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1 Engenharia e mudança tecnológica: AS DINÂMICAS DO CONHECIMENTO E O DESAFIO DA INOVAÇÃO Pedro Conceição e Manuel Heitor Publicado em Brito, J.M.B., Heitor, M. e Rollo, M.F. (2002; eds), “Engenho e Obra”, Don Quixote, pp. 107-122.

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Engenharia e mudança tecnológica: AS DINÂMICAS DO CONHECIMENTO E O DESAFIO DA INOVAÇÃO

Pedro Conceição e Manuel Heitor

Publicado em Brito, J.M.B., Heitor, M. e Rollo, M.F. (2002; eds), “Engenho e Obra”, Don Quixote, pp. 107-122.

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Engenharia e mudança tecnológica: AS DINÂMICAS DO CONHECIMENTO E O DESAFIO DA INOVAÇÃO

Pedro Conceição e Manuel Heitor

Este capítulo enquadra conceptualmente a análise da história da engenharia em Portugal com base numa visão sistémica dos processos de mudança tecnológica. A importância destes aspectos é reforçada pela dimensão relativamente pequena de Portugal, limitando qualquer esforço de análise se o ambiente externo não ficar devidamente entendido. De facto, no início do século XXI a questão central relativamente ao papel da engenharia nos processos de desenvolvimento económico diz respeito à forma como a engenharia estimula a inovação com base na partilha e difusão de conhecimento. Assim, os esforços de investigação resumidos neste capítulo visam compreender as condições que determinaram ao longo do século XX processos de aprendizagem integrados globalmente. A aprendizagem, neste contexto, reflecte a ideia de criação e difusão sustentável e inclusiva de conhecimento, de uma forma que se reflicta ao nível da economia global, mas que respeite raízes locais e promova o desenvolvimento inclusivo de todas as populações.

A mudança tecnológica: alguns factos

Começamos por apresentar uma afirmação pouco controversa: as inovações, e em particular, as

inovações tecnológicas, têm sido os principais motores da melhoria sem precedentes dos padrões

de vida dos países desenvolvidos desde a Revolução Industrial. Kuznets1 chamou “crescimento

económico moderno” ao progresso económico dos países desenvolvidos desde o início da

Revolução Industrial. De acordo com Landes2, só depois da Revolução Industrial é que a

tecnologia causou, de forma sistemática, impacto no crescimento económico. As mudanças

tecnológicas são o motor do desenvolvimento industrial e, como consequência, a existência da

“industrialização” é uma condição necessária para que o crescimento de um país seja determinado

pela tecnologia. Segundo as palavras de Kuznets, “podemos seguramente afirmar que, desde a

segunda metade do século XIX, a mais importante fonte de crescimento económico nos países

desenvolvidos teve origem na tecnologia com base científica, nos domínios da electricidade, da

combustão interna, da electrónica, da energia nuclear e da biologia, entre outros” 1. Neste

contexto, a Figura 1 mostra como o crescimento económico a nível mundial teve um forte

impulso na segunda metade do século XIX.

3

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000

Year

Ave

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990

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Figura 1- PIB per Capita médio a nível mundial. Fonte: de Long 3.

Assim, quando consideramos o desenvolvimento a longo-prazo dos países industrializados,

parece haver uma complementaridade perfeita entre tecnologia, por um lado, e stocks de capital e

de trabalho, por outro. Citando Samuelsen4: “com os avanços tecnológicos e com a acumulação

de um maior stock de bens de capital, seria um verdadeiro milagre se se conseguisse impedir que

os salários reais das pessoas tivessem aumentos cada vez maiores ao longo de décadas. Quem

não conseguir ver este facto não consegue compreender os fundamentos da história económica

como ocorreram na realidade”. O modelo neoclássico de crescimento, desenvolvido em grande

escala por Solow5, 6, formaliza esta ideia, propondo uma conceptualização do crescimento com

base em dois factores de produção, capital e trabalho, e também num fluxo exógeno de novas

tecnologias, que funciona como o factor determinante do crescimento a longo prazo.

No entanto, deve colocar-se a seguinte questão: será que este processo de crescimento económico

é válido para todo o mundo? Será que os rendimentos de todos os cidadãos, em todos os países,

cresceram de acordo com a conceptualização neoclássica de crescimento? Qualquer observação

ocasional sugere o contrário. Solow7, por exemplo, refere que os modelos em que a tecnologia é

o motor fundamental de crescimento servem “talvez ao Brasil ou a Taiwan ou a Portugal, (mas)

não imagino que seja possível (aplicá-los) à Guiana, ao Zimbábue ou ao Bangladesh”. De facto, a

4

maior parte dos benefícios da Revolução Industrial permaneceu em larga escala nos países em

que foram originados e em países vizinhos.

A Figura 2 ilustra a distribuição assimétrica a nível mundial das regiões que originam

conhecimento. Entre o século X e o século XIX produziu-se um pequeno número de inovações

na Europa e na China. De 1400 até 1700, a Europa foi quase o único gerador de inovações. Mas

o forte impulso do número de invenções do século XVIII ficou ainda mais concentrado nas

regiões Europeias, em primeiro lugar, e depois também no Estados Unidos da América.

Figura 2- Ilustração da Origem das Invenções no Segundo Milénio. Fonte: Smithsonian Visual

Timeline of Inventions8

O aumento do número de invenções correlaciona-se fortemente com o impulso do rendimento

médio em todo o mundo. Mas a explosão de criação de conhecimento ficou concentrada

nalgumas regiões e levou, de forma semelhante, à distribuição concentrada do rendimento, como

descrito em Conceição et al9, entre outros.

De facto, o estudo das relações entre a criação de conhecimento e o desenvolvimento económico

é uma componente cada vez mais importante da investigação sobre políticas públicas que visam

estimular o crescimento10,11. Estas relações incluem os processos através dos quais a criação, a

distribuição, e o uso do conhecimento contribuem para o crescimento económico. Esta

perspectiva é em grande medida determinada pela percepção de que o crescimento da geração de

conhecimento não tem precedentes antes da revolução industrial. Fogel12, por exemplo, escolhe o

contraste entre o desenvolvimento do arado, cerca de 4000 a.C., e o desenvolvimento do vôo,

5

uma ambição constante do espírito humano. Decorreram 2000 anos até que o arado chegasse aos

países da Europa mediterrânica, com poucos melhoramentos, mas apenas 66 anos desde o

primeiro vôo de avião até à chegada do Homem à Lua.

Ashby13 analisou também recentemente de que forma a relativa importância das principais

categorias dos materiais (i. é, os metais, polímeros, compósitos e cerâmicos) evoluiram ao longo

dos tempos e demonstrou que o uso dos metais aumentou até aos anos 60 do século XX, se bem

que a sua importância decrescente durante os últimos 40 anos tenha ocorrido a um ritmo forte,

quando comparado com qualquer outra mudança nos últimos 10 000 anos (Figura 3).

