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Efeitos da certificação
UTZ para os cafeicultores
do Brasil
Fevereiro, 2015
2
Créditos:
Equipe de avaliação e autores:
Equipe responsável pela pesquisa:
Consórcio BSD Consulting e Ibi Êté
Consultoria Ltda. - Alice do Valle, Beat
Grüninger, Carolina Schiesari, Eduardo
Bluhm e João Mattos.
Apoio e orientação:
Equipe de monitoramento e avaliação
UTZ na Holanda - Henk Gilhuis
Representante da UTZ no Brasil -
Eduardo Sampaio
Coordenador da equipe de apoio da
UTZ no Brasil - Lucas Negri
Contato:
BSD Consulting
Rua José Maria Lisboa, 860, 7°andar
01423-001 São Paulo-SP
Brasil
Tel./Fax: +55 (11) 3051-4600
www.bsdconsulting.com
São Paulo, Fevereiro 2015
3
Índice
1. Sumario Executivo ........................................................................................... 6
2. Introdução ..................................................................................................... 10
3. Metodologia .................................................................................................. 11
4. Sobre a UTZ ..................................................................................................... 15
5. Avaliação dos efeitos da certificação UTZ: Resultados ......................... 17
5.1 Tipologia do produtor UTZ ..................................................................... 17
5.2 Melhores métodos de produção e melhor acesso a mercados ... 21
5.3 Melhores condições de trabalho ........................................................ 29
5.4 Maior cuidado com a natureza .......................................................... 40
5.5 Maior cuidado e preocupação com a próxima geração ............. 44
5.6 Outras considerações dos produtores ............................................... 46
6. Conclusões ..................................................................................................... 50
7. Referências .................................................................................................... 55
8. Anexos ............................................................................................................ 56
4
Quadro de Figuras
Figura 1: Apresentação das regiões de produção consideradas na pesquisa no campo
Figura 2: Workshop de validação com stakeholders no dia 18 de Novembro de 2014 em
Poços de Caldas
Figura 3: Teoria da Mudança UTZ (tradução livre)
Quadro de Tabelas
Tabela 1: Quantidade de CHs ativos no Brasil em 2014
Tabela 2: Quantidade de CHs por região no Brasil
Tabela 3: Panorama geral do café certificado UTZ no mundo
Tabela 4: Número total de Trabalhadores nas fazendas de café certificadas UTZ no Brasil
Tabela 5: Consolidação das confirmações e do grau do atendimento do efeito de
acordo com a Teoria da Mudança, na percepção dos autores e dos stakeholders.
Quadro de Gráficos
Gráfico 1: Função dos entrevistados nas propriedades
Gráfico 2: Classificação dos pesquisados por tamanho da fazenda
Gráfico 3: Classificação dos pesquisados por tipo de certificação
Gráfico 4: Classificação dos pesquisados por Estado
Gráfico 5: Outros tipos de certificações
Gráfico 6: Classificação dos pesquisado por idade
Gráfico 7: Tempo de certificação das fazendas analisadas
Gráfico 8: Percepção dos produtores sobre se ter a certificação UTZ vale a pena
Gráfico 9: Satisfação dos produtores entrevistados com a certificação UTZ
Gráfico 10: % de produtores que recomendam a certificação UTZ
Gráfico 11: Percepção dos produtores sobre melhorias ambientais
Gráfico 12: Percepção dos produtores sobre os custos da fazenda
Gráfico 13: Percepção dos produtores sobre a lucratividade da fazenda
Gráfico 14: Percepção dos produtores sobre maior custo da certificação UTZ
Gráfico 15: Percepção dos produtores sobre qualidade do café
Gráfico 16: Percepção dos produtores se a certificação UTZ contribuiu para maior a
estabilidade nas vendas
Gráfico 17: Percepção dos produtores se a UTZ possibilitou a diversificação de canais de
venda
Gráfico 18: Percepção dos produtores sobre relacionamento de longo prazo
Gráfico 19: Percepção dos produtores se a situação financeira da fazenda melhorou
devido a certificação UTZ
5
Gráfico 20: Tipos de treinamentos realizados pelos trabalhadores
Gráfico 21: Percepção dos produtores se a certificação contribuiu para regularizar a
situação trabalhista dos trabalhadores
Gráfico 22: Satisfação dos Trabalhadores com as condições de trabalho
Gráfico 23: % dos Trabalhadores que sofreram acidentes no último ano
Gráfico 24: Percepção dos trabalhadores sobre aumento de acidentes de trabalho nos
últimos 2 anos
Gráfico 25: Percepção dos produtores se condições de saúde e segurança melhoraram
Gráfico 26: Percepção dos trabalhadores se a certificação trouxe benefícios
Gráfico 27: Percepção dos produtores sobre beneficiados pela certificação UTZ
Gráfico 28: Percepção dos produtores sobre melhorias das condições ambientais
Gráfico 29: Percepção dos produtores sobre melhorias na biodiversidade devido a
certificação UTZ
Gráfico 30: Percepção dos produtores sobre melhorias em relação a agrotóxicos
Gráfico 31: Percepção dos trabalhadores sobre incentivo a educação
Gráfico 32: Principais motivos para aderir a certificação UTZ
Gráfico 33: Principais benefícios que a certificação UTZ trouxe para fazenda
Gráfico 34: % de produtores que pretendem continuar com a certificação UTZ
6
1. Sumario Executivo
Esse estudo fornece pela primeira vez uma avaliação da certificação UTZ na visão
dos produtores e outras partes interessadas (stakeholders) no Brasil. O programa
da certificação UTZ no Brasil foi lançado em 2002. Ao longo dos anos, o número
de produtores certificados cresceu significativamente, principalmente pela
adesão de médios e grandes produtores de café nas principais regiões
produtoras de café dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. A
maioria dos produtores adotou a certificação como parte da estratégia do
negócio para se diferenciar na qualidade do café, melhorar o acesso ao
mercado de exportação e obter um melhor preço. Os cafeicultores do Brasil
constituem um contingente importante para certificação UTZ, já que o volume
global de compra de café certificado UTZ gira em torno de 4 milhões de sacos
no ano, e o Brasil representa de 35 a 40% deste volume.
A certificação UTZ no Brasil até o momento foi adotada em sua maioria por
médios (20-100 ha) e grandes produtores (maior que 100 ha). Juntos eles
representam mais de 98% dos “Certificate Holders (CHs)” (Detentores da
Certificação UTZ) no Brasil. Os pequenos produtores (menor que 20 ha) estão
pouco representados, porém existem esforços de incluir esse grupo em maior
número na certificação por meio de projetos e parecerias com empresas e
órgãos do governo.
Essa pesquisa foi realizada entre os meses de Abril e Novembro de 2014 e incluiu
uma pesquisa eletrônica e entrevistas com produtores e stakeholders nas quatro
principais regiões de produção UTZ: Sul e Oeste de Minas Gerais, Cerrado, Zona
da Mata (também localizados no Estado de Minas Gerais) e Alta Mogiana no
Estado de São Paulo. A pesquisa envolveu 89 dos 203 produtores atualmente
registrados e ativos o que afere a esse estudo uma representatividade
significativa para respostas obtidas.
A abordagem da pesquisa foi guiada pela Teoria da Mudança UTZ (Theory of
Change - ToC) e a avaliação teve como foco identificar as percepções dos
produtores e trabalhadores em relação a certificação e os efeitos que ela causa,
além de identificar se a certificação UTZ alcançou seus principais objetivos, que
são:
1. Melhorar os métodos de produção;
2. Aumentar as receitas dos produtores e trabalhadores;
3. Ter um meio ambiente melhor e mais preservado;
4. Garantir melhores condições de vida para os produtores e
trabalhadores.
De maneira geral, podemos afirmar que a certificação - na percepção dos
principais usuários - tem gerado efeitos positivos nos quatro eixos acima citados,
porém com intensidade diferente. Enquanto no eixo 1 (Melhores métodos de
produção) a certificação deixou um rastro positivo em todos os casos que
7
avaliamos, os efeitos percebidos nos eixos 2 até 4 são influenciados também pelo
contexto dos cafeicultores no Brasil e por fatores inerentes ao mercado mundial
de café. Os desafios de cumprir a legislação trabalhista e ambiental no Brasil
aumentaram devido a maior fiscalização nos últimos anos. Ao mesmo tempo, as
flutuações do preço mercado impactaram os resultados econômicos da
cafeicultura brasileira de uma maneira que o preço do café no mercado e o
câmbio tiveram evidentemente uma influência bem maior do que os prêmios
recebidos pelos produtores UTZ.
A pesquisa confirmou que o prêmio 1 é um tema que ainda preocupa os
produtores, que desejam ter maior transparência sobre sua aplicação. Porém, a
maioria dos produtores afirma ter obtido ganhos na fazenda através de uma
aplicação mais eficiente de recursos e com a maior organização que a
certificação trouxe para suas empresas. A maioria dos produtores constatou que,
devido às auditorias externas, a pressão de manter processos de gestão e
documentos atualizados proporcionou mais eficácia e menos vulnerabilidade
para eventuais passivos trabalhistas ou ambientais.
O uso melhor dos insumos e o tratamento adequado dos resíduos tiveram efeitos
positivos na redução de custos e passivos, e além disto ajudaram a equilibrar as
condições ambientais na fazenda. Interessantemente, os produtores alegaram
que a UTZ poderia aumentar o impacto ambiental, com maiores exigências e
orientações em termos de conservação do meio ambiente. Mas mesmo assim,
em muitos casos foi a certificação UTZ que ajudou os produtores a estabelecer
em tempo hábil as Áreas de Proteção Ambiental (APPs) exigidas pela legislação
ambiental brasileira.
Um dos pontos fortes citados tanto pelos produtores como pelos atores do
mercado é o sistema de rastreabilidade da UTZ. Embora foi constatado que a
certificação não foca na qualidade de café em si, é a rastreabilidade que, na
visão dos entrevistados, favorece o aumento da qualidade do produto, já que a
rastreabilidade mostra aonde está sendo produzido o melhor café, sendo possível
identificar e gerenciar os tratos no terreiro, processamento e embarque
diferenciados. Portanto, a rastreabilidade dentro da fazenda vem a criar as
condições para um gerenciamento diferenciado (por exemplo por talhões e
lotes) da produção e do processamento do café, o que repercute
favoravelmente nos custos, nas qualidades e nos preços dos cafés (plural!)
produzidos por uma mesma fazenda.
Para analisar o eixo 4 (Garantir melhores condições de vida para os produtores e
trabalhadores), entrevistas com um total de 57 trabalhadores também foram
realizadas durante as visitas nas fazendas. As respostas obtidas deixam claro que
as condições de saúde e segurança, através de fornecimento de treinamentos e
equipamentos de proteção, melhoraram nas fazendas certificadas de tal forma
que, de acordo com as entrevistas com stakeholders externos e produtores, elas
se diferenciam em muitos casos de outras fazendas não certificadas nos locais
1 Chamamos de “prêmio” o adicional de preço que é pago no mercado por café UTZ. Não se trata de um prêmio fixo, mas um aumento variável.
8
pesquisados, que ainda sofrem de passivos trabalhistas e constantes fiscalizações
pelos agentes governamentais.
O registro correto dos trabalhadores com as funções de trabalho devidas evita
riscos de multas e aumenta a satisfação e lealdade dos trabalhadores. Embora
a satisfação dos trabalhadores com as condições de trabalho seja alta, não foi
constatado que os ganhos econômicos maiores das fazendas obtidos em vendas
no mercado UTZ resultaram em aumentos na folha de pagamento dos
trabalhadores. Economicamente, trabalhadores que moram nas fazendas tem
benefícios adicionais como habitação e energia fornecida, e assim uma situação
econômica melhor do que trabalhadores assalariados que moram nas cidades e
tem que arcar com custos de aluguel e de serviços básicos.
É claro que num ambiente como o Brasil, onde temos distâncias e diferenças
regionais, tanto os assuntos ambientais como sociais também precisam ser
abordados em níveis regionais, pois cada região tem características distintas: Em
regiões mais planas como Alta Mogiana e Cerrado, a mecanização é muito
maior do que em regiões mais montanhosas e consequentemente tanto fatores
ambientais como trabalhistas mostram diferenças.
De maneira geral, os produtores demonstraram satisfação tanto com o
atendimento pela UTZ como com os efeitos da certificação. Eles pretendem
mantê-la nos próximos anos, já que eles consideram a relação de custo e
benefício como favorável. Em relação ao mercado, eles desejam maior
visibilidade do selo perante o consumidor, principalmente no Brasil, onde o selo
não é reconhecido, e vários produtores que tem produtos no mercado local
poderiam se beneficiar localmente de uma maior divulgação da certificação no
Brasil.
Um outro desafio da certificação é a inclusão de pequenos produtores, que são
a grande maioria dos produtores de café no Brasil atualmente, já que a
certificação UTZ até o momento tem sido adotada principalmente por médias e
grandes fazendas. Iniciativas de inclusão que envolvem parceiros terceiros já
estão sendo realizadas, e devem ser ampliados nos próximos anos.
