Eletroterapia

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Apostila eletroterapia

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    Destaques

    ReCuRsOs FsICOsThiago Fukuda

    A utilizao de recursos fsicos na fisioterapia vem sendo utilizada h muitos anos em praticamente todas as reas. Com isso, o nmero de recursos e equipamentos tem aumentado muito e esta rea especfica vem sendo chamada de Eletrotermofototerapia. Essa diviso didtica engloba todos os recursos mais importantes: a Eletroterapia refere--se a equipamentos que geram corrente eltrica e podem produzir efeitos analgsicos (estimulao eltrica nervosa transcutnea, TENS e correntes interferenciais vetoriais, CIV), anti-inflamatrios e antiedematosos (CDB, microcor-rentes, high volt e corrente galvnica), fortalecimento mus-cular para melhora da funo (corrente fardica, estimula-o eltrica funcional (FES), VMS e corrente russa), entre outras; a Termoterapia envolve equipamentos que geram aquecimento tecidual profundo (ondas curtas, micro-ondas, ultrassom associado ou no a recursos eltricos) e superfi-cial (bolsas de gel ou compressas quentes, lmpadas IV ou UV) ou resfriamento (crioterapia). J o termo Fototerapia

    refere-se na atualidade utilizao do laser como agente teraputico.

    Sabe-se que o conhecimento cinesioterpico e biome-cnico fundamental para o tratamento das principais enfermidades do sistema musculoesqueltico, sendo que a extenso desse conhecimento para a rea de Eletrotermofo-toterapia e o manuseio correto desses equipamentos torna o tratamento mais preciso e o profissional que o aplica muito mais completo, tendo sempre um leque maior de opes teraputicas.

    Este livro tem um carter generalista e por este motivo ser abordado, aqui neste captulo, apenas alguns aspectos bsicos de determinados equipamentos comumente utiliza-dos na prtica clnica, sempre objetivando a aplicabilidade. Portanto, essa breve reviso dos recursos eletroanalgsicos, de eletroestimulao neuromuscular e a laser serviro como guia de consulta rpida para os captulos subsequentes. Para um melhor entendimento ou para a obteno de informa-

    UserHighlightNo localizei o significado das siglas CDB e VMS. Verificar.

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    es mais aprofundadas, sugere-se a leitura de livros/textos ou de estudos cientficos especficos da rea.

    eLetROaNaLGesIaEntre as vrias opes teraputicas com objetivos analg-

    sicos utilizados em clnicas e hospitais esto os equipamen-tos de estimulao eltrica nervosa transcutnea (TENS) e correntes interferenciais vetoriais (CIV). O termo TENS genrico, podendo ser utilizado para qualquer recurso que por estimulao atravs da pele gera efeitos fisiolgicos, po-rm, neste captulo, ser utilizado TENS para equipamentos eletroanalgsicos de baixa frequencia e CIV para os de mdia frequencia.

    estimulao eltrica nervosa transcutneaTENS um equipamento amplamente utilizado na Fi-

    sioterapia (nem sempre de forma correta) que tem como ca-racterstica a gerao de uma corrente alternada ou bifsica, pulsada, assimtrica, equilibrada com forma de pulso retan-gular. Essa caracterstica fsica faz com que seja uma corrente despolarizada, sem, portanto, efeitos capacitivos. A corrente emitida pelo TENS trabalha no espectro de aproximadamen-te 1 a 150 Hz, sendo considerada de baixa frequncia.

    Fisiologicamente, o TENS atua em princpio de uma forma local ou segmentar, aumentando a conduo nas fibras nervosas da dor rpida (fibras mielnicas do tipo Ab), inibin-do a conduo das fibras da dor lenta (fibras amielnicas ou polimodais do tipo C) ao nvel da substncia gelatinosa no corno medular posterior. Essas fibras mielnicas so ativadas no momento de um trauma ou da leso, sendo que alguns minutos depois as fibras amielnicas entram em ao. Essas fibras amielnicas de conduo da dor lenta so, portanto, fibras que estaro excitadas quando o fisioterapeuta abordar o paciente.

