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EMISSÕES DE CARBONO: UM OLHAR SOBRE O IMPACTO DO TRANSPORTE NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (UDESC). Bruno Negri Esag/Udesc. E-mail: [email protected] Mérian Schütz Esag/Udesc. E-mail: [email protected] André Luiz Campos de Andrade - Esag/Udesc. Email:[email protected] Resumo É cada vez mais evidente nas grandes cidades e suas regiões metropolitanas o problema de mobilidade. O aumento no tempo gasto para deslocamento diariamente é fator que perturba e mobiliza a sociedade. Tão importante quanto a mobilidade, é fundamental buscar mecanismos de redução dos impactos ambientais dos transportes, sobretudo no que se refere às emissões de gases do efeito estufa. Para tanto, o primeiro passo é a medição. Possuir a melhor estimativa dos impactos é uma tarefa fundamental para embasar uma mudança de hábito e fundamentar as políticas públicas setoriais. Nesse sentido, o presente artigo buscou estimar as atuais emissões de gases do efeito estufa originadas dos meios de transporte que a comunidade acadêmica do Centro de Ciências da Administração e Sócioeconômicas (ESAG/UDESC) impõe ao meio ambiente como decorrência de seus deslocamentos diários de e para o campus da Universidade. Palavras-chave: Emissões de carbono, Transportes, Cidades Sustentáveis. 1 Introdução O Brasil vive desde 1950 um forte incentivo ao uso do transporte rodoviário para o deslocamento de cargas e de passageiros. Tida como solução para a economia, a indústria automobilística foi vetor de crescimento numa época onde a relação entre crescimento econômico e meio ambiente era marginalizada. Os debates iniciados na década de 1970 sobre o desenvolvimento sustentável jogaram luz a uma série de questões relacionadas ao impacto humano sobre o meio que o cerca, dentre elas o uso intensivo de combustíveis fósseis no setor de transporte, mesmo assim, ainda nos dias atuais, o estímulo à produção e ao consumo de automóveis é uma medida recorrente dos governos em suas políticas econômicas para o aquecimento da demanda agregada, vide a redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) realizada pelo governo brasileiro na esteira da crise financeira de 2008.

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EMISSÕES DE CARBONO: UM OLHAR SOBRE O IMPACTO

DO TRANSPORTE NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE

SANTA CATARINA (UDESC).

Bruno Negri – Esag/Udesc. E-mail: [email protected]

Mérian Schütz – Esag/Udesc. E-mail: [email protected]

André Luiz Campos de Andrade - Esag/Udesc. Email:[email protected]

Resumo

É cada vez mais evidente nas grandes cidades e suas regiões metropolitanas o problema de mobilidade. O

aumento no tempo gasto para deslocamento diariamente é fator que perturba e mobiliza a sociedade. Tão

importante quanto a mobilidade, é fundamental buscar mecanismos de redução dos impactos ambientais dos

transportes, sobretudo no que se refere às emissões de gases do efeito estufa. Para tanto, o primeiro passo é a

medição. Possuir a melhor estimativa dos impactos é uma tarefa fundamental para embasar uma mudança de

hábito e fundamentar as políticas públicas setoriais. Nesse sentido, o presente artigo buscou estimar as atuais

emissões de gases do efeito estufa originadas dos meios de transporte que a comunidade acadêmica do Centro de

Ciências da Administração e Sócioeconômicas (ESAG/UDESC) impõe ao meio ambiente como decorrência de

seus deslocamentos diários de e para o campus da Universidade.

Palavras-chave: Emissões de carbono, Transportes, Cidades Sustentáveis.

1 Introdução

O Brasil vive desde 1950 um forte incentivo ao uso do transporte rodoviário para o

deslocamento de cargas e de passageiros. Tida como solução para a economia, a indústria

automobilística foi vetor de crescimento numa época onde a relação entre crescimento

econômico e meio ambiente era marginalizada. Os debates iniciados na década de 1970 sobre

o desenvolvimento sustentável jogaram luz a uma série de questões relacionadas ao impacto

humano sobre o meio que o cerca, dentre elas o uso intensivo de combustíveis fósseis no setor

de transporte, mesmo assim, ainda nos dias atuais, o estímulo à produção e ao consumo de

automóveis é uma medida recorrente dos governos em suas políticas econômicas para o

aquecimento da demanda agregada, vide a redução do imposto sobre produtos

industrializados (IPI) realizada pelo governo brasileiro na esteira da crise financeira de 2008.

