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 20  Análise, Porto Ale gre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009 *Administrador de Empresas. Mestre em Administração pela UECE. E-mail: [email protected]. **Administrador. Mestre em Administração pela UECE. Especialização em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas – RJ. E-mail: [email protected]. ***Doutor em Gestão de Empresas pela Universidade de Coimbra. Doutor em Administração pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Administração pela Universidade Federal da Paraíba. Professor Adjunto da UECE. E-mail: [email protected]. 2 EMPREENDEDORISMO SOCIAL COM INCLUSÃO DIGITAL: O CASO PIRAMBU DIGITAL Davi Montefusco de Oliveira* Marcelo Correia Lima da Rocha** Francisco Roberto Pinto*** R R R R Resumo: esumo: esumo: esumo: esumo: Este estudo par te do pressuposto de que o empreend edorismo social procur a perceber os problemas que vêm afetando negativamente a sociedade e, assim, colabora para resolvê-los. Objetiva-se demonstrar como o empreendedorismo social, à luz da inclusão digital, vem se constituindo em uma perspectiva promissora no desencadear de ações sociais locais. Como estratégia metodológica, realizou-se um estudo de caso na Cooperativa Pirambu Digital, situada em um bairro periférico de Fortaleza (CE). Aplicando-se entrevistas com roteiros pré-definidos,  junto a alguns pares ligados à direção da organização, pôde-se coletar e tratar qual itativament e os dados. A pesquis a permitiu constatar que iniciativas empreendedoras desse tipo funcionam como espécies de agente de transformação comunitária, desempenhando um papel importante na democratização da informação, permitindo o uso da tecnologia da informação como instrumento de inclusão social. Por fim, sugere-se que seja feito um amplo movimento no sentido de multiplicação de empreendimentos dessa natureza. P P P P Pala ala ala ala alavr vr vr vr vras-cha as-cha as-cha as-cha as-chav v v v ve e e: Empreendedorismo social. Inclusão digital. Risco social. Juventude. Abstr Abstr Abstr Abstr Abstrac ac ac ac ac t t t: : This essay is about the social entrepreneurship and manages to notice the problems that have been affecting negatively the society and so to cooperate to solve them. Its objective is to demonstrate how social entrepreneurship, based on digital inclusion has been developing into a successful perspective to develop local social actions. As a methodological strategy, a case study in Cooperative Pirambu Digital has been made. It’s located in a suburban area of Fortaleza- CE. Interviews have been applied with pre-determined scripts. Some head offices were interviewed and afterwards we could collect and handle with qualitative data. The resear ch information allowed us to verify that attempts l ike these work as community transforming agents playing an important role in the information democratization, accepting the use of information technology as a tool of social inclusion. Finally, we suggest that a great movement towards the increasing of measures similar to those should be performed. K K K K Ke e e e ey-w y-w y-w y-w y-wor or or or ords: ds: ds: ds: ds: Social entrepreneurship, Digital inclusion, Social risk, Youth. JEL Classif JEL Classif JEL Classif JEL Classif JEL Classif ication ication ication ication ication: L3 - Nonprofit Orga nizations and Public Enterprise; (L31 - Nonprofit Institutio ns; NGOs)

EMPREENDEDORISMO SOCIAL COM INCLUSÃO DIGITAL: O CASO PIRAMBU DIGITAL

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RRRResumo: esumo: esumo: Este esumo: esumo: estudo parte do pressuposto de que o empreendedorismo social procura perceber os problemas que vêm afetando negativamente a sociedade e, assim, colabora para resolvê-los. Objetiva-se demonstrar como o empreendedorismo social, à luz da inclusão digital, vem se constituindo em uma perspectiva promissora no desencadear de ações sociais locais. Como estratégia metodológica, realizou-se um estudo de caso na Cooperativa Pirambu Digital, situada em um bairro periférico de Fortaleza (CE). Aplicando-se entrevistas com roteiros pré-definidos, junto a alguns pares ligados à direção da organização, pôde-se coletar e tratar qualitativamente os dados. A pesquisa permitiu constatar que iniciativas empreendedoras desse tipo funcionam como espécies de agente de transformação comunitária, desempenhando um papel importante na democratização da informação, permitindo o uso da tecnologia da informação como instrumento de inclusão social. Por fim, sugere-se que seja feito um amplo movimento no sentido de multiplicação de empreendimentos dessa natureza. Palavras-chave: Empreendedorismo social. Inclusão digital. Risco social. Juventude.

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  • 20

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

    *Administrador de Empresas. Mestre em Administrao pela UECE. E-mail: [email protected].**Administrador. Mestre em Administrao pela UECE. Especializao em Marketing pela Fundao Getlio Vargas RJ. E-mail:

    [email protected].***Doutor em Gesto de Empresas pela Universidade de Coimbra. Doutor em Administrao pela Universidade Federal da Paraba. Mestre em

    Administrao pela Universidade Federal da Paraba. Professor Adjunto da UECE. E-mail: [email protected].

    2

    EMPREENDEDORISMO SOCIALCOM INCLUSO DIGITAL:

    O CASO PIRAMBU DIGITALDavi Montefusco de Oliveira*

    Marcelo Correia Lima da Rocha**Francisco Roberto Pinto***

    RRRRResumo: esumo: esumo: esumo: esumo: Este estudo parte do pressuposto de que o empreendedorismo social procura perceber os problemas que

    vm afetando negativamente a sociedade e, assim, colabora para resolv-los. Objetiva-se demonstrar como o

    empreendedorismo social, luz da incluso digital, vem se constituindo em uma perspectiva promissora no desencadear

    de aes sociais locais. Como estratgia metodolgica, realizou-se um estudo de caso na Cooperativa Pirambu

    Digital, situada em um bairro perifrico de Fortaleza (CE). Aplicando-se entrevistas com roteiros pr-definidos,

    junto a alguns pares ligados direo da organizao, pde-se coletar e tratar qualitativamente os dados. A pesquisa

    permitiu constatar que iniciativas empreendedoras desse tipo funcionam como espcies de agente de transformao

    comunitria, desempenhando um papel importante na democratizao da informao, permitindo o uso da tecnologia

    da informao como instrumento de incluso social. Por fim, sugere-se que seja feito um amplo movimento no

    sentido de multiplicao de empreendimentos dessa natureza.

    PPPPPalaalaalaalaalavrvrvrvrvras-chaas-chaas-chaas-chaas-chavvvvveeeee: Empreendedorismo social. Incluso digital. Risco social. Juventude.

    AbstrAbstrAbstrAbstrAbstracacacacacttttt: : : : : This essay is about the social entrepreneurship and manages to notice the problems that have been

    affecting negatively the society and so to cooperate to solve them. Its objective is to demonstrate how social

    entrepreneurship, based on digital inclusion has been developing into a successful perspective to develop local

    social actions. As a methodological strategy, a case study in Cooperative Pirambu Digital has been made. Its

    located in a suburban area of Fortaleza- CE. Interviews have been applied with pre-determined scripts. Some head

    offices were interviewed and afterwards we could collect and handle with qualitative data. The research information

    allowed us to verify that attempts like these work as community transforming agents playing an important role in

    the information democratization, accepting the use of information technology as a tool of social inclusion. Finally,

    we suggest that a great movement towards the increasing of measures similar to those should be performed.

