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a Produtos e Restrições a Serviços Brasileiros no mercado dos Estados Unidos Barreiras Embaixada do Brasil em Washington 2006

Barreiras aos produtos brasileiros impostas pelos eua

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a Produtos e Restriçõesa Serviços Brasileiros nomercado dos Estados Unidos

Barreiras

Embaixadado Brasil emWashington

2006

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Ministério das Relações ExterioresEmbaixada do Brasil em Washington, D.C.

FuncexSite: www.funcex.com.brE-mail: [email protected].: (55.21) 2509-4423Fax: (55.21) 2221-1656Endereço:Av. Rio Branco, 120, Grupo 707, Centro20040-001 Rio de Janeiro - RJ

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EMBAIXADA DO BRASILWashington, D. C.

a Produtos e Restriçõesa Serviços Brasileiros nomercado dos Estados Unidos

Barreiras

Rio de JaneiroAbril de 2006

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:: 2 Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos ::

Sumário

Introdução ...................................................................................................................................................... 3

I. A política comercial dos Estados Unidos e as exportações brasileiras ................................................. 3

II. A agenda de negociações comerciais dos Estados Unidos: resultados em 2005 e perspectivas em2006 ............................................................................................................................................................ 4Américas ................................................................................................................................................... 4África/Ásia ................................................................................................................................................. 5Oriente Médio, região em relação à qual os Estados Unidos anunciaram, em 2003, intenção deconcluir até 2013 a chamada MEFTA — “Middle Eastern Free Trade Area”....................................... 5

III. Evolução do comércio bilateral Brasil-Estados Unidos......................................................................... 61) Açúcar ................................................................................................................................................... 72) Etanol .................................................................................................................................................... 83) Tabaco ................................................................................................................................................... 84) Soja ....................................................................................................................................................... 95) Carne bovina ........................................................................................................................................ 9

5.1) Carne in natura ................................................................................................................................ 95.2) Carne bovina processada ................................................................................................................10

6) Carne suína ..........................................................................................................................................107) Frango ..................................................................................................................................................108) Laticínios ..............................................................................................................................................109) Frutas e legumes ................................................................................................................................. 11

9.1) Sazonalidade de tarifas ................................................................................................................... 11

10) Lei de Rotulagem por País de Origem (“Country of Origin Labeling” – COOL) ..........................1211) Subsídios à agricultura .....................................................................................................................12

11.1) Pagamentos domésticos ...............................................................................................................1211.2) Subsídios e apoio à exportação .....................................................................................................12

12) Algodão ..............................................................................................................................................1312.1) Resumo da situação atual de implementação das decisões do painel ...........................................1312.2) Resumo da situação dos procedimentos legais na OMC ...............................................................14

13) Defesa comercial: direitos anti-dumping (AD) e anti-subsídios (AS) .............................................1414) Produtos siderúrgicos .......................................................................................................................1515) Camarão: processo anti-dumping (AD) ............................................................................................1616) Sucos de fruta ....................................................................................................................................16

16.1) Suco de laranja .............................................................................................................................1616.2) Suco de limão concentrado ...........................................................................................................1716.3) Suco de uva ..................................................................................................................................17

17) Têxteis ................................................................................................................................................1718) Sistema Geral de Preferências (SGP)..............................................................................................1819) Serviços, investimentos, compras governamentais .......................................................................18

Anexo I - Estatísticas do comércio bilateral Brasil-Estados Unidos................................................. 20

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Introdução

O Relatório de Barreiras a produtos e serviços bra-sileiros no mercado dos Estados Unidos é um docu-mento de divulgação tradicional, anual, da Embaixadado Brasil em Washington. Constitui identificação obje-tiva de questões relevantes para o Brasil em negocia-ções comerciais com os Estados Unidos.

Em 2005, o Relatório foi objeto de livro publicadopela Edições Aduaneiras Ltda. e pela Lex Editora S.A.(Embaixada do Brasil em Washington. Barreiras a Pro-dutos e Restrições a Serviços e Investimentos nos Es-tados Unidos. São Paulo, 2005, 4a. edição). Em 2006,no contexto das comemorações do 30° aniversário daFuncex, o Relatório de Barreiras é divulgado na formadesta separata especial da Revista Brasileira de Co-mércio Exterior.

Pela própria natureza mais compacta de uma sepa-rata, esta versão de 2006 concentra-se na descrição tó-pica e na atualização de informações sobre os obstácu-

los específicos a exportações brasileiras. Optou-se, as-sim, por não repetir informações de base, sobre aspec-tos mais gerais do regime de comércio exterior dos Es-tados Unidos – tais como a “Trade Promotion Authority”de 2002 (TPA), os mecanismos de subsídios previstosna Lei Agrícola de 2002, aspectos gerais da Lei de Co-mércio dos Estados Unidos e dos sistemas de preferên-cias comerciais unilaterais dos Estados Unidos (andinas,caribenhas e africanas), e assim por diante. Nessescasos, o presente documento pode ser complementadopor consulta ao Relatório de Barreiras de 2005.

Esta introdução traz atualização de desdobramen-tos mais recentes em temas relevantes para situar ocontexto em que se inserem as barreiras a produtosbrasileiros: (i) a política comercial dos Estados Unidos eseus efeitos para as exportações brasileiras; (ii) a agendade negociações comerciais dos Estados Unidos; e (iii) aevolução do comércio bilateral Brasil-Estados Unidos.

Roberto Abdenur

Roberto Abdenur é embaixador do Brasil em Washington. Secretário-Geral das Relações Exteriores em 1993-94. Foi Embaixador emQuito, Pequim, Bonn/Berlim e Viena.

Como aponta o relatório preparado pelo Secretaria-do da OMC para o exercício de revisão da política co-mercial dos Estados Unidos (“Trade Policy Review”; verhttp://www.wto.org/english/tratop_e/tpr_e/tp261_e.htm),no momento em curso naquela organização, o país temno geral regime de comércio aberto e transparente. Aprópria magnitude do déficit comercial dos EstadosUnidos em 2005, de US$ 782 bilhões, é indicativa dograu de abertura de sua economia. Ao mesmo tempo,o relatório do Secretariado da OMC também apontaque “barreiras de acesso a mercados e outras medidasdistorcivas, notadamente subsídios, persistem em al-gumas poucas – mas relevantes – áreas”. Essas bar-reiras localizadas, embora sejam uma exceção à regrageral, constituem, com justa razão, motivo de sériaspreocupações para o Brasil. Concentram-se, justamen-te, em áreas nas quais o País é especialmente compe-titivo, na agrícola em particular.

I. A política comercial dos Estados Unidos e as exportações brasileiras

O citado relatório da OMC registra que, em 2004, atarifa de importação média (Nação Mais Favorecida –NMF) aplicada pelos Estados Unidos era de 4,9% nogeral, e de 4% para bens industriais e 9,7% para pro-dutos agrícolas (no caso do Brasil, conforme o maisrecente relatório da OMC sobre o País, de novembrode 2004, tais números eram de, respectivamente, 10,4,10,5 e 10,2%). As baixas médias das tarifas aplicadaspelos Estados Unidos encobrem, contudo, altíssimospicos tarifários, tais como as tarifas extra-quota de 350%para o tabaco, ou 164% para o açúcar (equivalente advalorem médio em 2005). Ademais, 195 linhas tarifáriasnorte-americanas (pouco menos de 2% do total) estãosujeitas a quotas-tarifárias.

O Brasil desconhece picos tarifários da magnitudepraticada pelos Estados Unidos na área agrícola, e nãofaz uso de quotas tarifárias. Excetuadas pouquíssimas

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linhas tarifárias de produtos sem maior relevância co-mercial (pêssego, coco e alguns tipos de laticínios),que podem ser de até 55%, todas as demais tarifas deimportação agrícolas brasileiras situam-se na faixa de0-20%. Ou seja: no caso do Brasil a média de 10,2%para as importações agrícolas é um retrato equilibradodo conjunto; no caso dos Estados Unidos, a médiaencobre altíssima proteção para produtos economica-mente relevantes.

Há nos Estados Unidos importantes casos de pi-cos tarifários também em produtos industrializados. Orelatório do Secretariado da OMC, acima referido, men-ciona picos de 58% na área de calçados, ou 37,7% naárea de produtos têxteis. A esses exemplos, poderiamser adicionados os direitos específicos que se aplicamà importação de outros produtos industrializados, comoo etanol ou o suco de laranja, cujos equivalentes advalorem têm-se situado na faixa de cerca de 50%. Tam-bém para efeitos de comparação, recorde-se que a maisalta tarifa aplicada pelo Brasil para produtos industriali-zados é de 35%.

Além da proteção tarifária, preocupam ao Brasiloutras barreiras à entrada de produtos estrangeiros nosEstados Unidos, tratadas neste Relatório, em especial(a) o ativismo no emprego de medidas de defesa co-mercial, de maneira muitas vezes incompatível com asnormas da OMC, (b) a “barreira” indireta dos altos sub-sídios concedidos à agricultura norte-americana(distorção da competitividade relativa não só nos Esta-dos Unidos, mas também em terceiros mercados) e(c) determinadas situações relacionadas à aplicaçãode normas sanitárias e fitossanitárias.

