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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ISABELA LOPES SCARPA EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA EM TAREFA DE COMPREENSÃO DE LEITURA São Paulo 2011

EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE …tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/1564/1/Isabela... · 2016. 7. 19. · S285e Scarpa, Isabela Lopes. Efeitos da estimulação

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  • UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

    ISABELA LOPES SCARPA

    EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA

    EM TAREFA DE COMPREENSÃO DE LEITURA

    São Paulo

    2011

  • ISABELA LOPES SCARPA

    EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA

    EM TAREFA DE COMPREENSÃO DE LEITURA

    Dissertação apresentada para obtenção do

    título de Mestre através do Programa de Pós-

    Graduação Strito sensu em Distúrbios do

    Desenvolvimento da Universidade

    Presbiteriana Mackenzie.

    Orientador: Prof. Dr. José Salomão Schwartzman

    São Paulo

    2011

  • S285e Scarpa, Isabela Lopes.

    Efeitos da estimulação transcraniana por corrente contínua em

    tarefa de compreensão de leitura / Isabela Lopes Scarpa.

    155 f. ; 30 cm

    Dissertação (Mestrado em Distúrbios do desenvolvimento) -

    Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

    Bibliografia: f. 73-80.

    1. Estimulação transcraniana por corrente contínua. 2.

    Compreensão de leitura. 3. Movimentos oculares. Título.

    CDD 153.93

  • ISABELA LOPES SCARPA

    EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA

    EM TAREFA DE COMPREENSÃO DE LEITURA

    Dissertação apresentada para obtenção do

    título de Mestre através do Programa de Pós-

    Graduação Strito sensu em Distúrbios do

    Desenvolvimento da Universidade

    Presbiteriana Mackenzie.

    Orientador: Prof. Dr. José Salomão Schwartzman

    Aprovada em_______________

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________________________________

    Prof. Dr. José Salomão Schwartzman – Orientador

    Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM.

    ___________________________________________________________________

    Profª Dra. Alessandra Gotuzo Seabra

    Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM.

    ___________________________________________________________________

    Profª Dra. Ana Luiza Gomes Pinto Navas

    Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – FCMSC SP.

  • Dedico este trabalho aos pacientes que

    me incentivaram no aprimoramento do

    conhecimento sobre leitura.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço, primeiramente, à minha mãe, Marlene Lopes Scarpa, que

    participou direta e indiretamente deste trabalho, me apoiando nos aspectos

    emocionais, bem como nas discussões científicas.

    Ao meu pai, Luiz Scarpa Neto, por acreditar na minha capacidade, sempre me

    incentivando e apoiando em todos os sentidos.

    Agradeço ao meu esposo, Rossano Ambrozio, por deixar de ter para que eu

    pudesse ter, estando ao meu lado em todos os momentos.

    À Desirée Massetti, Elaine Biral, Eliza Hitomi Sakata, Rosemeire Silva e

    demais colegas e amigas de trabalho da Clínica Cecop – Centro de Consultórios

    Particulares, que compartilharam e me orientaram na construção deste trabalho.

    À Patricia Dall’Agnoll que, além de uma grande companheira de Mestrado,

    tornou-se uma verdadeira amiga.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. José Salomão Schwartzman, pela dedicação e

    paciência na elaboração da pesquisa.

    À Profª Dra. Alessandra Gotuzo Seabra e Profª Dra. Ana Luiza Gomes Pinto

    Navas pelas contribuições oferecidas para o estudo.

    Aos integrantes do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da

    Universidade Presbiteriana Mackenzie, principalmente Camila Campanhã, Darlene

    Godoy de Oliveira e Anna Carolina Barbosa que estiveram dispostas e disponíveis

    para a realização da coleta de dados e na orientação da pesquisa.

    Agradeço ao Prof. Paulo Boggio, por ter ajudado.

    Enfim, agradeço a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente

    para a conclusão deste projeto.

  • “Um homem nunca deve sentir vergonha de admitir que

    errou, o que é apenas dizer, noutros termos, que hoje ele

    é mais inteligente do que era ontem. ”

    (Alexander Pope)

  • RESUMO

    A leitura, envolvendo tanto a decodificação como a compreensão, tem sido

    objeto de estudos de pesquisadores. Atualmente, estudos neurológicos relacionam o

    processamento semântico a estruturas cerebrais como córtex temporal, parietal e

    occipital, e o envolvimento dessas estruturas para a compreensão da leitura.

    Entretanto, a integração entre elas ainda é pouco entendida. Este trabalho propõe

    estudar a compreensão de leitura através da diferenciação dos efeitos da

    Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua aplicadas em Córtex Temporal

    Anterior Esquerdo. Para tanto, mensurou-se o padrão de movimentos oculares

    durante a leitura em 12 sujeitos de pesquisa, universitários, do sexo masculino sem

    dificuldades ou transtornos de aprendizagem relatados. Para avaliação da

    compreensão de leitura foi utilizada uma prova de dez questões de cunho

    interpretativo do Exame Nacional do Ensino Médio. Para mensuração da influência

    da memória operacional foi utilizada a Prova de Dígitos da “Escala de Inteligência

    Wechsler para Adultos”. Os dados foram tratados com testes e técnicas estatísticas

    não paramétricas. Para comparação dos dados, foi obtido os p-valores (nível de

    significância de 0,05 ‒ 5%). Embora não tenha sido observado efeito das

    estimulações anódica, catódica e placebo na realização da prova de compreensão

    de leitura, este estudo permitiu confirmar alguns fatos já descritos na literatura.

    Estatisticamente, foi possível constatar que não existiu congruência entre o tipo de

    estimulação aplicada e o número de acertos das alternativas apresentadas. Foi

    constatado que se estabeleceu uma forte e constante relação de diminuição do

    tempo e número de fixação da primeira para a terceira aplicação da prova de

    compreensão, o que indica que houve um acesso cada vez mais rápido às redes

    semânticas com prevalência do uso da memória. Investir em pesquisas relacionadas

    ao aprofundamento dos conhecimentos referentes à leitura ajudará a encontrar

    respostas importantes para a melhor compreensão do tema.

    Palavras-chave: estimulação transcraniana por corrente contínua; compreensão de

    leitura; movimentos oculares.

  • ABSTRACT

    Reading, involving the decoding and comprehension, has been studied by

    researchers. Currently, neurological studies related to semantic processing brain

    structures such as temporal cortex, parietal and occipital lobes, and the involvement

    of these structures in reading comprehension. However, the integration between

    them is still poorly understood. This work proposes the study of reading

    comprehension by differentiating the effects of transcranial direct current stimulation

    (tDCS) applied in left anterior temporal cortex. To this end, was measured up the

    pattern of eye movements during reading in 12 subjects, university students, male

    and without learning difficulties or disorders reported. To assess the reading

    comprehension was used a test with ten questions of interpretive nature extract from

    ENEM (National Examination of Secondary Education). To measure the influence of

    working memory was used in the "Wechsler Intelligence Scale for Adults”. Data were

    compared with nonparametric statistical techniques. For comparison p-values wer

    calculated (significance level of 0.05 ‒ 5%). Although it was not observed effect of

    anode, cathode and placebo stimullation in reading comprehension, this study

    allowed to confirm some facts described in the literature. Statistically, it was made

    clear that there was no relation between the type of stimulation applied and the

    number of hits presented. It was found a strong and constant decrease in Time and

    Number of Fixations from first to third application of the Comprehension Reading

    Test, which indicates that there has been an increasingly rapid access to semantic

    networks with prevalence of the use of memory. To develop knowledge concerning

    the reading could help to investigations on the theme.

    Keywords: transcranial direct current stimulation; reading comprehension; eye

    movements.

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ETCC ‒ Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua

    CTAE ‒ Córtex Temporal Anterior Esquerdo

    CTA ‒ Córtex Temporal Anterior

    ENEM ‒ Exame Nacional de Ensino Médio

    Sisu ‒ Sistema de Seleção Unificada

    RMF ‒ Ressonância Magnética Funcional

    FDG-PET ‒ Tomografia por Emissão de Pósitrons com Fluorodeoxiglicose

    FMRI ‒ Ressonância Magnética Funcional

    BMP ‒ Bitmap

    EEG ‒ Eletroencefalografia

    PET ‒ Tomografia por Emissão de Pósitron

    EMTr ‒ Estimulação Magnética Transcraniana

    mA ‒ Miliampere

    BALE ‒ Bateria de Leitura e Escrita

    NIR-LED’s ‒ NearInfra-Red Light-Emitting Diodes

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Modelo de processamento da linguagem escrita. 6

    Figura 2: Modelo das relações hierárquicas de memória no 8

    processamento semântico.

    Figura 3: Dois casos de ativação da área de Wernicke em 17

    testes de fluência semântica.

    Figura 4: Aparelho de Estimulação Transcraniana por Corrente 23

    Contínua.

    Figura 5: Equipamento Tobii®. 26

    Figura 6: Sistema Internacional 10 – 20 EEG de posicionamento 33

    de eletrodos.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Níveis de acerto relacionados com os tipos de ETCC 36

    aplicadas

    Figura 2: Níveis de acerto relacionados com a ordem de 36

    aplicação das provas

    Figura 3: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC 37

    aplicadas na Questão B

    Figura 4: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC 37

    aplicadas na Questão F

    Figura 5: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC 38

    aplicadas na Questão G

    Figura 6: Tempo de fixação relacionado com a ordem de 38

    aplicação das provas na Questão A

    Figura 7: Tempo de fixação relacionado com a ordem de 39

    aplicação das provas na Questão I

    Figura 8: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC 40

    na Questão B

    Figura 9: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC 40

    na Questão E

    Figura 10: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC 41

    na Questão F

    Figura 11: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC 41

    na Questão G

    Figura 12: Número de fixações relacionado com a ordem de 42

    aplicação das provas na Questão A

  • Figura 13: Relaciona desempenho em tarefa de memória 42

    operacional com os tipos de ETCC aplicadas

    antes da prova de compreensão de leitura

    Figura 14: Relaciona desempenho em tarefa de memória 43

    operacional com os tipos de ETCC aplicadas

    depois da prova de compreensão de leitura

    Figura 15: Relaciona desempenho em tarefa de memória 43

    operacional com a ordem de aplicação das provas

    antes da avaliação de compreensão de leitura

    Figura 16: Relaciona desempenho em tarefa de memória 44

    operacional com a ordem de aplicação das provas

    depois da avaliação de compreensão de leitura

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Tipos de estimulação e de provas em cada dia de 34

    experimento.

