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tania-amares-bueno
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poemas literatura
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Em dezembro de 2014 um jogo entre poetas foi proposto na rede social Facebook,
pela Internet. Trocar poemas com parceiros desconhecidos. Formaram-se dois
pares para cada jogador. Em uma dupla, o brincante ocupava o papel de Poeta. Na
outra, pensava e escrevia como Musa. As mensagens foram enviadas por um
mediador que garantia a manutenção do desconhecimento. A partir do material
poético nasceram estes diálogos, agora publicados com o nome: "Encontros no
Escuro" .
Neste terceiro Caderno estão os poemas de Adriana Aneli Costa Lagrasta, Marcelo
Novaes e Tânia Amares formando a seguinte composição de duplas:
Marcelo Novaes(poeta pseudônimo Ananindeua)/ Tania Amares (musa: Margem)
Adriana Aneli (poeta pseudônimo Mira)/Marcelo Novaes (muso pseudônimo Hira)
Marcelo Novaes (Poeta) / Tânia Amares (Musa)
Ananindeua para Margem
Fome perpétua rodas rodando
Em extremos quilômetros [em
quilômetros extremos ou nano
-segundos]: ronco de motor
arroz feijão e prato cheio.
As rodas não deixam de rodar
E a fome nunca some.
Margem para Ananindeua
some no prato ?
o que nana os extremos ?
por que tantos segundos rodando ?
e a batata baroa matou o barão
e comeu com feijão”
Ananindeua para Margem
No prato some o veneno.
A distância embala os extremos
que dormem, com sono.
O fogo de fato aquece
a lembrança do que
estava no prato,
e os segundos rodam:
Moto Perpétuo.
Quanto ao fato da Baroa
ser assassina, assino
embaixo.
Margem para Ananindeua
Quem sabe a noite
no escuro da tua fantasia
me vejas de branco
olhando a ti
ao lado da estrela guia
e como a fome nunca some
estarei comendo o mesmo arroz com feijão
do dia da morte do barão
Ananindeua para Margem (musa)
Já te vejo e não é de hoje,
Já espreitas de branco e outras cores,
A cada vez que me pego olhando pra
Saber quem me olha de jeito.
Deixo até o prato e me levanto.
Melhor assim.
Pior se te visse,
De branco ou luto, só de noite,
Por ter comido muito.
De Margem (musa) para Ananindeua (poeta)
"do céu ou das chamas teus olhos
enxergam miséria, pilhéria e podridão
meu olho vesgo irmão do torto
vê turvas estrelas dançando na amplidão
Ulisses, no barco, do convés lava o chão
recorda o canto e o repete lento
entoa a voz, saliva escorrendo
prepara o tempo da mastigação
ai que fome, que fome
batata, arroz e feijão "
De Ananindeua para Para Margem
Teus olhos leem um pouco mais daquilo
Que falta aos meus: o tilintar da asa [uma
só] e o chamar do grilo, para a longa
caminhada.
E o clássico Ulisses, coitado, ignora
Tudo isso.
Segue o verme seu mastigar infinito
E não há fome que assim vá embora.
De Margem Para Ananindeua
"“Passou a fome, comi o verme
Rastejei até você e vi seus pés
Cansados de pisar no horizonte
Deitei-me
Você sumiu”
De Ananindeua para Margem
Nem sempre ando, e meus
pés nem sempre sabem se
mover [sequer à Margem],
mas, às vezes, podem
perceber se somem.
Pode até a fome fenecer,
quem sabe.
De Margem para Ananideua
Enquanto sumias ia sentindo
o aroma das azaléias
recém abertas
recém chegadas às tuas brevidades
de olhos fechados, revia as
manhãs em que sumistes
pouco
a
pouco
Deixei de ver teus lábios
depois os braços
os pés foram os últimos
então, não tinha mais fome
não tinha mais nome
à minha frente
o enorme sumidouro
De Ananindeua para Margem
Pobre insone que não dorme
E fica revendo as manhãs, sem
Que haja rastro de passeio ou
Passo.
