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Educação Geográfica na Escola: Práticas e Reflexões sobre a Construção Conceitual de Espaço a Partir das Bacias Hidrográficas Urbanas da Cidade de Aquidauana-MS 1. INTRODUÇÃO O presente artigo é uma proposta de discussão do projeto de mestrado encaminhado a Fundect com o intuito de concorrer a bolsa de estudos. Portanto, buscamos apresentar o referencial bibliográfico que dará suporte para a execução da pesquisa, os objetivos e concluiremos com os resultados esperados para a dissertação. O projeto propõe uma discussão miltoniana de espaço para a compreensão socioespacial, visando um caminho epistemológico para ensinar geografia na educação básica. Como interesse principal temos a importância da compreensão espacial por parte dos estudantes da educação básica. Buscando nos aproximar das discussões feitas por Callai (2009), Castellar (2005), Castrogiovanni (2009), Cavalcanti (2006) para nos embasarmos a respeito dos aspectos metodológicos da pedagogia geográfica. Esse embasamento nos dará de antemão base para incluir na discussão “novas” formas de ensinar e de aprender geografia. Pensando na problemática da produção de material didático e no tempo em que os professores têm para a preparação de suas aulas nos propomos a elaborar um material de apoio que de suporte para o processo de ensino aprendizagem. Para tanto, buscamos na interação com professores e estudantes da rede Estadual de Ensino de Aquidauana, através da pesquisa-ação uma nova proposta para a elaboração do material didático de apoio. Através da visão de estudantes e professores é que se pretende a elaboração do referido material. 1.1 OBJETIVOS 1.2 Objetivo Geral Compreender a dinâmica da construção sócio espacial com alunos da educação básica pública da rede Estadual de ensino na cidade de Aquidauana. 1.3 Objetivos Específicos

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Educação Geográfica na Escola: Práticas e Reflexões sobre a Construção Conceitual de

Espaço a Partir das Bacias Hidrográficas Urbanas da Cidade de Aquidauana-MS

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo é uma proposta de discussão do projeto de mestrado encaminhado a

Fundect com o intuito de concorrer a bolsa de estudos. Portanto, buscamos apresentar o

referencial bibliográfico que dará suporte para a execução da pesquisa, os objetivos e

concluiremos com os resultados esperados para a dissertação.

O projeto propõe uma discussão miltoniana de espaço para a compreensão

socioespacial, visando um caminho epistemológico para ensinar geografia na educação básica.

Como interesse principal temos a importância da compreensão espacial por parte dos estudantes

da educação básica.

Buscando nos aproximar das discussões feitas por Callai (2009), Castellar (2005),

Castrogiovanni (2009), Cavalcanti (2006) para nos embasarmos a respeito dos aspectos

metodológicos da pedagogia geográfica. Esse embasamento nos dará de antemão base para

incluir na discussão “novas” formas de ensinar e de aprender geografia.

Pensando na problemática da produção de material didático e no tempo em que os

professores têm para a preparação de suas aulas nos propomos a elaborar um material de apoio

que de suporte para o processo de ensino aprendizagem.

Para tanto, buscamos na interação com professores e estudantes da rede Estadual de

Ensino de Aquidauana, através da pesquisa-ação uma nova proposta para a elaboração do

material didático de apoio. Através da visão de estudantes e professores é que se pretende a

elaboração do referido material.

1.1 OBJETIVOS

1.2 Objetivo Geral

Compreender a dinâmica da construção sócio espacial com alunos da educação básica

pública da rede Estadual de ensino na cidade de Aquidauana.

1.3 Objetivos Específicos

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- Analisar o significado da construção sócio espacial no cotidiano do trabalho laboral na

relação professor e estudante;

-Identificar na produção espacial da bacia hidrográfica urbana as interações entre

sociedade e natureza;

- Caracterizar a configuração espacial das bacias hidrográficas urbana na cidade de

Aquidauana: córrego Guanandy, Lagoa Comprida e córrego João Dias;

- Construir um recurso didático pedagógico versando sobre bacia hidrográfica urbana da

cidade de Aquidauana.

