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Didática da matemática
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PARMETROS CURRICULARES NACIONAIS: TENDNCIAS E CONCEPES
NO CURRCULO DA MATEMTICA PARA OS ANOS INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Flvia de Andrade Niemann - UPF
Resumo: O presente trabalho visa explicitar algumas tendncias e concepes imbricadas no processo de
construo do currculo escolar na rea de Matemtica. Apresenta diferentes aspectos relacionados concepo
de currculo, com o objetivo de ampliar o campo de discusso e reflexo para alm da definio de listas de
contedos a serem trabalhados pelo professor. Alm disso, a partir dos avanos na legislao brasileira e da
publicao dos Parmetros Curriculares Nacionais, analisa os principais pressupostos para as mudanas nos
currculos escolares em prol da qualificao dos processos de ensino e aprendizagem da matemtica nos anos
iniciais do ensino fundamental.
Palavras-chave: currculo, parmetros curriculares nacionais, ensino da matemtica.
Introduo
Atualmente, ampliam-se os debates sobre a importncia da educao para o
desenvolvimento do pas. Portanto, a inteno deste artigo o de externar, por meio de anlise
documental e pesquisa bibliogrfica, algumas questes que envolvem a formulao do
currculo e a construo de novas possibilidades para os processos de ensino e aprendizagem
em mbito escolar, tendo-se como enfoque a rea de Matemtica.
Os compromissos assumidos internacionalmente, a partir da dcada de 1990, diante da
melhoria dos processos educacionais, impulsionaram a ampliao das discusses e iniciativas
sobre a necessidade da definio de uma base nacional comum de contedos e de uma
reforma curricular em mbito nacional. Com isso, logo aps a aprovao da Lei de Diretrizes
e Bases da Educao (LDB 9.394/96) foram elaborados e publicados os Parmetros
Curriculares Nacionais, com o objetivo de promover nas escolas a reformulao dos
currculos.
Diante deste contexto, o ensino da matemtica nos anos iniciais do ensino fundamental
deparou-se com uma concepo de ensino e aprendizagem que desafia e instiga uma
organizao do currculo em que o professor e o aluno assumem novos papeis e o tratamento
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dos contedos orienta a prtica que visa a construo do conhecimento, a compreenso e a
apreenso do significado dos conceitos matemticos.
1 Perspectivas e desafios na construo do currculo
As discusses sobre a qualidade dos processos de ensino e aprendizagem
desenvolvidos na escola tambm esto relacionadas ao currculo escolar. Diante disso, cabe
destacar os avanos na legislao e nas polticas educacionais brasileiras que proporcionam
novas perspectivas e desafios diante do aperfeioamento dos currculos.
Na dcada de 1990, considerada a dcada da educao, destacam-se o movimento
Educao para Todos e as conferncias mundiais promovidas por rgos internacionais que
visam elevar o nvel de satisfao das necessidades bsicas de aprendizagem nos pases
subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Em mbito nacional, comeam a fazer parte da
agenda de discusses as reformas educacionais necessrias para atingir as metas propostas no
plano de Educao para Todos.
Com a aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB 9.394/96),
evidencia-se a importncia de uma reforma curricular nacional, em cumprimento do Artigo
210 da Constituio de 1988, que determina como dever do Estado para com a educao fixar
a base comum nacional de contedos para o ensino fundamental e mdio, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e da clientela (BRASIL, 1996).
Dessa forma, com o objetivo de qualificar as atividades escolares de ensino-
aprendizagem e estabelecer meios para atingir os compromissos firmados internacionalmente,
a partir de 1995 foram elaborados e distribudos os Parmetros Curriculares Nacionais para a
Educao Bsica (PCNs), organizados em trs segmentos: Educao Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Mdio. Assim, a questo da organizao curricular foi colocada no
centro do debate como fundamental para a qualificao da educao escolar no pas.
No entanto, pertinente a reflexo sobre a reforma curricular proposta nos PCNs
diante da influncia dos interesses das organizaes internacionais e as tendncias do mercado
econmico mundial em um modelo poltico neoliberal, pois o currculo sempre parte de
uma tradio seletiva, resultado da seleo de algum, da viso de algum grupo acerca do que
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seja conhecimento legtimo. produto das tenses, conflitos e concesses culturais, polticas
e econmicas que organizam e desorganizam um povo (APPLE, 1995, p. 59, grifo do autor).
Arroyo (1999, p. 138) aponta a divergncia de concepes entre aqueles que so
responsveis pela elaborao das polticas educacionais, os pesquisadores e os professores
que esto na escola, como outro ponto de tenso na realizao de mudanas nas propostas
curriculares.
