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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS ELTON TADEU MONTRAZI Estudo de cerâmicas porosas de alumina através da medida de tempos de relaxação via ressonância magnética nuclear SÃO CARLOS 2012

EltonTadeuMontrazi ME Original

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    INSTITUTO DE FSICA DE SO CARLOS

    ELTON TADEU MONTRAZI

    Estudo de cermicas porosas de alumina atravs da medida de

    tempos de relaxao via ressonncia magntica nuclear

    SO CARLOS

    2012

  • ELTON TADEU MONTRAZI

    Estudo de cermicas porosas de alumina atravs da medida de

    tempos de relaxao via ressonncia magntica nuclear

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Fsica do Instituto de

    Fsica de So Carlos da Universidade de So

    Paulo, para obteno do ttulo de Mestre

    em Cincias.

    rea de concentrao: Fsica Aplicada

    Orientador: Prof. Dr. Tito Jos Bonagamba

    Verso Original

    So Carlos

    2012

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRONICO PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    Ficha catalogrfica elaborada pelo Servio de Biblioteca e Informao do IFSC, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

    Montrazi, Elton Tadeu

    Estudo de cermicas porosas de alumina atravs da

    medida de tempos de relaxao via ressonncia

    magntica nuclear / Elton Tadeu Montrazi; orientador

    Tito Jos Bonagamba -- So Carlos, 2012.

    164 p.

    Dissertao (Mestrado - Programa de Ps-Graduao em

    Fsica Aplicada) -- Instituto de Fsica de So Carlos,

    Universidade de So Paulo, 2012.

    1. RMN. 2. Meios porosos. 3. Cermica. I.

    Bonagamba, Tito Jos, orient. II. Ttulo.

  • Dedico este trabalho aos meus pais

    Antonio e Marlene que me permitiram

    estar aqui e me guiam pelos caminhos

    do conhecimento e da sabedoria.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente ao meu orientador, Prof. Dr. Tito Jos Bonagamba, pela

    pacincia, dedicao e sabedoria que foram essenciais para concluso deste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Srgio Rodrigues Fontes, Prof. Dr. Carlos Alberto Fortulan e ao

    companheiro de grupo Andr Alves de Souza que juntos iniciaram a colaborao deste

    projeto.

    Ao Dr. Edson Luiz Ga Vidoto e aos tcnicos Aparecido Donizete Fernandes de

    Amorim e Joo Gomes da Silva Filho pelo desenvolvimento, montagem e manuteno dos

    equipamentos de instrumentao utilizados.

    Aos amigos de grupo Marcel Nogueira DEuridyce, Rodrigo de Oliveira Silva e

    Jefferson Esquina Tsuchida que contriburam na estratgia para o estudo das cermicas.

    Tambm agradeo ao Marcel pelo desenvolvimento do programa invLaplace muito utilizado

    no trabalho, alm da pacincia e ateno nas dvidas tericas.

    minha famlia, meu pai Antonio Donizete Montrazi, minha me Marlene Aparecida

    Dechen Montrazi, minha irm Priscila Aparecida Montrazi Falanghe e ao meu cunhado Bruno

    Jordo Falanghe que desde sempre me financiaram com amor e carinho as minhas

    conquistas.

    Aos meus amigos de Repblica, Bozons de Higgs, que se tornaram minha segunda

    famlia e aos meus amigos da minha cidade natal, Piracicaba, pelas festas e bares.

    Aos amigos de grupo de RMN, pelos conselhos e amizade: Diogo de Oliveira Soares

    Pinto, Christian Rivera Ascona, Mariane Barsi Andreeta, Everton Lucas de Oliveira, Roberson

    Saraiva Polli, Artur Gustavo de Arajo Ferreira, Daniel Csar Braz e Celso Souza.

    s agncias financiadoras deste projeto: CAPES, CNPq e FAPESP.

  • O importante saber acelerar

    para no perder energia

    no momento em que se necessita frear.

    Antnio Donizete Montrazi Meu Pai.

    Eu posso alcanar a imortalidade,

    basta no me desgastar.

    Voc tambm pode alcanar a imortalidade,

    basta fazer apenas uma coisa notvel.

    Rob - comercial Keep Walkng/Johnnie Walker.

  • RESUMO

    MONTRAZI, E. T. Estudo de cermicas porosas de alumina atravs da medida de tempos de relaxao via ressonncia magntica nuclear. 2012. 164f. Dissertao (Mestrado) Instituto de Fsica de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 2012.

    A medida de tempo de relaxao longitudinal (T1) e transversal (T2) de ressonncia

    magntica nuclear (RMN) muito utilizada para anlise de meios porosos na rea do

    petrleo. Esses tempos de relaxao esto relacionados com tamanho dos poros. As

    cermicas, dependendo da sua temperatura de sinterizao, apresentam uma porosidade

    intrnseca, mas cermicas especiais para processo de filtragem e escafoldes de implantes

    sseos necessitam de poros maiores e de permeabilidade para suas aplicaes. Esse objetivo

    alcanado introduzindo um agente porognico, um material degradvel com a

    temperatura, obtendo assim poros induzidos alm dos intrnsecos. O agente porognico

    escolhido para este trabalho foi cristais de sacarose, os tamanhos dos poros so controlveis

    pelo tamanho dos cristais e pela quantidade, tornado esse um meio factvel nos estudos de

    RMN atravs dos tempos de relaxao. Foram selecionadas, atravs de peneiras, duas faixas

    de tamanhos de cristais de sacarose: G (grande) com limite superior de 600m e inferior de

    300m e P (pequeno) com tamanhos na faixa de 38m a 150m. A cermica preparada com

    P apresentou distribuio de tamanho de poros (de 15 105m) com mediana em 40m,

    menor que a fabricada com G (de 20 125m), media em 100m. Distribuies de tamanho

    de poros com mediana intermediria foram obtidas pelas misturas de P e G na fabricao.

    Foram preparadas seis cermicas para os estudos: pura (sem adio de agente porognico),

    100% com G, 100% com P, mistura de 50% P e 50% G, mistura de 75% P e 25% G e mistura

    de 25% P e 75% G. As cermicas foram saturadas com gua por um sistema de vcuo e

    atravs da sequncia CPMG obtiveram-se os decaimentos multiexponenciais da relaxao

    transversal para os ncleos de 1H de molculas de gua confinadas nos poros das cermicas.

    E assim, determinaram-se as distribuies de tempo de relaxao T2. A cermica pura

    apresentou apenas um pico para T2 em 0,053s, assim como obtido por Borgia e

    colaboradores em outros estudos, e comparando com resultados de porosimetria por

    intruso de mercrio (PIM), determinou-se o coeficiente de relaxatividade superficial de

  • 3,7m.s-1, valor prximo ao tabelado para a alumina (3m.s-1) dando confiabilidade aos

    equipamentos utilizados. As cermicas preparadas com agente porognico apresentaram

    dois picos na distribuio de T2 com o primeiro localizado na mesma regio de tempo que

    corresponde porosidade intrnseca (0,053s) e o segundo pico, referente porosidade

    induzida, deslocando-se comeando com a 100P com o menor tempo T2 (0,38s) e

    aumentando conforme o aumento da porcentagem de grnulo G (1,02s para 100G) de

    acordo com era esperado. A parti das imagens de microscopia eletrnica de varredura

    (MEV), obteve-se as distribuies de tamanho de poros induzidos e, novamente,

    determinou-se o coeficiente de relaxatividade, 12m.s-1, valor maior comparado com o

    anterior devida as impurezas e resduos da queima dos cristais de sacarose deixado na

    superfcie do poro. Por fim, concluiu-se ento que a RMN foi capaz de fazer a anlise das

    cermicas de alumina observando poros intrnsecos da ordem de 0,1m e poros induzidos

    com tamanho de dezenas a centenas de micrometros. Foram reunidos os resultados

    necessrios para compreender como so formados os poros a partir do agente porognico

    podendo fabricar cermicas com distribuies de tamanhos de poros conforme desejado.

    Palavras-chave: RMN. Meios Porosos. Cermica

  • ABSTRACT

    MONTRAZI, E. T. Characterization of porous alumina ceramics through measurement of nuclear magnetic resonance relaxation times, 2012. 164f. Dissertao (Mestrado) Instituto de Fsica de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 2012.

    The measurement of longitudinal (T1) and transversal (T2) nuclear relaxation times is an

    important method for the analysis of porous media, much used in the petroleum industry. It

    is possible through this technique the determination of the porosity and pore size

    distribution of the media. Ceramic materials already have an intrinsic porosity dependent on

    its sinterization temperature, but some applications such as filtering or scaffolding in bone

    regeneration demand for a larger porosity and permeability. To achieve this goal, a

    porogenic agent is introduced in the ceramics production process which is degradable in

    high temperatures, producing a ceramic with both induced and intrinsic porosity. The

    porogenic agent chosen for this project were saccharose crystals and the pores size is

    controlled by the crystals size and by the quantity added in the production process. Two

    ranges of the saccharose crystals diameters were selected using different sieves: G size,

    raging from 300m to 600m and P size ranging from 38m to 150m. The P size ceramic

    presented pore size distribution ranging from 15 to 105m, with median in 40m, smaller

    than the median found for the ceramic produced with G size saccharose crystals (100m),

    for which the porosity ranged from 20 to 125m. Pore size distribution with median

    between the results found in P and G ceramics were acquired by using a mixture of P and G

    saccharose crystals sizes in the ceramic fabrication. Six samples were prepared for this

    study: pure (with no addition of porogenic agent), 100% G size, 100% P size; mixtures of

    50% P and 50% G sizes, 75% P and 25% G sizes, and finally 25% P and 75% G sizes. All

    samples were saturated with water in a vacuum bomb, and, using the CPMG pulse

    sequence, the multiexponencial decay of the transverse relaxation time was obtained for the

    1H nuclei of the water molecules confined in the ceramic pores. Through this measurement,

    the distribution of T2 of the sample was determined. The curve for the pure ceramic

    presented only one peak at 0,053s, the same result obtained by Borgia at al. in other studies.