    KKKKKeeeeey-wy-wy-wy-wy-wororororords:ds:ds:ds:ds: Social entrepreneurship, Digital inclusion, Social risk, Youth.

    JEL ClassifJEL ClassifJEL ClassifJEL ClassifJEL Classificationicationicationicationication: L3 - Nonprofit Organizations and Public Enterprise; (L31 - Nonprofit Institutions; NGOs)

  • 21Empreendedorismo social com incluso digital: o caso Pirambu Digital

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

    1 Introduo

    A complexidade dos fatos e problemas trazi-

    dos com o crescimento global faz com que aumen-

    tem as buscas por solues para os problemas que

    assolam a humanidade, com o propsito de se che-

    gar a um modelo de desenvolvimento sustentvel.

    Neste contexto, entende-se que desenvolvi-

    mento significa melhorar a vida das pessoas, sob o

    aspecto econmico e social, tanto das que esto

    vivas hoje como daquelas que vivero no futuro (sus-

    tentvel) (Franco, 2000). Para alcanar esse resulta-

    do preciso buscar alternativas para se crescer num

    cenrio que envolva reduo de desigualdades e

    incluso social.

    Desta forma, Melo Neto e Froes (2002) apre-

    sentam o empreendedorismo social como um para-

    digma emergente de um novo modelo de desenvol-

    vimento: humano, social e sustentvel. Segundo os

    autores, muda-se o foco que se observa nas empre-

    sas sobretudo nas grandes transnacionais e nas

    grandes instituies financeiras para o negcio

    social, que tem na sociedade civil a sua principal

    base, atravs da parceria envolvendo comunidade,

    governo e setor privado.

    Nesse sentido, nos dias de hoje, processos

    que envolvem a questo da incluso digital, ganham

    espao nessa vitrine social. J que, neste contexto,

    a busca pela reduo da lacuna existente entre os

    que tm acesso informao e os que no a possu-

    em. Na sociedade contempornea essa lacuna tor-

    na-se um obstculo, aumentando ainda mais o pro-

    blema da misria e dificultando o desenvolvimento

    humano local e nacional (Freire, 2006).

    Partindo do pressuposto de que o empreen-

    dedorismo social busca perceber o que vem afetan-

    do a sociedade negativamente, e como se poderi-

    am resolver tais problemas, este trabalho objetiva

    demonstrar que o empreendedorismo social, dentro

    do cenrio da incluso digital, promissor como

    agente de mudanas sociais locais em comunida-

    des carentes, como o que ocorre no caso da Coope-

    rativa Pirambu Digital, situada em um bairro perif-

    rico da cidade Fortaleza (CE), objeto de nossa in-

    vestigao.

    Este estudo est dividido em trs partes. Pri-

    meiramente, exps-se o empreendedorismo social

    como uma espcie de agente de transformao co-

    munitria, desdobrando suas idias e objetivos den-

    tro do meio social. Em seguida, relacionou-se tal

    posio empreendedora com a incluso digital, seus

    conceitos, perspectivas, aplicaes e resultados pr-

    ticos, analisando de que forma influenciam e en-

    grandecem a comunidade do Pirambu em seu de-

    senvolvimento scio-econmico. Em seguida, apre-

    sentam-se os resultados finais da pesquisa.

    2 Empreendedorismo Social

    O incio do sculo XXI, caracterizado por uma

    reviso de valores ticos nas corporaes e na soci-

    edade em geral, traz tona discusses acadmicas

    a respeito das estratgias empresariais e da preocu-

    pao com a soluo de problemas sociais funda-

    mentais (FISCHER, 2000). De acordo com o discur-

    so vigente, novas combinaes de recursos, sob a

    forma de inovaes em suas diversas configuraes,

    so necessrias e urgentes para o alcance de metas

    mundiais de desenvolvimento sustentvel.

    Orchis et al (2002) mencionam que, ainda na

    primeira metade do sculo XX, abrem-se novas pos-

    sibilidades para a realizao de parcerias entre or-

    ganizaes da sociedade civil e empresas privadas

    para o enfrentamento dos problemas sociais que se

    tornaram mais evidentes medida que o prprio

    ambiente mundial se expandiu. Desde ento, h uma

    crescente preocupao mundial em ampliar e con-

    cretizar o envolvimento dos diversos agentes eco-

    nmicos na construo do desenvolvimento susten-

    tvel das naes e da sociedade globalizada em

    geral.

    Segundo Franco (2000), a nova ordem scio-

    econmica requer uma viso de desenvolvimento

  • 22 OLIVEIRA, D. M. de; ROCHA, M. C. L. da; PINTO, F. R.

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

    local que posicione espaos scio-territoriais deli-

    mitados em face do mercado global. Tal desenvol-

    vimento possibilita o surgimento de comunidades

    mais sustentveis, capazes de suprir suas necessi-

    dades de curto prazo, descobrir vocaes locais e

    despertar suas potencialidades.

    Sendo assim, o autor tambm ressalta que o

    surgimento de diversas experincias de desenvolvi-

    mento social a partir do empoderamento comuni-

    trio, balizadas por redes sociais locais e baseadas

    na cooperao e na concepo de mercado justo,

    acabou por criar uma verdadeira scio-economia

    solidria. Desse modo, a formao de redes associ-

    ativas de desenvolvimento local sustentvel e inte-

    grado sinaliza uma terceira via como contraponto

    ao sistema econmico dominante.

    O conceito de desenvolvimento local pode ser

    entendido como o processo endgeno de mobiliza-

    o das energias sociais em espaos de pequena

    escala, que implementam mudanas capazes de ele-

    var as oportunidades sociais, a viabilidade econ-

    mica e as condies de vida da populao (Franco,

    2000). exatamente na concepo desse contexto

    que o empreendedorismo social tem papel funda-

    mental e preponderante na dinmica do desenvol-

    vimento local.

    O argumento de Albagli e Maciel (2002) con-

    tribui para apoiar ainda mais a relao entre redes

    de desenvolvimento local e empreendedorismo cada

    vez mais se reconhecendo a importncia dos pro-

    cessos interativos e cooperativos de aprendizado

    como geradores de inovao, inclusive na rea soci-

    al. Assim, o complexo de instituies, costumes e

    relaes de confiana locais assumem papel crtico

    para o empreendedorismo e que constituem os prin-

    cipais canais para o aprendizado e a inovao, tor-

    nando o empreendedorismo social uma alternativa

    de desenvolvimento humano local e de emancipa-

    o social.

    Assim, surgem novas formas de entender e

    enfrentar os problemas sociais existentes. Segundo

    Kliksberg (1997), isto passa pela superao das fal-

    cias econmicas e da nfase na cultura e da rees-

    truturao da famlia, que pode servir como base

    essencial para dar respostas satisfatrias a proble-

    mas sociais existentes. Assim, a tecnologia doms-

    tica, os saberes, os costumes, as capacidades ina-

    tas de auto-organizao existentes nessas culturas

    podem contribuir para que se encontrem solues

    inovadoras e adequadas em educao, sade, agri-

    cultura, construo, dentre outros pontos.

