CODATO, Adriano; CERVI, Emerson Urizzi. Institucionalização partidária: uma discussão empírica a partir do caso do PFL do Paraná. In: Adriano Nervo Codato; Fernando José dos

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    INSTITUCIONALIZAO PARTIDRIA:

    CAPTULO DEZ

    UMA DISCUSSO EMPRICA A PARTIR DO CASO DO PFL DO PARAN

    Emerson Urizzi Cervi & Adriano Nervo Codato

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    Ao contrrio da experincia em outros estados do Brasil, o Partido da FrenteLiberal (PFL) no se fortaleceu como a principal agremiao conservadora do Paran apartir da decadncia do PDS na segunda metade dos anos oitenta. Nem foi a alternativapoltica aos integrantes da Arena quando ela foi extinta, no final dos anos setenta. Oslderes de maior prestgio migraram, curiosamente, para o Partido Democrtico Trabalhista(PDT), de Leonel Brizola.

    Seu principal representante no estado, Jaime Lerner, participou da disputa em

    1986 como candidato a vice-Governador, venceu a eleio para Prefeito de Curitiba em1988 e a de Governador em 1994 sempre pela legenda do PDT. Durante todo esse perodo,o PFL ficou no ostracismo por falta de lideranas estaduais fortes e atuantes2. Alm detudo, o PFL seria o nico entre os grandes partidos a apresentar uma trajetria estadualdistintada trajetria nacional. O PMDB paranaense, por exemplo, seguiu a mesma direoque a agremiao em nvel nacional. Nos anos 1980 e incio dos 1990 foi o partidomajoritrio, tendo conseguido eleger trs Governadores consecutivos, que administraramo estado entre 1982 e 19943. Em 1997, o Governador Jaime Lerner, depois de muitasnegociaes, inscreveu-se no Partido da Frente Liberal, dando um impulso formidvel

    estrutura da agremiao.O objetivo deste captulo justamente analisar e discutir a forma de crescimento

    do partido liberal no estado e a natureza desse crescimento.

    1 Verso preliminar deste trabalho foi apresentada no III Encontro da Associao Brasileira de Cincia Poltica ABCP, realizado em Niteri, em julho de 2002. Agradecemos a leitura atenta e os comentrios de Renato MonseffPerissinotto, Mrio Srgio Lepre e Luzia Helena Hermann de Oliveira.2 At meados dos anos noventa, a principal figura do PFL continuou sendo o ex-Governador e ex-Ministro NeyBraga. Em 1982, aps ser derrotado na disputa de uma cadeira no Senado Federal, decidiu no disputar maiscargos eletivos. Ney foi o nico poltico paranaense a assinar o manifesto de fundao da Frente Liberal, em 1984.

    Como ele no participaria mais de eleies depois de 1982, os polticos estaduais conservadores procuraramoutras legendas que contassem com lideranas com o mesmo prestgio e/ou influncia.3 Ver o Quadro 4 do Anexo.

    10. INSTITUCIONALIZAO PARTIDRIA:

    Uma discusso emprica a

    partir do caso do PFL do Paran1

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    Note-se que o controle do governo por determinada agremiao o que constitui,de resto, a base para a distribuio de empregos (cargos) e recursos pblicos em trocade apoio poltico tende a contribuir decisivamente para a institucionalizao partidria,seja no mbito eleitoral, seja no mbito organizacional. Partidos que contam com o

    Presidente, ou com o Governador, ou com um nmero respeitvel de Prefeitos, tendem aavanar eleitoralmente e estruturar-se materialmente, crescendo em importncia junto elite poltica. O exemplo do Partido da Frente Liberal no Paran uma evidncia tpicadisso. O partido s vai ganhar peso efetivo no sistema poltico, no estado, aps 1997.

    Nossa hiptese, entretanto, que a anlise isolada das informaes sobre oincremento eleitoral e a presena institucional do PFL no so suficientes para evidenciarse houve de fato um fortalecimento do partido no Paran a partir da filiao de Lerner.

    O caso do Paran tanto mais relevante quando se considera as caractersticasdo PFL como agremiao nacional. Como se sabe, trata-se de um partido disciplinado

    internamente (o que pode ser visto pelas votaes no legislativo), coesoideologicamente(suas divises internas resultam mais de faces regionais do que de tendncias quedefendem princpios diferentes) e estvel(isto , com baixo ndice de migrao paraoutras legendas)4.

    A avaliao do PFL como uma agremiao poltica coesa, disciplinada, centralizadae articulada mecanismos fundamentais no processo de desenvolvimento einstitucionalizao do partido pode ser lida, por exemplo, em Ferreira (2002). Conformea autora, a sigla tem crescido nas demais regies do pas, deixando, portanto, de ser umpartido de nordestinos. Ela sustenta ainda que

    Os resultados eleitorais [mostram] que o PFL tem-se firmado como umalegenda com expressiva votao, [...] conquistando razovel estabilidadee crescimento eleitoral, que se constituem em indicadores dedesenvolvimento e da institucionalizao partidria. Alm disso, [...] temprocurado difundir um projeto de feio liberal para o Pas. Essaperspectiva articula-se em torno de idias cujo ncleo bsico constitudopela crtica atuao e interferncia do Estado, principalmente na economia

    [...] (Ferreira, 2002, p. 213-214).Por tudo isso, o PFL est longe de representar uma instituio destinadaapenas

    a realizar o interesse poltico-eleitoral de seus lderes.Essa concluso vlida para a agremiao no Paran? Para testar essa afirmao

    analisaremos o desempenho eleitoral e a organizao interna do PFL no estado entre 1986e 2004. As questes que orientam esse estudo so as seguintes: depois de 1997 qual foi ondice de avano eleitoral do partido no estado?5 Nas eleies proporcionais (Deputado

    4 Para os baixos ndices de migrao partidria do PFL, v. Melo, 2000; para sua disciplina em plenrio, v. Figueiredo

    e Limongi, 1995.5 Para uma definio completa do ndice de avano, v. Santos, 1977, p. 215-216. A frmula de clculo (votospartido t1 - votos partido t0)/votos partido t0)/((votos totais t1 votos totais t0)/votos totais t0).

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    6 H pouqussimos estudos sobre partidos e eleies no Paran. Eles so dispersos e rarefeitos. A propsito,ver a lista quase integral: Martins, 1960; Santos, 1964; Balhana, 1969; Franco Sobrinho, 1976; Moura e Kornin,2001; e Cervi, 2002. Os trabalhos mais completos so Oliveira, 1998; e Lepre, 2000.

    federal, Deputado estadual, Vereadores da capital) esses ndices foram significativos econstantes? Qual foi a taxa de crescimento de prefeituras controladas pela agremiao?Essa uma tendncia ascendente ou ao menos estvel? Quais as taxas de disciplina efidelidade partidrias alcanadas pelos liberais no estado?

    O estudo de uma agremiao especfica (PFL) num estado determinado (Paran)deve trazer dois proveitos: alm do aumento do conhecimento sobre a poltica paranaense(cujos preconceitos positivos em torno de algumas de suas lideranas polticas maisconhecidas so renitentes), lana uma luz dimenso poltica regional do sistemapoltico nacional. Definir melhor o perfil estadual dos partidos num regime federativo,imagina- se, central6.

    Este captulo est dividido em quatro sees. Na primeira estipula-se uma sriede critrios metodolgicos a fim de definir e avaliar o grau de institucionalizao dospartidos polticos. A segunda seo resume o desempenho eleitoral e poltico do PFL-PR

    antes e depois de 1997 e determina as razes do crescimento do partido. A terceira seointerpreta o significado desse crescimento e os motivos de sua retrao brusca no perodomais recente. A ltima seo expe algumas explicaes e sugere tendncias eleitoraisfuturas.

    I. UM MODELO DEDUTIVO PARA INSTITUCIONALIZAO PARTIDRIA

    Como, quando e sob que condies pode-se sustentar que um partido poltico

    forte, em sentido amplo, ou est institucionalizado? Qual o ponto timo (se queexiste um) a partir do qual um partido est enraizado no sistema poltico a ponto de nodepender da transferncia de prestgio de uma liderana carismtica ou de um chefelocal?

    A noo de institucionalizaoque utilizamos neste estudo est ligada idia deestabilidade e essa estabilidade teria de se evidenciar em duas dimenses: junto ao eleitoradoe junto elite poltica. O apoio poltico obtido pelo PFL-PR permanente, isto , iria almdo perodo de governo de Jaime Lerner? O partido apresenta baixas taxas de migrao ealta presena nos escales superiores do governo, por exemplo?

    Idealmente, um partido institucionalizado deveria demonstrar fora eleitoralautnomacomo marca de seu enraizamento na sociedade. Essa varivel pode ser medidaseja em funo da independncia da organizao frente a um cacique poltico, seja emfuno do grau de identificao/reconhecimento do eleitorado junto ao partido. Esse traopode ser evidenciado a partir de sries eleitorais razoavelmente longas e da prpriahistria partidria. Uma das condies necessrias da institucionalizao o crescimentoeleitoral (aumento do nmero de cadeiras nos legislativos e aumento do nmero demandatos conquistados nos executivos) e a fixao da preferncia partidria (voto de

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    legenda) num grau relevante. Mas esse critrio representatividade eleitoral tem de sercompletado por um outro: preciso que as bancadas sejam estveis e obedientes.

    Isso nos leva ao segundo critrio: coeso partidriae disciplina organizacional.Coeso partidria e disciplina organizacional so medidas seja pela migrao partidria

    (baixa), seja atravs do comportamento unificado da bancada no legislativo: rejeio(quando na oposio) ou apoio (quando na situao) s iniciativas do executivo nasproposies e votaes mais importantes.