Essas políticas de incentivos, diretos e indiretos, ao uso do transporte rodoviário,

sobretudo veículos de passeio e ônibus urbanos trouxeram às grandes e médias cidades

brasileiras um caos de mobilidade, que vem se agravando ano após ano como resultado do

aumento da população das cidades e da falta de planejamento. Em Florianópolis a situação é

grave, pois de acordo com (Medeiros, 2006)a cidade possui a pior mobilidade entre as

principais capitais do país, e a segunda pior do mundo.

Para tentar compreender os gargalos de mobilidade provocados pelo transporte

rodoviário é importante analisar pontos/locais que concentram as atividades de grandes

contingentes populacionais, como arenas esportivas, centros empresariais e industriais e

universidades. Além disso deve-se ter em mente o efeito, em termos de emissões de gases do

efeito estufa (GEE), que estas rotinas impõem à sociedade.

Estetrabalho envolverá a relação entre os locais de residência e a Universidade do

Estado de Santa Catarina (UDESC).Nesta, mais de 60% dos alunos entrantes são oriundos de

escolas particulares, segmento social que se consolida por ter mais poder aquisitivo, sendo

comum observar o presenteamento com um novo carro por parte da família aos aprovados.

Assim como boa parte do alunos, a maioria de professores e técnicos utilizam o carro como

principal meio de transporte para se deslocar até a universidade,fato que acaba gerando

transtornos não só para a região mas para a própria UDESC, que já convive com o problema

da falta de vagas no estacionamento do campus.Forma-se aí um círculo de problemas

econômicos, espaciais e ambientais que deve ser medido e mitigado.

De modo a colaborar com a discussão do tema acima destacado, este trabalho tem por

objetivo medir a emissão de carbono na atmosfera pelo uso dos veículos automotores da

comunidade discente e docente do Centro de Ciências da Administração e Sócioeconômicas –

ESAG/UDESC das suas residências até o centro universitário de Florianópolis.Para tanto o

trabalho possui, além desta introdução, mais quatro seções, a segunda seção onde são

abordados alguns problemas da relação entre transporte e o meio ambiente, a terceira seção,

onde se apresenta a caracterização do objeto de estudo, a quarta seção, que traz a metodologia

e os resultados encontrados e a quinta seção, com as considerações finais do estudo.

2 As relações entre o setor de transportes e meio ambientes

2.1 Mobilidade e Saúde Pública: os impactos sociais do setor de transportes

O crescimento do uso do automóvel particular acentuou-se na última década no Brasil,

em função de alguns fatores chaves que possibilitaram a população brasileira o acesso fácil ao

automóvel. Muitas famílias puderam comprar seu primeiro veículo, mas a classe média

avançou para a aquisição do segundo ou terceiro veículo. Analisando os relatórios do

Departamento de Trânsito de Santa Catarina (DETRAN) e do censo 2010, chegamos a

421.240 residentes em Florianópolis, contra 252.876 veículos pequenos1, ou seja, 1 veículo

para cada 1,7 habitante. São vetores macroeconômicos desse crescimento a estabilidade da

moeda; o acesso ao crédito; a distribuição de renda; o atingimento do consumo básico e o

avanço a níveis intermediários das camadas mais pobres. Localmente, o aumento do número

de veículos se deu também pela chegada de novos migrantes e possivelmente pela

precariedade do serviço de transporte coletivo, alvo de protestos e revoltas desde 2005.

A esse crescimento da frota está ligado um impacto violentíssimo: toneladas de recursos

são manufaturadas para a produção dos veículos e mais outras toneladas de combustíveis,

lubrificantes e peças de reposição são necessárias para o uso e manutenção desses produtos

em movimento. Outra boa porção de recursos é necessária para que os citados anteriormente

sejam prospectados, extraídos, processados, transportados e comercializados. Essa cadeia

complexa, apesar de lucrativa é extremamente degradante, conforme apontam medições do

Instituto Brasileiro de Meio Ambiente(http://servicos.ibama.gov.br, 2011). Segundo o site, as

emissões do veículo mais vendido no Brasil, o Volkswagen Gol 1.0 bicombustível, encontra-

se na tabela abaixo:

Tabela 1 - Emissões de gasespelo veículo VW Gol 1.0 bicombustível

Gases (g/km) Quantidade

NMHC: 0,031

CO: 0,210

NOx: 0,080

CO2 (Calculado): 70,901

Fonte: (http://servicos.ibama.gov.br, 2011)

1 Considerou-se veículos pequenos a soma de Automovel, Caminhonete, Camioneta, Motocicleta e Motoneta.

Dos dados acima podemos calcular exatamente quantas gramas de dióxido de carbono

(CO2), principal gás causador do efeito estufa, são despejados na atmosfera por kilômetro

rodado. Além do efeito estufa2, esses gases causam doenças respiratórias, conforme descreve

abaixo:

Monóxido de Carbono (CO): O CO é um gás tóxico, inodoro, incolor e fruto da combustão

de diversos processos industriais, do escapamento de veículos automotores e do fumo do cigarro.

A intoxicação aguda pode ser fatal. Sua toxicidade se deve em parte à sua propriedade relacionada

à afinidade pela heme da hemoglobina e da mioglobina. O CO, quando absorvido pelo sangue,

forma a carboxihemoglobina, que por sua vez produz uma diminuição da oxihemoglobina e uma

redução do transporte de oxigênio até os tecidos. O CO possui uma afinidade de até 300 vezes

maior com a hemoglobina do que o oxigênio, o que favorece a hipoxemia em pessoas expostas. O

CO foi associado ao aumento na mortalidade por infarto cardíaco agudo entre as pessoas

idosas.(Castro, Gouveia, & Escamilla-Cejudo, 2003)

Os autores também descrevem os males causados por outros gases, a maior parte

advinda da combustão dos motores deveículos. Para eles está claro a alta relação entre o uso

desmedido destes veículos e a incidência de doenças, de alto custo social. Finalizam seu

artigo recomendando:

Torna-se premente o desenvolvimento de uma estratégia para reduzir o crescimento das

emissões de poluentes, como, por exemplo, desestimulando o uso de automóveis nas metrópoles,

investindo em transporte público de qualidade, não poluente, e encorajando alternativas como o

ciclismo.(Castro, Gouveia, & Escamilla-Cejudo, 2003)

Do ponto de vista da mobilidade, o uso indiscriminado do automóvel particular

potencializa a imobilidade natural ao sistema viário predominante nas cidades brasileiras.

Uma análise urbanística (Medeiros, 2006) deixa claro a falta de mobilidade nas cidades, fruto

de malhas viárias não planejadas e incongruentes com o crescimento das metrópoles. Em

artigo posterior, escreveu: “O desenho de ruas no Brasil revela uma estrutura “labiríntica”, em

forma de “colcha de retalhos”, isto é, uma cidade heterogênea composta por partes sem

clarasconexões entre si”(Medeiros & Barros, Integração espacial e Mobilidade, 2009). O

transporte urbano é, portanto, um problema com reflexos econômicos negativos diretos em

2 Os principais gases do efeito estufa são: Dióxido de carbono (CO2), Vapor d’água(H20), Ozônio(O3), Metano

(CH4), Óxido Nitroso(N2O), Clorofluorcarnonos(CFCs), Hidrofluorcarbonos(HFCs) e Perfluorcarbonos(PFCs).

pelo menos dois eixos:de saúde, pois agrava a incidência de doenças; econômico, pois a

incapacidade de locomoção contribui para a ineficiência da cadeia de agregação de valor.

2.2 O rastro ambiental

As mudanças climáticas, causadas pelo acúmulo de gases na atmosfera, declaram os

cientistas, terá efeitos catastróficos sobre o planeta. Elevação do nível do mar, extinção de

espécies, agravamento de eventos climáticos, isso para permanecer apenas no campo do

otimismo.Nesse sentido, buscar formas de reduzir o consumo de combustíveis derivados de

petróleo, altamente emissores de gases do efeito estufa, é uma medida urgente e que requer

dentre outras iniciativas, a mudança de paradigma do atual setor de transportes, qual seja, o de

possuir elevada dependência em torno da gasolina e do óleo diesel.

A necessária mudança do paradigma acima mencionado precisará ser global, no entanto,

as ações para essa mudança recaem sobre o nível local, com cada região ou país necessitando

identificar seus pontos de gargalos e as possíveis melhorias a serem implantadas. Para assim

se obter um sistema de transportes que não só seja menos intensivo em emissões de carbono

como também consiga equacionar os problemas de mobilidade que a falta de planejamento

aliada ao uso intensivo de veículos de passeio ocasiona na maioria das grandes cidades.