Meus.
Afinal, quando sumo [se sumo], não há aviso
Nem atraso.
Então, durma.
De Margem para Ananindeua
"olha ali
quem tá plantado
sentado em pé,
olho fechado
Ananindeua comprido
verde bastante cabeleira
vento vai shuiii shuiii
vento foi
shuiiiii shuuuô
Ananindeua
Pensa que sabe
Ananin acha que dá
Rio de aguae de pescá
Para-pará deuá
Chuva caiu bem lá
No sono do carcará
Num dorme, num dorme
Ananindeua grita
Fuà fuá vem me pegá
Saci olhou
Foi boto que viu
Curupira dormiu
Blem Blem do sino
Badalo safado
Disse também
Nem vem, nem vem
Esprito do mato
Corre caipora
Nem vem
Que não tem"
De Ananindeua para Margem
Ananindeua: índio bom.
Saci viu e nem correu.
Caipora chegou e
Correu poro abraço.
Calcanhar de Caipora
Desvirou. Até Adriana
Do Calcanhar Canhoto
Cantou pra Ananindeua.
Shui Shui foi o vento que
Veio do Oiapoque, quando
Ananindeua pescou.
Blém, blém, tocaram
As Igrejas Barrocas
De Mariana e Congonhas.
A Margem sorriu diante da
Habilidade do índio em pegar peixe
Baixinho, silencioso, sem rede:
Só no agachado.
De Margem para Ananindeua ......
Não tinha certeza, era índio,
não era. Eras cobertas
de heras.
A pele vermelha doía.
Não, não era pele, não era indío.
O som vinha do quarto. Esquadros.
Em todos os quadros
A mesma cena :
Amanhã, amanhã e amanhã
Água do rio vermelhou.
Pescador diz que é bom.
A matéria é sempre sonho.
De Ananindeua para Margem:
Não é índio: é chefe de índio, Cacique.
Margem sonhando
Acordada, em fita infinitas
Vezes rebobinada.
Ananindeua cuida de Margem:
mostra o peixe.
De Margem para Ananindeua
"Cogumelos, não bebo não.
Do povo miúdo é que são.
Duendes, fadas, gnomos .
Se durmo é mesmo no quarto, desmaiando de cansaço.
Na minha rua, um protesto. Era contra o genocídio. Mortes,
falavam disso. Pais, irmãos e filhos. Caçados
como bichos. Sangue manchava o rio.
E veio à porta o pacote, embrulho meio amassado.
Com um penacho colado.
Era o meu nome amarrado.
Tudo bem certo, o pacote
Devidamente endereçado
.
Odé Odé. Salve São Jorge,
Okê protege, vou abrir
Não deixa o penacho cair
Olha, meu pai, um peixe.
E é um tambaqui !
O som dos índios cresceu.
Pés batendo no chão. Batendo, marcando tempo.
Gira Tempo que é roda,
Indios cuidam de si. Demarquem terras agora
Vida é direito de índio. Devolvam o seu Ybi
De Ananindeua para Margem
Margem é bela, bela margem:
Sabe saudar caboclo que é uma
Beleza. Entra na Gira e comparecem Ogum e Oxossi.
Índios e Orixás se apresentam
A quem sabe lhes saudar. Até mandam
Presentes, em caixas, caixotes, amassados
Pacote. De noite, pra Margem melhor andar,
Acendem archotes. De cogumelos, não há
Necessidade.
De Margem para Ananindeua
" Porque sou margem, não ando.
Quando sou bela, sou mata.
Trago os espíritos e os orixás.
Ananindeua eu chamei.
Disse índio, ia me cuidar.
Veio ninguém. Veio a cidade, o asfalto
Ananindeua sem archote, não viu. No escuro,
não vive nenhum Orixá.
Canalizaram o rio, virei estrada de asfalto.
Índio não veio, nem Oxossi, nem Ogum.
