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UNIVERSIDADE GAMA FILHO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA EFEITOS PSICOFISIOLÓGICOS AGUDOS DO EXERCÍCIO AERÓBIO E CONTRA-RESISTÊNCIA EM DIFERENTES INTENSIDADES FRANCISCO ZACARON WERNECK Rio de Janeiro 2003

EFEITOS PSICOFISIOLÓGICOS AGUDOS DO EXERCÍCIO … · Ao Prof. Frederico de Castro pela revisão gramatical. Aos colegas do mestrado, Renato, Siqueira, Ribas, Aldair e Marcos pela

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UNIVERSIDADE GAMA FILHO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA

EFEITOS PSICOFISIOLÓGICOS AGUDOS DO EXERCÍCIO AERÓBIO E CONTRA-RESISTÊNCIA EM DIFERENTES INTENSIDADES

FRANCISCO ZACARON WERNECK

Rio de Janeiro

2003

EFEITOS PSICOFISIOLÓGICOS AGUDOS DO EXERCÍCIO AERÓBIO E

CONTRA-RESISTÊNCIA EM DIFERENTES INTENSIDADES

por

FRANCISCO ZACARON WERNECK

___________________________________________

Agosto, 2003.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da

Universidade Gama Filho, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em

Educação Física

EFEITOS PSICOFISIOLÓGICOS AGUDOS DO EXERCÍCIO AERÓBIO E CONTRA-RESISTÊNCIA EM DIFERENTES INTENSIDADES

FRANCISCO ZACARON WERNECK

Apresenta a Dissertação

Banca examinadora:

Agosto / 2003

Dedico este trabalho à minha família, por

tudo que fizeram por mim e pela

compreensão dos meus momentos de

ausência.

AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Marli, ao meu pai, Werneck, e aos meus irmãos Giovanni e Jefferson, que me

forneceram todo o suporte necessário para que pudesse ter alcançado e completado esta jornada.

Vocês foram fundamentais. Muito obrigado.

À minha noiva Cris, pelo incentivo, compreensão e por ter sido a pessoa que mais escutou falar

sobre este trabalho, dando importantes contribuições.

Aos meus tios-padrinhos, Aparecida e Everaldo, pelo apoio e incentivo.

Ao Prof. Dr. Luiz Scipião Ribeiro, pelo exemplo de consideração e profissionalismo, pela

orientação, pela confiança e pelo grande exemplo de amizade, que contribuíram

significativamente para o meu crescimento profissional e pessoal.

Ao Prof. Ms. e amigo Maurício Bara Fillho, pelo companheirismo, dedicação e contribuições

singulares e pela imparcialidade nos momentos difíceis, mostrando-se, acima de tudo, um grande

amigo.

Ao Prof. Ms. e amigo Héglison Custódio Toledo, por todas as oportunidades que me ofereceu,

pela experiência enquanto sócio e pelo exemplo de persistência e dedicação.

Ao Prof. Ms. e amigo Emerson Filipino Coelho, pelo companheirismo, amizade e pelas idas e

vindas ao Rio, que renderam frutíferas discussões.

Ao Prof. Dr. Lamartine Pereira da Costa, pelas inestimáveis contribuições, pelo incentivo e

dedicação, sendo para mim um exemplo de quanto ainda tenho que aprender.

Ao Prof. Dr. Jorge Roberto Perrout de Lima, pela paciência, disponibilidade e dedicação que

foram cruciais na análise estatística e na discussão dos resultados.

Ao Prof. e eterno amigo Flávio Villela, pelos ensinamentos, pela convivência e pelos erros por

mim cometidos, os quais implicaram no meu amadurecimento pessoal e profissional.

À Prof. Ms e prima Mônica Grossi, pela revisão, crítica e contribuição no trabalho e pelo

constante incentivo na minha carreira acadêmica.

Ao Prof. Frederico de Castro pela revisão gramatical.

Aos colegas do mestrado, Renato, Siqueira, Ribas, Aldair e Marcos pela agradável e proveitosa

convivência e pela troca de experiências.

Aos funcionários do mestrado, Fabri, Eveline e Alan, pela prestação de atendimento e de ajuda.

Aos professores Steven Petruzzello, Peter Hassmén, Peter Terry, Teru Nabetani, Neboja

Toskovic, Fernando Dimeo e John Raglin pelo fornecimento de artigos científicos.

Aos sujeitos participantes desta pesquisa, sem os quais seria inviável concretizar o estudo.

Ao proprietário de academia, Anderson, pela seção da academia para a realização do estudo.

Aos meus ex-alunos, Bianca, Lourival e Josemar.

À CAPES, pelo auxílio financeiro na realização deste estudo.

A todos aqueles que me incentivaram e me ajudaram direta ou indiretamente, muito obrigado.

“As condições de vida não se encontram

nem no organismo, nem no meio exterior,

mas nos dois simultaneamente”.

CLAUDE BERNARD

“Qualquer um que acredite que o seu tipo

de pesquisa é a única forma “científica”

para resolver problemas é limitado e está

completamente enganado”.

JERRY THOMAS & JACK NELSON

WERNECK, F.Z. Efeitos psicofisiológicos agudos do exercício aeróbio e contra-resistência em diferentes intensidades. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – PPGEF, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2003. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Scipião Ribeiro

RESUMO

O estudo das adaptações psicofisiológicas ao exercício tem demonstrado efeitos agudos

diferenciados na pressão arterial (PA) e no estado de humor. Um dos grandes desafios tem sido

determinar as características ideais do exercício para a promoção da saúde, sendo crescente o

número de pesquisas que utilizam uma abordagem psicofisiológica. O objetivo do presente

estudo foi comparar o efeito agudo de uma sessão de exercício contra-resistência (ECR) e de

corrida na esteira com diferentes intensidades sobre os estados de humor e a pressão arterial.

Dezoito homens saudáveis (22,4 ± 6,5 anos), normotensos e experientes em exercício (12,1 ± 8,1

meses) foram submetidos a sete condições experimentais: 1) ECR com 50% de oito repetições

máximas (8RM); 2) ECR com 100% 8RM; 3) ECR com intensidade auto-selecionada; 4) Corrida

a 60-65% da Freqüência Cardíaca Máxima (FCMáx); 5) Corrida a 85-90% FCMáx; 6) Corrida auto-

selecionada e 7) Controle sem exercício. Tensão, depressão, raiva, vigor, fadiga, confusão

mental, distúrbio total de humor e pressão arterial foram mensuradas antes, após e 30min após

cada sessão. Os resultados mostraram alterações significativas no humor e na pressão arterial

independente do tipo e da intensidade do exercício. Houve um pequeno, porém significativo,

aumento de tensão, fadiga e distúrbio total de humor após o exercício, diminuindo após 30min, e

uma diminuição do vigor até 30min, denotando um efeito agudo negativo sobre o estado de

humor. No entanto, do ponto de vista prático, o exercício não alterou o perfil de saúde

psicológica dos sujeitos, mantendo-se positivo. Uma melhoria no humor foi observada em longo

prazo. Em relação à PA, observou-se uma hipotensão 30min após o término do exercício.

Conclui-se que sessões de exercício contra-resistência e de corrida com intensidade baixa, alta ou

auto-sugerida promovem efeitos agudos similares no estado de humor e na pressão arterial dos

praticantes, sendo importantes na promoção da saúde e na prevenção de distúrbios

psicofisiológicos. Em pessoas com perfil de humor positivo, os benefícios psicológicos parecem

ocorrer somente em longo prazo.

PALAVRAS-CHAVE: exercício contra-resistência, exercício aeróbio, humor, psicofisiologia,

saúde psicológica

WERNECK, F.Z. Acute psychophysiological effects of aerobic and resistance exercise with different intensities. (Master Dissertation) – PPGEF, Gama Filho University, Rio de Janeiro, 2003. Adviser: Prof. Dr. Luiz Carlos Scipião Ribeiro

ABSTRACT

The study of psychophysiological adaptations to the exercise has been showing

different acute effects on blood pressure and on mood state. One of the greatest challenges is

to determine the ideal exercises features to promote health, being seen the increasing on

research which uses the psychophysiological approach. The aim of this study was to compare

the acute effect of a session of resistance exercise (RE) and a run on the treadmill with

different intensity on the mood state and blood pressure. Eighteen healthy and normotensive

men (22,4 ± 6,5 years) with physical activity experience (12,1 ± 8,1 months) were submitted

to seven experimental conditions: 1) RE with 50% of eight repetitions maximum (8RM); 2)

RE with 100% 8RM; 3) RE with self-selected intensity; 4) Running with 60-65% of

Maximum Heart Rate (HRmáx); 5) Running 85-90% HRmáx ; 6) Running with self-selected

intensity; 7) Control without exercise. Tension, depression, anger, vigour, fatigue, mental

confusion, total mood disturbance and blood pressure (BP) were measured before,

immediately after and 30 minutes later each session. The results show significantly changes in

the mood and blood pressure independent of the exercise type or intensity. There was a slight

but significant rising in the tension, fatigue and total mood disturbance following exercise

session, decreasing after 30 minutes, and a vigour decrease up to 30 minutes, showing a

negative acute effect on the mood. However, in long term there was an increase in the mood.

Related to the blood pressure, there was a post-exercise hypotension following 30 minutes. It

is concluded that resistance exercise and running sessions of low, high or self-selected

intensity can promote similar effects on the mood and on the blood pressure of subjects, being

important factors on the health promotion and on the psychophysiological disturbances

prevention. In people who have got a positive mood profile, psychological benefits seen to

occur only in long-term.

KEY-WORDS: resistance exercise, aerobic exercise, mood, psychophysiology,

psychological health

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Formulário de Identificação dos Indivíduos ---------------------------------------------

Anexo 2 – Termo de Consentimento para os indivíduos --------------------------------------------

Anexo 3 – Índice de Esforço Percebido ---------------------------------------------------------------

Anexo 4 – Questionário do Perfil dos Estados de Humor (POMS) -------------------------------

Anexo 5 – Formulário de Coleta de Dados Antropométricos, Teste de VO2 Submáximo e

Teste de Carga de 8RM (Repetições Máximas) ------------------------------------------------------

Anexo 6 – Formulário de Coleta de Dados do Exercício Contra-Resistência --------------------

Anexo 7 – Formulário de Coleta de Dados para o Exercício Aeróbio -----------------------------

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LISTA DE TABELAS

1: Estudos sobre os efeitos agudos do exercício no estado de humor e na pressão arterial ------

2: Estudos e posicionamentos sobre os efeitos crônicos e agudos do exercício sobre a pressão

arterial --------------------------------------------------------------------------------------------------------

3: Características antropométricas e funcionais dos sujeitos -----------------------------------------

4: Média e desvio-padrão das variáveis psicofisiológicas antes, após e 30min após cada

condição experimental -------------------------------------------------------------------------------------

5: Resultados da análise estatística univariada dos efeitos principais sobre as variáveis

dependentes -------------------------------------------------------------------------------------------------

6: Relação entre as variáveis do estado de humor, o distúrbio total de humor (DTH), a pressão

arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) e a freqüência cardíaca (FC) ---------------------------

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LISTA DE GRÁFICOS

1: Média e Desvio-Padrão da carga de treino levantada em cada sessão de exercício contra-

resistência ----------------------------------------------------------------------------------------------------

Gráfico 2: Média e Desvio-Padrão da velocidade de corrida na esteira -----------------------------

Gráfico 3: Média e Desvio-Padrão da Freqüência Cardíaca durante cada sessão de corrida na

esteira --------------------------------------------------------------------------------------------------------

Gráfico 4: Média e Desvio-Padrão do Índice de Esforço Percebido (IEP) de cada sessão de

exercício -----------------------------------------------------------------------------------------------------

Gráfico 5: Média e Desvio-Padrão do Perfil dos Estados de Humor dos sujeitos antes das

diferentes condições experimentais ----------------------------------------------------------------------

Gráfico 6: Média e Desvio-Padrão do Perfil dos Estados de Humor dos sujeitos após

diferentes condições experimentais ----------------------------------------------------------------------

Gráfico 7: Média e Desvio-Padrão do Perfil dos Estados de Humor dos sujeitos após 30min

do término de diferentes condições experimentais -----------------------------------------------------

Gráfico 8: Efeito de diferentes condições de exercício sobre as variáveis do Perfil dos Estados

de Humor ----------------------------------------------------------------------------------------------------

Gráfico 9: Efeito de diferentes condições de exercício sobre o distúrbio de humor ---------------

Gráfico 10: Média e Desvio Padrão das variáveis do Estado de Humor pré, pós e 30min após

uma situação de controle sem exercício -----------------------------------------------------------------

Gráfico 11: Perfil do Estado de Humor dos sujeitos antes e após o término do experimento ----

Gráfico 12: Efeito de diferentes condições experimentais na pressão arterial sistólica (PAS) --

Gráfico 13: Comportamento de variáveis fisiológicas após as diferentes sessões de exercício -

Gráfico 14: Efeito de diferentes condições experimentais na freqüência cardíaca (FC) ----------

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SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------

1.1 O Problema ---------------------------------------------------------------------------------------------

1.2 Objetivos ------------------------------------------------------------------------------------------------

1.3 Hipóteses ------------------------------------------------------------------------------------------------

2 REVISÃO DE LITERATURA -----------------------------------------------------------------------

2.1 Aspectos da Prescrição do Exercício Aeróbio e do Exercício Contra-Resistência:

Intensidade de Esforço -------------------------------------------------------------------------------------

2.2 Humor --------------------------------------------------------------------------------------------------

2.2.1 Conceitualizações e Mensurações ------------------------------------------------------

2.2.2 Efeitos do Exercício sobre o Estado de Humor ---------------------------------------

2.2.3 Possíveis Mecanismos de Regulação do Humor após o Exercício -----------------

2.3 Pressão Arterial ----------------------------------------------------------------------------------------

2.3.1 Efeitos do Exercício sobre a Pressão Arterial -----------------------------------------

2.3.2 Possíveis Mecanismos Responsáveis pelo Efeito Hipotensivo do Exercício -----

2.4 Psicofisiologia do Exercício --------------------------------------------------------------------------

2.4.1 Relação entre Pressão Arterial, Estado de Humor e Exercício ----------------------

3 MÉTODO ------------------------------------------------------------------------------------------------

3.1 Amostra -------------------------------------------------------------------------------------------------

3.2 Varáveis Independentes e Dependentes -------------------------------------------------------------

3.3 Delineamento da Pesquisa ----------------------------------------------------------------------------

3.4 Instrumentos de Medida -------------------------------------------------------------------------------

3.5 Coleta de Dados ----------------------------------------------------------------------------------------

3.6 Tratamentos ---------------------------------------------------------------------------------------------

3.7 Análise Estatística -------------------------------------------------------------------------------------

3.8 Plano Piloto ---------------------------------------------------------------------------------------------

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4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ---------------------------------------

4.1 Dados Descritivos --------------------------------------------------------------------------------------

4.2 Perfil de Humor, Pressão Arterial e Freqüência Cardíaca da Amostra -------------------------

4.3 Efeito da Intensidade e do Tipo do Exercício sobre as Variáveis Psicofisiológicas ----------

4.3.1 Estado de Humor --------------------------------------------------------------------------

4.3.2 Pressão Arterial ----------------------------------------------------------------------------

4.3.3 Freqüência Cardíaca ----------------------------------------------------------------------

4.4. Relação entre as Variáveis Psicofisiológicas ------------------------------------------------------

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ----------------------------------------------------------

REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------------------------------

ANEXOS ----------------------------------------------------------------------------------------------------

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente, muitas pessoas estão inseridas em programas de atividade física voltados

para a melhoria da saúde e do bem-estar. Várias entidades científicas, grupos de

pesquisadores e órgãos de saúde pública reconhecem que o exercício físico está associado a

diversos benefícios fisiológicos e psicológicos, sendo considerado de grande importância para

a saúde. Um grande desafio para os pesquisadores, tem sido determinar as características

ideais do exercício necessárias para promover benefícios tanto na saúde física quanto mental

(American College of Sports Medicine, 1993; 1998; Kesaniemi et al., 2001; International

Society of Sport Psychology, 1992; Shephard, 2001; U.S.Department of Health and Human

Services, 1996).

Diversos estudos demonstram que sessões agudas de atividade física promovem uma

redução na pressão arterial (PA) e uma melhoria no estado de humor, como a diminuição de

tensão/ansiedade, depressão e raiva e aumentos no vigor, que podem durar horas após o

exercício e que a repetição destes efeitos a longo prazo traria efeitos positivos para a saúde

(Berger & Molt, 2000; Dunn, Trivedi & O’Neal, 2001; Fagard, 2001; Forjaz et al., 1998; Hill

et al., 1989; Lane & Lovejoy, 2001; Raglin & Morgan, 1987; Thompson et al., 2001;

Toskovic, 2001). Dessa maneira, além dos objetivos estéticos, de manutenção e de

aprimoramento do estado de saúde, o exercício tem sido usado como uma forma alternativa

não-farmacológica na prevenção e no tratamento da hipertensão arterial, dos distúrbios do

humor, ansiedade e depressão (Blumental et al., 2002; Craft & Landers, 1998; Petruzzello et

al., 1991). No entanto, o estudo das adaptações psicofisiológicas ao exercício tem

demonstrado efeitos agudos diferenciados na PA e no estado de humor.

15 Variáveis como o tipo e a intensidade do exercício realizado, a aptidão física dos

praticantes, a experiência e a preferência pela atividade e o ambiente de prática podem

influenciar as respostas agudas ao exercício, principalmente as psicológicas. A literatura não é

consistente em relação à intensidade e ao tipo do exercício necessários para promoverem um

maior efeito hipotensivo e melhorias no estado de humor (Ekkekakis & Petruzzello, 1999;

Fagard, 2001). Sabe-se que um dos aspectos primordiais nos efeitos psicológicos é o prazer

pela atividade, de modo que a preferência pelo tipo e pela intensidade do exercício é

significativa no alcance dos benefícios (Parfitt & Gledhill, 2003).

Vários autores têm reconhecido que, apesar da associação entre exercício e saúde

mental, a falta de estudos experimentais com validade externa, de distribuição aleatória dos

sujeitos, de grupo controle, de tamanhos suficientes de amostra e de uma definição

operacional do humor têm comprometido a consistência dos resultados, sendo necessário

ainda controlar o volume da atividade física realizada (Berger & Motl, 2000; Hansen, Stevens

& Coast, 2001; Shephard, 2001; Steinberg et al., 1998; Weinberg & Gould, 2001; Yeung,

1996). Por isso, faz-se necessário um estudo dentro do ambiente real de prática do exercício,

que considere estes aspectos metodológicos.

Os exercícios aeróbios, como a corrida, e o exercício contra-resistência (ECR), como a

musculação, são atividades que devem compor um programa de condicionamento físico e

aquisição de saúde e qualidade de vida (American College of Sports Medicine, 1998). Dentro

desta temática, os pesquisadores têm investigado a relação dose-resposta do exercício para a

promoção da saúde tanto física quanto psicológica (Kesaniemi et al., 2001). O exercício é um

fenômeno complexo que envolve diversos aspectos na sua prescrição, que além de

proporcionar benefícios à saúde seja também eficaz na adesão dos indivíduos na atividade.

Tem sido demonstrado que os exercícios e o treinamento físico de alta intensidade

possuem uma menor taxa de adesão (Dishman & Buckworth, 1996) e em longo prazo podem,

16 quando não prescritos adequadamente, resultar num processo de exaustão psicofisiológica

denominado “burnout” (Bara Filho, 1999). Por outro lado, sessões de exercício em que o tipo

e a intensidade são selecionados pelo próprio praticante podem resultar numa maior sensação

de prazer, conforto e realização (Dishman, Farquhar & Cureton, 1994; Parfitt & Gledhill,

2003). Assim, é preciso identificar as características ideais do exercício para a promoção da

saúde, considerando tanto seus efeitos fisiológicos quanto psicológicos, uma vez que estes

últimos são negligenciados freqüentemente pelos pesquisadores.

A Organização Mundial da Saúde reconhece que a saúde mental tem um suporte

fisiológico, sendo fundamentalmente interconectada com a saúde física e social (World

Health Organization, 2001). Apesar desse reconhecimento, uma das dificuldades de se

compreender os efeitos do exercício sobre a saúde reside no fato de que as pesquisas

concentram-se em aspectos particulares. Por isso, é crescente o interesse pela área de

atividade física e saúde numa ótica psicofisiológica que considere os aspectos psicológicos e

fisiológicos de maneira integrada. Um exemplo de atendimento dessa necessidade é o

aperfeiçoamento constante da Teoria do Stress de Hans Selye, denominada Síndrome de

Adaptação Geral (SAG), que dá suporte a esta interação pelo caráter inespecífico e integrado

de reação do organismo frente a quaisquer estressores (Selye apud Samulski, 2002).

O presente estudo pretende observar alterações fisiológicas e psicológicas frente ao

exercício físico, utilizando uma abordagem de pesquisa denominada Psicofisiologia do

Exercício, visando fornecer conhecimentos que possibilitem a prescrição de exercícios com

estímulos adequados, que promovam adaptações psicofisiológicas positivas na saúde e no

bem-estar geral do praticante, sendo possível recomendar o tipo e a quantidade de exercício

para otimizar as adaptações na saúde, auxiliando indiretamente na adesão à atividade física.

Além disso, o estudo visa contribuir para um maior entendimento e a consideração do

17 indivíduo dentro de uma ótica psicofisiológica, reconhecendo a interação simultânea dos

aspectos físicos e psicológicos do comportamento.

A literatura revisada revela que poucos estudos têm avaliado os efeitos psicológicos da

atividade aeróbia e anaeróbia sob condições controladas; que a maioria dos estudos entre

exercício e humor utilizou a atividade aeróbia como tratamento, sendo poucos estudos feitos

com o exercício contra-resistência; que alguns estudos não acompanharam a duração dos

efeitos após a sessão de exercícios e que os achados são contraditórios em relação ao tipo e a

intensidade do exercício para promover reduções na PA e uma melhoria do estado de humor

(Berger & Motl, 2000; Blumental et al., 2002; Dishman, 1995; Ekkekakis & Petruzzello,

1999; Fagard, 2001; Yeung, 1996).

Dessa maneira, o estudo comparativo dos efeitos psicofisiológicos do exercício

aeróbio e anaeróbio em diferentes intensidades, realizado sob condições experimentais dentro

do ambiente próprio de exercício, revela-se de grande relevância, tanto do ponto de vista

acadêmico-científico quanto para a prática de professores e praticantes de exercício.

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1.1. PROBLEMA

A corrida em esteira e o exercício contra-resistência (ou musculação) são tipos de

atividades físicas que comportam uma quantidade importante de pessoas nas academias de

ginástica, promovendo diferentes efeitos fisiológicos e psicológicos na saúde de seus

praticantes. Considerando, então, a revisão e as delimitações da seção anterior, questiona-se:

qual é o efeito agudo sobre o estado de humor e a pressão arterial dos alunos de academia

após sessões de corrida na esteira e exercício contra-resistência com intensidades baixa, alta e

auto-selecionada? Será que uma atividade é mais efetiva do que a outra na redução da PA e na

melhoria do humor ou será que o efeito de ambas é semelhante? Os efeitos são diferentes em

função da intensidade de esforço? Será que um treino intenso é prejudicial para a regulação do

humor, enquanto um treino em que o sujeito escolhe a forma como irá fazê-lo seja benéfico?

Em que sentido, humor, PA, tipo e intensidade do exercício e a percepção de intensidade

estão relacionados?

Procurando responder essas perguntas, é possível especificar um problema, dando-lhe

uma feição operacional, de modo a permitir abordagens típicas da pesquisa científica. A

problematização reside na comparação dos efeitos psicofisiológicos da corrida na esteira e do

exercício contra-resistência, objetivando o aspecto prático da intervenção do profissional de

Educação Física em academias de ginástica.

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1.2. OBJETIVOS

• Verificar a influência do tipo e da intensidade de uma sessão de exercício em alunos de

uma academia de ginástica sobre variáveis tanto fisiológicas quanto psicológicas que

compõem a saúde numa relação psicofisiológica.

• Comparar o efeito agudo de uma sessão de exercício contra-resistência (ECR) e de

corrida na esteira de intensidade baixa, alta e auto-selecionada sobre os estados de humor

e a pressão arterial, dentro de um enfoque psicofisiológico.

1.3. HIPÓTESES

H0: As mudanças no estado de humor e na pressão arterial após uma sessão de exercício não

são dependentes da intensidade e do tipo do exercício realizado.

H1: As mudanças no estado de humor e na pressão arterial após uma sessão de exercício são

dependentes da intensidade e do tipo do exercício realizado.

20

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 ASPECTOS DA PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO AERÓBIO E DO EXERCÍCIO

CONTRA-RESISTÊNCIA: INTENSIDADE DE ESFORÇO

O exercício aeróbio (EA) e o exercício contra-resistência (ECR) são duas atividades

físicas importantes dentro de um programa de condicionamento físico e aquisição de saúde. A

prática regular dessas atividades promove benefícios relacionados à saúde como: aumentos na

densidade mineral óssea, força e capacidade cardiorespiratória, bem como melhoria na

composição corporal, metabolismo da glicose, lipídios séricos, bem-estar psicológico,

diminuição da pressão arterial e da freqüência cardíaca de repouso, sendo que alguns destes

efeitos são maiores em uma atividade do que na outra (American College of Sports Medicine,

1998; Pollock et al., 2000).

A prescrição do exercício aeróbio e do ECR inclui variáveis como: duração,

intensidade, tipo e ordem dos exercícios, freqüência semanal, número de séries e repetições,

intervalo de recuperação, carga e objetivos, tendo diversas possibilidades de variações na

prescrição de uma atividade. Desde a década de 70, recomendavam-se atividades aeróbias

rítmicas que usassem grandes grupos musculares, como a corrida e a natação, numa

freqüência de 3-5 vezes por semana, numa intensidade de 60 a 90% da Freqüência Cardíaca

Máxima (FCMáx), durante 15 a 60 min por sessão. Na década de 90, o exercício contra-

resistência foi incorporado às recomendações para aquisição e manutenção da aptidão física,

21 sendo prescrito 2-3 vezes por semana, realizando 1 série de 8-12 repetições (reps) para 8-10

exercícios (U.S.Department of Health and Human Services, 1996). Atualmente, recomenda-

se, para desenvolver e manter a aptidão cardiorespiratória, muscular e a flexibilidade em

adultos saudáveis, a atividade aeróbia 3-5 vezes por semana com sessões de 20 a 60min de

forma contínua ou intermitente a 55-65 a 90% FCMáx ou 40-50 a 85% do VO2máx de

Reserva (Potência Aeróbia Máxima de Reserva) ou da Freqüência Cardíaca Máxima de

Reserva (FCMR), devendo ser complementada com ECR pelo menos 2-3 vezes por semana

com sessões com 8-10 exercícios para os principais grupos musculares, realizando 1 série de

8-12 repetições, além de exercícios para flexibilidade, como alongamentos estático ou

dinâmico por 2-3 vezes por semana (American College of Sports Medicine, 1998).

A consulta à literatura indica que a tentativa de se estabelecer um padrão ótimo de

atividade física para a promoção da saúde vem de longas datas. Apesar disso, para muitos

fatores associados à saúde, não se conhece exatamente a relação dose-resposta do exercício

(Kesaniemi et al., 2001). Tem sido pesquisado, por exemplo, o nível mínimo de exercício

necessário para o controle da hipertensão e a promoção da saúde mental, passando a discussão

necessariamente pela intensidade do exercício.

A intensidade é especialmente importante por causa da sua maior contribuição para as

complicações médicas induzidas e sua influência na adesão ao exercício. Algumas evidências

têm mostrado que atividades físicas de longa duração e intensas possuem maior risco

cardiovascular e lesão ortopédica e uma menor taxa de adesão do que aquelas de baixa

intensidade, sendo que cerca de 25 a 35% das pessoas desistem da atividade após 10 a 20

semanas (American College of Sports Medicine, 1998; Dishman & Buckworth, 1996).

Morgan et al. (1988) mostraram que o distúrbio de humor e o stress aumentavam

progressivamente com o aumento da carga de treinamento na natação. Portanto, considerando

22 o efeito cumulativo de sessões de exercício, é preciso regular a intensidade de treinamento

para que ele seja eficaz para a saúde.

Sabe-se que sessões de treinamentos físicos para a aptidão cardiorespiratória e

muscular com diferentes intensidades promovem diferentes efeitos agudos no organismo. Para

Thompson et al. (2001), as respostas agudas ao exercício não podem ser vistas isoladamente

das adaptações crônicas ao treinamento, pois todo processo de treinamento que leva a uma

melhoria dos parâmetros de saúde possui um componente agudo e outro crônico de modo que

a repetição destes efeitos ao longo do tempo produz adaptações mais permanentes. Por isso,

os efeitos psicológicos do exercício e do treinamento intensos, muitas vezes negativos, podem

contribuir para a prevalência da inatividade e o alto número de abandono dos programas de

atividade física.

A interpretação de intensidade de esforço adotada neste trabalho está de acordo com

Howley (2001). De acordo com este autor, a intensidade representa o esforço associado à

atividade física, sendo expressa de diferentes formas dependendo do tipo da atividade física

analisada. Em geral, a intensidade é classificada em absoluta e relativa. A intensidade

absoluta é expressa por parâmetros como: consumo de oxigênio (VO2) ou metabolismo de

repouso (METS), informando o gasto energético do exercício; a intensidade relativa é

expressa por um percentual de algum parâmetro fisiológico, como VO2máx, FC, Força.

A intensidade relativa na atividade aeróbia tem sido descrita em termos do percentual

da potência aeróbia máxima (% VO2máx), da freqüência cardíaca máxima de reserva (%

FCMR) ou da frequência cardíaca máxima (% FCMáx), podendo esta ser determinada

diretamente através de testes máximos, ou ser estimada a partir de testes submáximos ou pela

idade do indivíduo. No ECR, a intensidade relativa é normalmente expressa através de um

percentual da força máxima (% 1RM), determinada através do teste de uma repetição máxima

(1RM) ou de um teste de repetições máximas (5RM, 8-10RM). A expressão repetição máxima

23 (RM) se refere ao número máximo de vezes que uma carga pode ser levantada, usando-se a

técnica correta de execução do exercício. Embora testes máximos, como a determinação

direta do VO2máx e o teste de 1RM, forneçam informações mais precisas da capacidade

máxima do indivíduo para a prescrição do treinamento, apresentam riscos e limitações

práticas. Dessa maneira, devido a sua simplicidade e aplicabilidade, o uso de equações de

predição, através da idade do indivíduo na estimativa de sua freqüência cardíaca máxima, e de

testes de carga, baseados num número maior de repetições máximas, têm se tornado mais

freqüentes.

O Índice de Esforço Percebido (IEP), mensurado pela Escala de Borg (Borg, 2000),

também pode ser usado como um indicador da intensidade relativa. O IEP pode ser descrito

como uma medida psicofísica da percepção do indivíduo da intensidade do exercício, sendo

reconhecido como um instrumento útil de monitoramento da intensidade do exercício e

amplamente utilizado em ambientes de atividade física, devido a sua simplicidade de

aplicação, validade e fidedignidade (Borg, 1982; 2000; Dishman, 1994). Ele pode ser usado

tanto para correlacionar uma intensidade prescrita em FC ou VO2 com o esforço percebido,

como pode ser o próprio parâmetro de prescrição.

Os diferentes parâmetros usados para se determinar a intensidade relativa de esforço

possuem correspondência. De acordo com o American College of Sports Medicine (1998), no

exercício aeróbio, uma intensidade relativa baixa representa um esforço de 35-54% FCMáx

ou 20-39% FCMR e VO2máx de Reserva com um IEP de 10-11; a moderada, 55-69%

FCMáx ou 40-59% FCMR e VO2máx de Reserva e um IEP de 12-13; e a alta 70-89%

FCMáx ou 60-84% FCMR e VO2máx de Reserva e um IEP de 14-16. No ECR, a intensidade

relativa é representada por um percentual de 1RM, sendo 30-49, 50-69 e 70-84% de 1RM

baixa, moderada e alta intensidade, respectivamente.

24 Estudos mais recentes têm adotado uma outra forma de prescrição de atividade física,

especialmente em relação à intensidade de esforço, que tem sido denominada de intensidade

preferida ou auto-selecionada, sendo grande o apelo por este tipo de prescrição com o objetivo

de adesão ao exercício (Dishman, Farquhar & Cureton, 1994; Gauvin, Rejeski & Norris,

1996; Koltyn et al., 1995; Nabetani & Tokunaga, 2001; Parfitt, Rose & Markland, 2000).

Neste tipo de prescrição, o próprio indivíduo escolhe a intensidade de esforço que deseja

realizar a atividade física. Sugere-se que quando se permite ao indivíduo escolher a

intensidade, ele tende a perceber maior controle sobre a sessão de exercício e maior

satisfação, resultando em bem-estar e maior probabilidade de repetição da sessão.

Portanto, existem diversas maneiras de se prescrever o exercício, sendo a intensidade

de esforço um dos importantes fatores a serem considerados. A busca por prescrições

adequadas, que favoreçam a saúde integral do praticante e a sua adesão e manutenção no

programa de exercícios, é um objetivo permanente de pesquisa na área de atividade física e

saúde. O entendimento dos efeitos psicofisiológicos de diferentes intensidades de exercício

pode contribuir para o alcance deste objetivo.

2.2 HUMOR

2.2.1 CONCEITUALIZAÇÕES E MENSURAÇÕES

Nas últimas três décadas, tem havido um considerável crescimento da literatura sobre

o domínio afetivo do exercício. Dos problemas verificados nas pesquisas, o aspecto conceitual

e a mensuração do estado psicológico têm recebido a maioria das críticas. Por isso, revisar o

estado da arte referente a estes aspectos torna-se importante para delimitar um dos objetos de

25 estudo e o método de mensuração do construto psicológico investigado no contexto desta

pesquisa.