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO 1

    2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3

    2.1. Leitura 3

    2.2. Compreensão de leitura 5

    2.3. Tipos de avaliação de compreensão de leitura 14

    2.4. Estudos neurobiológicos na compreensão de leitura 16

    2.5. Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua 20

    2.5.1. ETCC em Córtex Temporal Anterior Esquerdo 20

    2.5.2. Mecanismos de ação da ETCC 22

    2.5.3. Equipamento utilizado para a ETCC 23

    2.6. Movimentos oculares na leitura 24

    2.6.1. Equipamento utilizado para registro dos movimentos oculares 25

    3. OBJETIVOS 27

    3.1. Objetivo geral 27

    3.2. Objetivos específicos 27

    4. MÉTODO 28

  • 4.1. Desenho do estudo 28

    4.2. Contexto 28

    4.3. Definições 28

    4.4. Critérios de inclusão e de exclusão 28

    4.5. Instrumento de avaliação da compreensão de leitura 29

    4.6. Instrumento de avaliação da memória operacional 30

    4.7. Procedimentos 30

    5. RESULTADOS 35

    6. DISCUSSÃO 45

    7. CONCLUSÃO 48

    8. REFERÊNCIAS 49

    9. ANEXOS 55

  • 1

    1. INTRODUÇÃO

    A leitura, envolvendo tanto a decodificação como a compreensão, tem sido

    objeto de estudos de pesquisadores. Giangiacomo & Navas (2008) relatam que

    alguns fatores contribuem para a compreensão da leitura: a eficiência de

    decodificação, domínio do conhecimento, vocabulário, memória, capacidade de

    fazer inferências e fatores sociais. Assim, a compreensão é um processo ativo que

    requer uma interação intencional e cuidadosa entre o leitor e o texto.

    Atualmente, estudos neurológicos relacionam o processamento semântico a

    estruturas cerebrais como córtex temporal, parietal e occipital, e o envolvimento

    dessas estruturas para a compreensão da leitura. Entretanto, a integração entre elas

    ainda é pouco entendida pela complexidade na qual a compreensão é dada.

    Este trabalho propõe estudar a compreensão de leitura através da

    diferenciação dos efeitos da Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua

    (ETCC) aplicadas em Córtex Temporal Anterior Esquerdo (CTAE) através da

    mensuração do padrão de movimentos oculares durante a leitura em indivíduos

    universitários que não apresentam dificuldades ou transtornos de aprendizagem.

    A ETCC é uma técnica de neuromodulação cortical não invasiva, indolor, de

    fácil aplicação e baixo custo. Essa técnica começou com investigações de funções

    cognitivas, visuais e motoras em voluntários saudáveis e, atualmente, vem

    ganhando destaque em pesquisas na investigação dos seus efeitos em alterações

    dessas funções.

    Neste estudo, a mensuração dos movimentos oculares permitirá perceber as

    diferenças existentes no padrão de leitura dos indivíduos mediante as variações de

    excitabilidade cortical utilizadas na ETCC.

  • 2

    No intuito de inferir sobre os fenômenos linguísticos que subjazem a tarefa de

    compreensão de leitura, o controle dos movimentos oculares tem sido um forte

    instrumento de investigação em desenvolvimento cognitivo. (RAYNER et al., 1996).

    Para Kleiman (2011), a compreensão da escrita através da leitura é uma

    tarefa complexa que envolve a compreensão de frases em sentenças, de

    argumentos, de provas formais e informais, de objetivos, de intenções, muitas vezes

    de ações e de motivações, envolvendo várias áreas cerebrais.

    A pesquisa sobre compreensão de leitura é desafiadora, e torna-se

    imprescindível que estudos sejam feitos com intuito de compreender cada vez mais

    esse processo.

  • 3

    2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

    2.1. Leitura

    A escrita forneceu aos seres humanos a possibilidade de conhecer as

    culturas dos seus antepassados e seus modos de vida. Assim, a leitura denomina-se

    essencial para a compreensão do universo.

    Entre as primeiras formas de escrita, o desenho era feito em rochas e pedras

    e sua leitura dependia do contexto e das circunstâncias do ambiente no qual os

    humanos viviam. A escrita pictórica podia ser bastante sofisticada quanto àquilo que

    transmitia (ELLIS, 1995).

    Na escrita ideográfica através de desenhos, um único desenho podia ser lido

    e entendido para diversas representações.

    Os verdadeiros sistemas de escrita apareceram pela primeira vez quando os

    símbolos de escrita utilizados representavam palavras da língua, em vez de objetos

    ou conceitos. A maior parte dos sistemas de escrita utilizados atualmente é

    alfabético, ou seja, usa-se uma letra ou grupo de letras para representar um som,

    sendo que o sistema alfabético tornou o processo de leitura mais objetivo.

    A leitura envolve ler sentenças que se ligam para formar passagens de textos

    coerentes e conectados que informam, instruem ou apenas entretêm (ELLIS, 1995).

    Segundo Gough & Tunmer (1986) a leitura consiste de dois componentes: a

    decodificação e a compreensão. A decodificação se refere aos processos de

    reconhecimento da palavra escrita. A compreensão é definida como o processo pelo

    qual as palavras, sentenças ou textos são interpretados.

    Os modelos de decodificação e compreensão de leitura são, geralmente,

    divididos em bottom-up, top-down e interativos.

  • 4

    No modelo bottom-up, ou ascendente, observa-se que a compreensão da

    linguagem escrita parte dos estímulos visuais recebidos do texto, que vão sendo

    processados até chegar a unidades maiores. Esse modelo privilegia a forma. Para

    Sternberg (2000), o modelo bottom-up assim é chamado porque se baseia no uso de

    estratégias ascendentes, na qual o leitor decodifica a informação disponível no nível

    dos aspectos de percepção sensorial. Carrell et al. (1990) refere-se ao processo a

    partir da construção do significado de unidades menores para maiores, ligada à

    decodificação de unidades linguísticas (fonemas, grafemas, palavras) modificando o

    conhecimento já existente e as predições, tendo como base as informações

    encontradas no texto.

    O modelo top-down, ou descendente, enfatiza a importância dos

    conhecimentos gerais que o leitor tem, para relacionar, prever e levantar hipóteses

    sobre a informação que está recebendo. Para Sternberg (2000) as estratégias

    descendentes resultam das experiências prévias adquiridas ao longo da vida que

    utilizamos para fazer previsões acerca do conteúdo de um texto. Carrell et al. (1990)

    refere-se ao modelo como a ativação de predições sobre o texto baseado em

    experiências anteriores, passando ao texto para confirmar essas predições,

    refutando-as ou aceitando-as. Salles et al. (2007) complementam que nos processos

    descendentes, o contexto ortográfico e semântico intervém na identificação das

    palavras.

    O processo bottom-up é utilizado, por exemplo, ao se ler palavras isoladas ou

    descontextualizadas; e o processo top-down facilita o reconhecimento da palavra e

    sua compreensão.

    Carrell (1990) afirma que leitores mais habilidosos utilizam ambos, top-down e

    bottom-up, alternadamente ou simultaneamente dependendo do texto e da situação

  • 5

    na qual a leitura acontece. Já leitores com alguma dificuldade, utilizam-se de um ou

    outro modelo de acordo com a possibilidade.

    A leitura não envolve apenas o reconhecimento de palavras isoladas, mas o

    objetivo principal é a compreensão do conteúdo lido. Identificar palavras é

    necessário para compreender um texto, no entanto pode não ser suficiente

    (ALÉGRIA, LEYBAERT & MOUSTY, 1997).

    2.2. Compreensão de leitura

    Ao fazer a leitura de um texto, o leitor acessa o significado das palavras e

    conceitos que estão armazenados em sua memória. A memória semântica

    compreende todo o nosso conhecimento e entendimento sobre o significado das

    palavras, objetos, pessoas, conceitos e eventos (CARAMAZZA & MAHON, 2006;

    PATTERSON, NESTOR & ROGERS, 2007; ROGERS et. al., 2004). Portanto, a

    memória desempenha papel importante na compreensão da leitura.

    Pesquisadores desenvolveram modelos de redes semânticas e modelos

    conexionistas ou de Processamento Distribuído Paralelo com o objetivo de

    compreender o processamento das informações relacionadas a palavras e

    conceitos.

    O modelo conexionista estuda a mente por uma perspectiva computacional e

    consiste em descrever o processamento cognitivo à semelhança de um computador:

    dados de entrada (input), processamento destes e dados de saída (output)

    (RUMELHARD et al., 1986).

    Adams (1991) criou um modelo de processamento da linguagem escrita

    baseado no modelo conexionista de Seidenberg & McClelland (1989). A autora

    descreve quatro processadores interligados e conectados entre si, realizando

  • 6

    processos em paralelo e/ou simultaneamente. Nesse modelo, os padrões de

    comportamento são arquivados pelo ajuste das conexões entre as redes de

    unidades simples de processamento com base na resposta sobre a adequação das

    unidades de processamento.

    Figura 1: Modelo de processamento da linguagem escrita. (Adaptado de Adams, 1991).

    Na linguagem escrita, o processador ortográfico representa o conhecimento

    visual das palavras escritas.

    O processador semântico armazena significados das palavras familiares

    como conjuntos de elementos de significados mais primitivos interassociados. A

    compreensão da leitura depende da experiência de vida de cada leitor, portanto, a

    compreensão da palavra seria representada pela interassociação das propriedades,

  • 7

    que, em conjunto, representam a sua história, direta ou indireta, no que se refere a

    sua experiência real, como por exemplo, objeto, pessoa, ou animal.

