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EM DIREÇÃO À COLABORAÇÃO INDEPENDENTE: O PROCESSO DE EXPLICITAÇÃO DE CONHECIMENTOS RELATIVOS À COGNIÇÃO EM UMA FERRAMENTA WIKI Thaís Spiegel (UFRJ) [email protected] Rafael Consentino de la Vega (UFRJ) [email protected] Vinícius Carvalho Cardoso (UFRJ) [email protected] Este trabalho apresenta uma discussão das formas de organização do trabalho, em particular dos processos de colaboração independente, na viabilização de um projeto multidisciplinar. Inicialmente são apresentados uma visão geral das organizaações inovadoras e os principais conceitos associados aos processos de criação. É procedida uma exposição de quadros teóricos destacando o papel dos processos de colaboração, sobretudo os independentes. Estes conceitos orientam e conformam o projeto de uma solução Wiki. No artigo o caso é contextualizado como iniciativa relevante para estímulo as pesquisas em trabalho e mente, e são apresentadas formas de uso e implicações da ferramenta em questão. Palavras-chaves: colaboração, conhecimento, explicitação, ferramenta wiki XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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EM DIREÇÃO À COLABORAÇÃO

INDEPENDENTE: O PROCESSO DE

EXPLICITAÇÃO DE CONHECIMENTOS

RELATIVOS À COGNIÇÃO EM UMA

FERRAMENTA WIKI

Thaís Spiegel (UFRJ)

[email protected]

Rafael Consentino de la Vega (UFRJ)

[email protected]

Vinícius Carvalho Cardoso (UFRJ)

[email protected]

Este trabalho apresenta uma discussão das formas de organização do

trabalho, em particular dos processos de colaboração independente,

na viabilização de um projeto multidisciplinar. Inicialmente são

apresentados uma visão geral das organizaações inovadoras e os

principais conceitos associados aos processos de criação. É procedida

uma exposição de quadros teóricos destacando o papel dos processos

de colaboração, sobretudo os independentes. Estes conceitos orientam

e conformam o projeto de uma solução Wiki. No artigo o caso é

contextualizado como iniciativa relevante para estímulo as pesquisas

em trabalho e mente, e são apresentadas formas de uso e implicações

da ferramenta em questão.

Palavras-chaves: colaboração, conhecimento, explicitação, ferramenta

wiki

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

Segundo FAYOL (1977), qualquer instrumento administrativo – inclusive estruturas

organizacionais – é escravo de seu contexto, devendo ser adaptado conforme as exigências o

induzam a tal. STINCHCOMBE (1965, apud MINTZBERG, 1979:228) menciona que “tipos

organizacionais geralmente se originam rapidamente em um período histórico relativamente

curto, para crescer e mudar gradativamente depois deste período. O tempo no qual este

período de crescimento ocorre é altamente correlacionado com as características presentes nas

organizações do tipo”.

A observação empírica da evolução das organizações ao longo do tempo demonstrou que

algumas estruturas foram se aperfeiçoando para se adequar às mudanças no ambiente. Em

particular, nos últimos 20 anos, a disseminação em massa da tecnologia da informação

habilitou toda uma nova gama de mecanismos de coordenação do trabalho e,

conseqüentemente, permitiu que novas formas de organizar o trabalho emergissem.

Neste contexto, o presente artigo apresenta uma discussão dos processos de explicitação de

conhecimento já difundidos diante da crescente preocupação com a inovação. Em particular,

aborda as dimensões previstas quando o mesmo se estrutura de modo colaborativo. Após uma

exposição dos quadros conceituais, os mesmos são utilizados na condução de um projeto

multidisciplinar.

Conforme discutido em SPIEGEL & CARDOSO (2009), uma direção interessante para

expansão da base teórica associada à Teoria Organizacional é a incorporação de conceitos

explorados pelas Ciências Cognitivas. Presume-se que o contato com as discussões acerca da

cognição humana dê aos pesquisadores uma nova perspectiva sobre os trabalhadores, que

passariam a ser encarados como recursos diferenciados e abordados de forma adequada às

suas particularidades.

A partir desta idéia, surge a proposta do WikiCog, portal destinado a agregar conhecimentos

de Ciências Cognitivas a fim de que sejam utilizados no âmbito dos estudos de trabalho da

Engenharia de Produção. Propõe-se que o conhecimento seja gerado de forma moderada, mas

disponibilizado de forma livre, garantindo o rigor científico e potencializando sua

disseminação.

