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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 1 http://sisejufe.org.br Eleições de 3 de outubro: Dilma deve ganhar no 1º turno e categoria exige o cumprimento do acordo pelo PL 6.613

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 1http://sisejufe.org.br

Eleições de 3 de outubro:

Dilma deve ganhar no 1º turno e

categoria exige o cumprimento

do acordo pelo PL 6.613

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2 Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010http://sisejufe.org.br

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 3http://sisejufe.org.br

Í N D I C E

EsporteASJT-Rio em parceria com o Sisejufe promove

torneio de futebol soçaite, em outubro.

Página 4

Criança e AdolescenteNo aniversário de duas décadas do Estatuto da

Criança e do Adolescente, conquistas e contras-

tes da aplicação da lei.Páginas 22 e 23

Subsídio na berlindaDebate sobre Regimes de Remuneração para

o Judiciário Federal mobiliza mais de cem ser-

vidores no auditório da SJRJ da Rio Branco.

Páginas 6 e 7

EditoralApós 3 de outubro, a categoria deve retomar

mobilização para que se cumpra o acordo de

aprovação do PL 6613 entre os chefe do Exe-

cutivo e do Judiciário.Página 5

Eleições 2010Mídia antiga repete padrão de manipulação de

pesquisas e manchetes e tenta levar a eleição

presidencial novamente para o 2º turno.Páginas 26 e 27

Livre Orientação SexualHistórias de superação e luta contra o precon-

ceito e a discriminação homofóbica.Páginas 28 e 29

DeficientesDia 21 de setembro, aniversário de Louis Brail-

le, Sisejufe lembrou o Dia Nacional da Pessoa

com Deficiência em seminário.Páginas 12 e 13

Eleições 2010Em nossa maior eleição, o Brasil amadurece

como democracia multirracial.

Páginas 24 e 25

Gênero e RaçaMagistrada negra, a primeira a condenar por

racismo no Brasil, visita o Sisejufe.Páginas 30 e 31

Geração AnalógicaAdeptos de radioamador não se preocupam

com o crescimento dos meios digitais de co-

municação.Páginas 32 e 33

Cidade

O consultor sindical Ernerto Germano Parés

critica o controlador principal da Light, a Ce-

mig, do governo de Minas – que tem interes-

ses diversos dos do povo do Rio de Janeiro.

Páginas 8 e 9

HumorNosso colaborador Fulgêncio, acha que alguns

servidores consideram o movimento sindical

parecido com a Colheita Feliz do Orkut.

Notas SindicaisAgentes de Segurança criam grupo para discu-

tir Resolução 104. Manifestação em Teresó-

polis cobra apuração contra juiz federal.Página 10

Página 11

Oficina LiteráriaDivagações do juiz Genivaldo Alves Neiva so-

bre o real e a utopia.

Página 18 e 19

Ensaio FotográficoGrécia em Crise – Carlos Latuff esteve no berço

da civilização ocidental para constatar o caos ne-

oliberal lá instalado.Páginas centrais

MúsicaChico César diz que o Rio de Janeiro só tem

celebrado o que já é célebre.Páginas 34 a 36

InternacionalNossa colaboradora Tatiana Lima entrevista a

jornalista espanhola Judith Torrea, que escre-

ve sobre o território mais perigoso da Améri-

ca do Norte na atualidade: a fronteira do Mé-

xico com os Estados Unidos.Página 16 e 17

Reforma AgráriaPlebiscito sobre limite da propriedade da terra,

revela um Rio de Janeiro progressista.Página 37

LatuffEntenda agora porque a imprensa brasileira é

chamada de Partido da Imprensa Golpista.Página 38

Violência DomésticaNão há distinção de idade, condição financeira,

nível de instrução, etnia ou religião. Saiba mais.

Páginas 14 e 15

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4 Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010http://sisejufe.org.br

Cada equipe poderá inscrever

de 8 a 14 atletas e no máximo 3 es-

tagiários/terceirizados.

Funcionários da ASJT-Rio e do

SISEJUFE contam como sindicali-

zados.

Cada equipe, já contando com

os estagiários e terceirizados terá

que ter no mínimo 50% de servi-

dores filiados ou à ASJT-Rio ou ao

SISEJUFE, alternativamente ou

mesmo somadas as associações.

Não serão aceitas equipes que

não tenham o mínimo de 50% de

filiados, com exceção das equipes

convidadas de fora.

Os times deverão estar devida-

mente uniformizados (camisa/

calção e meião), caso haja simila-

ridade nos uniformes será forne-

cido colete.

OBS: A ficha de inscrição de

cada equipe deverá ser acom-

panhada dos seguintes docu-

mentos: declaração de aptidão

física preenchida e assinada

Para o campeonatoA taxa de inscrição é de R$ 140,00 (cen-

to e quarenta reais) por time (indepen-dente do número de jogadores).

Os jogos serão durante a semana à noi-te e nos fins de semana nos domingos.

O torneio deverá contar com 12 equi-pes divididas em 3 chaves de 4. Cadachave os times jogarão entre si. 3 jogospor chave. Os dois primeiros colocadosde cada grupo avançam à segunda fase,mais os dois melhores segundo lugares.Se formam mais duas chaves com trêsjogos, avançando o campeão e o vicepara as semifinais em mata mata, sendoque os primeiros colocados levam a van-tagem do empate. Os vencedores dispu-tam a decisão e os perdedores o tercei-ro e quarto lugares. Premiação de tró-feu e medalhas para os três primeiros,além de placa para o artilheiro, o craquee a revelação da competição escolhidospela comissão organizadora.

O campeão receberá a faixa e o tró-feu num jogo comemorativo contra aseleção do campeonato, escolhida pelacomissão organizadora.

Em caso de empate na fase inicial odesempate ocorrerá : Pontos ganhos,Nº de vitórias, saldo de gols, Gols Pró,Gols Contra, Cartões Amarelos, CartõesVermelhos e por último sorteio.

II COPAJUDA ASJT-Rio em parceria com o SISEJUFE estarão promovendo o

Torneio Início da II COPAJUD, no dia 16 de outubro sábado,

Serão 2 times do TRT Capital – (I) Inscrições com Matheus no

futebol das sextas no Rio Ativa e (II) com De Paula na 24 VT/RJ

TRT Caxias – Rafael Sorosine, TRT Nova Iguaçu – Junior, Caixa

Econômica, Polícia Federal, ASJT-Rio e SISEJUFE.

Aguardamos ainda prováveis inscrições a OAB, AMATRA, ASTRA XX

e outros.

As fichas de inscrições estarão disponíveis na secretaria da ASJT-

Rio e do SISEJUFE.

O local da competição será definido no dia 1 de setembro pois te-

mos 2 locais em negociação, em ambos os participantes poderão le-

var suas famílias para desfrutarem em ambos, piscina e área de lazer.

por cada participante além de

cópia de documento compro-

vando sua vinculação ao res-

pectivo trabalho.

Cada equipe deverá preencher

de forma correta a ficha de inscri-

ção, elegendo o seu representan-

te, sendo este o único autorizado

a se dirigir a Comissão Organiza-

dora da COPAJUD.

Para o Torneio Início(16 de outubro)

No torneio início as doze equi-

pes jogam um mata-mata, algumas

ficando de bye de acordo com o

sorteio, dez minutos, sem interva-

lo, durante todo o dia, como for-

ma de promover a integração e o

torneio. Somente o campeão leva-

rá como prêmio um trófeu, menor

que o de campeão do campeona-

to. Havendo empate durante os jo-

gos, haverá cobranças de penâltis,

3 por equipe, permanecendo o

empate, cobranças alternadas.

R E G U L A M E N T O :

Para a II COPAJUD

A taxa de inscrição é de R$ 140,00 (cen-to e quarenta reais) por time (indepen-dente do número de jogadores).

Alem da taxa de inscrição, será cobradaa taxa por jogo é de R$ 50,00 (cinquentareais) por time. O valor destina-se,refere-se à arbitragem e aluguel do campo.

Se houver 12 equipes serão 3 gruposde 4, com cada equipe jogando no mí-nimo 3 vezes. Se classificam para a se-gunda fase os 2 primeiros de cada gru-po e os dois melhores 2 colocados.

Para que haja mais jogos, a segundafase também será de grupos, com cadaequipe jogando mais 3 vezes, garan-tindo a cada equipe o mínimo de 3 jo-gos, e a cada equipe classificada, o mí-nimo de 6 jogos.

Cada equipe se compromete a não de-sistir do campeonato, ainda que estejadesclassificada, para que não haja W x0, já que a idéia e a diversão e a confra-ternização.

Os dois primeiros colocados da segun-da fase disputam a fase final em mata amata, o primeiro de um grupo contra osegundo do outro grupo. Os primeirode cada grupo tem a vantagem do em-pate. Os vencedores fazem a final.

Haverá um jogo comemorativo,ASJT-Rio x SISEJUFE, antes do inícioda competição.

Copa da Amizade ASJT-Rio * Sisejufe

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 5http://sisejufe.org.br

SEDE: Avenida Presidente Vargas 509, 11º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20071-003TEL./FAX: (21) 2215-2443 – PORTAL: http://sisejufe.org.brENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]

Impresso em

Papel Reciclato

Filiado à Fenajufe e à CUT

DIRETORIA: Angelo Canzi Neto, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, João Ronaldo Mac-Cormick da Costa, João Souza da Cunha, José Fonseca dos Santos, LeonardoMendes Peres, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Marcelo Costa Neres, Marcio Loureiro Cotta, Marcos André Leite Pereira, Maria Cristina de Paiva Ribeiro, Mariana Ornelasde Araújo Goes Liria, Moisés Santos Leite, Nilton Alves Pinheiro, Og Carramilo Barbosa, Otton Cid da Conceição, Renato Gonçalves da Silva, Ricardo de AzevedoSoares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior, Valter Nogueira Alves, Vera Lúcia Pinheiro dos Santos e Willians Faustino de Alvarenga.ASSESSORIA POLÍTICA: Márcia Bauer.

IDEIAS EM REVISTA – REDAÇÃO: Henri Figueiredo (MTb 3953/RS) – Max Leone (MTb RJ 19002/JP) – EDIÇÃO: Henri Figueiredo – ESTAGIÁRIA: Tatiana LimaDIAGRAMAÇÃO: Kamilo – ILUSTRAÇÃO: LatuffCONSELHO EDITORIAL: Roberto Ponciano, Henri Figueiredo, Max Leone, Márcia Bauer, Valter Nogueira Alves, Nilton PinheiroIMPRESSÃO: Gráfica e Editora Minister (8,6 mil exemplares)

As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. As cartas de leitor estão sujeitas à edição por questões de espaço.Demais colaborações devem ser enviadas em até 2 mil caracteres e a publicação está sujeita à aprovação do Conselho Editorial. Todosos textos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.

Editorial Após 3 de outubro, precisamos voltar às ruas

O momento decisivo estáchegando. Após a eleição dodia 3 de outubro próximo, te-remos de voltar às ruas pelonosso PCS – o Projeto de Lei6.613/2009. Na assembleia ge-ral da terça-feira, dia 28 de se-tembro, em frente ao TRF, acategoria reafirmou, com 80%dos votos, sua intenção de lutapelo PL original, rejeitando qual-quer emenda de subsídio. Deli-berou-se também pela retoma-da imediata da luta, caso o acor-do firmado entre os presiden-tes da República e do Poder Ju-diciário não seja cumprido.

Segundo o Secretário de Re-cursos Humanos do STF, Ama-rildo Vieira de Oliveira, após aseleições o presidente do STF,Cezar Peluso vai cobrar do Pre-sidente Lula o acordo firmadoantes das eleições – de aprova-ção do PL 6.613 original, com54,6% de aumento para todos,sem discriminação de cargo enem tempo na carreira. Então,temos de aproveitar esta opor-tunidade, contando com a pos-sibilidade de eleição de Dilmajá no primeiro turno (o que nosdará mais 4 semanas de luta)para fazer valer a palavra deambos, Lula e Peluso.

A eventualidade de um se-gundo na eleição presidencial,significa para a nossa catego-ria, mais um mês de luta pelocumprimento do acordo doPCS, adiando a definição do

nosso projeto. Assim, além daquestão da plataforma dos tra-balhadores, sobre a qual há cla-ramente um avanço quando secompara a candidatura de Dil-ma com relação ao retrocessoque foi o neoliberalismo demo-tucano, necessitamos dessasquatro semanas para decidir-mos nossa vida e voltarmos àluta. A não prorrogação daseleições é estratégica para nós.

Pelo calendário aprovado emâmbito nacional, está agenda-da uma Plenária da Fenajufepara 9 de outubro, o Dia Nacio-nal de Luta em 13 de outubro –que é o dia da reunião do mi-nistro Cezar Peluso com a Fe-najufe – e, caso o projeto ain-da não esteja acordado, a pre-visão de organização de greveainda no mês de outubro, vi-sando fazer valer o acordo ver-bal entre os chefes do Executi-vo e do Judiciário.

Não estamos mais em com-passo de espera. Após 3 de ou-tubro, com a provável vitória dacandidata Dilma Rousseff noprimeiro turno, é todo mundona rua para garantir a votaçãodo nosso PCS original (já que80% da categoria rechaça aemenda do subsídio), já prepa-rando outra grande luta do Ju-diciário, talvez uma grandegreve para garantir o PCS4, as-sim como as grandes greves dacategoria garantiram os planosde cargos e salários anteriores.

Na manhã da terça-feira, 28 de

setembro, servidores do Judiciário

Federal e do MPU participaram de

ato público em frente ao Supremo

Tribunal Federal (STF), oportunida-

de em que protestaram contra a não

inclusão da previsão orçamentária

do PL 6.613/09 na LOA de 2011 (Lei

Orçamentária Anual). Além disso,

os manifestantes, por meio de pa-

lavras de ordem em defesa do PCS,

reivindicaram que o ministro Cezar

Peluso, presidente do STF, tome

uma posição mais firme junto ao

governo federal para que os dois

Poderes resolvam o impasse em

relação ao orçamento do novo pla-

no de cargos e salários da catego-

ria. Duas faixas da Fenajufe com os

dizeres “Reajuste só para juízes e

procuradores não é justo!” e “Pelu-

so, Gurgel e Lula – Estamos na luta

pelos PCSs até a vitória” reforçaram

o protesto dos servidores.

O ato contou com a participação

de delegações de diversos estados

da Federação, inclusive do Rio de

Janeiro. Diversos coordenadores

executivos da Fenajufe também es-

tiveram presentes. No início, o ob-

jetivo dos coordenadores da Fena-

jufe era entrar, com as faixas, no

plenário do Conselho Nacional de

Justiça (CNJ) para mostrar ao minis-

tro Peluso e demais membros dos

CNJ a disposição dos servidores em

se manterem mobilizados até que

os projetos de revisão salarial se-

jam finalmente aprovados. No en-

tanto, o esquema de segurança bar-

rou a entrada dos manifestantes e

também impediu que os servido-

res permanecessem na escada que

dá acesso à porta de entrada do STF.

“Nos proibiram de participar da

sessão do CNJ, nos impediram de

Servidores de todo o País cobramde Peluso definição sobre PCS

usar o carro de som e ainda não per-

mitiram que ficássemos na porta de

entrada. Mas não conseguiram e nem

vão conseguir nos calar. A categoria

está mobilizada, porque somos nós

que desenvolvemos o trabalho do Ju-

diciário e não podemos ficar sem rea-

juste, enquanto os juízes recebem

reajuste todos os anos”, disse o coor-

denador da Fenajufe Marcos Santos,

também diretor do Sindjufe-PB.

Jacqueline Albuquerque ressal-

tou que o ato público era uma mani-

festação pacífica da categoria, por

uma reivindicação justa, que é a re-

visão salarial. “Estamos desde 2008

sem reajuste, diferente dos magis-

trados, que recebem aumento anu-

almente. A nossa reivindicação é

justa e, por isso, exigimos mais res-

peito e esperamos que o presiden-

te do STF nos receba ainda hoje”,

pontuou a coordenadora da Fenaju-

fe, explicando que a Federação rei-

vindicava uma reunião ainda hoje

com o ministro Cezar Peluso.

Os coordenadores da Fenajufe

Ramiro López, Iracema Pomper-

mayer e Evilásio Dantas, enquanto

o ato ocorria na porta do STF, foram

recebidos pelo diretor geral Alci-

des Diniz. Na ocasião, os dirigen-

tes sindicais pediram o apoio do DG

para que o presidente do STF rece-

besse os manifestantes. Na avalia-

ção do coordenador Zé Oliveira,

embora a Federação não tenha sido

recebida pelo presidente do STF, o

ato do dia 28 de setembro cumpriu

seu papel, já que alguns coordena-

dores foram recebidos pelo diretor

geral, além da cobertura de alguns

veículos da grande imprensa, que

estiveram na manifestação.

Da Fenajufe – Leonor Costa

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6 Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010http://sisejufe.org.br

S U B S Í D I O N A B E R L I N D A

Texto e FotosHenri Figueiredo*

Num auditório lotado com maisde cem servidores, no Anexo IIda Justiça Federal, na avenida RioBranco, o Sisejufe promoveu oprimeiro Debate sobre Regimesde Remuneração para o Judiciá-rio Federal, na noite de quinta-feira, 16 de setembro. O interes-se da categoria no tema foi evi-dente desde o primeiro painel deVera Miranda, especialista emCarreira e Gestão Pública e mes-tranda em Gestão de Serviço Pú-blico. Vera apresentou conceitu-almente os dois modelos de re-muneração e os colocou na pers-pectiva da construção de um Pla-no de Carreira para a categoria –exemplificando com experiênciasrecentes vividas por outros servi-dores públicos federais. Na defe-sa do Projeto de Lei 6.613, o con-vidado foi o secretário de Recur-sos Humanos do Supremo Tribu-nal Federal, Amarildo Vieira de Oli-veira. Na exposição da preferên-cia pela mudança para o regimede Subsídio, a plateia ouviu o ana-lista judiciário Marcell ManfrinBarbacena, do TRE da Paraíba, queé integrante da Comissão Pró-Sub-sídio. O debate foi mediado pelodiretor-presidente do Sisejufe,Roberto Ponciano.

No primeiro painel, Vera Mi-randa explicou que no regimede subsídio há um maior con-trole governamental sobre o im-pacto orçamentário da folha.“Em vez dos 14 ou 15 padrõesatuais da categoria do Judiciá-rio, no regime de subsídio há 4ou 5, 7 no máximo”. De acordocom ela, o subsídio como políti-ca salarial hoje não serve ape-nas para fazer o controle de pisoe teto e estabelecer uma relaçãode transparência de gestão – eleexiste para fazer a política devalorização das carreiras consi-deradas estratégicas pelos go-vernos. Foi assim que ocorreucom algumas categorias, masnão abrange todas – ela ponde-ra. “No exemplo da Polícia Fede-ral, não foi todo o corpo da ins-

tituição que levou o subsídio”,deixou claro.

Vera Miranda mostrou que, aose fazer a migração da malha sa-larial de hoje para a malha dosubsídio, não se leva em conta apolítica de construção da tabelasalarial, que hoje reflete o movi-mento de desenvolvimento doservidor se reproduzindo na po-lítica salarial ao longo do tempo.De acordo com a especialista, oideal é que na carreira – e o de-bate do PL 6613 contempla issoe feito durante três anos na cate-goria – haja um mecanismo de“caminhar” que garanta ao ser-vidor chegar à aposentadoria noápice salarial, sem perda e semdesestímulo. Vera apontou tam-bém também da maneira como aemenda do subsídio foi apresen-tada, na verdade o que se tentoufazer foi estabelecer um venci-mento básico único. A emenda,da forma como está, não é pro-priamente a migração para apolítica de subsídio – que não con-templa vários níveis salariais. A se-gunda questão é que em todas ascarreiras em que foi apresentada aproposta de subsídio, ela contem-plou os cargos considerados es-tratégicos pelo Ministério do Pla-nejamento, Orçamento e Gestão

(MPOG). Isso pode fazer com queparte da categoria fique do aumen-to, ou tenha um índice menor –como o exemplo da Fasubra emque os professores universitáriostiveram aumento bem superior aocorpo técnico.

