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159 RESUMO Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 32, p. 159-177, fev. 2009 Emerson Urizzi Cervi PRODUÇÃO LEGISLATIVA E CONEXÃO ELEITORAL NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARANÁ Recebido em 6 de julho de 2007. Aprovado em 15 de março de 2008. Este artigo insere-se na linha de trabalhos que tratam das relações entre a arena política legislativa e a arena política eleitoral, chamadas de “conexão eleitoral”. O objetivo é analisar as interações entre essas duas arenas em um sistema de representação política sub-nacional: o legislativo estadual do Paraná. A partir da relação entre a produção legislativa individual dos deputados estaduais na 14ª Legislatura da Assembléia Legislativa do Paraná (ALEP) e o desempenho eleitoral dos que concorreram à reeleição, busca-se identificar possíveis interdependências entre atividade parlamentar individual e reeleição. Para isso, além dos resultados eleitorais dos candidatos à reeleição, que deram origem a uma tipologia de votação (se concentrada ou desconcentrada regionalmente) como variável dependente, são incluídos no modelo três conjuntos de variáveis explicativas. O primeiro é formado por variáveis sobre a posição política institucionalizada (bancada a que pertence; ideologia; partido político; ocupação de cargo na mesa; número de mandatos na ALEP; e posição sobre tema polêmico). O segundo aborda a visibilidade do mandato (número de aparições dos parlamentares no principal jornal diário do Estado e tipo de apari- ções). O terceiro grupo de variáveis explicativas diz respeito à produção legislativa individual propria- mente dita (tipo de projeto de lei apresentado; abrangência geográfica do projeto de lei; abrangência social do projeto de lei; número de projetos apresentados; e número de projetos aprovados durante o mandato). A partir do cruzamento das variáveis que compõem o modelo em testes de independência de médias ou de regressões, o modelo analítico demonstra a existência de forte correlação entre votações concentradas regionalmente e maior possibilidade de reeleição. As variáveis explicativas sobre posição política e visibilidade do mandato mostraram-se fracas na explicação para tipo de votação, enquanto algumas variáveis sobre produção legislativa individual apresentaram alto índice de correlação com votação regionalizada e, por conseqüência, com a maior possibilidade de reeleição do parlamentar. PALAVRAS-CHAVE: Conexão eleitoral; deputados estaduais; produção legislativa; Paraná. I. INTRODUÇÃO A relação entre atuação parlamentar e maior possibilidade de reeleição começou a ser e ainda é tradicionalmente tratada pela literatura como dire- ta. Para isso foi criado um modelo explicativo chamado de “duas arenas” por Mayhew (1974) (cf. BOWLER, 2000). De acordo com esse mode- lo, os parlamentares, sempre movidos pelo interes- se na reeleição e, portanto, na arena eleitoral, mo- delam seus comportamentos na arena legislativa para alcançar o objetivo principal que é reeleger-se e garantir a sua continuidade no Parlamento. Sendo assim, toda relação que o parlamentar tem com o seu partido ou sua bancada no poder Legislativo é uma necessidade imposta por melhores condições políticas para disputar e vencer eleições, não fa- zendo parte de uma estratégia política autônoma. A implicação desse modelo é que, havendo uma re- dução da importância dos partidos na arena eleito- ral, estes também perdem funcionalidade no Parla- mento, o que reduz os benefícios de um parlamen- tar em manter-se integrante de determinada linha de conduta partidária durante a legislatura. Sendo assim, a atuação do parlamentar seria muito mais individualizada e pouco responsável aos interesses da bancada a que faz parte. A conceituação de “duas arenas” também en- fraquece a importância dos partidos políticos no Parlamento. Essa tradição nasce com Downs (1957), que dá extrema importância nos proces- sos eleitorais para as ações dos políticos, trans- formando-as em fator modulador das ações par-

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 32: 159-177 FEV. 2009

RESUMO

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 32, p. 159-177, fev. 2009

Emerson Urizzi Cervi

PRODUÇÃO LEGISLATIVA E CONEXÃOELEITORAL NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO

ESTADO DO PARANÁ

Recebido em 6 de julho de 2007.Aprovado em 15 de março de 2008.

Este artigo insere-se na linha de trabalhos que tratam das relações entre a arena política legislativa e aarena política eleitoral, chamadas de “conexão eleitoral”. O objetivo é analisar as interações entre essasduas arenas em um sistema de representação política sub-nacional: o legislativo estadual do Paraná. Apartir da relação entre a produção legislativa individual dos deputados estaduais na 14ª Legislatura daAssembléia Legislativa do Paraná (ALEP) e o desempenho eleitoral dos que concorreram à reeleição,busca-se identificar possíveis interdependências entre atividade parlamentar individual e reeleição. Paraisso, além dos resultados eleitorais dos candidatos à reeleição, que deram origem a uma tipologia devotação (se concentrada ou desconcentrada regionalmente) como variável dependente, são incluídos nomodelo três conjuntos de variáveis explicativas. O primeiro é formado por variáveis sobre a posição políticainstitucionalizada (bancada a que pertence; ideologia; partido político; ocupação de cargo na mesa;número de mandatos na ALEP; e posição sobre tema polêmico). O segundo aborda a visibilidade domandato (número de aparições dos parlamentares no principal jornal diário do Estado e tipo de apari-ções). O terceiro grupo de variáveis explicativas diz respeito à produção legislativa individual propria-mente dita (tipo de projeto de lei apresentado; abrangência geográfica do projeto de lei; abrangênciasocial do projeto de lei; número de projetos apresentados; e número de projetos aprovados durante omandato). A partir do cruzamento das variáveis que compõem o modelo em testes de independência demédias ou de regressões, o modelo analítico demonstra a existência de forte correlação entre votaçõesconcentradas regionalmente e maior possibilidade de reeleição. As variáveis explicativas sobre posiçãopolítica e visibilidade do mandato mostraram-se fracas na explicação para tipo de votação, enquantoalgumas variáveis sobre produção legislativa individual apresentaram alto índice de correlação comvotação regionalizada e, por conseqüência, com a maior possibilidade de reeleição do parlamentar.

PALAVRAS-CHAVE: Conexão eleitoral; deputados estaduais; produção legislativa; Paraná.

I. INTRODUÇÃO

A relação entre atuação parlamentar e maiorpossibilidade de reeleição começou a ser e ainda étradicionalmente tratada pela literatura como dire-ta. Para isso foi criado um modelo explicativochamado de “duas arenas” por Mayhew (1974)(cf. BOWLER, 2000). De acordo com esse mode-lo, os parlamentares, sempre movidos pelo interes-se na reeleição e, portanto, na arena eleitoral, mo-delam seus comportamentos na arena legislativa paraalcançar o objetivo principal que é reeleger-se egarantir a sua continuidade no Parlamento. Sendoassim, toda relação que o parlamentar tem com oseu partido ou sua bancada no poder Legislativo éuma necessidade imposta por melhores condiçõespolíticas para disputar e vencer eleições, não fa-

zendo parte de uma estratégia política autônoma. Aimplicação desse modelo é que, havendo uma re-dução da importância dos partidos na arena eleito-ral, estes também perdem funcionalidade no Parla-mento, o que reduz os benefícios de um parlamen-tar em manter-se integrante de determinada linhade conduta partidária durante a legislatura. Sendoassim, a atuação do parlamentar seria muito maisindividualizada e pouco responsável aos interessesda bancada a que faz parte.

A conceituação de “duas arenas” também en-fraquece a importância dos partidos políticos noParlamento. Essa tradição nasce com Downs(1957), que dá extrema importância nos proces-sos eleitorais para as ações dos políticos, trans-formando-as em fator modulador das ações par-

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lamentares, a “conexão eleitoral”. Mayhew (1974)usa o termo “modelo de duas arenas” para expli-car a importância da primeira arena, a eleitoral,sobre a segunda, que é legislativa, condicionandoo comportamento dos parlamentares (PEREIRA& MULLER, 2003, p. 736). Assim, a atuação dospolíticos no poder Legislativo é uma conseqüên-cia funcional da necessidade de obter-se votos emfuturas eleições. Para Cain, Ferejohn e Fiorina(1987), como as ações dos parlamentares são ori-entadas para benefícios eleitorais e visam garantira sua sobrevivência política, o parlamentar tende-rá a dar mais atenção a seus redutos eleitorais,independente dos interesses coletivos do partidoa que pertença ou das limitações institucionais.

