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Elementos fundamentais para a prática do jornalismo científico Claudio Bertolli Filho * Índice 1 Afinal, o que é jornalismo científico? 2 2 A linguagem do jornalismo científico 4 3 A produção da notícia científica 5 4 Os percalços do jornalismo científico 9 5 As imagens construídas sobre os leito- res 17 6 Dimensões éticas do jornalismo cien- tífico 19 7 Considerações finais: para que serve o jornalismo científico? 24 8 Referências bibliográficas 28 A modernidade tardia tem como uma de suas características fundantes a presença ma- ciça da ciência e da tecnologia no cotidiano. Em conseqüência, cada vez mais o cidadão é coagido a se integrar aos debates propos- tos pela “sociedade global” a partir do do- mínio de conhecimentos científicos amplos que, de regra, parecem de difícil – ou mesmo impossível – apreensão por parte dos leigos. O caminho encontrado pela maior parte das pessoas para entrar em contato com as novas propostas e produtos gerados pela ciência é * Docente no Programa de Pós-Graduação em Co- municação e no Programa de Pós-Graduação em Edu- cação para a Ciência da Universiade Estadual Paulista (UNESP), campus de Bauru. ([email protected]). a recorrência aos meios de comunicação de massa. Com isso, a mídia passou a desem- penhar a função estratégica de fornecedora de informações científicas, as quais permi- tem que todos se sintam minimamente afina- dos com as questões centrais de um mundo que, sob a égide da ciência e da tecnologia, mostra-se em contínuas e rápidas transfor- mações. Espelhando a tendência internacional, o movimento editorial latino-americano tem se empenhado em responder às necessidades de um público ávido em conhecer um pouco mais sobre ciência. Tomando o Brasil como exemplo, além dos cadernos e seções espe- cializadas em ciência constantes nos princi- pais jornais e revistas do país desde meados da década de 1980, existe ainda uma varie- dade significativa de periódicos de divulga- ção, sendo os principais deles Ciência Hoje, Ciência & Cultura, Pesquisa FAPESP, Sci- entific American Brasil e ainda Galileu (an- tiga Globo Ciência)e Superinteressante, os dois últimos com tiragens médias respectiva- mente de 200 mil e 480 mil exemplares. Neste contexto, nos últimos anos as em- presas de comunicação passaram a buscar, com maior insistência, profissionais que de- monstrem capacidade de compreensão do discurso científico e habilidade para repas-

Elementos fundamentais para a prática do jornalismo científico

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Elementos fundamentais para a prática do jornalismocientífico

Claudio Bertolli Filho∗

Índice

1 Afinal, o que é jornalismo científico? 22 A linguagem do jornalismo científico 43 A produção da notícia científica 54 Os percalços do jornalismo científico95 As imagens construídas sobre os leito-

res 176 Dimensões éticas do jornalismo cien-

tífico 197 Considerações finais: para que serve o

jornalismo científico? 248 Referências bibliográficas 28

A modernidade tardia tem como uma desuas características fundantes a presença ma-ciça da ciência e da tecnologia no cotidiano.Em conseqüência, cada vez mais o cidadãoé coagido a se integrar aos debates propos-tos pela “sociedade global” a partir do do-mínio de conhecimentos científicos amplosque, de regra, parecem de difícil – ou mesmoimpossível – apreensão por parte dos leigos.O caminho encontrado pela maior parte daspessoas para entrar em contato com as novaspropostas e produtos gerados pela ciência é

∗Docente no Programa de Pós-Graduação em Co-municação e no Programa de Pós-Graduação em Edu-cação para a Ciência da Universiade Estadual Paulista(UNESP), campus de Bauru. ([email protected]).

a recorrência aos meios de comunicação demassa. Com isso, a mídia passou a desem-penhar a função estratégica de fornecedorade informações científicas, as quais permi-tem que todos se sintam minimamente afina-dos com as questões centrais de um mundoque, sob a égide da ciência e da tecnologia,mostra-se em contínuas e rápidas transfor-mações.

Espelhando a tendência internacional, omovimento editorial latino-americano tem seempenhado em responder às necessidades deum público ávido em conhecer um poucomais sobre ciência. Tomando o Brasil comoexemplo, além dos cadernos e seções espe-cializadas em ciência constantes nos princi-pais jornais e revistas do país desde meadosda década de 1980, existe ainda uma varie-dade significativa de periódicos de divulga-ção, sendo os principais delesCiência Hoje,Ciência & Cultura, Pesquisa FAPESP, Sci-entific American Brasile aindaGalileu (an-tiga Globo Ciência) e Superinteressante, osdois últimos com tiragens médias respectiva-mente de 200 mil e 480 mil exemplares.

Neste contexto, nos últimos anos as em-presas de comunicação passaram a buscar,com maior insistência, profissionais que de-monstrem capacidade de compreensão dodiscurso científico e habilidade para repas-

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sar os conteúdos para um público interes-sado em se inteirar sobre as últimas novida-des da ciência. Apesar disso, tomando aindao caso brasileiro como exemplo, profissio-nais qualificados no setor do jornalismo ci-entífico ainda são raros, inclusive porque sãopoucas as escolas de Comunicação e os cur-sos de especialização que preparam os co-municadores sociais para atuar nesta área domercado.

Frente a tal situação, o objetivo deste textoé colocar em debate as principais questõesque ditam as possibilidades e impõem oslimites à atividade dos jornalistas científi-cos. Não se busca oferecer aqui novas op-ções para tal prática, mas sim sistematizarum vasto conjunto de informações e impas-ses que alimentam uma ampla bibliografia,nem sempre de fácil acesso para os interes-sados. O roteiro adotado para a produçãodeste texto parte da conceituação do jorna-lismo científico para, em seguida, abordar asquestões da linguagem e da produção da no-tícia científica e, na continuidade, focar asprincipais dificuldades e as implicações éti-cas do fazer jornalístico científico. Optou-setambém pela inclusão de um número signi-ficativo de referências bibliográficas – espe-cialmente as disponíveis na rede mundial decomputadores – não só para fundamentar asidéias assumidas, mas também para indicarnovas leituras para aqueles que pretendemexpandir suas reflexões sobre os tópicos aquitratados.

1 Afinal, o que é jornalismocientífico?

São comuns as referências que invocam ostermos “divulgação científica” e “jornalismo

científico” como sinônimos, indicando-secomo exemplo alguns dos textos assina-dos por José Reis, um médico que se tor-nou o principal divulgador científico brasi-leiro do século passado (Gonçalves & Reis,1999:62). Na verdade, pensa-se que a di-vulgação científica abriga em seu bojo umgrande número de iniciativas disseminado-ras do conhecimento, podendo abranger va-riadas modalidades de comunicação, desdeuma conversa informal até artigos jornalísti-cos. Entre uma e outra dessas expressões,encontra-se uma rica gama de possibilida-des: obras de literatura e poesia, livros di-dáticos, jogos, estórias escritas e/ou conta-das para a recreação infantil, histórias emquadrinho, filmes, programas de rádio e tele-visão, sítios virtuais, apresentações teatrais,músicas, exposições em museus, dentre ou-tras (Almeida, 1998; Zanetic, 1998; Mora,2003).

A amplitude atribuída à divulgação cien-tífica tem se mostrado como um fator obsta-culizador dos estudos a ponto de vários pes-quisadores buscarem circunscrever melhor aprática em questão. O jornalista Wilson daCosta Bueno (1984:16), por exemplo, pro-põe a diferenciação entre divulgação e disse-minação científica, atribuindo a esta última afunção de “transferência de informações ci-entíficas e tecnológicas, transcritas em códi-gos especializados, a um público seleto, for-mado por especialistas”.

Mesmo assim, as propostas de concei-tuação da divulgação científica ainda pare-cem provisórias. Uma linhagem de estudi-osos prefere conceituar a prática em ques-tão através de seu trabalho com a linguagem,o que implica o fundamento da divulgaçãoem ciência como sendo o empenho de re-codificação da linguagem científica, visando

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com isso favorecer que parcelas de saberesrestritos tornem-se acessíveis e inteligíveispara um público não especializado (Destá-cio, 2002:94). Outro grupo de pesquisadoresprefere centrar as discussões não na questãoda linguagem, mas sim na análise dos finsalmejados pela tarefa divulgadora:

“A divulgação científica radicou-se comopropósito de levar ao grande público,além de notícias e interpretações do pro-gresso que a pesquisa vai realizando, asobservações que procuram familiarizaresse público com a natureza do trabalhoda ciência e a vida dos cientistas. Assimconceituada, ela ganhou grande expan-são em muitos países, não só na imprensamas sob forma de livros e, mais refinada-mente, em outros meios de comunicaçãode massa” (Gonçalves, 1998:78).

Estabelecidas as possíveis conceituaçõesda divulgação científica, torna-se fundamen-tal então buscar-se o clareamento sobre aespecificidade do jornalismo cientifico norol das iniciativas divulgadoras em ciência.Parte-se do princípio que o jornalismo cien-tífico é um gênero jornalístico, constataçãoque parece óbvia, mas cujos desdobramentosnem sempre são suficientemente discutidospelos pesquisadores acadêmicos e nem pe-los próprios profissionais da comunicação1.A condição de gênero implica que o jorna-lismo científico atua, em princípio, em con-formidade com os procedimentos rotineirosde qualquer outra expressão jornalística. O

1 - No campo da comunicação, existem autoresque preferem distinguir a prática do jornalismo cien-tífico daquela que divulga notícias sobre tecnologia.Sobre esta discussão, veja-se o instigante artigo de Vi-nicius Romanini (2005).

contato com as fontes, a obtenção e checa-gem das informações e a formatação do textonoticioso, com o emprego de um vocabuláriode fácil compreensão são algumas das tarefasrequeridas do jornalista, qualquer que seja aespecialidade.

Tais elementos delimitam o que aqui seentende por jornalismo científico: um pro-duto elaborado pela mídia a partir de certasregras rotineiras do jornalismo em geral, quetrata de temas complexos de ciência e tec-nologia e que se apresenta, no plano lingüís-tico, por uma operação que torna fluída a lei-tura e o entendimento do texto noticioso porparte de um público não especializado. As-sim sendo, pensa-se como o autor anônimodo texto Jornalismo científico(2004) que,por exemplo, em uma matéria sobre, Men-deleiev e a concepção da tabela periódica deelementos assinada por um químico e profes-sor universitário e publicada em um jornal ourevista de penetração popular, não é um pro-duto típico do jornalismo científico, apesarde enquadrar-se como item de divulgação ci-entífica. Isto porque o texto assinado pelo ci-entista pode não ter obedecido os protocolospróprios da escrita jornalística.