Em seguida, o analista judiciáriodo TRE da Paraíba, Marcell ManfrinBarbacena, defendeu a migraçãopara o regime de subsídio. “A Emen-da Constitucional 19, de FHC, é aregulamentação mais nova do sub-sídio, com a Reforma Administrati-va de 1998.” Para Marcell, o regimeé um mecanismo que protege tan-to o Estado quanto o servidor. “Alémdisso tem as outras vantagens comoa moralização da folha de pagamen-to, transparência e correções de dis-paridades salariais. Após 98, houveuma grande valorização dos servi-dores públicos, mas a folha de pa-gamento estava viciada – no senti-do que havia muitos processos ju-diciais de conversão de moedas,de incorporação que incindiamsobre a remuneração que antesera paga. Então, o subsídio emparte foi instituído nessa ReformaAdministrativa para tentar nor-malizar essa folha de pagamen-to”, defendeu Marcell.

Na sequencia de sua argumen-tação, o integrante da Comissão

Pró-Subsídio, respondeu as ques-tões que, segundo ele, são as prin-cipais dúvidas da categoria em re-lação à mudança de regime de re-muneração, como, por exemplo,quais as rubricas que ficam e quaissaem. “ A parte de vencimento bá-sico, gratificações e vantagens pes-soais, é a que mais se altera – ficamtodas incorporadas ao subsídio.Quem está na ativa, pode perderinsalubridade, periculosidade, pe-nosidade, serviço extraordinário eserviço noturno – estas duas últi-mas pelo entendimento que já háde que só deve isso ao servidor pormá gestão da Administração”, ad-mitiu Marcell.

Em sua apresentação, Amaril-do Vieira de Oliveira, secretáriode RH do STF, lamentou que noregime de subsídio exista tam-bém a perda do Adicional deQualificação (AQ). “A Gratificaçãode Atividade Externa (GAE), dooficial de justiça também seria umperda, até porque foi uma formade uniformizar o tratamento edar estabilidade para os oficiaisde justiça”, disse Amarildo. Coma GAE, cerca de 6 mil funçõescomissionadas ficaram disponí-veis para servidores de carreira.Com a extinção, pelo subsídio, daGAE e o retorno das FC’s aos ofici-

Vera Miranda, especialista em Gestão Pública, fala à categoria no auditório da JF da Rio Branco

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 7http://sisejufe.org.br

“É extremamente importantea participação de todosvocês no debate até paraque nós possamos sairdaqui mais conscientesdaquilo que a gente estápensando da nossa carreirae do nosso futuro. Nóssabemos que a carreira doJudiciário, entreaposentados e servidores daativa, chega a quase 120 milservidores hoje. As carreirasque conseguiram essatabela, que foi colocada, deR$ 18 mil, são carreirasextremamente pequenas:auditores, delegadosfederais, a diplomacia. Outraquestão é que todas essascarreiras que recebempraticamente o teto que estácolocado nessa tabelaproposta por subsídio, elastêm dentro de suas estruturascargos de terceiro grau. Porexemplo, a Receita Federalpaga aquela tabela para oauditor fiscal, mas não pagapara o analista tributário. APolícia Federal paga aquelatabela para o delegado,mas não paga para oservidor da áreaadministrativa. A Diplomaciapaga aquela tabela para odiplomata, mas não pagapara o oficial de chancelaria.Então a gente tem que ter acompreensão e consciênciade que estamos nosenganando se acharmos quevamos receber aquela tabelaproposta em forma desubsídio, naqueles valores.O que é claro é que nósestamos nos dividindo.Outra coisa é importante:nós não somos uma carreira,somos três carreiras –auxiliar, técnico e analista.”

Valter Nogueira AlvesCoordenador-executivo da Fenajufe

Diretor do Sisejufe

ais, estes mesmos servidores per-deriam suas funções. Ele lembroutambém que o subsídio determi-naria o fim da Gratificação de Ati-vidade de Segurança (GAS). “Noinício eu fui contra a GAS, mashoje, como gestor da área, eu vejoque ela tem as vantagens de res-gatar servidores, levá-los de voltapara a sua área e profissionalizaro serviço de segurança”.

Segundo Amarildo, com o sub-sídio haverá a inversão da evasão.Ao invés de conter a evasão, com aimplantação do regime do subsí-dio ela pode ser deslocada para osníveis mais elevados. De acordocom ele, a medida do subsídio écomplexa, inexiste ganho imedia-to, a melhora prometida é distante

e a divisão política será irreme-diável na categoria.

Respondendo a um servidor, quequestionou a veracidade da infor-mação divulgada pelo Sisejufe, deque a proposta de subsídio doMPOG não contemplava os técni-cos, Amarildo foi categórico: “Aproposta do subsídio feita peloMPOG não contempla os técnicose auxiliares. Eles já bateram namesa e disseram que a tabela é ina-ceitável! Disseram que não têm pa-râmetros para esses valores no ní-vel médio. Embora a gente saibaque tenha, no próprio Executivo.Zero por cento de aumento paraos técnicos. A proposta feita comosubsídio pelo MPOG, lá atrás, foi os54,6% da nossa tabela apenas paraos analistas, nada para o técnico. Ea tabela da gestão, no futuro (comona Receita e no Bacen)”, explicou osecretário de RH do Supremo.

Em sua intervenção, RobertoPonciano lembrou que, segundoo representante do Sindicato Na-cional dos Analistas do Banco Cen-tral (Sinal), Sérgio Belsito, em Cam-pinas, o MPOG não cumpriu a pro-messa de igualar o Bacen à Recei-ta Federal. “A aceitação do subsí-dio levou o Bacen a adotar a es-trutura piramidal, ou seja, o servi-dor só muda de classe quando al-guém da classe acima é promovi-do, se aposenta ou morre. Alémdo que, em várias categorias, ouos técnicos ficaram totalmente defora da tabela do subsídio ou re-ceberam aumento muito menordo que os analistas”, finalizou.

*Da Redação.

“Eu achei o evento ótimo. Mas

me senti aviltado como ser huma-

no com a ideia de que no Subsídio

“todos os gatos são pardos”. Deu a

impressão de haver duas espécies

diferentes de servidor. Uma, de ser-

vidores incompetentes que têm é

que ganhar menos mesmo; e ou-

tra, de seres superiores que preci-

Herval L. do Amaral .JuniorTécnico Judiciário Informática SJRJ Rio Branco

Brian DwyerOficial de Justiça há 23 anos da SJRJ da av. Venezuela

“Sou favorável ao PL 6613 por-

que a gente já vem com essa ex-

pectativa há bastante tempo. Acho

que é válido debater o Subsídio no

futuro, mas nesse momento é pés-

simo. Qualquer mudança de rota

agora vai dar munição ao MPOG

sam ganhar mais para se sentirem

estimulados. Esse foi meu desaba-

fo. Veja bem, eu aceitaria lutar pelo

PL 6.613, como eu aceito lutar pelo

Subsídio – que, em números, é

melhor pra mim. Estou há 14 anos

na carreira. Sou do concurso de

1994. A única coisa que eu não

gostaria de ver é o individualismo

prevalecer sobre a classe do Judi-

ciário. As garantias individuais, tudo

bem. Mas, a exorbitância do ego

não pode prevalecer quando se

trata de uma categoria que é sindi-

calizada. Não estou sendo oposi-

ção ao sindicato, só não gosto do

modo como as coisas às vezes são

colocadas porque para mim o

Subsídio é preferível – por dimi-

nuir o contraste dentro da catego-

ria do Judiciário. Só isso. Se vier o

PL 6613, é melhor do que nada!”

para postergar mais ainda o rea-

juste. Isso ficou bem claro no de-

bate de hoje. Achei a iniciativa ex-

celente e os debatedores com um

bom nível – acho que deve ser as-

sim sempre no sindicato. O que vi

é que os defensores do Subsídio,

apesar do esforço em fazer uma

mesma camiseta, padronizar tudo,

não conseguiram sensibilizar a

maioria. Ao menos não nesse mo-

mento e do modo como foi pro-

posto nas emendas. Agora, eu acre-

dito que, desde a Revolução Indus-

trial, a organização sindical é a

única maneira de a classe traba-

lhadora se manifestar por assem-

bleias. Não é possível você vir por

atalhos – isso seria um arrivismo,

uma busca errada, um equívoco

político, um equívoco ético grave.”

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8 Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010http://sisejufe.org.br

Ernesto Germano Parés*

O verão 2009/2010 pareceunos transportar no tempo e vol-tamos ao tristemente famosoverão de 1998, quando a popu-lação do Rio de Janeiro viveu umcaos no sistema de distribuiçãode energia e não foram poucosos prejuízos. Mais recentemen-te, o cidadão carioca anda pelasruas temendo que mais um buei-ro da Light exploda.

Para comentar tudo isto, seriapreciso um rápido olhar em di-reção à origem dos problemas.Mais precisamente, para maio de1996 quando a Light foi privati-zada em um leilão – para dizer omínimo – irregular. O governofederal obrigou o BNDES a com-prar uma parte das ações paraalcançar o valor mínimo que tor-nasse legal o processo.

Aí estava a origem dos nossosproblemas. Em primeiro lugar,a política implantada de reduçãodos quadros de funcionários daempresa. Para se ter uma ideiado que aconteceu basta dizerque a Light foi privatizada emmaio de 1996 e em agosto domesmo ano já havia dispensadocerca de quatro mil e quinhen-tos trabalhadores. O mais graveé que 62,5% desses demitidoseram dos setores operacionaisda empresa. Ou seja, os que efe-tivamente cuidam da distribui-ção e da manutenção das linhas.

Mas os novos controladores,tendo o grupo francês EDF àfrente, não pararam aí. Durantetodo o ano de 1997 foi mantidaa prática de “redução do qua-dro funcional” através de planosde demissões incentivadas, in-centivos à aposentadoria, etc. Jáno primeiro semestre de 1997 aLight começa a priorizar a práti-ca de terceirização de serviços.

Para se ter uma ideia do que istosignifica, antes da privatização(1996) a Light tinha uma relaçãoconsumidor por empregado igual

C I D A D E

Explosões de bueiros, apagões e... “gatos”?

As explosões embueiros da Lightvêm ocorrendo comfrequência noCentro e embairros da Zona Sulda cidade. Só nesteano, mais de dezcasos ocorreram.Na manhã dequarta-feira, 11 deagosto, saiufumaça de umbueiro emIpanema, na ZonaSul. Mas a direçãoda Light prefere sepreocupar com a“caça aos gatos”.

a 247 (ou seja, 247 consumido-res para cada empregado). Umano depois, em 1997, esta rela-ção passou a ser de 461 consu-midores por empregado. No iní-cio de 2010 a relação era de pou-co mais de 900 clientes por em-pregado! Mas a direção da em-presa alega que os terceirizadoscomplementam o quadro man-tendo o equilíbrio próximo aoque era antes da privatização.

Isto não é verdade! Com a re-dução do número de operado-res de subestações em aproxima-damente 40%, a Light adotou umsistema de operações centraliza-das que deixava várias estaçõessem equipe própria. A reduçãode pessoal fez também com quevários setores de atendimento àrede de distribuição fossem ex-tintos. No caso de Nilópolis, porexemplo, o serviço passou a serrealizado pelo setor de NovaIguaçu, distante mais de 30 qui-lômetros, e Capivari é atendidopelo setor de Belford Roxo, dis-tante mais de 60 quilômetros,fazendo com que a demora noatendimento fosse maior.

Por fim, em março de 2006, aEDF resolve se retirar da Light.Mas vale registrar que durantetodo este processo a Light nãoparou de demitir trabalhadores,reduzindo seu quadro operaci-onal e substituindo por terceiri-zados. No mesmo período veri-ficamos o salto no número deacidentes de trabalho, muitoscom morte.

No final de outubro de 2009,a Cemig finalmente anunciou oque todos já esperavam: assu-mir a maior parcela na Light. Nodia 16 de novembro, tomamosainda conhecimento de que aCemig estava também se valori-zando no mercado financeiro.A agência de classificação Stan-dard & Poor’s havia melhoradoa classificação da estatal minei-ra. Em outras palavras, desde oinício de 2009 a Cemig (leia-segoverno de Minas Gerais) vem

ampliando seus investimentosno setor e conquistando novosespaços.

Certamente que isto tem refle-xos nos setores operacionais dassuas distribuidoras. No caso daLight, que já havia passado porum violento processo de redu-ção de quadros e corte nos in-vestimentos de modernização,isto se tornou ainda mais eviden-te. O povo do Rio de Janeiro temconstatado isto na prática. Bas-ta caminhar pelas ruas do Riopara ver que há muito a Lightnão se preocupa com poda deárvores ou manutenção dostransformadores. Basta uma pe-quena chuva para um corte re-pentino no fornecimento.

Mas o problema principal, emnosso entendimento, é aindamais grave. A Light não se pre-parou para o aumento do con-sumo! Vamos esclarecer...

Até 2003, antes da reformafeita pelo governo Lula no setorelétrico nacional, havia uma ver-dadeira ciranda financeira como mercado de energia. As distri-buidoras estaduais, todas priva-tizadas no governo FHC, com-pravam de Furnas mais energiado que necessitavam e depoisrepassavam esta energia no Mer-cado Independente (tambémcriado por FHC). Um exemploclaro é o da Light que tambémgera em suas usinas, mas a umpreço muito acima da energiaproduzida em Furnas (por seremmais antigas e com produtivida-de menor). O que fazia a Light,antes de 2003? Comprava deFurnas mais energia do que ne-cessitava e depois vendia nomercado ao preço da energiaque ela mesma produzia.

Para exemplificar: a energiaproduzida por Furnas custava,em dólares, quase a metade daproduzida pela Light. Então, adistribuidora fluminense com-prava um excedente de Furnas evendia como se fosse sua. Umlucro fácil, sem investir nada!

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 9http://sisejufe.org.br

Com a reforma introduzida porLula, esta ciranda acabou.

Além de precisar fazer caixapara atender aos projetos deexpansão da Cemig, a Light nãofez a devida projeção do au-mento do consumo no Rio deJaneiro. O Brasil vive uma eco-nomia estável, mesmo tendosido atingido pela crise inter-nacional de 2008, e a popula-ção está consumindo mais. Ins-titutos de pesquisas já demons-traram que, desde 2007, umaconsiderável fatia da populaçãoentrou no mercado consumi-dor: é o famoso “crescimentoda classe média”, constatadoem todos os estudos feitos. Eesta parcela da população quepassa a ter mais poder aquisiti-vo vai representar um óbvio au-mento no consumo de energia.Só a Light, envolvida nos seusproblemas internos – nas prio-ridades do seu controlador prin-cipal –, não viu isto! As priorida-des da Cemig não são as mes-mas do povo do Rio de Janeiro.E isto ficou demonstrado nos ca-sos recentes falta de energia.

Mas é preciso destacar que, aLight encerrou o segundo tri-mestre com lucro líquido de R$98,3 milhões. No semestre, o lu-

cro da companhia alcançou osR$ 218,8 milhões. De abril a ju-nho, a receita bruta da Light fe-chou em R$ 2,233 bilhões, umaumento de 8,2% sobre os R$2,064 bilhões alcançados nomesmo trimestre de 2009. Noprimeiro semestre, houve acrés-cimo de 7,5% na receita bruta,que terminou em R$ 4,721 bi-lhões, ante R$ 4,39 bilhões nomesmo período do ano passado.

Mesmo conhecedora de todoeste quadro, a Light resolveanunciar uma campanha decombate aos “gatos” e lança napopulação uma ameaça de queesses são os responsáveis porum possível aumento nas tarifas.As perguntas a serem feitas: se-rão os “gatos” a razão das ex-plosões de bueiros?

Serão os causadores dos apa-gões no verão? Os “gatos” cau-sam os acidentes de trabalhoque tiram vidas de trabalhado-res? Ou estará a Light preocu-pada em aumentar ainda mais oseu lucro, ainda que tenhamosque continuar ameaçados pelaexplosão de mais um bueiro?

*Escritor, consultor sindical eassessor político do Sintergia-RJ

Desde 2007, umaconsiderável fatia dapopulação entrou no mercadoconsumidor: é o famoso“crescimento da classemédia”, constatado em todosos estudos feitos. E estaparcela da população quepassa a ter mais poderaquisitivo vai representar umóbvio aumento no consumode energia. Só a Light,envolvida nos seusproblemas internos – nasprioridades do seucontrolador principal –, nãoviu isto! As prioridades daCemig não são as mesmas dopovo do Rio de Janeiro.

Fotos: Henri Figueiredo

População passa, indiferente ao risco, próximo a bueiro fumegante na esquina da Uruguaiana com Presidente Vargas, em 25 de maio

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10 Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010http://sisejufe.org.br

Agentes de Segurança criam grupopara discutir Resolução 104

Notas Sindicais

A direção do Sisejufe, por meio do

Departamento Jurídico, protocolou

ofício dia 27 de agosto cobrando ex-

plicações ao TRT do Rio a respeito da

desigualdade de pagamento de par-

te dos passivos da URV devidos a apo-

sentados e pensionistas do tribunal,

em relação aos valores quitados para

os servidores da ativa. De acordo com

a diretoria, a matéria surge em face

de relatos de falta de equiparação, em

Em ação coletiva movida em substitui-ção processual, o Sisejufe pede a devolu-ção do imposto de renda incidente nopagamento de juros de mora sobre11,98%. O percentual resultou do equí-voco cometido pela União na conversãodas remunerações dos servidores do Po-der Judiciário da União em URV, em feve-reiro de 1994. Com o erro, os servidores

Com base em precedentes judiciaise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),o Sisejufe pediu a alteração do divisorde horas extras pago aos servidores doTribunal Regional Eleitoral (TRE), ade-quando-se o divisor de 200 para 175.O processo recebeu o número 77.221/2010 e pede a mudança imediata docritério de cálculo, bem como o paga-mento dos valores retroativos, pois ovalor derivado da divisão por 200 é in-ferior ao vinculado a 175, prejudican-do os servidores que laboram extraor-dinariamente.

O problema é comum em órgãos doPoder Judiciário, mas graças às interven-ções das entidades sindicais, colheramdecisões favoráveis à mudança, visto

A falta de apuração de supostosatos arbitrários cometidos pelo juizAlcir Luiz Lopes Coelho, da Vara Fe-deral de Teresópolis, foi denuncia-da mais uma vez à sociedade. Em 27de agosto, a direção do Sisejufe rea-lizou ato em frente ao foro da cidadeserrana em “comemoração” a umano meio sem que as denúncias te-nham sido apuradas. A manifesta-ção, que teve bolo de aniversário,contou com apoio da Central Únicados Trabalhadores (CUT-RJ), do Par-tido dos Trabalhadores (PT), de sin-dicatos e advogados da região. A OABenviou nota de apoio. Advogados,servidores da Vara Federal e estagiá-rios estiveram presentes, mas prefe-riram não se manifestar com medode represália.

Durante a manifestação, os parti-cipantes distribuíram carta à popu-lação informando o que vinha ocor-rendo na Vara de Teresópolis. O di-retor do Sisejufe e da CUT-RJ, Rober-to Ponciano, denunciou os supostosabusos cometidos pelo magistradoe relatou que os advogados, o sindi-cato, os servidores, a AGU, o Minis-tério Público já pediram a saída do

O Conselho da Justiça Federal (CJF)deferiu requerimento do Sisejufe paraexcluir o desconto do Plano de SaúdeUnimed, conveniado do sindicato, damargem consignável dos servidores.Margem consignável é o percentualmáximo da remuneração mensal que ofuncionário pode comprometer parapagamento das prestações deempréstimos. A decisão foi proferidaem sessão do dia 31 de agosto e baseou-se na possibilidade legal de o CJF alterara Resolução 4/2008, que trata do tema.

Ao considerar o desconto relativo aoplano de saúde como consignaçãofacultativa, o relator do processo,

Após pressão da direção do Sisejufe,que entrou com processo administrati-vo e ação judicial com pedido de limi-nar, os servidores do TRT do Rio pode-rão optar por um plano de saúde e rece-ber auxílio-saúde creditado em folha.Diante da cobrança do sindicato, o Pro-grama de Assistência Complementar àSaúde passou a ter nova regulamenta-ção. A Secretaria de Gestão de Pessoasdo TRT publicou no Diário Oficial de 24de setembro a Resolução Administrati-va 25/2010 do Órgão Especial deste Tri-bunal, dando novo formato.

