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educando 32 final:educando em mogi - sme.pmmc.com.br · cadores sobre estes temas por meio do Ciclo de Estudos das Diretrizes Curriculares para a Educação da Infância. O documento

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Oinício deste ano foi marcado por dias de reflexãoquanto aos conceitos de aluno, escola, educador,aprendizagem, conhecimento... Um período para

rever conceitos e reestruturar as concepções dos edu-cadores sobre estes temas por meio do Ciclo de Estudosdas Diretrizes Curriculares para a Educação da Infância. Odocumento será a base do projeto político-pedagógicodas escolas e faz parte de um pensamento que muitosprofissionais já assimilaram: “Novas crianças precisam de umnovo olhar”, como nos diz o texto de Célia Regina Dias.

Os pequenos mudaram e a aprendizagem tambémcaminha para um novo momento. Este pensamento é o re-sultado de uma trajetória de muito trabalho marcada atual-mente por um novo olhar dedicado à Educação. Um novomodo de ver os alunos, os educadores e suas necessi-dades atuais.

A participação da comunidade é fundamental comomostra a matéria “Conselho Escolar – Espaço vital para oexercício da democracia participativa”. Confira ainda, re-latos sobre os projetos que desenvolvem o resgate de va-lores para crianças e adolescentes, o estímulo à leitura, odesafio da inclusão de portadores de necessidades espe-ciais, entre outros.

Às vésperas do lançamento do Fórum Mundial de Edu-cação Alto Tietê, em Mogi das Cruzes, a revista traz uma re-portagem especial sobre esta grande mobilização entre osdias 13 e 16 de setembro deste ano. O passado de nossacidade é resgatado pela seção Historiando, onde o profes-sor José Sebastião Witter e Gracila Maria Grecco Manfré noscontam a história da Cruz do Século.

Tempo de reverconceitos

ÍND

ICE

POLÍTICA EDUCACIONAL

Fevereiro/Março de 2007 - Ano VI - nº 32

PRÁTICAS DE ENSINO

ESPECIAL

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Novas crianças precisam de um novo olhar ...............................................................4Ciclo de Estudos apresenta as Diretrizes Curriculares Municipais à rede...............7Conselho Escolar: Espaço vital para o exercício da democracia participativa!..10Entre teorias e práticas – Repensando o processo de alfabetização e a Educação no Brasil .....................12

Projeto Crescendo – Sempre há esperança enquanto houver Educação . . . .14Criatividade e Ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16Projeto Ler Brincando – Estimulando a leitura a partir da família . . . . . . . . . . . .18Todos nós somos especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20É hora das compras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22Tudo começa com um sorriso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23O Auto de Natal da Família Mário Portes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24

ProJovem: Nova oportunidade de estudo para os jovens mogianos .................26Lançamento do Fórum Mundial de Educação reunirá todo o Alto Tietê ............28

Semeando para um mundo melhor...........................................................................31Campanhas de Reciclagem – O tiro pode sair pela culatra ...................................32

HISTORIANDO

A ponte entre o olhar e o ver .....................................................................................34

PREFEITURA DE MOGI DAS CRUZES

Secretaria Municipal de EducaçãoCoordenadoria de Comunicação SocialAv. Ver. Narciso Yague Guimarães, 277

CEP 08790-900 - Centro CívicoMogi das Cruzes - SPFone: 11 4798.5085Fax: 11 4726.5304

[email protected]

Conselho EditorialMaria Geny Borges Avila Horle

Anne IvanoviciCláudia Helena Romanos Pereira

Leni Gomes MagiMarilda Aparecida Tavares Romeiro Safiti

Jornalista ResponsávelLuiz Suzuki - MTB 22936

Kelli Correa Brito - MTB 40010

Coordenação EditorialBernadete Tedeschi Vitta Ribeiro

Lilian GonçalvesMarinina Beatriz Leite

Capa/ContracapaAlunos da E.M.

Benedito Ferreira Lopes - Caic

FotosArquivos das E.M. de Mogi das Cruzes

Colaboraram nesta ediçãoCélia Regina Dias

Maria Luiza de Lima Camargo GiulianiGiane Nunes de Mello

Aline de Morais Nogueira de OliveiraGeraldina Porto WitterFátima Vieira da Costa

Regina Célia Rissoni Valentim Edilene R. S. Mendes

Christina Nogueira de MelloEdna Azevedo de Oliveira

Kennedy José de PaulaEquipe escolar da E.M. João Gualberto

Mafra MachadoGracila Maria Grecco Manfré

José Sebastião Witter

Produção e ImpressãoMarpress Informática - Tel. 11 4795.6060

Projeto Gráfico e DiagramaçãoRoberta Regato

IlustraçõesDanilo Scarpa

Tiragem3.500 exemplares

A Revista Educando em Mogi, nº 32é uma publicação da Secretaria Municipalde Educação de Mogi das Cruzes e nãose responsabiliza por conceitos emitidos

em artigos assinados.

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Todo ano letivo que se inicia traz novos de-safios. Esse não deverá ser diferente: novas

escolas, novas professoras, novos projetos,novas crianças. Sim, acima de tudo, novas crianças.

Crianças que trazem uma nova mensagem:“Queremos uma educação diferente, porquesomos diferentes”.

Quantas vezes nos surpreendemos comfrases assim: “Essas crianças não são maiscomo antigamente, não têm medo, não obede-cem ninguém!”, “Essas crianças não se inte-ressam por nada, não prestam atenção!”, “Nãosei mais o que fazer com ele!” e coisas assim...

Se formos mais longe, lembraremos de terouvido: “As crianças estão nascendo tão esper-tas, já abrem os olhinhos, logo nascerão fa-lando...“

Muitos falam que as crianças “de hoje emdia“ são desobedientes, mal comportadas, quenão aceitam ordens nem regras, não aceitamum “não” como resposta, querem o porquê donão; são tiranas, irritadas e hiperativas, pare-cem nos desafiar o tempo todo. Inteligentes eobservadoras, têm respostas prontas, parecemnascer sabendo e sabem mesmo (talvez atémais que muitos de nós, adultos).

Existem estudos, no mundo todo, sobreessa nova geração de crianças que não estão so-mente em nossas salas de aula, como alunos,representando um desafio; são também, nossospróprios filhos.

As evidências estão diante de nossos olhos,quase todos já sabemos disso, mas o que esta-mos fazendo para acompanhar essa evolução?

Essas crianças que, de acordo com algumasteorias científicas, representam um passo naevolução da humanidade, têm a consciência ex-

NOVAS CRIANÇAS precisam de um

NOVO OLHARCÉLIA REGINA DIAS

pandida, são prematuramente amadurecidas,muito inteligentes, quase impossíveis de seremmanipuladas, não se interessam muito tempopelo mesmo assunto, nem obedecem a umaordem sem justificativa. Seu hobbie é quebrarregras, elas são táteis, por isso não param quie-tas sendo muitas vezes diagnosticadas, equivo-cadamente, como hiperativas.

Cada vez mais estão vindo ao mundo cri-anças difíceis de catalogar; diferentes, mais al-tivas, conscientes, engajadas desde pequenascom conceitos de unidade, igualdade, justiça erespeito. Muitas não aceitam mais situações es-tabelecidas por espíritos tacanhos, baseados emregras obsoletas e limitadoras, ditados somentepela lei do mais forte. Têm vezes que, confi-antes em suas próprias convicções, colocam ospais no seu devido lugar, usando um raciocínioespantosamente correto. O pensamento cria-tivo os acompanha em todas as situações e osinúmeros questionamentos sobre o mundo queos cerca são sutis e profundos, mesmo em todasua inocência e candura. Há também grande di-ficuldade de enquadrar esses seres em qual-quer sistema e o nosso atual e sucateadomodelo escolar, neste caso, é o exemplo maisperfeito.

Muitos educadores têm a impressão de queas novas metodologias não funcionam, as-sumem uma postura saudosista, resistindo aaceitar que estamos em plena transição do pa-radigma educacional. A pesquisa é uma ferra-menta essencial para o educador progressista,pois sem conhecimento a experiência não sefundamenta.

Quanto às novas teorias, é preciso conhecê-las a fundo para ter argumentos consistentes, afim de incorporá-las às nossas práticas ou não.Na verdade esse fenômeno, como é tratado,não é algo tão recente assim. Rudolf Steinerelaborou a Pedagogia Waldorf baseado em ne-cessidades educacionais há quase cem anos,existindo, hoje, dezenas de Escolas Waldorfpelo mundo. A Educação de Valores Humanostambém não é modismo da Pedagogia de Pro-jetos, já foi implantada na Índia há meio séculopor Sathya Sai Baba, existindo diversas escolasno Brasil, em Vila Isabel (RJ), Pernambuco,Goiás, Ribeirão Preto (SP) e Minas Gerais.

“Através da educação, pode-se despertar aessência que se encontra em cada coração, ex-pressando-a na forma de uma boa conduta, umfalar verdadeiro, amor em cada gesto, um sen-timento contínuo de paz e de compreensão uni-

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Em julho de 2006, uma comissão formadapor supervisoras, diretoras, coordenadores

pedagógicos e equipe técnica da Secretaria Mu-nicipal de Educação (SME) iniciou uma série deestudos para a elaboração das Diretrizes Cur-riculares Municipais para a Educação da Infân-cia. O trabalho teve a participação e orientaçãoda consultoria e assessoria educacional Apren-der a Ser, coordenada por Emília Cipriano eCláudio Sanches.

A SME trabalhava desde 1996 com as Dire-trizes Nacionais definidas pelo Ministério daEducação. A partir destas definições, as Dire-trizes Curriculares Municipais foram elabo-radas, de acordo com a realidade de Mogi dasCruzes e novos olhares sobre o aluno, a escola,o conhecimento, a educação, a linguagem, aformação cultural, a qualidade social da apren-dizagem, a tecnologia, a avaliação e a gestão. Odocumento será a base de toda a propostapedagógica das escolas e exercerá um papelfundamental na formação dos futuros cidadãosmogianos.