Desde a última edição do Relatório de Barreiras,houve sinais positivos, ainda que insuficientes, do Exe-cutivo norte-americano em áreas que são motivo de pre-ocupação para o Brasil, acima mencionadas: (i) em

outubro de 2005, no contexto da Rodada Doha, os Es-tados Unidos apresentaram proposta que contemplariaa redução em 53% na soma do limite permitido de seussubsídios distorcivos à agricultura (“caixa amarela”; “cai-xa azul”; e “de minimis”) – ainda que insuficiente, estefoi um passo na direção correta; (ii) em fevereiro de2006, os Estados Unidos revogaram um dos progra-mas de apoio ao algodão, o chamado STEP-2, confor-me determinado pelo Órgão de Apelação no processomovido pelo Brasil — ainda que a adoção dessa medi-da fique muito aquém do cumprimento integral das de-terminações do OA, constituiu, também, exemplo deum passo na direção correta; (iii) em fevereiro de 2006,os Estados Unidos aprovaram a revogação da chama-da Emenda Byrd, por meio da qual os peticionários deprocessos anti-dumping ou anti-subsídios eram ao fi-nal os beneficiários dos direitos recolhidos — devendo-se contudo fazer as ressalvas de que a revogação jádeveria ter ocorrido muito antes, em cumprimento adecisão do Órgão de Solução de Controvérsias daOMC, e também de que essa revogação somente teráefeito a partir de 1/10/2007.

Apesar desses movimentos positivos em alguns pon-tos específicos, mantém-se inalterado, contudo, o qua-dro mais amplo do “protecionismo seletivo” da políticacomercial norte-americana. Continuam as exportaçõesbrasileiras de uma série de produtos relevantes a en-frentar barreiras significativas nos Estados Unidos,como dito acima — elevadas tarifas de importação (so-bretudo para bens agrícolas); distorções provocadaspelos subsídios agrícolas; e aplicação com fins prote-cionistas de normas fitossanitárias e de defesa comer-cial. Dessa forma, os temas mencionados neste Rela-tório continuarão a ser objeto de atenção prioritária porparte do Brasil em negociações comerciais com osEstados Unidos.

Os Estados Unidos continuaram a implementar, em2005, intensa agenda de negociações comerciais emvárias frentes: multilateral, regional e bilateral (a cha-mada estratégia de “liberalização competitiva”). Damesma forma que para o Brasil, contudo, a prioridademaior para os Estados Unidos, em 2006, será comple-tar a Rodada Doha, no âmbito da OMC.

II. A agenda de negociações comerciais dos Estados Unidos: resultados em 2005 e perspectivas em 2006

No que diz respeito a acordos de livre comércio(ALC’s) bilaterais e regionais, faz-se a seguir levanta-mento de entendimentos em vigor, recém concluídosou em negociação no presente momento:

Américas

Nafta (México e Canadá): em vigor desde 1/1/1994;

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Chile: em vigor desde 1/1/2004;

CAFTA-RD (Costa Rica, El Salvador, Guatemala,Honduras, Nicarágua e República Dominicana): assi-nado em 2004; aprovado pelo Congresso norte-ameri-cano em 2005; em vigor apenas para El Salvador, des-de 1/3/2006 (sendo a Costa Rica o único país em queainda está pendente a aprovação congressual);

Peru: negociações concluídas em dezembro de2005, expectativa de assinatura do acordo em abril de2006;

Colômbia: negociações concluídas em fevereirode 2006, expectativa de assinatura do acordo em mea-dos de 2006;

Panamá e Equador: negociações em andamen-to, com previsão de conclusão iminente no caso doPanamá.

No caso da Alca, a Declaração Conjunta assinadapor ocasião da visita ao Brasil do Presidente GeorgeW. Bush, em novembro de 2005, reafirma que o Brasile os Estados Unidos mantêm seu compromisso com oprocesso, com base no compromisso de Miami. Na-quele documento, ambos os países manifestaram a ex-pectativa de retomada das negociações no momentooportuno. Deve-se contudo registrar a dificuldade obje-tiva de que, conforme o modelo de seus ALC’s regio-nais e bilaterais, têm os Estados Unidos obtido am-plas concessões, de alcance “TRIPS-plus”, em áreasnormativas como propriedade intelectual, regras de in-vestimentos e compras governamentais. Esse modelode acordo, como se sabe, não se coaduna com osinteresses nacionais brasileiros. O País, de sua parte,tem enfatizado aos Estados Unidos que está dispostoa iniciar, de imediato, negociações com vistas a umALC em formato 4+1 (Mercosul-Estados Unidos), noâmbito do processo da Alca, focado nas áreas de aces-so a mercados em bens e serviços — que são, no en-tendimento brasileiro, a essência de acordos de livrecomércio. Os Estados Unidos, até o momento, nãodemonstraram interesse em relação a essa perspecti-va oferecida pelo Brasil.

África/Ásia

SACU (“Southern Africa Customs Union”): semprevisão de data para a conclusão das negociações;

Cingapura: em vigor desde 1/1/2004;

Austrália: em vigor desde 1/1/2005;

Tailândia: sem previsão de data para a conclusãodas negociações;

Coréia do Sul: início de negociações anunciadoem fevereiro de 2006, com expectativa de conclusãoainda no corrente ano;

Malásia: inicio de negociações anunciado emmarço de 2006.

Oriente Médio, região em relação à qual os EstadosUnidos anunciaram, em 2003, intenção de concluiraté 2013 a chamada MEFTA — “Middle Eastern FreeTrade Area”

Israel: em vigor desde 1985;

Jordânia: em vigor desde dezembro de 2001;

Marrocos: em vigor desde 1/1/2006;

Bahrein: legislação de implementação assinadapelo Presidente Bush em 11/1/2006;

Omã: acordo assinado em janeiro de 2006;

Emirados Árabes Unidos: expectativa de conclu-são das negociações até o final de 2006.

Como se observa, o Executivo norte-americano bus-cará, em 2006, dar seguimento a sua ambiciosa agen-da de negociações de ALC’s. Terá de enfrentar, contu-do, crescentes resistências internas à liberalizaçãocomercial, especialmente por parte do Congresso. Em2005, o CAFTA-RD foi aprovado na Câmara de Repre-sentantes por dois votos apenas, mesmo havendo opróprio Presidente George W. Bush se empenhado pes-soalmente na busca de apoios deputado por deputado.Os ALC’s tornaram-se matéria central de confrontaçãopartidária entre republicanos e democratas. O CAFTA-RD foi aprovado, essencialmente, apenas com votosde deputados republicanos. Essa polarização tende aapontar para crescentes dificuldades na promoção deuma agenda de livre comércio, em um contexto de pre-ocupações cada vez mais generalizadas com as di-mensões do déficit comercial (que, no caso das trocascom um país apenas, a China, superou a cifra de US$200 bilhões em 2005).

O tratamento do açúcar em ALC’s bilaterais dosEstados Unidos é um caso emblemático da dificuldadepara enfrentar a força de determinados “lobbies” no Con-

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gresso norte-americano. O produto foi excluído do ALCcom a Austrália, e em outros acordos — como o CAFTA-RD, Peru e Colômbia — obtiveram os parceiros dosEstados Unidos apenas modestíssimos aumentos dequota, permanecendo o produto submetido a quotastarifárias permanentes.

Outro fator a considerar em relação à agenda co-mercial dos Estados Unidos é a perspectiva, dada comocerta nas atuais circunstâncias, de que não será reno-vada a presente “Trade Promotion Authority”, que expi-ra em 1/7/2007 (ou, para ser mais preciso, 30/6/2007,dependendo da interpretação do texto). Sobreviria, as-sim, período em que o Executivo norte-americano fica-ria desprovido de autorização para negociar acordoscomerciais que pudessem depois ser votados no Con-gresso sob o procedimento de “fast track”. Essa mes-ma limitação ocorreu, mais recentemente, entre os anos1995-2002 — período em que se negociou eimplementou apenas o ALC com a Jordânia.

Como quer que seja, é importante ter presente aintenção do Executivo norte-americano de buscar nú-mero crescente de acordos de livre comércio bilateraisou regionais, em paralelo à prioridade atribuída à OMC.Vai-se formando, cumulativamente, uma rede de des-

vantagens relativas para os exportadores brasileiros nomercado norte-americano (e também nos mercados dosterceiros países que assinam ALC’s com os EstadosUnidos). Há indicações, por exemplo, de deslocamen-to efetivo ou potencial de exportações de produtos bra-sileiros para os Estados Unidos, em favor de concor-rentes mexicanos, após o Nafta, podendo ser citadosprodutos como açúcar, carnes, suco de laranja, etanol,calçados, siderúrgicos e têxteis (entre 1994-2005, pe-ríodo em que vigora o Acordo, o México acumulou comos Estados Unidos um saldo comercial de cerca deUS$ 312 bilhões).

Ao mesmo tempo em que mantém a disposição denegociar um entendimento comercial equilibrado comos Estados Unidos, focado em acesso a mercados, oBrasil continua a trabalhar, em outras direções, parafazer frente ao impacto da rede de ALC’s negociadapelos Estados Unidos: (a) aprofundamento daliberalização comercial multilateral via OMC, no âmbitoda Rodada Doha; (b) aceleração das iniciativas deintegração na América do Sul; (c) fortalecimento de novasparcerias comerciais, com diferentes países e regiõesdo mundo; (d) busca de acordo comercial Mercosul-União Européia.

Os Estados Unidos são o principal destino das ex-portações brasileiras (a tabela ao final deste encarteilustra a evolução do comércio bilateral, de acordo comdados brasileiros). De acordo com dados norte-ameri-canos, as exportações do Brasil para os Estados Uni-dos cresceram de US$ 21,1 bilhões em 2004 para US$24,4 bilhões em 2005, com saldos comerciais, respec-tivamente, de US$ 7,3 e US$ 9 bilhões.

O crescimento nas exportações brasileiras para osEstados Unidos, em 2005, foi de 15,5%, ligeiramentesuperior ao aumento global das importações norte-ame-ricanas (13,7%). Em 2004, da mesma forma, as expor-tações brasileiras haviam crescido ligeiramente acimadas importações globais norte-americanas (18,15 vs.16,8%). Com isso, a participação brasileira no total deimportações dos Estados Unidos (US$ 1,675 trilhãoem 2005) tem apresentado pequena evolução “na mar-gem”: 1,42% em 2003, 1,44% em 2004 e 1,46% em2005.