    Essa inibio segmentar evita a ativao do neurnio de transmisso (clula T) no trato espinotalmico, impedindo que o estmulo nocivo chegue ao tlamo e, consequente-mente, ao crtex. Esse mecanismo denominado teoria das comportas corresponde ao efeito analgsico do TENS, baseando-se no efeito de hiperestimulao das fibras miel-nicas, bloqueando a conduo das fibras amielnicas do tipo C, principalmente quando associadas ativao de vias ini-bitrias descendentes pela liberao de alguns neuromodu-ladores qumicos da dor chamados de opioides endgenos, basicamente as endorfinas.

    Alm deste efeito analgsico j bem descrito, estudos ex-perimentais tm sugerido um efeito normalizador do sistema autonmico simptico, levando, portanto, a um aumento microcirculatrio local abaixo dos eletrodos de estimulao. Esse efeito de reparo ou anti-inflamatrio ainda muito discutido, principalmente pelo fato do TENS gerar uma corrente de baixa frequncia, o que leva a uma profundida-de de penetrao muito pequena, no sendo capaz de levar esta microdilatao a tecidos abaixo da pele. Os estudos que corroboram com esses achados ainda se baseiam em animais experimentais.

    Existem quatro tipos principais de aplicao do TENS, sendo esses:

    1. TENS normal ou convencional: esta forma de apli-cao normalmente leva uma frequncia de 1 a 150 Hz e durao de pulso entre 50 e 120 s. Frequncias mais altas (em torno de 100 a 120 Hz) tendem a ser mais eficazes em processos dolorosos agudizados em pacientes com dor de alta intensidade originadas por leses recentes. Essa opo tende a liberar endorfinas de rpida atuao. J a utilizao de frequncias mais baixas (30 a 40 Hz) parecem otimizar a analgesia de longa durao, sendo empregadas em pacientes que relatam dor mais crnica. Alm disso, esta faixa de frequncia tende a levar a maior vasodiltao su-perficial local. A aplicabilidade clnica desta ltima informao ainda permanece incerta;

    2. TENS tipo Burst: mais indicado em casos de dor mio-gnica, seja por leso direta ou por espasmo protetor e tende a realizar uma estimulao prxima ao limiar motor, levando a analgesia via relaxamento muscular ps-excitao. Nessa forma de estimulao mantm--se a frequncia em 100 Hz, sendo aplicada com duas rajadas ou trs de pulso por segundo, sendo que a du-rao de pulso maior que o TENS normal, em torno de 100 a 180 s. A estimulao prxima ao limiar mo-tor leva a uma sensao forte, porm confortvel, de corrente com contraes musculares mnimas. Vale a pena lembrar que os efeitos tendem a ser analgsicos e relaxantes, no devendo ser confundidos com a es-timulao para o fortalecimento muscular (Fig. 31.1);

    3.'TENS tipo acupuntura: a frequncia de estimulao desse tipo de TENS est em torno de 2 a 5 Hz, com durao de pulso maior, prxima a 300 s. Essas caractersticas fazem com que atue tambm prximo ao limiar motor, produzindo analgesia e relaxamento muscular;

    4. TENS breve e intensa: a grande diferena entre esta forma e as outras a alta frequncia (100 a 250 Hz) e a alta durao de pulso (maior que 250 s). Esta configurao adotada por muitos terapeutas pr--procedimento cinesioterpico, visto que tende a oca-sionar uma analgesia mais rpida. Assim, a percepo do paciente de uma corrente de alta intensidade, porm tolervel.

    Fig. 31.1. corrente bifsica assimtrica equilibrada, gerada pelo equi-pamento Tens convencional e Tens Burst.

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    O TENS pode ser aplicado na pele por eletrodos de superfcie com gel base de gua, como material acoplador ou eletrodos autoadesivos. Essa aplicao deve ser realizada preferencialmente prxima regio de origem da dor (ou dermtomos relacionados), reservando um dos canais ao trajeto do nervo, prximo entrada na coluna vertebral (Fig. 31.2). A distncia entre os eletrodos deve ser de no mnimo um palmo, objetivando maior profundidade de penetrao, evitando-se tambm eletrodos pequenos, pois aumentaria muito a densidade da corrente, diminuindo a intensidade no equipamento.

    Um outro ponto importante na aplicao desse recurso o tempo de aplicao. Estudos recentes tm mostrado que a aplicao deve sempre exceder os 40 minutos, podendo chegar a aproximadamente duas horas para se buscar os melhores efeitos teraputicos. Tempo de aplicao menor do que o citado anterirormente parece no alterar a sensao dolorosa quando comparado estimulao do tipo placebo.