A partir de agora, além de o tribu-nal manter um plano de saúde coletivocontratado por licitação, também pas-

Em reunião realizada pelo Núcleodos Agentes de Segurança (NAS) do Si-sejufe, em 14 de setembro, mais de 30servidores aprovaram proposta de cri-ação de Grupo de Trabalho Organiza-cional para discutir a Resolução 104 doConselho Nacional de Justiça (CNJ) de 6de abril de 2010. A instância será com-posta por comissões temáticas quedebaterão cada pauta relativa à catego-ria. O objetivo é elaborar documentoque apresente contribuições à resoluçãoe que será apresentado à direção do sin-dicato para as providências cabíveis.

A resolução trata da criação deFundo Nacional de Segurança, garan-tindo ações referentes à competên-cia da Segurança Judiciária, com es-tratégias de reforço à segurança, daqualidade de trabalho, criação decomissão permanente, articulaçãocom órgãos policiais, formação paraos agentes, dentre outros temas. Aatividade foi coordenada pelo agen-te de segurança e diretor do Siseju-ge Renato Gonçalves da Silva, com acolaboração do servidor GustavoJosé Duarte. (Bianca Lessa).

CJF exclui plano de saúde da margemconsignável dos servidores

desembargador federal Luiz AlbertoGurgel de Faria, propôs que sejaincluída a contribuição para planos desaúde de qualquer natureza nasredações dos Artigos 141 e 143 daResolução 4/2008.

Desta forma, ficam excluídos dolimite de 30% da remuneração,provento ou pensão para a margemconsignável do servidor os descontosda Unimed-Rio, assim como os jáprevistos na regra, referentes aamortizações de financiamento paraaquisição, construção ou reforma deimóvel residencial, e prestação dealuguel de imóvel residencial. (CJF).

TRT adota auxílio-saúde paraquem não participa de convênio

sará a conceder auxílio pecuniário aqualquer servidor que não tenha opta-do por pertencer no convênio do tribu-nal. O auxílio-saúde será creditado emfolha de pagamento e terá valor percapita igual ao do custeio das mensali-dades dos beneficiários do plano desaúde mantido pelo tribunal.

“Vale ressaltar que agora os servido-res do TRT que quiserem optar pelo con-vênio que o Sisejufe mantém com a Uni-med já podem fazer a troca. Eles terãodireito a receber o mesmo valor que o pagoa Amil do TRT. O Sisejufe está neste mo-mento com uma campanha de carênciazero” afirma o diretor do sindicato Rober-to Ponciano. (TRT e Imprensa Sisejufe).

Manifestação em Teresópolis cobra apuraçãode denúncias contra juiz federal

magistrado do setor. Segundo Pon-ciano, dois juízes federais, sendo umsubstituto, prestaram depoimentocontra o magistrado, sem que, noentanto, a corregedoria tenha toma-do atitude para sanar os supostosabusos cometidos.

“Testemunhas dos atos suposta-mente praticados pelo magistrado edenunciados pelo sindicato à corre-gedoria já foram ouvidas, mas atéagora nada aconteceu”, afirmouPonciano.

O diretor informou que o sindica-to já recorreu Conselho de Justiça Fe-deral (CJF) e se for necessário irá aoConselho Nacional de Justiça (CNJ).“Aqueles que deveriam denunciar ocaso e não o fizeram (a corregedo-ria), sequer olharam para os supos-tos ilícitos administrativos cometi-dos, como o beneficiamento de umescritório de advocacia nos casos dojuizado e o uso irregular e diário daviatura administrativa da vara pelojuiz federal. Iremos ao CJF pedir queas denúncias sejam apuradas e ao CNJdenunciando a não-apuração porparte da corregedoria”, afirmou.(Imprensa Sisejufe).

Divisor de horas extras - Sisejufepede a alteração no TRE

que a jornada máxima de trabalho dosservidores estatutários é de 40 horassemanais, permitido ao Administradorescolher entre 6 a 8 horas diárias.

Demonstrando a equação que defi-ne o divisor correto para a Justiça Elei-toral no Rio de Janeiro, o sindicatoapresenta o valor de 175, que devesubstituir o anteriormente praticado(200), gerando horas extras mais valo-radas. O assessor jurídido Rudi Casselinforma que foram apresentados re-querimentos com resultados favorá-veis em outros órgãos e, recentemen-te, a matéria foi objeto de deliberaçãodo Conselho Nacional da Justiça paraa Justiça do Trabalho. (DepartamentoJurídico).

que verbas destinadas ao pagamento

dos valores atrasados reconhecidos

foram manipuladas e proporcionali-

zadas em prejuízo dos inativos e pen-

sionistas do tribunal.

Segundo o Departamento Jurídico

do Sisejufe, após a resposta do TRT, a

entidade sindical adotará as medidas

para restaurar imediatamente o equi-

líbrio nos pagamentos. (Departa-

mento Jurídico).

Sisejufe cobra detalhamento dospassivos da URV no TRT

receberam parcelas em atraso, porém semos juros de mora devidos. Posteriormen-te, os juros foram reconhecidos e pagos,mas com desconto do imposto de renda.Segundo o diretor do Sisejufe, RobertoPonciano “a matéria está pacificada no Po-der Judiciário, que não admite a incidên-cia de imposto de renda sobre juros demora”. (Departamento Jurídico).

Sisejufe pede devolução do IR sobre jurosde 11,98% recebidos pelos filiados do TRE

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 11http://sisejufe.org.br

Certos servidores acham que movimento sindical é parecido com game virtualFulgêncio

Casos da Greve do Judiciário de 2010Estou de volta, depois de

quase ter apanhado por contado texto sobre o Congrejufe deFortaleza. O editor desta fan-tástica Ideias em Revista meexigiu que lhe pagasse umomelete no Paladino acompa-nhado de um bom vinho tintopara que pudesse aceitar amatéria que fiz sobre as pecu-liaridades da última greve doJudiciário. Greve é sempre ummomento ímpar, de luta, deentrega, mas que também con-seguimos observar as maiorescuriosidades e bizarrices exis-tentes numa categoria. Bizar-rices do tipo: uma senhoraapareceu de Louis Vitton, numaassembleia, dizendo que nun-ca tinha participado antes dequalquer assembleia, mas queestava ali para ser a voz daque-les que não queriam participar,sugerindo meios mais adequa-dos para a luta. Afinal, quemestá sentadinho no ar-condi-cionado, quietinho, e não querdescer sequer para lutar peloseu salário tem que ser repre-sentado, nem que seja por pro-curação. Sugeriu também quese use o meio virtual para lu-tar, abaixo-assinado virtual,discussão virtual, chat do au-mento, orkut estou em greve...e o aumento também vai servirtual, no estilo colheita feliz...Ainda bem que a categorianem a levou em considera-ção... esta vai voltar para a co-munidade no orkut.

Mas houve momentos maisemocionantes. Numa acalora-da discussão no Comando deGreve, um diretor sindical pro-pôs que a vanguarda fungasseno calcanhar da categoria! Ué,perguntou alguém, não é nopescoço? “Sim, mas começapelo calcanhar...” Bem, atéchegar ao pescoço, o nariz dossindicalistas vai ter que passarem cada lugar! Na mesma reu-nião, logo após o Brasil tomarde 2 x 1 da Holanda, outro di-

retor sindical garantiu que acategoria só iria sentir a perdada Copa, notar a tragédia, de-pois da decisão entre Holandax Espanha... Como assim?

Mas não ficamos nisto, te-mos momentos ainda maisbrilhantes, num discurso nofim da greve, quando precisá-vamos aumentar o nível demobilização, outro ilustre di-retor saiu-se com esta: “Temosque avançar como camaleão!”Peraí! Será que é para mudarde cor ou é para ficar mos-trando a linguinha? O mesmodiretor foi o grande destaqueoratório da greve, com mo-mentos muito criativos. Eledisse que toda greve precisade líderes, como Che Gueva-ra, Ghandi e o maior de todos,Jesus Cristo. No caso do TRT,o líder seria o presidente dosindicato! Aí passa um gaiatoe solta esta: coitado do sujei-to, Che foi fuzilado, Ghandi

morto à queima-roupa, Cristocruficicado... se eu fosse elepedia garantia de vida!

O mesmo diretor, que temum pendor para a tragédiagrega, defendeu que tínha-mos que conquistar o PCS aqualquer custo, nem que paraisto tivéssemos de “executar odiretor fulano, estrangular adiretora beltrana e defenes-trar o diretor sindical ciclano”(Preservo os nomes, para nãodar ideias à oposição). O di-vertido é que ele mesmo nãose pôs entre as possíveis víti-mas de tão sangrenta luta.

Houve ainda momentos denegação da assepsia e até mo-mentos eróticos. Uma certamilitante do Comando de Gre-ve afirmou que greve é assimmesmo: “a gente fica tão ab-sorta que não dá nem para to-mar banho”. Imagina o pique-te cheio de militantes sem ba-nho! Na linha erótica, outro

grande ativista sindical do TREsaiu-se com esta: “Tinha um diaque eu estava no piquete sozi-nho e queria ir ao banheiro,pedi então a uma colega parasegurar para mim e ela nãoquis, aí eu não fui...”. Se ela “se-gurasse” ele não saía do ba-nheiro tão cedo...

Para terminar, um prêmio àinsistência do sindicato com aluta, na mesma linha político-erótica. Uma coordenadorade núcleo do sindicato, expli-cou como conseguimos ascoisas: “Vamos vencer! É as-sim mesmo, a gente tenta en-trar, fica cutucando, cutucan-do, cutucando, cutucando,uma hora abre e a gente en-tra!” Moral da história: grevetambém tem humor.

Fulgêncio é alcoólatra, hipo-condríaco e escreve de graçapara esta página por falta de

coisa mais útil que fazer

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D E F I C I E N T E S

Texto e FotosHenri Figueiredo*

O Núcleo de Pessoas com De-ficiência do Sisejufe promoveuum evento marcante na noite de21 de setembro, na sede do sin-dicato. Com painelistas extrema-mente preparados para discutiracessibilidade e meios de rom-per com as barreiras impostasaos deficientes, principalmenteno mercado de trabalho, a pla-teia de cerca de trinta pessoasteve a oportunidade de ouvir edebater, com precisão e diversi-dade de opiniões, questões comoas cotas para deficientes nos se-tores público e privado. A mesade debatedores foi mediada pelodiretor sindical Ricardo de Aze-vedo Soares, que é cego. Servi-dor da Justiça Federal, assimcomo o também diretor do Sise-jufe e integrante do núcleo Du-

Para romper barreiras e superar mitos

Sisejufe promoveuseminário no DiaNacional de Lutada Pessoa comDeficiência comativistas nacionaisdo segmento

lavim de Oliveira Lima Junior,Ricardo trabalhava há algumasgestões para reunir, em seminá-rio, ativistas políticos nacionaisque atuam neste segmento.

“Foi marcante nos rumos doNúcleo das Pessoas com Defici-ência do Sisejufe. Os presentespuderam fazer questionamen-tos aos debatedores e tirar dúvi-das acerca dos variados mitosque tomam conta dos deficien-tes de um modo geral”, diz Ri-cardo. A mesa de painelistas foicomposta pela pedagoga deMato Grosso do Sul, Telma Nan-tes de Matos, que perdeu total-mente a visão aos 26 anos e hojeadministra o Instituto FlorivaldoVargas de Campo Grande; pelo

bancário José Roberto Santanada Silva, diretor da Federaçãodos Trabalhadores de Empresasde Crédito de São Paulo (e que édirigente liberado para atuar noSindicato dos Bancários deOsasco e Região, além de mem-bro do Coletivo Nacional de Pes-soas com Deficiência da CUT); epelo técnico em contabilidadeValcenir Souza Lima, servidoraposentado da UFRJ, que é sur-do e se apresentou com dois in-térpretes da Língua Brasileira deSinais (Libra) da Federação Na-cional de Educação e Integra-ção dos Surdos (Feneis).

A professora Telma Nantes deMatos move atualmente um pro-cesso, que está na fase de agra-

vos e desagravos, contra a Pre-feitura de Campo Grande que,depois dela ter passado em pri-meiro lugar num concurso pú-blico, a considerou inepta parao cargo de professora infantil –ainda que, por lei, haja reservade vagas para deficientes [estecaso foi tema de reportagem naedição 20 de Ideias em Revista].“A empregabilidade da pessoacom deficiência tem de passarpela vontade política. Sem isso,não há inclusão social, não háacessibilidade, não há nada”,disse Telma. Ela lembrou que hádois caminhos para o mercadode trabalho: ou a contratação ouo concurso público. “Sabemosmuito que, por meio de contra-tos, há uma restrição imensa.Agora, por concurso há garan-tias e é por isso que estou lutan-do na Justiça”, contou. Ela elo-giou ambos os diretores cegosdo Sisejufe pela iniciativa e apon-tou que é fundamental que ossindicalistas se somem na defe-sa dos direitos desse segmento.“Uma luta solitária é muito difí-cil. Todos os movimentos soci-ais são muito bem-vindos emtoda a nossa ação”, afirmou.

O painelista José Roberto San-tana da Silva, que tem deficiên-cia na perna direita decorrentede paralisia infantil, criticou asegregação que os deficientesRicardo de Azevedo Soares

“É preciso se darconta daimportância que temo sindicato na lutados trabalhadorescom deficiência nabusca daacessibilidade tãoalmejada portodos nós.”

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 13http://sisejufe.org.br

sofrem dentro das empresasquando conseguem ser contra-tados. “A pessoa é contratada efica estagnada no cargo em queentrou. Hoje, nas empresas pri-vadas com mais de 100 funcio-nários, a cota é de 2% para defi-cientes. E assim sucessivamen-te, até a cota de mil funcionári-os onde 5% devem ser deficien-tes. No setor público, nos edi-tais de concurso mesmo estipu-lando de 5 a 20% de cota, essascotas não são contempladas.Então, essa é uma tarefa para ossindicatos: qualificar as pessoascom deficiência para que, nomínimo, nos concursos sejamadmitidos 5% de deficientes. Efuturamente ampliar esse núme-ro”, defendeu José Roberto.

José Roberto falou sobre a Lei11.133/2005, que estabeleceu odia 21 de setembro como o DiaNacional de Luta da Pessoa comDeficiência como marco na lutapor inclusão desse segmentosocial. “Este data é uma lembran-ça ao nascimento do francêsLouis Braille, que criou o siste-ma de leitura que leva o seunome”, explicou. “Mudamos adenominação de ‘portadores denecessidades especiais’ parapessoas com deficiência. Eu nãoporto minha deficiência, nãoposso deixá-la em casa. E quan-do se fala em especial é um erro,porque somos pessoas iguais aquaisquer outras apenas temosuma deficiência, ou deficiênciasmúltiplas”, esclareceu o repre-sentante da CUT.

Já o servidor aposentado daUFRJ, Valcenir Souza Lima, de 71anos, deu uma aula de disposi-

ção para a luta. Pouco antes desua exposição, Valcenir faloucom Ideias em Revista com oauxílio do intérprete Jorge LuizMartins da Silva Junior, da Fe-neis. “Nossa luta é para conse-guir abrir o mercado de traba-lho para esse segmento. Pareceque as empresas não têm muitoconhecimento da lei e é precisofazer uma divulgação em massados percentuais que dependemda quantidade de funcionáriosdas empresas. No momento pa-rece que o movimento de lutadas pessoas com deficiência estáum pouco estagnado, principal-mente porque as empresas gran-des não empregam deficientes.

Mas temos exemplos, como o daFundação Oswaldo Cruz, ondehá uma gama de surdos; a Data-prev também emprega surdos; aspróprias autarquias da Prefeitu-ra, enfim... mas a maioria dosdeficientes não conseguem tra-balho. Por isso é importante adivulgação para que chamemosa atenção para as habilidades dosdeficientes”, defendeu Valcenir.

O diretor Ricardo de AzevedoSoares sublinhou a baixa partici-pação nas atividades sindicais dospróprios servidores do JudiciárioFederal que têm deficiência. “Épreciso se dar conta da impor-tância que tem o sindicato na luta

dos trabalhadores com deficiên-cia na busca da acessibilidadetão almejada por todos nós. Pre-cisamos cada vez mais lutar porcondições isonômicas de traba-lho. Queremos poder trabalharem qualquer local em igualda-de de condições com qualqueroutro servidor”, pontuou Ricar-do, numa declaração que refor-ça que a luta da pessoa com de-ficiência é diária e ultrapassa omercado de trabalho: ela se dátambém na educação, informa-ção, cultura, desporto, reabili-tação e ativismo político.

*Da Redação.

Dulavim de Oliveira Lima Junior, do Núcleo de Pessoas com Deficiência

Telma Nantes de Matos, Ricardo e o representante da CUT José Roberto Santana da Silva

Valcenir Souza Lima

“Nossa luta é paraconseguir abrir omercado de trabalhopara esse segmento.Parece que asempresas não têmmuito conhecimentoda lei e é precisofazer uma divulgaçãoem massa.”

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14 Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010http://sisejufe.org.br

V I O L Ê N C I A D O M É S T I C A

*Tatiana Lima

Maria foi agredida no meio darua. Durante uma discussão como ex-namorado, levou um soco norosto com a filha de 8 meses, nocolo. Caiu na calçada. Teve a filharetirada dos braços à força, en-quanto era xingada de vagabun-da pelo ex-namorado e pai da cri-ança. Tentou levantar para pegara filha, mas antes de conseguirrecebeu outro golpe do agressor,que atirou um vaso de planta emsua direção. A agressão só parouquando frequentadores de umaacademia de ginástica foram aoseu socorro. A proprietária do es-tabelecimento acalmou o rapaz,que devolveu a criança e foi em-bora do local, mas não sem antesagredir novamente Maria. Dessavez, ele acelerou o carro e jogouo veículo em cima dela, que caiunovamente no chão.

Naquela noite, a técnica de en-fermagem Maria, de 26 anos, ha-via combinado com o ex-namora-do que ele ficaria com a filha, poisela precisava trabalhar. Era seu diade plantão no hospital e sua mãeestaria ocupada. Porém, José nãoapareceu. Indignada e cansada darotina de descaso do ex-namora-do, Maria foi à academia para obri-gá-lo a cumprir com as atribui-ções de pai. No entanto, José nãoquis conversa e achou um absur-do Maria “ir na academia fazer es-cândalo”. Por tal motivo, naquelanoite de segunda-feira, às20h37min, mais uma mulher foiagredida no Brasil.

Não foi a primeira vez que Ma-ria foi agredida pelo pai de suafilha. Mas foi a primeira vez queela concretizou uma queixa con-tra o ex-namorado. Talvez tenhasido as ameaças do agressor que,de acordo com o relato das teste-munhas, “estava muito alterado eprometeu matar mãe e filha”. Ou,

Brasil ocupa o 12º lugar no ranking dos países

talvez, porque a polícia foi até Ma-ria. Foram os frequentadores daacademia que chamaram a polícia.

A história de Maria e José (no-mes fictícios) repete-se várias ve-zes na rotina na Delegacia Especi-al de Atendimento à Mulher, noCentro do Rio. Entre oito horas ameia noite – tempo em que Ideiasem Revista ficou na delegacia – asnarrativas eram extremamente se-melhantes. Repete-se um padrão.Entre o tempo da agressão e o doefetivo registro de queixa na dele-gacia, a mulher já viveu situaçõesde violência diversas, seja verbal,moral ou física.

Em geral, as mulheres sofremao serem agredidas e tambémquando decidem registrar queixana delegacia. Muitas, como nocaso de Maria, não percebem quenão são culpadas por receber estetipo de agressão. Desta forma, sejapor amor, medo ou baixa autoes-tima demoram a procurar a Dele-gacia da Mulher. Quando chegamà delegacia, estão fragilizadas edesesperadas. É o caso de Maria,que precisava trabalhar mas aca-bou a noite registrando umaocorrência de agressão contra oex-amante. “O problema é que eusou a outra. Ele me trata assim,porque é casado e eu era aman-te”, revela Maria sem perceber queestava culpando a si própria pelaagressão que acabara de sofrer.

