18
EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO EM NILÓPOLIS: PRIMEIRAS DESCOBERTAS (1943-1964) Angélica de Sá de Oliveira Bauer Rodrigues 1 Resumo: O presente artigo é desmembramento do trabalho de conclusão de curso “Emancipações políticas e história da educação: os sistemas municipais de Ensino na Baixada Fluminense (1943-1964).” Nesta pesquisa tentaremos perceber quais os retratos que vão sendo constituindo sobre o ensino no município recém emancipado da Baixada Fluminense: Nilópolis (1947). O recorte aqui estabelecido para o interesse da pesquisa recaiu na imprensa, em matérias publicadas no período 1943-1951, com ênfase sobre o Jornal Correio da Lavoura, que é o semanário mais antigo de Nova Iguaçu, fundado em 1917, pelo capitão Silvino Hipólito de Azeredo e dirigido atualmente por seu neto. Nesse sentido cabe destacar que mesmo o nosso foco sendo a institucionalização da escolarização após as emancipações é necessário também perceber como foi esse processo quando os municípios ainda eram distritos de Nova Iguaçu. Ao passo que observar as continuidades e descontinuidades pode constituir-se num instrumento valioso para nós. Visto que acreditamos que todos esses processos são construídos socialmente. Interrogamos como a rede municipal de ensino foi institucionalizada, quais as agências e agentes envolvidos neste processo, quais ganharam visibilidade ou não. No que tange às agências e agentes é importante frisar que ao escolhermos trabalhar com a concepção de Estado Ampliado para Gramsci tentaremos nos atentar para a “relação social entre os mesmos”, porque estes “ vivem em permanente interelação.”( MENDONÇA,2005). Palavras - chave: Correio da Lavoura. Baixada Fluminense. Educação. O processo de emancipação A fronteira entre o dizível e o indizível, o confessável e o inconfessável, separa, em nossos exemplos, uma memória coletiva subterrânea da sociedade civil dominada ou de grupos específicos, de uma memória coletiva organizada que resume a imagem que uma sociedade majoritária ou o Estado desejam passar e impor.( POLLAK 1989,p.8) Este estudo é uma tentativa de contribuição para a historiografia da Baixada Fluminense. Pois, há neste campo uma lacuna em relação “ao entorno” da cidade do Rio de Janeiro e também “sobre a ação dos governos estaduais e das municipalidades em regiões periféricas” (SCHUELER, 2010). Considerando que a Baixada Fluminense foi palco de muitos acontecimentos históricos importantes e de acordo com SOUZA (2014, p.11) sua “... história não pode 1 Aluna do 7º período de Pedagogia da UERJ/ FEBF. Aluna do projeto de extensão: História e Educação na Baixada Fluminense. Aluna no projeto de pesquisa: História e educação na Baixada Fluminense: conhecimento, memória e patrimônio. Bolsista FAPERJ.

EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

  • Upload
    ledang

  • View
    222

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO EM

NILÓPOLIS: PRIMEIRAS DESCOBERTAS (1943-1964)

Angélica de Sá de Oliveira Bauer Rodrigues1

Resumo:

O presente artigo é desmembramento do trabalho de conclusão de curso

“Emancipações políticas e história da educação: os sistemas municipais de Ensino na

Baixada Fluminense (1943-1964).” Nesta pesquisa tentaremos perceber quais os

retratos que vão sendo constituindo sobre o ensino no município recém emancipado da

Baixada Fluminense: Nilópolis (1947). O recorte aqui estabelecido para o interesse da

pesquisa recaiu na imprensa, em matérias publicadas no período 1943-1951, com ênfase

sobre o Jornal Correio da Lavoura, que é o semanário mais antigo de Nova Iguaçu,

fundado em 1917, pelo capitão Silvino Hipólito de Azeredo e dirigido atualmente por

seu neto.

Nesse sentido cabe destacar que mesmo o nosso foco sendo a institucionalização da

escolarização após as emancipações é necessário também perceber como foi esse

processo quando os municípios ainda eram distritos de Nova Iguaçu. Ao passo que

observar as continuidades e descontinuidades pode constituir-se num instrumento

valioso para nós. Visto que acreditamos que todos esses processos são construídos

socialmente. Interrogamos como a rede municipal de ensino foi institucionalizada, quais

as agências e agentes envolvidos neste processo, quais ganharam visibilidade ou não.

No que tange às agências e agentes é importante frisar que ao escolhermos trabalhar

com a concepção de Estado Ampliado para Gramsci tentaremos nos atentar para a

“relação social entre os mesmos”, porque estes “ vivem em permanente interelação.”(

MENDONÇA,2005).

Palavras - chave: Correio da Lavoura. Baixada Fluminense. Educação.

O processo de emancipação

A fronteira entre o dizível e o indizível, o confessável e o inconfessável,

separa, em nossos exemplos, uma memória coletiva subterrânea da sociedade

civil dominada ou de grupos específicos, de uma memória coletiva

organizada que resume a imagem que uma sociedade majoritária ou o Estado

desejam passar e impor.( POLLAK 1989,p.8)

Este estudo é uma tentativa de contribuição para a historiografia da Baixada

Fluminense. Pois, há neste campo uma lacuna em relação “ao entorno” da cidade do Rio

de Janeiro e também “sobre a ação dos governos estaduais e das municipalidades em

regiões periféricas” (SCHUELER, 2010).

Considerando que a Baixada Fluminense foi palco de muitos acontecimentos

históricos importantes e de acordo com SOUZA (2014, p.11) sua “... história não pode

1Aluna do 7º período de Pedagogia da UERJ/ FEBF. Aluna do projeto de extensão: História e Educação na Baixada

Fluminense. Aluna no projeto de pesquisa: História e educação na Baixada Fluminense: conhecimento, memória e

patrimônio. Bolsista FAPERJ.

Page 2: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

2

ser circunscrita às suas fronteiras administrativas. Nasceu e segue marcada pela sua

estreita conexão não apenas com o Rio de Janeiro, mas...” relaciona-se diretamente a

história de nosso país. Assim, o estudo da história local, ou seja, o “regional é o produto

da operação historiográfica, e não seu pressuposto” sendo utilizado “ na história da

educação como uma posição de análise (Filho, 2009)”.