Por se tratar de um construto, elaborado a partir de vários aspectos subjetivos, ainda

não existe uma definição operacional de humor que constitua um consenso entre os

pesquisadores. Muitas vezes, humor, afeto, emoção e bem-estar são tratados como sinônimos,

dentro do que se denomina saúde psicológica, mental ou bem-estar psicológico; outras vezes,

porém, são tratados como estados psicológicos distintos (Dishman, 1995; Ekkekakis &

Petruzzello, 2000). A própria definição de saúde psicológica proposta pelo USDHHS (1999)

como “um estado de desempenho bem-sucedido da função mental, resultando em atividades

produtivas, preenchendo relações com os outros e possuindo habilidade de se adaptar às

mudanças e de lidar com as adversidades” não deve ser vista como a única e mais precisa.

Observa-se, nesta definição, uma ampla subjetividade, dando margens a várias interpretações

em relação ao “o que” e ao “como” mensurar o estado psicológico, o que talvez resulte na

tendência de se juntar diferentes construtos para que se faça uma representação da saúde

psicológica, como será visto adiante em relação ao estado de humor. Mas qual a diferença

entre humor, emoção e afeto?

Algumas tentativas de conceitualização e diferenciação dos estados psicológicos

envolvidos na prática do exercício têm sido feitas, baseadas numa orientação cognitivista, no

intuito de delimitar cada aspecto e fornecer uma base conceitual para os modelos de medida

(Ekkekakis & Petruzzello, 2000; Terry, in press). Normalmente, a distinção entre humor e

emoção se dá através de sua intensidade, duração e a especificidade de seus antecedentes.

Na concepção de Ekkekakis & Petruzzello (2000), deve haver uma distinção entre

humor, emoção e afeto, mas pouca atenção tem sido dada às suas distinções teóricas. Para

esses autores, a emoção é considerada um estado afetivo específico para um objeto, de curta

duração e alta intensidade, que ocorre após uma avaliação cognitiva deste objeto, como sendo

26 benéfico ou prejudicial ao bem-estar do indivíduo; o humor seria menos intenso e de maior

duração, tendo origem cognitiva, porém não-específico a um objeto, mas seria aquilo que a

pessoa é no dia-a-dia, ou seja, como ela vê o mundo e a si mesmo num momento particular; já

o afeto seria um componente de todas as experiências emocionais, de caráter mais geral,

menos complexo e com vários sentimentos envolvidos.

Assim, emoção, humor e afeto pertencem a uma estrutura hierárquica que vai do mais

específico para o mais geral, daquele com maior envolvimento cognitivo para o de menor

envolvimento cognitivo, nesta ordem. Apesar de conceitualmente diferentes, ambos

promovem e facilitam a adaptação do indivíduo às demandas do ambiente.

Por outro lado, Lane & Terry (2000) e Terry (in press), apesar de citarem as

características que diferenciam emoção e humor, afirmam que eles são elementos de uma

mesma estrutura conceitual que, muitas vezes, não permite uma clara distinção entre eles, pois

ambos se influenciam. Os autores sugerem que o humor influencia o modo com que se reage a

uma emoção e que, por sua vez, a resposta emocional a uma situação específica continua

reforçar ou modificar a intensidade do estado de humor. Neste sentido, o humor representa

uma idéia cumulativa, em que uma série de respostas emocionais aos eventos diários combina

para formar um estado psicológico, o qual permanece até que novas emoções promovam

novas alterações (Terry, in press).

A diferenciação torna-se mais problemática no momento da mensuração dos

construtos, uma vez que as medidas não consideram os antecedentes nem a duração dos

sentimentos, mas apenas sua intensidade num dado momento (Berger & Molt, 2000). Por isso

emoção e humor são medidos, freqüentemente, do mesmo modo.

Ainda referente à definição, Lane & Terry (2000) sustentam que o humor refere-se a

uma disposição psicológica para avaliar, interpretar e agir de um determinado modo,

influenciando a cognição e o comportamento do indivíduo e interferindo decisivamente no

27 processo de tomada de decisão e de execução das habilidades motoras. Berger & Motl (2000,

p. 69) definem humor como “um estado afetivo transitório e flutuante que reflete como a

pessoa está se sentindo globalmente ou, em geral, num momento particular”. Segundo

Weinberg & Gould (2001, p. 382), o humor pode ser definido como “um estado emocional ou

afetivo de duração variável e impermanente”. Por fim, Lane & Terry (2000, p. 17) definem

humor como “um conjunto de sentimentos, de natureza efêmera, variando em intensidade e

duração, usualmente envolvendo mais de uma emoção”.

Portanto, os vários autores entendem que o humor refere-se a um estado subjetivo

transitório e flutuante, que envolve mais de uma emoção, variando de um estado agradável

para um desagradável, possuindo menor intensidade, duração mais longa e antecedentes

diversos, quando comparado às emoções, sendo um componente da vida diária, que reflete

como a pessoa está se sentindo como um todo, num momento particular e um indicador do

bem-estar psicológico, influenciando o comportamento do indivíduo.

Uma vez delimitado o construto, como medi-lo? As medidas variam substancialmente

em termos de validade, confiabilidade, viabilidade de aplicação, custo e variáveis

intervenientes, incluindo índices cognitivos, comportamentais e psicofisiológicos. Na

Psicofisiologia, índices como freqüência cardíaca, pressão arterial, resposta galvânica e

freqüência respiratória têm sido usadas para inferir mudanças emocionais. Entretanto,

medidas de auto-relato são as mais comuns. Segundo Terry (in press), elas possuem as

vantagens de serem simples, convenientes, baratas e pouco invasivas. No entanto, possui

desvantagens como: efeito socialmente desejável, reatividade ao pesquisador e desinteresse do

participante.

Diversas medidas de auto-relato estão disponíveis na literatura. De acordo com Berger

& Molt (2000), medidas gerais de humor incluem: Activation-Deactivation Adjective Check

List (AD ACL), Beck Depression Inventory (BDI), Multiple Affect Adjective Check List

28 (MAACL), Positive Affect Negative Affect Scale (PANAS), State Anxiety Inventory (SAI) e

Profile of Mood States (POMS); medidas específicas para situações de exercício incluem:

Exercise Feeling Inventory (EFI), Subjective Exercise Experience Scale (SEES) e PAAS

(Physical Activity Affect Scale). Uma discussão sobre a mensuração dos estados psicológicos

e uma crítica às medidas específicas para o exercício podem ser encontradas num volume

especial do Psychology of Sport and Exercise (Ekkekakis & Petruzzello, 2000; 2001a,b;

2002; Gauvin & Rejeski, 2001).

Na construção dos instrumentos, Ekkekakis & Petruzzello (2000) citam dois métodos

na formulação de um modelo de medida. Pelo método da indução, inicia-se com uma lista

grande de adjetivos e depois ficam apenas aqueles mais identificados pelos praticantes, como

na formulação do POMS e da versão original do AD ACL; pelo método da dedução, os

modelos são baseados e fundamentados numa teoria, como no caso do SAI e do PANAS. De

acordo com Ekkekakis & Petruzzello (1999), a versão mais atual do AD ACL, baseado na

teoria de ativação multidimensional de Thayer, que faz uma combinação dos dois métodos,

pode ser considerada uma das melhores medidas. Entretanto, por ser um aperfeiçoamento

recente das medidas de humor, ainda é pouco utilizada.

Se, por um lado, medidas gerais provenientes da Psicologia Geral são criticadas pela

falta de especificidade para aplicação no ambiente de exercício, por outro lado, as medidas

específicas para o exercício têm sido criticadas por limitarem a poucas emoções um fenômeno

complexo, em que as pessoas respondem diferentemente aos mesmos estímulos. Um aspecto

importante é que as medidas psicológicas diferem em relação à proposição conceitual de

humor e emoção. De acordo com Lane et al. (2001), o humor tem sido conceitualizado em

dimensões de forma unipolar (ansiedade, depressão, raiva, vigor), bipolar (tenso-relaxado,

feliz-raivoso, vigoroso-cansado), ortogonal (afeto positivo e negativo) ou em termos de um

29 modelo circumplexo em duas dimensões (eixos agradável-desagradável e ativação-

desativação). Cada uma destas proposições possui vantagens e desvantagens.

Na verdade, dificilmente uma única medida abrangerá todas as emoções envolvidas no

exercício. Em relação a esta temática, Ekkekakis & Petruzzello (2000) citam duas

perspectivas na análise psicológica do exercício: a categórica e a dimensional. A escolha da

perspectiva de análise depende do estudo em questão: se ele está preocupado com emoções

distintas e específicas ou com o afeto em geral.

Na perspectiva categórica, o afeto é organizado em categorias conceitualmente

distintas e específicas, como ansiedade, depressão, raiva, etc. Neste modelo de mensuração,

pode-se incluir o POMS. Por outro lado, na perspectiva dimensional, os construtos são

sistematicamente inter-relacionados 2 a 2, 3 a 3 de maneira mais global, abrangendo várias

emoções, sendo mais interessante do ponto de vista macro. Na perspectiva dimensional,

encontra-se o modelo circumplexo, defendido por Ekkekakis & Petruzzello (2000), que possui

relações entre os estados afetivos, é balanceado positiva e negativamente e fornece uma

representação global de afeto. No entanto, um consenso entre os pesquisadores sobre os tipos

de abordagem e inventários que devem ser utilizados permanece inexistente.

Embora o modelo circumplexo venha sendo difundido recentemente, a falta de

consenso conceitual e teórico existente na área e a ampla literatura publicada com o modelo

unipolar levam os pesquisadores a optarem por esta abordagem, como optado neste estudo. A

análise do humor na dimensão unipolar e dentro da perspectiva categórica possibilita a

utilização de medidas com validade e fidedignidade já reportadas, como o POMS.

O POMS tem sido amplamente utilizado nas pesquisas sobre atividade física, esporte e

estados psicológicos. LeUnes & Burger (1998) identificaram 258 estudos publicados no

período de 1971 a 1998 sobre a relação perfil dos estados de humor, esporte e exercício. O

POMS foi elaborado por McNair, Lorr & Droppleman em 1971, como uma medida de

30 estados circunstanciais, ocasionais e flutuantes de humor em pacientes psiquiátricos, sendo

reportada consistência interna de 0,84 a 0,95 e fidedignidade teste-reteste de 0,65 a 0,74. Na

população praticante de atividade física, Terry & Lane (2000) reportaram valores de

consistência interna que variaram entre 0,72 a 0,84.

Embora tenha sido desenvolvido para o uso clínico, o POMS foi utilizado em atletas e

popularizado por William Morgan nas décadas de 70 e 80. Morgan encontrou um tipo de

curva nos resultados do perfil que denominou “perfil iceberg”, assim denominado por causa

da imagem criada pelo gráfico dos dados dos atletas quando comparado com os dados da

norma da população não-atleta, sendo representativo da saúde mental. O “Modelo de Saúde

Mental”, descrito por Morgan (1985), preconiza que existe uma relação inversa entre

psicopatologias e a performance esportiva e que atletas bem sucedidos tinham uma melhor

saúde mental (perfil iceberg) do que os mal sucedidos. Atualmente, o POMS possui dados

normativos para atletas e praticantes de atividades físicas, sendo considerado um instrumento

válido, prático e sensível a variações nos tratamentos com exercício (Terry & Lane, 2000). No

Brasil, o POMS foi traduzido e adaptado por Brandão et al. (1993) como POMS - Perfil dos

Estados de Humor.

Considerando as vantagens de ser um instrumento útil na detecção de mudanças no

humor após o exercício, sensível a variações nos tratamentos com exercício, de possuir dados

normativos e ampla literatura que possibilita a comparação dos resultados, para efeito deste

estudo, o humor será conceitualizado e mensurado através do POMS. Apesar de ampla

aplicabilidade no ambiente de exercício, o POMS é criticado por ter sido inicialmente

desenvolvido para o uso clínico, pelo foco excessivo sobre os fatores negativos do humor e

pela longa duração para respondê-lo (Berger & Motl, 2000), pelo fato de nunca ter passado

por avaliações psicométricas formais no contexto do exercício e por não ter sido questionado

conceitualmente as variáveis utilizadas (Ekkekakis & Petruzzello, 2000). Além disso, em

31 populações saudáveis, freqüentemente não mostra mudanças no humor, sendo sensível ao

efeito teto (Ekkekakis & Petruzzello, 1999).

O POMS avalia seis estados subjetivos de humor: tensão (T), depressão (D), raiva (R),

vigor (V), fadiga (F) e confusão mental (C). O fator tensão é caracterizado por sentimentos de

nervosismo, apreensão, preocupação e ansiedade. O fator depressão está associado a uma

inadequação pessoal, indicando sentimentos de autovalorização negativa, inutilidade,

desânimo e autoculpa (infeliz, triste, sem esperança, etc.). O fator raiva é caracterizado por

sentimentos que variam numa intensidade indo do aborrecimento, antipatia e raiva à fúria em

relação aos outros e a si mesmo com sentimentos de hostilidade (rancoroso, amargurado, etc.),

estando associado à ativação do sistema nervoso autônomo. O fator vigor é representado por

estados de energia, animação e disposição física (animado, ativo, alegre, etc.). O fator fadiga

está representado pela fadiga física e mental (esgotado, apático, etc.). O fator confusão mental

pode ser caraterizado por sentimentos de incerteza, atordoamento e incapacidade de controlar

a atenção e as emoções (confuso, incapaz de concentrar-se, etc.).

Os fatores tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão mental são considerados os

fatores negativos do humor; por outro lado, o vigor é considerado o fator positivo. O

Distúrbio Total de Humor (DTH) é calculado pela soma dos fatores negativos, menos o fator

positivo [DTH = (T+D+R+F+C) – V]. Ao resultado final somam-se 100, para evitar o uso de

valores negativos. O DTH representa uma desestabilização no humor que prejudica o perfil de

saúde mental. O teste consta de 65 adjetivos, com uma escala de 5 pontos, onde 0 = nada, 1 =

um pouco, 2 = mais ou menos, 3 = bastante e 4 = extremamente; o indivíduo responde como

está se sentindo “neste exato momento” em relação a cada um dos adjetivos.

Considerando o objetivo deste item, uma vez que o entendimento do humor varia de

acordo com a teoria e o método de mensuração utilizado e que nenhum consenso foi

estabelecido sobre este construto, no presente estudo será adotado o seguinte entendimento de

32 humor: conjunto de sentimentos subjetivos, composto por aspectos positivos e negativos,

mensurados pelo Perfil dos Estados de Humor (POMS), que variam em intensidade e duração,

sendo de caráter transitório, sensível às experiências do indivíduo, sendo, no geral, uma

representação da saúde psicológica do indivíduo.

2.2.2 EFEITOS DO EXERCÍCIO SOBRE O ESTADO DE HUMOR

O interesse pelo estudo da relação entre exercício e estados psicológicos não é recente.

Segundo Craft & Landers (1998), a relação entre exercício e depressão, por exemplo, tem sido

examinada desde 1900. Desde então, os estudos têm ampliado o enfoque para outras variáveis

psicológicas, evoluindo tanto no aspecto conceitual quanto metodológico, procurando

eliminar as limitações das pesquisas anteriores, analisando variáveis moderadoras desta

relação em diferentes ambientes e populações e procurando estabelecer uma relação de dose-

resposta e de causalidade entre exercício e benefícios psicológicos.

O crescente número de estudos sobre os efeitos psicológicos do exercício físico tem se

dado, por um lado, na medida em que a saúde deixou de ser considerada uma condição

meramente física e passou a ser concebida como uma interação de aspectos físicos,

psicológicos e sociais, onde a saúde mental é crucial para o bem-estar geral dos indivíduos; e,

por outro lado, a partir do momento em que os estudos na área de atividade física passaram a

considerar estas interações, revelando implicações em diferentes aspectos.

No que tange à implicação clínica, social e econômica, observa-se que desordens

mentais, como a ansiedade e a depressão, representam um problema crescente de saúde

pública no mundo, gerando despesas econômicas e sofrimento humano, sendo fatores de risco

33 para doenças coronarianas (Dishman, 1995; Schwartzman & Glaus, 2000). Dados do

U.S.Department of Health and Human Services (1996) e da World Health Organization

(2001) revelam que um em cada dez adultos sofre de alguma depressão em algum momento

de sua vida; que as mulheres possuem uma maior prevalência de distúrbios psicológicos do

que os homens e que a maioria das pessoas não possui acesso aos serviços de saúde para o

tratamento; os problemas de saúde mental representam 10% do total de custos médicos com a

Previdência Social, sendo a quarta maior causa de incapacidade.

Duas metanálises, na temática do exercício físico e saúde mental, revelaram que o

exercício é tão eficaz na diminuição da ansiedade (Petruzzello et al., 1991) e da depressão

(Craft & Landers, 1998) quanto tratamentos psicoterapêuticos e farmacológicos, possuindo a

vantagem de ser mais saudável, econômico e ter maior adesão quando comparado a esses

tratamentos. De acordo com Thayer et al. (1994), a regulação do humor se dá através de três

componentes inter-relacionados: alteração de um mau humor, elevação do nível de energia e

redução da tensão. De todas as técnicas comportamentais usadas para regulação do humor, o

exercício mostrou-se a mais efetiva na alteração de um mau humor, a quarta mais bem

sucedida no aumento da energia e a terceira na redução da tensão. Neste sentido, o exercício

tem sido proposto como uma alternativa no tratamento e na prevenção de distúrbios

psicológicos e na melhoria do estado de humor.

No aspecto acadêmico e profissional, dois grandes desafios dos pesquisadores têm

sido a prescrição de atividade física adequada para a regulação e melhoria dos estados

psicológicos e a adesão ao exercício. A metanálise de Dishman & Buckworth (1996) mostrou

uma relação inversa entre intensidade do exercício e adesão de modo que o exercício de alta

intensidade está associado a uma menor adesão à atividade. Entretanto, Hall, Ekkekakis &

Petruzzello (2002) salientam que não se sabe ainda até que ponto esta relação é moderada

pelas respostas psicológicas ao exercício em diferentes intensidades. Moses et al. (1989), por

34 exemplo, encontraram um efeito da intensidade no estado de humor, mas não na adesão ao

programa de exercício.

Sabe-se que muitas pessoas se exercitam porque se sentem bem após a atividade.

Segundo Hall, Ekkekakis & Petruzzello (2002), as pessoas tendem a fazer aquilo que as

fazem sentir bem e evitar o que as fazem sentir mal. Tem sido demonstrado que pessoas

depressivas e com baixa motivação tendem abandonar com mais freqüência os programas de

atividade física do que aquelas não-depressivas e com maior motivação (Norvell & Belles,

1993; Raglin, Morgan & Luchsinger, 1990). Por isso, acredita-se que o entendimento dos

efeitos psicológicos do exercício pode contribuir para o aumento a sua adesão.

No que tange à prescrição do exercício para a promoção da saúde mental, os estudos

realizados até o presente momento não permitem determinar uma relação de dose-resposta,

nem de causalidade, embora sejam plausíveis (Dunn, Trivedi & O’Neal, 2001; Ekkekakis &

Petruzzello, 1999). Esta temática será discutida mais adiante. Talvez por isso, algumas

entidades, como o U.S.Department of Health and Human Services (1999), ainda não

reconheçam o exercício como tratamento para desordens mentais.

Os estudos na área de atividade física e saúde mental envolvem um grande número de

constructos psicológicos, como humor, ansiedade, depressão, afeto negativo e positivo, auto-

estima, auto-eficácia, função cognitiva, stress, entre outros. Uma das variáveis psicológicas

mais estudadas, a partir da década de 70, foi o estado de humor. Os mais variados tipos de

estudos científicos têm verificado uma melhoria do humor, associada à prática regular da

atividade física e a sessões agudas de exercício, tanto em populações saudáveis normais

quanto em populações clínicas. A presente revisão literária concentra-se nos estudos que

analisaram os efeitos agudos de sessões de exercício sobre o estado de humor em populações

saudáveis, principalmente sobre aqueles que utilizaram o POMS como instrumento de medida

35 psicológica e que analisaram variáveis moderadoras como o tipo e a intensidade do exercício,

enfatizando o aspecto da prescrição do exercício.

Em geral, admite-se que pessoas fisicamente ativas e com maior aptidão física

possuem um melhor estado de humor do que aquelas sedentárias e menos aptas. Revisões

literárias (Berger & Motl, 2000; Dishman, 1995; Dunn, Trivedi & O’Neal, 2001; Yeung,

1996), metanálises (Craft & Landers, 1998; Petruzzello et al., 1991), posicionamentos (ISSP,

1992; USDHHS, 1996), estudos transversais (Hassmén, Koivula & Uutela, 2000; Lobstein,

Mosbacher & Ismail, 1983; Thirlaway & Benton, 1992), longitudinais (Lampinen et al., 2000;

Strawbridge et al., 2002) e experimentais (Cramer, Nieman & Lee, 1991; DiLorenzo et al.,

1999; Moses et al., 1989; Norvel & Belles, 1993; Stanton & Arrol, 1996) têm fornecido

evidências de que a prática regular da atividade física está associada a alterações positivas no

estado de humor tanto agudas quanto crônicas. Entretanto, variáveis como tipo, intensidade,

duração e ambiente de prática do exercício, o estado de humor inicial, o nível de aptidão

física, gênero, idade, expectativa de mudança e preferência dos sujeitos parece interferir nos

resultados.

Cortes transversais de comparação de variáveis psicológicas de indivíduos ativos e

sedentários e de indivíduos com diferentes níveis de atividade e aptidão física mostram que os

sedentários são mais introvertidos e depressivos do que os mais ativos (Lobstein, Mosbacher

& Ismail, 1983) e que a participação no exercício melhor do que a melhora na aptidão física

está associada a um melhor estado de humor, independente de gênero (Thirlaway & Benton,

1992), sendo mais importante, do ponto de vista da saúde psicológica, preocupar-se mais em

fazer o exercício do que melhorar a aptidão física. Moses et al. (1989) corroboram esta

premissa após estudo experimental de treinamento que encontrou mudanças no humor

independente da melhoria de aptidão física. Hassmén, Koivula e Uutela (2000), num estudo

epidemiológico transversal, mostraram que os indivíduos que se exercitavam com menor

36 freqüência tinham mais sintomas de depressão quando comparados com aqueles que tinham

maiores níveis diários de atividade física, que possuíam menos sintomas de depressão e raiva,

menos stress percebido, maior senso de coerência, integração social e percepção de saúde e

aptidão física, independente de gênero e de idade. Corroborando estes autores, Strawbridge et

al. (2002) verificaram que a prevalência de depressão é menor nos sujeitos mais ativos e que o

exercício possui um efeito protetor contra a incidência da depressão em idades superiores.

Outro estudo prospectivo mostrou que o decréscimo na intensidade das atividades físicas

relacionadas à idade aumenta o risco de depressão, sugerindo medidas de manutenção de um

nível adequado de atividade física para a população idosa (Lampinen, Heikkinen & Ruoppila,

2000).

Dessa maneira, nota-se que os estudos transversais e longitudinais suportam a hipótese

de que o exercício traz benefícios psicológicos para indivíduos com diferentes níveis de

condicionamento físico e que, na maioria das vezes, os benefícios são independentes do

gênero e da idade dos sujeitos, sendo ainda protetor contra futuros distúrbios psicológicos.

Outras variáveis podem influenciar a resposta psicológica ao exercício, como: expectativa de

mudança, nível inicial do perfil psicológico, tipo e intensidade do exercício, aptidão física e

preferências dos sujeitos.

Sobre as variáveis que influenciam as respostas emocionais ao exercício, sugere-se

que quanto maior for a expectativa do sujeito de que seu humor irá melhorar após o exercício,

maior será o benefício psicológico, de maneira que se deve controlar esta variável nos estudos

ou então, como sugere Yeung (1996), realizar o estudo de forma que o sujeito não saiba que

está sendo mensurado seu estado de humor. Segundo O’Halloran, Murphy & Webster (2002)

existem duas formas de se controlar a expectativa de mudança: uso de um grupo placebo ou a

mensuração da expectativa. Os estudos mostram resultados divergentes em relação a esta

temática. Enquanto Moses et al. (1989), usando grupo placebo, verificou que o efeito do

37 exercício sobre o humor não parece ser devido à expectativa de mudança nem à atenção dada

aos sujeitos, O’Halloran, Murphy & Webster (2002) desenvolveram e utilizaram uma medida

de expectativa de mudança do humor para corredores, verificando uma correlação positiva

moderada entre os escores da medida e as mudanças no humor durante e depois de uma

sessão de corrida.

Outro aspecto que influencia as respostas psicológicas ao exercício é o escore inicial

na variável psicológica considerada. Cramer, Nieman & Lee (1991), apesar de terem

encontrado um aumento no bem-estar após treinamento aeróbio, não encontraram mudanças

no estado de humor, mensurado pelo POMS, enfatizando que os sujeitos já possuíam um

humor saudável, de modo que o questionário não foi capaz de detectar mudanças

significativas. Outros estudos corroboram este resultado, onde o benefício é maior nos

sujeitos com pior estado de humor (Craft & Landers, 1998; Hale & Raglin, 2002; Gauvin,

Rejeski & Norris, 1996; Lane & Lovejoy, 2001). Craft & Landers (1998) verificaram que a

diminuição da depressão foi maior naqueles com maior nível inicial de depressão, sendo a

mudança independente do tipo e da intensidade do exercício.

Sobre as características do exercício necessárias para promover uma melhora no

humor, a intensidade e o tipo do exercício têm sido considerados em muitas investigações.

Desde a década de 80, há tentativas de formulação da dose-resposta entre exercício e

benefício psicológico, com o objetivo de estabelecer causalidade e melhorar a prescrição do

exercício e sua adesão (Ekkekakis & Petruzzello, 1999). Foi proposto que haveria um limiar

de intensidade e duração do exercício para reduções na ansiedade. Berger (1996) propõe que o

exercício para a melhoria do humor deve ser agradável, de caráter aeróbio, não-competitivo,

de intensidade moderada e de duração entre 20 a 40 min, regular durante a semana e praticado

em ambientes previsíveis e espacialmente fixos. De acordo com este autor, se o indivíduo

deseja se sentir melhor após a atividade, ele deve evitar treinamentos com esforços máximos.

38 Alguns estudos que observaram mudanças crônicas no estado de humor suportam a

taxonomia proposta por Berger. Em relação à intensidade de esforço, Cramer, Nieman & Lee

(1991), Moses et al. (1989), Thirlaway e Benton (1992) e Williams & Getty (1986)

verificaram que a prática de exercícios físicos aeróbios moderados, entre 60-70 % FCMáx,

promoveu a uma melhor regulação dos estados de humor do que o exercício de alta

intensidade, diminuindo a tensão, a ansiedade, a raiva e a depressão e aumentando o bem-

estar. Da mesma forma, Steinberg et al. (1998) encontraram uma melhora cumulativa nos

fatores positivos do humor durante 7 semanas de ginástica aeróbia de intensidade moderada,

sendo independente de gênero. Entretanto, como afirmam Ekkekakis & Petruzzello (1999), a

generalização das curvas de dose-resposta é inconsistente, não possui suporte empírico e a

prescrição de uma intensidade moderada para alcançar benefícios psicológicos é mais

especulativa do que científica, não existindo consenso, pois alta intensidade também esteve

associada a benefícios psicológicos. DiLorenzo et al. (1999) verificaram uma diminuição de

depressão e de ansiedade, bem como um aumento do auto-conceito e do vigor após 12

semanas de treinamento aeróbio, praticado 4x/sem a 70-85% FCMR quando comparado a um

grupo que não praticou exercício. Os autores constataram ainda que, mesmo após um ano, o

estado de humor estava melhor do que antes do treinamento, corroborando os achados de

Moses et al. (1989) que também verificaram benefícios em longo prazo. Estes resultados

contraditórios em relação à intensidade de esforço na melhoria dos estados psicológicos

podem ser explicados em parte pela aptidão física dos sujeitos, embora os resultados sejam

divergentes.

Tem sido demonstrado que indivíduos com maior aptidão física apresentam benefícios

psicológicos após treinos de maior intensidade (Boutcher & Landers, 1988; Dishman,

Farquhar & Cureton, 1994; Steptoe & Cox, 1988). Steptoe & Cox (1988) encontraram um

aumento de vigor após ciclismo com maior intensidade absoluta somente para os sujeitos com

39 maior aptidão física, com os de menor aptidão reportando maior percepção de esforço e

fadiga. Dishman, Farquhar & Cureton (1994) verificaram que somente os indivíduos com

maior aptidão física reportaram diminuição de ansiedade após ciclismo com intensidade auto-

sugerida, corroborando os achados de Boutcher & Landers (1988) comparando corredores e

não-corredores após treino de 80-85% FCMáx. Por outro lado, os estudos de Roth (1989),

Steptoe, Kearsley & Walters (1993) e Tuson, Sinyor & Pelletier (1995) não encontraram

efeito significativo da aptidão física nas respostas psicológicas ao exercício.

A esse respeito, de acordo com Ekkekakis & Petruzzello (1999), mesmo prescrevendo

a intensidade de forma relativa (Ex.: 70% VO2máx), um esforço dessa natureza pode ter um

componente apenas aeróbio para um indivíduo, mas pode ter um componente substancial

anaeróbio para outro. Devido às diferenças nos parâmetros ventilatórios, bioquímicos e

endócrinos entre os esforços aeróbios e anaeróbios, os autores sugerem que o padrão de

intensidade seja determinado através do limiar ventilatório ou de lactato, onde uma

intensidade moderada seria aquele esforço compreendido abaixo do limiar; o exercício intenso

estaria localizado dentro do limiar e o exercício extenuante estaria acima do limiar e próximo

do VO2máx. Ekkekakis & Petruzzello (1999) sugerem que abaixo do limiar as respostas

psicológicas são independentes das alterações fisiológicas, uma vez que a homeostase não

está ameaçada; dentro do limiar, o organismo está num estado de alerta, onde as respostas

variam de indivíduo para indivíduo, sendo uma parte influenciada pelas mudanças fisiológicas

e a outra por fatores cognitivos de como lidar com a situação; ao contrário, quando o esforço

está acima do limiar, o organismo se encontra numa situação de severa perturbação

homeostática que se reflete em respostas emocionais negativas. Petruzzello, Hall & Ekkekakis

(2001) afirmam que as respostas afetivas ao exercício são o produto de uma contínua

mudança entre cognição e a percepção direta dos fatores somáticos, onde nas baixas

40 intensidades predomina os fatores cognitivos, enquanto nas altas intensidades predominam os

fatores somáticos.

Em relação ao tipo de exercício, Petruzzello et al. (1991) constataram que a redução na

ansiedade esteve associada apenas ao exercício aeróbio e que este deveria ter, no mínimo, 21

min de duração, embora considerando os poucos estudos com exercício contra-resistência. Ao

contrário do que preceitua a taxonomia proposta por Berger (1996), tem sido demonstrado

que o exercício contra-resistência também é capaz de melhorar o estado de humor (Beniamini

et al., 1997; Hale & Raglin, 2002; Norvell & Belles, 1993). Norvell & Belles (1993)

encontraram maior satisfação no trabalho, menor depressão, ansiedade, hostilidade e sintomas

de stress, assim como uma melhoria do humor em indivíduos que praticaram ECR em forma

de circuito, 3x/sem durante 4 meses. Da mesma maneira, Beniamini et al. (1997) verificaram

uma diminuição da tensão, depressão, fadiga e distúrbio do humor, assim como um aumento

do vigor em pacientes de reabilitação cardíaca após 3 meses de treinamento com pesos de alta

intensidade (80% 1RM). Corroborando estes autores, Hale & Raglin (2002) constataram que

o treinamento com exercício aeróbio de step ou o treinamento contra-resistência (70-80%

1RM) promovem reduções significativas no estado de ansiedade, sendo este padrão de

resposta similar ao longo de 2 meses de treinamento. Recentemente, uma extensa revisão de

literatura sobre a relação dose-resposta entre exercício, ansiedade e depressão, verificou que

tanto o exercício aeróbio quanto o anaeróbio promovem reduções na ansiedade e na depressão

independente da intensidade, embora a maioria dos estudos tenha sido feito com exercício

aeróbio (Dunn, Trivedi & O’Neal, 2001).

A preferência pelo tipo de exercício ou a possibilidade de auto-seleção da intensidade

de esforço também são variáveis que influenciam as respostas psicológicas (Ekkekakis &

Petruzzello, 1999). Os estudos em laboratório muitas vezes não permitem que o indivíduo

pratique a sua atividade física habitual, podendo alterar suas respostas afetivas. Geralmente,

41 ocorre um efeito mais positivo no humor após exercício de intensidade auto-selecionada em

indivíduos que são ativos (Dishman, Farqhar & Cureton, 1994). Estes autores encontraram

uma redução na ansiedade após ciclismo com intensidade auto-selecionada somente para o

grupo de maior aptidão física, reforçando a idéia de que existe um limiar de intensidade para

os benefícios psicológicos e que este limiar depende da condição física do indivíduo. Por

outro lado, Parfitt, Rose & Markland (2000) não encontraram diferença nas respostas

psicológicas ao exercício de intensidade prescrita ou preferida. Dois estudos mais recentes

suportam uma melhoria no estado de humor após o exercício de maior preferência, embora

não tenham verificado a influência da preferência de intensidade (Daley & Maynard, 2003;

Parfitt & Gledhill, 2003).

Portanto, diferentes tipos e intensidades de atividade física têm o potencial de

melhorar o humor, desde que esteja adequada à individualidade do praticante, seja praticada

num ambiente agradável e de forma prazerosa. Parece existir uma relação positiva entre a

expectativa de melhoria do humor pelo sujeito e sua mudança real e uma relação inversa entre

o perfil de humor pré-exercício e o benefício psicológico. Especula-se que os indivíduos bem

condicionados se beneficiam de maiores intensidades ao contrário dos de menor aptidão, e

que uma intensidade auto-selecionada pode ser melhor do que uma intensidade imposta, mas

os resultados ainda são insuficientes para afirmações consistentes. Neste sentido, a melhoria

do humor através do exercício está na dependência de uma interação ótima entre o praticante,

as características do exercício e do ambiente, não existindo ainda uma relação de dose-

resposta estabelecida entre atividade física e saúde mental.

