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artigo EDUCAÇÃO DE PESSOAS JOVENS E ADULTAS: ENTRE PRÁTICAS, SUJEITOS E EXPERIÊNCIAS Sônia Maria Alves de Oliveira' INTRODUÇÃO o presente texto foi elaborado a partir de dados obtidos durante a construção, acompanhamento, operacionalização e avaliação dos tra- balhos realizados no "Projeto de Extensão Universitária Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas: Parceria Cidadã", da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), parceria com o BIOLAC2 e a Fundação Jo- aquim Dias Guimarães -, implantado em 2004, nas escolas municipais dos bairros Novo Horizonte e Lagoinha, cidade de Guanambi - Bahia. Ao tocarmos na questão da alfabetização de adultos, devemos ter clara a relação entre esta e a possibilidade de novas experiências so- ciais, culturais e pessoais, uma vez que o domínio dos códigos lingüís- ticos potencializa os sujeitos no engajamento de diferentes atividades da esfera social, permitindo acesso e produção de novos conhecimen- tos, assim como o desenvolvimento da potencial idade individual. Desse modo o Projeto de Extensão Universitária "Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas: Parceria Cidadã" surgiu da necessidade de articulação Teoria x Prática, na perspectiva de garantir aos alunos do curso de Pedagogia uma experiência integral: comprometendo-se com a educação de jovens e adultos na perspectiva de Paulo Freire; promovendo a inclusão de homens e mulheres no mundo do trabalho e na sociedade da informação; colaborando com a construção de uma sociedade justa e ética; educando para a conscientização e vivência da cidadania e participação social; promovendo a participação popular e comunitária nas políticas públicas voltadas para as necessidades das populações mais pobres e excluídas. ' Esse Projeto visou criar condições de efetivação dos papéis sociais da Universidade, quais sejam: ensino, pesquisa e extensão. O trabalho de alfabetização, com ênfase em textos e questões ligados à saúde e à higiene, à educação e cultura, à história local, à cidadania e parti- cipação e a outros temas locais e globais, contribuiu para socializar o conhecimento científico produzido na Universidade, elevando as condições de vida dos alfabetizandos e das comunidades onde as difi- culdades se manifestam mais agudas. Por outro lado, o envolvimento dos estudantes universitários com os alfabetizandos e comunidades em que as condições de exclusão social são marcantes, contribuiu para de- senvolver neles a capacidade de criação de estratégias diversificadas, coerentes com as condições concretas com que se defrontem. Destaca- se a importância do desenvolvimento da capacidade de abordagem interdisciplinar no enfrentamento das questões comunitárias, o que I Professora da disciplina Educação de Adultos da Universidade do Estado da Bahia- UNEB - Campus XlI 2 Laboratório de Análises Clínicas RESUMO O Projeto de Extensão Universitária "Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas: Parceria Cidadã", integrado por estudantes universitários e pessoas da sociedade civil que atuaram como alfabetizador, visou a promover a alfabetização de jovens e adul- tos que não tiveram acesso à escolarização em idade própria. Realizou-se nos bairros Novo Horizonte e Lagoinha, atendendo a duas turmas de 20 alunos cada uma e fun- cionou em duas escolas do Município de Guanambi - Bahia. A metodologia de al- fabetização fundamentou-se no letramento, partindo da discussão de temas relacionados ao cotidiano da comunidade e promovendo quatro práticas: produção de texto; leitura! interpretação; análise lingüística e sistema- tização do código. Essa experiência COIl- tribuirá para um repensar do educador que atua nas classes da Educação de Jovens e Adultos, fazendo-o refletir sobre sua prática pedagógica, para que ajude na formação de cidadãos cônscios de seu papel na socieda- de. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos, Práticas - Experiências 2007 . revista comciência 17

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artigo

EDUCAÇÃO DE PESSOASJOVENS E ADULTAS: ENTREPRÁTICAS, SUJEITOS EEXPERIÊNCIAS

Sônia Maria Alves de Oliveira'

INTRODUÇÃO

o presente texto foi elaborado a partir de dados obtidos durante aconstrução, acompanhamento, operacionalização e avaliação dos tra-balhos realizados no "Projeto de Extensão Universitária Alfabetizaçãode Pessoas Jovens e Adultas: Parceria Cidadã", da Universidade doEstado da Bahia (UNEB), parceria com o BIOLAC2 e a Fundação Jo-aquim Dias Guimarães -, implantado em 2004, nas escolas municipaisdos bairros Novo Horizonte e Lagoinha, cidade de Guanambi - Bahia.

