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AGRAVO DE INSTRUMENTO N.o 24.699 - SP.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Cunha Vasconcellos Agravante - Andronik Abramovich Melikian Agravada - Fazenda Nacional
EMENTA.
Não prospera agravo de instrumento interposto, de despacho que, liminarmente, indeferiu pedido de vistoria aà perpetuam rei memoriam, em relação a bens apreendidos pela fiscalização federal, por não haver sido demonstrado o legítimo interêsse econômico ou moral do suplicante sôbre os referidos bens.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Agravo de Instrumento número 24.699, do Estado de São Paulo, em que são partes as acima indicadas:
Acordam os Ministros que compõem a Segunda Turma do Tribunal Federal de Recursos, por unanimidade, em negar provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls. 35/41, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 21 de fevereiro de 1969. -Cunha Vasconcellos, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Cunha Vasconcellos: Andronik Abramovich Melikian vem agravar de instrumento para êste Tribunal, com fundamento nos arts. 842, itens IH e XVII, e 843, § 29, do Código de Processo Civil, do despacho proferido pelo Juiz Francis Selwyn Davis, indeferindo liminarmente o pedido de vistoria ad perpetuam rei memor'Íam feito pelo agravante, em relação a valiosos bens apreendidos pela fiscalização federal, a pretexto de trazida irregular para o País, por não haver êle demonstrado seu legítimo interêsse econômico ou moral sôbre os referidos bens.
As razões do agravante se encontram a fls. 2/5.
Contraminutou a Fazenda Nacional, anexando traslados de documentos.
Mantida a decisão recorrida, conforme despacho de fls. 31, subiram os autos a esta Superior Instância, tendo emitido parecer a douta Subprocuradoria-Geral da República.
É o relatório.
VOTO
O Sr. M in. Cunha Vasconcellos: Eu teria deferido a vistoria, pois que da mesma nenhum prejuízo poderá advir para ninguém. Parece-me que é direito de qualquer um saber do que os cofres públicos estão recolhendo, nem o Sr. Salazar nega-se a dizê-lo. O doutor Juiz, entretanto, fugindo, desta vez, a seus rumos liberais e democráticos, negou a vistoria, sob a alegação de que o requerente não demonstrou interêsse legítimo de agir. Está certo de acôrdo com o sentido literal da lei.
Nego provimento.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por unanimidade, negou-se provimento. Os Srs. Mins. J. J. Moreira Rabello e Márcio Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Não tomaram parte no julgamento os Srs. Mins. Godoy Ilha e Armando Rollemberg. Compareceu para compor quorum regimental o Sr. Min. Márcio Ribeiro. Presidiu ao julgamento o Sr. Min. Cunha Vasconcellos,
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AGRAVO DE PETIÇÃO N.o 21.246 - GS.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. J. J. Moreira Rabello
Embargante - União Federal
Embargadas - Companhia Nacional de Navegação Costeira e outra
EMENTA
Embargos impossíveis. O art. 833 do Código de Pro
cesso não prevê embargos em decisão proferida no jul
gamento de agravo de petição, quando não julgado o mé
rito da causa, nem a ela põsto fim.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Agravo de Petição n9 21.246, do Estado da Guanabara, em grau de embargos, em que são partes as acima indicadas:
Acordam os Ministros que compõem o Pleno do Tribunal Federal de Recursos, por unanimidade, em não conhecer dos embargos, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls. retro, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 25 de novembro de 1968. Oscar Saraiva, Presidente; J. J. Moreira Rabello, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Min. J. J. Moreira Rabello: Trata-se de embargos de nulidade e infringentes do julgado, oferecidos pela Subprocuradoria ao respeitável acórdão da egrégia Terceira Turma que, em agravo de petição oriundo do Juízo próprio da Guanabara, admitira o pleiteado litisconsórcio de companhias seguradoras em ação contra o mesmo transportador e por motivos idênticos.
Do voto do eminente Min. Henoch Reis, secundado pelo eminente Min. Djalma da Cunha Mello, divergiu o eminente Min. Márcio Ribeiro, que exigira
acôrdo das partes para o valimento do litisconsórcio, talo preceito do art. 88 do Código de Processo Civil.
Os embargos foram admitidos em têrmos e regularmente processados, vindo-me por distribuição. Estudei-os, passando-os ao eminente Ministro Revisor, que pediu dia e agora os trouxe em mesa.
É o relatório.
VOTO
O Sr. M in. J. J. Moreira Rabello: O art. 833 do Código de Processo não prevê embargos em decisão proferida no julgamento de Agravo de Petição, quando não julgado o mérito da causa, nem a ela pôsto fim.
Dêles não conheço, preliminarmente.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por unanimidade, não se conheceu dos embargos. Não tomaram parte no julgamento os Srs. Mins. Djalma da Cunha Mello, Amarilio Benjamin e Henoch Reis. Os Srs. Mins. Esdras Gueiros, Armando Rollemberg, Antônio Neder e Márcio Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu ao julgamento o Sr. Min. Oscar Saraiva.
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AGRAVO DE PETIÇÃO N.o 27.591 - GO.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Agravante - Banco do Brasil S. A.