    O trabalho do processador contextual representa o conhecimento do

    contexto em que o enunciado se insere.

    O processador fonológico recebe as informações do meio externo, através

    da fala, e o leitor pode ativá-lo utilizando a subvocalização para facilitar a

    decodificação das palavras.

    Morais (1996) refere que a análise sintática e de integração semântica dos

    constituintes da frase e de integração das frases na organização textual são

    processos importantes para a compreensão da leitura.

    Collins e Quillian (1969) propõem um modelo de redes semânticas, no qual o

    conhecimento semântico é sustentado por um conjunto de nós, cada um

    representando uma determinada função ou conceito, que estão conectados uns aos

    outros.

    A figura a seguir ilustra a organização de tal estrutura da memória.

  • 8

    Figura 2: Modelo das relações hierárquicas de memória no processamento semântico. (Adaptado de Quillian, 1967).

    Nesse modelo, cada nó representa uma palavra específica, como “pássaro”, e

    cada nó é armazenado com um conjunto de propriedades, tais como “tem asas” ou

    “pode voar”. Há uma representação hierárquica, pois as conexões ligam categorias.

    Por exemplo, “pássaro” está ligado a “canário”. Características, como “pode voar”,

    são armazenadas apenas no nível de categoria, como “pássaro”, no qual estão

    representadas propriedades chave.

    Para recuperar esse conhecimento, um estímulo ativa um conjunto de nós,

    que, em seguida, ativa outros nós relacionados e ocorre, então, a propagação da

    ativação.

  • 9

    As conexões entre os nós podem envolver a participação em categorias,

    atributos ou alguma outra relação semântica. Assim, uma rede proporciona um meio

    para organizar conceitos.

    Para Collins (1975) conceitos correspondem a percepções particulares de

    palavras ou frases. As pessoas têm um grande número de conceitos. Os conceitos

    contêm uma infinidade de informações importantes e esses conceitos podem ter

    estruturas muito complicadas.

    Collins & Loftus (1975) refinaram esse modelo. Eles ponderaram as ligações

    para explicar o efeito tipicidade e chegaram à conclusão de que instâncias típicas de

    uma categoria são reconhecidas mais rapidamente.

    Modelos de rede mais sofisticados foram desenvolvidos posteriormente. No

    modelo de Cravo & Martins (1993), cada nó pode representar algum outro elemento,

    como um conceito ou uma característica, e não apenas uma palavra. Além disso, as

    ligações ou conexões podem representar uma variedade de relações, não apenas

    hierárquicas.

    Sternberg (2008) compara os modelos conexionistas com os modelos em

    rede semântica. Na representação em rede semântica, um indivíduo constrói uma

    base de conhecimento sobre um sabiá com o passar do tempo, à medida que mais e

    mais informações são adquiridas sobre sabiás. A rede conexionista, por sua vez,

    representa padrões de ativação. O conhecimento está nas conexões em lugar dos

    nós. Por meio da ativação de certas conexões, o conhecimento sobre um sabiá é

    construído. Uma conexão forte é aquela que é ativada muitas vezes, ao passo que

    uma fraca só é ativada em ocasiões raras.

    Smith, Shoben & Rips (1974) propõem que a memória semântica compõe-se

    a partir de listas de características para cada conceito. Assim, as conexões entre

  • 10

    eles não representam as relações entre si. Segundo Meyer (1970) e Rips (1975),

    para descobrir as relações entre os conceitos é necessário comparar os conjuntos

    de suas características.

    Raaijmakers & Schiffrin (1981) propõem um modelo associativo. Segundo

    esse modelo, quando dois itens ocupam a memória de trabalho ao mesmo tempo,

    aumenta a força de sua associação. Estímulos ou características que coincidem

    estão ligados fortemente.

    Alguns estudiosos como Caramazza et al. (1990) e Lambon Ralph, Patterson

    & Rodges (1997) referem que o conhecimento semântico é representado por um

    único sistema. Segundo os defensores dessa perspectiva, o conhecimento

    semântico é representado como um sistema único e central, enquanto o

    conhecimento perceptual é representado em locais que são específicos para essa

    modalidade. Para Riddoch et al. (1988), um sistema representa apenas as

    características perceptuais dos objetos, tais como sua forma, cor, peso e

    intensidade. Esse sistema é utilizado para identificar o objeto, isto é saber quais as

    características do estímulo que correspondem a um dos objetos. Quando o estímulo

    é reconhecido, uma representação separada do objeto na memória semântica é

    ativada. Essa representação abrange todas as características semânticas do objeto,

    tais como sua utilidade, consequências, problemas e assim por diante.

    Rogers et al. (2003) argumentam que as representações perceptuais e

    semânticas dos objetos são representadas no mesmo sistema. Assim, as

    representações físicas dos objetos em diferentes modalidades, tais como a

    aparência, som, cheiro, ou o tamanho desses estímulos e as interações e

    associações entre essas características se integram para gerar conhecimento

  • 11

    semântico, ou seja, o conhecimento semântico é obtido a partir das relações entre

    as características perceptivas.

    Farah et al. (1989); Humphreys & Forde (2001) e McCarthy & Warrington

    (1988) afirmam que o conhecimento semântico pode ser representado em múltiplos

    sistemas.

    Alguns resultados de pesquisa contestam a tese de que a memória semântica

    pode constituir sistemas múltiplos. Em pacientes com Doença de Alzheimer, por

    exemplo, déficits semânticos em uma modalidade tendem a coincidir com as

    mesmas deficiências semânticas em outras modalidades (HODGES et al., 1996).

    Quando a compreensão do texto não é possível pela codificação semântica

    porque o significado da palavra ainda não existe na memória, o sujeito precisa

    encontrar outra forma de deduzir o significado a ser codificado, observando o

    contexto no qual a informação está inserida.

    Kintsch & Van Dijk (1978) desenvolveram um Modelo de Compreensão de

    Textos. Nesse modelo, tenta-se manter o máximo possível de informações na

    memória de trabalho para entender o que está sendo lido. Armazenam-se as ideias

    fundamentais de uma forma representativa simplificada na memória de trabalho

    devido suas limitações. A forma representativa para essas ideias fundamentais é a

    proposição.

    A memória de trabalho é utilizada para lembrar informações temporariamente,

    distinta da memória de longo prazo que é usada para lembrar informações por

    longos períodos (SQUIRE & KNOWLTON, 2000).

    De acordo com Kintsch & Keenan (1973), a memória de trabalho contém

    proposições e não palavras. As proposições mais importantes ao tema prevalecem

    por mais tempo na memória de trabalho do que as proposições irrelevantes.

  • 12

    Para Kintsch (1998), proposições são unidades abstratas de significado e

    implicam, no mínimo, a predicação de algo, que pode ser uma propriedade, ação ou

    relação acerca de algo, objeto ou argumento.

    Além disso, Giangiacomo & Navas (2008) afirmam que por meio da memória

    evoca-se todo o conhecimento adquirido e armazenado (memória de longo prazo)

    para que possa ser usado na compreensão de leitura. É na memória operacional

    que as palavras lidas são armazenadas até haver o processamento do significado. A

    memória operacional participa ativamente na aquisição de vários conhecimentos,

    sendo necessária para o funcionamento cognitivo e efetivo das atividades coloquiais

    como rendimento escolar e profissional.

    A macroestrutura do texto é formada por um conjunto de proposições que

    representa a estrutura global do texto e é derivada da microestrutura que são as

    informações dadas por cada sentença.

    Segundo Salles et al. (2002), a compreensão pode ser entendida como um

    processo que permite elaborar a macroestrutura do texto a partir de sua

    microestrutura. A macroestrutura pode-se apresentar diretamente no texto, mas

    geralmente necessita ser inferida pelo leitor.

    Van Dijk & Kintsch (1983) distinguem três níveis na representação do

    discurso:

    A estrutura de superfície: palavras e sintagmas utilizados no texto.

    O conteúdo semântico local e global: microestrutura e macroestrutura,

    respectivamente.

    Modelo de situação: conhecimentos pré-estabelecidos do sujeito,

    envolve a elaboração de inferências.

  • 13

    As inferências podem ser de diferentes tipos:

    Inferência dedutiva: ocorre a partir de um ou mais enunciados com

    relação ao que se sabe para chegar a uma conclusão logicamente certa.

    Baseia-se em proposições lógicas. Para Sternberg (2008), o raciocínio

    dedutivo é útil porque ajuda as pessoas a conectar várias proposições

    com o intuito de tirar conclusões.

    Inferência Indutiva: ocorre a partir de fatos ou observações específicas

    para chegar a uma conclusão provável que possa explicar os fatos. Para

    Sternberg (2008), quem raciocina indutivamente pode usar a conclusão

    provável para tentar predizer casos específicos futuros.

    A principal característica que distingue os raciocínios indutivo e dedutivo é

    que, no primeiro, nunca se chega a uma conclusão logicamente certa, mas sim a

    uma conclusão bem fundamentada ou provável.

    Kintsch (1983) refere-se a inferências não só como silogismos lógicos, mas

    inclui todas as classes de declarações, que aparecem na representação mental do

    texto, mas não estão diretamente ligadas pela entrada linguística. Ele inclui as

    inferências lexicais e as inferências de esquema. Numa inferência esquemática, um

    esquema ativado pelo texto fornece valores padrões para os componentes do

    esquema não cobertos pelo texto.

    Sternberg (2008) relata que esquemas são muito semelhantes a redes

    semânticas, exceto pelo fato de que costumam ser mais orientados a tarefas.Os

    esquemas podem incluir outros esquemas, englobar fatos típicos e gerais e variar

    em seu grau de abstração. Podem, ainda, incluir informações sobre relações entre

    conceitos, atributos dentro de conceitos e contextos particulares, conceitos

  • 14

    específicos e conhecimentos gerais. São importantes as relações causais dentro de

    esquemas, do tipo “se... então”.