    O terceiro critrio a capacidade de influnciado partido junto s instituiespolticas (governo e legislativo). Seus indicadores so os graus de controle dos recursospolticos do sistema, medidos pela alta presena nos escales superiores do governo(ocupao/indicao de posies relevantes no executivo) ou nas comisses do legislativo,e grande competncia de definio e/ou influncia sobre o processo decisrio, o queequivaleria implementao do programa da agremiao, pelo menos em seus aspectos

    bsicos.A variao desses fatores, em conjunto, indica o coeficiente de implantao da

    agremiao partidria no sistema poltico e sua solidez. Esquematicamente teramos oseguinte:

    Quadro 1

    Variveis selecionadas para determinar a institucionalizao partidriaCRITRIOS

    Continua...

    1) foraeleitoralautnoma

    O QUE

    MENSURADO

    INDICADORES EVIDNCIAS EXEMPLO

    a penetraojunto aoeleitorado(representatividade)

    1. nmero decadeiras nolegislativo/nmero demandatos noexecutivo

    2. grau deidentificao doeleitorado junto

    ao partido

    3. ndice deavano eleitoral

    a. (in)dependnciada organizaofrente a umcacique poltico

    b. fixao daprefernciapartidria

    c. crescimentolquido nonmero devotos do partido

    - crescimentoeleitoralconstante

    - crescimentodo voto delegenda

    - crescimentoreal no nmerode votosobtidos (e node cadeirasconquistadas)

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    Para efeito da anlise aqui empreendida tomaremos cinco indicadorescombinados (distribudos entre os trs grupos) para avaliar o grau de institucionalizao

    ou estabilidade do Partido da Frente Liberal no Paran: o aumento do tamanho das bancadasde Deputados federais, estaduais e Vereadores (da capital), no perodo 1986-2004, almda quantidade de prefeituras controladas pela sigla no estado, no intervalo 1988- 2004; ondice de avano eleitoral; a presena de membros do partido nos escales superiores dogoverno (secretrios); o domnio de comisses no legislativo; e a taxa de permannciados polticos eleitos no partido (para Deputados estaduais). Os outros elementos domodelo proposto no so evidncias secundrias, mas carecem, segundo as informaesde que se dispe no momento, de maior comprovao emprica.

    O primeiro grande critrio permite determinar o crescimento eleitoral e sua

    constncia ao longo do tempo; o segundo mede o grau de adeso partidria, sendo umndice de fidelidade sigla; e o terceiro um indicador do controle de uma parte dosrecursos polticos do sistema pela agremiao.

    2) coesopartidria edisciplinaorganizacional

    3) influnciajunto sinstituiespolticas

    a adesopartidria(fidelidade)

    o controle dosrecursospolticos dosistema(efetividade)

    4. taxa depermannciados membrosno partido

    5. ndice dedisciplinapartidria

    6. taxa depresena nosescalessuperiores dogoverno

    7. taxa depresena/controle decomisses nolegislativo

    8. potencial dedefinio e/ouinfluncia sobreo processodecisrio

    d. baixamigraopartidria

    e. comportamentounificadoda bancada nolegislativo

    f. nvel alto deocupao/indicao deposiesrelevantes noexecutivo

    g. nvel alto deocupao/indicao deposiesrelevantes nolegislativo

    h. grandecapacidade deimplementaodo programada agremiao

    - poucas trocasde agremiaes

    - votaessignificativas deacordo com aposio do lderdo partido

    - nmero nodesprezvel desecretrios deestadopertencentes aopartido

    - tipo de cargosconquistados

    - domnio depresidncias/relatorias decomisses

    - controle damesa diretora

    - realizao depolticas degovernoexemplares

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    II. O PFL DO PARAN: DE PARTIDO DE OPOSIO A PARTIDO DO GOVERNO?

    O panorama da poltica paranaense desde 1982 acompanhou de perto a tendncianacional. No fomos um Brasil diferente. Ao longo dos anos oitenta (e at a primeira

    metade dos noventa), o PMDB converteu-se em partido dominanteelegendo, em seqncia,trs Governadores: Jos Richa em 1982, lvaro Dias em 1986 e Roberto Requio em1990. Durante esses doze anos o PMDB controlou mais da metade das prefeituras doestado, boa parte da representao na Cmara Federal e a maioria das cadeiras na AssembliaLegislativa7.

    A nica agremiao que chegou a rivalizar com o PMDB, mas nunca ameaousua hegemonia, foi o PDT de Jaime Lerner que em 1988 conquistou a prefeitura deCuritiba8. O Partido da Frente Liberal, que teve um crescimento importante aps suafundao em janeiro de 1985, convertendo-se num dos principais partidos nacionais,

    participando de todos os governos desde a Aliana Democrtica (1985) at 2002, semprefoi, no Paran, uma organizao acessria, praticamente inexistente no cenrio poltico9.

    A fragilidade inicial do PFL-PR tem uma razo trivial: os principais integrantesdo PDS paranaense que romperam com a ala malufista do partido no fundaram o PFL,como aconteceu em outros estados. Eles se dividiram em grande parte entre o PDT e oPTB. Na poca, o ento ex-Prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, depois de uma carreira bem-sucedida na Arena, e uma passagem pelo PDS, optou pelo Partido Democrtico Trabalhista,levando consigo boa parte dos quadros polticos que logo em seguida viriam constituir-sena principal alternativa partidria aos governos do PMDB.

    A histria eleitoral do PFL-PR at a segunda metade dos anos noventa , como sever a seguir, ilustrativa da sua insignificncia frente a essas duas siglas (PDT e PMDB) edo carter secundrio do partido na poltica local.

    II.1 Desempenho poltico e histria eleitoralII.1 Desempenho poltico e histria eleitoralII.1 Desempenho poltico e histria eleitoralII.1 Desempenho poltico e histria eleitoralII.1 Desempenho poltico e histria eleitoralEm 1985 o PFL coligou-se com o PDT para apoiar o candidato Jaime Lerner nas

    eleies para a prefeitura de Curitiba. Lerner ficou em segundo lugar. O candidato vitoriosofoi Roberto Requio, do PMDB. Nas eleies de 1986 o PFL no apresentou candidato a

    Governador. O partido aliou-se ao PDT, PMB e PJ e apoiou o candidato do PMB, AlencarFurtado, que ficou em segundo lugar, sendo derrotado por lvaro Dias (PMDB). Nesseano, o partido elegeu uma bancada de cinco Deputados federais e oito Deputados estaduais(ver Tabelas 1 e 2). O PMDB fez maioria absoluta em ambas as casas (cf. Quadro 4, emanexo). Nas eleies de 1988 o PFL elegeu 36 Prefeitos, o que representou apenas 11%dos 317 municpios do Paran, tendo ficado em terceiro lugar (ver Tabela 3). O PMDB,partidodo governo, elegeu o maior nmero de Prefeitos: 162, ou 51%. Em segundo ficou

    7 Uma viso mais precisa dessas informaes pode ser lida na Tabela 3 e no Quadro 4, do Anexo. Sobre o PMDB-PR nos anos oitenta, cf. Oliveira, 1998, p. 65-120.8 Para uma descrio detalhada da trajetria poltica de Jaime Lerner, v. Braga, 2002.9 Ames sublinha, a propsito, a fraqueza eleitoral dos partidos de direita (PFL, PPB e PTB) no Paran emcomparao com o vizinho Santa Catarina (Ames, 2000, p. 110-116).

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    o PTB, com o controle de 65 cidades, ou 20,5% das prefeituras (ver Tabela 3). EmCuritiba, o PFL no apresentou novamente candidato e conseguiu eleger apenas trsVereadores de um total de 33 (o PMDB ficou com 12 cadeiras; ver Tabela 4).

    No pleito de 1990 o PFL collorido coligou-se ao PDC, ao PSC e ao PRN, e apoiou as

    pretenses eleitorais do candidato Jos Carlos Martinez (PRN) ao governo do estado. AoSenado, lanou a candidatura de Paulo Pimentel, mal-sucedida. Foram eleitos quatro Deputadosfederais e seis estaduais, o pior desempenho da agremiao at ento (com um ndice deavano negativo; ver Tabelas 1 e 2). Nas eleies de 1992 o Partido da Frente Liberal elegeu39 prefeitos, ou 10,5% dos 370 municpios, tendo ficado em quinto lugar, confirmando atendncia de queda junto ao eleitorado estadual iniciada em 1990. Em primeiro lugar ficounovamente o partido do governo, o PMDB, com 138 prefeituras (ou 37%) (ver Tabela 3). APrefeito de Curitiba o PFL lanou Luciano Pizzatto, que ficou em terceiro lugar na disputa queconsagrou a vitria do candidato do PDT, o lernista Rafael Grecca; o partido, mais uma vez,

    elegeu uma bancada de trs Vereadores, apenas 9% da casa (ver Tabela 4). Em 1994, o PFLnovamente no apresentou candidato prprio ao governo do estado, nem ao Senado, eapoiou a candidatura de Jaime Lerner, do PDT. O partido melhorou seu desempenho naCmara Federal e elegeu 6 Deputados, 14% do total de votos (ver Tabela 1), mantendo suabancada na Assemblia Legislativa: seis representantes tambm (ver Tabela 2). Nas eleiesmunicipais de 1996, todavia, o PFL fez apenas 37 Prefeitos, o que representou pouco mais de9% dos municpios do estado, tendo ficado em quinto lugar, pouco frente mesmo dofraqussimo PPB. Em primeiro ficou o PDT, partido do Governador, com 111 prefeitos ou28% das cidades (ver Tabela 3). Em Curitiba, o PFL coligou-se com o PDT e outros partidos(PPB/PTB/PSC) em apoio a Cssio Taniguchi (PDT), afilhado poltico de Lerner, que foi ocandidato escolhido. Na Cmara Municipal o PFL fez uma bancada de quatro Vereadores, uma mais do que nas outras disputas (ver Tabela 4).

