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Ano II – número 9 – fevereiro/2007 1 MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 - SISEJUFE ...sisejufe.org.br/wprs/wp-content/uploads/2012/08/REVISTA-9.pdf · Ano II – número 9 ... tos de 360 horas/aula. ... regulamentação,

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Ano II – número 9 – fevereiro/2007 1MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Cartas Ninguém pode ganhar um pouquinho a mais, que é considerado privilegiado, um marajá.

Filiado à FENAJUFE e à CUT

SEDE PROVISÓRIA: Senador Dantas 117 -Sala 1541 - Centro - Rio de Janeiro-RJCEP 20031-911

TEL./FAX: (21) 2215-2443PORTAL: http://sisejuferj.org.brENDEREÇO: [email protected]

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira daSilva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavimde Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto daSilva, João Ronaldo Mac-Cormick da Costa,Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújode Jesus, Márcio de Souza Marques, MárcioHungerbühler, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid daConceição, Renato Gonçalves da Silva, Ricardode Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes deSouza Júnior e Valter Nogueira Alves.

IDÉIAS EM REVISTAJORNALISTA RESPONSÁVEL:

Mário Augusto Jakobskind (RJ 13.389/JP)

REDAÇÃO e REVISÃO:Max Leone (Mtb 18.091)

ASSESSORIA POLÍTICA:Márcia Bauer

PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO:Claudio Camillo (Mtb 20.478)

ILUSTRAÇÃO:Latuff

IMPRESSÃO:PALAVRAS PINTADAS Editora e Gráfica Ltda.

(6.500 exemplares)

As matérias assinadas são de

responsabilidade exclusiva dos autores.

PARTICIPE da Idéias em Revista! Mande sua colaboração para [email protected]

Conselho da Justiça regulamenta lei do PCS 2

Proposta do STF facilita remoção dos Servidores

do Judiciário 3

SISEJUFE-RJ faz balanço de 2006 4

Ministros votam contra os Quintos 4 a 6

Nós Imortais – O mundo é de Hades 7

Toda palavra guarda uma cilada 10

Do paraíso ao inferno 8

BBB7, alienação, indivíduo e individualismo 9

O pacto com a morte 10

Contos da guerra do Iraque 11

Cinema e carnaval 12

Reforma agrária 14

Coca-cola: isso faz mal 15

Fórum Social Mundial em Nairóbe 16 a 21

Entrevista com Moacyr Luz 22 a 24

A guerra da água 25

Plebiscito e referendo 26

UNE de volta pra casa 27

Ex-diretores do BNDES processados 28

Lula II: certezas e interrogações 29

Vamos exorcizar el Diablo Bush! 30

Fidel Castro está de pé! E completo! 31

Um convidado muito trapalhão 32

RepercussãoGostaria de parabenizar a todos osque trabalham para que “Idéias emRevista” chegue às nossas mãos. Acada novo número, fico mais satis-feita com a seriedade e o respeitoconferidos a temas que não vemosna mídia convencional. Jornais erevistas, há muitos por aí. Entretan-to, a maioria apenas alimenta osfactóides do momento e trocam as-sinaturas por i-pods, DVDs,faqueiros, etc. Por isso é tão bomreceber uma revista onde podemosler pessoas corajosas que abordamcom propriedades temas tão neces-sitados de discussão verdadeira,corajosa e profunda.

Verlene Tavares - oficial de Justi-ça e servidora da Justiça Federalem Niterói

Onde está a democracia?Vários jornais participaram ativa-mente do golpe de 1964, mas só OGlobo apoiou a ditadura brasileiradurante todo o tempo em que eladurou. Agora este veículo quer darlições de democracia e acusa o pre-sidente da Venezuela de autoritaris-mo? Atualmente o jornal é a favorda democracia, ou apenas maisuma vez defende com unhas e den-tes os interesses dos endinheirados?Já percebi que lá só publica cartasque não tocam nos “podres” dasorganizações. Não é por falta deespaço... mas talvez apenas porcompleta ausência do verdadeiroespírito democrático na conduçãodo periódico.

João Amado - professor

4 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

regulamentação prevê que como adicional de qualificação, umservidor com curso de pós-gra-duação poderá ter um acréscimo

em seu salário básico de 7,5% a 12,5%.No caso de treinamento, o acréscimoserá de 1% para cada 120 horas/aula,podendo chegar a 3% em treinamen-tos de 360 horas/aula. A partir de ago-ra, com o desenvolvimento de carrei-

PCS Portaria prevê adicional de qualificação que varia de 7,5% a 12,5% sobre salário-base paraservidores com curso de pós-graduação.

O Conselho da JustiçaFederal (CJF) aprovou

dia 15 de fevereiro, emsessão ordinária, a

regulamentação parcialda lei 11.416/2006, do

Plano de Cargos eSalários (PCS). Nos

próximos dias, serápublicada a portaria

conjunta do SupremoTribunal Federal (STF),

do Conselho Nacional deJustiça (CNJ), dos

tribunais superiores, doCJF, do Conselho

Superior da Justiça doTrabalho (CSJT) e do

Tribunal de Justiça doDistrito Federal (TJ-DF).

go em comissão ou função comissiona-da e as oficiais de justiça, com funçõescomissionadas. O PCS faculta a opçãopela GAE ou pela função comissionada.Já não há impedimento do pagamentoconjunto da gratificação com a indeni-zação de transporte. A GAE incidirá so-bre a contribuição para efeito de cálculode proventos de aposentadoria.

A Gratificação de Atividade de Se-gurança (GAS) é específica de servido-res que ocupam cargos de analista etécnico judiciário, relacionados às fun-ções de segurança. A manutenção des-ta gratificação está vinculada a partici-pação em programa de reciclagemanual. A carga horária mínima por anofoi estabelecida em 30 horas/aula. En-quanto recebe o GAS, o servidor teráessa contribuição computada nos cál-culos do salário de aposentadoria.

Para efeito de desenvolvimentona carreira, o PCS dispõe que a pro-gressão funcional é a movimentaçãode servidor de um padrão para o se-guinte dentro de uma mesma clas-se, observado o interstício de umano. Enquanto a promoção é a mo-vimentação do servidor do últimopadrão de uma classe para o primei-ro padrão da classe seguinte, desdecumprido o intervalo de um ano emrelação à progressão funcional ime-diatamente anterior

ra, o servidor em estágio probatóriopoderá ter progressão, obedecendo aointerstício de um ano. Antes, só erapermitido após a conclusão do está-gio de dois anos. A portaria regula-mentará também a Gratificação de Ati-vidade Externa (GAE) e a Gratificaçãode Atividade de Segurança (GAS). Osefeitos financeiros serão retroativos, a1º de junho de 2006.

A Secretaria de Recursos Humanosdo CJF deverá realizar, no início de mar-ço, um evento para detalhar os itens.Ainda restam quatro tópicos do PCS aserem tratados: Programa Permanentede Capacitação, remoção, reenquadra-mento e ocupação de função.

Entenda melhor o PCS

O Adicional de Qualificação (AQ)destina-se a servidores em cargo efeti-vo das carreiras de analista, de técnicoe de auxiliar judiciário. Os cedidos sóterão direito ao AQ caso a cessão sejapara órgãos da administração públicafederal. Poderá receber o adicional de7,5%, por ter concluído curso de espe-cialização; de 10%, o mestrado e, de12,5%, se concluiu o doutorado. O PCSnão permite a concessão cumulativa,no caso de o servidor ter feito mais deum curso de pós-graduação. Porém,permite adicionar o percentual por trei-namento ao do curso de pós-gradua-ção. O primeiro é em caráter temporá-rio (válido por quatro anos) e o segun-do, permanente.

A Gratificação de Atividade Externa(GAE) é uma vantagem específica e ex-clusiva de ocupantes do cargo de analis-ta judiciário, área judiciária, oficiais dejustiça, no efetivo exercício das funções.O benefício é vedado ao servidor em car-

“A Gratificação de AtividadeExterna (GAE) é uma vantagemespecífica e exclusiva de ocupantesdo cargo de analista judiciário,área judiciária, oficiais de justiça,no efetivo exercício das funções”

A

Conselho da Justiçaregulamenta lei do PCSConselho da Justiçaregulamenta lei do PCS

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 5MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

o convocar a FENAJUFE, Sér-gio Pedreira informou aocoordenador-geral da Fede-ração, Roberto Policarpo

sobre a reunião do dia 26 de fe-vereiro com os diretores geraisde todos os tribunais superiorese do TJDFT, para discutir a pro-posta apresentada pela comissãointerdisciplinar. A partir dessareunião, disse, seriamconvocadas as entidades paraavaliação.

De acordo com a proposta defi-nida pelo comissão, a transferên-cia para outra localidade se daráa pedido, independentementedo interesse da Administração, eserá admitida também para acom-panhar cônjuge ou companheiro,também servidor público civil oumilitar, de qualquer dos Poderesda União, dos Estados, do Distri-to Federal e dos Municípios, quefoi deslocado no interesse do ser-viço público. Vale assinalar aindaque a remoção será consentidapor motivo de saúde do servidor,cônjuge, companheiro ou depen-dente que viva às suas custas econste do seu assentamento funci-onal, condicionada à comprova-ção por junta médica oficial. E ain-da em virtude de processo seleti-vo promovido na hipótese de onúmero de vagas oferecidas sermenor que o de servidores inte-ressados.

Pelo artigo 4º proposto pelo STF,“a remoção de ofício” é conside-

Categoria Vitória do PCS foi o marco da categoria em 2006. Agora queremos aregulamentação.

O diretor-geral doSupremo Tribunal

Federal (STF), SérgioPedreira, convocou a

FENAJUFE e o Sindjus-DF para debater a

proposta definida nacomissão

interdisciplinar deregulamentação da

remoção e ingresso deservidores no serviço

público e para tratar doenquadramento da Lei11.416/06, do Plano de

Cargos e Salários (PCS).Pela proposta, a

remoção poderá ocorrerpor “interesse da

Administração; a pedidodo servidor, a critério da

Administração,mediante permuta ou,

claro, de lotação”.Todavia, nunca contra a

vontade dosinteressados.

rada como “o deslocamento deservidor entre os órgãos no âmbi-to de cada Justiça especializadaconstantes do § 1º do Art. 2º emvirtude de interesse da Adminis-tração, devidamente fundamenta-do. Ou seja, fica facilitada a trans-ferência dentro do território naci-onal no âmbito da Justiça do Tra-balho (TRT e Varas do Trabalho),Justiça Federal (Varas Federais eTRFs) e Justiça Eleitoral (ZonasEleitorais e TREs). Assim, vaiagilizar e facilitar as permutas.

Pela regulamentação, os funci-onários não podem ser manda-dos de volta para seus estados deorigem a sem justificativa da Ad-ministração. No que diz respeitoà remoção a pedido do servidor,o Artigo 8º dispõe que a remoçãodependerá da anuência da Admi-nistração e ocorrerá mediantepermuta ou claro de lotação.

O SISEJUFE-RJ entende que anova regulamentação facilita otrânsito de servidores no territó-rio nacional e veda a transferên-cia e permuta como punições,assim, é uma regulamentação be-néfica para o funcionalismo

“O SISEJUFE-RJ entendeque a nova regulamentaçãofacilita o trânsito de servidoresno território nacional e veda atransferência e permuta comopunições”

A

Proposta do STF facilita remoçãodos servidores do JudiciárioProposta do STF facilita remoçãodos servidores do Judiciário

6 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

O SISEJUFE faz balanço de 2006 e traça metas para 2007

O ano de 2006 tem uma marca: A Vitória do PCS. Foram muitas viagens, muitos piquetes,assembléias e passeatas até conquistarmos o Plano de Cargos e Salários.

Apresentamos uma síntese das atividades realizadas em 2006 e pontuamos algumas atividades aserem desenvolvidas neste ano. A vitória do PCS foi a marca de 2006. Queremos agora que a

regulamentação, a discussão do Plano de Carreira, o Quadro Único e o pagamento dos passivosatrasados sejam as marcas de 2007.

*Atividades de formação ecultura/2006

O sindicato além de atuar na defesa dosdireitos dos trabalhadores do JudiciárioFederal, também promoveu atividades cul-turais e de formação como:A organização dos Botequins Culturais;A apresentação com ingresso subsidiadodo espetáculo teatral “Parem de Falar Malda Rotina”, com a atriz Elisa Lucinda;

O I Encontro Latino-Americano Raízes daAmérica – Cultura de Resistência;O I Encontro de Agentes de Segurança;O Curso Introdução a História da Arte;Exposições Fotográficas – FSM 2004 porGlória Horta, Angola por Vinicius Souza eMaria Eugênia Sá e América Nativa porRoberto Vamos;I Torneio de Futsal – Taça João Saldanha

Atividades previstaspara 2007

Continuidade do Projeto do Botequim Cul-tural- bimensal;Curso História da Arte Brasileira;Curso de Marxismo;Curso Espanhol e Cultura Latino-Americana;Exposições de fotos na sede do sindicato;Concurso Literário;Festival da Canção – Canta SISEJUFE;II Encontro Raízes da América;Seminário sobre Assédio Moral e Sexual;Seminário de Gênero;Seminário sobre Reforma da Previdência;

Núcleo dos Aposentados ePensionistasO Núcleo teve uma participação ativa nasmobilizações para a aprovação do PCS,com seus representantes viajando para

Brasília, participando das passeatas e dasmobilizações. Além de reunirem-se, sem-pre na última terça-feira de cada mês, paradiscutir questões específicas dos inativos.

