Caderno Educadores e Educando

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    Rede e-Tec Brasil

    Reviso e DiagramaoImpresso e Distribuio

    Educadores e educandos:

    tempos histricosMaria Abdia da Silva

    Cuiab - MT2012

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    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Brasil. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica.B823 Educadores e educandos: tempos histricos /Maria Abdia da Silva, 4.ed. atualizada

    e revisada Cuiab: Universidade Federal de Mato Grosso/Rede e-Tec Brasil, 2012.

    118p.: il. (Curso tcnico de formao para os funcionrios da educao. Profuncionrio; 2)

    ISBN 85-86290-48-3

    1. Profissionais da educao. 2. Histria da Educao. 3. Formao Profissional. I Silva,Maria Abdia da. II Ttutlo. III. Srie.

    2012 CDU 37(09) (81)

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    Presidncia da Repblica Federativa do Brasil

    Ministrio da Educao

    Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica

    Diretoria de Integrao das Redes EPT

    Este caderno foi elaborado em parceria entre o Ministrio da Educao e aUniversidade Federal de Mato Grosso para a Rede e-Tec Brasil.

    EQUIPE DE ELABORAO

    Universidade Federal de Mato Grosso UFMT

    Coordenao InstitucionalCarlos Rinaldi

    Coordenao de Produo de Material Didtico ImpressoPedro Roberto Piloni

    Designer EducacionalDelarim Martins Gomes

    Designer MasterMarta Magnusson Solyszko

    IlustraoEuridiano Monteiro

    DiagramaoTatiane Hirata

    Reviso de Lngua PortuguesaSuzana Germogeschi Luz

    IMPRESSO E DISTRIBUIOInstituto Federal de Educao do Paran

    PROJETO GRFICORede e-Tec Brasil/UFMT

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    Rede e-Tec Brasil

    Prezado estudante,

    Bem-vindo Rede e-Tec Brasil!

    Voc faz parte de uma rede nacional pblica de ensino, a Rede e-Tec Brasil, institudapelo Decreto n 7.589/2011, com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino tcni-co pblico, na modalidade a distncia. O programa resultado de uma parceria entre oMinistrio da Educao, por meio da Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica(Setec), as universidades e escolas tcnicas estaduais e federais.

    A educao a distncia no nosso pas, de dimenses continentais e grande diversida-de regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso educao de qualidade, e promover o fortalecimento da formao de jovens morado-res de regies distantes, geogrfica ou economicamente, dos grandes centros.

    A Rede e-Tec Brasil leva os cursos tcnicos a locais distantes das instituies de ensino epara a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir o Ensino Mdio.Os cursos so ofertados pelas instituies pblicas de ensino e o atendimento ao estu-dante realizado em escolas-polo integrantes das redes pblicas municipais e estaduais.

    O Ministrio da Educao, as instituies pblicas de ensino tcnico, seus servidorestcnicos e professores acreditam que uma educao profissional qualificada inte-gradora do Ensino Mdio e educao tcnica, capaz de promover o cidado comcapacidades para produzir, mas tambm com autonomia diante das diferentes di-menses da realidade: cultural, social, familiar, esportiva, poltica e tica.

    Ns acreditamos em voc!Desejamos sucesso na sua formao profissional!

    Ministrio da Educao Maro de 2012

    Nosso [email protected]

    Apresentao Rede e-Tec Brasil

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    Prezado estudante:

    Minha presena no mundo no a de quem

    nele se adapta, mas de quem nele se insere. a

    posio de quem luta para no ser apenas objeto,

    mas sujeito tambm da histria

    Paulo Freire

    A sociedade brasileira vive processos rpidos de mudanas, e as esco-las cada vez mais tm de acompanhar, participar e formar cidadospara lidarem com mudanas, continuidades e rupturas. De ns todosque trabalhamos dentro de instituies escolares, exigem-se novasmaneiras de atuarmos como profissionais da educao e, nesta tare-fa, sermos educadores e gestores num palco em que tudo acontecemuito rpido, a escola.

    Nesse sentido, necessrio saber que espao a escola? Como os

    funcionrios das escolas podem ser educadores? Como se educa emoutros espaos dentro da escola? Como se ensina e como se aprendeem outros espaos da escola? Por que a escola diferente de outrasinstituies sociais? Por que os funcionrios das escolas necessitam deformao profissional?

    Para compreender a si prprio, a sua relao com o outro e com a na-tureza, o homem tornou-se senhor de sua histria e de seus processoseducativos num determinado tempo e lugar. No entanto, o desenvol-vimento cultural permitiu aos homens e s mulheres construrem e

    modificarem a sua histria e as suas formas de educao e organiza-o econmica, poltica e social.

    Sempre ouvimos falar de cursos de capacitao e qualificao dos tra-balhadores como forma de conseguir um emprego ou como forma demelhorar o desempenho das funes no local de trabalho. Hoje em

    Mensagem da professora-autora

    Mari

    a

    Ab

    di

    a

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    dia, aqueles que esto trabalhando deparam-se com novos desafios,exigem-se deles outras atitudes e posturas. Como tomar decises co-letivas nesse contexto? Como agir dentro da escola, de modo a torn--la mais democrtica?

    Na realidade, sabemos que, de maneira geral, aos funcionrios dasescolas pblicas, depois de seu ingresso, pouco foi oferecido para aformao continuada e para a compreenso do significado do traba-lho na instituio escolar formal. Tampouco, foram propiciadas condi-es objetivas que contribussem para que o seu fazer profissional setransformasse numa tarefa educativa, de respeito, compartilhamento,cooperao e aprendizagem coletiva e social.

    A vontade e o compromisso de trabalhar na escola pblica no so

    suficientes. H de se buscar a discusso sobre os processos de traba-lho na escola, as dinmicas de atuao e participao, a valorizaoprofissional e a formao continuada, entre outros.

    O ingresso na escola o primeiro passo do funcionrio, que deve serseguido de outros, visto que a escola um espao de formao, cria-o, inveno, inovao, socializao, transmisso e apropriao devalores, princpios e sentimentos. Novas exigncias tm sido cobradasdos que trabalham com educao, em todos os nveis, nos turnosdiurno e noturno. Em todas as regies do pas, preciso capacitar as

    secretrias, as merendeiras, os vigias, os inspetores de estudantes, asauxiliares de servios gerais, os motoristas. No podemos ficar isola-dos, pois temos sempre algo ainda a apreender. Isolados no cresce-mos; quando partilhamos saberes, aprendemos.

    Os tempos de hoje, 2012, demandam, de todos ns, atitudes queeducam. Seja nas relaes de ensino-aprendizagem entre professor eestudantes, seja nas relaes profissionais entre funcionrios das esco-las e estudantes, pais e comunidade local. As atividades profissionaisdos funcionrios desenvolvidas nos espaos extraclasse podem con-

    tribuir para o desenvolvimento da escola, dos educandos e dos edu-cadores, por meio da coparticipao nas decises e de aes voltadaspara uma educao de homens e de mulheres ativos e solidrios.

    Na verdade, nestes tempos de muita pressa, muito consumo, muitaviolncia, toda comunidade escolar se v diante de outras situaes

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    do criar, recriar, ensinar e aprender. Adultos, jovens e crianas estodentro da escola. Como se relacionar com eles? Como atra-los comalgo que tenha significado em suas vidas? Que saberes e conhecimen-tos voc, funcionrio de escola, precisa adquirir para, com responsa-

    bilidade e postura educativa, contribuir com a formao de meninose meninas, homens e mulheres? Voc que, provavelmente, todo dia,est acostumado com seus afazeres gostaria de exercer sua atividadecom domnio de conhecimentos da dimenso formativa educativa?

    Na atividade que exerce, enquanto trabalha com meninos e meni-nas na escola, voc pode agir como educador e acrescentar outroselementos na formao dos estudantes. Para isso, uma das maneirasde agir, interagir e intervir com responsabilidade dominar os conhe-cimentos e os saberes tericos e profissionais que nos auxiliam e nos

    qualificam para educar e tomar as melhores decises diante das ques-tes que acontecem ou que chegam s escolas todos os dias.

    O que sabemos que estamos num rpido processo de mudanasfamiliares, sociais, polticas, econmicas, ambientais e tecnolgicas. Asociedade brasileira torna-se cada vez mais complexa, plural, dinmicae repleta de diversidades e diferenas. Para compreender a sociedadebrasileira, preciso conhecer a sua histria e a histria das instituiesescolares.

    Convidamos voc a mergulhar nesta histria e ajudar a constru-la!

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    Apresentao da Disciplina

    Voc, funcionrio de escola pblica, est cursando o Profuncionrio,um Curso Tcnico de Formao para os Funcionrios da Educao,que vai habilit-lo a exercer, como tcnico, umas das profisses nodocentes da educao escolar bsica. Este o segundo de seis m-dulos da Formao Pedaggica, aos quais se seguiro trs mdulostcnicos comuns s quatro habilitaes e sete mdulos da formaotcnica especfica de sua profisso.

    Neste segundo caderno, dedicado compreenso da educao, da es-

    cola e dos processos de construo das instituies escolares ao longoda histria do pas, voc encontrar o texto-base, gravuras, atalhospara internet, bibliografia, informaes complementares e atividadespara a reflexo. Observe que, em cada Unidade, vamos desenvolverum pratique. O que um pratique? uma atividade ou um exerccioem que voc pode refletir sobre o que eu escrevi e aquilo que vocencontra na prtica, ao desenvolver seu trabalho no ambiente escolar.

    Voc j leu, nas Orientaes Gerais, que o seu curso tem uma quanti-dade de horas destinadas Pratica Profissional Supervisionada, ento,

    neste caso, tente conciliar os Pratiques com estas tarefas ou ativida-des. Assim, aproveite estas atividades para aprender, criar, discutir, dis-cordar e propor outras aes que melhorem a sua escola e voc atuecomo um educador!

    Este curso de formao tem trs elementos essenciais que o distinguede outros, so eles: os pratiques, a prtica profissional supervisionadae o memorial. No processo de formao, eles articulam os saberes econceitos com a realidade de cada escola, municpio ou regio. Hum desafio posto. Sair de onde estamos e querer aprender, buscar e

    inovar. Ns podemos fazer muito mais e estamos sentido necessidadede formao para posicionar e atuar diante das questes que surgemdentro da escola ou daquelas em que a escola est inserida.

    Vamos recuperar o que voc j sabe e j estudou e acrescentar umareflexo sobre a organizao da educao e da escola brasileira, por

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    meio dos processos histricos, polticos, econmicos e sociais. Duran-te a sua formao e estudos, voc vai perceber as conquistas e as lutasdos trabalhadores em defesa da educao pblica, gratuita, obrigat-ria e democrtica e com qualidade social.