    Na bancada federal do Paran, o partido manteve, de 1986 a 1998, a mdia decinco parlamentares por legislatura, s ultrapassando os 20% de votos vlidos em 1998 (cf.Tabela 1). Porm, em 2002 o PFL experimentou uma retrao significativa no seu desempenho

    Tabela 1Desempenho do PFL nas eleies para deputado federal do Paran (1982-

    2002)ANO

    1982 2.730.2661986 3.058.914 470.641 15,39 51990 2.258.126 217.850 9,65 4 -2,051994 2.287.868 390.319 14 6 3,371998 4.223.167 881.375 20,87 6 2,44

    2002 5.146.730 363.093 7,05 2 -2,68

    TOTALVOTOS

    TOTALVOTOS PFL

    % DOTOTAL

    N DECADEIRAS

    NDICE DEAVANO*

    Fonte: TRE-PR. Compilao dos autores.* O ndice da ltima coluna da tabela diz respeito ao avano no total de votos do PFL-PR.

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    Em 1997 Jaime Lerner ingressou no PFL-PR, ao final de seu primeiro mandatocomo Governador do estado (1995-1998). Pode-se a partir da dividir a histria dopartido no Paran em duas fases bastante distintas.

    Durante todo o primeiro perodo de governo, Lerner teve de optar entre manter-se fiel ao PDT de Leonel Brizola, candidato derrotado nas eleies de outubro de 1994para a presidncia da Repblica, ou aproximar-se do governo de Fernando HenriqueCardoso (PSDB). Apesar de ideologicamente mais ntimo do segundo que do primeiro, oGovernador paranaense esforou-se por protelar a deciso o mximo possvel. Aprovadaa legislao que autorizava Governadores, Prefeitos e Presidente da Repblica postularem

    a reeleio, ele desejou transferir-se para o partido do governo federal. Todavia, graas aoapoio do ento Ministro das Comunicaes e conselheiro poltico de Fernando Henrique,Srgio Motta, o ex-Governador lvaro Dias candidato derrotado pelo prprio Lerner na

    Tabela 2

    Desempenho do PFL nas eleies para deputado estadual do Paran (1982-2002)

    ANO

    1982 2.705.436

    1986 3.113.887 417.657 13,41 81990 2.554.742 213.531 8,36 6 -2,721994 3.201.212 361.738 11,3 6 2,741998 4.433.259 989.060 22,31 12 4,512002 5.189.688 575.987 11,09 7 -2,47

    TOTALVOTOS

    TOTALVOTOS PFL

    % DOTOTAL

    N DECADEIRAS

    NDICE DEAVANO*

    Fonte: TRE-PR. Compilao dos autores.* O ndice da ltima coluna da tabela diz respeito ao avano no total de votos do PFL-PR.

    eleitoral, alcanando apenas 7% dos votos vlidos e apenas duas cadeiras, sua piorperformancedesde 1986. Isso fez com que o ndice de avano da bancada casse para -2,68,voltando a ser um pequeno partido no estado. Voltaremos a esse ponto mais adiante.

    Como agremiao secundria e de oposio aos governos do PMDB at 1994, os

    representantes do PFL, como seria de se esperar, no ocuparam postos importantes nemna mquina governamental, nem na Assemblia Legislativa (ALEP). O partido controlouentre 8 (mximo) e 6 (mnimo) cadeiras nas eleies de 1986, 1990 e 1994, com um tetode 13% dos votos vlidos para Deputado estadual (isso na primeira eleio que disputou,em 1986). Mesmo aps 1994, quando apoiou o candidato vitorioso ao governo do estado,Jaime Lerner (PDT), sua participao na ALEP continuou sendo meramente acessria.Com apenas seis Deputados (ver Tabela 2), foi a segunda menor bancada eleita em 1994entre os partidos relevantes, empatando com o PTB e superando apenas o pouco expressivoPT, que elegeu cinco parlamentares. O PMDB conquistou 12 das 54 cadeiras na Assemblia,

    permanecendo como o maior partido da Casa.

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    10 O PDT elegera a maior bancada governista em 1994, com nove deputados. Aps a transferncia de Lerner parao PFL, a s igla ficou com apenas trs parlamentares. V. Lepre, 2000, p. 73-76.11 Entre 1995 e 1997 o PFL perdeu apenas um Deputado, Carlos Xavier Simes, que se transferiu para o PSDBe depois para o PTB.12 O ano mais intenso de migraes na bancada de Deputados federais do PFL do Paran fora, porm, em 1991.Os deputados eleitos em 1989 pelo PRN, Max Rosenmann, Luciano Pizzatto e Baslio Vilani, trocaram a legendapelo PFL em agosto de 1991. A justificativa apresentada era simples: que o principal representante do governoCollor no Paran era o ento Ministro da Sade, Alceni Guerra, do PFL, e no mais o ex-candidato a Governador,Luis Carlos Martinez, do PRN. Na legislatura de 1991 a 1995 a bancada de seis Deputados estaduais recebeu trsnovas filiaes: Carlos Xavier Simes (eleito pelo PMDB, passou pelo PL antes de entrar no PFL em dezembro de1993) e Nelson Garcia, eleito pelo PRN. Nessa legislatura a bancada do PFL perdeu Antonio Costenaro Neto parao PP em janeiro de 1993 e Dulio Genari, fi liado ao PP em janeiro de 1994. Para a legislatura 1987 a 1991 o partido,que havia eleito oito Deputados Assemblia Legislativa, no contou com nenhuma filiao. Nesse perodo, a

    bancada do PFL apenas perdeu Deputados. Ezequias Losso foi para o PL em setembro de 1987, Lindolfo Jniorpassou para o PTB em setembro de 1987, PMDB em julho de 1988 e PL em outubro de 1989. David Cherigatefoi para o PRN em julho de 1989.

    eleio de 1994 e recm-filiado ao PSDB conseguiu barrar interferncias federais pr-Lerner e evitou, dentro do diretrio regional, a admisso do Governador do estado noPartido da Social Democracia Brasileira.

    A alternativa mais imediata e vivel quela altura foi inscrever-se no PFL, a legenda

    politicamente mais prxima do presidente depois do PSDB. Assim, em setembro de 1997,em funo de uma contingncia poltica, com fichas abonadas pelo vice-Presidente daRepblica, Marco Maciel, o chefe do governo estadual paranaense, mais vrios outrospolticos (secretrios de estado, assessores, lideranas regionais, Prefeitos do interior),transferiram-se para o Partido da Frente Liberal. Comea assim a segunda fase da agremiaono estado: a fase do PFL gigante.

    Em poucas semanas, o PFL deixou de ser um partido praticamente inexistente epassou a potncia poltica. Para os pefelistas genunos, o agigantamento do PFL trouxebenefcios. Com a entrada do grupo poltico de Lerner o PFL ganhou a fora e o prestgio

    de novas lideranas. Em fins de 1997 o partido transformou-se na principal fonte derecrutamento para posies no legislativo e cargos no executivo. Alm de ser agora opartido do governador, passou a contar com a maior bancada na Assemblia (ao lado doPTB) por conta da intensa migrao dos deputados que deixaram o PDT10.

    Na Assemblia Legislativa, a bancada do PFL sempre apresentou algumamovimentao, mas o perodo mais intenso de trocas de legendas foi justamente emagosto e setembro de 1997, quando recebeu 13 novos parlamentares em uma bancada deseis deputados, eleita em 199411. Ingressaram no PFL, vindos do PDT, Luiz Carlos Martins,Luiz Acorsi Motta, Edno Guimares, Nelson Tureck, Walmor Trentini e Julio Ando (os doisltimos, suplentes do partido). Da bancada do PTB saram Luiz Carlos Alborguetti, JosAlves dos Santos, Anbal Kury e Eduardo Trevisan. Da bancada do PMDB desembarcaramno PFL Durval Amaral e Cleiton Crisstomo. Da bancada do PP, Geraldo Cartrio (queantes havia passado pelo PTB)12. O quadro abaixo mostra o histrico partidrio dosDeputados estaduais que se transferiram para o PFL em 1997 e permaneceram depois de1998.

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    Em 1998 os pefelistas do Paran foram para sua primeira campanha majoritriano estado com seu governador candidato reeleio e uma das mais competitivaschapas para as eleies proporcionais. O PFL no lanou candidato a Senador por opodo partido13. Jaime Lerner foi eleito em primeiro turno, com 52% dos votos vlidos,enquanto Roberto Requio ficou com 46%. Os outros dos candidatos juntos fizeramapenas 2% dos votos vlidos.

    Alm de reeleger o Governador, o PFL tambm fez a maior bancada de Deputadosestaduais, com 12 cadeiras (ndice de avano: 4,51; ver Tabela 2), dobrando, portanto, sua

    representao em relao a 1994 e batendo o todo-poderoso PMDB14. Na bancada federal13 Segundo consta, houve um acordo branco entre Jaime Lerner e lvaro Dias. Ao retirar-se da disputa nicacadeira ao Senado, o PFL praticamente garantiria a eleio de lvaro ao posto. Em contrapartida, o PSDB nolanaria candidato ao governo, permitindo a polarizao Jaime Lerner versusRoberto Requio (PMDB), o que,imaginava-se, ajudaria a evitar um eventual segundo turno. Foi o que ocorreu.14 No pleito, o PTB conquistou onze vagas na AL e o PPB, oito. Os trs maiores partidos em nmero de deputados,31 representantes (57,5% do total), fizeram parte da coligao de apoio reeleio do Governador. O PSB, comdois Deputados eleitos, o PSC, com uma cadeira, e o PSDB, com seis, no fizeram parte da coligao, mas deramapoio ao executivo (somando mais 16,5% das vagas). Um Deputado do PSDB sempre se posicionou contrrio maioria da bancada e votou contra o governo. A oposio ficou com apenas 26% das vagas depois da eleio,

    distribudas da seguinte forma: sete para o PMDB, quatro para o PT e trs para o PDT. Aqui tambm houvedissidncias: dois deputados do PDT comearam o mandato votando com o governo, mas no finalresolveram romper publicamente com a base aliada e juntar-se oposio.