“O estudo foi feito a partir da realidade

educacional de nosso município e está sendoapresentado e estudado por toda a rede paraque seu conteúdo seja incorporado no dia-a-diadas escolas”, explicou Lílian Gonçalves, chefede divisão da Orientação Pedagógica da SME.

Emília Cipriano, mentora pedagógica daConsultoria Aprender a Ser, destaca o envolvi-mento da equipe responsável pela elaboraçãodo documento. “As pessoas acreditaram no tra-balho e estavam de fato em sintonia para o aprimoramento da escola”, disse.

CICLO DE ESTUDOS

Em fevereiro de 2007, um documento pre-liminar foi apresentado e estudado por dire-toras, coordenadores pedagógicos de escolassubvencionadas e professores por meio de umCiclo de Estudos. “A preocupação da SME éfazer com que o documento seja definido deforma democrática, unindo vários segmentosem sua finalização. Por isso, estamos passandopara nossa rede este documento inicial paraque todos estudem, analisem e façam suas su-gestões”, observou Lílian.

ças precisam ser amorosamente orientadas e terlimites estabelecidos, nunca relegando a planosmenos importantes a educação do caráter.

É isso o que as crianças esperam de nós. E nós, o que estamos esperando?

Vamos tentar entender melhor a men-sagem que estão nos transmitindo?

O FUTURO AGRADECE!

CÉLIA REGINA DIAS É VICE-DIRETORA DA

E.M. PROFª FLORISA FAUSTINO PINTO, PEDAGOGA PÓS-GRADUADA EM GESTÃO EDUCACIONAL, MEMBRO DO

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS CÁTEDRA PAULO

FREIRE (CEPEC) E COLABORADORA NA COORDENAÇÃO

DO FÓRUM MUNDIAL DE EDUCAÇÃO ALTO TIETÊ

INFANTO-JUVENIL 2007

O QUE HÁ PARA PESQUISAR:• INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS - HOWARD GARDNER

• INTELIGÊNCIA EMOCIONAL - DANIEL GOLEMA

• CRIANÇAS ÍNDIGO - CARROL LEE E JAN TOBER

• EDUCANDO CRIANÇAS ÍNDIGO - EDUARDO VECCHIO

- ED. BUTTERFLY

• 1º SEMINÁRIO DE ORIENTAÇÃO AO ÍNDIGO - SÃO

PAULO

• EDUCARE - EDUCAÇÃO DE VALORES HUMANOS

NO BRASIL

versal, a não-violência”. A inserção do processode formação de valores na educação é um com-plemento indispensável ao ensino das matériasacadêmicas para que as verdadeiras metas daeducação possam ser alcançadas.

Através da educação, o ser humano deveinteirar-se de que ele não é apenas um corpofísico, mas também a mente que controla osseus sentidos; o discernimento, que controla amente; e a consciência, expressão e natureza daDivindade inerente nele. Por isso, para atingiros objetivos educacionais, é necessário traba-lhar todos os níveis da personalidade: físico,emocional, mental, intelectual e espiritual.” (Sai Baba).

A Teoria das Inteligências Múltiplas e os es-tudos sobre Inteligência Emocional tambémacrescentam informações valiosas e desdobrama consciência para novos conceitos educacionais.

A Inteligência Emocional faz parte denosso desenvolvimento desde que nascemos,mas para podermos ser competentes nesta áreatemos que verificar alguns estímulos queatuam diretamente em nós, como: ambiente fa-miliar, escola, sociedade, empresa, padrão deconduta e aprender a conhecer a energia quenos envolve. A Inteligência Emocional traz umpoder vibracional positivo nos cenários ondeflui com respeitabilidade. Esse novo poderemergente é um poderoso aliado da razão.

O trabalho do Dr. Goleman refere-se àmente emocional como uma estrutura sede das“habilidades do coração”. Sendo assim, o seusonho é que todas as escolas no planeta, alémde estimular o lado intelectual por meio dematérias como matemática, física e línguas, pos-sam também abordar temas como frustração,ansiedade, amor, alegria, relacionamento, po-dendo assim desenvolver grada tivamente estasemoções e na fase adulta alcançar níveis maissatisfatórios do que atualmente.

Todos acreditamos que o futuro da hu-manidade esteja nas mãos das crianças, masessas mesmas crianças estão em nossas mãos,hoje.

Um novo olhar é tudo o que elas nospedem, mais fundamentado na compreensão edesenvolvimento das potencialidades indivi-duais, do que na obtenção de resultados; na so-lidariedade ao invés da competição egoística,numa consciência planetária que erradique asfronteiras da alma e, claro, como todas as crian-

CICLO DE ESTUDOSapresenta as Diretrizes Curriculares Municipais à rede

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Educadores participam de palestra no Clube Náutico Mogiano

Educando em Mogi - Como o senhor vê aconstrução das Diretrizes em Mogi dasCruzes?

Miguel Arroyo – A rede já está discutindoas Diretrizes Curriculares e é muito interes-sante que esta seja uma construção coletiva.Não é um grupo da Secretaria que estáfazendo isso, mas está se abrindo um debatecom as escolas e os educadores.

Educando - Quais mudanças estão sendopropostas e o que precisa ser alterado comas Diretrizes?

Arroyo – Eu insisto muito que temos umaconcepção de currículo muito pragmática,preparando o aluno para o mercado e o ves-tibular. Essa visão termina sendo empobrece-dora porque se ensina o que vai cair no ves-tibular e na prova. Hoje, estamos ultrapas-sando essa visão utilitarista da Educação, quetambém chamo de mercantilizada, cami-nhando para uma outra concepção mais rica,em que temos que considerar os educandoscomo sujeitos de direitos, não como emprega-dos. Uma criança ou adolescente tem direitoao conhecimento não porque um dia vai pas-sar no vestibular ou prestar um concurso, e,

Lições de MESTREsim, porque é gente e como gente tem direitoao conhecimento, à cultura, à formação ética,aos valores, tem direito a se desenvolver comoser humano. Essa visão da criança e do adoles-cente como ser humano, sujeito de direitos, trazconseqüências muito importantes para a reno-vação curricular.

Educando - O que não é visto pelo mercado?Arroyo - Dimensões que não são va-

lorizadas pelo mercado fazem parte dos direi-tos, como por exemplo, a cultura. O mercadonão valoriza a cultura, mas é um direito do serhumano, ser sujeito cultural: aprender e inserir-se em sua cultura. A questão dos valores éoutro exemplo. O mercado não se importa emnada com os valores que você leva para o tra-balho, mas nós somos sujeitos éticos e uma dasfunções da escola é formar sujeitos éticos. A es-tética, a diferença de gênero, tudo isso tem queser discutido no currículo. Temos aí o movi-mento feminista reivindicando outro lugar eoutro olhar sobre a mulher e o movimentonegro reivindicando outro olhar sobre os ne-gros. Por lei, agora estão no Currículo: a his-tória da África, a cultura e a memória negra.Durante muito tempo os currículos não fa-lavam nada da África.

Educando - Como o educador deve estarpreparado para esta mudança?

Arroyo - O educador está preparado. Asmulheres já não são as mesmas de antes, têmoutro preparo e sensibilidade para exigir quenos currículos entre a história da mulher, acrítica ao machismo e a igualdade de direitos.As professoras negras já têm consciência de quedevem tratar com mais respeito a cultura, a artee a identidade negra. Eu diria que não é umproblema de preparo. A questão é termos co-ragem de mudar os eixos curriculares. Temosque limpar o terreno, desconstruir velhas con-cepções para sermos capazes de construirnovas concepções de educação: direito à edu-cação, à cultura, bases fundamentais para outrocurrículo.

Durante sua palestra, o professorMiguel Arroyo concedeu umapequena entrevista à RevistaEducando em Mogi. Arroyo cobrouo comprometimento doseducadores. “Este não é só umprojeto para sua aula, para suadisciplina. É um projeto para acidade. Vocês devem entender quesão responsáveis pela formação dainfância, adolescência e juventudeda cidade”, observou.

Educando - O que senhor acha do trabalhoda rede municipal de ensino de Mogi dasCruzes?

Arroyo - Vocês têm aqui uma grande sensi-bilidade com as dimensões da formação do serhumano que antes não entravam nos currícu-los, como: cultura, arte, diversidade de gêneroe de raça, ética, valores, múltiplas linguagensartísticas, canto, música e dança. Um dos de-safios é que toda essa riqueza que já está acon-tecendo não fique da periferia do núcleo durodos currículos. Essa é a grande questão. Atendência atual é de termos uma dupla escola,uma escola séria que ensina e faz prova, quetira o primeiro ou último lugar no Saresp e umaoutra que se atreve a tratar dimensões que nãovão ser incluídas nos provões.

Educando - Isso já acontece em outrasredes?

Arroyo - Eu fui secretário municipal de Educação de Belo Horizonte de 1993 a 1997 enós criamos o que chamamos de escola plural.Plural no sentido de que a escola desse contada pluralidade de dimensões da formação hu-mana a que as crianças e adolescentes têm di-reito. Esse é o sentido da palavra plural. Desde1993, nós desenvolvemos a sensibilidade para acultura, artes, múltiplas linguagens, sensibili-dade, criatividade e emoção.

No dia 22 de fevereiro, no Clube NáuticoMogiano, os educadores assistiram à palestrado professor emérito e pesquisador da Univer-sidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mi-guel Arroyo, autor de livros conceituados sobreo currículo escolar e profissional contratadopelo Ministério da Educação para a reformu-lação das diretrizes nacionais. (confira, a seguir,uma pequena entrevista com o mestre)

Os encontros demonstraram que as Dire-trizes já estão inseridas na rede, mas agoraestão representadas em um documento, sendoum respaldo importante e um estímulo a maispara aprimorar o trabalho. “De um modo geral,acredito que os encontros atenderam nossas ex-pectativas. A equipe percebeu a necessidade deaprofundar os estudos e alinhar o trabalho quejá é desenvolvido na rede”, observou AnneIvanovici, representante da comissão das Dire-trizes e diretora da Escola Municipal VandaConstantino da Costa.