    Entre as inmeras indicaes do recurso em questo, pode-se citar as principais alteraes do aparelho locomotor como leses musculares, traumas, contuses, entorses liga-mentares, lombalgias, lombociatalgias, cervicalgias, cervio-braquialgias, tendinopatias, doenas articulares como leses meniscais, capsulares e osteoartrite. Alm dessas indicaes tradicionais, vale lembrar que o equipamento gera corrente despolarizada, sendo indicado em ps-operatrios recentes, inclusive na presena de implante metlico, desde que se tenha uma ateno especial. A aplicao simultnea de correntes com objetivo analgsico como a crioterapia (gelo principal-mente) tem sido utilizada, porm esta prtica no tem fun-damento fisiolgico, visto que o TENS atuaria aumentando a conduo nervosa para o fechamento das comportas medula-res e o gelo inibiria esta conduo. Essa prtica totalmente emprica, portanto, no defendida aqui neste captulo.

    ao qual se utilizam dois canais (quatro eletrodos) cruzados com formao de vetores resultantes, denomina-se correntes interferenciais vetoriais (CIV). Fisicamente so correntes alternadas ou bifsicas, simtricas, pulsos retangulares ou sinusoidais com frequncia fixa ou portadora de 4.000 Hz (podendo variar entre 2.000 Hz a 10.000 Hz, dependendo do pas ou do tipo de equipamento). Essa configurao de frequncia portadora torna a CI um equipamento de mdia frequncia e por este motivo, apresenta uma menor resis-tncia tecidual, maior profundidade de penetrao e oferece maior conforto ao paciente durante a estimulao do que as correntes de baixa frequncia, como por exemplo, o TENS. Alm disso, pela corrente de mdia frequncia ser mais bem tolerada ao nvel da pele, a intensidade pode ser aumentada, podendo-se estimular estruturas mais profundas. Outro fa-tor benfico a capacidade de se estimular maior quantidade de volume tecidual do que as correntes aplicadas atravs das tcnicas bipolares de eletrodos.

    r = 1 / 2..F.c

    em que: r (resistncia), F (frequncia), c (capacitncia)obs.: perceba que a resistncia tecidual ser inversamente proporcional frequncia de estimulao.

    Sabe-se, porm, que ao aplicar uma corrente de mdia frequncia com o objetivo de estimulao sensorial (aferen-te), h a necessidade de se modular em pacotes ou modular a amplitude dessa corrente, mantendo os efeitos benficos e estimuladores da somao de ciclos (efeito Gildemeister) e evitando a inibio tetnica da estimulao ininterrupta (ini-bio de Wedensky). Essa modulao feita automaticamente no equipamento por um parmetro chamado de frequncia modulada da amplitude (AMF). Para se evitar o mecanismo chamado de acomodao, muito comum nos aparelhos TENS, temos uma opo para a variao da AMF, parmetro esse denominado de F. Este ltimo faz com que o vetor gerado pela intereferncia do canal 1 e canal 2 (tcnica tetra-polar ou CIV) tenha durante um perodo a mesma frequncia estipulada na AMF (AMF base) e durante outro perodo esta frequncia, acrescida do valor de F. Os valores exatos para esses parmetros sero discutidos adiante (Fig. 31.3).

    Fig. 31.2. aplicao do Tens com dois canais em uma leso de membro superior.

    Correntes interferenciais As correntes interferenciais (CI) originam-se de um fe-

    nmeno que ocorre quando duas ou mais oscilaes simult-neas com frequncias diferentes so aplicadas em um mesmo ponto de um determinado meio. A este tipo de aplicao,

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    Fig. 31.3. interferncia entre duas correntes (canal 1 e 2) e formao dos vetores resultantes.

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    Uma outra forma de aplicao, descaracterizando at a terapia por CIV, seria a tcnica bipolar, que por no cruzar os eletrodos, no h formao de vetores resultantes (Fig. 31.4).

    Todos esses conceitos fsicos fazem com que a CI atue tambm em termos sensoriais, por fechamento das com-portas medulares e liberao de endorfinas em nvel supra-medular (idem ao TENS) promovendo analgesia (Johnson; Tabasam, 2003b). Vale lembrar ainda que os efeitos de ini-bio simptica e consequente aumento microcirculatrio, aos quais nos referimos no equipamento TENS, podem ser alcanados com a CI em nveis mais profundos, sendo este ltimo um equipamento que produz tambm relaxamento muscular e at efeitos anti-inflamatrios.