Em parte, os resultados contraditórios e inconsistentes entre as pesquisas podem ser

atribuídos às diferenças metodológicas entre as pesquisas e aos erros e limitações nos

experimentos que incluem: falta de randomização e/ou grupo de controle, amostras pequenas

e/ou não representativas da população, instrumento de medida inadequado, tempo de

42 mensuração após o exercício insuficiente para detectar mudanças, delineamentos pré-

experimentais e falta de validade externa em relação ao ambiente de prática do exercício. A

Tabela 1 mostra as características essenciais de diferentes estudos envolvendo o efeito agudo

do exercício no estado de humor, com o propósito de observar as tendências dos experimentos

no tempo e inferir novas condições a serem adotadas em novos experimentos, estabelecendo

preliminares para o estudo em questão.

Setenta estudos foram selecionados através de busca em bases científicas por palavras-

chave e pela análise das referências bibliográficas dos estudos. Procurou-se identificar as

seguintes características nos estudos: delineamentos utilizados, características das amostras,

influência de variáveis moderadoras, medidas do humor, intensidades de esforço e tipos de

atividade, abordagem psicofisiológica, benefícios psicológicos quanto à intensidade e ao tipo

da atividade.

A revisão de literatura realizada revelou uma equivalência nos tipos de delineamento.

Vinte e um estudos (30%) foram de caráter experimental, 24 (34%) pré-experimental e 25

(35%) quase-experimental. Quarenta e quatro estudos (63%) foram realizados em ambiente de

laboratório, enquanto 26 no ambiente de prática de exercício dos sujeitos (37%). Nota-se,

portanto, nos estudos uma necessidade de tornar o ambiente de prática do exercício o mais

próximo possível da realidade do praticante, embora os estudos experimentais ainda

encontrem dificuldades para isso. Por isso, há uma superioridade de delineamentos quase-

experimentais que tentam aumentar a validade externa do experimento, que utilizam um

mesmo grupo sendo testado em diferentes períodos e/ou condições.

Os estudos com grupo controle utilizaram: repouso, leitura, aula teórica, escutar

música, assistir um vídeo, atividade fora da rotina, um dia de treino sem exercício,

relaxamento, trabalho ou placebo. Os grupos de controle em comparação com as intervenções

43 de exercício, na maioria das vezes, não apresentaram mudanças no estado de humor, sendo

que alguns estudos deixaram de utilizá-lo em função de sua pouca representatividade.

O n amostral variou de seis a 135 sujeitos (Média = 43). Normalmente, nos estudos

com n menor do que 30, os mesmos sujeitos foram submetidos a diferentes condições

experimentais, de modo que o n de cada condição ficou entre seis a 30 sujeitos; nos estudos

com n maior que 30, os sujeitos eram distribuídos aleatoriamente ou não para condições

experimentais diferentes. A amostra foi constituída somente por homens em 29% dos estudos

analisados, somente mulheres (18%) ou por homens e mulheres (53%). A faixa etária variou

de 16 a 75 anos. No entanto, na maioria das vezes, a amostra foi composta por estudantes

universitários. Alguns estudos utilizaram medidas antropométricas (Peso, Altura e %

Gordura) e Funcionais (Capacidade cardio-respiratória, Nível de Atividade Física) para

caracterizar a amostra.

Sobre as variáveis que influenciam nas respostas psicológicas ao exercício, 18 estudos

de 20 não encontraram diferença de resposta entre homens e mulheres. Em relação à aptidão

física os resultados são mais contraditórios. Oito estudos reportaram influência da aptidão

física nas respostas psicológicas ao exercício e cinco estudos não. Dois estudos verificaram

que as alterações no humor são independentes da hora do dia de realização do exercício. Em

relação à expectativa de mudança, dois estudos afirmam que não há influência. Entretanto, um

estudo recente, que utilizou uma escala de mensuração deste efeito específico para o

exercício, encontrou uma moderada relação entre a expectativa de mudança e as alterações no

humor. Traços de personalidade não influenciaram as respostas psicológicas em dois de três

estudos. O perfil de humor pré-exercício também influenciou as respostas psicológicas.

Normalmente, os maiores benefícios ocorreram para indivíduos com piores perfis.

A medida psicológica mais utilizada foi o POMS (51% dos estudos), seguido pelo SAI

(35%). Em parte, o maior uso dessas medidas se deve ao fato de serem mais antigas e de

44 possuírem dados normativos e ampla literatura para comparações. Algumas medidas como o

EFI, PANAS, FS, SEES só aparecem a partir de 1996. O AD ACL recentemente tem sido

preconizado como a melhor medida do estado psicológico (Ekkekakis & Petruzzello, 1999),

embora apareça em apenas sete estudos. A maioria dos estudos utilizou apenas uma única

medida psicológica (73%), ao passo que alguns utilizaram duas ou mais medidas no mesmo

estudo (27%). O tempo de aplicação das medidas variou bastante. A maioria dos estudos

utilizou as medidas antes e após o tratamento; outros mediram antes e até um período de

30minutos após, tendo ainda aqueles que acompanharam os efeitos por mais de 30min após o

exercício. Isto se deve a evidências que mostram alterações em alguns parâmetros

psicológicos somente 20 ou mais minutos após o exercício. A partir de 1995, foi utilizada a

mensuração psicológica durante a realização do exercício.

Cinqüenta e sete estudos (81%) utilizaram a atividade aeróbia como intervenção; oito

(11%) usaram o exercício contra-resistência e apenas cinco (7%) compararam os efeitos

psicológicos das duas atividades. As atividades aeróbias envolveram ciclismo, dança,

caminhada, natação, step e, na maior parte dos estudos, a corrida (49%).

A intensidade de esforço foi prescrita por diferentes parâmetros, como: %VO2máx em

22 estudos, %FCMáx em 11 estudos, auto-selecionada em 9 estudos, Watts, %1RM, %10RM,

%FCMR, distância percorrida, IEP e de forma Progressiva. Doze estudos não mencionaram a

intensidade de esforço. Estudos mais recentes têm analisado a preferência dos sujeitos por

determinado parâmetro, comparando a intensidade prescrita com a auto-selecionada ou tipos

de exercício preferidos com outros menos preferidos. Embora se espera que o indivíduo tenha

maiores benefícios psicológicos após sessões em que ele próprio escolhe como se exercitar, os

resultados, até o momento, não permitem inferir uma superioridade desse tipo de prescrição

sobre a forma tradicional.

45 Trinta e dois estudos (45%) adotaram uma abordagem psicofisiológica, mensurando

variáveis psicológicas e fisiológicas, sendo a ansiedade e a pressão arterial, respectivamente,

as mais utilizadas. Entretanto, a maioria dos estudos não correlacionou as duas variáveis.

Apenas o estudo de Harre et al. (1995) fez a correlação, encontrando valores significativos

entre o humor e endorfina. Vinte e dois estudos usaram o Índice de Esforço Percebido como

medida da intensidade percebida. Entretanto, não correlacionaram este índice com o estado de

humor. Alguns estudos mostram que a redução na PA tem sido relacionada às mudanças na

ansiedade pós-exercício (O’Connor & Davis, 1992; Raglin & Morgan, 1987), sendo a

atividade do sistema nervoso simpático um dos possíveis mecanismos que explica as reduções

nessas duas variáveis.

Pela Tabela 1, observa-se que alguns estudos, utilizando diferentes tipos de exercício,

não mencionaram a intensidade de esforço ou foram realizados numa mesma intensidade;

outros verificaram o efeito de uma atividade em diferentes intensidades sobre uma variável

psicológica ou sobre variáveis psicológicas e fisiológicas. Entretanto, poucos estudos

compararam tipos e intensidades diferentes de atividade física e seus efeitos psicofisiológicos.

Em relação ao efeito da intensidade do exercício no estado de humor, observa-se uma

divergência nos resultados. Após sessões de alta intensidade, onze estudos reportaram

melhoria no estado de humor, dez encontraram piora no humor e três estudos não verificaram

mudanças. Ao contrário, sessões de intensidade moderada promoveram melhoria no humor

em 26 estudos ou nenhuma mudança em dois estudos. Baixa intensidade resultou em melhoria

do humor em sete estudos, nenhuma mudança em cinco, e piora do humor em um estudo.

Sessões em que a intensidade foi auto-selecionada pelos sujeitos resultou em melhoria do

humor em cinco estudos ou em nenhuma mudança em um estudo. Por outro lado, nove

estudos reportaram que as alterações no humor foram independentes da intensidade e quatro

estudos não encontraram mudanças significativas.

46 Os exercícios aeróbios de alta intensidade têm sido associados com melhorias

(Boutcher & Landers, 1988; Farrel et al., 1987; Han & Yoon, 1995; Kraemer et al., 1990),

nenhuma mudança (Farrel et al., 1982;) e decréscimos no humor (Ekkekakis & Petruzzello,

2002; Hassmén & Blomstrand, 1991; Morgan et al.,1988; Steptoe & Cox, 1988); baixa e

moderada intensidade tem sido associada com diminuição do humor negativo e aumento do

vigor (Hansen, Stevens & Coast, 2001; Lane & Lovejoy, 2001; Roth, 1989; Watt, 1998;

Yeung & Hemsley, 1996). Por outro lado, alguns estudos mostram que tanto baixa quanto alta

intensidade parece promover mudanças positivas no humor (Berger & Owen, 1998; Farrel et

al., 1987; Hatfield et al., 1988; Steptoe, Kearsley & Walters, 1993) e uma redução na

ansiedade (Cox, Thomas & Davis, 2000; Hatfield et al., 1988; Porcari et al., 1988).

Nos exercícios contra-resistência, os achados também são contraditórios. Exercício

contra-resistência de baixa intensidade promoveu melhoria no humor (Tharion et al., 1991;

Focht & Koltyn, 1999), diminuição no vigor (Focht & Koltyn, 1999), redução na ansiedade

(Focht & Koltyn, 1999; O’Connor & Cook, 1998) ou nenhuma mudança (Garvin, Koltyn &

Morgan, 1997; Koltyn et al., 1995; Raglin, Turner & Ekstein, 1993). Da mesma forma, alta

intensidade esteve associada a melhorias (Dyer & Crouch, 1988; McGowan, Talton &

Thompson, 1996), decréscimos (Wang et al., 1991; Tharion et al., 1991) ou nenhuma

mudança no humor (Raglin, Turner & Eksten, 1993) e diminuição da raiva (Focht & Koltyn,

1999). Por outro lado, reduções na ansiedade ocorreram somente após intensidade de 60%

10RM (O’Connor et al., 1993). Parece que as alterações na ansiedade após o ECR ocorrem

somente após 1h e sob intensidades maiores que 40% e menores que 70-80% de 1RM.

Em relação ao tipo de atividade, tanto o exercício aeróbio quanto o exercício contra-

resistência promoveram alterações positivas no estado de humor. Nos poucos estudos em que

essas duas atividades foram comparadas, Dyer & Crouch (1988) encontrou uma superioridade

da corrida em relação ao ECR na regulação do humor em longo prazo. McGowan et al. (1991)

47 encontraram mudanças positivas no humor para ambas; no entanto, o exercício aeróbio se

mostrou mais eficaz na redução da ansiedade do que o ECR (Garvin, Koltyn & Morgan, 1997;

Raglin, Turner & Eksten, 1993).

Conclui-se, por esta revisão literária, que os estudos utilizaram, em sua maioria, a

atividade aeróbia como intervenção; poucos estudos foram feitos com exercício contra-

resistência e, menos ainda, comparando as duas atividades; o %VO2máx e o %FCMáx foram

os parâmetros mais utilizados na mensuração da intensidade da atividade aeróbia e o %1RM

para o exercício contra-resistência; as alterações no humor foram independentes de gênero na

maioria dos estudos; o efeito da aptidão física nas respostas psicológicas se mostrou

contraditório; grupos de controle não apresentaram mudanças significativas; a medida

psicológica mais usada foi o POMS, seguido pelo SAI, variando bastante o seu tempo de

administração; nos estudos de caráter psicofisiológico, a ansiedade e a pressão arterial foram

as variáveis mais usadas, entretanto, não foram correlacionadas na maioria dos estudos. Em

geral, a melhoria no estado de humor parece ocorrer após sessões de exercício aeróbio e

contra-resistência com intensidade alta, moderada, baixa e auto-sugerida . No entanto, treinos

com alta intensidade revelaram um efeito negativo sobre o humor em parte dos estudos. Os

estudos de comparação revelaram um efeito no humor independente do tipo e da intensidade

do exercício. Portanto, pela literatura revisada, não é possível estabelecer um nível ótimo de

exercício para a melhoria do humor. Possivelmente, devido à variabilidade das respostas

psicológicas ao exercício, as características ideais para a promoção da saúde mental podem

não ser idênticas àquelas para a promoção da saúde e aptidão física, devendo ser

individualizadas.

48

Tabela 1: Estudos sobre os efeitos agudos do exercício no estado de humor e na pressão arterial

Estudo Sujeitos Atividade Procedimentos Medida Resultados

Farrel et al. (1982)

6 H e M

Corrida

Design Experimental / Medidas Repetidas / Laboratório Corrida: 60 ou 80% VO2máx e auto-selecionada (IEP = 9,2 a 11,5) Controle: repouso Duração: 30min

Medida: 15 min pré e 5min pós

POMS

Decréscimos no DTH, mas não significativo

Sem mudança

Lichtman & Poser

(1983)

64H e M

(16-54 anos) ativos

Aeróbios

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes Experimental: 45 min (não mencionou intensidade) Controle: atividades de pintura, fotografia, cursos

Medida: pré e pós / ANOVA com teste t

POMS

Exercício: < T, D, R, F Controle: < T, D

As mudanças foram maiores para o grupo de exercício do que controle

Raglin & Morgan

(1987)

15H (25-60 anos)

15H (25-60 anos)

ativos

Aeróbios

Design Experimental / Mesmo grupo / Amb. Laboratório e Prático Tipo e intensidade auto-selecionada por 40min

Controle: 40min Sala com música Medidas: pré, pós, 20, 60, 120, 180min após

ANOVA medidas repetidas

SAI PA

Exercício: < Ansiedade, <PAS (9mmHg) <PAD (6mmHg) até 2-3h

Repouso: <PAS até 20min Redução de ansiedade pode ter sido devido ao

banho pós-exercício

Farrel et al. (1987)

7H

atletas

Corrida

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Tratamentos: 80min a 40 e 60% VO2máx e 40min a 80% VO2máx

Medida psicológica: pré e pós ANOVA medidas repetidas

POMS IEP, FC, PA Hormônios

40% nenhuma mudança 60 e 80%: < Tensão

>Catecolaminas para 80% Sem relação humor e enkefalins

Morgan et al.

(1988)

12H

atletas

Natação

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Piscina Natação: 9.000 m/dia por 10dias a 94% VO2máx

ANOVA medidas repetidas

POMS

>D, R, F e > Distúrbio no humor após 5º dia

<Bem-estar

Hatfield et al. (1988)

12H (26-28 anos)

atletas

Ciclismo

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Ciclismo a 60, 70 e 80% VO2máx por 30min

Medida: pré, 5min e 20min pós ANOVA medidas repetidas

SAI POMS

MAACL

< Ansiedade e Depressão e > Vigor 20min pós Mudanças independentes da intensidade

e somente após 20min

Porcari et al. (1988)

17H e 19M

(32-42 anos)

Caminhada - Corrida

Design Quasi-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Intensidade de 35,50, 65% VO2máx ou auto-selecionada por 40min

Controle: sem exercício Medidas: pré, pós, pós-banho e 120min pós

ANOVA medidas repetidas

SAI PA

Exercício: < ansiedade e PAS e PAD por 2h após

Controle: Sem mudança Mudanças independentes da intensidade e gênero

Steptoe & Cox

(1988)

32M (18-20anos) treinadas e

destreinadas

Ciclismo

Design Pré-Experimental / Grupos diferentes / Laboratório intensidade de 25W e 100W por 8min Grupos com música e com metrônomo

Medida: pré, pós - ANOVA medidas repetidas

POMS

Intensidade de 25W promoveu > V e < F Intensidade de 100W promoveu > T e F

Independente da aptidão física >IEP para destreinados

Dyer & Crouch (1988)

23H e 47M (17-26 anos) estudantes

Corrida Dança ECR

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Academia Corrida: 40min, 3x/sem ; Dança Aeróbica: 60min, 3x/sem

ECR: 50min, 3x/sem Não mencionou intensidade Controle: Aula de Psicologia; Medida: Início e 6meses após

POMS: 3hpré, 10min pré, 10min pós, 3h pós ANOVA Medidas repetidas

POMS

Corrida: >V,<D, C que controle; <F, R, C que ECR ECR: >V, <R e C pós treino do que corrida

<V e >C após 6meses Dança: >V que corrida pós-treino Corrida melhor do que ECR a longo prazo

49

Continuação Tabela 1 Estudo Sujeitos Atividade Procedimentos Medida Resultados

Boutcher &

Landers (1988)

30H (20-36 anos)

estudantes corredores e

não-corredores

Corrida

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Corrida: 20min a 80-85% FCMáx

Controle: Leitura em repouso Medidas: 5min pré, 5 , 13 e 17min pós

ANCOVA medidas repetidas

SAI POMS

IEP EEG, FC, PA

Corrida: <Ansiedade, Humor sem mudança, >Atividade alfa; IEP = 14,5

Controle: Sem mudança Influência da aptidão física

Fillingim, Roth &

Haley (1989)

60M estudantes

inativos

Ciclismo

Design Pré-Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Ciclismo: 10min Alta, Baixa e Sem Distração

Medida: pré e pós - MANCOVA

POMS IEP

>T após alta distração <T após baixa ou moderada distração

Distração não alterou o humor nem o IEP

Jin (1989)

66H e M (16-75 anos)

Tai Chi Chuan

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Ambiente Prático Tai Chi : 60min Não mencionou intensidade

Medidas: pré e após MANOVA medidas repetidas

POMS

SAI Hormônios

< T, D ,R, F, C e <Ansiedade >Vigor < Cortisol após Tai Chi; > Noradrenalina durante

Roth (1989)

40H e 40M (17-24anos) ativos/inativos

Ciclismo

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Ciclismo: 20min a 57-67% FCMáx

Controle: Sentado em Repouso Medidas: pré, 15min pós - MANCOVA

POMS ECG

Ciclismo: <T e C Repouso: Sem mudança / >PA e FC após stress

Sem influência da aptidão física e gênero = Reativ. cardiovascular ao stress para os grupos

Kraemer et al. (1990)

13 He 10M treinados

destreinados

Corrida

Design Quasi-experimental / / Laboratório Corrida: 30min a 80% FCMáx

Medida humor: 30min pré, após

POMS Hormônios

Sem influência de Gênero e Aptidão Física <T, D, R,C e Melhor Humor após

Relação negativa Endorfina e Humor

Tharion et al. (1991)

9H e 9M

(19-35 anos) experientes

ECR

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Academia ECR: 3 treinos 5RM (carga total baixa) e 3 de 10RM (carga total alta)

Variou sets, intervalo (1 ou 3min) em cada intensidade Medida: pré, pós, 2h, 24h e 48h - ANOVA medidas repetidas

POMS

> F, D, T para 10RM com < intervalo > reps Menor intensidade promoveu melhoria no humor Homens mostraram melhor humor após ECR do

que as mulheres (>V e <C) Hassmén &

Blomstrand (1991) 106H

(30-47 anos) maratonistas

Corrida

Design Quase-Experimental / Mesmo grupo / Ambiente prático Corrida: 3h a 3h45min de maratona Não mencionou intensidade

Medida: pré, pós – MANOVA

POMS Glicose

Corrida: <V, T e R; >D, C, F Menos aptos: >D

Sem relação com Glicose

Wang et al. (1991)

22H

sedentários

ECR

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Experimental: 12 semanas de ECR; Sessão de 25min

Controle: repouso Não mencionou intensidade Medidas: pré, 10min pós

SAI Raiva

FC, PA

Raiva e PAS: sem mudança após sessão >PAD após ECR Ansiedade aumentou ou não se alterou após sessão

Respostas não relacionadas ao aumento de força

McGowan, Pierce & Jordan

(1991)

72H e M

estudantes

Corrida

ECR karatê

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático Corrida: 60min, ECR: 75min, 3sets, 10exerc.; Karatê: 50min,

Intensidade moderada Controle: assistir a uma aula de 60min - Medida: pré, pós

MANOVA medidas repetidas, ANCOVA, Teste t

POMS

Corrida: <T,C e DTH ECR: >F e <C

Karatê e Controle: Sem mudança Exercícios combinados: <T, D, C, R e HT

O’Connor, Morgan

& Raglin (1991)

22H e 18M

(17-20 anos) atletas

Natação

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Ambiente prático Natação: > volume de treinamento por 3 dias (± 11.000m/dia)

Medidas: pré diariamente ANOVA medidas repetidas

POMS

IEP, Cortisol

Alta intensidade piora o humor <V, >F e DTH

Sem mudança na performance, FC e Cortisol Sem diferença para gênero

50

Continuação Tabela1 Estudo Sujeitos Atividade Procedimentos Medida Resultados

Flory & Holmes

(1991)

18M

estudantes

Dança

Aeróbia

Design Experimental / Mesmo grupo / Ambiente prático Dança: 40min a 60-80%FCMáx

Controle: sem exercício, durante sua rotina Medida: pré e pós / ANOVA medidas repetidas

MAACL POMS FC, PA

Exercício: >V do que controle

Sem mudança para Ansiedade, D e F

Jin (1992)

48H e 48M experientes em Tai Chi

Tai Chi

Caminhada Meditação

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Tai chi: 60min; Caminhada: 60min a 6Km/h; Meditação: 60min

Controle: Leitura por 60min Medidas: pré, pós

Não mencionou intensidade

POMS SAI FC e

Hormônios

Tai Chi: >Vigor, <Ansiedade do que Controle >FC, Noradrenalina, adrenalina e dopamina e pior humor

após stress / < Cortisol para todos os grupos FC TaiChi = Caminhada

Melhora no humor independente do tratamento

O’Connor & Davis (1992)

12H

(19-27 anos) estudantes

Corrida

Design Experimental / Mesmo grupo / Corrida: 20min a 70% VO2máx em 4horários distintos

Medida: 10min pré, 10min pós, 20min pós MANOVA medidas repetidas

SAI IEP

Raiva Personalidade

< Ansiedade, Raiva, PAS e PAD pós exercício independente da hora do dia de realização do

exercício Sugere relação ansiedade e PA

Saklofske, Blomme &

Kelly (1992)

118

estudantes

Caminhada Relaxamento

Design Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático Caminhada: 10min Livre e 10min Controlada

Relaxamento: 10min de música; Controle: Medida: pré, 10min e 2hpós ANOVA

AD ACL

Personalidade

Relaxamento: <T Caminhada Controlada: >V Caminhada Livre: <T, >V

Mudanças independentes da personalidade

Szabo et al. (1993)

9H

(28-34 anos)

Ciclismo

Design Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Ciclismo: 60% VO2máx por 30min

Controle: assistir um vídeo por 30min Medida: pré, pós - ANOVA medidas repetidas

POMS SAI

FC, PA Hormônios

< Ansiedade exercício e controle <R exercício e controle

>V para exercício Sem diferença entre exercício e assistir um vídeo

Maroulakis & Zervas (1993)

99M (19-55 anos)

ativas

Dança aeróbia

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes: manhã e tarde Aeróbios 60-80%FCR por 30min; Controle: trabalho de secretárias

Medida: pré, pós, 24h pós ANOVA medidas repetidas

POMS

Dança: < T,D,R e C e >V até 24h independente da hora do dia

Grupo controle: permaneceu igual

Raglin, Turner

& Eksten (1993)

15H e 11M

(19-21 anos)

Ciclismo

ECR

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Ambiente prático ECR: 6 exercícios, 3x6-10reps, 70-80% 1RM, 1-2min interv., 30min

Ciclismo: 70-80%FCMáx, 30min Medidas: pré, pós, 20, 60min ANOVA medidas repetidas

SAI

PA, IEP

Sem diferença para gênero ECR: >Ansiedade após, =Ansiedade 20 e 60min

Ciclismo: <Ansiedade e PAS após 60min = IEP para ciclismo e ECR

O’Connor et al.

(1993)

14M

(19-27 anos) estudantes

ECR

Design Experimental / Mesmo grupo / Laboratório ECR: 30min a 40,60 e 80% 10RM

Controle: fora de sua rotina Medidas: pré, pós,15,30,45,60,75,90,105,120min após

MANOVA medidas repetidas

SAI IEP

PA, FC

Ansiedade reduziu somente após 90min para 60%

=PAS p/ 40%; >PAS p/ 60 e 80% Controle: sem mudança

No pós-treino, os sujeitos deixaram o laboratório

Steptoe, Kearsley &

Walters (1993)

72H

(20-35 anos) atletas/inativo

Ciclismo

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório

Ciclismo: 50 e 70%VO2máx por 20min Controle: ciclismo a 10W por 20min

Medida: pré, 2 e 30min após

POMS

IEP

<T somente após 30min; >V após exercício

Controle: Sem mudança Independentes da intensidade. Homens ativos

tiveram >redução de depressão do que sedentários

51

Continuação Tabela1 Estudo Sujeitos Atividad

e Procedimentos Medida Resultados

McGowan et al.

(1993)

10H e 10M estudantes

ECR

Design Quase-Experimental / Grupo único / Laboratório ECR: 3sets de 4reps a 80% 1RM, 4 exercícios

Medidas: pré, pós - Teste t

POMS Endorfina

Sem diferença p/ Gênero < Endorfina após ECR; Sem mudança no Humor

Sem relação Humor e Endorfina

Nelson & Morgan (1994)

11M

estudantes

Ciclismo

Design Pré-Experimental / Grupos diferentes / Laboartório Ciclismo: 40, 60 e 80% VO2máx

Medida: pré, 5min pós, 20min pós ANOVA medidas repetidas

Depressão POMS

O grupo depressivo apresentou < D e DTH 5min e 20min pós exercício. Sem mudança para não-

depressivos. Sem influência da intensidade

Pierce & Pate (1994)

16M

(57-71 anos)

Dança aeróbia

Design Pré-Experimental Dança aeróbia por 75min Não mencionou intensidade

Medida: pré, pós ANOVA medidas repetidas

POMS

<T, D, R, F e >V após exercício

Petruzzello &

Landers (1994)

19H

(20-25 anos)

Corrida

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Corrida: 75% VO2máx por 30min

Medida: pré, pós, 10, 20 e 30min pós MANOVA, Regressão, Correlação de Pearson

SAI

EEG, IEP

< Ansiedade 10, 20 e 30min após o exercício < Atividade alfa hemisfério esquerdo pré/pós

> atividade alfa região frontal do que na temporal Ansiedade estado e ativação HE: r = -0,70

Dishman, Farquhar &

Cureton (1994)

23H (18-31 anos) ativos/inativos

Ciclismo

Design Pré-Experimental / Grupos diferentes / Laboartório Ciclismo: 20min numa intensidade auto-selecionada (IEP = 11 a 14)

Medida: pré e pós - ANOVA

SAI IEP

Lactato

< Ansiedade pós-treino para grupo de maior aptidão física apenas. Grupo de menor aptidão exercitou com

maior intensidade relativa

Morris & Salmon (1994)

98H e 67M

(17-52 anos) corredores

Corrida

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Ambiente prático Corrida auto-selecionada: 15 a 30min

Medida: pré, pós ANOVA

Lista de

Adjetivos

> Humor positivo e < Humor negativo após Mulheres tiveram > benefício pois estavam piores

antes da corrida. Sem diferença entre gênero. A mudança é mais quantitativa do que qualitativa

Han & Yoon

(1995)

10H

(19-21 anos) destreinados

Corrida

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Intens: 53.5% do limiar anaeróbio por 35min e 68,5% por 25min

83.5% VO2máx por 15min Medida: 30min pré, 30min pós

POMS

Hormônios

Baixa Intens: > T e D > endorfina Moder Intens: <T, D; > adenocorticotrópicos

Alta Intens: >V; > endorfina e adenocorticotrópico Exercício no Limiar Anaeróbio = Humor positivo

Harte, Eifert & Smith (1995)

23H

Corredores meditadores

Corrida

Meditação

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório

Corrida: 15Km/h / Meditação: 1h / Controle: 1h sem atividade Medida: pré, pós, 30min pós ANOVA medidas repetidas

POMS

FC Hormônios

Corrida: >Humor positivo e Endorfina (r=.45) > Corticotropina e < Humor negativo

Meditação: >Humor positivo com > duração > Corticotropina Cortisol sem mudança Controle: Sem mudança / Sem diferença p/ Ap. Física

Koltyn et al.

(1995)

23H e 27M

(16-22 anos) estudantes

ECR

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático ECR: 50min, 2-3sets, 6-10reps, 7-10ex. Intensidade Auto-Selecionada

Controle: Repouso em aula teórica Medidas: pré, pós (5min) - ANOVA medidas repetidas

SAI PA

Sem mudança na ansiedade para ECR e Controle ECR: >PAS; Controle: <PAS

Sem diferença para gênero

Pronk, Crouse

& Rohack (1995)

22M

(30-66 anos)

Teste

máximo de corrida

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Medida: pré, 5min pós

Intensidade Progressiva Máxima ANOVA

POMS

(abreviado)

>F e Auto-estima <V, T

Efeito positivo do exercício máximo

52

Continuação Tabela 1 Estudo Sujeitos Atividade Procedimentos Medida Resultados

Petruzzello (1995)

18H

(19-22 anos)

Corrida

Design Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Corrida 15 min

Medida: pré, pós ANOVA

SAI FC

Saber da realização de exercício não mudou a ansiedade A situação de laboratório não mudou a ansiedade O exercício, mais do que a situação, diminuiu ansiedade

Tate & Petruzzello

(1995)

15H e 5M

(19-25 anos) estudantes

Ciclismo

Design Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Ciclismo: 30min a 55 ou 70% VO2máx

Grupo controle: sentado na bicicleta Medida: pré, durante, 5, 10, 20 e 30min pós

ANOVA medida repetida

SAI ADACL

IEP FC

> Ansiedade e Afeto Negativo durante o exercício < Ansiedade após 70% VO2máx > Afeto Positivo para 55 e 70% VO2máx Grupo controle: Sem mudança ou < Afeto positivo Sem diferença para gênero / IEP = 14 para 70%

Tuson, Sinyor & Pelletier (1995)

33H e 32M

(19-30 anos) estudantes

Corrida

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Corrida: 25, 50 e 75% VO2máx por 30min

Controle: Leitura por 30min Medida: pré, 5, 17 e 30min pós

ANOVA para escores pré / Contrastes Específicos

MAACL IEP, FC

Sem efeito para aptidão física ou gênero Intensidade Subjetiva = Grupo com >Afeto Positivo não mudou após treino moderado e diminuiu após treino intenso / Grupo com < Afeto Positivo aumentou após treino moderado / Grupo controle: piorou humor Intensidade objetiva = sem mudança no humor

McAuley,

Mihalko & Bane (1996)

16H e 18M estudantes

Corrida Atv. Aeróbia

Escolhida

Design Experimental / Mesmo grupo / Laboratório-Ambiente prático Corrida: Laboratório ou ambiente natural por 25min IEP=14-16 Controle: Leitura por 40min

Medida: pré, durante e 15min pós / MANOVA medidas repetidas

SAI IEP

Sem diferença para Gênero Corrida: <Ansiedade independente do local de prática; Controle: sem mudança > Ansiedade durante o exercício e < após

Yeung & Hemsley

(1996)

66 M

(21-61 anos)

Ciclismo

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Ciclismo: 15min alta expectativa de mudança (Intens. Moderada) 15min baixa expectativa de mudança (Intens. Moderada)

Controle: repouso Medida: pré, pós, 24h pós, 48h pós / ANOVA / Correlação

PANAS

Personalidade

> Humor Positivo para exercício do que controle < Humor Negativo para exercício e controle

Sem influência da expectativa de mudança Influência dos Traços de Personalidade

> Personalidade negativa = >melhora do humor

Raglin & Wilson (1996)

10H e 5M

ativos

Ciclismo

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Ciclismo: a 40, 60 e 70% VO2máx por 20min

Medida: pré, 5, 60 e 120min pós ANOVA medidas repetidas

SAI

< Ansiedade após exercício

Independente da intensidade; atraso na resposta para alta intensidade

McGowan, Talton & Thompson

(1996)

39H e M

estudantes

ECR

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático ECR: 4sets, 4reps a 80% 1RM

Controle: aula de Psicologia do Esporte Medida: pré, pós / ANOVA e Correlação

POMS

FC

ECR: < T, D e R Grupo controle: sem mudança

DTH, T e D inversamente correlacionadas com FC (r= -.37 a .40)

Gauvin, Rejeski &

Norris (1996)

86M

(22-42 anos)

Auto-

sugerida

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Ambiente prático Intensidade e Tipo auto-selecionados

Medida: pré, pós Teste t / Regressão

EFI

Afeto Positivo e Negativo

> Engajamento positivo, Revitalização, Tranqüilidade e Afeto Positivo / < Afeto Negativo

Quanto pior o humor pré-teste, maior melhora Sem influência da Aptidão Física

Fechio & Brandão

(1997)

20H e M

(17-43 anos)

Natação

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Ambiente prático Natação: 50min / Não mencionou intensidade

Medida: pré, pós / Teste t

POMS

>V <T, D, R, F, C, DTH

53

Continuação Tabela 1 Estudo Sujeitos Atividade Delineamento Medida Resultados

Garvin, Koltyn & Morgan (1997)

60H

(18-26 anos) sedentários

ECR

Ciclismo Relaxamento

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Laboratório ECR: 70%1RM por 50min; Ciclismo: 70% VO2máx, 50min

Relaxamento: 50min; Controle: sala com música 50min Medidas: pré, 5-10min pós e 60min pós

ANOVA medidas repetidas / Correlação Pearson

SAI

Lactato

<Ansiedade para Relaxamento e Controle após <Ansiedade 1h após ciclismo

ECR: Sem mudança na ansiedade; >Lactato Sem correlação Ansiedade e Lactato

Turner, Rejeski & Brawley (1997)

46M

(18 –19 anos)

estudantes

Dança

Design Pré-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático Dança: 60min com suporte social e sem suporte social

Intensidade Moderada Medida: pré, 10min pós

Análise de Covariância e Teste t

EFI

Auto-eficácia

Grupo com Suporte Social: >Revitalização, Engajamento Positivo e Auto-eficácia Mudanças de Humor independentes

da auto-eficácia, mas associadas ao suporte social do instrutor

Petruzzello & Tate (1997)

15H e 5M

(19-25 anos) estudantes

Ciclismo

Design Quase-Experimental / Mesmo Grupo / Laboratório Ciclismo: 55% e 70% VO2máx por 30min Controle: Sentado na bicileta por 30min

Medidas: pré, durante, 5, 15 e 25min após ANOVA e Regressão

EEG, SAI,

ADACL FC, IEP

Sem diferença para gênero e na região parietal > ativação frontal no HE pré-exercício > redução de

ansiedade pós exercício < Ansiedade e atividade alfa p/ 70% após 30min,

com maior ativação no HE Sem mudança na assimetria frontal

Van Landuyt et al.