O estudo das Diretrizes prossegue nas es-colas com reuniões entre a equipe escolar du-rante o ano todo, o que influenciará a PropostaPolítico-Pedagógica apresentada pelas escolasao final do ano letivo.

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Emília Cipriano, mentora pedagógica da consultoriaAprender a Ser, fala com a equipe escolar sobreo desafio das Diretrizes

ESPAÇO VITAL para o EXERCÍCIO DA DEMOCRACIAPARTICIPATIVA!

Aescola, espaço de saberes, troca de expe-riências, de construção de identidades, de

pessoas de diferentes visões e aptidões nãopode se limitar ao paternalismo governamentalpara oferecer qualidade educacional; comotambém não deve acatar silenciosamente osmandos e modismos que o sistema educacionalhierarquicamente verticalizado impõe aos pro-fissionais que dela fazem parte.

A educação tem como objetivo geral a for-mação do cidadão, construir conhecimentos, atitudes e valores que tornem o estudante so-lidário, crítico, ético e participativo. Para isso, aescola deve primar pela autonomia, ser um es-paço de ação e reflexão para alicerçar a critici-dade e a autonomia de seus educandos.

É fundamental que a escola busque por au-tonomia, pela coerência com seu tempo, quetenha estrutura arquitetônica, equipamentos,mobiliários e materiais acessíveis e necessáriosà inclusão de todos na construção de um paísde todos, com igualdade, humanidade e justiçasocial.

A escola precisa ser um espaço de prazerpara quem estuda, para quem trabalha e paraquem nela confia. Acontece que ainda não temos essa escola. O ensino foi democratizado

e não conseguimos trabalhar com um resultadosatisfatoriamente bom no rendimento públicoescolar.

Diante desse quadro de angústia profis-sional como a escola pode ser espaço de conhe-cimento, de prazer, de valorização e cresci-mento educacional na construção do ser cida-dão? Como oferecer qualidade e acreditar noseducandos?

É nesse espaço que se faz vital a gestãodemocrática, a organização e o exercício efe-tivo do Conselho Escolar como práxis dademocracia participativa. É preciso mobilizartoda a comunidade escolar para participar efazer valer os seus direitos, democraticamentediscutidos e definidos, interligando os saberessistematizados e populares para afirmar os in-teresses coletivos.

A construção de uma cidadania emanci-padora é um desafio da gestão democrática, pos-sível de ser executado mediante a discussão,definição e o acompanhamento do pro jeto po-lítico-pedagógico da escola. Esta iniciativa requerdecisão e posicionamento coletivo e crítico, quecombata a burocracia e a hierarquia em busca daautonomia institucional dentro do contexto na-cional e internacional em que vivemos.

A singularidade local deve ser traçada e asrealidades das comunidades nacional e localanalisadas para a formação de um projetopolítico que garanta a melhoria da qualidadesocial da educação ofertada para todos.

A escola sozinha não pode solucionar osproblemas sociais mas pode, por meio do Con-selho Escolar, estudar esses problemas e dire-cionar ações que possam amenizar, abrandar etestemunhar a mudança.

Uma vez que a escola se abre para a comu-nidade, ela direciona seu funcionamento paraas necessidades reais da localidade, mostra queé possível transformar a realidade com o em-penho de todos. Quando todos se comprome-tem organizando tarefas viáveis, as coisas saemdo papel e acontecem. As pessoas se vendo nopapel de conselheiros precisam se conscientizarque direito anda junto com dever, que cobrançaé apenas o outro lado do fazer.

É esse senso critico que deve ser mobi-lizado na rotina escolar para que todos se com-prometam no esforço de qualificar a escolapública na formação do “ser político”.

As ações mobilizadoras da gestão demo-crática devem fomentar projetos educacionaisque desenvolvam a auto-estima dos educandose da comunidade escolar. É fazer da escola umlocal de admiração, onde as pessoas queiramfazer parte e se sintam parte da instituição.

É possível o ensino de qualidade paratodos e é o Conselho Escolar atuante o respon-sável por esta mudança.

Somente juntos: equipe escolar, pais ealunos, poderão romper o descrédito educa-cional da escola pública. Somente juntos serápossível dar identidade e unidade à escola.

Somente pensando, dialogando, decidindoe agindo em conjunto na busca de benefícios

comuns é que o Conselho Escolar fará valer agestão democrática.

Uma gestão arrojada, ousada e participa-tiva é uma prática importante no processohistórico de construção de um país mais justo e digno.

Nossas escolas vêm se adaptando à gestãodemocrática, comungando ações com a comu-nidade. A tarefa é árdua, pois a comunidadenão está aberta ao compromisso que a gestãodemocrática propõe. Não fomos educados aparticipar e opinar e sim a obedecer. É urgentefazer o aluno participar da práxis democráticada escola, desenvolver no educando a autono-mia e aguardar uma transformação familiar acurto prazo. Desta maneira, a comunidade es-colar se transformará simultaneamente à escola.

O Conselho Escolar é para a Educação opromotor do “capital social”, um elo de per-tencimento entre escolas, bairro e comunidade,e por isto também vital para a Democracia Par-ticipativa.

MARIA LUIZA DE LIMA CAMARGO GIULIANI É

PEDAGOGA, FORMADA EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA.ATUALMENTE É PROFESSORA DAS E.M. LEOPOLDINO

CARDOSO DE MORAES E MARLENE MUNIZ SCHIMIDT E

PESQUISADORA DO CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS

EM EDUCAÇÃO - CÁTEDRA PAULO FREIRE, MOGI DAS

CRUZES (CEPEC)

MARIA LUIZA DE LIMA CAMARGO GIULIANI

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE

EDUCAÇÃO BÁSICA

CONSELHOS ESCOLARES: DEMOCRATIZAÇÃO DA

ESCOLA E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA/ ELABORAÇÃO

IGNEZ PINTO NAVARRO... ª{ ET ALT} – BRASÍLIA:MEC, SEB, 2004.56P.:IL.(PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO

DOS CONSELHOS ESCOLARES, CADERNO 1

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CONSELHO ESCOLAR

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Amídia, principalmente em 2006, durante operíodo eleitoral, abordou cada vez mais

temas que discutiam a importância da Edu-cação em um país que almeja melhorar opadrão de vida de sua população. Ouvimos evemos todos os dias teóricos e leigos discutindoqual seria a solução para a pobreza e para umadistribuição de renda justa. Todos citamunanimemente a necessidade de investimentosfinanceiros e técnicos no sistema educacional.

É assustador que na era da informática,ainda nos deparemos com uma taxa de analfa-betismo digna de países que passam porcalamidades sociais ou até mesmo guerrascivis. E, agora, o termo analfabeto funcional in-vade também o vocabulário das pesquisas ecensos. Um país como o Brasil, que pleiteiauma vaga no Conselho de Segurança da Orga-nização das Nações Unidas (ONU) e deseja in-fluir nos destinos do globo, necessita resgatar aEducação do seu próprio povo.

Sabendo dessa problemática, mas compoucas chances de enfrentar o desafio sozinhos,encontram-se milhares de profissionais da educação espalhados por todo território bra-sileiro. Alguns em situações um pouco me-lhores, outros vivendo a mais triste realidade,onde faltam até mesmo os materiais essenciaiscomo lápis e borrachas.

Dentro dessa situação, nós estamos lu-tando por um ensino básico de qualidade.Como seria alcançar essa qualidade? Comoconstruí-la em nosso cotidiano?

Valorizar o ensino é mais do que trans-formá-lo numa estratégia política ou atribuir-lhe caráter transformador. Temos consciênciaque uma educação de qualidade é capaz demodificar comportamentos e vivências, porémtorna-se necessária uma mudança muito maiorno contexto sócio-político e econômico para vi-sualizarmos verdadeiros ideais de democracia

GIANE NUNES DE MELLO

Entre TEORIAS e

e igualdade de direitos. Sendo assim, chegou a hora de refletirmos

sobre nosso papel nesse processo. Como edu-cadores, precisamos acreditar que podemossim, contribuir para amenizar os obstáculosque a escola e a educação enfrentam nos diasde hoje, como: escassez de recursos materiais,defasagem na formação e capacitação dosprofissionais e pouca motivação para o in-gresso na carreira do magistério. Pesquisasapontam que a faixa etária dos professores emexercício está entre 40 e 55 anos, ou seja, pro-fessores próximos à aposentadoria. E depoisquem serão os profissionais que ocuparão essasvagas?

Em nossas salas de aula, principalmentenas séries iniciais esbarramos com as mazelasda pobreza, do subdesenvolvimento e doatraso que se repetem na postura de nossosalunos. O contexto social condiciona os sis-temas educacionais brasileiros, por isso não sepode pensar no ensino independente da reali-dade social.

Entendemos a importância de que um tra-balho de alfabetização inicie-se bem antes doingresso da criança no ensino fundamental. Jána Educação Infantil um trabalho consciente esério deve ser desenvolvido, voltado aopreparo do aluno para a aquisição e desen-volvimento dos pré-requisitos para alfabetiza-ção; sem descuidar é claro das atribuições quelhes são próprias. Torna-se então necessárioque a comunidade e os pais reconheçam a es-cola de Educação Infantil não como um simples“parquinho”, mas como o local apropriadopara que seus filhos dêem continuidade à cons-trução dos conhecimentos que eles já elaboramdesde que nasceram.

As crianças, cada vez mais envoltas em inúmeras informações, precisam de auxíliopara organizá-las e tirar delas o melhor pro-

veito possível. Esse trabalho não pode ser ape-nas atribuído à escola, os pais têm papel fun-damental nessa tarefa.