    Dentro dessa perspectiva, o empreendedoris-

    mo social funciona como um agente da criatividade

    comunitria. compreendido aqui como aquele que,

    mediante sua criatividade, toma para si a tarefa de

    solucionar problemas e buscar benefcios para a sua

    comunidade. Drayton (2003) complementa ressaltan-

    do que o trabalho do empreendedor social ver aon-

    de a sociedade est estagnada e encontrar uma nova

    maneira de resolver tal problema, ante uma pers-

    pectiva de desenvolvimento integrado e sustent-

    vel.

    Pensando nessas proposies, o prprio

    Drayton, em 1981, na ndia, fundou a Ashoka Em-

    preendedores Sociais, alm da Mackisey & Cia, com

    o objetivo de desenvolver a profisso de empreen-

    dedor social. Ornamentado por iniciativas como

    essa, cresce cada vez mais o incentivo participa-

    o da sociedade civil nas questes nacionais, sob

    o argumento de que as complexidades regionais das

    questes sociais demandam diversas aes integra-

    das. Assim, a formao de parcerias entre governo,

    iniciativa privada e sociedade civil tem chamado a

    ateno de pesquisadores da rea da Administra-

    o para o surgimento de um novo modelo de ges-

    to social, voltado para a formao de redes e para

    o desenvolvimento de projetos inovadores com fins

    sociais (Fleury, Migueletto e Bloch, 2002).

    Dentre todos os aspectos que envolvem a

    gesto social, um dos assuntos mais pertinentes a

    incluso digital. O acesso cotidiano s redes, aos

    equipamentos e ao domnio das habilidades relaci-

    onadas s tecnologias de informao e comunica-

    o so, cada vez mais, requisitos indispensveis

  • 23Empreendedorismo social com incluso digital: o caso Pirambu Digital

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

    participao social, atividade econmica e fortale-

    cimento da cidadania. Princpios fundamentais como

    justia social, igualdade de oportunidades e a pr-

    pria democracia passam a ser influenciados pelo

    acesso s tecnologias de informao e comunica-

    o. Afinal, estas se posicionam como um impor-

    tante meio para se adquirir, interpretar, expressar,

    produzir e organizar o conhecimento, colocando-o

    a servio de interesses e necessidades. Sobre este

    foco especfico, atravs de um estudo de caso, esta

    pesquisa est pautada.

    De tudo isso, pde-se verificar que a temti-

    ca do empreendedorismo social no trata de um sim-

    ples passe de mgica, mas de uma ao que re-

    quer, acima de tudo, a capacidade coordenada de

    vrias pessoas. Tal processo exige, principalmente,

    o redesenho de relaes entre comunidade, gover-

    no e setor privado, dentro de um modelo de parceri-

    as, tendo como principal objetivo retirar indivduos

    da situao de risco social, buscando solues a

    curto, mdio e longo prazo para os problemas que

    surgem, com o intuito de se atingir a plenitude da

    incluso social.

    3 Incluso Digital

    A excluso scio-econmica desencadeia a

    excluso digital, ao mesmo tempo em que a exclu-

    so digital aprofunda a excluso scio-econmica.

    (Assumpo e Mori, 2006). Entende-se que a im-

    portncia da incluso digital se inicia pelo reconhe-

    cimento desse contexto e de que a situao deve

    ser combatida com um processo de oferta universal

    de acesso aos equipamentos, s redes, s lingua-

    gens, sem restringir-se a aplicativos e sistemas, mas

    estendendo-se prpria cultura da rede mundial.

    Apropriar-se das tecnologias significa desenvolver

    e aperfeioar habilidades que vo de tarefas bsi-

    cas, como escrever uma mensagem ou reconhecer

    um spam, a atividades complexas, como pesquisar

    de maneira eficaz, acessar servios ou produzir um

    vdeo digital e transmiti-lo via Web. Isso quer dizer

    que muitos aspectos da incluso digital no esto

    nas mquinas nem na relao com as mquinas, e

    sim no processo global de incluso social.

    Ao nos depararmos com a realidade brasilei-

    ra de milhares de analfabetos e com mais da meta-

    de da populao recebendo at dois salrios mni-

    mos, fica ainda mais ntida a contextualizao de

    que a excluso digital parece ser uma mera conse-

    qncia da excluso social (Cruz, 2004). A expres-

    so incluso digital ganhou um significado mais

    complexo na conjuntura atual, sendo considerado

    digitalmente includo um indivduo que tem acesso

    no s da parte fsica do computador com acesso

    Internet, mas tambm a educao, para assim ter

    condies de interpretar e discernir as informaes

    disponveis na rede mundial de computadores (Frei-

    re, 2006; Dutt-Ross, Pires e Fernandes, 2006).

    A luta pela incluso digital , por conseguin-

    te, diminuir a enorme lacuna existente entre os que

    tm acesso informao e os que no a possuem,

    pois na sociedade contempornea esse obstculo

    aumenta ainda mais o problema da misria e difi-

    culta o desenvolvimento humano local e nacional

    (Freire, 2006). Neste cenrio, a incluso digital de-

    veria ser fruto de uma poltica pblica com destina-

    o oramentria a fim de que aes promovam a

    incluso e equiparao de oportunidades a todos os

    cidados. De acordo com o relatrio do IBGE 2005,

    apenas 17% da populao brasileira, tem acesso

    informao por meio digital, sem contar as dispari-

    dades e desproporcionalidades entre as regies

    metropolitanas e os municpios localizados no inte-

    rior, como tambm entre as diferentes regies do

    pas (Corts, 2003).

    Todavia, segundo Mattos (2006), a base de

    dados sobre incluso/excluso digital ainda bas-

    tante precria, no permitindo tirar concluses muito

    importantes sobre o tema. Deve-se levar em consi-

    derao que a excluso digital interpretada ape-

    nas em termos quantitativos, tanto na literatura na-

    cional, quanto, mesmo, na internacional, sendo ain-

    da incipientes as tentativas de avali-la de forma

  • 24

    qualitativa. Falta um melhor entendimento de que,

    quando uma sociedade se utiliza da informao di-

    gital de forma proveitosa, ocorrem progressos na vida

    destas pessoas. At porque os impactos da utiliza-

    o da informao digital so mensurados pela

    abrangncia dessas mudanas e no pela quantida-

    de de indivduos que esto conectados Internet

    (Arajo, 2001).

    Assim, embora existam, em vrias socieda-

    des, incluindo o Brasil, inmeros outros problemas

    emergenciais a serem resolvidos, esses fatos no

    diminuem a importncia do combate excluso di-

    gital, pois esta agrava, cada vez mais, a distncia

    entre as sociedades menos desenvolvidas e aquelas

    que j atingiram um patamar mais alto de desen-

    volvimento.

    Nesta seara, muito comentada a formula-

    o de polticas pblicas para a soluo deste pro-

    blema, como tambm a maneira com que elas de-

    vem ser implementadas e, por fim, qual seria o pa-

    pel do mercado na formulao dessas polticas (Ron-

    delli, 2003). O que se procurar contemplar que as

    empresas devem participar da implantao dessas

    polticas, mas com o papel de sujeito orientador e

    no como reguladoras com poder de deciso. At

    mesmo porque, caso elas venham a ser tambm for-

    necedoras dos programas de implantao, os inte-

    resses mercadolgicos no devem desvirtuar tais

    polticas.