    Em resumo, a compreensão do que é lido depende de acessar o significado

    das palavras, com base na memória ou com base no contexto; deduzir o significado

    de ideias fundamentais; formar modelos mentais, ou seja, criar algum tipo de

    representação mental que contenha em si os principais elementos do texto e extrair

    as informações do texto para aplicar essas informações ao objetivo da leitura.

    2.3. Tipos de avaliação de compreensão da leitura

    Quando o leitor contextualiza e atribui significado à sua leitura, é considerado

    proficiente porque atingiu um nível de compreensão satisfatório.

    Witter (1997) fez uma análise do Annual Summary of Investigations relating to

    Reading e, ao comparar com a produção brasileira, concluiu que há poucas

    pesquisas sobre leitura no Brasil.

    Além disso, a maior parte das pesquisas refere-se ao processo de

    decodificação, enquanto que há poucas referências em relação à compreensão de

    leitura.

    Atualmente, alguns instrumentos para avaliação da compreensão em leitura

    têm sido utilizados por pesquisadores. Instrumento corresponde ao recurso utilizado

    na avaliação, e técnica é o meio que informa o que se pretende na avaliação

    (ALMEIDA, 1992).

    Oliveira et al. (2005) utilizaram textos preparados segundo a Técnica de Cloze

    com objetivo de explorar a relação entre a compreensão de leitura, o

    desenvolvimento acadêmico e a avaliação da aprendizagem.

  • 15

    Em 2006, Oliveira explica que a técnica Cloze foi criada por W.L.Taylor em

    1953 e consiste na omissão sistemática de todos os quintos vocábulos do texto. O

    aluno deve preencher o espaço com a palavra que ache mais adequada.

    Silva & Santos (2004) realizaram pesquisa com aplicação do Teste de Cloze

    com objetivo de avaliar a compreensão de leitura e o desempenho acadêmico de

    universitários.

    Carvalho (2009) utilizou a análise do reconto oral do texto narrativo lido

    silenciosamente e das respostas a questões de múltipla escolha para estudar o

    desempenho de escolares do Ensino Fundamental em tarefas de compreensão de

    leitura.

    Em estudo que procurou verificar a influência da memória operacional nas

    habilidades de compreensão de leitura, Giangiacomo & Navas (2008) realizaram a

    avaliação a partir de leitura e respostas às questões de dois textos, sendo que para

    cada texto havia 11 questões que deveriam ser respondidas com sim e não, e a

    criança ainda deveria completar as lacunas com as palavras adequadas

    apresentadas em texto Cloze. Em ambas as provas, foi calculado o tempo de

    realização da tarefa em minutos.

    Coelho & Correa (2010) utilizaram o Teste de Cloze para fazer estudo que

    teve como objetivo examinar o progresso da compreensão leitora através do

    desenvolvimento da habilidade de monitoramento a partir do emprego do paradigma

    de detecção de erros.

    O monitoramento é uma habilidade metacognitiva que está relacionada com a

    aprendizagem e a rememoração (BROWN, 1978; BROWN, BRANSFORD,

    FERRARA & CAMPIONE, 1983).

  • 16

    O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado em 1998 pelo Instituto

    Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) do Ministério

    da Educação, é um exame individual e de caráter voluntário, oferecido anualmente

    aos concluintes e egressos do ensino médio, com o objetivo principal de possibilitar

    uma referência para a autoavaliação, a partir das competências e habilidades que o

    estruturam.

    Posteriormente, o ENEM começou a ser utilizado como exame de acesso ao

    Ensino Superior em universidades públicas brasileiras através do Sistema de

    Seleção Unificada (Sisu).

    Para cada uma das questões objetivas são apresentadas cinco alternativas,

    sendo que somente uma responde corretamente a questão.

    2.4. Estudos neurobiológicos na compreensão da leitura

    A leitura é uma forma de linguagem. Para Kandel et al. (1997) a linguagem é

    uma capacidade exclusivamente humana. Nas suas formas escrita e falada, ela

    representa interações significativas entre pessoas, não apenas no presente, mas

    fora das limitações do tempo. Muitos estudos neurológicos sobre linguagem partem

    de lesões em diferentes partes do córtex cerebral. Alguns pacientes afásicos têm

    dificuldade na compreensão da fala e da escrita – afasia de Wernicke. Outros têm

    dificuldade de expressar os pensamentos por meio da língua escrita ou falada –

    afasia de Broca.

    A afasia de Wernicke é caracterizada por deficiência importante na

    compreensão. A lesão afeta primariamente a área de Wernicke, embora muitas

    vezes se estenda para as partes superiores do lobo temporal (áreas 40 e 39) e,

    inferiormente, para a área 37.

  • 17

    Pereira et al. (2003), em seu Estudo da Anatomia das áreas ativas nos usuais

    paradigmas em Ressonância Magnética Funcional (RMF), referem que a Área de

    Wernicke localiza-se no segmento posterior do gyrus temporal superior, na sua face

    dorsal, logo atrás da circunvolução de Heschl e adiante do gyrus angulares.

    Corresponde às áreas 22, 37, 39 e 40 de Brodmann e constitui o componente léxico-

    semântico da linguagem.

    Figura 3: Dois casos de ativação da área de Wernicke em testes de fluência semântica. (PEREIRA et al., 2003).

    Segundo Binder (2005), recentes estudos de RMF demonstram que os

    processos léxico-semânticos envolvem um número de regiões no hemisfério

    esquerdo, localizados nos lobos temporal, parietal e região pré-frontal. Num estudo

    através de ressonância magnética funcional no qual os participantes identificaram

    palavras concretas e abstratas, áreas no lobo temporal lateral foram igualmente

    ativadas por ambos os tipos de palavras. Os resultados mostraram sobreposição de

    áreas, mas também que o processamento de conceitos abstratos ocorre quase

    exclusivamente no hemisfério esquerdo.

    Investigações em pacientes com demência semântica indicam que ambos os

    lobos temporais anteriores, incluindo o córtex perirrinal, estão envolvidos no

    processamento semântico (CHAN FOX et al., 2001; DAVIES et al., 2004; NESTOR

    PEREIRA & ROGERS, 2007).

  • 18

    Segundo Patterson, Nestor & Rogers (2007) os lobos temporais anteriores

    podem funcionar como um núcleo da rede de distribuição semântica, ou seja, o

    conhecimento semântico pode ser distribuído entre áreas corticais de associação.

    Como os lobos temporais se conectam com todos os outros sistemas sensoriais,

    podem integrar as informações.

    Outras pesquisas sugerem que a memória semântica é basicamente

    sustentada por circuitos localizados principalmente no hemisfério esquerdo. Zahn et

    al. (2004) realizaram um estudo com tomografia por emissão de pósitrons com

    fluorodeoxiglicose (FDG-PET) e mostraram que o hipometabolismo no temporal

    anterior esquerdo, temporal posterior inferior, parietal e occipital medial foram

    relacionados ao desempenho em tarefas semânticas verbal e não verbal.

    Yarkoni (2008) realizou estudos de neuroimagens durante a compreensão de

    narrativa. Identificou uma participação das regiões: frontal, temporal e occipital.

    Os resultados da pesquisa de Humphries (2001) dão suporte para o ponto de

    vista que o córtex temporal anterior tem importante papel na compreensão de

    sentença.

    Kandel et al. (1997) relata que na maioria dos indivíduos destros, o hemisfério

    esquerdo é especializado na linguagem e no processamento seriado correlato das

    informações, e o hemisfério direito é especializado para os processos não verbais,

    inclusive a visualização tridimensional, a rotação mental, o reconhecimento das

    faces, e a compreensão do significado das expressões faciais. Várias linhas de

    evidências sugerem que os padrões de assimetria cerebral podem diferir nos dois

    sexos.

    O teste do amital sódico (Wada), realizado em pacientes sem lesão cerebral

    com objetivo de determinar o hemisfério dominante para as funções da fala, ajudou

  • 19

    a explorar a relação entre a desteridade e a especialização hemisférica. O teste

    confirma que quase todas as pessoas destras (96%) têm a fala no hemisfério

    esquerdo. A maioria dos canhotos também, contudo um número significativo (15%)

    de pessoas canhotas tem a fala no hemisfério direito. Além disso, em algumas

    pessoas canhotas, a fala é controlada por ambos os hemisférios, direito e esquerdo

    (RASMUSSEM & MILNER, 1977).

    O hemisfério direito nas meninas não é especializado para uma função

    cognitiva particular, e por isso pode manter uma plasticidade maior por um período

    mais longo que nos meninos. Após lesão do hemisfério esquerdo na infância, as

    funções da linguagem parecem se transferir mais facilmente para o hemisfério direito

    no sexo feminino do que no masculino. A afasia do desenvolvimento e o autismo

    infantil são mais frequentes nos machos e os déficits de linguagem são sintomas

    proeminentes em todas essas síndromes (KANDEL et al., 1997).

    Chapman (1995) realizou estudo focalizando diferenças no desempenho

    acadêmico de universitários que possam estar relacionadas ao gênero. Os

    resultados apontam para um melhor rendimento das mulheres em relação aos

    homens.

    Shaywitz et al. (1990) realizaram um estudo e os resultados indicaram que a

    prevalência de distúrbios de leitura identificados na escola é duas a quatro vezes

    mais comuns em meninos do que meninas. Esses achados estão de acordo com

    outras pesquisas nas quais a média de meninos em relação à meninas com

    dificuldades na leitura tem variado de 2:1 até 5:1.

    Baxter et al. (2002) comparou através de FMRI (Functional Magnetic

    Resonance Imaging) dez cérebros femininos e nove masculinos durante tarefa de

    processamento semântico. Homens mostraram ativação do hemisfério esquerdo,

  • 20

    com grandes locais de ativação focal nos Gyrus frontal inferior esquerdo, gyrus

    temporal superior esquerdo e região do cíngulo, enquanto ativação do hemisfério

    direito foi geralmente ausente. Em contraste, mulheres mostraram ativação em

    ambos os hemisférios, direito e esquerdo.

