23
EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO ENSINO FUNDAMENTAL I: DESAFIOS E POSSIBILIDADES ÁLVARO MODERNELL $

educação financeira - smbrasil.com.br · Educação Financeira não é o mesmo que matemática financeira ou introdução ao mer-cado de ações. ... Analisando a produção literária

  • Upload
    dotruc

  • View
    216

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

educaçãofinanceirano ensino Fundamental i:Desafios e possibiliDaDes

Álvaro modernell

$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

2

$%

Educação Financeira no Ensino Fundamental I: desafios e possibilidades

Álvaro Modernell, especialista em Educação Financeira1

Educação Financeira é um dos principais temas da atualidade na pauta das escolas, no cotidiano das famílias brasileiras, na imprensa e na agenda de governantes e legisla-dores. Porém, ainda há pouca clareza sobre o que é, realmente, Educação Financeira. Nesse cenário efervescente e de indefinições, alguns segmentos da sociedade e certas entidades de classe procuram impor vieses que nem sempre são os mais adequados. Mas, apesar da falta de sinergia, a soma dessas iniciativas amplia o alcance e os benefí-cios da Educação Financeira para a população em geral e para a comunidade como um todo. O resultado acaba por ser positivo.

1 Álvaro Modernell é especialista em Educação Financeira, autor de vários livros infantis sobre o assunto, palestrante e consultor. É mestre em Finanças, MBA em Negócios Internacionais e em Finanças, especialista em Metodologia do Ensino e em Política e Estratégia. Professor de Educação Financeira em MBA e cursos de pós-graduação, apresentador do programa Bate-papo com quem entende e colunista para diversas mídias.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$$

%

Tom

Wan

g/Sh

utte

rsto

ck/ID

/BR

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

3

$%

Em vistas do que vem sendo discutido e divulgado, pelo menos está ficando claro que Educação Financeira não é o mesmo que matemática financeira ou introdução ao mer-cado de ações. Que não se trata apenas de falar de economia e finanças em linguagem simples. Tampouco é uma trilha para o enriquecimento fácil ou uma estratégia para re-duzir o consumo ou evitar o endividamento. Mas há muito a ser esclarecido, até para que as ações sejam efetivas e sinérgicas entre si. Quando o tema é levado açodadamente às escolas, em que a maioria dos professores sequer teve ou tem noções sobre o assunto e se vê diante da missão de trabalhar com essa temática como se a dominasse, os riscos de que a Educação Financeira seja distorcida ou rejeitada ficam potencializados na mesma proporção da pressa que lhes é exigida na implantação.

Mas essa, pelo menos em parte, foi uma decisão consciente, necessária. Foi a esse consenso que chegamos enquanto fiz parte do Grupo de Apoio Pedagógico (GAP), do MEC e do Banco Central, na elaboração do projeto da Estratégia Nacional de Educação Finan-ceira (ENEF), nos anos de 2009 a 2010. Concluímos que seria preciso trocar os pneus com o carro andando.

Para esclarecer o assunto, vamos começar desmitificando a tese de que Educação Financeira seja novidade ou produto do capitalismo, como alguns críticos chegaram a colocar. Se nos reportarmos aos clássicos da literatura infantil, como as fábulas de Esopo (600 anos a.C.), vamos perceber que histórias como A galinha dos ovos de ouro e A cigarra e a formiga, são, na essência, abordagens do tema Educação Financeira com o objetivo de alertar sobre riscos e perigos da ganância e da falta de previdência. Ressaltam, ainda que de maneira subliminar, a importância da formação de reservas de poupança, da diversifi-cação nas fontes de renda e outros fundamentos de finanças pessoais.

Aka

raK

ingD

oms/

Shut

ters

tock

/ID/B

R

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

4

$%

Na Idade Média, essas fábulas foram revitalizadas por La Fontaine e, ao longo de séculos, vêm passando de geração em geração, atestando a importância do assunto e o interesse no seio familiar. Os Irmãos Grimm também deixaram sua contribuição nessa área, com o conto João Felizardo.

Nossos pais, avós e professores leram algumas dessas histórias para nós. Ainda que não fossem feitos com o nome de Educação Financeira, os propósitos e a moral das his-tórias eram óbvios: orientar sobre o uso do dinheiro, atestando o quanto esse assunto é importante para a humanidade.

Essa herança histórica é multicultural:

• Na cultura cristã, por exemplo, há o ensinamento que se deve “Ensinar a pescar, ao invés de dar o peixe”, em clara alusão à maior importância de um legado de Educação Financeira em comparação com eventual herança de bens materiais.

• Na cultura árabe, circula o inteligente ditado “Quem compra o que não precisa, um dia terá que vender o que precisa”, que retrata a necessidade de priorizar os gastos com as necessidades, antes de atender a simples desejos.

• Na sabedoria oriental, destacamos a citação “Cave um poço antes que sinta sede”, em alusão à importância da previdência e das reservas de poupança.

• Na cultura popular brasileira, há ditados como “Não se deve colocar todos os ovos na mesma cesta” e “O olho do dono engorda o boi”, os quais se relacionam com o princípio da diversificação e o da necessidade de acompanhar, de perto, os próprios investi-mentos.

Nós também fizemos ou faremos o mesmo por nossos filhos, ainda que empiricamente, valendo-nos de literatura, ditados ou da tradição popular, pois queremos que o dinheiro seja bem aproveitado.