Pensamos a região aqui não como algo dado, mas, como um território

socialmente construído (FARIA FILHO, 2009):

1932-b- Nova Iguaçu

1946 Nova Iguaçu

Page 3: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

3

1947- Nova Iguaçu.

Pensar esta região requer pensar também sobre memórias, significa tratar de um

jogo de disputas de poder, onde normalmente são os grupos dominados e oprimidos que

não possuem vez e voz, ou seja, têm suas memórias colocadas na clandestinidade. E são

os grupos dominantes que possuem o poder do discurso, de contar a sua versão única da

história, o que representa um perigo, como bem demonstra Chaui (2007). Não, por um

mero acaso, mas sim, porque as camadas dominantes da sociedade assim o querem, para

não correrem risco de perder sua hegemonia. Nesse sentido quando essas memórias

clandestinas, subterrâneas “conseguem invadir o espaço público, reivindicações

múltiplas e dificilmente previsíveis se acoplam a essa disputa de memória” (POLLAK,

1989.p.5).

Nova Iguaçu era mal vista por seus distritos, ou pela maioria, devido ao fato de

não dividir adequadamente as verbas. Tida como madrasta por isso no Manifesto de pró

– emancipação de Duque de Caxias:

Nova Iguassú no actual momento, não corresponde por sua topographia, às

reaes necessidades de sua população. Densa massa demographica, dividida

em districtos, que por seu valor e progresso valem por verdadeiros

municípios, disso resulta se transformar o Município em sua actual

organização, em madrasta, de todos recebendo, à alguns tudo dando, a outros

menos que merecem, e aos últimos nada fornecendo, ou melhor, o que é peor,

tudo lhes negando.(MANIFESTO DE PRÓ – EMANCIPAÇÃO DE DUQUE

DE CAXIAS In: Revista Pilares da História dez- 2003)

Pois, não só Caxias, mas também os outros distritos passavam sua arrecadação

para Nova Iguaçu e não recebiam a parte que lhes cabiam.

Nilópolis

O nome Nilópolis foi uma homenagem a Nilo Peçanha que não ocorreu sem

resistências e lutas. Foi a partir daí que a identidade deste município começou a existir.

Page 4: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

4

Nesta cidade são os imigrantes que serão as forças políticas tendo destaque “as famílias

Abrão, David e Sessim” ( SIMÕES, 2007, p.164).

O movimento de emancipação começou em 1945 apesar de sua emancipação

ocorre somente em 1947. A disputa de poder entre Thuler e Figueira tem como final um

atentado contra a vida de Thuler e o afastamento de Figueira também merece destaque

(SIMÕES, 2007).

Segundo Oliveira (2004, p.170) houve injustiça no processo de emancipação de

Nilópolis, pois, ela teria perdido parte de seu território para Gericinó, São João de

Meriti e Nova Iguaçu. . O primeiro prefeito de Nilópolis foi Sr. João de Morais Cardoso

Jr.2

Nesse sentido conseguimos ver pelas páginas do Correio da Lavoura que

Nilópolis já prosperava bem antes de sua emancipação, pois, “entre 1935 e 1942,

contribuiu Nilopolis para os cofres municipais com a elevada soma de Cr$....

66564.423.80 e observando a arrecadação nos diferentes anos desse período,

verificamos que em 1935 andava pela casa dos 200 mil cruzeiros, foi sempre se

elevando em cada exercício...” 3.Contudo, a sua fatia do bolo era sempre do mesmo

tamanho” 22 % do total”. 4

Portanto, um fator que realmente suscita a reclamação da

“liberdade”.

O uso da imprensa como fonte de pesquisa para história dos municípios:

O Jornal Correio da Lavoura é o semanário mais antigo de Nova Iguaçu,

fundado em 1917pelo capitão Silvino Hipólito de Azeredo e dirigido atualmente por seu

neto. E conta com a digitalização de todo o seu acervo realizado pela UFRRJ, e

disponibilizado para consulta no CEDIM.

Este jornal tinha “bandeiras proclamadas que consistiam na defesa da lavoura,

higiene e da instrução” e representava “parte da sociedade local pela Nova Iguaçu”

(DIAS p.42 e 43, 2014).

Atualmente tem crescido cada vez o cuidado e o interesse em guarda e

disponibilização de fontes. (FILHO e VIDAL, 2010). Entre as fontes utilizadas para

pesquisa em história da educação, tem sido relevante o uso da imprensa.

2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947”

3NILOPOLIS PRESTOU EXCESSIVA HOMENAGEM AO SR. PRFEITO MUNICIPAL. 21 nov. 1943.

4 NILOPOLIS PRESTOU EXCESSIVA HOMENAGEM AO SR .PRFEITO MUNICIPAL. 21 nov.

1943.

Page 5: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

5

A imprensa surge no país com a chegada da família real portuguesa e desde

então “cada regime político teve sempre o cuidado de legislar em relação ao controle da

imprensa” (PASQUINI e CHAGURI...), pois:

Imprensa, rádio, imagens não agem apenas como meios dos quais os

acontecimentos seriam relativamente independentes, mas como a própria

condição de sua existência. A publicidade dá forma à sua própria produção

(NORA 1995, apud ENNE, 2002).

Neste sentido vale ressaltar que:

... a imprensa tanto constitui memórias de um tempo, as quais apresentando

visões distintas d eu mesmo fato, servem como fundamentos para pensar e

repensar a História, quanto desponta como agente histórico que intervém nos

processos e episódios, e não mais como simples ingrediente do

acontecimentos.( NEVES et.al., 2006 apud PASQUINI e CHAGURI,...).

Atualmente há no campo da história da educação a consideração de que todo

documento é um monumento, superando assim todas as desconfianças em relação ao

trabalho com este tipo de fonte. Nesse sentido há “um repertório de procedimentos

metodológicos para o seu tratamento” (CRUZ e PEIXOTO, 2007).

Portanto, devemos nos atentar que é necessário:

“entender a Imprensa como linguagem constitutiva do social, que detém um

historicidade e peculiaridades próprias e requer ser trabalhada e

compreendida como tal, desvendando , a cada momento,as relações imprensa

/ sociedade, e os movimentos de constituição e instituição do social que esta

relação propõe(CRUZ e PEIXOTO, 2007,p.258).”

