniciou-se a Dcada de

    Alfabetizao das Naes Unidas, estimulando

    Logo V CONFINTEA

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    30UNIDADE I

    muitas aes em prol da Educao para Todos (UNESCO). Estas aes

    impulsionaram novos programas e projetos para a erradicao do

    analfabetismo e a educao para jovens e adultos.

    Lanada na sede das Naes Unidas em 2003, a Dcada visa

    aumentar os nveis de alfabetismo e empoderar todas as pessoas em

    todos os lugares. Ao declarar esta Dcada, a comunidade internacional

    reconheceu que a promoo da alfabetizao de interesse de todos

    como parte dos esforos para a paz, o respeito e o intercmbio em um

    mundo globalizado (UNESCO).

    Neste mesmo ano, o governo federal criou e implementou o

    Programa Brasil Alfabetizado. Segundo o MEC, este programa est

    voltado para a alfabetizao de jovens, adultos e idosos, com atendimento

    a todo territrio nacional, porm priorizando os municpios que possuem

    taxa de analfabetismo igual ou superior a 25% (maior parte no Nordeste).

    Este programa vigente e atua com apoio de entidades e parcerias, alm

    do oramento proveniente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da

    Educao (FNDE).

    No quadro a seguir possvel verificar o panorama atual do

    Programa Brasil Alfabetizado, segundo informaes disponveis no site

    do MEC:

    http://brasilalfabetizado.fnde.gov.br/mapa/

    No ano seguinte, 2004, foi criada a Secretaria de Educao

    Continuada, Alfabetizao, Diversidade e Incluso (SECADI), no

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    31UNIDADE I

    Ministrio da Educao. Esta Secretaria atua em diversas reas,

    destacando-se neste recorte a alfabetizao e a Educao de Jovens e

    Adultos. Seu objetivo contribuir para a reduo das desigualdades

    educacionais por meio da participao de todos os cidados em polticas

    pblicas que assegurem a ampliao do acesso educao (MEC). Mais

    informaes podem ser encontradas no portal do MEC.

    Em 2005, foi institudo o Programa Nacional de Integrao da Educao Profissional (PROEJA), por meio do Decreto n. 5.478, de 24 de

    junho de 2005. No ano seguinte, o Decreto n. 5.840, de 13 de julho de

    2006, substituiu o anterior e ampliou a abrangncia do primeiro PROEJA,

    incluindo a oferta para o ensino fundamental da EJA.

    Conforme apontado no portal do MEC, o PROEJA pretende

    contribuir para a superao do quadro da educao brasileira explicitado

    pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD)

    divulgados em 2003: 68 milhes de jovens e adultos trabalhadores com

    15 anos ou mais no concluram o ensino fundamental e apenas 6 milhes

    (8,8%) esto matriculados em EJA.

    O PROEJA desenvolve suas aes no sentido de integrao da

    educao profissional educao bsica, com o objetivo de superar as

    diferenas entre o trabalho manual e o intelectual, entendendo trabalho

    como perspectiva criadora. O programa atua na formao do profissional,

    por meio da integrao curricular e da adequao metodolgica, visando

    permanncia do estudante no sistema e sua aprendizagem.

    Os estados e os municpios que ofertam o PROEJA possuem fontes

    de recursos provenientes do FUNDEB, e tambm podem participar do

    Programa Brasil Profissionalizado, da Secretaria de Educao Profissional

    e Tecnolgica (SETEC).

    De acordo com o Decreto n. 5.840, de 13 de julho de 2006, e

    os Documentos Base do PROEJA, a partir da construo do projeto

    pedaggico integrado, os cursos PROEJA podem ser oferecidos nas

    seguintes formas:

    1- Educao profissional tcnica integrada ao ensino mdio na modalidade de Educao de Jovens e Adultos.2- Educao profissional tcnica concomitante ao ensino mdio na modalidade de Educao de Jovens e Adultos.3- Formao inicial e continuada ou qualificao profissional integrada ao ensino fundamental na modalidade de Educao de Jovens e Adultos.

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    32UNIDADE I

    4- Formao inicial e continuada ou qualificao profissional concomitante ao ensino fundamental na modalidade de Educao de Jovens e Adultos.5- Formao inicial e continuada ou qualificao profissional integrada ao ensino mdio na modalidade de Educao de Jovens e Adultos.6- Formao inicial e continuada ou qualificao profissional concomitante ao ensino mdio na modalidade de Educao de Jovens e Adultos.

    (Fonte: Portal do MEC)

    Em 2007, foi lanado o Programa Nacional do Livro Didtico

    para a Alfabetizao de Jovens e Adultos (PNLA), o qual disponibiliza

    a Coleo Cadernos de EJA, elaborada para o ensino fundamental de

    jovens e adultos, da alfabetizao at a 8 srie (9 ano) ofertada pelas

    escolas pblicas. A coleo segue as orientaes curriculares do Conselho

    Nacional de Educao, organizando os componentes e contedos em

    torno de eixos temticos e apresenta o trabalho como eixo geral integrador

    dos temas (MEC).