    2.5. Estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC)

    A ETCC é uma técnica de neuromodulação cortical não invasiva, indolor, de

    fácil aplicação e baixo custo. Essa técnica começou com investigações de funções

    cognitivas, visuais e motoras em voluntários saudáveis e, atualmente, vem

    ganhando destaque em pesquisas na investigação dos seus efeitos em alterações

    dessas funções e em patologias.

    A ETCC tem se mostrado como técnica de modulação de função cortical

    capaz de induzir mudanças reversíveis de excitabilidade cortical.

    Nietsche et. al. (2008) combinaram ETCC com técnicas de imageamento e

    métodos de mapeamento cerebral (ressonância magnética funcional [FMRI],

    eletroencefalografia [EEG] ou tomografia por emissão de pósitron [PET]) concluindo

    que a estimulação pode gerar mudanças significativas relacionadas a modificação

    do comportamento e os processos subjacentes de base.

    2.5.1. ETCC em Córtex Temporal Anterior Esquerdo

    Apenas um estudo sobre ETCC em Córtex Temporal Anterior (CTA) foi

    descrito recentemente.

    Boggio et al.(2009) procuraram verificar as consequências da estimulação

    cerebral em uma tarefa de falsa memória. Os resultados mostraram que falsas

    memórias foram reduzidas significativamente após duas condições ativas

  • 21

    (estimulação unilateral e bilateral), em comparação com a estimulação placebo. Não

    foram relatadas mudanças significativas nas memórias verídicas. O estudo provou

    que as falsas memórias são reduzidas em 73% quando a ETCC anódica é aplicada

    em CTA ao longo das etapas de codificação e recuperação, sugerindo uma possível

    estratégia para melhorar certos aspectos da aprendizagem.

    Em pesquisa realizada anteriormente, Gallate et al. (2009) concluiram que as

    falsas memórias são reduzidas temporariamente interrompendo a atividade no CTA,

    com baixa frequência de estimulação de impulsos magnéticos, através do uso de

    Estimulação Magnética Transcraniana (EMTr).

    Afirmou também que, após a estimulação ativa, os participantes tiveram 36%

    a menos de falsas memórias do que tinham após a estimulação placebo, enquanto a

    memória verídica não foi afetada.

    Com o objetivo de investigar o papel da alça fonológica na compreensão de

    sentenças, foram testadas as consequências comportamentais do rompimento da

    atividade neural nas áreas 40 e 44 do córtex temporal esquerdo através da EMTr.

    Lauro et al. (2010) avaliaram a compreensão por meio de duas tarefas: uma

    tarefa de harmonização da frase para a imagem, com variação de tamanho e

    complexidade sintática, e outra tarefa de verificação de sentença.

    Sobre a área 40, a ETMr apresentou uma redução significativa na precisão de

    compreensão para frases longas e complexas, e sentenças sintaticamente mais

    simples, enquanto que sobre a área 44 foi reduzida a precisão somente nas

    sentenças sintaticamente mais complexas.

    A EMTr aplicada sobre a área 40 também foi prejudicial em sentenças em que

    a ordem das palavras foi crucial. Nesse estudo, portanto, foi sugerido que os

    correlatos neurais da alça fonológica, areas 40 e 44 do córtex temporal esquerdo,

  • 22

    estão ambos envolvidos na compreensão de sentenças sintaticamente complexas,

    enquanto que apenas a área 40, correspondente ao armazenamento de curto prazo,

    é utilizada para a compreensão do tempo e frases sintaticamente mais simples.

    2.5.2. Mecanismos de ação da ETCC

    Boggio (2006) refere que os efeitos da ETCC dependem da polaridade, da

    região estimulada, do tempo de estimulação e da intensidade da corrente utilizada.

    A densidade da corrente, que determina a força do campo elétrico de indução,

    é responsável por induzir modificações agudas da polaridade da membrana.

    Já o tempo de estimulação determina a ocorrência e a duração dos efeitos

    posteriores à estimulação.

    O posicionamento dos eletrodos define a orientação do campo elétrico.

    O ânodo é definido como eletrodo de carga positiva, e o cátodo é de carga

    negativa.

    Lolas (1977) refere aumento do disparo neuronal espontâneo em pesquisa

    utilizando estimulação anódica, melhorando a transmissão do impulso nervoso.

    Na estimulação catódica, o disparo espontâneo de neurônios corticais é

    reduzido, provavelmente devido à hiperpolarização do corpo celular, dificultando a

    transmissão do impulso nervoso.

    Para Nitsche & Cohen et al. (2008), o mecanismo de ação da ETCC é

    baseado nas alterações da função da membrana neural.

    Pode-se obter um efeito diferenciado de estimulação a partir do número de

    eletrodos, combinação do posicionamento e direção do fluxo da corrente.

  • 23

    Também é recomendada a utilização de Solução Fisiológica (NaCl) nas

    esponjas que cobrem os eletrodos, possibilitando melhor condutância de corrente e

    minimizando o desconforto que a estimulação pode gerar.

    2.5.3. Equipamento utilizado para a ETCC

    O equipamento de ETCC é constituído por quatro componentes principais:

    dois eletrodos, sendo um ânodo e um cátodo; um amperímetro para medir a

    intensidade da corrente elétrica; um potenciômetro para controlar a intensidade da

    corrente; e um jogo de baterias para a geração de corrente elétrica contínua com

    intensidade máxima de corrente de 2 miliamperes (mA) (FIQUER et al., 2007).

    Figura 4: Aparelho de Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua.

    Estudos recentes demonstram que os efeitos da ETCC são cumulativos e que

    a estimulação de 2 mA é segura e mais eficiente que a estimulação de 1 mA

    (FREGNI et al., 2005a; IYER et al., 2005).

  • 24

    2.6. Movimentos oculares na leitura

    O registro dos movimentos oculares tem sido usado em diferentes modelos,

    como nas provas de leitura de palavras isoladas, nos textos dinâmicos em que as

    palavras são precedidas ou seguidas de uma máscara e na apresentação de

    sentença (MACEDO et al., 2007).

    Nos estudos de leitura, as principais propriedades do movimento ocular

    analisadas são as fixações e os movimentos sacádicos. As fixações são breves

    períodos de tempo durante os quais o olho permanece examinando uma pequena

    área do estímulo. O movimento que o olho executa para a área de fixação é

    chamado de sacada. A função principal da fixação é analisar detalhadamente o texto

    no campo foveal, no qual a informação é mais facilmente passível de ser obtida, ao

    contrário das regiões parafoveal e periférica (RAYNER, 1998).

    As fixações acontecem somente sobre algumas palavras do texto, sendo que

    as palavras curtas com duas a três letras são geralmente omitidas, enquanto as

    maiores podem ser fixadas mais de uma vez (RAYNER, 1998). Embora nem todas

    as palavras sejam fixadas, todas recebem algum tipo de processamento visual, visto

    que se o mesmo texto fosse elaborado sem as palavras não fixadas, este se tornaria

    incompreensível para o leitor. (RAYNER et al., 1996).

    Segundo Macedo et al. (2007), existe uma correlação entre o aumento da

    habilidade de leitura e eficácia no padrão de movimento ocular. O tamanho das

    sacadas aumenta de acordo com a melhora nas habilidades de leitura, enquanto a

    duração da fixação, o número de fixações e a frequência de sacadas regressivas

    diminuem.

    Oliveira (2011) avaliou e comparou e desempenho de universitários através

    da mensuração dos movimentos oculares na realização da BALE (Bateria de Leitura

  • 25

    e Escrita) on-line (MACEDO et al., 2005), que é uma bateria composta por 5 testes

    que avaliam os componentes linguísticos relacionados à leitura e à escrita.

    Lukasova (2007) registrou movimentos oculares durante a leitura de palavras

    e concluiu que os sujeitos com dificuldades na leitura possuem diferentes padrões

    em aspectos como maior duração de fixação e maior número de fixação nas

    palavras.

    2.6.1. Equipamento utilizado para registro dos movimentos oculares

    O equipamento utilizado foi o EyeGaze® desenvolvido pela LC Technologies

    Inc. O movimento ocular é registrado com base no reflexo corneano. É composto por

    um monitor de 17 polegadas TFT 1280x1024 pixels, que tem embutidas duas

    câmeras de alta resolução na sua parte inferior, junto com os diodos que emitem

    raio infravermelho (NearInfra-Red Light-Emitting Diodes - NIR-LEDs), na direção de

    ambos os olhos.

    O reflexo corneano que é captado pelas filmadoras embutidas é captado

    através da luz infravermelha, que atinge a retina, passando pela córnea. O registro

    de movimento ocular é processado com software Eyegaze System® operando no

    sistema Windows® NT/2000. O Eyegaze System gera informações sobre visibilidade

    do olho, posição do olho (coordenadas nos eixos x e y), diâmetro da pupila, posição

    3D do globo ocular, análise resumida de fixações e sacadas. O reflexo melhora a

    iluminação da pupila, facilitando o registro da câmera de vídeo, além de refletir a luz

    em direção da tela do computador, cujas coordenadas são também gravadas pelo

    vídeo numa frequência de 60 Hz. As imagens da câmera e as coordenadas são

    computadas e a partir do resultado é reconstruído o registro de traçado ocular.

    Ambos os olhos são gravados simultaneamente e, por ser binocular, o equipamento

  • 26

    tem uma tolerância para o movimento livre da cabeça (30 x 15 x 20 cm). Um

    computador Dell® com processador Pentium® 4 é conectado com o equipamento

    Tobii®, sendo este o computador principal para a aplicação dos procedimentos e

    para o controle de posicionamento ocular do sujeito. A interface do equipamento

    com o computador e outros programas, assim como o cálculo e análise de dados, é

    feita pelos programas TET Server (Tobii Eye Tracking Server) versão 2.8.5. e o

    Clear View versão 2.5.1., operando em Windows XP®. Os programas geram

    arquivos com as propriedades do movimento ocular. Os dados podem ser

    exportados em arquivos Excel, como real time, em arquivo AVI ou como imagens do

    tipo Hot Spot.

