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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA CURSO DE HISTÓRIA EMILLY BARROS BARBOSA “NOVOS BALAIOS”: (RE)significados e apropriações da memória da balaiada no atual contexto político maranhense. São Luís 2013

EMILLY BARROS BARBOSA - historia.uema.br · organização desses sujeitos, principalmente os oriundos dos movimentos sociais e das camadas populares, para identificá-los e perceber

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA

CURSO DE HISTÓRIA

EMILLY BARROS BARBOSA

“NOVOS BALAIOS”: (RE)significados e apropriações da memória da balaiada no atual

contexto político maranhense.

São Luís

2013

1

EMILLY BARROS BARBOSA

“NOVOS BALAIOS”: (RE)significados e apropriações da memória da balaiada no atual

contexto político maranhense.

Monografia apresentada ao Curso de História da

Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,

para obtenção de Grau em História Licenciatura.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sandra Regina Rodrigues

dos Santos.

São Luís

2013

2

EMILLY BARROS BARBOSA

“NOVOS BALAIOS”: (re)significados e apropriações da memória da balaiada no atual

contexto político maranhense.

Aprovado em: ____/_____/______

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Sandra Regina Rodrigues dos Santos (Orientadora) Universidade Estadual do Maranhão – UEMA

___________________________________________________

1° Examinador (a) Universidade Estadual do Maranhão – UEMA

__________________________________________________

2° Examinador (a) Universidade Estadual do Maranhão – UEMA

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, que me deu o fôlego da vida, força, coragem e saúde

durante toda essa caminhada.

Aos meus pais Márcia e Barbosa, irmãos Márcio e Larissa e familiares, em

especial a minha madrinha e segunda mãe Léa, pelo amor e dedicação incondicionais, pois

não mediram esforços para que eu chegasse a essa etapa da minha vida.

Ao meu marido Cristian, pelo apoio que posso contar sempre, por acreditar na

minha capacidade e pela compreensão nos momentos de ausência.

A todos os professores do Curso de História, pelos ensinamentos que foram muito

importantes para a minha formação acadêmica.

Agradeço especialmente a minha orientadora Sandra, que foi e continua sendo

como uma mãe para mim, pela inspiração, apoio, paciência, dedicação e pelo convívio

maravilhoso durante o curso e a conclusão deste trabalho.

Aos meus amigos da minha primeira turma (2007.2), com quem nunca perdi os

laços de amizade, mesmo não estudando mais juntos.

Aos meus amigos da turma 2008.2, em especial a Priscila, Lycia, Arianne,

Camila, Danielly, Hugo e Haniery, pelo incentivo, apoio e convívio constantes durante todos

esses anos, compartilhando muitos momentos de alegrias e de trabalho também.

E as minhas amigas de longa data, Valéria, Ana Paula e Priscila Câmara por

compartilharem mais um importante momento na minha vida.

4

RESUMO

A “Balaiada Moderna” é a denominação que vem sendo comumente utilizada por partidos

políticos e movimentos sociais para designar a agitação política e social contrária à cassação

do governador do Maranhão Jackson Lago, fazendo alusão ao movimento que eclodiu no

século XIX e utilizando-se de seu simbolismo. Essa apropriação simbólica do movimento

balaio não é nova, sendo encontrada em outros movimentos ocorridos no século XX, a

exemplo da “Greve de 51” e da “Greve de 1979”. No que diz respeito à apropriação atual da

Balaiada enquanto símbolo de rebeldia, este movimento surgiu em 2006, como reflexo das

disputas nas eleições para o governo do Maranhão entre Jackson Lago e a família Sarney,

representada por Roseana Sarney. A intenção foi analisar as fontes para mostrar o contexto

em que surgiu a “Balaiada Moderna” e suas vinculações politicas através dos discursos dos

“novos balaios”, buscando nas ideias ali presentes o uso do simbolismo balaio em expressões

de grupos políticos, culturais e sociais, que reivindicam uma tradição de resistência,

reabilitando assim a memória histórica da Balaiada.

Palavras- chave: Balaiada Moderna. Apropriação. Memória. Identidade. Política.

5

ABSTRACT

The "Balaiada Moderna" is the name that is commonly used by political parties and social

movements to designate the political and social unrest against the impeachment of the

governor of Maranhão Jackson Lago, alluding to the movement that erupted in the nineteenth

centuryand using the its symbolism. This symbolic appropriation hamper the movement is not

new, having been found in other movements in the twentieth century, such as the "Greve de

51" and "Greve de 1979." With regard to the appropriation current Balaiada as a symbol of

rebellion, this movement emerged in 2006 as a result of disputes in elections to the

government of Maranhão between Jackson Lago and the Sarney‟s family, represented by

RoseanaSarney. The intention was to analyze the sources to show the context in which they

arose "Balaiada Moderna" and its linkages across the political discourse of "novos balaios"

seeking the ideas present there hamper the use of symbolism in expressions of political,

cultural and social groups, claiming a tradition of resistance, thus rehabilitating the historical

memory of Balaiada.

Keywords: Balaiada Moderna. Appropriation. Memory. Identity. Politics.

6

“A incompreensão do presente nasce da

ignorância do passado”.

Marc Bloch

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Governador Jackson Lago, sua luta é nossa luta............................................ 27

Figura 2 Jackson Lago no MST................................................................................... 34

Figura 3 Movimento Pró-Jackson no Fórum Social Mundial em Belém-PA.............. 36

Figura 4 Imperatriz Diz Não Ao Golpe....................................................................... 37

Figura 5 População repudia golpe de Sarney............................................................... 39

Figura 6 TSE cassa Jackson......................................................................................... 42

Figura 7 Acampamento Balaiada na festa da democracia............................................ 43

Figura 8 Balaiada Rock: uma guerra quase solitária.................................................... 44

Figura 9 Com as bandeiras nas ruas, ninguém pode nos calar!.................................... 47

Figura 10 A reabilitação das lutas do passado............................................................... 49

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 9

1 A HISTÓRIA DA BALAIADA PELO O OLHAR DE ALGUNS DOS

SEUS ESTUDIOSOS........................................................................................

13

2 A IMPRENSA ENFATIZANDO O PAPEL DAS MINORIAS NA LUTA

EM DEFESA DA DEMOCRACIA.................................................................

23

3 -“A NOVA BALAIADA DA ILHA REBELDE MONTA

ACAMPAMENTO COMO ESPAÇO DE VIGÍLIA CÍVICA”...................

46

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 56

REFERÊNCIAS................................................................................................. 58

9

INTRODUÇÃO

Ocorrida no período denominado Regência (1831-1840), fase de transição da

colônia para a consolidação do Império, a Balaiada eclode junto com outros conflitos

representativos dos abalos sofridos pela estrutura política brasileira no processo de construção

do Estado nacional soberano, como um movimento social complexo, situado na categoria das

lutas populares contra a opressão, o latifúndio e a miséria, causados pelas transformações

políticas, sociais e econômicas inerentes a esse momento histórico.

No Maranhão tais transformações refletiram de forma negativa nas duas bases

socioeconômicas da província, uma que se fundamentava na pecuária extensiva e a outra na

agricultura de exportação.

Já no âmbito político essas transformações refletem as profundas divergências

políticas que se acirraram no período regencial, com a disputa entre os partidos hegemônicos

da época: o liberal (bem-te-vis), com ideais liberais e, em sua ala mais radical, ideias

republicanas; e o conservador (cabanos), que apesar de apresentarem perspectivas diferentes,

como a defesa da centralização, tinham aspirações semelhantes no tocante às políticas

econômicas e sociais, e, assim como os liberais, eram representativos das elites agrário-

escravocratas.

Segundo o historiador Lima (1981), estes políticos se combatiam a ferro e fogo,

mas que, na realidade, como ainda hoje, não defendiam um ideal, mas se agrupavam em torno

de homens, ou clãs, cheios de recalques e sedentos de vingança.

E foi neste contexto, que eclodiu a Balaiada no sertão maranhense, com

ramificações para fora da província, provocando, no dizer de Astolfo Serra (1946), o levante

de uma massa agitada e rebelada, um aglutinado inquieto de vaqueiros, artesãos e até

abastados fazendeiros. Que segundo Meirelles (1960) é fruto também da exaltação dos ânimos

existentes, em que pese à circunstância de sua característica essencial de um movimento de

massas rurais contra os potentados.

Por isso, a Balaiada é considerada a maior insurreição ocorrida no Maranhão,

marcada pelo caráter multiclassista, pois se envolveram nela, fazendeiros, vaqueiros, artesãos,

pequenos lavradores, desertores, escravos e livres pobres sem ocupação fixa, o que deu a

revolta uma composição bastante heterogênea e complexa, gerando assim diferentes matrizes

explicativas, que vem ao longo desses 172 anos sofrendo novas percepções e interpretações

que reconfiguram constantemente a memória desse movimento.

10

Um exemplo disso são as produções historiográficas da década de 1980 até a

atualidade que se caracterizam por serem produções acadêmicas e por se basearem em

pressupostos teóricos e metodológicos que vão desde a abordagem no campo da história

econômica, história social até a história cultural, com o uso de fontes orais, sendo capazes de

analisar a Balaiada de maneira diferenciada, desconstruindo a chamada versão oficial do

movimento, presentes nas fontes oficias de caráter militar, principalmente.

As apropriações simbólicas da Balaiada podem ser encontradas em outros

movimentos ocorridos no Maranhão, a exemplo das greves de 1951 e 1979, sendo a

apropriação mais recente autointitulada “Balaiada Moderna” cujos participantes são

denominados “Novos Balaios”. Este movimento surgiu do embate político entre Jackson Lago

e Roseana Sarney nas eleições estaduais de 2006, na qual Jackson Lago saiu vitorioso através

das urnas.

Passado pouco tempo do início do seu mandato, o então governador Jackson

Lago, foi acusado de abusar do poder político e econômico, para comprar votos e utilizar a

máquina do Estado a seu favor através de um comício realizado na cidade de Codó, onde o

governador na época José Reinaldo Tavares declarou o seu apoio à candidatura de Jackson

nas próximas eleições.

Tais acusações foram formalmente usadas em um processo movido por Roseana

Sarney no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que começou a ser julgado no dia 19 de

dezembro de 2008, mas foi por três vezes adiado e retomado, da primeira vez por causa do

pedido de vista do ministro Félix Fischer, pela segunda vez por um pedido de vista do

ministro Joaquim Barbosa e da terceira vez por motivos de doença o ministro Fernando

Gonçalves não pode comparecer ao julgamento.

Durante todo o período de julgamento até o momento da cassação foi sendo

construído o movimento “Balaiada Moderna”, organizado por um grupo defensor da causa de

Jackson Lago, que se mantiveram acampados em frente ao Palácio dos Leões (sede do

governo estadual) para prestar solidariedade a Jackson Lago, defender a “democracia (voto)”

e a “soberania do povo maranhense contra a “Oligarquia dos Sarneys”, que queriam “tomar o

poder a força”1.

Diante desses acontecimentos nos interessa nesse contexto perceber o nível de

organização desses sujeitos, principalmente os oriundos dos movimentos sociais e das

camadas populares, para identificá-los e perceber as influências que sofreram e quem são suas

1 O Imparcial, 20 de Março de 2009.

11

lideranças. Por isso faz-se necessário compreender melhor o porquê e como os participantes

da atual “Balaiada Moderna”, buscam estabelecer interfaces com o movimento da Balaiada do

século XIX no sentido de auto afirmar-se como movimento de massas.

Tais aspectos instigaram a realização de um estudo sobre a Balaiada, atrelado aos

movimentos denominados “Novos Balaios” e “Balaiada Moderna”, que surgiram nos embates

da política local, o que resultou em um novo “processo de (re)significação da memória da

Balaiada e do afastamento de seu significado histórico”, havendo uma espécie de “reinvenção

da tradição balaia”, observada em sites e em movimentos políticos, religiosos e sociais nas

últimas décadas.

Assim sendo, este estudo têm por objetivo analisar as apropriações da memória

balaia na atualidade, no contexto do movimento autointitulado “Balaiada Moderna” e suas

vinculações políticas, pois a intenção é perceber nos discursos dos “novos balaios” quais

ideias justificam sua influência junto às massas populares.

Por outro lado é importante verificar como o conhecimento do movimento da

Balaiada tem possibilitado estabelecer uma identidade com as lutas populares do presente,

reivindicando uma tradição de resistência das camadas oprimidas.

Ao longo da pesquisa foram utilizadas como fontes os jornais O Imparcial e o

Jornal Pequeno, panfletos, pasquins, memórias, documentos oficiais e a pesquisa de campo,

indispensáveis ao processo analítico sobre as interrogações e as inflexões com as quais nos

defrontamos ao buscar perceber as interfaces entre os movimentos sociais e políticos do

século XX e XXI atrelado ao significado histórico da Balaiada.

A partir das ideias e as reflexões presentes nesta vasta documentação foi possível

analisar aspectos da Balaiada que foram sendo apropriados por diferentes grupos sociais,

assim sendo, acreditamos que nos estudos realizados as análises darão ênfase ao imaginário,

as relações e as práticas dos agentes sociais – individual, coletivo e público - enfim, as

representações do universo cultural, social e político do Maranhão na atualidade.

A intenção foi buscar nas entrelinhas de toda a documentação e no embasamento

teórico obter respostas que conduzissem ao aprofundamento dos aspectos contemplados nos

objetivos, levando em consideração os conceitos de representação, apropriação e imaginário.

O conceito de representação foi utilizado conforme o sentido proposto por

Chartier (2002), como a “manifestação de uma ausência”, o que supõe uma clara distinção

entre o que representa e o que é representado, visto que a representação funciona como

instrumento de um conhecimento mediato que revela um objeto ausente, substituindo-o por

uma imagem capaz de trazê-lo à memória, fazendo uma correlação de uma imagem presente e

12

de um objeto ausente, um valendo pelo outro.

Dessa forma, a representação que os indivíduos e os grupos fornecem

inevitavelmente através de suas práticas fazem parte integrante de sua realidade social. Sendo

assim, representar é estar no lugar de algo, é a presentificação de um ausente, é um apresentar

de novo, ou seja, a representação não seria uma cópia do real, mas uma espécie de reflexo,

construída a partir dele.

A noção de apropriação, assim como a de representação também se apoia no

pensamento de Chartier (2002), que por sua vez se insere nas tendências contemporâneas de

análise da chamada Nova História Cultural. Portanto, a apropriação se apresenta como uma

história social das interpretações, remetida para suas determinações sociais, institucionais e

culturais.

Por outro lado, o imaginário também faz parte de um campo de representação e se

manifesta por imagens e discursos que pretendem dar uma definição da realidade. Enquanto

representação do real, o imaginário é uma referência a um “outro” ausente, e não uma

expressão literal da realidade como um espelho (PESAVENTO, 1995).

A expressão do imaginário social se dá por símbolos, ritos, crenças, discursos e

representações alegóricas, daí a sua importância para auxiliar na análise da chamada

“Balaiada Moderna”.

Este estudo encontra-se dividido em três capítulos. No primeiro tem-se um

levantamento bibliográfico da historiografia da Balaiada, contemplando autores que

escreveram suas obras no “calor do movimento” até as obras acadêmicas escritas na década

de 90.

No segundo capítulo, “A imprensa enfatizando o papel das minorias na luta em

defesa da democracia”, nos propusemos a analisar algumas matérias dos jornais O Imparcial e

o Jornal Pequeno, buscando nas mesmas, especialmente nos discursos dos “novos balaios” a

apropriação da memória da Balaiada.

E por último, no terceiro capítulo, “A nova balaiada da ilha rebelde monta

acampamento como espaço de vigília cívica”, procedemos à análise de um conjunto de

manifestações de diversos tipos, ocorridos no “acampamento balaio”, e que estão expressos

em panfletos, manifestos e informativos produzidos pelos próprios “balaios” durante as

eleições de 2006, e no decorrer do processo de cassação de Jackson Lago até o seu

falecimento em abril de 2011.