1.4 REVISÃO DA LITERATURA

A geografia, que se preocupa em estudar o espaço geográfico, busca desde sua

constituição como ciência conceituar seu objeto de estudo, esse fato mostra o quanto é delicada

essa questão, ainda mais quando a geografia escolar se dispõe a criar nos estudantes uma

consciência espacial. Essa dificuldade está mesmo na academia como para os pensadores da

geografia como Milton Santos (2008) que diz ser uma tarefa árdua a definição de espaço

geográfico e para isso cita Santo Agostinho, em relação ao tempo “Se me perguntam se sei o

que é, repondo que sim; mas, se me pedem para defini-lo, respondo que não sei” e afirma que

o mesmo pode ser dito do espaço geográfico.

No entanto, buscaremos preconizar essa definição. O espaço geográfico constitui uma

realidade objetiva, um produto social em permanente processo de transformação. Com isso o

espaço geográfico impõe sua própria realidade; por isso a sociedade não pode operar fora dele.

Consequentemente, para estudar o espaço geográfico cumpre apreender a sua relação com a

sociedade (MAIA E ALVES, 2009).

Nesse sentido para Santos são estruturas, processo, função e forma, que definem o

espaço em relação a sociedade.

(...) forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos, mas associados,

a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente,

representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerado em

conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e

metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade

(SANTOS, 1985, p. 71).

O presente trabalho aportará nas abordagens teóricos metodológicas de Milton Santos:

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório,

de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como

o quadro único no qual a história se dá (SANTOS, 2006, p. 39).

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É nesse sentido que busca-se a aproximação do indivíduo com o seu espaço, e a

geografia servindo como ponte para um reconhecimento espacial, para criar uma possibilidade

de leitura de mundo que permita posteriormente a conceituação.

Se a disciplina geografia serve ou serviu, ou pode servir, como instrumento ideológico

para manter ideias nacionalistas, onde os governos as utilizavam para manobrar a população,

criando pensamentos que só serviria para manter o poder nas mãos das mass media, como diria

Lacoste, pode servir também, como instrumento para a emancipação do povo. Onde esse possa

pensar criticamente sua condição e a partir disso buscar os rumos e caminhos que lhes

interessam.

A despeito das aparências cuidadosamente mantidas, de que os problemas da

geografia só dizem respeito aos geógrafos, eles interessam, em última análise, a todos

os cidadãos. Pois, esse discurso pedagógico que é a geografia dos professores, que

parece tanto mais maçante quanto mais as mass media desvendam seu espetáculo do

mundo, dissimula, aos olhos de todos, o temível instrumento de poderio que é a

geografia para aqueles que detêm o poder (LACOSTE, 1988, p. 22).

Yves Lacoste adverte para a pouca atenção que é dada à geografia pelos cidadãos

quando considera que ela é um instrumento de poder, onde quem detêm seu conhecimento

detêm, também, uma excelente arma política. Aponta numa direção onde professores com seus

discursos acadêmicos, pouco práticos, não conseguem, com aulas maçantes e repetitivas, onde

o contato com o espaço é apenas teórico, imbuir seus alunos de tal poder.

É importante hoje, mais do que nunca, estar atento a esta função política e militar da

geografia que é sua desde o início. Nos dias atuais, ela se amplia e apresenta novas

formas, por força não só do desenvolvimento dos meios tecnológicos de destruição e

de informação, como também em função dos progressos do conhecimento científico

(LACOSTE, 1988, p. 30).

Lacoste alerta para a importância política que a geografia exerce, assim torna-se de

extrema importância que os professores, como atores políticos, tomem consciência desse fato e

disseminem o conhecimento espacial, sendo da geografia a responsabilidade de possibilitar um

pensamento (des)alienante e que possa atribuir outra consciência de nossa sociedade, que a

partir do momento onde saibam ler seus espaços possam, também, organiza-los.

Os alunos desconhecem tais processos de formação do espaço, dos quais fazem parte,

nem mesmo sentem-se pertencentes a tal processo. Porém é possível que essa criança

compreenda o seu espaço se percebendo dentro desse processo de formação espacial no

cotidiano e consiga inclusive, para fins práticos e didáticos, representa-lo de forma cartográfica

o que claro não é um fim.

