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Educação em Revista

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Revista publicada pela Regional 7 do SEPE

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2 Educação em Revista

Morei próximo a uma fábrica.E diariamente assistia uma tétri-ca e mecanizada romaria de ope-rários, que chegavam sonolentospela manhã e saíam esgotados àtarde. Imaginava aquela fábri-ca como uma máquina de sugarenergia, alegria e humanidade.Os homens entravam de manhãcom roupas e rostos limpos, sorri-dentes e parecendo felizes. Mas nofinal do dia, saiam sujos, expres-são sisuda, palavras queixosas eramouvidas naquela estranha procissãode homens mecanizados que pare-ciam terem sido triturados por al-guma máquina. Hoje moro perto de uma esco-la, e freqüentemente ouço a mes-ma sirene. Som rouco e estriden-te que corta o ar como uma lâ-mina. Imagino novamente a fá-brica e a analogia é inevitável. Os mesmos rostos sonolentos pelamanhã e agora, cheios de energia, aalegria que contagia os jovens nahora da saída. A sirene do fim doturno é acompanhada de um gritode desabafo de euforia que parece,estava contida por algumas horas.Um grito genuíno de liberdade.

Educação em RevistaPublicação da Regional 7do Sindicato Estadual dosProfissionais de EducaçãoEstrada do Galeão 2715,

sala 205, PortuguesaIlha do Governador

Tel: 24620334

Jornalista responsávelEdição, textos, Projetográfico, diagramação

Edna FelixCharges - Carlos LatuffR.A. Mandula Serviços

Gráficos e Editora Limitada

Tiragem de 1000 exemplares

Distribuição gratuita

ARMINDO LAJAS - DULCINEALIMA, - LUIZ CONTARINI - LUÍSLEAO - MARCELO SANT´ANNA

Esta é umaPublicação de

responsabilidade daDireção da Regional 7

do Sepe:

(*) Luíz Santos é administrador/Consultor de negócios empresariais no Estado do Pará -Fonte Artigonal 2008

Sobre escolas e fábricas

Mas se a fábrica, essa constru-ção que mecaniza o homem, nãoprovocava essa euforia nos operá-rios, porque a escola provoca? Todos sabemos que as fábri-cas são locais de exaustão, detrabalho físico e pesado. Masa escola não pode ser assim.Nem pela prática pedagógica,pelo espaço e principalmentepela sirene.

Luíz Santos*

A escola deve ser um local dealegria, onde se entre com pres-sa e saia-se devagar,devagarzinho, como se sai deuma festa muito boa. Uma escola que tem uma sirene,que me faz lembrar uma fábrica nãoserá um local de exaustão? Um lo-cal sem alegria, que mecaniza osjovens? São perguntas que me vema mente a cada relinchar da sirene...

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Educação em Revista 33Educação em Revista

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Editorial

entre o Estado e o setor privado,que é estranha aos princípios nor-teadores do serviço público, degarantir os direitos sociais a to-dos os cidadãos, vem atender ape-

nas a interessesdaqueles que de-sejam tornar aeducação e de-mais direitos soci-ais uma mercado-ria que possa serobtida e consumi-da por aqueles

que tenham condições de comprá-la.

O servidor público se tornaria,dentro desta lógica meramente ca-pitalista, um simples “prestador deserviço”, e os alunos os “clientes”

Resultados como nas linhas de produção

a serem atendidos. As fundações,mantidas por empresas privadasem aliança com o poder público,não tem vergonha em revelar o ca-ráter público-privado dessa reali-dade que assola o serviço públi-co, pois vêm sob o manto de umapropalada eficiência e modernida-de, de “ajuda e auxílio” à educa-ção, procurando dizer que é mis-são e objetivo de todos a salvaçãoda escola pública. Dessa forma,abrem-se brechas para a intromis-são das forças do mercado em es-feras do poder público que deve-riam, por sua vez, garantir o aces-so e a qualidade de uma escolapública a que todos os cidadãosbrasileiros, fluminenses e cariocasque a sustentam têm direito.

Coisificados são eles!público e notorio que a Edu-cação deveria ser um direi-

to social inalienável de todo o ci-dadão brasileiro, fluminense e ca-rioca. E o Estado que deveria ga-ranti-la, segundo a“Constituição Ci-dadã” de 1988, pro-cura se desincum-bir de sua funçãoprecípua.

Temos visto, sis-tematicamente, nosúltimos anos a en-trada de entidades privadas e or-ganismos da sociedade civil liga-dos ao patronato, empresas e fun-dações respectivas que visam olucro capitalista e não o bem es-tar social. Essa promiscuidade

4 Educação em Revista

É

Essa promiscuidadeentre o Estado e o

setor privado é estra-nha aos princípios

norteadores do serviçopúblico

O objetivo dos Planos de Me-tas - mais um projeto produzidoem gabinetes de tecnoburocratas,importados de países onde o mé-todo foi fracassado e sem ligaçãocom a realidade da escola pública– é culpar o servidor público paraque se pavimente, com mais faci-lidade, o caminho para a privati-zação da educação.

Para tanto, busca-se difundirum estado agressivo de desconfi-ança em relação ao servidor públi-co da educação. Professores e fun-cionários administrativos são alvodessa política privatizante. Istoporque, que ninguém se engane:estabelecer metas de produtivida-

de e eficiência pautados em crité-rios e metas a serem cumpridospelos servidores, nas suas respec-tivas escolas, é estabelecer um ran-queamento das escolas que nãocontribui em nada para a melhorada qualidade do ensino nas esco-las do Rio de Janeiro ou no Brasil.

