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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO UNISAL CAMPUS MARIA AUXILIADORA Márcia Cristina Victorio EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO: aspectos relativos à formação técnica na cidade de Americana/SP e sua relação com o mercado de trabalho local. AMERICANA 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

UNISAL – CAMPUS MARIA AUXILIADORA

Márcia Cristina Victorio

EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO: aspectos relativos à formação

técnica na cidade de Americana/SP e sua relação com o mercado de trabalho local.

AMERICANA

2016

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Márcia Cristina Victorio

EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO: aspectos relativos à formação

técnica na cidade de Americana/SP e sua relação com o mercado de trabalho local.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL – como partes dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação da Prof. Dr. Antonio Carlos Miranda.

AMERICANA

2016

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Victorio, Márcia Cristina.

V688e Educação para o trabalho: aspectos relativos à formação técnica na cidade de Americana/SP e sua relação com o mercado de trabalho local./ Márcia Cristina Victorio – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2016.

108 p.

Mestrado em educação - UNISAL – SP. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Miranda. Inclui Bibliografia.

1. Educação Profissional. 2. Ensino Técnico. 3. Trabalho. I. Título. II Autor

CDD 370

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MÁRCIA CRISTINA VICTORIO “EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO: ASPECTOS RELATIVOS À FORMAÇÃO TÉCNICA

NA CIDADE DE AMERICANA/SP, E SUA RELAÇÃO COM O MERCADO DE TRABALHO LOCAL”.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Educação – área de concentração: Educação Sociocumunitária.

Dissertação defendida e aprovada em 13 de dezembro de 2016, pela comissão

julgadora:

Prof. Dr. Antonio Carlos Miranda – Orientador

Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

Profa. Dra. Lívia Morais Garcia de Lima - Membro Interno

Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

Prof. Dr. Álvaro José Pereira Braga - Membro Externo

Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

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Dedico este trabalho aos meus pais, pelo estímulo, apoio e

compreensão, que sempre acreditaram em meu potencial para

que essa jornada fosse cumprida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por essa conquista que é muito importante

para minha vida. Somente Ele sabe o quanto.

Aos meus pais que sempre me incentivaram a estudar e fazer a diferença por

onde eu passasse.

Aos meus amigos que sempre me motivaram com palavras carinhosas e

acolhedoras, em especial, à Daisy Martinelli, que sempre me estimulou a continuar,

mesmo quando eu tinha vontade de desistir.

À Bianca Peres que me mostrou o sabor agradável das palavras.

À amiga Gilssara Bandeira, que sempre muito carinhosa me elevou com

palavras que tocaram o coração.

À querida Vaníria Tozato que acompanhou minha trajetória desde o momento

em que este projeto foi gerado em meu coração, há muitos anos.

Durante o programa de Mestrado me aproximei de pessoas maravilhosas as

quais considero importantes e as levarei para sempre em minha vida, em especial

minha amada e eterna mestre Prof.ª Drª. Maria Luisa Bissoto pelos

aconselhamentos, pelo colo carinhoso, pelo cuidado com o ensinar além das salas

acadêmicas, pelos ensinamentos de vida.

Não poderia deixar de agradecer também ao Prof. Dr. Renato Sofnner que me

incentivou e me apoiou num momento crucial da vida, e me fez perceber que a vida

é um grande aprendizado.

Ao meu querido orientador Prof. Dr. Antonio Carlos Miranda que me acolheu,

respeitou e compreendeu minhas dificuldades, que me orientou sabiamente e me

ajudou a desenvolver desde o início esse tema, e que me ensinou que jamais

devemos desistir daquilo que nos inquieta.

A todos demais mestres do PPGE – UNISAL com quem pude, de uma

maneira ou de outra, compartilhar seus conhecimentos, suas vidas e seus caminhos,

e que tanto contribuíram para o desenvolvimento da minha pesquisa.

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Não há transição que não implique um ponto de partida, um

processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria num

ontem através de um hoje. De modo que nosso futuro baseia-

se no passado e se corporifica no presente. Temos que saber o

que fomos e o que somos, para saber o que seremos. (Paulo

Freire, 1979)

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RESUMO

A educação para o trabalho, na juventude, é um tema de relevância na

contemporaneidade, pois tem se reduzido à formação técnica apesar do discurso

contrário. Vivemos tempos de grandes mudanças sociais e profundas mudanças no

mercado de trabalho, que exigem, para a inclusão do jovem nesse mercado,

habilidades diferenciadas. Para se pensar uma nova proposta, torna-se necessário

compreender esta nova realidade, mas não com ênfase na instrução para o trabalho

e sim numa proposta de integração, entendendo esse como mais que sobrevivência,

mas atividade humana de modificar as condições de existência, sua e de sua

comunidade. Este trabalho buscou analisar as relações possíveis existentes entre a

formação técnica na cidade de Americana/SP e sua relação com o mercado de

trabalho local. Uma das preocupações foi refletir e investigar de que forma o curso

técnico tem contribuído para a construção do novo perfil profissional do jovem e

como o mercado de trabalho local percebe e absorve tal formação. A metodologia

empregada para comparar teoria e a prática se deu pela abordagem qualitativa,

através de entrevistas realizadas com empresas do setor industrial e de serviços

contratantes de profissionais formados pela instituição, com ênfase na técnica de

entrevista semiestruturada, composta por um roteiro de perguntas abertas, tendo o

informante a possibilidade de discorrer livremente sobre o tema proposto. O registro

das respostas foi realizado através de gravações em áudio e transcrito, buscando

manter maior fidelidade e veracidade das informações. Foram analisados também

materiais e documentos públicos, disponíveis para consulta nos acervos físicos e

eletrônicos, da instituição SENAC São Paulo, a qual pertence a Unidade Americana,

que discorreu sobre sua constituição e os acontecimentos que mais se relacionam

com a proposta deste estudo. Explanou-se também, o processo educativo,

princípios, diretrizes e as políticas vigentes na educação profissional técnica desta

instituição. Concluímos que embora a perspectiva da educação profissional como

ferramenta educacional ajuda a evidenciar a formação técnica como instrumento de

transformação para a formação do cidadão pleno, isso ainda não é condição

suficiente para que os envolvidos exerçam a cidadania de forma atuante.

Palavras-chave: Ensino técnico. Trabalho. Educação Profissional.

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ABSTRACT

Education for work, in youth, is a subject of relevance in the

contemporaneity, since it has been reduced to the technical formation despite the

opposite discourse. We live in times of great social changes and profound changes in

the labor market, which require, for the inclusion of young people in this market,

different skills. In order to think about a new proposal, it is necessary to understand

this new reality, but not with emphasis on instruction for work, but rather on a

proposal of integration, understood as more than survival, but human activity to

modify the conditions of existence, its And your community. This work sought to

analyze the possible relationships between technical training in the city of Americana

/ SP and its relation with the local labor market. One of the concerns was to reflect

and investigate how the technical course has contributed to the construction of the

young professional profile and how the local labor market perceives and absorbs

such training. The methodology used to compare theory and practice was based on

the qualitative approach, through interviews with companies in the industrial sector

and contracting services of professionals trained by the institution, with emphasis on

semi-structured interview technique, composed of a script of open questions, With

the informant being able to speak freely about the proposed topic. The recording of

responses was performed through audio and transcribed recordings, seeking to

maintain greater fidelity and veracity of the information. Public materials and

documents were also analyzed, available for consultation in the physical and

electronic collections, of the institution SENAC São Paulo, which belongs to the

American Unit, which discussed its constitution and the events that most relate to the

proposal of this study. The educational process, principles, guidelines and policies in

the professional technical education of this institution were also explained. We

conclude that although the perspective of professional education as an educational

tool helps to highlight technical training as a transformation tool for the formation of

the full citizen, this is still not a sufficient condition for those involved to exercise

citizenship in an active way.

Keywords: Technical education. Job. Professional education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Escola Senac "Brasílio Machado Neto" .............................................. 46

Figura 2 Curso de Balconista ........................................................................... 47

Figura 3 Alunas na sala de aula do curso Técnico de Secretariado ................. 48

Figura 4 Fachada do Senac Multi-emprego ..................................................... 49

Figura 5 Inauguração da sala ambiente do Senac Escritório ........................... 49

Figura 6 Lançamento do Programa de Educação para o Trabalho .................. 50

Figura 7 Senac Americana ............................................................................... 52

Figura 8 Inauguração do Senac Americana ..................................................... 53

Figura 9 Visita Técnica ..................................................................................... 63

Figura 10 Dinâmica de Grupo .......................................................................... 63

Figura 11 Dramatização - Projeto ..................................................................... 64

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Competência e Elemento de Competência – Senac ........................ 66

Quadro 2 Marcas Formativas do Senac ........................................................... 67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEB – Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação

CNC - Confederação Nacional do Comércio

CNE - Conselho Nacional de Educação

CNI – Confederação Nacional da Indústria

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

IBPT - Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC - Ministério da Educação

MPN- Modelo Pedagógico Nacional

OMS - Organização Mundial da Saúde

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua

PNE - Plano Nacional de Educação

RDJ - Relatório de Desenvolvimento Juvenil de 2007

SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SETEC - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

SINCOVAM - Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Americana e Região

SINDITEC - Sindicato das Indústrias de Tecelagem de Americana

SISTEC - Sistema Nacional de Educação Tecnológica

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2 TRABALHO E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ..................................................... 17

2.1 ALGUMAS CONCEPÇÕES DE TRABALHO AO LONGO DA HISTÓRIA......... 17

2.2 TAYLORISMO, FORDISMO, TOYOTISMO: MODELOS PRODUTIVOS ............. 19

2.3 PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL À LUZ DAS LEIS E DECRETOS OFICIAIS A PARTIR DA DÉCADA DE 1940 ......................................................................................................................................... 25

2.4 JOVENS, FORMAÇÃO TÉCNICA E A INTEGRAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO ............................................................................................................................ 39

3 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA – A INSTITUIÇÃO SENAC .................. 45

3.1 SENAC AO LONGO DA HISTÓRIA ............................................................................ 45

3.2 SENAC - A UNIDADE AMERICANA .......................................................................... 52

3.3 O CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO ........................................................... 54

3.4 DIRETRIZES EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICAS ................................................. 57

3.4.1 Proposta Pedagógica ....................................................................................... 58

3.4.2 Organização curricular ..................................................................................... 60

3.4.3 Novo Modelo Nacional ..................................................................................... 64

3.5 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL? ........................................................................................................ 68

4 METODOLOGIA ................................................................................................... 73

4.2 INSTRUMENTOS DA PESQUISA........................................................................... 73

4.3 ABORDAGEM DA PESQUISA ................................................................................ 75

4.4 CRITÉRIOS DE ESCOLHA ...................................................................................... 76

4.5 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES ...................................................... 76

4.5.1 Empresa 1: Indústria ................................................................................... 76

4.5.2 Empresa 2: Prestadora de Serviços. ....................................................... 77

4.5.3 Empresa 3: Comércio ................................................................................... 77

4.6 CLASSIFICAÇÃO DAS PERGUNTAS................................................................... 78

4.7 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .................................. 78

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 89

6 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 91

ANEXOS ................................................................................................................. 100

MEMORIAL ............................................................................................................. 103

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1 INTRODUÇÃO

Em verdade, dá certo gosto deitar ao papel coisas que querem sair da cabeça, por via da memória ou da reflexão.

Machado de Assis

Lentamente as memórias chegam. Torná-las imortais através da narrativa

parece atividade quase impossível, pois o passado que retorna se traduz no

presente pelas imagens, lembranças ativadas. Remexer o baú das memórias,

regatar histórias, dar-lhes vida faz-se um exercício prazeroso e doído ao mesmo

tempo...

Cores, cheiros, sabores.

Vozes, sons, atores.

Lembro-me claramente do meu avô e de suas tradições que se perderam com

sua partida.

Não só o fato ou o objeto, mas o significado.

Valores perpetuados na vida, na alma... valores ensinados, aprendidos.

O que aprender com a colheita do abacate? Árvore frondosa, imponente, farta

e generosa.

Lição que a vida ensina através de um lenhador, homem simples, marido, pai,

amigo, avô.

Lição aprendida que permeia a vida da neta: união, generosidade, paciência,

maestria.

A colheita do abacate, de um único abacateiro, O Abacateiro! Traz

lembranças de um passado feliz, onde a família se reunia, preparava-se, brincava,

aprendia e ensinava aos pequenos a serem generosos na divisão dos abacates, a

serem pacientes na espera pelo amadurecimento da fruta.

Aprendia-se a voltar e reunir-se para saborear a fruta madura, o doce da

colheita. A festa da divisão.

O som do sorriso, a alegria vibrante, a correria dos netos...

Passado que não volta, mas que se faz presente por toda a vida na presença

permanente da figura de um homem modelo que ensinou a ser gente.

Regressar às origens me faz pensar em como fui atriz e autora na produção

da minha vida. Mas quais seriam os capítulos históricos dessa autobiografia?

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Afinal de contas como vim parar aqui? Como assumi o papel de educadora?

Desde muito pequena os livros me despertaram a atenção. Fui professora dos

bonecos, dos animais, dos amiguinhos. Nascia aí a paixão pela Educação.

A relação com o mundo do trabalho iniciou-se aos 16 anos através do curso

Técnico em Administração.

Todo o caminho parecia muito natural e trilhei sempre com muita dedicação e

curiosidade. Foi um tempo de muito aprendizado que me conduziu sempre para o

trabalho em grandes empresas.

Após alguns anos no mundo corporativo, ser monitora de educação foi um

convite que me surpreendeu, pois o potencial para a docência que estava latente e

aparecia de tempos em tempos através da ministração de palestras, ressurgiu.

O tema que escolho como foco do meu trabalho está presente há muitos anos

na minha caminhada como profissional e como professora de cursos técnicos,

principalmente para o público jovem. Ele foi se construindo, aos poucos, na medida

em que a minha prática diária foi me transformando me aproximando de algumas

reflexões acerca da Educação Profissional.

Diante deste cenário, entende-se que a educação para o trabalho, na

juventude, que é considerada por Groppo (2000) como categoria social, é um tema

de relevância, pois tem se reduzido à formação técnica apesar do discurso contrário.

Há que se considerar não somente as concepções de educação, mas aquelas de

trabalho. O que me leva a indagar: quais as razões para escolher tal

tema? De onde surge o despertar para esta pesquisa?

Cerca de cinco anos atuando, como monitora de educação cursos técnicos e

programas de profissionalização no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC), acompanhei, de forma empírica, porém com muita consistência, relatos

dos alunos sobre as mudanças ocorridas em suas vidas após a realização do curso,

seus anseios sobre o mundo do trabalho e suas expectativas sobre a construção de

seu futuro profissional e ingresso no mercado de trabalho, bem como devolutivas

informais de empresas parceiras sobre a importância da formação técnica para o

ingresso dos alunos no mundo do trabalho. Tais relatos, em minha concepção,

poderiam representar indícios de que ocorrem, sim, influências na relação cursos

técnicos e mercado de trabalho, influências essas que a pesquisa pretende

identificar e compreender.

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Nesse sentido, esta dissertação pretende traçar um percurso histórico

possibilitando algumas respostas a questões importantes na Educação Profissional.

A presente pesquisa parte da análise de documentos públicos oficiais da

instituição SENAC de Americana, e tem como objetivo geral verificar aspectos

relativos à formação técnica e sua relação com o mercado de trabalho em empresas

do comércio, indústria e prestadoras de serviços da cidade de Americana, que está

atrelada à proposta pedagógica da instituição.

Interessa, nesse estudo, possibilitar algumas indagações a questões

importantes e específicas tais como: tem o mercado de trabalho absorvido os jovens

que concluem curso técnico? A “marca formativa” proposta pela instituição é

considerada para a contratação?

O presente estudo compõe-se de cinco capítulos, iniciando com a presente

introdução e desenvolvidos da seguinte maneira: o segundo capítulo com o título

Trabalho e Educação Profissional, aborda indagações sobre o trabalho e a

educação profissional, um debate dinâmico envolvendo, dada à força do modo de

produção capitalista, questões referentes ao discurso de inclusão dos jovens no

mundo do trabalho através da qualificação e requalificação profissional.

No terceiro capítulo preocupou-se em abordar a instituição SENAC Americana

e a análise documental realizada através dos documentos oficiais da instituição, com

objetivo específico de apresentar a Proposta Pedagógica, Perfil Profissional, Novo

Documento Nacional e as “marcas formativas” valorizadas pela instituição.

O quarto capítulo preocupa-se em discorrer sobre a trajetória da pesquisa,

seu contexto, modalidade da pesquisa, os critérios de seleção dos sujeitos e coleta

de dados.

E por fim, o quinto capítulo apresenta a análise, que tratará da discussão dos

dados à luz do referencial teórico, fazendo uma articulação com os objetivos

propostos para o presente estudo.

Muito ainda haverá que se pesquisar sobre esse tema, no entanto, o estudo

buscará contribuir para a reflexão acerca da educação profissional e a integração de

jovens no mercado de trabalho, permitindo que se explore num próximo estudo a

visão dos jovens em questão sobre sua participação no mundo do trabalho, visão

esta que não foi contemplada nesta pesquisa.

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2 TRABALHO E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Indagações sobre o trabalho e a educação profissional é um debate dinâmico

que envolve, dada à força do modo de produção capitalista, questões referentes ao

discurso de integração dos jovens no mundo do trabalho através da qualificação e

requalificação profissional.

Assim, neste capítulo abordarei algumas concepções de trabalho ao longo da

história; alguns dos principais acontecimentos sobre a Educação Profissional no

Brasil e políticas públicas que a direcionam.

2.1 ALGUMAS CONCEPÇÕES DE TRABALHO AO LONGO DA HISTÓRIA

O trabalho é considerado um dos grandes temas do mundo contemporâneo.

A ampliação da concepção de trabalho “nos possibilita entender o papel que

ele exerce na sociabilidade contemporânea” (ANTUNES, 2003, p.14).

Toda sociedade vive porque consome; e para consumir depende da produção. Isto é, do trabalho. Toda a sociedade vive porque cada geração nela cuida da formação da geração seguinte e lhe transmite algo da sua experiência, educa-a. Não há sociedade sem trabalho e sem educação (KONDER, 2000, p. 112).

O homem, conscientemente, modifica, cria e recria sua existência, e o faz

através do trabalho.

Hirata e Segnini (2007) destacam que nos últimos anos, muitas mudanças

ocorreram propiciadas pelos avanços tecnológicos onde o trabalho foi diretamente

impactado tendo efeitos que ainda são imprevisíveis.

Tal posicionamento se mostra presente na observação de um mercado de

trabalho que busca profissionais bem formados, proativos, flexíveis, motivados,

capazes de enfrentar e solucionar os problemas do cotidiano.

Ferreira (2010) define a palavra trabalho como “aplicação das forças e

faculdades humanas para alcançar um determinado fim. Atividade coordenada de

caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou

empreendimento”.

Nesse sentido, o trabalho possibilita ao homem, através das suas “forças e

faculdades humanas”, concretizar seus sonhos, atingir suas metas e objetivos de

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vida, além de ser uma forma de expressão. O trabalho possibilita ao homem

conviver com outras pessoas, com as diferenças.

Nesse processo de decisão, jovens [...] articulam, visando o futuro, sua história pessoal e sua inserção familiar, educacional, cultural e social com as percepções que têm das expectativas familiares, das profissões, do sistema escolar e de suas oportunidades, bem como as do mercado de trabalho (KOBER, 2008, p. 4).

De fato, o trabalho se constitui como um dos temas de grande interesse nos

estudos sobre as relações entre gerações, suas atitudes frente ao trabalho e suas

diferenças de compreensão sobre o sentido que este tem para cada uma dessas

gerações; permite refletir sobre os mecanismos de socialização e papéis do jovem

diante da vida adulta, buscando sua própria construção de homem.

Para que isso não se perca, para que a humanidade não tenha que reinventar tudo a cada nova geração, fato que a condenaria a permanecer na mais primitiva situação, é preciso que o saber esteja permanentemente sendo passado para as gerações subsequentes (PARO, 1997b, p. 108 apud PARO, 1998, p.8).

Promove-se então a formação para a vida, em toda sociedade ao longo da

história, proporcionada pelas práticas sociais por meio dos processos educativos.

Manacorda (2007, p.22) afirma que “o homem não nasce homem [...] grande

parte do que transforma o homem em homem forma-se durante a sua vida, ou

melhor, durante o seu longo treinamento por tornar-se ele mesmo”.

Entendendo trabalho enquanto um princípio educativo, Marx (1988, p. 142)

aborda o processo de trabalho independentemente de qualquer forma social

determinada:

Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento sobre a natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio (MARX,1988, p. 142).

Que o trabalho é a atividade essencial, fundante, na produção humana está

clarificado aqui.

Por sua vez, para atingir seus objetivos, no que se pode chamar de trabalho

como elemento estruturante das condições de existência, o homem empenha e

mobiliza seus esforços físicos e mentais, dentro de seus princípios éticos; objetivos

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esses que podem ter reflexos na vida pessoal, social e profissional da maioria das

pessoas da sociedade moderna. Pelo trabalho, o homem constrói um novo mundo

ao seu redor.

Para Lukács (1978) conforme citado por Antunes (2003, p.125), vemos que o

trabalho “mostra-se como momento fundante de realização do ser social, condição

para sua existência; é o ponto de partida para a humanização do ser social” e o

“motor decisivo do processo de humanização do homem”.

Manacorda (2007) destaca em sua abordagem, o lugar central que o trabalho,

na visão de Marx, ocupa. Destaca, entretanto, a dificuldade de se ter uma ideia

precisa sobre o conceito de trabalho.

Talvez haja a necessidade de entender o trabalho não só como uma forma

concreta e efetiva de produção bens materiais.

Há que se considerar que existem variáveis pessoais e sociais e motivações

diferentes no trabalho. O sentido do trabalho influencia as formas de atividade e as

condições produtivas num dado momento histórico.

Nesse cenário, as mudanças no mundo do trabalho como parte do processo

de reestruturação produtiva do capital, impulsionam a difusão de novos modelos

produtivos e uma nova configuração de homem.

2.2 TAYLORISMO, FORDISMO, TOYOTISMO: MODELOS PRODUTIVOS.

Na concepção histórica do trabalho produtivo, observam-se diferenciados

elementos envolvidos, determinando as relações sociais e trabalhistas,

representadas por modelo de gestão de produção como o taylorismo, fordismo,

toyotismo, permeando competências puramente técnicas, mas também a

necessidade de valorização de características humanas.