Nas últimas décadas, a Educação Financeira ganhou, além do nome formal, uma roupagem especial e uma legião de pro-fissionais e entusiastas. Passou a ser estudada, estrutura-da, inserida em contextos educativos, acadêmicos, sociais e políticos.

Atualmente, mais de 90 países possuem projetos para fomento da Educação Financeira e Previdenciária de seus cidadãos. Sim, a Educação Financeira assumiu também esse papel, o de auxiliar na inclusão social, na melhor distribuição de renda e na formação cidadã das pessoas. A alfabetização financeira, a difusão dos direitos dos consumidores, a prevenção ao endividamento e a inclu-são bancária passaram a ser vistas como requisitos na so-ciedade moderna. Empreendedorismo e microfinanças asso-ciaram-se a essa tendência, visando a qualidade de vida por meio de melhor uso e aproveitamento dos recursos financeiros.

Ann

a H

oych

uk/

Shut

ters

tock

/ID/B

R

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

5

$%

O Brasil está bem inserido neste contexto. Desde 2010 contamos com a ENEF, insti-tuída pelo Decreto Presidencial 7.397, de 22 de dezembro de 20102, um dos projetos mais abrangentes e inclusivos de que se tem notícia no cenário mundial. Trata-se de uma im-portante referência para entidades e profissionais que buscam orientação ou convergên-cia com as diretrizes governamentais para projetos de Educação Financeira.

No âmbito escolar, vale uma consulta ao documento “Orientações para a Educação Financeira nas Escolas”. A iniciativa privada, de maneira geral, tem sido ágil, vem criando instrumentos e metodologias diversificados para oferecer Educação Financeira à popula-ção. Com mais opções, fica mais fácil cada um escolher o que mais lhe interessa.

Segmentos específicos e representativos, como cooperativas, fundos de previdência, o INSS, sindicatos e entidades de classe vêm trabalhando para que a população se sen-sibilize sobre a importância e os problemas da previdência que, no futuro, trarão reflexos para a situação financeira e a qualidade de vida de todos. As perspectivas dos problemas previdenciários crescem na mesma proporção que os avanços da medicina em prol da longevidade da população. Daí a maior necessidade de educação previdenciária para to-dos, principalmente os jovens.

2 A ENEF tem a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos con-sumidores. (Disponível em: <www.vidaedinheiro.gov.br>. Acesso em: 28 abr. 2014.)

Entidades de defesa do consumidor, como o Procon, vêm focando na difusão e preser-vação dos direitos dos consumidores e no combate e prevenção ao superendividamento, problema que assola grande parte da população, especialmente as pessoas que ingres-saram recentemente no mercado de trabalho e de consumo, uma consequência clara da falta de Educação Financeira, que deveria ter sido provida com antecedência.

Med

ioim

ages

/Pho

todi

sc/T

hink

stoc

k/ID

/BR

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

6

$%

Enquanto o comércio e a indústria investem em meios para aumentar o consumo e o sistema financeiro busca estimular o uso do crédito, outras entidades devem ajudar a preparar os consumidores para evitar que caiam em armadilhas, até mesmo as buscadas inconscientemente por elas próprias, e não sejam vítimas de abusos dos fornecedores.

Dentre essas outras entidades, destaca-se o papel das escolas e demais instituições de ensino.

Na Educação Financeira infantil, as escolas, especialmente as particulares, têm as-sumido a frente, apesar da importância da participação das famílias e da expectativa de participação das escolas públicas, conforme previsto na ENEF.

As teorias e literaturas geralmente são apresentadas nas escolas, mas apenas em casa poderão ser experimentadas as práticas do cotidiano. Teoria e prática precisam se complementar. Em países que saíram na vanguarda, como Nova Zelândia, Estados Unidos e Canadá, que inicialmente não focaram nas crianças, logo perceberam que precisariam rever suas estratégias.

Hoje, no mundo inteiro, as ações de Educação Financeira têm por princípio incluir as crianças. Embora existam controvérsias sobre a idade inicial adequada, a maioria dos profissionais converge para o início da alfabetização – por volta dos seis ou sete anos.

No Brasil, há alguns anos, escolas que ofereciam Educação Financeira e o faziam como diferencial positivo eram poucas. Atualmente, esse número cresceu, afinal, em bre-ve, segundo a ENEF, as escolas públicas de todo o país, desde o primeiro ano do Ensino Fundamental até o último ano do Ensino Médio, também terão Educação Financeira. Isso já começou em alguns estados e em mais de 400 escolas, nas quais foram realizados testes-piloto. Educação financeira não é modismo. Chegou para fazer parte da vida e da formação das pessoas, da rotina e do programa das escolas, tão importante quanto a educação alimentar e a educação ambiental, pois são fundamentos que precisam acom-panhar as pessoas por toda a vida e farão a diferença na forma de viver e no legado que deixarão.

Dav

id F

rank

lin/iS

tock

/Thi

nkst

ock/

ID/B

R

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

7

$%

O que é Educação Financeira?

Vamos partir de um conceito bastante difundido, apresentado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que tem estado ao lado de vários pa-íses e entidades internacionais na criação e integração de iniciativas e ações ligadas à Educação Financeira, que assim a define:

Processo pelo qual consumidores e investidores melhoram sua compreensão sobre produtos, conceitos e riscos financeiros, e obtêm informação e instrução, desenvolvem habilidades e confiança, de modo a ficarem mais cientes sobre os riscos e oportunida-des financeiras, para fazerem escolhas mais conscientes e, assim, adotarem ações para melhorar seu bem-estar.