    Outra questo a ser observada no problema

    da falta de incluso digital diz respeito ao marco

    regulatrio. indiscutvel a necessidade de oferta

    de acessibilidade da informao digital de forma

    democrtica ao povo brasileiro como garantia de

    cidadania. Esta oferta precisa ser feita de forma

    abrangente, envolvendo aes conjuntas entre o

    poder pblico e a iniciativa privada. Porm, para

    que isso ocorra eficazmente, premente uma revi-

    so imediata na Lei Geral de Telecomunicaes,

    assunto abordado na 7 edio da Rio Wireless, em

    abril de 2007, visto que o setor evoluiu e evolui cons-

    tantemente, necessitando de uma legislao que d

    sustentculo aos possveis investimentos do mer-

    cado no setor, com a garantia de que as regras se-

    ro claras e os acordos realizados sero cumpridos.

    Diante dessa anlise, um ponto que necessi-

    ta de providncias imediatas em relao ao per-

    centual de 1% retido pelas empresas de telecomu-

    nicaes para compor o FUST Fundo de Universa-

    lizao dos Servios de Telecomunicaes. Implan-

    tado pela Lei N 9.998 de agosto de 2000, o FUST

    arrecada cerca de R$ 800 milhes por ano, tendo

    como objetivo maior garantir a universalizao do

    acesso telefonia e Internet, principalmente em

    escolas e hospitais de regies menos favorecidas.

    Ocorre que o fundo referido j havia arrecadado cerca

    de R$ 4,2 bilhes at setembro de 2006, sem que

    jamais tenha sido aplicado, de fato, algum valor

    desse montante, dando mais uma demonstrao da

    urgente necessidade em se alterar a legislao vi-

    gente (Shinoda, 2006).

    Na tentativa de solucionar este e outros pro-

    blemas ligados falta de incluso digital, o governo

    tem buscado inserir socialmente os excludos digi-

    tais, atravs de alguns projetos, tais como os cha-

    mados Infocentros, localizados em regies menos

    favorecidas com precrias infoestruturas de aces-

    so. De acordo com a pesquisa realizada por Rabia

    et al (2006) o perfil dos freqentadores dos Infocen-

    tros praticamente o mesmo da populao brasilei-

    ra menos favorecida, onde a conquista pelo empre-

    go depende, em grande parte, de uma situao fa-

    vorvel do ambiente econmico, assim como de

    condies para interpret-lo, utilizando-se adequa-

    damente das ferramentas e relacionamentos dispo-

    nveis. Sem essas habilidades as perspectivas de

    incluso no mercado de trabalho no so nem um

    pouco animadoras.

    Dentro desse contexto, notrio que, um dos

    parceiros mais importantes junto questo da in-

    cluso digital , sem dvida, o processo educativo.

    A incluso digital deve ser parte do processo de

    ensino, de forma a promover a educao continua-

    da. Desta feita, a educao aparece como um pro-

    OLIVEIRA, D. M. de; ROCHA, M. C. L. da; PINTO, F. R.

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

  • 25

    cesso e a incluso digital como um elemento essen-

    cial deste processo. A difuso do acesso atravs das

    escolas permitiria aos jovens, que ainda iro ou que

    j necessitam da informao digital, ter em suas mos

    uma ferramenta essencial para incluso no mercado

    de trabalho. Porm, o cerne da questo que se colo-

    ca aqui sobre at que ponto esses projetos de in-

    cluso digital provocam mudanas perceptveis e re-

    levantes na vida das pessoas amparadas.

    Alm disso, deve-se medir se os intentos go-

    vernamentais que esto sendo implantados realmen-

    te esto causando melhorias na educao desses

    indivduos. preciso saber se aqueles que conse-

    guem usufruir deste servio ofertado conseguem,

    de fato, se inserir no mercado de trabalho com mais

    rapidez e com empregos mais qualificados do que

    outras pessoas (Rabia et al, 2006). Assim, parece

    ficar perceptvel que, embora a ao governamental

    seja de suma importncia, ela deve ter a participa-

    o de toda sociedade face necessidade premen-

    te que se tem de acesso educao e redistribui-

    o de renda (Da Silva Filho, 2003).

    Ademais, colaborando com o movimento de

    expanso da oferta dos conhecimentos disponveis

    na rede mundial de computadores, existem as ONGs

    (Organizaes No-Governamentais), desempe-

    nhando um papel importante na democratizao da

    informao por meio digital. Algumas ONGs tm

    demonstrado preocupao no s na disposio do

    acesso s tecnologias da informao, como tambm

    com a forma que as novas tecnologias de informa-

    o digital so ofertadas s populaes mais caren-

    tes. Mesmo com a enorme propagao do assunto

    relacionado necessidade de combate falta de

    acesso de informao, so ainda incipientes as ini-

    ciativas de criao de ONGs especficas para o com-

    bate excluso digital, embora esses poucos em-

    preendimentos tenham demonstrado que essas or-

    ganizaes executam um trabalho eficiente (Simo,

    2004).

    Como anteriormente mencionado, as experi-

    ncias de criao dos Infocentros ou Telecentros so

    aes louvveis como ferramentas de combate

    excluso digital. Porm, esses tipos de empreendi-

    mentos, que geralmente ocorrem atravs de parce-

    rias entre o Estado e o Terceiro Setor, enfrentam

    alguns problemas de ordem consensual, principal-

    mente no ponto da utilizao de softwares livres,

    visto que muitas organizaes contam com apoio

    de grandes corporaes como a Microsoft, para a

    criao destes Telecentros (Lacerda, 2005). Como

    decorrncias deste fato, podem ocorrer prejuzos na

    formao de parcerias, comprometendo as j exis-

    tentes e, por conseguinte, prejudicando o objetivo

    maior que a participao do usurio-cidado no

    projeto (Lacerda, 2005).

    Diante de tudo isso, entende-se tambm que

    a atuao da iniciativa privada, principalmente na

    formao de parcerias, bastante relevante. Na atual

    conjuntura social, o mercado exerce enorme influ-

    ncia sobre como as informaes so veiculadas para

    a sociedade e qual o meio que ser utilizado. Exem-

    plo dessa realidade a formao de cooperativas

    digitais auto-sustentveis, que prestam servios e,

    ao mesmo tempo, desempenham um papel assis-

    tencial para a comunidade em que esto inseridas.

    Este tipo de exemplo bastante salutar, pois procu-

    ra atuar onde a escola no consegue suprir lacunas,

    reduzindo as deficincias a serem atendidas (Neri,

    Carvalhaes e Pieroni, 2005).