Pela lógica capitalista, o melhor modo de se produzir algo acontece quando

se permite dividir a tarefa em etapas, resultando na especialização. A divisão do

trabalho vem sendo utilizada pelos modelos de gestão de produção desde o século

XVIII, a partir de observações do filósofo escocês Adam Smith (1723-1790) e

reforçada pela aplicação efetiva na administração científica do trabalho nos modelos

taylorista/fordista, como forma de organização da produção industrial que

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revolucionou o trabalho fabril no início do século XX, sendo utilizada também no

toyotismo, na década de setenta.

Grandes transformações nos processos de trabalho, no modo de vida, nos

costumes de consumo puderam ser notadas no século XX.

A década de 1980 presenciou, nos países de capitalismo avançado, profundas transformações no mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura produtiva, nas formas de representação sindical e politica. Foram tão intensas as modificações, que se pode mesmo afirmar que a classe-que-vive-do-trabalho sofreu mais aguda crise deste século, que atingiu não só a sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua subjetividade e, no mínimo inter-relacionamento destes níveis, afetou a sua forma de ser (ANTUNES, 2003, p. 23).

Harvey (2008, p.117) sinaliza que “no Ocidente, ainda vivemos uma

sociedade em que a produção em função de lucros permanece como o princípio

organizador básico da vida econômica”.

Tal afirmação reforça a ideia de que alguns modelos de gestão objetivavam a

ampliação da produção em um menor espaço de tempo e os lucros dos detentores

dos meios de produção através da exploração da força de trabalho dos operários,

tendo a qualificação humana como instrumento de subordinação, adaptação e

domesticação às demanda do mercado.

Partindo do desenvolvimento da teoria da administração científica, no final do

século XIX, passando pelas teorias clássicas da administração, pelas teorias

neoclássicas até chegar às teorias mais atuais, destaca-se a importante influência

dessas principais abordagens teóricas da administração no mundo do trabalho, na

sociedade e na forma de aprendizagem.

A revolução industrial introduz um novo modo de produzir e passa a ter como

objetivo a racionalização do trabalho.

O taylorismo, uma das formas de organização da produção industrial,

desenvolvido no final do século XIX, pelo engenheiro mecânico Frederick Winslow

Taylor, provocou mudanças nas fábricas e na sociedade. Sua principal característica

era a padronização e especialização das atividades simples, que eram realizadas de

forma repetitiva, e os trabalhadores eram organizados de forma hierarquizada e

sistematizada. A totalidade do processo produtivo era conhecida unicamente pelo

gerente responsável por ele, assim como o aperfeiçoamento do processo de divisão

técnica do trabalho e o tempo destinado a cada etapa da produção, objetivando tirar

do operário o conhecimento sobre o processo produtivo.

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No taylorismo, o trabalhador é monitorado segundo o tempo de produção. Cada indivíduo deve cumprir sua tarefa no menor tempo possível, sendo premiados aqueles que se sobressaem. Isso provoca a exploração do proletário que tem que se “desdobrar” para cumprir o tempo cronometrado (FREITAS, 2015).

Houve resistência em aceitar as orientações de monitoramento e exploração,

e para minimizar os impactos da resistência, Taylor “pressupondo que as pessoas

são motivadas exclusivamente por interesses salariais e materiais” (MATOS; PIRES,

2006, p.509) estabeleceu estímulos através do pagamento de salários de acordo

com a produção de peças dos trabalhadores, que resultou em aumento

surpreendente na produtividade, intensificação da divisão do trabalho e redução do

poder dos trabalhadores no interior das fábricas.

Outro sistema de gestão de produção, dando prosseguimento à teoria de

Taylor, que se destacou na história e ainda é utilizado em alguns setores da

economia, foi o sistema norte-americano denominado fordismo, termo criado em

1914 pelo fundador da indústria automobilística Ford Motor Company, Henry Ford.

Tal sistema refere-se à produção em massa, à linha de produção, na qual o operário

realizava apenas movimentos úteis para a produção e tinham atividades específicas

para uma etapa da produção, a máquina ditava o ritmo da produção e do trabalho,

dispensando, portanto, mão de obra qualificada ou qualificações profissionais. Os

investimentos eram destinados à aquisição de máquinas e instalações modernas.

Ford também fez pouco mais do que racionalizar velhas tecnologias e uma detalhada divisão do trabalho preexistente, embora, ao fazer o trabalho chegar ao trabalhador numa posição fixa, ele tenha conseguido dramáticos ganhos de produtividade [...] O que havia de especial em Ford (e que, em última análise, distingue o fordismo do taylorismo) era a sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. (HARVEY, 2008, p.121).

Para Gramsci (apud Harvey, 2008, p 121), o fordismo equivalia ao “maior

esforço coletivo até para criar, com velocidade sem precedentes, e com uma

consciência de propósito sem igual na história, um novo tipo de trabalhador e um

novo tipo de homem".

Houve, ao que parece [...] impedimentos à disseminação do fordismo nos anos entre-guerras. Para começar, o estado das relações de classe no mundo capitalista dificilmente era propício à fácil aceitação de um sistema de produção que se apoiava tanto na familiarização do trabalhador com longas horas de trabalho puramente rotinizado, exigindo pouco das habilidades manuais tradicionais e concedendo um controle quase inexistente ao trabalhador sobre o projeto, o ritmo e a organização do

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processo produtivo. Ford usara quase exclusivamente a mão-de-obra imigrante no seu sistema de produção, mas os imigrantes aprenderam e os trabalhadores americanos eram hostis. A rotatividade da força de trabalho de Ford mostrou-se impressionantemente alta (ibidem, p 123).

Os efeitos da aplicação desses sistemas de gestão sobre os trabalhadores

têm sido debatidos ao longo das décadas

...vem-se debatendo os efeitos negativos da organização do trabalho taylorista/fordista sobre os trabalhadores destacando-se: a fragmentação do trabalho com separação entre concepção e execução, que associada ao controle gerencial do processo e à hierarquia rígida tem levando a desmotivação e alienação de trabalhadores, bem como a desequilíbrios nas cargas de trabalho (MATOS; PIRES, 2006 p. 509).

Como apresenta Oliveira “o fordismo/taylorismo teve seu desenvolvimento

associado à expansão capitalista mundial, com grande ascensão durante o Estado

do Bem Estar Social”. No entanto, com as crises de 1960 e 1970, o Capitalismo

enfrenta mudanças reducionistas do estado e da atividade produtiva.

Transfere o seu eixo da produção industrial para o segmento de serviços, como também prefere obter lucros na especulação financeira, principalmente nos serviços das dívidas de países. Neste contexto de reorganização do Capitalismo, o mundo do trabalho também foi significativamente transformado. A década de oitenta/noventa do século passado representou a ruptura com o fordismo/taylorismo. A automação, robótica e microeletrônica inseriram-se profundamente no meio produtivo, acarretando grandes mudanças nas relações de trabalho e no próprio sistema produtivo, inclusive considerando-se como a Terceira Revolução Industrial. Novos processos de trabalho emergem, situados em um novo paradigma. O padrão generalizante de produção, que caracterizou o fordismo, vem sendo substituído por formas produtivas mais flexíveis, individualizadas e desregulamentadas (OLIVEIRA, 2007, p. 5).

Entretanto é importante salientar que, grande parte das mudanças percebidas

e enfrentadas no cenário mundial no final do século XX, deveu-se também ao que

chamamos de Globalização, processo que ocasionou impactos significativos em

diversos setores da sociedade: economia, política, cultura, sendo compreendida

como a fase de expansão atingida pelo capitalismo com a abertura dos mercados

para o mundo, rompendo barreiras geográficas e interconectando as atividades

produtivas.

Considerando a globalização econômica, podem-se destacar as mudanças no

processo de produção de riquezas e nas relações de trabalho.

Paralelamente aos modelos de produção adotados por americanos e

europeus, fordismo e taylorismo, o Japão, por ter um mercado menor, nas fabricas

da Toyota aplicava o modelo denominado toyotismo, que se espalhou pelo mundo

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na década de 1970, e como preconiza Ricardo Antunes (2000, p. 181), “pode ser

entendido como uma forma de organização do trabalho [...] que vem se expandindo

pelo Ocidente capitalista, tanto nos países avançados quanto naqueles que se

encontram subordinados”.

Há então, um novo perfil de trabalhador, substituindo trabalhadores sem

conhecimento ou especialização que realizavam as tarefas simples e repetitivas por

trabalhadores polivalentes, com capacidade técnica de realizar diferenciadas

atividades e operar máquinas variadas.

O toyotismo tem como característica principal, a produção associada à

demanda e às necessidades do cliente através da criação de produtos diferenciados

“resultado de ação em equipe de técnicos com multifunções e especialidades” como

sugere Oliveira (2007, p.6).

Ricardo Antunes acrescenta:

Tendo como princípio o just in time, o melhor aproveitamento possível do tempo de produção e funciona segundo o sistema kanban, placas ou senhas de comando para reposição de peças e de estoque que, no toyotismo, devem ser mínimos. Enquanto na fábrica fordista cerca de 75% era produzido no seu interior, na fábrica toyotista somente cerca de 25% é produzido no seu interior. Ela horizontaliza o processo produtivo e transfere a terceiros grande parte do que anteriormente era produzido dentro dela (ANTUNES, 2000, p. 181/182).

A linha de montagem fordista onde o trabalho era parcelado deixa de existir

no toyotismo, passando a ser desenvolvido por equipe “apta, com flexibilidade na

organização do trabalho e maquinário multifuncional, para produzir produtos

diferenciados e individualizados” (OLIVEIRA, 2007, p.6).

Entretanto, há um impacto negativo como nos apresenta De Masi:

Quando um operário se dedica contínua e unicamente à fabricação de um só objeto, acaba por executar esse trabalho com destreza singular, mas perde ao mesmo tempo a faculdade geral de aplicar o espírito no trabalho. Fica a cada dia mais hábil e menos laborioso; pode se dizer que, nele, o homem se degrada à medida que o operário se aperfeiçoa [...] ele não pertence mais a si mesmo, mas à profissão que escolheu (DE MASI, 2000, p. 138).

“Desejamos que o trabalho seja estimulador da crítica e que se realize de

acordo com a ética; muitas vezes, porém, observa-se uma realidade contrária, que

se pode transformar em uma forma de alienação” (SANTOS, 2010, p.34).

Ao longo da história, em escala global, com maior ou menor repercussão,

observam-se no universo do trabalho, nos países capitalistas, múltiplas influências e

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consequências dos variados modelos de produção. Verificou-se heterogeinização do

trabalho, aumento do trabalho feminino, expansão do trabalho assalariado, parcial,

temporário, informal, desespecialização de um setor e intelectualização de outro.

Particularmente, o toyotismo representa o sistema organizativo mais produtivo já visto, isto segundo os detentores dos meios de produção. Infelizmente, toda a melhoria nesses processos, especialmente o aumento de produtividade e riqueza, não tem, em contrapartida, assegurando aos trabalhadores melhores condições de trabalho ou mesmo salariais. Aliás, toda evolução da organização da produção que tem obtido aumento de produtividade não tem traduzido para o trabalhador sua contrapartida, isto é, melhoria nas condições de trabalho e vida. (OLIVEIRA, 2007, p. 7).

A realidade brasileira, como a mundial, neste contexto, também foi cenário de

mudanças históricas que influenciaram a dinâmica social. Para Frigotto e Ciavatta:

“há na sociedade brasileira um tecido estrutural profundamente opaco nas relações de poder e de propriedade que se move em conjunturas muito específicas, mas que, em seu núcleo duro, de marca excludente, de subalternidade e de violência, se mantém recalcitrante [...] trata-se de mudanças (rearranjo das frações e dos interesses da classe dominante) nos âmbitos político, econômico, social, cultural e educacional cujo resultado é a manutenção das estruturas de poder e do privilégio” (CIAVATTA, 2003, p. 27 in FRIGOTTO;CIAVATTA, 2006, P. 117).

No aspecto citado acima, Antunes apontando a tendência da visão marxista,

aborda a relação existente entre a manutenção do modo de produção capitalista e a

eliminação do trabalho como fonte de valor:

...enquanto perdurar o modo de produção capitalista, não pode se concretizar a eliminação do trabalho como fonte criadora de valor, mas, isto sim, uma mudança no interior do processo de trabalho, que decorre do avanço científico e tecnológico e que se configura pelo peso crescente da dimensão mais qualificada do trabalho, pela intelectualização do trabalho social (ANTUNES, 2003, p.58).

Considerando, no seu sentido ontológico, o trabalho é fonte de criação e

recriação da natureza para a existência humana, mas não somente, também, da

forma social e cultural de existir.

Observando o contexto da evolução dos sistemas de produção percebe-se

que na atualidade, foi o toyotismo que mais teve influência, no contexto das novas

formas de organização e gestão do trabalho através do crescimento da produção

flexível, incentivando o trabalhador a ser multifuncional, motivando-o a desenvolver e

a utilizar características como visão compartilhada, trabalho em grupos, criatividade,

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empreendedorismo, criticidade, comprometimento. Características essas

identificadas numa das principais técnicas utilizadas no toyotismo, o Kaizen1.

O novo cenário indica um mercado de trabalho ávido por profissionais

proativos, flexíveis, motivados, comprometidos com valores e ações relacionados

com a qualidade, a capacidade de empreender, cidadania e responsabilidade social,

que, provavelmente, espera que o sistema educacional do país responda às

necessidades do mundo de trabalho.

Tais mudanças nos levam a refletir sobre a necessidade de maior

especialização para as vagas de emprego e de que forma tal necessidade tem sido

atendida e desenvolvida pela Educação.

Como foi visto, são inúmeras as interpretações sobre a relação educação e

trabalho que vêm sendo construídas ao longo da história. Para Saviani,

Postula-se, assim, uma estreita ligação entre educação (escola) e trabalho; isto é, considera-se que a educação potencializa trabalho. Essa perspectiva está presente também nos críticos da "teoria do capital humano", uma vez que consideram que a educação é funcional ao sistema capitalista, não apenas ideologicamente, mas também economicamente, enquanto qualificadora da mão-de-obra (força de trabalho) (SAVIAVI, 1994, p 147).

No decorrer do capítulo abordaremos que muitos autores, ao discutirem a

relação entre educação e trabalho, têm tido como apoio e referência o pensamento

de Antonio Gramsci e sua proposta de integrar educação, trabalho e cultura, através

da organização de uma escola unitária.

Diante do exposto até então, lança-se o desafio de compreender e identificar,

através da história brasileira, qual o papel da educação e ainda mais, da Educação

Profissional na configuração da atual classe trabalhadora e de compreender qual

sua interferência na formação do atual perfil profissional.

2.3 PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO

BRASIL À LUZ DAS LEIS E DECRETOS OFICIAIS A PARTIR DA DÉCADA DE 1940

O estudo apresenta um recorte histórico nas leis e decretos, considerando os

principais acontecimentos da Educação Profissional.

Tanto o trabalho quanto a educação ocorrem em uma dupla perspectiva. O trabalho tem um sentido ontológico, de atividade criativa e fundamental da

1 Refere-se à filosofia ou práticas que incidem sobre a melhoria contínua dos processos de manufatura, engenharia, gestão de negócios ou qualquer processo.

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vida humana; e tem formas históricas, socialmente produzidas, particularmente, no espaço das relações capitalistas (Lukács, 1978). A educação tem seu sentido fundamental como formação humana e humanizadora, com base em valores e em práticas ética e culturalmente elevados; e também ocorre em formas pragmáticas a serviço de interesses e valores do mercado, da produção capitalista, nem sempre convergentes com seu sentido fundamental (CIAVATTA, 2001 p. 117 in FRIGOTTO;

CIAVATTA, 2006).

Não só o trabalho é um tema de grande importância para a formação do ser

humano, mas também a educação, e mais especificamente no caso desta pesquisa,

a Educação Profissional. Pela educação, apropria-se do saber historicamente

produzido.

Sempre que se procura saber, em pesquisas de campo, qual a função da escola, as respostas que se obtêm, tanto por parte de alunos e pais, quanto de professores e demais educadores escolares, sempre convergem para a questão do trabalho. Fala-se, muitas vezes, que se estuda “para ter uma vida melhor”, mas, quando se procura saber o que isso significa, está sempre por trás a convicção de que “ter sucesso” ou “ser alguém na vida” é algo que se consegue pelo trabalho, ou melhor, pelo emprego (PARO, 1998, p.7).

Historicamente é relevante destacar que por volta de 1941 vigorou uma série

de leis brasileiras denominadas “Reforma de Capanema” que remodelou o ensino no

país dando destaque ao ensino profissional considerado de nível médio, à divisão

entre curso básico industrial e curso técnico industrial, esse último com três anos de

duração e estágio supervisionado.

No ano de 1959, as Escolas Industriais e Técnicas passam a se chamar

Escolas Técnicas Federais, com autonomia didática e de gestão. A formação de

técnicos é intensificada, impulsionada pela aceleração do processo de

industrialização onde o técnico é mão de obra indispensável.

No início da década de 1990, o Brasil imergiu num processo de

transformações onde houve uma abertura ao capitalismo global, impondo ao país a

necessidade de novas formas de se relacionar com o mundo do trabalho.

O ato de agir sobre a natureza, adaptando-a às necessidades humanas, é o que conhecemos pelo nome de trabalho. Por isto podemos dizer que o trabalho define a essência humana. Portanto, o homem, para continuar existindo, precisa estar continuamente produzindo sua própria existência através do trabalho (SAVIAVI, 1994, p 148).

Nesse âmbito, de acordo com Kuenzer (2002, p.2), “a escola passa a ser

espaço fundamental para a aquisição dos conhecimentos que permitam o

desenvolvimento das competências requeridas para a inclusão na vida social e

produtiva”.

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Nesse contexto, educação e formação do trabalhador ganharam centralidade no discurso do sistema como a fórmula capaz de diminuir a pobreza, inculcando a noção de que o desenvolvimento linear da educação e a capacitação dos jovens e adultos poderiam levar diretamente à garantia de emprego e à redução da miséria e da exclusão social, desconsiderando condicionantes econômicos e políticos (COELHO, 2012, p. 29).

Em face das novas tecnologias do mercado de trabalho, a própria escola vem

tomando novas dimensões, pois se percebe que “o mundo do trabalho atual tem

recusado os trabalhadores herdeiros da ‘cultura fordista’, fortemente especializados,

que são substituídos pelo trabalhador ‘polivalente e multifuncional’ da era toyotista”

(ANTUNES, 2004, p.339).

Visualizando a inserção do país no mercado internacional inovador, dinâmico,

competitivo e diante da automação do processo produtivo, Coelho (2012, p.29)

afirma que houve “necessidade premente de mudanças na escola e na formação

dos trabalhadores visando adaptação de mão de obra às inovações tecnológicas”.

Segundo Coelho:

...as políticas educacionais se vinculam fortemente a preceitos econômicos, baseadas, sobretudo na interferência externa, materializada em financiamentos e suas conexas condicionalidades, como descentralização da gestão, redução da intervenção do Estado, flexibilização, incentivo à privatização, dentre outras, em alinhamento à ordenação econômica internacional vigente (COELHO, 2012, p. 29).

Frigotto e Ciavatta (2003, p.49), afirmam que “o debate sobre trabalho e

trabalhador produtivo é tão velho quanto a própria história humana [...]” buscando

compreender “[...] como os seres humanos significaram e atribuíram valor às

atividades de produção e reprodução de sua vida material e simbólica, intelectual ou

espiritual” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003 p. 49).

Porém não se trata unicamente de ocupação, profissão, emprego, e nesse

sentido, os autores citados acima corroboram a ideia de que “o ideário pedagógico

vai afirmar as noções de polivalência, qualidade total, habilidades, competências e

empregabilidade do cidadão produtivo (um trabalhador que maximize a

produtividade) sendo um cidadão mínimo”, perfil esperado pelo mercado produtivo.

Trata-se também, no contexto histórico, da importância da Educação e do seu

papel social na transformação humana.

Considerando um dos atores dessa pesquisa, o jovem egresso do curso de

Educação Profissional de Nível Técnico, observa-se que uma das tendências

presentes no mundo do trabalho,

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...“é a crescente exclusão dos jovens, que atingiram a idade de ingresso no mercado de trabalho e que, sem perspectiva de emprego, acabam muitas vezes engrossando as fileiras dos trabalhos precários, dos desempregados, sem perspectivas de trabalho, dada a vigência da sociedade do desemprego estrutural” (ANTUNES; ALVES, 2004, p.339).

Neste sentido, pensando na redução do agravamento na situação de

exclusão, discutir sobre as novas habilidades exigidas pelo mercado competitivo,

através da qualificação, torna-se um ponto central.

Corroborando com a ideia de que é necessária uma ação compartilhada, o

governo cria leis que permitam uma articulação entre as várias instituições de

Educação Tecnológica. Em 1994, criou-se a Lei Federal Nº 8.948/94, instituindo o

Sistema Nacional de Educação Tecnológica (SISTEC), que em seu parágrafo

segundo destaca:

a instituição do Sistema Nacional de Educação Tecnológica tem como finalidade permitir melhor articulação da Educação Tecnológica, em seus vários níveis, entre suas diversas instituições, entre estas e as demais incluídas na Política Nacional de Educação, visando ao aprimoramento do ensino, da extensão, da pesquisa tecnológica, além de sua integração com os diversos setores da sociedade e do setor produtivo.

Neste contexto, para acompanhamento das mudanças ocorridas na economia

e na sociedade e a inserção no mercado competitivo e globalizado, a escola é

motivada a desenvolver mudanças na forma como prepara os trabalhadores para

que os mesmos se adaptem às inovações.

Em Santos pode-se observar, que,

as empresas passaram a empreender esforços no sentido de qualificar sua força de trabalho e passaram a exigir do Estado que equipasse o seu sistema educacional com o objetivo de elevar o nível de escolaridade dos trabalhadores (SANTOS; FRIGOTTO, CIAVATTA, 2006, p. 8).

Trein e Ciavatta (2001) enfatizam que inicialmente as empresas eram

responsáveis pela formação dos trabalhadores mediante “familiarização com o

ofício, patrões e capatazes exercendo o papel de mestres”. E nos anos 1940,

a industrialização concentrou-se nas grandes cidades e atraiu amplos contingentes de trabalhadores rurais. Para as indústrias, trouxe a necessidade de pessoal mais qualificado, principalmente, para os setores de transformação, metalurgia, siderurgia, eletricidade, manufatura e outros, além daqueles de comércio e serviços. É na articulação entre o governo e a classe empresarial que surgem o SENAI, em 1942, e o SENAC, em 1946, administrados pelas Confederações Nacionais da Indústria e do Comércio, respectivamente (TREIN, p. 107-108; ibidem).

