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EDUCAÇÃO MUSICAL NO AMBIENTE ESCOLAR DA REDE MUNICIPAL DE FRANCA-SP Guilherme Ernesto Remonti 1 Ailen Rose Balog De Lima 2 Gerson Arrais 3 Resumo: Esse trabalho de conclusão de curso pretende apresentar uma pes- quisa de revisão bibliográfica, com relato sobre a presença da música nas escolas municipais de Franca-SP, bem como sua importância para a forma- ção da criança. Propõe-se a demonstrar aplicação das práticas pedagógicas do método ativo, elencando várias metodologias dos educadores musicais e também destacando a metodologia de Émile Jaques Dalcroze (1865-1950), sendo o principal fator na aplicação das aulas. Descreverá sobre o relato de experiência de aulas de música desde a educação infantil até as séries iniciais 1 Pós-graduado em Educação Musical. [email protected] 2 Possui graduação em Bacharelado em Música pela Universidade Sao Judas Tadeu (1988), graduação em Educação Ar- tística - Música pela Faculdade Marcelo Tupinambá (1995) e mestrado pelo Centro Universitário Católico Salesiano (2010). Atualmente é professora do Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus Engenheiro Coelho. Ministra aulas de Musicalização Infantil na Educação Básica e conservatórios há 25 anos, e as disciplinas de Musicalização Infantil e In- clusa no Ensino Superior na Licenciatura em Música. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação, atu- ando principalmente nos seguintes temas: Musicalização Infantil, Coral Infantil, Educação, Música na escola, interações pedagógicos-musicais e piano. Fez uma coleção de 5 volumes de Musicalização Infantil para séries iniciais da Educação Básica. Escreveu textos em revistas e livros de Musicalização Infantil. [email protected] 3 Possui graduação em Bacharelado em Música - Regência pela Universidade Estadual de Campinas (2005), graduação em Bacharelado em Música - Instrumento Trompete pela Universidade Estadual de Campinas (2003) e mestrado em Música pela Universidade Estadual de Campinas (2011). Atualmente é , Professor Substituto do Curso de Licenciatura em Música da UFSCAR nas disciplinas de Linguagem e Estruturação Musical e Percepção e Escrita Musical. Professor titular no curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP/EC) nas disci- plinas de História da Música Brasileira (graduação), Prática de Regência (graduação), Regência Coral (Pós-Graduação Lato Sensu), Folclore Brasileiro (graduação), Teoria Musical Linguagem e Estruturação Musical (graduação). Também atua como professor trompete e Teoria da Música do UNASP/EC. Tem experiência nas áreas: regência coral, regência de banda sinfônica, interpretação musical. [email protected]

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EDUCAÇÃO MUSICAL NO AMBIENTE ESCOLAR DA REDE MUNICIPAL DE FRANCA-SP

Guilherme Ernesto Remonti1

Ailen Rose Balog De Lima2

Gerson Arrais3

Resumo: Esse trabalho de conclusão de curso pretende apresentar uma pes-quisa de revisão bibliográfica, com relato sobre a presença da música nas escolas municipais de Franca-SP, bem como sua importância para a forma-ção da criança. Propõe-se a demonstrar aplicação das práticas pedagógicas do método ativo, elencando várias metodologias dos educadores musicais e também destacando a metodologia de Émile Jaques Dalcroze (1865-1950), sendo o principal fator na aplicação das aulas. Descreverá sobre o relato de experiência de aulas de música desde a educação infantil até as séries iniciais

1 Pós-graduado em Educação Musical. [email protected] Possui graduação em Bacharelado em Música pela Universidade Sao Judas Tadeu (1988), graduação em Educação Ar-tística - Música pela Faculdade Marcelo Tupinambá (1995) e mestrado pelo Centro Universitário Católico Salesiano (2010). Atualmente é professora do Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus Engenheiro Coelho. Ministra aulas de Musicalização Infantil na Educação Básica e conservatórios há 25 anos, e as disciplinas de Musicalização Infantil e In-clusa no Ensino Superior na Licenciatura em Música. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação, atu-ando principalmente nos seguintes temas: Musicalização Infantil, Coral Infantil, Educação, Música na escola, interações pedagógicos-musicais e piano. Fez uma coleção de 5 volumes de Musicalização Infantil para séries iniciais da Educação Básica. Escreveu textos em revistas e livros de Musicalização Infantil. [email protected] Possui graduação em Bacharelado em Música - Regência pela Universidade Estadual de Campinas (2005), graduação em Bacharelado em Música - Instrumento Trompete pela Universidade Estadual de Campinas (2003) e mestrado em Música pela Universidade Estadual de Campinas (2011). Atualmente é , Professor Substituto do Curso de Licenciatura em Música da UFSCAR nas disciplinas de Linguagem e Estruturação Musical e Percepção e Escrita Musical. Professor titular no curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP/EC) nas disci-plinas de História da Música Brasileira (graduação), Prática de Regência (graduação), Regência Coral (Pós-Graduação Lato Sensu), Folclore Brasileiro (graduação), Teoria Musical Linguagem e Estruturação Musical (graduação). Também atua como professor trompete e Teoria da Música do UNASP/EC. Tem experiência nas áreas: regência coral, regência de banda sinfônica, interpretação musical. [email protected]

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e também de que maneira foi implantada a música no currículo escolar de Franca-SP, e se nos dias atuais os mesmos métodos têm os mesmo efeitos. No encerramento do trabalho, constará a importância da música que desperta o indivíduo para um mundo de prazer e satisfação da mente e para o corpo que facilita a aprendizagem e também a socialização do mesmo.

Palavras-chave: Educação musical; Método ativo; Música na escola pública.

Abstract: This course conclusion work aims to present a survey of literatu-re review, to report on the presence of music in public schools in Franca-SP, as well as its importance to the education of children. It is proposed to demonstrate the application of the practices of the asset method, listing various methodologies of music educators and also highlighting the Emile Jaques Dalcroze methodology (1865-1950), being the major factor in ap-plying the lessons. Describe about reporting experience music lessons from early childhood education to the early grades and also how music was de-ployed in the curriculum of Franca / SP. At the close of work will include the importance of music that awakens the individual to a world of pleasure and satisfaction of mind and body that facilitates learning and socializa-tion also the same.

Keywords: Music education; Methodology; Music; School.

Introdução

A educação musical no ambiente escolar não tem por finalidade à formação do músico profissional, mas um do seu objetivo é auxiliar criança, adolescente e jovem no processo de aprendizagem, transmissão e criação de práticas músicos-culturais, para que possam fazer parte ativamente da construção da cidadania, desde já sabendo o que é ser um cidadão proa-tivo. Deve se ressaltar a importância para o crescimento dos níveis cognitivos, afetivo, social, psicomotor e perceptivo das pessoas. O Referencial Curricular Nacional para a Educação In-fantil (RCNEI; 1998, p.45) afirma que;

A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressi-vo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e as comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc.

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Como supracitado a música está presente em diversas situações da vida humana, até mesmo os ruídos sons músicas se forem colocados em uma pauta, é através desse instrumento que expressamos nossas ideias e sentimentos, compreendemos valores e significados culturais que estão presentes na sociedade, e chegamos a entender as controvérsias da vida. Cada ser humano tem sua trilha sonora, afinal não tem como tampar os ouvidos para as harmonias e melodias que são tocadas no dia-a-dia, basta cada um escolher a sua.

No momento em que vivemos e no contexto ao qual estamos inseridos, constantemente vemos jovens, adultos, crianças e adolescentes, todos sempre embalados ao som de uma mú-sica. Pode ser no carro indo para o trabalho, ou até mesmo dentro de um ônibus no fone de ouvido, adolescentes reunidos com pequenas caixas de sons curtindo um pankadão, crianças ganhando ipod de presentes, seja em celulares ou coisa assim parecido. E ao observar os espa-ços escolares, podemos identificar cada qual sintonizado no seu estilo musical.

