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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - CAMPUS I PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUAGEM E ENSINO LINHA DE PESQUISA: LINGUAGEM E INTERAÇÃO EM CONTEXTO DE ENSINO ELABORAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA CENTRADA NO GÊNERO CARTUM ANA MARIA BARRETO FREIRE JOÃO PESSOA - PB 2007

elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

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Page 1: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - CAMPUS I PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUAGEM E ENSINO

LINHA DE PESQUISA: LINGUAGEM E INTERAÇÃO EM CONTEXTO DE ENSINO

ELABORAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

CENTRADA NO GÊNERO CARTUM

ANA MARIA BARRETO FREIRE

JOÃO PESSOA - PB 2007

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ANA MARIA BARRETO FREIRE

ELABORAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA CENTRADA NO

GÊNERO CARTUM

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Letras da UFPB, como

requisito para obtenção do título de Mestre

em Letras, na área de Linguagem em

Contexto de Ensino.

Orientadora: Professora Dra. Maura

Regina Dourado

Co-orientadora: Professora Dra. Maria das

Graças Carvalho Ribeiro

João Pessoa, 2007

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FICHA CATALOGRÁFICA

BARRETO FREIRE, Ana Maria Elaboração de uma seqüência didática centrada no gênero cartum Ana Maria Barreto Freire João Pessoa, 2007, 81p. Orientadora: Profª Drª Maura Regina Dourado Dissertação (Mestrado) –UFPB-CCHLA

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TERMO DE APROVAÇÃO

ANA MARIA BARRETO FREIRE

ELABORAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA CENTRADA NO GÊNERO

CARTUM

Dissertação aprovada como requisito para a obtenção do título de mestre em Letras, área de concentração em Linguagem e Ensino, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba – UFPB.

Aprovação: João Pessoa, _______/________/ 2007

Profª. Dra. MAURA REGINA DOURADO – PPGL/UFPB

Profa Dra. MARIA DAS GRAÇAS CARVALHO RIBEIRO

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Dissertação de Ana Maria Barreto, intitulada Elaboração de uma seqüência

didática centrada no gênero cartum, defendida e aprovada como requisito final

para a obtenção do título MESTRE EM LETRAS, no Programa de Pós-graduação

em Letras da Universidade Federal da Paraíba.

BANCA EXAMINADORA

Professora Dra. Maria das Graças Carvalho Ribeiro

Co- orientadora

Examinadora

Examinadora

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela força em todos os momentos;

À minha orientadora, Professora Dra. Maura

Regina Dourado pela orientação constante e

competente;

À professora Dra. Maria das Graças Carvalho

Ribeiro, por ter aceitado, no papel de co-

orientadora, representar a Professora Dra. Maura

Regina Dourado (orientadora);

Ao meu querido marido, Carlos, por toda sua

compreensão, amor e companheirismo.

À minha amada filha Maria Eutália, por completar

minha vida.

Aos meus pais, por todo amor e apoio;

Aos meus irmãos, pelo incentivo, especialmente a

Sérgio e Kionara, pela acolhida em sua casa durante

esse período tão importante em minha vida;

Aos meus professores e colegas do mestrado;

A todos aqueles que direta ou indiretamente me

ajudaram a concluir o mestrado.

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RESUMO

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (PCN) (re)pensam o ensino de língua materna e estrangeira à luz das teorias de linguagem, letramento, ensino-aprendizagem e gêneros textuais e objetivam o desenvolvimento de habilidades comunicativas e pensamento crítico, necessárias a um usuário competente da linguagem. Dentre a grande diversidade de gêneros textuais, optamos pelo gênero cartum para elaborar uma seqüência didática por se tratar de um gênero que, apesar de ser pouco trabalhado nos livros didáticos de língua inglesa para o ensino fundamental, pode gerar maior interesse dos alunos, por ser da esfera humorística. De natureza teórico-aplicada, a pesquisa apresenta duas etapas. A primeira compreende a análise da abordagem de cartuns em livros didáticos, um de língua portuguesa e um de língua estrangeira do ensino fundamental. A segunda etapa envolve a elaboração de uma proposta de seqüência didática centrada no gênero cartum. Na análise dos livros verificamos que: i) apesar de não contemplar todos os constituintes do gênero propostos por Bakhtin, o livro de língua portuguesa apresenta atividades de linguagem que vão ao encontro dos postulados dos PCN para o ensino de português. No entanto, em algumas atividades, há falhas ao antecipar a resposta para os alunos; ii) o livro de língua estrangeira não apresenta abordagem do gênero e utiliza-o apenas como pretexto para o ensino de gramática. A seqüência didática proposta está ancorada nas teorias de gênero textual e letramento e tenta realizar a transposição didática das recentes orientações curriculares visando a formação de um usuário competente da linguagem, capaz de agir discursivamente num mundo globalizado, cujas práticas de linguagem, atualmente, se realizam na língua inglesa.

Palavras chaves: PCN, ensino de inglês, gêneros textuais, seqüência didática, cartum.

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ABSTRACT

Parameters for the Brazilian National Curriculum (PCN) rethink the teaching of first and foreign languages in Brazil based on language, literacy and textual genre theories and aim promoting the development of communicative and critical thinking skills needed by effective language users. Among a wide range of genres, I chose cartoons. Despite the fact of not being given attention in Brazilian EFL textbooks, cartoons may enhance students’ interest for the very reason that they belong to a humorous social context. Based on this assumption, the purpose of this research is twofold: first, it analyzes how cartoons are approached in two language textbooks (one in Portuguese and one in English). Second, it puts forward a cartoon-based didactic sequence for the teaching of English. The analysis reveals that i) although the Portuguese textbook does not consider all elements that constitute the genre, it presents language activities which are in agreement with the PCN premises. However, in some activities, there are failures when it anticipates answers to students in task prompts; ii) in the EFL textbook, cartoons are used as a tool for the teaching of grammar. Finally, the target didactic sequence, hereby submitted, is grounded in text genre and literacy theories and aims at putting the recent educational parameters into practice. My ultimate objective is to enable in-training language users to discursively enact in a globalized world, in which language practices are currently carried out in English.

Key words: PCN, EFL, textual genres, didactic sequence, cartoon

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I-GÊNEROS TEXTUAIS-SITUANDO AS BASES TEÓRICAS 15

1.1. Práticas sociais e Linguagem 15

1.2. O Conceito de Gênero 16

1.3. Gêneros e Tipos 19

1.4. Gêneros Textuais e Ensino 20

1.5. Gêneros Textuais: do Currículo à Seqüência Didática 23

1.6. Seqüência Didática e Temas Transversais 25

CAPÍTULO II-DOS QUADRINHOS AO CARTUM 27

2.1. Histórico dos Quadrinhos 27

2.2. Elementos Constitutivos dos Quadrinhos e Características 29

CAPÍTULO III-METODOLOGIA 35

3.1. A Pesquisa 35

3.2. O Corpus 35

3.3. Procedimentos e Critérios para Análise dos Cartuns nos Livros Didáticos 36

3.4. Procedimentos para a Elaboração da Seqüência Didática 37

CAPÍTULO IV-ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS 39

4.1.Os livros didáticos e suas propostas metodológicas 40

4.1.1.Português: Linguagens (Cereja e Magalhães, 1999 e 2006). 40

4.1.2 Hello!( Morino e Faria,2004) 41

4.2. A Abordagem do Cartum nos Livros Didáticos 42

4.2.1.1 O conceito de gênero 43

4.2.1.2 A localização do cartum 44

4.2.1.3. As atividades de linguagem 45

4.2.1.4. As dimensões bakhtinianas e a abordagem do cartum 50

4.2.2 A abordagem ao cartum 2 analisado no livro didático de língua portuguesa 51

4.2.2.1. O conceito de gênero 51

4.2.2.2 A localização do cartum 52

4.2.2.3 As atividades de linguagem 52

4.2.2.4. As dimensões bakhtinianas e a abordagem ao cartum 54

4.2.3. A abordagem ao cartum no Livro Didático de Língua Estrangeira 54

4.2.3.1. A localização do cartum 55

4.2.3.2. O conceito de gênero 55

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4.2.3.3. As atividades de linguagem 55

4.2.3.4 As dimensões bakhtinianas e a abordagem do gênero 57

4.3. Português: Linguagens (Cereja e Magalhães) e o PNLD 57

CAPÍTULO V-A SEQÜÊNCIA DIDÁTICA 59

5.1. Módulo 1 - A Ativação do Conhecimento de Mundo 61

5.2. Módulo 2 - Apresentação da Situação de Comunicação: do Gênero 64

5.3. Módulo 3-Atividades de Linguagem Verbal e Não Verbal 65

5.4. Módulo 4 - Componentes Constitutivos do Gênero 72

5.5. Módulo 5 - Do Gênero como Objeto de Estudo ao Gênero como Prática Social

75

CONCLUSÃO 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 80

ANEXOS 83

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Sumário de Figuras (cartuns, tiras e quadrinhos) Figura 1: Tira do Peanults 28 Figura: 2 Painel turma da Mônica 30 Figura 3: Trilho Cebolinha e Mônica 31 Figura 4: Balão do Garfield 32 Figura 5: Legenda da Mônica em Romeu e Julieta 32 Figura 6: Balões apresentando aspectos visuais da linguagem diversificados 33 Figura 7: Cartum apresentando temática sobre a família 33 Figura 8: Cartum de Quino 42 Figura 9: Cartum sobre a Sabedoria 50 Figura 10: Cartum para abordagem do Modo Imperativo 54 Figura 11: Cartum sobre obesidade infantil 60 Figura 12: Cartum aluno de música e professor 67 Figura 13: Cartum funcionário e patrão 67 Figura 14: Cartum pai e filho olhando o boletim escolar 68 Figura 15: Cartum menino e papagaio olhando uma prova escolar 68 Figura 16: Mulher conferindo o peso 69

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INTRODUÇÃO

O ensino de língua estrangeira tem passado por diversas mudanças e

questionamentos nas últimas três décadas, prova disso são as diversas abordagens e

métodos utilizados ao longo do tempo: método áudio visual, total physical response,

abordagens comunicativas, dentre outras. Questionamentos sobre o que ensinar e como

ensinar estão cada vez mais freqüentes nas discussões sobre o ensino de língua. Se antes o

ensino era pensado como ensino de estruturas lingüísticas e vocabulário, hoje num mundo

globalizado, no qual a comunicação intercultural é uma necessidade e realidade, tal

concepção de ensino não é suficiente para a formação do aluno usuário de língua

estrangeira. Atualmente, na área de língua estrangeira, falamos de conteúdo formativo,

construção de sentido, identidade social, transformação social, comunicação intercultural

(cf. Zuengler & Miller, 2006; Referenciais Curriculares da Paraíba, 2007), e não apenas do

código e das estruturas lingüísticas.

Alinhados a mudanças na área de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sugerem uma redefinição dos objetivos do

ensino de língua estrangeira. Além disso, os conteúdos são agora orientados para o “mundo

multilíngüe e multicultural em que [o aluno] vive; a compreensão global (escrita e oral); o

empenho na negociação do significado e não na correção” (PCN de LE, 1998, p.66).

À medida que os PCN de LE versam sobre o ensino de língua pautado no mundo

multilíngüe e multicultural, na compreensão, os gêneros textuais se mostram como uma

ferramenta com a qual podemos alcançar tais objetivos. Os gêneros se apresentam como

alternativa ou mesmo ferramenta porque oportunizam trabalhar com a língua(gem) tal qual

ela se apresenta, ou seja, com textos contendo experiências reais de uso da língua(gem), e

não pré-fabricados. Ademais, o ensino centrado nos gêneros textuais, norteado por uma

abordagem que contemple suas características, funções, organização, etc, é relevante para a

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formação do aluno na medida em que lhe permite estudar a língua(gem) em situações reais

de uso, o que, por sua vez, pode possibilitar o efetivo aprendizado e apropriação de cada

gênero, e conseqüentemente da língua(gem).

Nosso trabalho constitui-se de uma proposta para o ensino de língua estrangeira

baseada em gêneros. Considerando a infinidade de gêneros textuais existentes, optamos

pelo gênero cartum por se tratar de um gênero que, apesar de ser pouco trabalhado nos

livros didáticos de língua inglesa para o ensino fundamental, pode gerar maior interesse

dos alunos, pois, como Norton & Vanderheyden(2004) argumentam, os gêneros da esfera

humorísticas geram interesse, aumentam a motivação, apresentam língua(gem) acessível,

podendo tornar a aprendizagem significativa.

Outra razão para a escolha do gênero cartum é que esse gênero é de freqüente

circulação e familiar aos jovens. Ressaltamos, também, que explorar o cartum implica

proporcionar aos alunos a oportunidade de tornarem-se leitores de mais uma forma de

linguagem além das tradicionalmente dominadas, para não mencionar a inclusão do

componente criticidade na leitura comumente realizada de cartuns. Um outro aspecto que

vale ser destacado é o fato de muitos cartuns trazerem como temas questões sociais e

valores morais que podem promover a reflexão dos alunos sobre tais questões,

contribuindo, assim, em sua formação cidadã, como estabelecem, por exemplo, os artigos

27 e 32 da LDB 1996:

Art 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: [...] II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores.

(ênfase nossa)

Face ao exposto, o objetivo geral dessa dissertação constitui-se na elaboração de

uma seqüência didática em língua inglesa, para o 9o ano do Ensino Fundamental,

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utilizando o gênero cartum, produzido em língua inglesa. Para tal fim, elaboramos os

seguintes objetivos específicos:

I. caracterizar o cartum com base nas teorias de gênero textual;

II. analisar a abordagem do gênero cartum realizada em dois livros didáticos;

III. propor uma seqüência didática centrada no gênero cartum.

A elaboração de uma seqüência didática centrada em um gênero textual vem ao

encontro dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, uma vez que

esses documentos postulam a necessidade de (re)pensar o ensino de língua materna e

estrangeira à luz das teorias de linguagem, letramento, ensino aprendizagem e gêneros

textuais, objetivando o desenvolvimento de habilidades comunicativas e pensamento

crítico, que permitam a formação de um usuário competente da linguagem.

Como hipótese do nosso trabalho temos que uma seqüência didática utilizando o

gênero cartum no ensino de língua inglesa pode contribuir na formação do aluno brasileiro

capaz de agir discursivamente na língua estrangeira, mesmo que mediado pela sua língua

materna, como preconizado pelos PCN de LE.

Organizamos o texto de nossa dissertação em 6 capítulos.

No primeiro capítulo, explanamos as bases teóricas que fundamentam nossa

pesquisa, mais especificamente as teorias de linguagem e gêneros discursivos de Bakhtin

(2003) e a teoria de Dolz e Schneuwly (2004) sobre seqüências didáticas. Apresentamos a

contribuição que os estudos sobre gêneros textuais e seqüências didáticas podem

proporcionar para o ensino de língua inglesa no ensino básico do contexto brasileiro e

revisitamos abordagens teóricas sobre o ensino de língua(gem) como prática social.

No segundo capítulo conceituamos e classificamos o cartum partimos do gênero

diferenciando-o de gêneros afins como charge e tira, e discorremos sobre os elementos

constitutivos do cartum.

No terceiro capítulo, abordamos a metodologia da pesquisa, apresentamos o corpus

tanto da análise dos livros didáticos quanto da seqüência didática, os procedimentos de

análise e os critérios tanto na análise quanto na elaboração da seqüência didática proposta.

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No quarto capítulo trazemos uma análise de como esse gênero é trabalhado em duas

séries didáticas, uma de língua portuguesa, avaliada e aprovada pelo Programa Nacional do

Livro Didático (doravante PNLD) e uma de língua estrangeira, não avaliada pelo PNLD.

No quinto capítulo submetemos nossa proposta de seqüência didática, discutimos o

tema abordado, sua relevância para o público alvo, e uma proposta de como trabalhar as

questões de linguagem de maneira reflexiva nos cartuns.

No último capítulo concluímos essa pesquisa com as considerações finais que

trazem implicações pedagógicas, limitações e algumas contribuições para a área de ensino

aprendizagem de língua inglesa além de nossa conclusão sobre a experiência de

materializar uma proposta de transposição didática dos PCN de LE.

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CAPÍTULO I

GÊNEROS TEXTUAIS-SITUANDO AS BASES TEÓRICAS

Neste primeiro momento abordamos a relação entre práticas sociais e linguagem, a

conceituação e as características de gêneros textuais. Abordamos também as diferenças

entre os gêneros primários e secundários e gêneros e tipologias. Estudamos como o

conceito de gêneros pode influenciar o ensino de língua(gem). Para isso nos baseamos,

principalmente, em Bakhtin (2003) e Dolz & Schneuwly (2004).

1.1 PRÁTICAS SOCIAIS E LINGUAGEM

Práticas sociais podem ser definidas por aquisições acumuladas pelos grupos

sociais no curso da história. Numa perspectiva interacionista, são o reflexo e o principal

instrumento de interação. São todas as experiências vividas e/ou conhecidas pelos falantes

em um dado contexto social. Ao definir práticas sociais em relação às estruturas sociais,

Fairclough (1992) as considera como “alguma coisa que as pessoas produzem ativamente e

entendem com base em procedimentos de senso comum compartilhado” (p.100). Para Dolz

& Schneuwly (2004), as práticas sociais são definidas como “o lugar de manifestações do

individual e social na linguagem” (p.73).

