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EFEITOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA REDUÇÃO DA POBREZA E DA DESIGUALDADE SOCIAL1
Claudiane Coimbra da Silva2
RESUMO Este projeto pretende esboçar alguns conceitos acerca das condições de exclusão social impostas pelo sistema em que se encontra a sociedade, além disso, aspira, por meio de entrevista com famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família - visto que no Brasil este é o maior programa de transferência de renda - apontar alguns aspectos relevantes para a superação ou não da pobreza, já que sua perpetuação ao longo das gerações é um fato relevante para a manutenção da exclusão social de alguns grupos. Para essa pesquisa, adotou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo a partir de entrevistas semiestruturadas, tendo como principais teóricos Lopes (2006) com os estudos sobre exclusão e inclusão social, bem como a Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2016). A partir da análise de dados chegou-se a conclusão que o Programa Bolsa Família é relevante na vida dos beneficiários, mas sozinho não promove a superação da pobreza. Palavras-chave: Exclusão Social. Pobreza. Transferência de renda. ABSTRACT This Project intends to outline some concepts about the conditions of social exclusion imposed by the system in which the society bellows, besides that, aspire, by means of an interview with beneficiaries families of the Bolsa Família Program – since in Brazil this is the biggest program of income transference – to point some relevant aspects for the overcoming or not of the poverty, since your perpetuation in the long of the generations is a relevant fact for the maintenance of the social exclusion of some groups. For this research it was adopted as methodology the bibliography research and field research from semi structured interviews, having as main theorists Lopes (2006) with the studies about social exclusion and inclusion, as well as the National Policy of Social Assistance (BRASIL, 2016). After analyzing the data we have reached the conclusion that the Bolsa Família Program had a relevant impact in the lives of its beneficiaries, however by itself it is not sufficient for the erradication of poverty. Keywords: Social exclusion. Poverty. Income transference. 1 Trabalho orientado pela Profa. Me. Gesilane de Oliveira Maciel José. E-mail: [email protected].
2 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação, Pobreza e Desigualdade Social pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Formação em Psicologia. Email:[email protected].
Anais do X
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1 DESIGUALDADE SOCIAL E A PRODUÇÃO DA POBREZA
O conceito de desigualdade social, inclusão e exclusão, perpassam a
realidade do modo de produção capitalista. Desse modo, ao discutirmos o processo
da Exclusão/Inclusão é necessário antes de tudo, compreendermos como as
relações são dadas e afirmadas socialmente.
O capitalismo tem como característica principal a exploração do homem pelo
homem. Esta forma subalternizada a qual o indivíduo é submetido já se constitui
como uma forma peculiar de exclusão. Tal peculiaridade se caracteriza pela divisão
social de classes, em que uns são detentores dos meios de produção e, a outros
muitos, resta-lhe a força de trabalho para que seja vendida e explorada (NETTO;
BRAZ, 2007).
Sobre isso, Netto e Braz (2007) nos esclarece: A relação de classes é construída historicamente e é revestida de determinantes que estão diretamente ligados a posição que estes indivíduos ocupam dentro da sociedade. Ou seja, a desigualdade social constitui-se como resultado do caráter dominante do capital, em que a produção é coletiva, mas a apropriação é privada (NETTO; BRAZ, 2007, p.20).
Sendo assim, percebe-se a desigualdade social entendida como geradora de
pobreza e, por conseguinte de vulnerabilidade social, estando ligada aos fatores
sociais construídos pela lógica capitalista e incorporado pelo ser social
acriticamente, em que passa a determinar sua consciência.
A compreensão de que a pobreza existe é algo fundamentalmente importante
na sociedade atual, principalmente por todos os fatores intrínsecos a vivência
daqueles que são pobres e necessitam, como qualquer outro cidadão, usufruir de
seus direitos.
A naturalização do fenômeno da pobreza tem levado a contestações que
combatem a compreensão da pobreza como violação dos direitos humanos, já que
essa realidade teria como causa a falta de esforço pessoal, uma espécie de opção
pessoal, ou mesmo o resultado de características negativas dos indivíduos
classificados como pobres. Ou seja, com a constatação de que a pobreza não
efetiva os ditos direitos humanos, observa-se a necessidade de eliminar as causas
que lhe dão origem.
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É notável que o sujeito não dependerá apenas de sua vontade para obter
sucesso na vida escolar e profissional. É preciso considerar as causas da pobreza.
O atendimento básico as necessidades básicas para a vida dependem da aquisição
de renda, esta geralmente é proveniente do trabalho, que nem sempre está
disponível no mercado.
A definição do que é a pobreza faz-se necessária para que se efetive o
acesso a direitos fundamentais trazidos pela Constituição em seu artigo 6º “São
direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 2016). Ao considerar
que todos são iguais perante a lei e todos têm direitos, deve-se garantir não apenas
o acesso ao direito por todos os cidadãos, e sim a qualidade no acesso e
participação neste direito.