    Escrevi este mdulo para conversar com voc. Junto com autores dosmdulos que viro, andamos por vrios municpios e vimos como estecurso solicitado pelos trabalhadores das escolas. Estive junto comos funcionrios cursistas, ouvi experincias, aprendi e ensinei, depois,construmos reflexes em que eles foram se fazendo educadores, poisacreditamos numa escola de qualidade social para nossas crianas,adolescentes e adultos.

    Este curso pretende oferecer subsdios para que voc possa participar

    e qualificar-se melhor para o desempenho de tarefas educativas noseu local de trabalho e discutir o significado do seu fazer profissionaldentro da escola como cidado, tcnico e educador.

    OBJETIVOEspera-se possibilitar aos estudantes a aquisio de conhecimentos hist-ricos e de interpretaes da escola e da educao como espaos coleti-vos de formao humana, de contradies, de diversidade tnico-cultural.Espera-se que o cursista compreenda a educao e a escola como parte dacultura de um povo, num determinado tempo e espao. Alm disso, que

    a histria construda por homens e mulheres em movimentos constantesde transformao, de rupturas ou de continuidades.

    EMENTAA educao e a escola pblica atravs dos processos histricos. A cons-truo, organizao e o significado das instituies escolares. Educa-o e Ensino. Funes da escola na sociedade capitalista. As relaesentre classes sociais e educao. Processos educativos: continuidadese descontinuidades. Movimentos sociais de mudanas e de resistn-cia. Direitos sociais. Diversidade tnico-cultural: homens e mulheres

    sujeitos histricos. Governo, mercado e educao.

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    Indicao de cones

    Os cones so elementos grficos utilizados para ampliar as formas delinguagem e facilitar a organizao e a leitura hipertextual.

    Ateno: indica pontos de maior relevncia no texto.

    Saiba mais: remete o tema para outras fontes: livro, revista, jornal,artigos, noticirio, internet, msica etc.

    Dicionrio: indica a definio de um termo, palavra ou expressoutilizados no texto.

    Em outras palavras: apresenta uma expresso de forma mais simples.

    Pratique:so sugestes de: a) atividades para reforar a compreensodo texto da Disciplina e envolver o estudante em sua prtica; b) ativi-dades para compor as 300 horas de Prtica Profissional Supervisionada(PPS), a critrio de planejamento conjunto entre estudante e tutor.

    Reflita: momento de uma pausa na leitura para refletir/escre-

    ver/conversar/observar sobre pontos importantes e/ou questio-namentos.

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    ContentsUnidade 1- Para que estudar e compreender a educao por meio da

    histria? 17

    Unidade 2- Educao construda pelos padres da Companhia de Jesus 23

    Unidade 3-Aulas rgias: a educao dirigida pelo Marqus de Pombal 29

    Unidade 4- A famlia real portuguesa e a educao das elites 37

    Unidade 5- A Educao escolar nas provncias e a descentralizao do

    ensino 43

    Unidade 6- A repblica dos coronis e as presses populares pela educa-

    o escolar 59

    Unidade 7- Manifestos de educao: ao povo e ao governo 67

    Unidade 8- O golpe militar e a educao pblica 75

    Unidade 9- Redemocratizao: cidados e consumidores 85

    Unidade 10- Identidade profissional e o projeto poltico-pedaggico 93

    Unidade 11- Polticas para a educao pblica: direito e gesto 103

    Palavras Finais 111

    Bibliografia bsica 113

    Currculo da professora-autora 117

    Sumrio

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    Unidade 1

    Para que estudare compreendera educao pormeio da histria?

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    Em todo o pas, as escolas pblicas vivem momentos de ressignifica-o de suas funes socioculturais, polticas e pedaggicas. cadavez maior a responsabilidade das escolas pblicas com a formaointegral dos estudantes de todas as classes sociais, para que eles co-

    nheam seus direitos e deveres e saibam participar com autonomianas decises da comunidade.

    A escola o lugar para onde enviamos nossas crianas e adolescentes, afim de que aprendam a cultura j produzida, aprendam a conviver como outro e possam tambm criar e inventar objetos, vivenciar valores,sentimentos e sonhos. A escola o lugar de aprendizagens compar-tilhadas e colaborativas entre todos os seus integrantes. Ser que asinstituies escolares, ao longo da histria, tm cumprido esse papel?

    Na conversa de hoje, vamos dialogar sobre quando, como e de queforma as instituies escolares foram criadas no Brasil, ao longo denossa histria, e discutir o significado de dois conceitos: educao eensino. Vamos conversar tambm sobre a especificidade da escola naformao humana.

    Nossas crianas e adolescentes cada vez mais necessitam de orientaes,estmulos, vivncias de cooperao e de solidariedade, de responsabilida-

    de e de cidadania, que nos fazem humanos, solidrios e autnomos. Nos-sos adultos, aqueles que, por vrias razes, somente agora tm acesso formao escolar, so nossos companheiros nesta tarefa coletiva, que educar a prpria sociedade e intervir nas decises do bairro e do munic-pio, nas decises sobre o uso do meio ambiente, da floresta e do lixo, bemcomo na expresso sobre diversos temas, como a construo das escolas.

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    Rede e-Tec BrasilUnidade 1- Para que estudar e compreender a educao por meio da histria? 19

    Como estarmos preparados para contribuir na educao denossas crianas e adolescentes? O que podemos fazer durante

    nossas atividades na escola para contribuir na formao dosestudantes? Como os funcionrios podem contribuir? Comopodemos ser educadores e gestores na escola?

    De vrias maneiras. Hoje em dia, ns todos temos responsabilidadessociais em aes, vivncias, prticas pedaggicas, prticas de espor-tes, viagens planejadas, atividades de campo, na alimentao que ser-vimos, no zelo pelo nosso patrimnio cultural, nas formas de comu-nicao, enfim, somos todos convidados a educar socialmente a ns

    mesmos e a sociedade.

    Estamos nas escolas todos os dias. Convivemos diariamente com me-ninos e meninas. Em sua escola, a cozinha, o ptio, a quadra de es-portes, a secretaria, a biblioteca, a rea livre, os banheiros, o refeitrio,o auditrio, a sala de reunies, entre outros, so alguns espaos parapropor e desenvolver prticas educativas e de responsabilidade social.

    Antes de prosseguir, vamos explicar dois significados: ensino escolar eeducao. Ensino escolar significa uma atividade ofertada numa esco-

    la credenciada pelos rgos competentes, na qual se vivencia e se par-tilha saberes e conhecimentos, numa relao entre professor e alunos,de maneira intencional, organizada e sistemtica, com a finalidade depossibilitar que o estudante conhea, questione, interaja e no apenasse aproprie da cultura produzida, mas, tambm, a inove, participandodas decises e invente novas formas culturais.

    Quando falamos em educao, estamos falando de vrias formas deapropriao de conhecimentos. A educao ocorre em todos os lu-gares: nos hospitais, no estdio de futebol, no Palcio da Justia, nas

    associaes de bairros, nas igrejas, no trnsito, nas viagens, nos meiosde comunicao, nos conselhos de sua cidade ou estado, nas mar-chas, nas passeatas, nos sindicatos, nas greves, nos partidos polticos,na floresta, nos parques da cidade, no supermercado, no consultriomdico, nas escolas e em vrios outros lugares em que haja contatosocial.

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    A educao uma prtica social de homens e mulheres e adotadacom o objetivo de socializ-los e humaniz-los culturalmente. Signifi-ca que homens e mulheres, enquanto vivem, produzem valores, co-nhecimentos, linguagens, cincias, crenas, tcnicas, artes, danas,

    smbolos e rituais. Inventam, constroem, inovam, semeiam, sonham,desejam, fazem tudo que os constituem como pessoa, num territrio,numa cidade, numa fazenda, num Estado. Significa que ns somosseres histricos, produzimos nossa histria, memria, cultura, valores,crenas, sonhos e utopias.

    A educao acontece em vrios lugares e uma prtica social. O en-sino escolar caracteriza-se por prticas pedaggicas realizadas dentroda escola formal por meio da relao entre professores, funcionriose alunos, de maneira sistemtica, programada e intencional, tendocomo resultado a obteno de certificados, diplomas ou ttulos.

    A escola uma instituio social. Sua principal atividade o ensino ea aprendizagem de maneira socialmente reconhecida.

    Todos ns nos educamos, coletivamente, por meio de aes, atitu-des, vivncias, programas, projetos, propagandas, exposies, livros,filmes, marchas, passeatas, viagens, teatro, festas juninas, rituais re-ligiosos, comcios, excurses, palestras e outras tantas maneiras deapropriar-se daquilo que homens e mulheres produzem e sonham.

    As escolas fazem parte de um conjunto de instituies que compem

    a sociedade. Por exemplo: as igrejas, os hospitais, os partidos polti-cos, o Ministrio Pblico, o Senado Federal e outros.

    Atualmente, percebemos muitas mudanas nas famlias, na economia,na poltica, na religio, no trabalho. As escolas pblicas ou privadastambm mudam, modificam-se. Como parte das mudanas sociais,

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    Rede e-Tec BrasilUnidade 1- Para que estudar e compreender a educao por meio da histria? 21

    as escolas passaram a ter funes muito importantes, alm de ensinara ler, a escrever, a contar, agora, exige-se de todos os profissionaisda educao uma prtica voltada para o respeito s diferenas, parasaber conviver com a diversidade de culturas e para a construo cole-

    tiva de prticas de uma gesto democrtica. Portanto, preciso criar,inventar, modificar rotinas, propor, construir, alm de aprender a res-peitar o meio ambiente, as florestas, o patrimnio pblico, as culturasdiferentes, a diversidade tnica, os valores morais e ticos e de solida-riedade. Observe que compreender quando, como e onde acontece aeducao, pode nos auxiliar a ler o mundo e agir sobre ele, como nosensinou Paulo Freire. Portanto:

    Compreender como ocorrem os processos educativos na formao huma-na de homens e de mulheres ao longo de sua histria, possibilita conhecer

    como nos constitumos, o que somos e como agimos em nossa cultura.

    A cultura de um povo, de uma civilizao, sobrevive pelas prticas derecriao e de transmisso quando os mais velhos comunicam aosmais novos as suas tradies, rituais, crenas, cerimnias, festas e ma-neira de falar, enfim, a cultura. A transmisso, as trocas, a socializaoe a produo de alternativas para melhorar a convivncia e o dilogocom o outro possibilitam que a cultura e a educao caminhem jun-tas. A memria torna-se viva e ativada por meio de aes, de atos, deatitudes e de prticas, que so processos educativos.

    Alguns acontecimentos so esquecidos rapidamente, outros perma-necem na memria das pessoas. As escolas vivem momentos de mu-danas e de ressignificao de suas funes sociais, pedaggicas epolticas. As transformaes locais, regionais e nacionais podem ex-pressar processos de continuidades ou rupturas com a ordem econ-mica e social. a nossa capacidade de anlise crtica e interpretativaque nos auxilia a compreender os processos de mudanas ou se esta-mos diante de processos de continuidades, e assim desvendamos osmecanismos que perpetuam as desigualdades sociais e econmicas.