Seu framework de operação é derivado das discussões relacionadas a organizações criativas e

processos de colaboração apresentadas nos capítulos dois, três e quatro, prevendo a existência

de uma estrutura de apoio que permita a participação independente e voluntária de

colaboradores especialistas nas diversas áreas relevantes ao tema. O capítulo cinco detalha a

motivação por trás da proposta, seus detalhes operacionais mais gerais são expostos no sexto

capítulo, e o sétimo apresenta considerações finais.

2. Organizações criativas

A inovação, como prescrito por SCHUMPETER (1942, apud PENROSE, 1995:xiv) e seus

seguidores, é, enfim, a mola mestra da economia capitalista:

“Sua „destruição criativa‟ e „revoluções constantes‟ são o resultado de um processo que

incessantemente revoluciona a estrutura econômica de dentro para fora, incessantemente destruindo a

velha, incessantemente criando uma nova. Este processo de destruição criativa é o fato essencial sobre

o capitalismo (...)”.

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De um modo geral, pode-se dizer que, em maior ou menor grau, as organizações

contemporâneas precisam lidar com cada vez maiores e mais freqüentes necessidades de

inovação. No entanto, percebe-se que uma boa parte delas continua tentando estruturar e

gerenciar os processos de inovação de forma linear e cartesiana, assumindo que os mesmos

ocorrem em fases seqüenciais e lógicas, como um processo produtivo típico.

NONAKA e TAKEUCHI (1995:83-89), por exemplo, propõem um modelo de cinco

(grandes) fases para sistematizar o processo de criação de conhecimento organizacional

aparentemente linear, ilustrado na figura 1. Entretanto, apesar de ter uma seqüência induzida,

um olhar mais cuidadoso expõe um modelo que permite loops múltiplos e variados, fazendo

com que o processo criativo possa navegar entre fases conforme a dinâmica concreta da

execução.

Figura 1: Modelo das cinco fases do processo de criação de conhecimento organizacional. Fonte: NONAKA e

TAKEUCHI (1995:84).

A primeira fase, de socialização, pressupõe alto nível de comunicação interpessoal informal, a

livre troca de idéias para conformar um ideário do coletivo envolvido no processo. Depois, a

idéia geral deve gerar conceitos que sintetizem explicitamente o alvo do processo criativo.

Este alvo, assim como os conceitos que foram „externalizados‟, deve ser entendido, avaliado e

validado em âmbitos mais amplos da organização, tanto lateral quanto verticalmente. Quando

houver acordo, ou decisão por prosseguir, deve-se criar o modelo geral da inovação,

combinando todos os conceitos em um todo coerente – um arquétipo – e, por fim, é necessário

disseminar o conhecimento criado ao longo do processo através e pra fora da organização.

Para QUINN et al. (1997:107), por outro lado, os processos de inovação têm algumas

características que tornam esta abordagem linearizada pouco útil, devendo-se caminhar para

processos menos ordenados, a saber:

Cada processo envolvido em uma inovação é extremamente não-linear, dominado por

ações independentes, mas resultados com grande interdependência entre todos os

elementos envolvidos.

Não há controle sistêmico, mas há certas regras implícitas regulando as interações entre os

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elementos.

É impossível predizer estatística e intelectualmente o resultado preciso do resultado de

qualquer dos elementos do sistema no início do processo.

Conforme as suposições de QUINN et al. (1997:107-140), o processo de desenvolvimento de

software, por exemplo, têm se dado sobre uma nova forma de organização do trabalho

denominada “colaboração independente”. Pode-se concluir que outras naturezas de

transformação igualmente criativas podem assimilar tal forma de organizar o trabalho.

3. Colaboração independente

Este tipo de colaboração tem características que a diferenciam diametralmente dos processos

colaborativos tradicionais, conduzidos através de grupos e times estruturados. Por exemplo,

uma colaboração independente é, tipicamente, assíncrona. Ou seja, as pessoas podem

trabalhar – pensar, experimentar, produzir, colaborar etc. – quando estiverem disponíveis e /

ou inspiradas, e não apenas quando estiverem juntas ao mesmo tempo, no mesmo lugar. O

pressuposto assumido é que algumas pessoas trabalham melhor à noite, outras de manhã;

outras preferem o silêncio, outras gostam de música; outras criam melhor em casa, outras ao

ar livre e outras no escritório; e assim sucessivamente.