Muitos alunos encontram inúmeras dificul-dades em se alfabetizar e essa insuficiência osimpedirão de exercer sua cidadania plenamente.

Pensando nisso, destacamos o trabalho quecomeça desde cedo na escola e que deve serampliado. Gerar oportunidades para que cadaaluno com suas características diferenciadasparticipe de atividades, que proporcionemidéias e conceitos sobre o mundo das letras edos números e que esta inserção seja feita commenos dificuldades e de forma prazerosa.

Entre teorias e práticas não queremos entrarno mérito da defesa de nenhuma linha pedagó-gica em especial, nem falar de um trabalhoprático como receita milagrosa para a solução detodas as dificuldades de aprendizagem. Quere-mos apenas relatar que a tentativa de alfabetizaralunos por meio de práticas que trabalhem comatividades lúdicas e sistematizadas (exercícioscom listas de palavras (temas, como: brinquedose frutas), textos, frases, palavras chaves, cruza-dinhas, bingo, jogos de memória, quebra-cabeçae outros) têm sido experiências válidas e pro-veitosas com nossos alunos de 1ª série. Cremosque trabalhos como estes possam ser comparti-lhados com êxito, respeitando a realidade local esuas peculiaridades.

O desafio é grande e de longo prazo,porém se quisermos um efetivo avanço na me-lhoria da Educação Básica em nosso país, temosque agir em nossas escolas, sejam quais foremas dificuldades que certamente encontraremospelo caminho.

GIANE NUNES DE MELLO É FORMADA NO CURSO DE

LETRAS E PÓS-GRADUADA EM PSICOPEDAGOGIA PELA

UNIVERSIDADE BRAZ CUBAS. PROFESSORA NAS

E.M. ANA MARIA BARBOSA GARCIA E

MARIA COLOMBA COLELLA RODRIGUES

Repensando oprocesso dealfabetizaçãoe a EDUCAÇÃOno Brasil

PRÁTICA

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Sempre há ESPERANÇA enquanto houver EDUCAÇÃO

ALINE DE MORAIS NOGUEIRA DE OLIVEIRA

Atualmente nos deparamos com várias notí-cias ruins veiculadas nos mais diversos

meios de comunicação de massa. Violência,corrupção, racismo, desigualdades sociais,abuso de poder, exclusão social, impunidades,intolerância e tantas outras que nos fazemachar que o mundo está perdido e que nãotemos solução.

Mas, nós, profissionais da educação, temosem nossas mãos a solução de muitos males queafligem a humanidade.

Somos nós que formaremos os cidadãos dofuturo e se hoje, queremos um mundo mais hu-mano e solidário, temos que trabalhar para isso.

Neste olhar, o Projeto Crescendo merecedestaque com um material riquíssimo, capazde resgatar valores há tempos esquecidos nos“contos de fada”.

Respeito, solidariedade, amor, tolerância,harmonia, honestidade, confiança e tantos ou-tros valores necessários para a vida em so-ciedade.

Além de recuperar esses valores, outro as-pecto positivo do projeto é a participação dafamília nas atividades propostas pelos eixos.

Hoje, as famílias estão diferentes das quetínhamos quando éramos crianças. Quando pe-quenos, a maioria tinha o pai como o “chefe da

família” e a mãe como a “rainha do lar”; aquelaque cuidava e educava os filhos. Atualmente,isso é raridade. O que temos são pais superatarefados com os afazeres do dia-a-dia. Muitosdeles são pai e mãe e precisam trabalhar parasustentar a família e dar o melhor aos filhos,que ficam sob os cuidados de outra pessoa ou,às vezes, sozinhos.

Mas, nós, educadores sabemos o quantofaz diferença para a criança, quando ela tem apresença e a atenção de seus pais na sua for-mação. Uma criança assistida pelos pais é mo-tivada, tem a auto-estima elevada e confia emseu potencial; muito diferente daquela que afamília não é presente.

Quando a criança não tem essa assistênciapor parte dos pais, geralmente é uma criançacom baixa auto-estima, insegura e desmoti-vada.

O Projeto Crescendo traz em seu conteúdouma proposta transformadora que tem a pre-ocupação não somente na formação do aluno,

mas na integração dos pais nesse caminhar.As atividades em família fazem com que os

pais participem na formação moral de seus fi-lhos. Propõe que pais e filhos se conheçam in-timamente, troquem opiniões, se descubram, setoquem, se emocionem e se amem. Coisas quemuitas vezes são deixadas para trás na correriado dia-a-dia.

Agradeço por esta oportunidade oferecidapor nossa Secretaria Municipal de Educação esinto-me satisfeita por fazer parte desta rede deensino.

Vejo a preocupação da nossa Secretaria emformar cidadãos conscientes, responsáveis porseus atos e solidários com seu próximo.

Valores, hoje, necessários para que pos-samos viver em uma sociedade mais justa e hu-mana.

ALINE DE MORAIS NOGUEIRA DE OLIVEIRA É

PROFESSORA DA E.M. DERMEVAL AROUCA E DA

E.M. ILDA PEREIRA PENA ALVAREZ

PROJETO CRESCENDO

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Todas as pessoas têm alguma criatividade,umas a desenvolver mais do que outras em

decorrência de influências ambientais, dentreas quais o contexto educacional é muito impor-tante. Na escola o principal fator para o desen-volvimento do aluno é, sem dúvida, oprofessor.

Para contribuir para o desenvolvimento dacriatividade de seus alunos o professor precisa:•cuidar de desenvolver sua própria criativi-dade em área de acordo com suas característi-cas e seu interesse pessoal;• ser criativo no uso de materiais, procedimen-tos e estratégias de ensino;• dominar formas e tecnologias que compro-vadamente desenvolvem a criatividade naleitura, na escrita, nas ciências, nas artes, nassituações de vida;• saber quando, para aprender, a rotina éessencial e quando há condições e é re-comendável diversificar;• ser flexível e capaz de trabalhar as diferenças;• saber reconhecer e elogiar o desenvolvimentocriativo dos alunos;• ter presente que cada aluno é um ser único,diferente dos demais; que tem seu próprio es-tilo de ser e de aprender, de memorizar, de pen-sar e como tal, deve ser considerado em todo oprocesso de ensino-aprendizagem, inclusive dacriatividade na área de sua escolha;• é preciso lembrar que o bom desenvolvi-mento da criatividade está relacionado com asaúde mental e o desenvolvimento de pessoassaudáveis.

Vale ainda lembrar que o docente que seempenha em desenvolver criatividade em seus

alunos também acaba por desenvolver suaspróprias estratégias criativas, tende a ficar maissatisfeito com os resultados de seu trabalho emsala de aula, passa a usufruir a melhor quali-dade de vida no trabalho.

Não há custos financeiros para ser um pro-fessor criativo. Bastam conhecimentos específi-cos e vontade para usá-los. O esforço éaltamente compensado pelo resultado obtidojunto aos alunos, pela melhoria da auto-estimae da auto-eficácia do professor. Cuidar da cria-tividade do aluno é garantir desenvolvimentotambém para o docente.

Na modernidade a característica criativa éexigência essencial para muitas formas de tra-balho, é importante para qualquer trabalhador,para qualquer pessoa. Isso não pode ser esque-cido por quem assume funções educacionais.Diretores e membros da equipe técnica devempropiciar condições para que os professores eseus alunos também apresentem eficiência nodesenvolvimento da criatividade. Se puderem,é interessante contar com psicólogos escolaresque avaliem a criatividade de docentes e alu-nos. É preciso também avaliar os programas es-tabelecidos para estimular a criatividade.

É imprescindível estimular e ajudar tecno-logicamente o desenvolvimento da criatividade,contribuindo assim para reduzir as distânciassociais e possibilitar que o País saia dos últimoslugares nas avaliações educacionais, científicas,culturais e de qualidade de vida.

GERALDINA PORTO WITTER É PEDAGOGA, PSICÓLOGA,DOUTORA EM CIÊNCIAS (PSICOLOGIA) – USP E LIVRE

DOCENTE EM PSICOLOGIA ESCOLAR

GERALDINA PORTO WITTER

CRIATIVIDADE &

ENSINO

vendo sua identidade e autonomia. Neste sentido KISHIMOTO (2003) nos diz

“o uso do brinquedo/jogo educativo com finspedagógicos remete-nos para a relevânciadesse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento infantil.Se considerarmos que a criança pré-escolaraprende de modo intuitivo, adquire noçõesespontâneas, em processos interativos, envol-vendo o ser humano inteiro em suas cognições,afetividade, corpo e interações sociais o brin-quedo desempenha um papel de granderelevância para desenvolvê-la. Ao permitir aação intencional (afetividade), a construção derepresentações mentais (cognição),a manipu-lação de objetos e o desempenho de ações sen-sório-motoras (físico) e as trocas nas interações(social), o jogo contempla várias formas de re-presentação da criança ou suas múltiplas in-teligências, contribuindo para a aprendizageme o desenvolvimento infantil”.

Percebendo os benefícios do brinquedoeducativo, considerei possível desenvolverjogos específicos para cada livro utilizado noProjeto de leitura, de forma que a criança sebeneficiasse não apenas com o ato de brincar,mas que este brinquedo fosse um atrativo amais, além do livro, para estimular a leitura.

Para desenvolver o Projeto Ler Brincando,criei um kit leitura com livro, jogo educativo epoesias. O aluno levava o material para casa

com a finalidade de ser lido em família. O kit éacondicionado em uma sacola, identificadacom o nome do projeto e da professora. Todo omaterial enviado é acompanhado de bilhetesexplicativos sobre como utilizar e a função daleitura e do brinquedo.

Com a leitura desses livros os alunos foramorientados a produzir seu próprio livro.