O relatório aponta também alguns pontos de melhoria que poderão ser
implementados para atender expectativas dos produtores e melhorar a eficácia
da certificação. Em primeiro lugar, é recomendado apresentar de maneira mais
clara e transparente como o prêmio está sendo aplicado na cadeia de valor.
Identificamos neste aspecto, como um importante fator, que os intermediários,
como cooperativas e empresas exportadoras (“Traders”) façam um esforço de
melhorar a apresentação para os produtores de quais são os efetivos ganhos
com o café certificado.
Em relação ao monitoramento do impacto e das melhorias nas fazendas, seria
interessante implementar a partir do ano zero da certificação uma série de
indicadores de gestão que permitem ao produtor acompanhar o progresso e
criar planos de melhorias mais direcionados. Além disso, seminários regionais com
produtores e calibragem dos parâmetros aplicados pelos consultores e auditores
9
são importantes medidas que poderiam alavancar os efeitos da certificação UTZ
no futuro.
Outro ponto que foi endereçado pelos próprios produtores é um
aprofundamento nas orientações de gestão e proteção ambiental, que se daria
com um detalhamento maior dos critérios ambientais, que até hoje ajudou os
produtores a cumprir a complexa legislação ambiental brasileira.
Um desafio existe ainda na inclusão dos trabalhadores na distribuição de maiores
ganhos, pois por enquanto não registramos um diferencial salarial nas fazendas
pesquisadas. Seria de grande utilidade se a UTZ participasse em pesquisas que
hoje estão sendo feitas por diferentes certificações sociais (como por exemplo a
Social Accountability International e a Fair Labor Association) que tentam definir
níveis de salários dignos2 no âmbito rural.
2 Traduzimos assim os “Living Wages”, que são centro de várias pesquisas no ambiente rural e urbano.
10
2. Introdução
A UTZ Certified é um programa e um standard de sustentabilidade com base na
Holanda que visa uma produção agrícola sustentável e busca melhores
oportunidades paras os produtores, trabalhadores, suas famílias e meio ambiente.
Atualmente o standard UTZ é aplicado por produtores de café, cacau e chá em
mais de 20 países produtores. Mundialmente, 10% do café exportado é
certificado UTZ.
Essa pesquisa foi encomendada pela UTZ com o intuito de conhecer como os
produtores brasileiros certificados avaliam os efeitos da certificação. O Brasil é o
maior exportador de café com cerca de 45 milhões de sacos por ano e também
o maior produtor de café certificado UTZ, com cerca de 35% do volume mundial
total exportado com o selo UTZ. O programa da UTZ já existe a mais de 14 anos
nos principais polos produtores do Brasil.
Essa pesquisa também tem a pretensão de mapear, entender e interpretar os
efeitos da certificação no contexto dos agricultores e no contexto externo
setorial, que inclui questões que irão além do âmbito de decisão do produtor.
Uma questão que foi identificada de antemão em entrevistas com stakeholders
foi por exemplo o fato que uma parcela de produtores saiu do sistema ou não se
interessou de entrar devido a percepção de ausência de ganhos financeiros
sobre o preço da saca de café.
Além disso, a pesquisa tem como objetivo fazer recomendações para UTZ,
visando aumentar a sua eficácia e relevância no Brasil para os membros atuais e
futuros, e de apontar eventuais benefícios e custos para que a UTZ possa afinar e
atualizar a sua Teoria da Mudança e Código UTZ, que foram usados como base
metodológica da pesquisa.
Esse relatório apresenta os resultados quantitativos e qualitativos da pesquisa em
forma de gráficos e comentários coletados nas entrevistas. Adicionalmente, a
inclusão de depoimentos de stakeholders ajuda a detalhar a percepção dos
diferentes aspectos pesquisados.
O texto também reflete a análise dos autores, pois certas constatações
ganharam peso pela frequência com as quais foram encontradas nas entrevistas
e nas respostas da pesquisa eletrônica.
O trabalho foi realizado pelo consórcio das empresas BSD Consulting e Ibi Eté
Consultoria entre os meses Abril e Novembro de 2014. Os resultados foram
avaliados em um workshop de validação com stakeholders, no dia 18 de
Novembro de 2014, em Poços de Caldas - MG, e as considerações dos
participantes foram contempladas na edição desse relatório.
11
3. Metodologia
A avaliação foi solicitada por uma necessidade de comprovar o grau de eficácia
da certificação e aprimorar o programa de certificação UTZ no Brasil. Dessa
forma, o estudo teve o objetivo de coletar dados quantitativos e qualitativos a
fim de descrever os resultados e efeitos da certificação nas três áreas de impacto:
social, ambiental e econômica, para três grupos: produtores/proprietários,
trabalhadores assalariados e comunidade. O foco da avaliação de efeitos da
certificação UTZ foram os médios e grandes produtores de café com
propriedades entre 50 ha a 1000 ha, pois estes, de acordo com escritório da UTZ
local no Brasil, representam mais de 80% das áreas certificadas UTZ no Brasil.
A avaliação foi guiada com um foco maior em dados qualitativos, seguindo o
critério “fit for purpose” (adequado à sua finalidade), pois o levantamento
qualitativo tem provado ser um método mais útil para os objetivos propostos (ao
invés do quantitativo). A abordagem foi guiada pela Teoria da Mudança da UTZ
(“ToC”) e ajudou a verificar se a UTZ alcançou seus principais objetivos, que são:
Ter melhores métodos de produção;
Aumentar as receitas dos produtores e trabalhadores;
Ter um meio ambiente melhor e mais preservado;
Garantir melhores condições de vida para os produtores e
trabalhadores;
A equipe de avaliação atuou de forma independente, por tanto este trabalho
representa a voz, a opinião qualificada e a avaliação da equipe.
No entanto esta metodologia possui algumas limitações, como a ausência de
linha de base, levando em consideração somente a percepção subjetiva de
produtores, trabalhadores e pessoas do setor. Porém, para mitigar os impactos
dessas desvantagens foi realizada uma análise triangular das informações,
verificando dados de produtores com dados de trabalhadores e com pessoas do
setor, afim de se chegar na conclusão mais adequada sobre a questão avaliada.
Além disso, para esse estudo não foram realizadas entrevistas com trabalhadores
temporários, e dessa forma as informações identificadas relacionadas a esse
grupo foram com base nas entrevistas com os outros grupos já mencionados.
A certificação em grupo no Brasil tem sido utilizada por produtores pequenos,
médios e grandes. Esta categoria de „certificate holders“ portanto, não
representa um determinado tipo de produtor.
A pesquisa foi dividida em quatro etapas:
1. E-survey com todos Certificate Holders (CHs)
12
Como primeiro passo, realizamos uma pesquisa online por meio de
questionário padrão com produtores de café detentores da certificação
UTZ em todo Brasil. Esse questionário foi lançado para todos os 203 CHs3
registrados e ajudou a levantar dados estatisticamente relevantes. Além
disso, a análise dos questionários foi um dos critérios aplicados na seleção
das fazendas visitadas na pesquisa de campo. Outros critérios de seleção
foram o histórico de engajamento dos CH´s com o programa da UTZ (a
partir da avaliação da equipe local da UTZ), as características e a região
das fazendas. Ao todo, 66 CHs responderam a pesquisa online (nível de
respostas de 32,8%).
2. Pesquisa de campo: Entrevistas qualitativas e pesquisas com
trabalhadores
De acordo com os dados fornecidos pela UTZ Brasil, hoje existem 203
Certificate Holders no Brasil e 576 fazendas. Desses, 169 CHs estão no
Estado de Minas Gerais, 27 em São Paulo, 5 na Bahia, 1 no Paraná e 1 no
Espírito Santo (dados referentes a junho de 2014).
Tabela 1: Quantidade de CHs ativos no Brasil em 2014
Dessa forma a pesquisa de campo se concentrou nos estados de Minas
Gerais e São Paulo, já que a população dos Certificate Holders em outros
estados é mínima. Juntos estes dois estados representam 97% dos CHs.
A definição da região considerou as seguintes questões:
Quantidade de produtores na região contemplada.
Quantidade de produtores com diferente tempo de adesão a
certificação para conseguir captar a percepção tanto de produtores
que estão há mais tempo na certificação, como de outros mais novos
no programa. Dessa forma foi possível captar as motivações para a
entrada no programa UTZ, assim como as diferenças entre os
3 Certificate holders (CHs) são os donos de uma fazenda ou as pessoas respectivamente empresas que lideram uma certificação multi-site ou em grupo.
Certificate Holders Ativos (junho 2014)
# CHs #
Fazendas # Amostra
% da Amostra em relação ao total
Individual 108 108 64 59% dos CHs
Grupo 4 56 6 11% das fazendas
Multi site 91 412 19 21% dos CHs
Total 203 576 89 44% dos CHs
13
resultados alcançados com a certificação que fornece elementos de
progresso contínuo.
Os tipos de certificações UTZ aplicáveis no Brasil são: individual; grupo;
e multi-site. Os Certificate Holders das regiões selecionadas detinham
os três tipos de certificação.
As regiões definidas para realizar a pesquisa de campo foram: Alta
Mogiana-SP, Sul de Minas-MG, Oeste de Minas-MG, Zona da Mata-MG e
Cerrado-MG e as seguintes práticas foram utilizadas na pesquisa de
campo:
36 entrevistas individuais com gerentes de fazendas ou
produtores. Essas entrevistas foram guiadas por meio de um
questionário padrão para cada categoria e teve como base
indicadores da ToC.
57 entrevistas individuais com trabalhadores das fazendas. Os
questionários para as entrevistas individuais foram elaboradas
com base na ToC e com base no capítulo 10 do Código de
Conduta UTZ (o questionário para os trabalhadores foi diferente
aos utilizados com os produtores).
Figura 1:
Apresentação das
regiões de produção
consideradas na
pesquisa de campo
A tabela abaixo demonstra a participação de produtores na pesquisa por
região. Uma tabela completa da amostra se encontra no Anexo I da
pesquisa:
Tabela 2: Quantidade de CHs por região no Brasil
Alta Mogiana
14
Localização dos CHs # CH´s # Entrevistas com CHs realizadas por região
MG 169 67
SP 27 20
BA 5 1
PR 1 1
ES 1 0
Total 203 89
3. Consulta com outros stakeholders
Foram realizadas 17 entrevistas por telefone com outros atores do setor de
café no Brasil para identificar percepções externas sobre os produtores e
sobre o mercado de café na região, essas entrevistas também auxiliaram
na validação dos dados coletados com os produtores.
Os stakeholders entrevistados representaram as seguintes categorias:
Entidades do Governo ligados ao setor rural e do Café;
Representantes dos sindicatos de trabalhadores rurais;
Compradores e exportadores;
Torrefadores e baristas;
Representantes de Universidades;
Auditores e consultores de café;
Representantes da Cadeia de Custódia;
Representantes da indústria;
Especialistas do mercado.
As entrevistas tiveram um roteiro estruturado e adequado para cada
grupo de stakeholder. A lista completa dos entrevistados se encontra no
Anexo II.
4. Validação com stakeholders
Após a realização das entrevistas, os dados foram consolidados
juntamente com as respostas da pesquisa online e com as percepções
coletadas nas entrevistas com stakeholders externos. Essa etapa
aumentou a resposta qualitativa da pesquisa online de 66 para 89
respostas (13 entrevistados já tinham respondidos a pesquisa online antes).
Esse primeiro cruzamento de dados foi levado para uma validação e
discussão por meio de um painel com stakeholders identificados ao longo
do processo. O encontro aconteceu no dia 18 de Novembro em Poços de
Caldas com duração de 6 horas e teve o objetivo de apresentar os
principais resultados e destaques obtidos na pesquisa e fechar possíveis
pontos que não foram identificados no processo.
15
Figura 2: Workshop de validação com stakeholders no dia 18 de Novembro de
2014 em Poços de Caldas.
4. Sobre a UTZ
A certificação UTZ está presente em mais de 20 países, com foco principalmente
na América Latina, África e Ásia. Os produtos que fazem parte do programa de
certificação UTZ são café, cacau e chá, mas o produto com maior volume
certificado hoje é o café. De acordo com o Relatório Anual de 2013 da UTZ o
volume total de café certificado UTZ era de 726.591 toneladas, e entre os 21
países produtores do café certificado, o Brasil era o maior produtor,
representando 31% desse volume.
Tabela 3: Panorama geral do café certificado UTZ no mundo
Volume de Café Certificado UTZ 2009 2010 476.903 2012 2013
Volume de café verde certificado UTZ (ton)
365.972 394.003 476.903 715.648 726.591
Volume de café verde certificado UTZ (sacas de 60 kg)
6.099.525 6.566.717 7.948.377 11.927.467 12.109.850
Média do prêmio pago (U$ cent/peso libra)
4,97 4,91 4,14 4,29 3,5
Número de países produtores 21 21 22 23 21
O programa UTZ está baseado na Teoria da Mudança UTZ. O modelo abaixo é
uma visualização gráfica simplificada da teoria da mudança UTZ. Ele representa
o elo entre as estratégias e o impacto desejado do programa UTZ, de acordo
com a missão.