Isso estabelece uma competi-tividade, que fere a isonomia, pro-põe a manutenção da política degratificações e abonos, que des-respeita o cumprimento do nossoPlano de Carreira, além de não ga-rantir uma política real de valori-zação do servidor da educaçãocom reajustes salariais que repo-nham não só a inflação do perío-

do, mas que estimulem os servi-dores na busca da sua especiali-zação e aperfeiçoamento profis-sional constantes.

Querer exigir uma educação dequalidade e “resultados” como sebuscam nas linhas de produção dafábrica é trabalhar com coisifica-ção do aluno e do profissional daescola.

Não oferecer condições paraque os profissionais trabalhemadequadamente e motivados é deuma covardia ou má-fé que beiraa desumanidade.

Coisificados são eles! A nós,vítimas de suas más intenções eações resta a reação!

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Fonte: Luiz Carlos Freitas atua na área de Educação, com ênfase em Avaliação da Aprendizagem e de Sistemas eé diretor da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. Educação e sociedade - Revista de Ciência da EducaçãoCampinas – SP.

Políticas públicas

Os Vários aspectos nas polí-ticas de responsabilização queestão chegando ao Brasil mere-cem atenção, se não quisermosembarcar em uma nova décadaperdida para a educação.

Ao final de 2011, o ministroda Fazenda Guido Mantega in-cluiu a educação entre as condi-ções de infraestrutura necessári-as para que o Brasil pudessecrescer acima de 4,5% ao ano.Também o discurso do atual mi-nistro da Educação, ao tomarposse, revela uma preocupaçãocom o papel da educação tantopara alavancar processos de ino-vação, como para permitir me-lhorar a competitividade do Bra-sil nas disputas internacionaispor mercado (Mercadante,2011).

Novos atores estão se consti-tuindo, entre eles movimentosorganizados financiados por em-presários, fundações privadas,institutos, organizações não go-vernamentais (ONGs) e até mes-mo uma nascente indústria edu-cacional procura firmar-se em

meio a este cenário. Taisatores alegam ter soluções maisdiretas e objetivas para as ques-tões educacionais do que os edu-cadores profissionais, e isso temlevado a uma disputa de agen-das entre estes e os reformado-res empresariais da educação.Para os últimos, a lógica do mer-cado e seus princípios constitu-em-se em uma “teoria da orga-nização” que acumula resultadospositivos na gerência da inicia-tiva privada e, portanto, deveri-am ser a base das reformas edu-cacionais no Brasil (Senna,2012).

Os educadores profissionaisacompanham este movimentocom apreensão, pelo fato de quea educação é um fenômeno so-cial mais amplo e que, do pontode vista de seus compromissosformativos com a juventude, nãopode ter na economia seu únicodeterminante. Ao ser aprisiona-da na lógica empresarial, a edu-cação perde sua dimensão de umbem público mais amplo, cujoshorizontes devem ser um proje-to de nação e não apenas a ex-

pressão de uma demanda deum dos seus atores, os empre-sários...

Mais preocupante aindasão algumas das soluções queestão em curso no Brasil e noexterior – notadamente nopaís que mais testou esta es-tratégia, os Estados Unidos –e que têm servido de inspira-ção para estes novos atoresem nosso país seja pela pró-pria natureza das proposi-ções, uma espécie de “teoriada responsabilização” geren-cialista e verticalizada, sejapela falta de evidência empí-rica que dê suporte e justifi-cativa para a adoção destassoluções apressadas.

5Educação em RevistaLu

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arlo

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eita

s

de

responsabilizaçãona educação

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Esta "nova abordagem" para aspolíticas públicas de educação estásendo construída em torno dos con-ceitos de responsabilização, merito-cracia e privatização. Estes consti-tuem um bloco interligado onde aresponsabilização pelos resultados(leia-se: aumento da média em tes-tes nacionais e internacionais) é le-gitimada pela meritocracia com a fi-nalidade de desenvolver novas for-mas de privatização do público , vi-sando a constituição de um "espa-ço" que se firma progressivamentecomo "público não estatal" em con-traposição ao "público estatal".

Nas formas de privatização pelavertente "público não estatal" encon-tram-se as concessões e os vouchers– ambos envolvendo repasse de di-nheiro público para a iniciativa pri-vada. Na modalidade "não estatal"

Um novo conceito em

Movimento da educação na Espanha contra o corte de 4bilhões de euros, aumento do horário letivo dos professo-res e a demissão de 50 mil docentes.

as escolas continuam "públicas", jáque seu patrimônio continua sendodo Estado e os alunos continuam ten-do acesso gratuito à escola, mas oEstado paga a iniciativa privada paragerir, por concessão, a escola. É acrença de que, se a escola públicafor gerida pela lógica da iniciativaprivada, então ela melhorará...

Estas políticas estão se constitu-indo com o discurso do "direito das

culpa para as escolas não ensinaremas crianças. Com este discurso, o di-reito de aprender é habilmente usa-do para ocultar a própria miséria in-fantil e a falta de condições para aaprendizagem, e para fazer crer queas escolas e os professores são osúnicos responsáveis pelo fracassodas crianças mais pobres.

O que dizer dos efeitos colateraisde muitas destas medidas sobre osestudantes, os professores, as esco-las, os gestores e os pais? Quais asconexões criadas entre estas políti-cas e a indústria educacional? Porque a teoria de responsabilização dosreformadores empresariais privile-gia o gerencialismo autoritário e nãoa responsabilização participativa?