A cada leitura realizada era feito um de-senho sobre a história e o aluno a recontava aseu modo. A professora anotava a nova históriae depois a digitava junto ao desenho. Posteri-ormente, uma cópia foi distribuída aos alunos,que faziam a pintura. O resultado no primeirosemestre de 2006 foi o livro “Histórias que anossa turma contou...”.

No segundo semestre, os alunos produzi-ram um segundo livro, em que recontavamhistórias de todos os livros lidos até aquele mo-mento, acompanhados de desenhos. Para osalunos o processo de construção dos livros setornou motivo de prazer e alegria ao veremsuas histórias registradas.

FÁTIMA VIEIRA DA COSTA É PEDAGOGA, JORNALISTA E

PROFESSORA DA E. M. WALDIR PAIVA DE OLIVEIRA

FREITAS E DA E.M. HENRIQUE PERES

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PROJETO LER BRINCANDO

FÁTIMA VIEIRA DA COSTA

OProjeto Ler Brincando foi motivado pelanecessidade de estimular a leitura entre os

alunos da turma de Prontidão E da E.M. “Dr.Waldir Paiva de Oliveira Freitas”. Para isso, erapreciso ir além da sala de aula, facilitando aleitura a partir da família com o objetivo de for-talecer, aos poucos, o hábito que se faznecessário ao ato de ler.

A leitura para as crianças acontece antesmesmo de seu conhecimento do código escrito.Cada uma lê do seu jeito: manuseando livros,olhando figuras e observando o adulto ler,percebendo que existem sinais além de figurasque também podem ser lidos. É o que cha-mamos de letramento, o contato com leitura eescrita muito precocemente. A criança se ex-pressa, produz texto oralmente e, enfim, ra-

ciocina mesmo sem saber ler e escrever conven-cionalmente.

Ela possui a habilidade natural de brincare este é o primeiro estímulo para a a aquisiçãodo conhecimento. Brincando, a criança testa arealidade por meio das fantasias e interaçõescom o brinquedo, desenvolvendo habilidadeslingüísticas e cognitivas, vivenciando novassituações e percebendo a melhor maneira delidar com o outro.

Com a utilização do brinquedo (jogo damemória, quebra-cabeça e jogos com encaixe),a criança desenvolve capacidades importantescomo atenção, imitação, memória e imagi-nação. Ela amadurece algumas capacidades desocialização por meio da interação e experi-mentação de regras e papéis sociais, desenvol-

Estimulando a LEITURAa partir da FAMÍLIA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: KISHIMOTO,T.M.(ORG.) JOGO, BRINQUEDO, BRINCADEIRA E

EDUCAÇÃO. SÃO PAULO, 7ª ED. CORTEZ, 2003

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Todo o início do ano, nós, professores re-cebemos alunos que, na verdade, são novos

desafios que enfrentaremos e venceremos dia adia. Só ao final do ano letivo, após onze mesesde trabalho, temos a sensação da missãocumprida que se renovará.

Cada turma que chega é marcante e dife-rente da anterior, pois cada aluno traz umahistória de vida que conduz a nossa prática.

Em 2006, recebi em minha sala de 1ª série,dentre os 30 alunos, um desafio ainda maior:Guilherme, uma criança autista de nove anos.

Ao deparar-me com essa surpresa resisti,não por preconceito, mas por julgar-me des-preparada para enfrentar esta situação, umavez que nunca havia conhecido algum porta-dor desta síndrome. Apesar de todo preparo daequipe da Escola Municipal de Educação Espe-cial Profª Jovita Franco Arouche, posso dizerque as dúvidas e a insegurança eram maisfortes e só aumentavam a cada dia.

Segundo Angel Rivière (1991), esta tarefaeducativa é provavelmente a experiência maiscomovedora e radical que o professor pode ter.Esta relação põe a prova mais do que nenhumaoutra atividade, os recursos e as habilidades doeducador. Como ajudar os autistas a se aproxi-

Todos nós somos

ESPE

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ISREGINA CÉLIA RISSONI VALENTIM

marem de um mundo de significados e de re-lações humanas significativas? Que meios em-pregar para ajudá-los a se comunicarem, atrairsua atenção e interesse pelo mundo das pessoase retirá-los de seu mundo ritualizado, inflexívele fechado em si mesmo?

Percebi que as dúvidas não eram só mi-nhas. Muitos educadores, em diferentes partesdo país estavam, assim como eu, engajados noprocesso de inclusão.

No primeiro dia de Guilherme na escolaregular, posso dizer que o olhar esperançoso damãe foi o que me deu coragem, pois ali vi todaa expectativa de uma mãe especial que, enfim,estava confiando em minha capacidade.

Neste dia, ele sequer conseguiu entrar naescola e, finalmente, quando chegou à sala deaula, só conseguiu permanecer dez minutos nacompanhia de sua mãe. Mesmo com ela aolado, ficou muito agitado ao encontrar ummundo novo e uma nova rotina. Com per-sistência e uma rotina pré-estabelecida seguidarigorosamente no princípio, hoje, Guilhermepermanece na sala como outros alunos, parti-cipa do horário do leite, do intervalo com osamigos e freqüenta o CEDIC (biblioteca multi-mídia).

Confesso que Guilherme ensinou-memuito e por isso, posso dizer que tambémacredito ter contribuído para que neste ano, ele

continue a freqüentar uma escola regular comotodas as crianças.

Hoje, ele consegue conviver com amigos,manifestar seus desejos e realizar algumas tare-fas como os outros, claro que dentro de suaslimitações.

Conseguimos estabelecer uma comuni-cação, em que consigo entender seus anseios,angústias e necessidades.

No que diz respeito à conduta do profes-sor, não há receita e nada de extraordinário aser feito. É a nossa prática diária que irá dire-cionar o nosso trabalho. Simplesmente deve-mos tratar as crianças especiais como qualqueraluno que precisa de atenção e socialização.Eles têm suas diferenças e necessidades comotodos nós.

A nós, professores, basta abrirmos a mentee o coração e percebermos que somos a partemais importante para levarmos estas crianças adescobrirem o mundo e sua verdadeira cidada-nia, garantindo o processo de inclusão.

Nós, professores, também temos de ser es-peciais.

REGINA CÉLIA RISSONI VALENTIM, PROFESSORA DAS

E.M. CARLOS ALBERTO LOPES E JAIR ROCHA BATALHA,LECIONA HISTÓRIA, É PEDAGOGA E PÓS-GRADUADA EM

PSICOPEDAGOGIA E FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS EM

EDUCAÇÃO – ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR

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EDILENE R. S. MENDES

Émuito bom saber que nossos alunos, cadavez mais nos surpreendem. Na vida

prática, trabalhamos o Sistema Monetário e oPoder de Compra com uma visita ao supermer-cado Extra, em Braz Cubas, onde fomos bemrecebidos.

Acompanhados pelo gerente da loja, co-nhecemos todos os setores. Os alunos obser-varam como são divididos os produtos: mer-cearia, bazar, higiene, limpeza, carnes, estoqueetc. Foi muito interessante!

Em seguida, iniciamos nosso trabalho.Livres para realizarem suas compras, as crian-ças tiveram um período de 20 minutos paracomprar o que desejassem, dentro do limite deR$ 6,00. Deveriam, preferencialmente, comprar3 itens diferentes. Caso aquilo que adquirissem,passasse do valor, deveriam substituir um dos

itens para que pudessem observar o verdadeiro“poder de compra” (quanto tenho? quantoposso gastar?).

Mas, como dito anteriormente, o resultadofoi surpreendente! No momento de passar nocaixa, os valores eram somados sem que se es-quecessem sequer dos centavos! Recolhiam otroco e guardavam a nota fiscal, pois esta seriautilizada para o trabalho em sala de aula.

Retornando à escola, os alunos colaram asnotas fiscais no caderno, verificaram o quantofoi o gasto, seus trocos, itens adquiridos etc.

Foi simplesmente excelente! Sem contar oprazer de ir às compras!

EDILENE R. S. MENDES É PROFESSORA DA

E.M. BENEDITO FERREIRA LOPES - CAIC

É hora das

Tudo começa com um

COMPRAS

Os dentistas desempenham um papel muitoimportante na educação, pois ensinam e

orientam os professores e alunos a divulgarema importância das boas práticas de saúde ehigiene bucal.

Como é importante a presença e o contatodireto destes profissionais na escola, onde ascrianças têm a oportunidade de aprender e es-clarecer dúvidas em relação à saúde da boca. Odentista, atualmente, é conhecido como o“amigo da escola” e a criança não tem mais“medo” quando é necessário visitar o con-sultório dentário.

Todos os anos o dr. Humberto, professor deUniversidade de Mogi das Cruzes, visita nossaescola e é gratificante sentir a alegria das cri-anças ao recebê-lo. Durante sua palestra, ex-tremamente dinâmica e divertida, os alunos seenvolvem e participam voluntariamente do tra-balho preventivo.

Eles aprendem a escovar corretamente osdentes e a língua, a utilizar o creme e o fio den-tal, além de receberem orientações sobre higienebucal e a finalidade do flúor. Os alunos mani-pulam peças pedagógicas (dentes e boca) e ga-nham uma escova e um creme dental. Além dofator estético, dr. Humberto enfatiza a importân-cia da mastigação e orienta sobre os alimentos

CHRISTINA NOGUEIRA DE MELLO

SORRISO

FONTE – JABO ANO XXIII , N° 103 – SETEMBRO/OUTUBRO 2006 – PROFISSÃO PG.13

adequados à saúde da boca e de forma geral.O sucesso da visita do dentista na escola é

um elemento imprescindível à criança, poisatravés da atenção e do carinho acolhedor querecebe, ela mesma desmistifica os “fantasmasdo dentista”, encarando-o naturalmente.

Segundo Norberto Francisco Lubina, presi-dente da Associação Brasileira de Odontologia(ABO): “A odontologia brasileira está conquis-tando a cada dia mais respeito perante a comu-nidade científica e política nacional e inter-nacional e mais prestígio junto à comunidade.A sociedade brasileira está cada vez mais cons-ciente da importância da saúde bucal para amanutenção do seu bem estar e qualidade de vida”.