O caso Eliza SamudioEm julho, a verdade guardada

nos arquivos dos processos dasDelegacias Especiais de Atendi-mento à Mulher vieram à tona namídia. Desaparecida há meses, aparanaense Elisa Samudio é consi-derada morta e o principal suspei-to é o suposto pai de seu filho, oex-jogador do Flamengo Bruno. Ocaso ganhou os noticiários e trou-xe, enfim, os holofotes da mídiapara a realidade diária da violência

doméstica contra as mulheres.Eliza Samudio viveu uma rela-

ção passageira com o goleiro Bru-no. Segundo ela, essa relação re-sultou numa gravidez rejeitadapor ele. Conforme queixa regista-da pela vitima na DEAM de Jacare-paguá, em outubro 2009, quan-do estava grávida de cinco meses,Eliza foi sequestrada por Bruno eseus amigos. Foi mantida em cár-cere privado, sendo agredida fisi-camente e verbalmente e amea-çada de morte, além de ter sidoobrigada a ingerir substânciasabortivas. Os procedimentos le-gais foram realizados, mas o casosó andou após o seu desapareci-mento. À época, a delegada re-quisitou o enquadramento docaso na Lei Maria da Penha. Mas opedido não foi atendido, em de-corrência da relação de Eliza como goleiro Bruno ter sido conside-rada “passageira”.

Jacira Melo, fundadora do Ins-tituto Patrícia Galvão, acredita quea violência doméstica é tão corri-queira que foi caracterizada pelamídia como um notícia do “mun-do cão”, o que significa uma ma-téria sem relevância em função dabanalidade dos acontecimentos,já que acontecem sempre. Somen-te em casos como o de Eliza Sa-mudio, quando envolvem interes-ses econômicos e pessoas famo-sas, a mídia finalmente pauta a vio-lência doméstica. “A cobertura édescontinuada. Se deixamos delado, por exemplo, o período deaprovação do Congresso e a san-ção da Lei Maria da Penha, em2006, e um caso como Eliza Sa-mudio, encontramos uma presen-ça extremamente reduzida dotema nos jornais”, informa.

Além disso, para Jacira a cobertu-ra da violência doméstica é prejudi-cada por se vista ainda como umproblema de esfera privada, que serefere a apenas a duas pessoas. Isso

fragiliza muito a articulação do de-bate público sobre o problema. Énecessário encontrar maneira devincular esta problemática ao con-texto da violência social e urbana.

Para a coordenadora do Centrode Estudos de Segurança da Uni-versidade Cândido Mendes (Cesec-Ucam), Bárbara Soares, mesmoquando casos como de Eliza Sa-mudio ganham as páginas dos jor-nais, a cobertura da mídia não de-tona um debate na sociedade. “Atoda hora lemos nos jornais esta-tísticas: a cada 18 minutos umamulher é espancada... o que issonos ensina? Este número não éapenas uma bandeira. Ele precisaser analisado para mobilizar a opi-nião pública, mostrando a fundoos problemas culturais e os pa-drões de relacionamento entrehomens e mulheres. A mídia temque ir além do argumento da quan-tidade”, pondera.

Ela defende que os movimentossociais e o movimento de mulhe-res precisam dar novos ângulospara a mídia e cobrar uma cober-tura mais efetiva sobre a violênciadoméstica. Inclusive, é necessáriomostrar a prevenção. Um exemplo,é o instituto NOOS, que mantémum programa de prevenção à vio-lência familiar e de gênero, inclusi-ve com grupos de homens autoresde violência. “Muitos dos autoresda violência doméstica passam porum processo de reflexão e cresci-mento. Há quem bata e se julguecerto, mas há casos de homens quese arrependem”, comenta Bárba-ra Soares,

HistóricoFoi só na década de 80 que os

assassinatos de mulheres pelosseus parceiros foram reconheci-dos como crime. Mais uma vez,foram as feministas que tomaramà frente, na ausência de políticaspúblicas para o tema. Assim em1981, criaram o SOS Mulher, cen-tro de apoio que contava com otrabalho de advogados, psicólo-gos e grupos de reflexão, com aajuda de voluntários.

Pouco tempo depois, foi criadaa delegacia da mulher. E, em 1986,a Secretaria de Segurança Publi-ca montou o Centro de Convivên-cia para Mulheres Vítimas de Vio-

A violência contra as mulheres não distingue idade, condição financeira,nível de instrução, etnia ou religião. As manifestações são resultantes deorigens culturais. Cerca de 67% das chamadas do Disque Denúncia eramde mulheres entre 25 a 50 anos. Das mulheres atendidas, 72% vivem com oagressor, sendo que 57,9% são casadas ou estão em união estável. Apenas14%, prestaram queixa contra o ex-namorado ou ex-companheiro.

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 15http://sisejufe.org.br

lência Doméstica (Convida) e a pri-meira casa de abrigo no Brasil. Ascasas de abrigo é o local onde sãolevadas mulheres que estão sen-do ameaçadas de morte por seuscompanheiros. Com endereço si-giloso, a mulher que procura esseserviço já é vitima de violência do-méstica crônica.

O caso Maria da PenhaEm 29 de maio de 1983, a bio-

farmacêutica Maria da Penha re-cebeu de seu ex-marido um dispa-ro enquanto dormia. A tentativa dehomicídio deixou sequelas perma-nentes: a paraplegia. Ainda duran-te o período de recuperação, Ma-ria da Penha sofreu um segundoatentado: seu ex-marido, tentoueletrocutá-la enquanto ela se ba-nhava. Ela lutou durante 20 anospara ver o agressor condenado,sendo a precursora da lei que levao seu nome: tornou-se um símbo-lo contra a violência doméstica.

Lei nº 11.340, de 7de agosto de 2006

Segundo o art. 1º, a lei cria me-canismo para coibir, prevenir pu-nir e erradicar a violência contraa mulher, como o juizado de Vio-lência Domestica e Familiar con-tra a Mulher. Também estabele-ce medidas de assistência e pro-teção as mulheres. Com a LeiMaria da Penha, a detenção, queantes era de no máximo um ano,agora pode chegar até três anos.Outro avanço foi a proibição dopagamento de cestas básicascomo forma de punição.

Dados sobreatendimentos

A Central de Atendimento àMulher (Ligue 180), que recebequeixas de violência contra a mu-lher, registrou alta de 112% dejaneiro a julho de 2010 em com-paração com o mesmo períododo ano passado. Dados divulga-dos pela Secretaria de Políticaspara as Mulheres da Presidênciada República revelam que o ser-viço Disque Denúncia registrou343.063 atendimentos de janei-ro a julho deste ano, contra161.774 nos mesmos meses de2009. No Rio de Janeiro, foram25.274 casos registrados.

que mais cometem homicídios contra mulheresA violência contra as mulheres

não distingue idades, condição fi-nanceira, nível de instrução, etniaou religião. As manifestações sãoresultantes de origens culturais.Cerca de 67% das chamadas doDisque Denúncia eram de mulhe-res entre 25 a 50 anos. Das mu-lheres atendidas, 72% vivem como agressor, sendo que 57,9% sãocasadas ou estão em união está-vel. Apenas 14% prestaram queixacontra o ex-namorado ou ex-companheiro.

A busca de informações sobre aLei Maria da Penha, correspondea 50% do total de informaçõesprestadas pelo serviço. A maioriados atendimentos refere-se a cri-mes de lesão corporal; em segui-da, vêm as ameaças. Juntos, os doistipos de queixas somam 70% dosregistros do Ligue 180.

Para a Secretaria, o total de re-

trouxe avanços. Porém, mesmocom pactos selados entre gover-nos estaduais e a União, ainda hámuito descaso e negligência porparte dos estados no enfrenta-mento da violência doméstica efamiliar contra as mulheres.

Segundo a advogada do Centrode Referêcia à Mulher do Conjun-to de Favelas da Maré, Andréa Fer-reira, a lei é um avanço, mas aindaestá na fase de mudanças no Ju-diciário. “A lei tem que pegar nocaráter. Superar problemas comoa insuficiência do número de de-fensores públicos. E tem que semudar a cultura, mas isso é umprocesso”, diz Andréa.

Em pesquisa realizada peloIBGE, no ano passado, 56% dosentrevistados disseram que naprática não confiam na proteçãojurídica e policial. Outros 13% dis-seram que os policiais consideram

IBGE: maioria conhece aLei Maria da Penha

A sociedade tem consciência epercepção do problema da vio-lência contra a mulher. Do totalde entrevistados, homens e mu-lheres, 68% declararam conhecera Lei Maria da Penha, ainda quede ouvir falar. A Lei é mais conhe-cida nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde 83% dos entrevista-dos conhecem a Lei e seu conteú-do. No Nordeste e Sul as taxas deconhecimento são, respectiva-mente, de 77% e 79%.

No conjunto do país, a popula-ção com menor renda familiar (até1 salário mínimo) ou escolarida-de (até a 4ª série) está no patamarmais baixo de conhecimento, masainda assim a taxa é de 59%.

O maior conhecimento da LeiMaria da Penha nas regiões Nor-te/Centro-Oeste e Nordeste podeser atribuído ao ativismo dos mo-vimentos sociais de mulheres, quecom suas vigílias, apitaços, denún-cias sobre a não-aplicação da Lei,contagem de homicídios de mu-lheres e intervenções junto à mí-dia criaram um ambiente de de-bate e difusão de informações.

Em contraposição, no Sudeste,a mobilização da sociedade foidispersa e não teve a mesma re-percussão na mídia. É no Sudes-te, e especialmente na periferiadas grandes cidades, que a lei émenos conhecida; ainda assim,55% dos entrevistados nessa re-gião a conhecem.

O medo de morrer é visto comoo principal motivo da mulher (17%)continuar com o agressor. Alémdisso, 55% da população relatouconhecer uma mulher vítima deviolência doméstica. O alcoolismoe a cultura, principalmente o ma-chismo foi declarado na pesquisacomo um dos principais fatoresque estão por trás da violênciacontra a mulher.

Para mais informações façacontato com o Centro Integradode Atendimento à Mulher (CIAM)pelo telefone (21) 2299.2122 oupelo portal redesaude.org.br/portal/pontofinal/.

* Da Redação

gistros de ameaças mostra que épreciso dar maior atenção a essetipo de queixa. Das mulheres quecontataram o serviço, 57% afirma-ram que são agredidas física oupsicologicamente todos os dias;em mais da metade dos casos, de-clararam correr risco de morte. Amaioria dos agressores (73,4%) têmentre 20 a 45 anos. Cerca de 55%cursou até o nível superior.

A aplicação da Lei

Estudos do Observatório (OB-SERVE) da Aplicação da Lei Mariada Penha mostraram que, em qua-se todas as capitais do país, a lei

outros crimes mais importantes eque 11% não acreditam na serie-dade da denúncia. Para 7%, juízese policiais são machistas.

Para o OBSERVE, a pesquisa re-vela que, embora acreditando quehoje a mulher está mais protegi-da legalmente, a maioria dos en-trevistados não confia nas pesso-as que estão à frente do aparatodo Estado, justamente aquelasresponsáveis por fazer cumprir alei e consequentemente protegera mulher agredida.

Números da violência contra a mulher no Brasil

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I N T E R N A C I O N A L

México: 200 anos de independênciaem guerra contra o narcotráficoEm uma cidade onde apopulação celebra cada diacomo uma vitória apenas porsobreviver, o Bicentenário daIndependência do México,em 16 de setembro, tornou-se um dia de clemência pelofim da violência emilitarização do país, commensagens de paz e justiça.Abrir os olhos ao despertarpara viver mais um dia é oprincipal motivo decelebração dos mexicanos.Desde que o presidentemexicano, Felipe Calderón,declarou guerra aos cartéis,em dezembro de 2006,estima-se que em todo oMéxico, mais de 20 milpessoas tenham sido mortas.

Tatiana Lima*

Nos últimos três anos, 230 milpessoas deixaram Ciudad Juá-rez, 116 mil casas foram aban-donadas e 10 mil crianças fica-ram órfãs. O lugar, na fronteiracom os EUA, já conta 6,5 milmortos. Entretanto, é certo queaté o final da leitura desta revis-ta, mais juaritos tenham morri-do vítimas de um conflito queparece não ter fim e alterou avida de milhares de pessoas.

Os jornais, em todo o mun-do, já denominam Ciudad Juá-rez como a cidade mais peri-gosa do planeta, onde o meroexercício da profissão de jor-nalista tornou-se um risco mor-tal. Em editorial publicado em23 de setembro, o El Diáriopergunta aos grupos de trafi-cantes o que querem ver publi-cado em suas páginas. O edito-rial – motivado em decorrên-

cia da morte do fotógrafo dojornal Luiz Carlos SantiagoOrozco, de 21 anos – é maisum registro, entre tantos sur-gidos nos últimos tempos, dasituação dramática que vive oMéxico.

“São 23h50min. Acabei de re-latar dez crimes em menos deseis horas. Durante todo o diamorreram 15 pessoas. Na mai-oria dos casos, cheguei antesdas forças da ordem. Para con-seguir, escutei os diálogostruncados do rádio da polícia,que é constantemente monito-rado por jornalistas”, escreveuJudith Torrea, jornalista free-lancer, em 22 de setembro, emseu blog “Ciudad Juárez, en lasombra del narcotráfico”.

A população de Ciudad Juárezrealizou, no dia da Independên-cia, ato contra a guerra do presi-dente Calderón. O governo haviapreparado uma comemoraçãopelos 200 anos. “Celebrar a nos-

sa independência, gritar que so-mos livres e soberanos, em umpaís militarizado, com mais demetade da população em situa-ção de pobreza (58 %), não é sóuma brincadeira, mas uma pro-vocação aberta para os mexica-nos”, disse Julian Contreras, umdos organizadores do Grito Al-

ternativo em Ciudad Juárez. Ecompletou: “Por justiça, para aca-bar com a impunidade e paracontinuar lutando contra o abu-so da liberdade e pela indepen-dência que não temos ainda”.

*Da Redação

Fotos: Judith Torrea

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 17http://sisejufe.org.br

Ideias – Como assim, as pes-soas não trabalham, estudam,saem às ruas, frequentam o co-mércio?

Judith – Ciudad Juárez é umcidade vazia, sem vida. Não exis-te uma situação normal de vida.Em Juárez não poderíamos es-tar aqui tomando um café. Es-tou aqui olhando tudo e vendocomo o direito à vida de CidadeJuárez foi retirado de todos quelá vivem. Lá estaríamos olhandopara todos os lados, porque émuito perigoso. Aqui eu não sin-to isso. Sei que o Rio tem proble-mas de violência, mas não secompara. É como escrevi no meublog, em Ciudad Juárez o perigoé estar vivo.

– Todos são mortospor cartéis e pelas tropas milita-res?

Judith – A maioria, mas tam-bém tem os suicídios. O climade suicídio em Juárez é horrí-vel. As pessoas se matam a todahora porque estão descrentesde um futuro. O índice é hoje114 vezes maior do que a mé-dia nacional do México. Os ri-cos podem ir para os EstadosUnidos ou outra cidade. Os po-bres não têm como escapar.Como o nível de violência estámuito alto, as pessoas achamque vão morrer. Então, elas de-sesperadas se matam. Não háemprego, não há nada, a guer-ra define a vida das pessoas.

– A população nãoreagiu?

Judith – A princípio não. Osricos gostaram do exército tertomado as ruas, apoiavam aguerra. Mas depois passaram acontestar também. Perceberama quantidade de mortos. E tam-bém a guerra afetou os negó-cios. Em 2007, antes da guer-ra, eram 317 assassinatos emum ano. Em 2008, disparoupara 1,7 mil. Este ano já sãomais de 1,8 mil.

– Existe a criminali-zação da pobreza?

Judith – Claro. Quem maismorre são os pobres. A crimi-

– JUDITH TORREATatiana Lima, Gizele Martins (editora do Jornal Cidadão), a estu-dante norte-americana Stephanie Savell e, à direita, a jornalista

Judith Torrea durante visita ao Conjunto de Favelas da Maré

nalização dos pobres é a solu-ção fácil dos problemas, é maisfácil matar do que resolver. Apergunta é: a quem essas mor-tes interessam? Quem ganhacom elas ou quem deixa deperder? As pessoas morrem atodo momento e a polícia se-quer investiga e já os intitulacomo narcotraficantes. Alémdisso, os meios de comunica-ção só relatam as mortes, masnão se interessam pela históri-as das vítimas. Quando se ques-tionou as autoridades, disse-ram que isso não tinha impor-tância, que era secundário.

– Algum cartel se be-neficia com essa guerra?

Judith – Sim. O cartel de Sina-loa. Veja, não digo que ele ga-nha a guerra contra as autori-dades. Digo que ele está ganhan-do com a guerra, através dela. Éajudado inclusive pelo governo.Por exemplo, um poderoso líderdo cartel fugiu de uma prisãode segurança máxima em umcarro de lavanderia. Então estámuito claro que estão auxilian-do um dos cartéis e, por isso,em Ciudad Juárez existe tantosmortos – era dominada pelocartel oposto. O governo usa adesculpa que quer pacificar, porisso está em guerra contra onarcotráfico, mas é mentira.Sempre fico pensando quantosjuaritos vão morrer para que al-guém nos Estados Unidos pos-sa consumir uma carreira decocaína.

– Há algum interessedos Estados Unidos na Guerra?

Judith – Os Estados Unidosapoiam completamente e finan-ciam a guerra do presidente Fe-lipe Calderón. Tem um detalhemuito importante nisso. Essa

guerra apoiada pelo governoamericano, tanto no Méxicocomo na Colômbia, não produzmortos em solo americano.

– Quem são os mor-tos nessa guerra?

Judith – A maioria são jo-vens e crianças que pratica-vam esportes, estudavam. Al-guns morreram com os uni-formes da escola ou do timede basquete. Claro, existetambém jovens que eram nar-cotraficantes, mas eles deve-riam ser presos e não mortos.A coisa mais impressionantee difícil de cobrir foi o enter-ro de 13 amigos – todos mor-reram durante uma festa deformatura. Estavam na mes-ma casa. Crianças enterran-do crianças é o que se vê nafoto. Esta é a verdade da guer-ra do presidente Calderón.Foi a partir deste crime quecomeçaram a chover críticascontra guerra. Eu sempre aquestionei.

– Judith, Por que vocêresolveu escrever o blog? Vocêé uma jornalista freelancer, nãotem nenhuma instituição quelhe dê suporte. Por que se arris-car tanto?

Judith – Sou espanhola, me-xicana de coração e CiudadJuárez é o único amor dolo-roso que tolero. Escrever nomeu blog é como vomitar averdade que precisa ser dita.É uma necessidade. Nuncapensei na importância que oblog teria, mas sim na neces-sidade dessas histórias seremcontadas. Minha intenção eravomitar as coisas que via e asinjustiças. Meu dever comojornalista é contar as históri-as que não são contadas.

“ Ciudad Juárez é o únicoamor doloroso que tolero”

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Judith Torrea, 37 anos, é umarepórter especializada na cober-tura de notícias sobre tráfico dedrogas, crime organizado, penade morte, imigração e políticana fronteira EUA–México. Cobreessa realidade há 12 anos, novedeles vivendo entre as duas fron-teiras. Nascida na Espanha, elajá se diz mexicana de coração. Ajornalista esteve no Brasil, emagosto, a convite do 5º Congres-so da Associação Brasileira deJornalismo Investigativo (Abraji),realizado em São Paulo.

Tornou-se referência em todoo mundo por denunciar, peloseu blog, as execuções em Ciu-dad Juárez. Chama a atenção nostextos de Judith a síntese. Elarelata crimes, registra a dor defamiliares e busca as históriasescondidas atrás das mortes re-gistradas apenas como núme-ros. As autoridades insistem queos mortos pertencem aos car-téis de narcotraficantes. A jor-nalista contesta: “São os juaritos– como são chamados os nasci-dos no local – que estão sendoabatidos pelo exército e por nar-cotraficantes há três anos. Tudonão passa de mentiras dadaspara justificar a execução da po-pulação pobre do México pró-xima das fronteiras americanas”.Judith Torrea concedeu entrevis-ta a Ideias em Revista no café doCine Odeon, após a visita que fezao Conjunto de Favelas da Maré.

– Você esteve noBrasil a convite da Abraji paracontar sobre a sua experiên-cia cobrindo a guerra do nar-cotráfico em Ciudad Juárez.Por que decidiu ficar mais tem-po e vir ao Rio?

Judith Torrea – Queria conhe-cer a realidade daqui porque asautoridades de Ciudad Juárezsempre dizem que a situação donarcotráfico no Rio de Janeiro épior. Vejo que é mentira. As pes-soas aqui vivem normalmente, es-tão nas ruas caminhando, os ci-nemas, bares, teatros, enfim, es-tão todos abertos. A cidade temvida. Em Ciudad Juaréz isso nãoexiste. Só existe a morte.