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Segundo Castellar (2005), para que a Geografia tenha sua importância reconhecida no

âmbito escolar, superando antigos rótulos, é preciso que sejam realizadas “mudanças na postura

do corpo docente em relação ao como, para quê e para quem ensinar geografia escolar”

(CASTELLAR, 2005, p. 3).

Castragiovanni define que (2009, p. 11)

“alfabetização espacial” deve ser entendida como a construção de noções básicas de

localização, organização, representação e compreensão da estrutura do espaço

elaborado dinamicamente pelas sociedades. A representação dos segmentos espaciais

é fundamental no processo de descentração do aluno facilitando a leitura do todo

espacial.

No entanto o currículo e o tempo escolar não possibilita esse conhecimento. O

Referencial Curricular (2014) do Estado de Mato Grosso do Sul, por exemplo, sugere que os

alunos do 6º ano estudem hidrosfera. No caso da geografia, bacia hidrográfica; e compreender

que essa bacia é de fundamental importância para o transporte, para a agricultura, para o clima;

estuda-se este conteúdo sem antes ter noções espaciais especificas, como, por exemplo,

localização, orientação, que está a cargo dos anos iniciais da educação básica convertendo-se

tais informações distante da realidade do estudante e de sua prática que só lhe aparece nas aulas

de geografia, onde sobre tudo acabam por terem que decorar conceitos: de bacia hidrográfica,

por exemplo.

Segundo CASTELLAR (2005)

O diálogo existente entre o pensar pedagógico e o saber geográfico permite afirmar

que o aluno vai para a escola e aprende a ler, escrever e contar, o que se ensina com

mais competência; no entanto o que menos se ensina é a ler o mundo. E é no ensinar

a fazer a leitura do mundo e, portanto, no como ocorre esse processo de aprendizagem

que se poderia retirar da geografia esse rótulo de matéria decorativa. Mas qual é o

significado dessa leitura para os alunos do ensino básico? Saber ler uma informação

do espaço vivido significa saber explorar os elementos naturais e construídos

presentes na paisagem, não se atendo apenas à percepção das formas, mas sim

chegando ao seu significado. A leitura do lugar de vivência está relacionada, entre

outros conceitos, com os que estruturam o conhecimento geográfico, como, por

exemplo, localização, orientação, território, região, natureza, paisagem, espaço e

tempo.

O referencial curricular como está dado sugere uma geografia “decoreba”, onde já se

sabe o que o aluno deve estudar, sabe-se que caminho seguir com tais alunos, como uma receita

pronta onde o aluno a utiliza apenas na escola e como requisito para sair dela, já que necessita

ser aprovado em geografia. Conteúdos fragmentados que impossibilitam o fazer e o pensar

geográfico, impossibilitando também, o raciocínio lógico, assim, tomando, escondendo a

construção do espaço, ficando esse como subjetivo, quase que inexistente. Nesse sentido

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CASTELLAR (2005) afirma: “Por isso a geografia escolar ainda aparece no currículo como

sendo aquela área de conhecimento de menor aplicação prática fora da escola, mesmo que essa

situação receba críticas desde meados de 1980”.

Uma das grandes, se não a maior, tragédia do homem moderno, está em que é hoje

dominado pelas forças dos mitos e comandado pela publicidade organizada,

ideológica ou não, e por isso vem renunciando cada vez, sem o saber, à sua capacidade

de decidir (FREIRE, 1976, p. 43).

A afirmação de Paulo Freire nos mostra a preocupação com o ser que se deixa ou é

levado a deixar que tomem suas decisões, assim o seu espaço, com suas intencionalidades, será

criado e organizado/pensado por vontades que não partem de seu desejo criador. Podemos citar

Callai que salienta a importância do método na disciplina geografia para a quebra deste

paradigma.

Se a formação do educando para ser um cidadão passa pela ideia de prepara-lo para

“aprender a aprender”, para “saber fazer”, o papel das disciplinas escolares, e o da

Geografia particularmente, tem a ver com o método, quer dizer, de que forma se irá

abordar a realidade. (CALLAI, 2001, p. 137) (grifo meu).