Dorme Ananindeua, dorme levinho
que um dia a porta vai se fechar."
De Ananindeua para Margem
Ananindeua dorme leve e
Dorme pouco: dezoito horas por dia, de segunda à sexta.
Sábados, domingos e feriados,
Ananindeua tem direito a maior
Descanso. É que Ananindeua sonha
O sonho de toda a tribo.
De Margem para Ananindeua
Ananindeua teu nome
não é esse, nem essa a tua vida.
Tampouco é seu o sonho
da tribo.
A máscara impede tua visão
barulhos não deixam que ouça.
Por trás da máscara, Índio
não há ninguém.
Ninguém presta atenção.
Indio, branco, cor-de-rosa,
Preto, azul e amarelo, vieram
Enfeitar o mundo e sonham
Com outro mundo.
Desse em que vivem, reclamam.
Ninguém quer saber
Se Índio vende a mata, se sonha cantar na tv
Se é preto o presidente, se é rosa
o espalha lixo.
Amarelo fala pouco, tão pouco
isolado e só, senta no escuro
Pega a faca, ele mesmo
Imola seu corpo e rega
com sangue
o mundo que o gerou.
De Ananindeua para Margem
Dê um microfone a Ananindeua:
Ananindeua joga no chão. Se margem
Quer cantar na TV, que cante bonito.
Se amarelo faz harakiri ou suppuku,
Branco não tem vergonha de fazer
Maracutaia.
Ananindeua come maracujá.
Só não divide com boto cor de rosa
Porque só viu boto cor de boto.
de Margem para Ananindeua
"Uma fruta surgiu bem aqui.
Colorida, esperançosa.
Cheia de graça, benfazeja.
Fruta que leva o sêmen, liberta sementes
banhadas em mel.
O coito é na terra.
Dança a semente na orgia do vento, no colo
entre beijos de pássaros e bocas ávidas
do doce amor. E é a terra que engravida.
Gera e alimenta filhos. Depois
os devora, como Saturno
no quadro de Goya"
De Ananindeua para Margem
É assim mesmo, Margem:
Frutas surgem e vão, por detrás
De um rosto ou nome sempre
Existe mais do que um
Pouco de fuligem.
E o que parece devoração
É só uma das fases do
Ciclo.
Margem para Ananindeua
"Um ciclo
dois cíclopes
três ciclones
quatro ciclovias
cinco tempos irreversíveis"
Ananindeuapara Margem
Ananindeua fica
Muito feliz em ver
Que Margem já sabe
Contar de um a cinco.
De Margem para Ananindeua ---------..
Eram cinco mafagafinhos
Emararanhados no ninho de símbolos
Cada vez mais mafagafinhavam-se na cultura
Apesar da mafagafinhação geral, cada um,
Por si só, queria se desmafagafinhar
E ser melhor que o outro mafagafinho
Até que surgiu, do interior das matas
Ananindeua Colorado para salvá-los
Será que o índio conseguirá
Desmafagafinhá-los ?
De Ananindeua para Margem:
Cultura é forma de aproximação,
Ou de nada serve. Culto era Adoniram.
Aquele. Ananindeua atravessa o cipoal,
Adentra o cipoal, corta firula com faca
Curta, arranca firula com dente e unha,
E chega na Margem desemaranhado de
Tanta bobagem.
De Margem para Ananindeua
Sempre vejo os índios sérios para tirar
fotografia. Entre eles não são,
Mas se os chamamos pra foto
Fazem cara de índio
Índio sério
Indío não ri em fotos
Eu falava, mas você não mi'scuitava não
Nem que fosse Iracema
Nem que não fosse bobagem
De Ananindeua para Margem
Índio não gosta de foto, nem
Com ph. Não gosta de photo.
Se for Ph. D. pode gostar de
pose. Ananindeua não tem
mestrado, mas ouvido calibrado
para andar de aves e vozes de índias.
Siriemas e Iracemas não dizem bobagens.