(1998)

52H e M 135H e M

Caminhada

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático Caminhada: 10min intensidade auto-selecionada / Controle: leitura

Medida pré, pós

FS, SAI AD-ACL PANAS

Caminhada: >Vigor, >Ativação e <Ansiedade Controle: Sem mudança

Watt (1998)

18M e 10H

Corrida

Ciclismo Ergometria de braços

Design Quase-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Corrida, Ciclismo e Ergometria de Braço: 20 min a 40,60,80% VO2máx

Controle: Fazer um lanche e Rotina diária Medidas: pré, durante e após

ANOVA e MANOVA medidas repetidas

SEES

Exercício moderado: > Afeto Positivo < Afeto Negativo > Intensidade = decréscimo no humor

Exercícios com os braços = < Afeto Positivo > Afeto Negativo

O’Connor & Cook

(1998)

6H e 5M

(18-30 anos) estudantes

ECR

Design Pré-Experimental / Mesmo grupo / Ambiente Prático ECR: 24min de exercício estático ou dinâmico c/ 10% 1RM

Medidas: pré, 3, 13 e 23min após ANOVA medidas repetidas

SAI

FC, PA, IEP

Sem influência de gênero < Ansiedade mas não significativa

< PAS Independente do tipo de contração muscular

Berger & Owen

(1998)

41H e 50M universitário

s

Corrida

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático Corrida: 55, 75 e 79% FCMáx por 20min

Controle: Aula de Ciência da Saúde Medidas: pré, 20min após MANOVA c/ ANOVAs

POMS

<T, D, F, C, R e >V Melhora no humor independente da intensidade

< Fadiga para mulheres

Rudolph &

McAuley (1998)

13 corredores

13 não-corredores

(19-22 anos)

Corrida

Design Quasi-Experimental / Grupos diferentes / Laboratório

Corrida: 30min a 60% VO2máx Medidas: pré, durante, 10 e 30min após

ANOVAs

FS IEP

Cortisol

> cortisol para ambos durante o exercício > IEP para não-corredores

> Afeto negativo para não corredores durante a corrida / Sem mudança para corredores

Afeto positivo e cortisol: r = - 0,29

54

Continuação Tabela 1 Estudo Sujeitos Atividade Delineamento Medida Resultados

Focht & Koltyn (1999)

51H e 33M experientes

inexperientes

ECR

Design Experimental / Grupos diferentes / Laboratório ECR: 30min; 50%1RM - 3x 12-20reps c/ 45 a 75s 80%1RM - 3x 4-8reps c/ 120 a 150s descanso

Controle: Assistir um vídeo Medidas: pré, pós, 20,60,120,180 - ANOVA medidas repetidas

SAI

POMS PA, FC

Sem diferença p/ gênero e experiência ECR 50%: <V até 20min após; <D, R, C; < Ansiedade 180min após; <PAD e >FC até 20min ECR 80%: <R 180min após; >PAS até 20min pós Controle: sem mudança; Sem relação PA e humor

Gonzales-Bono et

al. (1999)

16H

(21-25 anos) jogadores

Basquete

Design Pré-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático Jogo competitivo de basquetebol: análise da influência do resultado

Medida: pré, pós ANOVA, Correlação

POMS

Hormônios

Basquete competitivo: > humor negativo, <V e >R, T, D, F nos perdedores do que nos vencedores

Sem relação humor e hormônios, exceto Cortisol e Vigor: r = 0,79

Cox, Thomas &

Davis (2000)

24H

(20-36 anos) ativos

Corrida e

Step

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Corrida: 67%FCMáx ou 83%FCMáx por 30min

Step: 67%FCMáx ou 83%FCMáx por 30min Medidas: pré, 5, 30 e 60min pós - ANOVA medidas repetidas

SAI IEP

<Ansiedade 30 e 60min após o exercício

Independente da intensidade e do tipo

Parfitt, Rose &

Markland (2000)

12H e 14M

(18-30 anos) ativos

Corrida

Design Quase-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Corrida: 20min a 65% VO2máx e Auto-selecionado

Medidas: antes, durante e 5min após ANOVA medidas repetidas

SEES, IEP Motivação Intrínseca

Sem mudança no Bem-Estar, Distress e Fadiga em relação à intensidade prescrita ou preferida

> alteração para sujeitos com menor Bem-Estar e maior Distress pré-treino

Cox et al. (2001)

24H

(20-36 anos) ativos

Corrida e

Step

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Corrida: 67%FCMáx ou 83%FCMáx por 30min

Step: 67%FCMáx ou 83%FCMáx por 30min Medida: pré, 5, 30 e 60min pós - MANOVA medidas repetidas

SEES

FC, IEP

> FC e >IEP para maior intensidade > Bem-estar e < Distress e Fadiga após exercício

> Fadiga após step do que corrida Independente da intensidade

Hansen, Stevens & Coast (2001)

14M (20-26 anos) estudantes

Ciclismo

Design Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Ciclismo: 10, 20 e 30min a 60% VO2máx; Controle: sentado 30min

Medida: pré, pós - ANOVA medidas repetidas

POMS

Foram testados no mesmo dia e horário da semana 10min: >V, <F e DTH / 20 e 30min: <C

Sem influência expectativa de mudança, aptidão física

Toskovic (2001)

20H e 20M (18-21 anos)

Taekwondo

Design Quase-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático Taekwondo: 75min de treino / Controle: 75min de leitura

Medida: pré, pós – ANCOVA - Não mencionou intensidade

POMS

Sem diferença p/ gênero Taekwondo: <T, D, F, R, C, DTH; e >V

Controle: sem mudança

Petruzzello, Hall & Ekkekkakis

(2001)

38H e 31M

(18-24 anos) estudantes

Corrida

Design Pré-Experimental / Grupos diferentes / Laboratório Corrida a 75% VO2máx por 30min p/ 2 grupos: alta e baixa aptidão

Medidas: pré, pós, 10, 20 e 30min pós MANOVA e Regressão Hierárquica

AD ACL

SAI EEG

> Energia/Vigor até 30min após para > Aptidão física / > Ansiedade e Tensão após, retornando 10min pós / =EEG para os grupos / Sem diferença para gênero > Assimetria EEG = > Energia pós-exercício,

Lane & Lovejoy

(2001)

37H e 43M

(23-31 anos)

Dança aeróbia

Design Quasi-Experimental / Grupos diferentes / Ambiente prático Dança aeróbia: 60min p/ 2grupos: depressivos e não-depressivos

Não mediu intensidade Medidas: 15min pré, pós - MANOVA

POMS-A

<R, C, F ,T e >V / < D principalmente para o grupo depressivo

Grupo depressivo reportou >R, F, C, T e <V pré

Oweis & Spinks

(2001)

21M

(51-56 anos) sedentárias

Ciclismo

Design Quase-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Ciclismo: 14min a 45, 60 e 75% VO2máx Controle: 14 min sem resistência no pedal

Medidas: durante e após – MANOVA medidas repetidas

AD ACL FS

FC, PA IEP

45, 60% e controle: sem diferença 75% : >T e <Energia e < Afeto positivo

Exercício não melhorou o desempenho psicológico

55

Continuação Tabela 1 Estudo Sujeitos Atividade Delineamento Medida Resultados

Nabetani &

Tokunaga (2001)

15H

(22-25 anos) estudantes

Corrida

Design Quase-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório 10 ou 15min corrida / Intensidade auto-selecionada (80%FCMáx)

Medidas: pré, durante e após ANOVA medidas repetidas

MCL-S1

>Agradabilidade e Relaxamento e <Ansiedade para ambos os grupos

A melhora é maior quanto pior o estado de humor

O’Halloran, Murphy & Webster (2002)

25H e 25M

(21-32 anos) corredores

Corrida

Design Quase-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório 60min de corrida / Mediu expectativa de mudança no humor

Não citou intensidade Medida: pré, 25, 40 e 50min durante e 10min após - Correlação

POMS-Bipolar

As mudanças no humor durante e após o exercício possuem moderada relação com a expectativa de

mudança dos sujeitos

Hall, Ekkekakis & Petruzzello (2002)

17H e 13M 20-28 anos

universitários

Corrida

Design Quase-Experimental / Grupo único / Laboratório Corrida na esteira até a exaustão

Intensidade: início, limiar ventilatório e final do exercício Medidas: pré, durante, 2min após, 10 e 20min após - MANOVA

FS, IEP

AD ACL

A passagem para o metabolismo anaeróbio promoveu < Valência Afetiva e > Ativação de Tensão / Após o término do

exercício e durante a recuperação houve > Ativação Energética e Valência Afetiva

Parfitt & Gledhill

(2003)

10H e 10M

(19-22 anos) pouco ativos

Corrida

Ciclismo Remador

Design Quase-Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Exercício: 20min condição de baixa e alta preferência

Intensidade 70% FCMáx Medidas: pré, durante e 5min após – ANOVA medidas repetidas

SEES

FC, IEP

Sem diferença para gênero >IEP, Distress e Fadiga pós exercício menos preferido

> Bem-estar após exercício mais preferido

Daley & Maynard

(2003)

14H e 12M

(29-49 anos) ativos

Aeróbios

Design Experimental / Mesmo grupo / Laboratório Exercício: Ciclismo e Auto-escolha a 75-80% FCMáx por 30min

Controle: Assistir televisão Medidas: pré, durante e 5min após

PANAS

IEP

Sem diferença para gênero = IEP para ambas condições

< Afeto Positivo e > Afeto Negativo após atividade não-escolhida (ciclismo)

(H: Homen; M: Mulher; T: Tensão; D: Depressão; R: Raiva; V: Vigor; F: Fadiga; C: Confusão Mental; DTH: Distúrbio Total de Humor; HE: Hemisfério Esquerdo; >: Aumento; <: Diminuição; ECR: Exercício Contra-Resistência; FC: Freqüência Cardíaca; PA: Pressão Arterial; IEP: Índice de Esforço Percebido; SAI: State Anxiety Inventory; POMS: Perfil dos Estados de Humor; MAACL: Multiple Affect Adjective Checklist; PANAS: Positive Affect and Negative Affect Schedule; AD-ACL: Activation-Deactivation Adjective Checklist; SEES: Subjetive Exercise Experiences Scale; EFI: Exercise Feeling Inventory; FS: Feeling Scale; MCL-S1: Mood Check List-Shortform1)

56 2.2.3 POSSÍVEIS MECANISMOS DE REGULAÇÃO DO HUMOR APÓS O

EXERCÍCIO

Uma das questões que mais desafiam os pesquisadores na temática do exercício e

saúde mental é se ele causa as mudanças psicológicas ou somente está associado a elas. De

acordo com Dishman (1995), para aceitar o exercício como causa da saúde mental é preciso

que os estudos possuam consistência, dose-resposta e plausibilidade biológica. A consistência

e a relação dose-resposta, segundo o autor, ainda não suportam a causalidade. A

plausibilidade biológica tem sido testada e debatida por diversos autores através de hipóteses

biológicas, psicológicas e neurobiológicas, que têm tentado explicar como e por que o

exercício melhora o humor (Dishman, 1995; Ekkekakis & Petruzzello, 1999; Morgan, 1985;

Petruzzello et al., 1991; Thorén et al., 1990; Weinberg & Gould, 2001; Yeung, 1996).

As hipóteses psicológicas incluem: distração, a sensação aumentada de autocontrole, o

sentimento de auto-eficácia, as interações sociais, a melhoria da auto-estima e a expectativa

de mudança (Dishman, 1995; Petruzzello et al., 1991). A hipótese da distração preconiza que

a interrupção do stress cotidiano seria o fator responsável pela melhoria do humor; a

oportunidade de contato e interação com outras pessoas também estaria relacionada; por outro

lado, mecanismos cognitivos como sensação de auto-controle, auto-eficácia e auto-estima

advindos de um programa de treinamento físico estariam envolvidas na melhoria do estado de

humor. Pessoas com maior habilidade para realização dos exercícios têm uma menor

percepção de esforço e maior controle sobre a situação, o que poderia favorecer um efeito

psicológico positivo. Alternativamente, as pessoas podem se sentir bem após o exercício

porque elas esperavam este efeito do exercício, acreditando que ele melhora o humor.

57 Entretanto, essas hipóteses isoladamente não oferecem consistência na explicação do

fenômeno.

No modelo neurobiológico, as mudanças afetivas através do exercício parecem estar

associadas ao aumento e regulação de neurotransmissores (hipótese das monoaminas).

Segundo Morgan (1985), há evidências de que os neurotransmissores noradrenalina e

serotonina se encontram diminuídos em pessoas depressivas. A hipótese das monoaminas

preconiza que o exercício poderia regular o sistema cerebral monoaminérgico e o eixo

hipotalâmico-pituitário-adrenal, através do aumento desses neurotransmissores, promovendo

uma melhoria do humor. Chaouloff (1997) teoriza que o sistema central serotonérgico pode

ser o link entre o exercício e os efeitos positivos no humor. Embora as evidências tenham

origem em estudos com animais, a hipótese das monoaminas é possível de ser suportada em

humanos.

As hipóteses ancoradas num modelo biológico incluem: aumento da temperatura

corporal (hipótese termogênica), aumento do fluxo sanguíneo cerebral e liberação de

endorfina. Dentre elas, a hipótese da liberação de endorfinas é uma das mais comuns

explicações para as alterações psicológicas induzidas pelo exercício, embora ainda não

sustentada (Morgan, 1985; Petruzzello et al., 1991; Thorén et al., 1990).

Muitos dos efeitos do exercício sobre a saúde mental têm sido atribuídos a uma

estimulação dos pepitídeos opióides endógenos, como a beta-lipotropina, beta endorfina e

dinorfina. A hipótese das endorfinas preconiza que o exercício induz uma maior produção de

beta-endorfina, hormônio que reduz a sensação de dor e promove euforia, que estaria

associada a efeitos positivos sobre o humor (Thorén et al., 1990). O nível de endorfina

plasmático durante o exercício pode aumentar até cinco vezes o nível de repouso. Além disso,

a liberação de endorfinas estaria envolvida na regulação de outros hormônios, como a

corticotropina, as catecolaminas e o cortisol. De acordo com Morgan (1985), o primeiro

58 estudo sobre a liberação de endorfina após o exercício, realizado em humanos, foi publicado

na década de 80. Até então, os estudos eram feitos com animais. Duas linhas de pesquisa

surgiram: uma que mensurava a endorfina plasmática e outra que utilizava o antagonista

Naloxona, o qual bloqueia a ação da endorfina. Os estudos ainda são inconsistentes sobre os

seus efeitos no estado de humor, sendo a intensidade de esforço um dos fatores intervenientes.

No exercício aeróbio, Han & Yoon (1995) verificaram que, abaixo do limiar

anaeróbio, o aumento não significativo de endorfina estava diretamente relacionado ao

aumento de tensão e depressão, enquanto que, na intensidade correspondente ao limiar

anaeróbio ou acima dele, havia um aumento significativo de endorfina e corticotropina,

acompanhado de uma diminuição de tensão, depressão e aumento do vigor. Os achados de

DeVries et al. (2000) suportam a noção de que a endorfina aumenta significativamente após

esforços intensos (80% do VO2máx), possuindo relação com a liberação de adrenalina e

noradrenalina em função da intensidade, alcançando um pico de ação após o esforço máximo

de 100% VO2máx, mantendo-se acima do nível de repouso até 30min após o esforço. Harte,

Eifert & Smith (1995) encontraram uma associação positiva entre o nível de endorfina e

corticotropina e o humor positivo, após uma hora de corrida a 15Km/h. No entanto, Harbach

et al. (2000) salientam que a verdadeira endorfina (β-endorfina 1-31), livre de derivados que

são secretados junto com ela, não tem sido mensurada nos estudos. Os autores verificaram

que somente em 50% de uma amostra de 14 sujeitos foi encontrada β-endorfina 1-31 após

esforço intenso. Os achados de Kraemer et al. (1990) sugerem que o aumento da concentração

de endorfina periférica pode não ser o maior responsável pela melhoria do humor; os autores

encontraram uma relação positiva entre o mal humor e os níveis de endorfina e corticotropina

antes do exercício e baixa relação após o treino. A melhoria no humor para os homens foi

associada com um decréscimo dos níveis de endorfina e corticotropina.

59 No exercício contra-resistência, os resultados também são contraditórios. Uma sessão

de ECR a 80% 1RM com 4 reps promoveu uma diminuição do nível de endorfina plasmática

após o treino (McGowan et al., 1993), enquanto Kraemer et al. (1993) demonstraram

aumentos de endorfina após protocolos de 10RM com intervalos longos de recuperação entre

as séries. Entretanto, outros estudos não observaram associação entre humor e endorfina

plasmática (Farrel et al., 1987; Kraemer et al., 1990; McGowan et al., 1993; Williams &

Getty, 1986).

A hipótese da endorfina, portanto, foi suportada e rejeitada por alguns estudos,

mostrando resultados equivocados, devendo ser testada em futuras investigações. Entretanto,

sabe-se que sua liberação é maior após esforços intensos de curta duração, mas que em

atividades de longa duração e de baixa-moderada intensidade parece haver uma liberação de

endorfina relacionada com sentimentos de euforia e relaxamento. A produção de endorfina se

dá em diferentes locais, sendo encontrada não somente no plasma, mas também no cérebro,

havendo pouca relação entre a endorfina plasmática e a cerebral. Além disso, existem diversos

tipos de endorfina, de maneira que métodos específicos devem ser usados na sua mensuração,

e que o seu tempo de permanência no plasma é curto. Essas considerações metodológicas

devem ser observadas em futuros estudos.

Uma explicação psicofisiológica para determinar os mecanismos dos efeitos

psicológicos do exercício tem sido proposta por Hatfield & Landers (1987). Estes autores

defendem a hipótese da lateralização cerebral, a qual preconiza que o exercício pode

influenciar diferentemente o grau de ativação dos dois hemisférios cerebrais. De acordo com

esta hipótese, o efeito psicológico do exercício se deve ao grau de ativação da região anterior

do córtex cerebral, em que o aumento da PA e da FC, durante o exercício, promove um

aumento preferencial de ondas alfa no hemisfério direito (HD) em relação ao hemisfério

esquerdo (HE), gerando respostas emocionais positivas, como a redução da ansiedade. A

60 atividade alfa possui uma relação inversa com a ativação, de forma que menor ativação no

HD significa maior atividade alfa. Dessa maneira, a assimetria no eletroencefalograma de

repouso (EEG), maior ativação no hemisfério esquerdo em relação ao direito, pode ser um

indicativo de uma predisposição para responder positivamente ao exercício.

Boutcher & Landers (1988) demonstraram que a atividade eletroencefalográfica muda

após uma sessão de exercício aeróbio a 80-85% FCMáx, havendo um aumento de ondas alfa

acompanhado de uma diminuição na ansiedade, o que suporta a relação psicofisiológica.

Estudos recentes têm sustentado a teoria da lateralização cerebral. Petruzzello & Landers

(1994) verificaram que após 30min de corrida a 75% do VO2máx houve uma maior ativação

da área frontal do hemisfério cerebral esquerdo ou diminuição da atividade alfa nesta região,

havendo uma relação entre a assimetria e a ansiedade de - 0,70, mostrando que quando a

ansiedade diminuiu, a atividade alfa no hemisfério direito aumentou. Os resultados

encontrados por Petruzzello & Tate (1997) corroboram os estudos anteriores, acrescentando a

influência da intensidade de esforço. Os autores verificaram que uma maior assimetria pré-

exercício predizeu aumento do afeto positivo e diminuição de ansiedade após treino de 70%

do VO2máx quando comparado com de 50% e menor percepção de esforço. Petruzzello, Hall

& Ekkekakis (2001) acrescentaram a influência da aptidão física na assimetria

eletroencefalográfica frontal de repouso, como um marcador biológico do estilo afetivo do

indivíduo. Os autores reportaram que a assimetria foi preditora do nível de energia pós-

exercício somente nos indivíduos com maior aptidão física, sugerindo que mecanismos

diferentes podem induzir respostas afetivas nos indivíduos com diferentes níveis de aptidão

física.

Portanto, o consenso existente é de que ainda não existe comprovação do mecanismo

real responsável pelas alterações no humor induzidas pelo exercício. Em geral, sugere-se que

essas alterações sejam devidas a uma interação de mecanismos psicológicos e fisiológicos, e

61 não devido a um único fator. A abordagem psicofisiológica, através da teoria da lateralização

cerebral, tem recebido evidências empíricas, sendo uma hipótese plausível para a explicação

dos mecanismos envolvidos na alteração do humor pelo exercício.

2.3 PRESSÃO ARTERIAL

A pressão arterial (PA) pode ser definida como a pressão exercida pelo sangue contra

o interior das paredes arteriais. A PA é maior quando o coração se contrai (sístole),

caracterizando a Pressão Arterial Sistólica (PAS), e menor quando o coração repousa

brevemente entre as batidas (diástole), caracterizando a Pressão Arterial Diastólica (PAD)

(Foss & Keteyan, 2000). A PA é um dos fatores representativos da hemodinâmica do sistema

circulatório, estando sujeita a alterações por diversos fatores, entre eles o exercício físico. O

método auscultatório, usando um estetoscópio e um esfigmomanômetro, tem sido o mais

utilizado na mensuração da PA em ambientes de exercício (Kelley & Tran, 1995).

Atualmente, somente pressões abaixo de 120/80mmHg (PAS/PAD, respectivamente)

são consideradas ótimas. Após a nova classificação de PA, feita pela Organização Mundial da

Saúde, em 1999, uma PA de 130-139/85-89mmHg é considerada normal alta. Quando a PA se

encontra cronicamente elevada em situação de repouso em níveis igual ou maior que

140/90mmHg caracteriza-se um quadro de hipertensão independente da idade (Blumental et

al., 2002).

A hipertensão é um dos mais comuns problemas de saúde pública, atingindo milhões

de pessoas no mundo, estando associada, direta ou indiretamente, com alto índice de

morbidade e mortalidade, acarretando elevados custos individuais, econômicos e sociais

62 (Blumental et al., 2002). Os problemas clínicos relacionados à pressão alta incluem

insuficiência cardíaca, insuficiência renal, acidente vascular cerebral e ataque cardíaco. Por

isso, a pressão arterial alta é considerada um dos fatores de risco para o desenvolvimento de

doença arterial coronariana, devendo, dessa forma, ser controlada.

De acordo com ACSM (1993), cerca de 90-95% dos casos de hipertensão possuem

causa desconhecida, sendo denominada hipertensão essencial. Entretanto, sabe-se que a

inatividade física é o maior fator de risco para a doença cardiovascular. Pessoas menos ativas

e menos aptas possuem um risco de 30 a 50% maior de desenvolver hipertensão do que

pessoas mais ativas (Whelton et al., 2002).

Muitas vezes, o indivíduo é hipertenso e não sabe. O tratamento para a redução da PA

inclui alternativas farmacológicas (uso de medicamentos anti-hipertensivos) e

comportamentais (exercício, modificação na dieta, biofeedback e regulação do stress). Nos

casos de hipertensão severa, o uso de medicamentos é a alternativa mais adotada, embora

tenha seus efeitos colaterais. Por outro lado, por ser uma alternativa simples, de baixo custo e

saudável, o exercício tem sido amplamente empregado como uma forma de prevenção e de

tratamento da hipertensão (Blumental et al., 2002).

Após uma sessão de exercícios, a PA pode cair abaixo dos níveis pré-exercício,

resultando numa hipotensão, que pode alcançar reduções que variam de 18 a 20mmHg e de 7

a 9mmHg nas pressões sistólica e diastólica, respectivamente, mantendo-se por cerca de 12 a

16 horas (Thompson et al., 2001). Esse fenômeno, denominado Hipotensão Pós-Exercício

(HPE), foi identificado há 30 anos e tem sido ainda objeto de estudo de muitas pesquisas.

Portanto, a pressão arterial é uma variável fisiológica importante na homeostase

corporal devendo ser mantida dentro de valores considerados normais. O exercício físico

regular e, conseqüentemente, o aumento da aptidão física são estratégias não-farmacológicas

que auxiliam na regulação da PA e reduzem o risco de hipertensão no indivíduo.

63 2.3.1 EFEITOS DO EXERCÍCIO SOBRE A PRESSÃO ARTERIAL

Sabe-se, atualmente, que diferentes características do exercício, como tipo, freqüência,

intensidade e duração promovem respostas hipotensivas diferenciadas e que os pesquisadores

buscam estabelecer uma relação de dose-resposta entre exercício e pressão arterial. A

intensidade e o tipo do exercício e seus efeitos agudos na PA serão objeto de uma análise

pormenorizada neste momento. No entanto, corroborando Thompson et al. (2001), entende-se

que os efeitos do exercício sobre a pressão arterial, assim como em outras variáveis,

acontecem tanto de forma aguda quanto crônica, de maneira que não devem ser vistos de

forma isolada, ou seja, a repetição de respostas hipotensivas agudas promovem reduções

crônicas na PA. Na Tabela 2, observam-se estudos e posicionamentos sobre os efeitos

agudos e crônicos do exercício sobre a PA em indivíduos normotensos e hipertensos.

Num contexto de dose-resposta, uma revisão de literatura sustenta que a redução

aguda da PA é independente da intensidade relativa de esforço, enquanto que as reduções a

longo prazo parecem ser maiores para intensidades moderadas do que para maiores

intensidades (Shephard, 2001). Neste último caso, porém, trata-se mais de uma recomendação

para evitar-se treinamentos intensos do que uma superioridade de resposta para intensidade

moderada.

O posicionamento oficial do American College of Sports Medicine (1993) sobre

atividade física e hipertensão estabelece que as atividades físicas aeróbias de intensidade

moderada (40 a 70% do VO2máx) promovem reduções de 10mmHg na pressão arterial de

repouso em indivíduos hipertensos tanto quanto intensidades maiores. As metanálises, que

avaliaram estudos de treinamento, revelaram que tanto indivíduos normotensos quanto

hipertensos, praticando tanto o exercício aeróbio quanto exercício contra-resistência, têm

64 demonstrado redução na pressão arterial de repouso (Keley & Kelley, 2000; Kelley & Tran,

1995; Whelton et al., 2002). Kelley & Tran (1995) encontraram reduções de 4,4mmHg e

3,2mmHg na pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente, em indivíduos

normotensos que praticaram exercício aeróbio numa intensidade de 65 a 89% FCMáx. Essa

resposta hipotensiva parece ser independente do gênero, apesar de a maioria dos estudos

terem utilizado amostras do gênero masculino. Num outro estudo, Keley & Kelley (2000),

analisando estudos de treinamento contra-resistência com 30 a 90% de 1RM de intensidade,

encontraram uma redução de 3,3mmHg e 3,2mmHg na PAS e PAD, respectivamente. Tanto

protocolos convencionais com maior carga e intervalo de recuperação quanto protocolos em

circuito com menor carga e tempo de recuperação foram eficazes na redução da PA.

Existe, porém, diferença de resposta entre normotensos e hipertensos. Fagard (2001),

analisando apenas estudos randomizados e controlados, encontrou reduções de 3,4mmHg e

2,4mmHg para normotensos e de 7,4mmHg e 5,8mmHg para hipertensos, na pressão sistólica

e diastólica, respectivamente, após treinamento aeróbio com intensidade entre 40 a 70% da

performance máxima dos sujeitos. Whelton et al. (2002) corroboram o efeito hipotensivo do

exercício tanto em hipertensos e normotensos, acrescentando que este efeito é independente

do tipo e da intensidade do exercício aeróbio. Em relação ao ECR, sujeitos normotensos,

submetidos a um treinamento de 3 vezes por semana durante oito semanas, demonstraram

reduções de 9mmHg e 8mmHg na PAS e na PAD, respectivamente (Carter et al., 2003).

Portanto, os estudos que analisaram os efeitos crônicos do exercício sobre a PA

demonstraram uma redução significativa na pressão arterial sistólica e diastólica após

treinamentos com exercícios aeróbios e contra-resistência em diferentes intensidades, sendo

as maiores reduções encontradas nos sujeitos hipertensos.

Recentemente, o consenso resultante de um simpósio sobre dose-resposta relacionada

à atividade física e saúde, promovido pelo American College of Sports Medicine em 2001,

65 revelou que uma sessão aguda de exercício aeróbio numa intensidade entre 50 e 100%

VO2máx produz uma redução de 18-20mmHg na PAS e de 7-9mmHg na PAD em indivíduos

com hipertensão leve, havendo, todavia, evidência insuficiente para definir um efeito de dose-

resposta (Kesaniemi et al., 2001). Analisando os estudos que usaram a medida ambulatorial

da PA, que consiste no monitoramento constante da PA durante as atividades diárias dos

indivíduos num período de 24h em sujeitos hipertensos e normotensos, Thompson et al.

(2001) encontraram reduções de 2,1±4,6mmHg e 0,3±4,5mmHg para PAS e PAD,

respectivamente, que persistiram por 12-16h após o término do exercício. Esta variação de

resposta pode ser vista também nos estudos agudos da Tabela 2 que usaram o método

auscultatório. Observa-se uma divergência nos resultados quanto ao efeito do tipo e da

intensidade do exercício na pressão arterial, o que suporta os achados de Shephard (2001).

De acordo com a Tabela 2, em relação ao tipo de exercício, enquanto que os

exercícios aeróbios diminuíram (Raglin & Morgan, 1987; Porcari et al., 1988; Flory &

Holmes, 1991; Raglin, Turner & Ekstein, 1993; Taylor-Tolbert et al., 2000; Nami et al., 2000)

ou não modificaram (Szabo et al., 1993; Brownley, 1996) a PA, o exercício contra-resistência

promoveu diminuição (Hill et al., 1989; O’Connor & Cook, 1998; Focht & Koltyn, 1999),

aumento (O’Connor et al., 1993; Koltyn et al., 1995; Focht & Koltyn, 1999) ou nenhuma

mudança (Wang et al., 1991; Raglin, Turner & Ekstein, 1993; O’Connor et al., 1993;

O’Connor & Cook, 1998).

A redução da PA após o exercício aeróbio variou entre 4 a 9mmHg e de 3 a 6mmHg

para a PAS e PAD, respectivamente. Após o ECR, a redução na PA variou entre 3 a 10mmHg

e de 5 a 10mmHg para PAS e PAD, respectivamente. Embora a amplitude do efeito

hipotensivo seja semelhante entre o exercício aeróbio e o ECR, o exercício aeróbio demonstra

este efeito com mais freqüência nos estudos. Grande parte dos estudos com ECR não mostrou

mudança na PA, alguns até reportando aumentos significativos.

66 Em relação à intensidade, os resultados também são inconsistentes. Os exercícios

aeróbios com intensidade moderada promoveram diminuição na PAS (Flory & Holmes, 1991;

O’Connor & Davis, 1992; Raglin, Turner & Ekstein, 1993; Taylor & Tolbert, 2000) e

nenhuma mudança na PAD (Raglin, Turner & Ekstein, 1993) ou em ambas (Brownley, 1996;

Szabo et al., 1993). Browley (1996) verificou uma hipotensão que durou cerca de 5h, apenas

em indivíduos hipertensos. Alta intensidade promoveu redução na PA tanto quanto baixa e

moderada intensidade (Forjaz et al., 1998; Marceau et al., 1993). Estes dois estudos,

juntamente com o estudo de Porcari et al. (1988), corroboram a premissa de que a redução da

PA após exercícios aeróbios parece ser independente da intensidade. O mesmo não ocorrendo

com o ECR, onde O’Connor et al. (1993) não encontraram reduções na PA após sessões com

40, 60 ou 80% de 10RM.

Nos estudos com ECR, intensidade moderada promoveu diminuição na PA (Hill et

al.,1989) ou nenhuma mudança (Raglin, Turner & Ekstein, 1993); alta intensidade promoveu

elevação (Focht & Koltyn, 1999); e baixa intensidade promoveu diminuição na PAS e

nenhuma mudança na PAD (O’Connor & Cook, 1998) ou diminuição na PAD (Focht &

Koltyn, 1999). Um estudo não reportou a intensidade, não encontrando mudanças na PA

(Wang et al., 1991).

Nos dois estudos que utilizaram intensidade auto-selecionada, a redução de PA

ocorreu apenas para o exercício aeróbio quando comparado ao exercício contra-resistência

(Raglin & Morgan, 1987; Koltyn et al., 1995). Koltyn et al. (1995) encontraram aumento na

PAS de 5mmHg após ECR auto-selecionado.

Na Tabela 2, observa-se que a mensuração da intensidade para os exercícios aeróbios

foi de forma relativa utilizando um %VO2máx (Porcari et al., 1988; Szabo et al., 1993; Taylor

–Tolbert et al., 2000 ) e %FCMáx (Flory & Holmes, 1991; Raglin, Turner & Ekstein, 1993;

Brownley, 1996) ou auto-selecionada (Raglin & Morgan, 1987). Para o ECR, a intensidade

67 também foi expressa de forma relativa como %1RM (Hill et al., 1989; Raglin, Turner &

Ekstein, 1993; O’Connor & Cook, 1998; Focht & Koltyn, 1999), %10RM (O’Connor et al.,

1993), auto-selecionada (Koltyn et al., 1995) ou não foi reportada (Wang et al., 1991).