E continua:

O professor de geografia “transmite” através dos termos com que trabalha a

hegemonia de uma cultura, de uma sociedade com sua economia, que não raro crítica

e quer condenar. Mas, na prática, exerce fundamentalmente o exercício de “ajustar” o

indivíduo ao meio, muito embora não concorde e não queira isto. Ao trabalhar com

informações desconectadas de explicações mais amplas, colabora com a transmissão

de ideias que professam a manutenção dentro de regras estabelecidas, ao invés de

valorizar o conhecimento de cada um, resgatando o conhecimento cientificamente

produzido e dando-lhe um sentido social (CALLAI, 2001, p. 140).

É necessário, então, partir do estudo do lugar. Se o importante, como vimos em Callai, é

de que forma abordar a realidade devemos então partir da realidade do estudante, do lugar, do

vivido para compreender o global. O professor deve não “ajustar” o estudante a determinados

aspectos de sua sociedade, isso seria pensar a ciência, da educação, como algo moderno, linear,

mas sim, através da compreensão dos processos locais, oportunizar a reflexão sobre os

processos globais.

A importância do estudo do espaço para a formação de um estudante crítico está explícito

no significado ontológico do espaço, do enquanto ser, do social que se dá no espaço.

Porém abordar o estudo do espaço na educação básica é tarefa difícil, para tanto podemos

delimitar esse espaço. Então novamente utilizamos Callai que diz:

Ao estudar o espaço geográfico, a delimitação do mesmo é um passo necessário, pois

que o espaço é imenso, planetário, mundial. O que dele/nele estudar? Para dar conta

da delimitação deve-se fazer a referência à escala social de análise, que, em seus vários

níveis, encaminha a recortes que elegem determinada extensão territorial. Estes níveis

são o “local, o regional, o nacional, o global” (Callai, 2009. P. 83).

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Callai (2009) nos adverte sobre a importância do estudo do lugar: “Estuda-lo é

fundamental, pois ao mesmo tempo em que o mundo é global, as coisas da vida, as relações

sociais se concretizam nos lugares específicos”.

Nesse sentido podemos definir a área da bacia hidrográfica como um recorte espacial e

como unidade de análise. Com seus limites naturalmente definidos, os divisores de água,

podemos considera-la, em uma escala local, um sistema fechado.

Para Botelho e Silva (2011, p. 153) “a bacia hidrográfica é reconhecida como unidade

espacial de análise na Geografia Física desde o fim dos anos 60” e continuam “entendida como

célula básica de análise ambiental, a bacia hidrográfica permite conhecer e avaliar seus diversos

componentes e os processos e interações que nela ocorrem”.

Para Espíndola (2000, p.1)

bacia hidrografia corresponde a um sistema biofísico e sócio econômico, integrado e

interdependente, contemplando atividades agrícolas, industriais, comunicações,

serviços, facilidades recreacionais, formações vegetais, nascentes, córregos e riachos,

lagoas e represas, enfim todos os habitats e unidade da paisagem. Seus limites são

estabelecidos topograficamente pela linha que une os pontos de maior altitude e que

definem os divisores de água entre uma bacia e outra adjacente.

Além disso, a Política Nacional do Meio Ambiente instituída pela lei no. 6.938, de 31

de agosto de 1981, foi criada para ser aplicada em todo território brasileiro e dispõe de alguns

instrumentos para atingir o seu objetivo. No artigo 2º nos incisos VI e X:

VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e

a proteção dos recursos ambientais;

X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da

comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio

ambiente. (Art. 2º. da Lei Federal no. 9.638, de 31 de agosto de 1998).

Assim, com esse recorte espacial pode-se trabalhar de forma prática e didática a

espacialização da sociedade. A evolução do núcleo urbano, a relação centro periferia, rural e

urbano, a ocupação do solo, a degradação ambiental, aspectos físicos como relevo, hidrografia.

As bacias hidrográficas urbanas do município de Aquidauana congregam todos esses fatores

sendo desse modo uma ferramenta para o estudo do espaço geográfico no ensino fundamental.

A Área urbana do município de Aquidauana deu início a margem do rio Aquidauana

cresceu respeitando, basicamente, dois cursos de água: a leste o córrego Guanandy e a oeste o

córrego João Dias. Entre esses dois cursos de água temos a Lagoa Comprida que em 2001 é

instituída como Parque Natural Municipal da Lagoa Comprida através do decreto 089/2001.