Ao tocarmos na questão da alfabetização de adultos, devemos terclara a relação entre esta e a possibilidade de novas experiências so-ciais, culturais e pessoais, uma vez que o domínio dos códigos lingüís-ticos potencializa os sujeitos no engajamento de diferentes atividadesda esfera social, permitindo acesso e produção de novos conhecimen-tos, assim como o desenvolvimento da potencial idade individual.

Desse modo o Projeto de Extensão Universitária "Alfabetizaçãode Pessoas Jovens e Adultas: Parceria Cidadã" surgiu da necessidadede articulação Teoria x Prática, na perspectiva de garantir aos alunosdo curso de Pedagogia uma experiência integral: comprometendo-secom a educação de jovens e adultos na perspectiva de Paulo Freire;promovendo a inclusão de homens e mulheres no mundo do trabalhoe na sociedade da informação; colaborando com a construção de umasociedade justa e ética; educando para a conscientização e vivência dacidadania e participação social; promovendo a participação popular ecomunitária nas políticas públicas voltadas para as necessidades daspopulações mais pobres e excluídas. '

Esse Projeto visou criar condições de efetivação dos papéis sociaisda Universidade, quais sejam: ensino, pesquisa e extensão. O trabalhode alfabetização, com ênfase em textos e questões ligados à saúde eà higiene, à educação e cultura, à história local, à cidadania e parti-cipação e a outros temas locais e globais, contribuiu para socializaro conhecimento científico produzido na Universidade, elevando ascondições de vida dos alfabetizandos e das comunidades onde as difi-culdades se manifestam mais agudas. Por outro lado, o envolvimentodos estudantes universitários com os alfabetizandos e comunidades emque as condições de exclusão social são marcantes, contribuiu para de-senvolver neles a capacidade de criação de estratégias diversificadas,coerentes com as condições concretas com que se defrontem. Destaca-se a importância do desenvolvimento da capacidade de abordageminterdisciplinar no enfrentamento das questões comunitárias, o que

I Professora da disciplina Educação de Adultos da Universidade do Estado da Bahia-UNEB - Campus XlI

2 Laboratório de Análises Clínicas

RESUMO

O Projeto de Extensão Universitária"Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas:Parceria Cidadã", integrado por estudantesuniversitários e pessoas da sociedade civilque atuaram como alfabetizador, visou apromover a alfabetização de jovens e adul-tos que não tiveram acesso à escolarizaçãoem idade própria. Realizou-se nos bairrosNovo Horizonte e Lagoinha, atendendo aduas turmas de 20 alunos cada uma e fun-cionou em duas escolas do Município deGuanambi - Bahia. A metodologia de al-fabetização fundamentou-se no letramento,partindo da discussão de temas relacionadosao cotidiano da comunidade e promovendoquatro práticas: produção de texto; leitura!interpretação; análise lingüística e sistema-tização do código. Essa experiência COIl-

tribuirá para um repensar do educador queatua nas classes da Educação de Jovens eAdultos, fazendo-o refletir sobre sua práticapedagógica, para que ajude na formação decidadãos cônscios de seu papel na socieda-de.

Palavras-chave: Educação de Jovens eAdultos, Práticas - Experiências

2007 . revista comciência 17

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EDICAÇAo 1\1: PESSOAS J(l\T'S E ADl I T \5 F\iTRI· I'R .\lJC.\S. SI .IHIOS E EXPERlt''iCI.\S Ohvctra. Sôrua Mana Alves de

se alcançou com a participação de es-tudantes, professores e educadores co-laboradores da Fundação Joaquim DiasGuimarães e do BIOLAC na discussãodos problemas e soluções demandadospelas comunidades envolvidas,

Finalmente, justifica-se esse Proje-to sobretudo em razão do impacto so-cial na melhoria das condições sociaisdas comunidades, através do processode alfabetização e discussão de ques-tões relativas às temáticas locais e glo-bais, além da promoção de incrementoda capacidade crítica e de autonomiados alfabetizandos.

PROJETO DE EXTENSÃO UNI-VERSIT ÁRIA "ALFABETIZAÇÃODE PESSOAS JOVENS E ADUL-TAS: PARCERIA CIDADÃ".

OBJETIVOS:O projeto de Educação de Jovens

e Adultos (EJA) objetivou possibilitarao educando jovem e adulto o proces-so construtivo de ampliação do próprioconhecimento, através da intervençãosistemática do próprio educador e davivência com os colegas, numa relaçãodialógica; aprender a ler e a escrever aomesmo tempo em que se conscientizas-se da sua condição de sujeitos históri-cos e culturais capazes de construir suaprópria autonomia dentro das relaçõesde produção local e global; incentivaratividades que envolvessem a leitura ea escrita, visando oferecer outras fontesde informação que não fossem somen-te de cunho oral; desenvolver e apoiaratividades de mobilização, integran-do escola e comunidade, através dasinstituições: igrejas, escolas públicas,associação de moradores, fundaçõese outras; proporcionar aos alfabetiza-dores momentos de reflexão, estudo eplanejamento de ações para a melhoriade seu fazer pedagógico em relação àeducação de pessoas jovens e adultas;avançar na discussão de práticas educa-tivas sobre a alfabetização de pessoasjovens e adultas.