Por que tais teorias apostam nacompetição e não na colaboraçãodentro e entre escolas? Para ondenos conduzirá esta "corrida" paraimplantação de uma política de"escolas de alto rendimento" emdetrimento de "escolas de alta qua-lidade social"? Aonde poderá nosconduzir uma política de desmora-lização dos professores, acuadospor testes de rendimento dos alu-nos que definem seus salários e osexpõem injustamente à execraçãopública pela imprensa, com o usode duvidosos métodos de cálculode valor agregado, exatamente es-tes que deveriam ser tratados comoa grande reserva moral da nação,nos quais deveríamos confiar e re-munerar dignamente, mais do quepunir/premiar? Quem financia estamáquina de destruição do sistemapúblico de educação e com quaisinteresses?

6 Educação em Revista

privatização

O Estado paga a inicia-tiva privada para gerir,por concessão, a escola.

crianças a aprender". Elas passam afalsa ideia de que notas mais altassignificam uma boa educação e quea miséria infantil é apenas uma des-

Onde poderá nosconduzir uma políticade desmoralização doprofessor?

Luiz Carlos de Freitasé doutor em educação comênfase em avaliação daaprendizagem e de Siste-mas e é diretor da Faculda-de de Educação (FE) daUnicamp

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Educação em Revista 7

Lutar é crucial para nós profissionais de educação que diariamente sofremos os ataques dos governosseja municipal ou estadual. Devemos estar sempre juntos com o nosso sindicato em todos os momen-tos nas lutas, mobilizações, congressos, seminários, atos, passeatas e, também, nas confraternizações.Comemorações fazem parte da cultura de nosso país, somos um povo festivo, por isso desde 2004 realizamos a nossa já tradicional festa. Aqui mostramos os bons momentos que desfrutamos juntosna última confraternização promovida pela Regional 7 no dia 02 de dezembro de 2011, no Nautillus Buffet, na Freguesia. A festa teve como tema “Boteco do Sepe-Regional VII”, pois naquele datacomemorava-se o Dia do Samba. Foram momentos de alegria, descontração e comemoração que passamos juntos celebrando mais um ano conturbado de rabalho.E por falar em festa, aproveitamos para informar a todos os profissionais de educação que nossapróxima festa de confraternização será no dia 14 de dezembro de 2012, no mesmo local doano passado. Assim que os cartazes e convites chegarem as escolas, confirmem e garantam logo suapresença, participem! Sua presença no evento é fundamental, afinal de contas O SEPE somos nós, nossaforça e nossa voz!

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8 Educação em Revista

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9Educação em Revista

Agora não só os alunosfarão testes utilizadospara medir a qualidadede ensino. O governadorSérgio Cabral e seu se-cretário Wilson Rizoliaanunciaram as provaspara professores. Preo-cupados em eximir oEstado da qualidade daeducação oferecida e aomesmo tempo responsa-bilizar os próprios pro-fissionais das escolas oualunos, o governo " mataalguns coelhos de umasó vez". A política anun-ciada para ter início noano de 2013 também in-tensificará o arrocho sa-larial. A destruição deplano de carreira ou dosreajustes salariais ficaclaro quando o governoaponta um esquema debônus mensal.

RIO - Com o ano leti-

vo de 2012 chegando

à reta final, a Secre-

taria estadual de

E d u c a ç ã o

prepara uma

medida ousa-

da para me-

lhorar a

qualidade

do ensino no

ano que

vem. Até

o fim do

primeiro

semestre

de 2013, o

ó r g ã o

promove-

rá o primeiro exame de

certificação de conheci-

mento para professores.

Quem atingir a nota mí-

nima nos testes passará a

receber um bônus mensal

no salário de R$ 500 a mil

reais, de acordo com a

carga horária. Em 2014,

TODOS os professores são observados em sala de

aula cinco vezes durante o ano por diretores de

outras escolas e especialistas em educação. ELES

RECEBEM notas em 22 quesitos de nove categori-

as, como presença em sala de aula, gerenciamento

do tempo, clareza ao apresentar o objetivo da lição

e certeza de que os estudantes de todos os níveis de

aprendizado entenderem a matéria. DEPOIS DA ob-

servação inicial, os professores recebem um “pla-

no de crescimento”que cita seus pontos fortes e fra-

Estado caminha a passos largosna política de responsabilização

quem passou no primei-

ro exame poderá concor-

rer no nível 2, que dará

direito a uma remunera-

ção extra entre mil reais

e R$ 2 mil mensais. Em

2015, quem tiver os dois

primeiros certificados po-

derá concorrer ao tercei-

ro e último nível, com

gratificação entre R$ 2

mil e R$ 4 mil. (O Globo13/11/2012)Nos EUA essa política le-vou o total fracasso daeducação pública, o fe-chamento de escolas e ademissão de professores.

cos. NO FIM DO ANO, o desempenho do profes-

sor – baseado nas observações em sala de aula,

eventuais testes aplicados aos estudantes, cresci-

mento no aprendizado dos alunos e contribuições

gerais à comunidade – é convertido em uma nota

de 100 a 400. Professores com menos de 175 pon-

tos podem ser demitidos. Entre 175 e 249 pontos,

são considerados “minimamente eficientes”. E,

entre 250 e 400 pontos, são considerados

“eficientes”ou “muito eficientes”.

Como funciona o “IMPACT”:

O Sistema Impact é um programa americano utilizado na avaliação de professores.

