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289 Educação inclusiva: percepções de professores dos anos finais do ensino fundamental Eixo temático: Formação de professores e a Educação Inclusiva Autoras: Pâmela Thaís da Silva (FACCAT); 79 Gabriela Dal Forno Martins (PUCRS) Resumo: A perspectiva da Educação Inclusiva tem como princípios fundamentais a aceitação, a valorização e o respeito às diferenças, bem como o compromisso em possibilitar iguais oportunidades de aprendizagem e socialização aos alunos com necessidades educativas especiais (NEE). Nesse estudo, buscou-se descrever as percepções dos professores dos anos finais do Ensino Fundamental sobre a Educação Inclusiva. Cinco professores e dois gestores de uma escola pública localizada na Serra Gaúcha participaram de um encontro de grupo focal, sendo que suas falas nesse grupo foram analisadas qualitativamente mediante uma análise de conteúdo. Os principais resultados apontaram que os participantes possuem diferentes entendimentos a respeito do público- alvo da Educação Inclusiva, visto por alguns como mais restrito aos alunos com deficiências ou transtornos e, por outros, como relacionado a todas as pessoas, inclusive ao professor. Além disso, verificaram-se percepções relacionadas à inexistência da escola inclusiva considerando a aprendizagem dos conteúdos formais pelos alunos com NEE. O estudo aponta fortemente que a escola ainda é vista mais como contexto de socialização dos alunos com NEE do que como contexto de aprendizagem. Palavras-chave: Educação Inclusiva, professores, percepções, anos finais do ensino fundamental. INTRODUÇÃO A Educação Inclusiva, de forma geral, diz respeito à universalização do ensino, objetivando o direito dos alunos à educação de qualidade. Essa perspectiva está ancorada nos princípios de aceitação da diversidade humana, bem como de aceitação das diferenças individuais, considerando que a Educação Inclusiva é fruto de avanços no conhecimento científico, bem como das lutas sociais históricas que culminaram em uma série de leis criadas a fim de garantir e promover tais direitos (BRASIL, 2008). Considerando a temática principal do presente estudo, para fins de sua fundamentação, primeiramente será realizado um breve apanhado histórico sobre a Educação Inclusiva, visando, em especial, clarificar as especificidades desta perspectiva em relação à Educação Especial, bem como definir o conceito de necessidades educativas especiais (NEE). Por último, serão apresentados e 79 E-mail: [email protected]

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289

Educação inclusiva: percepções de professores dos anos finais do ensino

fundamental

Eixo temático: Formação de professores e a Educação Inclusiva

Autoras: Pâmela Thaís da Silva (FACCAT);79 Gabriela Dal Forno Martins (PUCRS)

Resumo: A perspectiva da Educação Inclusiva tem como princípios fundamentais a aceitação, a

valorização e o respeito às diferenças, bem como o compromisso em possibilitar iguais

oportunidades de aprendizagem e socialização aos alunos com necessidades educativas especiais

(NEE). Nesse estudo, buscou-se descrever as percepções dos professores dos anos finais do Ensino

Fundamental sobre a Educação Inclusiva. Cinco professores e dois gestores de uma escola pública

localizada na Serra Gaúcha participaram de um encontro de grupo focal, sendo que suas falas nesse

grupo foram analisadas qualitativamente mediante uma análise de conteúdo. Os principais

resultados apontaram que os participantes possuem diferentes entendimentos a respeito do público-

alvo da Educação Inclusiva, visto por alguns como mais restrito aos alunos com deficiências ou

transtornos e, por outros, como relacionado a todas as pessoas, inclusive ao professor. Além disso,

verificaram-se percepções relacionadas à inexistência da escola inclusiva considerando a

aprendizagem dos conteúdos formais pelos alunos com NEE. O estudo aponta fortemente que a

escola ainda é vista mais como contexto de socialização dos alunos com NEE do que como contexto

de aprendizagem.

Palavras-chave: Educação Inclusiva, professores, percepções, anos finais do ensino fundamental.

INTRODUÇÃO

A Educação Inclusiva, de forma geral, diz respeito à universalização do ensino, objetivando

o direito dos alunos à educação de qualidade. Essa perspectiva está ancorada nos princípios de

aceitação da diversidade humana, bem como de aceitação das diferenças individuais, considerando

que a Educação Inclusiva é fruto de avanços no conhecimento científico, bem como das lutas

sociais históricas que culminaram em uma série de leis criadas a fim de garantir e promover tais

direitos (BRASIL, 2008).