    Por que temos no pas tantos analfabetos, gente sem terrapara morar, gente sem assistncia mdica e odontolgica egente na pobreza e na misria?

    Voc pode acessar umaretrospectiva do sculo XX noendereo eletrnico http://www.estadao.com.br/divirtaseonline/fotos/retrospectiva/index.frm

    Para voc refletir mais sobre osconceitos de educao e sobreas formas de organizao daeducao dos povos, leia VIEIRAPINTO, Alvaro, no livro Sete liessobre educao de adultos. SoPaulo: Editora Cortez, 1982, eHILSDORF, Maria Lucia. S. Histriada educao brasileira: leituras.So Paulo: Pioneira Thompson,2003.

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    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 22

    A educao das pessoas, de homens e de mulheres, transformadaem conhecimento, auxilia a desvendar as desigualdades sociais,regionais e econmicas. O conhecimento adquirido contribui para

    que possamos exigir nossos direitos no trabalho, na escola, nosupermercado, no nibus, no posto de sade, alm de facilitare aperfeioar a nossa participao nas decises do conselho daescola, na associao de moradores do bairro e no oramento par-ticipativo de nossos municpios.

    Podemos intervir nos rumos da escola onde trabalhamos ou onde nos-sos filhos, afilhados e amigos estudam. E para que estudar e compre-ender a educao e a histria na sociedade brasileira?

    RESUMOPodemos dizer que a histria permite enxergar nossas razes e com-

    preender por que as civilizaes, os povos, organizaram-se de deter-

    minada maneira, o que foram e como se transformaram naquilo que

    so. Neste sentido, a educao como parte da cultura, ilumina em

    ns a inteligncia humana e permite sermos criadores, inventores e

    construtores de objetos, smbolos, linguagens e valores.

    Assim, como vamos estudar e compreender a organizao da educa-

    o e da escola no Brasil? O que os funcionrios das escolas precisam

    saber sobre a educao? Como os funcionrios, em efetivo exerccionas escolas, podem ser educadores? Como transformar nossas roti-

    nas em processos educativos? Estas questes so fundamentais, e

    vamos durante este curso ajudar voc a compreend-las.

    1.Apresente trs sugestes de ao para que todo funcionriode escola que lida com a alimentao escolar ou que desen-volve as mesmas tarefas que voc deva realizar para vir a se

    transformar num educador.

    2.Leia as sugestes dos seus colegas e monte uma lista com as compe-tncias especficas e relacionais necessrias nesta transformao dofuncionrio em educador.

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    Unidade 2

    Educaoconstruda pelospadres daCompanhia de

    Jesus

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    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 24

    O tema do nosso encontro de hoje como se organizou a educaono Brasil durante a colonizao portuguesa.

    Quando os colonizadores ocuparam estas terras, j habitadas pelos

    povos nativos, vieram com eles os padres da Companhia de Jesuse os padres das outras ordens religiosas: dominicanos, beneditinos,agostinianos, franciscanos, carmelitas e capuchinhos, com os seguin-tes objetivos evangelizar os nativos, catequizar, propagar a f crist,difundir valores, dogmas e princpios cristos, introduzir o princpio dotrabalho como instrumento de dignificao do homem e contribuircom a Coroa Portuguesa no processo de colonizao e de exploraodas terras.

    A ideia de que todos os homens devem trabalhar para o seu sustentoe o de sua famlia serviu aos interesses dos padres jesutas e outros reli-giosos, que incutiam nos homens a obrigao de trabalhar duramentee produzir a riqueza e serviu tambm aos colonizadores que aprovei-taram para disciplinar os homens, as mulheres e as crianas, de acordo

    com as premissas do modo de produo capitalista.

    Antes mesmo da ocupao dos colonizadores portugueses, o territriobrasileiro j era habitado por numerosos povos indgenas, os quais ti-nham formas prprias de organizao social e vivncias de processoseducativos na tribo, por meio de tradies, cdigos de linguagens, dan-

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    Rede e-Tec BrasilUnidade 2- Educao construda pelos padres da Companhia de Jesus 25

    as, festas e rituais religiosos. O esprito comunitrio, a participao damulher nos rituais religiosos e na agricultura e a ausncia de castigosna educao dos filhos, intrigaram os colonizadores .

    A educao formal no Brasil comea em 1549, com a chegada dos pa-dres e irmos coadjutores. Estes religiosos, no litoral brasileiro, criaramdezessete colgios, seminrios e internatos e ofereceram quatro cur-sos: Elementar, Humanidades, Cincias e Artes e Filosofia e Teologiadestinados educao das elites, aos filhos de portugueses nascidosaqui, aos filhos dos fazendeiros e aos filhos dos senhores de enge-nho. A educao ensinada formava novos padres para continuarem ostrabalhos missionrios ou servia para preparar administradores locais.Eles aprendiam contedos humansticos nos cursos de latim, de gra-mtica portuguesa, de retrica e de filosofia.

    Os jesutas criaram tambm os aldeamentose os recolhimentos des-tinados catequese, evangelizao e preparao de mo-de-obra,civilizando as tribos indgenas para que colaborassem na exploraoda riqueza das terras. Uma importante estratgia para a civilizaodos ndios foi a alfabetizao e, at mesmo, para os julgados maisinteligentes, os estudos destinados aos filhos das elites. Por ordemda Coroa Portuguesa, os jesutas celebravam os rituais religiosos nasaldeias, batizavam os nativos, ensinavam a estes a lngua portuguesa,os bons costumes e o catecismo, alm de for-los ao trabalho.

    A corte portuguesa permitia que os indgenas hostis e rebeldes fossemaprisionados pelos portugueses. Os prprios soldados ficavam comboa parte deles, pondo-os ao seu servio ou vendendo-os aos fazen-deiros do Par e do Maranho, onde era crnica a falta de braos, ouseja, de mo-de-obra para o trabalho.

    O projeto de colonizao dos portugueses centrava-se nas capitaniashereditrias, nas sesmarias, nas grandes propriedades rurais, na uti-lizao da mo-de-obra dos nativos e dos escravos e na explorao

    e apropriao dos bens naturais. Entretanto, um outro aspecto doprojeto de colonizao tratava de ideias, de valores morais e ticos,de comportamento adequado e de verdades a serem difundidas pormeio da estrutura social e da poltica transplantada de Portugal paraa colnia.

    Voc ter mais informaes sobrea hostilidade dos portugueses emrelao aos ndios que recusavam-se a receber a educao/civilizao portuguesa no livrodo professor BRETAS, GenescoF. Histria da instruo pblicaem Gois. Goinia: CEGRAF/UFG.1991.

    Voc pode acessar o linkhttp://

    www.ibge.gov.br/ibgeteen/povoamento/constrterrit/cap_hereditarias.html e obter maioresinformaes sobre capitaniashereditrias.

    AldeamentosouRecolhimentoseramlocais onde os padres

    jesutas arregimentarame confinaram vrias tribosindgenas capturadasou amansadas para acatequese, a evangelizaoe para o trabalho.

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    Os colonizadores portugueses, auxiliados pelos padres jesutas e pe-las ordens religiosas, edificaram aqui uma sociedade hierarquizada eautoritria, em que o poder de mandar centrava-se no monarca e nasautoridades catlicas. Para executar um plano econmico de explo-

    rao, os portugueses impuseram os padres da cultura europeia etrataram de desprezar o modo de vida dos povos nativos. Com isso,ao mesmo tempo, introduziram hbitos de trabalho e noes de valorcomercial aos objetos e produtos.

    Como os indgenas apresentavam grande resistncia ao projeto coloni-zador, a partir de 1550 os portugueses passaram a importar negros parao trabalho nos canaviais, nos engenhos e na minerao. A palavra im-portar significa que havia uma mentalidade dominante em relao spessoas negras tratadas como mercadoria ou objeto de valor monetrio.

    Havia muitas diferenas entre a cultura dos portugueses, dos africanosescravizados e a dos nativos. Conflitos, divergncias e contestaesforam inevitveis. Tribos indgenas inteiras foram dizimadas, outras

    se rebelaram e resistiram, e outras se aculturaram. Os portuguesesposicionaram-se como seres superiores, senhores que sabiam a formacorreta de se viver e de organizar a sociedade. As formas de resistn-cia, tanto dos ndios como dos negros africanos, foram duramentereprimidas. Mesmo assim, os indgenas e povos africanos buscaramoutras formas de manter e guardar suas culturas.

    Johann Moritz Rugendas Fundao Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

    Para saber mais sobre a histriados jesutas no Brasil acesse o

    endereo eletrnico http://www.jesuitas.com.br/Historia/brasil.htm

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    Era preciso mudar os hbitos e fazer com que os nativos assumissemcomportamentos de civilizados. Logo, trataram de conhecer a lnguadas tribos indgenas para, em seguida, impor a lngua portuguesacomo oficial, moldar condutas, negar as suas formas de organizao,

    tradies, rituais e prazeres. Enfim, negar toda a sua cultura. Os colo-nizadores no s desprezaram a maneira dos nativos educarem seusprprios filhos; foram alm: ocultaram seus direitos e negaram a iden-tidade indgena.

    Portanto, os processos de socializao e as prticas sociais decorrentesda colonizao portuguesa, incluindo a institucionalizao da escola,tinham como princpios: a transmisso dos valores, a transplantaoda cultura e da viso de mundo dos europeus e a doutrinao e evan-gelizao catlica dos povos conquistados.

    O ensino oferecido em colgios e seminrios respondia aos interessesdas elites dirigentes, enquanto as camadas populares permaneciamsem acesso, alheias e excludas dos conhecimentos que pudessem lev--las a questionar a ordem e os privilgios.

    Nesse cenrio, a escola era necessria somente para alguns, uma vezque a inteno dos colonizadores era a dominao e a ocupao dasterras sem despesas para a Coroa. Os colgios, os seminrios e os con-ventos criados pelos religiosos foram as primeiras escolas destinadas

    apenas a alguns.

    E quanto aos funcionrios destes colgios, seminrios e conventos?

    Dentro dos colgios havia uma hierarquia das tarefas. Uns religiososexerciam o ministrio do sacerdcio, outros, irmos missionrios quefizeram os votos, dedicavam-se s tarefas nos teares, na agricultura,nas hortalias e na pecuria. Alm disso, medida que o patrimnioda Companhia crescia, foram agregados os indgenas e, em seguida,os africanos como trabalhadores braais nos afazeres domsticos e na

    rotina dos trabalhos no campo.