    Para se alcanar os melhores resultados teraputicos com as correntes interferenciais, os parmetros a seguir devem sempre ser individualizados, respeitando o tipo de leso, fase do quadro inflamatrio ou doloroso e a sensibilidade de cada paciente. Como citado anteriormente, a frequncia portadora nos equipamentos nacionais fixa em 4.000 Hz. O primeiro parmetro a ser ajustado a frequncia de modulao ou AMF, que varia entre 1 e 150 Hz. Frequncias mais baixas como 30 ou 40 Hz aproximadamente tendem a promover maior vaso-dilatao na rea do corpo abaixo dos eletrodos, sendo mais indicadas em processos inflamatrios ou quadros dolorosos mais crnicos. Valores mais altos como 100 ou 120 Hz apresen-tam liberao mais rpida de endorfinas, sendo mais indicados

    em fase aguda. Aps a escolha desse parmetro, o valor de F estipulado, sendo que normalmente utiliza-se entre 50% e 60% do valor da AMF base para evitar acomodao ao estmulo.

    A aplicao dos eletrodos de superfcie da CI deve ser realizada na rea de origem da dor (exceto nos casos que apresentam leso cutnea) ou em regio associada ao derm-tomo correspondente. Tanto nas aplicaes do TENS como CIV, a intensidade (miliampre) o ltimo parmetro a ser aumentado, devendo ser sentido pelo paciente como um formigamento intenso, mas no doloroso.

    As contraindicaes clssicas tanto do TENS como da CI so: marca-passo cardaco, aplicao na regio de seios carotdeos, regio abdominal em gestantes, sobre reas sem proteo cutnea por queimaduras, neoplasias, pacientes epilpticos ou com dficit acentuado de sensibilidade. Alm dessas indicaes, riscos e contra-indicaes, todo fisiotera-peuta deve, em um momento de dvida, buscar na literatura essas explicaes ou esclarecimentos ou em ltimo caso, conversar com profissionais mais experientes.

    Por fim, o tempo de aplicao, indicaes e riscos da CI podem ser considerados como praticamente os mesmos do TENS, visto que ambos emitem correntes despolarizadas que atuam a nvel sensorial.

    estIMuLaO eLtRICa NeuROMusCuLaRA denominao estimulao eltrica neuromuscular

    (EENM) refere-se utilizao de equipamentos que geram corrente eltrica para estimulao no nvel motor, ou seja, geram contrao muscular. Diferentemente dos equipamen-tos de eletroanalgesia, a EENM tende a passar pelo limiar sensitivo, atuando basicamente no limiar motor, o qual exige uma corrente com pulsos de maior durao (Fig. 31.5).

    Esses recursos, quando aplicados no corpo humano, ten-dem a gerar uma despolarizao do motoneurnio inferior e consequentemente todos as etapas fisiolgicas da contrao. Portanto, para que se tenha o resultado esperado com esses recursos, h a necessidade de uma fibra nervosa eferente ntegra. Em casos de leses perifricas, outros recursos de-vem ser utilizados, aps uma anlise por eletrodiagnstico, prtica esta que no ser abordada neste captulo.

    Fig. 31.4. aplicao da corrente interferencial nas formas tetra (regio torcica e cervical) e bipolar (regio do ombro).

    Fig. 31.5. curva de intensidade/durao mostrando o limiar de excitao sensorial, motor e doloroso.

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    0,001 0,01 0,1 1,0 10 100Durao dos pulsos em ms

    Nervostransmissores de dor

    Nervosmotores

    Nervossensoriais

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    Em resumo, os principais efeitos e indicaes dos equi-pamentos de EENM so: manuteno ou recuperao da fora, substituio da cinesioterapia em algumas condies, evitar flacidez, hipotrofia e os sinais clssicos da inatividade muscular. Clinicamente, os dois aparelhos mais comuns uti-lizados no Pas so o de estimulao eltrica funcional (FES) e da corrente russa.

    estimulao eltrica funcional A terapia por FES tem como definio clssica: De acordo

    com Fitzgerald (2003), terapia realizada no neurnio motor intacto para iniciar a contrao de msculos parcialmente paralisados, de modo a produzir movimento funcional. Por esse conceito podemos subentender que sempre o paciente deve realizar ou ao menos tentar realizar o movimento as-sociado ao equipamento e no se submeter a uma simples terapia passiva.