Considerando a temática principal do presente estudo, para fins de sua fundamentação,

primeiramente será realizado um breve apanhado histórico sobre a Educação Inclusiva, visando, em

especial, clarificar as especificidades desta perspectiva em relação à Educação Especial, bem como

definir o conceito de necessidades educativas especiais (NEE). Por último, serão apresentados e

79 E-mail: [email protected]

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sistematizados os resultados de estudos realizados sobre as percepções dos professores em relação à

Educação Inclusiva, tentando demonstrar seus principais achados e, também, as lacunas que ainda

não foram investigadas.

É importante ressaltar que o movimento da Educação Inclusiva é resultante de uma série de

mudanças sociais e culturais. Primeiramente, houve o que se chamou de “segregação”, partindo do

ponto de vista que ao longo da maior parte da história as pessoas que não aprendiam ou que

apresentavam diferenças nesse processo (seja por uma deficiência ou outras necessidades)

receberam atendimentos educacionais especializados, substituindo o ensino comum, e tais

atendimentos ocorriam em instituições especializadas, escolas especiais e até mesmo em classes

especiais (BRASIL, 2008).

Então, por volta dos anos 1990, surgiu o movimento da “integração”, em que esses alunos

passaram a ter o direito de frequentar o ensino regular (PALACIOS, 2007), embora isso não

significasse necessariamente que estivessem incluídos do ponto de vista do processo educativo.

Nesse sentido, Alonso (2003) inclui que neste mesmo período de tempo pouco se falava sobre

inclusão, tampouco se investia em recursos pessoais ou materiais. Nesse sentido, segundo o autor,

nesse período não houve nenhum tipo de investimento na inclusão, seja pela formação de

profissionais, seja por meio de campanhas com o intuito de sensibilizar a comunidade objetivando

motivação às novas experiências. Logo após o movimento da “integração”, segue outro paradigma

na educação – o da inclusão – cuja premissa principal era de que a escola como um todo deve se

adaptar a todos os alunos, inclusive àqueles com deficiência ou NEE, termo inaugurado por esse

novo paradigma. A inclusão surge como um processo ético, partindo do princípio democrático de

uma educação para todos. Rozek (2009, p. 7-8) ainda contribui afirmando que “[...] o que justifica o

discurso da Educação Inclusiva é o fato de que a educação na modernidade não inclui socialmente

todos os sujeitos”. Em contraponto, a autora cita a crítica de Dias (2006, p. 23), referindo-se ao fato

de que “a educação não pode receber a atribuição de inclusiva porque, em sua origem, constituição

e fim ela sempre visou o homem enquanto homem, isto é, em sua humanidade e, portanto, ela é em

si mesma, inclusiva”.

Deve-se enfatizar que a Perspectiva da Educação Inclusiva sucede a Perspectiva da

Educação Especial, pois amplia seu foco dos alunos com deficiência para os alunos com NEE.

Assim, seu objetivo principal é construir políticas a fim de promover educação de qualidade para

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todos os estudantes (BRASIL, 2008). Nesse contexto, para que fiquem claras as especificidades da

Educação Inclusiva e da Educação Especial, é importante frisar quais são seus públicos-alvo. De

acordo com a Figura 1, baseada na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva – PNEI (MEC/SECADI, 2008), pode-se compreender que a Educação Especial

está relacionada, estritamente, ao atendimento dos estudantes com deficiência, Transtornos do

Espectro Autista e alunos com altas habilidades/superdotação. Já a Educação Inclusiva preconiza a

eliminação da exclusão, a ética, a democracia e atende de forma ampla a diversidade de alunos com

NEE, sendo elas decorrentes de deficiências, vulnerabilidade, ou quaisquer

dificuldades/particularidades do indivíduo que acarretem dificuldades no processo de aprender.

Sendo assim, pode-se afirmar que a Educação Inclusiva abrange a Educação Especial como um

todo, considerando os aspectos de ensino, de socialização, em respeito a toda a diversidade.

Na perspectiva da legislação, percebe-se que, ainda que de forma não linear, gradativamente

a Educação Especial, enquanto modalidade separada de ensino, foi integrando-se à perspectiva mais

ampla da educação para a diversidade. Nesse contexto, é imprescindível citar a Declaração de

Salamanca sobre os Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais,

com aprovação em 1994, adotada por 92 países e 25 organizações internacionais. Essa declaração

possui como alguns de seus princípios básicos o direito de todas as crianças à educação, priorizando

as características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagens únicos de cada

indivíduo, visando a reestruturação dos programas educativos, bem como o acesso de alunos com

Necessidades Educativas Especiais à escola regular, enfatizando a necessidade de uma pedagogia

centrada na criança, a fim de atender as suas necessidades (AINSCOW, 1995; FERREIRA, 2007).