Figura 3. Evolução da utilização de materiais pela Sociedade Fonte: IPTS14

Adicionalmente, os novos conhecimentos, hoje em dia, são disseminados mais rápida e

abrangentemente do que antes. Os avanços das tecnologias de informação e das

telecomunicações permitiram uma redução dos custos de produção, difusão e processamento da

informação. O progresso das telecomunicações e das tecnologias de informação reflecte-se nas

conhecidas leis de Gilder e de Moore. A lei de George Guilder refere-se à explosão da largura de

banda, relativamente à quantidade de dados que podem ser transportados numa linha de

AÇOS

FERRO FUNDIDO

FERRO

COBRE

AÇOS LIGADOS

METAIS VIDRADOS

LIGAS AL-LÍTIO

AÇOS DE DUAS FASES

AÇOS MICROLIGADOS

BRONZE

SKINFIBRE

GUMS

BORRACHA

LIGAS LEVES

SUPER LIGAS

TITÂNIOZINCONIUMETC

NOVAS SUPER LIGASDESENVOLVIMENTO LENTOPRINCIPALMENTE QUALIDADECONTROLO EPROCESSAMENTO

POLIMEROS CONDUTORES

POLIMEROS DE ALTATEMPERATURA

POLIMEROSDE ELEVADO MÓDULO

BAQUELITE

NYLON

MADEIRA

PAPEL

PEDRAFLINT

POTTERTVIDRO

CIMENTO

REFRACTÁRIOSCIMENTO

PORTLAND SILICAFUNDIDA CERMETS

EPOXIESPOLIÉSTERES

COMPÓSITOS

POLIMEROS

METAIS

CERÂMICOS

POLIMEROS

COMPÓSITOS

CERÂMICOS

METAIS

LIGAS

10 000 BC 5000 BC 0 1000 1500 1800 1900 1940 1960 1980 1990 2000 2010 2020OURO

COMPÓSITOS CERÂMICOS

COMPÓSITOSMATRIZES METÁLICAS

ENGENHARIA DE SUPERFICIE

IMPO

RTÂ

NC

IAR

ELAT

IVA

SUPER CONDUCTORESENGENHARIA DE

CERÂMICOS DE TOQUE

KEVLAR

TIJOLOS (com PALHA)

IVORY

10000 BC5000 BC

0 1000 1500 1800 1900 1940 1960 1980 1990 2000 2010 2020

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comunicação. Nos anos 60, um cabo transatlântico podia suportar 168 conversas por minuto,

enquanto que hoje um cabo de fibra óptica permite suportar 1,5 milhões de conversas, reduzindo

o custo por minuto da chamada de telefone internacional de perto de três Dólares, para menos de

1 cêntimo (The Economist, 1997). Por outro lado, Gordon Moore previu em 1965 que a potência

do microprocessador duplicasse todos os anos, mas reviu esta previsão em 1975, sugerindo então

que a capacidade duplicasse de dois em dois anos. Por sua vez, Gates15 estima que a taxa actual

de duplicação se verifica de 18 em 18 meses (Figura 4).

Figura 4. Evolução da capacidade dos microprocessadores da Intel, 1970-2000.

Fonte: Gates15

É, de facto, conhecido que o advento das novas tecnologias digitais tem captado a atenção da

sociedade, sobretudo desde a década de 809,11. O computador, as telecomunicações e, mais

recentemente, a Internet são, de facto, tecnologias poderosas e impressionantes. Afectam as

pessoas e as empresas de modo fundamental e permanente. O desenvolvimento económico com

base nas novas tecnologias de informação resulta de uma combinação de esforços dos sectores

público e privado, pelo que se tem assistido a variadissimas iniciativas para promover a

prosperidade através da Tecnologias de Informação e Comunicação, TIC. A Comissão Europeia,

por exemplo, através do Comissário para as Empresas e para a Sociedade da Informação,

afirmou:

“A Europa encontra-se no meio de uma revolução económica. É tempo de chamarmos a

atenção para o sector público e o sector privado na Europa. Temos de trabalhar no sentido de

uma e-conomia Europeia que compreenda os serviços electrónicos para o benefício de todos” 16.

7

Enquanto que os Estados Unidos tomaram, no fim da década de 1990, a liderança no

desenvolvimento e na difusão das tecnologias digitais, e, especialmente, na procura e promoção

de formas de obter benefícios económicos do seu uso17, a Europa procurava recuperar

rápidamente, mas as tecnologias digitais não estavam, no fim do século XX, tão difundidas e não

eram tão utilizadas como nos Estados Unidos, à excepção dos telefones móveis18.

Mas a emergência da “sociedade de informação” deve ser claramente compreendida a partir de

uma perspectiva mais profunda do seu papel em termos de desenvolvimento. Gordon19 conclui:

"Não houve aceleração do crescimento da produtividade em 99 por cento da actividade económica americana fora do sector de produção de hardware para computadores, o que pode ser explicado pelo redimensionamento dos preços e por uma resposta pro-cíclica normal e modesta. De facto, longe de demonstrar uma aceleração da produtividade, a quebra dessa mesma produtividade tornou-se mais grave; quando os computadores foram retirados do sector produtivo de bens duráveis, houve uma acentuada quebra de produtividade na produção de bens duráveis entre 1995 e 2000 em comparação com o período de 1972-95, não tendo havido, de modo algum, qualquer aceleração na produção de bens não-duráveis.

A questão fundamental é saber o seguinte: se as empresas ligadas aos computadores podem

beneficiar dos avanços das TIC, por que razão as empresas de outros sectores não o poderão

fazer? Levará algum tempo até que estes benefícios se revelem estatisticamente noutras

indústrias, mas é provável que se expandam a outras sectores. Note-se que as tecnologias digitais

estão a ganhar importância em termos do seu peso económico e nas mudanças que estão a

introduzir na vida das pessoas e no comportamento das empresas.

Uma outra perspectiva sobre a relação entre as TIC e o desempenho económico sugere que o

computador e as tecnologias digitais a ele associadas fazem parte de uma transição de regime, no

seguimento da formulação pioneira de Freeman e Perez20. Esta hipótese sugere que a emergência

de uma nova tecnologia radical requere um número de melhoramentos tecnológicos menores,

assim como ajustamentos institucionais e sociais, de modo a ter impacto na economia. Por outras

palavras, a emergência de uma tecnologia radical requere tempo. Neste contexto, a análise

histórica proposta entre outros, por Paul David21, revela que anteriores descobertas tecnológicas

importantes levaram décadas até terem um efeito económico mensurável. No seu trabalho de

1990, Paul David concentrou-se na substituição de motores a vapor por eléctricos, e estabeleceu

uma equivalência histórica com o computador. Mais recentemente, David22, sugere que o mesmo

tipo de mecanismos “de atraso” se podem verificar hoje com as tecnologias digitais e a Internet23.