    Os padres da Companhia de Jesus introduziram, na colnia, uma con-cepo de educao voltada para a manuteno das estruturas hierr-quicas e de privilgios para alguns, acompanhada da disseminao deformas de explorao e de comportamentos a serem assumidos por

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    aqueles que realizavam tarefas e trabalhos com as mos. Uma educa-o para perpetuar as desigualdades sociais e de classe e consolidar asestruturas de privilgios e enriquecimento dos dominantes.

    RESUMONesta unidade, foi possvel compreender que a educao, durante o

    perodo colonial, foi uma estratgia dos colonizadores portugueses

    para negar a identidade indgena e seus processos educativos para

    implantar, na colnia, a viso europeia de mundo: sua cultura, seus

    valores e sua religio.

    Compreendemos, ainda, que as escolas, refletindo a sociedade hie-

    rrquica e autoritria da poca, eram organizadas da mesma forma:

    as funes nobres de educar eram reservadas aos sacerdotes; aos

    irmos missionrios os funcionrios poca eram reservados os

    trabalhos braais para a sustentao das escolas; depois, ndios e

    escravos foram incorporados como funcionrios e os irmos missio-

    nrios passaram a ser seus chefes. A tarefa de educar ficou sempre

    nas mos dos sacerdotes e religiosos.

    1. Procure, no seu municpio, em locadoras de vdeo, os se-guintes filmes: a) A misso ou b) Desmundo. So filmes que

    retratam as relaes entre colonizadores e povos nativos. As-sista ao menos um e, em seguida, discuta com os outros funcionriosda sua escola a seguinte questo: como ocorreram as relaes entreos colonizadores e os nativos?

    2. Se preferir, faa a seguinte atividade: converse com os outros fun-cionrios de sua escola. Converse tambm com a coordenadora pe-daggica ou a diretora sobre quais so as escolas mais antigas no seumunicpio. Sendo possvel, v conhec-la e aproveite para conversarcom os funcionrios e conte a eles sobre seu curso. Registre no seu

    memorial.

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    Unidade 3

    Aulas rgias: aeducao dirigidapelo Marqus dePombal

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    Nesta unidade, vamos estudar e compreender como a educao esco-lar formal se desenvolveu e quando houve a transplantao do mode-lo portugus para a colnia.

    Geralmente, os professores de Histria estudam com seus alunos osfatos econmicos, polticos, religiosos e sociais.

    Desta vez, vamos apresentar e analisar os principais momentos daeducao, da escola e do ensino, ou seja, partindo-se da Histria quevoc j estudou, priorizaremos as questes sociais e educacionais. Va-mos colocar mais luz nos aspectos da educao escolar.

    Para isso, temos de compreender as mudanas e as transformaeseconmicas, polticas, filosficas, cientficas, sociais e ticas que ocor-

    riam na Europa no sculo XVIII, entre 1740 e 1789. Nesse perodo,ocorreram vrias manifestaes de contestao do modo de enxergaro mundo, de expressar, de agir e de relacionar-se com a natureza ecom outros povos. Os filsofos e os cientistas pregaram que a razo,acompanhada do raciocnio sistemtico e rigoroso, era a forma deiluminar as aes dos homens.

    Alguns filsofos dessa poca, tambm chamados de iluministas, opu-nham-se s explicaes divinas e religiosas, s supersties e aos mi-tos. Criticavam o poder absoluto dos reis, a interferncia do Estado

    na economia e os privilgios concedidos nobreza e ao clero. Almdisso, propuseram um projeto de sociedade que conduziria moder-nidade, baseado na individualidade, na liberdade econmica (laissez--faire - laissez-passer ...), na propriedade privada, na laicizao, nosufrgio masculino, na liberdade religiosa e na igualdade peranteas leis constitucionais. Todos os cidados, incluindo os governantes,deveriam estar submetidos s leis constitucionais elaboradas por umparlamento de representantes eleitos.

    Observe o mapa poltico europeu e note que ocorreram dois movi-

    mentos, um de delimitao geogrfica das fronteiras dos pases e, ou-tro, uma circulao de ideias e pensamentos de filsofos, sbios, ma-temticos e religiosos que buscavam interpretar e dar uma explicaopara as mudanas econmicas e os conflitos sociais que apareciam.

    LAISSEZ-FAIRE -LAISSEZ-PASSER

    - significa deixai fazer,deixai passar. Sntese da

    doutrina do liberalismoeconmico do sculo XVIII,

    a qual pregava a no-

    interferncia do Estadona vida econmica. Seuprincipal representantefoi Adam Smith (1723-1790), que publicou o

    clebre livro A riquezadas Naes. Segundo

    ele, a economia deveriaser dirigida pelo jogo livreda oferta e da procura de

    mercado.

    LAICIZAO- tornar laico, leigo.Subtrair a educao da influncia

    religiosa.

    SUFRGIO MASCULINO- direitode voto para homens, poca era

    apenas para os proprietrios deterras.

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    Esse movimento intelectual, cientfico, artstico e cultural que flores-

    ceu na Europa Ocidental,no sculo XVIII, conhecido como Ilustrao.

    Seus protagonistas, embora fizessem parte do mesmo movimentocultural, no defendiam as mesmas ideias, principalmente no que serefere aos direitos sociais, incluindo a educao pblica. Os filsofos ,os artistas e os cientistas compartilhavam a defesa pelo direito vida, propriedade, tolerncia religiosa e educao universal, inspira-dos em bases cientficas como elemento fundamental para explicar oprogresso humano.

    Os impactos desse movimento intelectual, cientfico e cul-tural assumiram caractersticas especficas nos diferentespases. Em Portugal, por exemplo, o movimento deparou--se com uma monarquia enfraquecida e subordinada aosdogmas e s verdades da igreja catlica, alm da corrupoinstalada, com os desvios de impostos e taxas e de umapoltica mercantilista num Estado incapaz de responder snovas exigncias no comrcio e na indstria.

    Contudo, ao mesmo tempo, em Portugal tornou-se cres-

    cente o nmero dos adeptos do pensamento ilustradocomo instrumento para guiar o caminho dos homens e dasnaes. O movimento visava a um pas governado por leisconstitucionais e no pela vontade de determinados homens. A Corteportuguesa equilibrava-se entre manter as estruturas conservadoras,as prticas da inquisio e a f inabalvel nos dogmas religiosos, ao

    Mapa poltico da Europa Ocidental Brock University Map Library - Software Edition, St. Catharines

    Alguns filsofos PerodoIsaac Newton 1642-1727John Locke 1632-1704Montesquieu 1689-1755Franois Quesnay 1694-1774David Hume 1711-1775Voltaire 1694-1778Denis Diderot 1713-1784DAlembert 1717-1783Jean Jacques Rousseau 1712-1778Emile Durkheim 1858-1917John Dewey 1859-1952Adam Smith 1723-1790Emanuel Kant 1724-1804Frederich Hegel 1770-1831Karl Marx 1818-1883

    Antonio Gramsci 1891-1937

    Se desejar aprofundar suasinformaes, utilize um programade busca, como o GoogleAcadmico (scholar.google.com.br), para pesquisar sobre osfilsofos abaixo

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    mesmo tempo em que procurava aderir s novas mentalidades e a umnovo modo de enxergar o mundo e nele agir.

    Ento, o monarca de Portugal D. Jos I, que reinou entre 1750 e 1777,

    nomeou como primeiro-ministro Sebastio de Carvalho e Mello, tam-bm chamado Marqus de Pombal ou Conde de Oeiras, o qual estavadisposto a reformar Portugal. O Marqus de Pombal era um homempragmtico que, em contato com o pensamento ilustrado europeu,pretendia colocar Portugal no mesmo patamar que outras naes eu-ropeias - na modernidade.

    Durante o movimento de Ilustrao, os conflitos entre monarquia por-tuguesa, clero e nobreza acirraram as vises de mundo. As disputase os interesses econmicos encabeados por burgueses, as presses

    dos adeptos do pensamento ilustrado e as questes mercantis entre ospadres jesutas e a Coroa tomaram tamanha dimenso que levaram oMarqus de Pombal a fortalecer o poder real, reduzir os privilgios danobreza e do clero, aumentar a cobrana de impostos, reformar a Uni-versidade de Coimbra, expulsar a Companhia de Jesus de Portugal e deseus reinos e reafirmar a autoridade real, civil e laica, sobre a religiosa.

    O que tm a ver os atos do Marqus de Pombal com a educao nacolnia?

    Algumas das medidas tomadas em Portugal atingiram diretamentea colnia. E quais foram estas medidas? Foram expulsos os padresda Companhia de Jesus e confiscados todos os seus bens, em 3 desetembro de 1759; foi instituda a lngua portuguesa como idiomaoficial da colnia; em 5 de maio de 1768, foi criada a Real Mesa Cen-sria, com o objetivo de censurar os livros indesejveis; foi proibida acirculao de materiais pedaggicos dos padres jesutas; e pelo Alvarde 10 de novembro de 1772, criou-se o imposto chamado SubsdioLiterrio, cobrado sobre aguardente destilada nos engenhos e carnescortadas nos aougues para custear o pagamento dos professores.

    Na mesma poca, foram criadas as aulas rgias avulsas. Estas, de nvelsecundrio e para meninos, ofereciam contedos de gramtica latina,grega e hebraica, de retrica e de filosofia, a serem ministradas porprofessores escolhidos em concurso pblico e pagos pelo Errio R-gio e, portanto, contratados como funcionrios do Estado.

    O Errio Rgio, criadono reinado de D. Jos

    I, concentrava todas asoperaes financeiras da

    Coroa.

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    A educao escolar conduzida por Marqus de Pombal utilitria e pro-fissional. Assim deveria ser na colnia. A esta cabia copiar e imitar ossistemas educacionais das naes europeias. De fato, o rompimento coma Companhia de Jesus pode ser considerado, naquele momento, o marco

    inicial de instaurao do processo de laicizao da vida poltica e, espe-cificamente da educao. A laicizao a separao entre as aes e ospoderes que caberiam ao Estado e as aes e os poderes que caberiam igreja catlica. O que de fato estava em jogo era qual das duas insti-tuies definiria as regras de conduta, os princpios, os valores ticos emorais a serem assimilados por todos e que, ao mesmo tempo, ajudavama contribuir na implantao do modo de produo capitalista. Ser que,ainda hoje, Estado e igrejas disputam essas prerrogativas?