Estudos empíricos, a partir da matriz teóricaanterior, mostraram inconsistências nos pressu-postos apresentados até então, o que levou ospesquisadores à criação de um modelo explicativoalternativo, denominado de “uma arena” Bowler(2000), partindo do pressuposto de serem fracosos elos entre as arenas eleitoral e legislativa. Antesdele, Gary Cox (1987) e Cox e McCubbins (1993)tentaram explicar o comportamento legislativo nãoapenas motivado pela conexão eleitoral, mas ori-entado por regras e procedimentos centralizadoresda arena legislativa, que colocam os partidos emvantagem em relação às ações individuais dos po-líticos. De acordo com esse modelo, os parlamen-tares agem segundo os interesses de seus parti-dos e seguindo as determinações das liderançasno processo decisório, o que faz que a arenalegislativa seja, em grande medida, desvinculadada arena eleitoral. Nesse caso, os partidos pas-sam a dar acesso aos parlamentares ao processodecisório e solucionam o problema da ação coleti-va no Parlamento (BOWLER, 2000). Assim, oDeputado começa a considerar como mais im-portantes as relações partidárias e de bancada,agindo coletivamente e respeitando as decisões damaioria. As implicações desse modelo são o pos-sível enfraquecimento da reeleição como objetivoimediato do parlamentar na sua prática de repre-sentação dentro do Parlamento e o fato de quepossíveis mudanças na arena eleitoral não afetari-am diretamente a ação dos parlamentares noLegislativo. De acordo com o modelo de uma are-na, os partidos resolvem as questões de ação co-letiva no poder Legislativo ao oferecer uma estru-tura institucional para escolhas e ao garantir com-portamentos cooperativos dos deputados (PEREI-RA & MULLER, 2003). No Brasil, uma série de

autores (FIGUEIREDO & LIMONGI, 1995; 1997;1999; 2000; 2002; MENEGHELLO, 1998; PEREI-RA & MULLER, 2000; AMORIM NETO & SAN-TOS, 2001; AMORIM NETO, 2002) têm demons-trado a importância da centralização decisória noCongresso como explicação do comportamentoparlamentar. Isso porque há evidências indicandoque os parlamentares brasileiros comportam-se deforma consistente, disciplinada e em acordo com aindicação de seus líderes partidários.

Para o primeiro modelo existe uma “conexãoeleitoral” direta, já no segundo, se houver alguma“conexão eleitoral”, ela será indireta. De maneiraum pouco distinta em relação aos dois modelosanteriores, Pereira e Muller (2003) argumentam queambos os modelos são parciais e incompletos paraexplicar o comportamento dos políticos e partidosdentro e fora do Parlamento brasileiro. Eles defen-dem que o sistema brasileiro não é totalmente des-centralizado (duas arenas), mas também não é to-talmente centralizado (uma arena), argumentandoque ele condensa essas duas forças antagônicas.De um lado, as regras eleitorais, multipartidarismoe federalismo descentralizam o sistema político. Deoutro, regras internas de decisão no CongressoNacional e distribuição de recursos políticos pro-porcionam uma grande centralização nesse mes-mo sistema. Enquanto as regras eleitorais geramincentivos para o comportamento individual dosparlamentares, regras internas do Parlamento tor-nam o comportamento dos políticos dependenteda lealdade a seus partidos, fortalecendo-os no Con-gresso. Pereira e Muller demonstram que os parla-mentares, principalmente os da base do governo,cooperam com a agenda legislativa de votações,seguindo orientações de seus líderes para ter aces-so a benefícios políticos controlados pelo Executi-vo. Esses benefícios devem ser usados na arenaeleitoral para aumentar as chances de reeleição.

Neste artigo considera-se a existência de umaarena eleitoral descentralizada ou personalizada euma arena legislativa parcialmente centralizada, poisos parlamentares, apesar de atuarem de maneiraresponsável junto à bancada ou partido, tambémpodem – paralelamente – dispor de recursoslegislativos para beneficiar seus redutos eleitorais,favorecendo a manutenção de sua carreira políti-ca. Para tanto, analisa-se a produção legislativaindividual dos deputados estaduais do Paraná da14ª Legislatura, entre 1999 e 2002, comparandocom o desempenho eleitoral daqueles que secandidataram à reeleição no final do período. A

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hipótese a ser testada é a de que, apesar de leaisàs suas bancadas em temas polêmicos e de inte-resse do poder Executivo, a explicação para o de-sempenho eleitoral dos parlamentares pode ser en-contrada na atuação individualizada previstainstitucionalmente no Parlamento, pois é nos pro-jetos de lei e mensagens de autoria do parlamentarque pode-se encontrar a origem da relação entrerepresentante e representado durante todo o man-dato.

O texto está dividido em três seções. Na pri-meira, são apresentadas algumas discussões sobreo comportamento individualizado do parlamentarbrasileiro, dentre elas a alta taxa de renovação doslegislativos brasileiros quando comparada a de de-mocracias consolidadas, o que leva a um desinte-resse pela especialização em atividades legislativasmais técnicas; outra diz respeito ao sistema eleito-ral brasileiro, pois a eleição por lista aberta para asdisputas proporcionais de vagas no Legislativo levaa uma personificação das campanhas que passama concentrar-se em regiões geográficas ou segmen-tos sociais. O accountability é maximizado quandoos representados de determinado parlamentar en-contram-se na mesma região ou segmento da so-ciedade. O grande número de trocas de partidosdurante o mandato dificulta a identificaçãoinstitucionalizada do parlamentar por parte do elei-tor. Por fim, a visibilidade do Deputado pode serconsiderada uma variável importante para a suasobrevida política, pois há uma tendência da maio-ria dos eleitores brasileiros de analisar os candida-tos, comparando as realizações deles, ao invés deavaliar individualmente o que cada um fez.

Na segunda seção do texto são apresentadosresultados de testes estatísticos para o estabeleci-mento de um modelo com variáveis que sejamcapazes de explicar o que realmente importa paraa manutenção do Deputado em um cargo eletivono poder Legislativo estadual paranaense a partirde dados obtidos da 14ª Legislatura. Em primeirolugar, é testado se o tipo de votação do parlamen-tar influencia a sua reeleição. Depois de agrupa-das as votações por ordem de concentração geo-gráfica em três níveis1 (regional, mista e disper-

sa), testes estatísticos mostram uma alta correla-ção entre votação regionalizada e reeleição. Combase nisso, são testados cinco conjuntos de variá-veis empíricas que poderiam explicar a votaçãoregionalizada. A primeira delas diz respeito à carrei-ra política do parlamentar, sendo composta por:partido a que pertenceu durante o mandato, posi-ção do partido no espectro ideológico, bancada aque pertenceu na ALEP, número de mandatos comoDeputado Estadual antes de 1998 e número de par-tidos políticos a que pertenceu durante o mandato.O segundo conjunto de variáveis é de caráter elei-toral, incluindo: coligação a que pertenceu em 2002,percentual de votos regionais em 1998 e 2002 ecategoria de votação em 1998 e 2002. Outra variá-vel a ser testada diz respeito à posição declarada noParlamento em relação a temas polêmicos. Aqui, éusada a posição de cada parlamentar em relação aoprojeto de lei que autorizava a privatização da Copel,Companhia de Energia do Paraná, que foi o princi-pal mobilizador da opinião pública paranaense em

1 A tipificação de votos dos parlamentares está baseadaem resultados oficiais por município das eleições para aAssembléia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) de1998 e 2002, fornecidos pelo Tribunal Regional Eleitoraldo Paraná (TRE-PR). Foram selecionados os três maisvotados em cada município, para a criação de um “índice de

presença regional” dos deputados. Nesse primeiro momentonão interessava o número de votos individual, mas a colo-cação do candidato na preferência dos eleitores de cadamunicípio. O mais votado no município recebeu peso três,o segundo colocado recebeu peso dois e o terceiro, pesoum. Em seguida os valores foram agregados pormesorregiões, que passaram a ser a unidade de análise. Adivisão geográfica do Estado por mesorregiões adotada é adefinida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) e pelo Instituto Paranaense de DesenvolvimentoEconômico e Social (Ipardes). O Paraná está dividido emdez mesorregiões e como elas apresentam diferentes núme-ros de municípios, considerando que o índice parte do de-sempenho municipal dos candidatos, foi preciso normali-zar os dados agregados pelo total de municípios. A vanta-gem da normalização, além de equiparar o desempenhoregional dos deputados em todo o Estado, é que ela permiteanalisar os dados de maneira quantitativa. O resultado finalé um índice de presença regional que varia de “muito bai-xa”, “baixa”, “média”, “alta” e “muito alta” nas eleições de1998 e 2002. Para identificar se um parlamentar tem vota-ção “regional”, “mista” ou “dispersa” foram somados osvotos obtidos pelos deputados nas três primeiras coloca-ções de cada município e o resultado foi comparado com ototal da votação de cada Deputado. Se a soma dos votosobtidos entre os três mais votados em cada município ficarentre zero e 33,33% do total, esse parlamentar é considera-do como tendo votação “dispersa”, ou seja, não apresentarelevância em nenhuma região específica. Normalmentedeputados que são comunicadores, representantes religio-sos ou de categorias profissionais específicas costumamapresentar votação “dispersa” em todo o Estado. Se osvotos regionais ficarem entre 33,34% e 66,66%, o Deputa-do é considerado como tendo votação “mista”. Se o total devotos regionais ultrapassar 66,67% da votação geral, opolítico é considerado com votação “regional”.