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Considerar a Inovação Através do Tempo e do Espaço: A Abordagem de Paradigmas

Técnico-Económicos

A interacção entre a emergência de novas tecnologias e as mudanças nos padrões económicos e

sociais pode ser compreendida, de acordo com Schumpeter, como um processo de destruição

criativa. Como primeira avaliação, esta afirmação é óbvia: as novas tecnologias são

perturbadoras e muitas vezes substituem as antigas. A um nível mais abstracto de análise, as

implicações das novas tecnologias são mais abrangentes. O impacto é muitas vezes sentido não

apenas como uma substituição das velhas tecnologias pelas novas, mas traz consigo

oportunidades a novas empresas e dificuldades a empresas existentes, torna obsoletas algumas

ocupações e mudanças na estrutura do emprego. Por outro lado, nem todos os avanços

tecnológicos são perturbadores ao ponto de alterarem significativamente as condições económicas

e sociais. De facto, muitos avanços tecnológicos e inovações fazem sentir o seu impacto de uma

forma relativamente moderada, quando analisados de uma perspectiva macro-económica.

É possível conceptualizar a interacção entre as novas tecnologias e a evolução das condições

económicas atráves do conceito de paradigma técnico-económico. Um paradigma técnico-

económico engloba um cluster relativamente estável de tecnologias nucleares, à volta das quais se

processa a inovação e a actividade económica. As tecnologias nucleares produzem um forte

impacto na economia e na sociedade, sendo definidas como nucleares dado o seu potencial de

generalização e penetração num vasto número de produtos e processos, ao longo de todos os

sectores da actividade económica.

Tendo em conta o conceito de paradigma, as tecnologias nucleares quase que não se alteram ao

longo do tempo, o que não quer dizer que não exista progresso económico ou tecnológico. Pelo

contrário, as tecnologias nucleares definem o conhecimento e os incentivos para que haja

inovação e actividade económica. Ao mesmo tempo, este progresso está inerentemente limitado

pelas condições estabelecidas pela interacção das tecnologias nucleares com as formas

dominantes da actividade económica, desde a organização das empresas, à distribuição e ao

emprego. Em consequência, o progresso existe no âmbito de um certo paradigma técnico-

económico, mas ocorre num quadro definido por um conjunto de tecnologias nucleares e formas

de organização de actividade económica.

Assim, no âmbito de um paradigma, a inovação ocorre à medida que as tecnologias nucleares se

tornam cada vez mais difundidas e influenciam domínios cada vez mais vastos da produção e

distribuição. Quando ocorre um avanço tecnológico de grande impacte, perturbando as

tecnologias nucleares existentes e as formas dominantes de organização económica, surge então

9

um novo paradigma técnico-económico. A substituição das tecnologias nucleares do paradigma

antigo cria uma nova onda de invenções e inovações e já não está mais ligado às tecnologias

nucleares do paradigma anterior. A emergência de uma nova tecnologia nuclear exige, e cria,

oportunidades para o aparecimento de um novo conjunto de pequenas e progressivas inovações

que permite a utilização generalizada das novas tecnologias nucleares. Assim, quando uma

mudança ocorre num paradigma técnico-económico temos não apenas um “efeito de

substituição”, nas também uma expansão da fronteira criativa que permite a emergência de novas

tecnologias e, finalmente, uma nova mudança para outro paradigma técnico-económico.

Adicionalmente, para além dos factores puramente tecnológicos e económicos, os modelos

sociais e institucionais que se enquadram num certo paradigma técnico-económico podem não ser

adequados a um novo. De facto, o processo de emergência de um novo paradigma técnico-

económico resulta da interacção das esferas tecnológicas, económicas, institucionais e sociais. O

facto de se introduzir uma só tecnologia pode não ter qualquer efeito se o conjunto de mudança

nas outras dimensões não acompanhar as novidades tecnológicas. É possível que um

determinado conjunto de instituições e características sociais forneça contextos suficientes à

inovação tendo em conta um paradigma definido; por outras palavras, não é necessário criar

instituições e regras sociais ao mesmo ritmo que os progressos de inovações tecnológicas. Mas

quando existe uma mudança no paradigma técnico-económico, pode ser necessário um novo

quadro institucional.

Vários autores, trabalhando em colaboração e independentemente, desenvolveram a teoria dos

paradigmas técnico-económicos que se pode considerar que teve origem em Schumpeter, para

quem as expectativas de lucros levariam o “empreendedor” a inovar. A motivação do

empreendedor para inovar é gerada pela posição monopolística temporária a partir da qual o

inovador tiraria benefícios. Schumpeter considerava esta posição temporária porque as vantagens

desta posição privilegiada provávelmente “definhariam no vértice da competição que fluem

depois delas”, visto que outras firmas copiariam o inovador25. Schumpeter chama a este processo

destruição criativa.

Em consequência, para Schumpeter a inovação aparece na vanguarda do progresso económico,

promovendo a prosperidade. Na versão posterior destas mesmas ideias, Schumpeter melhorou a

versão anterior de um empreendedor num mercado perfeito composto por uma série de empresas

em competição que destroem qualquer vantagem de mercado persistente. No seu trabalho final,

Schumpeter26 reconheceu algumas grandes empresas conseguiam suportar uma vantagem de

10

mercado por uma institucionalização do esforço para inovar através do estabelecimento de

grandes infra-estruturas de I&D.

A reinterpretação das ideias fundamentais de inovação de Schumpeter como processo de

desequilíbrio no contexto mais alargado do paradigma técnico-económico é devido, em primeiro

lugar, a Christopher Freeman e aos seus co-autores. Muitas vezes chamada a abordagem “neo-

Schumpeteriana”, esta perspectiva está articulada em Freeman, Clark e Soete27. Freeman e

Perez20, Dosi28 e, mais recentemente, Mcnight et al. 29, citam alguns exemplos representativos.

Freeman e os seus co-autores generalizaram o conceito de inovação de Schumpeter para o nível

nacional, fazendo uma analogia entre a inovação ao nível da empresa e uma mudança num

paradigma técnico-económico a nível nacional30,31.

A definição macro-económica de inovação corresponde ao conceito, ao nível da empresa, de

inovação radical. Neste âmbito, existem também as inovações incrementais, que correspondem a

melhoramentos dos produtos e processos existentes. Freeman constrói uma hierarquia

semelhante adequada à sua macro-análise de inovação, levando ao enquadramento conceptual que

tem alguma semelhança com a perspectiva evolutiva de Nelson e Winter32.

É importante realçar duas dimensões da teoria do paradigma técnico-económico: o tempo e o

espaço. O tempo é, de facto, crucial, como vimos, visto que o processo de mudança tecnológica

e o seu impacto económico e social é visto como um progresso, mais estável no âmbito de um

certo paradigma técnico-económico, e muito diferente através dos paradigmas técnico-

económicos, que diferem ao longo do tempo. O espaço é igualmente importante, visto que não é

claro que um certo paradigma técnico-económico vá afectar todas as regiões do mundo de forma

semelhante. Certamente que haverá diferentes taxas de adopção de novas tecnologias nucleares

quando existe uma mudança de paradigma, diferentes formas em que inovações específicas e

formas de organização económica se desenvolvem em diferentes países e diferentes regiões.