    Comparing this result with the porosity determined by mercury intrusion porosimetry, it was

    possible to determine the surface relaxation coefficient (3,7m.s-1), with a good proximity to

  • the value found in literature for alumina (3m.s-1), showing that the equipment used for the

    measurements is reliable. The ceramic fabricated with the porogenic agent presented two

    peaks in the T2 time distribution, with the first peak coincident with the T2 value found for

    the intrinsic porosity (0,053s) and the second peak, which represents the induced porosity,

    varying to each ceramic sample, with the 100 % P ceramic presenting the peak with the

    smallest T2 (0,38s) and moving to higher T2 values as the percentage of G size saccharose

    crystals in the ceramic increases, (1,02s for the sample with 100% G), as it was expected.

    Through images from scanning electron microscopy, an assessment of the pore size

    distribution was made and the surface relaxation coefficient recalculated, arriving at a higher

    value than the one found for the pure ceramic (12m.s-1), which shows that residues of the

    saccharose crystals are left in the pores surface in the burning process. In conclusion, the

    NMR technique proved capable to characterize the ceramic materials, allowing the

    observation of both the intrinsic (of magnetude 0,1m) and the artificial induced porosity

    (varying from tens to hundreds of micrometers) of the alumina ceramics. The union of all the

    results of this project encloses the knowledge necessary to comprehend how the pores are

    formed by the action of the porogenic agent, making it possible to develop a manufacture

    process of ceramics with controlled pores sizes.

    Keywords: NMR. Porous media. Ceramic.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 - Viso clssica pra o surgimento do momento angular e momento magntico do

    ncleo. (a) O ncleo em movimento de rotao da origem ao momento angular

    J

    e (b) As cargas presentes no ncleo em movimento de rotao da origem ao

    momento magntico,

    , o qual pode ser comparado como um pequeno m....... 32

    Figura 2.2 - Quantizao da componente z do momento angular de spin nuclear para 21I

    e 1I ........................................................................................................................ 34

    Figura 2.3 - Desdobramento nos nveis de energia do ncleo com momento angular de spin 2

    e 21 em um campo magntico

    0B

    . A energia de separao entre nveis

    consecutivos 0.. BE ..................................................................................... 38

    Figura 2.4 - Precesso do spin ( I

    ) e do momento magntico nuclear (

    ) em torno do campo

    magntico 0B

    ............................................................................................................. 40

    Figura 2.5 - (a) Na prtica um solenide produz o campo 1B

    que perturba o sistema de spins.

    (b) Decomposio do vetor campo magntico oscilatrio na direo x em dois vetores rotativos......................................................................................................... 43

    Figura 2.6 - Transformada de coordenadas do referencial do laboratrio para o referencial de

    rotao dos spins........................................................................................................ 44

    Figura 2.7 - Evoluo no tempo da magnetizao total sob a ao de um campo de rf no

    referencial do laboratrio e no referencial de coordenadas girante, onde so

    exemplificados o pulso de um ngulo qualquer e os pulsos de 2 e . 47

    Figura 2.8 - (a) Movimento da magnetizao resultante aps o pulso de 2 induz uma fora

    eletromotriz na bobina devido variao de fluxo magntico. (b) Tenso induzida na bobina e sua respectiva transformada de Fourier. (c) Tenso induzida na bobina

    caracterizada pelo FID de 0M

    .................................................................................... 48

    Figura 3.1 - Diagrama de blocos do equipamento utilizado em experincias de RMN................. 49

    Figura 3.2 - Fotografia do (a) Magneto e da (b) Fonte de Alimentao desenvolvidos no

    grupo........................................................................................................................... 51

    Figura 3.3 - Esquema eletrnico da sonda de RF........................................................................... 52

    Figura 3.4 - Sonda desenvolvida pelo grupo programa para operar em 2MHz............................. 53

    Figura 3.5 - Resistncia equivalente do circuito da sonda calculada para ser igual a 50 ohms

    para casar com impedncia do espectrmetro, situao a qual possu maior transferncia de potncia........................................................................................... 53

    Figura 3.6 - Primeira transformao de equivalncia srie-paralela para determinar o

    comportamento do circuito da sonda......................................................................... 54

  • Figura 3.7 - Indutncia equivalente da associao paralela entre o indutor L1 e o capacitor Cp.... 54

    Figura 3.8 - Segunda transformao de equivalncia srie-paralela transformando o circuito da

    sonda equivalente a um circuito RLC.,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, 54

    Figura 3.9 - Esquema eletrnico final da sonda com os valores dos componentes a serem

    utilizados...................................................................................................................... 56

    Figura 3.10 - (a) e (c) ilustram o campo

    1B

    gerado pela sonda de rf no referencial do

    laboratrio. E em (b) ilustrado o campo 1B

    para o referencial girante, o qual tem

    o perfil de um pulso quadrado.................................................................................... 57

    Figura 3.11 - Distribuio de frequncias correspondentes a um pulso de frequncia 0 e

    durao pt .................................................................................................................. 58

    Figura 3.12 - (a) Definies das variveis utilizadas na expresso do fluxo magntico. (b)

    Princpio de deteco do sinal de RMN....................................................................... 59

    Figura 3.13 - Circuito da sonda de rf mais o espectrmetro............................................................ 60

    Figura 3.14 - Transformao do circuito sonda e espectrmetro para um circuito RLC srie......... 61

    Figura 3.15 - Corrente eltrica no circuito RLC em funo da frequncia do gerador..................... 62

    Figura 3.16 - Largura de banda do circuito RLC, que definida pela faixa de frequncias

    cuja potncia maior ou igual metade da potncia mxima................................... 62

    Figura 3.17 - Diagrama de blocos do espectrmetro de onda pulsada............................................ 64

    Figura 3.18 - Diagrama do circuito chaveador e receptor................................................................ 64

    Figura 3.19 - Comportamento do FID nos planos............................................................................. 66

    Figura 3.20 - Representao do FID obtido e sua TF para (a) frequncia zero, (b) fora da

    frequncia de ressonncia e (c) na deteco em fase e quadratura........................... 67

    Figura 3.21 - Interface grfica do software NTNMR (tecmag) com a janela de programao de

    pulsos em destaque..................................................................................................... 68

    Figura 3.22 - Interface grfica do software NTNMR (tecmag) com a janela do sinal de RMN

    digitalizado em destaque............................................................................................ 69

    Figura 3.23 - Arquivo txt exportado pelo NTNMR para o sinal de RMN digitalizado....................... 70

    Figura 4.1 - Relaxao exponencial da magnetizao aps um pulso de 2

    ................................. 71

    Figura 4.2 - (a) Linhas de campo magntico produzido por um dipolo magntico. (b) Definies

    geomtricas do campo magntico de dipolo do spin k no spin j .......................... 73

  • Figura 4.3 - (a) Flutuao de uma componente do campo dB

    no spin 1j e no spin 2j as

    quais possuem mdia nula. (b) Flutuao do quadrado de dB

    a qual possu mdia

    diferente de zero......................................................................................................... 76

    Figura 4.4 - Densidade espectral para: (a) Flutuaes com frequncia prxima a 0 e (b)

    Flutuao com frequncia muito maior que 0 ........................................................ 79

    Figura 4.5 - Equivalncias no tratamento do movimento de rotaes das molculas para um

    movimento de translao rotacional. (a) Movimentos rotacionais das molculas. (b) Movimento browniano rotacional de um spin em relao a outro....................... 80

    Figura 4.6 - Variao de 1T com c .............................................................................................. 84

    Figura 4.7 - Com uma distribuio de campo 0B

    gaussiana o FID decai com 2te , mais rpido

    que 2Tt

    e

    . O decaimento do FID est relacionado com a inomogneo do campo... 89

    Figura 4.8 - Eco de spin................................................................................................................... 90

    Figura 4.9 - Sequncia de pulsos CP............................................................................................... 92

    Figura 4.10 - Efeito compensatrio do mtodo CPMG. A frequncia no referencial rotativo do

    pulso um pouco inferior frequncia de Larmor. (a) Mostra o acmulo de erros na sequncia CP. (b) Mostra que na tcnica CPMG para ecos pares desaparecem com erros devido a m calibrao do pulso .......................................................... 93

    Figura 4.11 - Devido ao movimento browniano das molculas de gua dentro do poro, h o

    contato entre os ncleos e a parede do poro. Assim, surge um acrscimo na taxa de relaxao total devido interao dos spins com os mecanismos de relaxao da superfcie do poro................................................................................................... 96

    Figura 4.12 - (a) e (b) Para um nico poro isolado o decaimento da magnetizao

    monoexponencial e a intensidade do decaimento proporcional ao tamanho do poro. (c) e (d) Quando h uma distribuio de poro se observa uma distribuio de T2 e o decaimento da magnetizao resultante multiexponencial........................... 99

    Figura 5.1 - (a) A melhor curva F(t) determinada pelo mtodo dos mnimos quadrados

    minimizando o erro para o rudo da curva experimental M(t). (b) Pontos experimentais digitalizado para o mximo de cada eco da sequncia CPMG representando o decaimento da magnetizao resultante........................................ 102

    Figura 5.2 - Interfase grfica do programa invLaplace, o qual realiza a inverso matemtica dos

    decaimentos multiexponenciais para obter a distribuio de tempos de relaxao.. 107

    Figura 5.3 - Atravs do arquivo exportado pelo NTNMR para um experimento de CPMG

    construdo o vetor magnetizao m

    e a partir da escolha do Echo Time, que corresponde ao tempo entre os mximos dos ecos da CPMG, formado o vetor

    tempo t

    ..................................................................................................................... 107

  • Figura 5.4 - Escolhendo os valores de T ini e T end, valor inicial e final para o grfico da distribuio de tempo de relaxao, respectivamente, e o nmero de pontos no

    grfico (NPoints) construda a matriz ~ . A tabela de feita a partir de Alpha ini, Alpha end e Npoints que definem comeo, fim e o nmero valores , respectivament ........................................................................................................... 108

    Figura 5.5 - A execuo do programa realizada pelo boto Run. Tomando o erro quadrtico

    mdio para cada curva de ajuste construdo um grfico de erro gerado a partir do boto Plot Mean Error. Atravs deste grfico escolhido o melhor pelo princpio da parcimnia............................................................................................... 109

    Figura 5.6 - Clicando no boto Plot Selected, aps selecionado todos parmetros, obtida a

    curva de ajuste para o decaimento multiexponencial e o grfico de inverso, a distribuio de tempo de relaxao T2........................................................................