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18 Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010http://sisejufe.org.br

Gerivaldo Alves Neiva*

Virgulino Ferreira da Silva, pelopovo também conhecido como“Lampião”, foi preso em flagran-te pela “volante” do Tenente Be-zerra e apresentado a este Juízona forma da ilustração de auto-ria do cartunista CarlosLatuff.

Esta é uma decisão, portanto,que navega entre o virtual e o real,o passado e o presente, entre opossível e o impossível, permea-da de utopia, sonho e esperan-ça... O que se verá, por fim, é aevidência da contradição, nãoinsolúvel, entre o Direito e a Jus-tiça. Quem viver, verá.

Inicialmente, registro que nãocostumo me dirigir aos acusadospor “alcunhas”, “vulgos” ou ape-lidos. Aqui, todos têm nome, poister um nome significa, no míni-mo, o começo para ser cidadão edetentor de garantias fundamen-tais previstas na Constituição bra-sileira. Neste caso, no entanto,abro uma exceção para me diri-gir ao acusado Virgulino Ferrei-ra da Silva apenas como “Lam-pião”, pois creio que assim o fa-zendo não lhe falto com o devi-do respeito. Ao contrário, façovaler, ao tratá-lo como “Lam-pião”, a mesma reverência quelhe dedica o povo pobre e exclu-ído do sertão brasileiro.

Em seguida, devo observar quea responsabilidade de julgar“Lampião” é tamanha e me as-sombra. De outro lado, não acei-to como “divino” o papel de jul-gar. Deixemos Deus com seusproblemas. Julgar homens é ta-refa de homens. Da mesma for-ma, tenho comigo que realizar aJustiça é tarefa do homem na his-tória. Assim sendo, passo a jul-gar “Lampião” como tarefa es-sencialmente humana e com osentido de que, ao julgar, o juiztambém pode contribuir com arealização da Justiça ou, na piordas hipóteses, ao menos não im-pedir que o povo realize sua his-tória com Justiça.

Pois bem, consta dos autosque “Lampião” teria sido presoem flagrante sob acusação de

Oficina Literária

O julgamento de LampiãoDivagações entre o real e a utopia

“Aquele antigo modo de pensar, naverdade, foi o fruto do ensino jurídicoque incute verdades e dogmas namente de acadêmicos de Direito, quese tornam advogados, que se tornamjuízes, que se tornamdesembargadores, que se tornamministros de tribunais e se imaginamsábios porque aprenderam a reduzir oDireito à lei e a Justiça à vontade daclasse que representam...”

formação de quadrilha para aprática de inúmeros crimescontra a vida, contra o patrimô-nio e contra os costumes. Cons-ta ainda dos autos os depoi-mentos dos condutores – mem-bros da “volante” do TenenteBezerra – a representação daautoridade policial pela decre-tação da prisão preventiva doacusado, sob argumento da“garantia da ordem pública”.

Ao estrito exame das provasapresentadas, por conseguinte,e do que dispõe a lei, parece pa-cífica a necessidade da segrega-ção preventiva do acusado paragarantia da ordem pública, vistoque restou provado, em face dosdepoimentos colhidos, que oacusado, de fato, representa gra-ve perigo à harmonia e paz soci-al. Isto é o que se depreende doque se apurou até então e do queconsta dos autos. Imperativo, porfim, que se decrete a prisão pre-ventiva do acusado, segregando-o do meio social.

Antes de concluir a decisãocom a terminologia própria, otal “expeça-se o mandado deprisão, publique-se, intime-se,cumpra-se...”, recosto a cabe-ça na cadeira, ajeito o corpo,fecho os olhos e ponho-me apensar quantas vezes já decididessa maneira, quantas vezesjá decretei prisões preventivas

por motivo de garantia da or-dem pública...

De súbito, enquanto pensava,eis que “Lampião”, o próprio, sal-titando feito uma guariba, pulada gravura do CarlosLatuff e in-vade minha mente. É virtual, masé como se fosse também real ehumano na minha frente. “Para-bellum” em uma mão e o punhalde prata, cabo cravejado de bri-lhantes, em outra. Não tenhomedo e nem me assusto. Ele tam-bém não diz nada e agora ape-nas me olha e circula em tornode mim. Somos pessoas e ao mes-mo tempo ideias e pensamentos.O texto final da minha decisãojudicial, por exemplo, fazendo re-ferência à garantia da “ordem pú-blica”, é como se fosse tambémalgo concreto nesta cena, comoum pássaro rondando minha ca-beça. De repente, com um tirocerteiro de “Parabellum”, “Lam-pião” esfacela esta forma de pen-sar, que me ronda feito um pás-saro, como se matando este meu“senso comum teórico dos juris-tas”, conforme denuncia Warat.Em seguida, ainda atônito e semmais pensamentos para me agar-rar, sinto uma profunda punha-lada no coração, mas não sintodor alguma. Não sangro sangue,mas vejo jorrando do meu peitotodos os meus medos de pensarcriticamente o mundo em que

vivo, as relações sociais e, sobre-tudo, o Direito.

O que faço? Não tenho mais o“senso comum teórico dos juris-tas” e também não tenho maisfreios no meu modo de pensarcriticamente o mundo e o Direi-to. “Lampião” acabou com elescom um tiro de “parabellum” euma punhalada com punhal deprata. Agora, sem minhas “defe-sas”, que imaginava poderosas,sou como um morto... Estoumorto.

Na verdade, estou morto e re-nascido livre ao mesmo tempo.Vejo, de um lado, meu corpo mor-to e meu pensar antigo e, de ou-tro lado, sinto-me renascido emoutro corpo e outro pensar. Mor-ri para nascer de novo. Agora,nascido de novo, posso pensardiferente; posso pensar um novoDireito e, por fim, posso pensarque a Justiça é possível e que podeser construída pelo homem novo.Está certo Gilberto Gil. É preciso“morrer para germinar”. “Lam-pião” me matou para que eu pu-desse viver e ver. Viva “Lampião”!

E vivendo depois da morte,vejo, agora, com “Lampião” aomeu lado, que aquele antigomodo de pensar, na verdade, foio fruto do ensino jurídico queincute verdades e dogmas namente de acadêmicos de Direito,que se tornam advogados, quese tornam juízes, que se tornamdesembargadores, que se tor-nam ministros de tribunais e seimaginam sábios porque apren-deram a reduzir o Direito à lei e aJustiça à vontade da classe querepresentam. Este é o Direito li-mitado aos “autos” do processoe à tarefa de manter excluídos dadignidade os pobres e miseráveis;o Direito da manutenção da falsa“ordem” burguesa; o Direitoalheio à vida, à pobreza, à misé-ria e à fome.

Posso ver agora, com “Lampião”ao meu lado, que aquele modoantigo de pensar aprisiona e mu-tila os fatos nos “autos” do pro-cesso. Assim, “autos” não têm vida,não estão no mundo, não têmcontradições sociais e transfor-

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mam homens em “delinquentes”,“meliantes” e “bandidos”. Reduz,pois, todas as contradições domundo e da vida em uma tolice:“o que não está no processo nãoestá no mundo.”

Agora posso ver, com “Lampião”ao meu lado, depois de ter morri-do para viver, ver e violar dogmas,que “o mundo está no processo”.É, pois, no processo que está a de-sigualdade social, a concentraçãode renda, séculos de latifúndio, aacumulação da riqueza nacionalnas mãos de uns poucos, precon-ceitos, discriminações e exclusãosocial. Tudo isso é e está no pro-cesso. Isto é o processo.

Vejo, por fim, compartilhandoesta última visão com “Lampião”,que os autos que me apresenta-ram não têm mundo e nem vida.Não têm sua vida, “Lampião”. Nãotêm sua história. Não tem seu pas-sado. Não têm sua família. Nãotêm seus pais e irmãos sendo ex-pulsos da terra que cultivavam.Não têm sua dor e sua revolta. Nãotêm sua sede e fome de justiça.Não tem sua desesperança na jus-tiça. Não têm sua vida, repito. Nãotêm nada e de nada servem essesautos. Não servem para um julga-mento. Servem para justificar umafarsa, acalentar os hipócritas e fa-zer da mentira a verdade.

Esses “autos” que me apresen-taram, “Lampião”, não têm índiosescravizados e mortos pelo colo-nizador; negros desterrados e es-

“É, pois, no processoque está adesigualdade social, aconcentração derenda, séculos delatifúndio, aacumulação da riquezanacional nas mãos deuns poucos,preconceitos,discriminações eexclusão social. Tudoisso é e está noprocesso. Isto é oprocesso.”

cravizados nesta terra; posseirosexpulsos de suas terras e mortospelo latifúndio; operários explo-rados, desempregados e desespe-rados; crianças dormindo ao re-lento; os sem-teto, os sem-terra,os excluídos da dignidade. Essesautos não estão no mundo, é umfaz-de-conta, uma ilusão...

O que faço agora? Estou mor-to de um lado, mas vivo de outro.Não sei mais o que é virtual e oque é real. Sei que deliro, mas nãoposso deixar morrer este novoeu. Preciso fazer com que per-maneça vivo em mim o que re-nasceu e deixar morto o quemorreu. Não quero ser mais o queera antes de morrer. Quero serapenas o que renasci.

Luto comigo mesmo e perma-neço vivo. Estou vivo, escuto evejo, agora, mais uma vez, tirosde “parabellum” e golpes de pu-nhal, como se saídos do nada ebailando no ar, furando e cor-tando em pedaços os “autos” doprocesso. Agora, não existemmais os “autos” do processo. Pa-péis picados tremulam no ar.Voam descompassados comoborboletas... Preciso manter alucidez, mas agora é tarde. A lou-cura tomou conta de mim e melevou com as borboletas para as“lagoas encantadas” do sertãobrasileiro. Agora sou pura uto-pia, sonho e liberdade. Conversocom “mães-d’água” à beira da“lagoa” e todas as coisas agora

fazem parte de tudo. Nada maisé sem as outras coisas. Somostodos partes de um todo...

Neste devaneio em que me en-contro, não sei mais o que é oreal, o que é verdade, o que épassado ou presente ou se estoumorto ou vivo; não sei mais – ousei? – o que é e para que serve oDireito. Delirando assim, nãoposso mais julgar. Estou impedi-do de julgar. Não posso mais jul-gar “Lampião”. Eu não sou maisreal, sou sonho apenas. “Lam-pião”, também, não é mais real. Éuma lenda, um mito. “Lampião”agora povoa o imaginário dospobres do sertão. “Lampião” nãopode ser mais julgado por um juizapenas. Só a história e o povopodem julgá-lo agora.

Esperem! “Lampião” me foiapresentado preso e eu precisodecidir sobre o flagrante. Precisovoltar... As borboletas me trazemde volta da “lagoa encantada” emque me encantei. Sou novamentereal neste mundo virtual. Aqui es-tou e preciso falar. Assim, enquan-to a história não vem, mas inevita-velmente virá um dia, não possodeixar “Lampião” encarcerado. Acadeia não serve aos valentes eaos destemidos; a cadeia não ser-ve aos que, como Marighella,nunca tiveram tempo para termedo; a cadeia não serve aos quenão têm Senhor e aos que amama liberdade. Homens verdadeirosnão morrem presos.

Portanto, “Lampião”, a liberda-de é tua sina. Vá. Talvez Maria teespere ainda. Talvez teu bando teespere ainda. Talvez Corisco nãoprecise te vingar. Talvez teu cor-po não trema por mais de doisminutos depois que degolaremtua cabeça. Vá. É melhor, na ver-dade, que morra em combate coma “volante” do Tenente Bezerra doque apodrecer e morrer vivo naprisão. Os valentes morrem lutan-do e escrevem a história. Vá. É ahistória, somente ela, que tem aautoridade para lhe julgar.

Por fim, agora concluo minhadecisão inacabada: “expeça-se oAlvará de Soltura e entregue-se oacusado, Virgulino Ferreira da Sil-va, “Lampião”, ao seu própriodestino.” Dato e assino: Gerival-do Alves Neiva, Juiz de Direito.

Depois disso, as borboletas melevaram de volta ao mundo dapaz, da harmonia e da solidarie-dade, onde somos todos iguais eirmãos; de volta às “lagoas encan-tadas” do sertão brasileiro e aosbraços das “mães d’água”.

Com viram, ouviram e imagina-ram, este julgamento é um deva-neio. Mistura de imaginação,passado e presente, sonho, uto-pia e, sobretudo, esperança in-quebrantável na Justiça.

Uma noite fria e chuvosa,agosto, 2010.

*Juiz de Direito na Bahia.

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Para o turista menos atento, a Grécia continua a mesma,com suas ruínas históricas e ilhas paradisíacas. Porém,um olhar mais apurado revela os sinais de uma criseeconômica que dá contornos de Terceiro Mundo a suacapital, Atenas. Nos meus 15 dias naquele país, pude verum número cada vez maior de pedintes, camelôs,prostitutas e máfias (a maioria imigrantes) que disputamcada esquina. Demissões, cortes de verbas públicas,privatizações, o receituário do FMI, bem conhecido denós brasileiros, que na América Latina foi aplicado comoterapia de choque e na Europa vem sendo administradoem doses homeopáticas. A resposta a isto sãomanifestações quase que diárias de vários setores dasociedade grega, que lotam as ruas da capital. O povoda Grécia, de longa tradição de luta, que já enfrentoudiversas ocupações estrangeiras, guerra civil e ditaduramilitar, tem o desafio de derrotar mais esta invasão. Talqual fizeram os alemães, que na Segunda GuerraMundial ergueram a suástica sobre a Acrópolis, estesinvasores modernos, vestindo Armani ao invés de fardas,conduzidos por limusines ao invés de tanques, queremfincar na Grécia a bandeira do neoliberalismo.

GRÉCIA EGRÉCIA ETexto e FotosCarlos Latuff

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EM CRI$EEM CRI$E

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Texto e FotosTatiana Lima*

Sancionada em 13 de julho de1990, a lei 8.069 representa ummarco social e jurídico acerca dosdireitos da criança e do adoles-cente no Brasil. O ECA rompeucom práticas de negligência comrelação aos direitos infanto-juve-nis marcados por repressões,“limpezas sociais”, assistencialis-mo e criminalização da pobreza.

Antes do ECA, a legislação so-bre o tema era o Código de Me-nores – vigorava uma doutrinapela qual, por exemplo, um me-nino de rua, um criança explo-rada sexualmente e crianças eadolescentes trabalhadores, ví-tima de tortura, adolescentesinfratore, entre outros, eramconsiderados em “situação irre-gular”. Portanto, deveriam sertratados como objeto de inter-venção do estado.

Desta forma, não eram reco-nhecidos como sujeitos de direi-tos. Com o estatuto, isso mudou.Agora, crianças e adolescentessão tratados como cidadãos,tendo direitos a serem respeita-

C R I A N Ç A E A D O L E S C E N T E

ECA: 20 anos de conquistas e contrastesPassados 20 anosda promulgação doEstatuto da Criançae do Adolescente(ECA), a leirepresenta umgrande avanço nadefesa do direito dainfância e dajuventude. Noentanto,especialistasalertam para ogrande desafio queainda existe:implementarefetivamente asdiretrizes do ECA nasociedade brasileirae combater opreconceito dentrodo Judiciário.

dos. Assim o ECA e a constitui-ção estabelecem quem tem dezelar por esses direitos. Além doEstado, a sociedade e a famíliatambém são responsáveis pelocumprimento da legislação e oreconhecimento desta cidada-nia e destes direitos. Entretan-to, a falta de prioridade dada aosistema de justiça da infância ejuventude mostra que há mui-tos desafios a serem superados.Entre eles, a percepção e o au-mento de investimentos na área,com políticas públicas para aimplementação da lei.

A necessidade da defesa doECA e da incorporação no dia adia da sociedade e das institui-ções fica evidente nos casos deviolência publicados por jornais,além das denúncias realizadaspor parentes – principalmenteas mães – que tiveram na famíliavítimas da violência policial, emespecial da Polícia Militar do Riode Janeiro. Quase todos os diaschegam novos casos à Comissãode Direitos Humanos da Assem-bleia Legislativa do Rio de Janei-ro (Alerj).

Segundo pesquisa da Associa-

ção Brasileira de MagistradosPromotores de Justiça e Defen-sores Públicos da Infância e dajuventude (AMBP) realizada em2008, apenas 992 comarcaspossuem Vara de Infância. Emtodo o país são 2.463 comarcas.A pesquisa também aponta umagrande disparidade entres regi-ões do Brasil. Enquanto no Nor-te existe um juiz especializadopara 279 mil habitantes, no Su-deste é um juiz para 503 mil. Oque mostra uma sobrecarga deprocessos.

O ECA prevê que os tribunaisdevem estabelecer e ter um cri-tério populacional para a cria-ção de Varas de Infância e daJuventude. Mas não há reparti-ções, magistrados e servidoressuficientes para se dedicar à cri-ança e ao adolescente. Essa é aopinião do advogado Ariel deCastro, membro do ConselhoNacional de Direitos da Criançae do Adolescente, também vice-presidente da Comissão Nacio-nal da Criança e do Adolescenteda Ordem dos Advogados (OAB).

A formação dos magistrados,promotores e defensores públi-

Passeata na Av. Rio Branco reuniu centenas de crianças e adolescentes para lembrar os 20 anos do ECA

Mães durante missa na Candelária

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cos também é motivo de preo-cupação. Até 2008, a matéria deDireitos da Criança e do Adoles-cente não estava inclusa na gra-de curricular. Somente em tor-nou-se obrigatória por exigên-cia do MEC. Apenas em 2009, oConselho Nacional de Justiça(CNJ) estabeleceu a inclusão dotema dos editais dos concursospúblicos para juiz.

Outra crítica dos especialistasé a estrutura dos conselhos tu-telares – órgãos municipais des-tinados a zelar pelos direitos dascrianças e dos adolescentes. Cri-ados por lei a partir da promul-gação do ECA, atualmente, exis-tem mais de 5,7 mil conselhostutelares instalados em todo opaís. Segundo a Agência de No-tícias dos Direitos da Infância, onúmero representa um aumen-to de 23% em relação ao ano de2006. Entretanto, a maioria de-les carece de estrutura para de-senvolver bem o trabalho, sejaem número de juízes, servido-res ou outros recursos.

Mesmo assim, para os especi-alistas o ECA proporcionou im-portantes avanços. É o caso daqueda da mortalidade infantil –uma redução de 60%. Nos casosde exploração do trabalho in-fantil, também houve melhoraem relação aos índices anterio-res ao estatuto.

De acordo com a OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT),4,2 milhões de crianças e ado-lescentes ainda são exploradosno Brasil. O índice é alto, mas aredução foi de 50% nos últimos19 anos. Já a educação é motivode preocupação porque, apesarde 98% das crianças estaremmatriculadas no ensino funda-mental e 82% dos adolescentesno ensino médio, a qualidade doensino é precária nas escolaspúblicas.

Extermínio é oque mais preocupa

Mas é o assassinato de 16 cri-anças e adolescentes por dia noBrasil, segundo dados da Unicef,o que mais preocupa entidades,instituições, políticos e militan-tes da defesa do direito à vida ede crianças e adolescentes. Paraeles, existe uma política de ex-

termínio praticada em diversosestados da Federação, especial-mente no Rio de Janeiro.

Para o ex-presidente da Co-misão de Direitos Humanos daAlerj, o deputado estadualAlessando Molon (PT-RJ), osfamiliares vitimados pela viola-ção de Direitos Humanos e doECA não devem se calar. É ne-cessário exigir uma política desegurança que leve segurançade fato a toda cidade, inclusivepara as comunidades mais ca-rentes. “O Estado não podecolocar em risco a vida dos jo-vens pobres e excluídos danossa cidade”, diz Molon.

Para Renata Jacinto, mãe de umadolescente executado pela PM,no Morro do Gamba, em Lins deVasconcelos, o Estado brasileiroviola o estatuto a todo momento.“Ao invés de proteger, o Estadomata. Meu filho foi acusado deser traficante. Voltava do traba-lho e foi executado. Foram cincoanos de luta para limpar o nomedo meu filho e quebrar o álibi doauto de resistência. Sou uma pes-soa indignada”, conta. Nos autosde resistência, o policial diz quecometeu homicídio em legítimadefesa, em decorrência da resis-tência à prisão – em geral se ale-ga que a vítima estava armada nomomento da abordagem.