Ainda é o autor do artigo acima mencio-nado que observa:

“O Jornalismo Científico, que deve serem primeiro lugar Jornalismo, dependeestritamente de alguns parâmetros que ti-pificam o jornalismo, como a periodici-dade, a atualidade e a difusão coletiva.O Jornalismo, enquanto atividade profis-sional, modalidade de discurso e formade produção tem características próprias,gêneros próprios e assim por diante”.

Buscando oferecer uma versão conclusivasobre este debate, Bueno (1984:11) oferece

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uma possível definição sintética de jorna-lismo científico:

“Um caso particular de divulgação ci-entífica e [que] refere-se a processos,estratégias, técnicas e mecanismos paraveiculação de fatos que se situam nocampo da ciência e da tecnologia. De-sempenha funções econômicas, político-ideológicas e sócio-culturais importantese viabiliza-se, na prática, através de umconjunto diversificado de gêneros jorna-lísticos”.

2 A linguagem do jornalismocientífico

Antes da abordagem das estratégias mobi-lizadas para a produção da notícia, torna-senecessário discutir as relações entre o jorna-lista científico e a linguagem, sendo freqüen-tes as análises que focam o jornalista comoum profissional que desempenha a funçãode mediador entre o discurso produzido pelaciência e o público leigo. Neste sentido,são constantes as referências bibliográficasque apontam os comunicadores sociais comoagentes de um trabalho com as palavras co-mumente denominado de “tradução inter-lingüística” (Pereira, 2002).

O empenho em produzir textos endereça-dos ao “leitor comum” remete os questio-namentos para uma das mais discutíveis ecorriqueiras observações sobre a prática dojornalismo científico: é o profissional atu-ante nesta área apenas um “tradutor” (esseé o termo comumente utilizado pela maiorparte das análises) do discurso científico paraum vocabulário inteligível pelo homem dopovo? (Praticco, 2003).

Para a lingüísta Lílian Zamboni tal afirma-ção se mostra errônea, advogando que o dis-curso de divulgação científica não se apre-senta como “um discurso da ciência degra-dado”, mas sim que se constitui em ou outroe autônomo gênero textual, essencialmentediferenciado do discurso originário, isto é,do texto que lhe deu origem.

Acrescenta a mesma autora:

“O que defendo, portanto, é a idéia deque o discurso de divulgação científicaconstitui um gênero de discurso cientí-fico, resultado de um efetivo trabalho deformulação discursiva, no qual se revelauma ação comunicativa que parte de um‘outro’ discurso e se dirige para ‘outro’destinatário (Zamboni, 2001, p. xviii-xix).

Com esta afirmação, a autora invocadamostra-se tributária dos posicionamentos as-sumidos por Maingueneau (1989) e Authier-Revuz (1998) ao reiterar que o discurso di-vulgador da ciência não é uma adaptação dodiscurso-fonte, mas sim algo novo e origi-nal. Por outro lado, Zamboni também se re-fere aos receptores do discurso, ressaltandoa diferença de alvo entre as duas falas: ocientista dirige-se aos seus pares, enquantoque o jornalista busca comunicar-se com o“público leigo” que, para o também lingüistaJosé Horta Nunes (2003, p. 44-45), corres-ponde à imagem idealizada de “um homemaberto, curioso pelas ciências, inteligente econsciente de sua distância em relação aosespecialistas”.

Cabe ressaltar ainda que, para melhor co-municar os fatos da ciência, os jornalistasrecorrem a múltiplas estratégias permitidaspela linguagem, inclusive uma profusão de

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metáforas e analogias. O emprego de taisrecursos são, via de regra, execrados pe-los cientistas que, com freqüência, afirmamque “não declararam” aquilo que aparece naimprensa como sendo fruto de seu depoi-mento e, mais ainda, que o uso de metáfo-ras e analogias pode levar a erros e simpli-ficações interpretativas de suas idéias e, emresultado, deporem contra o próprio entre-vistado e a equipe de pesquisadores da qualfaz parte. Na verdade, como expus em ou-tro texto (Bertolli Filho, 2000), tal como asideologias, recursos de linguagem como osmencionados se tornam realmente eficientesquando o enunciador não mais guarda cons-ciência de seu uso. Tomando-se como exem-plo o discurso da imunologia, há mais deum século os especialistas vêm utilizandoum vasto arsenal de metáforas e isto se tor-nou tão corriqueiro naquela área do saberque, sem qualquer constrangimento, muitospesquisadores não mais percebem o seu em-prego, notando a presença de tal dispositivoprovisório da linguagem apenas nos textose falas de outros locutores (Löwy, 1996).Frente a isto, acredita-se serem frágeis asargumentações que buscam desqualificar aimportância do jornalismo científico devidoas estratégias discursivas que comumente oscomunicadores lançam mão.

Outro ponto que está articulado com aquestão da linguagem do jornalismo cientí-fico localiza-se no afã do divulgador em esta-belecer sintonia com um público que o emis-sor nutre uma imagem demasiadamente im-precisa, quer o considerando com a mesmacapacidade que o locutor para a intelecção deassuntos geralmente complexos, quer comoalguém destituído de potencialidade para en-tender o vocabulário básico da ciência oumesmo da língua do seu país. Neste sen-

tido, é comum deparar-se com matérias que,pelo uso de jargões próprios de uma espe-cialidade científica ou ainda pela recorrên-cia a termos por demais genéricos, resultamem notícias de teor duvidoso, se não total-mente equivocado. Fácil de serem localiza-das na mídia e ao mesmo tempo difíceis deserem superadas pelos divulgadores científi-cos, essas ocorrências mostram-se prolíficas,mesmo quando o texto é escrito por um es-pecialista altamente treinado no setor jorna-lístico e num determinado campo científico.

Marcelo Gleiser, físico brasileiro radicadonos Estados Unidos, onde tem obtido algumdestaque como docente de física teórica, as-sina uma coluna registrada como de jorna-lismo científico em um dos principais jornaisbrasileiros. Em seus textos, Gleiser tem op-tado por focar temas que privilegiam o apelopopular, elaborando matérias que se caracte-rizam por tal simplificação do campo concei-tual da ciência, que frequentemente incorreem imprecisões inadmissíveis para um lei-tor com conhecimentos medianos. Como vá-rios outros profissionais que escrevem arti-gos para jornais e revistas, Gleiser empregacomo sinônimos conceitos distintos e carosà Física, mencionando-se como exemplo osconceitos de matéria e de massa (Martins,1998; Perez, 2003).

3 A produção da notíciacientífica

Estabelecidas as possíveis definições e os di-lemas de linguagem próprios do jornalismocientífico, o passo seguinte refere-se aos cri-térios adotados pelas empresas de comuni-cação e por seus funcionários para seleciona-rem, dentre o grande número de informações

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geradas pelas atividades científicas, aquelasque integrarão a pauta e que serão transfor-madas em notícias a serem veiculadas.

Muitos são os elementos interferentesneste processo, desde as cobranças sociaisem relação à mídia e a sensibilidade e co-nhecimentos do editor responsável pelo se-tor até a linha política assumida pelo órgãode comunicação e o poder das instituiçõescientíficas em agendarem os temas explora-dos pelos meios de comunicação de massa.Em continuidade, os jornalistas parecem nu-trir um certo preconceito em relação a algunssetores da ciência, imitando o que faziam ospais do positivismo mecanicista, ao não con-siderarem as Humanidades como expressõescientíficas típicas, por estas não serem con-sideradas produtoras de verdades universaise nem passíveis de comprovações incontes-tes (Joelston et, al, 1991:2). Tornou-se pontocomum na mídia aceitar que as matérias inte-grantes das revistas, cadernos e seções de ci-ência devem se reportar quase que exclusiva-mente às chamadas ciências básicas (Física,Química e Biologia) e às ciências aplicadas(Engenharia, Medicina, Agronomia, dentreoutras), eliminando ou minimizando as pos-síveis matérias voltadas para as ciências hu-manas (Melo, 1985:140). A estas últimassão reservados outros espaços da mídia, taiscomo os programas de variedade na televisãoe no rádio e os cadernos culturais dos jornaise das revistas.

Apesar disso, a abundância de informa-ções que podem ser colhidas na própria so-ciedade na qual o profissional está inserido eo caudaloso material que chega a ele atravésdos contratos com agências noticiosas inter-nacionais impõem a existência de outros cri-térios que podem se tornar rígidos, depen-dendo do grau de autonomia que a empresa

de comunicação concede aos seus funcioná-rios. Hiller Krieghbaum (1970), Warren Bur-kett (1990) e Alton Blakeslee (1996), jorna-listas e acadêmicos que assinaram obras fun-damentais sobre o jornalismo científico, es-tipularam uma extensa lista de critérios quedevem ser observados no processo de sele-ção das informações, produção e publicaçãode uma notícia científica.

Os principais critérios indicados por essesautores são os seguintes:

1. Senso de oportunidade: quando assun-tos já “vencidos”, isto é, que ocorreramnum passado próximo ou distante, vol-tam a despertar o interesse porque umcientista apresentou no âmbito de umcongresso um relatório que invoca umacontecimento ou uma descoberta an-tiga ou quando um material, apesar deantigo, só agora deixou de ser sigiloso.

2. “Timing” : ocorre quando um eventoexterno aos novos acontecimentos ci-entíficos chama a atenção pública.Exemplifica-se com o acidente que des-truiu o foguete lançador de satélite bra-sileiro, ocorrido em meados de 2003;nos dias seguintes ao evento, diver-sos jornalistas científicos empenharam-se em levar ao público um históricodo programa aeroespacial brasileiro,comparando-o com o mesmo setor emoutros países, notadamente os EstadosUnidos.

3. Impacto: quando se percebe que um de-terminado tema, mesmo que não apre-sente novidades, pode atrair a atençãode um grande número de pessoas, oque acontece especialmente quando oassunto focado é o de medicina e saúde.

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Assim, avaliações sobre o estado emque se encontram as pesquisas sobreo câncer, sobre a sexualidade ou so-bre as patologias coronarianas são re-gularmente invocadas, principalmentequando não há matéria “quente” a serveiculada.

4. Significado: é a capacidade dos edito-res, redatores e jornalistas em percebe-rem a importância científica e/ou socialde uma nova descoberta no campo ci-entífico; assim, caso os profissionais damídia não consigam realizar uma avali-ação abalizada e ágil sobre um determi-nado tema, certamente não o incluirãona pauta. Isto se deu, por exemplo, comas experiências pioneiras que utilizaramos vírus como agentes modificadores doDNA, o que muito expandiu a área deatuação da engenharia genética.

