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DIARIO DE PERNAMBUCO ‘\" Jorge Batista de Souza Ferraz, o "Jorginho", último denunciado entre os acusados do homicídio do procurador Pedro Jorge de Melo e S:lva, começou a ser interrogado pelo juiz da la Vara Federal às 12h 20m, uma hora após o depoimento do sargento Lopes e começou di- zendo que "o delegado Moisés Lima foi o que mais judiou comigo. Jorginho desconhece o telefonema que teria sido dado entre o major Ferreira e Irineu Gre- gário, sob a senha "a en- comenda- e afirmou não saber a quem pertence a placa AG-7104 (Caruaru- PE), bem como plaque- tas, adesivos, ferramen- tas para selagem e arame apreendidos pela Policia Federal, pois -nunca tra- balhei com emplaca- m en to". Ao dizer que no dia 3 de março se encontrava de licença médica, Jorge Batista lembrou que na- quele dia deixou a sua mulher no Detran, onde - ela é funcionária e depois,. seguiu juntamente com seu pai até a casa do de- . putado Vital Novaes] oportunidade em que tra- tou de uma licença sem vencimentos para se deslocar para o Sertão onde passaria uns tem- pos, mas foi aconselhado pelo parlamentar que no Sertão "havia uma seca danada" e que não com- pensaria ir para aquela região, pois só haveria prejuízos. Êerraz: Fui torturado na Federal Levei murros, pau- de-arara, ameaça de es- pancamento da minha mulher e minha mãe e in- jeção nos testículos, tudo isso com o rosto coberto por um saco". Ele disse que foi le- lvado a uma bacia sani- tária (quase rente com o z piso) onde foi dada des- carga, "como forma de me pressionar para con- fessar o crime do pro- curador". Jorge esteve sob ameaças e torturas afirma -- entre os dias 2 e 3 de maio, logo após sua prisão. Antes havia sido pressionado para dizer que tinha sido ele quem atirou no procurador, afirmou ao juiz Genival Matias. Segundo depôs na 1° Vara Federal, o delegado Moisés Lima lhe teria afirmado: "Você teve muita sorte, ser solto por habeas-corpus, pois do Contrário o pistoleiro iria ger você, o autor dos tiros". E mesmo dizendo dão possuir armas, J orge Batista Ferraz foi reco- nhecido por testemunhas como autor dos tiros que mataram o procurador e a Polícia Federal chegou a apreender uma calça azul e uma camisa amarela em sua residên- cia alegando que elas teriam sido usadas por ele no dia do crime, quando, segundo afir- mou, "no dia 3 de março não usei tais roupas, es- tava de calção durante toda a tarde. já que não , fui trabalhar, estava de licença médica". Disse, ainda, que a denúncia do procurador geral Inocêncio Mártires Coelho contra sua pessoa e demais acusados "e mentirosa. Tudo foi dito à base de pau, senão morria-. Confirmou que foi buscar o Chevette do ma- jor Ferreira na cidade de Pesqueira, atendendo pe- dido daquele militar, mas que "nunca dirigi o Passat pertencente a Heronides". Jorge Ba- tista disse que conhece o major Ferreira desde 1975, quando o militar era delegado de Serra Ta- lhada (só tinha 14 anos) e que conhece Elias Nunes desde criança. Lembrou que esteve em Serra Ta- lhada algumas vezes. possivelmente em janeiro e fevereiro últimos, mas não se lembra de ter visto Elias por lá, "aqui no Re- cife nunca o vi". Depois do dia 2 de março "só vi Heronides no fim do mês. Só co- nheci o procurador Pedro Jorge através das fotogra- fias mostradas pelo dele- gado) Moisés e só estive na Padaria Panjá quando a Polícia Federal levou- me para investigações em torno do crime".

Êerraz: Fui torturado na Federal - prr5.mpf.mp.br · buscar o Chevette do ma-jor Ferreira na cidade de Pesqueira, atendendo pe-dido daquele militar, mas que "nunca dirigi o Passat

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DIARIO DE PERNAMBUCO

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• Jorge Batista de Souza Ferraz,o "Jorginho", último denunciadoentre os acusados do homicídio doprocurador Pedro Jorge de Melo eS:lva, começou a ser interrogadopelo juiz da la Vara Federal às 12h20m, uma hora após o depoimentodo sargento Lopes e começou di-zendo que "o delegado Moisés Limafoi o que mais judiou comigo.