    No ano de 2009, ocorreu no Brasil

    a VI CONFINTEA, com o tema Vivendo

    e aprendendo para um futuro vivel: O

    poder da aprendizagem e da educao de

    adultos. A Conferncia envolveu os pases-

    membros da UNESCO, agncias das

    Naes Unidas, agncias multilaterais e

    bilaterais de cooperao, organizaes da sociedade civil, setor privado e

    estudantes. Esta conferncia proporcionou um importante dilogo sobre

    polticas pblicas educacionais, promoo da aprendizagem de adultos e

    educao no formal como possibilidade de processo de alfabetizao e

    desenvolvimento por meio de capacitaes e profissionalizao.

    Muitas aes ocorreram na ltima dcada em relao Educao

    de Jovens e Adultos, permitindo que este pblico tenha acesso aos

    espaos educacionais e neles permanea. Nesta ltima dcada,

    percebeu-se tambm que a atuao da sociedade civil continuou sendo

    de grande importncia para o desenvolvimento da EJA, impulsionando

    aes e movimentos de alfabetizao em espaos formais e no formais.

    Cabe destacar que na histria da EJA no Brasil, o apoio da sociedade

    civil sempre permitiu que muitas aes ocorressem e muitos programas

    continuassem ativos at os dias atuais.

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    33UNIDADE I

    importante salientar que ao se pensar esta modalidade torna-

    se fundamental entender que, muito alm do processo de alfabetizao

    e escolarizao, o processo de conscientizao e percepo de mundo

    possibilita que muitas pessoas possam atuar como cidados ativos e

    conscientes, na busca de uma sociedade mais justa e democrtica.

    Desde o princpio da histria do Brasil, a Educao de Jovens e Adultos j existia. Entretanto, pode-se perceber que, ao longo destes sculos, a viso deste segmento do ensino foi sofrendo mudanas, com avanos e retrocessos.

    Embora com um nmero crescente de analfabetos, a EJA por muito tempo foi resultado de campanhas de governo, caracterizadas pela descontinuidade, fato que comprometeu significativamente seu resultado, porque no era considerada prio-ridade nas polticas pblicas educacionais brasileiras. Entretanto, pode-se perce-ber que de uma viso assistencialista e compensatria, atualmente lhe atribuda maior relevncia, estando presente em diferentes polticas pblicas educacionais.

    Deve-se ressaltar que a EJA, mesmo considerada uma modalidade de en-sino com especificidade prpria, ainda requer muita ateno dos estudiosos e dos polticos para que seja efetivamente aplicada com sucesso, rumo anunciada er-radicao do analfabetismo.

    1. Aps a leitura desta unidade responda:a) A EJA, desde seus primrdios no Brasil, sofreu muitas mudanas em

    relao sua concepo. Quais foram elas?

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    34UNIDADE I

    b) Qual o principal objetivo da EJA?

    c) O que voc entende pelo entusiasmo pela educao?

    d) Por que a EJA no mais considerada Ensino Supletivo?

    e) Por que a educao considerada como um ato poltico?

    2. Cite as principais campanhas de alfabetizao de adultos realizadas no Brasil.

    3. Quais as diferenas entre a concepo de educao de adultos do MO-BRAL e a concepo de Paulo Freire?

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    DE IIPOLTICAS PBLICAS PARA

    A EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS

    ObjetivOs De aPRenDiZaGemConceituar polticas pblicas.Reconhecer as principais polticas para a Educao de Jovens e Adultos.Identificar o contexto social e poltico da criao e implementao daspolticas pblicas para a EJA.Analisar as principais iniciativas em favor da EJA.

    ROteiRO De estUDOsSEO 1 Educao e polticas pblicas: um debate necessrioSEO 2 Educao de Jovens e Adultos e o contexto das polticas pblicasSEO 3 Iniciativas em favor da EJASEO 4 Polticas educacionais e a EJA

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    36UNIDADE II

    PARA INCIO DE CONVERSA

    Caro(a) aluno(a)

    Nesta unidade voc vai poder conhecer as principais polticas que norteiam a Educao de Jovens e Adultos. Ser possvel realizar reflexes sobre como as polticas pblicas interferem no contexto educacional, destacando a EJA neste momento.

    Para sua formao, alm dos conhecimentos sobre a trajetria desta modalidade, conhecer os desdobramentos das polticas e entender que a educao um direito de todos como prescreve a Constituio Federal, permite um avano conceitual em relao a uma educao de fato para todos.

    muito importante perceber que muitas vezes os alunos matriculados na EJA ou os que se matricularo se encontram em situao de vulnerabilidade e que, por diversas razes, no frequentaram ou no puderam concluir a escolaridade mnima obrigatria.

    Vamos conhecer as polticas e compreender o quanto elas so fundamentais para um bom trabalho, tanto de professores quanto de pedagogos.

    Agora com voc!