Dois outros conceitos relacionados com práticas sociais nos interessam. São eles:

práticas de linguagem e atividades de linguagem. Segundo Dolz & Schneuwly (2004, p.72)

o conceito de práticas de linguagem refere-se às “dimensões particulares do funcionamento

da linguagem em relação às práticas sociais em geral”, sendo que a língua(gem) é a

mediadora entre as práticas sociais e de linguagem. Como exemplo disso, temos uma aula

(prática social) na qual a linguagem, ou seja, os enunciados orais e escritos bem como os

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gestos, os sons e os olhares realizados constituem a prática de linguagem desse contexto.

As atividades de linguagem, por sua vez, são concebidas como sistemas de ações.

Para Dolz, Pasquier e Bronckart (1993 apud Dolz & Schneuwly 2004, p.75), “uma ação de

linguagem consiste em produzir, interpretar e/ou memorizar um conjunto organizado de

enunciados orais e escritos” bem como os verbais e não verbais. Em outras palavras, as

atividades de linguagem são as ações que permitem que o leitor/falante compreenda ou

interprete um gênero. As ações de linguagem, por sua vez, implicam o desenvolvimento de

diversas capacidades por parte do sujeito: capacidade de ação, capacidade discursiva,

capacidade lingüístico-discursiva. As capacidades de ação referem-se à capacidade de

adaptação do sujeito às características do contexto e do referente; as discursivas referem-se

à capacidade de mobilizar modelos discursivos e as capacidades lingüístico-discursivas

referem-se às capacidades de dominar as operações psicolingüísticas e as unidades

lingüísticas. Essas capacidades são requeridas do falante para a produção e compreensão

de um gênero discursivo numa determinada situação de interação.

Os conceitos de práticas e atividades de linguagem nos interessam porque

defendemos que a comunicação nasce de uma prática social (de uma situação vivida pelos

sujeitos), materializadas nos chamados gêneros textuais. Esses gêneros são compreendidos

através de ações e atividades de linguagem que exigem capacidades específicas do falante/

leitor.

1.2 O CONCEITO DE GÊNERO

Bakhtin (2003, p.261) afirma que “todos os diversos campos da atividade humana

estão ligados ao uso da linguagem” e que esta utilização acontece em forma de enunciados

orais e escritos concretos e únicos. O modo de utilização dessa língua varia de acordo com

as esferas da atividade humana. Assim, “cada campo da utilização da língua elabora seus

tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso.

Ainda de acordo com o autor “Se os gêneros do discurso não existissem e nós não o

dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo do discurso, de

construir livremente e pela primeira vez cada enunciado, a comunicação discursiva seria

quase impossível” (Bakhtin, op.cit, p.283)

Na citação acima Bakhtin demonstra que a comunicação apenas acontece por

intermédio de um gênero. Podemos, então, dizer que não criamos um novo gênero a cada

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momento que falamos, nós escolhemos o que mais se adequa ao contexto em que

estivermos inseridos. Marcuschi (2005, p.35) afirma que “os gêneros não são frutos de

invenções individuais, mas formas socialmente maturadas em práticas discursivas”. Dessa

forma, os gêneros sempre se renovam, alguns emergem, se fundem ou mesclam com outros

já existentes (Fairclough, 1995) outros caem em desuso. É o caso, por exemplo, do chat ou

torpedo que têm ancoragem numa conversa face a face, mas assumem características

próprias desse novo gênero (smileys, linguagem eletrônica, abreviaturas).

Os gêneros apresentam algumas características que nos permitem reconhecê-los e

classificá-los. Essas características são definidas em três dimensões: conteúdo temático,

estilo e construção composicional. Nas palavras de Bakhtin,

Os enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas acima de tudo, por sua construção composicional (BAKHTIN, 2003 p.261).

O conteúdo temático refere-se ao que é dizível por meio do gênero (Dolz &

Schneuwly, 2004, p.52), que de acordo com Bakhtin é diverso nos diferentes campos da

comunicação discursiva. A construção composicional refere-se à estrutura comunicativa

particular dos textos pertencentes ao gênero e o estilo refere-se às configurações

específicas das unidades de linguagem. Essas três dimensões permitem que reconheçamos

um gênero como pertencendo a uma determinada esfera de atividade humana. Por

exemplo, reconhecemos uma oração como pertencendo à esfera religiosa pelo seu

conteúdo temático (agradecimentos, pedidos a uma divindade) seu estilo ou organização

textual (começando com uma injunção como, por exemplo, Senhor, terminando com um

amém) e pelos recursos lexicais e fraseológicos utilizados (geralmente um registro formal).

Todavia, à medida que Bakhtin estabelece uma relação direta entre

língua/sociedade e ideologia, de forma que uma não existe sem a outra, é possível

afirmarmos, com base em Fairlcough (2003, p. 9), que representações ideológicas se fazem

presentes e são identificadas em textos, ou seja, nos gêneros e na linguagem, quer no

conteúdo temático, quer no estilo. Segundo esse mesmo teórico (ibid), as

[i]deologias são representações de aspectos do mundo que contribuem para estabelecer e manter relações de poder, dominação e exploração. Elas podem ocorrer nas e pelas formas de interagir (e, portanto, nos gêneros) e se instalarem nas formas

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de ser ou nas identidades (e, portanto, em estilos).

[tradução nossa, p. 218]

É importante destacar que Fairclough vai além da visão meramente descritiva de

ideologia como posição, atitude, crenças ou perspectiva e defende uma visão crítica de

ideologia como modalidade de poder (2003, p. 9), que, como ressaltam Jorge e Herbale

(2002), molda o comportamento das pessoas.

Resgatando nossa discussão de gêneros discursivos, uma distinção entre gêneros

primários e secundários é necessária. Segundo Bakhtin (2003, p.264), essa distinção tem

importância porque “a natureza do enunciado deve ser descoberta e definida por meio da

análise de ambas as modalidades”.

Os gêneros primários são considerados pelo referido autor como simples, enquanto

os secundários como complexos. Os secundários aparecem em situação de comunicação

cultural mais evoluída principalmente na forma escrita.

“No processo de sua formação eles incorporam e reelaboram os primários, que integram os complexos, aí se transformam e adquirem um caráter especial: perdem o vínculo imediato com a realidade concreta e os enunciados reais alheios”. (BAKHTIN, p. 263)

Revisitando a classificação original de Bakhtin, Schneuwly (2004, p.29) defende

que os gêneros primários se caracterizam pela interação, controle mútuo da situação, pelo

funcionamento imediato do gênero como entidade global. O gênero primário controla todo

o processo como uma única unidade. O gênero primário tem nenhum ou pouco controle

metalingüístico da ação lingüística em curso e necessita de um contexto imediato. Como

exemplo de um gênero primário temos uma conversa face a face para a qual a

contextualização se faz necessária para a sua compreensão. Por outro lado, os gêneros

secundários não são controlados diretamente pela situação. Embora não sejam

descontextualizados, não necessitam de um contexto imediato como os primários.

Enquanto os gêneros primários nascem da comunicação verbal espontânea, os

secundários não estão ligados de maneira imediata à situação de comunicação. Os gêneros

primários são instrumentos de criação dos gêneros secundários. Embora o cartum possua

características de gêneros orais, ele se apresenta como um gênero escrito, sendo, portanto,

considerado secundário.

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1.3. GÊNEROS E TIPOS

Em se tratando do estudo de gêneros alguns conceitos precisam estar bem

definidos. Dentre esses conceitos encontram-se o de gênero e o de tipo textual, que são

muitas vezes utilizados indiscriminadamente.

Marcuschi (2005, p.25) observa que o termo tipo é utilizado equivocadamente em

situações escolares diárias para designar um gênero assim como a expressão gênero é

utilizada muitas vezes para designar um tipo. Esse uso indiscriminado ocorre inclusive nos

PCN de LE, como trataremos na seção 1.4.

De acordo com Marcuschi (2005, p.23) os tipos textuais diferenciam-se dos gêneros

por serem definidos como: i) construtos teóricos definidos por propriedades lingüísticas

intrínsecas; ii) constituírem seqüências lingüísticas ou seqüências de enunciados no interior

dos gêneros e não serem textos empíricos; iii) abrangerem um número limitado de

categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos relações lógicas e tempo

verbal; iv) classificarem-se como: narração, argumentação, descrição, injunção e

exposição.

De acordo com este autor,

“Para noção de tipo textual predomina a identificação de seqüências lingüísticas típicas como norteadoras; já para a noção de gênero textual predominam os critérios de ação prática, circulação sócio histórica, funcionalidade, conteúdo temático estilo e composicionalidade.” (MARCUSCHI, 2005, p.24)

Quando falamos sobre as diferenças entre tipos e gêneros não estamos propondo

que um existe independentemente do outro. Afinal, os gêneros textuais fazem uso de vários

tipos textuais. Como exemplo disso, Marcuschi (ibid, p.25) cita o gênero carta pessoal na

qual podemos encontrar seqüências injuntivas, argumentativas, narrativas e descritivas.

1.4.GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO

Buscando uma articulação entre práticas sociais, gêneros textuais e objetos de

ensino, Dolz & Schneuwly (2004, p.74) argumentam que “o gênero [deve ser] utilizado

como meio de articulação entre práticas sociais e os objetos escolares, mais

particularmente no domínio do ensino da produção de textos orais e escritos”. Dessa

perspectiva, os gêneros são instrumentos pelos quais as práticas de linguagem se

transformam em atividades de linguagem para os alunos. O gênero assim definido

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atravessa a “heterogeneidade das práticas de linguagem” (cf. Dolz & Schneuwly 2004,

p.75) e faz emergir uma série de regularidades no uso, no propósito e na função. Desta

feita, são as atividades de linguagem que propiciam um maior domínio de um gênero no

que se refere ao seu uso, propósito e função.

Refletindo sobre a presença do gênero na escola, percebemos que é necessário rever

alguns critérios sobre sua abordagem para que o gênero não perca sua principal função

qual seja: a comunicação. Um primeiro ponto que deve ser considerado é que no momento

em que o gênero é levado para a sala de aula, ele passa a ser objeto de estudo. E como

objeto de estudo perde algumas de suas atribuições, pois o contexto e suas condições de

produção se modificam. (cf. Dolz & Schneuwly, 2004, p.76). É necessário que o professor

tente resgatar as condições de produção originais do gênero para que essa transformação

em objeto de ensino não descaracterize o gênero quando transportado de sua esfera de

circulação para a esfera escolar.

A necessidade de sistematizar o ensino de língua de modo que abranja os conteúdos

programados pela escola, pode fazer, com que o gênero passe equivocadamente a servir de

pretexto para o estudo de aspectos lingüísticos, desvinculando-os de um contexto e

abandonando a função de comunicação do gênero em prol dos aspectos formais presentes.

Isso porque ao transformar o gênero em objeto de estudo nas escolas, muitas vezes, se

produz, equivocadamente “uma inversão em que a comunicação desaparece quase

totalmente em prol da objetivação, e o gênero torna-se uma pura forma lingüística, cujo

domínio é o objetivo” (Dolz & Schneuwly, 2004, p.76).

Existe uma lacuna entre os materiais didáticos elaborados por professores de língua

inglesa e as recentes teorias lingüísticas e os modelos de ensino aprendizagem centrados na

perspectiva do interacionismo sociodiscursivo e nos Gêneros Textuais como nos mostra

Brito (2007). No entanto, um ponto que pode sinalizar uma possível mudança dessa

realidade é a abordagem dos gêneros nos livros didáticos de língua portuguesa aprovados

pelo PNLD (2005). Em tais livros percebemos que cada vez mais há uma preocupação em

abordar os gêneros textuais a partir de um propósito comunicativo. Embora inserida no

currículo de formação básica, a língua estrangeira permanece excluída do Programa de

distribuição e avaliação de livros didáticos.

À luz dessas considerações, cabe ao professor de línguas, quer materna, quer

Page 22: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

estrangeira, procurar criar condições para que os alunos recuperem o contexto no qual o

gênero esteve inserido originalmente. Para tanto, Dolz e Schneuwly (op.cit, p.81) sugerem

a elaboração de modelos didáticos que explicitem o conhecimento do gênero. Três

princípios estão presentes na elaboração do modelo: a legitimidade que faz referência aos

saberes teóricos elaborados por especialistas sobre o gênero escolhido; a pertinência que

faz referência às capacidades dos alunos, às finalidades e aos objetivos da escola, aos

processos de ensino aprendizagem e a solidarização [solidificação dos saberes] que se

refere a tornar coerentes os saberes em função dos objetivos visados. Dolz e Schneuwly

(2004, p.80) alegam que a introdução de um gênero na escola é resultado de uma decisão

didática que visa a objetivos da aprendizagem. Os resultados são de dois tipos: i) a

necessidade de dominar um gênero para compreendê-lo dentro e fora do ambiente escolar;

ii) desenvolvimento de capacidades que ultrapassem um gênero específico e que sejam

transferíveis para outros mais próximos ou mais distantes.

Um modelo didático, segundo os referidos autores, apresenta duas características: i)

constitui uma síntese com objetivo prático, destinada a orientar as intervenções dos

professores; ii) evidencia as dimensões ensináveis com base nas quais diversas seqüências

didáticas podem ser concebidas.

Aplicando essas duas características ao ensino do cartum, a proposta de seqüência

didática do gênero, defendida nesta dissertação, envolve conhecimento da função que esse

gênero exerce no meio em que circula, bem como o espaço e o suporte nos quais é

veiculado. Envolve, também, a análise do lingüístico discursivo para assim compreender as

peculiaridades do gênero como, por exemplo: o humor, a sátira, a informalidade e os temas

abordados, bem como o estilo e a construção composicional do gênero em questão.

Inspirados nas teorias bakhtinianas, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

sustentam que o ensino tanto de língua portuguesa quanto de língua estrangeira deve

basear-se no ensino de gêneros textuais.

Nessa perspectiva, não é possível tomar como unidades básicas do processo de ensino as que decorrem de uma análise de estratos, letras/fonemas, sílabas, palavras, sintagmas, frases que, descontextualizados, são normalmente tomados como exemplos de estudos gramaticais e pouco têm a ver com a competência discursiva. Dentro desse marco, a unidade básica do ensino só pode ser o texto.(PCN - LP, p.23).

A utilização em sala de aula de tipos de textos diferentes, além de contribuir para o aumento do conhecimento intertextual do aluno, pode

Page 23: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

mostrar claramente que os textos são usados para propósitos diferentes na sociedade.(PCN - LE, p.45).

Observamos que, mesmo não utilizando o termo “gênero”, ao mencionarem “tipos

de textos” é ao conceito de gênero que a citação dos PCN - LE se refere. Em outro

momento, ao abordar os eixos em que os conteúdos de língua estrangeira estão

organizados: conhecimento de mundo, conhecimento sistêmico, tipos de texto e atitudes,

mais uma vez percebemos que, ao explicar o eixo “tipo de texto”, o conceito se refere ao

de gênero textual:

A determinação dos conteúdos referentes a tipos de texto (orais e escritos) se pauta por tipos com os quais os alunos nessa faixa etária estão mais familiarizados como usuários de sua língua materna:

1 Pequenas histórias, quadrinhas, histórias em quadrinhos,

2 Instruções de jogos, anedotas, trava-línguas, anúncios, pequenos;

3 Diálogos, rótulos de embalagens, cartazes, canções, pequenas notícias;

4 Entrevistas, programação de TV, textos publicitários, cartas,

5 Reportagens, classificados, poemas, editoriais de jornal, artigos jornalísticos, textos de enciclopédias, verbetes de dicionários, receitas, estatutos, declarações de direitos.

(PCN -LE, p.74)

O conceito de gêneros textuais, a noção de gêneros como instrumentos pelos quais

as práticas de linguagem podem se transformar em atividades de linguagem, a abordagem

ao gênero, a estrutura de um modelo didático de uma perspectiva sociodiscursiva bem

como os princípios postulados pelos PCN - LP e LE nortearão a elaboração da seqüência

didática centrada no gênero cartum em Língua Inglesa.

Destarte, nos respaldamos nos PCN que sugerem que o ensino de língua estrangeira

seja pautado na concepção de língua(gem) como “prática social com possibilidades de

expressar opiniões, valores, sentimentos, informações oralmente e por escrito” e numa

concepção sociointeracionista de ensino-aprendizagem, segundo a qual “aprender é uma

forma de estar no mundo social com alguém em um contexto histórico, cultural e

institucional’ (PCN-LE, 1998, p.54-57).

No que se referem aos conteúdos, os PCN postulam que o ponto de partida para o

tratamento dos conteúdos seja o pré-conhecimento que o aluno tem de sua língua materna

Page 24: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

e do mundo que o cerca.

(...) portanto, o critério principal de gradação das unidades é a familiaridade que os alunos têm com os conteúdos indicados. Isso quer dizer que o critério de gradação e adequação dos conteúdos deve considerar o conhecimento do aluno em relação à sua língua materna e ao conhecimento de mundo, para que a aprendizagem seja significativa para o aluno.(PCN-LE,1998,p.71)

Dessa forma, os PCN sugerem que a progressão de conteúdos deve enfatizar o

conhecimento de mundo, a organização textual e conhecimento sistêmico.

