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Diretiva Responsabilidade Ambiental: Manual e Diapositivos de Formação Para a Comissão Europeia, Direção-Geral do Ambiente Contrato sob a referência n.º 070307/2012/621542/SER/A1 Fevereiro de 2013 EFTEC STRATUS CONSULTING

EFTEC STRATUS - European Commission...Manual para 2 dias de formação Versão - fevereiro de 2013 AGRADECIMENTOS A equipa responsável pelo estudo gostaria de agradecer a Hans Lopatta

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Diretiva Responsabilidade Ambiental:

Manual e Diapositivos de Formação

Para a Comissão Europeia, Direção-Geral do Ambiente

Contrato sob a referência n.º 070307/2012/621542/SER/A1

Fevereiro de 2013

EFTEC

STRATUS CONSULTING

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DIRETIVA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Manual para 2 dias de formação

Versão - fevereiro de 2013

AGRADECIMENTOS

A equipa responsável pelo estudo gostaria de agradecer a Hans Lopatta e Alexandra Vakrou, ambos da Direção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia, pela sua orientação e apoio ao longo do projeto. Gostaríamos também de agradecer a todos os participantes das autoridades públicas, da indústria, das seguradoras e das instituições académicas dos Estados-Membros que participaram nos workshops e nos webinars de avaliação e a todos quantos comentaram as versões anteriores do presente manual. Quaisquer erros são da exclusiva responsabilidade dos autores.

AVISO LEGAL

O presente material de formação foi preparado para a Comissão Europeia. Porém, apenas reflete as opiniões dos autores e a Comissão não é responsável pela utilização dada às informações nele contidas. A equipa do projeto não assume qualquer responsabilidade por quaisquer danos diretos ou indiretos resultantes da utilização, no todo ou em parte, do presente pacote de formação (manual de instruções e diapositivos).

As palavras a negrito constam do glossário inserto no final.

As palavras a negrito azul são palavras e termos-chave com os quais o leitor deve estar familiarizado.

EFTEC 73-75 Mortimer Street Londres W1W 7SQ Tel.: 44(0)2075805383 Fax: 44(0)2075805385 [email protected] www.eftec.co.uk

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0. INTRODUÇÃO AO MATERIAL DE FORMAÇÃO

A EFTEC e a Stratus Consulting, Inc. desenvolveram material de formação para que a Comissão Europeia pudesse disponibilizar informações instrutivas facilmente acessíveis no que respeita à Diretiva Responsabilidade Ambiental (DRA). O material de formação consiste em três pacotes de diapositivos PowerPointTM e no manual de formação para:

o uma apresentação de ½ dia destinada ao público em geral ou às partes interessadas que necessitam de

informações básicas sobre o âmbito e os princípios da DRA, mas não de informações técnicas detalhadas:

o Nome do ficheiro: ELD training_half day_final_0213.ppt o Nome do ficheiro: ELD training handbook_half day_final_0213.doc

o um workshop de 1 dia para públicos que procuram uma quantidade maior de informações técnicas

sobre o processo de avaliação dos danos ao abrigo da DRA (inclui o texto da apresentação de ½ dia, informações adicionais sobre o processo de aplicação da DRA e os princípios básicos da análise de equivalência):

o Nome do ficheiro: ELD training_one day_final_0213.ppt o Nome do ficheiro: ELD training handbook_one day_final_0213.doc

o um workshop de 2 dias para públicos que procuram uma quantidade ainda maior de informações

técnicas sobre o processo de avaliação dos danos ao abrigo da DRA, com detalhes técnicos adicionais, estudos de casos e um exercício prático em grupo (em complemento do texto das versões de ½ dia e de 1 dia):

o Nome do ficheiro: ELD training_two days_final_0213.ppt o Nome do ficheiro: ELD training handbook_two days_final_0213.doc [PRESENTE DOCUMENTO] o Nome do ficheiro: ELD_2 Days Training example worksheet.xls

Cabe aos leitores / formadores escolherem o pacote de formação adequado às suas necessidades. A primeira etapa pretende que todas as partes interessadas compreendam os fundamentos básicos da DRA, incluídos na versão de ½ dia (que é igual ao primeiro ponto do presente documento). O grau do detalhe técnico apresentado na versão de 2 dias não é necessário a todas as partes interessadas, mas será útil aos responsáveis pelas avaliações. Sempre que se realiza uma avaliação, é necessário ter em conta que é a natureza do caso que vai determinar o nível adequado de esforço analítico: no que diz respeito aos casos mais «claros» (quando a fonte, os danos e os benefícios da reparação são facilmente identificáveis), a análise torna-se mais simples. No que diz respeito aos casos mais complexos, serão necessárias análises mais complicadas e, por conseguinte, maior especialização, mais tempo e mais recursos.

O objetivo global do material de formação é facilitar uma maior e melhor compreensão da DRA, para que esta possa ser aplicada de forma mais ampla. Com o material de formação, pretende-se ajudar o leitor a responder às seguintes questões essenciais:

• O que é a DRA? – Objetivos e âmbito da DRA;

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• Como avaliar se a DRA se aplica a uma atividade? – Diferentes tipos de danos causados a recursos naturais abrangidos pela DRA; regime de responsabilidade da DRA; diferentes atividades e incidentes;

• Como avaliar se um incidente é abrangido pela DRA? – Isenções e exceções de responsabilidade; • Quem faz o quê? – Obrigações, direitos e possíveis funções das principais partes interessadas; • Quais os tipos de reparação a considerar exigidos pela DRA? – Incluindo de que modo a reparação se relaciona

com a determinação da responsabilidade total do operador; • Como decidir sobre a quantidade de reparação necessária? – Análises de danos e de reparação (equivalência); e • Quais os custos recuperáveis e de quem podem ser recuperados? – Tipos de custos; obrigações e direitos dos

operadores; garantia financeira. São fornecidos vários exemplos e estudos de caso que ilustram a aplicação da DRA, bem como o processo de avaliação nela previsto. São também disponibilizados uma lista de acrónimos/abreviaturas e um glossário, bem como as ligações para as diretivas relevantes e para os documentos de orientação publicados pelos Estados-Membros relativamente à DRA, a legislação dos Estados-Membros que transpõe a DRA e uma seleção de outros documentos oficiais, referências jurídicas no contexto da DRA e referências relacionadas com as garantias financeiras. Além disso, o manual de formação de 2 dias contém os seguintes anexos: • Métodos de análise da equivalência; • Avaliação económica; • Serviços ecossistémicos; • Garantias financeiras; • Avaliação dos danos de um parque eólico através da análise de equivalência; e • Exercício de avaliação de danos em grupo de trabalho.

Este material de formação foi desenvolvido para as principais partes interessadas que têm necessidade de compreender a diretiva para cumprirem as suas obrigações jurídicas no âmbito desta, ou cujo trabalho está direta ou indiretamente relacionado com o campo de aplicação da diretiva, incluindo:

• Autoridades competentes; • Operadores; • Prestadores de garantias financeiras/peritos reguladores de sinistros; • Peritos: em ecologia, especialistas de setor, avaliadores de riscos, economistas, juristas (e quaisquer outros

peritos relevantes, dependendo das circunstâncias de cada caso), e • Organizações não-governamentais e público em geral.

O material incide na DRA, com algumas referências à legislação nacional e a orientações, a título de exemplo. As diferentes transposições e aplicações em cada Estado-Membro (ou nas suas regiões) não são tratadas em pormenor. Assim, o leitor pode contactar as autoridades competentes de cada Estado-Membro para obter mais informações sobre a transposição da DRA a nível nacional e sobre outra legislação pertinente relativa ao ambiente/à responsabilidade.

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Índice

0. INTRODUÇÃO AO MATERIAL DE FORMAÇÃO ...........................................................................................................1

1. O QUE É A DIRETIVA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL? ........................................................................................15

1.1 Introdução.......................................................................................................................................................15

1.2 Objetivo...........................................................................................................................................................15

1.3 A DRA simplificada: uma demonstração da reparação...................................................................................17

1.4. Como avaliar se a DRA se aplica a uma atividade? .........................................................................................20

1.4.1 Recursos e serviços abrangidos pela DRA...............................................................................................21

1.4.2 Atividades abrangidas pela DRA .............................................................................................................24

1.5 Quem faz o quê antes da ocorrência de um incidente/perante uma ameaça iminente?..............................27

1.6 Como avaliar se a DRA se aplica a um caso?...................................................................................................29

1.6.1 Prazos da DRA .........................................................................................................................................29

1.6.2 Isenções e exceções da DRA ...................................................................................................................29

1.6.3 Danos significativos.................................................................................................................................32

1.7 Quem faz o quê perante uma ameaça iminente ou ao ocorrer um incidente? .............................................37

1.8 Custos de reparação........................................................................................................................................39

1.9 Financiamento dos custos de reparação ........................................................................................................40

1.10 Garantias financeiras ..................................................................................................................................40

1.11 Datas futuras fundamentais........................................................................................................................41

2. VISÃO GERAL DO PROCESSO DE APLICAÇÃO DA DRA: PLANEAMENTO DAS AÇÕES DE REPARAÇÃO....................42

3. APLICAÇÃO DA DRA – AVALIAÇÃO DE DANOS: VISÃO GERAL DA ANÁLISE PRELIMINAR, REPARAÇÃO PRIMÁRIA E ANÁLISE DE EQUIVALÊNCIA ............................................................................................................................................45

3.1 Descrição do incidente....................................................................................................................................47

3.2 Identificação e descrição preliminares dos locais, ambientes, espécies e habitats afetados ........................50

3.3 Identificação preliminar da natureza, do grau e da dimensão geográfica e temporal dos danos ambientais ocorridos ou previstos ................................................................................................................................................51

3.4 Identificação preliminar das questões sociais, económicas e transfronteiriças.............................................53

3.5 Benefícios das ações de reparação primária ..................................................................................................54

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3.6 Planeamento preliminar da reparação compensatória e complementar ......................................................56

3.7 Determinação do nível adequado do esforço de avaliação............................................................................65

4. COMO DETERMINAR E QUANTIFICAR OS DANOS...................................................................................................68

4.1 Identificação dos recursos, habitats e serviços danificados ...........................................................................68

4.2 Descrição da natureza do fator de perturbação .............................................................................................69

4.3. Avaliação da exposição ...................................................................................................................................72

4.3.1 Natureza, período, duração e localização...............................................................................................72

4.3.2 Gravidade ................................................................................................................................................72

4.4. Avaliação do recetor .......................................................................................................................................72

4.5. Determinação dos danos ................................................................................................................................73

4.5.1 Águas de superfície .................................................................................................................................73

4.5.2 Águas subterrâneas.................................................................................................................................74

4.5.3 Sedimentos .............................................................................................................................................74

4.5.4 Solos ........................................................................................................................................................75

4.5.5 Vegetação................................................................................................................................................75

4.5.6 Biota ........................................................................................................................................................75

4.5.7 Habitats ...................................................................................................................................................76

4.5.8 Valores humanos ....................................................................................................................................76

4.6 Determinação das causas dos danos ..............................................................................................................77

4.7. Quantificação dos danos.................................................................................................................................77

4.7.1 Medidas de quantificação.......................................................................................................................79

4.7.2 Determinação do estado inicial ..............................................................................................................81

4.7.2.1 Utilização de dados anteriores e posteriores .........................................................................................82

4.7.2.2 Utilização de locais de referência ...........................................................................................................82

4.7.2.3 Utilização de modelos .............................................................................................................................83

4.7.2.4 Fontes de informação .............................................................................................................................83

4.8 Cálculo da perda provisória e dos débitos totais............................................................................................87

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4.8.1 Cálculo do débito total............................................................................................................................87

4.8.2 Incorporação dos benefícios da reparação primária ..............................................................................87

4.8.3 Determinação das taxas de recuperação................................................................................................88

4.8.4 Consideração dos danos colaterais.........................................................................................................88

4.8.5 Cálculo de débitos ao longo do tempo: desconto ..................................................................................88

4.9 Exemplos ilustrativos de cálculos de débito ...................................................................................................89

4.9.1 Análise de equivalência...........................................................................................................................89

4.9.2 Análise de equivalência valor-a-valor .....................................................................................................90

5. COMO AVALIAR OS BENEFÍCIOS DA REPARAÇÃO...................................................................................................92

5.1 Identificação e avaliação das opções de reparação complementar e compensatória ...................................93

5.1.1 Reabilitação e recriação do habitat ........................................................................................................94

5.1.2 Fragmentação e isolamento de habitats – medidas do artigo 10.º (Diretiva Habitats) .........................95

5.1.3 Designação/proteção de habitats ...........................................................................................................95

5.1.4 Diferenças entre a compensação de habitats e a compensação de espécies ........................................95

5.1.5 Compensação e reparação de múltiplas espécies ..................................................................................98

5.2 Critérios de avaliação das opções de reparação.............................................................................................98

Quadro 5.1: Exemplos de critérios de avaliação para seleção de opções de reparação........................................99

5.3 Descrição dos projetos de reparação............................................................................................................101

5.4 Cálculo dos ganhos (créditos) das opções de reparação ..............................................................................102

5.4.1 Determinação do grau de melhoria ......................................................................................................104

5.4.2 Determinação das curvas de recuperação............................................................................................104

5.5 Tratamento das incertezas e dos resultados variáveis da análise de equivalência......................................104

6. DEFINIÇÃO DA ESCALA DAS REPARAÇÕES COMPLEMENTAR E COMPENSATÓRIA ..............................................107

6.1 Cálculo dos ganhos (créditos) por unidade...................................................................................................108

6.1.1 Créditos por unidade: abordagem teórica com uma medida não-monetária......................................108

6.1.2 Créditos por unidade: abordagem teórica com uma medida monetária .............................................109

6.2 Definição da escala da reparação .................................................................................................................110

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6.3 Estimativa dos custos das opções de reparação...........................................................................................113

6.3.1 Componentes dos custos da reparação................................................................................................113

Quadro 6.2: Componentes de custo importantes na estimativa dos custos da reparação .................................113

6.3.2 Estimativa dos custos da reparação......................................................................................................114

6.3.3 Custos desproporcionados....................................................................................................................115

7. ACOMPANHAMENTO E APRESENTAÇÃO DE RELATÓRIOS ...................................................................................117

7.1 Seis tipos de acompanhamento das ações de reparação .............................................................................117

7.2 Calendário das ações de acompanhamento .................................................................................................118

7.3 Apresentação de relatórios...........................................................................................................................119

ACRÓNIMOS / ABREVIATURAS .....................................................................................................................................122

GLOSSÁRIO....................................................................................................................................................................123

LIGAÇÕES PARA AS DIRETIVAS RELEVANTES E PARA OUTRAS ORIENTAÇÕES .............................................................125

LIGAÇÕES PARA ORIENTAÇÕES DOS ESTADOS-MEMBROS RELATIVAS À DIRETIVA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL126

LEGISLAÇÕES DOS ESTADOS-MEMBROS QUE TRANSPÕEM A DRA E UMA SELEÇÃO DE OUTROS DOCUMENTOS OFICIAIS.........................................................................................................................................................................128

REFERÊNCIAS JURÍDICAS NO CONTEXTO DA DIRETIVA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL ...........................................135

Jurisprudência nacional ........................................................................................................................................138

REFERÊNCIAS RELACIONADAS COM AS GARANTIAS FINANCEIRAS..............................................................................139

ANEXO: MÉTODOS DE ANÁLISE DA EQUIVALÊNCIA – VISÃO TEÓRICA ........................................................................142

ANEXO: AVALIAÇÃO ECONÓMICA ................................................................................................................................146

ANEXO: SERVIÇOS ECOSSISTÉMICOS ............................................................................................................................152

ANEXO: GARANTIAS FINANCEIRAS ...............................................................................................................................156

ANEXO: AVALIAÇÃO DOS DANOS PROVOCADOS POR UM PARQUE EÓLICO ATRAVÉS DA ANÁLISE DE EQUIVALÊNCIA 160

ANEXO: EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO DE DANOS.............................................................................................................162

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Quadros

Quadro 1.1: Fatores de avaliação que podem ser utilizados para determinar se o estado de conservação é favorável (Comissão Europeia, 2006)

Quadro 3.1: Exemplos de incidentes que podem causar danos definidos pela DRA

Quadro 3.2: Exemplos de categorias de recursos e de serviços potenciais (no estado inicial ou danificados)

Quadro 3.3: Etapas principais de uma avaliação de danos e como estas se aplicam aos diferentes métodos de equivalência

Quadro 4.1 a: Fontes de informação que podem ser úteis na avaliação de estados iniciais

Quadro 4.1 b: Seleção de fontes de informação que podem ser úteis na avaliação de estados iniciais na República da Irlanda

Quadro 4.2: Exemplo ilustrativo de cálculos de débito efetuados com uma medida não-monetária

Quadro 4.3: Exemplo ilustrativo de cálculos de débito efetuados com uma medida monetária

Quadro 5.1: Exemplos de critérios de avaliação para seleção de opções de reparação

Quadro 6.1: Exemplo ilustrativo dos cálculos de créditos por unidade recorrendo a uma medida não-monetária

Quadro 6.2: Componentes de custo importantes na estimativa dos custo da reparação

Quadro 6.3: Estimativas de custos indicativos para os planos de ação no domínio da biodiversidade do Reino Unido (GHK, 2006)

Figuras

Figura 1.1: «Reparação» de acordo com a DRA para o exemplo ilustrativo

Figura 1.2: Análise do dano

Figura 1.3: Avaliação da aplicabilidade da DRA a uma atividade

Figura 1.4: Regime de responsabilidade da DRA

Figura 1.5: Avaliação da aplicabilidade da DRA a um incidente

Figura 2.1: Aplicação da Diretiva Responsabilidade Ambiental

Figura 2.2: Decisão sobre as medidas de reparação

Figura 3.1: Etapas da análise de equivalência

Figura 5.1: Quantificação das melhorias previstas resultantes da reparação compensatória

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Caixas

Caixa 1.1: Danos a espécies e habitats naturais protegidos

Caixa 1.2: Danos causados à água

Caixa 1.3: Danos causados ao solo

Caixa 1.4: Responsabilidade objetiva

Caixa 2.1: Processos C-379/08 e C-380/08 do Tribunal de Justiça da União Europeia

Caixa 3.1: Visão geral do estudo de caso relativo ao incidente «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 3.2: Identificação e descrição preliminar dos locais, ambientes, espécies e habitats afetados: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 3.3: Avaliação preliminar dos serviços: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 3.4: Questões sociais, económicas e transfronteiriças: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 3.5: Planeamento do projeto de reparação

Caixa 3.6: Hierarquia de preferência das abordagens de análise de equivalência apresentada no anexo II da Diretiva Responsabilidade Ambiental

Caixa 3.7: Exemplo simples para ilustrar as etapas da análise de equivalência de habitats (AEH)

Caixa 3.8: Avaliação da reparação preliminar: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 3.9: Nível de esforço adequado: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 3.10: Exemplo ilustrativo das etapas da análise de equivalência

Caixa 4.1: A DRA e os Organismos Geneticamente Modificados (OGM)

Caixa 4.2: Definição dos níveis de organização e das populações afetados

Caixa 4.3: Determinação dos danos causados a recursos naturais: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 4.4: Quantificação dos danos: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 4.5: Estudo de caso espanhol que ilustra como determinar o estado inicial

Caixa 5.1: Avaliação da reparação: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

Caixa 5.2: Reparação transfronteiriça

Caixa 5.3: Exemplo de caso: Análise do cenário mais pessimista

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Caixa 6.1: Exemplo de caso: Exemplo simples de definição de escala

Caixa 6.2: Exemplo de caso: Definição da escala da reparação com uma medida não-monetária

Caixa 6.3: Exemplo de caso: Definição da escala da reparação com uma medida monetária

Caixa 7.1: Quadro de acompanhamento pós-reparação

Caixa 7.2: Acompanhamento/relatórios: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K»

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1. O QUE É A DIRETIVA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL?

1.1 Introdução A DRA foi publicada no Jornal Oficial da União Europeia a 21 de abril de 2004, sob a referência jurídica 2004/35/CE e com o título: «Diretiva 2004/35/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa à responsabilidade ambiental em termos de prevenção e reparação de danos ambientais». Os Estados-Membros tinham de transpor a diretiva até 30 de abril de 2007. Por várias razões, a aplicação da diretiva em toda a União Europeia só foi concluída em julho de 20101.

A DRA não é retroativa. Ou seja, não é aplicável aos danos ambientais causados por emissões ou incidentes ocorridos antes de 30 de abril de 2007 nem por emissões, acontecimentos ou incidentes ocorridos após essa data, mas que sejam resultado de uma atividade concluída antes de 30 de abril de 2007. A DRA é aplicável às atividades iniciadas antes de 30 de abril de 2007 que tiveram continuidade após essa data, mas somente no relativo aos danos ambientais provocados depois de 30 de abril de 2007.

1.2 Objetivo A diretiva tem o objetivo de estabelecer um quadro de responsabilidade ambiental com base no princípio do poluidor-pagador, de forma a prevenir e reparar os danos ambientais. A DRA complementa os regimes existentes da UE para conservação da natureza, tais como a Diretiva Habitats (92/43/CEE) e a Diretiva Aves Selvagens (2009/147/CE), bem como o regime da UE para proteção da água estabelecido pela Diretiva-Quadro Água (2000/60/CE). Embora o texto da DRA e, por conseguinte, o do presente manual se concentre principalmente nas ações a tomar sempre que um incidente ou uma ameaça iminente ocorrem, a ampla função de prevenção da DRA não deverá ser esquecida.

Os operadores2, as autoridades competentes3 e os prestadores de garantias financeiras devem colaborar nas etapas preparatórias da aplicação da DRA (por exemplo, identificar as operações, os recursos e as localizações de alto risco), a fim de estarem mais bem preparados para poderem determinar as garantias financeiras necessárias e as medidas a tomar para evitar, desde logo, a ocorrência de danos. Embora esta cooperação seja, em parte, obrigatória no âmbito de outros diplomas legislativos (por exemplo, ao abrigo da Diretiva Seveso), não é um requisito legal da DRA. É recomendada em prol de uma aplicação mais eficiente. Por exemplo, os instrumentos e modelos das autoridades públicas fornecidos aos operadores para apoiar as avaliações de risco, e vice-versa, permitem economizar tempo e recursos.

O objetivo geral da DRA é a reparação integral dos recursos naturais danificados e dos serviços4 correspondentes, repondo as condições que teriam caso o dano não tivesse ocorrido (doravante designado «estado inicial5»). A DRA

1 Para o primeiro relatório sobre a transposição e aplicação da DRA, consultar CE, 2010. 2 O operador de uma atividade é qualquer pessoa singular ou coletiva, privada ou pública, que a executa ou controla. Inclui o titular de uma licença ou autorização da atividade e a pessoa que regista ou notifica a atividade, caso o Estado-Membro assim tenha decidido na legislação nacional que transpõe a DRA (artigo 2.º, n.º 6, da DRA). 3 Autoridade responsável pelo cumprimento dos deveres de aplicação ao abrigo da DRA num determinado Estado-Membro. 4 Funções desempenhadas por um recurso natural em benefício de outros recursos naturais e/ou do público. 5 Qualidade e quantidade de recursos e/ou serviços que se verificaria se o incidente não tivesse ocorrido. O artigo 2.º, n.º 14, da DRA define «estado inicial» como «a situação no momento da ocorrência do dano causado aos recursos naturais e aos serviços que se verificaria se o dano causado ao ambiente não tivesse ocorrido, avaliada com base na melhor informação disponível».

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estabelece igualmente a reparação suplementar, com o objetivo de compensar o ambiente e o público pela perda provisória, isto é, pelos danos que se verificam durante o tempo que é necessário para alcançar o estado inicial (ou perpetuamente, se não for possível alcançar o estado inicial). É necessário salientar que a DRA põe a tónica no aspeto compensatório, ou seja, prevê a recuperação em espécie com o intuito de compensar pelos impactos adversos causados aos recursos naturais públicos e aos serviços correspondentes. A DRA não prevê danos punitivos6.

A Diretiva assenta no princípio do poluidor-pagador7. Este princípio exige que um operador que cause danos ambientais, ou que crie uma ameaça iminente de tais danos, se responsabilize pela prevenção e reparação dos danos e assuma os custos das medidas de prevenção ou reparação que forem necessárias. Sempre que agir, diretamente ou através de terceiros, a autoridade competente deve assegurar que o custo que suportou é cobrado ao operador (artigo 8.º, n.º 2, da DRA). É também necessário que os operadores assumam o custo da avaliação dos danos ambientais e do acompanhamento das ações de reparação. A diretiva é um instrumento de direito administrativo8. Não autoriza ninguém a apresentar reclamações por danos pessoais ou materiais ou por prejuízos económicos, matérias normalmente tratadas através de ações do direito civil e/ou consuetudinário. Essas ações estão fora do âmbito da DRA. Além disso, a DRA concentra-se nos danos causados aos recursos naturais e não nos danos a pessoas, bens ou infraestruturas. São contemplados alguns aspetos relativos à saúde pública, bem como um mecanismo para as ONG, outros grupos e pessoas enviarem observações às autoridades competentes relativamente a danos causados ao ambiente ou, em alguns Estados-Membros, a ameaça iminentes de danos ambientais. Além disso, a DRA permite pedir às autoridades competentes para tomarem as medidas adequadas. As principais responsabilidades no âmbito da DRA cabem à autoridade competente (supervisão e aplicação coerciva de todos os requisitos da DRA) e aos operadores responsáveis (avaliação, resposta, reparação e financiamento necessários e adequados). As outras partes, incluindo os prestadores de garantias financeiras, os peritos técnicos, os juristas e o público, podem igualmente prestar a sua contribuição. Por exemplo, a DRA prevê que:

Qualquer pessoa singular ou coletiva:

• afetada ou suscetível de ser afetada por danos ambientais (por exemplo, residentes, observadores de aves, caminhantes, pescadores desportivos, pessoas cujo estado de saúde possa ser posto em risco pelos contaminantes, pessoas responsáveis por crianças ou idosos cujo estado de saúde possa estar em risco9), ou

• que, de outro modo, tenha um interesse suficiente, ou

• cujos direitos tenham sido violados, como definido na legislação nacional

6 Danos que têm por objetivo alterar a conduta do arguido ou de terceiros que esteve na base do processo, ou impedir que o arguido ou terceiros adotem uma conduta semelhante àquela. É também um princípio orientador da política ambiental, consagrado no artigo 191.º, n.º 2, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE). 7 O princípio do poluidor-pagador é um princípio jurídico e económico que exige que a parte ou partes responsáveis pela poluição sejam igualmente responsabilizadas pelo pagamento dos danos causados ao ambiente natural. 8 Ou seja, é aplicado pelas autoridades públicas que têm de garantir a prevenção e reparação dos danos ambientais (ação em prol dos interesses ambientais). 9 Estes exemplos são retirados das orientações para a Inglaterra e o País de Gales. Os outros Estados-Membros poderão utilizar critérios diferentes.

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pode comunicar à autoridade competente quaisquer danos ambientais que estão a ser ou que tenham sido causados ou dos quais haja ameaça iminente e tem o direito de solicitar a intervenção da autoridade competente.

O artigo 12.º, n.º 1, da diretiva especifica também que qualquer ONG que promova a proteção ambiental e que satisfaça os requisitos da legislação nacional tem um interesse suficiente e direitos suscetíveis de serem violados.

1.3 A DRA simplificada: uma demonstração da reparação O presente ponto apresenta alguns conceitos fundamentais sobre «reparação» no contexto da DRA, com a ajuda de um estudo de caso simples (referido em itálico ao longo do texto). Imagine-se uma situação em que ocorre um incidente que afeta adversamente o ambiente. Por exemplo, uma rutura num depósito que contenha produtos químicos perigosos e o consequente afluxo de contaminantes a um rio próximo. Antes da aplicação da DRA, consoante a legislação nacional do Estado-Membro, o operador teria tomado medidas para pôr fim à poluição (por exemplo, reparação do depósito). O operador poderia, além disso, tomar medidas para se proceder a uma descontaminação dos solos ou sedimentos contaminados (por exemplo, com a adição de agentes neutralizantes ou a escavação do solo ou dos sedimentos). Com a aplicação da DRA, e assumindo que o incidente é abrangido pela diretiva, os efeitos ambientais do derrame também terão de ser avaliados e compensados (em espécie, não em numerário). Para simplificar, vamos supor que, no estado inicial, o rio afetado continha quatro espécies de peixes saudáveis. Após o derrame, restava apenas uma. As ações de descontaminação garantem que uma das outras espécies de peixes regressa ao rio, totalizando duas espécies; contudo, ainda faltam duas para alcançar o estado inicial.

A descontaminação faz parte da reparação primária, a qual diz respeito a ações desenvolvidas para restituir ao estado inicial os recursos naturais e/ou serviços danificados. A reparação primária pode incluir:

• Ações imediatas, desenvolvidas para pôr fim ao incidente, minimizar ou conter os danos, evitar novos danos e eliminar os danos. Estas ações podem ser igualmente designadas de medidas de reparação de emergência (artigo 6.º, n.º 1, alínea a), da DRA), e

• Ações de reparação de médio a longo prazo no local danificado, que visam a restituição ao estado inicial dos recursos e/ou serviços danificados (para danos causados à água e à natureza).

Sempre que as medidas de reparação primária não restituem integralmente os recursos naturais e/ou serviços no sítio danificado ao estado inicial, é necessário tomar medidas de reparação complementar (não aplicável no caso dos danos causados ao solo).

Neste exemplo simples, para restituir o estado inicial de quatro espécies de peixes, é necessário levar a cabo ações adicionais para garantir que outras duas espécies de peixes regressam ao rio.

A reparação complementar diz respeito às ações de reparação adicionais efetuadas noutro local ou em recursos/serviços que diferem ligeiramente dos recursos/serviços danificados, com o objetivo de restituir ao estado inicial o recurso ou serviço afetado. Por exemplo, se a reparação primária de uma zona de pesca danificada resultar apenas na restituição de 50 % da zona no sítio danificado, pode ser levada a cabo uma reparação complementar

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noutro local (de preferência perto do sítio afetado), com o intuito de repor os restantes 50 % da zona de pesca danificada, de modo que, globalmente, os recursos de pesca de ambos os locais voltem ao estado inicial.

Em muitos casos, devido a limitações práticas ou a limitações específicas do local, a recuperação integral do estado inicial de um recurso ou serviço danificado pode não chegar a ser alcançada, mesmo depois das reparações primária e complementar terem sido realizadas. Estas situações resultam num dano residual ou persistente que não é compensado. De igual modo, os recursos naturais e/ou serviços podem manter-se danificados desde o início do dano até ao momento em que os benefícios das ações de reparação são alcançados na íntegra. Estas situações resultam na perda provisória de recursos ou serviços. Por questões práticas, tanto os danos provisórios como os residuais são geralmente designados de perda provisória.

Pode, então, ser necessária uma reparação compensatória para compensar perdas provisórias (não aplicável no caso dos danos causados ao solo). Em alguns casos, a reparação compensatória pode ser realizada num local diferente do sítio danificado ou em recursos/serviços que diferem ligeiramente dos que foram danificados. Noutros casos, as medidas de reparação compensatória podem consistir em ações levadas a cabo no sítio danificado que repõem os recursos ou serviços num estado que excede o inicial. Em qualquer dos casos, as reparações compensatórias são dimensionadas para anular as perdas provisórias. De facto, a distinção entre reparação complementar e reparação compensatória é muito subtil - ambas dizem respeito a ações que pretendem compensar perdas de recursos ou serviços não integralmente compensadas pela reparação primária. Portanto, por questões práticas, para fins de dimensionamento da reparação necessária para anular a perda provisória, as medidas de reparação complementar e de reparação compensatória são geralmente combinadas.

A figura 1.1 mostra como o estado inicial, o dano inicial, a perda provisória e as medidas de reparação podem ser ilustradas graficamente, através dos parâmetros utilizados no caso simples acima apresentado.

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Figura 1.1: "Reparação" de acordo com a DRA para o exemplo ilustrativo. As barras indicam o número de espécies de peixes antes do derrame (correspondentes ao «estado inicial»), depois do derrame, após a reparação primária e após a reparação complementar (novamente correspondentes ao «estado inicial»).

A figura 1.2 fornece-nos uma apresentação mais estilizada das relações entre o mesmo dano, a mesma perda provisória e as mesmas reparações:

• Tal como na figura 1.1, o tempo é indicado no eixo horizontal e o nível de um recurso ou serviço danificados no eixo vertical.

• O estado inicial desse recurso ou serviço é representado por uma linha horizontal preta que passa a uma linha tracejada azul. O pressuposto de um estado inicial constante (como na figura 1.1) é, frequentemente, adotado como simplificação razoável ou na ausência de dados determinantes que sugiram outra evolução. O estado inicial pode ser relativamente constante, pode variar de forma regular ou previsível ou pode aumentar ou diminuir. O ajustamento temporal do estado inicial dependerá do sítio e dos recursos.

• Ocorrido o incidente causador de danos, o nível do recurso ou do serviço será inferior ao estado inicial, tal como representado na curva a verde. Saliente-se que as curvas apresentadas na figura são meramente ilustrativas. São a taxa e o grau de danificação e recuperação do recurso para o incidente, o recurso e os pressupostos de reparação específicos que vão determinar a forma destas linhas.

• Alguns recursos ou serviços podem voltar ao estado inicial através de regeneração natural, tal como é ilustrado pela parte ascendente da curva a verde.

• No entanto, pelo facto de a regeneração natural ser um processo por vezes demorado ou poder não resultar na recuperação do estado inicial, pode recorrer-se a ações de reparação primária e de reparação complementar para acelerar ou aumentar a probabilidade da recuperação, tal como é ilustrado pela curva a vermelho.

«Perda provisória» Reparação

compensatória

"Método da equivalência recurso-a-recurso":

Perda provisória = Reparação compensatória

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• A figura mostra que a restituição do estado inicial do recurso ou serviço é um processo que leva tempo, durante o qual se mantém uma perda de recursos e serviços. Como anteriormente dito, esta perda é designada de perda provisória. Na figura, esta é representada pela área que se encontra abaixo da curva do estado inicial e acima da curva de recuperação primária/complementar. Sempre que não for tecnicamente viável o recurso regressar ao estado inicial, a perda provisória será perpétua.

• A reparação compensatória é dimensionada para fornecer recursos e/ou serviços numa quantidade que anule a perda provisória.

Figura 1.2: Análise do dano, numa representação do nível dos recursos e serviços em função do tempo, estando indicados a data do incidente e o início da reparação primária/complementar e representadas a curva do estado inicial (a preto e a tracejado azul), a curva da regeneração natural (a verde) e a curva da recuperação com reparação primária ou reparação complementar.

A Diretiva abrange também a ameaça iminente10 de danos a recursos naturais (em vez dos incidentes reais ilustrados no exemplo e nas figuras 1.1 e 1.2). Estes incidentes exigem que o operador tome medidas de prevenção. Se não for possível identificar o operador ou este não estiver obrigado a suportar os custos ou não cumprir a sua obrigação de tomar medidas de prevenção, a autoridade competente pode tomá-las.

1.4. Como avaliar se a DRA se aplica a uma atividade? O fluxograma na figura 1.3 apresenta o processo de tomada de decisão antes da ocorrência de qualquer incidente (ou ameaça iminente de um incidente). O restante do presente ponto fornece ao leitor as informações que o ajudarão a responder às questões colocadas na figura. As duas questões principais são:

• Se uma atividade tem potencial para afetar os recursos e/ou serviços abrangidos pela DRA — o que determina se a diretiva é ou não aplicável (ponto 1.4.1), e

10 Significa que existe uma probabilidade suficiente da ocorrência de um dano ambiental num futuro próximo (artigo 2.º, n.º 9, da DRA). A «probabilidade suficiente» e o «futuro próximo» são específicos de cada caso.

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• Se uma atividade consta do anexo III da DRA — o que determina o tipo de responsabilidade do operador (ponto 1.4.2).

Algumas partes interessadas, em especial os operadores, podem dar prioridade à segunda questão. A ordem apresentada é fiel à ênfase que a DRA coloca nos recursos naturais.

Figura 1.3: Avaliação da aplicabilidade da DRA a uma atividade (sobre as atividades profissionais não incluídas no anexo III apenas impende a responsabilidade por danos causados a espécies e habitats protegidos).

1.4.1 Recursos e serviços abrangidos pela DRA A DRA impõe responsabilidade por danos causados i) a espécies e habitats naturais protegidos, ii) às águas e iii) ao solo (consultar o artigo 2.º, n.º 1, alíneas a), b), c), da DRA). As caixas 1.1 a 1.3 fornecem as definições destas categorias de recursos estabelecidas na diretiva.

NãoTerá a atividade

potencial para afetar recursos abrangidos

pela DRA?

Sim

A atividade consta do anexo III da DRA?

Não

Sim

Tomar medidas para evitar danos

Responsabilidade com base na culpa pelos danos causados

apenas às espécies e aos habitats protegidos

Responsabilidade objetiva pelos danos causados a

espécies e habitats

A DRA não se aplica

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Em relação aos dois primeiros tipos de danos (espécies protegidas, habitats naturais e água), a DRA exige que os recursos naturais e/ou serviços danificados sejam restituídos ao estado inicial que teriam se o dano não tivesse ocorrido. A reparação do solo está sujeita a requisitos diferentes.

Os recursos naturais podem ser danificados por incidentes, emissões ou outros acontecimentos prejudiciais, tais como:

• Libertação, derrame, descarga ou emissão de produtos químicos;

• Impactos físicos ou destruição causados por incêndios, explosões ou construções;

• Introdução ou libertação de uma entidade ou agente biológico (por exemplo, organismos geneticamente modificados ou espécies invasivas não-autóctones);

• Combinações destes; ou

• Um subproduto, efeito de cascata ou efeito sinérgico de um incidente que provoca danos químicos ou físicos.

Um incidente causador de danos é abrangido pela DRA se afetar os recursos e serviços abrangidos pela diretiva, se as isenções e exceções jurídicas não forem aplicáveis e se a autoridade competente considerar que os danos causados aos recursos naturais são significativos (consultar o ponto 1.6).

Caixa 1.1: Danos a espécies e habitats naturais protegidos (artigo 2.º, n.º 1, alínea a), artigo 2.º, n.º 4, anexo I e anexo II, ponto 1, da DRA):

Quaisquer danos que tenham efeitos adversos significativos sobre a consecução ou manutenção do estado de conservação favorável das espécies ou habitats protegidos, tal como estabelecido nas Diretivas Aves Selvagens e Habitats e como descrito a seguir. O significado desses efeitos deve ser avaliado em relação ao estado inicial, tendo em conta os critérios estabelecidos no anexo I da DRA. Alguns Estados-Membros (Bélgica, República Checa, Estónia, Grécia, Espanha, Chipre, Letónia, Lituânia, Hungria, Áustria, Polónia, Portugal, Suécia e Reino Unido, excluindo a Escócia) decidiram alargar esta definição às espécies e habitats protegidos pela legislação e regulamentação nacional e regional, na totalidade ou em parte da sua jurisdição.

O estado de conservação de um habitat natural é considerado favorável quando: • a sua área natural e as superfícies por ela abrangidas forem estáveis ou estiverem a aumentar; • a estrutura e as funções específicas necessárias para a sua manutenção a longo prazo existirem e forem

suscetíveis de continuar a existir num futuro previsível; e • o estado de conservação das suas espécies típicas for favorável, tal como definido a seguir.

O estado de conservação de uma espécie é considerado favorável quando: • os dados relativos à dinâmica populacional da espécie em causa indicarem que esta é suscetível de se manter

a longo prazo enquanto componente viável dos seus habitats naturais; • a área natural da espécie não se estiver a reduzir nem for provável que isso venha a acontecer num futuro

previsível; • existir, e continuar provavelmente a existir, um habitat suficientemente vasto para manter as suas populações

a longo prazo. Definições em conformidade com as Diretivas Habitats e Aves Selvagens, relevantes para a DRA

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Espécies de aves Diretiva Aves, 2009/147/CE (enumeradas no anexo I da diretiva e referidas no artigo 4.º, n.º 2, da mesma)

Espécies de plantas e de animais Diretiva Habitats, 92/43/CEE (enumeradas no anexo II e no anexo IV) Habitat de aves Diretiva Aves, 2009/147/CE (enumeração no anexo I da diretiva e referência

no artigo 4.º, n.º 2, da mesma) Habitats de plantas e de animais Diretiva Habitats, 92/43/CEE (enumeração no anexo II da diretiva) Habitats naturais Diretiva Habitats, 92/43/CEE (enumerados no anexo I da diretiva) Locais de reprodução ou áreas de repouso

Diretiva Habitats, 92/43/CEE (enumeração no anexo IV)

A Comissão Europeia explicou, numa resposta («documento oficioso») com data de 2 de maio de 2006 relativa à interpretação do artigo 2.º, n.º 3, alínea b), da DRA («habitats das espécies», «habitats naturais» e «locais de reprodução ou áreas de repouso das espécies»), que estes termos abrangem todos os habitats das espécies, habitats naturais e locais de reprodução ou áreas de repouso das espécies enumerados nas diretivas, independentemente da localização dos mesmos, dentro ou fora das áreas pertencentes à rede Natura 2000. Caixa 1.2: Danos causados à água (artigo 2.º, n.º 1, alínea b), e anexo II, ponto 1, da DRA): Quaisquer danos que afetem de forma muito séria o estado ecológico, químico ou quantitativo ou o potencial ecológico das águas em questão, conforme a definição constante da Diretiva-Quadro Água (2000/60/CE), com exceção dos efeitos negativos aos quais seja aplicável o artigo 4.º, n.º 7, desta. O artigo 4.º, n.º 7, diz respeito às «novas atividades humanas de desenvolvimento sustentável» que satisfazem certas condições (tomadas todas as medidas de mitigação exequíveis, apresentação de razões específicas nos planos de gestão de bacia hidrográfica, superior interesse público e proporcionalidade).

Para determinar o estado inicial e se o dano pode resultar numa mudança do presente estado/potencial, devem consultar-se as definições nacionais de bom estado/potencial ecológico no âmbito da DQA. O anexo V da DQA contém as definições dos estados (químicos e ecológicos) quantitativos e qualitativos e os indicadores desses estados. Definições em conformidade com a Diretiva-Quadro Água (DQA) Rio Uma massa de água interior que corre, na maior parte da sua extensão, à superfície da

terra, mas que pode correr no subsolo numa parte do seu curso. Lago Uma massa de água lêntica superficial interior. Águas de transição Massas de águas de superfície na proximidade da foz dos rios, que têm um caráter

parcialmente salgado em resultado da proximidade de águas costeiras, mas que são significativamente influenciadas por cursos de água doce.

Águas costeiras As águas de superfície que se estendem até à distância de uma milha náutica da linha de base (normalmente, a linha média de baixa-mar) de um Estado costeiro. Esta definição é simplificada. Para informações mais detalhadas, consultar a DQA.

Águas territoriais Esta definição não consta da DQA, mas sim da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982, e abrange uma faixa de águas costeiras que se estende, no máximo, até 12 milhas náuticas (22,014 km) da linha de base (normalmente, a linha média de baixa-mar) de um Estado costeiro.

Massa de água artificial

Uma massa de águas de superfície criada pela atividade humana, por exemplo um canal.

Massa de água fortemente modificada

Uma massa de água que, em resultado de alterações físicas derivadas da atividade humana, adquiriu um caráter substancialmente diferente, por exemplo uma represa ou uma barragem.

Massa de águas subterrâneas

Todas as águas que se encontram abaixo da superfície do solo na zona de saturação e em contacto direto com o solo ou com o subsolo.

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Caixa 1.3: Danos causados ao solo (artigo 2.º, n.º 1, alínea b), e anexo II, ponto 2, da DRA):

Qualquer contaminação do solo (substâncias no solo ou subsolo) que crie um risco significativo de a saúde humana ser afetada adversamente devido à introdução, direta ou indireta, à superfície do solo, no solo ou abaixo do solo, de substâncias, preparações, organismos ou microrganismos.

A exposição a materiais aéreos, a partir de uma fonte que não seja o próprio solo, não está incluída. A DRA não abrange danos resultantes da poluição do ar em si. Contudo, passarão a ser abrangidos se os poluentes transportados pelo ar se depositarem no solo, nas fontes de água ou em espécies/habitats protegidos ou se os contaminantes presentes nesses locais causarem efeitos adversos à saúde humana ou ao ambiente depois de serem transportados pelo ar.

Os danos ambientais causados por Organismos Geneticamente Modificados (OGM) podem ser causados pelo próprio OGM (por exemplo, efeitos das plantas cultivadas produtoras de toxinas em insetos protegidos) ou o efeito pode ser indireto (por exemplo, a erradicação de uma praga de insetos devido à toxina provoca a erradicação de uma espécie protegida que se alimentava da praga). Os danos podem ser imediatos (por exemplo, a morte imediata de insetos protegidos resultante do cultivo de plantas resistentes a insetos) ou posteriores (comportamento invasivo de plantas geneticamente modificadas ou híbridas após várias gerações, causando danos a um ecossistema protegido). Os OGM são diretamente abrangidos pela DRA, mas os produtos derivados de OGM (por exemplo, para a alimentação humana ou animal) são apenas abrangidos na medida em que sejam contemplados nas Diretivas «OGM» relevantes relativas à utilização confinada e à libertação deliberada, referidas no anexo III, pontos 10 e 11, da DRA.

A DRA não abrange apenas incidentes, acontecimentos ou emissões distintos (doravante designados no presente manual por «incidentes»). Desde que seja possível estabelecer um nexo de causalidade entre os danos e as atividades de operadores individuais, a DRA pode também ser aplicada à poluição gradual ou à poluição de caráter extenso e difuso (consultar o artigo 4.º, n.º 5, da DRA e o acórdão do Tribunal de Justiça de 9 de março de 2010 no processo C-378/08, n.º 58).

1.4.2 Atividades abrangidas pela DRA A parte responsável ao abrigo da DRA é o operador, definido no artigo 2.º, n.º 6, da diretiva como:

«qualquer pessoa singular ou coletiva, privada ou pública, que execute ou controle a atividade profissional ou, quando a legislação nacional assim o prevê, a quem tenha sido delegado um poder económico decisivo sobre o funcionamento técnico dessa atividade, incluindo o detentor de uma licença ou autorização 11 para o efeito ou a pessoa que registe ou notifique essa atividade.»

Por outras palavras, a atividade causadora de danos deverá ser uma atividade «operacional» (e não uma atividade numa residência privada, por exemplo) e pode ter fins lucrativos ou não. Os Estados-Membros podem adotar ou manter medidas mais estritas do que as que a DRA estabelece como requisitos mínimos (o artigo 16.º, n.º 1 , da DRA permite-lhes fazer isto nos termos do artigo 193.º do Tratado sobre o Funcionamento da UE); podem também

11 Uma licença concedida pela autoridade reguladora que permite o funcionamento de uma instalação regulamentada, sujeito a determinadas condições.

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utilizar uma definição mais alargada de operador ou identificar partes responsáveis adicionais, de acordo com a legislação de transposição da DRA. Neste contexto, é pertinente o acórdão de 9 de março de 2010 no processo C-378/08: determina que, em qualquer caso, deve estabelecer-se um nexo de causalidade entre as atividades e os danos. Se assim estiver previsto na legislação nacional aplicável, esta exigência pode ser atenuada através de uma presunção de causalidade, que terá de basear-se em elementos de prova plausíveis (por exemplo, substâncias, distância).

Dependendo do tipo de atividade do operador, existem dois tipos distintos de padrões de responsabilidade12 estabelecidos na DRA (figura 1.4):

• Responsabilidade objetiva: Aplicável às atividades regulamentadas como sendo potencialmente perigosas ao abrigo de outras leis ambientais da UE (enumeradas no anexo III da diretiva). Não é necessário determinar a culpa para que o operador seja responsabilizado pelo tipo de danos abrangidos pela DRA. Consultar a caixa 1.4.

• Responsabilidade com base na culpa: Os outros operadores, cujas atividades não são regulamentadas pela legislação mencionada no anexo III da DRA, podem apenas ser responsabilizados por danos causados às espécies e habitats naturais protegidos e não pelos outros tipos de efeitos adversos mencionados (desde que, bem entendido, sejam cumpridos todos os requisitos enumerados na diretiva). Para que o operador possa ser considerado responsável, a culpa ou negligência devem ser determinadas.

Caixa 1.4: Responsabilidade objetiva. Aplica-se às atividades enumeradas no anexo III da DRA, incluindo as atividades e/ou descargas abrangidas pelas diretivas seguintes (para uma lista e redação mais específicas, consultar o texto original do anexo III): • Exploração de instalações nos termos da Diretiva relativa à prevenção e controlo integrados da poluição

(Diretiva IPPC, 96/61/CE), codificada na Diretiva 2008/1/CE, em fase de substituição pela Diretiva relativa às emissões industriais (2010/75/UE).

• Operações de gestão de resíduos nos termos da Diretiva-Quadro Resíduos (75/442/CEE), codificada na Diretiva 2006/12/CE e reformulada pela Diretiva 2008/98/CE, da Diretiva Resíduos Perigosos (91/689/CEE), codificada na Diretiva 2006/12/CE e reformulada pela Diretiva 2008/98/CE, da Diretiva Aterros (1999/31/CE) e da Diretiva Incineração de Resíduos (2000/76/CE), integrada na Diretiva Emissões Industriais (2010/75/UE). A Diretiva-Quadro Resíduos é a Diretiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de novembro de 2008, relativa aos resíduos e que revoga certas diretivas. Esta última diretiva revogou a Diretiva 2006/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de abril de 2006, relativa aos resíduos (versão codificada da Diretiva 75/442/CEE e suas alterações), a Diretiva Resíduos Perigosos (91/689/CEE) e a Diretiva Óleos Usados (75/439/CEE). Estabelece um quadro geral de requisitos em matéria de gestão de resíduos e define os termos básicos relativos à gestão de resíduos para a União Europeia.

• Todas as descargas para águas de superfície interiores em conformidade com a Diretiva Substâncias Perigosas13 (76/464/CEE), codificada na Diretiva 2006/11/CE.

• Todas as descargas de substâncias para as águas subterrâneas em conformidade com a Diretiva 80/68/CEE relativa à proteção das águas subterrâneas contra a poluição causada por certas substâncias perigosas, substituída pela Diretiva 2006/118/CE.