Alguns países podem originar ou levar ao desenvolvimento de um novo paradigma técnico-

económico, podendo outros ficar para atrás, ou até permanecerem mais perto do antigo paradigma

do que do novo.

Existe uma ideia importante que une as dimensões espaço-temporais da teoria do paradigma

técnico-económico que é a ideia de trajectórias tecnológicas no âmbito dos sistemas de inovação

nacionais33,34,35. A ideia de trajectórias dos sistemas de inovação defende que cada país segue o

seu próprio caminho de desenvolvimento, no âmbito do enquadramento geral do paradigma

técnico-económico existente – o que é de importância fundamental – influenciado pela história

passada e pelas condições específicas do contexto local.

11

Este facto origina a discussão das assimetrias de desempenho dos países, o que, de acordo com a

nossa interpretação avançada em trabalhos anteriores9, pode ser visto como sendo dependente do

que poderíamos chamar na generalidade de acumulação de conhecimento através do processo de

“aprendizagem”. Conceptualmente, os fundamentos da relação entre a aprendizagem e o

crescimento económico estão bem definidos na literatura36, e resultam de uma combinação de

uma perspectiva puramente neoclássica de crescimento com a visão de Schumpeter. A

aprendizagem reflecte-se em capacidades melhoradas das pessoas, e na geração, difusão e

utilização de novas ideias. Do mesmo modo, a aprendizagem organizacional reflecte processos

sociais conduzidos por culturas colectivas e atitudes de gestão apropriadas. A capacidade de

gerar continuamente capacidades e ideias (ou seja, acumular conhecimento através da

aprendizagem) é, em última análise, o motor do crescimento económico10.

O facto de que os países têm diferentes níveis de rendimento é claramente evidente. Portanto, é

igualmente óbvio que cada país seguiu a sua própria trajectória, dentro do contexto de um

paradigma técnico-económico existente e do seu sistema de inovação específico. A Tabela 1

ilustra os que usualmente se consideram ser os mais importantes paradigmas técnico-económicos.

12

Tabela 1- Os principais paradigmas técnico-económicos

Período aproximad

o

Descrição Principias sectores Organização Económica

1770s a 1840s

Mecanização inicial

Texteis, Canais, Estradas com portagens

Empresários em nome individual e pequenas empresas; capital local e riqueza individual

1830s a 1890s

Energia a vapor e caminhos de ferro

Motores a Vapor, Caminho de Ferro, Transportes Marítimos Mundiais

Competição enter pequenas empresas, mas verifica-se a emergência de grandes empresas com dimensão sem precedentes; empresas de responsabilidade limitada e sociedades anónimas

1880s a 1940s

Engenharia Electrotécnica e pesada

Engenharia Electrotécnica, Indústrias de Processos Químicos, Navios de Aço, Armamentos Pesados

Empresas gigantes, cartéis, trusts; fusões e aquisições; regulação estatal e entrada em vigor de leis anti-trust; equipas de gestão profissional

1930s a 1980s

Produção em Massa (“fordista”)

Automóveis, Aviões, Bens de Consumo Duráveis, Materiais Sintéticos

Competição oligopolista; emergência de empresas multinacionais; aumento do investimento estrangeiro directo; integração vertical; estilos e abordagens de gestão tecnocrática

1970s a … Tecnologias de Informação e Comunicação

Computadores, Software, Telecomunicações, Tecnologias Digitais

Redes de grandes e pequenas empresas com base crescente em redes de computadores; onda de actividade empresarial associada com as novas tecnologias; fortes clusters regionais de empresas inovadoras e empresariais

Fonte: Adaptado de Freeman e Soete31, Table 3.5.

Os paradigmas apresentados acima servem para ilustrar com alguma evidência empírica as

características dos paradigmas técnico-económicos apresentados anteriormente. Consideremos,

por exemplo, o primeiro paradigma técnico-económico. Esta situação corresponde à emergência

da Revolução Industrial, à medida que a mecanização se incorporou crescentemente na produção,

especialmente nalgumas indústrias tal como a indústria textil. No entanto, as tecnologias bem

difundidas e utilizadas no âmbito deste paradigma apresentaram algumas limitações importantes

para o aumento da escala e limitaram o crescimento da actividade produtiva. Muitas empresas

permaneceram pequenas e locais. O controlo de processos era deficiente e as máquinas

manobradas à mão não permitiam uma produção de qualidade fiável. É claro que já se

registavam avanços tecnológicos no que diz respeito aos motores a vapor e à maquinaria, mas

13

levou muito tempo até produzirem frutos. Quando estas importantes tecnologias amadureceram

ao ponto de tornar possível a sua utilização, tornaram-se as tecnologias nucleares do segundo

paradigma técnico-económico. O novo paradigma técnico-económico com base no motor a vapor

e na maquinaria melhorou as limitações anteriores, e criou em si o embrião de novo tipos de

organização económica, tal como a tabela analisa em detalhe.

Se cruzarmos os paradigmas técnico-económicos com a geografia, começamos então a juntar as

ideias de trajectória tecnológica e do sistema nacional de inovação. Os dois primeiros técnico-

económicos foram liderados pela Grã-Bretanha. Neste contexto, os Estados Unidos e a

Alemanha, por exemplo, foram "retardatários". No entanto, tornaram-se líderes no terceiro

paradigma técnico-económico, com o Japão que também liderou o quarto e os Estados Unidos

que lideram o quinto.

No entanto, as manifestações das diferenças actuais nos caminhos seguidos por diferentes países

são evidentes. Mesmo tomando o exemplo de um conjunto de países relativamente homogéneos,

de que são exemplo os países da OCDE, verifica-se um grande número de disparidades em

termos de rendimento per capita e de produtividade. A produtividade, de certa forma, é

provavelmente o melhor indicador de um país em termos de aproveitamento completo das

condições fornecidas pelo paradigma técnico-económico existente.

Um estudo de Ark e McGuckin37 estabelece comparações internacionais de produtividade e de

rendimento de uma forma bastante cuidadosa, sobretudo na forma de encontrar medidas

comparáveis entre os diversos países. A análise inclui a associação entre a produtividade do

trabalho e a produção per capita, seguindo um procedimento comum de decomposição. Ainda

que a relação entre estas duas variáveis possa ser óbvia, envolve de facto muitas subtilezas. Por

exemplo, um país que seja muito produtivo, mas onde os seus trabalhadores se envolvam em

actividades produtivas durante menos horas que um país menos produtivo, pode dar origem a uma

produção per capita mais elevada neste segundo país. A Tabela 2 revela os resultados

apresentados neste trabalho, na qual a coluna (1) indica a produtividade no trabalho e a coluna (8)

o PIB per capita.