1.5. GÊNEROS TEXTUAIS: DO CURRÍCULO À SEQÜÊNCIA DIDÁTICA

Como no segundo momento deste trabalho nos dispomos a propor a inserção dos

gêneros textuais em língua estrangeira através de uma seqüência didática, é necessário

traçar algumas considerações teóricas sobre como trazer os gêneros textuais para a sala de

aula e ensiná-los.

Dolz & Schneuwly (2004, p. 43) propõem a elaboração de um currículo no qual os

conteúdos disciplinares são definidos em função das capacidades de linguagem do

aprendiz e das experiências a ele necessárias visando ao letramento, à competência

sociodiscursiva, à formação de um falante que faça uso das várias práticas de linguagem.

Isso porque o aluno precisa dominar, primeiramente, os gêneros com os quais lida

cotidianamente e, posteriormente, dominar outros gêneros com os quais precise lidar numa

sociedade letrada. Segundo Dolz, Pasquier e Bronckart (1993 apud Dolz & Schneuwly,

2004, p.52), as capacidades de linguagem são habilidades requeridas para a compreensão e

produção de um gênero textual numa situação de interação.

De acordo com Coll (1992 apud Dolz & Schneuwly, 2004, p.43), as funções do

currículo são: i) descrever e explicitar o projeto educativo; ii) fornecer um instrumento que

oriente as práticas dos professores; iii) levar em conta as condições nas quais se realizam

essas práticas; iv) analisar as condições de exeqüibilidade.

Um currículo deve, então, fornecer aos professores informações concretas sobre os

objetivos visados pelo ensino, sobre saberes e habilidades implicados em sua apropriação.

Dentre os componentes do currículo, encontra-se a progressão que é a organização

temporal do ensino para que se chegue a uma aprendizagem satisfatória. A progressão é

Page 25: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

viabilizada pelas seqüências concretas realizadas em sala de aula. Dolz e Schneuwly

(op.cit, p.51) definem seqüências didáticas como módulos de ensino organizados para

desenvolver uma determinada prática de linguagem. Os autores (op.cit, p.54) mostram a

apresentação de três partes possíveis que podem compor uma seqüência didática.

Salientamos que a execução da seqüência didática exige um trabalho que leva tempo, que

pode durar semanas ou até meses. Esse tempo é necessário para promover e refinar a

familiarização com o gênero, sua compreensão e, em seguida, sua produção, como

explanado a seguir.

Segundo os autores, a primeira parte de uma seqüência didática é dedicada à

apresentação de uma situação comunicativa. Nesse primeiro momento o professor expõe

aos alunos um projeto de comunicação, promove familiarização como o gênero textual em

foco e prepara e produção inicial. Essa familiarização compreende desde a ativação do

conhecimento prévio como, também, a pré-leitura. A segunda parte constitui-se da

produção inicial em si. Nesse momento, os alunos tentam elaborar um primeiro texto, oral

ou escrito, evidenciando, para si e para o professor, as representações que têm do gênero.

Como é o primeiro encontro, para fins pedagógicos, com o gênero é necessário que se

defina o que é preciso trabalhar a fim de desenvolver as capacidades de linguagem

necessárias ao gênero selecionado. Essa primeira produção delimita as necessidades

lingüístico-discursivas reais da turma que deverão ser objetos de trabalho nos módulos.

Esses módulos são constituídos por várias atividades ou exercícios necessários visando ao

domínio sócio discursivo do gênero em questão, pois as características apresentadas pelo

gênero devem ser colocadas de maneira sistematizada para um estudo aprofundado. Nos

módulos, os problemas que aparecem na primeira produção são trabalhados dando

instrumentos aos alunos para superá-los. O gênero é decomposto para abordar seus

elementos constitutivos, separadamente. A terceira parte é a produção final. Nessa fase, o

gênero, decomposto e transformado em objeto de estudo, volta a se agregar formando um

todo, deixando de ser objeto de ensino e assumindo as suas características de gênero

novamente. Nessa fase é necessário indicar aos alunos os objetivos a serem atingidos e

conscientizá-los sobre seu próprio processo de aprendizagem. Com isso, o professor e os

alunos avaliam os progressos realizados.

Segundo Dolz e Schneuwly (2004, p.108-115) dois aspectos devem subsidiar a

elaboração de uma seqüência didática, quais sejam: i) os princípios teóricos subjacentes ao

procedimento e ii) a articulação entre o trabalho na seqüência e outros domínios do ensino

Page 26: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

de língua(gem). Os princípios teóricos se referem a) às escolhas pedagógicas,

psicológicas, lingüísticas e finalidades gerais; b) ao caráter modular do procedimento e

suas possibilidades de diferenciação: atividades variadas de acordo com as capacidades

desenvolvidas e dificuldades apresentadas; e c) às diferenças entre as práticas orais e

escritas: (ex: possibilidade de revisão, observação da própria produção, observação de

textos de referência). A articulação se refere à interrelação entre a seqüência didática e os

domínios da textualização, questões de gramática, sintaxe e ortografia e questões de

linguagem.

Observamos, contudo, que a seqüência didática elaborada por Dolz Noverraz e

Schneuwly (2004) tem como foco o ensino de língua francesa como língua materna e como

objeto de ensino um gênero oral. A nossa seqüência, por outro lado, se refere à elaboração

de uma seqüência didática para o ensino de inglês, como língua estrangeira, que tem como

objeto um gênero que apresenta características de gênero oral, mas é escrito. A despeito

dessa diferença, nossa seqüência toma por base a proposta elaborada por Dolz, Noverraz, e

Schneuwly (2004 p. 95) por considerarmo-na viável para subsidiar uma proposta de

seqüência didática centrada no gênero cartum em língua inglesa.

1.6. SEQÜÊNCIA DIDÁTICA E TEMAS

Como dito em seções anteriores, baseamos nossa seqüência didática na teoria de

gêneros de Bakhtin e nos PCN. Por compreenderem que o “compromisso com a construção

da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da

realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e

ambiental” (TEMAS TRANVERSAIS, 1997, p.12), os PCN sugerem que o trabalho

pedagógico inclua um conjunto de temas transversais: Ética, Pluralidade Cultural, Meio

Ambiente, Saúde e Orientação Sexual. De acordo com o referido documento, os temas

transversais não são disciplinas novas a serem incluídas nos currículos escolares, mas são

questões que devem estar presentes em todas as disciplinas.

À luz dessas orientações, a seqüência didática proposta aborda um cartum cuja

temática envolve o tema transversal: Saúde. Como poderemos constatar no capítulo 5, o

cartum traz como temática a obesidade infantil. De acordo com os Temas Transversais um

dos objetivos da inserção desses temas nas disciplinas escolares é justamente valorizar e

adotar “hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida”. (p.6).

Page 27: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Assim, consideramos que ao abordar um cartum que traga como tema a obesidade infantil,

atrelado a um trabalho pedagógico voltado para a conscientização e formação do aluno,

estaremos proporcionando oportunidades de reflexão não apenas sobre a necessidade de

cuidar da alimentação e do corpo, mas também sobre questões envolvendo valores

culturais relativos a padrões de beleza e aceitação.

CAPÍTULO II

DOS QUADRINHOS AO CARTUM

O trabalho com gêneros textuais requer definição e conhecimento de suas

características. Considerando que os quadrinhos, tiras, charges e assemelham-se em alguns

pontos, nesse capítulo abordamos as semelhanças e diferenças entre tais gêneros. Antes de

tratarmos dessas diferenças, todavia, faremos um histórico sobre os quadrinhos.

2.1 HISTÓRICO DOS QUADRINHOS

Segundo Saraceni (2003), existe uma relação entre quadrinhos e a comunicação das

antigas civilizações. Era comum, por exemplo, os egípcios usarem uma combinação de

imagens e hieróglifos para compor as seqüências narrativas de figuras. Isso também

acontecia em outras culturas antigas. No entanto, segundo o autor, os quadrinhos na forma

em que são conhecidos atualmente foram criados na última metade do século XIX na

Inglaterra. As primeiras tiras apareceram em 1884 bem como o primeiro herói dos

quadrinhos, Ally Sloper. Em 1890, Comic Cuts surgiu, o qual muitos consideraram o

primeiro quadrinho do mundo.

Saraceni (op.cit) explana que, depois de 1940, a popularidade dos temas de super-

heróis começou a cair, enquanto os temas de crime e horror ganharam mais leitores. Com o

crime e a violência cada vez mais ganhando espaço nos quadrinhos, muitos começaram a

se preocupar com a influência que tais publicações poderiam ter sob os leitores jovens.

Dentre as pessoas preocupadas com a “má” influência dos quadrinhos sobre os jovens,

Page 28: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

duas se destacaram: Dr. Frederic Wertham nos Estados Unidos e George Pumpherey na

Inglaterra. Devido à preocupação sobre a influência dos quadrinhos sobre crime e horror

foram feitas campanhas contra os quadrinhos nos dois países, o que levou a sua censura em

meados de 1950. Nesse período foram criados os Peanuts trazendo temas cotidianos,

discutindo questões sociais ou até mesmo filosóficas. Abaixo temos um exemplo, o qual

apresenta o Snoopy dormindo nos primeiros quadros, mas ao acordar, depois de ter caído

do telhado da casa (local onde comumente dorme) “filosofa” sobre os “despertares rudes”

da vida. Ou seja, há uma relação entre o despertar rude do sono com uma queda e o

despertar rude do qual a vida é repleta.

1 Tira do Peanults

Assim, a partir de então os quadrinhos foram se tornando cada vez mais

intelectuais. Em 1960, houve o reaparecimento dos super-heróis e apenas em 1990, em

caráter experimental, os então chamados “quadrinhos adultos” foram publicados,

tematizando, inclusive, questões sérias. Essa tendência continua até hoje, com novos

autores explorando novas possibilidades fornecidas por desenhos digitais e Internet.

Apesar de terem características semelhantes quadrinhos, charges, tiras e cartuns se

diferenciam em alguns pontos que são importantes para a definição e caracterização de

cada gênero em particular.

De acordo com Mendonça (op.cit), as histórias em quadrinhos (HQ) são facilmente

identificáveis dada a peculiaridade dos quadros, dos desenhos e dos balões e de outros

constituintes abordados por Saraceni (cf. seção 2.1.1). No que se refere à linguagem,

buscam reproduzir o oral (geralmente informal), mas se realizam nos meios escritos. São

do tipo narrativo e dialogal, têm estreita relação com o cinema e desenhos animados.

As semelhanças entre cartuns, tiras e charges muitas vezes podem levar esses

gêneros a serem tomados como equivalentes. Ressaltamos que a denominação não é

apenas uma questão de nomenclatura diferente, mas sim uma questão de função social

1 A vida é repleta de despertares rudes.

Page 29: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

distinta. Eles apresentam construções composicionais distintas que precisam ser

enfatizadas: no cartum, os personagens não são caricaturados e são anônimos, já na

charge, os personagens são identificáveis e caricaturados; a charge é temporal, o cartum

atemporal; já as tiras, assim como a charge, podem se referir a cenários políticos mas, não

necessariamente, e não são datadas como a charge.

Segundo Oliveira (2001), o objetivo maior da charge é criticar aqueles que se

destacam negativamente no cenário político enquanto os cartuns não estão

necessariamente relacionados ao cenário político. Tanto a HQ como os cartuns compõem-

se de um ou mais quadros com uma seqüência narrativa, mas essa seqüência é opcional

para os cartuns e obrigatória para a HQ. As tiras satirizam aspectos econômicos e políticos

do país (Mendonça op.cit).

Apontando a diferença entre quadrinhos e cartuns, Saraceni (op.cit) argumenta

sobre a necessidade de refletir sobre a linguagem. Os cartuns são constituídos por

enunciados verbais. Para entendê-los contamos com informações extratextuais, como por

exemplo, o fato (assunto, problema social) que gerou a produção do cartum. A linguagem

do quadrinho, cartuns, tiras e charges, por outro lado, é semelhante à linguagem dos textos

escritos. Os textos dos quadrinhos são formados por correntes de painéis da mesma forma

que um texto é formado por cadeias de frases e parágrafos.

O fato de esses gêneros terem denominações diferentes implica características,

organização, objetivos também diferentes. Entendemos que o trabalho com gêneros

textuais passa também por sua definição, pois “quando dominamos um gênero textual, não

dominamos uma forma lingüística e sim uma forma de realizar lingüisticamente objetivos

específicos em situações sociais particulares” (Marcuschi, 2005, p.29). Dominar um gênero

textual implica entre outras coisas conhecer a sua definição e a quais fins se destina.

2.2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS QUADRINHOS E

CARACTERÍSTICAS

Para Saraceni (2003), as características mais importantes dos quadrinhos são: i) o

emprego de palavras ou desenhos, ou seja, linguagem verbal e não verbal e ii) a

organização do texto em unidades seqüenciais, separadas graficamente. O autor ainda

descreve os principais componentes dos quadrinhos, como explanamos abaixo.

Page 30: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

O painel - cada página é normalmente composta de seis a nove enquadres

retangulares chamados painéis. Geralmente o painel mostra uma única imagem de uma

ação e apesar de eles geralmente se referirem a momentos específicos, e comparados com

fotografias, seus conteúdos são, de fato, muito mais variados. É muito raro um painel

representar apenas um instante da história. Isso porque os painéis contêm peças de diálogo

que são tipicamente mais longas que a duração de uma tomada de câmera, ou seja, o leitor

considera o painel como uma porção - que pode ter várias extensões de uma narrativa,

onde alguma coisa de fato toma lugar e tempo. Os diálogos nos painéis são apenas

elementos que indicam a duração dos painéis em instantes singulares.

2

2 Por ordem de sua alteza, o príncipe Xaveco, ficam todos avisados que ficam proibidas as brigas e duelos entre inimigos... E quem perturbar a paz será severamente castigado... Ah é? Então saí que você está atlapalhando o jogo! Você está pisoteando minhas bolinhas de gude, seu... Socooooooorro!

Page 31: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

http://www.turmadamonica.com.br/ingles/index.htm Painel turma da Mônica

Vemos acima um exemplo de painel no qual há a representação de um único

momento da história, ou seja, o momento em que é anunciado um decreto do rei. Apesar de

se referir a um momento único, o painel acima apresenta os diálogos que são mais longos e

que não poderiam ser representados por um único desenho. Observamos que houve 5

momentos de fala dos personagens que não poderiam ser apresentados em um desenho

apenas, daí a importância do painel.

O trilho - Cada painel é separado dos outros por um espaço em branco chamado

trilho. O trilho é um elemento muito importante, já que é um espaço que contém tudo o que

acontece entre os painéis. Isso significa que o leitor tem que preencher, a partir do seu

conhecimento de mundo, os elementos que estão faltando para reconstruir a história. O

trilho é similar ao espaço que separa uma sentença da próxima. Em outras palavras, os

trilhos requerem leitura das entrelinhas o que, por sua vez, exige a participação ativa do

leitor, que deverá lançar mão de estratégias descendentes de leitura para construir sentido

para as estórias. Eles podem ser de diferentes formas: mais estreitos, mais longos,

desenhados ou não.

3

Trilho Cebolinha e Mônica

No exemplo acima constatamos que o trilho extrapola o limite do quadro. Neste

exemplo, o trilho não é apenas um constituinte estrutural do quadro, mas faz parte da

história, à medida que Mônica faz uso do trilho como se fosse uma porta. Em outros

termos, a função do trilho precisa ser compreendida para que contribua para a compreensão

do texto.

O balão - O balão é provavelmente o elemento mais associado com os quadrinhos.

É o espaço no qual a maior parte do texto verbal é contido. Os balões são usados para

3 Cebolinha! Abra esse trilho agora!

Page 32: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

representar uma fala ou um pensamento. Tipicamente os balões são ovais ou em forma de

nuvem, mas variações são possíveis e significantes. O rabicho do balão indica o

personagem que está falando ou pensando. Normalmente o rabicho parece uma pequena

projeção pontuda, mas pode às vezes ser uma linha simples. Uma importante variação é

quando rabicho é formado por pequenas bolhas, que indica que é um balão de pensamento.

Vide o exemplo:

4 Balão do Garfield

A legenda - é outro elemento que contem elementos lingüísticos. A legenda não é

posicionada dentro dos painéis, aparece geralmente no topo do painel, mas às vezes pode

vir abaixo acima ou do lado esquerdo do mesmo. Normalmente a legenda representa a voz

do narrador. Sua função é acrescentar informação aos diálogos contidos nos painéis, assim

como acrescentar informações sobre todo o quadrinho. Em outras situações a legenda tem

a função de fornecer informações ao leitor para reconstruir o fluxo entre os painéis

preenchendo os espaços representados pelos trilhos. A legenda pode também conter as

falas dos personagens na ausência do balão.

4 Garfield, agora que Jon e eu estamos namorando, eu espero que você e eu possamos ser amigos Não será fácil É difícil ser amigo de alguém que viu você nu.

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5 http://www.turmadamonica.com.br/ingles/index.htm

Legenda da Mônica em Romeu e Julieta

Saraceni (2003) defende ainda que o aspecto visual das palavras tem grande

importância nos quadrinhos, por exemplo, o negrito é geralmente utilizado para representar

ênfase, o humor e sentimentos dos personagens podem também ser representado pelo

desenho gráfico das palavras (tamanho, cor, forma).