12 A aplicação por parte dos Estados-Membros difere, uma vez que, em alguns deles, não é necessário demonstrar a existência de culpa, de acordo com maioria das leis nacionais e regionais em matéria de saneamento ambiental, que impõem responsabilidade objetiva pelos danos ambientais aos operadores (ex., solo contaminado, poluição das águas, habitats e espécies). 13 Substâncias tóxicas que constituem a maior ameaça ao ambiente e à saúde humana.

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• Descargas ou injeções de poluentes nas águas de superfície ou nas águas subterrâneas em conformidade com a Diretiva-Quadro Água (2000/60/CE).

• Fabrico, utilização, armazenamento, processamento, enchimento, libertação para o ambiente e transporte no local das substâncias, preparações e produtos, definidos na Diretiva Substâncias Perigosas (67/548/CEE), substituída pelo Regulamento (CE) n.º 1272/2008 (CRE), na Diretiva Preparações Perigosas (1999/45/CE), na Diretiva Produtos Fitofarmacêuticos (91/414/CEE) e na Diretiva Produtos Biocidas (98/8/CE), em fase de substituição pelo Regulamento (UE) n.º 528/2012 (Produtos Biocidas).

• Transporte rodoviário, ferroviário, marítimo, aéreo ou por vias navegáveis interiores de mercadorias perigosas ou poluentes, como definido na Diretiva Segurança Rodoviária (94/55/CE) ou na legislação nacional do Estado-Membro.

• Exploração de instalações em conformidade com a Diretiva-Quadro 96/62/CE, relativa à qualidade do ar, substituída pela Diretiva 2008/50/CE.

• Quaisquer utilizações confinadas, incluindo transporte, a libertação deliberada no ambiente e a colocação no mercado de organismos geneticamente modificados abrangidas pelas Diretivas 90/219/CEE e 2001/18/CE relativas aos OGM.

• Transferências transfronteiriças de resíduos, no interior, à entrada e à saída da União Europeia – Regulamento (CEE) n.º 259/93 do Conselho, substituído pelo Regulamento (CE) n.º 1013/2006.

• Diretiva 2006/21/CE, relativa à gestão dos resíduos de indústrias extrativas. • Diretiva 2009/31/CE, relativa ao armazenamento geológico de dióxido de carbono. • Etc. Lista completa no anexo III da DRA. A aplicação nacional nos Estados-Membros pode resultar num grupo mais amplo de atividades ao abrigo do regime de responsabilidade objetiva.

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Figura 1.4: Regime de responsabilidade da DRA (adaptado do documento de orientação relativo à DRA publicado pela República da Irlanda).

Sempre que mais do que um operador for responsável pelos danos, os Estados-Membros podem optar pela responsabilidade conjunta e solidária ou pela responsabilidade proporcional.

1.5 Quem faz o quê antes da ocorrência de um incidente/perante uma ameaça iminente?

Os quadro seguintes definem as principais partes interessadas e resumem quais as suas responsabilidades e funções (incluindo as que não são consideradas obrigações ao abrigo da DRA, mas possíveis) durante o funcionamento normal (antes da ocorrência de um incidente causador de danos ou perante uma ameaça iminente disso).

Responsabilidade

objetiva Responsabilidade com base na culpa

Licença IPPC Licença / autorização em

matéria de resíduos Descargas na água

Substâncias perigosas Captações de água (DQA)

OGM Transporte de resíduos

Resíduos mineiros Captura e armazenamento

de carbono

Atividades profissionais não constantes do anexo III

Danos causados ao solo

Danos causados

à água

Danos causados às espécies e habitats naturais protegidos

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Autoridade Competente Organismo público designado pelo Estado-Membro para aplicar e fazer cumprir a diretiva

PRÉ-INCIDENTE (durante o FUNCIONAMENTO NORMAL)

• pode optar por tomar ou incentivar os operadores a tomarem medidas que irão reduzir o risco de ameaça iminente e de dano (se estas não forem já exigidas, como acontece no caso dos estabelecimentos ou instalações abrangidos pela Diretiva Seveso); e

• deve incentivar a prestação de garantias financeiras ou, se forem obrigatórias, exigir essas garantias.

Operadores Qualquer pessoa singular ou coletiva, privada ou pública, que execute ou controle a atividade profissional ou, quando a legislação nacional assim o prevê, a quem tenha sido delegado um poder económico decisivo sobre o funcionamento técnico dessa atividade, incluindo o detentor de uma licença ou autorização para o efeito ou a pessoa que registe ou notifique essa atividade. Atividade profissional, não atividade privada

PRÉ-INCIDENTE (durante o FUNCIONAMENTO NORMAL)

• pode optar por pôr em prática medidas para prevenir danos; e

• pode optar por ou pode ter de (se obrigatório) fornecer garantias financeiras, como exigido pela autoridade competente ou conforme adequado à empresa.

Prestadores de garantias financeiras (e similares) Companhias seguradoras e resseguradoras

PRÉ-INCIDENTE (durante o FUNCIONAMENTO NORMAL) (não é uma obrigação imposta pela DRA, mas uma função possível)

• respondem aos pedidos de garantias financeiras adequadas;

• realizam avaliações dos riscos e custos potenciais para a conceção dos instrumentos de garantia financeira adequados e asseguram que estes são sustentáveis através da cobrança do prémio adequado.

Peritos Em ecologia, noutras ciências, na avaliação de riscos, em engenharia, na conceção e aplicação de medidas de reparação, em economia, em direito e nas outras áreas que contribuem para a aplicação da DRA

PRÉ-INCIDENTE (não é um dever imposto pela DRA, mas uma função possível)

• dão um contributo técnico para as medidas destinadas a reduzir o risco de ameaça iminente e de danos.

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Além das partes acima mencionadas, existem as pessoas habilitadas: pessoas singulares ou coletivas que foram ou podem vir a ser afetadas por danos ambientais ou que, por outras razões, tenham interesse suficiente na tomada de decisão ambiental (ou que aleguem direitos violados). Presume-se ser este o caso das ONG ambientais que cumprem os requisitos previstos na legislação nacional.

1.6 Como avaliar se a DRA se aplica a um caso? A figura 1.5 mostra o fluxo de decisão associado à série de questões que carecem de resposta para avaliar se a DRA se aplica a um caso (abrangidos tanto incidentes reais como ameaças iminentes de incidentes):

• O serviço/recurso abrangido pela DRA está ameaçado? (para consultar a definição de recursos/serviços, ver o ponto 1.4.1);

• O incidente ocorreu dentro dos prazos da DRA? (ponto 1.6.1); • Alguma das isenções e exceções é aplicável? (ponto 1.6.2); e • O dano é considerado significativo? (ponto 1.6.3).

1.6.1 Prazos da DRA Existem três tipos de prazos no artigo 17.º da DRA. A diretiva não é aplicável ao seguinte:

Restrições temporais (absolutas):

• Danos causados por emissões, acontecimentos ou incidentes que ocorreram antes de 30 de abril de 2007 ou detetados após essa data, caso os danos e a atividade causadora subjacente tenham ocorrido, na sua totalidade, antes dessa data; e

• Eventos ou incidentes que ocorreram 30 anos antes de o dano ter sido detetado.

Limitação (relativa) na recuperação de custos:

• Se decorreram mais de cinco anos desde a data em que as medidas de prevenção ou reparação foram concluídas, mas a autoridade competente ou entidade terceira relevante, ou o operador ou terceiro responsável, foram identificados, consoante o que for mais recente (os Estados-Membros podem adotar medidas mais rigorosas e, por conseguinte, prorrogar o prazo de cinco anos na sua legislação nacional).

1.6.2 Isenções e exceções da DRA O presente ponto enumera as isenções e exceções relevantes para a aplicação da DRA. Há que ter em consideração que os Estados-Membros têm a opção de aplicar a diretiva em condições mais estritas do que os requisitos mínimos nela estabelecidos (artigo 16.º, n.º 1). Isenções relativas ao âmbito da DRA O artigo 4.º da DRA enumera os factos ou situações que isentam os operadores de responsabilidade no âmbito da DRA: • Atos de conflito armado, hostilidades, guerra civil ou insurreição. • Fenómenos naturais de caráter excecional, inevitável e irresistível. • Atividades cujo principal objetivo resida na defesa nacional ou na segurança internacional, ou cujo único

objetivo resida na proteção contra catástrofes naturais.

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• Atividades abrangidas pelas convenções internacionais no domínio da poluição marinha causada por hidrocarbonetos, do transporte de substâncias perigosas por via marítima ou do transporte rodoviário, ferroviário ou por via navegável interior de mercadorias perigosas, tanto quanto essas convenções sejam aplicadas no Estado-Membro.

• Atividades abrangidas pelo Tratado Euratom ou por convenções internacionais no setor nuclear.

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Figura 1.5: Avaliação da aplicabilidade da DRA a um incidente.

Não

Sim

A água/o solo/os habitats e espécies

definidos na DRA estão danificados ou sob

ameaça?

Alguma das isenções ou exceções é

aplicável?

Sim

Não

Sim

A DRA é aplicável. Todas as ações necessárias devem ser levadas a cabo

pelas partes.

Não

Sim

Não

O dano/ameaça é significativo?

O dano/ameaça ocorreu dentro do prazo estabelecido

pela DRA?

Situação não abrangida pela DRA

mas

eventualmente abrangida por outra legislação nacional

ou internacional

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• Poluição difusa e causalidade: A decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia no processo C-378/08 (pontos 52/58) declara que, sempre que não for possível estabelecer um nexo de causalidade objetiva, é possível recorrer à «presunção de danos» nos Estados-Membros em que essa legislação seja aplicável (não é este o caso em todos os Estados-Membros; contudo, os Estados-Membros que apliquem esta presunção condicional, tal como previsto pelo Tribunal, continuam a cumprir a DRA). Para tal, a presunção deve basear-se em elementos de prova plausíveis, por exemplo, que os contaminantes presentes na poluição causadora dos danos são idênticos aos utilizados no processo de produção do operador, ou que a localização do operador é suficientemente próxima do sítio danificado para ter sido o local de origem da contaminação.

Exceções As exceções à responsabilidade no âmbito da DRA são as seguintes:

• Por intervenção de terceiros e por ordens compulsivas (artigo 8.º, n.º 3): um Operador não será considerado responsável pelos custos das ações preventivas ou de reparação se a) provar que o dano foi causado por terceiros (desde que tenham sido tomadas medidas de segurança adequadas) ou se b) provar que o dano resultou do cumprimento de ordens ou instruções emanadas de autoridades públicas, a menos que a ordem tenha sido uma resposta a uma emissão ou incidente causado pelas atividades do operador.

• Por licença (artigo 8.º, n.º 4): sempre que o operador provar que não houve falta nem negligência da sua parte e que o dano ambiental resultou de uma emissão ou acontecimento expressamente autorizados pela autoridade reguladora, e totalmente em conformidade com as condições da licença/autorização, o Estado-Membro pode decidir eximir o operador da responsabilidade financeira relativa à reparação, ou reduzir a parte de responsabilidade do mesmo, desde que esta isenção facultativa esteja incluída na transposição que o Estado-Membro fez da diretiva.

• Exceção relativa ao risco de desenvolvimento ou exceção relativa ao estado do conhecimento (artigo 8.º, n.º 4,

alínea b)): sempre que o operador provar que não houve falta nem negligência da sua parte e que o dano ambiental resultou de uma emissão ou acontecimento considerado não suscetível de causar danos ambientais, de acordo com os conhecimentos científicos e técnicos no momento em que a emissão ou atividade ocorreu, o Estado-Membro pode, segundo o seu critério legislativo, decidir eximir o operador da responsabilidade financeira relativa à reparação.

1.6.3 Danos significativos A DRA é aplicável nos casos de «danos significativos». A DRA deixa a decisão final de significado em cada caso à autoridade competente. No entanto, de modo geral, o conceito de significado pode ter várias interpretações diferentes, incluindo:

• Significado regulamentar (um incidente ou dano proibido explícita ou implicitamente; por exemplo, a poluição que excede os critérios e as normas de regulamentação ou de uma licença);

• Significado social (isto é, algo que tem significado especial ou que é importante para a sociedade ou para determinadas partes afetadas);

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• Significado biológico (objeto de debates aprofundados nas ciências biológicas, este termo é geralmente utilizado para referir um efeito que tem consequências biológicas, fisiológicas ou ecológicas consideradas negativas);

• Significado estatístico (refere-se, normalmente, a condições observadas ou medidas que se considera improvável terem ocorrido unicamente como resultado do acaso); e

• Dano particularmente «grande».

(Na prática dos EUA da avaliação de danos causados aos recursos naturais – na qual a DRA se baseia em grande medida –, as autoridades competentes têm procurado, com frequência, resolver potenciais ambiguidades interpretativas através da adoção do termo efeitos «adversos mensuráveis», em vez de efeitos «significativos». A consequência prática da adoção desta abordagem é que, quando os danos são mensuráveis, mas «pequenos» –ecologicamente, socialmente etc. –, a responsabilidade será pequena, e que, quando os danos são mensuráveis, mas «grandes», é provável que a responsabilidade seja grande. Esta abordagem elimina a necessidade de definir «significativo» a priori.) No entanto, a DRA inclui um requisito claro na sua definição de dano no artigo 2.º, n.º 2, salientando que este deve ser uma «alteração adversa mensurável». O anexo I da DRA apresenta as seguintes orientações relativas aos fatores que devem ser tidos em conta aquando da avaliação dos danos causados a espécies e habitats protegidos, embora não seja definido o modo como tais fatores devem ser avaliados na prática (no caso dos danos causados ao solo, os riscos para a saúde humana são considerados significativos): • Danos mais pequenos do que as variações médias normais (naturais) para a espécie ou habitat em causa; • Danos resultantes das variações naturais dos recursos afetados ou da gestão normal dos recursos, tal como

registado nos arquivos relativos ao habitat em causa ou em documentos de fixação de objetivos ou tal como eram anteriormente efetuados pelos proprietários ou operadores; ou

• Danos causados a espécies ou habitats dos quais se sabe que irão recuperar, dentro de um prazo curto e sem intervenção, até ao estado inicial ou a um estado conducente, apenas em virtude da dinâmica das espécies ou do habitat em causa, a um estado considerado equivalente ou superior ao estado inicial.

Foram debatidos fatores de avaliação adicionais nas orientações dos Estados-Membros. Alguns exemplos:

• As orientações dos Países Baixos relativas à DRA estabelecem que «Tendo em conta a definição de dano ambiental e os critérios acima referidos, não podem ser especificados previamente quaisquer valores fixos para determinar a existência de danos ou para o limiar de dano, visto que esses valores dependem das circunstâncias específicas de cada caso» (página 45).

• As orientações finlandesas relativas à DRA incluem os seguintes fatores de avaliação para as espécies e habitats naturais protegidos:

o O número de indivíduos da espécie, a frequência da espécie e a área ocupada; o O significado dos indivíduos danificados ou da zona danificada em relação ao estado de conservação da

espécie ou do habitat natural, tendo em conta a viabilidade da espécie ou a variabilidade inerente ao habitat natural e a variância natural habitual;

o A capacidade de dispersão da espécie e a capacidade de regeneração do habitat natural; o A capacidade que a espécie ou o habitat natural têm para recuperar naturalmente, no mínimo, até ao

estado em que estavam aquando da ocorrência do dano; e

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o Os efeitos para a saúde humana.

As orientações irlandesas relativas à DRA referem-se, além disso, à Comissão Europeia (2006) no que respeita aos fatores a considerar quando se avalia se o estado de conservação é favorável (quadro 1.1).

Quadro 1.1: Fatores de avaliação que podem ser utilizados para determinar se o estado de conservação é favorável (Comissão Europeia, 2006). Aspeto Definição Critérios de avaliação Diversidade da espécie ou do habitat

Intervalo no qual estão incluídas todas as variações ecológicas significativas do habitat/espécie numa determinada região biogeográfica, suficientemente amplo para permitir a sobrevivência a longo prazo do habitat/espécie.

Ao avaliar a diversidade de uma espécie ou de um habitat, a pessoa, com as qualificações apropriadas, deve ter em conta os seguintes critérios de apreciação: • Diversidade atual da espécie/do habitat; • Grau potencial de diversidade da espécie/do habitat, tendo em conta as condições físicas e ecológicas (como o clima, a geologia, os solos e a altitude); • Diversidade histórica da espécie/do habitat e causas das variações; e • Área necessária para a viabilidade da espécie/do habitat, incluindo as questões da conectividade e da migração. Sempre que a diversidade de uma espécie ou habitat não estiver bem documentada, será necessário o parecer de peritos e o conhecimento detalhado da espécie ou habitat em causa.

Extensão do habitat

Superfície total de uma determinada região biogeográfica correspondente ao mínimo necessário para assegurar a viabilidade a longo prazo do tipo de habitat em causa; No caso dos tipos de habitats cuja cobertura atual não seja suficiente para assegurar a viabilidade a longo prazo, deve incluir as áreas necessárias para reparação ou desenvolvimento.

Ao avaliar a extensão de um habitat, a pessoa, com as qualificações apropriadas, deve ter em conta os seguintes critérios de apreciação: • Distribuição histórica e causas das variações; • Vegetação natural potencial; • Distribuição e variação reais; • Dinâmica do tipo de habitat; • Variação natural (subtipos, sintaxonomia, variantes ecológicas etc.); e • O padrão de distribuição deve permitir o intercâmbio/fluxo de genes nas espécies típicas.

Populações da espécie

População numa determinada região biogeográfica correspondente ao mínimo necessário para assegurar a viabilidade a longo prazo da espécie.

Ao avaliar a população de um habitat, a pessoa, com as qualificações apropriadas, deve ter em conta os seguintes critérios de apreciação: • Distribuição e abundância históricas e causas das variações; • Intervalo de variação potencial; • Condições biológicas e ecológicas; • Rotas migratórias e vias de dispersão; • Fluxo de genes ou variação genética, incluindo a clinal; e • A população deve ser suficientemente numerosa, para fazer face às flutuações naturais e permitir uma estrutura populacional saudável.

Adequação do habitat à espécie

Sem definição. Um habitat favorável ou adequado, necessário para o estado de conservação favorável de uma espécie protegida, deve garantir o seguinte: • A superfície do(s) habitat(s) da espécie deve ser suficientemente extensa e deve ser estável e/ou crescente; e • A qualidade do habitat deve ser adequada para a sobrevivência a longo prazo da espécie em causa.

Habitat

Sem definição. A estrutura e o funcionamento de um habitat podem variar consideravelmente consoante os diferentes tipos de habitats. Porém, fundamentalmente, os vários processos ecológicos essenciais ao habitat têm de estar presentes e a funcionar para que se possa considerar que o habitat está num estado de conservação favorável. A Comissão Europeia definiu da seguinte forma uma aplicação prática típica da estrutura e do funcionamento de um habitat: «para um habitat de floresta, o funcionamento deve incluir a regeneração e a renovação de nutrientes e a estrutura deve incluir elementos como as várias classes etárias e madeira morta. Pode não ser necessário que todos os elementos estejam presentes em todos os locais. Do mesmo modo, o regime eco-hidrológico pode ser essencial para as turfeiras, visto que as perturbações que estas sofrem, por exemplo, com a drenagem podem ser desfavoráveis. Embora a fragmentação não seja mencionada na diretiva, é evidente que esta pode perturbar o funcionamento dos habitats e é um fator que deve ser tido em conta ao avaliarem-se a estrutura e o funcionamento».

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Perspetivas futuras da espécie ou do habitat

Sem definição. Se as principais pressões e ameaças identificadas para uma espécie ou um habitat forem consideradas não significativas, a espécie em causa permanecerá viável a longo prazo. A lógica seguinte pode ser aplicada para determinar o resultado desta etapa da avaliação: • Boas perspetivas – espécies que se espera que sobrevivam e prosperem; • Perspetivas moderadas – espécies que podem sentir dificuldades, a menos que as condições se alterem; e • Perspetivas pouco favoráveis – viabilidade a longo prazo em risco; espécies com probabilidade de extinção.

• O significado dos danos causados à água deve ser avaliado em função dos estados da água definidos na DQA. Se um bom estado das águas tiver sido afetado adversamente, os danos devem ser considerados significativos. Para informações relativas aos indicadores de bom estado, consultar o anexo V da DQA. As orientações dos Países Baixos relativas à DRA sugerem três questões relacionadas entre si para determinar o significado neste domínio (página 41):

o Qual era o estado ecológico, químico e/ou quantitativo da água (antes da ocorrência do dano)? o Existe algum efeito adverso para esse estado? o Se existir, é significativo?

• No que respeita o solo, em alguns Estados-Membros existem regimes de responsabilidade anteriores, ou uma legislação relativa aos danos causados, que estabelecem os fatores a ter em conta na avaliação deste tipo de danos. Como exemplo desses fatores, foi retirado o seguinte das orientações da República da Irlanda, que, para determinar o significado, recomendam uma avaliação a dois níveis (apresentado apenas a título de exemplo, não sendo necessariamente subscrito).

o Avaliação exploratória dos riscos:

Caracterização da fonte (contaminação do solo) relativamente a propriedades físicas e toxicológicas, ou seja, cancerígenas, explosivas etc.

Resumo das informações disponíveis relativas à geografia do local e à(s) fonte(s) de contaminação, apresentado em mapas e com gráficos transversais.

Identificação de recetores humanos potenciais, tendo em conta a utilização do solo atual, adjacente e circundante, incluindo a eventual utilização futura aprovada.

Identificação e caracterização dos mecanismos e vias através dos quais os recetores podem ser afetados adversamente pela fonte, incluindo vias de migração subterrâneas e mecanismos de exposição, por exemplo, inalação, contacto dérmico etc.

Quadro e diagrama de resumo com todas as ligações fonte-via-recetor que podem resultar num risco significativo de efeitos adversos para a saúde humana.

Fundamentação clara, em quadro ou texto, da exclusão de quaisquer ligações que não sejam consideradas potencialmente significativas.

Identificação das incertezas ou lacunas de dados relativas ao sítio que podem afetar a determinação dos danos causados ao solo.

Registo de decisão claro para o sítio, indicando se, para fins da determinação dos danos causados ao solo, é necessária uma avaliação ou recolha de informações adicional.

Recomendações para a recolha de informações adicional, a avaliação dos riscos e/ou a reparação.

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o Avaliação quantitativa do risco no sítio:

Componentes da avaliação exploratória e: Modelo teórico revisto, baseado em quaisquer informações adicionais recolhidas. Descrição e justificação da abordagem utilizada, incluindo a seleção dos programas

informáticos eventualmente utilizados. Quadro com todos os parâmetros de entrada ou critérios de avaliação genéricos utilizados e

justificação detalhada da utilização dos mesmos. Estimativa do risco utilizando o método selecionado. Debate do risco estimado e significado potencial deste no contexto do modelo teórico do

sítio. Debate e avaliação das incertezas do método selecionado e implicações para a avaliação dos

riscos. Registo de decisão relativo a avaliações adicionais. Recomendações para a recolha de dados adicionais, a avaliação dos riscos e/ou a reparação. Riscos associados às propriedades físicas da substância, como o risco de inflamabilidade e de

explosividade, que podem ser avaliados tendo em conta a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos e a gravidade provável desses efeitos.

Como exemplo das abordagens dos Estados-Membros, nos Países Baixos o risco para a saúde humana provenientes dos danos causados ao solo não está relacionado com a densidade de população, mas com os níveis de poluição do solo.

Na região flamenga da Bélgica, o saneamento do solo é obrigatório para a chamada «nova poluição do solo», se as normas de saneamento do solo forem excedidas14.

• OGM

o No que diz respeito aos organismos e microrganismos (incluindo OGM), os métodos utilizados para avaliar os riscos devem corresponder às melhores técnicas disponíveis.

• O decreto real espanhol n.º 2090/2008 (artigos 16.º, 17.º e 18.º) exige que o significado dos danos seja

estimado através de critérios quantitativos e qualitativos. Quando o significado dos danos não puder ser determinado de acordo com esses critérios, ou se o solo tiver sido poluído anteriormente, o significado dos danos causados à água e ao solo pode ser determinado através da análise do grau dos danos causados aos serviços prestados por esses recursos naturais. Por exemplo, danos significativos causados a espécies aquáticas implica que os danos ambientais causados às águas onde essas espécies habitam sejam significativos. Se o dano tiver sido causado por um agente químico, o seu significado pode ser aferido em relação à concentração ou ao limite de dosagem. Além disso, devem ser tidos em consideração o tempo de exposição do recetor à substância e a relação entre a concentração e o tempo de exposição, por um lado, e o limiar de toxicidade, por outro. Para esse efeito, o decreto real recomenda a consulta de bases de dados de produtos químicos, tais como a Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA), o Instituto de Saúde e Proteção do Consumidor do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, a base de dados internacional de informações químicas uniformes IUCLID, o Syracuse Research Corporation (SRC), a base de dados Chemfinder, o Programa Internacional de Segurança Química (IPCS) e as bases de dados de produtos químicos da OCDE.

14 http://www.ovam.be/jahia/Jahia/pid/991?lang=null.

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Aconselha-se a consulta das orientações dos Estados-Membros para informações complementares relacionadas com a questão do significado.

1.7 Quem faz o quê perante uma ameaça iminente ou ao ocorrer um incidente? Os quadros seguintes definem as principais partes interessadas e as suas funções e responsabilidades quando é identificado um incidente causador de danos ou uma ameaça iminente disso.

AQUANDO DA DETEÇÃO DE UMA AMEAÇA IMINENTE (que o operador notificou, que a ONG/pessoa afetada comunicou ou que foi diretamente observada)

• age da forma indicada no primeiro e segundo pontos da rubrica «aquando da deteção de um dano ambiental» e, em seguida,

• exige ao operador que tome medidas preventivas e pode exigir-lhe, em qualquer momento, que forneça informações, tome as medidas de prevenção necessárias ou siga as instruções que lhe forem dadas sobre tais medidas.

Autoridade competente Organismo público designado pelo Estado-Membro para aplicar e fazer cumprir a diretiva

AQUANDO DA DETEÇÃO DE UM DANO AMBIENTAL

• determina se o dano pode ser abrangido pela DRA, tal como transposta para o direito nacional;

• se o dano for abrangido, identifica o(s) operador(es) responsável/eis e determina o tipo de responsabilidade aplicável (objetiva ou com base na culpa);

• exige que o operador forneça informações adicionais e, conforme o caso:

• empreenda as ações de reparação de «emergência» necessárias, isto é, as medidas práticas para controlar, conter, eliminar ou, de outra forma, gerir imediatamente os contaminantes e/ou quaisquer outros fatores danosos e

• siga as instruções relativas às ações de reparação de emergência necessárias;

• empreende as ações de reparação «efetivas» necessárias (medidas de reparação primária, complementar e compensatória) e, em cooperação com o operador, identifica e avalia as opções de reparação, designadamente adotando/acordando o plano de ações de reparação, e convida as partes interessadas a apresentarem as suas observações (artigo 7.º, n.º 4);

• tendo em conta essas observações, define medidas específicas e formaliza as ações de reparação escolhidas;

• colabora com o(s) operador(es) para assegurar que são tomadas as medidas necessárias em matéria de reparação primária, complementar e compensatória, consoante os casos (concede ao operador o direito de ser ouvido antes de tomar a decisão);

• se a autoridade competente tomar, ela própria, as medidas de reparação (caso o operador não o faça, não seja identificável ou tenha uma justificação válida): exige ao(s) operador(es) o reembolso dos custos de reparação, avaliação, administração e outros custos pertinentes (repartindo-os, se houver várias partes responsáveis); e

• supervisiona a conceção, a adoção e a aplicação do instrumento de garantia financeira (se esta for obrigatória).

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APLICAÇÃO GERAL DA DIRETIVA

• (o Estado-Membro, não cada uma das possíveis autoridades competentes de cada país) transmite à Comissão, até dia 30 de abril de 2013, um relatório sobre a experiência adquirida na aplicação da DRA; e

• pode optar por criar um sistema de transmissão de informações por parte dos Estados-Membros e uma base de casos relativos à DRA.

Operadores Qualquer pessoa singular ou coletiva, privada ou pública, que execute ou controle a atividade profissional ou, quando a legislação nacional assim o prevê, a quem tenha sido delegado um poder económico decisivo sobre o funcionamento técnico dessa atividade, incluindo o detentor de uma licença ou autorização para o efeito ou a pessoa que registe ou notifique essa atividade. Atividade profissional, não atividade privada

AQUANDO DA DETEÇÃO DE UMA AMEAÇA IMINENTE OU DE UM DANO AMBIENTAL

• tomam medidas imediatas para prevenir danos em caso de ameaça iminente e, sempre que não for possível eliminá-la (ou se a legislação nacional assim o exigir):

• comunicam sem demora à autoridade competente todos os aspetos relevantes da situação;

• seguem as instruções da autoridade competente para prevenir danos; e

• caso ocorram danos: procedem a todas as diligências viáveis para controlar, conter, eliminar ou, de outra forma, gerir imediatamente os contaminantes em causa e/ou quaisquer outros fatores danosos (reparação de emergência); fornecem informações suplementares, se exigidas pela autoridade competente, e seguem as instruções correspondentes da autoridade competente relativas às medidas de reparação de emergência;

• identificam medidas de reparação potenciais e cooperam com a autoridade competente na escolha das medidas de reparação ou prevenção adequadas;

• têm direito a ser ouvidos antes de a autoridade competente tomar uma decisão sobre ações de reparação;

• diligenciam no sentido de tomarem (ou financiarem) medidas de reparação ambiental primária, complementar e compensatória, segundo o plano de ações de reparação e/ou tal como indicado pela autoridade competente, a fim de restituir os recursos naturais danificados ao estado inicial, tendo em conta quaisquer danos provisórios (perdas) até o ambiente se regenerar; e

• suportam os respetivos custos, conforme exigido.

Prestadores de garantias financeiras (e similares) Companhias seguradoras e resseguradoras

AQUANDO DA DETEÇÃO DE UMA AMEAÇA IMINENTE OU DE UM DANO AMBIENTAL (não é uma obrigação imposta pela DRA, mas uma função possível)

• contribuem para a avaliação dos danos e da reparação.

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Peritos Em ecologia, noutras ciências, na avaliação de riscos, em engenharia, na conceção e aplicação de medidas de reparação, em economia, em direito e nas outras áreas que contribuem para a aplicação da DRA.

AQUANDO DA DETEÇÃO DE UMA AMEAÇA IMINENTE OU DE UM DANO AMBIENTAL (não é uma obrigação imposta pela DRA, mas uma função possível)

• avaliam os danos (iminentes ou efetivos), reveem essa avaliação e supervisionam a escolha, conceção e aplicação das opções de reparação;

• acompanham os resultados.

1.8 Custos de reparação No âmbito da DRA, os custos que as autoridades competentes são obrigadas a recuperar dos operadores (no caso de estes terem empreendido as ações de prevenção e/ou de reparação) incluem: • Os custos das avaliações dos danos ambientais ou das ameaças iminentes de tais danos e os custos da

identificação das opções de reparação; • Os custos administrativos, jurídicos e de execução; • Os custos de recolha de dados, outros custos gerais e os custos do acompanhamento e de supervisão; e • Os custos da prevenção e/ou da reparação. Como premissa, quando existe mais do que uma opção técnica que satisfaz o mesmo objetivo de reparação, é selecionada a opção menos onerosa. Isto é mencionado na DRA, como princípio fundamental das análises de custo-eficácia e de custo-benefício e aplica-se às opções técnicas para as medidas de reparação primária, complementar e compensatória. O custo final destas responsabilidades dependerá da natureza dos danos que ocorrerem e do tipo de ações de reparação que forem necessárias. A DRA não prevê qualquer limite no que respeita ao custo potencial do cumprimento dos requisitos da reparação. No entanto, inclui uma disposição no anexo II que permite à autoridade competente pôr fim às ações de reparação antes de o estado inicial, ou de um equivalente deste, ser atingido, se os custos das ações adicionais forem desproporcionados em relação aos benefícios ambientais que seriam obtidos, desde que, nessa fase, não reste qualquer risco significativo de efeitos adversos para a saúde humana, a água ou espécies ou habitats protegidos (anexo II, ponto 1.3.3). A «desproporcionalidade» não está definida na DRA. É também mencionada, mas não definida, na Diretiva-Quadro «Água». Porém, os pedidos no âmbito da DRA podem beneficiar da investigação realizada para a DQA (WATECO, 2003). Essa investigação constatou que, embora o princípio implique que, em teoria, os custos de reparação não devem exceder os benefícios da mesma, em última análise a desproporcionalidade é um juízo de natureza política baseado em informações económicas. Tendo em conta a incerteza em torno das estimativas de custos e de benefícios, ao avaliar-se a desproporcionalidade deve atender-se ao seguinte: • A avaliação dos custos e benefícios tem de incluir os custos e benefícios qualitativos e quantitativos; • A margem através da qual os custos excedem os benefícios deve ser significativa e apresentar um elevado nível

de confiança; e

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• A desproporcionalidade não deve iniciar-se no ponto em que os custos determinados simplesmente excedem os benefícios quantificáveis;

• O responsável pela tomada de decisão pode, igualmente, avaliar se a distribuição dos custos de reparação entre as partes responsáveis (se existir mais do que uma) é proporcional à contribuição de cada uma delas para o dano.

1.9 Financiamento dos custos de reparação A principal fonte de financiamento para a reparação primária, complementar e compensatória no âmbito da DRA é o operador responsável (ou são os operadores responsáveis). O operador é responsável pelo pagamento dos custos, não só no que respeita às ações de prevenção e às medidas de reparação necessárias, mas também no que respeita aos custos auxiliares e administrativos envolvidos, incluindo os custos incorridos pela autoridade competente na aplicação do regime. Isto inclui todos os custos de identificação e caracterização do dano ocorrido, de investigação e seleção das medidas de reparação adequadas, de aplicação das medidas de reparação necessárias e de acompanhamento e manutenção da eficácia dessa ação, uma vez concluída. As únicas outras partes, além das mencionadas, que podem ser responsáveis por custos ao abrigo do regime da DRA, são os terceiros (incluindo as autoridades públicas, se tiverem imposto quaisquer ordens ou instruções ao operador que tenham provocado danos ambientais) considerados responsáveis por terem causado o prejuízo ou outros operadores solidariamente responsáveis. Se o operador (ou terceiro) responsável não tomar as medidas necessárias ou não for responsável, em virtude de uma das exceções ou isenções especificadas na diretiva, a autoridade competente tem o poder de tomar, ela própria, as medidas, embora, no âmbito da DRA, não seja legalmente obrigada a fazê-lo. Sempre que a autoridade competente tomar tais medidas, deverá recuperar, tanto quanto possível, das partes responsáveis os custos que suportar.

1.10 Garantias financeiras O artigo 14.º da DRA determina que os Estados-Membros devem tomar medidas para incentivar o desenvolvimento, pelos operadores económicos e financeiros devidos, de instrumentos e mercados de garantias financeiras, incluindo mecanismos financeiros em caso de insolvência, a fim de permitir que os operadores utilizem garantias financeiras para cobrir as responsabilidades que para eles decorrem da diretiva. A Comissão Europeia elaborou um relatório que avalia o que foi feito pelos Estados-Membros para cumprirem esta obrigação e analisa os diferentes tipos de garantias financeiras no mercado. A CE (2010) apurou que o mercado da UE estava em expansão e que estão disponíveis diferentes instrumentos de garantia financeira. O relatório chegou, mais especificamente, às seguintes conclusões: • As seguradoras revelaram-se o instrumento mais popular para cobrir a responsabilidade ambiental; os

agrupamentos de seguradoras estão presentes em Espanha, França e Itália; • As garantias bancárias têm sido utilizadas principalmente na Bélgica, na República Checa, em Espanha, em

Chipre, nos Países Baixos, na Áustria, na Polónia e no Reino Unido; e • Na Bélgica, na Bulgária, em Espanha, em Chipre, na Áustria e na Polónia foram debatidos outros instrumentos de

mercado (para a responsabilidade ambiental em geral), como fundos, títulos etc.

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O relatório da Comissão verificou que, à época, oito Estados-Membros (Bulgária, República Checa, Grécia, Espanha, Hungria, Portugal, Roménia e Eslováquia) tinham introduzido, ou tencionavam introduzir, garantias financeiras obrigatórias ao abrigo da DRA, com modalidades diferentes e datas de início até 2014. Estes sistemas estão, frequentemente, sujeitos à avaliação do risco15 dos setores e dos operadores em causa e incluem diversas disposições de execução nacionais que abrangem questões como limites de indemnização, isenções etc. Aquando da publicação do relatório, os restantes Estados-Membros dependiam ainda de garantias financeiras voluntárias.

Está em curso uma investigação adicional, encomendada pela Comissão Europeia, relativa à viabilidade de um fundo/instrumento de repartição de riscos de desastres à escala da Europa, que seria aplicável em caso de acidentes industriais graves e poderia ser financiado através de um prémio obrigatório.

1.11 Datas futuras fundamentais • Até 30 de abril de 2013, os Estados-Membros devem apresentar à Comissão um relatório sobre a experiência

adquirida na aplicação da DRA.

• O prazo para o relatório da Comissão Europeia, incluindo a revisão prevista, é 30 de abril de 2014.

15 Estimativa do risco calculada a partir da dimensão do risco potencial e da probabilidade de ocorrência desse risco.

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2. VISÃO GERAL DO PROCESSO DE APLICAÇÃO DA DRA: PLANEAMENTO DAS AÇÕES DE REPARAÇÃO

Quando um incidente ou ameaça iminente é detetado pela autoridade competente, comunicado pelo operador ou transmitido à autoridade competente por terceiros (pessoas habilitadas, em conformidade com o artigo 12.º, n.º 1, da DRA), inicia-se o processo para avaliar se o caso deve ser abrangido pela DRA. A figura 2.1 apresenta os passos a seguir num caso que possa ser abrangido pela DRA.

Ocorrência de danos ou de uma ameaça

iminente

Ações imediatas

para evitar danos (adicionais)

Avaliação do

dano ambiental

Plano de

reparação

Aplicação,

acompanhamento e apresentação de

relatórios das ações de reparação

em conformidade com a DRA e

com a legislação do

Estado-Membro que a transpõe

Os operadores controlam, contêm e

eliminam o dano e impedem que sejam causados

outros danos [tal como previsto no artigo 6.º, n.º 1,

alínea a)]

A autoridade competente

decide se houve danos ambientais

significativos e, idealmente,

colabora com o operador na

quantificação dos mesmos

(incluindo a perda provisória)

A autoridade competente toma decisões quanto

ao tipo e à escala das medidas de reparação que

devem ser tomadas,

incluindo no processo o

operador e as outras partes

interessadas (ver a figura 2.2)

O operador aplica a reparação

complementar e compensatória

exigida, acompanha as ações

empreendidas e apresenta os

relatórios correspondentes (ver a figura 2.2)

Figura 2.1: Aplicação da Diretiva Responsabilidade Ambiental [adaptado das orientações detalhadas do Defra (Reino Unido), 2009].

*Nota: a reparação primária aqui mencionada refere-se a ações de médio e longo prazo.

Embora a decisão final pertença à autoridade competente, será mais eficiente e eficaz que todas as partes interessadas (em especial, a autoridade competente e o ou os operadores) colaborem no que respeita à deteção de danos/de ameaças de danos e à avaliação dos danos e das opções de reparação. De facto, o artigo 7.º, n.º 2, menciona «a cooperação do operador em causa». Como mencionado no ponto 1, a DRA refere-se a uma série de diretivas relativas aos recursos aos quais é aplicável. A diretiva adequada (ou a legislação nacional de transposição) deve ser identificada, de modo a garantir a cobertura da atividade causadora do dano ambiental. Além disso, a identificação correta também garante que são aplicados os critérios de avaliação adequados quando se avalia o dano e se determina a escala da reparação. Em alguns casos, em função da natureza do incidente e do dano, pode ser relevante mais do que uma diretiva (ou legislação nacional).

A reparação primária (com ou sem reparação compensatória) pode ou não ser suficiente para restituir o recurso/serviço ao estado inicial. Se o for, o processo de aplicação da DRA pode terminar (desde que o acompanhamento e a comunicação continuem). Se o estado inicial não puder ser alcançado dentro de um prazo

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razoável, devem avaliar-se as perdas provisórias e elaborar-se as opções de reparação compensatória. A figura 2.2 mostra o processo de tomada de decisão relativamente ao tipo e à escala das medidas de reparação. Existem casos em que os planos de reparação têm de ser revistos.

O processo legal depende da legislação nacional. Neste contexto, o Tribunal de Justiça da União Europeia estabeleceu os requisitos mínimos que as autoridades competentes devem ter em conta, sempre que considerarem que é necessário alterar as medidas de reparação adotadas para (melhor) atingir o objetivo. Estes requisitos estão refletidos nos processos apensos C-379/08 e C-380/08, n.os 46-67, bem como no primeiro ponto do correspondente acórdão (ver a caixa n.º 2.1). Destas explicações conclui-se que, desde que os três requisitos mínimos definidos pelo Tribunal de Justiça sejam cumpridos, a legislação nacional pode exigir etapas processuais adicionais.

Figura 2.2: Decisão sobre as medidas de reparação [adaptado das orientações detalhadas do Defra (Reino Unido), 2009].

Nota*: Nesta fase do processo, o operador já terá comunicado o incidente à autoridade competente ou a autoridade competente já terá detetado o dano.

A autoridade competente notifica ao operador que o dano é significativo* - as

propostas de reparação devem ser enviadas dentro de um determinado

prazo

O operador apresenta as medidas dentro do prazo especificado pela

autoridade competente – idealmente, em colaboração com esta

A autoridade competente consulta as partes interessadas

A autoridade competente decide sobre as opções de reparação, tendo em

conta as propostas do operador e as observações das pessoas habilitadas

O plano de medidas de reparação deve incluir:

- Objetivos da reparação - Ações já adotadas e ações planeadas (reparação

primária, compensatória e complementar) - Resultados esperados - Medidas relativas à incerteza - Cálculos e outros trabalhos na base das estimativas

da escala das medidas de reparação - Custo das medidas - Plano de acompanhamento

Critérios para avaliar as opções de reparação compensatória/complementar:

- Equivalência entre o recurso/serviço danificado e o recurso/serviço reparado (equivalência débito - crédito)

- Probabilidade de êxito - Probabilidade de a reparação vir a ser realizada - Custos: proporcionados ou desproporcionados

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Caixa 2.1: Processos C-379/08 e C-380/08 do Tribunal de Justiça da União Europeia. Acórdão nos processos apensos C-379/08 e C-380/08, primeiro ponto:

Pelos fundamentos expostos, o Tribunal de Justiça (Grande Secção) declara:

1. Os artigos 7.° e 11.°, n.º 4, da Diretiva 2004/35/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de abril de 2004, relativa à responsabilidade ambiental em termos de prevenção e reparação de danos ambientais, lidos em conjugação com o seu anexo II, devem ser interpretados no sentido de que a autoridade competente está habilitada a alterar substancialmente as medidas de reparação de danos ambientais decididas no final de um processo contraditório desenvolvido em cooperação com os concessionários em causa e que tenham já sido executadas ou estejam em início de execução. Porém, para tomar essa decisão:

essa autoridade está obrigada a ouvir os concessionários aos quais sejam impostas essas medidas, exceto quando a urgência da situação ambiental imponha uma ação imediata da autoridade competente;

a referida autoridade está igualmente obrigada a convidar, entre outras, as pessoas em cujos terrenos devam ser aplicadas essas medidas a apresentar as suas observações, que deverá ter em conta; e

essa autoridade deve ter em conta os critérios constantes do ponto 1.3.1 do anexo II da Diretiva 2004/35 e indicar na sua decisão as razões que fundamentaram a sua opção ou, eventualmente, as que justificaram que não tivesse de fazer-se ou não pudesse ser feita uma análise detalhada com base nos referidos critérios, por exemplo, devido à urgência da situação ambiental.

Acórdão no processo C-378/08, segundo parágrafo:

Pelos fundamentos expostos, o Tribunal de Justiça (Grande Secção) declara:

Quando,...

A Diretiva 2004/35 não se opõe a uma regulamentação nacional que permite à autoridade competente, que aja no quadro desta diretiva, presumir a existência de um nexo de causalidade, mesmo no caso de poluição de caráter difuso, entre os concessionários e a poluição constatada, devido à proximidade das suas instalações com a zona poluída. Contudo, de acordo com o princípio do poluidor-pagador, para poder presumir esse nexo de causalidade, essa autoridade deve dispor de indícios plausíveis em que possa basear a sua presunção, como a proximidade da instalação do concessionário com a poluição constatada e a correspondência entre as substâncias poluentes encontradas e as substâncias utilizadas pelo concessionário no quadro das suas atividades.

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3. APLICAÇÃO DA DRA – AVALIAÇÃO DE DANOS: VISÃO GERAL DA ANÁLISE PRELIMINAR, REPARAÇÃO PRIMÁRIA E ANÁLISE DE EQUIVALÊNCIA

A figura 3.1 apresenta as etapas a seguir aquando da avaliação dos danos e da seleção das opções de reparação. A etapa 1 é tratada no presente ponto. As etapas 2 a 5 estão contempladas no pacote de formação para 2 dias.

Etapa 1 Análise preliminar

Descrever o incidente

Identificar e descrever os locais, ambientes, espécies e habitats afetados

Identificar a natureza, o grau e a dimensão geográfica e temporal dos danos ambientais ocorridos ou previstos

Identificar as (potenciais) questões sociais, económicas e transfronteiriças

Iniciar a análise de ações de avaliação adicionais: necessidade potencial de reparação complementar ou compensatória; tipos e hierarquia dos métodos de equivalência; tipos de dados necessários para realizar a avaliação

Avaliar os benefícios da reparação primária

Determinar a escala adequada da avaliação

Etapa 2 Determinação e quantificação dos

danos (débito)

Etapa 4 Definição da escala das ações de

reparação complementar e compensatória

Etapa 5 Acompanhamento e apresentação de

relatórios

Etapa 3 Determinação e quantificação dos benefícios da reparação (crédito)

Identificar os recursos, habitats e serviços danificados

Determinar as causas dos danos

Quantificar os danos

Calcular a perda provisória e os débitos totais

Identificar e avaliar as opções de reparação potenciais

Calcular os benefícios (créditos) das opções de reparação

Planear e aplicar a reparação

Acompanhar o êxito da reparação

Apresentar relatório

Calcular os benefícios unitários (créditos)

Determinar a escala da reparação

Estimar os custos das opções de reparação

Verificar se os custos são desproporcionados

Tratar das incertezas e dos resultados variáveis da análise de equivalência

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Figura 3.1: Etapas da análise de equivalência.

O presente ponto descreve o que uma análise preliminar envolve para determinar o nível potencial de dano e se são necessários mais esforços de avaliação. Recorre-se a um estudo de caso («Rutura na Barragem de Rejeitos Mineiros do Vale K») para ilustrar a análise preliminar apresentada em caixas de texto ao longo deste ponto.

É importante salientar que a informação recolhida através da análise preliminar é necessária para determinar se um determinado incidente é ou não abrangido pela DRA. Portanto, não é necessário determinar primeiro se um incidente é abrangido pela DRA para se proceder a uma análise preliminar.

A dimensão e o âmbito de uma avaliação de danos ao abrigo da DRA e, portanto, o nível de esforço analítico adequado, variam de acordo com os fatores específicos de cada incidente, o número de recursos e serviços afetados, a disponibilidade de informações e a disponibilidade de ações de reparação primária, complementar e compensatória.

As principais questões a responder durante a análise preliminar podem ser divididas em duas categorias principais: antecedentes do incidente e efeitos do incidente.

As informações relativas aos antecedentes do incidente incluem:

• Quem é(são) o(s) operador(es) responsável(eis)?

• Quais as matérias libertadas e em que habitats o foram?

• É possível que os recursos naturais tenham sido (venham a ser) danificados por um incidente (por uma ameaça iminente) abrangido(a) pela DRA?

• Existe um nexo de causalidade entre a libertação e o dano?

• Os danos podem ser significativos (a determinar pelos Estados-Membros, incluindo provavelmente considerações relativas à dimensão, gravidade e duração dos mesmos)?

As informações relativas aos efeitos do incidente incluem:

• Poderá a reparação primária compensar totalmente os danos ambientais?

• Será necessária reparação complementar ou compensatória para compensar as perdas?

• Poderão ter sido ou vir a ser afetados pelo dano serviços prestados às pessoas?

• Qual é o nível de detalhe adequado da avaliação?

As etapas relativas ao esforço da análise preliminar, apresentadas por ordem aproximada de aplicação, incluem:

1. Descrever o incidente;

2. Identificar e descrever os locais, ambientes, espécies e habitats afetados;

3. Identificar a natureza, o grau e a dimensão geográfica e temporal dos danos ambientais ocorridos ou previstos;

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4. Identificar as questões sociais, económicas e transfronteiriças potenciais;

5. Avaliar os benefícios da reparação primária;

6. Iniciar a análise de ações de avaliação adicionais:

a. Necessidade potencial de reparação complementar ou compensatória,

b. Tipos e hierarquia da análise de equivalência,

c. Tipos de dados necessários para realizar a avaliação.

Não é possível predeterminar a informação específica recolhida durante a análise preliminar. No entanto, seguidamente indicam-se com mais detalhe os tipos de informação que devem ser analisados em cada etapa. Durante a análise preliminar, a autoridade competente e o operador devem também começar a analisar o nível potencial de esforço necessário para a avaliação geral.

3.1 Descrição do incidente Os detalhes do incidente podem informar sobre o tipo e a duração dos danos, sobre o nexo de causalidade e a responsabilidade e sobre a recuperabilidade dos recursos. A descrição do incidente deve ser o mais detalhada possível. Ao avaliarem as responsabilidades potenciais associadas aos diferentes tipos de incidentes, é importante que os analistas considerem as diretivas e/ou a legislação nacional aplicáveis.

Dependendo da situação, ao avaliar os danos potenciais e a necessidade de reparação, pode ser prudente estabelecer pressupostos moderados sobre os efeitos adversos potenciais. Tais pressupostos garantirão que um resultado imprevisto não causará uma grande diferença na quantidade de compensação necessária para a reparação.