É um conceito completo e abrangente, mas muito ligado à visão estatal e acadêmica, até pela natureza estratégica de sua definição e de suas relações. Na prática e em ações pontuais, ligadas a grupos reduzidos, acaba distanciado do que cada um faz ou gostaria de fazer por si, por sua família ou por pequenos grupos, como turmas de alunos, grupos de trabalhadores de determinada empresa ou membros de comunidades de bairro. Assim, em vistas dessa percepção, propus um conceito mais simples e mais objetivo, apresenta-do em 2008 no seminário organizado pelo Coremec3, realizado no Banco Central, que vem sendo adotado por vários profissionais e muitas entidades desde então:

Conjunto amplo de orientações e esclarecimentos sobre posturas, valores e atitudes adequadas no planejamento e uso dos recursos financeiros pessoais.

3 Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização.

A ideia é mostrar que a Educação Financeira deve ser vista como um conjunto de hábitos finan-ceiros saudáveis, que contribuem para melhorar a situação, o proveito e as perspectivas financeiras das pessoas. Claro que, conforme o viés, o foco, o interesse ou as necessidades específicas, isso pode e deve ser adaptado. Mas a essência deve ser pre-servada: deve ser contínua, com visão de longo pra-zo, desassociada do nível de renda ou social, sem estabelecer o que é certo ou errado, mas propor-cionando condições de escolhas e decisões cons-cientes e bem embasadas, que evitem problemas financeiros e ajudem no bem-estar das pessoas.

Gel

pi JM

/Shu

tters

tock

/ID/B

R

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

8

$%

A Educação Financeira contempla:

• éticanosrelacionamentos– rejeição à corrupção, negociação justa, cumprimento de prazos e valores acordados;

• consciênciaambiental– uso racional dos recursos, combate ao desperdício, respeito à natureza, visão coletiva e humanitária;

• responsabilidadesocial– visão coletiva, espírito solidário, consciência tributária, de-fesa da sustentabilidade.

Analisando a produção literária nacional, é possível surpreender-se ao saber quem já tratou de questões ligadas à Educação Financeira em suas obras infantis:

Cora Coralina, com o livro A menina, o cofrinho e a vovó;

Ziraldo, com o Almanaque do Maluquinho – Pra que dinheiro?;

Jonas Ribeiro, com O homem mais rico da cidade e A bicicleta voadora;

Bia Hetzel, com A troca;

Vera Lucia Ramos, com O cofre do João;

Ruth Rocha, com o livro Como se fosse dinheiro.

Ainda na literatura infantil, vários autores nacionais possuem ampla produção di-rigida à Educação Financeira, entre os quais me incluo e destaco os livros Zequinha e a porquinha Poupança, O pé de meia mágico e Paulina e o Ipê-amarelo. Cito, ainda, outros pro-fissionais da área com publicações infantis, como Cássia D’Aquino, Reinaldo Domingos e Fabio Araujo, com seu romance infantojuvenil Sociedade da Fortuna. Como se vê, há muitas opções e essa diversidade é salutar.

Analisando-se as publicações dos últimos anos, percebem-se duas linhas de aborda-gem se consolidando no mercado: a humanista e a financista.

Na linha humanista, onde me incluo, o foco é o bem-estar, a melhor qualidade de vida, a busca pela tranquilidade financeira e pelos benefícios que podem ser aproveitados com uma boa situação financeira. A ideia é estimular as pessoas a refletir sobre suas posturas, valores e atitudes em situações que envolvem dinheiro, como consumo cons-ciente, formação de reservas, bom uso do crédito, distanciamento de dívidas, atenção aos aspectos previdenciários. Os resultados financeiros são mais lentos, mas os ganhos e benefícios tendem a ser mais duradouros.

Na linha financista, o foco maior é no aprendizado sobre o funcionamento do sistema financeiro, no conhecimento de produtos bancários, no domínio da matemática financeira, no estabelecimento de controles e metas, nos resultados dos investimentos, no acúmulo de dinheiro. Às vezes enfatiza as restrições e os sacrifícios em prol dos objetivos. A me-dição do sucesso nessa linha está mais associada ao crescimento do saldo bancário e do

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

9

$%

patrimônio. Para quem se adapta a ela, a tendência é obter ganhos financeiros mais rápi-dos e mais significativos, mas não necessariamente melhor qualidade de vida. Tem sido a linha mais adotada por pessoas ligadas à área de Matemática, geralmente mais objetivas e menos influenciadas pelos aspectos psicológicos, subjetivos e sociais, além dos ideais pedagógicos.

São duas linhas interessantes e necessárias, motivo pelo qual devem coexistir, de preferência de maneira complementar, por conta da diversidade cultural e de interesses da população. Mas a base, principalmente na Educação Financeira infantil, deve ser a linha humanista.

Ao colocarmos o foco no Ensino Fundamental I, crianças de 6 a 10 anos, a respon-sabilidade é infinitamente maior. Crianças dessa faixa etária são ávidas por novos co-nhecimentos. As consequências da educação e das abordagens nessa fase da vida terão influência por décadas, gerações.

Tratando-se de Educação Financeira, vale também um importante princípio de fi-nanças, o da diversificação, popularmente conhecido como não colocar todos os ovos na mesma cesta. Digo isso por considerar saudável a prática de as escolas, ao optarem por trabalhar com materiais didáticos, não abrirem mão da adoção e uso de livros literários para tratar de Educação Financeira, possibilitando ao educando o contato com diferentes tipos de linguagem, o que favorecerá a compreensão dos conceitos trabalhados e mos-trará que existe mais de um caminho, mais do que uma única escolha e, principalmente, mais de uma visão sobre o assunto.