Para 2007 as atividades previstas são:Curso de Espanhol;Cursos de informática (convênios);Atividade festiva no Dia do Idoso – 27 deagosto;Almoço dançante;Boletins específicos;Implementação de tele mensagens nosaniversários.

Ações do Departamentode Imprensa:

I - Reformulação da página doSISEJUFE-RJ;II - Edição mensal da Idéias em Revista

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 7MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

III - Continuidade do jornal Que FazerIV - Boletins específicos

PARA 2007I - Continuidade das publicaçõesII - Envio de boletim eletrônico

*Ações do DepartamentoJurídico*

I – Ações Judiciais:O item engloba a elaboração de petiçõesiniciais, com o fim de ajuizamento deações judiciais do interesse coletivo da ca-tegoria, individuais dos associados ao Sin-dicato ou dos membros de sua direção.Foram as seguintes:

Atos nºs 568 e 569/2006 do TRT da 1ªRegião: ação anulatória (à assessoria ju-rídica do Rio de Janeiro)

Imposto de Renda sobre os juros demora dos créditos dos 11,98%: açãojudicial que pretende sua devolução(à assessoria jurídica do Rio de Janei-ro, com possibilidade de ajuizamento,com êxito, em Brasília)

Imposto de Renda sobre o auxílio pré-es-cola: ação judicial que pretende sua de-volução (à assessoria do Rio de Janeiro,com possibilidade de ajuizamento em

Brasília)Integração do Estágio Probatório na pro-gressão funcional: ação judicial para osservidores da Justiça Federal do Rio deJaneiro (à assessoria jurídica do Rio deJaneiro)

Chefes de Cartório do TRE/RJ: ação ju-dicial para o pagamento de pró labore (àassessoria jurídica do Rio de Janeiro)

Chefes de Cartórios Eleitoriais do TRE/RJ:ação judicial contra a discriminação naremuneração dos ocupantes da funçãonas zonas eleitorais do Distrito Federal edas Capitais e do Interior (à assessoria ju-rídica do Rio de Janeiro)

Indenização por ausência de revisão anu-al: ação judicial (à assessoria jurídica doRio de Janeiro)

Incorporação de Quintos até a MP nº2225-45/201: ação judicial (à assessoriajurídica do Rio de Janeiro)

Defesa do B-17

II – Contra o assédio moral:Ação contra a ex-diretora do CCJF (queacabou com seu afastamento).

Ação contra a ex-juíza de Angra (que aca-bou afastada).

III – Intervenções no ConselhoNacional de JustiçaO item engloba as intervenções no Con-selho Nacional de Justiça, por suas mo-dalidades previstas regimentalmente:

Resolução nº 27 do TRF da 2ª Região:procedimento de controle administrativoprovido, para restabelecer o recesso fo-rense entre os dias 20 de dezembro a 6de janeiroIV – Denúncias ao Tribunal de Contasda UniãoA denúncia ao Tribunal de Contas da Uniãofoi uma arma estratégica que revelou po-tencial acima das expectativas, no ano de2006. Foram duas, com uma terceira emelaboração:

Contra o TRE/RJ: denúncia acolhida e es-tendida para todo o território nacional, con-tra a lotação de chefes de cartórios eleito-rais não integrantes do quadro de pesso-al.

Contra o TRE/RJ: a lotação, ainda, de ser-vidores requisitados, fora do quadro depessoal (em elaboração, com ajuizamentoprevisto para o mês de fevereiro de 2007)

Contra o Diretor do Foro da Seção Judici-ária da Justiça Federal do Rio de Janeiro:anulação da Portaria nº 19

8 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

V – Requerimentos AdministrativosTrata-se, no tópico, da elaboração de re-querimentos às administrações dos ór-gãos judiciais, na defesa dos interessesda categoria. Serão sistematizados porórgão ou serão caracterizadas como “ge-néricas”, dado seu alcance geral (é de seobservar que muitos dos requerimentossão resultado de pareceres ou notas téc-nicas, que serão listados abaixo):

Ao TRE/RJ

-Aplicação do art. 22 da Lei nº 11.416/2006-Contra o Ato nº 1.074/2001-Quanto à convocação ad hoc de oficiaisde justiça

Ao TRF da 2ª Região e a sua Seção Judici-ária do Rio de Janeiro-Alteração do horário de funcionamento doTribunal e da jornada de trabalho de seusservidores-Contra a Resolução nº 10, para o pagamentodo auxílio-alimentação na licença por doençade pessoa da família-Contra a Portaria nº 19-GDF/2005, do Diretordo Foro da Seção Judiciária do Rio de Janeiro-Incidência da mensalidade sindical so-bre a parcela recebida a título de atrasa-dos, pela implantação do plano de carrei-ra da Lei nº 11.416/2006

Ao TRT da 1ª Região-Contra os Atos ns. 568 e 569/2006

Genéricas-Juros de mora sobre os 11,98%- Liberação de dirigentes sindicais, com ônuspara o Sindicato

VI – Pareceres e Notas TécnicasAs respostas às demandas da Diretoria doSISEJUFE/RJ são formuladas pela asses-soria jurídica de Brasília por meio de Pa-receres ou Notas Técnicas.

Podem ser relacionadas as seguintes:Roberto Ponciano: quanto ao abonamento desuas faltas, pelo exercício de mandato sindical

Quanto à Portaria nº 19-GDF/2006, do Di-retor do Foro da Seção Judiciária do Riode Janeiro

Quanto à Resolução nº 521/2006 (consig-nação facultativa do plano de saúde)

Sobre o alcance do art. 12 da Lei nº10.475/2002

Sobre a Resolução nº 10 do TRF da 2ªRegião, quanto ao pagamento do auxílio-alimentação na licença por doença depessoa da família

Chefes de Cartório Eleitoral do TRE/RJ,Lei nº 10.842/2004, discriminação entreos ocupantes da função nas zonas eleito-rais do Distrito Federal e da Capitais e doInterior

Licenciamento dos dirigentes sindicais doSISEJUFE/RJ e a Lei nº 8.112/1990

Convocação ad hoc de oficiais de justiçano âmbito do TRE/RJ

VII – Material de DivulgaçãoNeste item são relacionados os arti-gos e notas encaminhadas à Diretoriado SISEJUFE/RJ, para que divulgassesua atuação no campo jurídico/admi-nistrativo:

Notas sobre a denúncia ao TCU, con-tra a lotação de chefes de cartórioseleitorais não integrantes do quadro depessoal do TRE/RJ

Nota sobre o Ato nº 1.074/2001 do TRE/RJ

Nota sobre os Atos nºs 568 e 569do TRTda 1ª Região

Nota sobre a Portaria nº 19-GDF/2006do Diretor do Foro da Seção Judiciáriada Justiça Federal do Rio de Janeiro

Artigo sobre a incidência do imposto derenda sobre o auxílio pré-escolar

Artigo sobre a possibilidade de indenizaçãopela ausência de revisão anual

Artigo sobre a contribuição previdenciáriado aposentado por invalidez

Artigo sobre a incorporação dos quintosaté a MP nº 2225-45/2001

Artigo sobre a incidência de juros de morasobre os 11,98%

Artigo sobre a ação popular contra de-cisão do Conselho da Justiça Federal,quanto aos juros dos 11,98%

Ricardo Quintas Carneiro Rudi Meira Cassel

(*) de Brasília (Cassel e Carneiro Advogados)

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 9MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

orremos nós, simples mortais,ficam nossos nós, atemporais.Ficam as filhas, em busca de umcolo de mãe, fica a mãe-terra, e

a que não mais germina, fica dentrode nós a menina.

Trago em mim o medo do escurodo mundo das trevas, para onde so-mos arrancados volta e meia. É a cri-se que nos transforma, é o amor quenos transmuta. A mãe também é fi-lha e não conheço esta senhora queora me habita. Com disciplina apren-do a entrevistá-la todos os dias, e elanem tem respostas prontas.

Como vou deixá-la agir sozinha,se nasce dentro de mim uma mulhermadura inteira, como quem vem àluz adulta e armada feito Atená guer-reira que fulmina em nome da paz,escudo em punho, bem polido pararefletir Medusas, para espantar me-dos carreteiros de língua de fora queusará como emblema no peito en-quanto alguém tiver receio do en-contro.

Trago no meu coração coleçõesde Medusas assustadas, graias qua-se cegas, juventudes degoladas, doissangues. Sei do amor que petrifica,da circunstância em que fico semfala, e quando falo o outro não meouve, segue conversa afora. Estou àmesa, diante de todos, mas minhavoz não tem eco, penso que digo

Nós Imortais - O mundo é de Hades

mas repito, e alguém finge que nãoouve, ou finge que ouve e se distraiem plena frase.

Queria descansar, viva. ReceberHéstia em minha casa com o fogoaceso, o incenso, a lamparina, a vela,o coração quente, oferecer-lhe umcafé feito na hora em meu fogão delenha, emprestar-lhe cobertas de co-brir pés, e sussurrar em seus ouvidosde deusa meus segredos de família:

– Não quero um marido Zeus quetudo em que toca se multiplica. Queroum companheiro da minha idade quepossua o capacete da invisibilidade,que não voe de manhã antes que eulhe veja o rosto magnífico, deixando-se queimar por óleo ardente.

Não quero quem devora os fi-lhos, prioriza o trono. Do meu in-ferno quero o dono, o que semprenegocia. Não quero um homem feioque passa o dia trabalhando suadoem quentes oficinas. Quero umasina. Estar com Hades, carruagem

tração nas quatro rodas, senhor desi e dos quintos dos infernos, hos-pitaleiro. Quero a realidade subter-rânea, as estradas de terra que osmapas não registram, e até os bonsfilmes do cinema, onde o escuro nostransporta para outros mundos coma certeza de que em duas horas asluzes se acendem e levantamos to-dos, com aquela cara de quem che-gou de viagem longa, de quem saifeliz talvez do transe, acorda de sú-bito depois de sonhos fortíssimos,ou termina de gozar alto feito bi-cho, volta a si, e acha que tem quefalar alguma coisa.

Hoje quero ser querida. Quente,inteira e perseguida. Perséfone, nãoa raptada brejeira, que grita mamãetão baixo que ninguém ouve, mas aSenhora e Soberana das Trevas Ab-solutas que, vamos ser sinceros, éonde passamos a maior parte de nos-sa vida. A íntegra do texto pode serlida em www.nosimortais.zip.net

(*) Servidora do CCJF

Arte Trago no meu coração coleções de Medusas assustadas, graias quase cegas, juventudesdegoladas, dois sangues.

Glória Horta *

M

10 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Arte Decidiu ir ao templo, onde estaria em comunhão com Deus em busca de consolo e forças

ançou um olhar panorâmico nasfilas de cadeiras. Depois, resoluta,se sentou ao meu lado. O garotode uniforme colegial foi para a

proa. A barca fazia aquela curva lentapara Niterói, quando a passageira come-çou a desfiar sua história, sem mais nemmenos, como num velho papo entreamigas. Ainda jovem, Ruth conheceraum homem maravilhoso. Recém-saídode um seminário, ele entrou para a mes-ma igreja batista freqüentada por ela e amãe. No ano seguinte estavam casados.A coincidência de fatos positivos faziade suas vidas um mar de bênçãos:Ezequiel, além de bem sucedido na vida,era amoroso e dedicado. Licenciado ovelho pastor, ele foi investido no cargo,sem abandonar a gerência do bancoonde trabalhava. Tiveram um filho. En-fim, a bem-aventurança.

A mãe, agradecida, se dizia segura efeliz sob a proteção do genro. Sem que-rer incomodar, Ester trabalhava comozeladora do templo e continuava moran-do em sua própria casa.

Certa sexta-feira, ele chegou do traba-lho quase às dez. Tinha se distraído noaniversário de um subordinado. Tudo bem.Para que tempestade em copo d’água?

E tudo continuaria bem, não se repe-tissem essas sextas, as desculpas, o sexomorno, o desinteresse. Chorava escon-dida. Não queria fazer drama. Hesitouem contar à mãe: a pobre, agora viúva,tinha sofrido o diabo na mão de ummarido infiel. Mas, roída pelo ciúme,acabou por desabafar. Ester aconselhoua filha a pôr de lado as suspeitas.

– Você tem sorte de ter um mari-do como Ezequiel, um varão deDeus, glorificou.