16
Para garantir que a teoria da mudança aconteça, o produtor recebe o Código
de Conduta da UTZ, no qual estão descritos todo os requisitos que o produtor
precisa seguir. Esses requisitos incluem Boas Práticas de Agricultura e Manejo da
Produção, Saúde e Segurança e Melhores Condições de Trabalho, Abolição ao
Trabalho Infantil e Proteção ao Meio Ambiente.
Para garantir que os requisitos sejam seguidos, os produtores e as fazendas são
monitorados anualmente por auditores independentes. A certificação UTZ
garante também a rastreabilidade do produto, das prateleiras até a produção
no campo. Todas as comercializações são registrados em um portal online da
própria UTZ.
O centro do modelo é o agricultor que representa uma agricultura sustentável,
evidenciando o objetivo do programa. O programa requer melhores métodos de
produção agrícolas; melhores condições de trabalho; maior preocupação e
cuidado com a natureza; e maior cuidado e preocupação com a próxima
geração. A partir desses critérios a certificação UTZ vai contribuir para melhores
cultivos, maiores receitas, meio ambiente melhor e condições de vida melhor.
Figura 3: Teoria da Mudança UTZ (tradução livre)
MELHORES
MÉTODOS DE
PRODUÇÃO
MELHORES
CONDIÇÕES DE
TRABALHO
MAIOR
PREOCUPAÇÃO E
CUIDADO COM A
NATUREZA
MAIOR CUIDADO E
PREOCUPAÇÃO COM
A PRÓXIMA
MELHORES CULTIVOS
MAIORES RECEITAS
MEIO AMBIENTE MELHOR
CONDIÇÕES DE VIDA
MELHOR
17
5. Avaliação dos efeitos da certificação UTZ: Resultados
Ao todo foram coletadas informações de 89 pessoas que representaram os
detentores de certificação da UTZ, dessas pessoas 36 foram entrevistadas
presencialmente ou por telefone. Como hoje no Brasil existem 203 Detentores da
Certificação UTZ, pode-se dizer então que o número de pessoas consultadas
representa 44% dos CHs. Os detentores da certificação são considerados os
produtores de café, e as características gerais destes estão descritas abaixo, e
em seguida serão apresentados os resultados dos efeitos da certificação UTZ para
os produtores e trabalhadores de café envolvidos nessa avaliação.
5.1 Tipologia do produtor UTZ
A gestão da certificação UTZ fica a cargo de diferentes agentes da fazenda de
café, mas na maioria dos casos, o proprietário é a pessoa responsável pela
certificação.
Gráfico 1: Função dos entrevistados nas propriedades
O perfil dos produtores de café certificados UTZ no Brasil mostra que na sua
maioria são grandes produtores. O número de pequenos produtores ainda não é
muito significativo no programa da UTZ, estes estão presentes somente no modelo
de certificação em grupos atualmente.
Gráfico 2: Classificação dos pesquisados por tamanho da fazenda
41,6%
22,5%
11,2%
24,7%
Proprietário da fazenda
Gerente contratado da fazenda
Responsável contratado para gerenciar acertificação Utz
Outro (especifique)
1,2% 5,8%
93,0%
Pequeno produtor (0 - 50ha)
Médio produtor (51 - 100ha)
Grande produtor (maior que 100ha)
18
A maioria dos consultados segue o modelo da certificação individual,
representando 72% do total, e a grande parte destes são localizados no Estado
de Minas Gerais com representatividade de 75%, seguido por São Paulo com
22,5%. Os outros estados, Espirito Santo, Paraná e Goiás, não são significativos no
programa de certificação UTZ, representando juntos somente 2,2% desta
pesquisa. No entanto, apesar de a maior representatividade ser de CHs
individuais, as características e efeitos da certificação não variam com o tipo da
certificação. Ou seja, o perfil e os efeitos identificados para os CHs individuais são
bastante similares aos efeitos identificados para os CHs multilocais e de grupo.
Gráfico 3: Classificação dos pesquisados por tipo de certificação
Gráfico 4: Classificação dos pesquisados por Estado
Mais de 90% dos CHs entrevistados possuem outras certificações além da
certificação UTZ. As certificações que mais apareceram são:
4C, considerada pelos entrevistados como de fácil obtenção;
Certifica Minas, que recentemente fechou uma parceria com UTZ e serve
como uma porta de entrada para o programa da UTZ4;
Rainforest Alliance por ser uma certificação bastante reconhecida pelos
produtores e compradores no mercado de café; e
4 A parceria é recente e o número da Certifica Minas poderá aumentar ainda mais, já que seu custo é praticamente nulo para os produtores já certificados UTZ.
6,7%
71,9%
21,3%Certificação de Grupo
Certificação individual
Certificação Multilocal (multi-site)
1,1%
75,3%
22,5%
1,1%
Bahia (BA)Minas Gerais (MG)São Paulo (SP)Espirito Santo (ES)Paraná (PR)Goiás (GO)
19
Outras certificações também identificadas foram de empresas como AAA
(Nespresso) e Nucoffee5 (Syngenta);
Ou de outros esquemas de certificação internacionais, nacionais ou
regionais como: Caccer (Café do Cerrado), Alta Mogiana e Fairtrade.
Gráfico 5: Outros tipos de certificações
A grande maioria dos produtores são homens, correspondendo a 78,7%,
enquanto as mulheres representam apenas 21,3%. A maioria tem mais de 51 anos,
mas a classificação por idade é bem diversificada, se destacando que não foram
identificados jovens proprietários ou gerentes até 20 anos nas fazendas. Mais de
50% dos entrevistados estão com a certificação UTZ há mais de cinco anos, o que
mostra que a UTZ já está bastante consolidada no mercado brasileiro.
Gráfico 6: Classificação dos pesquisado por idade
Gráfico 7: Tempo de certificação das fazendas analisadas
5 Nucoffee é um modelo de troca de insumos com características próprias criado a partir da parceria entre a UTZ e Syngenta, conhecida como caminhos sustentia.
4C CertificaMinasCafé
Rainforest Outras(quais)
Fairtrade Nãopossui
Orgânico
42,7% 42,7%37,1%
24,7%
7,9% 6,7%0,0%
% dos entrevistados que possuem outra certificação
0,0%
19,1%
27,0%
24,7%
29,2%
Ate 20 anos
21 a 30 anos
31 a 40 anos
41 a 50 anos
Mais de 51 anos
20
De forma geral a certificação UTZ é muito bem vista pelos produtores e partes
interessadas externas, mais de 90% dos produtores entrevistados estão satisfeitos
com a certificação UTZ e acreditam que a adesão ao programa valeu a pena,
além de recomendarem a certificação para outros produtores.
Gráfico 8: Percepção dos produtores sobre se ter a certificação UTZ vale a pena
Gráfico 9: Satisfação dos produtores entrevistados com a certificação UTZ
Gráfico 10: % de produtores que recomendam a certificação UTZ
2,2%4,5%
12,4%
18,0%
11,2%
51,7%
Menos que 1 ano
1 ano
2 anos
3 anos
4 anos
5 anos ou mais
92,6%
7,4% 0,0%
Sim
Não
Não sei
31,5%
61,8%
6,7%
Muito Satisfeito
Satisfeito
Insatisfeito
Muito Insatisfeito
21
Conforme mencionado anteriormente, todos os resultados e características dos
CHs identificados não se diferenciam com base no tipo da certificação, ou seja
todas as respostas acima apresentadas e as que serão exibidas abaixo,
demonstram a opinião dos 3 tipos de produtores certificados UTZ no Brasil.
A seguir serão apresentados os resultados da avaliação dos efeitos da
certificação UTZ. Esses resultados serão exibidos com base na Teoria da Mudança
UTZ. Portanto, o capítulo será dividido em quatro categorias: Melhores métodos
de produção agrícolas; melhores condições de trabalho; maior preocupação e
cuidado com a natureza; e maior cuidado e preocupação com a próxima
geração.
Ordenamos os resultados por objetivo final da Teoria de Mudança, e em cada
capitulo agregamos citações de produtores e stakeholders para ilustrar melhor o
teor das respostas quantitativas obtidas. Na seguinte seção sobre os métodos de
produção, incluímos a análise de geração de maior valor no mercado, pois esses
aspectos estão intimamente ligados entre si. O formato original completo da
Teoria da Mudança UTZ está no Anexo III.
5.2 Melhores métodos de produção e melhor acesso a mercados
A Teoria da Mudança foca em grande parte em melhorias dos métodos de
produção agrícolas, que tem efeitos em diferentes níveis: No nível da gestão e
produtividade da fazenda, gerando um potencial de maior desempenho
econômico, mas também no nível ambiental que será o foco de outra seção
desse relatório (5.3).
Ficou claro que neste aspecto, a certificação UTZ teve sua maior contribuição.
Existe um consenso que a certificação proporcionou melhor organização da
produção e menores custos. Os produtores gostariam que essas melhorias
também tivessem uma repercussão maior no preço pago pelo mercado. Isto
ficou claro logo no início das análises. Porém, o efeito em termos de preço e
vendas não correspondeu à expectativa dos produtores.
93,2%
6,8%
Sim Não
22
A categoria de “Melhores métodos de produção agrícolas” visa mostrar os
benefícios da certificação UTZ para a produção agrícola das fazendas, e para
isso ela está subdividida em cinco itens de análise:
Solo saudável;
Maior produtividade;
Maior eficiência da fazenda/da produção;
Qualidade para atender a demanda de mercado; e
Acesso a serviços e recursos.
Apresentamos em seguido os resultados por subdivisão. Para a questão do solo
saudável, agregamos diferentes dados com referência a práticas ambientais que
resultam em maior saúde dos solos.
Solos saudáveis
48,9% dos produtores afirmam ter adotado medidas para preservação do solo
para se qualificar para a certificação. Entendemos pelas entrevistas que esse
porcentual representa produtores que ainda não usavam práticas de
conservação anteriormente a certificação. O número total de produtores que
usa práticas de conservação de solo é bem maior do que essa porcentagem. A
conservação do solo é apenas uma dentre várias práticas que contribuem para
melhores condições ambientais e para um de produção mais sustentável.
O Gráfico 11 demonstra quais as práticas mais frequentes nas fazendas
certificadas. Em primeiro lugar encontramos práticas que contribuem para
melhores condições ambientais e resultam em economias de custo pelo uso mais
eficiente de recursos.
Gráfico 11: Percepção dos produtores sobre melhorias ambientais
71,6%
68,2%
62,5%
53,4%
48,9%
46,6%
39,8%
37,5%
18,2%
8,0%
1,1%
Disposição correta de resíduos
Uso consciente de fertilizantes inorgânicos
Eficiência no uso de recursos (Água e energia)
Conservação de biodiversidade
Adoção de práticas de preservação de solo
Melhoria na qualidade da Água
Melhor uso de fertilizantes orgânicos
Melhor manejo da terra
Adoção de técnicas de compostagem
Outros (Quais)
Nenhum
Quais são os principais fatores da certificação UTZ que contribuíram para as melhorias ambientais na fazenda?
23
Maior produtividade e maior eficiência da produção
Mais de 60% dos produtores entrevistados afirmaram também que a certificação
contribuiu para redução de custos e assim, resultou em ganhos econômicos.
Porém, temos 14,8% dos produtores que consideram que a certificação
aumentou o custo para de produção na fazenda.
Gráfico 12: Percepção dos produtores sobre os custos da fazenda
A redução de custos contribuiu em pelo menos 48,9% dos casos analisados para
melhor lucratividade6. Isso deve ser considerado um resultado positivo, pois os
últimos cinco anos (desde a crise financeira) trouxeram um cenário complexo
para as vendas de café brasileiro, que sofreu com a baixa avaliação no mercado
e recentes perdas por causa da seca neste ano.
Gráfico 13: Percepção dos produtores sobre a lucratividade da fazenda
Os produtores explicaram nas visitas que o custo da certificação não é o maior
peso na balança, mas que principalmente os investimentos na fazenda para
cumprir com todas as exigências ambientais e trabalhistas foram os que mais
influenciaram no custo financeiro.
Esse custo afeta normalmente o caixa dos produtores mais no início do processo
e os custos são amortizados ao longo do tempo, já que um produtor com tudo
6 Seria interessante de criar indicadores para que os produtores monitorem esse efeito desde a implantação da certificação UTZ.
19,3%
40,9%
25,0%
14,8% A certificação ajudou bastante a baixar oscustosA certificação ajudou um pouco a baixar oscustosA certificação não fez diferença nos custos
Ao contrario, a certificação causou aumentodos custos de produção
48,9%
18,2%
18,2%
13,6%
1,1%
A fazenda/propriedade gerou lucro e acertificação UTZ contribuiuA fazenda/propriedade gerou lucro, mas acertificação UTZ não contribuiuA fazenda/propriedade não gerou lucro nemperdaA fazenda/propriedade sofreu perdas, apesar dacertificação UTZA fazenda/propriedade sofreu perdas, por causada certificação UTZ
24
regularizado sofre menos risco de obter multas ou passivos devido a processos
trabalhistas, que podem causar custos muito altos.