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    SEO 1EDUCAO E POLTICAS PBLICAS: UM DEBATE NECESSRIO

    O contexto atual

    apresenta muitas e

    incisivas mudanas

    econmicas, culturais,

    polticas e sociais que o

    Brasil vem sofrendo nos

    ltimos anos, nas quais

    a populao depara-

    se cada vez mais com

    desafios e possibilidades

    de crescimento num

    compasso acelerado.

    Atravs dessa realidade,

    a educao representa um importante meio de progresso e modernizao

    social. Dessa maneira, a educao o processo pelo qual a sociedade

    forma seus membros sua imagem e em funo de seus interesses

    (PINTO, 1994, p.29).

    A sociedade ps-moderna valoriza muito o conhecimento adquirido

    pelos indivduos e, para acompanhar as transformaes no mundo do

    trabalho, torna-se necessria uma maior qualificao profissional.

    Nessa perspectiva, a educao ocupa cada vez mais espao e passa a

    ser reclamada por uma parcela maior da populao como imprescindvel

    para a integrao e participao social.

    Por muito tempo a educao esteve vinculada a diferentes fases da

    vida. A infncia, por exemplo, era valorizada, e em especial na questo

    educacional, com uma preocupao muito intensa quanto aos mtodos e

    aos contedos que deveriam ser apresentados, conforme a faixa etria.

    Com relao aos jovens e adultos, a associao refere-se ao

    mundo do trabalho, produo e ao consumo, enquanto a velhice e a

    Operrios Tarsila do Amaral

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    38UNIDADE II

    terceira idade estavam vinculadas improdutividade, diminuio

    das atividades fsicas e intelectuais (HADDAD, 2001). Entretanto,

    esses mitos que assombram a educao brasileira so destrudos pelas

    pesquisas cientficas atualmente desenvolvidas, atribuindo significados

    diferenciados conforme as faixas etrias, considerando a cada segmento

    etrio um espao de reconhecimento e contribuio na sociedade

    brasileira.

    Segundo Saviani (1987, p.1),

    [...] considerar a poltica educacional como dimenso da poltica social significa, fundamentalmente, considerar a poltica educacional como tendo compromisso com as camadas populares, isto , com aquelas camadas que no se beneficiam diretamente do desenvolvimento econmico. Nesse sentido, me parece que a questo central diz respeito ao desenvolvimento intelectual das massas; [...] encaminho as discusses entre a educao e as chamadas polticas especiais.

    O autor (1987) esclarece assim que, se forem criadas as estruturas

    bsicas e as condies materiais para gerir a existncia daqueles

    indivduos aos quais se destinam as polticas especiais, estas devem

    ser gradativamente suprimidas, porque a partir da garantia de moradia,

    emprego, educao e sade, direitos bsicos elementares a todos os

    indivduos, estas polticas especiais no apresentam mais justificativas.

    As polticas pblicas so materializadas na interveno do Estado e se es-tabelecem nas estruturas de poder e de dominao. De acordo com a ideologia dos representantes do Estado, as polticas pblicas so definidas, implementadas, reformuladas ou desativadas.

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    A Educao de Jovens e Adultos no raras vezes se apresenta como

    campanhas paliativas de erradicao do analfabetismo adulto, nas quais o

    Estado se exime parcialmente do cumprimento de suas funes, por meio

    de parcerias, reforando a EJA como promoo de aes compensatrias

    de baixo investimento. Nada mais necessrio do que a criao de polticas

    pblicas efetivas, que garantam a execuo, financiamento e concretude

    dessa modalidade de ensino.

    O segmento dos jovens, adultos e idosos distingue-se dos demais da

    educao formal, sendo necessria uma reavaliao de uma modalidade

    de ensino que supra as necessidades educacionais de que esse grupo

    carece, atravs de uma relao entre formao e mercado de trabalho.

    A educao de jovens e adultos deve possibilitar tambm uma formao

    profissional aliada formao acadmica. A realidade educacional

    brasileira um exemplo acabado de contradio entre a declarao dos

    direitos e a prtica social. Existe um descompasso entre os processos de

    interao, estudo e trabalho (PICONEZ, 2002).

    Em que momentos pode-se identificar a dicotomia entre os direitos

    e a prtica no Brasil?

    A educao voltada para jovens, adultos e idosos que se encontram

    em atividade, como trabalhadores, coloca-se como uma das mais

    estratgicas formulaes para a possvel transformao e, no limite,

    revoluo da sociedade injusta, discriminatria, meritocrtica e eletista

    em que se vive atualmente (GADOTTI e ROMO, 2001).

    A educao representa a possibilidade de mudana para essa classe,

    por muitas vezes, excluda da sociedade. A Educao de Jovens, Adultos

    e Idosos no Brasil vem ao encontro de algumas problemticas sociais,

    porm preciso perceber suas dificuldades e limitaes.