Agravada - Fazenda Pública Federal
EMENTA
Banco do Brasil S. A. (Agência de Anápolis, Goiás) versus Fazenda Nacional. Executivo fiscal para cobrança de impôsto do sêlo. Contratos de abertura de crédito, com garantia pignoratícia. Movi..mentação da respectiva conta através da emissão de notas promissórias vinculadas à operação. Uma só tributação, Que é a prevista no art. 1.0 da Tabela anexa à Lei do Sêlo e não a referida no art. 38 da mesma Tabela, como pretende o Fisco. Diferenciação evidente com o contrato de mútuo. Matéria idêntica à apreciada na Apelação Cível n.O 24.595, da Guanabara, em Sessão de 19-6-48, da Terceira Turma, Provimento ao agravo do Banco do Brasil S.A. para reformar a decisão e declarar improcedente o executivo fiscal, autorizando-se o executado ao levantamento do depósito feito em dinheiro. Decisão unânime.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos, em que são partes as acima indicadas:
Acordam os Ministros que compõem a Terceira Turma do Tribunal Federal de Recursos, em dar provimento ao agravo, nos têrmos do voto do Sr. Ministro Relator, por unanimidade, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 2 de dezembro de 1968. -Márcio Ribeiro, Presidente; Esdms Gueiros, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Min. Esdras Gueiros: Trata-se de agravo interposto pelo Banco do Brasil S . A., Agência de Anápolis, Estado de Goiás, de decisão que julgou procedente executivo fiscal proposto pela Fazenda Nacional para cobrança da quantia de Cr$ 76.745.028,00, sendo Cr$ .... 19.186.257,00 relativos a impôsto do sêlo, e Cr$ 57.558.771,00 correspondentes a multa imposta a título de infração ao disposto nos arts. 25, nota 3.a, e 27,
nota 2ª-, letra b (art. 79 da Lei n9
4.388, de 1964), combinados com o art. 38, todos da Tabela, e ainda com os arts. 45, § 49, e 67 das Normas Gerais, da Consolidação das Leis do Impôsto do Sêlo (Decreto n9 45.421, de 12-2-59), por se alegar que o Banco executado teria deixado de selar devidamente contratos de abertura de crédito, com garantia pignoratícia, celebrados com clientes seus, mas que a Fazenda exeqüente considera desnaturados em sua conceituação, por confundí-los com os contratos de mútuo, sob o pretexto de que o crédito tinha sua movimentação feita através de notas promissórias.
O Banco apresentou suas razões às fls. 105/111, pelas quais, após demonstrar a tipicidade do contrato de abertura de crédito e sua movimentação através de promissórias, como pacto inteiramente diverso do de mútuo, invoca decisão sôbre matéria idêntica proferida pelo digno Juiz da 4.a Vara da Fazenda Pública da Guanabara, Dr. Dilson Gomes Navarro Dias, pela qual se dera ganho de causa ao Banco.
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Contra-razões da Fazenda Nacional às fls. 119/124. Sustentação, pelo digno Juiz agravado, de sua decisão de fls. 99-101. Vindos os autos, foram inicialmente distribuídos ao eminente Sr. Min. Márcio Ribeiro, seguindo-se parecer da egrégia Subprocuradoria da República, pela improcedência do agravo.
Em Sessão desta Turma, realizada em 19-6-68, o Sr. Min. Márcio Ribeiro, em face de ter sido julgada na mesma Sessão a Apelação Cível n9 24.595, da Guanabara, da qual fui Relator, sôbre matéria precisamente idêntica, propôs a retirada do presente agravo da pauta, a fim de me ser distribuído, por dependência, o que foi acolhido pela Turma.
Vindo-me o processo em redistribuição, estudei-o e trago-o a julgamento.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Min. Esdras Gueiros: Sr. Presidente:
Como se ouviu do relatório, trata-se de caso exatamente idêntico ao que aqui foi por nós apreciado no julO"amento da Apelação Cível n9 24.595, o do Estado da Guanabara, na qual eram partes o mesmo Banco do Brasil S.A. e a Fazenda Nacional.
Versava-se ali a mesma tese ora objeto de apreciação no presente agravo, isto é, a perfeita distinção existente entre os contratos de abertura de crédito, vinculados a garantia pignoratícia, com emissão de promissórias para a movimentação do crédito, e aquêle outro tipo de contrato, que é o de mútuo, e a respeito dos quais a incidência do impôsto do sêlo é prevista com taxações diferentes.
Nas suas razões de agravo, o Banco do Brasil S .A. fêz referência a um julgamento do douto Magistrado da Guanabara, Dr. Dilson Gomes Navarro Dias (da 4.a Vara da Fazenda Pública de
então), proferido em favor do citado Banco em caso idêntico ao dêstes autos, tendo juntado uma cópia da referida sentença.
Trata-se precisamente da decisão que foi objeto de apreciação nesta Turma, na Apelação Cível já citada, n9 24.595, da qual fui Relator, e julgada em Sessão de 19-6-48.
Será bastante, pois, aqui, transcrever o meu pronunciamento naquela Apelação, no qual fui acompanhado pelos eminentes Colegas de Turma. Eis o meu voto, no qual transcrevia a respeitável sentença do Juiz Dilson Gomes Navarro Dias:
"Quanto ao mérito, confirmo integralmente a respeitável sentença recorrida, que assim bem decidiu a causa:
"A controvérsia resume-se na conceituação dos contratos celebrados entre o Banco do Brasil S . A. e seus clientes, que aquêle diz ser "contrato de abertura de crédito com garantia pignoratícia", enquanto o Fisco entende tratar-se de "mútuo". A questão tributária é mera decorrência do desencontro de entendimentos.
Segundo se verifica do instrumento de fls. 26, dos autos do executivo, o contrato objeto de discussão estaria desnaturado como abertura de crédito, porque "são emitidas notas promissórias de valôres iguais a vencimentos idênticos aos mesmos, descontadas no mesmo ato as importâncias correspondentes a juros e comissões."
o período supra é o principal argumento da Fazenda Nacional, constante da contestação apresentada nos autos da ação ordinária. Mas, conforme muito bem sustentou o autor, a forma de utilização
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do crédito, por meio de notas promlssonas emitidas ou endossadas pelo creditado, não pode desnaturar o conceito jurídico e fiscal da operação.
Se a Fazenda Nacional sente-se prejudicada em virtude da diferença na tributação, por ser esta mais favorável à abertura de crédito, a solução estaria na alteração da Lei do Sêlo, a de igualar as incidências. O que não é razoável, sem que isso implique em crítica aos diligentes representantes do Fisco, é impedir o cliente do Banco do Brasil de executar contrato de abertura de crédito por meio de notas promissórias vinculadas ao próprio contrato.
A informação de fls. 34, nos autos da ação ordinária, a que se reportou a União Federal em sua contestação, confunde desconto com a abertura de crédito e invoca comentários de Carvalho de Mendonça sôbre aquêle, mas inaplicáveis à controvérsia, como bem o demonstrou a réplica de fls. 48.