É importante enfatizar que a partir da Declaração de Salamanca, especificamente no Brasil,

surgiram vários documentos que normatizam e difundiram as práticas alicerçadas na perspectiva da

Educação Inclusiva. A PNEI destaca o documento do MEC, denominado PDE - Plano de

Desenvolvimento da Educação (Decreto nº 6.094/2007): razões, princípios e programas que define

e estabelece nas suas diretrizes do Compromisso Todos pela Educação que visa garantir o acesso e

permanência no ensino regular e também o atendimento aos estudantes com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Assim, fortalecendo seu ingresso nas

escolas públicas.

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Desse modo, pode-se concluir que o principal objetivo dos programas inclusivos é o

desenvolvimento e a implementação de estratégias capazes de assegurar o domínio das matérias

previstas no currículo, de tal forma, permitindo o acesso de todos os alunos ao currículo normal.

Significando assim, um currículo comum a todos os alunos, transferindo o foco da atenção aos

conteúdos para o aluno em si, com a finalidade de garantir um ensino individualizado com diversos

níveis e aprendizagens significativas (CAMISÃO, 2005).

Partindo dessa definição geral, foi realizada uma busca de estudos em bases de dados on-

line, sendo elas: SciELO, BVS Psicologia Brasil e CAPES - Banco de Teses e Dissertações. Para

tanto, combinou-se as palavras-chave “percepções” com outras relativas ao tema da Educação

Inclusiva, tais como “Educação Inclusiva”, “NEE” e “inclusão”. Em relação à literatura encontrada,

Camisão (2005) realizou um estudo exploratório com 299 professores do 1º, 2º e 3º ciclos do ensino

básico, cujo objetivo principal era identificar a percepção dos mesmos em relação à Educação

Inclusiva. Seus resultados indicaram que alguns professores são mais resistentes à prática inclusiva,

porém, as suas atitudes são mais favoráveis e positivas do que poderiam supor. A autora ainda

aponta que a filosofia da Educação Inclusiva encoraja os professores a auxiliarem-se, primando pela

confiança e respeito, de tal forma, encontrando em equipe determinadas estratégias. Ou seja, a

colaboração gera a evolução no que se refere a atitudes e comportamentos e práticas profissionais.

Ainda foi identificado nos resultados que além da falta de conhecimentos por parte dos professores

em geral, existem implicações como a falta de tempo e aumento de trabalho no que se refere ao

planejamento de atividades que incluam tais alunos.

Em seu estudo, Monteiro e Manzini (2008) realizaram uma pesquisa com professores

atuantes no Ensino Fundamental I (anos iniciais), que nunca haviam trabalhado com inclusão de

alunos com deficiência. Ela consistia em identificar as mudanças de concepções dos profissionais

antes de realizar algum trabalho na área e no decorrer de seu trabalho. Percebeu-se uma vasta

quantidade de crenças nos relatos dos professores participantes. Identificou-se que professores sem

experiência com alunos com deficiência sentiam medo, sentimento que se extinguiu após um

período de adaptação. Tais professores ainda completaram que sentiam insegurança em relação a

ensinar tal público, o que também foi constatado por Camisão (2005). A autora ainda identificou

que os professores acreditam na necessidade de criar e/ou utilizar novos métodos para ensinar tal

público, embora demonstrem insegurança devido à ameaça por seus papéis terem sido expandidos.

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293

Alguns acreditam ter competências necessárias para ensinar esses alunos, já outros acreditam ter

competências limitadas, o que pode influenciar nos resultados da atividade desenvolvida.

Na perspectiva dos estudos já realizados especificamente com professores dos anos finais do

Ensino Fundamental, pouco se encontrou nas bases de dados pesquisadas, o que aponta para a

relevância do tema. Um único estudo encontrado foi o realizado por Traversini et al. (2012), que

analisa a implementação do Projeto de Docência Compartilhada nos anos finais do Ensino

Fundamental, objetivando pensar em um currículo e propostas pedagógicas a fim de aprimorar a

aprendizagem dos alunos independente de suas NEE. Evidenciou-se o permanente desafio da

identidade docente, no sentido de atentar às necessidades dos alunos, às suas singularidades e seus

saberes. Já em relação à prática, a autora identificou a dificuldade dos professores em individualizar

o ensino a fim de compreender em separado as particularidades de cada aluno. Verificou-se também

que os professorem acreditam que existem níveis de conhecimento padronizados para uma mesma

turma, ou seja, esperam que a mesma turma tenha praticamente o mesmo nível de conhecimento

dos conteúdos, diante das possibilidades reais de aprendizagem dos alunos a serem incluídos.

Assim, os autores concluíram que o papel do professor, especialista em uma área do conhecimento,

é ampliar seus saberes visando a formação plena dos seres humanos nesta específica etapa da vida.