    SEO 2EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS E O CONTEXTO DAS POLTICAS PBLICAS

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    40UNIDADE II

    A identidade dessa modalidade configura-se num mbito ambguo

    e muitas vezes contraditrio, demonstrando a necessidade de uma

    organizao, na qual a populao beneficiada com esse segmento

    educacional realmente atinja seus objetivos enquanto cidados em busca

    de novas oportunidades atravs da educao.

    Este segmento de ensino confronta-

    se com a diminuio das elevadas taxas

    de analfabetismo existentes no Brasil,

    as quais apesar de apresentarem um

    decrscimo significativo nos ltimos

    anos, principalmente na populao jovem

    (IBGE), ainda est longe de alcanar um

    ndice aceitvel de analfabetos, cumprindo

    os objetivos educacionais traados pela

    UNESCO para 2015.

    Em relao Educao de Jovens,

    Adultos e Idosos, destinada queles que

    no tiveram acesso ao ensino fundamental

    e ao mdio na idade prpria, tanto nas

    formas de ensino presencial e/ou semipresencial, os dados do Censo

    Escolar apontam que as matrculas totalizaram 4.234.956 em 2010.

    Destes, 2.846.104 (67%) esto no ensino fundamental e 1.388.852 (33%)

    no ensino mdio. A Educao de Jovens e Adultos inclui matrculas de

    EJA presencial, semipresencial e EJA integrado educao profissional

    de nvel fundamental e mdio (INEP, 2010).

    Conforme os dados do Censo Escolar, possvel observar que o

    nmero de matrculas na EJA vem diminuindo nos ltimos anos, como se

    pode observar a seguir:

    2007 - 4.985.338 matrculas

    2008 - 4.945.424 matrculas

    2009 - 4.661.332 matrculas

    2010 - 4.287.234 matrculas

    Segundo a Pesquisa Nacional de Domiclios (IBGE, 2009), o Brasil

    tem uma populao de 57,7 milhes de pessoas com mais de 18 anos que

    no frequentam escola e que no tm o ensino fundamental completo.

    Esse contingente poderia ser considerado uma parcela da populao a

    ser atendida pela EJA (INEP, 2010, p. 17).

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    Um dos problemas apontados em referncia diminuio de alunos

    matriculados se faz pelo fato de que o nmero de escolas que oferecem a

    modalidade vem diminuindo, como se constata na tabela a seguir:

    Fonte: Censo Escolar 2010

    Nesta anlise, torna-se importante tambm apontar que a maior

    parte das matrculas da EJA esto no ensino fundamental. Outra questo

    a ser observada se refere ao fato de que h mais alunos nas sries finais do

    ensino fundamental do que nas iniciais, indicando que muitos estudantes

    esto atingindo uma maior escolaridade e indo alm das classes de

    alfabetizao. Estes dados podem ser verificados a seguir:

    Fonte: Censo Escolar 2010

    Apesar de os dados apresentados representarem um importante

    avano quanto quantidade de alunos matriculados em cursos presenciais,

    a realidade vivenciada aponta que a alfabetizao e a educao de jovens,

    adultos e idosos apresentam-se no governo como uma proposta relegada

    a um segundo plano, atravs de um carter apenas quantitativo.

    Por mais aes, campanhas e programas que surgiram nos

    ltimos anos, a questo da EJA no est em evidncia. Obviamente que

    programas como o PROJOVEM e o PROEJA incentivam a matrcula e

    concomitantemente buscam a qualificao profissional, porm grande

    parte das aes para esta modalidade acontece por meio da sociedade

    civil.

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    42UNIDADE II

    Um dos maiores problemas que a EJA possui se refere grande extenso territorial brasileira, que dificulta o desenvolvimento de

    muitos programas para a modalidade.

    O Brasil mais do que um pas. uma imensa regio marcada por profundas assimetrias e desigualdades econmicas e sociais, regionais e tnicas, com um considervel e histrico atraso na construo da escola para todos (TEODORO, 2003, p. 138).

    O Estado, referenciando o estado mximo do lucro, estabelece em

    suas estruturas poucas ou quase incipientes condies de acesso a uma

    educao de qualidade, principalmente para a populao mais pobre,

    dando cada vez mais nfase, a um estado mnimo das condies bsicas,

    como sobrevivncia e a prpria educao.

    A EJA, no Brasil, vem ao encontro das classes sociais menos

    favorecidas, uma vez que o estado capitalista busca incessantemente

    o lucro exacerbado, sem se preocupar com a parcela da populao que

    se encontra margem desse contexto. Nestas condies, a educao

    apresenta-se como possibilidade de mudana a essa realidade vivenciada.

    Nas sociedades capitalistas, a educao tem

    estado a servio da manuteno dos privilgios de

    classe. A ideologia liberal, que d sustentao ao

    sistema capitalista, coloca a questo em termos de

    diferenas individuais, atribuindo ao prprio indivduo o

    seu sucesso ou fracasso social e escolar, omitindo os

    condicionantes de ordem social, histrica, poltica e

    econmica que levam algumas pessoas ao sucesso e

    outras marginalizao ou excluso do sistema como

    um todo, legitimando a sociedade de classes.

    possvel perceber que a escola tem contribudo

    para reforar situaes de preconceito em relao s

    camadas pobres quando afirma que a educao trabalha

    apenas em nvel das ideias e segue orientaes e

    normas iguais para todos os alunos.