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Fraudes

Por esta mesma linha de pressão, chega-se à fraude. As evidências de fraude nos Estados Unidos sãoeloquentes. Uma investigação em Atlanta demonstrou que 58 escolas do sistema estavam comprometidascom alterações fraudulentas em notas dos alunos. A investigação levou ao afastamento da secretária daEducação local, Beverly Hall. Na cidade de Nova Iorque, John Klein deixou o cargo após denúncias de queo nível dos testes da cidade teria sido rebaixado para melhorar artificialmente as notas dos estudantes.

Responsabilização, Meritocr

Quando os testes incluem determinadas discipli-nas e deixam outras de fora, Os professores tendema ensinar aquelas disciplinas abordadas nos testes.Deixa muita coisa relevante de fora, exatamente oque se poderia chamar de "boa educação". Além dis-so, assinala para o magistério que, se conseguir en-sinar o básico, já está bom, em especial para osmais pobres.

Competição entreprofissionais e escolas

Pressão sobre o desempenho dos alunos e preparação para os testes

Pressão com professores a obter desempenho sempre crescente de seus alunos. Para tal, associamo desempenho do aluno ao próprio pagamento dos professores. Premidos pela necessidade de asse-gurar um salário variável na forma de bônus, os professores pressionam seus alunos, aumentando atensão entre estes.

A colocação dos profissionais de educação em pro-cessos de competição entre si e entre escolas levará à diminuição da possibilidade de colaboração entreestes. A educação, entretanto, tem que ser uma atividade colaborativa altamente dependente dasrelações interpessoais e profissionais que se estabelecem no interior da escola.

Educação como mercadoria não é educação, é corrupção do conhecimento"Corporate reformers" – assim são chamados os

reformadores empresariais da educação nos Esta-dos Unidos, um termo criado pela pesquisadora ame-ricana Diane Ravitch (2011). Eles refletem uma coa-lizão entre políticos, mídia, empresários, empresaseducacionais, institutos, fundações privadas e pes-quisadores alinhados com a ideia de que o modo deorganizar a iniciativa privada é uma proposta maisadequada para "consertar" a educação americana.

Estreitamento curricular

A Meritocracia e suas consequências

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, Meritocracia e Privatização.Aumento da segregaçãosocioeconômica no território

As escolas vão travando a entrada de alunos derisco e dirigindo-os a outras escolas. Como adver-tem os autores, há consequências geradas por estaspolíticas que estão além do impacto das medidas naprópria escola, individualmente.

Precarização da formação do professor

O apostilamento das redes contribui para que o pro-fessor fique dependente de materiais didáticos estru-turados, retirando dele a qualificação necessária parafazer a adequação metodológica, segundo requer cadaaluno.

Destruição moral do professor

Os processos de avaliação de professores cada vez mais estão individualizando os profissionais. NoBrasil, tal individualização ainda é feita tomando-se por base a escola, mas em outros países chega-sea divulgar a avaliação individual dos professores em jornais locais com grande desgaste para estesprofissionais. O caso mais recente é o da cidade de Nova Iorque, que divulgou a avaliação e o nome de18 mil professores nos jornais locais, gerando ranqueamento público. Até Bill Gates objetou o proce-dimento.

Destruição do sistema público de ensino

Concessão de escolas públicas para serem administradas pela iniciativa privada (equivalentes noBrasil às organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – Oscip) e pela distribuição de vouchers(equivalentes ao Pronatec no Brasil). A linha central é a adoção da ideia das escolas charters ameri-canas (privatização por concessão da gestão da escola à iniciativa privada) e a quebra da estabili-dade de trabalho do professor.

Para Ravitch (2010), as escolas são um patrimônio nacional público que, se for apropriado pelainiciativa privada, põe em risco a própria noção de democracia. Somente um espaço público pode lidarcom a formação da juventude de forma a atender aos interesses nacionais dentro da necessária plura-lidade de opiniões existentes no âmbito da sociedade.

Ameaça à própria noção liberal de democracia

, é corrupção do conhecimento

Aqui apresentamos um resumo emtópicos desses efeitos com basena aplicação da meritocracia na

educação americana.

O professor doutor da Universidadede Campinas, Luís Carlos Freitas,

organizou um dossiê sobre a políticameritocrática, cujo objetivo é a de-núncia de seus efeitos negativos na

educação. Aumento da segregaçãosocioeconômica dentro da escola

As pressões sobre o professor terminam obrigan-do-o a segregar os alunos que estão nas pontas dosdesempenhos (mais altos e mais baixos) e concen-trar-se no centro, em especial naqueles que estãopróximos da média, para não irem abaixo dela e parasuperá-la. Esta concentração em torno da média pe-naliza seriamente os mais necessitados.

Educação em Revista 11

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Educação em Revista12

Educação em Revista- O que

você pensa da ideologia da meri-

tocracia que existe hoje no servi-

ço público e, especialmente, na

área da educação?

Professor Antônio- Recebocom indignação e preocupação to-das as tentativas de formadores deopinião liberais de minimizar a efi-ciência do serviço público. E mais,as tentativas de responsabilizar osservidores por situações pontuais,fruto do desmonte do serviço pú-blico praticado com seguidas po-líticas de corte e desvios de inves-timentos que atingem direitos cons-titucionais. Os cortes de investi-mentos nos serviços públicos afe-tam diretamente o trabalhador, quejá é injustiçado pelos baixos salá-rios pagos. E criam condições detrabalhos aviltantes para os servi-dores. A utilização da meritocra-cia como critério para remuneraros servidores trata-se de um instru-mento utilizado por governos libe-rais para desviar o foco do proble-ma: a redução de investimentos emserviços essenciais aos cidadãos.Saúde e educação de qualidadecustam caro em qualquer lugar domundo.