13

1 A HISTÓRIA DA BALAIADA PELO O OLHAR DE ALGUNS DOS SEUS

ESTUDIOSOS2

A produção historiográfica brasileira é unanime em considerar a Balaiada como a

maior revolta ocorrida no Maranhão, levando em consideração o grande contingente de

participantes e a extensão geográfica por onde agiram os rebelados, daí a grande importância

em analisar o discurso de alguns estudiosos que escreveram sobre ela com a finalidade de se

entender o movimento ocorrido no século XIX para que assim seja possível buscar subsídios

que possam ajudar nas respostas em relação à apropriação feita pelos atores responsáveis pelo

movimento ocorrido em 2006 autointitulado “Balaiada Moderna”.

As análises iniciaram pela obra de Domingos José Gonçalves de Magalhães, “A

Revolução da Província do Maranhão desde 1838 até 1840”3, que por ser contemporâneo da

revolta e ter viajado pelo interior do estado do Maranhão como “integrante da comitiva do

então novo Presidente e Comandante das Armas da Província, o coronel Luís Alves de Lima e

Silva”(ABRANTES, 1996, p. 49)4, apresenta a sua memória mostrando como se deu

cronologicamente os acontecimentos, com um caráter de verdade absoluta e repleta de juízos

de valor que podem ser confirmadas no decorrer de toda a leitura, pois este se mostra muito

conhecedor das áreas de conflito.

Ele compartilha da mesma visão política do governo (tradicional) que mostra os

rebeldes como bandidos e facciosos que tinham “interesse apenas nas pilhagens”

(ABRANTES, 1996, p. 50), e a Balaiada como “fruto da disputa política entre os partidos”

conservador (cabano) e liberal (bem-te-vis), sendo Raimundo Gomes (um dos líderes do

movimento) um mero instrumento nas mãos do partido bem-te-vi. Nessa ótica foi observado

que para Domingos de Magalhães os rebeldes não possuíam nenhuma inteligência e muito

menos um plano político, transparecendo a ideia de que os setores populares eram incapazes

de propor ações e reformas revolucionárias para aquela situação, ficando assim atreladas as

ideias da elite. Por isso considera o partido liberal como uma espécie de “mão oculta”

incentivadora que dirigia Raimundo Gomes, julgando-o incapaz de tomar decisões por si só.

2 Conforme Santos (2010), os estudiosos podem ser divididos em dois grupos: o dos autores-historiadores, que

realizaram seus estudos a partir da “reprodução de documentos importantes” da época, que ajudam a

compreender cronologicamente os acontecimentos da Balaiada e o dos autores acadêmicos, que dão ênfase ao

“caráter popular do movimento, a existência de vários segmentos sociais na composição da revolta, além de

destacarem vários outros aspectos ligados à eclosão, luta e repressão”, elaborando uma análise mais objetiva,

“isenta de paixões e comprometimentos”. (p. 15) 3 Publicada em 1848, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (Apud, ABRANTES, 1996, p.

49) 4 Estudo de grande relevância pela sua análise historiográfica a respeito da Balaiada.

14

Compartilhando proporcionalmente da mesma ideia, Rodrigo Otávio em sua

memória “A Balaiada 1839: depoimento de um dos heróis do Cerco de Caxias sobre a

revolução dos Balaios”, que fala sobre “o depoimento de Ricardo Leão Sabino, um dos

militares que lideraram a resistência da cidade de Caxias” (SANTOS, 2010, p. 20), o autor

mostra uma narrativa pelo lado “vencedor”, apresentando a Balaiada como um movimento de

rebeldia que objetivava “saques e depredações” e os rebeldes como assassinos, malvados,

violentos e sanguinários, praticantes de rapinagem e assaltos em fazendas e propriedades.

Sua memória também apresenta um tom apaixonado mesclado com tons de

heroísmo que descreve minuciosamente a vitória do cerco de Caxias, desde a sua organização

até a luta, destacando os mínimos detalhes dos episódios e das estratégias feitas pelo capitão

Sabino.

Já o autor Alencastre (1872)5 autor da obra intitulada Notas Diárias Sobre a

Revolta Civil que teve lugar nas Províncias do Maranhão, Piauí e Ceará pelos anos de 1838,

1839, 1840, 1841 escritos em 1854 à vista de documentos oficiais, escrita semelhante a uma

crônica, relata detalhadamente e exaustivamente de forma cronológica as fugas e lutas entre

as forças da legalidade e os rebeldes, buscando dar um caráter de verdade através da

utilização de documentos da época.

Por ser considerada uma obra positivista percebe-se que a mesma apenas enumera

os acontecimentos cronologicamente sem a preocupação de explicá-los, porém através da

disposição dos fatos históricos é possível notar que autor apresenta a existência de um

antagonismo explícito entre negros e rebeldes bem-te-vis, que favorecia o enfraquecimento da

revolta.

Além disso, assim como Domingos de Magalhães e Rodrigo Otávio, o autor José

de Alencastre também enxerga os rebeldes balaios como “facínoras”, e, também os classifica

como “caudilhos”6, no que diz respeito à capacidade dos líderes rebeldes em comandar e

prender a atenção de um grande número de pessoas entusiasmadas com a “onda

revolucionária”.

Outra importante obra sobre a Balaiada é a de Amaral (1898)7 intitulada

5 Alencastre era bacharel em Direito e um dos pioneiros da imprensa nova no Piauí, também foi professor de

língua portuguesa no Liceu e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Para o aprofundamento

desta obra vide, SANTOS, 2010, p. 21-22. 6“São denominados caudilhos os políticos e grandes líderes de determinadas nações que exercem seu poder de

forma carismática e de caráter populista por vias autoritárias ou autocráticas”. “Devido ao culto à

personalidade, os caudilhos são capazes de comandar grande número de pessoas e prender a atenção de vastas

multidões entusiasmadas”. (conceito retirado dos sites: http://www.infoescola.com/historia/caudilhismo/ e

http://www.dicionarioinformal.com.br/caudilho/ 7 Escritor maranhense, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e também da Academia

15

“Apontamentos para a História da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão”, escrita

em três volumes e publicada nos anos de 1898, 1900 e 1906, apresenta um relato sobre os

acontecimentos do movimento balaio através da utilização de transcrições de fontes primárias

e dos escritos de jornais da época, especialmente a “Crônica Maranhense” de autoria de João

Lisboa, a quem o autor consagra grande admiração (AMARAL apud ABRANTES, 1996, p.

54).

Em sua obra os acontecimentos também aparecem de forma cronológica,

descrevendo os rebeldes como “os malvados” e as forças do governo como homens de “ação

corajosa, de admirável valor e disciplina” (AMARAL apud SANTOS, 2010, p. 22), o que

também não isenta Ribeiro do Amaral de emitir juízo de valor negativo sobre a Balaiada e

seus participantes.

Além disso, mesmo escrevendo sessenta anos após a revolta, o autor defende a

tese de que a Balaiada foi fruto de sucessivos “erros e imprudências” (ABRANTES, 1996, p.

54) cometidos durante os governos de “Bibiano de Castro (1837) e Vicente Camargo

(1838)”(ABRANTES, 1996, p. 54), tendo o seu estopim com o decreto da Lei de Prefeitos e

Subprefeitos8, que tinha como objetivo

[...] separar o poder administrativo, exercido pelas Câmaras Municipais, do Poder

Legislativo. Os prefeitos eram nomeados pelo presidente da província, para exercer

atribuições administrativas e policiais, funções que outrora eram exercidas pelos

juízes de paz, cargo municipal eletivo (SANTOS, 2010, p. 83-84).

Lei esta que colocava no poder municipal, homens prepotentes e ignorantes, pois

segundo o autor Kidder (1980, p. 148-155 apud SANTOS, 2010, p. 84), os prefeitos na

maioria das vezes eram pessoas de confiança do presidente da província e havia casos em que

estes nem conheciam o lugar onde iriam exercer o cargo, porém após a nomeação os prefeitos

“sentiam-se fortalecidos e o presidente da Província com poderes ampliados”.

Segundo Santos (2010) esta lei atingiu diretamente a elite do interior, que exercia

forte política local, que em sua maioria faziam oposição ao governo provincial, dessa forma

tal lei representou uma artimanha contra as conquistas políticas dos chefes poderosos do

interior, que até então tinha as funções de juiz de paz. Essa grande autoridade dos Prefeitos e

Subprefeitos facilitou a existência de crimes políticos e diversas atrocidades que ficaram

impunes durante todo o período, que acabou resultando no estopim da revolta.

Porém é notório que o foco principal da obra é a defesa de João Lisboa das

Maranhense de Letras.

8 Lei aprovada em 26 de julho de 1838, no governo do Presidente Vicente Pires Camargo (1838-1839).

16

acusações de que este pertencia ao Partido Bem-te-vi (liberal), o “grande” responsável pela

revolta, buscando defende-lo das denúncias feitas pelo jornal O Investigador Maranhense e da

versão apresentada na obra de Domingos de Magalhães, na qual mostra o Partido Liberal

como sendo o idealizador do movimento.

Portanto para o autor, João Lisboa nunca teria quaisquer ligações com os chefes

da Balaiada, pois este era um homem de “caráter puro e austero, e o seu talento superior não

podia admitir alianças e unidades de vista com indivíduos tirados da última ralé da sociedade,

pois tais eram os chefes da revolução” (AMARAL, 1898, p. 42 apud SANTOS, 2010, p. 23).

E se utilizando dos artigos do jornal “Crônica Maranhense” argumentou que o

“Partido Liberal se colocou contra os rebeldes” (ABRANTES, 1996, p. 55) a partir do

momento que exaltou todos aqueles que pegaram em armas “para sufocar o movimento”,

além de afirmar que o fato dos rebeldes se auto intitularem bem-te-vis não significava que

fossem “apoiados pelo Partido Bem-te-vi” (ABRANTES, 1996, p. 55), pois o autor acusa os

rebeldes balaios de estarem apenas interessados nos roubos, assassinatos e depredações que

realizavam pelo interior do Maranhão.

Mas mesmo afirmando que o partido liberal não era idealizador do “plano

revolucionário”, o autor concorda com Domingos de Magalhães quando não acredita que

pessoas simples fossem capazes de liderar um movimento de grandes proporções como foi a

Balaiada, pois para Ribeiro do Amaral o vaqueiro Raimundo Gomes não passava de “um

humilde e obscuro vaqueiro, nascido nos sertões da Província do Piauí, coberto de crimes,

sem prestígio que dá o talento, sem força que trazem as grandes convicções, tivesse podido

por um momento sequer, perturbar o sossego desta Província.” (AMARAL, 1898, p. 54-55

apud ABRANTES, 1996, p. 56).

Segundo Abrantes (1996) a visão do autor sobre os rebeldes também é bem

parecida com a de Domingos Magalhães, pois ambos se apropriaram dos relatos de agentes do

governo e de jornais da época, reproduzindo-os sem questionar as informações, além de

enaltecer a figura de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, definido pelo autor

como “grande e valoroso soldado que, por mais de meio século, poderosamente contribuiu

para o restabelecimento e manutenção da ordem e da paz no interior do país, e desagravo do

brio nacional no exterior” (AMARAL, 1898, p. 9 apud ABRANTES, 1996, p. 57-58).

Contudo apesar do posicionamento de Amaral (1898) reforçar a visão negativa do

movimento balaio, isso não tira o mérito do autor e de sua obra, pois esta é valiosamente a

maior pesquisa documental já realizada sobre a Balaiada.

Com isso pode-se considerar que as visões dos autores citados acima mesmo que

17

exemplifique bem a ideia do “lado vencedor” que a elite e a legalidade da época possuíam

sobre Balaiada e seus participantes, estes fizeram análises de extrema importância que até

hoje auxiliam e estimulam novos questionamentos aos estudos acerca da Balaiada, a revolta

ocorrida no Maranhão.

Ao contrário dos autores positivistas citados acima, Carlota Carvalho em sua obra

“O Sertão” é a primeira autora a fornecer uma visão diferenciada sobre a Balaiada e seus

rebeldes, pois a sua obra faz um estudo histórico e geográfico do sertão maranhense, focando

em aspectos como a colonização, a vida social, intelectual e cultural da região, que nunca fora

antes abordado.

Para a autora assim como para Ribeiro do Amaral, o estopim da revolta se deu

com a criação do cargo de prefeito e subprefeito, que estabeleceu um regime de violência e

terror, que contribuiu para a revolta popular dos sertanejos.

Conforme afirma Santos (2010) é possível verificar certa concordância entre a

autora e Magalhães (1960), pois ambos acreditam que a revolta necessitou de um estímulo

oriundo de líderes intelectuais do Partido Bem-te-vi, que no calor dos acontecimentos não

assumiram as suas ações, como por exemplo, João Lisboa, que segundo Carvalho (1924)

preparou intelectualmente as diversas camadas sociais para a revolta.

Mas o diferencial da autora se deve a defesa dos rebeldes, contrapondo-se a todos

os autores já citados, pois a partir da análise da origem e do papel de cada líder da revolta, ela

os define como “corajosos, intrépidos, leais, dedicados, saídos das classes laboriosas e

honestas – agricultores, vaqueiros, fazendeiros e trabalhadores rurais brasileiros muito

nativistas.” (CARVALHO, 1924, p. 113).

Além disso, Carlota Carvalho também mostra um lado muito omitido pelos

documentos oficiais da legalidade presentes na historiografia tradicional, como a violência

praticada pelos agentes do governo, que destruíram diversas fazendas bem-te-vis e

assassinaram vários prisioneiros, crimes estes que em sua grande maioria foram atribuídos

apenas aos rebeldes balaios.

Deste modo ainda em defesa dos rebeldes a autora critica as ações do Coronel

Luís Alves de Lima e Silva, comparando o posicionamento do mesmo no Maranhão na

revolta da Balaiada e no Rio Grande do Sul na Farroupilha, momentos estes em que o militar

se comportou de forma distinta na repressão dos movimentos, pois na Farroupilha sua ação

militar foi diplomática com a assinatura da Paz de Ponche Verde, que pôs fim ao conflito,

respeitando assim os vencidos e já na Balaiada sua ação militar foi extremamente violenta e

os rebeldes eram tratados como foras da lei.

18

Outro estudioso que também apresenta uma análise diferenciada é Serra9(1946)

que publicou a sua obra “A Balaiada”10, na qual também expõe uma visão positiva da

Balaiada, que busca “uma interpretação mais objetiva e humana” (SANTOS, 2010, p. 28), não

considerando os rebeldes como meros bandidos e criminosos, pois acredita que os crimes e

violências praticados pelos rebeldes foram consequências e não causas do movimento, já que

para ele “a conjuntura opressiva do governo do Presidente Vicente Pires de Camargo

precipitou a revolta” (ABRANTES, 1996, p. 66), devido aos seus desmandos e abusos

cometidos pela sua administração.

Em sua obra o autor também aprofunda as análises sobre a Balaiada como uma

revolta de “massas”, mas não como um grupo e sim como uma circunstância que leva grupos

da sociedade a pensarem e atuarem como “massas”, ou seja, defende que elementos de ordem

psicológica influenciaram a “massa”, que antes era “tranquila embora sofrida a explodir no

episódio da Vila da Manga” (ABRANTES, 1996, p. 67).

De acordo com Abrantes (1996) a posição paternalista de Astolfo Serra retira dos

rebeldes o caráter de bandidos, porém cai em uma postura preconceituosa e elitista, ao afirmar

que aos rebeldes faltou a capacidade intelectual para conduzir à revolta11

, já que para ele a

massa era desordenada e possuía “instinto servil” e por isso precisava obedecer “a lideranças

exteriores a ela” (ABRANTES, 1996, p. 67), mas como os chefes políticos do Partido Liberal

não “ditaram as regras”, a “massa” acabou seguindo pelos seus próprios passos, sendo seus

líderes saídos da própria “massa” rebelada.