Trilo

ks/iS

tock

/Thi

nkst

ock/

ID/B

R

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

10

$%

Como implantar Educação Financeira?

Para dezenas de escolas que atendi ao longo dos anos, em consultas sobre a melhor forma de iniciar com Educação Financeira, tenho sugerido o seguinte caminho, que vem dando bons resultados:

Iniciar com a introdução de livros voltados para Educação Financeira nos projetos de leitura. Durante algum tempo, que pode ser de um ou dois anos, sem a necessidade de investimentos adicionais na escola, sem gastos extras para os pais, sem mexer na grade curricular, simplesmente acrescentando literatura ou paradi-dáticos voltados para Educação Financeira na lista de livros de todas as séries (Veja, no final, lista de sugestões de livros e autores).

Dessa forma, o assunto Educação Financeira passa a frequentar naturalmente o coti-diano da escola. As crianças e os pais se interessam, os professores passam a ter contato, a pesquisar, a capacitar-se e, naturalmente, surgem os mais interessados e com poten-cial para liderar um projeto específico, quando chegar o momento (proposta bottom-up ou out-in). Geralmente surge ou intensifica-se a demanda, tornando o terreno mais fértil para que seja oferecido algo estruturado.

Ao longo desse período de sensibilização, é importante levar à escola especialistas para fazer palestras, oficinas, provocar discussões. Na medida do possível, o público deve variar de internos (professores, funcionários e alunos) a externos (pais e familiares de alu-nos e cônjuges de professores e funcionários). Não menos do que dois eventos devem ser organizados, de preferência com a presença de diferentes profissionais, para estimular comparações, reflexões e diversidade autoral.

É importante também consultar e ponderar as diretrizes do Comitê Nacional de Edu-cação Financeira (Conef) e do MEC:

• Visitarourealizarintercâmbiodeinformaçõescomoutrasescolas.

• Avaliarseamelhoropçãoparaaescolaseriaousodemetodologiaspatenteadasdesistemas de ensino, por exemplo, ou o desenvolvimento de metodologia própria, com assessoria especializada.

• Contarcomoapoiodeeditorasparaconsultoriaeindicaçãodeautoresebibliografiaespecializados.

• Ponderar,também,naescolhadosmateriais,nospreçosdoslivroseoutrosmate-riais a serem indicados aos pais.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

11

$%

De acordo com as diretrizes acima, é recomendável a realização de benchmarking em escolas similares ou o estudo de casos de sucesso. Não há necessidade de reinven-tar. Metodologias patenteadas são mais fáceis de implementação, mas nem sempre são as melhores escolhas. Escolas pequenas podem basear-se na experiência das maiores. Grandes redes podem investir para adaptar o que mais condiz com sua realidade e es-trutura. Todas podem contar com a parceria de editoras e devem assegurar-se de que os materiais escolhidos sejam compatíveis com o contexto da comunidade e da região.

Tratando-se de assunto ligado às finanças, inclusive familiares, não posso deixar de abordar uma questão relevante para o orçamento familiar: o custo e os preços dos ma-teriais escolares e dos livros. Cabe às escolas ponderarem, também, o preço dos livros a serem selecionados, indicados e adotados, contribuindo, como parceiras dos consumido-res, para que a relação custo-benefício seja positiva.

Os professores precisam ser capacitados e os funcionários da escola, sensibilizados. Educação Financeira envolve todos os segmentos da instituição, da sala de aula à cantina, passando pela tesouraria. É importante os alunos observarem que a prática na escola é condizente com as teorias da sala de aula. Com as crianças não funcionam discursos dissociados das práticas e dos exemplos.

As escolas precisam responsabilizar-se por essa formação de modo sério e sistemá-tico. Seja por questões financeiras ou por questões de educação, valho-me de Derek Bok (ex-reitor da Faculdade de Direito de Harvard):

“Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância.”

Como trabalhar Educação Financeira no Ensino Fundamental I?

No Ensino Fundamental I, principalmente nos primeiros anos, o foco deve ser na apresentação de fundamentos da Educação Financeira e na sensibilização sobre a impor-tância do tema.

Mon

key

Bus

ines

s Im

ages

/Thi

nkst

ock/

ID/B

R

Existem questões rele-vantes sobre as quais é preci-so refletir. Listo algumas, sem a menor pretensão de esgotar o assunto, mas com o firme propósito de instigar reflexões e auxiliar nas melhores esco-lhas para cada instituição de ensino. Nos demais segmen-tos, algumas mudanças de-vem acontecer.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

12

$%

I. Educação Financeira deve ser compreendida como disciplina autônoma ou ensino transversal?

Ensino transversal.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais:

A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamen-te sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). (PCN, p. 27)

Assim, os temas transversais, como se propõe para a Educação Financeira, dão sen-tido social ao aprendizado ao aproximar o conhecimento escolar da vida real.

Embora os PCN não apontem, ainda, a Educação Financeira com um tema transver-sal, entendemos que o dinheiro e as questões financeiras se fazem presentes em pratica-mente todos os ambientes e tipos de relacionamento que temos, portanto, é transversal em nossas vidas. Melhor que seja compreendido assim desde o princípio. Ademais, abor-dando o tema nas diversas áreas do conhecimento, e com a possibilidade de mais profes-sores envolvidos, as crianças serão estimuladas a refletir sobre o verdadeiro papel do di-nheiro na vida e sobre valores, até mesmo os que não têm preço, sob várias perspectivas.