Fazia calor na no sábado em que sefestejaria o aniversário da igreja. Oito da

Do paraíso ao inferno

noite e nada de Ezequiel. Ruth, angusti-ada, decidiu ir ao templo. Estaria vazio,mas ali, em comunhão com Deus, bus-caria consolo e forças.

No salão do culto, admirou alimpidez dos vitrais, as cortinasimaculadas, a toalha de renda cobrindoo púlpito. A grande cruz rústica reluzin-do de óleo de peroba. Ali, de joelhos emsolo sagrado, receberia, sem dúvida, apalavra inspiradora.

Estranhamente, em vez da voz doEspírito Santo, ouviu um leve barulhovindo lá de trás. Curiosa, se ergueu edeu uma olhada, primeiro na tesoura-ria, depois nas outras dependências. Porfim, entrou na saleta onde os recém-con-vertidos vestiriam as roupas brancas.Subiu os degraus estreitos de cerâmica,rentes à parede, que levavam à pequenapiscina retangular, onde o pastor reali-zava os batismos.

Do topo, viu o casal semi-imerso naágua transparente. A eloqüência do relatome fazia coadjuvante da cena. O homem

recostado nos degraus do reservatório. Aparceira, de bruços sobre ele, o enlaçavaapoiando o rosto no aconchego peludodo peito. O ondear tardio e revelador daságuas. Pela beatitude dos corpos nus e sa-ciados, sogra e genro talvez nem mereces-sem ser expulsos da congregação.

Porém um grito doido, seguido deoutros e mais outros, varou as paredesdo santuário e ganhou a ruazinha, as-sustando os moradores. Agora ecoavaali e se fundia com o impacto da barcacontra o píer, mesclava-se ao ruído dospassageiros se movimentando para asaída, ao assobio de outra embarcação.

Ruth, já em pé, continuava com osolhos pregados em mim. Seus lábios semoviam, mas eu não conseguia enten-der as palavras. Talvez falassem da féque se escoara no ralo do batistério. Deu-me as costas e desapareceu no balançodo cais. Lá fora, ainda a vi, de mãos da-das com o filho, atravessar a rua

Marlene de Lima *

L

(*) JF Rio Branco

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 11MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Opinião É o “mercado da competição”, onde o importante é sorrir, dizer bom dia emeter a faca na primeira oportunidade

O BB7, a alienação, o indivíduo e o individualismoLaerte Braga *

uem se der ao trabalho de prestaratenção à cobertura do BBB7 vaiperceber que toda a mídia, semexceção, cuida do programa. O quevale dizer: os próprios concorren-

tes da Rede Globo. Entrevistas,colunistas “analisando” os protagonis-tas, enfim, todo um processo deenvolvimento que tem e cumpre um úni-co objetivo: alienar e exacerbar o indivi-dualismo, condição básica para as con-junturas políticas, econômicas e sociaisno Brasil e no resto do mundo.

A mídia chegou à conclusão que podetransformar as mais glamurosas boates,aquelas em que o público se acostuma aver nas novelas, com mulheres sofri-das, ou sonhadoras, com dramas semmedida, despertando compaixão e quevolta e meia uma e outra terminam bem.Quase sempre, arranjando um fazendei-ro ou empresário rico.

O BBB7 é só isso. Homens e mulhe-res vendendo a idéia de gente normal,desejo de vitória, de sucesso, disputamR$ 1 milhão, vantagens outras como ce-lebridades por algum momento. Propor-cionam um faturamento impressionan-te aos patrocinadores e mantêm as pes-soas longe e distantes da realidade, decada falcatrua diária do poder.

A mídia é o instrumento de um pro-cesso muito bem arquitetado de aliena-ção e de transformação do ser humanoem objeto. Você compete com educa-ção, com respeito, que não existem. Osmeandros mostram a mesquinharia decada personagem. É o que vendem e ins-talam como se programas de computa-dor fossem nas pessoas robôs.

A convicção que tudo depende devocê é o primeiro passo. O você pode.Para, logo em seguida, pode mas não temalternativa, tem que ser assim. Pronto,você está dominado. Surge a verdadeabsoluta que entra em sua casa disfarçadade sucesso e poder (nem tanto), todosos dias em horário nobre. E se quisertem pacote na tevê paga para bisbilhotara casa o dia e a noite inteiros.

É fácil constatar isso. A perda total daidentidade das pessoas. Você vira número,aceita realidades únicas, como se fossemverdade. Você se sujeita a toda a sorte dehumilhações. Acredita lutar por você e bus-

cando liberdade (que não existe, pois estásendo destruída, é isso que querem). Suge-rem que você é parte de um novo mundo.

Não há como reagir? Uma realidade daqual não se pode fugir? Como não? Por quenão? Se olharmos à nossa volta são, den-tre outros, fenômenos que resultam dis-so: o “mercado da angústia”, visível nocorre-corre de cada dia e que é conseqüên-cia da exploração do poder humano. É o“mercado da competição”, onde o impor-tante é sorrir, dizer bom dia e meter a facana primeira oportunidade e a implantaçãoem você, em todos, do chip. Não faça nada!Corra para casa nas folgas e se prepare paraos embates das segundas às sextas.

O BBB7 consegue alienar de tal formaque com toda certeza menos de um 1%das pessoas saberá responder quantos

morrem diariamente no Iraque. Ou defome. Ou quantos estão mergulhados nadepressão gerada pelo sistema da verda-de absoluta. Ou quantos suicídios em cadacanto do mundo ocorrem todos os dias.O que estão fazendo, num contexto geraldo qual o BBB7 é parte em todo o mundo,é que você acredite que tudo depende sóde você e o outro é problema e atrapalha.

Mas há quem reaja e há quem sobre-viva. Não importa o preço. Desde quenão perca a capacidade de amar e repar-tir. De compreender e viver. Ou até demorrer, faz parte da vida. Mas que lute enão aceite o chip da alienação/individua-lismo que amedronta cada dia mais

(*) Servidor da Justiça Militar, MG, filiado aoSITRAEMG

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12 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Opinião Quando crimes tão bárbaros são cometidos há uma reação coletiva irracional. É o que ocorreagora, quando se pede a pena de morte para os assassinos do pequeno João Hélio.

uando um índio pataxó foi quei-mado, enquanto dormia, parao divertimento de rapazes daalta classe média brasiliense,

respeitável juíza do Distrito Federalquis desclassificar o crime, a fim deevitar que fossem levados ao tribunaldo júri. Muitos se mobilizaram, a fimde desculpar os assassinos. Eles esta-vam apenas querendo “brincar” como índio. Depois se soube que os rapa-zes foram privilegiados na prisão: umdeles saía para o curso universitárioe, entre o fim das aulas e o retorno auma cela especial, tomava cervejacom os amigos.

É claro que nos revolta muito mais amorte de uma criança de seis anos, daforma brutal como se deu, do que a exe-cução de duas pessoas de meia-idade,e a de um remanescente dos bravos

O pacto com a morte

tapuias do litoral da Bahia. O que cho-ca, ainda mais, no caso do menino JoãoHélio, é a extrema precariedade da vidanas grandes cidades. Morre-se sem ne-nhuma explicação, como se todos nósandássemos com uma pistola carrega-da, jogando a roleta-russa. Quandomenos se espera o dedo invisível dascircunstâncias dispara o gatilho.

Se a mãe do menino houvesse pas-sado pelo local cinco minutos antes,ou cinco minutos depois, talvez nadativesse ocorrido. Ao sair do centro es-pírita naquele exato momento e aoescolher aquele trajeto, ela estava,para seu desespero, entregando o fi-lho ao despropositado martírio.

Todos nós nos sentimos atingidospelo crime, mas não temos a mesmacarga de sofrimento e de ódio dos paisdo garoto. Eles têm todo o direito deexigir punição mais severa para os cri-minosos – até mesmo a morte – inclu-ída a do menor que participou do as-sassinato. Se pensarmos no que senti-ríamos se isso ocorresse a qualquer umde nós, não há limite para o ódio, nãohá como conter o desejo de vingança.Qualquer pai seria capaz de matar oassassino do filho, ou da filha, comotem ocorrido. A senhora, que matou a

facadas o adolescente que violentaraseu filho pequeno, fez o que muitosde nós seríamos capazes de fazer.

Quando crimes tão bárbaros são co-metidos há uma reação coletiva irracio-nal. É o que está ocorre agora, quandose pede a pena de morte para os assassi-nos do pequeno João Hélio. E essa rea-ção é tão mais despropositada quandoparte de alguns dos mais poderososmeios de comunicação de massa emnosso país. É o momento da desforra departe da classe média contra os que de-fendem os direitos humanos. Jornalis-tas e parlamentares recorrem a adjeti-vos fortes, arregalam os olhos, gesticu-lam, pedindo que o Estado exerça vin-gança implacável contra os assassinos.

Eles se esquecem de que todos nós,criminosos ou não, já estamos conde-nados à morte. E se esquecem de quea execução de qualquer criminoso, sejajovem ou velho, não é exatamente umcastigo. A agonia de um condenadodura, quando muito, alguns segun-dos. Depois disso, é o nada. A prisãopor bom tempo, nas condiçõescarcerárias do Brasil de hoje, talvez sejapunição bem pior do que a morte

Mauro Santayana

Quando uma jovem daalta classe média paulista

– Suzana Richthofen –planejou e participou doassassinato de seus pais,

trucidados, enquantodormiam, a golpes de

barras de ferro dados pelonamorado e o irmão dele,ninguém pediu a pena de

morte para a moça. Aocontrário: surgiram

comunidades deinternautas, dizendo que

a amavam.

Q

(*) Agência Carta Maior

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 13MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

(*) Servidora da Justiça Federal

14 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Arte Toda expressão cultural pretende passar uma mensagem. As do cinema americano edo carnaval brasileiro são de otimismo, esperança e felicidadeNossa História

iver não é fácil, e quan-to a isso, todas as soci-edades trataram de ar-rumar anestésicos que

tornem suas existências maisleves e palatáveis. Aqui, nosesbaldamos no ritmo e no es-pírito do carnaval. Os norte-americanos se deliciam como cinema. À primeira vista, ci-nema e carnaval não têm nadaa ver, exceto pelo fato dapremiação do Oscar e do feri-ado de carnaval ocorreremmais ou menos na mesmaépoca. Contudo, ambas pro-vocam as mesmas reações:esperança e encantamento.São os ópios de seus povos.

O carnaval, festa do povo,orgia de ritmos, explosão decores e sensualidade traduzuma herança sócio-cultural-étnica do brasileiro. Reflete osentimento de um povo quenasceu para a felicidade, masvive no sofrimento do ganha-pão-nosso-de-cada-dia, das injustiças edesigualdades. É a celebração da vidaabençoada e ansiada em sua plenitude,o grito do oprimido, a liberdade do es-cravizado, a esperança do deserdado.

Já o cinema norte-americano tem seuvalor. A mensagem é muito clara: o mun-do é feliz e a humanidade tem salvação.Você sai leve e feliz da sessão.

Ainda que um tanto inverossímeis,os finais felizes fazem parte dessa cul-tura (alienante, vá lá), assim como oextravasamento e a esperança do pró-ximo carnaval fazem parte da nossa re-alidade. E qualquer crítica quanto aesse aspecto é injusta. Há, todavia, crí-ticas excepcionais, como a de WoodyAllen, que soube fazê-la com todobrilhantismo e sensibilidade em “RosaPúrpura do Cairo”.

A disseminação do cinema coincidiu

Cinema e carnaval

com a crise dos anos 30, nos EUA. O povoestava desiludido e precisava acreditar. Ocinema trouxe esperança. A fórmula deucerto e o hábito do final feliz acabou seperpetuando. Já o nosso carnaval remon-ta a épocas mais remotas, vertido a san-gue, suor e lágrimas dos escravos, queteriam “direito à uma alegria fugaz, umaofegante epidemia” (Vai Passar, Chico).Entoa o libelo derradeiro da esperança e

da humildade, formadoras da es-sência mestiça e enriquecida denossa gente. E como todo bomópio, o carnaval tem sua parcelade alienação.

Ninguém tem coragem deviver o carnaval todos os dias. Enão me refiro à esbórnia, mas àatitude. Coragem de ser feliz, deassumir-se, de tolerar, de perdo-ar. O brasileiro vive se conten-do, que nem na música doChico: “tô me guardando praquando o carnaval chegar”..., edepois, quando acaba a efêmeracomemoração, retorna ao grisde duros cotidianos, como na“Marcha da Quarta-feira de Cin-zas”, de Carlos Lyra: ”...acabounosso carnaval, ninguém ouvecantar canções, ninguém passamais, brincando, feliz, e nos co-rações, saudades e cinzas, foi oque restou”... Temos saudadesde tudo o que não conseguimosser, mas que conseguimos pres-sentir na breve dormência dosonho do carnaval.