    Baseada em princpios individualizantes, acaba

    por rotular os indivduos segundo seu aproveitamento,

    sem levar em conta as condies concretas de

    existncia e o universo cultural dos alunos.

    Ideologia: Marx descobriu que temos a iluso de estarmos pensando e

    agindo com nossa prpria cabea e por nossa

    prpria vontade, racional e livremente, de acordo

    com nosso entendimento e nossa liberdade, porque desconhecemos um poder

    invisvel que nos fora a pensar como pensamos e agir como agimos. A esse poder - que social - ele deu o nome de ideologia.

    A ideologia um fenmeno histrico-social decorrente

    do modo de produo econmico. A funo

    principal da ideologia ocultar e dissimular as

    divises sociais e polticas, dar-lhes a aparncia de

    indiviso e de diferenas naturais entre os seres

    humanos (CHAU, 2000).

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    Os tericos crtico-reprodutivistas Bourdieu,

    Passeron e Althusser, na dcada de 1970, criticam a

    escola de inspirao liberal, denunciam seu carter

    classista e os mecanismos utilizados para perpetuar

    as desigualdades sociais.

    A escola no distribui poder, mas constri

    saber que poder. No se muda a histria

    sem conhecimentos, mas tem-se que educar o

    conhecimento para que se possa interferir no

    mercado como sujeito, no como objeto. O papel

    da escola consiste em colocar o conhecimento nas mos dos excludos

    de forma crtica, porque a pobreza poltica produz pobreza econmica

    (GADOTTI, 1979).

    A educao desponta como um instrumento indispensvel para

    a formao deste novo homem e novo profissional, atravs do processo

    de socializao e integrao, sendo possvel desmistificar os choques

    culturais e sociais presentes na sociedade. Assim, a populao passa

    a exigir cada vez mais condies de acesso e permanncia na escola,

    com uma educao de qualidade, proporcionando uma formao que

    contemple as necessidades e aspiraes.

    A EJA no Brasil configura-se cada vez mais como necessidade para a populao no escolarizada, que busca atravs da educao, superar suas mazelas sociais, sendo capaz de emergir no processo de qualificao, tanto profissional, quanto pessoal.

    A Educao de Jovens e Adultos, no transcorrer do seu processo

    histrico, apresenta-se como uma educao compensatria (GADOTTI e

    ROMO, 2001), sendo vista como uma oportunidade para superar uma

    falha no processo educacional dos alunos inclusos nessa modalidade. Desta

    maneira, os beneficiados por ela buscam na educao as possibilidades

    de superar suas condies de trabalho e sobrevivncia.

    A Educao de Adultos o espao da diversidade e de mltiplas vivncias, de relaes intergeracionais, de dilogos entre saberes e culturas. Ao lado da diversidade est tambm a desigualdade que atinge a todos, sobretudo num pas injusto como o nosso: negros, brancos, indgenas, amarelos, mestios, homens, mulheres, jovens, adultos, idosos, quilombolas,

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    ribeirinhos, pescadores, agricultores, pantaneiros, camponeses, sem-terra, sem-teto, sem-emprego... das periferias urbanas e dos campos. A diversidade pode ser considerada como uma grande riqueza, mas a desigualdade social e econmica a nossa pobreza maior (GADOTTI, s/d, p.26).

    Assim, torna-se indispensvel a implementao de polticas

    pblicas voltadas para essa populao, propiciando condies mnimas de

    sobrevivncia, trabalho, alm de estruturar uma educao de qualidade,

    que venha ao encontro dos objetivos desse segmento.

    O que voc entende por poltica pblica?

    As polticas pblicas podem assumir diferentes formatos:

    O primeiro o das polticas distributivas, decises tomadas pelo governo, que desconsideram a questo dos recursos limitados, gerando impactos mais individuais do que universais, ao privilegiar certos grupos sociais ou regies, em detrimento do todo. O segundo o das polticas regulatrias, que so mais visveis ao pblico, envolvendo burocracia, polticos e grupos de interesse. O terceiro o das polticas redistributivas, que atinge maior nmero de pessoas e impe perdas concretas e no curto prazo para certos grupos sociais, e ganhos incertos e futuros para outros; so, em geral, as polticas sociais universais, o sistema tributrio, o sistema previdencirio e so as de mais difcil encaminhamento. O quarto o das polticas constitutivas, que lidam com procedimentos (SOUZA, 2006, p.9).

    Entenda-se que poltica pblica o resultado da dinmica do jogo

    de foras que se estabelece no mbito das relaes de poder, relaes

    essas constitudas pelos grupos da sociedade civil (BONETI, 1997, p.

    188).