Em primeiro lugar, é importante realçar que Portugal no final do século XX tinha a taxa de

produtividade por hora mais baixa da OCDE à excepção da Turquia. Em Portugal, a

produtividade por hora é cerca de metade da média dos países da OCDE. Na Grécia, a

produtividade é 19 pontos superior à de Portugal, sendo o valor respectivo para Espanha cerca de

28 pontos superior à produtividade laboral/hora nacional. Contudo, quando olhamos para a

14

coluna (8), o PIB per capita grego é de facto mais baixo do que o português cerca de 2 pontos, e o

PIB espanhol está apenas 11 pontos acima do português.

A decomposição da tabela mostra a variedade de efeitos envolvidos. A coluna (2) mostra o

impacto do número de horas de trabalho. A soma das colunas (1) e (2) dá o PIB por pessoa

empregada. Verifica-se que os trabalhadores espanhóis e japoneses trabalham mais horas do que

a maioria dos trabalhadores dos outros países. Em Espanha, o PIB por trabalhador aumenta quase

para o nível da OCDE. Os trabalhadores portugueses também trabalham muitas horas, resultando

num aumento de 2 pontos na produtividade por hora. Em Itália, França, Holanda, Noruega e no

Reino Unido um número inferior de horas de trabalho reduzem a produtividade por hora. Os

padrões de vida são determinados não apenas pelo número de horas de trabalho e pela

produtividade de cada hora de trabalho, mas também pelo “número de bocas para alimentar”. O

efeito da participação da mão de obra associa a produtividade por trabalhador e o PIB per capita.

É o efeito da participação da mão-de-obra, por exemplo, que contribui para o rendimento per

capita dos produtivos e esforçados trabalhadores Espanhóis: o efeito combinado entre o

desemprego e do baixo nível da mão-de-obra da população activa totaliza 26 pontos em termos de

produtividade por trabalhador. O mesmo acontece na Grécia, onde o PIB por trabalhador é de 26

pontos. É, portanto, claro que o desafio real para aumentar o nível do PIB per capita em Portugal

não é tanto a redução do desemprego ou um aumento da participação da mão-de-obra (como em

Espanha, por exemplo), mas sim o aumento da produtividade por hora.

15

Tabela 2- Decomposição do PIB por Hora de Trabalho, em Horas de Trabalho, Participação da Força Laboral e PIB per Capita, 1997

PIB por

hora trabalhada em % da média

da OCDE

Efeito das

horas de trabalho

PIB por emprego como % da média

da OCDE

Efeito do

desemprego

Efeito da mão- de-obra como p% da

população

activa

Efeito da

população

activa como %

da população total

Efeito toal da participação da mão-de-

obra

PIB por pessoa

como % da

Média da

OCDE

(1) (2) (3)=(1)+(2)

(4) (5) (6) (7)=(4)+(5)+(6)

(8)=(3)+(7)

Áustralia

96 0 96 -1 2 0 1 97

Áustria 102 -4 98 3 -2 1 2 100 Bélgica 128 -5 123 -3 -19 -1 -22 101 Canadá 97 2 98 -2 2 2 2 100 Dinamarca

92 0 92 1 9 1 11 103

Finlândia

93 0 94 -7 2 0 -5 88

França 123 -9 113 -6 -9 -2 -17 97 Alemanha

105 -5 100 -3 -4 2 -4 96

Grécia 75 -4 71 -2 -11 1 -12 58 Irlanda 108 5 113 -4 -12 -3 -18 95 Itália 106 -11 96 -5 -1 2 -5 91 Japão 82 10 92 4 6 4 14 106 Holanda 121 -26 95 2 -4 2 0 96 N. Zelândia

69 8 77 1 3 -1 2 79

Noruega 126 -17 109 4 12 -4 12 122 Portugal 56 2 58 0 1 1 2 60 Espanha 84 13 97 -14 -13 2 -26 71 Suécia 93 -3 89 -3 6 -4 -1 88 Suiça 94 0 94 3 12 1 17 111 Turquia 36 2 38 0 -8 -1 -9 29 UK 100 -9 91 0 3 -2 0 92 US 120 -1 118 3 9 -2 10 128 EU=14 103 -5 98 -4 -4 0 -8 90 Fonte: Ark e McGuckin37. Nota: as somas podem não ser exactas devido a erros de arredondamento.

Para perceber o impacto destas diferenças sobre o desempenho da inovação e, em consequência, derivar políticas de inovação para o século XXI, é importante olharmos para as novas exigências para se ser inovador, o que vamos analisar na secção seguinte.

16

A Sociedade da Aprendizagem: Um Enquadramento para Perceber as Novas Exigências

para se Ser Inovador

Os recentes modelos do crescimento económico de longo prazo têm permitido explicar o aumento

do rendimento per capita nos países desenvolvidos (ver traços gerais em Johnson38, e um

tratamento mais vasto em Landes39), com modelos extremamente parcimoniosos feitos,

exclusivamente, com base no crescimento do conhecimento. Os factores que estão por detrás do

aumento do conhecimento são igualmente simples: o aumento da população e a emergência de

especialização na produção de conhecimento. Kremer40 utiliza um modelo exclusivamente

baseado no crescimento da população, onde o facto de haver mais pessoas, significa que existem

mais indivíduos capazes de fazer um descoberta significativa e que quanto mais a população

crescer maiores benefícios decorrem dessas descobertas. Por outras palavras, os melhoramentos

tecnológicos tornam possível o crescimento da população que, por sua vez, cria mais

possibilidades para se gerar mais descobertas. Hall e Jones41 propõem um modelo ligeiramente

mais complexo que inclui também o efeito da especialização de proporção crescente da população

em actividades associadas exclusivamente com a criação de transmissão de conhecimento. Este

modelo compreende a necessidade de incluir instituições e políticas - uma combinação que os

autores chamam infra-estrutura social - que, de acordo com este modelo, explicam a diferença

entre países no seu nível de geração de conhecimento e rendimento per capita.

A transição gradual para as economias baseadas no conhecimento intensificou-se nos últimos

anos do século XX. De acordo com dados da OCDE, mais de 50% do PIB dos países da OCDE42

está associado às indústrias baseadas no conhecimento44. Lundvall e Johson43 afirmam que a

intensidade da aceleração da criação e difusão do conhecimento exige uma caracterização mais

pormenorizada. Na opinião de Lundvall, devíamos falar sobre a emergência da sociedade da

aprendizagem. O aspecto fundamental está associado a uma perspectiva dinâmica, como foi

recentemente analisado em termos do actual contexto europeu45. Segundo aqueles autores, há

conhecimentos que se tornam realmente importantes, mas existem também conhecimentos que se

tornam menos importantes. Tanto existe criação de conhecimento como destruição de

conhecimento, o que nos força a olhar para o processo com atenção, em vez de se registar apenas

uma mera acumulação de conhecimento.