Outro pressuposto é que os insights surgem em estalos criativos aleatórios, não-controláveis, e

não na hora da reunião marcada pela equipe de projeto. Obviamente, isso não quer dizer que

estas reuniões não possam acontecer; muito pelo contrário, quando possível e necessário,

devem. Porém, atualmente, se houver distância geográfica impeditiva do encontro pessoal, as

tecnologias de colaboração à distância permitem encontros virtuais e, conseqüentemente, dão

flexibilidade aos envolvidos para que se mantenham onde for mais apropriado. Pode-se

perceber que uma das principais características das organizações assíncronas é que elas

devem ser fortemente baseadas em sistemas de informação que permitam esta desconexão de

tempo e espaço entre os indivíduos membros da colaboração independente. Uma

característica no mínimo atípica na maior parte das organizações tradicionais.

As colaborações independentes pressupõem, então, alta conectividade entre os indivíduos,

induzindo o processo colaborativo a extrapolar restrições geográficas, fronteiras

organizacionais e culturas locais. Se o insumo essencial à inovação é o conhecimento, basta

que as pessoas possam estar conectadas entre si e desejem colaborar para que a organização se

estabeleça, as demais condições se tornam acessórias. Obviamente, as organizações devem

procurar manter algum controle sobre esse processo de colaboração, de modo que possam se

apropriar das criações geradas e, idealmente, obterem o retorno sobre os investimentos

realizados. No entanto, este controle não é de todo possível, conforme já sugerido nas

características do processo criativo anunciadas anteriormente. Logo, as organizações

precisarão aprender a conviver com esse grau de abertura dos sistemas criativos, passando a

operar sobre esta realidade contraditória de um mundo mais conectado e menos controlável.

Outra característica interessante das organizações criativas é a necessidade de uma cultura

mais diversificada dentre os indivíduos em colaboração. Diferentemente das abordagens por

grupos de trabalho, onde uma das premissas é que se estabeleça uma cultura comum no time,

os processos de inovação requerem diferenças de ponto de vista entre as pessoas. NONAKA e

TAKEUCHI (1995:82) chamam esta característica de “diversidade de requisitos” e afirmam

que a diversidade interna de uma organização deve ser compatível com a variedade e

complexidade do ambiente no qual opera para ser capaz de tratar dos desafios que este lhe

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impõe.

Considerando estas características, a estrutura do dia para QUINN et al. (1995:132) deveria

ser “não ter uma estrutura arbitrária”. Nas suas palavras:

“Por que ter qualquer estrutura arbitrária? (...) Para muitas situações, a organização inovadora mais

moderna é uma coligação livre e flutuante de talentos que podem se mover para quaisquer projetos a

quaisquer momentos, baseado em interações assemelhadas às de mercado”.

Aqui, vale observar, a colaboração independente se assemelha a uma organização em rede.

Para PADONLY e PAGE (1998:57-76), uma rede é uma coleção de atores que estabelecem

relações de troca de longo prazo, e que ao mesmo tempo não possuem legitimidade e

autoridade para arbitrar e resolver disputas que podem ocorrer durante a troca.

Entretanto, conforme foi destacado por CARDOSO, ALVAREZ e CAULLIRAUX (2002),

uma vez que as trocas são repetidas no longo prazo, pode-se dizer que a forma de

coordenação do trabalho entre os componentes da rede não segue a lógica estrita do mercado,

segundo a qual não há definição a priori das transações a serem feitas no futuro. Ao mesmo

tempo, se não existe legitimidade ou autoridade para arbitrar as trocas, pode-se entender que

não há a quem recorrer para a resolução de conflitos, ou seja, a coordenação não é definida a

partir de uma determinada hierarquia.

As redes situam-se como formas híbridas de organização entre o mercado, onde a

coordenação do trabalho se dá a partir da racionalidade estrita de transações independentes ao

longo do tempo, e a hierarquia, onde a coordenação se dá pelo poder formal. Nas redes, surge

com grande relevância a coordenação a partir de mecanismos sociais, onde as interações entre

os envolvidos constroem, gradativamente, uma interdependência mútua de gradiente positivo,

ou seja, um jogo do tipo ganha – ganha.

