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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1
EMPREGO DE SEGMENTAÇÃO MULTIRESOLUCIONAL NO
MAPEAMENTO DE PADRÕES DE FORMAS DE RELEVO -
PORÇÃO NO LESTE DO ESTADO DO PARANÁ
Willian Bortolini (a), Claudinei Taborda da Silveira (b)
(a) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Paraná, Email: [email protected]
(b) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Paraná, Email: [email protected]
Eixo 9: Geotecnologias e modelagem aplicada aos estudos ambientais
Resumo
O mapeamento de padrões de formas de relevo do Paraná foi executado a partir de
técnicas geomorfométricas baseadas na análise orientada ao pixel. Os resultados mostraram-se
fidedignos a realidade de campo, entretanto necessitaram da aplicação de filtros de generalização
e correções por interpretação visual. Estas limitações estão associadas a análise orientada ao pixel,
sendo ruídos e o efeito de borda. A aplicação de segmentação multiresolucional, que se baseaia na
segmentação de objetos que são posteriormente classificados, visou a redução destas limitações.
Para a segmentação dos objetos, foram utilizados atributos topográficos derivados de MDE, como
a declividade, amplitude altimétrica, relevo sombreado e índice de rugosidade do terreno. Para a
classificação, fora utilzados valores médios por objeto da ampltitude altimétrica e média da
declividade. Os resultados minimizaram as limitações presentes na análise orientada ao pixel,
apresentando objetos mais generalizados e melhor representando as descontinuidades do relevo.
Palavras chave: MDE; geomorfometria; mapeamento geomorfológico; segmentação
multiresolucional;
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1. Introdução
Baseado em técnicas de modelagem digital do relevo, o projeto de mapeamento
geomorfológico do estado do Paraná vem mapeando os padrões de formas de relevo,
adequados ao 4o nível taxonômico da proposta de Ross (1992), na escala 1:100.000. Este
trabalho deu continuidade ao mapeamento publicado no ano de 2006, em uma parceria entre a
Universidade Federal do Paraná e a MINEROPAR, que mapeou os três primeiros níveis
taxonômicos na escala 1:250.000 (OKA-FIORI et al., 2006).
A técnica aplicada no mapeamento dos padrões de formas de relevo fez uso de
quatro atributos topográficos: declividade e índice de posição topográfico (IPT), para o
mapeamento das planícies fluviais; e amplitude altimétrica e média declividade, para o
mapeamento dos demais padrões de formas de relevo. A técnica foi testada, antes de ser
aplicada a todo o estado, em algumas áreas (BORTOLINI et al., 2017; GOMES et al., 2018).
Os resultados obtidos se apresentaram fidedignos com a realidade de campo, além de serem
obtidos de maneira mais otimizada se comparado as técnicas tradicionais.
Entretanto, os resultados apresentaram algumas limitações. Estes se apresentaram
difusos, sendo corrigidos por meio de filtro de generalização. Além disso, apresentaram
efeito de borda, que cria classes de transição entre duas classes distintas, que não corresponde
com a realidade de campo. Esta última inconsistência teve de ser corrigida por meio de ajustes
baseados na interpretação visual do relevo sombreado (BORTOLINI et al., 2017; GOMES et
al., 2018).
Neste contexto, o uso do algoritmo de segmentação multiresolucional (BAATZ;
SCHAPE, 2000) surge como uma opção viável para minimizar as limitações encontradas nas
classificações orientadas ao pixel. Este algoritmo se baseaia na criação de objetos, que
correspodem a um agrupamento de pixels adjacentes que possuem características espacias e
espectrais homogêneas, formando objetos discretas e homogêneos (VERHAGEN; DRAGUT,
2011). O processo de agregação dos pixels e criação dos objetos leva em consideração três
critérios: fator de escala, cor e forma (dividida em compacidade e suavidade). Em seguida, os
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objetos criados são classificados segundo critérios morfométricos ou texturiais (CAMARGO
et al., 2009). Alguns trabalhos, como de Dragut e Blaschke (2006), Asselen e
Seijmonsbergen (2006), Camargo et al. (2009), Dragut e Eisank (2012), Eisank et al. (2014) e
Dekavalla e Argialas (2017), fizeram uso deste algoritmo para o mapeamento de formas de
relevo nas mais variadas escalas.
Deste modo, este trabalho tem por objetivo o emprego de segmentação
multiresolucional para o mapeamento de padrões de formas de relevo adequados ao 4o táxon
da classificação de Ross (1992). O resultado deste mapeamento foi comparado com o
Mapeamento Geomorfológico do Paraná, efetuado a partir de uma classificação orientada ao
pixel. Isto visa identificar as potencialidades e limitações da segmentação multiresolucional se
comparado a técnicas de mapeamento de formas de relevo orientadas ao pixel. A área de
estudo foi a porção da subunidade morfoescultural Planalto Dissecado de Tunas do Paraná
pertencente a carta Curitiba (MI 2842) (Figura 1), localizada na região leste do Paraná, no
chamado 1o Planalto, abrangenda a porção centro-norte da Região Metropolitana de Curitiba,
em uma área de 1018,77 km2.