    Nesse sentido, no se trata de contar com

    iniciativas de incluso digital somente como recur-

    so para ampliar a base de usurios para fins comer-

    ciais ou de arrecadao de impostos, nem reduz-la

    a elemento de aumento da empregabilidade de in-

    divduos ou de formao de consumidores para no-

    vos tipos ou canais de distribuio de bens e servi-

    os. Espera-se que o acesso s tecnologias e sua

    apropriao leve ao desenvolvimento local, reso-

    luo de problemas das comunidades de modo par-

    ticipativo e com autonomia crtica e a mudanas

    nas prticas polticas. Uma alternativa que est sen-

    do implementada pelo nosso objeto de pesquisa, no

    caso a Cooperativa Pirambu Digital, est justamen-

    Empreendedorismo social com incluso digital: o caso Pirambu Digital

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

  • 26

    te na subveno de computadores a preos simb-

    licos e acesso Internet via-rdio, como tambm a

    oferta de cursos de informtica, entre outros. Tal

    iniciativa um exemplo palpvel de combate ex-

    cluso digital, atravs de conceitos e prticas liga-

    dos sustentabilidade e melhoria da gesto social

    local, conforme veremos mais adiante.

    4 Metodologia da Pesquisa

    4.1 Definies geraisNo presente trabalho, objetiva-se demonstrar

    de que forma o empreendedorismo social vem se

    constituindo como uma perspectiva promissora ao

    promover aes sociais locais. No caso, analisando

    a temtica da incluso digital e as contribuies

    desta para questes relativas ao desenvolvimento e

    sustentabilidade no contexto de uma determinada

    comunidade. Nesse sentido, no processo de defini-

    o quanto a um campo emprico que pudesse ofe-

    recer melhores condies de acessibilidade tanto

    em termos de localizao quanto em termos de in-

    formao, escolheu-se a Cooperativa Pirambu Digi-

    tal, do bairro do Pirambu, em Fortaleza-CE, como

    caso especfico a ser estudado.

    Nesse contexto, este estudo pode ser consi-

    derado, de acordo com as definies de Parra Filho

    (2001), como terico e de campo, pois ao mesmo

    tempo em que realizou uma pesquisa bibliogrfica

    sobre empreendedorismo social e incluso digital,

    ocorreu tambm uma explorao descritiva quali-

    tativa, atravs do estudo de caso da Cooperativa

    Pirambu Digital, que funcionou como um elo com-

    parativo entre a teoria e a prtica.

    No caso desta pesquisa, em vista de um me-

    lhor aprofundamento das questes relativas s con-

    tribuies sociais do Pirambu Digital, optou-se pela

    realizao de entrevista com roteiro pr-definido de

    questes. Nesse processo, foi possvel coletar infor-

    maes inerentes aos objetivos desejados pelo es-

    tudo, junto a trs importantes sujeitos componen-

    tes da direo da Cooperativa: o Presidente, o Vice-

    Presidente e o Diretor Financeiro. A escolha desses

    atores permitiu a anlise total do funcionamento da

    entidade em comento.

    A anlise do contedo feita sobre o material

    obtido iniciou-se com um trabalho de escuta e de

    transcrio das entrevistas. Em seguida, o material

    foi submetido a um estudo orientado pelo referenci-

    al terico, j envolto no contexto do empreendedo-

    rismo social e incluso digital. Por fim, expuseram-

    se as aes com os quais o Pirambu Digital vem

    trabalhando, a forma como as mesmas influenciam

    no cotidiano comunitrio, quais os pontos fortes e

    fracos dentro de um contexto analtico, at se che-

    gar aos resultados finais e s possveis concluses

    sobre essa temtica.

    4.2 Variveis e construo do questionrioNa concretizao das entrevistas, utilizou-se

    um roteiro pr-definido, com doze questes-base

    que serviram como parmetro inicial para se che-

    gar ao foco principal do tema da pesquisa. Desta

    feita, os questionamentos foram guiados diretamente

    para assuntos inerentes s contribuies do modelo

    de incluso digital nos posicionamentos relativos ao

    desenvolvimento e sustentabilidade no contexto da

    comunidade local.

    Embora nem todas as questes includas te-

    nham sido encontradas em obras dos doutrinadores

    consultados, todas elas foram reunidas no questio-

    nrio a partir de um posicionamento terico e em-

    prico anteriormente definido, como se explicitar

    adiante.

    A seguir, procura-se justificar a incluso de

    cada uma das questes utilizadas ao longo do pro-

    cesso de investigao.

    Questo 1 - Questo 1 - Questo 1 - Questo 1 - Questo 1 - Que atividades so desenvolvidas aqui?

    A questo 1, busca situar o estudo em si com

    relao ao seu objeto de estudo principal, procuran-

    do identificar de que forma so arquitetadas as ati-

    vidades relativas ao desenvolvimento e sustentabi-

    lidade no caso da Cooperativa Pirambu Digital.

    OLIVEIRA, D. M. de; ROCHA, M. C. L. da; PINTO, F. R.

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

  • 27

    Questo 2 - Questo 2 - Questo 2 - Questo 2 - Questo 2 - H quanto tempo o projeto comeou a

    operar?

    Essa questo busca associar o perodo de

    surgimento da organizao em relao quantida-

    de de projetos e resultados j concebidos e tratados

    at o presente momento.

    Questo 3 - Questo 3 - Questo 3 - Questo 3 - Questo 3 - De onde partiu a concepo e a deter-

    minao para iniciar o projeto?

    Essa questo refora a anterior. Atravs dela,

    pretende-se fazer uma justaposio com os argu-

    mentos defendidos por Orchis et al (2002), que men-

    cionam a realizao de parcerias entre organizaes

    da sociedade civil e empresas privadas para o en-

    frentamento dos problemas sociais que se tornaram

    mais evidentes ao longo dos ltimos anos.

    Questo 4 - Questo 4 - Questo 4 - Questo 4 - Questo 4 - Que motivos os levaram a desenvolver

    o projeto?

    Com essa questo, objetiva-se entender at

    que ponto podem ser corroboradas as idias de al-

    guns autores pesquisados neste estudo, como no

    caso de Franco (2000). Para esse autor, a nova or-

    dem scio-econmica requer uma viso de desen-

    volvimento local que posicione espaos scio-ter-

    ritoriais delimitados em face do mercado global,

    possibilita o surgimento de comunidades mais sus-

    tentveis, capazes de suprir suas necessidades

    imediatas, descobrir vocaes locais e despertar

    suas potencialidades especficas, justamente uma

    das balizes defendidas pela Cooperativa Pirambu

    Digital.

    Questo 5 - Questo 5 - Questo 5 - Questo 5 - Questo 5 - Quais os objetivos primordiais dos pro-

    jetos ligados ao Pirambu Digital?

    Sobre essa questo, pauta-se o argumento de

    Albagli e Maciel (2002), no qual o empreendedoris-

    mo social se apresenta como uma alternativa emer-

    gente de desenvolvimento humano local e de eman-

    cipao social frente a diversas aes de combate

    pobreza e excluso, algumas das expresses mais

    ntidas das mltiplas dimenses da questo social,

    fatores esses bastante notrios no Bairro do Piram-

    bu, localizado na periferia de Fortaleza.

    Questo 6 - Questo 6 - Questo 6 - Questo 6 - Questo 6 - Esto formalmente definidos a misso,

    a viso, o negcio e os valores do Pirambu Digital?

    Com essa questo, objetiva-se contextuali-

    zar at que ponto a Cooperativa est devidamente

    organizada e formalizada em termos de mtodos,

    usos e tcnicas de trabalho, costumeiramentes uti-

    lizados nas organizaes, de uma forma geral.