Ao se perceber a pobreza nos núcleos familiares, percebe-se também que
muitas situações decorrentes de sua vivência são difíceis de superar, algumas
dessas situações são a progressão nos anos escolares, a falta de qualificação para
o mercado de trabalho, a cultura de violência impostas a jovens, homens e em sua
maioria negros.
O Programa Bolsa Família tem se consolidado e tem sido reconhecido como
o principal responsável pela mudança de situação social de muitas famílias por
preconizar o acompanhamento da família nas áreas da saúde e da educação. Neste
sentido, em Campo Grande, conforme o Boletim do MDS (2016) 91,52 % das crianças e jovens de 6 a 17 anos do Bolsa Família têm acompanhamento de frequência escolar. A média nacional é de 91,67 %. Na área da saúde, o acompanhamento chega a 76,45 % das famílias com perfil, ou seja, aquelas com crianças de até 7 anos e/ou com gestantes. A média nacional é de 75,25 % (BRASIL, 2016).
Portanto, o aumento do grau de instrução ao longo das gerações, a garantia
de renda, a possibilidade de aumento de crédito, a utilização de serviços e a
aquisição de patrimônio são fatores que contribuem substancialmente para a
possibilidade de superação da pobreza pelas famílias.
Ainda no que tange à Educação não é perceptível na estruturação dos
currículos escolares a inclusão da pobreza como tema de estudo. Para Santomé
(1995, p.161), As culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ ou marginalizados que não dispõem de estruturas de poder costumam ser excluídas das salas de aula,
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chegando mesmo a ser deformadas ou estereotipadas, para que se dificultem (ou de fato se anulem) suas possibilidades de reação, de luta e de afirmação de direitos.
Nos estudos acerca das características presentes para a população pobre, há
dados dos Indicadores Sociais Mínimos/IBGE (2016) sobre o não acesso a serviços
básicos como moradia, asfalto, esgoto, iluminação pública, transporte, educação,
saúde e características relativas ao consumo diário de alimentos. Assim, a baixa
renda das famílias é acentuada e constantemente negativada quando combinada
com as questões voltadas às minorias.
Ainda segundo indicadores do IBGE (2016), há o predomínio de mulheres
negras em situação de pobreza, como também há mais pobres em áreas territoriais
com menos acesso a serviços, nas famílias pobres há baixa escolaridade e menor
tempo nos bancos escolares, são alguns apontamentos de que a violência é a maior
causa de morte em homens adultos-jovens e pobres.
Aceitar que a pobreza é uma violação dos direitos humanos implica a
necessidade de eliminar as injustiças cometidas contra esses contingentes
populacionais, criando condições para que se ampliem com objetividade os graus de
consciência sobre a dimensão desse problema e dos fatores que o geram.
Com isso, é necessário rebater a percepção preconceituosa que identifica a
pobreza como fatalidade ou consequência de atitudes individuais. Ou seja, além da
vulnerabilidade econômica e financeira ocorre a vulnerabilidade social recorrente em
famílias que vivenciam a pobreza. Por isso, as políticas públicas devem preconizar a
superação da pobreza e o incentivo à permanência nas escolas, devem ser
pensadas para o pobre.
1.1 EXCLUSÃO E INCLUSÃO SOCIAL: ALGUNS APONTAMENTOS
A discussão aqui proposta anseia esboçar alguns conceitos acerca das
condições de exclusão social impostas pelo sistema em que se encontra a
sociedade e analisar se a superação da pobreza se torna de fato um aspecto
relevante para a superação da exclusão social.
A ideologia predominante coloca a meritocracia como algo comum e básico
aos processos de distribuição de renda e acesso a vidas mais dignas e ricas, ou
seja, o trabalhador e o aluno que vão bem, que obtém sucesso, chegam a esta
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posição por seu próprio esforço, sem maiores análises de processos que os levam
ao sucesso acadêmico e a manutenção nos postos de serviços.
Esta visão reducionista e moralizante não favorece aqueles que estão à
margem dos processos e dos serviços básicos. Em um de seus textos sobre o
analfabetismo Paulo Freire escreve “O homem marginalizado não é “um ser fora de”.
É, ao contrário, um “ser no interior de” em uma estrutura social, em relação de
dependência...” (FREIRE, 1980, p.74). Neste ponto percebe-se que a pobreza e a
falta de empregos são necessárias a estrutura em vigor.
Para Lopes (2006) a Exclusão Social pode ser caracterizada pelos seguintes
fatores: Caracteriza-se por um conjunto de fenômenos que se configuram no campo alargado das relações sociais contemporâneas: o desemprego estrutural, a precarização do trabalho, a desqualificação social, a desagregação identitária, a desumanização do outro, a anulação da alteridade, a população de rua, a fome, a violência, a falta de acesso a bens e serviços, à segurança, à justiça e à cidadania, entre outras (LOPES, 2006, pg. 13).