É fato que essa associação proporciona múltiplos benefícios aos nós da rede, sejam

indivíduos, sejam organizações. Por exemplo, as organizações podem compartilhar ativos

físicos – instalações, equipamentos, materiais etc. –, criar conhecimento de forma

colaborativa, estabelecer contratos de fornecimento de longo prazo, entre outros. Assim, uma

colaboração independente, tanto quanto uma organização em rede, pode dispor de recursos

que não disporia se estivesse isolada, usufruindo facilidades importantes para suportar seu

processo produtivo e, conseqüentemente, pode trabalhar sobre estruturas bem achatadas, com

pouca ou nenhuma hierarquia e autoridade formal. QUINN et al. (1997:130) propõem uma

abordagem em três camadas para organizar o trabalho em uma colaboração independente,

conforme apresentado na figura 2.

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Figura 2: Estrutura de colaboração independente em três níveis. Fonte: QUINN et al. (1997:133).

a) Uma camada onde o conhecimento externo e especializado é capturado e mantido em

sistemas abertos de software, que são construídos de tal forma que a base de

conhecimento se torna um elemento-chave na organização;

b) Uma camada de grupos de especialistas com profundos conhecimentos (associados por

disciplina, por cliente, por geografia ou processo) constantemente desenvolvendo e

enriquecendo a base de dados central compartilhada;

c) Uma camada de especialistas em colaboração independente em projetos de inovação que

concentram, ampliam e adaptam seu conhecimento conjunto para fins específicos de

inovação ou de atendimento ao usuário.

A proposta de QUINN et al. (1997) corrobora parcialmente com a de NONAKA e

TAKEUCHI (1995). A estrutura hiper-texto proposta por estes também é composta por três

camadas e baseia-se fundamentalmente no investimento em forças-tarefa para estimular a

criação de conhecimento e a inovação, sendo uma de suas camadas dedicada aos „times de

projeto‟. Entretanto, as outras duas camadas diferem em conteúdo individual das de QUINN

et al. (1997), mas se equivalem no escopo global de atenção. NONAKA e TAKEUCHI

(1995:166-196) propõem que uma camada se dedique ao trabalho burocrático e a outra ao

acúmulo de conhecimento tácito e explícito. Essas três camadas são denominadas,

respectivamente, times de projeto, sistema de negócio e base de conhecimento.

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Figura 3: a organização hipertexto. Fonte: NONAKA e TAKEUCHI (1995:169).

A colaboração independente tem a camada de realização de projetos, porém, as outras duas se

dedicam, uma, à criação de conhecimento tácito e explícito e, a outra, ao armazenamento e

acesso aos conhecimentos explícitos – esta última camada é composta apenas por sistemas de

informação, diferindo assim da estrutura hipertexto. Porém, o conteúdo geral de cada proposta

de organização é o mesmo, apenas tomado por ângulos diferentes. Pode-se perceber que para

a colaboração independente a base de conhecimentos da organização se restringe ao que está

explícito, e na estrutura hipertexto a base inclui os conhecimentos tácitos, considerando que

ele fica “armazenado” na visão corporativa e na cultura organizacional da firma, portanto,

pertencendo também à empresa.

4. Os processos de colaboração

Do ponto de vista do projeto organizacional, é interessante notar que ambas as propostas são

voltadas a tratar um ambiente cada vez mais dinâmico e complexo, habilitando as empresas a

competir numa indústria onde a capacidade de inovação é uma questão de sobrevivência.

Logo, conforme a teoria contingencial exposta por MINTZBERG (1979), há um

favorecimento à adoção de estruturas mais descentralizadas e flexíveis. Neste sentido, a

colaboração independente parece ser mais propensa a fomentar a liberdade ampla das pontas,

dando liberdade total aos membros de atuarem conforme sua própria conveniência e

iniciativa; e, assim, aumentando radicalmente o grau de descentralização da organização. No

limite, esta abordagem configura uma organização efetivamente virtual, onde as pontas

colaboram sobre uma base compartilhada de conhecimentos com vistas a alcançarem

objetivos específicos adotados circunstancialmente, sem que haja instrumentos formais de

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posse entre as partes ou de regulação da operação global, cabendo aos nós individuais decidir

a todo o momento se está ou não valendo a pena participar da operação coletiva.