Coerente com essa idéia, as próximas seções tratarão de entender um pouco mais sobre

o uso do transporte no Campus de Florianópolis da UDESC.

3 Caracterização da cidade e da UDESC

Florianópolis é a capital de Santa Catarina, conhecida também como "Ilha da Magia".

Há nesta cidade 421.240 habitantes em 147.437 domicílios ocupados, distribuídos por 672

km². Situa-se no litoral catarinense, e conta com uma parte insular (ilha de Santa Catarina) e

outra parte continental incorporado à cidade em 1927, com a construção da ponte pênsil

Hercílio Luz - 820 m de comprimento - que ligou a ilha ao continente. Encontra-se

aproximadamente entre 20 e 40 metros de altitude, sendo banhada por águas navegáveis na

maioria do seu perímetro.

A economia da cidade é baseada mais fortemente no setor de tecnologias. Destaca-se

também o turismo e a presença marcante do setor público. O PIB per capita é de R$ 20.305

anuais, média superior a quase todas as capitais do país. Suas belezas naturais e sua elevada

qualidade de vida foram responsáveis por atrair muitos migrantes de outras regiões de Santa

Catarina e de outros rincões, destacados os Gaúchos, Paulistas, Paranaenses e Mineiros.

Também é notada mais recentemente a presença de muitos estrangeiros, que encontram na

Ilha de Santa Catarina um clima agradável e um povo aconchegante.

“Já no início do século XVI, embarcações que demandavam à Bacia do Prata aportavam

na Ilha de Santa Catarina para abastecerem-se de água e víveres. Entretanto, somente por

volta de 1675 é que Francisco Dias Velho, junto com sua família e agregados, dá início à

povoação da ilha com a fundação de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) -

segundo núcleo de povoamento mais antigo do Estado, ainda fazendo parte da vila de Laguna

- desempenhando importante papel político na colonização da região.

A partir desta data intensificam-se o fluxo de paulistas e vicentistas que ocupam vários

outros pontos do litoral. Em 1726, Nossa Senhora do Desterro é elevada a categoria de vila, a

partir de seu desmembramento de Laguna.

Conforme o site da Prefeitura Municipal de Florianópolis a cidade, ao entrar no século

XX, passou por profundas transformações, sendo que a construção civil foi um dos seus

principais suportes econômicos. A implantação das redes básicas de energia elétrica e do

sistema de fornecimento de água e captação de esgotos somaram-se à construção da Ponte

Governador Hercílio Luz, como marcos do processo de desenvolvimento urbano.

A Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, se divide em em 10

campus, dos quais dois estão em Florianópolis. No Itacorubi está o Campus I, que abriga a

reitoria, o Centro de Educação a Distância, o Centro de Artes, Centro de Filosofia, e o Centro

de Ciências da Administração e SocioEconômicas – o CCA/ESAG. Neste centro há três

cursos: Ciências Econômicas - matutino, Administração Pública - matutino, Administração

Empresarial – vespertino e noturno. Segundo dados da secretaria de Ensino, no segundo

semestre de 2011 o campus ESAG Florianópolis contava com 1432 alunos.

4Metodologia empregada no estudo

A pesquisa consistiu do preenchimento de questionários virtuais utilizando a tecnologia

Google Docs. O formulário era composto de 16 perguntas que objetivavam garantir que cada

respondente preenchesse apenas um formulário; indentificar a que grupo estudantil o

indivíduo pertence; classificá-lo por sua atividade econômica; atender aos requisitos da

equação abaixo; e capturar as preferências que resultam na escolha do meio de transporte

indicado.

A pesquisa foi remetida a todo o público da ESAG via email da Secretaria de

Comunicação, para preenchimento eletrônico entre os dias 10 e 13 de novembro de 2011. Era

composta de 13 perguntas básicas obrigatórias, e 3 direcionadas, sendo duas para os que

optam pelo uso do carro para se locomover até a ESAG, e uma direcionada para os usuários

das motocicletas.