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O objetivo principal da articulação entre o governo e a classe empresarial, é a

qualificação de “menores aprendizes” de 14 a 18 anos e jovens em busca de

emprego.

Época em que surge o chamado Sistema S2, instituições responsáveis pela

formação de mão-de-obra para os dois principais pilares da economia: a Indústria e

o Comércio. E em 1946, podemos citar, especificamente, a criação do Serviço

Nacional de Aprendizagem do Comércio - SENAC, fonte de estudo desta pesquisa.

A partir dos anos 1960 a formação profissional ganha destaque e, em 1971, a

Lei n. 5.692 determina a reforma do ensino de primeiro e segundo graus (atuais

ensino fundamental e médio) e a profissionalização obrigatória para todos os

estudantes desses níveis de ensino.

A Lei 5.692 define em seu artigo 1º:

o ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de autorrealização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania (BRASIL, 1971).

A partir das discussões sobre as novas exigências de qualificação dos

trabalhadores, no âmbito da educação, houve vasta articulação da legislação para

garantir a efetivação do ensino profissional.

A década de 1990 foi fortemente marcada por um cenário complexo, de grandes transformações no âmbito social, econômico e político. O conjunto de políticas sociais, e, dentre elas as educacionais, foi amoldado em um plano mais amplo no processo de acumulação de capital em nível mundial, de adequação das economias nacionais e locais às demandas da “economia global” (COELHO, 2013).

Em 1997, houve a criação do Decreto N° 2.208/97, cuja característica

fundamental foi desvincular os ensinos médio e técnico; estabelecer diretrizes e

bases para a educação nacional, tendo como objetivos principais qualificar,

reprofissionalizar e atualizar jovens e adultos trabalhadores, visando à inserção e

melhor desempenho no exercício do trabalho, proporcionando ao cidadão

trabalhador conhecimentos para “o exercício de funções demandadas pelo mundo

do trabalho, compatíveis com a complexidade tecnológica do trabalho”.

2 Termo que define o conjunto de organizações das entidades corporativas voltadas para o

treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, que além de terem seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns e características organizacionais similares. Fazem parte do sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem ainda os seguintes: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest).

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A Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) e da Câmara de

Educação Básica (CEB) n.º 04/99, versa sobre Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Profissional de Nível Técnico e em seu parágrafo único institui que

“a educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à

ciência e à tecnologia, objetiva garantir ao cidadão o direito ao permanente

desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva e social”.

Neste contexto pode-se citar a Educação Profissional, que, em nível nacional,

com base nos princípios constitucionais, regula-se pela Lei Federal n° 9.394, de 20

de dezembro de 1996, e que estabelece as diretrizes e bases LDB, sendo que o

parecer CNE/CEB nº 17/97, destaca “o reconhecimento do papel e da importância

desta modalidade de ensino”.

Pela primeira vez, consta em uma lei geral da educação brasileira um capítulo específico sobre educação profissional que se integre e articule-se às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia e conduza ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva (BRASIL, 1997).

Fábio Luiz Marinho Aidar (1997), relator do parecer acima, salienta que

“educação profissional, por seu turno, não substitui a educação básica e sim a

complementa. A valorização desta, entretanto, não significa a redução da

importância daquela”.

E, portanto, cada vez mais se faz necessária sólida qualificação profissional e

atualização constante por meio de “programas de requalificação e de educação

continuada”.

O Decreto Federal nº 2.208, que regulamenta a LDB referente à Educação

Profissional foi baixado em 17 de abril de 1997 e define seus objetivos e níveis,

estabelece orientações para a formulação dos currículos dos cursos técnicos e

especifica, no artigo 3°, três níveis de educação profissional: o básico, o técnico e o

tecnológico e devem ser entendidos como formas de viabilizar, “fundamentalmente a

qualificação, a especialização, o aperfeiçoamento e a atualização profissional e

tecnológica, a serem proporcionados, nos três níveis, aos jovens e adultos em

geral”.

A Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) reforça a

importância da qualificação e da educação profissional para a construção da

cidadania e inserção no mercado de trabalho:

a educação profissional e tecnológica, em termos universais, e no Brasil em particular, reveste-se cada vez mais de importância como elemento

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estratégico para a construção da cidadania e para uma melhor inserção de jovens e trabalhadores na sociedade contemporânea, plena de grandes transformações e marcadamente tecnológica. Suas dimensões, quer em termos conceituais, quer em suas práticas, são amplas e complexas, não se restringindo, portanto, a uma compreensão linear, que apenas treina o cidadão para a empregabilidade, nem a uma visão reducionista, que objetiva simplesmente preparar o trabalhador para executar tarefas instrumentais (SETEC, 2004).

Há críticas, no contexto do ensino técnico, em relação à priorização da

formação do trabalhador para a execução de rotinas de trabalho, por meio de

laboratórios e oficinas, em detrimento da formação do cidadão por meio de uma

visão ampliada sobre o mundo do trabalho.

A questão fundamental é que, além das exigências de carga horária mínima dos cursos e da oferta de cursos cadastrados no Ministério da Educação, não existe nenhuma referência sobre a concepção de educação profissional que orienta o Programa, reforçando a falsa ideia da relação entre qualificação profissional e empregabilidade, de educação profissional como um apêndice à educação propedêutica e de educação profissional como uma educação apenas para o exercício das habilidades específicas para a execução de função em empresas produtivas e de serviços – reforçando, por fim, uma visão reacionária, restrita e tecnicista de educação profissional (PEIXOTO, 2011, p.40).

De acordo com a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de

Educação (CEB) é a concepção de educação integral que deve orientar a

organização da escola, o conjunto de atividades nela realizadas, bem como as

políticas sociais que se relacionam com as práticas educacionais. Uma adequada

compreensão da educação profissional somente pode ocorrer se for levado em

conta, de forma integrada, os contextos econômico, político e social.

Segundo Pedro Demo

a radicalização instituída [...] materializada com a Lei n. 5.692, no sentido de voltar a educação basicamente para um processo de formação de profissionais para o processo produtivo, esvazia o entendimento de que o acesso à educação escolar é direito constituinte da cidadania e não mediação para a aquisição de um bem a ser trocado no mercado (DEMO,

1985, p 157-158 in FRIGOTTO;CIAVATTA org., 2006).

Nesse sentido, considerando as críticas o ensino técnico com caráter

tecnicista e a concepção de educação integral, podemos retomar o pensamento de

Antonio Gramsci pela sua contribuição na discussão política e ideológica da

sociedade e especificamente pelos temas educacionais relacionados ao trabalho

como princípio educativo e sua centralidade na produção da vida humana bem como

na articulação do trabalho com o ensino concreto no âmbito escolar.

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Para Gramsci (2001) a proposta é de uma escola unitária e desinteressada,

de ensino “ativo e criativo”, adequado às fases do desenvolvimento do aluno.

Na concepção do autor, educação é um território onde inevitavelmente a

teoria e prática, a política e a cultura se misturam.

Em meados dos anos 1980, os textos de Gramsci tiveram papel importante,

sendo suporte teórico para educadores brasileiros. Havia uma visão de que a escola

é explicada pela sua relação com a sociedade e não por ela mesma.

Através do posicionamento do trabalho como princípio educativo, Antonio

Gramsci propõe uma escola de caráter humanista, onde cada indivíduo desenvolve

sua capacidade de saber pensar e dirigir-se pela vida, dominar o próprio destino e

criar uma vida para si mesmo.

O autor enxerga na escola pública uma das possibilidades concretas para a

obtenção da consciência de classe. Teceu críticas ao “caráter elitista” da escola

tradicional. Gramsci criticava a divisão entre escola clássica, destinada às classes

dominantes e profissional cujo acesso era reservado aos trabalhadores.

A crítica se dava pela crença de que nas escolas profissionais o trabalho

dever ser um princípio educativo e não uma forma de eternizar a divisão de classes

e a manutenção do trabalho alienante. Fundamenta-se na busca pela emancipação

e aquisição da maturidade intelectual.

Gramsci entendia que a escola deveria proporcionar condições para “que

cada cidadão possa tornar-se governante e que a sociedade o ponha, ainda que

abstratamente nas condições gerais de fazê-lo” (2001, p.50).

A interpretação de que a escola profissionalizante obedece à lógica do capital

e da produção e aumenta e consolida a distância entre as classes, faz com que

Gramsci se posicione na luta por uma “escola única inicial de cultura geral,

humanista, formativa, que equilibre de maneira equânime o desenvolvimento da

capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o

desenvolvimento das capacidades do trabalho intelectual” (GRAMSCI, 1975b,

p.1531 apud NOSELLA e AZEVEDO, 2012, p.27)

Compreender a visão de Gramsci sobre a escola unitária e o trabalho como

princípio educativo permite entender que o trabalho não é dever de alguns para o

sustento de poucos e sim que, se através do processo do trabalho o homem se

humaniza, todos deveriam se submeter a ele.

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Antonio Gramsci defendia uma escola “desinteressada” do trabalho, o que

significa que

uma escola “desinteressada-do-trabalho” é aquela cujos conteúdos e métodos abordam profundamente e com rigor científico a problemática moderna do mundo do trabalho, objetivando entendê-lo em suas raízes históricas e em suas potencialidades técnicas (NOSELLA e AZEVEDO, 2012, p.26).

Ao apresentar sua perspectiva de escola, o autor denomina-a como unitária,

cujo objetivo é “propor-se a inserir os jovens na vida ativa, com certa autonomia

intelectual, isto é, com certo grau de capacidade para a criação intelectual e prática,

de orientação independente” (GRAMSCI, 2001, p.485).

Ao abordar o pensamento gramsciano, tento direcionar os esforços para o

contexto atual, onde não basta que o indivíduo vá para escola, mas que esta

propicie a construção de conhecimento e meios de socializá-los para a comunidade;

que se disponha a aceitar os diferentes; as diferentes opiniões e a manter o diálogo.

Nenhuma sociedade permanece sempre igual. Mudanças sociais produzem

alterações na forma de vida das pessoas.

Há que se conhecer e experienciar o mundo em que se vive.

Nesse sentido, considerando o importante papel da escola como fonte

propulsora de construção e articulação de conhecimentos socializados na

comunidade, faz-se necessário citar autores como Gomes, Groppo, Martins, Afonso,

Freire, que abordam a Educação Sociocomunitária, a Educação Popular, Sociologia

da Educação Não Escolar, Não Formal, que nos indicam possibilidades de

intervenções de caráter socioeducativo e influenciador da sociedade mais ampla.

Para as salas de aulas, num processo de reflexão e não de relatos simplistas,

deveriam ir as grandes preocupações que afligem o mundo, como o desemprego, a

empregabilidade, a violência, a pobreza, a insegurança e outras tantas formas de

exclusão social e injustiças.

A interação poderia acontecer no sentido de facilitar e criar o novo cidadão

voltado para a solução dessas questões, através da formação real de processos

reflexivos.

Como exemplos de ações articuladas entre educação e comunidade, no

intuito de promover a construção de conhecimentos, podem ser citados os

movimentos populares, os “círculos de cultura” propostos por Paulo Freire; as

cooperativas, as ações apoiadas por instituições católicas e algumas Organizações

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Não Governamentais (ONG) “herdeiras dos movimentos sociais” (GROPPO, 2010,

p.70), a alfabetização de adultos, sendo a educação um instrumento poderoso de

transformação.

Não só o analfabetismo é um grave problema, mas também a incapacidade

de compreensão e interpretação dos muitos brasileiros ditos “alfabetizados”

impedindo e dificultando tomada de decisões.

Entretanto, quero me ater à Educação Sociocomunitária que será abordada

de forma mais ampla no terceiro capítulo e que abrange ações de caráter não formal

que buscam articular comunidade e escola caracterizadas por “relações sociais que

atendem necessidades propriamente humanas: a sobrevivência, cuidado e

identidade (em seu viés comunitário) e a liberdade, autonomia e criação (em seu

viés societário)” (GROPPO, 2013, p.20).

No entanto, torna-se cada vez mais desafiador enfrentar a distância entre o

discurso e a prática percebida no cotidiano, numa proposta de estreitamento das

relações entre comunidade e escola, principalmente no âmbito do trabalho.

Os desafios impostos pela necessidade de preparar e instrumentalizar o

jovem trabalhador para a execução das funções dos setores produtivos assim como

de cooperar com a construção da cidadania através da educação tornam-se cada

vez mais presentes em demandas para Educação Profissional de Nível Técnico.

Segundo Leite (1995, p. 11),

(...) o novo perfil e o novo conceito de qualificação, vai além do simples domínio de habilidades motoras e disposição para cumprir ordens, incluindo também ampla formação geral e sólida base tecnológica. Não basta mais que o trabalhador saiba fazer; é preciso também conhecer e, acima de tudo, saber aprender.

No compromisso pela busca de uma utopia da construção de uma sociedade

includente, mais humana ética e justa política e socialmente (MACHADO, 2008),

pode-se pensar que a educação para o trabalho, neste contexto poderia ser

compreendida de uma maneira muito mais ampla do que apenas formar e informar,

mas também como uma área importante na formação dos indivíduos, abrangendo a

autonomia, o posicionamento como autor das suas escolhas, exercendo o papel de

cidadão e agente de mudanças crítico, independente e criativo.

Esses atributos transferem à educação uma condição imperativa na

transformação da sociedade. Entende-se, então, que a solução dos problemas da

sociedade, no mínimo, passará por ela.

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O mundo do trabalho tem sido afetado profundamente pelas transformações

sociais da atualidade gerando mudanças significativas. Os desafios relacionam-se

aos avanços tecnológicos e as crescentes expectativas das empresas, que

enfrentam mercados globalizados competitivos.

Neste contexto, o profissional precisa atender exigências fundamentais como

ter sólida formação básica e uma excelente educação profissional. Por isso, uma

das políticas atuais do Ministério da Educação (MEC) é a oferta de cursos técnicos

integrados ao ensino médio aliando a formação profissional com a contextualização

do mundo contemporâneo.

Reiteramos que vivemos tempos de grandes mudanças sociais e profundas

mudanças no mercado de trabalho, alterações nas profissões e nos vínculos

trabalhistas organizacionais, desempregos, subempregos, que têm trazido à agenda

político-pedagógica novas demandas de formação humana para a inclusão do jovem

nesse mercado, bem como para habilidades diferenciadas.

Já não se entende possível a formação profissional sem uma sólida base de

educação geral, exigindo-se o desenvolvimento de novas habilidades.

As mudanças ocorridas no mundo do trabalho apontam para uma nova forma de relação entre ciência e trabalho, na qual as formas de fazer – determinadas com base em processos técnicos simplificados, restritos geralmente a uma área do conhecimento, transparentes e, portanto, facilmente identificáveis e estáveis – passam a ser substituídas por ações que articulem conhecimento científico, capacidades cognitivas superiores e capacidade de intervenção crítica e criativa perante situações não previstas, que exigem soluções rápidas, originais e teoricamente fundamentadas, para responder ao caráter dinâmico, complexo, interdisciplinar e opaco que caracteriza a tecnologia na contemporaneidade (KUENZER, 2000, p.18).

O desenvolvimento dos aspectos pessoais e não só acadêmicos é exigido

cada vez mais no mundo do trabalho, que é dinâmico não só na valorização da

autonomia profissional, da flexibilidade, do perfil indicado para o processo produtivo,

da capacidade de utilizar os meios tecnológicos, mas também na recomposição do

trabalho, da rearticulação entre concepção e execução das atividades e da

ampliação sobre as mais diversas áreas, abordando não só o aspecto de

subsistência, mas principalmente o trabalho como uma atividade humana de

modificar as condições de existência do indivíduo e da sua comunidade.

Isto é possível através da crescente simplificação do trabalho nos setores mais dinâmicos da economia, deixando o trabalho de ser cada vez mais concreto, dotado de conteúdo a exigir competências e habilidades específicas, desenvolvidas ao longo do tempo pela experiência, para ser trabalho abstrato, sem conteúdo, a exigir apenas a observação ou manuseio simplificado de máquinas e equipamentos cada vez mais sofisticados, para

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o que já não se exige mais qualificação tal como era entendida no taylorismo/fordismo, ou seja, como resultante de relações sociais que combinavam escolaridade, experiência e formação profissional (KUENZER, 1999, p.).

Como dissemos anteriormente, com a globalização da economia e a com a

reestruturação do processo produtivo, há necessidade de um novo tipo de

trabalhador demandado pelo mercado de trabalho.

Harvey sugere que o

“mais interessante na atual situação é a maneira como o capitalismo está se tornando cada vez mais organizado através da dispersão, da mobilidade geográfica e das respostas flexíveis nos mercados de trabalho, nos processos de trabalho e nos mercados de consumo, tudo isso acompanhado por pesadas doses de inovação tecnológica, de produto e institucional” (HARVEY, 2008, p.150).

Consequentemente uma nova estrutura de ensino se faz necessária para a

formação do novo profissional demandado.

O mercado valoriza as informações precisas e atualizadas, que passam a ser

consideradas mercadorias valiosas.

O acesso à informação, bem como seu controle, aliados a uma forte capacidade de análise instantânea de dados, tornaram-se essenciais à coordenação centralizada de interesses corporativos descentralizados [...] O próprio saber se torna uma mercadoria-chave, a ser produzida e vendida a quem pagar mais, sob condições que são elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas (HARVEY, 2008, p.150).

A nova realidade organizacional apresenta algumas características que a

explica e explica a necessidade de habilidades cognitivas superiores e de

relacionamento: a crescente presença de ciência e tecnologia nos processos

produtivos; complexificação dos instrumentos de produção, informação e controle;

exigência de novos comportamentos, em decorrência dos novos paradigmas de

organização e gestão do trabalho:

[...] intervir crítica e criativamente quando necessário, além de observar normas que assegurem a competitividade e, portanto, o retorno do investimento, através de índices mínimos de desperdício, retrabalho e riscos [...] capacidade de usar o conhecimento científico de todas as áreas para resolver problemas novos de modo original, o que implica domínio não só de conteúdos, mas dos caminhos metodológicos e das formas de trabalho intelectual multidisciplinar, o que exige educação inicial e continuada rigorosa, em níveis crescentes de complexidade (KUENZER,1999).

Essa nova realidade exige novas formas de mediação entre o homem e o

conhecimento, e para cumprir seu papel e garantir instrumentos para os educandos,

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a escola muitas vezes se coloca na posição de “dar conta” da complexidade exigida

para a vida pessoal, civil e profissional.

Assim, considerando a teoria desenvolvida por Michel Apple (2008), identificar

“que tipo de conhecimento vale mais” embora pareça simples não é, “pois os

conflitos acerca do que deve ser ensinado são agudos e profundos”.

Há que se considerar não só as questões educacionais, mas também as

ideológicas e políticas ao se pensar em bases curriculares.

Quer reconheçamos ou não, o currículo e as questões educacionais mais genéricas sempre estiveram atrelados à história dos conflitos de classe, raça, sexo e religião [...] Por essa razão, uma maneira mais precisa de formular a pergunta, de forma a ressaltar a natureza profundamente política do debate educacional, seria: “O conhecimento de quem vale mais?” (APPLE, 2008 p39-40 In: MOREIRA, A. F.; SILVA, T. T)

Para Michel Apple (2008), o currículo acabou por ser transformado em uma

espécie de “bola de futebol politica”, onde o sistema educacional acaba sofrendo

pressões “para que as metas das empresas e indústrias se tornem objetivos

principais, senão os únicos objetivos da formação escolar”.

Relevante perceber que o mercado vem exercendo a função de dizer quais

habilidades precisa para cada situação. A partir do domínio de características e

habilidades esperadas pelo mercado, é que o jovem terá sua empregabilidade

definida, no entanto a certificação uniformizada que assegurou às antigas gerações

um espaço ou a permanência nos postos de trabalho, já não é mais suficiente para

que se possa viver em sociedade, o que, para a grande maioria da população, só

pode ocorrer através da escola.

A escola formadora desses jovens passa a ser demandada para uma

educação profissional que combine conhecimentos sistematizados, experiências e

comportamentos e para que isto seja possível, “passa a ser imprescindível

fundamentar a educação profissional em uma sólida base de educação geral, para

além das dimensões meramente acadêmicas que caracterizam o ensino

fundamental e médio no Brasil” (KUENZER,1999).

Para que haja a formação necessária para a inclusão do jovem no mercado

do trabalho, as várias instâncias envolvidas na Educação buscam definir leis, metas,

objetivos, diretrizes e estratégias.

Previsto pela Lei n.º 9.394/96, o Plano Nacional de Educação (PNE), terá

vigência de dez anos a partir de 26/06/2014, data em que foi sancionado pela

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presidência da república, e constitui-se num mecanismo intermediário entre a lei

maior da educação e a materialização das metas necessárias para constituir um

Sistema Nacional de Educação que assegure a todos os brasileiros um ensino de

qualidade regido por relações democráticas, na qual a Educação Profissional está

contemplada.

A Constituição Federal em seu art.214 estabelece o PNE, com o objetivo de

articular o Sistema Nacional de Educação para assegurar a manutenção e

desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades, e faz

referência, especificamente na modalidade formação para o trabalho, no inciso IV e

promoção humanística no inciso V do mesmo artigo.

A Educação Profissional, reforçada pela LDB no seu artigo 39, deverá

integrar-se às diferentes formas de educação ao trabalho, à ciência e à tecnologia, e

conduzir ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva.

Outro aspecto a considerar no âmbito das politicas públicas, é o Programa Nacional

de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) que foi criado pelo Governo

Federal, em 2011, por meio da Lei 12.513/2011, com o objetivo de “expandir,

interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica

no país”, buscando “ampliar as oportunidades educacionais e de

formação profissional qualificada”.

Dados disponibilizados pelo MEC informam que no período de 2011 a 2014,

“por meio do Pronatec, foram realizadas mais de 8,1 milhões de matrículas, entre

cursos técnicos e de qualificação profissional, em mais de 4.300 municípios. Em

2015, foram 1,3 milhão de matrículas”.

Sabe-se e vale destacar, entretanto, que há críticas e questões em relação ao

programa, como por exemplo: cortes financeiros, redução do número de vagas,

ofertas dos cursos através de instituições privadas, fatores curriculares, entretanto,

tais questões não são objeto de análise desta pesquisa.

Ressalto que não foi objetivo abordar todas as politicas públicas da

Educação, mas sim compreender quais as influências e impactos tais políticas

educacionais exercem na construção do homem enquanto transformador da sua

existência, considerando, como aborda Kuenzer (2002) que:

a escola é o lugar de aprender a interpretar o mundo para poder transformá- lo, a partir do domínio das categorias de método e de conteúdo que inspirem e que se transformem em práticas de emancipação humana em

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uma sociedade cada vez mais mediada pelo conhecimento (KUENZER, 2002, p.16).