Enfim, toda expressão cultural pre-tende passar uma mensagem. As do ci-nema de Hollywood e do mais puro car-naval brasileiro são de otimismo, espe-rança e felicidade. E os sentimentos in-duzidos, seja por uma sessão de cine-ma, seja por um feriado de carnaval, sãode expectativa e saudade de algo quenão fomos ainda. Os americanos têm asensação que, não importa o que acon-teça, no final tudo acaba bem. Só até ofinal da sessão. E nós, no carnaval, sen-timos as “baterias recarregadas”, a féinabalável que o mundo vale à pena eque a felicidade vai contagiar a todos,indiscriminadamente. Só até a Quarta-feira de Cinzas. Mas a questão é quetodos saímos com a vaga impressão deque poderíamos ser melhores

(*) Servidora da Justiça Federal

Clarisse Faria *

“Toda expressão culturalpretende passar umamensagem. As do cinema deHollywood e do mais purocarnaval brasileiro são deotimismo, esperança efelicidade”

V

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 15MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Mulheres O Brasil deve seguir o mesmo caminho, abrindo este procedimento para a América Latina

ortugal realizou um referendopopular sobre a despenalizaçãodo aborto no país. A votação foidia 11 de fevereiro deste ano. A

campanha do “sim” venceu com 60%dos votantes, contra 40% para o“não”. O próximo passo, agora, é aaprovação da lei na Assembléia da Re-pública (mais detalhes no sítiowww.esquerda.net). No mundo, aUnião Soviética foi o primeiro país adescriminalizar o aborto, em 1920,os países escandinavos na década de30, a Europa Ocidental na década de70. Na América Latina, em alguns pa-íses do continente africano e em na-ções muçulmanas ainda vigora a pe-nalização da mulher que interrompea gravidez.

Atualmente, no Brasil o aborto éconsiderado crime, exceto em duas si-tuações: de estupro e risco de a mãeperder a vida. Tramita no CongressoNacional um anteprojeto para alteraro Código Penal, incluindo uma tercei-ra possibilidade quando da constata-ção de anomalias fetais. Seria mais umprojeto pela descriminalização doaborto no nosso país.

O governo federal, por meio da Se-cretária Nacional de Políticas para aMulher, criou uma Comissão Tripar-tite (governo, Congresso e sociedadecivil) para o estudo sobre a revisão dalegislação que prevê medidas puniti-vas contra as mulheres que se subme-tam a abortos. É uma demanda apro-vada na I Conferência Nacional de Po-líticas para as Mulheres, realizada em2004. O evento contou com a partici-pação de mais de 120 mil mulheresde todas as regiões do país, um nú-mero significativo de companheiras

Portugal faz referendo popular eaprova despenalização do aborto

que discutiram políticas públicas vol-tadas para nós.

O movimento feminista defendeque a descriminalização do abortonão deve ser considerada um métodocontraceptivo, mas sim o direito damulher de decidir sobre o seu corpo.Segundo Nalu Farias, coordenadorada Marcha Mundial de Mulheres, “an-ticoncepcionais e educação diminu-em o número de abortos, mas não eli-minam a gravidez indesejada. Há umconjunto de elementos opressores so-bre a mulher, o padrão de sexualida-de é muito mais definido pelos ho-mens”.

– Elas muitas vezes não têm to-tal autonomia sobre quando ecomo a relação sexual ocorre. Exis-te uma hipocrisia nesta crítica con-tundente – avalia.

Estima-se que no Brasil ocorramde 750 mil a um milhão de abortos

clandestinos, em média 240 mil mu-lheres são internadas no SUS vítimasde abortos inseguros e essa é a quar-ta causa de morte materna no país.O aborto deve deixar de ser vistocomo um crime ou pecado para pas-sar a ser encarado como um direitoda mulher, uma questão de saúdepública e de justiça social, já quemulheres com mais recursos finan-ceiros fazem abortos seguros em clí-nicas clandestinas. Quem sofre asseqüelas são as mulheres pobres,principalmente negras e jovens.

A legalização do aborto deve viracompanhada de medidas educativase um amplo acesso a métodos con-traceptivos. Portugal, com esta medi-da, “já pertence ao século XXI e à Eu-ropa”, afirma Francisco Louçã. O Bra-sil deve seguir o mesmo caminho,abrindo este procedimento para aAmérica Latina

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16 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Ministério do DesenvolvimentoAgrário (MDA) e o Instituto Na-cional de Colonização e Refor-ma Agrária (Incra) informaram

que nos últimos quatro anos 381.419famílias foram assentadas, em 2.343projetos, totalizando 31,6 milhões dehectares. A área destinada à ReformaAgrária e o número de famílias assen-tadas de 2003 a 2006,segundo osdois órgãos, representa o melhor de-sempenho da história do Incra, emseus 36 anos de atuação.

A média anual de famílias assen-tadas nos últimos quatro anos é de95.355. Somente em 2006, foram cri-ados 717 projetos de assentamento,em 9.402.089 hectares, para benefi-ciar 136.358 famílias. O incrementonos recursos destinados à obtençãode terras é expressivo nestes quatroanos, passando de R$ 409 milhões em2003 para R$ 1,37 bilhão em 2006,com condições para o cumprimento

Reforma Agrária Segundo o governo, os recursos destinados à obtenção de terras chegouR$ 1,37 bilhão em 2006.

Mais de 380 mil famílias foramassentadas em quatro anos

das metas de assentamento definidasno II Plano Nacional de Reforma Agrá-ria (II PNRA). No total, em quatro anos,foram aplicados R$ 4,1 bilhões na ob-tenção de terras.

A qualificação dos assentamentosfoi priorizada, por meio de investimen-tos de mais de R$ 2 bilhões. Os recur-sos foram aplicados, por exemplo, naconstrução de estradas. Desde 2003,foram construídos ou reformados maisde 32 mil quilômetros de estradas epontes, beneficiando diretamente 197mil assentados.

Outra conquista da Reforma Agráriaé o acesso ao conhecimento. Com o Pro-grama Nacional de Educação na Refor-ma Agrária (Pronera), o governo federalafirma que garante o acesso à educa-ção entre os trabalhadores rurais, pormeio de 141 cursos. Os assentamentostambém ganharam, nos últimos qua-tro anos, acesso à luz elétrica em umaparceria do MDA/Incra com o Ministé-

rio de Minas e Energia. Maisde 132 mil famílias em 2.300assentamentos já foram bene-ficiadas com o Luz para To-dos.

Um significativo cresci-mento também foi registra-do, segundo o ministério, nosrecursos destinados aos cré-ditos de apoio e instalação.Os montantes investidos pas-saram de R$ 191 milhões em2003 para R$ 871,6 milhõesempenhados em 2006. Alémdisso, o número de famíliasassentadas beneficiadas comassistência técnica cresceusignificativamente no Brasil,assegura o Incra. Em 2006, onúmero de famílias atendidas

foi superior a 555 mil.Outra importante ação implementada

nesta gestão, segundo levantamento dogoverno federal, foi a mudança na quali-dade da gestão do Incra, como o fortale-cimento institucional da autarquia, coma realização de concurso público, o au-mento no número de superintendênciase sua modernização tecnológica. Foramnomeados 1.300 servidores aprovados noconcurso realizado em 2005, o que so-mado aos nomeados desde 2003 totalizamais de 1.800 novos servidores, repre-sentando um aumento de mais de 40%na sua força de trabalho.

A relação completa dosbeneficiários da Reforma Agrária emtodo o país durante o ano de 2006deverá estar disponível em breve paraconsultas no endereço do Incra nainternet: www.incra.gov.br. Na lista,constará o nome de cada assentado, onúmero da carteira de identidade e alocalização do assentamento

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Ano II – número 9 – fevereiro/2007 17MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

odo o mundo sabe que depois de"OK" a palavra mais entendida nomundo é Coca-Cola.

Calcula-se em US$ 68 bilhõeso valor da marca. Quer dizer, mais doque o triplo das vendas damultinacional. Em mais de 200 países,as pessoas matam a sede diariamentemais de um bilhão de vezes com pro-dutos Coca -Cola. No total são 90 bi-lhões de litros por ano.

O que pouca gente sabe é que pordetrás dessa multinacional existe umlado obscuro. A Coca Cola é a primeiraempresa em termos de repressão e ex-ploração do movimento operário. Em20 de julho de 2001, o sindicato co-lombiano Sinaltrainal apresentou naFlórida, com o apoio da estadunidenseUnited Steel Workers of America e aInternational Labor Rights Fund, umademanda contra a empresa e seus só-cios na Colômbia, em que afirma queesquadrões da morte paramilitares,que cometeram assassinatos, seqües-

Direitos Humanos A ficha corrida da multinacional é longa. Há acusações de assassinato, exploraçãode trabalho infantil e degradação do meio ambiente em todo o mundo

Coca-Cola: isto faz um mal

tros e torturascontra membros do sindicato, o fi-

zeram como agentes da multinacional.Cinco sindicalistas foram assassinadose outros 65 ameaçados de morte. Maisde 1.800 sindicalistas foram mortos naColômbia na última década.

A Coca-Cola é acusada de degradaro meio ambiente. A britânica BBC co-mentou que ela contaminou, em2003, grandes superfícies agrícolas nosudoeste da Índia com produtos quí-micos tóxicos e cancerígenos, como ochumbo e o cádmio. Advertiu amultinacional sobre o seu exageradoconsumo de água, que provocou umaseca com conseqüências catastróficaspara a agricultura local.

A ficha corrida da empresa é longaem todo o mundo. Em 1985 se apro-

O que deveria ser uma simplesbebida refrescante, pode provocarsérios problemas à saúde. A “Coca

Light", por exemplo, que usaderivados de açúcar, ou açúcar

sintético em grandes quantidades,provocaria danos cerebrais, perda

de memória e confusão mental,segundo a Associação Mexicana

para Defesa do Consumidor(Amedec). A substância que

provoca estes males é o aspartame,que poderia contribuir para o

desenvolvimento do Mal deAlzheimer. Os componentes

químicos do aspartame têm outrasconseqüências graves por um

consumo excessivo, como danos àretina e ao sistema nervoso.

priou de 78.914 hectares de terras emBelize para colocar uma mega planta-ção de cítricos que seriam processadosna Flórida. Em 1999, em Kerala (Índia),a Coca-Cola destruiu plantações agrí-colas extraindo, diariamente, 1,5 mi-lhões de litros de água subterrânea,até que a Suprema Corte proibiu a ati-vidade. Em 1999, na Polônia, foi con-denada por venda de bebidas conta-minadas com fungos. Em 2000, nosEstados Unidos, foi multada em US$192 mil por práticas de discriminaçãoracial. Em 2002, no Paquistão, foto-grafaram práticas de exploração do tra-balho infantil, empregando criançaspara cozer bolas de futebolpromocionais. Em 2002, na Índia, aca-bou condenada pela Corte Supremapor desastre ambiental, ao pintar pu-blicidade gigante diretamente sobrerocha no Himalaya.

Em 2003, nos Estados Unidos, aCoca-Cola despediu 3.700 empregados.Mas pagou bônus por produtividade deUS$ 8,4 milhões a seis funcionários demais alto escalão. Em 2004, em El Sal-vador, usou crianças para cortar cana-de-açúcar, em jornadas de até nove ho-ras com uso de foices sob sol escaldantee sem nenhuma cobertura sanitária

“A Coca-Cola é acusada dedegradar o meio ambiente. Abritânica BBC comentou que elacontaminou, em 2003, grandessuperfícies agrícolas no sudoesteda Índia com produtos químicostóxicos e cancerígenos, como ochumbo e o cádmio”T

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FOTOS: Ana Cristina Lima

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sétima edição do Fórum SocialMundial (FSM), na capital doQuênia, Nairóbi, representou umaoportunidade única para que as

multidões reunidas no gigantesco Cen-tro Internacional de Esportes, no distan-te distrito de Kasarani, a uma hora deônibus do centro, expusessem as inú-meras reivindicações dos 53 países afri-canos. De fato, o FSM

foi centrado, basicamente, natemática africana. A distância e os altoscustos do deslocamento até a África Ori-ental diminuíram, drasticamente, ocomparecimento de um maior númerode participantes latino-americanos easiáticos. Já as delegações dos países ri-cos do Primeiro Mundo compareceramem bom número.

Mas sem dúvida a grande maio-ria dos cerca de 70 mil participantesera africana. É fato também que asONGs ocidentais pautaram muitos

Fórum Social Mundial Neste começo de século 21, com a escassez de petróleo e o avançodo fundamentalismo islâmico, a África ressurge com força

ÁFRICAum continentepede passagem

debates em torno de temas como adívida dos países africanos para comos países ricos; as epidemias de fe-bre amarela, malária e Aids; a ques-tão polêmica da privatização daágua; além de temas tabus para amaioria dos africanos, como os di-reitos dos gays e lésbicas. Isto semdeixar de lado os graves problemasambientais africanos.