Para os danos ex post, devem ser compiladas informações detalhadas sobre a natureza, o momento, a localização e a duração do incidente. Também devem constar desta compilação informações relativas aos operadores potencialmente responsáveis e às matérias libertadas. A recolha dos detalhes relevantes poderá envolver trabalho de investigação preliminar. No que respeita a acidentes como derrames e libertações, devem ser descritas as condições ambientais que afetam o transporte e a exposição potenciais no ambiente. Além disso, devem ser identificados os potenciais efeitos adversos que possam estar relacionados com o incidente. Da mesma forma, devem ser identificados e considerados os dados relevantes para determinar se existe um nexo de causalidade entre o incidente e potenciais efeitos adversos. Durante a fase de análise preliminar, talvez seja preferível identificar um conjunto amplo de efeitos adversos potenciais, de forma a não correr o risco de limitar demasiado as consequências potenciais do incidente.

Ao descreverem a natureza do incidente, os analistas devem procurar identificar as características que podem influenciar a natureza e a dimensão dos efeitos adversos potenciais e que podem contribuir para as tomadas de decisão no que respeita à reparação. A descrição do incidente pode incluir:

• Uma descrição detalhada da libertação, do incidente ou do projeto; • O momento e a duração do acontecimento; • A natureza específica dos fatores de perturbação químicos, físicos ou biológicos associados ao incidente; • As condições meteorológicas; e

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• Quaisquer intervenções de emergência, ações de reparação primária ou ações de atenuação planeada que já tenham sido realizadas.

Nem todas as informações acima mencionadas são relevantes para todos os incidentes. Deste modo, é importante que os analistas tenham em consideração o tipo de informações preliminares necessários para descrever com rigor o incidente.

O quadro 3.1 apresenta alguns exemplos de incidentes suscetíveis de causar danos a recursos abrangidos pela DRA.

Quadro 3.1: Exemplos de incidentes que podem causar danos definidos pela DRA.

Tipos de incidentes suscetíveis de causar danos a habitats e espécies: • Remoção direta de espécies e habitats protegidos; • Perseguição e abate consciente de espécies protegidas; • Perturbação causada pelo exercício de atividades (por exemplo, excesso de atividades recreativas); • Poluição química; • Danos físicos; • Perturbação causada pelo exercício de atividades, por exemplo, projetos de construção ou de demolição ou

excesso de atividades recreativas; • Demolição de edifícios resultante na emissão de ruídos e em vibrações; • Poluição microbiológica proveniente, por exemplo, de más práticas agrícolas, originada pela descarga de

efluentes de origem animal brutos, não-tratados, no solo, com migração para as águas subterrâneas e para as águas de superfície, ou provocada pela descarga direta nas águas de superfície, causando danos a espécies e habitats aquáticos protegidos.

Tipos de incidentes suscetíveis de causar danos à água: • Uma fuga de estrume para uma massa de água (deverá averiguar-se se o incidente é relativo a uma atividade

do anexo III e se o Estado-Membro excluiu as lamas de depuração das atividades que figuram no mesmo anexo);

• Captação de água que provoca uma alteração do estado da massa de água; • Descarga de um sítio industrial que excede a capacidade das estações de tratamento e polui uma massa de

água; • Descarga de produtos químicos de um camião-cisterna ou vagão-tanque (por exemplo, devido a um

acidente); • Retenção de uma massa de água sem a avaliação e a licença adequadas, resultante em alterações físicas do

ambiente aquático – por exemplo, a acumulação de sedimentos, o depósito de sedimentos sobre moluscos protegidos ou a impossibilidade de acesso de peixes migradores às zonas de reprodução;

• Penetração de água salgada em águas subterrâneas (por exemplo, devido a captação excessiva durante períodos longos);

• Derrames de produtos químicos ou de petróleo de tanques subterrâneos e à superfície ou provenientes do manuseamento ou de instalações de transporte, resultantes em danos causados às águas subterrâneas e às águas de superfície.

Tipos de incidentes suscetíveis de causar danos ao solo: Os incidentes que danificam os solos podem incluir danos causados ao solo e às águas subterrâneas e a migração para as águas de superfície que provoquem efeitos adversos para a saúde humana através de:

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• Libertação direta de vapores e deterioração da qualidade do ar interior e exterior; • Concentrações elevadas de contaminantes no solo suscetíveis de causar efeitos adversos significativos por

diversas vias de exposição através do contacto direto com a pele, da inalação de poeiras e da geração e inalação de vapores;

• Ingestão de produtos alimentares contaminados provenientes do cultivo em solos contaminados, ou de produtos alimentares contaminados por poeiras; e

• Ingestão de água contaminada.

Exemplos de incidentes que podem provocar danos no solo:

• A poluição do solo causada por uma grande lavandaria a seco afeta a qualidade do ar interior nas habitações próximas;

• Quando há um corte no sistema de purificação de fumos de uma instalação de incineração de resíduos, ocorre, em zonas residenciais próximas, uma poluição da superfície do solo com metais pesados, que ultrapassam os limiares impostos;

• Uma libertação acidental de produtos químicos de zonas de armazenamento, manuseamento e produção, resultando na migração de gases para ambientes interiores e pelo solo, bem como na migração dos produtos químicos para o solo e para as águas subterrâneas através de condutas e de valas de serviço;

• Eliminação ilícita deliberada de resíduos para o solo, resultando na produção de gases e na migração para habitações próximas, bem como na contaminação química de águas subterrâneas utilizadas para o abastecimento de água potável e de águas de superfície utilizadas para práticas balneares;

• Fugas acidentais de produtos petrolíferos ou de produtos químicos para o solo e para as águas subterrâneas, causadas pelo desmantelamento de centrais;

• Demolição de edifícios resultante em ruturas de tubos e reservatórios fora de uso que contenham resíduos de produtos petrolíferos ou de produtos químicos e na consequente descarga para o solo e para as águas subterrâneas.

Caixa 3.1: Visão geral do estudo de caso relativo ao incidente: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

No dia 22 de fevereiro de 2011, houve uma grande tempestade de inverno, com chuvas torrenciais, no vale K (local hipotético), localização de uma barragem de rejeitos mineiros construída em rocha dura. A chuva derreteu a neve do vale e acabou por provocar uma rutura na barragem de rejeitos. Devido a essa rutura, os resíduos mineiros escorreram para o rio K. Apesar de, em menos de vinte e quatro horas, os serviços de emergência terem sido mobilizados para o local da barragem onde ocorreu a rutura, no momento em que esta foi reparada já muitos milhares de toneladas de resíduos mineiros tinham contaminado o rio K, verificando-se o seu arrastamento pela corrente até, pelo menos, 10 km a jusante, para uma vasta zona húmida protegida, formada na confluência com outro rio. Visualmente, a maioria dos resíduos pareceu assentar e depositar-se na zona húmida, embora os componentes dos resíduos tenham potencialmente continuado a ser transportados para jusante pelo sistema fluvial. O operador da instalação comunicou imediatamente o incidente às autoridades competentes. Os residentes a jusante também alertaram as autoridades, manifestando a sua preocupação relativamente à qualidade da água e da pesca.

Nas semanas que se seguiram à rutura da barragem de rejeitos, foi realizada uma análise preliminar do incidente. Durante essa etapa, foram obtidas as seguintes informações:

• Determinou-se que, no que respeita ao período e à duração do incidente, ocorreu apenas uma libertação de resíduos de curta duração (menos de 2 dias); no entanto, os resíduos libertados representam um perigo a

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longo prazo para o ambiente. • Os resíduos continham concentrações muito elevadas de certos metais pesados (por exemplo, cobre, zinco e

cádmio) e eram ligeiramente ácidos (pH de aproximadamente 4). • Como consequência das chuvas fortes e do degelo, os caudais do rio aumentaram bastante em comparação

com os caudais típicos de inverno. • As intervenções de emergência efetuadas na instalação resultaram em reparações rápidas na barragem de

rejeitos. Todas as atividades de processamento de minerais foram suspensas durante o período de reparação. Não foram tomadas quaisquer medidas de emergência no rio ou na zona húmida.

• Foram tiradas várias fotografias para documentar o incidente e a instalação colheu várias amostras de água do rio ao longo dos 10 km que a separam da zona húmida. Não foram colhidas amostras na zona húmida nem no rio a jusante desta.

• Houve relatos de carcaças de truta marisca encontradas ao longo das margens do rio. No entanto, não foi realizada nenhuma amostragem sistemática à biota.

• Obtiveram-se dados relativos à qualidade da água do rio antes da ocorrência do incidente. Porém, esses dados de amostragem eram muito escassos. Não se obtiveram quaisquer dados biológicos relativos ao curso afetado do rio. Contudo, tinha sido elaborado um inventário detalhado e um mapa para a zona húmida, que já tinha sido identificada como zona húmida de interesse especial de conservação.

3.2 Identificação e descrição preliminares dos locais, ambientes, espécies e habitats afetados

O trabalho a realizar nesta etapa facilitará a identificação dos recursos mais suscetíveis de terem sido afetados ou de serem ameaçados pelo incidente. Pode ser necessário avaliar a escassez potencial de recursos ou de habitats, a importância local ou regional, o estado de conservação das espécies potencialmente afetadas e dos habitats críticos e outros fatores locais ou regionais que possam aumentar ou diminuir a probabilidade ou a dimensão dos danos.

As etapas relativas à análise preliminar podem incluir visitas ao local, análises da literatura, de bases de dados e de fontes da Internet para identificar informações relevantes para os recursos (potencialmente) em risco e a definição da ecologia, da biologia e dos atributos físicos do estado inicial dos recursos afetados. Podem ser contactados peritos para a obtenção de informações adicionais. Por exemplo, os gestores de recursos têm, muitas vezes, dados não publicados que podem ser utilizados para caracterizar o estado inicial e para identificar os recursos potencialmente afetados. Alguns tipos de informação que podem ser úteis para identificar locais, ambientes, habitats e serviços afetados:

• A identificação de recursos e serviços potencialmente expostos ou afetados (incluindo serviços ecológicos e serviços prestados às pessoas);

• A identificação e a contagem dos visitantes que foram afetados pelo incidente ou pela libertação; e • Dados relativos à qualidade física, biológica ou química dos recursos naturais afetados.

Esta etapa ajudará a autoridade competente a determinar a viabilidade, a facilidade e o nível de detalhe de uma possível avaliação. Esta identificação preliminar deverá incluir:

• A consideração dos tipos de dados disponíveis; • A qualidade e quantidade de tais dados; • A cobertura temporal e geográfica dos dados;

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• A disponibilidade de dados relativos ao estado inicial; • Outras informações relevantes para a identificação e descrição dos recursos e serviços afetados; e • Dados relevantes para a determinação do grau e da dimensão dos danos a locais, ambientes, habitats,

espécies, funções e serviços.

Caixa 3.2: Identificação e descrição preliminares dos locais, ambientes, habitats e espécies afetados: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

Foi realizada uma identificação preliminar dos recursos potencialmente afetados, com base em entrevistas a gestores conhecedores dos recursos locais. A identificação baseou-se ainda numa análise das informações publicadas relacionadas com este e outros locais semelhantes, em debates com o operador da instalação, em visitas ao local e em fotografias. Os recursos potencialmente afetados incluíam o seguinte: • Qualidade da água no rio e na zona húmida; • Qualidade do sedimento no rio e na zona húmida; • Habitats ribeirinhos, fluviais e da zona húmida; • Biota aquática, em particular a truta marisca e invertebrados aquáticos; • Vegetação da zona húmida; e • Pequenos mamíferos e aves migratórias que potencialmente utilizam os habitats da zona húmida durante os

meses de verão. As localizações potencialmente afetadas incluíam os 10 km do rio K a montante da zona húmida, esta última e uma extensão desconhecida do rio a jusante da zona húmida.

3.3 Identificação preliminar da natureza, do grau e da dimensão geográfica e temporal dos danos ambientais ocorridos ou previstos

Esta etapa da análise preliminar pode incluir observações diretas (por exemplo, impactos físicos, morte de peixes, manchas químicas etc.), descrições de situações análogas em que o dano tenha sido caracterizado, sínteses de literatura, comparações das concentrações químicas com os limiares de toxicidade e a definição de um modelo simples. A análise preliminar deve tentar responder às seguintes questões:

• Os recursos foram expostos a fatores de stress ambiental devido ao incidente? • Quais os habitats, comunidades e espécies mais expostos ao risco? • Existe alguma prova direta do dano (por exemplo, a morte de peixes)? • Qual é a natureza do dano potencial (por exemplo, mortalidade, perda de habitat, reduções da população,

contaminação que limita a capacidade produtiva dos habitats)? • Em termos geográficos, quão disseminados estão os danos potenciais? • Durante quanto tempo podem persistir os danos? • É possível que os danos continuem no futuro (depois da reparação primária)?

Alguns tipos de informação que podem ser úteis para este esforço: • Dados sobre a ecologia das comunidades relevantes para o potencial de transferência na cadeia alimentar; • Cartografia, rastreio, vídeo e fotografia/recolha de imagens (no solo, aérea ou por satélite, conforme se

justifique) do incidente, da libertação ou do derrame;

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• Amostras das matérias que se possam dispersar, dissipar, degradar, desnaturar ou diluir; • Dados ambientais de apoio (por exemplo, temperatura, caudais, pH, teor de oxigénio dissolvido, correntes,

marés e outros vetores de transporte potenciais); • Recolha de carcaças ou de dados relacionados com efeitos transitórios nos recursos; • Observações relacionadas com a necrofagia de carcaças; • Técnicas e procedimentos utilizados para a recolha de dados efémeros; e • Todas as informações disponíveis sobre o estado inicial. A identificação preliminar dos serviços danificados deve incluir a avaliação de todos os serviços ecossistémicos, incluindo os valores de uso e de não-uso. São apresentados exemplos de serviços ecossistémicos no quadro 3.2.

Devem ser investigados os registos estatísticos existentes da utilização recreativa, das visitas e dos utilizadores, bem como os relativos às outras populações humanas potencialmente afetadas. Podem ser igualmente relevantes os registos ou mapas demográficos, os usos culturais específicos dos recursos e detalhes sobre a forma de utilização.

Para identificar as funções ecológicas potencialmente afetadas, deve ter-se em conta a ecologia e a biologia das espécies, das comunidades, dos habitats e das paisagens potencialmente afetados. Alguns exemplos desses serviços ecológicos:

• Serviços de habitats; • Manutenção da dinâmica da população, incluindo a análise da capacidade reprodutiva; manutenção das fases

cruciais da vida; manutenção dos habitats fundamentais de reprodução, criação, alimentação, refúgio ou outros;

• Utilizações de determinadas zonas como corredores de migração de espécies; • Utilizações de determinadas zonas como habitats de paragem durante a migração; • Cadeias alimentares e ciclos de nutrientes que proporcionam energia para sustentar populações, habitats,

comunidades e paisagens; • Preservação da biodiversidade (incluindo a nível individual – por exemplo, genético –, da espécie, da população,

do habitat e da composição da comunidade); • Dinâmica da paisagem (por exemplo, efeitos de borda, heterogeneidade da paisagem, propriedades térmicas); • Capacidade de assimilação das zonas húmidas ou das zonas ribeirinhas para atenuarem os contaminantes e a

energia erosiva; e • Capacidade das bacias hidrográficas para regularem a qualidade da água.

Quadro 3.2: Exemplos de categorias de recursos e de serviços potenciais (no estado inicial ou danificados).

Recurso potencialmente danificado

Exemplos de serviços ecossistémicos (consultar o anexo sobre a avaliação económica para mais informações sobre os serviços ecossistémicos)

Serviços de aprovisionamento: São os produtos obtidos a partir dos ecossistemas; Serviços reguladores: São os benefícios obtidos a partir da regulação dos processos ecossistémicos; Serviços de apoio: São os serviços necessários para a produção de todos os outros serviços ecossistémicos; Serviços culturais: São os benefícios imateriais que as pessoas obtêm dos ecossistemas através do enriquecimento espiritual, do desenvolvimento cognitivo, da reflexão, do recreio e de experiências

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estéticas.

Águas subterrâneas Aprovisionamento: água potável; Regulação: contribuição para as águas de superfície; Apoio: capacidade de assimilaçãoa

Águas de superfície Aprovisionamento: água potável, recreio, alimentos, por exemplo peixes; Regulação: gestão do risco de cheia, filtragem da água, capacidade de assimilação; Apoio: ciclos de nutrientes; Cultural: recreio nas águas de superfície ou ao longo delas, utilidade visual.

Sedimentos Aprovisionamento: habitat, abrigo, alimentação; Regulação: capacidade de assimilação.

Solos Aprovisionamento: alimentos, habitat, minerais; Regulação: controlo da erosão, capacidade de assimilação, alterações climáticas; Apoio: ciclos de nutrientes.

Biota aquática Aprovisionamento: alimentos; Regulação: presas para outros organismos; Cultural: recreio, como a pesca à linha.

Recursos terrestres Aprovisionamento: alimentos, formação do solo; Regulação: alterações climáticas, polinização, controlo da erosão; Apoio: habitat, abrigo, alimentação; Cultural: recreio, tal como caminhadas.

a. Por exemplo, a capacidade que um recurso tem para absorver níveis baixos de contaminantes sem causar efeitos adversos.

Aquando da recolha de informações sobre os serviços potencialmente afetados, os analistas devem ter em conta a escassez ou abundância dos serviços, a importância regional destes para os seres humanos ou para o ecossistema e as ameaças futuras potenciais à zona ou a recursos que proporcionem serviços semelhantes.

Caixa 3.3: Análise preliminar dos serviços: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

Determinou-se que os serviços potencialmente afetados associados aos danos observados e aos possíveis danos a recursos naturais incluíam: • Serviços de habitats ribeirinhos, fluviais e da zona húmida; • Outros serviços ecológicos associados à biota e aos habitats afetados; • Pesca recreativa e consumo de peixe; • Valores de existência. Os residentes das proximidades não recorrem ao rio para obter água potável e a morfologia do vale limita muito a quantidade de águas subterrâneas aluviais. Portanto, os serviços das águas subterrâneas e da água potável foram considerados não expostos a risco.

3.4 Identificação preliminar das questões sociais, económicas e transfronteiriças Caso existam dúvidas relativamente a perdas de justiça ambiental ou de serviços orientados para a comunidade, pode ser necessário obter dados existentes que caracterizem o panorama social e económico da zona investigada. Na zona de avaliação, as leis, os regulamentos, as orientações e os requisitos podem variar caso os efeitos do

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incidente ultrapassem limites jurisdicionais. Podem também variar os fatores sociais, económicos e políticos subjacentes que influenciam a utilização e a gestão dos recursos, bem como os fluxos de serviços. Do mesmo modo, se os efeitos do incidente ultrapassarem limites geográficos económicos ou sociais não oficiais, mas percecionados, as perdas de serviços podem variar geograficamente em função desses limites, além de variarem em função da distribuição dos contaminantes e dos fatores de stress físico.

Caixa 3.4: Questões sociais, económicas e transfronteiriças: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

Não foi identificada nenhuma questão social, económica ou transfronteiriça em particular para o sítio em causa. Apesar da pesca recreativa ser autorizada para a truta marisca no rio K, este tipo de pesca não foi considerada como sendo de especial importância económica. Ainda que vários grupos interessados tenham sido potencialmente afetados pelo incidente – incluindo moradores locais, pescadores à linha, pessoas interessadas em atividades recreativas ao ar livre e diversos intervenientes interessados na questão da qualidade ambiental na região –, os interesses destas partes não foram considerados questões sociais prementes suscetíveis de integrar a avaliação do dano.

3.5 Benefícios das ações de reparação primária O principal objetivo da reparação é sempre a restituição ao estado inicial através da eliminação da alteração prejudicial causada pelo dano. A reparação primária inclui medidas como a eliminação da substância causadora de poluição ou da estrutura causadora de danos ao ambiente e outras medidas, como a restauração de zonas de implantação ou de concentração (por exemplo, de peixes), a construção de passagens para peixes, restrições na utilização de uma zona ou o acompanhamento do estado do ambiente. A regeneração natural pode ser considerada um exemplo de reparação primária. Contudo, a regeneração natural geralmente não significa que não se tomem medidas. Esta reparação inclui, muitas vezes, outras medidas, de caráter administrativo, como o acompanhamento ou a limitação da utilização da zona em questão. Em caso de danos a espécies e habitats naturais protegidos, a reparação primária diz respeito às medidas que restauram o habitat danificado de uma espécie protegida ou um habitat natural danificado, sendo que a mais importante destas inclui o apoio à regeneração natural através da gestão florestal, da preparação do solo e da plantação de árvores. Em caso de poluição da água, as medidas de reparação podem incluir ações que têm como objetivo a prevenção de danos químicos adicionais, ou métodos que visam a restauração de uma massa de água, como a oxigenação e a dragagem. A medida de reparação primária que aproxima, o mais possível e o mais rapidamente possível, o recurso natural ou serviço do estado inicial nem sempre é a melhor opção ou a mais rentável. Neste caso, a legislação permite às autoridades optarem por medidas alternativas, que podem ser selecionadas se também for considerada a adoção de medidas de reparação complementar e compensatória. Isto é possível se, por exemplo, puder ser estabelecido um nível semelhante de recursos naturais e de serviços, a um custo mais reduzido, fora da zona afetada.

Tipos de reparação primária que podem ser realizados:

• Acelerar a restituição ao estado inicial (em vez de reduzir apenas os riscos para a saúde humana ou para o ambiente), restabelecendo, por exemplo:

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o A quantidade e a qualidade do fluxo de águas de superfície observadas antes do incidente; o A composição e a estrutura iniciais da comunidade de vegetação; o Os componentes da cadeia alimentar que sustentam os peixes e a restante fauna selvagem, tais

como as comunidades de invertebrados, essenciais para os peixes e restante fauna insetívoros, e as comunidades de pequenos mamíferos, essenciais para as aves de rapina e para os mamíferos carnívoros; e

o O habitat físico que possa ter sido degradado como resultado dos danos causados pelo incidente. • Restabelecer o acesso aos serviços recreativos anteriormente prestados na zona em causa. • Restabelecer o acesso aos serviços comerciais fornecidos pelos recursos.

Algumas ações de reparação primária adicionais que podem ser realizadas para tratar dos serviços ecossistémicos (as seguintes ações são apenas exemplos, para todo e qualquer tipo de dano):

• Requalificação, redelimitação e replantação de espécies autóctones de maneira a acelerar a regeneração natural após as perturbações decorrentes das ações de reparação primária; e

• Melhoria dos habitats aquáticos através da plantação de vegetação ribeirinha ou de trabalho no rio, com o intuito de restituir ao sistema o seu estado físico inicial, ou de melhorá-lo, depois das ações de reparação primária.

Devem ser avaliados os benefícios previstos de todas as ações de reparação primária. Os esforços de reparação primária podem ter vários benefícios, incluindo:

• A redução da área geográfica do dano; • A redução do número de espécies, habitats ou serviços danificados; • A redução do grau dos danos; e • A redução do período que as espécies, os habitats ou os serviços necessitam para recuperar os seus estados

iniciais. Cada um destes potenciais benefícios pode ser contabilizado ao avaliar-se a necessidade de reparação complementar ou compensatória. Ao avaliarem-se os benefícios potenciais da reparação primária, devem ter-se em conta quaisquer danos secundários, ou indiretos, que possam ocorrer como resultado das ações de reparação primária. Alguns tipos de danos secundários: • Perdas de habitat adicionais devido à construção de estradas, pontos e infraestruturas temporárias de

acesso; • Eliminação física adicional de habitats durante as intervenções; e • Perturbações físicas adicionais a habitats ou serviços causadas pelas intervenções.

Alguns exemplos: • Construção de estradas de acesso para equipamento pesado destinado à remoção de matérias libertadas; • Eliminação física de habitats, como zonas húmidas, durante o processo de descontaminação, utilizada como

forma de diminuir o tempo de exposição a longo prazo das espécies às matérias libertadas; • Agitação dos leitos fluviais para libertar matérias retidas; e • Encerramento de pontos de acesso recreativo para acesso para efeitos de descontaminação.

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3.6 Planeamento preliminar da reparação compensatória e complementar Após a análise dos benefícios potenciais da reparação primária, pode ponderar-se a necessidade de reparação complementar ou compensatória. As duas questões seguintes ajudam a determinar se é necessário recorrer à reparação complementar/compensatória e qual o tipo de reparação a utilizar.

(i) A reparação primária foi suficiente (para repor o recurso/serviço no estado inicial)?

(ii) A reparação primária irá restituir rapidamente o estado inicial?

A reparação primária nem sempre é viável e prudente. Se as condições no local do incidente forem perigosas para a segurança ou para a saúde humanas, certas ações de reparação primária podem ser consideradas inaceitáveis. Do mesmo modo, se as ações de reparação primária não forem suscetíveis de beneficiar substancialmente o ambiente, ou se as ações que poderiam ser empreendidas forem suscetíveis de causar danos colaterais substanciais, a reparação primária pode não ser desejável.

Caso seja tomada uma decisão para realizar ações de reparação primária, a natureza destas ações pode ser adaptada a fim de facilitar a restituição dos recursos danificados ao estado inicial.

Se uma ação rápida de reparação primária for suscetível de eliminar as ameaças à saúde pública, ao bem-estar das pessoas ou ao ambiente e conseguir também restituir rapidamente os recursos ao estado inicial, podem não ser necessárias atividades de reparação complementar ou compensatória adicionais.

Se for evidente que a estimativa do custo (monetário ou outro) do benefício marginal da reparação adicional (através da análise de equivalência) ultrapassa o benefício a ser obtido com essa reparação, deve decidir-se desde logo se a análise do dano e a reparação adicionais são ou não necessárias.

Após a realização de (ações de) reparação primária (imediata ou a médio ou longo prazo), podem ser colocadas duas questões:

(iii) São adequadas e viáveis ações de reparação complementar ou compensatória?

(iv) Quais as abordagens a seguir para determinar a quantidade de reparação compensatória?

Quando não se espera que a reparação primária seja capaz de restituir totalmente o estado inicial, ou quando se prevê que essa restituição levará muito tempo, pode ser necessário realizar ações adicionais de reparação fora do local (complementar, compensatória ou ambas). A noção de «longo prazo» não está definida na DRA e não é possível defini-la cientificamente de modo uniforme. Para algumas espécies ou habitats e incidentes especialmente devastadores, alguns dias já poderão significar demasiado tempo, ao passo que, para outros recursos ou incidentes, uma recuperação que demore meses ou anos a restituir o estado inicial pode ser considerada satisfatória. A definição e a escolha são específicas de cada caso.

Esta situação pode surgir quando:

• A reparação primária, mesmo sendo elaborada para restituir o estado inicial, só será realizada numa data futura;

• A reparação primária, mesmo sendo elaborada para restituir o estado inicial, implica ações que levarão muito tempo a concluir;

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• A reparação primária, mesmo sendo elaborada para restituir o estado inicial, exige um longo período de recuperação; ou

• A reparação primária não resultará na restituição total do estado inicial dos recursos e serviços.

Nestes casos, pode ser necessária reparação compensatória para compensar as perdas provisórias que ocorrerão entre o momento do incidente e o momento em que o estado inicial é restituído. Além disso, no último caso, a reparação complementar é necessária para compensar a diferença entre o estado do local após a conclusão da reparação primária e o estado inicial do local. Em termos práticos, os projetos de reparação aplicados para complementar e compensar podem, com frequência, ser o mesmo, em especial se os serviços a substituir forem semelhantes. A caixa 3.5 apresenta as questões a responder quando se avalia a necessidade de ações de reparação complementar ou compensatória.

Caixa 3.5: Planeamento do projeto de reparação.

Avaliação preliminar

• A reparação primária é insuficiente? • Existem opções de reparação complementar ou compensatória que ofereçam recursos ou serviços

suficientemente semelhantes aos recursos e serviços perdidos e possibilitem a análise de equivalência? • Se assim for, é possível identificar as unidades de troca e quais as medidas a utilizar? Isto possibilitaria a

recolha antecipada de dados. • Quais as informações disponíveis sobre os principais recetores, a dimensão provável do impacto, o tempo de

recuperação e alternativas e custos de reparação razoáveis? • Que informações adicionais são recolhidas durante os esforços de intervenção e de reparação primária que

possam ser utilizadas para determinar a quantidade de ações de reparação complementar ou compensatória necessárias?

Elaboração de um calendário:

• Quando estarão disponíveis as informações adicionais? • Em que data é necessária a avaliação? • Em que data são necessárias as contribuições cruciais?

Identificação dos recursos:

• Quem vai fazer a avaliação - o operador, a autoridade competente, os consultores? • Quais as aptidões e competências necessárias? • Qual é o nível de contribuição e detalhe proporcional à escala dos danos e às prováveis opções de

reparação? Identificação das necessidades de informação adicionais:

• Quais são as informações adicionais necessárias para avaliar os danos e as opções de reparação? • Qual é a quantidade de dados disponíveis provenientes da avaliação dos danos e de outras fontes? • Quais os modelos ou programas informáticos necessários para avaliar os danos e as medidas de reparação?

Ponderação do envolvimento das partes interessadas:

• Existe um grupo mais amplo de partes interessadas que necessita de ser informado ou cujo contributo possa ser útil?

• Que medidas são necessárias para coordenar o contributo dessas partes ou para comunicar com as

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mesmas?

Fonte: Guia detalhado do Reino Unido (2009).

Quando se determinar que é necessária reparação compensatória, deve avaliar-se que opções de reparação compensatória serão adequadas. A caixa 3.6 apresenta uma hierarquia dos métodos de equivalência para avaliar reparações compensatórias.

São utilizados métodos de análise de equivalência para determinar o tipo e a quantidade de recursos e serviços que se perderam ao longo do tempo como resultado dos danos ambientais e o tipo e a quantidade de ações de reparação complementar e compensatória que são necessários para compensar a perda. As análises de equivalência têm em conta a natureza química, física, biológica e, por vezes, social e económica dos impactos ambientais e das opções de reparação.

Podem ser aplicados vários tipos de análise de equivalência aos casos da DRA. Dependendo do tipo de análise selecionado, as perdas e os benefícios da reparação pretendidos podem ser expressos em diferentes unidades (ou medidas):

• Recurso-a-recurso (Análise de Equivalência de Recursos – AER): as perdas resultantes dos danos e os ganhos da reparação são expressos em termos de unidades do recurso (como o número de peixes ou de aves ou os litros de água subterrânea);

• Serviço-a-serviço (Análise de Equivalência de Habitats – AEH): as perdas resultantes dos danos e os ganhos da reparação são expressos em termos de habitats e a compensação é efetuada pela reparação de um habitat semelhante [em termos da área de habitat (por exemplo, uma zona húmida) e da quantidade de serviços (em %) perdidos devido aos danos causados pelo incidente];

• Valor-a-valor (Análise de Equivalência de Valores – AEV): os débitos e créditos são expressos em termos monetários (valor-a-valor). Se for possível estimar o valor monetário do dano, mas não o valor monetário dos benefícios da reparação, pode considerar-se que o orçamento (custo) da reparação é igual ao valor do dano (equivalência entre valor e custo). A utilização do valor monetário como unidade de medida não implica necessariamente a suficiência de uma compensação financeira. O princípio da DRA continua a ser o de que os recursos e serviços danificados devem ser reparados.

Caixa 3.6: Hierarquia de preferência das abordagens de análise de equivalência apresentada no anexo II da Diretiva Responsabilidade Ambiental.

A DRA estabelece o seguinte:

Ao determinar a escala das medidas de reparação complementar e compensatória, considerar-se-á, em primeiro lugar, a utilização de abordagens de equivalência recurso-a-recurso ou serviço-a-serviço. Segundo esses métodos, devem considerar-se em primeiro lugar as ações que proporcionem recursos naturais e/ou serviços do mesmo tipo, qualidade e quantidade que os danificados. Quando tal não for possível, podem proporcionar-se recursos naturais e/ou serviços alternativos. Por exemplo, uma redução na qualidade pode ser compensada por um aumento da quantidade de medidas de reparação (anexo II, ponto 1.2.2).

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Se não for possível utilizar as abordagens de equivalência de primeira escolha recurso-a-recurso ou serviço-a-serviço, serão então utilizadas técnicas alternativas de valoração. A autoridade competente pode prescrever o método, por exemplo, valoração monetária, para determinar a extensão das medidas de reparação complementar e compensatória necessárias. Se a valoração dos recursos e/ou serviços perdidos for praticável, mas a valoração dos recursos naturais e/ou serviços de substituição não puder ser efetuada num prazo ou por um custo razoáveis, a autoridade competente pode então escolher medidas de reparação cujo custo seja equivalente ao valor monetário estimado dos recursos naturais e/ou serviços perdidos (anexo II , ponto 1.2.3).

A valoração monetária mencionada no ponto 1.2.3 implica abordagens valor-a-valor; já as medidas de reparação cujo custo é equivalente ao valor monetário estimado dos recursos e/ou serviços perdidos são classificadas de abordagens de equivalência entre valor e custo. Em suma, a DRA impõe a seguinte hierarquia para abordagens de equivalência, no âmbito da avaliação da reparação complementar e compensatória:

1. Recurso-a-recurso; 2. Serviço-a-serviço; 3. Valor-a-valor; 4. Valor e custo.

Os métodos de equivalência são concebidos para fornecer uma comparação direta entre o dano causado por um acontecimento e os benefícios das ações de reparação complementar e compensatória. A equivalência contabiliza as diferenças potenciais no que diz respeito a:

• Tempo – entre o momento da ocorrência do dano e o momento da concretização dos benefícios das ações de reparação.

• Grau dos danos, muitas vezes expresso numa unidade, e grau de benefícios proporcionado pela reparação, também expresso numa unidade.

• Tipo de recurso ou serviço danificados e tipo de recurso ou serviço reparados.

No geral, a realização de uma análise de equivalência implica cinco etapas fundamentais (para todos os tipos de análises):

Etapa 1: Análise preliminar. Esta etapa é realizada para determinar se deve ou não ser efetuada uma análise de equivalência e, em caso afirmativo, para estabelecer a escala e o conteúdo adequados dessa análise.

Etapa 2: Determinação e quantificação dos danos (débito). Nesta etapa são identificados e quantificados os recursos e/ou serviços danificados em relação ao estado inicial. Determinam-se também as causas dos danos. Por último, determinam-se os benefícios da reparação primária e é quantificado o débito total.

Etapa 3: Determinação e quantificação dos benefícios da reparação (crédito). Os créditos são determinados através da identificação e avaliação das opções de reparação potenciais e do cálculo dos benefícios que serão obtidos com a execução de projetos de reparação complementar ou compensatória.

Etapa 4: Definição da escala das ações de reparação complementar e compensatória. A etapa final da análise de equivalência consiste na definição da escala ou quantidade do projeto ou dos projetos de reparação a executar.

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Define-se a escala de modo que, ao longo do tempo, os créditos de recursos naturais ou de serviços gerados pelos projetos de reparação tendam a igualar as perdas (débitos) verificadas na zona danificada.

Etapa 5: Acompanhamento e apresentação de relatórios. Depois da realização da análise de equivalência, da escolha dos projetos de reparação e da definição da escala destes, é elaborado um plano de reparação que inclui os objetivos dos projetos, os detalhes da execução, os planos e conceções técnicos e os planos e conceções biológicos. O plano de reparação inclui igualmente os procedimentos e calendários para acompanhamento da reparação dos recursos e serviços após a execução dos projetos e para a avaliação do êxito destes (ver também a figura 2.2). Numa análise de equivalência, o débito é uma expressão da quantidade de perdas sofridas como resultado de um dano ambiental. O débito é frequentemente multidimensional, uma vez que um dano ambiental pode ter efeitos adversos em muitas espécies, habitats, funções ecossistémicas e valores humanos. Além disso, a dimensão geográfica e a dimensão temporal dos danos e do grau dos danos pode variar, consoante a forma como os danos são medidos.

Geralmente, numa AEH ou AER, são definidas uma ou mais medidas de perda que servem de índices de recursos ou serviços fundamentais danificados. Ao escolher as medidas de débito (normalmente designadas por «medidas»), parte-se do pressuposto de que a reparação que incide na medida escolhida beneficiará colateralmente aspetos do débito que não foram especificamente tratados na análise de equivalência. A escolha e a utilização das medidas são debatidas com maior profundidade no ponto 4.

O crédito, numa análise de equivalência, diz respeito à quantidade de benefícios, em termos de recursos naturais ou de serviços, que será obtida através da reparação complementar e compensatória. O número, o tipo e a dimensão dos projetos são definidos de maneira que a quantidade de benefícios esperada seja aproximadamente igual ao débito, quando quantificada na mesma unidade de medida.

Garantir a equivalência (por definição da escala) entre o débito e crédito é, em termos conceptuais, muito simples:

• Quantificam-se as perdas (total de débitos) causadas pelos danos; • Quantifica-se o benefício (crédito) esperados por unidade de reparação, e • Divide-se o débito total pelo crédito unitário, para obter a quantidade total dos créditos (ou seja, a

reparação) necessários. A caixa 3.7 apresenta um estudo de caso simples para ilustrar as etapas da análise de equivalência (utilizando a equivalência de habitats).

Caixa 3.7: Exemplo simples para ilustrar as etapas da análise de equivalência de habitats (AEH).

Considere-se o caso da contaminação das águas subterrâneas por um operador de uma estação de serviço. A reparação primária no local exigiria a remoção do solo por debaixo da estação de serviço, para fins de tratamento, e uma operação dispendiosa e demorada de bombagem e tratamento para descontaminação das águas subterrâneas subjacentes. Nestas condições, a reparação primária poderia custar mais de 500 000 € por hectare.metroa de água reparada. Em alternativa, as águas subterrâneas adjacentes, contaminadas por nitratos, podem ser reparadas, através de técnicas de biodescontaminação, a um custo de aproximadamente 100 000 € por hectare. Neste caso, o operador pode solicitar que a autoridade competente autorize a biodescontaminação das águas subterrâneas adjacentes, contaminadas por nitratos, em vez da dispendiosa reparação primária no local inicial. A aprovação de tal troca

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depende de uma série de fatores que têm de ser ponderados pela autoridade competente. Por exemplo, se as duas massas de águas subterrâneas e os serviços que prestam são suficientemente semelhantes. Caso as águas subterrâneas contaminadas por nitratos se destinassem, de qualquer forma, a ser descontaminadas, a descontaminação dessas águas não geraria benefícios «adicionais» e, por conseguinte, os seus benefícios não poderiam ser aceites como benefícios da reparação em apreço. a Um hectare.metro de águas subterrâneas é a quantidade de água necessária para cobrir 1 hectare de terras até 1 metro de profundidade.

Tal como acima mencionado, o anexo II da DRA exprime preferência pelas abordagens da equivalência recurso-a-recurso e serviço-a-serviço, em detrimento das abordagens de valoração monetária, como a abordagem valor-a-valor ou a equivalência entre valor e custo. A AEH e AER são adequadas quando:

• Pode ser definida uma medida comum aos recursos naturais ou serviços danificados pelos impactos e aos recursos naturais ou serviços ganhos através da reparação;

• O contexto paisagístico dos habitats danificados é suficientemente semelhante ao contexto paisagístico dos habitats reparados para que a reparação gere recursos naturais ou serviços semelhantes; e

• Existem dados suficientes sobre os parâmetros de entrada da AEH e da AER ou a obtenção destes é rentável.

Quando estas condições não forem observadas, os processos da AEH e da AER podem não resultar numa reparação adequada. Tal como acontece com todos os modelos, a falta de dados de entrada limita a validade dos resultados obtidos.

Na prática, os recursos e serviços são complexos e pode ser difícil compreender e quantificar o impacto de um incidente previsto ou imprevisto sobre espécies, habitats e/ou funções ecossistémicas. Além disso, quantificar os benefícios que serão gerados ao longo do tempo por projetos de reparação pode ser, em termos técnicos, uma tarefa difícil. Deste modo, quantificar o débito e o crédito requer, geralmente, experiência e critério profissional por parte da equipa responsável pela análise de equivalência. Tal equipa pode ser constituída por biólogos, ecologistas, toxicologistas, químicos, hidrologistas, gestores de atividades recreativas e outros especialistas ambientais, bem como por economistas e juristas.

Quando a reparação dos mesmos recursos naturais ou serviços ou de recursos naturais ou serviços semelhantes não for tecnicamente viável (por exemplo, quando não existem habitats ou organismos do mesmo tipo e qualidade), não for aconselhável (por exemplo, se a melhoria do habitat ou o aumento do número de organismos na vizinhança aumentar a exposição da fauna e da flora a substâncias tóxicas) ou for demasiado dispendiosa, a AEH e a AER podem não ser adequadas. Nesses casos, pode ser preferível recorrer a ações compensatórias que proporcionem recursos naturais ou serviços de tipo ou qualidade diferentes dos recursos ou serviços danificados. Nestes casos, os métodos de valoração monetária, como as análises de equivalência de valores, debatidos anteriormente, podem constituir uma melhor base para a seleção e definição da escala das atividades de reparação.

Por outras palavras, a análise da equivalência de valores pode ser mais adequada se a resposta a uma ou mais das seguintes questões for afirmativa:

• Caso a reparação «em espécie» não seja viável, têm de ser reparados ou melhorados recursos ou serviços diferentes para compensar os danos ambientais?

• Os recursos danificados são diferentes, quanto ao tipo, dos recursos reparados (por ações de reparação complementar ou compensatória)?

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• Os recursos danificados são diferentes, quanto à qualidade, dos recursos reparados (por ações de reparação complementar ou compensatória)?

• Será a extensão dos danos demasiado ampla para que os pressupostos das equivalências serviço-a-serviço e recurso-a-recurso não sejam sustentáveis?

• Perderam-se serviços importantes de uso pelas pessoas em resultado dos danos?

• Estão as ações de reparação suficientemente longe do sítio danificado para que se pondere o recurso à equivalência valor-a-valor?

O quadro 3.3 resume as etapas principais de uma avaliação de danos e a aplicação das mesmas às diversas abordagens de equivalência.

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Quadro 3.3: Etapas principais de uma avaliação de danos e como estas se aplicam aos diferentes métodos de equivalência.

Etapa 1: Análise preliminar Dos danos, dos dados disponíveis, das opções de reparação, da escala adequada de análise e dos esforços; Identificar as incertezas e os pressupostos e realizar uma análise de sensibilidade.

É aplicável igualmente a todos os métodos de análise de equivalência. Exemplos de atividades de análise preliminar: Recolha no local de dados sobre o incidente; avaliação da quantidade e do tipo de recursos e serviços afetados; realização de atividades de reparação primária específicas.

Etapa 2: Determinação e quantificação dos danos (débito) Determinação das causas dos danos; seleção da(s) medida(s) para a avaliação dos danos, incluindo as perdas provisórias; determinação e quantificação do estado inicial; compreensão da exposição aos danos e das características dos recursos e serviços danificados; determinação dos benefícios da reparação primária. Identificar as incertezas e os pressupostos e realizar uma análise de sensibilidade. Etapa 3: Determinação e quantificação dos ganhos da reparação (crédito) Identificação das opções de reparação; seleção das opções mais adequadas e viáveis; estimativa dos benefícios da reparação, utilizando as mesmas medidas que na etapa 2. Identificar as incertezas e os pressupostos e realizar uma análise de sensibilidade. Etapa 4: Definição da escala das ações de reparação Determinação da quantidade total da reparação, estimando o custo da reparação. Identificar as incertezas e os pressupostos e realizar uma análise de sensibilidade.

A equivalência recurso-a-recurso utiliza medidas físicas e de qualidade, em termos de unidades do recurso, tais como o número de peixes, a área de floresta etc. A equivalência de habitats utiliza medidas físicas e de qualidade ao nível dos habitats e não dos recursos individuais (por exemplo, hectares de habitat de zona húmida afetados e percentagem de perda de serviço). As equivalências de valores utilizam valores monetários como medida. Na versão da equivalência entre valor e custo, a avaliação monetária dos danos é definida como orçamento para a reparação, cujos benefícios não são diretamente valorados. Na equivalência valor-a-valor, o valor dos danos e o valor dos benefícios da reparação são ambos medidos em termos monetários. A quantidade total de reparação necessária é apurada dividindo os danos totais (etapa 2) pelos benefícios de uma unidade de reparação (etapa 3). Esta divisão é aplicável a todas as análises de equivalência. É fundamental que os danos totais (débito) e os benefícios da reparação (crédito) sejam expressos na mesma unidade de medida. Por exemplo, suponha-se que, devido a um incêndio, se perdem 10 hectares de floresta de madeira nobre e que o incidente é abrangido pela DRA. Uma opção de reparação seria implantar 2 hectares de floresta de madeira nobre num local próximo. Seriam necessárias mais 5 medidas como esta (10/2) para garantir que os créditos igualariam os débitos.

Etapa 5: Acompanhamento e apresentação de relatórios Elaboração de um plano de reparação (objetivos, conceções, metas) e acompanhamento da execução do mesmo.

Esta etapa salienta o que deve acontecer depois de se selecionar a opção de reparação e de iniciada a execução da mesma. Por conseguinte, não está ligada ao tipo de análise de equivalência utilizada. Contudo, o acompanhamento e a

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Identificar as incertezas e os pressupostos e realizar uma análise de sensibilidade apresentação de relatórios são parte integrante da reparação e é por esse motivo que esta etapa se inclui no quadro.

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A seleção de um método de equivalência, das medidas de débito e crédito e das alternativas adequadas de reparação pode, muitas vezes, ser um processo iterativo. A equipa responsável pela análise pode começar por selecionar uma abordagem de equivalência e, mais tarde, quando estiver disponível mais informação sobre a natureza dos danos ou sobre as possibilidades de reparação, pode chegar à conclusão de que outra abordagem de equivalência tem mais probabilidades de permitir definir a escala adequada, em termos de quantidade e tipo de crédito.

Existem outras partes da análise que também podem ser iterativas, nomeadamente a seleção da(s) medida(s) de quantificação do débito e do crédito, bem como a decisão sobre abordagens credíveis e coerentes (para descrever trajetórias de perdas e de ganhos, perdas e ganhos previstos de recursos naturais ou serviços e estados iniciais).

Caixa 3.8: Avaliação da reparação preliminar: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

A avaliação da reparação preliminar levou às seguintes conclusões: A intervenção de emergência da instalação foi bem-sucedida na suspensão das descargas de rejeitos. A reparação primária adicional da zona húmida para remover os rejeitos depositados pode ser viável, mas será necessário efetuar um estudo para se avaliarem os eventuais benefícios e os impactos colaterais potenciais para a zona húmida. Devido à natureza dos rejeitos mineiros, a duração dos impactos futuros é suscetível de ser suficientemente longa para que ocorram perdas provisórias antes de qualquer recuperação do estado inicial. A equivalência de habitats e/ou de recursos são abordagens adequadas para avaliar os danos à biota e aos habitats afetados. A equivalência de valores não foi considerada abordagem adequada, visto que os impactos foram principalmente ecológicos e não económicos ou relativos à utilização pelas pessoas. A reparação compensatória de zonas húmidas, de habitats fluviais e da truta marisca é suscetível de ser viável. Já foram executados noutras situações projetos de reparação ecológica centrados nestes recursos.

3.7 Determinação do nível adequado do esforço de avaliação Com base na análise preliminar acima descrita (incluindo os benefícios da reparação primária e a eventual reparação complementar e compensatória), o âmbito potencial da avaliação pode ser analisado tendo em conta condições como as seguintes:

• Ocorreu ou pode vir a ocorrer um incidente abrangido pela DRA, por diretivas conexas e/ou por quadros/regulamentações específicos do Estado-Membro em causa (incluindo as condições de «ameaça iminente» mencionadas na DRA);

• A quantidade e a concentração dos contaminantes libertados, ou o grau dos danos físicos, são suficientes para, potencialmente, causarem efeitos adversos aos recursos naturais;

• Os recursos naturais, ou serviços fornecidos pelos recursos naturais, estão potencialmente danificados; • As ações de reparação primária não resultarão na reparação adequada dos danos resultantes do incidente; • Existem possibilidades fora do local do incidente para executar projetos de reparação complementar e

compensatória; e • Os dados necessários para a quantificação dos danos, para o planeamento da reparação e para a definição da

escala desta estão disponíveis, podem ser obtidos a custo razoável, podem ser determinados com base em modelos ou podem ser estimados com razoabilidade.

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Seguidamente, deve ser tomada uma decisão relativamente ao nível dos esforços a envidar para realizar a avaliação. O nível adequado de detalhe a aplicar é normalmente determinado com base no seguinte:

• Gravidade do incidente; • Grau, dimensão e duração dos danos; • Disponibilidade de dados; • Facilidade e custo da recolha adicional de dados; • Grau de precisão necessário para o caso particular; e • Outros fatores a ponderar pela autoridade competente.

Nos casos em que a dimensão geográfica e temporal e o grau dos danos são reduzidos, e sempre que o estado inicial dos recursos é rapidamente recuperado (com ou sem reparação primária), pode proceder-se a análises de equivalência mediante um esforço limitado. Essas avaliações de pequena escala podem basear-se em dados e modelos imediatamente disponíveis e em hipóteses e fórmulas simplificadoras. Sempre que o dano seja mais complexo, suscetível de causar efeitos em cascata ou efeitos adversos persistentes e não possa ser resolvido por meio da reparação primária, nem de forma rápida, pode ser necessário realizar análises mais detalhadas e abrangentes. As avaliações abrangentes podem exigir a recolha de dados e a realização de análises, incluindo a conceção e a realização de estudos laboratoriais ou de campo para se compreender a dimensão dos danos, bem como a realização de estudos de viabilidade para que possam ser selecionados projetos ou métodos de reparação adequados.

Caixa 3.9: Nível de esforço adequado: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

Com base nos resultados da análise preliminar, a autoridade competente concluiu que era necessária uma avaliação dos danos. Esta conclusão baseou-se nos seguintes elementos: O incidente e os danos por ele causados aos recursos naturais são abrangidos pela DRA e pela legislação conexa do Estado-Membro. Os danos causados à qualidade da água, aos habitats e à biota aquáticos e aos habitats protegidos da zona húmida foram provavelmente significativos e persistentes. O grau dos prejuízos causados aos recursos afetados foi provavelmente significativo e a regeneração natural destes não é possível num período curto. Os dados disponíveis sobre o local, incluindo informações químicas e biológicas, não foram suficientes para quantificar os danos. No entanto, é viável e realista completá-los. Por exemplo, são comummente realizados, através de métodos bem documentados, estudos sobre a qualidade da água, a qualidade dos sedimentos, as populações de trutas e a salubridade das zonas húmidas. A reparação primária não resultaria na recuperação completa do estado inicial e, portanto, não compensaria o público pelas perdas provisórias previstas para o futuro. Os projetos de reparação compensatória para os tipos de recursos potencialmente afetados pelo incidente são exequíveis. Com base nestas considerações, a autoridade competente determinou que deveria ser realizada uma avaliação completa, incluindo a recolha de dados específicos sobre o local e a elaboração de planos de reparação e

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acompanhamento adequados. Prevê-se que esta avaliação se prolongue por 1 a 3 anos.