6 Balões apresentando aspectos visuais da linguagem diversificados

No cartum abaixo podemos perceber as semelhanças entre quadrinhos e cartuns.

Observemos que a legenda assume a função do balão de fala, exercendo tanto a função do

balão (indicar a fala dos personagens) quanto à de legenda (auxiliar o leitor a construir

sentido para o não verbal).

5 ...Viviam duas famílias inimigas: Os Montéquio e os Capuleto! Todos os dias havia provocações e brigas entre as pessoas dessas famílias... Até que um dia o príncipe Xaveco de Verona resolveu acabar de uma vez por todas om aquela confusão... Chega! 6 Mulheres cientistas! Oh, bom fracasso! Interjeição de susto Chega!!!! Xingamentos

Page 34: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

7

http://www.glasbergen.com/family.html

Cartum apresentando temática sobre a família

Assim, ao observarmos cuidadosamente os componentes dos quadrinhos,

percebemos que balões, legenda, trilhos e painéis são não apenas constitutivos do gênero

cartum, mas desempenham um papel específico para a produção de sentidos do texto, e,

portanto, fazem parte dos saberes necessários ao letramento básico do aluno em formação,

mais especificamente, ao leitor proficiente de cartum. Desta feita, uma seqüência didática

que se proponha ao ensino do referido gênero deve contemplar todos os seus elementos

constitutivos, quer verbais, quer não verbais.

7 Disciplina e bom comportamento são as chaves para a harmonia familiar, então meu marido e eu fazemos tudo que nossos filhos nos mandam fazer.

Page 35: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

CAPÍTULO III

METODOLOGIA

3.1 A PESQUISA

De natureza teórico-aplicada, a pesquisa apresenta duas etapas. A primeira

compreende a análise da abordagem de cartuns em livros didáticos, um de língua

portuguesa e um de língua estrangeira do ensino fundamental. A segunda, a elaboração de

uma proposta de uma seqüência didática centrada no cartum.

3.2 O CORPUS

O corpus da pesquisa consiste em 4 cartuns. 3 cartuns foram analisados na primeira

etapa dessa pesquisa (Anexo A) e um cartum que foi utilizado na elaboração da seqüência

didática na segunda parte da dissertação (Anexo B).

Do livro didático de língua portuguesa Português: Linguagens (Cereja e

Magalhães, 1999 e 2006) vol 8, foram analisados dois cartuns. Do livro didático de inglês

Hello! vol 6 de ( Morino e Faria, 2004), foi analisado 1 cartum. Na terceira e última etapa,

fizemos seleção de 1 cartum retirado de um site da Internet, com o qual elaboramos uma

seqüência didática.

3.2.1. Critério de Seleção dos Suportes

O critério para seleção do livro Português: Linguagens (Cereja & Magalhães, 2006)

levou em consideração o fato de esse livro estar entre os livros didáticos bem avaliados

pelo PNLD 2005 e encampar uma proposta de língua(gem) como prática social. Ademais,

o livro traz uma variedade de gêneros para serem trabalhados em sala de aula e, dentre

eles, o gênero cartum. Selecionamos o volume 8 porque estamos propondo uma seqüência

didática para uma turma de 9o ano (antiga 8ª série).

Dentre os livros disponíveis para o ensino fundamental, selecionamos o livro Hello!

(Morino e Faria, 2004) porque no momento da nossa busca de abordagens ao gênero

Page 36: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

cartum em língua inglesa, esse volume foi o único que apresentou o cartum acompanhado

por atividade pedagógica.

Como critério de seleção do cartum com a qual fizemos a seqüência selecionamos

um que dispusesse um de banco de cartuns organizados por temas.

3.2.2. A Seleção do Tema para a Seqüência Didática

O tema do cartum que selecionamos na Internet para a seqüência didática proposta

refere-se à saúde que é um dos temas transversais propostos pelos PCN.

Como ressaltado na seção anterior, segundo o referido documento oficial, a

pertinência do trabalho com o tema saúde deve-se ao fato de que a “educação para a saúde

favorece o processo de conscientização no que se refere ao direito à saúde e

instrumentaliza para intervenção individual e coletiva sobre condicionantes do processo

saúde/ doença” (PCN, Temas Transversais, 1997, p.255).

3.3 PROCEDIMENTOS E CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DOS CARTUNS NOS

LIVROS DIDÁTICOS

Na primeira parte do trabalho, analisamos a abordagem aos cartuns no livro

didático considerando a importância a eles conferida considerando os seguintes pontos:

i) a localização do cartum no LD;

ii) o conceito do gênero cartum no livro didático;

iii) as atividades de linguagem propostas;

iv) o conceito de prática social e de linguagem.

Além desses pontos, analisamos os cartuns e suas abordagens considerando as 3

dimensões do gênero de acordo com Bakhtin:

i) conteúdo temático;

ii) estilo;

iii) construção composicional.

No que se refere à localização do cartum, interessou-nos saber em que momento da

lição ele foi abordado: se numa seção de leitura, que geralmente tem mais destaque no

Page 37: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

livro, se numa seção de gramática ou numa seção lúdica, bem como sua articulação com o

restante dos conteúdos.

Um dos critérios do PNLD (2005) para a avaliação dos livros didáticos é a precisão

de conceitos, por isso, analisamos não apenas a abordagem do gênero em si no livro do

aluno, mas, também, as orientações no manual do professor. Considerando as teorias de

Dolz & Schneuwly para quem as atividades de linguagem permitem a compreensão e

interpretação do gênero, analisamos as atividades de linguagem e o conceito de práticas de

social e de linguagem propostas nas abordagens.

No que se refere ao conteúdo temático, analisamos quais temas e como os mesmos

foram abordados pelos cartuns analisados. No que se refere ao estilo, analisamos os

recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da linguagem apresentados nos cartuns.

Nessa parte da análise, buscamos subsídios nas teorias de Neves (2003) e Travaglia (2003)

por abordarem questões de conhecimentos lingüísticos e educação lingüística

indispensáveis à pesquisa.

No que se refere à construção composicional analisamos as formas estáveis do

cartum, isto é, seus elementos constitutivos para evidenciar a função de cada um desses

elementos no gênero. Para isso, nos baseamos em Saraceni (2003), como explanado

acima.

3.4 PROCEDIMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DA SEQÜÊNCIA DIDÁTICA

Tendo como base a seqüência didática proposta por Dolz, Noverraz e Schneuwly

(2004) e os postulados dos PCN para o ensino de língua estrangeira definimos os seguintes

procedimentos para a elaboração de uma seqüência didática:

1) Ativação do conhecimento prévio sobre o gênero e o tema a ser abordado;

2) Apresentação do gênero;

3) Realização de atividades de linguagem para a produção de sentidos para o

cartum.Vale ressaltar que as atividades de linguagem têm também o objetivo a

transformação do gênero em objeto de ensino e estudo de seus constituintes

separadamente.

Page 38: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

4) Agregação das partes – o gênero, que para fins didáticos foi transformado em

objeto de ensino, volta a ser estudado na íntegra com o fim de verificar se houve

compreensão. Sugerimos atividades que permitam avaliação formativa8 sobre o

progresso feito pelo aluno: quais conhecimentos produzidos, de que forma a

atividade de linguagem vivenciada o ajuda a entender o mundo que o cerca,

transformar a realidade social, dentre outros.

Além dos critérios acima, as 3 dimensões bakhtinianas do gênero (conteúdo

temático, estilo e construção composicional) nortearam o planejamento da proposta de

seqüência didática e a elaboração das atividades de linguagem propostas.

Por se tratarem de textos predominantemente não verbais analisamos como o

verbal e o não verbal se completam para a produção do sentido, e como isso influencia

a leitura dos alunos.

8 Diferentemente da avaliação somativa, a avaliação formativa é uma avaliação para (a serviço da) aprendizagem, e não da aprendizagem (Gardner, 2006, p.2).

Page 39: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

CAPÍTULO IV

ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS

Partindo da suposição de que, após o lançamento dos documentos oficiais, os

gêneros textuais como charge, cartum e tira estão adquirindo um espaço que não tinham

anteriormente nas aulas de língua (portuguesa ou estrangeira), analisamos nesse capítulo as

abordagens ao gênero cartum em dois livros didáticos que, atualmente, circulam na esfera

escolar brasileira. Antes, todavia, faz-se necessário explanar a concepção de língua na qual

ambas as obras se estruturam.

De acordo com Cereja e Magalhães (1999/2006), “o ensino de português deve

abordar a leitura, a produção de texto e os estudos gramaticais sob uma mesma perspectiva

de língua - a perspectiva de língua como instrumento de comunicação e interação social”

(Manual do Professor, p. 3 e p. 2, respectivamente).

Diferentemente do livro didático de português não há no livro de inglês um

referencial teórico que explicite a concepção de língua presente no livro, ou qualquer outro

tipo de suporte teórico9 a não ser um parágrafo no qual são mencionados os temas

transversais.

Os temas transversais (Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual e Trabalho e Consumo) são abordados ao longo de diversos momentos da coleção. Eles proporcionam reflexões sobre questões de natureza social, com o objetivo de formar a consciência crítica e despertar a cidadania do aluno, e devem ser apropriados a cada faixa etária.(Manual do Professor, p. 32).

4.1 OS LIVROS ANALISADOS E SUAS PROPOSTAS METODOLÓGICAS

4.1.1 Português: Linguagens (Cereja e Magalhães, 1999 e 2006)

Em 2005, ao nos dedicarmos à análise de um livro didático de língua portuguesa

que se propusesse a trabalhar com a língua a partir de uma perspectiva de gêneros textuais

e que fosse aprovado/recomendado pelo PNLD, encontramos em “Português: Linguagens”

9 Vale lembrar que os livros didáticos de língua inglesa ainda não foram inseridos no PNLD.

Page 40: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

de Cereja e Magalhães (1999) o que buscávamos.

Desta obra, selecionamos a abordagem proposta para dois cartuns, visando não

apenas analisar como tal abordagem era realizada, mas, sobretudo, nortear os passos

iniciais de nossa própria seqüência didática em língua inglesa.

Logo após a defesa do trabalho de qualificação, tomamos conhecimento de que já

havia sido lançada uma edição revisada (2006) da referida obra. Apesar do pouco tempo

para a defesa final dessa dissertação, revimos nossa análise da versão de 1999, defendida

em outubro de 2006.

A edição de 1999 está organizada em 4 unidades temáticas que são desenvolvidas

em três capítulos. A versão atualizada também está organizada em 4 unidades temáticas,

mas contém quatro capítulos para cada unidade. Houve mudanças significativas na

organização dos capítulos. Na edição de 1999, os capítulos estão organizados em quatro

seções: Estudo do texto, Produção de texto, Para Escrever Certo e A língua em Foco (p.4).

Cada uma dessas seções, por sua vez, se subdivide. A seção O Estudo do Texto

apresenta as subseções: Compreensão e Interpretação, A linguagem do Texto, Leitura

Expressiva do Texto, Cruzando Linguagens, Trocando Idéias e Ler é. A seção Produção

de texto está subdividida nas subseções Agora é a Sua Vez e Intervalo. A seção Para

Escrever Certo se “transforma” em Para Escrever com expressividade, Para Escrever

com coerência e coesão e Para Escrever com adequação. Por fim, A Língua em Foco se

subdivide nas subseções Construindo o Conceito/ Conceituando, A Categoria Gramatical

Estudada na Construção do texto e Linguagem e Interação (p. 4-5).

A edição de 1999 apresenta ainda ao final de cada capítulo uma atividade lúdica

intitulada Divirta-se e ao final de cada unidade, uma seção intitulada Passando a limpo (p.

7).

Na versão atualizada, encontramos a seguinte organização: Estudo do Texto do qual

fazem partes as seguintes subseções: Compreensão e Interpretação, A Linguagem do

Texto, Leitura Expressiva do Texto, Cruzando Linguagens, Trocando Idéias, Ler é. A

edição apresenta ainda as seções: Produção de Texto, Para Escrever com Adequação,

Coerência, Coesão e Expressividade, A Língua em Foco; sendo que essa última apresenta

os seguintes tópicos: Construindo o Conceito / Conceituando e A Categoria Estudada na

Page 41: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Construção do Texto. Há ainda a subseção Semântica e Discurso e duas outras seções: De

Olho na Escrita e Divirta-se.

4.1.2 Hello! ( Morino e Faria, 2004)

O livro Hello! traz um plano de curso que contempla os seguintes tópicos: i)

objetivos específicos do Stage 6; ii) Conteúdos do Stage 6; iii)Cronograma ; iv) avaliação;

v) temas transversais; vi) referências bibliográficas.

O livro é organizado em 8 unidades, a saber: i) Nice to meet you (prazer em

conhecer); ii) Can you paint? (você pode pintar?); iii) I don’t feel well (Eu não me sinto

bem) iv) What does she do? (O que ela faz?); v) So you can cook for us (Então você pode

cozinhar para nós); vi) Do you have any money? (Você tem dinheiro?) vii) What are you

going to write? (O que você vai escrever?); viii) Where were you last Sunday? (Onde você

estava domingo passado?).

As unidades estão organizadas em 8 seções: Warm up: momento no qual ocorre a

ativação do conhecimento prévio dos alunos sobre o tema a ser abordado na unidade;

Finding out: nesta seção encontra-se um diálogo abordando questões que são temas das

unidades; Language points: seção destinada à abordagem de estruturas gramaticais;

Listening and oral practice: seção destinada à atividades de escuta e compreensão oral;

Expanding your vocabulary; destinada à ampliação do vocabulário trabalhado na lição;

Reading: seção na qual é apresentado um texto, mas que não é seguido de questões de

compreensão; English for fun: destinada a uma atividade lúdica, e Cooperative project:

seção na qual é proposta uma atividade em grupo.

4.2 A ABORDAGEM DO CARTUM NOS LIVROS DIDÁTICOS

Em nossa análise consideramos alguns pontos nas abordagens que demonstram a

importância conferida aos cartuns no livro didático. Esses pontos são: i) a localização do

cartum no LD; ii) o conceito do gênero nos livros didáticos e iii) as atividades de

linguagem; iv) o conceito de prática social e de linguagem. Além desses pontos,

analisamos os cartuns e suas abordagens considerando as 3 dimensões do gênero de acordo

com Bakhtin: i) conteúdo temático; ii) estilo e iii) a construção composicional.

Para dar suporte à análise do terceiro constituinte do gênero (construção

composicional), utilizamos Saraceni que faz um detalhamento de cada elemento

Page 42: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

constitutivo do gênero em questão.

4.2.1. A abordagem do cartum 1 analisado livro didático de língua portuguesa

Na edição de 1999, o cartum 1 e respectivas atividades (Anexo A) encontram-se

numa unidade que aborda o tema Valores e, mais especificamente, no capítulo intitulado

Checando Valores, na seção Cruzando Linguagens. A única mudança na edição de 2006 é

o título do capítulo onde o cartum se encontra - os Valores e a Felicidade. Tanto o tema da

unidade quanto a seção em que o cartum se encontra permanecem inalteradas.

Cartum 1

p.72; p.59

Cartum de Quino

4.2.1.1 O conceito de gênero

Uma primeira questão importante é a indefinição terminológica no tratamento ao

cartum em foco. Observamos que ora o gênero é tratado como cartum, ( como observamos

no enunciado que precede o cartum, ora (no exercício abaixo) como tira.

Leia este cartum de Quino (p. 72)

1) O cartum narra uma história que envolve duas personagens e algumas ações(...) (p.73)

Page 43: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

5) A tira de Quino, entre outras interpretações, pode representar diferentes visões que se

têm da realidade. (p.73)

[ênfase nossa]

Como mencionado anteriormente, apesar de pontos em comum, esses gêneros têm

características e objetivos diferentes. O gênero em foco é um cartum e não uma tira. O que

nos ajuda a distinguir que o gênero se trata de um cartum é o tema que se refere a valores

ou costumes sociais. A tira, por outro lado, tende a abordar questões políticas

assemelhando-se a charge nesse ponto. O cartum acima se assemelha também a uma

história em quadrinhos com uma seqüência de quadros, o que o diferencia da história em

quadrinhos, entretanto, é que estas são geralmente mais longas contendo vários painéis.

Utilizar os termos cartum, tira ou charge para denominar um mesmo gênero pode

induzir o aluno a concebê-los como sinônimos. Cumpre informar que o PNLD (2005) não

faz qualquer apreciação a essa indefinição terminológica em sua resenha crítica da obra (p.

189-197).

4.2.1.2 A localização do cartum

A seção Cruzando Linguagens na qual encontramos o cartum 1 é caracterizada

pelos autores como “ ... um tópico facultativo, que aparece sempre que necessário e

possível” e tem por objetivo “fazer o estudo comparado entre esse texto e o anterior, que

apresenta um tipo de linguagem diferente”( MP 1999, p.5 e MP 2006, p. 4).É esperado do

aluno neste momento que, por meio de comparação, estabeleça semelhanças e diferenças

quanto à abordagem ao tema e/ou aspectos formais dos textos.