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2 A abrangência social do projeto de lei leva em conta onúmero de pessoas que sofrerão impacto direto com a apro-vação da lei proposta dentro de determinada área deabrangência geográfica. Exemplo de projeto individual é aproposta de cidadania honorária. Projeto segmentado podeser uma proposta que diga respeito a determinada ativida-de econômica específica ou entidade. Projeto geral tempotencial impacto sobre todos os paranaenses de maneiraequivalente.3 A abrangência geográfica de um projeto de lei leva emconta a área de impacto direto da proposta. Esse impactopode ser específico a um município, quando municipal, auma região específica, quando regional, ou a todo o estado,quando estadual.

relação à Assembléia Legislativa durante o períodoem análise. Também é testada a produção legislativaindividual dos parlamentares por meio dacategorização dos projetos de lei apresentados poreles em função da abrangência social2 (se o projetoé individual, segmentado ou de abrangência geral),da abrangência geográfica3 (se tem impacto muni-

cipal, regional ou estadual) e por tipo de projeto4,se é de Utilidade Pública, Homenagem ouAutorizatório. A título de indicação sobre o volumetotal da produção legislativa individual dos deputa-dos paranaenses, as tabelas a seguir sumarizam-napor abrangência social, geográfica e por tipo deprojetos de lei durante a 14ª Legislatura na ALEP.

4 Projetos de lei de utilidade pública são aqueles que decla-ram de utilidade pública associações, entidades e institui-ções de modo geral, que passam a gozar de benefícios doExecutivo Estadual e maior acesso a políticas públicas.Projetos de homenagem são aqueles que homenageiam pes-soas ou entidades por meio da concessão de títuloshonoríficos ou nomes de logradouros públicos tais comoórgãos estaduais, rodovias, hospitais, prédios públicos etc.Projetos autorizatórios são, obrigatoriamente, de origemde um Deputado ou do poder Legislativo, e têm por finali-dade autorizar o poder Executivo a realizar algum investi-mento, obra ou prestar qualquer outro serviço ou ação.Esse tipo de projeto de lei foi extinto na 15ª Legislatura emfunção de sua pouca utilidade, visto que o Executivo rara-mente realizava as obras ou serviços “autorizados” pormeio de um projeto de lei de um parlamentar.

QUADRO 1 – PRODUÇÃO LEGISLATIVA POR ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).

Do total de projetos de lei apresentados pelosparlamentares paranaenses durante a 14ªLegislatura, 44,6% foram de abrangência estadu-al, 42,8% de abrangência municipal e apenas12,5% de abrangência regional, o que indica umaatenção maior destinada a projetos ou de grandeabrangência ou muito localizados.

QUADRO 2 – PRODUÇÃO LEGISLATIVA PORABRANGÊNCIA SOCIAL

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasilei-ra (s/d).

Ainda que localizados municipalmente ou ten-do como abrangência todo o Estado, a grandemaioria das propostas individuais dos parlamen-tares atingia segmentos específicos da sociedade,pois 77,5% das propostas tiveram abrangênciasocial segmentada, contra 17,9% de abrangênciageral e apenas 4,6% de abrangência estadual.QUADRO 3 – PRODUÇÃO LEGISLATIVA POR TIPODE PROJETO INDIVIDUAL

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).NOTA: o total considera o subconjunto dos projetos tipificados em relação ao total.

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O Quadro 3 mostra um subconjunto dos pro-jetos apresentados, pois desconsidera os proje-tos de lei com temáticas próprias, levando emconta apenas aqueles com exclusiva finalidadepolítica. Quanto a esses três principais tipos deprojetos individuais, quase 65% foram de utili-dade pública, outros 26,7% autorizatórios e ape-nas 8,3% como homenagens. Essas três primei-ras tabelas indicam como foi o conjunto da pro-dução individual dos parlamentares paranaensesna 14ª Legislatura, mostrando que houve umatendência equivalente entre as abrangências ge-ográficas municipal e estadual; a abrangência so-cial segmentada prevaleceu e houve maior pro-dução de projetos de utilidade pública. As varia-ções de produção dos diferentes tipos de proje-tos de lei individuais serão testadas com o de-sempenho eleitoral dos deputados que secandidataram à reeleição para identificação depossíveis relações entre a atividade parlamentare os votos obtidos.

Outro conjunto de variáveis empíricas a sertestado com o tipo de votação obtida pelo par-lamentar na candidatura à reeleição ao cargo dizrespeito à visibilidade das ações do parlamen-tar. Para tanto são usadas informações sobre acobertura dos parlamentares realizada pelo prin-cipal jornal diário do Paraná, Gazeta do Povo.Fazem parte desse conjunto de variáveis o nú-mero de citações que cada parlamentar teve nojornal durante a legislatura, o percentual de ci-tações positivas e negativas no jornal e a dife-rença entre os percentuais positivo e negativodos parlamentares no jornal. Com isso preten-de-se criar um modelo estatístico que expliquea votação regionalizada dos parlamentares em2002 e, por conseqüência, a maior possibilida-de de reeleição.

A terceira parte do texto apresenta as con-clusões gerais a partir dos testes de correla-ção entre variáveis que indicam a produção in-dividual do parlamentar, tipo de votação obtidana disputa pela reeleição e resultado eleitoral;além de, à luz dos dados empíricos obtidosnesse estudo de caso, pontuar o que é possí-vel identificar como válido para o sistemalegislativo subnacional brasileiro dos modelosde duas arenas ou uma arena a partir de umestudo de caso.

II. O PARLAMENTAR: ENTRE PERSONALIZA-ÇÃO ELEITORAL E CENTRALIZAÇÃOLEGIS-LATIVA

A existência de diferenças5 na estrutura de re-presentação parlamentar de países europeus – emque os modelos de “duas arenas” e “uma arena”foram concebidos – em relação ao sistema de re-presentação6 subnacional no Brasil torna neces-sário considerar as particularidades do sistema derepresentação brasileiro que não estão contempla-das na discussão original. Por conta disso, torna-se pertinente a hipótese de que a atuação parla-mentar na ALEP apresenta características quemesclam os dois modelos já apresentados. Quan-do é permitida a atuação individual, o parlamentarutiliza-a para beneficiar diretamente os seus elei-tores (pork barrel7), por meio de projetos de leiregionalizados, moções para a criação de entida-des públicas a instituições de sua região, indica-ções de cidadania honorária etc. Porém, nos te-mas relacionados à formulação de políticas públi-cas mais amplas, para ter algum nível de influên-cia nos resultados, o parlamentar precisa agir co-letiva e disciplinadamente em relação a sua banca-da. Pois isso poderá garantir outros tipos de gan-hos – por meio de decisões do estado – para oconjunto dos eleitores. Deve-se considerar tam-bém que no Brasil há uma grande concentraçãode poder decisório sobre políticas públicas na es-fera do poder Executivo. Mesmo que as decisõesdo chefe do Executivo sejam contrárias aos inte-resses dos representados, o parlamentar mantéma disciplina, pois o sistema eleitoral proporcionalde votos garante-lhe a possibilidade de grandepermeabilidade em busca de “novos” representa-dos a cada eleição. Sem contar o necessário bomrelacionamento com o Executivo para a distribui-ção de pork barrel às regiões de abrangência darepresentação do parlamentar – novas ou antigas.

Pode-se perceber que o modelo das duas are-nas considera que os parlamentares têm comoprincipal meta a reeleição; hipótese que se justifi-ca para a análise da US House of Representatives,

5 Representação majoritária por distrito, por exemplo.6 Proporcional por colégio eleitoral.7 Pork e pork barrel são usados aqui como sinônimos deverbas governamentais para melhoramentos locais com finseleitorais.

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onde a possibilidade de reeleição é muito alta. Po-rém, as taxas de retorno à Câmara Federal no Brasile às Assembléias Legislativas estaduais são bemmenores que as norte-americanas, ficando entre40% e 50% nas últimas duas décadas (AMES,2000). Isso significa que em cada nova legislatura,cerca de metade dos deputados é estreante. Essastaxas de renovação são mais altas em representa-ções de regiões desenvolvidas como sul e sudes-te, o que faz que as representações dessas áreasapresentem baixo nível de senhorio (AMES, 2000).