III. Evolução do comércio bilateral Brasil-Estados Unidos

O Brasil ainda está distante, portanto, do market-share de 2,2% atingido vinte anos antes, em 1985 (em2005, uma hipotética participação de 2,2% no total deimportações norte-americanas teria representado ex-portações no valor de US$ 33,5 bilhões). Mas o Paísdecididamente reverteu a tendência que o havia levadoa ter participação de apenas 1,1% do mercado norte-americano em 1999. No governo do Presidente LuizInácio Lula da Silva, o Brasil acumulou saldo comercialde cerca de US$ 26,5 bilhões com os Estados Unidos.

Passando a utilizar estatísticas oficiais brasileiras,é importante ressaltar o crescimento consistente dasexportações nacionais para os Estados Unidos nomesmo período 2003-2005: 8,8% em 2003; 21,8% em2004; 11,8% em 2005. Ainda que tenham ficado aquémda expansão global das vendas externas brasileiras (de21,1% em 2003; 32% em 2004; 22,63% em 2005), osnúmeros relativos aos Estados Unidos são significati-vos, por se tratar de mercado maduro em que há alta

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concentração de vendas de produtos manufaturados (osquais, tradicionalmente, representam mais de 70% dasexportações nacionais para os Estados Unidos).

Não se pode deixar de observar, ao mesmo tempo,que outros grandes países emergentes, como a China,Coréia do Sul ou México, souberam tirar melhor proveitodo extraordinário aumento das importações norte-ameri-canas, especialmente desde os anos noventa. Cabe,aqui, reconhecer as próprias deficiências brasileiras (pe-ríodos, já superados, de incertezas macroeconômicas;debilidades da oferta exportadora; “custo Brasil”). Masnão se podem ignorar, tampouco, os efeitos adversosdas significativas barreiras ainda existentes no mercadonorte-americano a importantes produtos de exportaçãodo Brasil — barreiras que são descritas, a seguir, com opropósito de manter em pauta questões a serem trata-das de forma prioritária em negociações comerciais en-tre o Brasil e os Estados Unidos.

1) Açúcar

Nos Estados Unidos, a produção doméstica de açú-car de beterraba e de cana se beneficia, desde 1981,de um programa de apoio referendado, com poucas al-terações, pela Lei Agrícola de 2002.1 O programa con-siste na sustentação de um preço mínimo de 18 centa-vos de dólar por libra, por meio do controle da oferta,doméstica e importada. A produção interna é adminis-trada por meio de alocações de quantidades decomercialização por parte do Departamento de Agricul-tura (“Overall Allotment Quantities”). O açúcar importa-do, por sua vez, é sujeito a quota tarifária consolidadana OMC, de 1,1 milhão de toneladas.

As quotas tarifárias para importação de açúcar bru-to e refinado são fixadas anualmente pelo Departamen-to de Agricultura e alocadas pelo USTR. A quota deaçúcar bruto é distribuída entre os 40 principais forne-cedores no período 1975-1981. A do produto refinado éalocada parcialmente ao Canadá e México, com osvolumes restantes distribuídos em bases “first come,first served”. A quota tarifária de açúcar bruto para oano fiscal 2006, que se iniciou em outubro de 2005, foifixada inicialmente em 1,11 milhão de toneladas métri-cas, o mínimo consolidado na OMC. Para açúcar refi-

nado, a quota foi fixada em 49 mil toneladas métricas,das quais 27 mil reservadas a açúcar especial(mascavo, orgânico etc.). Posteriormente, o Departa-mento de Agricultura autorizou a importação suplemen-tar de 861.832 toneladas métricas de açúcar, para su-prir deficiências na oferta interna causadas pelosfuracões que atingiram os Estados Unidos em 2005.Da quantidade adicional autorizada pelo USDA, 362.881toneladas correspondem a açúcar refinado, das quais25.000 toneladas foram alocadas ao Canadá e 59.349ao México, e o restante distribuído na base do “first-come, first-served”.

A quota total de açúcar bruto atribuída ao Brasil parao ano fiscal de 2006, incluída a autorização suplementaracima, é de 260.522 toneladas métricas. Desse total,168.603 toneladas correspondem à quota destinada aoBrasil no início do ano fiscal; 39.781 toneladas referem-se à alocação suplementar anunciada em dezembro de2005; e 52.138 toneladas à alocação suplementar defevereiro de 2006. A quota tarifária alocada ao Brasil parao ano fiscal de 2005 (outubro de 2004 a setembro de2005) fora de 152.691 toneladas (posteriormentesuplementada por quota adicional de 29.977 toneladasapós o furacão Katrina). Nos anos anteriores, a quotatarifária alocada ao Brasil havia se limitado a 152.691toneladas, o volume mínimo consolidado na OMC.

Dentro da quota consolidada na OMC, incide sobreo açúcar bruto uma tarifa entre 10 e 14 dólares portonelada. A tarifa zero dentro da quota pode beneficiaralguns países com os quais os Estados Unidos man-têm esquemas preferenciais. Importações acima daquota estão sujeitas a uma tarifa proibitiva de 15,36centavos de dólar por libra, ou US$ 338,70 por to-nelada. Considerados os preços internacionais em2005, o equivalente ad valorem médio da tarifaespecífica foi de 164% (menor, portanto, do que em2004, em razão do aumento do preço internacionalmédio). Mais recentemente, em função do marcado au-mento dos preços do açúcar no mercado internacional,o equivalente ad valorem tem sido inferior a 100%. Nocaso do produto refinado, a tarifa extra-quota, de US$357,40 por tonelada, correspondeu a um direito específi-co ad valorem de aproximadamente 153% em 2005.

As exportações do Brasil para os Estados Uni-dos caíram drasticamente desde a introdução decontroles de importação, no início dos anos oiten-ta (à época, o Brasil chegou a exportar 1,5 milhão

1 Além de proteger a produção doméstica de açúcar, os EstadosUnidos subsidiam, via programa de “commodities” da ‘Farm Bill”, aprodução do substitutivo derivado do milho – o “high fructose cornsyrup” (HFCS).

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de toneladas/ano). Antes do “Sugar Program”, osEstados Unidos importavam 55% de seu consumo do-méstico; hoje, cerca de 12%. As exportações totais deaçúcar (“sugar, cane and beet”) do Brasil para os Esta-dos Unidos subiram de US$ 57,6 milhões (143.503 to-neladas) no ano-calendário 2004 para US$ 125,8 mi-lhões (322.304 toneladas) em 2005, um aumento decerca de 118% em valor e de 124% em quantidade.2

No ano fiscal de outubro de 2004 a setembro de2005, contudo, em relação ao qual se deve calcular autilização das quotas tarifárias, as exportações brasi-leiras totalizaram US$ 58,4 milhões (149,9 mil tonela-das), contra US$ 66,9 milhões (169,5 mil toneladas) noperíodo 2003-2004, significando uma variação negativade 12,6% em valor e de 11,5% em quantidade.

2) Etanol

Diversas medidas protecionistas e de incentivo àprodução de etanol doméstico dificultam, desde o iní-cio dos anos 80, o acesso do etanol brasileiro ao mer-cado norte-americano. Em 1978, foram introduzidos in-centivos fiscais à mistura do etanol na gasolina,originalmente de 54 centavos por galão “misturado” deetanol e hoje correspondente a um crédito fiscal de 51centavos de dólar por galão, concedido como restitui-ção de imposto de renda às refinarias e distribuidoresque misturam o etanol (de qualquer procedência, do-méstico ou importado) à gasolina. Em 1980, como for-ma de circunscrever o incentivo fiscal apenas ao etanoldoméstico, produzido à base do milho do meio-oeste,foi instituída uma tarifa especial de importação deetanol combustível, no valor de 14,27 centavos porlitro, ou 54 centavos de dólar por galão (“anulando”o crédito fiscal no caso de mistura de álcool importa-do). Há países isentos da tarifa especial, ao amparo deregimes preferenciais: Israel, Canadá, México e os pa-íses da América Central e do Caribe. O crédito fiscal –na prática, apenas para o produto doméstico – ampliaa competitividade da produção interna frente ao etanolimportado. Outro fator de distorção da competitividaderelativa do etanol doméstico e importado no mercadodos Estados Unidos diz respeito aos subsídios à pro-dução de milho (ver item à parte).

Como conseqüência da política de apoio ao consu-mo do etanol doméstico, a capacidade de produção

interna “explodiu” – passando de 175 milhões de ga-lões em 1980 a 4,2 bilhões de galões em 2005 (valorpraticamente idêntico ao da produção brasileira, esti-mada em 15,9 bilhões de litros). A Lei de Energia de2005 estabeleceu meta de consumo mínimo de 7,5 bi-lhões de galões ao ano até 2012.

O Brasil foi o principal exportador de etanol para osEstados Unidos em 2005, mesmo com a barreira re-presentada pelo direito específico “temporário” de 54centavos de dólar por galão, além da alíquota ad valoremde 2,5%. Foram vendidos para os Estados Unidos, noano passado, US$ 88,51 milhões, contra US$ 76,85milhões em 2004 (aumento de 15,2%).3 Outros expor-tadores importantes são os países do “Caribbean BasinTrade Partnership Act” (CBTPA), como Jamaica, CostaRica e El Salvador. Presume-se que o etanol CBTPA,que entra nos Estados Unidos sem pagamento da tari-fa especial, é sobretudo álcool anidro brasileiro desi-dratado no Caribe.