SUJEITOS DA APRENDIZAGEM

Os sujeitos deste projeto foram

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alunos da rede municipal de Guanam-bi, das turmas de EJA (Educação de Jo-vens e Adultos), cuja idade variava en-tre 17 e 75 anos. Todos os participantesdeste Projeto têm um bom desempenhona oral idade, mas muita dificuldade emedo de escrever; enfatizavam cons-tantemente que não sabiam escrever,que seu texto tinha muitos erros e pa-reciam sentir vergonha no momento deexpor seus conhecimentos acerca dalíngua escrita. Nesse momento, perce-be-se o quanto eles internalizaram mi-tos como os que dizem que a idade in-terfere na aprendizagem, que a pessoade pouca instrução não é inteligente,entre outros.

Esses adultos voltam à escola embusca do resgate do tempo perdido edemonstram necessidades específicas.Os não-alfabetizados voltam, principal-mente, para aprender a escrever o pró-prio nome e retirar de seu documento deidentidade o nome analfabeto. Outrosquerem aprender a ler para participarda vida escolar dos filhos e dos netos,ajudando-os nas tarefas escolares.

A maioria deles está inserida nomundo do trabalho; essas pessoas con-fessam sentir falta da habilidade coma escrita, pois, segundo elas mesmas,gostariam de "saber escrever assim,com a facilidade que a professora es-creve". Associam o ato de escrever aoato de copiar do quadro ou do livro,mesmo sem compreender bem o queestava escrito.

OPROCESSODE ALFABETIZAÇÃO

O processo de alfabetização de jo-vens e adultos pressupõe como meto-dologia a leitura pedagógica do "pen-sar - agir - pensar" e a alfabetizaçãoé entendida como um processo de pla-nejamento onde os objetivos a seremalcançados são previstos em todas assuas etapas: formação de pessoal, pro-dução de material específico, acompa-nhamento, avaliação e verificação deresultados.

Os analfabetos aprendem não ape-nas a ler e a escrever, mas a pensar asua própria vida e a agir como serescapazes de sair da sua injusta situação

de excluídos. Eles mesmos precisamadquirir a capacidade de reagir e rejei-tar o que os oprime. Só assim planose projetos junto aos excluídos deixa-rão de ser ajudas emergenciais, assis-tenciais e rnanipuláveis por interessespolíticos de dominação e manutençãoda desordem estrutural. A educação po-pular assim entendida é uma verdadeirarevolução nos conceitos e ação juntoaos excluídos.

PROPOSTA PEDAGÓGICA EMETODOLÓGICA

Para orientar a realização destaProposta de Alfabetização de Pesso-as Jovens e Adultas, contamos como referencial teórico concernente aPaulo Freire (1981), Giroux (1990),Fuck (1994) e Ferreiro (2001), Gadotti(1995), Gangin (2001); as Leis de Di-retrizes e Bases da Educação Nacionale um histórico da Educação de Jovense Adultos entre outros, possibilitando,assim, um conhecimento teórico queservirá como alicerce para a fundamen-tação de conceitos que envolvam a prá-tica educativa de jovens e adultos.

A abordagem metodológica adota-da partiu do pressuposto de que, para seconstruir conhecimento, deve-se util izarcomo ponto de partida os conhecimen-tos prévios dos alfabetizandos. Assim,a vivência do aluno, sua subjetividadee realidade constituem-se num universovocabular extremamente rico, possibi-litando ao alfabetizador condições defazer levantamento da linguagem dogrupo e selecionar os temas e/ou pa-lavras geradoras de maior relevância.Logo, os conteúdos não podem ser de-finidos a priori, pois é o conhecimentodo grupo que direcionará o trabalho doalfabetizador.