É forçoso reconhecer que o contrato celebrado pelo Banco com seus clientes tem características especiais, que escapam aos contornos tradicionais da abertura de crédito. Não se observa, por exemplo, a retroatividade do crédito aberto, sempre encontrada em tal contrato, para utilização segundo a necessidade ou conveniência da outra parte.
Mas a falta de tal elemento não desnatura o contrato de abertura de crédito, a ponto de o transformar em mútuo ou desconto. ~stes últimos, por sua vez, irreconhecíveis no inshl1mento de fls. 26 da executiva.
Pelo exposto, julgo procedente esta ação ordinária que o Banco do Brasil S. A. move contra a União F e-
deral e anulo a exigência fiscal contida na Portaria de intimação de fls. 9. Julgo improcedente o executivo fiscal movido pela segunda contra o primeiro, insubsistente a penhora de fls. 13, dos autos respectivos.
Condeno a parte vencida nas custas processuais em ambos os processos e honorários de advogado, que fixo em trezentos mil cruzeiros, o que faço moderadamente, atendendo à Simplicidade do feito" (fls~ 53/55 dos autos da Apelação Oível n9
24.595, GB.)
"Confirmo, por seus jurídicos fundamentos, esta sentença, Sr. Presidente. Nego, assim, provimento ao recurso de ofício e à apelação da Fazenda Nacional."
Assim decidi na já citada Apelação n9
24.595, tendo os eminentes Colegas desta Turma acompanhado meu voto.
N o caso presente, a hipótese é idêntica, razão pela qual dou provimento ao agravo do Banco do Brasil S.A. para reformar a respeitável decisão de fls. 99/101, no sentido de declarar improcedente o executivo fiscal e bem assim insubsistente a penhora de fls. 5, feita em dinheiro, no montante de Cr$ ....... . 93.046.000,00, que ficou em depósito no próprio Banco executado, autorizando assim o seu levantamento. Condeno a parte vencida nas custas e honorários de advogado, na forma da legislação vigente, os quais fixo na quantia de NCr$ 500,00.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Deu-se provimento ao agravo, nos têrmos do voto do Sr. Ministro Relator. Decisão unânime. Os Srs. Ministros Henoch Reis e Márcio Ribeiro votaram de acôrdo com o Sr. Ministro Relator. Presidiu ao julgamento o Sr. Min. Márcio Ribeiro.
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AGRAVO DE PETIÇÃO N.o 27.803 - SP.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha
Recorrente - Juiz de Direito da Comarca de Mogi-Mirim, ex ollicio.
Agravada - Casa Botelho S.A. - Importação e Comércio
EMENTA
Executivo Fiscal. Impôsto do Sêlo. Sendo imune do impôsto federal do sêlo os contratos de vendas de mercadorias por comerciantes, não há que se falar em incidência do tributo com relação à cláusula de reserva de dominio.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Agravo de Petição n9 27.803, do Estado de São Paulo, em que são partes as acima indicadas:
Acordam os Ministros que compõem a Segunda Turma do Tribunal Federal de Recursos, por unanimidade, em negar provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls., que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 18 de novembro de 1968. -Cunha Vasconcellos, Presidente; Godoy Ilha, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Min. Godoy Ilha: Adoto, como relatório, a parte decisória da sentença dé fls. 98/101, que está assim redigida:
"Trata-se de ação fiscal em que a Fazenda Nacional se propõe a cobrar da executada a quantia de NCr$ 59.688,07 (cinqüenta e nove mil, seiscentos e oitenta e oito cruzeiros novos e sete centavos), por ter a executada infringido os arts. 42 das Normas Gerais, e 16 da Tabela do Decreto n9 45.421, de 12 de fevereiro de 1959, de vez que foram encontrados em seu poder, e, por isso, apreendidos, inúmeros contratos de compra e venda com reserva de domínio firmados pelos com-
pradores, sem que a vendedora houvesse satisfeito o tributo devido, na consonância do que se diz na representação feita pelos agentes fiscais, e que deu origem ao processo administrativo e ao conseqüente processo judicial ora pôsto em julgamento.
Do muito que se alegou nos embargos, nada, absolutamente nada, tem interêsse prático e mais direto para a solução do caso em debate.
Tudo, na verdade, se resume em se saber se, pelo aspecto constitucional, é devido o impôsto do sêlo reclamado.
Neste particular, não bastasse o lúcido e brilhante parecer do Professor Ruy Barbosa Nogueira, de fls., a demonstrar com eloqüência, com sua incontestável autoridade em assuntos de Direito Tributário, a inviabilidade e ilegitimidade da cobrança posta em execução, sob pena de admitir-se a bitributação, em assunto de competência tributária que a própria Constituição Federal (refiro-me à de 1946) arredava à União, tenho para mim, como improcedente, por ilegítima, a cobrança sub judíce. O assunto em discussão há de ser examinado à luz
dos preceitos contidos e consagrados na Constituição Federal promulgada em 1946, vigente à época do fato gerador, notadamente pelo que preceitua o seu art. 15, n9 VI, combinado com o que está disposto no seu § 59.
Visando a pôr côbro a certos inconvenientes, a Constituinte de 1946 estabeleceu a regra contida no § 59, do art. 15 da Constituição, objetivando, como nô-lo informa Aliomar Baleeiro, hoje Ministro do Supremo Tribunal Federal, o seguinte: "a) evitar dúvidas sôbre a aplicação do princípio da imunidade recíproca em relação ao sêlo federal nos atos e instrumentos em que fôssem contratantes Estados e Municípios; b) eliminar bitributações, resultantes de decretação de sêlo federal nos atos e instrumentos que exteriorizassem fatos econômicos característicos dos impostos atribuídos ao Estado e ao Município" (Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, pág. 156, 2.a ed., Revista Forense).