Já o custo de manutenção das melhorias é considerado menos impactante do
que o custo da própria auditora e dos investimentos iniciais.
Gráfico 14: Percepção dos produtores sobre maior custo da certificação UTZ
Comentários dos Stakeholders:
A vida do produtor melhorou com a certificação, pois ele passa a ter melhor
organização, controle e gestão da fazenda. Os funcionários também sentem
melhorias, pois estão amparados pela legislação. (Auditor)
O principal benefício, de longe para os produtores, é a melhoria da gestão da
propriedade, que impacta na redução de custo na fazenda e num maior
controle das produções. (Consultor)
É possível identificar melhorias devido à certificação, principalmente na parte
da organização da empresa, na melhora visual (higiene e limpeza) e
documental. (Especialista)
Qualidade para atender o mercado
Embora uma maioria dos produtores alega que a qualidade do café não tem
uma relação direta com a certificação UTZ, uma parte dos produtores (43,2%)
considerou o maior cuidado com os lotes devido ao processo de rastreabilidade,
fator que permite separar o café de maior qualidade de lotes de menor
qualidade e tirar lotes com problemas fora da circulação. Essa maior consciência
e cuidado com a qualidade repercute positivamente no preço.
Além disso, exigências do código da UTZ, tais como a análise de risco, o controle
de umidade dos grãos e treinamentos para evitar fungos durante o processo de
pós-colheita influenciou positivamente em uma maior qualidade do produto
final. O que também ficou claro para muitos produtores e stakeholders externos
foi o fato que uma fazenda mais organizada e um terreiro mais limpo diminuem
os riscos de alguma impureza ou contaminação, o que afeta a qualidade dos
22,7%
50,0%
17,0%
10,2% Custo do certificado e auditorias
Custo de implementação da certificação (mudança deprocessos, contratação de funcionários, treinamentos,elaboração de documentos)
Custos de manutenção da certificação
Outros (especifique)
25
grãos. Outro fator que influencia a qualidade do café é o treinamento dos
funcionários que são melhor preparados para o tratamento e processamento do
café.
Comentário produtor:
Algumas ações da certificação tem impacto na qualidade do café, tais como
as ações de higiene e segurança alimentar do café para o controle da
umidade e evitar mofo. No entanto, a qualidade tem ligação também com
fatores ambientais externos, como as questões climáticas.
Gráfico 15: Percepção dos produtores sobre qualidade do café
A melhor organização e limpeza das fazendas foi uma característica citado por
diferentes stakeholders externos. A introdução de processos de gestão não foi
somente uma consequência das auditorias, mas também fruto do engajamento
de uma rede de consultores que apoiam os produtores das cinco regiões e com
os quais a UTZ mantém um relacionamento estreito. Consultores externos foram
em muitos casos contratados pelos produtores para dar apoio a eles para
elaborar todo processo de gestão, já que não tinham conhecimento necessário
para realizar o processo.
O fato de contratar consultores foi visto por alguns produtores como um peso
financeiro que surge como uma necessidade após as auditorias. Foi alegado em
alguns casos que a UTZ somente passa o check-list sem maiores orientações e por
isso alguns produtores sentiram a necessidade de contratar consultores. Esse
custo é alto principalmente para pequenos produtores e diminui a maior inclusão
desse grupo por enquanto.
Apesar de demonstrar um efeito claramente visível na gestão das fazendas, o
impacto que os produtores esperavam obter no mercado não correspondeu
sempre às expectativas.
Agregação de valor no mercado
O item de efeitos na comercialização foi uma das questões mais comentadas
pelos produtores. Essa questão considera os assuntos relacionados ao mercado,
43,2%
34,1%
14,8%
8,0% Hoje o meu café tem maior qualidade, devidoprincipalmente a certificação Utz
Hoje o meu café tem maior qualidade, mas isso tempouca relação com a certificação Utz
Hoje o meu café tem maior qualidade, mas isso não temnenhuma relação com a certificação Utz
Hoje meu café não tem maior qualidade do que antes
26
preço e prêmio, que são importantes para os produtores. Os principais resultados
da pesquisa para essa questão são resumidos nos próximos parágrafos.
A questão de acesso ao mercado e vendas inclui o tema do prêmio UTZ, que se
destacou como assunto mais controverso ao longo da pesquisa. Os produtores
se queixaram de não ter uma visão clara do prêmio7 e muitas interpretações
divergentes surgiram sobre o valor efetivo pago para o café, mostrando que o
prêmio hoje é parte de um processo de negociação onde os intermediários
(cooperativas e empresas de exportação) tem ainda uma influência maior do
que os próprios produtores.
Na opinião de mais de 60% dos produtores entrevistados, a certificação UTZ
contribuiu para uma maior estabilidade nas vendas do café. Essa porcentagem
é um pouco maior quando os produtores afirmam se a UTZ ajudou a diversificar
os canais das vendas. Mas vale destacar que uma parte significativa dos
produtores ainda não viu nenhum efeito neste sentido ou até contradiz,
afirmando que a UTZ não tinha contribuído para melhoria dos canais de vendas.
Esse fato reflete uma situação que merece atenção: O controle e a influência do
produtor UTZ sobre a cadeia de valor e sobre as decisões de venda do café ainda
é baixo. Existe ainda uma situação de dependência de intermediários, como
traders ou as cooperativas, exceto no caso de algumas empresas grandes que
exportam o café diretamente, sem apoio de armazéns ou cooperativas.
Gráfico 16: Percepção dos produtores se a certificação UTZ contribuiu para maior
a estabilidade nas vendas
Gráfico 17: Percepção dos produtores se a UTZ possibilitou a diversificação de
canais de venda
7 Em alguns casos, os participantes reconheceram o valor do prêmio como sendo R$ 3,00-5,00 por saca, mais acharam o valor muito baixo.
12,5%
47,7%
21,6%
11,4%
6,8%
Concordo fortemente
Concordo
Não concorde nem discordo
Discordo
Discordo fortemente
27
Vale destacar que no quesito da lealdade dos compradores, não teve objeções
da parte dos entrevistados. 62,5% acreditam que a certificação trouxe
relacionamentos de longo prazo, e nas entrevistas os produtores deixaram claro
que na visão deles, a demanda de produtos certificados em sustentabilidade
cresce a cada ano, embora não seja decisivo se a certificação seja UTZ ou uma
das outras reconhecidas pelo mercado.
Gráfico 18: Percepção dos produtores sobre relacionamento de longo prazo
Outro ponto identificado foi em relação à situação financeira da fazenda. Pode-
se perceber que essa questão não é um consenso entre os CHs, pois 47,7% dos
produtores (soma dos que concordam fortemente e concordam) acreditam que
a certificação contribuiu de alguma forma na melhoria da situação financeira
da fazenda, mas 28,4% não concorda e nem discorda, e 23,8% não concorda
com a afirmação de que a certificação UTZ contribuiu para melhorar a situação
financeira das fazendas.
Nas visitas de campo foi possível aprofundar essa questão, e a conclusão a qual
se pode chegar é que a certificação UTZ contribuiu para controlar em alguns
casos os custos de produção, e isso colaborou para a melhoria da situação
financeira das fazendas (como foi constatado acima nessa seção). No entanto
10,2%
55,7%
10,2%
13,6%
10,2%Concordo fortemente
Concordo
Não concorde nem discordo
Discordo
Discordo fortemente
42,0%
20,5%
14,8%
22,7%
A certificação UTZ contribuiu fortemente para promover orelacionamento de longo prazo, pois a maioria dos meuscompradores estão comigo ha um tempo significativo
A certificação UTZ contribuiu parcialmente para promover orelacionamento de longo prazo, pois alguns doscompradores não estão mais comigo
A certificação UTZ não contribuiu para promover orelacionamento de longo prazo, pois a maioria doscompradores não estão comigo ha um tempo significativo
Nenhuma das opções apresentadas refletem a minharealidade
28
não se pode dizer que a certificação UTZ aumentou as receitas das fazendas de
café de forma generalizada.
Gráfico 19: Percepção dos produtores se a situação financeira da fazenda
melhorou devido à certificação UTZ
Um dos principais pontos identificados que mostram a divergência de opiniões
apresentada acima, está relacionado à questão do prêmio. Este foi o assunto
mais polémico e apontado na grande maioria das entrevistas como principal
desafio para UTZ.
Em relação ao prêmio recebido com a venda do café certificado UTZ, para uma
grande parte não foi possível identificar qual é a quantia do prêmio, pois muitos
produtores não conseguem identificar esse valor, apesar de alguns produtores
terem lembrado um valor de R$ 3,00 por saca, enquanto outros falaram de R$
4,00 ou 5,00.
Muitos produtores apontaram que a negociação com intermediários
(cooperativas, corretoras e empresas exportadoras), ainda não é muito clara e
transparente. De acordo com os produtores, quando se fecha o valor da compra
com a cooperativa, corretora ou exportadora, fecha-se o valor final da compra
e não é apresentada a distinção do que é valor do prêmio e o que é valor pago
pelo café. No entanto, para aqueles que vendem diretamente para o
comprador, esse valor é perceptível e fácil de identificar.
Depoimentos de produtores em relação ao prêmio:
Não ficamos sabendo. A exportadora comercializa e nós não temos acesso a
esses dados.
O prêmio existe e é fácil de saber por que a venda é direta por meio de uma
empresa que faz parte do grupo da fazenda.
No começo não percebia o ágio, mas hoje tem. No entanto não sei qual é o valor
exato, não é muito claro na negociação.
Não sei ao certo, mas o prêmio é baixo. Quando vendemos pela cooperativa não
sabemos qual foi o valor agregado pela UTZ.
6,8%
40,9%
28,4%
13,6%
10,2%Concordo fortemente
Concordo
Não concorde nem discordo
Discordo
Discordo fortemente
29
Não consegui identificar em 2013, o mercado estava muito abaixo. Em 2014, o
prêmio foi de 4 a 5 reais por sacas.
Vendemos o café todo como UTZ, com certeza a certificação UTZ nos ajudou a
abrir portas no mercado, mas não conseguimos prêmio, pois o preço do café
estava muito abaixo da média.
O valor de R$ 3,00 de prêmio não faz tanta diferença não, mesmo quando é um
pouco maior nas compras futuras. O que ganhamos com os prêmios não cobre
nem um programa implementado para os trabalhadores.
Hoje, o custo da certificação não garante um diferencial muito grande, pois estão
pagando pouco (ágio) pelo tanto que se exige.
Depoimento do representante da UTZ Certified em relação ao prêmio:
“Na teoria de mudança da UTZ o CH negocia o prêmio com o primeiro comprador.
Grande parte do comércio e exportação de volumes UTZ ocorre, dentro do que
chamamos de vendas a termo e futuras, aonde é dada a oportunidade de cobrir os
custos de produção para um dado produtor ou exportador, mas as questões do
hedging do câmbio e do diferencial de Nova York são complexas e logicamente
melhor dominadas pelos traders. Está é uma das razões que explicam que até mesmo
médios e grandes produtores não entendam estes mecanismos e julguem com pouca
transparência o repasse dos prêmios. Muitas vezes, a oportunidade de um bom preço
no mercado a termo é melhor que o prêmio em si, mas isto não é valorizado pelo
produtor.
A função principal da UTZ é gerar demanda por produtos sustentáveis além de
impactos da implementação da certificação em si. Entrar em certificação somente
pela ótica do prêmio é um dos maiores erros que tenho visto nos últimos 10 anos. Por
outro lado, conhecer seus custos de produção e exercer a venda baseado neles e
cobrir com margem de segurança estes custos, sem especular, além de sempre ser
chamado para mercado futuro, são os fatores mais importantes.
Nosso desafio aqui é de continuar a beneficiar o produtor pelos impactos e nos
tornarmos cada vez mais um código de gerenciamento e agronômico com melhores
práticas, além de reconhecer as entidades que trabalham com isto há algum tempo.”
5.3 Melhores condições de trabalho
A categoria “Melhores condições de trabalho” da Teoria de Mudança engloba
as questões:
Funcionários mais qualificados e motivados;
Direitos dos trabalhadores8
8 Inclui cumprimento legal nos contratos de trabalho, pagamento de horas extras, liberdade de associação e negociação coletiva assim como cumprimento com os salários mínimos legais e cobertos pelos acordos coletivos com os sindicatos de trabalhadores
30
Qualidade de vida decente.
Nas fazendas certificadas UTZ no Brasil, até junho de 2014, existiam 25.480
trabalhadores, sendo 10.413 permanentes, 11.051 temporários e 4.016 morando
nas fazendas.
Tabela 4: Número total de Trabalhadores nas fazendas de café certificadas UTZ
no Brasil
Trabalhadores # Trabalhadores
Trabalhadores permanentes 10.413
Trabalhadores temporários (sazonais) 11.051
Trabalhadores on site 4.016
Total 25.480
Para a avaliação dos efeitos da certificação UTZ foram entrevistos 57
trabalhadores permanentes. O número de trabalhadores entrevistados não é
muito expressivo se comparado com o valor total de trabalhadores, no entanto
a opinião dos entrevistados foi bastante similar em todas as regiões, sendo
possível identificar conclusões e efeitos da certificação para os trabalhadores.