5. Pioneirismo: as atividades dos cientis-tas e a dos jornalistas se aproximamno referente à busca de um “furo”, istoé, de uma descoberta ou de uma no-tícia que aponte para um fato novo eque, portanto, atraia a atenção pública.Para tanto, é necessário que os jorna-listas mantenham um contato próximocom os laboratórios e com os pesquisa-dores e saibam avaliar com destreza asinformações que a eles chegam. Casocontrário, o profissional da mídia podeincorrer no erro de deixar-se convencerpor um pesquisador que, antes de maisnada, busca a auto-promoção – inclu-sive através do engodo – e não ofereceruma verdadeira e consistente contribui-ção para o avanço do saber.

6. Interesse humano: outro critério utili-

zado pelo jornalismo científico é produ-zir matérias que envolvam as emoçõeshumanas, não só para informar a so-ciedade, mas também para sensibilizá-la e incentivá-la para a ação, quer sejaem relação à adoção de hábitos saudá-veis de vida, quer para a doação de re-cursos para um programa de ajuda àsvítimas de uma enfermidade. Nesteúltimo caso, por exemplo, explica-seos mecanismo da AIDS ou as causasda Síndrome de Down e, em seguida,acrescenta-se a trajetória social e as ne-cessidades dos atingidos por estes ma-les, motivando o público a agir em proldestes personagens.

7. Personagens célebres ou de ampla ex-posição na mídia: entrevistas com auto-ridades científicas ou profissionais queacumularam prestígio em suas área deatuação chamam a atenção pública eatraem a leitura de artigos ou a assistên-cia a programas de rádio e televisão. Nocaso brasileiro, atualmente ganha desta-que o astronauta Marcos Pontes, o pri-meiro latino-americano a participar deuma viagem espacial. A descrição desua aventura no espaço favoreceu a pro-dução de inúmeras matérias que expli-cam, inclusive, vários conceitos cientí-ficos, desde os fatores físicos e mecâ-nicos que permitem que uma nave al-cance rapidamente o espaço até os efei-tos da ausência de gravidade no funcio-namento do corpo humano.

8. Proximidade: quanto mais perto o lei-tor está do evento, maior é a possibi-lidade que se sinta coagido a ler umamatéria científica. No caso brasileiro,

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é certo que, na semana em que se re-aliza o encontro anual da SociedadeBrasileira para o Progresso da Ciência(SBPC), alguns assuntos que tocam di-retamente o cotidiano nacional, comoas conseqüências climáticas do desma-tamento da Amazônia, os efeitos da po-luição nas áreas metropolitanas e os ris-cos de o país ser palco da gripe dofrango resultam em matérias oferecidaspela mídia que contam com uma subs-tancial recepção popular.

9. Variedade e equilíbrio: cada programa,sessão, suplemento ou encarte científicodeve contar com matérias variadas oucom a multiplicação de enfoques sobreum mesmo tema para não alimentar aimpressão de monotonia e gerar tédioentre os leitores/espectadores que, seassim se sentirem, irão abandonar o as-sunto. Neste encaminhamento, os espa-ços impressos destinados à ciência ten-dem a estampar lado a lado notícias dediferentes setores do saber, por exem-plo, genética e astronomia.

10. Conflito: situações de confronto tam-bém chamam a atenção do leitor, prin-cipalmente no campo científico que, du-rante um longo período, adotou a ima-gem idealizada de uma atividade naqual seus profissionais alimentam idéiasharmônicas e convergentes. Na mí-dia, tal recurso ganha destaque princi-palmente quando ocorre um confrontoético entre cientistas; há algum tempomatérias sobre acusação de plágio en-tre biólogos que estudavam assuntos se-melhantes levou os meios de comunica-ção de massa a discutirem com certa mi-

núcia o campo conceitual utilizado porcada um dos pesquisadores em litígio.

11. Necessidade de sobrevivência: maté-rias que abordam temas que criam asensação que a informação é útil paraa saúde e o bem-estar físico e mentaldos leitores são rotineiramente incorpo-radas à pauta do jornalismo científico.Os debates em torno dos riscos de con-sumo de produtos transgênicos ou o ta-bagismo são exemplos atuais que garan-tem a atenção pública.

12. Necessidades culturais: é comum osleitores se interessarem pela consultaa matérias que falam sobre o “es-tilo de vida”, seus benefícios e ris-cos para, a partir disto, defrontarem-se com novas opções comportamen-tais ou ampliar seus recursos de “auto-reconhecimento”. Neste setor, as emo-ções e a sexualidade ganham destaqueno jornalismo científico, que busca es-clarecer, por exemplo, se a paixão oua homossexualidade são motivadas porelementos de dimensões biológica, psi-cológica, pela combinação de ambas ouainda por outros fatores.

13. Necessidade de conhecimento: admite-se que a maior parte do público cultiva aseu modo uma “paixão pelo saber”, istoé, um impulso em se inteirar das “coisasda ciência”, para se sentir atualizado esintonizado com o mundo em que vive.Neste sentido, os indivíduos encontram-se motivados, em princípio, a consultarqualquer matéria científica.

Claro está que a maior parte dos tópi-cos aqui discriminados constitui-se em es-

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tratégias comuns a toda a prática jornalís-tica, de cunho científico ou não. Além disto,muito outros fatores poderiam se relaciona-dos, apesar de considerar-se os mencionadoscomo sendo os mais destacados.

4 Os percalços do jornalismocientífico

A consulta a uma copiosa produção intelec-tual tematizada pelo jornalismo e pelo jorna-lista científico chama a atenção para a cir-cunstância da constância de observações re-ferentes às dificuldades do exercício destaespecialidade da comunicação. Nenhum ou-tro gênero ou confluência de gêneros jorna-lísticos ganhou ápodos tão negativos ou críti-cos quanto a expressão focada neste estudo.Assim sendo, o objetivo deste item é colocarem tela as principais dificuldades indicadaspela literatura sobre a prática do jornalismocientífico.

Eis as questões centrais destacadas sobreo assunto:

1. o analfabetismo científico: são comunsos registros que versam sobre o escasso em-penho das universidades em prepararem osestudantes para a militância na área da divul-gação científica. O jornalista não foge a estaregra e, se é comum invocar-se o despreparodo público para entender os fatos e os concei-tos empregados pelos cientistas, é necessáriose ressaltar que os próprios profissionais dacomunicação tendem a demonstrar o mesmoou até superior (des)conhecimento.

A multiplicação de erros e “barrigas”destaca-se entre editores, redatores e jor-nalistas. Jon Franklin (2003) desenvolveuuma pesquisa realizada nos jornais e revis-

tas norte-americanas que divulgam matériassobre a ciência; a partir dela, constatou-seque 2/3 dos entrevistados acreditavam que oshomens e os dinossauros viveram no mesmoperíodo e também que há um lado oculto dalua que nunca recebe os raios solares. Taiserros, por óbvio, influenciam a elaboraçãodas pautas e os conteúdos veiculados pelamídia em que atuam esses profissionais.

No Brasil, acompanhando a tendência in-ternacional, a precariedade da capacitaçãoacadêmica dos jornalistas que atuam nocampo científico é uma realidade. Como jáfoi ressaltado, raras são as escolas de co-municação que, no nível de graduação, ofe-recem a disciplina de jornalismo científico,mesmo em caráter optativo. Foi somente nadécada passada que surgiram os cursos deespecialização que, mesmo assim, ainda sãoescassos frente à demanda dos meios de co-municação e o interesse do público.

Ainda com poucas exceções, as empresasde comunicação, comumente contratam jor-nalistas (às vezes nem isso!) novatos e compouca ou nenhuma experiência no setor paraproduzir matérias centradas no jornalismocientífico. Carlos Fausto, que atualmenteé professor no Programa de Pós-Graduaçãoem Antropologia Social do Museu Nacio-nal da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro, conta sua iniciação no jornalismo ci-entífico como autor de um suplemento sobreEinstein e a Teoria da Relatividade. Seu de-poimento documenta exemplarmente o queainda acontece na maior parte da imprensabrasileira:

“Há quase 20 anos, quando eu era es-tudante de Ciências Sociais na Universi-dade de São Paulo, surgiu-me uma opor-tunidade de trabalho, comfree-lance.

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Tratava-se de escrever fascículos parauma coleção chamadaGrandes Fatos doSéculo XX. Comparecei a entrevista como editora-responsável. Ela propôs-me,então, uma experiência. Se eu fosse bemsucedido, outros temas se seguiriam, al-guns deles mais palatáveis para um jo-vem humanista, tais como a “Belle Épo-que”, o “cinema mudo”, “Martin LutherKing” ou “os Beatles”. A editora pediu-me um texto claro, bem escrito, adequadoao público geral, além de correção con-ceitual. Diante da última exigência, nãome coube outra alternativa senão contra-tar meu antigo professor de Física parame dar algumas aulas. Acabei conse-guindo o serviço (e perdendo algum di-nheiro). Einstein foi assim minha pri-meira experiência em divulgação cientí-fica” (Fausto, 2002, p. 207).

O que acontecia nos maiores centros ur-banos ainda continua a ocorrer na mídia se-diada nas cidades de pequeno e médio porte;a regra que continua a persistir entre os edi-tores é contratar jovens recém-egressos dauniversidade para comporem matérias cien-tíficas, o que os leva a reproduzirem acri-ticamente o que lhes é dito por quem elesacreditam ser autoridades científicas. Emum evento acadêmico recente, causou certoconstrangimento a situação de uma jorna-lista, encarregada de produzir um caderno deciência e saúde para um diário interiorano,afirmar por diversas vezes que “não entendianada de ciência”, sendo que o teor das maté-rias que assinava era definido a partir da se-guinte estratégia: entrevistar dois especialis-tas sobre o mesmo assunto e, caso houvessediscordância entre eles, apelar para um ter-ceiro entrevistado, indo para o texto a idéia

ou análise que se mostrasse predominante.A partir disso, a jornalista nem mesmo sa-bia se o que estava levando aos seus leitoresespelhava oup to dateda ciência ou apenasvisões parciais, que atendiam mais aos inte-resses particulares dos profissionais entrevis-tados. O importante para o jornal era queo caderno fosse produzido, já que atraia umbom número de anunciantes...