Na sua opinião: O que os go-vernos devem priorizar para va-lorizar o servidor público: planos

de carreira ou política de gratifi-cação por desempenho?

Receber gratificações por desem-penho provoca graves perdas para oservidor. Primeiro, sepulta a isono-mia salarial estabelecida nos editaisdos concursos públicos. Segundo,cria uma política de salários irreal,pois as perdas salariais podem ser ca-mufladas pelas gratificações, e nomomento da aposentadoria a dura re-alidade dos baixos salários vêm a

tocrática realmente traz benefíci-os para o trabalho pedagógico doprofessor e para o aprendizado dosalunos?

Na educação, o trabalho pedagó-gico, que deve ser um fazer coletivo,onde a diversidade e a multiplicida-de das relações e conexões estabele-cidas são alicerces para a formaçãode indivíduos aptos a interagir nomundo, é vilipendiado sob a égide dasmetas a serem atingidas, como con-dição para o recebimento das gratifi-cações por desempenho. Neste uni-verso a amplitude do trabalho peda-gógico é substituída por um mecanis-mo desumanizador onde o treinamen-to para atingir respostas satisfatóriaspassa a ser a finalidade precípua dotrabalho do educador. Com essa prá-tica pedagógica caminhamos para aformação de indivíduos capazes decumprir determinadas tarefas, ou ain-da, consumir diante dos estímulosque lhes são oferecidos. E nos dis-tanciamos de uma educação ondeprincípios e práticas como a liberda-de, o dialogo, a solidariedade e a res-ponsabilidade são fundamentais paraa construção e realização do homem.

Qual a sua opinião acerca daavaliação que se faz das escolas emrankings de desempenho? Isto con-tribui para a melhora do ensino nasredes públicas de educação?

Professor de história nos colégios estaduais Herbertde Souza (Rio Comprido) e Leonel Azevedo (Ilha doGovernador)

Educadorcom apalavraAntônio Carlos Valois de Pontes

Não há outra saída parao servidor se não a lutapor planos de carreiraque reverta a atual ten-dência...

tona. Terceiro, o pagamento de grati-ficações por desempenho lança osservidores numa disputa fratricida,pois torna vulnerável uma categoriade trabalhadores que vem sofrendoduros ataques, que dentro da lógicado capital não há de cessar. Não háoutra saída para o servidor se não aluta por planos de carreira que rever-ta a atual tendência, e dignifiquem asdiversas categorias com salários jus-tos, investimentos na formação pro-fissional e condições estruturais detrabalho dignas.

Você acha que a política meri-

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Educação em Revista 13Ranqueamento de escolas basea-

do em avaliações externas, não temoutra função se não ratificar as me-didas já adotadas pelos governos li-berais. É mais um dado estatísticoutilizado para referendar um conjun-to de práticas salvacionista num pa-ciente que agoniza pela histórica ne-gligência. Tratar os problemas daeducação em um dos países mais de-siguais do mundo, a partir dos resul-tados das avaliações externas, nãotem nenhum outro impacto além deimplantar um sistema educacionalfundamentado na ideologia liberal,onde a obtenção do sucesso é frutodo individualismo. Os avanços obti-dos através das diferentes teorias edu-cacionais - que se não se mostraramcapazes de solucionar todos os pro-blemas na universalização da educa-ção, ao menos não tiveram preten-sões tão totalitárias – são abandona-dos. As escolas públicas não podemfugir ao consenso liberal, devem serenquanto espaço público submetidasàs diretrizes dos interesses privados.Enquanto esta ideologia e o conjun-to de políticas são propagandeadoscomo o único caminho a ser seguido,novos desafios se impõem aos edu-cadores: como realizar a inclusão dejovens que apresentam sinais eviden-tes de depressão, fruto da exposiçãoàs mazelas da sociedade de consumoa que foram submetidos? Como en-frentar a expansão do álcool, e agorado crack, entre os jovens? Como evi-tar as diferentes formas de violênciaque se manifestam entre os jovens?Curioso é que para essas questõescentrais na educação dos jovens dehoje, a solução totalizante dos libe-rais não vêm se mostrando tão efici-ente.

O que pensa dessa política deavaliação externa, que vem apre-sentar agora um novo item: oacompanhamento em sala doprofessor por agentes treinadospelo Banco Mundial?

A grande mídia faz um traba-lho intenso para apresentar o Bra-sil, e em especial o Rio de Janeirocomo eldorados no momento emque ocorre o colapso de práticasneoliberais em regiões centrais dosistema. Porém a adoção da medi-da citada mostra de onde partemas diretrizes das medidas adotadaspor aqui, e desvendam os meca-nismos de manutenção do statusquo, assim como em todas as ou-tras regiões consideradas periféri-cas. Não podemos perder de vistaque esta medida está associada aum conjunto de fatos recentescomo: a aquisição pelo capital ex-terno de empresas de sistema de

ensino – com fechamentos de esco-las, otimização de turmas e escolas,utilização do discurso da gestão efi-ciente de recursos, investimento emtecnologia como tábua de salvação,transferência da responsabilidadepelos baixos desempenhos obtidos –e ao uso de dados estatísticos – co-letados nas avaliações externas – parademonstrar a “eficiência” de suasopções. Somente com investimentosna valorização dos salários dos pro-fissionais de educação, na formaçãocontinuada dos mesmos, na amplia-ção do número de vagas nas redespúblicas de ensino e nas estruturasfísicas das unidades de ensino pode-remos estabelecer um ciclo virtuososustentável, cujos resultados apare-cerão na infraestrutura, em seu tem-po. Educação não é mágica, é neces-sário planejamento, e mais que issoé necessário um debate onde a so-ciedade civil e os profissionais deeducação não sejam amordaçados.