Em suma, enquanto se dedicou alguma atenção a tecnologias específicas, nomeadamente às

tecnologias digitais, nos últimos anos do século XX, a associação entre as tecnologias de

informação e os aumentos de produtividade permanece ambígua. No início do novo milénio,

verifica-se uma mudança mais importante, ou seja, o aumento da importância do conhecimento e

17

da aprendizagem para a prosperidade económica. Estas características dos actuais países

desenvolvidos corresponde à continuação de uma tendência de aceleração da importância da

criação e difusão de conhecimento ao longo do século.

O desafio da Inovação para Portugal num contexto de acelerada mudança tecnológica

Esta secção considera dois tópicos que são determinantes críticos do contexto global, no âmbito

do qual a engenharia em Portugal se desenvolve no inicio do século 21. O primeiro é a

globalização, enquanto o segundo é a emergência de uma sociedade de aprendizagem, como

analisado anteriormente. Estes tópicos abrangentes estão principalmente associados aos fortes

movimentos dinâmicos que afectam a maior parte dos países.

A globalização corresponde à integração crescente das economias mundiais, o que tem sido

facilitado e promovido por mudanças institucionais e tecnológicas. Esta integração tem levado a

um crescimento do comércio mundial, a transacções financeiras mais abertas, a níveis mais

elevados de fluxos de investimento internacionais, e à interdependência crescente de grandes

empresas, entre outros factores económicos. Contudo, a distribuição da riqueza a nível mundial

continua ainda desigual, contribuindo para a existência de movimentos contra a tendência no

sentido da globalização e contra algumas instituições internacionais (correcta ou incorrectamente)

que se tornaram o símbolo da globalização. Adicionalmente, os novos problemas globais

preconizam uma maior coordenação internacional, que está para além do interesse nacional dos

países mais ricos.

Num contexto de globalização, importa começar por considerar o desempenho da economia

portuguesa num quadro de relações económicas com o exterior. Apesar das fontes da

competitividade internacional das indústrias nacionais mais orientadas para as exportações terem

sido lançadas há 20 ou 30 anos atrás, é inquestionável que a diversificação crescente das

exportações da economia portuguesa tem crescido desde a adesão à Comunidade Europeia e,

especialmente, durante os anos noventa. No entanto, tão importante quanto a mudança para os

novos sectores, é também a persistência dos chamados sectores tradicionais para exportar em

grandes quantidades.

Em contraste com a crescente diversificação de exportações entre sectores, Portugal tem

concentrado cada vez mais o seu comércio externo com a união Europeia. Enquanto que em 1985

as exportações para a União Europeia representaram pouco mais de 65% (com quase 10% para os

Estados Unidos), em 1998 as exportações para a União Europeia ultrapassaram os 80% das

18

exportações totais portuguesas (5% menos para os Estados Unidos). Do mesmo modo, em 1985

menos de 50% das importações tiveram origem na União Europeia, enquanto que em 1998 mais

de ¾ do número total de importações provieram da União. Deste modo, a globalização da

economia portuguesa parece-se mais com uma “Europeização”.

Por outro lado, a evolução dos fluxos de investimento estrangeiro revelam uma história diferente.

No princípio dos anos 90 a União Europeia foi o destino de 80% do investimento directo de

Portugal, tendo essa taxa decrescido para metade em 1998. O Brasil, as antigas colónias africanas

e os países do leste europeu (especialmente a Polónia) receberam uma atenção crescente dos

investidores portugueses, em áreas que vão desde a distribuição, às telecomunicações. Em

meados dos anos noventa houve um marco importante no processo de globalização da economia

portuguesa, pois foi nessa altura que os fluxos de investimento para o estrangeiro ultrapassaram

os fluxos de investimento vindos do estrangeiro.

Por outras palavras, Portugal tornou-se no final do século XX num investidor internacional

líquido. Enquanto esta situação resultou de uma combinação do aumento de investimento

português para o exterior e de uma desaceleração do investimento vindo do exterior (conduzido

em grande parte pela abertura de oportunidades de investimento para investidores internacionais

depois do Acordo do Uruguai sobre as negociações do GATT), o resultado demonstra que a

resposta de Portugal a algumas ameaças notadas de globalização estão a ser enfrentadas por uma

postura internacional agressiva de algumas empresas portuguesas47.

O contexto da globalização convida necessariamente a comparações internacionais entre países.

O Indice de Competitividade, desenvolvido pelo Fórum Económico Mundial (1999) é uma fonte

popular no meio da imprensa empresarial, tendo afirmado que Portugal está tipicamente colocado

a meio da tabela. De entre 59 países, Portugal posicionou-se no 30º lugar em 1997, em 26º em

1998 e em 27º em 1999. Este Indice de Competitividade é naturalmente, uma medida subjectiva,

favorecendo as tendências da entidade que elabora o índice. Medidas mais objectivas estão

associadas à comparação da taxa de produção per capita e da produtividade do trabalho, apesar

da dificuldade de obter valores comparáveis entre os diversos países.

Em resumo, a globalização é uma tendência inevitável que Portugal bem conhece. Portugal,

enquanto economia activa nos mercados internacionais e em organizações políticas multilaterais,

ainda sofre os legados dos regimes políticos e económicos que esmagaram o empreendorismo, a

abertura e a inovação. Em oposição a estes aspectos negativos da história portuguesa do século

XX, está a “vocação global” dos Portugueses, com origens que remontam ao Século XV. Alguns

passos importantes dados no sentido de envolver o país na economia global incluem a integração

19

na união Europeia em 1986, bem como o envolvimento como membro fundador do Euro em

1999. Alguns marcos simbólicos são a organização da exposição mundial em 1998 em Lisboa,

EXPO 98, precisamente 500 anos depois da viagem de Vasco da Gama. Alguns sectores

importantes da economia portuguesa são competitivos em mercados mundiais, estando várias

empresas e investidores nacionais envolvidos em investimentos internacionais.

Desta perspectiva, a globalização tem sido benéfica para Portugal ao expandir os mercados, assim

como as oportunidades de negócios e de investimento. No entanto, não só a teoria como a prática

sugerem que não existe uma verdadeira garantia que as pequenas economias abertas com práticas

comerciais são levadas a estimular a inovação (vide Grossman e Helpman48). Segundo estes

autores, a inovação pode de facto ser promovida apenas se as vantagens comparativas

impulsionarem os recursos económicos para actividades que permitam e promovam o

crescimento (I&D, maior variedade de produtos, melhor qualidade de produtos e serviços,

investimentos em capital humano). Diversos modelos de comércio e de crescimento revelam que

um país que se especialize (e pode ser levado a aumentar essa especialização através de

incentivos à existência de vantangens comparativas) em sectores não dinâmicos que estão aquèm

da fronteira tecnológica, pode permanecer bloqueado por atrasos estruturais e indústrias

estagnadas.

Em termos macro-económicos, Portugal ainda exibe a segunda taxa de produtividade mais baixa

da OCDE (apenas a Turquia possui uma taxa de produtividade inferior), assim como baixos

níveis de capital humano e despesa em I&D e realizações inovadoras. Num contexto de

globalização, nota-se que os trabalhadores com baixos salários e não especializados não terão

provavelmente salários mais altos. Um grande número de portugueses ainda estão nessas

condições, se bem que algumas honrosas excepções não consigam disfarçar os constrangimentos

potenciais ao desenvolvimento do país (compreendido como a convergência no sentido do nível

de vida dos parceiros da União Europeia) associado ao baixo nível de capital humano e fraca

capacidade de inovação.