    A Universidade de Coimbra

    A Universidade foi criada em Lisboa, em 1290 e transferida paraCoimbra, em 1308. Por ter origem francesa, as influncias inte-lectuais predominantes nos primrdios da Universidade foram deorientaes jurdicas francesas e italianas, profundamente marca-das pelo direito romano. Em 1384, D. Joo I, o Mestre de Avis, re-tornou a Universidade a Lisboa, ao mesmo tempo em que lanavasobre ela o controle governamental atravs da nomeao real doProvedor. A partir de D. Joo II, os reis foram declarados Protetoresda Universidade e terminou a livre escolha de reitores. Somen-

    te em 1537, a Universidade voltou Coimbra. Teve ento incioum perodo de dois sculos de controle jesutico, durante o quala Universidade se isolou da influncia do progresso intelectual ecientfico europeu. Os jesutas obtiveram o controle do Colgiodas Artes, cuja frequncia se tornou obrigatria para todos os quequisessem cursar leis e cnones. A situao s iria modificar-senovamente em 1759, quando os jesutas foram expulsos de Por-tugal e das colnias pela ao de Sebastio de Carvalho e Melo. expulso seguiu-se vasta e profunda reforma da educao portu-guesa em todos os nveis. Finalmente, em 1772, veio a reforma da

    Universidade de Coimbra, sob a direo do reitor brasileiro Fran-cisco de Lemos, com o apoio do Marqus de Pombal, nomeadovisitador. Alguns brasileiros que estudaram nesta Universidade:Jos Bonifcio e Bispo Azeredo Coutinho. (Carvalho, Jos Murilo,A construo da Ordem. Braslia: Editora UnB, 1981, p. 51 e 52.).

    Universidde de CoimbraFonte: http://www.sxc.hu/pho-to/863203

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    Ainda sobre a educao na colnia vale considerar que :

    1. De 1759, quando os padres jesutas foram expulsos, at1772, quando foram criadas as aulas rgias avulsas, a colnia

    j era habitada por inmeras tribos indgenas e por portu-gueses, holandeses, franceses, tambm desembarcados aqui.Pouco se fez para oferecer educao populao que traba-lhava e cultivava a terra. As elites oligrquicas, aquelas querecebiam terras e ttulos da Coroa, mandavam seus filhos paraestudar em Coimbra, Porto e Lisboa.

    2. Entre 1501 e 1810, a mo-de-obra para as lavouras, para osengenhos e para a minerao era capturada e trazida da fri-ca para as Amricas. Aproximadamente 6.265.000 africanos

    aqui desembarcaram para o trabalho forado, uma prtica deexplorao e de comrcio que rendia lucros para as metr-poles europeias (Cf. Cardoso, Ciro Flamarion. A afro-Amrica:a escravido no Novo Mundo. So Paulo: Editora Brasiliense,1982).

    3. A educao escolar formal: as aulas de primeiras letras ouensino elementar continuaram existindo de maneira insu-ficiente e sazonal. Eram ministradas por professores leigos,membros das ordens religiosas, professores pagos com im-

    postos municipais ou contratados por fazendeiros. Alm daortografia, da gramtica da lngua portuguesa e da doutrinacrist, eram ministradas aulas de histria ptria, aritmticaaplicada ao estudo de moedas, pesos, medidas e fraes, nor-mas de civilidade, visando formao do homem polido e ci-vilizado, ou seja, aquele que assimilaria os padres civilizat-rios e a viso de mundo dos europeus.

    4. No caso das aulas rgias ou aulas avulsas, as de nvel m-dio foram insuficientes. Mesmo com professores enviados de

    Portugal, pouco prosperaram. Ensinavam Gramtica Latina,Matemtica, Geometria, Potica, Retrica, Lgica e Filosofia,alm de aulas de Comrcio.

    5. A partir de 6 de novembro de 1772, o Marqus de Pombalintroduziu a poltica das 44 aulas rgias avulsas, sendo dezes-

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    sete de primeiras letras, quinze de gramtica latina, seis deretrica, trs de gramtica grega e trs de filosofia.

    6. O Seminrio de Olinda, criado em 1800, no mesmo prdio

    do antigo Colgio dos Jesutas, pelo ex-aluno da Universida-de de Coimbra reformada, o bispo Jos Joaquim da Cunha deAzeredo Coutinho, um exemplo da aplicao dos princpiosilustrados no Brasil. Outro exemplo foram as Academias Lite-rrias que congregavam letrados e intelectuais que tinhamsimpatia pelas ideias ilustradas.

    RESUMO

    Nesta unidade voc se deu conta de que o movimento iluminista eu-

    ropeu provocou uma revoluo na maneira dos seres humanos inter-

    pretarem o mundo e as relaes sociais. O centro organizador dessa

    viso de mundo deixa de ser o Deus judaico-cristo e passa a ser a

    razo humana. Esse processo que se difunde aos poucos pelos pases

    europeus tem reflexos em suas respectivas colnias.

    No caso de Portugal, as aes de Marqus de Pombal instituram

    aqui na colnia um modelo de organizao das escolas e de con-

    tratao de professores, alm da aplicao das ideias iluministas na

    organizao do Estado Portugus. As medidas polticas, econmicase educacionais estabelecidas por Pombal acirraram os conflitos com

    os jesutas e resultou na sua expulso de Portugal...

    1. Converse com professores de histria de sua escola sobre apresena das Congregaes Religiosas ou dos seminrios dospadres catlicos em seu municpio ou regio. Escreva ao menosuma pgina a partir da seguinte questo: quais atividades educacio-nais os religiosos desenvolveram em seu municpio ou regio?

    2. Se preferir, faa esta outra atividade: converse com os outros funcio-nrios de sua escola sobre a trajetria escolar de cada um deles. Depois,escreva a sua trajetria no memorial, destacando: (a) suas alegrias, narelao com os colegas, professores e diretores que teve; (b) como eraa escola onde voc estudou? Voc recorda quem eram os funcionrios?(c) Registre uma lembrana, um caso que marcou sua trajetria.

    Seminrio de Olinda

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    Unidade 4

    A famlia realportuguesa e aeducao das elites

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    A famlia real portuguesa veio morar na Colnia, ser verdade?

    Sim, verdade!

    Em 1808, novamente, Portugal encontrava-se em dificuldades polti-cas e econmicas e o resultado foi que as tropas napolenicas inva-diram Portugal. Antes que isso ocorresse, D. Joo VI e toda a Corteportuguesa, apressadamente, aportaram-se em Salvador, em 1808, edepois seguiram para o Rio de Janeiro, permanecendo aqui at 1820.

    Como foi conduzida e construda a educao escolar durantea estadia da Corte portuguesa no Brasil? O que fez D. Joo VIno que se refere educao formal? Aps a separao pol-

    tica de Portugal, que medidas foram tomadas para educaoescolar no Brasil? Quais eram as instituies escolares? Quemeram os professores? Quem eram os funcionrios das escolas?Quem frequentava as escolas? Qual era o lugar social da es-cola pblica e seu significado? Quais eram as funes sociaise polticas da escola? Que concepes de educao foram di-fundidas?

    Vamos relembrar as caractersticas da sociedade brasileira naquela po-ca. Pode-se dizer que, durante sculos, permaneceu patriarcal, agroex-portadora, fundada nas grandes propriedades rurais, na fora do traba-lho dos africanos e seus descendentes, na monocultura e na extraode minrios. Durante o sculo XIX, ocorreu o crescimento das cidades,

    o fluxo das exportaes dos produtos primrios: fumo,algodo, acar e caf, e medidas polticas foram ado-tadas para favorecer o comrcio com os ingleses e ga-rantir os emprstimos externos para o Brasil.

    Uma parte da sociedade brasileira as elites dirigentes desejava viver com os costumes e os hbitos euro-peus. Vivia-se, segundo Ansio Espndola Teixeira, entre

    os valores proclamados e os valores reais, ou seja, alguns pretendiamviver do mesmo modo que os europeus. At mesmo as suas casas eramconstrudas com os materiais importados: azulejos, madeiras, vitrais, ba-

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    nheiras, mveis e decoraes. Compravam, ainda, tapetes, pratarias,louas, roupas, luvas e perucas, o que no combinava com o estilo devida e com o clima nos trpicos.

    Segundo Joo Monlevade, autor do 1 mdulo deste curso, vivamos osubdesenvolvimento cultural, fruto de uma sociedade que prescindiuda escola pblica para sobreviver e se reproduzir nos sertes nordes-tinos, nos latifndios de acar, nos engenhos, nas manufaturas, nacasa-grande e nas senzalas, no pastoreio e nos roados. A diviso socialalimentou vaidades, desde a importao de produtos suprfluos da Eu-ropa, construes nas cidades, igrejas, edifcios e palcios, evidencian-do a hierarquia social, at o nmero de africanos trazidos de Angola,Congo e Guin Bissau e de imigrantes italianos e alemes para trabalhonas lavouras.

    Parte dos fazendeiros, cafeicultores, polticos e senhores de engenhoenviavam os seus filhos para estudar em Coimbra ou Lisboa, em Portu-gal, para depois retornarem letrados. A grande maioria da populaobrasileira daquela poca era composta de tribos indgenas, africanos eseus descendentes, homens e mulheresbrancos, pobres e livres, ne-gros alforriados, imigrantes, boticrios, comerciantes, lavradores, me-eiros, colonos, barqueiros, carreiros, oleiros, maquinistas, fiandeiras,parteiras, vaqueiros, pastoreios, pescadores, pees, camponeses, alfaia-tes, teceles, artesos, bispos capeles,juzes de vintena, manufatu-

    reiros, abatedores, carregadores, destiladores, purgadores, caixeiros,feitores, prostitutas, benzedeiras e amas-de-leite. Era a sociedade declasses sociais que emergia e adquiria os seus contornos. Nela, os bensde produo e o capital permaneciam nas mos de poucos, e grandemaioria restava vender a sua fora de trabalho permanecendo distantedos direitos sociais.

    Tambm verdade que a populao oprimida e explorada organizou-seao seu modo. Por exemplo: o Quilombo dos Palmares (1630), a Con-jurao Baiana (1798), a Inconfidncia Mineira (1789), a Confederao

    do Equador (1824) foram movimentos de contestao das estruturasconservadoras, de oposio ordem poltica e econmica vigente denorte a sul do pas. Com estas experincias de contestao, nota-seque de diferentes maneiras a populao excluda manifestava ds des-contentamento com as medidas adotadas pelo governo.

    As mulheres tambmcuidavam da agricultura,dos animais, dasmanufaturas, teares e daproduo de alimentosprincipalmente milho emandioca. Alm dissocuidavam da famlia eviviam cercadas e vigiadasno ambiente domstico

    Juzes de vintena:tambmchamados de vintaneiros ou juizespedneos, eram anualmenteeleitos pelas cmaras dos muni-cpios onde existiam aldeias compopulao excedentes de vintemoradores, arredadas uma oumais lguas das cidades ou vilas,e competia-lhes decidir verbal-mente sem apelao nem agravoas contendas entre os habitantesda sua aldeia; podiam prender oscriminosos e entreg-los aos juzesordinrios.Purgadores:trabalhadores que,

    junto s fornalhas, limpam asimpurezas do melado para afabricao do acar.