Pelos termos do regime preferencial, produtores daregião da CBTPA estão hoje autorizados a exportar aosEstados Unidos, sem a tarifa de 54 centavos, um volu-me de etanol a partir de matéria-prima “não-doméstica”correspondente a até 7% do consumo anual dos Esta-dos Unidos – algo como 294 milhões de galões em 2005.Foi introduzido, em 2004, projeto de lei no Senado des-tinado a “capear” a exportação “duty-free” do etanolreprocessado no Caribe – com teto de 90 milhões degalões/ano. O projeto, contudo, não prosperou.

3) Tabaco

Há determinação legal de percentual mínimo de75% de fumo doméstico na produção de cigarros.Soma-se a isso a barreira das quotas tarifárias deimportação, com uma tarifa extra-quota proibitivade 350%. A quota tarifária é de 151.200 toneladas –80.200 das quais atribuídas ao Brasil. As tarifas cobra-das dentro da quota variam de zero, caso da linha tarifária2401.3033 (“tobacco stems, not cut, not ground andnot pulverized”) a 409 dólares por tonelada, caso dalinha 2401.2033 (tabaco não-manufaturado do tipo “fluecured”, “burley”, “Maryland” e outros). As exportaçõesbrasileiras de setembro de 2004 a agosto de 2005 (o“ano-quota” vai de 13 de setembro de um ano a 12 desetembro do ano seguinte) foram de 85.935 toneladas

2 Fonte: USDA (http://www.fas.usda.gov/ustrade/USTImFatus.asp?QI=).

3 Fonte: United States International Trade Commission(http://datawebusitc.gov).

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9 :::: Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos

de tabaco do tipo “não-pulverizado”, que concentra amaior parte das exportações de tabaco sujeitas à quo-ta. As exportações de outros tipos de tabaco foram deapenas 9,4 toneladas no período.4

O Congresso dos Estados Unidos aprovou, em ou-tubro de 2004, “desregulamentação” do setor domésti-co de tabaco. Incluído como Título VI do “American JobsCreation Act of 2004”, o “Fair and Equitable TobaccoReform” extinguiu as quotas de comercialização internae a garantia de preços mínimos para o tabaco domésti-co, e instituiu um programa de compensação para de-tentores de quota e produtores (“buy out”), que proverácerca de US$ 10 bilhões em pagamentos de “transição”,desembolsados em dez parcelas anuais iguais no perío-do 2005-2014, a serem financiados pela imposição detaxa a ser cobrada de manufaturas e importadores deprodutos de tabaco, recolhida trimestralmente com baseem suas respectivas fatias do mercado doméstico.

O objetivo do “buy-out” é aumentar a eficiência dosprodutores que permanecerem no setor de tabaco, efacilitar a migração para outros cultivos dos produtoresmenos competitivos. Os produtores de tabaco e o Go-verno norte-americano não parecem ter expectativa deque os Estados Unidos voltem a ser relevante fornece-dor mundial do produto (a participação dos EstadosUnidos no comércio internacional do tabaco declinoude quase 30% na década de 60 para menos de 10% naatualidade). Parecem acreditar, no entanto, que o “buy-out” ajudará os produtores remanescentes a competircom fornecedores mais eficientes, como o Brasil.

As exportações de tabaco do Brasil para os Esta-dos Unidos somaram, no ano-calendário 2005, cercade US$ 163,29 milhões (77.175 toneladas métricas),segundo dados norte-americanos, contra US$ 203,75milhões (80.950 toneladas) em 2004 (variação negativade cerca de 20% em valor e de 4,6% em quantidade).5

4) Soja

Ademais das distorções provocadas pelo apoio àprodução doméstica norte-americana (ver item à par-te), em matéria tarifária a principal barreira aplicada àsoja brasileira refere-se ao produto industrializado, demaior valor agregado. Importações de óleo de soja

são taxadas à proporção de 19,1%. Alíquota dessamagnitude torna as exportações de óleo de soja brasi-leiro para os Estados Unidos praticamente proibitivas,tanto mais que as importações do Canadá, Israel, paí-ses andinos e do Caribe são isentas de taxação. Entre2004 e 2005, tanto as exportações do grão de sojaquanto do óleo para os Estados Unidos, já em si muitomodestas, reduziram-se drasticamente, segundo os da-dos norte-americanos.

As exportações de soja caíram de US$ 6,25 mi-lhões em 2004 para apenas US$ 93 mil em 2005(-98,5%), enquanto que as exportações de óleo de soja,que somaram US$ 41,35 milhões em 2004, caíram ameros US$ 2.000,00 em 2005.6

Consultada informalmente, a Associação Brasileiradas Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) estima que,na ausência da barreira tarifária ao óleo de soja, seriarazoável imaginar exportações brasileiras superiores a1 milhão de toneladas (cerca de 15% do consumo in-terno), considerando que, nesta hipótese, o custo dalogística de transporte passasse a ser o único diferen-cial de preço. Dada a extensão territorial dos EstadosUnidos, em alguns casos seria mais barato atenderparte do mercado através de importações por via marí-tima do que movimentar o produto internamente desdeo meio-oeste norte-americano.

5) Carne bovina

5.1) Carne in natura

O mercado norte-americano continua fechadoà importação de carne in natura (resfriada ou con-gelada) do Brasil. O Brasil havia dado entrada a novoprocesso para certificação da carne in natura, em 2002,após controlado o foco de aftosa ocorrido em 2000, emJóia, no Rio Grande do Sul. Depois de longa tramitaçãode mais de três anos, o texto de “proposed regulation”para autorizar as importações da carne brasileira já ti-nha sido elaborado pelo APHIS (“Animal and Plant Healthand Inspection Service”), órgão do Departamento deAgricultura, e se encontrava na fase de revisão por di-versas instâncias do Departamento de Agricultura etambém pelo “Office of Management and Budget” (OMB)da Casa Branca, a qual precede a publicação da nor-ma para consulta pública. Sobreveio, contudo, o foco

4 Fonte: USDA (http://www.fas.usda.gov/ustrade/USTImFatus.asp?QI=).5 Fonte: USDA (http://www.fas.usda.gov/ustrade/USTImFatus.asp?QI=).

6 Fonte: USDA (http://www.fas.usda.gov/ustrade/USTImFatus.asp?QI=).

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de aftosa no Mato Grosso do Sul, anunciado em 10 deoutubro de 2005. Aquele estado havia sido usado comomodelo na elaboração da análise de risco, requerida noprocesso de aprovação.

Mesmo superada a barreira sanitária, o Brasil aindaterá de enfrentar no futuro a questão da alocação dequotas tarifárias para exportação ao mercado norte-ame-ricano (México e Canadá têm acesso livre sob o Nafta).A quota tarifária de exportações para os Estados Unidosé de 696.621 toneladas/ano, sobre a qual incide tarifa de4,4 centavos de dólar/quilo, alocada majoritariamente àAustrália (378.214 toneladas) e à Nova Zelândia (213.402toneladas). A quota para “outros países”, sob a qual oBrasil poderia exportar uma vez concluído o processode certificação, é de 64.805 toneladas. A Argentina e oUruguai detêm quota de 20.000 toneladas cada. A tarifaextra-quota é de 26,4%. Em caráter preliminar, a ABIEC(Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras deCarne) estima que poderiam ser exportadas cerca de100 mil toneladas de carne bovina aos Estados Unidospor ano, após a certificação do produto.

5.2) Carne bovina processada

A fiscalização da qualidade sanitária da carne bovi-na processada importada é de responsabilidade do “FoodSafety and Inspection Service“ (FSIS), agência do De-partamento de Agricultura. São realizadas missões pe-riódicas de inspeção em frigoríficos e processadoresbrasileiros, em estreita cooperação com o Ministériode Agricultura, bem como reinspeções aleatórias deprodutos importados nos portos de entrada nos Esta-dos Unidos.

Em 2005, o FSIS aumentou suas atividades de ins-peção da carne importada, sobretudo para aferir a “equi-valência” entre as práticas sanitárias dos países expor-tadores e aquelas implementadas nos Estados Unidos,com ênfase no HACCP (sigla em inglês para Sistemade Análise de Riscos em Pontos Críticos de Controle).Havendo o FSIS apontado deficiências nos serviços decontrole sanitário brasileiros, o Governo brasileiro to-mou a decisão de auto-suspender, temporariamente,em maio de 2005, as vendas para os Estados Unidos,de modo a poder adotar as medidas corretivas neces-sárias. Cumprida esta tarefa, os frigoríficos brasileirosforam sendo gradualmente autorizados a retomar asvendas, após novas auditorias do sistema brasileiro deinspeção da carne processada. O Brasil é o maior for-

necedor de carne processada para os Estados Unidos,e, em 2005, exportou um recorde de US$ 204 milhões.

6) Carne suína

Padrões sanitários proíbem a importação decarne suína do Brasil pelos Estados Unidos. Parahabilitar a exportação do produto brasileiro, em 2005 oMinistério da Agricultura submeteu, ao “Animal and PlantHealth Inspection Service“ (APHIS) do Departamentode Agricultura, petições e documentação de apoio paraque o Brasil seja declarado livre de peste suína clássi-ca (“Classical Swine Fever”), cólera suína (“HogCholera“), doença vesicular suína (“Swine VesicularDisease“), e febre suína (“African Swine Fever“). Os re-querimentos estão sendo analisados conforme o pro-cesso regulatório norte-americano, similar (embora nãoidêntico) ao aplicado à aprovação da carne bovina innatura. A área exportadora também deverá ser livre deaftosa.