    Para que se entenda o mecanismo de ao exato do FES em nvel motor, temos que conhecer seus princpios fsicos. O FES gera uma corrente eltrica de baixa frequncia, alter-nada ou bifsica, pulsada, simtrica com pulsos na forma retangular, sendo considerada, portanto, despolarizada (Fig. 31.6). O fato de se apresentar com baixa frequncia (1 a 100 Hz aproximadamente) faz com que tenha uma alta resistn-cia tecidual e pequena profundidade de penetrao.

    Um dos primeiros parmetros a se regular em uma apli-cao de FES a frequncia. Nos equipamentos nacionais, consegue-se trabalhar em uma faixa de 1 a 100 Hz, porm clinicamente observada uma faixa mais restrita entre 30 e 80 Hz. Uma frequncia mais baixa (30 a 50 Hz) tende a selecionar mais as fibras tnicas ou vermelhas do tipo I, sen-do que a frequncia mais alta (50 a 80 Hz) pode selecionar mais fibras fsicas ou brancas do tipo IIb. Outro parmetro de grande importncia a durao de pulso. Os aparelhos tradicionais permitem o ajuste entre 200 e 400 s, quando se objetiva a contrao muscular. Em um primeiro momento do tratamento, pode-se optar por durao de pulso entre 200 a 300 s, aumentando para 300 a 400 s em msculos que j passaram por um programa prvio de fortalecimento. Em um segundo momento, pode-se utilizar esta durao de pul-so para selecionar tipos especficos de fibras. Fibras brancas ou do tipo II apresentam menor limiar de excitao, sendo mais ativadas com durao de pulso prxima a 200 s e fi-bras vermelhas respondem melhor a excitao, com durao prxima a 400 s.

    A relao entre o tempo de contrao e o tempo de re-pouso (Ton x Toff) em msculos mais fracos deve ficar em torno de 1:2 e, em msculos mais prximos do normal, rela-o de 1:1. Um tempo de contrao entre 10 e 15 segundos tem sido preferido pela maioria dos autores. Uma outra regra que tem sido preconizada um tempo total de tratamento com o FES entre 10 e 15 minutos, podendo exceder os 20 minutos apenas em casos de atletas.

    Utilizando tambm eletrodos de superfcie, existem duas tcnicas conhecidas de colocao dos eletrodos. Em uma delas, chamada mioenergtica, coloca-se um eletrodo no incio do ventre muscular e outro do mesmo canal mais distal, nesse mesmo msculo. A outra tcnica chamada de ponto motor, colocando-se um eletrodo no ponto motor de determinado msculo e o outro mais proximal, preferencial-mente no mesmo msculo (Fig. 31.7).

    Alguns aspectos importantes devem ser cuidadosamente avaliados no momento da aplicao do equipamento FES como a provvel leso de pele, o excesso de tecido adiposo, a alta fadigabilidade, os eletrodos desgastados, entre outros. Alguns casos deixam de ser apenas riscos relativos, tornan-do-se contraindicaes absolutas como leses musculares ou tendneas recentes, algumas distrofias musculares ou miopa-tias, fraturas instveis, pacientes com marca-passo cardaco, infeces ou trombose venosa profunda.

    Fig. 31.6. pulso bifsico simtrico com forma retangular, caracterstico do equipamento Fes.

    Fig. 31.7. aplicao do Fes na tcnica ponto motor para os msculos reto femoral e vasto medial associado ao exerccio resistido.

    Corrente russaO grande enfoque quando se planeja fazer o uso de cor-

    rentes excitomotoras na rea de reabilitao em Ortopedia, Traumatologia e Esporte o fortalecimento muscular ou treinamento sensrio-motor, principalmente em pacientes que por inatividade ocasionada por leso ou aps cirurgias apresentam dficit de ativao ou recrutamento por inibio artrognica.

    O equipamento chamado de corrente russa tem o me-canismo de ao muito parecido com o FES. Ambos geram uma corrente eltrica que ao entrar em contato com o corpo geram despolarizaes do motoneurnio inferior, promo-vendo uma contrao de msculos com inervao motora

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    ntegra. Essa despolarizao ocorre principalmente por troca inica de sdio e potssio na membrana neuronal, desenca-deando um potencial de ao da fibra nervosa. Esse processo ocasionar uma liberao de acetilcolina na fenda sinptica, maior ao integrada de clcio no retculo sarcoplasmtico, culminando em ativao dos filamentos de actina e miosina. preciso entender, porm, no somente esse mecanismo fisiolgico, mas tambm os conceitos fsicos que norteiam os equipamentos de EENM.