Até setembro de 2006, o Conselho Federalde Odontologia (CFO) registrou 115.328 cirur-giões dentistas do sexo feminino e 95.125 dosexo masculino, perfazendo um total de210.403 profissionais. A maior incidência estáem São Paulo.

Desde 2005, existe uma Organização Não-Governamental em São Paulo, Capital, que pro-move apresentações nas entidades educacio-nais, os “Dentistas do Riso”.

É na pré-escola que devemos iniciar oscuidados com a saúde bucal trazendo os pais ea comunidade à escola para realizarmos con-juntamente um trabalho compatível à beleza do“sorriso de criança”.

CHRISTINA NOGUEIRA DE MELLO É ADVOGADA,PROFESSORA, PEDAGOGA, PÓS-GRADUADA EM DIREITO E

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E PROFESSORA NA

E.M. DR. WALDIR PAIVA DE OLIVEIRA FREITAS

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EDNA AZEVEDO DE OLIVEIRA

O AUTO DE NATALda “Família Mario Portes”

Em 15 de dezembro de 2006, a equipe da Es-cola Municipal Prof. Mario Portes encerrou

suas atividades do ano letivo e se confraterni-zou com a comunidade de Jundiapeba em umverdadeiro clima natalino.

Toda a comunidade, representada pelos fa-miliares dos alunos, pôde conferir o resultadode mais um ano de trabalho desta equipe, quetem como característica conviver com a músicae se aproximar cada vez mais dela. Procuramosunir no contexto desta atividade, todos os pro-jetos de música que desenvolvemos: “Música:Formação, Expressão e Emoção”, “Pra Ver aBanda Passar” e “Tocando, Cantando...Fazendo Música com Crianças”.

Alunos do Ensino Fundamental regular,Educação de Jovens e Adultos (EJA) e profis-sionais atuantes em todas as áreas da escola seenvolveram integralmente nesta atividade, can-tando, tocando e dançando, ou seja, ocupandoum espaço neste universo musical, que não sófaz parte do contexto da escola, como tambémda própria formação social do nosso povo.

O coral de músicas natalinas, formado pelamaioria dos alunos, se uniu aos músicos daBanda Sinfônica e às dançarinas da Linha deFrente. Os alunos da EJA não só cantaram,como representaram a peça que contava ahistória do nascimento de Jesus. Para ensaiar,professores saíram da sala de aula, alunos daBanda Sinfônica e da Linha de Frente alteraramseus horários e funcionários se revezaram emsuas funções (deixaram um pouquinho de lado,

panelas, vassouras e computadores) para sededicarem a esta diferente tarefa. Todos osmonitores dos projetos de música se empe-nharam em realizar um bom trabalho. A di-reção da Escola abraçou a idéia e apoiou otrabalho desde o início, participando de re-uniões para escolha de roteiro e repertório, bus-cando o que fosse preciso para que a atividadese concretizasse. Os familiares e convidados daregião com muito brilho foram a platéia destegrande espetáculo.

O resultado não poderia ser outro: apre-sentações emocionadas e emocionantes, emque a harmonia tomou conta do espaço escolar.

Sim, as diferenças existem! Mas comoficam lindas quando estão todas juntas equando seus objetivos se tornam únicos!

Disse Gilberto Gil: “Música é parte denosso universo, parte de nossa identidade co-letiva.” E este é o sentimento que uma ativi-dade como esta tende a despertar: “aidentidade coletiva”.

Desejamos que nossos alunos consigamcaptar esta mensagem e levem consigo acerteza de que só temos valor individualquando este se agrega a outros valores.

Esperamos que, neste ano letivo que se ini-cia, possamos encontrar ou fortalecer nossa“identidade coletiva”.

EDNA AZEVEDO DE OLIVEIRA É FORMADA EM

LETRAS E PEDAGOGIA E É PROFESSORA DA

E.M. PROF. MÁRIO PORTES

REFERÊNCIA

GILBERTO GIL IN “EU TENHO UM SONHO”WWW.GILBERTOGIL.COM.BR – 28/07/2005

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Nova oportunidade de estudo para os JOVENS MOGIANOS

OProJovem (Programa Nacional de In-clusão de Jovens), parceria entre o Go-

verno Federal e a Prefeitura de Mogi dasCruzes, foi implantado no Brasil em 2005 sob aCoordenação da Secretaria Geral da Presidên-cia da República junto aos Ministérios da Edu-cação, do Trabalho e Emprego e do Desen-volvimento Social e Combate à Fome.

A iniciativa é voltada para jovens de18 a 24 anos que terminaram a 4ªsérie, mas não concluíram a 8ªsérie do Ensino Fundamen-tal e não têm vínculosformais de trabalho.Aos participantes, oprograma ofereceoportunidades de elevação da escolari-dade, qualificaçãoprofissional, infor-mática básica e a rea-lização de ações co-munitárias de interessepúblico.

Em Mogi das Cruzes,a meta é reinserir na vida es-colar cerca de 1.200 jovens.Desses, no início 800 inscreveram-se,mas apenas 460 fizeram suas matriculas. Osparticipantes freqüentam quatro núcleos im-plantados estrategicamente no município: E.M.Profª Cynira Oliveira Castro, em César deSouza, E.M. Benedito Ferreira Lopes – Caic, emBraz Cubas, E.M. Carlos Alberto Lopes, noMogilar, e E.M. Verª Astrea Barral Nébias, emJundiapeba.

No Brasil, de acordo com IBGE, 15,4 mi-

lhões de jovens de 18 a 24 anos estão fora da es-cola nos diferentes níveis. O ProJovem é reali-zado nas capitais dos Estados e em municípiosmetropolitanos com mais de 200 mil habitantes.

Os alunos recebem uma bolsa mensal deR$ 100,00 como ajuda de custo, merenda esco-lar oferecida pelo Governo Federal em parceriacom a Administração Municipal de Mogi, que

ainda oferece transporte para os jovensque residem a mais de dois

quilômetros dos núcleos.No município, foi ins-

talado um Comitê Gestordo Programa integrado

pelas secretarias deEducação, Desenvol-vimento Econômicoe Social, Cidadania eAção Social, Espor-tes e Lazer e a Coor-denadoria de Cul-

tura, a quem cabe asupervisão geral o Pro-

grama.

HISTÓRIAS DE VIDA

Michele Rodrigues GluskoskiCardoso teve seu primeiro filho aos quinzeanos, época em que teve que parar os estudos.Aos 25 anos, ela está animada em participar doProJovem. “Não podemos ficar parados, pre-cisamos de conhecimento para conquistar algomelhor em nossa vida. Pretendo continuar eaté, se for possível, ir para a faculdade. Queroaprender mais para passar estas informaçõespara os meus filhos”, contou.

ProJovem:

A qualificação profissional também é umatrativo para os jovens. “Desejo ter uma profis-são e dar continuidade aos meus estudosquando sair daqui” comentou Jonathas AndréAlmino Francisco, de 21 anos. Paralelo às aulasde orientação para o trabalho, os estudantes de-senvolverão o Projeto de Orientação Profis-sional (POP), que demonstrará a evolução dacapacitação do aluno no decorrer do programa.

Os beneficiados pelo ProJovem tambémrealizarão trabalhos voltados à comunidade pormeio do Plano de Ação Comunitária (PLA), ela-borado a partir do Mapa de Desafios, um levan-tamento dos problemas da região em que estãoinseridos. Os alunos discutirão o que é partici-pação e seu envolvimento com sua comunidade.

JOVENS EM AÇÃO

O Programa vem alcançando seu objetivoem Mogi das Cruzes. A participação dos jovenschega a ser emocionante. Entre inúmeras ativi-dades extraclasse desenvolvidas, grupos dealunos visitaram o prédio da Prefeitura Muni-cipal, onde foram recepcionados pelo Prefeitode Mogi das Cruzes, que abriu as portas de seuGabinete aos jovens, que também na oportu-nidade, conheceram as instalações do CentralIntegrada de Emergências Públicas (Ciemp).Foram ainda recebidos por um grupo devereadores na Câmara Municipal, que os con-vidaram para assistir uma sessão da Câmara.

Outro momento marcante aconteceu no dia24 de fevereiro deste ano. Na Estação Juven-tude “Jovens em Ação”, espaço reservado paraarticular os vários núcleos do programa, com acoordenação dos educadores, aconteceu umaexposição de trabalhos realizados ao longo da1ª Unidade Formativa, como desenhos e arte-sanatos por eles produzidos, bem como músi-cas e grupos de dança.

A apresentação da canção “Tempo deVencer”, composta por um grupo de alunos donúcleo de Jundiapeba, emocionou a todos pelaletra e força da interpretação dos jovens. A par-ticipação dos alunos nas atividades impressio-nou a todos que compareceram ao evento.“Eles estão nos surpreendendo a cada dia, par-ticipando ativamente do ProJovem”, comentouMaria de Lourdes Santos, coordenadorapedagógica do programa. Na ocasião, foi inau-gurada uma biblioteca dotada de computa-dores com acesso à Internet para pesquisas.

O ponto alto do evento deu-se com a insta-lação do Fórum do ProJovem de Mogi dasCruzes, tendo os jovens e professores, esco-lhido seus representantes. O Fórum é destinadoà discussão e avaliação das atividades desen-volvidas pelo Programa

Os jovens interessados em participar doprograma podem inscrever-se, gratuitamente,pelo telefone 0800-7227777 até o dia 13 de abrilpara as novas turmas que serão formadas emMogi das Cruzes.