7) Frango

Embora seja o maior exportador de carne deaves do mundo, com US$ 3,3 bilhões embarcadosem 2005, o Brasil não comercializa o produto nosEstados Unidos. O ingresso do frango processado nomercado norte-americano depende de que o sistemabrasileiro de inspeção sanitária seja certificado comoequivalente ao dos Estados Unidos pelo “Food SafetyInspection Service“ (FSIS) do Departamento de Agri-cultura. Para exportar carne de frango in natura, asautoridades sanitárias brasileiras deverão igualmentecomprovar que o Brasil está livre da “doença deNewcastle”, com a submissão inicial de formulário pa-dronizado ao APHIS. O MAPA está, no momento, en-volvido na preparação e encaminhamento da documen-tação necessária.

Em julho de 2002, o Brasil concluiu um acordo deequivalência sanitária para frango e peru com o Cana-dá, parceiro dos Estados Unidos no Nafta. As exporta-ções para aquele mercado foram aprovadas a partir dodia 1º de agosto de 2002.

8) Laticínios

Juntamente com o tabaco e o açúcar, o setor delaticínios concentra alguns dos maiores picos tarifáriosaplicados pelos Estados Unidos. As exportações delaticínios em geral do Brasil para os Estados Unidossubiram de US$ 10,29 milhões em 2004 para US$ 12,22

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11 :::: Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos

milhões (aumento de 18,75%), segundo dados norte-americanos.7 As barreiras à entrada do produto no mer-cado norte-americano consistem principalmente na im-posição de quotas tarifárias. No caso do leite, emparticular a linha tarifária 0401.30, em que há registrosde importações provenientes do Brasil, a tarifa intra-quota é de 3,2 centavos de dólar por litro, e a extra-quota de 77 centavos por litro (a quota total é de cerca7 milhões de litros, dos quais 5,6 milhões reservados àNova Zelândia, exportador histórico de leite). No casoda linha tarifária 0402.99, que inclui leite condensado,com exportações brasileiras de cerca de US$ 3,8 mi-lhões em 2005, ainda segundo os dados norte-ameri-canos, a tarifa dentro da quota é de 39 dólares por to-nelada, para uma quota total de 6.800 toneladas, comreservas num montante de 2.300 toneladas para Aus-trália, Canadá, Dinamarca, Alemanha e Países Baixos.A tarifa extra-quota, para essa linha tarifária, é de 496dólares por tonelada.

Quanto ao queijo, as exportações para os EstadosUnidos são igualmente restritas por quotas tarifárias.No ano calendário de 2005, entretanto, as exportaçõesde queijos brasileiros cresceram 48% em relação aoano anterior, chegando a US$ 5,96 milhões.

9) Frutas e legumes

O mercado norte-americano para frutas frescas elegumes importados está em significativa expansão.As exportações brasileiras para os Estados Unidoscresceram de US$ 9,2 milhões em 1998 para um re-corde de US$ 39,6 milhões em 2005 (aumento de 52%em comparação com as exportações em 2004), princi-palmente em função do suprimento de uvas brasileirasdo Vale do São Francisco. As exportações de uvas bra-sileiras aumentaram de US$ 1,6 milhão em 2004 paraUS$ 13,2 milhões em 2005.

O potencial de ampliação do mercado norte-ameri-cano para a exportação de frutas brasileiras é conside-rável, diante do quadro de contínua expansão do con-sumo. Não obstante, a manutenção de restriçõesfitossanitárias e a demora nos processos decertificação funcionam como barreiras significati-vas. Após três anos de negociações entre o Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e oDepartamento de Agricultura dos Estados Unidos

(USDA), os produtores de mamão papaia do extremosul da Bahia e do Rio Grande do Norte receberam, em2005, autorização para exportar a fruta para o mercadonorte-americano. Até então, apenas o Espírito Santoera habilitado a vender o produto. A ampliação da áreafoi divulgada no dia 8/12/05 no Federal Register, publi-cação do governo norte-americano.

As barreiras fitossanitárias norte-americanas vedama importação da maioria das frutas e legumes brasilei-ros – alguns com grande potencial no mercado, comocítricos, por exemplo. Para a grande parte dos produ-tos cuja entrada é permitida, um obstáculo adicional éo requisito obrigatório de licenças prévias de im-portação. Praticamente todas as frutas e legumes bra-sileiros necessitam licença prévia. Outro entrave sãoos “tratamentos especiais” requeridos e a exigên-cia de que o ingresso de vários produtos se façapor portos específicos.

Para os produtos com potencial de exportação paraos Estados Unidos, mas ainda não certificados, a mai-or barreira é a complexidade do processo do Departa-mento de Agricultura para exame dos dados fornecidospelos produtores/exportadores (de comprovação dainexistência, ou do controle efetivo, com métodos ade-quados, de alegadas pragas em áreas de produção).Ocorre também grande demora no processamento daanálise de risco (“pest risk analysis“), que em algunscasos pode levar anos. O Comitê Consultivo AgrícolaBrasil-Estados Unidos (CCA), criado em junho de 2003,é canal de diálogo entre o MAPA e o Departamento deAgricultura em que se espera obter encaminhamentosatisfatório para problemas dessa natureza.

9.1) Sazonalidade de tarifas

Os impostos de importação de diversas frutas vari-am de acordo com a época do ano em que são impor-tadas. A tarifa para uvas brasileiras, por exemplo, osci-la de US$ 1,13/m³, entre 15 de fevereiro e 31 de março,cai a zero de 1o de abril a 30 de junho e sobe a US$1,80/m³ no restante do ano, exatamente o período daentrada de quase todas as uvas brasileiras. As uvasmexicanas e chilenas são livres de taxação.

As importações de melão, que são livres de impos-to sob o Sistema Geral de Preferências (SGP), entre1º de dezembro e 31 de maio, estão sujeitas a umatarifa de 28% no resto do ano (o México paga 7%, e omelão caribenho é livre de taxação em qualquer perío-

7 Fonte dos dados: USDA (http://www.fas.usda.gov/ustrade/USTImFatus.asp?QI=).

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:: 12 Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos ::

do). Situação similar ocorre com a variedade de melão“cantaloupe”, que está sujeita a um imposto de 12,8%,entre 1º de agosto e 15 de setembro (o de origem me-xicana ou caribenho é isento). No restante do ano, o“cantaloupe” proveniente do Brasil é livre de taxação.

10) Lei de Rotulagem por País de Origem (“Countryof Origin Labeling” – COOL)

A Lei Agrícola de 2002 estabeleceu uma nova exi-gência de rotulagem para país de origem, conhecido pelasigla “COOL” (“country of origin labeling”), aplicável àcomercialização varejista de cortes de carne bovina, ovi-na e suína, peixe, frutas, vegetais e amendoim, excetoquando usados como ingredientes de um produto ali-mentar processado. O USDA estimou o custo daimplementação da lei, no seu primeiro ano, em US$ 3,9bilhões. Nos termos da lei, a rotulagem seria voluntáriaaté setembro de 2004 e obrigatória a partir de 30/09/2004. Após muitos debates e propostas de legislação, alei orçamentária “2004 Appropriations Act” adiou o prazopara 30 de setembro de 2006 para todos os produtos,exceto peixe. Em 3 de novembro de 2005, o Senadodecidiu adiar, por mais dois anos (até 2008), o aprovisio-namento de fundos para a implementação da rotulagemmandatória, no âmbito do “Ag Appropriations Bill”.

11) Subsídios à agricultura

Além das barreiras de fronteira propriamente ditas(tarifárias e não-tarifárias), os pesados subsídios à agri-cultura norte-americana prejudicam seriamente acompetitividade dos produtos brasileiros nos EstadosUnidos (além de provocarem distorções de mercadotambém em escala mundial).

11.1) Pagamentos domésticos

Verificou-se aumento substancial dos paga-mentos à agricultura entre os anos fiscais de 2004e 2005 (primeiro dia de outubro do ano anterior a 30 desetembro do ano de referência), de US$ 10,57 bilhõespara US$ 20,18 bilhões. O “producer support estimate”(PSE) calculado pela OCDE para os Estados Unidoschega a 18% do valor total da produção (3% no casodo Brasil).

Foram os seguintes os pagamentos totais rece-bidos, em 2005, pelos principais cultivos subsidia-dos pelo governo norte-americano (entre parêntesis,os valores aproximados dos pagamentos acumula-dos entre 2001-2005): (a) milho: US$ 6,2 bilhões

(US$ 19,4 bilhões); (b) algodão: US$ 4,24 bilhões(US$ 13,3 bilhões); (c) trigo: US$ 1,23 bilhão (US$7,54 bilhões); (d) soja: US$ 1,14 bilhão (US$ 9,43 bi-lhões); e (e) arroz: US$ 473 milhões (US$ 5,37 bi-lhões). Cerca de 90% dos dispêndios em agricultura be-neficiam esses cinco cultivos, que representam cerca de25% apenas do valor total da produção agrícola do país.

Alguns componentes dos pagamentos diretos à agri-cultura em 2005, seguidos dos seus respectivos valo-res, são indicados a seguir: (a) pagamentos diretos:US$ 5,23 bilhões; (b) pagamentos contra-cíclicos: US$2,77 bilhões; (c) “loan deficiency payments”: US$ 3,85bilhões; e (d) “price support loans”: US$ 5,8 bilhões. Aúltima notificação dos Estados Unidos à OMC, a res-peito de seus programas de apoio à agricultura, refere-se ao ano de 2001.

11.2) Subsídios e apoio à exportação

Em comparação com os outros grandessubsidiadores agrícolas, os Estados Unidos consolida-ram volumes relativamente modestos de subsídios strictusensu à exportação. Além disso, praticamente não fa-zem mais uso significativo dos recursos que alocam aosdois únicos programas declarados à OMC – o “ExportEnhancement Program” (EEP) e o “Dairy Export Incenti-ve Program” (DEIP). Por outro lado, injetam montantesconsideráveis em garantias de crédito à exportação eajuda alimentar, sem contar o fato de que os programasde subsídios à produção doméstica dos Estados Uni-dos representam também uma forma de ampliar acompetitividade internacional dos produtos beneficiados.