A caixa 3.10 apresenta um estudo de caso simples para ilustrar as etapas da análise de equivalência (utilizando a equivalência de habitats). Os pontos 4 a 7 do presente manual contêm informações metodológicas e terminológicas detalhadas.

Caixa 3.10: Exemplo ilustrativo das etapas da análise de equivalência

Considere-se o caso de uma zona húmida que é danificada pela libertação, por uma instalação industrial, de água com pH baixo. A zona húmida tem 10 hectares. A água de baixo pH causa danos iniciais apreciáveis. Com base no crescimento das plantas à superfície do solo, considerado bom indicador de salubridade das zonas húmidas, os cientistas estimaram uma perda inicial de 75 % da vida vegetal. Prevê-se que a zona húmida volte ao estado inicial durante os próximos 5 anos. Devido à natureza da zona húmida e à convicção de que esta acabará por regressar ao estado inicial, não se efetuou qualquer reparação primária.

Com base nestas informações, foi realizada uma análise de equivalência dos habitats. A AEH calculou que a perda inicial de 75 %, recuperada num período de 5 anos, geraria um débito de 21,6 anos-de-serviço-de-hectare descontados (ASHD). Trata-se de uma unidade de cálculo das AEH, em que «descontado» diz respeito à taxa de descontoa, neste caso de 3 %, que é aplicada para ter em conta a extensão temporal do dano. O «serviço-de-hectare» diz respeito ao facto de a AEH medir os danos com base na «perda de serviço» por hectare (inicialmente 75 %) causada pelos danos. Finalmente, os «anos» referem-se ao facto de o débito ser cumulado ao longo do período de perda. Não existe nenhuma taxa de desconto fixa em análise de equivalência.

É concebida uma medida de reparação compensatória com base na análise da informação disponível e no conhecimento das zonas húmidas próximas. Sabe-se que existem outras zonas húmidas nas proximidades e que a salubridade global destas pode ser melhorada mediante alguns esforços de reparação. Foi identificada uma zona húmida específica onde a remoção de plantas exóticas permitiria aumentar a salubridade global da zona húmida, medida pelo crescimento natural de espécies de plantas das zonas húmidas à superfície do solo. Estima-se que o crescimento de plantas à superfície poderia aumentar de 50 % para quase 100 %, em comparação com o que existia na zona húmida antes da ocorrência dos danos. As ações de reparação levariam dois anos a planear e a executar, sendo depois necessários mais 3 anos para o crescimento das plantas aumentar de 50 % para 100 %. O benefício, ou crédito, da melhoria de um hectare desta zona húmida é calculado em 15,5 unidades ASHD no tempo de vida previsível da zona húmida melhorada.

Assim, para compensar as 21,6 unidades ASHD de danos causados à zona húmida através da reparação de uma zona húmida próxima, seria necessário melhorar 21,6/15,5 = 1,4 hectares de zona húmida degradada através da remoção de plantas exóticas.

O custo da reparação dos 1,4 hectares de zona húmida inclui os custos de planeamento e conceção, licenciamento, execução, supervisão, operações/manutenção, acompanhamento etc. Utilizando um custo hipotético de aproximadamente 50 000 euros/hectare, o custo total da reparação destinada a compensar os danos seria de 1,4 x 50 000 = 70 000 euros.

a O leitor deverá utilizar a taxa de desconto oficial aplicável no seu Estado-Membro (por exemplo, no Reino Unido a taxa oficial situa-se entre 3,5 % e 0 %, diminuindo com o tempo, e é referida no Livro Verde do Tesouro Britânico).

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4. COMO DETERMINAR E QUANTIFICAR OS DANOS

Esta é a etapa 2 da avaliação dos danos e da análise de equivalência de recursos (ver a figura 3.1). Tem como objetivo a quantificação dos recursos (ou serviços de recursos) perdidos que devem ser compensados por projetos de reparação. A determinação e quantificação dos danos pode envolver estudos para determinar as causas, o grau, a dimensão geográfica e temporal e a natureza dos danos. Noutros casos, os dados e/ou modelos existentes podem ser suficientes. Os estudos de avaliação dos danos devem ser concebidos para gerar dados cientificamente rigorosos e de alta qualidade e para responder às questões relevantes para a análise de equivalência. Não devem ser elaborados para responder a questões de interesse puramente científico. No entanto, os analistas não devem hesitar em realizar investigação científica exigente, visto que, sem informações quantitativas corretas sobre os danos, é improvável que a análise de equivalência permita determinar a quantidade «correta» de reparação.

Alguns elementos fundamentais para a determinação e quantificação dos danos ambientais, debatidos no presente ponto:

• Identificação dos recursos, habitats e serviços danificados; • Determinação das causas dos danos; • Quantificação dos danos (através da comparação do nível de qualidade dos recursos e dos serviços

pós-incidente com os correspondentes estados iniciais); e • Cálculo da perda provisória e dos débitos totais (tendo em conta os benefícios da reparação primária e as

perdas causadas pelos danos colaterais).

O estudo de caso «Rutura na Barragem de Rejeitos Mineiros do Vale K» continuará a ser utilizado para ilustrar os elementos acima mencionados.

4.1 Identificação dos recursos, habitats e serviços danificados As informações e dados recolhidos durante a análise preliminar devem facilitar a identificação dos recursos, habitats e serviços potencialmente danificados. Estes dados, e os dados adicionais eventualmente recolhidos, são analisados para a elaboração de uma estimativa lógica e credível dos tipos de recursos ou habitats danificados e dos serviços normalmente fornecidos por esses recursos ou habitats.

Aquando da identificação dos recursos e habitats danificados, devem ter-se em conta: as vias de transporte potenciais e os efeitos indiretos ou secundários que podem ocorrer devido ao incidente, incluindo as vias das águas subterrâneas e das águas de superfície; as vias através do solo, dos sedimentos e das águas capilares; as cadeias alimentares e outras vias biológicas; as vias aéreas, sempre que houver uma ligação com um poluidor identificado. Podem ser utilizados modelos teóricos do local para se construir uma imagem coerente dos habitats e ecossistemas que seja útil na identificação dos recursos potencialmente afetados.

Dado que a abordagem escolhida para uma determinada análise de equivalência pode centrar-se na perda de serviços e não na perda dos próprios recursos, a análise pode ter de identificar os serviços que normalmente são

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prestados pelo recurso ou habitat. A determinação dos danos deve abordar, não só os prejuízos ecológicos e as perdas de serviço associadas, mas também fatores sociais e económicos (incluindo valores humanos) que dependem da integridade ecológica dos recursos em questão.

Alguns tipos de dados que são normalmente avaliados aquando da identificação dos recursos, habitats e serviços danificados:

• Hidrologia, geologia, ecologia, biogeoquímica e recursos especiais do sítio em causa. Além disso, devem ser contempladas informações sobre a presença de habitats e espécies protegidos europeus, como definido na DRA. Os habitats são enumerados no anexo I da Diretiva Habitats (DH), as espécies são enumeradas nos anexos II e IV da DH e as espécies de aves selvagens são referidas no artigo 4.º, n.º 2, da Diretiva Aves Selvagens (DAV) ou enumeradas no anexo I da mesma.

• Tipo de massa de água. É importante obter informações sobre o tipo de massa de água afetada, como definido no artigo 2.º da Diretiva-Quadro Água (DQA), e sobre os objetivos ambientais definidos no artigo 4.º da mesma. De acordo com o artigo 5.º da DQA, cada Estado-Membro deve disponibilizar as características da massa água, um estudo sobre o impacto da atividade humana no estado das águas de superfície e das águas subterrâneas e uma análise económica da utilização da água em cada região hidrográfica. Estes dados devem ser recolhidos como parte da análise preliminar (ver o ponto 3).

• Classificação do sítio, quando aplicável. Deve remeter-se para as classificações internacionais do sítio (por exemplo, Zona de Proteção Especial [ZPE], ao abrigo da Diretiva Aves Selvagens, Zona Especial de Conservação [ZEC] ou Sítio de Importância Comunitária [SIC], ao abrigo da Diretiva Habitats, Zona Húmida de Importância Internacional, ao abrigo da Convenção de Ramsar). Deve também remeter-se para os sítios de conservação da natureza de importância nacional, se estiverem incluídos na legislação nacional que transpõe a DRA.

• Natureza dos contaminantes químicos libertados e comportamento destes no ambiente ou, quando o incidente está relacionado com perturbações físicas do ambiente, natureza do fator de perturbação físico.

• Concentrações dos contaminantes químicos no solo, nas águas de superfície, nas águas subterrâneas, na biota e no ar.

• Concentrações de fundo dos contaminantes em causa. • Vias de transporte e de exposição. • Características físicas do ecossistema e vulnerabilidade das mesmas ao incidente. Devem ser contempladas

informações sobre a superfície ou a dimensão dos habitats afetados, bem como o número de animais ou, em alguns casos, de plantas mortos ou afetados. Pode recorrer-se a fotografias aéreas ou a outros métodos de teledeteção para recolher informações relativas à dimensão e à amplitude do incidente.

• Espécies potencialmente afetadas, utilizações dos habitats (por exemplo, utilização do local para migração, desova, criação, procura de alimentos), relações tróficas importantes e composição das comunidades.

• Características, utilizações e condições importantes dos habitats. • Localização geográfica relativamente aos centros populacionais humanos. • Utilizações recreativas e outras de recursos no local.

4.2 Descrição da natureza do fator de perturbação A caracterização dos danos deve ter em conta a dimensão espacial e temporal dos prejuízos, bem como o grau dos mesmos. Esta etapa deve incluir uma avaliação exaustiva da natureza de cada fator de perturbação.

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Os fatores de perturbação biológicos podem incluir agentes biológicos16 introduzidos (por exemplo, os OGM; ver a caixa 4.1.), agentes patogénicos e espécies invasivas. A natureza do fator de perturbação biológico deve ser descrita em termos da natureza da interação do fator com as espécies e as comunidades ecológicas no estado inicial. Esta descrição deve incluir considerações relativas aos processos ecológicos (por exemplo, a dinâmica dos nutrientes e os processos de decomposição), à composição das comunidades, à diversidade biológica e genética, à dinâmica predadores-presas e outras considerações relevantes.

Caixa 4.1: A DRA e os Organismos Geneticamente Modificados (OGM)

A libertação de organismos geneticamente modificados (OGM) no ambiente pode provocar riscos para o ambiente substancialmente diferentes dos resultantes de muitas outras atividades abrangidas pela Diretiva Responsabilidade Ambiental (GeneWatch UK, 2005)17. Os efeitos adversos potenciais da libertação de OGM podem ter grande amplitude e demorar muito a manifestar-se e a sua reparação pode ser dispendiosa. Concomitantemente, a experiência ou conhecimentos necessários são, atualmente, relativamente reduzidos para se efetuar uma avaliação a longo prazo dos efeitos potenciais dos OGM. Consequentemente, os efeitos adversos potenciais não são tão claros e previsíveis quanto os de outros fatores de perturbação ambiental mais «convencionais».

Deve ter-se em conta que a abordagem da DRA relativamente aos riscos associados aos OGM difere da abordagem da restante legislação e regulamentação da UE a respeito desta matéria, nomeadamente a Diretiva 2001/18/CE, relativa à libertação deliberada no ambiente de organismos geneticamente modificados, a principal legislação da UE de regulamentação da utilização de OGM na Europa.

A DRA adota uma abordagem generalista, não considerando os «danos causados por OGM» como categoria separada. A diretiva prevê, pelo contrário, um regime de responsabilidade ambiental objetiva e permite aos Estados-Membros, se for do interesse destes, a introdução de níveis específicos de proteção para que, entre outras razões, estabeleçam um melhor alinhamento entre o regime de responsabilidade para os OGM e a legislação e regulamentação da utilização de OGM existente. Os regimes de responsabilidade nacionais relativos aos OGM são importantes, visto que a avaliação dos danos causados por OGM (e, consequentemente, o nível de compensação) deve basear-se nos seus requisitos.

A descrição deve considerar os prejuízos potenciais a várias escalas da organização ecológica (por exemplo, indivíduo, população, comunidade e ecossistema) e da organização fisiológica (por exemplo, subcelular, celular, organismo e população) (ver a caixa 4.2).

Os fatores de perturbação físicos podem resultar na perda direta de habitats, influenciar os regimes hidrológicos ou os tipos de coberto vegetal do solo e afetar a quantidade de água e a velocidade das águas, as importantes flutuações sazonais do nível das águas, a temperatura máxima da água e o potencial erosivo das águas. Pode

16 Um fator de perturbação biológico pode ser qualquer acontecimento (físico, químico ou biológico) que perturbe um determinado sistema biológico. As perturbações físicas, as contaminações e as espécies exóticas são alguns exemplos. Os agentes biológicos são organismos que criam perturbações. Por exemplo, as espécies exóticas e os OGM.

17 GeneWatch UK (2005), Notes for DEFRA in relation to GMOs and the implementation of the Environmental Liability Directive, GeneWatch UK.

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descrever-se um fator de perturbação hidrológico com base na disponibilidade da água (em excesso, insuficiente ou extemporânea) ou numa alteração da ligação às vias hidrológicas essenciais.

Caixa 4.2: Definição dos níveis de organização e das populações afetados

A vida na Terra está altamente organizada e os próprios organismos representam sistemas altamente organizados. Os cientistas reconhecem diversos níveis de organização biológica, que vão de uma escala muito pequena (partículas subatómicas – átomos – moléculas), passando por uma escala média (órgãos – espécies) até uma escala grande (população – comunidade – ecossistema). Quando mais se sobe na pirâmide da organização biológica, maior é a dimensão e complexidade dos padrões biológicos identificados. A biodiversidade (a diversidade de vida na Terra) manifesta-se, muitas vezes, a três níveis – diversidade dos ecossistemas, diversidade das espécies e diversidade de genes.

Em contraste com a avaliação dos riscos para a saúde humana, algumas avaliações ecológicas podem assentar na definição de riscos ou danos ao nível da população. Em termos gerais, em biologia, uma população é um grupo de organismos que se reproduzem entre si e que ocupam um determinado espaço, ou o número de seres humanos ou de outros seres vivos «numa área designada». Em alternativa, uma população é, por vezes, definida como um grupo de organismos da mesma espécie «relativamente isolados» de outros da mesma espécie. Ambas as definições deixam uma margem considerável para delimitar a referida área ou para interpretar o que se deve considerar «relativamente isolado». Esta falta de clareza é transferida para o conceito de «população afetada», que pode ser visto como a população que sofre os efeitos de um acontecimento ou atividade.

Na UE, os diferentes níveis de organização biológica são objeto de regulamentação e legislação própria. Algumas disposições permitem ter em conta danos causados a organismos individuais, embora vários elementos favoreçam as avaliações a um nível mais elevado de organização. Além disso, neste contexto, a legislação nacional pode diferir ligeiramente entre Estados-Membros e em relação à legislação da UE. Deste modo, não é possível definir um nível genérico de organização, ao qual devam ser determinados os «danos à biodiversidade». A autoridade competente é responsável pela decisão relativamente ao nível adequado de organização a avaliar, com base nas melhores informações e práticas científicas disponíveis e tendo em conta o quadro jurídico pertinente (UE e nacional/regional) e as especificidades do dano e do sítio afetado.

No entanto, mesmo que se considerem os níveis mais elevados de organização, é muitas vezes útil e, por vezes, até necessário, avaliar os efeitos aos níveis mais baixos. Isto porque a determinação dos danos é bastante mais fácil a esses níveis e acaba por servir, muitas vezes, como critério para os danos a níveis de organização biológica mais elevados. Por isso, é aconselhável começar a determinar efeitos a um nível mais baixo (por exemplo, ao nível individual) e, em seguida, trabalhar a níveis mais elevados (populações, comunidades, ecossistemas). Dependendo da situação, os efeitos sobre indivíduos/populações/comunidades podem ser mais ou menos relevantes (com base na proteção conferida, na raridade, na importância para a integridade do ecossistema e para os serviços ecossistémicos e assim por diante). É, para isto, necessário determinar a importância dos efeitos observados num enquadramento ecológico e, por vezes, socioeconómico mais abrangente.

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4.3. Avaliação da exposição A avaliação da exposição tem como objetivo a análise da natureza, do período, da duração e da localização das possíveis exposições dos recursos ou habitats potencialmente afetados aos fatores de perturbação associados ao incidente.

4.3.1 Natureza, período, duração e localização Alguns fatores a ter em conta na avaliação da exposição:

• Natureza das exposições ambientais; • Período das exposições (por exemplo, exposição contínua ou intermitente; relação com outros fatores

ambientais, como as alterações diárias das concentrações de oxigénio dissolvido, fatores hidrológicos e as marés locais; relação com fatores biológicos como os comportamentos migratórios e os ciclos de reprodução);

• Duração das exposições (por exemplo, exposição aguda ou crónica; exposição contínua ou intermitente; exposição de várias gerações); e

• Localização das exposições (incluindo a ponderação das utilizações geográficas dos diferentes habitats pelos recetores potenciais e os fatores físicos, hidrológicos, biogeoquímicos e ecológicos localizados que possam influenciar a exposição).

4.3.2 Gravidade Ao caracterizar-se o grau, ou a gravidade, de uma exposição, devem considerar-se as concentrações dos contaminantes (no caso dos incidentes químicos), o grau de alteração física (no caso dos fatores de perturbação física) e o grau de exposição biológica (no caso dos fatores de perturbação biológica).

4.4. Avaliação do recetor Os recetores são os organismos, comunidades, habitats, ecossistemas e serviços expostos aos efeitos do incidente (ver também a caixa 4.2). Dependendo do incidente e dos seus efeitos, os recetores podem ser descritos a várias escalas de organização, que vão desde os indicadores suborgânicos (celulares) aos indicadores ecossistémicos. Numa análise de equivalência podem utilizar-se numerosos recetores ou, pelo menos, pode ponderar-se a sua utilização. Os recetores podem ser:

• Indicadores suborgânicos (celulares); • Biota específica, como peixes, macroinvertebrados bentónicos, aves e mamíferos; • Populações da biota; • Comunidades biológicas, como cursos de água fria, zonas húmidas emergentes, lodaçais e florestas ripárias; • Habitats ou conjuntos de habitats; • Paisagens; • Ecossistemas ou processos ecossistémicos; e • Indicadores humanos.

É importante ter em conta que as diretivas ambientais da UE e a legislação dos Estados-Membros podem especificar determinados recetores, níveis de organização ou indicadores.

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A avaliação do recetor deve considerar os danos às várias escalas de organização ecológica (por exemplo, indivíduo, população, comunidade e ecossistema) e fisiológica (por exemplo, subcelular, celular, organismo e população). Por vezes, o recetor ao nível da paisagem é diferente do recetor a uma escala menor. Ao nível da paisagem, o recetor pode ser uma população humana (e o efeito poderá ser uma perda social ou económica), ao passo que, a uma escala menor, os recetores podem ser peixes ou uma zona húmida (e o efeito pode ser morte ou destruição).

4.5. Determinação dos danos Geralmente, depois da caracterização dos fatores de perturbação, dos recetores e das vias de ligação entre eles, o passo seguinte na análise de equivalência é determinar os danos causados aos recursos naturais. A determinação de danos é definida, em termos muito gerais, como a demonstração de uma alteração adversa da qualidade biológica, química ou física de um recurso ou serviço natural. Esta ampla definição concede alguma liberdade às autoridades competentes e aos analistas na definição das características dos danos.

Alguns exemplos do objeto dos tipos mais comuns de danos e perdas de serviços associados a incidentes:

• Águas de superfície; • Águas subterrâneas; • Sedimentos; • Solos; • Vegetação; • Biota; • Habitats; • Valores humanos de uso e de não-uso

4.5.1 Águas de superfície As águas de superfície estarão danificadas quando as condições químicas, hidrológicas ou físicas de uma massa de água de superfície forem suficientes para causar efeitos adversos à biota aquática ou às pessoas que utilizam a água. Os danos causados à água de superfície podem incluir a ultrapassagem/o incumprimento de:

• Normas de qualidade da água (nomeadamente relativas à biota, à água potável, a utilizações recreativas e ao uso agrícola);

• Limiares toxicológicos ou associados aos caudais; • Critérios para a proteção da biota aquática; e • Outros critérios numéricos ou verbais destinados à proteção das pessoas e de outras biotas.

Os danos causados às águas de superfície podem também incluir o encerramento do acesso público a massas de águas de superfície ou restrições à utilização pública (como a pesca e a natação).

Constituem exemplos de perdas de serviços associadas a impactos nas águas de superfície perturbações no abastecimento de água potável, o encerramento de utilizações recreativas (natação, navegação, pesca etc.) durante um determinado período e efeitos adversos nos habitats e biota aquáticos.

Podem ainda considerar-se outras perdas de serviços, como a redução da capacidade de assimilação da água (capacidade que as águas de superfície têm para absorver níveis baixos de contaminantes sem excederem as normas ou sem provocarem efeitos adversos), as alterações hidrológicas (incluindo a quantidade ou período dos fluxos) e o

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«estigma» associado à contaminação. O estigma assenta na ideia de que, mesmo após a realização de ações de descontaminação, as pessoas preferem não utilizar ou visitar o local, ou na ideia de que a descontaminação possa não ter sido totalmente eficaz ou segura, persistindo, portanto, uma perceção de risco (e uma perda de valor económico associada).

4.5.2 Águas subterrâneas As águas subterrâneas estarão danificadas quando as condições químicas, hidrológicas ou físicas de um aquífero18 forem suficientes para provocar efeitos adversos nas pessoas que utilizam a água ou nos habitats ou biotas expostos a uma descarga dessas águas. Os danos causados às águas subterrâneas podem incluir a ultrapassagem/o incumprimento de: níveis de fundo; orientações ou normas relativas à água potável; critérios ou limiares toxicológicos ou hidrológicos aplicáveis à biota potencialmente exposta em charcos, nascentes ou nas zonas de afluxo de rios ou baías; outros critérios numéricos ou verbais relativos às águas subterrâneas destinados à proteção das pessoas e de outras biotas.

Os danos físicos ou hidrológicos podem incluir: reduções na capacidade de retenção de água do aquífero; reduções na produção segura do aquífero; alterações das relações carga/descarga; destruição do aquífero devido a compactação ou impermeabilização, de tal forma que as fontes de águas subterrâneas ou os habitats dele dependentes acabarão por se esgotar. Além disso, a limitação física do acesso, resultante da utilização de um aquífero para outros fins, também pode danificar as águas subterrâneas.

Constituem exemplos de perdas de serviços associadas a impactos nas águas subterrâneas perturbações no abastecimento de água potável às pessoas ou ao gado, o impedimento do uso futuro de um aquífero como fonte de abastecimento público de água potável ou para fins agrícolas, o encerramento de uma área de utilização recreativa devido ao risco associado a plumas poluentes nas águas subterrâneas e a degradação de habitats devida à toxicidade de substâncias presentes em águas subterrâneas pouco profundas. Os danos físicos num aquífero podem causar, direta ou indiretamente, perturbações semelhantes aos serviços associados.

4.5.3 Sedimentos Os danos causados aos sedimentos podem ser avaliados utilizando orientações ou normas relevantes ou demonstrando que o incidente afetou os sedimentos de forma tal que estes afetam adversamente outros recursos.

Constituem exemplos de danos físicos causados aos sedimentos a erosão, o enterramento ou alterações na distribuição granulométrica. Estes efeitos podem afetar adversamente a capacidade que os sedimentos têm para proporcionar habitats aos organismos que neles habitam ou que deles se alimentam.

As perdas de serviços associadas aos danos causados aos sedimentos podem incluir a eliminação ou redução da capacidade que o sedimento tem para proporcionar habitats à biota aquática, incluindo plantas, invertebrados bentónicos, peixes e aves que se alimentam dos sedimentos. Os danos causados aos sedimentos podem resultar na morte da vegetação de zonas húmidas, na redução do coberto vegetal de zona húmida ou aquático, em mudanças na composição das comunidades ou na simplificação da estrutura da comunidade vegetal de zona húmida ou aquática, o que reduz a qualidade do habitat da fauna e da flora selvagens. No que respeita ao uso pelas pessoas, as perdas de serviços podem incluir a redução do acesso a zonas de recreio ou da qualidade da experiência vivida numa zona recreativa.

18 Um aquífero é uma camada subterrânea de rochas permeáveis ou de materiais não consolidados (cascalho, areia ou sedimentos) a partir da qual podem ser extraídas águas subterrâneas através de poços.

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4.5.4 Solos Constituem exemplos de danos causados ao solo em habitats protegidos a acumulação de contaminantes químicos em concentrações que gerem reações toxicológicas nos microrganismos do solo, em invertebrados, nas plantas ou na restante fauna e flora selvagens. Os danos físicos causados ao solo podem incluir erosão ou enterramento, alterações da estrutura ou do funcionamento do solo (por exemplo, da capacidade de retenção de água ou dos ciclos de nutrientes) e perda de habitats da biota.

As perdas de serviços associadas a danos causados aos solos podem incluir a eliminação ou redução da capacidade do solo de proporcionar habitats para a fauna e a flora selvagens ou pastagens para o gado. As alterações sofridas pelos solos podem provocar a morte de plantas, reduções no coberto vegetal, mudanças na composição das comunidades e simplificações da estrutura da comunidade vegetal que, por sua vez, reduzem a qualidade do habitat da fauna e da flora selvagens ou a qualidade das pastagens. No que respeita ao uso pelas pessoas, as perdas de serviços podem incluir a redução do acesso a zonas de recreio, a redução da qualidade da experiência vivida numa zona recreativa ou do acesso a pastagens ou ainda à extração de recursos em terrenos públicos.

Além dos efeitos ecológicos dos solos contaminados, os danos causados ao solo podem ser confirmados determinando se o dano constitui um risco para a saúde humana. Apesar de as legislações nacionais que transpõem a DRA poderem utilizar definições mais rigorosas, a DRA apenas abrange os danos causados ao solo que representam um risco para a saúde humana. No entanto, sempre que um solo seja danificado ou possa vir a sê-lo, existem duas situações em que a equivalência recurso-a-recurso pode ser necessária: 1) quando o dano não se limita ao solo/terra, mas danifica também águas, espécies ou habitats protegidos; e 2) quando as medidas de reparação primária que visam a eliminação do risco para a saúde causam danos a águas, espécies ou habitats protegidos abrangidos pela DRA.

4.5.5 Vegetação Os danos causados à vegetação podem incluir reduções do coberto vegetal ou da diversidade, saúde, vigor, capacidade de reprodução ou estabilidade das plantas, bem como do valor do habitat vegetal. Além disso, a redução do valor nutricional ou do valor do habitat vegetal de espécies de plantas para espécies selvagens que suscitem preocupações pode igualmente constituir um dano.

De incidentes físicos resultam, muitas vezes, danos na vegetação, casos em que pode ser relativamente simples identificá-los e descrevê-los. Mais subtis e difíceis de identificar são os danos causados ao solo que alteram a biogeoquímica do solo ou a composição vegetal da comunidade de plantas restante, de tal forma que já não é possível restituir o estado inicial da vegetação.

As perdas de serviços associadas aos danos causados à vegetação incluem a degradação da qualidade do habitat da fauna e da flora selvagens, a degradação da estabilização física que a vegetação proporciona aos solos e a redução dos atributos de atenuação térmica ou hidrológica do coberto vegetal. A perda de vegetação ou os danos que lhe são causados podem resultar na redução das possibilidades de uso recreativo ou do usufruto desses usos, na perda de plantas comestíveis ou medicinais, na perda de valor paisagístico ou na redução de valores de não-uso.

4.5.6 Biota Os indicadores de danos podem incluir a morte de organismos, reduções nas populações, alterações na composição das comunidades, perda de habitats de apoio e efeitos letais que influenciam a viabilidade dos organismos ou das populações. Os efeitos subletais podem incluir doenças (ou sistemas imunitários deficitários), anomalias

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comportamentais, cancros, mutações genéticas, anomalias fisiológicas (incluindo anomalias na reprodução) e deformações físicas. Em geral, pode ser considerado dano o resultado de qualquer fator de perturbação que faça com que o recurso biológico sofra alterações adversas à sua viabilidade. Além disso, pode considerar-se que existe um dano quando, por exemplo, um fator de perturbação, como um contaminante químico, gera concentrações nos tecidos comestíveis da biota que excedam os níveis de consumo seguros.

No caso da biota aquática, um incumprimento de critérios relativos às águas de superfície ou aos sedimentos pode significar danos para os peixes e para os invertebrados bentónicos. A avaliação pode ser completada por uma análise de limiares toxicológicos obtidos na literatura ou provenientes de estudos específicos do sítio em causa.

Podem ser utilizados dados da população para determinar se os padrões geográficos relativos à abundância, diversidade ou estrutura etária do organismo são indicativos de danos. As investigações relativas à morte de peixes ou de outra fauna selvagem e as autópsias, patologia e análises químicas correspondentes, bem como informações sobre a reprodução do organismo e a literatura disponível, podem fornecer informações úteis para se determinarem os danos. Para determinar danos, podem efetuar-se investigações tanto no local como em laboratório.

4.5.7 Habitats Para avaliar danos a habitats, os analistas podem comparar as características fundamentais dos habitats:

• Habitats terrestres: coberto vegetal, composição, estrutura, qualidade alimentar do mesmo para os animais e produção de coberto nessa perspetiva, ou coberto térmico, nos sítios avaliados e de referência; e

• Habitats aquáticos: estrutura e espécies características da comunidade (incluindo as comunidades/espécies bentónicas), regimes de fluxos, interações tróficas, temperatura da água, regime de nutrientes, penetração da luz, qualidade da água e regime dos sedimentos.

Para simplificar a avaliação, pode, por vezes, ser identificada uma espécie que sirva de indicador num habitat, se as associações ecológicas forem estabelecidas cientificamente.

4.5.8 Valores humanos Os recursos naturais proporcionam muitos serviços às pessoas, atualmente designados por «serviços ecossistémicos». A perda de serviços prestados às pessoas pode resultar de danos, ou da ameaça de danos, causados aos recursos naturais ou pode ser resultado de alterações da quantidade e/ou qualidade dos serviços fornecidos pelos recursos. As perdas de serviços podem estar associadas a riscos reais ou a riscos potenciais19 para a saúde humana, a perdas de utilizações (ou de utilizações potenciais) de recursos naturais ou a perdas de valores de não-uso fornecidos por recursos naturais (valores que os pessoas atribuem ao ambiente não associados às utilizações que fazem dele).

A perda de serviços prestados às pessoas pode ser medida direta e/ou indiretamente. As medições diretas incluem a da alteração da quantidade do recurso utilizada, como o número de saídas de pesca ou de caça realizadas pelas pessoas, ou de aumentos mensuráveis do risco para a saúde humana, observados por meio de estudos

19 Os riscos para a saúde humana podem resultar do contacto físico direto com recursos contaminados (por exemplo, o solo ou a água), da ingestão de solo ou fontes alimentares contaminadas (por exemplo, o solo, as plantas, o peixe ou a carne) ou da inalação de contaminantes. Podem estar associados riscos tanto a efeitos letais como a efeitos subletais (redução da capacidade de reprodução, redução da capacidade mental ou aumento de doenças respiratórias). A DRA define como significativos quaisquer danos com efeitos comprovados para a saúde humana.

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epidemiológicos. No caso dos serviços comercializados em mercados reais, utilizam-se os dados dos preços e os dados comportamentais relativos ao consumo para atribuir valores monetários. No que respeita aos outros serviços, são recolhidos dados relativos ao valor por meio de entrevistas às pessoas ou pela observação do comportamento delas. Além destes, existem outros serviços que não podem sequer ser utilizados diretamente (por exemplo, serviços de regulação). Na ausência de mercados (valores não-mercantis) e sempre que os serviços não sejam utilizados diretamente, foram desenvolvidos diversos métodos de valoração para recolher e analisar dados (para mais informações, consultar o anexo relativo à valoração económica).

4.6 Determinação das causas dos danos Existem múltiplos fatores de perturbação que podem influenciar os recursos naturais e os serviços que lhes estão associados. Alguns destes fatores são naturais e podem ser relativamente constantes, periódicos ou episódicos. Outros fatores de perturbação podem ser antropogénicos, mas não se relacionam com incidentes específicos. Para determinar e quantificar os danos associados a um incidente, o analista deve identificar os efeitos do mesmo. Além disso, deve definir, com a maior precisão possível, o nexo de causalidade entre o incidente e os danos dele resultantes.

Podem utilizar-se dados científicos recolhidos da literatura, análise lógica, estudos específicos do sítio em causa, modelos e raciocínio dedutivo para avaliar nexos de causalidade. A determinação de um nexo de causalidade possível ou provável entre o incidente e a alteração verificada nos recursos ou nos serviços fornecidos pode vir a ser sujeita a um escrutínio apertado. Assim, as bases científicas e económicas da determinação do nexo de causalidade devem ser rigorosas e transparentes.

Se um determinado efeito químico, biológico ou físico for complexo, raro ou relativamente pouco conhecido, a determinação das causas de um dano conexo pode exigir investigação laboratorial ou de campo ou investigação fundamental. Em muitos casos, um único fator pode não ser a única causa do dano em questão. Ao determinar-se um nexo de causalidade, pode não ser necessário determinar o efeito exato que um determinado fator teve nos recursos naturais e serviços em questão. Pode ser suficiente demonstrar que o nexo de causalidade é plausível e que o agente em causa é suscetível de ter tido, pelo menos, uma contribuição parcial para o efeito.

4.7. Quantificação dos danos Geralmente, a quantificação dos danos inclui uma avaliação:

• Da dimensão geográfica dos danos e da perda de serviços ou de recursos; • Da dimensão temporal (passado, presente e futuro previsto) dos danos e da perda de serviços; e • Do grau dos danos e da perda de serviços (frequentemente expresso pela percentagem dos serviços fornecidos

relativamente ao estado inicial, em termos do número de organismos ou por uma redução da qualidade de uma característica do organismo ou do habitat).

A dimensão e o grau dos danos e da perda de serviços podem ser estimados através de dados químicos, toxicológicos, biológicos ou económicos, de sistemas de informação geográfica e de modelos.

A caracterização da dimensão geográfica dos danos deve compreender a identificação da área total danificada e pode incluir a identificação de gradientes dos danos ou de zonas de impacto dos danos. A recolha de amostras e o recurso a modelos, para avaliar o transporte, a dispersão, a diluição, a transformação ou os efeitos adversos, podem ser úteis na identificação de gradientes dos danos ou de zonas de impacto dos danos.

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A caracterização da dimensão temporal dos danos envolve a identificação da data do incidente e da data em que ocorreu o efeito adverso (caso sejam distintas). Se não estiverem disponíveis informações relativas ao sítio para quantificar a dimensão temporal dos danos, a duração das perdas pode ser baseada no conhecimento de acontecimentos semelhantes, em locais semelhantes. As trajetórias de recuperação podem ser estimadas com base nas taxas de sucessão ecológica, na persistência dos agentes químicos no ambiente e na compreensão das dinâmicas relativas ao destino final e ao transporte dos mesmos, ou com base em informações provenientes de literatura publicada sobre as taxas de recuperação verificadas após perturbações semelhantes. Se tiverem sido planeadas ou estiverem em curso ações de reparação primária, a estimativa da dimensão temporal dos danos deve ter em conta os efeitos da reparação na recuperação.

A amplitude (grau) dos danos ou da perda de serviços deve ser expressa em relação ao estado inicial. Em alguns casos, isto será realizado através da quantificação explícita do estado inicial e das condições após o incidente. Noutros casos, apenas os danos diferenciais causados pelo incidente necessitam de ser calculados (por exemplo, através do cálculo do diferencial de mortalidade causado por um agente químico tóxico ou através da quantificação dos danos físicos causados a um tipo de habitat por um projeto de desenvolvimento). O grau dos danos causados ao recurso ou aos serviços prestados pelo recurso é, normalmente, expresso por uma ou mais unidades que podem ser utilizadas para refletir os efeitos adversos do incidente e a amplitude dos mesmos. Estas unidades são designadas por «medidas».

Caixa 4.3: Determinação dos danos causados a recursos naturais: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

Para determinar os danos, foi desenvolvido para o sítio um modelo teórico de exposição e de efeitos. Este modelo foi útil para orientar a recolha de dados, que incluiu: • Amostras da qualidade da água no rio e na zona húmida para medir as concentrações de metais pesados e

outros parâmetros auxiliares relativos à qualidade da água; • Amostras de sedimentos do rio e da zona húmida para medir as concentrações de metais pesados; • Amostras de macroinvertebrados bentónicos (para avaliar a abundância e diversidade dos mesmos) nos locais de

amostragem de sedimentos; • Estudos de pesca com meios elétricos para quantificar a abundância de truta marisca em várias estações dos

10 km de rio a montante e dos 20 km de rio a jusante da zona húmida; • Pesquisas sobre a vegetação da zona húmida; • Pesquisas sobre as aves migratórias na zona húmida durante os meses de verão; e • Fotografia aérea para ajudar na quantificação dos impactos. Com base na amostragem de campo, combinada com análises da literatura, chegou-se às seguintes conclusões sobre os danos:

1. A qualidade da água ao longo dos 10 km de rio a jusante da zona húmida excedia os critérios regulamentares e os limiares de efeitos toxicológicos para o cobre, o zinco e o cádmio definidos na literatura publicada. Durante o primeiro ano após o derrame, as excedências de limites foram contínuas e graves (mais de 100 vezes os critérios relevantes). No segundo ano após o derrame, continuaram as excedências, mas estas foram menos graves (10 vezes mais do que os critérios relevantes). No terceiro ano, as concentrações mantiveram tendência descendente. A modelação simplificada da qualidade de água indicou a restituição ao estado inicial (sem excedências) em 5 anos, a contar do incidente.

2. Foram observados danos semelhantes na mesma extensão de 10 km do rio. 3. No primeiro ano após o derrame, a truta e os invertebrados bentónicos foram completamente eliminados

no curso do rio a montante da zona húmida. Estimou-se que o tempo previsto para a recuperação será de

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10 anos. 4. A qualidade da água a jusante da zona húmida foi afetada por cádmio e zinco numa extensão de, pelo

menos, 10 km. Observou-se que o grau de prejuízo era inferior ao que se verificava a montante (cerca de 5 a 10 vezes superior aos critérios regulamentares e aos limiares publicados), prevendo-se a recuperação total no prazo de 5 anos.

5. Nos primeiros 5 km a jusante da zona húmida, as populações de truta atingiram cerca de 50 % dos níveis previstos (com base nos dados relativos à abundância a jusante e nos dados recolhidos nos locais de referência). Verificou-se que, 10 km a jusante da zona húmida, a abundância de truta manteve o nível normal inicial.

6. Com base nos dados correspondentes aos sedimentos, nos impactos observados na vegetação e na ausência de quaisquer utilizações viáveis de habitat por parte das aves migratórias, determinou-se que, na sua totalidade, os 10 hectares da zona húmida foram significativamente danificados pelos sedimentos depositados.

4.7.1 Medidas de quantificação As medidas de quantificação são utilizadas para exprimir o grau do dano causado aos recursos naturais ou serviços, resultante de um incidente, e o grau dos benefícios resultantes dos projetos de reparação. Dado que a dimensão das pardas e dos ganhos estimados pode variar em função da medida utilizada, é importante selecionar uma medida adequada.

As medidas podem ser atributos facilmente mensuráveis e quantificáveis, como a densidade populacional, o coberto vegetal, estimativas de produtividade ou as visitas de utilizadores, mas podem também ser atributos qualitativos teóricos mais complexos, como índices de qualidade e adequação do habitat, índices multivariáveis ou classificações subjetivas.

A medida deve ser a mesma para a perda (débito) e para o ganho (crédito), de modo a permitir cálculos de equivalência. O objetivo de uma análise de equivalência recurso-a-recurso é o ajuste entre os débitos e os créditos. Portanto, se as medidas forem diferentes, isto não será possível. Da mesma forma, a medida pode ser útil para a análise das diferenças observadas na qualidade e quantidade dos serviços fornecidos por habitats em estado inicial, habitats danificados e habitats compensados. Por exemplo, se o dano for quantificado com base na percentagem de coberto vegetal autóctone, por hectare, remanescente após o incidente, o ganho da recuperação deve ser igualmente medido com base na percentagem de coberto vegetal autóctone criado por hectare. Se o dano for quantificado com base numa redução da população relativamente ao estado inicial, o ganho deve poder ser medido como um aumento da população relativamente a esse estado. Alguns exemplos de medidas de quantificação:

• Dimensão de um determinado tipo de habitat; • Unidades, ou quanta, de um recurso (por exemplo, quilómetros de um tipo de rio, hectares de um

determinado tipo de habitat, volume de água utilizável); • Medidas de densidade, coberto ou biomassa de vegetação; • Percentagem de uma espécie vegetal desejável, dominante ou essencial; • Índices de qualidade de habitats; • Produtividade biológica (por exemplo, produtividade primária ou secundária), abundância, biomassa e

diversidade das espécies ou medidas de composição da comunidade; • Taxas de reprodução; • Dias de utilização de habitats (por exemplo, quando o incidente reduz a disponibilidade do habitat, de tal

forma que o número de organismos que pode ocupá-lo é menor);

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• Medidas de processos ecológicos, como taxas de mineralização do carbono, de exportação de nutrientes ou de decomposição;

• Categorias de perdas atribuídas com base no grau de excedência de limiares de toxicidade (por exemplo, esta abordagem pode envolver a compilação de dados dose-resposta, recolhidos da literatura ou de estudos específicos do sítio em causa, e a estimativa dessas perdas em função do aumento da concentração dos contaminantes no solo, nos sedimentos, nas águas de superfície ou nos tecidos biológicos); e

• Para fins de análise de equivalência valor-a-valor, o valor monetário pode ser considerado uma medida para se avaliarem os danos e a reparação.

Os danos causados a um recurso natural podem provocar reduções ao nível dos serviços ecossistémicos. Ao selecionarem a medida e ao quantificarem as perdas de serviços, os analistas devem ter em conta estas perdas interdependentes ao nível dos serviços ecossistémicos.

As medidas múltiplas da prestação de serviços incluem índices publicados ou aceites de salubridade ambiental, índices desenvolvidos para incidentes específicos e aplicações da análise da equivalência de habitats. Pode encontrar-se em Ott (1978) um texto útil com a descrição dos usos e usos indevidos potenciais dos índices de multiatributos.20

Utilizam-se geralmente indicadores da adequação do habitat para agregar numerosos atributos relacionados com o coberto térmico e de abrigo, a disponibilidade de alimentos para os animais, os requisitos de reprodução e a capacidade que o habitat físico tem para abrigar as comunidades estruturais e funcionais características importantes para uma espécie ou comunidade selvagem de interesse.

Sendo que uma ou mais medidas podem não ser adequadas ao débito ou ao crédito da análise de equivalência, é necessário, por vezes, identificar várias medidas possíveis (note-se que as medidas devem ser as mesmas para os dois lados da equação). Além disso, uma única medida não será, por vezes, capaz de abranger todos os aspetos inerentes à perda. Caso se utilize mais do que uma medida, o analista deve determinar se as perdas estimadas por cada uma delas são independentes ou adicionais, ou se existe alguma sobreposição entre as medidas do lado da perda ou do lado do ganho.

O resultado da análise de equivalência dependerá da medida escolhida para quantificar os serviços perdidos e os serviços substituídos. Visto que todos os habitats e recursos naturais proporcionam diversos serviços ecológicos, uma única medida nunca poderá abarcar todos os serviços potenciais que foram perdidos. Assim, a escolha de uma medida é uma das mais importantes considerações para a definição da escala de reparação adequada. A fim de reduzir a possibilidade de divergências em fases posteriores da análise de equivalência, as autoridades competentes e os operadores devem, em estreita colaboração com biólogos, ecologistas ou, se for caso disso, com outros cientistas ambientais e com economistas, tomar decisões antecipadamente no que respeita à seleção de uma medida adequada.

20 Recorrer a uma medida composta implica necessariamente a atribuição de uma ponderação à importância de cada componente (unicidade e regularidade). Sendo que a medida deve ser a mesma no que respeita ao débito e ao crédito de uma análise de equivalência, deve prestar-se especial atenção sempre que essa medida for um valor-índice (ou seja, adimensional), porque o projeto de reparação compensatória deve, não apenas proporcionar um aumento do índice (medida), mas também conservar as proporções originais entre os vários componentes (unicidade e regularidade). Ott, W.R. (1978), Environmental indices, theory and practice. Ann Arbor Science Publishers.

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Seguem-se recomendações práticas para a seleção de medidas:

• Selecionar uma espécie sensível para utilizar como indicador da qualidade do habitat danificado. A lógica é que, se uma espécie sensível recuperar, é provável que também as menos sensíveis recuperem. Por exemplo, escolher a truta marisca em vez da carpa, que é mais resistente.

• Não selecionar espécies sobre as quais não se disponha de informações suficientes. Por exemplo, caso se conheça o estado inicial da espécie, mas não se souber/conseguir definir através de um modelo como esta responderá à reparação, não será possível prever o benefício da reparação.

• Quando existem várias espécies num habitat danificado, pode ser mais eficaz utilizar o habitat como medida, em vez de cada uma das espécies.

• Existem casos simples que podem ser analisados através de uma única medida. Nas situações mais complexas, será necessário recorrer a várias medidas.

Caixa 4.4: Quantificação dos danos: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

Os danos foram quantificados através da utilização das seguintes medidas: Para quantificar os danos causados aos recursos aquáticos, a autoridade competente decidiu utilizar como medida indicadora essencial a abundância de truta marisca, para uso futuro numa análise de equivalência recurso-a-recurso. Com base na recolha de amostras nos locais de referência e a jusante do rio K, concluiu-se que a densidade inicial da truta marisca era de 10 trutas por 100 m2. Nos 10 km de rio situados a montante, a truta marisca foi eliminada no primeiro ano, com uma recuperação do estado inicial prevista no prazo de 10 anos. A área total de rio afetada a montante foi de 10 km x largura média de 10 m = 100 000 m2. Numa extensão de 10 km a jusante da zona húmida, a truta apresentava uma densidade média de 5 peixes por 100 m2, com um período de recuperação estimado de cinco anos. A área total de rio afetada a jusante foi de 10 km x largura média de 20 m = 200 000 m2. Para quantificar os danos causados ao habitat da zona húmida, a autoridade competente determinou que seria adequado recorrer-se a uma abordagem de equivalência de habitats, com a quantificação dos danos baseada nas reduções de serviços do habitat da zona húmida do vale. Devido ao grau dos prejuízos sofridos pela zona húmida, foi assumida a perda total de serviços nos 10 hectares da mesma, com a recuperação prevista num prazo de, pelo menos, 50 anos. No entanto, devido às preocupações relativas à mobilização potencial de sedimentos contaminados e aos impactos futuros nos recursos a jusante, foi adotado um plano de reparação que envolve a escavação completa da zona húmida e inclui o renivelamento e a replantação. A reparação será realizada cinco anos após o derrame e deverá demorar um ano a chegar ao fim. Previu-se que a recuperação da zona húmida replantada demore 10 anos. Porém, mesmo depois de 50 anos de recuperação adicional, a zona húmida replantada não recuperaria a diversidade total de espécies do estado inicial.

4.7.2 Determinação do estado inicial O estado inicial é a situação do recurso ou habitat, no momento da ocorrência do dano aos recursos naturais e aos serviços, que se verificaria se o incidente não tivesse ocorrido. O estado inicial pode ser quantificado através de dados anteriores ao incidente relativos ao sítio danificado, de dados provenientes de sítios semelhantes não afetados pelo incidente (ou seja, de sítios de «referência») ou ainda de modelos.

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4.7.2.1 Utilização de dados anteriores e posteriores Em alguns casos, o estado inicial pode ser adequadamente documentado através de informações anteriores ao incidente. No caso de acontecimentos ex ante (como no contexto das Diretivas Habitats, Aves Selvagens e AIA), a caracterização do estado inicial deve sempre anteceder qualquer desenvolvimento ou perturbação. No caso dos acontecimentos ex post (como no contexto da DRA, mesmo para os casos de ameaça iminente), o estado inicial pode, por vezes, ser reconstituído por meio de bases de dados geológicas, geoquímicas, biológicas e outras, específicas do sítio em causa, que possam ter sido constituídas para fins muito diversos. A caracterização do estado inicial pode incluir uma descrição das condições químicas, biológicas e físicas do sítio antes do incidente, as características sociais e económicas do sítio e ainda a função do sítio num contexto mais amplo – ecossistémico ou económico –, se for caso disso.

4.7.2.2 Utilização de locais de referência Se as informações anteriores ao incidente acerca do estado inicial do sítio danificado forem insuficientes, podem utilizar-se os dados de sítios de referência para caracterizar o estado inicial. Os locais de referência devem ser selecionados tendo em conta os fatores que podem influenciar a qualidade e a quantidade dos recursos naturais e serviços proporcionados num determinado local. Segue-se uma lista de algumas dessas características:

• Ecorregião; • Local; • Clima; • Topografia; • Utilizações do solo; • Densidade populacional humana; • Dimensões dos cursos de água, altitude, orientação e utilizações do solo adjacente; • Configuração estuarina ou da baía, batimetria, correntes, habitats marginais e utilizações do solo adjacente; • Geologia, geoquímica, hidrologia e tipos de solo; outros fatores que influenciam ou controlam a abundância

ou diversidade de organismos, habitats ou comunidades biológicas; e • Fatores demográficos importantes (por exemplo, dimensão da população, proximidade de centros

populacionais, acessos, situações de escassez, gestão de recursos, importância regional etc.) para a determinação dos valores humanos de uso e de não-uso correspondentes ao estado inicial com vista à análise da equivalência de valores.

Ao escolher sítios de referência para a avaliação de danos causados à biodiversidade, é importante selecionar sítios que suportem os mesmos tipos de habitats protegidos ao nível europeu e, em alguns casos, tipos de vegetação específica incluídos nesses habitats. Estes sítios podem ser identificados através das classificações de habitats do EUNIS (Sistema Europeu de Informação sobre a Natureza) ou de classificações nacionais da vegetação. Os sítios de referência devem fazer parte da mesma região biogeográfica que o sítio danificado e situar-se o mais próximo possível deste.