No Paraná, a renovação bruta da bancada8 naAssembléia Legislativa ficou próxima dos índicesda Câmara Federal entre 1982 e 2002, chegandoa 83% em 1986 e nunca menor que 45%. Demaneira geral, esses valores seguem a média dasrenovações eleitorais em todos os legislativos es-taduais no mesmo período (SANTOS, 2002). Umadas questões debatidas na literatura é por que existeuma renovação tão alta no sistema legislativo na-cional e subnacional brasileiro? Segundo Ames,alguns deputados desistem de concorrer pois sa-bem que não serão reeleitos. Outros optam porcargos eletivos no poder Executivo, em que, comoprefeitos, consegue-se exercer maior controlesobre os programas e recursos públicos. Há ain-da os que assumem trabalhos burocráticos nopoder público como forma de aumentar sua cli-entela antes de voltar à disputa por cargos eletivos.Mas mesmo aqueles que concorrem à reeleiçãotêm uma alta taxa de rejeição (AMES, 2000).

Elevados índices de renovação indicam a exis-tência de riscos para a análise de casos brasileirosao considerar-se automaticamente a hipótese deestabilidade sugerida a partir da dinâmica da Câ-mara dos Deputados dos Estados Unidos (USHouse of Representatives), em que a reeleição é aprimeira meta do político eleito. Uma das conse-qüências das altas taxas de renovação é que oslegisladores brasileiros passam a ter uma expec-tativa de carreira curta. A questão é saber em quemedida essa expectativa afeta suas motivações ecomportamentos, por exemplo, levando-os a umaatuação mais personalista e menos voltada para asquestões da técnica legislativa. Por que deputa-dos fariam um esforço para adquirir habilidadespolíticas se sabem que suas probabilidades decontinuar na carreira não são tão altas como em

outros países (idem)? A resposta a essequestionamento levaria a uma tendência de inves-tir-se pouco na especialização do trabalho e deconcentrar os esforços no envio de pork a suasregiões de representação, nos casos em que a metaé a reeleição. Porém, a concentração em porkstradicionais não deve ser automática na atividadedo poder Legislativo; há também atenção especiala apresentação de propostas, tais como projetosde lei. Entre 1989 e 1991 os deputados federaisbrasileiros apresentaram 6,6 mil projetos de lei.Apenas 43 foram aprovados e a maioria não saiudas comissões. Ames (idem) conclui que os de-putados apresentam projetos de lei não com a in-tenção de vê-los aprovados, mas porque queremdistribuir cópias das propostas aos eleitores comoforma de comprovação de serviço prestado.

Outro fator que pode modelar ações e com-portamentos parlamentares é o sistema partidá-rio. As regras eleitorais no Brasil geram uma rela-ção entre partidos fracos e deputados individua-listas, considerados aqui como aqueles que pos-suem bases eleitorais estabelecidas geograficamen-te ou em segmentos sociais bem definidos. Emsistemas eleitorais majoritários que elegem umrepresentante por distrito eleitoral, votar em umpartido é necessariamente votar em um candida-to. Já nos sistemas de representação proporcionalde lista existem diversas maneiras de definir quaiscandidatos ocuparão as vagas obtidas pelo parti-do. No Brasil temos a lista aberta, em que os par-tidos apresentam um conjunto de candidatos semordem de preferência e os eleitores decidem votarem um candidato ou partido e as vagas obtidassão ocupadas pelos mais votados (NICOLAU,2002). Esse sistema de lista aberta estimula a pre-dominância da reputação individual em detrimen-to do partido (cf. CAREY & SHUGART, 1995).Os candidatos organizam suas campanhas inde-pendentemente dos partidos, e como o desempe-nho do partido depende do sucesso dos candida-tos, os diretórios regionais preferem incluir naslistas indivíduos populares em seus segmentossociais em detrimento dos envolvidos em ativida-des partidárias, como demonstrado por Manin(1995) quando caracteriza a “democracia de pú-blicos”. Além disso, o processo de votação refor-ça a idéia do personalismo. O eleitor não recebeinformações suficientes sobre coligações ou for-ma de distribuição de cadeiras (NICOLAU, 2002).

Além das regras eleitorais, as trocas de legendadurante o mandato também dificultam a identifica-

8 A renovação bruta é obtida computando-se o númerototal de representantes novos em uma legislatura, compa-rado à composição da legislatura anterior.

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ção partidária. A mudança de partido no Brasil vemsendo comum desde a redemocratização em 1985(MELO, 2000). O fenômeno atinge o conjunto departidos políticos e afeta todos os níveis do siste-ma representativo (federal, estadual e municipal).O número de deputados que abandonaram o parti-do pelo qual foram eleitos nas quatro legislaturasda Câmara Federal do período democrático é im-pressionante: dos 2 016 representantes eleitos em1986, 1990, 1994 e 1998, 621 (30,8%) trocaram

de partido ao longo da legislatura, alguns deles maisde uma vez (NICOLAU, 2002). Como pode-se verno Quadro abaixo, a ALEP não é exceção à regrada alta migração partidária. Dos doze partidos quetiveram representação na ALEP durante a legislaturade 1999 a 2002, apenas dois (16,6%), o partidoSocialista Brasileiro (PSB) e o Partido dos Traba-lhadores (PT), não apresentaram variação no nú-mero de componentes da bancada em toda alegislatura.

QUADRO 4 – BANCADAS PARTIDÁRIAS NA ALEP

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d) e dados primários das atas de sessões ordinárias daALEP organizados pelo autor.NOTAS: 1. os números de deputados por partido foram tomados em fevereiro de cada ano.

2. PDT: Partido Democrático-Trabalhista; PFL: Partido da Frente Liberal; PL: Partido Liberal; PMDB: Partido doMovimento Democrático Brasileiro; PPB: Partido Progressista Brasileiro; PSC: Partido Social-Cristão; PSDB:Partido da Social-Democracia Brasileira; PTB: Partido Trabalhista Brasileiro; PSL: Partido Social-Liberal; PST:Partido Social-Trabalhista.

As altas variações nas bancadas coincidem como grande número de parlamentares que migraramde partido na legislatura. Dos 59 parlamentaresque passaram pela ALEP no período, 25 (42,4%)trocaram de partido pelo menos uma vez. Houvecinco (8,5%) deputados que trocaram duas vezesde legenda e um (1,6%), que passou por trêspartidos nos quatro anos de mandato. A baixaidentidade partidária e independência doscandidatos durante as eleições geram condiçõesfavoráveis ao personalismo na ação parlamentar econcentração de esforços para uma representaçãoregional pode significar a maximização de ganhosindividuais.

Um eleitorado fragmentado reduz aaccountability9. Deputados com votaçãoconcentrada regionalmente – representandoeleitores que demandam altos níveis de benefícioslocais – têm poucas razões para apoiar partidoscujos líderes esperam por votações em conjuntonas questões que vão além do espaço local maisimediato, ou seja, aquelas que podem interessarde maneira difusa eleitores de todas as regiões doestado. Mas até que ponto pode-se dizer que adistribuição geográfica do apoio eleitoral influenciaas ações dos parlamentares? Em primeiro, a

9 Na versão de Powell Jr. (2000) do accountability model,as eleições são o momento apropriado para o eleitor punirou recompensar seus representantes.

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hegemonia eleitoral em determinada regiãodemonstra uma habilidade do Deputado de obteraltas percentagens de votos em municípiosatendidos pelo trabalho de representação política.Deputados regionais são mais fortes em regiõespouco desenvolvidas e em áreas rurais, mas essahegemonia é impossível de ser mantida se nãohouver um retorno à elite econômica e social dacomunidade representada. Aliado a isso, osdeputados regionais tendem a ser a sustentaçãodo poder do Executivo em suas áreas de votação.A dinâmica da representação torna os deputadosmais aptos a receberem crédito pelo pork enviadoaos municípios, e quando isso acontece elespassam a trabalhar mais para enviar pork a suasregiões. Como no Brasil é o poder Executivo quedomina os programas de pork barrel, boas relaçõescom o chefe do Executivo e seu corpo de ministrosou secretários de estado são uma necessidade paradeputados regionalistas (AMES, 2000, p. 108).

Ao mesmo tempo em que o sistemarepresentativo incentiva a atuação parlamentarpersonalista, os eleitores desenvolvem mecanismospara a escolha dos representantes nãopartidariamente. Assim, o acompanhamento daatividade de um parlamentar e a decisão dereconduzi-lo ou não ao cargo também são feitosde maneira personalizada.

A avaliação do trabalho de um parlamentar embases personalizadas pode ocorrer de duas maneiras:a primeira pressupõe que o eleitor monitoreexclusivamente o desempenho daquele em quemvotou; na segunda, o eleitor não acompanhanecessariamente o parlamentar em quem votou,mas o que durante o mandato conseguiu de algumamaneira chamar a sua atenção (NICOLAU, 2002,p. 225). Como a maioria dos eleitores brasileirosdiz não se lembrar em quem votou para Deputadonas eleições anteriores quando consultados empesquisas de opinião pública, é provável que asavaliações de primeiro tipo sejam feitas por umpercentual reduzido do eleitorado. O que permiteespecular sobre a importância da visibilidade doparlamentar no decorrer do seu mandato. Como

apontado anteriormente, o sistema eleitoral brasileiroestimula a atuação personalizada e não-partidária.Mas há limites e dificuldades para a avaliaçãopersonalista retrospectiva dos candidatos por partedos eleitores.