Para calcular as emissões por ano de cada perfil foi utilizado a seguinte fórmula:

Onde:

Ec – emissões de carbono

kgkm – emissão de carbono equivalente por quilômetro

km – quilometragem do bairro até a ESAG

T = 2 (ida e volta)

S = 5 (semana de 5 dias úteis)

Ss = 18 (semestre letivo com 18 semanas conforme calendário da UDESC)

A = 2 (dois semestres por ano)

Como guia referencial de estimativa de emissões por quilômetro rodado, utilizou-sea

tabela desenvolvida pelo Ministério de Energia e Mudanças Climáticas (DECC) e pelo

Ministério de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra), do governo da

Inglaterra, na sua versão 1,2, atualizada em 19/08/2011, anexos de 1 a 13.

A tabela 2 que segue traz uma separação entre emissões diretas, provenientes da própria

queima do combustível, e de emissões indiretas, citadas na introdução deste artigo, tais como

transporte do combustível.

Tabela 2 – Indica as emissões diretas e indiretas de gases causada pela queima de

combustíveis.

kg CO2e por km

Motorização: Total Total Total

Global Direto Indireto

Carros a

gasolina

Pequeno - Até 1,4L 0,20149 0,17112 0,03037

Médio - de 1,5L a 2,0L 0,24978 0,21209 0,03769

Grande - Acima de 2,0L 0,35228 0,29907 0,05321

Carros a

diesel

Pequeno - Até 1,4L 0,17252 0,14503 0,02749

Médio - de 1,5L a 2,0L 0,21534 0,18095 0,03439

Grande - Acima de 2,0L 0,28964 0,24329 0,04635

Carros flex

fuel

Pequeno - Até 1,4L 0,10001 0,07252 0,02749

Médio - de 1,5L a 2,0L 0,12487 0,09048 0,03439

Grande - Acima de 2,0L 0,16800 0,12165 0,04635

Motocicletas Pequeno - Até 125cc 0,10297 0,08779 0,01518

Médio - de 125cc a 500cc 0,12491 0,10649 0,01842

Grande - Acima de 500cc 0,16443 0,13992 0,02451

Ônibus

urbanos

Padrão Londres 0,10275 0,08630 0,01645

Fonte: www.defra.gov.uk; www.decc.gov.uk.

Para os carros Flex, uma invenção nacional que tomou conta das ruas, atingindo em

2010 conforme a (ANFAVEA) 81% da venda de novos veículos leves, foi feita uma

adaptação. A queima do álcool é neutra, pois o plantio da cana sequestra o carbono emitido

com a combustão. Contudo, a entressafra do álcool e seu natural aumento de preços levam os

consumidores a optarem pelo uso da gasolina. Portanto, considerar-se-á metade do uso com

cada tipo de combustível – 50% de gasolina e 50% de álcool. Multiplicando esse fator de

neutralidade pelas emissões advindas de um carro a gasolina de mesma motorização

chegamos ao resultado expresso na tabela acima.

Para motocicletas só consideramos como combustível a gasolina.Recentemente foi

lançada a primeira moto Flex do mercado, mas sua distribuição ainda é restrita a poucos

mercados.

Para calcular as emissões de ônibus urbanos há um problema adicional, que é a

estimativa da quantidade de usuários, para que se faça o correto rateio das emissões. Contudo,

nem Florianópolis nem as cidades da região metropolitana possuem estatísticas sobre os usos

do transporte coletivo. Em decorrência dessa ausência de informação, a base de cálculo será

aquela fornecida pelo DECC, definido como “Local bus”:

Para definir as distâncias percorridas pelos entrevistados, pedia-se para que o

entrevistado escrevesse seu bairro e cidade. Para encontrar a distância desses bairros e cidades

até a ESAG – Florianópolis, conforme a Figura abaixo.

Figura 1 – Cálculo da distância percorrida pelos entrevistados

Fonte: www.google.com

Importante ressaltar que este software calcula um ponto predefinido como a coordenada

central do bairro e cidade solicitada, e a melhor rota até o ponto definido pelo usuário.

Portanto podem ser encontradas discrepâncias referentes ao ponto de saída e a rota

determinada pelo Google e as praticadas pelo público.

4.1Resultados

Foram recebidas 61 respostas voluntárias. Uma foi excluída pela constatação de falta de

seriedade do inquirido, que respondeu em pergunta aberta que ia de helicóptero à ESAG.

Tabela 3 – Indica as respostas do questionário aplicado.