    Quadro 2

    Carreira partidria dos parlamentares do PFL-PR (1982-1999)1999

    Fonte: TRE-PR. Compilao dos autores.* Outubro de 1997 (um ms depois da filiao de Jaime Lerner e ltimo prazo para troca de partido).** Deputados eleitos originalmente pelo PFL.*** Suplentes de Deputado que assumiram o mandato em janeiro de 1999.

    DEPUTADOS ESTADUAISAnibal Khury PFL PFL PTB PTB PMDB PMDBBaslio Zanusso** PFL PFL PFL PFL PFL PDSCleiton Kielse Crisstomo PFL PFL PMDBEdno Guimares PFL PFL PDTEduardo Trevisan PFL PTBlio Rusch** PFL PFL PFL PFLGeraldo Cartrio PFL PFL PP PDTHidekazu Takayama** PFL PFL PFLJos Durval Amaral PFL PFL PMDB PMDBJos Marcos Alves dos Santos PFL PTB PTBJulio Hideo Ando PFL PDT***Luis Carlos Alborghetti PFL PFL PTB PRN PMDB

    Luiz Carlos Martins Gonalves PFL PDT PMDBLuiz Roberto Accorsi PTB PFL PDTNelson Garcia** PFL PFL PFL PRNNelson Tureck PFL PFL PDTPlauto Mir Guimares Filho** PFL PFL PFL PFLReny Borsatto** PFL PFLWalmor Trentini PFL PDT**

    1997* 1995 1991 1987 1982

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    no houve a mesma transferncia de prestgio do lder poltico para a sigla, e o partidopermaneceu com seis parlamentares na Cmara dos Deputados, mas superou enfim a barreirados 20% dos votos vlidos (cf. Tabela 1), seu mais expressivo desempenho at ento15.

    Na esfera municipal esse crescimento significativo tambm se verificou. Em

    1996 o Partido da Frente Liberal elegeu prefeitos em menos de 10% dos municpios,mantendo aperformancehistrica de 1992 e 1988. Em 2000, foi quem mais conquistouprefeituras, oitenta (20% dos municpios), superando o PDT, que no pleito anterior fizeraperto de 30% das cidades do Paran. Em 2000, o Partido Democrtico Trabalhista ficoureduzido a apenas 18 cidades (4,5%; ver Tabela 3)16.

    Tabela 3

    Prefeitos eleitos segundo partidos polticos Paran (1988-2000)

    PMDB 162 (51,1%) 138 (37,29%) -24 74 (18,74%) -64PTB 65 (20,5%) 40 (10,81%) -25 54 (13,53%) 14PFL 36 (11,35%) 39 (10,54%) 3 (0,81%) 37 (9,2%) -2 (-1,34%)PDT 25 (7,88%) 40 (10,81%) 15 (+2,93) 111 (27,81%) 71(PDS) PPB 13 10 -3 35 28PSDB 0 15 15 73 58PT 2 1 -1 6 5Outros 20 88 9TOTAL 323 371 48 399 28

    ELEIES/PARTIDOS

    PMDB 73 (18,29%) -1 121 (30,25%) 48PTB 40 (10,02%) -14 24 (6%) -16PFL 80 (20,05%) 43 (+10,85%) 25 (6,25%) -55PDT 18 (4,51%) -93 44 (11%) 26(PDS) (PPB) PP 28 -7 38 (9,5%) 10PSDB 89 16 50 (12,5%) -39

    PT 7 2 29 (7,25%) 22Outros 64 69TOTAL 399 400

    2000 (399MUNICPIOS)

    VARIAO2000/1996

    AUMENTO DIMINUIO(+) ( - )

    2004 (400MUNICPIOS)

    VARIAO2004/2000

    AUMENTO DIMINUIO(+) ( - )

    Fonte: Dados adotados e recalculados a partir de Dria, 2001, Tab. 1, p. 72, e Tab. 3, p. 96.Para o ano de 2004, dados do TRE-PR, compilao dos autores.

    15 De uma bancada de trinta Deputados na Cmara Federal, o PFL do Paran conseguiu, em 1998, seis vagas,empatando com o PTB. Em seguida vieram o PSDB e o PPB, com cinco Deputados eleitos cada um. Depois o PMDB

    com quatro, o PT com trs e o PDT com um.16 O PMDB tambm perdeu muitas prefeituras quando deixou o governo do estado: em 1992 (sob a administraoRequio) fez 138 municpios (37% do total); em 1996 (sob a administrao Lerner) perdeu 64 cidades.

    ELEIES/PARTIDOS

    1988 (317MUNICPIOS)

    VARIAO1992/1998

    AUMENTO DIMINUIO(+) ( - )

    1996 (399MUNICPIOS)

    VARIAO1996/1992

    AUMENTO DIMINUIO(+) ( - )

    1992 (370MUNICPIOS)

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    17 O deputado Khury j tinha sido presidente da Assemblia por duas gestes, mas no estava filiado ao PFL.18 O partido ocupou funes mais elevadas tambm em Comisses Especiais. Em 2000 o Deputado Plauto MirGuimares foi vice-presidente da Comisso Especial de Investigao do Cartel dos Supermercados. Em 2001Plauto foi novamente Vice-Presidente da Comisso Especial de Investigao da Sanepar (Companhia de Saneamento

    do Paran).19 Esse um nmero aproximado em funo das repetidas modificaes no nmero de secretarias, fuses dergos e da criao de Organizaes Sociais, que as substituram.

    Nas eleies em 2000 para prefeito da capital e para a Cmara de Vereadores deCuritiba o partido teve o mesmo desempenho exibido na Assemblia Legislativa.

    Depois de 1997, o PFL dobra no somente a bancada na Assemblia, mas onmero de Prefeitos eleitos e o nmero de Vereadores em Curitiba, que passam de quatropara nove, controlando mais de 21% dos eleitores da capital. Reelege tambm o prefeitode Curitiba, Cssio Taniguchi (ex-PDT).

    II.2 A influncia do PFL na Assemblia Legislativa e no executivo estadualII.2 A influncia do PFL na Assemblia Legislativa e no executivo estadualII.2 A influncia do PFL na Assemblia Legislativa e no executivo estadualII.2 A influncia do PFL na Assemblia Legislativa e no executivo estadualII.2 A influncia do PFL na Assemblia Legislativa e no executivo estadual

    Alm do avano eleitoral importante no intervalo 1998-2000, o PFL ganhou podertambm na esfera parlamentar e no executivo estadual. Em 1998 elegeu pela primeira vezo presidente da Assemblia Legislativa do Paran, Anbal Khury17. Passou tambm a contarcom funes importantes nas principais comisses parlamentares e a ocupar posies-chave em comisses especiais. A Comisso Permanente de Constituio e Justia, poronde passam todos os projetos que tramitam na Assemblia, foi presidida pelo DeputadoBaslio Zanusso. Alm dela, o partido comandou a Comisso de Agricultura, Indstria eComrcio (Deputado Plauto Mir Guimares) e a Comisso de Ecologia e Meio Ambiente(Deputado Kilse Crisstomo)18.

    Na esfera do poder executivo o PFL tambm ganhou fora. Apesar de ter feitoparte da coligao que elegeu Lerner em 1994, o partido no havia conseguido indicarnenhum secretrio de estado at 1997. Desde a filiao do Governador, o PFL passaria acontar com cerca de um tero dos secretrios estaduais19.

    Tabela 4

    Desempenho do PFL na bancada municipal de Curitiba (1988-2000)ANO TOTAL

    VOTOS

    Fonte: TRE-PR. Compilao dos autores.* O ndice da ltima coluna da tabela diz respeito ao avano no total de votos do PFL.

    1988 672.614 49.032 7,95 3 01992 747.674 56.869 7,6 3 1,431996 819.953 73.978 11,88 4 3,112000 927.260 191.603 21,13 9 12,152004 1.009.045 105.927 10,49 5 -5,5

    TOTALVOTOS PFL

    % DOTOTAL

    NCADEIRAS

    NDICE DEAVANO*

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    Quadro 3

    Secretrios de estado filiados ao PFL nos governos Lerner (1995 - 1998e 1988 - 2002)

    SECRETRIODE ESTADO

    Fonte: Ncleo de Pesquisa em Sociologia Poltica Brasileira - Universidade Federal do Paran (UFPR).