Alguns estudos mensuraram a PA somente antes e logo após o exercício (Wang et al.,

1991; Flory & Holmes, 1991; Szabo et al., 1993; Koltyn et al., 1995), enquanto que outros

acompanharam o seu comportamento ao longo de um período que variou de 1min a 72h

(Raglin & Morgan, 1987; Porcari et al., 1988; Hill et al., 1989; Raglin, Turner & Ekstein,

1993; O’Connor et al., 1993; Brownley, 1996; O’Connor & Cook, 1998; Focht & Koltyn,

1999; Taylor-Tolbert et al., 2000). Três dos 4 estudos que não demonstraram mudanças

mediram a PA somente após o exercício, enquanto os estudos que mediram a PA 10 minutos

ou mais após o exercício detectaram uma hipotensão.

Conclui-se, por esta revisão, que as características ótimas dos exercícios necessárias

para promover uma maior redução na PA ainda são inconclusivas, principalmente em relação

à intensidade do exercício. Os estudos de metanálise sobre os efeitos crônicos têm

demonstrado que o exercício aeróbio regular, assim como o ECR, reduz a pressão arterial

tanto em indivíduos hipertensos quanto em normotensos, embora a magnitude da redução

pareça ser maior em atividades aeróbias do que no ECR, e em hipertensos comparados com

normotensos. Estes estudos demonstram reduções que variam de –3mmHg a –10mmHg

para PAS e de –2mmHg a –10mmHg para PAD com exercícios aeróbios e ECR.. Em relação

ao tipo de atividade, aparentemente os exercícios aeróbios estariam associados com reduções

mais significativas na PA pós-exercício, enquanto que o ECR sugere resultados divergentes.

Observa-se uma tendência de mensuração da intensidade no exercício aeróbio através da

FCMáx, ajustada pela idade, devido a sua maior aplicabilidade prática e à importância de

medições da PA minutos após o término do exercício.

68 Tabela 2: Estudos e posicionamentos sobre os efeitos crônicos e agudos do exercício sobre a pressão arterial

Estudo Atividade Delineamento Resultados

Raglin & Morgan (1987)

Aeróbios

Efeito agudo Intensidade: auto-selecionada por 40min

Medida da PA: pré, pós, 20, 60, 120, 180min

Exercício: PAS= -9mmHg até 3h após PAD: -6mmHg até 2h após

Controle: <PAS até 20min após

Porcari et al. (1988)

Caminhada Corrida

Efeito agudo Intensidade: 35,50, 65%VO2máx ou auto-selecionada 40min

Medidas: pré, pós, pós banho, 120min após

PAS: -4mmHg até 2h após PAD: --3mmHg até 2h após Independente da intensidade

Hill et al. (1989)

ECR

Efeito agudo Intensidade: 70% 1RM por 14min

Medida da PA: 15pré, pré, pós, 1, 2, 15, 30, 60min

PA: -20mmHg imediatamente após, mantendo-se +baixa (-3mmHgPAS e –10mmHgPAD) por 60min.

Wang et al. (1991)

ECR

Efeito agudo-crônico Intensidade: não reportada Duração: 25min por 12 semanas

Medida da PA: pré, 10min pós

PAS: sem mudança após sessão de TCR PAD: aumentou após sessão de TCR

Flory & Holmes (1991)

Dança Aeróbia

Efeito agudo Intensidade de 60-80%FCMáx por 50min

Medida da PA: pré, pós

PAS: <2%

O’Connor & Davis (1992)

Corrida

Efeito agudo Corrida: 20min a 70% VO2máx em 4horários distintos

Medida: 10min pré, 10min pós, 20min pós

PAS: -4mmHg 10min após o exercício até 20min após, independente da hora do dia de realização do exercício PAD: -3mmHg

Szabo et al. (1993)

Ciclismo

Efeito agudo Intensidade: 60%VO2máx por 30min

Medida da PA: pré, pós

PA: Sem mudança

Raglin, Turner & Eksten (1993)

Ciclismo

ECR

Efeito agudo TCR e Ciclismo: 70-80% 1Rme 70-80%FCMáx por 30min

Medida da PA: pré, pós, 20, 60min

Ciclismo: PAS: -6,5mmHg até 60min / PAD: sem mudança

ECR: PAS e PAD: sem mudança

O’Connor et al. (1993)

ECR

Efeito agudo Intensidade: 40,60 e 80%10RM por 30min

Medida da PA: pré, pós,15,30,45,60,75,90,105,120min

PAS: >1min pós 60%; >1min até 15min pós 80% PAD: sem mudança PA não foi reduzida

Marceau et al. (1993) Aeróbia

Efeito agudo Intensidade: 50 ou 70% VO2máx

Decréscimo de 5mmHg para ambas intensidades

ACSM (1993)

Aeróbia

Posicionamento sobre Efeito crônico Intensidade: 40-70%VO2máx

Duração: 20-60min TCR em circuito pode ser auxiliar

PAS e PAD: -10mmHg

Koltyn et al. (1995)

ECR

Efeito agudo Intensidade: auto-selecionada por 50min

Medida da PA: pré, pós (5min)

TCR: PAS: +5mmHg Controle: PAS: -5mmHg

69 Continuação Tabela 2

Estudo Atividade Delineamento Resultados

Kelley & Tran (1995)

Aeróbia

Meta-análise sobre Efeito crônico em normotensos Intensidade: 30-96% FCMáx (M=77% FCMáx)

Duração: 10-90min (M=37min)

PAS –4,4mmHg PAD –3,2mmHg

Brownley (1996)

Ciclismo

Efeito agudo em normotensos e hipertensos Intensidade: 60-70% FCMáx por 20min Medida da PA: pré e durante 72h após

Hipertensos: <PA por 5h Normotensos: Sem mudança

Forjaz et al. (1998)

Ciclismo Efeito agudo

Intensidade: 30, 50 ou 80% VO2máx por 45min Decréscimos similares para as três intensidades

PAS: -5mmHg / PAD: -3mmHg

O’Connor & Cook (1998)

ECR

Efeito agudo Intensidade: 10%1RM, 24min c/ exercício estático/dinâmico

Medida da PA: pré, 3, 13 e 23min após

PAD: Sem mudança PAS: -10mmHg

Independente do tipo de contração

Focht & Koltyn (1999)

ECR

Efeito agudo Intensidade: 50% e 80%1RM por 30min

Medida da PA: pré, 1min pós, 20,60,120,180min

50%: PAD: -5mmHg até 20min 80%: PAS: +8mmHg 1min pós, retornando ao nível de repouso

após 20min Kelley & Kelley (2000) ECR Meta-análise sobre Efeito crônico em normotensos

Intensidade: 30-90%1RM / Duração: 20-60min PAS –3,3mmHg = -2% PAD –3,2mmHg = -4%

Harbach et al. (2000)

Corrida Subir

escadas

Efeito agudo 3Km de Corrida + subida de 8 andares de escada: Int. Máxima

Duração: ± 20min Medida: pré, pós, 15min após

PAS: - 3,6mmHg

Taylor-Tolbert et a.l. (2000)

Corrida

Efeito agudo em hipertensos Intensidade: 70% VO2máx por 45min Medida da PA: pré e durante 24h após

PAS: -7,4mmHg PAD: -3,6mmHg

Mudança permaneceu por 16h

Nami et al. (2000)

Ciclismo

Efeito crônico após 3meses Intensidade: 40-60% VO2máx por 1h, 3x/sem

Medida PA: pré e durante 48h pós, início e final do estudo

<PAS e PAD em hipertensos com menor PA durante o sono; Sem mudanças para aqueles sem diminuição da PA durante o sono

Fagard (2001)

Aeróbia

Meta-análise Efeito crônico normotensos e hipertensos Intensidade: 45-85% VO2máx

Duração: 30-60min

PAS: –3,4mmHg PAD: –2,4mmHg

Kelley et al. (2001)

Caminhada

Meta-análise Efeito crônico normotensos e hipertensos Intensidade: 45-86%VO2máx (M=63%% VO2máx)

Duração: 28-60min (M= 42min)

PAS: –3,0mmHg PAD: –2,0mmHg

Whelton et al. (2002)

Aeróbia Meta-análise Efeito crônico normotensos e hipertensos

Intensidade: baixa, moderada e alta PAS: –3,84mmHg PAD: –2,58mmHg

Polito et al. (2003)

ECR

Efeito agudo ECR: 6 e 12RM

Medida: pré, pós, e durante 60min após

PAD: Sem mudança para treino de 12RM e redução para 6RM até 20min PAS: Redução para treino de 12RM até 40min após / treino de 6RM

reduziu até 60min após ECR reduziu a PA principalmente a sistólica

70

2.3.2 POSSÍVEIS MECANISMOS RESPONSÁVEIS PELO EFEITO HIPOTENSIVO

DO EXERCÍCIO

Embora ainda não exista uma explicação consistente para os mecanismos responsáveis

pelo efeito hipotensivo do exercício, sabe-se que este efeito é mediado não somente por um,

mas por diferentes mecanismos. Entre os mecanismos propostos para explicar a redução da

PA pós-exercício encontram-se: modificações na atividade do sistema nervoso simpático, no

funcionamento hemodinâmico e hormonal, na sensibilidade à insulina, na atuação dos

baroreceptores e na reatividade cardiovascular ao stress (American College of Sports

Medicine, 1993; Blumental et al., 2002; Foss & Keteyan, 2000; Thorén et al., 1990). Cada um

destes mecanismos possui maior influência, de acordo com o tipo de intervenção

comportamental realizada: exercício, perda de peso ou controle do stress ou a combinação

delas. Serão abordados somente os supostos mecanismos envolvidos na redução da pressão

arterial pelo exercício físico.

Tem sido verificado que a combinação de uma atividade simpática elevada e

parassimpática diminuída são as responsáveis pela estimulação excessiva da circulação nos

estágios iniciais da hipertensão (Blumental et al., 2002). Sugere-se que logo após o término do

exercício ocorra uma estimulação imediata dos nervos vagos, diminuindo a atividade do

sistema nervoso simpático, promovendo alterações hemodinâmicas (rápida queda da FC,

diminuição do débito cardíaco e da resistência vascular periférica) e hormonais (diminuição

de catecolaminas circulantes - adrenalina e noradrenalina - e aumento de substâncias

vasodilatadoras circulantes, como a endorfina), acarretando uma vasodilatação e relaxamento

dos vasos sangüíneos que resultam numa menor PA pós-exercício (Blumental et al., 2002;

Foss & Keteyan, 2000). Segundo Thóren et al. (1990), em parte, essa hipotensão pode ser

explicada pela inibição da atividade nervosa simpática, permitindo que alguns casos de

71

hipertensão possam ser tratados sem o uso de medicamentos. No entanto, Carter et al. (2003),

apesar de terem verificado reduções na PA, não encontraram reduções na atividade simpática

de sujeitos normotensos após treinamento contra-resistência de oito semanas.

Segundo Blumental et al. (2002), existem evidências de uma relação causal entre a

resistência à insulina e a pressão alta. A resistência à insulina e a hiperinsulinemia podem

contribuir para a patogênese da hipertensão (Welton et al., 2002). Neste caso, o exercício

atuaria na redução da resistência à insulina, aumentando sua sensibilidade que, por sua vez,

modificaria a função renal, reduzindo a retenção de sódio, resultando em menor atividade do

sistema nervoso simpático (American College of Sports Medicine, 1993).

Em relação ao baroreceptores, o exercício aumenta sua sensibilidade de modo que se

tenha maior feedback (controle autonômico) da PA. Tem sido demonstrado também que

pessoas fisicamente ativas possuem menor reatividade ao stress (menor FC, PA e nível de

catecolaminas) e se recuperam mais rápido de maneira que a influência de estressores sobre o

indivíduo com maior aptidão física é diminuída (Crews & Landers, 1987).

Dessa maneira, existem modelos hipotéticos que explicam o efeito hipotensivo do

exercício e que as alterações cardiovasculares são mediadas por alterações na atividade do

sistema nervoso e humoral semelhantes àquelas que explicam as alterações psicológicas após

uma sessão de atividade física. Sendo assim, percebe-se a importância da análise

psicofisiológica entre exercício, pressão arterial e estado emocional.

72

2.4 PSICOFISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

Toda ciência deve possuir seu objeto de estudo e seus métodos delimitados, tendo

clara a sua aplicabilidade. O objetivo, neste momento, é oferecer uma visão geral da

Psicofisiologia, sua origem histórica, conceituação, métodos, aplicações, linhas de pesquisa e

de intervenção, bem como delimitar alguns temas de estudos da área sobre atividade física e

saúde que são partes da revisão da literatura realizada. A Psicologia do Esporte, assim como

outras ciências, utiliza algumas abordagens na compreensão do comportamento antes, durante

e após a atividade física. Segundo Weinberg & Gould (2001), as três abordagens

predominantes são a psicofisiológica, a sociopsicológica e a cognitivo-comportamental. Nas

três orientações, percebe-se a utilização conjunta de diferentes áreas de conhecimento na

compreensão do comportamento, como a Psicologia, a Fisiologia e a Sociologia.

De acordo com Dishman (1997), a segregação dos métodos biológicos e

comportamentais que existe na área das ciências do exercício não pode responder totalmente a

muitas questões importantes para a saúde de maneira que há uma necessidade de integração

das ciências no estudo do comportamento no exercício. O interesse pelo entendimento da

interação dos aspectos físicos e psicológicos na prática do exercício físico tem crescido

consideravelmente, sendo um dos principais temas atuais de estudo da Psicologia do Esporte.

Vários estudos demonstram a necessidade de uma abordagem psicofisiológica, seja no âmbito

do treinamento desportivo, da atividade física ou da saúde pública para uma melhor

compreensão do comportamento e da saúde (Bara Filho, 1999; Coelho et al., 1989; Crews &

Landers, 1987; Harro et al., 1999; O’Connor et al., 1991; O’Connor & Davis, 1992; Porcari et

al., 1988; Raglin & Morgan, 1987; Schwartzman & Glaus, 2000; Szabo et al., 1993).

73

A Psicofisiologia é uma das tendências interdisciplinares de fusão de diferentes áreas

de conhecimento. Segundo Ribeiro (2001), a Psicofisiologia é uma ciência que estuda o

comportamento dentro de uma simultaneidade mente-corpo, de modo que toda experiência

física é acompanhada por uma experiência psicológica e vice-versa. Cacioppo e Tassinary

(apud Collins, 1995:p.154) a definem como "o estudo de fenômenos cognitivos, emocionais e

comportamentais relacionados e revelados por princípios e eventos fisiológicos”. Entretanto,

não se trata apenas da junção da Psicologia com a Fisiologia, mas de uma tentativa de

formação de um campo científico que enriquece o entendimento do comportamento humano

no exercício, fundamentada nos conhecimentos proporcionados por diferentes áreas de

conhecimento, como a Anatomia, Fisiologia, Endocrinologia, Imunologia, Biologia, Genética,

Aprendizagem Motora, Biomecânica, Psicologia, Educação Física, entre outras.

Do ponto de vista histórico-filosófico, pode-se dizer que o princípio fundamental da

Psicofisiologia da simultaneidade mente-corpo estava presente desde a Grécia antiga,

expresso na frase “mens sana in corpore sano” (Toledo, 2000). Segundo Ribeiro (2001), um

dos precursores da Psicofisiologia foi George Cabanis, através do trabalho “Relações entre o

físico e o moral dos homens” em 1802 . Em 1920, surgem os primeiros laboratórios de

Psicologia do Esporte na Rússia, na Alemanha e nos Estados Unidos. A origem científica da

Psicofisiologia deu-se a partir da Neurofisiologia e da Psicologia, no final do século passado,

através dos estudos relacionados ao aprendizado e ao desempenho motor, aproximando-se da

Educação Física após a Segunda Guerra Mundial (Ribeiro, 2001).

A Psicofisiologia opera com métodos e conceitos comuns à Psicologia e à Fisiologia.

Mensura quantitativamente, em unidades padrões, a freqüência cardíaca e respiratória, pressão

arterial, temperatura corporal, ondas cerebrais, eletromiografia, eletroencefalograma, resposta

galvânica, potencial de ação dos músculos e atividade psicoendocrinológica relacionando-os

com o comportamento na atividade física (Crews & Landers, 1987; Ribeiro, 2001). A

74

utilização de métodos quantitativos é uma das grandes vantagens da Psicofisiologia em

relação à Psicologia do Esporte. Assim, possui como objetivos: examinar os processos

fisiológicos do cérebro e suas influências sobre a atividade física; verificar relações de

variáveis psicofisiológicas com o comportamento no esporte e no exercício; estudar e

verificar os resultados de métodos psicológicos, como o treinamento mental, e

psicofisiológicos, como o biofeedback, sobre variáveis tanto fisiológicas quanto psicológicas

que venham influenciar o comportamento na atividade física, no esporte, na reabilitação, no

tratamento clínico; intervir, visando ao equilíbrio comportamental, à regulação do nível de

ativação, ao relaxamento, ao auto-controle e à melhoria da performance (Ribeiro, 2001;

Weinberg & Gould, 2001). Segundo Collins (1995), o Biofeedback é a maior aplicação

prática da Psicofisiologia.

Os principais estudos da Psicofisiologia foram americanos, crescendo atualmente o

número de pesquisas européias. Até 1980, a área de maior interesse era a performance motora,

interessando-se pela medida de ativação, a identificação da capacidade de atenção e alocação

e dos processos centrais associados com a performance ótima através do biofeedback (Collins,

1995). Desde então, tem crescido o número de trabalhos na linha de atividade física e saúde.

Serão categorizados, em temas de estudo, algumas pesquisas de caráter agudo que têm

corroborado a abordagem psicofisiológica.

• Aptidão física e reatividade ao stress psicobiossocial (Crews & Landers, 1987; Moya-

Albiol et al., 2001) atividade cerebral e humor (Petruzzello e Landers, 1994;

Petruzzello, Hall & Ekkekakis, 2001);

• Exercício, nível de aptidão física e risco de depressão (Lobstein, Mosbacher & Ismail,

1983; Strawbridge et al., 2002);

• Relação da hipertensão e doença coronariana com estados psicológicos (Coelho et al.,

1989; Schwartzman & Glaus, 2000);

75

• Respostas hormonais ao exercício em depressivos (Harro et al., 1999; Light,

Kothandapani & Allen, 1998);

• Variabilidade da freqüência cardíaca e percepção de stress (Dishman et al., 2000);

• Efeito psicofisiológico do exercício, reatividade cardiovascular e função cognitiva

(Flory & Holmes, 1991; Oweis & Spinks, 2001; Roth, 1989);

• Humor e reatividade cardiovascular (Gendola, Abele & Krüsken, 2001; Light,

Kothandapani & Allen, 1998);

• Resposta hormonal e psicofisiológica ao stress físico e psicológico (De Vries et al.,

2000; Roy, Kirschbaum & Steptoe, 2001; Szabo et al., 1993);

• Influência do exercício de diferentes intensidades e períodos do dia sobre as respostas

hormonais e o humor (Dishman, Farquhar & Cureton, 1994; Farrel et al., 1987;

Gonzalez-Bono et al., 1999; Han & Yoon, 1995; Jin, 1989; O’Connor & Davis, 1992);

• Efeitos psicobiológicos do aumento da intensidade de treinamento (Morgan et al.,

1988; O’Connor, Morgan & Raglin, 1991);

• Influência da atividade aeróbia e do exercício contra-resistência na redução da

ansiedade e da pressão arterial e melhoria do humor (Coelho, in press; Focht &

Koltyn, 1999; Koltyn et al., 1995; O’Connor et al., 1993; Porcari et al., 1988; Raglin

& Morgan, 1987);

• Comparação do efeito da atividade aeróbia e anaeróbia em variáveis fisiológicas e

psicológicas (Garvin, Koltyn & Morgan, 1997; Harte, Eifert & Smith, 1995; Raglin,

Turner & Eksten, 1993).

No Brasil, a Psicofisiologia foi introduzida no início dos anos 90, por Luiz Scipião

Ribeiro, após concluir seu doutorado nos Estados Unidos. Desde então, juntamente com seus

colaboradores, tem contribuído significativamente na produção de conhecimentos desta nova

abordagem de pesquisa da Psicologia do Esporte. O marco principal da área foi a criação, em

76

1993, do Laboratório de Psicofisiologia do Exercício, integrado ao Programa de Pós-

Graduação Stricto-Sensu da Universidade Gama Filho que vem produzindo estudos sobre

efeito do nível de ansiedade nas respostas psicofisiológicas ao stress (Ribeiro, 1993), a

influência do treinamento mental no desempenho (Bulhões, 1997), efeito da técnica de

relaxamento na redução da ansiedade, do cortisol sanguíneo e na melhoria da performance

(Bara Filho, 1999), bem como na remoção do lactato sanguíneo (Toledo, 2000), efeitos

psicofisiológicos da hidroginástica e do biofeedback (Campos, 1999), trekking, motivação e

bem-estar (Miranda, 2000), perfil psicológico, nível de ansiedade e desempenho (Souza,

2001), influência do exercício contra-resistência no estado de humor (Coelho, in press), entre

outros.

Portanto, a Psicofisiologia é uma abordagem da Psicologia do Esporte que considera,

mensura, analisa e interpreta variáveis psicológicas e fisiológicas simultaneamente de modo

que se possa melhor entender o comportamento do indivíduo diante as diversas situações por

ele vivenciadas, fornecendo conhecimentos que permitam intervir de modo eficaz, seja na

promoção da saúde, seja na melhoria do desempenho. De acordo com a orientação

psicofisiológica, qualquer abordagem que omita a participação conjunta de variáveis

psicológicas e fisiológicas no comportamento estará sendo reducionista, simplificando um

fenômeno que deve ser analisado de modo complexo. A abordagem psicofisiológica

contempla a necessidade de estudos sobre os efeitos do exercício tanto na saúde física quanto

mental, e, por isso, este tema de estudo tem crescido consideravelmente na Psicofisiologia. A

comparação de diferentes programas de exercício sobre o humor e a pressão arterial está em

evidente crescente.

77

2.4.1 RELAÇÃO ENTRE PRESSÃO ARTERIAL, ESTADO DE HUMOR E

EXERCÍCIO

Em qualquer ambiente sob quaisquer circunstâncias, o organismo está submetido a

algum tipo de stress, por mais insignificante que ele seja. O stress é o elemento essencial na

compreensão do funcionamento integrado das estruturas corporais, sendo um estímulo que

tem a função de adaptação, promovendo alterações funcionais tanto fisiológicas quanto

psicológicas.

De acordo com Samulski (2002), o stress é importante na manutenção e

aperfeiçoamento da capacidade funcional, autoproteção e conhecimento dos próprios limites,

podendo ser positivo (Eustress) ou negativo (Distress). Na concepção biológica, o stress é

considerado como todas as reações internas fisiológicas ou psicológicas de adaptação

orgânica, as quais objetivam a manutenção ou restabelecimento do equilíbrio interno e/ou

externo (Samulski, 2002). Selye (apud Samulski, 2002, p.162) definiu stress como “uma

reação inespecífica do organismo perante qualquer exigência”. Neste sentido, diferentes

cargas de exercício promovem reações que não são específicas para o exercício, mas que

fazem parte do processo de adaptação a qualquer estímulo seja físico ou psicológico. O stress

é associado a um estado de desequilíbrio psicofísico, onde o organismo promove adaptações

para restabelecer a homeostase.

Quando submetido a um stress, o organismo reage para acomodá-lo ou compensá-lo,

através da ativação do SNS e do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenocortical (EHPA),

promovendo ajustes cardiorespiratórios integrados, aumentando os níveis de hormônios, como

noradrenalina, adrenalina, hormônio adrenocorticotrópico, beta-endorfina e cortisol (DeVries

et al., 2000). O padrão de ativação varia de acordo com o estressor. Segundo DeVries et al.

78

(2000), estressores físicos ativam inicialmente o SNS e depois o EHPA, ao passo que os

estressores psicológicos ativam diretamente o EHPA.

Selye (apud Samulski, 2002) denominou o processo de adaptação a um estressor de

Síndrome de Adaptação Geral (SAG). A primeira fase da SAG, Estágio de Alarme, é a

primeira resposta ao estressor, preparando o organismo para agir, lutar ou fugir, havendo a

quebra da homeostase; a segunda fase é o Estágio de Resistência, no qual o organismo resiste

e combate o estressor, restabelecendo o equilíbrio fisiológico ou não; a terceira fase é o

Estágio de Exaustão, em que, se o estressor persiste, as reservas de energias são depletadas e

exauridas, provocando um estado de exaustão psicofisiológica. Na verdade, a SAG é um

modelo geral de entendimento do mecanismo de adaptação do organismo a um estressor, que

deixa subentendida a participação dos vários sistemas orgânicos na manutenção da

homeostase, explicando, de forma geral, a integração psicofisiológica do organismo.

Todas as respostas fisiológicas e psicológicas de adaptação do organismo são

mediadas pelo sistema nervoso central, desencadeadas por estímulos nervosos e pela ação

hormonal. O sistema nervoso autônomo, responsável pelo controle das ações involuntárias de

nosso organismo, possui dois componentes: o sistema nervoso simpático ou adrenérgico

(SNS) e o sistema nervoso parassimpático ou colinérgico (SNP). O SNS estimula as ações

corporais para situações de estresse e emergência e durante o exercício, através da liberação

de hormônios (noradrenalina e adrenalina), aumentando a FC, a PA, a contração do baço, a

dilatação das pupilas, a liberação de glicose e sua penetração no sangue e a mobilização de

ácidos graxos, preparando o corpo para luta, medo e fuga. Ao contrário, o SNP atua na

preservação e restauração da energia corporal, preparando o corpo para o relaxamento e a

homeostase pela ação parassimpática vagal e do hormônio acetilcolina, que atuam diminuindo

a FC, a PA, a tensão muscular e restabelecendo a homeostase (Foss & Keteyan, 2000).

79

O exercício é considerado um stress físico que pode gerar tanto benefícios quanto

prejuízos ao organismo, dependendo do estímulo que é dado, devendo ser praticado

respeitando a capacidade de adaptação do indivíduo. Durante o exercício, os ajustes

cardiovasculares ocorrem em função de estímulos do comando central, humorais, físicos e

neurais periféricos provenientes de várias partes do corpo, mediados pelas alterações no

sistema nervoso simpático e parassimpático e pela ação hormonal, sendo diretamente

proporcionais ao tipo e à intensidade da atividade.

Uma vez estimulados, receptores específicos enviam influxos neurais aferentes à

região cardiorespiratória do cérebro durante o exercício, provocando modificações na função

cardiorespiratória, através de uma maior atuação do SNS, elevando a FC, o volume de ejeção

e a PA, aumentando a freqüência respiratória, por meio da liberação de noradrenalina. No

entanto, esses influxos também podem ser iniciados por condições mentais integrados pela

região hipotalâmica do sistema límbico. O sistema límbico participa no controle das emoções

e participa na regulação do sistema nervoso autônomo e na integração endócrina juntamente

com o hipotálamo (Foss & Keteyan, 2000). Por isso, se diz que o estado psicológico é um dos

fatores que podem contribuir para afetar os níveis sangüíneos dos hormônios.

Ao mesmo tempo em que se observa uma elevação da pressão arterial durante o

exercício, McAuley, Mihalko & Bane (1996) demonstraram que a ansiedade também se eleva.

Após o término do exercício, a atividade simpática é diminuída pela estimulação imediata dos

nervos vagos parassimpáticos, produzindo uma rápida queda na FC e na PA que exibe um

padrão de tempo similar ao observado na redução da ansiedade (Raglin & Morgan, 1987;

Raglin, Turner & Eksten, 1993).

80

A relação entre exercício, pressão arterial e estados de humor e da hipertensão com

ansiedade, depressão e hostilidade tem sido demonstrada em diversos estudos (Coelho et al.,

1988; Lobstein, Mosbacher & Ismail, 1983; Schwartzman & Glaus, 2000; Sloan et al., 1999;

Strawbridge et al., 2002). Os mecanismos pelos quais fatores psicológicos contribuem na

alteração de funções e estruturas fisiológicas ainda são desconhecidos. Entretanto, Sloan et al.

(1999) propõem um modelo psicofisiológico da doença arterial coronariana, teorizando sobre

a interação de fatores fisiológicos e psicológicos no desenvolvimento de uma doença

coronariana. O estudo correlacional de Coellho et al. (1988) mostrou que pacientes

hipertensos exibiam maior ansiedade, depressão e distress do que os normotensos. Da mesma

maneira, pessoas ativas reportam menor depressão, ansiedade e stress do que as sedentárias

(Lobstein, Mosbacher & Ismail, 1983; Hassmén, Koivula & Uutela, 2000). Em hipertensos,

Thirlaway & Benton (1992) verificaram que a participação no exercício, melhor do que a

aptidão física, esteve associada a melhorias no estado de humor. Strawbridge et al. (2002)

reportaram o efeito protetor da atividade física sobre a prevalência e a incidência da depressão

em idosos. Gendola e Krüsken (2001) e Light, Kothandapani & Allen (1998) econtraram uma

maior resposta cardiovascular aos estressores em indivíduos depressivos ou induzidos a um

mal humor do que naqueles normais ou com um humor positivo. Dishman et al. (2000)

encontraram um reduzido tônus vagal em sujeitos que reportavam maior nível de stress diário.

Portanto, a partir de estudos correlacionais, quase-experimentais e prospectivos,

observa-se que existem dados que suportam a relação psicofisiológica entre exercício, pressão

arterial e humor, muitas vezes desconsiderada pelos pesquisadores. A busca pelo bem-estar do

praticante de atividade física passa, necessariamente, pelo entendimento dessa relação de

modo que se possa elaborar programas que respeitem a individualidade biológica e a

simultaneidade mente-corpo. Na próxima seção, é desenvolvida uma investigação que procura

relacionar variáveis psicofisiológicas com o objetivo de verificar o efeito do exercício nessas

81

variáveis, procurando estabelecer parâmetros de prescrição eficazes na promoção da saúde,

considerando a interação mente-corpo de maneira que venha agregar novos conhecimentos à

Psicofisiologia .

82

3. MÉTODO

3.1. Amostra

A amostra constituiu-se de 20 alunos do sexo masculino com idade entre 18 e 38 anos

de uma academia de ginástica da cidade de Três Rios – RJ. No entanto, apenas 18 sujeitos

completaram todas as condições experimentais, passando a constituir a amostra definitiva do

estudo. Os sujeitos foram selecionados aleatoriamente a partir de uma lista de alunos com

experiência de pelo menos 6 meses e com freqüência de treino de 3 a 5 vezes por semana. Os

voluntários responderam um formulário de identificação (Anexo 1) e assinaram um termo de

consentimento (Anexo 2) que continha todas as informações relacionadas aos procedimentos

experimentais.

3.2. Variáveis Independentes e Dependentes

As variáveis independentes, também chamadas de tratamentos, são aquelas

manipuladas pelo pesquisador que influenciam outras variáveis, causando os resultados

(Thomas & Nelson, 2002). No presente estudo, representam o tipo (exercício contra-

resistência ou corrida) e a intensidade (baixa, alta e auto-selecionada) do exercício.

83

As variáveis dependentes são os efeitos da variável independente, sendo a

conseqüência do tratamento (Thomas & Nelson, 2002). No presente estudo, representam o

estado de humor, representado pelas variáveis tensão, depressão, raiva, vigor, fadiga,

confusão mental e distúrbio total de humor, a pressão arterial e a freqüência cardíaca.

3.3. Delineamento da Pesquisa

Todos os procedimentos metodológicos foram realizados dentro do próprio ambiente

de prática de atividade física dos sujeitos: a academia de ginástica, aumentando a validade

externa do experimento. O delineamento da pesquisa foi de grupo único, onde os mesmos

sujeitos foram submetidos a uma sessão de teste e a sete condições experimentais, realizadas

em dias distintos, com três mensurações do estado de humor, da PA e da FC em cada sessão

(Figura 1). A ordem dos tratamentos foi contrabalançada entre os sujeitos de maneira que não

houvesse interferência nos resultados. Uma das sete condições experimentais foi a de

controle. Um grupo de controle, neste tipo de delineamento, torna-se importante na medida

em que se pretende mostrar a efetividade do exercício na alteração do humor para estabelecer

causalidade. Deste modo, procurou-se delinear um estudo de caráter experimental,

aumentando a validade interna do experimento, através do controle de variáveis

intervenientes, mas também enfatizando a validade externa, realizando o experimento com

praticantes de atividade física, dentro de seu ambiente prático, possibilitando uma maior

generalização dos resultados.

84

3.4. Instrumentos de Medida

O Questionário de Prontidão para a Atividade Física (QPAF) foi usado para a

identificação de quaisquer problemas físicos que pudessem contra-indicar a participação do

indivíduo no estudo. O QPAF tem ampla aplicabilidade nos centros de atividade física, como

um instrumento válido na detecção de contra-indicações para o exercício que poderiam ser

revelados por um breve exame clínico (Anexo 1).

A potência aeróbia máxima (VO2máx) foi estimada a partir de um teste submáximo de

degrau (Katch & McArdle apud Pollock & Wilmore, 1993). Os sujeitos subiam e desciam de

um banco de 41cm de altura, num ritmo de 24 passos por minuto, durante três minutos. A

freqüência cardíaca verificada aos 20 segundos de recuperação após o término do teste era

utilizada na seguinte fórmula de predição: VO2máx (ml/Kg/min) = 111,33 – (0,42 x FC).

O percentual de gordura corporal foi estimado a partir dos fatores idade e soma das

dobras cutâneas torácica, abdominal e coxa (Pollock, Schmidt & Jackson apud Pollock &

Wilmore, 1993).

O estado de humor foi mensurado pelo POMS (Anexo 4) – Perfil dos Estados de

Humor (McNair et al. apud Brandão, 1996), descrito em detalhes na revisão de literatura. O

teste foi aplicado antes e depois de cada sessão de treinamento e novamente após 30 minutos.

Os sujeitos responderam aos itens com a seguinte orientação: “como você está se sentindo

neste exato momento”. Entre o término da sessão e a medida após 30minutos, os sujeitos

permaneceram na academia.