O cartum juntamente com vários outros gêneros literários e não literários estão a

serviço da construção de visão de mundo do aluno sobre o tema Valores. Encontra-se em

um tópico facultativo e seu trabalho de leitura complementa o estudo de um texto anterior

Vai, de Ivan Ângelo, que inicia o capítulo na edição de 1999 e Tão Felizes, de Ivan

Ângelo, na edição de 2006. Esse texto é seguido pela seção Estudo do texto na qual, de

acordo com os autores, é a seção em que o trabalho de leitura está formalmente

organizado, embora ressalvem que a leitura seja trabalhada em toda obra: “Cabe ressaltar

ainda que, embora o trabalho de leitura esteja formalmente organizado nas atividades

propostas na seção Estudo do texto, na verdade a leitura é explorada em toda a obra(...)

Page 44: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

(MP, 1999,p.4; 2006,p.3)

O fato de o cartum complementar a leitura de um outro texto é um aspecto positivo

na medida em que traz gêneros diferentes para abordar um mesmo tema, no entanto, uma

questão a se pensar seria o fato de, em ambas as edições, esse gênero não iniciar nenhuma

unidade ou capítulo. Os textos responsáveis por introduzir os capítulos e unidades são

sempre crônicas, entrevistas poemas dentre outros, e não uma charge, tirinha ou cartum.

Uma diferença que aparece no manual do professor da edição de 2006 encontra-se

na introdução quando os autores destacam seu “interesse em explorar (seja na condição de

receptor, seja na condição de produtor) outras linguagens além daquela verbal como a

pintura, a fotografia, o cinema o cartum o anúncio publicitário, etc”(MP 2006, p.2).

Percebemos na citação dos autores uma predisposição em trabalhar outras linguagens o que

talvez explique a maior presença de cartuns em comparação com a versão anterior.

Percebemos também uma sensível diferença no que se refere à importância dada a esse

gênero. Na versão de 1999, apenas os dois cartuns selecionados vieram seguidos de uma

abordagem, sendo os demais constituintes da seção Divirta-se, que é uma seção na qual

“sempre há alguma atividade lúdica que estimula o raciocínio do aluno. São charadas,

brincadeiras, adivinhas, tiras e pequenos textos de humor”. (MP, 1999, p.7).

No volume de 2006 percebemos que apesar de os cartuns ainda não abrirem um

capítulo ou uma unidade, ele aparece em vários momentos e em diferentes seções (18

cartuns na seção divirta-se, 33 seguidos de abordagem gramatical e 7 cartuns seguidos de

compreensão textual). Cumpre ainda ressaltar que despertar o gosto pela leitura prazerosa,

sem uma atividade pedagógica específica, tem lugar em qualquer proposta pedagógica que

objetive o letramento, no entanto, defendemos que isso deva ocorrer com todo e qualquer

gênero, e não apenas com aqueles da esfera humorística.

4.2.1.3 As atividades de linguagem

Em ambas as edições, podemos observar que as atividades de linguagem estão

centradas na compreensão do texto. Apresentaremos abaixo as informações constantes

tanto no livro do aluno quanto no livro do professor [entre colchetes e precedido por MP].

O exercício de compreensão do cartum 1 é constituído de 6 atividades de leitura,

sendo que o enunciado da atividade 1 contextualiza o cartum:

Page 45: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

1) O cartum narra uma história que envolve duas personagens e algumas ações. Chamaremos o homem sem bigode de personagem 1 e o homem de bigode de personagem 2. Observe os seis primeiros quadrinhos:

a) O que a personagem 1 faz no 2º quadrinho?

[MP - Observa algo (uma pessoa, um objeto ou um fato) por um buraco].

b) Que reação ela tem? [MP - Ela acha engraçado]

p. 73/ p.59

Alegamos que essa contextualização de enunciado seja dispensável porque o aluno

pode recuperar o contexto lendo o cartum. No entanto, o que mais nos chama atenção é o

direcionamento da leitura do aluno (itens a e b) que vai de encontro ao que os autores

preconizam com base nos PCN de LP: “Formar um leitor competente supõe formar alguém

que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito,

identificando elementos implícitos” (MP, 1999/2006, p. 8 e 7 respectivamente).

Uma sugestão para essa questão seria não contextualizá-la num primeiro momento

poderia ser pedido que o aluno fizesse sua própria leitura de forma livre (sem ter o olhar

direcionado por qualquer pergunta). Para tanto, propomos a seguinte reformulação:

1) Descreva com suas próprias palavras o cartum abaixo:

Destarte, os autores estariam de fato estimulando a leitura do “que não está escrito”,

o que poderia, por sua vez, gerar outras leituras plausíveis e possíveis, como no mundo real

fora da esfera escolar. Note-se que as respostas no manual do professor não deixam dúvida

sobre qual a leitura desejada e autorizada (Coracini, 1999) embora os autores tentem

atenuar sua interpretação fornecida no enunciado da questão 5, que será posteriormente

analisada.

5) A tira de Quino, entre outras interpretações, pode representar as diferentes visões

que se tem da realidade.

[ênfase nossa]

Num segundo momento, no entanto, rumo a uma leitura mais detalhada e alinhada

com o propósito da escolha do cartum para a abordagem ao tema Valores, o

direcionamento do olhar do aluno para quadrinhos específicos (itens a, b, questão 2, 3 e 4)

Page 46: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

poderia fazê-lo confrontar sua primeira leitura do cartum e articular processos ascendentes

e descendentes de leitura na construção de sentido para o texto.

2. Observe agora os quadrinhos 7, 8, 9. Como a personagem 2 reage diante do que vê?[MP

- Chora, lamenta]

A atividade 2 suscita que diferentes pessoas reagem de diferentes formas o que vai

ao encontro de um dos conteúdos sugeridos para a unidade que é justamente as

“influências do outro sobre nosso ponto de vista” ( MP, 1999,16). A atividade 5 também se

propõe a refletir sobre as influências do outro e promover a construção do sentido do texto.

5) A tira de Quino, entre outras interpretações, pode representar as diferentes visões que se

tem da realidade.

a) O que faz a personagem 1 mudar seu ponto de vista?

[MP - A influência da personagem 2 que viu a mesma coisa de forma diferente ]

b) É possível dizer que as personagens, por terem visões diferentes da mesma realidade,

também possuem valores diferentes? Por quê?

[MP - Espera-se que o aluno responda que sim, pois a forma como vemos o mundo, o que

julgamos bom ou ruim, verdadeiro ou falso, nossos padrões de beleza, são manifestações

de valores].

c) Pelo ponto de vista do cartum, é possível alterar o ponto de vista de uma pessoa? Em

caso afirmativo, como?

[MP - Sim, desde que se mostre a ela outra “verdade”].

p.73/p.60

As questões propostas na atividade apontam para a possibilidade de outras leituras,

inclusive marcadas textualmente no enunciado, mas não abre espaço para as mesmas nas

respostas fornecidas. A leitura pedida restringe-se àquela que teria relação com o texto

anteriormente trabalhado, com o qual será comparado a partir dessa questão.

Nesta questão, ao apontar para a possibilidade de outras interpretações, o autor

poderia questionar sobre as outras leituras possíveis e então, a partir dessas leituras

direcionar para a questão dos valores, que é o foco da atividade. Para isso, sugerimos as

seguintes questões:

Page 47: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

1) A que conclusão você chega com o cartum de Quino?

2) Seria possível dizer que o cartum representa diferentes visões que se tem da realidade.

Justifique:

3) Em sua opinião, quais as implicações de haver diferentes visões da realidade?

A atividade 3, abaixo, demanda articulação das linguagens verbal e não verbal

assim como de processos ascendentes (observação dos quadrinhos 10 e 11) e descendentes

de leitura (sentido para a mão no queixo (10) , gestos com a mão (11)). Mais uma vez as

respostas fornecidas (que diferentemente do texto anterior eram sinalizadas por ‘Resposta

pessoal’ e/ou ‘Sugestão’) contribuem para a interpretação pretendida.

3) Observe o comportamento da personagem 1 nos quadrinhos 10 e 11.

a) O que expressa a feição da personagem e a mão no queixo?

[MP - Dúvida e preocupação].

b) O que significa o sinal que faz com as mãos no quadrinho 11?

[MP - Que o outro deve estar louco].

p.73/p.60

A questão 4, por sua vez, antecipa e impõe uma leitura, não dando espaço para a

interpretação do aluno, à medida que informa haver uma “mudança no estado emocional da

personagem” (item a) e “uma mistura de dois estados emocionais diferentes da

personagem” (item b). Vejamos:

4) Observe a reação da personagem 1 nos últimos quadrinhos.

a) O que muda no estado emocional da personagem no último quadrinho?

[MP - Ela antes se divertiu com o que viu; agora chora e xinga]

b) Quais dos quadrinhos expressam uma mistura de dois estados emocionais diferentes da

personagem? Por quê?

[MP - O 14; porque a personagem chora e ri ao mesmo].

. p.73; p.60

A “mão no queixo” pode ter vários sentidos dependendo dos esquemas de mundo

do aluno. Ao atribuir a tal feição o sentido de dúvida e preocupação, os autores limitam e

direcionam a leitura do aluno, a quem não é dada a oportunidade de perceber ou não uma

Page 48: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

mudança de estado emocional, logo, resta aos alunos identificarem tal mudança bem como

a mistura de dois estados emocionais, como já mencionado.

Uma sugestão para um melhor aproveitamento dessas questões seria permitir aos

alunos perceber e atribuir sentido às feições das personagens. Leitura essa que pode ser,

inclusive, diferente daquela sugerida pelos autores ou professor.

4) Observe atentamente a reação da personagem 1:

a. Contraste sua reação nos quadrinhos 4, 14 e 15:

b. Interprete o quadrinho 14.

Por fim, na atividade 6, os autores cruzam as linguagens do cartum com o texto

anterior do capítulo. Espera-se do aluno, “[comparar] e estabelecer semelhanças e

diferenças quanto ao tema e/ou quanto aos aspectos formais dos textos...” (MP,

1999/2006, p. 5 e 4).

A fim de garantir a visão dos PCN de LP de que “Formar um leitor competente

supõe formar alguém que.... estabeleça relações entre o texto que lê e outros já lidos...”

(MP, 1999/2006, p. 8 e 7, respectivamente), propomos a seguinte reformulação:

1. Que relação você pode estabelecer entre o cartum de Quino e o texto ‘Vai’ de

Ivan Ângelo?

Page 49: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

2.Qual a relação do cartum de Quino e o tema Valores?

No que se refere aos conceitos de prática social e prática de linguagem,

percebemos que na abordagem desse cartum ambos os conceitos foram devidamente

trabalhados. Analisando primeiramente o trabalho com o conceito de prática social que se

define por aquisições acumuladas pelos grupos sociais no curso da história, percebemos

que tal conceito é abordado no momento em que verificamos uma preocupação em trazer

uma situação com a qual os alunos já possam ter tido experiência, dando-lhes

oportunidade de estudar a linguagem partindo de experiências reais, possivelmente já

vivenciadas por eles.

O conceito de prática de linguagem que se refere às “dimensões particulares do

funcionamento da linguagem em relação às práticas de linguagem em geral” (Dolz e

Schneuwly 2004, p.72) também é contemplado na abordagem do cartum no momento em

que há uma abordagem do texto não verbal ( feições, gestos, sentimentos) relacionando

com a prática social em questão.

Um ponto, todavia, que merece atenção na abordagem proposta é o fato de os

autores, ao transformarem o gênero em objeto de ensino, não recuperarem seu contexto. A

recuperação do contexto de produção do gênero é crucial para a produção de sentido do

mesmo, como já mencionado.

4.2.1.4 As dimensões bakhtinianas e a abordagem do cartum

Ressaltando o que foi dito em momentos anteriores, para Bakhtin a abordagem de

qualquer gênero precisa considerar 3 dimensões: conteúdo temático, estilo, e construção

composicional. Nessa seção analisamos se a abordagem ao cartum 1, realizada pelo livro

didático em foco, contemplou essas dimensões, e, em caso afirmativo, como ocorreu essa

abordagem.

O tema refere-se ao conteúdo, assunto abordado no gênero, sem perder de vista o

componente ideológico. Percebemos que esse primeiro elemento é contemplado quando os

autores questionam sobre as “visões da realidade” (atividade 5, item c) por meio da

comparação de valores pessoais que constitui o tema do cartum.

O segundo elemento abordado por Bakhtin é o estilo. Este se refere à “intenção

discursiva do discurso” (Bakhtin, 2003, p. 281). O estilo está relacionado com recursos

Page 50: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua utilizados pelo autor. No caso do cartum em

análise, o estilo se refere a opção do cartunista em retratar o tema e quais recursos (opção

ideológica) ele utilizou na abordagem.

O terceiro elemento abordado por Bakhtin é a construção composicional. Esta não

foi trabalhada nas atividades de linguagem referentes a esse cartum. Não houve qualquer

explicação de nenhum dos seus constituintes (trilho, painel).

Não podemos dizer que a abordagem desse cartum contemplou a função social do

gênero visto que as atividades sugeridas para a compreensão do mesmo não abriram

espaço para fazer uma relação entre o cartum e a vida social ( fora do texto).Uma sugestão

para o trabalho da função social do cartum em análise é justamente relacionar a situação

apresentada no texto, com situações fora da sala de aula.

4.2.2 A abordagem ao cartum 2 analisado no livro didático de língua portuguesa

O segundo cartum e respectivas atividades (Anexo A) encontram-se na Unidade

Rumo ao século XXI, capítulo intitulado A vida e o vídeo, seção Linguagem e Interação

(edição de 1999). Na edição de 2006, encontra-se também na unidade Nosso tempo, no

capítulo intitulado De Volta Para o Presente, na seção Semântica e Discurso.

Cartum 2

p.212/ p.232

Cartum sobre a sabedoria

Page 51: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

4.2.2.1. O Conceito do gênero

Assim como no cartum 1, percebemos que o conceito do gênero é indefinido: ora

definido como charge, ora como cartum, ora como tira. No enunciado do cartum como

pode ser visto logo acima do cartum, o gênero é denominado charge [Leia a charge10

abaixo:], já no exercício a seguir, o gênero é denominado tira.

2.O humor da tira reside no fato de o chargista ter colocado marcas de produtos nas roupas

da Justiça e Verdade, enquanto a Sabedoria está a procura de patrocínio.

p. 212 p. 233[ênfase nossa]

4.2.2.2 A localização do cartum

Esse cartum não se encontra numa seção de leitura, mas numa seção destinada ao

ensino de gramática, intitulada Linguagem e Interação (edição de 1999) e Semântica e

Discurso (edição de 2006). Segundo os autores, o objetivo desse tópico é “retomar os

conteúdos gramaticais trabalhados no capítulo anterior e ampliar sua abordagem,

explorando-os pela perspectiva do discurso”. (ênfase do autor, MP, 1999, p.7) e “ampliar

ainda mais a abordagem do conteúdo gramatical do capítulo” (MP, 2006, p.06).

A localização desse cartum bem como a proposta dos autores, explicitada acima,

nos mostra que o objetivo de sua presença na unidade é a abordagem de conhecimentos

gramaticais numa perspectiva discursiva. Em outras palavras, o cartum aparece no livro a

serviço dos conteúdos gramaticais trabalhados, visto que se encontra numa seção que visa

à retomada de conteúdos gramaticais abordados no capítulo como vemos na atividade 3 a

seguir:

3. Observe o cartaz que a Sabedoria carrega. O verbo precisar, no sentido de “necessitar”, é normalmente empregado como transitivo indireto tanto no padrão culto como popular. Antigamente, entretanto, esse verbo era empregado como transitivo direto em frases como “Se você precisar ajuda, conte comigo”.

a) Com qual das regências o verbo precisar foi empregado no cartaz da Sabedoria? [MP – O verbo foi empregado como transitivo direto.]. b) Na sua opinião, qual foi a intenção do cartunista: mostrar que somente a Sabedoria poderia conhecer essa regência rara do verbo, ou mostrar que a educação (o conhecimento, o saber) atualmente, está tão em segundo plano que é até possível que a própria sabedoria desconheça a regência moderna da elocução precisar? 10 Ênfase nossa

Page 52: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

[MP - Resposta Pessoal.] p.213 p. 233 [ênfase do original]

4.2.2.3 As atividades de linguagem

Seguindo a mesma linha de análise do cartum 1, defendemos que as atividades de

linguagem para o cartum 2 ( Anexo A) analisadas não deveriam antecipar a leitura

(interpretação) das figuras femininas como representando a justiça, a verdade e a

sabedoria. Ou seja, nossa crítica é no sentido de os autores não terem permitido que os

próprios alunos construíssem esse sentido para as figuras femininas.

1) Cada uma das figuras femininas está caracterizada de acordo com o que representa. Qual delas representa: a) a Justiça? b) a Verdade? c) a Sabedoria?

p.212 p. 232

Nessa atividade, percebemos que há uma intenção dos autores de não se limitarem à

leitura ascendente de busca de informações no texto, no entanto, observando toda a

unidade percebemos que ficaria difícil para os alunos, sem mediação do autor ou do

professor, reconhecerem os personagens dos cartuns considerando que eles não são

abordados em nenhum momento em questões anteriores.

Numa outra atividade percebemos, novamente, que os autores não possibilitam que

os alunos produzam sentido para o cartum pois eles o fazem no próprio enunciado:

2.O humor da tira reside no fato de o chargista ter colocado marcas de produtos nas

roupas da Justiça e Verdade, enquanto a Sabedoria está a procura de patrocínio.

p.213/233[ênfase nossa]

Nossa proposta para essa questão é permitir que o aluno decida i) se há humor no

cartum e ii) a partir de que situação foi criado “o humor” a que os autores se referem.