    No contexto da Educao de Jovens, Adultos e Idosos, as polticas

    se voltam para o mbito educacional. Segundo Vieira (2007, p. 56), as

    polticas representam o espao onde se manifesta a politicidade inerente

    educao, na medida em que traduzem expectativas de ruptura ou de

    continuidade.

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    Uma poltica pblica tem sua gnese na identificao de um problema e na definio de uma agenda de trabalho. A agenda abrange as questes constatadas e que de alguma maneira podero ser discutidas publicamente, de modo que seja formada uma opinio poltica e definidas intervenes. Uma questo se transforma em um problema digno de ateno pelo governo, quando as pessoas so convencidas de que algo precisa ser feito. At que uma deciso seja tomada, percorre-se um longo caminho, visto que a construo da rea e do tema da poltica exige o reconhecimento e a identificao de aes e processos diversos, o que acontece em meio ao embate em torno das ideias e interesses de grupos os mais diferentes (URPIA, 2009, p.30).

    As polticas pblicas fazem correspondncia s orientaes e

    disposies do governo, atravs das mais diversas decises nas esferas

    sociais, influenciando a populao direta ou indiretamente, nos mbitos

    pessoais, profissionais e tambm educacionais. Estabelecem-se leis,

    diretrizes, planos, resolues, estatutos e demais decises provenientes

    do poder pblico.

    Depois de definida uma poltica pblica, sero elaborados

    programas, projetos e pesquisas que continuamente devem ser avaliados

    por meio de um sistema de acompanhamento, buscando a soluo para

    o problema que originou todas as atividades, avaliando os processos, os

    produtos e os impactos ocasionados (URPIA, 2009).

    Para Vzquez,

    [...] os sujeitos ou agentes da ao poltica so os indivduos concretos, reais, mas enquanto membros de um grupo social determinado. Atuando politicamente, os indivduos defendem os interesses comuns do grupo social respectivo nas suas relaes com o estado, com outras classes ou com outros povos (2005, p. 93).

    As polticas pblicas para a EJA configuram-se num

    espao diferenciado. Apesar de existirem muitas iniciativas

    em prol da disseminao da educao para todas as pessoas,

    como previsto na prpria Constituio Federal, no Artigo

    205, que prescreve a educao como direito de todos

    e dever do estado, a EJA ainda se apresenta aqum das

    muitas estratgias educacionais propostas pelo governo.

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    46UNIDADE II

    A Educao de Jovens e Adultos tem uma estreita relao com

    polticas educacionais e demais estratgias governamentais, pois essa

    modalidade apresenta-se como possibilidade de incluso social, vindo ao

    encontro da responsabilidade pblica para com os cidados.

    O direito educao reconhecido no artigo 26 da Declarao Universal dos Direitos Humanos, de 1948, como direito de todos ao desenvolvimento pleno da personalidade humana e como uma necessidade de fortalecer o respeito aos direitos e liberdades fundamentais. A conquista deste direito depende do acesso generalizado educao bsica, mas o direito educao no se esgota com o acesso, a permanncia e a concluso desse nvel de ensino: ele supe as condies de continuar os estudos em outros nveis (GADOTTI, s/d, p.17).

    Pode-se destacar tambm o Artigo 206 da Constituio Federal que

    prescreve a igualdade de condies para o acesso e permanncia na

    escola. Ainda, com referncia Educao de Jovens, Adultos e Idosos,

    tambm se pode destacar o Artigo 208, no qual se encontra a garantia

    de obrigatoriedade do ensino gratuito, inclusive para aqueles que no

    tiveram acesso ao mesmo na idade prpria. No Artigo 211, a Constituio

    Cidad prescreve:

    Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal e aos Municpios em regime de colaborao organizar seus sistemas de ensino.1 A Unio organizar seu sistema federal de ensino e dos territrios, financiar as instituies de ensino pblicas federais e exercer, em matria educacional, funo redistributiva e supletiva, de forma a garantir a equalizao de oportunidades educacionais e padro mnimo de qualidade do ensino mediante assistncia tcnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios.

    O Artigo 214 faz meno ao Plano Nacional de Educao e tem

    como meta tanto a erradicao do analfabetismo, como a melhoria na

    qualidade de ensino e a formao para o trabalho.

    Para Arroyo, a histria mostra que o direito educao somente

    reconhecido na medida em que vo acontecendo avanos sociais e

    polticos na legitimao da totalidade dos direitos humanos. Assim, a

    re-configurao da EJA estar atrelada a essa legitimao (2006, p. 28).

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    www.rubensmoscatelli.com/opiniao/wp-content/uploa-ds/2010/02/direito_educacao_estatal_digna.jpg

    O direito educao no pode ser desvinculado dos direitos sociais. Os direitos humanos so todos interdependentes. No podemos defender o direito educao sem associ-lo a outros direitos (GADOTTI, 2009, p.18).

    A Educao de Jovens e Adultos no se estrutura como uma

    adaptao do sistema educacional vigente no Ensino Fundamental e

    Mdio para suprir uma necessidade educacional. Ela um desafio social,

    centralizado na sociedade do saber, pautado nos princpios do direito

    universal educao.