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Lançamentodo FÓRUMMUNDIAL DEEDUCAÇÃOreunirá todoo Alto TietêApós o início do ano letivo, os educadores

dos municípios da região se preparampara o lançamento do Fórum Mundial de Edu-cação Alto Tietê. As atividades fazem parte daprogramação deste grande movimento, queaglutinará todos os municípios entre os dias 13e 16 de setembro de 2007 em Mogi das Cruzes,cidade-anfitriã. Entre os dias 2 e 13 de abril,cada cidade apresentará atividades culturaispara envolver suas comunidades e participardo lançamento do movimento na região. Aaglutinação de todos os municípios será emMogi no dia 14 de abril.

O objetivo é que cada município mobilizeseus cidadãos, demonstrando a eles a im-portância do Fórum. A programação culturaldo lançamento do Fórum está a cargo daComissão de Cultura, que busca potencializar acultura da região em sintonia com as atividadesque serão desenvolvidas nesta edição do movi-mento. Os dias já foram definidos. Veja a pro-gramação completa na próxima página.

O cronograma foi traçado coletivamentepara a participação dos 11 municípios que com-põem a região (Arujá, Biritiba Mirim, Ferraz deVasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaqua-quecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis,Santa Isabel e Suzano). A novidade é que o mu-nicípio que estiver no seu dia de mobilizaçãoenviará uma atividade cultural para a próxima

cidade, celebrando assim a união da região. Emmarço, a programação foi apresentada aos se-cretários e secretárias de Educação do AltoTietê e aos prefeitos dos municípios partici-pantes em reunião da Associação dos Municí-pios do Alto Tietê (Amat).

Cada cidade terá a fala de seus represen-tantes e membros da Secretaria Executiva, aleitura da ementa (veja o texto na página 30),anúncio da bandeira que representará o mu-nicípio e a apresentação e passagem da escul-tura tridimensional do logotipo do FórumMundial de Educação Alto Tietê 2007. O logofoi apresentado e definido em reunião doComitê Organizador e contemplou a riquezanatural da região e o tema “Educação: Prota-gonismo na Diversidade” com linhas conec-tando o globo para que todos tenham vez e voznesta construção em prol da educação.

BANDEIRA DA EDUCAÇÃO

A bandeira que representará o municípiofoi escolhida entre os alunos de educação in-fantil a ensino médio da rede pública e parti-cular, que demonstraram em sua obra o que otema do movimento significa para eles. Cadaescola enviou um desenho em tecido no for-mato 32 x 22 cm representando sua unidadeescolar para sua Secretaria Municipal de Edu-cação. A forma de escolha ficou a critério decada escola, podendo ser feita por concurso,

consenso ou construção coletiva. Dentre os desenhos foi escolhido um que

representou o município. Dos 11 desenhos decada cidade apresentados à Comissão de Cul-tura, um foi selecionado para estampar o selo doFórum Mundial de Educação Infanto-JuvenilAlto Tietê.

Após a entrega de uma bandeira de cadaunidade escolar, todas foram unidas e for-maram uma grande bandeira, que foi apresen-tada no dia de lançamento em cada cidade.“Em Mogi, por exemplo, apresentamos umagrande bandeira no dia 2, dia do nosso lança-mento”, explicou Andréa Marinho, membro daSecretaria Executiva do Movimento.

ESPAÇO PLURAL

O Fórum é um espaço plural e estruturadohorizontalmente, permitindo o encontro e odiálogo organizado de maneira autônoma, emque partidos, governos e empresas não são ocentro do cenário, mas são convidados a par-ticipar em uma causa comum. O movimentodefende uma concepção libertadora, que res-peita e convive com a diferença, promovendoa intertransculturalidade e reconhece a edu-cação como direito social universal ligado àcondição humana.

Surgiu em 2001, como um dos movimentosdo Fórum Social Mundial, devido à necessi-dade de se dialogar sobre educação. Já foi rea-lizado em Porto Alegre (RS) nos anos de 2001,com o tema “Educação na era da globalização”e 2003, “Educação e transformação. Em 2004,São Paulo, Capital, recebeu o movimento com otema “Educação cidadã para uma cidade edu-cadora”. A última edição, em Nova Iguaçu (RJ)em 2006, tratou do mesmo tema paulistano.

A participação tem sido a marca desteperíodo de organização e as decisões sãotomadas pelo consenso entre os participantes.Até o momento foram registradas mais de 50adesões para o Comitê Organizador. O Fórumestá sendo construído e continua recebendonovas adesões. “O Comitê Organizador con-vida a todos interessados a participar dessa construção coletiva buscando Educação dequalidade como direito universal”, ressaltouAndréa Souza, membro da Secretaria Executiva.Participe!

PROGRAMAÇÃO

ABRILLançamento

02/04 – Mogi das Cruzes e Poá 03/04 – Biritiba Mirim

04/04 – Guarulhos05/04 – Salesópolis09/04 – Guararema10/04 – Santa Isabel

11/04 - Ferraz de Vasconcelos12/04 – Itaquaquecetuba13/04 – Arujá e Suzano

14/04 – Mogi das Cruzes (todos os municípios)

MAIOReunião de formação do Comitê

Organizador: “Protagonismo,Diversidade

e Sustentabilidade”Mesa Redonda

Aberto ao público

JUNHO/JULHO/AGOSTO�Reuniões de formação com base

nos eixos temáticos�Atividades culturais nos municípios

SETEMBRO12/09 – Abertura do Fórum Mundialdo Alto Tietê com Marcha Cultural e

Credenciamento13 a 16/09 – Conferências, mesas-

redondas, atividades autogestionadas(iniciativas que deram certo), painéis,atividades culturais, Feira Mundial de

Educação, Festa das Nações, MemóriaPaulo Freire, Memorial do FórumMundial de Educação, Encontro

Mundial das Escolas Democráticas,Fórum Mundial de Educação Infanto-

Juvenil, Espaços Vivenciais eMomentos, Casa da Imprensa

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MBI

ENTE

Vivemos em um mundo permeado pelacompetitividade, desigualdade e exclusão so-cial que limitam os direitos básicos do ser hu-mano, assim como desrespeitam as exigênciaspara a sobrevivência do planeta. Temos respon-sabilidade enquanto seres que optam, decideme intervêm, de reinventar a nós mesmos eromper com a concepção determinista dahistória – base do pensamento neoliberal.

Somos diversos e diferentes. A diferençaestá na forma de lermos e nos colocarmos nomundo. Nessa perspectiva, o papel da Edu-cação no combate a lógica do mercado, que selimita a treinar e adestrar sujeitos a repetir de-terminados comportamentos, deve voltar-separa a preparação de sujeitos críticos capazes

de responder aos inúmeros desafios do mundo,ampliando as possibilidades de nele atuarmos.Enquanto processo político, a Educação nãopode ser reduzida a uma proposta utilitária,imediatista e mercadológica.

Assim, o movimento do Fórum Mundialde Educação tem desenvolvido um caráteremancipatório nos espaços educativos – for-mais, não-formais e informais – objetivando arealização da utopia de uma política educativaampla e de alcance global que inclua a todos. Aedição do Alto Tietê dá voz e espaço aos diver-sos segmentos sociais e às múltiplas manifes-tações culturais, unindo forças na construçãode uma educação libertadora para a sus-tentabilidade do nosso planeta.

A idéia da realização do Fórum Mundial deEducação do Alto Tietê (FME-AT) nasceu dasensibilidade e percepção de educadores darede pública regional, que já vinham partici-pando de outros Fóruns ocorridos desde SãoPaulo em 2004.

Esses educadores motivados também porum movimento em prol da Educação, que já es-tava acontecendo na Região, propuseram ejustificaram para Conselho Internacional doFME a importância da realização do Fórum, denovo, no estado de São Paulo, e mais precisa-mente nesta Região constituída por onze mu-nicípios.

Será então um Fórum Temático, “Edu-cação: Protagonismo na Diversidade”, a ser realizado de 13 a 16 de setembro de 2007, comsede na cidade de Mogi das Cruzes.

Educação: Protagonismo na Diversidade

Ementa Fórum Mundial de Educação Alto Tietê – 2007

Por que no

ALTO TIETÊ?Desde 2003, a Escola Municipal Prof. João

Gualberto Mafra Machado participa doProjeto “Plantando para o Futuro”, que reúneescolas de Jundiapeba em um trabalho de ar-borização do distrito.

Concomitante a este projeto, a escola de-senvolve atividades que têm como foco princi-pal a formação de hábitos que favoreçam umamelhor qualidade de vida. Trata-se do projeto“Criando e Recriando o Ambiente em queVivemos”, que visa desenvolver a consciênciaecológica por meio das pequenas ações do co-tidiano escolar: separação de lixo úmido e lixoseco, utilização racional dos recursos evitandoo desperdício, cuidados com as plantas e florese manutenção do composteiro.

A cada ano, a proposta é integrar as açõesdos projetos aos conteúdos curriculares, con-textualizando os temas em uma abordagemtransversal. Assim, além do meio ambiente,caminham integrados outros dois projetos de-senvolvidos na unidade escolar: “Ler, brincar ecriar” e “Alegria agora e amanhã”. Uma dasformas de socializar esses três eixos de trabalhofoi a comemoração do Dia do Meio Ambiente,

no dia 5 de junho de 2006. Nesta data, a equipeescolar reuniu-se com todos os alunos no pátio;as classes, organizadas em duplas, expuseramtemas relacionados ao meio ambiente, sinteti-zando o que foi desenvolvido nos meses ante-riores. As apresentações foram diversificadas,valendo-se da música, dança, dramatização enarrativas para sensibilizar os alunos quanto àsquestões ambientais.

Cantando, dançando e brincando, os alunosaprenderam e ensinaram sobre a importânciadas plantas, dos animais, da água e da reci-clagem. Ao final deste período, as criançaslevaram mensagens e adereços para divulgar emcasa as lições de amor e respeito à natureza.