Todavia, a partir do final dos anos 60, com a criação do curso de Pós-graduação

em História, a historiografia passou a ser estudada a partir dos pressupostos acadêmicos (tanto

teóricos quanto metodológicos), que favoreceram a produção de estudos que abordavam a

história do Brasil, propiciando, mais tarde, pesquisas no âmbito regional, com a produção de

monografias, dissertações e teses que tratavam de temas já consagrados pela historiografia,

como por exemplo, a Balaiada.

Neste viés é importante destacar quatro obras acadêmicas12que compartilham da

9 Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras, além de

literato maranhense. 10

“Sem dúvidas que a Obra de Astolfo Serra apresenta peculiaridades que o diferencia dos autores citados

anteriormente, pois este parte de uma hipótese e levanta premissas norteadoras para o aprofundamento do

tema, porém em sua análise ainda é possível encontrar os mesmos elementos que caracterizam as produções

historiográficas tradicionais”. (SANTOS, 2010, p. 31) 11

Visão também defendida por Domingos de Magalhães; Carlota Carvalho. 12

Conforme Santos (2010, p. 32) nas obras acadêmicas as análises são matizadas, pois os autores partem de uma

teoria, elaboram hipóteses e dialogam com as fontes, tornando possível a construção de uma história mais

esclarecedora e menos condenatória.

19

mesma visão positiva da Balaiada, sendo a primeira publicada em 198313 intitulada “A

Balaiada e a Insurreição de Escravos no Maranhão” de Maria Januária Vilela Santos, em que

a autora procura demonstrar “a resistência escrava superando a fuga do quilombo e atingindo

a insurreição, descobrindo a natureza de suas atitudes, cujo significado ela buscou dentro da

própria sociedade que os produziu” (SANTOS, 2010, p. 33). Dessa forma ao analisar a

sociedade maranhense, a autora apresenta em sua obra “as duas bases socioeconômicas do

Maranhão no século XIX – a pecuária extensiva e a agricultura de exportação” (SANTOS,

2010, p. 33) – como consequências que influenciaram e diferenciaram o espaço geográfico da

região, desde o seu povoamento até a exploração econômica do solo maranhense, ocorridos a

partir do período colonial. Diferenciações estas que se refletiram na estrutura social do

Maranhão, demonstrando “a profunda desarticulação entre o alto sertão maranhense e o

litoral” (SANTOS, 2010, p. 33).

Além disso, Maria Januária destaca que a instabilidade provocada pela

independência do Brasil gerou transformações na sociedade maranhense, que levaram grupos

marginalizados a tentarem uma possível ascensão social, inclusive os escravos a lutarem e a

fugirem da difícil situação a qual viviam e eram submetidos, o que causou uma onda

revolucionária em grande parte da sociedade.

Por isso a partir da análise social feita pela autora, é possível entender o motivo

pelo qual ela afirma que é “impossível vincular as motivações rebeldes a uma única categoria

social”: e que dela participaram “homens livres, pobres, escravos, fazendeiros, juízes de paz,

desertores da Guarda Nacional, quilombolas, comerciantes, etc” (SANTOS, 1983), essa

desordem social causava “grande preocupação para o governo, que tudo fazia para evitar a

revolta” (SANTOS, 2010, p. 33). Segundo Santos (2010) para Maria Januária a estratégia

utilizada pelo coronel Lima e Silva “consistia em provocar a desunião entre eles” (SANTOS,

2010, p. 34), assim quando um grupo se entregava, este era obrigado a entregar os outros

participantes como prova de lealdade ao governo, porém quem saiu perdendo foram os

escravos que eram perseguidos pelo o governo e pelos seus “companheiros”.

Conforme Santos (2010) outro ponto que merece destaque em sua obra, é que a

autora afirma que no inicio da rebelião, os movimentos dos balaios e dos escravos

transcorriam separadamente, só vindo a ter alguma confluência no momento em que “ambos

agonizavam” (SANTOS, 1983, p. 89) e que somente a partir de julho de 1840 é que a rebeldia

verdadeiramente se instalou entre os escravos. Contudo ao final da revolta “os balaios

13

Foi primeiramente um trabalho apresentado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da

Universidade de São Paulo como tese de doutorado em História.

20

restringiam-se a pequenos grupos desarticulados que sob pressão entregavam-se a

oficialidade” (SANTOS, 1983, p. 94).

Já na segunda obra acadêmica analisada e que se intitula “A Balaiada”14de Janotti

(1987 Apud SANTOS, 2010, p. 35)15 publicada em 1987, a autora apresenta a eclosão da

Balaiada como consequência da instabilidade administrativa e econômica em que vivia a

província do Maranhão até meados do século XVIII. Por isso a autora afirma que o clima de

descontentamento pela situação política e econômica do Brasil e consequentemente do

Maranhão favoreceu o surgimento da Balaiada, que foi concretizado por Raimundo Gomes16

,

que lançou um manifesto de teor político dando início ao movimento.

Embora Janotti (1987) não tenha inocentado os rebeldes em sua obra, ela critica a

maneira como a oficialidade procura sempre deixar claro que todos os crimes eram praticados

apenas pelos balaios, “deixando de fora os bem-te-vis”, por esse motivo ela explica em sua

obra que existe uma distinção entre balaios e bem-te-vis, sendo o grupo dos balaios formado

por pessoas oriundas do sertão e “marginalizados em geral”, a exemplo de “Raimundo

Gomes, Francisco dos Anjos Ferreira, Ruivo e Cosme Bento das Chagas”, e já o grupo dos

bem-te-vis formado em sua maioria pela a população das vilas e povoados, incluindo oficiais,

soldados, desertores da Guarda Nacional, políticos, fazendeiros do Ceará e Piauí, membros do

partido liberal e juízes de paz, liderados por Lívio Lopes Castelo Branco e Pedro Albuquerque

(SANTOS, 2010, p. 36).

E por fim ela mostra a dificuldade dos rebeldes após a Balaiada:

A população marginalizada, que havia lutado durante anos, enfrentando enormes

dificuldades para ser reabsolvida em atividades produtivas: ou venderia sua força de

trabalho a preço vil, ou continuaria como nômade a percorrer o sertão em busca de

um meio de sobrevivência (JANOTTI, 1987, p.70).

A terceira obra destacada é a “Guerra dos Bemtevis: A Balaiada na Memória

Oral” de MatthiasRöhring Assunção, publicada em 1988, “baseado principalmente na

memória oral” (trabalhada no ramo da História Oral)17

das populações das regiões onde se

14

Na qual, a autora defende que o movimento da Balaiada surgiu em função dos descontentamentos sociais,

políticos e econômicos, daí a importância da contextualização da situação econômica do Brasil e do Maranhão

até meados do século XVIII. 15

Formada pela Universidade Estadual de São Paulo e professora desta mesma instituição. 16

No episódio em que o mesmo invadiu a Vila da Manga em 13/12/1838. 17

A História Oral é uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da história

contemporânea surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador a fita. Ela consiste na

realização de entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos e

conjunturas do passado e do presente. Tais entrevistas são produzidas no contexto de projetos de pesquisa,

21

deu a Balaiada, conseguindo assim informações bem “diferentes daquelas cristalizadas pela

historiografia tradicional”, devido ao desconhecimento dessa “história oficial” pelos seus

informantes, devido ao fato de serem analfabetos e não terem acesso aos livros didáticos.

Entre as tais diferenças destacam-se as denominações “Guerra do Balaio” ou “Guerra dos

Bem-te-vis” que foram atribuídos pelos anciãos ao motivo principal do movimento, o “pega”,

que era “o recrutamento forçado comum durante o Império”. (ABRANTES, 1996, p.69).

O autor interpreta a Balaiada como uma “guerra de resistência do campesinato

maranhense”, que era formado a partir “de três matizes: indígenas destribalizados,

descendentes forros e aquilombados de escravos africanos e finalmente migrantes nordestinos,

sobretudo do Ceará.” (ASSUNÇÃO, 1998, 217-218).

Conforme enfatiza Abrantes (1996) ele considera o campesinato da época um

modo de produção subordinado ao modo de produção escravista dominante, sendo que tal

subordinação camponesa é obtida de maneira diferente da que incidia sobre o escravo, pois a

memória oral camponesa julga o “pega” como “uma das articulações centrais pelo qual o

escravismo subtraia força de trabalho ao campesinato.” (ASSUNÇÃO, 1998, 217-218), além

de ser considerado pelos entrevistados como a principal razão da Balaiada, que mais tarde é

confirmada pelo autor. Por isso o campesinato se rebelou procurando fugir de tal violência,

declarando então a Balaiada como uma contra violência cometida pelo Estado.

Outro registro importante dos entrevistados foram os relatos de participação “de

escravos, índios e de bandidos consagrados como Felipe Canastra, que teriam integrado ao

movimento dos camponeses”. (ABRANTES, 1996, p. 70)

Para Matthias Assunção (1988, p.218) a Balaiada foi uma guerra de camponeses,

pois segundo ele:

A derrota dos Bem-te-vis é devida principalmente a sua desunião quando da

promulgação da lei de anistia, a sua falta de posicionamento claro a respeito da

escravidão e a maneira pela qual desenvolvem a guerra. Parece-nos que o caráter

camponês da maioria dos insurretos bem-te-vis explica o seu sucesso na resistência

(dentro da mata) e seu fracasso na ofensiva (a sua dispersão), próprias das guerras

camponesas, que raramente conseguem ser vitoriosas.

Dessa forma, ao fim de sua obra o autor define a Balaiada como sendo uma guerra

de camponeses contra as arbitrariedades do Estado.

E concluindo este balanço historiográfico, destaca-se a obra “A Balaiada no

que determinam quantas e quais pessoas entrevistar, o que e como perguntar, bem como que destino será dado

ao material produzido. (ALBERTI, 2005, p.154)

22

Sertão: a pluralidade de uma revolta.”, da Professora Drª Sandra Regina Rodrigues dos Santos

publicada em 2010, que traz no capítulo dois uma análise sobre o contexto do sertão

maranhense, como sendo um espaço de ocupação dos balaios, destacando no meio a

efervescência de ideias revolucionárias ali presentes, antes mesmo da eclosão da Balaiada.

Por outro lado, no terceiro capítulo denominado “A teia de contradições da

Balaiada”, a autora busca dar conta da complexidade da escrita deste movimento para a

compreensão de sua dimensão política.

E finalmente no último capítulo denominado “A Balaiada e a narrativa da ação”,

ela trata de analisar a ocupação da cidade de Caxias pelos balaios, o lento enfraquecimento do

movimento pelas disputas do poder entre os próprios rebeldes e a retomada de Caxias pelas

forças militares de Luís Alves de Lima e Silva.

Em sua conclusão a autora apresenta os rebeldes balaios nem como heróis e nem

como bandidos, mas sim como sertanejos em luta contra a opressão dos cabanos, que naquele

momento detinham poder e eram responsáveis pelas mais terríveis atrocidades, ficando

sempre impunes.

Ela também enfatiza a dimensão sertaneja da Balaiada, ao mesmo tempo em que

defende a pluralidade de características que demonstram a complexidade da heterogeneidade

do caráter dessa revolta.

Tal obra apresenta um rico acervo documental, que permite a análise de diversas

questões relacionadas ao sertão maranhense e a Balaiada, como por exemplo, a ocupação e

desenvolvimento do espaço sertanejo da Balaiada, além de pensar os aspectos socioculturais

dessa região e a difusão de ideias políticas oriundas da Revolução de 1817 e da Confederação

do Equador herdadas pelo processo de independência do Brasil.

Por isso a partir deste balanço historiográfico é possível inferir que “toda essa

complexidade talvez justifique a atualidade do tema, sempre tão intrigante e ao mesmo tempo

instigante” (SANTOS, 2010, p.189), que tem a sua memória utilizada por representar um

passado de lutas.

23

2 A IMPRENSA ENFATIZANDO O PAPEL DAS MINORIAS NA LUTA EM DEFESA

DA DEMOCRACIA

Os últimos tempos foram marcados por grandes transformações, que

influenciaram o debate historiográfico. A partir do início do século XX, alguns historiadores18

defendiam a validade e a importância do estudo do tempo presente, no que diz respeito à

capacidade da história de produzir um conhecimento inteiramente objetivo e recuperar a

totalidade do passado.

Porém a maioria dos historiadores acredita que o presente como objeto de estudo

ainda é muito problemático, pois a “história como disciplina que possuía um método de

estudos de textos que lhe era próprio, que tinha uma prática regular de decifração de

documentos, implicou a concepção da objetividade como uma tomada de distância em relação

aos problemas do presente. Assim, só o recuo no tempo poderia garantir uma distância

crítica” (FERREIRA, 2002, p.2). E a competência do historiador estaria justamente ligada à

interpretação dos acontecimentos históricos, quando “não mais existisse testemunhos vivos

para serem estudados” (FERREIRA, 2002, p.2).

A explicação encontrada para essa situação “deve- se ao fato de que o período

recente não exigia (ou ainda não exige) uma farta cultura clássica, nem o controle dos

procedimentos eruditos do método histórico” (FERREIRA, 2002, p.3), pois o objetivo maior

não está na produção de fatos novos, mas sim na busca de novas interpretações para fatos já

conhecidos.

Dessa forma, o século XX carregou (e o século XXI continua carregando) o

estigma do presente como um objeto de estudo problemático, que constantemente tem a sua

“legitimidade questionada, seja por uma possível impossibilidade de recuo no tempo, aliada a

dificuldade de apreciar a importância e a dimensão de longo prazo dos fenômenos”

(FERREIRA, 2002, p.2), ou por se resumir apenas a um relato de caráter jornalístico.

Mas paralelamente a esse debate historiográfico, alguns campos de estudos foram

ganhando espaço, dentre eles a história cultural, através da “valorização de uma história das

representações, do imaginário social e da compreensão dos usos políticos do passado pelo

presente” (FERREIRA, 2002, p.2), promovendo uma nova forma de pensar e interpretar as

18

Como Fernand Braudel, Jacques Le Goff, Pierre Nora e Georges Duby, influenciados pela Escola dos

Annales, movimento historiográfico iniciado por LucienFebvre e Marc Bloch, surgido na França na primeira

metade do século XX, que provocou grandes modificações metodológicas na historiografia, na época baseada

em uma visão positivista, devido à ênfase apenas aos fatos e as datas, sem uma profunda análise de estruturas

ou conjunturas, levando em consideração suas transformações ao longo do tempo.

24

relações entre o passado e o seu uso no presente.

Nesse sentido, a historiadora Janotti (2005) em um levantamento sobre a Balaiada

enfatiza que é comum encontrar-se atualmente pessoas ou instituições que usam de forma

diversa e muitas vezes contraditória a memória da Balaiada, se apropriando do seu

simbolismo. Esse é um exemplo do “processo de ressignificação da memória da Balaiada e do

afastamento de seu significado histórico”, havendo uma espécie de “reinvenção da tradição

balaia” que pode ser observada em jornais, sites políticos, religiosos, de organizações sociais

e até mesmo em movimentos sociais e políticos nas últimas décadas.

Historicamente os jornais já foram vistos como “fruto da indústria cultural e

simples ferramenta de manipulação burguesa”, e com o passar do tempo foram se definindo

como uma “forma social de conhecimento”, com grande potencial crítico emancipatório para

“a luta de classes e a formação de sujeitos históricos” (MOURÃO, 2012, p. 1).

E os movimentos sociais têm explorado esse novo papel dos jornais, utilizados

por eles como um tipo de “indústria da consciência”, por se tratar de um tipo de comunicação

capaz de atingir a mente da população em larga escala. (MOURÃO, 2012, p. 4).

Por isso se faz importante à análise da apropriação da Balaiada nos principais

jornais em circulação no Estado, para buscar em suas matérias, a utilização da memória da

Balaiada nos discursos dos chamados “novos balaios”, pois se considera que toda esta

apropriação reflete a mudança do olhar sobre o sentido e os significados que foram sendo

construídos sobre o movimento balaio ao longo dos anos, especificamente entre os anos de

2006 a 2009.