De Margem para Ananindeua
Margem nasceu antes dos índios.
Viu tantos bichos, aves, Iracemas.
Lábios de mel de tantas índias
força e vida de jovens
todos índios
e muitos indiozinhos.
Margem separada por um largo Rio
dee sua irmã. Se Rio é amante, ama
ao mesmo tempo,
as duas irmãs.
Soterrados. Hoje o povo consagra o asfalto,
Margem, Rio e sua irmã, esquecidos
no passado remoto.
Melancólica Margem perdeu a mãe
Mãe Natureza, mãe morta.
Sangra a perda sem nunca cicatrizar.
Ananindeua não pode ver Margem.
Só dela ouvir contar.
Margem tem fome de arroz, feijão e batata.
Plantados na Terra.
Já viu muitos assassinatos e guerras.
Rodas giram enlouquecidas na estrada
Abaixo do asfalto, o cadáver.
Margem está morta.
De Ananindeua para Margem
Margem é mais velha que índio,
Mais romântica e melancólica. Fome
De margem é fome distante, ainda que
O Rio corra no meio, aparentemente ao
Alcance, sabe-se lá de que.
Hoje, comida vem em lata.
Não é alimento: é produto
Alimentício. Não é mais
Comida.
Índio entende suspiro de
Margem, à margem da urbana
Vida. E isso é mais fundo que
Leito.
De Margem para Ananindeua
Índio de novo nasce, vê espírito, Floresta.
Fala com outros seres de lá.
Aqui onde sou terra, embaixo
da vida da estrada,
só o que vibra são carros
caminhões.
o resto é escuridão.
Índio tem bom coração. Peço desculpas.
Peço perdão.
Índio deve estar certo, cores, pássaros, a
flor do maracujá,
Índias de longos cabelos , rostos
pintados, colares
Beleza no mundo.
Bondade
pessoas, curiosidade,
amizade, criatividade.
Há amor.
O que sumia, no sumidouro, não era
Ananindeua.
Era eu, Margem
enterrada sem escolha para a vida.
As trevas, o ventre da terra,
é o inferno de Margem.
Pobre daqueles sem opção
presos às margens.
Pobres dos que, sem saber o por quê,
vivem nas trevas, sem querer.
De: Ananindeua paraMargem
Não se trata de estar certo,
Margem, ou não. Trata-se de
ângulos de percepção. Índio
também prefere batata da terra,
arroz e feijão e tomates plantados
sem veneno. Morangos e figos.
Índio prefere, ao grito, o bom
Mote.
Mas há os carros. Há buzinas
Impacientes. Há trotes dados
De dentro dos presídios, por
Telefone. Há golpes nos caixas
E roubos nos supermercados.
Índio não ignora isso.
Em ombro de índio também
Se encosta, não só à margem.
De Margem para Ananindeua
Ouviu falar da ciranda ?
Dança de roda de Aruanda
Enquanto as mãos se encontram
Umbigos vêm e vão
De Ananindeua para Margem:
Ouvi falar só de longe,
Pois visitava outra aldeia.
Aruanda é cidade grande.
De Margem para Ananindeua
De margem para Ananindeua
https://www.youtube.com/watch?v=EJvvEqt460g
canto de Orixás (letra de canção, som de atabaques, saias rodando)
Quando eu for pra Aruanda, sei que vou te encontrar
rodeada de crianças do lado de Iemanjá
vou pedir a Omolu e aos sagrados orixás
pra chover chuva de rosa quando eu for te abraçar
perdoa nanã, perdoa.
perdoa que eu vou chorar
quem eu amava foi embora,
está nos braços de oxalá
De Margem para Ananindeua
Essa terra que me cobre é meu quarto
Aqui é minha Aruanda, meu
Terreiro onde danço e canto aos meus orixás
Santos da Natureza
Dos Ventos, das Águas
Santos da cura e justiça
Sei que olham por mim
Um dia serei livre outra vez
Rio chora, escondido,
preso, pedindo brisa
Quer vento, quer chuva
Gotas, saltos, superfície
Eu que sou terra, coberta de terra
Sinto o peso do asfalto, a saudade
De tudo o que era festa na floresta
Ananindeua é floresta e canto
Escuta, índio, meu pranto.