Casos que se reportam à precariedade deconhecimentos sobre ciências por parte dosjornalistas são registrados em série, confe-rindo dimensões tragicômicas à prática daespecialidade em discussão. A jornalista Fa-bíola de Oliveira (2002) referiu-se ao casoprotagonizado por uma repórter da RedeGlobo de Televisão que entrou em contatocom representantes do Instituto Nacional dePesquisas Espaciais (INPE), órgão encarre-gado do programa aeroespacial brasileiro.Como o INPE iria testar um foguete lança-dor de satélites, ela perguntou para um dostécnicos entrevistados se seria possível umaequipe do canal de televisão postar-se “den-tro do satélite”, quando este fosse lançado.Outra situação que se apresenta é a que acon-teceu com o próprio autor deste texto: ao pu-blicar um livro que contém vários capítuloscentrados na análise biológica e epidemio-lógica de uma doença viral, um repórter deuma das mais importantes empresas de co-municação do país entrou em contato por te-lefone para dizer que “não tinha o menor co-nhecimento sobre o assunto” e, como o edi-tor havia lhe solicitado um artigo de resenhasobra a obra para a tarde do mesmo dia, ojornalista praticamente suplicou ao autor lheditasse algumas linhas sobre a parte do livroque focava a especificidade dos mecanismosvirais.

Buscando não se prolongar nesse tema,

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torna-se obrigatória a referência à “barriga”que ficou popularmente conhecida como“caso boimate”, que serve exemplarmentepara ilustrar o desconhecimento de boaparte dos jornalistas científicos e a omis-são das empresas de comunicação. Em1987, celebrando o dia primeiro de abril,mundialmente conhecido como “o dia damentira”, uma revista européia inventoua notícia de que, na Alemanha, os biólo-gos Harry McDonald e William Wimpey(atentem para os sobrenomes dos cientistas,criados pela fantasia de um editor) haviamconseguido combinar os genes de boi comos do tomate, criando o “boimate”, umvegetal que tinha o gosto de churrasco. Afalsa notícia, acompanhada de um diagramailustrativo de como o tomate transgênicofoi produzido em laboratório, foi publicadacomo fato verdadeiro pela revistaVeja, osemanário de maior circulação no Brasil.No texto, o periódico informou com alardeaos seus leitores que “a experiência dospesquisadores alemães (...) permite sonharcom um tomate do qual já se colha algoparecido com um filé ao molho de tomate”.Constatada a gafe cometida pela pressa deveicular a sensacional notícia sem anteschecar as fontes, outros órgãos da mídia emesmo alguns leitores da revista criarampiadas irônicas sobre a matéria, sendo que,por algumas semanas, aVeja mostrou-sereticente em admitir o próprio erro (Bueno,2003a).

2. os interesses das empresas e dos insti-tutos de pesquisa: na lógica do capitalismoatual, omarketingconstitui-se em elementofundamental de legitimação das atividadesdesenvolvidas pela ciência (sobretudo as fi-nanciadas com o dinheiro público) e do lu-

cro das companhias que lançam no mercadouma grande variedade de produtos tecnológi-cos. A maior parte destas instituições contacom profissionais da área de Relações Públi-cas e Assessoria de Imprensa, além de seuspróprios cientistas submetidos a cursos rápi-dos de comunicação para melhor se relaci-onar com os políticos e com a mídia. As-sim, tanto as universidades quanto as empre-sas envolvidas com a produção de terapêuti-cas e outros itens vitais para a saúde e o bem-estar da população assumem assim o mesmocomportamento de qualquer outra empresaprivada, “vendendo” uma imagem altamenteidealizada e tributária da lógica de mercado(Rego, 1986: 159-160).

Claro está que a maior parte das organi-zações científicas e tecnológicas atuam nocontexto do e para o capitalismo, encon-trando nos jornalistas pouco preparados ossujeitos ideais para encantar com mensa-gens que fogem à realidade, transformando-os em porta-vozes não oficiais das necessi-dades institucionais e das ambições empre-sariais junto à estrutura política e à socie-dade abrangente (Nelkin, 1987). Origina-sedesta operação a veiculação de “informaçõesdesqualificadas” que apresentam enfermida-des inexistentes e produtos miraculosos, re-comendando serviços e mercadorias de altocusto e baixa ou nenhuma eficiência (Bueno,2001; Leite, 2006).

Os jornalistas mais experientes e que, porisso, tornam-se mais difíceis de sedução,são alvos de requintadas artimanhas de ade-são aos interesses empresariais, inclusive su-borno. O contato com alguns jornalistas per-mitiu saber que algumas empresas produto-ras ou comercializadoras de tecnologia ten-tam aliciar os profissionais da comunicaçãocom praticamente tudo, de viagens, hospe-

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dagens em caros hotéis a coleções de livros,brindes valiosos e até mesmo com o ofere-cimento de companhia sexual. Um caso ex-tremo de tentativa de declarada corrupção foidenunciado, na década de 1960, por HillierKrieghbaum: o representante de uma em-presa de medicamentos que havia desenvol-vido uma nova droga que já contava com vá-rios similares no mercado, entrou em con-tato com um reputado jornalista científicopara que este, mediante pagamento, redi-gisse uma matéria e a fizesse ser publicadano jornal em que trabalhava, informando nocorpo da matéria os benefícios para a saúdee o nome comercial do novo quimioterá-pico. Além disso, caso o artigo fosse re-publicado ou mesmo mencionado em outrosmeios de comunicação, o jornalista ganhariaainda mais dinheiro.

Assim teve prosseguimento o diálogo en-tre o jornalista e o representante da empresafarmacêutica:

“No total isso [a proposta de corrupção]chegaria a 17.000 dólares – como mental-mente calculei – mas aparentemente ha-via alguma coisa mais, porque quandoele [o corruptor] terminou sua explica-ção, perguntou: ‘Por que está me olhandocom tanto desprezo?’ Ao tentar explicar-lhe o mais gentil e cuidadosamente quepude porque eu não queria tomar partenesse embuste, disse-lhe apenas que eugostaria de poder dormir à noite. Elerespondeu-me de modo curioso. Disse:‘Eu bem que gostaria”’ (Krieghbaum,1970: 128-130).

3. cientistas x jornalistas: um dos fatosmais corriqueiros na atividade do jornalismocientífico é o confronto entre aquele que pro-duz e aquele que divulga ciência. Por um

lado, é freqüente ouvir da boca dos pesquisa-dores denúncias sobre a falta de conhecimen-tos básicos dos jornalistas, que tais profis-sionais fazem perguntas despropositais, queos comunicadores tomam muito tempo dospesquisadores com suas perorações e, sobre-tudo, que a mídia produz matérias que dis-torcem o que foi declarado pelos cientistas.

Para evitar mal-entendidos, é comum ospesquisadores solicitarem aos repórteres quelhes enviem o texto produzido sobre o as-sunto que discutiram antes que ele seja pu-blicado mas, o curto prazo de tempo impostopelas redações dificulta que isto ocorra, ge-rando situações que são interpretadas pe-los entrevistados como descaso ou prepotên-cia dos profissionais da mídia. Além disto,tornou-se comum também a crítica que osmeios de comunicação não cumprem seuscompromissos para com a ciência, ao nãoatuarem como elo de ligação entre as des-cobertas científicas e as empresas que pode-riam utilizar as propostas criadas nos labo-ratórios (Leite, 2003). Há casos mesmo deinstituições que proíbem seus pesquisadoresde concederem entrevistas, indicando que to-das as informações solicitadas pelos órgãosde comunicação devem ser solicitadas juntoa um funcionário do departamento de Rela-ções Públicas.

Em outra via, é comum também ouvir-sequeixas dos jornalistas em relação aos ci-entistas. As mais freqüentes delas referem-se às dificuldades de agendamento de en-trevistas com os pesquisadores mais desta-cados e que, quando estas ocorrem, o en-trevistado monopoliza a palavra, pouco le-vando em consideração as perguntas que lhesão dirigidas, que não abrem mão de expli-cações complexas e do uso de terminologiascientíficas que não são elucidadas no mo-

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mento oportuno e até mesmo de machismoou paternalismo. Tais circunstâncias fomen-tam a ocorrência de situações patéticas; re-centemente em um canal a cabo, um reno-mado físico foi praticamente tirado do ar nomeio de suas explanações sobre a produçãoe distribuição de energia elétrica porque oentrevistado não respeitou o tempo que lhefoi concedido. Em outra situação, confiden-ciada por uma comunicadora, a profissionalfoi chamada de “burra” por um entrevistadopelo simples fato de ter declarado que não es-tava conseguindo acompanhar a linha de ra-ciocínio adotada pelo pesquisador.

A repetição de situações como as menci-onadas tem alimentado um número relativa-mente grande de análises acadêmicas que, deregra, pouco tem contribuído para a reformados conflitos entre os jornalistas e os cien-tistas. Por um lado, os estudiosos da co-municação acusam os pesquisadores cientí-ficos de se considerarem “seres superiores”que se isolam em “torres de marfim” (Ta-mara, 2003). Em caminho oposto, os cien-tistas insistem que os jornalistas só lhe tra-zem problemas e constrangimentos (Capo-zolli, 2004; Rothman, 2003).

Acredita-se que, neste campo de disputas,algumas observações devam ser feitas alémde apontar eventuais responsáveis pelas di-ficuldades de relacionamento entre jornalis-tas e cientistas. A primeira delas refere-se àprópria especificidade de atuação de ambosos personagens; ainda é comum os pesquisa-dores científicos reivindicarem para eles pró-prios a produção de um saber neutro, racio-nal, pragmático, verdadeiro e, portanto, in-questionável, dimensões estas que se inte-gram à “ideologia científica”. Este termo,como foi proposto por Canguilhem (1977),refere-se à postura de defesa assumida pelos

cientistas sobre a infalibilidade de uma idéiaou teoria que se mostra hegemônica em umdeterminado momento histórico.

Em contraste, cada vez mais os textos eimagens midiáticas são avaliados como re-sultados de uma cultura e de um tempo, istoé, como resultado do trabalho de autoria deum sujeito social que, não obstante a buscapela objetividade e imparcialidade, mesmoassim deixa indeléveis marcas de quem es-creve, filma, fotografa, ilustra. Nesse sen-tido, o profissional da comunicação portauma ideologia – aqui invocada sob as luzesdo marxismo – que questiona a realidade so-bre a qual trabalha e, com isto, explicita-mente ou não, oferece ao público uma inter-pretação do que colheu junto aos entrevista-dos (Sousa, 2002: 30). O que ocorre comfreqüência não é a deturpação do que entre-vistado expôs, mas sim diferenças interpreta-tivas entre o cientista e o jornalista e os pro-tocolos de representação do acontecimentoinstrumentalizados por cada um deles.