A primeira fonte trabalhada foi o Jornal O Imparcial19

, pertencente à Associação

Diários Associados, conhecido também como Condomínio Acionário dos Diários e Emissoras

Associados, fundada pelo falecido Assis Chateaubriand20

, um magnata das comunicações no

Brasil entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1960. Atualmente é o sexto maior

conglomerado de empresas de mídia do Brasil e conta com 50 veículos de comunicação21

,

sendo o Jornal O Imparcial o segundo mais importante do Maranhão22

.

O segundo jornal analisado foi o Jornal Pequeno, fundado em 29 de Maio de

1951, pelo jornalista José de Ribamar Bogéa, em um momento em que todos os órgãos de

19

Informações sobre o jornal contidas nos site http://educacao.uol.com.br/biografias/assis-chateaubriand.jhtm 20

Também se destacou como jornalista, empresário, político, advogado, professor de direito, escritor e membro

da Academia Brasileira de Letras. 21

São:15 jornais , 3 revistas, 12 rádios, 8 emissoras de televisão, 4 portais, 14 sites, 1 fundação , e outras 7

empresas. 22

Informação contida no site http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Imparcial

25

imprensa do Estado do Maranhão de alguma forma encontravam-se indiretamente vinculados

a grupos políticos23

.

Mesmo que historicamente não tenham nenhum vínculo direto com grupos ou

partidos políticos, estes jornais se mantiveram como opositores ao processo de cassação do

governador Jackson Lago no cenário político maranhense durante este período.

Insistência de Sarney em tomar o poder na “marra” pode gerar “Nova Balaiada”.

(Jornal Pequeno, 7 de dezembro de 2008)

TSE não cassa Jackson e frustra José Sarney: Julgamento de Jackson Lago no TSE é

interrompido por pedido de vista. (Jornal Pequeno, 19 de dezembro de 2008)

Jackson: Grupo Sarney tenta cassar prefeitos da frente opositora- O governador

Jackson Lago (PDT) vê a tentativa de cassar o mandato do prefeito eleito Miltinho

Dias (PT), em Barreirinhas, via Justiça Eleitoral, como parte da estratégia do grupo

Sarney de voltar ao comando da máquina estadual. “Eles querem também retirar o

mandato popular dos prefeitos aliados do governo, já que conquistaram somente um

terço das prefeituras”, disse. Um manifestação, organizada pelo PT, em defesa de

Miltinho, está marcada para sexta feira. Jackson já confirmou presença. (O

Imparcial, 25 de dezembro de 2008)

Mediante a leitura das matérias do jornal O Imparcial percebe-se que o

posicionamento do mesmo em relação ao Movimento Balaiada e a cassação do ex-governador

não condizem propriamente com seu nome, de ser imparcial, pois as matérias ali expressas

não refletem a imparcialidade do jornal, pois de certa forma induzem a defesa do grupo

instalado no poder24

. Isso pode ser constatado em manchetes e matérias sobre a Jackson Lago

e seu grupo político.

Julgamento de Jackson: Tensão e Expectativa- julgamento do recurso especial é

adiado para hoje; Movimentos estudantis fazem passeatas pela cidade; MST e

representantes políticos defendem governador em Brasília; Lideranças políticas

prestam solidariedade no Palácio dos Leões. (O Imparcial, 17 de dezembro de 2008)

TSE cassa Jackson: O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou ontem, por 5 votos a

2, o mandato do Governador Jackson Lago (PDT) por abuso de poder econômico e

político nas eleições 2006. O Tribunal também decidiu que a segunda colocada,

Roseana Sarney (PMDB), deve assumir o lugar do pedetista. Jackson, porém,

permanecerá no cargo até que todos os recursos a favor dele sejam julgados. (O

Imparcial, 4 de março de 2009)

Jackson resiste: „Não temos o direito de frustrar a esperança do povo. Não vamos

sair do Palácio dos Leões enquanto não forem julgados todos os recursos no STF.

Daqui resistiremos. Daqui não entregaremos o cargo de governador à filha da mais

velha oligarquia deste país‟. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) confirmou ontem

à noite a cassação do mandato do governador Jackson Lago (PDT) e de seu vice,

23

A breve história do jornal disponível no site do mesmo

http://www.jornalpequeno.com.br/2005/3/14/Pagina10.htm 24

Após a cassação de Jackson as principais matérias eram destinadas ao novo governo, no caso de Roseana

Sarney, legitimando a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral – instância jurídica máxima da Justiça

Eleitoral brasileira) que na época ainda era bastante discutida, pois era contrária as determinações eleitorais

que defendia que o cargo deveria se assumido pelo Presidente da Assembleia Legislativa, na época Marcelo

Tavares.

26

Luís Porto (PPS). Decidiu que eles devem sair imediatamente do cargo e que a

segunda colocada nas eleições de 2006, Roseana Sarney (PMDB), assuma o

governo. Mas Jackson afirmou que resistirá à decisão do TSE, a qual ele chamou de

„farsa‟. Foi aplaudido por uma multidão- militantes do MST e de movimentos

indígenas e quilombolas, em sua maioria- que, como ele, assistiram ao julgamento

em um telão montado em uma área aberta do Palácio dos Leões. Ao seu lado

estavam sua mulher e deputados estaduais de partidos da base aliada. (O Imparcial,

17 de abril de 2009)

Na última matéria citada é notória que esta enfatiza o apoio de uma multidão (no

caso, representantes de movimentos sociais, como MST, indígenas e quilombolas) a Jackson,

apoio este em que existe uma intencionalidade consciente ou não de aproximação da

identidade do líder político Jackson Lago com estas minorias, com o intuito talvez de

demonstrar a aproximação entre os mesmos.

Sobre o conceito de identidade enfatiza Stuart Hall (2004, p. 38), “a identidade é

realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo

inato, existente na consciência no momento de seu nascimento. Existe sempre algo imaginário

ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre em processo,

sempre sendo formada”, por isso não se pode confiar na ideia de uma identidade universal,

porque no mundo pós-moderno existe a emersão de novas identidades que acabam por

fragmentar o indivíduo, provocando mudanças no sentimento de pertencimento.

Semelhantes observações sobre o caso da cassação de Jackson estão também no

Jornal Pequeno, como mostram as seguintes manchetes:

Movimentos Sociais apresentam carta em defesa do Governador: Tentativa de cassar

no „tapetão‟ o mandato de Jackson Lago é condenada. (Jornal Pequeno, 30 de

novembro de 2008).

Lideranças do PDT de todo o país manifestam apoio a Jackson Lago. (Jornal

Pequeno, 6 de dezembro de 2008)

Aumenta a mobilização contra cassação do Governador do Maranhão: Deputados

saem em defesa de Jackson em São Luís e Brasília; Ato público reúne classe política

e MST na Deodoro e Pedro II; Mulheres apoiam moção de apoio ao governador em

fórum nacional, em Brasília. (Jornal Pequeno, 12 de dezembro de 2008).

Neste último fragmento, além do apoio dos membros do MST, o jornal enfatiza a

presença das mulheres no movimento, o que mostra como esse grupo social se identificava e

se sentia pertencente ao ocorrido.

Acredita-se que a participação feminina tinha por objetivo fixar sua posição em

relação a este evento, ao mesmo tempo em que é acompanhada por um forte caráter simbólico

27

da luta feminina presente em outras questões na sociedade atual.

Pois como reforça Stuart Hall (2004, p. 12),

Não existe uma identidade fixa, porque esta varia de acordo com as formas pelas

quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam.

O sujeito assume identidades de acordo com a ocasião e o momento. Não há um

„eu‟ coerente, nossa identidade é contraditória”.

Mesmo quando a cassação ainda era uma incógnita, os dois jornais vinculavam

notícias sobre o assunto da “crise política”, principalmente no que diz respeito ao apoio

recebido por Lago, seja por personalidades de destaque no contexto sociopolítico, seja por

partidos políticos e movimentos sociais, como mostram as manchetes abaixo:

Governadores do Nordeste em solidariedade a Jackson: Durante o IX Fórum de

Governadores do Nordeste, muitos gestores aproveitaram para prestar solidariedade

a Jackson Lago, em razão do processo que pede a cassação de sua mandato na

justiça eleitoral. (O Imparcial, 3 de dezembro de 2008)

Vontade Popular: Entidades repudiam processo contra Jackson Lago. (O Imparcial,

5 de dezembro de 2008)

No último dia 05 de dezembro Jackson Lago recebeu manifestação de solidariedade

assinada por representantes de partidos e entidades de referência nacional. Entre

eles, o secretário geral do PSB, Roberto Amaral; o jornalista e diretor da Telesur,

Beto Almeida; João Pedro Stedile, da coordenação nacional da Via Campesina

Brasil, Marina dos Santos, da direção nacional do MST; Frei Sergio Gorgen, do

movimento dos Pequenos Agricultores e o professor universitário e jornalista de

destaque em São Paulo, Igor Fuser. [...] Entre várias personalidades nacionais,

assinam o movimento de apoio a Jackson o deputado Vieira Cunha, presidente

nacional do PDT; Manoel da Conceição, fundador do PT nacional; Walter Pomar –

secretário de relações internacionais do PT; Frei Beto – sociólogo; Anita Leocádia

Prestes – professora da UFRJ e filha de Carlos Prestes. As manifestações de apoio

não param no Maranhão. Ontem, o Movimento de Mulheres do PDT se juntou ao

MST e entidades ligadas a luta no campo e mobilizaram em frente ao Palácio do

Leões contra a tentativa de manobra. [...] Jackson recebeu ainda manifesto do

Movimento Popular LGBT em defesa do governo democrático popular. (O

Imparcial, 11 de dezembro de 2008)

28

Figura 1: Governador Jackson Lago, sua luta é nossa luta.

Fonte: Jornal O Imparcial, 11 de Dezembro de 2008.

Frei Betto manifesta solidariedade a Jackson e repudia tentativa de golpe: Em

virtude de compromissos inadiáveis, assumidos anteriormente, o sociólogo Frei

Betto não poderá participar da vigília cívica em defesa do mandato do governador

Jackson Lago. Mas enviou uma mensagem reiterando o apoio e condenando a

tentativa de golpe no Maranhão. “Uno-me ao esforço de todos vocês em defesa do

mandato do governador Jackson Lago. O aperfeiçoamento da democracia

brasileira não admite que práticas caudilhescas de divisão política e eleitoral do

país continuem a persistir. Jackson Lago foi eleito democraticamente pelo povo do

Maranhão e merece todo o nosso apoio e o nosso repúdio às velhas manobras

golpistas que ofendem a nossa cidadania e civilidade. Viva Jackson Lago! Viva, o

povo maranhense!” (Jornal Pequeno, 2 de março de 2009)

No fragmento do dia 05 de dezembro de 2008, a manchete do jornal ressalta que a

luta de Jackson Lago é a mesma de um grupo representativo de diferentes correntes

partidárias e ideológicas, porém essa possível aproximação deve ser vista com bastante

cuidado, pois segundo Chartier, a visão do mundo como uma representação “é moldado

através das séries de discursos que o apreendem e o estruturam, conduz obrigatoriamente a

uma reflexão sobre o modo como uma figuração desse tipo pode ser apropriada pelos leitores

dos textos (ou das imagens) que dão a ver e a pensar o real” (2002, p. 23), por isso tal

“configuração narrativa pode corresponder a uma reconfiguração da própria experiência”

(2002, p. 24), daí a necessidade de se ter o conhecimento do signo enquanto signo e no seu

distanciamento da coisa significada, pois a variabilidade e a pluralidade de compreensões (ou

incompreensões) dessas representações do mundo social podem ser produzidas e manifestadas

conforme os interesses de um determinado grupo.

29

As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à

universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos

interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento

dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza. (CHARTIER, 2002, p.

17)

Portanto é possível inferir que as várias percepções (e posições) do social

advindas do campo rural e das minorias, não são discursos neutros, visto que são

estrategicamente produzidas para impor uma autoridade sobre outros, considerados inferiores.

Essa legitimação do discurso acaba por reformar ou justificar para esses indivíduos as suas

próprias escolhas e condutas, já que nessa “luta de representações” baseada em discursos, o

carro-chefe é a ordenação ditada pela hierarquização da própria estrutura social a qual

pertence todos os indivíduos.

Nas manchetes destes jornais também se percebe que a manifestação popular é

bastante enfatizada buscando evidenciar, que estas categorias sociais tinham clareza de que o

episódio político da cassação de Jackson Lago não passava de “manobra política”, daí a

defesa do “governo democrático”, aproximando o olhar destas minorias sociais como

semelhante à de um sociólogo renomado como Frei Beto, que olha e repudia este episódio

como uma “manobra golpista” contra a cidadania e a democracia.

Fora as manchetes citadas acima existem inúmeras matérias que tratam de

manifestações populares de repúdio à cassação do então governador Jackson Lago, sejam elas

ocorridas em passeatas, atos públicos ou em encontros promovidos pelo governo do estado

com entidades populares e sindicatos, um exemplo disso foi a moção de apoio das entidades

participantes25

do lançamento do programa “Mais Alimentos26

” escrita no dia 4 de dezembro

de 2008 e publicada pelo Jornal O Imparcial dia 5 de dezembro de 2008.

MOÇÃO DE APOIO DAS ENTIDADES PARTICIPANTES DO LANÇAMENTO

MAIS ALIMENTOS AO GOVERNADOR JACKSON LAGO

Um mandato, qualquer que seja, não é conseguido sozinho. Muitos trabalham para

sua conquista e consolidação. A junção de esforços de entidades e população fez

com que no dia 29 de outubro de 2006 o Maranhão se houvesse livre da espoliação,

do atraso e abandono que vivemos todos esses anos.

A esperança ressurgiu com Jackson Lago. Governo que desconcentra ações,

compartilha decisões com as entidades, sindicatos, associações, trabalhadores rurais

da agricultura familiar.

No governo Jackson Lago o desenvolvimento rural é parte integrante do

25

Fetaema (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão), MST (Movimento dos Sem

Terra), Aconeruq (Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão), Uaefama (União

das Escolas Famílias Agrícolas do Maranhão), entre outras. 26

Este programa do governo visava o desenvolvimento das áreas consideradas importantes para a agricultura do

estado, como Pinheiro, Vitória do Mearim, Buriti Bravo, Colinas, Pedreiras, entre outros, através da

construção de estradas para o escoamento da produção.

30

desenvolvimento global. Não somos beneficiários das migalhas dos investimentos

do Estado, somos, na verdade, parceiros da administração estadual.

O Governo Estadual com a sua equipe de secretários e técnicos tem ido aos

municípios e de forma democrática ouvem críticas, acolhem sugestões, redefinem

caminhos. Um governo de verdade.

É essa forma democrática e descentralizada de governar que incomoda aqueles que

cuidaram somente dos seus interesses no comando político e administrativo do

Estado por mais de 40 anos, promovendo o atraso e, como já disse o Padre Vítor

Asselin, os oligarcas instituíram no Estado do Maranhão, uma sociedade de favores

e temem a formação de uma sociedade pautada em direitos.

Por tudo isso, nós os representantes da sociedade civil, que hoje, participamos do

lançamento do Programa Mais Alimentos, subscrevemos a presente moção de

repúdio aos que pretendem usurpar o mandato que nós conquistamos juntamente

com o Governador Jackson Lago.

Em 2006, NÓS e Jackson Lago libertamos o Maranhão do atraso, das perseguições

políticas, das privatizações escandalosas, e ausência de investimento na educação e

agricultura e estamos construindo uma sociedade com MAIS ALIMENTOS, MAIS

EDUCAÇÃO, LIBERDADE E CIDADANIA. (O Imparcial. 5 de dezembro de

2008)

Nesta monção é notória a ênfase dada à participação popular no governo Jackson

Lago, na qual é possível perceber uma aproximação da figura deste líder político com as

“massas”, pois ao fazerem uso do pronome “nós”, é uma tentativa de justificar que todos os

sujeitos compartilhavam dessa coletividade, como se possuíssem identidades semelhantes,

pois a identidade é “formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais

somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 2004,

p. 13).