Garantias de crédito à exportação

O Departamento de Agricultura administra diferen-tes programas de garantias de crédito destinados a fa-cilitar as exportações de produtos agrícolas norte-ame-ricanos, implementados por seu braço financeiro, a“Commodity Credit Corporation”:

(1) O “Export Credit Guarantee Program”, ou GSM-102, que cobre créditos privados de curto prazo – até trêsanos – estendidos por exportadores ou bancos norte-americanos a bancos estrangeiros elegíveis em paísesque adquirem produtos agrícolas dos Estados Unidos;

(2) O “Intermediate Export Credit Guarantee Program”,ou GSM-103, que cobre o mesmo tipo de operação queo GSM-102, mas com prazos de vencimento mais lon-gos, de três a dez anos;

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13 :::: Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos

(3) O “Supplier Credit Guarantee Program”, relativoa financiamentos de curtíssimo prazo (até 180 dias)estendidos diretamente pelo exportador norte-america-no ao importador estrangeiro; e

(4) O “Facility Guarantee Program”, que estende ga-rantias de crédito a exportações de bens de capital eserviços dos Estados Unidos destinados a aperfeiçoarinstalações agrícolas (processadoras, de estocagemetc.) em mercados emergentes.

“Export Credit Guarantee Program” – GSM-102

Os programas GSM-102 e GSM-103 foram criadospela Lei Agrícola de 1978, reautorizados em 1996 enovamente em 2002 (até 2007). As garantias cobrematé 98% do principal e até 55% e 80% dos juros, sob oGSM-102 e GSM-103, respectivamente, e a lei mandataum nível mínimo de US$ 5,5 bilhões/ano para os doisprogramas. O GSM-103 foi administrativamentedesativado em 1º de julho de 2005 como resultado daimplementação parcial pelos Estados Unidos das re-comendações do órgão de solução de controvérsias daOMC no caso do algodão.

No ano fiscal de 2005, US$ 4,54 bilhões foramalocados ao GSM-102 para 14 países e 12 regiões –países bálticos e sudeste dos Balcãs, América Centrale Caribe, Europa Central, África Oriental, Ocidental eMeridional, América do Sul, Sudeste asiático, Sudesteeuropeu e Oriente Médio. Os registros de operaçõestotalizaram US$ 2,16 bilhões. Turquia (US$ 455 mi-lhões), Coréia do Sul (US$ 325 milhões) e Rússia (US$294 milhões) despontam como os maiores beneficiáriosindividuais. À América do Sul, tomada em conjunto,destinaram-se US$ 900 milhões (US$ 354 milhões efe-tivamente desembolsados).

“Supplier Credit Guarantee Program” (SCGP)

Instituído pela Lei Agrícola de 1996 para operaçõesde até 180 dias, o SCGP foi reautorizado – até 2007 –pela Lei Agrícola de 2002, com cobertura expandidapara financiamentos de até 180 dias (que podem che-gar a 360 dias caso haja dotação orçamentária anualespecífica para o período adicional). No ano fiscal de2005, as alocações ao SCGP totalizaram mais de US$1,3 bilhão, cobrindo exportações a 20 países em 13regiões. As operações registradas montaram a US$ 454milhões.

12) Algodão

Além dos subsídios que distorcem e restringem ocomércio, os Estados Unidos aplicam, ainda, quotastarifárias de importação: agregada, para todos os paí-ses, e específica. Essas quotas são estipuladas anu-almente e são válidas para o período de 20 de setem-bro a 19 de setembro do ano seguinte. Para 2005, aquota agregada foi de 20,2 mil toneladas e a quota doBrasil, de 280 toneladas. As importações dentro daquota estão livres de tarifa, mas importações acimada quota estão sujeitas a pagamento de 31,4 cen-tavos/quilo (cerca de 25% ad valorem aos preçosatuais de 57 centavos de dólar por libra). México,Austrália e Chile estão isentos dessas quotas.

Os subsídios ao algodão nos Estados Unidos, ques-tionados pelo Brasil na Organização Mundial do Comér-cio, podem ser vistos como uma barreira ao produto bra-sileiro, na medida em que retiram sua competitividadeno mercado norte-americano (e também em terceirosmercados). O processo iniciado pelo Brasil na OMC,mediante pedido de consultas aos Estados Unidos emsetembro de 2002, concluiu-se em março de 2005, afavor do Brasil. A descrição desse contencioso se en-contra na edição anterior deste relatório (2005).

12.1) Resumo da situação atual de implementação das decisões do painel

A decisão do Órgão de Apelação da OMC tinha, emresumo, dois componentes: (a) sobre subsídios proibi-dos, os Estados Unidos tinham prazo até 1/7/2005 paraadequação; (b) sobre subsídios que causam achatamentodos preços mundiais e, portanto, prejuízo grave ao Brasil,os Estados Unidos tinham prazo até 21/9/2005 pararevogá-los ou eliminar os prejuízos graves ao Brasil.

No primeiro caso, relativo aos subsídios considera-dos proibidos, os Estados Unidos adotaram as seguin-tes medidas: (a) em 8/2/2006, o Presidente George W.Bush sancionou o “Deficit Reduction Act of 2005”, querevogou o programa STEP-2, a partir de 1/8/2006; (b)em 1/7/2005, o USDA adotou administrativamente me-didas para descontinuar a concessão de garantias decrédito à exportação em operações de mais de trêsanos (GSM-103) e adequar os demais programas (GSM-102, para operações até três anos; e SCGP, para ope-rações até 180 dias). Neste último caso, o Governobrasileiro ainda não concluiu seus estudos para verifi-car se as medidas de adequação administrativa foram

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suficientes para eliminar o componente de subsídiosdos programas de garantias de crédito a exportações.

No segundo caso, dos subsídios que causam preju-ízo grave ao Brasil, não foram até o momento tomadasmedidas por parte dos Estados Unidos, excetuada adecisão de revogar o programa STEP-2 (considerado pelopainel tanto entre os programas proibidos quanto entreaqueles que causam prejuízo grave ao Brasil). Não hou-ve alterações nos programas de apoio à produção dealgodão nos Estados Unidos, em especial os “loandeficiency payments” e os “counter-cyclical payments”.

12.2) Resumo da situação dos procedimentos legais na OMC

Em 17/8/2005, houve acordo entre as partes parasuspender os procedimentos de arbitragem relativos aossubsídios proibidos (http://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds267_e.htm). Em 21/11/2005, houveacordo entre as partes para suspender os procedimen-tos de arbitragem com respeito aos subsídios acionáveis(http://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds267_e.htm). No momento da redação deste Relató-rio, o governo brasileiro continua a avaliar seus próxi-mos passos neste contencioso.

13) Defesa comercial: direitos anti-dumping (AD) eanti-subsídios (AS)

Uma barreira especialmente nociva ao acesso deprodutos brasileiros no mercado norte-americano sãoas investigações anti-dumping (AD) e anti-subsídios(AS) conduzidas pelos Estados Unidos. Nos setoressiderúrgico e de ferro-ligas o problema torna-se aindamais grave, como demonstra a tabela de processos nofinal desta seção (ver também item específico sobreprodutos siderúrgicos). As metodologias utilizadas pe-los órgãos responsáveis pela condução das investiga-ções nos Estados Unidos (Departamento de Comércioe “International Trade Commission”), bem como as in-terpretações dos acordos da OMC e das leis norte-americanas (muitas vezes comprovadamente contrári-as às regras multilaterais), levam à imposição debarreiras proibitivas às exportações de certos produtosbrasileiros aos Estados Unidos.

Segundo estudo realizado pela Embaixada, no perí-odo de 1991 a 2002 as perdas dos exportadores brasi-leiros, na venda de certos produtos afetados pela impo-sição de direitos AD e AS, totalizaram US$ 2 bilhões.

Estima-se que, enquanto permanecerem os direi-tos AD e AS (ver quadro no fim desta seção), esseprejuízo aumentará em US$ 165 milhões anual-mente. Nesse caso, o total de perdas acumuladasdesde 1991 até 2005 já chega a US$ 2,5 bilhões.8

Em 2005 houve a conclusão da investigação anti-dumping de camarão e início de investigação anti-dumping referente a importações de certos tipos desuco de laranja (ver itens específicos).

Entre os temas de maior preocupação quanto àspráticas norte-americanas de aplicação de medidas dedefesa comercial, cabe citar os seguintes:

Incentivo ao protocolamento de petições AD e AS

A Emenda Byrd outorga aos peticionários de direi-tos AD e AS a receita obtida com a cobrança dessesdireitos. O governo brasileiro juntou-se à UE, Japão eoutros países na solicitação de painel para examinar aquestão no sistema de solução de controvérsias daOMC. O julgamento foi contrário aos Estados Unidos,conforme demonstram os relatórios WT/DS217/AB/Re WT/DS234/AB/R. Recentemente, a Emenda Byrd foirevogada pelo Congresso norte-americano, mas comefeito somente a partir de 1/10/2007.

Zeramento (“Zeroing”)

Essa prática, de somente considerar no cálculo dasmargens de dumping operações em que o preço nomercado exportador é maior do que o preço de vendano mercado importador, e de ignorar operações em queocorre o inverso, foi condenada em procedimentos noÓrgão de Solução de Controvérsias da OMC. O Brasilcontinua a ser prejudicado por essa prática de“zeramento” por parte dos Estados Unidos.