Público/transporte % relativa % geral

Apenas estudante (e/ou bolsista) 82,76% 82,76%

A pé 10,42% 8,62%

Bicicleta 8,33% 6,90%

Carro 43,75% 36,21%

Ônibus 37,50% 31,03%

Empresário 1,72% 1,72%

Carro 100,00% 1,72%

Funcionário de empresa privada 10,34% 10,34%

Carro 33,33% 3,45%

Moto 33,33% 3,45%

Ônibus 33,33% 3,45%

Funcionário público 5,17% 5,17%

Carro 33,33% 1,72%

Ônibus 66,67% 3,45%

Total Geral 100,00% 100,00%

Fonte: autoria própria

A média geral do estado atual é a emissão de 410,41 kg de carbono equivalente, apenas

no trajeto “RESIDÊNCIA > ESAG > RESIDÊNCIA”. Por ano são emitidos pelos alunos da

ESAG 574.416,02 kg de CE. Em quatro anos, periodo de duração dos cursos seriam

2.297.664,08 kg de CE, ou 1.641,64 kg de CE por aluno.

Tabela 4 – Média do consumo de CE por aluno

Rótulos de Linha Média de Consumo

Atual

Apenas estudante (e/ou bolsista) 381,32

A pé 0,00

Bicicleta 0,00

Carro 456,24

Ônibus 484,57

Empresário 1015,51

Carro 1015,51

Funcionário de empresa privada 440,25

Carro 602,82

Moto 436,81

Ônibus 281,12

Funcionário público 456,26

Carro 921,21

Ônibus 223,79

Total Geral 402,23

Fonte: autoria própria

Um fato interessante da tabela acima é que a média de emissões dos estudantes usuários

do carro é em menor que média das emissões dos que utilizam Ônibus. Isso se deve: pela

distância de residência dos dois públicos, evidentemente muito maior para os que utilizam

ônibus, e, pela adoção do carro flex, que tem sua emissão neutralizada pela metade.

A média dos que apenas estudam e utilizam carros permaneceu inferior a média dos que

possuem outra ocupação e também utilizam carro, mas ficou superior a média dos que

trabalham e andam de ônibus.

Tabela 5 – Emissão de gases por curso – Esag/Udesc

Fonte: autoria própria

Gráfico 1 – Emissão de gases por curso – Esag/Udesc

Rótulos de Linha Atual

ADM Noturno 408,54

ADM Pública 385,43

ADM Vespertino 371,26

Economia 467,95

Total Geral 410,41

Fonte: autoria própria

Sobre a segmentação por curso chama a atenção uma média 20% superior dos

acadêmicos de ciências econômicas. Mais uma vez a causa é a distância da residência ao

centro de ensino.

Gráfico 2 – Média de emissões por ocupação econômiica

Fonte: autoria própria

Aqui, ainda que a amostra seja de 5% do público total, podemos perceber uma relação

entre emissões e nível de renda. Aqueles que possuem ocupação e consequentemente renda

própria possuem uma média de emissões superior ao público que é apenas estudante (e/ou

bolsista), cuja renda própria é inferior ou inexistente (a bolsa auxílio da UDESC é de R$

360,00, frente a um salário mínimo para carteira assinada de R$ 560,00).

Simulando um novo cenário de “padrão ideal”, onde dadas as distâncias das residências

aos centros como fixas e alterando o meio de transporte de forma a minimizara emissão de

CO2 - equivalente chamado de “Consumo Inteligente”. Assim, estipulamos que aqueles que

residem até 8 km do Centro Universitário utilizassem bicicletas ou fossem a pé. A escolha

desta distância limite é aleatória, mas busca base em uma atividade física de 30 minutos a 1

hora por dia. Aos que residem a mais de oito quilômetros a emissão foi convertida para

Ônibus. Ou seja, no cenário ideal os alunos utilizariam apenas suas próprias forças ou

transporte coletivo.

Gráfico 3- Média de consumo atual e média de consumo inteligente por curso – Esag/Udesc.

Fonte: autoria própria

Com essa premissa obtivemos uma emissão média de 187,84 kg de CE por ano, redução

aproximada de 46% das emissões.