    1. Silvio Barros II 1995-1996 Esporte e Turismo PFL PFL2. Cndido Martins 1995-1998 Segurana Pblica ARENA/Oliveira sem part. PFL1. Jos Cid Campelo 1998-1998 de Governo PDT PFLFilho3. Cssio Taniguchi 1995-1996 Planejamento e Coordenao PDT PDT4. Lubomir Ficinski 1995-1998 Desenvolvimento Urbano PDT PDT

    Dunin5. Giovani Giondis 1995-1997 Governo PDT PDT/PFL6. Hitoshi Nakamura 1995-1998 Meio Ambiente PDT PDT/PFL7. Rafael Greca 1997-1997 Planejamento e Coordenao PDT PFL8. Reinhold Stephanes 1995-1998 Administrao PFL PFLJr.9. Alceni Guerra 1997-1998 Casa civil PFL PFL10. Nelson Justus 1996-1998 Indstria, Comrcio e do PTB PFL

    Desenvolvimento Econmico

    Banco oficialIngo Hbert 1995-1997 Banestado sem partido PFLManoel Campinha 1997-1999 Banestado PFL semGarcia Cid partido

    SUB-PERODO

    SECRETARIA PARTIDO DEORIGEM

    PARTIDO NOGOVERNO

    Segundo Governo (1998-2002)SECRETRIODE ESTADO

    SUB-PERODO

    SECRETARIA PARTIDO DEORIGEM

    PARTIDO NOGOVERNO

    1. Alex Canziani 1999-1999 Emprego e Relaes PTB PFL

    do Trabalho2. Jos Tavares Silva 1999-2000 Justia e da Cidadania PTB PFLNeto3. Carlos Henrique S 2000-2000 Comunicao Social PFL PFLde Ferrante4. Mnica Rischbieter 2000-2001 Cultura PDT /PSB PFL5. Alceni Guerra 2000-2002 Casa Civil PFL PFL6. Jos Andreguetto 2000-2002 Meio Ambiente sem partido PFL7. Ricardo Cunha 2000-2002 Administrao sem partido PFLSmijtink8. Guaracy Andrade 2000-2002 Integrao Regional PDT/PFL PFL

    Primeiro Governo (1995-1998)

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    II.3 O comportamento da bancada do PFL na ALEPII.3 O comportamento da bancada do PFL na ALEPII.3 O comportamento da bancada do PFL na ALEPII.3 O comportamento da bancada do PFL na ALEPII.3 O comportamento da bancada do PFL na ALEPA partir de 1997 a bancada do Partido da Frente Liberal na Assemblia tornou-se

    a base de sustentao do governo. Em todas as votaes importantes concesses paraprivatizao das rodovias estaduais; instituio de um novo sistema de previdncia pblica

    e assistncia mdica (Paran Previdncia); e autorizao para a privatizao da companhiade energia do estado (Copel) o governo obteve maioria simples de votos em funo doapoio principalmente do PFL e do PTB. Duas delas merecem destaque.

    Em dezembro de 1998, ao fim da ltima legislatura, foi votado na AssembliaLegislativa o projeto de lei que criava o novo sistema de previdncia e assistncia dosservidores pblicos, o Paran Previdncia. O sistema substitua o extinto IPE (Institutode Previdncia do Estado) e sofreu muitas crticas, principalmente de representantessindicais das categorias de funcionrios pblicos20. Os Deputados do PFL votaram embloco a favor da proposta e garantiram sua aprovao.

    Outro projeto polmico do governo Jaime Lerner foi a proposta, formalizada noincio de 2001, para a privatizao da Companhia Paranaense de Eletricidade (Copel) emoutubro do mesmo ano. Desde o incio a iniciativa do executivo estadual recebeu crticasde importantes setores da sociedade21. Apesar da presso e do inevitvel desgaste poltico,todos os deputados do PFL votaram a favor da venda da companhia. A medida foi aprovada.

    Essas duas votaes evidenciam o grau de unio do PFL em torno do executivoestadual, sua disciplina como partido do governo e sua fora relativa diante das outrasagremiaes na Assemblia.

    Parece certo, portanto, afirmar que o PFL s ganha importncia eleitoral, polticae parlamentar como partido no Paran apenas aps a entrada na agremiao de JaimeLerner. Contudo, o PFL-PR constituiu-se, a partir de 1997, em um partido para o governoe no num partido de governo.

    III. CENTRALIDADE RELATIVA NA POLTICA ESTADUAL:RENDIMENTO ELEITORAL E NDICE DE PERMANNCIA

    Com base nos dados eleitorais, que indicam um crescimento real da sigla no

    20 Pelo IPE, os cerca de 200 mil servidores da ativa e aposentados tinham direito a consultas e tratamentos mdicosem todas as cidades do Paran. Com o Paran Previdncia, apenas hospitais credenciados poderiam realizartratamentos, que seriam pagos pelo plano de sade estadual. Alm dos problemas relativos assistncia mdica,o projeto do governo apresentava um problema poltico ainda maior para seus defensores: quando aprovado,no tinha nem previso oramentria, nem definia a origem dos recursos para manuteno dos pagamentos dasaposentadorias e penses.21 Dirigentes de entidades que normalmente davam seu apoio ao governo Lerner, como a Federao das Indstriasdo Estado do Paran (FIEP) e a Associao Comercial do Paran (ACP), manifestaram-se oficialmente contrrios privatizao da Copel. At mesmo a imprensa local, que quase nunca adota posies antigovernistas, alinhou-se contra a privatizao da Companhia, atravs da associao que representava os donos de veculos de

    comunicao do Paran. Paralelamente, nos meses que antecederam a votao do projeto que permitia o leiloda maioria acionria da empresa, partidos de oposio organizaram uma coleta de assinaturas em todas asregies do Paran a fim de apresentar um projeto de lei de iniciativa popular que impedia a privatizao.

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    estado a partir das eleies de 1998, e no aumento da participao do partido em postosno governo e na Assemblia, seria justo pensar que o PFL-PR estaria se institucionalizando,a exemplo do que aconteceu com o PFL em nvel nacional.

    Porm uma anlise mais detalhada do partido (da sua votao e da dinmica de

    suas bancadas) no perodo posterior ao ingresso do Governador Lerner mostra que, aoinvs de crescer, o partido inflou e, ao invs de se transformar no partido do governo,tornou-se um partido para o governo. Seu novo papel diz respeito prioritariamente governabilidade (e a exigncia da derivada de formao de maiorias estveis); ele nose tornou uma mquina poltica destinada a ocupar e/ou controlar o executivo estadual ouseus centros decisrios principais.

    A fim de evitar concluses pouco fundamentadas, compare-se o rendimentodos liberais com outros partidos de governoem perodos anteriores. A anlise docomportamento eleitoral do PFL no interior do Paran nas eleies municipais de 2000

    as primeiras com a presena do Governador no partido sugere que se deva relativizaro fortalecimento da sigla no perodo recente. Voltaremos a esse ponto mais adiante.Analise-se igualmente a bancada eleita de Deputados estaduais do PFL na legislatura 1998-2002 na Assemblia estadual. Sob nenhum ponto de vista tratou-se de um grupo politicamentehomogneo (apesar da coeso nas votaes, como se viu).

    At a entrada do Governador Lerner, a bancada do partido na Assemblia possuaseis cadeiras e seus integrantes tinham um perfil poltico muito bem definido. Dessa fasedo PFL original, faziam parte do partido, por exemplo, o deputado Baslio Zanusso, umdos fundadores da agremiao no estado, em 1985. Com o extraordinrio crescimento dasigla a partir de 1997 surgiu uma nova ala, formada principalmente por migrantes recm-chegados do PDT. O desenvolvimento de conflitos entre as duas faces do partido nodemorou muito a aparecer. Depois da reeleio do Governador, em 1998, os pefelistasoriginais perceberam que os ex-pedetistas haviam tomado conta da mquina partidria,em prejuzo dos interesses histricos dos quadros originais22.

    III.1 Os prefeitos do ParanIII.1 Os prefeitos do ParanIII.1 Os prefeitos do ParanIII.1 Os prefeitos do ParanIII.1 Os prefeitos do ParanDo ponto de vista estritamente eleitoral, a Tabela 3 sugere algumas concluses

    interessantes.Enquanto controlou o governo do estado, durante os anos oitenta e na primeirametade dos noventa, o PMDB conseguiu eleger 51% prefeitos dos municpios paranaensesem 1988 e 37% em 1992. Nas eleies municipais de 1996 o partido j tinha deixado o

    22 O ponto de maior tenso entre adventcios e autnticos deu-se em 2000, quando o Deputado Abelardo Lupion(representante dos segundos) resolveu candidatar-se a presidente do diretrio estadual contra o grupo doGovernador Lerner. Representante destacado dos ruralistas, Lupion queria ver cumpridos 57 mandados judiciaisde reintegrao de posse de propriedades rurais invadidas pelo MST no estado, deciso adiada pelo Secretriode Segurana Pblica (Cndido Martins de Oliveira). A candidatura promoveu um racha interno e o partidoquase se dividiu. Foi preciso a indicao do ex-Governador Joo Elsio Ferraz de Campos, um nome de consenso

    entre os governistas e os genunos, para impedir dissidncias maiores. Lupion retirou sua candidatura e JooElsio, que vive no Rio de Janeiro, onde preside uma federao nacional de empresas seguradoras, foi eleitopresidente estadual do PFL.

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    executivo e fez apenas 18,5% de prefeitos, mantendo praticamente o mesmo ndice em2000 (perdendo apenas uma cidade), com 18% (ver Tabela 3).

    J o PDT, enquanto esteve na oposio ao governo estadual, conquistou 8% dascidades em 1988 e quase 11% em 1992. Nas eleies municipais de 1996 o partido, que

    contava com o apoio do Governador Lerner, quase conseguiu triplicar o nmero deprefeituras, chegando a 28% dos candidatos eleitos (o que significa um aumento de quase200%). Em 2000, fora do governo, o PDT s alcanou 4,5% das prefeituras do Paran.

    O PFL, por sua vez, tinha pouco mais de 11% de Prefeitos eleitos em 1988,10,5% em 1992 e 9% em 1996, mantendo praticamente os mesmos ndices durante todoo perodo em que esteve na oposio. Em 2000, com o apoio, prestgio, cargos e verbasdo Governador, o partido mais que dobrou o nmero de cidades sob seu controle. Fez20,5% dos Prefeitos eleitos, um crescimento expressivo.