    110

    Figura 5.7 - Forma de equilbrio de uma gota de gua e de uma gota de mercrio sobre uma

    superfcie slida. Quando o ngulo de contato menor que 90 o lquido molha o material, penetrar os poros...................................................................................... 111

    Figura 5.8 - O mercrio no penetra o poro sem a aplicao de uma presso externa................. 111

    Figura 5.9 - esquerda representao tpica de uma anlise de intruso de mercrio e

    direita a curva de porosimetria em funo da variao de volume para um incremento de presso facilitando a visualizao das distribuies de tamanho de poro ............................................................................................................................ 113

    Figura 5.10 - Para poros isolados a porosimetria traz mais informao sobre o tamanho das

    interconexes do que o tamanho dos poros............................................................... 113

    Figura 6.1 - (a) Imagem ilustrativa dos gros de alumina. (b) Distribuio de tamanho dos

    gros de alumina da alumina calcinada A 1000 SG da empresa ALMATIS, Inc............ 116

    Figura 6.2 - A foto mostra o conjunto pistilo/graal utilizados para quebrar os cristais de

    sacarose em tamanho menores e a seleo destes atravs de uma peneira superior e outra inferior definindo, os limites dos tamanhos..................................... 117

    Figura 6.3 - MEV dos cristais de sacarose peneirados atravs de peneiras de abertura 75m

    para limite superior e 0,037m para o limite inferior. Espera-se que as formas geomtricas dos cristais daro a forma geomtrica dos poros por eles gerados 8..... 118

    Figura 6.4 - esquerda em destaque os cilindros de moagem dentro do jarro, e a direita o

    moinho com o jarro..................................................................................................... 119

    Figura 6.5 - Foto da esquerda mostra os cilindros de moagem e a barbotina na travessa

    (obervar que a barbotina o lquido branco, onde evaporado o solvente com o auxlio do soprador de ar quente. direita esto apresentados os grnulos compostos de alumina, PVB e sacarose depois de evaporado o lcool...................... 120

    Figura 6.6 - (a) PVB como um agente adesivo entre os gros de alumina. (b) Imagem pictrica

    dos grnulos, sem adio de agente porognico (cermica pura), onde so constitudos apenas de aglomerados de gros de alumina e so predominantemente menor (< 180um). (c) Grnulo G, predominantemente maior (< 600m), constitudo por gros de alumina e cristais de sacarose tamanho G, os quais podem estar isolados ou aglomerados. (d) Grnulo P fabricados com cristais

  • de sacarose P. Possuem distribuio de tamanho intermediria aos grnulos Puro e G (< 300m)..............................................................................................................

    121

    Figura 6.7 - Esquema do primeiro processo de conformao da cermica atravs da deposio

    de 40g de grnulo numa matriz cilndrica seguida da prensagem uniaxial a 25MPa.. 122

    Figura 6.8 - esquerda a prensa isosttica e direita algumas cermicas conformadas.............. 123

    Figura 6.9 - Os grnulos colocados na matriz de conformao possuem um empacotamento

    inicial. Neste empacotamento h os espaos denominados por intragranular, os espaos entre os gros de alumina, e os intergranular, os vazios que surgem do prprio empacotamento dos grnulos. Tambm surgem novas aglomeraes de cristais de sacarose de grnulos diferentes. Ao aplicar presso h uma reduo dos espaos intragranular e intergranular, devido ao escorregamento e rearranjo das partculas e, tambm, a contrao dos cristais de sacarose pela presso.................. 124

    Figura 6.10 - Curva de aquecimento da estufa para secagem da cermica..................................... 125

    Figura 6.11 - Curva termogravimtrica da sacarose retiradas da dissertao de mestrado de

    Francisco Henrique Monaretti 52................................................................................. 126

    Figura 6.12 - (a) A degradao trmica do PVB dada principalmente pela decomposio em

    butanal, hidrocarbonetos, gua e gs carbnico. (b) Curva termogravimtrica do PVB retiradas da dissertao de mestrado de Francisco Henrique Monaretti 52........ 127

    Figura 6.13 - Curva de aquecimento para remoo do PVB e da sacarose atravs da degradao

    trmica e para sinterizao da cermica a 1500C durante 1 hora............................. 128

    Figura 6.14 - Os espaos vazios intragranular e inter formaram, respectivamente, os poros de

    primeira gerao (menores) e de segunda gerao (maiores). Esses so os poros intrnsecos da preparao da cermica....................................................................... 129

    Figura 6.15 - MEV da cermica 100G onde se destacam os poros induzidos gerados pelos

    cristais de sacarose isolados, pelo aglomerado deles e por cristais quebrados.......... 130

    Figura 6.16 - Distribuies de todos os poros esperados nas cermicas 100P e 100G.................... 131

    Figura 6.17 - Para uma cermica preparada com 50% de grnulos P e 50% com G, devido a

    aglomeraes P-G, haver a formao de uma distribuio que engloba as distribuies de 100P e 100G, mas com moda intermediria a elas........................... 132

    Figura 6.18 - Amostras preparadas com quantidades diferentes de P e G deslocam a moda da

    distribuio de tamanho de poro conforme a porcentagem...................................... 133

    Figura 6.19 - Distribuies de tamanho de poro esperadas para as amostras 100P, 75P25G,

    50P50G, 25P75G e 100G............................................................................................. 134

    Figura 7.1 - Distribuies de T2 para diferentes tempos entre ecos. Observa-se que a partir de

    1500s h uma desvalorizao do primeiro porque o primeiro pico encontra-se com tempos de relaxao menor que o T2min para esse tempo entre ecos, 0,015s.... 136

    Figura 7.2 - Foi escolhido um tempo entre ecos de 800s e um total de 16380 ecos para obter

    o decaimento total da magnetizao transversal que ocorre em torno de 13s.......... 137

  • Figura 7.3 - A introduo de um gro de alumina na gua gera um gradiente de campo magntico devido a diferena de susceptibilidade magntica entre os dois meios... 138

    Figura 7.4 - MEV da ruptura da cermica pura onde se observa os gros de alumina que

    constituem a cermica................................................................................................ 140

    Figura 7.5 - PIM da cermica pura onde se obteve porosidade de (161)% e tamanho dos

    poros intrnsecos da ordem de 0,1m para PPG e 0,4m para PSG........................... 140

    Figura 7.6 - Distribuies de tempo de relaxao transversal T2 para a cermica pura e para

    gua mili-q................................................................................................................... 142

    Figura 7.7 - Distribuies de tempos de relaxao transversal T2 para a cermica pura, 100G e

    100P. Nota-se que os primeiros picos correspondem porosidade intrnseca da cermica enquanto que o segundo pico corresponde aos poros induzidos gerados pela adio de agente porognico.............................................................................. 144

    Figura 7.8 - Distribuies de T2 para amostras preparadas separadamente para verificar a

    reprodutibilidade da cermica. Notou-se que os poros induzidos correspondem satisfatoriamente enquanto que os poros intrnsecos no houve tanto controle...... 145

    Figura 7.9 - Distribuies de T2 para as amostras preparadas onde se observa que o primeiro

    pico corresponde porosidade intrnseca, esto todos dentro da distribuio de T2 para a cermica pura e o segundo pico se deslocam conforme a porcentagem das misturas de grnulo P e G no processo de fabricao.................... 146

    Figura 7.10 - Distribuies dos tamanhos de poros intrnsecos (formato de canculos) para as

    cermicas Pura, 100P, 50P50G e 100G. Observa-se que os PPG manteve-se praticamente constantes e que houve um deslocamento e alargamento para os PSG para 100P em relao a Pura e uma distribuio bimodal para 50P50G e 100G. 147

    Figura 7.11 - Imagens de MEV onde os poros foram selecionados e traado seu eixo maior e

    menor ......................................................................................................................... 149

    Figura 7.12 - Distribuies de dimetro mdio dos poros classificados para as cermicas 100P,

    50P50G e 100G............................................................................................................ 150

    Figura 7.13 - Distribuies de T2 destacando o valor de tempo do pico dos poros induzidos para

    as cermicas 100P, 50P50G e 100G............................................................................. 151

    Figura 7.14 - Cermica hbrida feita com 50% de grnulo G e 50% de P sem que houvesse a

    mistura ........................................................................................................................ 152

    Figura 7.15 - Distribuio de tamanho de poro esperada para a cermica hbrida......................... 152

    Figura 7.16 - Distribuio de T2 para a cermica hbrida na qual se observa a presena dos dois

    picos correspondentes as cermicas P e G, enquanto que para a cermica 50P50G possu apenas um pico intermedirio......................................................................... 153

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 - Relao entre o nmero quntico de spin, o nmero de massa e o nmero atmico ...................................................................................................................... 33

    Tabela 4.1 - Fase dos pulsos da sequncia CPMG para as vrias mdias....................................... 93

    Tabela 6.1 - Porcentagem de impurezas na alumina calcinada e na sacarose................................ 116

    Tabela 6.2 - Configuraes das peneiras para seleo do tamanho dos cristais de sacarose......... 118

    Tabela 6.3 - Propores de cada matria-prima do volume til..................................................... 120

    Tabela 6.4 - Abertura das peneiras para seleo dos grnulos de acordo com o tamanho de agente porognico utilizado........................................................................................ 120

    Tabela 7.1 - Tabela da porosidade das cermicas 100P, 100G e 50P50G dadas pela intruso de gua e de mercrio...................................................................................................... 147

    Tabela 7.2 - Tabela com a relao S/V, T2 e 2 calculado para os poros induzidos das cermicas 100P, 50P50G e 100G.................................................................................................. 151

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    USP Universidade de So Paulo

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo

    IFSC Instituto de Fsica de So Carlos

    EESC Escola de Engenharia de So Carlos

    RMN Ressonncia Magntica Nuclear

    PIM Porosimetria por Intruso de Mercrio

    MEV Microscopia Eletrnica de Varredura

    CPMG Carr-Purcell-Meiboom-Gill

    rf Radiofrequncia

    FID Free Induction Decay

    PPG Poros de Primeira Gerao

    PSG Poros de Segunda Gerao

  • SUMRIO

    1. Introduo....................................................................................................................27

    1.1 Motivao e Objetivo.........................................................................................................28

    1.2 Estrutura do Texto.............................................................................................................29

    2. Ressonncia Magntica Nuclear....................................................................................31

    2.1 Aspectos Histricos............................................................................................................31

    2.2 Bases Fsicas.......................................................................................................................32

    2.2.1 Momento Angular e Magntico do Ncleo.....................................................................32

    2.2.2 Efeito Zeeman, Nveis de Energia e Precesso Nuclear..................................................37

    2.3 Pulsos de rf.........................................................................................................................42