Ou seja, o autor (2004) aponta que existe a necessidade de se pensar a

individualidade nas suas variações históricas e sociais para se romper com o conceito de

sujeito universal, já que as estruturas mentais, sociais e culturais são extremamente mutáveis,

podendo ocorrer em processos de curto a longo prazo.

Estas mutações podem ser apoiadas na noção de apropriação contemplada no

pensamento de Roger Chartier (2002), quando defende que as apropriações dentro da história

social, são interpretações remetidas por determinações sociais, institucionais e culturais, que

se encontram registradas nas práticas específicas que as produzem.

Desta forma, tal participação popular no governo é vista por estas entidades

participantes do “Programa Mais Alimentos”, como a “verdadeira” democracia, que ajudará a

tirar o Maranhão do retrocesso vivido há 40 anos, período este em que o governo estadual não

dialogava com a sociedade civil.

Essa espécie de descentralização administrativa do governo Jackson Lago é

colocada pelos jornais como uma “porta aberta” entre a sociedade e o governo estadual para

um diálogo direto, que a pequenos passos contribuiu bastante para a construção gradativa de

31

um espaço democrático com a sociedade e seus representantes.

No Encontro dos Povos da Pré-Amazônia Maranhense, o governador Jackson

Lago voltou a falar da importância desses eventos para o fortalecimento da participação

popular em seu governo. Neste mesmo evento foi escrita uma carta em defesa do governador

apresentada por movimentos sociais participantes do Fórum Solidário dos Povos da Pré-

Amazônia e publicada pelo Jornal Pequeno.

Carta de Apoio À Democracia do Maranhão

No dia 29 de outubro de 2006, o povo maranhense, num processo de democracia,

elegeu um novo governo para o Maranhão.

Várias organizações da sociedade civil organizada apoiaram essa mudança. Depois

de 40 anos, o reflexo da realidade maranhense, apresentado pelos indicadores

socioeconômicos, fez com que trabalhadores e trabalhadoras desse Estado

repensassem o Maranhão que querem.

O processo eleitoral no Maranhão demonstrou que não seria fácil vencer. Mas, o

mais difícil mesmo seria governar. A estrutura de poder que os grupos oligarcas

desse país construíram emperra e atrasa o processo de organização e

desenvolvimento do povo brasileiro, não muito diferente do Maranhão, quiçá mais

complexo.

Os movimentos e organizações sociais do Maranhão reconhecem as dificuldades e

desafios que qualquer governo terá de enfrentar, se realmente pretende organizar

esse Estado. Contudo, sabe-se que, uma das alternativas para enfrentar injustiça e

anti-democracia é unir forças entre poder público e sociedade em torno do Maranhão

que queremos construir para nossas gerações.

As organizações da sociedade civil do Maranhão analisam a conjuntura e visualizam

que o processo eleitoral de 2006, no Maranhão, foi democrático.

Esperamos que a justiça garanta a democracia sempre, mantendo a vontade popular

expressa nas eleições de 2006, e que, estaremos vigilantes às tentativas de violação

de nossos direitos duramente conquistado.

POVO ORGANIZADO, BATALHA VENCIDA!(Jornal Pequeno, 30 de novembro

de 2008)

Nesta carta percebe-se a preocupação do povo em legitimar o governo eleito em

2006, como democrático, que através da vontade popular do povo maranhense pôde por fim

ao grupo político que estava no poder a 40 anos, e que é acusado de ser responsável pelo

atraso na organização e desenvolvimento do Maranhão, comprovado pelos indicadores

socioeconômicos do Estado. Por isso os movimentos e organizações sociais esperam que a

justiça garanta a democracia, mantendo a vontade popular do Estado, ou seja, respeitando o

voto da maioria.

Este é um encontro promovido pela sociedade civil. O governo está participando

como convidado para discutir os problemas e a realidade da região e é uma forma de

irmos implantando progressivamente o orçamento participativo.

A sociedade, através de suas organizações, está apresentando as dificuldades que

enfrenta, os seus dramas, equívocos, e estabelecendo prioridades. E, sobretudo,

sedimentando a relação das estruturas do governo com a população. (O Imparcial,

29 de novembro de 2008)

32

Nesta fala do governador Jackson Lago é possível notar que a voz dessas

entidades é ouvida em suas reivindicações e são consideradas “parceiras da administração

estadual” desde 2006, com a eleição do seu governo.

Na manchete da edição do dia 11 de dezembro de 2008, o jornal O Imparcial

enfatiza a grande manifestação de solidariedade recebida por Lago, assinada por

representantes de partidos políticos, entidades de referência nacional, jornalistas, da direção

nacional do MST; do movimento dos Pequenos Agricultores [...] Entre várias personalidades

nacionais, como o sociólogo Frei Beto e Anita Leocádia Prestes – professora da UFRJ e filha

de Carlos Prestes. (O Imparcial, 11 de dezembro de 2008)

Nesta manchete e também em outras do Jornal Pequeno há destaque para a

manifestação de movimentos de setores organizados da sociedade em torno do apoio ao então

governador Jackson Lago, como forma de fazer oposição ao grupo Sarney. “População

repudia golpe de Sarney: Movimentos Sociais reforçam atos de apoio a Jackson Lago.”

(Jornal Pequeno, 16 de março de 2009)

Com o aumento da mobilização popular contra a cassação de Jackson Lago,

deputados maranhenses defenderam seu mandato na Assembleia Legislativa e na Câmara

Federal em Brasília, destacando a existência de um movimento popular autointitulado

“Balaiada Moderna” que naquele momento estava fazendo vigília em frente ao Palácio dos

Leões em defesa da democracia e do “mandato legítimo do governador outorgado pelo povo

nas eleições de 2006.” (JORNAL PEQUENO, 2008).

Também ao falar do movimento “Balaiada Moderna” o líder do governo Edivaldo

Holanda afirmou que “a população está fazendo um movimento pacífico e natural,

manifestando o seu ponto de vista e dizendo que não aceita um terceiro turno no Maranhão.”

(JORNAL PEQUENO, 2008), tal declaração foi feita ao rebater as acusações do deputado

Ricardo Murad, que classificou o movimento como uma incitação à baderna e a desordem.

É interessante ressaltar que dias antes, o Jornal Pequeno comparou este

movimento popular à Greve de 195127

, conhecida historicamente como a “Balaiada Urbana”,

denominando o “novo movimento popular” como a “Nova Balaiada da Ilha Rebelde”.

No editorial publicado em 07 de dezembro de 2008, há várias comparações entre a

manobra política praticada por Vitorino Freire em 1951 e a de José Sarney praticada em 1964

quando durante o regime militar governou o Maranhão, e assim como no ano de 2006, com a

27

Movimento popular radical também conhecido como “Balaiada Urbana”, ocorrido na cidade de São Luís,

contra as fraudes eleitorais promovidas por Victorino Freire, senador do Estado do Maranhão, nas eleições de

1951 - remeta seu aprofundamento aos estudos de Rios (2003) e Costa (2004).

33

derrota de sua filha na disputa eleitoral pelo governo do Maranhão, “quer tomar o poder na

marra”. (JORNAL PEQUENO, 2008).

[...] José Sarney, assim como fez Vitorino Freire naquela data, quer tomar o poder

do poder na marra, cassando na Justiça o mandato do governador Jacson Lago.

[...] A indignação está ficando incontrolável porque Sarney, assim como Vitorino

àquela época, insiste em corromper um processo eleitoral que o afastou do poder

somente depois de intermináveis 40 anos.

[...] Em tudo ele repete o tenente Vitorino Freire. Vitorino apoiou o golpe de 1930,

Sarney apoiou o de 1964, assumindo na década de 60, o controle do Maranhão. E se

apossou dos poderes públicos e privados, da Justiça, da política, das repartições,

exatamente como Vitorino Freire. Montou aqui um despudorado de cargos públicos,

clientelismo, cooptação política, controle dos partidos e perseguição. Vitorino, assim

como Sarney, se valia do prestígio nas altas esferas administrativas, de órgãos

federais manipulados como instrumentos de vingança política e suborno.

[...] Sarney quer se valer de seu prestigio junto ao Presidente Lula, da manipulação

dos órgãos federais que controla, da influencia nefasta que diz exercer na Justiça

para depor o governador do Estado e recolocar, na marra, a filha no poder. (Jornal

Pequeno, 07 de dezembro de 2008)

De acordo com o expresso neste texto é possível perceber que as “artimanhas

políticas” de José Sarney em muito lembram a de Vitorino Freire na década de 50 e que assim

como em 1951 causaram a conhecida “Balaiada Urbana”, esta situação atual também poderá

resultar em uma “Nova Balaiada”, “ninguém se espante se uma „nova Balaiada urbana‟, como

ficou conhecida aquela greve, considerada o mais formidável movimento político de massas

da história do Maranhão, tomar conta das ruas da capital.” (JORNAL PEQUENO, 2008).

E chamando a atenção da população O Jornal Pequeno ainda destaca que “o alerta

está feito!”, e que “este crime de lesa-pátria”, se ocorrer efetivamente poderá ascender

novamente uma revolta popular, a exemplo de 1951 e que ninguém poderá prever o que

poderá acontecer. Tal “alerta” colocado na matéria do Jornal Pequeno nos faz relembrar o que

dizia o jornalista João Lisboa na época da Balaiada em 1838.

Consta-nos que há poucos dias uma partida de proletários, atacaram o quartel do

destacamento da Villa da Manga, do qual se apossaram, por haver ali poucos

soldados, roubando depois o armamento, soltando os presos, prendendo o ajudante

João Onofre, e fazendo fugir o Subprefeito. Até as ultimas noticias ficavam ainda

estes homens na vila, mas atento o seu pequeno numero, é de crer que sejam

facilmente dispersados ou presos por um destacamento de 30 homens que saiu em

busca deles de capital no dia 21 do corrente, se já o não tiverem sido pelas forças

que por lá mesmo se devem ter reunido.

Ainda não sabemos ao certo da ocasião e motivos deste desaguisado posto que

vagamentotenhamos ouvido falar em odiosas vexações praticadas ali contra os

homens de cor, por meio do recrutamento, que n‟alguns pontos tem sido até um

grande ramo de negocio, por ventura os presos que se soltaram seriam recrutas. O

descontentamento de uns, a turbulência de outros, a audácia de alguns facinorosos,

como por exemplo, um dos chefes do bando, que nos disse ser muito conhecido

pelos seus crimes, ajudando turbo do despotismo das prefeituras, eis o que

provavelmente deu causa a esta desagradável ocorrência.

34

Não devemos calar que já correm por ai uns vagos rumores que essa tropa já se

eleva a 70 homens, e que tem por um de seus cabeças o famoso João Nunes tão

conhecido pela sua turbulência desde o tempo da independência.

Atento ao publico, que mau grado às divergências de opinião é todo avesso a

desordens é de crer que a Iguará seja facilmente sopeada, enviando o governo para

ali as forças necessárias.

Seria para desejar que os jornais do mesmo governo inteirassem o publico do

verdadeiro estado das coisas. (Chronica Maranhense, 23 de Dezembro de 1838)

Neste fragmento acima, extraído do Jornal Chronica Maranhense escrito pelo

jornalista João Lisboa no século XIX, é notório o “alerta” feito a população sobre um violento

movimento de “homens de cor” contra o recrutamento forçado praticado pelo “despotismo do

governo cabano”, e que devido à grande proporção em que vinha crescendo, era necessário

que todos os jornais, inclusive os que defendiam o governo, informassem do perigo eminente

de uma revolta maior, devido à opressão em que vivia a população marginalizada naquele

período.

De fato a materialização do “o alerta está feito” foi uma caminhada pela Rua

Grande realizada por militantes do Comitê de Defesa da Democracia em forma de protesto

contra “o golpe que Sarney pretendia dar naquele momento em favor da filha Roseana”. No

decorrer desta caminhada os manifestantes aproveitaram para distribuir o informativo

Balaiada, que tinha como título “Movimentos sociais não aceitam o golpe de Sarney no

Maranhão”, no qual os movimentos sociais se faziam ouvir e disseminar as suas ideias.

E segundo um dos militantes, “o Maranhão está em estado de alerta. Nós estamos

aqui para defender o nosso voto, para defender a democracia. Todo mundo sabe que Roseana

perdeu a eleição no voto e agora quer voltar na marra. Não aceitaremos isso” (JORNAL

PEQUENO, 2009). Por isso é possível constatar que nas matérias onde aparecem as

manifestações populares, que se auto intitulam Movimento Balaiada28

, ligadas diretamente à

cassação do governador Jackson, tal movimento assume uma posição de resistência, em

defesa da democracia (voto) e da soberania do povo maranhense:

Todo movimento objetiva conscientizar a população sobre o momento político

vivido no Maranhão e a importância de se defender a escolha democrática e o voto

consciente. (O Imparcial, 20 de março de 2009)

O governador agradeceu o apoio e disse que a manifestação mostra o sentimento de

revolta pelo desrespeito para com o voto de um grande número de maranhenses que

o elegeram. (O Imparcial, 24 de março de 2009)

Até onde pode ir a paciência de uma população que sistematicamente vê que seu

voto é desrespeitado? O povo maranhense reivindica respeito.29

(O Imparcial, 28 de

março de 2009)

28

Formado pelos movimentos negro, indígena, quilombola, MST, quebradeiras de coco, professores, estudantes

e partidos políticos (PDT e PT) em sua maioria, além de civis. 29

Fala de Jackson Lago em entrevista coletiva a membros da mídia estrangeira.

35

Dentre os vários grupos sociais que participaram do Movimento Balaiada

Moderna, estavam o MST (Movimento dos Sem Terra), representado por suas principais

lideranças, que iria completar 25 anos de existência. Nesta ocasião, convidou Jackson Lago

para a comemoração no Estado do Paraná, e neste evento que reuniu várias personalidades da

oposição, Jackson aproveitou para ratificar a união do seu governo com o MST, demostrando

assim a relação de ambos.

Figura 2: Jackson Lago no MST

Na imagem acima estão presentes também no evento ao lado de Jackson Lago, o

governador do Paraná Roberto Requião, que durante toda sua vida política foi membro do

Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), sucessor do antigo Movimento

Democrático Brasileiro (MDB), o partido de oposição à ditadura militar30

, a filha mais velha

do revolucionário Che Guevara, Aleida Guevara, que assim como seu pai é formada em

medicina e possui forte ligação com o comunismo, sendo a única herdeira de Guevara a ser

filiada ao Partido Comunista Cubano31

e João Pedro Stédile, fundador e presidente nacional

do MST.

A colocação desses importantes personagens políticos ao lado de Jackson reforça

ainda mais o caráter de oposição que cada um representa no meio em que atua, e que juntos

apoiavam a “causa” de Lago, que na época era principal representante da oposição no

Maranhão.

30

Informações encontradas no site do próprio governador Requião: http://www.robertorequiao.com.br/site/ 31

Informações encontradas no site

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2011/06/30/interna_politica,236974/aleida-guevara-tem-berco-na-

militancia-cubana.shtml

Fonte: Jornal O Imparcial, 27 de Janeiro de 2009.

36

Outra manifestação popular que ocorreu fora do Estado foi o Movimento Pró-

Jackson que aconteceu na abertura do Fórum Social Mundial 2009 em Belém do Pará, na qual

a delegação maranhense que participava do evento aproveitou para denunciar as articulações

feitas pelo grupo Sarney contra o governador Jackson Lago no processo de cassação do TSE.

Tal movimento foi coordenado pelo Comitê de Defesa da Democracia no

Maranhão, representado por membros do MST, ONG‟s e dezenas de estudantes maranhenses,

que tomaram as ruas mostrando o seu descontentamento em relação ao desrespeito à

soberania maranhense devido à tentativa de cassação do governador eleito pelo povo, além de

manifestarem as várias mazelas sociais do Estado do Maranhão causadas pelos mais de 40

anos de mandonismo da oligarquia Sarney.