Nesta rota, torna-se praticamente impos-sível não concordar com Franklin (2003)quando o experiente jornalista pontifica que:

“Scientists are forever complaining thatthey are misunderstood and misrepresen-ted, and I agree. But imagine what it’slike to be the guy in the middle, to becaught up in the distortion process, tofind yourself bargaining passionately fora tad more accuracy in a story, say aboutUFOs or cold fusion (. . . ) But the dis-tortion began as soon as the copy left ourhands.No, let me brutally honest. Distortion be-gan the very moment we conceived thestory, as we angled our perspective to ple-ase our editors. As soon as we picked

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up the phone we started censoring our-selves, second-guessing the story, tryingsomehow make something useful out ofwhatever we had. A lot of my colleagueswill deny this, but I think the result spe-aks for itself”

Dando prosseguimento às suas observa-ções, o mesmo autor refere-se também àcontingência de serem as redações das em-presas de comunicação ambientes altamentepolitizados, o que implica, no cenário pós-moderno e na reflexividade proposta pelo es-tágio sócio-cultural no qual todos estamosinseridos, numa indisfarçável resistência àsapologias dos cientistas e, especialmente,aos novos produtos tecnológicos (Giddens,2002). Pode-se assim afirmar que existe umconflito político-cultural básico entre os ci-entistas e os jornalistas; enquanto os produ-tores do saber científico e de suas implica-ções tecnológicas são regidos por uma “pai-xão” pela descoberta e pela elaboração deprodutos de alta complexidade, os comuni-cadores tendem a postar-se de forma reti-cente, buscando avaliar as conseqüências po-líticas, econômicas, sociais e culturais dos“avanços” da ciência e da tecnologia.

O embate entre ambos os personagensconta ainda com vários outros motivos,mesmo que não tão fortes quanto os já expos-tos. Baseado em Snow (1995), é possível fa-lar também que existem “dois vocabulários”,duas formas de expressar-se sobre e para omundo, uma própria do cientista e outra aojornalista. É nesta passagem ou “tradução”que se dá os mal-entendidos que contribuemainda mais para acirrar a animosidade en-tre os dois grupos, fenômeno exaustivamenteestudado por Fabiane Gonçalves Cavalcanti(2003). Coube à mesma estudiosa (2004 a

e b) também abordar o empenho dos agen-tes da mídia em explorar as possibilidades dalíngua e da linguagem para superar os obstá-culos da comunicação, inclusive através doabuso do emprego de neologismos.

Apesar de todos esses problemas, nos úl-timos anos algumas soluções têm sido testa-das para, se não eliminar, pelo menos amai-nar os conflitos nas relações entre os jorna-listas e os especialistas científicos. Parte dosmeios de comunicação tem se empenhadoem melhor preparar seus profissionais, pa-trocinando cursos de especialização no am-biente das próprias empresas da mídia ou fi-nanciando a participação de jornalistas pro-missores em cursos no exterior. Com isto,os principais jornais brasileiros – e da Amé-rica Latina em geral – repetem o que vemacontecendo na Europa e nos Estados Uni-dos, objetivando, além de conferir maior au-tonomia à fala jornalística em relação ao queé dito pelos cientistas, evitar erros primáriosna produção das notícias científicas, e avali-ações imprecisas que acabam disseminandofatos pseudocientíficos (Bueno, 2001).

Por sua vez, as próprias entidades produ-toras de ciência e tecnologia estão cada vezmais conscientes de seus compromissos so-ciais, preparando seus agentes para que es-tes mantenham uma relação mais cordial eprodutiva com a mídia. Afinal, é um deverdos cientistas explicarem-se para a sociedadee, nesta situação, os profissionais de comu-nicação podem desempenhar um papel es-tratégico. A Universidade Estadual Paulista(UNESP), dentre outras instituições de pes-quisa, elaborou um minucioso manual quevisa orientar seus docentes/funcionário sobrecomo devem se relacionar com os jornalistas(Silva, 2003).

A compreensão e o mútuo respeito entre

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jornalistas e cientistas ganharam um cursopragmático, abrindo uma promissora opor-tunidade para uma melhor cooperação entreambos. Para Migliaccio (2003) a proposta deum trabalho harmônico entre os profissionaisda comunicação e os produtores do saber ci-entífico tem um sentido claro:

“O progresso da ciência depende diretaou indiretamente de que o público a com-preenda, pois dele saem seus represen-tantes encarregados de fazer as leis e tra-çar as políticas, inclusive científica”.

4. a questão das fontes: além do con-tato direto com os laboratórios e com os ci-entistas, os jornalistas rotineiramente obtêminformações através de outros canais, taiscomo palestras e eventos científicos, comu-nicados à imprensa preparados por institui-ções de pesquisa, artigos especializados, re-sumos de livros e sínteses de pesquisas inédi-tas. Para o filósofo David Resnik (2003), setais fontes mostram-se cada vez mais impor-tantes para os comunicadores, também con-têm vieses, se não ciladas, que podem resul-tar em interpretações enganosas dos fatos.

Por isso, alguns comentários são oportu-nos sobre cada uma das principais fontes deinformações, sendo as principais delas:

a) palestras à imprensa: existem diversosmotivos que levam os cientistas a convo-carem a mídia para relatar seus trabalhosmesmo antes que estes sejam veiculados porpublicações especializadas: o sentimento deurgência de divulgação para que vidas sejamsalvas, o interesse em garantir a posiçãode pesquisador pioneiro e aindamarketingpara atrair a atenção pública e, a partir disto,garantir o apoio governamental e o benefício

de verbas oficiais. Nestes casos, não érara a situação na qual o cientista garante averacidade e eficiência de suas descobertas,sem que, no entanto, sua produção inte-lectual ainda não tenha sido avaliada porseus pares. Com isto, se a própria mídianão ouvir outros especialistas sobre o tema,os comunicadores podem incorrer no errode, na busca de realizar um “furo”, estardisseminando informações duvidosas, o quepode resultar em uma situação desabonadorapara os próprios jornalistas.

b) comunicado à imprensa: são freqüentesas situações nas quais as universidades eos laboratórios industriais recorrem à mídiaatravés de comunicados produzidos por seusdepartamentos de Relações Públicas. Taiscomunicados, ao divulgar novas descober-tas ou novas tecnologias, tendem a gerarexpectativas junto ao público pois, de regra,enfatizam que o novo conhecimento ou onovo produto apresenta melhor qualidade oumaior eficiência que seus similares. Nestasocasiões, os jornalistas devem ponderar seas informações recebidas atendem exclusi-vamente ao interesse público ou se visaminteresses comerciais ou promocionais.

c) congressos científicos: é comum umpesquisador participar de uma reuniãocientífica para expor hipóteses, discutira viabilidade de um novo procedimentocientífico ou avaliar o desempenho de umadeterminada tecnologia para, com isto,ouvir a opinião de seus colegas de saber.Nestes casos, o jornalista deve avaliar oque foi debatido e levar em consideração ascríticas que foram feitas pelos especialistasao teor do que foi apresentado no decorrerdo evento. Também é comum o fato de,

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no afã do comunicador em produzir umamatéria chamativa, transformar hipóteses emafirmações, tecendo matérias que transfor-mam hipóteses em verdades comprovadas,gerando assim falsas expectativas entre osleitores.

d) resumos: é também comum a cir-cunstância de os profissionais da mídiaapoiarem-se em textos de síntese paraelaborarem matérias científicas, o queimplica na possibilidade de seus escritosconterem erros e distorções. O ideal é queos jornalistas leiam a versão integral dosestudos e relatórios em que se baseiam paracompor suas matérias e ainda que busquemoutras opiniões abalizadas sobre o assunto.

e) press-release: são freqüentes asrecomendações sobre as cautelas que de-vem ser tomadas quando da utilização depress-releasescomo fonte privilegiada nacomposição das notícias2. Lewis (2003)alerta para o fato de que, pelo acúmulode trabalho imposto aos jornalistas e pelogrande númeroreleases que diariamentechegam às redações, estar se tornandocada vez mais inevitável sua utilização naprodução das notícias. Por sua vez, Ribas(2004), mesmo reconhecendo a importânciae funcionalidade deste tipo de fonte, con-cluiu que ela tem gerado matérias passivas ehomogêneas que, se por um lado contribuempara a apologia da ciência e da tecnologia,por outro pouco informam o público sobre

2 - É necessário se observar também que, prin-cipalmente nos casos de órgãos de comunicação demenor porte, ospress releasessão adotados integral-mente e reproduzidos sem a menor cautela, aumen-tando ainda mais as chances de veiculação de infor-mações duvidosas.

as conseqüências sociais e políticas daincorporação coletiva de uma nova idéia ouproduto chancelado pela ciência.

Uma outra fonte que merece ser destacadaconstitui-se nos próprios periódicos destina-dos ao consumo de especialistas. O cientista,especialmente aquele interessado em dispu-tar grandes premiações, inclusive o Nobel,tem se submetido a uma espécie de pactocom os editores das principais revistas de suaespecialidade, pacto este que estabelece queo pesquisador não divulgará publicamente osresultados de suas pesquisas antes que elasapareçam nas páginas de periódicos comoThe New England Journal of MedecineeTheJournal of American Medical Association,os quais reservam para si a exclusividade deanunciar o assunto em primeira mão.

Transferido para os meios de comunica-ção de massa, este acordo ficou conhecidocomo embargoed system. Assim, mesmoque um jornal, um canal de televisão ou umsítio virtual tenha acesso a uma informaçãoaté mesmo um mês antes que ela seja vei-culada em um periódico científico, os jorna-listas se vêem impelidos a nada publicaremsobre o tema. Se a própria mídia se acomo-dou nesta aliança, não competindo pela ob-tenção de um “furo” de reportagem, uma vezmais o público acaba sendo o grande prejudi-cado, pois acaba demorando em ter acesso auma informação que, potencialmente, pode-ria estar alterando seu cotidiano e até mesmosalvando vidas.

Tal situação encontra defensores e críti-cos, mas de qualquer maneira não deixa dú-vidas que o “sistema de embargo” acabasendo uma estratégia de defesa do prestígioe dos lucros de revistas especializadas e deinstituições de pesquisa. Da mesma forma,

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o mesmo sistema acaba interferindo no com-promisso dos meios de comunicação de in-formarem prontamente “tudo o que sabem”ao público, reiterando a subordinação da pro-dução e divulgação da notícia aos interesseseconômicos. Fala-se, pois, no agendamentoda pauta do jornalismo científico pelos ins-titutos de pesquisa e pelas revistas especiali-zadas de prestígio mundial.

5 As imagens construídas sobreos leitores

Até o momento, este texto privilegiou ex-clusivamente dois dos personagens humanosenvolvidos na trama jornalística: o pesqui-sador científico e o profissional da mídia.O terceiro personagem, até agora, ausenteé o leitor. Neste item, a proposta é avaliaras imagens produzidas especialmente pelosjornalistas acerca dos consumidores de suasmensagens, havendo sobre o receptor, umapluralidade de posturas adotas pela mídia.Uma discussão sobre o leitor torna-se funda-mental, pois é a partir das concepções nutri-das sobre ele (o que implica também no co-nhecimento de suas necessidades) é que searticula o texto jornalístico.