Esperar que condições históricassejam superadas num curto períodoe com medidas autoritárias, no míni-mo pode ser interpretado como des-conhecimento do assunto ou inter-venção de interesses alheios.

Diante de todo esse quadro ad-verso que encontramos na educa-ção pública nacional, fluminense ecarioca, acreditamos que os profis-sionais de educação são os únicos,de fato, comprometidos com a qua-lidade da escola pública no nossopaís. Assim, perguntamos, qual é omaior dos nossos méritos (na boaacepção da palavra), na sua opi-nião?

ensino - que tem seu nome associ-ado às escolas que apresentam osmelhores índices nas avaliaçõespropostas pelo governo - e de edi-toras – que recebem generosas trans-ferências de dinheiro público no for-necimento de livros didáticos ao go-verno -, às parcerias público-priva-das na educação que criam “ilhas deexcelência” e a propaganda negati-va feita exaustivamente da rede pú-blica e de seus professores. O obje-tivo é claro ...

Você acredita mesmo que osindicadores nacionais de educaçãodo Rio de Janeiro poderão melho-rar com esta política meritocráti-ca implementada pelos governosestadual e municipal? O que é ne-cessário fazer?

Enquanto a Educação for refémdessas políticas, nossos governantesterão que recorrer a necessidade dereestruturações das redes públicas de

Diante das adversidade somentea crença na possibilidade da constru-ção de uma sociedade mais justa efraterna nos serve de alento. E osméritos de nosso trabalho nesse pro-cesso são irrefutáveis. Os governan-tes são esquecidos, mas os professo-res, que passam por nossas vidas, deuma forma ou de outra, são eternos.

“... é necessário um deba-te onde a sociedade civil

e os profissionais deeducação não sejam

amordaçados.

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14 Educação em Revista

É pra rir ???

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14 Educação em Revista

É pra rir ???

Diga NÃO à espionagem em sala de aula!

Retire-se de sala e avise que seu retorno será garantido a partir daausência de pessoas estranhas a sua aula.Relate por escrito e pegue assinaturas da comunidade escolarcomo testemunho de que você foi obrigado a ausentar-se de suasala pela presença de elementos estranhos ao seu local de trabalho.Chame imediatamente seu representante do Sepe para que elêacione o Departamento Jurídico.

Caso alguém insista em permanecerem sua sala sem a sua autorização:

Por isso professor, não se intimi-de! Você não é obrigado a aceitar emsua sala de aula ninguém que vá fazero trabalho de espionagem, rompendocom princípios de sua autonomia ecom aqueles que regem a constituiçãobrasileira. E se você souber que sua

Cabral quer colocar espiões trei-nados pelo Banco Mundial dentro desala de aula, para tentar provar a inefi-ciência do professor e se apropriar deseus métodos de ensino.

Em primeiro lugar não precisamosdo Banco Mundial para financiar pes-quisas e produzir informações sobrea sala de aula. Basta uma pesquisa comos próprios professores. O que de fatopode melhorar a performance do pro-fessor são antigas reivindicações denossa categoria : menos alunos em salade aula, tempo para planejamento,contratação de mais profissionais,presença de profissionais como psi-cólogos, assistentes sociais e outrospara acompanhar os problemas dos

Educação em Revista

É composto por duas insti-tuições: Banco Internacionalpara Reconstrução e Desenvol-vimento (BIRD) e AssociaçãoInternacional de Desenvolvi-mento (AID). O Grupo BancoMundial abrange estas duas emais três: Sociedade Financei-ra Internacional (SFI), AgênciaMultilateral de Garantia de In-vestimentos (MIGA) e CentroInternacional para Arbitragemde Disputas sobre Investimen-tos (CIADI).

É disso que o Banco Mun-dial entende. Os 168 represen-tantes de países em todo omundo, membros desta insti-tuição financeira definem jun-tos, quais as melhores estraté-gias para explorar com maioreficácia os países da AméricaLatina e outros também comsérios problemas sociais. Coma máscara da colaboração apaíses “menos afortunados”,emprestam dinheiro a juros es-corchantes. Impagáveis.

Os agiotas mundiais nãoconformados com a já absurdaexploração, resolveram tambémdar um “jeitinho e ensinarem”aos países devedores a economi-zar mais ainda naquilo que con-sideram gastos excessivos e su-pérfluos na saúde e educação.

Wikipédia – Banco Mun-dial é uma instituição finan-ceira internacional que forne-ce empréstimos para paísesdesenvolvidos em programade capital.

O que o BancoMundial

entende deEducação?

alunos, aumento salarial para que oprofessor não precise fazer duplas, tri-plas além de muitos outros etecéteras.

Constrangimento,coação e assédio

escola será uma das “escolhidas” paraessa “visita” ligue para o Sepe, ouRegional 7 do Sepe. Chame seu repre-sentante. Se houver qualquer tentati-va de coação, assédio moral no senti-do de te obrigar a aceitar esta viola-ção a seus direitos reaja!

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15Espionagem em sala de aula

Professor, não permita nenhumestranho em sua sala de aula!

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EF - Os governos aqui no Bra-sil têm repassado boa parte dasverbas públicas à iniciativa priva-da e principalmente através deOrganizações Sociais, ditas semfins lucrativos. Essas Organiza-ções têm por trás delas, empresas,que obviamente trabalham emfunção do lucro. Ao mesmo tem-po os investimentos diretos nasescolas e nos profissionais vemreduzindo drasticamente ano aano.Para nós esta é uma forma deprivatizar a educação pública.Como a privatização aconteceuou acontece nos Estados Unidos?