Com isso inúmeras dúvidas com enormes pontos de interrogações surgem. Como al-cançar um público com a disciplina de Música e apresentar os estilos musicais? Será que as práticas pedagógicas utilizadas há alguns anos atrás ainda irão funcionar para os dias atuais, já que as crianças sentem, pensam e estão inseridas em outro contexto (modernizadas)?

No entanto vejamos alguns conceitos sobre música e musicalização. Houaiss apud Brés-cia (2003, p. 25) conceitua a música como “[...] combinação harmoniosa e expressiva de sons e como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização, etc.”. Já Gainza (1988, p. 22) ressalta que: “A música e o som, enquanto energias estimulam o movimento interno e externo no homem; impulsionam-no à ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidades e graus”. Também propõe ao estudante o início da prática vocal ou instrumental, chamando-a de musicalização.

Para Bréscia (2003, p. 23), tal musicalização:

É um processo de construção do conhecimento, que tem como objetivo despertar e desen-volver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música, da imaginação, memória, concentração, atenção, auto-disciplina, do respeito ao próximo, da socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação.

Através da vivência da musicalização, são favorecidos fatores como: concentração, me-mória, coordenação motora, socialização, acuidade auditiva e disciplina. Como afirma Cury (2008, p.87), o objetivo da técnica da musicalização, é desacelerar o pensamento, aliviar a an-siedade, melhorar a concentração, desenvolver o prazer de aprender, educar a emoção.

Refletindo sobre isso o objetivo desse trabalho é analisar, se quando aplicadas as meto-dologias de ensino de Educação Musical na Escola EMEB, qual será o resultado no cotidiano escolar dos alunos envolvidos. Será que haverá necessidade de mudança na didática e no modo de ensinar música para os alunos do século XXI? Quais serão as modificações se necessário for, o educador apresentar em sua aula de Música?

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Na extensão do trabalho está registrada a história de como surgiu à disciplina de Edu-cação Musical na escola da rede municipal de Franca, do Estado de São Paulo na EMEB Prof.ª Ana Rosa de Lima Barbosa, localizada à Rua Waldomiro Gonçalves, nº 191, Parque do Horto de Franca-SP, apresenta a metodologia adotada para o estudo da mesma, e vem divido em capí-tulos sobre Educação Musical no ambiente escolar; a importância do movimento corporal, do canto e dos instrumentos musicais no processo de sensibilização musical na Rede Municipal de Ensino Franca/SP; O papel dos educadores musicais com suas práticas pedagógicas entre outras. Segundo Hentschke e Del Ben (2003), “o ensino musical nos oferece a rara oportu-nidade de promover o fascínio da descoberta e o desenvolvimento intelectual e artístico do indivíduo”, com certeza isso não se perde com o passar do tempo.

Metodologia

Para que esse estudo acontecesse com êxito, utilizou se do método da Análise teórico, ou seja, primeiramente analisou diversas bases de dados com elevado nível de confiança, referên-cias bibliográficas e registros históricos, para que em seguida fosse feita algumas observações das práticas de aulas na qual os relatos foram registrados e analisados, para que o objetivo fos-se alcançado. Essas observações ocorreram durante as aulas de Educação Musical no ambiente escolar EMEB no município de Franca, com o objetivo de conhecer e vivenciar as propostas da linha de trabalho adotada pela rede municipal de ensino, o antes e atualmente, a observação foi no período de agosto de 2012 a agosto de 2013.

As aulas tiveram duração de 50 min, como norte didático utilizou se a metodologia de Emilie Jaques Dalcroze (1865-1950), que é baseada no movimento corporal para desenvolver habilidades musicais e o grupo participante tinha faixa etária três a dez anos de idade. Para a realização das aulas, foram necessárias salas de aula com capacidade de acomodação para cer-ca de 30 alunos, uma máquina fotográfica, filmadora, partituras, aparelho de som, CDs varia-dos com gênero popular e erudito, lousa digital, caderno pautado, lápis, caneta e instrumentos musicais (baquetas, pandeiros, flauta doce, triângulo, ganzá, timba, xilofone e metalofone).

Como base teórica teve se respaldo nos autores como: Émile Jaques Dalcroze (1865-1950), Edgar Willems (1890- 1978), Carl Orff (1895-1982), Carlos Rodrigues Brandão, Teresa Maria Frota Haguete, se houve busca em artigos de cunho científicos na base do scielo.

Desenvolvimento

História da Educação Musical na Rede Municipal de Franca-SPA cidade de Franca localiza se no interior do estado de São Paulo(BR), é considerada sede

da microrregião de Franca (14ª Região Administrativa de São Paulo) e a 74ª maior cidade brasileira.

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Localiza-se a 20º32’19” de latitude sul e 47º24’03” de longitude oeste, distante 401 km da capital estadual e a 676 km de Brasília. Possui uma área de 607,333 km², dos quais 84,571 km² estão em zona urbana, e sua população estimada em 2013 é de 336.734 habitantes. É conhecida em todo Brasil como A Capital Nacional do Calçado Masculino, conforme dados do IBGE (2010).

Foi nesse município no ano de 1971, que a Secretária Municipal de Educação começou a despertar o interesse pelo ensino-aprendizagem da musicalidade no espaço escolar das redes municipais. Com essa finalidade desenvolveu se um convênio com a parceria do Conservató-rio Musical Pestalozzi, em Franca, juntamente com os professores que faziam parte da Comis-são Estadual de Música, nesse momento os mesmos ministraram o curso de formação de pro-fessores. Para contribuir com essa grande parceria Osvaldo Lacerda, Roberto Schnorrenberg e Nicole Jeandot juntou se a esse novo projeto que se iniciou.

Neste curso, apresentou-se a flauta doce como mais uma opção instrumental, muitos pro-fessores que participaram faziam parte do corpo docente não só do conservatório Musical Pesta-lozzi, mas também do instituto Musical “Arts Nova”, de tal modo que se tornaram multiplicado-res desta proposta, mudando a metodologia de ensino musical nas escolas envolvidas. Nas redes municipais, especificamente na Pré Escola, a música estava estabelecida como parte da rotina, além de estar presente nas festividades escolares e datas comemorativas, sendo ministradas pelos professores de educação Básica, e como já afirmava Aristóteles filósofo grego - 384-332 A.C: “A música tem tanta relação com a formação do caráter, que é necessário ensiná-la às crianças”.

Depois dos estudos sobre aulas de musicais, aplicadas pelo Conservatório Musical Pestalozzi, a partir do ano 1993 foi criado um projeto norteador baseado no “método ativo” (Linha progressiva que surgiu no século XX). Esse método ativo pode se definir como é o momento no qual a criança é autor/agente da sua aprendizagem e o professor/ mediador dessa aprendizagem, conforme defende Vygotsky(1896-1934), o professor é figura essencial do saber por representar um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente. Hentschke e Del Ben (2003), ressaltam que é importante que a escolha de cada um dos procedimentos musicais tenha por objetivo promover o desenvolvimento de outras capacidades nas crianças, além de musicais, tais como, capacidade de integrar-se no grupo , de autoformar-se, cooperar, de respeitar os colegas e professores, respeitar opiniões e propostas diferentes , ser solidário, saber ouvir e desenvolver a habilidade da atenção, expressão corporal, ter disciplina, e autoconhecimento.

Em 1995, por motivo da grande demanda e do sucesso obtido pelo projeto, foi aberto Concurso Público para contratar especialista em Música para atuar na sala de aula e em1996, Franca-SP passa a ser a primeira cidade do Estado de São Paulo a ter professores efetivos de Educação Musical no Ensino Municipal, proporcionando na grade curricular da escola a disciplina de aulas de música. Isso fez com que o município e a sociedade envolvida desen-volvem se habilidades antes adormecidas, pois como afirma Swanwinck (2003) à concepção de educação musical como uma forma de estudos culturais ou reforço social tende a resultar num currículo muito diferente daquele que indica a música como uma forma de discurso. O ensino musical, então, torna-se não uma questão de simplesmente transmitir a cultura, mas

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algo com um compromisso com as tradições em um caminho vivo e criativo, em uma rede de conversas completamente diferentes.