Os sítios de referência devem ser selecionados de forma a corresponderem, tanto quanto possível, ao sítio danificado. Em alguns casos, podem ser utilizados múltiplos sítios de referência e o estado inicial pode ser descrito em termos de um intervalo aceitável ou típico.

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4.7.2.3 Utilização de modelos Se não estiverem disponíveis sítios de referência ou se estes forem inadequados ou insuficientes ou se a descrição do estado inicial necessária for o estado de um organismo, a modelação poderá ser a abordagem mais apropriada para determinar o estado inicial. Os modelos podem ser simples e descritivos ou códigos numéricos complexos. Independentemente do grau de detalhe ou de sofisticação, o modelo utilizado deve ser suportado por uma lógica científica credível.

A utilização de modelos aceites já existentes pode facilitar a análise do estado inicial; alguns organismos utilizam regularmente modelos na avaliação de condições ambientais.

4.7.2.4 Fontes de informação O quadro 4.1 a enumera fontes de informação que podem ser úteis para a recolha de dados relativos a estados iniciais. O quadro 4.1 b apresenta algumas fontes de dados da Irlanda (indicadas por Dawn Slevin, da Environmental Liability Services Ltd., durante as consultas para o presente manual [20 de setembro de 2012]). A lista não é exaustiva e a legislação relativa aos direitos de autor é aplicável à utilização de todos os dados. A utilização das informações disponíveis carece de autorização prévia do proprietário dos dados.

Quadro 4.1 a: Fontes de informação que podem ser úteis na avaliação de estados iniciais.

Espécies e habitats protegidos Sistema Europeu de Informação sobre a Natureza: http://eunis.eea.europa.eu/

Relatórios por país relativos à rede Natura 2000.

Portal dinamarquês do ambiente e da natureza: www.vandognatur.dk

Base de dados francesa da rede Natura 2000: http://www.developpement-Durable.gouv.fr/-Natura-2000, 2414-. html Inventário nacional francês do património natural (INPN), para dados sobre habitats e espécies: http://inpn.mnhn.fr/accueil/index?lg=en

Água Sistema de Informação sobre a Água para a Europa (WISE): http://water.europa.eu/

Resumos e orientações da Estratégia de Aplicação Comum (CIS). Não são juridicamente vinculativos, mas, pelo menos, fornecem informações sobre como um grande número de peritos vê a situação ideal para determinados domínios: ahttp://ec.Europa.eu/environment/water/water-framework/facts_figures/guidance_docs_en.htm

Relatório de execução: http://ec.Europa.eu/environment/water/water-framework/implrep2007/index_en.htm

Plataforma de intercâmbio de informações (no sistema CIRCA - Communication Information Resource Centre Administrator): http://ec.Europa.eu/environment/water/water-framework/IEP/index_en.htm

Ligações para as autoridades dos Estados-Membros e para as autoridades

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responsáveis pela gestão das bacias hidrográficas internacionais (para mais informações, visitar os sítios Web respetivos): http://ec.Europa.eu/environment/water/water-framework/links/index_en.htm

Base de dados do Bureau de Recherches Géologiques et Minières (BRGM) relativa às águas subterrâneas: http://www.brgm.fr/brgm/ref_fr_site.htm Base de dados das agências hidrológicas francesas no âmbito da DQA: http://www.lesagencesdeleau.fr/v2/Pages/?lang=en O serviço nacional francês Service d'administration nationale des données et des référentiels sur l'eau (SANDRE) disponibiliza várias bases de dados, como a representação cartográfica dos sistemas hídricos em França: http://www.Sandre.eaufrance.fr/?lang=en O portal Eaufrance permite o acesso ao sistema francês de informação sobre a água (SIE): http://www.eaufrance.fr/

Dados e mapas sobre todos os domínios relacionados com o ambiente (pesquisa possível)

http://www.eea.Europa.eu/data-and-Maps

Informação geográfica relativa aos diferentes recursos

Infraestrutura de informação geográfica na União Europeia (INSPIRE): http://inspire.jrc.ec.europa.eu/

GMES (monitorização global do ambiente e da segurança): http://www.gmes.info/

Rede Mundial de Sistemas de Observação da Terra (GEOSS): http://www.earthobservations.org/geoss.shtml

Rede Europeia de Informação e de Observação do Ambiente (EIONET): http://www.eionet.europa.eu/

Sistema de Informação Ambiental Partilhada (SEIS): http://ec.europa.eu/environment/seis/ (a comunicação da Comissão Europeia sobre o SEIS, disponível neste sítio Web, enumera muitas outras fontes de informação relativas a projetos de investigação dos Estados-Membros e da UE)

Quadro 4.1 b: Seleção de fontes de informação que podem ser úteis na avaliação de estados iniciais na República da Irlanda.

Dados disponíveis Portal Geologia Hidrogeologia Geotecnia Dados sobre o meio marinho e cartografia do fundo marinho Minerais Sedimentos não-consolidados Geoturismo

http://www.gsi.ie/Mapping

Libertação e transferência de poluentes http://PRTR.EPA.ie/

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Dados hidrométricos http://hydronet.EPA.ie/hydronet.html Solos Licenciamento e execução Estado de tratamento das águas residuais urbanas Registo/estado/grau do risco no âmbito da DQA nas zonas protegidas pela DQA Qualidade do ar

http://GIS.EPA.ie/enVision/

Dados relativos aos habitats e às espécies Biodiversidade Espécies invasivas Espécies protegidas Espécies ameaçadas Mapas das Zonas Especiais de Conservação marinhas

http://www.npws.ie/mapsanddata/

Mapas de cheias http://www.floodmaps.ie/

A caixa 4.5 apresenta informações fornecidas pela Espanha sobre a experiência deste Estado-Membro na aplicação de diferentes abordagens na análise do estado inicial de um caso modelo.

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Caixa 4.5: Estudo de caso espanhol que ilustra como determinar o estado inicial Espanha realizou um projeto-piloto para ilustrar como se aplica a metodologia de avaliação dos danos ambientais, estabelecida na Lei n.º 26/2007, de 23 de outubro, relativa à responsabilidade ambiental. Como parte do processo de avaliação, a experiência inclui a determinação do estado inicial. Incidente: Uma maré negra que afetou uma zona de praia (areia e rochas). Este acidente ocorreu e foi reparado antes da entrada em vigor da Lei relativa à Responsabilidade Ambiental. Contudo, foi utilizado posteriormente para ilustrar como deveriam ter sido avaliados e reparados os danos ao abrigo do novo regime de responsabilidade ambiental. Neste exercício prático foram identificadas algumas tarefas que poderiam ter sido realizadas para determinar o estado inicial: 1. Análise dos relatórios sobre o estado de conservação das praias antes da ocorrência do dano – incluindo as

praias afetadas e as praias circundantes Sabia-se que a costa da zona de estudo estava já degradada antes do derrame. A praia tinha muito lixo, embora o teor de hidrocarbonetos aromáticos fosse baixo. A acumulação de lixo resultou do arrastamento, por ação das correntes marítimas, de resíduos despejados num porto a norte da praia danificada. Por outro lado, sabia-se que, na zona rochosa da praia, existia algum petróleo bruto petrificado e havia algumas manchas isoladas de petróleo bruto, causadas por acidentes anteriores.

2. Ensaios experimentais de amostras de areia, extraídas na praia sob estudo e na praia adjacente para se determinar o teor de componentes petrolíferos voláteis à superfície da praia imediatamente antes do dano Em primeiro lugar, a praia adjacente à danificada foi identificada como sendo a mais adequada para se estimar o estado inicial através de ensaios experimentais, uma vez que apresentava as mesmas características em termos de detritos e de petróleo bruto petrificado. A fim de comparar as duas praias para que o estado inicial da praia danificada pudesse ser determinado, decidiu-se que:

Seriam colhidas seis amostras em cada uma das praias. As amostras seriam colhidas à superfície, a uma profundidade de 0,15 a 0,40 m, e seriam colocadas em recipientes hermeticamente fechados, para evitar qualquer alteração das propriedades físico-químicas.

As amostras seriam depois levadas para o laboratório, para tratamento e homogeneização. Isto seria realizado através da mistura de seis partes iguais, cada uma proveniente de uma amostra, para cada uma das praias, resultando em duas amostras finais, uma de cada praia.

Ambas as amostras seriam analisadas por fotometria de infravermelhos (FTIR.PE-F/2005), para se determinar a quantidade total de hidrocarbonetos de petróleo (TPH).

O valor de TPH determinado para a praia adjacente corresponderia ao estado inicial – estado visado pelas medidas de reparação.

É importante mencionar que, após a reparação dos danos, estes ensaios foram realizados de novo em ambas as praias, para verificar se as medidas de reparação tomadas tinham produzido o efeito pretendido. Apesar de os resultados das análises terem indicado que a praia danificada tinha valores de TPH mais elevados do que a praia adjacente (0,06 g/kg face a 0,02 g/kg), ambas apresentavam um valor inferior a 0,10 g por kg de amostra seca, ficando, portanto, demonstrado que as areias já não estavam contaminadas.

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4.8 Cálculo da perda provisória e dos débitos totais O cálculo da perda provisória compreende a estimativa do grau de perda de recursos ou serviços em cada ano, a partir do momento em que o dano ocorre até ao momento em que os recursos e serviços são restituídos ao estado inicial (através de reparação primária ou de regeneração natural). O grau de perda anual da zona danificada é somado (e descontado) para se obter o débito total (valor atual).

Sempre que os recursos ou serviços danificados não são restituídos ao estado inicial, são agregadas perpetuamente perdas provisórias.

Em muitos casos, a quantificação dos danos em termos de uma perda incremental relativamente a uma meta de reparação, sem quantificação explícita do estado inicial, é suficiente para efeitos de equivalência. Por exemplo, se uma zona húmida localizada for danificada por um incidente, pode ser suficiente caracterizar apenas a natureza e o grau dos danos causados à zona húmida e realizar atividades de reparação numa zona húmida semelhante. Caso se possa considerar que o habitat da zona húmida recuperada irá proporcionar, genericamente, o mesmo tipo e o mesmo nível de serviços que o habitat da zona húmida danificada, pode realizar-se esta análise, sem quantificação explícita dos serviços correspondentes ao estado inicial (como a diversidade ou abundância da fauna).

4.8.1 Cálculo do débito total O cálculo do débito total é simples, como se mostra a seguir. Os detalhes de cada variável são apresentados no presente ponto. O ponto 4.9 apresenta exemplos.

Débito total = danos causados pelo incidente inicial

+ danos colaterais resultantes da reparação primária

- benefícios da reparação primária

Valor atual do débito total = débito total descontado

4.8.2 Incorporação dos benefícios da reparação primária Se forem, ou estiverem para ser, realizadas ações de reparação primária, os benefícios, ou ganhos de serviços deles resultantes, devem ser incorporados no cálculo do débito. Isto implica a determinação da quantidade de melhorias ao nível dos recursos ou serviços, bem como a determinação do grau das melhorias. A quantificação dos benefícios resultantes da reparação primária pode implicar a consideração dos seguintes fatores:

• Comparação com ações de reparação primária semelhantes, realizadas noutro local; • Modelos de melhoria ambiental; • Sucessão ecológica e tempo necessário para a recuperação do ecossistema após uma perturbação; • Tempos de regeneração biológica; e • Tempo de recuperação física, química ou hidrológica.

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Por exemplo, se a reparação primária incluir ações de descontaminação e ações que visem a restituição do ambiente físico, a estimativa do tempo necessário para o restabelecimento do funcionamento natural do sistema pode ser baseada em:

• Taxas de crescimento ou padrões de sucessão ecológica; • Informações retiradas da literatura sobre o tempo necessário para o restabelecimento do ciclo de nutrientes,

do estado estacionário da biomassa ou da estrutura do habitat à semelhança do estado inicial, ou da estrutura da comunidade biótica ou da densidade populacional previstas; e

• Informações relativas ao destino, degradação, diluição, fixação e enterramento, ou outras formas de eliminação ou desintoxicação de contaminantes químicos que, no caso de derrames e emissões, devam ser tidas em conta ao avaliarem-se os benefícios da reparação primária. Informações relativas à eficácia da erradicação de agentes biológicos, que devem ser consideradas no caso de introduções ou libertações de espécies não-autóctones ou de agentes patogénicos.

4.8.3 Determinação das taxas de recuperação O decurso da recuperação, após a reparação primária, pode ser uma função linear (por exemplo, recuperação regular após a conclusão das ações de reparação, com aumento monótono anual dos serviços fornecidos, até ao estado inicial ou ao estado final previsto) ou uma função não-linear, caso existam dados que confirmem essa trajetória.

No caso de alguns ecossistemas, a recuperação inicial, de um estado de destruição total para um sistema minimamente funcional, pode ser um processo rápido. No entanto, a recuperação total das funções pode demorar muitos anos, mesmo depois de o habitat ser visualmente semelhante ao estado inicial. Uma trajetória deste tipo pode ser descrita por segmentos lineares, em que o primeiro apresenta um declive de recuperação acentuado e se lhe seguem declives mais graduais nos anos subsequentes. Caso existam dados para descrever uma trajetória mais complexa, o modelo correspondente poderá ser facilmente incorporado numa análise de equivalência.

4.8.4 Consideração dos danos colaterais No cálculo dos danos, devem também ser incluídos os dados relativos aos danos adicionais eventualmente resultantes da intervenção de emergência ou da reparação primária. Por vezes, os danos colaterais são inevitáveis e necessários para impedir a propagação do incidente ou para limitar a gravidade do mesmo. Por exemplo, a resposta a um derrame de petróleo pode exigir o transporte de equipamento pesado para uma zona ecologicamente sensível, o que resulta num dano adicional, colateral do incidente inicial.

4.8.5 Cálculo de débitos ao longo do tempo: desconto Os débitos e créditos consumados no passado ou no futuro não são valorados da mesma forma que os consumados no presente. Existem duas razões principais para esta diferença. A primeira está relacionada com a preferência temporal das pessoas. Isto quer dizer que, mantendo invariáveis os outros fatores, as pessoas preferem consumir no presente (hoje), em vez de esperarem. Esta impaciência tem como consequência a necessidade de uma compensação pelo adiamento do consumo de coisas boas (por exemplo, bens de consumo, recursos ambientais etc.). A segunda razão para esta diferença diz respeito ao custo do capital – os recursos (valor monetário ou outro) disponíveis no presente podem ser utilizados (investidos ou processados) para gerar benefícios, os quais se perdem se os recursos deixam de estar disponíveis nos anos seguintes.

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Assim, é necessário recorrer a um procedimento que garanta que os débitos e os créditos consumados em diferentes momentos são comparados na mesma base. Este procedimento utiliza um multiplicador de valor atual, que tem em conta uma taxa (t) de ajustamento, ao presente, dos valores futuros ou passados:

(1 + t)(ano - ano de base)

No âmbito do ajustamento de valores futuros ao presente, a taxa utilizada é designada por taxa de desconto e o processo é designado por desconto:

1 / (1 + t) (ano - ano de base)

Ou seja, quando um determinado ano é posterior ao ano de base (futuro), o multiplicador de valor atual adquire um efeito negativo e torna-se um fator de desconto.

A escolha de uma taxa de desconto (ou composta) é baseada na literatura teórica. Em alguns Estados-Membros existem taxas oficiais. No Reino Unido, por exemplo, a taxa inicial é 3,5 %, com uma diminuição até 0 % ao longo de 300 anos. Os projetos da Comissão Europeia utilizam, normalmente, uma taxa de 4 %.

4.9 Exemplos ilustrativos de cálculos de débito Este exemplo recorre à abordagem da análise de equivalência de habitats (AEH) para estimar os danos (débito) de um incidente hipotético. Assume-se que os serviços perdidos serão recuperados naturalmente (sem necessidade de reparação primária). Assim, não é necessário ter em conta os benefícios da reparação primária nem quaisquer danos colaterais.

4.9.1 Análise de equivalência Considere-se um incidente de danos simples com pressupostos hipotéticos ao qual se pode aplicar uma abordagem de equivalência serviço-a-serviço. No âmbito desta AEH simples, assume-se que foram danificados 100 hectares de terreno, que resultaram numa perda de serviços do habitat. Os pressupostos hipotéticos são os seguintes:

• Ano de início: Considera-se que as perdas tiveram início em 2012.

• Ano de termo: Considera-se que se verificarão perdas até 2021, ano em que os serviços de habitat fornecidos pelos 100 hectares deverão voltar ao estado inicial (pré-incidente).

• Ano de base: Para se proceder ao desconto, foi escolhido o ano de base (ou ano em que os valores são medidos) de 2012.

• Dimensão geográfica: Considera-se que as perdas ocorreram de modo uniforme nos 100 hectares.

• Grau de perda: Considera-se uma perda de serviços de 50 %, com base na diminuição da medida de quantificação: número de espécies presentes no sítio. Neste exemplo simples, considera-se que o número de espécies presentes no sítio é um indicador do nível de serviços do habitat. Considera-se ainda que a perda de 50 % persistirá durante os primeiros cinco anos (até 2016) e que a perda diminuirá em seguida todos os anos, durante quatro anos. No final, a percentagem da perda de serviços será igual a zero e o sistema terá recuperado.

• Multiplicador de valor atual: Para representar uma preferência temporal social, selecionou-se uma taxa de desconto de 3 %, incluída no intervalo (0-3,5 %) da «taxa de desconto social» da literatura académica e das

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orientações do governo do Reino Unido. Os Estados-Membros podem ter as suas próprias taxas de desconto oficiais, que se utilizarão nas análises de equivalência que neles se efetuem. Quando não existe uma taxa oficial, pode utilizar-se o intervalo 0-3,5 % para análise de sensibilidade.

• Medida: Ano-de-serviço-de-hectare – serviços prestados anualmente por um hectare de um determinado habitat, em condições ideais.

O quadro 4.2 apresenta os cálculos. A coluna (a) indica a dimensão geográfica (ou seja, a superfície danificada); a coluna (b) indica o grau de perda de serviços, em percentagem; a coluna (c) indica o valor do fator multiplicador de valor atual, baseado numa taxa de desconto de 3 %. O débito anual é calculado por multiplicação destas três colunas. A soma dos débitos anuais resulta no débito total referente ao período em que o serviço se encontra danificado. O débito total resultante da AEH é calculado em anos-de-serviço-de-hectare descontados (ASHD). Este débito total de 319,5 ASHD é utilizado no ponto 6 para ilustrar como definir a escala da reparação compensatória para este exemplo simples.

Quadro 4.2: Exemplo ilustrativo de cálculos de débito efetuados com uma medida não-monetária.

Ano Dimensão geográfica (hectares)

(a)

Percentagem de perda

(b)

Fator multiplicador de

valor atuala

(c)

Débitob

(ASHD)

(d = a × b × c)

2012 (ano de base)

100 50 1 50,00

2013 100 50 0,97 48,50 2014 100 50 0,94 47,00 2015 100 50 0,92 45,76 2016 100 50 0,89 44,42 2017 100 40 0,86 34,50 2018 100 30 0,84 25,12 2019 100 20 0,81 16,26 2020 100 10 0,79 7,89 2021 100 0 0,77 0,00 2022 100 0 0,74 0,00

Débito total em «Anos-de-Serviço-de-Hectare Descontados» ou ASHD

319,5

a. Fator multiplicador de valor atual = 1 / (1 + taxa de desconto)(ano-ano de base). Neste exemplo, a taxa de desconto é de 3 % e o ano de base é 2012.

b. O débito é calculado através da multiplicação da dimensão geográfica pela percentagem de perda de serviços e pelo fator multiplicador de valor atual.

4.9.2 Análise de equivalência valor-a-valor O cálculo do débito total é idêntico para a análise valor-a-valor e para a análise de valor e custo, sendo que a única diferença entre estas reside na definição da escala da remediação (debatida no ponto 6). No âmbito desta análise de equivalência valor-a-valor simples, considera-se que um rio muito utilizado para fins de pesca foi contaminado pela

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libertação de um agente químico, que resultou na perda total de algumas saídas de pesca, e na perda parcial de outras saídas de pesca, durante um período de três anos. Abaixo estão enunciados os pressupostos específicos para este exemplo ilustrativo, utilizando os elementos acima referidos:

• Ano de início: Considera-se que as perdas tiveram início em 2012.

• Ano de termo: Considera-se que as perdas terminam em 2014, ou seja, a restituição ao estado inicial ocorre em 2014.

• Ano de base. Considera-se 2012 como ano de base, o que significa que, nesse ano, o multiplicador de valor atual é igual a um.

• Multiplicador de valor atual: Para representar uma preferência temporal social, foi selecionada uma taxa de desconto de 3 % (como mencionado nos cálculos do débito).

• Medida:

o Número de saídas de pesca perdidas. Estima-se que se percam 600 saídas de pesca recreativa, ou seja, não serão realizadas devido à contaminação do rio, durante um período de três anos. Isto é, 200 pescadores que pescariam neste rio todos os anos, durante os próximos três anos, não irão fazê-lo. O resultado é uma perda de bem-estar para os pescadores. Neste exemplo simples, considera-se que estes pescadores ficam em casa. Casos mais complexos podem contemplar saídas de pesca para outros sítios, menos convenientes, e os custos (perdas) associados.

o Valor de uso de cada saída de pesca perdida. Considera-se que o «valor por saída» associado a estas saídas perdidas é de 25 €.

o Número de saídas de pesca reduzido. Considera-se que (com base na consulta das principais partes interessadas e em investigação prévia) cerca de 100 saídas ao rio continuarão a ser realizadas, mas a experiência será de qualidade inferior (com um valor mais baixo, tal como indicado a seguir).

o Valor de uso da saída de pesca de qualidade inferior. Considera-se que o «valor por saída» associado a estas saídas de qualidade inferior é de 15 €.

O quadro 4.3 apresenta os cálculos. A metade superior do quadro apresenta o cálculo da perda de serviços associada às saídas de pesca que não foram realizadas (14 567 €); a metade inferior apresenta o cálculo da perda de serviços, resultante da experiência de qualidade inferior, associada às saídas de pesca que foram realizadas (4 370 €). A soma destas duas perdas representa a perda total de bem-estar, ou seja, a perda do uso por pessoas associada ao derrame (18 937 €).

O débito anual é calculado por multiplicação das três colunas (a, b e c). A soma dos débitos anuais resulta no débito total referente ao período em que os serviços de uso pelas pessoas estiveram danificados. Note-se que as perdas a ocorrer no futuro têm um valor inferior, em termos de valor atual, devido ao fator multiplicador de valor atual representado na coluna (c). O débito total para este dano é calculado em termos de valor perdido descontado (VPD); expresso em medida monetária cifra-se em 18 937 €. Este débito total de 18 937 € é utilizado no ponto 6 para demonstrar como definir a escala da reparação compensatória para este exemplo simples.

Quadro 4.3: Exemplo ilustrativo de cálculos de débito efetuados com uma medida monetária.

Ano Número de saídas de

pesca perdidas

Valor de cada saída de pesca perdida

(€)

Fator multiplicador de valor atual1

Débito (VPD) (€)

(a) (b) (c) (d = a x b x c)

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2012 200 25 1 5000 2013 200 25 0,97 4854 2014 200 25 0,94 4713 2015 0 25 0,92 0 2016 0 25 0,89 0

Valor total descontado das saídas perdidas (€) 14 567

Ano Número de saídas de pesca de qualidade

inferior

Valor de cada saída de pesca de qualidade

inferior (€)

Fator multiplicador de valor atual1

Débito (VPD)

(€) (a) (b) (c) (d = a x b x c)

2012 100 15 1 1500 2013 100 15 0,97 1456 2014 100 15 0,94 1414 2015 0 15 0,92 0 2016 0 15 0,89 0

Valor total descontado das saídas de qualidade inferior (€) 4 370 Valor total descontado dos serviços perdidos (VPD) (€) 18 937

1. Fator multiplicador de valor atual como no ponto 4.8.4. Neste exemplo, a taxa de desconto é de 3 % e o ano de base escolhido foi 2012. 2. O débito é calculado através da multiplicação do número de saídas de pesca perdidas (ou do número de saídas de pesca de qualidade

inferior) pelo valor de uma saída de pesca perdida (ou de qualidade inferior) e pelo fator multiplicador de valor atual (a x b x c).

5. COMO AVALIAR OS BENEFÍCIOS DA REPARAÇÃO Esta é a etapa 3 da avaliação dos danos e da análise de equivalência de recursos (ver a figura 3.1). A DRA define três tipos de reparação: primária, complementar e compensatória. Esta etapa concentra-se nas reparações complementar e compensatória. O objetivo da determinação e quantificação dos benefícios da reparação é quantificar os benefícios (créditos) dos recursos gerados ou melhorados (ou serviços de recursos), que podem ser utilizados para compensar os danos quantificados.

No âmbito da DRA, a abordagem geral consiste na identificação das opções para o projeto de reparação e na quantificação dos benefícios (ou créditos), recorrendo à mesma medida utilizada para a quantificação do débito, fornecida por meio da execução da reparação.

Os benefícios da reparação são os ganhos ecológicos, como as melhorias do habitat ou o aumento da população que utiliza um determinado recurso, quantificados com base na melhoria dos recursos ou serviços. No caso de uma medida monetária, os ganhos podem ser expressos com base no aumento do uso humano de um recurso (valores de uso) ou no aumento do valor que os indivíduos conferem a um recurso ou serviço, independentemente de utilizarem ou não o recurso (valor de não-uso).

Os elementos fundamentais para a determinação dos tipos adequados de reparação são:

• Identificação e avaliação das opções de reparação potenciais que podem ser utilizadas para compensar os danos.

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• Cálculo dos ganhos (créditos) das opções de reparação. Exige o desenvolvimento de um conjunto de informações semelhante ao que foi utilizado para a quantificação dos danos (débitos). A quantificação dos créditos inclui:

• a determinação do grau de melhoria ao longo do tempo, de forma semelhante à que foi utilizada para determinar o grau de danos causados aos recursos e/ou serviços;

• a determinação das curvas de recuperação refletindo o período previsto e o grau de produtividade das ações de reparação, avaliados com base na medida escolhida.

• o tratamento das incertezas: no decorrer de uma análise de equivalência, os analistas devem estar atentos a potenciais fontes de incerteza. As fontes de incerteza associadas ao cálculo dos ganhos de serviços (créditos) resultantes das opções de reparação (grau de melhoria, curvas de recuperação etc.) podem ser particularmente difíceis de avaliar (por isso a incerteza é abrangida pelo presente ponto).

5.1 Identificação e avaliação das opções de reparação complementar e compensatória O planeamento da reparação complementar e compensatória deve incluir a identificação dos projetos que beneficiam os tipos de recursos e serviços danificados. Esta etapa envolve também a determinação dos mandatos, preferências e objetivos das autoridades competentes e de outras partes interessadas. Após a identificação de um conjunto de projetos, os benefícios previstos para cada projeto são identificados e quantificados com base na medida utilizada para analisar a perda (débito).

As ideias para o projeto de reparação podem surgir de uma série de fontes. Por exemplo, da experiência das pessoas envolvidas em matéria de gestão de recursos e/ou de planos de gestão de recursos já existentes, que identificam as ações pretendidas ou propostas com vista a melhorar as condições do recurso. Os projetos de reparação podem ser realizados no local ou em locais próximos. Contudo, sempre que exista uma ligação razoável com o recurso, ou por motivos de impacto distributivo ou de eventuais fatores administrativos, jurídicos, de engenharia ou biológicos, os projetos devem ser levados a cabo em locais geograficamente separados do local onde ocorreu o dano.

As opções de reparação podem ser solicitadas a organismos de gestão de recursos, a peritos académicos envolvidos na gestão de recursos naturais ou na investigação em matéria de reabilitação e ao público em geral. As organizações não governamentais, as pessoas e outras partes interessadas que se preocupam com a saúde ambiental, a conservação do solo e o património natural têm frequentemente ideias para projetos de reparação, reabilitação, aquisição ou fortalecimento de habitats, as quais podem também ser relevantes. O processo de identificação de identificação e avaliação das opções de reparação pode incluir as seguintes etapas:

• Estabelecer critérios de avaliação para avaliar as opções de reparação;

• Elaborar uma lista ou base de dados com potenciais opções de reparação;

• Aplicar os critérios de avaliação com vista a identificar as potenciais ações de recuperação;

• Assegurar que podem ser utilizadas as medidas adequadas para comparar os créditos da reparação com os débitos; e

• Fazer uma estimativa dos custos unitários para as ações de reparação prioritária. Os custos devem contabilizar a execução e a gestão das ações em causa, bem como as despesas de funcionamento, manutenção e acompanhamento necessárias para garantir que o projeto gera os benefícios incorporados na análise de equivalência.

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Os projetos de reparação adequados dependem de muitas variáveis, incluindo o tipo de habitats ou populações de espécies danificados, o tipo de danos causados e as pressões exercidas a uma escala mais vasta sobre os habitats e sobre as populações de espécies. Existem seis princípios fundamentais a ter em conta na seleção de projetos adequados (descritos mais adiante):

• Método para a produção de benefícios;

• Fragmentação e isolamento de habitats;

• Designação/ proteção de habitats;

• Diferenças entre a compensação de habitats e a compensação de espécies;

• Compensação e reparação de múltiplas espécies, e

• Orientações sobre compensação ex ante para danos que ocorram em locais Natura 2000.

A caixa 5.1 dá uma visão geral da forma como foram selecionadas as opções de reparação para o estudo de caso descrito nos dois pontos anteriores.

Caixa 5.1: Avaliação da reparação: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

Para resolver a questão da perda provisória da zona húmida, foram avaliadas três opções de reparação: • nenhuma ação (regeneração natural); • reabilitação da zona húmida fora do local; e • proteção através de aquisição.

A opção «sem qualquer ação» não foi selecionada pelo facto de a perda provisória ser demasiado elevada. A reabilitação da zona húmida não foi selecionada pelo facto de os serviços perdidos de forma perpétua se relacionarem com as diversas zonas húmidas naturais. A opção selecionada foi a «proteção através de aquisição». São apresentados pressupostos-padrão relativamente aos cenários de proteção e aos riscos do desenvolvimento.

Para resolver a questão da perda provisória de truta marisca foram avaliadas outras três opções de reparação:

• nenhuma ação (regeneração natural): não foi selecionada pelo facto de a perda provisória ter sido considerada demasiado elevada;

• compensação mediante incubação: não foi selecionada devido a preocupações relativas à genética, etc.; e

• foi selecionada a reabiliatação do habitat de corrente noutros afluentes do rio K.

Foram apresentadas alguns pressupostos relativamente à recuperação da truta: 5 m de largura de corrente; a densidade de truta aumenta de 5 para 10 por cada 100 m2; período de execução de 3 anos e 7 anos de recuperação após a execução.

5.1.1 Reabilitação e recriação do habitat A reparação relativa aos danos ou perdas de habitats protegidos, ou de habitats de espécies protegidas, pode ser alcançada através da criação de um novo habitat ou de um habitat substituto. Em termos técnicos, esta poderá ser uma tarefa difícil.

Em alternativa à criação de um novo habitat, a reabilitação de um habitat existente pode ser mais viável. Na maior parte dos casos, o habitat a reabilitar deve ser do mesmo tipo (ou similar) que o danificado ou destruído. Os tipos de

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habitats estão definidos no anexo I da Diretiva Habitats e no Manual de Interpretação dos Habitats da União Europeia (CE, 2003)21.

Se os planos de reabilitação de habitats forem utilizados para fins da reparação, deve quantificar-se o grau de ganho ou «valor acrescentado» de serviços dessa reabilitação. Os fatores que têm de ser analisados nesta avaliação são os seguintes:

• Taxas de variação: é necessário realizar uma avaliação da taxa de reabilitação natural de um habitat. Por exemplo, a remoção de árvores coníferas não autóctones de uma floresta caducifólia pode ser altamente benéfica para o seu estado de conservação a curto prazo. Porém, se não se observar uma regeneração natural essas árvores poderão desaparecer da floresta a longo prazo na sequência de processos naturais. Assim, a avaliação dos benefícios da conservação a curto prazo deve ser ponderada em função do eventual resultado de processos naturais a longo prazo.

• Adicionalidade: é necessário procurar garantir que as ações levadas a cabo para reabilitar os habitats criam benefícios «adicionais» que, de outro modo, não seriam atingidos, sendo importante evitar o risco potencial da contagem dupla de créditos.

5.1.2 Fragmentação e isolamento de habitats – medidas do artigo 10.º (Diretiva Habitats) A abordagem adotada para a seleção de projetos de reparação será grandemente influenciada pelo contexto do habitat que foi danificado ou destruído. De acordo com os princípios da biogeografia insular, se o habitat danificado fizer parte de um habitat de muito maiores dimensões, os projetos de reparação que criarem ou reabilitarem simplesmente outra área do habitat de dimensões semelhantes não compensarão os danos causados à área do habitat originalmente afetada.

A necessidade de reunir elementos da paisagem para reabilitar a função ecológica é especificamente referida no artigo 10.º da Diretiva Habitats, onde é solicitado aos Estados-Membros que envidem esforços para melhorar a coerência da rede Natura 2000, através da gestão das características da paisagem mais relevantes para a fauna e flora selvagens.

5.1.3 Designação/proteção de habitats Para compensar os danos causados a um sítio existente ou a sua perda, as autoridades competentes podem optar por designar como nova reserva ecológica ou sítio Natura 2000 uma determinada área. Porém, omo não são criados novos serviços ecológicos, é necessário salientar que esta abordagem não proporciona por si só benefícios ecológicos ou para a biodiversidade. No entanto, se um habitat desprotegido estiver sob ameaça, a proteção assegurada pela designação pode proporcionar serviços ecossistémicos adicionais que podem ser considerados benefícios da reparação. Para ser considerada uma forma válida de compensação ou reparação, a ameaça ao habitat recentemente designado deve ser real, relativamente iminente, e quantificável - por exemplo, terrenos destinados ou aprovados para urbanização.

5.1.4 Diferenças entre a compensação de habitats e a compensação de espécies Sempre que os planos ex ante tiverem impacto nas populações de espécies protegidas, as abordagens da compensação do habitat podem ser diferentes das abordagens adotadas quando os danos afetam habitats

21 Comissão Europeia, DG Ambiente, Natureza e Biodiversidade (2003), Manual de Interpretação dos Habitats da União Europeia EUR, 25 de outubro.

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protegidos. Porém, em certos casos poderá ser apropriado compensar a perda ou os danos causados a uma área de habitat utilizada por espécies protegidas considerando essa área como um habitat protegido; de facto, em muitos casos, o habitat que acolhe espécies protegidas está também protegido.

Geralmente, as populações de espécies são altamente móveis e podem percorrer distâncias consideráveis. A compensação pelos danos causados às populações de espécies exige uma compreensão dos requisitos ecológicos de uma espécie consoante a fase do seu ciclo de vida, a época do ano e a altura do dia.

Apesar de muitas populações de espécies protegidas estarem associadas a habitats protegidos, algumas utilizam habitats comuns e desprotegidos (por exemplo, terrenos cultivados) durante uma parte ou a totalidade do seu ciclo de vida. Nestes casos, poderá existir uma maior flexibilidade no tipo de opções de compensação disponíveis. A conceção de projetos de compensação ou de reparação com vista a compensar os danos causados às populações de espécies pode incorporar opções de intervenção mais diretas, como a alimentação das populações de aves migratórias através da distribuição de grãos, ou por meio de plantações que servirão de alimento.

Do mesmo modo, a conservação de espécies migratórias pode contemplar medidas de reparação ou de compensação que ajudam a população em causa em diferentes fases do seu ciclo de vida, até ao momento da ocorrência dos danos. Por exemplo, as investigações sobre os danos causados a habitats de invernada de uma população de aves migratórias podem demonstrar que os habitats de reprodução das aves ou as áreas de repouso das rotas migratórias são mais cruciais para a sobrevivência das espécies. Nesses caso, poderá ser mais benéfico para a população em geral implementar projetos que visam a melhoria do habitat nas rotas migratórias ou nos habitats de nidificação, caso se comprove que estes representam «pontos de fixação» da população. Pode ocorrer uma situação semelhante com peixes migratórios, como o salmão do Atlântico. Os danos causados aos habitats de desova de um rio podem ser compensados não só através da reparação primária, onde ocorreu o dano, mas também através da melhoria das rotas migratórias (por exemplo, através da remoção de obstáculos, como as barragens) ou através da melhoria das condições nos estuários (por exemplo, melhorar a qualidade da água ou reduzir o impacto da pesca comercial). A caixa 5.2 apresenta uma visão geral da reparação transfronteiriça utilizada nestes casos.

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Caixa 5.2: Reparação transfronteiriça

A identificação dos locais adequados para a realização de ações de recuperação exige a avaliação cuidadosa de uma série de soluções de equilíbrio. Sempre que possível, os locais de reparação devem estar próximos, ou mesmo adjacentes, e ter um habitat semelhante ao do local danificado, dado que essas condições permitem assegurar ao máximo a continuidade ecológica e a prestação de serviços ambientais. Porém, na paisagem ecologicamente fragmentada de grande parte da Europa, é muitas vezes impossível encontrar locais adequados para a reparação que sejam contíguos ao local danificado ou que estejam próximos deste. Noutros casos, o habitat danificado pode ser muito raro e, consequentemente, os locais semelhantes para reparação podem situar-se a uma certa distância.

Em determinadas circunstâncias, a melhor localização para os locais de reparação pode estar a uma certa distância dos locais danificados ou mesmo além-fronteiras. A utilização de locais transfronteiriços para a reparação da biodiversidade suscita uma série de questões relacionadas com:

• Espécies migratórias; • Regiões biogeográficas; • Fragmentação dos habitats e redes ecológicas; e • Serviços ambientais e valores de utilização.

A localização dos sítios para a realização das ações de compensação ao abrigo do n.º 4 do artigo 6.º da Diretiva Habitats é mencionada em duas importantes publicações da Comissão Europeia (CE, 200022 e CE, 200723). Estes documentos salientam a importância dos locais de reparação compensatória para manter a coerência da rede Natura 2000.

Em síntese, ambos os documentos preconizam que as medidas compensatórias propostas para um projeto devem:

• Abordar, em proporções comparáveis, os habitats e as espécies afetadas negativamente; • Referir-se à mesma região biogeográfica no mesmo Estado-Membro; e • Prever funções comparáveis às que justificaram os critérios de seleção do local original.

Deste modo, não se considera como obstáculo a distância entre o local original e o local de aplicação das medidas de compensação, desde que esta não afete a funcionalidade do local nem as razões que levaram à sua escolha inicial. Porém, o requisito de compensação dentro do mesmo Estado-Membro pode não ser facilmente cumprido, especialmente em locais transfronteiriços ou nos pequenos Estados-Membros.

Espécies migratórias Sempre que os danos ambientais afetarem espécies migratórias, tanto as aves protegidas ao abrigo da Diretiva Aves Selvagens como as outras espécies que constam dos anexos da Diretiva Habitats, poderão existir, em teoria,

22 Comissão Europeia (2000b), Gestão dos sítios Natura 2000: As disposições do artigo 6º da Directiva Habitats, Luxemburgo. 23 Comissão Europeia (2007), Documento de orientação sobre o n.º 4 do artigo 6º. Clarificação dos conceitos de: soluções alternativas, razões imperativas de reconhecido interesse público, medidas compensatórias, coerência global, parecer da Comissão. [Nota: substitui a secção relativa ao n.º 4 do artigo 6º do documento da Comissão Europeia (2000b)]. Disponível em: http://ec.europa.eu/environment/nature/natura2000/management/guidance_en.htm.

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oportunidades de reparação desses danos numa série de localizações ao longo da rota migratória das espécies em causa. No entanto, a seleção de tais locais exige um conhecimento profundo do comportamento migratório das espécies em causa e a identificação cuidadosa dos constrangimentos ecológicos nas respetivas rotas. Se estas condições estiverem reunidas, é possível reparar as perdas dos habitats de invernada através da melhoria dos habitats utilizados como áreas de repouso ao longo das rotas migratórias, ou até como áreas de reprodução.

Caixa 5.2: Reparação transfronteiriça (cont.)

Muitas das aves migratórias que utilizam as zonas húmidas como habitat de invernada formam grupos de espécies que podem ter chegado ao local por várias rotas migratórias e por várias áreas de reprodução. Consequentemente, a reparação para este grupo de espécies migratórias pode não ser possível longe das zonas de invernada. Contudo, a maioria das aves que utiliza as zonas húmidas recorre às redes de zonas de invernada que existem num complexo de zonas húmidas. Deste modo, poderá ser possível definir a dimensão desse complexo e levar a cabo ações de reparação num ou mais locais, mantendo o funcionamento global do habitat ecológico.

No que diz respeito aos peixes migratórios, a remoção de obstáculos à migração ao longo do rio, tanto as melhorias da qualidade ambiental dos estuários como a redução da predação/pesca em alguns pontos da rota migratória podem proporcionar opções de reparação.

Regiões biogeográficas As regiões biogeográficas da Europa são definidas em conformidade com a Diretiva Habitats e estabelecem áreas ecologicamente coerentes, com características ecológicas comuns. A reparação dos danos causados a uma espécie e/ou habitat europeu protegido, enumerado na Diretiva Habitats, deve ser realizada na mesma região biogeográfica onde ocorreram os danos.

Fragmentação dos habitats e redes ecológicas Para muitas espécies e habitats, a função ecológica só pode ser mantida se existir um habitat suficientemente vasto ou se existirem corredores de ligação funcionais entre as áreas do habitat que formam as redes ecológicas ou que acolhem as metapopulações de espécies. Nos termos do artigo 10.º da Diretiva Habitats, já anteriormente referido, os Estados-Membros devem tomar medidas destinadas a manter os espaços de ligação e as características lineares da paisagem que preservam a conectividade ecológica. Sempre que ocorrerem danos em locais que fazem parte de uma rede ecológica, ou que acolhem uma metapopulação de espécies mais vasta, é importante ter esse dado em consideração no momento da seleção das medidas de reparação. Consequentemente, poderá ser preferível reabilitar as áreas do habitat para além das fronteiras nacionais em vez de selecionar um local, dentro do mesmo Estado-Membro, que não tenha a mesma função ecológica. Isto pode ser particularmente importante em cadeias montanhosas e locais costeiros, onde diversos sítios extensos e ecologicamente coerentes ultrapassam as fronteiras nacionais.

Serviços de recursos naturais e valores de utilização A DRA exige que os serviços prestados por um local danificado sejam também tidos em conta na escolha das opções de reparação. Em muitos sítios, só podem ser fornecidos serviços ambientais semelhantes em locais situados dentro do mesmo Estado-Membro, a uma distância relativamente próxima do local danificado. À medida que a distância entre o sítio danificado e o local de reparação aumenta, a população humana afetada pelos danos terá de fazer deslocações adicionais para obter o mesmo benefício ambiental. Para compensar esta deslocação geográfica, seria necessário levar a cabo mais ações de reparação, talvez através da disponibilização de uma área de habitat mais

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ampla.

5.1.5 Compensação e reparação de múltiplas espécies É frequente que os danos ambientais tenham impacto sobre uma série de espécies protegidas diferentes. Por exemplo, os danos causados a um rio podem afetar as populações de várias espécies de peixes protegidas. Podem existir estudos aprofundados e informações úteis sobre o estado inicial de algumas dessas espécies, mas outras poderão estar menos estudadas e ter requisitos relacionados com o ciclo de vida bastante diferentes. Deve ser ponderada a elaboração de um pacote de medidas de compensação ou de reparação que beneficie adequadamente múltiplas espécies (ou habitats).

5.2 Critérios de avaliação das opções de reparação Uma vez identificadas as potenciais opções de reparação, estas devem ser avaliadas em função dos requisitos ou preferências das autoridades competentes e de outras partes interessadas, com base nos estatutos e regulamentos relevantes. O anexo II da DRA refere explicitamente vários critérios a avaliação das opções de reparação razoáveis, utilizando as melhores tecnologias disponíveis: • Efeitos na saúde pública e na segurança; • Custo de cada opção; • Probabilidade de êxito de cada opção; • Em que medida cada opção é suscetível de evitar danos futuros e danos colaterais resultantes da sua execução; • Preocupações de ordem social, económica e cultural e outrose fatores locais; • Tempo necessário para a reabilitação dos danos; • Grau de reabilitação do sítio danificado; e • Relação geográfica com o sítio danificado.

Os analistas que elaboram e selecionam os critérios de avaliação do projeto, devem estabelecer uma seleção de critérios mais ampla e definir a forma como cada um pode ser interpretado no decurso da avaliação dos projetos propostos. O quadro 5.1 apresenta exemplos sobre como deve ser interpretado cada critério. Os critérios e a sua interpretação podem variar consoante os locais, em função das questões, oportunidades e limitações específicas de cada lugar. É importante salientar que embora a redação utilizada no quadro se refira essencialmente à DRA, os critérios aplicam-se igualmente a situações abrangidas por outras diretivas, como as Diretivas Avaliação do Impacto Ambiental, Habitats e Aves Selvagens.

Os critérios apresentados no quadro 5.1 estão divididos em dois grupos: critérios da seleção inicial e critérios da avaliação detalhada. Os critérios do primeiro grupo podem ser utilizados como critérios de «aprovação/reprovação», de modo a eliminar rápida e objetivamente as opções menos adequadas. Isto poderá ser importante se as partes interessadas tiverem apresentado ideias que, embora potencialmente meritórias, não tenham sido consideradas adequadas para compensar os danos ocorreridos.

O quadro 5.1 não apresenta uma lista definitiva nem exaustiva. Dependendo das preferências das partes envolvidas, os diferentes critérios ou categorias de critérios poderão ser ponderados mais aprofundadamente, de forma a salientar as características do projeto mais importantes para as partes.

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Quando as opções menos adequadas tiverem sido eliminadas com base nos critérios de seleção e as restantes opções tiverem sido classificadas em termos quantitativos ou qualitativos, podem identificar-se os projetos selecionados, aos quais poderá ser dada mais atenção, de maneira a preparar descrições de projeto mais detalhadas e a avaliar os potenciais benefícios, incluindo o tipo, o grau e o período dos benefícios, bem como a «adequação» do projeto em termos da sua equivalência global.

As informações acima enumeradas são utilizadas com três finalidades: (i) identificação de projetos adequados, altamente relevantes e benéficos; (ii) modelação da equivalência para definir a dimensão de projeto, com vista a compensar os danos; e (iii) elaboração de um plano de reparação final e de orientações para a sua execução. Quanto mais detalhadas forem as informações, mais úteis serão para cumprir cada uma destas finalidades.

Quadro 5.1: Exemplos de critérios de avaliação para seleção de opções de reparação.

Critério Interpretação Critérios de seleção inicial

• Abordar os recursos danificados por libertações, ou os serviços perdidos como consequência de danos

• Os projetos são avaliados em função da sua capacidade para reparar, reabilitar, substituir ou adquirir o equivalente dos recursos naturais e serviços danificados.

• Cumprir a legislação e regulamentações aplicáveis/relevantes

• Os projetos devem ser legais.

• Proteger a saúde pública e/ou a segurança

• Os projetos não podem colocar em risco a saúde pública e/ou a segurança.

• Coordenar as ações de reparação primária e as ações de descontaminação previstas

• Os projetos não devem ser incompatíveis com as ações de reparação primária nem com as ações de descontaminação previstas e não serão inviabilizados nem prejudicados pelas mesmas.

• Ser tecnicamente viáveis • Os projetos devem ter uma probabilidade de êxito elevada. • Minimizar os danos

colaterais • Os projetos não devem causar danos adicionais aos recursos naturais nem

agravar a perda de serviços ou a degradação ambiental; se existirem, os danos colaterais devem ser mínimos em comparação com os benefícios obtidos.

• Ser aceitáveis para o público • Os projetos devem respeitar um nível mínimo de aceitação por parte do público e não devem ter efeitos prejudiciais para o público.

• Reduzir a exposição dos recursos naturais aos contaminantes

• Reduzir o volume, a mobilidade e/ou a toxicidade dos contaminantes

• Os projetos de reparação primária devem reduzir a exposição aos contaminantes, bem como o volume, a mobilidade e/ou a toxicidade dos contaminantes.

Critérios de avaliação detalhada • Restabelecer ou preservar o

tipo de recursos naturais danificados

• Os projetos devem melhorar a qualidade do recurso que foi ou será danificado (por exemplo, águas subterrâneas, habitat terrestre) por ações de reparação ou preservação.

• Preservar as comunidades • Os projetos que envolvem a aquisição de solos/recursos ou servidões de

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naturais ameaçadas que são únicas, de elevada qualidade ou que estão ligadas às áreas em causa

conservação devem proteger os recursos de elevada qualidade ou os recursos únicos, ou implementar amortecedores viáveis contra o desenvolvimento futuro nas imediações dessas áreas.

• Visar um recurso ou serviço que não consegue recuperar ou que necessita de mais tempo para regenerar naturalmente

• Os projetos devem visar os recursos/serviços que necessitam de mais tempo para recuperar sem a ação de reparação (por exemplo, > 25 anos).

• Abordar a reparação dos recursos ou serviços «selecionados»

• Os gestores de recursos podem elaborar uma lista de prioridades, com base nos tipos de recursos danificados e no grau dos danos.

• Utilizar tecnologias/métodos estabelecidos e fiáveis, conhecidos por apresentarem uma probabilidade de êxito elevada

• Os projetos devem utilizar técnicas adequadas, comprovadas e bem sucedidas. Pode atribuir-se uma menor prioridade aos métodos experimentais e à investigação ou tecnologias ainda desconhecidas.

Critério Interpretação

• Ser rentável • Os projetos devem apresentar uma elevada proporção de benefícios previstos em relação aos custos previstos, comparativamente a outros projetos que beneficiam do mesmo recurso.

• Ter custos baixos associados à exploração, manutenção e acompanhamento a longo prazo

• Os custos a longo prazo devem ser razoáveis, face aos benefícios previstos.

• Poder ser dimensionado ao nível adequado da perda ou dos danos causados ao recurso

• Deve ser possível determinar a dimensão dos projetos, de modo a fornecer ações de reparação à escala adequada. Deve dar-se menor preferência a pequenos projetos que apenas proporcionam benefícios mínimos relativamente aos recursos ou serviços danificados, bem como a projetos demasiado grandes cujo âmbito não possa ser adequadamente reduzido.