O FSM africano também enfrentousérios problemas de organização. Masconseguiu vencer todos os obstáculos.Os organizadores talvez não tenhamdado conta de que, neste ano de 2007,o Quênia entrou em processo eleito-ral presidencial. Este fator, mais os per-manentes conflitos armados na vizi-nha Somália, a par da forte instabili-dade de outros países vizinhos, comoo Sudão, tiraram um pouco da tran-qüilidade necessária para o desenro-lar dos debates, conferências, seminá-rios e marchas de protesto. Tudo ficoumuito concentrado em Kasarani, comoque isolando o Fórum Social Mundial

do restante dos cerca de 4 milhões dehabitantes de Nairóbi.

O que chamou a atenção dos jorna-listas internacionais presentes, comoeste veterano repórter, foi o notável avan-ço da República Popular da China naque-le continente, cenário de tragédias eguerras civis intermináveis. Ao contráriodas organizações internacionais, comoo Banco Mundial e o FMI, a China ofere-ce aos países africanos financiamentos eacordos comerciais sem condições. Bus-cam melhorar a infra-estrutura dos 53países africanos. E compram os produ-tos locais com preços acima do merca-do. Criado em 2000, o Fórum China-Áfri-ca já derrubou tarifas de importação de28 países africanos.

Além de perdoar mais de um bilhãode dólares em dívidas. Os investimen-tos diretos da China na Mãe África já so-mam cerca de 7 bilhões de dólares e ocomércio entre as duas partes esta em55 bilhões de dólares (ano de 2006).

Marginalizada no começo da era daglobalização neoliberal, com suas ma-térias primas agrícolas e minerais des-valorizadas brutalmente, além de umdeclínio assustador dos seus indicado-res sociais, a África parecia destinada aconverter-se em um lúgubre cenário decaos, divisão e destruição aceleradas.Mas, neste começo de século 21, com aescassez de petróleo e o avanço dofundamentalismo islâmico, a África res-surge com força, aproveitando, neste2007 que começa, as oportunidades ofe-recidas por uma China sequiosa de ma-térias-primas

Renato Gianuca *

(*) Repórter e articulista da EcoAgência deNotícias Ambientais (Brasil) e integrante daComissão de Ética do Sindicato dos Jorna-listas Profissionais do Rio Grande do Sul

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FOTO: Ana Cristina Lima

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 21MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

or sua ampla convocação e seu ca-ráter plural, o Fórum Social Mun-dial (FMS) é o mais significativo es-paço de desenvolvimento de pen-

samento, idéias e construção de alter-nativas frente ao neoliberalismo. As1.200 atividades da agenda da 7ª edi-ção, realizada em Nairóbi, no Quênia,de 20 a 25 de janeiro, dão conta da vita-lidade da inovadora proposta, que temcomo coluna vertebral movimentos, re-des, campanhas, intelectuais, que mar-caram a substância de seus conteúdos edinâmicas. Nesta ocasião, especialmen-te, deram a oportunidade de ver o mun-do a partir da África, um continente ricoem iniciativas sociais e políticas, uma vezque demonstrou ao extremo as incon-gruências do modelo.

Sem dúvida, o ganho político desteúltimo Fórum é justamente ter aberto aoportunidade de pensar nas lutas mun-diais desde um continente em ebulição,que conta com uma bagagem significa-tiva de conquistas recentes: as indepen-dências coloniais registradas no último

Ecos do FSM de Nairóbi

meio século, a abolição do Apartheid naÁfrica do Sul ocorrida em 1990, as tenta-tivas de construção do socialismo emAngola e Moçambique, entre outros. Eque conta também com interessantesprecedentes gerados por novos movi-mentos, como, por exemplo, a vitóriahistórica de una iniciativa em defesa dalivre importação e o acesso a medica-mentos genéricos para combater o HIV.

O Fórum de Nairóbi permitiu tam-bém que se ampliasse o espectro de re-des e organizações que estabelecem efortalecem nexos entre elas, que se defi-niram novos pontos de agenda comum,e inclusive que se editaram inovadorasiniciativas solidárias, como expressa olançamento da Campanha Global pelaReforma Agrária na África, realizada pelaVia Campesina e outros. Além dissomotivou a pensar nas inter-relações en-tre os continentes.

Como parte de um processo em evolu-ção, o Fórum foi o cenário em que aparece-ram tendências críticas pré-existentes e seacrescentaram outras novas. Assim, se as-sinalara aspectos como a comercializaçãodo Fórum e a terceirização dos serviços, a

inegável “desidrogenização”, seu afasta-mento da participação popular, a introme-tida segurança policial, asuperdimensionada presença das igrejascristãs, e outras questões análogas.

Desde o início, o Fórum se tornou umespaço de convergência para lutar con-tra o neoliberalismo, o mais amplo quese possa imaginar. Seu pluralismo, di-versidade e transversalidade são elemen-tos constitutivos; seu caráter de agorapara o intercâmbio de idéias e propos-tas, constituem sua substância; sua es-sência participativa é o motor da propos-ta de construção de alternativas.

Mas para que isto mantenha sentido,não pode limitar-se à realização de even-tos desconectados entre si, e cada vezredesenhados como uma nova experimen-tação. É tempo, então, de abonar a idéiade processo, fazendo que o acumuladoobtido até agora sirva de plataforma am-pla para as novas iniciativas, e sigaaportando à construção de um ator sociale político plural, que encaminhe mudan-ças de fundo e alternativas ao modelo

(*) Da Alai-AMLatina

PIrene León e Sally Burch *

FOTO: Ana Cristina Lima

22 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

ela amplitude da agenda é impra-ticável lançar um olhar sobre oconjunto de problemas aborda-dos no Fórum Social Mundial

(FSM). Assim, assinalaremos algumasque se destacaram pelo caráter de novi-dade ou de abrangência. A principal ino-vação do Fórum de Nairóbi foi sem dúvi-da a abordagem ampla da questão docombate ao vírus HIV e a visibilidade dedistintos aspectos sócio-econômicos re-lativos à extensa progressão do mal, quepadecem cerca de 39,5 milhões de pes-soas no mundo, das quais as duas terçaspartes estão na África Subsaariana. Porisso mesmo, as mais importantes inicia-tivas, propostas e mobilizações relacio-nadas com a questão provêm deste con-tinente, que

contribuiu em grande escala para oestabelecimento de inter-relações entrea expansão da doença e a pobreza, comotambém a análise do impacto das políti-cas neoliberais no referido fenômeno.

Nesse sentido, a colocação em evi-dência da magnitude do problema, desuas engrenagens macro-econômicos

Temas de maior destaque em Nairóbie humanas, invalidaram por si só asconservadoras campanhas pela absti-nência sexual, que se fizeram visíveispela primeira vez no Fórum. Em outroprisma , a dívida externa teve um im-portante destaque e a convocação, como aporte novo de associá-la à demandade reparações por danos provocados aospaíses. Como assinalou Camille Chalmers,do Jubileu Sul, "o básico é reconhecer quea dívida atual é o resultado de todo umprocesso histórico de saque, de destrui-ção ecológica, física e social, e que há umaenorme dívida do Norte até o Sul". Por isso,se a articularão de campanhas próximasdeve girar em torno de três palavras cha-ves: repúdio, restituição e reparações.

Mais de 40 organizações e redescontinentais da África, da AméricaLatina, da Ásia e mundiais, partici-param de uma assembléia para con-certar posições e fortalecer a coor-denação entre movimentos. Nela re-novaram a rejeição às novas fórmu-las de solução propostas pelas ins-tituições financeiras internacionais,que continuam propugnando asmesmas políticas de ajuste; acerta-ram estimular os governos do Sul aentrar em um processo de repúdio

e de apoiá-los nessa gestão.A prioridade acertada pela Via

Campesina e outras organizaçõespara as questões da reforma agrária ea soberania alimentar, teve significa-tiva repercussão no Fórum. O lança-mento da campanha global pela re-forma agrária na África constitui umaporte significativo do movimentocamponês para a resolução de um dosmaiores problemas desse

continente e da humanidade, comoé a fome. Pois enquanto aumenta a con-centração da propriedade da terra e re-cursos naturais – tais como a água –, oavanço da pobreza nas zonas rurais re-gistra índices sem precedentes: 75% dospobres do mundo se concentram lá.

A presença das Américas foi múlti-pla e heterogênea. A agenda doFórum Social das Américas, organiza-da pelo Conselho Hemisférico, cons-tituiu um importante ponto de refe-rência para participantes do continen-te, uma vez que foi o espaço de en-contro e intercâmbio com outras rea-lidades, tais como a da Palestina,Saara e outras áreas

(*) Da Alai-AMLatina

Irene León e Sally Burch *

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Ano II – número 9 – fevereiro/2007 23MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

inha participação no 7ºFórum Social Mundial fi-cou abaixo das minhasexpectativas, de certa

forma me senti frustrada emrazão de questões bastante ob-jetivas que limitaram minha par-ticipação no evento. Fui aoFórum pela sexta vez, e o fiz naqualidade de militante dos mo-vimentos sociais dos quais façoparte e em razão da minha ativi-dade profissional na Comissãode Direitos Humanos e Minori-as da Câmara dos Deputados.

Meu compromisso princi-pal era acompanhar as discus-sões relativas ao movimento GLBTT,afrodescendentes e povos indígenas,estabelecer contato com representantesde Comissões de Direitos Humanos doparlamento de outros países bem comodivulgar as ações da Comissão de Direi-tos Humanos e Minorias da Câmara dosDeputados, em particular, nossa campa-nha permanente “Quem financia a baixa-ria é contra a Cidadania”.

Meu grupo, que era formado pormim, Grazia, Elcione e Bárbara, ficou emtorno de 6 horas circulando pelos arre-dores de Nairobi até que encontrásse-mos o local onde deveríamos ficar hos-pedados. Chegamos à casa da Sra. Rose– nossa anfitriã – por volta das 05:00 h damanhã, o que acarretou em nosso pe-queno grupo muita irritação, desgastefísico e cansaço acrescido do desgastenatural pelas 22 horas de vôo. No dia se-guinte mal conseguimos participar dasatividades na parte da manhã.

Nosso grupo, durante todos os diasque lá esteve, ficou sem condução parachegar ao Fórum, tivemos que contarcom a gentileza e a boa vontade de nos-sa anfitriã para que pudéssemos noslocomover até o local das atividades, masela só pode nos levar por três dias. Asvans contratadas para buscar as pessoassimplesmente não apareceram um úni-co dia em nosso alojamento, o que difi-cultou nossa locomoção, ainda que talserviço tivesse sido pago com antece-dência. Tivemos problemas tambémcom a alimentação, várias pessoas pas-saram mal com a comida local.

Um breve relato de quem foi ao VII Fórum Social Mundial

Percebi, diferentemente das outrasedições do Fórum, uma excessivamercantilização do evento, fugindo fla-grantemente de sua concepção inicial.Críticas a esses problemas dirigidas aocomitê organizador foram rechaçadaspelos mesmos. Embora o Estado não sefizesse presente do ponto de vistaorganizativo, pessoas do governoqueniano exploraram comercialmente al-gumas atividades. Por não existir umarede de economia solidária no país, aocontrário de Porto Alegre, o restaurantelocal foi montado por uma alta autorida-de do governo, cobrando preçosabusivos para os padrões quenianos.

No último dia a situação se agravoumais ainda, ocorreu um novo protestocontra o restaurante e uma invasão lite-ral do local por dezenas de criançasinstrumentalizadas por adultos. O res-taurante foi desativado e muitos não ti-veram como fazer suas refeições, vistoque aquele local era um dos poucos quenão oferecia perigo à saúde dos partici-pantes. Isso deixou boa parte dos mili-tantes que assistiram aquelas cenasmuito assustados. Outro ponto que mechamou a atenção foi a forte presençade religiosos e missionários de váriospaíses africanos no Fórum, o que gerouum certo confronto com os movimen-tos homossexuais e feministas em ra-zão de suas bandeiras de luta, particu-larmente no que diz respeito àdescriminalização do aborto e à uniãocivil de pessoas do mesmo sexo.

Ainda que o Brasil se fizesse presente

com autoridades, membros dogoverno, militantes sociais eONGs faltou levar ao Fórum umpouco mais da nossa cultura. Oshow de abertura do evento fi-cou a cargo do cantor e compo-sitor brasileiro Martinho da Vila,mas ficou apenas nisso. Julgotambém que nossa herança cul-tural africana deveria ter sidomostrada de forma mais eviden-te, esse papel de divulgação po-deria ter sido exercido pela pró-pria Casa do Brasil que acabouse tornando um ponto de refe-rência não só dos brasileirospresentes, mas também de inú-meros militantes estrangeiros.Um verdadeiro ponto de apoioàs necessidades dos brasileiros

que lá estavam, possibilitando inclusiveacesso à internet para que pudéssemoscontactar nossos familiares.

Um outro ponto negativo foi o fato doFórum ter se realizado à portas fechadas, apopulação local não teve o direito de ir paraconhecer. Somente no último dia a orga-nização resolveu abrir as portas ao povoqueniano. Aí surgiu um outro problema,ocorreram vários furtos na área várioscompanheiros ficaram sem suas máquinasdigitais, notebooks e telefones celulares.