Quanto à metodologia, é importante trabalhar com diferentes abordagens, formas, discursos, instrumentos, canais, exemplos e visões.

Nas escolas que oferecem turno complementar ou ensino em tempo integral, pode--se criar disciplina extracurricular, com carga horária específica, mas sem abandonar a transversalidade.

II. Usar ou não livros e materiais didáticos específicos sobre Educação Financeira?

Cabe à escola verificar qual é a melhor opção de acordo com seu projeto político--pedagógico e seu corpo docente. O importante a saber é que nenhuma coleção de ma-terial didático disponível atualmente possui mais do que dois ou três anos de circulação no mercado. Assim, precisam passar por uma boa análise antes da adoção e o trabalho deve ser ampliado, fazendo uso de livros de literatura e paradidáticos, sempre buscando a diversidade de autores e editoras. O uso do contraditório é importante.

Os materiais que se usam como recurso didático expressam valores e concepções a respeito de seu objeto. A análise crítica desse material pode representar uma oportuni-dade para se desenvolverem os valores e as atitudes com os quais se pretende trabalhar. (PCN, p. 32)

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

13

$%

III. E sobre a capacitação dos professores?

Fator de extrema importância. Além de oferecer a bibliografia disponível, os profes-sores devem ter acesso a palestras, congressos, cursos, oficinas, seminários e outras oportunidades de capacitação. Na própria escola, é importante que um bom número de professores envolva-se com o projeto ou as atividades de Educação Financeira, permitin-do a troca de ideias, a elaboração de materiais e a construção coletiva de sequências didá-ticas e projetos interdisciplinares. Isso ajuda na ampliação dos horizontes, na pluralidade de ideias e na motivação dos profissionais.

Para o professor, a escola não é apenas lugar de reprodução de relações de trabalho alienadas e alienantes. É, também, lugar de possibilidade de construção de relações de autonomia, de criação e recriação de seu próprio trabalho, de reconhecimento de si, que possibilita redefinir sua relação com a instituição, com o Estado, com os alunos, suas famílias e comunidades. (PCN, p. 34)

Como abordar Educação Financeira na transversalidade das disciplinas do Ensino Fundamental I?

Primeiramente, é necessário definir objetivos a serem alcançados.

Os objetivos e competências da ENEF foram definidos tendo como base dimensões espaciais e temporais.

A dimensão espacial engloba os conceitos de EF baseada no impacto de ações indivi-duais no contexto social e nas consequências dessas ações nas condições econômicas e financeiras desses mesmos indivíduos. A dimensão espacial é organizada nos campos de cobertura social, do mais restrito (individual) para o mais amplo (global).

Na dimensão temporal, os conceitos são discutidos tendo como base a noção de que decisões tomadas no presente afetam o futuro. Os espaços são cruzados pela dimensão temporal, que conecta o passado, o presente e o futuro, em uma corrente de inter--relações. Essa corrente torna possível a percepção do presente não apenas como um resultado de decisões tomadas no passado, mas como o momento em que certas ini-ciativas foram tomadas, e os resultados e consequências dessas iniciativas – positivos e negativos – serão coletados no futuro.

Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/pef/port/Estrategia_Nacional_Educacao_Financeira_ENEF.pdf>. Acesso em: 3 maio 2014.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

14

$%

Para definir os objetivos específicos de acordo com a realidade da escola e do perfil dos educandos, o educador deve levar em conta a tabela de objetivos, competências e conceitos proposta pela ENEF:

Objetivo Competência Conceitos

1. Formar para cidadania (DE) 1. Exercer direitos e deveres de forma ética e responsável

Cidadania

Consumo responsável (consciente e sustentável)

2. Educar para o consumo e a poupança (DE)

2. Tomar decisões financeiras social e ambientalmente responsáveis Receitas e despesas/

orçamento

Reservas (poupança) e investimento

Crédito

3. Aplicar compreensão de receitas e despesas na manutenção do balanço financeiro

4. Harmonizar desejos e necessidades, refletindo sobre os próprios hábitos de consumo e poupança

5. Valer-se do sistema financeiro formal para a utilização de serviços e produtos financeiros

3. Oferecer conceitos e ferramentas para a tomada de decisão autônoma baseada em mudança de atitude (DE)

6. Avaliar ofertas e tomar decisões financeiras autônomas de acordo com as reais necessidades

Autonomia

4. Formar disseminadores e/ou multiplicadores em EF (DE)

7. Atuar como disseminador dos conhecimentos e práticas de EF

Disseminação e/ou multiplicação

5. Desenvolver a cultura da prevenção e proteção (DT)

8. Valer-se de mecanismos de prevenção e proteção de curto, médio e longo prazos

Prevenção

Proteção

6. Instrumentalizar para planejar em curto, médio e longo prazos (DT)

9. Elaborar planejamento financeiro no curto, médio e longo prazos

Planejamento

7. Proporcionar a possibilidade de melhoria da própria situação (DT)

10. Analisar alternativas para superar dificuldades econômicas

Mudança de condições de vida

Os objetivos, competências e conceitos relacionados à ENEF

DE – Dimensão Espacial DT – Dimensão Temporal

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

15

$%

Elencamos alguns objetivos de acordo com as sugestões de atividades que serão propostas.