Jorginho desconheceo telefonema que teriasido dado entre o majorFerreira e Irineu Gre-gário, sob a senha "a en-comenda- e afirmou nãosaber a quem pertence aplaca AG-7104 (Caruaru-PE), bem como plaque-tas, adesivos, ferramen-tas para selagem e arameapreendidos pela PoliciaFederal, pois -nunca tra-balhei com emplaca-m en to".

Ao dizer que no dia 3de março se encontravade licença médica, JorgeBatista lembrou que na-quele dia deixou a suamulher no Detran, onde -ela é funcionária e depois,.seguiu juntamente comseu pai até a casa do de-

. putado Vital Novaes]oportunidade em que tra-tou de uma licença semvencimentos para sedeslocar para o Sertãoonde passaria uns tem-pos, mas foi aconselhadopelo parlamentar que noSertão "havia uma secadanada" e que não com-pensaria ir para aquelaregião, pois só haveriaprejuízos.

Êerraz: Fui torturado na FederalLevei murros, pau-

de-arara, ameaça de es-pancamento da minhamulher e minha mãe e in-jeção nos testículos, tudoisso com o rosto cobertopor um saco".

Ele disse que foi le-lvado a uma bacia sani-tária (quase rente com o zpiso) onde foi dada des-carga, "como forma deme pressionar para con-fessar o crime do pro-curador". Jorge estevesob ameaças e torturasafirma -- entre os dias 2 e3 de maio, logo após suaprisão. Antes havia sidopressionado para dizerque tinha sido ele quematirou no procurador,afirmou ao juiz GenivalMatias.

Segundo depôs na 1°Vara Federal, o delegadoMoisés Lima lhe teriaafirmado: "Você tevemuita sorte, ser solto porhabeas-corpus, pois doContrário o pistoleiro iriager você, o autor dostiros". E mesmo dizendodão possuir armas, J orgeBatista Ferraz foi reco-nhecido por testemunhascomo autor dos tiros quemataram o procurador ea Polícia Federal chegoua apreender uma calçaazul e uma camisaamarela em sua residên-cia alegando que elasteriam sido usadas porele no dia do crime,quando, segundo afir-mou, "no dia 3 de marçonão usei tais roupas, es-tava de calção durantetoda a tarde. já que não

, fui trabalhar, estava delicença médica".

Disse, ainda, que adenúncia do procuradorgeral Inocêncio MártiresCoelho contra sua pessoae demais acusados "ementirosa. Tudo foi dito àbase de pau, senãomorria-.

Confirmou que foibuscar o Chevette do ma-jor Ferreira na cidade dePesqueira, atendendo pe-dido daquele militar,mas que "nunca dirigi oPassat pertencente aHeronides". Jorge Ba-tista disse que conhece omajor Ferreira desde1975, quando o militarera delegado de Serra Ta-lhada (só tinha 14 anos) eque conhece Elias Nunesdesde criança. Lembrouque esteve em Serra Ta-lhada algumas vezes.possivelmente em janeiroe fevereiro últimos, masnão se lembra de ter vistoElias por lá, "aqui no Re-cife nunca o vi".

Depois do dia 2 demarço "só vi Heronidesno fim do mês. Só co-nheci o procurador PedroJorge através das fotogra-fias mostradas pelo dele-gado) Moisés e só estivena Padaria Panjá quandoa Polícia Federal levou-me para investigações emtorno do crime".

Por fim, Jorginhoacha que só está impli-cado no homicídio de quefoi vítima o procuradorPedro Jorge de Melo eSilva "por ser amigo domajor Ferreira". Narrouainda o episódio segundoo qual, a presença do juizda 1' Vara Federal teriasido simulada pelos agen-tes federais, pedindo aElias que confirmasse aconfissão de autoria docrime, indo mais além,pois "eles perguntaram aElias se topava ir para aguerra das Malvinas, aoque ele respondeu afir-mativamente. E depoisdisseram a ele que nasegunda-feira ele seria le-vado ao Consulado daArgentina para jurar fi-delidade à bandeira da-quele país, e com tudoisso ele concordava, pen-sando que o juiz GenivalMedias de Oliveira se en-contrava nas dependén-cias da Polícia Federal".