Portanto, temos três fatores identificados nosistema de representação legislativa brasileiro quefavorecem a atuação personalista. Em primeirolugar, os altos índices de renovação eleitoral; emsegundo, o sistema eleitoral que leva à atuaçãoindividualizada na arena eleitoral, gerando umpadrão de representação pessoal e regionalizada;e por fim, os instrumentos desenvolvidos peloseleitores para julgar a atuação dos representantesantes de decidir em quem votar.

III. ATUAÇÃO POLÍTICA, PRODUÇÃO LE-GISLATIVA E VISIBILIDADE PARLAMEN-TAR

Dos 54 parlamentares que terminaram omandato na ALEP em 2002, apenas quatro não secandidataram à reeleição para o mesmo cargo (doiscandidataram-se a Deputado Federal, um a Senadore um a vice-Governador). Como o nosso objetivoé identificar as variáveis explicativas para a reeleiçãodo parlamentar, só serão consideradas asinformações relacionadas aos 50 parlamentares queterminaram o mandato e concorreram à reeleiçãoem 2002. Desses, 30 (60%) foram reeleitos e 20(40%) não conseguiram reeleger-se. Comodemonstra o Quadro 5, do total, 40% dosparlamentares analisados tiveram votaçõesregionalizadas, 32% votação dispersa e 28% votaçãomista. No entanto, considerando apenas os reeleitos,a votação regional ganha importância, passando para56,6% contra 23,4% com votos mistos e apenas20% com votação dispersa, indicando uma maiorpresença, dentre os reeleitos, de parlamentares comvotações concentradas em determinadas regiõesgeográficas. Percebe-se que o maior número dereeleitos encontra-se em votação regionalizada,sendo 17 dos 30. Além disso, na votação regiona-lizada também está o menor número de parlamen-tares não reeleitos, com apenas três entre os 20.

QUADRO 5 – SITUAÇÃO EM 2002 POR TIPO DE VOTAÇÃO

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).

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O teste de independência de qui-quadrado10, mostrado no Quadro 6, entre as duasvariáveis – situação em 2002 (se reeleito ou não)e tipo de votação (regional, mista ou dispersa) –,comprova a existência de diferençasestatisticamente significativas entre aqueles quesão reeleitos e o tipo de votação que tiveram, comalto nível de significância (0,010). Assim como oteste de correlação de Spherman, Quadro 7,

QUADRO 6 – TESTE DE INDEPENDÊNCIA: SITUAÇÃO/2002 E TIPO DE VOTAÇÃO

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).

QUADRO 7 – CORRELAÇÃO DE SPHERMAN - SITUAÇÃO/2002 E TIPO DE VOTAÇÃO

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).

Para confirmar a importância da votaçãoregionalizada na reeleição dos parlamentares, osresultados abaixo mostram o teste de diferençasde médias (Anova) do percentual de votos

QUADRO 8 – TESTE (ANOVA): PERCENTUAL DE VOTOS REGIONAIS EM 2002

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).NOTA: Fator: ter sido ou não reeleito em 2002.

também indica uma relação positiva entre as duasvariáveis, com nível de significância de 0,002 ecoeficiente de correlação de 41,9%, ou seja,quando mais próximo de votos regionalizadosestiver o parlamentar, maiores as chances dereeleição. Isso resulta em um coeficiente dedeterminação de 17,5%, ou seja, quase um quintoda reeleição do parlamentar foi determinado pelotipo de votação que ele recebeu.

regionais em 2002 dos candidatos à reeleição –uma variável contínua –, tendo como fator de testea reeleição ou não do parlamentar.

10 O teste de qui-quadrado é um teste de livre distribuição.Aqui, ele serve para verificar se há ou não associação entre

duas variáveis, comparada a dois ou mais grupos, tais comoter sido ou não reeleito (dois grupos) ou tipo de votação:regional, mista ou dispersa (três grupos).

Esses resultados comprovam a importância quea votação regionalizada teve para a reeleição naAssembléia Legislativa do Paraná em 2002, poistambém no Anova há um alto nível de significância(0,003), indicando a existência de diferenças nasmédias de percentuais de votações regionais entreaqueles que se reelegeram e os que não foramreeleitos, inclusive quando considera-se opercentual de votos regionalizados. Até aqui, to-dos os resultados apontam para a importância davotação concentrada em determinada região doestado como explicação para a reeleição, indican-

do a existência de uma subdistritalização eleitoralna prática para os parlamentares que pretendemreeleger-se, pois os resultados mostram que oscandidatos que conseguem sucesso nas eleiçõesconcentram suas campanhas em determinadasáreas do estado.

Em consonância com os objetivos aos quaisse propõe este texto, resta saber se há algumarelação entre a atividade parlamentar individual doDeputado e o tipo de desempenho eleitoral apre-sentado por ele ao final do mandato. Na hipótese

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de que haja uma ligação entre a atividade parla-mentar e o tipo de votação, será possível indicaruma relação direta entre as duas arenas, legislativae eleitoral. Caso contrário, se a produção legislativaindividual não tiver nenhuma relação com o tipode votação, ficará evidenciada a dissociação entreambas variáveis. Nesse caso, tornar-se-á neces-sário buscar explicações a partir de outros con-juntos de variáveis disponíveis, além da produçãolegislativa individual, tais como variáveis de cará-ter político, de posicionamento em relação a te-mas polêmicos e de visibilidade pública do Depu-tado.

A seguir são apresentados os resultados designificância em testes estatísticos das correla-ções entre três variáveis dependentes: “tipo devotação” (regional, mista ou dispersa), se “reeleitoou não” e o “total de votos em 2002”, com asvariáveis independentes apresentadas no início dotexto.

Quando correlacionadas, individualmente, coma variável dependente se “reeleito ou não” em2002, poucas das vinte e oito variáveis indepen-dentes apresentam resultados estatisticamente sig-nificativos. É o caso das citações com valêncianegativa na Gazeta do Povo, que apresenta altacorrelação com o fato do Deputado não ter sidoreeleito. O coeficiente de determinação, nesse caso,é de 39,3%, como mostra o Quadro 9. Todas asdemais variáveis sobre visibilidade, de caráter po-lítico e a respeito de tema polêmico (privatizaçãoda Companhia Paranaense de Energia (Copel)) ti-veram resultados estatisticamente não significati-vos. Entre as variáveis de atuação política, ne-nhuma se mostra estatisticamente significativa emrelação à situação eleitoral em 2002. Por outro lado,algumas variáveis sobre a produção parlamentarindividual apresentaram forte correlação com ofato de o parlamentar ter sido reeleito ou não. É ocaso do percentual de projetos de lei de utilidadepública e de abrangência municipal, ambos com

coeficiente de determinação de 8,1%, que se mos-tram correlacionados direta e positivamente, ouseja, quanto maior o percentual desses projetos,maiores as chances do parlamentar ser reeleito.Já a apresentação de projetos autorizatórios e deabrangência estadual também apresentaram cor-relação estatisticamente significativa, porém, con-trária à reeleição, ou seja, quanto maior o percentualde projetos autorizatórios ou de abrangência esta-dual apresentados pelo parlamentar, menor a pos-sibilidade de reeleição. Os demais tipos de proje-tos não tiveram correlação linear significativa coma situação eleitoral em 2002. Aqui, mais uma vez,a correlação linear entre ter sido reeleito ou nãocom o percentual de votos regionais e com a ca-tegoria de votação mostrou-se altamente signifi-cativa, com coeficiente de determinação de 20,7%para o percentual de votos regionais e de 17,6%para a categoria de votos em 2002. Ambos apon-tam para uma correlação linear entre concentra-ção regional de votos e maior possibilidade de re-eleição, confirmando o que havia indicado anteri-ormente o Quadro 6.

O que mais interessa do Quadro 9 neste mo-mento da análise é que apenas duas variáveis deprodução legislativa mostraram-se correlacionadaslinearmente com a reeleição do Deputado: a apre-sentação de projetos de utilidade pública e a apre-sentação de projetos com abrangência municipal.Já a apresentação de projetos autorizatórios, deabrangência estadual e de citações negativas naGazeta do Povo apresentaram correlação linearnegativa, ou seja, quanto maiores seus percentuais,menores as chances de reeleição do parlamentar.As variáveis que quantificam a produção legislativaindividual do parlamentar (“Total de projetos apre-sentados” e “Percentual de projetos aprovados”)não apresentaram correlação consistente com ofato de o Deputado ter sido ou não reeleito, ouseja, o volume de produção individual teve impac-to próximo a nulo para a decisão do voto nessecaso.