    Questo 7 - Questo 7 - Questo 7 - Questo 7 - Questo 7 - Os projetos existentes so complemen-

    tares? Como? E por qu?

    Aqui, repete-se a justificativa apresentada

    para a questo anterior, levantando-se a possibili-

    dade de haver um tratamento diferenciado e mais

    formalizado com relao ao tratamento dos mto-

    dos, usos e tcnicas de trabalhados adotadas na

    instituio.

    Questo 8 - Questo 8 - Questo 8 - Questo 8 - Questo 8 - Quais eram as expectativas antes da

    implantao do projeto?

    A razo de se ter includo essa questo, bus-

    ca traar uma espcie de relao entre as projees

    inicialmente feitas e os objetivos outrora atingidos,

    at o presente momento.

    Questo 9 - Questo 9 - Questo 9 - Questo 9 - Questo 9 - Qual a reao e a recepo do pblico

    local (circunvizinhana)?

    Kliksberg (1997) defende que a tecnologia

    domstica, os saberes, os costumes e as capacida-

    des inatas de auto-organizao existentes nessas

    culturas locais podem contribuir para que se en-

    contrem solues inovadoras e adequadas para se

    solucionar problemas e buscar benefcios para uma

    determinada comunidade. Sendo assim, tal ques-

    to pretende referenciar e correlacionar tais pers-

    pectivas diante da populao do Bairro do Pirambu.

    Questo 10 - Questo 10 - Questo 10 - Questo 10 - Questo 10 - Existem indicadores de desempenho

    dos projetos? Quais? Quem os definiu? Quais os

    critrios utilizados?

    Empreendedorismo social com incluso digital: o caso Pirambu Digital

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

  • 28

    Tal questo tem o propsito de entender como

    so avaliados os resultados atingidos ante as aes

    sociais praticadas pela Cooperativa. Busca-se as-

    sim, saber da existncia ou no de algum modelo

    formal que explicite o feedback diante dos traba-

    lhos realizados e das pessoas beneficiadas por al-

    gum projeto do Pirambu Digital.

    Questo 11 - Questo 11 - Questo 11 - Questo 11 - Questo 11 - O que determinou a escolha do local

    para a implantao do Pirambu Digital?

    Essa pergunta foi includa no intuito de se

    verificar at que ponto aspectos polticos e com-

    portamentais tambm influenciaram nessa escolha.

    Questo 12 - Questo 12 - Questo 12 - Questo 12 - Questo 12 - Como administrado o projeto em si?

    Quem dirige a organizao e como se d sua esco-

    lha e o possvel processo de sucesso para os car-

    gos superiores?

    Nesse caso, o intuito destrinchar, em mai-

    ores detalhes, de que forma a organizao geri-

    da, principalmente no que diz respeito questo

    dos cargos e das funes de poder e autoridade

    exercidas por cada um dos que fazem parte da Co-

    operativa.

    5 Anlise dos Resultados

    5.1 ContextualizaoA cidade de Fortaleza caracteriza-se por ser

    um local cosmopolita e com altssima concentra-

    o de renda. As desigualdades sociais so imen-

    sas e as polticas pblicas atuais de desenvolvimento

    social e econmico no tm gerado resultados sa-

    tisfatrios. Nesta pesquisa foi analisada a experin-

    cia de desenvolvimento local integrado e sustent-

    vel, atravs de um empreendimento social pautado

    na incluso digital, localizado do Bairro do Piram-

    bu, a partir da formao solidria de espcies de

    redes institucionais locais e de interao exgena.

    Em um primeiro contato, a inteno dos pes-

    quisadores foi a de conhecer as instalaes (estru-

    tura e equipamentos), processos e mtodos de tra-

    balho aplicados na Cooperativa do Pirambu Digital,

    buscando entender o seu dia-a-dia de uma forma

    completa e profunda. A partir da, o estudo focou-

    se no contexto singular da sua atuao empreende-

    dora da Cooperativa que, alicerada na tecnologia

    da informao, oferece produtos e servios que con-

    tribuem para o suprimento de parte das carncias

    da comunidade, principalmente na rea de educa-

    o profissional.

    Pirambu, nome popular da espcie Anisotre-

    mus surinamensis, um peixe que compe a fauna

    marinha da costa litornea da cidade de Fortaleza.

    O Bairro que leva seu nome era, inicialmente, um

    povoado de pescadores tpicos do litoral nordestino,

    onde se habitavam casas de palha. Hoje, caracte-

    rizado por contrastes, notando-se residncias de boa

    qualidade e habitaes desprovidas de infra-estru-

    tura adequada, onde a sobrevivncia extremamen-

    te precria. Ali se observam conflitos fundirios,

    nos quais a populao economicamente mais fragi-

    lizada sofre com a especulao imobiliria.

    Em meio a tantas dificuldades, foi l mesmo

    que a Cooperativa Pirambu Digital acabou por ser

    concebida, fruto de uma aliana tecida entre o Cen-

    tro Federal de Educao Tecnolgica do Cear (CE-

    FET-CE) e o Emas, um movimento de Comunida-

    des Missionrias para jovens que cedeu o imvel

    onde se encontra instalada a Cooperativa,

    Assim, em 2003, aps negociao envolven-

    do a direo do CEFET-CE e os executivos da em-

    presa coreana LG Electronics Inc., iniciou-se a pri-

    meira ao: capacitar cento e vinte (120) alunos do

    bairro para ingressar no CEFET-CE, como alunos

    dos cursos tcnicos de Conectividade e Desenvol-

    vimento de Software. Esse foi o primeiro passo para

    a concepo da Cooperativa Pirambu Digital.

    5.2 O caso do Pirambu DigitalAs atividades da Cooperativa, segundo pala-

    vras do Presidente em exerccio, objetivam manter

    um empreendimento auto-sustentvel com vistas a

    incrementar aspectos tecnolgicos, educacionais e

    OLIVEIRA, D. M. de; ROCHA, M. C. L. da; PINTO, F. R.

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

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    econmicos, contribuindo para que os egressos de

    seus programas desenvolvam planos de negcios

    sediados preferencialmente no Bairro. Os objetivos

    supracitados remetem s definies de Franco (2000)

    quando aborda as questes relativas ao desenvolvi-

    mento local e sustentvel.

    Ademais, o Pirambu Digital desenvolve solu-

    es em Tecnologia da Informao (softwares, co-

    nectividade, sites, treinamentos e manuteno co-

    orporativa de computadores) a fim de agregar valor

    aos negcios dos clientes, objetivando incluir soci-

    almente os habitantes do Bairro, por meio da tecno-

    logia digital, o que corrobora com as afirmaes de

    Rabia et al (2006) quando ressaltam que a informa-

    o digital uma ferramenta essencial para a inclu-

    so no mercado de trabalho. Corrobora com isso o

    fato de que, especificamente, esse um mercado

    que movimenta US$ 35 bilhes e cresce 22% ao ano

    (Moura, 2007). Alm de trazer consigo altos ndices

    de empregabilidade em uma rea de bom potencial,

    a Tecnologia da Informao ainda uma das pou-

    cas reas na qual o jovem pode trabalhar sem sair

    de casa.