    Figura 5: Equipamento Tobii®.

  • 27

    3. OBJETIVOS

    3.1. Objetivo geral

    Investigar os possíveis efeitos da ETCC aplicada em CTAE em tarefa de

    compreensão de leitura em voluntários sem Transtornos de Aprendizagem.

    3.2. Objetivos específicos

    Verificar o número de acertos na prova de compreensão de leitura, levando

    em consideração o tipo de estimulação (anódica, catódica ou placebo) e a ordem de

    aplicação das provas.

    Verificar o número de fixação dos movimentos oculares na realização de cada

    questão, na prova de compreensão de leitura, levando em consideração o tipo de

    estimulação (anódica, catódica ou placebo) e ordem de aplicação das provas.

    Verificar o tempo de fixação dos movimentos oculares na realização de cada

    questão, na prova de compreensão de leitura, levando em consideração o tipo de

    estimulação (anódica, catódica ou placebo) e ordem de aplicação das provas.

    Verificar, através da prova de dígitos, as influências da ETCC em tarefa de

    memória operacional.

  • 28

    4. MÉTODO

    4.1. Desenho do estudo

    Trata-se de um estudo interventivo, prospectivo, randomizado e placebo-

    controlado.

    4.2. Contexto

    As aplicações de ETCC em CTAE durante tarefa de compreensão de leitura

    foram realizadas na sala em que se encontra o equipamento Tobii®,no Laboratório

    de Neurociências da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil.

    4.3. Definições

    Participaram do estudo 12 universitários do curso de Psicologia da

    Universidade Presbiteriana Mackenzie (idade média 23,5).

    As aplicações de ETCC foram realizadas por equipe especializada, integrante

    do Laboratório de Neurociências da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    4.4 Critérios de inclusão e de exclusão

    Critérios de inclusão:

    Sexo Masculino.

    Ser destro.

    Ser universitário.

    Assinar termo de consentimento livre e esclarecido para participar

    do estudo (ANEXO I).

  • 29

    Foram selecionados apenas sujeitos do sexo masculino e destros, dadas as

    variações estruturais neurobiológicas presentes nos gêneros e as relações entre

    desteridade e especialização hemisférica para a linguagem.

    Critérios de exclusão:

    História de dificuldades de aprendizagem.

    História de epilepsia, neurocirurgia e implante de marca-passo.

    Dependência química.

    Ausência de indicativos de desordens mentais.

    Uso de medicação psicoativa.

    Os critérios de exclusão foram coletados através de questionário (ANEXO I).

    4.5. Instrumento de avaliação de compreensão de leitura

    Para avaliação da compreensão de leitura foi utilizada uma prova de dez

    questões de cunho interpretativo do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)

    (ANEXO III).

    As questões foram selecionadas pela autora da dissertação de acordo com os

    seguintes critérios:

    Número de palavras do enunciado.

    A B C D E F G H I J TOTAL

    Nº de palavras por questão 235 239 296 141 158 239 219 208 374 217 2326

    Padrão de estética semelhante na estrutura da questão.

    Enunciados que possibilitem a interpretação da leitura e evitem

    conhecimento prévio sobre o assunto.

    Não apresentação de fatos históricos.

  • 30

    Para cada uma das questões objetivas foram apresentadas cinco alternativas,

    identificadas pelos números 1, 2, 3, 4 e 5. Apenas uma alternativa responde

    corretamente a questão.

    Os slides referentes a cada questão foram confeccionados em arquivos de

    formato bitmap (BMP) com resolução 800 x 600 pixels. A fonte utilizada foi Calibri,

    cor preta, tamanho 18 em fundo branco.

    Após a apresentação de cada questão, apareceu na tela um ponto preto central

    e, nesse momento, o sujeito emitiu a resposta considerada correta, que foi anotada pelo

    examinador.

    4.6. Instrumento de avaliação de memória operacional

    Para mensuração da influência da memória operacional foi utilizada a Prova

    de Dígitos da “Escala de Inteligência Wechsler para adultos – 3ª Edição – Adaptação

    Brasileira – 1ª Edição – WAIS III”.

    Para a realização dessa prova, o sujeito deveria repetir primeiramente os

    números falados pelo examinador em Ordem Direta e, em seguida, em Ordem

    Inversa. O grau de dificuldade de memorização dos números vai aumentando

    progressivamente até que o sujeito não consiga mais repeti-los corretamente.

    Essa avaliação foi realizada antes e depois da ETCC.

    4.7. Procedimentos

    O presente projeto de pesquisa, bem como a Carta de Informação ao Sujeito de

    Pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram enviados ao Comitê

    de Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O projeto foi avaliado e aprovado no

    CEO/UPM nº 1317/03/2011 e CAAE nº 0012.0.272.000-11 (ANEXO II). Os sujeitos

  • 31

    foram convidados para participação na pesquisa e receberam informações acerca dos

    objetivos e aspectos éticos da pesquisa. Após a leitura e assinatura do Termo de

    Consentimento, foi realizada a aplicação do questionário para verificação dos critérios

    de inclusão e de exclusão. Para o registro de movimentos oculares, os sujeitos foram

    acomodados numa cadeira à distância de 50 cm da tela do computador e foi realizada a

    calibração do padrão ocular. Uma pesquisadora integrante do Laboratório foi chamada

    para a colocação dos eletrodos em CTAE para início da ETCC. Após cinco minutos de

    estimulação ativa os sujeitos foram instruídos a realizar a prova de dígitos. Após a

    realização desta, foi dado início à avaliação de compreensão de leitura através da

    mensuração dos movimentos oculares. O examinador presente foi anotando as

    respostas consideradas corretas pelo participante da pesquisa em seu gabarito. Ao

    término da realização das questões, foi realizada a prova de dígitos novamente. Ao final

    das provas, o aparelho de ETCC foi desligado. Após uma semana, foi realizado novo

    experimento, nos mesmos padrões, com o mesmo participante, porém a avaliação de

    compreensão de leitura foi apresentada com as questões em nova ordem escolhida

    aleatoriamente e houve a alteração do tipo de estimulação utilizada (ânodo, cátodo ou

    placebo). Ao todo, cada participante recebeu os três tipos de estimulação com carga

    de 2mA em sequência aleatória e contrabalanceada, com intervalos de aplicação de

    uma semana.

    A seguir, uma descrição sobre o posicionamento dos eletrodos e tipo de

    estimulação utilizada:

    ETCC anódica: ânodo posicionado em CTAE e cátodo em

    músculo deltoide direito.

    ETCC catódica: cátodo posicionado em CTAE e ânodo em

    músculo deltoide direito.

  • 32

    ETCC placebo: ânodo posicionado em CTAE e cátodo em

    músculo deltoide direito, entretanto o aparelho foi desligado após 5

    minutos.

    O aparelho utilizado possui ajuste para placebo, o que faz com que, mesmo

    após o aparelho ser desligado, o amperímetro (que marca a intensidade de corrente

    contínua) permaneça sinalizando que o equipamento está ligado. Dessa forma,

    quando aplicada, a estimulação placebo produz sensações semelhantes, porém os

    indivíduos não são estimulados.

    A corrente elétrica foi aplicada através de dois eletrodos de borracha

    condutora com 35 cm2 envoltos por esponjas embebidas em soro fisiológico. A

    corrente elétrica foi gerada por um estimulador de corrente constante específico.

    Um eletrodo foi colocado sobre o couro cabeludo, no ponto subjacente à

    região do CTAE, classificada como Área 39 no Sistema Internacional para EEG 10-

    20, e fixado com o auxílio de uma fita elástica; o outro foi colocado sobre o músculo

    deltoide, também fixado com o auxílio de outra fita elástica. Na estimulação anódica,

    a corrente contínua foi colocada na região do CTAE, e o eletrodo com a corrente

    contínua catódica foi alocado sobre o músculo deltoide; na estimulação catódica,

    ocorreu o inverso.

  • 33

    Figura 6: Sistema Internacional 10 – 20 EEG de posicionamento de eletrodos.

    A seguir, um quadro com os dados das divisões dos tipos de estimulação e

    das provas que foram aplicados nas datas previstas (A, B e C). A ordem de

    aplicação de ETCC foi randomizada (escolhida aleatoriamente), sendo que o

    participante da pesquisa não teve acesso ao tipo de estimulação que recebeu.

  • 34

    Quadro 1: Tipos de estimulação e de provas em cada dia de experimento.

    SUJEITO DIA A DIA B DIA C

    1 P1 cátodo P2 ânodo P3 placebo

    2 P2 placebo P3 cátodo P1 ânodo

    3 P3 ânodo P1 placebo P2 cátodo

    4 P1 cátodo P2 ânodo P3 placebo

    5 P2 placebo P3 cátodo P1 ânodo

    6 P3 ânodo P1 placebo P2 cátodo

    7 P1 cátodo P2 ânodo P3 placebo

    8 P2 placebo P3 cátodo P1 ânodo

    9 P3 ânodo P1 placebo P2 cátodo

    10 P1 cátodo P2 ânodo P3 placebo

    11 P2 placebo P3 cátodo P1 ânodo

    12 P3 ânodo P1 placebo P2 cátodo

    O número de 12 participantes para o estudo foi escolhido com o objetivo de

    conseguir, na análise estatística, homogeneidade na formação dos grupos em

    função das estimulações catódica, anódica e placebo.

    Os dados obtidos foram transmitidos para o software Microsoft Excel® e,

    então, organizados para a análise de dados.

    Nessa analise estatística foram utilizados os softwares: SPSS V16, Minitab 15

    e Excel Office 2007.

  • 35

    5. RESULTADOS

    Os resultados obtidos na Prova De Compreensão de Leitura sob os efeitos da

    ETCC foram analisados, considerando as seguintes variáveis independentes: tipo de

    estimulação (anódica, catódica e placebo) e ordem de aplicação da Prova de

    Compreensão de Leitura. Foram consideradas as seguintes variáveis dependentes:

    acerto e erro; tempo de fixação durante a leitura; e número de fixações durante a

    realização da prova.