Outra característica fundamental à flexibilidade da operação global que está presente nas duas

propostas é a criação de forças-tarefa temporárias. Assim postas, estas forças-tarefa podem ser

entendidas como um mecanismo de coordenação de segunda ordem fortemente baseado em

ajuste mútuo e gestão de competências. Como cada força-tarefa mobilizada serve a um

propósito específico, não é possível determinar a priori qual será o processo de trabalho

adotado, tampouco saber qual será o resultado. Assim, só se pode esperar que durante o

projeto, ou seja, depois de definido o objetivo e mobilizados os recursos disponíveis, o grupo

seja capaz de dar conta do trabalho necessário, seja ele qual for. Em grande parte, isto vai

depender das competências que cada indivíduo tem e vai mobilizar, e da capacidade de

colaboração entre os indivíduos, ou seja, do quão bem eles vão se ajustar mutuamente para

cumprir o objetivo. Circunstancialmente, numa organização tão flexível, as necessidades de

competência que não tiverem sido previstas poderiam ser incorporadas a qualquer momento

pelo ingresso de novos colaboradores e/ou por processos de capacitação.

Nas teorias anteriormente expostas é dada pouca ou nenhuma relevância aos processos

recorrentes da organização. Na organização hipertexto eles são postos sob a denominação de

trabalho burocrático e delegados à segunda camada da estrutura. Na colaboração

independente nem são tratados; há, aparentemente, um pressuposto implícito de que estão –

ou estarão – completamente automatizados. Entretanto, no exercício de sua função essencial,

algumas organizações podem não depender somente da execução de projetos com finalidade

específica e circunstancial; eventualmente, alguns processos recorrentes tendem a continuar

sendo determinantes para o valor que será entregue e percebido pelo cliente final.

Muitos destes processos recorrentes, além de não estarem automatizados, não são passíveis de

automação, afinal, a recorrência não necessariamente implica possibilidade de padronização

do trabalho ou dos resultados. Ou seja, um processo pode ser recorrente e, ainda assim, não

ser passível de padronização ou automação. Para tanto, basta que existam ações e decisões de

natureza complexa no fluxo do trabalho que sejam dependentes da mobilização de

competência humana em tempo real para sua consecução.

Portanto, ainda que os processos sejam mais estáveis que as atividades ad hoc dos processos

de inovação em si, que são conduzidos pelas forças-tarefa temporárias, eles não merecem ser

desprezados. Provavelmente, a recorrência torna os processos menos suscetíveis à criação de

conhecimento e à inovação, reduzindo seu valor aparente aos olhos da nova moda – a

estrutura do dia –, entretanto, através de sua execução, podem ser gerados resultados que

sustentam a capacidade de atendimento da organização à sua função essencial e, assim,

justifica-se a sua existência e evolução. Ou seja, ainda que não sejam eficazes em criar

vantagens competitivas sistematicamente, são provavelmente fundamentais para sustentá-las.

Daí pode-se depreender que, apesar das estruturas do dia depositarem todas as suas atenções

nas forças-tarefa temporárias, a complementação deste foco com outro em processos parece

ser uma posição mais acertada.

No caso das atividades das forças-tarefa temporárias, a sua característica essencialmente

criativa faz com que a liberdade para colaborar seja bastante adequada, pois, como já dito

anteriormente, presume-se que não há um padrão de preferência de ambiente de trabalho para

todos os indivíduos. É necessária a criação de uma estrutura de colaboração para que se possa

trocar informações e contribuições, mas, idealmente, o acionamento dessa estrutura é

voluntário, a ser feito pelos colaboradores como lhes for mais confortável.

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A partir desta discussão sobre a estruturação de ambientes de colaboração para trabalhos

criativos surge a estrutura pela qual organizou-se a proposta do WikiCog, um portal que visa à

realização da ponte entre os estudos de trabalho e mente por meio da participação voluntária

de colaboradores especializados nas diversas áreas que se ocupam destes dois elementos. A

motivação para sua criação e seus detalhes operacionais são apresentados a seguir.

5. Caso WikiCog: contextualização

O WikiCog tem papel importante no que tange ao processo de construção do conhecimento

afeto às pesquisas em trabalho e mente. O intuito é desenvolver massa crítica para que as

teorias desenvolvidas no âmbito das ciências básicas passem a ser aplicadas no âmbito das

organizações. A hipótese aqui é que os pesquisadores, à medida que entram em contato com

as discussões que ocorrem sobre a cognição humana, passam a olhar os trabalhadores como

recursos diferenciados, dignos de uma abordagem aderente às suas particularidades.