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QUADRO 9 – CORRELAÇÃO ENTRE REELEIÇÃO/02 E VARIÁVEIS EXPLICATIVAS

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).NOTAS: 1. * Significativo a 0,05

2. ** Significativo a 0,01.

Apesar de sugerir uma relação entre produçãoconcentrada em determinados municípios do es-tado com a reeleição, os resultados do Quadro 9não são suficientes para comprovar a relação di-reta entre tipo de produção legislativa individualcom categoria de votação – se mais ou menosregionalizada – e, por conseqüência, com aschances de reeleição do parlamentar. Em outraspalavras, eles indicam que há maior probabilidadede reeleição entre os deputados que apresentamprojetos de lei dirigidos a comunidades específi-

cas e, ao contrário, menores chances de reeleiçãopara aqueles que apresentaram mais projetos delei de abrangência estadual. Porém, não mostramse a produção legislativa mais local e menos esta-dual tem correlação com a obtenção de votosregionalizados na disputa pela reeleição a uma vagano poder Legislativo. Até aqui, essa inferência podeser feita apenas de maneira indireta. Para verificara sua consistência será necessário realizar outrostestes estatísticos, que deverão considerar, alémdo fato do parlamentar ter sido reeleito ou não, otipo de votação obtida por ele.

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PRODUÇÃO LEGISLATIVA E CONEXÃO ELEITORAL NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA

Para identificar se a atuação parlamentar indi-vidual segmentada geograficamente resulta emvotação regionalizada, primeiro faz-se necessárioum teste de independência por diferenças de mé-dias dos percentuais de tipos de projetos de leiapresentados pelos parlamentares para dois fato-res: categoria de votação em 2002, se regional,mista ou dispersa; e para o fato do candidato tersido ou não reeleito. Fazendo uma análise dos re-sultados das diferenças de médias entre a atuaçãoparlamentar individual é possível identificar, aindaque parcialmente, o mesmo padrão de relaçõesmostrado pelos testes de correlação anteriores.

De acordo com o Quadro 10, nas diferençasde médias dos percentuais de projetos e tipo devotação, mostraram-se significativamente distin-tos os percentuais de projetos de abrangênciamunicipal e estadual, com altos níveis designificância (0,000 em ambos os casos) e esta-tísticas F também altas, com 11,28 para projetosmunicipais e 13,85 para projetos estaduais. Ou

seja, os grupos de votação regionalizada, mista oudispersa apresentam médias distintas para essesdois tipos de projetos de lei apresentados. Quantoaos demais, não há diferença significativa. Emrelação à situação eleitoral em 2002, apresenta-ram diferenças de médias estatisticamente signifi-cativas os percentuais de projetos de lei de utilida-de pública, autorizatórios e de abrangência esta-dual, como já identificado no Quadro 6. Aqui, osresultados não foram tão altos como no fator an-terior, com níveis de significância de 0,057 paraprojetos de utilidade pública, 0,052 para projetosde abrangência estadual e 0,008 para projetosautorizatórios. Isso significa que as diferenças demédias entre as variáveis estatisticamente signifi-cativas para o segundo fator não são tão fortesquanto às do primeiro. Ou seja, enquanto a pro-dução legislativa individual relaciona-se diretamentecom os votos obtidos, o fato de o Deputado serou não reeleito depende de outros fatores que vãoalém da própria votação.

QUADRO 10 – DIFERENÇA DE MÉDIAS PARA PRODUÇÃO LEGISLATIVA INDIVIDUAL, TIPO DE VOTAÇÃO EREELEIÇÃO

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).

No entanto, o teste de independência por dife-rença de médias indica apenas a existência de di-ferenças significativas entre distintos grupos; no

caso, entre os deputados reeleitos ou não e entreaqueles que tiveram votação regional, mista oudispersa. Ele não é capaz de indicar se existe al-

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gum tipo de correlação entre o fator e as variáveisexplicativas, e, se existir, qual a intensidade e dire-ção da relação. Para isso, aplica-se o teste de cor-relação linear de Spearman, transformando os fa-tores em variáveis dependentes e os tipos de proje-tos de lei apresentados em variáveis explicativas.

O resultado entre o tipo de atuação individualno Parlamento e o tipo de votação indica fortecorrelação entre a maior atenção dada pelo parla-mentar a determinados tipos de projetos de lei e otipo de votação obtida, se mais ou menos con-centrada regionalmente. Em relação à categoria devotação, as duas variáveis que apresentam resulta-dos estatisticamente significativos são o percentualde projetos municipais e o de projetos estaduais,

como mostra o Quadro 10, porém, com o teste decorrelação é possível identificar a intensidade e di-reção das relações. Percebe-se que elas são inver-sas. Enquanto a relação entre o percentual de pro-jetos municipais e votação regionalizada está na mes-ma direção, com coeficiente de determinação de30,1%, a relação entre percentual de projetos deabrangência estadual e votação dispersa encontra-se na em direção oposta, com coeficiente de deter-minação de 34,6%, conforme mostra o Quadro 11.Isso significa que quanto maior o percentual deprojetos com abrangência municipal, maior a pos-sibilidade de obter uma votação regionalizada, as-sim como os maiores percentuais de projetos esta-duais geram uma votação mais dispersa.

QUADRO 11 – CORRELAÇÃO LINEAR ENTRE PRODUÇÃO LEGISLATIVA INDIVIDUAL, TIPO DE VOTAÇÃOE REELEIÇÃO

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).NOTAS: 1. * Significativo a 0,05

2. ** Significativo a 0,01

A partir desses resultados de independência demédias e correlações tem-se subsídios para cons-truir modelos explicativos pelo método de regres-são linear para medir o peso das variáveisexplicativas em conjunto, principalmente as quese referem à produção legislativa individual, sobreo volume de votos obtidos pelos candidatos à re-eleição e sobre o percentual de votosregionalizados dos parlamentares11. O método deregressão linear permite, além de identificar oscoeficientes de correlação e determinação,quantificar em unidades das variáveis, seja emnúmero de votos ou em percentual de votos

regionalizados, a influência de cada variávelexplicativa para o modelo. Como já são conheci-dos os coeficientes de correlação, de determina-ção e níveis de significância de testes anteriores,a seguir serão apresentados apenas os coeficien-tes das regressões lineares. São dois modelos. Noprimeiro, a variável dependente “Total de Votosem 2002”, foi testada com as variáveis explicativasque apresentaram níveis de correlação significati-vos, que são: percentual de aparições negativasna Gazeta do Povo, projetos de utilidade públicaapresentados, autorizatórios, municipais, estadu-ais e percentual de votos regionais em 2002. No

11 Por tratar-se de uma regressão linear, todas as variáveisprecisam ser contínuas. Por isso, a variável dependente

“categoria de votação” foi substituída por “percentual devotos regionais”.

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segundo modelo, a variável dependente“Percentual de Votos Regionais em 2002” é testa-da com as variáveis explicativas de produçãolegislativa individual: percentual de projetos de uti-lidade pública, homenagens, autorizatórios, pro-jetos com abrangência municipal, regional, indivi-dual e geral; percentual de projetos aprovados erejeitados. Foram mantidas no modelo apenas asvariáveis explicativas que apresentaram resulta-dos estatisticamente significativos.

No primeiro modelo (ver o Quadro 12), mon-tado a partir de seis variáveis explicativas, identi-

fica-se o percentual de votos regionais em 2002como a única variável com resultados significati-vos para explicar o total de votos obtidos naqueleano, com um coeficiente Beta não padronizado de535,16, ou seja, para cada percentual de acrésci-mo de voto regional no modelo, obtêm-se 535votos a mais. Todas as demais variáveis de ativi-dade parlamentar mostraram-se não significativaspara a explicação do total de votos. Esse resulta-do comprova a importância da regionalização elei-toral do candidato para maximizar o número devotos obtidos.

QUADRO 12 – COEFICIENTE DE REGRESSÃO LINEAR ENTRE TOTAL DE VOTOS EM 2002 E VARIÁVEISCORRELACIONADAS

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).NOTA: variável dependente: total de votos em 2002.

Considerando que o percentual de votos regi-onais tem impacto direto no total de votos obtidospelo candidato à reeleição e que nenhuma outravariável relacionada à produção legislativa apre-senta-se estatisticamente significativa, é precisoidentificar se o tipo de produção legislativa indivi-dual tem importância na regionalização eleitoral,pois, se sim, a produção legislativa passará a con-tar com impacto indireto sobre o total de votos, jáque interfere na regionalização destes. Caso con-trário, não é possível afirmar que exista algumarelação empiricamente constatável entre o que oDeputado faz no Parlamento e o seu desempenhoeleitoral.