No intuito de compreender a construção desta interpretação de mundo e sua

transformação, através da educação, apresenta-se a seguir algumas considerações

relevantes sobre os princípios da educação do jovem no mercado de trabalho.

2.4 JOVENS, FORMAÇÃO TÉCNICA E A INTEGRAÇÃO NO MERCADO DE

TRABALHO

Para que seja possível abordar a relação trabalho/juventude/mercado de

trabalho, faz-se necessário apresentar e conceituar a categoria juventude.

Como referência teórica utilizaremos o autor Luis Antonio Groppo (2000), que

nos diz que juventude pode ser definida como uma “categoria social”.

Uma constante preocupação das sociedades modernas e contemporâneas é

a juventude.

Legalmente, a juventude tem início aos 16 anos e o indivíduo pode ser

considerado jovem até 25 ou 29 anos. É um período considerado complexo e

diverso.

Entretanto, muito mais que uma definição de faixa etária e da sua vigência, a

juventude trata-se de uma categoria social usada para classificar indivíduos, normatizar comportamentos, definir direitos e deveres. É uma categoria que opera tanto no âmbito do imaginário quanto é um dos elementos ‘estruturantes’ das redes de sociabilidade (GROPPO, 2004, p.11).

Nesse sentido o termo juventude indica formas de ser e de se relacionar,

devendo ser compreendido na sua pluralidade. Considerar que existem “juventudes”

é reconhecer que esta categoria social está inserida em espaços culturais essenciais

distintos e diferentes.

Luis Antonio Groppo (2000, p. 15) nos leva a considerar algumas variantes

para se compreender juventude, pois “de cada recorte sociocultural - classe social,

estrato, etnia, religião, mundo urbano ou rural, gênero, etc. – saltam subcategorias

de indivíduos jovens com características, símbolos, comportamentos, subculturas e

sentimentos próprios”.

Essa pluralidade juvenil vem sendo percebida e solicitada pelo mercado de

trabalho até mesmo como solução para suas demandas por um novo perfil de

trabalhador.

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Após a reestruturação econômica e do sistema produtivo, o perfil flexível e

multiprofissional do novo trabalhador tem sido cada vez mais exigido pelo mercado e

apesar da legislação brasileira vigente e da busca constante pela melhoria da

Educação Profissional no país, percebe-se que ainda há questões que devem ser

tratadas para a efetivação de uma educação profissional de qualidade, como a

inclusão precoce do jovem no mercado de trabalho.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no segundo trimestre de

2013 indica que 22,8% de jovens estão inseridos no mercado de trabalho.

No Brasil, as pessoas no grupo de 14 a 17 anos de idade representavam

8,8% daquelas em idade de trabalhar (definida como as pessoas de 14 anos ou

mais de idade na data de referência). Os jovens de 18 a 24 anos de idade eram

14,0%.

O nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na semana de

referência em relação às pessoas em idade de trabalhar) no Brasil, nesse período,

foi estimado em 56,9%. Para os jovens de 18 a 24 anos de idade esta estimativa foi

58,2%; para o grupo de 14 a 17 anos de idade, 17,5%.

No Brasil, aqueles com menos de 25 anos de idade representavam 29,2%

das pessoas fora da força de trabalho. A taxa de desocupação dos jovens de 18 a

24 anos de idade, 15,4%, apresentou patamar elevado em relação à taxa média

total.

Em geral, as análises da pesquisa PNAD mostraram que os grupos das

pessoas com níveis de instrução mais altos apresentaram níveis da ocupação mais

elevados. Mais da metade desta população (55,4%) não tinha concluído o ensino

fundamental e pouco menos de um quarto (23,5%) tinha concluído pelo menos o

ensino médio. A taxa de desocupação para o contingente de pessoas com ensino

médio incompleto (12,7%) era superior à verificada para os demais grupos de nível

de instrução.

O Censo da Educação profissional realizado pelo Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 1999 indica que das

3.948 instituições que responderam aos questionários, 2.216 oferecem cursos no

nível técnico, correspondendo a 717 mil matrículas.

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Neste contexto, verificou-se que a Educação Profissional no país

concentrava-se no setor de Serviços, responsáveis por 68% das matriculas levando

em conta os três níveis da Educação Profissional: básico, técnico e tecnológico. Na

sequência, aparece o setor da Indústria, com 24,2%, seguido pela Agropecuária e

Pesca, com 4,1% dos alunos matriculados. Em último, na distribuição da matrícula,

está o setor de Comércio, com 3% do total.

Buscando promover e efetivar mudanças na qualidade do ensino e traçar

estratégias de acompanhamento, o PNE, instituiu 20 metas específicas, sendo que a

Meta 11 refere-se à Educação Profissional e propõe “triplicar as matrículas da

Educação Profissional Técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e

pelo menos 50% da expansão no segmento público” (Observatório PNE, 2015).

Para acompanhamento e monitoramento dos indicadores referente a cada

uma das metas do PNE, criou-se o Observatório do PNE que é uma plataforma

online, que oferecer análises sobre as políticas públicas educacionais já existentes e

que serão implementadas ao longo dos dez anos de vigência do Plano.

Considerando a Meta 11, em 2014, foram efetivadas 1.741.528 de matrículas

na Educação Profissional Técnica e a meta é de 5.224.584 até 2024. No entanto,

apesar do aumento de matrículas na Educação Profissional registrado nos últimos anos, escola e mundo do trabalho carecem de sintonia. As rápidas transformações proporcionadas pelas novas tecnologias e os novos perfis profissionais, que valorizam muito mais a criatividade e a capacidade de relacionar conhecimentos de forma interdisciplinar, na busca pela resolução de problemas, ainda são características pouco valorizadas nos cursos de formação profissional. (OBSERVATÓRIO PNE, 2015).

Apesar de diversos esforços, através de politicas públicas, de acordo com

Acácia Kuenzer (2013), entende-se que só a formação não é suficiente se não

houver condições adequadas de trabalho, no entanto hoje não há mais vinculação

em fazer um bom curso e conseguir um bom emprego. Há pouca valorização do

conhecimento pelos jovens, muita informação e pouco conhecimento.

Conforme Gaudêncio Frigotto, uma formação técnica e profissional tem que

dar ao estudante dupla base de cidadania real.

Ser cidadão é ter os instrumentos de análise da sociedade para poder entender o que está acontecendo na sociedade e poder intervir nela. Isto é a cidadania política. E a cidadania econômica é exatamente o preparo científico-técnico para que este jovem, no mundo da produção, no mundo do serviço, tenha o domínio do ponto de vista mais avançado e o faça com qualidade. Então, a teoria tem que ter essa perspectiva para dar uma formação que nós chamamos de formação integral. A educação técnica e profissional não é uma educação menor. Ensinar apenas para o mercado

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não ajuda o próprio mercado, isso é uma armadilha (FRIGOTTO, 2013, s/p.).

A prevalecer à busca de alternativas e métodos que promovam, não somente

o conhecimento técnico, mas que se articulem para favorecer a plenitude individual,

algumas instituições particulares propõem práticas pedagógicas inovadoras, que

estimulam o aluno dos cursos técnicos a construir o conhecimento e a desenvolver

competências, despertando no aluno habilidades de relacionamento ético, humano e

político, fortalecendo a autonomia, a capacidade crítica, criatividade e iniciativa.

No entanto, faz-se necessário priorizar a opção por construir a possibilidade

da formação profissional sobre sólida base de educação geral, para todos,

independentemente das demandas de mercado, através de uma pedagogia que

permita estabelecer novas relações entre homem e trabalho.

Isto porque se reconhece que a formação profissional é demanda e meta dos que vivem do trabalho e dos excluídos, e se assenta na utopia da construção de uma sociedade onde a todos caiba igualmente o trabalho, o conhecimento, a qualidade de vida e o prazer (KUENZER, 1999).

A educação é a base para formar cidadãos autônomos, críticos e conscientes

da realidade circundante, para uma compreensão mais ampla do seu papel na

sociedade e da sua participação na sua construção. A aprendizagem tem papel

significativo para que o sujeito participe ativa, cidadã e democraticamente da vida

social, econômica e política. A educação profissional, nesse sentido, deve, além da

preparação para o mundo do trabalho, considerar a formação integral do aluno,

baseando-se em discutir atitudes importantes ao seu desenvolvimento individual e

social.

Para José Clóvis de Azevedo:

Pensar uma educação integral voltada à formação humana significa certamente repensar os ritos formais que tornam a escola um local de repetição, inibidor da criatividade [...] O desafio deste tempo é uma escola pertinente com o ser humano interferidor, onde a experiência cognitiva se constitua na ação de verificação e reconstrução da condição de existência do sujeito aprendiz. Organizar o ensino a partir do conceito de formação humana é uma tarefa complexa e desafiadora (AZEVEDO, 2011, p.14).

O papel da educação é a formação cidadã ampla, propiciando a inclusão, a

integração social e cultural e não exclusivamente a formação para o trabalho. É

importante atentar-se para o fato de que há uma diferença entre o conceito de

trabalho e emprego e por isso talvez haja dificuldade em se aplicar os programas de

efetivação das políticas de formação profissional como elemento estratégico para a

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construção da cidadania. Nesse sentido, a educação não deve preparar para o

emprego e, sim, para o trabalho, bem como considerar os interesses imediatos e as

necessidades reais dos envolvidos - alunos distintos, cujas subjetividades variam de

acordo com os aspectos sociais, culturais, econômicos e territoriais.

Como salienta o Relatório de Desenvolvimento Juvenil (RDJ) de 2007, “é

importante indagar sobre o significado de ‘ser jovem’ em um mundo como o de hoje,

globalizado, culturalmente diversificado, voltado para as novas tecnologias digitais”.

Em geral, considera-se juventude o período de transição que vai da

adolescência à idade adulta, em que cada sociedade define um tempo socialmente

necessário para a transformação dos jovens “dependentes” em “adultos” autônomos

e produtivos.

Os indicadores sociais do relatório RDJ (2007), apesar dos avanços obtidos,

ainda indicam que a juventude está sujeita a sérias limitações “como o de acesso ao

conhecimento disponível e adequado às modernas necessidades sociais [...] e

limitações de inserção no mercado de trabalho”.

Conforme análise da demógrafa Mary Castro citada pelo RDJ, sobre a

juventude, implica considerar que

esse é um dos contingentes populacionais que apresenta algumas das mais altas taxas de desemprego e de subemprego no país, já que enfrenta problemas singulares quanto à primeira inserção no mercado, considerando o requisito da experiência prévia. É também uma população que vem exigindo novos enfoques da educação profissionalizante, novos olhares sobre qualificação profissional, especialmente nas famílias mais pobres. De fato, as mudanças no mundo do trabalho, a desregulamentação e a flexibilização da economia demandariam habilidades, nem sempre disponíveis aos jovens de setores populares - como conhecimentos em informática e línguas estrangeiras - isso em um contexto de diminuição dos postos de trabalho para grande parte da população (CASTRO, 2001 in WAISELFISZ, 2007, p.79).

Tal questão é um campo polêmico, dada à situação de vulnerabilidade dos

jovens e das variáveis que eles precisam enfrentar para serem integrados ao

mercado de trabalho.

Busca-se, portanto, enxergar não só o contexto que envolve os dilemas da

educação profissional, mas também, das empresas que representam o mercado de

trabalho para o qual esses jovens são encaminhados e a relação entre essas

instâncias.

Compreender as transformações da educação técnica ajuda a estabelecer

ligações entre a Educação Profissional e o mercado de trabalho, assim como

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possibilita-nos investigar os aspectos considerados pelas empresas na hora da

contratação e, nesse contexto, destaca-se o papel do ensino técnico, que se propõe

a colaborar com a formação profissional qualificada e especializada.

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3 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA – A INSTITUIÇÃO SENAC

Havendo nesta pesquisa o interesse em contribuir com o debate sobre a

Educação Profissional Técnica e a inclusão de jovens no mercado de trabalho, e

investigar os aspectos considerados pelas empresas na hora da contratação, é

mister considerar que umas das instituições que exerce um trabalho no âmbito da

formação, é o SENAC, elencada como uma das referências em formação técnica na

cidade de Americana - SP.

Este capítulo, mediante pesquisas e análises dos materiais e documentos

públicos da instituição, disponíveis para consulta nos acervos físicos e eletrônicos,

discorrerá sobre sua constituição e o crescimento nacional da instituição, mas

principalmente abordará o SENAC São Paulo, ao qual pertence a Unidade

Americana, e os acontecimentos que mais se relacionam com a proposta deste

estudo. Explanar-se-á também, o processo educativo, princípios, diretrizes e as

políticas vigentes na educação profissional técnica desta instituição.

3.1 SENAC AO LONGO DA HISTÓRIA

O SENAC é uma organização de natureza privada sem fins lucrativos que foi

criada em 1946 pelos Decretos-lei 8.621 e 8.622, que autorizaram a Confederação

Nacional do Comércio (CNC) a instalar e administrar, em todo o país, escolas de

aprendizagem comercial. A instituição nasce de forma descentralizada e autônoma

por meio de Conselhos Regionais e Departamentos Regionais em cada um dos

Estados da União.

Em 2016, o SENAC completa 70 anos de atividades, e está fisicamente

presente em mais de 40 municípios, com 60 unidades.

A necessidade de preparar pessoas para as atividades de comércio de bens e

serviços, com o compromisso de organizar e administrar, em todo o território

nacional, escolas de aprendizagem comercial, preparando menores, entre 14 e 18

anos, para o trabalho e, ao mesmo tempo, oferecendo oportunidades de

aperfeiçoamento de adultos foi a propulsora para a criação do Senac São Paulo.

O SENAC São Paulo foi criado em 10 de janeiro de 1946, e a partir do ano

seguinte, passou a desenvolver um trabalho até então inovador no país: “oferecer,

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em larga escala, educação profissional destinada à formação e à preparação de

trabalhadores para o comércio”.

Sob a gestão do primeiro Diretor Regional, Francisco Garcia Barros, logo são

criadas as divisões de administração e prestação de serviços educacionais. Iniciativa

importante foi a realização de diversos estudos para analisar profissões e funções

da época, bem como para balizar a instalação das primeiras unidades educacionais.

Figura 1 Escola Senac "Brasílio Machado Neto"

Prédio do Senac da Capital, 1950 – Fonte: Senac, 2015.

Em 1947, iniciaram-se os primeiros cursos: para jovens de 14 a 18 anos, era

indicado o curso “Praticante de Comércio e Praticante de Escritório” e para os que

não haviam concluído o primário o SENAC São Paulo oferece um curso

“Preparatório” e, para os maiores de 18 anos, os cursos de “Balconista de Tecidos,

Calçados e Ferragens, Arquivista e Caixa-Tesoureiro”.

No ano seguinte, são criados o Escritório-Modelo e a Loja-Modelo para as

aulas práticas, respectivamente, de rotinas de escritório e de técnicas de vendas,

além do Museu Merceológico para as práticas de merceologia. Inicia-se também o

curso de Aspirantes ao Comércio para alunos com idade entre 12 e 14 anos. São

implantados os cursos de Vendedor-Viajante e de Estenodatilógrafo na Escola

Senac da Capital e começa o desenvolvimento do curso Prática de Enfermagem, em

convênio com o Sindicato dos Enfermeiros de São Paulo, visando suprir os hospitais

da Capital com profissionais habilitados.

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Foram lançados em 1953, os cursos para balconistas e gerentes de lojas in

company, com o objetivo de aperfeiçoar os profissionais já empregados e os cursos

de Cabeleireiro e Manicure em Campinas, em convênio com o Sindicato dos Salões

de Barbeiros, Cabeleireiros, Institutos de Beleza e Similares.

Figura 2 Curso de Balconista

Desenvolvido para funcionários da empresa Rádio Assumpção S/A.

Fonte: Senac, 2015.

No início de suas atividades, na década de 1940, existiam duas trajetórias

educacionais distintas: a da escola de educação geral, que visava preparar pessoas

para o ensino superior e a de educação profissional, que formava para o mercado de

trabalho.

Os currículos da educação profissional eram organizados com o objetivo de preparar “mão-de-obra” especializada, de níveis técnico-administrativo médio e básico, para atender às demandas previsíveis do desenvolvimento industrial e comercial do país. Coerentemente com a organização do trabalho da época, a prática educacional não valorizava a iniciativa e a reflexão, não era flexível, nem contextualizada. A educação não visava aos educandos como sujeitos transformadores ou promotores da própria aprendizagem e construtores do conhecimento (SENAC, 2005, p.4).

Durante as décadas de 50, 60 e 70 houve mudanças significativas na atuação

da organização. Iniciou em 1955 a ofertar o Ginásio Comercial para aprendizes e a

partir de 1959, oferecia os cursos técnicos regulares de Contabilidade,

Administração e Secretariado equivalentes, na época, ao segundo grau, com

duração de três anos, destinados aos alunos que concluíram o Curso Comercial

Básico. A partir da década de 1970, os cursos técnicos regulares foram substituídos

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pelos diversificados cursos de qualificação profissional, inclusive os que conduziam

à habilitação técnica, amparados pela Lei Federal nº. 5.692/71 que generalizou a

profissionalização no nível do ensino médio regular, então 2º grau, favorecendo a

concentração na profissionalização independente do ensino regular.

Figura 3 Alunas na sala de aula do curso Técnico de Secretariado

Desenvolvido na Escola Senac "Brasílio Machado Neto". São Paulo, 1963.

Fonte: Senac, 2015

Em seu art.1º a Federal nº. 5.692/71 - Lei de Diretrizes de Base (LDBE) diz:

“o ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de autorrealização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania” (LDBE, 1971).

A partir disso, o SENAC diversificou seus serviços, transformando, suas então

denominadas Escolas, em Centros de Formação Profissional que posteriormente se

chamariam, Centros de Desenvolvimento Profissional, acrescentando o atendimento

às empresas em geral e à própria comunidade.

Na década de 1980, deu-se a criação do Multi-Emprego SENAC SP- Centro

de Orientação e Colocação Profissional "Waldemar Moreno", que assume, entre

outros, o papel do Setor de Colocação e Acompanhamento.

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Figura 4 Fachada do Senac Multi-emprego

Centro de Orientação e Colocação Profissional Waldemar Moreno. Fonte: Senac, 2015

Em 1985, houve a inauguração do SENAC Escritório, Unidade Especializada

para o desenvolvimento de programas para a área de escritório; atualmente, com

nova configuração, teve sua denominação alterada para Centro de Tecnologia em

Administração e Negócios. Inauguração da Unidade do SENAC no Município de

Guarulhos.

Figura 5 Inauguração da sala ambiente do Senac Escritório

São Paulo, 1985. Fonte: Senac, 2015.

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Lançado, em 1997, o Programa de Educação para o Trabalho, destinado para

capacitação profissional de jovens entre 14 e 21 anos, integrantes das camadas de

baixa renda e residentes nas periferias dos grandes centros.

Figura 6 Lançamento do Programa de Educação para o Trabalho

Atividade que compõe o Programa Senac-SP de Educação e Cidadania.

Fonte: Senac, 2015.

Na década de 2000, diversos acontecimentos se deram na história da

instituição, dentre eles, podemos citar:

Entrega do Selo Empresa que Educa a 900 organizações, pela contribuição ao

Programa de Educação para o Trabalho, que capacita profissionalmente jovens entre

14 e 21 anos, integrantes das camadas de baixa renda e residentes nas periferias

dos grandes centros.

Realização das campanhas SENAC Alerta – Por uma cidade sem sede, Prevenção

ao Câncer e Boa Visão.

Realização do Programa Profissão, em convênio com a Secretaria de Estado da

Educação, que durante três anos atendeu dezenas de milhares de jovens egressos

do ensino médio em escolas da rede pública.

Lançamento do programa Formatos – Formação de Atores Sociais, para lideranças

de associações comunitárias e organizações não-governamentais.

Parceria com o Center for Civil Society Studies da The Johns Hopkins University, dos

Estados Unidos, para multiplicar no país nova metodologia de trabalho do terceiro

setor.

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Lançamento da nova Proposta Pedagógica, que consolida as melhores práticas e

experiências do SENAC São Paulo.

Inclusão entre as 100 melhores empresas para se trabalhar e entre as 40 melhores

empresas para a mulher trabalhar, em levantamento feito pela revista Exame.

Criação do Núcleo de Empreendedorismo, que pesquisa tendências da área e

estuda formas de disseminar esses conteúdos na programação.

Lançamento do Atendimento Corporativo, que sistematiza e potencializa o

atendimento a empresas, órgãos públicos e entidades do terceiro setor.

O SENAC ganha prêmio Aberje Brasil como a instituição que tem o melhor case de

comunicação empresarial do país, com seu portal na categoria internet.

Conquista, pelo quinto ano consecutivo, do Prêmio Top of Mind – Fornecedores RH,

na categoria Treinamento e Desenvolvimento. Celebração de acordo de treinamento

com o Babson College, principal escolha de empreendedorismo dos Estados Unidos,

para capacitação do corpo docente.

Realização de 7 edições do Fórum Permanente do Terceiro Setor, atingindo cerca de

5.400 lideranças comunitárias.

O SENAC São Paulo, deseja ser reconhecido com uma instituição “de

excelência na prestação de serviços educacionais inovadores, voltados à inclusão

social e à formação diversificada de profissionais-cidadãos” e tem como missão o

desenvolvimento de pessoas, “por meio de ações educacionais que estimulem o

exercício da cidadania e a atuação profissional transformadora e empreendedora, de

forma a contribuir para o bem-estar da sociedade”.

Ainda como acontecimentos importantes para a instituição, nesta última

década, podemos destacar a expansão da rede física com a inauguração do Senac

Aclimação, com capacidade para atender 16 mil alunos por ano em seus 10 mil

metros quadrados de área construída, distribuída entre 24 salas de aula

multifuncionais e 15 laboratórios que reproduzem ambientes profissionais, como os

de podologia, estética, massoterapia, confeitaria, padaria, nutrição, bebidas, cozinha

pedagógica e governança e recepção. Seu grande diferencial é um portfólio de

cursos focado nas áreas de saúde e bem-estar, gastronomia e nutrição e hotelaria e

eventos.

E em destaque, por ser foco desta pesquisa, a inauguração, em junho de

2011, do SENAC Americana marcando a presença do SENAC São Paulo em mais

uma cidade do interior paulista.

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Os recortes históricos do SENAC, em seu contexto nacional e estadual,

apresentados até aqui são relevantes para que possamos compreender a identidade

da instituição e como se dá sua influência na proposta do estudo, porém passamos

a apresentar a unidade SENAC Americana, escolhida para a pesquisa.