E, na esfera dêsse seu entendL."Ilento, cuja doutrina se assenta na interpretação mais pura do preceito constitucional invocado, acaba por concluir aquêle não menos renomado mestre de Direito Financeiro e Tributário, nos seguintes têrmos:
"Vê-se, através dêsse dispositivo, que a Constituição encara, para efeitos fiscais, o fato econômico e
. não o negócio jurídico, que o infor-ma. O fato gerador, nos impostos do art. 19, n9s II, III e IV, é inteiramente reservado aos Estados e exclui o impôsto federal, que se insinua sob preteÀ"Ío de que assenta sôbre o ato jurídico ou o instrumento regulado por lei federal. O princípio é de que, embora a subs-
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tância ou a forma do negócio jurídico sejam regulados em lei federal, prevalece a imposição estadual ou municipal, se o fato econômico se enquadra nos caracteres específicos dos tributos capitulados nos arts. 19 e 29" (ob., cit., pág. 157).
Nesse mesmo diapasão doutrinário, a lição de Pontes de Miranda: "Se o impôsto é da competência exclusiva do Estado-Membro, ou dos Municípios, inclusive os impostos de que trata o art. 15, §§ 29 e 49, não é permitido à União tributar o ato específico: e.g., não pode exigir sêlo ou pagamento de impostos que seriam bis in idem com os dos artigos 19 e 29" (Comentários à Constituição de 1946, tomo II, pág. 128). O caso seria, pelo que se viu, de imunidade tributária.
Certo, portanto, o Egrégio Tribunal Federal de Recursos quando, ao apreciar decisão do MM. Juiz Franeis Selwyn Davis, em grau de recurso, a confirmou, para estabelecer como não incidente o impôsto do sêlo nas vendas de mercadorias feitas por comerciantes e os respectivos instrumentos.
Por derradeiro, e usando do mesmo raciocínio do ilustre Prof. Ruy Barbosa Nogueira, concluo por dizer que sendo imunes do impôsto do sêlo federal os contratos de vendas de mercadorias por comerciantes, não há se falar em incidência dêsse mesmo impôsto com relação à cláusula reservativa de domínio.
Êsse raciocínio se impõe, como muito bem lembrou aquêle ilustre jurista, em face do que estabelece o parágrafo único, do art. 44, verbis:
"O sêlo de garantia não poderá ser superior ao da obrigação."
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Não estando o contrato principal sujeito a sêlo, nenhum sêlo será devido com relação ao pacto acessório, pois o dôbro de zero, zero é. Pelos fundamentos do exposto e tendo em vista o que mais dos autos consta, julgo improcedente a presente ação fiscal para o fim de isentar a executada do pagamento reclamado, por considerar indevida a pretensão Fazendária.
Levante-se oportunamente a penhora de fls. Custas ex vi legis."
Os autos vieram a êste Tribunal unicamente em virtude do recurso de ofício, cujo provimento foi pedido pela ilustrada Subprocuradoria-Geral da República em seu parecer de fls. 10.5/6, a fim de que se reforme a sentença de primeiro grau.
É o relatório.
VOTO
O SI'. Min. Godoy Ilha: A douta sentença de Primeira Instância lastreiase no erudito parecer do Professor Ruy Barbosa Nogueira, que esgotou a controvérsia, como em decisão proferida por esta mesma Turma, no julgamento elo Agravo em Mandado de Segurança n9 35.407 e cujo acórdão, nos têrmos do magnífico voto do Relator, o eminente Min. Armando Rollemberg, está assim ementado: "Impôsto do sêlo, não incide sôbre a venda de mercadorias por comerciantes e os seus respectivos instrumentos" (certidão de fls. 94/95).
Como demonstrou o voto de S. Exª', as próprias notas Iª' e 2ª', do art. 16, da Tabela do Regulamento do Impôsto do Sêlo aprovado pelo Decreto número 45.421, de 17-2-1959, então vigente, não autorizam a interpretação que lhes dá a autoridade fiscal, pôsto que "as disposições indicadas não são aplicáveis aos
contratos de compra e venda realizados por comerciantes ou produtores, não se justificando a diferenciação pretendida pelo impetrado no que tange às vendas feitas à prestação".
Vale-se o Fisco da defeituosa redação do art. 16, da Tabela do precitado Regulamento, ao dispor: "Contratos de compra e venda de bens móveis, excetuados os realizados entre comerciantes e produtores, inclusive industriais, para fins mercantis." Pretende, assim, a autoridade fiscal, que a isenção só compreendeu as transações celebradas entre os comerciantes. Assinala o parecer do Prof. Ruy Barbosa Nogueira que, "a não bastar o aspecto constitucional, não é demais assinalar que essa questão já ficou resolvida até mesmo em nível regulamentar, pois foi exatamente a consolidação feita pelo Decreto n9 45.421, de 12 de fevereiro de 1959, que obedecendo à alteração 14, da Lei n9 3.519, de 1958, transportou para o plano da legislação regulamentar a redação do § 59 do art. 15 da Constituição de 1946, inserindo nas Normas Gerais o art. 50, assim formulado:
"Não sofrem a tributação do impôsto do sêlo os atos jurídicos ou os seus instrumentos, quando forem partes a União, os Estados ou os Municípios, ou quando incluídos na competência tributária estabelecida nos arts. 19 e 29 da Constituição (§ 59, do art. 15, da Constituição e Lei n9 3.529, de 1958)."
N ego provimento aos recursos.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por unanimidade, negou-se provimento. Os Srs. Mins. Armando Rollemberg e J. J. Moreira Rabello votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu ao julgamento o Sr. Min. Cunha Vasconcellos.
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AGRAVO DE PETIÇÃO N.o 28.016 - DF.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. J. J. Moreira Rabello
Recorrente - Juiz Federal Substituto da 1.a Vara, ex officio
Agravada - Eunice Cardoso da Silva
EMENTA
Imissão exercitada pela Codebrás. Desaparecida a
posse legítima, justifica-se a ação de imissão.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos, em que são partes as acima indicadas.:
Acordam os Ministros que compõem a Segunda Turma do Tribunal Federal de Recursos, em dar provimento, por maioria, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 15 de outubro de 1968. -Godoy Ilha, Presidente; J. ] . Moreira Rabello, Relator.