O segundo aspecto que pretendemos tratar diz respeito ao facto de hoje podermos afirmar que o

sucesso das pessoas, empresas, localidades, nações e regiões depende da sua “capacidade de

aprender”45. A tendência é para um interesse crescente sobre como promover uma sociedade da

aprendizagem, reflectindo a causa circular cumulativa entre o aumento rápido da taxa de

mudança e um regime visando promover a selecção de agentes, organizações e regiões orientados

para a mudança. O ciclo de vida das capacidades e competências torna-se mais curto e é por isso

20

que a competitividade reflecte cada vez mais a capacidade de esquecer velhas capacidades e de

aprender as novas.

O lado negativo da sociedade da aprendizagem é a exclusão de indivíduos com grau de

aprendizagem mais lento e de pessoas e localidades bloqueadas por capacidades desactualizadas e

rígidas9. Este mecanismo reflecte-se numa desigualdade crescente em termos de rendimento e

oportunidades de trabalho nos anos 80 e 90 em praticamente todos os países da OCDE, pelo que a

situação actual aponta para um novo compromisso de desenvolvimento económico. De facto a

promoção de um desenvolvimento aberto da sociedade da aprendizagem resulta na exclusão, ou

no aumento da pobreza relativa, de indivíduos com grau de aprendizagem lento, os quais limitam

a longo prazo a sustentabilidade social dessa mesma sociedade da aprendizagem.

Neste contexto, em que situação é que Portugal se encontra no final do século XX? Em termos

gerais, pode dizer-se que o nível absoluto dos indicadores que indicam até que ponto Portugal

está empenhado na economia do conhecimento é relativamente baixo, mas que o crescimento

recente tem sido notável, tal como a figura 5 ilustra. O eixo horizontal representa a intensidade

das indústrias com base tecnológica em meados dos anos 90 e o eixo vertical a taxa de

crescimento destas indústrias na década anterior. A maioria dos países representados na parte

inferior na figura apresentam taxas de crescimento entre 2% e 4% ao ano. A distribuição

horizontal dos países mostra a Alemanha, os Estados Unidos, o Japão e os outros principais países

desenvolvidos à direita, com a Espanha e a Grécia à esquerda. Neste contexto, Portugal e a

Coreia sobressaem. A importância das indústrias com base no conhecimento nestes países é

relativamente baixa, especialmente em Portugal, que apresenta o nível mais baixo destas

indústrias.

No entanto, as taxas de crescimento em Portugal e na Coreia são notavelmente mais elevadas,

sendo o crescimento deste tipo de indústrias em Portugal cerca de 7% ao ano, e de mais de 12%

ao ano no caso coreano. Como termo de comparação, a taxa de crescimento dessas indústrias em

períodos comparáveis foi de 3,1% na União Europeia e de 3,5% em toda a OCDE. No entanto, e

apesar das diferenças observadas, deve ser notado que a diferença entre as taxas de crescimento

de Portugal e da Coreia não é tão extraordinária quanto possa parecer. De facto, o sector

empresarial no seu conjunto cresceu 9,1% ao ano na Coreia para o período em análise, enquanto

que em Portugal a taxa de crescimento respectiva de todo o sector empresarial foi de 4,6%.

Consequentemente, a diferença entre a taxa de crescimento das indústrias baseadas no

conhecimento e o crescimento de todo o sector empresarial foi de 2,3% em Portugal (ou seja,

21

50% da taxa de crescimento do sector empresarial), enquanto que na Coreia a diferença foi de

3,4% (uma diferença maior, mas apenas 37% da taxa de crescimento do sector empresarial).

Figura 5- Intensidade e Crescimento de “Indústrias baseadas em conhecimento”.

UK*

Belgium

Portugal**

Greece*

Sweden***

NL*Austria

Japan

Norway

Canada

Denmark

Spain***

Denmark

Mexico

ItalyUS

France

Korea

Germany

0

2

4

6

8

10

12

14

0 10 20 30 40 50 60

Share in Business Sector Value Added of Knowledge Based Industries (share year 1996 except: *1995;**1993; ***1994)

Ave

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Ann

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Add

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Bas

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(198

5-sh

are

year

)

Fonte: OECD46

A percepção de níveis relativamente baixos, embora com taxas de crescimento elevadas, é

confirmada quando estamos perante as tecnologias mais relevantes para a sociedade do

conhecimento: as tecnologias de informação e de comunicação (TIC). Mais uma vez, muitos

países revelam taxas de crescimento inferiores a 4%, com a despesa em TIC como percentagem

do PIB nos EU cerca de 2% acima da média europeia, apesar de países como a Suécia superarem

o desempenho dos EU. Em 1997, o nível de despesa em TIC relativamente a Portugal foi cerca

de 1% inferior à média da União Europeia. Mas, tal como acontece com as indústrias baseadas

no conhecimento, a taxa de crescimento em despesa foi notável. De facto, Portugal lidera os

países da OCDE quanto à taxa de crescimento da despesa em TIC, com uma taxa de crescimento

superior a 10% entre 1992 e 1997. Este crescimento é em grande parte explicado por aumentos

em despesa em telecomunicações (cerca de 9%), enquanto a despesa em serviços e software é

particularmente baixa, inferior a 1%. Apenas a Turquia, a Grécia e a Polónia possuem taxas de

22

despesa em softwrae e serviços de TI inferiores a Portugal. O crescimento nesta categoria foi

igualmente inferior a 2% ao ano.

Voltando à conceptualização da economia baseada no conhecimento, pode dizer-se que,

fundamentalmente, o desempenho em ambientes competitivos em conhecimento depende da

qualidade dos recursos humanos (nomeadamente, da sua especialização, das suas competências,

do nível educativo, da capacidade de aprendizagem) e das actividades e incentivos que são

orientados para a criação e difusão de conhecimento. A este respeito, a situação de Portugal é

claramente deficitária. De acordo com a OCDE46, Portugal tem, depois da Turquia, o nível mais

baixo da população com pelo menos um nível educativo secundário, na faixa etária entre os 25 e

os 64 anos. Este número equivale a 20% em Portugal, enquanto que a média dos outros países da

OCDE é três vezes maior, ou seja, de 60%. Nos Estados Unidos é de 76%, na Finlândia de 67% e

na Irlanda de 50%. Na República Checa quase ¾ da população com idade entre os 25 e os 64

anos têm pelo menos um nível educativo secundário. É importante realçar que esta situação

deficitária não reside tanto na educação universitária ou terciária. Enquanto que o nível da

população portuguesa com educação unversitária é também baixo (cerca de 7%), é apenas cerca

de metade da média da OCDE, sendo comparável ao de países como a Itália e a Áustria. No

entanto, o “desnível educativo” associado à falta de pessoas em Portugal com níveis educativos

ao nível do ensino secundário é particularmente reduzido em termos internacionais.