Cruz e Peixoto (2007, p.258) ao citarem Laura Maciel elucidam que a imprensa

é “uma prática constituinte da realidade social”, nesse aspecto é interessante perceber no

trabalho de Guedes e Rodrigues(2016) como nem sempre apesar do compromissos

assumidos pelo periódico, sua publicações condizem com a realidade propriamente dita,

mas sim, com a ideia de realidade que se quer passar .

Processos de escolarização na Baixada Fluminense: alguns apontamentos

historiográficos

Então “a partir do trabalho de Jayme Abreu (1955) os dados que ele traz em

relação ao quantitativo de escolas existentes em Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São

João de Meriti e Nilópolis suscitam questionamento sobre o que mobilizou a

implantação da rede escolar nesta região” (DIAS, 2014a,).

Trabalhos de historiadores da região da Baixada Fluminense que tem por

objetivo as emancipações também apontam alguns dados iniciais sobre ensino.

Nesse sentido Souza (2003, p.51) relata que após 3 anos da emancipação, ou

seja, em “1946 apesar de Caxias já contar com uma população de 90 mil habitantes, os

Page 6: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

6

números de eleitores não chegavam a 11 mil (...) isso devido ao “alto índice de

analfabetismo” na cidade. A autora acrescenta ainda que a “maioria das escolas públicas

foi instalada em residências ou prédios alugados, sem a menor infra- estrutura” e que

“professores eram indicados pelo governo municipal e estadual” (SOUZA 2003, p.45).

Em 1957, por exemplo, “havia 10 mil crianças em idade escolar fora da escola”

(SOUZA, 2003, p.44)

Almeida e Braz (2010) revelam que em 1958, após 15 anos da emancipação a

cidade de Duque de Caxias apesar de já conseguir colocar na “escola” 15 mil crianças

ainda necessitava de uma estrutura que desse conta de um maior atendimento. No que

tange a formação dos educadores o município também não conseguia dar contar da

necessidade.

Dessa forma vale salientar a existência de estudos sobre a história da educação

na Baixada sobre o século XIX. Onde destacamos os estudos sobre a Escola Regional

de Meriti, mais conhecida como “Mate com Angu”, localizada em Duque de Caxias,

símbolo do movimento da Escola Nova. A pesquisa de Jordânia Guedes (2012), que

aborda o processo de escolarização do Recôncavo da Guanabara: a história de Iguassú

(1833-1858). E agora no século XX, a pesquisa de Amália Dias (2014) que analisa o

processo de escolarização no distrito-sede de Nova Iguaçu (1916-1950). No entanto, há

lacunas de estudos sobre Duque de Caxias, Nilópolis e São João de Meriti no pós

emancipação.

A Escola Regional de Merity foi fundada por Armanda Àlvaro Alberto em

Duque de Caxias, fruto de uma experiência anterior em Angra dos Reis. Seu primeiro

nome foi Escola Prolétária de Merity, mas, ficou mais conhecida como Mate com Angu,

apelido que a própria população deu devido ao fato de que era um tipo de merenda que

lá era servida. Nesse sentido cabe destacar que está escola foi a primeira a servi

merenda. (MIGNOT, 1993).

A escola da professora Armanda Álvaro Alberto tinha como base pedagógica as

ideias de Montessori e:

...pretendia ser um “laboratório de pedagogia prática”- característica de uma

Escola Nova. Partia do interesse da criança, subvertendo o processo

pedagógico centrado tradicionalmente no professor e abandonava as paredes

da sala de aula para desenvolver atividades ao ar livre em contato com a

natureza. Voltada par o ensinamento de hábitos de higiene que deveriam se

propagar para a família, não se restringindo tal preocupação ao espaço

interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade. ”(MIGNOT,

1993.p.621-622. Grifo meu)

Page 7: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

7

A Educação Nova proposta pelos pioneiros em 1932 defendia a escola pública,

laica e de qualidade. Modificou o modelo escolar da época, pois, pretendia auxiliar o

aluno na construção do conhecimento, onde a observação e a experimentação se faziam

presentes, deslocando do ensino o “ouvir” para o “ver” e o “ver” ao “fazer” (VIDAL,

2011).

Armanda Álvaro Alberto nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em

10 de junho de 1892, filha do cientista Álvaro Alberto da Silva e de Maria Teixeira da

Mota e Silva Armanda foi uma das fundadoras da Associação Brasileira de Educação

(ABE) em 1924. Em dezembro de 1927, compareceu a I Conferência Nacional de

Educação, promovida pela ABE em Curitiba. Nesse encontro, a Escola Regional de

Meriti recebeu um especial voto de aplauso do conselho diretor da ABE.

Em maio de 1935, foi uma das criadoras e, depois, a primeira presidente da

União Feminina do Brasil (UFB), movimento político filiado à Aliança Nacional

Libertadora (ANL) (Dicionário Histórico – Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro:

Ed.FGV.)

Num dos diversos trabalhos de Mignot (1993) sobre esta escola ela traz uma

discussão interessante ao destacar como os diversos nomes que a escola teve para além

de serem uma tentativa de constituição de identidade também estiveram atrelados com

as função que se pretendia para escola naquele momento.

Santos (2007) ao também estudar este objeto salientou como educação e saúde

estava atrelada na Escola Regional de Merity na época da República, pois, Armanda não

pretendia “cuidar somente dos espíritos, mas também dos corpos de seus pupilos” (p.2)

Tanto a professora Armanda Álvaro Alberto quanto Belisário Penna5

defendiam

que “a formação da consciência sanitária não só pode como deve ser levada pela escola”

(p.4).