Os trabalhos de conclusão de curso nas áreas das bacias urbanas de Aquidauana mostram

uma semelhança: a degradação. Machado (2006) e Dias (2008) para o córrego Guanandy,

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Ayach, Cappi e Pereira (2012) organizam um livro para análise integrada do córrego João Dias

e Miranda (2004) e Damasceno (2011) para a Lagoa Comprida concluem semelhante, que o

uso inadequado dessas bacias tem afetado a qualidade das águas por contaminação dejetos

humano, e na degradação da mata ciliar e uso inadequado do solo.

A pesquisa se norteia através de uma perspectiva onde a teoria e a pratica caminham

juntos, num processo de construção de conhecimento, assim podemos pensar o método de

trabalho como pesquisa-ação que Miranda e Resende (2006) definem como “uma pesquisa que

articula a relação entre teoria e prática no processo mesmo de construção do conhecimento, ou

seja, a dimensão da prática – que é constitutiva da educação – seria fonte e lugar privilegiado

da pesquisa”.

Para pensar a pesquisa-ação na educação básica nos embasamos na afirmação de Miranda

e Resende (2006, p. 5) apud Caar e Kemmis (1998) que afirma ter de “rejeitar as noções

positivistas de racionalidade, de objetividade e de verdade” e “admitir a possibilidade de utilizar

as categorias interpretativas dos docentes”.

Salientando a importância metodológica da pesquisa-ação Baldissera (2001, p. 6) apud

Michel Thiollent (1985) diz ser necessário:

(...) uma ampla e explícita interação entre os pesquisadores e envolvidos na pesquisa

e que esta não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo), mas pretende

aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou nível de

consciência das pessoas e grupos que participarem do processo, bem como, contribuir

para a discussão ou fazer avançar o debate acerca das questões abordadas.

Ancorado nesses referenciais teóricos para a realização dos objetivos traçados na

perspectiva de fomentar a percepção crítica dos atores sociais (os estudantes) direta e

indiretamente envolvidos no processo de construção da dinâmica espacial da bacia hidrográfica

urbana para a cidade de Aquidauana.

2 MATERIAIS E MÉTODO

A pesquisa baseia-se na abordagem holística inerente a uma análise socioespacial. Será

realizada em escolas públicas estaduais da cidade de Aquidauana, Mato Grosso do Sul. Para

trabalhar as bacias hidrográficas urbanas propõe-se um estudo de caso através da pesquisa-ação

e estudo do meio (geossistema) com uma turma de 6º ano do ensino fundamental de cada escola.

A Escola Estadual Professor Luiz Mongelli, no Bairro São Francisco, está sobre a bacia

hidrográfica do córrego Guanandy e próxima ao curso de água do mesmo o que facilita a

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pesquisa a campo. A Escola Estadual Professor Antônio Salustio Areias, no bairro Alto, está

sobre a bacia hidrográfica da Lagoa Comprida e próxima a área da Lagoa Comprida o que

facilitará a pesquisa a campo. E por último a Escola Estadual Professora Marly Russo

Rodrigues, no bairro Nova Aquidauana, região periférica da cidade de Aquidauana, sendo que

a norte do bairro inicia-se a área rural do município A escola está sobre a bacia hidrográfica do

córrego João Dias e próximo ao curso de água.

O município está na borda do planalto/planície, tendo como limite a Serra Maracaju-

Campo Grande. Com uma população estimada de 43 mil habitantes (IBGE, 2012). A cidade de

Aquidauana está localizada à margem direita do Rio Aquidauana, onde faz divisa com o

município de Anastácio. Fica a aproximadamente 130 quilômetros, no sentido noroeste, da

capital Campo Grande.

2.1 Levantamento bibliográfico;

A base teórica conceitual consistirá em buscar, por meio de revisão de literatura, um

aparato conceitual que de base para o desenvolvimento de um discurso que aponte para a

compreensão da importância do reconhecimento do conceito espaço geográfico, numa visão

miltoniana, para a constituição de um estudante que se perceba, no cotidiano, como elemento

responsável pelo espaço, buscando uma aproximação com o referencial curricular estadual e

PCN de Geografia buscando uma interação dos conteúdos propostos e objetivos da Geografia

escolar com o cotidiano do estudante.