    A Cooperativa forma e capacita jovens pro-

    fissionais para atividades com potencial mercadol-

    gico. As atividades alvo so: desenvolvimento de

    softwares, conectividade de redes de computado-

    res, treinamento e suporte em microinformtica.

    Alm disso, os jovens so capacitados em ativida-

    des de gesto desses negcios.

    Os projetos de comercializao dos servios,

    de acordo com o Diretor Financeiro, so comple-

    mentares. Tais projetos, juntos, abrangem parte da

    cadeia de servios de TI. As atividades de treina-

    mento fornecem pessoal capacitado para a rea de

    desenvolvimento (programadores) e tambm para a

    unidade responsvel pelos servios de conectivida-

    de que mantm a infra-estrutura da Cooperativa,

    alm de prestar servios ao pblico externo e s

    demais unidades, incluindo a de administrao, que

    gerencia os seus negcios.

    Oliveira (2007) detalha cada uma dessas ati-

    vidades da Cooperativa, destacando os seguintes

    ncleos de produo de servios:

    PODES (Plo de Desenvolvimento de Sof-

    twares) atuando como desenvolvedora de softwares

    personalizados sob demanda e produzindo solues

    web.

    FCIL (Fbrica de Computadores com In-

    teligncia Local) elaborando e implementando pro-

    jetos de conectividade via cabo ou sem fio, polti-

    cas de segurana; instalao, configurao e suporte

    tcnico em servidores; manuteno corretiva e pre-

    ventiva para o parque tecnolgico de pessoas jur-

    dicas.

    TREVO (Treinamentos e Eventos) Oferece

    um servio inovador de treinamento na comunida-

    de, o Personal Trainner de Informtica, com hor-

    rio, local e informao personalizada. Os treinamen-

    tos podem ser classificados em bsicos e avana-

    dos e compreendem: Linux e Windows e Lgica de

    Programao, Linguagem SQL, Interface Web, Java

    para Web, Redes, Hardware, Web Designer, Desig-

    ner Grfico.

    NEGA (Negcios e Administrao) Geren-

    cia os negcios da Cooperativa em todos e todos

    seus programas, comerciais e sociais.

    Ainda de acordo com Oliveira (2007), as ati-

    vidades sociais tambm se complementam e abran-

    gem crianas, jovens e adultos. A idia de comple-

    mentaridade vem desde o nascimento do projeto que

    resultou na criao da Cooperativa, objetivando ter

    uma cadeia bem abrangente de servios em Tecno-

    logia da Informao, servindo sociedade, atual-

    mente, atravs de quatro programas que so apre-

    sentados a seguir:

    CASA DO SABER referencial para a edu-

    cao alternativa da comunidade, busca de forma

    interativa despertar a cidadania em crianas, jovens

    e adultos da comunidade, atravs da construo do

    saber, contribuindo com a melhoria da qualidade

    de vida das pessoas. Realiza, preventivamente,

    Empreendedorismo social com incluso digital: o caso Pirambu Digital

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

  • 30

    aes que objetivam promover a diminuio da eva-

    so escolar, a retirada de crianas e adolescentes

    das ruas, a habilitao de adolescentes para ingres-

    sar no ensino mdio integrado do CEFET-CE, das

    escolas da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros,

    a maior socializao de pais e alunos e, conseqen-

    temente, a maior integrao entre pais e filhos.

    AGENTE DIGITAL busca estimular os

    moradores do bairro, estudantes universitrios ou

    do CEFET a atuarem como monitores e animadores

    das atividades de incluso digital promovidas pela

    Cooperativa. O programa tambm oferece treinamen-

    tos em: Linux, curso de conectividade, Open Offi-

    ce, Mozila Firefox e hardware bsico.

    UNIVERSIDADE DO TRABALHO focado

    em desenvolver nos jovens caractersticas desejadas

    e demandadas pelo mercado de trabalho de TI. Obje-

    tiva, tambm, o ingresso nos cursos tcnicos e tec-

    nolgicos da rea de Tecnologia da Informao dan-

    do-lhes melhores perspectivas de acesso s universi-

    dades e postos de trabalho, desenvolvendo a forma-

    o em tecnologias digitais para jovens do bairro,

    apoiando os que j so alunos de cursos tcnicos,

    tecnolgicos e universitrios. Alm disso, promove

    atividades que capacitem o jovem a ingressar na

    universidade ou no CEFET, como os cursos: PrVes-

    tibular, PrTcnico (preparatrio para o CEFET),

    Conectividade e de Desenvolvimento de Software

    PIRAMBU BUSINESS SCHOOL prope-

    se a identificar alunos com evidente potencial em-

    preendedor, preparando-os para o mercado de tra-

    balho ou para a gesto de suas futuras empresas. A

    auto-estima trabalhada, como tambm a consci-

    entizao de suas responsabilidades sociais. Em

    suma, a Pirambu Business School tem por objetivo

    geral capacitar pessoas para o mercado de trabalho

    ou incentiv-las a criar seu prprio negcio, atravs

    da formao recebida. Essa uma das formas de

    contribuir com o desenvolvimento social, econmi-

    co e tecnolgico da comunidade.

    Alm dos programas sociais, a Cooperativa

    mantm atividades que objetivam fomentar a cul-

    tura, conectividade e incluso digital. Uma dessas

    atividades, denominada BILA, busca incentivar o

    uso da biblioteca, integrando-a a uma LAN House,

    onde para cada hora de leitura, o usurio ganha o

    direito de utilizar os computadores pelo mesmo pe-

    rodo de tempo. O slogan da BILA : Para ganhar

    uma hora na LAN House passe uma hora na biblio-

    teca. Uma hora na Biblioteca d direito a uma hora

    na LAN House. De acordo com as consideraes

    de Simo (2004), tais empreendimentos demonstram

    que essas iniciativas, embora pouco disseminadas,

    executam um trabalho relevante no combate ex-

    cluso digital.

    Buscando incluir scio-economicamente a

    comunidade do Pirambu aos recursos tecnolgicos

    do mundo digital, o Condomnio Virtual denomi-

    nao dada ao programa que atravs do subsidio de

    recursos, como acesso Internet, computadores e

    treinamentos torna a comunidade melhor infor-

    mada e inserida na world wide web. No Condom-

    nio Virtual, o ponto de acesso Internet compar-

    tilhado e cobrada uma mensalidade de vinte e

    cinco reais. Os computadores doados Cooperativa

    so reciclados e ofertados aos moradores, os quais

    podem pag-los em at doze meses, cuja parcela

    varia em torno de dez a vinte reais. Tal iniciativa

    citada positivamente em Neri, Carvalhaes e Pieroni

    (2005) quando abordam aes de incluso digital,

    como a realocao de equipamentos de utilizao

    individual em domiclios e estabelecimentos, a fim

    de socializar os custos.

    Uma caracterstica interessante e bem criati-

    va a forma como se d o ressarcimento da Coope-

    rativa pelos cursos ofertados. Tais capacitaes e

    treinamentos so monetariamente no onerosos para

    os que procuram a Cooperativa, o modo de retribui-

    o que utilizado l se d na forma de aes ou

    idias que ajudem a comunidade de alguma forma.