RELATÓRIO
o Sr. Min. J. J. Moreira Rabello: Trata-se de ação de reintegração de posse movida pela União Federal contra a ocupante de apartamento que lhe fôra deferido em têrmo de ocupação regular, pelo GTB, em 20-10-66, à alegação de que a ré promovia bacanais no mesmo o que, de resto, ficou comprovado com a representação do Administrador do Bloco D da Superquadra 312, da Asa Norte, onde está sediado o apart. 506, ocupado pela ré, o qual, assim, agiu em obséquio ao abaixo assinado que lhe foi dirigido por 27 outros ocupantes de apartamentos no mesmo bloco.
Face a essa representação, a Codebrás oficiou, pedindo inquérito à Secretaria de Segurança Pública, da qual é a ocupante do apartamento funcionária, sendo o mesmo procedido. O relatório, no qual a Comissão, depois de suspendê-la por 90 dias, e detenção de 30, assim concluiu:
"A Comissão julga também de bom alvitre que a indiciada, antes de reassumir o exercício de seu cargo, seja submetida a exame por Junta Médica, que dirá se a mesma é portadora de necessário equilíbrio psíquico para o exercício de atividade de natureza policial."
No curso do inquérito, a Comissão concluiu por afirmar "que se trata de mulher de muitos amôres" e que é dada ao vício da embriaguez.
Remetido êsse inquérito ao Presidente da Codebrás, êste baixou a Portaria n9 103, rescindindo o têrmo de ocupação de que desfrutava a ré, em relação ao referido apartamento, em data de 14-7-67. Daí a ação que incluía, inicialmente, também a pessoa do marido da ré e outra pessoa que, posteriormente, foram excluídos do processo: o marido por alegar já se encontrar desquitado da ré
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devido à sua conduta irregular, e o terceiro por já se ter ausentado do apartamento. Contestou, então, a ré, a ação, invocando exclusivamente a impropriedade da via escolhida pela autora e socorrendo-se, no passo, da citação de acórdãos desta Colenda Casa. A contestação feita já a desoTas, ainda se apresentou sem a procuração que, somente 10 dias depois e sem que se houvesse pedido caução de rata, foi juntada aos autos, fato a que aludiu veementemente a Procuradoria.
Veio, então, o despacho saneador de fls. 48, no qual o MM. Dr. Juiz julgou, desde logo, a autora carecedora de ação, face considerar inaplicável o art. 276 do Código de Processo no confronto com o disposto no art. 375 do mesmo diploma legal, recorrendo de ofício.
Sem recurso da União, os autos ascenderam a esta Colenda Casa, aonde a Subprocuradoria os viu, exarando o parecer de fls. 52/54, no qual advoga o provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Min. I.I. Moreira Rabello: Tendo como válida a portaria da Codebrás, lastreada em inquérito administrativo procedido pela própria Secretaria de Segurança Pública da qual é agente a ré, e inquérito que apurou fatos gravíssimos contra ela, inclusive a profunda inconveniência da sua permanência, dada sua incontinência de conduta, no apartamento em tela, do bloco onde residem as famílias que representaram contra o seu procedimento. Considero, assim, que a partir de 14 de julho, a posse legítima da ré desaparecera com a rescisão referida, passando ela a ser mera
intrusa no mesmo. Ora, não sei por que, face à gravidade dos fatos ocorrentes, me vou impressionar por vagas implicações processuais, quando, dos autos, emerge, escancarada, a necessidade de pôr cô bro a uma situação anormal e grave, que é, no fundo, o supremo desí
deratum da Justiça.
Acresce que, no caso, como bem acentuou a União, a ação não foi contestada regularmente.
Dou, assim, provimento ao recurso, para julgar procedente a ação.
VOTO ( Vencido)
O Sr. M in. Armando Rollemberg: Data venia do eminente Ministro Relator, nego provimento ao recurso. Tenho sustentado seguidamente que os têrmos de ocupação dos apartamentos de BrasÍlia são em realidade contratos de locação regidos pelo Decreto-lei n. o 9.760. Quando a locação é rescindida por infração de cláusula contratual, a ação própria é a de despejo, não cabendo a de reintegração de posse, como no caso foi proposta. Assim, como os ritos das duas ações são diferentes e, na primeira, inclusive há a necessidade de prévia notificação, entendo que a sentença decidiu bem, quando julgou a autora carecedora de ação.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por maioria, deu-se provimento, vencido o SI. Min. Armando Rollemberg. O Sr. Min. Codoy Ilha votou com o Sr. Ministro Relator. Não compareceu, por motivo justificado, o SI. Min. Cunha Vasconcellos. Presidiu ao julgamento o SI. Min. Godoy Ilha.
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AGRAVO DE PETIÇÃO N.o 28.024 - GB.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy llha
Recorrente - Juiz Federal Substituto da 2.a Vara, ex ofticio Agravante - SPNAB
Agravada - Anderson Clayton Cia. S.A.
EMENTA
Sunab. Executivo fiscal. Lei Delegada n.O 4 .. Não é licito ao poder público autuar como infrator aquêle que, louvado nos precedentes que identificam os seus produtos cujos preços são sujeitos ao contrôle estatal, possa ser surpreendido com a súbita mudança de orientação, baseada em imprecisos atos administrativos.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Agravo de Petição n? 28.024, do Estado da Guanabara, em que são partes as acima indicadas:
Acordam os ~,,1inistros que compõem a Segunda Turma do Tribunal Federal de Recursos, por unanimidade, em negar provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls., que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 18 de novembro de 1968 -Cunha Vasconcellos, Presidente; Godoy Ilha, Relator.