Quando se formulam polticas, sobretudo curriculares e de qualificao de
professores, deveramos ter mais cuidado com suas conseqncias na inovao ou na
manuteno das culturas polticas e pedaggicas. Padecemos de um conteudismo
simplificador das funes sociais, culturais, socializadoras, formadoras enfim da
educao bsica. As polticas que abordam essa tradio, assim como os estudos e as
anlises sobre os contedos escolares, precisariam criticar melhor a tradio
pedaggica e social que reduziu a funo da escola bsica ao aprendizado de saberes
e competncias funcionais. (ARROYO, 1999, p. 140).
Com o intuito de provocar, em mbito nacional, discusses e debates entre os gestores
e professores da Educao Infantil e do Ensino Fundamental, sobre o processo de elaborao
e a concepo de currculo, o Ministrio da Educao (MEC) publica em 2007 o documento
Indagaes sobre o Currculo. Os textos dispostos em cinco cadernos instigam reflexes
diante das Diretrizes Curriculares Nacionais e a construo de projetos curriculares nos
sistemas de ensino e nas escolas.
Segundo Miguel Gonzles Arroyo, autor do texto Educandos e Educadores: seus
Direitos e o Currculo, para repensar o currculo indispensvel superar a viso dos
educandos como mercadoria, como empregveis, ou seja, rever a relao mecnica entre a
escolarizao e o mercado de trabalho. Por isso, torna-se urgente recuperar o conhecimento
como ncleo fundante do currculo e o direito ao conhecimento como ponto de partida para
indagar os currculos (ARROYO, 2007, p. 26).
Neste sentido, ao considerar a necessidade de repensar o currculo mediante a
formao plena do educando Arroyo (2007, p. 44) afirma que
desvendar s crianas e aos adolescentes que as cincias esto prenhes de valores e
de culturas uma funo dos currculos. Aproximando-nos dos contedos das
cincias com essa viso e aproximando os educandos dessas linguagens cientficas e
revelando-lhes que esto carregadas de valores de mundo e de vises de ser humano,
estaremos construindo um currculo a servio do seu direito a uma formao mais
plena.
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Nesta perspectiva, Candau e Moreira (2007, p. 18) concebem o currculo como as
experincias escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a relaes
sociais, e que contribuem para a construo das identidades de nossos/as estudantes. Currculo
associa-se, assim, ao conjunto de esforos pedaggicos desenvolvidos com intenes
educativas. Sacristn (2000, p. 34) amplia a concepo de currculo ao explicit-lo como o
projeto seletivo de cultura, cultural, social, poltica e administrativamente condicionado, que
preenche a atividade escolar e que se torna realidade dentro das condies da escola tal como
se acha configurada.
Haja vista a importncia da concepo de currculo que fundamenta e orienta o
processo de elaborao da organizao curricular, relevante considerar as implicaes do
currculo oculto, existente implicitamente no contexto escolar como o conjunto de atitudes e
valores transmitidos pelas relaes sociais e pelas rotinas cotidianas (CANDAU e
MOREIRA, 2007). Portanto, a reflexo e a anlise das prticas pedaggicas realizadas em
mbito escolar so imprescindveis para a realizao de ajustes na organizao do currculo
planejado formalmente, bem como a avaliao dos impactos do currculo oculto sobre os
processos de ensino-aprendizagem.
Neste contexto, a participao efetiva dos educadores na avaliao sistemtica da
proposta curricular desenvolvida na escola fundamental para a (re) construo de currculos
que potencializem a capacidade de compreenso dos educandos diante do papel que podem
assumir na mudana de seus contextos e da sociedade, possibilitando situaes para que estes
adquiram conhecimentos e habilidades para que isso acontea (CANDAU e MOREIRA,
2007, p. 21).
Assim, a formulao do currculo escolar abarca outras dimenses alm da definio
de temas e contedos de aprendizagem. Um dos desafios na construo do currculo na escola
considerar diferentes aspectos e concepes acerca de como e o que se deveria ou no
ensinar aos alunos. Sobretudo, as concepes dos professores diante das possibilidades de
inovao dos processos educativos e as intenes sobre que estudante deseja-se formar.
Para isso, o professor precisa reconhecer-se como sujeito cultural, de saberes,
experincias, concepes e valores, potencializador de aes e gestos carregados de cultura,
tica e conhecimento (ARROYO, 1999).
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2 A organizao curricular da matemtica escolar nos anos iniciais do ensino
fundamental: tendncias e concepes
A partir dos desafios e perspectivas diante da elaborao de um currculo que promova
a construo de um ambiente escolar propiciador do desenvolvimento da capacidade de
compreenso e crtica, a Matemtica contribui neste processo na medida em que possibilita a
realizao de atividades que abordam uma diversidade de conhecimentos relacionadas a vida
cotidiana e a outras reas do conhecimento.