De acordo com Paulo Freire, a basede todo trabalho educativo para e comturmas de EJA será a dialogicidade. Odiálogo tem a função de proporcionarao alfabetizando uma reflexão sobre asua vida, a sua cultura e os meios deintervir para transformar a sua realida-de. A partir da discussão sobre o seucotidiano, o alfabetizando passa a ver asociedade nas suas dimensões sociais,

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Oliveira. Sôrna \ldnaAhcs de !m;CA( \0 DI"Pf"\SO·\S .f{J\ L'~ I \DU.f.\S [YI RI' PRXII(" \S. SI ~JfTlOS L I-:\P1RIIMI.\S

econômicas, políticas, culturais dentreoutras. Ou seja, o alfabetizando é mo-tivado constantemente a fazer "leiturado mundo" para então fazer "leitura dapalavra".

Os estudos de FERREIRO e TE-BEROSKY (1991) sobre a psicogêneseda língua escrita trouxeram uma com-preensão maior do processo da apren-dizagem da escrita. Muitas das novascontribuições reforçam e confirmamaspectos apontados por Paulo Freire ourevelam outros pontos coerentes com osdele. Segundo essas autoras, o sucessoda aprendizagem está ligado à capaci-dade do educando em estabelecer rela-ções com o que aprende. Desta forma,o motor da alfabetização é a capacidadede pensar dos educandos e não a me-morização mecânica de letras e sílabas.Acreditam ainda, que não há leituranem escrita sem uma compreensão dolido ou escrito. Esta compreensão de-pende da "leitura de mundo" que o edu-cando é capaz de fazer. E esta leitura sedá a partir de textos com função sociale não de textos feitos para ensinar a lere escrever.

Neste processo dialético, os alunosvão se inserindo no mundo da leitura eda escrita de forma progressiva, respei-tando-se o seu ritmo e nível de alfabe-tização, conforme os pressupostos deEmília Ferreiro.

Assim, o material didático utiliza-do para a alfabetização foi construídopelos alfabetizadores durante o proces-so de alfabetização, tomando como re-ferência a realidade de cada grupo, soba orientação dos professores da Uni-versidade do Estado da Bahia - UNEB,que atuaram no Projeto.

O conteúdo apresentado sob a for-ma escrita compreendeu:

Língua Portuguesa• Sistema alfabético - o alfabeto,letras, sílabas e palavras, relaçãoentre sons da fala e letras;

• Linguagem oral - narração, des-crição, leitura em voz alta, ins-truções, argumentação e debate;

• Leitura e escrita - listas, formu-lários, versos, poemas, letras demúsica, bilhetes, cartas e jor-nais.

Matemática• Números e operações numéricas- números e sistemas de numera-ção, adição, subtração, estimati-va e auto-correção.

• Medidas - tempo.Estudos da Sociedade eda Natureza• O educando e o lugar de vivên-cia - a identidade do educando,o centro educativo, o espaço devivência, leitura de mapas e pla-nos.

• Cultura e diversidade cultural- expressões artísticas.

• As atividades produtivas e as re-lações sociais - trabalho e em-prego.

• Cidadania e participação - o Es-tado brasileiro, direitos civis,políticos e sociais, organização eparticipação da sociedade civil.

Dialogando, simultaneamente,com a função social da aquisição daspráticas leitoras, lógico-matemáticas,ambientais e sociais é que, em primeirolugar, a Pedagogia de Projetos consa-gra-se como a prática pedagógica quealavancará todo o processo de alfabe-tização de jovens e adultos, pois estáaberta à experimentação e à participa-ção de todo o grupo, logicamente porpermitir a articulação das diferentesáreas e análise dos problemas e desa-fios impostos pela vida social.

Nesse aspecto, a Pedagogia de Pro-jetos redimensionará o processo ensi-no e aprendizagem, pois os conteúdosespecíficos se colocarão a serviço daproposta metodológica que se definiráa partir de temas oriundos das açõese interações do grupo, durante as pro-blematizações pedagógicas em sala deaula, apresentando um fio condutorcondizente com o contexto sócio-cultu-ral-histórico e econômico do grupo tra-balhado. Em vez de mero "doador" deaula, destaca-se nesta proposta o pro-fessor problematizador e mediador narelação do aluno com o conhecimento.

A Pedagogia de Projetos apresentavantagens inigualáveis porque, segundoGANGIN (2001: p 14), "possibilita oestudo de temas vitais no horizonte po-

lítico-pedagógico da comunidade e, aomesmo tempo, no interesse dos alunos;permite a participação de todos, porqueé essencial ao projeto levar as pesso-as ao fazer, além de abrir expectativaspara a construção do conhecimento, apartir de questões reais, transformandoa insegurança do processo num exercí-cio do pensar - agir - pensar".

Para FRETRE (l98J), o ensino daleitura e da escrita não pode ser a repe-tição mecânica das famílias silábicas,nem a memorização de uma palavraalienada, mas sim "a dificil aprendi-zagem de nomear o mundo" (p.39).Nesse sentido, aprender a ler e escreverenvolve reflexão e ação sobre a reali-dade na qual os sujeitos se encontraminseridos.