Assim, tendo o privilégio de contar comum pátio arborizado e florido, a escola atua nosentido de estimular o convívio harmoniosocom o meio, formando hábitos e posturas po-sitivas. Por meio de atividades lúdicas, osalunos aprendem a conhecer e observar os ele-mentos da natureza. Nesse sentido, o projetoganha novas dimensões ao ter como fruto crianças que atuam como multiplicadores deuma nova consciência ambiental.

Semeando para um

EQUIPE ESCOLAR DA E.M. JOÃO GUALBERTO MAFRA MACHADO

MUNDO MELHOR

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Os tempos modernos trazem novas palavrasde ordem e quando pensamos em preser-

vação do meio ambiente, logo vem a idéia deRECICLAGEM. Algumas pessoas menos infor-madas podem pensar que a este tipo de açãosempre existiu, mas não é bem assim.

No passado, o homem era caçador e extra-tivista, não alterava o meio do qual fazia parte,somente extraia os gêneros necessários parasua sobrevivência. Com o passar do tempo, ohomem começou a cultivar o solo, criar ani-mais, e conseqüentemente, a interferir mode-radamente no meio ambiente para sustentaruma população maior e com mais comodidade.Porém, foi a partir da era industrial e do mo-delo da economia capitalista que surgiu ohomem consumista, responsável pela mudançadefinitiva na paisagem natural.

Para satisfazer minimamente uma popu-lação mundial da ordem de 6 bilhões de habi-tantes, teremos um considerável impactoambiental. Entretanto, o grande abalo sofridoem nosso meio ambiente tem origem no mo-delo de homem consumista, que todos buscamser. A idéia dos descartáveis é comprada portodos, mas quem paga hoje é a natureza, eamanhã, seremos todos nós.

Todos os dias novos produtos são criadospara substituir os existentes. Todos os dias,modernas estratégias de marketing criamnovas necessidades de consumo e o ser hu-mano vai consumindo mais e mais, enquantopode comprar.

Este ciclo é ainda mais pernicioso, na me-dida em que, para abastecer a essa demanda,que não pára de crescer, é preciso produzircada vez mais. E para se manter no mercado,tem que se oferecer um custo menor. A indús-tria e o comércio na corrida para reduzir custosseguem pela contramão da preservação domeio ambiente.

Mas o que este processo econômico-sócio-histórico tem a ver com a reciclagem?

A reciclagem, do ponto de vista da indús-tria e do comércio, é a melhor forma de justi-

ficar o modelo consumista sem que a maioriadas pessoas constate os impactos ambientais enem mesmo, possa refletir mais profunda-mente sobre o tema.

No ano 2000, uma pesquisa participativafinanciada pela Fapesp e realizada na Escolade Aplicação da Faculdade de Educação – USPdemonstrou que muitos alunos, que partici-pam efetivamente desse tipo de campanha dereciclagem, privilegiam a competitividadesobre a consciência ambiental e a educaçãopara o consumo.

Para arrecadarem mais materiais, os estu-dantes trouxeram para reciclar latas de refrige-rante virgens (sem rótulo e novas) e tambémfardos de bandejas de ovos sem serem utiliza-dos!!! Em depoimentos, muitas crianças diziamque estavam pedindo aos pais para compraremrefrigerante em lata, ao invés de garrafas devidro, pois assim, poderiam colaborar com acampanha de reciclagem.

O benefício de uma CAMPANHA de reci-clagem está circunscrito na própria palavra. Acampanha é algo temporário, sugere um com-portamento momentâneo e, na maioria dasvezes, está atrelada a premiações que distorcemseu sentido principal. Melhor do que uma cam-panha para reciclar é o desenvolvimento deprogramas de conscientização para o consumoe a preservação do meio ambiente. É preciso es-clarecer que antes de reciclar, é necessário sediscutir a real necessidade do consumo e as pos-sibilidades de redução e reutilização dos mate-riais. É importante também promover açõesduradouras, reflexões que possibilitem umamudança de comportamento compatível comuma sociedade auto-sustentável hoje e amanhã.

Por isso, quando pensar em realizar umacampanha de reciclagem em sua escola, insti-tuição ou comunidade, lembre-se de qual é seuprincipal objetivo, pois, senão, o tiro pode sairpela culatra.

Kennedy José de Paula É COORDENADOR PEDAGÓGICO

DA E.M. ÁLVARO DE CAMPOS CARNEIRO

O tiro pode sair pela culatra

KENNEDY JOSÉ DE PAULA

CAMPANHAS DE RECICLAGEM

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HIS

TORI

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DO A PONTE ENTRE O

OLHAR E O VER

GRACILA MARIA GRECCO MANFRÉ E

JOSÉ SEBASTIÃO WITTER

Os lugares que freqüentamos e as pessoas que estão ànossa volta vão ficando invisíveis com o passar dotempo. (...) Esse mundo tão querido ficou invisívelpara nós porque nos acostumamos com ele – eacostumar-se quer dizer não mais notar, não ouvir etalvez amar um pouco menos. Mas toda belezaperdida aparece outra vez quando abrimos os olhos evemos tudo de novo – como da primeira vez.”(Luiz Carlos Lisboa)

Foto atual da Cruz do Século na Serra do Itapeti

Recentemente a imprensa local registrou discussões entre opoder público e a comunidade sobre a possível construção de

um novo monumento em substituição à “Cruz do Século”, localizadana Serra do Itapety. O assunto arrastou-se por semanas, mas o impor-tante é comentar que pontos de vista diferenciados fizeram com que apopulação relembrasse sua própria história, por vezes esquecida. Va-lorizar só o “quintal alheio” é bastante comum. Não enxergamos abeleza que nos rodeia por estarmos habituados a ela. Há diferençaentre o olhar e o ver. Quem costuma viajar, assume a postura passivade turista e logo procura por “pontos turísticos” do lugar que visita. Apaisagem, a arquitetura, o que comprar. Tudo registrado, devidamentefotografado. Entretanto, facilmente esquecido se não houver um esta-belecimento de uma identidade entre comunidade e lugar. Ana FaniCarlos (1999) comenta: “A busca dos lugares se desfaz na pressa. Passa-

se em segundos por séculos de civilização, faz-se tábua rasa da história de gerações que se ins-crevem no tempo e no espaço. (...). Daí oesquecimento, a não ser imagens efêmeras quenão resistem ao tempo, pois dentro de poucosanos cada lugar visitado virou apenas umnome.”

A história da nossa “Cruz do Século” de-veria ser conhecida. Não por ser extremamentecuriosa, mas por ser revestida de rico materialcapaz de retratar o imaginário coletivo de umaépoca. Afinal, “o homem está sempre tentandoampliar o domínio simbólico sobre o real docorpo, da morte, do futuro incerto. Mas essaprodução de sentido não é individual – seu al-cance simbólico reside justamente no fato deser coletiva, e seus efeitos, inscritos na cultura”(Chinalli, 2003). Divulguemos, então, suahistória... Como sabemos, a condição mundialno final do século XIX era preocupante: alastra-mento de graves doenças (como a varíola), epi-demias, mudanças sociais e políticas emdiversos países. Para completar o quadro de in-segurança, astrônomos de todo o mundo inten-sificaram seus estudos científicos a partir deuma chuva de meteoros ocorrida em novembrode 1866 (Leonídeos). O italiano Giovanni Schi-aparelli (1835-1910) anunciou para o final de1899 uma outra chuva, mais intensa e jamaisvista. Além disso, havia ainda boatos de per-turbação na trajetória de planetas e que a Terrapoderia chocar-se com Marte e Saturno. Taisnotícias causaram apreensão e provocaram in-tenso pânico na população. Era o fim domundo! Porém, como nada ocorreu na viradado século, a 31 de dezembro de 1900, o povo,mais tranqüilizado e realmente agradecido aoscéus, cantou e festejou. À frente das comemo-rações da passagem do século XIX para oséculo XX estava o vigário Pe. João Lourençode Siqueira e “à meia noite, no alto da Serra doItapety, entre palmas e foguetes é cravada umacruz de madeira de três metros de altura, desdelogo chamada de “Cruz do Século” (Grinberg,1961). E tudo voltou ao normal.

Dez anos mais tarde, por ocasião de novopânico popular (o da passagem do Cometa

Halley), vale relembrar o noticiado no Sea�lePost-Intelligencer: “O cometa veio, foi embora,e esta velha Terra não está melhor nem pior e,ao menos até agora, nem mais sábia”. Comen-tário tão atual em pleno século XXI...

GRACILA MARIA GRECCO MANFRÉ É BACHAREL EM

DIREITO, PÓS-GRADUADA EM ECOTURISMO/EDUCAÇÃO

AMBIENTAL E CONSULTORA EDUCACIONAL

JOSÉ SEBASTIÃO WITTER É PROFESSOR TITULAR NA ÁREA

DE HISTÓRIA E PROFESSOR EMÉRITO PELA UNIVERSIDADE

DE SÃO PAULO (USP)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARLOS, ANA FANI ALESSANDRI (ORG). TURISMO –ESPAÇO, PAISAGEM E CULTURA. SÃO PAULO: EDITORA

HUCITEC, 1999

CHINALLI, MIRIAM. ENSAIO PUBLICADO NA REVISTA D.OLEITURA, ANO 21 Nº 5, MAIO DE 2003. SÃO PAULO:

IMPRENSA OFICIAL, 2003

GRINBERG, ISAAC. HISTÓRIA DE MOGI DAS CRUZES. SÃO

PAULO: EDIÇÃO DO AUTOR, 1961

LISBOA, LUIZ CARLOS. NOVA ERA. SÃO PAULO: LIVRARIA

CULTURA EDITORA LTDA, 1988

NOSSO TEMPO. A COBERTURA JORNALÍSTICA DO SÉCULO.O ESTADO DE SÃO PAULO – JORNAL DA TARDE: TURNER

PUBLISHING, INC. E CENTURY BOOKOS, INC., 1995

Imagem antiga daCruz do Século,quando a cruz demadeira foisubstituída

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