3.2 SENAC - A UNIDADE AMERICANA

O SENAC Americana foi inaugurado em 2011. Possui vinte ambientes

educacionais divididos em áreas como administração e negócios, informação,

tecnologia, saúde e bem estar, segurança do trabalho, moda e design.

A unidade é uma das maiores da rede, com 3.467 metros quadrados de área

edificada, distribuídos em três pavimentos com 20 ambientes pedagógicos, além de

auditório, biblioteca e laboratórios de moda, design, bem-estar, informática e

hardware.

De acordo com o site da instituição é considerada a “primeira unidade da rede

construída inteiramente dentro do conceito de sustentabilidade, possui

acessibilidade total e todas as salas de aulas são equipadas com lousas interativas

e sistema de ar-condicionado que utiliza gás ecológico”.

Figura 7 Senac Americana

Fachada da Unidade Senac Americana.

Fonte: Senac, 2015.

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Com um investimento de cerca de R$ 9 milhões, 3.467 m² de área edificada e

capacidade para atender 1200 pessoas por dia. O município foi escolhido pelo

destaque do polo têxtil no cenário nacional.

A implantação de uma instituição de ensino reconhecida pelo mercado de

trabalho, com 64 anos de atuação, contribuirá para a difusão de valores

como responsabilidade social e cidadania para a população local (SENAC,

2011).

O Sindicato das Indústrias de Tecelagem de Americana – SINDITEC acredita

no sucesso da instalação e da proposta educacional e declara: “a inauguração da

unidade SENAC de Americana trará para a nossa região, várias oportunidades de

capacitação na área têxtil, setor este, que está muito carente de profissionais

qualificados" (SINDITEC, 2011).

O portfólio de cursos do SENAC possui cerca de cinquenta títulos que

abrangem variadas áreas do mercado de trabalho como saúde e administração e

negócios, e segmentos mais contemporâneos, como moda, informática e design.

Especialmente na área de moda, desde a sua abertura, a unidade já formou

quase mil profissionais. Já que a região de Americana é o maior polo da indústria

têxtil e de confecção do país.

O Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Americana e Região

(SINCOVAM) declarou, na inauguração da unidade, que a “a chegada do SENAC

Americana vai beneficiar toda a região”, pela qualidade no ensino e pela sua

localização estratégica.

Figura 8 Inauguração do Senac Americana

Momento do descerramento da placa

Fonte: Sincomercio Americana - 2015

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Ela é uma das maiores da rede e está instalada em um ponto estratégico da

região, que facilita o acesso de moradores de Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste

e Sumaré. E como parte do compromisso da instituição de promover a inclusão

social, a unidade oferece vagas por meio da Política SENAC de Concessão de Bolsa

de Estudo.

Segundo Salgado, diretor regional da instituição,

“no Senac, o aluno integra-se ao cotidiano da carreira que escolheu, vivencia experiências para construir seu próprio conhecimento e desenvolver competências com o uso de ferramentas ativas, estruturadas em simulações de situações reais de mercado. A prática, em laboratórios temáticos, diferencia o profissional formado pela instituição, preparado para lidar com qualquer situação que lhe será colocada no ambiente de trabalho, independentemente da complexidade” (SENAC, 2015).

Dentre as muitas modalidades de ensino oferecidas pela instituição,

escolhemos destacar, para apresentar as diretrizes e proposta pedagógica, o curso

Técnico em Administração, um dos cursos mais procurados por jovens

americanenses, acompanhado pela pesquisadora que atuou como monitora de

educação por cerca de quatro anos.

3.3 O CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO

O curso Técnico em Administração, autorizado pela resolução nº23/2015 de

27/10/2015 emitida pelo Conselho Regional do SENAC São Paulo, é um dos cursos

com grande procura pelos jovens de Americana e região. O curso é oferecido a

pessoas que estão cursando no mínimo o segundo ano do ensino médio, com carga

horária de mil horas e habilitação profissional técnica de nível médio.

Na perspectiva de atualizar o perfil profissional de conclusão, para que os egressos possam acompanhar as transformações do setor produtivo e da sociedade, o Plano de Curso da Habilitação Técnica de Nível Médio em Administração, aprovado Portaria Senac/GEDUC - SE nº 29 de 29/07/2011, publicada no DOE de 17/09/2011 conforme Portaria CEE/GP nº 372, passa, nesta oportunidade, por revisão, ajustando-se às diretivas do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio e mantendo-se alinhado às exigências específicas da ocupação, incorporando as inovações decorrentes dos avanços científicos e tecnológicos deste segmento, da experiência acumulada pela instituição e de novas tecnologias educacionais (SENAC, 2015, p.4)

Conforme SENAC (2015), o curso, com carga horária de mil horas, tem como

objetivo, “desenvolver o aluno para executar atividades administrativas da

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organização relacionadas aos processos de: gestão de pessoas, operações

logísticas, gestão de materiais e patrimônio, marketing, vendas e finanças”.

De acordo com a instituição,

as orientações metodológicas deste curso, em consonância com a Proposta

Pedagógica do Senac, pautam-se pelo princípio da aprendizagem com

autonomia e pela metodologia de desenvolvimento de competências, estas

entendidas como ação/fazer profissional observável, potencialmente

criativo(a), que articula conhecimentos, habilidades e atitudes/valores e que

permite desenvolvimento contínuo (SENAC, 2015).

Em se tratando do termo “competências”, ressalva-se que não é um termo

exclusivo da instituição Senac; a discussão é dos idos da década de 1970 iniciada

entre psicólogos e administradores americanos, e faz-se importante destacar seu

significado.

O dicionário de língua portuguesa Aurélio utiliza, em sua definição, aspectos

como a capacidade para resolver qualquer assunto, aptidão, idoneidade. Traduzindo

competência como uma palavra utilizada para designar uma pessoa qualificada para

realizar alguma coisa.

Percebe-se, que tanto na literatura acadêmica, como nos textos fundamentais

da prática administrativa, que a referência balizadora do conceito de competência é

o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes de alto desempenho para a

realização de tarefas pertinentes a um determinado cargo e passa a substituir o

conceito de qualificação consolidado pelo taylorismo/fordismo.

No Brasil a reforma da educação profissional teve a competência, como

princípio ordenador, considerando-a como categoria central nas diretrizes

curriculares e implementada a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional: Decreto no 2.208/97, Diretrizes e Referenciais Curriculares Nacionais da

Educação Profissional de Nível Técnico.

Neste contexto, Acácia Kuenzer destaca que “o conceito de competência

passa a supor domínio do conhecimento científico-tecnológico e sócio-histórico em

fase de complexificação dos processos de trabalho, com impactos nas formas de

vida social” e que a relação do trabalhador com o conhecimento passa a demandar

o

desenvolvimento de capacidades cognitivas complexas, em particular as relativas a todas as formas de comunicação, ao domínio de diferentes linguagens e ao desenvolvimento do raciocínio lógico-formal, competências

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estas desenvolvidas através de relações sistematizadas com o conhecimento através de processos especificamente pedagógicos disponibilizados por escolas ou por cursos de educação profissional (KUENZER, 2002, p.2).

Tais colocações reforçam o posicionamento da instituição, que amparada no

crescimento significativo de formalização de empresas no estado de São Paulo, nos

últimos anos, e baseada em dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e

Tributação (IBPT), informa que entre o ano de 2013 e o mês de agosto de 2015

foram formalizadas mais de 800 mil empresas o que corresponde a um aumento de

cerca de 20%, e destaca que o curso Técnico em Administração contribuirá com a

qualificação e atualização dos profissionais que se propõe a se formar em sua

unidade e que podem ingressar nesse mercado em ascensão.

Para o SENAC (2015),

as organizações demandam por profissionais que apresentem visão sistêmica, compreensão do funcionamento e da dinâmica de cada área da empresa, desempenhando suas funções de forma proativa, com capacidade para solucionar problemas e bom relacionamento interpessoal, interagindo com diferentes equipes de trabalho no decorrer dos processos organizacionais.

A instituição busca privilegiar práticas pedagógicas contextualizadas no

desenvolvimento das competências, configurando um percurso metodológico que

coloca o aluno frente a situações desafiadoras (em níveis crescentes de

complexidade) de aprendizagem que mobilizam e articulam os “saberes necessários

para a ação e solução de questões inerentes à natureza da ocupação”.

A instituição assume o compromisso de formar o “perfil profissional de

conclusão”, onde o

Técnico em Administração é o profissional que executa atividades administrativas da organização relacionadas aos processos de: gestão de pessoas, operações logísticas, gestão de materiais e patrimônio, marketing, vendas e finanças. [...] O profissional formado pelo Senac tem como marcas formativas: domínio técnico-científico, visão crítica, atitude empreendedora, sustentável, colaborativa, atuando com foco em resultados. Essas marcas formativas reforçam o compromisso da instituição com a formação integral do ser humano, considerando aspectos relacionados ao mundo do trabalho e ao exercício da cidadania. Essa perspectiva propicia o comprometimento do aluno com a qualidade do trabalho, o desenvolvimento de uma visão ampla e consciente sobre sua atuação profissional e sobre sua capacidade de transformação da sociedade (SENAC, 2016).

Temos elencado como tema principal em toda a pesquisa que o mercado

cada vez mais exige mão de obra “qualificada, bem formada, especializada, treinada

ou reciclada”. E de acordo com o Relatório Social do SENAC em 2015, são esses os

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“predicados que faltam, em escala preocupante, no Brasil, até hoje”, por isso,

“atender às necessidades do progresso e reverter o estágio atual da educação

brasileira é o objetivo do SENAC.”

E para garantir tal objetivo, a instituição se propõe a desenvolver como forma

de análise do nível de concretização de sua proposta pedagógica, avaliações

diagnósticas e, sobretudo, qualitativas para compreender seu impacto no mercado

de comércio de bens e serviços.

Tal compromisso reforça a indagação central da pesquisadora: como o

mercado tem absorvido os profissionais qualificados pela instituição, representados

na figura dos alunos egressos dos cursos técnicos?

Assim, considerando o histórico da instituição e seu compromisso declarado

com a regulamentação dos cursos e programas oferecidos, bem como a importância

da Educação Profissional para o cenário educacional e mercadológico, creio ser

apropriado abordarmos as metodologias, estratégias e diretrizes da instituição.

3.4 DIRETRIZES EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICAS

Diante das constantes transformações ocorridas no mundo, das

reestruturações processuais no âmbito produtivo, a qualificação para o trabalho

deixa de ter a conotação apenas do saber fazer, passando a ser vista,

principalmente, como a articulação de vários elementos, subjetivos e objetivos, como

a sua inter-relação social, cultural e pessoal.

Nessa perspectiva, o SENAC entende que ao acesso à formação profissional

e tecnológica, impõe-se a superação do antigo enfoque da formação profissional

centrada apenas na preparação para a execução de um determinado conjunto de

tarefas, na maior parte das vezes, de maneira rotineira e burocrática. A formação

dos trabalhadores passa, então, a ter como objetivo o desenvolvimento de

competências.

Com metodologia educacional direcionada para o empreendedorismo, uma

das propostas da instituição é que os alunos aprendam a criar e diversificar as

possibilidades de sua inserção no mercado de trabalho, conquistando autonomia

para a realização de projetos inovadores.

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As diretrizes do SENAC consideram as bases conceituais que fundamentam a

concepção de educação profissional proposta pelo MEC e estão em sua essência,

reunindo princípios e critérios a serem observados pelas instituições de ensino na

organização e no planejamento, desenvolvimento e avaliação, tomando-se o mundo

do trabalho como referência fundamental para a definição dessas diretrizes.

Nesse contexto, os Documentos Educacionais são todos os documentos

relacionados aos produtos educacionais da instituição. Por exemplo: Proposta

Pedagógica, Programa de Curso, Plano de Curso, Plano de Aprendizagem, Plano de

Orientação para Oferta.

3.4.1 Proposta Pedagógica

As rápidas mudanças no setor de comércio de bens e serviços, nos anos 90,

colocou a organização diante da necessidade de orientar sua atuação. Momento em

que a instituição elaborou a Proposta Estratégica para a década, “considerando a

sua história e o conhecimento e experiências acumulados, antecipando desafios e

oportunidades, e projetando uma visão de futuro” (SENAC, 2005, p. 7).

Diante das mudanças sociais, políticas, culturais, econômicas e tecnológicas

há um impulsionamento para que as instituições educacionais articulem a educação

geral com a profissional, para que haja transformação nas relações de diálogo no

ambiente escolar, centrados na capacidade de ouvir o outro, no protagonismo dos

alunos e na participação de todos.

Novos métodos de gestão empresarial foram incorporados à organização. Enfatizou-se o estabelecimento de parcerias, o marketing, a ampliação da rede física de unidades, o investimento em equipamentos, a ampliação do trabalho de educação sociocomunitária, os programas de internacionalização, a orientação para público cliente. Investiu-se no desenvolvimento de pessoas e nas mudanças estruturais. Foram criadas as Unidades Regionais, com função de operacionalização dos programas desenvolvidos pelas Unidades Especializadas e responsáveis pela coordenação da ação das Unidades Operacionais a elas vinculadas (SENAC, 2005, p. 7).

Por volta do ano 2000, houve a mobilização para se construir uma nova

Proposta Estratégica para a década 2001-2010. Para a construção da mesma,

buscou-se a participação coletiva, incorporando e análises do cenário nacional e

internacional.

A Proposta Pedagógica do SENAC, que foi revisada em 2005, cita que “entre

as principais transformações em curso, está o deslocamento da ênfase no ensino

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para a ênfase na aprendizagem. A educação passa a ser compreendida como um

processo em que o aluno está envolvido ativamente”.

O SENAC São Paulo se propõe, através da educação profissional, promover

as pessoas, organizações e comunidades, para que haja fortalecimento por meio de

um processo de inserção social e ação participativa, desenvolvimento de

competências para o trabalho e melhoria da qualidade de vida.

As orientações básicas são:

a) sensibilizar e mobilizar pessoas, organizações e comunidades para a

busca de soluções para seus problemas, para a superação das

diferentes formas de exclusão social, para o desenvolvimento

sustentável e para a melhoria da qualidade de vida individual e coletiva;

b) contribuir para que o educando desenvolva suas potencialidades,

estimulando um contínuo processo de desenvolvimento, sendo

fundamental esta perspectiva, de educação permanente;

c) ter como valores e princípios a autonomia das pessoas, organizações e

comunidades, a participação no coletivo no qual estão inseridas, a ética,

a solidariedade e o respeito à diversidade. (ibidem, 2005, p.5)

Há uma constante preocupação da instituição em se manter atualizada e

integrada às transformações sociais, educacionais e econômicas, reconhecendo que

as inovações e a alta tecnologia tem papel decisivo na aprendizagem de indivíduos

e organizações e no crescimento econômico.

Para o cumprimento de sua missão e a concretização de sua visão de futuro,

o SENAC elencou estratégias, ou “grandes rumos”, que indicam os focos prioritários

e os princípios da qualidade para as ações da instituição para o alto desempenho e

para a satisfação dos usuários:

a) Educação: construção, disseminação e aplicação de conhecimento que favoreça

o desenvolvimento de competências e autonomia, visando a educação de um

cidadão ético e produtivo.

b) Responsabilidade social e ambiental: atuação efetiva no processo de

transformação econômico-social, com uma atitude cidadã que contribua para o

desenvolvimento sustentável das comunidades e do país.

c) Pessoas: investimento permanente em conhecimento e contínuo aprimoramento

humano e profissional de colaboradores, clientes e organizações.

d) Gestão do conhecimento: aprimoramento contínuo dos processos de trabalho

frente às mudanças no ambiente econômico, social, cultural e tecnológico.

e) Internacionalização: participação, sintonia e reciprocidade com o mercado

globalizado.

f) Práticas avaliativas: avaliação sistemática da ação institucional, buscando

referenciais de excelência internos e externos.

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O SENAC busca alto padrão de qualidade e prima pelas parcerias

considerando a interrelação com a sociedade, através de organizações sociais,

governamentais e empresariais, o que justifica definição da programação baseada

em estudos, pesquisas e análises sociais e de mercado, observação e interpretação

das tendências e oportunidades globais e locais.

Com a gestão e ação baseadas nos princípios acima citados, o processo

educacional busca estabelecer o padrão de portfólio de programação, preocupado

com a definição de cursos e currículos que atendam tanto à necessidade de

mercados e comunidades locais, clara e precisamente identificadas, como também

preserve a diversidade da oferta como um aspecto estratégico da instituição.

3.4.2 Organização curricular

O Modelo Pedagógico SENAC considera a competência o ponto central do

currículo dos Cursos Técnicos, sendo a competência a própria unidade curricular.

Os currículos são definidos buscando formar profissionais que reúnam em

seu perfil, conhecimentos técnicos, competências e valores essenciais à vida e

atuação ativa na sociedade. Para tanto, são pautados Planos de Curso de Educação

Profissional em Projetos Pedagógicos de Cursos que atendem à legislação, as

diretrizes e regulamentações específicas.

A organização declara que as diversas modalidades de ensino e suas

atividades, através de metodologia que alia teoria e prática, estão

“permanentemente revisadas e sintonizadas com seu tempo, segundo valores que

ajudam a nortear o desenvolvimento pessoal e profissional de seus alunos”.

O perfil inovador da instituição é resultado do trabalho que busca desenvolver programas educacionais não apenas para atividades clássicas, como também para novas demandas do mercado em que ainda não exista formação sistematizada. Essas características aliadas à qualidade dos cursos fazem a diferença no currículo dos profissionais que passam pelo SENAC São Paulo (SENAC, 2015, p.28).

A experiência ao longo dos anos garante a qualidade do ensino, um

diferencial no currículo dos alunos:

muitas empresas reconhecem a formação pelo Senac como um pré- requisito para suas vagas[...] Isso acontece porque os cursos técnicos propiciam, em tempo relativamente curto, um corpo de conhecimento consistente para a ocupação de postos de nível médio em estabelecimentos de comércio e serviços (ibidem, p.42).

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O ensino-aprendizagem na organização é contemplado em um currículo

integrado, flexível e pautado em competências, com trabalhos desenvolvidos por

meio de projetos, avaliação, sobretudo, qualitativa e recuperações contínuas, onde

os conhecimentos prévios dos alunos são considerados e enfoca o desenvolvimento

individual e coletivo.

O SENAC destaca em suas atividades o empreendedorismo, que pode ter

impacto na criação de negócios ou na reformulação de empresas já estabelecidas,

postura justificada pela dinâmica do mercado que indica a crescente valorização de

“profissionais dotados de atitude e técnica empreendedoras, capazes de identificar

oportunidades e apresentar iniciativas inovadoras”.

O SENAC São Paulo tem sido pioneiro na construção de uma cultura empreendedora entre seus professores, alunos e funcionários, criando modelos educacionais e incentivando novas ideias que tragam resultados positivos para a organização e a comunidade (SENAC, 2016, p.49).

Um dos reflexos da atuação do SENAC São Paulo na área do

empreendedorismo reconhece-se na inclusão, feita pela organização, de

componentes curriculares de gestão de negócios com foco nesta área.

A construção desse modelo se baseia nas principais metodologias existentes no Brasil e no exterior, credenciando o Senac São Paulo como uma das mais importantes referências nacionais quando o assunto é educação e cultura empreendedora (idem).

Diante do compromisso estabelecido na sua visão em atuar no

desenvolvimento de pessoas com ações educacionais para o estímulo da cidadania

e atuação profissional empreendedora, a instituição possui em suas diretrizes, para

a definição dos currículos,

os Planos de Curso de Educação Profissional e os Projetos Pedagógicos de Cursos, que atendem à legislação, diretrizes e regulamentações específicas para cada caso, sejam as nacionais, instituídas pelo Conselho Nacional de Educação e órgãos do Ministério da Educação, sejam as complementares do Conselho Estadual de Educação, quando se tratar de curso técnico de nível médio. [...] a organização curricular é flexível, possibilitando a construção de itinerários formativos, singulares e variados, inclusive viabilizando o aproveitamento efetivo das competências já desenvolvidas na vida escolar ou na prática social e profissional [...] A necessária e contínua atualização dos currículos deve ter como base a evolução das áreas profissionais e suas interações, com o objetivo de adequá-los às tendências do mundo do trabalho (SENAC, 2005, p.12).

A instituição declara que a organização curricular, estabelece inter-relações

entre as diferentes áreas de conhecimento e atividades profissionais. É utilizada

como meio para a promoção, com fundamento na ciência e na tecnologia, da

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constituição e do desenvolvimento de competências profissionais gerais e

específicas, é utilizada como meio ao estímulo da criatividade, transformação e

humanização das relações produtivas e “deve ser construída como um percurso

formativo, preferencialmente, modular, integrada em itinerários mais amplos e

articulada por projetos, próximos de problemas e de situações reais de vida e

trabalho” (SENAC, 2005, p.12).

Para o cumprimento dos planos e projetos educacionais, o SENAC

desenvolve uma Metodologia da Educação Profissional que propõe práticas

pedagógicas “inovadoras”, que estimulam o aluno a construir o conhecimento e a

desenvolver competências.

As salas e os ambientes de aprendizagem simulam ou reproduzem a realidade profissional. Os ambientes reais de vida e trabalho, não escolares, gradativamente, vêm sendo incorporados como ambientes educacionais. O desenvolvimento atual aponta para um momento em que todos os espaços internos e externos serão vistos como propícios para a construção de conhecimentos. [...] No âmbito desta proposta, a metodologia de educação profissional é baseada em projetos, estudos do meio e atividades de solução de problemas, a partir da pesquisa, da busca das informações, da ação criativa e transformadora (idem).

Nesta perspectiva, no processo de aprendizagem da instituição, o educador

exerce um papel de mediador, orientador, onde há o planejamento, estímulo da ação

protagonista do aluno, sujeitos da ação de ensinar e aprender, havendo a promoção

de reflexão, avaliação, reformulação e crítica.

Com esta abordagem, o currículo exige o comprometimento do educador e do educando em atividades que possibilitem o exercício efetivo da competência a desenvolver. Implica no envolvimento em ações criativas e inovadoras no interior dos próprios ambientes em que serão requeridas (ibidem, p.13).

As ações criativas e inovadoras são traduzidas em estratégias de

aprendizagem como, por exemplo: apresentação em plenária e discussão de vídeo,

aprendizagem por projetos baseados em problemas, pesquisa, visita técnica,

dramatização, dinâmicas, estudo de caso como demonstrados nas figuras 9, 10 e 11

disponíveis no site da instituição.