1 OBJETIVOS

Considerando todos os aspectos discutidos até então, este estudo teve como objetivo geral

descrever as percepções dos professores dos anos finais do Ensino Fundamental sobre a Educação

Inclusiva. Além disso, de forma mais específica, buscou: 1) identificar o público-alvo da Educação

Inclusiva na perspectiva dos professores; 2) compreender qual a efetividade da política de Educação

Inclusiva na perspectiva dos professores e suas opiniões referentes à efetividade do trabalho

realizado na sala de aula; e, por fim, 5) caracterizar como os professores percebem os alunos com

NEE diante do processo de aprendizagem.

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2 MÉTODO

2.1 Participantes

Participaram do estudo cinco professoras (P1, P2, P3, P4 e P5), a diretora (D) e a vice-

diretora (VD) de uma escola pública de Ensino Fundamental da Serra Gaúcha. Para a inclusão dos

participantes foram utilizados dois critérios: 1) dispor-se a participar voluntariamente da pesquisa,

assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; e 2) considerar já ter trabalhado ou estar

trabalhando no corrente ano com pelo menos um aluno com NEE.

As principais características sociodemográficas dos participantes estão expostas na Tabela 1.

No que se refere ao tempo de docência das participantes, o mesmo variou de 20 a 43 anos. Um dado

importante de ser ressaltado é que quando questionadas sobre o tempo de atuação na perspectiva da

Educação Inclusiva, as participantes D, VD, P2, P3, P4 e P5 afirmaram que sempre trabalharam

nesta perspectiva, já a P1 afirmou que dentre seus 43 anos de atuação, 28 são na perspectiva da

Educação Inclusiva.

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica das participantes

Participantes

Idade

(em

anos)

Tempo de

docência

(em anos)

Disciplinas ministradas Escolaridade

Alunos

com

NEE

D (Diretora) 57 34 - Esp. Psicopedagogia -

VD (Vice-

diretora) 56 32 -

Esp. Psicopedagogia

Institucional -

P1 66 43 Matemática 6º e 7º, Ens. Religioso

nos 6º, 8º e 9º ano.

Licenciatura em

Matemática 3

P2 50 28 Ed. Física do 6º ao 9º ano e Arte

nos 8º e 9º ano.

Esp. Administração,

Supervisão e

Orientação

3

P3 50 31

Matemática 8º e 9º ano, Ciências

no 9º ano e Língua Inglesa do 6º

ao 9º ano.

Esp. Gestão

Educacional 15

P4 52 23

Ciências do 6º ao 8º ano, Arte no

6º e 7º ano e Ens. Religioso no 6º

ano.

Esp. Gestão

Educacional e

Geografia

13

P5 57 20 História e Geografia do 6º ao 9º

ano.

Esp. Sociologia,

Geografia e História-

Afro

20

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295

Quanto à quantidade de disciplinas ministradas por cada participante, variou de duas a três

disciplinas, sendo que todos os professores declararam trabalhar com aproximadamente 85 alunos.

Já em relação à escolaridade das participantes, apenas a P1 não tinha especialização. É importante,

ainda, evidenciar que as concepções das participantes em relação à quantidade de alunos com NEE

que elas atendiam variou de três até 20 alunos, provavelmente revelando ideias distintas sobre o que

são as NEE, como será discutido na seção de Resultados. Também, quando questionadas se na

mesma sala de aula havia mais de um aluno com NEE, D, VD, P3, P4 e P5 afirmaram que sim,

enquanto as participantes P1 e P2 afirmaram que na mesma sala não havia mais de um aluno com

NEE. Todas as participantes responderam que nenhum dos alunos com NEE recebe auxílio de um

monitor/auxiliar de ensino em sala de aula.

Quanto aos atendimentos especializados que os alunos com NEE recebem fora de sala de

aula, as participantes D e VD elencaram o AEE, enquanto as participantes P1, P2, P3, P4 e P5

apenas responderam que sim, mas não elencaram quais seriam.

Outro aspecto considerado bastante importante para discussão é a idade elevada das

participantes, bem como o seu tempo de docência. Será que diante tanto tempo em sala de aula estas

professoras ainda estão motivadas para ensinar? Tanto as falas quanto o investimento de professoras

com menos tempo de docência seria parecido? Acredito que estas perguntas pudessem ser

respondidas caso este estudo fosse realizado novamente, porém, desta vez, com participantes com

menos tempo de docência.

2.2 Instrumentos

Para a coleta de dados do presente estudo, foram utilizados dois instrumentos:

Questionário Sociodemográfico: Tal questionário visou coletar alguns dados do

participante, tais como idade, sexo e tempo de experiência.