    2.4 Natureza do Sinal de RMN.................................................................................................47

    3. Instrumentao da RMN...............................................................................................49

    3.1 O Magneto.........................................................................................................................50

    3.1.1 Magneto para RMN de 1H a 2 MHz.................................................................................50

    3.2 Sonda de rf.........................................................................................................................51

    3.3 O Espectrmetro................................................................................................................62

    3.3.1 Deteco em Fase e Quadratura.....................................................................................65

    3.3.2 Software do Espectrmetro............................................................................................68

    4. Relaxao de Spins Nucleares........................................................................................71

    4.1 Relaxao em Amostras Lquidas - Modelo BPP................................................................72

    4.2 Relaxao Devido ao Campo No Uniforme e Eco de Spin................................................88

    4.3 Medida de Tempo de Relaxao T2 - Sequncia de Pulsos CPMG.....................................91

    4.4 Teoria de Relaxao de Lquidos Confinados.....................................................................94

    4.4.1 Taxa de Relaxao Devido Superfcie...........................................................................95

    4.4.2 Distribuio de Tamanho de Poros.................................................................................98

    5. Processo de Inverso para Decaimento Multiexponencial e PIM.................................101

    5.1 Matemtica do Processo de Inverso..............................................................................101

    5.2 O Programa invLaplace....................................................................................................106

    5.3 Porosimetria por Intruso de Mercrio...........................................................................110

  • 6. Materiais e Mtodos...................................................................................................115

    6.1 Materiais - Cermicas Porosas de Alumina......................................................................115

    6.2 Metodologia.....................................................................................................................117

    6.2.1 Seleo dos Cristais de Sacarose...................................................................................117

    6.2.2 Preparao da Barbotina e do Grnulo.........................................................................119

    6.2.3 Conformao da Cermica............................................................................................122

    6.2.4 Processo de Secagem e de Sinterizao.......................................................................124

    6.2.5 Distribuies de Tamanhos de Poros e Cermicas Preparadas....................................129

    7. Resultados e Discusses..............................................................................................135

    7.1 Tempo entre Ecos............................................................................................................135

    7.2 Cermica Pura..................................................................................................................139

    7.3 Cermica com Poros Induzidos........................................................................................143

    7.4 Cermica Hbrida..............................................................................................................152

    8. Concluses e Perspectivas...........................................................................................155

    Referncias.....................................................................................................................159

  • 27

    1. Introduo

    Um dos primeiros estudos em meios porosos por ressonncia magntica nuclear

    (RMN) foi realizado por Brown e Fatt em 1956 1. Essa rea do conhecimento evoluiu tanto e

    tornou-se uma importante ferramenta na caracterizao desses materiais. Atravs de

    medidas de tempo de relaxao longitudinal (T1) e transversal (T2) e de coeficientes de

    difuso, possvel determinar vrias propriedades dos meios porosos. Os trabalhos de

    Brownstein e Tarr 2,3 relacionaram as distribuies de tempos de relaxao T1 e T2 com a

    relao entre o volume e a rea superficial total do poro. Assim, fazendo a inferncia sobre a

    forma dos poros, permitiu correlacionar a distribuio de tempo de relaxao com a

    distribuio de tamanho de poros.

    Essa tcnica de RMN largamente utilizada nos estudos de rochas petrolferas onde

    se consegue estimar quantidade de leo, gs e gua presente nas mesmas e informaes

    sobre a extrao do petrleo 4,5. Alguns estudos mais recentes foram realizados em ossos

    com o intuitivo de se tornar um possvel exame mdico de osteoporose 6.

    As cermicas so materiais largamente utilizados na indstria por ter alta resistncia

    mecnica e ser um timo isolante trmico, suportando temperaturas elevadssimas.

    Conhecer a porosidade e tamanho dos poros informa algumas propriedades da cermica

    quanto resistncia mecnica e permeabilidade. A alumina (Al2O3) de grande interesse na

    fabricao de cermicas avanadas, cujos processos exigem um rigoroso controle de

    qualidade, factvel atravs da RMN de modo no invasivo. Borgia e colaboradores em 1996

    fizeram os primeiros trabalhos sobre os efeitos da temperatura de sinterizao na

    porosidade das cermicas 7, a temperatura a qual a cermica submetida est diretamente

    relacionada com o tamanho dos poros intrnsecos da fabricao.

    As cermicas utilizadas como membranas para alguns processos de filtrao 8 e para

    escafoldes de implantes sseos 9 necessitam ter poros de tamanhos maiores que os

    intrnsecos da fabricao e maior permeabilidade. A preparao dessas com uma maior

    porosidade e poros maiores tem como princpio a adio de um componente disperso que

    seja degradvel e voltil com a temperatura. Durante o processo de queima o agente

  • 28

    porognico degradado e volatilizado deixando espaos vazios na cermica, os quais

    formaro os poros.

    1.1 Motivao e Objetivo

    Cermicas utilizadas no processo de filtragem 8 pelo Prof. Dr. Srgio Rodrigues Fontes

    (Departamento de Engenharia Mecnica - EESC-USP) e utilizadas como escafoldes para

    implantes sseos 9 em projetos do Prof. Dr. Carlos Alberto Fortulan (Departamento de

    Engenharia Mecnica - EESC-USP), compem um meio poroso de tamanho de poros e

    porosidade controlveis, ou seja, um meio factvel para os estudos atravs da RMN.

    O objetivo deste trabalho caracterizar essas cermicas atravs de distribuies de

    tempo de relaxao transversal via RMN, imagens por microscopia eletrnica de varredura

    (MEV) e pela porosimetria por intruso de mercrio (PIM), tcnica bem estabelecida e muito

    utilizada nos estudos de meios porosos, que tem a desvantagem de ser destrutiva.

    Para atingir os objetivos propostos neste trabalho foram preparadas cermicas com

    distribuies de tamanhos de poros diferentes a partir de dois tamanhos de agente

    porognico. O primeiro chamado G (Grande), cristais de sacarose com limites de dimetro

    superior e inferior de 300 e 600m, respectivamente, e outro chamado de P (Pequeno) com

    cristais entre 38 e 150m.

    A cermica conformada apenas com cristais G apresenta uma distribuio de

    tamanho de poros com o valor da mediana maior do que a conformada somente com P e,

    para obter distribuies com valores de mediana intermediria, foram misturados os cristais

    nas propores: 75%P-25%G, 50%P-50%G e 25%P-75%G.

    As medidas em RMN consistiram em saturar as cermicas com gua mili-q e obter o

    decaimento da magnetizao transversal atravs da sequncia de pulsos Carr-Purcell-

    Meiboom-Gill (CPMG) 10,11,12. Assim, obteve-se as distribuies de tempo de relaxao T2 dos

    ncleos de 1H das molculas de gua confinadas, a qual est e foi relacionada com a

    distribuies de tamanho de poros.

  • 29

    Para a anlise do formato dos poros e dimenses do mesmo foram adquiridas

    imagens de microscopia eletrnica de varredura (MEV) realizadas a partir de cortes na

    cermica por serras de diamante. A sobra da cermica cortada foi submetida porosimetri

    por intruso de mercrio (PIM) e, ento, obtida a porosidade e a distribuio de tamanhos

    das conexes entre os poros.

    Todos os resultados foram comparados, mostrando consistncia entre eles,

    validando tanto a cermica de alumina porosa como um material de poros induzidos

    controlveis como a tcnica de RMN para caracterizao dos meios porosos.

    1.2 Estrutura do Texto

    A leitura desta dissertao pode torna-se um pouco cansativa para algum da rea

    pelo fato das teorias bsicas de RMN estarem com os desenvolvimentos matemticos,

    motivado pelos vrios cursos na rea de RMN que ocorreram durante este trabalho.

    Tambm se optou por descrever sucintamente a parte bsica para orientar os leitores de

    outras reas com interesse em utilizar a tcnica.

    O captulo 2 descreve as bases fsicas necessria para compreender a RMN,

    explicando a natureza do fenmeno do ponto de vista quntico.

    O captulo 3 discute toda a instrumentao para que um usurio de RMN possa

    entender o que detectado pelo equipamento e a forma de deteco. Apresenta o magneto

    e sua fonte desenvolvidos pelo grupo, detalha a construo de uma sonda de RMN e

    tambm os princpios eletrnicos de um espectrmetro.

    O captulo 4 apresenta a teoria de relaxao em meios lquidos (modelo BPP 13), a

    relaxao dos spins devido no uniformidade do campo esttico e a teoria de relaxao de

    fludos que se encontram confinados. Tambm, discute a formao de ecos de spins e a

    sequncia CPMG utilizada para obter o decaimento da magnetizao transversal.

    A relaxao de lquidos em meios porosos descrita por decaimento

    multiexponencial, o qual invertido matemtica e computacionalmente pelo programa

    chamado invLaplace desenvolvido pelo grupo para obter a distribuio de T2. Essa

  • 30

    matemtica de inverso e o programa so apresentados no captulo 5. Tambm neste, faz-se

    uma descrio rpida da PIM para consolidar as discusses dos resultados.

    O captulo 6 fala sobre o processo de preparao de cermicas porosas. Discute como

    foram selecionados os cristais de sacarose, como os tamanhos dos poros esto relacionados

    com os tamanho dos cristais de sacarose e suas porcentagens, como as cermicas foram

    conformadas e como se realizou a degradao e eliminao do agente porogncio.

    No captulo 7 so apresentados e discutidos os resultados de RMN, PIM e MEV

    adquiridos, para ento compreender como a estrutura de distribuies dos poros nas

    cermicas.

    E para finalizar, o captulo 8 faz a concluso sobre o trabalho e comenta as

    perspectivas.

  • 31

    2. Ressonncia Magntica Nuclear

    Neste captulo so apresentados os aspectos histricos da RMN e a fsica bsica para

    compreend-la do ponto de vista quntico.

    2.1 Aspectos Histricos

    A espectroscopia por ressonncia magntica nuclear teve incio com o experimento

    de Stern-Gerlach 14, proposto inicialmente pelo fsico alemo Otto Stern em 1921 e realizado

    em conjunto com outro fsico Walther Gerlach, que consistia em fazer um feixe de tomos

    de prata atravessar um campo no-homogneo com o objetivo de determinar a distribuio

    de momentos magnticos dos tomos. Mas, ao contrrio do que se esperava, aparecer uma

    distribuio simtrica de momentos como era previsto pela mecnica clssica, observou-se

    apenas dois borres, dando o primeiro indcio que o tomo tem momento magntico

    intrnseco e quantizado.