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Figura 9 Visita Técnica

Alunos Curso Técnico de Segurança. Fonte: SENAC, 2015

Através da estratégia de aprendizagem “visita técnica”, realizada em

empresas parceiras da instituição de ensino, o aluno pode constatar na prática

organizacional observada, as ferramentas aprendidas em sala de aula.

Figura 10 Dinâmica de Grupo

Alunos Curso Técnico em Logística. Fonte: SENAC, 2015

Nas dinâmicas de grupo o aluno pode praticar o planejamento, reflexão,

avaliação, reformulação e crítica a partir de um tema comum.

Na dramatização a proposta é envolver os alunos em uma dinâmica

diferenciada das aulas puramente expositivas, na criação coletiva de ideias;

criatividade; entrosamento; envolvimento com a linguagem corporal e teatral; na

exposição de fatos e ocorrências no mundo das organizações.

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Figura 11 Dramatização - Projeto

Alunos Curso Organizador de Eventos. Fonte: SENAC, 2015

A proposta pedagógica se dispõe a contribuir com a formação do perfil

profissional esperado e exigido pelo mercado de trabalho, que está em constantes

transformações e “com demandas sociais complexas e contraditórias”. Através da

constituição do grupo de alunos, da equipe de docentes de “competência

assegurada”, da metodologia de ensino-aprendizagem, a organização busca colocar

a função educativa em prática.

É necessário que o grupo seja adequado à proposta do curso e que o programa seja adequado aos seus interesses e necessidades. Nesse sentido, a função educadora tem início nos meios de comunicação e de informação que divulgam a proposta do curso e nos serviços de recepção e atendimento aos alunos potenciais. A constituição do grupo de docentes é atividade simultânea à formação do grupo de aprendizagem. [...]Para tanto, é necessário investir na geração, incorporação e adaptação de novas tecnologias no planejamento estratégico e em projetos de educação corporativa, valorizando o capital humano e intelectual da instituição (Ibidem, p. 13).

Com o objetivo de assegurar seu padrão nacional de excelência em educação

profissional, e unificar sua atuação em todo o Brasil, o SENAC iniciou, em 2014, a

implantação de um novo Modelo Pedagógico Nacional, “onde com base nos

mesmos princípios pedagógicos nacionais, os alunos passam a ter o mesmo modelo

de ensino nas diversas unidades do SENAC, sem deixar de considerar as realidades

locais” (SENAC, 2015).

3.4.3 Novo Modelo Nacional

Considerando que a educação profissional, vai além da preparação de mão

de obra qualificada e efetiva a formação para o trabalho em seus mais amplos

aspectos na contribuição para a formação de cidadãos, o Departamento Nacional do

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SENAC iniciou, em 2013, uma ação de alinhamento pedagógico, no sentido de

reforçar a unidade institucional, dando origem ao Modelo Pedagógico SENAC.

A importância do Novo Modelo Pedagógico da organização é enfatizada pela

instituição.

Com o novo Modelo Pedagógico, podemos assegurar um padrão nacional de qualidade e reafirmar, mais uma vez, o compromisso do SENAC com uma educação profissional de excelência para o setor do comércio de bens, serviços e turismo do nosso país (SENAC, 2015, p.20)

Alinhar a oferta de curso em todo território nacional, oferecer o mesmo padrão

de ensino e princípios pedagógicos e curriculares são alguns dos objetivos do novo

modelo pedagógico.

Na proposta pedagógica procura-se fortalecer a autonomia e protagonismo

dos alunos na aprendizagem, desenvolvendo a capacidade crítica, a criatividade e a

iniciativa.

O Novo Modelo consolida o trabalho por competência que passa a ser um

ponto estruturante do currículo, cuja competência é a própria Unidade Curricular; a

adoção de Projetos Integradores como estratégia para a articulação de

competências e o desenvolvimento de Planos de Cursos de abrangência nacional

são alguns aspectos de destaque.

O núcleo da proposta metodológica organiza-se a partir do conceito de ação-reflexão-ação, no qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer. Além do vínculo com o mundo do trabalho, a proposta metodológica do curso se articula com o repertório social do aluno, uma vez que essas relações possibilitam explorar potencial educativo das experiências anteriores com o contexto da ocupação (SENAC, 2015, p. 12).

Houve uma reformulação dos planos de curso, que traduzem os objetivos e o

perfil do aluno para cada ocupação e tipo de avaliação e também organizam o

currículo, especificando a carga horária, os indicadores e os elementos de

competência (conhecimentos, habilidades, atitudes/valores), além de apresentar as

orientações metodológicas e bibliográficas.

O curso tornou-se mais dinâmico, o que permite maior participação do aluno, já que ele acompanha o desenvolvimento de seu processo por meio de indicadores que são muito claros. A avaliação acontece constantemente, e o aluno pode ser recuperado com mais facilidade (SENAC, 2014).

Entretanto, importante salientar qual o conceito de competência para o Senac,

competências tais que nortearão a elaboração das unidades curriculares. Afinal: o

que é competência para o SENAC?

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A intenção é que o conceito, no recorte adotado pelo Senac, transponha a abstração comum ao entendimento de fenômenos sociais complexos e se traduza em práticas de ensino e aprendizagem cotidianas, fazendo a diferença na busca por uma educação profissional de qualidade para todos (SENAC. DN, 2015, p.6)

Na concepção do SENAC (2015), o mundo do trabalho é complexo e em

constante transformação, “o trabalhador é visto como cidadão autônomo” e “a

competência passa a ser o foco da formação para o trabalho”.

O SENAC, portanto, define competência como “ação/fazer profissional

observável, potencialmente criativo, que articula conhecimentos, habilidades,

atitudes e valores e permite desenvolvimento contínuo”.

Exemplos competência e elementos de competências:

Quadro 1 Competência e Elemento de Competência – SENAC

Competência: Embalar e empacotar mercadorias e produtos

Curso: Aprendizagem Profissional Comercial em Serviços de Supermercados

Conhecimentos

Conceitos e características de mercadorias e produtos: perecíveis e não perecíveis,

de limpeza, higiene, entre outros.

Características dos alimentos e possíveis alterações.

Habilidades

Interpretar documentos e rótulos de identificação de materiais e produtos.

Identificar mercadorias e produtos a partir da verificação de códigos e especificações. Atitudes/Valores

Atenção e organização na execução do trabalho.

Flexibilidade e cordialidade no relacionamento com equipes de trabalho e clientes.

Fonte: SENAC DN, 2015.

O desenvolvimento das competências, próprias de cada perfil profissional,

objetiva a consolidação das marcas formativas, e os elementos de competência

subsidiam a prática docente para o desenvolvimento de tais competências.

Nesta nova proposta, o aluno ocupa lugar central no processo de ensino e

aprendizagem. No Novo Modelo Nacional (2015), “constitui-se como sujeito – com

valores, crenças, atitudes e conhecimentos prévios – ativo e autônomo na

construção de seu próprio conhecimento”.

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Um dos elementos que se diferenciam neste projeto pedagógico são as

“marcas formativas”, que são características a serem evidenciadas nos alunos, ao

longo do processo formativo.

O projeto está voltado para a formação das competências do aluno, na ação,

no fazer profissional observável, potencialmente criativo, que articula

conhecimentos, habilidades e valores, permitindo o seu desenvolvimento contínuo,

imprimindo uma “marca formativa”.

Calcado nos valores institucionais e nos princípios educativos, o SENAC

busca imprimir essa “marca formativa” no aluno. São essas marcas que devem

identificar e diferenciar no mundo do trabalho os profissionais egressos do SENAC.

“Devem, portanto, ser internalizadas na prática pedagógica, de forma subjacente a

todas as ações de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento de

competências, de tal forma que os alunos as incorporem à sua atuação profissional”

(SENAC, 2015, p.15).

Quadro 2 Marcas Formativas do SENAC

MARCAS FORMATIVAS

Domínio técnico-científico

Refere-se à articulação dos elementos de competência (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) para o exercício do fazer profissional. Compreende a visão sistêmica e o comportamento investigativo. Desenvoltura e foco em soluções, selecionando técnicas e instrumentos adequados ao contexto de cada ocupação e propondo os melhores meios para a resolução de problemas.

Visão crítica

Envolve a análise dos fundamentos e razões das ações organizacionais, de forma a investigar suas causas e relações, para além dos comportamentos previstos e procedimentos- padrão. O profissional formado pelo Senac compreende e problematiza o contexto no qual se insere, é capaz de transformar suas ações, com base na reflexão e, da mesma forma, modificar ou propor modificações para a realidade em que vive. É, acima de tudo, um indagador, questionador de fórmulas prontas, capaz de propor soluções que visem à melhoria dos processos produtivos e da comunidade.

Atitude empreendedora

Observação e análise permanente, com vistas a tomar a inciativa de implementar novos negócios ou mudanças em instituições, na perspectiva de fazer diferente, usar novos recursos, criar, realizar e exercitar as suas capacidades humanas. Iniciativa, criatividade, inovação, autonomia e dinamismo, demonstrados nas mais diversas situações de trabalho.

Atitude sustentável

Essa marca compreende a evidência, nos alunos, dos princípios da sustentabilidade – desenvolvimento social, econômico e ambiental – traduzidos em práticas de uso racional dos recursos organizacionais disponíveis. Refere-se, nesse sentido, à consciência de que os recursos disponíveis – naturais e organizacionais – são limitados, o que significa que seu uso deve ser racional e voltado à qualidade de vida pessoal e coletiva, centrado no balanceamento da preservação ambiental com o

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desenvolvimento social e econômico. Essa marca também se relaciona ao respeito às expressões da diversidade humana, à ética e à cidadania.

Atitude colaborativa

Refere-se à postura pessoal que se espera no trabalho, a qual envolve o estabelecimento de relações construtivas, baseadas na colaboração, no compartilhamento de informações e na comunicação de forma clara, objetiva e assertiva. Essa marca evidencia nos alunos, portanto, o trabalho em equipe, a necessidade de se efetivar relações interpessoais construtivas e a assertividade na comunicação.

Fonte: SENAC, 2015

Os desenhos curriculares dos Cursos Técnicos são estruturados a partir das

competências do perfil do egresso, que se consolidam na organização curricular

como Unidades Curriculares que desenvolvem competências.

O projeto está em construção e sua principal característica é de ter sido e

continuar sendo uma construção coletiva num movimento colaborativo que

aproveita, reúne e transforma o que há de melhor em cada Departamento Regional

da instituição.

O destaque para “marcas formativas” proposta pela instituição como elemento

que diferenciará o aluno egresso dos seus cursos constitui um dos fatores

preponderantes para a investigação que se pretende com essa pesquisa uma vez

que se buscou verificar se o mercado de trabalho de Americana reconhece as

marcas formativas como um diferencial e se as utilizam como princípio para a

contratação de seus profissionais.

3.5 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA: UM

DIÁLOGO POSSÍVEL?

Para iniciarmos a discussão, parece-nos adequado mencionar que não

ignoramos a existência de desafios de mudanças na sociedade, nas políticas

públicas, em projetos de educação escolar básica e de formação profissional e

tecnológica “a fim de preparar a maioria dos trabalhadores para o trabalho

complexo, que é o que agrega valor e efetiva competição intercapitalista”

(FRIGOTO, 2007, p. 1136).

Entretanto, com base nas ideias guiadas pelos pensamentos anteriormente

alinhados, podemos supor que a educação profissional, em seus mais amplos

aspectos, busca ter como pressuposto ir além da preparação de mão de obra

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qualificada, bem como efetivar a formação para o trabalho e a contribuição para a

formação de cidadãos.

Nesse sentido, cabe relembrar que para Saviani (1994), “é sabido que a

educação praticamente coincide com a própria existência humana. Em outros

termos, as origens da educação se confundem com as origens do próprio homem”,

sendo assim, a educação profissional, como uma das formas de educação, sinaliza

como um dos caminhos para o fortalecimento da autonomia e protagonismo,

desenvolvendo a capacidade crítica, a criatividade e a iniciativa para que o homem

se relacione com o mundo de forma consciente e reflexiva.

Por sua vez, o conceito de ação-reflexão-ação presente na proposta

pedagógica da instituição em análise, além do próprio fazer, propõe-se a articular o

repertório social do aluno explorando o potencial educativo de suas experiências

mediado com o mundo do trabalho.

Mundo este que, na visão de Marx, ocupa lugar central, e é destacado por

Manacorda (2007) em sua abordagem, entretanto, reafirma a dificuldade de se ter

uma ideia precisa sobre o conceito de trabalho.

É importante afirmar que o homem, conscientemente, modifica, cria e recria

sua existência, e o faz através do trabalho. Mas vale lembrar que a educação tem

um papel importante, se não fundamental, como instrumento de viabilização do

pensamento crítico.

O Novo Modelo Nacional do SENAC (2015) trará para o debate a centralidade

do aluno no processo ensino aprendizado, que “constitui-se como sujeito – com

valores, crenças, atitudes e conhecimentos prévios – ativo e autônomo na

construção de seu próprio conhecimento”.

Continuando ainda a ponderar sobre educação profissional, dada às

constantes mudanças que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo, entende-se a

exigência por processos inovadores de formação a fim de possibilitarem a

construção de competências, destacando que esse processo tende a ampliar os

espaços voltados à cidadania, mesmo que seja uma demanda produzida

principalmente pelo capital para atender às necessidades do mundo do trabalho.

Entretanto, em Oliveira e Sousa, Brandão nos faz lembrar aqui que:

ainda que represente uma escolha de saberes, de sentidos, de significados, de sensibilidades e de sociabilidades, entre outras, a educação não deve se antecipar, preestabelecendo de maneira restrita ‘modelos de pessoas’. Não pode pré-criar ‘padrões de sujeitos’ como atores sociais antecipados e

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treinados para realizarem, individual e coletivamente, um estilo social de ser único ou mesmo restrito e limitado. Somente é humano o que é imprevisível. Assim, toda a educação que humaniza pensa, pesquisa e opera sobre suas incertezas a respeito não tanto dos seus princípios, mas do destino daqueles a quem educa (OLIVEIRA; SOUSA. 2014, p.14).

Pensando no “destino daqueles a quem se educa”, considera-se importante

tal colocação na medida em que se percebe que há, na educação profissional, um

movimento pelo reconhecimento da subjetividade de seus educandos; e a

advertência acima nos faz refletir sobre a linha tênue existente entre à formação

técnica e a condição saber-fazer-conviver-ser, cuidando para não reduzir a formação

técnica do jovem à instrumentalização profissional.

Pela mesma razão, “a educação deve formar pessoas livres e criativas o

bastante para se reconhecerem corresponsáveis pelas suas próprias escolhas”

(ibidem, 2014), o que nos remete a pensar em interações e intervenções

educacionais e sociais.

Contextualizando e conceituando tais “interações e intervenções” podemos

citar Gomes (2008) quando este se refere à Educação Sociocomunitária.

A Educação Sociocomunitária surgiu do estudo da identidade histórica de uma prática educativa, a educação salesiana. Em suas origens históricas, ela se fundava na articulação de uma comunidade civil - de religiosos e cidadãos comuns - em torno de um projeto educacional, que participou e promoveu transformações sociais em seu tempo e lugar histórico [...] esse fato histórico, presente na identidade institucional e em seu modo de educar, nos chamou a atenção para um tipo de processo educacional marcado por intervenções educativas que articulam a comunidade para transformações sociais. Foi a esse padrão de intervenção que se propôs como hipótese de investigação, a Educação Sociocomunitária (GOMES, 2008, p.).

Para Groppo (2013) a educação sociocomunitária é entendida, também, como

“intervenções educacionais” que têm “claras intenções de impacto social”, podendo

ocorrer em espaços “não formais”3, mas também em ambientes formais, como as

escolas.

Esse tipo de intervenção educacional promove, segundo alguns autores, a

formação para a vida em sociedade e faz com que haja o exercício da cidadania e

evita a indiferença aos problemas atuais.

3 Espaços não formais são aqueles que se baseiam não em um currículo a priori, mas em temas de interesse dos

grupos, bem como o uso de dança, teatro, música; são espaços que se diferenciam da educação formal pela maior

flexibilidade de tempo e liberdade para escolher os conteúdos a serem desenvolvidos, bem como por ser uma

escolha de iniciativa voluntária e não obrigatória, em uma instituição outra que não a escola, locais mais

informais, como a rua ou instituições de diferentes origens (pública, ong., religiosa e comunitária).

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Pensando em Educação Profissional, torna-se necessário compreender esta

realidade, mas não com ênfase na instrução para o trabalho e sim numa proposta de

integração de saberes para o trabalho, entendendo esse como, mais que

sobrevivência, mas atividade humana de modificar as condições de existência, sua e

de sua comunidade.

Neste contexto, Azevedo aborda o papel das instituições educacionais:

A sua responsabilidade social (pois a responsabilidade social não é uma exigência que fazemos exclusivamente às empresas e às outras instituições) impõe que, para lá de oferecerem uma formação inicial de qualidade e bem inserida na realidade social, sejam também instituições de acolhimento permanente, ao longo da vida [...] Mais uma vez se percebe esta perspectiva ecológica, que aqui designamos por sociocomunitária, em que mergulham as instituições educacionais (AZEVEDO, 2009, p.13).

Em educação sociocomunitária alguns elementos considerados e entendidos

como caminhos para a construção de uma sociedade em que impera a pluralidade,

são recorrentes em artigos de diversos autores, como o desenvolvimento da

autonomia pessoal, os relacionamentos sociais e comunitários, a diversidade

cultural.

Um aspecto relevante a se considerar é que educação sociocomunitária pode

ser entendida como um “processo que escuta”, como nos faz refletir Bissoto.

A Educação Sociocomunitária, antes do que mais uma subdivisão ou uma especialização da educação, deve ser entendida como um processo: aquele de escuta – e assim de trazer à tona, de favorecer a emersão- das diferentes vozes que compõem as múltiplas educações, que vão nos configurando-construindo a nossa subjetividade- enquanto vamos sendo inseridos nas malhas de relações sociais, que constituem o viver. A escuta atenta destas vozes, o colocá-las em diálogo, levantando a discussão de suas contradições e ideologias, é fundamental para que tenhamos uma tessitura da realidade mais crítica e emancipatória. É por meio desta discussão que a educação para a autonomia é possível (BISSOTO, 2012, p. 54).

Apoiando-nos nos conceitos de educação sociocomunitária podemos

compreender que esta pode ser percebida na educação profissional quando há a

intenção de esforços para a efetivação da relação educação-trabalho e através

desta, que o aluno seja desenvolvido para atuar de forma transformadora na

sociedade.

A partir das ideias expostas, entende-se que o diálogo entre Educação

Sociocomunitária e Educação Profissional é possível e viável. O ensino profissional

se apresenta como um ambiente favorável ao desenvolvimento de espaços e

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práticas transformadoras para o fortalecimento da solidariedade, visão crítica,

autonomia.

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4 METODOLOGIA

Neste capítulo apresentamos a trajetória da pesquisa, o seu contexto, o

procedimento metodológico utilizado, os critérios de seleção dos sujeitos e a coleta

de dados utilizados para o estudo proposto na investigação.

A pesquisa é uma das formas de tornar esse conhecimento compreensível e

busca examinar a forma como as pessoas participam da construção do mundo em

que vivem, permitindo a compreensão dos acontecimentos, dando-lhe sentido.

Desse modo, entendemos que educação e trabalho constituem categorias-

chave que fundamentam a construção dessa pesquisa.

4.2 INSTRUMENTOS DA PESQUISA

Podemos analisar o contexto da Educação Profissional como um campo da

Educação que ainda demanda olhares atentos, olhares ampliados, que possibilitem

a compreensão além da “imagem aparente”.

Partindo da realidade concreta, contextualizada, a pesquisa visa problematizar

aspectos relativos à formação técnica de alunos egressos de uma instituição

educacional de ensino técnico/profissional, localizada na cidade de Americana, e

sua relação com o mercado de trabalho.

Em estudo realizado pela CNI – Confederação Nacional da Indústria em parceria

com o IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística em 2014, a

opinião de 74% dos brasileiros entrevistados é que o aluno que termina a educação

profissional está bem preparado ou razoavelmente preparado para exercer sua

profissão; e para 20% deles, os alunos estão pouco preparados ou despreparados

para exercer a profissão.

Dentre os entrevistados que frequentam ou frequentaram cursos de educação

profissional, 43% o fizeram em instituição de ensino de educação profissional

vinculada ao Sistema S o que corrobora com a afirmação de que o SENAC é uma

das instituições que exercem um trabalho expressivo no âmbito da formação técnica.

De forma geral, o estudo realizado mostra que na percepção de 90% dos brasileiros

entrevistados, o trabalhador com certificação profissional tem melhores

oportunidades de trabalho e que a Educação Profissional abre portas para o

mercado de trabalho.

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Em contrapartida, Frigotto (2001) apresenta um ponto de reflexão no

conteúdo básico do projeto do governo federal quando indica que a Educação

Profissional subordina-se ao ideário do mercado e do capital e de um modelo de

desenvolvimento excludente, concentrador de renda, predatório. Mercado e capital

sem controles da sociedade - flexível e desregulamentado que gera desemprego,

subemprego e exclusão. Neste horizonte a educação em geral e, particularmente, a

educação profissional se vincula a uma perspectiva de adestramento, acomodação,

mesmo que se utilizem noções como as de educação polivalente e abstrata. Trata-

se de conformar um cidadão mínimo, que pensa minimamente e que reaja

minimamente. Trata-se de uma formação numa ótica individualista, fragmentária -

sequer habilite o cidadão e lhe dê direito a um emprego, a uma profissão, tornando-o

apenas um mero “empregável” disponível no mercado de trabalho sob os desígnios

do capital em sua nova configuração.

A pesquisa bibliográfica foi realizada com o objetivo de organizar e discutir as

publicações mais recentes sobre o tema em questão, e não pretendeu realizar o

mapeamento da extensa literatura, mas pretendeu possibilitar algumas respostas às

questões importantes para a investigação sobre o tema estudado, tais como: tem o

mercado de trabalho absorvido os jovens egressos de cursos técnicos? Como os

temas propostos nos cursos técnicos se mostram verificados na contratação? A

“marca formativa” proposta pela instituição é considerada pelas empresas para a

contratação?

Entende-se que “o referencial teórico de um pesquisador é um filtro pelo qual

ele enxerga realidade, sugerindo perguntas e indicando possibilidades” (LUNA, p. 32

in FAZENDA org., 2000).

Portanto, utilizamos preferencialmente alguns autores como Marx, Mancorda,

Frigotto, Kuenzer, para nos servir de referencial explicativo para as observações

realizadas. No entanto, entende-se que tal referencial apresenta um recorte

priorizado da realidade dado a abrangência do tema pesquisado.