Grupo focal: foi realizado um encontro com o grupo de participantes, nas dependências da

escola. O grupo foi conduzido a partir de um roteiro semiestruturado de perguntas. De

acordo com Barbour (2009), os grupos focais são frequentemente utilizados no contexto de

estudos qualitativos, onde seu maior objetivo é o desenvolvimento de uma maior

compreensão do processo. A autora ainda atribui vantagens aos grupos onde as pessoas já se

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conhecem, pois colabora para sua dinâmica, bem como o desenvolvimento das visões ou

respostas. Em contraponto, realizar uma pesquisa com pessoas que já se conhecem exige

maior cuidado em relação às questões éticas envolvidas, principalmente, ao que diz respeito

ao que a autora se refere como "confidencialidade", ou seja, sigilo das informações,

descobertas ou opiniões relatadas. Surge então o desafio de investigar tópicos delicados,

identificar pensamentos e atitudes, engajar os participantes com dificuldades de interação e

resistência, na intenção de facilitar a produção de insights para tornar a experiência mais rica

e construtiva. A mesma autora reitera que no grupo focal o pesquisador é responsável por

conduzir a discussão do assunto em pauta, se dedicando para que o grupo interaja entre si,

para que assim consiga atingir o objetivo de desenvolver o roteiro da entrevista

semiestruturada. Outros detalhes sobre os procedimentos de realização do grupo serão

descritos a seguir.

2.3 Procedimentos para coleta de dados

Depois de o projeto ter passado pela banca de qualificação e ter sido submetido e aprovado

pelo Comitê de Ética das Faculdades Integradas de Taquara (Protocolo n°1094), deu-se início à

coleta de dados. Primeiramente, realizou-se o recrutamento dos participantes. Foi selecionada uma

escola que contemplava o público-alvo do estudo. Essa seleção ocorreu por meio de indicação feita

por uma pessoa conhecida. Primeiro o convite foi feito à direção da escola e com esta agendado o

melhor dia para realização do grupo.

No dia do encontro, antes do início da aplicação dos instrumentos, cada participante

assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Em seguida, as participantes

responderam o Questionário Sociodemográfico e depois iniciou-se o o rapport, que visou explicitar

os objetivos do Grupo Focal, bem como a apresentação da pesquisadora e da observadora. O grupo

foi gravado e, posteriormente transcrito na íntegra.

Este rapport consistiu na apresentação da pesquisadora mediadora e da observadora, que

ficaria responsável por fazer algumas anotações (a fim de facilitar a posterior transcrição das falas)

e auxiliaria nos procedimentos em geral. Também foi ressaltado que a intenção seria promover uma

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conversa referente às experiências vividas em sala de aula com alunos com NEE, onde foi

enfatizado que não existiriam respostas certas ou erradas, pois a única intenção era conhecer suas

opiniões, independente se era igual ou diferente dos demais participantes. Após, a pesquisadora

mediadora do grupo iniciou a discussão com uma primeira pergunta disparadora, sendo ela:

“Quando se fala em Educação Inclusiva, no que vocês pensam?”. Também antes de dar início ao

grupo foi salientado que seria feito encaminhamento psicológico aos participantes caso houvesse

necessidade.

2.4 Procedimentos para análise dos dados

As respostas identificadas no grupo focal foram analisadas após sua transcrição, a partir de

uma análise de conteúdo que facilitou o uso das informações no momento da análise e

interpretação, em função de extrair seus significados em prol de responder as questões norteadoras

(BARDIN, 2000; LAVILLE; DIONE, 1999).

A análise dos dados coletados foi realizada de acordo com Laville e Dione (1999), na

respectiva ordem: 1) A entrevista em grupo focal foi transcrita na íntegra. Para tanto, com o intuito

de preservar a identidade dos participantes do estudo, cada participante recebeu um código,

conforme já apresentado; 2) posterior à transcrição, a primeira autora, após a leitura do material,

derivou categorias e subcategorias que descreviam as crenças das participantes em cada eixo

temático anteriormente definido conforme os objetivos do estudo; 3) após, a segunda autora

também realizou a leitura do material e sugeriu a adequação das classificações realizadas pela

primeira autora, sendo que tais sugestões e eventuais modificações foram discutidas, buscando um

consenso; e 4) finalmente, foi explorado qualitativamente o conteúdo das respostas em cada

categoria e subcategoria, visando à apreensão de seu significado e suas nuances.

3 RESULTADOS

Serão apresentados os resultados qualitativos das três categorias elaboradas no processo de

análise e suas respectivas subcategorias, as quais são apresentadas na Tabela 2. Também serão

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apresentados exemplos dos relatos das participantes em cada categoria, visando exemplificar suas

ideias.