Já Mônica Cunha é outra mãeque critica a “política de penade morte institucionalizada” noRio de Janeiro. Mãe de jovemmorto por policiais, ela acusa aPM de priorizar a morte comosolução das operações. “Meu fi-lho era um jovem que tinha simum ato infracional nas costas,mas isso não é motivo para eleser executado. Em minha opi-nião, existe pena de morte noBrasil e é feita da pior formapossível por quem deveria exe-cutar e garantir as leis”, diz Mô-nica. Ela completa: “Tenho mui-to orgulho de ter sido mãe doRafael. Não o criei para ser ban-

dido. Criei para ser um cidadãopertencente a uma sociedade.Mas a pressa de ter coisas, dequerer pertencer a um grupo,nesta sociedade consumista, fezdo meu filho um adolescenteautor de ato infracional”. Môni-ca Cunha participa do movi-mento de mães e familiares deadolescentes em conflito com alei, o “Moleque”. O filho de Mô-nica, Rafael da Silva Cunha, res-pondeu por ato infracional, aos17 anos de idade, por roubo.Cumpriu medida socioeducati-va no Degase e, aos 20 anos, foimorto por policiais numa ope-ração contra o tráfico.

De acordo com o padre Ge-raldo Lima, da Comissão Pas-toral da Terra, da Arquidioce-se de Nova Iguaçu, a popula-ção e os movimentos sociaisprecisam tomar coragem e exi-gir dos governantes, políticaspúblicas de segurança quepreservem a vida. Para ele, to-mar uma posição não é umaopção: “Diante da morte assas-sina tem que se tomar partido.O fato de simplesmente cruzaros braços e não falar nada fazcom que nos comprometamoscom quem mata”.

*Da Redação.Mônica Cunha

Crítica à política de criminalização da pobreza e do extermínio de jovens na Cinelândia

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Apesar do impasse em relaçãoà Ficha Limpa – o Supremo Tri-bunal Federal (STF) ainda nãodefiniu se a lei vale para as elei-ções deste ano – os eleitores têmo dever de analisar o retrospec-to de cada candidato. Neste mo-mento é essencial conhecer ahistória dele, ou dela, para saberse o escolhido está preparadopara representar milhares debrasileiros. Hoje, qualquer cida-

Nossa democracia para lheram entre os oito candidatosque disputaram a Presidência daRepública. Venceu o pleito, emprimeiro turno, Fernando Henri-que Cardoso, do PSDB. Numamanobra polêmica e até hoje dis-cutida nos meios político-parti-dários, ele aprovou no Congres-so Nacional uma emenda Consti-tucional para permitir a reeleiçãodos ocupantes de cargos do Po-der Executivo nas três esferas:federal, estadual e municipal.

Em 1998, Fernando Henriquedisputou com outros 11 candi-datos à Presidência e foi reelei-to, quando o Brasil tinha cercade 106 milhões de eleitores ap-tos a votarem. Na eleição seguin-te, em 2002, quando o Brasilcontava com 115 milhões deeleitores em condições de votar,disputaram a Presidência da Re-pública seis candidatos. O eleitofoi Luiz Inácio Lula da Silva, quejá havia disputado as eleições de1989, 1994 e 1998.

Em 2006, já com a reeleiçãoinstituída, Lula venceu a disputaao enfrentar sete outros candi-datos. O eleitorado apto a votarna época foi de quase 126 mi-lhões de brasileiros. Nas eleiçõesdeste ano, desde a redemocrati-zação, será a primeira vez que oeleitor não terá Lula como can-didato à Presidência da Repúbli-ca. Esse crescimento do eleitora-do deve-se também às campanhasde incentivo ao voto desenvolvi-das pela Justiça Eleitoral brasilei-ra, que tem atuado de modo aproporcionar o exercício da ci-dadania a todos os brasileiros,onde quer que eles estejam.

Ao digitar os números doscandidatos nas urnas eletrônicas,mais de 135 milhões eleitores vãodar sequência a um processo deconsolidação da brasileira, em 3de outubro. Todo esse contingenteestá apto a participar do pleitoque definirá quem comandará ofuturo político da Nação pelospróximos quatro anos. Além dasucessora ou do sucessor dopresidente Luiz Inácio Lula daSilva, serão eleitos governadores,senadores e deputados federais eestaduais por todo o País. Aseleições de 3 de outubro serão asexta a ocorrer após os 21 anosde ditadura militar, período emque o povo não podia nem pensarem escolher o presidente daRepública.

dão que goze de direitos políti-cos pode pedir a inelegibilidadede candidatos registrados queestiverem com a ficha suja.

O voto é obrigatório para todosos brasileiros e brasileiras alfabe-tizados que tenham entre 18 e 70anos de idade. Já para os analfa-betos, maiores de 70 anos ou jo-vens de 16 e 17 anos, o voto é fa-cultativo. Segundo o Tribunal Su-perior Eleitoral (TSE), a maioria

dos eleitores deste ano é do sexofeminino (51,8% do total) e tementre 25 e 34 anos. Os menoresde 18 anos também estão entreos que podem decidir os futurosrepresentantes do país: do total,2.391.352 eleitores aptos a votarsão jovens de 16 e 17 anos.

Quem está fora do País tam-bém pode influir nos rumos daNação. O número de eleitoresbrasileiros no exterior cresceuconsideravelmente nos últimosanos. A Justiça Eleitoral regis-trou, somente no ano de 2007,um aumento superior a 21% nonúmero de eleitores brasileirosque vivem além de nossas fron-teiras. Dentre os dados analisa-dos no período de janeiro a de-zembro de 2007, constatou-seque esse grupo subiu de 86.202para quase 105 mil eleitores alis-tados junto às representaçõesdiplomáticas espalhadas pelomundo. Foram, em média, qua-se 1.500 novos pedidos de ca-dastramento por mês.

Crescimento acada eleição

A primeira eleição presiden-cial pelo voto direto, após o gol-pe militar, se deu em 1989,quando foi eleito Fernando Co-llor de Mello e o seu vice ItamarFranco. À época, estavam aptosa votar cerca de 76 milhões deeleitores. A corrida presidencialcomeçou com 22 candidatos efoi decidida em segundo turnoentre os dois primeiros coloca-dos Fernando Collor e Luiz Iná-cio Lula da Silva. Eleitores con-solidam a democracia, ao me-nos a democracia eleitoral, acada dois anos no Brasil.

Em 1994, cerca de 95 milhõesde eleitores aptos a votar esco-

*Da Redação, comagências de notícias.

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além do discurso eleitoral

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Mídia comercial repete padrão demanipulação de pesquisas e manchetes

Vinícius Souza*

– A ex-ministra-chefe da CasaCivil, Erenice Guerra, pediu de-missão após as denúncias de queseu filho teria beneficiado em-presas junto ao governo pedin-do comissão. Você acredita queo filho de Erenice Guerra benefi-ciava as empresas junto ao go-verno pedindo comissão?

– Na sua opinião, Erenice Guer-ra sabia ou não que seu filho be-neficiava empresas junto ao go-verno pedindo comissão?

– E o presidente Lula sabia ounão que o filho Erenice Guerrabeneficiava empresas junto aogoverno pedindo comissão?

– E a candidata Dilma Rousseff,sabia ou não que o filho de EreniceGuerra beneficiava empresas juntoao governo pedindo comissão?

As quatro perguntas acima fa-zem parte das 30 questões danova pesquisa Datafolha que foipara as ruas em setembro. Segun-do a revista Veja, o levantamentonacional, que tem por objetivomedir “os reflexos eleitorais docaso Erenice Guerra”, foi enco-mendado pela Folha de S.Paulo e

Com a consolidação da ampla vantagem do PTnas pesquisas nacionais, a Velha Mídia partepara a escandalização de denúncias fajutascomo último recurso. Em São Paulo, essaestratégia pode estar associada à manipulaçãode pesquisas para manter o PSDB local no poder

Rede Globo. Para a chamadaGrande (ou Velha) Mídia, em pro-cesso de simbiose com a oposi-ção de direita, já não basta aferiro quanto a repercussão nos mei-os de comunicação hegemônicosde denúncias sem comprovaçãoafeta as intenções de voto. É pre-ciso saber exatamente qual po-tência deve-se dar à “bala de pra-ta” com a qual pretende levar aeleição para o segundo turno. Otiro pode sair pela culatra, aca-bando de vez com o restolho decredibilidade de veículos como aFolha (que publicou na primeirapágina a ficha falsa da “terroris-ta” Dilma) e de institutos como oIbope, cujo presidente Carlos Au-gusto Montenegro havia vaticina-do há um ano que Lula não fariaseu sucessor. Mas, aparentemen-te, a essa altura do campeonato acandidatura Serra enveredoupelo tudo ou nada.

Por vários meses o Ibope e oDatafolha, tentaram esconder avantagem da ex-ministra da CasaCivil, sobre os demais concorren-tes ao Palácio do Planalto nas“margens de erro”, “pondera-ções”, “metodologias” e outras“ferramentas” estatísticas. Isso

ocorria mesmo quando Vox Po-puli e Sensus já mostravam a pos-sibilidade de vitória no primeiroturno da eleição presidencialpela candidata do PT. Mas comas campanhas na reta final e adificuldade de uma grande ma-nipulação das pesquisas em nívelnacional, a estratégia se voltapara a escandalização de qual-quer denúncia, por mais inveros-símil que seja. A oposição paulis-ta, que ainda possui grande par-te do poder central no PSDB, ima-gina que assim possa ao menosassegurar o controle sobre SãoPaulo. Ou, no limite, encaminharum golpe jurídico/midiático aoestilo hondurenho.

Padrões de manipulação

Historicamente, as pesquisas deopinião têm sido usadas na Amé-rica Latina para induzir os eleito-res a votar em determinada can-didatura, para definir os rumos depleitos apertados ou manter oânimo de correligionários e con-tribuintes dos partidos. Algumasvezes isso dá certo, outras não.Na Venezuela, os “erros” estatísti-cos, quase sempre em favor da

oposição ao presidente HugoChávez, são justificados popular-mente pela expressão “las encu-estas no suben las encuestas”, algocomo: as pesquisas não sobem osmorros. Já na Colômbia, o recém-empossado governo de Juan Ma-nuel Santos nem se preocupou emdar explicações sobre as imensas“falhas” nas pesquisas que, antesdo primeiro turno, indicavam umempate técnico entre o candida-to governista e o ex-prefeito deBogotá Antanas Mockus, do Par-tido Verde, com êxito desse nosegundo turno. Para a senadoraPiedad Córdoba, a vitória fácil deSantos (com 68,9% dos votos váli-dos em uma abstenção de 56% doeleitorado) demonstra que “o Pa-lácio de Nariño (sede do governocolombiano) é o responsável di-reto pelo crescimento fictício e mi-diático das pesquisas em favor deMockus para simular uma demo-cracia no país”.

No Brasil, há pelo menos trêscasos clássicos de manipulação.Nas primeiras eleições diretaspara o governo do Rio de Janeirona redemocratização, em 1982,a cinco dias do pleito o Ibopeapontava: Sandra Cavalcanti (PFL)

À esquerda, alguns poucosexemplos de ataques a Lulaao longo de 30 anos. Àdireita, sugestão deinternautas para a últimacapa antes das eleições de3 de outubro: “Dilmamatava”... aulas.

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com 28% das intenções de voto,Miro Teixeira (PMDB) 22%, Mo-reira Franco (PDS) 12% e LeonelBrizola (PDT) 11%. Como se sabe,Brizola ganhou apesar das pes-quisas e da tentativa de fraudeeleitoral pela empresa Procon-sult, com apoio da Rede Globo.Nas últimas eleições para o go-verno da Bahia, em 2006, as pes-quisas do Ibope mostravam em25 de setembro que o candidatodo PFL, o então governador Pau-lo Souto, venceria no primeiroturno, com 48% dos votos, o can-didato do PT, Jaques Wagner,com 31%. Nenhuma manobra es-tatística justificaria uma “margemde erro” tão grande que em pou-co mais de uma semana daria avitória ao PT com 52,8% dos vo-tos válidos.

Em 1998, ano da reeleição deFernando Henrique Cardoso,por outro lado, o quadro doDatafolha para o governo deSão Paulo dois dias antes davotação era: Paulo Maluf (PPB)31%, Francisco Rossi (PDT) 18%,Mário Covas (PSDB) 17%, MartaSuplicy (PT) 15% e Orestes Qu-ércia (PMDB) 6%. Maluf estariano segundo turno mas quemdisputasse com ele deveria ga-nhar por causa do alto índicede rejeição ao “rouba mas faz”.Desse modo, o medo da classemédia, para quem Rossi repre-sentava a direita evangélica, eo espírito antimalufista de boaparte da população levaram oPSDB a colocar todas as fichasno “voto útil”. Na contagem,Covas foi para o segundo tur-no superando Marta por míse-ros 74 mil votos. Ao invés dos15% apregoados pelo Datafa-lha, a petista teve como resul-tado final 22,5% dos votos, bemmais que os 17,11% de Rossi.Desse modo, Covas teve seucaminho pavimentado pelo Da-

tafalha e os tucanos se encas-telaram por mais 10 anos noPalácio dos Bandeirantes.

A batalha por São Paulo

Para se compreender a impor-tância de São Paulo para as opo-sições é preciso olhar para ce-nário nacional. Depois do escân-dalo Arruda, o prefeito de SãoPaulo, Gilberto Kassab, se tor-nou o único governante de des-taque no DEM, mas já se fala emsua saída iminente do partido.Outros próceres do ex-PFL,como Cesar Maia, Marco Maciele Heráclito Fortes, terão grandedificuldade em se eleger para oSenado. Estados como Rio deJaneiro, Bahia e Rio Grande doSul, além do Distrito Federal,devem definir seus governado-res no primeiro turno entre ali-ados do governo Lula. O Paranáe Minas Gerais estão mais dividi-dos mas se Aécio Neves empla-car seu sucessor, Antonio Anas-tasia, essa será uma vitória deAécio Neves (sempre blindadopela mídia local e nacional) e nãodo PSDB. A revista Carta Capitalde 17 de setembro chega a afir-mar em matéria de capa que oex-governador de Minas preten-de deixar o partido para formaruma nova sigla oposicionista.

Portanto, resta ao grupo deFHC e Serra manter o controlesobre São Paulo. É fato que ospaulistas são em geral um povoconservador e direitista, paranão dizer, em muitos casos,preconceituoso e até racista.Ainda assim, é difícil acreditarque apenas o conservadorismoe a mentalidade caipira dopaulista sejam suficientes parajustificar a manutenção de Ge-raldo Alckmin, do PSDB, comgrande dianteira sobre os de-mais candidatos e “virtualmen-te” eleito no primeiro turno.Pela pesquisa Ibope de 10 desetembro, o candidato tucanoteria 46% das intenções devoto, frente a 22% de AloizioMercadante do PT, 8% de CelsoRussomano do PP e 2% de Pau-lo Skaf do PSB.

O PT paulista aposta tudo napossibilidade do segundo turnoe conta com bons números paraisso. Afinal, em 2006, contraJosé Serra, Mercadante conquis-tou 31,68% dos votos válidos. Esem grandes escândalos midiá-

ticos associados diretamente àsua candidatura, como foi ocaso dos “aloprados” há quatroanos (estranhamente esse tipo deacusação às vésperas das elei-ções tende a acontecer com maisfrequência nas disputas em queSerra é o maior beneficiado...).Diferente da associação com opresidente Lula que tem ajuda-do muitos candidatos, a únicaligação possível para Alckmin noEstado é com Serra que, de acor-do o Datafalha, teria menos vo-tos do que ele em São Paulo. Aampla coligação que deu a vitó-ria ao tucano em 2006 desinte-grou-se, enquanto Mercadanteuniu em torno de si 11 partidos.E os outros “nanicos” não sãoassim tão pequenos. Os órfãosdo malufismo, não menos doque 10% do eleitorado, devem irpara Russomano, um experien-te repórter com grande desen-voltura em frente às câmeras.Skaf, que apoiou Alckmin parapresidente há quatro anos, é umex-presidente da Fiesp “conver-tido” ao socialismo mas compotencial para ampliar sua baseno empresariado até pelo me-nos 5%. E há ainda Fábio Feld-man, do PV, e legendas comoPSOL e PSTU.

Com tempo igual de TV numeventual segundo turno, Mer-cadante promete desconstruira imagem de bons administra-dores que o PSDB montou coma mídia amiga de São Paulo. Osistema de Metrô da capital fi-cou parado por três horas noúltimo dia 21 de setembro,com passageiros em pânicoquebrando janelas para respi-rar e caminhando pelos tri-lhos. O Estado é o que paga ospiores salários do Brasil paraos delegados da Polícia Civil,que entrou em confronto ar-mado com a PM em frente àsede do governo. A Justiça es-tadual ficou em greve por qua-tro meses esse ano. Os profes-sores foram tratados a casse-tetes e bombas de gás no iní-cio de 2010 e os servidores demodo geral não têm reajusteshá anos. Os pedágios são osmais frequentes e mais carosdo mundo, acabando de vezcom a paciência da classe mé-dia do interior e litoral. A saú-de tem sido privatizada pormeio das Organizações Sociais.Se não bastasse tudo isso, nosseis anos como governador, Al-

ckmin não criou uma única“marca de governo” lembradapela população.

Se a candidata do PT ganharmesmo a eleição no primeiro tur-no (com o atual nível de baixariana imprensa não é impossívelaparecer a mãe de alguém “as-sassinado pela guerrilheira Dil-ma” durante a ditadura) e a dis-puta em São Paulo for para o se-gundo turno, este será sem dúvi-da o próximo campo de batalha.Mercadante tentará se aproximarainda mais de Lula e os futurosbenefícios de uma política maisalinhada à da presidenta Dilma.Marta Suplicy também será umreforço importante para levantaro eleitorado na periferia da capi-tal, muito beneficiada em sua ad-ministração e que está abando-nada desde que Serra e, depois,Kassab assumiram a prefeitura.Mas que ninguém se engane: adireitona paulista vai usar todosos meios mais sujos para manterseu último “bastião de resistên-cia”, incluindo pesquisas frauda-das e manchetes cada vez maisescandalosas. Aí, dedo no olho ejoelhaço abaixo da cintura serãode menos...

*Jornalista

A “bala de prata” damídia antiga em 2006levou a eleiçãopresidencial ao segundoturno. Agora tentam amesma tática para darsobrevida à candidaturade Serra.

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L I V R E O R I E N TA Ç Ã O S E X U A L

Mãos dadas pela visibilidadeTexto e foto

Henri Figueiredo*

O olhar machista da sociedadepatriarcal e a rigidez de costumesculturais ancorados principal-mente na religião, levam um gran-de contingente de mulheres lés-bicas a se tornarem “invisíveis”quando o assunto é a própria ori-entação sexual. Muitas vezes, opreconceito e a discriminaçãoextrapolam o insulto, o menospre-zo e a marginalização dessas ci-dadãs à luz do Estado de Direito ese constituem em perseguição,assédio moral e perda de oportu-nidades de trabalho. Foi o queaconteceu com a bancária Már-cia Cristina Tomé Líbano, 27 anos,que passou a ser constrangidapela gerência do banco onde tra-balhava e, após passar por inspe-torias internas, acabou sendodesligada de suas funções. Comonada de errado foi constatado emsua conduta profissional, Márciafoi demitida sem justa causa coma clássica desculpa da “contençãode despesas”. Tudo porque, se-gundo ela, tornou-se público emseu ambiente de trabalho – umbanco privado do bairro de Cam-po Grande, no Rio de Janeiro –que ela vivia uma relação estávelcom a companheira FernandaSerpa de Oliveira, 33 anos, que écomissária de bordo.

Márcia e Fernanda fizeram par-te da plateia no debate em lem-brança ao Dia da Visibilidade Lés-bica, no Sisejufe, em 31 de agosto.O evento foi promovido pelo Nú-cleo de Gênero e Raça do sindica-to para, de acordo com a diretorasindical Cristina Paiva, “contribuirpara o empoderamento das mino-rias, pautar a situação das lésbicase combater a discriminação”. Odebate contou com a presença deativistas como Virgínia Figueiredo,da Liga Brasileira de Lésbicas; deMarcelle Esteves, do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT; e de PaulaTheodoro, do Movimento D’ELLAS.

Pouco antes do início do even-to, Márcia e Fernanda contaramà Ideias em Revista a sua história.