    Para a análise dos dados, utilizaram-se testes e técnicas estatísticas não

    paramétricas, porque as condições para a utilização de técnicas e testes

    paramétricos, como a normalidade (teste de Anderson-Darling, gráfico de

    distribuição de normalidade, sigla AD) e homocedasticidade (homogeneidade das

    variâncias, teste de Levene), não foram encontradas (principalmente a normalidade)

    nesse conjunto de dados.

    Quanto à distribuição da frequência relativa (percentuais) de acerto/erro de

    cada uma das questões, foram realizadas duas comparações: entre os estímulos e

    entre a ordem de aplicações. Para realização dessas análises foi aplicado o teste de

    Igualdade de Duas Proporções.

    Como a variável tipo de estimulação possui mais do que dois níveis de

    resposta, a análise foi feita em duas etapas. A primeira etapa localizou a distribuição

    proporcional entre todos os níveis de resposta, no entanto, para determinar se existe

    ou não diferença entre eles, foi preciso compará-los dois a dois. Assim, foi obtido os

    p-valores dessas comparações (ANEXO IV).

    O p-valor é o valor considerado estatisticamente significativo perante o nível

    de significância adotado, que neste trabalho é de 0,05 (5%).

  • 36

    Na análise da influência dos tipos de ETCC aplicadas em tarefa de

    compreensão de leitura, verificamos que praticamente não existem diferenças entre

    os estímulos e as aplicações, respectivamente. Somente uma exceção ocorreu na

    comparação dos estímulos ânodo e placebo na Questão E (p-valor = 0,013). Nota-se

    que em acerto, o estímulo ânodo teve 16,7% contra 66,7% do placebo. Já em

    relação às aplicações (Figura 2), somente na Questão J apareceu a ocorrência de

    um dado estatisticamente próximo do limite de aceitação (até 5 pontos percentuais

    acima do p-valor adotado).

    Figura 1: Níveis de acerto relacionados com os tipos de ETCC aplicadas

    Figura 2: Níveis de acerto relacionados com a ordem de aplicação das provas

    Para a análise dos valores quantitativos, iniciada pela variável tempo de

    fixação na realização da prova, foi utilizado o teste de Friedman comparando os

    83

    ,3%

    10

    0,0

    %

    33

    ,3%

    16

    ,7%

    16

    ,7%

    75

    ,0%

    75

    ,0%

    10

    0,0

    %

    0,0

    %

    75

    ,0%

    10

    0,0

    %

    10

    0,0

    %

    33

    ,3%

    33

    ,3%

    50

    ,0%

    75

    ,0%

    75

    ,0%

    83

    ,3%

    8,3

    %

    91

    ,7%

    91

    ,7%

    10

    0,0

    %

    33

    ,3%

    33

    ,3%

    66

    ,7%

    66

    ,7%

    66

    ,7%

    91

    ,7%

    0,0

    %

    91

    ,7%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    120%

    Quest. A Quest. B Quest. C Quest. D Quest. E Quest. F Quest. G Quest. H Quest. I Quest. J

    Anodo Catodo Placebo

    10

    0,0

    %

    10

    0,0

    %

    25

    ,0%

    25

    ,0%

    50

    ,0%

    75

    ,0%

    66

    ,7%

    83

    ,3%

    8,3

    %

    75

    ,0%

    83

    ,3%

    10

    0,0

    %

    41

    ,7%

    33

    ,3%

    41

    ,7%

    66

    ,7%

    75

    ,0%

    10

    0,0

    %

    0,0

    %

    83

    ,3%

    91

    ,7%

    10

    0,0

    %

    33

    ,3%

    25

    ,0%

    41

    ,7%

    75

    ,0%

    75

    ,0%

    91

    ,7%

    0,0

    %

    10

    0,0

    %

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    120%

    Quest. A Quest. B Quest. C Quest. D Quest. E Quest. F Quest. G Quest. H Quest. I Quest. J

    1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.

  • 37

    estímulos e as aplicações. Nesse teste, os dados foram pareados, ou seja, quando o

    sujeito foi pesquisa e controle dele mesmo. Quando encontrada diferença em algum

    dos fatores, foi realizado o teste de Wilcoxon (também pareado) para compararmos

    todas as respostas daquele fator aos pares e mostrar com precisão entre quais

    respostas ocorreu a diferença.

    Segue abaixo as comparações dos fatores: estímulos e aplicações, para o

    tempo de fixação nas questões e suas respostas. Os resultados apresentados

    referem-se somente às questões em que foi possível estabelecer um nível de

    significância.

    Figura 3: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC aplicadas na Questão B

    Na resposta da questão B5 houve efeito significativo na relação entre ânodo e

    placebo relacionada ao tempo de fixação, mas não houve efeito significativo na

    relação ânodo e cátodo.

    Figura 4: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC aplicadas na Questão F

    34

    ,27

    3

    2,3

    07

    2,0

    65

    1,1

    80

    2,4

    33

    2,3

    15

    31

    ,56

    0

    2,4

    90

    1,8

    77

    1,4

    63

    2,5

    09

    1,1

    74

    31

    ,66

    7

    2,6

    75

    1,4

    18

    1,4

    32

    2,4

    04

    1,0

    98

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Questão B Resp B1 Resp B2 Resp B3 Resp B4 Resp B5

    Anodo Catodo Placebo

    20

    ,45

    9

    7,8

    41

    2,5

    54

    5,2

    70

    3,3

    10

    2,8

    82

    23

    ,02

    4

    4,0

    11

    2,6

    90

    3,8

    54

    2,7

    22

    3,0

    73

    26

    ,01

    4

    7,3

    59

    2,3

    50

    4,7

    37

    1,9

    71

    7,8

    92

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Questão F Resp F1 Resp F2 Resp F3 Resp F4 Resp F5

    Anodo Catodo Placebo

  • 38

    O resultado acima, na questão F1, refere-se à maior tempo de fixação em

    ânodo do que em cátodo, não correlato à hipótese deste estudo.

    No caso de uma estimulação de excitabilidade neural, deve-se esperar que o

    tempo de fixação durante a leitura da prova seja inferior ao tempo utilizado durante a

    estimulação inibitória da atividade neural.

    Figura 5: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC aplicadas na Questão G

    Na Questão G, alternativas 1 e 3, os resultados se mostraram dentro dos

    padrões esperados nas relações entre tempo de fixação e tipo de estimulação:

    foram apresentados menores tempos de fixação durante a estimulação anódica e o

    inverso na estimulação catódica.

    A seguir serão apresentados os resultados que comparam a ordem das

    aplicações da prova de compreensão de leitura com o tempo de fixação coletados

    através do Tobii®.

    No total foram realizadas três aplicações da prova de compreensão de leitura,

    espaçadas em intervalos de uma semana cada uma.

    Figura 6: Tempo de fixação relacionado com a ordem de aplicação das provas na Questão A

    43

    ,77

    9

    2,0

    10

    1,8

    92

    1,8

    49

    1,8

    88

    1,9

    93

    42

    ,85

    9

    3,5

    06

    3,0

    61

    2,3

    45

    3,7

    19

    1,9

    99

    41

    ,72

    8

    2,7

    14

    2,5

    66

    1,1

    34

    2,3

    35

    2,4

    68

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Questão G Resp G1 Resp G2 Resp G3 Resp G4 Resp G5

    Anodo Catodo Placebo

    40

    ,37

    6

    3,0

    53

    2,9

    09

    4,0

    48

    3,2

    01

    2,5

    21

    27

    ,38

    8

    1,7

    76

    1,6

    94

    3,1

    49

    1,6

    99

    1,9

    48

    25

    ,80

    4

    1,5

    64

    1,7

    12

    2,2

    92

    1,3

    27

    1,2

    70

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Questão A Resp A1 Resp A2 Resp A3 Resp A4 Resp A5

    1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.

  • 39

    Os resultados indicam que se estabeleceu uma forte e constante relação de

    diminuição de tempo de fixação da primeira para a terceira aplicação, o que sugere

    que houve um acesso cada vez mais rápido às redes semânticas com prevalência

    do uso da memória.

    Nas figuras subsequentes, referentes à comparação das aplicações para

    tempo de fixação com efeitos significativos, pode-se constatar que o mesmo ocorreu

    para todas as questões (ANEXO V).

    Ao exemplificar a comparação dos tipos de Aplicações na Questão I (Figura

    7), a partir da constatação que existe diferença significativa entre aplicações para o

    tempo na resposta I3 (p-valor = 0,046), percebe-se que essa diferença ocorreu entre

    a primeira aplicação em relação às outras duas.

    Figura 7: Tempo de fixação relacionado com a ordem de aplicação das provas na Questão I

    A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que existem diversas

    comparações entre os fatores estímulo e aplicação com relação ao tempo de

    fixação. Analisando as figuras em todas as questões referentes ao tempo de fixação

    verifica-se que o mesmo é maior na primeira aplicação da prova em relação às duas

    subsequentes.

    A seguir serão realizadas as mesmas comparações, considerando o número

    de fixações durante a prova de compreensão de leitura.

    36

    ,51

    6

    1,9

    28

    2,5

    81

    3,1

    43

    3,4

    63

    4,9

    41

    31

    ,26

    6

    1,5

    13

    1,7

    82

    1,4

    55

    1,7

    17

    2,7

    31

    26

    ,94

    7

    1,7

    36

    1,9

    73

    1,5

    22

    1,6

    69

    3,2

    65

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Questão I Resp I1 Resp I2 Resp I3 Resp I4 Resp I5

    1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.

  • 40

    Figura 8: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC na Questão B

    Na comparação dos tipos de estimulação com o número de fixação obtido

    durante a realização da prova de compreensão de leitura, os resultados acima se

    assemelham aos ocorridos na discussão da figura 4, no qual os sujeitos apresentam

    um maior número de fixação em ânodo do que em cátodo e placebo, indicando que

    a ETCC não teve influência na obtenção desses dados. Ainda assim, os dados com

    efeito significativo referem-se ao cruzamento das estimulações anódica e placebo, o

    que inviabiliza uma possível relação na presente comparação.