Tabela 2. Estrutura de categorias e subcategorias resultantes do processo de análise

Categorias e Subcategorias

Categoria 1- Público-alvo da Educação Inclusiva Associado ao público da Educação Especial

Associado aos transtornos mentais

Associado à vulnerabilidade social

Associado aos alunos com maior poder aquisitivo

Associado à etnia

Associado à diversidade como intrínseca à condição humana

Categoria 2- Efetividade da política de Educação Inclusiva A escola como espaço de socialização do aluno com NEE

A escola como espaço de promoção da independência ao aluno com NEE

A escola como contexto de proteção diante da vulnerabilidade

A inexistência da escola inclusiva, considerando o processo de aprendizagem dos alunos com NEE

Categoria 3- Percepção dos professores em relação ao processo de aprendizagem dos alunos com NEE Alguns alunos com NEE não evoluem no processo de aprendizagem

Dificuldades para realizar a avaliação do aluno com NEE

Progressão de alunos com NEE

4 PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Quando foi questionado às participantes o público da Educação Inclusiva, pôde-se perceber

que o grupo mencionou diversos sujeitos que o compõe, sendo inicialmente associado ao público-

alvo da Educação Especial: “Se a gente for pensar, porque a gente pensa em um primeiro momento

na inclusão daqueles com deficiência né, de uma deficiência determinada” (D). Também ficou

evidente a associação aos transtornos mentais, embora os participantes não tenham mencionado

transtornos específicos, tal como nessa fala: “Uns que não batem muito bem com a cabeça [risos]”

(P1).

Para outros participantes, seriam também parte do público da Educação Inclusiva alunos em

situação de vulnerabilidade social: “A gente tem assim alunos muito bem cuidadinhos que a gente

nem percebe que eles passam muitas necessidades né, na alimentação, em tudo, mas a gente nem

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percebe porque eles são muito bem cuidadinhos” (D); “Tem diferença, outra coisa que eu estava

dizendo para a E, esse ano nós temos transporte particular que nós não tínhamos...” (D); “Melhorou

bastante, nós não tínhamos transporte” (P5) ou, por outro lado, alunos com maior poder aquisitivo:

“Porque às vezes o que tem maior poder aquisitivo é mais rejeitado do que aqueles que com

necessidades monetária, de dinheiro, nesse sentido, às vezes tu tem que dar uma trabalhada para

aquele que tem poder aquisitivo ser mais incorporado na turma ali, mais aceito do que o que tem

menos, então também tem isso, esse tipo” (P3).

A diretora também mencionou que a Educação Inclusiva também focaliza alunos excluídos

por questões étnicas: “É a inclusão de todos os tipos! Todas são especiais, a inclusão do negro...”

(D). Por fim, o público-alvo da Educação Inclusiva também foi associado a todas as pessoas,

considerando-se a diversidade como intrínseca à condição humana: “Aluno, professor, funcionários,

todo mundo é inclusão...” (P3); “Eu acho que todo mundo” (P2).

Importante salientar que a quantidade de alunos com NEE que cada professora atendia em

sala de aula foi um fator que movimentou bastante as participantes no momento de responder ao

questionário sociodemográfico. Suas variações nas respostas provavelmente indicam concepções

distintas sobre o que são as NEE, já que, após ser realizada a intervenção a fim de esclarecer que

não se esperava que todas as participantes tivessem a mesma opinião e nem que o grupo chegasse a

um consenso, as mesmas apontaram respostas bastante distintas que variam de acordo com seus

critérios particulares: P1: 3 alunos; P2: 3 alunos; P3: 15 alunos; P4: 13 alunos e, por fim, P5: 20

alunos.

5 EFETIVIDADE DA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Nesta categoria foram incluídas as percepções das participantes em relação à efetividade da

política de Educação Inclusiva, envolvendo tanto aspectos positivos, quanto negativos. Por um lado,

as participantes apontaram fortemente a escola como espaço de socialização do aluno com NEE:

“Que nem a ‘S’, eu acho que ela se desenvolveu muito socialmente, ela criou mais vínculos dentro

da sala, com a gente, com os professores com os colegas também né apesar de ter rejeição, de ter

alguns que ficam chamando ela disso e daquilo, mas isso é com todos, não é só com ela! Mas eu

acho que socialmente ela evoluiu bastante!” (P2). Em outras falas a escola apareceu representada

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como um importante espaço de promoção da independência ao aluno com NEE: “O que é mais

importante pra ela aqui dentro da escola? É essa autonomia e essa socialização porque isso faz parte

do aprendizado” (D).

Por fim, as participantes também demonstraram compreender que a escola atua como

contexto de proteção diante da vulnerabilidade: “[...] mas a escola pra ela é o lugar que onde ela

está segura, é o lugar onde ela tem a segurança, onde ela se socializa e onde ela se desenvolveu,

onde ela se desenvolveu bastante. Aqui é o porto seguro, que é o caso da ‘S’ além de tudo! Além de

todas essas coisas, aqui é o porto seguro! Quando ela terminar o 9° ano aqui e tiver que sair, eu não

sei o que vai ser dela assim” (D).