Funcionários mais qualificados e motivados
Em relação a funcionários mais qualificados e motivados, 100% dos trabalhadores
mencionaram que sua capacidade técnica para realizar suas atividades
melhorou devido aos treinamentos. Ficou evidenciado também que a
certificação UTZ estimulou bastante a realização de treinamentos: Em 2013, 100%
dos trabalhadores realizaram os treinamento obrigatórios da UTZ, como
aplicação de defensivos, manuseio de equipamentos perigoso e primeiro
socorros.
Além disso, grande parte dos trabalhadores também realizaram outros tipos de
treinamentos como trabalho em espaço confinado, trabalho em altura, uso de
caldeiras, uso de ferramentas, entre outros. A maioria desses treinamentos são
realizados em parceria com o SENAR, entidade do governo bastante próxima e
acessível aos produtores e trabalhadores.
31
Gráfico 20: Tipos de treinamentos realizados pelos trabalhadores
Direitos dos trabalhadores
Na a questão remuneração, os principais resultados encontrados apontaram que
a certificação UTZ não trouxe aumento direto de salários para os trabalhadores
das fazendas de café, tanto trabalhadores fixos como safristas. De acordo com
as entrevistas de campo, a maior parte dos trabalhadores temporários recebe
somente o salário mínimo como previstos para um trabalhador rural da região
local, e essa questão não se alterou nos últimos anos.
No entanto pode-se dizer que de forma indireta a certificação UTZ trouxe
aumentos nos salários dos trabalhadores devido às adequações salariais
conforme a lei, como por exemplo pagamento correto de horas extras e por tipos
de trabalho rural.
Qualidade de vida
Para a análise do tema qualidade de vida decente foram considerados três
aspectos:
- Regularização trabalhista através de emissão de carteira de trabalho9;
- Condições de saúde e segurança do trabalho10; e
- Benefícios da certificação UTZ.
9 Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS): documento que registra as atividades do cidadão enquanto trabalhador. É obrigatória a todos os trabalhadores, seja em atividades ligadas ao comércio, indústria, agricultura, pecuária ou de natureza doméstica. A Carteira de Trabalho garante ao cidadão os principais direitos trabalhistas. A CTPS pode ser solicitada por pessoas com idade a partir de 14 anos, considerando que a contratação de menores dos 14 aos 16 anos deve pertencer à categoria de aprendiz. 10 Condições de saúde e segurança do trabalho: A segurança do trabalho pode ser entendida como os conjuntos de medidas que são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador. No Brasil, a Legislação de Segurança do Trabalho compõe-se de Normas Regulamentadoras, leis complementares, como portarias e decretos e também as convenções Internacionais da Organização Internacional do Trabalho, ratificadas pelo Brasil.
Aplicação dedefensivos para
todos osaplicadores
Manuseio deequipamentos
perigosos(trator,
motosserra, etc)
Primeirossocorros
Outros Conscientizaçãosobre período de
carências paratodos os
funcionários
Nenhum
100% 100% 100%
46% 46%
0,0%
Tipos de treinamentos nos últimos 12 meses
32
Essa questão foi mais focada nos trabalhadores das fazendas, pois para os
produtores, como são na maioria grandes produtores, essa questão já está bem
resolvida sendo a maioria donos de grandes propriedades com padrão de vida
avançado.
Portanto, para ampliar a visão do estudo, foram entrevistados também 57
trabalhadores fixos das fazendas. A maioria dos trabalhadores são homens,
representando 96,5% dos trabalhadores entrevistados, e todos entrevistados
mencionaram que conhecem a certificação UTZ.
Regularização trabalhista
O primeiro ponto de análise da questão “Qualidade de vida decente” é a
regularização trabalhista. Essa questão é bastante checada pelas autoridades
do governo, muitas fazendas são conferidas pelo Ministério Público do Trabalho
(MPT)11 em relação a norma NR3112. Essa norma aborda a questão de saúde e
segurança no trabalho rural. Para muitos, a regulamentação é bastante exigente
e é considerada umas das mais rigorosas do mundo.
Em primeiro lugar, constatamos que as auditorias ajudaram a regularizar as
relações de trabalho com os trabalhadores. Isso resultou no fato que 100% dos
trabalhadores entrevistados disseram que possuem carteira de trabalho
assinada.
Essa questão ficou bastante clara também para os produtores. Todos assinam a
carteira de trabalho de todos os funcionários, tanto dos fixos quanto dos safristas.
Essa regularização é exigida pela certificação UTZ, mas como é uma lei no Brasil
bastante fiscalizada pelo Ministério Público do Trabalho, alguns produtores
certificados UTZ destacaram que já estavam em conformidade com esse quesito
antes de aderir a certificação (gráfico 21).
Podemos dizer que a certificação “obrigou” as empresas a formalizarem as
relações trabalhistas assim como cumprir com as exigências de convenções
coletivas que antes não eram respeitadas. Com as constantes qualificações e
treinamentos realizados, certas funções e empregados da empresa se tornaram
imprescindíveis e com isso as empresas tiveram de adequar as condições salariais
11 Ministério Público do Trabalho (MPT): O Ministério Público do Trabalho, um dos ramos do Ministério Público da União, é uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do estado. O Ministério Público do Trabalho atua como árbitro e mediador em conflitos trabalhistas coletivos, que envolvem trabalhadores e empresas ou entidades sindicais que os representam. Também atua, por exemplo, no combate ao trabalho escravo e infantil, e na fiscalização do trabalho de adolescentes e índios. 12 A Norma Regulatório (NR) 31 é uma norma de Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura: Estabelece os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura com a segurança e saúde e meio ambiente do trabalho.
33
de acordo com a lei e tipo de trabalho e benefícios, afim de manter esta mão
de obra qualificada.
Na pesquisa de campo foi possível entender a opinião dos entrevistados sobre
esse assunto. Foi possível identificar que, apesar de 100% dos trabalhadores já
possuírem carteira de trabalho assinada antes da certificação, a UTZ ajudou as
fazendas em algumas questões, principalmente na organização e controle da
gestão trabalhista. Muitos produtores mencionaram que já seguiam a legislação
trabalhista, mas com a certificação UTZ, a documentação ficou mais atualizada
e organizada, ajudando no controle e registro de horas extras, dissídios e horas
“in itinere” (de trajeto). Além disso, foi mencionado que a certificação UTZ auxiliou
na divulgação de procedimentos do trabalho, ou seja, como o trabalho deve ser
executado com segurança, e ajudou no alinhamento necessário das questões
trabalhistas, como direitos dos trabalhadores em relação a salário, férias e
benefícios.
A divergência de opinião no gráfico abaixo ocorreu, porque a grande maioria
percebeu os benefícios mencionados acima quando aderiram à certificação
UTZ, no entanto para as fazendas maiores e mais estruturadas, essas questões
trabalhistas já estavam bem consolidadas antes de aderir à certificação.
Gráfico 21: Percepção dos produtores se a certificação contribuiu para
regularizar a situação trabalhista dos trabalhadores
No entanto, um ponto importante mencionado por muitos produtores e
stakeholders externos foi que no Brasil, apesar da lei ser bastante rígida, ainda
existem muitos problemas associados às questões trabalhistas no meio rural. Eles
confirmaram que muitas fazendas não certificadas não estão em conformidade
com a lei e são bastante autuadas pelo Ministério Público do Trabalho,
principalmente por não assinarem carteira de trabalho, ocorrendo com
frequência na época de safra.
Para os trabalhadores, a falta de um registro do trabalho na carteira, implica na
perda de uma série de benefícios como acesso a serviços de saúde públicos,
perda da contribuição ao seguro social e perda de diferentes diretos como
seguro-desemprego, fundo de garantia, férias e o pagamento de horas extras
pelo devido valor.
19,1%
38,2%13,5%
15,7%
13,5%Concordo fortemente
Concordo
Não concorde nem discordo
Discordo
Discordo fortemente
34
Em relação a multas de ações trabalhistas, muitos produtores mencionaram que
nunca foram multados ou se foram, foi uma vez ou outra devido a uma questão
pequena relacionada à norma NR3113. Mas muitos entrevistados mencionaram
que sua credibilidade aumentou na região, principalmente em relação à
atuação das equipes do MPT, que hoje quase não visitam mais as fazendas
certificadas, pois sabem que a certificação exige que elas sigam a lei.
A percepção dos entrevistados em relação a ações trabalhistas14 é similar. Muitas
fazendas nunca tiveram ações trabalhistas, mas as que tiveram mencionaram
que a certificação UTZ auxilia no controle dessas ações e ainda contribuiu um
pouco na redução delas, principalmente em relação à horas “in itinere”, hora de
almoço e hora extra com os safristas, já que com a certificação estas questões
ficaram organizadas e controladas.
Comentários de stakeholders:
Em fazendas certificadas a situação trabalhista e adequação a NR31 estão
melhores e mais adequadas. Mas ainda existem questões que precisam ser
melhoradas em relação a NR31. De qualquer forma percebe-se uma diferença
em relação às condições trabalhistas entre as fazendas certificadas e as não
certificadas da região. (Consultor)
A situação trabalhista dos trabalhadores rurais, em fazendas que não são
certificadas, ainda não está de acordo com a lei, principalmente para os
safristas. As principais questões que não estão de acordo é assinatura de
carteira de trabalho (para os safristas) e uso de EPI. (Sindicato)
O trabalho infantil não existe mais na produção de café, o principal problema
mesmo é o registro de safristas na carteira de trabalho, mas isso ocorre nas
fazendas não certificadas. (Sindicato)
Não é possível afirmar que a certificação adequou as fazendas em relação às
leis trabalhistas, pois os produtores, quando entraram para a certificação, já
estavam adequados, mas é possível afirmar que a certificação ajuda a manter
a fazenda de acordo com a lei. (Auditor)
É possível perceber que em algumas regiões, fora da certificação UTZ há ainda
bastante fazendas que estão fora da lei trabalhista, com funcionários sem
carteira e sem uso de EPI15. (Consultor)
Com a certificação UTZ, os produtores conseguem demonstrar conformidade
para fiscais do trabalho. (Especialista)
13 Veja nota 8 sobre a NR31. Além da NR31 se aplica também a Consolidação das leis trabalhistas (CLT – veja nota 16) e a lei 5.889 sobre o trabalho rural. 14 Ação trabalhista: O processo trabalhista está relacionado com o incumprimento de alguma norma estabelecida pela legislação trabalhista. Algumas das normas estabelecidas pelo Código Civil são aplicadas no âmbito do trabalho, e quando alguma dessas normas é quebrada, pode ser instaurada uma ação trabalhista. 15 EPI: Equipamento de Proteção Individual.
35
Do lado dos funcionários também existe uma maior conscientização, deixando
mais claro para eles quais as questões obrigatórias pela lei e quais os benefícios
aos quais eles tem direito.
Apesar de algumas vezes ocorrerem ações trabalhistas, 100% dos trabalhadores
entrevistados disseram que não existem necessidades para tratativa de questões
de direitos trabalhistas16 nas fazendas certificadas neste momento.
Comentários de stakeholders:
A certificação pode sim diminuir essas ações, pois a certificação é uma
garantia que a fazenda está seguindo a lei, então previne que questões como
essas ocorram. (Entidade do governo)
Após a certificação percebi uma diferença na forma que somos abordados
pelo MPT, além de receber bem menos visitas, pois o MPT sabe que na fazenda
está tudo em ordem. (Produtor)
Quando veem que a fazenda é certificada, tem-se a impressão de que ela está
fazendo tudo direitinho. (Consultor)
Fazendas certificadas são facilmente identificáveis quando são visitadas. O
grau de organização, a identificação das estruturas e das lavouras são
facilmente percebidos. (Especialista)
Condições de saúde e segurança de trabalho
Em relação a saúde e segurança do trabalho, foi identificado que 100% dos
trabalhadores consideram que as condições do ambiente de trabalho estão
adequadas, e que 100% dos trabalhadores também estão satisfeitos com as
condições de trabalho das fazendas.
As principais considerações apontadas por eles foram que a certificação UTZ
contribuiu muito para melhorar as condições do ambiente de trabalho,
principalmente na limpeza da fazenda, coleta seletiva, sinalização e instalações
das fazendas, como sanitários e refeitórios. Além desses pontos, muitos
trabalhadores afirmaram que a certificação colaborou bastante para melhoria
estrutural das casas dos funcionários, as quais foram reformadas e adequadas,
com - por exemplo - a construção de fossas sépticas.
16 Direitos Trabalhistas: principais direitos trabalhistas no Brasil: seguro-desemprego, benefícios da Previdência Social e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
36
Gráfico 22: Satisfação dos Trabalhadores com as condições de trabalho
Outro ponto bastante relevante de saúde e segurança foi que tanto para os
trabalhadores como para os produtores, a certificação UTZ contribuiu muito para
o uso dos Equipamentos de Proteção Individual, os EPIs. Isso pode ser
demonstrado pelo fato de que 100% dos trabalhadores afirmam utilizar o EPI
corretamente todas as vezes. De igual forma, mais de 95% dos trabalhadores
afirmam que o número de acidentes na fazenda diminuiu e que no último ano
não sofreram acidentes graves de trabalho.