Com o objetivo de orientar a construo de novos referenciais curriculares, a partir de
uma base nacional comum de contedos, os PCNs de Matemtica dos anos iniciais do ensino
fundamental apresentam novas tendncias e concepes diante do processo de ensino e
aprendizagem.
No documento so propostas novas perspectivas em relao ao papel do aluno e do
professor nas situaes de aprendizagem, assim como o tratamento dos contedos
matemticos.
O papel da Matemtica no ensino fundamental apresentado nos PCNs como
fundamental [...] na formao de capacidades intelectuais, na estruturao do pensamento, na
agilizao do raciocnio dedutivo do aluno, na sua aplicao a problemas, situaes da vida
cotidiana e atividades do mundo do trabalho e no apoio construo de conhecimentos em
outras reas curriculares. (BRASIL, 1997, p. 29).
Alm disso, o documento destaca que o ensino da Matemtica demonstrou grande
ineficcia ao conceber a aprendizagem como a capacidade de reproduzir procedimentos e
acumular informaes. Diante desta constatao, h um redimensionamento do papel do aluno
e do professor no processo de aprendizagem.
O aluno considerado capaz de construir o conhecimento atravs de suas aes,
acionando seus conhecimentos prvios sobre determinado assunto e estabelecendo relaes
entre o j conhecido e o novo (BRASIL, 1997). Nesta concepo, tambm est implcita a
hiptese sobre como o sujeito adquire o conhecimento, incorporada pela Didtica da
Matemtica que diz que
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[...] todo o conhecimento novo construdo apoiando-se sobre os conhecimentos
anteriores que, ao mesmo tempo, so modificados. Na interao desenvolvida por
um aluno em situao de ensino, ele utiliza seus conhecimentos anteriores, submete-
os reviso, modifica-os, rejeita-os ou os completa, redefine-os, descobre novos
contextos de utilizao e dessa maneira, constri novas concepes. (MORENO,
2006, p. 51).
De acordo com Fiorentini (1995), entre as diferentes tendncias em Educao
Matemtica est a construtivista, que concebe o processo de aprendizagem do conhecimento
matemtico por meio da ao interativa/reflexiva do sujeito com o ambiente e com a
atividade. Portanto, [...] essa corrente prioriza mais o processo que o produto do
conhecimento. Ou seja, a Matemtica vista como um constructo que resulta da interao
dinmica do homem com o meio que o circunda (p. 20).
Diante da crtica apresentada nos PCNs em relao tendncia tradicional, em que o
ensino dos contedos matemticos feito atravs da exposio de definies, exemplos e
demonstraes, seguidos de exerccios de aplicao e fixao, proposto um novo papel para
o professor.
Na medida em que o aluno considerado como protagonista da construo de sua
aprendizagem (BRASIL, 1997, p. 40), as atribuies do professor assumem novas dimenses
no processo de ensino e aprendizagem.
O professor, ento, deve assumir diferentes papeis para ensinar Matemtica.
Primeiramente, como organizador planeja e promove as situaes de aprendizagem em sala de
aula. Como consultor, fornece diversos recursos para que os alunos avancem em suas
descobertas. No papel de mediador, suscita debates e estimula a elaborao de snteses. Atua
como controlador na medida em que estabelece as normas para a realizao das tarefas. Por
fim, como incentivador da aprendizagem, estimula a cooperao entre os alunos (BRASIL,
1997, p. 40-41).
Ao caracterizar as interaes entre o professor e os alunos, os PCNs apresentam de
forma contraditria o conceito de contrato didtico. Pois, a atribuio do professor como
controlador diverge da ideia de contrato didtico como o resultado da negociao entre
professor e alunos, que define as regras de funcionamento dentro da situao: distribuio de
responsabilidades, determinao de prazos temporais a diferentes atividades, permisso ou
proibio do uso de determinados recursos de ao (BROUSSEAU apud GLVEZ, 1996,
p.28).
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As prticas pedaggicas tambm so influenciadas pelas concepes dos educadores
referentes ao ensino e aprendizagem, que muitas vezes ainda concebem o professor como
detentor do saber e transmissor do conhecimento e o aluno como receptor e aprendiz dos
conhecimentos ensinados. Por outro lado,
[...] poderamos vislumbrar a possibilidade de uma relao alternativa, pautada pela
simetria. Nela, os conhecimentos que detm professor e alunos seriam apenas
diferentes, residindo nesta diferena a sua especificidade. A aula seria um encontro
entre esses diversos conhecimentos, um espao no qual suas asseres seriam
confrontadas, surgindo da um novo conhecimento, construdo na prpria relao.