Sendo assim, a alfabetização emFreire não é meramente uma habilidadetécnica. A alfabetização é compreen-dida como um projeto político no qualhomens e mulheres afirmam seu direitoe sua responsabilidade não apenas deler, compreender e transformar suasexperiências pessoais, mas também dereconstruir sua relação com a sociedademais ampla. Neste sentido, a alfabetiza-ção é fundamental para erguer agressi-vamente a voz de cada um como partede um projeto mais amplo de possibi-lidade individual e social (GIROUX,(990).

O analfabetismo não decorre ape-nas da ineficiência do ensino ou de suainadequação, mas de desequilíbriosestruturais, históricos e complexos dasociedade brasileira. Ao mesmo tempo,a resposta educativa para o contingentede analfabetos não se resume à alfabe-tização, pelo fato de esta não dar contadas necessidades de leitura e escrita nasociedade em que vivemos. Não signifi-ca só compensação de perdas ou preen-chimento de lacunas. O analfabetismonão é doença ou "erva daninha", comose costumava dizer entre nós. É a nega-ção de um direito ao lado da negação deoutros direitos. "O analfabetismo não ésomente uma questão pedagógica, masuma questão essencialmente política"GADOTTI e ROMÃO, (2000, p.32).

DESCRIÇÃO E PROCEDIMEN-

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TOS OPERACrONAIS DA PRATI-CA PEDAGÓGrCA

No in ício do ano letivo de 2004,no momento destinado ao planejamen-to das práticas pedagógicas, surgiu aidéia de lançar um desafio aos alunosdo curso de Pedagogia, para que eles seinserissem no Projeto de Extensão Uni-versitária "Alfabetização de Pessoas Jo-vens e Adultas: Parceria Cidadã", - umprograma de alfabetização para jovense adultos que não tiveram acesso à es-colarização, na idade própria. O Projetonasceu por iniciativa do NEJA (Núcleode Educação de Jovens e Adultos), como BlOLAC e os membros da FundaçãoJoaquim Dias Guimarães. Iniciou-seentão um estudo com a professora dadisciplina Educação de Adultos e coor-denador do NEJA (Núcleo de Educaçãode Jovens) para viabilizar a idéia como menor impacto financeiro e estruturalpossível, por se tratar de alunos caren-tes, sem recursos para bancar o própriosustento e as necessidades que o proje-to exigiria.

O projeto tinha como metas: alfa-betizar e pós-alfabetizar 40 jovens eadultos que residiam nos bairros La-goinha e Novo Horizonte, durante 10meses, com carga horária de 360h/ano ano de 2004, com a participaçãode duas professoras alfabetizadoras eprofessores da Universidade, atuandocomo orientadores e coordenadores;orientar e acompanhar os educandos jo-vens e adultos pós - alfabetizados a in-gressarem nas séries iniciais do ensinofundamental; realizar encontros de for-mação com as alfabetizadoras; realizarmensalmente encontros de planejamen-to e avaliação dos trabalhos; entender aformação humana, como um processoglobal, valorizando suas vivências cul-turais, os saberes dos alunos, tratando-os como adultos conscientes de seuslimites e possibilidades.

Após muita discussão, ficou resol-vido que se implantaria o projeto tra-çando as diretrizes para as turmas, e,junto com as turmas, elaborou-se o pro-jeto de intervenção pedagógica numaperspectiva interdisciplinar.

Considerando a necessidade e ur-

20 revista comciência . 2007

gência dessa proposta, foram adotadasas seguintes ações preliminares:

• Formação da equipe de trabalho;• Elaboração de um plano de açãopeja equipe de trabalho;

• Elaboração e encaminhamentodo Projeto para a apreciação dasinstituições parceiras: O BIO-LAC e a Fundação Joaquim DiasGuimarães;

• Formação de parcerias;• Mobilização da Comunidade lo-cal;

• Mobilização dos professores daUniversidade para participar doprojeto;

• Cadastramento dos Alfabetizan-dos;

• Capacitação das Alfabetizado-ras;

• Implantação das turmas.

O projeto foi coordenado pela Uni-versidade do Estado da Bahia - UNEBDepartamento de Educação - CampusXlI, Colegiado de Pedagogia, Núcleode Estudos, Extensão e Pesquisa Edu-cacional Paulo Freire - NEPE, Labora-tório de Analises Clinicas - BIOLAC,Fundação Joaquim Dias Guimarães eNúcleo de Educação de Jovens e Adul-tos - NEJA. Contamos, também coma colaboração da Secretaria Municipalde Educação de Guanambi, o apoio ereceptividade das equipes de professo-res e gestores das escolas municipaisVereador João Farias Cotrim (BairroLagoinha) e Novo Horizonte (BairroNovo Horizonte).