• Proporcionar benefícios que podem ser medidos para avaliar o êxito

• Os projetos devem produzir benefícios mensuráveis, que podem ser quantificados para medir o grau de êxito.

• Ser consistentes com o ordenamento do território e administrativamente exequíveis

• Os projetos devem ser coerentes com o ordenamento do território (por exemplo, apoiar os planos de ação em matéria de biodiversidade); devem também ser administrativamente exequíveis.

• Gerar benefícios colaterais • Deve dar-se prioridade aos projetos que beneficiam mais de um recurso ou serviço danificado, bem como aos projetos que proporcionam benefícios secundários ou em cascata aos recursos ecológicos e benefícios económicos.

• Melhorar a capacidade do público para utilizar, usufruir ou beneficiar do ambiente

• Este critério pode ser considerado como um critério de avaliação distinto ou ser incluído nos benefícios colaterais, dependendo dos objetivos das partes envolvidas.

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• Alcançar a igualdade e/ou a justiça ambiental

• A igualdade ou justiça ambiental de um projeto diz respeito ao grau de benefício do projeto para as pessoas mais afetadas pelos danos sendo dada prioridade aos projetos que beneficiam os segmentos da população com baixo rendimento, que muitas vezes são os que mais sofrem com a poluição.

• Proporcionar benefícios ecológicos e/ou económicos a uma área ou população abrangente

• Deve dar-se prioridade aos projetos que proporcionam o maior bem comum. Se um grande projeto resultar num maior bem comum, ser-lhe-á dada prioridade.

• Proporcionar benefícios antecipadamente

• Deve dar-se prioridade aos projetos que conseguem alcançar todos as resultados previstos mais cedo do que se estes fossem atingidos através da regeneração natural do recurso e mais cedo do que outros projetos que beneficiam o mesmo recurso. Quanto mais cedo se alcançar a equivalência, melhor.

• Proporcionar benefícios a longo prazo

• Deve dar-se preferência a projetos a longo prazo em relação a projetos a curto prazo.

• Proporcionar benefícios que não sejam gerados por outros projetos de reparação

• Para assegurar que os benefícios são adicionais, devem evitar-se projetos já em fase de execução ou cujo financiamento está previsto no âmbito de outros programas.

5.3 Descrição dos projetos de reparação Inicialmente, as descrições dos projetos podem ser sucintas e constituídas por uma única frase. À medida que são recolhidos mais dados, as descrições devem tornar-se mais detalhadas e abordar:

• Os objetivos do projeto;

• As medidas necessárias para executar o projeto;

• A potencial dimensão do projeto;

• Os benefícios previstos e o tempo estimado para os alcançar;

• O funcionamento e as atividades de manutenção necessárias para apoiar o projeto ou os seus benefícios;

• O custo aproximado necessário para execução, funcionamento e manutenção;

• As condições de licenciamento;

• Os potenciais obstáculos administrativos (ou outros);

• Os potenciais benefícios ou danos colaterais/adicionais associados ao projeto; e

• Um plano de acompanhamento e avaliação.

5.4 Cálculo dos ganhos (créditos) das opções de reparação Geralmente, os projetos são propostos porque abordam um recurso ou serviço que foi danificado por um incidente. Um projeto pode ter em vista a reparação do mesmo tipo de habitat que foi danificado, mas num local diferente. Em teoria, sempre que os habitats são semelhantes, os benefícios associados ao projeto de reparação (por exemplo, o fornecimento de alimento, de cobertura térmica e de abrigo, habitats de nidificação e criação) devem ser semelhantes aos serviços perdidos como consequência dos danos. No entanto, pode não ser possível identificar os projetos de reparação que contemplam recursos naturais e serviços idênticos aos que se perderam. O local de reparação pode ter um contexto paisagístico diferente e, portanto, os recursos naturais e os fluxos de serviços

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podem não ser idênticos. O habitat do local de reparação pode ser mais ou menos acessível às espécies-alvo ou ser delimitado por tipos de habitat mais ou menos protetores e necessários. Ou ainda, o fator de perturbação que degradou o local de reparação pode ser diferente do fator que causou o dano a compensar, ou seja, mesmo que os ganhos dos recursos naturais e serviços sejam possíveis e benéficos no local de reparação, podem não ser idênticos aos ganhos dos recursos naturais e serviços necessários para atingir a compensação.

Outra abordagem utilizada na avaliação dos benefícios do projeto ao longo dos habitats é a utilização de «escalares» para atribuir graus de preferência. Os escalares podem ser utilizados para contabilizar os «habitats selecionados» (por exemplo, alguns habitats de zona húmida altamente produtivos podem ser «selecionados» em detrimento de zonas de pastagem menos produtivas), a escassez de espécies e habitats, a distância em relação ao local danificado (por exemplo, as autoridades competentes podem preferir realizar a reparação perto do local do incidente em vez de realizá-la mais longe; tais preferências relativas à distância podem refletir-se nos escalares) e determinados fatores sociais.

Serão seguidamente debatidas três considerações relativas à avaliação dos potenciais benefícios de uma opção de projeto de reparação.

Proximidade geográfica (ver também a caixa 5.2) Geralmente, consideram-se mais relevantes os projetos de reparação que, beneficiando os recursos naturais, são realizados num local geograficamente próximo do local danificado. É mais provável encontrar habitats e recursos semelhantes num local próximo, que apresenta elementos semelhantes, como o clima, a duração das estações, os materiais geológicos, a potencial vegetação natural e certos conjuntos de espécies e de fatores de perturbação antropogénica e ambiental. Porém, nem sempre é possível encontrar, num local geograficamente próximo, projetos de reabilitação adequados, especialmente se o habitat danificado for raro ou se o serviço danificado depender de um contexto paisagístico único. Além disso, se os danos ocorridos tiverem sido causados a um recurso como, por exemplo, as aves migratórias, e se o projeto de reparação adequado for a substituição dessas aves, poderá ser preferível determinar um local de nidificação distante para efeitos de reparação. Tal como já foi referido, as autoridades competentes podem, em alguns casos, recorrer a escalares de proximidade para contabilizarem a inexistência de oportunidades de reparação próximas do local onde ocorreu o incidente.

No caso da compensação de perdas de uso e não-uso humanos, raramente é apropriado realizar a reparação num local que se encontre muito distante do local danificado. Caso contrário, corre-se o risco de beneficiar uma população que não foi prejudicada pelo dano ocorrido em detrimento dos indivíduos que sofreram a perda.

Grau de semelhança Quanto mais semelhantes forem o projeto de reparação e o local ou recurso danificado, mais facilmente se pode alcançar a equivalência. Contudo, a correspondência precisa de projetos nem sempre é possível. Nessas situações, os analistas podem optar por criar «tradutores» ou escalares que permitam ajustamentos razoáveis entre débito e crédito.

Outras questões ecológicas, culturais, económicas e sociológicas Outras questões que podem surgir com a identificação dos benefícios de um projeto de reparação dizem respeito à compensação de perdas culturais, sociais ou económicas, que são difíceis de descrever ou quantificar através da AEH ou da AER. Se a AEH ou a AER forem utilizadas para definir a escala de reparação porque a perda principal é de caráter ecológico, mas a perda secundária é de caráter cultural, talvez seja necessário recorrer a um método adicional para definir a escala da compensação adequada. Para uma compensação integral, pode ser necessário

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recorrer, em combinação com a AEH, a um método de avaliação económica para medir os valores que as pessoas conferem aos serviços fornecidos pelos recursos naturais. Os métodos de equivalência valor-a-valor são descritos no ponto seguinte.

A quantificação dos benefícios (créditos) dos potenciais projetos de reparação exige a elaboração de um conjunto de informações semelhante ao da quantificação dos danos (débitos). O período e o grau de produtividade previstos para as ações de reparação devem ser avaliados face às medidas selecionadas, devendo a produtividade prevista ser comparada com a quantidade total de serviços que teria sido fornecida pelo local danificado se o dano não tivesse ocorrido. A figura A figura 5.1 descreve a forma como a melhoria dos recursos pode aumentar após a execução das ações de reparação compensatória ou complementar que contribuem para melhorar as condições do recurso e do serviço em causa. A zona F diz respeito ao aumento no serviço que resulta de uma ação. Uma vez concluída a ação, a qualidade do recurso e do serviço pode continuar a melhorar (zona G) até atingir um novo estado inicial que se mantém no futuro (zona H). A soma de F, G e H (zona entre o estado inicial e a curva referente ao serviço) corresponde ao ganho da reparação em serviços utilizado para compensar as perdas associadas ao local danificado.

Figura 5.1: Quantificação das melhorias previstas resultantes da reparação compensatória.

5.4.1 Determinação do grau de melhoria O processo para estimar o grau de melhoria, ou de crédito, é semelhante ao utilizado para estimar o grau dos danos, ou de débito. Devem identificar-se os benefícios que podem resultar do projeto de reparação. O grau de melhoria é calculado pela estimativa do valor das medidas atual e após a execução do projeto.

5.4.2 Determinação das curvas de recuperação O período e o grau de produtividade previstos para as ações de reparação, devem ser avaliados em função da medida escolhida. A estimativa da quantidade e da trajetória futura dos benefícios pode basear-se na informação disponível sobre projetos semelhantes, realizados em locais semelhantes. Pode ainda basear-se na literatura publicada, na utilização de modelos ou em critérios profissionais.

Para se estimar o tempo que os recursos ou habitats que foram objeto de reparação necessitam para fornecer todos os benefícios, pode recorrer-se à modelação. A prestação de serviços ecológicos pode ser restabelecida a um ritmo

Reparação

Início da ação

Fim da ação de reparação / Início da regeneração natural

Fim da regeneração

F

G F

Período

Serviços de recursos naturais

Estado inicial

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diferente da prestação de serviços de uso ou não-uso humanos. Assim, ambos devem ser considerados, a menos que tenha sido tomada uma decisão para só abordar um deles na análise de equivalência.

A estimativa da recuperação deve ter em conta os fatores de perturbação ambiental e os constrangimentos que podem afetar razoavelmente a taxa de recuperação, bem como as ações corretivas e de manutenção que podem ser realizadas para reforçar o êxito do projeto no futuro.

5.5 Tratamento das incertezas e dos resultados variáveis da análise de equivalência As fontes de incerteza associadas às análises de equivalência podem resultar da variabilidade e incerteza ambientais, da variabilidade e incerteza da medição, dos conhecimentos limitados em matéria de ecossistemas, da falta de dados (ou de dados imprecisos) mesmo quando os sistemas são conhecidos e compreendidos, ou de incertezas relacionadas com as decisões sociais, económicas ou políticas subjacentes. As incertezas podem verificar-se em qualquer fase da análise, por exemplo aquando da:

• estimativa das perdas (débitos) resultantes de danos e da estimativa dos benefícios resultantes de projetos de reparação (definição da escala);

• estimativa dos benefícios (créditos) resultantes de projetos de reparação; • execução dos projetos de reparação; • resolução de questões administrativas, jurídicas ou em matéria de políticas; • estimativa dos custos de reparação. A variação natural pode dificultar a definição e previsão das trajetórias de recuperação para muitos serviços de habitats (Strange et al., 2002). A complexidade inerente aos ecossistemas, saudáveis ou danificados, faz com que o resultado dos esforços de reparação seja ainda mais difícil de prever. Apesar de esta incerteza diferir de análise para análise (recurso-a-recurso, serviço-a-serviço e habitat-a-habitat), muitos dos fatores que podem influenciar o êxito da recuperação e da reparação podem ser desconhecidos ou pouco conhecidos.

A incerteza, a variabilidade e as probabilidades dos eventuais resultados associados a danos abrangidos pela DRA ou por qualquer outra diretiva devem ser tidas em conta na realização das análises de equivalência. Os elementos a ter em conta podem incluir:

• A identificação das principais fontes de incerteza; • A redução das incertezas na prática; • A incorporação quantitativa das incertezas através de análises de sensibilidade, simulações Monte Carlo ou

outras ferramentas digitais; e • A análise, a integração e a comunicação das incertezas na apresentação dos resultados. Durante o processo da avaliação de incertezas, pode recorrer-se a uma aplicação do cenário mais pessimista para assegurar a proteção dos ambientes afetados e do público (ver caixa 5.3).

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Caixa 5.3: Exemplo de caso: Análise do cenário mais pessimista. Durante a avaliação de um vasto local contaminado, a autoridade competente teve de tomar medidas para lidar com a incerteza associada à duração dos benefícios resultantes da reparação de zonas húmidas. Devido ao desenvolvimento industrial e das zonas residenciais, aos danos causados pelas tempestades e a outros fatores, os benefícios associados a um projeto de reparação de uma determinada zona húmida tinham uma duração incerta. O projeto poderia fornecer benefícios durante um período que podia ir de 15 a 50 anos. Verificou-se que a literatura científica disponível não era suficiente para conseguir reduzir o grau de incerteza. Para responder a essa incerteza na avaliação, a autoridade competente realizou uma análise do «cenário mais pessimista». Este tipo de análise avalia as informações disponíveis e interpreta-as da forma mais favorável à proteção dos recursos naturais e serviços. Recorrendo a esta abordagem, a autoridade competente conseguiu determinar que, no âmbito de uma interpretação do cenário mais pessimista, os benefícios teriam uma duração de aproximadamente 20 anos, o que permitiu que o projeto de reparação da zona húmida em causa fosse selecionado como projeto aceitável. Nas fases iniciais, pode recorrer-se a uma abordagem do valor da informação já na «avaliação preliminar», com o intuito de determinar se se deve proceder a investigações adicionais para reduzir as fontes de incerteza identificadas. Este enquadramento do valor de informação, formal ou informal, permite ponderar se os custos dos estudos adicionais se justificam, tendo em conta a provável melhoria em termos de precisão ou de fiabilidade da estimativa final. A análise das restantes incertezas pode variar desde a consideração qualitativa das fontes, à amplitude e evolução da incerteza, passando por simples análises de sensibilidade que identificam a extensão dos riscos eventuais, até abordagens probabilísticas sofisticadas que recorrem a técnicas de simulação do tipo Monte Carlo (Metropolis e Ulam, 1949; Kahneman e Tversky, 1982; Fishman, 1995)24.

24 Metrópole, N. e Ulam, S. (1949), «The Monte Carlo Method», Journal of the American Statistical Association, 44(247): pp. 335–341. Kahneman, D. e Tversky, A. (1982), Judgement under Uncertainty: Heuristics and Biases, Cambridge University Press, Cambridge. Fishman, G.S. (1995), Monte Carlo: Concepts, Algorithms, and Applications, Springer Verlag, New York.

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6. DEFINIÇÃO DA ESCALA DAS REPARAÇÕES COMPLEMENTAR E COMPENSATÓRIA

Esta é a etapa 4 da avaliação dos danos e da análise de equivalência de recursos (ver a figura a 3.1). A definição da escala na análise de equivalência é o processo que determina a quantidade de reparação complementar ou compensatória necessária para compensar os danos causados aos recursos naturais e/ou serviços. A quantidade de reparação complementar ou compensatória necessária depende dos benefícios resultantes da reparação primária. Para definir uma escala é necessário calcular os ganhos (créditos) para todas as opções de reparação relevantes e elaborar uma escala (débito total dividido pelos créditos por unidade). O princípio da definição da escala mantém-se o mesmo, independentemente da medida utilizada (por exemplo, a dimensão e a qualidade do habitat para a análise de equivalência dos habitats, ou o valor monetário para a análise de equivalência valor-a-valor), desde que seja utilizada a mesma medida tanto para o cálculo do crédito como para o do débito. Aquando da definição da escala para a reparação complementar ou compensatória necessária, calculam-se os créditos resultantes de um projeto de reparação para que a quantidade de reparação fornecida possa ser ajustada de forma a compensar a quantidade ou a dimensão dos danos causados ao ambiente. A nível teórico, a ideia é que as perdas maiores devem ser compensadas por quantidades maiores de reparação e as perdas menores devem ser compensadas por quantidades menores de reparação. A possibilidade de ajustar a quantidade da reparação é fundamental para o processo da análise de equivalência.

A definição de escalas inclui quatro sub-etapas:

• Cálculo dos ganhos por unidade (créditos) proporcionados pelos projetos de reparação selecionados. Este cálculo pode incluir, por exemplo, a melhoria dos serviços de habitats por hectare de terreno reparado (Análise de Equivalência de Habitats) ou a melhoria na experiência de pesca por saída de pesca (Análise de Equivalência Valor-a-Valor).

• Definição da escala da reparação, ou seja, o processo de determinação da quantidade de reparação a fornecer. É igual ao débito total dividido pelos créditos por unidade.

• Estimativa dos custos das opções de reparação, muitas vezes realizada por unidade, para projetos ajustáveis em termos de dimensão. Esta fase pode também ser útil na comparação dos custos de todas as alternativas, especialmente quando os custos são apresentados em termos do benefício por unidade.

• Ponderação dos custos desproporcionados para determinar se os custos estimados da reparação podem ser desproporcionados em relação aos benefícios de reparação obtidos.

A caixa 6.1 apresenta um exemplo simples.

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Caixa 6.1: Exemplo de caso: Exemplo simples de definição de escala.

Através do desenvolvimento da avaliação dos danos, a autoridade competente levou a cabo uma análise de equivalência recurso-a-recurso para águas subterrâneas. A autoridade conseguiu apurar que, após a contabilização dos benefícios da reparação primária, ocorreram 450 anos-descontados-por-hectare.metro de débito de águas subterrâneas. Além disso, a autoridade determinou que os projetos de reparação compensatória para as águas subterrâneas a implementar deveriam também descontaminar as águas subterrâneas noutro local. Cada hectare.metro de água subterrânea descontaminada proporcionaria 25 anos-por-hectare.metro de benefícios.

Para definir a escala dos projetos de reparação devem dividir-se os débitos totais dos 450 anos-descontados-por-hectare.metro pelos 25 anos-por-hectare.metro/hectare.metro de benefícios do projeto de reparação. Isto resulta na necessidade de descontaminar 18 hectares.metro de águas subterrâneas como medida de reparação complementar.

6.1 Cálculo dos ganhos (créditos) por unidade Os créditos podem ser calculados tanto como créditos totais da reparação ou como quantidade de créditos por unidade de opção de reparação. O cálculo de créditos por unidade diz respeito à quantificação dos ganhos de serviços de um projeto de reparação, expressos por unidade de serviço, recurso, habitat ou valor a reparar. Se as opções de reparação forem divididas em quantidades de unidades mensuráveis, a dimensão total da reparação pode ser adaptada à extensão dos danos. Por exemplo, no caso de uma análise serviço-a-serviço, os créditos por unidade seriam definidos com base no ganho de serviços de habitats por hectare (por exemplo, os Anos-de-serviço-de-hectare-descontados [ASHD] por hectare de reparação do habitat).

6.1.1 Créditos por unidade: abordagem teórica com uma medida não-monetária A informação necessária para a avaliação de créditos por unidade é semelhante à informação relativa aos cálculos do débito e do crédito, referida nos pontos 4 e 5. Por exemplo, alguns dos indicadores são os mesmos (por exemplo, a medida para determinar a variação dos níveis do recurso ou do serviço, a taxa de desconto e o ano de base); existem outros indicadores muito semelhantes a nível teórico (por exemplo, o grau de ganho no cálculo do crédito é análogo ao grau de perda no cálculo do débito). Os indicadores para o cálculo são:

• Ano de início. O ano em que o projeto de reparação começa a fornecer benefícios ambientais.

• Ano de termo. O ano em que o projeto de reparação deixa de proporcionar benefícios ambientais. Em alguns casos, os projetos podem fornecer benefícios por tempo indeterminado. No entanto, através de uma taxa de desconto, é possível determinar os benefícios finitos fornecidos nesses casos.

• Uma unidade. Representa a unidade de reparação que pode ser ajustada para compensar os danos. Pode representar um hectare de habitat ou um recurso, como um peixe ou ave, etc. No âmbito deste cálculo, a unidade é sempre definida por 1, porque a estimativa dos créditos é realizada «por unidade».

• Multiplicador de valor atual. Este multiplicador representa a diferença temporal entre o momento em que o dano ocorre e o momento em que a reparação complementar ou compensatória é iniciada. A taxa de desconto deve ser a mesma tanto para o cálculo do débito como para o do crédito (ver o ponto 4.8.).

• Grau de ganho. O grau de ganho descreve o mesmo conceito que o grau de perda no cálculo do débito. Porém, refere-se à melhoria proporcionada pelo projeto de reparação e não aos danos causados pelo incidente.

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• Medida. A medida (não-monetária) utilizada para determinar o ganho deve ser igual à medida utilizada na estimativa do débito total.

• Estado inicial. As condições em que se encontraria o recurso e/ou serviço se o dano não tivesse ocorrido. A percentagem do ganho de serviços deve ser relativa ao estado inicial do recurso (tal como a percentagem de perda de serviços no cálculo do débito).

• Ano de base. O ano de referência para efeito de cálculo do valor atual. O ano deve sempre corresponder ao ano de base utilizado nos cálculos do débito.

O exemplo ilustrativo do quadro 6.1 mostra como são efetuados estes cálculos numa típica Análise de Equivalência de Habitats. Os cálculos seriam muito semelhantes numa Análise de Equivalência de Recursos (AER) e, portanto, não são indicados abaixo. Os dados adicionais que contextualizam o presente quadro são apresentados na caixa 6.1.

Quadro 6.1: Exemplo ilustrativo dos cálculos de créditos por unidade recorrendo a uma medida não-monetária

Ano Unidade

número de hectares

Grau de ganho, aumento de espécies no

sítio (%)

Fator multiplicador

de valor atuala

Crédito por unidadeb

ASHD

(a) (b) (c) (d) = (a) × (b) × (c)

2014 1 10 0,94 0,09 2015 1 20 0,92 0,18 2016 1 30 0,89 0,27 2017 1 40 0,86 0,35 2018 1 50 0,84 0,42

.

. .

. . .

.

. 2065 1 50 0,21 0,10 2066 1 50 0,20 0,10 2067 1 50 0,20 0,10 2068 1 50 0,19 0,10

Crédito por hectare de terreno reparado 12.08 a. Fator multiplicador de valor atual = 1 / (1 + taxa de desconto) (ano-ano de base). Neste caso, a

taxa de desconto é de 3 % e o ano de base é 2012. b. O crédito por unidade é calculado através da multiplicação do ganho de serviços (%) pelo

fator multiplicador de valor atual para cada unidade e para cada ano do projeto.

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6.1.2 Créditos por unidade: abordagem teórica com uma medida monetária No âmbito da abordagem valor-a-valor, se o valor de uso for o componente principal, os créditos por unidade podem ser utilizados para a definição da escala.

Alguns dos indicadores utilizados são iguais aos utilizados no cálculo do débito (por exemplo, a medida monetária para determinar as variações, a taxa de desconto e o ano de base), enquanto outros são muito semelhantes a nível teórico (por exemplo, as unidades de ganho em uso humano utilizadas nos cálculos do crédito são análogas às unidades de perda em uso humano utilizadas nos cálculos do débito). Uma diferença fundamental é a inclusão do pressuposto «grau de ganho em valor económico». Este pressuposto final é necessário no âmbito do crédito, sempre que se utiliza uma medida monetária, porque traduz os ganhos de recursos no montante monetário (valor) associado a essa alteração. Os indicadores utilizados na presente fórmula incluem os seguintes elementos:

• Ano de início. Como descrito supra.

• Ano de termo. Como descrito supra.

• Uma unidade. Representa a unidade de reparação que pode ser ajustada para compensar os danos. Normalmente, representa uma unidade de uso pelas pessoas (por exemplo, uma saída de pesca, uma saída de barco, um dia de lazer na praia).

• Grau do ganho em uso humano. A melhoria associada ao uso humano de um recurso natural, após a execução de um projeto de reparação. Por exemplo, se o uso humano principal é a pesca, a melhoria pode estar relacionada com o aumento do número de peixes capturados (ou o tamanho do peixe) num determinado lago após a execução do projeto de reparação (por exemplo, a melhoria do habitat).

• Grau do ganho em valor económico. O aumento do valor associado ao uso humano de um recurso natural após a execução de um projeto de reparação. Traduz o grau do ganho em uso humano em termos de benefício económico (determinado por meio da nossa medida monetária). Se o uso humano principal é a pesca, pode referir-se ao aumento do valor que um pescador associa a uma saída de pesca realizada após a execução de um projeto de reparação num determinado local.

• Multiplicador de valor atual. Como descrito supra.

Os pressupostos adicionais que não estão explícitos no exemplo acima apresentado, mas que são indicadores importantes para este cálculo, incluem os seguintes elementos:

• Medida. A medida (não-monetária) utilizada para determinar o ganho, deve ser igual à medida utilizada na estimativa dos débitos totais (consultar o ponto 4 relativo à seleção das medidas).

• Estado inicial. Como descrito supra.

• Ano de base. Como descrito supra.

6.2 Definição da escala da reparação É definida uma escala da reparação para que os benefícios da reparação em causa (créditos) sejam iguais aos danos (débitos) causados pelo incidente. O objetivo é determinar a quantidade de reparação necessária, utilizando uma medida não monetária (AEH ou AER) ou uma medida monetária (AEV). Os indicadores para esta estimativa são os débitos totais e os créditos por unidade. No caso de uma AEV que se baseie numa abordagem

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de equivalência entre valor e custo, o único indicador é o débito total. Está disponível infra uma descrição relativa à definição da escala de reparação para cada tipo da análise de equivalência.

A definição da escala de reparação é um processo simples. Os danos (custos) e a reparação (benefícios) devem ser medidos através da mesma medida (por exemplo, serviços de habitats, unidades de recurso ou valor monetário). A reparação é determinada com base na medida por unidade disponível. Assim, a divisão dos custos totais pelos benefícios por unidade anula a unidade de medida. Esta situação é ilustrada nos exemplos infra.

Escala da reparação

= débitos totais ÷ benefício da reparação por unidade

= número de unidades de reparação a fornecer

No caso de uma medida monetária que recorre a uma abordagem de valor-a-valor, o número de unidades de reparação a fornecer corresponde ao valor que está associado ao aumento do uso humano (por exemplo, o número de dias de utilizador)25 proveniente do projeto de reparação (recorde-se que o projeto de reparação deve compensar o valor dos danos). Deste modo, a autoridade competente e/ou o operador responsável têm de realizar um projeto de reparação que seja suficiente para assegurar que o valor do ganho é igual ao valor da perda.

Caixa 6.2: Exemplo de caso: Definição da escala da reparação com uma medida não-monetária No exemplo simples do ponto 4, assumiu-se que 100 hectares de terreno tinham sido danificados, resultando numa perda de serviços de habitats. Estimou-se que os débitos totais tinham sido de 319,5 anos-de-serviço-de-hectare-descontados (ASHD) (ponto 4.9). No quadro 6.1, assumiu-se que um projeto de reparação podia melhorar os serviços de habitats num local próximo. As melhorias de habitat (créditos) são identificadas por ecologistas e biólogos. O objetivo é realizar uma estimativa dos créditos por unidade e utilizar essa informação para determinar a escala da reparação. Depois da descrição de cada indicador, apresentamos os pressupostos hipotéticos para o nosso exemplo ilustrativo.

• Ano de início. Assume-se que os benefícios da reparação começam a ser realizados em 2014.

• Ano de termo. Assume-se que os benefícios deixarão de ser fornecidos em 2068.

• Unidade. Trata-se de definir a escala em termos de hectares de serviços de habitats (ou seja, unidade = hectare).

• Grau de ganho. Trata-se de determinar um ganho em serviços de habitats resultante do projeto de reparação, com base na nossa medida e no estado inicial: assume-se um aumento de 50 % do número de espécies relativamente ao estado inicial. Presume-se que este ganho se verificará, de forma gradual, nos primeiros cinco anos, de 2014 a 2018, prosseguindo com um aumento constante de 50 % durante os próximos 50 anos (momento em que o aumento do número de espécies será restituído ao estado inicial).

• Multiplicador de valor atual. Assume-se uma taxa de desconto de 3 %.

25 Consoante o recurso, o número de dias de utilizador pode representar as saídas de pesca a um rio, o número de dias de navegação num lago ou o número de visitas de lazer a uma praia. A prova de valor não se limita às utilizações de lazer. Consoante o tipo de danos, podem ser usadas outras unidades (por exemplo, impactos sobre a saúde, valores das colheitas, etc.).

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• Medida. A medida não-monetária é igual à que foi utilizada no cálculo do débito: hectares de serviços do habitat, quantificados pelo número de espécies no local.

• Estado inicial. Assume-se que o estado inicial é o mesmo que foi definido para o cálculo do débito, o que implica que o grau de ganho seja relativo a essa situação inicial.

• Ano de base. Assume-se que 2012 é o ano de base para a análise (igual ao do cálculo do débito), o que significa que o multiplicador de valor atual é igual a 1 nesse mesmo ano.

O quadro 6.1 mostra como seriam calculados os créditos por unidade de 1 hectare de terreno que prestasse serviços de habitats durante 55 anos. O crédito por unidade é simplesmente o grau de ganho multiplicado pelo fator de valor atual (multiplicado por 1 unidade). As linhas são somadas ao longo dos anos para se obter o total do crédito por unidade durante o período de vida do projeto de reparação.26 Assim, o aumento dos serviços de habitats (em relação ao estado inicial), medido em valor atual (2012), resultante do projeto de reparação é de 12,08 ASHD por hectare de habitat reparado. Portanto, os benefícios ambientais totais decorrentes do projeto de reparação proposto são de 12,08 ASHD por unidade (ou seja, por hectare).

A definição da escala de reparação exige que os débitos totais sejam divididos pelos créditos por unidade. Assim, para compensar a perda total de 319,5 ASHD através do projeto de reparação que serviu de exemplo, seriam necessários 26,5 hectares de reparação.

Escala da reparação

= 319,5 ASHD ÷ 12,08 ASHD por (1) hectare

= 319,5 ASHD × por (1) hectare/12,08 ASHD

= 26,5 hectares (unidades) de reparação a fornecer

Por conseguinte, o número de anos de hectare a fornecer anualmente, isto é, reparados no ano em curso e disponibilizados durante 55 anos, que vai compensar a perda provisória total de habitats é de, aproximadamente, 26,5 hectares. Seguidamente, descrevemos de que forma as unidades de medida se anulam neste cálculo, o que nos fornece o total de hectares a reparar.

Caixa 6.3: Exemplo de caso: Definição da escala da reparação com uma medida monetária

No exemplo simples da análise de equivalência valor-a-valor apresentado no ponto 4.9, assume-se que uma zona de pesca conhecida foi contaminada por uma libertação química, que resultou na perda de 600 saídas de pesca e numa 26 Se os benefícios tivessem sido concedidos indefinidamente, o fator de valor atual tornar-se-ia - cerca de 100 anos depois - inferior a 0,01. Na prática, isto significa que os benefícios esperados até daqui a 100 anos e posteriormente são praticamente nulos. Assim, podemos ainda estimar um crédito por unidade de valor finito para os projetos de reparação com benefícios permanentes.

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redução da atividade para 100 saídas de pesca que foram ainda realizadas. De acordo com os pressupostos, calculou-se que o débito total representava um valor de perda descontado (VPD) de 18.937 €.

Recorrendo à abordagem da equivalência entre valor e custo, a definição da escala deveria ser efetuada do seguinte modo: a autoridade competente recupera os 18.937 € junto do operador responsável, utilizando-os depois na execução de ações de reparação compensatória. Estas ações podem incluir a criação de peixes em incubadoras, a melhoria do acesso público às zonas de pesca ou melhorias de habitat que visam progressos na atividade da pesca (por exemplo, melhorar a taxa de captura). Acima de tudo, ao definir a escala da reparação, será necessário ter em conta que o custo total não deve ser superior a 18.937 €. Por outras palavras, a abordagem de equivalência entre valor e custo garante a equivalência entre os débitos e os créditos, pressupondo que o custo da reparação é igual aos débitos totais.

Se se utilizasse a abordagem de equivalência valor-a-valor, a reparação teria uma escala diferente. Nesse caso, a autoridade competente recuperaria também as verbas a aplicar no mesmo tipo de ações de reparação (por exemplo, a criação de peixes em incubadoras, a melhoria do acesso público a zonas de pesca ou melhorias de habitat que aumentam a taxa de captura). No entanto, a quantidade de verbas utilizadas nesta reparação baseia-se agora no valor que os pescadores de pesca à linha retiram do projeto de reparação proposto e não no valor dos danos. Por outras palavras, a abordagem da equivalência valor-a-valor garante a equivalência entre os débitos e os créditos, pressupondo que o montante da reparação deve basear-se no aumento do valor fornecido pelo projeto de reparação.

6.3 Estimativa dos custos das opções de reparação A DRA exige que as autoridades competentes recuperem dos operadores responsáveis os seguintes tipos de custos:

• Custos da avaliação dos danos ambientais, ou da ameaça iminente de tais danos, e das opções de reparação; • Custos administrativos, legais e de execução; • Custos relativos à recolha de dados, outros custos gerais, custos de acompanhamento e supervisão; e • Custos de reparação.

Neste caso, a questão central é o custo do projeto de reparação devido à sua importância na comparação das diferentes opções de reparação.

6.3.1 Componentes dos custos da reparação Os custos da reparação incluem os seguintes componentes:

• Conceção do projeto (incluindo a conceção científica ou técnica, licenciamento, levantamento de dados e outros custos relativos à conceção);

• Execução do projeto; • Administração do projeto; • Operações e manutenção; • Despesas relativas ao acompanhamento e à apresentação de relatórios; e • Custos relativos à supervisão por parte da autoridade competente.

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Os custos dos projetos de reparação são específicos a cada projeto. O quadro 6.2 apresenta, porém, algumas considerações gerais sobre os potenciais componentes dos custos, que podem ajudar a evitar a subestimação ou a sobrestimação dos custos reais da reparação.

Note-se que, no caso da abordagem de equivalência entre valor e custo, o custo dos danos é definido como orçamento da reparação que deverá ser gasto nos componentes dos custos acima enumerados.

Quadro 6.2: Componentes de custo importantes na estimativa dos custos da reparação Categoria de custos Descrição Planeamento Planeamento e conceção do projeto de reparação. Inclui igualmente os inquéritos preliminares

ecológicos (ou económicos) para determinar a extensão dos danos (ou a perda de valor ou de bem-estar) e os inquéritos ecológicos (ou económicos) para contabilizar ou avaliar os dados após o derrame (ou a perda de valor ou de bem-estar). Este componente do custo pode ser subdividido em: • Conceção inicial, levantamento de dados e plano de preparação - Os aspetos do trabalho que

são necessários para preparar um plano de reparação final executável. Devem também incluir os custos da análise de equivalência recurso-a-recurso; e

• Preparação do plano final - Preparação de um plano de reparação final, que inclui, se necessário, quaisquer observações e sensibilizão do público, desenhos de conceção, modelos de engenharia, resultados da pesquisa, calendários de mobilização e outros elementos necessários.

Aquisição de licenças A aquisição de qualquer acesso legal necessário, requisitos de licenciamento ou outras obrigações que possam ser necessárias para a realização das ações de reparação.

Aquisição de terrenos

Os custos relativos à aquisição de terrenos podem abranger quaisquer custos que sejam necessários para adquirir servidões de propriedades, direitos de utilização ou outros instrumentos legais necessários para realizar as ações de reparação e operações subsequentes, o acompanhamento ou as ações de gestão adaptativa.

Execução Os custos relativos à execução abrangem os elementos fundamentais da execução da reparação, como o desenvolvimento do trabalho, dos materiais, os transportes e infraestruturas, a gestão e supervisão do local, bem como os aprovisionamentos necessários durante o processo de execução.

Funcionamento e manutenção

Os custos relativos às operações e manutenção abrangem todos os custos necessários para realizar e gerir o projeto, incluindo mão de obra, equipamentos, materiais e fornecimentos necessários para as operações em causa. Este componente é muitas vezes expresso como custo anual de funcionamento e/ou manutenção da atividade realizada (por exemplo, a remoção anual de sedimentos dos sistemas de drenagem).

Supervisão Os custos de supervisão abrangem qualquer custo associado à supervisão necessária de projetos de reparação por parte das autoridades competentes. Este componente do custo abrange, normalmente, o custo da mão de obra e as despesas gerais administrativas ou seja, o custo adicional (além do custo da mão de obra) decorrente do curso funcionamento da organização (renda, comunicações, serviços públicos, licenças, seguros, etc.).

Acompanhamento e apresentação de relatórios

Os custos relativos ao acompanhamento e à apresentação de relatórios abrangem todos os custos necessários no âmbito do acompanhamento e da apresentação de relatórios, incluindo custos de mão ed obra, materiais, fornecimentos e divulgação da informação.

Custos imprevistos O componente de custos imprevistos abrange todos os custos de contingência necessários e adequados, que se aplicam às incertezas associadas à execução de projetos de reparação. Abrange os acontecimentos inesperados/aleatórios que implicam um aumento dos custos reais, para além dos custos previstos (por exemplo, condições climatéricas desfavoráveis). Este componente do custo consiste, muitas vezes, numa percentagem fixa que é adicionada à melhor estimativa do custo (por

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exemplo, todos os custos acima mencionados). É comum adicionar-se entre 20 % a 40 % dos custos totais estimados para «custos de contingência».

6.3.2 Estimativa dos custos da reparação A estimativa dos custos requer uma atitude diligente por parte dos gestores do projeto de reparação de gestão, de modo a assegurar que são abrangidas todas as categorias de custos. É importante que os cientistas e engenheiros responsáveis pela conceção do projeto, contribuam para, ou pelo menos verifiquem, as estimativas dos custos.

As informações sobre os custos podem geralmente ser obtidas através de:

• Elaboração de custos de reparação específicos para cada sítio;

• Aquisição de custos representativos de projetos semelhantes (não esquecendo as potenciais diferenças relacionadas com a localização do sítio, os fatores económicos locais e a semelhança dos recursos ou dos projetos); e

• Outros fatores que podem influenciar as variações nos custos do projeto ou debates com peritos em reparação ecológica e conceção de projetos de engenharia.

O quadro 6.3 apresenta exemplos de custos de reparação. No âmbito do plano de ação no domínio da biodiversidade do Reino Unido, foram estimados os custos relativos à criação de uma série de diferentes tipos de habitats. Estes exemplos foram elaborados a partir de estudos de caso e entrevistas com especialistas nacionais. Os custos relativos à gestão, reabilitação e criação de habitats aparecem resumidos para os habitats em causa. Os custos variam entre 15 000 libras esterlinas/hectare, para o custo do capital necessário à criação de pântanos salgados (principalmente para aquisição de terrenos), e menos de 350 libras/hectare, para a criação de planícies e charnecas (além dos custos anuais de gestão, no valor de 450 libras esterlinas/hectare/ano) (GHK, 2006)27.

Note-se que a incerteza, no âmbito dos componentes dos custos estimados, não é abordada detalhadamente no presente documento. No entanto, a abordagem habitual, que consiste em acrescentar uma taxa de contingência fixa aos custos relativos ao acompanhamento e à supervisão, é debatida no ponto 4.2.3 do documento técnico n.º 99-1 da NOAA (1999)28. De igual modo, Diekmann e Featherman (1998)29 analisam possíveis formas de avaliar o custo da incerteza.

6.3.3 Custos desproporcionados O anexo II, ponto 1.3.3, alínea b), da Diretiva Responsabilidade Ambiental estabelece que, não obstante as normas previstas no ponto 1.3.2 da DRA e nos termos do n.º 3 do artigo 7.º da mesma diretiva, a autoridade competente tem o direito de decidir não tomar outras medidas de reparação se «o custo das medidas de reparação que deviam ser tomadas para atingir o estado inicial ou um nível similar for desproporcionado em relação aos benefícios ambientais a obter».

27 GHK (2006), «UK Biodiversity Action Plan: Preparing Costings for Species and Habitat Action Plans». Relatório para o Defra e parceiros. 28 NOAA (1999), Discounting and the Treatment of Uncertainty in Natural Resource Damage Assessment, Documento técnico 99-1, Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (National Oceanic and Atmospheric Administration - NOAA). 29 Diekmann, J.E. e Featherman, W.D. (1998), Assessing Cost Uncertainty: Lessons from Environmental Restoration Projects, Journal of Construction Engineering and Management 124(6): pp. 445-451.

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O artigo 4.º da Diretiva-Quadro Água (DQA) prevê uma norma de isenção semelhante. Porém, a grande diferença é que esta diretiva não especifica que os benefícios ambientais devem servir de referência. Em termos práticos, a interpretação do que se entende por custos desproporcionados em ambas as diretivas continua a ser controversa: os custos são considerados desproporcionados em relação a quê?; como deve ser medida a desproporção?; e qual é o limiar da desproporção? O conceito de desproporção é analisado infra, com exemplos baseados em trabalhos relacioandos com a DQA. Note-se que, no contexto da DRA, as questões são basicamente as mesmas.

Os dois principais critérios de avaliação da desproporção são:

• A desproporcionalidade dos custos em relação aos benefícios: neste caso, os custos são considerados desproporcionados se excederem os benefícios monetariamente quantificados, resultantes da obtenção do «bom estado», por exemplo, de uma massa de água (ou, eventualmente, se os custos ultrapassarem os benefícios por uma certa «margem de segurança»). Assim, a avaliação dos custos desproporcionados para justificar a isenção não deve ser considerada como uma análise custo-benefício ex-post dos objetivos da DQA.

• A repartição dos custos por diferentes intervenientes e respetiva capacidade de pagamento: neste caso, os custos são desproporcionados se criarem um encargo inaceitável para um determinado interveniente ou grupo de intervenientes. Isto pode também acontecer se a repartição dos custos pelos intervenientes não se coadunar com os contributos desses mesmos intervenientes para resolver o problema ou se os custos adicionais recaírem sobretudo nos intervenientes que já tenham levado a cabo esforços de redução significativos.

Uma questão que ainda se coloca é se deve existir qualquer tipo de hierarquia entre os dois tipos de critérios. Essa hierarquia parece ter ponderada no influente documento de orientação do Grupo de Trabalho da UE em matéria da Água e Economia, que sugere uma comparação custo-benefício (com algumas restrições) enquanto critério suficiente, e a capacidade de pagamento dos intervenientes (que os decisores «podem também ter em conta») como um critério necessário (WATECO, 2003).

O quadro 6.3 apresenta alguns exemplos de custos retirados dos planos de ação no domínio da biodiversidade do Reino Unido, que podem ser úteis na estimativa de alguns custos de reparação.

Quadro 6.3: Estimativas de custos indicativas para os planos de ação no domínio da biodiversidade do Reino Unido (GHK, 2006).

Gestão £/ha/ano

Reabilitação Criação/Expansão

Florestas nativas 75 custo de capital de 3000 libras esterlinas por

hectare

capital de 1500 libras esterlinas por hectare + 200 libras esterlinas por hectare

ao ano, durante dez anos Charnecas secas europeias

200 custo de capital de 350 libras esterlinas por

hectare

custo de capital de 350 libras esterlinas por hectare + 450 libras esterlinas por hectare

ao ano Turfeiras ondulantes 150 4975 libras esterlinas por

hectare + custos anuais de 150 libras esterlinas por

hectare ao ano

custo de capital de 815 libras esterlinas por hectare + custos anuais de 380 libras

esterlinas por hectare ao ano

Prados salgados 200 200 libras esterlinas por hectare ao ano

custo de capital de 1280 libras esterlinas por hectare + custos anuais de 315 libras

esterlinas por hectare ao ano Prados calcários 200 custo de capital de 2063

libras esterlinas por custo de capital de 2100 libras esterlinas por hectare + custos anuais de 280 libras

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hectare + custos anuais de 200 libras esterlinas por

hectare ao ano

esterlinas por hectare ao ano

Prados de feno pobres de baixa altitude

200 custo de capital de 830 libras esterlinas por

hectare + custo anual de 200 libras esterlinas por

hectare ao ano

Custo de capital de 920 libras esterlinas por hectare + custos anuais de 280 libras

esterlinas por hectare ao ano

Canaviais 60 custo de capital de 817 libras esterlinas por

hectare + custos anuais de 60 libras esterlinas por

hectare ao ano

Custo de capital de 1361 por hectare + custos anuais de 380 libras esterlinas por

hectare ao ano

Regatos 15.000 libras esterlinas por quilómetro

Sapais 51 15.000 por hectare

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7. ACOMPANHAMENTO E APRESENTAÇÃO DE RELATÓRIOS

Esta é a etapa 5 da avaliação dos danos e da análise de equivalência recurso-a-recurso (ver a figura 3.1). O presente ponto descreve o desenvolvimento de quadros de acompanhamento e de potenciais abordagens para a apresentação de relatórios.

O desenvolvimento de planos de acompanhamento permite à autoridade competente saber se os projetos de reparação foram realizados como planeado e se proporcionaram os recursos naturais e/ou os benefícios pretendidos em termos de serviços. Os planos de acompanhamento detalhados permitem também que a autoridade competente, ou as organizações que estão a realizar os projetos, avaliem ações corretivas que possam ser necessárias.

Embora não seja um elemento da análise de equivalência per se, o acompanhamento e a apresentação de relatórios em matéria de progressos e eficácia devem fazer parte integrante de uma avaliação global da responsabilidade ambiental. Entre as principais etapas da fase de acompanhamento e apresentação de relatórios de um projeto contam-se o planeamento e a execução da reparação, o acompanhamento e a apresentação de relatórios.

7.1 Seis tipos de acompanhamento das ações de reparação Em geral, podem realizar-se seis tipos de planos de acompanhamento de ações de reparação (Roni, 2005)30:

• Acompanhamento do estado inicial a fim de caracterizar as condições biológicas, químicas ou físicas existentes (pré-reabilitação) que podem ser utilizadas tanto para o planeamento da reabilitação, como para comparações futuras;

• Acompanhamento do estado a fim de caracterizar as diferentes condições biológicas, químicas ou físicas de uma determinada área, num determinado período;

• Acompanhamento da evolução para determinar de que forma condições se vão modificando ao longo do tempo;

• Acompanhamento da execução para determinar se um projeto foi executado conforme planeado; • Acompanhamento de eficácia para determinar se um projeto teve os efeitos pretendidos no habitat, nos

processos físicos ou nas condições das bacias hidrográficas; e • Acompanhamento da validação para avaliar se os efeitos quantificados, verificados no habitat, nos processos

físicos ou nas condições das bacias hidrográficas, resultaram efetivamente das ações de reparação. Portanto, o acompanhamento da validação avalia se a relação teórica hipotética entre as ações de reparação e os resultados previstos estava ou não correta. Visto que, geralmente, são necessários esforços de amostragem intensivos (e, consequentemente, onerosos) para esta categoria, o acompanhamento da validação só é proposto quandoum projeto não está a cumprir os critérios e quando as razões do insucesso não são claras.

30 Roni, P. (Editor) 2005, Monitoring stream and watershed restoration, American Fisheries Society, Bethesda, Maryland.

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O acompanhamento permite igualmente avaliar se as partes responsáveis pela execução estão a cumprir o compromisso que assumiram no plano de reparação. Os critérios de conceção e desempenho incluídos nos planos de reparação podem ajudar as autoridades competentes a avaliar se as partes responsáveis cumprem ou não os requisitos estabelecidos durante a execução.

A medida utilizada originalmente para quantificar o débito e o crédito deve continuar a ter uma importância considerável no momento da avaliação do êxito do projeto e dos benefícios alcançados. Normalmente, o acompanhamento e a posterior apresentação de relatórios constituem uma parte essencial dos planos de reparação.

Devem ser elaborados quadros de acompanhamento para cada um dos projetos de reparação selecionados. O acompanhamento deve ser suficiente para quantificar os ganhos da reparação, em comparação com as medidas de avaliação que foram utilizadas para elaborar o plano de reparação. No entanto, o acompanhamento pode consistir em muitos tipos de ações diferentes:

• O acompanhamento químico dos meios (água, ar, solo, sedimentos) e da fauna (por exemplo, tecidos de peixes); • O acompanhamento biológico de indivíduos, populações, comunidades ou habitats; • O acompanhamento físico e hidrológico de características específicas (por exemplo, as taxas de acréscimo de

sedimentos, fluxos de água, etc.); e • O acompanhamento centrado em medidas específicas programáticas ou em medidas de desempenho (por

exemplo, a biomassa da vegetação que permanece à superfície do solo em zonas húmidas; as concentrações da escorrência de contaminantes, hectares colocados em servidões de conservação, etc.).

Os planos de acompanhamento devem ser elaborados de modo a considerarem um leque razoável de variabilidade natural, incluindo fatores como as variações sazonais em hidrogramas, migrações da fauna selvagem, períodos de crescimento, marés e potenciais usos humanos. A conceção dos planos de acompanhamento deve ter uma base estatística, sendo dada a devida atenção à necessária capacidade para detetar as alterações entre as variáveis ambientais. Por último, todo o acompanhamento deve ser levado a cabo em conformidade com os planos de amostragem e análise, aprovados e concebidos cientificamente. É importante ter em conta que os custos do acompanhamento, incluindo a apresentação de relatórios, devem ser incorporados nos custos da reparação.

7.2 Calendário das ações de acompanhamento O acompanhamento deve ser realizado em intervalos regulares, os quais são determinados com base em fatores biológicos, químicos, físicos, sociais ou económicos fundamentais para a determinação do êxito.

O acompanhamento deve ser levado a cabo antes, durante e após a execução dos planos de reparação. Na elaboração dos quadros de acompanhamento, deve ser incorporada a calendarização das diferentes ações de acompanhamento. Os períodos em que as ações de acompanhamento específicas devem ser realizadas, no que respeita à execução das ações de reparação, são os seguintes:

• Acompanhamento do estado inicial

o Antes da execução da ação de reparação

• Acompanhamento da execução

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o Durante as ações de reparação

• Acompanhamento do estado

o Desde o início das ações de reparação até ao momento em que se atingem os objetivos de conceção/funcionamento

• Acompanhamento de evolução

o Durante o período em que começam a surgir os benefícios das ações de reparação

• Acompanhamento da eficácia

o Periodicamente, durante o ciclo de vida das ações de reparação

• Acompanhamento da validação

o Em momentos de «validação» específicos, identificados no plano de reparação para avaliar se os efeitos verificados nas condições do habitat, dos processos físicos ou das bacias hidrográficas resultaram efetivamente das ações de reparação. Deste modo, é possível levar a cabo as ações de reparação, sempre que necessário.