Se tanto choro, se tanto lembro
É só saudade dos encantos
Voz de índio, gosto de vida
Crianças brincando em meu colo
Nadando juntas no rio
Risadas verdes na mata
Salve, Ananindeua, índio vida
Que o tempo lhe seja leve
Que a lua durma contigo
De Ananindeua para Margem
Margem está poetando como
Rio. Lao-Tsé dizia que o sábio
Acha o Todo em sua própria casa,
Ou algo semelhante. O quarto de Margem
é, assim suficiente.
Orixás dançam onde haja
O coração que os espelhe.
Eu ouço teu pranto e sei que
É salgado o que sinto. No entanto,
Orixás são capazes de dançar em
Cada centímetro quadrado, como a
Água do rio pode voltar ao céu,
Mesmo que, de pronto, não se
Veja.
Margem e Ananindeua
falam a mesma Língua.
De Margem para Ananindeua
A língua de Margem é terra
Lambida por língua de rio.
Língua de ìndio é ouvida
Outros índios, outros povos
Mas quem lambe a língua de
Ananindeua ?
De Ananindeua pra Margem
A Boca da Noite já lambeu
Tanto a boca de Ananindeua
Que índio se aposentou por
Tempo de serviço.
De Margem para Ananindeua
Ora índio, se Boca da Noite ao meio dia,
veio doce, diáfana, efemêra
e lambeu com gosto,
deixou índio parado, todo mole, todo duro,
todo índio apaixonado,
não era pra aposentar,
mas pra sentar Boca no colo
e beijar e beijar
De Ananindeua para Margem
Margem está certa.
A Previdência não validou
Minha pretensão e a Providência
Outra coisa me destinou: beijos em Profusão.
de Margem para Ananindeua
Profusamente beijados, o que será depois ?
Boca, bico, bituca
E Milton cantando erara êrara êee eraraêraraê
Água de beber, bica no quintal, sede de viver tudo
A história de índio e Boca da Noite, começou há tanto tempo
Lembra, Ananindeua, lembra...
De Ananindeua para Margem
A história de Beijo de Ananindeua com
Boca da Noite é anterior às bocas, becos,
Bares e botecos dessa megalópole. É
Anterior às musas das pornochanchadas
Nacionais, quiçá anterior à Vera Cruz e
Mazzaropi.
Flerte de índio com Boca da Noite
Tem a idade da lua. É mito na tribo.
É tradição oral.
De Margem para Ananindeua
Amores ancestrais e bocas.
Índio, homem, valores.
E veja, há um brilho aqui.
Outro ali.
Na grande árvore da floresta, nascem olhos brilhantes.
As bocas já tinham nascido
o céu sorriu de manhã.
Ananindeua prepara seu coração para a chegada.
NOVO DIÁLOGO Segunda dupla de Marcelo Novaes
Marcelo Novaes agora é "muso" Hira, Adriana Aneli é poeta, "Mira"
De Hira para Mira
Dizem que palavra não sacia
ou não dizem nada. Eu só digo
que na vida ando
à toa ou ando n’água, mas ando todo dia.
Hira para Mira ( segundo chamado)
Meu amor é amplo e disponível
Para os que têm amor: para os que
Não têm empresto um pouco.
O voo também é amplo, mas
Não é voo só, nem voo solo:
É voo de descer e acampar
Junto.
De Mira para Hira
"Quantos poetas
Românticos, prosas
Exaltam suas musas
Com todas as letras
Eu te murmuro
Eu te suspiro
Eu, que soletro
Teu nome no escuro
Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença
Palavras são brutas" (Chico Buarque - Cecília)
De Hira para Mira
Eu tentaria soletrar o nome de
Alguém se eu lhe tivesse visto o
Rosto. Sou bom nisso.