O primeiro contato com o alfabe-tizando foi feito pelo alfabetizador, e,após esse encontro, foi realizada umaavaliação para traçar o perfil inicialdos alfabetizandos para se verificar oestágio alfabético em que se encontra-vam. Feito isso, partiu-se para prepararo aluno alfabetizador para desenvolveras habilidades necessárias ao processode alfabetização propriamente dito. Oacompanhamento dessa prática educa-tiva foi feito através de fichas, cader-nos, entrevistas, fotografias, visitas aolocal de trabalho e depoimentos emsala de aula.

A partir desse projeto de extensão,

surgiu a demanda relativa à investiga-ção das condições concretas de vidada comunidade. No intuito de atendera essa demanda, os acadêmicos parti-cipantes passaram a desenvolver umprojeto de pesquisa-ação, dividido emsub-projetos, para investigar - atravésde revisão de literatura, entrevistas,questionários, reuniões, trabalho decampo e estágios de vivência na comu-nidade - a qualidade de vida da comu-nidade, bem como promover ações deintervenção junto à comunidade, e aosórgãos competentes, visando à melho-ria dessas condições. A equipe envolvi-da no trabalho participou de um cursointensivo de formação em alfabetizaçãode jovens e adultos e reunia-se uma vezpor semana para avaliação, leituras deaprofundamento, preparação das aulase sistematização do acompanhamentodo desempenho dos alfabetizandos eavaliação do próprio Projeto. Poramelaborados relatórios de cada aula dadae relatórios semestrais. As aulas ocor-riam quatro vezes por semana, na es-cola da comunidade, e tinham duraçãode 2h30min.

No que se refere ao trabalho de salade aula e suas bases teóricas, no início,era discutido um tema relacionado aocotidiano, vinculado à saúde, ao meioambiente e aspectos sócio-econômi-co-culturais. A partir dessa discussãointroduzia-se um texto de apoio, quetanto podia ser elaborado previamen-te pelos alfabetizadores, como pro-duzido pelos próprios alfabetizandos.Com base no texto, eram elaboradosexercícios didáticos, diferenciados deacordo com o nível de compreensãode cada alfabetizando, utilizando-se deestratégias tais como jogos, elabora-ção de lista de compras, trabalho comnome próprio, contas de luz, bulas deremédio, rótulos, entre outros. O pro-cesso de alfabetização desenvolveu-sena perspectiva do letramento, atravésda articulação entre a compreensãodos recursos e mecanismos da textua-lidade e os recursos e mecanismos docódigo. Partindo-se de uma discussãosobre assunto do interesse social dacomunidade, propunha-se a produçãode um texto oral, com registro escrito

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pelo professor-ai fabetizador. A partirdesse texto, desenvolviam-se ativida-des pedagógicas de compreensão dosprincípios organizadores do discursooral e dos mecanismos e princípios doregistro escrito desse discurso. Em re-sumo, desenvolviam-se quatro práticasarticuladas:

I. produção de texto;2. leitura e interpretação de texto;3. análise lingü ística com ênfase na

gramática textual;4. análise lingü ística com ênfase

nos recursos e princípios orga-nizadores do código escrito.

o Projeto Pedagógico "Educaçãoe Cidadania" contemplou diferentesações nas áreas da educação, cultura esaúde, desenvolvidas em sala de aulae na comunidade, sob a mediação dosalfabetizadores, pressupôs a realizaçãode trabalhos interdisciplinares, visandoaproximar a escola da vida dos alfabe-tizandos.

Nessa perspectiva, a organizaçãodos projetos de ação pedagógica ocor-reu por meio de temas destacados pelosalfabetizadores, durante o planejamen-to com a Coordenação Pedagógica daIES (Instituição de Ensino Superior).Os temas foram escolhidos de acordocom a necessidade da comunidade locale adaptados à realidade de cada turma.

Durante a execução dos projetospropostos em sala de aula, os alfabe-tizadores estiveram atentos para ques-tões primordiais, como a mobilizaçãodos alfabetizandos em tomo do assuntoabordado. A busca e seleção das fontesde informações foram efetivadas pelosalfabetizandos e pelo alfabetizador, etodo conhecimento adquirido a partirdas pesquisas e ou palestras ministra-das pelos membros da Fundação Joa-quim Dias Guimarães foi socializadopara a comunidade escolar. Após cadapalestra era o momento de o alfabe-tizando expor sua criatividade, suasidéias, sua escrita e do alfabetizadoratuar como mediador, atendendo às in-dividualidades de cada aluno ou grupode trabalho.