E conforme, Wixey et al (2005), a Inclusão Social é: Valorização das pessoas e grupos independentes de religião, etnia, gênero ou diferença de idade; estruturas que possibilite possibilidades de escolhas; envolvimento nas decisões que afetam a si em qualquer escala; disponibilidade de oportunidades e recursos necessários para que todos possam participar plenamente na sociedade (WIXEY et al., 2005, pg. 17).
Diante dessas denominações, levando em conta que há outras definições e
abrangências do tema, este trabalho se concentrará na percepção em que a
dicotomia: Exclusão e Inclusão apresenta-se enquanto uma correlação de forças
que é estabelecida dentro da dinâmica da sociedade capitalista e inserida no
contexto da flexibilização proposta pela lógica neoliberal (FALEIROS, 2006).
Ou seja, a identificação dos fatores de Exclusão e Inclusão social está
associada à vulnerabilidade social e percebe-se ainda que alguns dos fatores apesar
de antigos, permanecem ainda em evidência na sociedade contemporânea.
Para um maior entendimento de como o processo de exclusão interfere na
vida das pessoas, Sawaia (1999, p.104) nos explica o sofrimento vivido pelas
consequências da exclusão: O sofrimento ético-político abrange as múltiplas afecções do corpo e da alma que mutilam a vida de diferentes formas. Qualifica-se pela maneira como sou tratada e trato o outro na intersubjetividade, face a face ou anônima, cuja dinâmica, conteúdo e qualidade são determinados pela organização social. Portanto, o sofrimento ético-político retrata a vivência cotidiana das questões sociais dominantes em cada época histórica, especialmente a dor que surge da situação social de ser tratado como inferior, subalterno, sem valor, apêndice inútil da sociedade. Ele revela a tonalidade ética da vivência cotidiana da desigualdade
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social, da negação imposta socialmente às possibilidades da maioria apropriar-se da produção material, cultural e social de sua época, de se movimentar no espaço público e de expressar desejo e afeto.
Por esses motivos e outros que não foram citados acima é que a Exclusão /
Inclusão não podem ser debatidas e enfrentadas na superficialidade, mas, sim, a
partir de bases sólidas e consistentes e por isso que a efetivação e o
acompanhamento de todos os planos inclusivos não devem permanecer apenas em
relatório.
O pobre vive em situação de precariedade em relação a seus direitos,
inclusive ao direito de poder escolher uma forma de viver em que haja melhorias e
transformações em sua realidade socioeconômica. A violência e a falta de
representatividade social fazem o pobre se calar, pois a sua capacidade de voz está
relacionada ao seu direito de exercer sua cidadania visto que os cidadãos são entes
políticos e sociais, que exercem seus direitos e seus deveres, principalmente o
direito de fazer suas próprias escolhas e não tê-las impostas pela falta de acesso a
bens materiais e sociais, como saúde, educação e lazer.
A possibilidade de rompimento do circulo vicioso da pobreza se dá pelos
ganhos estruturais e subjetivos advindo da superação da pobreza. A garantia de
renda mínima, ainda que advinda do Programa Bolsa Família, é o primeiro passo
para se combater a perpetuação da pobreza. Assim, as politicas públicas devem
estar voltadas para as questões relacionadas ao empoderamento e às capabilidades
dos pobres com a finalidade de proporcionar maior cidadania e possibilidades de
superação da pobreza ao longo das gerações. (Pinzani e Rego, 2015)
Diante dessas considerações e da perpetuação da pobreza nas famílias
interessa-se em abordar as vulnerabilidades vividas e vencidas ou não por famílias
beneficiárias de transferência de renda por intermédio do governo federal, portanto o
objetivo principal dessa pesquisa é identificar os efeitos do Programa Bolsa Família
na redução da pobreza e da desigualdade social.
2 SUPERAÇÃO DE VULNERABILIDADES E O DIREITO À CIDADANIA
Os efeitos do Programa Bolsa Família são dados na perspectiva de
superação de vulnerabilidades sociais vividas por famílias pobres e extremamente
pobres conforme a linha de corte constante no Cadastro Único, essa linha refere-se
a renda per capta apontada na declaração do responsável familiar.
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A base utilizada para a distribuição do benefício financeiro do Programa Bolsa
Família é o Cadastro Único – CadÚnico do Governo Federal. Este cadastro é Um instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, permitindo que o governo conheça melhor a realidade socioeconômica dessa população. Nele são registradas informações como: características da residência, identificação de cada pessoa, escolaridade, situação de trabalho e renda, entre outras (BRASIL, 2016).
Assim, a constatação da pobreza e extrema pobreza e consolidou-se a partir
do Plano Brasil Sem Miséria, o qual trás os pilares fundamentais para a superação
de vulnerabilidades das famílias pobres e extremamente pobres; por considerar que
a garantia de renda, a inclusão produtiva e o acesso a serviços devem estar
interligados na busca por mais dignidade.
Algumas instituições apresentam critérios para a constatação da pobreza.