    A corrente russa tem como caracterstica eltrica uma corrente alternada ou bifsica, simtrica, pulsos retangulares ou sinusoidais, mdia frequncia modulada em baixa (Fig. 31.8).

    Fig. 31.8. corrente eltrica de mdia frequencia modulada em baixa gerando despolarizao de fibras nervosas eferentes (corrente russa).

    Fig. 31.9. aplicao da corrente russa no quadrceps com a tcnica mioenergtica para reto femoral e tcnica ponto motor para vasto medial e lateral.

    Esse equipamento tem uma frequncia portadora de 2.500 Hz, sendo considerada de mdia frequncia. Essa frequncia mais alta tende a apresentar uma menor resis-tncia tecidual e consequentemente maior profundidade de penetrao. Fisiologicamente essa diferena leva ao alcance de um nmero maior de unidades motoras, contraindo uma poro maior do ventre muscular. Alguns autores acreditam que esse fenmeno de espalhamento da corrente leva a um maior conforto na aplicao e o paciente toleraria um nvel maior de intensidade.

    Essa corrente fixa em 2.500 Hz deve sempre ser modulada em baixa frequncia e o parmetro que con-trola esta modulao a frequncia de pulso (1 a 100 Hz aproximadamente). Essa frequncia de pulso tende a ser ajustada entre 30 e 50 Hz, quando o objetivo a seleo de fibras vermelhas ou tnicas do tipo I e entre 50 e 80 Hz, quando se pretende atingir as fibras brancas ou f-sicas do tipo IIb. Um outro parmetro que influncia na quantidade de energia depositada o ciclo de trabalho. Este normalmente dado entre 10% e 50%, sendo que valores menores prximos a 10% e 20% so usados em msculos atrofiados, evitando-se uma fadiga precoce e valores entre 40% e 50% em msculos mais prximos do normal.

    O ltimo parmetro que deve ser ajustado tanto no FES como na corrente russa a intensidade (mA). Uma vez colo-cados os eletrodos, aumenta-se a intensidade at a visualiza-o da contrao, sendo o mximo tolerado, desde que no atinja o limiar doloroso (Fig. 31.9).

    A corrente russa por tambm ser despolarizada segue as mesmas indicaes, riscos e contraindicaes do FES.

    FOtOteRaPIa (LASER De BaIXa INteNsIDaDe)Os primeiros equipamentos mdicos de laser, desenvol-

    vidos nas dcadas de 1960 e 1970, eram usados para destrui-o tecidual e coagulao sangunea. Alguns efeitos benfi-cos locais foram observados nas reas de irradiao de baixa energia, o que levou ao enfoque para a utilizao teraputica dos equipamentos de baixa intensidade .

    Laser um acrnimo que significa amplificao da luz por emisso estimulada de radiao, sendo ento um tipo de luz produzida artificialmente. O laser difere da luz branca normal por ser uma luz monocromtica, coerente e colimada (Fig. 31.10). Essa caracterstica faz com que ao ser emitido ao tecido, apresente certa profundidade de penetrao, gerando uma srie de efeitos teraputicos, conforme ser discutido a seguir. Alm dos efeitos fsicos e fisiolgicos especficos do laser, imprescindvel que todo terapeuta tenha um conhecimento aprofundado do processo inflamatrio e das respostas fisiolgicas de reparo do organismo. Neste captu-lo, sero abordados especificamente os efeitos dessa forma de luz no corpo humano e, portanto, sugere-se a leitura de outros materiais para melhor embasamento dos processos de cicatrizao.

    O laser de baixa intensidade, quando aplicado direta-mente ao tecido, absorvido por fotorreceptores situados

    Fig. 31.10. Foto da luz normal (vrias cores) e do laser (monocromtica, coerente e colimada).