Às vezes, canto
O que vejo como refrão, ópera ou Improviso.
Desde que o semblante
Me passe o som exato. Ou quase.
guardaste?
Nome fictício e poema?
De Mira para Hira
HIRA, meu nome ninguém saberá
o segredo está guardado comigo
neste
silêncio que te fará minha"
De Hira para Mira
Este segredo te fará muda
Ou mudo, ou te fará planta.
Impossível fazer mais do que Isso.
E se alcançares isso, dê-se
Por satisfeita ou satisfeito,
mas não Hira-da.
De Hira para Mira
Mira aquela pomba
E não se esqueça de que
Ela ainda voa, porque não
sabe descer.
Mira aquela pomba que
Parece saber o que quer,
Mas não tem que lhe dê
Sequer um nome.
De Mira pra Hira
"Hira:
num olhar a pomba é abatida
de raspão o tiro
a asa arrasta
a queda dói menos que a solidão de voar longe"
De Hira para Mira
Se a pomba não
encontra a sombra,
o tiro não encontra
a pomba que, ao para
-peito, se retira.
De Mira para Hira
amanhece
pomba cinza
alheia à paz
ao anoitecer
volta a buscar abrigo.
De Hira para Mira
Ouça isso, Mira, pomba
minha que não voa [nem anda],
que coisa longa e lenta e linda [e loa]:
nessa hora não-pressaga [e boa]
os pios dos canários soam
Como o som do pingo d’água.
de Mira para Hira
"Hira: Triste canta a Juriti
Líquido invade sua dor
Se não voa
Se não anda
É porque aguarda."
De Mira para Hira
Triste canta a juriti
Líquido invade sua dor
Se não voa
Se não anda
É porque aguarda."
De Hira para Mira
Juriti canta bonito e canta triste,
acalentada pelo passo
da sanfona, que dança valsa.
Juriti sabe das cousas, de hoje
e das passadas. Sabe também
das passaradas. E o mais bonito
em Juriti é, que mesmo graçoila,
não faz troça.
De Mira para Hira
Juriti estava cinza
o canto da Hira
a despertou
bateu asas até o sol
voltou de madrugada
bela árvore do paraíso.
De Hira para Mira
Juriti é pomba tão bonita.
Bebe água sem erguer o bico.
Voa longe sem se ausentar do
Piso. Vai e volta embelezando
O céu e a noite.
De Mira para Hira
recado caiu do bico da juriti
caiu do céu
no meu colo
a doce sensação de não estar sozinho
água segue seu caminho
contornando o céu e a noite.
de Hira para Mira
Juriti carrega mais do que recado,
Carrega o dom de levar leveza ao
Colo e fazê-lo se sentir acompanhado.
Céu e noite caminham juntos.
De Mira Para Hira
no coração
qualquer pena
pesa mais que chumbo
dói mais
que limão no corte
estrangula
como nó de gravata
céu e noite caminham juntos
sol e lua se encontrarão algum dia?
De Hira para Mira
Mira o céu e veja que solidão
É ilusão da alma.
Mesmo nos espaços
Afastados, sem o sol e a lua, não vicejaria
Sequer a planta ou o plâncton.
Neles, sol e Lua já se encontraram.
Dia e noite caminham juntos, em Paralelo.
de Hira para Mira
A poesia sempre derrapa,
É sinuosa. Hira não conhece
a ira, nem na derrota. A coisa
se amansa, no tempo-espaço,
antes mesmo do infinito.
Nem carece esperar que
As paralelas se encontrem.
De Mira para Hira:
Então, frente a frente
olhos investigam e ultrapassam:
vejo a mim neste reflexo e tremo
Hira é mais do que um poema
De Hira para Mira
Hira é a coagulação, sempre
móvel, porque sempre adiante,
de milênios de experiências,
boas ou desastrosas.