7.3 Apresentação de relatórios A apresentação de relatórios caso a caso não é um requisito da DRA. Porém, visto que o acompanhamento e avaliação são os únicos meios mediante elos quais as autoridades competentes podem demonstrar que realizaram esforços de proteção dos recursos naturais do público, a apresentação de relatórios sobre os resultados do acompanhamento e da avaliação é fundamental. Logo, as autoridades podem desejar disponibilizar, para consulta pública, os relatórios de avaliação dos danos, a intervalos regulares e num formato acessível.

Os planos de acompanhamento devem prever também relatórios pós-acompanhamento. A apresentação de relatórios é um meio fundamental para:

• Comunicar ao público afetado os êxitos (e os insucessos) dos planos de reparação; • Comunicar ao público afetado as alterações necessárias à conceção do acompanhamento ou as taxas de

recuperação previstas; • Comunicar ao público afetado quaisquer riscos potenciais (ou ausência dos mesmos) para a saúde humana; • Contribuir para o conhecimento científico em matéria de eficácia da reparação e de taxas de recuperação.

Disponibilizados ou não ao público, os relatórios devem incluir uma descrição do projeto e dos seus objetivos, a trajetória prevista em termos de benefícios e de recuperação, os dados recolhidos no âmbito do acompanhamento, bem como uma síntese e interpretação desses mesmos dados. Quaisquer ações de reparação realizadas ou previstas devem constar do relatório, bem como o grau de restituição dos recursos e/ou serviços ao estado inicial e a trajetória de recuperação prevista.

Caixa 7.1: Quadro de acompanhamento pós-reparação.

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O acompanhamento pós-reparação é uma etapa essencial no processo de reparação. Um plano de acompanhamento pós-reparação eficaz ajuda a:

• Detetar problemas que podem ser corrigidos; • Quantificar os benefícios; e • Fornecer informações relativas aos benefícios da reparação que podem ser comunicadas aos decisores e ao

público. Antes da elaboração de um plano de acompanhamento pós-reparação, deve ser especificado o modelo teórico do projeto. Esse modelo deve definir de forma clara a ação de reparação, os resultados intermédios esperados e o percurso/processo mediante o qual os resultados intermédios atingirão os efeitos duradouros desejados.

Um quadro de acompanhamento eficaz tira partido do modelo teórico, de modo a fornecer informações importantes para cada etapa do processo de reparação. Idealmente, o quadro de acompanhamento deverá incluir o acompanhamento anterior à execução, para determinar as condições iniciais, e os locais de referência que serão objeto de acompanhamento juntamente com o local do projeto. Dado que as condições do estado inicial podem mudar ao longo do tempo (por exemplo, uma seca pode causar uma diminuição regional das populações de peixes), o acompanhamento às alterações das condições de referência permite proceder a ajustamentos adequados às condições do estado inicial.

Para cada etapa do quadro de acompanhamento, deve ser elaborado um plano que especifique quem é responsável pelo acompanhamento; a quem serão apresentados os resultados; qual o objetivo da etapa de acompanhamento em causa; as ações de acompanhamento a levar a cabo; a localização do acompanhamento; o calendário do acompanhamento; e quaisquer critérios de aferição que poderão dar origem a ações corretivas.

Visão geral das etapas de acompanhamento

Etapa 1: Acompanhar o local do projeto e os sítios de referência adequados para estabelecer as condições anteriores à execução.

Etapa 2: Acompanhar a ação em curso para determinar se a execução está a ser bem sucedida. Sempre que necessário, os resultados desta etapa devem dar origem a ações corretivas.

Etapa 3: Acompanhar a curto prazo (muitas vezes, 1 a 5 anos) o local do projeto e os sítios de referência, para determinar se a execução atingiu os resultados intermédios previstos. Sempre que necessário, estes resultados devem dar origem a ações corretivas.

Etapa 4: Acompanhar a longo prazo (geralmente, 3 a 10 ou mais anos) os resultados do projeto e os sítios de referência, para quantificar os resultados do projeto em relação às condições do estado inicial. Com base em alterações semelhantes ocorridas em sítios de referência, as condições do estado inicial devem ser adaptadas às alterações temporais.

Caixa 7.2: Acompanhamento/relatórios: «Rutura na barragem de rejeitos mineiros do vale K».

O acompanhamento anual foi realizado para avaliar o desempenho das ações de reparação primária e

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compensatória. O acompanhamento da reparação primária centrou-se na recuperação do coberto vegetal da zona húmida danificada. Previu-se uma amostragem sazonal anual por um período de 10 anos. O acompanhamento da reparação compensatória centrou-se na:

• Quantidade de truta marisca; • Qualidade de água; e • Qualidade dos sedimentos.

O acompanhamento anual da truta marisca foi realizado por meio de pesca elétrica nas zonas danificadas e reabilitadas, durante um período de dez anos. A amostragem da qualidade da água (na primavera e no outono) foi realizada em locais estratégicos das áreas afetadas, de modo a garantir a recuperação por um período de cinco anos, a menos que as condições indicassem o contrário. A amostragem de sedimentos (apenas no outono) foi levada a cabo nos mesmos locais em que foi realizada a amostragem da qualidade da água, de modo a garantir uma recuperação por um período de cinco anos, a menos que as condições indicassem o contrário. O acompanhamento dos critérios de desempenho e de recuperação da vegetação foi realizado relativamente à reparação primária de zonas húmidas, durante um período de dez anos. Todos os custos administrativos e de acompanhamento foram incluídos nos custos gerais da avaliação dos danos.

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ACRÓNIMOS / ABREVIATURAS AEH Análise de Equivalência de Habitats AER Análise de Equivalência de Recursos AEV Análise de Equivalência de Valores (D) AIA (Diretiva) Avaliação do Impacto Ambiental ASHD Ano-de-serviço-de-hectare descontado CE Comissão Europeia DAC Disponibilidade para Aceitar Compensação DAS Diretiva Aves Selvagens DH Diretiva Habitats DPP Disponibilidade para Pagar DQA Diretiva-Quadro Água DRA Diretiva Responsabilidade Ambiental IPPC Diretiva Prevenção e Controlo Integrados da Poluição OGM Organismos Geneticamente Modificados SIC Sítio de Importância Comunitária SICE Sítios de Interesse Científico Especial - zonas do património natural de habitats de

fauna e flora selvagens, de características geológicas e de relevos UE União Europeia ZEC Zonas Especiais de Conservação protegidas ao abrigo da Diretiva CE «Habitats» para a

conservação de habitats e espécies ZPE Zona de Proteção Especial

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GLOSSÁRIO Ameaça iminente Significa que existe uma probabilidade suficiente da ocorrência de um dano ambiental

num futuro próximo (artigo 2.º da DRA). A «probabilidade suficiente» e o «futuro próximo» são específicos de cada caso.

Aquífero Camada subterrânea de rochas permeáveis ou de materiais não-consolidados (cascalho, areia ou sedimentos) a partir da qual podem ser extraídas águas subterrâneas através de poços.

Autoridade competente Autoridade responsável pela aplicação da Diretiva Responsabilidade Ambiental. Avaliação do risco

Estimativa do risco calculada a partir da dimensão do risco potencial e da probabilidade de ocorrência desse risco.

Contaminação Substâncias presentes à superfície do solo, no solo ou abaixo do solo, suscetíveis de terem efeitos adversos.

Danos punitivos Danos que têm por objetivo alterar a conduta do arguido ou de terceiros que esteve na base do processo, ou impedir que o arguido ou terceiros adotem uma conduta semelhante àquela.

Danos significativos São específicos de cada caso. Os critérios para a determinação de danos significativos, no tocante à biodiversidade, estão disponíveis no anexo I da DRA, em conjugação com a Diretiva Habitats e com a Diretiva Aves; no tocante aos danos significativos causados à água, estão disponíveis na Diretiva-Quadro Água.

Disponibilidade para aceitar compensação

Disposição de uma pessoa para receber um determinado montante a título de compensação por tolerar um prejuízo (na qualidade e/ou quantidade ambiental) ou por renunciar a uma melhoria.

Disponibilidade para pagar Disposição de uma pessoa para pagar um determinado montante a fim de evitar um prejuízo (na qualidade e/ou quantidade ambiental) ou de garantir uma melhoria.

Estado inicial Qualidade e quantidade de recursos e/ou serviços que se verificaria se o incidente não tivesse ocorrido (no contexto da DRA).

Instrumento de direito administrativo

Instrumentos aplicados pelas autoridades públicas que têm de garantir a prevenção e reparação dos danos ambientais (ação em prol dos interesses ambientais).

Licença Licença concedida pela autoridade reguladora que permite o funcionamento de uma instalação regulamentada, sujeito a determinadas condições.

Massa de água Diz respeito a massas de águas de superfície ou subterrâneas, identificadas nos termos do artigo 5.º e do anexo II da Diretiva-Quadro Água.

Operador O operador de uma atividade é qualquer pessoa singular ou coletiva, privada ou pública, que a executa ou controla. Inclui o titular de uma licença ou autorização da atividade e a pessoa que regista ou notifica a atividade (dependendo da transposição da DRA pelo Estado-Membro).

Perda provisória Danos ocorridos entre o momento do incidente que causou o dano inicial e o momento em que os recursos/serviços danificados são restituídos ao estado inicial. Caso o estado inicial não possa ser realcançado (não obstante todos os esforços de reparação), a perda provisória será um dano perpétuo, ao qual a quantidade de reparação deverá corresponder.

Princípio do poluidor-pagador

Princípio jurídico e económico que exige que a parte ou partes responsáveis pela poluição sejam igualmente responsabilizadas pelo pagamento dos danos causados ao ambiente natural. Está consagrado no artigo 191.º, n.º 2, do TFUE.

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Reparação compensatória Ações de reparação efetuadas no sítio danificado, ou noutro local com os mesmos recursos/serviços que foram danificados, ou equivalentes, para compensar as perdas provisórias (não aplicável aos danos causados ao solo).

Reparação complementar Ações de reparação adicionais efetuadas noutro local, ou em recursos/serviços que diferem ligeiramente dos recursos/serviços danificados, com o objetivo de restituir ao estado inicial o recurso ou serviço afetado (não aplicável aos danos causados ao solo).

Reparação primária Ações de reparação desenvolvidas para restituir ao estado inicial os recursos naturais e/ou serviços danificados. A reparação primária pode incluir:

• Ações imediatas, desenvolvidas para pôr fim ao incidente, minimizar ou conter os danos, evitar novos danos e eliminar os danos. São também conhecidas como medidas de reparação de emergência (artigo 2.º da DRA), e

• Ações de reparação de médio a longo prazo no local danificado, que visam a restituição ao estado inicial dos recursos e/ou serviços danificados (para danos causados à água e à natureza).

Responsabilidade com base na culpa

Os operadores cujas atividades não são regulamentadas pela legislação mencionada no anexo III da DRA podem apenas ser responsabilizados por danos causados às espécies e habitats naturais protegidos e não pelos outros tipos de efeitos adversos mencionados (desde que, bem entendido, sejam cumpridos todos os requisitos enumerados na diretiva). Para que o operador possa ser considerado responsável, a culpa ou negligência devem ser determinadas.

Responsabilidade objetiva Aplicável às atividades regulamentadas como sendo potencialmente perigosas ao abrigo de outras leis ambientais da UE (enumeradas no anexo III da diretiva). Não é necessário determinar a culpa para que o operador seja responsabilizado pelo tipo de danos abrangidos pela DRA. Os operadores cujas atividades constam do anexo III da DRA são (objetivamente) responsáveis pelos três tipos de danos, nomeadamente: danos causados aos habitats e espécies protegidos, à água e ao solo.

Serviços Funções desempenhadas por um recurso natural em benefício de outros recursos naturais e/ou do público.

Substâncias perigosas Substâncias tóxicas que representam maior ameaça para o ambiente e para a saúde humana.

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LIGAÇÕES PARA AS DIRETIVAS RELEVANTES E PARA OUTRAS ORIENTAÇÕES

Diretiva Responsabilidade Ambiental – texto oficial: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2004:143:0056:0075:en:PDF Página Web da Comissão Europeia sobre a Diretiva Responsabilidade Ambiental: http://ec.europa.eu/environment/legal/liability/index.htm Página Web da Comissão Europeia sobre a Diretiva Habitats: http://ec.europa.eu/environment/nature/legislation/habitatsdirective/index_en.htm Página Web da Comissão Europeia sobre a Diretiva Aves: http://ec.europa.eu/environment/nature/legislation/birdsdirective/index_en.htm Página Web da Comissão Europeia sobre a Diretiva-Quadro Água: http://ec.europa.eu/environment/water/water-framework/index_en.html Relatório da Comissão Europeia (2010) sobre a eficácia da Diretiva Responsabilidade Ambiental, Bruxelas, 12.10.2010, COM (2010) 581 final. http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2010:0581:FIN:EN:PDF

Avaliação do Ecossistema do Milénio para os serviços ecossistémicos: http://www.unep.org/maweb/en/index.aspx A economia dos ecossistemas e a biodiversidade (TEEB): http://www.teebweb.org/

WATECO (2003): Estratégia comum de aplicação da Diretiva-Quadro Água (2000/60/CE) – documento de orientação n.º 1: Economia e Ambiente: http://www.waterframeworkdirective.wdd.moa.gov.cy/docs/GuidanceDocuments/Guidancedoc1WATECO.pdf

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LIGAÇÕES PARA ORIENTAÇÕES DOS ESTADOS-MEMBROS RELATIVAS À DIRETIVA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Dinamarca

Agência de Proteção do Ambiente e a Agência de Planeamento Geográfico e Ambiental da Dinamarca (não datada), Environmental Liability Directive Guidelines (Enquadramento da Diretiva Responsabilidade Ambiental)

Finlândia

Ministério do Ambiente (2012), Remediation of Significant Environmental Damage: manual on procedures (Reparação de danos significativos para o ambiente: manual de procedimentos)

França Commissariat général au développement durable, La loi responsabilité environnementale et ses méthodes d’équivalence – Guide méthodologique, juillet 2012 (versão francesa). http://www.developpement-durable.gouv.fr/IMG/pdf/Ref-LRE.pdf The Environmental Liability Law and equivalency methods (julho 2012 – versão inglesa) (Lei relativa à Responsabilidade Ambiental e métodos de equivalência) https://melanissimo.developpement-durable.gouv.fr/lecture.jsf?uuid=a68f13ea74835beaa7d4952be0c33e7f

Irlanda

Agência de Proteção do Ambiente irlandesa (2011), Environmental Liability Regulations: guidance document (regulamento sobre a responsabilidade ambiental: documento de orientação)

Países Baixos (2008) Guidelines for Part 17.2 of the Dutch Environmental Management Act: measures in the event of environmental damage or its imminent threat (tradução inglesa) (Orientações para o ponto 17.2 da Lei holandesa relativa à Gestão Ambiental: medidas a tomar na ocorrência de danos ambientais ou da sua ameaça iminente)

Portugal

Agência Portuguesa do Ambiente, Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (2011), Guia para a Avaliação de Ameaça Iminente e Dano Ambiental. Responsabilidade Ambiental

Espanha

Ministry of the Environment and Rural and Marine Affairs (2008), 20680 Royal Decree 2090/2008, of 22 December, which enacts the partial implementation regulations of the Environmental Liability Act

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26/2007, of 23 October (tradução inglesa – informal, não oficial) (Ministério do Meio Rural, Meio Ambiente e Meio Marinho (2008), 20680 Decreto real 2090/2008, de 22 de dezembro, que permite a aplicação parcial das regulamentações da Lei 26/2007 relativa à Responsabilidade Ambiental, de 23 de outubro

Existem outros documentos de orientação em espanhol, relativos à análise dos riscos ambientais e aos instrumentos de avaliação económica, disponíveis em http://www.magrama.gob.es/es/calidad-y-evaluacion-ambiental/temas/responsabilidad-mediambiental/

Reino Unido Ministério do Ambiente, da Alimentação e dos Assuntos Rurais (DEFRA) (2009) The Environmental Damage (Prevention and Remediation) Regulations 2009, Guidance for England and Wales (Regulamentos relativos aos Danos Ambientais [Prevenção e Reparação] 2009, Orientações para a Inglaterra e o País de Gales (guia detalhado) http://archive.defra.gov.uk/environment/policy/liability/pdf/indepth-guide-regs09.pdf

DEFRA e Assembleia Governativa do País de Gales (2009) The Environmental Damage Regulations, Preventing and Remedying Environmental Damage (quick guide) (Regulamentos relativos aos Danos Ambientais, Prevenção e Reparação de Danos Ambientais [guia rápido]) (http://archive.defra.gov.uk/environment/policy/liability/pdf/quick-guide-regs09.pdf

Departamento do Ambiente da Irlanda do Norte (DOENI) The Environmental Damage (Prevention and Remediation) Regulations 2009, Northern Ireland Guidance (Regulamentos de 2009 relativos aos Danos Ambientais [Prevenção e Reparação], Orientações para a Irlanda do Norte) http://www.doeni.gov.uk/eld_guidance.pdf

Agência do Meio Ambiente (2009) Overview of how the Environmental Damage Regulations interface with our current powers and duties (Visão global sobre como os regulamentos relativos aos danos ambientais interagem com os poderes e deveres atuais)

Agência do Meio Ambiente (2009) What is ‘environmental damage’? (O que é o «dano ambiental»?)

Natural England (2011), Environmental Damage (prevention and remediation) Regulations 2009, Natural England Operating manual (Regulamentos relativos aos Danos Ambientais [Prevenção e Reparação] 2009, manual da Natural England)

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LEGISLAÇÕES DOS ESTADOS-MEMBROS QUE TRANSPÕEM A DRA E UMA SELEÇÃO DE OUTROS DOCUMENTOS OFICIAIS

Alemanha:

o Lei que transpõe a Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho relativa à responsabilidade

ambiental em matéria de prevenção e reparação de danos ambientais, Jornal Oficial Federal

(Bundesgesetzblatt, BGBl), Berlim, 10 de maio de 2007.

Áustria:

o Lei Federal n.º 55 relativa à responsabilidade ambiental, em matéria da prevenção e reparação de

danos ambientais, Jornal Oficial da República da Áustria, Vol. 2009, Parte I, promulgada em 19 de

junho de 2009

o Lei de 29 de outubro de 2009, relativa à responsabilidade ambiental, em matéria da prevenção e

reparação de danos ambientais, (Burgenland), Jornal Oficial de Burgenland n.º 2/2010, promulgada

a 11 de janeiro de 2010

o Lei n.º 9 de 26 de novembro de 2009, que altera a Lei relativa à proteção da natureza na Caríntia,

Jornal Oficial da Caríntia n.º 4/2010

o Lei n.º 55 de 9 de julho de 2009, que altera a Lei relativa às instalações IPPC na Caríntia, Jornal Oficial

da Caríntia n.º 26/2009, promulgada a 30 de setembro de 2009

o Lei da Baixa Áustria relativa à Responsabilidade Ambiental, 6200-0, n.º 77/2009, 2009-08-05.

o Lei n.º 95 relativa à responsabilidade ambiental, em matéria de prevenção e reparação de danos

ambientais, 2009

o Lei n.º 4 de 5 de maio de 2010, que altera a Lei relativa à Proteção e Informação Ambientais, Jornal

Oficial de Salzburgo, promulgada a 30 de junho de 2010

o Lei n.º 10 de 17 de novembro de 2009, relativa à responsabilidade ambiental, em matéria de

prevenção e reparação de danos ambientais, Jornal Oficial da Estíria, n.º 6/2010, promulgada a 10 de

fevereiro de 2010

o Lei n.º 5 de 18 de novembro de 2009, relativa à responsabilidade em caso de danos causados a

espécies e habitats naturais protegidos e para alguns danos causados ao solo, Jornal Oficial do Tirol,

n.º 2/2010, promulgada a 21 de janeiro de 2010

o Lei que altera as instalações IPPC e a Lei das Instalações Seveso II, Jornal Oficial de Vorarlberg, n.º

3/2010, promulgada a 2 de fevereiro de 2010

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125

o Lei n.º 38 relativa à responsabilidade ambiental, em matéria de prevenção e reparação de danos

ambientais em Viena, Jornal Oficial de Viena, Vol. 2009, n.º 38., promulgada a 1 de setembro de

2009.

Bélgica:

o Lei de 25 de abril de 2007 que inclui diversas disposições (IV), O.J. 8 de maio de 2007 (ao nível

Federal)

o Lei de 15 de maio de 2007 relativa à proteção civil (IV), O.J. 31 de julho de 2007, 50748 (ao nível

Federal)

o Decreto real de 3 de agosto de 2007, em matéria da prevenção e reparação de danos ambientais

durante a colocação no mercado de produtos que contenham ou sejam constituídos por OGM, O.J.

20 de setembro de 2007, 49665 (ao nível Federal)

o Decreto real de 8 de novembro de 2007, em matéria da prevenção e reparação de danos ambientais

como consequência do transporte rodoviário, ferroviário, marítimo ou aéreo, O.J. 9 de novembro de

2007 (ao nível Federal)

o Decreto real de 25 de outubro de 2007, em matéria de danos significativos causados ao ambiente

marinho e a recuperação dos custos de medidas preventivas, de medidas de confinamento e de

medidas de reparação, O.J. 9 de novembro de 2007 (ao nível Federal)

o Decreto de 21 de dezembro, completando o Decreto de 5 de abril de 1995, que contém as disposições

gerais relativas à política ambiental, título XV Danos Ambientais, a fim de transpor a Diretiva

2004/35/CE, O.J. 12 de fevereiro de 2008 (região flamenga)

o Decisão de 9 de setembro de 2011 do governo flamengo, contendo novas medidas relativas ao

pedido de medidas e aos procedimentos de recurso no âmbito da prevenção e reparação de danos

ambientais (região flamenga)

o Decreto de 27 de outubro de 2006, sobre a Gestão do Espaço Rural (região flamenga)

o Decreto de 22 de novembro de 2007, que modifica o primeiro livro do código ambiental relativo à

prevenção e reparação de danos ambientais, O.J. 19 de dezembro de 2007 (região da Valónia)

o Portaria de 13 de novembro de 2008, relativa à responsabilidade ambiental em matéria da

prevenção e reparação de danos ambientais, sumo de laranja, O.J. 14 de novembro de 2008 (região

de Bruxelas)

o Decisão do governo da Região de Bruxelas-Capital, de 19 de março de 2009, que especifica algumas

disposições da Portaria de 13 de novembro de 2008, relativa à responsabilidade ambiental em

matéria da prevenção e reparação de danos ambientais, O.J. 16 de abril de 2009 (região de Bruxelas)

o Decreto de 5 de março de 2009, em matéria da gestão e reparação de solos poluídos (região de

Bruxelas)

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126

Bulgária:

o Lei relativa à Responsabilidade em matéria da prevenção e reparação de danos ambientais, Jornal

Oficial n.º 43, de 29 de abril de 2008.

Chipre:

o Lei relativa à Responsabilidade Ambiental em matéria da Prevenção e Reparação de Danos

Ambientais, de 2007, Lei n.º 189 (I) / 2007, n.º 4154, 31/12/2007, Jornal Oficial da República do

Chipre.

Dinamarca:

o Lei n.º 466 relativa à investigação, prevenção e reparação de danos ambientais (Lei relativa

aos Dano Ambientais), Jornal Oficial A, promulgada a 18 de junho de 2008,

o Lei n.º 507 que altera a Lei relativa à proteção ambiental e outras Leis, Jornal Oficial A,

promulgada de 18 de junho de 2008

o Ordem n.º 652 relativa aos critérios para determinar a presença de danos ambientais e

relativa aos requisitos para reparar determinados tipos de danos ambientais, publicada a

28 de junho de 2008

o Ordem n.º 657 relativa à cobertura dos custos de gestão e de supervisão ao abrigo da Lei

relativa aos Danos Ambientais, publicada a 28 de junho de 2008

o Ordem n.º 789 relativa aos danos ambientais etc. causados a espécies protegidas ou a

zonas de conservação da natureza internacionais relacionadas com atividades de pesca

comercial, publicada a 25 de julho de 2008

o Ordem n.º 875 relativa aos procedimentos para determinar a presença de danos ambientais

ou de uma ameaça iminente de danos ambientais, causados a espécies protegidas ou a

zonas de conservação da natureza internacionais, relacionadas com a construção e

expansão de portos, com medidas de proteção costeira e o estabelecimento e expansão de

determinadas instalações nas águas territoriais dinamarquesas, publicada a 4 de setembro

de 2008

Estónia:

o Lei relativa à Responsabilidade Ambiental - Jornal Oficial da Estónia, Editor: Riigikogu, 14 de

novembro de 2007, resolução n.º 203.

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127

Finlândia:

o Lei n.º 383 relativa à Reparação de Certos Tipos de Danos Ambientais, Helsínquia, de 29 de maio de

2009

o Decreto governamental n.º 713 governamental relativo à reparação de determinados danos causados ao ambiente, emitido em Helsínquia, em 24 de setembro de 2009.

Eslováquia:

o Lei de 21 de junho de 2007, relativa à prevenção e reparação de danos ambientais e às alterações a

algumas leis, 2007/305

Eslovénia:

o Lei que altera a Lei relativa à Proteção Ambiental (ZVO-1B), n.º 003-02-6/2008-15, 7 de julho de

2008.

o Regras relativas aos critérios detalhados para a determinação dos danos ambientais, Aprovadas Ur.l.

RS, št. 46/2009

o Decreto relativo aos tipos de medidas para a reparação dos danos ambientais, Aprovado Ur.l. RS,

nr. 55/2009,

Espanha:

o Ley de Responsabilidad medioambiental 26/2007 de 23 de outubro de 2007 (Lei de 26/2007, de 23

de outubro, relativa à Responsabilidade Ambiental).

França:

o Loi n° 2008-757 du 1er août 2008 relative à la responsabilité environnementale et à diverses

dispositions d’adaptation au droit communautaire dans le domaine de l’environnement, Journal

Officiel de la République française du 2 août 2008, Texte 2 sur 107.

o Décret n° 2009-468 du 23 avril 2009 relatif à la prévention et à la réparation de certains dommages

causés à l’environnement, Journal Officiel de la République Française du 26 avril 2009).

Grécia:

o Decreto presidencial n.º 148, Responsabilidade Ambiental em matéria da prevenção e reparação de

danos ambientais - Transposição da Diretiva 2004/35/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de

21 de abril de 2004, Diário Oficial da República Helénica, Emissão 1, n.º 190, de 29 de setembro de

2009.

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128

Hungria:

o Lei XXIX de 2007, que altera determinadas leis relativas à proteção ambiental, em matéria da

responsabilidade ambiental ed Lei LIII de 1995, relativa às regras gerais a proteção ambiental e a Lei

LVII de 1995, relativa à gestão dos recursos hídricos, Edição Magyar Közlöny, 2007/52, páginas 3316-

3320.

o Decreto governamental n.º 91/2007, (IV. 26. Korm, relativo à definição da dimensão dos danos

causados ao ambiente natural e relativo aos regulamentos para a compensação por danos.

o Decreto governamental n.º 90/2007, (IV. 26. relativo às regras para a prevenção e reparação de

danos causados ao ambiente.

Irlanda:

o SI n.º 547 de 2008, Regulamentos das Comunidades Europeias (responsabilidade ambiental) de 2008.

Itália:

o Disposições relativas à proteção compensatória contra danos ambientais, 14/04/2006, Suplemento

Diário do Jornal Oficial, Série Geral n.º 88

Letónia:

o Lei relativa à Proteção Ambiental, Vēstnesis [Jornal Oficial] 183, de 15/11/2006.

o Regulamento relativo aos critérios a utilizar na avaliação da importância dos efeitos dos danos

causados as espécies e habitats protegidos, Vēstnesis (Jornal Oficial), n.º 54, 30/03/2007,

Regulamento n.º 213, registo n.º 21, secção n.º 32.

o Regulamento relativo às medidas preventivas e de reparação, e um procedimento para a avaliação

de danos ambientais e para o cálculo dos custos das medidas de prevenção, urgência e reparação,

Vēstnesis (Jornal Oficial), n.º 78, de 16/05/2007, Regulamento n.º 281, Ata n.º 25, Parágrafo 31.

o Alterações à Lei relativa à Responsabilidade Ambiental, Vēstnesis, n.º 107, 07/05/2007.

Lituânia:

o N.º IX-147, 24.03.05, Jornal Oficial, 2005, N.º 47-1558 (12.04.05), Lei que altera e completa os artigos

1.º, 2.º, 6.º, 7.º, 8.º, 14.º, 19.º, 26.º, 31.º, 32.º, 33.º e 34.º do anexo, e que revoga o artigo 24.º da Lei

relativa à Proteção Ambiental, complementa a Lei com o n.os 1 e 2 do artigo 32.º.

o N.ºIX-648, 08.06.06, Jornal Oficial, 2006, n.º 72-2667 (28.06.06), Lei que altera os artigos 1.º, 2.º, 3.º,

12.º, 18.º, 20.º e 24.º do e que incorpora um anexo na Lei relativa ao Acompanhamento do Estado

em matéria de Proteção Ambiental

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129

o N.ºIX 1299, 18.10.07, Jornal Oficial, 2007, o n.º 116-4741 (13.11.07), Lei que altera o artigo 12.º, que

completa a secção IV com uma quarta secção e altera o anexo da Lei relativa ao Acompanhamento

do Estado em matéria de Proteção Ambiental.

o N.º IX 1510, 24.04.08,Jornal Oficial, 2008, o N.º 53-1954 (10.05.08), que altera os artigos 3.º, 6.º, 7.º,

11.º, 21.º, 22.º, 23.º, 27.º, 29.º, 30.º, 36.º e 37.º do anexo da Lei relativa ao Acompanhamento do

Estado em matéria de Proteção Ambiental.

Luxemburgo:

o Loi du 20 avril 2009 relative à la responsabilité ambiental en ce qui concerne la prévention et la

réparation des dommages environnementaux, Journal officiel du Grand-Duché du Luxembourg,

Recueil de Législation, A-82. o, N. ° 27 avril 2009, p. 968.

Malta:

o Lei relativa à Proteção Ambiental (CAP. 435) - Lei relativa ao Planeamento do Desenvolvimento (CAP.

356) - Regulamentos em matéria da Prevenção e Reparação de Danos Ambientais, 2008, LN 121 de

2008.

Países Baixos:

o Lei de 24 de abril de 2008, que altera a Lei relativa à Gestão Ambiental, no âmbito da aplicação da

Diretiva 2004/35/CE («Responsabilidade Ambiental»), Staatsblad van het Koninkrijk der Nederlanden

(Boletim de Leis, Portarias e Decretos), 2008, 166.

o Decreto de 21 de maio de 2008 que estabelece a data de entrada em vigor da Lei de 24 de abril de

2008, que altera a Lei relativa à Gestão Ambiental no âmbito da aplicação da Diretiva 2004/35/CE

(«Responsabilidade Ambiental»), Staatsblad van het Koninkrijk der Nederlanden (Boletim de Leis,

Portarias e Decretos), em 2008, 178,

Polónia:

o Lei de 13 de abril de 2007, relativa à prevenção e reparação de danos ambientais, Jornal Oficial

Polaco n.º 75, ponto 493, OJ Polish Special Edition, Secção 15, Volume 8, p. 357.

o Lei de 30 de abril de 2008 relativa aos critérios de avaliação de danos ambientais (aplica o

anexo I da Diretiva 2004/35/CE), OJ Polish Special Edition, Secção 15, Volume 8, p. 357).

o Portaria de 4 de Junho de 2008, relativa aos tipos de medidas de reparação e às condições e

modo como são realizadas (aplica o anexo II da Diretiva 2004/35/CE), Jornal Oficial polaco N.º

103., edição especial, ponto 664, Secção 15, Volume 8, p. 357.

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130

Portugal:

o Decreto-lei n.° 147/2008 de 29 de julho de 2008, Diário da República – Série I - N.º 145 – 29 de julho

de 2008.

República Checa:

o Lei de 22 de abril de 2008 em matéria da prevenção e reparação de danos ambientais, que altera

algumas disposições legislativas.

o Decreto de janeiro de 2009 em matéria da deteção e a reparação dos danos ecológicos causados ao

solo.

Roménia:

o Decreto de emergência relativo à responsabilidade ambiental, em matéria de prevenção e reparação

de danos ambientais, Decretos do Governo Romeno, Jornal Oficial romeno (Monitorul Oficial al

României), Part I, n.° 446/29.VI.2007.

Reino Unido:

o Regulamentos relativos aos Danos Ambientais (Prevenção e Reparação) (Inglaterra) 2009, 29 de

janeiro de 2009, n.º 153.

o Regulamentos relativos aos Danos Ambientais (Prevenção e Reparação) (País de Gales) 2009, 11 de

abril de 2009, n.º 995 (w. 81).

o Regulamentos relativos à Responsabilidade Ambiental (Escócia) 2009, 23 de junho de 2009, n.º 266

o Regulamentos relativos aos Danos Ambientais (Prevenção e Reparação) (Irlanda do Norte) 2009, de

29 de junho de 2009, n. ° 252

o Regulamentos relativos a Importações e exportações (Controlo) (Alteração) de 2008, Segundo

Suplemento do Jornal Oficial de Gibraltar, N.º 3689, 11 de dezembro de 2008, o Aviso Legal n.º 98 de

2008.

Suécia:

o Código Ambiental sueco, SFS (1998:808)

o Portaria relativa a danos ambientais graves, SFS (2007:667) de 17 de julho de 2007

o SFS n.º 2006:703 (Lei relativa ao Procedimento Administrativo), 1 de julho de 2006, que altera o SFS

n.º 1986:223, publicado em: 7.5.1986.

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131

REFERÊNCIAS JURÍDICAS NO CONTEXTO DA DIRETIVA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

A maior parte da presente lista de referências foi fornecida por Anne Gwenn Alexandre.

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Rabinovitch).

Cass. 2e civ. 10 mai 2007.

Cass. 3e civ., 16 mars 2005.

CA Grenoble, 1ère ch. Civ., 21 juin 2004.

Cass. Civ. 3e, 3 mai 1977, Bull. civ. n° 194.

Conseil d’Etat, 17 mai 1974, commune de Bonnieux.

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Chambre du Banc de la Reine, Greffe du Tribunal de Commerce de Manchester).

Cambridge Water v. Eastern Counties Leather Plc (1994) AC 264.

Rylands v. Fletcher (1868) LR 3 HL 330.

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REFERÊNCIAS RELACIONADAS COM AS GARANTIAS FINANCEIRAS

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AON Environmental Services Group: Taylor, R.J., “The use of environmental insurance to facilitate the cleanup, development and sale of real estate”.

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o « Conditions d’assurance d’un régime de responsabilité environnement », juillet 1998, Bruxelles, 6 pages.

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136

Gen Re: “The Environmental Liability Directive and the German insurance association’s model wordings”, June 2007.

Institut de Science Financière et d’Assurances (ISFA) :

o Caillat, A.L.,, Dutang, C., Nguyen, T., Tran, Q.,, Thuy, T., “Titrisation des risques d’assurance”, 25 avril 2008 (64 pages).

o Chenal, D., Kayo de Kayo, G., Kelhiouen, R., Milhaud, X., Sauser, C.,"Projet de transfert alternatif de risque : Titrisation du risque de catastrophe naturelle », mars 2008, 22 pages.

Italian Pool: “Report of the Italian Pool”, National Report 2005, European Pollution Pool Meeting, Paris, 2 and 3 October 2006.

Lovell White Durrant: “Suggestions for responding to environmental and other long-tail reinsurance claims”, 1998 Seminar, London.

Marsh: “Environmental Insurance Market Update – Claims”, Summer 2008.

Marsh Environmental Group: Bresssler, A., “Navigating the U.S. Environmental Liability Market (Part 1 & Part 2), March 2002, Available from: http://www.irmi.com/Expert/Articles/2002/Bressler03a.aspx [18/01/2008].

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o “Premières observations sur le projet de loi transposant la directive 2004/35/CE sur la responsabilité environnementale”, juin 2007.

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137

o Insuring environmental damage in the European Union, Swiss Re Technical Publishing, Casualty, 23 May 2007

Willis:

o Global environmental liability management: worldwide environmental insurance solutions, Willis International, June 2008, Issue 30, 5 pages.

o The European Union Environmental Liability Directive, Willis Environmental, April 2007, 2 pages.

o Environmental newsletter: The environmental insurance and risk management quaterly, The Willis Index, Q2 2007, 6 pages.

o Environmental newsletter: market review 2006, The Willis index, Q1 2007.

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ANEXO: MÉTODOS DE ANÁLISE DA EQUIVALÊNCIA – VISÃO TEÓRICA

Os métodos de análise da equivalência são baseados na seguinte fórmula:

( ){ }[ ] ( ){ }[ ] PbbxJbxb Lt

jppt

Bt

jjt

jt I t* */***/* p

0j V V ∑∑ = −=−= ρρ

[___________________________] = [_____________________________]

Perdas Ganhos

em que t se refere a tempo (em anos):

t = 0 o dano ocorre t = B o habitat danificado é restituído ao estado inicial t = C momento em que o pedido é apresentado t = I o projeto de substituição do habitat começa a proporcionar benefícios t = L o projeto de substituição do habitat deixa de proporcionar benefícios

e, em que:

jV é o valor por unidade anual dos benefícios proporcionados pelo habitat danificado (sem dano)

pV é o valor por unidade anual dos benefícios proporcionados pela substituição do habitat

xtj é o nível da medida por hectare de recurso ou serviço, proporcionado pelo habitat

danificado no final do ano t jb é o nível de base da medida (sem dano) de recurso ou serviço por hectare de habitat

danificado

xtp é o nível da medida por hectare de recurso ou serviço proporcionado pelo habitat de

substituição, no final do ano t

bp é o nível inicial da medida por hectare de recurso ou serviço do habitat de

substituição

ρt é o fator de desconto, em que ρt = 1/(1+r)t - C e r é a taxa de desconto para o

período de tempo (J) o número de hectares danificados P é a dimensão, em hectares, do projeto de substituição que equilibra as perdas com

os ganhos da reparação.

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Os indicadores da presente fórmula são explicados de seguida, e está também disponível um exemplo ilustrativo sobre como esta pode ser aplicada para se calcular o débito total (perda), medido em anos-de-serviço-de-hectare descontados (ASHD)

• Ano de início: O ano de início é o ano em que os danos começaram, nos casos abrangidos pela DRA (ou que em se espera que venham a começar, em casos abrangidos pela Avaliação do Impacto Ambiental e pelas Diretivas Habitats e Aves Selvagens, ou no caso de ameaças iminentes abrangidas pela DRA), ou o ano em que se inicia o cálculo das perdas. Um ano de início deve ser especificado tanto para o débito como para o crédito do modelo. No que respeita o débito, o ano de início é o ano em que se iniciaram as perdas (ou em que deverão ter início) ou o ano em que se dá início ao cálculo das perdas. No que respeita o crédito, é o ano previsto para o início dos benefícios da reparação.

• Ano de termo. O ano de fim é o ano em que já não ocorrem mais danos ⎯ ou os recursos recuperaram

naturalmente ou como resultado de ações de reparação primária. No que respeita o crédito, é o último ano em que se adiciona o crédito resultante do projeto de reparação. Para alguns projetos de reparação, prevê-se que o benefício aumente num futuro próximo. Porém, noutros casos, o tempo de vida do projeto pode ser bastante limitado. Por vezes, quando não se espera que os recursos recuperem totalmente, não existe uma previsão de um ano de fim.

• Ano de base. Este é o ano utilizado para o cálculo do valor atual, e é geralmente o ano em que se realiza a avaliação dos danos.

• Dimensão geográfica. No que respeita o débito de uma análise de equivalência, é a área onde se verificaram as perdas. No que respeita o crédito, a dimensão geográfica é uma expressão da área por unidade a ser reparada. Para que o cálculo da equivalência seja possível, a unidade de medida para os créditos deve ser idêntica à que foi utilizada para o débito.

• Grau de perda de recursos naturais ou de serviços. Trata-se do grau de perda causado ao recurso ou serviço que ocorreu em toda a dimensão geográfica. É normalmente medido como uma percentagem, baseada na alteração prevista da medida de quantificação selecionada. O grau de perda pode variar ao longo do tempo. Para uma AEH (Análise de Equivalência de Habitats), trata-se do grau de perda de recursos naturais ou serviços que ocorreu dentro da dimensão geográfica do dano causado, relativamente às condições do estado inicial. O grau de perda pode variar ao longo do tempo (tal como as condições do estado inicial) e se, porventura, as condições do recurso melhorarem ao longo do tempo, os recursos naturais ou os serviços podem ser restituídos às condições do estado inicial. Em vários casos nos Estados Unidos, as medidas de danos multiatributos foram expressas em termos de «% de perda de serviço», em que a quantidade de prejuízo pode variar entre 0 % e 100 %. É necessário salientar que este conceito de perda parcial de serviço não é universalmente aceite. Por exemplo, no âmbito de alguns regimes regulamentares, pode presumir-se que todos os danos devem ser inteiramente recuperados e que, por uma questão de ordem prática, a reparação proporcional de um subconjunto de serviços

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não é viável, nem tão pouco desejável.31 Para uma AER (Análise de Equivalência de Recursos ), o grau de perda pode ser expresso com base no número de indivíduos perdidos, nas alterações da diversidade taxonómica, nas reduções da população, na perda da taxa ou viabilidade de reprodução (incluindo o tempo de vida perdido ou número reduzido de jovens) ou com base noutras medidas para avaliar o prejuízo causado aos recursos. Para uma AEV (Análise de Equivalência de Valores), o grau de perda é expresso em termos monetários que refletem o valor económico da perda, ou seja, diz respeito à disponibilidade das pessoas para pagar a fim de evitarem o prejuízo, ou à disponibilidade para aceitar a compensação, a fim de tolerarem o prejuízo.

• Ganhos de recursos naturais ou de serviços. É a quantidade de benefícios que se espera obter com a aplicação de um projeto de reparação. Assim que um projeto é aplicado, os benefícios começam a aumentar. Porém, os benefícios totais podem só ser atingidos numa data futura. Tal como no cálculo do débito, a quantidade de benefícios resultantes de recursos naturais ou serviços é quantificada relativamente às condições do estado inicial. Os ganhos (créditos) e as perdas (débitos) devem ser quantificados através das mesmas medidas.

• Estado inicial. As condições do estado inicial são as condições que existiriam se não tivesse ocorrido um incidente causador de danos. A descrição completa das condições do estado inicial na DRA também é utilizada nas análises de equivalência.

• Medida. A medida é a unidade utilizada para medir as perdas e ganhos em termos de recursos naturais ou serviços.

• Trajetória dos danos ou da recuperação. Deve ser fornecida uma descrição da evolução temporal relativa às perdas e ganhos em termos de recursos naturais ou serviços. Esta descrição deve incluir a taxa de degradação ou recuperação.

• Multiplicador de valor atual. Geralmente, os cálculos da análise de equivalência nos EUA incluem uma taxa de desconto de 3 % ou 4 % (ver caixa A.1). Para a estimativa do valor atual, a taxa de desconto (composta) tem por efeito a composição do prejuízo do serviço no passado e o desconto do prejuízo do serviço no futuro. Note-se que a composição não contempla o ano de fim, uma vez que o seu objetivo é adaptar os danos ocorridos no passado ao valor atual. Dito de outro modo, para fins de composição o ano de fim é sempre o ano base.

Caixa A.1: Desconto

Os débitos (perdas) e os créditos (ganhos) que se verificam no passado ou no futuro, não são avaliados da mesma forma que os débitos ou créditos verificados numa data presente. Existem duas razões principais para esta diferença. A primeira está relacionada com a preferência temporal dos indivíduos. Isto quer dizer que, não havendo alterações, as pessoas preferem consumir no presente (hoje), em vez de esperarem. Esta impaciência tem como consequência, a compensação pela prorrogação do consumo de bens considerados úteis (por exemplo, bens de consumo, recursos ambientais etc.). A segunda razão para esta diferença diz respeito ao custo do capital - os recursos (valor monetário ou outro) disponíveis no presente para serem utilizados (investidos ou processados), com vista a gerar benefícios futuros, e que correm o risco de ser perdidos se não estiverem disponíveis posteriormente.

Assim, é necessário recorrer a um procedimento para garantir que os débitos e créditos, que ocorrem em diferentes

31 Para fundamentar este argumento recorremos à analogia da perda de um braço ou de uma perna num acidente, que não representa uma perda de 25 % dos «serviços dos membros». Pelo contrário, a plena compensação exigiria a reparação integral dos danos.

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períodos de tempo, são comparados numa base de igualdade. Este procedimento utiliza um multiplicador de valor atual, que tem em conta uma taxa (t) para ajustar os valores futuros ou passados ao presente:

)()1( basedeanoanor −+

No âmbito do ajustamento de valores passados ao período atual, a taxa utilizada é designada por taxa composta e o processo é designado por composição:

)()1(1 basedeanoanor −+×

Ou seja, quando um determinado ano é inferior ao ano base (no passado), a «potência» do multiplicador de valor atual é positiva e o multiplicador de valor atual torna-se num fator composto.

No âmbito do ajustamento de valores futuros ao período atual, a taxa utilizada é designada por taxa de desconto e o processo é designado por desconto:

)()1/(1 basedeanoanor −+

Ou seja, quando um determinado ano é superior ao ano base (no futuro), a «potência» do multiplicador de valor atual é negativa e o multiplicador de valor atual torna-se num fator de desconto. A escolha de uma taxa de desconto (ou composta) é baseada na literatura teórica, e em alguns Estados-Membros existem taxas oficiais (por exemplo, no Reino Unido a taxa de arranque é 3,5 %, com uma diminuição até 0 % ao longo de 300 anos.) Os projetos da Comissão Europeia utilizam, normalmente, uma taxa de 4 %.

Esta formulação pressupõe três pontos importantes para a análise de equivalência:

1. Através de cálculos em termos de valor atual (desconto ou composição), os métodos de equivalência têm em conta as diferenças temporais entre o momento da ocorrência do dano e o momento em que as ações de reparação proporcionam benefícios.

2. A quantidade de recursos naturais ou serviços ecológicos prestados por unidade de superfície, numa determinada zona danificada e num determinado local de reparação, pode ser diferente. Na realidade, poucos incidentes eliminam totalmente um habitat (ou uma biota), e a maior parte das ações de reparação não criam habitats (ou uma biota) completamente novos e funcionais. Além disso, as funções dos habitats são complexas e todos os processos do ecossistema estão interligados. Para ter em conta esta questão, a quantificação das perdas e ganhos é, frequentemente, baseada em medições ou estimativas relativas às alterações a uma medida, ou «medição», de um recurso natural ou de serviço ecológico. A medida utilizada deve ser igual tanto nos cálculos do débito como nos do crédito, e ser útil para a determinação das diferenças na qualidade e quantidade de recursos naturais ou serviços prestados pelos habitats inicial, danificado ou de compensação.

3. As Análises de Equivalência Recurso-a-Recurso e entre Habitats pressupõem que o valor para a sociedade do recurso ou do habitat se mantém constante ao longo do tempo. Em alternativa, poderia argumentar-se que o desenvolvimento crescente ou as alterações climáticas podem levar à escassez de alguns tipos de recursos ou habitats (por exemplo, zonas húmidas urbanas) e, consequentemente, podem aumentar o valor do

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prejuízo no futuro e tornar os danos mais onerosos no presente. A Equivalência Recurso-a-Recurso e entre Habitats não têm diretamente em consideração esta alteração das preferências.

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ANEXO: AVALIAÇÃO ECONÓMICA Os valores económicos são os valores que as pessoas atribuem aos recursos ambientais e aos seus serviços ecossistémicos. São expressos em termos relativos com base nas preferências das pessoas relativamente a determinadas alterações da qualidade e/ou quantidade de recursos e serviços. As suas preferências, por sua vez, são determinadas pela forma como as alterações do recurso ou serviço afetam o seu bem-estar (ou ainda a sua utilidade ou bem estar). Tanto a Análise de Equivalência de Recursos (AER) como a Análise de Equivalência de Habitats (AEH) incorporam pressupostos de avaliação económica. O pressuposto é que o valor por unidade das ações de reparação é igual ao valor por unidade do recurso ou serviço danificado. Esta hipótese garante que a escala das ações de reparação, tal como medida pela AEH ou AER, compensa de forma a adequada o público pelos danos causados. No entanto, em alguns casos, ou porque o dano é demasiado elevado, ou porque o tipo de reparação disponível é suficientemente diferente dos recursos ou serviços danificados, este pressuposto pode não ser o mais adequado. Nesses casos, as abordagens de avaliação monetária, como a abordagem valor-a-valor ou de equivalência entre valor e custo podem ser as mais adequadas. Para informações adicionais sobre estas situações, consultar o anexo II, ponto 1.2.3, da DRA. As preferências são determinadas pela disposição que os indivíduos demonstram em estabelecer um compromisso entre o valor monetário e essas alterações. A unidade para este compromisso é o valor monetário, visto que se trata de uma unidade comum que permite a comparação dos custos e benefícios financeiros e ambientais. Com esta unidade, as preferências são determinadas com base na disponibilidade para pagar (DPP) dos indivíduos, de modo a evitarem um prejuízo ambiental ou a assegurarem um benefício, e com base na sua disponibilidade para aceitar (DPA) dinheiro, como compensação por tolerarem um prejuízo ambiental ou renunciarem a um benefício. O valor da variação marginal é o que é estimado pela avaliação económica. Dito de outro modo, os indivíduos agem, ou expressam-se, de acordo com as suas DPP e DPA no âmbito de uma determinada alteração, em vez de expressarem as suas preferências com base no valor absoluto de um recurso. São várias as motivações que levam os indivíduos a terem DPP e DPA para proteger os serviços ecossistémicos. Estas motivações são analisadas no contexto da chamada tipologia do Valor Económico Total (VET) (Figura A.1). Neste caso, «total» refere-se à soma das diferentes motivações, e não ao do valor absoluto. Para situações relativas a uma falha nos serviços ecossistémicos que proporcionam bem-estar aos indivíduos e, por conseguinte, que têm valor económico, ver abaixo. As motivações para as preferências, ou os tipos de valor, podem ser resumidos do seguinte modo: O valor de uso implica uma determinada interação com o recurso, tanto direta como indireta: • Valor de uso direto: Os serviços ecossistémicos são utilizados tanto de modo consuntivo, como a captação de

águas industriais, ou de uma forma não-consuntiva, como no caso das atividades recreativas (por exemplo, a pesca).