1. Conhecer noções básicas relacionadas à Educação Financeira.

2. Perceber a diferença entre necessidades e desejos.

3. Compreender a importância do planejamento financeiro para alcançar objetivos individu-ais e/ou coletivos.

4. Observar e analisar fatos e situações do ponto de vista financeiro, de forma crítica.

5. Compreender a necessidade de desenvolver atitudes e valores positivos relacionados à Educação Financeira visando à ética nos relacionamentos, consciência ambiental e res-ponsabilidade social.

Nas aulas de Arte, é possível abordar o tema propondo atividades como: aproveitar e reciclar materiais; construir ou decorar os próprios cofrinhos, bauzinhos, pés de meia, envelopes ou outros recipientes para acumular temporariamente moedas; analisar ilus-trações e símbolos de moedas, bilhetes, notas de diferentes épocas e países; trabalhar a intangibilidade e a subjetividade dos valores de obras de arte famosas, bem como o valor daquilo que não se pode comprar.

Nas aulas de Língua Portuguesa, explorar a literatura dirigida; fazer produção e in-terpretação de textos; usar ditos populares e pensamentos; trabalhar vocabulário. Como atividade instigadora de reflexão sobre o tema, podem ser realizadas produções de texto em diferentes gêneros, como histórias em quadrinhos, fábulas e lendas, e concursos re-lacionados a elementos da Educação Financeira próprios da idade das crianças.

Nas aulas de Matemática, substituir parte dos exemplos tradicionalmente realizados com frutas e outros objetos por moedas ou valores; utilizar exemplos ligados a assuntos de interesse das crianças; trabalhar com preços, panfletos, publicidade, anúncios de pro-dutos infantis; propor exercícios de acú-mulo, projeção, troco, comparação; utili-zar moedas em substituição ao material dourado em alguns exercícios; trabalhar com adição, subtração, divisão, fração e multiplicação de valores; trabalhar medi-das de grandeza, tempo, custo e preço.

Nas aulas de Geografia, História e Filosofia, associar a fatos históricos, evo-lução das sociedades, fatores de produ-ção, condições climáticas, geográficas, culturais; provocar reflexões, instigando pesquisas, comparando épocas, países, lugares.

Vla

dgri

n/Th

inks

tock

/ID/B

R

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

16

$%

Entretanto, o interessante e mais indicado no Ensino Fundamental I é que os pro-fessores desenvolvam projetos interdisciplinares em que o tema Educação Financeira apareça de forma transversal, envolvendo a situação cotidiana dos alunos, da escola e/ou das famílias.

A organização dos conteúdos em torno de projetos, como forma de desenvolver ativi-dades de ensino e aprendizagem, favorece a compreensão da multiplicidade de aspec-tos que compõem a realidade, uma vez que permite a articulação de contribuições de diversos campos de conhecimento. Esse tipo de organização permite que se dê rele-vância às questões dos Temas Transversais, pois os projetos podem se desenvolver em torno deles e ser direcionados para metas objetivas ou para a produção de algo especí-fico (como um jornal, por exemplo). Professor e alunos compartilham os objetivos do trabalho e os conteúdos são organizados em torno de uma ou mais questões. Uma vez definido o aspecto específico de um tema, os alunos têm a possibilidade de aplicar os conhecimentos que já possuem sobre o assunto; buscar novas informações e utilizar os conhecimentos e os recursos oferecidos pelas diversas áreas para dar um sentido amplo à questão. (PCN, p. 38)

Nesse sentido, seguem algumas sugestões de projetos interdisciplinares a serem desenvolvidos com os alunos do EFI:

I. De olho nas contas (Matemática, Ciências e Geografia):

Objetivos: economizar os recursos financeiros da família e preservar os recursos natu-rais, valorizando atitudes de respeito ao meio ambiente a partir do desenvolvimento de hábitos saudáveis.

Atividade:

• Analisarcontasdeágua,energia,telefoneeelaborarplanoparareduçãodoconsumo.

II. De olho nas compras (Matemática, Língua Portuguesa e Ciências):

Objetivos: refletir sobre os hábitos da família ao fazer compras, promover a reflexão com os alunos daquilo que consomem e adquirem, distinguindo necessidade de desejo.

Atividades:

1. Produzir lista de compras, analisar as compras da família e as questões nutricionais dos alimentos que costumam ser adquiridos.

2. Montar com os alunos um minimercado com embalagens vazias de produtos variados e usar dinheiro de brincadeira, permitindo que façam compras, comparem preços, calculem, pensem em como economizar na próxima compra, verificar se fizeram ou não boas compras. Essa é uma atividade lúdica que agrada muito aos alunos e pro-move aprendizados de valores, atitudes e conceitos.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

17

$%

III. Produção de uma horta (Ciências e Geografia):

Objetivos: trabalhar diversos conteúdos conceituais específicos de Ciências e Geografia ao ensinar aos alunos a possibilidade de produzir o próprio alimento, sem agrotóxicos e com um custo mais baixo do praticado em supermercados, sacolões e feiras.

Atividades:

1. Em algumas escolas, é possível fazer uma horta, trabalhando com os alunos como se faz o plantio, os cuidados necessários, o prazer e os benefícios de consumir aquilo que se plantou.

2. Promover uma visita ao supermercado do bairro ou à feira, para entender o caminho que o alimento percorre até chegar à mesa do consumidor. Essa atividade também é importante para que os alunos conheçam outros produtos nutritivos que não estão acostumados a consumir.

IV. Livro de receitas (Matemática, Língua Portuguesa, Geografia, História e Ciências):

Objetivo: promover a pesquisa e coleta de receitas próprias da comunidade escolar, orga-nizando-as de acordo com o local de origem das famílias e com o valor nutricional.