Diane - Quase 90% das crian-ças frequentam escolas públicasnos Estados Unidos. No entanto,existe atualmente um forte movi-mento de privatização de muitasescolas públicas. O movimentonão gosta de dizer que promove aprivatização, mas isto é o que naverdade acontece. Nos E.U., osempresários estão apoiando a cri-ação do que é chamado de esco-las “charter”. Estas são as esco-las que recebem fundos públicos,mas que são gerenciadas por en-tidades privadas. Estas entidadespodem ser empresas com fins lu-

Educação em Revista16

Entrevista com a professorapesquisadora Diane Ravicht

Entrevista por e-mail com Diane Ravicht. Feita pela ProfessoraEdna Felix, quando pertencia à direção da Regional 3 do Sepe

Ex-secretária-adjunta de educação no governo Bush e uma das principais defensoras da reforma educacionalamericana – baseada em metas, testes padronizados, responsabilização do professor pelo desempe-nho do aluno e fechamento de escolas mal avaliadas, mudou de ideia. Após 20 anos Diane Ravitch

diz que, a educação não melhorou, o sistema está formando alunos treinados para fazer avaliações.Sua revisão de conceitos foi expressa no livro The Death and Life of the Great American School System (a

morte e a vida do grande sistema escolar americano

crativos, podem serpessoas que querem di-rigir uma escola, oupodem ser Organiza-ções sem fins lucrati-vos. Mas o que distin-gue as escolas charteré que os seus gestoressão privadas, estão li-vres da maioria dos re-quisitos legais e são aesmagadora maiorianão-sindicalizados.Existem hoje cerca de5.000 escolas chartercom cerca de 1,5 mi-lhões de crianças ma-triculadas. Isto repre-senta 3% das matrícu-las de alunos em níveisnacionais. O público é informa-do de que as escolas charter são“públicas” porque são escolas querecebem dinheiro público. Masem todos os aspectos importan-tes elas são escolas privadas masrecebem financiamento público.Eles fazem suas próprias regras,e são capazes de remover os alu-nos e enviá-los de volta para asescolas públicas. As escolas pú-blicas não podem recusar alunos.

EF- Em sua entrevista ao jor-nal “Estado de São Paulo, a pro-fessora diz que as“trapaças” fei-tas pelos professores nas esco-las, para que possam atingir asmetas estabelecidas pelo gover-no, é um dos elementos respon-sáveis pelo fracasso de todo oprojeto. A senhora não acha queestas metas são estabelecidasapenas como forma de propa-ganda para que o governo de-monstre à opinião pública uma“ falsa melhora” na qualidade daeducação?

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Diane - O governo dos E.U.A.adotou um programa federal cha-mado “Nenhuma criança deixadaatrás” de (NCLB) que estabeleceuuma meta muito elevada. A lei exi-giu que 100% dos estudantes sejamproficientes na leitura e na mate-mática em 2014. Esta era uma metautópica, que nenhum estado ou na-ção nunca alcançara. Os estados fi-caram livres para ajustar sua pró-pria definição da proficiência, emuitos adotaram padrões muitobaixos de modo que pudessem rei-vindicar o progresso. Mas natural-mente, nenhum estado, mesmo as-sim, chegou perto da proficiência100%, e agora os estados estão fe-chando escolas porque elas são debaixo desempenho. Quase todas asescolas que são fechadas são as queregistram um número elevado deestudantes pobres e os estudantesque não falam o inglês (imigrantes).As conseqüências foram muito ne-gativas para esta abordagem de ane-xar recompensas e punições pararesultados de testes. Primeiramen-te, há uma redução do currículo. Háum incentivo para que os professo-res ensinem somente o que é testa-do, que é a matemática e a leitura.Portanto há pouco ou nenhum in-centivo para ensinar as artes, a ci-ência, a história, cidadania, a lín-gua estrangeira, etc.

Nos distritos ricos, isso não im-porta, porque os alunos podem fa-cilmente passar nos testes, mas embairros pobres as crianças passammuito tempo aprendendo a fazertestes e perfurações em disciplinasbásicas. Eles estão privados de umaeducação integral. E houve muitos,muitos relatos de fraude nos exa-mes, porque os professores e os ad-ministradores não querem perder

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seus empregos e querem re-ceber bônus apresentandoos escores mais altos.

EF -Nós do sindicatoacreditamos que para amelhoria da qualidade daeducação é necessário au-mentar os investimentosem contratação de pesso-al, melhores salários econdições de trabalho.Mas aqui, no Brasil e noRio os governos fazem ocaminho inverso. Em suaopinião quais os princi-pais fatores para que sepossa oferecer uma educa-ção pública de qualidade?

Diane - Os fatores prin-cipais na melhoraria daeducação são: 1) a constru-ção de uma educação fortecom profissionais e professoresqualificados e administradores há-beis; 2) com um currículo rico emartes e das ciências (história, lite-ratura, artes, matemática, línguasestrangeiras, educação cívica, aciência, etc, que esteja disponívela todas as crianças; e 3) tendomeios reflexivos de avaliar o pro-gresso por ensaios, por projetos,e por outros meios de determinarse as crianças aprenderam. Asavaliações não devem ser amar-radas às “estacas elevadas”, istoé, punições e recompensas, por-que isso distorcem o comporta-mento dos educadores para alcan-çar os números ao invés de me-lhorar a educação.