    A primeira observao de RMN considerada a realizada no experimento de Rabi 15,

    onde molculas de hidrognio ( 2H ) foram submetidas a campo magntico constante e

    radiao no domnio da radiofrequncia (rf). Para certos valores de rf as molculas de 2H

    absorviam energia.

    A formulao experimental do fenmeno de RMN para amostras lquidas e slidas

    foram realizadas independentemente em Stanford pelo grupo de Bloch 16 e pelo grupo de

    Purcell 17 em Harvard, ambos em 1946. Procurando medir momentos magnticos nucleares

    com maior preciso, observaram sinais de ressonncia para ncleos de hidrognio em gua

    e parafina, alm de elaborarem um conjunto de expresses matemticas para descrever a

    evoluo da magnetizao conhecida como equaes de Bloch 18.

    Em 1952, Bloch e Purcell receberam em conjunto o Prmio Nobel da Fsica e logo

    aps um ano j estavam no mercado os primeiros espectrmetros de RMN.

  • 32

    A partir disso um grande avano da RMN veio na dcada de 70 com a introduo de

    experimentos utilizando pulsos de rf e da anlise computacional dos sinais atravs da

    Transformada de Fourier (TF).

    2.2 Bases Fsicas

    A RMN um fenmeno que envolve interao da radiao eletromagntica com a

    matria, mais especificamente com um sistema de ncleos que possuem momento

    magntico e momento angular. Para entender esse fenmeno necessrio introduzir os

    conceitos fsicos bsicos.

    2.2.1 Momento Angular e Magntico do Ncleo

    O momento angular de uma partcula em movimento uma grandeza fundamental

    em Mecnica. O primeiro a sugerir que o ncleo atmico tem momento angular foi Pauli em

    1924 para explicar a chamada estrutura hiperfina. Esse momento angular surge como se

    certos ncleos possussem um movimento de rotao em torno de um dos seus eixos como

    mostra a figura 2.1(a).

    Figura 2.1 - Viso clssica pra o surgimento do momento angular e momento magntico do

    ncleo. (a) O ncleo em movimento de rotao da origem ao momento angular J

    . (b) As cargas presentes no ncleo em movimento de rotao da origem ao

    momento magntico,

    , o qual pode ser comparado como um pequeno m.

  • 33

    Para definir o momento angular de um ncleo utilizada uma grandeza denominada

    spin, termo que vem do ingls. A teoria de Mecnica Quntica menciona que o spin de um

    ncleo, no pode assumir quaisquer, mas apenas certos valores discretos 19. O nmero

    quntico de spin para os ncleos atmicos, representados pela letra I , pode assumir certos

    valores de acordo com sua massa e nmero atmico, como mostra a tabela 2.1:

    Tabela 2.1 - Relao entre o nmero quntico de spin, o nmero de massa e o nmero atmico.

    Nmero de Massa, A Nmero Atmico, Z Spin I Exemplo ( XA

    Z )

    Par Par Zero 0 C126 , O16

    8

    Par mpar Inteiro 1 N147 , H2

    1

    mpar Par ou mpar Semi-inteiro

    1/2 H1

    , C13 , N15 , F19 , P31 , Pt195

    3/2 B11

    , Na23 , Cl35

    5/2 O17

    , Al27

    O momento angular nuclear J

    expresso como uma propriedade vetorial cuja

    grandeza est relacionada com o spin I pela seguinte equao 20:

    IJ

    (2.1)

    onde a constante de Planck divida por 2 e 2

    1

    )]1([ III

    .

    Uma orientao desse vetor momento angular tambm quantizada. Assim,

    escolhendo a direo z , tem-se

    mI z (2.2)

    onde m o nmero quntico que pode assumir os valores:

    IIIIm ,1,...,1, (2.3)

  • 34

    Assim, para 21I o nmero quntico m pode ser 21 e 21 . Para 1I obtm-se

    1,0,1 m . A figura 2.2 ilustra esses casos.

    Figura 2.2 - Quantizao da componente z do momento angular de spin nuclear para 21I e 1I .

    Desta forma, utilizando o formalismo da mecnica quntica, onde e so os

    chamados vetores bra e ket, se definem os estados qunticos possveis de um ncleo:

    IIIImmI ,1,...,1,, (2.4)

    IIIImmI ,1,...,1,, (2.5)

    os quais possuem momento angular total 21

    )]1([ IIJ

    e momento angular mJ z . .

    Logo, interessante definir o operador zI que descreve o processo de observao, uma

    medida, do spin em z :

    mmmI z (2.6)

    Desde que m seja um conjunto discreto de estados, pode-se representar esses

    estados como vetores coluna. Por exemplo, no caso de 21I :

    1

    0

    0

    12

    12

    1 (2.7)

  • 35

    Dessa forma, o operador zI dado na forma matricial por

    10

    01

    2

    1zI (2.8)

    Em geral, um estado arbitrrio , de um ncleo qualquer, pode ser escrito em

    termos da combinao linear dos estados de base m . Em outras palavras:

    mam

    m (2.10)

    importante notar que em mecnica quntica as amplitudes ma tm fase e magnitude de

    forma que til representar esse por nmeros complexos.

    O valor esperado de uma medida de momento angular em z , para esse estado

    arbitrrio , dada por

    mmmaamImaaIJmm

    mmz

    mm

    mmzz ''

    ',

    *

    '

    ',

    *

    ' (2.11)

    onde 'm um vetor linha conjugado de 'm . Como os vetores bases so ortogonais:

    maJm

    mz .2 (2.12)

    O termo 2

    ma pode ter dois significados. Para um ncleo isolado esse termo representa a

    probabilidade do ncleo estar no estado m e para um grande nmero de ncleos refere-se

    mdia ponderada dos resultados de autovalores obtidos 21.

    As representaes matriciais dos operadores xI e yI na base de vetores e

    de zI , so facilmente deduzidas

    19:

  • 36

    0

    0

    2

    101

    10

    2

    1i

    iII yx (2.13)

    e tambm os operadores formado pelas suas combinaes lineares chamados de

    operadores levantamento e abaixamento:

    yxyx IiIIIiII (2.14)

    Esses operadores tem a propriedade de levantar ou abaixar o estado do spin, da seguinte

    forma:

    II (2.15)

    O ncleo tambm tem um momento magntico associado ao spin nuclear. Numa

    viso clssica, o momento magntico surge da respectiva rotao de carga eltrica gerando

    um dipolo magntico e assim o ncleo comporta como se fosse um pequeno m, como

    mostra a figura 2.1(b).

    O momento magntico nuclear

    proporcional ao momento angular J

    :

    IJ

    .. (2.16)

    zzz IJ .. (2.17)

    onde chamada relao magnetogrica, uma constante que depende do ncleo em

    estudo.

  • 37

    2.2.2 Efeito Zeeman, Nveis de Energia e Precesso Nuclear

    Quando ncleos isolados esto sob a ao de um campo magntico 0B

    , os vrios

    estados de spin nuclear adquirem energias diferentes. A energia E correspondente

    interao, deduzida no eletromagnetismo, entre

    e 0B

    :

    0.BE

    (2.18)

    Considerando o campo 0B

    com magnitude 0B ao longo da direo z , o operador

    Hamiltoniano que descreve esse fenmeno dado por:

    zIBH... 0 (2.19)

    A partir da equao 2.19 encontram-se os possveis nveis de energia:

    00 ..... mBmE (2.20)

    onde 00 .B denominada Frequncia de Larmor. Esse desdobramento nos nveis de

    energia, representados graficamente na figura 2.3, denominado Efeito Zeeman.

    Supondo um campo magntico homogneo e esttico 0B

    , na direo z , aplicado a

    um ncleo de spin 21 , a energia magntica associada ao estado ser menor que a do

    estado . Nota-se que a diferena de energia entre esses dois nveis ser dada por

    0.E . Com um campo da ordem de 1 tesla, a frequncia de Larmor da ordem de

    dezenas de megahertz (MHz ), situando-se na faixa de rf.

  • 38

    Figura 2.3 - Desdobramento nos nveis de energia do ncleo com momento angular de spin 2

    e 21 em um campo magntico

    0B

    . A energia de separao entre nveis

    consecutivos 0.. BE .

    A equao de Schrdinger a expresso que fornece a dinmica do sistema

    )()( tHtt

    i

    (2.21)

    onde H o operador Hamiltoniano. Se H constante com o tempo, ento a equao de

    Schrdinger resulta em

    )0()0()(..

    tEi

    tHi

    eet (2.22)

    onde E a energia do estado )0( . Desta forma, considerando o exemplo anterior do

    ncleo com spin em um campo magntico zBB 00

    , onde o estado inicial

    aa)0( que corresponde a uma superposio dos estados, os valores de

    medida esperados dos momentos magnticos sero:

    titit

    i

    ti

    ti

    ti

    x eaaeaa

    ea

    eaeaeat 00

    0

    0

    00

    **

    2

    2

    2.

    2.

    2*2*

    2

    .

    0

    0)(

    (2.23)

    titit

    i

    ti

    i

    it

    it

    i

    y eaaeaai

    ea

    eaeaeat 00

    0

    0

    00

    **

    2

    2

    2.

    2.

    2*2*

    2

    .

    0

    0)(

    (2.24)

  • 39

    222

    2

    2.

    2.

    2*2*

    2

    .

    0

    0)(

    0

    0

    00

    aa

    ea

    eaeaeat

    ti

    ti

    ti

    ti

    z

    (2.25)

    a e a podem ser representado por 1

    1

    iea e 22

    iea , respectivamente, onde 1a e 2a so

    nmeros reais. Assim as equaes anteriores adquirem a seguinte forma:

    ttaatx 01201221 sinsincoscos..)( (2.26)

    ttaaty 01201221 cossinsincos..)( (2.27)

    22212

    .)( aatz

    (2.28)

    As equaes 2.26, 2.27 e 2.28 trazem algumas informaes importantes a respeito do

    spin nuclear. Para simplificar, considera-se a e a como nmeros reais:

    taatx 021 cos.)( (2.29)

    taaty 021 sin.)( (2.30)

    22212

    .)( aatz

    (2.31)

    Ento, no caso de ser um nico ncleo, 2.29, 2.30 e 2.31 informa que o valor esperado de

    uma medida do momento magntico nuclear estar na direo z constante no tempo e a

    probabilidade de estar na direo x e y se alternam no tempo, construindo a imagem de

    que o spin precessiona em torno do campo magntico como exemplificado na figura 2.4.