Atividade:

• Elaborarcoletâneaescritadereceitas,quedevemserescolhidaspelovalornutricio-nal, baixo custo e por indicar a origem das famílias que fazem parte da comunidade escolar. Depois de pronta a coletânea, organizar com os alunos a divulgação do livro em evento aberto às famílias.

V. Planejando o final de semana (Geografia, História, Educação Física e Língua Portu-guesa):

Objetivos: pensar como a família pode se divertir no final de semana sem gastar muito; refletir sobre as diferentes possibilidades de diversão e a importância de se realizar pas-seios culturais com a família.

Atividade:

• Proporpesquisadelocaisdevisitaçãopróximosaobairroondeaescolaestásituadae locais mais distantes que possam ser acessados utilizando o transporte público, como parques, praças, museus, casas de cultura, teatros, cinemas, eventos culturais, planetários, etc.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

18

$%

VI. Atenção ao desperdício (Matemática, Arte, Língua Portuguesa, História, Geografia e Ciências):

Objetivos: promover reflexão sobre a questão do desperdício e pensar em ações concre-tas de como evitá-lo.

Atividades:

1. Saber cuidar: na escola, trabalhar os cuidados necessários com os materiais de uso pessoal e coletivo (caneta, lápis, borracha, papel, caderno, giz), o mobiliário e o es-paço físico. Propor peças de teatro, elaboração de cartazes e panfletos trabalhando o tema com o objetivo de conscientizar os alunos sobre a importância de cuidar do que é seu e do que é de todos.

2. Feira da troca: a escola pode promover, com os alunos e com os pais, no final do ano, a feira da troca: de livros, de brinquedos e demais objetos em bom estado de conser-vação, como roupas, sapatos, utilidades domésticas, etc.

3. Reciclar é preciso: organizar na escola a separação do lixo, reciclando aquilo que for possível, como papel usado, que pode se tornar um porta-retratos ou um livro de receitas feito pelos alunos e ser dado de presente às mães no Dia das Mães. Além de trabalhar os problemas ambientais causados pelo acúmulo de lixo, é possível abordar a preservação de recursos naturais, a inclusão social, a oportunidade de geração de renda, a economia de energia, etc.

Yaru

ta/iS

tock

/Thi

nkst

ock/

ID/B

R

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

19

$%

No ensino por projetos:

A educação financeira é tratada como um assunto transversal, incorporando Situações Didáticas4 que dialogam com várias áreas do conhecimento e utilizam como pontos iniciais situações do dia a dia relevantes para os estudantes e para a sociedade.

Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/pef/port/Estrategia_Nacional_Educacao_Financeira_ENEF.pdf>. Acesso em: 3 maio 2014.

Além disso, permite que o trabalho com os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais aconteça de forma integrada e interdisciplinar, promovendo uma aprendiza-gem significativa e a formação de indivíduos mais atentos à realidade que os cerca, com consciência cidadã e atitudes e valores sólidos para fazer a diferença no desenvolvimento sustentável do planeta, ou seja, sabendo como suprir suas necessidades, sem compro-meter o futuro das próximas gerações.

Os conteúdos de cada disciplina envolvida devem ser elencados de acordo com a faixa etária e o grau de desenvolvimento cognitivo. Lembrando que os desafios apresentados aos educandos, segundo Vygotsky, devem estar de acordo com a zona de desenvolvimento proximal do educando. E, como sugerido pelos PCN:

Quanto à divisão dos conteúdos por ciclos, considerou-se que nos Temas Transversais não há nada que, a priori, justifique uma sequenciação dos conteúdos. Ao contrário, os conteúdos podem ser abordados em qualquer ciclo, variando apenas o grau de pro-fundidade e abrangência com que serão trabalhados. O que servirá para diferenciar os conteúdos e sequenciá-los serão as questões particulares de cada realidade, a capa-cidade cognitiva dos alunos e o próprio tratamento didático dado aos conteúdos das diferentes áreas. A transversalidade possibilita ao professor desenvolver o trabalho com uma abordagem mais dinâmica e menos formalista. (PCN, p. 35)

4 Situação Didática é um conjunto de ações e atividades que auxiliam os estudantes no desenvolvimento de competên-cias para lidar com várias situações do cotidiano.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

20

$%

Dicas de livros SM para o Ensino Fundamental I:

• A filha do rei, de Telma Guimarães Castro Andrade. 2005.

Raquel não conhece o pai. Sua mãe diz que ele é um rei maravilhoso, que lhe faz todas as vontades, só que de longe. Se ele é tão bom assim, não poderia ajudar no orçamento apertado da casa? Enquanto não chega à conclusão de que esse rei existe mesmo, a garota faz descobertas e fala da mãe, dos problemas da favela, e de seus sonhos e dificuldades de forma singela e refle-xiva.

• As panquecas de Mama Panya, de Mary e Rich Chamber-lin. 2005.

Moradora de um vilarejo no Quênia, África Oriental, Mama Panya resolve fazer panquecas e vai ao mercado com o filho, Adka, para comprar farinha. Animado, o ga-roto convida para o jantar todos os amigos que encontra pelo caminho. Mama Panya se preocupa, pois tem pou-cas moedas na bolsa, mas o que poderia ser um proble-ma se transforma em forte manifestação de amizade.

• Fábulas de Esopo, de Beverley Naidoo. 2011.

