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APL 2005
EfeitosEfeitos prosódicosprosódicos e e efeitosefeitos de de frequênciafrequência no no desenvolvimentodesenvolvimentosilábicosilábico emem Português EuropeuPortuguês Europeu
M. J. Freitas*, S. Frota*, M. Vigário+ & F. Martins^*Universidade de Lisboa – FL e ONSET-CEL
+ Universidade do Minho – ILCH
^ Universidade de Lisboa – FL e ILTEC
1. Introdução
• Enquadramento– Aquisição da estrutura silábica em PE (revisão)– O impacto da frequência no desenvolvimento linguístico– Estudos sobre frequência no PE
• Objectivos: identificar efeitos da frequência dos vários padrões silábicos e o papel da proeminência prosódica no desenvolvimento silábico em PE
• Dados: input (ADS & CDS) e dados da aquisição do PE como língua materna
• Frequências no input e padrões silábicos nas produções das crianças
• Efeitos da proeminência prosódica: periferias da palavra, acento• Sumário e discussão
2. Enquadramento: Aquisição da estrutura silábica
• Ataques (Freitas 1997): C e Ø > CC
- Ataques não ramificados (C ou Ø) estão presentes no sistema desde o início da produção
- Ataques vazios são usados como estrutura default para produzir alvos problemáticos
- G pode substituir um alvo C segmentalmente problemático
- Ataques ramificados são os últimos a serem adquiridos
CV, V, ØV, GV > CC
• Rimas V > (produção deVG)VCfric > VCliq / VG
- Como esperado, os Núcleos não ramificados estão disponíveis desde o início da produção
- A produção de VG é possível em estádios iniciais mas a aquisição de Núcleos ramificados ocorre tardiamente, coincidindo com a aquisição das líquidas em final de sílaba (Correia, 2004); inicialmente, V e VG parecem ser processados como sendo dominados por uma só posição de esqueleto
V, VG > VC
2. Enquadramento: Aquisição da estrutura silábica
• Produções iniciais (exemplos)a. pato /'pa.tu/ → ['tå] (João: 0;11.6)
dá /'da/ → ['da] (Inês: 0;11.14)quer /'kER/ → ['ke] (Marta: 1;2.0)
b. água /'a.gwå/ → ['a.Bå] (João: 0;11.6)é /'E/ → ['E] (Inês: 1;0.25)água /'a.gwå/ → ['a.wå] (Marta: 1;2.0)
c. vês /'veS/ → ['eS] (Marta: 1;3.8)flor /'flor/ → ['olˆ] (Inês: 1;9.19)
d. quer /'kER/ → ['kE.Rˆ]/['kE.Ri] (Inês: 1;10.29) papel /på.'pE¬/ → [på.'pE.lˆ] (Marta: 2;2.17)
e. pato /'pa.tu/ → [å.'tå]/['tå] (João: 0;11.06)chupeta /Su.'pe.tå/ → [å.'pi]/['pi] (Inês: 1;01.30)dá /'da/ → [å.'da]/['da] (Inês: 1;0.25)cão /'kå)w )/ → [å.'kå)w )]/['kå)u] (Marta: 1;02.0)
2. Enquadramento: o impacto da frequência
• Há um interesse crescente naidentificação da importância dafrequência das estruturas linguísticasno comportamento dos falantes (Bybee, 2000 & 2001; Bybee & Hooper, 2001; Jurafsky, Bell & Girand, 2002; Moates, Bond & Stockmal, 2002; Pierrehumbert, 2002)
• O mesmo se verifica na investigaçãosobre aquisição e desenvolvimento dos sistemas linguísticos(Fikkert & Freitas, 1998; Lleó & Demuth, 1999; Beckman e Edwards, 2000; Roark & Demuth, 2000; Demuth& Johnson, 2003; Prieto, 2004; Vigário, Freitas & Frota 2005)
• Frequência no PE (sistema dos adultos): padrões silábicos (Andrade & Viana, 1994; Vigário & Falé, 1994; Viana et al., 1996); segmentos fonéticos e padrões acentuais (Viana et al., 1996); palavras sujeitas a redução vocálica (Vigário, 2003); palavras mínimas e padrões de cliticização (Vigário, Martins & Frota, 2005)