• Valor de uso indireto: O valor dos serviços ecossistémicos prestados, como o ciclo de nutrientes, prestação do habitat, regulação do clima etc.

• Valor de opção: Não está associado ao uso dos serviços ecossistémicos, mas sim à vantagem de manter em aberto a possibilidade de o fazer no futuro. Existe um conceito semelhante designado de valor de quase-opção,

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que surge com a prevenção ou prorrogação de decisões irreversíveis, sempre que a melhoria da tecnologia e dos conhecimentos pode alterar a gestão ideal de um ecossistema.

O valor de não-uso está associado às vantagens que resultam simplesmente da manutenção dos ecossistemas. Dito de outro modo, o valor de não-uso não está associado a qualquer utilização de um ecossistema. O valor de não-uso pode ser dividido em três partes: • Valor altruísta: Resultante de se saber que as gerações atuais podem beneficiar de serviços ecossistémicos; • Valor legado: Associado ao facto de se saber que os ecossistemas e os seus serviços serão passados às gerações

futuras, e • Valor da existência: Resultante da satisfação de saber que os ecossistemas continuam a existir,

independentemente do uso dado por si ou por outros, no presente ou no futuro.

Figura A.1: Valor Económico Total. Aqueles que fazem uso direto e indireto dos serviços ecossistémicos, ou seja, os utilizadores, são suscetíveis de atribuir tanto um valor de uso como um valor de não-uso. Aqueles que não fazem uso direto ou indireto de um serviço, mas que atribuem valores de não-uso, são designados de não-utilizadores. Enquanto os utilizadores são relativamente fáceis de identificar, não existe uma definição teórica sobre os não-utilizadores. A definição é uma questão empírica, que pode ser respondida através da investigação primária. No contexto da DRA, as perdas de bem-estar (ou aumentos) sentidas quer por utilizadores quer por não-utilizadores de recursos e serviços ambientais, devem ser incluídas nas estimativas do débito e do crédito.

VET

Valor de uso Valor de não-uso

Uso Real Valor de Opção Para os outros Existência

Direto Indireto Altruísmo Legado

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Foram concebidos métodos de avaliação económica específicos para determinar estes diferentes tipos de valor económico em termos monetários. São todos constituídos por três etapas principais, como demonstra a Figura 2 e, consequentemente, não podem ser levados a cabo com as análises ecológicas, ou técnicas e científicas para determinar o impacto (débito da perda ou crédito da reparação). Figura A.2: As três etapas da avaliação económica. Os métodos de avaliação económica diferem em termos do tipo de dados que utilizam e do tipo de elementos que abrangem: Os preços de mercado e os dados relativos ao comportamento do consumidor determinam as despesas efetivas diretas (por exemplo, taxa de visita, as despesas recreativas, despesas de água engarrafada) e podem apenas determinar os valores dos utilizadores de um recurso. Muitos dos bens e serviços prestados pelos serviços ecossistémicos são bens comercializados (por exemplo, serviços de aprovisionamento [géneros alimentícios, bebidas, fibras etc.], turismo etc.). O preço de mercado a que um bem é comercializado revela algumas informações sobre o seu valor económico. Em particular, para o comprador de um bem, o preço revela o montante em dinheiro que o comprador está disposto a pagar para obter um determinado bem. Para o vendedor, o preço de revela o montante em dinheiro que o vendedor está disposto a aceitar como compensação pela renúncia ao mesmo bem. Assim, por exemplo, o valor económico da pesca comercial (um serviço de aprovisionamento) é estimado com base no valor de mercado das capturas. Do mesmo modo, as receitas provenientes do mercado do turismo (um serviço cultural) refletem o valor económico deste serviço. Porém, as informações sobre os preços de mercado são uma medida pouco precisa do valor económico de um determinado serviço ecossistémico, uma vez que podem não refletir integralmente a DPP e a DPA. Por exemplo,

Avaliação qualitativa

Avaliação quantitativa

Avaliação monetária

Compreender a natureza do impacto (estabelecer uma ligação entre o incidente e o

dano e entre a opção de reparação e o benefício)

Quantificar (utilizando uma medida não-monetária)

o débito dos danos e o crédito da reparação

Dados do mercado, métodos da preferência revelada e declarada para determinar o

impacto quantitativo em termos monetários

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muitos compradores podem estar dispostos a pagar um montante superior ao preço de mercado para obter o bem. A diferença entre o montante máximo que um comprador está disposto a pagar e o preço real pago é designada de excedente do consumidor, e reflete a parte do benefício resultante da obtenção do bem que é «gratuita». Do mesmo modo, o vendedor do bem pode estar disposto a aceitar um montante inferior ao preço de mercado para renunciar ao bem. A diferença entre a quantidade mínima que um vendedor está disposto a aceitar e o preço real recebido é designada de excedente do produtor, e reflete o benefício adicional obtido com a troca (de facto, trata-se de «lucro económico»). De um modo geral, no caso de bens e serviços mercantis, o valor económico (DPP e DPA) reflete-se no preço de mercado, pago ou recebido, acrescido de eventuais excedentes do consumidor ou do produtor. Do mesmo modo, existem vários serviços ecossistémicos (na realidade, a maior parte dos serviços) que não são negociados em mercados e, por isso, são considerados como bens «sem preço» ou bens «não mercantis». Para se determinar o valor económico destes bens e serviços não mercantis, e quando não estão disponíveis as informações relativas aos seus preços, são desenvolvidos dois métodos de avaliação: A preferência revelada é um método que envolve a análise do comportamento de consumo dos indivíduos no mercado, e que está relacionada com os recursos ou serviços a avaliar. Um desses métodos é designado por «custos de deslocação» e determina o valor que um utilizador atribui, implicitamente, aos patrimónios turísticos, através dos custos que este incorre ao se deslocar até ao local e a voltar do mesmo, incluindo o custo do tempo despendido durante o percurso, e no próprio local. O outro método principal de preferência revelada é o «preço hedónico», que analisa os dados relativos às vendas imobiliárias para determinar as várias características superiores de um imóvel que chega ao mercado. Estas características podem incluir o tipo e as dimensões do imóvel, como também a localização ou a higiene da área, a beleza da paisagem, a proximidade dos locais de interesse cultural, a proximidade de escolas, meios de transporte etc. Os métodos de preferência revelada só conseguem determinar o valor das alterações que já ocorreram, estando limitados aos valores atribuídos pelos utilizadores. O método da preferência declarada consiste em solicitar aos indivíduos que estabeleçam uma relação de compromisso (trade off) entre as alterações do recurso ou serviço e o valor monetário. As respostas dependem tanto da disponibilidade para pagar (DPP) dos indivíduos, com o intuito de evitarem um prejuízo ou assegurarem uma melhoria, como da sua disponibilidade para aceitar (DPA) a compensação, para tolerarem um prejuízo ou renunciarem a uma melhoria. Existem duas variações principais para o método de preferência declarada, que dependem da forma como a questão da relação de compromisso é concebida: (i) avaliação do contingente, que inclui a DPP ou a DPA em todos os aspetos (características) diferentes do recurso ou serviço, e (ii) a experiência da escolha, que solicita aos indivíduos que escolham opções que apresentam quantidades variáveis de uma ou mais características. Ambas as versões podem ser aplicadas por meio de entrevistas pessoais, no domicílio ou no local, ou através de entrevistas online. O famoso caso do navio Exxon Valdez, nos EUA, utilizou, também, a avaliação do contingente para determinar o valor económico do prejuízo sofrido pelos utilizadores e não-utilizadores, causado por um derrame de hidrocarboneto no Alasca (Carson et al, 199232). Este caso foi um marco importante que fez com que os estudos da preferência declarada fossem considerados como provas jurídicas no âmbito das avaliações de danos nos EUA, e incentivou a publicação de novas orientações por parte da Administração Nacional Oceânica e

32 Carson, R.T., Mitchell, R.C., Hanemann, W.M., Kopp, R.J., Presser, S. and Ruud, P.A. (1992) A contingent valuation study of lost passive use values resulting from the Exxon Valdez oil spill, report to the Attorney General of the State of Alaska.

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Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) (Arrow et al., 199333). Para mais informações e orientações atualizadas sobre as abordagens da avaliação do contingente e da experiência da escolha, os leitores devem consultar Bateman et al (2002)34. A literatura de avaliação económica é ampla e está em constante evolução. Este facto é comprovado pelo número de estudos desenvolvidos numa das maiores bases de dados em linha, o Inventário de Recursos para Avaliação Ambiental (EVRI), (EVRI- www.evri.ca). O EVRI pode ser consultado em relação a inúmeros variáveis, incluindo o local do estudo, o foco do estudo (bens ambientais gerais, o tipo de bens e serviços ambientais valorizados, o fator de perturbação ambiental ou a fonte do fator de perturbação), a técnica de avaliação, informações disponíveis sobre o estudo (por exemplo, questionários, mapas, gráficos etc.), medidas económicas, e o ano do estudo. As bases de dados como o EVRI são particularmente úteis para facilitar a utilização subsequente da prova de valor económico, proveniente de literatura, especialmente quando a investigação económica primária não é possível. O processo de utilização de elementos de prova já existentes é conhecido como transferência de valor (ou benefícios). As estimativas do valor unitário ou funções dos fatores que explicam a variação dos valores económicos (DPP ou DPA) podem ser transferidas de um estudo para um novo contexto de análise. Embora existam limitações na transferência de valor (em particular, na busca de elementos de prova na literatura que sejam adequados à análise em causa), as suas vantagens são evidentes, visto que exige menos tempo e financiamento do que a avaliação primária. Uma transferência de valor adequada é fundamental para expandir a utilização da abordagem combinada de serviços ecossistémicos e de valor económico (para uma melhor orientação no âmbito da transferência de valor no Reino Unido, consultar EFTEC, 201035). A escolha do método de avaliação adequado depende de vários fatores, incluindo qual o tipo de valor a ser determinado, quais os dados que estão disponíveis e/ou que podem ser recolhidos, e a disponibilidade de tempo e recursos. Estes devem ser avaliados como parte integrante da avaliação inicial na Etapa 1 da análise de equivalência. A avaliação dos dados disponíveis e da escala dos danos (e, consequentemente, o nível adequado de esforço analítico) será igualmente útil para a seleção do método de avaliação adequado, e em particular, para se determinar se a transferência de valor é suficiente, ou se será necessária uma investigação preliminar mais onerosa e morosa. A partir do momento em que se estabelece que essa avaliação económica (e, por conseguinte, a análise de equivalência valor-a-valor) é necessária, podem utilizar-se os seguintes critérios para a seleção do método adequado: • Os valores de uso (ou do utilizador) podem ser determinados através dos preços de mercado, ou através dos

métodos de preferência revelada e declarada; • Os valores de não-uso só podem ser determinados através dos métodos de preferência declarada.

33 Arrow, K., Solow, R. Portney, P.R., Leamer, E.E., Radner, R. and Schuman, H. (1993) Report of the NOAA Panel on Contingent Valuation, Washington DC: Resources for the Future.

34 Bateman, I.J., Carson, R.T., Day, B., Hanemann, M., Hanley, N., Hett, T., Jones-Lee, M., Loomes, G., Mourato, S., Ozdemiroglu, E., Pearce, D.W., Sugden, R & Swanson, S (2002). Economic Valuation with Stated Preference Techniques: A Manual. London: Edward Elgar.

35 EFTEC (2010) Valuing Environmental Impacts: Practical Guidelines for the Use of Value Transfer in Policy and Project Appraisal. Report to the UK Department for Environment, Food and Rural Affairs, London.

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• Se o recurso for único (a nível local ou nacional - não necessariamente ao nível global), é provável que existam indivíduos que o valorizam, mesmo que não o utilizem (direta ou indiretamente) pessoalmente. Apesar de os valores de não-uso individuais serem, tendencialmente, inferiores aos valores de uso individuais, o universo de não-utilizadores tem tendência para ser muito maior. Portanto, de um modo geral, os valores de não-uso podem representar um montante substancial e, caso tenham sido causados danos significativos a um recurso ou serviço considerado único, estes não devem ser ignorados.

• Se o recurso ou serviço afetado não forem comercializados, ou não tiverem nenhuma ligação com um bem ou serviço comercializado (por exemplo, um sítio recreativo de livre acesso), não podem ser utilizados dados relativos aos preços de mercado. Consequentemente, devem considerar-se os métodos da preferência revelada e declarada.

• Existem muitos fatores que são específicos a cada recurso/serviço/incidentes, como a localização, o período e duração dos danos. Outros fatores relevantes para a avaliação qualitativa e quantitativa dos débitos e créditos devem igualmente ter um papel na seleção do método de avaliação adequado, como a questão do estado inicial poder ser ou não alcançado. No início de uma análise de equivalência devem consultar-se economistas para que se possam explorar todas as possibilidades.

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ANEXO: SERVIÇOS ECOSSISTÉMICOS Serviços ecossistémicos (Avaliação do Ecossistema do Milénio, 2003 e 2005)36 Apesar do conceito de ecossistema ser antigo, os ecossistemas só se tornaram objeto de estudo há menos de um século, quando em 1935, Arthur Tansley apresentou uma primeira conceptualização científica (Tansley, 193537) e Raymond Lindeman realizou o primeiro estudo quantitativo no contexto de um ecossistema, no início dos anos 40 (Lindeman, 194238). O primeiro livro baseado no conceito de ecossistema foi escrito por Eugene Odum e foi publicado em 1953 (Odum, 195339). Deste modo, o conceito de ecossistema, tão essencial para a compreensão da natureza da vida no planeta terra, é efetivamente uma abordagem recente em matéria de gestão e investigação. A formulação de Tansley sobre um ecossistema incluía «não só o complexo-organismo, mas também todo o complexo de fatores físicos que formam aquilo a que chamamos meio ambiente» (Tansley 1935:299). Tansley verificou que os ecossistemas «apresentam os mais diversos tipos e tamanhos». O principal elemento identificativo de um ecossistema é que, de facto, é um sistema; a localização ou dimensão são importantes, porém secundárias. Seguindo Tansley e os desenvolvimentos subsequentes, a Avaliação do Milénio (AM) optou por utilizar a definição de um ecossistema adotada pela Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB): «um complexo dinâmico de comunidades vegetais, animais e de microrganismos e o seu ambiente não vivo, interagindo como uma unidade funcional» (Nações Unidas 1992: artigo 2.º). A biodiversidade e os ecossistemas são conceitos que estão intimamente ligados. A CDB define biodiversidade como «a variabilidade entre os organismos vivos de todas as origens, incluindo, inter alia, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; esta noção compreende a diversidade no interior de cada espécie e entre espécies, bem como a diversidade dos ecossistemas» (Nações Unidas 1992: artigo n.º 2). Assim, a diversidade é uma característica estrutural dos ecossistemas, e a variabilidade entre os ecossistemas é um elemento da biodiversidade. As partes na convenção aprovaram a «abordagem do ecossistema» como sendo o principal quadro de ação. Para a análise e a avaliação, é importante adotar uma visão pragmática relativamente às fronteiras do ecossistema, que depende das questões que se colocam. Por um lado, toda a biosfera da terra é um ecossistema, visto que os elementos interagem uns com os outros. Numa escala mais pequena, o princípio orientador estabelece que um ecossistema bem definido desenvolve fortes interações entre os seus elementos, e outras interações mais fracas através das suas fronteiras. Uma abordagem prática à delimitação geográfica de um ecossistema envolve a elaboração de uma série de sobreposições de fatores significativos, que visam o levantamento da localização das descontinuidades. Por

36 Avaliação dos Ecossistema do Milénio ou Avaliação do Milénio: todos os documentos e informações em: http://millenniumassessment.org. 37 Tansley, AG (1935). «The use and abuse of vegetational terms and concepts». Ecology 16 (3): 284–307. 38 Lindeman, R.E., 1942: The trophic dynamic aspect of ecology. Ecology, 23, 399–418. 39 Odum, E., 1953: Fundamentals of Ecology. W.B. Saunders, Philadelphia, PA.

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exemplo, a distribuição de organismos, o ambiente biofísico (tipos de solos, bacias de drenagem, profundidade de uma massa de água) e as interações geográficas (extensão do território, padrões de migração, fluxos de matéria). O local onde se encontram várias destas descontinuidades relativas é considerado uma fronteira de ecossistema útil. A uma maior escala, os ecossistemas distribuídos ao nível regional, e mesmo global, podem ser avaliados com base em unidades estruturais básicas comuns. A AM recorre a este quadro para a análise global das propriedades e alterações do ecossistema. Em suma, os serviços ecossistémicos são uma tipologia dos benefícios prestados pelos ecossistemas às populações humanas, e são resumidos do seguinte modo: Serviços de aprovisionamento: São os produtos obtidos a partir dos ecossistemas, e incluem: • Géneros alimentícios e fibras. Incluem a ampla gama de produtos alimentares derivados de plantas, animais e

micróbios, bem como de materiais, como a madeira, a juta, o cânhamo, a seda e muitos outros produtos derivados de ecossistemas.

• Combustível. A madeira, o estrume e outros materiais biológicos servem de fontes de energia. • Recursos genéticos. Inclui os genes e a informação genética utilizados para a criação de animais e cultivo de

plantas, e a biotecnologia. • Bioquímicos, medicamentos naturais e produtos farmacêuticos. Muitos medicamentos, biocidas, aditivos

alimentares, como os de alginatos, e materiais biológicos derivados dos ecossistemas. • Recursos ornamentais. Os produtos de origem animal, como peles, conchas e flores são utilizados como

ornamentos, embora o valor destes recursos seja, normalmente, determinado culturalmente. Este é um exemplo das ligações entre as categorias dos serviços ecossistémicos.

• Água doce. A água doce é um outro exemplo das ligações entre as categorias - neste caso, entre os serviços de aprovisionamento e os serviços reguladores.

Serviços reguladores: São os benefícios obtidos a partir da regulação inerente aos processos ecossistémicos, incluindo: • A manutenção da qualidade do ar. Os ecossistemas fornecem e extraem químicos da atmosfera, influenciando a

qualidade do ar em muitos aspetos. • Regulação do clima. Os ecossistemas influenciam o clima, tanto a nível local como a nível mundial. Por exemplo,

ao nível local, as variações na cobertura dos solos podem afetar tanto a temperatura como a precipitação. Ao nível global, os ecossistemas desempenham um papel importante no clima, tanto através da captação como através da emissão dos gases com efeito de estufa.

• Regulação da água. O calendário e a dimensão do escoamento, das inundações e da recarga de aquíferos podem ser influenciados por alterações na cobertura dos solos. Em particular, todas as alterações que alteram o potencial de armazenamento de água do sistema, como por exemplo, a conversão de zonas húmidas, a substituição de florestas por terras agrícolas ou, ainda, a substituição de terras agrícolas por zonas urbanas.

• Controlo da erosão. A cobertura vegetal tem um papel importante na manutenção do solo e na prevenção de derrocadas.

• A purificação da água e o tratamento de resíduos. Os ecossistemas, como os marinhos e os costeiros, podem ser uma fonte de impurezas para a água doce, mas podem também ajudar a filtrar e a decompor os resíduos orgânicos introduzidos em águas interiores.

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• Regulação de doenças humanas. As alterações nos ecossistemas podem modificar diretamente a abundância de agentes patogénicos humanos, como a cólera, e podem modificar a abundância dos vetores de doença, como os mosquitos.

• Controlo biológico. As alterações do ecossistema afetam a prevalência das pragas e doenças de culturas e animais.

• Polinização. As alterações do ecossistema afetam a distribuição, a abundância e eficácia dos polinizadores. • Proteção de tempestades. A existência de ecossistemas costeiros, como os mangues e os recifes de coral pode

reduzir drasticamente os danos causados por furacões ou por ondas fortes. Serviços culturais: Estes são benefícios não materiais que as pessoas obtêm a partir de ecossistemas, através do enriquecimento espiritual, do desenvolvimento cognitivo, da reflexão, e das experiências recreativas e estéticas, incluindo: • Diversidade cultural. A diversidade dos ecossistemas é um fator que influencia a diversidade das culturas. • Valores espirituais e religiosos. Muitas religiões atribuem valores espirituais e religiosos aos ecossistemas ou aos

seus elementos. • Sistemas de conhecimento (tradicionais e formais). Os ecossistemas influenciam os tipos de sistemas de

conhecimento que são desenvolvidos pelas diferentes culturas. • Valores educativos. Os ecossistemas, bem como os seus elementos e processos fornecem a base para a

educação formal e informal, em inúmeras sociedades. • Inspiração. Os ecossistemas são uma fonte de inspiração para a arte, folclore, símbolos nacionais, arquitetura e

publicidade. • Valores estéticos. Existem muitos indivíduos que encontram beleza e valores estéticos em muitos aspetos dos

ecossistemas. O apoio a parques, a «paisagens pitorescas» e a seleção dos locais habitação revelam esta tendência.

• Relações sociais. Os ecossistemas influenciam os tipos de relações sociais que são estabelecidos em determinadas culturas. Por exemplo, as relações sociais das comunidades piscatórias diferem em muitos aspetos das relações sociais das sociedades agrícolas ou das comunidades pastoris nómadas.

• Sentido de lugar. Existem muitos indivíduos que atribuem valor ao «sentido de lugar» que está associado ao reconhecimento de características do seu meio ambiente, incluindo os aspetos do ecossistema.

• Património cultural. Muitas sociedades atribuem um elevado valor à manutenção de paisagens historicamente importantes («paisagens culturais») ou de espécies com relevância cultural.

• Atividades recreativas e ecoturismo. Geralmente, os indivíduos escolhem onde pretendem passar o seu tempo de lazer e, em parte, baseiam-se nas características das paisagens naturais ou cultivadas, numa determinada área.

Os serviços culturais estão firmemente ligados aos valores e comportamento humanos, bem como às instituições humanas, aos padrões sociais e económicos e às políticas da organização. Assim, é provável que as perceções dos serviços culturais variem mais entre os indivíduos e as comunidades, do que as perceções, por exemplo, relativas à importância da produção de alimentos. Serviços de apoio: Estes são serviços necessários para a produção de todos os outros serviços do ecossistema. São diferentes dos serviços de aprovisionamento, de regulação e dos serviços culturais, pois os seus impactos nas pessoas são indiretos ou ocorrem a longo prazo, ao passo que as alterações nas outras categorias têm impactos

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diretos nas pessoas e ocorrem a curto prazo. (Alguns serviços, como o controlo da erosão, podem ser classificados tanto como serviço de apoio como de controlo, dependendo da escala temporal e do caráter imediato do seu impacto nas pessoas). Por exemplo, os seres humanos não utilizam os serviços de formação do solo diretamente, porém as alterações nestes serviços afetariam, indiretamente, as pessoas através do impacto nos serviços de aprovisionamento da produção de alimentos. Do mesmo modo, a regulação do clima é classificada como um serviço de regulação, uma vez que as alterações do ecossistema podem ter um impacto no clima, ao nível local e global, ao longo de escalas temporais que são relevantes para a tomada de decisão humana (décadas ou séculos). Por outro lado, a produção de oxigénio (através da fotossíntese) é classificada como um serviço de apoio, uma vez que os possíveis impactos na concentração de oxigénio na atmosfera acontecem durante um período de tempo extremamente longo. Outros exemplos de serviços de apoio podem ser o ciclo de nutrientes, o ciclo da água e o aprovisionamento de habitats.

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ANEXO: GARANTIAS FINANCEIRAS

Desde que os Estados-Membros transpuseram a DRA para o seu direito nacional, começaram a surgir inúmeras soluções de seguros. Em particular, as seguintes soluções tornaram-se cada vez mais acessíveis:

• Extensões especiais de seguro de Responsabilidade Civil Perante Terceiros; e

• Extensões de seguro individual de Responsabilidade pela Deterioração Ambiental (EIL) (normalmente são necessárias para danos causados à natureza e às espécies).

O seguro é utilizado com frequência, e considerado como um meio adequado para a proteção dos operadores contra as consequências financeiras relacionadas com determinados acontecimentos imprevisíveis, no âmbito pré-definido de um contrato de seguro. O âmbito do seguro é definido pelas necessidades do operador, por exemplo, a atividade, os potenciais recetores, o quadro legal, a gestão de riscos ambientais do operador. Estas podem variar de operador para operador e de Estado-Membro para Estado-Membro. O limite do seguro é um acordo contratual entre o segurador e o segurado, tendo em conta as necessidades acima mencionadas, a situação do segurado e a apetência para o risco de um segurador individual. Mesmo que uma parte significativa das responsabilidades relativas à DRA possa agora ser coberta no mercado da União Europeia, geralmente, a soma de todas as responsabilidades não corresponde à amplitude do contrato de seguro. Isto acontece porque o contrato pode ter restrições e limitações de cobertura inerentes, como a exclusão de atos intencionais, as multas e sanções, e eventos graduais provocadores de dano ambiental, poluição difusa etc.

De acordo com a legislação de transposição da DRA, a prevenção e reparação de danos ambientais é uma área bastante complexa que envolve a definição e avaliação dos serviços ambientais que se perderam, bem como as medidas de reabilitação adequadas previstas e a sua natureza a longo prazo.

A experiência nesta matéria demonstra que, em muitos Estados-Membros (por exemplo, a Alemanha, França, Itália), o mecanismo de seguro acima descrito tem funcionado bem no mercado livre, onde os segurados podem decidir em que medida pretendem transferir os riscos para a setor segurador, e onde os segurados podem igualmente decidir em que termos e condições pretendem aceitar esses riscos.

Recomenda-se uma revisão periódica aos contratos de seguro, para que se tenham em conta as potenciais alterações às atividades do segurado, ou ao quadro legal, como a execução da DRA.

Por exemplo, na Alemanha, «as políticas da DRA» já se tornaram normas para as indústrias ou operadores expostos ao risco, em que muitas das 140 seguradoras de responsabilidade oferecem contratos no âmbito da DRA. A maior parte dessas companhias de seguros fornece uma garantia com base no modelo descritivo não obrigatório, desenvolvido pela Associação Alemã de Seguros (GDV). As companhias de seguros oferecem esta cobertura por si próprias e não através de contratos comuns. Pode dizer-se que a Alemanha apresenta o mercado mais desenvolvido para políticas da DRA (Nils Hellberg [Leiter Haftpflicht, Kredit, Transport und Luftfahrtversicherung GDV], comunicação por correio eletrónico pessoal, a 11 de novembro de 2012).

O relatório da Comissão (2010), em colaboração com peritos e partes interessadas, concluiu que era demasiado cedo para se recomendar a aplicação de um sistema obrigatório harmonizado em toda a UE. Contudo, sugeriu que,

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sempre que estes fossem aplicados, os regimes de garantias financeiras obrigatórias poderiam adotar uma abordagem gradual, prever a exclusão das atividades de baixo risco e especificar os limites necessários para a garantia financeira.

Uma abordagem gradual significa a aplicação gradual de uma garantia financeira para os diferentes tipos de risco e para os setores industriais ou responsabilidades cobertas. Alguns Estados-Membros que adotaram um regime de garantia obrigatório, limitaram a exigência às atividades do anexo III, para as quais é necessária uma licença, aprovação ou um registo, ao passo que outros Estados-Membros impuseram essa exigência apenas a algumas atividades do anexo III, começando pelas que representam mais riscos (na Hungria a exigência é limitada às instalações IPPC).

Em Espanha, a Lei n.º 26/2007, de 23 de outubro, estabelece que os operadores definidos no anexo III da DRA devem levar a cabo uma avaliação dos riscos ambientais para compreenderem a dimensão dos potenciais riscos ambientais das suas operações. O limiar que define se a garantia financeira se torna ou não obrigatória depende da certificação que o operador detém, se EMAS ou ISO:

• Os operadores que não têm Sistemas de Gestão da Qualidade Ambiental com certificação EMAS ou ISO devem estabelecer uma garantia financeira, caso a sua avaliação dos riscos ambientais tenha determinado danos potenciais no valor de 300.000 € ou mais;

• Os operadores que têm Sistemas de Gestão da Qualidade Ambiental com certificação EMAS ou ISO têm de estabelecer uma garantia financeira, caso a sua avaliação dos riscos ambientais tenha determinado danos potenciais no valor de 2.000.000 € ou mais.

Além de ser um instrumento que determina a obrigação de um operador no estabelecimento de uma garantia financeira obrigatória e da sua escala, a avaliação dos riscos ambientais é também um instrumento utilizado na tomada de decisão e na gestão dos riscos, que permite aos operadores aplicarem medidas para a redução dos riscos potenciais com os quais poderão ter de lidar, e para minimizar as potenciais consequências.

O n.º 3 do ponto 14, da Lei relativa à responsabilidade ambiental Checa (167/2008), prevê que «a garantia financeira pode não ser assegurada por um operador que, em virtude de uma avaliação do risco, consiga provar que as suas atividades operacionais são suscetíveis de causar danos ambientais cuja reparação teria um custo inferior a 20.000.000 CZK (coroas checas), ou danos ambientais cuja reparação teria um custo superior a 20.000.000 CZK e o operador está registado no programa EMAS18, ou já iniciou ou processo de registo nesse programa, ou tem um sistema de gestão da qualidade ambiental reconhecido ao abrigo do conjunto de normas ČSN EN ISO 14000, ou já iniciou, comprovadamente, o processo necessário para a obtenção de tal certificação.»

A caixa A.1 apresenta algumas informações sobre a cobertura de garantias financeiras em alguns dos Estados-Membros

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Caixa A.1: Garantias financeiras previstas na legislação de alguns Estados-Membros.

1. Lei n.º 26/2007 relativa à Responsabilidade Ambiental espanhola: (artigo 26.º, Modalidades) A garantia financeira pode ser constituída por quaisquer um dos seguintes meios, que podem ser alternativos ou complementares em termos da quantidade e acontecimentos que são garantidos:

a) Uma apólice de seguro em conformidade com a Lei relativa ao Contrato de Seguro, Lei n.º 50/1980, de 8 de outubro, celebrada com uma companhia de seguros autorizada a operar em Espanha. Neste caso, as funções mencionadas no artigo 33.º deverão ser exoneradas pelo Consórcio de Compensação de Seguros (Insurance Clearing Consortium).

b) Uma garantia concedida por uma instituição financeira autorizada a operar em Espanha.

c) A constituição de uma reserva técnica sob a forma de um fundo ad hoc, que consiste em investimentos financeiros suportados pelo setor público.

A garantia financeira escolhida pode incluir as condições limitativas ou delimitativas do dano, tal como previsto no presente ponto ou noutros determinados pela legislação.

2. Decreto-lei português n.º 147/2008: (artigo 22.º, Garantias financeiras obrigatórias) 1 - Os operadores que realizem as atividades ocupacionais enumeradas no anexo III, devem apresentar, uma ou mais, garantias financeiras obrigatórias autónomas, alternativas ou complementares, que lhes permitam assegurar a responsabilidade ambiental;

2- As garantias financeiras podem ser adquiridas através da subscrição de apólices de seguro, da obtenção de garantias bancárias, da participação em fundos de ambientais, ou através do estabelecimento de formas específicas de financiamento, reservadas para este efeito;

3 - As garantias obedecem ao princípio da exclusividade, não podendo ser desviadas para outros fins, nem ser sujeitas a qualquer ónus parcial ou completo, original ou superveniente;

4 - Podem estabelecer-se limites menores para a constituição de garantias financeiras obrigatórias, através de uma regulamentação aprovada pelos membros do governo responsável pelos domínios financeiro, do ambiente e da economia, que digam respeito: a) ao âmbito das atividades cobertas; b) ao tipo de risco que deve ser coberto; c) à duração da garantia; d) ao âmbito temporal da aplicação da garantia; e) e ao montante mínimo que deve ser garantido.

3. Lei búlgara relativa à Responsabilidade, em matéria da prevenção e reparação de danos ambientais, de 29 de abril de 2008: (artigo 43.º)

(1) Os operadores que realizem as atividades enumeradas no anexo 1 devem garantir o cumprimento financeiro das medidas preventivas e corretivas, nos casos previstos na lei, pelo menos, numa das seguintes formas:

1. (em vigor a partir de 1 de janeiro de 2011) apólice de seguro; 2. garantia bancária; 3. a hipoteca sobre imóveis e/ou os direitos efetivos para tal; 4. a hipoteca de receitas, bens móveis ou títulos.

(2) (A partir de 1 de janeiro de 2011) Os operadores que realizem as atividades enumeradas no anexo 1 podem

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apresentar ao Ministério do Ambiente e da Água uma apólice de seguro, a favor do Ministério do Ambiente e da Água, para cobrir o risco de ameaça iminente, ou o risco de ocorrência, de danos ambientais, no prazo de sete dias a contar da assinatura do contrato de seguro.

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ANEXO: AVALIAÇÃO DOS DANOS PROVOCADOS POR UM PARQUE EÓLICO ATRAVÉS DA ANÁLISE DE EQUIVALÊNCIA

Este estudo de caso é um pedido de análise de equivalência recurso-a-recurso, para uma avaliação ex ante dos potenciais danos da localização de um parque eólico.

Se colocadas nas rotas migratórias, as turbinas eólicas resultam num nível de morte de aves reduzido, mas persistente. A maior parte das aves migratórias está sujeita ao risco de danos causados por parques eólicos. As aves de rapina são uma das categorias de aves mais prejudicada pelos parques eólicos. Os danos podem ocorrer quando as aves colidem com rotor, quando voam em direção aos cabos de suporte, às torres e/ou às linhas de transmissão. Sempre que uma ave morre devido a uma turbina eólica ou das infraestruturas de apoio, perdem-se os serviços prestados por essa ave. De acordo com a Diretiva 79/409/CEE relativa à Conservação das Aves Selvagens, de 2 de abril de 1979, das cerca de 500 espécies de aves deste Estado-Membro específico, cerca de 25 % são espécies protegidas devido às ameaças de extinção.

Foi realizada uma análise de equivalência, como parte integrante de uma avaliação económica mais ampla, com o objetivo de se compreender os benefícios e custos da instalação de um novo parque eólico com 200 turbinas.

Para se determinar os danos causados às aves através de uma abordagem de equivalência de recurso-a-recurso, é necessário selecionar uma unidade de medida (medição) para a quantificação. Existem várias medidas potenciais, como: unidades de área de habitat; número de aves mortas; número cumulativo de classes etárias de aves mortas; ou o número cumulativo de aves mortas e da respetiva progenitura. Para esta equivalência determinou-se que a medida adequada era a do número cumulativo de classes etárias de aves mortas. Esta medida corresponde ao número de aves mortas inicialmente, e às diferenças nas classes etárias e no potencial de reprodução.

Para desenvolver uma estimativa do potencial dano (débito) causado às aves, resultantes de parques eólicos, utilizou-se informação e dados de parques eólicos existentes. As principais informações utilizadas foram o número estimado de aves de rapina mortas por turbina por ano, que é um bom indicador (medida) para o total de impacto para as aves. Devido aos padrões migratórios e aos fluxos de vento comuns, a aves de rapina são uma das classes de aves mais afetadas por turbinas eólicas. A análise apurou que era adequado utilizar o número de mortes das aves de rapina como medida de equivalência.

Após uma revisão da literatura relativa ao número de aves de rapina mortas por turbinas eólicas por ano, chegou-se a uma estimativa de 0,05 aves de rapina/turbina/ano. Estudos adicionais demonstraram que, aproximadamente, apenas 50 % das aves mortas por turbinas são observadas diretamente. Com esta informação, e com as informações já conhecidas relativas às classes etárias, associadas às aves de rapina mortas que foram observadas, e à sua capacidade de reprodução por classe etária, os analistas determinaram que, durante os 25 anos de vida do parque eólico, as 200 turbinas resultariam numa perda aproximada de 900 aves de rapina-anos no meio ambiente. Esta perda de 900 aves de rapina-anos corresponde ao débito da análise de equivalência.

Para identificar as possíveis compensações (créditos) para esse débito, os analistas reviram a informação existente sobre os tipos de ações que poderiam ser levadas a cabo para melhorar a capacidade de sobrevivência e de reprodução das aves de rapina. Estes estudos concentraram-se nas ações que poderiam ser realizadas para aumentar as taxas de população jovem, a capacidade de sobrevivência e de produção. A partir desta revisão, foram identificados três tipos de projetos: programas de «criação», de controlo de contaminação e de reabilitação das aves

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de rapina. Os programas de criação tentam aumentar diretamente as taxas de população jovem, removendo os ovos dos ninhos e criando os pintos em ambientes controlados, para depois voltar a introduzi-los no meio selvagem. Os programas de controlos da contaminação, normalmente, concentram-se na remoção dos contaminantes que reduzem a produtividade do ambiente, por exemplo, o chumbo. Os programas de recuperação e reabilitação das aves de rapina têm como objetivo a captura de aves doentes ou feridas para ajudar à sua recuperação, libertando-as novamente na vida selvagem. A partir da revisão da literatura realizada, considerou-se que os programas de criação eram os mais eficazes, pois eram capazes de aumentar diretamente, e em tempo oportuno, o número de aves de rapina.

O programa de criação foi avaliado para aumentar o número de aves de rapina no meio selvagem. Para cada ave jovem, a taxa de sobrevivência no 1º ano aumentaria em 25 % e os analistas calcularam que a libertação, depois do programa, de cada ave de rapina com 1 ano de idade resultaria num aumento do crédito de 2,8 aves de rapina-anos.

Com base nestes cálculos, um programa de criação para aves de rapina, que libertasse, por ano, 40 aves de 1 ano de idade durante um período de dez anos, poderia produzir um crédito de aproximadamente 900 aves-anos. O custo de um programa de criação inclui os custos de arranque, as atividades anuais de criação (recolha dos ovos, criação e libertação) e o custo do acompanhamento anual. As estimativas dos custos variam consoante a localização, a dimensão global do programa e se está ou não associado a uma universidade ou a uma organização não-governamental. Com base nas estimativas disponíveis para os analistas, foi estimado um custo aproximado de 7.500 € por ave. Durante os 10 anos de vida do programa, e com um acréscimo de cinco anos de acompanhamento - estimou-se que o custo total do valor atual do programa de criação seria, aproximadamente, de 3.000.000 €.

Em suma, a compensação dos danos causados às aves de rapina resultantes da instalação de um parque eólico com 200 turbina, poderia ser cumprida através de um programa de criação ativo. Para compensar o dano na totalidade, o programa teria de libertar cerca de 40 aves de rapina, com 1 ano de idade, todos os anos durante dez anos. O custo para executar tal programa, acompanhá-lo e apresentar relatórios sobre os resultados seria de, aproximadamente, 3.000.000 €.

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ANEXO: EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO DE DANOS

Neste exercício irá rever materiais que descrevem a libertação de poluição ao longo da costa40. Os participantes devem dividir-se em pequenos grupos de dois ou três indivíduos para levar a cabo um exercício de avaliação de danos e de equivalência. A duração prevista para a realização do exercício é de aproximadamente três horas. É sugerido o tempo necessário para cada secção.

Os materiais necessários para o exercício incluem:

• Diretiva Responsabilidade Ambiental; • Manual da DRA para 2 dias de Formação.

O exercício encontra-se dividido em quatro secções:

1. Desenvolvimento de uma avaliação preliminar para determinar o incidente à luz da avaliação de danos ao abrigo da DRA;

2. Avaliação das categorias dos danos potenciais e dos métodos de avaliação aplicável; 3. Aplicação de métodos de avaliação para os danos selecionados; 4. Discussão de grupo realizada pelos participantes da formação.

Descrição do Incidente

A 20 de junho de 2011, verificou-se que um reservatório de petróleo bruto com centenas de milhares de litros, situado no local de uma refinaria de petróleo, tinha uma fuga. A maior parte do petróleo foi retida na zona de contenção ao redor do reservatório. Uma válvula de libertação da zona de contenção, concebida para permitir a remoção de águas pluviais, foi acidentalmente deixada aberta e o petróleo fluiu da zona de contenção para um curso de água e para as zonas húmidas próximas. Cerca de 2,5 quilómetros do curso de água doce e aproximadamente 50 hectares de zonas húmidas foram fortemente poluídos pelo petróleo. Antes de entrar nas águas da baía, o petróleo preencheu cerca de 35 hectares de zonas húmidas a uma profundidade superior a 10 cm. Em geral, as zonas húmidas desta região encontram-se em bom estado de conservação. Antes de se ter localizado e cessado a fonte do derrame, cerca de 2,5 milhões de litros de petróleo bruto pesado tinham já contaminado o ambiente. Responderam ao derrame inúmeros funcionários da autoridade competente, representantes das companhias petrolíferas, prestadores de serviços de descontaminação, cientistas e outros. Na tentativa de recuperar a maior parte de petróleo possível, o pessoal responsável pela descontaminação utilizou equipamento de remoção de petróleo, boias de contenção e materiais sorventes. Depois de se remover a maior quantidade de petróleo possível, iniciou-se a limpeza do petróleo na linha costeira. A limpeza da orla marítima das povoações situadas ao longo da baía envolveu a lavagem com água a alta pressão para retirar o petróleo das docas, pontões e molhes. O petróleo no leito foi agitado para se libertar tanto petróleo quanto possível. Foi removida muita da vegetação ripícola a longo de 1,5 km do curso de água, como salgueiros e tabúas-largas, para evitar que o rio fosse novamente contaminado. Tendo em conta que muito do petróleo permaneceu no pântano, podendo constituir uma fonte de contaminação contínua do rio a longo prazo, foram drenados 35 hectares de zonas húmidas fortemente poluídas, a vegetação contaminada foi cortada e foram removidos 10 cm de superfície do solo. 40 Os factos utilizados neste exercício são empregados tendo em vista vários casos de avaliação de danos na vida real.

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O que foi danificado? O derrame teve impacto na vida selvagem, nos habitats e nas utilizações recreativas humanas. Foram afetados, de maneira específica, os seguintes recursos naturais ou serviços: os danos incluíram efeitos diretos na fauna e flora selvagens; danos ao habitat; e zonas recreativas. Devido à libertação de petróleo verificou-se o encerramento de praias para recreação e pesca recreativa. Especificamente foram afetados os seguintes recursos naturais ou serviços: Fauna e flora selvagens Peixes: O curso de água abrigava muitas espécies de peixes de água doce. Todos os peixes deste troço do rio morreram. Logo após o derrame foram recolhidos cerca de 2000 kg de peixes mortos. Estima-se que tal representa cerca de 50 % da quantidade total de peixes mortos resultantes do derrame. Aves: mais de 20 espécies de aves foram afetadas pelo derrame. As espécies principais incluem zarros-bastardos, aves limícolas e aves marinhas. Mérgulos-marmorizados e borrelhos-de-coleira-interrompida, duas das espécies afetadas, são espécies com estatuto especial. Mais de 2500 aves foram recolhidas mortas ou morreram em cativeiro. Estima-se que morreram três vezes mais aves, apesar de não terem sido recolhidas dada a impossibilidade de as localizar. Outras 3000 aves contaminadas foram limpas por pessoas e devolvidas ao meio selvagem. Habitats costeiros Curso de água de doce: Cerca de 3 quilómetros do curso de água doce foram fortemente poluídos pelo petróleo. Este misturou-se na coluna de água e fixou-se no fundo do curso de água e o habitat ripário nas margens do curso de água foi removido. A agitação do fundo do curso de água para a remoção do petróleo deslocou ou matou a maioria dos invertebrados bentónicos numa extensão de 2,5 km do curso de água. Zonas húmidas: Cerca de 50 hectares de habitats de zona húmida foram poluídos, dos quais 35 hectares apresentaram indícios de forte contaminação. No âmbito das ações de reparação primária, 35 hectares de zona húmida foram removidos para limitar a exposição a longo prazo dos animais ao petróleo. É esperado que, para as zonas húmidas e para a estrutura do subsolo regressarem totalmente às condições iniciais, sejam precisos 25 anos. Outros 15 hectares de zonas húmidas foram ligeiramente poluídos estimando-se que a sua recuperação ocorra dentro de até cerca de 4 anos. Praias de areia: Aproximadamente 2000 metros de linha costeira de praia de areia foram contaminados. Cerca de metade foi ligeiramente contaminada, enquanto a outra foi fortemente contaminada. As praias foram fechadas e os seus usos recreativos suspensos durante cerca de 2 meses, como resultado do derrame e das atividades de limpeza. Após a reabertura das praias, verificou-se um regresso gradual das pessoas, apesar de ter demorado mais um mês, aproximadamente, para que a praia restituísse o seu estado inicial de uso. Durante esse período perderam-se cerca de 500.000 dias de utilizador de atividades recreativas de praia. AVALIAÇÃO PRELIMINAR (30 minutos):

Na avaliação preliminar deve considerar as informações seguintes:

• Descrição geral do incidente – localização, mecanismo, Operador • Tipo de materiais libertados ou dano físico do incidente • Quantidade de materiais libertados do incidente • Tipos de habitats ou ambientes recetores contaminados pela libertação • Dimensão física geral do incidente – hectares, metros de rio, litros de águas subterrâneas etc. • Tipos de animais, plantas e habitats potencialmente danificados pelo incidente

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• Qualquer morte observada de animais e plantas resultantes do incidente

A avaliação preliminar incluirá uma determinação e justificação preliminares baseadas nas seguintes questões:

• O incidente está ao abrigo da DRA? • O incidente está ao abrigo de algumas Convenções Internacionais enumerados no anexo IV da DRA, que

possam limitar a aplicabilidade da DRA? • Existe alguma proteção ou isenção aplicável? • A atividade ocupacional está enumerada no anexo III da DRA? • A responsabilidade pelo incidente é baseada na culpa? • Causalidade – É possível estabelecer um nexo de causalidade entre o dano e a libertação? • Significância – é provável que o dano seja significativo?

ANÁLISE DAS CATEGORIAS POTENCIAIS DE DANOS E DOS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO E DE EQUIVALÊNCIA APLICÁVEIS (30 minutos): Ao levar a cabo uma abordagem de avaliação global as questões a considerar incluem: • Prevê-se que a reparação primária será suficiente para responder aos danos? • Prevê-se que a reparação complementar, para as zonas húmidas, aves e praias, possa ser feita? • Quais são as abordagens possíveis para determinar a escala da reparação compensatória para os danos de

diferentes categorias? • Quais os habitats/espécies que podem ser agrupados para avaliação e quais os habitats/espécies que podem ser

avaliados individualmente? • Quais os métodos de equivalência adequados para determinar a reparação compensatória? • Quais os dados necessários para completar uma avaliação? • Se fosse necessário levar a cabo uma análise de equivalência da reparação compensatória dos danos às zonas

húmidas e às perdas no uso recreativo das praias, que abordagens seriam adequadas? Quais os dados específicos necessários?

APLICAÇÃO DA ANÁLISE DE EQUIVALÊNCIA (1,5 horas): Abaixo, estão disponíveis algumas informações adicionais para realizar uma análise de equivalência dos danos resultantes do derrame causados às zonas húmidas. Informação adicional para conduzir uma Análise de Equivalência dos Habitats para as zonas húmidas perdidas: Área de zonas húmidas perdidas – 35 hectares fortemente poluídos, 15 hectares moderadamente poluídos Nível de dano inicial – baseado na perda de cobertura vegetal e estrutura do subsolo - Zonas fortemente poluídas: 100 % de perda; zonas ligeiramente poluídas: 25 % de perda Anos para a recuperação total dos habitats das zonas húmidas – Zonas fortemente poluídas: 25 anos; zonas ligeiramente poluídas: 4 anos Existem duas zonas onde pode ocorrer a reparação compensatória. • A área A é uma zona húmida degradada de 250 hectares situada a 15 km do local danificados. Esta zona húmida

opera a cerca de 75 % do seu potencial ecológico. Se for melhorada, esta zona húmida poderá fornecer recursos e serviços do mesmo tipo de plantas e espécies de vida selvagem que as zonas húmidas danificadas pelo derrame. Podem ser tomadas ações para melhorar estas zonas húmidas e aumentar a sua função ecológica geral de 75 % para 100 %, o que as poderá colocar em bom estado de conservação. Isto demorará à volta de 2

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anos a desenvolver, a planear e a obter a aprovação para as ações de reparação específicas, seguidas de outros 2 anos até que as ações de reparação produzam os seus efeitos completos. Prevê-se que as zonas húmidas melhoradas durem pelo menos 50 anos. O custo para levar a cabo as ações de reparação é de cerca de 25 000 € por hectare.

• A área B é uma zona húmida degradada de 100 hectares situada a 30 km do local danificado. Esta zona húmida

encontra-se gravemente degradada e opera a cerca de 25 % do seu potencial ecológico total. Se for melhorada, esta zona húmida poderá fornecer recursos e serviços semelhantes aos tipos de plantas e espécies de vida selvagem que as zonas húmidas danificadas pelo derrame. Podem ser tomadas ações para melhorar estas zonas húmidas e aumentar a sua função ecológica geral de 25 % para 100 %, o que as aproximaria do bom estado de conservação. Serão precisos cerca de 2 anos para desenvolver, planear e obter a aprovação para as ações de reparação específicas, seguidas de outros 5 anos até que as ações de reparação produzam todos os seus efeitos. Prevê-se que as zonas húmidas melhoradas durem pelo menos 50 anos. O custo para levar a cabo as ações de reparação é de cerca de 50 000 € por hectare.

Questões a responder para a análise de equivalência (1 hora):

• Qual é o débito, no que respeita a perda de serviços de zonas húmidas por ano, causado pelo derrame? • Quanto crédito pode ser gerado nos dois potenciais locais de reparação, Área A e Área B? • Que tipos de créditos seriam fornecidos por cada local de reparação e a quem? • Qual deles poderia fornecer a reparação compensatória mais rentável? • Qual é o custo da reparação compensatória? • Quais poderão ser os esforços de acompanhamento e de comunicação adequados para compreender as

melhorias realmente fornecidas pela reparação compensatória? • Caso a reparação escolhida não corra como planeado (por exemplo, se for morosa, se não fornecer todos os

benefícios), quais os tipos de ações de gestão adaptativa que poderão vir a ser necessários? • Qual é o custo previsto da avaliação?

o Custo para realizar a avaliação incluindo a análise preliminar? o Custo da reparação compensatória? o Custo do acompanhamento e da apresentação de relatórios? o Custos imprevistos?

Ver também o ficheiro Excel associado a este exemplo. Nome de ficheiro: <<ELD_2 Days Training example worksheet.xls>>