    Por meio das mudanas sociais no Brasil, pode-se destacar a

    preocupao com o desenvolvimento da educao, possibilitando o

    acesso e a permanncia dos sujeitos na escola, alm de propiciar queles

    que se encontram margem do processo, condies de ingressarem no

    mbito escolar, atravs de uma educao permanente e adequada para

    jovens, adultos e idosos.

    Segundo Porto (2004), as polticas pblicas tm sido insuficientes

    para atender ao direito de todos os brasileiros educao e, embora

    sejam ampliadas as ofertas, elas continuam excluindo elevado nmero de

    jovens e adultos de tais oportunidades, quer pelo no acesso, quer pela

    no permanncia.

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    48UNIDADE II

    Os fruns nacionais foram criados em razo da necessidade de

    se discutir a problemtica da Educao de Jovens e Adultos, em nvel

    mundial e nacional, e estabelecer polticas pblicas efetivas para essa

    modalidade de ensino, evidenciando a qualidade e a continuidade.

    A seguir apresentado um quadro, com os dados dos principais

    encontros realizados no Brasil:

    (Continua)

    SEO 3INICIATIVAS EM FAVOR DA EJA

    Encontroslocal / ano Temas/ discusses

    I Encontro Nacional de Educao de Adultos

    (I ENEJA) Rio de Ja-neiro- RJ, 1999

    Em busca de uma poltica integrada de educao de jovens e adultos, articulando atores e definindo

    responsabilidades.

    II Encontro Nacional de Educao de Adultos (II ENEJA) Paraba, 2000

    Os conceitos da educao de jovens e adultos, parcerias e estratgias de articulao.

    III Encontro Nacional de Educao de Adultos (III ENEJA) So Paulo-SP,

    2001

    A diviso de responsabilidades entre os organis-mos governamentais das trs esferas administra-tivas e as organizaes da sociedade civil para a consecuo das metas relativas educao das pessoas jovens e adultas previstas no Plano Na-

    cional de Educao.

    IV Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos (IV ENEJA) -Minas Gerais, 2002

    Trata das diretrizes e bases; conceitos e prticas; articulao dos fruns estaduais e regionais e seus respectivos segmentos; perspectivas e proposies

    e deliberaes da plenria e encaminhamentos para o V EPEJA.

    V Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos (V ENEJA) -

    Mato Grosso, 2003

    Educao de Jovens e Adultos: comprometimento e continuidade.

    VI Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos (VI ENEJA) - Porto Alegre-RS, 2004

    Polticas pblicas e financiamento.

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    Fonte: Quadro elaborado conforme dados de Santos (2008) e www.forumeja.org.br

    Como afirma Santos (2008, p. 48),

    A dcada de 1990 marcada por diversos eventos nos quais se procurou refletir sobre a problemtica da EJA em nvel mundial. Destacou-se o Ano Internacional da Alfabetizao (AIA) com eventos significativos incentivando e respaldando as aes nacionais, entre os quais se destacam a IV Conferncia Mundial de Educao de Adultos, promovida pelo Conselho Internacional de Educao de Adultos (ICAE), organismo da sociedade civil, e a Conferncia Mundial de Educao Para Todos (ambas realizadas na Tailndia), promovida pelo Banco Mundial, UNESCO, Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF), e pautada no pressuposto da Satisfao das Necessidades Bsicas de Aprendizagem. Estabeleceu-se, nessa Conferncia, que cada pas faria seu Plano Decenal colocando suas prioridades, caractersticas e grau de desenvolvimento, o que culminou no Brasil com a elaborao do Plano Decenal de Educao para Todos.

    - VII Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos (VII ENEJA)

    Luziana- GO, 2005

    Diversidade na EJA: o papel do Estado e dos mo-vimentos sociais nas polticas pblicas.

    VIII Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos (VIII ENEJA) -

    Recife-PE, 2006

    EJA, uma poltica de Estado: avaliao e perspec-tivas.

    IX Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos (IX ENEJA)

    Curitiba-PR, 2007

    A atualidade do pensamento de Paulo Freire e as polticas de educao de jovens e adultos no

    Brasil.

    X Encontro Nacional de Educao de Jovens e

    Adultos (X ENEJA) - Rio das Ostras-RJ, 2008

    Histria e memria dos Encontros Nacionais dos Fruns de EJA no Brasil: dez anos de luta pelo

    direito educao de qualidade social para todos.

    XI Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos (XI ENEJA)

    Belm-PA, 2009

    Identidades dos Fruns de EJA: conquistas, desa-fios e estratgias de lutas.

    XII Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos (XII ENEJA)

    Salvador-BA, 2011

    Este encontro ser realizado no final do ano, ten-do como temtica o resultado da VI CONFINTEA,

    que aconteceu em Belm, no ano de 2009.

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    50UNIDADE II

    Complementando estas iniciativas, no se pode deixar de

    apresentar as seis Conferncias Internacionais de Educao de Adultos

    (CONFINTEA), realizadas pela UNESCO, que possuem como objetivo,

    a promoo da Educao de Adultos como poltica pblica em nvel

    mundial.