Elas se conheceram em março de2009 e, meses depois, forammorar juntas. Numa festa de ani-versário, o gerente do bancoonde Márcia trabalhava soubeque ela era lésbica e que Fernan-da era sua companheira. Diasdepois, o mesmo gerente cha-mou Márcia à sua sala, ajustou oterno, e perguntou quem, entreelas, desempenhava o papel de“homem na relação”. “Não res-pondi. Era fim de expediente ehavia colegas passando por ali.Foi bem na época em que eu soli-citei a inclusão da Fernanda nomeu plano de saúde, pela primei-ra vez”, conta Márcia.

A bancária enfrentou dificulda-des para incluir a companheira emseu plano de saúde – o que é facul-tado pela Convenção Coletiva dosBancários do Rio de Janeiro. Ape-sar de apresentar mais documen-tos do que o necessário para com-provar a relação, o banco negou obenefício à Fernanda. A partir daí,Márcia ficou marcada e passou aser alvo de perseguição. Primeiro,o gerente levantou suspeitas sobrea sua movimentação bancária –que se dava em conjunto com acompanheira. Depois, já tendo deresponder à Inspetoria do banco,foi inquirida sobre uma supostafraude que teria acontecido numaconta aberta por ela, em 2008.Márcia desabafou para a inspeto-ra e disse que achava que as ques-tões levantadas contra ela tinhama ver com sua orientação sexual.Depois de ouvi-la, a inspetora soli-citou que reproduzisse, de própriopunho, toda sua história. “Eu con-tei tudo numa folha e meia. Me sentimuito humilhada, saí de lá chatea-da e pensando o que eu faria mi-nha vida. Estava arrasada por terme sentido acusada de algo quenão fiz”, relata

Em 26 de abril deste ano, Márciafoi demitida “por contenção dedespesas”, sem justa causa e semque lhe fosse informado o resulta-do da inspetoria. Por outras fon-tes, que não o seu gerente, elasoube que o relatório da Inspe-toria nada tinha apontado con-

tra ela. Depois disso, Márcia Lí-bano resolveu acionar o Sindica-to dos Bancários e reivindicar suareintegração.

O apoio da companheiraDiante do abalo emocional da

bancária, sua companheira Fer-nanda Serpa foi o porto seguro.“Eu dizia para a Márcia que aqui-lo não podia ficar assim. Tínha-mos de fazer alguma coisa por-que aquilo não era legal. Procu-ramos o sindicato, organizamosum ato em frente à agência, emque foi o Carlos Minc também. Ogerente, que estava na agência,se escondeu e ainda disse aos fun-cionários novos para descerem edizer que falávamos mentira. Issofoi no início de maio. O mote doato era contra a homofobia”, re-lembra Fernanda. Depois disso,alguns ex-colegas de banco fize-ram contato com Márcia temen-do pela integridade física dela,que mora próximo à agência ban-cária em Campo Grande.

Fernanda indigna-se: “Morei12 anos nos Estados Unidos eisso pra mim é um absurdo. Lá,por mais preconceituosas que aspessoas sejam, elas não abrem aboca senão são processadas. Naminha família, minha mãe dá omaior apoio à minha opção. Des-de a primeira vez que falei sobreminha orientação sexual, ela dis-

se que já sabia. Meu pai, que fale-ceu no ano passado, também sa-bia. Sem problemas”. O proble-ma familiar aconteceu com a mãeda bancária. “A mãe da Márcia émuito religiosa, evangélica, achaque nossa relação é coisa do dia-bo”, lamenta Fernanda.

A situação de discriminação eperseguição no ambiente de tra-balho, despertou em ambas, Már-cia e Fernanda, a necessidade dese engajar no movimento LGBT.“Agora a gente está dando a caraa tapa mesmo, mas acho que noBrasil as coisas demoram pra mu-dar porque as pessoas têm muitomedo de fazer qualquer coisa.Não vamos mudar tudo em doissegundos, mas já é o começo. Va-mos pensar em quem é criançahoje e vai viver num mundo me-lhor”, diz Fernanda.

Para a comissária de bordoFernanda, a questão da “visibili-dade”, de se mostrar ao lado danamorada Márcia, nunca foi umapreocupação: “Era natural”. JáMárcia precisava de discrição,pedia cuidado para não se expor.“Depois do que eu passei, issomudou pra mim: sou muito maisaberta. Se tiver que abraçar an-dando na rua, eu vou abraçar,sem medo”, diz a bancária – demãos dadas com a companheira.

*Da Redação.

Fernanda (àesquerda) apoia acompanheiraMárcia –constrangida nobanco em quetrabalhava edemitida semjusta causa devidoa sua relaçãoafetiva

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Max Leone*

O dia 11 de setembro foi omarco na luta contra o precon-ceito no Estado do Rio. Nestadata histórica para o movimen-to LGBT foi celebrado o pactode união homoafetiva entre o su-perintendente de Direitos Indi-viduais, Coletivos e Difusos da Se-cretaria estadual de AssistênciaSocial e Direitos, Cláudio Nasci-mento, e o assistente social JoãoBatista Pereira da Silva. A ceri-mônia no Parque Lage, condu-zida pelo juiz Siro Darlan, repre-sentou um avanço na conduçãoda causa LGBT. O desembarga-dor homenageou o casal ao ci-tar o poeta português Fernan-do Pessoa. “O amor é que é es-sencial, o sexo é só um acidente,pode ser igual ou diferente”,declarou durante a cerimônia.

A Argentina tornou-se aprimeira nação da AméricaLatina a legalizar o casamen-to de pessoas do mesmosexo. No dia 21 de julho, apresidente Cristina Kirschnersancionou a lei que autorizaa união no país. Com a medi-da, do ponto de vista legal,os argentinos acabaram comuma grande polêmica. Alémda Argentina, o casamentoentre pessoas do mesmosexo vigora em vários paísescomo Holanda (2001), Bélgi-ca (2003), Espanha (2005),Canadá (2005), África do Sul(2006), Noruega (2009) e Su-écia (2009). Em 2010, Por-tugal e Islândia também pas-saram a ter lei específica.

Ao assinar a lei, a presiden-te afirmou que “esta não é

Emocionados, Cláudio e Joãotrocaram alianças e declamaram,cada um deles, um texto feito es-pecialmente ao amado e em ce-lebração a um momento especi-al e histórico. Dezenas de pes-soas, entre familiares, amigos,membros da comunidade LGBTe autoridades prestigiaram o ca-samento dos dois. O ex-minis-tro Carlos Minc, deputado esta-dual do PT, e a secretária esta-dual de Cultura, Adriana Rattes,formaram um dos pares de pa-drinhos.

O desembargador Siro Dar-lan fez referências à Constitui-ção Federal para afirmar a im-portância daquele momentohistórico. “A Constituição bra-sileira elegeu o afeto como ele-mento constitutivo da UniãoEstável, portanto o reconheci-mento de uma família dá-sepela presença de um vínculoafetivo. É esse momento de re-conhecimento público da exis-tência desse vínculo afetivo en-tre Cláudio e João que estamoscelebrando com muita alegria”afirmou o desembargador.

A cerimônia contou com apresença de muita gente impor-tante. Os secretários estaduais

de Segurança Pública, José Ma-riano Beltrame, e de AssistênciaAssistência Social e Direitos Hu-manos, Ricardo Henriques, epersonalidades como Rudy Pi-nho e Milton Cunha lotavam oauditório do Parque Lage paraprestigiar o casal.

Música e poemas compuse-ram a atmosfera da cerimôniaque selou a união de Cláudioe João. Coube às atrizes Zezé

Motta e Jane di Castro inter-pretarem canções especial-mente escolhidas pelo casal:Catedral, Case-se comigo eSoneto da Fidelidade. Já a atrizTacila Sousa declamou umpoema que falava do amor in-condicional e Lívio Lopes in-terpretou “Now and forever”.Siro Darlan recitou trecho daepístola de São Paulo que diz“Ainda que eu falasse a línguados homens e dos anjos, e nãotivesse Amor, seria como me-tal que soa ou como o sino quetine...”. Ao fundo podia se ou-vir a voz de Renato Russo in-terpretando a versão imorta-lizada para este texto.

No final da cerimônia houve aproclamação feita por Darlan daunião homoafetiva de CláudioNascimento e João Silva. A ofici-al Sonia Maria, do 6º Ofício, feza leitura resumida da Declara-ção do Pacto de ConveniênciaHomoafetiva. Em seguida os noi-vos e as testemunhas assinaramo documento selando a uniãodos dois e o momento históricopara a comunidade LGBT.

*Da Redação

Um dia histórico para comunidade LGBTCerimônia celebraunião homoafetivaentre CláudioNascimento e JoãoBatista

Siro Darlan:“A Constituiçãobrasileira elegeu oafeto comoelementoconstitutivo daUnião Estável,portanto oreconhecimento deuma família dá-sepela presença deum vínculoafetivo”.

Argentina legaliza casamento homoafetivoexclusivamente uma lei masuma constituição social quepertence aos que construí-ram uma sociedade diversa,formada por todas as clas-ses e credos”. A nova legisla-ção fora aprovada uma se-mana antes pelo Senado ar-gentino. Por 33 votos a fa-vor, 27 contrários e 3 abs-tenções, os senadores auto-rizaram o casamento entregays. A aprovação ocorreuapós vários meses de discus-sões, que resultaram numadas maiores polêmicas já vis-tas no país, abrangendo de-bates a respeito de direitoscivis e questões religiosas.

*Da Redação, com agênciasde notícias

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Gênero e Raça

A senhora podecontar um pouco da sua origem?

Luislinda – Sou filha de umalavadeira e de um motoreiro (émotoreiro mesmo) de bonde,nascida no dia 20 de janeiro del942. Tenho três irmãos, e aosmeus 14 anos minha mãe fale-ceu. Nesta época tive que tomaras rédeas da família pobre quelutava pela educação e saúde daprole. Quando pequena, aindacom nove anos de idade, meuprofessor disse, que era melhoreu parar de estudar e ir fazerfeijoada na casa de branca. Issotudo porque apresentei ummaterial escolar feito de ummaterial inferior ao que ele ha-via pedido. Era um transferidorfeito de madeira pelo meu pai.A escola tinha pedido um deplástico, mas não tinha dinhei-ro para comprar. Fui humilha-da, mas tomei coragem. Voltei

Primeira juíza a sentenciar contraracismo palestra no Sisejufe

Tatiana Lima*

Autora do livro “O Negro noSéculo XXI”, Luislinda Dias deValois Santos – hoje desembar-gadora da 18ª Vara do Tribunalde Justiça do Estado da Bahia –palestrou no evento “A visibilida-de da mulher negra e a relaçãode trabalho”, organizado peloNúcleo de Gênero e Raça, emhomenagem ao Dia da MulherNegra, cuja data é 25 de julho.

Apelidada de “Rui Barbosa deSaia”, “Mandela de Saia” e atéJuíza Maleira – porque não temgabinete e, por isso, anda sem-pre com uma mala levando e tra-zendo os processos e materiaisde trabalho – Luislinda tem his-tória. Aos 9 anos, ouviu de umprofessor: “Se você não tem di-nheiro para comprar o materialescolar, pare de estudar e vá co-zinhar feijoada na casa de bran-co”. A menina deixou a sala hu-milhada e aos prantos. Mas re-tornaria: “Não vou parar. Vouestudar para ser juíza e prendero senhor!”.

Este episódio é um marco nahistória de Luislinda Dias de Va-lois Santos, soteropolitana e fi-lha de Iemanjá. Aos 68 anos, con-ta, nesta entrevista à Ideias emRevista, como transformou pre-conceito racial em motivação,tornando-se a primeira juíza ne-gra e quem primeiro sentencioucontra o racismo no Brasil.

*Da Redação.

e disse que iria ser juíza paraprender ele.

Após a morte da suamãe, como ficou a situação dafamília?

Luislinda – Durante a minhaprimeira infância morei em casade paredes e tetos feitos de pa-lha. Na adolescência, fui traba-lhar no Departamento Nacionalde Estradas de Rodagem (DNER),após a morte da minha mãe, per-cebi que era preciso dar maisconforto ao meu pai e irmãos.Por isso, construí uma casa debloco por cima da casa de taipa,depois comprei uma geladeira,e assim foi. Em seguida, meu ir-mão foi trabalhar na Petrobras,e um dia nos deparamos commantimentos que nunca tínha-mos visto. Meu pai com toda ale-gria suspirou e disse: “Agoraacabou a miséria nesta casa”. Ea vida continuou.

Então, o acesso a edu-cação foi um transformador navida da família?

Luislinda – Certamente. Nes-te meio tempo, fiz alguns vesti-bulares, mas não concluí os cur-sos. Depois, fiz Direito na Uni-versidade Católica de Salvador e

concluí. Até que prestei concur-so para procuradora federal efui aprovada em primeiro lu-gar, mas forças poderosas memandaram para Curitiba, ondecheguei a chefiar a Procurado-ria do DNER, atual Departa-mento Nacional de Infraestru-tura de Transporte (DNIT).Meus irmãos também são pro-fissionais exitosos.

E a magistratura?Luislinda – Em 1984, tornei-

me magistrada da Bahia e retor-nei ao meu estado natal, ondepermaneço na luta com o obje-tivo de ser promovida ao cargode desembargadora [Nota daRedação: ao final de agosto, um mês

depois de conceder esta estrevista,

Luislinda foi nomeada desembarga-

dora do Tribunal de Justiça da

Bahia]. Não importa se a primei-ra ou a última juíza negra, o queconta é que sou lutadora em fa-vor dos excluídos.

Você enfrenta aindapreconceitos mesmo sendo ma-gistrada?

Luislinda – Os obstáculos per-manecem. Mas com garra, ou-sadia e independência, vençotodos eles. Tenho recebido de-

“Os Balcões de Justiça eCidadania e a Justiça Bairroa Bairro tem por objetivolevar a justiça onde o povoestá e precisa, a fim de quenão se faça a justiça com aspróprias mãos.”

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zenas de homenagens, concedi-do dezenas e dezenas de entre-vistas, inclusive à BBC de Lon-dres, gente! TV Globo, TV Recorde fui indicada pelo governo doParaná como representante damulher negra no Fórum Mundi-al das Águas, juntamente comDanielle Miterrand.

Qual é sua missãocomo magistrada?

Luislinda – Tenho proferidopalestras pelo mundo afora. OsBalcões de Justiça e Cidadania ea Justiça Bairro a Bairro têm porobjetivo levar a justiça onde opovo está e precisa, a fim de quenão se faça a justiça com as pró-prias mãos. Além disso, comba-ter o racismo, dentro e fora damagistratura, e tornar a Justiçaacessível a todos são meus desa-fios constantes. Reativei dezenasde Juizados Especiais em muni-cípios da Bahia.

Porque a senhoraescreveu o livro “O Negro no Sé-culo XXI”?

Luislinda – O livro tem comoproposta levar à sociedade bra-sileira e à humanidade a real si-tuação dos negros neste século,demonstrando e provando queo racismo está aí tão vivo quan-to antes. Apenas mudaram asformas de exercitá-lo.

Para a mulher ne-gra, a situação do racismo é mais

latente? Mesmo para a senhora,que tem ensino superior e émagistrada?

Luislinda – Sim. Ainda hojesofro e todos sabem que sofre-mos o preconceito. Por isso digosempre: “Quem quiser saber oque é racismo fique negro ape-nas por 24 horas”. Ainda hámuita barreira para os negros eprincipalmente para as mulhe-res negras no mercado de tra-balho. As negras ganham me-nos, mesmo com igualdade decapacidade. A elas são ofereci-dos serviços que lhes torne invi-síveis, isto é, sempre estão na li-nha de frente dos serviços deexecução e apoio.

No começo, a senho-ra contou como foi humilhadapor um professor? Alguma vez,a senhora teve a oportunidadede reencontrá-lo?

Luislinda – Aquele professorque tanto me humilhou foi omaior responsável pelo meu êxi-to, porque após aquele momen-to de tristeza disse-lhe que seriajuíza e lá voltaria para prendê-lo. Mas ao contrário, na verda-de, voltei para dizer-lhe queaquela altura eu era juíza de Di-reito. Que tal? Na verdade, elefoi ou não o meu grande incen-tivador? Tenho certeza que sim.Mas não consegui dizer nadadisso a ele. Essa foi uma frustra-

ção, porque quando retornei pradizer-lhe do meu sucesso e agra-decer por tudo, ele tinha morri-do. Pena que Deus e meus Ori-xás quiseram assim.

Qual é o sonho de Lu-islinda?

Luislinda – Sonho em ver osnegros no ápice dos Poderes daRepública: Executivo, Legislati-vo, Judiciário. Enfim, sonho queos negros não apenas sejam co-mandados, mas também possamexercer funções de comando edecidir os rumos do país. Porfim, digo a todos: “NAHNU BRA-ZILIYUN, que significa SOMOSTODOS BRASILEIROS”.

FOTO: Nando Neves

As negrasganham menos,mesmo comigualdade decapacidade. Aelas sãooferecidosserviços quelhes torneinvisíveis(...)

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Texto e FotoMax Leone*

Apesar do crescimento do nú-mero de usuários de telefoniamóvel e da grande expansão dainternet nos últimos anos no país,os radioamadores continuam fi-éis aos seus ideais e não temem aconcorrência de modernos apa-relhos celulares, computadorese notebooks. No mês de agostodeste ano, o Brasil passou a ter189,5 milhões de assinantes deserviço móvel, segundo dados daAgência Nacional de Telecomu-nicações (Anatel) e 37,3 milhõesacessaram a grande rede pelomenos uma vez em um mês. Mes-mo sendo poucos os adeptosdesse antigo sistema de comuni-cação – há registro de 32.900 nopaís, os participantes mantêm omesmo propósito: ficarem aten-tos nas ondas dos rádios pararepassar informações a quemprecisa. Mas do que um simpleshobby, o radioamadorismo pra-ticamente “corre nas veias” dosque participam dos clubes de ra-dioamador que procuram usá-loem favor da comunidade.

G E R A Ç Ã O A N A L Ó G I C A

As ondas dos radioamaAdeptos nãotemem crescimentoda internet e datelefonia celularno país. Meio decomunicaçãocontinuacumprindo papelde utilidadepública

“Não temos a concorrênciados celulares e da internet.Acho que vamos além do hobby.Prestamos, sem dúvida, um ser-viço de utilidade pública para asociedade, com a Rede de Emer-gência que existe no país. Emcaso de calamidade pública, fi-camos à disposição da Defesa Ci-vil”, explica Paulo Roberto Mon-teiro Araújo, de 57 anos, presi-dente da Liga de Amadores Bra-sileiros de Rádio Emissão do Riode Janeiro (Labre-RJ) e há 34anos apaixonado pelo sistema decomunicação.

A Rede Nacional de Emergên-cia de Radioamadores (Rener),a que presidente da Labre-RJ serefere, foi criada pela PortariaMinisterial MI-302, de 24 deoutubro de 2001. O seu objeti-vo é o de suprir os meios de co-municações usuais, quando elesnão puderem ser acionados,em razão de desastre, situaçãode emergência ou estado de ca-lamidade pública. Além do Bra-sil, países como Estados Unidos,Japão, México, Espanha, Co-lômbia, Argentina, possuemRedes de Emergência de Radio-amadores, integrada com asautoridades, sempre disponí-veis e operantes, nas situaçõesde terremotos, inundações, de-sabamentos, deslizamentos, in-cêndios florestais, epidemias,furacões, secas, busca e salva-mento de aeronaves e embar-cações e outras.

O diretor financeiro da Labre,Marco Antônio Teixeira de Me-llo, de 66 anos, que desde 1963é radioamador, lembra episódi-os em que atuação dos compa-nheiros foi de grande importân-cia para salvar vidas e socorrerferidos. “Na década de 1960, porexemplo, no incêndio no CircoAtlântico, em Niterói, os radioa-

madores ajudaram muito. Comonaquela época não havia telefo-nes, a Labre montou estações detransmissão no circo e no hos-pital para onde as vítimas eramlevadas. Eram repassadas infor-mações à base aérea do Campodos Afonsos com pedido de me-dicamento para o exterior”,conta orgulhoso.