Segundo dados do vídeo Pobreza no Brasil - Caminhos da Reportagem (TV Brasil,
2011), a ONU – Organização das Nações Unidas coloca que pobre é quem tem
renda de até R$2/dia, para o MDS quem tem renda familiar per capta de até
R$140/mês, e extremamente pobre até R$70/mês.
Nos estudos acerca das características presentes para a população pobre, há
ainda dados acerca do não acesso a serviços básicos como moradia, asfalto,
esgoto, iluminação pública, transporte, educação, saúde e características relativas
ao consumo diário de alimentos.
A concepção de família trazida nessa perspectiva política é a mesma
interpretada por toda Política Nacional da Assistência Social em que se considera
“família, a unidade nuclear, eventualmente ampliada por outros indivíduos que com
ela possuam laços de parentesco ou de afinidade, que forme um grupo doméstico,
vivendo sob o mesmo teto e que se mantém pela contribuição de seus membros”
(BRASIL, 2004).
Essa nova perspectiva acerca das famílias e das pessoas em vulnerabilidade
social decorrentes da pobreza e da exclusão social nasce com a Constituição
Federal de 1988 por assegurar o direito à cidadania. Assim, a Política Nacional de
Assistência Social foi regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social, Lei nº
8.742, de 07 de dezembro de 1993, com vistas a ampliar o acesso aos bens e
serviços socioassistenciais para grupos específicos, bem como, assegurar que as
ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família e garantam a
convivência comunitária.
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A partir deste novo modelo de Assistência Social foram instituídos benefícios,
serviços, programas e projetos destinados ao enfrentamento da exclusão social dos
segmentos mais vulnerabilizados como as pessoas em situação de miséria e
pobreza, bem como aqueles que estão com direitos violados.
O foco desta política está nas famílias por considerá-las espaços naturais de
proteção e inclusão social. Os grupos familiares encontram-se em comunidades,
portanto, é nesse território que as pessoas vão se constituindo como seres sociais,
onde se desenvolve o sentimento de pertencimento, de segurança, cidadania a partir
da percepção que se é um sujeito social, ativo, emancipado, um ser social de fato.
Essas famílias que não tem rostos quando analisadas a partir de dados do
IBGE, das secretarias de Educação, Assistência Social e Saúde, bem como dos
programas sociais. Todavia, são personificadas diante de cada atendimento e
devem ser humanizadas cada vez mais, do ponto de vista de quem atende e,
principalmente, pela própria valorização que se faz necessária para a superação de
suas vulnerabilidades.
No âmbito da consolidação da política de Assistência Social, na perspectiva
do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, o desenvolvimento de um Sistema
Nacional de Informação da Assistência Social é fundamental para o aprimoramento
da gestão, além da institucionalização das práticas de planejamento, monitoramento
e avaliação do conjunto de ações, programas, serviços e benefícios da política
assistencial, de forma a aumentar sua efetividade. (BRASIL, 2009)
Assegura-se que o público dessa política são os cidadãos e grupos que se
encontram em situações de vulnerabilidades sem distinção daqueles que dela
necessitam e sem contribuição prévia a provisão dessa proteção social, através do
trabalho desenvolvido pelos técnicos que estão presentes na Proteção Social
Especial com os CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social
e na Proteção Social Básica com os CRAS- Centros de Referência da Assistência
Social.
2.1 O ACESSO ÀS POLÍTICAS ASSISTENCIAIS
A consolidação da Política de Assistência Social – PNAS por meio do SUAS,
pelo conteúdo presente na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais e
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pela capilaridade da Proteção Social Básica, concretiza os CRAS como locais onde
se executam de forma direta Os serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica deverão se articular com as demais políticas públicas locais, de forma a garantir a sustentabilidade das ações desenvolvidas e o protagonismo das famílias e indivíduos atendidos, de forma a superar as condições de vulnerabilidade e a prevenir as situações que indicam risco potencial. Deverão, ainda, se articular aos serviços de proteção especial, garantindo a efetivação dos encaminhamentos necessários (PNAS, 2004).
Essas Unidades estatais responsáveis pela oferta de serviços continuados de
proteção social básica à famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social
em seu contexto comunitário, visam a orientação e o fortalecimento do convívio
familiar. Este fortalecimento de convívio é o principal pressuposto no
desenvolvimento das atividades dos CRAS, especialmente pelo PAIF – Serviço de
Proteção e Atendimento Integral à Família.
O PAIF, conforme a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais
(2009) Consiste no trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura de seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e proativo. (BRASIL, 2009).
Além do PAIF, os CRAS realizam outros serviços divididos nas diversas
faixas etárias por entender que os sujeitos passam por ciclos de vida e, em cada um
desses ciclos, há necessidades e potencialidades diferentes; assim como busca da
garantia de direitos e o desenvolvimento de mecanismos para a inclusão social por
meio do acolhimento de demandas diversas trazidas pelos sujeitos pertencentes ao
território como cadastramento e atualização do NIS e concessão de benefícios
eventuais.