Atualmente Franca-SP é uma das poucas cidades do estado que possuem aulas de Educa-ção Municipal na grade escolar, ela é referência em projeto pedagógico na área de Educação Mu-sical, e alguns dos seus projetos são: “Nesta Escola tem Talentos” é desenvolvido com as crianças da educação infantil ao 4º ano do ensino fundamental; “Musicando”  é um projeto direcionado para os alunos dos 5º anos como a finalização do trabalho de musicalização que vem sendo construído desde a educação infantil; O Projeto “Natal Iluminado” proporciona à criança co-nhecer e executar composições eruditas, exigindo do aluno mais expressividade e sensibilidade musical entre outros (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, 2013). A musicalidade no espaço escolar é grandemente reconhecida que aproximadamente, são mais de 17 mil alunos na rede, englo-bando os ensinos infantil e fundamental, “É importante lembrar que a Educação Musical é um complemento para a educação integral. Ela ajuda na construção do conhecimento e formação do cidadão”, afirmou a secretária de educação em 2010 (DIÁRIO DA FRANCA, 28/04/2010).

Educação Musical no espaço Escolar

A música é uma linguagem universal, para tanto encontramos uma variedade de signifi-cados, portanto para alguns “a música é definida como arte ou ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido” (FERREIRA apud BRÉSCIA, 2003, p.25).

E para muitos, o efeito envolvente da música contagiou de tal maneira que declararam: “A música é incontestavelmente, de todas as artes aquela que reflete de uma maneira mais sensível, o grau de desenvolvimento de um povo” (MARMONTEL apud BRÉSCIA, 2003, p. 26). “A música tem tanta relação com a formação do caráter, que é necessário ensiná-la às crianças” (ARISTÓ-TELES apud BRÉSCIA, 2003, p. 26). Muitos pais e responsáveis vivem a se preocupar somente com as notas e relatórios de seus filhos, no entanto não se preocupam com o lado cognitivo, cria-tivo, afetivo, social-cultural dos seus pequenos. Alguns estudiosos descobriram que existe uma fase primordial na criança para que ela desenvolva suas habilidades musicais; consideram que

Há etapas definidas para o desenvolvimento do cérebro das crianças e que a inteligência, a sensibilidade e a linguagem podem e devem ser aprimoradas, principalmente dentro de casa e não somente na escola. Fizeram a surpreendente constatação de que o gosto pela ciência, pela arte e pelas línguas ocorre muito mais cedo do que se imaginava (BELTRAN, 2001, p.11).

Deste modo, como argumenta Beltran (2001), o cérebro, assim como o corpo, também precisa de muito exercício físico, para não falhar. Acredita-se que a música irá contribuir para o aumento da inteligência dos nossos alunos, ou para o desenvolvimento afetivo, cognitivo, social, espiritual, entre outros aspectos. Pois o LOSAVOV (apud OSTRANDER; SCHOEDER, 1978), cientista búlgaro afirmou que:

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ouvindo música clássica, lenta, a pessoa passa do nível alfa (alerta) para o nível beta (relaxa-dos, mas, atentos): baixando a ciclagem cerebral, aumentam as atividades dos neurônios e as sinapses tornam-se mais rápidas, facilitando a concentração e a aprendizagem.

Lembremo-nos que:

Os neurônios não aumentam de quantidade, desde o nascimento até a idade adulta. Ape-nas aumentam suas conexões, as ligações entre eles. Quanto mais conexões - ligações de células – ocorrerem, maior capacidade terá o cérebro. Quanto mais cedo na vida da criança essas ligações forem feitas, maior será o desenvolvimento de sua inteligência, mais facilidade terá para aprender Matemática, Física, Geometria, Música, Linguagem, línguas estrangeiras, computação de dados, enfim tudo que for necessário aprender para enfrentar os desafios do mundo moderno (BELTRAN, 2001, p. 12).

Sustentando-nos nessas afirmações, a escola deve preparar os jovens para o futuro, para a vida adulta e que estará cheia de suas responsabilidades. E a música pode contribuir para tornar esse ambiente mais alegre e favorável à aprendizagem, afinal “propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida”. (SNYDERS, 1997, p. 14).

Segundo Snyder (1997), a música além de contribuir para o ambiente mais alegre, pode ser usada para proporcionar uma atmosfera mais receptiva à chegada dos alunos, oferecendo um efeito calmante após períodos de atividade física e reduzindo a tensão em momentos de avaliação, e também pode ser usada como um recurso no aprendizado de diversas disciplinas. Todavia a música também deve ser estudada como uma disciplina, como linguagem artística, forma de expressão e um bem cultural. A escola deve ampliar o conhecimento musical do aluno, oportunizando a convivência com os diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico-reflexivo-ativo.

A música é uma arte e a mesma vem sendo utilizada pelo homem, como uma linguagem desde os seus primórdios e esteve presente praticamente em todas as influências culturais. De acordo com Kiefer (1997) a trajetória da educação musical acompanha o desenrolar da edu-cação musical brasileira, e existe registro do uso da música na educação desde a chegada das primeiras missões jesuítas ao país, isso faz parte do povo brasileiro que gosta de um samba.

Contudo a musicalização é algo muito recente e coincide com as transformações edu-cacionais que caracterizam o século XX em várias partes do Brasil, e do mundo. Como ci-ência, a Arte responde às necessidades da busca de significados na construção de objeto de conhecimento. As produções artísticas expressam experiências e representações imaginárias que constituem o percurso da história humana. Sendo a música uma linguagem de expressão artística, fica evidente seu valor na contribuição da formação do indivíduo, quando inserido

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num ambiente musicalmente em contato com estímulos sonoros, ao proporcionar a ele um desenvolvimento musical através das propriedades do som. Weigel (1988) cita que, “em todos os seus processos ativos, a música globaliza naturalmente os diversos aspectos a serem estimu-lados no desenvolvimento integral da criança”.

Ao considerar o cotidiano dos alunos e a multiplicação dos meios de comunicação, ve-rifica-se hoje que a música adentra os quase todos os lares, colocando a criança, desde cedo, em contato permanente com manifestações musicais de toda gênero e qualidade. Porém, só ouvir não basta, impõe-se o “aprender a ouvir”, para que a música torne-se algo mais do que simples satisfação e/ ou recepção passiva através dos CDs, DVDs, vídeos clips, shows e outros.

É importante destacar que a educação musical no espaço escolar, além de promover a pluralidade cultural e o gosto musical, tem como objetivo essencial o desenvolvimento do aluno como um todo como um ser holístico, proporcionando-lhe a possibilidade de atingir outras dimensões de si mesmo e de aprofundar sua relação com o outro; com o mundo. Como considera Swanwick (2003);

Os resultados oferecem uma impressão do desenvolvimento sistemático das habilidades téc-nicas e auditivas de controle sonoras. Isso era sempre relacionado com um forte senso de performance musical expressiva e estruturada, e com a expressão e relações estruturais.

Segundo Jeandot (1990), a música resgata a cultura, ajuda na construção do conheci-mento e também é um instrumento de cidadania. Desenvolver a musicalidade é importante não só para sensibilizar a criança, mas para que outras áreas do cérebro sejam estimuladas. E deve se ressaltar que a área cognitiva responsável pela música desenvolve juntamente com o raciocínio lógico matemática. Weigel(1988) sustenta que, além de auxiliar no raciocínio contribui para a compreensão da linguagem, desenvolvimento da comunicação, percepção de sons sutis e aprimoramento de outras habilidades.