Ficou muito claro a todos os parti-cipantes que a ausência de apoio go-vernamental em muito contribuiu parao agravamento dos problemas estru-turais do Fórum. Realizar um eventopara mais de 50.000 pessoas semapoio institucional se torna quase im-possível. E isso não quer dizer que oFórum Social Mundial deva estar atre-lado a esse ou aquele governo, massignifica dizer que sua realização nãopode prescindir da ajuda oficial.

Por último, o Fórum entra num mo-mento de sua existência que precisa serrepensado o modelo, parece-me que elesofre um esgotamento. No próximo ano,segundo decisão do comitê organizador,não haverá evento unificado e sim doisdias de atividades em todo o mundo, emdata próxima à reunião do Fórum Econô-mico Mundial em Davos, na Suíça, só de-vendo voltar a ser unificado em 2009

Sônia Palhares Marinho *

M

(*) Integrante da Comissão de Direi-tos Humanos e Minorias da Câmara

dos Deputados

FOTO: Ana Cristina Lima

24 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

IDÉIAS - Como é sobrevivermantendo a dignidade, sem seprostituir musicalmente, frentea uma mídia que criou uma in-dústria da ignorância? É difícil?

MOACYR LUZ - Reconheço que sousempre lembrado na imprensa pe-los meus trabalhos, apenas façouma observação: não sai fotos mi-nhas em estréias, badalações,etc...meus dois últimos anos foramfazendo o Samba do Trabalhador eaí se inclui um CD e outro DVD gra-vado ao vivo, produzido em um dis-co do meu parceiro Aldir Blanc. Lan-cei um livro sobre “butiquins” e fizum CD para a Petrobras musicando

Entrevista Faz muito tempo que a mídia confunde cultura com entretenimento

Moacyr Luz na linhaMoacyr Luz, violonista,

compositor,arranjador, um dos

nomes mais respeitadosdo samba e da MPB é

nosso ilustreentrevistado deste mês

da IDÉIAS EM REVISTA.Eleitor de Lula desde

1982, Moacyr Luz, umapaixonado pelo Rio de

Janeiro, é um dosgrandes sambistas que

se mantém comdignidade sem se

prostituirmusicalmente. Parceirode figuras consagradasda MPB, entre os quaiso ministro Gilberto Gile Paulo Cesar Pinheiro,Moacyr Luz fala ainda

sobre a nova geração desambistas que

despontam na Lapa eexplica como nasceu o

Samba do Trabalhador,um dos seus maiores

sucessos.

poemas sobre o Rio de Janeiro. Dedezembro para cá inventamos oSamba na Telha, gravei um CD quesai agora em fevereiro com opercussionista Marçalzinho e estouem fase de produção com um tra-balho todo feito em parceria com oHermínio Bello de Carvalho. Meesqueci, assinei com a EditoraDesiderata outro livro sobre bar,meu fraco, com supervisão do Ja-guar. Enfim, não dá tempo de pen-sar em indústria fonográfica,Faustão, etc...

IDÉIAS - A música popular brasi-leira está em uma crise decriatividade ou é a grande

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 25MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

mídia que está ignorando ascoisas novas que estão surgin-do? Ou as duas coisas, já quegrandes compositores comoAldir, Chico, Paulo César Pinhei-ro, Paulinho da Viola, todos jáestão na casa dos 60 anos.

MOACYR LUZ – Faz muito tempoque a mídia confunde cultura comentretenimento. Conheço váriosnovos compositores de excelentetrabalho. O que acontece é que otempo mudou. Antes poucas pesso-as gravavam discos e as rádioseram menos tendenciosas. O diacontinua tendo 24 horas, mas acada segundo surge outro CD feito

de forma alternativa, mas com amesma expectativa de consumo. Euacho que é só no Brasil que existeessa preocupação em troca de trono,quer dizer: não precisa aposentar oPaulo Cesar Pinheiro para outroletrista crescer profissionalmente,tem espaço e cada um saberá dotamanho dele.

IDÉIAS - Como surgiu e o que éo Samba do Trabalhador?

MOACYR LUZ - Eu já vinha fre-qüentando o clube Renascença todosos sábados. Quando fiz a temporadado Projeto Pixinguinha, voltei doidode saudade de rever os amigos músi-cos. Quase sempre os finais de sema-na eram ocupados com viagens,shows, coisas assim...pensei quenuma segunda, nós trabalhadores,poderíamos no encontrar debaixoda caramboleira da quadra aberta,fazer uma comida devagar e cantarmúsicas novas. Depois a freqüênciaaumentou muito rapidamente e eume sentia feliz vendo uma garotaempolgada convivendo com outroscascudos como Marquinhos Satã,Luiz Carlos da Vila e Zé Luiz do Im-pério Serrano. Fiz o grupo, dei tran-qüilidade para os novos serem res-peitados e virou o que virou....

IDÉIAS - Como você vê esta gran-de retomada do samba, do parti-do alto, do bom pagode, este“boom” nos últimos anos no Riode Janeiro, com a Lapa se tornan-do um grande empório cultural?

MOACYR LUZ - Acho que a res-posta está na primeira pergun-ta. Quando você se abstrai deum sucesso imediato e procuraa sua sinceridade, tudo flui maisespontâneo e definitivo. O sam-ba é assim. Tem gente no nossomeio que aos 60 anos ainda nãogravou e continua sonhandocom suas músicas. Outros, maisnovos já têm carreira solo eturnês internacionais. Todoscom a mesma verdade. Quanto agrande retomada, penso diferen-te: as rádios ainda tocam poucosamba. A televisão quase nada,nenhum programa de grandeaudiência e, para se ouvir umamúsica tema na novela, é preci-so o autor inventar uma vila desubúrbio, colocar uma famíliaalegre que faça roda todo os sá-bados no quintal. É por aí.

IDÉIAS - Você tem acompanhadoesta garotada nova da Lapa(Galocantô, Anjos da Lua,Batifundo, Sururu na Roda, etc)?É uma geração muito boa damúsica brasileira? Esta garotadatem futuro?

MOACYR LUZ - Todos têm futuro!Se você ler depois dessa perguntamais uma vez a resposta anterior,entenderá melhor. Não é bem garo-tada. No Sururu tem a presença fun-damental da Nilze Carvalho, quedeve ter uns 20 anos de carreira. NoAnjos da Lua outro nome antigo deguerra, Galotti. E do Galocantô, já

de frente do samba

26 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

conheço a bastante tempo o Bira e oLula. É claro que futuro é parte deum signo chamado sorte.

IDÉIAS - Não é irritante ver gê-nios como Paulo César Pinhei-ro e Aldir Blanc serem pratica-mente ignorados pela mídiaenquanto as bundas e ascarinhas bonitas do momentosão exploradas como fórmulade sucesso?

MOACYR LUZ - Os dois são meusparceiros e amigos. Você acha queeles estão preocupados com isso, demídia? A história já consagrou essesnomes, merecidamente.

IDÉIAS - O Brasil é um país semmemória? Corremos o risco deperdermos nossa identidadecultural?

MOACYR LUZ - Essa frase semmemória já está desbotada. Achoque o Brasil é um país sem cabeçae sem cabeça a memória é mesmozero. Somos todos corruptos, es-pertos, queremos tirar vantagemem tudo, compram os discos pira-tas, sofwtares piratas, bebidaspiratas, estamos na época dascaravelas trazendo pedra e levan-

do ouro. Agora, no entanto, nuncadei tantas entrevistas paradocumentários, é um número im-pressionante!! Bom sinal.IDÉIAS - Como você vê a resis-tência cultural na música brasi-leira de hoje? Isto é um termoobsoleto como a mídia quer fa-zer passar?

MOACYR LUZ - Somos ícones demitologia, somos a Fênix da cultu-ra, todos os dias começando dozero. No meu caso nunca me preo-cupo com o que fiz, mas com o queainda tenho para fazer...

IDÉIAS - Você tem parcerias ge-niais com Aldir Blanc e PauloCésar Pinheiro entre outros.Pode nos falar um pouco destasparcerias e amizades com duaspessoas tão amadas por quemgosta de boa música?

MOACYR LUZ - Eu morei 22anos no mesmo prédio que oAldir. Somos vizinhos de senti-mento. Antes de qualquer músicanossa, passávamos tardes con-versando sobre a vida, sobre acidade e seus personagens. Entreas nossas músicas gravadas te-mos várias homenagens aClementina de Jesus, com RainhaNegra; a Elizeth, com Enluarada.Fizemos Anjo da Velha Guardapara homenagear o ZecaPagodinho, Flores em vida paraNélson Sargento, óbvio, e Cacha-ça, Árvore e Bandeira para oinesquecível Carlos Cachaça. Já oPaulinho Pinheiro eu o conheciquando eu tinha 15 anos, em1973, na casa do Hélio Delmiro,meu grande incentivador.

IDÉIAS - Como você vê o atualgoverno Lula, tanto na política

geral, quanto na área de cultu-ra? Melhorou o investimento nacultura brasileira com o minis-tro Gilberto Gil?

MOACYR LUZ - Eu voto no PT des-de 1982, acho. E conto uma histó-ria que muito me orgulha. O Lulaem 1998 queria conhecer os sam-bistas cariocas e alguém falou parao nosso presidente “Procura oMoacyr Luz”. Fiz um almoço paraele na minha casa que durou maisde cinco horas. Existem relatos so-bre esse encontro. Quanto ao Gil,outra coincidência: fiz alguns temaspara novela, todos em parceria como Aldir. Um foi tema de abertura,Mico Preto, gravado pelo nosso mi-nistro.

IDÉIAS - Você é autor, em parce-ria, de músicas que cantam oRio e protestam contra o atualestado de coisas nesta cidademaravilhosa. Você é um apaixo-nado pelo Rio? Nossa cidadetem jeito? Qual o caminho?

MOACYR LUZ - Eu sou louco peloRio de Janeiro, meu amigo. Olha aloucura: a gravadora que faço parteé de São Paulo às vezes diz que seeu continuar falando tanto do Riode Janeiro vou ter meu trabalhomuito restrito. Eu respondo que se obicheiro da minha rua me reconhe-cer já estou bem

“Somos todos corruptos,espertos, queremos tirarvantagem em tudo, compramos discos piratas, sofwtarespiratas, bebidas piratas,estamos na época dascaravelas trazendo pedra elevando ouro”

“O Lula em 1998 queriaconhecer os sambistas cariocase alguém falou para o nossopresidente “Procura o MoacyrLuz”. Fiz um almoço para elena minha casa que durou maisde cinco horas”

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 27MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nacional Em um clima em que a progressiva escassez de água se associa a uma demanda cada vezmaior deste recurso, o seu valor de mercado se duplicou ou mesmo triplicou.

água se converteu em um bemmuito valorizado nos mercadosmundiais. Do mesmo modo queo petróleo passou a ser o “ouronegro” do século XX, a água está

destinada a se converter no “ouro azul”do século XXI. Não é à toa que em váriaspartes do mundo travam-se batalhas,muitas vezes sangrentas, para o contro-le do precioso líquido. O Oriente Médioque o diga, da mesma forma que a re-gião da Tríplice Fronteira (Brasil,Paraguai e Argentina), fortemente cobi-çada por lá se encontrar o AqüíferoGuarani, uma das maiores áreas de águasubterrânea do mundo.

Não é à toa também que hoje cente-nas de soldados estadunidenses encon-tram-se acantonados no Paraguai emárea próxima da fronteira com o Brasil ea Argentina. Naquele local, segundo de-núncias de entidades de defesa dos di-reitos humanos e do meio ambiente, osmilitares americanos estariam instalan-do uma base. No fundo, o objetivo nãodeclarado oficialmente é mesmo a água.

Em um clima em que a progressivaescassez de água se associa a uma de-manda cada vez maior deste recurso,o seu valor de mercado se duplicou oumesmo triplicou. Em conseqüência, osespeculadores do investimento procu-raram adquirir os direitos às águas emzonas agrícolas, com o objetivo devendê-los às cidades necessitadas. Sur-giu assim uma nova classe de empre-sários, os “caçadores de água”, queexploram os recursos de água doce doplaneta e os vendem a melhor valor.

Em meio a esta febre de “ouro azul”,surgiu uma nova indústria mundial deágua, cujo valor alcançava, segundoestimativas do Banco Mundial, US$ 1bilhão anuais em 2001. Entre os princi-pais magnatas deste pujante setor, seencontram as corporações com fins lu-

A guerra da água

crativos que oferecem serviços de águaou vendem água engarrafada. Nestemomento o setor de água engarrafa-da é um dos que mais rapidamentecresce no mundo.

As fábricas de refrescos em geral reti-ram água do mesmo sistema que o pú-blico tem acesso, seja municipal ou ou-tro, e em muitos casos, por exemplo, aCoca-Cola, mediante um processo emque a água é tratada quimicamente, logose acrescenta um “pacote” de mineraisque origina a “água mineral”. Com istoaumentam o preço da água de cana umasmil e cem vezes e a vendem engarrafa-da. Em muitos países se resiste a estesistema, que se denominou como “aágua para os ricos”. A novidade, é quepara dar-lhe sabor à água extraída dacana que compete com o mercado das

águas de mananciais ou fontes naturais,acrescentam substâncias nocivas à saú-de.