Figura 1 - Área de estudo.
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2. Materiais e Métodos
A execução do trabalho foi composta por quatro etapas. Para isso, foram utilizados
os seguintes softwares: ArcGIS 10.1 (ESRI) e SAGA GIS (2.1.2), para o calculo dos atributos
topográficos, e eCognition (TRIMBLE), para os processos de segmentação e classificação.
A primeira etapa foi a aquisição do MDE. O modelo utilizado foi gerado a partir de
dados planialtimétricos (pontos cotados, curvas de nível e hidrografia) na escala 1:50.000,
provindas da base de dados topográfica do Departamento de Serviço Geográfico (DSG) e do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O algorítmo utilizado para a
interpolação dos dados foi o ANUDEM (HUTCHINSON, 1988), e a resolução espacial é de
20 metros, calculada pelo método de complexidade do relevo (HENGL, 2006), que calculada
a resolução espacial em função da relação entre as curvas de nível a área.
Na segunda etapa foram calculados os seguintes atributos topográficos: ampltitude
altimétrica, a partir da aplicação de um raio de análise de vizinhança circular de 400 metros,
correspondente ao comprimento médio das vertentes na área de estudo (BORTOLINI et al.,
2018); declividade, calculado a partir de uma janela móvel 3x3 pixels, utilizando o algoritmo
proposto por Horn (1981); média da declividade, calculado a partir da aplicação do calculo da
média sobre a declividade em um raio de análise de vizinhança circular de 400 metros, que foi
definido da mesma maneira do raio utilizado no cálculo da amplitude altimétrica; relevo
sombreado, com azimutes de 45o e 315o, e altitude de 45o, calculado a partir de uma janela
móvel 3x3 pixels, utilizando o algoritmo proposto por Horn (1981); e o índice de rugosidade
do terreno (IRT), calculado a partir da proposta de Riley et al. (1999).
Na terceira etapa, a segmentação foi executada a partir do uso dos seguintes atributos
topográficos e seus respectivos pesos: amplitude altimétrica (2), declividade (2), IRT (2),
relevo sombreado com azimute de 45o (1) e relevo sombreado com azimute de 315o (1). Os
três primeiros atributos representam critérios referentes a rugosidade do relevo, e os dois
ultimos a forma. O uso dos dois valores de azimute para os relevos sombreados se deve ao
fato de que representam as duas principais direções de orientação das formas de relevo locais,
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NW-SE e NE-SW. Foi dado peso menor aos relevos sombreados pois são dois atributos que
se complemenam, e quando somados adquirem o mesmo peso dos demais atributos
topográficos.
Os critérios de segmentaçao utilizados foram: fator de escala 120; cor 0,5 forma 0,5
(compacidade 0,5 e suavidade 0,5) (Figura 2). Estes valores foram selecionados a partir de
uma série de testes de combinações de critérios, sendo estes o que melhor segmentaram
objetos que representassem as formas de relevo da área.
Figura 2 - Objetos segmentados com os fatores de escala: A: 100; B: 120 (utilizado no trabalho); C: 140.
A quarta etapa foi a classificação dos objetos segmentados. Para esta etapa, foram
utilizados os valores da média da ampltitude altimétrica e média da média da declividade,
ambos calculados por objeto segmentado. Foram utilizados os intervalos de valores para cada
padrão de relevo empregados por Bortolini et al. (2018) e no mapeamento geomorfológico do
Paraná para esta subunidade morfoescultural (Tabela I).
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Tabela I - Critérios para a classificação dos padrões de formas de relevo
Padrão de forma de relevo Intervalos de valores de média
da amplitude altimétrica
Intervalos de valores de média
da média da declividade
Colinas
<50 m <8%
50 a 70 m <8%
70 a 100 m <8%
Colinas onduladas
<50 m 8 a 30%
<50 m >30%
50 a 70 m 8 a 30%
Morrotes
50 a 70 m >30%
70 a 100 m 8 a 30%
70 a 100 m > 30%
Morros 100 a 200 m <30%
Morros dissecados 100 a 200 m >30%
Morros elevados >200 m Qualquer
3. Resultados e Discussões
O resultado da aplicação da técnica de segmentação multiresolucional para o
mapeamento de padrões de formas de relevo é apresentado na Figura 3. Foram mapeados os
mesmos seis padrões de formas de relevo do Projeto de Mapeamento do estado do Paraná,
sendo eles: colinas, colinas onduladas, morrotes, morros, morros dissecados e morros
elevados.
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Figura 3 - Mapa de padrões de formas de relevo.