Educadores e psicólogos destacam o ser humano como ser holístico e do seu desenvolvi-mento como um todo, apontado a impossibilidade de ser distinguir o aspecto somente o motor, intelectual ou afetivo. Todas estas áreas de desenvolvimento estão intimamente relacionadas e exercem influência umas sobre as outras, a ponto de não ser possível estimular o desenvolvi-mento de um deles sem que, ao mesmo tempo, as outras sejam igualmente afetadas. E para isso;

Verifica-se que, a partir das experiências musicais, o pensamento da criança vai se organi-zado e quanto mais ela tem oportunidade comparar as ações executadas e as sensações ob-tidas através da música, mais a sua inteligência, o seu conhecimento vai se desenvolvimento (WEIGEL,1988, p. 14).

Como descrito Weigel (1988), considera que em todos os seus processos ativos (audi-ção, canto, dança, percussão corporal e instrumental), será globalizada através da musicali-dade naturalmente as diversas áreas do cérebro a serem desenvolvidas: cognitivo/linguístico,

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psicomotor, afetivo/social, representado um incalculável benefício para o desenvolvimento e o equilíbrio da personalidade/caráter da criança.

Na elaboração dessa identidade a autoestima e a auto-realização desempenham um pa-pel sócio afetivo da criança. Ao mostrar suas emoções, liberar seus impulsos e utilizar seu cor-po para criar música, a criança desenvolve o sentido de auto-realização e prazer, possibilitando a expansão dos sentimentos. O ensino-aprendizagem musical tem um processo proativo de tal modo que ajuda para: contribuir, conhecer-se, maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconhecido, arriscar hipóteses, trabalhar e alegrar-se com suas descobertas.

A grandeza do poder da musicalização no desenvolvimento da criança é muito forte e o “período de sua maior influência neste desenvolvimento, conforme os estudiosos, é a partir dos 03 anos e vai até os 10, 12 anos”, quando o cérebro começa a abrir (BELTRAN, 2001, p.23). E enganoso seria pensar que o aprender e o ensinar música se dá apenas através dos instrumen-tos, ou do canto das pessoas, pois esta música a qual falamos, está constantemente ao nosso redor, basta que a escutemos.

A importância do Movimento Corporal, do Canto e Instrumentos Musicais nos Processo de Sensibilização Musical na EMEB em Franca-SP

Para que o processo do ensino-aprendizagem da música obtivesse êxito e qualidade, foi necessário aplicar nas atividades cotidianas músicas para auxiliar os alunos no desenvolvi-mento musical, proporcionando por sua vez, um desenvolvimento significativo dos aspectos cognitivos, emocionais e psíquicos. Buscando músicas sempre inovadoras, desafiadoras, pro-vocadoras, relacionadas às experiências reais de cada escola municipal, sempre valorizando o meio no qual faz parte. Para dar relevância as suas vivências e experiências, não as consideran-do como tábuas rasas sem conteúdos, mas respeitando suas limitações e sentimentos.

As atividades que envolveram a música foram abordadas em sua essência de manei-ra específica, desenvolvendo cada um dos parâmetros (duração, altura, intensidade, timbre, densidade) e estabeleceu uma relação da música com as outras artes e outras disciplinas do currículo escolar. O ensinar música tornou-se algo sério, mas ao mesmo tempo prazeroso e de suma importância o educador musical, pois conciliar, dosar o sistemático com o satisfatório é de competência desse profissional, vale lembra-se que;

É importante que a escolha de cada um dos procedimentos musicais tenha objetivo promo-ver o desenvolvimento de outras capacidades nas crianças, além dos musicais, tais como, capacidade de integrar-se no grupo, de auto firmar-se, cooperar, de respeitar opiniões e pro-postas diferentes, de ser solitário, ouvir e prestar atenção, expressão corporal, ter disciplina (HENTSCHKE; DEL BEM, 2003, p. 38).

Na busca de uma educação musical baseada na prática e na experimentação efetiva, tor-nou-se importante a criação de um lastro de experiência, observação e vivência, que se resumi-ram se na percepção, a fim de que fosse concebida uma ideia, um conceito. Quando pensamos

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em percepção, portanto, lembramo-nos é à base de todo o aprendizado musical que acontece a partir de experiências vividas, as quais antecedem a conceituação.

Segundo a pedagogia de Dalcroze entre outros, ao utilizar o corpo para sensibilizar o aluno a aprender tais conceitos musicais, firma-se uma estreita relação entre ação corporal e o desenvolvimento da estrutura cognitiva, evidenciando o quanto o emocional está integrado ao movimento corporal. Fonterrada (2005, p. 120) afirma que;

O corpo expressa a música, mas também se transforma em ouvido, transmutando-se na pró-pria música. No momento em que isso ocorre, música e movimento deixam de ser entidades diversas e separadas, passando a construir, em sua integração com o homem, uma unidade

Com já reforçado a prática corporal vivenciada, tem a expectativa de criar uma metodo-logia de ensino musical mais significativa e diferenciada, que são próprias para atividades em grupo. Atividades coletivas e cooperativas devem ser uns dos procedimentos do desenvolvi-mento humano, da sensibilidade, delicadeza e do respeito a si mesmo e ao próximo. Os alunos devem ser encorajados a compartilhar experiências que os ajude a desenvolver responsabili-dade consigo mesmo e com o outro. A ênfase ao treinar e ensinar música deve ser sempre na educação e não apenas no entretenimento.

Além do movimento corporal, o canto coletivo, também assumiu sua importância na pedagogia musical. Cantar em grupo interage socialmente, cria vínculos e desenvolve per-cepção auditiva; proporciona à criança autoconfiança, segurança e conforto no cantar. Cada indivíduo traz em si próprio instrumento, a voz, a qual expressa sentimentos e emoções, algo maravilhoso de se vivenciar, desenvolve-se a habilidade e sensibilidade. No canto o aluno, com o objetivo de sensibilizá-los para as funções tonais harmônicos, consequentemente, melhorar a independência vocal e ou ouvir ativo.

Nas escolas municipais, o canto exerceu ainda funções inter e transdisciplinar, através da di-versidade das letras das músicas e sua função social de formar futuros bons ouvintes, ampliando o seu universo cultural. “A voz infantil se desenvolve pela prática e a repetição é um fator fundamen-tal. Daí a importância de que lhe seja oferecido um modelo vocal de qualidade, pois é a partir dele que sua voz desenvolverá” (FONTERRADA, 2005, p. 188), sendo assim um recurso para desenvol-ver uma consciência de respiração, afinação, dicção e o próprio canto com suas particularidades.

O trabalho de educação musical, a partir dos instrumentos de percussão, foi fundamen-tal na construção das habilidades musicais. Utilizando estes instrumentos pode se desenvolver nas crianças a percepção rítmica e timbrística, o respeito mútuo, a autoestima, a coordenação motora global e fina, atenção e concentração, participação em grupo através da banda rítmica e percussão corporal. Segundo Weigel (1988), enfatiza o ritmo como fundamental na forma-ção do sistema nervoso, pois toda expressão musical ativa e age sobre a mente favorecendo a descarga emocional e a reação motora (como reflexo rítmico) e aliviando as tensões.

Ao participarem dessas atividades, em especial crianças agitadas e dispersas, aperfeiçoam sua sensibilidade e equilíbrio emocional, sua percepção tátil e sua ação no grupo, tendo consciência

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de sua responsabilidade e participação. Desta forma, a prática das atividades com instrumentos de percussão somem em sua contribuição para que o possa desenvolver com maior potencialidade.

A utilização da flauta doce na rede municipal de Franca-SP, ocorreu pelo fato de ser um instrumento melódico de fácil aquisição, de domínio imediato e adequado à faixa etária dos alunos de 4º e 5º anos. Por ser um instrumento de pouca dificuldade técnica, a flauta doce permite se realizar músicas complexas, nas quais podem se observar o desenvolvimento da criança em diversos aspectos: rítmico, motor, auditivo, melódico, entre outros.