Em contraponto, as participantes do estudo afirmaram que acreditam na inexistência da

escola inclusiva, considerando o processo de aprendizagem dos alunos com NEE: “Eu acho que não

existe inclusão. Eu acho! Existe colocar um aluno lá, mas não damos suporte para ele ser incluso!”

(P5); “A escola é um sistema e é isso que a gente espera, a gente espera que os alunos aprendam e

nem todos vão aprender. Por isso que eu continuo dizendo ‘a escola não é para todos!’” (D);

“Sempre achei que o aluno sai prejudicado porque eles deveriam ter aquele atendimento com uma

pessoa especializada né, cada escola deveria ter, claro que não tem, capaz!” (P1). Nesse mesmo

sentido ainda referiram-se à Educação Especial: “E eu já trabalhei em outra escola há tempos atrás

porque naquele tempo primeiro tinha o aluno com inclusão e eles iam para as Escolas Especiais e

depois quando começou com a inclusão tinha uma, a ‘C’” (P1). Concluindo-se, por fim, as

afirmações em geral consideram que a escola integra, mas não inclui.

6 PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES EM RELAÇÃO AO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM NEE

No que se refere às percepções dos professores em relação ao processo de aprendizagem, foi

muito presente a questão de que alguns alunos com NEE não evoluem neste processo: “Eles tem

alguma determinada aprendizagem, mas eles nunca vão conseguir acompanhar aqueles que a gente

diz e considera os “normais” na verdade” (VD). Além disso, também ficaram evidentes as

dificuldades para realizar a avaliação do aluno com NEE: “E de outra maneira, como é que eu vou

apostar nele, eu tenho que apostar naquilo que ele consegue fazer, mas enquanto que a gente,

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enquanto escola, e é o que a gente faz né, porque a gente tem que bater né, a gente tá ensinando a

ler e escrever e é o que ele não tá conseguindo e a gente bate sempre ali, naquilo que ele não

consegue” (D). Isso, de certa forma, se associa diretamente com os desafios relacionados à prática.

Outro aspecto muito importante nas trocas que ocorreram durante o grupo foi a progressão

de alunos com NEE, sobre a qual os participantes apresentaram opiniões não conclusivas. Para

alguns, a progressão foi citada como inevitável: “Eles têm que ir... eles têm que progredir, não dá

para ficar né porque a ‘S’ é um caso, se a gente não progredir ela vai ficar com 30 anos aqui na

escola e a mãe não vai tirar da escola, se a gente não for né...” (D). Outros mostraram não ter

clareza sobre o quanto progredir é válido para o aluno: “Até que ponto eu estou auxiliando o aluno,

simplesmente fazendo a progressão dele. Será que eu estou beneficiando ele?” (P5).

7 DISCUSSÃO

Devido à quantidade de categorias, subcategorias e os diversos tipos de conteúdos que o

estudo engloba, a discussão será realizada por categoria, buscando sintetizar e problematizar os

principais achados em cada uma delas.

Com relação ao entendimento do público-alvo da Educação Inclusiva, na perspectiva das

participantes, pôde-se notar uma grande diversidade de percepções. Embora algumas participantes

tenham focalizado mais os alunos com deficiência ou algum transtorno, de forma geral, o grupo

pareceu terr uma compreensão bastante ampla sobre a Educação Inclusiva quando se referiu à

vulnerabilidade social, aos aspectos étnicos, às individualidades dos alunos, assim, neste estudo, as

participantes revelam conhecimento em relação ao conceito. Pode-se perceber que as crenças das

professoras dos anos finais do Ensino Fundamental em relação ao seu público-alvo são bastante

amplas, o que diferem com os dados encontrados em outros estudos que associam fortemente as

deficiências e transtornos como público-alvo da Educação Inclusiva (GASPARETTO et al., 2004;

MONTEIRO; MANZINI, 2008; MARUYAMA; SAMPAIO; REHDER, 2009; ROCHA, 2009;

ASSIS; MARTINEZ, 2011; FERRAZ; ARAÚJO; CARREIRO, 2010; SOBRINHO; ALVES,

2013). Um aspecto à ser ressaltado e discutido separadamente é o impacto da vulnerabilidade social

acarretado tanto pela falta, quanto pelo favorecimento no quesito de condições financeiras. Por que

as participantes revelam ser mais difícil trabalhar com alunos que têm maior poder aquisitivo?

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Quais seriam os sentimentos ou reações que despertam nas professoras o fato da falta de

condições/cuidados? E quais as suas implicações na prática docente?