    Figura 9: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC na Questão E

    Na análise dos dados da figura 9 não houve relação entre ânodo e cátodo,

    novamente indicando a falta de relação na comparação entre os tipos de

    estimulação e o número de fixação.

    15

    5,3

    10

    ,8

    9,4

    5,8

    10

    ,5

    10

    ,2

    14

    6,6

    11

    ,5

    8,6

    6,8

    11

    ,4

    4,8

    14

    4,7

    11

    ,0

    6,7

    7,3

    10

    ,8

    5,6

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    Questão B Resp B1 Resp B2 Resp B3 Resp B4 Resp B5

    Anodo Catodo Placebo

    16

    1,8

    16

    ,3

    14

    ,9

    10

    ,3

    9,5

    9,7

    16

    6,4

    12

    ,6

    16

    ,3

    14

    ,2

    13

    ,4

    10

    ,3

    17

    1,7

    16

    ,2

    11

    ,8

    14

    ,8

    11

    ,3

    11

    ,8

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    Questão E Resp E1 Resp E2 Resp E3 Resp E4 Resp E5

    Anodo Catodo Placebo

  • 41

    Figura 10: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC na Questão F

    O mesmo padrão de semelhança da figura 8 foi encontrado nos dados

    apresentados acima, com maior número de fixações em ânodo. Novamente,

    constata-se que não houve influência da ETCC no número de fixações.

    Figura 11: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC na Questão G

    Os resultados da figura 11, referentes à alternativa G1, indicam que existe

    efeito significativo na relação entre ETCC anódica e o número de fixações. Esse

    dado se revela importante, porque o nível de significância indica que houve maior

    número de fixações durante a estimulação catódica, que é a hipótese deste estudo.

    Na comparação a seguir, serão analisados os dados referentes ao

    cruzamento das aplicações da prova de compreensão de leitura com o número de

    fixação coletado.

    A análise dos dados das questões que se seguiram (ANEXO V) refere-se à

    comparação da ordem das aplicações com o número de fixações. Os resultados

    assemelham-se aos resultados obtidos nas figuras que se referem à comparação da

    86

    ,3

    31

    ,5

    11

    ,4

    20

    ,2

    13

    ,4

    11

    ,8

    99

    ,0

    18

    ,2

    10

    ,3

    16

    ,8

    10

    ,6

    14

    ,4

    11

    5,0

    29

    ,8

    10

    ,3

    21

    ,0

    9,4

    37

    ,1

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    Questão F Resp F1 Resp F2 Resp F3 Resp F4 Resp F5

    Anodo Catodo Placebo

    18

    5,8

    6,6

    8,4

    7,4

    7,8

    7,8

    18

    4,1

    12

    ,9

    10

    ,9

    8,8

    13

    ,1

    8,3

    18

    6,3

    9,7

    9,6

    5,0

    9,7

    10

    ,3

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    Questão G Resp G1 Resp G2 Resp G3 Resp G4 Resp G5

    Anodo Catodo Placebo

  • 42

    ordem das aplicações com o tempo de fixações. O número de fixações diminui a

    partir da primeira aplicação em relação a segunda e terceira, como no exemplo a

    seguir.

    Figura 12: Número de fixações relacionado com a ordem de aplicação das provas na Questão A

    Na avaliação dos resultados obtidos na prova de dígitos efetuada antes e

    depois da prova de compreensão de leitura, embora exista diferença na comparação

    dos estímulos ânodo, cátodo e placebo, estas diferenças não foram consideradas

    estatisticamente significantes, portanto pode-se afirmar que não existe efeito da

    ETCC em CTAE, na memória operacional.

    Figura 13: Relaciona desempenho em tarefa de memória operacional com os tipos de ETCC

    aplicadas antes da prova de compreensão de leitura

    Na figura acima, o melhor desempenho dos participantes da pesquisa ocorreu

    na estimulação catódica, demonstrando que não existiu efeito significativo durante a

    estimulação anódica de excitabilidade neural.

    17

    6,4

    12

    ,7

    11

    ,8

    16

    ,6

    11

    ,5

    11

    ,0

    12

    4,5

    8,3

    7,3

    13

    ,2

    6,8

    7,9

    11

    5,0

    6,7

    8,4

    9,9

    6,0

    5,8

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    Questão A Resp A1 Resp A2 Resp A3 Resp A4 Resp A5

    1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.

    10,1

    7,1

    17,2

    10,7

    7,2

    17,8

    10,2

    7,3

    17,4

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Direita Inversa Total

    Anodo Catodo Placebo

  • 43

    Na figura 14, percebe-se uma curva descendente adequada aos tipos de

    estimulação empregados, porém os p-valores (0,148; 0,232; 0,164) obtidos indicam

    que esses dados não podem ser considerados estatisticamente significativos.

    Figura 14: Relaciona desempenho em tarefa de memória operacional com os tipos de ETCC

    aplicadas depois da prova de compreensão de leitura

    As diferenças encontradas nas três aplicações antes e depois da prova de

    compreensão de leitura foram semelhantes às descobertas na comparação da

    ETCC da prova de dígitos relatada acima. De fato, também não foram encontrados

    p-valores que propusessem fundamentos à hipótese de que este estudo viesse a

    contribuir com resultados que indicassem que a ETCC anódica em CTAE causaria

    melhor desempenho na memória operacional.

    Figura 15: Relaciona desempenho em tarefa de memória operacional com a ordem de aplicação das

    provas antes da avaliação de compreensão de leitura

    11,3

    8,0

    19,3

    11,2

    7,8

    19,0

    10,6

    6,9

    17,5

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Direita Inversa Total

    Anodo Catodo Placebo

    10,1

    7,1

    17,2

    10,2 7,3

    17,4

    10,7

    7,2

    17,8

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Direita Inversa Total

    1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.

  • 44

    Figura 16: Relaciona desempenho em tarefa de memória operacional com a ordem de aplicação das

    provas depois da avaliação de compreensão de leitura

    11,3

    8,0

    19,3

    10,6

    6,9

    17,5

    11,2

    7,8

    19,0

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Direita Inversa Total

    1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.

  • 45

    6. DISCUSSÃO

    Embora não tenha sido observado efeito das estimulações anódica, catódica

    e placebo na realização da prova de compreensão de leitura, este estudo permitiu

    confirmar alguns fatos já descritos na literatura.

    De acordo com os dados estatísticos, foi possível evidenciar que, mesmo o

    resultado da estimulação anódica tendo sido satisfatório na resolução de algumas

    questões, não foram significativos e, na maioria das vezes, não existiu congruência

    entre o tipo de estimulação aplicada e o número de acertos das alternativas

    apresentadas. De forma geral, os resultados da ETCC não ocorreram conforme a

    hipótese deste trabalho.

    Boggio et al. (2009) provou em seu estudo que houve efeito da ETCC anódica

    aplicada em CTA em falsa memória. Neste trabalho, ao relacionar a compreensão

    de leitura envolvendo os aspectos semânticos, inferenciais e de memória com ETCC

    em região semelhante, pode-se constatar que a mesma não potencializou ou

    reduziu o desempenho dos participantes.

    Estudos com EMTr (GALLATE et al., 2009; LAURO et al., 2010) concluíram

    que a atividade neural pode ser modulada com resultados diferenciados na

    estimulação ativa e placebo, tanto para as falsas memórias, quanto para a

    compreensão de sentença em Córtex Temporal Esquerdo.

    O tipo de estimulação pode ter influenciado nos resultados desta pesquisa. A

    ETCC difere qualitativamente de outras formas de estimulação, como a EMTr, que

    não induz potenciais de ação neuronal, porque campos estáticos nessa extensão

    não provocam a rápida despolarização necessária para produzir tais potenciais

    (NITSCHE, COHEN et al., 2008). A EMTr tem efeito mais pronunciado na atividade

  • 46

    cortical de sujeitos com transtornos neurológicos, do que em sujeitos normais. A

    modulação da atividade em um cérebro patológico poderia restituir a atividade

    cerebral normal, portanto mais resistente a possíveis efeitos compensatórios do

    tecido nervoso (FREGNI & MARCOLIN, 2004).

    A falta de efeito das estimulações anódica e catódica pode ser explicada pelo

    fato dos sujeitos avaliados serem universitários bons leitores e sem histórico de

    problemas de aprendizagem. Essa explicação poderá ser testada futuramente

    através da elaboração de pesquisas com participantes que tenham diagnóstico de

    dificuldades em leitura.

    Uma limitação deste estudo parece ter sido o fato de que a compreensão de

    leitura envolve a participação dos lobos temporais, parietal e região pré-frontal

    (BINDER, 2005; CHAN FOX et al., 2001; DAVIES et al., 2004; NESTOR PEREIRA &

    ROGERS, 2007) e a ETCC foi aplicada somente no CTAE.

    Novas pesquisas envolvendo tarefas de múltipla escolha em compreensão de

    leitura e EMTr possibilitarão uma maior compreensão dos efeitos desse tipo de

    estimulação.

    A partir da avaliação de múltipla escolha para a verificação da compreensão

    de leitura não foram encontradas pesquisas que se utilizassem de neuromodulação.

    Em tarefa de memória operacional realizada a partir da prova de dígito, a

    ETCC aplicada em CTAE apresentou resposta negativa no que se refere a um

    melhor desempenho cognitivo durante a estimulação anódica; ou sua diminuição em

    estimulação catódica, assim como ocorrido na prova de compreensão de leitura.

    O tamanho da amostra, de apenas 12 sujeitos, pode ter tido uma grande

    influência nos resultados obtidos. Embora os resultados relacionados às aplicações

    das provas de múltipla escolha tenham mostrado significância no que diz respeito à

  • 47

    compreensão de leitura, não ocorreu o mesmo com os efeitos da ETCC. É

    interessante que novos estudos nesse sentido sejam feitos com ampliação da

    amostra.

    A análise estatística dos dados referent