Para obter uma qualidade sonora, o som de cada nota precisa ser produzido por meio do controle do sopro e a digitação correta e sensível dos dedos. Todo o processo de construção sonora auxilia no desenvolvimento do espaço intratonal, de forma concreta relacionada o de-senvolvimento auditivo e instrumental. “Toda a ação desenvolvida da percepção e da memória musical das crianças” tem-se que pensar no som, antes de tocá-lo (SUZIGAN, 1986, p. 26), portando, o trabalho com a flauta doce levou o aluno a sentir, interiormente, o que iria tocar.

O currículo musical se apresentou no contexto musical da seguinte forma: o canto (maior consciência corporal, respiração, afinação, dicção e articulação, canto e movimento, criação vo-cal e regência), o Movimento e coreografia (orientação espacial, imitação, criação de movimento, percepção corporal, coreografias, timbre) e a prática instrumental (percussão e flauta doce), to-dos sendo de suma importância para o espaço escolar e para o desenvolvimento dos acadêmicos.

Conforme o PCN (ARTE, 2001, p. 75), qualquer que seja o ensino que considere as di-versidades existentes, tem que proporcionar música na sala de aula para o aluno, oferecendo acessibilidade a obras que possam ser significativas para o seu desenvolvimento pessoal, tanto no sentido da apreciação como da produção, pois será através da música que cada criança poderá prosseguir no processo de aprendizagem relacionado às várias áreas: cognitiva, social, cultural, emocional, entre outras e o educador terá como ferramenta de apoio ao processo ensino-aprendizagem do aluno, esse instrumento a ser utilizado como forma de expressão.

Ao conduzir os alunos nesse processo, devemos ressaltar que devemos induzi-los a composições, improvisações e interpretações, pois em suma, esses são os produtos da música (PCN ARTE, 2001, p.75).

O processo de aprendizagem ou aprender pode ser definido de forma sintética como o modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comporta-mento. Este é um processo bastante complexo e qualquer definição está, invariavelmente, impreg-nada de pressupostos político-ideológicos, relacionados com a visão de homem, sociedade e saber.

Então podemos definir o ensino-aprendizagem, dentro das teorias e concepções de al-guns estudiosos da área. Segundo os behavioristas, a aprendizagem é uma aquisição de com-portamentos através de relações entre Ambiente e Comportamento, ocorridas numa história de contingências, estabelecendo uma relação funcional entre Ambiente e Comportamento.

Já para em algumas abordagens cognitivas, considera-se que o homem não pode ser considerado um ser passivo. Enfatiza a importância dos processos mentais no processo de aprendizagem, na forma como se percebe, seleciona, organiza e atribui significados aos objetos

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e acontecimentos. É um processo dinâmico, centrado nos processos cognitivos, em que temos individuo, informação, codificação, recodificação, processamento e aprendizagem.

Numa abordagem social, as pessoas aprendem observando outras pessoas no interior do contexto social. Nessa abordagem a aprendizagem é em função da interação da pessoa com outras pessoas, sendo irrelevantes condições biológicas. O ser humano nasce como uma ‘tabu-la rasa’, sendo moldado pelo contato com a sociedade.

O processo de aprendizagem na abordagem de Vygotsky (1998, p. 101), a linguagem tem um papel de construtor e de propulsor do pensamento, afirma que aprendizado não é desen-volvimento, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impos-síveis de acontecer.

As influências e os processos na aprendizagem são influenciados pela inteligência, mo-tivação, e, segundo alguns teóricos, pela hereditariedade (existem controvérsias), onde o estí-mulo, o impulso, o reforço e a resposta são os elementos básicos para o processo de fixação das novas informações absorvidas e processadas pelo indivíduo.

E para que a educação seja um processo de ensino-aprendizagem as leis brasileiras especifica-ram inúmeros métodos e instrumentos para que a criança pudesse passar por essa fase de maneira satisfatória e prazerosa. Podemos encontrar umas delas no PCN (Arte, 2001, p.75), qualquer que seja o ensino que considere as diversidades existentes tem que proporcionar para o aluno música em sala de aula, oferecendo acessibilidade a obras que possam ser significativas para o seu desenvolvimento pessoal, tanto para apreciação e produção. Considerando essa abordagem, pode se afirmar que a mú-sica e sua linguagem fazem parte do processo ensino-aprendizagem de um modo geral.

Ao conduzirmos os alunos nesse processo através desse instrumento, devemos ressaltar que temos de induzi-los a composições, improvisações e interpretações, pois em suma esses são os produtos da música (PCN ARTE, 2001, p.75), e se faz necessário vivenciar todos os as-pectos. E é através do fazer musical que o aluno poderá expressar seus sentimentos, pensamen-tos, valores, cultura e emoções, reafirmando que a música é “a maior e mais profunda energia da expressão humana” (HAMEL, 1991, p. 173).

A música é a forma mais fácil de expressar sentimentos, emoções, pois o seu poder é tão grande que balança o emocional, mexe com o espírito. Analisando de modo superficial e no senso comum como a música tem forma de expressar conceitos, valores e emoções? Pare e ouça as músicas desse século, o que elas expressam? Será que está sendo revelada sobre nossa cultural e valores? São músicas calmas ou agitadas, que os jovens gostam de ouvir? Em relação à expressão e comportamento, de acordo com Cury (2008), os jovens de hoje amam músicas agitadas porque seus pensamentos, emoções e vidas estão e são agitadas.

Negligenciar que a música é uma linguagem de expressão é um equívoco dos educadores, pois desde a Educação Infantil esse instrumento está presente para dar apoio aos professores e assim os mesmos compreenderem seus alunos, saberem os valores e sentimentos de cada pessoa, de cada grupo social (GRANJA, 2006, p. 103).

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Ao fazermos a música e experimentá-la teremos e sentiremos “a alegria da comunicação musical é que ela pode abrir-me um caminho de beleza que me permite sair verdadeiramente de minhas ruminações interiores” (SNYDERS, 2008, p. 93).

Educadores Musicais

Para o desenvolvimento das aulas de música foi implantado o método ativo, que contempla vários educadores musicais, de acordo com a didática de cada um, e aproveitando as suas ideias para aplicação de suas metodologias. Entre os educadores musicais que são utilizados na educa-ção musical de Franca-SP, destacamos o de Émile Jaques Dalcroze (1865-1950), sendo o principal na aplicação das aulas, porém não podemos deixar de citar outros que contribuíram na primeira geração de educadores musicais, como: Edgar Willems (1890- 1978), Carl Orff (1895-1982), entre outros, que buscaram um conhecimento musical pautado na prática e na vivência corporal. Que ao utilizar o corpo para sensibilizar o aluno a apreender conceitos teórico-musicais, eles dedu-ziram uma relação estreita existente entre a ação corporal e o desenvolvimento de estruturas cognitivas e, mais ainda, o quanto de emocional estava agregado ao movimento corporal.

Por isso que para aplicação das aulas de música foram adotados vários educadores musi-cais para obter um melhor resultado na execução das aulas, no entanto tendo como norte Émi-le Jaques Dalcroze (1865-1950) com a metodologia principal e os outros como suporte. Por sua vez o músico, pedagogo e compositor, Dalcroze, detectou os problemas da educação musical de sua época e fez passar pela experiência do movimento corporal, conceitos que antes eram apreendidos teoricamente. Ele foi professor no Conservatório de Genebra e pesquisou as leis da expressão e do ritmo, e para Dalcroze a experiência emocional é de ordem física. Por meio de sensações de contração e relaxamento muscular no corpo, sente-se a emoção.