Empunhando bandeiras, faixas e cartazes com palavras de ordem do tipo „O

Maranhão exige respeito‟ e „Golpe não, Sarney nunca mais‟, os manifestantes

conquistaram a adesão de diversos participantes de outros estados, inclusive do

Amapá, onde Sarney tem mandato de senador, e despertaram também o interesse de

representantes de outros países. (O Imparcial, 28 de Janeiro de 2009)

Figura 3: Movimento Pró-Jackson no Fórum Social Mundial em Belém-PA

Fonte: Jornal O Imparcial, 28 de Janeiro de 2009.

Juntamente com a marcha outro aspecto que chamou a atenção dos membros do

37

fórum foi a reprodução do acampamento Balaiada, que ocorreu originalmente em São Luís

desde dezembro de 2008 com o início do julgamento do processo de cassação de Jackson

Lago, no qual vários movimentos sociais acamparam em frente ao Palácio dos Leões, sede do

governo estadual, para acompanhar o julgamento e principalmente denunciar ao Brasil e ao

mundo “o golpe que vinha sendo orquestrado contra o governador do Maranhão.”32

Meses mais tarde no dia 9 de março de 2009, lideranças de várias denominações

evangélicas também manifestaram apoio ao governador e ao seu vice o Pastor Luiz Carlos

Porto através de um grande evento no qual os evangélicos de forma geral afirmaram que o

Estado do Maranhão assim como o governo pertencem ao Senhor Deus, e que se ele quiser a

decisão do julgamento será a favor de Jackson.

Também esperançoso o próprio vice-governador afirmou estar consciente da

escravidão que o povo do Maranhão enfrenta há 40 anos e que por isso a Igreja Evangélica

participou espiritualmente e fisicamente em 2006 para a libertação política e econômica do

povo maranhense, e que este ato representa a persistência desse sentimento de libertação, que

junto com outros militantes continuarão a lutar a favor da população tão sofrida.

Outro ato de grande repercussão ocorreu no dia 13 do mesmo mês no interior do

Estado na cidade de Imperatriz, um gigante ato público contra a cassação do mandato do

governador, com a participação de diversas lideranças políticas e dirigentes de movimentos

sociais.

Figura 4: Imperatriz Diz Não Ao Golpe

Fonte: Jornal Pequeno, 13 de Março de 2009

32

O Imparcial, 28 de janeiro de 2009.

38

Tal manifestação reuniu cerca de 15 mil pessoas em uma caminhada pelos

principais pontos da cidade, que como mostra o slogan colocado acima da imagem é

ilustrativo da representação das massas neste evento, caracterizando assim forte presença

popular, tão propagado pelas lideranças do movimento.

Segundo Jackson Lago todas essas manifestações de apoio servem para

[...] continuarmos firmes nesta luta contra as artimanhas dos poderosos,

inconformados com o resultado das urnas. E ao povo que me elegeu eu asseguro o

progresso da nossa terra, que já é visível em inúmeras obras e serviços que o

governo do Estado vem realizando, portanto contem comigo, que conto com vocês!”

(JORNAL PEQUENO, 2009)

Além das manifestações populares noticiadas pelos jornais, houve também

manifestações de políticos e personalidades em blogs jornalísticos e sites políticos, que

ganharam bastante força nas mídias sociais da internet, por expressar suas opiniões e serem

lidos por diversas pessoas de diferentes segmentos e idades, dando uma amplitude maior à

defesa do movimento.

Em seu próprio site o deputado federal Domingos Dutra, pertencente ao Partido

dos Trabalhadores (PT), denuncia em um texto intitulado “Sarney é retrocesso”33

, as práticas

coronelistas de José Sarney afirmando que “O Senador Sarney quer a Presidência do Senado

para constranger e pressionar os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral e cassar o

Governador do Maranhão, Jackson Lago e dar de presente à sua filha Senadora Roseana o

Governo do Estado que ela não conseguiu nas urnas”, e ainda defende que por esse motivo as

ações do Senador Sarney e de seu grupo político merecem “reflexão, repúdio e reação de

todos os homens e mulheres honrados do nosso Estado”.

Em concordância com o deputado federal Domingos Dutra, o cantor e compositor

maranhense Zeca Baleiro também manifestou a sua indignação através de um blog, no qual

também repudiou as manobras políticas de Sarney, afirmando que

[...] recém-empossado presidente do Senado em um jogo de caras barganhas

políticas, parecia ter saído da cena política regional para dar lugar a ares mais

democráticos, depois de amargar a derrota da filha Roseana na última eleição ao

governo do Estado para o pedetista Jackson Lago. Mas eis que volta, por meio de

manobras politicamente engenhosas e juridicamente questionáveis, para não dizer

suspeitas, orquestrando a cassação do governador eleito, sob a acusação de crime

eleitoral, conduzindo a filha outra vez ao trono de seu império” 34

.

E defende ainda que a população maranhense deve se libertar do [...] “império

33

Texto encontrado no site http://www.depdomingosdutra.com.br 34

Texto encontrado no site http://http://movimentobalaiada.blogspot.com.br/2009/03/o-maranhense-zeca-

baleiro-solta-o-verbo

39

sólido (e sórdido) alicerçado no clientelismo político, sustentado pela cultura de

funcionalismo público e currais eleitorais do interior, onde o analfabetismo é alarmante”.

Tais textos veiculados pela internet foram de fundamental importância para a

manutenção da luta em defesa da democracia no Maranhão, pois devido ao largo poder de

alcance, a tentativa de cassação do governador Jackson Lago pôde ser conhecida por todo o

Brasil, assim como as “práticas corruptas” da Família Sarney.

É possível situar a luta contra a cassação e a defesa da democracia estendendo-se

desde o mês de dezembro de 2008, com a ocupação do Palácio dos Leões35

, até março de

2009, quando ocorreu a cassação de Jackson Lago. Neste momento os movimentos sociais

reforçaram os atos de apoio a Jackson Lago, ao erguer o “acampamento Balaiada”, no

Palácio dos Leões, com o objetivo de ampliar a mobilização a nível nacional e internacional,

para que todos tivessem conhecimento do que estava acontecendo no Maranhão naquele

momento. “Todo movimento objetiva conscientizar a população sobre o momento político

vivido no Maranhão e a importância de se defender a escolha democrática e o voto

consciente.” (O Imparcial, 20 de março de 2009).

Mais de 200 dirigentes e militantes do Movimento em Defesa da Democracia no

Maranhão, que congrega diversas entidades e partidos políticos – a União Por

Moradia Popular, o movimento negro, o MST, o Vale Protestar, estudantes,

professores, sindicatos urbanos e rurais, jornalistas, intelectuais, representantes do

PDT, PT, PSB, PC, grupo de mulheres, pastorais sociais, freiras da congregação

NotreDame, entre outros estiveram presentes. (Jornal Pequeno, 16 de março de

2009)

35

Esta ocupação da sede do governo do Estado ocorreu de forma eventual desde dezembro de 2008 para o

acompanhamento do julgamento do processo de cassação de Jackson Lago, que estava em tramite no TSE

(Tribunal Superior Eleitoral) e se arrastou até março de 2009, devido a 3 adiamentos do mesmo (sendo dois

por pedido de vista, um do ministro Félix Fischer e outro do ministro Joaquim Barbosa, pois estes por algum

motivo se julgaram incapazes de dar o seu voto e pediram mais tempo para analisar o caso e outro por motivo

de doença do ministro Fernando Gonçalves que não pode comparecer ao julgamento). Mas vale ressaltar que

este acampamento era intensificado quando se aproximava as datas de julgamento, com a colocação de telões

e palcos para apresentações culturais.

40

Figura 5: População repudia golpe de Sarney

Fonte: Jornal O Imparcial, 16 de Março de 2009.

Neste acampamento estava previsto a realização de plenárias de discursão e

atividades culturais com a participação de partidos da base aliada, sindicatos, movimentos

sociais e grupos diversos. “A meta é avançar na mobilização até a realização no dia 31 de

março, do grande ato nacional „Golpe nunca mais‟-pela Democracia, em defesa do Maranhão

na Praça Deodoro, em que todo o povo maranhense e convidados especiais estarão

mobilizados em defesa do voto popular. Esse comício relembrará os 45 anos do golpe militar

de 1964, do qual nasceu a oligarquia Sarney.” (JORNAL O IMPARCIAL, 2009).

A ocupação do Palácio dos Leões para a instalação do “acampamento Balaiada”

foi muito importante para dar uma repercussão nacional a uma reivindicação política geral no

Maranhão, a de defender a “soberania do voto do povo maranhense nas eleições de 2006” e

coibir as “armações políticas” da Família Sarney.

Segundo o noticiário dos jornais, todas as manifestações de apoio popular foram

reconhecidas pelo então governador. “O governador agradeceu o apoio e disse que a

manifestação mostra o sentimento de revolta pelo desrespeito para com o voto de um grande

número de maranhenses que o elegeram.” (O Imparcial, 24 de março de 2009). “Até onde

pode ir à paciência de uma população que sistematicamente vê que seu voto é desrespeitado?

O povo maranhense reivindica respeito.”36 (JORNAL O IMPARCIAL,2009)

Além dessas manifestações populares expressas acima é importante levar em

36

Fala de Jackson Lago em entrevista coletiva a membros da mídia estrangeira.

41

consideração as manifestações individuais como a feita por Wagner Baldez37

, militante em

movimentos de esquerda há 60 anos e que defendeu seu posicionamento contrário a Família

Sarney, “minha causa está acima de Jackson Lago, mas sei que ele faz parte de um processo

de avanço e tenho que defender isso”. (O IMPARCIAL, 2008).

Assim como a manifestação de Baldez, várias outras manifestações individuais

também foram feitas por políticos como foi o caso de Edivaldo Holanda, na época líder do

governo na Assembleia Legislativa, que afirmou que tal cassação seria uma tentativa de

coação moral, pois para ele “essa é uma perseguição moral, uma tentativa de inibir o senhor

governador e o seu trabalho permanente em favor do Maranhão.” (O IMPARCIAL, 2008).

E a manifestação de apoio dada por Julião Amin, deputado do PDT-MA38, que

durante uma tribuna da Câmara Federal aproveitou para falar para todo o país a tentativa da

Família Sarney em conseguir no “tapetão”, segundo a linguagem popular, o poder que não

conseguiu através dos votos. Ainda em seu discurso o deputado apresentou os vários avanços

obtidos pelo Governo Jackson Lago, além de apontar as inconsistências presentes no processo

de cassação movido por Roseana Sarney.

Em apenas dois anos foram entregues 150 escolas estaduais, contra três em quase

oito anos dos dois governos Roseana Sarney. Foram quase dois mil quilômetros de

recuperação e construção de estradas em todo o estado. O governo do Maranhão

deve inaugurar, nos próximos meses, o primeiro grande hospital de urgência do

interior do estado, além de comemorar a atração de investimentos para os próximos

anos que podem chegar a R$ 41 bilhões.

E em que se baseia o processo? No suposto uso de convênios entre o Estado e

municípios firmados em 2006 pelo então governador José Reinaldo. Ora, os

convênios ocorreram no período permitido pela lei eleitoral e visavam atender ao

interesse público, principalmente na área da saúde. (O Imparcial, 5 de dezembro de

2008).

E ao final deste discurso declarou que ainda confia na Justiça e no julgamento dos

ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Outra manifestação política importante é a do próprio governador Jackson Lago

que ao reagir às acusações proferidas contra ele pela Família Sarney, denuncia para todo o

país as diversas práticas irregulares do grupo Sarney no Maranhão e principalmente a

tentativa de golpe. Tal denúncia foi feita através de uma carta aberta na internet, intitulada

“Maranhão, a galápagos política”, na qual faz alusão ao conjunto de ilhas paradisíacas

pertencentes ao Equador, bastante conhecidas pela sua biodiversidade e natureza entocada.

37

É funcionário público aposentado e membro da Executiva Estadual do PSOL/MA. É também conhecido por ser

um comunista histórico e oposicionista político da Família Sarney desde a década de 60. 38

Pertencente ao partido de Jackson Lago.

42

Tal comparação se deve porque o Maranhão é o paraíso entocado da “Oligarquia

Sarney”, pois “[...] o Fórum da capital tem o nome do pai, e o Tribunal de Contas do Estado

ostenta o nome da filha. Em nome do pai e da filha e do santo espírito da democracia, nada

perturba nossa galápagos”, mostrando o desequilíbrio da disputa pelo governo do Estado em

2006, que apesar dos principais órgãos públicos levaram o nome de integrantes da família

Sarney, conhecidos como os “Donos do Maranhão”, o “espírito da democracia” venceu a

disputa trazendo a paz para a nossa ilha, para “nossa galápagos”. (JORNAL PEQUENO,

2008).

Além das manifestações acima, os diretórios estaduais do PSOL39 e PSTU40

também elaboraram um documento que exprimia o posicionamento das duas correntes

políticas em relação ao processo de cassação, mas não se esquecendo de contextualizar esta

situação com os seus objetivos na conjuntura nacional, já que os dois partidos de ideologias

esquerdistas possuem trajetórias e objetivos distintos da legenda do governador Jackson Lago

na política nacional, deixando claro que apesar de serem contra a cassação no âmbito

estadual, ainda possuem as suas divergências no contexto nacional.

Tais manifestações sejam elas coletivas ou individuais em defesa do mandato de

Jackson Lago e da democracia não foram suficientes para evitar sua cassação, que ocorreu no

dia 4 de março de 2009, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por 5 votos a 2 cassou o

mandato de Lago, alegando abuso de poder econômico e político nas eleições de 2006 e

também decretou que a segunda colocada Roseana Sarney deveria assumir o governo do

Estado do Maranhão.

39

Partido Socialismo e Liberdade fundado em 2004, marcado por tendências esquerdistas. Historicamente sua

formação é oriunda de dissidências do Partido dos Trabalhadores e do Partido Socialista dos Trabalhadores

Unificado e acolheu diversas tendências que haviam discordado de políticas do PT no primeiro mandato de

Luis Inácio Lula da Silva. Possui como principais lideranças os deputados federais Chico Alencar, Ivan

Valente e Jean Wyllys. 40

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado fundado em 1994 e considerado pela mídia como um partido

de extrema-esquerda, originário da unificação de diferentes organizações, grupos e ativistas independentes. A

maioria dos que fundaram o PSTU vinha de uma ruptura com o PT, ao considerar que este partido não era

uma alternativa estratégica para a construção de uma direção revolucionária para o país. Atualmente o partido

se define como uma alternativa revolucionária implantada em setores fundamentais dos movimentos sindical

e estudantil, no momento em que o reformismo começa a viver uma crise. Possui como principais lideranças

José Maria de Almeida em São Paulo e Marcos Silva no Maranhão.

43

Figura 6: TSE cassa Jackson

Fonte: Jornal O Imparcial, 4 de Março de 2009.

Nesta imagem, pessoas expressam sua dor, face a derrota sofrida, pois a notícia da

cassação foi recebida pelo “Movimento Balaiada Moderna” com profunda tristeza, pois por

mais que a cassação fosse algo possível, não era esperado, e “com o resultado a favor da

cassação, as lágrimas vieram aos olhos de muitas pessoas.” (O IMPARCIAL, 2009).Como no

caso da Sra. Audinéia Pereira, uma dona-de-casa do Codozinho, que afirmou está se sentindo

naquele momento derrotada:

Ninguém me pagou para eu votar no Jackson Lago. Votei porque eu quis, porque era

melhor para o Maranhão. Agora eles (os ministros do TSE) resolvem dizer que todo

mundo foi comprado e por isso que Jackson ganhou? Eu não ganhei nenhum

centavo e meu voto deveria ser respeitado (O Imparcial, 04 de março de 2009).

Contudo ainda era possível perceber algumas pessoas otimistas, como o Sr. João

Antônio de Oliveira, do Paço do Lumiar, que diz acreditar que esse resultado ainda poderá ser

mudado, “é só a população não desistir. Temos que continuar a luta e mostrar que o povo do

Maranhão sabe o que quer.” (O IMPARCIAL, 2009).