O Gráfico 1 representa a relação entre o nú-mero de votos considerados regionais com o totalde votos obtidos pelos parlamentares. Pode-seperceber que o alto coeficiente de regressão indi-cado no Quadro 12 é facilmente identificado peladistribuição dos casos em torno da curva de re-gressão, que reafirma o alto grau de relação entreas duas variáveis, ou seja, a votação regionalizadatem impacto direto na possibilidade de reeleiçãodo Deputado. No Gráfico, os grupos de parla-mentares reeleitos são representados pela cor ver-melha e os não-reeleitos pela verde, permitindoidentificar também a localização majoritária de cadagrupo dentro da distribuição como um todo. Como

era de se esperar, os deputados não-reeleitos con-centram-se mais próximos da base dos dois eixosdo Gráfico, enquanto os reeleitos estão distribuí-dos ao longo de toda a reta da regressão linear.

GRÁFICO 1 – DISTRIBUIÇÃO ENTRE VOTOSREGIONAIS E TOTAIS

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasilei-ra (s/d).

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O modelo de regressão linear seguinte visa iden-tificar as variáveis que interferem na votação re-gional do parlamentar, visto que esta é capaz deexplicar o total de votos. Foram incluídas novevariáveis de produção parlamentar. Os coeficien-tes indicam que apenas duas delas apresentamresultados estatisticamente significativos para aregressão com “percentual de votos regionais em2002”, conforme mostra o Quadro 13. São elas o“percentual de projetos de lei com abrangênciamunicipal” e “percentual de projetos de lei de

abrangência regional”, ambos positivos, indican-do que para cada percentual a mais de votos regi-onais obtidos foram necessários 0,843 por centoe 0,876 por cento a mais de projetos municipais eregionais, respectivamente. Isso é suficiente paraindicar que os deputados que apresentaram maisprojetos de lei de abrangência local, seja munici-pal ou regional, conseguiram obter um maiorpercentual de votos regionalizados ao final dalegislatura, quando se candidataram à reeleição.

QUADRO 13 – REGRESSÃO LINEAR PARA VOTOS REGIONAIS

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).NOTA: variável dependente: porcentual de votos regionais em 2002.

Como o modelo anterior indicou grande im-portância de votação regional em relação ao totalde votos, é possível afirmar que indiretamente otipo de produção legislativa tem impacto nas pos-sibilidades de reeleição. Isso também pode serpercebido na distribuição da relação entre as vari-áveis que qualificam a produção legislativa indivi-dual e o percentual de votos regionalizados.

Conforme demonstra o Gráfico 2, quanto maioro percentual de produção de projetos de lei deabrangência estadual, menores as chances de ob-tenção de votos regionalizados e, por conseqüên-cia, diminuem-se as possibilidades de reeleição. Oinverso ocorre com o percentual de projetos mu-nicipais, que ao crescer é acompanhado pelo nú-mero de votos regionais, indicando uma relaçãodireta entre as duas variáveis.

GRÁFICO 2 – ABRANGÊNCIA ESTADUAL E VOTAÇÃO REGIONALIZADA

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).

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A mesma relação é percebida quando se com-para a abrangência da produção com o total devotos obtidos na eleição de 2002, controlando portipo de votação (regional, mista ou dispersa). Apartir do Gráfico 3 percebe-se, por meio da curvade regressão linear, tratar-se de uma relação posi-tiva entre percentual de projetos de abrangênciamunicipal e total de votos em 2002. O inversoocorre entre percentual de projetos de abrangência

estadual e total de votos, com uma curva negati-va. Além disso, os deputados com votaçãoregionalizada tendem a apresentar índices maio-res de projetos com abrangência municipal e me-nores de abrangência estadual, confirmando a hi-pótese de que a produção individual de determina-do tipo de projeto de lei pode beneficiar a votaçãoregionalizada, que é um fator fundamental para areeleição.

GRÁFICO 3 – DISTRIBUIÇÃO ENTRE PRODUÇÃO LEGISLATIVA POR TOTAL DE VOTOS EM 2002,CONTROLADA POR TIPO DE VOTAÇÃO

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (s/d).

Os resultados dos testes apresentados até aquimostram a importância da votação regionalizadapara a reeleição de deputados estaduais do Paranáem 2002. Assim como nenhuma variável políticamostrou-se importante para a reeleição, seja opartido a que pertence o parlamentar, a posiçãodo partido no espectro ideológico e o número departidos a que o parlamentar pertenceu durante omandato e coligações eleitorais em 2002. Da mes-ma forma, as variáveis institucionais, tais comobancada a que pertenceu o parlamentar durante omandato, ocupação de cargos na mesa executivae até mesmo posição em relação a temas polêmi-cos, mostraram-se não significativas estatistica-mente para a reeleição do Deputado. Nem mesmoa posição do parlamentar em relação ao projeto delei que autorizou a privatização da Copel, cerca deum ano antes das eleições, apresentou correlaçãoestatística significativa com o número de votos ese o Deputado foi ou não reeleito em 2002.

Quanto à visibilidade do parlamentar, as variá-veis que indicam a quantidade de vezes que oDeputado aparece no principal jornal do estadonão apresentam resultados significativos. A únicavariável significativa é o percentual de citaçõesnegativas na Gazeta do Povo, que tem correlaçãonegativa com “reeleição”, ou seja, independentedo número de vezes que é citado, aquele parla-mentar que, ao aparecer, faz-lo em textos comvalência negativa, tem menores chances de serreeleito. O contrário não é verdadeiro, pois opercentual de citações positivas do parlamentarna Gazeta do Povo mostrou-se não significativopara a reeleição.

Quanto à produção legislativa individual, ele-mento central da análise feita aqui sobre o desem-penho em eleições, também não é possível indicarum impacto no número de votos quanto à quanti-dade de leis individuais apresentadas, percentuais

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de rejeitadas ou aprovadas. Ter produzido maisou aprovado um número maior de projetos nãoteve impacto significativo no desempenho eleito-ral do parlamentar. Porém, os percentuais de pro-dução legislativa regionalizada, com projetos deabrangência municipal ou regional mostraram-sesignificativamente correlacionadas com o maiorpercentual de votos regionalizados. Como essesúltimos são relevantes para a reeleição, a produ-ção legislativa segmentada apresenta-se como prin-cipal variável explicativa dentre as relacionadas àmaior probabilidade de reeleição. Da mesma for-ma, o percentual de produção de projetos de lei deabrangência estadual apresenta uma correlaçãonegativa com a reeleição.

IV. CONCLUSÕES

No início deste artigo foram apresentadas asexplicações presentes na literatura a respeito daatuação parlamentar, sendo que nelas são feitasrelações diretas ou indiretas entre a ação do De-putado ao decorrer do mandato com o objetivo deser reeleito, ou seja, tendo como meta a obtençãode um número maior de votos. Existe uma oposi-ção identificada entre a atuação parlamentar coe-rente e leal à bancada ou ao partido político, poisesse tipo de postura em relação a temas contro-versos que ganham grande visibilidade pode pre-judicar a imagem do Deputado junto a seu eleito-rado. Considerando a hipótese das duas arenas,seria irracional a atuação parlamentar partidaria-mente. Porém, estudos mostram que parlamenta-res brasileiros tendem a ser fiéis às decisões deseus líderes partidários, respeitando as decisõesde bancadas nas votações sobre os principais te-mas, o que poderia gerar um prejuízo ao projetode reeleição do Deputado.

No entanto, é preciso considerar que o parla-mentar pode, além da posição em votações polê-micas, atuar individualmente na representação deseus redutos eleitorais, seja por meio da obtençãode recursos (pork barrel) de políticas públicasimplementadas pelo poder Executivo –via emen-das orçamentárias, por exemplo; seja por meio daatuação na esfera interna do Legislativo, propon-do projetos de leis que atendam a determinadossegmentos ou sub-regiões do distrito eleitoral. Issosignifica que, independente da atuação em temasde grande visibilidade, coletivamente junto à ban-cada partidária, o parlamentar também atende re-giões específicas com iniciativas do próprioLegislativo.

O objetivo deste trabalho foi testar algumasvariáveis que identificam a atuação individual dosdeputados estaduais do Paraná com o seu desem-penho eleitoral posterior, visando identificar pos-síveis correlações. Os resultados mostraram que,independente da atuação coletiva do Deputado,aqueles que apresentaram uma produção indivi-dual localizada geograficamente, com projetos delei de abrangência regional ou municipal, por exem-plo, tenderam a apresentar melhores chances dereeleição.

O primeiro resultado relevante da análise so-bre a 14ª Legislatura da ALEP foi que a votaçãoconcentrada geograficamente, chamada de vota-ção regional, é um importante fator para a reelei-ção do parlamentar. Além disso, os dados indicama existência de uma relação consistente entre otipo de produção legislativa individual do Deputa-do e o seu desempenho eleitoral, comprovandoque apesar de ser fiel à bancada partidária em re-lação a temas polêmicos, quando age individual-mente apresentando projetos de lei de abrangênciasocial segmentada e abrangência geográfica mu-nicipal ou regional, tende a apresentar votaçõesmais localizadas, o que está diretamente relacio-nado à maior possibilidade de reeleição.