Dentre as questões que poderiam elicitar essa leitura são: i) O cartum aborda o tema de

forma humorística? ii) Se afirmativo, a partir de qual (is) fato (s) o humor foi produzido.

Percebemos que, mais uma vez, a abordagem desse cartum não considera as

Page 53: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

condições de produção do cartum. O cartum foi retirado do seu contexto e levado para a o

livro didático (posteriormente para a sala de aula) sem a recuperação desse contexto,

indispensável para a sua compreensão e transformação em objeto de estudo.

No que se refere aos conceitos de prática social e prática de linguagem, percebemos

que no momento em que os autores trazem para a sala de aula um gênero desvinculado do

seu contexto de produção, o conceito de prática social (as experiências vividas pelos

grupos sociais ao longo da história) deixa de ser abordado, pois não se faz uma relação

entre o cartum e a prática social a qual ele está relacionado. Já no que se refere à prática de

linguagem, percebemos que essa foi trabalhada na medida em que se buscou trabalhar o

funcionamento da linguagem referente ao gênero em questão.

4.2.2.4 As dimensões bakhtinianas e a abordagem ao cartum

Não percebemos na abordagem desse cartum, um trabalho que considerasse o tema

apresentado no gênero. Em sua abordagem percebemos que o tema Valores é explicitado,

mas não trabalhado (vide exercício 1, acima). Notamos que neste, os personagens do

cartum são identificados, mas não há qualquer abordagem a respeito do conteúdo temático

do cartum e de que forma o cartum se relaciona com o tema da unidade Rumo ao século

XXI.

Verificamos também, uma preocupação dos autores em chamar atenção dos alunos

para os recursos gráficos e gramaticais do texto (o estilo, na perspectiva bakhitiniana),

como vemos no exercício 3 ao atentar para o nome dos patrocinadores e para a regência

arcaica do verbo ‘precisar’. Nesse cartum verificamos que há um trabalho referente ao

estilo do gênero, pois se questiona na atividade qual motivo teria levado o personagem a

escolher essa regência arcaica do verbo “precisar” e qual efeito essa escolha produz no

texto. Supomos que uma leitura possível seja questionar a valorização da educação. No

que se refere à atividade 3 acima, notamos, ainda, que a transitividade do verbo “precisar”

está sendo trabalhada de uma perspectiva reflexiva ao questionar as razões para se optar

por uma regência em detrimento de outra.

No que se refere à construção composicional, assim como no cartum 1, não

verificamos nenhuma abordagem dos elementos constituintes do gênero ou sobre sua

organização, visto que o mesmo não apresenta balões, legenda, trilhos ou painéis.

Page 54: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Podemos dizer que a abordagem desse cartum procurou contemplar a função social

do gênero visto que houve atividades que fizeram a relação entre o texto e a vida social.

No momento em que questiona na questão 2 (a.Que profissionais de nossa sociedade

costumam receber patrocínio e b) Você acha que o chargista, ao colocar a Sabedoria sem

patrocínio, pretende fazer alguma crítica? Em caso afirmativo a que?) percebemos que é

feita uma relação entre o cartum e a o meio social.

4.2.3 A abordagem ao cartum no Livro Didático de língua estrangeira

O cartum e as atividade de linguagem (Anexo A) que analisamos do volume de

língua estrangeira encontram-se na unidade 3 que tem como título “I don’t feel well” (Eu

não me sinto bem).

Hello! 2004, p. 43

Cartum para abordagem do Modo Imperativo

4.2.3.1 A localização do cartum

Referente à sua localização, o cartum aparece na seção Written practice, ou seja,

uma seção destinada à escrita, precedido por uma seção de escuta e seguido de 2 atividades

de linguagem.

4.2.3.2 O conceito do gênero

No que se refere à identificação do gênero, percebemos que o LD o reconhece

como cartum. No enunciado das atividades referentes ao texto encontramos “Look at this

cartoon” (Observe esse cartum). No entanto, cartoon é uma palavra polissêmica, pode se

referir a uma charge, a um desenho ou ainda a um cartum ( como entendemos em língua

portuguesa). Considerando a diversidade de sentidos que o termo cartoon possui, não é

possível perceber em qual sentido os autores fizeram uso do termo. Ademais, observamos

Page 55: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

que os autores apenas nomeiam o gênero, mas não há qualquer preocupação em

caracterizá-lo.

4.2.3.3. As atividades de linguagem

A primeira questão de linguagem proposta está relacionada à compreensão do texto

e pede para que o aluno marque a alternativa que corresponde à figura. Para tanto,

apresenta 3 alternativas expressas no modo imperativo:

3) Now, mark the alternative that corresponds to the picture:

i) Don’t call the doctor. (Não chame o médico)

ii) Don’t stay here. (Não fique aqui)

iii)Don’t open that door. (Não abra aquela porta)

p.43

A alternativa considerada verdadeira pelo livro didático é a terceira, o que revela um

primeiro problema quanto à limitação da questão de compreensão. Ao propor possíveis

leituras, o LD impõe a leitura que corresponderia ao cartum, a questão não abre espaço

para outras leituras que os alunos pudessem apresentar. Nessa atividade podemos constatar

que os autores concebem a leitura como uma mera decodificação, pela qual supõem que a

resposta única e correta se encontra imanente ao texto.

Percebemos, ainda, que essa atividade não propicia a compreensão do gênero, uma vez

que em momento algum trabalham o cartum numa perspectiva de gênero textual, ou seja,

não há um trabalho acerca do tema, estilo e construção composicional há apenas uma

questão de decodificação de leitura, que tem como pretexto colocar em prática a forma

imperativa, objeto de estudo da lição.

Depois da questão apresentada na seção anterior são propostas atividades que visam

transformar frases imperativas positivas em imperativas negativas:

4) Change the sentences into Imperative Negative: (Transforme as frases em imperativo

negativo)

a) Eat sandwiches. (coma sanduíches)

Don’t eat sandwiches (não coma sanduíches)

Page 56: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

b) Take an aspirin. (Tome uma aspirina)

________________________________________

c) Stay in bed. ( Fique na cama)

_____________________________________

(…)

p. 43

Como já antecipado, um outro ponto que observamos na abordagem desse texto é que a

sua utilização serviu com um pretexto para o ensino do modo imperativo na língua alvo.

Notamos que mesmo utilizando o texto para o ensino de gramática, a atividade continua

descontextualizada e desvinculada do tema I don’t fell well (Eu não me sinto bem),

proposto na unidade.

Uma das questões referentes à abordagem do cartum na seqüência didática proposta

é como desenvolver os conhecimentos lingüísticos necessários à produção de sentido para

o texto de forma contextualizada. Alinhados a Ellis (2006 p.41-42), acreditamos que uma

abordagem na qual se faça uma relação entre a forma (form - focused instruction -

instrução centrada na forma) e o sentido (meaning-focused instruction - instrução centrada

no sentido) seja mais apropriada. Para esse tipo de instrução, a situação e o propósito

comunicativo são mais importantes do que a instrução exclusivamente centrada na forma,

que, embora se refira à relação forma e sentido, privilegia o foco no lingüístico. Os

critérios de avaliação do PNLD são elucidativos em relação à questão de conhecimentos

lingüísticos e contextualização. No que se refere ao trabalho com o lingüístico, o PNLD

avalia se esse trabalho “Tem peso menor que os relativos à leitura, está relacionado a situações

de uso, estimula a reflexão e propicia a construção de conceitos abordados” (PNLD, 2005, v.

2, p. 256).

Por fim, ressaltamos que a localização desse cartum numa seção destinada à escrita,

mas que, na prática, está voltada ao ensino de gramática por meio de realização de

exercícios escritos, denuncia uma prática de escrita bastante difundida nos livros didáticos

de língua estrangeira, aquela de escrita como mera resolução de exercícios.

4.2.3.4 As dimensões bakhtinianas e a abordagem do cartum

Nas atividades propostas no livro para o cartum não há qualquer trabalho orientado

Page 57: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

para as dimensões do gênero ( conteúdo temático, estilo e construção composicional).

Dolz e Schneuwly (2004) advertem que o gênero, quando transformado em objeto de

ensino sofre algumas descaracterizações e cabe ao professor trazer todo o contexto de

produção para amenizar essa descaracterização. Nas atividades de linguagem propostas

para os três cartuns analisados não há nenhuma preocupação em recuperar o contexto de

produção do cartum, o que resulta na descontextualização do mesmo.

Assim como no cartum 1 analisado, não podemos dizer que a abordagem desse

cartum contemplou a função social do gênero visto que as atividades sugeridas não

abriram espaço nem para a compreensão do texto nem para fazer uma relação entre o

cartum e a vida social ( fora do texto).

Concordamos com Marcuschi (2005) que assume a posição de Bakhtin (2003) e

Bronckart (1999) de que a comunicação só ocorre por meio de um gênero textual e que

“quando dominamos um gênero, não dominamos uma forma lingüística e sim uma forma

de realizar lingüisticamente objetivos específicos” (2005 p.29).

A nosso ver, o ensino de língua seja ela materna ou estrangeira apenas tem

relevância se partir de uma prática social e estiver centrado nas práticas e ações de

linguagem que se realizam nos gêneros textuais.

4.3 PORTUGUÊS: LINGUAGENS (CEREJA E MAGALHÃES) E O PNLD

O PNLD faz avaliação de livros didáticos e divulga as resenhas obras avaliadas e

aprovadas pelo referido programa. Os critérios eliminatórios da avaliação de uma obra

são: “Correção e articulação dos conceitos e informações, coerência e pertinência didático-

metodológicos e construção da cidadania”, (PNLD, 2005, p.276). Nos livros didáticos são

avaliadas as naturezas do material textual, as atividades de leitura e compreensão de texto,

atividade de produção de textos escritos, o trabalho com a compreensão oral e a produção

de textos orais, o trabalho sobre os conhecimentos lingüísticos, o manual do professor e

aspectos gráfico-editoriais.

Buscando a parte da avaliação do livro que se refere à leitura, habilidade priorizada

pelos autores no trabalho pedagógico com os cartuns 1 e 2, percebemos que a abordagem

de leitura teve uma avaliação positiva por parte do PNLD. De acordo com a avaliação

Na abordagem da leitura, há sugestões de como motivar o estudante

Page 58: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

para o conteúdo a ser trabalhado na unidade, contribuindo para torná-lo um leitor competente. Essas indicações são compatíveis com os objetivos declarados no manual do professor. Entre as habilidades de leitura contempladas no livro do aluno, listam se a realização de inferências, a utilização de conhecimentos prévios, a formulação e checagem de hipóteses e a apreensão do conteúdo global do texto. Em todos os volumes, os textos principais das atividades de leitura são precedidos por questionamentos destinados a chamar a atenção dos alunos para aspectos a serem enfatizados nos exercícios posteriores. São pequenos textos introdutórios que estimulam o leitor a formular hipóteses, cujas respostas encontram-se a partir das atividades de compreensão e interpretação. (PNLD, 2005, p.191-192).

Evidenciando o avanço da abordagem de gêneros textuais, prática social e de

linguagem no livro avaliado e aprovado pelo PNLD em relação ao livro de língua

estrangeira (não avaliado pelo PNLD), defendemos a necessidade de esse programa

abranger também a avaliação dos livros de língua estrangeira, visando diminuir o

descompasso existente entre as propostas de ensino de língua materna e as propostas de

ensino de língua estrangeira nos livros nacionais.

Page 59: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

CAPÍTULO V

A SEQÜÊNCIA DIDÁTICA

Neste capítulo apresentamos a seqüência didática elaborada com base nos

pressupostos teóricos abordados ao longo dessa dissertação. Partindo do mais familiar para

o menos familiar, trabalhamos o cartum em língua inglesa tendo como ponto de partida as

experiências dos alunos enquanto leitores de jornais e revistas bem como dos

conhecimentos supostamente construídos nas aulas de português, e, gradativamente,

exploramos o contexto de produção e veiculação do cartum (o fato, problema social a

partir do qual o cartum foi gerado a relação do veículo de publicação com o tema abordado

no cartum e ideologia subjacente); a linguagem e a sua construção composicional. A

seqüência está elaborada visando os seguintes pontos:

1 Período de aplicação: 1 Bimestre ( 16 a 18 horas/aula)

2 Objetivos: Produzir sentido na leitura de cartuns; compreender os cartuns a partir

de uma abordagem baseada nas teorias de gêneros textuais; discutir o tema

obesidade infantil abordados nos cartuns.

3 Objeto de Estudo: gênero cartum

4 Material didático: Caderno; lápis; apostila contendo o cartum e as atividades

sugeridas para o estudo.

5 Número de Módulos – 5

Cartum selecionado para a seqüência com respectiva interpretação

Page 60: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Cartum sobre obesidade Infantil

No cartum podemos ver a presença de dois personagens obesos: um menino e uma

mulher, além de uma fita métrica. Parece haver um grau de intimidade entre ambos, prova

disso é o toque da mulher no menino e o sorriso dos personagens. Vemos, ainda, uma

aparência de aprovação por parte da figura feminina que acaricia a cabeça do menino e

vemos um menino, aparentando, com sorriso no rosto, ter feito algo que mereça aplausos.

Esse ‘algo’ pode ter, supostamente, a ver com a fita métrica.

O que ainda não é possível entender pela linguagem não verbal, entretanto, é o motivo

da satisfação. Considerando nosso conhecimento de mundo, podemos supor que a relação

entre a figura feminina e o menino é de mãe e filho, e que é comum os pais medirem a

altura de seus filhos, e estes ficarem orgulhosos por terem crescido mais alguns

centímetros. Mas é a linguagem verbal que nos permite 1. confirmar que a relação entre a

figura feminina e o menino é de mãe e filho (lingüisticamente marcada pelo vocativo‘filho’

son em sua fala); 2. perceber a função da fita métrica no contexto (medir a largura do

menino); 3. entender que a aprovação da mãe se refere à largura e não à altura, quando diz:

‘Você aumentou mais uma polegada11 desde a semana passada’ [You have put on another

inch since last week], percebendo, no entanto, que esses centímetros não se referem à

altura, mas sim à largura (que, por sua vez, denota aumento de peso) visto a disposição da

fita métrica.

Com base em nossos esquemas de mundo, poderíamos esperar que o elogio fosse ao

crescimento (em altura) do filho. Mas, o humor surge do inesperado, da ruptura com a

11 Unidade de medida de altura na língua inglesa, que equivale a aproximadamente 2,54 cm.

Page 61: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

lógica, do elogio ao aumento de peso, e não crescimento em relação à altura. Essa inversão

de valores (em vez de crescimento de estatura, crescimento de volume, sendo merecedor

de elogio, em vez de crítica) fere a ‘lógica’ da sociedade ocidental contemporânea que se

preocupa com a obesidade infantil12, e faz emergir na confluência do verbal (fala da mãe)

com o não verbal (inversão da fita métrica) o humor.

Nos termos de Ross (1998, p.27), “o humor é causado pela incongruência na linguagem

[...] pelas combinações verbais intencionalmente absurdas, que rompem com a lógica

elementar”.

Sendo o cartum um gênero humorístico e crítico é necessário que o aluno perceba o

humor e saiba a partir de que situação foi criado esse humor. De acordo com Costa (2002,

p.8), “talvez uma das mais destacadas estratégias narrativo-discursivas do humor seja a

ruptura, a cena inesperada, a quebra da lógica na estruturação do discurso”. O referido

autor diz ainda que

“Quando o observador conclui antecipadamente o final lógico de uma narrativa, e este se confirma, o riso não se manifesta. Mas se, como nas boas piadas/anedotas, o final quebra a lógica narrativa, é possível levar o receptor à gargalhadas memoráveis”. (Costa, 2002, p.8)

Uma vez apresentada nossa própria interpretação do cartum, passemos a

apresentação da seqüência didática, composta por 5 módulos. Os módulos constam de

considerações sobre fundamentos teóricos subjacentes às questões abordadas em cada

módulo e percepções sobre o cartum, seguidas de respectivas sugestões de atividades.

Evidentemente, toda a proposta de leitura efetuada nos módulos é norteada por essa

interpretação do cartum, apresentada acima.

5.1. MÓDULO 1 - ATIVAÇÃO DO CONHECIMENTO DE MUNDO

A primeira etapa da nossa seqüência é dedicada à ativação do conhecimento de mundo.

Isso porque concordamos com os PCN que postulam que “um dos processos centrais de

construir conhecimento é baseado no conhecimento que o aluno já tem: a projeção dos

12 Note-se que pela aparência dos personagens, a obesidade não parece ser um problema.

Page 62: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

conhecimentos que já possui no conhecimento novo, na tentativa de se aproximar do que

vai aprender” (PCN-LE, p.32).

A menção da necessidade de ativação do conhecimento de mundo no processo de

leitura tem respaldo também nos Referenciais Curriculares da Paraíba, que mesmo sendo

destinado ao ensino médio, podem iluminar a prática pedagógica do ensino fundamental.