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    Nessa poca, 1808 a 1824, quais eram as instituies escolares e quemfrequentava as escolas? Pode-se dizer que D. Joo VI dedicou-se edu-cao de elites, bacharis e magistrados. Criou a Academia Real daMarinha (1808), a Academia Real Militar (1810), os cursos superiores

    profissionalizantes de Medicina em So Paulo (1813) e na Bahia (1815).O curso de Direito, em So Paulo e Olinda, em 1827, e o curso de En-genharia na Academia Real Militar (Rio de Janeiro, 1810). E, antes deretornar a Portugal, em 1820, fundou a Academia de Belas Artes, noRio de Janeiro.

    Os cursos de Direito foram criados imagem de Coimbra e os pri-meiros professores eram ex-alunos. A poltica era formar no apenasjuristas, mas tambm advogados, deputados, senadores, diplomatase funcionrios do Estado e, de maneira geral, as aes foram dirigidas

    para a criao de cursos de formao jurdica, militar, mdica e eclesi-stica. Da a expresso de Jos Murilo Carvalho:

    a elite era uma ilha de letrados num mar de analfabetos.Portanto, durante a estadia da Corte portuguesa na colnia eno Imprio, temos que refletir: quem no frequentava a escolae por quais razes?

    Para estas academias ou escolas supe-

    riores, os professores eram trazidos daEuropa ou eram os filhos das elites queretornavam ao pas, aps seus estu-dos. Para realizar trabalho de limpeza evigilncia, nestas escolas buscavam-seaqueles que trabalhavam nas casas defamlia ou eram escravos que tinhambom comportamento. Nessa poca,

    havia uma mentalidade de desprezo por qualquer tipo de trabalhofeito com as mos. Ento, aqueles que assim trabalhavam eram tidos

    como inferiores, incapazes de aprender, restando-lhes apenas ativi-dades rudes, pesadas e braais no plantio, nas colheitas, nas constru-es, na abertura de estradas, no preparo do gado, no transporte, etc.

    A educao formal conduzida por D. Joo VI tinha por finalidade for-mar os quadros dirigentes para a administrao pblica. As estruturas

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 40

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    econmica e social permaneceram inalteradas. As aes de D. JooVI estavam voltadas para a educao daqueles que, por serem de fa-mlia nobre, deveriam estudar para continuar os negcios do pai, oproprietrio das terras. Para tanto, alguns fazendeiros contratavam

    um preceptor para ensinar seus filhos, em suas prprias residncias.Enquanto isso, a maioria da populao indgenas, africanos e bran-cos pobres espalhada pela zona rural, trabalhava nas lides da terra epermanecia distante da escola.

    RESUMO1. A poltica para a educao conduzida por D. Joo VI expressou,

    novamente, a disposio de transportar o modelo de educao das

    elites europeias para o Brasil. Embora alguns pases europeus j

    houvessem iniciado a constituio dos seus sistemas nacionais de

    educao e a concebessem como direito social, por meio do qual

    homens e mulheres em sua existncia produzem conhecimentos, va-

    lores, tcnicas, cincia, artes, crenas, enfim, tudo o que constitui o

    saber historicamente produzido. Contudo, a colonizao portuguesa

    priorizou a educao somente para as elites.

    2. Embora j existissem concepes de que a educao parte da

    cultura e, por meio da cultura, o homem relaciona-se com a natureza,

    modifica e modificado por ela, o caminho escolhido pela monarquia

    foi o de prescindir-se da educao da populao que trabalhava eproduzia a riqueza.

    3. Durante a estadia da Corte Portuguesa no Brasil Colnia, a edu-

    cao escolar destinada s elites foram as aulas rgias avulsas e,

    depois, alguns eram enviados para Coimbra e vora para terminar os

    estudos. Para a maioria restaram classes de primeiras letras irregula-

    res e algumas escolas de ensino secundrio.

    1. Leia, com ateno, no endereo https://sites.google.com/site/aihca02/oficios, as profisses existentes em um engenho deacar no Brasil colonial. Na sua opinio, as escolas fundadaspor D. Joo VI formavam esses profissionais?

    2. Converse com um colega que trabalha junto com voc sobre a

    Rede e-Tec BrasilUnidade 4- A famlia real portuguesa e a educao das elites 41

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    Corte portuguesa veio morar na colnia. Sim. Ento, que escolas fo-ram criados por D. Joo VI? Quem no frequentava a escola? Porqu?Escreva uma pgina no seu Memorial.

    3. Organize-se para assistir o Filme: Guerra de Canudos. Direo SrgioResende. Depois faa um debate no Frum.

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 42

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    Unidade 5

    A Educao escolarnas provncias e adescentralizao

    do ensino

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    Vamos conversar sobre a educao escolar quando D. Pedro I assu-miu a conduo do pas. Denominamos este perodo de Primeiro Rei-nado (1821 a 1831). D. Pedro I foi um dos precursores do movimentode separao do Brasil de Portugal. Conversaremos, tambm, sobre

    os anos que seguiro o governo de Dom Pedro I at a instituio daRepblica.

    Aps a separao poltica de Portugal, em 1822, houve presses ex-ternas e internas, das foras econmicas e polticas das provncias,para que fossem organizadas leis nacionais. Ento, vamos compreen-der como D. Pedro I e os polticos que o apoiaram criaram as leis, osdecretos e as normas jurdicas para o pas funcionar. Vamos priorizar aeducao pblica. Quais foram as medidas tomadas para as classes deprimeiras letras? E para o ensino secundrio? Quem eram os estudan-

    tes destas escolas? O que fizeram os presidentes das provncias para aeducao formal?

    Vamos relembrar como a sociedade brasileira estava organizada. Doponto de vista da economia, o Brasil continuava rural, com grandesfazendas de caf, engenhos de acar, criao de gado, pequenasmanufaturas, teares, pecuria de pequenos animais e agricultura desubsistncia. Do ponto de vista poltico, prevalecia a fora das oligar-quias ruraise, nas provncias, ocorriam intensas rebelies sociais nabase popular que desejava mudanas.

    Alguns movimentos, como a Praieira (1844-1848), Balaiada (1838-1841), a Cabanagem (1835-1840), a revolta dos Mals (1835), aSabinada (1837-38), e a Guerra dos Farrapos (1835-1845), eram ex-presses e manifestaes contra a prepotncia e a arrogncia dasoligarquias dominantes que, aliadas ao governo centralizador de D.Pedro I, sufocavam as provncias com impostos, leis arbitrrias e coma nomeao de governantes, mesmo com a recusa dos moradores.

    Entre as principais reivindicaes do movimento chamado Praieira

    destacam-se: o voto livre e universal do povo brasileiro; a plena e ab-soluta liberdade de comunicar os pensamentos por meio da imprensa;o trabalho como garantia de vida para o cidado brasileiro; o comr-cio s para cidados brasileiros; a inteira e efetiva independncia dospoderes constitudos; a extino do Poder Moderador e do direito deagraciar; o elemento federal na nova organizao.

    Dom Pedro I nasceu emLisboa, no dia 12 de

    outubro de 1798. Veiopara o Brasil com nove

    anos de idade, em 1808,quando houve a invaso

    de Portugal pelosfranceses.

    A famlia real retornou Europa em 26 de abril

    de 1821, ficando D.Pedro I como prncipe

    regente do Brasil.A corte de Lisboa

    despachou ento umdecreto exigindo que

    o prncipe retornasse aPortugal. Essa deciso

    provocou um grandedesagrado popular.

    D. Pedro I resolveupermanecer no Brasil,no dia que ficou

    conhecido como o Diado Fico (9/1/1822).Em 7 de setembro de

    1822, recebeu umacorrespondncia de

    Portugal, comunicandoque fora rebaixado da

    condio de regentea mero delegado

    das cortes de Lisboa.Revoltado, junto aoriacho do Ipiranga,

    resolveu romper

    definitivamentecontra a autoridadepaterna e declarou

    a independncia doImprio do Brasil,

    rompendo os ltimosvnculos entre Brasil e

    Portugal. Morreu detuberculose, no Palciode Queluz, com apenas

    36 anos de idade, em 24de setembro de 1834.

    Oligarquia rural:significa regimepoltico em que o poder exercido

    por um pequeno grupo de pes-soas. No Brasil era formada por

    grupo de grandes fazendeiros quecontrolavam as decises econmi-cas e polticas, durante o imprio e

    primeira Repblica.

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 44

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    Os cabanos se rebelaram contra a extrema misria do povo paraensee a irrelevncia poltica qual a provncia foi relegada aps a Indepen-dncia do Brasil. A denominao Cabanagem remete ao tipo de ha-bitao da populao ribeirinha mais pobre, formada principalmente

    por mestios, escravos libertos e ndios. Por sua vez, a elite fazendeirado Gro-Par, embora morasse muito melhor, ressentia-se da falta departicipao nas decises do governo central, dominado pelas provn-cias do Sudeste e do Nordeste.

    As insurreies envolviam os vrios setores descontentes. Uns, propu-nham o fim da escravido, reagiam cobrana de altos impostos, e satitudes de coronis e fazendeiros que impunham a sua vontade aci-ma da lei. Tambm eram contra a distribuio de terras aos imigrantese as pssimas condies de vida da populao. Outros, lutavam por

    melhores preos para seus produtos e desavenas nas atividades decomrcio e exportao, contra a nomeao de presidentes de provn-cias e, ainda, contra a presena de foras militares.

    De 1831 a 1840, nas provncias, os liberais e os conservadores, queeram grupos polticos que defendiam interesses distintos, reagiramcontra medidas autoritrias dos regentes padre Diogo Feij e ArajoLima. Naquela poca, as decises de alguns coronis tornavam-se leis,as quais favoreciam alguns e geravam um distanciamento ainda maiorentre quem tinha propriedades rurais e quem trabalhava e produzia

    na terra e nas pequenas fbricas.

    Para conter as revoltas e como tentativa de dar um rumo ao pas, o gru-po que apoiava a monarquia resolveu antecipar a posse de D. Pedro II,colocando-o para dirigir o pas com seus quatorze anos. Ento, D. PedroII governou de 1840 at a Repblica, em 1889. Denominamos este pe-rodo como Segundo Reinado.

    No Brasil, entre 1836 e 1837, formaram-se dois partidos polticos: oPartido Conservador e o Partido Liberal. O primeiro era formado por

    grandes proprietrios de terras e de escravos, por altos funcionriosda monarquia, muitos deles portugueses e por comerciantes brasilei-ros, ingleses e portugueses favorecidos com as atividades comerciais.Eles defendiam a centralizao monrquica, os direitos agrrios, osinteresses econmicos da lavoura e o direito de voto apenas para ospossuidores de grandes quantidades de terra e para os detentores do

    Na madrugada do dia 7de abril de 1831, DomPedro I abdica do tronoa favor de seu filho(Dom Pedro II), que temapenas cinco anos deidade. A Constituio da-quela poca determinavaque, para ocupar o tronobrasileiro, o imperadordeveria ter dezoito anosou ento o pas deveriaser governado por umprncipe da famlia im-perial, de no mnimo 25anos. Como na famlia

    real no havia ningumque atendesse a essasexigncias, a alternativafoi nomear regentes deDom Pedro II. Em 12de outubro de 1835, oPadre Diogo AntonioFeij tomou posse comoregente nico do impriodo Brasil. Em 19 de se-tembro de 1837, o PadreFeij renuncia a seucargo de regente nicoe assume interinamentePedro de Arajo Lima.No ano de 1840, foi

    antecipada a maioridadede Dom Pedro II paraque ele pudesse assumiro governo do Imprio.