Cobrança indevida de direitos compensatórios

A teoria do Departamento de Comércio norte-ameri-cano (DOC) de que subsídios governamentais a empre-sas estatais permanecem nas empresas mesmo apóssua transferência ao setor privado a preço de mercado,que resultou na aplicação de direitos compensatóriosàs importações de chapas grossas e laminados a quen-te de aço carbono provenientes do Brasil, foi condenadapor painel da OMC. Essa condenação foi, ademais, con-firmada pelo mesmo órgão, no contexto de apelação fei-

8 Lima-Campos e Vito, Tabelas 3 e 10, pp. 24 e 25.

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15 :::: Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos

ta pelos Estados Unidos, conforme o relatório WT/DS212/AB/R. A despeito de certas alterações nametodologia utilizada para o referido cálculo, a UE so-licitou um painel de árbitros para julgar a adequaçãonorte-americana. Em 17 de agosto de 2005, o relatóriofoi circulado e, em 27 de setembro, foi adotado peloOSC. O Brasil continua sendo prejudicado pela falta deadequação dos Estados Unidos.

Metodologia para impostos indiretos

Até 1999, o DOC partia da premissa equivocada deque o IPI e o ICMS incidem sobre produtos finais expor-tados e que são recolhidos, a cada operação, em espé-cie, pelo Governo brasileiro. Esse equívoco levava o DOCa acrescentar esses impostos ao valor normal construídoque será comparado ao preço de exportação para apu-ração de “dumping”. Nesses casos, geravam-se direitos“anti-dumping” mesmo quando não há diferença entre ovalor normal e o preço de exportação. Em resposta agestões do Governo brasileiro, o Departamento de Co-mércio, em julho de 1998, no contexto de decisão preli-minar referente a silício metálico, reconheceu esse erroe corrigiu a metodologia. Desde então, a metodologiacorrigida vinha sendo aplicada. Segundo esta, o ICMSpago na compra de matéria-prima, que tivesse sido com-pensado com ICMS recolhido em vendas domésticas,não seria mais considerado como custo de produção novalor normal construído. No entanto, com base em deci-são pendente na Corte Internacional de Comércio dosEstados Unidos (CIT), corre-se o risco de o DOC rever-ter à metodologia errada, que não reflete o sistema doimposto indireto no Brasil.

Reembolso de impostos indiretos como o PIS/ PASEP para fins de exportações

Tal reembolso, que é permitido pelo Acordo sobreSubsídios e Medidas Compensatórias (ASMC) da OMC,é um subsídio não-acionável. O DOC, no entanto, pas-sou a considerá-lo acionável em 2002, no contexto deprocesso relativo a fio-máquina de aço especial, sobalegação de que não há um “sistema” no Brasil para adevolução desses impostos indiretos. Esse critérionorte-americano não tem amparo no ASMC.

Uso indiscriminado do critério de “best information available”

O Governo brasileiro e os produtores nacionais con-tinuam empenhados em responder a todas as pergun-

tas e solicitações do DOC durante investigações e revi-sões de direitos “anti-dumping” e compensatórios. Osresultados negativos do passado, causados pelo fre-qüente desprezo dessas informações em favor de esti-mativas e/ou de informações prestadas pela indústrianorte-americana (os chamados “fatos disponíveis”) têmdiminuído, mas persistem. No caso do camarão, o DOCutilizou os custos de uma empresa de grande porte everticalizada (EMPAF/Netuno) para “estimar” os cus-tos e receita de uma empresa de porte significativa-mente menor (Norte-Pesca), muito embora pudesse terutilizado os dados de empresa praticamente similar(CIDA), que estavam em seu poder.

Transparência seletiva

O acesso a informações confidenciais é dado ape-nas a advogados norte-americanos. Se, por exemplo,a empresa brasileira estiver sendo representada peloGoverno e/ou funcionários próprios e/ou advogados/con-sultores radicados fora dos Estados Unidos, o acessoà informação confidencial do peticionário será negadoa seus representantes, embora aos advogados dos pe-ticionários seja outorgado pleno acesso às informaçõesconfidenciais da empresa brasileira. O favorecimentodo DOC ao peticionário, mantendo seu acesso a todasas informações brasileiras e restringindo o acesso àsinformações norte-americanas utilizadas para acusar oexportador brasileiro de praticar vendas abaixo de cus-to, dificulta a capacidade de defesa, outorga vantagemarbitrária à indústria local e discrimina em favor dosadvogados norte-americanos. Os acordos da OMC nãodispõem sobre o tema.

14) Produtos siderúrgicos

Produtos siderúrgicos, em geral, são os mais atin-gidos por investigações anti-dumping (AD) e anti-sub-sídios (AS) nos Estados Unidos, e também por medi-das protecionistas de toda ordem nos últimos trintaanos, incluídas limitações quantitativas, nas formas de“voluntary restraint agreements” (VRAs) e acordossuspensivos, e patamares mínimos de preços. Entre1989 e 2002, os Estados Unidos iniciaram 33 investi-gações contra 21 produtos brasileiros. Desse total, oaço respondeu por 76% das investigações e por 71%dos produtos investigados.9

9 Lima-Campos e Vito, “O abuso e o arbítrio”, RBCE n° 76, FUNCEX,setembro de 2003, p.17.

Page 18: Barreiras aos produtos brasileiros impostas pelos eua

:: 16 Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos ::

Produtos como chapas grossas, certos aços pla-nos, fios-máquina de aço carbono e de aço especial ecertos tipos de tubos continuam sujeitos a direitos ADe/ou AS. Em 1999, os laminados a quente foram objetode investigações AD e AS, cujos direitos resultaramproibitivos às exportações. Para evitar a imposição des-ses direitos assinaram-se acordos de quotas e preçosmínimos, que nada fizeram para melhorar a situação.O acordo de preços foi encerrado em fevereiro de 2002,e o acordo de quotas, em setembro de 2004.

Em função dessas restrições, as exportações bra-sileiras de laminados a quente, que eram de 368mil toneladas anuais em 1999, passaram para 130mil toneladas em 2000, chegando a zero em 2003.Em 2004 as exportações foram de apenas 107 tonela-das. Em 2005, realizou-se apenas exportação de 4,5mil toneladas relacionada a procedimentos de revisãodo direito anti-dumping. Ou seja, virtualmente desapa-receram as exportações brasileiras para os EstadosUnidos desse importante produto.

Entre 1991 e 2002, em razão de processos AD eAS iniciados nesse período, a perda para as exporta-ções siderúrgicas brasileiras aos Estados Unidos foide US$ 1,3 bilhão, o que representa mais do dobro dovalor do aço vendido pelo Brasil aos Estados Unidosem 2003.10 Considerando-se que essas perdas aumen-tam na razão de US$ 135 milhões por ano,11 a per-da total até 2005 chega a cerca de US$ 1,7 bilhão. Omontante estimado dessas perdas, no entanto, aindaé muito inferior à realidade, já que não leva em conta:(a) o impacto sobre decisões de novos investimentos;e (b) o aumento de exportações que possivelmente te-ria ocorrido, na ausência das medidas restritivas.

Em 2005, a notícia positiva foi a revogação do direi-to anti-dumping referente a laminados a quente para aCia. Siderúrgica Nacional e a Cia. Siderúrgica de Tuba-rão. Mas permanecem os direitos anti-dumping para aCosipa e Usiminas.

15) Camarão: processo anti-dumping (AD)

Em 31 de dezembro de 2003, os pescadores decamarão norte-americanos deram entrada em petiçãoanti-dumping contra importações de camarão congela-do ou enlatado provenientes do Brasil e de outros cinco

países (Equador, Índia, China, Tailândia e Vietnã). Estainvestigação AD atingiu os produtores de camarão decativeiro no Brasil, essencialmente no Nordeste, cujoscustos são muito inferiores aos dos concorrentes nor-te-americanos (pesca em alto mar). A descrição do pro-cesso se encontra na edição anterior deste relatório(2005).

A decisão final de dumping, anunciada em fe-vereiro de 2005 estabeleceu as seguintes margenspara os produtores brasileiros: CIDA (4,97%), EMPAF(7,94%), Norte-Pesca (67,8%) e demais exportado-res (7,05%). Não se pode dizer ao certo o que ocorrerácom essas margens, já que estarão sujeitas a revisõesanuais, se solicitadas por qualquer das partes. As evi-dências oferecidas por investigações norte-americanasde produtos brasileiros nos últimos 14 anos, períodocoberto por estudo realizado na Embaixada, indicamque os direitos anti-dumping tendem a se perpetuar ea, eventualmente, impedir por completo a entrada dasimportações do produto afetado.12

A comparação das importações norte-americanasdo produto brasileiro entre 2003, 2004 (ano da investi-gação) e 2005, com base nos dados da “InternationalTrade Commission“ (ITC), revela a queda abrupta dasexportações brasileiras, de praticamente 60% no valorexportado entre os dois primeiros anos, e de mais de70% entre os dois últimos anos (US$ 96,7 milhõesem 2003; US$ 40,7 milhões em 2004; e US$ 12,14milhões em 2005).

16) Sucos de fruta

16.1) Suco de laranja

Há três questões que afetam as exportações brasi-leiras: pico tarifário para o setor; processos de defesacomercial; e preferências comerciais a terceiros países.

O Brasil e a Flórida são competidores na indústriacítrica há mais de duas décadas. Nos anos 80, o Brasilfirmou-se como o maior e mais competitivo produtor eexportador mundial, ampliando consideravelmente suapenetração no mercado norte-americano de concentra-do de suco de laranja congelado. Os Estados Unidosresponderam com altas tarifas aduaneiras, atualmen-te fixadas em 7,85 centavos de dólar por litro desuco concentrado reconstituído (equivalente a uma

10 Lima-Campos e Vito, p. 18.11 Idem.

12 Lima-Campos e Vito, “O abuso e o arbítrio”, RBCE n° 76, FUNCEX,setembro de 2003. p. 4-27.

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17 :::: Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos

tarifa ad valorem média de 47,5% em 2005) e 4,5centavos de dólar por litro de suco não concentra-do (equivalente a uma tarifa ad valorem média de16,4% em 2005).