Assim, o corpo expressa emoções internas, exteriorizando ações nos movimentos, pos-turas, gestos e sons, alguns desses automáticos, espontâneos, outros resultantes do pensamen-to (BACHMANN, 1998). Essa atitude mental também está presente nos ensinamento de Pierre Weil (1986), quando fala da comunicação não verbal do corpo humano, e como os gestos e as atitudes corporais podem transmitir as emoções internas de uma pessoa.

Seguindo os ensinamentos do pedagogo musical, Bachmann conclui que para ter o uma boa execução instrumental e uma percepção sonora mais aguçada eram necessários bons reflexos, reações rápidas aos estímulos como a regência, além de uma boa resistência física. Assim, estimular a prática corporal como meio facilitador para o aprendizado musical, resol-veria questões práticas da execução musical, treinando habilidades motoras e suas conexões mentais antes mesmo da execução sonora. Sendo que “O instrumento musical, por excelência, é o corpo humano inteiro, ele é mais capaz, do que qualquer outro, de interpretar os sons em todos os seus níveis de duração” (BACHMANN, 1998).

A mesma compreensão é desenvolvida por Caldwell (1994) quando afirma que na exe-cução musical o primeiro instrumento a ser trabalhado é o corpo humano, pois ele tocará

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o instrumento sob o comando do sistema nervoso. Dalcroze desenvolveu uma metodologia sistematizada, que utilizava várias canções de sua cultura com regras específicas, mas tinha um sistema de ensino em que o professor tinha a possibilidade de criar seus próprios exercícios, desenvolvendo princípios e ideias próprias. Ele dividiu sua metodologia em três partes: a rít-mica (ou eurritmia), o solfejo e a improvisação.

A rítmica foi desenvolvida por Dalcroze no início do século XX como uma pedagogia fundamentada no movimento físico, na percepção auditiva e na improvisação, intensificando a coordenação entre ouvido, mente e corpo. Por meio de exercícios e jogos combinando per-cepção auditiva, canto e movimento corporal, o professor aprofunda as habilidades necessá-rias para um aprendizado musical, integrando a experiência física ao conteúdo teórico.

No solfejo, ele une as habilidades auditivas, visuais, vocais, cognitivas, rítmicas e cor-porais, trabalhando as relações e os elementos de forma prática, primeiramente na melodia, depois harmonicamente. Diferentemente de outras metodologias, a leitura rítmica, para Dal-croze, é desenvolvida simultaneamente com a leitura melódica. Incorpora conceitos de ritmo e espaço no processo de conscientização corporal.

A improvisação utiliza todas as faculdades, explora o movimento corporal, a imagina-ção e a criatividade, a consciência de espaço e tempo, a flexibilidade e agilidade, a coordenação motora, a expressão corporal, a acuidade auditiva e escuta crítica, a concentração e a flexibi-lidade. A improvisação é feita, geralmente, com o piano ou o canto, combinando habilidades musicais como fraseado, ritmo, melodia, harmonia e dinâmica. A improvisação utiliza ritmos físicos e verbais para a expressão espontânea do indivíduo.

Dalcroze observou em seus alunos, uma falta de preparo para ouvir internamente o que estava escrito na partitura, tornando a execução musical um pouco mecânica. Ele percebeu que os alunos não possuíam a coordenação necessária entre o olhar, a audição, o cérebro e o corpo no aprendizado musical. Daí o motivo de considerar o movimento e a expressão corporal elementos intrínsecos para a prática musical. Esse tal movimento corporal, ao contrário, amplia a consciência através da realiza-ção concreta, tátil-motora, podendo toda a musculatura envolvida, contribuir para dar vida, emoção, iluminar, moldar e aperfeiçoar a consciência rítmica, contribuindo de forma positiva para que o sen-timento, ao nascer da sensação muscular, reforce as imagens presentes na mente.

Uma vez formada a consciência rítmica graças à experiência dos movimentos, pode-se perceber a produção constante de uma influência recíproca entre o ato rítmico e a represen-tação. A representação do ritmo, imagem refletida do ato rítmico, vive em todos os nossos músculos. Inversamente, o movimento rítmico é a manifestação visível da consciência rítmica (BACHMANN, 1998). Edgar Willems (1890-1978), discípulo de Dalcroze, também valorizou a ação corporal. Ele considerou que o verdadeiro ritmo está presente em todo o ser humano; está implícito em ações como andar, respirar, o pulsar do sistema circulatório e movimentos delicados causados pela emoção ou por pensamentos. Todos esses são movimentos instintivos que devem ser utilizados pelo educador para despertar a vivência interior do ritmo.

Há uma oposição entre o instinto rítmico e o cálculo rítmico. O primeiro está no cam-po da vida e nas leis do movimento, o segundo é a conscientização das formas e das regras

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rítmicas. Cabe ao educador diferenciar cada um deles. O movimento humano acontece no tempo e no espaço, o ritmo possui propriedades plásticas como rigidez, elasticidade, flexibi-lidade e peso. Essas propriedades podem ser utilizadas na educação rítmica, assim como na criação artística (WILLEMS, 1956). Para Willems, a imaginação motora deve conter experiên-cias rítmicas com base em experiências efetivas. Após o aluno ter vivenciado o ritmo no corpo por meio da imitação ele adquire a imaginação motora (WILLEMS, 1956).

Outro autor que levou em conta a questão do movimento físico nos processos de ensino musical foi Carl Orff (1895-1982). Ele viu o movimento corporal como uma ferramenta de apren-dizagem musical e utilizou a imitação rítmica como uma das possibilidades pedagógicas para desenvolver o senso rítmico do aluno. A recitação de palavras e frases leva à compreensão do rit-mo, tendo por base a inflexão da linguagem. Isto permite à criança a percepção de qualquer com-binação rítmica sem dificuldade alguma, ainda que contenham anacruses e medidas irregulares.

As formas rítmicas assim vivenciadas são reproduzidas através de palmas, batidas com o pé no chão, batidas no corpo. “O próprio corpo será o instrumento de percussão; a seguir, utilizam-se instrumentos de percussão simples que permitem a inclusão de acompanhamen-tos cada vez mais complexos” (ZAGONEL, 1989). A melodia, no início, é estruturada com dois sons para que a criança perceba o mínimo de diferença sonora das sílabas ritmicamente entoadas. O intervalo entre esses sons é a terceira menor descendente, pois esse intervalo está presente na maioria das canções infantis “tradicionais”.

A exploração do movimento envolve a descoberta das possibilidades de movimentação do corpo. Na metodologia Orff, o movimento é uma ajuda indispensável para o desenvol-vimento de habilidades musicais e a formação de conceitos. Ele ajuda o aluno a assimilar vários aspectos rítmicos como o pulso, modelos ou padrões, medidas e tempos. A direção melódica e qualidades como dinâmicas e cores podem ser expressas em movimento e este pode ilustrar texturas, formas e situações dramáticas de modo bem concreto. Os professores sabem que as crianças estão sempre em movimento, portanto, os pedagogos que utilizam a Orff, utilizam essa característica infantil para um aprendizado musical que utiliza o movi-mento corporal (FRAZEE et al., 1987).

Enfim, o educador musical ao apresentar nas salas de aulas estará contribuindo para a harmonia, ritmo, pulsação, respiração, concentração e outros fatores. Por essa razão a música se faz necessária fazer parte do cotidiano escolar em todas as disciplinas. Ao abordamos que a disciplina de música é fundamental, não estamos somente citando da própria aula de canto e instrumental, mas da transdisciplinaridade, ou seja,

Pressupõe uma comunicação entre as disciplinas em função da determinação de objetivos comuns. Esse princípio não significa negar ou abandonar as disciplinas, pois estas são ne-cessárias para a organização do conhecimento na escola. Porém, quando consideradas iso-ladamente no currículo, elas contribuem muito pouco para que o aluno veja significado no conhecimento, num sentido transdisciplinar (GRANJA, 2006, p. 109).