5Belisário Augusto de Oliveira Pena nasceu em Barbacena (MG) em 29 de novembro de 1868, filho do

barão e visconde de Carandaí, de quem herdou o nome, e de Lina Laje Pena. Formou-se em medicina em

1890. Prestou concurso para ingressar na Diretoria Geral de Saúde Pública. Obtendo o segundo lugar, foi

nomeado para o posto de inspetor sanitário na 4ª Delegacia de Saúde, onde conseguiu controlar uma

epidemia de varíola. Em 1905 foi designado para trabalhar na Inspetoria de Profilaxia da Febre Amarela,

incorporando-se à grande campanha chefiada por Osvaldo Cruz pela erradicação dessa doença no Rio de

Janeiro. Em maio de 1918 o presidente Venceslau Brás criou o Serviço de Profilaxia Rural, nomeando

Belisário Pena para a sua direção. Nesse cargo, ele instalou e dirigiu dez postos sanitários nos subúrbios e

zonas rurais do Distrito Federal, fundou a Liga Pró-Saneamento do Brasil, , e combateu o surto de gripe

espanhola que atingiu o Distrito Federal e as áreas servidas pela Estrada de Ferro Oeste de Minas, nesse

estado. Em 1º de setembro de 1931 assumiu a frente do Ministério da Educação e Saúde. (Dicionário

Histórico – Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. FGV.)

Page 8: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

8

Silva (2012) também ao analisar a Regional de Merity, investigou quais eram as

estratégias sociais e pedagógicas para o combate à evasão escolar, dentre elas a autora

destacou o concurso “Janelas Floridas, onde os moradores participavam enfeitando suas

janelas com flores naturais, como, também manteriam seus quintais limpos com

construção de jardins e varandas enfeitadas com plantas de diversas espécies.”(p.124),

que muito tem a ver com ideário de consciência sanitária explicitado no trabalho de

Santos(2007).

Atividades dentro do período de férias, exposições para a venda de produtos

feitos pelas crianças também faziam parte dessas estratégias. (SILVA, 2012).

Sobre o processo de escolarização contamos com a colaboração de Guedes

(2012) que ao investigar o processo de escolarização do Recôncavo da Guanabara

destaca que neste processo de institucionalização qual era o papel do negro.

Neste sentido a autora destaca que:

O grupo de pretos e pardos livres, escravos, brancos pobres e mestiços,

esteve presente na relação e negociou, de acordo com as possibilidades e

limitações, os seus espaços de atuação, de forma que não foram meros

espectadores e sim atores de seus processos sociais e individuais. As

liberdades, as escravidões, as comercializações, formaram um mosaico de

ações que definiram o papel de cada indivíduo bem como o seu lugar social.(

GUEDES,2012,p.91).

A criação de escolas era definida pelo quantitativo de pessoas do lugar e havia

segundo a autora uma disparidade entre as escolas privadas e públicas. A relação entre

escolas públicas (5) e privadas (11) nem sempre foram desprovidas de conflitos neste

período em questão. (GUEDES, 2012)

Mais recentemente contamos com o trabalho de Dias (2014) que ao estudar o

processo de escolarização no distrito sede de Iguassú, destaca que se pretendia ruralizar

o ensino primário. E nesse sentido, “ocorria à atribuição de uma função social específica

para a escola rural, que seria a promoção de uma nova ordenação social para o campo, a

fim de assegurar a manutenção das atividades agrícolas e pastoris” (DIAS, 2014, p.98).

O jornal Correio da Lavoura que foi uma das fontes utilizadas pela autora na

pesquisa, defendia em seus escritos a lavoura, higiene e a instrução, constituiu-se num

forte instrumento “da propaganda ruralista no município” (p.99).

A autora mostra ainda como as formas pelas quais as solenidades adentram no

espaço da escola e permanecem nela, “mesmo o após o fim do regime” do Estado Novo

estabelece uma relação dialética com a forma pelas quais os ritos e rituais escolares

Page 9: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

9

tornam-se atos solenes, á ponto de muitas situações que são próprias da agenda escolar

receberem espaço importante e permanente nas páginas do Correio da Lavoura.

O ensino e sua institucionalização através das lentes do Correio da Lavoura

Apresentamos a seguir alguns resultados da pesquisa em andamento de aspectos

sobre a organização do ensino escolar no município de Nilópolis emancipado em 1947.

O fazer-se município está tão atrelado ao processo de institucionalização do

ensino, que a luta por bibliotecas é requerida até pelos municípios recém-emancipado

como no caso de Nilópolis.Era requerida também a qualidade do material ali disponível.

Porque assim os pobres também poderiam ler e estudar, atividades que na época só os

“privilegiados” podiam fazer.6

O “Gremio Branco”, também contribuiu neste sentido,

criando” uma Biblioteca construída de livros criteriosamente selecionados, oferecidos

por alunos, pais e professores.” Este grêmio surgiu no Instituto Filgueiras na década de

1940, e tinha o objetivo de “despertar nos alunos o gosto pelas atividades intelectuais e

zelar pela sua educação física, moral e cívica.”7

No ano de 1944 em Nilópolis “foram iniciadas as obras dos prédios da antiga

Escola Alemã (...) de modo a serem reunidas uma escola estadual e duas municipais;

após essa reforma, o prédio terá capacidade para cerca de 350 alunos.” 8Para estas obras

foram disponibilizados “importância de vinte e cinco mil cruzeiros”9

As comemorações realizadas nas escolas eram tidas como solenidades e tinham

seus acontecimentos publicados no jornal, como no caso do Instituto Filgueiras:10

“O segundo aniversário do Instituto Filgueiras- a Iº de maio, o Instituto

Filgueiras, sito á rua Mario Monteiro, I2, fez realizar um interessante

programa comemorativo do seu segundo aniversário de instalação, a que

assistiram muitos convidados, alunos e suas exmas. Familias. A solenidade

que se iniciou com o Hino Nacional, teve a presidi -la o Dr. Artur Gomes de

Oliveira. Ouviram por essa ocasião os discursos do prof. Josué Gonçalves

Filgueiras, diretor do estabelecimento de ensino e nosso distinto

representante em Nilopolis, do dr. Artur Gomes Oliveira- representante da

Loja Maçonica” União de Iguaçu” e do prof. Marilio Domingues, alusivo á

data de 2I de abril. Houve números de declamação pelas alunas

LéiaSzuchmacher, Denir Souza Lima e Nemal daGrijó Costa, de canto por

um grupo de alunos , além de monólogos pelos alunos Jorge Rodrigues

Barenco e Loide Ramalho Jardim e um número cômico pelos alunos Pedro

London, Jorge Rodrigues Barenco e Weser Xavier. Encerrou-se a solenidade

6 COISAS QUE SE EVIDENCIAM LUIZ DE AZEREDO 20. out. 1946.

7 NOTICIAS DE NILOPOLIS. 16. abr. 1944

8 REALIZAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL NO PRIMEIRO ANO DE SUA NOVA

ADMINISTRAÇÃO. 9NOTICIAS DE NILOPOLIS. 16. abr.1944

10NOTICIAS DE NILOPOLIS. 30. abr.1944.