As discussões em classe forampautadas pelos princípios da cientifi-

cidade, dialogicidade e criticidade. Aavaliação em classe ocorreu em distin-tos momentos, realizou-se na perspec-tiva processual-qualitativa, levando-seem consideração critérios como parti-cipação ativa e envolvimento nas ativi-dades sugeri das, na produção criativaindividual e na utilização de instrumen-tos, a exemplo de: conversa informal,entrevista, questionamentos, elabora-ção de exercícios e simulação das au-las dadas; reuniões com os educadorese a comunidade durante o ano; visitaàs famílias para conhecer a realidadede todos; levantamento de problemas;realização de pesquisa no universo vo-cabular dos educandos; auto-avaliaçãoe apresentação dos pontos positivos enegativos no período mensal; visitas epalestras, quinzenalmente, nos núcle-os de alfabetização realizadas pelosmembros da Fundação Joaquim DiasGuimarães; avaliação coletiva com al-fabetizandos, alfabetizadores, escola,comunidade... Socializando informa-ções e apreendendo os seus resultados."Um programa de educação de adultosnão pode ser avaliado apenas pelo seurigor metodológico, mas pelo impactogerado na qualidade de vida da popu-lação atingida. A educação de adultosestá condicionada às possibilidades deuma transformação real das condiçõesde vida do aluno-trabalhador." (GA-DOITI, 2000, p.32).

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

Os resultados obtidos, após umaavaliação da orientação da Prática Do-cente, foram satisfatórios, pois retratamas condições em que se encontram aspessoas que não tiveram oportunidadede acesso a uma escola regular.

Durante o acompanhamento feitono decorrer do projeto, observou-se aevolução gradativa e constante do cres-cimento intelectual e pessoal dos alu-nos recém-alfabetizados, que os levoua exercerem sua cidadania e lhes garan-tiu o direito e a satisfação de se fazeremparticipantes do mundo letrado. Alémdisso, todos os alfabetizandos apresen-taram um significativo desenvolvimen-to na aprendizagem. Com seis meses de

aulas, aqueles que sequer conheciamletras estavam lendo, ainda que algunscom pouca fluência.

Comprovamos que o enfrentarnen-to do analfabetismo, pelas dimensõesque este assume no Brasil, pode e deveser assumido pelos universitários, comexcelentes resultados. Verificamos umasensível elevação da consciência crí-tica dos acadêmicos participantes, emdecorrência do conhecimento das con-dições concretas de existência da popu-lação com a qual trabalharam.

Observamos uma expressão deauto-estima manifestada pelos alfabeti-zandos e recém -alfabetizados em con-seqüência do processo educativo. Aspessoas entrevistadas afirmam que sen-tem mais coragem para falar e requerero cumprimento dos direitos como ci-dadãos. Os adultos alfabetizados reve-laram que novas experiências sociais,culturais e pessoais podem ser propor-cionadas, demonstrando assim que ouso da leitura e da escrita vai além dashabilidades funcionais; essas, por suavez, são importantes, já que parecemser as principais responsáveis por al-guns mecanismos de exclusão sofridos

pelos adultos não alfabetizados.

Ah, melhorou muita coisa, porque deprimeiro eu nem sabia fazer o meunome ... Antes eu tinha que ir em qual-quer lugar, num banco mesmo, quandofosse pra mim assinar lá, eu deixava odedão, que eu não conseguia fazer omeu nome. Agora o meu nome eu façobem em qualquer lugar... Quando euia ao banco assim receber, eu manda-va o rapaz assinar pra mim ... só quenão podia ... (Maria, 49 anos).

Os alfabetizandos percebem a simesmos como sujeitos dotados de mui-tas limitações e experiências anterioresde fracasso. Experimentam, portanto, osentimento de inferiorização, desejamdesfazer-se dele, por isso lutam paratranspor obstáculos, rninirnizar o atra-so em relação aos seus semelhantes,"recuperar o tempo perdido e ir maisligeiro", superar o que para eles sãoas suas deficiências. Nesse processode autodefesa psíquica, o interesse emesquivar-se de situações que possamprovocar vergonha, fracasso ou humi-lhações toma-se dominantes necessida-

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des específicas de aprendizagem paraos alfabetizandos: assinar o nome, ler eescrever para "não ficar assim naquelaaflição" quando é solicitado a assinaralgum papel, para não "precisar usar odedo como assinatura" ou para não ter onome "analfabeto" no documento, por-que "aí fica muito feio". Consideramincômodo e desagradável também ofato de não conseguirem ler a placa queindica o itinerário do ônibus, tendo en-tão que perguntar para outras pessoas,evidenciando a condição de analfabe-tos. A aquisição dessas três habilidadesé para eles a condição imprescindível ealtamente desejada a fim de não maisvivenciarem os constrangimentos quecom freqüência sofrem em suas rela-ções com o mundo e com o outro.