A pressão arterial foi mensurada pelo método auscultatório. Os procedimentos de

medida foram adotados de acordo com Foss & Keteyan (2000). Foi utilizado um estetoscópio

e um aparelho denominado esfigmomanômetro com um manguito inflável de braço conectado

a um marcador aneróide (ponteiro). A medida ocorre através da oclusão arterial pela pressão

85

exercida pelo manguito inflado, correlacionando os batimentos cardíacos auscultados com o

valor registrado pelo ponteiro. A medida da PA foi feita antes, um minuto após e 30 minutos

após o término de cada sessão de exercício, estando o sujeito na posição sentado. Assim que

os sujeitos terminavam a sessão de exercício, eram encaminhados para sala de avaliação para

a mensuração, levando em média 1 minuto para realizar a medida.

A freqüência cardíaca foi mensurada continuamente durante as sessões de corrida,

através de um monitor de freqüência cardíaca (marca Polar, modelo Vantage NV). Foram

consideradas a FC antes da sessão, um minuto após e 30 minutos após o término da sessão.

Para mensurar a percepção de esforço realizado no exercício foi utilizado o Índice de

Esforço Percebido (IEP) - Anexo 3 -, também chamado de Escala de Borg (Borg, 1982), que

requer que os participantes localizem numa escala de 6 a 20 pontos o quanto intenso estão

percebendo o esforço realizado. O objetivo foi comparar as três intensidades e realizar uma

correlação com as variáveis psicofisiológicas. Os participantes avaliaram o IEP após cada

série de cada exercício do ECR e a cada 5 minutos de corrida. Para fins de cálculo do IEP da

sessão de treino, foi utilizada a média dos escores obtidos.

Foi utilizado o teste de 8RM, definido como a carga máxima possível de ser levantada

em oito execuções corretas do movimento, com o objetivo de calcular a carga das sessões de

ECR de alta e de baixa intensidade. Foram realizados os seguintes exercícios: supino, leg

press 45º, desenvolvimento, puxada pela frente, flexão de joelho, rosca direta e tríceps no

pulley, executados conforme recomendações de Manso (1999). Os exercícios foram

escolhidos de modo que representassem um programa básico para a melhoria da força e da

resistência muscular. Foram realizadas, no máximo, 3 tentativas de determinação da carga

para cada exercício, com 3 minutos de intervalo de descanso entre cada tentativa. Apesar do

teste de 1RM ser um dos mais utilizados na determinação da força máxima dinâmica em

86

equipamentos isotônicos, o longo tempo gasto e os riscos de lesão inerentes ao teste levam os

pesquisadores a optarem por testes submáximos, como o de 8RM.

A intensidade relativa da corrida na esteira foi determinada pelo percentual da

freqüência cardíaca máxima. A FCMáx foi estimada a partir da seguinte fórmula: 220 – idade.

De acordo com Raglin et al. (1993), a utilização de métodos padronizados para a prescrição

do exercício, como o consumo de oxigênio, não é a melhor alternativa. Em estudos de

comparação entre ECR e exercício aeróbio, há diferenças entre o pico de consumo de

oxigênio para as duas atividades, sendo menor no ECR do que no exercício aeróbio.

Considerando o risco relativo de um teste máximo para algumas populações, o uso de

equações de predição tem ganhado ampla aceitação, como pode ser observado em vários

estudos (Berger & Owen, 1998; Boutcher & Landers, 1988; Cox et al., 2000; 2001; Flory &

Holmes, 1991; Lane & Lovejoy, 2001; Raglin, Turner & Eksten, 1993; Roth, 1989). Além

disso, foi usado este modo de prescrição por ser o mais comum nas academias, aumentando,

assim, a validade externa do experimento.

Figura 1: Delineamento do Experimento

Sujeitos

Sessão de Testes

Formulários QPAF POMS PA repouso FC repouso Peso, Altura % Gordura VO2máx Teste 8RM

Sessões de Treino

- ECR 50%8RM - ECR 100%8RM - ECR Auto-Selecionado - Corrida 60-65%FCMáx - Corrida 85-90%FCMáx - Corrida Auto-Selecionada - Controle

Medidas

POMS PA FC

IEP

PA FC

POMS

POMS PA FC

POMS PA FC

IEP FC

PA FC

POMS

POMS PA FC

POMS PA FC

-

POMS PA FC

POMS PA FC

Pré Durante 2’Pós 30’Pós

87

3.5. Coleta de Dados

Na sessão do teste de 8RM, os sujeitos responderam ao QPAF. Nenhum dos

indivíduos apresentou contra-indicação para o exercício. Logo em seguida, estando sentados,

os sujeitos responderam ao POMS pré-teste, seguido pela mensuração da PA e da FC de

repouso. Estes procedimentos tiveram duração aproximada de 10 minutos. Foi realizada,

então, a mensuração das dobras cutâneas, seguida pelo teste submáximo do degrau. Após um

repouso de cinco minutos, os sujeitos foram encaminhados para a sala de ginástica para a

realização do teste de 8RM. Foi realizado um aquecimento de cinco minutos na bicicleta

ergométrica sem resistência no pedal, seguido de exercícios de alongamento estático para a

musculatura envolvida no teste. Ao final do teste, os sujeitos realizaram exercícios de

alongamento. Os dados do POMS da sessão de teste serviram para esclarecimentos sobre o

questionário e para traçar o perfil de humor dos sujeitos juntamente com as medidas das

condições experimentais.

3.6. Tratamentos

Após a sessão de teste, os voluntários foram submetidos a sete condições

experimentais, realizadas em dias distintos: 1) ECR com intensidade de 50% de 8RM 2) ECR

com intensidade de 100% de 8RM 3) ECR com intensidade auto-selecionada 4) Corrida na

esteira com intensidade de 60-65% da FCMáx 5) Corrida na esteira com intensidade de 85-

90% da FCMáx 6) Corrida na esteira com intensidade auto-selecionada e 7) Controle.

88

A hipótese da pesquisa não foi informada aos sujeitos, os quais realizaram os treinos

numa ordem contrabalançada, intercalados por pelo menos um dia, sempre no mesmo horário

do dia, entre 14 e 19h. Nesses dias, foi pedido a eles que não se exercitassem e não ingerissem

álcool ou café antes das sessões. O percentual de carga das sessões 1 e 2 de ECR foi calculado

de modo que elas tivessem o mesmo volume total de carga levantada. Então, durante a sessão

de 50% de 8RM os sujeitos realizaram três séries de cada exercício com 16 repetições, usando

um intervalo de recuperação de um minuto entre cada série e exercício; durante a sessão de

100% de 8RM, os sujeitos realizaram três séries de cada exercício com oito repetições por

série, usando um intervalo de recuperação de um minuto e trinta segundos entre cada série e

exercício; durante a sessão de ECR auto-selecionado, os sujeitos escolheram a carga e o

número de repetições para cada exercício assim como o intervalo de recuperação. Foi

sugerido apenas que não fizessem um treino muito intenso, mas “um treino em que se

sentissem bem”. Nas sessões de corrida, os sujeitos correram durante 30min numa intensidade

de 60-65% da FCMáx na sessão 4 e de 85-90% da FCMáx na sessão 5. Na sessão 6, os

sujeitos correram durante 30min, numa intensidade auto-selecionada, onde escolheram a

velocidade de corrida. Houve um aquecimento de três minutos para a determinação da

velocidade de corrida necessária para atingir a intensidade prescrita. Na sessão 7 de controle,

os sujeitos foram para a academia, mas não realizaram exercício. Nesta sessão, as variáveis

foram mensuradas antes, depois de 30 minutos e novamente após 30minutos.

Nas sessões de exercício, os sujeitos inicialmente foram encaminhados para uma sala

para responderem ao POMS pré-treino, mensurar a PA e a FC. Logo em seguida, foi realizado

um aquecimento de três minutos na bicicleta ergométrica sem resistência no pedal, seguido de

exercícios de alongamento estático para a musculatura envolvida na sessão de ECR; para a

corrida na esteira, foi realizado alongamento para os membros inferiores e aquecimento de

três minutos. Ao final das sessões, os sujeitos foram encaminhados para a sala de avaliação,

89

onde foi mensurada a FC e a PA, seguido da resposta ao POMS pós-treino. Então, os sujeitos

permaneceram na academia por 30min, quando novamente foi mensurada a PA, a FC e o

POMS. Durante as sessões de treino, os sujeitos responderam ao IEP a cada cinco minutos

(corrida) e ao final de cada série de cada exercício (ECR). O tempo entre o término das

sessões de exercício e a mensuração da FC e da PA pós-exercício foi de dois minutos.

3.7. Análise Estatística

Realizou-se uma análise descritiva dos dados, usando a média e o desvio-padrão como

medidas de tendência central e de variabilidade dos dados, respectivamente. Foi realizada

uma Análise de Variância (ANOVA) com um fator entre as médias de cada variável do humor

pré-teste e pré-treino, para verificar a equivalência do estado de humor dos sujeitos nas oito

situações do experimento (uma sessão de teste, seis de exercício e uma de controle). Uma

Análise de Variância (ANOVA) com um fator foi realizada entre as médias da carga total de

peso levantado e da percepção de esforço das três sessões de exercício contra-resistência de

modo a verificar a equivalência do volume de carga entre as sessões, bem como a intensidade

subjetiva; a mesma análise foi feita com a velocidade de corrida na esteira e a percepção de

esforço. Um teste t simples foi usado parar comparar as médias do estado de humor da

amostra com os dados normativos da população. A correlação de Pearson foi usada para

relacionar o estado de humor pré-treino, a percepção de esforço e as variáveis fisiológicas.

Uma Análise Multivariada de Variância (MANOVA) com medidas repetidas foi usada para

testar a interação tipo x intensidade do exercício na alteração do humor, bem como testar os

efeitos principais. Quando a análise multivariada detectou efeito significativo, foi usada uma

90

ANOVA de medidas repetidas, ajustada pelo teste de Bonferroni, seguida pelo teste post-hoc

de Scheffé para testar as diferenças específicas entre os grupos. A determinação do fator F das

análises foi feita a partir do lambda de Wilks. Quando o pressuposto de esfericidade não foi

assumido, foi usado o valor de ajuste fornecido pelo teste Greenhouse-Geiser. Em todas as

análises, utilizou-se o nível de confiança de 95% e o teste de hipótese bi-caudal.

3.8. Plano Piloto

Para testar todos os métodos a serem utilizados, foi realizado um estudo piloto entre os

dias 03 e 27 de outubro de 2002, que se caracterizou pelos seguintes dados:

- amostra de 10 sujeitos do sexo masculino. Cinco deles participaram da amostra

definitiva;

- os sujeitos foram submetidos a uma sessão de teste de 9RM e a quatro condições

experimentais: ECR com 100%9RM e 66,7%9RM e corrida na esteira a

60%FCMáx e a 80%FCMáx;

- A intensidade do exercício aeróbio foi prescrita somente pelo percentual da

freqüência cardíaca estimada pela idade.

A partir do plano piloto, alguns pontos foram alterados, como o teste de carga (9RM

para 8RM), quantidade (4 para 6 tratamentos) e intensidade dos tratamentos (100% e

66,7%9RM para 100 e 50% 8RM e auto-selecionado; 60 e 80%FCMáx para 60-650 e 85-

90%%FCMáx e auto-selecionado). O objetivo foi acentuar as diferenças entre as intensidades,

uma vez que esse estudo piloto não reportou influência da intensidade na alteração do humor,

e contrastar a intensidade prescrita com a intensidade auto-selecionada.

91

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Os resultados serão apresentados seguidos pela sua interpretação, de forma a facilitar a

leitura e o entendimento do presente estudo. Inicialmente, serão apresentados dados

descritivos da amostra utilizada; posteriormente, serão apresentados dados referentes à

intensidade de esforço e a equivalência das variáveis psicofisiológicas antes das diferentes

condições experimentais; finalmente, serão apresentados os resultados referentes ao efeito dos

tratamentos nas variáveis psicofisiológicas bem como as correlações encontradas.

4.1. Dados Descritivos

Nesta seção, serão apresentados os dados relativos à caracterização da amostra (Tabela

3), à carga de treinamento no exercício contra-resistência (Gráfico 1), à velocidade de corrida

na esteira (Gráfico 2), à percepção de esforço nos diferentes treinos (Gráfico 3) e se há

equivalência dos grupos nas variáveis psicofisiológicas no início dos tratamentos. Na Tabela

4, são apresentados os dados descritivos dessas variáveis antes, após e 30min após as sessões.

Tabela 3 Características antropométricas e funcionais dos sujeitos

Variável Média e Desvio-padrão Idade (anos) 22,4 ± 6,5 Peso (Kg) 72,3 ± 11

Estatura (cm) 176,7 ± 7,8 Gordura Corporal (%) 10,3 ± 6,5 VO2máx (ml/Kg/min) 51,9 ± 5,9

Pressão Arterial Sistólica de repouso (mmHg) 117,2 ± 6,4 Pressão Arterial Diastólica de repouso (mmHg) 68,3 ± 7,6

Freqüência Cardíaca de repouso (bpm) 68,5 ± 6,3 Experiência com exercício (meses) 12,1 ± 8,1

92

Tabela 4: Média e Desvio-Padrão das variáveis psicofisiológicas antes, após e 30min após cada condição experimental

ECR 50%

8RM

ECR 100%

8RM

ECR Auto-Selecionado

Corrida 60-65%

FCMáx

Corrida 85-90%

FCMáx

Corrida Auto-

Selecionada

Controle

Variávies Média SD Média SD Média SD Média SD Média SD Média SD Média SD

Tensão Pré 6,2 4,7 5,9 3,1 5,4 4,7 5,1 3,1 5,9 5,0 5,5 3,8 5,4 4,0 Pós 6,4 3,6 6,9 3,2 6,1 5,0 5,7 3,1 6,1 4,1 6,2 3,4 5,0 3,7

Pós 30’ 5,6 4,0 6,0 2,9 6,0 4,8 5,0 2,6 5,4 3,7 4,9 3,6 5,2 4,4 Depressão

Pré 2,6 4,0 2,1 4,5 2,6 5,7 2,3 4,1 2,0 3,0 1,1 1,9 1,7 2,6 Pós 2,6 3,9 2,7 4,6 2,7 6,5 1,4 2,6 2,0 3,6 1,5 2,2 1,5 2,8

Pós 30’ 2,4 3,2 2,7 4,3 3,7 8,2 1,9 2,7 1,8 2,4 1,5 2,2 1,5 2,4 Raiva

Pré 4,9 4,4 3,4 3,4 4,1 4,2 3,9 2,3 3,6 3,7 3,2 2,4 2,9 2,0 Pós 4,4 4,3 3,5 2,7 3,9 5,5 3,0 2,4 3,9 3,2 2,7 2,5 2,9 2,3

Pós 30’ 4,5 4,5 3,5 3,4 4,7 5,9 2,5 1,7 3,2 2,2 2,4 2,2 2,9 2,2 Vigor

Pré 18,4 5,0 20,6 5,1 20,5 6,4 19,8 5,1 19,6 6,9 19,9 6,0 20,5 4,1 Pós 16,5 6,2 15,7 8,0 18,0 7,0 17,7 6,5 17,4 6,4 17,5 7,2 19,6 4,7

Pós 30’ 16,8 7,4 15,9 7,3 17,5 7,2 19,1 6,4 17,7 5,2 18,0 7,3 19,7 4,5 Fadiga

Pré 3,4 3,7 2,3 2,4 3,7 4,3 2,4 2,1 2,6 3,5 1,7 1,7 2,7 2,8 Pós 7,5 5,8 8,1 4,8 5,7 5,2 3,7 3,0 6,5 5,1 4,9 4,7 2,7 2,8

Pós 30’ 5,3 4,6 5,7 5,0 5,1 5,8 3,6 2,7 5,6 5,2 4,1 4,6 2,9 2,6 Confusão

Pré 2,8 2,2 2,6 2,8, 3,0 3,3 2,4 2,0 3,0 2,6 2,0 1,5 2,2 2,8 Pós 3,4 3,0 2,7 2,0 3,2 3,9 2,1 1,7 3,0 2,6 3,0 2,9 2,2 3,1

Pós 30’ 3,1 2,6 3,6 2,8 3,0 3,9 2,3 1,6 2,9 3,0 2,2 2,4 2,7 3,2 Distúrbio do

Humor

Pré 101,6 18,3 95,8 15,6 98,4 21,4 95,7 13,5 97,5 18,2 93,6 11,4 94,7 11,9 Pós 107,9 19,6 108,3 20,2 103,7 26,0 98,2 12,4 104,2 17,8 100,9 16,2 94,9 13,0

Pós 30’ 104,1 20,6 105,7 20,2 105,1 27,4 96,3 10,8 101,3 16,2 97,2 16,2 95,6 12,6 PAS

Pré 120,8 8,8 122,2 8,1 121,4 8,3 122,7 9,5 121,6 9,4 123,3 9,3 119,5 9,5 Pós 135,0 13,5 135,0 11,7 136,4 12,8 139,4 13,1 149,4 13,7 145,5 12,0 118,4 10,0

Pós 30’ 113,0 12,0 111,9 8,6 113,6 11,6 112,5 9,2 112,2 11,1 113,7 9,6 118,1 8,4 PAD

Pré 71,4 6,3 72,5 7,7 71,1 5,3 72,1 7,1 70,5 7,8 73,9 7,8 71,1 4,4 Pós 67,4 6,2 67,5 8,4 68,0 10,6 68,6 7,8 67,7 9,1 67,2 7,3 71,8 6,2

Pós 30’ 70,5 5,1 67,5 6,4 69,2 7,8 67,5 8,9 68,4 7,6 69,7 6,9 71,5 5,0 FC

Pré 78,3 10,5 74,3 10,4 76,1 7,6 77,3 9,0 76,5 11,9 73,5 8,1 74,7 12,5 Pós 103,6 11,5 106,2 12,0 112,9 11,6 110,1 16,6 139,7 22,2 129,0 21,4 73,5 12,7

Pós 30’ 83,4 11,6 82,7 9,5 84,0 12,2 78,5 10,3 91,1 11,8 85,5 10,8 73,2 10,2

93

02000400060008000

10000120001400016000

ECR 50%8RM ECR 100%8RM ECR Auto-Selecionado

Carga - Kg

Gráfico 1: Média e Desvio-Padrão da carga de treino levantada em cada sessão de exercício

contra-resistência.

Nas sessões de exercício contra-resistência de alta e de baixa intensidade (100% e

50% de 8RM, respectivamente), o volume foi o mesmo (total de carga levantado na sessão),

de modo que aumentasse o efeito da intensidade do treino, como sugerido por Shephard

(2001). Observa-se, nos estudos anteriores, que não havia esta preocupação de forma que uma

sessão de menor intensidade poderia ter uma maior quantidade de carga levantada,

dependendo do número de repetições realizadas, e isso poderia influenciar os resultados. Este

controle do volume de treinamento, entretanto, não seria possível no treino auto-selecionado,

uma vez que os próprios sujeitos escolhiam a carga de treino. Mesmo assim, a ANOVA com

um fator revelou que não houve diferença significativa entre o volume de carga das três

sessões de exercício contra-resistência (p>0,05), confirmando a diferença entre as

intensidades (Gráfico 1). No entanto, outros fatores devem ser considerados na análise da

intensidade do exercício contra-resistência, como o tempo de tensão e o aspecto metabólico

de cada tipo de treino. Estes fatores serão discutidos na sessão sobre os efeitos da intensidade

no estado de humor.

94

02468

101214

Corrida 60-65%FCMáx Corrida Auto-selecionada Corrida 85-90%FCMáx

Vel. (Km/h)

Gráfico 2: Média e desvio-padrão da velocidade em cada sessão de corrida na esteira. * = diferença significativa (p<0,05) entre as três sessões.

0

40

80

120

160

200

Corrida 60-65%FCMáx Corrida Auto-Selecionada Corrida 85-90%FCMáx

FC (bpm)

Gráfico 3: Média e desvio-padrão da freqüência cardíaca média de cada sessão de corrida. * = diferença significativa (p<0,05) entre as três sessões.

Nas sessões de corrida, a duração do treino foi a mesma para todas as sessões (30min),

de maneira que o fator variável fosse a intensidade. Quando representada objetivamente pela

velocidade média de corrida e pela freqüência cardíaca média dos sujeitos durante o treino,

houve diferença significativa entre a intensidade das três sessões (p<0,05). Como se observa

no Gráfico 2, a média de velocidade no treino de 60-65% da FCMáx (7,3 Km/h) foi menor

que a do treino Auto-Selecionado (9,1Km/h), as quais foram menores que a do treino a 85-

90% FCMáx (10,7Km/h). No Gráfico 3, verifica-se que a freqüência cardíaca média no treino

de 60-65% da FCMáx (130bpm) foi menor que a do treino Auto-Selecionado (150bpm) as

quais foram menores que a do treino a 85-90% FCMáx (171bpm).

** *

* *

95

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5

10

15

20

ECR50%8RM

ECR Auto-Selecionado

ECR100%8RM

Corrida 60-65%FCMáx

Corrida Auto-Selecionada

Corrida 85-90%FCMáx

IEP

Gráfico 4: Média e desvio-padrão do Índice de Esforço Percebido (IEP) das sessões

(* = diferença significativa (p<0,05) entre as três sessões de ECR; ♦= diferença significativa (p<0,05) em relação ao treino 85-90%FCMáx).

O IEP foi usado na mensuração da percepção da intensidade dos treinos pelos sujeitos.

Uma ANOVA com um fator mostrou diferença de intensidade entre as sessões (Gráfico 4). A

percepção da intensidade entre as sessões de ECR foi diferente significativamente (p<0,05). A

sessão de ECR com 100% de 8RM teve IEP = 15,9; ECR Auto-Selecionado igual a 13,5; e o

ECR com 50% de 8RM igual a 11,7, caracterizando alta, moderada e baixa intensidade,

respectivamente, de acordo com o American College of Sports Medicine (1998).

Nas sessões de corrida, não houve diferença significativa entre as sessões de 60-65%

da FCMáx (IEP = 11,2) e Auto-Selecionada (IEP = 12,3). No entanto, de acordo com a

classificação proposta pelo ACSM (1998), os treinos podem ser classificados como de baixa e

moderada intensidade, respectivamente. A intensidade média no treino auto-selecionado foi

de 75,4% da FCMáx, confirmando o caráter de treino de moderada intensidade. O IEP na

corrida de 85-90% FCMáx foi de 15,2, sendo diferente estatisticamente das outras duas

sessões (p<0,05), caracterizando um treino de alta intensidade. Foi encontrada uma correlação

de 0,75 entre a FC média e o IEP nas sessões de corrida, mostrando uma boa relação entre

estas variáveis (p<0,01), como relatado por Morgan (1982).

* * ♦ *

96

No treino auto-selecionado, observou-se que os sujeitos escolhiam uma intensidade

moderada de esforço, o que suporta os resultados de outros estudos (Dishman, Farquhar &

Cureton, 1994; Koltyn et al., 1995; Raglin & Morgan, 1987). O IEP mostrou-se um

instrumento útil e fidedigno na determinação da intensidade de esforço, uma vez que os

sujeitos perceberam a diferença entre as intensidades. Este resultado demonstra a importância

do uso de medidas de percepção de esforço na prescrição do exercício. Segundo Borg (1982),

um indivíduo pode ter percepções diferentes em dois treinos com a mesma intensidade

objetiva já que num dia ele pode se sentir bem, durante um treino a 150bpm e, no outro, se

sentir mal, como resultado de fatores físicos e emocionais negativos. Esta integração de

fatores fisiológicos e psicológicos na determinação da percepção de esforço reflete a natureza

psicofisiológica do fenômeno. de maneira que o IEP deve ser visto dentro de um contexto

mente-corpo (Morgan, 1994). Tuson, Sinyor & Pelletier (1995), por exemplo, verificaram

uma melhoria do humor somente quando a intensidade foi mensurada de forma subjetiva, ao

contrário de quando foi medida de forma objetiva (%VO2máx), afirmando que a intensidade

percebida pode ser uma maior preditora de mudanças afetivas após o exercício do que a

intensidade objetiva. Por isso, o treino intenso nem sempre é ruim para o estado de humor.

Um treino intenso pode não ser tão intenso quanto pareça, podendo ser bom para a regulação

do humor se percebido como agradável ou se for o tipo preferido para o sujeito.

Portanto, constatou-se que os treinos de corrida e ECR tiveram intensidade alta,

moderada e baixa. A caracterização da intensidade obteve consistência tanto nos parâmetros

fisiológicos, através do percentual de força do teste de 8RM, da velocidade média e da

freqüência cardíaca, quanto psicofisiológico, através do Índice de Esforço Percebido. Em

média, a percepção de esforço variou de aproximadamente 11 a 16 na Escala de Borg, que

fisiologicamente corresponde a uma variação de 54 a 89% da FCMáx.

97

4.2. Perfil de Humor, Pressão Arterial e Freqüência Cardíaca da amostra

Nos estudos de caráter agudo, torna-se importante verificar o perfil típico das variáveis

de interesse para que os resultados sejam representativos. As medidas repetidas fornecem esta

possibilidade e verificam se os valores pré-treino são equivalentes. Dessa forma, foi realizado

um teste de diferença de médias entre os fatores do estado de humor, com o objetivo de

identificar possíveis diferenças nessas variáveis antes de cada condição experimental e traçar

o perfil típico de humor da amostra. Uma ANOVA com um fator revelou que não houve

diferença significativa entre as médias das variáveis do estado de humor pré-teste e pré-treino

(p>0,05), de modo que houve equivalência nessas variáveis nas diferentes condições

experimentais, representando o perfil de humor típico da amostra (Gráfico 5). Da mesma

maneira, não houve diferença para PAS, PAD e FC antes dos tratamentos (p>0,05).

O perfil de humor da amostra mostrou o perfil iceberg, proposto por Morgan (1980),

como representativo de uma saúde mental positiva. O Teste de Student, de comparação com a

média da população, revelou que o perfil de humor dos sujeitos mostrou-se mais positivo

quando comparado com os dados normativos de praticantes de atividade física, fornecidos por

Terry & Lane (2000). Os fatores negativos (tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão

mental) foram mais baixos e o fator positivo (vigor) foi mais alto, mostrando que os sujeitos

tinham um perfil de saúde mental bastante positivo que certamente influenciou os resultados.

Portanto, apesar de alguns estudos sugerirem a utilização das medidas pré-treino como

co-variáveis (McGowan, Pierce & Jordan, 1991; Roth, 1989; Toskovic, 2001; Turner, Rejeski

& Brawley, 1997), não houve diferença significativa (p>0,05) entre os valores iniciais das

variáveis dependentes nas diferentes condições experimentais, demonstrando uma

homogeneidade do perfil de humor e das variáveis fisiológicas da amostra no decorrer dos

diferentes dias de mensuração e sustentando a análise estatística realizada.

98

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5

10

15

20

25

30

Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão

������ ECR 50% 8RM������ ECR 100% 8RM���

ECR Auto-SugeridoCorrida 60-65% FCMáx���Corrida 85-90% FCMáx���Corrida Auto-SugeridaControle

Gráfico 5: Média e desvio-padrão do perfil dos estados de humor dos sujeitos antes das diferentes condições experimentais.

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30

Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão

������ ECR 50% 8RM������ ECR 100% 8RM������ ECR Auto-Sugerido

Corrida 60-65% FCMáx������ Corrida 85-90% FCMáx���

Corrida Auto-SugeridaControle

Gráfico 6: Média e desvio-padrão do perfil dos estados de humor dos sujeitos após diferentes condições experimentais.

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30

Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão

������ ECR 50% 8RM������ ECR 100% 8RM������ ECR Auto-Sugerido

Corrida 60-65% FCMáx������ Corrida 85-90% FCMáx������ Corrida Auto-Sugerida

Controle

Gráfico 7: Média e desvio-padrão do perfil dos estados de humor dos sujeitos após 30min do término de diferentes condições experimentais.

99

4.3. Efeito da Intensidade e do Tipo do Exercício sobre as Variáveis Psicofisiológicas

Para testar a interação entre o tipo e a intensidade do exercício sobre os estados de

humor, a pressão arterial e a freqüência cardíaca, bem como os efeitos principais, foi realizada

uma MANOVA 2 (tipo: corrida e ECR) x 3 (intensidade: baixa, alta e auto-selecionada) x 3

(medida: pré, pós e pós 30min) com medidas repetidas no último fator. Não houve interação

tipo-intensidade-medida, nem tipo-intensidade ou intensidade-medida (p>0.05), mostrando

que as alterações nas variáveis psicológicas e fisiológicas foram independentes da intensidade

do exercício. A análise multivariada revelou um efeito significativo para o tipo de exercício

(F9, 94 = 3,02; p=0,003; poder = 0,96), para o fator medida (F18, 85 = 64,56; p=0,00; poder =

1,00) e para a interação tipo-medida (F18, 85 = 3,94; p=0,00; poder = 1,00).

Para verificar quais variáveis eram as responsáveis por estes efeitos, foi realizada uma

ANOVA 2x3x3 com medidas repetidas no último fator, para cada variável, ajustada pelo teste

de Bonferroni, como forma de diminuir a probabilidade de incorrer no erro do Tipo 1, muito

comum quando se analisam muitas variáveis sem a correção do nível de confiança. O erro do

Tipo 1 é aceitar que há diferença entre os grupos quando ela não existe (Thomas & Nelson,

2001). Quando o mesmo grupo é testado várias vezes sem corrigir o nível de confiança, há

uma maior probabilidade de cometer este erro, aceitando uma diferença que não existe.

Como pode ser observado na Tabela 5, a análise univariada revelou diferenças

significativas na Pressão Arterial Sistólica e na Freqüência Cardíaca em função do tipo do

exercício. Entre as medidas, foram reveladas diferenças significativas para os fatores Tensão,

Vigor, Fadiga, Distúrbio Total de Humor, Pressão Arterial Sistólica, Pressão Arterial

Diastólica e Freqüência Cardíaca. Na interação tipo-medida, observaram-se diferenças

significativas para os fatores Pressão Arterial Sistólica e Freqüência Cardíaca. Foi observado

também um efeito significativo da intensidade, apenas no fator Freqüência Cardíaca (p<0,05).

100

Os efeitos principais e as interações sobre as variáveis serão discutidos separadamente

para facilitar a compreensão dos resultados.

Tabela 5: Resultados da análise estatística univariada dos efeitos principais sobre as variáveis dependentes

Efeito Variáveis gl F p Poder Tipo do Exercício Pressão Arterial Sistólica 1 / 102 3,96 0,05 0,50 Freqüência Cardíaca 1 / 102 15,2 0,00 0,97 Medida Tensão 1,8 / 185,6 4,15 0,02 0,70 Vigor 1,7 / 172,3 23,3 0,00 1,00 Fadiga 1,7 / 174 57,1 0,00 1,00 Distúrbio Total de Humor 1,6 / 163,8 30,4 0,00 1,00 Pressão Arterial Sistólica 1,8 / 182,9 380,9 0,00 1,00 Pressão Arterial Diastólica 2 / 204 20,9 0,00 1,00 Freqüência Cardíaca 1,7 / 174,2 393,3 0,00 1,00 Tipo-Medida Pressão Arterial Sistólica 1,8 / 182,9 12,9 0,00 0,99 Freqüência Cardíaca 1,7 / 174,2 123,2 0,00 1,00 Intensidade Freqüência Cardíaca 2 / 102 5,41 0,00 0,83

4.3.1. Estado de Humor

De acordo com a análise estatística realizada, as sessões de exercício promoveram

mudanças significativas nas variáveis tensão, vigor, fadiga e distúrbio total de humor,

independente do tipo e da intensidade de esforço (Gráficos 8 e 9), ao contrário da situação de

controle que não promoveu mudanças significativas (Gráfico 10). O resultado será discutido

baseado na literatura, considerando as diferenças metodológicas, as características da amostra

e do instrumento e a não influência do tipo e da intensidade nas respostas psicológicas.

101

0

5

10

15

20

25

Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão

Pontos

pré-treinopós-treino30'pós-treino

Gráfico 8: Efeito de diferentes condições de exercício sobre as variáveis do humor (p<0,01 *: diferente em relação ao pré-treino; **: diferente em relação ao pré e pós-treino; p<0,05 ♦: diferente em relação ao pós-treino).

90

95

100

105

110

Humor Total

Pontos

pré-treinopós-treino30'pós-treino

Gráfico 9: Efeito de diferentes condições de exercício sobre o distúrbio total de humor (p<0,01 *: diferente em relação ao pré-treino; **: diferente em relação ao pré e pós-treino).

0

5

10

15

20

25

Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão

Pontos

PréPósPós 30min

Gráfico 10: Média e Desvio Padrão das variáveis do Estado de Humor pré, pós e 30min após uma situação de controle sem exercício.

*♦

* *

*

**

102

Em relação ao estado de humor, os resultados encontrados contrariam grande parte da

literatura, uma vez que não mostraram uma melhoria do humor logo após as sessões de

exercício. Os resultados significativos sobre cada variável serão apresentados e,

posteriormente, serão discutidos seus possíveis determinantes.

No presente estudo, o efeito agudo do exercício revelou uma diminuição da tensão

após 30min do término das sessões em relação ao valor pós-treino, o qual estava ligeiramente

maior do que o valor pré-treino. Segundo Ekkekakis & Petruzzello (1999), a tensão é um

estado de ativação desagradável, não requerendo avaliação cognitiva, ao contrário da

ansiedade. Segundo estes autores, o aumento do nível de tensão pós-exercício deve-se a uma

maior ativação, gerada pela maior atividade metabólica. Entretanto, Hall, Ekkekakis &

Petruzzello (2002) verificaram que logo após o término do exercício há uma diminuição da

ativação e um aumento do estado afetivo positivo, o que não foi verificado no presente estudo.

No exercício contra-resistência, Coelho (2003) observou um aumento de tensão pós-

treino seguido de uma diminuição ao nível inicial após 20min. Os resultados do presente

estudo muito se assemelham aos deste autor. Da mesma maneira, Focht & Koltyn (1999)

observaram esta tendência, sendo que a tensão diminuía abaixo do valor inicial, a partir dos

20min do término do exercício, alcançando os menores valores após 3h. Provavelmente, o

tempo de mensuração após 30 minutos do término da sessão não foi suficiente para detectar

uma redução significativa da tensão em relação ao valor pré-treino. Após um período de

treinamento intenso, encontraram aumentos da tensão em atletas. No entanto, os resultados

dos estudos de Focht & Koltyn (1999), Morgan et al. (1988) e O’Connor, Morgan & Raglin

(1991) não foram estatisticamente significativos.