A pesquisa teve também como fonte de análise o SENAC Americana e os

seus respectivos materiais públicos disponíveis para consulta. A partir da análise

dos dados, foi constatada, pela ótica institucional, a relevância do ensino técnico

para o mercado de trabalho e como a instituição se preocupa em formar um aluno

com as características coerentes com a demanda do mercado.

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Baseando na relevância da Educação Profissional para a formação do aluno

como um ser social e na sua atuação no mercado de trabalho, bem como na sua

atuação como agente transformador, a ideia inicial era realizar a pesquisa

direcionada para os alunos egressos de cursos técnicos da instituição educacional

em questão, entretanto, após demissão da pesquisadora da instituição SENAC

Americana, e por não ter mais a autorização para entrevistar os alunos, o foco de

análise passou a ser empresas da cidade de Americana por apresentarem papel

relevante na relação educação/trabalho/integração no mercado de trabalho.

4.3 ABORDAGEM DA PESQUISA

A pesquisa se deu através de uma abordagem qualitativa, numa tentativa de

explicar os resultados das informações obtidas através de entrevistas, cujo objetivo

principal foi identificar pontos relevantes sobre a formação técnica e a integração

dos alunos egressos no mercado de trabalho americanense.

A técnica utilizada para coleta de dados foi a entrevista semiestruturada,

apresentando um roteiro composto por perguntas abertas, tendo o informante a

possibilidade de discorrer livremente sobre o tema proposto.

Com a preocupação de criar um clima amistoso e atingir maior êxito, atentou-

se em seguir algumas diretrizes, que segundo Marconi e Lakatos (2010) são

essenciais.

O contato inicial com os entrevistados se deu através contato de telefônico

para apresentação do objetivo da pesquisa, esclarecimento sobre a importância e

necessidade da colaboração do entrevistado, esclarecimento sobre a

confidencialidade das informações e agendamento da entrevista.

As entrevistas foram realizadas através da formulação de perguntas abertas,

deixando o entrevistado à vontade para discorrer sobre o tema.

O registro das respostas foi realizado através de gravações em áudio e

transcrito, buscando manter maior fidelidade e veracidade das informações.

O momento da entrevista se deu de forma individual no escritório da empresa

onde um representante do departamento de recursos humanos respondeu aos

questionário da entrevista.

Antes e depois da entrevista houve a preocupação de direcionar a conversa

para temas diversos objetivando criar um clima amistoso e seguro.

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4.4 CRITÉRIOS DE ESCOLHA

O objetivo da entrevista foi identificar como os temas propostos nos cursos

técnicos da instituição se mostram verificados nas contratações; se a “marca

formativa” proposta pela instituição formadora é considerada para a contratação; se

as capacidades/habilidades desenvolvidas pela instituição são identificadas e

consideradas pelo mercado de trabalho americanense.

Os critérios para a escolha das empresas entrevistadas consideraram a

localização na cidade de Americana, o setor de atuação, a disponibilidade de

participação, o fato de a empresa possuir uma política de recrutamento e

treinamento, e que a empresa tivessem realizado contratações de alunos egressos

de cursos técnicos oferecidos pela instituição nos últimos três anos, considerando o

período 2014 a 2106. Ficando assim distribuídas: 01 empresa do setor privado de

grande porte, 01 empresa do comércio de pequeno porte, 01 empresa de prestação

de serviços de médio porte.

4.5 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES

Um dos critérios de escolha das empresas entrevistas foi o seu porte e para

tanto, considerou-se a classificação adotada pelo IBGE que classifica as empresas

pelo número de empregados da seguinte forma:

Indústria: Micro: com até 19 empregados, Pequena: de 20 a 99 empregados,

Média: 100 a 499 empregados, Grande: mais de 500 empregados.

Comércio e Serviços: Micro: até 9 empregados, Pequena: de 10 a 49

empregados Média: de 50 a 99 empregados, Grande: mais de 100 empregados

4.5.1 Empresa 1: Indústria

Indústria de grande porte fundada e instalada em outubro de 1929 no bairro

Tatuapé da capital paulista, atuando na confecção de sacos para atender à

produção de farinha e diversos tipos de fios. Atualmente atua em duas Unidades de

Negócio: Jeanswear, dedicada à produção de tecidos inovadores para a confecção

de jeans, e Workwear, voltada para a produção de tecidos especiais para roupas

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profissionais. Possui mais de 3 mil colaboradores, divididos entre o escritório central

em São Paulo (SP), duas unidades produtivas no Brasil – Americana e Tatuí (SP) –

um escritório em Buenos Aires e uma unidade produtiva em Tucumán, na Argentina.

“Aos colaboradores, a Santista oferece um ambiente de trabalho seguro, com

estímulo ao desenvolvimento profissional e ao diálogo aberto”.

A empresa acredita no desenvolvimento profissional e é parte sua da política

empresarial “promover o desenvolvimento de seus profissionais, valorizar e

reconhecer as pessoas com base nos resultados alcançados e assegurar que o

trabalho nas empresas seja um espaço de criação e realização”. Para tanto, as

diretrizes da empresa “estimulam o coleguismo e a parceria nas relações

profissionais, o trabalho em equipe, a liderança responsável e a integração de

todos”.

4.5.2 Empresa 2: Prestadora de Serviços.

Empresa especializada em consultoria, assessoria em segurança e higiene do

trabalho, que foi fundada em 2001 a partir do sonho de um empreendedor, em

difundir, conscientizar e levar a ideia de “Segurança no trabalho” a todas as

pessoas e empresas. a empresa possui em sua equipe de além do setor

administrativo e gerencial, engenheiro industrial, mecânico, ambiental, de

segurança, técnico de segurança, bombeiro civil e enfermeiro do trabalho.

4.5.3 Empresa 3: Comércio

Empresa de médio porte do setor de comércio, é uma empresa de confecções

com mais de 15 anos de existência.

A empresa iniciou suas atividades fabricando uniformes esportivos para

atender as escolinhas de futebol em Santa Bárbara D’Oeste – SP.

Elabora produtos com tecnologia e suas peças são confeccionadas em Microfit,

Drayfit, Dry-Tec, esta tecnologia aplicada ao tecido permite que a transpiração do

corpo passe rapidamente para a parte externa do tecido, mantendo o usuário seco,

auxiliando no controle da temperatura, sendo um tecido leve e confortável.

Atua na confecção e comercialização de uniformes profissionais, industriais,

promocionais, masculino, feminino, personalizados, hospitalares, avental.

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Desenvolve treinamentos e desenvolvimentos dos seus profissionais. 4.6 CLASSIFICAÇÃO DAS PERGUNTAS

Quanto à forma, as perguntas foram classificadas na categoria aberta ou livre,

que permite ao informante responder utilizando linguagem própria e emitindo suas

opiniões.

A entrevista seguiu um roteiro composto por 05 perguntas abertas:

a) Pensando num contexto geral, na sua percepção, quais os fatores

facilitadores e dificultadores para a contratação de profissionais com

formação técnica?

b) Em sua opinião, o mercado de trabalho apresenta profissionais técnicos

qualificados para sua demanda?

c) Quais competências você considera relevante para o perfil profissional

técnico no momento da contratação?

d) Quais fatores implicam na sua decisão ao contratar alunos egressos do

SENAC?

e) O SENAC propõe que os alunos da instituição possuem uma “marca

formativa”, você as considera para a contratação?

4.7 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.

Para análise dos dados relatados nas entrevistas, somente alguns trechos

serão transcritos e discutidos com o objetivo de descrever episódios ocorridos

durante a entrevista.

Os resultados aqui apresentados, de fato retratam a percepção obtida através

do discurso nas entrevistas com as empresas que se propuseram a falar.

O objetivo central das entrevistas era identificar qual a visão das empresas

com relação à formação técnica e a implicação da mesma na contratação, sendo

assim, os relatos foram escolhidos devido a sua influência direta nessa questão.

Praticamente todos os comentários giraram em torno da necessidade de se

ter nas empresas profissionais qualificados e comprometidos que possam

desempenhar suas funções com qualidade e dedicação.

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As entrevistas foram realizadas com 01 empresa do setor privado de grande

porte (E1), 01 empresa de prestação de serviços de médio porte (E2) e 01 empresa

do comércio de pequeno porte. Vale ressaltar, entretanto, que a terceira empresa de

comércio de pequeno porte, abriu falência e solicitou que a entrevista fosse

desconsiderada para a pesquisa. Sendo assim, as respostas foram caracterizadas

respectivamente através dos seguintes códigos: “E1” e “E2”.

Um dos objetivos da pesquisa foi encontrar fatores que poderiam identificar

como os temas propostos nos cursos técnicos se mostravam verificados na

contratação.

Nos relatos das experiências vividas e as expectativas dos entrevistados

sobre a relação educação e formação profissional pode-se perceber que a

aproximação da instituição de ensino com as empresas é um fator importante de

inter-relação da teoria/prática.

“E1 - As instituições de ensino estão se preocupando em preparar o

profissional para novos desafios de inovação.”

Tal fala corrobora as diretrizes pedagógicas da instituição cuja gestão e ações

estão baseadas no estabelecimento de um padrão de portfólio de programação que

atendam às necessidades de mercados e comunidades locais.

Importante ressalvar que a educação tem um papel importante na formação

de cidadãos, de “pessoas livres e criativas o bastante para se reconhecerem

corresponsáveis pelas suas próprias escolhas” (OLIVEIRA, SOUZA, 2014, p.14) e

capazes de exercer sua consciência social e política. O que nos leva a pensar que

se faz necessário compreender a estrutura social para que o indivíduo tenha

consciência do seu lugar no mundo e optar por ele.

Durante a transcrição das entrevistas pude perceber que transcrever não é

apenas um ato mecânico de ouvir e registrar as falas dos entrevistados. Lima (2015)

traduz completamente tal sentimento:

o ato da transcrição de uma entrevista está relacionado não somente a solidão do pesquisador que enfrenta todos os dados colhidos sendo traduzidos em outra linguagem, mas também com as sensações, memórias e emoções que a entrevista ao ser transcrita pode nos trazer. Muitas vezes, me senti intimamente ligada aos meus depoentes (LIMA, 2015, p.57).

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Assim, o trabalho de transcrever as entrevistas, realizado pelo próprio

entrevistador, torna-se mais rico, permite a assimilação de todo conteúdo e contribui

para que a análise dos dados seja mais produtiva.

Na primeira pergunta (“Pensando num contexto geral, na sua percepção,

quais os fatores facilitadores e dificultadores para a contratação de profissionais com

formação técnica?”) que buscava identificar a percepção da empresa com relação

ao mercado profissional técnico, percebeu-se que as empresas entrevistadas

analisam os pontos facilitadores e dificultadores não perdendo de vista que buscam

encontrar e selecionar o profissional mais qualificado para sua demanda.

Nos relatos dos entrevistados, a profissionalização aparece como um

diferencial para a contratação de profissionais que buscam ingressar no mercado de

trabalho.

As empresas entrevistadas identificaram como facilitador para a contratação

de profissionais técnicos o embasamento teórico, os conhecimentos adquiridos nos

cursos, a boa formação.

“E1 - No sentido da teoria a gente percebe que as pessoas têm uma boa

bagagem de formação [...] eles vem muito preparados tecnicamente.”

“E2 – Ter boa formação ajuda, ter comprometimento, experiência [...]”

Como dificultador para a contratação, observou-se fatores como a falta de

experiência, a falta de vivência, de prática e de atualização.

“E1 – [...] na prática eles não tem muito manejo. Eles vêm muito preparados

teoricamente, mas falta um pouquinho disso [...] na parte prática acaba se

destacando aqueles que já tiveram uma vivência. [...] talvez quem não teve a

oportunidade de realizar um estágio na área não se saia tão bem [...] vai ter que se

dedicar mais tempo”.

“E2 – É difícil ter o profissional completo [...] eu vejo que o profissional não se

atualiza, não procura fazer treinamentos, entra numa empresa e fica parado.”

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Um enfoque que foi apresentado como um dificultador foi o curso técnico que

não exige estágio obrigatório como fator para formação.

“E1 - Quando o estágio não é obrigatório, a pessoa não tem interesse em ir

atrás porque ela não precisa para se formar e muitas vezes ela vai e não consegue,

tem os dois lados.”

Em contrapartida, segundo o entrevistado, quando o aluno faz estágio, ele

tem mais facilidade de ser contratado.

“E2 – A gente tem alguns feedbacks que quando a gente não consegue

segurar o estagiário, ele se recoloca no mercado com facilidade”.

Tendo em vista os relatos dos entrevistados, remete-nos à reflexão de que

realmente há uma estreita ligação entre educação (escola) e trabalho.

“E1 - [...] a gente percebe que o SENAC forma realmente para o mercado.

Eles conseguem ter um olhar do que o mercado espera.”

Tal afirmação confirma o objetivo da proposta pedagógica da instituição

educacional que se dispõe a contribuir com a formação do perfil profissional

esperado e exigido pelo mercado de trabalho. Entretanto, é importante questionar e

compreender qual o verdadeiro papel da escola, principalmente as de ensino

técnico, objeto de análise desta pesquisa, numa época marcada por profundas

transformações.

Com princípios centrados na prática mercantil, na produtividade,

competitividade, percebe-se que a educação profissional tem sido influenciada pelos

padrões de mercado, tornando-se um instrumental de formação dos indivíduos para

disputarem uma posição no mercado de trabalho.

Há que se pensar, entretanto, no papel da escola como produtora e

reprodutora de conhecimento, de criticidade, com o pressuposto de ir além da

preparação da mão de obra, de contribuir para a formação de cidadãos atuantes na

transformação de sua comunidade.

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Na segunda pergunta (“Em sua opinião, o mercado de trabalho apresenta

profissionais técnicos qualificados para sua demanda?”) cujo objetivo era identificar

se a formação proposta supre as necessidades do mercado e percebemos o quanto

o mercado, apesar das inúmeras instituições formadoras, apresenta carências de

profissionais qualificados em áreas muito específicas que atendam a demanda das

empresas entrevistadas, como é o caso do profissional Técnico em Segurança do

Trabalho, um dos cursos oferecidos pela instituição.

Um fator a ser considerado, contudo, é o cenário econômico que tem

impactado no processo seletivo.

“E1 – Hoje com a realidade do nosso mercado, falando em vagas técnicas,

com perfil mais específico, a gente não tem encontrado dificuldade por conta da

demanda do mercado. A oferta está pequena, então quando surge uma vaga,

aparecem muitos profissionais muito bem qualificados, às vezes até com uma

formação além do que precisamos para aquela função. Mas pensando em 1 ou 2

anos atrás, a dificuldade era maior, pois esses profissionais estavam empregados.”

Considerando um cenário econômico estável, as dificuldades ou facilidades

de contratação se evidenciam de acordo com as exigências do perfil da vaga.

“E2 – Demorei dois meses para conseguir o técnico para a vaga [...] é difícil

ter o profissional completo, a área de Segurança do Trabalho é muito abrangente, é

ilimitada.”

“E1 – Nós encontramos pessoas formadas, bem formadas, com experiência,

mas que já estão na área, mas numa empresa menor [...] e a pessoa acaba dando

preferência por sermos uma empresa maior, termos um nome sólido.”

Os dados obtidos no estudo mostram que apesar do cenário nem sempre

ideal para as empresas, as vagas disponíveis sempre são preenchidas, mostrando

que o sistema capitalista permanece em movimento.

Cabe enfatizar também que o SENAC é de natureza privada e há 70 anos

vem cumprindo seu papel na educação profissional, que além de responder às

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demandas do mercado, transmite os valores necessários para o sistema, que são

necessários para o indivíduo se adequar e se colocar no mercado.

Contudo vale ressaltar que o caráter capitalista das escolas assume destaque

perante as preocupações com relação ao ensino-aprendizagem.

Numa perspectiva marxista como referida nos capítulos anteriores, a

educação tecnológica e o trabalho como princípio educativo não estão vinculados à

dimensão de projetos e métodos pedagógicos, mas sim, como nos diz Frigotto,

à concepção dos processos sociais e educativos, que de dentro do terreno contraditório e numa perspectiva antagônica às relações sociais capitalistas pudessem desenvolver as bases sociais, culturais e científicas das múltiplas dimensões do ser humano no horizonte da práxis revolucionária, para a transição a um novo modo de produção e organização da vida social (FRIGOTTO, 2009, p.71).

Nesse sentido, há que se pensar que a educação profissional necessita

desenvolver uma nova perspectiva onde haja espaço para relações sociais livres de

subordinações capitalistas e possa romper com os mecanismos de adaptação.

Tal reflexão nos remete à terceira pergunta.

Considerando a análise dos documentos educacionais do SENAC e os

referenciais teóricos utilizados nesta pesquisa, a terceira pergunta (“Quais

competências você considera relevante para o perfil profissional técnico no momento

da contratação?”) cujo objetivo era compreender se o “perfil profissional de

conclusão” formado pela instituição é relevante para as empresas contratantes,

permitiu-nos constatar que o perfil desejado está atrelado às especificidades da

vaga disponível, como por exemplo, para o cargo de Técnico de Segurança do

Trabalho, existente nas empresas entrevistadas.

“E1 – O que se busca num profissional, pelo menos aqui na empresa,

formado em técnico de segurança do trabalho, é que ele tenha habilidade com as

normas, com as NRs [...] precisa ser alguém que tenha domínio disso, que tenha

comprometimento de saber a responsabilidade que é exercer a função, porque é

uma responsabilidade muito grande.”

“E2 – Se for um profissional formado, tem que tentar captar o mais completo,

desde a área de treinamento, área de elaboração de laudos, a parte de higiene

ambiental. Ele tem que conhecer um pouquinho de tudo.”

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“E1 – A gente tem um pouco de dificuldade ainda para contratação de

pessoas com formação técnica específica. Não no sentido de teoria”.

“E2 – Numa entrevista eu busco conhecer um pouquinho a pessoa, a ética,

personalidade, caráter [...] às vezes a gente pega referência.”

“E1 – Normalmente quando a empresa abre uma vaga muito técnica [...]

solicita que seja uma pessoa que já tenha experiência, que já tenha tido a vivência

prática naquele contexto [...] quando você encontra pessoas formadas, qualificadas

e que não tiveram a oportunidade de trabalhar na área, num processo de seleção,

você acaba tendo que optar por quem já teve a vivência prática.”

“E2 – [...] eu vejo assim: se a pessoa tem vontade de aprender, e ele é uma

boa pessoa, e tem alguém que ensina corretamente, ele vai aprender, precisa

querer”.

“E1 – Não basta só a formação, tem que ser uma pessoa que tenha tido a

vivência na prática.”

A partir do que foi exposto, podemos concluir que mesmo com a existência da

relação escola-trabalho, de acordo com suas necessidades, a empresa define qual o

tipo de profissional ocupará seu quadro de funcionários, e a prática, experiência é

um fator muito presente no processo seletivo, apesar das práticas pedagógicas da

instituição sugerir dinâmicas que coloquem o aluno frente a situações desafiadoras

que o capacite para o mercado. Tais práticas são apenas simulações de situações

reais, não contemplando a necessidade da experiência prática buscada pelas

empresas.

Há uma demanda para novos conhecimentos tendo em vista as adequações

e inovações tecnológicas, necessitando priorizar uma formação com características

de polivalência.

Percebeu-se também que a prática e a vivência são fatores decisivos numa

contratação profissional, especificamente para a vaga de técnico de segurança do

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trabalho e que algumas vezes há a necessidade de investir em formação do

trabalhador na própria empresa.

Uma resposta sobre o perfil buscado pela empresa nos chamou a atenção:

“E1 – Primeiramente o comprometimento [...] a pessoa precisa estar

engajada com o objetivo da empresa, saber que ela está aqui para contribuir com

isso, é uma via de mão dupla, ela recebe o conhecimento e contribui para a empresa

[...] a responsabilidade de exercer a função dentro do que a empresa solicita, dentro

do que a empresa acredita, dentro da ética profissional que a empresa prega.”

Analisando com afinco, podemos constatar que o perfil de qualificação

esperado pela empresa entrevistada, está além das habilidades técnicas e ampla

formação, pede uma nova postura profissional, de participação, envolvimento,

comprometimento na busca de soluções que atendam o interesse da empresa.

Contudo, ao assumir o papel de reprodutor de teorias, ideias e habilidades

necessárias ao capital, a escola contribui com a precarização da existência do

trabalhador enquanto autor da sua própria história.

A quarta e quinta perguntas da entrevista tinham a intenção de estabelecer

um diálogo entre o mercado de trabalho e a proposta pedagógica de uma “marca

formativa” para os alunos da instituição pesquisada (“Quais fatores implicam na sua

decisão ao contratar alunos egressos do SENAC e; O SENAC propõe que os alunos

da instituição possuem uma “marca formativa”, você as considera para a

contratação?”).

Através das respostas, percebeu-se que o fato do candidato ser formado pela

instituição não é o fator relevante para a contratação, mas possui certo grau de

influência.

“E2 – Quando vai contratar um profissional, você vai pegar uma pessoa com

3 anos, 4 anos de experiência. Esse não é um fator que a gente observa, não.”

“E1 – Quando a gente faz o processo seletivo [...] a prática vai pesar, mas se

for avaliar um candidato formado pelo SENAC e um formado por outra instituição

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que ainda não tem um nome sólido no mercado, você acaba optando por um que

você sabe que a formação é de qualidade.”

“E2 – Não influencia muito não, porque a gente vai avaliar como profissional.

Se ele se formou no SENAC e não se atualizou, você vai ver que está faltando

alguma coisa.”

A partir da análise do contexto dos entrevistados, podemos constatar que as

“marcas formativas” não são claramente identificadas pelas empresas pesquisadas,

salvo no perfil dos estagiários e do “Jovem Aprendiz” 4.

“E1 – Nós conseguimos perceber esse diferencial falando do Jovem Aprendiz,

que é o maior público de SENAC que a gente tem hoje dentro da empresa [...] a

gente percebe capacidades sendo desenvolvidas neles e sendo muito bem

aproveitadas por eles.”

“E2 – [...] quanto ao estagiário sim, a gente dá uma prioridade para o

SENAC.”

Quando perguntado aos entrevistados sobre qual característica consegue

identificar, novamente é citado o programa de aprendizagem e o estágio.

“E1 – Eles são muito proativos [...] vão lá e se oferecem para ajudar, dentro

do escopo deles, você percebe isso claramente no dia a dia.”

“E2 – Às vezes a gente dá prioridade para o SENAC porque você sabe que o

programa da escola é diferenciado.”

Quando citadas as “marcas formativas” como característica dos alunos da

instituição, os entrevistados reconhecem a importância para o perfil profissional, mas

não fica evidente que seja um fator decisivo para a seleção.