Todas estas questões são fortemente relacionadas à certificação UTZ,
principalmente devido a cobrança do uso de EPI, adequação das questões de
segurança nas correias e máquinas e treinamentos e capacitações. Aqueles
produtores que tentaram implantar o uso de EPI por seus funcionários antes da
certificação, disseram que a certificação lhes conferiu maior credibilidade para
exigirem de seus funcionários o uso contínuo dos equipamentos de segurança.
Gráfico 23: % dos Trabalhadores que sofreram acidentes no último ano
47,4%
52,6%
0,0%0,0%
Muito Satisfeito
Satisfeito
Pouco Satisfeito
Insatisfeito
3,5%
96,5%
Sim
Não
37
Gráfico 24: Percepção dos trabalhadores sobre aumento de acidentes de
trabalho nos últimos 2 anos
É importante dizer que todas estas questões também foram apontadas pelos
produtores, dos quais 46,1% concordaram fortemente e 50,6% concordaram com
a afirmação de que a certificação UTZ contribuiu para melhorar as condições de
saúde e segurança dos trabalhadores.
Gráfico 25: Percepção dos produtores se condições de saúde e segurança
melhoraram
As principais melhorias de Saúde e Segurança destacadas pelos entrevistados
foram aumento no uso de EPI, principalmente devido a conscientização dos
funcionários e respeito às regras, exames admissionais, exames médicos
periódicos, adequação das instalações e estruturas da fazenda como sanitários,
refeitórios, vestiários, lavatórios de EPI, cômodo de químicos, proteção das
correias e treinamento de funcionários no uso de equipamentos e máquinas.
Comentários dos stakeholders:
A certificação UTZ serviu de ferramenta para disseminação das informações
de saúde e segurança no trabalho. (Produtor)
Antes já existiam as condições necessárias para os funcionários, mas com a
certificação essa infraestrutura melhorou, teve ampliação das estruturas,
como higiene dos ambientes de trabalho. (Consultor)
A certificação ajudou muito a organizar a fazenda, que agora atende a
normativa de segurança, então possuímos refeitórios, sanitários, cômodos de
defensivos específicos, vestiários, ponto de caldas, proteção das correias,
polias, escadas e passarelas. (Produtor)
Com a certificação os trabalhadores passaram a usar mais EPI, e os donos das
fazendas tomam mais cuidado com uso correto dos EPI, e garantem a data
de validade. Antes eram mal usados e não tinham controle, hoje em todas as
0,0% 3,5%
96,5%
Aumentaram
Permaneceram igual
Diminuiram
46,1%
50,6%
0,0% 3,4%0,0%
Concordo fortemente
Concordo
Não concorde nem discordo
Discordo
Discordo fortemente
38
atividades os trabalhadores usam EPI, até mesmo nas menos perigosas.
(Auditor)
A certificação traz mais força para monitoramento da segurança de trabalho,
os médios e grandes produtores possuem técnicos de saúde segurança e
programa de riscos de trabalho que monitoram o uso do EPI e de aspectos de
segurança nas fazendas. (Consultor)
As normas não vão além da legislação brasileira, mas a certificação contribui
e promove a adesão à legislação por estes fazendeiros. (Entidade do
governo)
Com a certificação o produtor conseguiu ter mais força para garantir o uso
do EPI, pois dizia que era uma obrigação ‘de fora’ da fazenda, um requisito
que precisava seguir para manter a certificação e caso o trabalhador não
quisesse usar, ele teria que deixar o trabalho na fazenda. (Produtor)
Antes da UTZ, os funcionários não tinham costume ou o compromisso de seguir
normas; achavam que não era importante. Mas agora, seguir as normas já
virou tradição. A implantação foi mais complicada, mas hoje em dia eles já
internalizaram o cumprimento das normas. (Produtor)
A certificação UTZ trouxe benefícios aos trabalhadores?
70% dos trabalhadores acreditam que a certificação UTZ trouxe bastante
benefícios para eles, e 30% dizem que a certificação trouxe alguns benefícios. Os
principais benéficos destacados foram as reformas nas casas dos trabalhadores
que moram nas fazendas, melhora das questões de saúde e segurança do
trabalho, como correias nas máquinas, sinalizações e aumento do uso de EPIs,
investimentos em equipamentos, realização de muitos treinamentos, adequação
das instalações da fazenda, como refeitório, sanitários e EPI adequados. Além
disso, a certificação UTZ ajudou na melhora da relação entre o dono da fazenda
e os trabalhadores, que ficaram mais próximos uns dos outros, melhorando a
convivência entre os funcionários, aumentando o conhecimento dos
trabalhadores sobre o trabalho e processos da fazenda.
Dessa forma, percebe-se que os benefícios para os trabalhadores estão bastante
ligados ao trabalho, voltados principalmente para questões de saúde e
segurança. A única questão mais associada ao bem estar do trabalhador e
qualidade de vida é a reforma das casas, mas isso ocorre somente para
funcionários que moram nas fazendas, que hoje é a minoria. Assim não se pode
afirmar que a certificação UTZ por si só garante condições de vida mais decentes
para todos os trabalhadores, mas que garante condições decentes de trabalho.
Gráfico 26: Percepção dos trabalhadores se a certificação trouxe benefícios
39
A questão dos benefícios da certificação UTZ também foi colocada para os
produtores e para 94,4% deles, a certificação UTZ trouxe benefícios para os donos
das fazendas, para 93,3% trouxe benefícios para os trabalhadores fixos e para 64%
para os trabalhadores temporários.
Para os produtores, os benefícios da certificação relacionados aos trabalhadores
também estão bastante ligadas às questões de saúde e segurança do trabalho,
sendo considerados unanimes os mesmos pontos mencionados anteriormente
pelos trabalhadores. A diferença entre trabalhadores fixos e safristas é que os
safristas ficam pouco tempo nas fazendas e rodam muito de um ano para o
outro, e por isso não são tão atingidos pelos benefícios da certificação. Nos anos
recentes, atividades de controle mais intensos dos órgãos públicos ajudaram e
melhor cobrir os safristas e foi criada a modalidade de contrato de safra que
permite a contratação temporária de trabalhadores rurais e garante todos os
benefícios da CLT17 para eles durante o tempo da contratação.
Já para os produtores os principais benefícios identificados foram principalmente
a gestão do negócio e organização da fazenda. A grande maioria mencionou
que a certificação UTZ contribuiu para o produtor ter um maior controle do
negócio, possibilitando alcançar melhor qualidade do produto e gestão de
custo. Outros pontos bastante mencionados foram que a certificação trouxe
maior credibilidade perante aos órgãos fiscalizadores, contribuiu para
engajamento e profissionalização dos funcionários, conseguindo obter a
disciplina deles, além de criar um ambiente de trabalho e fazenda mais limpos.
No gráfico 27 abaixo, os grupos classificados como outros beneficiados são os
consumidores, devido á possibilidade de ter produtos com melhor qualidade no
mercado e mais confiáveis.
17 CLT - Legislação Trabalhista Brasileira: As leis trabalhistas no Brasil estão consolidadas na CLT (Consolidação das Leis do trabalho): São as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho. Os capítulos da CLT englobam: Segurança no local de trabalho; horas de trabalho, o salário mínimo e as férias; saúde do trabalhador; tutela do Trabalho; nacionalização do trabalho; proteção para as mulheres e crianças trabalhadoras; os contratos individuais de trabalho; negociações e organizações sindicais; contribuição Sindical. A CLT também fornece a estrutura para o sistema de tribunais de trabalho brasileiro e agências relacionadas e estabelece normas para processos trabalhistas.
70,2%
29,8%
0,0% 0,0%
Sim, bastante benefícios
Poucos benefícios
Não, nenhum benefício
Não sei
40
Gráfico 27: Percepção dos produtores sobre beneficiados pela certificação UTZ
Comentários dos stakeholders:
Os trabalhadores fixos são os mais impactados, porque têm mais treinamentos.
(Produtor)
Em relação a questões sociais, os trabalhadores foram beneficiados pela
certificação, pois os ambientes de trabalho estão melhores e os funcionários
também passam por treinamentos, mas em relação a salários, a certificação
não garante um salário melhor para os trabalhadores. (Auditor)
Para o dono da fazenda, além da organização na estrutura da fazenda, o
produto dele torna-se mais competitivo, pois a certificação é um diferencial e
permite que ele negocie. (Especialista)
Para os trabalhadores, a certificação possibilita a qualificação da mão de
obra com treinamentos e as várias questões de saúde e segurança, tais como
uso do EPI, acesso a um profissional de medicina do trabalho, etc. (Consultor)
A melhoria nas condições para os trabalhadores é nítida nas questões da
segurança, na conduta e no uso de equipamentos. É outro mundo comparado
com as fazendas não certificadas. (Consultor)
5.4 Maior cuidado com a natureza
A categoria da Teoria de Mudança de “maior cuidado com a natureza” engloba
principalmente três questões:
- Biodiversidade mais protegida;
- Recursos Naturais protegidos; e
- Redução de emissões de GEE.
Apresentamos os resultados por subitem nas próximas seções.
Recursos naturais protegidos
94,4%
93,3%
64,0%
38,2%
9,0%
2,2%
Dono da fazenda/propriedade
Funcionários fixos da fazenda/propriedade
Funcionários temporários da fazenda/propriedade
Comunidade do entorno da fazenda
Outros (quais)
Nenhum deles
41
Na questão de melhorias das condições ambientais, mais de 90% dos
entrevistados apontaram que a certificação UTZ ajudou de alguma forma na
contribuição de melhorias ambientais.
No entanto para esse tema é difícil de mensurar quantos desses efeitos são
causados somente devido a certificação UTZ, pois muitos dos produtores
possuem outras certificações que também cobram questões ambientais. Além
disso, os entrevistados deixaram claro que existe um grande potencial de
melhorar os aspectos ambientais da certificação e que a parte ambiental da UTZ
não é tão intensa como em outros sistemas de certificação.
Gráfico 28: Percepção dos produtores sobre melhorias das condições ambientais
Biodiversidade mais protegida
Para a questão de “Biodiversidade mais protegida” e “Recursos Naturais mais
protegidos”, os principais benefícios destacados pelos produtores foram em
relação a proteção das minas e nascentes, recuperação de mata ciliar, Área de
Proteção Permanente (APP) e Reserva Legal. O trabalho de adequação das
áreas de proteção está relacionado com o Código Florestal brasileiro: A
certificação exigiu que as empresas caminhassem em direção a conformidade
desta lei, assim como para realização do cadastro que serve como declaração
das áreas destinadas a proteção.
Dessa forma foi possível identificar que as melhoras ambientais estão bastante
relacionadas às questões de legislação do Brasil. No entanto, outros pontos
também foram levantados pelos entrevistados, como aumento da vegetação,
melhoria da qualidade do solo, retorno de animais, restauração de habitats
naturais e redução de resíduos.
Gráfico 29: Percepção dos produtores sobre melhorias na biodiversidade devido
a certificação UTZ
49,2%
44,3%
4,9% 1,6%
Houve melhorias significativas
Houve algumas melhorias
Houve poucas melhorias
Não houve nenhuma melhoria
42
Redução de emissões GEE
Para os produtores entrevistados não é possível identificar de forma direta a
contribuição da UTZ para diminuição das emissões de GEE. No entanto percebeu-
se uma melhor gestão dos usos de insumos e fertilizantes, o que impacta
diretamente no volume de emissões, apesar de não ser possível ter o valor
quantitativo dessa redução.
Ainda na esfera ambiental, o uso mais consciente de agroquímicos e fertilizantes,
manuseio e estoque e descarte de embalagens foram os critérios ambientais
mais significativos que a certificação UTZ trouxe para as fazendas de café. Para
todos esses itens, mais de 70% dos entrevistados confirmaram esse benefício.
Enquanto o descarte correto de embalagens hoje é prescrito pela legislação, as
outras práticas são boas práticas agrícolas e foram incentivados pela
certificação UTZ. Vale a pena dizer que o melhor manuseio e a correta dosagem
tiveram impactos positivos nos custos da fazenda também.
Gráfico 30: Percepção dos produtores sobre melhorias em relação a agrotóxicos
35,7%
35,7%
32,1%
32,1%
32,1%
17,9%
7,1%
Aumenta da vegetação
Melhor qualidade da terra/solo
Retorno de animais ao redor
Restauração de habitats natural
Redução de resíduos
Nenhum
Outros (quais, especifique abaixo)
43
Entre outros efeitos positivos ambientais, podemos inserir também a maior
eficiência no uso de agua e energia já constatado na seção 5.2, e a disposição
de correta de resíduos sólidos (ver Gráfico 11).
De maneira geral, constamos que existe uma oportunidade para UTZ de melhorar
ainda o desempenho na gestão ambiental. Os produtores hoje são direcionados
a cumprir normas legais, porém não se despertou de forma impactante que
produtores façam além do que a lei exige. Ou seja, o despertar da proteção
ambiental “de dentro para fora” ainda é um passo que a UTZ poderia alcançar.