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    na membrana celular e na mitocndria. Essa absoro de energia leva a um aumento da sntese proteica e da adenina trifosfato (ATP), posteriormente sntese de DNA e conse-quente mitose celular e regenerao. Alm desse efeito de reparo, o laser capaz de realizar o que se chama de biomo-dulao. Este mecanismo faz com que controle a chegada de clulas do processo de defesa pela ativao de leuccitos, macrfagos e liberao de citocinas pr-inflamatrias, e em contrapartida quando aplicado em uma fase posterior, ativa a chegada de fibroblastos e citocinas anti-inflamatrias. Essa atuao fibroblstica acelera a deposio de colgeno, im-portante no processo de remodelamento. Em resumo, esse recurso apresenta como efeitos principais a propriedade de anti-inflamatrio e regenerador, sendo que secundariamente poderia atuar como analgsico e antiedematoso.

    Dentre os conceitos fsicos que cercam o laser, um dos primeiros que devem ser discutidos sem dvida o compri-mento de onda (). Em relao aos aparelhos mais comuns utilizados clinicamente encontram-se 632.8 nm, 660 nm e 670 nm, caracterizando o laser na cor vermelha e 780 nm, 830 nm, 850 nm e 904 nm, na cor infravermelha. Sabe-se que a luz vermelha apresenta pouca penetrao e mais utilizada em leses superficiais como lceras, escaras, queimaduras, cicatrizes ps-operatrias e deiscncias. A luz infravermelha atinge tecidos mais profundos, sendo muito indicada em leses do sistema musculoesqueltico.

    Outro ponto importante na aplicao desse recurso a quantidade de energia depositada nos tecidos. Sabe-se que existe uma janela teraputica de irradiao do laser baseada na lei de Arndt Schultz que, quando se excede esses valores de estimulao, um efeito bioinibitrio pode ocorrer. Por essa razo, sugere-se o aprofundamento em alguns conceitos, conforme ser feito a seguir.

    Os equipamentos de laser de baixa intensidade apresen-tam uma faixa de potncia mdia entre 10 e 200 mW. Este um tpico que permanece muito discutido, pois se entende que quando utiliza um equipamento com menor potncia mdia, h a necessidade de um tempo maior de aplicao por ponto para atingir certa quantidade de energia, sendo que em aparelhos com potncia mdia maior, o tempo poderia ser menor para atingir essa mesma carga energtica. Ainda no se tem um valor ideal tanto na potncia do laser como no tempo de aplicao para se obter os melhores efeitos terapu-ticos. Essa discusso no ser levantada, pois o objetivo deste captulo auxiliar como um guia rpido de consulta para os captulos subsequentes. O ltimo parmetro a ser ajustado antes da aplicao a energia final emitida ao tecido. Quan-do o objetivo anti-inflamatrio, preconiza-se doses de 1 a 3 joules (J) de energia e para regenerao, doses de 4 a 6 J por ponto (World Association for Laser Therapy - WALT). Essa a nova tendncia para o clculo da dose, sendo baseada na energia final emitida ao tecido, visto que evidncias apontam que a densidade de energia (J/cm2) parece no ser o parme-tro que melhor descreve a dose teraputica ideal.

    A irradiao do laser pode ser feita de trs formas: a primeira a tcnica pontual, a qual se coloca a caneta per-pendicularmente ao tecido a ser irradiado, aguardando a

    emisso da energia estipulada. Esta a mais empregada em leses musculares, tendneas, condrais, entre outras. Em le-ses abertas pode-se utilizar a tcnica pontual do tipo borda, em pontos com 1 cm de distncia entre si, preenchendo toda a borda da ferida. Por ltimo, a tcnica de varredura utiliza-da sem contato na pele sobre reas de escaras ou lceras de decbito (Fig. 31.11).

    As indicaes do laser abrangem amplo espectro, sendo desde leses do aparelho locomotor, processos inflamatrios diversos, alteraes trficas, etc. Este equipamento apresenta tambm poucos efeitos adversos, devendo-se tomar os cui-dados com reas hiposensveis como olhos, tecidos neopl-sicos, epfises de crescimento e reas hemorrgicas. Alguns efeitos colaterais tem sido relatados por alguns terapeutas experientes como nusea, cefaleia e at sonolncia, em caso de aplicaes por tempo maior que 15 minutos, porm esses achados baseiam-se apenas em algumas experincias profis-sionais isoladas. Novamente, sempre que surgir uma dvida clnica, busque na literatura as respostas ou converse com profissionais mais experientes.

    Fig. 31.11. aplicao do laser de baixa intensidade vermelho em leso de pele e infravermelho em leso de manguito rotador no ombro.

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