É

Lopes: sou inocente

DIARIO DE PERNAMBUCO

.11PMilitar denuncia ameacasl

Fico triste por serpai de família, por ter 23anos de serviços prestadosao Exército e à PolíciaMilitar e perder tudo issopor força dessa farsa criadano inquérito da Polícia Fe-deral, quando se atribui somajor Ferreira e amigosseus a responsabilidadepelo crime do procuradorPedro Jorge" declarou, on-tem, ao juiz Genival Ma-tias de Oliveira, da l g VaraFederal, o sargento PMJosé Lopes.

A exemplo de outrosacusados,ele denunciou"asarbitrariedades e ameaçaspraticadas pelo delegadoMoisés Lima e Silva", que"me sugeriu a admitir ofato de ter participado nocrime que futuramente euseria beneficiado. o que re-cusei alegando não ser co-varde. Não confessareiuma coisa que não fiz. Oproblema fica para aquelesque me acusam".

Quanto à acusaçãoque lhe é feita na denúnciado procurador-geral Ino-cêncio Mártires, o sargentoLopes afirma não ser ver-dadeira, "o que acreditoseja é que eu, um policial-m ilitar, por participar deoperações na caça aos mar-ginais e pistoleiros, junta-mente com o majorFerreira, a quem conheçohá mais de 15 anos, o prin-cipal motivo dessa acusa-ção"

Também disse não co-nhecer qualquer pessoa aquem pudesse atribuir talcrime, não sabe falar nemde "ouvir dizer" quemseria o autor intelectual dohomicídio. Com relação aofato, contou que não foiapreendida qualquer armade sua propriedade. masapenas um revólver calibre38 (Taurus) cabo branco, 'cano médio, após sua pri-são. No entanto, disse nãoconhecer o revólver que lhefoi apresentado pelo juizGenival Matias. Reconhe-ceu duas perucas apreen-didas pela Polícia Federalcom as quais fora acusadode praticar assaltos junta-mente com o majorFerreira, suspeitas essasque "muito me prejudiclnipela vida íntegra quesempre levei".

Ainda com relação àsperucas, o sargento Lopesafirmou que pertencem àssuas filhas (uma de 18 eoutra de 15 anos) e umadependente sua, de 25anos, que desde 1977 sãoutilizadas por elas, e "ja-mais para a prática dequalquer ato delituoso".Ele apresentou várias fotosnas quais suas filhasaparecem usando as peru-cas.

Ao juiz da 1 Vara Fe-deral, o sargento Lopesgarantiu que no dia 3 demarço deste ano (data damorte do procurador) seencontrava exercendo suasatividades na ‘»' Secção daPMPE, onde permaneceuaté pouco mais de 18 horasrecebendo instruções douso de crachás para as pes-soas que cobriram a visitado presidente da Repú-blica ao Recife, no dia se-guinte. Naquele dia almo-çou nas dependências daPolícia Militar, oportuni-dade em que conversoucom o capitão Aristófanes("Capitão Tofinha"),acrescentando que "demaneira alguma foi à Esta-ção Rodoviária no dia 3 demarço, nem fiz uso dequalquer tipo de rádio oumesmo hand talk, comose atribui na denúncia".

Indagado se conheciaElias Nunes Nogueira, osargento afirmou que ape-nas pelas fotografias dosjornais poderia reconhece-lo, mas que já conheceraantes dois irmãos domesmo, um dos quaismorreu em acidente eoutro assassinado por umnistoleiro.

Procuradoracusa chefe

- O procuradorPedro Jorge de Melo eSilva foi vítima da trai-ção do procurador-geralda República, InocêncioMártires Coelho, que oafastou do processo do"Escândalo da Man-dioca", com base emprovas produzidas de-pois da defesa apresen-tada pelo próprioPedro. Do ponto devista processual, este éum erro imperdoável".

A crítica foi feitapelo procurador da Re-pública, Lineu EscoreiBorges, amigo de Pedro.Acrescentou que um diaantes do colega apre-sentar a segunda de-núncia contra mais 19pessoas envolvidas no"Escândalo da Man-dioca", Inocêncio Már-tires disse a Pedro, portelefone : "Você tem quesair de qualquer jeito doprocesso".