De acordo com esse documento “todo o processo de leitura deve envolver 3 etapas:pré-

leitura, leitura e pós leitura”(Referenciais Curriculares, 2007, p.2213). A primeira etapa, a

pré-leitura, é constituída pela ativação do conhecimento prévio do aluno. Essa ativação

acontece em 3 níveis de conhecimento: conhecimento de mundo, da organização textual e

das condições de produção do texto.

Ainda de acordo com os Referenciais Curriculares da Paraíba (ibid.), o conhecimento

de mundo pode ser ativado através da exploração de “títulos, subtítulos, figuras, gráficos,

imagens, desenho, autor, fonte”.

Alguns questionamentos que podem auxiliar nesse primeiro momento de ativação do

conhecimento de mundo dos alunos visando à construção inicial de sentido para o texto

são14:

• Descreva o cartum .

• Com base na imagem, que relação podem ter os personagens do texto?

• Analisando o texto não verbal, como você percebe a relação entre os personagens?

Demonstram satisfação, reprovação? Quais recursos apresentados no texto

justificam sua resposta?

• Qual a função da fita métrica?

• Como a fita métrica é comumente utilizada?

• Como a fita métrica está sendo utilizada no cartum?

• Por que a fita métrica está na posição horizontal e não vertical?

• Observando o cartum, você pode dizer qual assunto é abordado neste texto? Se

afirmativo, qual a sua opinião acerca do tema?

13 Não tivemos como conferir as páginas da versão final dos Referenciais Curriculares, que foram recém publicados. Portanto, adotaremos a paginação do Mimeo consultado.

14 Cabe ressaltar que esses questionamentos podem e devem ser desdobrados ou dispensados a partir das respostas dos alunos.

Page 63: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Além do conhecimento de mundo, os Referenciais Curriculares da Paraíba

mostram a necessidade de ativar o conhecimento da organização textual, e segundo o

referido documento, essa ativação pode ocorrer através da exploração dos “itens

lexicais, cabeçalhos, distribuição gráfica do texto etc, reveladores da organização

textual” (ibid.), o que, nos termos de Bakhtin são denominados construção

composicional e estilo. No cartum, os conhecimentos sobre a organização textual

podem ser ativados pela verificação da disposição das imagens do texto (em primeiro

plano , a mãe e o menino, em segundo plano , a fita métrica), da disposição do texto

verbal (abaixo do texto não verbal) e pela predominância do texto não verbal.

Sugestões de Perguntas:

a) Há predominância de imagem (não verbal) ou de palavras (verbal) nesse texto?15

b) O texto apresenta alguma voz? Quem fala no texto? Onde está a fala?16

c) Observe se no texto escrito há palavras, frases, parágrafos, (sub)títulos, falas. Justifique.

Ainda de acordo com os Referenciais Curriculares da Paraíba, a ativação das

condições de produção do cartum deve ser explorada. Essa ativação acontece através da

identificação do autor, do público alvo, do veículo de publicação e do propósito do

texto. Essas condições de produção devem ser exploradas porque sendo o gênero uma

prática social, isto é uma mediação comunicativa cristalizada, na qual as significações

são progressivamente construídas (PINTO, 2005, p.49), os gêneros possuem práticas de

linguagens inerentes, ou seja, temos o cartum que constitui uma prática social e temos,

no cartum, práticas de linguagem.

Observando as condições de produção do cartum, podemos chamar a atenção

dos alunos para o site no qual ele é veiculado. A partir de uma avaliação dos

personagens podemos encontrar o público ao qual se destina (crianças) como também o

propósito de se trabalhar esse tema (saúde-obesidade) por meio desse gênero

específico.

15 Resgataremos os elementos constitutivos do cartum no módulo 4. 16 Não se espera, nesse momento, que o aluno identifique que o enunciador seja a mãe. No entanto, pretende-se lhe chamar atenção para uma fala (fora de um balão com rabicho).

Page 64: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Sugestões de Perguntas:

• Qual a fonte desse texto? Onde você encontrou essa informação?

• Em sua opinião, saber a fonte do texto é importante, ajuda a compreender o texto?

Por quê?

• Para quem esse texto é direcionado? Quais recursos do texto justificam sua

resposta?

5.2 MÓDULO 2 - APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO DE COMUNICAÇÃO: DO

GÊNERO

A etapa seguinte à ativação dos conhecimentos de mundo constitui-se da

apresentação da situação de comunicação. Segundo Dolz, Noverraz e (2004, p.99), “A

apresentação da situação visa expor aos alunos um projeto de comunicação que será

realizado “verdadeiramente” na produção final”. A produção final a que se referem os

autores corresponde, no nosso caso, à produção de sentido do cartum por parte dos alunos.

De acordo com Dolz, Noverraz, Schneuwly (2004, p.99-100), essa etapa de apresentação

da situação de comunicação constitui-se de duas dimensões: o projeto de comunicação e as

dimensões de conteúdo.

a) o projeto de comunicação

Para a nossa proposta essa dimensão remete à explicitação e delimitação da

proposta em questão para os alunos, de forma que eles saibam como será o processo

(trabalho de uma seqüência didática) e quais os objetivos (produzir sentido na leitura de

cartuns; compreender os cartuns a partir de uma abordagem baseada nas teorias de

gêneros17 textuais; discutir o tema obesidade infantil abordado nos cartuns).

b) Dimensão dos conteúdos

Essa etapa do módulo é reservada à explicitação do conteúdo (o cartum) e a

importância do tema obesidade infantil a ser trabalhado. Cabe aos alunos nessa etapa, pela

mediação do professor, perceber a relevância do projeto que estamos iniciando e buscar 17 Vale ressaltar que quando afirmamos que o projeto de comunicação constitui-se em compreender os cartuns a partir de uma abordagem de gêneros textuais, não estamos sugerindo explicitar para o aluno essa teoria, mas fazer uso da mesma.

Page 65: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

relacionar os conteúdos, que aprende na escola, com sua vida enquanto ser social.

A LDB defende que o ensino deve estar inspirado no princípio de “vinculação entre

a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais”, afinal o ensino “tem por finalidade o

pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o desenvolvimento da cidadania e

sua qualificação para o trabalho” (1996, p.1).

5.3 MÓDULO 3 - ATIVIDADES DE LINGUAGEM VERBAL E NÃO

VERBAL

Nos módulos anteriores enfocamos a ativação do conhecimento prévio. Nesse

módulo nos dispomos a elaborar algumas atividades que ensinem o aluno a lidar com o

verbal e não verbal do texto para construir sentido para o cartum. Essas atividades

envolvem fala, mediada pela língua portuguesa, leitura e atividades de gramática de uma

perspectiva descritivo-reflexiva (Referenciais Curriculares da Paraíba, 2007)

5.3.1 Texto verbal e não verbal

Nos módulos anteriores levantamos questionamentos sobre os personagens do

cartum, sobre o grau de intimidade ou parentesco entre os personagens, sobre a presença da

fita métrica na direção horizontal direção (na qual ela não é comumente utilizada) para

mensurar altura. Nesse módulo resgatamos esses questionamentos relacionando-os, agora,

com o texto verbal.

Apesar de concordarmos com os Referenciais Curriculares da Paraíba (2007, p.27)

que “as estratégias de leitura podem auxiliar o processo de produção de sentidos para um

texto, embora não garantam êxito”, propomos o uso das estratégias de inferência (como

vimos fazendo desde o Módulo 1) e de localização e resgate de vocabulário conhecido já

que ambas podem auxiliar na construção de sentido para esse cartum, como explanado

abaixo.

O professor pode incentivar o aluno a utilizar a estratégias de reconhecimento de

palavras cognatas e/ ou que já façam parte do seu do conhecimento. Embora não haja

palavras cognatas no texto, o aluno pode reconhecer as palavras well e you. Caso o aluno

não reconheça a palavra well, utilizada em combinação com done, formando a expressão

well done, o professor pode instigar o resgate das discussões feitas na pré-leitura (Módulo

1) e perceber que o vocábulo está sendo utilizado em um momento de aprovação e elogio.

Page 66: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

A expressão well done indica elogio e pode ser elicitada por meio de situações

comunicativas que demandem elogios. Assim, inspirados em Travaglia, propomos algumas

atividades para uma abordagem descritivo-reflexiva do uso da expressão well done.

a. Atividade oral de resgate de situações típicas e familiares ao aluno, na qual ele

geralmente ouça elogios. O importante é que, por meio dessa atividade, realizada

na língua materna, o aluno se coloque na posição de seus pais, e elenque situações

merecedoras de elogio em nossa cultura. Um possível desdobramento dessa

atividade seria contrastar o que é merecedor de elogio do ponto de vista do aluno

em oposição à visão de seus pais18.

b. Atividade oral na qual o professor elicite dos alunos possíveis formas de elogiar

Provavelmente, a expressão muito bem, surgiria espontaneamente com base nos

esquemas de mundo que o aluno possui sobre falas maternas típicas, proferidas na

esfera cotidiana; cabendo, portanto, ao professor estender seu conhecimento

lingüístico na língua inglesa para que o aluno possa acomodar a expressão well

done.

c. Atividade oral que busque do aluno formas de elogiar na esfera humorística,

rompendo com a lógica e modos habituais de pensamento, satirizando, ironizando,

questionando valores19. Espera-se que essa atividade mobilize a criatividade,

motivação, a coerência com a situação comunicativa, e, sobretudo, o trabalho com e

na língua(gem). Em se tratando de alunos de ensino fundamental percebemos que

eles têm uma certa dificuldade (talvez receio de se expor) em buscar formas de

elogiar na esfera humorística. Muitas vezes ao lidar com gêneros dessa esfera, eles

preferem se ater ao que seria lógico ou esperado a tentar romper essa lógica com

uma expressão que possa denotar sátira, ou ironia mesmo que para isso lhes seja

pedido que o façam em sua língua materna.

d. Atividade escrita descrita abaixo:

18 Um outro desdobramento mais sutil e que demandaria competência pragmática é a percepção de que situações que demandam elogios são culturalmente moldadas, i.e., diferente culturas elogiam diferentes feitos e de diferentes maneiras (Poshar & Dourado, s/d).

19 Aqui, é oportuna a observação de Nash (1985, p.126) de que a busca pela linguagem humorística se assemelha a busca pela linguagem poética. Nenhuma das duas é intrínseca ou imanente, mas surgem com e no trabalho com a linguagem.

Page 67: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

1) Destaque o(s) cartum(ns) em que a expressão well done seria adequada? Justifique.

Em qual(is) você não usaria a expressão well done? De que forma esses cartum(ns)

diferem/ se assemelham ao cartum anterior?

20 21

cartum aluno de música e professor Cartum funcionário e patrão

2. Agora leia os cartuns abaixo e responda:

a. O que o menino e o pirata estão segurando?

b. O que a postura física do personagem sentado e do papagaio sugerem?

c. A situação é merecedora de um elogio? Justifique.

d. Se a situação fosse merecedora de elogio, você poderia pensar em alguma expressão

de elogio?

22 23

Cartum pai e filho olhando boletim escolar Cartum menino e papagaio olhando uma prova escolar

2) Nesses dois cartuns, qual o motivo do elogio, por que se espera um elogio nessas

situações?

20 Harold, não foi apenas perfeito, foi perfeitíssimo 21 Não sucinto, mas exato Ambrose, exatamente como gostamos. 22 O que você esperava? Todas as outras crianças têm computadores mais potentes 23 Grasno Que piratas tiram notas realmente muito baixas? Errado, John Silver.

Page 68: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Segundo Travaglia (2003, p.19), atividades descritivo-reflexivas são “mais

pertinentes para os alunos, pois os tornam mais competentes no uso dessas formas”. O

mesmo pode ser feito para elicitar a ação elogiada pela mãe [ganhar algumas polegadas na

largura, e não na estatura], que, como já mencionado, rompe com a forma habitual de se

pensar na sociedade contemporânea ocidental, cujo referencial cultural de beleza está na

esbelteza relacionada com a magreza. Argumentamos que o referencial de beleza tanto da

mãe quanto do menino parece difere do referencial ocidental e considera que ser esbelto

está relacionado com ser obeso.

Dando continuidade ao trabalho com o conhecimento lingüístico sobre o cartum

principal da seqüência, cabe destacar a ação [expressa pelo verbo] merecedora de elogio.

Há uma ação apresentada no suposto elogio da mãe, formulado oralmente (atividade b, p.

65, dessa dissertação) pelos alunos, e escrito em língua inglesa no quadro, pelo professor.

Essa ação possibilitará a reflexão sobre o tempo verbal utilizado.

Com base em nossa experiência de sala de aula, muito provavelmente, surgirá o

passado simples para se referir a uma ação relacionada a peso. Uma hipótese bastante

plausível que poderá surgir, com base no conhecimento de mundo, percepção de que tanto

mãe como filho são obesos, e trabalho de pré-leitura, é que há uma satisfação (expressa,

sobretudo, pelas expressões faciais) por ter perdido peso ( lose weight). Mas, como já dito,

o cartunista inverte os valores e cria humor à medida que relaciona satisfação ao fato de o

menino ter aumentado de peso (put on weight)24. Logo, dentre as suposições formuladas

pelos alunos, espera-se “... you lost weight!”.

Desta feita, se faz necessário refletir sobre o tempo verbal utilizado no texto. O

present perfect que, nesse cartum, indica uma ação que começou no passado, e que pode se

estender ao futuro. Faz-se necessário entender que o uso deste tempo verbal no texto

sugere todo esse sentido de uma ação que teve início em um passado que não importa, e

que se prolonga no tempo presente e, talvez no futuro. É preciso, ainda, explicitar que o

“present perfect é usado para falar de resultados ou efeitos de uma ação ou situação

passada. O efeito ou o resultado da ação não foi terminado no momento da fala”, e que

nenhum outro tempo verbal produz o efeito que o present perfect produz. Mais

especificamente, o simple past (passado simples) que, diferentemente, é usado “se uma 24 Vale lembrar que a unidade de medida utilizada pelo cartunista não é peso (weight), mas sim polegada (inch), utilizada para medir estatura. Essa escolha lexical, que também contribui para o humor do cartum, será alvo de um trabalho lingüístico específico a seguir.

Page 69: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

ação ou situação aconteceu num momento particular do passado, que [já foi] terminada [no

momento da fala]” (BOLTON & GOODEY, 1997, p. 26)

Tendo como base o trabalho de Travaglia (2003, p.167) com o tempo verbal em

português, selecionamos alguns aspectos que podem ser adaptados para o ensino do tempo

verbal em inglês. São eles: a) trabalhar mostrando que o tempo indica o momento de

ocorrência da situação expressa como anterior, simultânea ou posterior em relação ao

momento da fala; b) as noções temporais que cada tempo verbal pode exprimir; c) uso

textual dos tempos.

Sugestão de atividade:

She has lost weight.

Mulher conferindo o peso

1. Observe a ilustração acima, atente para o texto verbal que a segue e responda as

perguntas:

a) Quantos personagens há na ilustração?

b) O que acontece na ilustração?

c) Que conclusão você pode tirar dos dois momentos retratados na imagem?

Espera-se com o item ‘b’ que o aluno, dentre outras leituras possíveis, perceba que a

ilustração retrata dois momentos distintos, e que com o item ‘c’ explicite a perda de peso

da figura feminina. E, muito provavelmente, ele o dirá em português, e quando solicitado a

fazê-lo em inglês, ele utilizar-se-á do presente simples (na forma flexionada ou não) – She

lose*25(s) weight - ou do passado simples (na forma flexionada ou não) She lose*/losed*

(lost) weight.

25 * Formas gramaticalmente incorretas na variante padrão da língua inglesa

Page 70: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Independentemente da forma verbal utilizada, essa produção preliminar do aluno já

indica que ele é capaz de utilizar a expressão lose weight, cabendo agora se apropriar do

tempo verbal adequado para a situação comunicativa em foco. Aqui nossa seqüência se

desdobra mais uma vez para tentar dar conta das produções típicas dos alunos, que

refletem graus diferenciados de proficiência lingüística. Caso os alunos tenham elaborado

um enunciado no presente simples, flexionado ou não, propomos a atividade ‘d’, porém se

eles tiverem elaborado um enunciado utilizando-se do passado simples, com ou sem

flexão, propomos a atividade ‘e’.

d) Identifique a diferença entre:

• She usually loses weight.

• She lost weight last week.

• She has lost weight.

O trabalho do professor seria perguntar e garantir que os alunos entendam a situação comunicativa em que cada um desses enunciados seria mais adequado: • situação habitual de alguém que sempre controla o seu

peso; • uma situação específica de perda de peso num tempo

determinado (semana passada); • uma situação específica de perda de peso num tempo

indeterminado, cujo foco está na perda de peso, e não no quando o peso foi perdido.

e) Compare os enunciados abaixo e responda:

1) She has lost weight.

2) She lost weight when she was on diet.

Você pode dizer em qual tempo verbal estão as frases? Remetem ao presente, passado ou

futuro?