  • 40

    Figura 2.4 - Precesso do spin ( I

    ) e do momento magntico nuclear (

    ) em torno do campo

    magntico 0B

    .

    No caso de um conjunto de 2310 ncleos, pode-se inicialmente desprezar as

    interaes entre os spins levando em conta que o campo 0B

    da ordem de 410 gauss

    enquanto que o campo de interaes entre os spins da ordem de 1 gauss. Portanto, a

    magnetizao medida ser a soma dos momentos magnticos de cada spin i i divido pelo

    volume, ou seja, a probabilidade da magnetizao resultante ser dada pela soma das

    probabilidades de cada spin:

    2310

    0

    01201221 sinsincoscos..)(n

    nnnnnn

    x ttaatM (2.32)

    2310

    0

    01201221 cossinsincos..)(n

    nnnnnn

    y ttaatM (2.33)

    2310

    0

    2

    2

    2

    12

    .)(

    n

    nn

    z aatM (2.34)

    Pelas equaes 2.32, 2.33 e 2.34 conclu-se que para existir magnetizao resultante

    na direo x e y precisa haver coerncia entre as fases 1 e 2 de todos os spins. Para

    existir magnetizao resultante no eixo z necessita existir uma diferena entre as

    populaes e .

  • 41

    Uma amostra macroscpica em equilbrio trmico na presena do campo pode ser

    descrito pela estatstica de Boltzmann e assim o nmero de ncleos ocupando o estado de

    energia mE dado por 22:

    '

    /'

    /

    0

    '

    /

    /

    0

    0

    0

    '

    m

    kTmB

    kTmB

    m

    kTE

    kTE

    me

    eN

    e

    eNN

    m

    m

    (2.35)

    onde k constante de Boltzmann e T a temperatura da amostra.

    Novamente, exemplificando para o caso de ncleo com spin 21 , onde ser chamado

    de spin paralelo 21m e antiparalelo 21m . Tem-se que no equilbrio trmico a razo

    entre as populaes ser:

    kTBkTBkTE eeeN

    N /// 00

    (2.36)

    onde N o nmero de spin com menor energia e N a populao de spin com maior

    energia. Tomando a hiptese de que a amostra est sujeita a um campo magntico de

    intensidade 1T, a temperatura ambiente de 300K e o ncleo analisado o do tomo de

    Hidrognio, que possu relao magnetogrica 117 ..10.752,261 Tsrad

    H , da expresso

    2.36 obtm-se NN 000006811,1 . Portanto, considerando 1 mol de gua,

    2310.02,6 NN e volume de total 3510.8,1 mVT , a diferena entre as populaes

    ser 1810.05,2N ncleos. Resumindo, haver um nmero N a mais de ncleos com

    momento magntico paralelos ao campo do que a poluo de antiparalelos, o que resulta

    numa magnetizao na direo do campo zBB 00

    dada por 13 .10.6,12

    .

    mAV

    NM

    T

    z

    ,

    chamada de magnetizao longitudinal. Nota-se pelo fato de E ser muito pequeno, em

    comparao com as espectroscopias de infravermelho, visvel e ultravioleta, que a RMN

    uma espectroscopia de baixa sensibilidade em relao a essas outras, exigindo um

    espectrmetro de alta sensibilidade. J no eixo transversal, se o estado inicial dos ncleos

  • 42

    no possurem coerncias de fases, cada momento magntico nuclear ter suas direes em

    x e y distribudas aleatoriamente resultando na magnetizao xyM nula.

    A magnetizao resultante que surge no equilbrio termodinmico, que possu

    apenas componente na direo do campo magntico, representada por 0M

    e

    normalmente denominada por magnetizao de equilbrio.

    2.3 Pulsos de rf

    Os experimentos de RMN consistem em retirar a magnetizao de seu estado de

    equilbrio. Do ponto de vista da teoria de perturbao dependente do tempo, deve-se

    aplicar uma perturbao )(tH p ao sistema de spins que satisfaa a Regra de Ouro de Fermi,

    a qual define a probabilidade de transio entre dois nveis de energia m e n )( nm 20:

    )()( 02

    ntHmP pmn (2.37)

    Para que a probabilidade de transio seja diferente de zero, a perturbao deve

    obedecer duas condies. A primeira aplicar um segundo campo magntico perpendicular

    ao campo magntico esttico j aplicado, garantindo que o elemento de matriz do operador

    )(tH p seja diferente de zero. Ou seja, o hamiltoniano dependente do tempo deve conter as

    componentes transversais do operador momento de spin, xI e yI , as quais podem ser

    reescritas em termos dos operadores levantamento e abaixamento, I e I . Desta forma,

    levando regra de seleo 1m para estas transies. A segunda, que sua atuao

    fornea ao sistema uma energia igual a 0BE , ou que este segundo campo magntico

    oscile no plano transversal com uma freqncia igual a frequncia de Larmor, 0B .

    Na prtica, para gerar esse campo magntico, colocada uma bobina que produz um

    campo magntico linear oscilante no tempo com frequncia , perpendicular ao campo 0B

    ,

  • 43

    como exemplificado na figura 2.5 (a). Esse campo representa a soma de dois campos

    circularmente polarizados 23, como representado na figura 2.5 (b):

    )].sin(.).cos(..[

    )].sin(.).cos(..[).cos(..2

    12

    111

    tytxBB

    tytxBBxtBBx

    (2.38)

    O campo 1B

    o de interesse, pois a seguir a frequncia ser igualada a frequncia

    de Larmor 0 e ento ser ele o responsvel pela perturbao no sistema de spin por

    encontrar-se em ressonncia. J o campo 2B

    ter frequncia 02 e estar fora de

    ressonncia no causando perturbao.

    Figura 2.5 - (a) Na prtica um solenide produz o campo 1B

    que perturba o sistema de spins.

    (b) Decomposio do vetor campo magntico oscilatrio na direo x em dois vetores rotativos.

    O Hamiltoniano no referencial do laboratrio para o campo 1B

    pode ser escrito

    como 24

    yxzlab ItItBIBtH sincos)( 10 (2.39)

    ou utilizando os operadores levantamento e abaixamento definidos na equao 2.14:

  • 44

    IeIeB

    IBtH titizlab

    2)( 10

    (2.40)

    Uma transformada do sistema de coordenadas esttica, referencial do laboratrio,

    para um sistema de coordenadas girante, referencial das precesses dos spins (precesso

    de Larmor), como mostra a figura 2.6, consegue remover a dependncia temporal do

    Hamiltoniano.

    Figura 2.6 - Transformada de coordenadas do referencial do laboratrio para o referencial de rotao dos spins.

    No referencial girante a funo de onda do referencial esttico ' difere por uma

    fase:

    zItie

    ' (2.41)

    Aplicando o Hamiltoniano da equao 2.40 e a funo de onda da equao 2.41 na

    equao de Schrdinger

    '2

    '1

    0

    zz Itititi

    z

    ItieIeIe

    BIBe

    ti

    (2.42)

    derivando o termo da esquerda e aps alguns passos algbricos obtm-se:

  • 45

    '2

    '1

    0

    zz Itititi

    z

    ItieIeIe

    BIBe

    ti

    (2.43)

    Atravs das relaes de comutao 23:

    z

    Iti

    z

    Iti

    z

    yx

    Iti

    y

    Iti

    y

    yx

    Iti

    x

    Iti

    x

    IeIeI

    tItIeIeI

    tItIeIeI

    zz

    zz

    zz

    .cos.sin

    .sin.cos

    '

    '

    '

    (2.44)

    facilmente demonstrado que:

    IeeIeI

    IeeIeItiItiIti

    tiItiIti

    zz

    zz

    '

    '

    (2.45)

    Assim, utilizando essas relaes de comutao e igualando a frequncia do campo 1B

    a 0 , a equao 2.43 simplifica para

    '2

    ' 1

    II

    B

    ti (2.46)

    e, portanto, o Hamiltoniano no referencial girante ser dado apenas por:

    xgir IBH

    1 (2.47)

    Pela equao 2.46 observa-se que haver transies entre os estados e

    ocasionada pelos operadores

    I e I , respectivamente. Isso induz a idia de que

    as populaes de spins sero alteradas e a magnetizao resultante sair do equilbrio. Outra

    interpretao sobre o que ocorre com os spins pelo Hamiltoniano da equao 2.47 que

    semelhante ao da equao 2.19 com a diferena do operador de spin ser na direo x em

    vez de z . Desta forma a interpretao similar a discusso anterior, a probabilidade do

  • 46

    momento magntico resultante ser a soma das probabilidades do momento magntico de

    cada spin:

    2310

    0

    2

    2

    2

    1' ''2

    .)(

    n

    nn

    x aatM (2.48)

    2310

    0

    01201221' cos''sinsin''cos''..)(n

    nnnnnn

    y ttaatM (2.49)

    2310

    0

    01201221 sin''sincos''cos''..)(n

    nnnnnn

    z ttaatM (2.50)

    Se considerar a situao inicial a de equilbrio trmico

    0''2

    .)0(

    2310

    0

    2

    2

    2

    1'

    n

    nn

    x aaM (2.51)

    2310

    0

    1221' 0''sin''..)0(n

    nnnn

    y aaM (2.52)

    010

    0

    1221

    23

    ''cos''..)0( MaaMn

    nnnn

    z

    (2.53)

    determina-se a somatria das fases dos spins e, substituindo nas equaes 2.48, 2.49 e 2.50,

    a evoluo temporal do sistema ser:

    0)(' tM x (2.54)

    tMtM y 00' sin)( (2.55)

    tMtM z 00 cos)( (2.56)

    A partir dessas, observa-se que ocorre precesso da magnetizao resultante em torno de

    1B

    , eixo 'x . A figura 2.7 ilustra esse movimento da magnetizao total para o referencial do

    laboratrio e para o sistema girante de coordenadas.