Page 10: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

10

como se iniciara, com o Hino Nacional, causando boa impressão ás pessoas

convidadas.”11

O Instituto Filgueiras teve seus aniversários publicados nas páginas do Correio

da Lavoura, onde o Hino Nacional esteve sempre presente com destaque principal 12

As atividades cívicas ganharam muito espaço na escola e na própria sociedade

em comum. Ao passo que as atividades da escola extrapolavam o espaço intramuros

escolar e as atividades cívicas da sociedade tinha agenda garantida na escola, como

podemos ver no programa de comemoração do Dia da Pátria realizada pelo Ginásio

Profissional de Nilopolis, publicada nas páginas do Correio da Lavoura:

Hasteamento da Bandeira Nacional ás 8 hs., formando todos os alunos, ás 17

hs., e desfile pelas ruas principais. Sessão cívica ás 18.30 hs., falando vários

alunos e o diretor do estabelecimento sobre a Independencia.Depois, ás 19

hs., será coroada a “ Rainha dos Estudantes” ´pelo exmo. Prof. Josué

Gonçalves Filgueiras, a aluna do 5º ano primário Undine Ferreira de Melo.13

Algumas dessas solenidades contavam com a presença do prefeito e também

com “autoridades locais e do ensino estadual e municipal”14

Assim como os aniversários

das escolas, encerramento do ano letivo15

.

Havia em Nilópolis um “Ginásio Profissional de Nilópolis” que em 1946

completava 14 anos de existência.16

.

Neste município também era comum que os alunos que obtiveram os primeiros

lugares nas provas tivessem seus nomes publicados no jornal.17

Esta era uma atitude

costumeira das escolas, que ao mesmo tempo em que essas publicações poderiam servir

de incentivo para as crianças, também serviam de propagandas das próprias escolas.

Meio parecido com outdoors dos cursinhos preparatórios que vemos atualmente.

Sobre como eram admitidos os professores em 1945 foi instituído “um regime

de obrigatoriedade de prova de habilitação para a admissão de professores municipais

extranumerários, fazendo assim uma rigorosa seleção no ingresso ao corpo de

professorado.” 18

Sobre a rede de escolas que fora se constituindo na Baixada Fluminense é

possível perceber que a abertura de escolas, números de matriculas, reformas, materiais

11NOTICIAS DE NILOPOLIS. 07. maio.1944

12O INSTITUTO FILGUEIRAS COMEMOROU COM ESPLENDOR A PASSAGEM DO SEU

TERCEIRO ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO. 13. maio.1945 13

GINÁSIO PROFISSIONAL DE NILOPOLIS. 02. set.1945 14

GINÁSIO PROFISSIONAL DE NILOPOLIS 24. dez. 1944. 15

INSTITUTO FILGUEIRAS. 30. dez.1945 16

GINÁSIO PROFISSIONAL DE NILOPOLIS 31. mar. 1946. 17

NOTICIAS DE NILOPOLIS. 16. abr.1944. 18

PRESTANDO CONTAS AO POVO IGUASSUANO. 11. mar. 1945.

Page 11: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

11

fornecidos, compras de terrenos, ganhavam espaço nas páginas do semanário, como

podemos ver em matéria publicada à 23 de março de 1944:

Foram reabertas 4 escolas, o que permitiu um aumento de matricula de 200

alunos e foram reformados 18 predios escolares, reformas estas que consistiram na ampliação das salas de aula, que já eram insuficientes para

comportar, -em condições higiênicas, a freqüência dos mesmos. Substituiu-

se grande parte do material permanente das escolas fornecendo-se 222 carteiras, 14 quadros negros, 12 armários, 15 mesas, 16 cadeiras, 51

apagadores e 18 filtros. Foi fornecido, gratuitamente, aos alunos das escolas municipais, o seguinte material de consumo: 16.333 cadernos, 144 canetas,

3.892 lapis e 1.718 penas. 19

No que tange aos feitos do Estado, por intermédio da Caixa Escolar Estadual

“instituiu-se o ‘prato de sopa’ nas escolas estaduais, com a distribuição diária de 200

pratos em 6 escolas no Grupo Escolar da séde do Municipio.” 20

Já a Caixa Escolar Municipal distribuiu no ano de 1943, segundo matéria

publicada pelo Correio da Lavoura “1900 uniformes e 1.374 sapatos às crianças das

escolas municipais”.21

Havia na Baixada na década de 1940, um Convenio de Instrução Primária, onde

a “orientação técnica do ensino passará para o Estado, ficando, entretanto, a Prefeitura

com a responsabilidade da manutenção das escolas municipais.” 22

Encontramos nas páginas do Correio da Lavoura uma matéria que dizia respeito

à normalização do Ensino normal, onde Aurélio Lemos afirmava que:

Pela primeira vez, uma lei, no Brasil, é-lhe bem ajustada, pois, dando, como

dá aos Estados liberdades de ação para criarem uma legislação escolar

adequada ao meio em que vai operar, limita esta liberdade prudentemente,

submetendo-a em ultima análise ao Ministério da Educação. ”23

Esta afirmação era referente ao “O Decreto n. 8530, partindo do Ministro da

Educação para a formação do curso Normal,”24 Este decreto era a Lei Orgânica do

Ensino Normal.Neste sentindo destacamos como deveria ser a qualificação do professor

do Ensino Normal de acordo com esse decreto:

Art. 49. A constituição do corpo docente em cada estabelecimento de ensino

normal far-se-á com observância dos seguintes preceitos:

19REALIZAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL NO PRIMEIRO ANO DE SUA NOVA

ADMINISTRAÇÃO. 26. mar. 1944 20

REALIZAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL NO PRIMEIRO ANO DE SUA NOVA

ADMINISTRAÇÃO. 26. mar.1944 21

REALIZAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL NO PRIMEIRO ANO DE SUA NOVA ADMINISTRAÇÃO. 26. mar.1944 22

REALIZAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL NO PRIMEIRO ANO DE SUA NOVA

ADMINISTRAÇÃO. 26. mar.1944 23

COISAS DO ENSINO. AURELIO LEMOS. 06. abr.1947 24

COISAS DO ENSINO. AURELIO LEMOS 06. abr.1947

Page 12: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

12

1. Deverão os professores do ensino normal receber conveniente formação,

em cursos apropriados, em regra de ensino superior.