    A UNESCO convoca os pases, periodicamente, para a realizao

    destas Conferncias, com o objetivo de realizar um balano e estabelecer

    metas e prazos para a educao de adultos, objetivando a promoo da

    educao ao longo da vida.

    Para maior clareza, pode-se visualizar as Conferncias no quadro

    que se segue:

    (Continua)

    CONFERN-CIA LOCAL/

    ANOPARTICIPANTES ENTENDIMENTOOBJETIVO

    I Confintea Elsinore, Dina-

    marca, 194921 pases

    Educao moralContribuir com o respeito aos direitos humanos e construo de uma paz

    duradoura

    II Confintea Montreal, Ca-

    nad, 196051 pases

    EJA como continuao da educao formal, como educao permanente, ou

    como educao de base ou educao comunitria

    III Confintea Tquio, Japo,

    1972

    82 pases37 organizaes governamentais

    e nogovernamentais

    Educao de Adultos como suplncia da educao fundamental. Objetivava reintroduzir os jovens e os adultos, no

    sistema formal da educao.

    IV Confintea Paris, Frana,

    1985

    Caracterizou-se pela pluralidade de conceitos, entre os quais: alfabetizao de adultos, ps-alfabetizao, educao rural, educao familiar, educao da

    mulher, educao em sade e nutrio, educao cooperativa, educao voca-

    cional, educao tcnica.

    Conferncia Mundial de

    Educao para Todos,

    Jomtien, Tai-lndia, 1990

    Alfabetizao de jovens e adultos a primeira etapa da educao bsica. A

    alfabetizao no poderia ser separada das necessidades bsicas de aprendiza-

    gem.

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    (Continuao)

    Fonte: Quadro elaborado segundo: GADOTTI, M. Educao de Adultos como direito humano. So Paulo: Instituto Paulo Freire, s/d. http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.br/files/miolo_Marco_Belem_port.PDF

    Para saber mais sobre a VI Confintea, consulte: .

    V Confintea Hamburgo, Alemanha,

    1997

    130 pases

    Aprovou a Declarao de Hamburgo.A Educao de Adultos um direito de todos. Destacou a importncia de dife-renciar as necessidades especficas das mulheres, das comunidades indgenas e

    dos grupos minoritrios.Realou a importncia da diversidade cultural, cultura da paz, da educao

    para a cidadania e do desenvolvimento sustentvel.

    Vrios temas fizeram parte da agenda: educao de gnero, a educao ind-gena, das minorias, a terceira idade, a educao para o trabalho, o papel dos

    meios de comunicao e a parceria entre Estado e sociedade civil.

    Conferncia Mundial de

    Educao para Todos, Dakar, Senegal, 2000

    Atingindo compromissos coletivos, esta conferncia aponta a necessidade de assumir e atingir os objetivos postos

    pela conferncia anterior realizada em Jomtien (1990).

    VI ConfinteaBelm, Brasil,

    2009144 pases

    A educao de adultos reconheci-da como um componente essencial

    do direito educao e engloba todo processo de aprendizagem, formal ou

    informal, em que pessoas consideradas adultas pela sociedade desenvolvem

    suas capacidades, enriquecem seu co-nhecimento e aperfeioam suas quali-ficaes tcnicas e profissionais, ou as redirecionam, para atender suas neces-

    sidades e as de sua sociedade.

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    52UNIDADE II

    As conferncias mundiais apontam metas em relao educao

    de adultos, apontando suas principais fragilidades, principalmente nos

    pases subdesenvolvidos e nos pases em desenvolvimento, como o caso

    do Brasil. Pensar a alfabetizao de adultos deve ir muito alm de meta

    social, torna-se uma efetiva poltica pblica.

    Como afirma Gadotti (2009, p. 16),

    A alfabetizao de adultos deve deixar de ser um gueto, para tornar-se uma poltica pblica, uma modalidade da educao bsica, como est escrito no Plano Nacional de Educao (2001). Precisamos tornar a alfabetizao de adultos parte integrante do sistema educativo e superar a atual falta de profissionalizao da rea. Os analfabetos tiveram uma experincia negativa da escola e reinclu-los nela exige a adoo de metodologias e prticas educacionais e culturais que no reproduzem os erros cometidos antes, na escola que frequentaram e da qual foram expulsos.

    h t t p : / / 2 . b p . b l o g s p o t .com/_2eTw50NSe7Y/TFrrIYYkZVI/AAAAAAAABfQ/Kxtsq9UKJPk/s320/0,,42906031,00.jpg

    Em outros contextos, se pode destacar a ausncia de espaos

    escolares adequados, para suprir a demanda. Pode-se tambm citar a

    prpria falta de interesse de alguns alunos no perodo de escolarizao,

    que os remeteu busca da escola, por melhoria nas condies pessoais,

    sociais, financeiras e relacionadas ascenso n