Em concordância com o Sr. João também estava Jackson Lago, que se mostrou

forte e disse está pronto para continuar lutando e que todos poderiam contar com a sua

responsabilidade e disposição para defender os interesses da população, pois para ele, “[..] é

difícil enfrentar as elites do nosso Estado e também do Brasil. Mas não vamos desistir da luta.

Quero dizer a todos que estão nessa luta, que podem contar comigo.” (O IMPARCIAL, 2009).

44

E Jackson Lago informou ainda que seus advogados iriam entrar com recursos no TSE, e que

até lá continuaria no cargo.

A continuidade da luta mesmo após a cassação foi retomada na chamada Festa da

Democracia, que aconteceu no dia 1º de abril de 2009, na qual a população foi às ruas lembrar

o horror da ditadura, festejar a democracia e declarar apoio ao governador Jackson Lago, que

ainda esperava o julgamento dos recursos impetrados por seus advogados no TSE.

Nesta manifestação expressa na imagem abaixo, contemplada na matéria do jornal

O Imparcial do dia 1º/04/2009, percebe-se que o “acampamento Balaiada” reuniu uma

variedade de personalidades de diversos grupos sociais que se identificavam com o

movimento, mas que ao mesmo tempo cada um desses grupos defendia seus próprios

interesses, mostrando que a força do movimento “Balaiada” estava na união de todas essas

forças.

Figura 7: Acampamento Balaiada na festa da democracia

Fonte: Jornal O Imparcial, 1º de Abril de 2009.

Tal manifestação foi marcada por caminhadas, ato político e show pró-democracia

com o objetivo de traçar um paralelo entre o golpe que estabeleceu a Ditadura Militar em

1964 e o golpe dado pela família Sarney para voltar ao poder do Estado Maranhão através da

cassação de Jackson Lago.

Participaram da festa vários movimentos sociais, inclusive grupos oriundos do

interior do Estado, e durante toda a programação “os balaios gritavam palavras de ordem para

chamar a atenção da população da tentativa de golpe contra o mandato do governador Jackson

Lago.” (O IMPARCIAL, 2009).

Porém este não foi o único evento que se apropriou da Balaiada como símbolo de

45

resistência, na esfera cultural ocorreu o “movimento Balaiada Rock”, que segundo os

organizadores desse festival de rock, se inspiraram na Balaiada por ser “uma das maiores

revoltas populares já registradas no Maranhão, com repercussão em todo o país”, e que por

isso tal denominação foi dada ao movimento, que tinha como objetivo a união de bandas de

rock para lutar contra a “situação de inércia” em que se encontra o rock maranhense, tanto por

parte de quem produz, quanto de quem consome o produto, por meio de debates, discussões e

eventos culturais, combatendo assim a falta de público e de patrocínio.(O IMPARCIAL,

2009).

Figura 8: Balaiada Rock: uma guerra quase solitária

Fonte: Jornal O Imparcial, 14 de Março de 2009.

Semelhante apropriação também foi constatada em um programa de rádio levado

ao ar por radialistas e militantes do PDT maranhense, chamado de Rede Democrática da

Balaiada, que logo nos primeiros programas fizeram uma análise histórica da política

brasileira, abordando temas como os golpes contra Getúlio Vargas e João Goulart que tanto

fortaleceu José Sarney em sua jornada política, e que atualmente se aproveita da ampla

influência no senado brasileiro para tentar devolver o governo do Estado para a sua filha

Roseana, por meio de um golpe jurídico.

A partir dessas apropriações da Balaiada é possível perceber que com o passar do

46

tempo o movimento da Balaiada foi assumindo diversos significados, servindo para reforçar

posições ideológicas daqueles que a utilizam como justificativa para as mais diferentes

posições na sociedade atual, como no caso dos movimentos quilombola, MST, estudantes,

pastorais sociais, sindicatos e das freiras da Igreja Católica.

Assim sendo torna-se cada vez mais comum à apropriação da Balaiada como

símbolo de luta e resistência, especialmente pelos setores da esquerda e entidades sindicais e

estudantis. Mas por outro lado, ainda é grande a relutância de determinados segmentos

políticos e sociais detentores do controle do Estado, em olhar de forma estigmatizante estes

movimentos de resistência e seus agentes sociais.

Conforme afirma Roger Chartier (2002), as práticas de apropriação cultural são

reconhecidas como “formas diferenciadas de interpretação”, que são passives de influências

hierárquicas e divisões sociais, por isso é necessário levar em consideração as

“especificidades dos espaços” no qual são produzidos, já que existe um repertório muito vasto

de discursos que justificam as práticas e denunciam os abusos de poder, como no caso do

contexto político maranhense.

47

3 “A NOVA BALAIADA DA ILHA REBELDE MONTA ACAMPAMENTO COMO

ESPAÇO DE VIGÍLIA CÍVICA”.

Além das matérias vinculadas pelos jornais O Imparcial e Jornal Pequeno

buscaram-se ainda em alguns panfletos, manifestos e informativos aspectos que tratam do

embate político entre Jackson Lago e Roseana Sarney Murad. No informativo “A Balaiada”

escrito pelo Comitê de Defesa da Democracia no Maranhão41 é notório que desde em seu

primeiro número tem por objetivo comunicar a sociedade ludovicense todas as ações do

movimento de resistência em defesa da democracia, montado no espaço denominado de

“Acampamento Balaiada”, “em homenagem a revolta ocorrida no Maranhão no século XIX

organizada por negros e excluídos da sociedade”42, inicialmente instalado em frente ao Palácio

dos Leões, marcando assim o “ponto de partida de uma mobilização popular para dar uma

resposta à tentativa de José Sarney de cassar o mandato do governador Jackson Lago na marra

e a qualquer preço, para reconduzir sua filha Roseana Sarney Murad ao Governo do

Maranhão”.43

Tal acampamento chamou a atenção da sociedade para o momento de “crise

política” estabelecida no Maranhão, que foi capaz de mexer tanto com a opinião publica como

com a classe política.

Por isso essa mobilização é definida por seus líderes como uma “vigília cívica”

que estabelece um novo marco na história política maranhense, e principalmente na cidade de

São Luís, conhecida historicamente como “Ilha Rebelde”44

.

Entre os militantes do PDT, partido do então governador Jackson Lago, estavam

“o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), a Fetaema (Federação dos

Sindicatos de Trabalhadores Rurais), a Fetrafe (Federação dos Trabalhadores da Agricultura

Familiar), a Aconeruq (Associação das Comunidades Remanescente de Quilombola do

Maranhão), e mais integrantes de Pastorais Sociais da Igreja Católica, dos Movimentos por

Moradia, do Movimento Negro e de alguns movimentos comunitários ligados aos bairros

populares de São Luís”, que incansavelmente convocavam o povo para se mobilizar contra a

“tentativa de golpe no Maranhão”, com a finalidade de construir um espaço de debates para

41

Formado pelo Movimento Sem-Terra (MST), pela União Estadual de Moradia Popular, movimentos sociais e

partidos que integram a Frente de Libertação (PDT, PPS, PT, PSDB, PSB, PCdoB, PRB e PMN). 42

Informativo “A Balaiada” nº 8, janeiro/fevereiro de 2009. 43

Informativo “A Balaiada” nº 1, 10 de dezembro de 2008. 44

O epiteto “Ilha Rebelde” surgiu na década de 70, motivado pela ocorrência de duas manifestações populares: a

“Greve de 1951” e Greve de “1979”, mais conhecida como a “greve da meia passagem”, mobilização esta

iniciada por universitários revoltados contra o aumento de passagens concedido pela prefeitura de São Luís.

48

“denunciar ao Brasil o golpe que a oligarquia Sarney pretendia (e ainda pretende) dar no

Maranhão”.45

A nossa decisão repercutiu dentro e fora do Maranhão. Em São Luís, uma parte bem

representativa da sociedade abraçou e apoiou a nossa causa. Foram artistas, poetas,

sindicalistas, estudantes, militantes de movimentos populares entre outros. No

Brasil, a imprensa repercutiu o nosso ato e várias personalidades do nosso país

fecharam questão com a causa do povo maranhense”46

.

Músicas como a Revolta do Olodum e a Oração Latina foram utilizadas para

trazer à flor da pele os sentimentos de luta e resistência do movimento. A primeira faz

referência ao movimento negro de todo o Brasil, pois enaltece o passado de bravura do povo

negro brasileiro, como a instalação do Quilombo dos Palmares no Estado de Alagoas e a

Revolta da Balaiada no Maranhão, além de citar os “[...] retirantes ruralistas, figura comum na

história recente do Maranhão, especialmente por conta da imensa grilagem de terras

comandada por José Sarney no nosso Estado durante a ditadura militar” 47

.

E a segunda, do poeta e compositor maranhense César Teixeira, atualmente

considerada um hino dos movimentos populares de todo o Brasil, utilizando o verso que diz

“Com as bandeiras nas ruas, ninguém pode nos calar, e quem nos ajudará, a não ser a própria

gente, pois hoje não se consente esperar...” 48.

Figura 9: Com as bandeiras nas ruas, ninguém pode nos calar!

Fonte: Informativo Balaiada nº01, 10 de dezembro de 2008.

45

Informativo “A Balaiada” nº7, 20 de dezembro de 2008. 46

Informativo “A Balaiada” nº7, 20 de dezembro de 2008. 47

Informativo “A Balaiada” nº 1, 10 de dezembro de 2008. 48

Informativo “A Balaiada” nº 1, 10 de dezembro de 2008.

49

A imagem acima mostra as bandeiras como símbolo da luta e da resistência dos

movimentos sociais em relação ao momento político vivido no Maranhão.

Segundo o próprio compositor, tal mobilização política objetivava principalmente

a defesa da democracia e não se tratava “de defender um governo, ou um governador. A

situação vai muito mais além. Estou aqui me integrando ao comitê [de defesa da democracia

no Maranhão], pois se trata de uma luta em defesa da democracia".49

Dentre as várias atividades desenvolvidas no acampamento Balaiada, foi

destacado no informativo o “ato das luzes”, no qual os participantes tinham em suas mãos

velas acessas que simbolizavam “a esperança, o desejo pela reconstrução do Maranhão e pela

liberdade, sentimentos que começaram a se materializar na eleição de 2006, onde Roseana

Sarney Murad foi derrotada pelo povo do Maranhão” 50

.

Segundo o Informativo Balaiada,

[...] as manifestações de apoio ao nosso acampamento Balaiada foram aumentando a

cada dia. Foram iniciativas vindas de todos os lados, desde o meio cultural, até a

classe política, passando também por estudantes, militantes de organizações sociais

e pais e mães de famílias indignados com a possibilidade de um golpe no

Maranhão.51

A exemplo de Cleusimar de Pinho, membro da União por Moradia Popular, que

acredita na vitória da força popular pela democracia, "Não vamos permitir o retrocesso, o

Maranhão já está muito atrasado por conta dessa oligarquia, chega de família Sarney nesse

estado, vamos garantir que a democracia permaneça".52

No manifesto lançado pelo “Movimento de Defesa da Democracia no Maranhão”,

em que seus líderes se colocavam como responsáveis pela instalação do acampamento da

Balaiada, “para fazer valer a defesa da democracia neste Estado”, observa-se a apropriação da

imagem de pessoas que simbolicamente representam a tradição de resistência balaia, com

matizes de martírio e heroísmo.

Pois nós, que organizamos o Comitê de Defesa da Democracia no Maranhão e, em

dezembro de 2008, montamos em frente ao Palácio dos Leões, o Acampamento

Balaiada, queremos sim fazer valer os nossos direitos! Fazer valer a vontade

soberana do nosso povo. Temos a plena consciência que estamos diante de uma

encruzilhada histórica. É o momento do povo do Maranhão honrar a memória de

seus mortos, honrar a memória de Negro Cosme, de Maria Aragão e de Padre

49

Informativo “A Balaiada” nº 1, 10 de dezembro de 2008. 50

Informativo “A Balaiada” nº 2, 11 de dezembro de 2008. 51

Informativo “A Balaiada” nº 2, 11 de dezembro de 2008. 52

Informativo “A Balaiada” nº 2, 11 de dezembro de 2008.

50

Josimo! Não pregamos a violência. Queremos paz. Queremos democracia. Mas,

assim como o governador, estamos dispostos a dar o nosso sangue em nome dessa

causa. Hoje, reafirmamos o que dissemos em nosso primeiro manifesto. Agora, ou

vence a democracia, ou vence a tirania. Ou vence a vontade soberana do povo, ou

vence as tramas de um grupo que passou quarenta anos explorando o nosso estado.

(Manifesto ao Povo do Maranhão, 10 de março de 2009) Grifos nossos

Na tessitura do texto do manifesto seus autores buscam a reabilitação dos

“balaios” no início do século XXI, como um processo de inclusão dos excluídos na luta pela

afirmação de direitos de pessoas e grupos historicamente marginalizados, a exemplo do Negro

Cosme, herói do movimento Balaio do século XIX, de Maria Aragão, heroína da Revolução

de 1964, e do Padre Josimo, mártir cuja morte expressa o poder da grilagem no Maranhão.

Figura 10: A reabilitação das lutas do passado

Fonte: Manifesto ao Povo do Maranhão escrito pelo Movimento de Defesa da Democracia no Maranhão em São

Luís, 10 de março de 2009.

Neste contexto de disputa em torno do governo do Estado, em que o grupo de

oposição a Sarney fez uso do simbolismo do movimento balaio, é possível perceber a

utilização da memória de figuras historicamente importantes, reabilitadas para dar mais força

a uma rememoração de um passado histórico de lutas em um momento definido como

“encruzilhada histórica”.

A ideia era tentar utilizar a memória de pessoas consideradas “excluídas” no

contexto político em que viveram, muito embora a situação das pessoas desse grupo que se

apropriando da imagem de pessoas que expressam a rebeldia e resistência não estivesse numa

situação de exclusão política e sim de disputa para manter-se no poder.

Em uma mensagem de final de ano intitulada “Maranhão em tempos de

51

Balaiada” 53, escrita por Ivan Costa54, encontramos uma menção sobre o movimento negro

maranhense e sua participação na “nova Revolta da Balaiada”.

No dia 09 de dezembro de 2008 iniciou no Maranhão uma nova Revolta da

Balaiada, do século XXI contra os poderosos políticos e Capitães do Mato, que

queriam a cassação do Governador do Estado, mais no dia 18 de dezembro de 2008

o Povo e os Movimentos Sociais maranhenses foram vencedores, são os novos

Balaios e Quilombolas. (Mensagem: Maranhão em tempos de Balaiada, 22 de

dezembro de 2008)

Ao final da mensagem é lembrado os 170 anos da Balaiada no Maranhão (13 de

dezembro de 1838-2008) através de agradecimentos ao Negro Cosme, figura muito valorizada

pela sua importância na Balaiada no século XIX, aos Novos Balaios e ao povo maranhense,

reafirmando que a luta continua

Valeu Negro Cosme!

Valeu Novos Balaios!

Valeu Povo Maranhense!

A luta continua Povo Negro! (Mensagem: Maranhão em tempos de Balaiada, 22 de

dezembro de 2008)

No contexto do Maranhão é recorrente o uso da memória da Balaiada em eclosões

sociais, como nos casos de 1951 e 1979. A greve de 1951 que ficou conhecida como

”Balaiada Urbana”, foi um movimento popular amplo, radical e heterogêneo que mobilizou

toda a cidade contra as práticas fraudulentas e coronelistas de Victorino Freire, na época

senador pelo Estado do Maranhão, nas eleições de 1951.

Já o movimento de 1979 foi uma grande mobilização estudantil na conhecida

“Ilha Rebelde” 55, contra o aumento de passagens concedido pela prefeitura de São Luís as

empresas de transporte público. Nesta ocasião a luta em favor a meia-passagem representou

não apenas uma questão econômica, mas também um “grito” contra a censura e as

barbaridades do regime militar.