Já em relação à efetividade da Política de Inclusão, as participantes apontaram fortemente a

escola como importante contexto de socialização do aluno com NEE, mas não como contexto de

aprendizagem. Um ponto reflexivo relevante que surgiu nesse sentido, entre as participantes, foi que

as estratégias da escola precisam se adaptar para chamar atenção dos alunos com NEE, uma vez que

a sua principal motivação para estar na escola ainda é a questão da socialização e não o processo de

aprender. Outros aspectos que englobam a socialização foram elencados, sendo eles, a

independência que o aluno desenvolve e a atuação da escola como contexto de proteção frente à

vulnerabilidade, ou seja, identifica-se uma crescente contribuição da escola no que se refere às

aprendizagens sociais e desenvolvimento emocional. Nesse sentido, é possível que o fato de os

professores não perceberem a escola como contexto de aprendizagem aos alunos com NEE esteja

associado a uma visão dicotômica sobre a aprendizagem de conteúdos e a aprendizagem

social/emocional. Por exemplo, pode-se pensar que o ganho de independência e autonomia pode ser

um fator que contribui no processo de aprendizagem dos conteúdos, porque o aluno percebe-se mais

competente de forma geral, o que contribuiria para seu desenvolvimento cognitivo. Na presença de

uma percepção mais integrada por parte das professoras talvez elas mesmas pudessem vir a sentir-se

mais motivadas a investir nos alunos, assim como mais competentes em seu papel.

Por fim, em relação à aprendizagem dos alunos com NEE, as participantes explicitaram, de

forma geral, a percepção de que os alunos com NEE não evoluem no processo de aprendizagem dos

conteúdos formais, não atendendo às suas expectativas, o que supostamente, pode estar diretamente

relacionado às inúmeras dificuldades elencadas pelos professores na condução do processo

educativo. Também diante das falas das participantes pode-se cogitar a hipótese de que estes

resultados indiquem certo desejo de “terceirização” do atendimento a tais alunos, o que poderia

estar diretamente relacionado a alguns como seus sentimentos de insegurança, de falta de preparo

para trabalhar com os alunos com NEE, ou as dificuldades práticas. Por outro lado, partindo de

outra perspectiva, as participantes também podem acreditar que uma equipe interdisciplinar seria o

ideal. Sob outro prisma, ainda sobre aprendizagem, foram identificadas, de forma positiva, as

aprendizagens sociais que os alunos com NEE desenvolvem, sendo com os próprios colegas ou com

os professores, então, mais uma vez, pode-se afirmar que, do ponto de vista dos professores, a

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escola atual está apenas incluindo socialmente os alunos. Outra questão que demostra ser motivo de

preocupação das participantes é a avaliação dos alunos, a mesma deveria ser realizada de acordo

com as suas potencialidades, de acordo com o que se espera de uma criança em sua fase do

desenvolvimento ou idade cronológica?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como decorrência de todo o trabalho, para fins de considerações finais, cabe ressaltar a

importância de um olhar especial para os processos educativos e inclusivos no ambiente escolar e

da criação de espaços de reflexão sobre a temática. Isso ficou evidente nas colocações das

participantes relacionadas à presença das pesquisadoras no contexto da escola: “Tem que procurar

sempre devolver coisas para que nos ajudem e é isso que a gente quer de ti, que é a ajuda! De vocês,

também tem outra colega aqui... rsrs” (D); “Se tu conseguir uma fórmula tu já nos trás [risos]” (P3);

Uma poção mágica [risos] (P5) e “Mas algumas ideias...” (D). Essas falas revelam, por lado, a

existência de uma fantasia de que haveria uma solução mágica para os desafios da inclusão escolar,

vinda de alguém de fora, visto como mais competente; mas, por outro, sinalizam um pedido de

ajuda ou de um olhar para o sujeito professor. Pode-se concluir que fica evidente a relevância de um

psicólogo escolar com o objetivo de auxiliar os professores e a equipe diretiva, no sentido de

unificar os saberes e juntamente, pensar estratégias com o objetivo de incentivar o protagonismo na

prática docente.

Finalmente, no que se refere às particularidades deste estudo, pode-se concluir que os

objetivos foram atingidos, no sentido de identificar tais percepções e demandas emergentes. Quanto

às suas limitações e sugestões para próximos estudos, acredita-se na extrema relevância da

realização de pesquisas-intervenção com intuito de compreender as percepções dos professores de

instituições públicas e privadas, considerando como aspecto importante o tempo de docência, com

objetivos que possam ir além do levantamento de dados, sendo assim, um estudo que auxilie os

participantes, de forma prática, no sentido de pensar e criar intervenções que beneficiem de forma

ativa a comunidade escolar em geral.

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