Adaptação de 16 fábulas de Esopo, tomando como ponto de partida a ideia de que o grande fabulista da Antigui-dade grega teria origem africana. Distantes dos finais felizes dos contos de fadas, as fábulas morais de Esopo revelam como a vida pode ser dura, perigosa ou mesmo acabar mal para aqueles que não usam o bom senso ou se deixam cegar por sentimentos como inveja, vaidade, orgulho, vingança, etc.

• Feliz aniversário, Jamela!, de Niki Daly. 2009.

Jamela vai fazer 7 anos. Muito animadas, Mama e Gogo decidem fazer uma festa de aniversário para ela. Antes, vão às compras e, na loja de sapatos, a mãe escolhe um par que também sirva para ir à escola, e não o modelo Princesa de que a menina tanto gostou. Jamela, então, tem uma grande ideia...

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

21

$%

Outras dicas de livros para o Ensino Fundamental I:

• A bicicleta voadora, de Jonas Ribeiro. São Paulo: Elementar.

• A cigarra e a formiga, de Esopo/La Fontaine. Diversas edições.

• A economia de Maria, de Telma Andrade. São Paulo: Ed. do Brasil.

• A galinha dos ovos de ouro, de Esopo/La Fontaine. Diversas edições.

• A menina, o cofrinho e a vovó, de Cora Coralina. São Paulo: Global.

• A troca, de Bia Hetzel. Rio de Janeiro: Manati.

• Almanaque Maluquinho – Pra que dinheiro?, de Ziraldo. São Paulo: Globo.

• Bacana, de novo!, de Telma Guimarães. São Paulo: Formato.

• Belas parábolas sobre dinheiro, de Alexandre Rangel. Belo Horizonte: Leitura.

• Convivendo com o dinheiro, Unicef. São Paulo: Ática.

• Ganhei um dinheirinho, de Cássia D’Aquino. São Paulo: Moderna.

• De grão em grão, de Katie S. Milway. São Paulo: Melhoramentos.

• João Felizardo, dos Irmãos Grimm. São Paulo: Ática.

• O cofre do João, de Vera Lúcia Dias. Brasília: Mais Ativos.

• O homem mais rico da cidade, de Jonas Ribeiro. Brasília: Mais Ativos.

• O menino do dinheiro, de Reinaldo Domingos. São Paulo: DSOP.

• O pé de meia mágico, de Álvaro Modernell. Brasília: Mais Ativos.

• O tesouro do vovô, de Álvaro Modernell. Brasília: Mais Ativos.

• Pai rico pai pobre, de Robert Kiyosaki. São Paulo: Campus.

• Paulina e o Ipê-amarelo, de Álvaro Modernell. Brasília: Mais Ativos.

• Poço dos desejos, de Álvaro Modernell. Brasília: Mais Ativos.

• Quem mexeu no meu queijo?, de Spencer Johnson. Rio de Janeiro: Record.

• Quero ser rico, rico de verdade, de Álvaro Modernell. Brasília: Mais Ativos.

• Sociedade da Fortuna, de Fabio Araujo. Brasília: Mais Ativos.

• Versinhos de prosperidade, de Álvaro Modernell. Brasília: Mais Ativos.

• Zequinha e a porquinha Poupança, de Álvaro Modernell. Brasília: Mais Ativos.

• Três segundos, de Georges Lemoine. 2013.

A cada três segundos voa um pássaro e o arco-íris des-ponta. Em três segundos, milhares de sementes se espa-lham no ar, milhões de palavras são ditas. Mas a cada três segundos também uma terrível injustiça atinge a humani-dade. Não podemos nos conformar com a forme mundial: o direito à vida é fundamental e inviolável.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

22

$%

Dicas de sites:

• www.bankids.com.br

• www.batebolafinanceiro.com.br

• www.canaleducacaofinanceira.com.br

• www.educacaofinanceira.com.br

• www.intusforma.com.br

• www.maisativos.com.br

• www.meubolsoemdia.com.br

• www.themoneycamp.com.br

• www.tveducacaofinanceira.com.br

• www.vidaedinheiro.com.br

• www.aefbrasil.org.br

Dica de programa:

• Educadores em conexão

<http://www.canaleducacaofinanceira.com.br/category/educadores-em-conexao/>

Conduzido por Iris Borges, o programa apresenta atividades, projetos escolares, li-vros, escritores, iniciativas e eventos ligados à Educação Financeira em geral.

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

$ $$$

$$

$ $$

$$

$$$

23

$%

Glossário:

Educação previdenciária: conjunto de atitudes preventivas relacionadas a temas previ-denciários e financeiros, com o objetivo de conhecer melhor as perspectivas, regras e al-ternativas para aposentadoria, da previdência oficial e das previdências complementares, para que possam ser tomadas decisões adequadas em relação ao futuro financeiro.

bottom-up ou out-in: expressões indicadas como referência para projetos cuja ideia, nas-cedouro ou chamamento vem da base, das pessoas que lidam com o assunto no dia a dia ou do mercado. Por conta disso, ao chegar aos níveis decisórios, geralmente têm apoio dos níveis tático e operacional, o que facilita a adoção e implementação.

benchmarking: busca de referências no mercado entre aqueles que possuem as melhores práticas, para tomar como exemplo ou base ao realizar determinada tarefa.

(Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Benchmarking>. Acesso em: 28 abr. 2014.)

Referências:

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresen-tação dos temas transversais, ética. Brasília: MEC/SEF, 1997.

semeando Educação Financeira. Disponível em: <www.vidaedinheiro.gov.br>. Acesso em: 3 maio 2014.