Segundo Maria de Lourdes Janotti (2005), com o passar do tempo o movimento

da Balaiada foi assumindo outros significados e servindo para transmitir posições ideológicas

53

Redigida em 22 de dezembro de 2008. 54

Membro do Centro de Cultura Negra do Maranhão- CCN. 55

Relatos sobre o movimento presentes em matérias do Jornal Pequeno no site

http://www.jornalpequeno.com.br/2004/9/16/Pagina5089.htm e no Jornal O Imparcial no site

http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/especiais/sao-luis-399-anos/2011/09/07/SLi,92152/ilha-

rebelde.shtml

52

daqueles que a utilizam como justificativa para determinadas posições na sociedade atual,

como o caso dos movimentos quilombola, MST, estudantes, pastorais sociais, sindicatos e das

freiras da Igreja Católica.

Em um ato simbólico de manifestação contra o mandonismo do grupo Sarney,

diversos integrantes de movimentos sociais e religiosos, a exemplo de freiras da Igreja

Católica, que realizaram uma marcha partindo do município de Itapecuru em direção a São

Luís, numa tentativa de rememorar a morte de Negro Cosme e seus ideais, bem como

simbolicamente “ocupar” São Luís, que desde o século XIX sempre foi um dos grandes

temores das elites conservadoras, como mostra os seguintes trechos:

A terça feira, dia 24 de março de 2009, ficará marcada na História do Maranhão.

Neste dia, centenas de maranhenses saíram a pé do município de Itapecuru até a

cidade de São Luís, na chamada „Marcha pela Democracia e contra o golpe de

Sarney‟. O município de Itapecuru foi escolhido pelos manifestantes por que no

século XIX, na época da Revolta da Balaiada, foi a região onde Negro Cosme foi

assassinado pelos monarquistas. Hoje estão vindo para São Luís trabalhadores

rurais, gente ligada as pastorais sociais, a sindicatos, ao MST e a movimentos que

lutam por direitos humanos, moradias etc. Eles não aceitam a volta de Roseana

Sarney Murad.

Freiras da Igreja Católica apoiam a marcha pela democracia. Entre as pessoas que

saíram em marcha de Itapecuru, na ultima terça-feira, estavam as irmãs da

Congregação Notre Dame. „O povo está exigindo respeito! Eles não votaram na

Roseana! Aquilo que o povo decidiu está sendo corrompido, por isso eles têm o

direito de se manifestar‟ , diz a irmã Josi. Já a irmã Lu, lembrou um ditado popular:

„O grande só é grande porque estamos de joelhos. É hora de se levantar. Todos os

peixinhos juntos podem derrotar o tubarão‟ , explicou Lu, numa referencia ao duelo

que hoje o povo do Maranhão trava contra o poder de José Sarney. (Informativo do

Comitê de Defesa da Democracia no Maranhão- A Balaiada nº 10, 26 de março de

2009)

Atualmente tem-se tornado comum a apropriação da Balaiada como símbolo de

luta e resistência, especialmente pelos setores da esquerda e entidades populares que se

organizaram em prol de um objetivo comum, “a luta contra a oligarquia Sarney” instalada no

poder a mais de 40 anos56

.

Tal apropriação também se refletiu no meio popular, com o objetivo de instigar a

população na luta contra a violação de seus direitos (“a soberania do voto popular”) e a

instalação da “oligarquia” no poder do Estado, ressaltando a Balaiada do século XIX como

uma inspiração, que todos deveriam seguir.

56

Frase muito proferida nos palanques políticos e nos debates de movimentos sociais.

53

Nesse sentido, o cantor e compositor maranhense Antônio Vieira, ao longo de sua

carreira desenvolveu um repertório com várias composições nos principais ritmos populares

maranhense, dentre as quais se destaca a composição intitulada“Balaios da Balaiada”, que

diz assim:

Balaio, balaio forte

Balaio das balaiadas

Que lutou por seus princípios

Sem temer a morte, ou nada

Carregava o seu balaio

Balaio de Guarimã

E atacava os inimigos

Com a clara da manhã

Balaio macho

Do meu sertão

Não aturava exploração

Pela família

Tinha respeito e afeição

Balaio cabra valente

Balaio do Maranhão

E assim canto um episódio

Da história do Maranhão

A Guerra das balaiadas

Que ensanguentou meu torrão

Se você ama ser livre

De opressão odiada

Você também é um balaio

Que nem os da balaiada.

Nesta música é possível perceber a exaltação da Balaiada e dos balaios do sertão

maranhense como pessoas fortes e corajosas que lutaram em favor dos seus princípios, contra

a exploração e a opressão da qual viviam, assim como se consideram os “balaios modernos”,

já que ao final da música o autor afirma que quem é contra a opressão e ama ser livre também

é um balaio, possivelmente fazendo uma alusão indireta ao “Movimento da Balaiada

Moderna” e seus participantes.

Daí a grande importância dessa composição de Antônio Vieira para o movimento,

pois funcionou como forma de propaganda para as camadas populares também aderirem ao

movimento, visto que Vieira é um compositor popular amplamente conhecido.

Outro intelectual popular da “Balaiada Moderna” foi Ivan Costa, membro do

Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN), já mencionado anteriormente, que desde a

criação do CCN tem se preocupado com esta organização para que ela se tornasse um meio de

transformação da realidade de opressão social sofrida pelos negros no Maranhão,

54

principalmente lutando contra o racismo e buscando resgatar a valorização da cultura africana

em solo brasileiro.

Um exemplo disso é a valorização da figura do Negro Cosme como um mártir da

Balaiada57

em vários manifestos publicados pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão,

definindo-o como “tutor e imperador da liberdade”. Além de associar a luta do movimento

negro ao movimento “Balaiada Moderna”, contra os poderosos que queriam cassar o

governador eleito pelo povo.

Outra organização popular que se associou ao movimento da “Balaiada Moderna”

foi o MST (Movimento dos Sem Terra) liderado por João Pedro Stédile, um dos maiores

defensores da reforma agrária no Brasil, que viajou várias vezes a São Luís para dar apoio ao

Movimento da “Balaiada Moderna” através de sua participação em comícios e em debates

sobre a situação política do Maranhão naquela ocasião. Foi um dos responsáveis pelo

“Acampamento Balaiada” que se instalou no Palácio dos Leões após a cassação efetiva de

Jackson Lago, já que grande parte das pessoas acampadas pertencia ao MST de várias

localizações do Estado.

O sindicalista Wagner Baldez, conhecido pela sua luta em movimentos de

esquerda e por ter sido amigo de Maria Aragão também apoiou o “movimento Balaiada”, e

uma de suas contribuições foi uma poesia de sua autoria panfletada durante o acampamento

Balaiada.

VEREDICTO AO POVO

Valei-nos, Nossa Senhora da Conceição!

Da maldição Sarneysista.

Em querer fazer do Maranhão,

Uma eterna senzala empobrecida.

O velho coroné Zé Sarney,

Com sua ambição desenfreada,

Não respeitando a vontade do povo.

Quer tirar Jackson...e botar a filha derrotada!

Jamais nos tornaremos escravos,

Dessa gente avacalhada.

E já que somos rebeldes e bravos!

Contestamos tal palhaçada!

Avante maranhenses, Avante!

À luta se preciso for,

Garantir nossa conquista

Conseguida com sacrifício e ardor.

57

A valorização da figura do Negro Cosme também pode ser vista no Centro Acadêmico do Curso de História da

UEMA que se denomina Negro Cosme, e no Centro Acadêmico do Curso de História da UFMA que se

denomina Lagoa Amarela, nome do quilombo comandado pelo Negro Cosme.

55

Ao afirmar que “jamais nos tornaremos escravos”, já que somos “rebeldes e

bravos”, é notório nas entrelinhas o uso do significado histórico da Balaiada para o

movimento, visto que a Balaiada do século XIX foi uma revolta liderada por grupos de

pessoas oriundas das camadas mais pobres da população, dentre eles os escravos, que eram

explorados e não tinham “espaço no meio político e social.”.

E a bravura dos rebeldes é enaltecida devido à origem dos líderes da Balaiada, que

eram de origem humilde, o que acabou reforçando o caráter popular da revolta ao longo dos

anos, assim como a “Balaiada Moderna”, que também é considerada por suas lideranças um

movimento popular.

Além de pessoas do meio popular, também identificamos pessoas do meio

político, que foram de suma importância para a manutenção da luta, dentre estes destacamos

Neiva Moreira e Domingos Dutra.

Neiva Moreira já foi presidente nacional do PDT (Partido Democrático

Trabalhista) e líder da Câmara Estadual por duas vezes, sendo por último um dos principais

assessores do ex-governador Jackson Lago, ajudando-o a liderar o “Acampamento Balaiada”

em resistência à cassação e articulando a reunião de vários movimentos sociais no Palácio dos

Leões.

Da mesma forma Domingos Dutra, deputado federal do Maranhão pelo PT

(Partido dos Trabalhadores) também teve uma grande contribuição no “Movimento da

Balaiada Moderna”, pois foi um crítico ferrenho das manobras políticas praticadas pela

Família Sarney e um defensor da soberania popular. Sempre esteve presente em todos os

comícios e reuniões do movimento estimulando a manutenção da luta de resistência no

Palácio dos Leões.

Os acontecimentos se precipitaram com a cassação de Jackson Lago e a retomada

do poder pela Família Sarney. Com a morte de Lago no dia 04 de Abril de 2011, é possível

inferir que não há menção direta ao “Movimento da Balaiada Moderna”, e sim ao

“movimento de resistência”, que precisa continuar como mostra os trechos de algumas

matérias:

O sentimento que fica é de resistência e isso tem que nos nortear para as lutas

futuras.58

(Jornal Pequeno, 6 de Abril de 2011)

Em seu discurso o ex-vice governador do Maranhão, pastor Luís Carlos Porto, disse

que cada um tem a sua caminhada e o Maranhão agora estava preparado não só para

colher os bons frutos deixados por Lago, como também manter sua luta, de

58

Fala do deputado Rubens Júnior (PCdoB) no velório de Jackson Lago.

56

conquistar um estado mais justo e igual para todos. (Jornal Pequeno, 7 de Abril de

2011)

Para Flávio Dino, a melhor homenagem que a oposição pode fazer a Jackson é dar

continuidade ao seu trabalho por um Maranhão justo, liberto e melhor para todos.

(Jornal Pequeno, 7 de Abril de 2011)

Para Gardênia Castelo, Jackson nos deixou um vazio muito grande, mas ainda temos

tempo de lutas pelos seus ideais. “A Oposição tem o dever e a obrigação de

reconstruir a luta de Jackson, com o mesmo idealismo, perseverança e obstinação de

aliados que ele sempre teve”. (Jornal Pequeno, 8 de Abril de 2011).

Apesar das matérias não se referirem diretamente ao “Movimento Balaiada

Moderna” e nem os “novos balaios”, nota-se a presença constante de palavras como

“resistência”, “oposição” e “idealismo”, que são marcas que denotam a identificação desses

sujeitos com a luta em defesa da democracia, visto que essa “identificação é um processo em

andamento” (HALL, 2004, p.39) que não pode ser considerado como algo acabado. Por isso é

possível inferir a importância do significado histórico da Balaiada, pois a mesma é sempre

apropriada pelos movimentos de resistência e luta por direitos, mesmo que isso ocorra de

forma indireta.

Pois segundo Michel de Certeau (2000, p. 66), “todo sistema de pensamento está

referido a „lugares‟ sociais, econômicos, culturais e etc”. Neste sentido é importante levar em

consideração o “lugar” de onde os sujeitos falam, pois conforme alerta Chartier (2002, p.136),

é preciso atentar aos “empregos diferenciados e contrastantes dos mesmos bens, dos mesmos

textos e das mesmas ideias”, como no caso da apropriação da Balaiada e sua representação

para os diferentes grupos sociais que a utilizam como orientação para as suas práticas perante

a sociedade.

57

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Balaiada foi uma insurreição ocorrida no Maranhão no período regencial

brasileiro, no qual o Brasil passava por intensa instabilidade política e econômica, devido à

complexidade de contradições em que se encontrava o país pós-independência, pois ainda era

possível se ver antigas permanências nas estruturas econômica e social, como a escravidão e o

monopólio português sobre os cargos da administração pública brasileira, o que gerou

insatisfação nas camadas populares, pois apesar da dita independência de Portugal, os

portugueses juntamente com o D. Pedro I aliaram-se para continuar exercendo o monopólio

do poder, negando uma maior participação do restante da população, levando a uma política

de exclusão, na qual o poder encontrava-se nas mãos dessa elite.

Tal insurreição tem como principal característica o caráter popular e

multiclassista, pois envolveu diversas camadas sociais, desde fazendeiros, artesãos, lavradores

e vaqueiros, até desertores do exército e escravos, e, por isso é consagrada pela historiografia

como sendo um movimento de revolta popular, já que era composta em sua maioria pelas

camadas mais humildes da população.

Por isso, a Balaiada é considerada a maior insurreição ocorrida no Maranhão,

conforme as diferentes matrizes explicativas, que sobre ela se debruçaram ao longo desses

172 anos, buscando novas percepções e interpretações que reconfiguram constantemente a

memória desse movimento.

As apropriações simbólicas da Balaiada são encontradas em vários movimentos

ocorridos no Maranhão, a exemplo das greves de 1951 e 1979, sendo a apropriação mais

recente autointitulada “Balaiada Moderna” e os seus participantes denominados “Novos

Balaios”, reflexo dos embates políticos entre Jackson Lago e Roseana Sarney, pelo resultado

das eleições estaduais de 2006, na qual Jackson Lago saiu vitorioso nas urnas.

O movimento “Balaiada Moderna”, foi organizado por um grupo defensor

(representantes de movimentos sociais, como MST, indígenas e quilombolas) da democracia

(voto) e da soberania do povo maranhense, assumindo uma posição de resistência em relação

a cassação de Jackson Lago.

Para dar uma maior visibilidade ao movimento foi organizado um acampamento

em frente ao Palácio dos Leões (sede do governo estadual) com o objetivo de denunciar para

todo o país o desrespeito à democracia no Maranhão e também prestar solidariedade a

Jackson Lago, que naquele momento lutava para se manter no poder estadual.

Neste acampamento ocorreram várias plenárias de discursão e atividades culturais

58

com a participação de partidos da base aliada, sindicatos, movimentos sociais e grupos

diversos. Além de diversas passeatas para mobilizar as pessoas a participarem do movimento.

Nas matérias dos jornais e nos materiais produzidos pelos próprios “balaios” é

notória a apropriação da Balaiada como símbolo de luta e resistência por pessoas do meio

intelectual, político e popular, os quais instigavam a população a compreender seus direitos e

a se posicionarem contra a perpetuação da Família Sarney no poder do Estado.

Dessa forma, o movimento “Balaiada Moderna”, se apresenta como um

movimento heterogêneo, que de um lado apresenta as lideranças políticas em disputa pela

manutenção do poder e de outro, grupos e lideranças de movimentos sociais, que vislumbram

nessa “possível” aliança uma brecha para estabelecer um canal de negociação política com o

grupo de oposição a oligarquia.

Entendemos que essa aliança buscava dar voz aos “excluídos”, afim de “recuperar

as trajetórias dos grupos dominados e também tirar do esquecimento o que a história „oficial‟

sufoca há tanto tempo”. (FERREIRA, 2002, p. 09)

Essa recuperação da história dos “excluídos” torna-se neste contexto um

instrumento de construção de identidade e de busca de transformação política e social. Assim

é possível evidenciar que essa busca desenfreada do movimento da “Balaiada Moderna” e dos

“novos balaios” é para manter uma identidade com um passado de resistência e luta oriundo

da Balaiada do século XIX.

Por isso é possível afirmar que “a construção dos atores de sua própria identidade,

re-equaaciona as relações entre o passado e o presente, ao reconhecer claramente que o

passado é construído segundo as necessidades do presente”. (FERREIRA, 2002, p. 11)

59

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Orientadora: Profª. Drª. Sandra Regina Rodrigues dos Santos.

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CDU: 930