Não bastassem os altos direitos aduaneiros, as im-portações de suco de laranja concentrado e congeladobrasileiro têm sofrido imposição de barreiras não-tarifárias: primeiro, de direitos compensatórios, desde1982 até 1/1/2000; e, a partir de 1987, de direitos anti-dumping. No caso dos direitos anti-dumping, cinco em-presas brasileiras conseguiram revogação dos mesmosnos últimos cinco anos e duas outras empresas brasi-leiras conseguiram revogação em abril de 2005, no âm-bito de uma revisão qüinqüenal. Todavia, em virtude depetição apresentada em 27/12/2004, uma nova investi-gação AD foi iniciada em fevereiro de 2005, envolvendosuco de laranja congelado e suco de laranja não con-centrado.

Em junho de 2005, em decisão preliminar, fo-ram fixadas margens de 31,04% para a Fischer S/A, 24,62% para a Sucocitrico Cutrale S/A, 60,29%para a Montecítrus Indústria e Comércio Limitadae 27,16% para os demais produtores brasileiros.Estas margens foram revistas após decisão finaldo Departamento de Comércio, passando para9,73%, 19,19%, 60,29% e 15,42%, respectivamente.No caso da Fischer S/A, o direito será aplicado retroa-tivamente à data da entrega da petição (90 dias antesdo normal) por ter o Departamento de Comércio deter-minado existir “circunstâncias críticas” (alegado surtode importações entre a data de entrega da petição e adata da determinação preliminar).

A despeito desse resultado prejudicial, o ano de 2005foi atípico em termos de exportações. Em função dosfuracões que assolaram as costas da Flórida e do alas-tramento do cancro, a produção norte-americana so-freu queda significativa, o que obrigou os processadoresa importarem mais do que o normal, apesar dos altosdireitos anti-dumping em vigor. As importações do pro-duto brasileiro nesse ano foram de US$ 153,3 milhões.

A competitividade do Brasil no mercado dos EstadosUnidos é afetada pelas preferências comerciais conce-didas ao México, sob o Nafta, e a países centro-ameri-canos e caribenhos, beneficiados pelo “Caribbean BasinTrade Partnership Act” (CBTPA), e andinos, sob o regi-me do “Andean Trade Preference and Drug ErradicationAct” (ATPDEA). Em 1992, US$ 230 milhões, ou cerca

de 90% das importações norte-americanas de suco delaranja, provinham do Brasil.

A proteção ao suco de laranja encorajou o ingressode companhias estrangeiras na indústria citricultora daFlórida. Estima-se que mais de 50% da capacidade deprocessamento do estado esteja hoje nas mãos deempresas brasileiras.

16.2) Suco de limão concentrado

O suco de limão concentrado brasileiro está sujeitoa imposto de 7,9 centavos de dólar por litro. Este impos-to correspondeu, ao longo de 2004, a uma tarifa advalorem de 45%. Em 2004, o Brasil exportou apenasUS$ 887 mil de suco de limão concentrado para os Es-tados Unidos e, em 2005, não foram registradas impor-tações do produto. O valor médio da tarifa ad valorem(NMF) aplicada em 2005 sobre o suco de limão concen-trado de outras procedências foi de cerca de 50%.

16.3) Suco de uvaAs importações norte-americanas procedentes do

Brasil totalizaram US$ 3,5 milhões em 2005. O sucode uva concentrado brasileiro está sujeito a imposto deimportação, fixado em 4,4 centavos por litro, quecorresponde a uma taxa de 14,1% ad valorem em 2005.

17) Têxteis

As tarifas de importação para produtos têxteisencontram-se entre as mais altas aplicadas pelosEstados Unidos, podendo chegar a valores acimade 30% ad valorem. A nomenclatura norte-americanainclui também tarifas combinadas (ad valorem + espe-cífica) — no caso de alguns produtos contendo lã, aexemplo de ternos, de 16% mais 52 centavos/quilo.Em outras situações, por exemplo quando o produtocontém ornamentos, como bordados, um adicionaltarifário pode ser aplicado.

O sistema de quotas norte-americano para importa-ções de produtos têxteis, implementado inicialmentecom base no Acordo Multifibras em 1º de janeiro de1974, expirou em 31 de dezembro de 2004. Isso signi-ficou o fim das limitações quantitativas às exportaçõesbrasileiras desses produtos aos Estados Unidos.

Em 2005, a participação dos produtos de algodãonas exportações brasileiras de têxteis para os Esta-dos Unidos passou de 67% para 71%. Dentre os pro-dutos de algodão, a categoria 363 (toalhas de algodão)

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:: 18 Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos ::

foi o principal item de exportação, com US$ 151 mi-lhões. Dentre os produtos de fibra artificial, a categoria666 (estofados e mobília) foi a mais exportada e, nototal, foi o segundo maior item de exportação para osEstados Unidos, com US$ 52 milhões em 2004.

18) Sistema Geral de Preferências (SGP)

Em 2004 foram registrados US$ 3,17 bilhões emimportações norte-americanas de produtos brasileirosno âmbito do SGP, o que corresponde a um cresci-mento de 27,1% sobre o ano anterior. Em 2005 foramregistrados US$ 3,6 bilhões, correspondendo a um au-mento de 14,5% em relação a 2004, segundo estatísti-cas divulgadas pela “International Trade Commission”.

são de 2000 do programa. Como a legislação do SGPnorte-americano lista, entre as condições para conces-são de tratamento preferencial, “proteção adequada” àpropriedade intelectual dos Estados Unidos, aquela as-sociação de empresas alegou que o Governo brasileironão vinha cumprindo esse requisito, e solicitou a remo-ção parcial ou total dos direitos do Brasil dentro do SGP.Em janeiro de 2006, o Subcomitê do SGP do Comitê dePolítica Comercial, na sua revisão anual de 2005, resol-veu encerrar a investigação, reconhecendo, assim, osesforços brasileiros para combater a pirataria.

19) Serviços, investimentos, compras governamentais

Em serviços, a navegação de cabotagem está re-servada a embarcações de construção, propriedade,bandeira e tripulação norte-americana. A indústria pes-queira pode utilizar apenas navios de fabricação do-méstica. Navios de bandeira dos Estados Unidos têmreserva de mercado para as exportações de produtosagrícolas. Há numerosas restrições nos setores finan-ceiros e de serviços profissionais, estabelecidas emlegislações estaduais.

As restrições a investimentos decorrem principal-mente de legislação federal. O capital estrangeiro nãopode deter mais de 49% de companhias aéreas norte-americanas, ou mais de 25% das ações com direito avoto. Há restrições à entrada de investidores nos seto-res de telefonia, radiodifusão e televisão.

Em compras governamentais, o “Buy American Act”,de 1933, institui condições preferenciais para o forne-cedor nacional (preferências de preço, em geral, de 6%;de 12%, para pequenas e médias empresas; e de 50%,em licitações de equipamentos na área de defesa).

Considerando tratar-se de programa unilateral deconcessões tarifárias, o SGP não é, evidentemente,barreira ao acesso dos produtos brasileiros, antes pelocontrário. Caberia, no entanto, salientar que o SGP éutilizado pelo governo norte-americano como instrumen-to político de pressão sobre os países que dele se be-neficiam. A utilização do SGP com esse propósito écontrária aos princípios que fundamentaram sua cria-ção no âmbito da UNCTAD em 1970. Ademais, o SGPé, por vezes, aplicado de forma discriminatória em pre-juízo das exportações brasileiras.

Exemplo de uso do SGP como instrumento de pres-são indevida foi a petição apresentada pela “InternationalIntellectual Property Alliance” (IIPA) no contexto da revi-

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19 :::: Barreiras a produtos e restrições a serviços brasileiros no mercado dos Estados Unidos

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Page 23: Barreiras aos produtos brasileiros impostas pelos eua
Page 24: Barreiras aos produtos brasileiros impostas pelos eua

Embaixadado Brasil emWashington

O Relatório de Barreiras a produtos e serviços brasileirosno mercado dos Estados Unidos é um documento dedivulgação tradicional, anual, da Embaixada do Brasil emWashington. Constitui identificação objetiva de questõesrelevantes para o Brasil em negociações comerciais comos Estados Unidos.

Em 2005, o Relatório foi objeto de livro publicado pelaEdições Aduaneiras Ltda. e pela Lex Editora S.A. (Embaixadado Brasil em Washington. Barreiras a Produtos e Restriçõesa Serviços e Investimentos nos Estados Unidos. São Paulo,2005, 4a. edição). Em 2006, no contexto das comemoraçõesdo 30° aniversário da Funcex, o Relatório de Barreiras édivulgado na forma desta separata especial da RevistaBrasileira de Comércio Exterior.

Pela própria natureza mais compacta de uma separata,esta versão de 2006 concentra-se na descrição tópica e naatualização de informações sobre os obstáculosespecíficos a exportações brasileiras. Optou-se, assim, pornão repetir informações de base, sobre aspectos maisgerais do regime de comércio exterior dos Estados Unidos– tais como a “Trade Promotion Authority” de 2002 (TPA), osmecanismos de subsídios previstos na Lei Agrícola de2002, aspectos gerais da Lei de Comércio dos EstadosUnidos e dos sistemas de preferências comerciaisunilaterais dos Estados Unidos (andinas, caribenhas eafricanas), e assim por diante. Nesses casos, o presentedocumento pode ser complementado por consulta aoRelatório de Barreiras de 2005.