DÚVIDA

A colocação de Li-neu Escorei Borges —divulgada ontem peloJornal do Brasil —veio somar-se a umasérie 'de dúvidas levan-tadas quanto ao afasta-mento de Pedro Jorgedo processo do "Escân-dalo da Mandioca", oque ocorreu um dia an-tes de o procurador serassassinado a tiros, emOlinda.

No fim do mês dejaneiro, o capitão PMAudas Diniz de Carva-lho — denunciado porter-se beneficiado defraude no valor de Cr$103 milhões 392 mil —requereu a InocêncioMártires Coelho o afas-tamento de PedroJorge, alegando que oprocurador havia ofen-dido sua sogra, LúciaCavalcante de Carva-lho, funcionária da Pro-curadoria.

Conforme a repre-sentação de Audas,Pedro Jorge teria co-mentado o processo demaneira irónica, exi-gindo que a serven-tuáriá fizesse leitura depeças do inquérito epassando então a emitiropiniões que caracteri-zam prejulgarnento.A representação fiei enca-minhada ao juiz Geni-val Matias de Oliveira,da P Vara da justiçaFederal.

O juiz alegou quetal pedido era assuntointerno da Procuradoriae indeferiu a petição. Oprocurador-chefe emPernambuco, AdalbertoNób rega, encaminhou opedido à ProcuradoriaGeral da República, e asolicitação do denun-ciado no Escândalo daMandioca foi atendidapor Inocêncio MártiresCoelho.

ERRO

Segundo Lineu Es-corei. Pedro Jorge nãoofendeu a funcionária.Foi ela quem o chamoue lhe disse que queriaver a denúncia. A de-claração de dona Lúciafoi anexada ao processo,depois da defesa dePedro, o que. do pontode vista processual, éum erro gritante —disse Escorei.

MARIO DE PERNAMBUCOLembrou que em 1975 ,

estivera vários meses em 'Serra Talhada, época emque o major Ferreira(ainda capitão) fora convo-cado pelo governadorMoura Cavalcanti paraacabar com a onda deviolência reinante naquelacidade, registrando mui-tas vezes dois crimes pordia, a maioria homicídioou lesão corporal. "Nesseperíodo — conta ele —combatíamos os pistoleirose muitos criminosos foramenviados para seus Esta-dos de origem pelo dele-gado Ferreira, que tam-bém era comandante daCIA da Polícia Militar quefuncionava na região".

Alega não ser verdadea acusação segundo a qualteria ido buscar Elias nodia 16 em Serra Talhada,por volta das 19 horas,"quando o meu expedienteé de 7 às 18 horas e a dis-tância do Recife até SerraTalhada é de 420 km, poisquando eles forjaram adenúncia com base no de-poimento de Elias não sa-biam do meu expedientena PMPE. Tentaram mo-dificar obtendo novo de-poimento de Elias".

O sargento Lopes fezquestão de dizer que em 23anos de serviços prestadosao Exército e à PMPEnunca sofreu qualquer puni-ção, nem mesmo discipli-nar, ao contrário, "devo termuitos elogios. ConheçoHeronides após contatosque tive com a sua famíliano Interior, dado a minhamissão em busca de pis-toleiros e criminosos peri-gosos, e quanto ao procura-dor Pedro Jorge — acentuao sargento Lopes — nãotive a felicidade de conhe-cer esse cidadão".

Após faltar energiaelétrica por alguns minu-tos na sala de audiênciasda Vara Federal. o ál-termgatório foi reiniciado,oportunidade em que osargento Lopes voltou afazer acusações ao pessoalda Polícia Federal. Paraele, "alguns integrantesdaquela importante enti-dade policial" teriam for-çado o reconhecimento deElias, segundo o qual, eletinha participado do crimedo procurador.

"Fui fotografado duasvezes, o delegado ouagente força a E lias a dizerque se tratava de um parti-cipante do crime e o capi-tão Ramos que assistiu ao

• reconhecimento trajandoroupas civis reagiu à ma-neira como foi feito o reco-nhecimento tendo solici-tado telefone, para se co-nunicar com seus su-periores, o que deve teracontecido".

"Me colocaram entretrês ou quatro pessoasbrancas e outro dia. jácom minha fotografia àmão, elas reiniciaram o re-conhecimento e Elias aca-bou por concordar que euseria um dos assassinos doprocurador, e já depois, tcapitão Ramos (a pai-sana) talvez confundidocomo policial da PF, ouviuElias dizer: Também, nopau todo mundo diz".