RELATÓRIO
o Sr. Min. Godoy Ilha: Adoto, como relatório, a sentença de fls. 38v./9, que eXl?ôs e decidiu a matéria controvertida dêste autos nos seguintes têrmos:
"Trata-se de três executivos fiscais propostos pela Superintendência N acionaI do Abastecimento contra Anderson Clayton & Cia. S. A., para cobrar multas aplicadas nos Processos Administrativos números 9.398/64, 6.724/64 e 5.798/64, gerados, respectivamente, dos Autos de Infração n9s 5.234, de 5-10-64, 3.005, de 3-8-64 e 2.163, de 14-7-ô4, todos por infração da alínea a, do art. 11, da Lei Delegada n9 4. Assegurados os Juízos pelas penhoras,
houve embargos da executada alegando que inassiste razão para as autuações, que consideram a ma1:garina como uma gordura comestível e, como tal, compreendida na Resolução n9 77, que congelou os preços aos níveis vigentes no dia 10 de maio de 1964. Houve impugnação da exeqüente, sustentando êsse entendimento e intervenção da União Federal. Verificando tratarse de hipóteses absolutamente idênticas, entre as mesmas partes, determinei a apensação dos três executivos e os saneei conjuntamente no de n9 38.417. Dêsse saneadol' não houve recurso. Nesta data realizou-se a audiência~ com as formalidades legais atendíveis. Tudo visto e examinado, decido: É hipótese já examinada por êste Juízo em outro processo, por coincidência, entre as mesmas partes, quando tive oportunidade de acolher a defesa da firma executada, ao leconhecer a impraticabilidade que resultaria, para o próprio comércio, do entendimento que a Sunab sustenta. Desde que a margarina sempre foi um artigo considerado isoladamente em tôdas as Portarias e Resoluções anteriores, como por exemplo ocorreu com a Portaria número 6, da Delegacia Regional de São Paulo, que antecedeu de pouco
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tempo a malsinada Resolução número 77, não seria tolerável que o órgão fiscalizador alterasse, inopinadamente, o seu critério, para passar a considerar a margarina como uma espécie do gênero "gordura". É ainda de se salientar que apenas oito dias antes da edição da Resolução n9 77 pelo Conselho Superior da Sunab, o seu órgão regional em São Paulo editara a Portaria n9 16, liberando, mencionadamente, aquêle produto. Assim, mesmo que pudéssemos admitir que o artigo em questão pudesse ser abrangido pela capitulação genérica de gordura comestível, como pretende a embargada, invocando suporte de natureza técnica, qual seja a análise bromatológica da margarina, ainda aí não seria justo que o contribuinte pudesse ser surpreendido com as oscilações de orientação do órgão fiscalizador. Além do mais, como salientei na decisão a que me reporto, não poderá ser pacífica a capitulação desejada pela Sunab. Ela própria reconhece tratar-se de produto parecido com manteiga e assemelhado às gorduras vegetais. A embargante provou que se trata de um complexo gorduroso, produto de trabalhosa elaboração industrial. Basta que houvesse a possibilidade de uma opção para que descabida fôsse a aplicação da sanção, pôsto que a lei fiscal, tal como a lei penal, não pode se aplicar por extensão, analogia ou paridade. Não havendo ato administrativo que mencione o artigo em questão como sujeito a tabelamento, ou congelamento, verifica-se que a embargada exorbitou ao aplicar as pesadíssimas sanções de que nos dão notícia êstes processos. Não tiveram, pOltanto, amparo legal os autos de infração lavrados contra a executada. Isto pôsto, improcedentes os três Executivos Fiscais (nú-
meros 38.417, 38.533 e 38.534) e insubsistentes as penhoras, lavradas nos respectivos autos." (sic)
Além do recurso de ofício, veio o agravo da Sunab, devidamente formalizado, em favor do qual falou, nesta Instância, a douta Subprocuradoria-Geral da República.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Min. Godoy Ilha: Improcede, data venia, a argüição de que foi omissa a sentença quanto à interposição do recurso de ofício, pôsto que êste foi expressamente interposto pelo ilustrado julgador a quo.
Quanto ao mérito, estou em que não merece censura a decisão que se impugna, eis que a transgressão do tabelamento que se atribui à agravada, firma de notória idoneidade, teria decorrido da própria imprecisão dos provimentos administrativos expedidos pela agravante. E a insignificante majoração dos preços de venda decorreu da elevação dos fretes, como documentadamente comprovou a executada, atendendo à conhecida fórmula adotada para o contrôle dos preços de venda das mercadorías GD.L. (custo, despesa e lucro), o que poderia autorizar o reajustamento dos preços de venda, como o permitia o art. 39, da própria incriminada Resolução n9 77.
Nego provimento aos recursos.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por unanimidade, negou-se provimento. Não votou, por se haver retirado, o Sr. Min. Armando Rollemberg. Os Srs. Mins. J. J. Moreira Rabello e Cunha Vasconcellos votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu ao julgamento o Sr. Min. Cunha Vasconcellos.
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AGRAVO DE PETIÇÃO N.o 28.026 - GB.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henoch Reis
Recorrente - Juiz Federal da 5.a Vara, ex officio
Agravante - lNPS, ex-lAPC
Agravado - Ary Folain
EMENTA
Advogado com escritório particuiar. Contribuição simples, mas obrigatória.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Agravo de Petição n9 28.026, do Estado da Guanabara, em que são partes as acima indicadas:
Acordam os Ministros que compõem a Terceira Turma do Tribunal Federal de Recursos em dar provimento, em parte, unânimemente, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls. retro, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 2 de dezembro de 1968. -Djalma da Cunha Mello, Presidente; H enoch Reis, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Min. Henoch Reis: Recurso de ofício e Agravo do INPS da sentença de fls. 29/34, que julgou improcedente executivo fiscal proposto contra o Advogado Ary Folain, para cobrar importâncias relativas a contribuições previdenciárias, acrescidas de multa, custas e honorários de advogado.
N esta Superior Instância, oficiou a douta Subprocuradoria-Geral da República, que opinou pela reforma da sentença.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Min. Henoch Reis: Pode-se deslindar a controvérsia à luz da legislação e da jurisprudência.
Estabelece o art. 49 da Lei Orgânica da Previdência Social:
"Para os efeitos desta lei, considera-se: "d) trabalhador autônomo -o que exerce, habitualmente e por conta própri~, atividade profissional remunerada.
Por sua vez, os profissionais liberais são considerados segurados obrigatórios, pelo Regulamento-Geral da Previdência Social, aprovado pelo Decreto número 48.959-A, de 1960, modificado pelo Decreto n9 60.501, de 1967, Quadro I, item XVII.
Interpretando o art. 17 da Lei número 3.999, de 1961, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Mandado de Segurança n9 15.848, do Rio Grande do Sul, Relator o eminente Min. Victor Nunes Leal, decidiu que:
"Médico com consultório particular. Contribuição simples, mas obrigatória."