Outro momento emocionan-te, contam Paulo Roberto eMarco Antônio, aconteceu du-

rante a tragédia do Haiti, quan-do um terremoto devastou opaís mais pobre das Américas.Pelo menos 200 mil pessoasmorreram, 300 mil ficaram fe-ridas, 4 mil foram amputadas,com milhão de desabrigados.Segundo eles, um jovem haiti-ano procurou a Labre paratentar se comunicar com a fa-mília. Foram feitos contadoscom radioamadores em Nite-rói, no Rio Grande do Sul, atéchegar ao Haiti, funcionando

Marco Antônio e Paulo Roberto, da Labre: apesar da expansão da internet

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como se fosse uma verdadeirateia. “Felizmente, o rapaz ob-teve a informação de que os fa-miliares estavam bem, dianteda tragédia que se abateu nopaís”, recorda Marco Antôniocom ar de missão cumprida.

Os dois dirigentes da Labre-RJ buscam outras histórias,como a da ocasião do desliza-mento do Moro do Bumba, emNiterói, onde mais de 30 pesso-as morreram, no mês de abril.

dores continuam fortes

Para eles, a atuação de um ra-dioamador também foi de fun-damental importância no res-gate das vítimas. “Um coleganosso acionou outros compa-nheiros pelo rádio, que repas-saram o pedido de socorro paraos bombeiros e para os hospi-tais”, relata Paulo Roberto, res-saltando que essa é a principalfunção dos radioamadores.

*Da Redação.

– O que o elevou aser radioamador?

Carlos Latuff – Sempre foi umsonho de criança. Me lembrode meu primo brincando comum walkie-talkie, onde a genteconseguia captar transmissõesque na época não sabíamosbem o que era. Sem falar queeu captava radioamadores deRio Pomba (MG) através de umantigo rádiogravador. Maseram os anos 1990, eu era ga-roto, não tinha condições nemde fazer a prova do Dental (hojeAnatel) para me habilitar e mui-to menos comprar um radio-transmissor, que na época erauma fortuna. O sonho ficouadormecido por longos anos.Até que depois de burro velhodecidi fazer a prova e compraro meu equipamento.

– Você acha quecom o expansão da internet edo uso dos celulares, o radio-amadorismo corre risco deacabar ?

Latuff – Certamente houveuma redução significativa deoperadores de radioamadoris-mo. Acessar a internet é bemmais fácil do que falar legalmen-te num rádio-transmissor. Bas-

ta um computador e uma con-ta num provedor e já pode con-tatar pessoas em todo mundo.Para ser um radioamador é pre-ciso passar numa prova da Ana-tel, habilitar um aparelho de rá-dio, obter um indicativo, pagaruma taxa anual, observar re-gras. No entanto, não impor-tando o avanço das novas tec-nologias, o radioamadorismotem suas especificidades. Separa ter acesso à internet vocêprecisa de um provedor, no ra-dioamadorismo só precisa dorádio e antena, daí as ondas ele-tromagnéticas fazem o resto.Em situações de desastre, comoterremotos, onde linhas de te-lefone e internet estiverem ino-perantes, o rádio continua fun-cionando, porque não depen-de de cabos de transmissão. Orádio, portanto, continuarátendo seu lugar, independenteda internet.

– Em que situaçõesvocê usa o rádio?

Latuff – Na maior parte dasvezes “bato papo” com ope-radores do Rio de Janeiro oulevo meu rádio portátil parafazer contato com rádio-ama-dores nas minhas viagenspelo interior de Minas Gerais.

Colaborador de Ideias em Revista, o chargista Carlos

Latuff também está nas ondas do radioamadorismo. O

sonho de menino virou realidade ao se tornar “burro

velho”. Latuff também acredita que o rádio continuará

tendo seu espaço e seu lugar, independentemente da

expansão do celular e da internet. Para ele, os radioama-

dores sempre demonstraram a importância das comu-

nicações, quando chamados para ajudar em situações

nas quais o serviço humanitário e voluntário é colocado

à disposição em benefício da população. (Max Leone)

Realização de um sonho

e telefonia móvel, radioamadores mantêm função de utilidade pública

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– A sua volta paraJoão Pessoa tem tudo a ver como seu ativismo político na áreada cultura. Como tem sido?

Chico César – Depois de 25anos fora, recebi esse chamadoe achei que era um desafio e umaoportunidade para a cidade naqual me formei jornalista. Ago-ra, nessa volta, encontrei uma ci-dade crescida, com uma vida cul-tural diferente da que eu deixei.Tive de fazer um exercício decompreensão e de investigação.Fui despachar nos bairros da pe-riferia para ver o que tinha deprodução cultural. Estou muitofeliz com o trabalho lá.

– Chico, você já foisindicalista?

Chico César – No final dosanos 80, início dos 90, partici-pei de uma gestão no Sindicatodos Jornalistas de São Paulo. Foibacana, as questões econômicasdos dissídios nos chamavammuito para reivindicação. Masmeu maior ativismo políticosempre foi mesmo como artistaalternativo.

– Você não acha difí-cil trabalhar na política justa-mente com a cultura?

Chico César – Rapaz... eu nãosaberia dizer como é ser cientis-ta e trabalhar com tecnologia deponta. Não posso reclamar daminha área. Eu me sinto privile-giado de poder trabalhar com aminha subjetividade, com a sub-jetividade do coletivo, do brasi-leiro. Ao mesmo tempo há umacerta grita por recursos, dinhei-ro... dinheiro não é o mais im-portante. O mais importante éter uma visão, saber o que sequer fazer. A linha mestra donosso trabalho em João Pessoaé inclusão social e acesso à cul-tura. Cultura não para artistas,mas para a sociedade.

– Foi isso que vocêpediu para a candidata DilmaRousseff prestar atenção num

Chico César faz a ponteTexto

Henri Figueiredo*Fotos

Luísa Breda

Um mês depois de ter se

apresentado no Rio interpre-

tando João do Vale ao lado

de Teresa Cristina, o Sisejufe

chamou novamente o cantor

e compositor Chico César à

cidade. Dessa vez para um es-

petáculo com sua banda

completa no Club Municipal,

na Tijuca, na noite de 9 de

julho – dentro do 17º Bote-

quim Especial Festa Julina.

Como o próprio Chico defi-

niu, ao fim do show, foi um

verdadeiro baile com forró,

frevo, xotes e muitos suces-

sos de sua carreira.

Paraibano de Catolé do Ro-

cha, Francisco César Gonçal-

ves, 46 anos, chegou aos 16

na capital, João Pessoa, onde

se formou em jornalismo e,

de lá, partiu para São Paulo

quatro anos depois, aos 21.

Desde maio de 2009, Chico

está volta a João Pessoa, des-

sa vez como secretário mu-

nicipal de Cultura.

Nesta entrevista exclusiva

a Idéias, concedida ao fim

do show Francisco Forró e

Frevo, no Club Municipal,

Chico César fala de política

(ele já foi sindicalista), afir-

ma que dinheiro na arte

não é o mais importante,

assume com orgulho o “ró-

tulo” de cantor de MPB e diz

que o Rio de Janeiro precisa

reencontrar a sua vocação da

diversidade e perceber que

há anos vem celebrando só

o que já é célebre.

*Da Redação.

“O velho reivindica umlugar que não é maisdele. Ou é novo, novo,novo, ou velho, velho,velho. Mas há coisasque fazem a ponte, aligação, e que sãofundamentais. Eu mesinto parte disso.”

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Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010 35http://sisejufe.org.br

encontro, no início de julho, emSão Paulo?

Chico César – Sim, porque osartistas são a ponta do icebergda cultura. Vamos pensar assim:os engenheiros que projetam es-tradas, não as fazem para eles.Fazem para a população. A cul-tura não é para quem trabalhacom cultura, mas para quemusufrui da cultura. No Brasil, éimportante pensar nas manifes-tações culturais de todas as re-giões. E é muito difícil você co-locar recursos para todos, faci-litar o acesso. Essa é uma brigaboa que já começou desde a pri-meira gestão do governo Lula,com o Gilberto Gil no Ministérioda Cultura. Hoje continua como ministro Juca Ferreira. Foramimportantes as conferênciasmunicipais, estaduais e nacio-nais sobre cultura. Acho quequem suceder Lula vai ter quesaber o que as conferências pro-puseram e trabalhar com isso.Há muitos lobbys: de composito-res, de gravadoras, de editoras,disso e daquilo. O mais impor-tante é entender que o País é di-verso, que há manifestações vá-rias e que o dinheiro não é o maisimportante, mas sim as oportu-

nidades de opinar, de participare decidir para onde vão os pou-cos recursos.

– Você, como o Gil-berto Gil, vive o conflito de estarna vida política, com suas de-mandas e responsabilidades, aopasso em que a vida artística ficaem segundo plano?

Chico César – Claro, tenho oconflito. A missão do artista émuito leve. Ganhamos para fa-zer coisas que eu acho até quenão deveriam ser remuneradas.Tocamos e nos divertimos tam-bém. Quando é preciso pensara cultura, formular propostas,discutir com os meus pares etambém lidar com adversidadesé bem diferente. Mas são fases.Acho até que o fato de o Gil terentrado e saído não é sinal deque não deu certo. Ele ficou otempo necessário. Eu não pre-tendo ficar o resto da vida nisso.Inclusive se eu me demorar maisdo que o necessário, o meu pa-pel começa a ficar redundante econtraproducente.

– Você tem um esti-lo, assim como Lenine e Arnal-do Antunes já bem definiram,

de uma espécie de artista “in-classificável”. Você já saiu deSão Paulo para tocar milongasem Porto Alegre com o VitorRamil. Nesta festa do Sisejufe,fez um show de forró e frevobastante acelerado e com umabatida contemporânea. Por issocabe a pergunta: você se vincu-la a alguma tendência artística,ou mesmo a um estilo de mili-tância cultural? Quais são suasvinculações dentro da arte oumesmo da política?

Chico César – Olha, eu me sin-to MPB – que é um rótulo quemuita gente não gosta, mas euacho bom. Para mim MPB vai daBanda de Pífaros de Caruaru aoSepultura. O brasileiro vive mú-sica no seu dia a dia, quandonasce, quando se forma, quan-do casa, quando morre. E nempercebe. Nós temos um papelmuito importante. Hoje aqui noClub Municipal, me senti fazen-do uma espécie de baile – da-queles da minha infância. Foi

“O Rio precisa secolocar de novo navanguarda do País,uma vanguarda queprocura alternativas enão apenas produzpara os turistas.”

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“O Brasil é o País dopassado. Pindorama é aterra do futuro. Temostudo para sermos, emquatro anos, o País doanti-apartheid.”

ótimo. Nem todos os artistas seaproximam de outros criadoresporque não se permitem. Eu mepermito e o Brasil permite essaaventura. Ah, os grandes movi-mentos... bossa nova, tropicalis-mo. O tropicalismo já rompeucom os cânones. Temos de iradiante. Depois da Tropicáliateve Ivan Lins, Djavan, João Bos-co... depois, Luis Melodia, o rockbrasileiro. Lembramos agora os20 anos da morte de Cazuza eouço alguns radialistas dizendoque, depois dele, não aconteceumais nada bom na música brasi-leira. Eu posso citar duas coisasmuito poderosas: o MangueBeat e a música brasileira reno-vada com Zeca Baleiro, PaulinhoMoska, Lenine. Há uma tendên-cia de o velho tentar se perpetu-ar. E o Brasil é tão, tão rico que,

hoje, Cazuza já é o velho! Mas jáhá coisas novas acontecendo,não sei se é a Maria Gadú... ovelho reivindica um lugar quenão é mais dele. Ou é novo, novo,novo, ou velho, velho, velho. Mashá coisas que fazem a ponte, aligação, e que são fundamentais.Eu me sinto parte disso.

– Como você vê a pro-dução musical no Rio hoje e opapel da cidade no cenário ar-tístico do País?

Chico César – Eu acho que oRio precisa reencontrar a suavocação da diversidade. Incluira Zona Norte. Tem muita gente

criando. E no Rio tem essa coi-sa: ou você é mainstream ou équase nada. Há muitos jovenscompositores de MPB que nãoestão sendo gravados pela Ma-ria Rita, por exemplo. Que já fezo papel dela, mas as pessoas sóprestam atenção nos novos queela gravou. Ela deu pistas. Achoque o Rio, por abrigar a RedeGlobo, tem uma tendência a ce-lebrar o que já está se tornandocélebre. Diferente de São Pauloou do Recife que cultuam umacoisa underground. Tem umacena de cantores e composito-res em Niterói, como a SueliMesquita que faz saraus e reúneartistas, que o Rio quase nãoconhece. O Rio precisa se colo-car de novo na vanguarda doPaís, uma vanguarda que procu-ra alternativas e não apenas pro-duz para os turistas.

– Como você vê o Brasilnos próximos quatro anos?

Chico César – O Brasil é o País dopassado. Pindorama é a terra dofuturo. É preciso integrar os rema-nescentes dos indígenas, dos ne-gros para que a gente não se torneuma espécie de Austrália, em que aparte econômica se desenvolve e opovo original fica à margem, discri-minado. Não podemos chegar as-sim à Copa de 2014. Temos tudopara sermos em quatro anos o Paísdo anti-apartheid.

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Reforma Agrária Plebiscito mostra Rio consciente de melhorias na produção

Rio é contra o latifúndio e querlimitação da propriedade da terra

Max Leone e Tatiana Lima*

A população do Rio de Janeiroé contra o latifúndio e a favor dalimitação da propriedade da ter-ra. Mesmo ainda faltando a apu-ração de votos de algumas regi-ões onde o Plebiscito Popularpelo Limite da Terra foi realiza-do no estado, resultado parcialda contagem mostra que 95%dos participantes responderamsim à pergunta “Você concordaque as grandes propriedades deterra no Brasil devem ter um li-mite máximo de tamanho?”. Se-gundo Marcelo Durão, da dire-ção nacional do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Ter-ra (MST) e um dos coordenado-res da campanha no Rio, 30 milvotos deverão ser registradopelos organizadores na totaliza-ção final. O plebiscito no Rioocorreu entre 30 de agosto e 10de setembro. Em todo o paísfoi organizado pelo Fórum Na-cional pela Reforma Agrária eJustiça no Campo (FNRA), como apoio da Conferência Nacio-nal dos Bispos do Brasil (CNBB)e outras entidades da socieda-de civil, como o MST. O Sisejufeapoiouo plebiscito colocandouma urna em frente ao CentroCultural da Justiça Federal.

O segundo item da consultatambém revela, mesmo que comnúmeros não conclusivos, que ocidadão fluminense está consci-ente sobre as melhorias que a li-mitação das grandes proprieda-des rurais traria para a sociedade.Para o questionamento “Vocêconcorda que o limite das gran-des propriedades de terra no Bra-sil possibilita aumentar a produ-ção de alimentos saudáveis e me-lhorar as condições de vida nocampo e na cidade?”, 93% dos quevotaram no plebiscito disseramsim, que acham que a produçãode alimentos vai aumentar com a

limitação dos grandes latifúndios.“Vamos fazer uma reunião de

avaliação nos próximos dias, as-sim que apuração terminar. Te-mos que mandar o resultado daconsulta do estado para a comis-são nacional da campanha até ofim do mês de setembro”, expli-ca Sidnei Luiz Ramos do MST, ar-ticulador da campanha do Rio,ressaltando que o resultado fi-nal do plebiscito realizado emtodo o país será divulgado nosdias 18 e 19 de outubro.

No Rio , um ato político e cultu-ral deu o pontapé inicial à con-sulta, dia 27 de agosto, no audi-tório da Associação Brasileira deImprensa (ABI). A companhia tea-tral Grupo Urbitantes, da UniRio,que promove intervenções urba-nas, abriu o ato com a apresenta-ção “Homem Produto”, que de-monstra como o alto índice deconsumo tem invadido as pesso-as e prejudicado os trabalhado-res que vivem da venda dessasmercadorias. A votação ocorreuem 50 locais diferentes na capitale em Campos, Norte Fluminense.

Mais de 550 urnas foram colo-cadas à disposição dos participan-tes. “Apesar do pouco tempo dedivulgação, consideramos positi-va a participação. No plebiscito daVale tivemos 80 mil votantes. Acha-

mos que se chegarmos a 30 milserá muito bom”, afirma Durão,lembrando que chegou a fazertrês debates no mesmo dia e nomesmo local sobre o tema.

Além do plebiscito, a popula-ção brasileira também foi convi-dada a participar de um abaixo-assinado que continua circulan-do em todo país até o final desteano. O objetivo desta coleta deassinaturas é entrar com um Pro-jeto de Emenda Constitucional(PEC) no Congresso Nacionalpara que seja inserido um novoinciso no Artigo 186 da Consti-tuição Federal que se refere aocumprimento da função socialda propriedade rural. Segundoos organizadores, o plebiscitopopular tem a tarefa de ser, fun-damentalmente, um importanteprocesso pedagógico de forma-ção e conscientização do povobrasileiro sobre a realidade agrá-ria do país e de debater o me-lhor projeto para a população.

A proposta da Campanha Naci-onal pelo Limite da Propriedadede Terra visa pressionar o Con-gresso Nacional para que sejaincluído na Constituição Federalum novo inciso que limite o ta-manho da terra em até 35 módu-los fiscais – medida sugerida pelacampanha do Fórum Nacional

pela Reforma Agrária e Justiça noCampo (FNRA). Áreas acima de 35módulos seriam incorporadasautomaticamente ao patrimôniopúblico e destinadas à ReformaAgrária. Caso a proposta sejaaprovada, apenas cerca de 50 milgrandes propriedades de terraseriam atingidas no país.

Segundo dados do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística(IBGE), a concentração de terrasno país aumentou nos últimos 10anos. Grandes proprietários de ter-ra representam mais de 43% daárea ocupada. Apenas 3% de terrano Brasil são de pequenos propri-etários. O Brasil é o segundo paísno mundo que mais concentra ter-ras, perde apenas para o Paraguai.

De acordo com os estudos pu-blicados no caderno Conflitos noCampo Brasil, da Pastoral, entre1985 e 2009, cerca de 2.700 fa-mílias, em média, por ano foramexpulsas da terra. Assassinadasem conflito pela terra, foram 63pessoas ao ano. Já em relação àsprisões, a média é de que a cadaano, 422 pessoas foram detidasdevido aos conflitos, o que dá emmédia 765 conflitos por ano,mais de 2 por dia.

*Da Redação

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40 Ano IV – número 30 – setembro e outubro 2010http://sisejufe.org.br

A atualidade deMarx e do Marxismo

O Sisejufe e a CUT-RJ, vão promover o curso “Marxismo da III Internacional”.Se você tem curiosidade sobre o tema, esta é a oportunidade.O curso vai debater o contexto histórico, econômico e sócio-político e as principais referênciasintelectuais e políticas do Marxismo da III Internacional; o processo revolucionário na Rússia e aconstrução do marxismo na Alemanha e Itália. Também explicará a participação e ascontribuições de Lênin, Trotsky, Stalin, Bukharin, Kamenev, Zinoviev, Kautsky, Rosa Luxemburgo eGramsci para a história do marxismo.No total, serão dez aulas, entre 11 de outubro a 13 de dezembro. As aulas acontecem sempre às segundas-feiras, das 19h às 22h, no auditório do Sisejufe, na Avenida Presidente Vargas, 509 – 11º Andar.As inscrições já estão abertas. Servidores filiados ao Sisejufe pagam R$ 20.Mais informações pelos emails: [email protected],br, [email protected],[email protected] ou [email protected].

HISTÓRIA, TEORIA E POLÍT ICA

Com a opção de se escolher entre 8 ou 15 dias deimersão no idioma de Cervantes, a viagem deestudos à Argentina acontecerá em janeiro de 2011.O curso será na Expanish Spanish School e o preçoestá incluído no pacote. Trata-se de uma viagem deintercâmbio completo, com hospedagem em casas defamílias argentinas conveniadas à escola (ou seja, 24 horas deespanhol) e passeios no turno da tarde com guia turístico e o professor.A viagem é aberta para quem já fez espanhol ou para quem ainda vaiestudar o idioma.

PACOTE DE 8 DIAS: US$ 1.200 + taxa de embarquePACOTE DE 15 DIAS: US$ 1.500 + taxa de embarque

INFORMAÇÕES E RESERVAS:Luiz Fernando ou Maria Octávia Cunhade segunda a sexta de 10 às 18h.

Guirlanda Viagens e Turismo Ltda.Rua Jardim Botânico, 635 sala 903 – Rio de JaneiroRJ - Brasil - Telefax (021)2275-6081 e 2541-8343www.guirlamda@guirlandatur.com.brwww.guirlandatur.com.br

CURSO DE ESPANHOL

CUT – Sisejufe promovemviagem à Buenos Aires