2. O provimento, em caráter efetivo, dos professôres dependerá da prestação

de concurso.

3. Dos candidatos ao exercício do magistério nos estabelecimentos de ensino

normal exigir-se-á inscrição, em competente registro do Ministério da

Educação e Saúde.

4. Aos professôres do ensino normal será assegurada remuneração

condigna.25

Logo após a sua emancipação (21 de agosto de 1947) o então novo município de

Nilópolis começa a organizar o ensino já no início de 1948, onde o prefeito João de

Morais Cardoso Junior da época dá orientações sobre a concessão de matrículas, que

foram traçadas pelo governo do Estado:

Art.1º- As indicações de matrículas gratuitas de estudantes pobres para

estabelecimento de ensino e instituições de benemerencia serão feitas na

forma destas instruções, competindo à Divisão de Administração o preparo,

exame e encaminhamento dos respectivos processos ao despacho final.

Art.2º- São condições preferenciais à concessão dessa medida de amparo

social:

a)- ser menor órfão de pai e mãe;b)- ser o menor órfão de pai; c)- ser o

interessado desprovido de recursos para custeio das despesas com os estudos

ou internação do menor pelo qual é responsável;d)- ser o interessado chefe de

família numerosa , isto é, que mantenha as suas expensas mais de seis (6)

pessoas e cuja renda seja igual ou inferior a seiscentos cruzeiros(Cr$ 600,00)

mensais;e)- ser o candidato filho de funcionário municipal que perceba

remuneração até seiscentos cruzeiros( Cr$ 600,00) mensais.

Parágrafo único- Em se tratando de candidato para curso primário só será

concedida gratuidade em estabelecimento que mantenha curso ginasial ou

comercial, não havendo candidatos para estes cursos.

Art. 3º- As condições estabelecidas no art.2º deverão ser comprovadas,

conforme o caso, mediante atestado de autoridade policial, de duas pessoas

de reconhecida idoneidade ou de chefe do serviço onde trabalhe o

interessado.

Art.4º- E’ requisito indispensável á apresentação do pedido de matricula ter o

interessado residência neste Município, devidamente comprovada.

Art. 5º- Os pedidos de matricula gratuita deverão ser formulados por escrito,

nos dois primeiros meses do ano letivo pelo pai ou responsável do menor,

indicando o nome dele, sexo, filiação, idade, naturalidade, domicilio, grau de

adiantamento, estabelecimento de desejo, e especificando, ainda os encargos

de família.

Art.6º- Os estabelecimentos de ensino que concedem matricula alunos

indicados pela Prefeitura, deverão remeter, no fim de cada ano letivo, aos

Serviços auxiliares de Educação Pública, informações sobre a conduta,

assiduidade, aproveitamento, promoção ou conclusão de cursos desses

alunos, bem como a relação das vagas existentes.

§ 1º- Renovar-se-á anula, e independentemente de nova solicitação, a

matricula do candidato aprovado nos exames finais.

25

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del8530.htm.A cesso em 11-04-16

Page 13: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

13

§2º- Será cancelada a gratuidade dos alunos que não corresponderem ao favor

desta Prefeitura.

Art.7º- A desistência da matricula gratuita deverá ser levada imediatamente

ao conhecimento do estabelecimento, para os necessários fins.

Art.8º- Os Serviços Auxiliares de Educação Pública manterão, para efeito de

fiscalização, o registro das concessões de matriculas gratuitas.26

Ainda no ano de 1948 o Prefeito cria o Decreto n. 3, de 28 de abril de 1948 que

decreta o seguinte: “Art.1- Ficam concedidas, no corrente exercicio, subvenções

ordinárias nas Importancia de Cr$ 50.00,00(cinqüenta mil cruzeiros) aos

estabelecimentos de ensino e entidades recreativas abaixo discriminados: Instituto

Filgueiras Cr$ 25.000,00 e Ginásio Profissional de Nilópolis

7.000,00”27

Destacamos somente essa duas instituições, por conta delas já existirem antes da

emancipação de Nilópolis e terem sido mantidas, contudo, salientamos que outras

instituições receberam este beneficio e também tiveram as quantias que receberam

respectivamente publicadas no semanário.

Em 1949, o prefeito cria “na tabela numérica de extranumerários mensalistas,

aprovada pelo Decreto n.9, de 27 de dezembro de 1948, mais cinco (5) funções de

Professor, dos Serviços Auxiliares de Educação Pública, com o salário de Cr$ 900,00

(novecentos cruzeiros).” 28

Foram criadas em 1950 “mais doze (12) funções de Professor, dos Serviços

Auxiliares de Educação Pública”, pelo decreto nº 21, de26 de dezembro de 1949,29

sendo mantido o mesmo valor de remuneração do ano anterior.

Admissões, licenças, dos funcionários públicos eram publicados no Correio da

Lavoura, funcionava quase que como o D. O. (Diário Oficial), sendo que atualmente

cada município possui o seu D. O. E antes, mesmo este semanário sendo mais

diretamente ligado à Nova Iguaçu, continuou realizando publicações sobre os outros

municípios também emancipados.