Conforme as Orientações Técnicas para o Centro de Referência de
Assistência Social/CRAS (2006), além de o trabalho assistencial estar centralizado
na família, “nos CRAS prioritariamente, serão atendidas as famílias beneficiárias do
Programa Bolsa Família, os idosos e deficientes beneficiários do Benefício de
Prestação Continuada – BPC” (BRASIL, 2006)
Assim, a articulação acontecerá entre o PAIF/PBF por meio da intervenção
técnica do profissional responsável pelo PAIF na Unidade de atendimento, desde a
acolhida até o acompanhamento no Sistema de Condicionalidade do PBF – SICON,
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perpassando a demanda de visitas domiciliares, entrevista com as famílias e o
trabalho com grupos.
As famílias que se encontram em descumprimento de condicionalidades do
PBF são as prioritárias ao atendimento do PAIF, pois além da constatação da
pobreza ou miséria mediante o recebimento da transferência de renda, estão com
outras vulnerabilidades instaladas referentes à saúde ou à educação. Assim, a
intervenção profissional deve acontecer para que a família seja beneficiada e
consiga superar suas vulnerabilidades, ele não deve somente ficar esperando que
esta família o procure.
Logo, este trabalho realiza-se de maneira intersetorial com outras políticas a
fim de garantir os mínimos sociais, o provimento de condições para atender à
sociedade e à universalização dos direitos sociais básicos. Essa forma de fazer a
assistência social permite uma visão mais complexa acerca das situações de
pobreza, concede um sentido dinâmico às desigualdades e possibilita uma
explicação menos simplista da realidade social.
Portanto, a família pobre que vive situação de precariedade em relação a
seus direitos, inclusive ao direito de poder escolher uma forma de viver em que haja
melhorias e transformações em sua realidade socioeconômica, necessita do
desenvolvimento de suas capabilidades.
Para Pinzani e Rego (2015), a referência às capabilidades se dá por entendê-
las como as capacidades e habilidades desenvolvidas através da sociedade, ao
indicarem o êxito de uma política pública conforme o cidadão exerce a partir delas
suas transformações, já que são desenvolvidas de acordo com a realidade do
território. Ressalta-se também que dizem respeito aos ganhos subjetivos da
população.
Dessa forma, a capacidade de voz dos pobres só poderá ser exercida na
medida em que tenham mais acesso aos seus direitos e ao exercício de seus
deveres no campo da cidadania e na medida em que haja representatividade social,
ao efetivar-se sua inclusão social. Ou seja, a Inclusão Social está ligada à noção de
cidadania plena e à emancipação, conforme os sujeitos são incluídos ou excluídos
por terem ou não bens, por terem ou não direitos, sendo exercida na esfera política
e do poder comunicativo.
Partindo desse princípio, destaca-se a abordagem da solidariedade social
com o envolvimento de todos os segmentos da sociedade. Entretanto, todas as
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ações de Inclusão Social requerem uma gestão econômica, mais concretamente,
uma política social (SILVA, 2011).
Nessa perspectiva, o Programa Bolsa Família tem se consolidado e tem sido
reconhecido como o principal responsável pela mudança de situação social de
muitas famílias por preconizar o acompanhamento da família nas áreas da saúde e
da educação.
2.2 A TRANSFERÊNCIA DE RENDA CONDICIONADA
A consolidação do Programa Bolsa Família como um responsável da
mudança social dá-se por contribuir com o combate à pobreza e à desigualdade
social, permitindo que as famílias deixem a extrema pobreza, com efetivo acesso a
direitos básicos e a oportunidades de trabalho e de empreendedorismo.
A gestão do Programa Bolsa Família é descentralizada, ou seja, tanto a
União, quanto os estados, o Distrito Federal e os municípios têm atribuições em sua
execução. Desde sua criação em janeiro de 2004 pelo então Presidente da
República Luís Inácio Lula da Silva, sua execução é realizada pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e de Combate à Fome, atualmente Ministério do
Desenvolvimento Social e Agrário, com execução dos pagamentos pela Caixa
Econômica Federal.
Já na instituição do Programa pela Lei no 10.836, o “Art. 1o Fica criado, no
âmbito da Presidência da República, o Programa Bolsa Família, destinado às ações
de transferência de renda com condicionalidades.” Dessa forma, o PBF caracteriza-
se pelo complemento da renda como pretensão de um alívio mais imediato em
relação à miséria e pobreza, garantia de direitos e à inclusão social por meio das
condicionalidades, e articulação com outras ações visto que é integrado com
politicas públicas diversas a fim de garantir o fortalecimento dos grupos familiares e
a superação das vulnerabilidades.
Ao tratar das condicionalidades, reitera-se que elas apenas reforçam
garantias de direitos básicos já previstos em lei, assim como seu descumprimento
não deve ter caráter punitivo às famílias e sim na perspectiva de inclusão social, de
aumentar o nível de consciência de suas próprias possibilidades sociais.
