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ELEMENTOS SUBJECTIVOS DO TIPO A regra geral é a de que o Direito Penal exige o dolo, enquanto a punibilidade da conduta negligente constitui uma excepção (artigo 13.º CP). O dolo como elemento subjectivo geral do tipo de ilícito doloso: o conhecimento e a vontade de realização dos elementos objectivos do tipo (artigo 14.º CP) => o dolo tem de existir no momento do facto (o dolo precedente ou subsequente é irrelevante). Elementos do dolo: i) o elemento cognitivo e ii) o elemento volitivo. i) O elemento cognitivo O dolo tem de abranger a totalidade dos elementos objectivos do tipo (além de outros elementos que, não sendo descritos como elementos do tipo, mas fundamentam a pena e a sua medida). Designadamente, o dolo tem de referir-se:

Elementos Subjectivos Do Tipo

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Elementos Subjectivos da Infraccao Criminal, dolo, negligencia, culpabilidade punibilidade

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ELEMENTOS SUBJECTIVOS DO TIPO

A regra geral é a de que o Direito Penal exige o dolo, enquanto a

punibilidade da conduta negligente constitui uma excepção (artigo 13.º

CP).

O dolo como elemento subjectivo geral do tipo de ilícito doloso: o

conhecimento e a vontade de realização dos elementos objectivos do

tipo (artigo 14.º CP) => o dolo tem de existir no momento do facto (o

dolo precedente ou subsequente é irrelevante).

Elementos do dolo: i) o elemento cognitivo e ii) o elemento volitivo.

i) O elemento cognitivo

O dolo tem de abranger a totalidade dos elementos objectivos do tipo

(além de outros elementos que, não sendo descritos como elementos

do tipo, mas fundamentam a pena e a sua medida). Designadamente,

o dolo tem de referir-se:

— tanto aos elementos descritivos, como aos elementos normativos do

tipo (Atenção —> a valoração paralela na esfera do leigo);

— aos exemplos-padrão, por muito que eles não pertençam ao tipo

(homicídio qualificado);

— nas leis penais em branco => aos elementos objectivos da norma

que complementa a lei penal em branco; NB —> O erro acerca da

existência da referida norma => erro de proibição.

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— aos elementos constitutivos tanto dos tipos qualificados, como dos

tipos privilegiados (Ex.: erro sobre os elementos objectivos do

homicídio a pedido).

O elemento cognitivo retira-se do artigo 16.º CP => O erro de tipo

exclui o dolo => negligência (artigo 13.º CP)

O elemento cognitivo e o regime do erro de tipo (não confundir com o

erro sobre a proibição): e quando falte o conhecimento? Ou haja uma

falsa representação?

Casos de erro de tipo:

— o erro sobre o objecto da conduta (error in persona vel in objecto)

=> só exclui o dolo quando falte a equivalência típica entre o objecto

representado e o objecto lesado ou colocado em perigo => tentativa +

crime negligente (artigo 13.º); se houver equivalência típica entre o

objecto representado e o objecto lesado ou colocado em perigo =>

crime doloso consumado;

— erro sobre o processo causal => as variações sobre o processo

causal representado e o verdadeiros são não essenciais e irrelevantes

para o dolo de tipo, quando se mantenham nos limites do previsível

segundo a experiência geral da vida e não justifiquem outra valoração

do facto (Exs.: A atira B abaixo de uma ponte para que morra afogado,

mas B acaba por morrer no impacto contra um dos pilares da ponte; A

esfaqueia várias vezes B, pensando tê-lo morto, mas este acaba por

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morrer da infecção das feridas). Variação essencial, relevante => o

desvio no processo causal impõe uma valoração ético-jurídica diversa

[Ex.: A participa no transporte de B para o posto de comando, a fim de

ser fuzilado como desertor (durante a Segunda GG, na Alemanha),

mas, durante o transporte, outro soldado mata B por decisão própria: A

não pode ser considerado cúmplice no homicídio: ele estava a cumprir

e não a deixar B à mercê da tropa)] => tentativa de A + crime doloso

consumado de C;

— erro especial sobre o processo causal: A pensa que estrangulou B e

simula o seu suicídio por enforcamento e é neste momento que B

morre; A pensa que matou B com o seu disparo e deita-o a um poço

para ocultar o cadáver e é então que B morre => um acontecimento

unitário que é englobado pelo mesmo dolo / teoria do dolo generalis

que engloba todo o facto como um facto indivisível => facto doloso

consumado;

— erro na execução (aberratio ictus) => um duplo desvio do processo

que o agente tinha representado: não atinge o objecto que pretendia

atingir, mas atinge um objecto que não pretendia atingir => haja ou

não equivalência de objectos => tentativa + mais crime negligente

(artigo 13.º CP).

ii) O elemento volitivo do dolo

O elemento volitivo do dolo consiste na decisão dirigida à realização da

conduta típica e a execução dessa decisão, visando atingir o resultado

nos cirmes de resultado =) dolo directo ou intenção.

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NB —> O dolo tem de ser contemporâneo do facto (Ex.: o dos maus

tratos na mulher que sofreu um derrame cerebral).

O elemento volitivo e as formas de dolo (artigo 14.º CP)

— dolo directo ou intenção (artigo 14.º, n.º 1, CP): o agente conhece e

quer praticar o crime => predomina o elemento volitivo;

— dolo necessário (artigo 14.º, n.º 2, CP): quem representa a prática

do crime como consequência necessária da sua conduta;

— dolo eventual (artigo 14.º, n.º 3, CP): o agente representa a prática

do crime como consequência possível da conduta e conforma-se com

isso.

Distinção entre dolo eventual e negligência consciente (artigo 15.º,

alínea a))

São de afastar as teorias

— da probabilidade: grau de probabilidade com que o agente espera a

realização do tipo => nada diz de decisivo para traçar a fronteira entre

dolo e negligência;

— da possibilidade: idem;

— do consentimento => o agente teria de consentir, aprovar o

resultado => restrição demasiada do dolo eventual (Ex.: a aposta da

menina da bola de cristal na feira => seria sempre negligência

consciente, ao contrário do que sucederia com a fórmula positiva de

Frank);

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— teoria da aceitação: a resignação com a realização típica.

Dominante é a teoria da conformação

NB —> Decisiva é a fórmula positiva de Frank: haja o que houver, eu

actuo => dolo eventual.

Caso muito controverso: transmissão do vírus da SIDA através de

contactos sexuais não protegidos por pessoa infectada que, todavia,

representa a doença ou a morte do parceiro como possível (artigos

143.º, 144.º ou 131.º CP) a título de dolo eventual é negada, dada a

baixíssima probabilidade de transmissão => negligência consciente,

excepto quando o fim da conduta sexual do agente foi o de contaminar

o parceiro.

2. Os elementos subjectivos especiais do tipo de ilícito doloso.

NB —> Estes elementos especiais, ao contrário do que se passa com o

dolo, não se referem aos elementos objectivos do tipo, não havendo,

por isso, uma correspondência ou congruência entre o tipo objectivo e

o tipo subjectivo.

Os crimes de intenção ou de resultado cortado ou parcial: Ex. de

Figueiredo Dias: artigo 262.º CP!

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Crime de furto: não confundir a especial intenção de apropriação com

o dolo de subtracção.

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