A Coca-Cola guarda total silêncio di-ante dos questionamentos jornalísticossobre o tema. A empresa não respondea consultas telefônicas ou via e-mailsdemostrando com isso uma total faltade relações públicas com a imprensa. ACoca-Cola, uma bebida obscura tão po-pular no mundo, pode ser encontradanas grandes metrópoles e até mesmo namais pobre das cidades. É consideradainofensiva e até nutritiva, o que é umgrande equívoco. Os refrescos de colasão na verdade uma droga não declara-da, seu consumo provoca problemasnutricionais e dentais

(*) Editor da Idéias em Revista

AMário Augusto Jakobskind *

28 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nacional Proposta prevê que convocação deixaria de ser exclusiva do Congresso, cabendo também asociedade convocá-los, por meio de projetos de iniciativa popular.

Josias de Souza * sses projetos teriam tramitaçãoprioritária nas duas Casas do Le-gislativo, nos termos de um pro-jeto de lei apresentado ao Con-

gresso em 2004. Em 31 de janeiro des-te ano, o projeto foi arquivado pelaMesa da Câmara. A proposta tinha sidoelaborada pela Ordem dos Advogadosdo Brasil (OAB) e recebeu o apoio doConselho de Desenvolvimento Econô-mico e Social (CDES), que assessora opresidente da República.

Agora, o texto com as sugestões doPlanalto resulta de uma compilação feitapelo Ministério das Relações Institucio-nais, dirigido por Tarso Genro. E incor-pora contribuições do CDES, da OAB e doMinistério da Justiça. Vai ao Congressocomo proposta formal do governo. Oscongressistas podem acatar ou não assugestões.

O plebiscito e o referendo são meca-nismos de democracia direta. Permitema convocação dos eleitores para se pro-nunciar sobre temas específicos. No casodo plebiscito, o povo é chamado a opinarantes da edição da norma, aprovando-aou rejeitando-a. Já no referendo, é convo-cado depois da adoção de uma medida,cabendo à sociedade ratificá-la ou não.

Segundo Tarso Genro, todos os atosrelativos a plebiscitos e referendos conti-nuariam adotados pela via legislativa.Pelo seu raciocínio, as sugestões mantêma representação política acima da chama-da democracia direta. Esses instrumen-tos são identificados, na América Latina,com a forma de atuação política do vene-zuelano Hugo Chávez. A oposição venti-la que o presidente Lula poderia proporplebiscito para permitir uma nova tenta-tiva de reeleição, o que o governo nega.

O texto do governo inclui a propos-ta para que o Congresso aprove o “re-call”. Vem a ser a possibilidade de que,por meio de referendo convocado poriniciativa da própria sociedade, os elei-tores imponham aos congressistas ovoto revogatório, interrompendo-lhesos mandatos pelo meio. A idéia é apoi-ada, de novo, pela OAB e pelo CDES.

O projeto que será levado ao Con-gresso contempla outras propostaspolêmicas. É o caso de duas sugestõesda OAB: a redução do mandato dos se-nadores de oito para quatro anos e amudança da regra na definição de su-plentes. Ou da proposta do CDES, delimitar a imunidade parlamentar, res-tringindo o direito a foro privilegiado acasos de delitos cometidos no exercí-cio do mandato. Propõe-se, de resto:financiamento público ou misto (públi-co e privado) de campanhas, proibiçãodo troca-troca partidário durante todaa legislatura, fim das coligações propor-cionais, e votação em lista fechada -modelo em que os eleitores votam empartidos, não em pessoas, elegendo oscandidatos que estiverem nas primei-ras colocações de uma lista elaboradapreviamente pelos partidos

(*) Do blog Nos Bastidores do Poder

O governo federal enviaráao Congresso documento

sugerindo uma reformapolítica para

regulamentar dispositivosconstitucionais que

prevêem a realização deconsultas diretas à

sociedade – plebiscitos ereferendos. Propõe regras

que facilitem a suarealização. A convocação

deixaria de ser exclusivado Congresso. De acordo

com o documento,plebiscitos e referendos

poderiam ser chamadostambém pela sociedade,por meio de projetos de

iniciativa popular.Bastaria que fosse

endossada por 1% doseleitores do país,

distribuídos por, pelomenos, cinco estados.

“T plebiscito e oreferendo são mecanismos dedemocracia direta. Permitem aconvocação dos eleitores parase pronunciar sobre temasespecíficos”

E

Plebiscito e referendo podemaprofundar a democracia no paísPlebiscito e referendo podemaprofundar a democracia no país

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 29MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Culturata, que saiu dos Arcos daLapa, no Centro do Rio, por vol-ta das 16 horas, teve na sua li-nha de frente ex-presidentes da

UNE como Aldo Arantes, RicardoCapelli, Wadson Ribeiro e FelipeMaia. Entre os ex-presidentes da ve-lha guarda estavam ainda José Frejat,Genival Barbosa e Irum Santana, quepresenciou a fundação da UNE em1937. O autor da chamada “bíblia domovimento estudantil” – O Poder Jo-

Nacional Com irreverência, música e emoção, os manifestantes reconquistaram o que a ditadura lhes tirou

UNE de volta pra casa

vem – Arthur Poerner também se so-mou à primeira fileira.

Artistas participantes da 5º Bienalde Arte, Ciência e Cultura da UNE,evento do qual a manifestação fezparte, apresentaram uma esquete aolongo da caminhada lembrando osprincipais fatos que marcaram a his-tória da entidade. Em frente ao Ho-tel Glória um grupo de manifestan-tes vestidos de preto deitou no asfal-to com bandeiras da UNE, simboli-zando o assassinato ocorrido no dia28 de março de 1968, no então Res-taurante Calabouço, do jovemsecundarista Edson Luís.

Com um clima tenso e entusiasma-dos os estudantes, assim que chega-ram ao estacionamento, forçaram oúnico portão de acesso até que omesmo tombasse no chão. Dentro doestacionamento se encontrava ape-nas dois funcionários que não apre-sentaram resistência à manifestação.Em poucos minutos centenas de jo-vens ocupavam o terreno prometen-do sair somente depois que a Justiçalhes desse definitivamente a posse do

mesmo. No Superior Tribunal de Jus-tiça (STJ) corre uma ação dereinstalação dos autos que aguardajulgamento.

Segundo o atual presidente daUNE, Gustavo Petta, “esta não é umaocupação momentânea; a sede polí-tica da UNE a partir de agora funcio-na aqui (no terreno) e todos os diasteremos conosco artistas e persona-lidades que apóiam a nossa campa-nha ‘UNE de volta pra casa’. A UNEentrou com uma liminar na Justiça nodia 1º de fevereiro para apressar atomada de posse do local. Cerca decem estudantes deverão ficar perma-nentemente acampados no terreno.

A atriz Vera Holtz ouviu pelo rá-dio a notícia da ocupação e foi ao atomanifestar sua solidariedade e apoio:

– Eu ensaiava no CPC da UNE comamigas no dia que a ditadura incen-diou a nossa casa e não poderia fal-tar no dia que a tomamos de volta –declarou

Do Portal Vermelho(www.vermelho.org.br)

E o endereço na Praia doFlamengo 132 voltou a ser

da União Nacional dosEstudantes (UNE),após

quase 43 anos. Cerca decinco mil pessoas

marcharam no último dia2 de fevereiro para tomar

de volta o terreno na Praiado Flamengo que pertencia

às entidades estudantis eque foi retirado

violentamente pelosmilitares com o Golpe de

1964. Com muitairreverência, música e

emoção, os manifestantesderrubaram o portão do

estacionamento irregular,que até então funcionava

no local, e reconquistaramo que a ditadura lhes tirou.

A

30 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nacional Eles respondem a crimes previstos na Lei do Colarinho Branco e estão sujeitos a penas deaté oito anos de reclusão e multa

5ª Vara Federal Criminal do Riode Janeiro recebeu a denúncia doMinistério Público Federal (MPF)no estado contra cinco ex-presi-

dentes e 12 ex-diretores do Banco Na-cional de Desenvolvimento Econômi-co e Social (BNDES) durante o governoFernando Henrique Cardoso (1995-2002). Entre os denunciados, estão osex-presidentes do banco Luiz CarlosMendonça de Barros, José Pio Borgesde Castro Filho, Andrea Sandro Calabi,Francisco Gros e Eleazar de CarvalhoFilho.

Com o recebimento da denúncia, os17 ex-integrantes da diretoria doBNDES respondem a dois crimes pre-vistos na Lei do Colarinho Branco(7.492/86): gestão temerária de insti-tuição financeira (com pena de dois aoito anos de reclusão e multa) e crimecontra o sistema financeiro (reclusãode um a quatro anos e multa).

A denúncia — assinada pelos procu-radores Izabella Brant, GuilhermeGuedes Raposo e Patrícia Núñes e apre-sentada em setembro de 2006 — foimotivada pela concessão de emprésti-mos no processo de privatização daEletropaulo, ocorrido em 1998, e tevecomo base relatório do Tribunal de Con-

Ex-diretores do BNDES processados pelo MinistérioPúblico por decisões tomadas em privatização

tas da União (TCU) e notas técnicas ela-boradas por analistas do MPF. O procu-rador Fábio Magrinelli foi designado res-ponsável pela a ação a partir de agora.

De acordo com o MPF, em abril de1998, quando a diretoria do banco de-cidiu financiar até 50% do preço míni-mo do leilão da Eletropaulo, equivalen-te a mais de R$ 1 bilhão, não teriamsido aplicadas normas de segurançabancária. O MPF diz ainda que os de-nunciados teriam tomado decisões ir-regulares e ilegais sobre operações fi-nanceiras. As decisões colocariam emrisco o BNDES e provocariam prejuízosao patrimônio público. As irregularida-

(*) Texto da Última Instância - RevistaJurídica

“De acordo com o MPF,em abril de 1998, quando adiretoria do banco decidiufinanciar até 50% do preçomínimo do leilão daEletropaulo, equivalente amais de R$ 1 bilhão, nãoteriam sido aplicadas normasde segurança bancária.

des teriam ocorrido na concessão e exe-cução de financiamento e na venda deações da Eletropaulo à Lightgás, subsi-diária da Light controlada pela AES,EDF, Houstou Industries Energy,BNDESPAR e CSN.

O TCU apontou a inexistência deanálise pelo BNDES de diversos aspec-tos necessários às concessões de finan-ciamento, como a capacidade econômi-co-financeira da AES de receber o crédi-to e o controle do endividamento daLightgás para proteger o valor das ga-rantias e receitas para o pagamento dosempréstimos. De acordo com o TCU, afalta de previsão não seria “usual noBNDES”, instituição que possui vastaexperiência no mercado de renda variá-vel, conhecendo os riscos inerentes dasgarantias ofertadas.

Na denúncia, os procuradores menci-onam também a existência de “condutascriminosas” nos atos de renegociação docontrato de financiamento da Lightgás,da alienação de ações da Eletropaulo pelaBNDESPAR ao grupo AES e da aprovaçãodo processo de reorganização societáriaentre o grupo AES e a EDF

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Ano II – número 9 – fevereiro/2007 31MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nacional No primeiro mandato, no que manteve, esteve mal. Os melhores aspectosvieram do que Lula mudou

o segundo governo Lula depen-de o futuro da esquerda e doBrasil por um longo período. Avitória eleitoral de 2002 foi o

resultado de um longo processo delutas e de acumulação de forças decerca de um quarto de século porparte do movimento popular. Pri-meiro, para terminar com a ditadu-ra, em seguida para eleger pelo votodireto o presidente da República, de-pois pela resistência às políticasneoliberais. Lula foi eleito como re-sultado desse caminho.

Seu primeiro governo foi um mistode continuidade e de mudança e,como conseqüência direta, de decep-ções e de esperanças. No que mante-ve, esteve mal: priorizou a estabilida-de monetária em quase todo o primei-ro mandato, congelou recursos paraas políticas sociais, manteve a taxa dejuros reais mais alta do mundo, blo-queou a capacidade de crescimento ede distribuição de renda do país, ape-

Lula II: certezas e interrogações

sar do cenário internacional favorável.Os melhores aspectos vieram do

que Lula mudou: a política interna-cional, a educacional, a de cultura, asocial. O Brasil privilegiou aintegração regional em vez dos tra-tados de livre comércio, promoveu aformação do Grupo dos 20 – que per-mitiu a reaparição do Sul do mundono cenário mundial –, assim comoas alianças Sul-Sul, com a China, aÍndia, a África do Sul. A política edu-cacional brecou a privataria do go-verno anterior, fortaleceu o ensinopúblico, tanto nas universidadesquanto no ensino básico e médio.Pela primeira vez o Brasil pôde dis-por de uma verdadeira política cul-tural de raízes nacionais eabrangência que chega a todo o país.