Comparando através de matriz de confusão o mapeamento a partir de análise
orientada ao pixel, executado no âmbito do projeto de mapeamento geomorfológico do estado
do Paraná, com o mapeamento a partir de análise orientada ao objeto executado neste
trabalho, foi constatado uma concordância de aproximadamente 71% (Figura 4C). Este valor
de discordância era esperado, pois previamente se acreditava em algumas significativas
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mudanças no mapeamento devido a minimização das limitações apresentadas na classificação
pixel-a-pixel. Como observado na Figura 4, a grande maioria das porções de cada padrão de
formas de relevo apresentam correspondência entre os mapas (Figuras 4A e 4B). Nas poucas
porções onde não houve correspondência, isto ocorreu pois os valores de média da amplitude
altimétrica e da média da média da declividade se apresentaram muito próximos aos valores
limites dos intervalos dos critérios de classificação do padrão de forma de relevo.
Provavelmente são área de difícil classificação do padrão de forma de relevo, onde é
necessário verificação de campo. Dos nove pontos de campo visitados durante o projeto de
mapeamento geomorfológico do Paraná nesta área, apenas um não apresentou descrição
totalmente correspondente com os resultados.
Figura 4 - Mapa de padrões de formas de relevo por análise orientada ao pixel; B: Mapa de padrões de formas de
relevo por análise orientada ao objeto; C: Matriz de confusão entre os dois mapas.
Quanto ao emprego da técnica, a aplicação de segmentação multiresolucional
minimizou algumas das limitações apresentadas no mapeamento a partir de analise orientada
ao pixel (Figura 5). A primeira limitação minimizada foi o efeito "sal e pimenta", que se
caracteriza pela presença de pixels ruidosos, ou seja, os resultados apresentados pela
classificação acabam sendo difusos. Este quadro exige a aplicação de filtros de generalização
para o tratamento destes ruídos. A Figura 5A1 apresenta o resultado da classificação orientada
ao pixel, que mesmo após a aplicação de filtro de generalização apresenta uma distribuição
difusa das classes de padrões de formas de relevo. Por sua vez, na figura 5A2, a partir do
emprego de segmentação multiresolucional, objetos segmentados, que englobam um
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agrupamento de pixels adjacentes com certa homogeneidade, não permitem que o resultado
final da classificação apresente pequenos agrupamento ruidosos de uma classe em meio a área
de outra classe.
Figura 5 - A1 e B1: Padrões de formas de relevo mapeados a partir de análise orientada ao pixel. A2 e B2:
Padrões de formas de relevo mapeados a partir de análise orientado ao objeto.
A segunda limitação minimizada é referente ao efeito de borda, que cria uma classe
de transição entre duas classes distintas, que não corresponde com a realidade de campo
(Figuras 5A1 e 5B1). Esta limitação está associada ao uso de raios de análise de vizinhança no
cálculo de atributos topográficos como amplitude altimétrica e média da declividade, que
foram utilizados de forma direta para a classificação orientada ao pixel (BORTOLINI et al.,
2017; BORTOLINI et al., 2018). Entretanto, o emprego de segmentação multiresolucional
cria objetos a partir da agregação de pixels que apresentam certa homogeneidade, separando-
os de agrupamento de pixels adjacentes com características diferentes. Deste modo, os objetos
conseguem representar as descontinuidades do relevo, principalmente em áreas onde o relevo
apresenta formas muito distintas entre si (Figura A2 e B2).
O emprego de segmentação multiresolucional possibilita a minimização das
limitações acima citadas sem a necessidade de aplicação de filtros de generalização ou a
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execução de ajustes por interpretação visual. Desta maneira, elimina a subjetividade que está
associada a estes dois procedimentos, além de otimizar o processo de mapeamento dos
padrões de formas de relevo.
4. Considerações Finais
O emprego de segmentação multiresolucional apresentou potencialidade na
minimização das limitações apresentadas no mapeamento de padrões de formas de relevo do
Projeto de Mapeamento Geomorfológico do Estado do Paraná, que fez o emprego de análise
orientada ao pixel.
Os resultados obtidos abrem a possibilidade de estudos visando o emprego de
segmentação multiresolucional no mapeamento de padrões de formas de relevo em outras
áreas de estudo, aperfeiçoando os já consistentes produtos cartográficos gerados a partir dos
trabalhos do projeto de mapeamento do estado do Paraná. Também abrem a possibilidade do
uso desta técnica no mapeamento de formas de relevo em outros níveis taxonômicos da
proposta de Ross (1992).
Agradecimentos
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
bolsa de fomento em nível de mestrado concedida para o desenvolvimento da pesquisa; ao
Laboratório de Pesquisas em Geomorfologia e Geotecnologias (LAGEO) da UFPR; e ao
Laboratório de Sensoriamento Remoto e Processamento de Imagens do Departamento de
Geomática da UFPR pela licença do software eCognition..
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