    Todavia uma leitura mais atenta desses nmeros indica que, apesar da presena

    de Lerner e do visvel avano eleitoral, o PFL no conseguiu fortalecer sua presena nointerior: no perodo dos seus governos o PMDB chegou a ter nada menos do que 51% dasprefeituras. At mesmo o PDT, partido do Governador nas eleies de 1996, conseguiumelhor desempenho nos municpios (28%) do que o PFL em 2000. O avano eleitoral nofoi acompanhado por um enraizamento do partido fora de Curitiba, num movimento decapilarizao.

    Deputados indicam o fato do Governador no ser um homem de partidocomo responsvel pelo crescimento relativoda sigla23. Alm disso, o fato de o Governadorter sido reeleito em 1998 por uma coalizo de partidos24, e no por uma nica sigla,significa dizer que o governo teria de dar espao a outras agremiaes, ao contrrio doque ocorreu nos anos oitenta, quando o PMDB foi hegemnico e reinou sozinho nocenrio poltico regional.

    III.2 Instabilidade das bancadasIII.2 Instabilidade das bancadasIII.2 Instabilidade das bancadasIII.2 Instabilidade das bancadasIII.2 Instabilidade das bancadasAs bancadas de representantes do PFL na Assemblia do Paran e na Cmara

    Municipal de Curitiba, apesar de terem sido as maiores nas eleies de 1998 e 2000 (12e 9 cadeiras, respectivamente), demonstraram muita instabilidade.

    Para medir a estabilidade da bancada ns criamos o ndice de PermannciaMdia no Partido(ou simplesmente ndice de permanncia IPM). O objetivo desseindicador avaliar o percentual mdio de permanncia dos Deputados nas bancadas aolongo do mandato parlamentar. Trata-se de um ndice agregado; portanto, no h interesseem medir a permanncia individual nas bancadas, mas sim a mdia da bancada. Logo,quando o ndice de permanncia do partido xindica por exemplo 0,75 para o ano y, isso

    23 Em entrevista aos autores, o deputado Baslio Zanusso declarou que Jaime Lerner no se preocupava muitocom a vida partidria e nem se interessava por estimular reunies do PFL. Outro ponto decisivo: no governo, asdecises principais continuaram nas mos de Lerner e de sua equipe, e no do partido. Entrevista concedida

    em 26 fev. 2002.24 Nada menos de 14 partidos. Doze partidos de direita: PFL, PPB, PTB, PSL, PST, PTN, PSC, PL, PRN, PSD, PRPe PT do B; dois partidos de esquerda: PPS, PSB.

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    significa que, do total de Deputados que passaram por aquele partido, eles permaneceram,em mdia, 75% dos meses daquele ano na sigla. Se, no mesmo ano, o partido zteve ndicede permanncia de 0,8, significa que, comparativamente, os Deputados do partido zficaram mais tempo na sigla que os Deputados do partido x. O estabelecimento dos ndices

    ao longo dos anos deve mostrar se para um mesmo partido houve um crescimento oudecrscimo do tempo mdio de permanncia na bancada25.

    Os valores podem variar de 0 a 1. Zero representa a inexistncia de parlamentaresfiliados ao partido em determinado perodo e 1 significa que todos os parlamentares queiniciaram o perodo em certo partido terminaram na mesma agremiao. Quanto maiorfor o ndice de permanncia, maior ser a fidelidade do conjunto de parlamentares dabancada ao partido. Do contrrio, quanto menor o ndice de fidelidade, maior ser avolatilidade dos parlamentares em relao bancada. O indicador sensvel tanto para asada quanto para a entrada de Deputados no partido. Portanto, se uma bancada cresce

    muito durante um mandato, isso significa que o ndice de permanncia ir cair, pois opercentual mdio de permanncia dos parlamentares naquele partido ser reduzido.

    Como se trata de medir fidelidade ao partido, o ndice de permanncia foi criadopara apresentar, com a maior preciso possvel, no apenas as pontas de incio ou fim demandato, mas para indicar alteraes durante a legislatura. Por exemplo: tome-se doispartidos (Ae B) que comearam o perodo de anlise com nove parlamentares na bancadae terminaram o perodo, ambos, com 12 parlamentares (a bancada aumentou, portanto).Agora imaginemos que partido Ativesse comeado a legislatura com nove parlamentarese ganho trs durante o perodo e o partido Btambm tivesse comeado tambm com noveparlamentares, perdido um e filiado outros quatro, apenas o ndice de permanncia,como proposto aqui, seria capaz de indicar a diferena nas duas bancadas. De acordocom este mtodo, a permanncia mdia no partido B ficaria um pouco abaixo dapermanncia mdia no partido A para o mesmo perodo. Igualmente, o ndice depermanncia capaz de mostrar variaes de comportamentos de bancadas de partidoscom o mesmo nmero de parlamentares (cujo valor total no variou), mas que secomportaram de maneira distinta durante o ano ou mandato. Por exemplo, digamos queos partidos Ce Diniciaram determinado mandato parlamentar com bancadas de 10

    cadeiras cada um e ambos terminaram o mandato com as mesmas 10 cadeiras cada.Acontece que a bancada do partido C, no segundo ano de mandato, perdeu 5 parlamentarese ganhou outros cinco, que permaneceram at o final. Considerando que o mandato de

    25 O maior refinamento do ndice depende do corte temporal a ser utilizado para medir a permanncia. Esse cortepode ser anual, quando o objetivo medir a permanncia mdia em um mandato, mensal, semanal ou dirio,quando se quiser medir a permanncia mdia em um ano. Uma vez tomado o ndice de permanncia anual, bastacalcular a mdia dos quatro anos para obter o valor para o mandato. Se o recorte for anual, cada ms que umDeputado passou em determinada bancada representar 1/12 do total. Se for semanal, uma semana representar1/47. E se dirio, cada dia ter peso de 1/365 do total do ano. Aps obter o resultado por parlamentar no

    decorrer do ano, somam-se os valores dos parlamentares e divide-se pelo nmero de Deputados que passarampela bancada do partido no ano. O resultado ser o ndice de permanncia mdia na bancada. Nossa base declculo foi mensal.

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    4 anos, ao final, o partido Cter um ndice de permanncia de 0,75 e o partido Dum ndicede permanncia de 1. Ou seja, os parlamentares do partidoDforam mais fiis sigla queos do partido C, embora as duas bancadas tenham comeado e terminado o mandato domesmo tamanho.

    Apesar de se tratar de um dado agregado, as mudanas individuais influenciaroo ndice geral. Por exemplo, numa bancada hipottica formada por dois parlamentares emque um deles permaneceu todo o perodo no partido e o outro apenas metade do perodoem anlise, o valor individual do primeiro ser 1 e do segundo, 0,5. A mdia dos doisparlamentares resultar em um ndice mdio de permanncia de 0,75 no partido noperodo.

    O recorte temporal adotado neste trabalho foi mensal. Aferiu-se a filiaopartidria de cada Deputado durante os 12 meses do ano para identificar em quaisbancadas ele esteve e que peso proporcional ele teria tido para cada partido pelo qual

    passou no perodo. Isso foi realizado para os 16 anos analisados (1987-2002). Apenasno ltimo ano, ao invs de serem contados 12 meses, foram apenas seis, pois a pesquisaseguiu os parlamentares at o ms de junho de 2002. Para efeito de clculo s se considerao tempo em que o Deputado permaneceu na Assemblia Legislativa. Se ele faleceu oudeixou o mandato por ter sido nomeado Secretrio de estado ou eleito a outro cargopoltico, esse fato cessa a influncia no ndice de permanncia. Por exemplo, se o Deputadozfaleceu no ms de maio, a proporo mensal de permanncia do indivduo na bancadaser de 1/5 e no de 1/12. O mesmo vale para seu suplente, que ter uma proporo depermanncia na bancada para aquele ano de 1/7. No sumarizamos os ndices por mandato,como se ver a seguir, mantendo-os com referncia aos anos porque, em primeiro lugar,os dados anuais so mais ricos que as mdias por mandato, que poderiam esconderparticularidades; e, em segundo lugar, porque uma correlao bivariada simples entre ondice de permanncia e os perodos dos mandatos mostrou um coeficiente muito baixo,considerado no significativo estatisticamente.

    A seguir, a Tabela 5 sumariza os ndices de Permanncia mensal (em mdiasanuais) e o tamanho da bancada do PFL na Assemblia Legislativa do Paran no incio decada ano desde 1987. As duas variveis sero analisadas em conjunto como indicadores

    empricos de um suposto processo de institucionalizao. Para essa anlise pormenorizadaoptamos por tratar apenas da bancada de Deputados estaduais do PFL. Isso por doismotivos. O primeiro que no existem dados disponveis sobre a migrao partidriapara o mesmo perodo (1987 a 2002) para as bancadas no legislativo municipal deCuritiba. Em segundo lugar, porque, de acordo com nosso modelo, supomos ser aAssemblia Legislativa a melhor arena para indicar se um partido est se institucionalizandono estadoou no.

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    Como salientado anteriormente, a considerao apenas do crescimento numricoda bancada estadual de um partido (em termos absolutos) insuficiente como indicadorde institucionalizao partidria, pois muitas bancadas podem prosperar e manterem- seestveis numericamente, porm com uma grande variao interna de seus membros.Logo, o ndice de avano parlamentar do partido uma adaptao do ndice de avanoeleitoral no suficiente para medir a institucionalizao. O ndice de permannciamdia na bancada mais apto para este fim. Quanto maior for a permanncia mdia, maisinstitucionalizado est o partido no parlamento. No entanto, isso no significa que opartido esteja institucionalizado na sociedade(i.e., junto ao eleitorado). Pode haver umpartido nanico no parlamento, altamente institucionalizado, porque no h mudanasde parlamentares em sua bancada, mas com baixa representatividade social. Considerandoo fato de que, para ser institucionalizado, um partido precisa de razes sociais (i.e.,votos), uma sigla com uma bancada pequena tem grandes chances de no possuir adifuso social mnima esperada pelo modelo.