Nesse novo contrato, o papel da autoridade seria diferente, ou seja, no haveria lugar para professor e aluno, mas to somente para aprendizes. (SILVA, MOREIRA e GRANDO, 1996, p. 15, grifo do autor).
Outro aspecto que apresenta relevncia, diante da proposta de mudanas na
organizao do currculo da Matemtica, est relacionado s estratgias didticas utilizadas
pelo professor para atingir os objetivos de aprendizagem. Nos PCNs estas estratgias so
chamadas de recursos, usados para conduzir o ensino da Matemtica. Desse modo, a
resoluo de problemas vista como recurso fundamental para desencadear a aprendizagem
de conceitos, ideias e mtodos matemticos.
[...] o problema certamente no um exerccio em que o aluno aplica, de forma
quase mecnica, uma frmula ou um processo operatrio. S h problema se o
aluno for levado a interpretar o enunciado da questo que lhe posta e a
estruturar a situao que lhe apresentada. (BRASIL, 1997, p. 43).
No entanto, segundo Charnay (1996) o termo problema no pode ser definido apenas
como uma situao que proposta ao aluno, mas como uma trade: situao-aluno-meio.
S h problema se o aluno percebe uma dificuldade: uma determinada situao, que
provoca problema para um determinado aluno pode ser resolvida imediatamente por outro (e ento no ser percebida por este ltimo como sendo um problema). H
ento, uma ideia de obstculo a ser superado. Por fim, o meio um elemento do
problema, particularmente as condies didticas da resoluo (organizao da aula,
intercmbios, expectativas explcitas ou implcitas do professor). (CHARNAY,
1996, p. 46).
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A concepo de aprendizagem em matemtica est ligada compreenso, ou seja,
apropriao do significado. Portanto o tratamento dos contedos em compartimentos
estanques e numa rgida sucesso linear deve dar lugar a uma abordagem em que as conexes
sejam favorecidas e destacadas (BRASIL, 1997, p. 19-20).
Os contedos1 definidos nos PCNs de Matemtica para os anos iniciais do ensino
fundamental esto organizados em ciclos. Com a nova configurao do ensino fundamental
(nove anos), o primeiro ciclo equivale ao 1, 2 e 3 ano e o segundo ciclo ao 4 e 5 ano. As
orientaes apresentadas so para que os contedos favoream as crianas o estabelecimento
de relaes atravs da aproximao de alguns conceitos matemticos, procedimentos simples
e o desenvolvimento de atitudes frente Matemtica.
Para a organizao curricular dos trs primeiros anos do ensino fundamental (1, 2 e
3 ano), so propostas atividades que aproximem a criana do significado das operaes
aritmticas (enfoque principal nas operaes de adio e subtrao), da escrita e leitura de
nmeros naturais, das medidas, das formas e espaos e da organizao de informaes (leitura
de informaes em tabelas e grficos). Sobretudo, importante prever no currculo a anlise
das hipteses levantadas pelos alunos e as estratgias pessoais usadas para resolver as
situaes-problema. Contudo, embora o professor tenha os blocos de contedos como
referncia para seu trabalho, ele deve apresent-los aos alunos deste ciclo da forma mais
integrada possvel (BRASIL, 1997, p. 67).
No 4 e 5 ano o currculo deve contemplar a ampliao da construo dos conceitos e
procedimentos matemticos. prevista a continuidade dos estudos com as operaes
aritmticas (com enfoque na multiplicao e diviso), na escrita e leitura de nmeros naturais
e racionais (fraes e decimais), sistemas convencionais de medida, classificaes e
propriedades das figuras bidimensionais e tridimensionais e a organizao de informaes
(coleta de dados e interpretao de grficos e tabelas). Todavia, fundamental que o aluno
reafirme confiana em si prprio diante da resoluo de problemas, valorize suas estratgias
pessoais e tambm aquelas que so frutos da evoluo histrica do conhecimento
matemtico (BRASIL, 1997, p. 85).
Segundo Bittar e Freitas (2005, p. 19-20), o maior desafio do professor do ensino
fundamental est na organizao e no tratamento dos contedos matemticos previstos no
1 Os contedos conceituais, procedimentais e atitudinais so organizados em quatro blocos: nmeros e
operaes, espao e forma, grandezas e medidas e tratamento da informao.