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Relato de Experiência

A seguir estará relatada a experiência das aulas de músicas, e tem se por objetivos mostrar a importância da música na educação da rede municipal de Franca-SP e ao descrever com detalhes sobre as atividades musicais desenvolvidas em sala de aula no período de agosto de 2012 á 2013, sendo na Escola Municipal de Ensino Básico. A referida aula de música apresentada por quem vós escreve, Guilherme Ernesto Remonti, que utilizou a flauta doce como um instrumento, sendo como um dos recursos para a vivência musical no aprendizado dos conteúdos musicais, porém não teve-se a intenção de que seus alunos aprofundem tecnicamente no instrumento neste momento.

Para iniciar a aula, foi feito um aquecimento corporal, onde os alunos formaram uma roda para eles “espreguiçarem” à vontade, alongando bem lentamente todas as partes do corpo. Em seguida foi colocada uma música instrumental bem animada e a instrução para os alunos foi que imitassem os movimentos do educador (pés, flexão e extensão das pernas, flexão dos joelhos, movimentos dos quadris, para frente, para trás e para os lados - imaginando que estavam brincando de bambolê - vários movimentos com as mãos, braços, ombros, pescoço e cabeça). Todos os movimentos foram bem conduzidos de forma que nenhum aluno pudesse adquirir algum tipo de lesão muscular, principalmente os movimentos de pescoço.

Esse primeiro tipo de atividade com exercícios de recondicionamento físico que tendem a desenvolver ao corpo todo o vigor, elasticidade, leveza e movimentar-se equilibrando o cor-po e reforçando as zonas musculares frágeis e insuficientes atuando com tensão e relaxamento, o que é muito adotado na didática de Dalcroze.

Com a mesma música, sugerimos que eles fizessem uma rodada de movimentos corpo-rais (percussão corporal), onde o educador criou alguns movimentos e o grupo imitava. Estes movimentos sempre acompanhavam a música, ora no pulso básico, ora no pulso de compasso, conforme o comando em seguida, no sentido da roda, cada aluno criou um movimento e o grupo imitou. Ficou combinado que nenhum aluno poderia repetir um movimento que já tivesse sido escolhido por outro colega. Todos os alunos conseguiram participar da atividade conforme a solicitação.

Também foi feito um comando por voz da parte do educador musical, para que os alunos caminhassem para adiante e quando eu falava “hop” retrocedesse quatro passos (sempre seguin-do os compassos da música), ou talvez os alunos corressem para adiante ao “hop” dá um salto, igual no tempo de duas notas corridas. Como segunda atividade, foi feito um aquecimento vocal, onde usou se “Divertimentos de corpo e voz” de Thelma Chan, com as sílabas Na, Ma, Nha.

Depois dos exercícios de aquecimento vocal, foi dirigido aos alunos que “hoje vamos fazer uma viagem de trem”; “quem já andou de trem? Como é o som do trem? Como será que ele é? É novo, antigo? E a Maria fumaça? O trem tem pneu? Como é a roda dele? Tem que por gasolina pra ele andar? Ele anda na estrada? Não! O trem anda nos trilhos e anda com lenha, responde-ram algumas crianças”. E desta maneira juntos elencamos as características que sabiam sobre o trem. Foi apresentada uma revista com uma reportagem sobre a Maria fumaça que contava a história da nossa região, da época em que ainda existia em Franca-SP, meio de transporte.

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Em outro momento, a pergunta dirigida aos alunos foi se eles conheciam algum compo-sitor que toca sanfona. Muitos alunos responderam conheciam o forró, mas não sabiam citar nenhum compositor e nenhum aluno mencionou o nome de Luiz Gonzaga. A próxima per-gunta foi se eles sabiam quem era Luiz Gonzaga, mas eles responderam que não tinha conhe-cimento. Para que eles pudessem reconhecer o compositor nordestino, a professora perguntou se eles conheciam a música “Asa Branca” e praticamente todos os alunos disseram que “sim” e muitos cantarolaram trechos da música. Quando abordei que Luiz Gonzaga era o compositor de “Asa Branca” e que em 2012 fez 100 anos de idade eles se surpreenderam.

Após este pequeno comentário sobre o compositor, a indagação era quais os instrumen-tos musicais que faziam parte de um grupo de forró, baião, xote ou ritmos nordestinos e mui-tos disseram: sanfona, triângulo, pandeiro, etc.

Foi colocada para eles ouvirem a música “A Vida do Viajante” de Luiz Gonzaga e disse que podiam marcar o pulso se quisessem enquanto ouviam atentamente a música pela pri-meira vez. Enquanto ouviam, descrevi na lousa a letra da música (com letras de forma e bem legível) e logo os alunos começaram a acompanhar cantando. A música foi colocada novamen-te e solicitou se para que cantassem junto, porém a tonalidade original é muito aguda, então, prevendo este problema, já havia providenciado um playback onde a gravação foi feita em um tom próprio para a idade deles. Na tonalidade mais confortável os alunos já começaram a can-tar melhor e logo aprenderam a melodia.

Estimulados a todo tempo, fizeram uma rápida discussão sobre a letra levantando a história que era contada na música. De modo geral a maioria dos alunos percebeu que a letra da música contava a história de um homem que viajava de trem pelo país para trabalhar e que era muito longe da casa dele. Falaram também que ele tinha saudade de casa e dos amigos e que a estrada tinha poeira, sol, chuva, etc. Ao dizer para os alunos que na gravação era a voz do próprio compositor, ele ficaram impressionados e pedi para que eles ouvissem atentamente.

Após ouvirem a música algumas vezes retomei o assunto sobre os instrumentos musicais e perguntei quais foram os instrumentos que eles conseguiram reconhecer pelo som. Com muita facilidade responderam que ouviram o triângulo, a sanfona e o tambor. Expliquei que nesse gênero musical o tambor usado é a zabumba. Nenhum aluno percebeu que o violão fazia o desenho do baixo, por que ainda eu não tinha falado sobre isso e depois comentei superficial-mente, mas não me preocupei em aprofundar neste detalhe no momento.

Em outra aula os alunos ficaram sentados nas cadeiras, pedi para um dos alunos para distribuir as flautas e orientei para que eles ficassem numa postura boa e correta para segurar o instrumento e começar a aprender a tocar as primeiras notas musicais da flauta, como por exem-plo, (si, La, sol). Algumas salas de aulas tinham iniciando a flauta doce há pouco tempo; cantei as notas da escala de Dó Maior e em seguida todos cantaram repetindo. Toquei na flauta uma célula rítmica e responderem em eco, sem tapar nenhum buraco da flauta. Recordaram a nota Si, La, Sol e fizeram a mesma brincadeira de eco e posteriormente aprenderam as notas Mi, Re, Do,

Neste momento foi exigida a postura dos alunos em relação ao instrumento. O ensino de outras notas na flauta doce nas aulas seguintes e posteriormente para fazer um arranjo para a

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música “A vida do viajante” utilizando a flauta doce, foi de grande importância para o enten-dimento do que é tocar em grupo com os arranjos e também explorar a percussão corporal e canto, de acordo com o nível dos alunos. Brincaram mais alguns minutos com a atividade de eco e assim terminou a aula.

Muitas vezes durante as aulas foi explorado propriedade do som, através das músicas, era aplicado vários exercícios direcionados para as crianças compreendendo os elementos musicais da propriedade do som com a vivência como, por exemplo: identificar se o som era agudo, médio ou grave. Se o som apresentava forte, fraco, o tempo da melodia era curto ou longo. Para descobrir se as aulas obtiveram resultado, foi realizado um diagnóstico com várias músicas para cumprir o quatro de metas.