EF – Nossos profissionais queleram sua entrevista no jornal“Estado de São Paulo ficarammuito impressionados com as se-melhanças das reformas educaci-onais nos EUA e a do Brasil. Gos-

taríamos que explicasse como sedeu o processo da Reforma Edu-cacional Americana. Quais foramos principais passos deste proces-so?

Diane - O processo nos Esta-dos Unidos começou com o des-contentamento sobre os resulta-dos da educação. As pessoas nacomunidade empresarial foramdesanimados pelo grande núme-ro de jovens que eram mal forma-dos. Os parlamentares concorda-ram, juntos eles decidiram pormetas numéricas para “sacudir”as escolas. Mas infelizmente elesnão perceberam que a busca deobjetivos numéricos não era omesmo que a melhoria da educa-ção, nem reconhecem que a mai-or parte do desempenho ruim noos E.U. foi altamente correlacio-nada com a pobreza e a desigual-dade econômica.

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“...Vemos uma política educacional que é umaverdadeira “indústria da prova”, com prova detudo que é jeito e para todos os gostos, masnem por isso menos nociva para os alunos e

docentes da rede municipal do Rio de Janeiro.Provas que ferem a autonomia do fazer peda-gógico do professor, que conhece melhor doque ninguém a realidade do aluno com quem

convive diariamente na sala de aula...”

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“...as escolas têm recebido diversas ques-tões que devem ser trabalhadas em sala de

aula como exercício e que depois fazemparte das provas. Só muda o número. ...

legitimam-se pacotes de empresas, institu-tos e fundações, pasteurizados que, soma-dos, já se aproximam de 1 bilhão de reais edeixa-se claro que o que move este método

é a destruição da escola pública e aprivatização do ensino público de maiortradição no Brasil. Denúncia feita por um

vereador do RJ.

Um dos mais graves problemas destes sistemasde metas e desempenho é que a avaliação passaa ser vista como objetivo de todo o processo deensino aprendizagem e não como seu resultado.

Inverte-se à lógica do processo educativo epassa-se a ensinar os alunos a fazerem os testese provas. A avaliação é um passo do processo(diagnóstico), não seu objetivo. Cartilha doSepe/ RJ - Avaliação meritocrática da SEDUC

Educação não é mercadoria

... o foco deve ser sempre em melhorar aeducação e não simplesmente aumentar aspontuações nas provas de avaliação. Ficouclaro para nós que elas não são necessaria-mente a mesma coisa. Precisamos de jovensque estudaram história, ciência, geografia,matemática, leitura, mas o que estamos for-mando é uma geração que aprendeu a respon-der testes de múltipla escolha...uma boaeducação é muito mais que saber fazer umaprova.

Diane Ravitch (EM Jornalista Orlando Dantas)

As variáveis que afetam a aprendizagem doaluno não estão todas sob controle do professor.Esta pressão e controle produzem um sentimen-to de impotência, associada à necessidade de

sobreviver, que tem levado à fraude. Multiplicam-se os casos de ajuda do próprio professor duran-te a realização de exames, quando não a simples

alteração da nota obtida pelo aluno.O pagamento através de bônus definidos pelodesempenho dos alunos contribui para agravar

estas fraudes e desmoraliza ainda mais o magis-tério. Luís Carlos Freitas

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19Educação em Revista

Corria o ano de 1985 e um grupo demilitantes, alguns mais antigos outrosrecém-ingressados na categoria, bus-cavam se organizar em frente às açõesdos governos, de suas promessas nãocumpridas, de políticas setoriais pri-vilegiando projetos específicos em de-trimento do investimento maciço noconjunto do sistema educacional, en-fim problemas velhos-novos- de sem-pre, que precisam e devem ser conti-nuamente enfrentados e denunciadosaté que possamos ter uma vitória ca-tegórica contra as políticas de avilta-mento da educação.Naquela época, o nosso sindicato,o CEP-RJ, ainda oficialmente re-conhecido como associação, en-contrava-se extremamente afasta-do do cotidiano de nossas escolas.Tinha saído recentemente de umprocesso de intervenção ocasiona-do pelas lutas de 1979 e ocupavaum escritório comercial na rua Se-nador Dantas, uma pequena sala

constituída de um banheiro, umasaleta e uma sala de reuniões. Se-parava estes dois últimos espaçosuma daquelas portas de madeira evidro antigas, que em prédios an-tigos costumam existir separandomuitas vezes a sala de uma peque-na varanda.Assim era o nosso sindicato, ain-da criança “com a barra do seutempo sobre os seus ombros”, comuma série desafios a enfrentar etendo o maior deles pela frente,constituir uma direção à altura dosanseios de sua categoria,espezinhada nas múltiplas salas deaula, a sofrer a contínua avalanchede medidas e resoluções e decre-tos dos governos de plantão.É, lá se vão quase três décadas eainda há muito por fazer... Mas, senaquela época, onde o arsenaltecnológico de nossa entidade con-sistia de uma mimeógrafo elétrico

e máquinas de escrever, nós con-seguimos realizar a grande grevede 1986 e encher o maracanazinhoem históricas assembleias, isso sóvem a demonstrar que a “força es-teve sempre em nós” e continuaestando. Façamos a memória denossas lutas e, mais importante queisso, continuemos a fazer história.“VIDA LONGA AO SEPE-RJ”.

Assim era o nosso sindicato, ainda criança...

Albano Teixeira foi diretor do Sepe na década de 90 Professor de História do Colégio pedro II - Unidade Escolar São Cristóvão III

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