No âmbito das negociações climáticas internacionais, essa diferença entre a emissão

atual (do tipo business as usuais) e as emissões projetadas, em um cenário ideal, dá-se o nome

de adicionalidade.E a obtenção deste cenário, que demandaria alterações na infraestutura

urbana, poderia ser financiada através da captação de recursos financeiros para as mudanças

climáticas que já estão sendo disponibilizados tanto a nível nacional, como é o caso do Fundo

Clima, como a nível internacional, onde se destaca o Green Climate Fund, fundo estabelecido

no âmbito da ONU e que visa fornecer recursos financeiros para a adaptação e a mitigação

das mudanças climáticas em países emergentes.

Da tabela abaixo, depreende-se que a redução das emissões CO2 equivalente no cenário

proposto durante a vida acadêmica de um estudante seria de 48%, dito de outra maneira,

significa que se fossem feitos melhoramentos que induzissem um uso amplo da locomoção a

pé, via bicicleta e/ou transporte coletivo, teríamos um cenário onde dois estudantes emitiriam

praticamente a mesma quantidade de CO2 equivalente emitida por um estudante nas atuais

condições.

Tabela 6- Emissão atual de gases e emissão ideal

Semestres Atual Ideal Diferença

1 574.416,02 302.038,38 272.377,64

2 1.148.832,05 604.076,77 544.755,28

3 1.723.248,07 906.115,15 817.132,92

4 2.297.664,09 1.208.153,54 1.089.510,56

5 2.872.080,12 1.510.191,92 1.361.888,19

6 3.446.496,14 1.812.230,31 1.634.265,83

7 4.020.912,16 2.114.268,69 1.906.643,47

8 4.595.328,19 2.416.307,08 2.179.021,11

Fonte: autoria própria

Podemos verificar que a diferença é bastante significativa ao longo dos oitos semestres

mínimos de curso.

4.2Limitações

Este trabalho contém limitações no tocante ao uso de amostra de pouco mais de 4% dos

acadêmicos. Também há limitações decorrentes do uso de fatores de emissão e sequestro de

carbono extraído de um órgão Inglês, definidos a partir de testes realizados naquele país.

Restam diferenças na composição dos combustíveis utilizados, na composição de usos dos

transportes de cargas (emissões indiretas, escopo 3).

Ainda, com relação ao cálculo das distâncias das residências à ESAG foi utilizado o

padrão definido pela GOOGLE.

5 Considerações Finais

O impacto do setor de transportes sobre as mudanças climáticas vem sendo alvo de farta

produção acadêmica e governamental em anos recentes. De fato, se a comunidade

internacional pretende debelar, ou ao menos, reduzir as ameaças impostas pelas alterações

climáticas globais, deve implementar ações de mitigação sobre as principais fontes de

distúrbios que a atividade humana impõe ao meio ambiente e nessa lógica o setor de

transportes é um dos principais alvos das mudanças requeridas.

Nesse sentido, o presente trabalho tratou de analisar o impacto ambiental do uso dos

meios de transportes por parte da comunidade acadêmica da ESAG/UDESC.

O uso disseminado de veículos particulares, até mesmo para distâncias que poderiam ser

percorridas a pé ou de bicicleta e que podem ser explicadas por critérios econômicos e sociais.

Tudo isso acarreta um forte impacto ambiental para a sociedade, seja pelo aumento da

frequência de congestionamento, pela poluição do ar ou pela emissão de GEE. No caso da

comunidade acadêmica da ESAG/UDESC a questão não é diferente.

Através da pesquisa realizada foi possível verificar a elevada carga emitida de GEE

pelos estudantes em seu trajeto casa-faculdade-casa diariamente, mas isto poderia ser

mitigado consideravelmente caso o uso de transportes mais limpos, como bicicleta e

transporte coletivo. Se estes fossem utilizados em uma maior profusão por parte da

comunidade analisada, conforme destacado pelo estudo que estimou uma redução próxima à

50% das emissões entre o cenário BAU ( business as usual) e o cenário ideal.

No entanto, para se atingir o cenário almejado é necessário não apenas políticas

públicas de mitigação às emissões de GEE e que forneçam maior racionalidade ao sistema

de mobilidade urbana das cidades. Mas também, são necessários estudos quantitativos que

tentem mensurar o real impacto das sociedades sobre o meio ambiente dentro das mais

diversas relações existentes entre o homem e o meio que o cerca. Ao estimar o impacto dos

deslocamentos de uma comunidade acadêmica em sua rotina diária, este trabalho buscou

contribuir com essa linha de estudos.

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