Pela definição de LIEBERMAN (apud BUTLER & SENIOR, 2007:4), a neurociência

cognitiva social “estuda os processos no cérebro que permitem às pessoas entender os outros,

entender a si mesmos e navegar efetivamente no mundo social”. BUTLER & SENIOR

apresentam as bases deste recente campo de estudos, que “utiliza teorias e fenômenos

psicológicos das ciências sociais, como cognição social, cognição política, economia

comportamental e antropologia” (2007:4).

A ligação entre esta neurociência cognitiva social e as organizações é feita por com base no

humanismo biológico defendido por Pinker. Eles argumentam que as organizações são um

tema importante por si só, por conta do quanto humanos passam de seu tempo dedicados a

algum tipo de trabalho e por haver um corpo de pesquisadores que estuda aspectos deste

trabalho. Estes argumentos podem ser expandidos para além da neurociência, sendo válidos

para toda a ciência cognitiva. BUTLER & SENIOR (2007) identificam, ainda, as bases

incipientes da neurociência cognitiva organizacional na forma dos estudos de neuroeconomia

e de neuromarketing.

SPIEGEL (2009) e SPIEGEL & CARDOSO (2009:6) comentam sobre a principal deficiência

das abordagens atuais aos estudos de trabalho de conhecimento, o fato de não evidenciarem os

processos cognitivos dos trabalhadores, tratando sua mente como uma “caixa-preta” além do

corpo, uma simplificação que “induz os pesquisadores a trabalharem de modo mais

especulativo e, consequentemente, com margens de erro maiores”.

Espera-se que, através do acesso da comunidade à base de conhecimentos correlata aos

processos cognitivos, a Teoria Organizacional comece a incorporar novas visões. Isto é, que a

Teoria Organizacional incorpore em seus pilares as explicações da Ciência Cognitiva sobre a

mente humana. Na busca pelo alcance deste objetivo, pretende-se estimular o contato da

comunidade, em particular da Engenharia de Produção, com os corpos teóricos provenientes

da Ciência Cognitiva.

O WikiCog é um portal que se propõe a prover justamente essa base de conhecimento à

comunidade. Nele estarão reunidos, de forma sistematizada, os corpos teóricos da Ciência

Cognitiva de interesse para o entendimento dos aspectos da cognição humana. Assim, a

principal inovação do projeto em relação à situação atual é (re)organizar o conteúdo de forma

compatível com os resultados almejados. Significa disponibilizar os conhecimentos que já

existem com uma sinergia interna diferenciada, propiciando a criação de uma nova visão na

comunidade científica, mais relacionada com as tendências atuais de preponderância do

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trabalho cognitivo. O foco do projeto deve ser mantido na busca pelo aumento da

produtividade do trabalho cognitivo, evitando a transformação em uma compilação ampla

sem “forma”.

Para que o WikiCog esteja alinhado aos objetivos da linha de pesquisa e cumpra seu papel na

difusão do “caldo cultural” necessário à revisão da base teórica da Ciência Organizacional,

elabora-se a seguir um planejamento da utilização da ferramenta. A evolução da estrutura

conceitual deverá ocorrer com o conteúdo dos wikis acompanhando o processo de construção

do conhecimento. O aprendizado é cumulativo e emerge tanto da explicitação de uma forma

diferenciada do corpo teórico, quanto da interação entre os colaboradores. Assim, deve-se

entender as grandes agregações, isto é, as categorizações que conformam os wikis, como uma

aproximação sucessiva ao propósito da linha de pesquisa.

6. O projeto do processo de colaboração no WikiCog

O termo Wiki é utilizado para identificar um tipo específico de coleção de documentos em

hipertexto. O formato foi popularizado pelo sucesso da enciclopédia livre Wikipédia (ver

www.wikipedia.com.br), na qual há edição coletiva dos documentos usando um sistema que

não necessita que o conteúdo tenha que ser revisto antes da sua publicação.

O WikiCog será um portal da web composto por wikis na qual estarão estruturados os corpos

teóricos afetos a cognição humana. O wiki (em minúsculas) designa o conjunto de páginas

fortemente relacionadas, interligadas em função do seu conteúdo. A figura 4 ilustra a estrutura

do WikiCog, com seus wikis, e estes por sua vez, com suas páginas.