2.2 Análise documental;

2.2.1 Referencial Curricular da Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso

do Sul;

Analisar o referencial curricular numa perspectiva de enquadramento dos conteúdos

propostos com a ideia da produção do Guia Didático.

2.2.2 PCN – Geografia;

Analisar o documento na perspectiva de enquadrar a produção do material com os

objetivos gerais da disciplina Geografia para o Ensino Fundamental.

2.3 Delimitação do espaço;

Refletir a cotidianidade para repensar o espaço, local, a partir do cotidiano escolar,

professores e alunos, nas suas relações com o meio, área da bacia. Analisar o cotidiano para

pensar como esse influencia na organização espacial, ou como a organização espacial influencia

o cotidiano.

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Figura 1 – Delimitação do espaço – Área urbana, bacias e escolas

2.4 Trabalho de campo;

2.4.1 Entrevista com professores;

Consistirá em qualificar a prática docente em relação ao conceito espaço geográfico.

Por meio de entrevista livre descobrir como vem sendo aplicado o conceito espaço geográfico

e quais os métodos utilizados para tal. Segundo Alves (2008) as entrevistas são técnicas

adequadas para coletar dados para as pesquisas qualitativas na Geografia Humana.

2.4.2 Entrevista com estudantes;

Consistirá em identificar o conhecimento dos estudantes sobre a organização sócio

espacial e do cotidiano trabalhado com o professor em sala de aula.

2.4.3 Visita com os estudantes;

Através da pesquisa-ação: à campo, no contra turno dos estudantes, caso o professor

regente proponha pode ser durante a aula, como parte do conteúdo trabalhado, fazer um

levantamento das implicações referente aos processos urbanos sobre à bacia hidrográfica

estudada. A produção do recurso didático pretende-se a partir dos questionamentos dos

estudantes referentes ao objeto de estudo (as bacias).

2.5 Produção do Recurso Didático Prático Pedagógico (conceitual);

A produção do material versará sobre a análise bibliográfica e documental buscando

interagir com a análise dos relatos dos professores de forma a dialogar referencial curricular

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com o cotidiano trabalhado. A entrevista e pesquisa-ação com os estudantes, na bacia

hidrográfica, dará o aporte didático prático para a produção do material.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca por uma geografia escolar voltada à apreensão espacial numa perspectiva de

uma educação crítica libertadora onde o estudante seja conduzido a aprender a aprender é

evidente, visto a quantidade de trabalhos que buscam alternativas para a geografia atual nas

salas de aula.

Propomos repensar a própria dita geografia crítica implantada nas escolas, não sendo

um objetivo do trabalho proposto, porem a situação é repensar o nosso trabalho dentro de sala

de aula. Quando o PCN, por exemplo, visa um aluno crítico participativo: estamos dando conta

de fazer? Claro devemos levar em consideração toda a situação precária da educação pública

brasileira, mas, esse fato não pode ser o fim.

Nessa perspectiva nos propomos a refletir uma forma “mais adequada”, se isso é

possível, de tentar uma aproximação com uma geografia pautada na possibilidade de criar um

estudante pensador, crítico, livre.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensando na educação como um processo a proposta de trabalho trará uma consolidação

conceitual individual de categoria social envolvido no processo que gradativamente as formas

de pensar, os hábitos vão sendo mudados e tornando-os multiplicadores de ações no

gerenciamento do espaço além de promover um processo de ensino e de aprendizagem mais

prazeroso e eficaz.

O que se pretende com essa pesquisa é que com o seu resultado possamos ajudar na

formação de um estudante crítico que pense sua realidade e reflita sobre ela no intuito de

promover o dialogo entre o que está e o que pode ser. Pensando assim, podemos refletir sobre

a análise integrada do espaço onde esse estudante de ensino fundamental se tornará um gestor

dessa área, por exemplo, no mínimo, um usuário mais responsável com o seu ambiente social.

O estudante conhecedor de seu espaço (social) promoverá a aplicabilidade das leis, sejam

as jurídicas ou mesmo as da natureza respeitando tanto os limites de preservação de mata ciliar

ou de capacidade de uso de um recuso natural.

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Estudar o local numa perspectiva de desenvolvimento integrador. O global tem seu lugar

no local, por isso partindo da compreensão das relações locais, regionais para compreender o

global.

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