Muitos produtores entrevistados afirmaram que seu comprometimento ambiental
está diretamente relacionado ao cumprimento da lei. Muitos produtores
indicaram que faziam somente o mínimo exigido e nada mais. Certamente há
produtores que fazem além do que a lei exige, porém foi notado durante as
entrevistas que este grupo é uma minoria.
Comentários de stakeholders:
Apesar de as leis ambientais serem muito rigorosas, os produtores têm
conseguido cumpri-las e a certificação os ajuda nisso. Dentro do seu código, a
UTZ estabelece critérios que fazem com que o produtor siga as normas (ex.
preservar nascentes, APPs etc.) (Comprador) Através do seguimento das normas da certificação, o produtor aumenta
invariavelmente a sua flora e fauna (expl. APPs, reservas legais, matas ciliares
etc.) (Consultor)
É possível perceber algumas melhorias ambientais, no entanto essa é uma
questão que a UTZ ainda não foca muito, o protocolo não cobra muito isso dos
produtores, este item poderia ser melhorado. (Auditor)
É tênue a ligação da UTZ com as questões ambientais. A certificação só
resolveu as questões de APP e reserva legal de nascente, mas não é o ponto
forte da UTZ, pois os pontos não são muito checados pela auditoria. (Consultor) É bastante claro que há uma melhoria nas questões ambientais quando a
fazenda é certificada num grau mais alto do que as fazendas não certificadas.
A norma obriga à propriedade propor projetos de melhoria em várias áreas.
(Entidade do governo)
74,1%
74,1%
70,4%
70,4%
66,7%
11,1%
0,0%
Nocividade
Descarte de embalagens
Dosagem correta de agrotóxico (volume por ha)
Manuseio e estoque
Praticas de aplicação (manual ou trator)
Outros (quais, especifique abaixo)
Nenhum
44
A certificação ajuda na conservação da biodiversidade na medida em que
busca preservar áreas nativas, nascentes, formar corredores ecológicos – e na
medida que promove a manutenção ou reposição da vegetação nativa.
(Indústria) Além de todo o cuidado no uso, armazenamento e descarte dos produtos,
nota-se uma preocupação com o uso de produtos menos agressivos. A
certificação prima por usar produtos com menor grau de toxicologia.
(Especialista) Este ponto deve ser melhor trabalhado, pois o produtor deve entender que vai
aumentar a retenção de água no solo e economizará mais. (Organismo de
certificação)
Esta questão já está sendo aprimorada no novo código da UTZ, que terá mais
foco na questão da água e biodiversidade. (Organismo de certificação)
5.5 Maior cuidado e preocupação com a próxima geração
A categoria “Maior cuidado e preocupação com a próxima geração” engloba
três critérios:
- Crianças nas Escolas;
- Melhor Saúde; e
- Investimentos em serviços básicos.
No Brasil tanto a educação infantil quanto o acesso a serviços de saúde, são
oferecidos gratuitamente para a população. Dessa forma, para todas essas
questões não foi possível identificar efeitos significativos da certificação UTZ, já
que todos funcionários entrevistados utilizavam o serviço de saúde pública,
chamado Sistema Único de Saúde (SUS)18, e seus filhos tem acesso a educação
infantil nas escolas públicas das regiões.
Crianças nas escolas
Porém, ainda em relação a Crianças nas Escolas, os trabalhadores entrevistados
afirmam que, apesar de não ter ações concretas significativas de fomento à
educação por parte dos produtores, estes incentivam bastante os funcionários a
colocarem os filhos nas escolas públicas. Além disso, existe também uma atenção
destes com relação a temas de ordem trabalhista, como o trabalho infantil,
sempre foi uma questão primordial na gestão da fazenda.
Gráfico 31: Percepção dos trabalhadores sobre incentivo à educação
18 Sistema Único de Saúde (SUS): Sistema de saúde público brasileiro. O SUS foi criado pela Constituição Federal Brasileira em 1988 e é constituído pelo "conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público.
45
Melhor saúde
Em relação a saúde, no Brasil todos os trabalhadores com carteira assinada tem
acesso a saúde pública gratuita, porém uma grande parte não tem assistência
em nível mais avançado e é de conhecimento geral que os serviços públicos são
precários no Brasil.
Essa constatação também ocorre na esfera dos produtores e trabalhadores das
fazendas de café. Todos os trabalhadores entrevistados possuem assistência
médica devido ao acesso a serviços públicos de saúde, e não devido à
certificação UTZ.
A oferta de benefícios adicionais a funcionários ainda está muito relacionada ao
desempenho financeiro da fazenda e políticas internas de remuneração, e não
a certificação UTZ.
Apesar de ser uma obrigatoriedade por lei no Brasil, a certificação UTZ ajudou em
algumas propriedades a fazer a instalação de fossas sépticas nas propriedades e
nas residências dos empregados. Além disso, incentivou também o processo de
separação e destinação de resíduos, trazendo melhorias nas condições de
higiene da fazenda.
Comentários de stakeholders:
Essa questão ainda não foi muito desenvolvida, ainda está no básico, precisam
melhorar muito nisso ainda, principalmente na região de Sul de Minas, que
ainda tem muito trabalho a ser feitos. (Consultor)
Uma forma para garantir isso seria o prêmio. Mas o investimento do prêmio é
visto de forma errônea ainda, o prêmio deveria ser revertido para o social, para
os funcionários ou comunidade do entorno. E hoje, grande parte dos produtores
investem na produção e compra de maquinas, trator e bens próprios da
propriedade. (Consultor)
É uma questão que está um pouco solta ainda, a UTZ precisaria dar um
direcionamento melhor para os produtores em relação ao que se espera com
isso. (Consultor)
A UTZ ainda não causa impacto na comunidade local e não fomenta a
educação para crianças. Para os produtores individuais, o impacto na
comunidade não existe. (Consultor)
70,2%
29,8%
% dos trabalhadores que percebem incentivo do proprietário da fazenda para que os filhos dos funcionários estudem
Sim
Não
46
5.6 Outras considerações dos produtores
O único ponto que a certificação UTZ não atingiu as expectativas dos produtores
foi em relação ao preço do produto. Quase 70% dos produtores entraram no
programa da UTZ com a expectativa de obter um melhor preço para o café, no
entanto apensa 16% conseguiu atingir essa expectativa. Mesmo assim 86,4% dos
produtores pretendem continuar com a certificação.
Gráfico 32: Principais motivos para aderir a certificação UTZ
Gráfico 33: Principais benefícios que a certificação UTZ trouxe para fazenda
74,2%
69,7%
39,3%
30,3%
25,8%
7,9%
0,0%
Expectativa em obter melhorias na produção e gestãoda fazenda
Expectativa de melhor preço do café
Acesso ao mercado
Demanda dos clientes
Vantagem competitiva
Outros (Quais)
Não sei responder essa pergunta
47
Os principais pontos destacados pelos entrevistados foram que a certificação UTZ
ajudou muito na gestão da fazenda e dos custos relacionados à produção, além
de ter conseguido agregar valor ao negócio devido a rastreabilidade do
produto.
Embora a questão que mais se destacou no Gráfico 33 seja a contribuição da
UTZ para as melhores condições de trabalho (mais de 60% dos entrevistados
reconheceram que a UTZ trouxe grandes ganhos nesse aspecto) fica nítido,
analisando nossas entrevistas com produtores e stakeholders, que o principal
benefício foi de fato da melhorar da gestão e organização das fazendas. Junto
com a melhoria da gestão, veiou em muitos casos a redução do custo e ganhos
econômicos adicionais.
O principal motivo dos produtores continuarem com a certificação UTZ está
relacionado aos grandes ganhos que a certificação trouxe principalmente para
a gestão da fazenda e controle do negócio. Muitos produtores afirmam que não
tem como sair da certificação, pois o mercado está cada vez mais competitivo
e a certificação gera valor para a fazenda.
Gráfico 34: % de produtores que pretendem continuar com a certificação UTZ
63,6%
58,0%
48,9%
35,2%
22,7%
17,0%
15,9%
9,1%
6,8%
6,8%
1,1%
0,0%
Melhoria nas condições de trabalho nas fazendas decafé
Rastreabilidade do processo produtivo
Melhor gestão dos custos da produção do café
Melhoria na preservação do meio ambiente
Abertura de novos mercados
Melhoria de qualidade do café produzido
Melhor preço para o café
Estabelecimento de relacionamento de longo prazo
Redução no custo de produção do café
Outros (Quais)
Nenhum
Aumento na produção de café
48
Apesar da grande satisfação mostrada na pesquisa online, no campo foram
identificados alguns pontos de atenção em relação ao atendimento da UTZ.
Uma questão que foi levantada por alguns produtores e stakeholders foi a
acessibilidade às normas e práticas da UTZ, incluindo a dificuldade no uso do
novo portal UTZ e a dificuldade da linguagem utilizada nos formulários e normas,
exigindo a contratação de consultores externos e mantendo uma maior
dependência da equipe da UTZ.
Comentários de stakeholders:
O maior ganho para os produtores é a melhoria na gestão que tem impacto direto
no custo e receita, além do acesso a novos mercados e do ágio recebido.
(Indústria)
É nítida a organização das fazendas certificadas, especialmente em
comparação com as fazendas não certificadas. (Especialista)
Fazendas certificadas são facilmente identificáveis quando são visitadas. O grau
de organização, a identificação das estruturas e das lavouras são facilmente
vistos. Esta percepção vale para todas as certificações. (Especialista)
Pensa que hoje em dia a insatisfação da UTZ se dá pela sua popularização. As
fazendas certificadas não se sentem mais diferenciadas das demais. "muita gente
é certificada". Acha que poderiam ser pensadas novas formas de diferenciação.
(Auditor)
O ganho que os produtores têm com a certificação não é com o ágio e sim na
gestão na fazenda do café. Se perguntarem para eles qual o motivo de continuar
com a certificação a resposta vai ser a gestão da fazenda. (Consultor)
Um benefício é a segurança na produção, que vai muito além do uso de produtos
– inclui impactos nas pessoas, no meio ambiente e na qualidade do produto.
(Especialista)
Para endereçar os pontos críticos e acelerar seus efeitos positivos, a pesquisa
ofereceu uma gama de sugestões por parte de produtores sobre como a UTZ
poderia melhorar o seu sistema e sua vantagem competitiva. Na última seção
apresentamos algumas conclusões gerais e traduzimos os pontos identificados
em oportunidades de melhoria do programa.
86,4%
1,1%12,5%
Sim
Não
Não sei
49
Comentário de produtores:
O portal da UTZ ficou muito complicado para usar.
A UTZ exige, mas não te dá o caminho das pedras. Ela só passa o check-list.
O check-list da UTZ deveria vir com uma linguagem mais didática, mais fácil de
entender. Eles complicam e fazem com que a fazenda dependa de um consultor
externo.
O objetivo em aderir à certificação foi agregar valor por meio da rastreabilidade
do produto. Mas, o que percebo agora é que isso virou uma coisa bastante
comercial. O intermediário está comprando o seu café, mas você não sabe se
estão usando a certificação ou não... Não há como saber ao certo. Todo o
processo é rastreado por papel e não é tão rigoroso. Não há uma descrição exata
do café que está vendendo na nota fiscal - não se sabe da sua qualidade, a
pessoa poderia muito bem pegar outro café e usar o seu certificado.
50
6. Conclusões
Para fornecer uma visão mais consolidada, resumimos na tabela abaixo o
resultado geral das análises feitas. Em uma gama de quatro níveis (muito alto,
alto, médio e baixo) classificamos o grau de efeitos percebidos da certificação.
A classificação foi calibrada no workshop pelos stakeholders e ofereceu o
resultado apresentado abaixo na Tabela 5. As principais confirmações e desafios
que identificamos no estudo também estão inseridos na tabela.
Tabela 5: Consolidação das confirmações e do grau do atendimento do efeito
de acordo com a Teoria da Mudança, na percepção dos autores e dos
stakeholders.
Principais
impactos
UTZ
Grau de
atendimento
da ToC
Principais Confirmações Principais Desafios
Melhor
Produção/
Cultivo
MUITO
ALTO/ALTO
• Melhor gestão da
fazenda através de
processos e
procedimentos
organizados
• Melhor conservação do
solo através de cultivo
mais sustentável
• Melhor uso de insumos
agrícolas
• Calibragem de
padrões e exigências
em comparação com
outros países:
Produtores acham
que em outros países
fica mais fácil de se
certificar devido as
exigências mais altas
da legislação
brasileira
Maiores
Receitas MÈDIO
• Maior eficiência no uso
dos recursos leva a
redução de custos
• Recebimento do
prêmio UTZ gera maior
receita
• Compradores leais
• Dúvidas em relação
ao prêmio (valor
efetivo e
transparência)
• Falta de impacto no
salário médio dos
trabalhadores
Meio
ambiente
melhor
MÉDIO
• Melhor cumprimento
com a legislação
ambiental e menos
passivos ambientais
• Tratamento correto de
resíduos e proteção da
biodiversidade
• Falta de medidas mais
progressivas de
proteção do meio
ambiente
• Falta de orientações
mais detalhadas
Condições
de vida
melhor
ALTO/
MÈDIO
• Benefícios econômicos
para os produtores
• Poucas mudanças no
acesso a serviços
51
• Condições de trabalho
mais seguros e
saudáveis
• Salários de acordo com
as funções mais
valorizadas
básicos para os
trabalhadores
A tabela novamente demonstra que o principal efeito da certificação é a
melhoria da gestão, que se transformou em melhorias na produção de cultivo, e
se refletiu nos outros eixos da Teoria da Mudança, oferecendo progresso na
gestão ambiental e nas condições de vida.