    Os egressos dos cursos devem elaborar idias e

    aes que possam contribuir para melhorar a co-

    munidade de alguma forma. dentro dessa pers-

    pectiva que Kliksberg (1997) aborda o empreende-

    OLIVEIRA, D. M. de; ROCHA, M. C. L. da; PINTO, F. R.

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

  • 31

    dorismo social como um agente da criatividade co-

    munitria, cuja viso focada na realizao de uma

    ao inovadora aplicada ao social.

    Neste caso, realiza-se uma ao inovadora

    aplicada ao social (instituies, bairros, comunida-

    des), como processo criativo. Dessa forma, o intuito

    perceber onde a sociedade est estagnada e, as-

    sim, encontrar uma nova maneira criativa de resol-

    ver tal problema, ante uma perspectiva de desen-

    volvimento integrado e sustentvel localmente.

    Para ilustrar essas iniciativas, o Vice-Presi-

    dente relatou a idia de uma dupla de alunos que

    decidiram visitar as escolas do bairro e, de posse

    do registro de evaso escolar, foram de casa em casa

    na busca por reintegrar escola os estudantes que

    dela se haviam distanciado. O argumento apresen-

    tado pelos estudantes que desenvolveram a idia

    foi de que seria mais fcil e eficaz abordar os jovens

    evadidos utilizando uma linguagem comum e sen-

    do tratados de forma igual por seus prprios cole-

    gas de escola, eliminando assim o hiato muitas ve-

    zes existente no dilogo entre adolescentes e adul-

    tos. Outra iniciativa de aluno aps trmino do curso

    foi percorrer a comunidade munido de panfletos in-

    formativos sobre o combate Dengue, lendo-os para

    os moradores no alfabetizados. Eu percebi que ti-

    nha que fazer alguma coisa porque pessoas caren-

    tes, que no sabem ler precisavam saber como com-

    bater e como se prevenir contra a Dengue, disse ele.

    Diante de exemplos de iniciativas como es-

    sas, a Cooperativa Pirambu Digital segue atingindo

    um de seus objetivos primordiais: manter um em-

    preendimento auto-sustentvel, com uma forte re-

    tribuio social para o bairro. Com isso, prossegue-

    se a meta constante de melhorar o Bairro tecnologi-

    camente, digitalmente, educacionalmente, comer-

    cialmente e socialmente. Ademais, os jovens for-

    mados no Pirambu, cada vez mais se sentem moti-

    vados e preparados a permanecerem na prpria co-

    munidade em que nasceram. Ali, geram riqueza e a

    sua prpria felicidade, no momento em que imple-

    mentam aquilo que aprenderam em benfeitorias

    sustentveis para seus pares mais prximos. Podem,

    inclusive, chegar ao ponto de serem donos de seus

    prprios negcios, fazendo emergir um plo de de-

    senvolvimento local e sustentvel no lugar em que

    vivem, sem precisar buscar horizontes e desperdi-

    ar talentos em outros lugares diferentes dali.

    Por fim, de tudo isso, pde-se perceber que a

    questo do empreendedorismo social requer, acima

    de tudo, uma capacidade coordenada de vrias pes-

    soas. Conforme se viu, tal processo necessita, prin-

    cipalmente, de um bom conjunto de relaes entre

    comunidade, governo e setor privado, dentro de um

    modelo de parcerias, tendo como principal objetivo

    retirar indivduos da situao de risco social, bus-

    cando solues a curto, mdio e longo prazo para

    os problemas que surgem, com o intuito de se atin-

    gir a plenitude da incluso social.

    6 Consideraes finais

    O presente estudo deixou mais evidente as

    singularidades e dinamismo do empreendedorismo

    social e da incluso digital. Como meio de ultrapas-

    sar as barreiras e problemas encontrados na comu-

    nidade, capacitando os seus jovens e proporcionan-

    do o desenvolvimento humano, tais iniciativas ge-

    radas pela implementao desses tipos de aes

    preconizadas pelas teorias do empreendedorismo

    social e da incluso digital so, de fato, inmeras e

    altamente pr-ativas. Com a tomada de conscin-

    cia por parte da sociedade da gama de solues

    alternativas que podem ser geradas dentro dessa

    rea, comear a ser considerada a iminente neces-

    sidade de aderir e ampliar o alcance de atividades

    scio-responsveis, como as aqui abordadas.

    Com os resultados alcanados nesta pesqui-

    sa, sugere-se que seja feito um amplo movimento

    no sentido de multiplicao de empreendimentos

    dessa natureza. De fato, j existe uma proposta da

    Secretaria de Cincia, Tecnologia e Ensino Superior

    do Estado do Cear (SECITECE) para a criao de

    um plo digital no bairro do Serviluz, na comunida-

    Empreendedorismo social com incluso digital: o caso Pirambu Digital

    Anlise, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2009

  • 32

    de do Titanzinho, uma das reas com os piores n-

    dices sociais da cidade de Fortaleza. O enfoque do

    projeto ser tambm atravs da oferta de cursos de

    desenvolvimento de softwares e conectividade para

    os jovens da comunidade, com o objetivo de formar

    uma mo-de-obra especializada que possa atender

    demanda do setor (Moura, 2007).

    Acredita-se que o debate e o aprofundamen-

    to sobre este tema servir para verificar a eficcia

    destas iniciativas como uma forte ferramenta cata-

    lisadora de desenvolvimento econmico e educaci-

    onal. At porque no caso especfico aqui estudado,

    no se verificou, institucionalmente, um planejamen-

    to organizacional mais sofisticado e contnuo, uma

    viso de futuro clara e compartilhada, nem valores

    organizacionais formalmente estabelecidos. A exis-

    tncia da misso, por si s, no representa algo re-

    levante, visto que ela no de conhecimento da

    maioria dos cooperados.

    Com o estudo em questo, teve-se a clara

    noo de que, embora tenha ocorrido um grande

    esforo na realizao de diversos tipos de mecanis-

    mos que promovam o desenvolvimento da Coope-

    rativa, ainda faltam muitas tcnicas, ferramentas,

    conceitos e filosofias administrativas a serem apli-

    cadas, os quais poderiam impactar o desempenho

    da organizao, suprindo-a de informaes relevan-

    tes para sustentar um melhor desempenho.

    Dessa maneira, o planejamento e a implemen-

    tao de aes estratgicas de cunho scio-empre-

    endedor podem ser disseminados em todas as regi-

    es do Pas, a fim de se incrementarem os indicado-

    res de integrao e desenvolvimento humano.

    Finalmente, a natureza da experincia apre-

    sentada pde conduzir a um resultado particular ao

    contexto estudado, o que motiva a sugerir a repli-

    cao de investigaes desta natureza em outras

    iniciativas semelhantes. Diferentes contextos, cer-

    tamente, introduziro novas caractersticas e outras

    oportunidades, com a possibilidade de que outras

    formas de aplicabilidade e eficincia dessas aes

    possam ser verificadas e multiplicadas. Essas pos-

    sveis novas situaes podero ter uma influncia

    ainda maior quanto comprovao da importncia

    do uso efetivo desse tipo de empreendedorismo para

    o crescimento, o desenvolvimento e o equilbrio

    social, educacional e econmico das comunidades

    em questo.

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