O melhor ponto de partida para conhe-cer quem é o receptor das mensagens cien-tíficas consiste em questionar sobre o lei-tor/espectador/ouvinte em geral, tomandocomo referência a versão doManual de Re-daçãopublicado em 2001 por um dos maisdestacados jornais do Brasil, aFolha de S.Paulo. A primeira observação que este ma-nual registra no item “Leitor” já deixa claroo liame básico estabelecido entre o emissore o receptor: os interesses empresariais:

“Leitor é quem sustenta, em última aná-

lise, o jornal. Leitor primário é aqueleque o compra. Leitor secundário é aqueleque tem acesso ao jornal, embora não te-nha o hábito de comprá-lo” (p. 45).

A partir desta declaração, arquiteta-se ascaracterísticas necessárias de serem incorpo-radas na produção das matérias. Como com-prador de uma mercadoria, o leitor deve serpoupado o máximo possível de qualquer di-ficuldade, cabendo ao jornalista servir-se deuma linguagem apropriada e também de grá-ficos, quadros sinópticos, mapas e imagens,dentre outros recursos para, mais do que tor-nar inteligível a matéria, cumprir o que aFolha de S. Pauloassumiu declaradamentecomo sendo sua “filosofia editorial”: poupartrabalho ao leitor.

“Quanto mais trabalho tiver o jornalistapara elaborar as reportagens, menos tra-balho terá o leitor para entender o que ojornalista pretende comunicar. (...) O jor-nal deve relatar todas as hipóteses sobreum fato, em vez de esperar que o leitor asimagine. (...) Deve explicar cada aspectoda notícia, em vez de julgar que o leitor jáesteja familiarizado com eles. Deve orga-nizar os temas de modo que o leitor nãotenha dificuldade de encontrá-los ou lê-los” (Manual da Redação, 2001:45).

Estas recomendações, que se apresentamhegemônicas na mídia, ganham curso maisnítido no território do jornalismo científico.Isto porque, tanto na América Latina quantoem outras regiões do planeta, observa-seuma forte tendência de os leitores das maté-rias sobre ciência serem representados como“analfabetos científicos”, mesmo que, como

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já foi observado, boa parte dos profissio-nais da área da comunicação tenha um ní-vel de conhecimentos científicos não muitodiferente daquele ostentado pelo público emgeral.

Neste compasso, contrastam as imagensnutridas pelos acadêmicos e pelos jornalis-tas sobre o leitor interessado em temas ci-entíficos. Para os pesquisadores Authier-Revuz (1998) e Nunes (2003), o público lei-tor corresponde à imagem de um persona-gem afoito por novidades, curioso pelas ci-ências, inteligente e que tem consciência queseu conhecimento é bem menos rico do queos dos especialistas. Opondo-se a esta idea-lização, que inclusive não conta com estudosque comprovem o que tem sido dito, o jor-nalista Hiller Krieghbaum (1970) prefere sermais rígido em suas pontificações; para ele,uma parcela considerável dos indivíduos queentra em contato com a mídia, simplesmentevira a página de ciência ou troca de canal,sem mesmo demonstrar curiosidade em sa-ber os temas em destaque.

No caso da televisão, o mesmo estudiosoreportou-se mais equilibradamente a uma si-tuação emblemática: nas primeiras horas danoite de 17 de março de 1966, quando ostécnicos responsáveis pela cápsula espacialGemini 8 detectaram um problema técnicoque colocava em risco a vida dos astronau-tas, as principais redes de televisão dos Es-tados Unidos interromperam suas programa-ções corriqueiras – a CBS estava apresen-tando um episódio deLost in space(queironia!), a ABC um capítulo deBatmanea NBC um episódio deThe virginian. Ostelespectadores reagiram ferozmente a estamedida, sendo que as três redes receberamainda na mesma noite mais de três mil tele-fonemas e telegramas, criticando-as por con-

fiscar da população o direito ao lazer progra-mado e impor-lhe a descrição da dramáticasituação que estava ocorrendo no espaço.

Concluindo sobre o perfil dos consumido-res dos produtos midiáticos voltados para aciência, Krieghbaum ponderou:

“Algumas pesquisas sobre as reações aonoticiário científico mostram que há sem-pre algumas pessoas que não se interes-sam, assim como há outras que não lêem,não assistem, nem ouvem as notícias so-ciais, esportivas, sobre política ou ques-tões internacionais. (...) As reações àsnotícias e informações sobre ciência (...)formam uma série que vai desde os queestão cegos em relação à ciência até osque absorvem o noticiário científico e, atécerto ponto, os que procedem de acordocom ele” (p. 161).

A partir destas considerações, as possibi-lidades de sucesso dos jornalistas científicosdependem da habilidade de manter a aten-ção do público já sensibilizado em relaçãoàs matérias de ciência e também de desper-tar o interesse de uma parcela daqueles lei-tores que até então não se interessavam peloassunto. Burkett (1990:38) referiu-se à ne-cessidade de explorar temas apelativos, prin-cipalmente referentes à saúde e à sexuali-dade, enquanto que Highfield (2003) apon-tou como recurso para conquistar os leitoresa produção de matérias taxadas de “interes-santes e inovadoras”.

As dificuldades da mídia em estabelecero perfil do público consumidor do noticiáriocientífico e como ampliar o número de indi-víduos interessados em ciência têm coagidoseus profissionais a recorrerem às fórmulasconsagradas pelos meios de comunicação de

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massa, especialmente a espetacularização dosaber e da prática científica, avizinhando-searriscadamente da divulgação da pseudoci-ência (Siqueira, 1999). De qualquer ma-neira, se aplicada com comedimento, a ci-ência como entretenimento pode gerar frutospositivos, como observou um destacado es-tudioso:

“Transformar um fato científico em umespetáculo digno de chamar a atenção dopúblico não deixa de ser um recurso re-tórico para tornar mais viável a comuni-cação da ciência para o leigo (Epstein,2002:134).

Na berlinda, a proposta de recorrência àestratégias tradicionais que a Comunicaçãorotineiramente lança mão, encontra francosadeptos como também fervorosos críticos(Rothman, 2003). O empenho em veicularmatérias científicas e encontrar leitores queas consumam e as entendam tem, como ele-mento limitador e ao mesmo tempo comopano de fundo o sempre invocado “analfabe-tismo científico”. Esta questão, dependendodo âmbito da análise, ora localiza no jorna-lista a incapacidade de redigir matérias fide-dignas às fontes e de fácil leitura, ora nos lei-tores, que geralmente são avaliados como in-capazes de decifrar as regras básicas do pen-samento e da produção científica.

Sobre esta questão reside uma das prin-cipais incertezas das relações entre a mídiacomprometida com os temas científicos e opúblico:

“So we are left with a chicken-and-eggconundrum: do we first change the cul-ture to appreciate science and its methods

and let the media follow, or do we re-educate the media and hope the culturewill follow?” (Peterson, 2003).

6 Dimensões éticas do jornalismocientífico

Ao se reportar à ética da profissão de jorna-lista, é corriqueiro o analista restringir seuenfoque na verificação de um conjunto desituações que aponta para ações impróprias,nas quais o agente da mídia deturpa delibera-damente os fatos, frequentemente deixando-se seduzir por uma organização que, medi-ante pagamento ou concessão de privilégios,coage o profissional a produzir uma notí-cia total ou parcialmente inverídica relativaa uma pessoa ou instituição.

Na tentativa de expandir o escopo destaproblemática, invoca-se neste texto a ética eas questões dela derivada enquanto algo bemmais amplo e universal, implicando no enfo-que do sujeito moral e suas ações, as quaissão instruídas pelos chamados valores mo-rais ou virtudes éticas. Neste sentido, o com-prometimento com “o bem e o mal” baseia-se em juízos de valor que, no caso do jor-nalismo científico, abrangem bem mais doque deixar-se ou não envolver por interes-ses escusos. Refere-se também a compro-missos com o leitor e com os destinos dacoletividade, com o entendimento da objeti-vidade como algo diferente de neutralidade,com a avaliação acurada do saber e da produ-ção científica, enfim, um compromisso paracom a própria Humanidade que exclui, porprincípio, uma postura de submissão queraos cientistas, quer às empresas de comu-nicação ou ainda, aos próprios desejos doleitor (Kreinz, 2002). Fala-se assim, numa

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prática jornalística que deve se manter inde-pendente dos interesses particulares e econô-micos e posicionar-se politicamente, assu-mindo o profissional que não é a ciência quepode salvar ou destruir o planeta, mas simos possíveis usos que se faz dela (Oliveira,2002:58).

Nestes termos, se é fundamental paraa atividade jornalística o compromisso deinformar sobre os fatos científicos atravésda produção de uma matéria clara e didá-tica, mais importante ainda é desenvolveruma operação interpretativa dos fatos. Porinterpretação dos acontecimentos entende-se sua contextualização, isto é, o enqua-dramento do acontecimento nas dimensõessócio-culturais, políticas, econômicas, mo-rais e intelectuais, expondo ao leitor as possí-veis conseqüências imediatas e para o tempofuturo de uma determinada ação (Amaral,1987:106).

Para Burkett (1990), a dimensão ética dojornalismo científico pode ser corporificadapelas seguintes problemáticas:

1. conflito de interesses: aceitar qualquertipo de privilégio ou presente para re-alizar uma matéria. É cada vez maisfreqüente editores não impedirem queum jornalista tenha sua viagem custe-ada por uma empresa cujas atividadescomporão o tema de uma matéria, soba compromisso de que esta condiçãoseja informada aos leitores. Em situa-ção peculiar encontram-se os jornalis-tas que atuam comofree-lancers, já quenão contam com a supervisão de um su-perior, devendo eles próprios decidiremse é lícito ou não o recebimento de favo-res das instituições sobre as quais pro-duzem notícias.

2. ganho financeiro pessoal: geralmenteé proibido que um jornalista noticiefatos de uma companhia com a qualele mantenha vínculos mais próximos,como por exemplo, sendo acionista. Damesma forma, quando um profissio-nal trabalha em mais de uma empresade comunicação, é normalmente vetadoque as informações obtidas em nome deuma delas sejam compartilhadas com asdemais, antes que a notícias seja publi-cada no primeiro órgão.