Não carece tremer
por tão pouco. Cada
qual já treme com sua
própria quota.
Sob os pés de Mira, há
solo e redemoinho o
bastante.
De Mira para Hira
Ao que parece, Hira sabe quem é Mira....
Nada escapa ...
Isto não me aborrece; me estimula,
caleidoscópio, a provar que há mais de mim do que imagina x
musx
mas, quem será Hira, entre tantos deuses do olimpo?
De Hira para Mira
Hira nada sabe do Olimpo,
Só de ouvir dizer. Olimpo é
Muito alto. Hira tem na vista
um alcance de 8,712712712
milhas. Aproximadamente.
Mira me escapa, como
Tanta coisa. Exceto a
História que nos é
Comum, pois
Humana.
ou seja
pra nós depois
só sei que Mira não é alienígena
De Mira PARA HIRA:
se Hira nada sabe do olimpo, melhor
deuses guerreiam
enquanto homens amam
e se divertem
De Hira para Mira
Esses deuses briguentos me cansam.
Não quero saber de nenhum deles,
até que eles mesmos se cansem de seus atos.
Olhe a Lua, Mira.
Veja quão Humana!
De Mira para Hira
a lua está longe do sol como Hira de Mira
Mira Hira, raça tupi,
a distância é real... podem sonhar os homens?
De Hira para Mira
Mira cita Lula Barbosa e Marlui Miranda.
Mira ouve Música.
Os homens sempre
Hão de sonhar, até acordarem.
De Mira para Hira
Mira num olhar,
Hira, somos amigos há mais tempo do que eu imagino?
Seremos amigos por mais tempo do que esta brincadeira?
A sorte está lançada...
De Hira para Mira
Mira no olhar um riacho
Cacho de nuvem no azul do céu
A rolar...
De Mira para Hira
Hira, em troca de tanto carinho que me deu nestes dias de musx
secretx, eu te mando uma pista sobre mim: MIra Ira é a música que
mais gostei de conhecer quando adolescente... eu tinha 14 anos
quando a ouvi pela primeira vez em um show do "Placa Luminosa"...
amo tudo o que diz respeito ao continente americano, a poesia, os
ritmos, as histórias de luta de todo um povo sofrido, talvez fique fácil
saber agora quem eu sou;
segue um poema feito a você em agradecimento :
o poema
" com asas e dragões
a vida singra mapas em suas costas
desbrava o que sobra do desconhecido
futuro criado com versos próprios
Hira é a coragem de quem mergulhou
sobreviveu
tantas vezes."
De Hira para Mira
Mira, o agradecimento é
deste poeta ( que era Musa – nota da editora).
Afinal, ser lido é a recompensa.
No mais, todos mergulhamos.
Alguns, tentando usar as mãos como remos,
por conta de não tê-los já dados de antemão,
nem achá-los fabricados
para o inusitado
percurso.
De Mira para Hira
Hira como Mira, ambos Temos vidas eternas. Não Imagine que seria
tão simples Escapar.
O que cabe nos sonhos, Existe de alguma forma.
Para Hira Ser lido é ganhar asas Ser admirado é ter vida eterna O
inusitado é pré-fabricado Pelos sonhos da gente. ass: Mira
Mira Ira (Lula Barbosa)
Mira num olhar
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...
Mira Ira, raça tupi,
Matas, florestas, Brasil.
Mira vento, sopra continente,
Nossa América servil,
Mira vento, sopra continente,
Nossa América servil...
Mira num olhar,
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...
Mira ouro, azul ao mar,
Fonte, forte de esperança,
Mira sol, canção, tempestade, ilusão,
Mira sol, canção, tempestade,
Ilusão...
Mira num olhar
Verso frágil tecido em fuzil,
Mescla morena,
Canela, cachaça, bela raça, Brasil.
Anana ira,
Mira ira anana tupi
Anana ira, anana ira
Mira Ira
imagem: http://www.aleida.net/festivals/raices2012/a_jacha.html raíces de américa