É possível perceber ainda nas matérias publicadas que já naquela época

professores iam trabalhar em municípios que não residiam, como no caso de professores

que moravam em Nilópolis e iam trabalhar no Ginásio Municipal Monteiro Lobato. Cito

abaixo o termo de locação de serviços estabelecidos entre as partes:

26 PREFEITURA MUNICIPAL DE NILOPOLIS. -INSTRUÇÕES GRATUITAS. 18.jan.1948

27PREFEITURA MUNICIPAL DE NILOPOLIS-SUNVENÇÃO DAS ESCOLAS 23. maio. 1948

28PREFEITURA MUNICIPAL DE NILOPOLIS- DECRETOS, PORTARIAS. 03. abr.1949 “

29PRFEITURA MUNICIPAL DE NILOPOLIS. 09. abr.1950

Page 14: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

14

Primeira- A outorgada obriga-se a prestar a autorgante os seus serviços como

professora do Ginásio Municipal Monteiro Lobato, nesta cidade, lecionando

ao curso ginasial como regente da cadeira de trabalhos manuais, em horário

pré- estabelecido pelo diretor do referido ginásio, e cujo horário obriga-se a

outorgada a obedecer fielmente.

Segunda- Obriga-se também a outorgada a obedecer as ordens emanadas da

diretoria do ginásio, e cujas ordens deverão ser rigorosamente observadas.

Terceira- Durante o prazo de duração do presente contrato, quevigorará a

partir de 1º(primeiro) de março de ano em curso e a terminar em 28 ( vinte e

oito) de fevereiro do próximo ano, a outorgada vencerá remuneração de Cr$

20,00( vinte cruzeiros), por aula efetivamente dada, correndo a respectiva

despesa pela verba própria do orçamento vigente.

Quarta- Nós períodos de exames e de férias escolares, em que a remuneração

da outorgada não pode ser calculada á base estabelecida na clausula anterior,

obriga-se a outorgante a pagar-lhe, atítulo de vencimento, a remuneração

mensal de Cr$ 360,00(trezentos e sesenta cruzeiros).

Quinta- O pagamento a que se refere a clausula terceira será efetuado pela

outorgante contra remessa mensal dos respectivos mapas de freqüência, que

serão encaminhados à Prefeitura pelo diretor do ginásio municiapl referido.

Sexta- O inadimplemento de qualquer das clausulas deste contrario importará

na sua rescisão de pleno direito, independentemente de qualquer notificação

judicial ou extra judicial.

E, por assim haverem ajustado e convecionado, para constar foi lavrado o

presente contrato no livro próprio desta Prefeitura, aos trinta e um dias do

mês de maio do ano de mil novecentos e quarentae nove, o qual depois de lido e achado conforme ao que estipularam,vai devidamente assinado pelas

partes e pelas testemunhas Mamede Marcondes Rodrigues e Lamartine Pires de Melo, brasileiros e domiciliados nesta cidade, atudo presentes. Eu,

Salomé Torres Ennes, Oficial Administrativo “L”, o escrevi. E, eu Nelson

Soares, Chefe da Divisão de Administração, o subescrevo. (aa) Sebastião de

Arruda Negreiro.30

O estabelecimento por lei de um salário único para os professores primários e

outros direitos representou uma importante conquista para estes profissionais. As

medidas foram as seguintes:

a) - criação de um padrão único para o magistério primário, na classe “C”,

com vencimentos mensais de Cr$1.150,00;

b) - gratificação de Cr$ 1.800,00 por qüinqüênio de corrido no exercicio do

cargo;

c) - gratificação especial às diretoras de grupo escolar variando segundo as

categorias respectivas.31

Neste sentido cabe, ressaltar que Correio da Lavoura tinha um olhar de

admiração por aqueles que se dedicavam ao ensino primário, em razão disso foi

questionada a diferença de salários entre professores rurais e urbanos, assim como a

diferença entre os salários dos professores municipais e estaduais.32

30PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA IGUASSÚ-CÓPIA. 13. NOV.1949.

31E O MAGISTÉRIO PRIMÁRIO NOS MUNICÍPIOS? LUIZ DE AZEREDO. 12. jan.1947.

32E O MAGISTÉRIO PRIMÁRIO NOS MUNICIPIOS? LUIZ DE AZEREDO 12/01/1947

Page 15: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

15

Considerações finais:

As nossas descobertas inicias revelam que o atrelamento das idéias de avanço e

progresso ao ensino mostram-se presentes à todo o momento no jornal. Em Nilópolis a

valorização da educação perpassa não somente pelo requerimento de bibliotecas pelo

município recém- emancipado, mas, também o cuidado com a qualidade do material que

será disponibilizado.

A organização das escolas aparece como uma pauta importante. Logo após a sua

emancipação o prefeito de Nilópolis, começa a normalizar questões como quem terá

direito a concessão de matriculas, criação de subvenções ordinárias para os

estabelecimentos de ensino e criação de funções de professor que vão aumentando com

o passar do tempo.

Os exemplares analisados revelam a valorização do professor, e que esta

valorização correspondia também uma padronização de salários e direitos dos

professores primários. A normalização do Curso Normal e a rigorosidade da seleção de

professores municipais também colocam-se como indicadores importantes par a

pesquisa.

O conjunto das matérias até aqui estudadas mostram que a questão do educar

não se limitava apenas ao espaço da sala de aula, mas, sim, num conjunto: a qualidade

do ensino, mobiliário, quantitativos de profissionais, formação do professor, salário

deste professor e também a forma se seleção deste profissional de ensino.

Referências:

ALMEIDA, Tânia Maria Amaro; BRAZ, Antonio Augusto. De Merity a Duque de

Caxias: encontro com a história da cidade. Duque de Caxias, RJ: APPH, CLIO, 2010.

CRUZ, Heloísa de Farias; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Na oficina do

historiador: conversas sobre história e imprensa. Projeto História. Revista do Programa

de Estudos Pós Graduados de História. São Paulo, n.35, p.253-270, dez 2007

CHAUI, Marilena. Brasil: o mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo.Editora

Fundação Abramo. 2007.

DIAS, Amália. Entre laranjas e letras: processos de escolarização no Distrito- sede de

Nova Iguaçu (1916-1950). Rio de Janeiro: Quartet: Faperj, 2014.

ENNE, Ana Lucia Silva. Fluxos e interações da rede de memória e história na Baixada

Fluminense. Revista Pilares da História. Ano: II, n.02. Duque de Caxias, 2003.