As crises mais recentes, como a daaviação comercial, apontam na mes-ma direção: representam o fracassodo Estado mínimo, herdado do go-verno FHC. Quando o Estado inter-veio mais vigorosamente – como nosexemplos da Petrobras, do BNDES e

da Caixa Econômica Federal –, o go-verno teve sucessos.

A direita foi derrotada em 2006.Sobre isso não há dúvida. O candi-dato que defendia o retorno às polí-ticas de FHC, o neoliberalismo orto-doxo, as privatizações, a retraçãoainda maior do Estado, o livre comér-cio, a Alca e a repressão aos movi-mentos sociais foi rejeitado, apesardo apoio unânime da grande mídia.Mas ganhou a esquerda?

Mais além da discussão nominalsobre se se trata de um governo deesquerda ou não, a esquerda deu otom da campanha do segundo turno.E foi o que levou à vitória insofismávelde Lula. Algo disso tem que ter ficadoem Lula, mas o retorno ao rame ramecotidiano do Planalto gera medo deque o governo perca o seu primeiroano, período essencial para imprimirum selo definitivamente democráti-co e popular.

É preciso lutar contra os outrosdois eixos do poder mundialantidemocrático atualmente vigen-te: o poder monopólico das armas eda palavra. Contra o poder dahegemonia imperial, se lutaaprofundando e estendendo oMercosul e os outros processos deintegração.

Mas o poder monopólico local emundial se sustenta sobre o poder dapalavra. Lula ganhou do poderoligopólico da mídia. Demonstra quea opinião do povo, quando é chamadoa dar sua palavra, se choca com o quecotidianamente se tenta inculcá-lo apartir da máquina antidemocrática defabricar consensos

FOTO OK

Emir Sader (*)

(*) Sociólogo e professor da Universi-dade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

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32 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Internacional O presidente americano vem ao Brasil! Não dá para perder esta excelenteoportunidade de excomungá-lo

s EUA atravessam um períododelicado. No campo interno, aeconomia continua empacadae inspira cuidados. Já no cam-

po externo, a situação da superpo-tência é ainda mais complicada. Acada dia que passa, os EUA se afun-dam nas guerras de agressão contrao Afeganistão e o Iraque. Joseph Sti-glitz, Prêmio Nobel de Economia,estima que os EUA já gastaram US$2,2 trilhões no Iraque.

Diante deste cenário adverso, opresidente George W. Bush passa aencarar o “quintal” latino-americanocom maior preocupação. As últimaseleições por aqui parecem ter acen-dido o sinal de alerta. Segundo es-peculações da mídia, preocupadocom estes resultados e com o avan-ço do processo de integração sobe-rana da América Latina, o presiden-te George Bush tenta agora colocaruma cunha entre estas nações parafrear o crescimento das esquerdase inviabilizar a unidade regional.

Seu objetivo seria o de isolar asexperiências como as da Venezue-la, da Bolívia e do Equador, e barraras negociações para a ampliação doMercosul. Em visita ao Brasil no iní-cio de fevereiro, três auxiliares di-retos do carrasco Bush – NicholasBurns, Thomas Shannon e o tortura-dor Alberto Gonzalez, secretário de

Justiça – espalharam intrigas nestesentido e concentraram seus ata-ques, nada diplomáticos, contra opresidente Hugo Chávez. Uma agen-da mentirosa.

A visita oficial só tem um mérito: ode permitir que a povo brasileiro váàs ruas para protestar contra o terro-rista George W. Bush. A Coordenaçãodos Movimentos Sociais (CMS), quereúne as mais representativas entida-des populares do país, orientou to-dos os estados a promoverem massi-vas e criativas manifestações de rua. Amaior delas deverá ocorrer em SãoPaulo, aonde o genocida desembar-ca, somando-se às atividades do DiaInternacional das Mulheres.

Segundo relatos da mídia mundi-al, os mexicanos pretendem realizar“os mais transcendentes protestos”desta turnê; já a central sindical doUruguai, PIT-CNT, anunciou quemobilizará milhares de pessoas emMontevidéu; o Coletivo de Organi-zações Sociais da Guatemala e oPólo Democrático da Colômbia tam-bém garantem que realizarão “calo-rosas recepções”. Não dá para per-der esta excelente oportunidade deexcomungar “el diablo Bush”, comolhe batizaram os venezuelanos. Esteé um dever militante internaciona-lista de todos os que lutam por ummundo melhor.

A íntegra deste artigo podeser lida no portal do SISEJUFE-RJ(www.sisejuferj.org.br)

(*) Jornalista e membro do Comi-tê Central do PCdoB, editor darevista Debate Sindical e autordo livro “Venezuela: originalida-de e ousadia” (Editora Anita Ga-ribaldi, 3ª edição).

Altamiro Borges *

Tony Snow, porta-voz daCasa Branca, confirmou

recentemente que opresidente dos Estados

Unidos, o torturador-terrorista George W.

Bush, visitará o Brasil nosdias 8 e 9 de março. Avisita faz parte da sua

turnê pela AméricaLatina, que inclui

também o Uruguai, aColômbia, a Guatemala e

o México. Segundo oassessor, a peregrinação

visa “estreitar laçoscomerciais e

diplomáticos” com váriasnações da região. Na

verdade, a vinda revela ostemores do governo Bush

com o que o impériorotula de “esquerdização

da América Latina”,decorrente das recentes

vitórias eleitorais deforças democráticas e

populares na região.

“A visita oficial só temum mérito: o de permitirque a povo brasileiro vá àsruas para protestar contrao terrorista George W.Bush”

OVamos Exorcizar el Diablo Bush!Vamos Exorcizar el Diablo Bush!

Ano II – número 9 – fevereiro/2007 33MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Revolução Cubana foi um dosmarcos do século 20. Isto signifi-ca que se existe uma alternativapara o mundo, é o rechaço às

políticas neo-conservadoras e a esseliberalismo econômico radical. Tal al-ternativa pode tornar-se o bem para amaioria dos cidadãos. Por isso, ape-sar das críticas de alguns, Cuba man-tém esse interesse tão alto por partede milhões de pessoas em todo omundo, fora dos países desenvolvi-dos, isto é, no mundo subdesenvolvi-do, onde vive a maioria da populaçãodo planeta.

Cuba é uma das nações que desem-penha um papel muito significativono contexto mundial e, particular-mente, no latino-americano ecaribenho no setor dos esportes. Issoé evidente, quando se leva em conta

Uma Revolução que é alternativa para o mundo (**)Internacional Cuba é uma das nações que desempenha um papel muito significativo no

contexto mundial e, particularmente, no latino-americano e caribenho.

O programa Mesa Redonda Informati-va da Televisão Cubana transmitiu imagensdo encontro entre os líderes revolucionáriosHugo Chávez e Fidel Castro, ocorrido natarde de 30 de janeiro. O povo cubano rece-beu com enternecimento e alegria as ima-gens da reunião. No diálogo, em que am-bos se abraçaram e conversaram de pé,Chávez brincou com Fidel, a quem elogioua marcha da recuperação de sua saúde:

– Estou te calibrando os decibéis davoz. Eu acho que já fala mais alto que há48 anos quando foste a Caracas - disse oestadista venezuelano. - Este abraço e estesentimento é de milhões, te queremos, tenecessitamos – confessou Chávez a Fidel,e acrescentou que muitos outros enviavamesta saudação por meio dele, entre eles oarquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.

A televisão mostrou imagens de Fidellendo jornais, com denuncias da influên-cia das mudanças do meio ambiente so-bre a saúde humana. Fidel lembrou entãoa Chávez esteve entre os primeiros a con-

que, Cuba, com apenas um quinto dapopulação da Grã-Bretanha, ganha omesmo número de medalhas que nós.Por isso, temos muito que aprender

com esse país.Ao chegar a Cuba, por onde quer

que se vá, se percebe que todo mun-do usa lâmpadas de baixo consumode energia. Isso não só ajuda a redu-zir as causas do aquecimento global.Para nós, é um exemplo e uma liçãopara todos de como se podeimplementar uma mudança nos cida-dãos e combater a mudança climáti-ca. Demonstra que tentando salvaro planeta, as pessoas podem, aomesmo tempo, poupar dinheiro. Otrabalho na área de poupança deenergia desenvolvido por Cuba, éum exemplo para todos

Fidel Castro está de pé! E completo (*)

denar estes fenômenos e as nefastas con-seqüências sobre a nossa espécie. O presi-dente venezuelano se mostrou feliz pela for-ma que se recupera Fidel, a quem encon-

trou com a lucidez e energia de sempre, nolongo diálogo que mantiveram.

– Tem bom humor, boa face, bom âni-mo, como sempre com muita clareza nasidéias e nas análises – declarou.

Chávez revelou que conversaram sobrea crise energética, revisaram dados sobre amarcha da Revolução Energética, o petró-leo, as ameaças do império contra o mun-do, e os potenciais novos conflitos dos queestão pendentes.

– Está como sempre, com uma gran-de generosidade, uma grande qualida-de humana; aí está Fidel de pé e com-pleto, espero que continue se recuperan-do – enfatizou.

As imagens transmitidas pela televi-são cubana desmentem as especula-ções que diversos órgãos de imprensainternacionais fizeram sobre o agrava-mento do estado de saúde do presidentecubano

(*) Texto extraído do Granma

(**) Trechos de uma entrevista conce-dida por Ken Livingstone, prefeito deLondres, à revista CubaSí por ocasiãode uma visita a Havana

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34 Ano II – número 9 – fevereiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

FAusto Wolff Por que a imprensa brasileira está tão irritada com Chavez? Opovo lhe deu o direito de nacionalizar o que bem entender.

imprensa brasileira bateu forteem Chavez chamando-o de pa-lhaço e paradoxalmente de au-toritário que quer acabar com a

liberdade jornalística na Venezuela.Por quê? Chavez foi eleito e reeleitodemocraticamente. Aliás. Foi um pas-seio. Se houvesse vencido por algunspoucos milhares de votos Bush grita-ria foul play e os mariners não o deixa-riam tomar posse. Na grande demo-cracia americana Bush foi eleito gra-ças à fraude e foi reeleito em 2004embora tenha feito o pior governo des-de Johnson, porque confrontou os elei-tores com o seguinte dilema: “Ou euou o terror”, uma falácia hoje facilmen-te reconhecível pois o terror é ele: foiele que invadiu o Iraque e oAfeganistão sob falsas premissas; pre-para-se para invadir o Irã enquantocomemora cinco anos de campo de

Um convidado nada trapalhão!

concentração de Guantánamo ondemuitas crianças completaram maiori-dade sob tortura. Vale a pena lembrar,ainda, que foram os americanos queplanejaram, orquestraram e dirigirama tentativa de golpe contra Chavez exe-cutada exatamente pelo dono da redeequivalente à Globo

local. Pode ser que venha a havercensura na Venezuela e me colocareicontra mas ainda não houve e algunsórgãos internacionais já estão gritan-do “Chavez é ameaça à liberdade deimprensa.” Parece-me que ele, comopresidente, assim como Lula, tem todoo direito de não renovar a concessão auma organização que tentou derruba-lo do poder fisicamente.

Nossos jornalistas teriam de sermuito cínicos, hipócritas ouinexperientes se negassem o quanto aTV Globo fez pela ditadura e vice-versa.

Creio que só o presidenteSalvador Allende foi tão dura-mente criticado pela nossaimprensa. Sempre que fala-vam (mal) dele referiam-se aocaudilho ou ao presidente co-munista. Suicidou-se para nãodar a Pinochet – figuraexecrável que até hesito emcomparar com Brutus – o gos-to de fazê-lo. Parece-me queChavez estudou bem a trajetó-ria de Allende que, sem chegarao autoritarismo, deveria terassumido o papel de presiden-te forte num sentido preciso:distanciando-se dos partidos eimpondo suas decisões nosmomentos cruciais. Foram ashesitações das organizaçõespolíticas e sua lentidão paratomar decisões que precipita-ram o desfecho e facilitaram atarefa de seus inimigos, numaUnidade Popular dilaceradapela paridade catastrófica en-

tre os que aceitavam a necessidade denegociar e os que propunham “avan-çar sem transigir”.

Por que a imprensa brasileira estátão irritada com Chavez? O povo lhedeu o direito de nacionalizar o quebem entender; o povo lhe deu o direi-to de realizar o velho sonho socialis-ta de Allende e Brizola. O que maisdisse que possa ter ofendido os nos-sos jornalistas? Desejou a recupera-ção de Fidel? Eu também. Quer aintegração da América Latina? Eutambém. Está tratando o povo comrespeito como deveríamos fazer? Ora,quem não quer isso? Ou será que estevelho cronista e Amorim, o ministrodas Relações Exteriores, também de-vemos achar que o que é bom para osEstados Unidos é necessariamentebom para o a Venezuela, a Bolívia, oEquador e o Brasil?

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