Pontos que enfraquecem a avaliação no eixo de “melhores receitas” são os
problemas identificados em relação à definição e aplicação do prêmio e no fato
de não ter parâmetros para mensurar melhorias nos salários para os
trabalhadores. Na questão do meio ambiente destacamos a melhoria do
atendimento a legislação, mas que poderia ser catalisada com uma orientação
mais detalhada e direcionada da UTZ neste aspecto.
No eixo de condições de vida melhor, podemos destacar as melhorias em saúde
e segurança e avanços econômicos favorecendo os produtores ao longo dos
anos, enquanto no nível dos trabalhadores, foram constadas melhorias de casas
e das questões de segurança do trabalho, mas não grandes progressos em
termos de acesso a serviços como planos de saúde mais avançados.
Um ponto interessante levantado pelos participantes foram os benefícios da
certificação que são mais difíceis de serem mensurados financeiramente, como
por exemplo o impacto na imagem da fazenda, o orgulho dos funcionários, maior
conscientização socioambiental dos trabalhadores e outros que geraram valor
agregados, não necessariamente trabalhados na análise econômica das
propriedades.
Comentários dos Stakeholders:
A gestão da propriedade é o fator mais forte no protocolo, mas concorda que
o produtor não consegue mensurar este benefício. Compartilha a ideia de ser
criado formas (talvez índices) para que ele consiga enxergar estes benefícios.
(Consultor)
Pensando no mercado local brasileiro, em nível de consumidor, ele não está
preparado para comprar UTZ, pois a certificação ainda é pouco reconhecida
e este consumidor não está disposto a pagar mais caro por isso. (Especialista) Diminuir a burocracia da certificação – diminuir o uso de papel, as
documentações que só servem para a UTZ. Esta questão torna-se um
empecilho para produtores entrarem na certificação, tem produtores que não
tem braço. Quem tem a certificação da UTZ são os produtores maiores, pois
52
os pequenos produtores não conseguem fazer sozinhos a certificação.
Precisam de uma pessoa dedicada para fazer o acompanhamento das
anotações e cumprimento da certificação. E eles não conseguem arcar com
este custo. (Consultor)
O principal desafio é ter maior credibilidade perante o selo. O selo é forte e a
certificação é forte. Mas as empresas de auditoria não estão fazendo o
trabalho correto e isso passa uma imagem ruim do selo, “tipo pagou, passou”.
A UTZ precisa trabalhar em cima disso para não perder a certificação e se não
fizer alguma coisa, o programa vai acabar e vai ficar queimado. (Auditor)
Um desafio é sempre buscar “subir a régua”. A medida que o produtor
aumenta a qualidade, ele poderia ter uma diferenciação, mesmo entre os
próprios certificados. (Indústria)
Na sequência tentamos referenciar as principais ameaças que podem ser
transformados em oportunidades para certificação UTZ.
Entre as principais ameaças identificadas podemos mencionar:
- O esforço para obter o selo para os produtores é considerado maior no
Brasil do que em outros países. Os produtores alegam ter um desnível de
rigidez entre países com o Brasil, que possui uma legislação mais rígida do
que outros países produtores. O requisito do “legal compliance”
estabelece um patamar mais alto de entrada para a certificação UTZ num
país como o Brasil, comparado a países com uma legislação ambiental e
trabalhista menos exigentes.
- O valor do selo para o mercado está sendo questionado pelos produtores:
os compradores não fazem questão de qual tipo é a certificação,
enquanto a fazenda tem pelo menos alguma entre os diferentes tipos.
- Alguns stakeholders questionaram a qualidade das auditorias e
apontaram métodos desiguais entre os diferentes órgãos certificadoras.
- A insatisfação dos produtores por causa do prêmio pode causar um
problema para manutenção e expansão da certificação no Brasil e
ameaçar sua credibilidade. Produtores podem deixar a certificação, ou
podem também não se interessar mais em ingressar no sistema.
- A certificação em grupo oferecido por standards concorrentes pode
ameaçar o crescimento da UTZ no Brasil.
- Existe uma saturação de sistemas de certificação que pode levar que
diferentes produtores abrem mão da manutenção do selo.
- A questão de mudanças climáticas influencia em grandes proporções a
produção e as vendas dos produtores. Esse fato é fora do alcance da
certificação, mas pode ser endereçado dentro do trabalho da UTZ (veja
depoimentos abaixo).
53
Comentários de stakeholders em relação a mudanças climáticas:
A questão do cuidado com água foi bem forte na certificação, da
necessidade de se manter as matas ciliares, de cercar as nascentes e
preservá-las. Fizemos isso e hoje não temos problemas com água, como nossos
vizinhos estão tendo por conta da seca. Estas mudanças eram exigências da
auditoria. (Produtor)
Há ainda muitas incertezas que dificultam a decisão do produtor de aderir, tal
como a insegurança em relação às questões climáticas, pois mesmo que
invistam e façam tudo certinho, se o clima não ajudar, eles perdem tudo.
Como em 2013, que choveu demais na época da colheita e teve impacto
direto na qualidade do produto. Já neste ano, não choveu o suficiente.
(Indústria)
Uma preocupação mais recente é conter a emissão de CO2. A legislação
brasileira é frágil nesta questão. A certificação poderia ter este papel de
promover técnicas que minimizem e mitiguem as emissões de CO2. Seria de
grande importância trazer esta questão para as discussões com os produtores
e trabalhar alguns exemplos como as práticas de manejo agro silvicultura,
manejo menos intenso dos solos para não expor tanto material orgânico, etc.
Isso precisa ainda ser trabalhado pela certificação. (Entidade do governo)
As principais oportunidades identificadas ao longo da pesquisa são na visão
dos autores:
- A UTZ poderá melhorar a divulgação da certificação UTZ no mercado
consumidor brasileiro, agregando assim mais valor para as fazendas que
torram e vendem cafés no mercado local.
- Com a maior inclusão dos pequenos produtores e sistemas de apoio, a
certificação conseguiria abraçar um grupo de produtores que necessita
de melhorias de gestão, pois muitos problemas ambientais e trabalhistas
se encontram ainda em menores propriedades, que são as que possuem
mais informalidade.
- A melhora do sistema do prêmio, aumentando a transparência, deixará a
UTZ mais atraente para os produtores e promoverá a competitividade do
selo em um ambiente disputado por diferentes certificações.
- O estreitamento do relacionamento entre produtor e comprador ajudará
o produtor a comercializar melhor o seu produto e evitar a grande
influência do intermediário nas vendas do seu café.
- Os próprios produtores apontaram que a UTZ poderia aumentar seu nível
de exigências nos quesitos ambientais, dando mais orientações para os
produtores que deveria ir além daquilo que a legislação exige como
mínimo.
- O desenvolvimento de soluções ou identificação de temas ambientais a
nível local e regional podem levar a uma percepção conjunta ou melhoria
54
ambiental a nível local e que possam gerar critérios de cumprimento mais
específicos.
- A UTZ deve continuar com o aclamado baixo custo de auditoria da
certificação, porém é necessário prestar atenção na qualidade do
trabalho dos auditores.
- Com pequenos encontros e eventos regionais a UTZ poderá criar um senso
de “pertencer” a um grupo seleto de produtores, diferenciado da média
dos produtores pela excelência na sua gestão.
- É importante criar indicadores a partir do ano zero para os entrantes que
apoiem na mensuração de certos indicadores de desempenho
(performance). Isso vai ajudar as fazendas a quantificar seus ganhos e
melhorias de desempenho a partir da certificação UTZ
- É importante reforçar o engajamento do sistema da UTZ junto com os
grupos de trabalho internacionais e locais sobre definição de salário digno
e incluir como critério adicional a mensuração dos salários regionais versus
salários de fazendas UTZ.
Dentro dessas propostas, o mais importante nesse momento seria responder aos
anseios relativos ao prêmio e iniciar um trabalho de indicadores que ajudarão os
produtores de valorizar mais todas as melhorias que a certificação trouxe para
eles no âmbito da gestão e redução de custos, que foram evidenciados na
pesquisa.
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7. Referências
Teoria da Mudança UTZ: “UTZ Theory of Change Info graphic” (disponível no
website:
https://www.utzcertified.org/images/stories/site/pdf/downloads/impact/theory_
of_change_infographic_web.pdf)
UTZ Certified, Monitoring and Evaluation System, 2014
UTZ Certified, UTZ Certified Program indicators, 2014 (disponível no website:
https://www.utzcertified.org/images/stories/site/pdf/downloads/impact/4.%20utz
%20certified%20_program%20indicators%20version%202.pdf)
UTZ Certified, UTZ M&E FRAMEWORK: DEFINING THE INTENDED CHANGE (disponível
no website: https://www.utzcertified.org/images/stories/site/pdf/downloads/impact/3-utz-
m_e-framework.pdf)
UTZ Certified, Annual Report 2013: (disponível no website:
https://www.utzcertified.org/attachments/article/2074/utz-annual-report-
2013.pdf
UTZ Certified, Social, Economic and Environmental Results of UTZ Certification:
Case studies on UTZ CERTIFIED coffee farms in ASIA, AFRICA and LATIN AMERICA,
2010
UTZ Certified, Vietnam coffee: A COSA survey of UTZ certified farms, 2012
UTZ Certified, Code of Conduct: Coffee Module Version 1.0, 2014 (disponível no
website: http://www.utzcertified-
trainingcenter.com/home/images/stories/library_files/
EN_UTZ_Coffee_Module_2014.pdf)
UTZ Certified, UTZ CERTIFIED IMPACT REPORT: Combining results from 24 external
impact studies and data from UTZ Certified, 2014
UTZ Certified, ACHIEVEMENT STUDY: Brazil - Rancho Fundo, 2009
UTZ Certified, ACHIEVEMENT STUDY: Brazil – Porto Alegre, 2009
Monteiro, José L; Gonçalves, Fernando; Ortiz, Marcio; Amstalden, Daniel; Greisson,
José; Stabuli, Rodrigo; Mittenstainer, Renata; Jansen, Don; Utz Kapeh certification
of small scale coffee farmers in Brazil:lessons from Serra Negra, 2006
Portaria MTE, NR 31 - segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária
silvicultura, exploração florestal e aquicultura, 2011
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8. Anexos
ANEXO I
Visão geral da amostra pesquisada
Detentores da Certificação Ativos
(jun 2014) # CHs # Fazendas
# Entrevistas com CHs realizadas (e-survey +
individuais)
Individual 108 108 64
Grupo 4 56 6
Multi site 91 412 19
Total 203 576 89
Localização dos CHs # Entrevistas com CHs realizadas por região
MG 169 67
SP 27 20
BA 5 1
PR 1 1
ES 1 0
Total 203 89
Tempo que está no programa UTZ # Entrevistas com CHs realizadas por tempo
no programa UTZ
Ano 1 ou menos 29 6
Ano 2 148 11
Ano 3 40 16
Ano 4 251 10
5 anos ou mais 108 46
Total 576 89
Trabalhadores # Trabalhadores # Entrevistas com
trabalhadores
Trabalhadores permanentes + residentes na fazenda
14.429 57
Trabalhadores temporários (sazonal)
11.051 0
Total 25.480 57
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ANEXO II
Lista dos Stakeholders externos entrevistados
Secretários de agricultura Secretaria da Agricultura Estadual de
Minas gerais
Traders e exportadores de café Cooperativa de Minas Gerais
Torrefadores Torrefadora de Cafés Especiais
Organismos de certificação Certificadora
Representantes de Indústria
Empresa de insumos agrícolas
Empresa de insumos agrícolas
Outros stakeholders Duas universidades da região de
Cafeicultura
Consultores de apoio da UTZ
Consultor
Consultor
Especialista do mercado de café Representante de Associação de
Cafés Especiais
Ministério Público do Trabalho Ministério Público do Trabalho
Stakeholders regionais
Sul de Minas Sindicato dos Trabalhadores
Cerrado Cooperativa dos Cafeicultores
Mogiana Sindicato rural dos empregados
Oeste de Minas
Sindicato dos Trabalhadores Rurais
Empresa de insumos agrícolas
Assistência técnica estadual
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ANEXO III
Versão Original da Teoria da Mudança UTZ
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Contato:
BSD Consulting
Rua José Maria Lisboa, 860, and. 7
01423-001 São Paulo-SP, Brasil
Tel./Fax: +55 (11) 3051-4600
www.bsdconsulting.com