As condicionalidades da saúde referem-se ao acompanhamento de
crescimento e calendário de vacinação das crianças e adolescentes. As crianças
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devem passar por pesagem no posto de saúde ao qual a família se referencia pelo
menos duas vezes ao ano, uma em cada semestre, as vacinas devem estar em dia
conforme as disposições do SUS. A mulher desta família deve realizar o exame
preventivo uma vez ao ano, de forma geral, mulheres, crianças e adolescentes são
acompanhados ao menos uma vez no ano.
Em relação à assistência social, a família deve manter seus dados
atualizados junto ao Cadastro Único de dois em dois anos ou quando houver
alterações em um dos dados, como mudança de escola, de situação trabalhista, de
renda, de endereço, entre outras. Já o que se refere à educação, as crianças e
adolescentes matriculados são acompanhados conforme a frequência mensal.
Ao remeter esta discussão para o campo específico da educação é notável
que a pobreza interfere em suas diversas esferas. O aluno pobre não tem acesso a
bons materiais pedagógicos individuais, sua situação econômica não facilita o
acesso a tecnologia, sem considerar ainda as questões relacionadas a situação
nutricional, de moradia, de saúde, entre outros. Segundo Arroyo (2003), A presença incômoda dos coletivos empobrecidos no sistema escolar repolitiza os currículos e a docência, que são pressionados a se repensar e se repolitizar com base nas formas reais e históricas de viver ou mal-viver a infância. Imaginários românticos da infância se tornaram imaginários românticos da pedagogia e da docência, da função social das escolas e dos currículos (ARROYO, 2003, p.90)
Nestes termos, evidencia-se que muitas vezes as práticas pedagógicas
encaram a pobreza pela perspectiva moralizante, ao caracterizá-la pela carência
intelectual e moral. Assim, o sistema educacional deveria suprir carências relativas a
conhecimento e valores e não a bens materiais. A discussão dos fatores intrínsecos
ao cotidiano escolar dos pobres perpassa pelo questionamento dos currículos,
enquanto guias da prática pedagógica.
Ainda acerca de como a educação poderia ser um fator determinante para a
superação da pobreza, Lázaro (2014) coloca que “Tomar consciência das condições
que produzem e reproduzem a pobreza, conhecer sua complexidade e as
implicações para o conjunto da vida em sociedade é uma forma inicial para que
pobres e não pobres possam atuar na superação da pobreza”.
Na perspectiva da superação da miséria por intermédio do Programa Bolsa
Família busca-se analisar e, se possível, constatar alguns aspectos relevantes na
vida de algumas famílias beneficiárias do Programa e participantes do PAIF/CRAS
Zé Pereira, bem como perceber fatores relevantes à exclusão/inclusão social.
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3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA E ANÁLISE DOS DADOS
O intuito de analisar fatores relevantes à exclusão social e à superação da
pobreza decorreram do trabalho direto com a Política Nacional de Assistência
Social, com famílias e sujeitos marginalizados de todo o processo de conquistas
sociais. A suposição que o Programa Bolsa Família faz parte apenas de um início de
melhora de vida nas famílias com vulnerabilidades decorrentes da pobreza por
garantir a permanência de crianças e adolescentes, e não a melhoria na oferta de
serviços básicos, nem a melhoria das condições da educação brasileira. Como
Pochmann (2003) afirma A reversão da situação atual de forte exclusão social é possível, urgente e necessária. Tecnicamente é realizável. Precisa, no entanto, da superação de dois grandes problemas de difícil resolução. De um lado, o problema da conformação de um novo padrão de financiamento capaz de alavancar o crescimento econômico sustentado... De outro lado, o problema da construção de uma verdadeira estratégia nacional de inclusão social, portadora de novos mecanismos institucionais e de gestão pública, capaz de superar o atual padrão de políticas sociais e do trabalho fundado na setorialização das ações, na desarticulação dos programas, na focalização de clientelas e na falta de integração operacional (POCHMANN, 2003, p. 4).
A partir desses questionamentos buscou-se realizar uma análise um pouco
mais aprofundada com famílias pertencentes ao serviço de Proteção e Atendimento
Integral às Famílias – PAIF na Unidade de trabalho, num dos 19 (dezenove) CRAS
de Campo Grande – MS.
A análise de dados do Cadastro Único em Campo Grande evidencia que, em
junho de 2015, haviam 123.272 famílias registradas, sendo 27.162 famílias
beneficiárias do Programa Bolsa Família (11,03 % da população do município),
conforme dados do Boletim do MDS (2015), através dos relatórios de informações
sociais disponível na SAGI – Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação.
Enquanto, estes foram os dados disponibilizados pelo Boletim do MDS em
2015; para o Censo do IBGE de 2010 14.934 dos residentes no município
encontravam-se em situação de extrema pobreza (com renda domiciliar per capita
abaixo de R$ 70,00), ou seja, 1,9% da população municipal vivia nesta situação.