    A opo aqui adotada foi analisar as duas variveis, tamanho de bancadaendicede permanncia para que o resultado dos dois indicadores pudesse apontar se existiu (ou

    no) um processo de institucionalizao no perodo. Assim, segundo nossa proposta, spode ser considerado partido em processo de institucionalizao regional aquele cujabancada, na Assemblia Legislativa, apresentar uma curva ascendente tanto no nmero de

    Tabela 5

    Demonstrativo da bancada do PFL na Assemblia Legislativa do Paran(1987-2002)

    ANO NDICE PERMANNCIA

    Fonte: TRE-PR. Compilao dos autores.* dados referentes ao tamanho da bancada no ms de fevereiro de cada ano.

    1987 1,00 81988 1,00 61989 0,93 61990 1,00 51991 0,95 61992 0,96 71993 0,79 81994 1,00 6

    1995 0,99 71996 1,00 71997 0,54 61998 1,00 191999 0,83 102000 0,94 92001 0,86 102002 1,00 9

    TAMANHO BANCADA*

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    parlamentares quanto no ndice de permanncia mdia ao longo de tempo. Partidos queapresentarem ndices de permanncia em crescimento e bancada em queda no podemser considerados em processo de institucionalizao, pois estaro perdendo representaosocial. Por outro lado, partidos que apresentarem ndice de permanncia em queda e

    bancada em crescimento tambm no podem ser considerados institucionalizados, pois ograu de fidelidade dos representantes eleitos sigla estar em queda, apesar de ele ter umasignificativa representatividade social, atravs dos votos obtidos. Conforme explicadoacima, o ndice de permanncia leva em conta o perodo total em que o Deputado esteve naAssemblia, no sendo aplicados os 48 meses para aqueles que faleceram, deixaram omandato para assumir uma secretaria de estado ou foram eleitos Prefeito no meio dalegislatura. Nesses casos, o nmero de meses em que o parlamentar esteve na Assembliaser usado como base para o clculo do ndice de permanncia.

    Este exerccio tem a funo de indicar tendncias temporais, pois se sabe que,

    quando h uma mudana no tamanho da bancada do partido independente do sinal ,haver queda no ndice de permanncia mdia. Por isso optamos pela apresentao datendncia temporal atravs de uma regresso linear, com a apresentao de grficoscontendo a curva normal.

    Grfico 2

    Bancada PFL

    Grfico 1ndice de permanncia PFL

    ANO

    ANO

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    Durante os anos oitenta e incio dos noventa o PFL do Paran no tinha uma lideranaregional de peso (tal como em outros estados na Bahia, Antonio Carlos Magalhes; emPernambuco, Marco Maciel; em Santa Catarina, Jorge Bornhausen (cf. Cantanhde, 2001)) e,se no fazia oposio aberta ao Governo do estado, estava, em todo caso, longe do poder26.

    Com a eleio de Jaime Lerner, em 1994, o PFL converteu-se em partido da base governistae, em 1997, com a filiao do governador, comeou a contar com uma figura forte parapolarizar votos e transferir prestgio. Isso foi suficiente para fazer com que abancadado PFLna Assemblia apresentasse uma curva normal ascendente no perodo 1997-1999 (verGrfico 2). Porm, foi insuficiente para garantir a fidelidade dos parlamentares ao partido,pois o ndice de permanncia apresentou uma curva descendente (ver Grfico 1), sabotandoo processo de institucionalizao. Percebe-se que a maior queda no ndice de permannciado partido acontece exatamente no ano da filiao do governador Lerner (1997). Da mesmaforma, o maior crescimento da bancada acontece nesse ano (variao captada pelos dados de

    fevereiro de 1998, de acordo com a Tabela 5); porm o nmero de representantes noconsegue sustentarse e comea a diminuir nos dois anos seguintes.

    A ttulo de comparao, veja-se o que se passou noutros dois partidos. O PMDB doParan apresentou uma tendncia inversa do PFL. O partido, que foi governo at meadosdos anos noventa, teve uma queda no tamanho da bancada durante todo o perodo, com umacurva normal acentuadamente descendente nessa varivel (ver Grfico 4). Isso evidencia areduo da capacidade de representao na sociedade por parte do partido. Por outro lado,o ndice de permanncia do PMDB no perodo (Grfico 3) teve uma curva normal ascendente,demonstrando um crescimento da fidelidade dos parlamentares que permaneceram na siglamesmo depois que o partido deixou o executivo e passou a fazer oposio ao governo.Seguese da que o PMDB tende a ser mais institucionalizado que seu rival.

    26 Foi um perodo, segundo o Deputado Zanusso, de grandes dificuldades, em que a representao na AssembliaLegislativa era pouco expressiva e ao partido faltava organizao. Tambm no tnhamos experincia deoposio, pois o PFL nunca soube fazer uma oposio muito forte e aguerrida. Entrevista aos autores (26 fev.

    2002). Isso s mudava, para Pizzato, nos perodos eleitorais, em que a relao com os governos do PMDBtornava-se mais contundente. Entrevista do Deputado federal Luciano Pizzato aos autores (por correioeletrnico) em 30 abr. 2002.

    Grfico 3

    ndice de

    permanncia PMDB

    ANO

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    O nico dos principais partidos da Assemblia Legislativa do Paran no perodode 1987 a 2002 a apresentar as duas curvas no sentido ascendente foi o PTB. Mesmotendo obtido um aumento mdio em sua bancada parlamentar no estado, o partidoconseguiu ter um crescimento mdio do ndice de permanncia. Isso no significa que nohouve transformaes na bancada do partido no perodo em anlise. O grfico do ndicede permanncia mostra que em 1997 o PTB partido chegou ao ponto mais baixo dos anosanalisados aqui. O tamanho da bancada tambm teve significativas oscilaes entre 1997

    e 2002. O importante a ressaltar aqui que uma viso distanciada de fatores conjunturaismostra que o partido apresentou uma tendncia de crescimento em ambas variveis. Oque diferencia o PTB do PMDB e do prprio PFL no perodo que o primeiro no teve umaliderana regional de expresso no Paran, tendo participado dos governos do PMDB,exceto no ltimo (1990-1994); e apoiou os oito anos de governo de Jaime Lerner e deleparticipou oficialmente.

    Grfico 4

    Bancada PMDB

    Grfico 5

    ndice de permanncia PTB

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    Voltando ao PFL-PR, v-se que a progresso do tamanho da bancada do partidona Assemblia est em relao direta com dois eventos: a filiao em 1997 e a reeleio dogovernador em 1998. Parece claro que foi isso (e s isso) que promoveu seu crescimentono estado. O ndice de permanncia, entretanto, variou significativamente (ver Grfico 1).Ele foi 1,00 apenas nos anos pares, que so os anos em que ocorrem eleies. Isso sugereuma relao causal simples: os polticos s permanecem no partido porque a legislaoeleitoral exige dos candidatos a sua filiao sigla pela qual iro concorrer ao menos umano antes da eleio27. Nos outros anos eles se mudam com freqncia, fazendo cair oIPM. No foi diferente com os liberais paranaenses.

    III.3 Migraes partidriasIII.3 Migraes partidriasIII.3 Migraes partidriasIII.3 Migraes partidriasIII.3 Migraes partidriasPor que os polticos migram? Parlamentares trocam de partidos em funo de

    estratgias eleitorais futuras de curtssimo prazo, principalmente para garantir maiorpossibilidade de reeleio28. Por isso os ndices de migrao em anos mpares (quandotermina o prazo legal para as filiaes de candidatos s eleies seguintes) aumentam emrelao aos anos pares. Outra razo que deve ser considerada a chamada conexo

    presidencial (Amorim & Santos, 2001), que leva em conta a relao entre o executivo eo legislativo, incluindo barganha, patronagem e clientelismo dos congressistas como umestmulo migrao partidria. Nesse caso, os beneficiados com os recursos de patronagemtenderiam a migrar para partidos da base do governo.

    Essa , imagina-se, uma hiptese bastante rentvel. Como esse trabalho trata departidos nos estados, substituiremos o termo conexo presidencial por conexogovernamental. De acordo com nossa interpretao, polticos buscam conexo

    27 Lei 9.504, de 1997.28 O que equivale a dizer que os deputados optam pelas alternativas de ao capazes de maximizar suas chancesde sucesso na carreira poltica (Melo, 2000). Ver tambm Schmitt, 1999. Para um resumo da polmica naliteratura a respeito da migrao, e uma posio prpria, cf. Diniz, 2000.

    Grfico 6Bancada PTB

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    governamental para aumentar sua possibilidade de reeleio, trazer benefcios para suasbases eleitorais e melhorar sua posio relativa no campo poltico (no legislativo e juntoao executivo). Esse movimento, embora faa aumentar o partido - do ponto de vistaeleitoral e organizacional - no o fortalece, ou o institucionaliza, nos nossos termos.

    Dificuldades conjunturais diversas - derrota eleitoral do governo, queda dos ndices depopularidade da liderana poltica principal, desgastes da administrao pblica, efeitosnegativos de projetos polmicos diante da opinio pblica etc. - promovem nova leva demigraes, fragilizando a agremiao.