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    capital. O Partido Liberal era formado por pequenos comerciantes,funcionrios pblicos, profissionais liberais, militares, bacharis, arte-sos e padres favorveis abolio dos escravos e autonomia dasprovncias e separao do Brasil de Portugal.

    A partir de 1850, a Inglaterra aumentou as presses para o fim dotrfico de escravos da frica. O preo do escravo aumentava cada vezmais e a introduo dos trabalhadores livres, principalmente os imi-grantes europeus, foi a alternativa encontrada pelos grandes fazen-deiros para continuar tendo suas propriedades rentveis e produtivas.

    Na verdade, neste momento, os comerciantes do trfico de mo-de--obra trazida da frica corriam muitos riscos de serem multados pe-los ingleses. Internamente, nas fazendas por todo o pas, cresciam

    as formas de resistncia dos negros africanos e multiplicavam-se osincidentes de fugas, rebelies, motins, mortes e alforrias concedidasou compradas pelos escravos. Afinal, como poderiam continuar justi-ficando o comrcio de africanos?

    Sobre estes e outros elementos voc pode se aprofundar fazendo umaoutra leitura e outras interpretaes dos livros de Histria do Brasil.

    Agora vamos conversar sobre os aspectos da educao escolar no pe-rodo de 1822 a 1889, ou seja, da posse de Dom Pedro I at a institui-

    o da Repblica.

    Iniciaremos com a Constituio Federal de 1824. Ela foi outorga-da por D. Pedro I. O art. 179, 32, determinava que a instruoprimria gratuita a todos os cidados. Entretanto, sabemos quea realidade era outra. Cidados, naquela poca, eram aqueles quepossuam propriedades, terras, bens e participavam do governo local,nas cmaras municipais. Estes eram agraciados com privilgios, honra-rias, ttulos honorficos e brases de distino, constituindo um mistode poder local e central. Ser cidado significava ser proprietrio de

    grandes latifndios, explorar a terra, exportar produtos e fazer partedo grupo dos homens que pela sua prpria vontade impunham leis emantinham seus privilgios sociais e polticos.

    Lembre-se de que a Constituio Federal em vigor a de 5 de outubrode 1988.

    Voc poder acessar a Cons-tituio de 1824 no endereo

    eletrnico http://www.presiden-cia.gov.br/ccivil_03/Constituicao/

    Constitui%C3%A7ao24.htm

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    As oligarquias representavam poderes regionais e indicavam repre-sentantes dentro da provncia. Os cargos de representao nas vilase nas cidades deveriam ser preenchidos pelos nobres da terra comatestado de pureza de sangue e que no exercessem profisses que

    englobassem ofcios manuais. Estas oligarquias tornavam-se voz ativana defesa dos interesses econmicos, das demandas provinciais e dospolticos que se revezavam no comando.

    As oligarquias rurais, unidas por relaes de compadrio, lealdade efidelidade, gabavam-se de seu poder, exercido pela fora e pela co-ero. Acertavam entre si as decises polticas em relao s expor-taes, emprstimos externos, construo de ferrovias, iluminao econstruo de estradas para carros de bois, captao de gua nos rios,plantio e arado das terras, derrubadas da mata, roados, criao de

    animais domsticos e contratao de trabalhadores braais.

    As escolas continuavam insuficientes, isoladas e irregulares. Faltavamespaos adequados para sala de aula e para moblias. Ainda, faltavamprofessores, materiais pedaggicos e recursos financeiros. Alm dopouco reconhecimento da escola como lugar de formao de ho-mens, os pais se recusavam a mandar suas filhas para as escolas. Oscustos com alimentao, vestimentas e transporte, bem como a visomachista de que os estudos para nada serviam distanciaram aindamais o acesso das mulheres s escolas e aos bens culturais.

    Coero o ato de induzir,pressionar ou compelir algum afazer algo pela fora, intimidaoou ameaa.

    Relaes de compadrio: relaesfamiliares estabelecidas entregrandes fazendeiros na defesade seus interesses econmicos epolticos.

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    Assim como as mulheres, os escravos e seus descendentes continua-ram excludos do acesso s escolas. Observe o que diz a Lei Geral doEnsino, de 15 de outubro de 1827:

    Art. 1 Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, havero as

    classes de primeiras letras que forem necessrias.

    [...]

    Art. 4 As escolas sero de ensino mtuo nas capitais das provncias;

    e tambm nas cidades, vilas e lugares populosos, em que for possvel

    estabelecerem-se.

    Art. 5 Para as escolas de ensino mtuo sero utilizados os edifcios,

    arranjando-se com os utenslios necessrios custa da Fazenda pblica

    e os professores que no tiverem a necessria instruo deste ensino,

    iro instruir-se em curto prazo custa dos seus ordenados nas escolas

    das capitais.

    [...]

    Art. 11. Havero escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas,

    em que os Presidentes em Conselho julgarem necessrio este estabele-

    cimento.

    Este trecho demonstra que o monarca D. Pedro I, envolto nos confli-tos polticos, arranjou uma resposta para as autoridades externas e aspresses locais. Pouco se fez pela educao.

    Mais tarde, em 12 de outubro, o Ato Adicional de 1834, uma emenda Constituio de 1824, introduziu a descentralizao do ensino nonvel da educao elementar. No texto do Ato, estava prevista, emseu art. 8, a criao das Assembleias Provinciais e, no art. 10, o textodizia que competia s Assembleias Provinciais legislar sobre a instru-

    o pblica e estruturar estabelecimentos prprios para promov-la.Com esta deciso, o regente padre Diogo Feij descentralizou o en-sino elementar, atribuindo s provncias toda a responsabilidade definanciamento, oferta e organizao. Os ensinos secundrio e superiorcontinuavam sob a responsabilidade do Imprio.

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    O Estado brasileiro, entendido como Imprio, estava, ento, deso-brigado da educao primria pblica, que ficava a cargo de cadaprovncia. Cabia s provncias desprovidas de recursos humanos e fi-nanceiros arcarem com o financiamento, a organizao e a oferta do

    ensino primrio.

    De forma desigual, as Provncias organizaram classes e turmas, intro-duziram o mtodo de ensino mtuo ou lancasteriano. Este mtodo, ela-borado por Joseph Lancaster, educador ingls no final do sculo XVIII,era adequado aos interesses dos governos locais, pois proporcionavaa economia de recursos com a contratao de professores, reduzia asdespesas com a educao. Esse mtodo propunha que um professordesse uma aula, em separado, para os melhores alunos, chamadosde monitores digamos, dez , os quais, a seguir, repetiriam essa aula

    para outros alunos digamos, dez alunos por monitor. Em sntese, umnico professor educava, nesse exemplo hipottico, 110 alunos.

    Como se v, os governantes tentaram construir a sociedade sem ga-rantir a escolarizao de sua populao. Omitiram-lhes o direito deacesso aos bens culturais e patrimoniais. Negaram populao o di-reito formao humana. Em outros pases, os governos assumiam aeducao como tarefa de Estado, parte de sua cultura, ou seja, torna-vam dever do Estado disponibilizar a educao para todos. Aqui, noBrasil, a educao foi um privilgio dos filhos dos abastados, sendo

    que o restante da populao teve de lutar para ter direito ao acesso escola e aos bens culturais e patrimoniais.

    Do espao da fazenda ao grupo escolar

    Estudos recentes indicam que as escolas provinciais isoladase em espaos acanhados, eram escolas cujos professores eramreconhecidos ou nomeados pelos rgos dos governos respon-sveis pela instruo. Funcionavam em espaos improvisados,

    geralmente, na casa dos professores, os quais, algumas vezes,recebiam uma pequena ajuda para ao pagamento do aluguel.Temos indcios da existncia de uma rede de escolarizao do-mstica, ou seja, de ensino e aprendizagem da leitura, da escri-ta e do clculo, que atendia a um nmero superior ao da redepblica estatal. Outro modelo de educao escolar que, no de-

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    correr do sc. XIX, vai se configurando aquele em que os pais,em conjunto, resolvem criar uma escola e, para ela, contratamcoletivamente, um professor ou uma professora. Este modelosemelhante ao primeiro tem uma diferena fundamental: essa

    escola e seu professor no tm vnculo com o Estado. Em to-das as escolas , geralmente, proibida a frequncia de crianasnegras, mesmo livres e, em algumas regies do pas, as mulhe-res tambm eram proibidas de frequentarem as escolas. (FARIAFILHO, Luciano Mendes. Instruo elementar no sculo XIX. Nolivro: 500 anos de educao no Brasil. Belo Horizonte, EditoraAutntica, 2000, p. 142).

    O Grupo Escolar Tiradentes

    onde a professora, Jlia Wan-derley, a primeira mulher afrequentar a escola normal noParan, dedicou grande partede sua carreira. O Grupo Esco-lar Tiradentes foi inaugurado

    em 1895.

    Foto1: Vista Geral do Grupo Escolar Lencio Correia Correia - Sem data.Acervo: Colgio Estadual Lencio Correia. Paran.

    Fonte: Grupo Escolar Tiradentes Edificao 1895

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    No Segundo Reinado, entre 1840 e 1889, espalharam-se por todasas provncias do Imprio os liceus, as escolas normais, as escolas pa-roquiais, as escolas domsticas ou particulares, os seminrios, os col-gios masculinos e femininos e os internatos. Em So Paulo, no ano de

    1890, foi criado o primeiro grupo escolar.

    Alguns liceus pblicos ofereciam instruo secundria e exames prepa-ratrios para os cursos superiores. s vezes, no mesmo estabelecimento,funcionava o curso normal, frequentado inicialmente por homens e que,em seguida, transformados em escolas normais, passaram a ser frequen-tados tambm por mulheres e destinados formao de professores. Jseminrios, mosteiros, colgios, internatos e externatos eram estabeleci-mentos religiosos destinados formao de padres, bispos e arcebispos,exemplos de vida moral, vida santa e dos bons costumes.

    Com relao ao ensino secundrio, criou-se em 1837, o colgio D. PedroII, no Rio de Janeiro, de carter humanista clssico, que era destinado selites proprietrias e servia como via de acesso aos cursos superiores.