Segundo o Censo Demográfico 2000 e Pesquisa de Orçamentos Familiares -
POF 2002/2003 – IBGE os dados relativos à pobreza de Campo Grande, no Mato
Grosso do Sul, com base no índice Gini percebe-se que o índice de desigualdade
social é relevante. Henriques (2003, p.64) aponta que “é fundamental reconhecer a
desigualdade como principal fator explicativo do excessivo nível de pobreza no
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Brasil”. Ele ainda considera necessária a superação da desigualdade educacional, “a
enorme heterogeneidade entre os níveis de escolaridade dos indivíduos representa
a principal fonte de desigualdade salarial brasileira” (HENRIQUES, 2003, p.67)
Neste sentido, em Campo Grande, conforme o Boletim do MDS (2015),
através dos relatórios de informações sociais, 91,52 % das crianças e jovens de 6 a 17 anos do Bolsa Família têm acompanhamento de frequência escolar. A média nacional é de 91,67 %. Na área da saúde, o acompanhamento chega a 76,45 % das famílias com perfil, ou seja, aquelas com crianças de até 7 anos e/ou com gestantes. A média nacional é de 75,25 % (BRASIL, 2015).
Nesse contexto municipal insere-se o CRAS Zé Pereira com suas 65
(sessenta e cinco) famílias em acompanhamento PAIF, conforme dados
disponibilizados pela coordenação a partir do Relatório Mensal de Atendimentos
referente ao mês de maio/2016. Por isso, realizou-se questionário com 13 (treze)
famílias, 20% das acompanhadas pelo PAIF do CRAS Zé Pereira em Campo Grande
– MS, por este número representar 20% do total de famílias acompanhadas e se
consolidar como uma porcentagem significativa.
Diante dessas considerações e da perpetuação da pobreza nas famílias
interessou-se em abordar as vulnerabilidades vividas e vencidas, ou não, por
famílias beneficiárias de transferência de renda por intermédio do governo federal,
portanto o objetivo principal dessa pesquisa foi identificar os efeitos do Programa
Bolsa Família na redução da pobreza e da desigualdade social.
Na primeira parte das entrevistas buscou-se analisar o perfil do entrevistado,
geralmente o responsável familiar constante no Cadastro Único e responsável pelo
saque do benefício recebido pela família. Dados como faixa etária, gênero,
ocupação e cor foram questionados. Na segunda parte, optou-se por verificar
questões referentes à composição familiar e como se caracteriza o imóvel ocupado
pela família, dados pertinentes à classe econômica também foram coletados
conforme definições do Critério Brasil. Somente na terceira e última parte das
entrevistas que o entrevistado foi questionado quanto às questões referentes ao
Programa Bolsa Família em si, tais como valor, condicionalidades, com o que é
gasto, qual a perspectiva da família em relação ao benefício.
No Boletim do MDS (BRASIL, 2015) sobre a extrema pobreza há a
caracterização da população extremamente pobre por gênero (54,1% de mulheres
extremamente pobres), em todos os questionários realizados, as famílias
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enquadraram-se nesse quesito, nenhum dos questionários apontou renda superior a
1(um) salário mínimo e somente uma das famílias tem como responsável familiar um
homem.
Acerca dos dados de cor/raça, nenhum entrevistado declarou-se negro
mesmo diante dos índices do Boletim MDS em que 56,2% dos responsáveis
familiares de famílias extremamente pobres se declararam negros; a maioria
identificou-se como “parda”, somente uma “branca”; nos lares entrevistados, as
mulheres não tem companheiros(as).
Os dados referentes a emprego, mostraram que as mulheres não tem
ocupação e nenhuma família entrevistada tem membro vinculado ao mercado
formal. Esses também são os indicativos apontados pelo IBGE (2014) A população feminina teve uma redução no nível de desocupação, no período, um pouco maior que a masculina, mas elas representam ainda o maior contingente de desocupados (3,7 milhões) e registraram a maior taxa de desocupação (8,3%). (IBGE, 2014, p. 127)
Ainda sobre este tema Jannuzi e Pinto (2013) apontam que as beneficiárias
do Programa Bolsa Família “apresentam menor taxa de ocupação que as não
beneficiárias, além de estarem sujeitas a risco maior de desemprego e levem mais
tempo para conseguir trabalho” (JANNUZI e PINTO, 2013, p.188).
As questões levantadas sobre o domicílio mostraram que o número médio de
moradores é de 4,4, enquanto que o IBGE (2014, p.172) aponta que o adensamento
médio no Brasil é de 3,1, o que demonstra que essas famílias estão com número de
moradores bem acima do previsto.
Na perspectiva das classes sociais, utilizou-se os padrões da ABEP –
Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (2010) que referem à classe
econômica, e não social, por considerar uma divisão de mercado, e não de pessoas.
Os critérios levam em conta dados acerca de eletrodomésticos, de renda bruta
familiar e de escolaridade do chefe de família, conforme descrito na sequência.