• Frequência no PE (sistema das crianças): desenvolvimento da estrutura silábica (Fikkert & Freitas; Vigário, Freitas & Frota, 2003); desenvolvimento de formatos de palavra (Vigário, Freitas & Frota, 2005)
2. Enquadramento: a ferramenta FrePFreP
FreP FreP ((VigVigáário, Martins & Frota 2005 e apresentario, Martins & Frota 2005 e apresentaçãção anterior) o anterior) –– ferramenta para extracção de ferramenta para extracção de informação de frequência de unidades fonológicasinformação de frequência de unidades fonológicas
Para o que aqui nos ocupa, importa reter as seguintes propriedades:- detecta automaticamente, a partir de textos escritos: palavras prosódicas,
clíticos, os diferentes tipos de sílabas e a localização do acento de palavra;- é semi-fonológico: inclui fenómenos fonológicos lexicais (e.g. inserção de
glide para quebrar hiatos); ignora todos os fenómenos opcionais(apagamento de vogais átonas, semivocalização opcional)
- inclui glides em ditongos crescentes que são obrigatórios (pós-tónicas) eposições V entre sequências de consoantes que violam princípios deconstrução da sílaba (Vigário e Falé 1994; Mateus & Andrade 2000)
- trata glides entre vogais como ambissilábicas - distingue vogais e ditongos orais e nasais
3. Dados (número de sílabas por padrões silábicos)
Fala espontânea de 3 crianças portuguesas monolingues (CS): João aged 0;10.2 – 1;8.13 (n=1003)Inês aged 0;11.14 - 1;10.29 (n=3619)
(Freitas 1997) Marta aged 1;2.0 - 2;2.17 (n=6090)
Fala dirigida à criança (CDS) (Soares em preparação; Santos em Inês (n=24867) preparação)Marta (n= 10985)
Fala espontânea do adulto (ADS):o corpus do Português Falado (CLUL – CDRom) - anos 90 (n=41826)
(Vigário, Martins & Frota 2005)
Dados obtidos com o FrePFreP (fiabilidade acima dos 99.5%)
4. Frequências no inputADS
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
CV VCVNCVGCVGN VG
CVC VNCGV GVGVGNCVGC VC
VGNGVCCVNC
VGCCVCC
CCVCCVNCCVGNCVGNC
VNCCCVGCCVCCGVCCCGVGCVCCCVNC
Syllable types
freq
uenc
y (%
)
All
CV, V, CVC = 73%
CV>V> (C)VC>(C)VN>(C)VG(N)>CCV
4. Frequências no inputCDS
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
CV VCVNCVGCVGN VG
CVC VNCGV GVGVGNCVGC VCCVGG
VGNGVCCVNC
VGCCCVCCVNCCVGNCVGNC
CCVGCCVCCGVC
Syllable types
freq
uenc
y (%
)
AllMartaAllInês
CV, V, CVC = 78%
CV>V>(C)VC>(C)VN/(C)VG(N)>CCV
CDS mais V (+5%)menos tipos (25 vs. 29)
Predição: ordem de emergência de padrões silábicos no sistema das crianças
CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
Predição: ordem de emergência de padrões silábicos no sistema das crianças
CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
4. Desenvolvimento de padrões silábicosJoão - Syllable types
0
10
20
30
40
50
60
70
0_10_2 0_11_6 1_0_12 1_0_27 1_2_1 1_3_4 1_3_11 1_4_5 1_5_13 1_6_18 1_7_24 1_8_13
age
freq
uenc
y (%
)
CVVCVNCVGCVGNVGVNCGVGVGVGVGNCGVG
CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
CV / V > (C)VN > (C)VG, GV
CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
CV / V > (C)VN > (C)VG, GV
4. Desenvolvimento de padrões silábicos
CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
CV / V > (C)VN > (C)VG > (C)VC
CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
CV / V > (C)VN > (C)VG > (C)VC
Inês - Syllable types
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0_11_14 1_0_25 1_1_30 1_3_6 1_4_9 1_5_11 1_6_6 1_7_2 1_8_2 1_9_19 1_10_29
age
freq
uenc
y /%
)
CVVCVNCVGCVGNVGCVCVNCGVGVGVGGVGNCVGCVCGVNCVGGVGNCGVGNGVCCVNC
4. Desenvolvimento de padrões silábicosMarta - Syllable Types
0
10
20
30
40
50
60
70
1_2 1_3_8 1_4_8 1_5_17 1_6_23 1_7_18 1_8_18 1_10_4 1_11_10 2_0_26 2_1_19 2_2_17
age
freq
uenc
y (%
)
CVVCVNCVGCVGNVGCVCVNCGVGVGVGGVGNCVGCVCGVNCVGGVGNCGVGNGVCCVNCVGCCVCCCCVCGVGNCCCVN
CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
CV / V , (C)VN, (C)VG > (C)VC
CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
CV / V , (C)VN, (C)VG > (C)VC
5. Proeminência prosódica e frequência
• Dois factos não preditos- Desenvolvimento de padrões
silábicos e frequências no input:CV ee V(C)VG/(C)VN precedem CVC
- Hipótese: a proeminência prosódica no input (acento e/ouperiferias da palavra) pode promover a emergência de V e de CVG/N relativamente a CVC
e.g. Echols 1987; Peters 1977, 1983
• Proeminência prosódica (PE)- Periferias da palavra (Vigário
2003):Início de palavra prosódica
atrai acento enfáticobloqueia a redução vocálica e.g. [e / E]rguEr vs. ro[ˆ]dOr
[o / ç]piniÃo vs. mi[u]lInho Final de palavra prosódica
tende a exibir estrututuras mais variadas/complexas (mais redução/apagamento de V)
- Acento: sílabas tónicas com valores mais altos de duração; ausência de redução vocálica
5. Input: periferias vs. posição interna (na palavra)ADS - Syllables by position in w
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Initial Final Internal Monow
position in w
freq
uenc
y (%
)
CVVCVNCVGCVGNVGCVCVNCGVGVGVGNCVGCVCVGNGVCCVNCVGCCVCCCCVCCVNCCVGNCVGNCVNCCCVGCCVCCGVCCCGVGCVCCCVNC
VV
CVC
CVG/NCVC
CVG/N
Diversidade silábica & complexidade:
Final>Monow>Inicial>Interna
Diversidade silábica & complexidade:
Final>Monow>Inicial>Interna
5. Input: periferias vs. posição interna (na palavra)CDS - Syllables by position in w
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
InitialM InitialI FinalM FinalI InternalM InternalI MonowM MonowI
Position in w by speaker
freq
uenc
y (%
)
CVVCVNCVGCVGNVGCVCVNCGVGVGVGNCVGCVCCVGGVGNGVCCVNCVGCCCVCCVNCCVGNCVGNCCCVGCCVCCGVC
Diversidade silábica & complexidade:
Final>Monow>Inicial>Interna
Diversidade silábica & complexidade:
Final>Monow>Inicial>Interna
V
V
CVCCVC
CVG/N
CVG/N
2 falantes padrão = CDS mais V
5. Periferias vs. posição interna (na palavra)
• Input- Sílabas V em ADS e em CDS
Inicial+monopw 54%, 56%Inicial+monow 90%, 95%
- Clíticos V são proclíticos e ocupam a posição inicial da PW (não reduzem se seguidos por C e não são suprimidos se seguidos de V –[u] carro; [u / w] aluno])
- Sílabas V átonas iniciais não reduzem
- Sílabas V em monopw são obviamente tónicas
A maior parte das sílabas V ocorrem numa posição proeminente na palavra
• Input- CVG/N e CVC em ADS e em CDS
Final+monopwCVGN 88%, 100%CVC 62%, 74%
- Sílabas finais e monossílabos exibem maior diversidade e complexidade de padrões silábicos
- CVGN e CVC nas monopw são obviamente tónicas
A maior parte das sílabas CVGN eCVC ocorrem numa posição proeminente na palavra, com destaque para CVGN (sobretudo em CDS)