É possível afirmar que, no caso em questão,há uma relação direta entre o tipo de produçãoparlamentar individual e o comportamento do elei-tor. Enquanto deputados candidatos à reeleição queproduziram principalmente projetos de abrangênciaestadual tiveram votos dispersos, deputados comprodução localizada apresentaram maiorespercentuais de votos regionalizados, indicando umaconexão eleitoral entre as atividades individuais doparlamentar e a aceitação desse trabalho pelas ba-ses eleitorais. Já a conexão entre a atuação coleti-va do parlamentar, como em temas polêmicos ede grande interesse do Executivo estadual, não semostrou tão forte quanto à anterior.

O importante aqui é a identificação do tipo deestratégia individual que trouxe maiores benefíci-os eleitorais ao candidato à reeleição, já que a atu-ação coletiva no Parlamento tem baixo impactona arena eleitoral e nem todos podem contar coma colaboração do poder Executivo na distribuiçãode pork. Ao final da 14ª Legislatura na ALEP, me-tade dos deputados reeleitos apresentou votaçãoregionalizada, criando na prática umasubdistritalização eleitoral. Dos outros 50%, cer-ca de metade teve votação mista, ficando entre

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PRODUÇÃO LEGISLATIVA E CONEXÃO ELEITORAL NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA

voto regional e disperso. E apenas 23% do totalde reeleitos apresentaram votação dispersa, ou seja,tendo votos em todas as regiões do Paraná, evi-denciando que a concentração de votos em deter-minadas regiões é uma estratégia que resulta emganhos para o parlamentar que pretende serreeleito, mas que depende em grande medida daatuação individual do Deputado no poderLegislativo.

Os resultados mostram ser possível aceitar aidéia de uma arena legislativa centralizada, em quea ação parlamentar independente dos desejos prin-

cipais de reeleição, e de uma arena eleitoralpersonalista, como proposta por Pereira e Muller(2003). Mas indicam também a existência, noParlamento, de uma arena paralela à organizadapor partidos fortes que é onde o parlamentar atuaindividualmente, propondo projetos de lei que de-pendem exclusivamente de recursos legislativospara atingir diretamente suas bases eleitorais. Équando o parlamentar age independente de suabancada, visando principalmente atender as de-mandas de representação de seus eleitores, por-tanto, tendo como objetivo principal a reeleição.

Emerson Urizzi Cervi ([email protected]) é Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitáriode Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e Professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

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OUTRA FONTE

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donné une caractéristique générale, appuyée sur la conception de fin de priviléges, néanmoins sansl’élargissement de la citoyenneté.

Mots-clés : républicanisme ; Paraná ; presse politique ; fédéralisme ; groupe politique.

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PRODUCTION LÉGISLATIVE ET CONNEXION ÉLECTORALE DANS L’ASEMBLÉELÉGISLATIVE DE L’ÉTAT DU PARANÁ

Emerson Urizzi Cervi

L’article intègre les travaux portant sur les relations entre l’arène politique législative et l’arènepolitique électorale, dénommées « connexion électorale ». L’objectif est d’analyser les interactionsentre ces deux arènes dans un système de représentation politique sous-national : le législatif del’état du Paraná. À partir de cette relation entre la production législative individuelle des députésdans la 14ème législature de l’Asemblée Législative de l’État du Paraná (ALEP) et la performanceélectorale de ceux qui disputent la réélection, on cherche à identifier des éventuels résultats électorauxdes candidats à la réélection. À cet effet, outre les résultats électoraux des candidats à la réélection,qui ont donné naissance à une typologie du vote (aussi bien concentrée ou non concentrée au niveaude la région) comme variable dépendante, trois ensembles de variables explicatives sont comprisdans le modèle. Le premier est formé des variables sur la position politique institutionalisée (groupeauquel on appartient ; idéologie ; parti politique ; exercice de fonction auprès de la présidence del’assemblée ; nombre de mandats à l’ALEP ; et position à l’égard de thème polémique). Le secondporte sur la visibilité du mandat (nombre d’apparitions des parlementaires dans le principal journalquotidien de l’État et genre d’apparition). Le troisième groupe de variables explicatives concerne laproduction législative individuelle (type de projet de loi proposé ; portée géographique du projet deloi ; portée sociale du projet de loi ; nombre de projets proposés ; et nombre de projets adoptéspendant le mandat). À partir de l’intersection des variables composant le modèle en testsd’indépendance de moyennes et de regressions, le modèle analytique montre que l’existence d’ungrand rapport entre les votes concentrés dans la région et une plus grande probabilité de réélection.Les variables explicatives sur la position politique et la visibilité du mandat se sont avérées faibles ence qui concerne l’explication pour le type de vote, alors que certaines variables sur la productionlégislative individuelle ont présenté un taux élevé de rapport avec le vote régional et, par conséquent,avec une plus grande possibilité de réélection du parlementaire.

MOTS-CLÉS : connexion électorale ; députés de l’état ; production législative ; état du Paraná.

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constitutional rights and ample recourse to incarceration. In this vein, our contemporary democraticgovernments have frequently adopted a punitive stance that seeks to reaffirm the State’s aptitudesfor punishing and controlling criminality.

KEYWORDS: penal control; incarceration; democratic tutelage; punitive State; Sociology of Violence.

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POLITICAL JOURNALISM AND REPUBLICAN THOUGHT IN LATE 19TH CENTURYPARANÁ

Amélia Siegel Corrêa

The crisis of the Brazilian monarchical regime was accompanied by the emergence and expansionof the republican movement at the end of the 19th century. During that period, the press not onlybecame the stage of institutional debates but also had the role of an informal power, linked to thegovernment and political party organization. It was a press that expressed opinions and created aspace for partisan commentary. Newspaper columns were used to anonymously air that whichcould not be expressed publicly in the Legislative Assembly, the Senate or the House ofRepresentatives, thus constituting an alternative tribune for debate. This article seeks to give voiceto the different republican models that circulated within these state of Paraná newspapers, relatingthem to the configurations they were a part of and with the position that they held within local andnational fields of power. Furthermore, it is important to recognize that the dominant republican ideaswere not disseminated without resistance: rather, they were heard and combated at the local level,although efforts in this regard remained lacking in political force. Our analysis incorporates theBourdieusian perspective according to which discourses are not only signs to be understood anddecoded but also status indicators –seeking to be validated and evaluated – and forms of authority,seeking to be believed and obeyed; in both cases, object of struggles over symbolic power. Analysisof republican discourse shows that Paraná state politics of the late 19th century was more a resultof alliances and tensions between groups than the fruit of clear ideological stands. Discoursesserved mostly as rhetorical weapons which were used to orient intra-elite conflict, moved by thedesire for participation. This gave them a generic character, based on a notion of putting an end toprivilege without widening citizenship rights..

Keywords: Republicanism; Paraná state; political journalism; federalism; political field.

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LEGISLATIVE PRODUCTION AND ELECTORAL CONNECTION IN THE PARANÁ STATELEGISLATIVE ASSEMBLY

Emerson Urizzi Cervi

This article belongs to a field of work that deals with the relationships between the legislative politicalarena and electoral politics, relations that have been referred to as “electoral connection”. Our goalis to analyze the interaction between these two arenas within a system of sub-national politicalrepresentation: the Paraná state legislature. Through looking at the relationship between the indivi-dual legislative action of state representatives within the 14th legislative period of the Paraná StateLegislative Assembly (Assembléia Legislativa do Paraná (ALEP)) and the legislative performanceof those who ran for re-election we seek to identify possible interdependence between individualparliamentary activity and re-election. For these purposes, in addition to putting together a votingtypology on electoral results for candidates seeking re-election (looking at whether voting is regionallyconcentrated or not as dependent variable), our model also includes three sets of explanatory variables.The first is made up of variables regarding institutionalized political position (parliamentary groupaffiliation, ideology, political party, position occupied within the legislature, number of ALEP mandatesserved and position on polemic issues). The second looks at the visibility of the mandate (number of

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times that representatives appear in the most important state daily newspaper and context in whichhe or she appears). The third group of explanatory variables has to do specifically with individuallegislative activity (type of bills proposed, geographic scope of proposal, number of bills proposed,number of projects approved during the mandate.) Through looking at the relationship between thedifferent variables that make up the model in tests for interdependence or regression, our analyticmodel reveals the existence of a strong correlation between regionally-concentrated voting andchances of re-election. Explanatory variables on political position and mandate visibility have a weakability to explain type of voting, whereas some variables on individual legislative production haverevealed a high degree of correlation with regionalized voting and, therefore, with enhanced chancesfor re-election.

KEYWORDS: electoral connection; state representatives; legislative action; state of Paraná.

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