As famílias entrevistadas obtiveram pouca pontuação no quesito de
escolaridade visto que os chefes de famílias têm no máximo Ensino Fundamental II
completo ou Ensino Médio incompleto, somente em uma família. A pontuação
também não foi significativa nos itens referentes a quantidade de eletrodomésticos e
a renda bruta familiar. Portanto, percebeu-se que as famílias estão todas nas duas
últimas classificações sociais (D/E) devido a soma dos critérios.
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Nas informações sobre a renda dessas famílias foi observado que é
proveniente de benefícios sociais como o BPC – Beneficio de Prestação Continuada
e pela transferência. Quanto a isso o IBGE (2014) aponta A crescente importância dos programas focalizados de transferências de renda na composição do rendimento familiar das famílias com menores rendimentos pode ser observada no Gráfico 5.4. O rendimento familiar é subdividido em três tipos de origens: trabalho, aposentadoria e pensão e outras fontes. Nestas últimas, incluem-se as transferências de programas sociais, aplicações financeiras, rendimentos de alugueis, bônus, etc., divulgadas de forma agregada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD por motivos de precisão estatística. Sendo assim, ao considerar apenas as famílias com menores rendimentos (até ½ salário mínimo), pode-se supor, dados os baixos rendimentos familiares, que a maior parte desses “outros rendimentos” venha de transferências governamentais, considerando ainda a ampliação da cobertura dessas transferências na última década. (IBGE, 2014, p. 154)
Quanto ao tipo do imóvel, todas as famílias residem em domicílios, uma
família paga aluguel, uma financiou o imóvel e nas demais o imóvel é próprio ou
cedido.
Quanto ao repasse do Programa Bolsa Família, nota-se que é utilizado para a
emergência do dia, para a primeira necessidade familiar não suprida por outros
rendimentos, geralmente alimentos e materiais de uso pessoal como remédios, itens
de higiene ou materiais escolares. Campello (2013, p.20), trata da autonomia da
família em ter a liberdade de usar o recurso transferido e da possibilidade de
melhoria na qualidade de vida. Ao questionar as famílias quanto à definição do
Programa, todas apontaram que sem a transferência de renda passariam privações.
Nos apontamentos referentes às condicionalidades, somente duas famílias
não souberam enunciar diretamente quais são. A respeito disso expõe-se que a
transferência de renda por meio de condicionalidades aumenta a chance de crianças
pobres se manterem nos bancos escolares (CIRENO, SILVA, PROENÇA, 2013, p.
299).
Dessa forma, a pesquisa foi relevante por ser possível a ligação entre teoria e
prática e colaborou para compreender os efeitos do Programa Bolsa Família na
redução da pobreza e da desigualdade social e percebeu-se então que além da
vulnerabilidade econômica e financeira ocorre a vulnerabilidade social recorrente em
famílias que vivenciam a pobreza. Com a pesquisa também foi possível ratificar o
papel do Programa Bolsa Família na construção de uma sociedade mais justa e que
o Programa também tem colaborado na autonomia e superação da pobreza.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A superação do atual modelo de política social e do trabalho exige uma
inovadora metodologia de ação governamental, capaz de identificar o cidadão na
sua totalidade. A partir disso, esta pesquisa buscou por meio de entrevistas com
famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família observar se há, ou não, a redução
da pobreza.
Os dados demostraram que o Programa Bolsa Família tem colaborado na
autonomia e superação da pobreza. É certo que essa afirmação não exclui todos os
desafios que o Programa ainda tem que superar, mas já demonstra um caminho
coerente e desafiador, levando em conta que todas as famílias entrevistadas
relataram os benefícios do programa.
A discussão tratada possibilitou perceber que o aumento do grau de instrução
ao longo das gerações, a garantia de renda, a possibilidade de aumento de crédito,
a utilização de serviços e a aquisição de patrimônio são fatores que contribuem
substancialmente para a possibilidade de superação da miséria/ extrema pobreza
pelas famílias.
Nota-se que o discurso acerca da meritocracia e o contexto social atual,
caracterizado pelo desemprego e pela forte exploração do trabalhador, devem ser
questionados continuamente com vistas a preconizar a superação da pobreza.
Enfim, para ocorrer de fato uma inclusão social aos que estão à margem das
conquistas sociais faz-se necessário que as politicas públicas tenham sua
centralidade nos sujeitos, a partir da valorização de seu território, de sua cultura, de
seus conhecimentos acerca da vida, ou seja, que essas políticas sejam pensadas a
partir da perspectiva de quem é seu público.
Ou seja, não adianta condicionar a transferência de renda à presença na
escola caso não se pense na escola para o pobre. Não há nada mais enriquecedor
no ambiente escolar que as próprias vivências de seus alunos e o entendimento de
que a pobreza é uma condição, não uma identidade, fruto da dinâmica social e esta
discussão deve ser promovida no ambiente escolar, fazendo da pobreza um tema a
ser abordado por toda comunidade escolar.
Assim, as políticas públicas devem voltar seus esforços à educação, pois
talvez seja o único caminho capaz de diminuir as consequências desse modo de
produção em que vivemos e que continua a sustentar poucos e a explorar muitos.
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