Além da “apresentação geral”, espaço no qual é exposto de forma resumida o conteúdo, os

wikis são compostos por um conjunto de páginas. No que tange ao conteúdo formal, disposto

na região denominada como “corpo central” na figura acima, a página apresentará o formato

texto com hiperlinks (recurso presente nos textos que referencia outro texto ou documento).

Estes permitem a navegabilidade entre os níveis mais baixos de informação dentro de um wiki

e entre wikis. As relações entre as páginas, linhas conectando as bolas na figura acima, ocorre

através desses hiperlinks. Além do corpo central, o wiki é composto por um espaço para

comentários. Este funciona como uma espécie de blog (termo utilizado para designar uma

página da web cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos de tamanho

variável, chamados artigos ou posts).

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Figura 4: Estrutura do conteúdo: O WikiCog e seus wikis. Fonte: os autores.

Como exemplo, podemos considerar a existência de um wiki dedicado à Psicologia, campo

chave nos estudos de cognição. Dentro deste wiki, haveria uma página dedicada à psicologia

como um todo, como forma de apresentação do campo e páginas adicionais tratando de

elementos específicos da psicologia cognitiva cujo estudo seja relevante para os propósitos

em questão.

Os wikis podem dar origem ainda a fóruns. Por meio destes a comunidade tem um espaço

disponível para tecer considerações sobre o tema tratado no wiki, realizando análises críticas,

indicando materiais complementares, comentando a aplicabilidade no âmbito das

organizações, entre outros. O intuito deste espaço é avançar no entendimento do objeto

tratado a partir de discussões.

Adicionalmente, de forma a prover à comunidade o conteúdo de forma sinérgica, o WikiCog

disponibilizará mecanismos de busca por autor, disciplina e conceito, alem de incorporar os

conceitos de wiki semântico para aumentar o valor do conteúdo retornado ao usuário. O wiki

semântico é uma proposta de utilização da tecnologia web semântica, na qual são

identificadas as ontologias a partir da interpretação dos conteúdos e dos relacionamentos

existentes. Assim, quando essas passam a ser reconhecidas pelos programas, propicia-se uma

maior eficácia na navegação, com apresentação dinâmica do conteúdo, busca semântica e

mecanismos de deduções.

No que tange à dinâmica do processo de produção e consumo do conhecimento explicitado,

propõe-se a vinculação de ambas, através da utilização de uma comunidade colaborativa

(peers) como consumidora e produtora do repositório de conhecimento. Apresentando o

conceito de peering, TAPSCOTT & WILLIAMS (2006: 66), colocam que “na sua forma mais

pura, é uma maneira de produzir bens e serviços que depende totalmente de comunidades

auto-organizadas e igualitárias de indivíduos que se unem voluntariamente para produzir um

resultado compartilhado”.

TAPSCOTT & WILLIAMS (2006: 382) ressaltam que os indivíduos em comunidades de

peering podem ter motivações e objetivos muito particulares, mas devem seguir regras e

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protocolos. Neste contexto, foram estabelecidas normas básicas do WikiCog, que irão

governar questões como formas de contribuição, comunicação e apropriação do conteúdo.

Qualquer indivíduo com acesso à internet poderá visualizar o conteúdo disponível no

WikiCog. “Wikis” normalmente são caracterizados pelo fato de serem editados pelos

navegantes. No WikiCog, qualquer visitante possui acesso ao conteúdo e à função de realizar

breves comentários sobre cada página. Entretanto, optou-se por restringir a edição do

conteúdo formal, isto é, das páginas e dos wikis para colaboradores. Para se tornar um

membro, é necessário ser cadastrado. Restringir a edição destes espaços aos usuários

cadastrados está associado à intenção de estabelecer uma rede de pesquisa, na qual o

mapeamento dos colaboradores é de suma importância.

Como o intuito é a criação de conhecimento, não cabe aqui estabelecer barreiras às

contribuições, e sim estimular a realização de melhorias pelo coletivo. Nesse sentido, uma vez

que o formulário de cadastro tenha sido preenchido e aceito por um moderador, o colaborador

não possui mais restrições. A partir deste momento encontra-se apto para criar/editar um novo

wiki, uma nova página dentro de um wiki ou uma nova relação entre páginas.

Diante da necessidade de garantir a veracidade das informações e assegurar o alinhamento da

estrutura conceitual com os propósitos, o WikiCog conta com uma estrutura de “alertas”. Caso

um colaborador efetue alguma edição, um alerta vermelho surge na página criada/editada,

alertando aos visitantes que ela possui conteúdo alterado por algum colaborador e ainda não

avaliado por um moderador.