4 Projeto do SENAC, baseado na Legislação da Aprendizagem 10.097/00, que possibilita ao jovem ingressar no

mundo do trabalho e conquistar seu espaço como profissional.

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Em suas dinâmicas de contração, avaliação e desenvolvimento, fica

subentendido que as empresas entrevistadas dão importância para algumas

características que parecem com a proposta das “marcas formativas”, mas não

necessariamente são as “marcas” como, por exemplo, o “comprometimento” (atitude

colaborativa), a “responsabilidade em exercer a função” (domínio técnico-científico)

com dedicação, o “engajamento” (atitude empreendedora).

Um aspecto que nos chamou a atenção foi o quanto as empresas

entrevistadas estão preocupadas e empenhadas em desenvolver e capacitar, elas

próprias, os profissionais para seus objetivos.

“E1 – [...] nesse novo projeto, onde está se treinando a liderança,

desenvolvendo a gestão de pessoas [...] eles esperavam que a empresa

disponibilizasse ferramentas para que eles se desenvolvessem, mostrasse o

caminho”.

“E2 – eu sempre gostei de ensinar, eu gosto de ensinar, eu não tenho medo

de passar conhecimento [...]”.

A partir do que foi exposto, podemos concluir que, ao comparar as respostas

entre si, podemos perceber que em alguns momentos ocorrem contradições que

nem sempre são percebidas de forma clara pelos entrevistados.

Um dos resultados interessantes do presente estudo refere-se à percepção

da existência de um distanciamento entre as instituições educacionais e o mercado

de trabalho apesar de terem objetivos similares.

Em determinados momentos fica claro que a instituição de ensino prepara os

melhores profissionais para o mercado e noutros momentos evidenciou-se a

dificuldade de se encontrar profissionais qualificados e também que a instituição

educacional, ao não exigir a prática, através do estágio obrigatório, contribua para a

dificuldade do profissional se recolocar no mercado.

É natural que essas contradições ocorram, considerando, principalmente, o

que o mercado espera e o que a educação profissional propõe como conceito de

formação dos profissionais, uma vez que, na percepção das empresas

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entrevistadas, não há uma inter-relação efetiva entre os objetivos, apesar de parecer

que possuem o mesmo objetivo.

“E2 – A gente já sentou lá para tentar fazer uma parceria [...] na verdade a

gente não foi mais atrás.”

“E1 – Com relação ao projeto de aprendizagem, eles cortaram as vagas sem

nos avisarem, a gente tem condições de aumentar a quantidade de vagas na

empresa [...] na reunião inicial eles focam muito em supermercados [...] nunca

vieram nos visitar, fazer uma reunião.”

A presente pesquisa é apenas parte de um contexto muito maior, o resultado

aqui descrito ajudou, com o respaldo da base teórica, encontrar alguns caminhos.

Cabe salientar que, apesar da proposta pedagógica da instituição estudada

propor a formação de profissionais com perfil de protagonistas, percebeu-se a

dificuldade, pelos olhos das empresas entrevistadas, de identificá-los de forma clara

no mercado.

Nesse sentido, cabe a reflexão sobre as práticas educacionais e seus

propósitos efetivados na educação profissional; cabe identificar os objetivos de uma

escola que efetivamente leve os alunos a compreenderem a estrutura da sociedade

capitalista para que possam desenvolver condições de atuarem sobre ela e de

modificá-la.

Com isso, finalizamos que, mesmo numa sociedade capitalista, pode haver

uma educação que não seja reprodutora dos interesses exclusivos da classe

dominante, pois acreditamos que a sociedade interfere na educação tanto quanto a

educação interfere na sociedade, podendo transformá-la através do

desenvolvimento de uma consciência crítica.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como objetivo geral, esta pesquisa propôs identificar a relação da formação

técnica profissionalizante de profissionais e o seu ingresso no mercado de trabalho.

No que se refere à relação específica entre a formação profissional oferecida

na escola técnica da pesquisa, buscou-se verificar se a formação proposta para o

aluno correspondia à necessitada no mercado de trabalho da região de Americana e

para tanto foram feitas entrevistas com empresas contratantes de profissionais

formados pela instituição.

Diante dos dados obtidos pode-se observar que as empresas têm buscado

profissionais cada vez mais qualificados e capacitados tecnicamente.

Essas empresas investem em tecnologias e ferramentas de desenvolvimento

e esperam que seus funcionários estejam aptos para acompanhar as mudanças e

encarem os projetos de desenvolvimento como oportunidades de crescimento

pessoal e profissional.

Entretanto, a efetividade da relação entre formação técnica proposta e

necessidade do mercado de trabalho não foi percebida claramente, apesar do

esforço de adequação do ensino técnico às mudanças no mundo do trabalho.

Constatamos que o SENAC é uma instituição respeitada no mercado devido à

qualidade dos serviços prestados para a comunidade. E no que tange ao programa

de aprendizagem é uma referência para as empresas entrevistadas.

No entanto, os entrevistados afirmaram que existe grande dificuldade em se

identificar profissionais qualificados quando se trata de experiência/vivência

profissional. Fato que é agravado pela ausência de estágio obrigatório em alguns

dos cursos da instituição pesquisada.

Neste trabalho pretendeu-se discutir que a proposta de empregabilidade nem

sempre se mostra verificada no mercado de trabalho, pois as empresas da cidade de

Americana nem sempre tem absorvido os jovens formados pelos cursos técnicos.

E a ideia de responsabilização individual pela dificuldade de relocação fica

cada vez mais evidente e tem sido compreendida como a capacidade de o indivíduo

manter-se ou reinserir-se no mercado de trabalho, competindo com todos aqueles

que disputam e lutam por um emprego.

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Pensando nas relações que se estabelecem no local de trabalho, entretanto,

essas tendem a se tornar integralizadoras dos trabalhadores aos objetivos da

empresa, desconsiderando, indiretamente, sua subjetividade.

Nesse sentido ressalta-se que o papel atual da educação profissional que

está claramente voltada para atender as demandas do mercado de trabalho, deve

ser repensado.

Importante retomar que a educação é a base para formar cidadãos

autônomos, críticos e conscientes da realidade circundante, e seu papel enquanto

cidadão pleno implicará na sua participação e construção da sociedade.

Há que se pensar na importância da discussão da educação profissional

como ferramenta educacional, como instrumento de transformação da ordem

estabelecida, como instrumento para a formação do cidadão pleno.

Pensando em Educação Profissional, torna-se necessário compreender esta

realidade, mas não com ênfase na instrução para o trabalho e sim numa proposta de

integração de saberes para o trabalho, entendendo esse como, mais que

sobrevivência, mas atividade humana de modificar as condições de existência, sua e

de sua comunidade.

Assim, acreditamos que esta pesquisa contribuiu para uma reflexão acerca da

relação educação/trabalho como uma possibilidade de estímulo ao aluno para a

transformação de suas práticas cotidianas.

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6 REFERÊNCIAS

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ANEXOS

A primeira etapa a ser realizada antes da entrevista é explicar

detalhadamente o objetivo da pesquisa aos entrevistados e perguntar se existe

alguma dúvida a respeito da pesquisa. Ao final da entrevista apresentar o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido.

Roteiro de entrevista para ser realizado com as empresas:

A entrevista seguiu um roteiro composto por 05 perguntas abertas:

f) Pensando num contexto geral, na sua percepção, quais os fatores

facilitadores e dificultadores para a contratação de profissionais com

formação técnica?

g) Em sua opinião, o mercado de trabalho apresenta profissionais técnicos

qualificados para sua demanda?

h) Quais competências você considera relevante para o perfil profissional

técnico no momento da contratação?

i) Quais fatores implicam na sua decisão ao contratar alunos egressos do

SENAC?

j) O SENAC propõe que os alunos da instituição possuem uma “marca

formativa”, você as considera para a contratação?

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Prezado (a) Senhor (a)

Gostaríamos de convidá-lo a participar de nosso estudo “EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO: aspectos

relativos à formação técnica na cidade de Americana/SP e sua relação com o mercado de trabalho local”, que

tem como objetivo central identificar qual a visão das empresas com relação à formação técnica e a implicação

da mesma na contratação. A pesquisa, estabelecida na ótica da abordagem qualitativa, consistirá na aplicação

de entrevistas numa sessão de coleta de dados de 30 a 60 minutos de duração aos participantes do estudo e

posterior análise dos resultados. Trata-se de uma dissertação de mestrado, desenvolvida por Marcia Cristina

Victorio, RG 21.821.651-8 sob a orientação do Prof. Dr. Antonio Carlos Miranda do Programa de Pós-graduação

Stricto Sensu do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - Unidade de Americana. Gostaria de deixar bem

claro que a participação nessa investigação é voluntária. Se qualquer dos sujeitos decidir não participar ou quiser

desistir de participar, em qualquer momento, da referida investigação, tem absoluta liberdade de fazê-lo. As

atividades desenvolvidas nessa investigação, bem como os resultados alcançados com a mesma, poderão ser

eventualmente publicados, mas será mantido o mais rigoroso sigilo, através da omissão total de quaisquer

informações, que permitam identificar participantes ou instituição; salvo expressa concordância, por parte de

todos os envolvidos, quanto ao contrário. A participação nessa investigação não envolve nenhum benefício

material ou econômico para nenhuma das partes: os prováveis benefícios advirão da contribuição para o

desenvolvimento profissional e da produção de conhecimento, que favoreçam o avançar de questões

relacionadas à esfera educacional. Em caso de concordância com as considerações expostas, solicitamos que

assine este “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” no local indicado abaixo. Desde já agradecemos sua

colaboração e fica aqui o compromisso de notificação do andamento e envio dos resultados desta pesquisa.

Pesquisador: Márcia Cristina Victorio

Programa de Pós-graduação Stricto Sensu do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - Unidade de

Americana

Eu, RG , assino o termo de consentimento, após esclarecimento

e concordância com os objetivos e condições da realização da pesquisa “EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO:

aspectos relativos à formação técnica na cidade de Americana/SP e sua relação com o mercado de trabalho

local”, do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - Unidade

de Americana, permitindo, também, que os resultados gerais deste estudo sejam divulgados sem a menção dos

nomes dos pesquisados.

Americana, / / .

Assinatura da Pesquisada (o)

Qualquer dúvida ou maiores esclarecimentos, contate os responsáveis pelo estudo:

E-mail: [email protected] Telefone: (19) 997633632

Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado

Campus Maria Auxiliadora • Av. de Cillo, 3500 – Parque Universitário • 13467-600 – Americana – SP

Fone: (19) 3471-9760 • (19) 3471-9757

Nota: Este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será elaborado em duas vias. Depois de assinadas, uma ficará com o participante e outra com a pesquisadora.

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MÁRCIA CRISTINA VICTORIO

MEMORIAL

Americana

2016

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MEMORIAL

Em verdade, dá certo gosto deitar ao papel coisas que querem sair da cabeça, por via da memória ou da reflexão.

Machado de Assis

Lentamente as memórias chegam. Torná-las imortais através da narrativa

parece atividade quase impossível, pois o passado que retorna traduz-se no

presente pelas imagens, lembranças ativadas. Remexer o baú das memórias,

regatar histórias, dar-lhes vida faz-se um exercício prazeroso e doído ao mesmo

tempo...

Cores, cheiros, sabores.

Vozes, sons, atores.

Lembro-me claramente do meu avô e de suas tradições que se perderam com

sua partida.

Não só o fato ou o objeto, mas o significado.

Valores perpetuados na vida, na alma... valores ensinados, aprendidos.

O que aprender com a colheita do abacate? Árvore frondosa, imponente, farta

e generosa.

Lição que a vida ensina através de um lenhador, homem simples, marido, pai,

amigo, avô.

Lição aprendida que permeia a vida da neta: união, generosidade, paciência,

maestria.

A colheita do abacate, de um único abacateiro, O Abacateiro! Traz

lembranças de um passado feliz, onde a família se reunia, preparava-se, brincava,

aprendia e ensinava aos pequenos a serem generosos na divisão dos abacates, a

serem pacientes na espera pelo amadurecimento da fruta.

Aprendia-se a voltar e reunir-se para saborear a fruta madura, o doce da

colheita. A festa da divisão.

O som do sorriso, a alegria vibrante, a correria dos netos...

Passado que não volta, mas que se faz presente por toda a vida na presença

permanente da figura de um homem modelo que ensinou a ser gente.

Regressar às origens me faz pensar em como fui atriz e autora na produção

da minha vida. Mas quais seriam os capítulos históricos dessa autobiografia?

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Afinal de contas como vim parar aqui? Como assumi o papel de educadora?

Este memorial é um recorte valioso de minha trajetória pessoal e profissional.

Assim, quero iniciar me apresentando. Sou nascida em 20 de junho de 1971,

na cidade de Americana. De origem humilde, filha de um jovem casal do sítio, vindo

da pequena cidade de Brotas com o sonho de construir uma família e um futuro na

cidade têxtil.

Posso afirmar que vivi uma infância feliz, repleta de brincadeiras de rua, de

amizades com as crianças do bairro, recheada de muito amor e participação dos

pais. Tive a sorte de morar no quintal dos avós e cresci à sombra do abacateiro.

Desde muito pequena os livros me despertaram a atenção. Fui professora dos

bonecos, dos animais, dos amiguinhos. A “Coelhona” 5 e o “Beto” 6 eram alunos

aplicados; copiavam toda a lição passada na pequena lousa verde. Nascia aí a

paixão pela Educação.

O jardim da infância era uma alegria para mim.

Dona Santa, minha mãe, dona de casa, sempre foi muito cuidadosa com

minha educação. O fato de ter estudado até a “quarta série primária”, como ela diz,

fez com desse muita importância para os estudos das filhas. Sempre me estimulou a

estudar, a cuidar dos meus livros e cadernos. A época da compra do material era

motivo de festa na família, momento em que nos reuníamos para encapar e

etiquetar os cadernos. Capas vermelhas e pardas com etiquetas brancas. Doces

lembranças preservadas até hoje na pasta escolar da quarta série.

Flashes da educação fundamental me vêm à mente, lembranças da Escola

Mattos Gobbo onde estudei até a oitava série. O “primário” foi cursado na “escola

velha”, onde a carteira era dupla e dividida com o colega.

Muitos valores aprendidos, muitos momentos como hastear a bandeira e

cantar o hino nacional às quartas-feiras, e a tradição de se levantar quando o diretor,

o “Seo” Gilberto, chegava à sala de aula. Lembro-me de ter sido eleita a melhor

aluna da classe e receber um símbolo verde-amarelo que ficava afixado no guarda-

pó7 durante o ano todo; sempre participava dos jograis da Semana da Pátria. O

gosto pela leitura se mostrou desde muito cedo em minha vida, tive forte influência

da “Tia Dete” que fazia coleção de gibi da Mônica e compartilha os exemplares

5 Nome da coelha de plástico que acompanhou minha infância.

6 Embalagem de xampu em forma de gato, parecido com o “Manda-Chuva”, personagem de desenho animado.

7 Espécie de jaleco branco utilizado sobre a roupa.

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comigo e nas férias na casa da “Vó de Longe”, lia a coleção Reinações de Narizinho.

Já no ensino médio, era a representante da sala. Havia uma competição sadia para

ver quem tirava as melhores notas. Minha amiga Rejane sempre foi a melhor em

matemática e recebeu o apelido de Dismac, a calculadora da época. Os amigos

tinham papel importante na formação pessoal, assim como os professores, e muitos

deles podem ser considerados mestres não só do conhecimento acadêmico, mas

das lições da vida, muitos que até hoje ocupam um lugar especial no coração.

Meu pai, José, sempre foi o provedor da casa e o modelo de profissional mais

presente na minha infância e adolescência. O que me influenciou a “optar” por uma

escola de formação técnica profissionalizante para cursar o ensino médio, escola

que educava o jovem para o trabalho e para o futuro profissional. Fui então estudar

no Polivante: Escola Técnica Estadual de Americana, após ser aprovada no

concorrido vestibulinho. No curso de Administração, inicia-se meu contato com o

mundo do trabalho. Novos conteúdos, novos amigos, nova realidade, e em breve o

primeiro estágio.

Passei a me movimentar pelos assuntos corporativos, e tudo parecia muito

interessante. A relação com o trabalho iniciou-se, aos 16 anos, com o estágio na

Caixa Econômica Federal. Todo o caminho parecia muito natural e trilhei sempre

com muita dedicação e curiosidade. Foi um tempo de muito aprendizado que me

conduziu sempre para o trabalho em grandes empresas.

O período no Polivalente foi de muita socialização, amizades, gincanas

sociais e muito crescimento. Fui uma aluna dedicada, interessada, curiosa,

prestativa e fácil de fazer amizade com os amigos e professores. Foram três anos de

descobertas e o mundo adulto já se fazia presente. Com ele veio a necessidade de

escolher uma profissão. Cursar a faculdade era a sequência lógica.

Minha família tinha participação ativa na comunidade e na igreja, cresci em

meio a projetos sociais e apoio a famílias carentes. Talvez por isso, de forma até

mesmo inconsciente, escolhi cursar Serviço Social e priorizei estudar na faculdade

na cidade. E lá fui eu novamente, cheia de sonhos e curiosidades.

Tenho boas lembranças da faculdade, do idealismo juvenil de mudar o

mundo, de empunhar bandeiras em prol dos necessitados. Entretanto, a área

organizacional continuava sendo minha paixão, então minha luta teria um cunho

diferente dos movimentos sociais e políticos.

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O estágio obrigatório foi numa grande empresa da cidade, a Fibra S/A, onde

aprendi muito sobre a prática do Serviço Social, atendimentos, projetos, eventos.

Sempre tive grandes mestres na vida, e minha supervisora foi uma delas. Estavam

abertas as portas do mundo corporativo. Estagiei lá por quase dois anos, quando fui

convidada a estagiar num dos hospitais particulares da cidade, o Pró Saúde, hoje

Unimed. Trabalhar neste ambiente me proporcionou amadurecimento profissional e

pessoal. Conhecer as dores do usuário, as necessidades, alegrias e anseios,

aprender a me colocar no lugar do outro, contribuiu para que me tornasse um ser

melhor.

A facilidade de comunicação e de posicionamento pode ser considerada uma

das minhas qualidades, o gosto pela leitura e pelo discurso é uma marca pessoal. O

que me deu a honrosa função de oradora da turma.

Encerrado o período de universitária, a vida real se apresentava diante de

mim. Estar na faculdade, de certa forma, proporciona ao aluno um respaldo técnico

e emocional. Agora eu era uma Assistente Social autorizada a atuar. Seria eu

capaz? Teria eu competência? Saberia tomar as melhores decisões? Fazer os

melhores encaminhamentos? Questionamentos e angústias me acompanharam por

muitos anos no início da carreira. Mas como já dizia a música de Vinícius de Moraes,

em 1974:

O perigo existe, faz parte do jogo Mas não fique triste, que viver é fogo

Veja se resiste, comece de novo Comece de novo, comece de novo

E como fazia parte do jogo, comecei e recomecei algumas vezes. Sempre fui

muito responsável e preocupada com a qualidade do meu atendimento.

O desejo de fazer do Serviço Social uma profissão valorizada e respeitada,

levou-me a me envolver com grupos de estudos. A vontade de criar um Serviço

Social Estratégico me colocou como referência em alguns momentos da carreira.

Nessa época conheci um rapaz com o qual me casaria, mudaria para outra

cidade e viveria por doze anos.

Em Jaú tive a oportunidade de trabalhar como Assistente Social, por cinco

anos, numa empresa têxtil de grande porte, a Cia. Jauense. Na região, continuei

atuando e participando de eventos, estudos, grupos e de uma extensão do Conselho

Regional de Serviço Social – CRESS.

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Após dez anos, as possibilidades na cidade que me acolheu com tanto

carinho estavam encerradas com o fechamento da empresa. O retorno para a

cidade natal fez-se necessário. E as portas das empresas da cidade estavam

abertas para novas experiências. Fui acolhida pela EMS empresa de medicamentos,

pela Camargo Correa, Tavex, Cemara e por último pelo SENAC.

Ser monitora de educação foi um convite que me surpreendeu, pois conheci o

SENAC através de uma seleção para o cargo de assistente social e no processo

seletivo, a gerente enxergou em mim um potencial para a docência. Potencial que

estava latente e aparecia de tempos em tempos através da ministração de palestras.

O tema que escolho como foco do meu trabalho está presente há muitos anos

na minha caminhada como profissional e como professora de cursos técnicos. Ele

foi se construindo, aos poucos, na medida em que a minha prática diária foi me

transformando me aproximando de algumas reflexões acerca da Educação

Profissional.

Como professora de cursos técnicos por cinco anos fui envolvida por

situações, comentários, vivências e experiências, que me motivam a conhecer um

pouco mais da dinâmica relação formação técnica-trabalho.

Diariamente percebia a expectativa e ansiedade com que os jovens

ingressavam ao ambiente educacional, desejosos por conhecimento e ensinamentos

que, na sua perspectiva, dar-lhes-iam o passaporte para o trabalho.

O mestrado surgiu como um desejo de atuar na educação superior, com a

vontade de ser professora no curso de Serviço Social, e retribuir tudo aquilo que

aprendi na faculdade que me formou na graduação, pós-graduação e agora no

mestrado.

No Unisal, tive excelentes experiências como professora do curso de pós-

graduação, o que só reforçou meu desejo de atuar na carreira acadêmica e

contribuir com a formação de novos profissionais.

Durante longos anos tentei ingressar no mestrado e por vários motivos meu

desejo foi adiado. Quando finalmente isso aconteceu, parecia que não era verdade.

Enfim, estava eu no caminho para o mestrado. Caminho que me surpreendeu com

muitas flores, mas com muitos desafios, chegando a me fazer pensar que não seria

possível e que o caminho tão desejado seria interrompido. Mas ao longo da vida

aprende a ter fé no Criador e a crer que tudo é possível.

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Hoje, devo muito a todas essas situações vividas e de suas repercussões no

meu modo de ser. Sinto que, no mestrado, vivencie situações que me levaram ao

amadurecimento intelectual e profissional, que contribuíram para que eu tenha um

novo olhar sobre o ser humano. Questionamentos que vivem em mim me permitem

indagações, nessa dissertação, numa tentativa de ampliar reflexões acerca das

hipóteses que se fazem presentes e de indicar possibilidades de novos caminhos.

Não sei que caminhos ainda vou trilhar, se algum dia vou parar. O que sei é

que uma grande alegria me invade quando estou estudando, o tempo não é

percebido. Tenho a certeza da transformação que o conhecimento me causa e do

quanto me impulsiona e me motiva a seguir.