3. ética das publicações: os canais de co-municação de massa não devem anun-ciar, junto às notícias científicas, produ-tos diretamente envolvidos com as ma-térias e nem mesmo aqueles que ofere-cem facilidades para a obtenção do sa-ber científico. Em uma área na qual oerro jornalístico aflora com maior inten-sidade que em outros setores, também éimportante que o mais rápido possívelse comunique as imprecisões e as cor-rija pra que o leitor não se sinta logrado.

4. contar o que se sabe: cabe ao jornalistarelatar ao público tudo que sabe e acre-dita que seja de importância, quer con-flitos existentes no interior da própriacomunidade científica, quer assunto queum pesquisador já comprovou a veraci-dade, mas que é mal visto pelos seuspares. As dúvidas confidenciadas pe-los próprios cientistas ou as reticênciasdo jornalista quanto à eficiência de umanova descoberta também devem ser co-municadas aos leitores. Da mesmaforma, quando o que se sabe compro-meter a segurança ou a aceitação socialde um indivíduo que não está colocando

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em risco a comunidade, o profissionalda mídia deverá poupar a revelação daidentidade desta pessoa.

5. ética nas escolhas: um jornalista, ine-vitavelmente, coloca sua opinião nosseus textos, por mais que ele queira seomitir em nome de uma pretensa ob-jetividade. Por exemplo, na décadade 1970, tornou-se comum esta dúvidaquanto ao consumo de tabaco: deve-ria o comunicador tomar partido favo-rável ou contrário às companhias de ci-garro? Mais de três décadas depois,os produtos transgênicos também colo-caram o jornalismo na berlinda e, pormais que tais profissionais almejem semostrar “neutros” frente a questão, amaior parte das matérias apresenta-seimplicitamente contrária à generaliza-ção do consumo de tais produtos. Jáno século XXI, outras matérias aflora-ram com maior intensidade, como asque colocam em destaque as possibi-lidades da ação do jornalista científicoem tempo de guerra: o jornalista devese opor à voz oficial em tempo deguerra? Lembra-se que em agosto de2003, o jornalista Christopher Marquis(2004) assinou uma matéria que ganhoua primeira página doThe New YorkTimespor denunciar, juntamente comum deputado democrata, que o governoBush mostrava-se conivente com infor-mações mentirosas que estavam sendodivulgadas pelo setor de planejamentoestatal que, deliberadamente, incorpo-rou inverdades científicas em nome dasegurança nacional e que poderiam co-locar em risco a saúde da populaçãonorte-americana.

Outros estudiosos (Resnik, 2003; Lewes-tein, 2005) mencionam ainda outras circuns-tâncias que podem gerar impasses éticos naprática do jornalismo científico. David Res-nik colocou em destaque as questões oriun-das da interação entre ciência, meios de co-municação e público leitor. A importân-cia deste texto, que acabou sendo utilizadocomo um roteiro de muitas discussões quetem sido travadas sobre as possibilidades quepodem levar ao comprometimento dos prin-cípios éticos, determina que seus principaistópicos sejam aqui destacados:

• “ I- El público

– el público puede carecer de la in-formación necesaria sobre temascientíficos.

– el público puede estar mal infor-mado sobre los temas científicos.

– el público puede no entender algu-nos conceptos o recomendacionescientíficas.

– el público puede malinterpretar lainformación científica.

– el público puede estar completa-mente confundido sobre los temascientíficos y sobre la natureza delos debates científicos.

– el público puede verse expuesto ala ciencia basura.

• II- Ciencia

– los científicos pueden precipitarsea la hora de publicar datos.

– los científicos pueden manteneralgo em secreto para protegerlãs investigaciones preliminares oevitar controversias.

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– los científicos pueden fracasar emel intento de educar a la prensa oal público sobre su trabajo.

• III- Los medios

– los medios pueden tener proble-mas para acceder a los congresoscientíficos u otras fuentes de noti-cias.

– los medios pueden sucumbir antediversas falácias lógicas y esta-dísticas, como el uso de prue-bas anecdóticas, muestras sesga-das, etc.

– los medios pueden reproducir al-guna cita mal o fuera de contexto.

– los medios pueden usar fuentes nodignas de confianza o marginales.

– los medios pueden sensacvionali-zar, distorsionar o dar enfoquesparciales a las noticias

– los medios pueden dejar de cubiro abandonar el seguimiento de no-ticias importantes”.

Frente a tais indicações, acredita-se aindaser importante tocar em dois pontos cruci-ais que dimensionam o exercício do jorna-lismo científico, ambos inscritos no territó-rio da cultura: a mitificação do saber cien-tífico por parte da mídia e, a partir dele, asvisíveis reticências dos profissionais da co-municação em criticar a lógica e a aplica-ção da ciência e da tecnologia. Para explo-rar estes dois pontos, torna-se recomendávelressaltar que as idéias e produtos científicos,assim como os produtos midiáticos, não seestruturam em um vazio de sentidos, sendo

em essência construções culturais que repro-duzem múltiplos pólos tensionadores da vidasocial (Santos, 2001; Schudson, 1996).

Neste sentido, os comunicadores tendema reproduzir em suas matérias a fantasia se-gundo a qual as vozes da ciência são uni-formes e convergentes, abrigando pouco ounenhum conflito. Este comportamento poderesultar em duas conseqüências desastrosas:a primeira delas é que se abre poucas chan-ces de contestação das idéias e das deci-sões científicas, considerando-se como rançoda tradição qualquer reação ao fazer cientí-fico emblematizador da modernidade. A se-gunda conseqüência é que, devido ao visívelacanhamento dos críticos dos jornalistas emquestionar os “avanços da ciência”, as maté-rias que eles assinam acabam sendo poucomais do que a reprodução do teor das fa-las dos especialistas entrevistados (Teixeira,2002).

Resultado desta tendência, é que umgrande número de profissionais da mídiatende a, em nome do esclarecimento pú-blico, promover a caricaturização não só daciência, mas também da vida social, já queesta acaba sendo interpretada como um con-junto de fenômenos sobredeterminados peladimensão biológica da vida humana. Em umperíodo em que a Biologia Molecular des-bancou a Física como geradora de matériasespetaculares, tornou-se moda o jornalismocientífico explicar as ações humanas comofruto exclusivo dos mecanismos genéticos.Existe uma avalanche de artigos em jornaise revistas de divulgação que apontam, semqualquer ressalva, a identificação de genesresponsáveis por quase tudo, da inteligên-cia, homossexualidade e agressividade até opendor pelas artes, esportes, matemática oumesmo da beleza (Bertolli Filho, 2004).

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Um outro produto derivado tanto dasdeclarações de uma parcela dos cientistasquanto da passividade dos comunicadores éa proliferação de matérias que, declarada-mente ou não, nutrem preconceitos étnico-culturais. Se várias análises já concluíramo quanto que, historicamente, a ciência –e com assustadora freqüência ainda serve –para a descriminação de agrupamentos hu-manos, ao reproduzir acriticamente as afir-mações científicas, os canais midiáticos, pormais que se apresentem como arautos da de-mocracia e das causas humanitárias, acabamincorporando e disseminando posicionamen-tos que chegam a beirar o racismo (Xavier &Xavier, 2002).

Fruto de todos os dilemas éticos elencadosneste tópico, durante a Primeira ConferênciaMundial de Jornalismo Científico, realizadaem 1992 em Tóquio, foi ressaltada a impor-tância das discussões éticas como questãobásica para a prática do jornalismo especiali-zado. Na seqüência, quando em 1999 deu-sea Segunda Conferência, na cidade de Buda-peste, destacou-se os compromissos dos jor-nalistas científicos para o século XXI. Apósser reiterada as posições estratégicas da ciên-cia e da divulgação científica para os homensdo novo século, os participantes do eventoelaboraram oito recomendações a serem ob-servadas pelos profissionais da mídia volta-dos para o campo científico.

Eis as recomendações que, se importantes,foram apresentadas no Brasil mediante umapéssima tradução e com inúmeros erros orto-gráficos e de concordância, mesmo que o do-cumento tenha sido divulgado originalmenteno sítio do Ministério de Ciências e Tecnolo-gia3:

3 - Foram corrigidas as imprecisões de redação

1. “Convocamos todos os jornalistas de ci-ência, incluindo ciências naturais, soci-ais e humanas e incluindo colegas noscampos relacionados à saúde e meioambiente para reconhecer as respon-sabilidades crescentes às pessoas domundo e apresentar as notícias pre-cisa, clara, íntegra e independente-mente, com honestidade e integridade;

2. Convocamos todos os jornalistas de ci-ência a apresentar com atenção não so-mente à ciência e tecnologia, mas emseus contextos político-sociais e seusmeios de produção;

3. Convocamos todos os colegas para re-conhecer as dimensões internacionais eefeitos da ciência e tecnologia, para gal-gar as barreiras das línguas que divide omundo e fazer esforços mais significa-tivos para apresentar assuntos de outrospaíses;

4. Convocamos os editores, organizaçõesde rádio difusão e outros porteiros (sic)pelo mundo todo a reconhecer não so-mente o interesse do grande público,mas o interesse da importância demo-crática e social inerente ao jornalismocientífico, e oferecer mais apoio, es-paço, tempo de programação, pessoale treino para os jornalistas que já tra-balham ou estão entrando no fascinantecampo da divulgação científica;

5. Convocamos para um esforço a fim dedesenvolver a fluência da informação naInternet através de outras línguas alémdo inglês;

constantes na versão em português do texto em ques-tão.

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6. Alertamos que embora a Internet e aRede Mundial melhorarem a comuni-cação; a informação desta forma pro-duzida – como qualquer outra fonte –precisa ser constantemente monitoradapara que haja qualidade, precisão, obje-tividade e integridade.

7. Convocamos a Unesco e outras organi-zações para apoiar: a formação de umafederação mundial de jornalismo cientí-fico e associações nacionais e internaci-onais de jornalismo científico; a convo-cação através desta organização de reu-niões internacionais bienais; e criaçãopor esta federação mundial de comuni-dades de jornalismo científico atravésde uma rede mundial bem preparada,de fácil acesso, editada com controle dequalidade.

8. Convocamos a Unesco e outras orga-nizações para fazerem tudo o que es-tiver ao alcance para apoiar a criaçãode espaço para treinamento de jornalis-tas científicos, que estivesse ao alcancede todas as regiões e nações; que pu-desse refletir inteiramente o novo e am-plo papel do jornalismo científico comofoi evidenciado durante a ConferênciaMundial de Ciência4; e que deveria serposto a disposição de países que nãotêm condições para oferecerem treina-mento adequado” (Declaração da Se-gunda Conferência, 1999).