Page 16: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

16

FARIA FILHO, Luciano Mendes de. História da Educação e História Regional:

experiências, dúvidas e perspectivas. IN: MENDONÇA, Ana Waleska Campos, Pollo

et. al.(Orgs.). História da Educação: desafios teóricos e empíricos. Niterói, Editora da

Universidade Federal Fluminense, 2009

FARIA FILHO, Luciano Mendes de. VIDAL, Diana Gonçalves. História da Educação

no Brasil: a constituição histórica do campo(1988-1970). Revista Brasileira de História.

São Paulo, v.23, nº45, PP.37-70-2003.

. História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo e sua

configuração atual. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

01882003000100003.Acesso em: 20. nov. 15.

GUEDES, Jordania Rocha de Queiroz. Cenário do processo de escolarização do

recôncavo da Guanabara: a história de Iguassú (1833-1858) Dissertação (Mestrado em

Educação) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012

MENDONÇA, Sonia Regina. (org.) O Estado Brasileiro: agências e agentes.

EdUFF.2005.

MIGNOT, Ana Christina Venâncio. Decifrando o Recado do Nome: Uma Escola em

busca de sua Identidade Pedagógica. R. Brás. Est. Pedag., Brasília, v.74, n.178, p. 619-

638, set/ dez.1993

OLIVEIRA, Cláudio de. Nilópolis. IN: TORRES, Gênesis (org.) Baixada Fluminense: a

construção de uma história: sociedade, economia e política. São João De Meriti: IPAHB

Editora, 2004, p.168-170.

PASQUINI ET.al. Historiografia da Educação: a imprensa enquanto fonte de

investigação. Disponível em:

http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada11/artigos/4/artigo_sim

[email protected] em: 5. Dez.2015

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. 1989. IN: Estudos Históricos-

1989/3

SANTOS, Júlio Cesár Paixão Saúde e Educação na Baixada do Rio de Janeiro durante a

Primeira República: uma convergência. ANPUH-XXIV SIMPÓSIO NACIONAL DE

HISTÓRIA- São Leopoldo, 2007

SCHUELER, Alessandra Frota Martinez de. Grandeza da pátria e riqueza do Estado:

expansão da escola primária no Estado do Rio de Janeiro (1893-1930).Educação

Pública,Cuiabá, EdUFMT .v.19,n.41,p.535-550,set.- dez.

Page 17: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

17

SILVA, Vilma Amâncio Correa da . A Mate com Angu e suas estratégias contra a

evasão escolar (1921-1937):Duque de Caxias na História da Educação Brasileira.

Recôncavo: Revista de História da UNIABEU. v.4.n. 6 jan- jun.2014.Disponível em :

http://www.uniabeu.edu.br/publica/index.php/reconcavo/issue/view/59.Acesso em

27.03.16.

SIMÕES, Manoel Ricardo. A cidade estilhaçada: reestruturação econômica e

emancipações municipais na Baixada Fluminense. Mesquita: ed. Entorno, 2007.

SOUZA, Marlúcia Santos. Escavando o passado da cidade: história política da Cidade

de Duque de Caxias. Revisão de conteúdo e seleção iconográfica: Ercília Coêlho

Oliveira, Fábio Silva Gonçalves. Duque de Caxias, RJ: APPH-CLIO, 2014.

. Memórias da emancipação de Duque de Caxias nos anos 40 e 50. Revista

Pilares da História. p.37-53Ano II.nº 3- Dez-2003.Disponível

em:<http://www.cmdc.rj.gov.br/wpcontent/uploads/2013/06/03_revista_pilares_da_hist

oria.pdf> A cesso em : 30. Mar.2015.

Fontes citadas do jornal Correio da Lavoura

REALIZAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL NO PRIMEIRO ANO DE SUA NOVA

ADMINISTRAÇÃO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXVIII, n.1.410.26.mar.1944.

COISAS DO ENSINO. Correio da Lavoura,ano XXXI, n.1.568. Pg.3. 06. abr.1947

GINÁSIO PROFISSIONAL DE NILOPOLIS Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXIX, n.1.485. 02

set.1945.

GINÁSIO PROFISSIONAL DE NILOPOLIS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXVIII,

n.1.449.4.dez.1944

INSTITUTO FILGUEIRAS Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXIX, n.1.502.30.dez.1945.

NOTICIAS DE NILOPLIS Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXVIII, n.1.413. 16. abr.1944.

NOTICIAS DE NILOPLIS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXVIII, n.1.415. 30. abr.1944.

O INSTITUTO FILGUEIRAS COMEMOROU COM ESPLENDOR A PASSAGEM DO SEU

TERCEIRO ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXIX, n.1.469.

13. maio.1945.

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSU-CÓPIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXXIII,

n.1.704. 13. nov.1949.

PREFEITURA MUNICIPAL DE NILOPOLIS Correio da Lavoura, Nova Iguaçuano ano XXXIV

n.1.725.. 09. abr.1950

PREFEITURA MUNICIPAL DE NILOPOLIS-DECRETOS E PORTARIAS. Lavoura, Nova Iguaçu, ano

XXXIII, n.1.672.. 03. abr.1949.

PREFEITURA MUNICIPAL DE NILOPOLIS-INSTRUÇÕES GRATUITAS. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, ano XXXI, n.1.609. 18. jan.1948.

PREFEITURA MUNICIPAL DE NILOPOLIS- SUBVENÇÃO DE ESCOLAS Correio da Lavoura,

Nova Iguaçu, ano XXXII, n.1.627.. 23. maio.1948.

PRESTANDO CONTAS AO POVO IGUASSUANO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, ano XXVII, n.

1.460. 11. mar.1945.

Page 18: EMANCIPAÇÃO POLITICA E OS SISTEMA MUNICIPAL DE … · 2 PREFEITO DE NILOPOLIS O SR JOÃO DE MORAIS CARDOSO JR. 12.out.1947 ... interno da sala de aula, a escola envolvia a comunidade

18

REALIZAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL NO PRIMEIRO ANO DE SUA NOVA

ADMINISTRAÇÃO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu.,ano XXVIII, n.1.410.26.mar.1944.