O aumento da tensão juntamente com o aumento da pressão arterial e da freqüência

cardíaca pós-treino, verificado após as sessões, e o padrão observado após 30 minutos do

término do exercício de redução dessas variáveis suportam as considerações destes autores.

103

Especula-se que, na amostra estudada, o processo de recuperação ou de percepção de

melhoria do estado psicológico possa ser mais lento.

Os resultados encontrados dão suporte para a diferenciação entre tensão e ansiedade,

uma vez que esta é uma emoção que depende de avaliação cognitiva da situação. Boutcher &

Landers (1988), por exemplo, não encontraram redução da tensão, mensurada pelo POMS,

após uma sessão de corrida a 80% FCmáx, ao contrário da ansiedade, que foi menor após o

exercício. Craemer, Nieman & Lee (1991) também encontraram diminuição da ansiedade e

aumento de bem-estar psicológico, mas nenhuma alteração nos escores do POMS após 15

semanas de exercício aeróbio. Estes resultados podem ser devido ao nível inicial dessas

variáveis ou à sensibilidade do instrumento utilizado, como será discutido.

Foi observado um aumento significativo de fadiga pós-treino, seguido de uma

diminuição após 30min, mas ainda maior do que o valor pré-treino. Alguns estudos suportam

este achado (Coelho, 2003; Focht & Koltyn, 1999; McGowan, Talton & Thompson, 1996;

McGowan, Pierce & Jordan, 1991; Morgan et al., 1988; O’Connor, Raglin & Morgan, 1991).

Embora o fator fadiga do POMS considere tanto a fadiga física quanto a psicológica, o

aumento de fadiga encontrado no presente estudo parece ter representado o aspecto físico

mais do que o mental. Qualquer atividade física proporciona um desgaste físico que é

proporcional, entre outras variáveis, ao nível de esforço. Observou-se que o nível de fadiga

após os treinos mais intensos era maior do que dos treinos menos intensos, embora as

diferenças não tenham sido significativas. Como a fadiga relacionou-se inversamente com o

vigor, era de se esperar que o vigor diminuísse após o exercício, como foi observado.

O vigor diminuiu após as sessões de treino, mantendo-se mais baixo que o valor pré-

treino até 30min. Focht & Koltyn (1999), McGowan, Talton & Thompson (1996), Morgan et

al. (1988), O’Connor, Morgan & Raglin (1991), Pronk (1995) e Roth (1989), utilizando uma

amostra de indivíduos saudáveis, também verificaram uma redução no vigor e um aumento de

104

fadiga após o exercício. Estes estudos, no entanto, utilizaram altas intensidades de treino,

sendo que, em alguns, a diferença não foi significativa (Roth, 1989; McGowan, Talton &

Thompson, 1996). Semelhante à tendência que foi observada no presente estudo, Coelho

(2003) verificou uma diminuição significativa do vigor após treinos com 85% de 1RM e não

significativa para treinos com 50%. Uma das diferenças entre o presente estudo e o de Coelho

(2003) foi a diferença entre as intensidades. Coelho (2003) destacou a diferença entre a

intensidade alta e a baixa, realizando um treino recuperativo a 50% de 1RM com poucas

repetições, não havendo falha concêntrica momentânea nas últimas repetições. Focht &

Koltyn (1999) observaram que apesar da redução do vigor após o treino, ele aumentava acima

do valor inicial após 60min, permanecendo elevado até 3h, embora não fosse significativo.

Em conseqüência do aumento de tensão e de fadiga e da diminuição do vigor, o

distúrbio total de humor aumentou significativamente após o exercício, denotando uma piora

relativa do estado de humor, mas diminuindo 30 minutos depois em relação ao pós-treino,

mostrando uma tendência de recuperação ao longo do tempo. Este resultado suporta os

achados de estudos que utilizaram treinos de alta intensidade ou períodos de treinamento

intenso (Morgan et al.,1988; O’Connor, Morgan & Raglin, 1991; Pronk, 1995). As outras

variáveis (depressão, raiva e confusão mental) mantiveram-se inalteradas, corroborando

outros estudos que verificaram que essas variáveis são menos sensíveis ao exercício agudo

(Flory & Holmes, 1991; O’Connor, Morgan & Raglin, 1991; Steptoe & Cox, 1988).

Portanto, foi demonstrado que uma sessão aguda de exercício promove alterações no

estado de humor. Por outro lado, essas alterações não aconteceram no sentido que a grande

maioria da literatura mostra, ou seja, da melhoria do estado de humor após o exercício. Os

resultados sobre a tensão, o vigor, a fadiga e o distúrbio total de humor mostraram que há um

decréscimo no estado de humor dos sujeitos, seguido de uma tendência de recuperação ao

longo do término da sessão. Além das diferenças metodológicas em relação aos outros

105

estudos dessa natureza, os resultados do presente estudo sugerem que o nível inicial das

variáveis, a sensibilidade do instrumento e a individualidade na resposta psicológica ao

exercício foram fatores que influenciaram nos efeitos psicológicos do exercício.

- Nível Inicial das Variáveis e Alterações no Estado de Humor

Em geral, admite-se que o exercício promove alterações positivas no estado de humor

tanto agudas quanto crônicas. Entretanto, a melhoria do humor após o exercício pode ser

influenciada pelo perfil de humor dos sujeitos. Nelson & Morgan (1994) não encontraram

alterações no humor de sujeitos não-depressivos quando comparados com depressivos. Lane

& Lovejoy (2001) reportaram maiores benefícios psicológicos para os indivíduos com

maiores valores de depressão na escala do POMS. Os indivíduos depressivos possuíam

maiores valores de tensão, raiva, fadiga, confusão mental e menor vigor antes do exercício do

que os sujeitos com baixos valores para depressão e, por isso, melhoravam mais após a

atividade. Werneck & Ribeiro (2002) também observaram que a melhoria do humor após uma

sessão de voleibol recreativo não foi significativa em função do perfil da amostra.

Outros estudos também demonstram que o benefício psicológico é maior nos sujeitos

com maior distúrbio de humor (Gauvin, Rejeski & Norris, 1996; Nabetani & Tokunaga, 2001;

Tuson, Sinyor & Pelletier, 1995). Tuson, Sinyor & Pelletier (1995) verificaram que nem todos

os sujeitos experimentaram mudanças positivas após uma sessão de corrida de modo que nos

sujeitos com alto humor positivo antes do treino, houve uma tendência de os valores serem

menores após o treino. Coelho (2003), apesar de ter encontrado um efeito prejudicial sobre o

estado de humor após sessão de ECR com alta intensidade, não verificou melhoria do humor

106

após a sessão de menor intensidade, pois a amostra estudada também demonstrava um perfil

de humor positivo.

A amostra utilizada no presente estudo demonstrou um perfil de humor melhor do que

os dados normativos da população praticante de atividade física (Terry & Lane, 2000) e

manteve o perfil de saúde mental, caracterizado nas duas medidas após o exercício (Gráficos

6 e 7). Os sujeitos mostraram valor pré-treino de vigor maior e valores de tensão, fadiga e

distúrbio total de humor menores do que das amostras de outros estudos, os quais verificaram

efeitos positivos nessas variáveis (Berger & Owen, 1998; Fechio & Brandão, 1997; Focht &

Koltyn, 1999; Hatfield et al., 1988; Kraemer et al., 1990; Maroulakis & Zervas, 1993;

McGowan, Pierce & Jordan, 1991; McGowan, Talton & Thompson, 1996; Roth, 1989;

Toskovic, 2001). Este efeito é reportado na literatura como efeito teto, ou seja, quanto pior o

estado de humor maior é a probabilidade de melhoria e vice-versa (Gauvin, Rejeski & Norris,

1996; Lane & Lovejoy, 2001; Nabetani & Tokunaga, 2001; Parfitt, Rose & Markland, 2000;

Tuson, Sinyor & Pelletier, 1995). Dessa forma, os sujeitos do presente estudo tinham duas

possibilidades: permanecer igual ou piorar, pois apresentavam um perfil bastante positivo.

Poucos estudos têm verificado a influência dos escores iniciais de humor nas

alterações induzidas pelo exercício. Por isso, não se sabe até que ponto as divergências

refletem uma inefetividade do exercício em melhorar o humor ou se o exercício exerce efeitos

diferentes nos indivíduos com diferentes escores iniciais (Tuson, Sinyor & Pelletier,1995).

Como salientam estes autores, variáveis psicológicas podem ser importantes variáveis

associadas às mudanças psicológicas. Entretanto, ressalvas são necessárias, pois Lichtman &

Poser (1983), por exemplo, mostraram aumentos de vigor após o exercício mesmo em uma

amostra com altos valores iniciais dessa variável. Fatores de personalidade devem ser

investigados foi representam um possível determinante das respostas psicológicas ao

exercício.

107

- Instrumento de Medida e Alterações no Estado de Humor

As alterações no humor também podem ter sido influenciadas pelo instrumento

utilizado. Embora o POMS tenha sido amplamente usado em pesquisas anteriores e mostrado

consistência na situação de controle do presente estudo, não detectando diferenças no estado

de humor quando os sujeitos não faziam exercício, ele pode não ter sido sensível às alterações

agudas, em função do perfil dos sujeitos.

Alguns autores, ao comentarem sobre as limitações do POMS, citam que, em

amostras normais, mudanças significativas não são detectadas, sendo um instrumento sensível

ao efeito teto (Berger & Motl, 2000; Ekkekakis & Petruzzello, 1999). Alguns estudos não

mostraram alterações significativas no estado de humor quando mensurado pelo POMS

(Boutcher & Landers, 1989; Craemer, Nieman, Lee, 1991; Farrel et al., 1982; Fillingin, Roth

& Haley, 1989; McGowan et al., 1993; Stanton & Arrol, 1996; Williams & Getty, 1986).

Além disso, como no Brasil, poucos estudos foram feitos sobre os efeitos psicológicos do

exercício, não se sabe até que ponto pode ser feita a generalização dos achados da literatura

internacional para a população brasileira.

Outros aspectos referentes ao instrumento são os construtos psicológicos tidos como

representativos do estado de humor. Atualmente, questiona-se a representatividade do Perfil

Iceberg como perfil de uma saúde mental positiva, devido a sua pequena abrangência em

termos de componentes psicológicos. De acordo com Ekkekakis & Petruzzello (1999) e

Berger & Motl (2000), o POMS aborda poucos e distintos afetos, com ênfase excessiva nos

aspectos negativos do humor, possuindo cinco variáveis negativas (tensão, depressão, raiva,

fadiga e confusão mental) e somente uma positiva (vigor). Por isso, Petruzzello e

colaboradores defendem um modelo de mensuração que seja balanceado positiva e

negativamente, que forneça uma representação global de afeto, que diferencie ativação e afeto

108

e que seja sensível a variações em qualquer direção da escala, embora ainda não exista um

modelo de mensuração consensual. Possivelmente, alterações psicológicas positivas após o

exercício podem ter ocorrido diferente daquelas mensuradas pelo POMS. Os sujeitos do

presente estudo poderiam demonstrar uma melhoria do estado psicológico em outra escala de

mensuração, como alguns estudos que utilizaram diferentes medidas psicológicas reportaram

(Boutcher & Landers, 1988; Flory & Holmes, 1991; Hassmén & Blomstrand, 1991). Novas

pesquisas devem ser realizadas no intuito de validar outros instrumentos no Brasil, fornecer

dados normativos para a população brasileira praticante de atividade física e desenvolver

outros modelos de medida. É possível que o exercício promova alterações psicológicas

positivas em variáveis diferentes daquelas mensuradas pelo POMS.

- Individualidade Psicológica e Alterações no Estado de Humor

Por fim, a individualidade nas respostas psicológicas também deve ser considerada na

análise dos resultados. Analisando individualmente os sujeitos, foram observados padrões

diversificados de respostas. Alguns indivíduos se beneficiavam depois de determinadas

sessões e em outras não; outros iniciavam mal e melhoravam o estado de humor, às vezes até

mesmo quando este já era positivo; outras vezes, iniciava positivo e piorava. Determinados

indivíduos mostravam padrões de melhora para intensidades de treino maiores; outros, para

menores intensidades. Alguns apresentavam melhor humor após o exercício contra-

resistência; outros, após o exercício aeróbio.

Essa individualidade de respostas também pode ser a responsável pelo não efeito da

intensidade e do tipo do exercício no estado de humor, pois a resposta psicológica pode variar

de acordo com as preferências dos sujeitos por determinada intensidade ou tipo de exercício,

como foi observado na análise individual. Recentes estudos verificaram um aumento do bem-

109

estar após sessões em que o indivíduo escolhe o tipo de atividade ou praticam seu exercício

preferido, ao contrário da atividade não-escolhida ou menos preferida, onde se observou

maior distress, fadiga e afeto negativo e menor afeto positivo (Daley & Maynard, 2003;

Parfitt & Gledhill, 2003). É possível que a preferência dos sujeitos por determinada atividade

possa ter influenciado os resultados, e, portanto, gerado padrões diversificados de reposta

psicológica aos treinamentos.

Dessa forma, acredita-se que maior atenção deva ser dada a um dos princípios básicos

do treinamento desportivo na prescrição do exercício, qual seja o da individualidade biológica

e psicológica, considerando a variabilidade das respostas psicológicas ao exercício encontrada

no presente estudo. A individualidade psicológica compõe-se pelo perfil psicológico, as

preferências, as necessidades dos indivíduos e a auto-eficácia, devendo ser considerada na

estruturação dos programas de exercício. Como afirmam Ekkekakis & Petruzzello (1999), a

relação entre diferentes doses de atividade física e as respostas psicológicas é complexa, de

modo que assumir um modelo onde todas as pessoas respondam de forma similar a uma

determinada dose seria simplístico e inefetivo, dado a influência de fatores psicológicos e

fisiológicos individuais.

- Efeito da Intensidade de Esforço nas Respostas Psicológicas ao Exercício

Como reportado por alguns autores (Berger & Motl, 2000; Ekkekakis & Petruzzello,

1999) e verificado na literatura revisada, a afirmação de que os benefícios psicológicos são

adquiridos principalmente com o exercício de moderada intensidade é mais especulativa do

que consistente cientificamente. De acordo com a revisão de literatura, observada na Tabela 1,

21 estudos compararam o efeito de diferentes intensidades sobre os estados psicológicos. Dez

estudos utilizaram o POMS como instrumento de medida, sendo que a metade deles mostrou

110

que as mudanças no humor não estavam associadas à intensidade (Berger & Owen, 1998;

Farrel et al. 1982; Hatfield et al., 1988; Nelson & Morgan, 1994; Steptoe, Kearsley &

Walters, 1993).

Dessa forma, os resultados do presente estudo estão de acordo com parte da literatura,

ou seja, as alterações no estado de humor foram independentes da intensidade de esforço, pelo

menos quando se utilizam intensidades não muito baixas nem muito intensas, como no

presente estudo, mas são contrários aos achados daqueles que demonstraram efeitos diferentes

na comparação de intensidades (Coelho, 2003; Farrel et al., 1987; Focht & Koltyn, 1999; Han

& Yoon, 1995; Steptoe & Cox, 1988; Tharion et al., 1991). Estas divergências, de certa

forma, residem na aptidão física e na experiência dos indivíduos com exercício, na amplitude

da diferença entre as intensidades e na percepção da intensidade pelos indivíduos.

A homogeneidade da amostra do presente estudo em termos de aptidão física e o nível

de experiência com o exercício podem ter influenciado os resultados, como demonstrado nos

estudos que também não verificaram efeito da intensidade no estado de humor. Aqueles que

mostraram influência da intensidade utilizaram amostras com níveis diferentes de experiência

com exercício ou de aptidão física (Focht & Koltyn, 1999; Steptoe & Cox, 1988; Tharion et

al., 1991) ou indivíduos destreinados (Han & Yoon, 1995) de modo que a percepção de

esforço foi maior para os menos condicionados e inexperientes.

Um dos aspectos psicológicos importantes para os benefícios do exercício é a auto-

eficácia, ou seja, ser capaz de realizar satisfatoriamente o exercício. Para um mesmo

percentual de intensidade, os indivíduos mal condicionados e inexperientes normalmente

possuem maior percepção de esforço, pois há uma maior produção de lactato, cortisol e maior

contribuição do metabolismo anaeróbio, representando um forte estresse que promove uma

quebra brusca na homeostase, resultando em maior fadiga, menor resistência, menor senso de

autocontrole da situação e diminuição da auto-eficácia; ao contrário, aqueles bem-

111

condicionados respondem bem ao exercício, pois já estão adaptados ao estímulo estressor.

Neste sentido, é possível que os estímulos de intensidade oferecidos no presente estudo

podem não ter sido muito diferente daqueles que os sujeitos já estavam habituados a serem

submetidos. Isto é particularmente importante no efeito da sessão de alta intensidade, pois

normalmente é a que mais promove alterações no humor, na maioria das vezes, negativas. O

treino de alta intensidade, no presente estudo, certamente não representou um estímulo

incapaz de suportado pelos sujeitos ou que promovesse uma fadiga excessiva.

Em relação à amplitude da diferença entre as intensidades dos treinos, Coelho (2003)

acentuou esta diferença, de maneira que o treino a 50% de 1RM era apenas de caráter

recuperativo, sem esforço excessivo, ao contrário do treino a 80% que era máximo. No

presente estudo, o treino menos intenso foi realizado com alto número de repetições,

promovendo, em alguns sujeitos e para determinados exercícios, falha muscular momentânea,

com alta fadiga muscular localizada. Dessa maneira, embora a percepção de esforço entre as

intensidades alta e baixa tenham sido diferentes, fisiologicamente o treino leve de ECR com

altas repetições pode ter promovido um maior acúmulo de lactato, influenciando na resposta

psicológica.

Se pelo aspecto fisiológico a intensidade não teve efeito em virtude da aptidão física

ou pela experiência dos sujeitos, esperava-se que houvesse influência da intensidade devido

ao aspecto psicológico. Tuson, Sinyor & Pelletier (1995), por exemplo, verificaram que não

houve efeito significativo da intensidade nas mudanças do estado de humor quando a

intensidade foi mensurada pelo percentual do VO2máx. Ao contrário, quando a intensidade foi

examinada de acordo com a percepção de esforço dos sujeitos, houve mudanças positivas no

estado de humor. De acordo com a percepção da intensidade, o que pode ser intenso para um

indivíduo pode ser leve para outro. No entanto, no presente estudo, observou-se que o IEP não

se relacionou com o estado de humor dos sujeitos, ao contrário da intensidade.

112

Provavelmente, por isso, não tenha sido encontrada associação entre o estado de humor e a

intensidade.

Foi observado também que alguns sujeitos não reportaram seu real estado psicológico,

procurando mostrar-se bem mesmo aparentando cansaço, ou seja, responderam ao

questionário pós-treino no sentido socialmente desejável. Neste sentido, a pequena diferença

das respostas psicológicas observadas entre os treinos leve e intenso não foi suficiente para

diferenciar os efeitos.

Outro aspecto, que revela uma limitação no estudo, é o fato dos sujeitos responderem

ao questionário várias vezes, o que, de certa forma, pode induzir as respostas, fato muito

comum em delineamentos de medidas repetidas (efeito testagem – ameaça à validade interna).

Isto poderia ser um fator, pois haveria uma adaptação ao próprio instrumento por parte dos

sujeitos. Entretanto, os estudos que mostraram efeitos significativos da intensidade (Farrel et

al., 19987; Focht & Koltyn, 1999; Han & Yoon, 1995; Steptoe & Cox, 1988; Tharion et al.,

1991) também usaram delineamentos com medidas repetidas, sendo esta possibilidade

descartável, embora os estudos anteriores tivessem utilizado no máximo três medidas

repetidas, ao contrário deste estudo que utilizou sete.

Em relação à intensidade no ECR, a velocidade de execução do movimento é uma das

variáveis que determinam a intensidade do esforço. Como ela não foi controlada no presente

estudo, especula-se que esta variável também possa ter influenciado o resultado, uma vez que

um treino leve com alto número de repetições executadas em baixa velocidade pode ser tão

intenso quanto um treino pesado com poucas repetições mas realizado com alta velocidade de

execução. Da mesma forma, o alto número de repetições do treino leve, que implica em

formação de ácido lático e fadiga muscular localizada, aliado ao fato dos sujeitos não estarem

habituados com este tipo de treino também pode ter contribuído para que o efeito intensidade

não tenha sobressaído.

113

Apesar de não ter sido detectada diferença significativa entre as intensidades de

treinamento, observou-se que o treino de maior intensidade promovia as maiores alterações

negativas no estado de humor. Embora alguns estudos mostrem melhorias no estado de humor

após sessões de treino com alta intensidade (Pronk, Crouse & Rohack, 1995; Han & Yoon,

1995), outros reportam o inverso (Hall, Ekkekakis & Petruzzello, 2002; Oweis & Spink,

2001; Steptoe & Cox, 1988; Tharion et al., 1991; Tuson, Sinyor & Pelletier, 1995; Watt,

1998). E o mais importante é que em médio-longo prazo há um considerável aumento do

distúrbio do humor, que é acompanhado por alterações fisiológicas também negativas, do

ponto de vista da saúde, como demonstra os estudos de Morgan et al. (1988) e O’Connor,

Morgan & Raglin (1991).

Neste sentido, tem sido sugerido que o exercício, para proporcionar benefícios

psicológicos, deve estar adequado às capacidades do indivíduo em realizá-lo, de maneira que

os estados positivos de humor tendem a ocorrer em pessoas acostumadas e/ou treinadas com o

exercício ou quando o próprio indivíduo escolhe como vai se exercitar. Alguns estudos

consideraram estes aspectos dentro da Teoria do Fluir (Daley & Maynard, 2003; Parfitt &

Gledhill, 2003; Parfitt, Rose & Markland, 2000; Tuson, Synior & Pelletier, 1995). De acordo

com esta teoria, fluir significa um “estado subjetivo que as pessoas relatam quando elas estão

completamente envolvidas com alguma coisa, a ponto de esquecer o tempo, a fadiga e

qualquer outra coisa, a não se a própria atividade” (Csikszentmihalyi apud Ekkekakis &

Petruzzello, 1999). A tendência nos experimentos de prescrever o exercício a partir das

escolhas dos sujeitos por tipos e intensidades de exercício (auto-selecionado) reflete esta

teoria. No entanto, os resultados ainda são contraditórios. No momento da prescrição, deve-se

zelar pela segurança e pela saúde do praticante, perguntando ao aluno como e o quanto ele

deseja se exercitar, evitando treinamentos intensos que aumentem o risco de lesões dos

praticantes.

114

- Efeito do Tipo do Exercício nas Respostas Psicológicas

Em relação ao efeito do tipo do exercício, foi demonstrado que não houve diferença

entre a corrida e o exercício contra-resistência nas alterações psicológicas, o que contraria os

achados da maioria dos estudos (Dyer & Crouch, 1988; Garvin, Koltyn & Morgan, 1997;

McGowan, Pierce & Jordan, 1991; Raglin, Turner & Eksten, 1993; Watt, 1998).

Quando comparado com o ciclismo, o ECR não tem proporcionado reduções na

ansiedade (Garvin, Koltyn & Morgan, 1997; Raglin, Turner & Eksten, 1993). Em relação ao

estado de humor, a corrida tem demonstrado maiores efeitos positivos do que o ECR. Dyer &

Crouch (1988) verificaram que, ao longo de um semestre, os praticantes de corrida reportaram

maiores escores de vigor e menor confusão mental do que praticantes de ECR, embora o

efeito agudo deste tenha proporcionado menor raiva e confusão do que a corrida. Do mesmo

modo, McGowan, Pierce & Jordan (1991) verificaram uma redução da tensão e da confusão

mental e uma melhoria do humor total após a corrida, enquanto o ECR promoveu maior

fadiga e menor confusão mental.

A respeito da comparação de atividades, a preferência pelo tipo de exercício pode

influenciar as respostas psicológicas. Parfitt & Gledhill (2003) observaram maior bem-estar

após a sessão de exercício preferido. Da mesma maneira, Daley & Maynard (2003)

encontraram menor afeto positivo e maior afeto negativo após a sessão de exercício em que os

sujeitos não escolhiam a atividade. Embora, no presente estudo, a variável preferência não

tenha sido mensurada, suspeita-se, pelos resultados encontrados, que não haja preferência

significativa por uma atividade específica, uma vez que os resultados foram independentes do

tipo de atividade.

115

- Grupo de Controle

Outro achado importante foi que os sujeitos não apresentaram mudanças em nenhuma

das variáveis do humor após a situação de controle, sem exercício, o que suporta os achados

da maioria das pesquisas (Porcari et al., 1988; Boutcher & Landers, 1988; Focht & Koltyn,

1999; Harte, Eifert & Smith, 1995; Maroulakis & Zervas, 1993; McAuley, Mihalko & Bane,

1996; McGowan, Pierce & Jordan, 1991; Roth, 1989; Steptoe, Kearsley & Walters, 1993;

Toskovic, 2001). Por isso, observa-se em estudos recentes o não uso de situações de controle

na qual os sujeitos não praticam o exercício. Este resultado, portanto, refuta a hipótese da

distração, como explicação na alteração do humor após o exercício. Apenas sair da rotina

diária e ter um contato social, proporcionado pela situação de controle do presente

experimento, não foi capaz de alterar o estado de humor dos sujeitos. Possivelmente, outros

mecanismos foram os responsáveis pela alteração no estado de humor. Entretanto, como eles

não foram mensurados, pouco pode ser discutido a esse respeito.

- Tendência de Mudança das Respostas Psicológicas Agudas ao Exercício

Como observado por este e por outros estudos, o estado afetivo muda durante o

período de recuperação após o exercício (Focht & Koltyn, 1999; Hall, Ekkekakis &

Petruzzello, 2002). No presente estudo, após 30 minutos de repouso após o exercício,

observou-se uma diferença no estado de humor, havendo uma tendência dos fatores a

retornarem ao nível inicial. Por isso, torna-se importante salientar que, mesmo havendo

algumas alterações negativas no estado de humor após o exercício, as quais não retornaram

aos valores de repouso após 30 minutos, o perfil de saúde mental da amostra, representado

pelo Perfil Iceberg, manteve-se (Gráficos 5, 6 e 7).

116

Dessa maneira, pode-se dizer que, do ponto de vista prático, o exercício promoveu um

efeito de manutenção do estado de humor, observando uma tendência de retorno das variáveis

ao nível inicial, ao longo dos trinta minutos após o exercício. Provavelmente, um efeito

benéfico sobre o estado de humor poderia ocorrer horas após o término da sessão, quando o

processo de recuperação tivesse sido completado.

O padrão de recuperação das variáveis psicológicas ao longo do final da sessão talvez

represente um efeito que, na Fisiologia, é chamado de componente lento da recuperação.

Após uma sessão de exercício, o consumo de oxigênio continua elevado e acima do nível de

repouso. Segundo Foss & Keteyan (2000), o processo de recuperação envolve a restauração

do músculo e do restante do corpo para a condição pré-exercício, possuindo uma fase rápida e

outra lenta. Na fase rápida, em cerca de três a seis minutos, ocorre a restauração das reservas

musculares de fosfagênios, do oxigênio da mioglobina e dos níveis sanguíneos de oxigênio.

Na fase lenta, quando o consumo de oxigênio começa a declinar até chegar ao nível de

repouso, ocorre a remoção e oxidação do lactato e o início da restauração das reservas de

glicogênio.

Variáveis fisiológicas alteradas pelo exercício físico agudo, como a freqüência

cardíaca, possuem um componente rápido e outro lento no seu retorno ao nível de repouso.

Logo após o término da atividade, há uma queda rápida na freqüência cardíaca (componente

rápido), a qual se mantém elevada acima do repouso por algum período, havendo, durante este

período, uma queda gradual e lenta até retornar aos valores de repouso (componente lento). O

presente estudo mostrou que a FC mantém-se acima do nível de repouso por pelo menos

30min após o exercício.

Em relação aos aspectos psicológicos, os resultados mostraram que o padrão de tempo

na recuperação das variáveis do humor após o exercício é diferente das variáveis fisiológicas.

Parece que a restauração do nível inicial de humor requer um período de tempo superior a 30

117

minutos. Grande parte dos estudos, por exemplo, mostra um efeito demorado do exercício

sobre a ansiedade, de modo que ela diminui somente após um certo período de tempo depois

do exercício (Focht & Koltyn, 1999; Hatfield et al., 1988; O’Connor et al., 1993; Petruzzello

& Landers, 1994; Petruzzello & Tate, 1997; Raglin, Turner & Eksten, 1993; Cox, Thomas &

Davis, 2000). Desta maneira, um efeito positivo do exercício poderia ser evidenciado após um

período de tempo maior do que 30min, quando o processo de recuperação tivesse terminado.

Como o lactato sanguíneo possui um tempo médio de remoção de 30 a 60 min, especula-se

que os níveis de lactato podem ter influenciado as respostas psicológicas, embora Garvin,

Koltyn & Morgan (1997) não tenham encontrado influência do acúmulo de lactato após uma

sessão de ECR e de corrida sobre o estado de ansiedade de indivíduos saudáveis destreinados.

Os autores reportaram associação entre essas variáveis em indivíduos ansiosos.

Portanto, o exercício, em indivíduos com um perfil de humor positivo, exerce um

efeito imediato negativo sobre o estado de humor, que reflete o desgaste físico decorrente do

exercício, e um efeito tardio de recuperação, refletido na tendência do humor retornar ao nível

inicial, mas que não foi detectado no presente estudo devido ao curto tempo de mensuração

após a sessão. Este fenômeno é similar ao que preconiza a Teoria de Selye em relação ao

processo de adaptação ao estresse. De acordo com este autor, após ser submetido a um

estressor, há uma quebra da homeostase e uma diminuição da capacidade de resistência do

organismo. Logo em seguida, quando o organismo se adapta ao estressor, há um retorno do

equilíbrio interno juntamente com uma maior capacidade de resistência. O tempo para o

restabelecimento do equilíbrio interno e a supercompensação do organismo podem variar

entre os sujeitos, de maneira que os benefícios podem ocorrer ao longo de um processo de

adaptação. Neste sentido, não seria correto dizer que o exercício prejudica o estado de humor.

Um monitoramento contínuo deve ser realizado, observando as flutuações nesta variável.

118

Em longo prazo, ao término do experimento, foi observado que os sujeitos

demonstraram um perfil de humor mais positivo do que quando iniciaram. O Teste de

Student, entre a média das variáveis de humor da primeira sessão de treino de cada sujeito e a

média da última sessão, demonstrou que os sujeitos apresentavam menor fadiga, maior vigor e

menor distúrbio total de humor (Gráfico 11). Ou seja, embora as alterações agudas tenham

sido negativas, ao longo do tempo, os sujeitos melhoraram o estado de humor, através da

prática da atividade física. Isto mostra que nem sempre os efeitos agudos representam os

efeitos crônicos, como também foi observado por Dyer & Crouch (1988).

É importante frisar que a ordem dos tratamentos foi aleatória para os sujeitos de

maneira que se evitasse este efeito sobre os resultados. Portanto, na análise do efeito crônico,

os valores pré-experimento foram o resultado dos valores do primeiro treino de cada sujeito, e

não somente os valores do tratamento número 1 (ECR leve), assim como os valores pós-

experimento, os quais foram o resultado do último treino realizado pelo sujeito, não sendo

necessariamente os valores do tratamento 7 (controle). O efeito crônico, no entanto, deve ser

visto com cautela, pois ele não pode ser atribuído exclusivamente aos tratamentos utilizados

no presente estudo (sessões de exercício), mas também a outras variáveis não controladas

(efeito maturação - ameaça à validade interna). Por exemplo, o tempo decorrido entre a

primeira e a última sessão de treino variou entre os sujeitos e as características dos exercícios

realizados fora dos dias do experimento pelos sujeitos e a sua rotina diária não foram

mensuradas.

119

0

5

10

15

20

25

30

Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão

Antes

Após

Gráfico 11: Perfil do Estado de Humor dos sujeitos antes e após o término do experimento (* = p<0,05; ** = p<0,01).

Sendo assim, as alterações no estado de humor foram independentes do tipo e da

intensidade do exercício realizado, sugerindo que a corrida na esteira e o exercício contra-

resistência de intensidade baixa, alta ou auto-selecionada promovem efeitos psicológicos

semelhantes em sujeitos saudáveis, com perfil de humor positivo, com boa aptidão física e

habituados às sessões de exercício, não sendo efetivo na melhoria do estado de humor logo

após a sessão, mas mostrando uma tendência de melhora ao longo do tempo, sendo associados

a uma melhoria significativa no estado de humor cerca de dois meses de prática continuada de

exercício físico.

4.3.2 Pressão Arterial

No gráfico 12, observa-se um efeito significativo do tipo do exercício na resposta da

PAS logo após o término da sessão. A média da PAS após as sessões de corrida (144,8

mmHg) foi maior que após as sessões de ECR (135,5 mmHg). Entretanto, não houve

**

*

120

diferença para o efeito hipotensivo entre as sessões. O gráfico 13 mostra que, independente

do tipo e da intensidade do exercício, houve um aumento da pressão arterial sistólica após a

sessão, seguido de uma hipotensão, verificada após 30min do término da sessão. A pressão

arterial diastólica diminuiu, mantendo-se abaixo do valor inicial até 30min após o término da

sessão. Na situação de controle não houve alteração da pressão arterial. Estes achados

suportam a revisão de Shephard (2001), o qual verificou que a redução aguda da PA após

sessões de exercícios é independente da intensidade do exercício.

Existe um consenso em relação ao efeito agudo hipotensivo do exercício aeróbio

(Forjaz et al., 1998; Marceau et al., 1993; Porcari et al., 1988; Raglin & Morgan, 1987;

Raglin, Turner & Eksten, 1993; Szabo et al., 1993). Entretanto, em relação às respostas

agudas do exercício contra-resistência sobre a PA, a literatura mostra resultados

inconsistentes. Alguns estudos mostraram reduções (Focht & Koltyn, 1999; Hill et al., 1989;

Polito et al., 2003); outros não mostraram alterações (Raglin, Turner & Eksten, 1993; Wang et

al., 1991) ou observaram aumentos (Koltyn et al., 1995; O’Connor et al., 1993).