De uma forma geral as aulas de Música na Rede Municipal de Franca foram e atual-mente são desenvolvidas através de movimento e coreografias; que desenvolvem a orientação espacial (organizado/ desorganização), imitação, criação de movimentos (organizados), per-cepção corporal (movimento), ritmos, andamentos diversos, coreografias (gêneros e estilo), fraseado e compassos/ movimentos e sons corporais. Pois a expressão corporal, sendo uma das partes das aulas de músicas, também desempenha um papel de grande importância no desenvolvimento musical das crianças e neste caso, o trabalho de apreciação e escuta possibi-lita posteriormente a transferência desta experiência para os movimentos das frases musicais.

Desta forma o movimento corporal teve como objetivo de desenvolver a percepção auditiva com e sem a presença da voz, aprimorando a concentração e a expressão corporal de forma livre, mostrando as frases musicas nas coreografias. As crianças demonstraram euforia ao se movimentar expressando o caráter alegre e contagiante do som que escutavam, dançaram em pequenos grupos e aos poucos foram entendendo o movimento correto, onde deveriam andar e parar.

Como o canto já está presente no cotidiano da criança fora e dentro da escola, no entanto nas aulas de música elas puderam ser trabalhadas de forma mais criteriosa, aprimorando a afinação e também com a tessitura apropriada para a faixa etária. Com o canto podemos de-senvolver nas crianças a respiração, afinação (conscientização melódica e de altura), dicção e articulação, canto e movimento, a criação vocal (intervalos melódicos) e a regência (dinâmica, fraseado etc.), que esteve presente em todas as aulas por meio de canções, sempre com as ade-quações necessárias para se ajustar a tessitura vocal dos alunos.

É importante ressaltar que os ganhos obtidos com o trabalho realizado em grupo vão além do aspecto musical. A importância do inigualável prazer gerado pela participação em um grupo vocal ou instrumental, que se destina a prática musical ressalta, mas envolvem tam-bém os aspectos humanos e sociais, cujo processo é desenvolvido a partir do sentir, vivenciar, refletir através dos elementos da propriedade do som. De acordo com as músicas utilizadas durante as aulas de música, era explorado atividades voltadas para atingir o quadro de metas que são encontradas no anexo deste trabalho da educação musical de Franca/SP, com o intuito de proporcionar a criança a vivência das propriedades do som(altura,intensidade, duração e timbre) e elementos da música (melodia, ritmo e harmonia).

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Considerações finais

“A música deve ser contemplada pela escola por que é uma linguagem própria do homem e não apenas do músico” (GRANJA, 2006, p. 105). Desta maneira é um desafio inserir a música no cotidiano escolar em uma sociedade que não está acostumada a parar, ouvir, escutar, refle-tir, imaginar, criar e expor suas ideias. E para apresentar e propor essa “nova” prática deverá ter metodologias e recursos para desenvolver projetos musicais e alcançar os alunos de uma forma que possam sentir a poder da música em sua vida.

“O fato de a Música não ser direcionada a uma formação de especialistas não implica um relaxamento desta na qualidade de disciplina” (GRANJA, 2006, p. 106). Sendo assim, para ter êxito nas aulas de música, se faz necessária muita força de vontade e busca de formação con-tínua nessa área, e sabemos que temos área de pós-graduação em diversas áreas e felizmente a tecnologia e o conhecimento está ao alcance da grande maioria dos profissionais da educação. O professor deverá aplicar uma prática pedagógica sem confrontar com a cultura dos alunos, deverá ter métodos e práticas que alcancem todos, cada um em sua individualidade e levando-

-os a ingressarem em um novo mundo de ideias e pensamentos.Ao longo da história desempenha um papel importante no desenvolvimento do ser hu-

mano, seja no aspecto religioso, moral e social, vem contribuindo para a aquisição de hábitos e valores indispensáveis aos exercícios de cidadania, pois acreditamos que sua linguagem em razão do seu potencial na conscientização da interdependência entre corpo e mente, razão e sensibilidade, ciência e estética, e no processo de socialização do aluno.

Durante o desenvolvimento das aulas de música pode se constatar o envolvimento das crianças nas atividades realizadas, o prazer e a alegria com que participavam de cada parte das aulas e a maneira como se apropriavam de tais conteúdos da propriedade do som, trans-formando em significando para cada um deles, e que embora estamos no séculos XXI, a me-todologia utilizada no começo da implantação do projeto musical até hoje ainda é valida na comunidade escolar que são utilizadas.

Entre as contribuições desse trabalho para área de educação musical, pode se destacar uma ideia de aula que possa ser desenvolvida no ambiente escolar, onde normalmente não encontramos recursos como uma diversidade de instrumentos para desenvolver as aulas de música. Tendo o objetivo de proporcionar para criança à presença do movimento corporal, do canto e da apreciação de um repertório variado para formação musical. Baseada nos princí-pios da essência dos métodos ativos na educação musical, que são ressaltados nesta pesquisa com a criatividade e o lúdico na aquisição do conhecimento pelo aluno.

O movimento corporal torna mais nítido a introdução da música na vida das crianças e sua familiarização. Com isso, elas adquirem uma percepção para os elementos da músi-ca melodia, ritmo, compasso, métrica, dinâmica, andamento, tonalidade. O educador tem que ter cautela para que as aulas de música não se tornem muito teórica, pois como Granja (2006) afirmou que o ensino da música deve ser prazeroso, assim como a música é para as pessoas em geral.

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Assim, os métodos ativos apresentados e aplicados nas aulas de música, e observados e relatados trouxeram os precipícios imprescindíveis para a educação musical: liberdade, cria-tividade e atividade. Esses princípios permitem, um fluxo de energia entre o educador e o educando, uma troca de emoções, satisfação, sobre tudo uma vivência musical profunda. Prio-rizando a invenção e improvisação da criança.

O objetivo das aulas musicais é criar nas crianças o gosto pela música, estimulando a sensibili-dade para a apreciação, expressão e compreensão da linguagem musical, articulando o social (comu-nicação, integração e cooperação), físico (expressão corporal, dicção, psicomotricidade, percepção), intelectual (atenção, concentração, raciono, memória, ação e reação) e o emocional (desinibição, sen-sibilidade, expressão e criatividade), através da música e o mesmo tempo sendo tempo sendo trabalho os elementos musicais(propriedade do som ), em busca da formação consciente da música.

Com a didática da metodologia de sentir, vivenciar, e refletir, preparam as crianças para aprenderem música com a aplicação da metodologia da Dalcroze (1865-1950). O resultado foi im-pressionante no desenvolvimento dos alunos. A ideia da proposta de utilizar o corpo para depois os instrumentos musicais, alcançou altos índices de rendimentos de aprendizado, porque a criança acabou interiorizando a música e depois facilitando o processo do trabalho a musicalidade.

Toda essa proposta possibilitou o desenvolvimento da memória e da percepção auditiva, do senso de equipe, do respeito mútuo, da colaboração e busca de objetivos comuns, da socialização, do respeito às regras e limites, proporcionando momentos prazerosos no fazer da música de manei-ra agradável. Todavia, em todas as reflexões teóricas, o professor e educador não deve se esquecer do principal: a música e o movimento devem ser prazerosos às crianças como supracitado.

Após a análise das experiências de execução de aulas de música, na EMEB comprovou se os resultados alcançados no aprendizado musical teórico e prático associado aos benefícios do trabalho em grupo, como a socialização, expressão emocional, a afinação, percepção musical e o desenvolvimento rítmico e melódico, além de responder as dúvidas da problemática, que os alunos ainda respondem as técnicas aplicadas, embora não sejam cheias das tecnologias.

A realização desse trabalho no ambiente escolar foi possível pela relação construída relação de respeito, carinho e amizade entre a turma e o educador/pesquisador/observador/relator. Essa proximidade com a turma fez com que o trabalho fizesse mais sentido, não só como pesquisa, po-rém como prática educativa que se tornam mais efetiva com a presença de tais elementos. Todas as atividades musicais foram inseridas através de dinâmicas e brincadeiras musicais para uma maior absorção por parte das crianças, e serviram como experiências vivas, agradáveis e enriquecedoras.

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