    Para manipular os spins, utilizado pulsos de rf, liga-se o campo magntico durante

    um tempo Pt . Dessa forma, a 0M

    ir girar em torno de 1B

    atravs de um ngulo PtB .. 1 ,

  • 47

    onde os ngulos de interesse para RMN o de e 2 que corresponde inverso da

    magnetizao total e colocar a magnetizao no eixo transversal, respectivamente. Esses

    pulsos de interesse, chamados de pulso 2 e pulso , so ilustrados na figura 2.7.

    Figura 2.7 - Evoluo no tempo da magnetizao total sob a ao de um campo de rf no referencial do laboratrio e no referencial de coordenadas girante, onde so

    exemplificados o pulso de um ngulo qualquer e os pulsos de 2 e 25.

    2.4 Natureza do sinal de RMN

    Para detectar a o sinal de RMN utiliza-se, na maioria dos casos, a mesma bobina

    usada na excitao.

  • 48

    Supondo o caso de um pulso de 2 , a magnetizao resultante ir para o plano

    transversal e precessionar em torno do campo 0B

    com a frequncia de Larmor. Essa

    magnetizao resultante M

    causa uma variao de fluxo magntico na bobina de rf que

    induz uma fora eletromotriz nos terminais da mesma, segundo a Lei de Faraday. A figura

    2.8 (a) ilustra o movimento da magnetizao resultante instantaneamente aps o pulso de

    2

    onde nota-se a variao de fluxo magntico na bobina de rf, o qual causa uma tenso

    induzida na bobina na forma oscilatria (figura 2.8 (b)).

    Figura 2.8 - (a) Movimento da magnetizao resultante aps o pulso de 2 induz uma fora

    eletromotriz na bobina devido variao de fluxo magntico. (b) Tenso induzida na bobina e sua respectiva transformada de Fourier. (c) Tenso induzida na bobina

    caracterizada pelo FID de 0M

    .

    O movimento de precesso livre da magnetizao resultante, aps o pulso de rf,

    denominado pelo termo ingls Free Induction Decay (FID). A tenso induzida na bobina, ou

    seja, o FID da magnetizao da forma apresentada na figura 2.8 (c), uma oscilao com

    frequncia 0 modulada por um decaimento significando que, devido a agitaes trmicas,

    M

    tende a voltar ao seu estado de equilbrio trmico. A discusso sobre a relaxao dos

    spins ser realizada nos captulos 4.

    Qualquer pulso de rf que produza uma magnetizao transversal ter sinal de FID.

    Mas o interessante o pulso de 2 porque produz o sinal mximo de FID devido

    componente de M

    transversal a bobina ser mxima.

    No prximo captulo discutida toda a instrumentao utilizada em RMN para assim

    compreender melhor como excitar os spins e como adquirir o sinal de resposta.

  • 49

    3. Instrumentao da RMN

    Para entender RMN tambm importante conhecer os equipamentos utilizados

    nessa tcnica de espectroscopia, pois informa a situao real do aparato experimental

    quanto ao campo 0B

    , ao pulso de rf e a forma de leitura da magnetizao resultante.

    O aparato experimental para RMN composto basicamente por magneto, sonda de

    rf, espectrmetro e um computador, como ilustra a figura 3.1.

    Figura 3.1 - Diagrama de blocos do equipamento utilizado em experincias de RMN.

    A seguir descrito melhor cada parte do aparto experimental, descrevendo os

    equipamentos desenvolvidos e os utilizados neste trabalho 26.

  • 50

    3.1 Magneto

    O magneto o responsvel por gerar o campo esttico 0B

    . Existem trs tipos de

    magnetos: permanente, resistivo e supercondutor.

    Um magneto permanente construdo com ms permanentes. Esse magneto atinge

    campos de cerca de 0,4T (esses pesam toledas), acima disso tornam to pesado que muito

    difcil constru-los.

    Os magnetos resistivos e supercondutores consistem em muitas voltas de fios

    enrolados ao redor de um cilindro por onde passa uma corrente eltrica, a diferena que

    nos supercondutores o fio continuamente banhado em hlio lquido a uma temperatura de

    -233,5C que faz com que a resistncia no fio caia a zero. Os sistemas supercondutores ainda

    so muito caros, mas podem, devido a ausncia de resistncia, gerar campos da ordem de

    10T, j os resistivos operam at o nvel mximo de 0,3T porque requerem grandes

    quantidades de eletricidade.

    Vrios experimentos exigem que o magneto produza um campo bastante estvel e

    homogneo em toda a amostra. Os ms permanentes so muitos sensveis a temperatura, o

    que exige um excelente sistema de controle da mesma. A estabilidade dos magnetos

    resistivos feita por sistemas de realimentao, amplificao e autocompensao que vo

    contra variaes relativamente rpidas de corrente eltrica. Os magnetos de

    supercondutores apresentam alta homogeneidade e estabilidade, desde que mantidos a

    temperatura de -233,5C.

    3.1.1 Magneto para RMN de 1H a 2 MHz

    O grupo de RMN do IFSC (Instituto de Fsica de So Carlos) desenvolveu um magneto

    para os estudos de meios porosos via RMN. Foi projetado pelo engenheiro Dr. Edson Luiz

    Gea Vidoto um magneto resistivo capaz de produzir um campo magntico de

    aproximadamente 0,047 tesla, campo cujos ncleos 1H apresentam frequncia de Larmor de

  • 51

    2 MHz. Essa a frequncia padro utilizada nos estudos de rochas petrolferas porque trata-

    se de um campo de baixa intensidade que diminui os problemas relacionados com a

    diferena de susceptibilidade magntica na interface slido-fludo.

    Para a produo desse campo magntico foram dadas 500 voltas de fio de cobre

    sujeito corrente de 3,9 A em dois ncleos cilndricos de ferro, totalizando 1000 voltas. As

    peas foram fabricadas na oficina mecnica do IFSC e os fios foram enrolados pelo tcnico

    de laboratrio Aparecido Donizeti Fernandes Amorim. A figura 3.2 (a) apresenta uma foto do

    magneto.

    A fonte de alimentao tambm foi desenvolvida pelo grupo com o objetivo de

    baratear os custos do magneto. Ela foi projeta pelo tcnico Joo Gomes da Silva Filho para

    ter alta estabilidade de corrente atravs de dispositivos internos de realimentao. Uma

    fotografia da fonte de alimentao apresentada na figura 3.2 (b).

    (a)

    (b)

    Figura 3.2 - Fotografia do (a) Magneto e da (b) Fonte de Alimentao desenvolvidos no grupo.

    3.2 Sonda de rf

    Uma sonda de rf de ressonncia simples composta por um solenide de indutncia

    L e resistncia R (resistncia do fio que forma a bobina) com um capacitor em paralelo de

    capacitncia pC

    e um capacitor em srie de capacitncia sC , como mostra a figura 3.3. A

    amostra colocada internamente no solenide.

  • 52

    Figura 3.3 - Esquema eletrnico da sonda de RF.

    Primeiramente, para fazer uma sonda, inicia-se pela construo da bobina solenoidal.

    necessrio construir uma bobina com indutncia LX (onde LfX L ..2 ) entre

    aproximadamente 50 e 250 ohms. Esses so valores limites, observado na prtica, nas quais

    podem ser desprezadas as indutncias e capacitncias parasitas que aparecem nos

    componentes reais utilizados (no caso das frequncias utilizadas em RMN) e o circuito pode

    ser tratado como o apresentado na figura 3.3. Tambm so valores limites da indutncia na

    qual ter capacitores com a capacitncia disponvel para compra no mercado e com

    dimenses espaciais adequada para aplicao.

    A frmula emprica para a determinao da indutncia L de bobinas solenoidais,

    onde a separao entre as espiras muito menor que o dimetro do fio utilizado em sua

    construo, dada por 27

    )109(54,2

    22

    lr

    rnL

    (3.1)

    onde a indutncia L determinada em micro-Henries, n o nmero de espiras, r o raio

    das espiras e l o comprimento da bobina, ambos em centmetros.

    Para simplificar a explicao de como o circuito funciona, discutido um exemplo

    similar a sonda desenvolvida pelo grupo e utilizada nesse trabalho (figura 3.4). Foi

    construdo um solenide com as caractersticas de H958,7 de indutncia e 5 de

    resistncia para ressonncia em MHz2 , o que fornece um 100LX , valor que est entre

    os limites estipulados.

  • 53

    Figura 3.4 - Sonda desenvolvida pelo grupo programa para operar em 2MHz.

    O segundo passo para fazer a sonda determinar os valores de pC e sC . Para isso, o

    primeiro fato a ser observado o casamento das impedncias do circuito da sonda e do

    espectrmetro, situao a qual h maior transferncia de potncia para excitar a amostra e

    para captar o sinal de resposta, construo onde h melhor relao sinal/rudo (S/R). Ou

    seja, a impedncia equivalente do circuito tem que ser igual a 50 , valor padro dos

    espectrmetros de RMN, como mostrado na figura 3.5.

    Figura 3.5 - Resistncia equivalente do circuito da sonda calculada para ser igual a 50 ohms para casar com impedncia do espectrmetro, situao a qual possu maior transferncia de potncia.

    A partir do princpio da equivalncia srie-paralela o circuito indutor L e resistor

    R em srie pode ser transformado para um circuito paralelo de resistor 1R e indutor 1L , e

    atravs de clculos simples de resistncia srie-paralela obtm-se 064,2005 e H978,7

    (figura 3.6).

  • 54

    Figura 3.6 - Primeira transformao de equivalncia srie-paralela para determinar o comportamento do circuito da sonda.

    O prximo passo transformar o capacitor pC e o indutor 1L em um indutor

    equivalente 2L onde resultou em pC

    10

    5

    10.126,01

    10.798,0

    (em henrz e pC est em farad), como

    mostra a figura 3.7.

    Figura 3.7 - Indutncia equivalente da associao paralela entre o indutor L1 e o capacitor Cp.

    Para finalizar, transforma-se o circuito paralelo de 2L e 1R para o circuito em srie

    equivalente com 3L e 2R formando um circuito RLC em srie com sC ,

    )(

    )0.252.10-(20

    11).1261(

    10.126.01

    211

    10

    3 H

    CC

    CL

    p

    p

    p

    e )(

    )10.252.020(1

    064.20052112

    pCL , como

    descrito na figura 3.8.

    Figura 3.8 - Segunda transformao de equivalncia srie-paralela transformando o circuito da sonda equivalente a um circuito RLC.