A Terceira Conferência Mundial de Jor-nalismo Científico realizou-se em novembro

4 - A Primeira Conferência Mundial de Ciência foirealizada ao mesmo tempo e no mesmo local que a Se-gunda Conferência Mundial de Jornalismo Científico(nota do autor).

de 2002 na cidade paulista de São José dosCampos, reunindo um número menor de pro-fissionais e de países participantes do quea reunião anterior. Nela, além da criaçãoda Federação Mundial de Jornalistas Cien-tíficos (WFSJ), reiterou-se os mesmo prin-cípios daqueles apresentados em Budapeste,enfatizando-se na ocasião a importância es-tratégica do jornalismo científico para as na-ções periféricas. Mais do que isto, ressaltou-se também a complexidade das questões ci-entíficas abordadas pela mídia, assumindo-se que “ciência, política, economia e jorna-lismo são entidades não separadas, e sim in-terligadas, nas culturas das sociedades mo-dernas” (Declaração da Terceira Conferên-cia, 2003).

Em 2004, já sob o comando da WFSJ, foiorganizada a Quarta Conferência, sendo quenovamente as questões éticas ganharam des-taque. Na ocasião frisou-se a necessidadede posicionamentos críticos em relação à ci-ência como uma das dimensões necessáriaspara uma prática saudável, produtiva e éticado jornalismo científico (Dickson, 2004).

7 Considerações finais: para queserve o jornalismo científico?

Após a exposição do que se julga serem oselementos fundamentais para a prática dojornalismo científico, resta uma última ques-tão: o papel social atribuído ou, pelo menosrequerido, desta especialidade jornalística.

As respostas a este dilema variam emsentido, dependendo de seus enunciadores.Agentes governamentais, pesquisadores, jor-nalistas e a sociedade abrangente, apesar detodas as ressalvas endereçadas à divulgaçãocientífica e especialmente ao jornalismo ci-

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entífico, têm propostos direcionamentos, ob-jetivando com isto tornar mais concreto e efi-ciente os conhecimentos sobre a ciência e atecnologia no contexto da vida coletiva (Du-arte & Barros, 2003).

Espelhando a tendência dominante nospaíses centrais, no início da década passadaaAmerican Association for the Advancementof Science(AAAS) elaborou uma minuci-osa pesquisa que ganhou o título deSciencefor all Americans. Nesse estudo, empregou-se o termo “instrução científica” como algoque ora se aproxima, ora se confunde coma divulgação científica. Além disso, o do-cumento indica também os conteúdos quetodos os jovens norte-americanos deveriamdominar, partindo-se também do princípioque “a maioria dos americanos (...) não têminstrução científica” (Rutherford & Ahlgren,1995:17).

Na edição portuguesa, o texto perdeu osegmento do título que especificava a soci-edade para a qual o estudo foi originalmenteendereçado, sendo ancorado em um con-junto de interrogações que pode ser enten-dido como um programa de intenções para ocompartilhamento social do saber científico-tecnológico. A importância desse relató-rio dá-se pelo fato de suas proposições te-rem sido incorporadas pelos divulgadores,tornando-se uma espécie de plataforma quevem sendo frequentemente recitada pelosjornalistas científicos.

Os questionamentos sobre a lógica quedeve orientar a veiculação de conteúdos ci-entíficos, disseminadas nas páginas do rela-tório em questão, obedecem a quatro parâ-metros básicos:

1. “Utilidade: o conteúdo proposto – co-nhecimentos ou técnicos – irá aumen-

tar significativamente as perspectivas deemprego a longo prazo do aluno quecompletou o ensino secundário? Seráútil na tomada de decisões pessoais?

2. Responsabilidade social: o conteúdoproposto terá probabilidades de ajudaros cidadãos a participarem de forma in-teligente na tomada de decisões sociaise políticas em matérias que envolvem aciência e a tecnologia?

3. Valor intrínseco do conhecimento: oconteúdo proposto apresentará aspectosda ciência, matemática e tecnologia quesejam tão importantes na história hu-mana ou tão universais na nossa culturaque uma educação geral ficaria incom-pleta sem eles?

4. Valor filosófico: o conteúdo propostocontribuirá para a capacidade das pes-soas de ponderarem as questões re-lativas ao significado da humanidade,como a da vida e da morte, da percep-ção e da realidade, do bem individualcontra o bem-estar coletivo, da certezae da dúvida?” (Rutherford & Ahlgren,1995).

É importante perceber que, originalmente,todas as pontificações constantes no livro pa-trocinado pela AAAS guardam um sentidomarcadamente pragmático e nacionalista, senão imperialista. A disseminação do saber,no contexto dos Estados Unidos, tem um fimúltimo e estratégico: o futuro do país, corpo-rificado por necessidades de uma sociedademais justa, que mantenha a vitalidade econô-mica e o equilíbrio político. Um saber quetambém capacite os cidadãos para que es-tes garantam a segurança nacional, no con-

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texto de um “mundo atormentado por hosti-lidades” (p. 15).

A postura norte-americana impregna pe-sadamente as observações dos jornalistaslatino-americanos e, dentre eles, os brasilei-ros em particular, inclusive no que tange àcontinuidade entre o ensino formal básico emédio e o que é divulgado pela mídia nocampo da ciência. Em entrevista, MarceloLeite (2004), que inclusive freqüentou cur-sos de especialização científica na Américado Norte, assim definiu a missão do jorna-lismo científico:

“Me parece que ao menos a pesquisa fazparte integral da educação. A divulgaçãocientífica é mais um apoio e um comple-mento, sobretudo de atualização, porquea produção científica é hoje mais copi-osa e rápida. Os livros didáticos e mesmomuitos professores não têm condições deacompanhar esses desenvolvimentos quese sucedem, então os jornais e revistasacabam sendo uma forma de se man-ter atualizado (por isso nos preocupamosmuito com fornecer as fontes das pesqui-sas publicadas, em particular na Internet,para que as pessoas interessadas em seaprofundar possam obter mais material”.

Em caminho próximo ao de MarceloLeite, vários outros estudiosos ressaltam ocaráter didático e complementar ao que foiaprendido nas escolas por parte do jorna-lismo científico, destacando-se nesta pers-pectiva o falecido médico José Reis, emtexto que foi publicado pelo núcleo de es-tudos que recebe o seu nome (Reis & Gon-çalves, 2000). Caminho paralelo foi adotadopor Wilson da Costa Bueno (2003b), quandoenfatizou que o jornalismo científico conta,

entre suas funções, a preocupação de “des-pertar vocações” entre os jovens, especial-mente no referente às ciências básicas, men-cionando neste campo a Química, a Física, aBiologia e a Matemática.

Apesar da posição hegemônica da pro-posta sintetizada pelos norte-americanos, éimportante se ressaltar a existência de outrosposicionamentos sobre o papel a ser desem-penhado pelo jornalismo científico. Den-tre eles, ganha destaque os ensinamentos doespanhol Manuel Calvo Hernando (2003ae b). Reverenciado como um dos princi-pais jornalistas científicos em atividade (Bu-eno, 2003c), Calvo Hernando desempenhoue continua desempenhando a tarefa vital depolitização da prática do jornalismo especia-lizado, vendo nisto um pacto feito pelos co-municadores em defesa da cidadania.

Para esse intelectual, o jornalismo cientí-fico é ao mesmo tempo resultado e incenti-vador da sociedade democrática:

“Today is recognised, both in politicalscience and communication, that thereexists a mutual dependency between sci-ence and democracy. ‘Technological de-mocracy’ is spoken of and ‘the democra-tization of knowledge’ and awareness isbeing created of the fact that in order toparticipate in politics and, therefore, inhistory, you have to be informed. A de-mocracy will always be incomplete if itscitizens continue to lack the knowledgeand information that modern societies re-quire in order to participate in a conscien-tious and thoughtful way in the way soci-ety is run” (Calvo Hernando, 2003b).

A constatação desta realidade confere,para o autor em tela, novos compromis-

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sos para o jornalismo científico, No mesmotexto, ele acrescenta:

“Faced with the third millenium, the soci-eties of our time feel the political, econo-mic, social and cultural need to promoteor increase the popularization of sciencethrough mass media. The holding of thefirst Congress on the Social Communica-tion of Science (Granada, Spain, march1999) identified a trend that is not newbut which has a new dimension on the th-reshold of the 21st century: that peopleof different origins and backgrounds areworking in harmony on something that alittle while ago was considered a mino-rity problem, but that is now beginning tointerest a growing number of people andsocieties.The popularization of science, sciencejournalism and the public communica-tion of science are today trying to res-pond to this momentous challenge of ourtime”.

A defesa de um jornalismo interpretativo,condição essencial para um jornalismo cien-tífico conseqüente, tem alimentado múltiplosconflitos entre os divulgadores da ciência eos empresários da comunicação inebriadospela ideologia neoliberal e, neste contexto,cabe mais uma vez a pergunta: para queserve, afinal, o jornalismo científico? Umapossível resposta é fornecida por Capozolli(2003):

“O jornalismo científico deve contribuirpara uma alfabetização crescente da so-ciedade para que ela tome consciência deque abusos desse tipo [a produção e usode artefatos atômicos durante a Segunda

Guerra Mundial], cometidos em nome deum pretenso conhecimento exclusivo, le-vam a desastres sociais que podem e de-vem ser evitados. Caso contrário, a arbi-trariedade, arrogância e ganância não te-rão limites. Em termos sociais, o prin-cípio da ação/reação mostra que a con-seqüência direta dessas atitudes é o cres-cimento da violência. E, aí, não bastaconstruir presídios”.

Envolvidos com propostas mais amplaspara a divulgação da ciência encontram-setambém os profissionais que, em nome daprática de um jornalismo analítico, isto é,que não se restringe em “traduzir” a fala es-pecializada dos cientistas, buscam estabele-cer uma visão crítica, abordando a produçãoe circulação do conhecimento nos quadrosdas políticas públicas e das reais necessida-des sociais. Caldas (2003) e Sousa (2003)são exemplos de profissionais que se em-penham em explorar este viés, contribuindopara a renovação de uma área do jornalismoque busca estabelecer – e seguir – novoscompromissos para o século XXI.

Por fim, reitera-se que este texto guardoucomo objetivo colocar em destaque as prin-cipais questões que ditam as possibilidades eos limites de uma prática fundamental para areflexividade esperada da sociedade contem-porânea. Informa-se também que ele foi ela-borado com fins didáticos, sendo fruto par-cial dos questionamentos produzidos duranteas várias edições da disciplina “Comunica-ção e saúde”, ministrada pelo autor. Nestesentido, ele agradece às várias turmas dealunos que acompanharam e ainda acompa-nham as aulas da referida disciplina.

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