    Para demonstrar como a diviso de classes sociais ocorria e como se-tores de pobres e negros foram excludos, veja o que diziam doisdecretos do Imprio:

    O Decreto n 1.331, de 17/02/1854, 69 estabeleceu que, nas escolas

    pblicas do pas, no seriam admitidos escravos e a previso de instru-o para adultos dependia da disponibilidade de professores.

    O Decreto n 7.031-A, de 06 de 08/1878, estabelecia que os negros li-

    bertos, maiores de 14 anos, s podiam estudar nos cursos noturnos e as

    despesas com as luzes das salas de estudos tinham que ser pagas pelo

    Ministrio do Imprio.

    As mulheres tiveram de vencer os obstculos e transgredir regras enormas estabelecidas pela Igreja Catlica, pelos governos e pelos pol-

    ticos para terem direito de acesso educao escolar. Os pais recusa-vam-se a envi-las para as escolas e, quando permitiam, procuravamas congregaes religiosas na certeza de que suas filhas seriam educa-das na doutrina crist e nos bons costumes.

    Esta desobrigao ou ineficincia do Estado abriria caminho para as

    Saiba mais sobre os decretos nosite

    http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/3_

    Imperio/artigo_004.html

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    congregaes religiosas criarem escolas confessionais. As congrega-es religiosas no pas praticaram a doutrina crist catlica e tambmcriaram suas instituies escolares, onde ofereciam cursos e aulas parameninos e meninas. Algumas congregaes religiosas instalaram-se

    na regio do tringulo mineiro. Foram as congregaes das Irms Do-minicanas (1885). Observe que os nomes das escolas esto atualiza-dos e, segundo o autor, h evidncias de outras escolas fundadas noperodo, mas das quais no h informaes sobre a data de fundao.

    Nome da escola Municpio UF Ano Mantenedora/Congregao

    Col. Diocesano Padre Rolim Cajazeiras PB 1827 Mitra Diocesana Diocese de Cajazeiras

    Col. da Providncia Rio de Janeiro RJ 1853 Associao S. Vicente de Paulo

    Colgio Diocesano So Paulo SP 1856 Mitra Diocesana de So Paulo

    Colgio Santa Teresa Olinda PE 1857 Irms de So Vicente

    Educandrio S. Vicente de Paulo Recife PE 1858 Santa Casa de Misericrdia do Recife

    Colgio de So Bento Rio de Janeiro RJ 1858 Mosteiro de So Bento

    Colgio N. Sra. do Patrocnio Itu SP 1859 Irms Congregao S. Jos de Chambry

    Escola Corao de Maria Rio Grande RS 1861 Educandrio Corao de Maria

    Instituto N. Senhora da Salete Salvador BA 1862 Instituto Nossa Senhora da Salette

    Colgio Imaculado Corao de

    Maria

    Fortaleza CE 1865 Irms Vicentinas

    Colgio So Lus So Paulo SP 1867 Sociedade Brasileira de Educao

    Colgio So Francisco Xavier Recife PE 1867 Jesutas

    Colgio Santa Isabel Petrpolis RJ 1868 Irms Vicentinas

    Ginsio N. Sra. da Conceio So Leopoldo RS 1870 Jesutas

    Escola Domstica de NossaSenhora do Amparo

    Petrpolis RJ 1871 Escola Domstica de N. Sra. do Amparo

    Colgio Santa Cruz Escola de1 e 2 Graus

    Santa Cruz do Sul RS 1871 Unio sul Brasileira de Educao e Ensino

    Colgio So Jos Escola de 1e 2 graus

    So Leopoldo RS 1872 Soc. Car itati va e Literria S. Francisco deAssis ZC

    Col. Sagrado Corao de Jesus

    Esc. De 1 e 2 Graus

    Santa Cruz do Sul RS 1874 Soc. Caritativa e Literria S. Francisco de

    Assis ZC

    ASVP Colgio Santa Isabel Petrpolis RJ 1875 Associao de So Vicente de Paulo

    Colgio So Paulo Blumenau SC 1877 Pe. Jos Maria Jacobs

    Colgio Santo Antnio Belm PA 1877 Provncia Franciscana da Imaculada Concei-o do Brasil

    Asilo So Luiz Piedade MG 1878 Pe. Domingos Pinheiro

    Colgio Salesiano Santa Rosa Niteri RJ 1883 Salesianos

    Colgio N. Sra. das Dores Uberaba MG 1885 Sociedade Educadora Infncia e JuventudeLiceu Corao de Jesus So Paulo SP 1885 Salesianos

    Colgio Anchieta Nova Friburgo RJ 1886 Jesutas

    Colgio SantAna Gois GO 1889 Colgio Santa Rosa de Lima

    Escola de 1 Grau So Franciscode Assis

    Pelotas RS 1889 Soc. Caritativa e Literria So Francisco deAssis

    Fonte: MOURA, 2000, p. 90-91.

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 52

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    A educao escolar refletia os conflitos entre a Igreja Catlica e o Es-tado, sobre quando, como e de que maneira educar e, tambm, sobrequem tinha direito educao. Em outras palavras, na construoda sociedade brasileira, as autoridades que governavam no sentiam

    necessidade da escola, e a educao acontecia em todos os lugares.A formao humana adquirida na escola era destinada a poucos. Am-pla maioria ficou excluda. Autoridades polticas e religiosas, desde oincio da colonizao, introduziram ideias, hbitos, valores e condutas,e pela coero, punio e controle pretendiam que todos os trabalha-dores estivessem disciplinados, civilizados, acostumados ao trabalho.Portanto, no havia tempo para os estudos.

    Era preciso mudar hbitos domsticos e faz-los aceitar as novas re-gras sociais pblicas da vida nas cidades. Era como se arrancassem

    homens e mulheres de suas rotinas e de seu modo de vida, regidopelo tempo da natureza, e os lanassem numa situao estranha, queexigia comportamentos e saberes desconhecidos. Homens e mulherestinham de se relacionar com as cidades, com as normas, as regras, asleis, as instituies. Muitos se sentiam estranhos, envergonhados einferiores. Precisavam conhecer e discernir o que era privado e o queera pblico, mas no conseguiam, no sabiam. Como se comportarna praa e nos espaos pblicos? A quem escutar? Aos governos ou Igreja Catlica?

    Enquanto polticos e autoridades do governo discutiam pela imprensae jornais a necessidade de escolarizao da populao trabalhadora,esta pouco conseguia enxergar a sua necessidade e significado. Al-guns diziam ser uma perda de tempo, outros que as escolas deveriamformar boas mes e esposas, outros ainda sentiam que teriam seuslucros reduzidos, caso os filhos dos lavradores fossem para as escolas

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    e no para o trabalho nos roados, para o plantio de gros e para acolheita.

    Mesmo sem escolas formais, a educao acontecia nos sermes dos

    padres na missa dominical, por meio das regras de comportamentosocial, pelas palavras dos coronis, na verdade pronunciada pela bocade um juiz ou pelo bispo. A educao acontecia tambm nas famlias,no trabalho dirio dos trabalhadores, nas rebelies, nas fugas, nastentativas de organizao dos trabalhadores, nos rituais e nas festasreligiosas, nas manifestaes populares e culturais.

    Quando e como os funcionrios passaram a ser vistos pelo poder p-blico?

    O jurista, advogado, deputado, senador e ministro da Fazenda, Rui Bar-bosa, subiu por diversas vezes tribuna do Parlamento para denunciaro nmero de analfabetos e defender a importncia do ensino normal,dos jardins de infncia, da criao do Ministrio para a instruo pbli-ca, bem como a obrigatoriedade e a frequncia escolar, alm de propora criao de um museu pedaggico para fins de documentao e umfundo escolar fundamental para o desenvolvimento do ensino. Tam-bm de sua autoria foi a Lei Saraiva, de 1882, que exigia para o votomaior quantidade de renda, idade mnima de 21 anos e sexo mascu-lino. As mulheres e os analfabetos, parcela significativa da populao,

    no podiam votar para escolher seus representantes. Essas medidas, naprtica, excluram quase todos dos processos eleitorais. Na Reforma doEnsino Primrio de 1883, proposta por Rui Barbosa, encontramos apresena dos funcionrios. Observe os seguintes pargrafos:

    22. Em cada escola normal haver um diretor, um secretrio, um cen-

    sor, um amanuense, que acumular as funes de bibliotecrio e arqui-

    vista, um preparador para os gabinetes de fsica, qumica e histria na-

    tural, um porteiro, um contnuo e os serventes precisos.

    27. O governo fixar em regulamento, as atribuies dos funcionriosdas escolas normais.

    Fonte: Ministrio da Educao e Sade. Obras complementares de Rui

    Barbosa. Reforma do ensino primrio. Rio de Janeiro. Vol. X; tombo IV,

    1883, p. 108-109.

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    Desde o final do imprio, o jurista Rui Babosa denunciava as precriascondies em que se encontrava a educao do pas. O censo escolarde 1980 apontava a existncia de 14 milhes de habitantes dos quais80% eram analfabetos.

    De fato, no Brasil, as oligarquiasrurais e urbanas combinaram osinteresses nacionais e locais comos interesses dos pases capitalis-tas desenvolvidos e desconsidera-ram a cultura da populao. Paracontinuar no comando, os go-vernantes e as elites dominantespropuseram polticas e medidas

    que visavam implementaode processos de desenvolvimen-to desigual, associando estrutu-ras arcaicas, prticas clientelsti-cas e de privilgios combinadascom a insero subordinada aosinteresses dos pases capitalistas.

    Relatrios de 1834 de Chicorro da Gama - Ministro do Impriosobre a educao

    Insistia na insuficincia do mtodo mtuo ou lancasteriano. Re-clamava a criao do cargo de inspetor de estudos, ao menos nacapital do Imprio, porque era impraticvel o ministro presidira exames e fiscalizar escolas, enquanto tinha que organizar aadministrao pblica, pois tnhamos herdado um mau sistemaadministrativo da colnia. Como a fiscalizao da instruo era

    feita pelas Cmaras Municipais, rgo inadequado e, portanto,ineficiente, seria necessrio um inspetor e diversos delegadospara fazerem com que os professores desempenhassem melhorsuas obrigaes e os alunos aproveitassem mais as aulas (FREI-RE, Ana Maria. A. Analfabetismo no Brasil. So Paulo, EditoraCortez, 1993, p. 59).

    O Liceu Maranhense fun-dado em 1838 em SoLuis-MA pelo presidenteda provncia do Maranho,Vicente Thomaz de Figuei-redo Carvalho por meio daLei n 17, no dia 24 de ju-lho de 1838.

    Escola Normal de RibeiroPreto ( SP)- 1940

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    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 56

    RESUMO1. Na sociedade brasileira, a escola pblica no tinha lugar, nem sig-

    nificado, nem reconhecimento. Foram as transformaes e