5. Periferias vs. posição interna (na palavra)
• CS: CV / V > (C)VN > (C)VG > (C)VC
- A proeminência prosódica parece promover a emergência de V, bem como de CVG/N relativamente aCVC, no desenvolvimento silábico infantil
- A posição inicial de palavra exibemais sílabas V do que todas as outras posições (tal como no input mas com frequências mais elevadas)
- A diversidade e a complexidade silábicas em CS são um espelho do input: Final, Monow>Inicial>Interna
• CS- Padrões mais complexos
emergem inicialmente em finalde palavra e em monossílabos e são mais frequentes nestasposições
Types INITIAL FINAL MONOW INTER CV V
BEGIN BEGIN
BEGIN BEGIN
BEGIN BEGIN
BEGIN BEGIN
(C)VG (C)VN
J, I, M M
M J, I
M M
M
(C)VGN I, M J, I, M ---------- (C)VC M I, M (C)VGC ---------- I I, M ---------- CC... M
5. Periferias – posição inicial de palavraInês - Initial Position in w
0
5
10
15
20
25
30
0_11_14 1_0_25 1_1_30 1_3_6 1_4_9 1_5_11 1_6_6 1_7_2 1_8_2 1_9_19 1_10_29
age
freq
uenc
y (%
)
CVVCVNCVGVGCVCVNCGVGVGVGVCGVN
5. Periferias – posição final de palavraInês - Final Position in w
0
5
10
15
20
25
30
35
0_11_14 1_0_25 1_1_30 1_3_6 1_4_9 1_5_11 1_6_6 1_7_2 1_8_2 1_9_19 1_10_29
age
freq
uenc
y (%
)
CVVCVNCVGCVGNVGCVCCGVGVGVGGVGNCVGCVC
5. Acento de palavra
• ADS- Verificámos que a posição na
palavra pode promover a emergência de V e a de CVG/Nrelativamente a CVC no desenvolvimento dos padrões silábicos. E o acento?
- CV, V, CVC são mais frequentes em posição átona
- CVG, CVN são mais frequentes em posição tónica- CVN 82%; CVG(N) 66%
O acento fortalece o efeito da posição na palavra
• CDS- CV, V são mais frequentes em posição
átona- CVG, CVN e CVC são mais
frequentes em posição tónica- CVG(N) 98%- CVN 78%- CVC 60%
- Mesmo assim, CVG e CVN ocorremmais frequentemente em posiçãoacentuada!
Em termos globais, a proeminência prosódica parece promover o desenvolvimento de CVN/G relativamente a CVC
5. Acento de palavra: CV, VADS - The effect of stress
0
5
10
15
20
25
30
35
40
stressed unstressed
position
freq
uenc
y (%
)
CVV
5. Acento de palavra: CVN, CVGADS - The effect of stress
0
1
2
3
4
5
6
7
stressed unstressed
position
freq
uenc
y (%
)
CVNCVGCVGNVGCVCVNCGVGVGVGNCVGCVCVGNGVCCVNCVGCCVCCCCVCCVNCCVGNCVGNCVNCCCVGCCVCCGVCCCGVGCVCCCVNC
CVC
VC
CVGN
CVN
CVG
VN
6. Sumário
• ADS & CDS: a maior parte das sílabas V ocorre em posição inicialde palavra
• ADS & CDS: a maior parte das sílabas CVGN ocorre em posição final de palavra e CVGN é mais frequente que CVC nesta posição
• ADS & CDS: CVG(N), CVN são mais frequentes em posição tónicaA confluência de informação estrutural (proeminência prosódica) e de efeitos de frequência prediz a ordem correcta de emergência dos padrões silábicos na aquisição do PE
AdultoAdulto CV > V > CVC > CVG/CVN > CCVCriançaCriança CV / V > CVG/CVN > CVC > CCV
• A distribuição da frequência dos padrões silábicos no EP (ADS eCDS) permite predizer a seguinte ordem de emergência de padrões silábicos : CV>V>CVC>CVG/CVN>CCV
• CS: CV / V > (C)VN, (C)VG > (C)VC• Dois factos inesperados:CV ee V(C)VG/(C)VN antes deantes de CVC- Efeitos decorrentes da
proeminência prosódica permitem dar conta destes dois factos:periferias vs. posição internaposição tónica vs. átona