CONSIDERAÇÕES FINAISOs alfabetizandos jovens e adultos

conhecem de perto as limitações e difi-culdades a que homens e mulheres não-escolarizados, ou que freqüentarampouco a escola, estão sujeitos. Perce-bem que, mesmo tendo acumulado co-nhecimentos válidos e úteis, resultantesdas suas experiências vivenciais, aspessoas pouco letradas estão excluídasde muitas das possibilidades de acessoa novas tecnologias, a diversas fontes emeios de informação, a conhecimentoscientíficos e históricos e a grande partedo patrimônio cultural da humanida-de. Talvez por isso reproduzam arepresentação da sociedade em relaçãoao conhecimento escolar, legitimando avalorização deste, sentindo-se incom-petentes e inferiorizados, subestimandoa si mesmos devido às suas condiçõesde pessoas iletradas ou pouco escolari-zadas.

Para esses sujeitos, a aquisição deconhecimentos, habilidades e atitudesdurante seus processos de escolariza-ção assume diferentes significados:quem estuda, portanto quem sabe dascoisas, vence obstáculos e supera fra-cassos e fraquezas; faz uso dos seus ta-lentos e capacidades, realizando entãoseus desejos, crescendo como pessoa,desenvolvendo suas potencial idades erealizando suas capacidades; satisfazsuas necessidades e ajuda seus seme-

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Ihantes a obter aquilo de que tambémnecessitam; resolve seus problemaspessoais e contribui para a resoluçãodos problemas que a vida cotidiana,numa sociedade tecnológica e rnun-dializada, impõe aos indivíduos e à co-munidade; obtém melhores condiçõesde inserção, participação e desempe-nho no complexo mundo do trabalho;liberta-se de restrições impostas pelobaixo grau de escolarização (ou pelacondição de analfabeto) passando a termaior auto-suficiência, mais autonomiae mais liberdade; estabelece contatos,assegura a comunicação interpessoal,desenvolve a competência comunicati-va e amplia as possibilidades de orga-nização do pensamento e de sistemati-zação da ação e, nessas relações com ooutro, é aceito, valorizado e admirado;sente prazer, escapa de situações pe-rigosas, compreende mais e melhor omundo, a si próprio e ao outro; ampliae aprofunda sua consciência política,defende seus interesses, constrói seuconhecimento a partir de sua experi-ência no e com o mundo em que vive;resgata direitos negados no percurso desua vida, assumindo assim a condiçãode cidadão, de sujeito de direitos.

O aprendizado dos padrões lingüís-ticos da classe dominante, por exemplo,é interesse dos alfabetizandos jovens eadultos na medida em que o domínio dalinguagem, em suas múltiplas formas,pode ajudá-Ios a lutar melhor contraa exploração e a marginalização quecomumente Ihes são impostas. ComoFreire (apud Gadotti, 1996, p. 56), acre-ditam esses sujeitos que a ampliaçãodo conhecimento crítico da realidade, oacesso ao conhecimento mais elaboradoe a aquisição da norma lingüística pa-drão são instrumentos a mais para queos alfabetizandos lutem melhor contraa opressão: o saber escolar é valori-zado por ser percebido como uma dasformas de preparação para lidar comas estruturas de poder na sociedade. Osaber, na medida em que abre maiorespossibilidades de uma leitura crítica darealidade, se constitui como um impor-tante instrumento de resgate da cidada-nia e de reforço aos seus engajamentosnas lutas do Movimento pela transfor-

mação da sociedade e concretização daesperança utópica de construção de ummundo mais justo e mais eqüitativo.

Finalizando, queremos registrarque consideramos este trabalho muitovalioso e enriquecedor, sobretudo poracompanhar de perto práticas pedagó-gicas na área de EJA diversificadas einteressantes e por propiciar a troca deexperiências e o crescimento de cadaalfabetizador e alfabetizando.

Na oportunidade agradecemos aosmembros da Fundação Joaquim DiasGuimarães, à equipe do BIOLAC e àequipe das Escolas Municipais Verea-dor João Farias Cotrim (Bairro Lagoi-nha) e Novo Horizonte (Bairro NovoHorizonte), pela colaboração, envolvi-mento, disponibilidade, gentileza e de-licadeza na realização das atividades,

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