    O recuo significativo do ndice de avano nas eleies proporcionais de 2002 (v.Tabelas 1 e 2) uma prova do que se quer dizer. O mesmo fenmeno se repetiu naseleies de Vereadores em 2004 (v. Tabela 4). Das nove cadeiras conquistadas em 2000 opartido s conservou cinco.

    No perodo final do governo Lerner houve uma queda brusca do desempenho

    eleitoral do PFL. O partido fez 11% dos votos vlidos para Deputado estadual (contra os22% que garantiu para si em 2000), voltando aos nveis do incio da dcada de noventa. Naverdade, tratou-se do segundo pior desempenho da sigla desde 1986. Isso lhe deu apenassete cadeiras na Assemblia Legislativa, atrs de PMDB e PT, e um ndice de avanoeleitoral de -2,47. Na Cmara Federal a performance do PFL-PR foi ainda pior: 7% dosvotos, apenas duas cadeiras conquistadas e um ndice de avano negativo: -2,68. O partidosequer apresentou candidato sucesso governamental. Assistiu assim impassvel aoretorno do PMDB e de sua maior liderana poltica no estado: Roberto Requio.

    Em 2004, j sem Lerner, que trocara o PFL pelo PSB no segundo semestre de200329 , o Partido da Frente Liberal venceu em 25 cidades apenas, perdendo 55 prefeiturassob seu controle, Curitiba inclusive (ver Quadro 4 em anexo). Nunca o percentual demunicpios sob os liberais foi to escasso: somente 6% de todo o estado. O partido doGovernador reconquistou sua hegemonia e o PMDB passou a controlar 30% dasadministraes municipais (ver Tabela 3).

    Esses valores - ndice de avano eleitoral, taxas de prefeituras conquistadas endice de permanncia mdia da bancada - indicam que o partido, ao amarrar seu destinoinstitucional figura pessoal do governador Lerner, ficou na dependncia das oscilaes

    da sua presena frente do governo e, igualmente, do seu prestgio pessoal.Enquanto o Chefe do executivo estadual contou com um bom ndice de aceitaojunto opinio, o partido cresceu. A decadncia da imagem pblica de Lerner, contudo,levou o partido a uma regresso no cenrio poltico regional. Segundo o ranking dosGovernadores do Instituto Datafolha, de junho de 2001, Jaime Lerner passou de stimopara nono colocado nacional. Sua nota mdia poca era de 5,0 pontos. Cerca de um terodos entrevistados, 32%, reprovava seu desempenho; para 37% ele era regular e 27% oaprovavam. Desde o incio de seu segundo mandato (1999-2002), Lerner apresentouqueda nas taxas de popularidade. Em junho de 1999 era aprovado por 52%, em dezembro

    29 O ex-governador deixou o PFL e filiou-se ao PSB pois pretendia-se candidatar-se Prefeitura do Rio de Janeiroem 2004 e transferiu o seu domiclio eleitoral para a cidade.

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    do mesmo ano essa taxa caiu para 46%. Em junho de 2000 oscilou para 44%, caindo para35% em dezembro deste ano e em dezembro de 2002 chegou a 27%, o menor ndice desdeque assumiu o governo pela primeira vez em 1995. A taxa de rejeio a seu governocresceu continuamente ao longo do segundo mandato e oscilou de 19% (junho de 1999)

    a 36% (dezembro de 2002)30

    .De fato, h fortes indicaes de que o personalismo suplantou a estruturaopartidria no caso do PFL do Paran nos anos noventa e no incio da dcada seguinte. Osresultados eleitorais de 2002 e 2004 confirmam essa hiptese, mostrando um recuo dopartido tambm na arena eleitoral.

    IV. CONCLUSES

    A histria do Partido da Frente Liberal no Paran pode ser dividida em duasfases bem distintas. Uma antes, outra depois do ingresso, na agremiao, do governadorJaime Lerner.

    Procuramos demonstrar que, mesmo tendo ganho significativo flego eleitoral,aumentado suas bancadas estadual e federal em 1997-1998 e conquistado 20% dasprefeituras do estado em 2000, o PFL-PR no conseguiu institucionalizarse ou tornar-seum partido estvel, contrariando o estilo nacional da agremiao. Mesmo os dados eleitoraisdevem ser tomados com o devido cuidado.

    Por outro lado, note-se, nunca se tratou do controle do governo por determinado

    partido, mas exatamente do seu inverso: do controle do partido por determinado governo.A ocupao de cargos no primeiro e segundo escalo possivelmente no setraduziu em influncia efetiva sobre o processo decisrio governamental, ficando a equipedo governador com o monoplio das questes-chave; o comportamento unificado dabancada (disciplina partidria) no induziu fidelidade partidria e as taxas de migraodos polticos pefelistas continuaram elevadas. Ao invs de transformar- se no partido dogoverno, o PFL-PR foi apenas um partido para o governoe um recurso institucionalimportante do lder poltico no estado, notadamente no que se refere governabilidade.Quando as taxas de popularidade do segundo decresceram, a incipiente institucionalizao

    do primeiro tambm recuou. Quando Lerner deixou a agremiao, seu desempenhodiminuiu drasticamente. Pagouse assim o preo da dependncia quase exclusiva de umaliderana personalista que, curiosamente, apresenta-se como puramente tcnica.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    30Cf. dados do stio do Instituto Data Folha ver http://www.folha.uol.com.br/folha/datafolha/po/avalgov_pr_9402.shtml

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    Fonte: TRE-PR. Compilao dos autores.*nomeado

    AnexoQuadro 4

    Eleies no Brasil Paran e Curitiba (capital) (1982-2002)Eleitos por partido/coligao; partido majoritrio nos legislativos

    (nmero de cadeiras do partido majoritrio/nmero total de cadeiras)

    Prefeitura(Curitiba PR)

    Cmara dosVereadores

    (Curitiba PR)

    GovernoEstadual

    AssembliaLegislativa

    Cmara dosDeputados

    SenadoFederal

    Presidncia daRepblica

    1982

    1985

    1986

    1988

    1989

    1990

    1992

    1994

    1996

    1998

    2000

    2002

    2004

    Maurcio Fruet(PMDB)*

    PMDB (22/33) Jos Richa(PMDB)

    PMDB(34/58) PMDB (20/34) lvaro Dias(PMDB)

    Roberto Requio(PMDB)

    lvaro Dias(PMDB/PND)

    PMDB/PND(37/54)

    Jaime Lerner (PDT) PMDB (12/33)

    PMDB/PND(24/30)

    Jos Richa(PMDB/PND)

    Affonso Camargo(PMDB/PND)

    Fernando Collor(PRN)

    Roberto Requio(PMDB)

    PMDB (16/54) PRN (8/30) Jos EduardoVieira

    (PTB/PDS/PTR/PST)

    Rafael Greca (PDT) PDT (8/33)

    Jaime Lerner(PDT)

    PMDB (12/54) PP e PFL(6 e 6/30)

    Roberto Requio(PMDB)

    Osmar Dias (PP)

    Fernando HenriqueCardoso (PTB/PFL/

    PSDB)

    Cassio Taniguchi(PDT/PPB/PTB/

    PSC/PFL)

    PDT (8/35)

    Cassio Taniguchi(PFL)

    PFL (9/35)

    Jaime Lerner(PFL)

    PFL ( 12 /54) PTB e PFL(6 e 6/30)

    lvaro Dias(PSDB)

    Fernando HenriqueCardoso (PPB/PTB/

    PFL/PSDB/PSD)

    Roberto Requio(PMDB) PFL (9 /54) PMDB e PT(6 e 6/30) Osmar Dias(PDT)Flvio Arns

    (PT)

    Luis Incio Lulada Silva(PT)

    Beto Richa(PSDB)

    PT/PTB/PMDB/PCB/PCdoB

    (12/38)

  • 8/7/2019 CODATO, Adriano; CERVI, Emerson Urizzi. Institucionalizao partidria: uma discusso emprica a partir do caso do

    30/30

    ,79 5 1,00 8 1,00 37 1,00 1 ,63 ,1,00 4 1,00 6 ,97 37 1,00 1 ,88 4

    ,92 4 ,93 6 ,88 32 1,00 1 ,72 31,00 5 1,00 5 ,80 24 1,00 1 ,92 2

    ,97 6 ,95 6 ,92 16 1,00 3 ,79 5,96 5 ,96 7 ,93 12 1,00 3 ,96 7,92 6 ,79 8 ,99 12 1,00 3 ,84 6

    1,00 7 1,00 6 1,00 12 1,00 3 1,00 11,98 9 ,99 7 ,96 12 1,00 5 ,88 5

    1,00 9 1,00 7 1,00 12 1,00 5 1,00 5,72 11 ,54 6 ,85 11 ,93 5 ,47 6

    1,00 2 1,00 19 1,00 8 1,00 4 1,00 101,00 3 ,83 10 1,00 7 1,00 4 ,92 12

    ,97 3 ,94 9 1,00 7 1,00 4 ,89 10,50 2 ,86 10 ,96 7 1,00 4 ,83 12

    1,00 6 1,00 9 1,00 8 1,00 4 1,00 5

    Quadro 5Indicadores partidrios na Assemblia Legislativa do Paran

    ndice de permanncia e bancadas por principais partidos (1987-2002)*

    * As bancadas partidrias indicadas so as existentes no ms de fevereiro de cada ano.

    ndicepermanncia PDT

    bancadaPDT

    ndicepermanncia

    PFL

    bancadaPFL

    ndicepermanncia

    PMDB

    bancadaPMDB

    ndicepermanncia

    PT

    bancadaPT

    ndicepermanncia

    PTB

    bancadaPTB

    1987198819891990199119921993199419951996199719981999200020012002