Por êstes fundamentos, dou provimento a ambos os recursos para, reformando a sentença, julgar a ação executiva procedente, em parte, isto é, sem honorários de advogado.
É meu voto. DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Deu-se provimento, em parte. Decisão unânime. Os Srs. Mins. Djalma da Cunha Mello e Márcio Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu ao julgamento o Sr. Min. Djalma da Cunha Mello.
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AGRAVO DE PETIÇÃO N.o 28.197 - MG.
Relator - O Ex.mo Sr. Min: Esdras Gueiros
Recorrente - Juízo de Direito da Comarca de Uberlândia, ex offício
Agravantes - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Diversões Triân-gulo Mineiro S.A.
EMENTA
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Taxa de estatística (Decreto-Lei n.o 4.181, de 16-4-62). Sua cobrança contra as emprêsas de diversões públicas. Convênios com os Municípios. Município de Uberaba, Minas Gerais. Regulamentação do processo de cobrança da taxa, segundo a Resolução n.O 759, de 30-4-63. Inobservância das regras preestabelecidas para as autuações. Imprestabilidade das certidões fiscais decorrentes de autuações nulas. Executivo fiscal improcedente. Sentença confirmada à unanimidade.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos, em que são partes as acima indicadas:
Acordam os Ministros que compõem a Terceira Turma do Tribunal Federal de Recursos em negar provimento, por unanimidade, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 24 de fevereiro de 1969. -Márcio Ribeiro, Presidente; Esdras Gueiros, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Min. Esdms Gueiros: O IBGE, por sua Inspetoria Regional em Minas Gerais, propôs na Comarca de Uberlândia executivos fiscais contra a emprêsa "Diversões Triângulo Mineiro S . A." para haver da ré a quantia de NCr$ .. 5.527,64, sendo NCr$ 5.300,72 correspondentes à quota de estatística instituída pelo Decreto-lei n9 4.181, de .. 16-4-42, art. 99, e o restante a título de multa por infração das disposições legais, tudo relativo ao período de 19-9-65, a 31-12-65, conforme as certidões de dívida que instruíram a inicial.
Contestando o executivo, alegou a ré ser inconstitucional a cobrança do impôsto em causa, e que o Decreto-lei n9
72 em que se baseava a cobrança fôra revogado pelas Leis n9s 217, de 18-9-51, e 1. 052, de 19-8-63 (Códigos Tributários), pois em nenhuma destas últimas leis o mencionado Decreto-lei fôra revigorado. Sendo a cobrança ajuizada em dois processos separados, sôbre a mesma espécie, determinou o Juiz o apensamento das ações para um só julgamento final.
Inconformada com o despacho saneador de fls. 62 do primeiro apenso, interpôs a ré agravo no auto do processo, conforme se vê às fls. 63-65 e respectivo têrmo de fls. 66, alegando que o Juiz deixara de se pronunciar sôbre preliminares argüidas nos embargos, quanto à impropriedade do executivo e ilegitimidade de parte (dado que o IBGE se transformara em Fundação), além de outras argüições, considerando saneado o processo. Outro agravo no auto do processo interpôs ainda a ré às fls. 29 dos autos, conforme têrmo às fls. 31, alegando cerceamento de defesa pela não ouvida de testemunhas.
MinaI, às fls. 39-41, proferiu sentença o Dl'. Juiz de Direito da 2.a Vara de Uberlândia, Sebastião Lintz, julgando improcedente a ação executiva e recorrendo de ofício. Inconformados, agravaram: O IBGE pleiteando a reforma da
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decisão; a emprêsa ré, em parte, para pleitear a inclusão de honorários de advogado contra o Instituto autor, nos têrmos da Lei n9 4.632, de 8-5-65.
Ouvida a egrégia Subprocuradoria da República, pronunciou-se às fls. 78, adotando as razões do IBGE, no sentido da reforma da sentença.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Min. Esdras Gueiros: Sr. Presidente:
Do tumulto dêste processo, constituÍdo de autos principais e onze apensos, chega-se à conclusão de que o digno Juiz recorrido decidiu afinal com acêrto a causa, tornando sem efeito o processo executivo, conforme passarei a demonstrar.
Há, porém, que apreciar dois agravos no auto do processo, aos quais me referi no relatório.
O primeiro dêles refere-se a argüições preliminares, que a firma ré teria feito por ocasião do oferecimento dos seus embargos, relativamente à impropriedade da ação executiva e ilegitimidade de parte do IBGE, sob o pretexto de que êste teria passado de Autarquia à Fundação.
Não procede o agravo. O Juiz, ao considerar saneado o processo, deixou para apreciar na sentença final as argüições levantadas, conforme se verá do conteúdo de sua decisão.
Quanto ao segundo agravo no auto do processo, igualmente nenhuma procedência tem. O indeferimento de um pedido de adiamento de audiência, para ouvida de testemunhas, não constitui cerceamento de defesa, em se tratando de executivo fiscal, que é ação inicialmente instruída com certidões da dívida cobrada. No processo ordinário contencioso, poder-se-ia admitir que a negativa do Juiz fôsse susceptível de causar
o alegado cerceamento. Não no executivo fiscal.
Ante estas considerações, nego provimento aos dois agravos no auto do processo.
Quanto ao mérito, importa ler a sentença, para mais perfeito conhecimento dos ilustres pares. Disse o Juiz:
"Desnecessário se torna entrarmos na apreciação de alta indagação, sôbre ser constitucional, ou mesmo legal, a cobrança, na atualidade, da taxa de estatística, que incide, em forma de sêlo especial fornecido pelo IBGE, sôbre as entradas em casas ou lugares de diversões (cinemas, teatros, cine-teatros, circos etc. ), de conformidade com o art. 99, da letra a, do Decreto-lei n9
4.181, de 16 de março de 1942.
De fato, o Decreto-lei em questão estabeleceu condições, resultantes da Convenção Nacional de Estatística celebrada mediante convênios especiais, em cada unidade da federação, entre o IBGE, o Govêrno Federal e a totalidade dos Municípios, para a cobrança da referida taxa. E foi em razão disto que os Municípios se viram na contingência de, também, estabelecer um preceito, autorizando a celebração de convênio para a observância das cláusulas contratuais previstas no referido Decreto-lei n9 4.18!.