A avaliação pode ter dois resultados: caso possua conhecimentos para tanto, o moderador

emite um alerta verde, indicando que o conteúdo foi aceito. Caso as alterações estejam além

do campo no qual o moderador possui bases para realizar tal julgamento, é emitido um alerta

amarelo. Este dispara o convite para que outros colaboradores, especializados no tema,

emitam um parecer sobre aquele conteúdo.

Em sua proposta, o WikiCog configura-se como um vetor da tendência crescente de

disseminação de conhecimento livre, superando as limitações impostas por restrições

institucionais a fim de focar os esforços das pesquisas na geração e aplicação de

conhecimento. Uma das principais críticas ao conceito de produção por peering sugere que

esta abordagem dá margem à criação de conhecimento não científico e amadoresco. O

mecanismo de avaliação por moderadores, embora desvie da definição de colaboração em

massa por impor uma forma de organização à comunidade, garante que o conteúdo gerado

possua rigor científico sem restringir seu acesso. Isto é especialmente importante por se tratar

de conhecimentos de cognição humana, um alvo clássico da pseudociência.

Uma funcionalidade paralela a essas concerne os fóruns, espaços dedicados a discussões mais

extensas do que as possibilitadas pelos comentários de páginas. Apenas colaboradores podem

utilizar os fóruns, criando tópicos ou discutindo assuntos. A criação pode ser dada por

iniciativa de um colaborador ou motivada por um especialista dando um parecer indicado por

um alerta amarelo que julgue ser interessante discutir com mais profundidade antes de tomar

uma decisão de aceitação ou rejeição. Dessa forma, cria-se espaço propício para a interação

entre a comunidade, na qual o conhecimento avança e não se incorre no risco de desfigurar a

estrutura e o conteúdo formal.

O conteúdo formal não deverá ser estático, assim, caberá aos moderadores a avaliação da

pertinência das sugestões realizadas nos fóruns e do momento adequado para incorporação no

corpo central dos wikis e páginas. As discussões do fórum podem motivar tanto a criação de

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uma nova página, quanto servir de insumo teórico para que um moderador ou um especialista

seja capaz de julgar o conteúdo inicial que motivou a criação do fórum.

A figura abaixo sumariza o processo de colaboração do WikiCog.

Figura 5: Processo de colaboração do WikiCog. Fonte: os autores.

Por fim, ao adotar o modelo de negócio baseado em custo zero ao usuário final, de acesso

gratuito à base de conhecimento, pode-se questionar a viabilidade econômica da iniciativa. A

viabilidade do mesmo é função, fundamentalmente, da existência de uma comunidade que o

mantenha “vivo”. A estrutura necessária para manter essa dinâmica funcionando contempla

basicamente pesquisadores da linha de pesquisa e especialistas. Neste contexto, tornam-se

críticos os pesquisadores que assumem o papel de guardiões do framework ao moderar o

conteúdo. Estima-se que sejam necessários cerca de cinco pesquisadores, em média um

responsável por cada wiki. Para financiá-los, serão solicitadas bolsas de iniciação científica e

de mestrado para instituições de fomento e amparo a pesquisa.

7. Considerações finais

No contexto atual, onde o insumo essencial à inovação é o conhecimento, discutiu-se neste

artigo o papel da interação entre as pessoas para que se estabeleça relações de colaboração.

Argumentou-se que diante deste cenário, a estruturação do ambiente no qual a colaboração se

dará se coloc como uma questão relevante. Assim, somado a uma iniciativa de integraçã de

pesquisas em trabalho e mente, emerge o projeto do WikiCog, um caso de colaboração

independente viabilizada por meio de uma organização social voluntária.

Em suma, como um facilitador de colaborações independentes, o WikiCog age superando

limites institucionais, tornando as pesquisas, por seu caráter de rede, mais fluidas e, portanto,

potencializando a capacidade de tornar o conhecimento da cognição utilizável no campo do

trabalho. Isto é ainda mais explorado por conta do voluntarismo intrínseco à proposta,

prevendo que o trabalho será realizado com base em motivação pessoal e profissional dos

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colaboradores. Seus membros são regidos de modo assíncrono, isto é, pensam, experimentam,

produzem de acordo com seus interesses e disponibilidades.

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