0

30

60

90

120

150

180

ECR 50%8RM

ECR 100%8RM

ECR Auto-Selecionado

Corrida 60-65% FCMáx

Corrida 85-90% FCMáx

Corrida Auto-Selecionado

Controle

PAS (mmHg)

pré-treinopós-treino30'pós-treino

Gráfico 12: Efeito de diferentes condições experimentais na pressão arterial sistólica (PAS). (* = p<0,01 em relação às sessões de exercício contra-resistência - ECR)

* * *

121

020406080

100120140160

PASistólica PADiastólica FC

pré-treinopós-treino30'pós-treino

Gráfico 13: Comportamento de variáveis fisiológicas após as diferentes sessões de exercício (p<0,01 *: diferente em relação ao pré-treino; **: diferente em relação ao pré e pós-treino).

O presente estudo mostrou que tanto a corrida quanto o ECR foram eficazes na

promoção de um efeito hipotensivo após a atividade, o que contraria os resultados de Raglin,

Turner & Eksten (1993), os quais compararam os efeitos dessas duas atividades, encontrando

uma redução na PA somente após a sessão de ciclismo quando comparado ao ECR. Nossos

resultados, juntamente com os resultados do recente estudo de metanálise de Kelley & Kelley

(2000), contribuem para que se derrube o mito de que o exercício contra-resistência não

diminui a PA. Somente em 1993, o Colégio Americano de Medicina do Esporte recomendou

o ECR como atividade complementar de um programa de exercícios para o controle e a

redução da PA e a prevenção da hipertensão. Recentemente, foi reconhecido também que o

ECR é seguro para pacientes com doença cardiovascular e considerado potencialmente

benéfico no controle e na redução da PA em hipertensos (Pollock et al., 2000).

No presente estudo, foi observada uma redução aguda média de 9 e 3mmHg na

pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente. Este achado tem uma implicação na

***

* *

*

*

(mmHg) (mmHg) (bpm)

122

prevenção da hipertensão. Mesmo pequenas reduções na PA têm um impacto significativo na

redução da morbidade e mortalidade por problemas cardiovasculares (Kelley & Tran, 1995).

Em relação ao efeito da intensidade de esforço nas respostas pressóricas após o

exercício, os estudos são contraditórios. Enquanto os estudos com atividade aeróbia relatam o

mesmo efeito para diferentes intensidades (Forjaz et al., 1998; Marceau et al., 1993; Porcari et

al., 1988), os estudos que usaram o exercício contra-resistência mostram efeitos diferentes em

função da intensidade de esforço (Focht & Koltyn, 1999; O’Connor et al., 1993). No entanto,

Polito et al. (2003) verificaram que a intensidade do exercício contra-resistência não

influenciou a magnitude da redução na PA após a sessão, mas a duração do efeito hipotensivo

foi maior para a sessão de maior intensidade na PAS. A redução na PAD, por exemplo, parece

acontecer para intensidades menores quando comparada com maiores intensidades (Focht &

Koltyn, 1999; Polito et al., 2003).

Os resultados do presente estudo estão de acordo com os achados dos estudos de

caráter aeróbio e o estudo de Kelley & Kelley (2000) de exercício contra-resistência, de

maneira que uma intensidade de corrida que varie entre 60 a 90% da FCMáx ou sessões de

ECR tanto com cargas baixas, altas repetições e pequeno intervalo entre as séries quanto com

cargas mais altas, menos repetições e um intervalo maior de recuperação entre as séries são

capazes de promover um efeito hipotensivo após o exercício mesmo em indivíduos

normotensos.

A pressão arterial é dos parâmetros fisiológicos importantes na hemodinâmica

cardiovascular. A hipertensão, condição na qual a PA se encontra cronicamente elevada, é um

fator de risco primário para o desenvolvimento de doença arterial coronariana. Portanto,

manter níveis adequados de PA torna-se fundamental para a saúde.

123

4.3.3 Freqüência Cardíaca

Semelhante com o que ocorreu com a PAS, a FC após o exercício aeróbio foi maior do

que após o ECR (Gráfico 14). De acordo com o gráfico 13, observa-se que o exercício

mantém a FC elevada por pelo menos 30 minutos após o término da sessão, corroborando

com outros estudos (Boutcher & Landers, 1988; Forjaz et al., 1998; O’Connor et al., 1993;

Tuson, Sinyor & Pelletier, 1995). O’Connor et al. (1993) verificaram que a FC manteve-se

elevada por 2h em relação ao repouso após uma sessão de exercício contra-resistência.

0

25

50

75

100

125

150

175

ECR 50%8RM

ECR 100%8RM

ECR Auto-Selecionado

Corrida 60-65% FCMáx

Corrida 85-90% FCMáx

CorridaAuto-

Selecionada

Controle

FC (bpm)

pré-treinopós-treino30'pós-treino

Gráfico 14: Efeito de diferentes condições experimentais na freqüência cardíaca (FC). (p<0,01 *: diferente em relação às sessões de exercício contra-resistência - ECR)

4.4. Relação entre as Variáveis Psicofisiológicas

Foi realizada uma correlação de Pearson entre as variáveis do estado de humor e as

variáveis fisiológicas nas três mensurações (pré, pós e 30min pós treino). A relação entre as

variáveis negativas do POMS foi positiva e significativa. Uma relação negativa entre as

* *

124

variáveis negativas e o vigor também foi encontrada, demonstrando uma consistência do

questionário (Tabela 6). No entanto, não houve relação entre os fatores do humor, a pressão

arterial e a freqüência cardíaca pré-treino. Da mesma forma, não houve relação significativa

entre o estado de humor pré-treino e a percepção de esforço das sessões de treino, como

preconizado pela literatura.

Tabela 6: Relação entre as variáveis do Estado de Humor, o Humor Total (HT), a Pressão Arterial Sistólica (PAS) e Diastólica (PAD) e a Freqüência Cardíaca (FC)

n = 108 Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão HT PAS PAD FC Depressão 0,42**

Raiva 0,44** 0,65** Vigor -0,18 -0,42** -0,14

Fadiga 0,35** 0,53** 0,45** -0,42** Confusão 0,59** 0,66** 0,60** -0,37** 0,55**

HT 0,66** 0,83** 0,70** -0,66** 0,73** 0,81** PAS -0,12 0,07 0,16 -0,04 0,10 -0,06 0,04 PAD -0,33** -0,01 -0,03 0,10 -0,06 -0,24* -0,17 0,40** FC -0,18 -0,01 -0,10 -0,03 -0,17 0,01 -0,10 -0,10 -0,10 IEP 0,08 0,02 -0,04 -0,04 -0,03 0,07 0,03 -0,02 -0,05 -0,06

(* = significativa para p<0,05; ** = significativa para p<0,01)

Morgan (1994) afirma que pessoas ansiosas e depressivas tendem perceber um esforço

mais intenso do que realmente ele representa. Dois fatores podem explicar os achados do

presente estudo. Um deles é o perfil psicológico da amostra, considerada normal. Outro fator

é que o IEP relaciona-se com a intensidade. Uma vez que as alterações no humor foram

independentes da intensidade, sua relação com o IEP, provavelmente, tornou-se fraca.

Uma observação pertinente sobre a relação entre estado de humor e PA é que na

situação de controle ambas não se alteraram, ao contrário da situação após o exercício.

Entretanto, não foi possível identificar um padrão de mudança similar entre essas variáveis,

com exceção do fator tensão. No pós-treino, observou-se um aumento da pressão arterial

sistólica e também da tensão, seguindo um padrão de queda rápido da PA, verificado aos 30

125

minutos, e uma queda lenta da tensão, que aos 30 minutos é menor que após o exercício. O

componente de recuperação psicológico parece ser mais lento do que o fisiológico.

Provavelmente, a interação entre os fatores não acontece quando o estresse é físico,

pois a PA aumenta não porque a tensão aumenta, mas porque há uma estimulação fisiológica

gerada por um estímulo físico (o exercício). No entanto, pode-se especular que no estresse

psicológico essa interação possa acontecer, sendo a resposta vascular proporcional ao estresse

percebido e, conseqüentemente, à tensão vivenciada. Como observado por Roth (1989) e

Petruzzello et al. (1991), a pressão arterial pode não ser um bom indicador psicofisiológico.

Torna-se importante frisar que a relação entre variáveis psicológicas e fisiológicas não

é de causa e efeito. Portanto, a relação psicofisiológica, estabelecida neste estudo, caracteriza-

se pela modificação de fatores psicológicos (estado de humor) e fisiológicos (PA e FC) a

partir de um estímulo fisiológico (exercício), de maneira que eles estão de alguma forma

relacionados. Essa relação pode não ser significativa em indivíduos saudáveis, podendo existir

um limiar para que haja influência na mudança de uma variável sobre a outra. Os mecanismos

pelos quais variáveis psicológicas e fisiológicas se influenciam precisam ser pesquisados em

maior profundidade, especialmente suas relações no exercício e no esporte, como forma de

fortalecer a Psicofisiologia enquanto área de conhecimento.

126

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O exercício físico tem sido associado a benefícios fisiológicos e psicológicos de

maneira que a adoção de um estilo de vida mais ativo tem sido usada como uma alternativa

eficaz na prevenção de doenças e na promoção da saúde. A literatura revisada, neste estudo,

mostrou que sessões agudas de exercício promovem uma melhoria no estado de humor

juntamente com uma redução na pressão arterial, revelando uma tendência de utilizar

abordagens de pesquisa que possuam uma visão integrada de saúde, considerando tanto os

aspectos físicos quanto psicológicos envolvidos na prática do exercício. Este enfoque

psicofisiológico tem procurado estabelecer relações entre variáveis psicológicas e fisiológicas

que são modificadas pelo exercício, objetivando um melhor entendimento dos seus efeitos

sobre a saúde para que se possam estruturar programas de atividade física adequados à

individualidade dos praticantes, maximizando seus benefícios e minimizando seus riscos,

favorecendo a adesão ao exercício.

Dessa maneira, o presente estudo teve como objetivo verificar os efeitos agudos do

exercício sobre a pressão arterial e o estado de humor, visando contribuir na prescrição de

programas de exercício que considerem tanto o aspecto físico quanto mental dos indivíduos,

este último, no entanto, muitas vezes desconsiderado pelos praticantes, professores,

treinadores e pesquisadores da atividade física.

A partir dos resultados encontrados e com base na literatura, pôde-se concluir que uma

sessão aguda de exercício, independente do tipo e da intensidade de esforço, modifica o

estado de humor e a pressão arterial dos sujeitos. Portanto, a hipótese experimental de que as

127

alterações psicofisiológicas seriam influenciadas pela intensidade e pelo tipo do exercício

deve ser rejeitada; e a hipótese nula deve ser aceita. Este resultado soma-se a uma parte da

literatura que também concorda que as alterações no estado de humor e na pressão arterial

acontecem independentemente do tipo ou da intensidade do exercício que se realiza. Deve-se

considerar, no entanto, que o efeito do exercício sobre o estado de humor e a pressão arterial

não é totalmente independente da intensidade do exercício, pois não se testou outras

intensidades, como por exemplo, intensidades abaixo de 60% da FCMáx ou acima de 90%.

Por isso, o resultado deve se restringir à variação de intensidade adotada neste estudo de 60 a

90% da FCMáx e de 50 a 100% de 8RM, para a corrida na esteira e para o exercício contra-

resistência, respectivamente.

Foi observado que praticantes de atividade física de academia demonstram um perfil

de humor bastante positivo e níveis pressóricos normais. Apesar de não ter sido feita nenhuma

comparação com uma amostra de sedentários, este achado sugere que indivíduos fisicamente

ativos apresentam um perfil psicofisiológico saudável, representado, neste estudo, pelo estado

de humor e pela pressão arterial.

Foi verificado que uma sessão aguda de corrida na esteira ou de exercício contra-

resistência de intensidade alta, baixa ou auto-selecionada, praticadas por indivíduos com um

perfil de humor positivo, promovem uma pequena, porém significativa, piora no estado de

humor, devido ao aumento da tensão, da fadiga e do distúrbio de humor e da diminuição do

vigor pós-treino, seguindo um padrão de restabelecimento do perfil inicial ao longo do

término da sessão. Do ponto de vista prático, porém, pode-se dizer que o efeito agudo do

exercício contribuiu apenas para a manutenção da saúde mental, uma vez que manteve as

características de um perfil de humor positivo, ou seja, baixos valores para os fatores

negativos e alto valor para o fator positivo.

128

Pode-se dizer que as sessões de exercício promoveram alterações similares no estado

de humor dos sujeitos que foram influenciadas pelo perfil de humor da amostra. Para os

indivíduos com um perfil de saúde mental positivo, os benefícios no estado de humor parecem

não ocorrer de forma aguda, mas ao longo do processo de recuperação e de adaptação ao

estresse, que pode acontecer horas após o exercício ou em longo prazo, pelo menos quando se

utiliza o POMS como instrumento de mensuração. Analisando o perfil dos estados de humor

dos sujeitos após o experimento, em cerca de dois meses, verificou-se que os indivíduos

apresentavam um perfil melhor do que quando iniciaram o estudo, ou seja, a prática

continuada do exercício contribuiu para que houvesse uma melhoria no estado de humor. Por

isso, torna-se importante incentivar esta prática como um hábito que deve ser incorporado ao

estilo de vida das pessoas, com o objetivo de promover o bem-estar e prevenir distúrbios

psicológicos futuros.

Em relação à pressão arterial, o presente estudo mostrou que tanto o exercício aeróbio

quanto o exercício contra-resistência promoveram um efeito hipotensivo em indivíduos

normotensos, independente da intensidade de esforço. Isto mostra que o exercício praticado

de forma leve, moderada ou intensa promove diminuição dos níveis pressóricos. Portanto, a

prescrição do exercício aeróbio ou de contra-resistência em intensidades variadas representa

uma alternativa saudável e eficaz para a diminuição e o controle da pressão arterial. A PA é

um dos parâmetros fisiológicos importantes no equilíbrio da hemodinâmica corporal, sendo

que altos níveis pressóricos são determinantes de doenças degenerativas, como doença arterial

coronariana, hipertensão e acidente vascular cerebral. Tais doenças representam importantes

fatores de morbidade e mortalidade, devendo, por isso, ser prevenidas.

Os resultados sobre a pressão arterial contribuem para derrubar o mito de que somente

o exercício aeróbio é eficaz na redução da PA quando comparado aos exercícios resistidos.

Sabe-se, atualmente, que mesmo pessoas hipertensas podem se beneficiar de um programa de

129

exercício contra-resistência. Esta forma de atividade deve ser, decididamente, incorporada aos

programas de exercício voltados para a melhoria da aptidão física e saúde dos indivíduos.

Ao contrário do efeito hipotensor generalizado, verificado após o término do exercício,

observou-se uma variedade de respostas em relação ao estado de humor, denotando uma

individualidade na percepção dos efeitos psicológicos. Enquanto a pressão arterial

demonstrou um comportamento típico de aumento após o esforço e diminuição abaixo do

repouso após um certo período da recuperação, para a maioria dos sujeitos não houve um

padrão de comportamento em relação ao estado de humor. Embora existam padrões gerais de

quantidade e qualidade do exercício para a promoção da saúde, os resultados do presente

estudo sugerem que o componente físico e o psicológico podem requerer doses diferentes de

exercício de maneira que se deve respeitar a individualidade das pessoas, identificando a dose

ideal para cada um. Se por um lado diretrizes gerais são eficazes na diminuição da PA,

diretrizes individuais são necessárias para um maior benefício psicológico imediato. Acredita-

se que o fator mediador para a conquista dos benefícios psicológicos aliados aos fisiológicos

seja a autonomia na escolha das características do exercício pelo próprio sujeito.

Na amostra estudada, foi observada, no repouso, uma fraca relação entre o estado de

humor e a pressão arterial, pois a variabilidade destas variáveis foi pequena. Após o exercício,

estas variáveis se alteraram, mas de maneira independente, sugerindo que diferentes

mecanismos estão envolvidos na sua regulação. A simultaneidade psicofisiológica entre

humor e PA provavelmente é maior em indivíduos com distúrbios de humor e em situações de

estresse psicológico, ou seja, parece que em certas condições há uma maior interação entre

variáveis psicológicas e fisiológicas. Certamente, novas pesquisas são necessárias para o

entendimento deste complexo fenômeno que envolve aspectos internos (centrais e periféricos)

e comportamentais.

130

O Índice de Esforço Percebido mostrou-se um instrumento útil e fidedigno na

estimativa da intensidade objetiva, representando uma integração de respostas objetivas e

subjetivas na compreensão do esforço físico. Dessa forma, os profissionais do exercício

devem considerar as percepções individuais na prescrição e durante o treinamento, pois o

estado emocional do indivíduo pode modificar a percepção de uma intensidade particular.

Devido a sua natureza psicofisiológica, o IEP deve, desde já, ser introduzido como prioridade

de pesquisa na Psicofisiologia.

Um dos pontos positivos deste estudo é a generalização dos resultados para situações

reais de prática de atividade física dentro da academia. Por ter utilizado praticantes de

exercício, dentro do próprio ambiente e rotina de prática, os resultados refletem aquilo que

acontece quando o indivíduo pratica o exercício na academia. Por outro lado, houve uma

limitação em determinar se os sujeitos reportaram o que realmente eles estavam sentindo, que

é inerente ao instrumento de medida psicológica, principalmente quando ele é respondido

várias vezes. Por isso, talvez fosse interessante adotar grupos diferentes em vez dos mesmos

sujeitos sendo testados repetidamente. A não mensuração dos níveis hormonais limitou a

discussão acerca dos mecanismos responsáveis pelas alterações psicofisiológicas. No entanto,

algumas considerações são necessárias, pois os resultados revelam importantes implicações

tanto para o conhecimento prático quanto teórico.

Referente ao conhecimento teórico, o estudo revelou que o benefício psicológico do

exercício em sujeitos saudáveis pode não ocorrer logo após o término de uma sessão, mas

somente após um período mais longo da recuperação ou cronicamente em função da melhoria

da aptidão física e de outros fatores psicológicos, como auto-imagem e auto-eficácia. O

POMS mostrou-se um instrumento válido, mas insensível às alterações agudas positivas

possivelmente vivenciadas pelos sujeitos. A teoria da distração parece não explicar as

alterações induzidas pelo exercício, uma vez que uma situação sem exercício não mostrou

131

alterações no humor. A hipotensão após o exercício é verificada mesmo em sujeitos

normotensos. Um estudo de metanálise se faz necessário sobre os efeitos agudos do exercício

sobre o estado de humor, para quantificar o seu real efeito e analisar o efeito de determinadas

variáveis nos resultados, como o instrumento usado e o perfil de humor da amostra,

reportados neste estudo como possíveis variáveis intervenientes.

Do ponto de vista prático, pode-se afirmar que benefícios similares podem ser

conseguidos com exercícios de menor intensidade, quebrando o mito de que para alcançá-los

é preciso exercitar-se intensamente. Isto pode ser um importante fator para a adesão ao

exercício, uma vez que ela está inversamente associada à intensidade de esforço. O exercício

intenso, embora necessário para alcançar maiores resultados estéticos, deve ser prescrito e

planejado adequadamente, possibilitando uma recuperação adequada e adaptações positivas.

Os resultados do presente estudo sugerem que mais do se preocupar com as características

dos programas, os profissionais do exercício devem estimular as pessoas a realizarem alguma

forma de atividade física. Os professores de Educação Física devem respeitar as

individualidades e preferências dos praticantes no momento da elaboração dos programas,

permitindo que eles também participem deste processo, de modo que se exercitem da maneira

que melhor lhes satisfazem.

Para o avanço da pesquisa e o aprofundamento do conhecimento, recomendam-se

estudos que utilizem indivíduos com diferentes níveis de aptidão física, experientes e

inexperientes com exercício e, principalmente, com diferentes perfis de humor, considerando

o ambiente de prática e as preferências individuais. Novos estudos são necessários para se

determinar a relação dose-resposta entre exercício e estados psicológicos. Recomendam-se

também o desenvolvimento e a validação de outros instrumentos de medida para o estado de

humor, com a publicação de dados normativos para a população brasileira, bem como estudos

sobre os mecanismos envolvidos na alteração do humor pelo exercício. A utilização de

132

medidas qualitativas também deve ser incentivada. Novos estudos dentro da abordagem

psicofisiológica também são necessários, utilizando outras variáveis fisiológicas (atividade

neural simpática e parassimpática, endorfina, catecolaminas, cortisol e ácido lático) e

psicológicas (auto-eficácia, expectativa de mudanças e traços de personalidade), bem como

medidas eletroencefalográficas, eletromiográficas e resposta galvânica.

Estas considerações teórico-metodológicas são necessárias para que se possa avançar

tanto no entendimento dos efeitos psicológicos do exercício e sua relação de dose-resposta

quanto na consideração do indivíduo dentro da ótica psicofisiológica. Uma medida prática que

deveria ser adotada pelas academias de ginástica seria a inserção de medidas psicológicas

dentro da avaliação inicial e continuada dos praticantes, informando não somente os

resultados antropométricos e funcionais, mas também as alterações no aspecto emocional.

Portanto, foi demonstrado que o exercício promove efeitos tanto fisiológicos, como a

redução da pressão arterial, quanto psicológicos, como a melhoria do estado de humor, que

estão de alguma forma relacionados. Neste sentido, a prática do exercício é uma alternativa

eficaz no alcance de um equilíbrio interno psicofisiológico. Estudos da psicofisiologia do

exercício, orientados para a qualidade de vida, podem contribuir para o nosso entendimento

de como o exercício pode ser melhor usado para promover o bem-estar dos praticantes. Isto

certamente auxiliará na elaboração de programas voltados para a melhoria da saúde e da

qualidade de vida das pessoas, tendo implicações nas estratégias de adesão aos programas de

exercício, objetivo primordial de todos os profissionais envolvidos com a atividade física.

133

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145

ANEXOS Anexo 1: Formulário de Identificação dos Indivíduos Nome Completo: __________________________________________________________ Data de Nascimento: ____/____/____ Sexo: _________ Endereço: ____________________________________________Bairro: ____________ Cidade: ________________________ Estado: ____________CEP: _______________ Telefone: ________________________ Fax: _______________ História de Atividade Física: ( ) Sim Atual: Passada: Qual? ____________________________ Qual? _________________________________ Há quanto tempo: ___________________ Durante quanto tempo? ___________________ Parado há quanto tempo? _________________

( ) Nível competitivo ( ) Nível competitivo ( ) mínimo de 3 vezes/semana ( ) mínimo de 3 vezes/semana ( ) menos de 3 vezes/semana ( ) menos de 3 vezes/semana

( ) NÃO, nunca fez História de lesão: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Medicamentos em uso: ________________________________________________________ Observações: _______________________________________________________________

Questionário para determinação da prontidão para atividades físicas ( QPAF )

Sim Não Seu médico já disse que você possui algum problema cardíaco e recomendou atividades apenas sob supervisão médica?

Você tem dor no peito provocada por atividades físicas? Você teve dor no peito no ultimo mês sem que estivesse fazendo atividade física? Você já perdeu a consciência em alguma ocasião ou sofreu alguma queda em virtude de tontura?

Você tem algum problema ósseo ou articular que poderia agravar-se com as atividades físicas propostas?

Algum médico já lhe prescreveu medicamento para a pressão arterial ou para o coração? Você tem conhecimento, por informação médica ou pela própria experiência, de algum motivo que poderia impedi-lo de participar de atividades físicas sem supervisão médica?

Três Rios, ______ de _____________________ de ___________

_________________________________ Assinatura

146

Anexo 2: Termo de Consentimento

TERMO DE CONSENTIMENTO

Eu,____________________________________, residente à _______________________

______________________________________________identidade nº__________________,

voluntariamente concordo em participar da pesquisa de Dissertação de Mestrado da

Universidade Gama Filho intitulada “Efeitos psicofisiológicos do exercício aeróbio e contra-

resistência em diferentes intensidades” realizada por Francisco Zacaron Werneck e orientada

pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Scipião Ribeiro. Estou ciente que o estudo tem por objetivo

verificar o efeito agudo de uma sessão de musculação e de corrida na esteira em diferentes

intensidades sobre os estados de humor, a pressão arterial e a freqüência cardíaca, e que, para

isso, serei submetido a:

• Uma sessão de teste

• Três sessões de corrida na esteira e três sessões de exercício contra-resistência (ECR)

• Uma sessão de controle sem exercício físico.

Na sessão de teste, serei submetido a:

1- Medida do Estado de Humor através de um questionário de auto-relato

2- Medidas Antropométricas (Peso, Altura e Percentual de Gordura)

3- Medidas Funcionais (Pressão Arterial, Freqüência Cardíaca de Repouso e VO2

submáximo)

4- Teste de Força de 8 RM (Carga máxima possível de ser levantada em 8 execuções

corretas do movimento) para os seguintes exercícios: supino, puxada pela frente,

desenvolvimento, tríceps no pulley, rosca direta, leg press 45º, flexão de pernas

As sessões de treino serão:

1- Uma sessão de ECR com intensidade de carga de 50% de 8RM, realizando 16

repetições para cada exercício com intervalo de 1minuto entre as séries e exercícios.

2- Uma sessão de ECR com intensidade de carga de 100% de 8RM, realizando 8

repetições para cada exercício com intervalo de 1minuto e 30 segundos entre as séries

e exercícios.

3- Uma sessão de ECR com intensidade de carga, número de repetições e intervalo de

recuperação auto-selecionados.

4- Uma sessão de corrida na esteira com intensidade de 60-65% da FCM durante 30min.

147

5- Uma sessão de corrida na esteira com intensidade de 85-90% da FCM durante 30min.

6- Uma sessão de corrida na esteira com intensidade auto-selecionada durante 30min.

A sessão de controle consistirá em ir para a academia, mas não realizar o exercício.

Nas sessões de treino e na sessão de controle serei submetido a:

1- Medida do Estado de Humor, Pressão Arterial e Freqüência Cardíaca imediatamente

antes, após e 30min depois de cada sessão.

2- Medida do Índice de Percepção de Esforço após cada série de treinamento contra-

resistência e a cada 5min durante o treinamento aeróbio.

Estou ciente de que a duração total de cada sessão é de, aproximadamente, 1 hora e 30

minutos e que, não devo fazer atividade física nos dias de teste e de treinamento. Compreendo

que:

1- Em estudos dessa natureza, pode ocorrer algum desconforto, mesmo que raro, como:

dores e lesões musculares e cansaço.

2- Terei acesso a todos os dados referentes a minha participação neste estudo, incluindo o

relatório final.

3- Todas as informações obtidas nos testes por mim realizados serão única e exclusivamente

utilizadas para fins acadêmicos e científicos, incluindo publicação em literatura

especializada.

4- Posso interromper ou até mesmo abandonar este estudo a qualquer momento, sem que

nenhuma implicação recaia sobre mim.

Três Rios,_____ de _______________________ de 2003

_____________________________________________

Voluntário

_____________________________________________

Investigador Responsável

148

Anexo 3 –Índice de Esforço Percebido (Borg, 2000)

ÍNDICE DE ESFORÇO PERCEBIDO (IEP)

Durante o exercício, desejamos que você estime a sua percepção de esforço, isto é, como está percebendo o exercício (intenso). A percepção do esforço depende, principalmente, da tensão e da fadiga em seus músculos, e da sua sensação de falta de ar ou de dores no peito. Examine esta escala de pontuação; queremos que você a use considerando que 6 significa “sem nenhum esforço” e 20 significa “máximo esforço”.

6 Sem nenhum esforço 7 Extremamente leve 8 9 Muito leve 10 11 Leve 12 13 Um pouco intenso 14 15 Intenso (pesado) 16 17 Muito intenso 18 19 Extremamente intenso 20 Máximo esforço

9 corresponde a um exercício “muito leve”. Para uma pessoa sadia e normal, é como caminhar lentamente, em seu próprio ritmo, durante alguns minutos. 13 na escala está como exercício “um pouco intenso”, mas o indivíduo ainda se sente

bem para continuar. 17 “muito intenso”é igual a muito vigoroso. Uma pessoa sadia ainda pode prosseguir,

mas, na verdade, tem de “se empurrar”. O exercício é percebido como muito puxado e a pessoa está muito cansada.

19 a escala é um nível de exercício extremamente desgastante. Para a maior parte das pessoas este é o exercício mais vigoroso que o indivíduo pode ter vivenciado em toda a sua vida.

Tente avaliar a sua sensação de esforço com a maior honestidade possível, sem pensar em qual é a carga física real. Não subestime esta carga, mas também não a superestime. É a sua própria sensação do esforço e do cansaço que importa, e não a sua comparação com as outras pessoas. O que as demais pessoas pensam também não é importante. Observe a escala e as expressões nela registradas e, em seguida, faça a sua pontuação. Alguma pergunta?

149

Anexo 4 – Questionário POMS – Perfil dos Estados de Humor (McNair et al. adaptado por Brandão et al., 1993) Nome: Abaixo existe uma lista de palavras que descrevem sentimentos que as pessoas têm. Por favor, leia cada uma cuidadosamente e assinale o número que melhor descreve o que você está sentindo neste exato momento. Os números significam: 0 = nada

1 = um pouco 2 = mais ou menos 3 = bastante 4 = extremamente

21. sem esperança........ 22. relaxado...................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

43. bondoso................... 44. deprimido.................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

1. amistoso................... 2. tenso.........................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

23. desvalorizado........... 24. rancoroso.................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

45. desesperado............ 46. preguiçoso...............

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

3. bravo......................... 4. esgotado...................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

25. simpático.................. 26. intranqüilo................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

47. rebelde..................... 48. abandonado.............

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

5. infeliz......................... 6. sereno. .....................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

27. inquieto.................... 28. incapaz concentrar-se

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

49. aborrecido................ 50. desorientado............

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

7. animado.................... 8. confuso.....................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

29. cansado................... 30. cooperador...............

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

51. alerta........................ 52. decepcionado...........

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

9. arrependido............... 10. agitado....................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

31. irritado...................... 32. desanimado.............

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

53. furioso...................... 54. eficiente....................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

11. apático.................... 12. mal humorado........

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

33. ressentido................ 34. nervoso....................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

55. confiante.................. 56. cheio de energia......

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

13.preocupado com outros 14. triste........................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

35. sozinho..................... 36. miserável..................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

57. genioso.................... 58. inútil..........................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

15. ativo......................... 16. a ponto de explodir..

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

37. atordoado................. 38. alegre.......................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

59. esquecido................. 60. sem preocupação....

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

17. resmungão............... 18. abatido.....................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

39. amargurado.............. 40. exausto....................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

61. aterrorizado.............. 62. culpado....................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

19. energético................ 20. apavorado................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

41. ansioso..................... 42. briguento..................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

63. vigoroso................... 64. inseguro...................

0 1 2 3 4 0 1 2 3 4

65. fatigado....................

0 1 2 3 4

OBS: Assegure-se de que você respondeu todos os 65 ítens

Tensão: Depressão: Raiva: Vigor: Fadiga: Confusão:

150 Anexo 5: Formulário de Coleta de Dados Antropométricos, Teste de VO2 Submáximo e Teste de Carga de 8RM (Repetições Máximas)

FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS Nome: _______________________________________________________ Peso: _____________ Altura: ______________ Percentual de Gordura: ____________________ VO2máx estimado: _______________________

TESTE DE 8RM

Tentativa 1 Tentativa 2 Tentativa 3 Tentativa 4 Exercícios carga reps IEP carga reps IEP carga reps IEP carga reps IEP

1- Supino Reto 2- Leg Press 45º 3- Puxada pela frente 4- Desenvolvimento 5- Flexão de pernas 6- Rosca Direta 7- Tríceps no Pulley PA Pré-teste______________ FC Pré-teste______________

______________________________ Avaliador

151

Anexo 6 – Formulário de Coleta de Dados do Exercício Contra-Resistência

FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS EXERCÍCIO CONTRA-RESISTÊNCIA

Nome: _____________________________________________________________________

TREINO 2 (100% 8RM)

1ª série 2ª série 3ª série EXERCÍCIO carga reps IEP reps IEP reps IEP

1- Supino Reto 2- Leg Press 45º 3- Pulley pela frente 4- Desenvolvimento 5- Flexão de pernas 6- Rosca Direta 7- Tríceps no Pulley PA Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________ FC Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________

TREINO 1 (50% 8RM)

1ª série 2ª série 3ª série EXERCÍCIO carga reps IEP reps IEP reps IEP

1- Supino Reto 2- Leg Press 45º 3- Pulley pela frente 4- Desenvolvimento 5- Flexão de pernas 6- Rosca Direta 7- Tríceps no Pulley PA Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________ FC Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________

TREINO 3 (Auto-Selecionado)

1ª série 2ª série 3ª série EXERCÍCIO carga reps IEP reps IEP reps IEP

1- Supino Reto 2- Leg Press 45º 3- Pulley pela frente 4- Desenvolvimento 5- Flexão de pernas 6- Rosca Direta 7- Tríceps no Pulley PA Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________ FC Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________

152

Anexo 7 - Formulário de Coleta de Dados para o Exercício Aeróbio

FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS PARA O EXERCÍCIO AERÓBIO

Nome: _____________________________________________________________

TREINO 4 (60-65% FCM) FCtreino = _____________

5min 10min 15min 20min EXERCÍCIO Km/h FC IEP K m/h FC IEP Km/h FC IEP Km/h FC IEP

Corrida 30min 25min 30min Km/h FC IEP K m/h FC IEP

PA Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________ FC Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________

TREINO 5 (85-90% FCM) FCtreino = ____________

5min 10’min 15min 20min EXERCÍCIO Km/h FC IEP K m/h FC IEP Km/h FC IEP Km/h FC IEP

Corrida 30min 25min 30min Km/h FC IEP Km/h FC IEP PA Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________ FC Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________

TREINO 6 (Auto-Selecionado) FCtreino = __________

5min 10’min 15min 20min EXERCÍCIO Km/h FC IEP K m/h FC IEP Km/h FC IEP Km/h FC IEP

25min 30min Km/h FC IEP Km/h FC IEP PA Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________ FC Pré-teste______________ Pós-teste_________________ 30’Pós-teste___________________