Nesse caso, cabe ao professor promover a percepção de que o 1º enunciado

expressa uma ação (perda de peso) que começou no passado e que continua a acontecer; já

o 2º remete à uma ação que aconteceu em um determinado tempo do passado (When she

was on diet- quando ela estava de dieta).

f) No texto do nosso cartum, encontramos o seguinte enunciado:

You’ve (have) put on another inch since last week.

f.1) Com qual dos enunciados acima, You’ve (have) put on ..., se assemelha?

f.2) O que o enunciado expressa? Espera-se, aqui, que o aluno diga que o menino vem

ganhado peso a cada semana.

f.3) Qual é a estrutura do tempo verbal utilizado acima? Aqui caberia ao professor destacar

Page 71: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

a estrutura do tempo present perfect:

have (has) + participle (put on).

f.4) Como você diria, utilizando o mesmo verbo principal (put on), uma ação que

aconteceu em um determinado tempo do passado?

Além dessas atividades de linguagem, mais especificamente com conhecimento e

reflexão lingüística, outras duas (uma em relação à unidade de medida utilizada e uma em

relação ao pronome indefinido) são necessárias para compreensão da linguagem verbal

utilizada no cartum.

1. Trabalhando com a unidade de medida

a. Sabendo que inch é uma unidade de medida que equivale a 2,54 centímetros e

observando a situação descrita no cartum, reflita se a medida em centímetros é

adequada à situação?

b. Em sua opinião, existe uma outra unidade de medida mais adequada para a situação

do cartum? Qual?

c. Qual a intenção de usar uma medida que se refere a centímetros neste cartum?

2. Trabalhando com a função do pronome indefinido no contexto

a. Qual sentido melhor se aproxima do uso de another em You have put on another inch

since last week? Justifique:

( ) one more ( ) different.

b. Qual o efeito de sentido criado por ‘mais uma’ em oposição à ‘uma’ polegada?

Espera-se, no item ‘b’, que o aluno perceba que ‘mais uma’ pressupõe que o menino tenha

aumentado de peso na semana anterior, e que de lá para o momento da fala, tenha

“colocado mais uma polegada” (entenda-se aumentado seu peso)26.

Parece-nos oportuno trazer a posição de Cynthia & Drew Johnson (s/d, p.2), que

defendem que o ensino de vocabulário deva incluir 3 componentes: informação sobre a

definição e o contexto da palavra; múltiplas exposições da palavra em contextos variados

e encorajamento da ativa participação do aluno no seu aprendizado. À luz desse

posicionamento, ressaltamos que essa seqüência evidencia como o trabalho com o léxico

(linguagem verbal) pode ser feito, porém faltou-nos tempo para propiciar outras atividades,

que demandassem múltiplas exposições da palavra em contextos variados para another,

inch e put on, e que pudessem contribuir para o efetivo armazenamento dessas palavras.

Após esse trabalho específico de desenvolvimento de conhecimentos lingüísticos

26 Uma sugestão para futuras pesquisas é o trabalho com o humor a partir teoria da pressuposição.

Page 72: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

viabilizado pela leitura, releitura e reflexão sobre o cartum, duas perguntas se fazem

necessárias num trabalho de educação lingüística, que permita ao aluno perceber como as

várias linguagens se integram e o papel desempenhado pelo conhecimento de mundo na

produção de sentido a todo e qualquer texto. Uma outra denominação utilizada pelos PCN

– LE, para essa fase do trabalho com as atividades de linguagem é ‘pós-leitura’.

Sugestão de perguntas:

a) Que modalidades de linguagens estão presentes no cartum?

b) É possível ler e interpretar esse cartum com base apenas na imagem (não verbal)?

c) É possível ler e interpretar esse cartum com base apenas na fala da mãe (verbal)?

e) Qual a importância do texto verbal e não verbal nesse ou em qualquer outro texto?

f. ) Pense em uma possível relação entre o verbal e o não verbal desse texto.

g) O cartum analisado cria humor? Se afirmativo, como?

h) Busque um cartum num jornal brasileiro escrito em português ou um na Internet escrito

em inglês, que trate de obesidade, e descreva o que você entende sem perder de vista o

papel das linguagens verbal e não verbal.

i) Mais adiante, faremos uma oficina de elaboração textual de elaboração de um cartum

que trate o tema obesidade infantil. Comece a pensar como você gostaria de criar o seu

próprio cartum. Trabalharemos juntos o inglês (linguagem verbal) na oficina.

j)Houve alguma mudança na sua opinião sobre a obesidade infantil? Permanece a mesma

que você tinha no início da seqüência? Se mudou, o que mudou, qual o motivo da

mudança?

5.4 MÓDULO 4 - COMPONENTES CONSTITUTIVOS DO GÊNERO

Nas atividades desse módulo objetivamos trabalhar cada constituinte do gênero. A

primeira atividade desse módulo se constitui em conscientizar o aluno dos constituintes do

gênero.

Propomos que as questões seguintes da nossa seqüência enfatizem as 3 dimensões

constituintes do gênero que segundo Bakhtin são construção composicional, tema e estilo.

5.4.1 A Construção Composicional

No que se refere ao estudo da construção composicional do cartum, um ponto

Page 73: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

crucial é explicitar os elementos constitutivos do cartum assim como a função de cada um

deles.

5.4.1.1 A “voz” do cartum

O leitor deve estar lembrado que na seção ativação do conhecimento de mundo,

antecipamos a observação sobre quem fala no cartum, embora não tenhamos trabalhado

com os elementos constitutivos do gênero, o que é realizado a seguir.

Os balões

Os diálogos nos cartuns comumente apresentados em legendas ou balões

representam a fala ou os pensamentos dos personagens. Segundo Einster (2001, p. 149), os

diálogos contidos nos balões são repetidos dentro da cabeça do leitor. Ou seja, são as vozes

dos personagens. De acordo com o autor:

“a primeira ação do leitor é passar os olhos pela página depois pelo quadrinho. Se as imagens são pictoriamente muito instigantes ou carregadas de detalhes, haverá uma tendência para uma leitura superficial do texto do balão”.(Einster, 2001, p.149)

Sugestões de atividades:

1) Através de que recurso é mostrada a voz dos personagens no cartum?

2) Um outro recurso utilizado para representar a fala dos personagens dos cartuns são

balões. Pesquise em revistas em quadrinhos, revistas ou jornais, textos constituídos

por quadrinhos e verifique:

a) Através de qual(is) recurso(s) a fala, pensamentos e emoções dos personagens são

apresentados?

b) Quais os tipos de balões apresentados? Eles são uniformes? Qual o efeito de sentido

criado pelas diferentes formas dos balões?

c) Há legendas nos cartuns e qual a localização das mesmas?

d) Os balões são constituídos também por um elemento chamado rabicho, que, também,

pode apresentar diferentes formas:

Page 74: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

1) Observe os quadrinhos da sua pesquisa e verifique a função do rabicho.

a) Se você fosse colocar a fala do personagem do cartum em análise em balões, qual

modelo de balão você criaria?Por quê?

b) No caso do 1º cartum apresentado para qual personagem o rabicho apontaria?

5.4.2. O tema

Como já mencionado, o tema refere-se ao que é dizível por meio do texto e é sempre

perpassado por uma ideologia.

Sugestão de atividades:

a) Qual o tema abordado no cartum? Justifique.

b) Na sua opinião por que o tema obesidade é tratado pelo cartunista?

c) Pela atitude da mãe do e do filho a obesidade é um problema que precisa de

tratamento?

d) Qual a visão da mãe do e do filho acerca da obesidade?

e) Como você justifica a atitude dos personagens?

f) Em sua opinião, há alguma crítica a algum valor da sociedade nesse cartum? Se

afirmativo, qual? Como essa crítica é apresentada no cartum?

5.4.3. O estilo

O estilo refere-se aos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais do Gênero.

Sugestão de atividade:

1)Observando o cartum acima, você diria que se trata de uma situação formal ou

informal? Que recursos (verbal ou não verbal) justificam sua resposta?

2) Como você classifica o texto do cartum? Justifique:

Page 75: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

a) narrativo

b) descritivo

c) dialogal

d) argumentativo

3)De qual dos personagens é a “voz do texto”. Justifique:

4)Como você interpreta a postura da mulher em relação ao menino? O que os

gestos produzidos por ela representam para você?

5) Você pode dizer em qual tempo verbal está a frase? Remete ao presente, passado

ou futuro?

5.5. MÓDULO 5 - DO GÊNERO COMO OBJETO DE ESTUDO AO GÊNERO

COMO PRÁTICA SOCIAL

Como nos módulos anteriores desmembramos o cartum em dimensões ensináveis,

nesse último módulo visamos trabalhar o gênero, que para fins didáticos foi transformado

em objeto de ensino, em sua totalidade, a fim de verificar se houve compreensão do

gênero.

Sugestões de atividades:

1) Qual o tema abordado no cartum?

2) Como o tema foi trabalhado?

3) O cartum chama atenção para algum assunto abordado na mídia, na sociedade?

Podemos dizer que o cartum tem uma função social? Se afirmativo, qual?

4) Houve crítica a algum valor da sociedade? Como foi feita a crítica?

5) Você acha que diferentes culturas/sociedades possuem diferentes padrões de

beleza/estética?

6) Podemos dizer que o cartum é um texto humorístico? Se afirmativo, quais os

recursos que foram utilizados para produzir o humor?

7) Enumere as características peculiares desse gênero.

8) Crie você próprio um cartum, tratando do tema obesidade infantil

Page 76: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Por fim, vale ressaltar que esse trabalho de criação de um cartum deve ser,

parcialmente, realizado numa oficina de produção de cartum, à luz das sugestões nos

Referenciais Curriculares da Paraíba (2007, p.30), e subsidiar o trabalho pedagógico de

análise e reflexão lingüística e questões de linguagem (integração das linguagens,

coerência, ideologia).O trabalho interdisciplinar, com o professor de Artes, na exploração

da linguagem artística além de se alinhar às sugestões dos PCN – LE, mobilizaria, na

prática, a integração das várias linguagens na construção de sentido.

Page 77: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

CONCLUSÃO

Nosso trabalho foi constituído de 3 objetivos i) caracterizamos o cartum com base

nas teorias de gêneros textuais;ii) analisamos as abordagens do gênero realizada em dois

livros didático e iii) elaboramos uma seqüência didática para o gênero cartum.

No que se refere ao primeiro objetivo constatamos que utilizando as teorias de

gêneros textuais caracterizamos o cartum considerando os três elementos constituintes do

gênero proposto por Bakhtin quais sejam: conteúdo temático, estilo e construção

composicional.

No que se refere ao segundo objetivo, analisamos a abordagem do cartum em 2

livros didáticos ( um de língua materna e um de língua estrangeira). Verificamos que

apesar de ainda não contemplar todos os constituintes do gênero propostos por Bakhtin, o

livro de língua portuguesa apresenta atividades de linguagem que vão ao encontro dos

postulados dos PCN para o ensino de português. No entanto, algumas questões apresentam

falhas ao antecipar a resposta para o aluno. Já no livro de língua estrangeira, percebemos

que não há nenhum trabalho com o gênero, não sendo sequer apresentado numa seção de

leitura e tendo sua presença no livro apenas o objetivo de trabalhar o modo imperativo.

Podemos dizer que a seqüência didática proposta procurou desenvolver cada uma

das capacidades necessárias a um usuário criticamente letrado. De acordo com Dolz,

Pasquier e Bronckart (1993 apud Dolz & Schneuwly 2004, p.74), as atividades de

linguagem implicam o desenvolvimento de diversas capacidades por parte do sujeito:

capacidade de ação, discursiva e lingüístico-discursiva. No que se refere à capacidade de

ação (capacidade de adaptar-se às características do contexto e do referente) foram

contempladas as representações da situação apresentada no cartum, houve contextualização

da situação comunicativa, das condições de produção do cartum, reflexão sobre o tema

obesidade infantil e valores da sociedade ocidental contemporânea.

No que se refere à capacidade discursiva (capacidade de mobilizar modelos

discursivos) propusemos atividades relacionadas à caracterização e função do gênero. Para

isso nos baseamos nas teorias de gêneros de Bakhtin.

No que se refere à capacidade lingüístico-discursiva (dominar as operações

psicolingüísticas e as unidades lingüísticas) desenvolvemos atividades de linguagem de

Page 78: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

uma perspectiva descritivo-reflexiva interarticulando as linguagens verbal e não verbal. No

que tange à linguagem não verbal, nosso foco recaiu sobre o balão, rabicho (elementos

constituintes do cartum) bem como feições faciais, a disposição da imagem, personagens e

fita métrica. No que tange à linguagem verbal, elaboramos atividades que pudessem dar

conta da linguagem verbal do cartum principal (marcador de elogio, unidade de medida, o

efeito criado pelo uso do pronome indefinido, que permite ao leitor pressupor que o

menino já tinha aumentado de peso na semana anterior, suposição confirmada pela escolha

do tempo verbal. Explanamos, ainda, o humor criado na confluência das linguagens verbal

e não verbal e pela inversão do lugar comum, da lógica pelo cartunista, visando à

elaboração de um cartum por parte do aluno num trabalho integrado com a disciplina de

Artes que possa auxiliar na mobilização e interarticulação das linguagens na produção de

sentidos.

Na elaboração dessa seqüência didática centrada no cartum procuramos também

contemplar os 3 princípios que Dolz e Schneuwly (op.cit, p.81) sugeriram para a

elaboração de um modelo didático: legitimidade (referência aos saberes teóricos

elaborados por especialistas sobre o gênero escolhido); pertinência (referência às

capacidades dos alunos, às finalidades e aos objetivos da escola, aos processos de ensino

aprendizagem) e solidarização [solidificação dos saberes] (que se refere a tornar coerentes

os saberes em função dos objetivos visados). Nossa proposta além de procurar ensinar a

língua inglesa através do gênero cartum, constituiu-se de atividades de linguagem que

proporcionam uma reflexão sobre preocupações com saúde, valores e padrões de beleza da

sociedade ocidental contemporânea.

Em nosso trabalho apesar de trabalharmos com um gênero considerado complexo

por articular fatores sócio histórico ideológicos que demandam grau de letramento crítico

do leitor procuramos fazer uma abordagem que se adequasse ao público de 8ª série do

Ensino Fundamental. Para isso escolhemos um tema contemplado pelos PCN Temas

Transversais.

Podemos dizer que a seqüência didática cumpriu os objetivos visados, quais sejam:

produzir sentido na leitura de cartuns; promover compreensão dos cartuns a partir de uma

abordagem baseada nas teorias de gêneros textuais; discutir o tema obesidade infantil.

Nossa proposta contempla os pontos que subsidiam a elaboração de uma seqüência

didática. Em síntese, nossa seqüência possui: i) os princípios teóricos subjacentes ao

Page 79: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

procedimento e ii) à articulação entre o trabalho na seqüência e outros domínios do ensino

de língua: textualização, questões de gramática e sintaxe. (Dolz &Schneuwly, 2004 p.108-

115).

A seqüência didática elaborada veio ao encontro do PCN-LE do Ensino

Fundamental uma vez que tais documentos postulam a necessidade de (re)pensar o ensino

de língua materna e estrangeira à luz das teorias de linguagem, letramento, objetivando

contribuir para a formação de um usuário competente da linguagem, capaz de agir

discursivamente num mundo globalizado, cujas práticas de linguagem, atualmente, se

realizam pela língua inglesa.

A hipótese de que uma seqüência didática centrada no gênero cartum no ensino

fundamental de língua inglesa poderia contribuir para a formação do aluno brasileiro capaz

de agir discursivamente na e pela língua estrangeira, como preconizado pelos PCN, só

poderá ser confirmada quando de sua aplicação da proposta, por outros professores.

A seqüência elaborada tenta fazer a transposição didática dos PCN e Referenciais

Curriculares da Paraíba. Acreditamos ter obtido êxito nesse trabalho. Acreditamos também

que muitas outras propostas de ensino possam ser apresentadas e sugerimos a elaboração

de outras seqüências, utilizando outros gêneros, outro público para que cada vez mais a

distância entre teoria e prática diminua no ensino de língua estrangeira do Brasil. A função

da escola está em possibilitar que o aluno conheça e domine diversas formas de realizar

diversas ações de linguagem. Relacionando com a nossa seqüência podemos dizer que o

ensino de língua estrangeira centrado no cartum é uma maneira de proporcionar ao aluno o

contato com gêneros correntes em seu cotidiano e mostrar o uso e função da linguagem

neste gênero.

Vale ressaltar que o embrião da seqüência elaborada nesse trabalho surgiu há mais

de 5 anos quando na posição de professora de inglês em uma escola estadual de ensino

fundamental da Paraíba e aluna de graduação do curso de Letras da UFCG, procurava

transpor os conhecimentos teóricos apresentados nas aulas para o meu trabalho. A

principio utilizando mais da pouca experiência de sala de aula e o interesse dos alunos, mas

cada vez mais procurando unir teoria e prática.

A partir do trabalho enquanto professora, cada vez mais sentia a necessidade de

tornar meu trabalho relevante e acredito que isso acontece com muitos outros professores e

Page 80: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

professoras, que comprometidos com a educação, estão sempre abertos ao estudo no

sentido de procurar aprimorar seu trabalho sendo imprescindível para esse aprimoramento,

a formação continuada dos professores.

Page 81: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

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ANEXOS A

Cartuns dos livros didáticos analisados

Page 85: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

ANEXOS B

Cartum utilizado na elaboração da seqüência didática

Page 86: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Cartum de Quino

Cartum sobre a sabedoria

Cartum para abordagem do Modo Imperativo

Page 87: elaboração de uma sequência didática centrada no gênero cartum

Cartum sobre obesidade infantil