No que diz respeito ao Município de Uberlândia, o Decreto-lei n9 72, de 17-12-42, ratificou e mandou executar o convênio especial de Estatística Municipal e, após tal ratificação, passou o IBGE a cobrar a taxa criada, a qual, segundo o contestante, não teria sido ratificada no Código Tributário, tanto é que especialmente se criou, em separado, um impôsto de diversões públicas, com que a executada está quite, e que nada tem a ver com a taxa estatística.
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Mas, conforme já dissemos, vamos entrar no mérito da legalidade da taxa reclamada e não (pontificar) sôbre a necessidade do litiscons6rcio-ativo necessário (inexistente nos autos), pôsto que as certidões que objetivam a cobrança não podem ser aceitas para o procedimento propugnado.
Temos para n6s, que há sempre presunção de legalidade, em tese, nos atos do Poder Público, por isso que tais atos s6 devem sofrer o contrôle do poder jurisdiciona~ que é também um dos podêres do Estado, dando-lhes, ou não, validade, quando, formalizados, passam para a 6rbita das obrigações.
Como no caso dos autos não estão formalizados, deixamos de lado a legalidade dos mesmos, e vamos para os pormenores. Qualquer dos podêres não pode e não deve entrar na crítica de um ato praticado pelo congênere, sob o ponto de vista da legalidade, quando êsse ato pode ser atacado por outros meios.
É sediço que as certidões fiscais, sob pena de nulidade, conterão as indicações determinadas em lei, dentro do estabelecido para a instauração do processo administrativo, pois que não é possível a inscrição da dívida que não goze de presunção de liqüidez e certeza.
Inegàvelmente, para presumirmos como irreversível a liqüidez e certeza de uma dívida fiscal, cuja certidão se identifica com os mesmos pressupostos dos títulos de crédito, devemos saber de antemão se o processo administrativo de que resultou a inscrição, representa qualquer coisa de intocável.
E nem poderia ser de outra maneira, pois, em caso contrário, a simples certidão de inscrição de dívida seria inquestionável, juridicamente,
para a cobrança, e desnecessário seria, portanto, o chamamento judicante. Ora, se pela causa debendi é possível invalidar-se um título de crédito, que outro meio seria capaz (visto ser impossível tal discussão contra a certidão fiscal), senão a apreciação dos elementos administrativos que serviram de base para a inscrição? Os conceitos de liqüidez e certeza não são os mesmos? L6gico e evidente que isto s6 será possível analisando-se o processado administrativo, que, para ser intangível, deve seguir à risca o estabelecido na lei para a sua instauração - condição que lhe dará foros de liqüidez e certeza. Assim exposto, vamos às irregularidades: Primeiramente, o anexo à Resolução n9 759, de 30-4-63 (e a Resolução em questão foi justamente a que aprovou o regulamento do processo fiscal para apuração de infrações da legislação referente à quota estatística), estabelece, taxativamente, no inciso VI do art. 69,
que o "auto de infração conterá as assinaturas do autuante, do autuado e, sendo o caso, do depositário das coisas apreendidas e de duas testemunhas". Em nenhum dos autos de infrações que existem no processo administrativo encontramos assinaturas de testemunhas e, muito menos, de dep,?sitário, e ~esmo porque não se fez a apreensao.
Por outro lado, o § 10 do art. 29 do Decreto Municipal que aprovou e ratificou o Convênio, declara que a fiscalização do impôsto adicional (mais apropriado seria a denominação de taxa) de diversões compete aos fiscais da Prefeitura. Perguntamos: em qual dos autos existe assinatura do representante da municipalidade? Em nenhum dêles.
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Perguntamos: como explicar que em determinados dias dos meses de novembro e fevereiro de 1965, na mesma hora, o fiscal lavrou autos de infrações, tanto no Cine Uberlândia, como no Cine Eden, distantes um do outro mais de cinco quarteirões?
Como explicar que, em dias de três sessões, tanto num como noutro cinema, ou seja, às 14,30, 17,30 e 21,30 horas, a apuração do quantum devido pela infração fôra bem inferior ao dia seguinte, de apenas uma sessão em cada cinema?
Por que as infrações dos domingos sempre foram inferiores, na maioria das vêzes, a dos dias comuns, quando é sabido que nos domingos sempre passam três se;ssões (pelo menos)?
Não e não. Os autos de infrações do processo administrativo estão bastante irregulares, pois que não obe-
deceram aos pressupostos necessários para a sua formalização.
Diante do exposto, julgo improcedente a ação, pela sua impropriedade, e, em conseqüência, condeno a autora nas custas do processo" (fls. 39-41 dos autos).
Realmente, SI. Presidente, os diversos processos administrativos que estão em apenso não obedeceram às exigências legais, preestabelecidas para a sua validade.
Do estudo que fiz dos presentes autos, chego à conclusão de que andou certo o Dr. Juiz recorrido, razão pela qual nego provimento a todos os recursos, para confirmar a sentença.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Negou-se provimento. Decisão unânime. Os Srs. Mins. Henoch Reis e Márcio Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Márcio Ribeiro.
APELAÇÃO CÍVEL N.o 19.891 - PRo
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros Recorrente - Juízo de Direito da 1.a V.F.F.F., ex officio Apelante - União Federal Apelado - Leão Zeigelboim
EMENTA
Ação anulatória. Impôsto de Renda. Nulidade de processo administrativo por ausência de intimação. Não há como argüir nulidade do processo administrativo por falta de intL.-nação do contribuinte, se êste compareceu à repartição competente e se pronunciou sôbre o lançamento feito.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n? 19.891, do Estado do Paraná, em que são partes as acima indicadas,
Acordam os Ministros que compõem a Terceira Turma do Tribunal Federal de Recursos, por unanimidade, em dar pro-
vimento, para julgar procedente a ação, e em condenar o autor nas custas, na forma do relatório e notas ta qui gráficas de fls. retro, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 4 de dezembro de 1968. Márcio Ribeiro, Presidente e Relator.