Equacionar a qualidade dos recursos humanos com níveis educativos é, claramente, uma

caracterização incompleta. No entanto, é razoável esperar que o nível educativo seja

associado à qualidade dos recursos humanos e ao capital humano49. Para além do capital

humano, que corresponde à agregação da capacidade individual para acumular

conhecimento, desenvolver uma capacidade colectiva de aprendizagem – como sugerido

por Wright50 no contexto do desenvolvimento de uma capacidade nacional de

aprendizagem nos Estados Unidos – é tão importante, senão mais ainda, do que a

aprendizagem individual. Assim, em vez de capital humano individual ou até agregado,

um outro conceito importante para a aprendizagem parece ser o capital social. A

importância do capital social, embora ainda sendo um aspecto controverso, é considerada

cada vez mais uma determinante importante do desempenho económico e, especialmente,

da inovação e da criatividade. Por exemplo, Temple51 aborda o impacto da educação e do

capital social conjuntamente como determinantes do crescimento, e observando que essa

evidência é ainda ténue, argumenta que existe um número crescente de trabalhos na

23

literatura que sugerem que o capital social é pelo menos tão importante quanto a

educação como ‘motor’ do crescimento económico. Neste contexto, a relação do capital

social para o desempenho económico das nações tem sido reconhecida por muitos autores

em descrições detalhadas do processo de desenvolvimento, tendo sido enquadrada

explicitamente em termos de capital social por Putman52. Como a educação é uma

‘proxy” do capital humano, a “confiança” (“thrust”na literatura inglesa) é muitas vezes

escolhida como um indicador de capital social.

A análise dos parágrafos anteriores considera um contexto em que a riqueza e o bem-estar das

pessoas, das organizações e das nações é crescentemente baseada na criação, disseminação e

utilização de conhecimento. Este facto é reflectido na tendência nos países desenvolvidos no

sentido de um investimento crescente em tecnologias avançadas, investigação e desenvolvimento,

educação, e cultura. Consequentemente, conceitos como a capacidade de aprendizagem,

criatividade e flexibilidade sustentável ganham cada vez mais importância como princípios

motrizes para a conduta das pessoas, instituições, nações e regiões. Com base neste

enquadramento, e realçando conceitos como a não-rivalidade da informação e os factores

externos associados à educação e à investigação e desenvolvimento, a análise aqui qpresentada

desenvolve a noção de mudança tecnológica localizada53. Esta situação é particularmente

apropriada à compreensão da dinâmica de inovação em muitos sectores da indústria portuguesa,

que é caracterizada em grande parte pelos chamados “sectores tradicionais”. A implicação

directa é que indicadores como a intensidade da I&D ou a contagem de patentes falham na

avaliação da capacidade inovadora, porque a mudança tecnológica é fundamentalmente baseada

em processos de aprendizagem informais (e.g., “learning-by-doing”) e em conhecimento tácito,

em vez de actividades convencionais de I&D.

Num contexto em que se realça o papel importante do sistema de ciência e tecnologia, SCT, no

fomento da inovação, assim como do papel das políticas públicas, conclui-se que a distribuição de

recursos entre os domínios cientificos deve permanecer incremental. De acordo com Pavitt54, "o

objectivo da política devia ser a criação de uma base científica vasta e produtiva, intimamente

ligada ao ensino superior (e, em particular, ao ensino de pós-graduação), e a observação de

aplicações e desenvolvimentos noutras partes do mundo. Neste contexto, e quanto à posição

relativamente fraca de Portugal no contexto internacional quando medida com base em números

genéricos, verifica-se que as oportunidades únicas que desafiam o país, e especificamente o

sistema de ciência e tecnologia, devem ser consideradas em conjunto com a natureza específica

do processo de mudança tecnológica localizada, que se baseia num “mix” de conhecimento

24

genérico e tácito, sendo este último adquirido através de longos processos de aprendizagem pela

“experiencia” (i.e., “learning-by-doing”). Como consequência, as questões a responder envolvem

aspectos tangíveis e intangíveis, que foram particulamente analisados ao longo deste trabalho no

contexto da sociedade de informação que emerge.

Notas e Referencias

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16. Citado em Cordis Focus, Março 13, 2000. Cordis está disponível em www.cordis.lu.

17. Na realidade, dois investigadores Europeus do CERN, o maior laboratório europeu de investigação de física das partículas, inventaram a World Wide Web.

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23. Houve tentativas de formalizar estas hipóteses, no contexto do domínio emergente do estudo de “General Purpose Technologies”. Helpman24 fornece um breve exemplo da literatura nesta área.

26

24. Helpman, E. (1998) (ed.). General Purpose Technologies and Economic Growth, Cambridge, MA: MIT Press.

25. Schumpeter, J. (1911); The Theory of Economic Development.

26. Schumpeter, J. (1943); Capitalism, Socialism and Democracy.

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43. Lundvall, B. –A., Johnson, B. (1994). “The Learning Economy,” Journal of Industry Studies, 1/2: 23-42.

44. Even if the definition of knowledge-based industries is rather generous, including a large part of services and the high and medium-high technology manufacturing.

45. Conceição, P., Heitor, M.V. and Lundvall, B.-A. (2002), “Innovation, Competence Building and Social Cohesion in Europe: towards a learning society”, Edward Elgar.

46. OECD (2000). Information Technology Outlook, Paris: OECD

47. Simões, V. (1991) Globalisation ad the small less advanced countries: the case of Portugal, volume III, prospective dossier Nº2 Globalisation of Economy and Technology vol. 22 Monitor- Fast programme

48. Grossman, G.M. and Helpman, E. (1991). “Innovation and Growth in the Global Economy, Cambridge MA: MIT Press.

49. O capital humano inclui, para além da educação, factores associados à qualidade da saúde,

entre outros.

50. Wright, G. (1999). “Can a Nation Learn? American Technology as a Network Phenomenon,” in Lamoreaux, N., Raff, D. M. G., Temin, P. (eds.) (1999). Learning by Doing in Markets, Firms, and Countries. Chicago and London: The University of Chicago Press.

51. Temple, J. (2000). “Growth Effects of Education and Social Capital in the OECD,” presented at the International Symposium on the Contribution of Human and Social Capital to Sustained Economic Growth and Well-being, Québec City, Canada, 19-21 March.

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52. Putman, R. D. (1993). Making Democracy Work: Civic Traditions in Modern Italy. Princeton, NJ: Princeton University Press.

53. Antonelli, C., Calderini M. (1999). “The dynamics of localized technological change”, in “The organization of economic innovation in Europe”, eds. A. Gambardella and F. Malerba, Cambridge University Press, pp. 158-176.

54. Pavitt, K. (1998), “The social shaping of the national science base”, Research Policy, 27(8), 793-805.