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currculo. Os autores destacam alguns elementos norteadores interligados entre si para a
realizao desta tarefa:
a) problematizao contextualizada: pode ser usada como ponto de partida para o
trabalho com um campo de conceitos articulados entre si para atribuir mais
significado aos conceitos matemticos;
b) conhecimentos prvios: considerar e conhecer o nvel cognitivo dos alunos para
planejar as atividades propostas;
c) trabalho em espiral: retomar frequentemente temas j trabalhados e incorporar
novos elementos para ampliar a aplicao e o significado dos conhecimentos
matemticos;
d) pesquisa e elaborao prpria: promover situaes de pesquisa utilizando recursos
tecnolgicos para organizar e comunicar dados coletados sobre um determinado
tema;
e) avaliao: conceber o processo avaliativo como contnuo e processual, utilizando
diferentes instrumentos para que o aluno progrida na aquisio do conhecimento.
Em suma, diante da diversidade de concepes sobre o processo de ensino e
aprendizagem e das orientaes contidas nos Parmetros Curriculares Nacionais para a
organizao do currculo da Matemtica nos anos iniciais do ensino fundamental, pertinente
considerar o engajamento dos educadores como imprescindvel na construo do currculo de
cada escola.
Para isso, o desejvel seria o professor tomar conhecimento da diversidade de
concepes, paradigmas e/ou ideologias para, ento, criticamente, construir e assumir aquela
perspectiva que melhor atenda s suas expectativas enquanto educador [...] (FIORENTINI,
1995, p. 30).
Algumas consideraes finais
Os pressupostos levantados diante dos desafios e perspectivas na construo do
currculo nos levam a pensar na complexidade dos aspectos polticos, econmicos, sociais e
culturais que envolvem a definio dos temas e contedos a serem priorizados no ensino
escolar do pas.
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Embora, tenhamos alcanado alguns avanos na legislao educacional brasileira e na
ampliao do nmero de crianas e jovens no ensino fundamental, ainda enfrentamos grandes
problemas para inovar as prticas pedaggicas e para garantir o direito de uma educao de
qualidade para todos.
Segundo Arroyo, para inovar precisamos redefinir os critrios de seleo e de
organizao dos saberes escolares, mudar concepes, desenvolver nos professores
conscincia crtica, para que possam questionar o conhecimento tido como oficialmente
vlido e recriar criticamente os contedos que transmitem (1999, p. 143).
Neste sentido, a maior participao e engajamento dos professores da educao bsica
pblica tm papel fundamental para a formulao dos currculos, resignificando de forma
crtica as orientaes institudas em documentos oficiais elaborados pelo Estado.
Dessa forma, aumentam as chances da realizao de prticas pedaggicas que
contemplem o desenvolvimento e a formao plena dos estudantes e considere neste processo
a diversidade presente atualmente nas salas de aula e a pluralidade de contextos sociais
existentes nos sistemas de ensino.
Para a construo de uma prtica pedaggica mais efetiva diante do processo de
aprendizagem matemtica, a organizao curricular e as atribuies dos professores devem
fundamentar as intenes educativas para desencadear, desde os anos iniciais do ensino
fundamental, o processo de desenvolvimento das capacidades de raciocnio lgico e deduo
dos estudantes.
Contudo, um dos grandes desafios dos educadores matemticos considerar e avaliar
sistematicamente na sua prtica que a maneira de ensinar sofre influncia tambm dos
valores e das finalidades que o professor atribui ao ensino da matemtica, da forma como
concebe a relao professor-aluno e, alm disso, da viso que tem de mundo, de sociedade e
de homem (FIORENTINI, 1995, p. 4).
As novas tendncias e concepes sobre os processos de ensino e aprendizagem da
matemtica devem contribuir para as prticas realizadas em sala de aula. Para isso, os
professores devem ter garantidos espao e tempo para estudos sistemticos e reflexes sobre a
prtica luz das teorias. Assim, favorecer o surgimento de novas possibilidades didticas
para significar a atividade matemtica e levar o aluno compreenso dos conceitos
matemticos ensinados na escola.
Enfim, com as vrias contribuies das pesquisas educacionais, os avanos na
legislao brasileira e a ampliao dos debates sobre a importncia do currculo para
qualificar os processos educacionais, surgem novas perspectivas e possibilidades diante da
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formulao e construo das propostas curriculares. Porm, preciso considerar que a
melhoria da qualidade dos processos educacionais desenvolvidos nas escolas pblicas
brasileiras no depende somente do currculo.
Portanto, necessrio uma maior responsabilidade do Estado com o seu dever de
viabilizar maiores investimentos financeiros, implementar polticas salariais mais justas para
os professores, incentivar a formao inicial e continuada dos educadores e avanar na
garantia do direito educao para todos.
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