  • 55

    O circuito RLC bem conhecido, sabe-se que a impedncia na ressonncia igual

    resistncia no circuito e lembrando que, como mencionado, h maior transferncia de

    potncia quando as impedncias so casadas, se conclu que

    50)10.252.020(1

    064.20052112

    pCR (3.2)

    , portanto,

    pFCoupFC pp 9,10416,545 21 (3.3)

    e substituindo esses valores na expresso de 3L obtm:

    HLeHLpCpC

    88,2488,242313

    (3.4)

    Sabendo tambm que a frequncia de ressonncia do circuito RLC dada pelo

    inverso da raiz quadrada da capacitncia vezes a indutncia, ento

    sCLMHzf

    .

    1

    2

    12

    3

    0

    (3.5)

    e dessa forma para os dois valores de 3L obtm:

    pFCepFC ss 5,2545,254 21 (3.6)

    e como sC 2 um valor negativo, esse resultado no plausvel fisicamente, e assim, o

    circuito final formado por indutor com indutncia HL 958,7 e resistncia 5R ,

    capacitor paralelo pFCp 6,545 e capacitor em srie pFCs 5,254 (figura 3.9).

  • 56

    Figura 3.9 - Esquema eletrnico final da sonda com os valores dos componentes a serem utilizados.

    Para excitar a amostra, o espectrmetro emite uma corrente alterna senoidal )(0 tI

    sonda de rf, com frequncia 0 , durante um curto intervalo de tempo pt , da ordem de

    microsegundos. Pela lei de Ampre, supondo um solenide perfeito, o campo dentro da

    sonda ser:

    ntAl

    nntI

    l

    nB Ix ).cos(

    .)(.

    .00 0

    (3.7)

    onde a permeabilidade magntica do meio, n o nmero de espiras, l o tamanho do

    solenide, 0I

    A e so amplitude e fase da corrente, respectivamente, e n o eixo

    perpendicular as espiras do solenide.

    Desta forma, o campo xB

    , que pode ser decomposto em dois campos circurlamente

    polarizados 1B

    e 2B

    , como mencionado no captulo 2 (equao 2.37), diretamente

    proporcional a corrente senoidal )(0 tI . O campo dentro da bobina ser como exemplificado

    na figura 3.10 (a) e (b). A corrente alterna tem uma potncia de centenas de kilowatts

    gerando um campo xB

    da ordem de 10-500G. Nota-se que a fase da corrente

    ).cos( 00 0 tAI I determina a fase do campo xB

    , ou seja, determina a direo inicial do

    campo 1B

    no plano '' yx , normalmente referido como fase do pulso. O significado da fase do

    pulso importante para entender a ciclagem de fase discutida na seo 4.3.

    No referencial girante, 1B

    um campo esttico ligado e desligado depois do tempo

    pt apresentando-se como um pulso quadro, figura 3.10 (c). Pelo Princpio da Incerteza, um

  • 57

    pulso de rf monocromtico 00 2 de curta durao pt implica numa pequena incerteza

    temporal e consequentemente uma vasta gama de frequncias em 0 , grande incerteza na

    energia tanto maior quanto mais curto o tempo de durao do pulso 10. Atravs da

    Transformada de Fourier deduz-se que a distribuio de energia corresponde a ter uma

    distribuio de valores de 1B dada pela funo:

    p

    p

    t

    tB

    ).(

    ]).(sin[)(

    0

    0

    1

    (3.8)

    que se anula para pt

    10 , como ilustrado na figura 3.11.

    Figura 3.10 - (a) e (b) ilustram o campo xB

    gerado pela sonda de rf no referencial do

    laboratrio. E em (c) ilustrado o campo 1B

    para o referencial girante, o qual tem

    o perfil de um pulso quadrado.

    Um pulso com st p 10 equivalente irradiao da amostra com uma gama de

    frequncias da ordem de Hz510 , ou seja, supondo ncleos de H1 (hidrognio de massa

    atmica 1) com MHz20 , os ncleos de H1 fora da frequncia central devido a

    inomogeneidade de campo 0B

    , tambm sero excitados se as frequncias de ressonncia

    estiverem localizadas dentro da faixa de 1,9 2,1 MHz.

  • 58

    Figura 3.11 - Distribuio de frequncias correspondentes a um pulso de frequncia 0 e

    durao pt .

    A deteco do sinal de RMN tambm feita pela sonda de rf. Para captar a radiao

    de resposta da amostra, utilizado o mesmo solenide de excitao. Esse sistema com um

    solenide possui a desvantagem da medida no poder ser executada imediatamente aps a

    excitao devido ao fato da bobina precisar dissipar a energia do pulso. Esse tempo de

    espera chamado, do termo ingls, de Ring Delay.

    O sistema de deteco teoricamente o inverso da excitao, ou seja, ocorre que

    pela Lei de induo de Faraday a magnetizao resultante vai induzir, atravs da variao de

    fluxo magntico no interior do solenide, uma fora eletromotriz no circuito eltrico:

    dt

    dV Bfem

    (3.9)

    onde femV a fora eletromotriz induzida e dt

    d B a variao de fluxo magntico dentro do

    solenide.

    O fluxo magntico definido como a quantidade de linhas de campo magntico que

    atravessam uma determinada rea, ou seja,

  • 59

    cos..BAB (3.10)

    onde A rea da superfcie em questo, B o campo magntico atravessando a superfcie e

    o ngulo entre B e a normal da superfcie como mostra a figura 3.12 (a).

    Portanto, para o sistema do solenide, a fora eletromotriz induzida no circuito dada

    pela variao da magnetizao resultante M

    ser

    dt

    tdMrnntM

    dt

    drnV Tfem

    )(...)).(.(.. 22

    (3.11)

    onde 2.r a rea para cada anel do solenide e )().(. tMntM T

    a componente do

    campo da magnetizao resultante na direo normal da bobina (figura 3.12(b)). Desta

    forma, nota-se que a femV est relacionada diretamente com a variao da componente

    transversal da magnetizao resultante:

    dt

    tdMV Tfem

    )( (3.12)

    O sinal de induo nuclear da ordem de 810 volts detectado no enrolamento da bobina.

    Figura 3.12 - (a) Definies das variveis utilizadas na expresso do fluxo magntico. (b) Princpio de deteco do sinal de RMN.

  • 60

    O circuito da sonda com a tenso induzida pela amostra pode ser compreendido

    como o mostrado na figura 3.13.

    Figura 3.13 - Circuito da sonda de rf mais o espectrmetro.

    Para a anlise da recepo mais fcil transformar o circuito sonda mais

    espectrmetro para um do tipo RLC em srie, como sugere a figura 3.14. A nova capacitncia

    resultante vai depender da frequncia da fora eletromotriz induzida femV , mas prximo

    da ressonncia 0 , os valores da resistncia equivalente e da capacitncia equivalente

    de aproximadamente 5 e pF7,794 , respectivamente. A primeira observao que a

    resistncia equivalente eqR ser sempre aproxima igual resistncia R do solenide porque

    as impedncias dos circuitos sonda e espectrmetro so casadas e consequentemente

    metade da potncia dissipada na sonda e a outra metade no espectrmetro. Portanto

    conveniente definir a resistncia total como a soma das duas (eqT RRR ). A segunda

    observao que esse circuito RLC tem frequncia de ressonncia tambm em 0 :

    022

    1

    MHz

    LCeqaressonanci (3.13)

  • 61

    Figura 3.14 - Transformao do circuito sonda e espectrmetro para um circuito RLC srie.

    Pelas Leis de Kirchhoff possvel demonstrar que a impedncia desse circuito RLC em

    srie

    2

    2 1

    L

    CRZ

    eq

    T

    (3.14)

    , logo, a corrente eltrica que flu no circuito dada por

    12

    2 1

    L

    CRV

    Z

    VI

    eq

    Tfem

    fem

    (3.15)

    e desta forma pode ser construdo o grfico da corrente em funo da frequncia que est

    apresentado na figura 3.15 para 10 e para alguns outros valores de TR .

    A partir do grfico, surge idia de um parmetro de caracterizao do circuito RLC,

    o fator de qualidade Q o qual est ligado largura de banda do circuito, que definida

    pela faixa de frequncias cuja potncia maior ou igual metade da potncia mxima

    (figura 3.16), que, por sua vez, a potncia dissipada na frequncia de ressonncia.

    facilmente demonstrado que

    R

    X

    R

    XQ L

    T

    L

    2

    0

    (3.16)

    onde LX reatncia do indutor na ressonncia e R a resistncia do solenide. Em outras

    palavras, define a faixa de frequncia emitida pelos spins que observada.

  • 62

    Figura 3.15 - Corrente eltrica no circuito RLC em funo da frequncia do gerador.

    Quanto maior o fator de qualidade Q , maior a corrente no circuito e

    consequentemente maior o sinal de resposta dos spins. Mas importante notar que para

    alguns casos no bom um fator Q muito alto pelo fato da banda ser estreita. Por

    exemplo, para o caso de um magneto com baixa homogeneidade de campo magntico 0B

    e

    MHz20 sero perdidas informaes dos vrios spins que estiverem com frequncia

    ligeiramente diferente da ressonncia.

    Figura 3.16 - Largura de banda do circuito RLC, que definida pela faixa de frequncias cuja potncia maior ou igual metade da potncia mxima.

  • 63

    Ento, para finalizar o raciocnio, o pr-amplificador capta metade da potncia do

    sinal induzido pelos spins, d um ganho a esse sinal que adquirido pelo detector do

    espectrmetro e assim os dados so adquiridos e armazenados.

    3.3 O Espectrmetro

    Hoje em dia h diversos modelos de espectrmetro de RMN com diversas

    caractersticas e empresas. Dessa forma, no vivel nesse texto a descrio dos vrios

    modelos existentes. Ser discutido apenas o utilizado nesse trabalho.

    O espectrmetro em questo o console Discovery da empresa Tecmag, que permite

    ressonncia simples operando na faixa de 0,1 a 600 MHz.

    Resumidamente, como discutida por Braz 28, o espectrmetro composto por quatro

    partes principais: sintetizador, transmissor, receptor e chaveador.

    O sintetizador de rf o elemento responsvel pela sntese de tenso alternada de

    baixa amplitude, aproximadamente 2 volts de pico a pico e com frequncia no intervalo de

    MHz a GHz, e de forma infinita no tempo. A sntese dessa tenso pode ser compreendida

    como o conjunto de operaes, a partir